Vitor Manuel Adriao Roma
Vitor Manuel Adriao Roma
Vitor Manuel Adriao Roma
A origem de Roma esconde-se na sua lenda de fundação onde entra uma loba
cuidando de dois irmãos gémeos, Rómulo e Remo, abandonados à sorte do destino
pelos homens e os deuses, eles que eram filhos de Marte e de Rhea Sílvia,
descendente de Eneias, herói de Cartago. Amamentados por Ruma, a loba ou lupe,
a Lua expressiva da fecundidade, Rómulo e Remo cresceram e fizeram-se homens,
o último representando os povos migratórios ou nómadas do Lácio e o primeiro
expressando a fixação ou sedentarização dos mesmos aqui, o que ficou assinalado
no mito de “Rómulo matar o seu irmão Remo”, tal qual Caim matara Abel na Bíblia,
cujo significado é o mesmo.
Como Remo é símbolo dos povos migratórios movendo-se do Oriente para Ocidente
no Globo habitável, ele ficou, astrologicamente, como símbolo da Terra em seus
movimentos orbitais e sazonais, estes dominados por Marte, expressando a
sedentarização dos mesmos povos passando de pastores a agrários pela construção
de cidades, o que sideralmente é marcado pelo espaço e tempo de prevalência das
estações anuais marcando a vida das urbes inicialmente rurais, facto simbolizado
na figura de Rómulo que se tornaria o primeiro rei de Roma, segundo a lenda.
Foi assim que Marte (Rómulo) passou a ser, no horóscopo da cidade de Roma, o seu
planeta regente a par de Terra (Remo) sob a influência de Vénus que é,
astrologicamente, uma espécie de alter-ego da Lua (Ruma). Por esta razão, ficou
convencionada por Públio Terêncio Varrão (82 a. C. – c. 35 a. C.), poeta, historiador
e astrólogo, que a data da fundação de Roma era 21 de Abril (quando o Sol sai do
signo de Carneiro/Marte e entra em Touro/Vénus) de 753 a. C., atribuindo uma
duração de 36 anos cada uma das sete gerações correspondentes aos sete reis
mitológicos de Roma, começando por Rómulo. Esses “36 anos” são simbólicos e
referem-se aos grandes ciclos planetários onde domina durante esse tempo um dos
sete planetas tradicionais da Antiguidade, como sejam: Sol, Saturno, Vénus,
Júpiter, Mercúrio, Marte, Lua. Conclui-se que cada uma das “sete gerações” esteve
sobre influência de um desses planetas, sendo que os sete reis mitológicos (os
quatro primeiros latinos e sabinos, e os restantes etruscos ou tarquínios) foram os
seguintes: Rómulo (753 a. C. – 716 a. C.), Numa Pompílio ou Panfílio (716. A. C. –
673 a. C.), Túlio Hostílio (673 a. C. – 641 a. C.), Anco Márcio (641 a. C. – 616 a. C.),
Tarquínio Prisco (616 a. C. – 578 a. C.), Sérvio Túlio ou Mastarna, em etrusco (578
a. C. – 534 a. C.), Tarquínio, o Soberbo (534 a. C. – 509 a. C.).
Foi assim que 21 de Abril de 753 a. C. ficou como o Natal de Roma, sendo também
dia da festa de Pales, a Parilia. Essa era uma divindade da mitologia romana
relacionada com a vida pastoril, e na festa da sua celebração os pastores acendiam
fogueiras de restolho e espinhos sobre as quais saltavam (costume que se transferiu
depois para os festejos joaninos entre os povos cristãos), e pediam perdão aos
deuses pelos seus animais terem penetrado nos recintos sagrados dos templos. Em
algumas fontes clássicas, como Ovídio e Virgílio, Pales é apresentada como
divindade feminina, enquanto outras fontes referem-na como divindade masculina.
