Documentos Temáticos - ODS 6, ODS 7, ODS 11, ODS 12 e ODS 15
Documentos Temáticos - ODS 6, ODS 7, ODS 11, ODS 12 e ODS 15
Documentos Temáticos - ODS 6, ODS 7, ODS 11, ODS 12 e ODS 15
TEMÁTICOS
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
6 - 7 - 11 - 12 - 15
BRASIL
DOCUMENTOS TEMÁTICOS
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
6 - 7 - 11 - 12 - 15
1
Organização
Haroldo Machado Filho
Colaboradore(a)s de conteúdo
Equipes técnicas no Brasil:
PNUD
ONU Ambiente
ONU Habitat
RCO
UNESCO
UNOPS
Revisão Final
Amanda Lima
Apoio
Equipe de País das Nações Unidas no Brasil
Encoraja-se o uso, a reprodução e a disseminação deste documento. É permitida a reprodução parcial ou total deste
documento, desde que citada a fonte. Não é autorizada a venda ou seu uso comercial sem permissão prévia por
escrito das Nações Unidas no Brasil.
Os seguintes termos deste glossário não representam a opinião das pessoas envolvidas na elaboração do documento
e nem necessariamente a decisão ou a política declarada dos organismos do Sistema das Nações Unidas no Brasil, e
as citações ou uso de nomes comerciais não constituem endosso.
SUMÁRIO
Carta de apresentação..................................................................................................5
1
UNITED NATIONS NAÇÕES UNIDAS
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e suas metas desafiam todos os países a serem
ambiciosos e inovadores a fim de buscarem soluções multidimensionais para desafios
multidimensionais, bem como de estabelecerem meios de implementação inclusivos, eficientes e
transparentes, com vista a tornar realidade essa complexa agenda de desenvolvimento, do nível global
ao subnacional.
Assim, para que a Agenda 2030 seja efetivamente implementada, os governos têm a responsabilidade
primária de realizar acompanhamento e revisão, tanto em âmbito nacional quanto regional e global,
do progresso alcançado na implementação dos Objetivos e metas até 2030.
O Fórum Político de Alto Nível de 2018 terá como foco a revisão dos ODS 6, 7, 11, 12 e 15 e como tema
central "Transformação para sociedades sustentáveis e resilientes". Temos certeza de que esse evento
e as temáticas a serem nele discutidas serão de extrema relevância para a continuidade dos exercícios
de acompanhamento e revisão do progresso dos ODS no mundo, bem como no Brasil.
Nesse sentido, o Sistema das Nações Unidas no Brasil parabeniza a Comissão Nacional para os ODS
pelos avanços verificados no último ano, sobretudo no que diz respeito à publicação de seu Plano de
Trabalho 2018-2019 e ao lançamento da 1ª edição do Prêmio Nacional dos ODS.
As Nações Unidas no Brasil reconhecem, ainda, os importantes esforços empenhados até o momento
por parte das instituições governamentais e igualmente par parte das organizações da sociedade civil,
do setor privado e dos cidadãos em geral, no sentido de assegurar que essa Agenda seja incorporada
no trabalho e na vida quotidiana dos brasileiros e das suas instituições.
Neste momento preparatório para o Fórum Político de Alto Nível de 2018, o Sistema das Nações
Unidas no Brasil tem o prazer de encaminhar à Comissão Nacional para os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável “documentos temáticos” (issue papers) sobre cada ODS que será objeto
de apreciação durante a sessão do Fórum neste ano.
5
UNITED NATIONS NAÇÕES UNIDAS
A ideia de elaboração desses insumos foi inspirada nos subsídios que a ONU aportou durante a etapa
preparatória da Rio+20, quando o Governo Federal gentilmente convidou as Nações Unidas para
colaborar em alguns trabalhos preparatórios da Conferência, como os diálogos, no âmbito dos quais
foram realizados “papers” para instigar discussões temáticas.
Baseado nessa experiência anterior, bem como na bem-sucedida primeira edição publicada no âmbito
do processo preparatório do HLPF de 2017, cada agência especializada, fundo ou programa líder de
cada um dos ODS temáticos no âmbito do Grupo Assessor da ONU para a Agenda 2030 no Brasil ficou
responsável por coordenar o trabalho de elaboração destes “documentos temáticos”, frutos de uma
profícua construção coletiva. Em exercício desde 2014, o Grupo Assessor conta com a participação de
17 organismos do Sistema ONU: PNUD (inclusive por meio do IPC-IG), CEPAL, FAO, ONU-Habitat, ONU
Mulheres, OPAS/OMS, OIT, PNUMA, PMA, UNAIDS, UNESCO, UNFPA, UNICEF, UNIDO, UNODC, UNOPS
e UNV; contando ainda com a participação de membros do Governo Federal.
As Nações Unidas no Brasil esperam que o exercício consubstanciado por estes “documentos
temáticos” sejam úteis para a construção de agendas propositivas e comprometidas com a
implementação da Agenda 2030 em âmbito nacional e subnacional.
O Brasil está no caminho da busca pelo desenvolvimento sustentável e as Nações Unidas continuam
apoiando a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável em todo o país, em todos
os setores. Esperamos que esta parceria se fortaleça cada vez mais a fim de que os ODS sejam
alcançados sem que ninguém seja deixado para trás.
Niky Fabiancic
Coordenador Residente da ONU no Brasil
6
DOCUMENTOS TEMÁTICOS
Nações Unidas no Brasil
Palavras-chave
Acesso universal e equitativo; Água Doce; Água Potável; Águas residuais; Gestão
integrada de Recursos Hídricos; Gestão sustentável; Saneamento.
Sumário executivo
O Brasil detém 12% das reservas de água doce do planeta e 53% dos recursos hídricos
da América do Sul. Cerca de 60% de seu território é ocupado por bacias e rios que
compartilham fronteiras. Entretanto, o acesso universal e equitativo à água potável e
saneamento, tema principal do ODS 6, ainda é um grande desafio a ser vencido pelo
país, principalmente por causa das desigualdades regionais em termos de provisão de
serviços de abastecimento e saneamento.
Se, por um lado, é muito importante contar com ações do governo e da iniciativa privada
para melhorar a infraestrutura e os serviços de água e saneamento, na visão das
Nações Unidas, a garantia de disponibilidade e gestão sustentável da água e
saneamento no Brasil também depende de efetivas mudanças de comportamento
humano e de iniciativas que envolvem ações coordenadas junto a comunidades locais
7
e organizações da sociedade civil. Nesse sentido, para promover maior engajamento
social, é necessário fortalecer as iniciativas de comunicação e sensibilização pública
das políticas e programas nacionais de educação e ciência.
Principais conceitos
Água doce
Água potável
A água potável é aquela que não apresenta riscos à saúde humana e que pode ser
utilizada para consumo pessoal, ou seja, para beber, cozinhar, preparar refeições e
tomar banho. A água potável precisa estar livre de quaisquer agentes patogênicos e de
altos níveis de substâncias tóxicas. O padrão de “potabilidade da água” é estabelecido
a partir de um conjunto de parâmetros microbiológicos, físicos, químicos e radioativos e
de respectivos limites aceitos pela saúde pública para o consumo humano da água.
Águas residuais
As águas residuais contêm resíduos sólidos ou líquidos, que podem causar poluição ou
contaminação dos recursos hídricos. Elas provêm de efluentes líquidos de edificações,
indústrias, agroindústrias e agropecuária, tratados ou não. Após passar por processos
de tratamento, podem se tornar potáveis e aptas para consumo humano.
8
respectivos ecossistemas, terrestres e relacionados. Leva em consideração as múltiplas
finalidades de uso humano, bem como os princípios, diretrizes e normativas que
regulam a conservação e o uso dos recursos hídricos.
Saneamento
A gestão da água e do saneamento no Brasil está baseada em duas leis federais: a Lei
nº 9.433/1997, conhecida como a “Lei das Águas”, que instituiu a Política Nacional de
Recursos Hídricos (PNRH) e o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos (SINGREH); e a Lei nº 11.445/2007, conhecida como a “Lei do Saneamento”,
que estabeleceu as diretrizes nacionais e a política federal para o saneamento básico.
De acordo com a Lei das Águas, a PNRH está centrada em seis princípios
fundamentais: 1. A água é um bem público; 2. A água é um recurso limitado e com valor
econômico; 3. É preciso garantir os usos múltiplos da água; 4. Em casos de escassez,
os usos prioritários são o abastecimento público e uso para saciar a sede animal; 5. A
bacia hidrográfica é a unidade mínima de gestão de recursos hídricos; 6. A gestão dos
recursos hídricos deve ocorrer de maneira descentralizada. A citada gestão
descentralizada e participativa dos recursos hídricos é viabilizada pelo SINGREH. O
Sistema tem como objetivos coordenar a gestão integrada das águas; arbitrar
administrativamente os conflitos relacionados com os recursos hídricos; implementar a
PNRH; planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos recursos
hídricos e promover a cobrança pelo uso de recursos hídricos por parte dos grandes
usuários. Integram o SINGREH: a Agência Nacional de Águas (ANA), que regulamenta
9
o uso das águas de rios e lagos de domínio da União e gerencia o próprio SINGREH; e
três órgãos consultivos e deliberativos que formulam e implementam a política de
recursos hídricos em cada jurisdição relevante. O SINGREH também conta com vários
instrumentos para sua operacionalização, tais como: um sistema de informações;
instrumentos normativos, econômicos e financeiros como a outorga (i.e. concessão) de
direito de uso, a cobrança pelo uso da água e o enquadramento dos corpos d’água em
classes de uso; e instrumentos de planejamento e gestão estratégica, como os planos
de bacia hidrográfica. De modo geral, conforme observado pelo próprio governo, a
implementação de todos esses instrumentos tem sido mais difícil e lenta em áreas
rurais.
De forma geral, as leis federais das Águas e do Saneamento têm contribuído muito para
a realização de avanços significativos rumo à gestão sustentável da água e do
saneamento no Brasil. Apesar desses avanços, cerca de 35 milhões de pessoas ainda
não têm acesso à água tratada, e cerca de 100 milhões (i.e. metade da população do
Brasil) ainda não é servida por sistemas de coleta de esgotos. Além disso, apenas 40%
das águas residuais coletadas passa por estações ou processos de tratamento, e o
restante 60% é lançado sem tratamento algum nos rios, nos lagos ou no mar.
10
Soma-se a tudo isso a crescente incidência de eventos de extrema escassez ou excesso
de água, tais como estiagens, secas, inundações, que representam 84% dos desastres
naturais ocorridos no país entre 1991 e 2012 2. Esses eventos, causados em parte por
fatores naturais das próprias regiões geográficas onde ocorrem, tem se intensificado por
causa de efeitos associados à mudança do clima, em grande parte provocadas ou
aceleradas pelo desenvolvimento urbano, o desmatamento e outras ações de origem
humana. Portanto, o desafio de alcançar o ODS 6 e suas metas é ainda muito grande
para o Brasil e, para vencê-lo, é preciso contar com a colaboração de todos os setores
da sociedade.
