Desenho Digital
Desenho Digital
Desenho Digital
INSTITUTO DE ARTES
SÃO PAULO
2017
4
KARIN YNGRID SCHMITT
SÃO PAULO
2017
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CDD 759
AS BORDAS INDEFINIDAS DA
PINTURA DIGITAL
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_______________________________
_______________________________
AGRADECIMENTOS
Lya, pelo amor incondicional. Ao meu namorado, Bruno Ravanini, pelo carinho,
paciência e incentivo durante esta pesquisa. Aos amigos que fiz durante esta
Maira Ishida e Nigel Anderson. À Letícia Nogueira e Willian Andrade pelas conver-
Esta pesquisa surge da reflexão sobre meu processo artístico em pintura digital. As
características desta prática geraram questionamentos sobre o uso de dispositivos
tecnológicos na criação artística, sobre arte híbrida e seus paradigmas estéticos e
sobre as problemáticas de definição de meio na arte. A partir dessas investigações,
senti a necessidade de realizar uma introspecção. Voltei-me, portanto, à prática do
autorretrato e criei uma série de pinturas exclusivamente no software Photoshop,
procurando compreender de que forma o meu processo criativo pode ser
comparado às idéias já existentes sobre esse tipo de produção. Este processo
prático gerou novas reflexões em torno da minha poética, da possibilidade de
experimentações em mídias digitais, da abertura do processo criativo e de como a
percepção que temos sobre nossa identidade é alterada pelo uso das mídias
digitais.
This research comes from the reflection on my artistic process in digital painting.
The characteristics of this practice have raised questions about the use of
technological devices in artistic creation, on hybrid art and its aesthetic paradigms,
and on the problem of the definition of medium in art. From these investigations, I
felt the need to perform an introspection. I turned, therefore, to the practice of
self-portrait and created a series of paintings exclusively in Photoshop, trying to
understand how my creative process can be compared to the existing ideas about
this kind of production. This practical process generated new reflections on my
poetics, on the possibility of experimentation in digital media, on the opening of the
creative process and on how our perception of our identity is altered by the use of
digital media.
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES
Figura 32 – Karin Schmitt. Possibilidades de resultados da obra Autorretrato 38, 2017. ..... 123
19
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO....................................................................................................................... 20
3.3 Autorretrato..................................................................................................................... 81
INTRODUÇÃO
artísticos.
destrinchados e discutidos.
que diz respeito à formulação de uma autocrítica que possa contribuir, também,
22
para a reflexão deste tipo de trabalho. Por isso, durante este mestrado, a proposta
aprofundado antes.
sistema aberto que troca informações com seu meio ambiente. Nesse sentido, as
e reflete sobre como o artista pensa e se relaciona com este mundo, fornecendo
continua e, à medida que novos sistemas imagéticos são inventados, novas formas
2014).
maleável: se antes a informação visual era estática (no sentido de que a imagem,
embora passível de edição em filme, era “fixa”), hoje a imagem, uma vez transferida
23
imagens com pigmentos para a criação de imagens com luz. Nas últimas duas
(SMYTHE, 2012). E, mais uma vez, a pintura tem sido confrontada com o desafio
“pigmento tinta” vem, cada vez mais, dividindo seu papel com o “pigmento luz”
(Ibid.).
sua apreciação através de uma tela plana ou uma reprodução impressa. É a própria
por este viés, o conteúdo da pintura não residiria na imagem, mas em sua
construção e “materialidade”.
para existir, não têm nenhuma necessidade de uma relação analógica com seu
24
perigosos, pois ignoram o fato de que forma e conteúdo são um fenômeno único
este tema sempre foi algo muito recorrente, estando presente em grande parte das
o que pode ser ao, mesmo tempo, reconfortante e ameaçador (BREHMER, 2010).
Nossa existência é transitória e penso que esta é a condição que cada retratista
tenta absorver, sendo o autorretrato, portanto, uma luta contra as condições mais
No meu caso, é curioso como este diálogo com a minha identidade e esta
acessar diversos sites e de nos conectar a qualquer pessoa do mundo seja qual for
morre, esses ecos podem ficar para trás: o corpo vai, mas os perfis – e a
25
é arte híbrida e, por fim, qual é o diálogo que estabeleço com a minha produção em
Com relação à divisão dos capítulos, primeiramente creio que não seja
possível avançar neste trabalho sem, antes de tudo, contextualizar o meio no qual
ele está inserido. Desta maneira, o primeiro capítulo é dedicado a explorar e clarear
digitais.
estética dos fluxos, elucidando como esses dois conceitos influenciam meu
trabalho.
necessário frisar que as leituras e colocações de autores que serão aqui expostas
meu trabalho.
27
ação que, graças ao início da era digital, tornou-se uma constante. Entende-se que
segundo grupo está associado a tecnologias como filme, televisão e vídeo, cujas
2012).
nesta definição, em qual dos dois grupos, então, reside uma fotografia analógica:
um papel fotográfico). Porém, não utilizamos tinta para revelar uma fotografia
28
analógica, tal como usamos para construir uma imagem em uma tela de pintura: o
construindo uma imagem de pigmento luz. Se, no entanto, for feita sua impressão,
resume apenas a uma impressão? O que interessa, então, para definir uma obra, é
que a definição abrupta de meios é repleta de problemas, pois assistimos, cada vez
interação com o mundo e aqueles que nos rodeiam se vêem cada vez mais
sociedade marcada por fluxos, pela ubiqüidade e pela agilidade. Se nos voltarmos
1
Biennial-isation has happened, bringing a kind of mega-cultural fusion spitting and splitting new
forms and formations, new funding and support agencies, new intermediaries and professional
types, new kinds of celebrity art and artist.
29
pensar e fazer artísticos surgem. Porém, para mim, a questão é como e por quê
contemporânea entre os diversos autores que abordam o tema, mas fica claro em
uma pintura; pelo contrário, a obra de arte, segundo o autor, era concebida como
2
Difficulties, however, equally plague the term "now": it cannot mean simply the "immediate
present" [...] and therefore if ambiguously open and elastic itself – perhaps meaning anything from
"immediately" to "this year" to "the last ten years".
30
Abstrato, já que levava o conteúdo da obra “para além da tinta” (Ibid., p. 43).
vindo ao encontro com as colocações de Paul Vogt, que ressalta que, no final dos
anos 1950, o reinado do cavalete tinha chegado ao fim. Sem dúvida, haverá
artistas nos próximos anos que utilizarão o cavalete como meio mais eficaz para as
suas concepções, mas já há algum tempo o objetivo da maioria deles tem sido o de
ir além dos conceitos tradicionais para quebrar as barreiras entre arte e vida
(VOGT, 1981).
uma imagem também se modifica. Para o autor, o pintor não estava mais
Realizada aos seus limites, a imagem era nada mais, nada menos, do que o registro
de como um homem, um pintor, podia dar vazão às forças dentro dele. “A pintura
nossa3).
compensação, há uma vasta quantidade de autores que concorda que essa nova
maneira de ver e produzir uma obra pictórica é o que divide a arte moderna da
contemporânea.