Possivelmente seria hermafrodita ou dotada dos dois sexos (Palibus duobus, assim
festejada a 7 de Julho no seu templo que estaria no Campo de Marte), para
expressar o momento de sedentarização dum povo nómada que acabou fundando
a cidade de Roma.
Já o Rio Tibre que banha a “cidade eterna”, o seu nome provirá provirá do latim
arcaico Tibaris, onde estão presentes os temas mediterrânicos tab e ares,
respectivamente significativos de “santo” e “carneiro”, ou seja, “o carneiro
santo”, nome dado ao deus Ares, o padroeiro das legiões romanas que tinha aqui,
em Roma às margens do Tibre, o centro principal do culto a ele, donde irradiava
para todo o império que cobriu a Europa, parte de África e chegou às portas da
Ásia.
Sendo a cidade das sete colinas, Roma representava-se por sete templos principais
em cada uma delas, e quando se tornou cristã levantaram-se nas mesmas sete
igrejas que serviriam de luminárias à fé católica irradiando para todas as partes do
mundo onde a mesma existe. Isto dá-lhe os foros legítimos de caput
mundi e aeterna civitas por essa mesma razão menos política-temporal e mais
religiosa-espiritual, fazendo-a cidade do divino Amor, que é o que significa Roma às
avessas. As sete colinas romanas com os seus sete templos antigos, são:
O papa Alexandre VII (1599-1667), seguindo a tradição religiosa das sete colinas,
deu como principais as sete igrejas de Roma: Santa Maria Annunziata, Santi Vicenzo
e Anastasio, San Paolo, San Giovanni in Laterano, Santa Maria Maggiore, Santa
Croce in Gerusalemme, San Lorenzo fuori le Mura.
Delas deriva o nome Vaticano, do latim Vaticanus, derivado de vates, estes que aí
viveram muito antes da Roma pré-cristã, havendo inclusive um templo do deus
etruscoVagitanus que era o padroeiro dos vaticinadores. De maneira que
o Vaticanus é o primitivo “lugar dos vaticínios”, e sobre o templo de Vagitanus ter-
se-á levantado o cristão de S. Pedro.
Mas esse Vagitanus era um deus menor em comparação à divina Vesta, considerada
a esposa de Apolo ou Helius, o Sol Espiritual. Por isso todos os lares romanos
possuíam uma lareira onde ardia a chama eterna de Vesta fazendo as vezes de
imagem desta. Como o Sol é redondo da mesma forma o eram os templos da deusa,
com as entradas voltadas para o leste para expressar a ligação entre o Sol da Vida
e fogo sagrado ardendo no centro do recinto. Vesta que também era
chamada Héstia, donde derivou o nome de hóstia, que como se sabe também é de
formato circular e expressa o corpo místico da Divindade em Cristo, incarnação do
Sol Espiritual, ou melhor, do Logos Eterno. Os próprios templos circulares ou
votivos do Cristianismo não deixam de ser reproduções dos primitivos da deusa
Vesta ou Héstia, pelo que o seu simbolismo cristão restrito é o de representar a
hóstia sagrada, esta o alimento eucarístico tal qual o Sol o é dos corpos e das almas.
Segundo Dionísio de Halicarnasso, os romanos acreditavam que o fogo sagrado de
Vesta estava intimamente ligado ao destino da cidade e viam no apagar dele um
presságio mortal da extinção da cidade, e até mesmo do império, o que aconteceu
com a implantação da nova religião cristã, possuída da simbologia mitraica
masculina e da feminina de Vesta.
Para que em Roma o fogo perpétuo não se extinguisse no Templo de Vesta (Aedes
Vestae, em latim), possivelmente mandado construir pelo imperador Pompilius
Numa no século VII a. C., ele era mantido por seis ou dez sacerdotisas da deusa,
num sacrifício permanente através do qual a inocência virginal servia de elemento
substancial e até de escudo contra os pecados, as falhas eternas da Humanidade.
Obviamente que o perímetro do templo era rigorosamente vedado aos homens,
tanto de dia como de noite. Essa tradição mantém-se nos mosteiros femininos
cristãos.