Embora o Brasil seja um dos maiores detentores de água doce do mundo, grande parte
da população do país ainda sofre com a falta d’água de água potável e segura durante
boa parte do ano, e com o baixo acesso a serviços de saneamento e higiene pública.
Esse problema é agravado pelas desigualdades regionais e sociais em termos de
provisão e acesso a serviços de abastecimento de água e saneamento. Em particular,
a região Norte tem os indicadores mais baixos do país (56,9% de abastecimento de
água, 8,7% de coleta de esgoto, do qual é tratado apenas 16,4%); enquanto a região
Sudeste é a região com a melhor situação, i.e. 91,2% de cobertura de abastecimento
de água e 77,2% de coleta de esgoto, sendo que 47,4% é tratado.
11
domicílios do país ligados à rede geral tinham disponibilidade diária de água, no
Nordeste apenas 66,6% dos domicílios estavam nessa situação.
Além das desigualdades entre macrorregiões geográficas do país, também existe muita
desigualdade no que se refere à demanda de água potável em áreas rurais e urbanas.
No Brasil, 16% da população vive em áreas rurais. De acordo com dados da ANA, essa
população demanda 33,8m3/s para seu abastecimento, que, de forma geral, é provido
por meio de captações isoladas poços ou cisternas. A população urbana, 84% do total
da população brasileira, demanda 488,3m3/s, cerca de 15 vezes a demanda de
abastecimento da população rural. Nas cidades, os serviços de abastecimento são
geralmente providos por companhias públicas estaduais, municipais ou do setor
privado.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o saneamento deve ser uma das
principais prioridades de governo de qualquer país. Isso principalmente porque a falta
de saneamento acarreta elevados custos sociais e ambientais, pois gera poluição dos
corpos hídricos que destrói espécies e ecossistemas aquáticos e terrestres de grande
valor econômico e provoca internações hospitalares por doenças infecciosas
gastrointestinais causadas pelo contato ou a ingestão via alimentar de bactérias,
parasitas e substâncias tóxicas como, por exemplo, os sais e metais pesados derivados
dos esgotos agrícolas e industriais.
Se, por um lado, esse problema é causado, em parte, pela baixa disponibilidade e
investimento de recursos públicos no setor de saneamento, por outro lado, já existem
estudos que demonstram que o investimento em saneamento pode impulsionar a
economia. De acordo com a OMS, a cada dólar investido em saneamento, há um retorno
de nove dólares para a economia de um país 3. Para reforçar o investimento e reverter a
situação do setor no Brasil, a Lei nº 13.329/2016 instituiu o Regime Especial de
Incentivos para o Desenvolvimento do Saneamento Básico (REISB), voltado para
empresas prestadoras de saneamento básico. De acordo com estimativa do Plano
12
Nacional de Saneamento Básico (Plansab), instituído em 2013, o Brasil deveria investir
cerca de R$ 508 bilhões até 2033 para universalizar os serviços de saneamento de água
no país. Especialmente para o alcance da meta 6.2, espera-se que essa Lei possa
contribuir para acelerar a universalização dos serviços de abastecimento de água e de
tratamento de esgotos. Em 2017, ainda que a Lei do Saneamento exigisse o
estabelecimento de planos municipais de saneamento em todos os municípios do país,
apenas 1.692 possuiam um plano; ou seja, em 5 anos da Lei apenas 30,4% dos 5.570
municípios brasileiros cumpriram com a diretriz.
Por fim, cabe destacar que, atualmente, não existem dados nacionais estatísticos
disponíveis e desagregáveis por sexo, raça, faixa de renda e idade com relação a estas
metas, principalmente no que se refere a meta 6.2. Isso, certamente, dificulta o
estabelecimento de indicadores de acompanhamento do progresso, tendo em vista que
esses indicadores deverão, necessariamente, indicar se alguém está sendo deixado
para trás no processo de universalização da água e do saneamento.
De acordo com dados da ANA, em 2017 foram gerados 1.065 m³/s de águas residuais,
associadas às seguintes atividades: abastecimento humano urbano (402 m³/s), irrigação
agrícola (340 m³/s), indústria (277 m³/s), pecuária (27 m³/s) e abastecimento humano
rural (19 m³/s). Conforme mencionado anteriormente, apenas 42% de todas essas
águas residuais são tratadas antes de serem despejadas nos corpos hídricos. Isso
significa que, para atender essa meta, reduzindo significativamente a poluição da água
dos rios que recebem tais esgotos, é preciso dobrar a cobertura nacional dos serviços
de tratamento de águas residuais.
De 2013 a 2016, cerca de 48 milhões de pessoas foram afetadas por secas e estiagens
no Brasil, especialmente nos meses de outubro, abril e maio. 83% dessas pessoas
vivem na Região Nordeste. Segundo estudo recente do WWF-Brasil, em parceria com
o Ministério do Meio Ambiente e o Ministério da Integração Nacional, nas próximas
13
décadas, o Brasil enfrentará com mais frequência períodos de estiagem cada vez mais
rigorosos para as populações locais, principalmente na região do semiárido 4.
O Brasil, em potencial, dispõe de uma grande oferta hídrica, tanto em termos de águas
superficiais, quanto subterrâneas. Entretanto, em várias regiões densamente povoadas,
há baixa disponibilidade e grande demanda de recursos hídricos, enquanto em outras
regiões, menos povoadas, a situação é oposta. Nesse sentido, problemas como o
desenvolvimento urbano desordenado e as desigualdades em termos de condições
sociais, econômicas e ambientais representam grandes desafios que o país deve
superar para alcançar a meta 6.4.
14
amazônica. Esses estudos também demonstram que as florestas contribuem para a
prevenção de desastres como deslizamentos, inundações e secas.
No que se refere à gestão integrada dos recursos hídricos, é fundamental contar com
sistemas e mecanismos eficientes de governança. É extremamente importante
promover maior eficiência operacional do SINGREH, em particular no que se refere a
atuação dos Comitês de Bacia Hidrográfica, que constituem sua base de ação e
planejamento. Avanços concretos nesta direção também contribuiriam para o
cumprimento da meta de implementação 6.b (vide abaixo).
15
A maioria dos projetos de cooperação técnica prestada pelo Brasil é com outros países
da América do Sul, especialmente na modalidade de cooperação Sul-Sul.
Especialmente no que se refere à meta 6.5, esse intercâmbio é muito importante, pois
a maior parte das fronteiras internacionais com outros países da região da América do
Sul são definidas por rios. Duas das maiores bacias hidrográficas do mundo, a
Amazônica e a do Prata, são compartilhadas com outros países dessa região – 60% do
território brasileiro está incluso na área dessas duas bacias, onde escorrem 83 rios
fronteiriços ou transfronteiriços – contemplados em um conjunto de tratados bilaterais,
tripartites e multilaterais relevantes entre o Brasil e os países dessa região.
De acordo com a Lei 9.433/1997, os CBH devem ter entre seus membros
representantes de todos os setores da sociedade que tenham interesse sobre a água
na respectiva bacia hidrográfica e poder de decisão sobre sua gestão. Entre as
principais competências dos CBH, enfatiza-se a faculdade de sugerir os valores de
cobrança pelo uso da água. A efetiva implementação desse instrumento econômico e
financeiro de gestão, contribui para prevenir e resolver situações de conflito pelo uso da
água (que envolvem, especialmente, empresas do setor agroindustrial), favorecendo o
crescimento econômico e o bem-estar social com segurança hídrica.
10
Veja-se, em particular, as páginas 74-75 da publicação “Água e sustentabilidade: desafios,
perspectivas e soluções” (Jacobi, P.R. e Grandisoli, 2017).
16
Ao analisar as metas associadas ao ODS 6, e as características nacionais do país, bem
como as respectivas necessidades referentes à água, percebe-se que o ODS 6 traz
quatro diretrizes principais para a ação global em prol da gestão sustentável da água e
do saneamento. Tais diretrizes estão de acordo com os seis princípios fundamentais da
Política Nacional De Recursos Hídricos (PNRH) estabelecidos pela Lei nº 9.433/1997.
Essas diferentes diretrizes apontam caminhos para as atuais e futuras ações do sistema
ONU no Brasil, em parceria com o governo brasileiro e os setores relevantes da
sociedade civil e da iniciativa privada, por meio de cooperação técnica e outras
iniciativas que contribuam para a implementação da PNRH no contexto da Agenda
2030, alinhada com o ODS 6.
17
e Sul-Sul, inclusive com países vizinhos da América do Sul, em alguns casos em
parceria com a UNESCO, o PNUD, a FAO e o IICA. Esses projetos, portanto, devem
ser vistos como exemplos de boas práticas de parceria entre o governo brasileiro e o
Sistema da ONU, no sentido de contribuir para o alcance das metas 6.5 e 6.a.
Promover maior e melhor conhecimento técnico e científico acerca dos temas do ODS
6 é certamente uma das condições fundamentais para promover maior engajamento da
sociedade nos temas relevantes a água e saneamento. Entretanto, esse conjunto de
conhecimentos deve ser disseminado de modo a ser recebido e entendido com maior
clareza por parte das comunidades locais e da população em geral. Nesse sentido, tem-
se como boa prática a publicação e disseminação do “Glossário de Termos do Objetivo
de Desenvolvimento Sustentável 6”, lançado em março de 2018, durante o 8FMA 11. O
Glossário, junto a várias outras publicações relevantes do Sistema da ONU no Brasil,
pode contribuir para essa popularização do conhecimento acerca do ODS 6 –
especialmente algumas da UNESCO voltadas para uso nas instituições do ensino
fundamental e médio, elaboradas em parceria com o Ministério da Educação 12.
Por fim, espera-se que a “Década Internacional para Ação, Água para o
Desenvolvimento Sustentável (2018-2028)”, lançada em 22 de março de 2018,
possibilitará a abertura de novas oportunidades para que o Brasil participe de novas
iniciativas de cooperação internacional junto ao Sistema da ONU no Brasil, em prol do
alcance do ODS 6. A Resolução da ONU que estabeleceu a Década também enfatiza a
necessidade de promover parcerias entre governos e setor privado, não apenas para
garantir o financiamento para as ações de cooperação, como também para promover o
engajamento do setor produtivo e empresarial, cujas operações afetam a qualidade e a
quantidade da água. A esse respeito, destaca-se o “Compromisso Empresarial
Brasileiro pela Segurança Hídrica” assinado durante o 8FMA por 18 grandes empresas
brasileiras ou com operações no Brasil, no âmbito de uma ação liderada pelo Conselho
18
Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), com foco nos
temas de gestão de bacias hidrográficas, reúso, agricultura e acesso a água potável e
ao saneamento. Com o Compromisso, essas empresas reconheceram a importância do
seu papel na redução da poluição e do consumo de água, estabelecendo seis metas
até 2025, para atuar mais efetivamente em prol do fortalecimento de uma agenda
nacional de segurança hídrica. Nesse sentido, seria muito importante estabelecer
iniciativas em parceria entre o CEBDS e a Rede Brasil do Pacto Global da ONU, que
disseminem boas práticas empresariais alinhadas com o ODS 6, no intuito de multiplicar
sua adoção por parte de outras empresas.