Barry Schwabsky (2002 apud BORGES, 2010, p. 65), por exemplo, faz uma
que a pintura contemporânea está preocupada com o como fazer uma pintura –
levando a uma procura obsessiva dos artistas pelo estilo pessoal e promovendo
dizer que a busca por um estilo pessoal, por vezes, se torna um processo árduo,
muita facilidade, por vezes me fazem questionar: “O que ainda não foi feito?”,
“Ainda é possível ser uma artista original e inovadora?” e “Até que ponto estou
3
The picture was transformed from image to event. […] The pictorial production has become
experimental rather than purely theoretical and inexpressible.
32
elaboração de uma rasa resposta para todos estes questionamentos que, apesar
da aparente saturação das imagens e práticas artísticas nos dias atuais, sempre há
artistas e suas criações são o reflexo do momento no qual eles estão inseridos – e
culturais. O pensar artístico não é o mesmo de 40 anos atrás e nem será o mesmo
daqui a 20 anos e, só por isso, a obra de arte já é válida. Nas palavras de Giannotti,
ainda tem algo a dizer sobre sua experiência no mundo” (GIANNOTTI, 2008, p.
16).
anteriores a criação de obras artísticas em meios digitais é por vezes vista como
natural que começou a partir do momento em que acessei meu primeiro software
de pintura – uma ação que se mantém até hoje e cujas técnicas, experimentações e
4
Um nativo digital é aquele que nasceu e cresceu com as tecnologias digitais, tais como vídeo-
games, Internet, telefone celular, MP3, iPod, presentes em sua vivência. Caracterizam-se principal-
mente por não necessitar do uso de papel nas tarefas com o computador.
33
inseriam objetos comuns e cotidianos aos seus quadros, podemos atribuir esta
cinema, [...] a arte contemporânea tende para o computador com sua incrível
software permitem que novos artistas criem novos objetos de mídia e como, ao
mesmo tempo, atuam como mais um filtro que molda a imaginação. Além disso, o
operações não são apenas restritas ao software, mas, sim, formas gerais de
de camadas, em que cada uma delas pode ser manipulada aplicando filtros e
sua própria estética, cada uma está conectada a outra para compor uma imagem
completa.
ciadas pela maneira como o programa vai “ler” os filtros que foram reordenados,
como a camada com mais contraste vai sobrepor aquela com menos contraste e
pós-modernidade como
fotografias.
fotografia, cinema, vídeo) e c) Imagens de terceira geração, que são geradas por
visual, verbal e sonora que, possivelmente, serão traduzidas em objetos ou, ainda,
digitais de criação de imagens e uma maior exposição aos dispositivos de tela com
pintura passa a ter um caráter menos conservador ao adotar uma “postura menos
graças a uma maior abertura por parte da curadoria e da crítica em direcionar sua
pensarmos como a pintura ainda parece estar atracada à fisicalidade tangível para
ser legitimada:
questões materiais e seu fazer ao longo do século XX. O crítico Clement Greenberg,
uma ideologia que estimulou os artistas a refinar a especificidade dos seus meios
A partir dos anos 60, contudo, alguns artistas começam a utilizar o espaço
expositivo como parte integrante da obra, como no caso dos trabalhos de Hélio
exclusivo da visão e passa a ser uma experiência vivenciada com todo o corpo,
plano pictórico e inserindo novos materiais, como chumbo e palha (a exemplos das
pintura aparece tanto dentro do quadro e construída com tinta ou com outros
pouco se fala sobre pintura criada com softwares como uma maneira de se fazer
tátil e do “real” nessa área, inclusive para que sejam viabilizadas novas formas de
com o mundo, ao invés de nos atrelarmos a algo que diz como a pintura deveria
a pintura enfrenta é como viver como matéria em um mundo que deixou há muito
1999).
sobre arte computacional e criação total de obras em meios digitais parece ser a
que as épocas imprimem e esses valores são alterados de acordo com a poética
tendenciosos demais. Para alguns, a tela cria uma separação ontológica entre a
críticos, como Luke Smythe, por exemplo, afirmam que os pintores analógicos, ao
impureza e mistura de tons, sua opacidade terrestre e sem brilho e, por fim, suas
não deveriam ocorrer, justamente pelo processo de criação ser muito divergente
interagir, o suporte e os “pincéis” que são utilizados durante o percurso; tudo isso
Outro ponto que penso que pode intervir na discussão é a própria maneira
com estética do digital. Pelo contrário, ao realizarem uma pintura neste suporte,
perpetuando o ideal de arte grego de que a “‘arte’ não era outra coisa senão
como imitar o impasto da tinta a óleo, fazer uma aguada semelhante à uma
aquarela ou criar texturas similares às de uma pintura em tela. Neste ponto, devo
dizer que concordo com a afirmação de que nenhuma pintura digital que se
proponha a replicar uma pintura analógica irá alcançar completamente este feito,
Acredito que artistas que se envolvem com esse tipo de mídia deveriam,
contém sua própria qualidade estética, assim como uma tinta acrílica ou aquarela e
o computador torna-se uma outra superfície, uma nova tela que apresenta ao
imagem final.
5
The computer has enormously expanded creativity by allowing for a greater exploration of chance,
and thus the creation of more complex esthetic "permutations" – different combinations of identical
elements – than traditional art has ever created, […] allowed or even thought of. It has also given
us a more efficient means of manufacturing art that never existed before.
41
caminhar por uma fina linha entre permutações instáveis e estáveis (Ibid.). Para o
Gesamtkunstwerk6: uma única obra de arte que incorpora todas as outras artes,
nem exclusivamente visuais nem verbais nem auditivas, nem exclusivamente
pergunta: é tão importante assim que façamos esta distinção entre meios? Pintura
não deveriam ser transpostos e que perpetuam a idéia de que um meio é superior,
mais expressivo ou mais artístico que o outro. Não deveria ser mais importante,
nos dias atuais, pensarmos não que “uma obra seja Pintura, mas que seja Arte”
capítulo três.
6
“Ou, em português, “Obra de arte total”, é um conceito estético oriundo do romantismo alemão do
século XIX. Geralmente associado ao compositor alemão Richard Wagner, o termo refere-se à
conjugação de música, teatro, canto, dança e artes plásticas, em uma única obra de arte. Wagner
acreditava que, na antiga tragédia grega, esses elementos estavam unidos, mas, em algum
momento, separaram-se. O compositor criticava o estado da ópera do seu tempo, em que toda
ênfase era dada à música, em detrimento da qualidade do drama” (GESAMTKUNSTWERK, 2016).