Uma vez por ano, no primeiro dia de Março, renovava-se o fogo sagrado: a
sacerdotisa chefe do templo ou Virgem Máxima (Virgo Vestalis Maxima) assessorava
o Sumo Pontífice (Pontifex Maximus) com ela apagando e ele acendendo
novamente o fogo sagrado, por meio de dois paus onde um penetrava o orifício
doutro e friccionavam-se até gerar chama, técnica chamada pramantha. O acto
envolvia-se de grave cerimonial expressando a Vesta como deusa geradora e
sustentadora das mulheres e da família. Ao mesmo tempo, por ser realizado nas
proximidades do Equinócio da Primavera, servia de preanuncia do ano novo
astrológico, em 20/21 de Março, quando a Natureza desponta pujante sob o signo
do Carneiro animado pela impetuosidade ígnea de Vesta, a deusa solar. O 1.º de
Março das Vestais veio a ter o seu equivalente no 1.º Domingo da Quaresma, período
que abre o preparatório da Páscoa, e que vai até Domingo de Ramos, quando Jesus
entrou em Jerusalém montado num jumento, este que era o animal sagrado das
vestais, símbolo de sacrifício, humildade e paz.
A disciplina rigorosa das vestais (por exemplo, aquela que deixasse apagar o fogo
sagrado no templo era severamente chicoteada) acabou sendo herdada pelas
freiras professas cristãs, juntamente com os dotes de pureza ou virgindade do
corpo e da alma. As vestais eram escolhidas dentre as filhas de famílias nobres e
deviam servir durante trinta anos no templo, dos quais dez eram de aprendizagem,
outros dez de sacerdócio, e os últimos para ensinar as novas vestais. Deviam manter
a castidade, estando submetidas a regras severas, e em caso de infracção ao casto
voto, eram enterradas vivas perto do Monte Quirinal, no campus sceleratus (campo
da perversidade), onde a ex-virgem era acompanhada por um procissão fúnebre
até ao local, onde era encerrada numa cova contendo uma cama, uma lamparina
acesa, e um pouco de óleo e leite.
O que resta do Templo de Vesta no Palatino ardeu duas vezes. A primeira no grande
incêndio de Roma no ano 64 d. C., crê-se que mandado atear pelo imperador Nero.
A segunda no ano 191, tendo Julia Domna, esposa de Septímio Severo, mandado
restaurar o templo. A chama sagrada foi retirada do mesmo em 394 por Teodósio
I, após ter vencido a Batalha de Frigidus, derrotando Eugenius e Arbogast. Essa
data marcou o fim das vestais em Roma e o abandono do templo, sucessivamente
saqueado até desaparecer todo o seu mármore no século XV. A secção em pé hoje
foi reconstruída na década de 1930 durante o regime de Benito Mussolini.
O simbolismo decorativo da Fontana delle Tiare ou Fonte das Tiaras, no Largo delle
Colonnato, em Rione Borgo, sem dúvida que se inspira e refere à presença próxima
dela da residência pontifícia. Encontra-se situada por detrás do acesso ao lado
norte da Praça de S. Pedro do Vaticano. É obra realizada após encomenda da
comissão da Comuna de Roma ao arquitecto romano Pietro Lombardi, em 1927.
A fonte ergue-se sobre base circular ligeiramente destacada e assenta num trevo
ou trifólio sobre que se ergue uma grossa pilastra donde para três bacias escorre a
água. O conjunto é encimado por três tiaras papais dispostas em triângulo tendo
abaixo de cada, em duplicado, as chaves pontifícias, ao todo, seis.
Sem dúvida que se está diante de uma indesmentível simbologia papal assinalando
o sumo-pontífice como chefe supremo do orbis catolicus romanus (“mundo católico
romano”), regular sucessor canónico da linhagem apostólica iniciada por S. Pedro
confirmado pelo próprio Jesus Cristo conferindo-lhe a autoridade de chefe máximo
da Igreja ou Assembleia universal dos seguidores da Sua Palavra, segundo relata
oEvangelho de S. Mateus (capítulo 16, versículo 19): Et tibi dabo clavis regni
caelorum(“E dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus”).