Considerações finais
O Brasil é um país que usufrui de grande quantidade de água doce, sendo um dos
países mais privilegiados nesse quesito. Porém, possuir toda essa quantidade de água
não significa necessariamente que os recursos hídricos são distribuídos e utilizados da
melhor forma possível. Muitas regiões do país ainda contrastam acerca do acesso à
água e saneamento básico seguro e de qualidade. Por isso, mesmo com algumas
conquistas brasileiras, muito ainda precisará ser feito ao longo dos anos para atingir
essa meta.
Porém, não se pode desacreditar nos possíveis avanços que estão a ocorrer no Brasil.
Como explanado, medidas do Governo Federal como o Plano ou Política Nacional de
Recursos Hídricos, o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e
outras medidas têm tentado melhorar os índices brasileiros acerca do tema. Espera-se
que fontes inovadoras de financiamento sejam mobilizadas para o setor, sobretudo
quando se considera que o investimento em saneamento pode impulsionar a economia,
bem como trazer múltiplos benefícios ambientais e sociais, sobretudo relacionados à
saúde das populações.
19
Ademais, a participação da sociedade, que precisa ser conscientizada e atuar mais para
a preservação dos recursos hídricos, será também de grande significância para o país;
a atuação cada vez mais forte das organizações da sociedade civil que atuam em
relação ao tema e o apoio de organizações internacionais, em conjunto com os
Governos, para fortalecer as relações e criar e efetivar projetos que busquem a
preservação da água, serão contribuições preciosas para que o Brasil passe a ser um
país que não somente detém grande volume de água doce, mas que sabe fazer de
forma eficiente a gestão, a distribuição e o resguardo desse bem de tanta relevância
para a vida.
20
REFERÊNCIAS
______. Conjuntura dos recursos hídricos no Brasil 2017: relatório pleno. Brasília:
2017.
BANCO MUNDIAL [BM]. O Brasil tem sede, embora seja o dono de 20% da água de
todo o mundo. Disponível em:
<http://www.worldbank.org/pt/news/feature/2016/07/27/how-brazil-managing-water-
resources-new-report-scd>. Acesso em: 2 mai. 2018.
21
GOVERNO DO BRASIL. Águas residuais são foco do Dia Mundial da Água 2017.
Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/meio-ambiente/2017/03/aguas-residuais-sao-
foco-do-dia-mundial-da-agua-2017>. Acesso em: 2 mai. 2018.
22
Glossary of Hydrology. 2012. Disponível em:
<http://wmo.int/pages/prog/hwrp/publications/international_glossary/385_IGH_2012.pdf
>. Acesso em: 26 abr. 2018.
REVISTA GALILEU. Secas devem ficar mais rigorosas no Brasil até 2099, aponta
estudo. Disponível em:
<https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2017/07/secas-devem-ficar-mais-
rigorosas-no-brasil-ate-2099-aponta-estudo.html>. Acesso em: 7 mai. 2018.
UN WATER. Integrated Monitoring Guide for SDG 6 Targets and global indicators.
Work in progress to be revised based on country feedback. 2016. Disponível em:
<http://www.unwater.org/app/uploads/2017/03/SDG-6-targets-and-global-
indicators_2016-07-19.pdf>. Acesso em: 26 abr. 2018.
23
Documento elaborado pelo subgrupo do ODS 6 (liderado pela Unesco) do Grupo
Assessor das Nações Unidas no Brasil sobre a Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável, do qual participam os seguintes organismos: Unesco, OPAS/OMS, PNUD,
Unicef, ONU Habitat e UNOPS.
24
ANEXO
Metas do ODS 6
6.1 até 2030, alcançar o acesso universal e equitativo à água potável, segura e acessível
para todos.
6.2 até 2030, alcançar o acesso a saneamento e higiene adequados e equitativos para
todos, e acabar com a defecação a céu aberto, com especial atenção para as
necessidades das mulheres e meninas e daqueles em situação de vulnerabilidade.
6.3 até 2030, melhorar a qualidade da água, reduzindo a poluição, eliminando despejo
e minimizando a liberação de produtos químicos e materiais perigosos, reduzindo à
metade a proporção de águas residuais não tratadas,e aumentando substancialmente
a reciclagem e reutilização segura em âmbito mundial.
6.5 até 2030, implementar a gestão integrada dos recursos hídricos em todos os níveis,
inclusive via cooperação transfronteiriça, conforme apropriado.
6.6 até 2020, proteger e restaurar ecossistemas relacionados com a água, incluindo
montanhas, florestas, zonas úmidas, rios, aquíferos e lagos.
6.b apoiar e fortalecer a participação das comunidades locais, para melhorar a gestão
da água e do saneamento.
25
26
DOCUMENTOS TEMÁTICOS
Nações Unidas no Brasil
Palavras-chave
Acesso à energia; Acesso confiável; Acesso Sustentável; Acesso moderno; Acesso
universal; Eficiência energética; Energia limpa; Energia renovável.
Sumário executivo
O Brasil possui a matriz energética mais renovável do mundo industrializado, com 42,8%
de sua produção proveniente de fontes renováveis, como recursos hídricos, biomassa
e etanol, além das energias eólica e solar. A proporção de fontes renováveis na Oferta
Interna de Energia Elétrica - OIEE permaneceu acima de 80%, em 2017.1
1
Ministério de Minas e Energia - MME, Departamento de Informações e Estudos Energéticos -
SPE/MME, Balanço Mensal de Energia, julho de 2017.
27
agravado uma outra preocupação constante no Brasil que é o preço da energia, o qual
é alto. Assegurar a provisão de serviços confiáveis de energia a preços acessíveis para
todo(a)s é essencial para que o desenvolvimento do Brasil e de qualquer outro país seja
realmente sustentável, pois isso também auxilia a redução da pobreza, o
desenvolvimento econômico e a sustentabilidade ambiental.
Principais conceitos
Acesso à energia
Acesso sustentável
Acesso moderno
2
The Secretary-General’s Advisory Group on Energy and Climate Chance (AGECC), Energy for
a Sustainable Future: Summary Report and Recommendations, 2010
3
Idem.
4
Fundação Dom Cabral, Núcleo de Sustentabilidade, disponível em
https://hotsites.fdc.org.br/hotsites/mail/livro_objetivos_desenvolvimento_sustentavel/objetivo/as
segurar-energia-sustentavel-global.html acesso em 15 de maio de 2018.
5
http://www.iea.org/about/glossary/#tabs-2
28
rapidez, menos desperdício (como no caso dos alimentos sem refrigeração) e menos
esforço com o acesso a energia.6 O desenvolvimento dos serviços energéticos
modernos ainda não alcançou de forma igualitária toda a população. Assim, uma grande
parcela vê sua condição de pobreza se renovando, pois sem capital para adquirir
equipamentos que facilitariam suas atividades cotidianas, essas pessoas não
conseguem se dedicar exclusivamente às tarefas remuneradas, alimentando o ciclo da
pobreza.
Acesso universal
Eficiência Energética
Não há uma definição consensuada sobre o termo “energia limpa”, a qual pode variar
amplamente dependendo da fonte de energia a qual ela está associada. A energia limpa
usualmente refere-se a qualquer fonte de energia que não polua ou prejudique o meio
ambiente. Os termos “energia limpa” e “energia renovável” muitas vezes são usados
indistintamente. Certamente, há uma sinergia e muitas vezes sobreposição entre elas
(como a energia solar que é uma fonte de energia renovável e limpa), mas ainda é
importante entender a diferença entre os termos. A energia limpa pode ser distinguida
6
WEHAB Working Group Report, 2002. https://www.gdrc.org/sustdev/un-
desd/wehab_energy.pdf
7
PNUD. World Energy Assessment, 2004
http://www.undp.org/content/undp/en/home/librarypage/environment-
energy/sustainable_energy/world_energy_assessmentoverview2004update.html
8
www.unifem.undp.org/resources/assessment/index.html
9
Resolução Normativa ANEEL, no 418, de 23 de novembro de 2010.
29
da energia renovável, considerando que geralmente tem como foco principal a redução
das emissões de gases de efeito estufa ou de gases poluentes como um método para
se contrapor à energia “suja”, que gera emissões, enquanto que as renováveis teriam,
por definição (qualquer forma de energia solar, geofísica, ou de fontes biológicas que é
reabastecida por processos naturais a uma taxa que é igual ou superior à taxa em que
é consumida), como foco principal a capacidade de reutilizar um recurso energético (ex:
solar, eólica, geotérmica, hidrelétrica e biomassa).10
Em relação à oferta doméstica de energia, o Brasil não teve déficit em 2017, fato que
não ocorria desde o ano de 1940, o ano inicial de estatísticas globais de energia. As
taxas de crescimento da produção de óleo e gás natural, acima de 5% no ano,
acompanhado de uma baixa demanda de energia global, acarretou em um pequeno
superávit. Indicadores econômicos e de energia, até dezembro de 2017, indicaram que
a Oferta Doméstica de Energia aumentou em até 1,7%, se comparado com o mesmo
período em 2016. No que diz respeito a esse indicador, 0,5% é devido ao aumento das
perdas na expansão da geração termoelétrica. Assim, estimava-se que o setor de
consumo tivesse crescido 1,2%.
A oferta doméstica de energia elétrica de 2017 foi estimada em 628,5 TWh, um aumento
de 1,4% comparado com 2016. Em relação à proporção de fontes de energia elétrica,
embora a energia hidrelétrica continue representando 65,1%, observou-se um
crescimento de mais de 1% das fontes de energia solar se comparadas ao ano anterior,
já representando 6,7% da matriz elétrica.
10
https://news.energysage.com/what-is-clean-energy-clean-energy-resources-explained/
11
Ministério de Minas e Energia - MME, Departamento de Informações e Estudos Energéticos -
SPE/MME, Balanço Mensal de Energia, julho de 2017.
12
http://www.brasil.gov.br/meio-ambiente/2010/11/matriz-energetica
30
Fonte: MME, 2017.
31
Apesar das reformas, o novo modelo enfrentou dificuldade para garantir a suficiente
expansão da oferta de energia, o que levou o país a um racionamento significativo em
2001. Alguns estudiosos do setor atribuem o racionamento, entre outros fatores, à falta
de planejamento efetivo e também de monitoramento eficaz centralizado. Foi então, a
partir de 2004, que novos ajustes ao modelo foram feitos pelo governo com o intuito de
reduzir os riscos de falta de energia e melhorar o monitoramento e controle do sistema.