42
43
outras instituições culturais – mesmo que essa suposição não mais reflita o
e fácil de catalogação, estudo e pesquisa (isto é uma pintura, isto é uma fotografia,
Já o segundo fator crítico apontado por Manovich foi a maneira como novas
difíceis, pois tanto o meio de massa da televisão como o meio artístico de vídeo
utilizavam a mesma base material (sinal eletrônico que pode ser transmitido ao
exemplos de como o velho conceito de “meio” usado pela estética tradicional para
questionando a máxima de que não havia outra essência na pintura do que seu
7
[…] aimed to dematerialize the art object.
45
Por fim, o terceiro fator importante foi o advento da tecnologia nos anos 80,
digital, que fica mais evidente na metade dos anos 90, resultou na eliminação das
diferenças entre fotografia e pintura (no reino da imagem estática) e entre filme e
cultura digital, não poderíamos fugir da palavra hibridez” (ARANTES, 2012, p. 52,
grifo da autora).
8
[...] the “pure” moving-image media became an exception and hybrid media became the norm.
9
[...] despite the obvious inadequacy of the concept of medium to describe contemporary cultural
and artistic reality, it persists.
46
assim.
práticas das artes a partir de uma perspectiva pós-moderna [...], eles não foram
2011, p. 215). Ainda segundo a autora, o cenário atual é de uma mistura de idéias,
instalação interativa, arte interativa, net art. O problema com essas novas
distintas com base nos materiais que estão sendo usados – só que agora
motivo:
meados do séc. XX: se nos voltarmos, por exemplo, à prática artística de Andy
Warhol, veremos que a pintura em suas obras funciona como um mero suporte
obra, que se coloca abertamente como algo mecânico e industrial, mas o autor”
(Ibid., p. 249).
em comparação a outras produções, justamente por sentir que essa prática seja
necessária para, possivelmente, validar meu trabalho. Como bem apontado por
arte em mídias digitais é tamanha que, às vezes, o próprio artista tem dificuldade
p. 18).
Pensando nestas questões, talvez o ponto principal não seja procurar por
da arte faz todo o sentido. Em suas palavras, “os jovens artistas de hoje não
precisam mais dizer: ‘Sou pintor’ ou ‘poeta’ ou ‘dançarino’. Eles são simplesmente
para grandes estúdios e agências, obviamente, pois estes conheciam muito bem a
prática desde meados dos anos 1990 (GROSSMAN, 2008), mas para usuários
plataforma.
empresas e, pouco a pouco, se faziam mais acessíveis para o público menor, que
10
Obras cuja legenda no museu poderia ser lida como “técnica mista de gêneros diferentes”
(FLORES, 2011).
11
Young artists of today need no longer say, "I am a painter" or "a poet" or "a dancer". They are
simply "artists".
49
inexperiente ansiava por dicas, críticas ou qualquer outra informação que pudesse
troca que descobri artistas cujos trabalhos acompanho até hoje, como o caso do
americano Andrew “Android” Jones (Figura 1), artista cujas obras foram um “ponto
Figura 1 – Android Jones. Sem título, 2016. Composição digital (dimensões variáveis). Fonte:
www.witness-this.com
50
anos mais tarde, realizando experimentações que o levaram a outro ramo artístico.
vistas como aberturas para outras ações, e não como limitações que devastam
técnicos dos séculos passados da arte, empurra os limites de sua criação com as
novos métodos e formas criativas (Figura 2). O resultado desta combinação é uma
processo híbrido, que não seria possível se cada uma dessas ferramentas fossem
utilizadas separadamente.
Figura 2 – Android Jones. Jive Scalex, 2014. Técnicas mistas (dimensões variáveis). Fonte:
www.androidjones.com
Creio que a maior influência de Jones em meu trabalho foi e continua sendo
12
I can do things like paint with photographs and all these other ways of being creative that I
wasn’t even aware of when I was growing up. [...] It’s just about juxtaposition, the strategic
combining of different elements. It’s about making a number of decisions and combing things in the
right way. It’s kind of like a puzzle […] where there are four or five parts that need to be put
together in the right way in order to create something really powerful.
52
13
[…] There is no longer an original or one version, but many versions and iterations of every
image circulating online and offline. Even though painting seems like an offline mode of artefact, it is
in fact becoming a part of the same visual ecosystem of the fast flip – Tumblr and Artstack being
two prime examples. I’m interested in both ends of this play – of using images that I find in this
visual ecosystem, and also adding to this visual ecosystem through my own paintings. […] I am
[…] more interested in blurring these together – to make people question […] the process of
making and viewing these paintings.
53
mas, mais do que isso, a questão principal em sua obra é como tudo pode se
Figura 3 – André Hemer. New Smart Object Figura 4 – Konrad Wyrebeck. FoRRESTMA,
#70, 2014. Pigmento e acrílico sobre tela 2014. Óleo e tinta acrílica, tinta UV, tinta spray e
(76 x 56 cm). Fonte: www.ocula.com verniz sobre tela (150 x 200 cm). Fonte:
www.konradwyrebek.com
apresentadas a seguir.
54
dos autores que particularmente mais me atraíram foi Gilbert Simondon, que se
esforçou para produzir uma filosofia concreta que pudesse enfrentar os problemas
homem de ação, que rejeita a adaptação e tem uma concepção diferente de sua
nada, pelo contrário: ele integra e tenta encontrar ordem e conexão entre os
confrontado com um mundo que não coincide com ele, porque é plural, díspar.