À coroa mais baixa da tiara adicionou-se uma outra passando a duas, em 1128 no
pontificado de Bonifácio VIII, na época do conflito com Filipe, o Belo, rei de França,
para demonstrar que a sua autoridade espiritual era superior ao poder real, e assim
a tiara passou a chamar-se biregno. Quanto à terceira coroa acrescentada
posteriormente com a qual a tiara passou chamar-se triregno, a sua data é incerta
ainda que seja sugerido o seu aparecimento durante o pontificado de João XXII
(1316-1334).
Às três coroas da tiara foram dados os seguintes atributos papais: Pastor Universal
(coroa superior), supremacia da Autoridade Espiritual (coroa intermédia) e domínio
do Poder Temporal (coroa inferior). Esses atributos derivam da tríplice dimensão
de Cristo como Sacerdote, Profeta e Rei, funções, por sua vez, reconhecidas no Rei
do Mundo ouMelkitsedek de quem Cristo a representação viva mais próxima ao
mesmo, a ponto da própria Igreja reservar-se a duas espécies de sacerdócio, facto
também reconhecido pela Sinagoga ou Judaísmo. De facto, o Livro do Génesis e a
Epístola de S. Paulo aosHebreus referindo-se a esse misterioso Soberano, levou a
tradição judaico-cristã a distinguir dois sacerdócios: um, “segundo a Ordem de
Aarão”; outro, “segundo a Ordem de Melkitsedek”. Este superior àquele, pois se
liga do Presente aos Tempos do Advento do Messias, expressando os Apóstolos, os
Bispos e a Igreja do Ocidente. E aquele vincula o Passado ao Presente, expressando
os Profetas, os Patriarcas e a Igreja do Oriente.
A Basílica de Santa Maria Maior (Basilica Sanctae Mariae Maioris), antigo panteão
dos papas de Roma, desde sempre se revelou envolta em mistérios pelos quais o
Céu e a Terra parecem jogar os destinos da Humanidade nas presenças da Virgem
Divina e do Santo Graal, este que a Tradição Iniciática do Ocidente afirma ter
transitado por este templo praticamente no início da Cristandade europeia. Resta
encontrar os sinais comprovadores de tamanha e assombrosa afirmação, mesmo
que estejam encapotados sob aspectos diversos do que aparentam ser.
Antes de haver igreja cristã aqui havia um templo romano consagrado à deusa
Cibele, considerada “Mãe dos Deuses” ou Deusa-Mãe expressando a fertilidade da
Natureza. Presidia aos ciclos da vida e da morte de todos os seres (minerais,
vegetais, animais e homens) sendo igualmente a sua protectora, sobretudo do
Reino Animal, motivo para os gregos apodarem-na de Potnia Theron, “Senhora dos
animais”, sendo frequentemente representada com uma coroa de muralhas na
cabeça, ramos de frutos nas mãos e um leão aos pés, indicativo da sua soberania
como Mãe do Mundo ou Rhea, como os greco-romanos a consideravam.
O facto é que a basílica passou a ser chamada de Nossa Senhora das Neves, em
conexão com a festa litúrgica do aniversário da Virgem Maria em 5 de Agosto, e é
assim que aparece inscrita no Missal Romano de 1568: Sanctae Mariae Dedicatio
ad Nives(Dedicação de Santa Maria das Neves).
Mas será Sisto III a dedicar a basílica ao culto de Maria, Mãe de Deus, cujo dogma
da Divina Maternidade, Concepção ou Conceição acabara de ser declarado pelo
Concílio de Éfeso (431). Por isto, a Basílica de Santa Maria Maior de Roma é a mais
antiga igreja do Ocidente consagrada à Virgem Maria.