Assim, a segurança energética, a modicidade tarifária e a universalização do
atendimento foram os princípios estabelecidos para moldar o novo modelo.
Em 2008, foi apresentado o Plano Nacional de Energia (PNE) 2030, como um exercício
de planejamento setorial, orientando tendências e estratégias de expansão no longo
prazo. De acordo com o PNE 2030, a evolução da Matriz Energética, no período
2005/2030, apresenta uma ampliação na sua diversificação. Assim, no período
2005/2030, haveria uma redução significativa da utilização de lenha e carvão vegetal,
de 13% para 5,5%; um aumento da participação do gás natural, de 9,4% para 15,5%;
uma redução da participação do petróleo e derivados de 38,7% para 28%; uma elevação
na participação das fontes energéticas oriundas de produtos da cana-de–açúcar e
outras renováveis, (etanol, H-Bio, Biodiesel e outras), de 16,7% para 27,6%; e a
manutenção da participação das fontes renováveis, conforme é ilustrado na figura
abaixo sobre a Evolução da Estrutura de Oferta Interna de Energia, em um cenário de
crescimento médio:
Um novo capítulo na história do setor elétrico iniciou-se com a Medida Provisória 579,
de setembro de 2012. Nessa MP, posteriormente convertida na Lei nº 12.783/2013,
empresas geradoras e transmissoras puderam renovar antecipadamente seus contratos
de concessão desde que seus preços fossem regulados pela ANEEL. Principalmente
32
devido à regulação dos preços das geradoras que aceitaram os termos da MP,
observou-se significativa mudança no contexto institucional do setor elétrico: empresas
geradoras que outrora atuavam em ambiente competitivo passaram a ter seus preços
regulados, da mesma forma que já ocorria com as distribuidoras e transmissoras,
consideradas monopólios naturais.
33
Circunstâncias nacionais em relação ao ODS 7
Acesso “universal” de energia no país: “não deixar ninguém para trás” (ref. meta
7.1)
No que diz respeito ao Brasil, em novembro de 2003 foi lançado, por meio do Decreto
no 4.873, de 11/11/2003, o Programa Luz para Todos (LPT), com o objetivo de promover
o acesso de famílias residentes em áreas rurais à energia elétrica, de forma gratuita,
acabando com a exclusão elétrica no país, por meio de extensões de rede, implantação
de sistemas isolados e realização de ligações domiciliares. A meta inicial era levar o
acesso à energia elétrica, gratuitamente, para mais de 10 milhões de pessoas do meio
rural até o ano de 2008.
O mapa da exclusão elétrica no país revela que as famílias sem acesso à energia estão
majoritariamente nas localidades de menor Índice de Desenvolvimento Humano – IDH
e nas famílias de baixa renda. Cerca de 90% delas têm renda inferior a três salários-
mínimos.
Para pôr fim a essa realidade, o governo definiu como objetivo que a energia seja um
vetor de desenvolvimento social e econômico dessas comunidades, contribuindo para
a redução da pobreza e aumento da renda familiar. A chegada da energia elétrica facilita
a integração dos programas sociais do governo federal, além do acesso a serviços de
saúde, educação, abastecimento de água e saneamento.
Durante a execução do Luz para Todos, grande número de novas famílias sem energia
elétrica foi identificado, levando o Programa a ser prorrogado por três vezes (de 2011 a
2014, de 2014 a 2018, e de 2018 a 2022) para permitir o atendimento do maior número
de famílias.13
Até dezembro de 2017, mais de 16 milhões de pessoas foram beneficiadas com o LPT.
A meta inicial de atender a 10 milhões de pessoas foi alcançada em maio de 2009. Mais
recentemente, em abril de 2018 foi assinado Decreto que prorroga o LPT até dezembro
de 2022, com a perspectiva de que, até esta data, ocorra a efetiva universalização plena
do acesso à energia elétrica no país, o que deve alcançar mais de 2 milhões de
brasileiros do meio rural. Pretende-se com a nova fase do LPT que o acesso gratuito à
energia elétrica será levado principalmente ao Norte e Nordeste do país e às populações
que vivem em regiões isoladas, entre elas as comunidades quilombolas e indígenas,
assentamentos, ribeirinhos, pequenos agricultores e famílias em reservas extrativistas.
13
https://www.mme.gov.br/luzparatodos/Asp/o_programa.asp
34
De acordo com o mapa da exclusão elétrica do Brasil, as famílias sem acesso à energia
estão majoritariamente nas localidades de menor Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH) e nas famílias de baixa renda, sendo que cerca de 90% delas têm renda inferior
a três salários-mínimos.14
Por fim, mas não menos importante, a existência de energia elétrica na área rural
concedeu às mulheres maior independência e autonomia. Por conta da maior sensação
de segurança nas comunidades – percepção de 81,8% dos beneficiados entrevistados
–, cerca de 245 mil mulheres começaram a trabalhar e outras 309 mil começaram a
estudar ou retornaram aos estudos depois do Luz Para Todos.15 Esta questão está
diretamente relacionada ao ODS 5.
Devido aos recentes problemas hídricos, durante os quais foram verificados níveis
baixos dos reservatórios em boa parte do Brasil, verificou-se a necessidade de novas
abordagens em relação ao uso da água, pois sua falta afeta muito mais do que apenas
o consumo desse próprio recurso. Num país onde a base energética é a geração
hidrelétrica, a água também é fundamental para qualquer processo que dependa de
energia. Essas novas abordagens envolvem uma valorização maior desse recurso,
muitas vezes não contabilizado de forma ideal nas atividades econômicas. Portanto, é
preciso avançar na governança da água no Brasil, que demanda decisões políticas,
maiores investimentos, mobilização e participação da sociedade, eficiência na gestão,
mas também no desenvolvimento de soluções de pesquisa para otimização de recursos
financeiros e humanos, redução das perdas e reuso da água, tratamento e disposição
de efluentes e métodos eficazes para a conservação agroambiental, que refletem
diretamente nos recursos hídricos (vide texto do documento temático sobre o ODS 6).
Embora não se possa afirmar que as crises hídricas no país serão cada vez mais
recorrentes e afetarão de forma definitiva a produção de energia elétrica no país, de
acordo com o “princípio da precaução”, é importante se pensar em fontes alternativas
de energia, de maneira complementar, e que sejam renováveis, como energia eólica e
a energia solar, bem como nas soluções de conservação de água baseadas na natureza
(o que também evidencia a relação entre o ODS 7 e o ODS 15) baseadas. Deverão ser
estimuladas também ações na área de eficiência energética e conservação de energia,
14
MME, http://www.mme.gov.br/web/guest/pagina-inicial/outras-noticas/-
/asset_publisher/32hLrOzMKwWb/content/decreto-prorroga-luz-para-todos-para-2022
15
http://www.politize.com.br/luz-para-todos-programa-social/
35
que possuem caráter de aperfeiçoamento de comportamentos mais sustentáveis
(relacionado também ao ODS 12).
Embora o Brasil possua uma das matrizes energéticas mais renováveis do mundo, com
42,8% de sua produção proveniente de fontes renováveis (recursos hídricos, biomassa
e etanol, além das energias eólica e solar) será um desafio para as próximas décadas
manter este percentual, considerando as perspectivas de crescimento da população até
a década de 2040, que não haja mais demanda reprimida de energia na população e
que o consumo de energia se eleve com o aumento da renda.
Segundo documento publicado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos
Humanos, os grandes investimentos de infraestrutura – usualmente associados à
produção energética – estão sujeitos a inúmeros impactos negativos aos direitos
humanos. A fim de evitar a ocorrência desses impactos, a participação da população
civil nos processos de decisão é essencial. Além disso, deve-se considerar os impactos
para as populações indígenas e outras populações tradicionais, bem como para a
biodiversidade.19
16
IEA, World Energy Investment 2017: Executive Summary. Disponível em: https://goo.gl/84Foz5
Acesso 20 jun. 2018
17
Fonte: http://www.un.org/sustainabledevelopment/infrastructure-industrialization/
18
https://www.unops.org/SiteCollectionDocuments/Multimedia/Rio/unops_policy_for_sustainable
_infrastructure.pdf
19
OHCHR. Baseline Study on the Human Rights Impacts and Implications of Mega-
Infrasctructure Investment. Disponível em https://goo.gl/9AcfDi Acesso em 19 jun. 2018
36
Muito ainda pode ser feito para a expansão das redes de energia eólica e solar no país,
ambas com imenso potencial, o que precisaria de avanços regulatórios e mais opções
de financiamento.
37
mudança global do clima (é fundamental entender a próxima relação entre o ODS 7 e o
ODS 13).20
Embora o Brasil se destaque por possuir atualmente uma matriz energética com grande
participação de fontes renováveis, é necessário tomar medidas adicionais para que
as emissões de gases de efeito estufa por unidade de energia consumida no Brasil
sejam reduzidas.
Em relação aos indicadores socioeconômicos, o Brasil terá que superar desafios para
atingir padrões de consumo comparáveis aos de países desenvolvidos e isso impactará
diretamente na demanda de energia. Analisando a matriz brasileira em um cenário
econômico mais otimista (crescimento médio de 3,2% a.a frente a 2,5% a.a. na trajetória
de referência), este teria impactos sobre a demanda, aumentando o consumo per capita
em aproximadamente 6%, em 2026, e exigindo uma maior oferta de energia. Nesse
ambiente de crescimento mais robusto, a oferta interna de energia se mantém, até 2026,
nos patamares observados na trajetória de referência, ou seja, em torno de 48%,
20
IEA, Energy Technology Perspectives 2017: Catalysing Energy Technology Transformations,
2017. Disponível em: https://goo.gl/o4LMS1 Acesso 20 jun. 2018
38
composta por energias renováveis. A manutenção da elevada participação de fontes
renováveis em sua matriz é um desafio para o Brasil, mas é interessante observar que
as estratégias naturais de expansão da oferta – como a penetração de renováveis e a
ampliação da participação de combustíveis renováveis nos setores industrial e de
transportes, por exemplo – fazem sentido econômico para o país. A matriz energética
elaborada pela EPE serviu de base para as medidas do setor de energia que constam
na NDC brasileira, apresentada durante a COP21, em 2015. Como já mencionado, a
NDC do Brasil compreende o conjunto da economia e se baseia em caminhos flexíveis
para atingir esses objetivos, ou seja, o alcance dos objetivos pode ocorrer de diversas
formas, com diferentes contribuições dos setores da economia. Portanto, considerando
tais caminhos flexíveis, existe uma gama de trajetórias possíveis na esfera de decisão
do Brasil em privilegiar a expansão de fontes renováveis no consumo e geração de
energia. A definição de qual trajetória seguir, por sua vez, ancora-se em uma série de
estudos técnicos e conjunturais, que servem de base para a quantificação dos objetivos,
que são desafiadores, porém factíveis, e retrata o compromisso do Brasil na contribuição
para o desenvolvimento sustentável e combate à mudança do clima. 21
O potencial brasileiro para energia solar é enorme. A irradiação média anual brasileira
varia entre 1.200 e 2.400 kWh/m²/ano, bem acima da média da Europa, mas há no
mundo regiões com valores acima de 3.000 kWh/m²/ano, como Austrália, norte e sul da
África, Oriente Médio, parte da Ásia Central, parte da Índia, sudoeste dos USA, além de
México, Chile e Peru. A Região Nordeste apresenta os maiores valores de irradiação
solar global, com a maior média e a menor variabilidade anual entre todas as regiões
geográficas. Os valores máximos de irradiação solar no país são observados na região
central da Bahia (6,5kWh/m²/dia), incluindo, parcialmente, o noroeste de Minas Gerais.