Para o inventor, “o universo completo" ainda está para ser construído: o movi-
que podem ser integrados elementos distintos e isolados, cujas funções potenciais
não podem ser conhecidas enquanto permanecerem fora dessa rede (Ibid.). O
pacificação sem guerra, na qual cada passo se apresenta como uma solução para
mundos” (KASTRUP, 2012, p. 70). A obra surge, então, “como invenção a partir do
É importante notarmos que essa idéia de “formatação” posta por Moles não
é algo singular e inédito do autor, uma vez que se assemelha ao tão difundido
arte ignora qualquer outro fazer que não seja aquele implícito no próprio conhecer”
que eles estabelecem. Susanne Langer, contudo, pontua de que modo essa emoção
obra de arte é algo que o artista concebe ao criar a forma simbólica para
A palavra “criação”, para Langer, tem, por si só, uma definição proble-
mática. Em seu livro, Feeling and Form, a escritora comenta que um artefato –
humanas. Não é, segundo coloca, uma criação, mas um arranjo de fatores. Já uma
obra de arte, por outro lado, é mais do que simplesmente um “arranjo de coisas”:
escultura que não estava lá antes; este processo é o que a autora descreve como
palavra que pode ser aplicada às modificações que um artista realiza na aparência
de um determinado objeto por meio de seleções que ele mesmo realiza. Não é
mas ordenamentos de estruturas desequilibradas. “Um pintor recria o que ele vê,
mas para o seu olhar crítico sempre haverá [...] algo para adicionar ou excluir. Não
há outra conclusão senão dizer que o artista adiciona toques à sua realidade”
mento. Para Langer, a arte não é nem filosofia, nem substituto da filosofia, mas é,
que não existe apenas uma contaminação do ambiente na produção artística, mas
filosofar sobre ela mesma. Muitos autores, por exemplo, argumentam que, graças
ao desenvolvimento das artes digitais, existe, cada vez mais, uma diferenciação em
relação aos paradigmas estéticos anteriores, propondo, como posto por Arlindo
Fazer uma nova arte significa tornar visível novos conceitos, novas críticas e não
Neste sentido, tudo parece apontar para uma ruptura entre os dois campos,
justamente por parecer que a teoria estética e as práticas artísticas estão, cada
responsável pela cisão entre experiência artística, crítica da arte e estética e gera a
onde aplica o termo Gestell – que pode ser entendido como “armação, composição,
p.2) – para nomear a essência da técnica, destacando-a não como um meio, mas
como uma “maneira de desabrigar”. Com este pensamento, Heidegger deixa claro
que seu temor não reside na tecnologia em si, mas no seu domínio imperialista, sua
conversão em único modo de ser e que pode destruir tudo o que nos é mais
16
Essa “morte”, como bem explicada por Hal Foster em seu texto This Funeral is for the Wrong
Corpse, não deve ser vista como o encerramento da prática de pinturas, esculturas, filmes e assim
por diante. Diz respeito à inovação formal e ao significado histórico desses meios, uma vez que a
arte serviu, durante muito tempo, como o índice essencial da cultura, de uma época ou (de acordo
com a estética helegiana) da manifestação do Espírito Absoluto (FOSTER, 2002).
59
(VIRILIO, 1999); Theodor Adorno argumenta que a arte, uma vez associada e
Arlindo Machado nos alerta de que esses discursos, apesar de serem válidos
avaliados com sensatez, uma vez que é necessário que se faça uma separação do
[...] como se tudo o que se originasse dela fosse farinha do mesmo saco” (Ibid., p.
Gianni Vattimo, por exemplo, nos traz algumas saídas interessantes. Em seu
“morte” da arte prevista por Hegel. Para Vattimo, esta “morte” é algo que “nos
iniciando a partir das vanguardas do início do século XX, onde a prática artística
Essa explosão da estética se torna, como posto por Vattimo, a negação dos
teatro, a galeria, o museu. “Já não se espera que a arte seja tornada inatual e
bilidade técnica da arte, não só as obras do passado perdem a sua aura, que as
Desta maneira, a morte da arte, para Vattimo, é algo que de fato já vivemos
(Ibid). Esta “morte” expressa o fim da arte como fato específico e separado do
arte” (GIANNETTI, 2006, p. 77), já que não são mais estritamente válidos nem os
reflexão são frutos de sua obsessão pelo objeto de arte” (Ibid., p. 79, grifo da
ação, interseção e compenetração” (Ibid., p. 86), que conduz à uma geração pro-
“não existe mais uma hierarquia” (Ibid.). Partindo deste ponto, as artes híbridas
devem ser uma prática que encontra, nos meios tecnológicos, um caminho de
expansão dos espaços da arte e para a arte, bem como a dilatação de sua
Pensando neste viés é que Waldemar Cordeiro nos lembra que “a obra que
pressupondo uma zona específica para a fruição artística” (CORDEIRO, 1972, p. 3).
arte em rede e seu aspecto ubíquo, estabelecendo uma relação entre “arte e vida”
(GIANNETI, 2006).
ritárias, seletivas e repressivas da arte não puderam até pouco tempo admitir”
arte híbrida apresentadas até agora, especialmente a relação entre arte e vida a
63
sentido, cada ato, cada momento, pode, portanto, ser "estétizável" e essa
estética:
criação de obras, o filósofo é claro ao afirmar que não devemos encarar a máquina
autônoma” (MACHADO, 2001, p. 34). Há, assim, uma inteligência inscrita, por
Machado, no entanto, chama a atenção para o fato de que não podemos cair
duzindo nela elementos não previstos e para os quais ela não está programada”
(Ibid., p. 36).
“apertador de botões” são armadilhas com as quais, por muitas vezes, me deparei
esse problema pode ser constatado no próximo capítulo, onde exponho e dialogo
com a minha produção. Como bem posto por Deleuze, “seria um erro acreditar que
investida virtualmente por todo tipo de clichês com os quais torna-se necessário
creio que as leituras sobre hibridismo e estética apresentadas até aqui foram
seguir, gerar um caminho para investigar mais a fundo meu processo criativo,
das poéticas digitais ainda não foram completamente esgotados e serão recupe-
rados no próximo capítulo, justamente com o intuito de propor uma conexão mais
concisa entre teoria e prática. Por ora, apresentarei algumas reflexões que
permearam meu trabalho e que de alguma forma dialogam com as idéias expostas
aqui, além de trazer novos pontos de vista que despontaram no decorrer do meu
fazer artístico.
66
67
artista como algo simples, o estudo, na realidade, é muito mais complexo do que
no caminho; acreditam que o trabalho é direto. Esta afirmação pode ser correta em
processo da obra.
ressaltando que, quando um pintor inicia uma obra, ele anda sobre uma corda
paradoxalmente criada por ele mesmo à medida que desenha um traço escuro após
cores de modo incansável, concluindo sua obra após inúmeras alterações. Clouzot,
olhamos para o trabalho final, imaginamos que ele foi concluído em questões de
68
(Figura 5) (Ibid.).
lado, quanto para o outro. Como mesmo pontua Cecília Almeida Salles:
Creio que a tarefa seja igualmente penosa quando nos voltamos para o
exercício complexo por natureza. Além disso, devemos sempre ter em mente de
levando a frustrações:
trabalho, pois já não estamos mais satisfeitos com o resultado atual e almejamos
Quando direciono meu olhar à minha produção, percebo que meu pensar
artístico, de forma geral, mudou ao longo dos anos – resultado de uma constante
meus trabalhos anteriores, datados de 2010 a 2013 (Figura 6 e Figura 7), minha
70
Figura 6 – Karin Schmitt. Cyan Wound, 2010. Figura 7 – Karin Schmitt. Violeta, 2010. Pintura
Pintura digital (dimensões variáveis) digital (dimensões variáveis)
podemos falar hoje do sujeito divido e dilacerado pelo múltiplo, pela cultura diversa
mundo que me envolve. Manuel Bandeira, por exemplo, diz que todo homem possui
17
The next generation in simulation technologies is digital compositing. On first glance, computers
do not bring any conceptually new techniques for creating fake realities. They simply expand the
possibilities of joining together different image within one shot. Rather than keying together images
from two video sources, we can now composite an unlimited number of image layers.