Este templo também foi chamado de Santa Maria do Presépio (Sancta Mariae ad
Praesepe), nome que lhe foi dado por causa da relíquia com um pedaço do berço
ou manjedoura ou presépio da Natividade de Jesus Cristo, trazida para aqui no
tempo do papa Teodoro (640-649). Essa relíquia está hoje sob o altar-mor da
basílica, na Cripta da Natividade, dentro de um relicário de cristal desenhado por
Giuseppe Valadier em forma de vaso, com Jesus Menino por cima e duas taças
laterais, o que é uma referência óbvia ao Graal objecto que, teima em afirmar a
Tradição Iniciática, terá passado por este templo há largos séculos. Ao lado do
relicário chamado sacra culla(sacro berço), está a sepultura de S. Jerónimo, um
dos Doutores da Igreja.
É interessante assinalar que a palavra sânscrita Akta, depois ocidentalizada Apta,
signifique “creche”, “manjedoura”, “presépio” e ainda “lugar onde nasce o Sol”,
e esteja presente nos ritos brahmânicos e noutros relacionados à manifestação da
Luz de que o Graal Humano, Jesus Cristo, ao nascer no Apta de Belém de imediato
se tornou a Luz do Mundo. Segundo Burnouf, o simbolismo desse rito ancestral é o
seguinte: o brahmane (sacerdote) cruza dois pedaços de madeira (a swástika, ou
cruz destrocêntrica) que, para não se moverem, são cravados com quatro pregos,
e na junção dos dois braços da cruz passa uma corda que, pela fricção, produz
fogo. O Pai do Fogo Sagrado é o “divino carpinteiro”, Tuashtri, que é quem prepara
a cruz oupramantha que deve gerar o Filho Divino, Agni, que é o Fogo. A sua Mãe
é Maya, equivalendo à Virgem Maria cristã.
O sacerdote brahmane toma o pequeno Agni em suas mãos, coloca-o sobre um altar
e espalha sobre ele manteiga clarificada (sendo esta a origem da “unção” ou
“santos óleos” usados nos baptizados cristãos). É justamente quando o
pequeno Agni, o Fogo Sagrado assim inflamado, toma o nome de Ungido
(Iluminado), Akta em sânscrito eChristus em latim. Torna-se resplandecente, pois
que em seu redor tudo se ilumina. As trevas desaparecem, os demónios fogem
espavoridos diante da sua luz cintilante.
Ele é o Guru dos Gurus (Maha-Guru, Grande Instrutor, etc.), o Mestre dos Mestres
e toma o nome de Jâtavâda ou “aquele em quem a Sabedoria é inata”. Este título
cabe a Jesus Cristo encimando o relicário do presépio em Santa Maria Maior, onde
mostra-se deitado, posição passiva ou fixação da Sua Pessoa, com a destra
abençoando o Mundo, transmitindo-lhe a Sua Sabedoria e tendo por fundo as
estrelas luminosas igualmente encimando as taças laterais, como que querendo
significar: Graal, estrela bendita, caída do Céu.
É dito que a presença do Santo Graal nesta igreja estará ligada às perseguições aos
cristãos no ano 258, ordenadas pelo imperador Valeriano, e à ordem dada pelo
Papa Sisto II para esconder os tesouros cristãos, dentre eles o Cálice Sagrado
entretanto chegado à posse da Igreja Romana, sem que se saiba como. Esses
tesouros teriam sido escondidos nas catacumbas sobre as quais seria edificada no
século IV esta igreja de São Lourenço, por ordem do imperador Constantino I,
depois ampliada na época do Papa Pelágio II (579-590).
Não é crível que o Graal valenciano e até mesmo o romano seja o original onde
Jesus Cristo bebeu e depois verteu o seu sangue. Só é crível como Tradição
Graalística a que se liga por inteiro este santo valenciano sepultado aqui, nesta
igreja que é uma das sete principais de Roma.