Há, durante todo o ano, condições climáticas que conferem um regime estável de baixa
nebulosidade e alta incidência de irradiação solar para essa região semiárida. Observa-
se, portanto, que as maiores irradiações solares no Brasil estão em áreas de baixo
desenvolvimento econômico, em que o uso da terra e os impostos arrecadados podem
contribuir para o desenvolvimento local. Ademais, a instalação de painéis FV com
alturas acima de 2 metros de altura pode criar condições favoráveis ao cultivo de
hortaliças e legumes.
21
Ministério de Minas e Energia; Empresa de Pesquisa Energética. Plano Decenal de Expansão
de Energia 2026. Brasília: MME/EPE, 2017. Disponível em https://goo.gl/mM316Q Acesso 20
jun. 2018
39
22
Outras oportunidades, tão significativas quanto, existem também relacionadas à
cogeração por queima de biomassa, biocombustíveis, energia eólica, pequenas centrais
hidrelétricas, etc.
Nesse sentido, seria também muito importante estabelecer iniciativas em parceria com
a Rede Brasil do Pacto Global da ONU, que conta com várias empresas de energia,
com vistas a disseminar boas práticas empresariais alinhadas com o ODS7, no intuito
de multiplicar sua adoção por parte de outras empresas.
22
Ministério de Minas e Energia. Energia Solar no Brasil e no Mundo”, 2016. Disponível em:
https://goo.gl/3k1Ug7 Acesso em 19 jun 2018
23
https://www.osetoreletrico.com.br/ppp-de-iluminacao-publica-aparece-como-solucao-para-os-
municipios/
40
Considerações finais
Há análises que indicam que, dentre todos os ODS, é em relação ao ODS 7 que o Brasil
tem a posição mais confortável24. Essa situação dá-se, em grande parte, devido a suas
circunstâncias nacionais e escolhas históricas feitas no passado para se privilegiar a
produção hidrelétrica. No entanto, obviamente, que se pode sempre avançar, vencer
ainda alguns problemas estruturais existentes − sobretudo referentes às deficiências de
infraestrutura na geração e distribuição, bem como aos preços altos de energia −, e
porque não, “aumentar o nível de ambição”.
O Brasil possui a matriz energética mais renovável do mundo industrializado, com 42,8%
de sua produção proveniente de fontes renováveis, como recursos hídricos, biomassa
e etanol, além das energias eólica e solar. No entanto, será um desafio manter o
percentual de fontes renováveis de energia na sua matriz energético e, portanto, é
importante incentivar medidas para elevar a participação de fontes de origem não fóssil
na matriz energética até 2030.
Embora seja muito importante contar com ações do governo e da iniciativa privada para
melhorar a infraestrutura e os serviços de energia, na visão das Nações Unidas, a
garantia de disponibilidade de energia no Brasil também depende de efetivas mudanças
de comportamento humano e de iniciativas que envolvem ações coordenadas junto a
comunidades locais e organizações da sociedade civil para promover a eficiência
energética e a conservação de energia.
24 Bertelsmann Stiftung/SDSN. SDG Index & Dashboards 2017 – Individual Country Profiles:
Brazil. Disponível em https://goo.gl/hMWPnf Acesso em 19 jun 2018
41
REFERÊNCIAS
ENERGYSAGE. Clean Energy Examples: What are the Main Types of Clean
Renewable Energy?. Disponível em: <https://news.energysage.com/what-is-clean-
energy-clean-energy-resources-explained/>. Acesso em: 30 abr. 2018.
42
AGÊNCIA INTERNACIONAL DE ENERGIA [AIE]. Energy Technology Perspectives
2017: Catalysing Energy Technology Transformations. 2017. Disponível em:
<http://www.iea.org/publications/freepublications/publication/energy-technology-
perspectives-2017---executive-summary.html>. Acesso em: 16 mai. 2018
______. Tracking Clean Energy Progress 2017. OECD/IEA, 2017. Disponível em:
<https://www.iea.org/publications/freepublications/publication/TrackingCleanEnergyPro
gress2017.pdf>. Acesso em: 16 mai. 2018.
______. Ministro prorroga Luz para Todo para 2022. Disponível em:
<http://www.mme.gov.br/web/guest/pagina-inicial/outras-noticas/-
/asset_publisher/32hLrOzMKwWb/content/decreto-prorroga-luz-para-todos-para-
2022>. Acesso em: 16 mai. 2018.
43
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A
CULTURA [UNESCO]. Science for a Sustainable Future. Disponível em:
<http://en.unesco.org/themes/science-sustainable-future>. Acesso em: 16 mai. 2018.
POLITIZE!. Luz Para Todos: Você Conhece esse Programa Social?. Disponível em:
<http://www.politize.com.br/luz-para-todos-programa-social/>. Acesso em: 16 mai.
2018.
44
ANEXO
Metas do ODS 7
7.1 Até 2030, assegurar o acesso universal, confiável, moderno e a preços acessíveis
a serviços de energia.
7.a Até 2030, reforçar a cooperação internacional para facilitar o acesso a pesquisa e
tecnologias de energia limpa, incluindo energias renováveis, eficiência energética e
tecnologias de combustíveis fósseis avançadas e mais limpas, e promover o
investimento em infraestrutura de energia e em tecnologias de energia limpa.
45
46
DOCUMENTOS TEMÁTICOS
Nações Unidas no Brasil
CIDADES E COMUNIDADES
SUSTENTÁVEIS
Tornar as cidades e os assentamentos humanos
inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis
Palavras-chave
Assentamentos humanos; cidades; moradia adequada; urbanização de favelas;
serviços básicos; transportes; urbanização inclusiva e sustentável; patrimônio cultural e
natural; desastres; qualidade do ar; resíduos; espaços públicos; planejamento;
resiliência; conexões urbanas, periurbanas e rurais.
Sumário executivo
Como é comum de se ouvir, “a vida acontece nas cidades”. Um ODS específico para
cidades e assentamentos humanos oferece uma oportunidade de discutir, entender e
monitorar o fenômeno da urbanização1, que impacta a vida da maior parte da população
mundial. De acordo com o IBGE (2017), “o envolvimento da comunidade internacional
na implementação de um objetivo com metas e indicadores dedicados à temática urbana
e aos assentamentos humanos demonstra o grande impacto da urbanização nos
territórios nacionais”.
Necessariamente o ODS 11 precisa ser entendido como uma possibilidade de
territorializar não só as metas deste objetivo em questão, mas de vários outros objetivos.
Utilizar a contextualização de diversos marcos globais também é fundamental para
entender e implementar o ODS 11, principalmente à luz da Nova Agenda Urbana
(A/RES/71/256*), adotada em outubro de 2016, na Conferência das Nações Unidas
sobre Habitação e Desenvolvimento Urbano Sustentável, conhecida como Habitat III,
1
Para monitorar profundamente a urbanização, o ONU-Habitat sugere o uso do Índice de
Prosperidade das Cidades, composto pelas seguintes dimensões: produtividade, infraestrutura
de desenvolvimento, qualidade de vida, equidade e inclusão social, sustentabilidade ambiental e
governança urbana e legislação. Para mais informações: http://cpi.unhabitat.org/
47
que trata dos avanços e desafios relacionados à urbanização sustentável e à gestão
das cidades.
O ODS 11 é o único Objetivo claramente focado em cidades e assentamentos humanos
para o qual são necessários indicadores com nível de desagregação municipal para
monitorá-lo. De forma geral, o Brasil possui diversos dados sobre os temas urbanos, em
especial sobre o acesso aos serviços básicos, que podem ser úteis para o
acompanhamento das metas deste objetivo. Contudo, algumas insuficiências em termos
de dados e informações são notadas, por exemplo no âmbito da resiliência e das
políticas, bem como do acesso para pessoas com deficiências. Dentre os indicadores
que já existem, nota-se também a inexistência de desagregação por gênero, raça e
idade, assim como por tamanho de município e caracterização urbana ou rural.
Adicionalmente, as metodologias de cálculos de diversos indicadores do ODS 11 ainda
carecem de consenso internacional enquanto para algumas outras não se têm dados
produzidos.
Este documento temático busca entender melhor este Objetivo e traçar algumas
recomendações de possíveis caminhos a percorrer.
Principais conceitos
Assentamentos humanos
De acordo com o Glossário de Estatísticas Ambientais das Nações Unidas (ONU, 1997),
o termo assentamentos humanos deve ser entendido como um conceito integrador
que compreende componentes físicos de abrigo e infraestrutura e serviços, como
educação, saúde, cultura, bem-estar, lazer e nutrição.
Cidades
Moradia adequada
2
Estima-se que quase dois terços dos países utilizem uma definição administrativa para
classificar áreas urbanas, mas quase todos incluem um elemento adicional, como tamanho,
densidade, ocupação econômica ou funções urbanas para caracterizar ambientes urbanos
(ONU-Habitat, 2017). Disponível em
http://www.un.org/en/development/desa/population/events/pdf/expert/27/papers/II/paper-
Moreno-final.pdf
48
acessibilidade financeira/economicidade3 (se o seu custo põe em risco ou dificulta a
realização de outros direitos humanos por parte de seus moradores); habitabilidade
(espaço suficiente, proteção contra o frio, umidade, calor, chuva, etc.); acessibilidade
(deve ser acessível a grupos vulneráveis da sociedade); localização (deve estar em local
que ofereça oportunidades de desenvolvimento econômico, cultural e social, e onde
haja, nas proximidades, oferta de empregos e fontes de renda, meios de sobrevivência,
rede de transporte público, supermercados, farmácias, correios, e outras fontes de
abastecimento básicas); e adequação cultural (deve respeitar a expressão da identidade
cultural) (OHCHR & ONU-Habitat, 2010).