72
Como coloca Salles, o artista não é um ser isolado, mas alguém inserido e
criação são únicos e emergem a partir de características que o artista vai lhes
nível específico da obra ou sistema de que faz parte” (ECO, 2013, p. 34). A criação
lidade de “ir e vir” com as execuções de comandos e salvar cada etapa de criação,
nunca “perder”, de fato, um trabalho. Desta forma, um traço ou uma cor podem ser
obra.
Isso não acontece com tanta frequência, por exemplo, em uma pintura em
tela. Neste suporte, uma pincelada não pode ser simplesmente apagada tão
facilmente: ela é corrigida com uma nova camada de tinta, com a incorporação de
com processo de criação. Fayga Ostrower, por exemplo, comenta que a criação é
1977). Esta dinâmica, segundo Salles, se caracteriza como “uma busca de algo
que está por ser descoberto” (SALLES, 2007, p. 16) e é o que gera trabalho, um
necessidade do artista seguir um percurso obrigatório, “ele pode e deve variar este
1986, p. 21).
criação de uma obra, pois, para ele, “quando se deixa o acaso agir, certos níveis
mais profundos da personalidade vêm à tona. Eles vêm à tona inevitavelmente [...],
120).
penso que a facilidade de reparos que a mídia digital traz, pode, a um primeiro
digital pode se ver preso em sua própria técnica e não aproveitar a versatilidade
74
torná-lo diferenciado.
com que as imagens forjadas nos computadores fiquem marcadas por uma
geométricas puras e lisas. Para o autor, tudo indica que, para se dar conta de um
deixar “sujar” e se contaminar por uma certa taxa de desordem (MACHADO, 2001).
Sob esta ótica, creio que umas das principais mudanças em meu
trabalhos – tais como repetições, imagens pixeladas, canais invertidos, filtros, etc.
experimentação, por outro lado, é extremamente facilitada pelo fato de que a mídia
vantagem que permite ao artista nunca perder, de fato, uma imagem, atribuindo o
produzir sua obra, a mídia digital só produzirá resultados interessantes uma vez
(SALLES, 2007, p. 35). As combinações são, por sua vez, testadas e, assim,
opções são feitas e um objeto com organização própria vai surgindo. A obra
Com relação a esse percurso, é interessante como nós esperamos que, com
tornará mais claro, conciso e organizado. Talvez seja verdade para a primeira
criativo, como já colocado, não findou sua modificação, pelo contrário: creio que
criativo das produções apresentadas neste capítulo foi confuso e, por vezes,
esfera dos autorretratos, foi necessário traçar um longo trajeto até compreender –
introdutória pesquisa sobre este último tópico seja de extrema importância para a
explorados ao longo deste texto. Este conciso estudo, portanto, será apresentado
a seguir.
18
[…] a representation or delineation of a person, especially of the face, made from life, by
drawing, painting, photography, engraving, etc.; a likeness. Other semantic roots of the term attach
it to the idea of likeness: for example, the Italian word for portrait, ritratto, comes from the verb
77
Shearer West em sua obra Portraiture (Ibid.) comenta que os retratos não
são apenas semelhanças, mas obras de arte que representam como a ideia de
evocados. Por isso, embora os retratos representem pessoas, muitas vezes são as
retratos mostram uma visão distorcida, ideal, ou parcial do modelo, mas o retrato
tanto, para a autora, essa suposta associação do retrato com cópia e imitação,
muitas vezes levou essa forma de arte “sofrer de um baixo status” (Ibid., p. 13,
tradução nossa19).
ritrarre, meaning both “to portray” and “to copy or reproduce”. However, this simple definition
belies the complexities of portraiture.
19
[…] to suffer from a low status.
78
muitos movimentos de arte do século XIX e início do século XX, em que os artistas
passado. Por fim, a terceira transformação se deu nas grandes mudanças sociais
do artista e escritor inglês Clive Bell, que criou o termo “emoção estética”, definido
por ele como um sentimento que fora estimulado pelo que chamou de “forma
significante”20 (BELL, 1992). Embora ele não rejeitasse totalmente a arte represen-
tacional, o assunto era irrelevante para ele – e, uma vez que o retrato era mais
Em seu texto Art and Its Significance, publicado em 1914, Bell pontua que
“Pintura Descritiva”. De acordo com o autor, apesar de serem obras que nos
20
“A ‘hipótese metafísica’ sugere que a forma significante não é apenas uma certa combinação (não
especificada) de linhas e cores. Roger Fry (1920), que partilha a perspectiva de Bell, comenta que a
forma significante é algo mais do que padrões agradáveis” (LAKE, 2006). Um exemplo que Bell dá
em seu texto para explicar seu conceito é o exemplo da pintura “A Estação de Paddington”, de
William Powell Frith, que não é considerada uma obra de arte pelo crítico precisamente porque não
tem forma significante, ou seja, porque é uma pintura meramente descritiva (BELL, 1987).
79
interessam e nos movem de diversas formas, esses trabalhos não nos movem no
sentido estético, não sendo, em sua opinião, obras de arte. Esses trabalhos,
portanto, “deixam intocadas as nossas emoções estéticas, pois não são suas
(WOODALL, 1997).
revela que muitos dos retratos realizados durante o período modernista por
artistas como Klimt, Picasso, Matisse e Francis Bacon, aparentavam ter uma certa
194, tradução nossa22). Por exemplo, alguns dos mais eficazes experimentos no
estilo cubista de Picasso eram seus retratos dos comerciantes de arte, tais como
21
They leave untouched our aesthetic emotions because it is not their forms but the idea or the
information suggestion or conveyed by their forms that affect us. [...]
22
[…] that have more associations with the artist’s technical interests than with the sitter’s status
or character.
80
Figura 8 – Pablo Picasso. Retrato de Daniel Figura 9 – Pablo Picasso. Gertrude Stein, 1905-
Henry Kahnweiler, 1910. Óleo sobre tela 6. Óleo sobre tela (100 x 81,3 cm). Fonte:
(100 x 72 cm). Fonte: pt.wahooart.com www.metmuseum.org
modernistas, é somente nas últimas três décadas do século 20, a chamada era
(WOODALL, 1997). Existe atualmente uma exploração das relações entre indivi-
dualidade e, por parte dos artistas, tem havido uma maior autoconsciência sobre
se voltar à prática de maneira lúdica, irônica e até mesmo paródica (WEST, 2004).
maneiras de trabalhar para alcançar um norte; pensar, pintar, ler e escrever para
3.3 Autorretrato
Sinceramente, a prática deste tipo de representação não era minha intenção inicial
que consegui traçar tantos diálogos interessantes, que acabaram se tornando algo
podem estar presentes nele. Além disso, o retrato do próprio artista é dúbio, pois é
uma obra do artista e também feita por ele mesmo; diz respeito à sua identidade e,
82
com a imagem. Para a autora, com os autorretratos não importa “o quão medíocre
frente a frente com outro indivíduo antes que ele se reverta para uma imagem”
manter fiéis a seus próprios desejos sobre como se imaginar interna e externa-
própria obra de arte em si. Desta forma, esse tipo de tema ainda faz com que os
quem ou o que é essa pessoa que está olhando para trás do espelho, além de estar
face a face com a idéia do quão assustador é estar sozinho ou apenas ser você
das a este gênero (Figura 10). Muitos autores costumam analisar a prática de
problema da vida interior do homem (ROSENBERG, 1964) ou, ainda, uma busca de
sua própria identidade e uma ânsia de auto-investigação até o fim de sua vida
(CHAPMAN, 1990).