Por essa razão, o diácono São Lourenço é o “Guardião do Santo Graal”, no caso, a
Taça Eucarística da Santa Missa que se vê retratada nos frescos do século XIII e nos
ladrilhos do chão, juntamente com a Cruz pátea oriental que representava a
Cristandade, e por isso a Ordem dos Templários (que nunca esteve aqui, e sim na
igreja de São João Baptista desta cidade) adoptou-a como Cavalaria Papal, pois
que o seu chefe supremo, antecedendo o Mestre Geral, era o próprio Papa.
Fala-se também que na Sexta-Feira Santa o Cálice escondido na pressuposta
catacumba sanlourenceana verte sangue que logo se transforma em vinho. Como
se sabe do facto, é absolutamente desconhecido… mas por certo terá uma razão
mais crível que merece ser vista por todos: nesta basílica conserva-se uma laje com
a mais antiga epígrafe latina cristã que refere explicitamente a transubstanciação
do sangue em vinho pelo sacramento da missa: Verus in altari cruor est vinumque,
“O verdadeiro sangue no altar parece ser vinho”.
São Lourenço (do latim Laurentius, “coroado de louros”, atributo solar, luminoso),
tendo sido um dos sete diáconos da antiga Roma, é relacionado com o Graal
porque, segundo a lenda, foi aqui o seu guardião e depois enviou-o para Aragão.
Mas a presença graálica em relação com São Lourenço não se dá só em Roma e em
Espanha, pois o imperador Santo Henrique, fundador do reino da Hungria, ofereceu
à basílica de São Lourenço um enorme cálice de ouro e pedrarias que,
miraculosamente, quebrou-se no momento do imperador expirar entregando a
alma a Deus. O mesmo santo já havia restaurado milagrosamente outro cálice
precioso que um presbítero de mãos frouxas deixara cair no chão.
Graal é a Taça Sagrada. Nela, naturalmente, são feitas as mais sublimes, espirituais
e místicas fusões e sublimações alquímicas.
Assim o foi São Lourenço, como se regista até no seu próprio nome, Luz, e a este
propósito a sua associação ao elemento Sol-Fogo-Luz inclui-se não só no aspecto
astronómico ou celeste das lágrimas de São Lourenço que é a chuva de estrelas,
asPerseidas da constelação de Perseus, mas também no elemento geológico ligado
às águas minero-medicinais cujas propriedades miraculosas são motivo para lhes
chamaráguas perfumadas e águas de São Lourenço. Finalmente, também possui
uma vertente puramente filológica: o fogo de São Lourenço, nome que se dá em
alguns lugares a um determinado tipo de urticária alérgica produzida pela
exposição ao Sol.
Visitar Roma e não ir a San Lorenzo é visita inacabada, é passar ao largo do insólito
e misterioso que a cidade eterna reserva ao visitante.
Esta Porta Alquímica, edificada em 1680 segundo a data inscrita nela, é a única
sobrevivente das cinco portas da villa Palombara de Massimiliano Palombara,
marquês de Pietraforte (1614-1680), que se localizava na zona rural leste de Roma
no Monte Esquilino, próxima da posição correspondente à actual Piazza Vittorio.
Em 1873 desmontou-se a porta e remontou-se em 1888, nos jardins da Piazza
Vittorio, num antigo muro da igreja de Santo Eusébio, sendo-lhe adicionadas
lateralmente duas estátuas do deus egípcio Bes, vindas do Palácio do Quirinale.
Postada no canto norte do jardim da Piazza Vittorio Emanuele II, onde está hoje,
esta porta enigmática é por certo o ex-libris da Roma esotérica.
O facto de se lhe adicionar as estátuas de Bes resultou feliz, pois que este deus
menor do Antigo Egipto era tido como protector dos lares contra os espíritos
malignos, e assim mesmo também protector do sono, da fertilidade e do
matrimónio. Estes atributos juntos à sua imagem tradicional assemelham-no ao
deus dos gnomos apelidado pelos antigos hermetistas de Gob ou Gobi.