Resiliência
De acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres
(UNISDR), resiliência refere-se “à capacidade de um sistema, comunidade ou
sociedade exposta a uma ameaça para resistir, adsorver, adaptar-se e recuperar-se de
seus efeitos de maneira oportuna e eficaz, o que inclui a preservação e restauração de
suas estruturas e funções básicas” (UNISDR, 2009: 28). Nesta linha, o ONU-Habitat
complementa que quando falamos de resiliência não se trata somente de reduzir o risco
e o dano proveniente de um desastre, mas também da habilidade de voltar rapidamente
ao estado normal.
Outro assunto trazido nas metas deste objetivo é o tema da preservação do patrimônio
cultural e natural, definidos pela Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial,
Cultural e Natural (1972) como monumentos – construídos ou naturais – que possuem
um valor excepcional do ponto de vista da história, da arte, da ciência, da estética, da
antropologia, da etnologia, da conservação, da beleza natural e, por fim, do ponto de
vista científico4. É certo que “o patrimônio urbano representa um ativo e recurso social,
cultural e econômico que reflete a superposição histórica dinâmica dos valores que
foram desenvolvidos, interpretados e transmitidos por gerações sucessivas e um
acúmulo de tradições e experiências reconhecidas como tal na sua diversidade” (ONU,
2015a: 2). A sua salvaguarda e proteção são fundamentais para o desenvolvimento
urbano sustentável.
Urbanização de favelas
Um outro conceito trazido por este ODS é o de urbanização de favelas, que busca
melhorar moradias e/ou infraestrutura básica, promover a integração urbana e a
qualidade ambiental nestes territórios. Em geral, o termo cobre uma ampla gama
intervenções. Na sua forma mais abrangente, consiste em melhorias físicas, sociais,
econômicas, organizacionais e ambientais empreendidas de forma cooperativa e local
3
A publicação “Direito à moradia adequada” da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência
da República utiliza o termo “economicidade” para este critério. Download disponível em:
http://www.sdh.gov.br/assuntos/bibliotecavirtual/promocao-e-defesa/publicacoes-
2013/pdfs/direito-a-moradia-adequada Acesso realizado em 08 de maio de 2018.
4
Vide também a Convenção sobre a Proteção e a Promoção da Diversidade da Expressões
Culturais (2005). Como contribuição para a implementação da Agenda 2030, a UNESCO
apresentou no Habitat III o Relatório Global sobre Cultura para o Desenvolvimento Urbano
Sustentável, conhecido como “Cultura: Futuro Urbano”, cujos pilares são patrimônio e
criatividade. Enquanto para a Convenção de 1972 tem a Lista Representativa do Patrimônio
Mundial, para a Convenção de 2005 tem como estratégica a Rede de Cidades Criativas da
UNESCO (UCCN). A UCCN lançou recentemente a iniciativa LAB.2030, com foco no ODS 11 a
ser implementado pelas 180 cidades da Rede, que apostam na inovação e na cultura em suas
políticas de desenvolvimento local sustentável.
49
entre cidadãos, grupos comunitários, empresas e governos nacionais e autoridades
municipais (ONU-Habitat, 2014: 16).
O ODS 11 não se limita a áreas urbanas, mas inclui também as áreas periurbanas5 e
rurais, assim como trata da questão do aumento de periferias que consomem terras
rurais, normalmente dentro dos contornos administrativos municipais. As conexões
urbano-rurais referem-se “às funções complementares e sinérgicas e aos fluxos de
pessoas, recursos naturais, capital, bens, empregos, serviços de ecossistema,
informações e tecnologia entre áreas rurais, periurbanas e urbanas” (ONU, 2015b: 1).
O planejamento articulado destas áreas é essencial, já que essas conexões têm
potencial para transformar o desenvolvimento humano sustentável em benefício de
todos e todas (ONU, 2015b).
De acordo com a Nova Agenda Urbana, adotada na Habitat III, a população urbana
mundial praticamente dobrará até 2050, fazendo com que a urbanização
seja uma das tendências mais transformadoras do século XXI. E até 2030,
segundo projeções do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA),
cinco bilhões de pessoas viverão nas cidades, o equivalente a 60% da
população mundial. Dados de 2017 do Instituto Brasileiro de Geografia e
5
Periurbanização refere-se à urbanização de áreas periféricas anteriormente rurais, tanto no
sentido qualitativo (ex.: difusão do estilo de vida urbano) quanto no quantitativo (ex.: novas zonas
residenciais) (ONU-Habitat, 2012).
50
Estatística (IBGE) indicam que atualmente o Brasil possui 207 milhões de habitantes.
No último Censo Demográfico (2010), 84,4% da população vivia em áreas urbanas.
O mundo é cada vez mais urbano e não é à toa que o último relatório do Painel de Alto
Nível de Pessoas Eminentes sobre a Agenda de Desenvolvimento Pós-2015 afirmou
que “a batalha pelo desenvolvimento sustentável será vencida ou perdida nas cidades”6.
E é com esta mesma percepção e entendimento que o Estados-membros da ONU
adotaram o ODS 11, reconhecendo a centralidade do tema urbano e a necessidade de
uma urbanização inclusiva e sustentável. Neste sentido, conciliar o ODS 11 com as
recomendações da Nova Agenda Urbana é fundamental.
6
ONU, 2013:17
51
benefícios gerados por ela de forma que um padrão inclusivo e sustentável seja seguido,
diminuindo as externalidades negativas e potencializando as positivas. A política
nacional urbana orienta todos os atores na mesma direção e sob a égide dos mesmos
princípios e normas.
Tanto é assim que o direito à cidade foi escolhido como tema da quinta edição do Fórum
Urbano Mundial, realizado no Rio de Janeiro em 2010 com o tema “The Right to the
City: bridging the urban divide”. Igualmente, foi o tema selecionado como fio condutor
do Relatório Brasileiro para a Habitat III 8 , realizado em 2016. Como este direito promove
o uso da cidade de maneira coletiva e pública, planejada de forma participativa, ele
dialoga diretamente com o ODS 11 e suas metas, e é um caminho poderoso para se
repensar a urbanização9.
7
O “direito à cidade” foi, originalmente, definido pelo filósofo e sociólogo francês chamado Henri
Lefebvre no final dos anos 60 no seu livro clássico, traduzido para vários idiomas, intitulado “O
Direito à Cidade”. A principal ideia defendida por ele resumia-se no direito dos habitantes urbanos
a construir, decidir e criar a cidade.
8
Disponível em: http://habitat3.org/wp-content/uploads/National-Report-LAC-Brazil-
Portuguese.pdf
9
ONU, 2016:3
10
Para mais informações: https://ods.ibge.gov.br/
52
Gráfico 2: Exemplo da Plataforma Digital dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (IBGE) - ODS 11, Meta 11.5.111
A habitação é um elemento integral da economia de uma nação. Suas conexões, para frente e
para trás, com outras partes da economia ligam de perto as necessidades, demandas e
processos sociais da população com o fornecimento de terra, infraestrutura, materiais de
construção, tecnologia, mão-de-obra e financiamento habitacional. Estas conexões permitem
que a habitação funcione como um importante motor para o desenvolvimento sustentável e a
redução da pobreza, tanto na sociedade como na economia. Operando dentro de uma estrutura
de governança abrangente, definida por sistemas institucionais e regulatórios que permitem à
sociedade construir moradias e bairros, a habitação tem uma manifestação física inescapável
através da construção de casas, abrigos, refúgios, acomodações, serviços e/ou unidades
residenciais. Sem um setor habitacional funcional, os centros urbanos não podem ser
estabelecidos ou desenvolvidos. Um setor habitacional funcional oferece moradia apropriada
e acessível e padrões urbanísticos sustentáveis – os quais são críticos para o futuro de nosso
planeta, sempre em processo de urbanização (ONU-Habitat, Housing Profiles: 5).
11
http://www.pgiods.ibge.gov.br/index.html?mapid=161
53
dos frutos da urbanização dependerá fortemente do enfrentamento e da resolução dos
problemas de habitação”12.
12
ONU-Habitat, 2015:3
13
ONU-Habitat, 2015: 9
14
O conceito de déficit habitacional utilizado está ligado diretamente às deficiências do estoque
de moradias. Engloba aquelas sem condições de serem habitadas em razão da precariedade
das construções ou do desgaste da estrutura física e que por isso devem ser repostas. Inclui
ainda a necessidade de incremento do estoque, em função da coabitação familiar forçada
(famílias que pretendem constituir um domicilio unifamiliar), dos moradores de baixa renda com
dificuldades de pagar aluguel nas áreas urbanas e dos que vivem em casas e apartamentos
alugados com grande densidade. Inclui-se, ainda nessa rubrica, a moradia em imóveis e locais
com fins não residenciais. O déficit habitacional pode ser entendido, portanto, como déficit por
reposição de estoque e déficit por incremento de estoque. Disponível em:
http://www.fiesp.com.br/noticias/levantamento-inedito-mostra-deficit-de-62-milhoes-de-
moradias-no-brasil/
15
http://www.fiesp.com.br/noticias/levantamento-inedito-mostra-deficit-de-62-milhoes-de-
moradias-no-brasil/ (p. 20; 37; 40-41).
16
http://www.fjp.mg.gov.br/index.php/docman/direi-2018/estatistica-e-informacoes/797-6-serie-
estatistica-e-informacoes-deficit-habitacional-no-brasil-2015/file (p. 35)
54
Como
55
dificuldade de acesso à terra urbanizada em áreas centrais pelas camadas de renda
menos favorecidas) (Rolnick, 2010)17.
Um dos passos para atingir a primeira meta do ODS 11 é “aliar política urbana,
habitacional e fundiária com programas voltados à regularização fundiária e à ocupação
de áreas centrais e vazios urbanos” (Rolnick, 2010)18, com o fim de aproveitar
infraestruturas urbanas já consolidadas, evitar a especulação imobiliária e o crescimento
territorial não planejado e alcançar uma melhor integração e inclusão social na cidade.
Para isto, em relação ao sistema habitacional, deve existir uma melhor articulação
dentro da política econômica e social, no nível nacional e local, no âmbito do
desenvolvimento urbano.
Conforme indicado pelo ONU-Habitat, “só com forte vontade política, compromisso,
investimento e intervenção eficaz, coordenados no âmbito das políticas urbanas
nacionais e entre diferentes níveis de governos, os países e as cidades poderão
maximizar os benefícios da urbanização e fornecer respostas inclusivas à escala
necessária no setor habitacional” (ONU-Habitat, 2015). Isto inclui, no nível local, a
necessidade de fortalecimento de capacidades; de ambientes propícios para
investimentos e parcerias público-privadas; da participação ativa da sociedade civil,
academia e a da própria comunidade (especialmente a população em situação de
vulnerabilidade) nos processos de tomada de decisões; melhor distribuição espacial de
serviços e infraestrutura; consolidação de indicadores de monitoramento e avaliação
junto a processos transparentes e o total cumprimento dos direitos humanos dentro das
cidades.