23
[…] how mediocre the image, how brief and faltering its illusion, there is always the sense of
coming face to face with another person before that person reverts do an image.
83
Outro exemplo relevante, Frida Kahlo (Figura 11) foi umas das grandes
trabalho. Obcecada com sua imagem, ela disse a famosa frase: "Eu retrato a mim
mesma porque estou constantemente sozinha e porque sou o assunto que conheço
Rivera, assim como seu divulgado caso com Leon Trotsky, antes de seu
1999).
Figura 10 – Rembrandt van Rijn. Self-Portrait, Figura 11 – Frida Kahlo. Autorretrato com Bonito,
aged 51, 1657. Óleo sobre tela (53 x 43 cm). 1941. Óleo sobre tela (55 x 43,5 cm). Fonte:
Fonte: www.nationalgalleries.org www.abcgallery.com
84
tipo de tema, percebi que o exercício desenhar a mim tornou-se por vezes penoso,
qual minha produção está inserida e, por fim, da minha identidade – como indiví-
com artistas e autores. Desde o início da produção das pinturas minha intenção era
ou ao meio do processo de criação de um quadro, uma vez que ele está finalizado –
desta forma, caso o artista não tenha registrado seu work in progress em vídeo,
como fez Clouzot com Picasso, não conseguiremos desvendar seu caminhar
24
As layers (ou camadas) do Photoshop são como folhas de acetato que podem ser empilhadas de
diferentes formas. As camadas são usadas para realizar tarefas como a composição de várias
imagens, adição de texto em uma imagem ou adição de formas de vetores gráficos ou pinceladas.
Ainda há a possibilidade de alterar sua opacidade ou aplicar um estilo de camada para adicionar um
efeito especial, como uma sombra projetada ou um brilho.
87
Figura 16 – Karin Schmitt. Acesso, 2015. Composição de pinturas digitais acessando diferentes
camadas (dimensões variáveis)
conectividade e do hibridismo.
com símbolos e textos para imagens digitais. Assim, o domínio da imagem trazida
pelo cinema e pela televisão – algo que a autora denomina como “imagem única”
88
(FRIEDBERG, 2006, p. 194) – foi substituído por janelas de texto e pop-up, as
chamadas “imagens múltiplas”, que tornaram-se uma nova sintaxe visual na idade
contemporânea (Ibid.).
interfaces gráficas que possibilitam que você divida o monitor em várias janelas.
Dentro de cada janela, você pode executar um programa diferente ou exibir dados
modo cultural mais difundido (Ibid.). Porém, como coloca Joanne Ciulla, "a
tecnologia não nos deu mais tempo, só elevou as expectativas do que poderíamos
própria identidade.
25
Característica do sistema operativo que permite repartir a utilização do processador entre várias
tarefas aparentemente simultâneas.
26
Technology didn't give us more time, it just upped the expectations of what we could do in the
same time.
27
As a result, the public realm has become a collective repository of dreams and designs from
which the self requires refuge. How can one accomplishing the similar escape in new media? It can
89
meu trabalho.
extenso, a iniciar pela vasta lista de autores e estudiosos que tratam do assunto,
uma distinção clara e precisa do termo identidade que, muitas vezes, se confunde
que se remodela com as alterações do meio social em que o indivíduo está inserido.
only be accomplished by refusing all options and customization, and ultimately refusing all forms of
interactivity. Paradoxically, by following an interactive path one does not construct a unique self but
instead adopts already pre-established identities.
90
substituto à personalidade e explicando a constituição do eu de forma dinâmica,
Logo, como colocado por Ciampa, seria mais lógico nos perguntarmos como
mudança, que tem sua base nas influências sociais e históricas é, aliás, algo muito
discutido por autores que versam sobre sua manifestação no homem pós-
ele, a identidade não tem a solidez de uma rocha e não é algo garantido para toda
próprio indivíduo toma, os caminhos que percorre e a maneira como age são
descentralizado é um conceito muito presente nas obras de Stuart Hall, que pontua
características que, até então, vinham nos fornecendo localizações sólidas como
indivíduo em que, quanto mais a vida social se torna mediada pelo mercado global,
parecendo ‘flutuar livremente’” (Ibid., p. 75). Peter Burke, em seu livro Hibridismo
(BURKE, 2008).
Voltando novamente a Hall, o autor ainda pontua que todo esse processo
interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam (HALL, 1987). Recorrendo
identidade se torna um bricoleur, que constrói todo tipo de coisas com o material
obra Life on the Screen: Identity in the Age of the Internet, a autora descreve como
o computador nos oferece dois novos modelos de mente e um novo meio no qual
meios digitais. À medida que os seres humanos tornam-se cada vez mais
noção de realidade, tornando-a flexível e mutável. Neste viés, podemos pensar que
digital, pois ela é o principal ambiente dessa pluralidade, onde existe um espaço de
instáveis (Ibid.).
tornando-se cada vez mais difícil de manter, já que os computadores não apenas
fazem tarefas para nós, mas também nos alteram, incluindo nossos modos de
pensar sobre nós mesmos e sobre outros indivíduos. Como posto por Turkle, nós
94
utilizamos a tecnologia digital para nos tornarmos confortáveis com novas formas
(TURKLE, 1997).
“sobreposição” de identidades me faz pensar como isso pode ser traduzido para o
definição de meu próprio rosto (Figura 17, Figura 18, Figura 19, Figura 20, Figura
Figura 17 – Karin Schmitt. Autorretrato 16, Figura 18 – Karin Schmitt. Autorretrato 17,
2016. Pintura digital (dimensões variáveis) 2016. Pintura digital (dimensões variáveis)
Figura 19 – Karin Schmitt. Autorretrato 19, Figura 20 – Karin Schmitt. Autorretrato 21,
2016. Pintura digital (dimensões variáveis). 2016. Pintura digital (dimensões variáveis)
96
Figura 21 – Karin Schmitt. Autorretrato 22, 2016. Pintura digital (dimensões variáveis).
97
Figura 22 – Karin Schmitt. Autorretrato 25, 2017. Pintura digital (dimensões variáveis).
98
independentes de nossa própria identidade. Por tudo o que sabemos sobre nós
(GERGEN, 2000).
a concepção de uma pessoa a respeito de si mesma pode ser distinguida por duas
categorias: o ''eu atual'' (now self), uma identidade estabelecida para os outros, e
(MEHDIZADEH, 2010).
da identidade, os papéis que o indivíduo assume ao longo de sua vida fazem parte
que será vivida enquanto projeto de vida. A identidade, desta maneira, é posta e
possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar – ao menos
páginas em redes sociais são ambientes ideais que permitem que os proprietários
não só manifestem estes diferentes “eu”, mas também joguem com sua identidade
entanto, que estas manifestações das diferentes identidades são falsas e que, no
Por fim, ainda adiciona que seria insensato culpar os recursos eletrônicos
pelo “estado das coisas” e argumenta que é justamente porque somos constante-
fotografias ou selfies28 que sejam atraentes, podendo realizar uma exibição pública
O registro de selfies, aliás, é outro ponto com o qual penso que minha
suporte digital e mídias eletrônicas e por ser uma ação praticamente diária de
da em nossa sociedade atual, pode ser entendido como uma revolução sócio-
um modo neoliberal, até mesmo narcisista – mas cada vez mais normativo – de
"auto-branding"29.
de selfies. Adam Gopnik (2015), por exemplo, comenta que essas imagens são um
28
Fotografia, geralmente digital, que uma pessoa tira de si mesma.
29
Segundo a Wikipédia, “BRAND” é uma coleção de imagens e ideias que ilustram um produtor
econômico. Refere-se aos atributos descritivos verbais e símbolos concretos, como o nome, logo,
slogan e identidade visual que representam a essência de uma empresa, produto ou serviço.
Branding, desta forma, pode ser definido como o ato de administrar a imagem/marca de uma
empresa, sendo o Auto-Branding a administração de uma imagem pessoal (BRANDING, 2016).
101
(GOPNIK, 2015, tradução nossa30). O autor, aliás, comenta como a prática pode
ser considerada vazia, já que, segundo ele, um autorretrato nas mãos de um Van
ego.
Sabine Oelze (2015) também segue a mesma linha colocando que selfies
pessoas sorridentes que se apresentam em suas selfies parecem ser, “na melhor
Devo dizer, no entanto, que discordo desses autores. Creio que nas mãos de
alguém engenhoso, a selfie pode não ser algo puramente narcisista, pelo contrário:
manter um diário ou um jornal ou, até mesmo, ser uma espécie de ritual de “auto-
invenção” diária. A seguir encontram-se alguns artistas que dialogam com essa
autorretrato.
30
[…] informal self-portrait, produced by a cheap technology, […] an expression of the passing
ecstatic moment, […] of being glad to find ourselves where we are and wanting to see how we
looked while we were, briefly, pleased with ourselves.
31
[…] in the best case, silly – and in the worst case plainly narcissistic.
102
participação de vários artistas que tratam sobre este tema, o curador Alain Bieber
explora como a questão crucial da existência humana, "Quem somos nós?", mudou
sob a influência da mídia digital, levando a questão "Quem eu quero ser?" (ou
"Quem eu deveria ser"?). Dentro da rede que existe agora, a auto-imagem é muito
mais definida do que era em dias pré-digitais. O “eu” digital, assim, tornou-se ágil,
ativo, criativo e torna-se mais artístico o tempo todo, fazendo com que todos
sejam capazes de projetar qualquer imagem virtual que desejar (BIEBER, 2015).
103
Nos dias atuais, tudo é incrivelmente rápido e, para Alain Bieber, selfies são
tornando-se uma espécie de afirmação de nós mesmos. Para o curador, o foco não
é sobre "Penso, logo existo", mas mais sobre "Eu existo, logo sou". Desta forma, as
pessoas querem deixar a sua marca no mundo: os traços de sua identidade (Ibid.):
legado através das redes sociais, é algo que vem sendo muito estudado e
explorado nas plataformas online, afinal, cada vez mais as relações humanas
permite que cada utilizador escolha uma pessoa para gerir a sua página após a
morte: é o que a rede social chama de “contato legado”, que passa a gerenciar a
até dez pessoas como executores de uma conta após a morte e, quando o usuário
passa muito tempo sem entrar em seu perfil, os contatos escolhidos recebem um
da sua morte e explicando os seus desejos para o futuro da conta (Ibid., 2017).
iPhone e criado para ser ensinado a pensar como nós através de mensagens de
Eugenia Kuyda, que utilizou as mensagens trocadas entre eles para criar o
32
Years ago when I was a journalist, I worked with some Chinese on a travel documentary. In front
of all the tourist sights they took pictures of each other. They wanted to have proof that they had
actually been to those places. We used to laugh at tourists who did this, but today everybody is
doing it. People are looking for some kind of anchor and – to take it a step further – it has
something to with the fear of death. They want to leave something of themselves behind on the
social networks.
33
Programa de computador que tenta simular um ser humano na conversação com as pessoas.
105
pensarmos que a questão da morte, no entanto, não está presente somente no ato
esse tipo de concepção por parte de vários autores que tratam sobre este assunto.
O autor ainda pontua que o retrato, à medida que o tempo avança, observa
o artista envelhecer, assistindo a um rosto uma vez jovem tornar-se enrugado com
a idade. Indiferente, o retrato observa o tempo e, a cada dia que passa, descobre a
morte.
34
[…] as a rule, they originated out of a deep-rooted desire on the artist's part to be
'immortalized'.
35
On the easel the portrait is finished. The painter looks at the portrait, at the mirror and [...] they
are identical: the look and disposition of the face in each are alike. [...] The portrait remains, an
authentic copy, a surrogate for the mirror now removed. The portrait is a record of the mirror;
ephemeral and mobile, the reflection is frozen, its fleeting moment caught. The painter looks at his
portrait; a surrogate for the mirror, the portrait looks at the painter.
106
Figura 27) e refletindo sobre questões abordadas até agora, é interessante pensar
que esse desejo de “imortalização” pode ser ainda mais forte, pois, diferentemente
de uma pintura em tela ou uma fotografia revelada, que sofrem ações físicas com
suporte digital minha imagem pode ser armazenada em diferentes locais (drivers,
nuvens e redes) sem nunca sofrer perdas – contanto, é claro, que os arquivos
permaneçam intactos – e pode ser duplicada e alterada das mais variadas formas,
36
The painter is dying. The painter is dead. The portrait alone remains, the last element of in which
the look, from reflection to reflection, from painter to mirror, from mirror to painter, from painter to
canvas.