17
http://www.cidades.gov.br/images/stories/ArquivosSNH/ArquivosPDF/Publicacoes/capacitaca
o/publicacoes/habitacao_social.pdf (p. 24)
18
https://www.mprs.mp.br/media/areas/urbanistico/arquivos/manuais_orientacao/pmcmv.pdf
56
Como indicado acima, o IBGE lançou a Plataforma Digital dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável que brinda informações sobre o monitoramento de cada
ODS no país. Não restam dúvidas sobre a importância da liderança de uma instituição
nacional, aliada a outras igualmente importantes, como Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA), Ministérios e Secretarias Nacionais, para o adequado monitoramento
das metas. A participação e controle social é fundamental neste processo.
Além do avanço em relação à produção de dados nos governos locais, outras ações
são recomendadas para reforçar a integridade dos dados e melhorar a capacidade de
monitoramento dos ODS: apoiar na institucionalização de observatórios locais de
monitoramento dos ODS; estimular os governos locais a publicarem os dados e
indicadores relacionados aos ODS em formatos visuais amigáveis e em formato aberto
para uso livre pelos atores interessados; apoiar no estabelecimento de uma amostra de
cidades para realização dos relatórios nacionais e colaboração na definição de linhas
de base e adaptação de metas às realidades locais; e promover oficinas e outras
atividades que permitam a reflexão e práticas sobre o uso de dados para melhoria da
gestão pública.
57
Mas esta “visão localizada” não descarta a importância da utilização de marcos
globais como referência. (ref. meta 11.b) Os diferentes marcos globais das Nações
Unidas recentemente implementados, como o Marco de Sendai para a Redução de
Riscos de Desastres; a Agenda de Ação Addis Ababa (AAAA) sobre o Financiamento
para o Desenvolvimento; a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável; o Acordo
de Paris sobre Mudanças do Clima; e a Nova Agenda Urbana, cumprem com a função
de direcionar o desenvolvimento sustentável, mas “as metas ambiciosas destas
agendas só serão alcançadas se se presta atenção suficiente à sua implementação,
dentro e por parte das cidades, nos próximos anos”.19
A Nova Agenda Urbana tem como base o ODS 11, mas abarca um conjunto mais amplo
de questões relacionadas aos assentamentos humanos, principalmente por meio da
consolidação de ações, processos e temáticas como políticas urbanas nacionais,
legislação, planejamento espacial e arcabouços locais financeiros. A Agenda 2030 e a
Nova Agenda Urbana enfatizam a importância da implementação local e do papel dos
governos neste nível, já que estes provêm serviços diretamente à população, além de
serem o ente federado com a competência de legislar sobre ordenamento territorial,
planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano. Para
19
Cities Alliance, Discussion paper, Framing, Impacts and Key Elements of the New Urban
Agenda.
58
isto, destaca-se também a necessidade de capacitação das autoridades locais, e outros
atores relevantes, para a correta implementação da Nova Agenda Urbana e dos ODS
no nível local.
Governo aberto pode ser definido como um novo modelo de governança (Cruz-Rubio,
2015), isto é, um novo paradigma de interação entre o Estado e os diferentes setores
que compõe a sociedade no processo de formulação, execução, monitoramento e
avaliação das políticas públicas. De acordo com a Aliança para o Governo Aberto, os
princípios que constituem esse novo modelo de governança incluem: a) transparência,
b) participação; 3) colaboração; 4) prestação de contas; 5) tecnologia e inovação (Cruz-
Rubio 2015).
Outra experiência de uso de tecnologia e inovação que vem sendo incentivada pelos
governos locais, mas que também podem ser iniciativas da sociedade civil, são os
laboratórios de inovação em políticas públicas. Estes espaços buscam soluções
inovadoras para os problemas urbanos e geralmente utilizam metodologias que facilitam
o trabalho colaborativo entre atores com interesses diversos.
20
O impulso desta agenda tem sido liderado pela Aliança para o Governo Aberto (Open
Government Partnership). Os países podem participar desta iniciativa organizando planos de
ação participativos e comprometendo-se a implementar um certo número de compromissos
formulados com base na consulta aos cidadãos.
59
com participação popular, por meio de 114 audiências públicas que resultaram em 10
mil contribuições. Além da etapa presencial, a Plataforma Gestão Urbana serviu para
colher as propostas por meio eletrônico e para publicar informações sobre o processo.
Por fim, uma experiência de transparência que tem promovido o controle social das
gestões locais são as plataformas para acompanhamento do Plano de Metas da
Prefeitura. Como exemplo, uma ferramenta que permite o controle social é o “De Olho
nas Metas”21, uma iniciativa desenvolvida pela Rede Nossa São Paulo que tem por
objetivo ajudar a população a conhecer os projetos ou temas de seu interesse e
apresentar o progresso de cada meta com informações transmitidas pela própria gestão
municipal.
Em março de 2018, a Comissão Nacional dos ODS22 lançou um Plano de Ação (2017-
2019) para ampliar a disseminação dos ODS em todo o território nacional para o
aprimoramento de políticas públicas direcionadas para o alcance das metas da Agenda
2030. Uma das principais estratégias contidas no plano é a de internalização/localização
da Agenda 2030 em todo o território nacional. Para atingir tal objetivo, a comissão
nacional procura estimular estruturas locais de governança, com a criação de comissões
estaduais e municipais, que teriam a responsabilidade de coordenar a implementação
dos ODS nos respectivos níveis de governo. Além disso, procura-se estimular os entes
subnacionais a mapear suas políticas públicas, utilizando os instrumentos de
planejamento e estabelecer a correspondência com as metas dos ODS.
21
Para informações adicionais, acessar o endereço https://2017.deolhonasmetas.org.br
22
Informações adicionais disponíveis em: http://www4.planalto.gov.br/ods/menu-de-
relevancia/comissao-ods
23
Respectivamente Projeto de Lei 754/2018 e Projeto de Lei 320/2017.
60
conexões com as metas do ODS 11, as quais por sua vez se conectam com metas de
outros ODS, podendo apoiar na sua implantação.
61
instrumentos ou regulamentou e reforçou mecanismos legais existentes para a
implantação de políticas públicas urbanas. Nesse sentido, o Estatuto da Cidade
fornece um arcabouço de dezenas de instrumentos regulatórios que podem ser
usados pelos municípios brasileiros para a implementação dos Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável.
Considerações finais
Com o aumento das migrações rurais para as áreas urbanas, as sociedades urbanas
se tornaram mais diversificadas culturalmente24. No entanto, a falta de governança e
planejamento urbano adequados tem afetado o papel histórico das cidades como
plataformas para a promoção da cultura: a segregação social e espacial tornou-se uma
questão fundamental e novos tipos de ameaças surgiram. Ameaças à cultura urbana e
ao patrimônio urbano têm aumentado significativamente nos últimos 20 anos. Com as
24
Vide publicação da UNESCO (2016), sobre o acolhimento de a migrantes/refugiados em
cidades (http://unesdoc.unesco.org/images/0024/002465/246558e.pdf)
62
pressões crescentes da urbanização, o patrimônio urbano enfrenta graves questões em
termos de conservação e preservação. Danos resultantes de situações de conflito se
tornaram também uma questão importante.
Como indicado no sumário executivo deste documento, “é nas cidades onde a vida
acontece”; é nos assentamentos humanos aonde as pessoas vivem, convivem e
trabalham, e são justamente todas essas pessoas que contribuirão para o alcance não
só das metas do ODS 11, mas de todas as outras. O cumprimento, bem como o não-
cumprimento do ODS 11, facilita (ou prejudica) o cumprimento de todos os outros ODS.
63
REFERÊNCIAS
CITIES ALLIANCE. Una visión general de las leyes nacionales urbanas en América
Latina y Caribe: estudios de caso de Brasil, Colombia y Ecuador. 2017.
64
CYMBALISTA, R.; SANTORO, P. F. Planos diretores: processos e aprendizados. São
Paulo: Instituto Pólis, 2009.
65
______. Documento de Políticas da Habitat III: 1- Direito à Cidade e Cidades para
Todos. Nova York: ONU, 2016. Disponível em: <http://habitat3.org/wp-
content/uploads/Policy-Paper-1-Portugue%CC%82s.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2018.
______. Padrões Urbanos para uma Economia Verde (quatro séries). Nairóbi,
Quênia: 2012.
66
<https://unhabitat.org/books/sustainable-urbanization-in-the-paris-agreement/>. Acesso
em: 15 jun. 2018.
______. Capacity Building and Knowledge form the Foundation of the New Urban
Agenda: a position paper. 2015aDisponível em: <http://uni.unhabitat.org/wp-
content/uploads/sites/7/2015/06/Capacity-Building-in-New-Urban-Agenda-HABITAT-
III.pdf>. Acesso em: 11 mai. 2018.
Documento elaborado pelo subgrupo do ODS 11 (liderado pela ONU Habitat) do Grupo
Assessor das Nações Unidas no Brasil sobre a Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável, do qual participam os seguintes organismos: ONU Habitat, PNUD, UNFPA,
e UNOPS.
67
ANEXOS
68
sistema de circulação de pedestres e unidades de
conservação ambiental.
69
O tombamento é um instrumento de proteção do
patrimônio cultural brasileiro. Com a imposição do
Tombamento de
tombamento são criadas obrigações aos 11.4 Proteção do patrimônio
imóveis ou de
proprietários de bens tombados, para o poder cultural
mobiliário urbano
público e a sociedade. Para manter e conservar
este bem.
70
Metas do ODS 11
11.1 até 2030, garantir o acesso de todos a habitação adequada, segura e a preço
acessível, e aos serviços básicos, bem como assegurar o melhoramento das favelas.
11.6 até 2030, reduzir o impacto ambiental negativo per capita das cidades, inclusive
prestando especial atenção à qualidade do ar, gestão de resíduos municipais e outros.
11.7 até 2030, proporcionar o acesso universal a espaços públicos seguros, inclusivos,
acessíveis e verdes, em particular para as mulheres e crianças, pessoas idosas e
pessoas com deficiência.
11.a apoiar relações econômicas, sociais e ambientais positivas entre áreas urbanas,
peri-urbanas e rurais, reforçando o planejamento nacional e regional de
desenvolvimento.
71
72
DOCUMENTOS TEMÁTICOS
Nações Unidas no Brasil
CONSUMO E PRODUÇÃO
RESPONSÁVEIS
Assegurar padrões de produção e de consumo
sustentáveis
Palavras-chave
Consumo sustentável; Produção sustentável; Desperdício; Gestão de resíduos;
Compras sustentáveis; Estilo de vida sustentável; Relatórios de sustentabilidade;
10YFP.