107
Figura 24 – Karin Schmitt. Autorretrato 31, 2016. Pintura digital (dimensões variáveis).
108
Figura 25 – Karin Schmitt. Autorretrato 32, 2017. Pintura digital (dimensões variáveis).
109
Figura 26 – Karin Schmitt. Autorretrato 33, 2017. Pintura digital (dimensões variáveis).
110
Figura 27 – Karin Schmitt. Autorretrato 34, 2017. Pintura digital (dimensões variáveis).
111
compulsão para nos otimizarmos. Alain Bieber (2015) compara esta ação com o
178).
Nessa área, o fluxo se faz presente em obras que transitam pela rede de
fazem cada vez mais presente nas relações entre homem e mídias digitais, como
como capacitar um determinado meio para uso ou como liberar a força latente de
suas palavras,
porânea ser a única que possui característica rebelde, pois, na realidade, todo o
negação dos antigos – e, simultaneamente, uma nova forma, uma nova imagem
possível de um novo mundo, ou, como colocado por Umberto Eco, uma imagem de
paradigma da estética digital. Apesar disso, na ocasião optei por não realizar uma
imersão tão aprofundada, justamente porque minha intenção era a de trazer essa
alguns conceitos, tais como “movimento”, “abertura” e “fluxo”, palavras estas que,
em obras desta natureza. Se nos voltarmos uma vez mais ao hibridismo, veremos
Obra Aberta, onde o autor argumenta que os artistas contemporâneos dão uma
atenção especial aos ideais de “informalidade, desordem, casualidade e
esta se origina; não a obra-resultado, mas o processo que preside a sua formação;
que se caracteriza pelo convite a fazer a obra com o autor; 2) em uma obra de arte,
leituras possível, cada uma das quais leva a obra a reviver, segundo uma perspec-
tiva, um gosto, uma execução pessoal” (Ibid., p. 63, grifo do autor). Neste sentido,
também, aberta, ou seja, passível de mil interpretações diferentes, sem que isso
interpretação e uma execução, pois em cada fruição a obra revive dentro de uma
perspectiva original” (Ibid., p. 40) e “uma forma é uma obra realizada, ponto de
processo artístico – mas, quando me volto ao meu trabalho e a todo meu trajeto
criativo descrito até agora, acredito que seja completamente possível associarmos
ao outro que irá contemplar o meu trabalho, mas à dinâmica estabelecida entre
115
obra e artista, entre mim e minha criação, que, por si só, é rica e suscetível a
infinitas transformações.
metamorfose” (SALLES, 2007, p. 24), onde não existe uma obra considerada
acabada pelo artista. Trata-se de uma visão que põe em cheque o conceito de obra
finalizada, isto é, a obra como uma forma final e definitiva. Estamos sempre diante
nossa imagem e nosso “eu” a todo tempo. Todas estas relações e diálogos
qual tanto Eco, quanto Salles, se referem pois, como Anne Cauquelin nos lembra, a
noção “de conclusão das formas [...] não tem mais nenhuma prerrogativa nesse
por um contexto cultural em que a lógica de dois valores (verdadeiro e falso) não é
de mais valores, que dão lugar, por exemplo, ao indeterminado como resultado
válido da operação artística. Para Eco, é daí que surge o conceito de obra de arte
muito similar em torno das possibilidades. No entanto, enquanto Eco constrói seu
2007, p. 497). A palavra “fluxo”, para ela, é uma “qualidade, ato ou efeito de fluir”
a estética, para a autora, abre-se para outras possibilidades, como já discutido por
contrapõe aos discursos estéticos tradicionais, que pregam a forma fixa e perene:
Recorrendo mais uma vez à Eco, o autor nomeia essa teia de estados – ou
universos – possíveis como “infinidade da obra acabada” (ECO, 2013, p. 64). Nesta
mesma página, o autor define a obra de arte como uma forma, isto é, um
considerada não como um fecho de uma realidade estática e imóvel, mas como a
portanto, tem infinitos aspectos, que são somente “partes” ou fragmentos, pois
final representa apenas uma outra forma potencial, apenas um dos momentos
118
obra (Figura 28, Figura 29, Figura 30 e Figura 31). É lógico que esta abertura está
implícita em todas as obras de artes, sejam elas híbridas ou não, mas, no meu
pelo suporte digital, justamente porque ele permite um número maior e mais rápido
Figura 28 – Karin Schmitt. Autorretrato 35, 2017. Pintura digital (dimensões variáveis).
120
Figura 29 – Karin Schmitt. Autorretrato 36, 2017. Pintura digital (dimensões variáveis).
121
Figura 30 – Karin Schmitt. Autorretrato 37, 2017. Pintura digital (dimensões variáveis).
122
Figura 31 – Karin Schmitt. Autorretrato 38, 2017. Pintura digital (dimensões variáveis).
123
Figura 32 – Karin Schmitt. Possibilidades de resultados da obra Autorretrato 38, 2017. Pintura
digital (dimensões variáveis).
124
tempo em que me reinvento a cada pincelada, a cada gesto, jogando com minhas
diálogo com a abertura, que se manifesta em minhas obras, mas, muito mais
pensamento criativos.
125
CONSIDERAÇÕES FINAIS
à medida que avançava nas leituras dos diversos autores aqui citados. E confesso
Mergulhar na teoria fez com que o conflito de antigas idéias que eu possuía
híbrida.
“Libertação” pode soar um tanto exagerado, mas, de fato, talvez não exista
uma palavra para descrever melhor este processo. Aqui cito mais uma vez a idéia
1996), uma vez que esta frase ainda me causa inquietude. Do híbrido nasce a
nas fronteiras entre formas que nos despertam da narcose narcísica” (Ibid., p. 75).
liberação de energia a que McLuhan se trata não se restringe apenas à obra em si,
que fogem do foco principal” (PERES, 2015, p. 101). Esses desvios, no entanto,
com teorias a respeito das artes híbridas e digitais, pude descobrir que os desvios,
na maioria das vezes, são mais frutíferos do que os caminhos retos. Desviar está
implícito o “se perder”, o “se desorientar”, mas não apenas isso: significa
algo das coisas que nós próprios não somos” (NIETZSCHE, 2016, p. 145).
incontáveis possibilidades e aberturas. Pois Sartre nos lembra que o existente não
pode reduzir-se a uma série finita de manifestações, já que cada uma delas está em
lidade de uma imagem unitária e definitiva” (ECO, 2013, p. 47), dando espaço a
significados, então a frase de W.Y. Tindall (1955), a arte é uma estrutura que
qualquer pessoa, inclusive seu autor, pode “usar” como bem entender, nunca foi
tão apropriada. Este caminhar artístico, portanto, é apenas um ponto, um
ora, elas existem apenas em potência, mas, talvez, se atualizem em futuras e novas
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