Sumário executivo
73
Haja vista a característica transversal e mais ampla das ações que tratam da mudança
dos padrões de consumo e produção, o ODS 12 é considerado hoje como o mais
importante viabilizador do alcance de muitos dos ODS. Uma avaliação realizada pelo
Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas (UNDESA) em
2015 aponta o ODS 12 como aquele que fornece as maiores conexões entre os
diferentes objetivos e metas de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030.
Principais conceitos
A preocupação com a PCS foi reforçada pela Declaração do Milênio das Nações Unidas
( 2000), e pelo Plano de Implementação de Johanesburgo, resultante da Cúpula Mundial
74
sobre Desenvolvimento Sustentável, em 2002; esta última propôs a elaboração de um
marco de programas que apoie iniciativas regionais e nacionais que culminou no
lançamento do Processo de Marrakech, em 2003, o qual foi concebido para dar
aplicabilidade e expressão concreta ao conceito de PCS e a desenvolver o Quadro
Decenal de Programas em Consumo e Produção Sustentáveis (10 YFP, sigla em
inglês para The 10-year framework of programs on sustainable consumption and
production patterns).
75
mais sustentáveis no turismo, tendo sido intensificada durante a Copa do Mundo e as
Olimpíadas no Brasil, alcançando cerca de 20 milhões de pessoas, considerando todas
as ferramentas de comunicação utilizada em 4 anos de campanha.
76
Ressalta-se o lançamento da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), em 2010,
promovendo a redução da geração de resíduos por meio da prevenção, redução,
reciclagem e reuso. A política prevê redução e prevenção na geração de resíduos ao
incentivar a prática de hábitos de consumo sustentável e ao fornecer um conjunto de
instrumentos que propiciam o aumento da reciclagem e da reutilização dos resíduos
sólidos (aquilo que tem valor econômico e pode ser reciclado ou reaproveitado) e a
destinação ambientalmente adequada dos rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado
ou reutilizado). Ademais, a PNRS institui a responsabilidade compartilhada dos
geradores de resíduos, dividindo responsabilidades da logística reversa de embalagens
entre governo, fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, cidadãos.
• A Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), instituída pela Lei das Águas
(Lei nº 9.433/1997), a qual defende que a água deve ser gerida de forma a
proporcionar usos múltiplos (abastecimento, energia, irrigação, indústria) e
sustentáveis, e que esta gestão deve se dar de forma descentralizada, com
participação de usuários, da sociedade civil e do governo.
77
Brasil. Ademais, estabelece o princípio da responsabilidade compartilhada entre
os geradores de resíduos públicos e privados, incluindo os consumidores.
Embora o Brasil ainda seja um dos campeões em desigualdade de renda, com 10% dos
mais ricos concentrando mais de 40% da renda, a evolução do rendimento médio
mensal entre os anos de 2012 e 2015, vem crescendo timidamente.
78
distribuição da pegada ecológica por cada percentil de renda no Brasil está
representada na Figura 1.
Entende-se, portanto, que o maior desafio para o país seria garantir a inclusão dessa
população e suas novas necessidades de consumo, considerando, ao mesmo tempo,
que respeitem os novos padrões de consumo sustentável e a capacidade do meio
ambiente de responder à crescente demanda.
As principais atividades antrópicas que geram uma grande emissão de GEE estão
ligadas a queima de combustíveis fósseis, o desmatamento, a agricultura, pecuária e a
ação das indústrias. O Brasil é um dos grandes emissores de gás estufa, sendo que as
principais fontes de emissão são o desflorestamento, principalmente no Cerrado, a
expansão da frota de veículos e a diminuição do uso do etanol em oposição ao uso de
combustíveis fósseis, que cresceu exponencialmente.
79
Todos os setores acima mencionados serão mais demandados com o aumento da renda
no Brasil, com especial atenção para o setor de alimentos, o consumo de carne bovina,
e de produtos industrializados, como aparelhos de ar-condicionado.
Em relação aos recursos hídricos, o Brasil possui grande oferta de água, cerca de 12%
de toda a água doce do planeta. Esse recurso natural, entretanto, encontra-se
distribuído de maneira heterogênea no território nacional. Passam pelo território
brasileiro em média cerca de 260.000 m3/s de água, dos quais 205.000 m3/s estão
localizados na bacia do rio Amazonas, restando para o restante do território 55.000 m3/s
de vazão média.
Além destas questões espaciais, o regime fluvial sofre variações ao longo do ano que
estão estreitamente relacionadas ao regime de precipitações. Na maior parte do Brasil
existe uma sazonalidade bem marcada com estações secas e chuvosas bem definidas,
de forma que ao final do período seco podem-se observar vazões muito abaixo da vazão
média e, inclusive, ausência de água (ANA, 2016).
A qualidade da água no Brasil também é muito variável em termos regionais, sendo que
as áreas com valores mais baixos do IQA (Índice de Qualidade da Água) em áreas
urbanas são aquelas que recebem as maiores cargas dos esgotos domésticos; e, no
meio urbano, aquelas que recebem os dejetos decorrentes do uso de fertilizantes.
Ademais, o excesso de fósforo na água pode desencadear um processo conhecido
como eutrofização, no qual a flora aquática se reproduz de forma excessiva provocando
o desequilíbrio dos ecossistemas aquáticos. Isso gera a proliferação de algas tóxicas
nos mananciais e riscos para o abastecimento público e à saúde. Os efeitos da
eutrofização também podem comprometer diversos usos dos recursos hídricos, como a
navegação, produção de energia hidrelétrica, dessedentação de animais, pesca e
recreação.
80
dissociação entre crescimento econômico e degradação ambiental é um dos grandes
objetivos da agenda de produção e consumo sustentáveis, ao mesmo tempo em que se
mostra um dos maiores desafios, principalmente ao considerarmos que, mesmo em
países desenvolvidos, a Pegada de Materiais per capita (PM/cap) torna-se
consideravelmente maior do que seu Consumo Doméstico de Materiais per capita
(CDM/cap).
81
Fonte: Adaptado de Wiedmann e colaboradores (2015).
Por fim, a gestão de resíduos também demonstra ser outro grande desafio para a
agenda de produção e consumo sustentáveis, principalmente em relação aos resíduos
sólidos urbanos (RSU).
Conforme dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, em 2013, foram geradas
76,4 milhões de toneladas de RSU. Do montante coletado (69,1 m/t), 40,3 milhões de
toneladas foram encaminhadas para disposição final em aterros sanitários, e 28,8
milhões de toneladas foram enviadas para lixões ou aterros controlados, que são formas
de disposição final ambientalmente inadequadas. A matéria orgânica possui uma
considerável participação dentre os subgrupos de RSU, com 51,4% do total, seguido do
plástico com 13,5%, papéis com 13,1% e outros com 16,7%.
Apesar de a coleta de RSU estar presente em todas as regiões brasileiras, apenas 62%
dos municípios contam com a prática de coleta seletiva entre resíduos secos e úmidos
(orgânicos). Ademais, a diferença do serviço entre as regiões do país se torna ainda
mais preocupante.
82
Observa-se que aproximadamente 41,7% de todo os resíduos sólidos coletados no
Brasil seguem para destinos de disposição final inadequados (aterro controlado e lixão),
em oposição ao que determina a Lei Federal n° 12.305/2010. A disposição final em
aterros sanitários, considerada ambientalmente adequada, recebe em torno de 58,3%
dos RSU gerados no país.
Apesar da disposição final adequada ter aumentado nos últimos anos, cerca de 60%
dos municípios ainda destinam seus resíduos a aterros controlados ou lixões,
demonstrando que a maioria dos municípios brasileiros ainda precisa adequar-se à Lei.
83
exposição aos agrotóxicos para a população brasileira, principalmente quanto às
implicações toxicológicas, e considerando os grupos mais vulneráveis.
Haja vista a característica transversal e mais ampla das ações que tratam da mudança
dos padrões de consumo e produção, o ODS 12 tem a capacidade de viabilizar o
alcance de muitos dos ODS de forma integrada e abrangente. Uma avaliação
realizada pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas
(UNDESA), em 2015, aponta o ODS 12 como aquele que fornece as maiores conexões
entre os diferentes objetivos e metas de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030.
Dado que os ODS foram criados para endereçar o usual problema da falta de
coordenação intersetorial em políticas e tomadas de decisão do setor público ou privado,
a agenda de consumo e produção sustentáveis possui uma oportunidade concreta para
progredir no seu objetivo de alterar comportamentos e promover a eficiência dos
recursos.
84
estratégias como a criação de unidades específicas para tratar do tema da
sustentabilidade nas instituições públicas, a implantação do sistema de monitoramento
online da A3P (Ressoa) e de um banco de boas práticas; da inclusão de ações da A3P
junto às escolas públicas, dentre outras iniciativas.
A gestão adequada de resíduos também deve ser considerada uma área prioritária
de ação, não só governamental como também da iniciativa privada. É necessário
revisitar e superar as dificuldades encontradas no âmbito da implementação da
Política Nacional de Resíduos, como a falta de recursos adequados, a pequena
aderência dos munícipios – que em grande parte não possuem iniciativas de gestão
sustentável de resíduos, e a fraca cooperação e colaboração entre os parceiros
envolvidos na gestão de resíduos. Iniciativas de geração de energia renovável por meio
da decomposição de orgânicos (biogás), de transformação de lixo em produtos
(economia circular) e o investimento em infraestrutura para garantir a aplicação da
logística, devem ser impulsionadas.
Por fim, também por meio do trabalho do Comitê Gestor do PPCS e de sua ampla gama
de atores engajados, que conta ainda com a presença do IBGE e da ONU Meio
Ambiente, é necessário dar início a criação de indicadores para o ODS 12, trabalho
essencial para o monitoramento dos avanços na agenda 2030.
85
Considerações finais
É preciso continuar envidando esforços no alinhamento das ações nacionais com o ODS
12 e suas metas abrangentes, principalmente por meio da implementação do Plano de
Ação em Produção e Consumo Sustentáveis (PPCS) e do fortalecimento do Comitê
Gestor. Composto por atores de diferentes setores, o Comitê poderá garantir o
planejamento e implementação de ações conjuntas. Ademais, é importante promover o
engajamento da sociedade nas ações, de maneira a garantir escala e efetividade.
86
No que diz respeito ao ODS 3, de promoção da saúde e do bem-estar de todos, é
imprescindível que seja realizado um manejo ambientalmente saudável dos produtos
químicos e todos os resíduos, ao longo de todo o ciclo de vida destes, o que reduzirá
significativamente a liberação destes para o ar, água e solo e minimizará seus impactos
negativos sobre a saúde humana e o meio ambiente.
87
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS ESPECIAIS
[ABRELPE]. Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2014. ABRELPE: 2014.
Disponível em: <http://www.abrelpe.org.br/Panorama/panorama2014.pdf>. Acesso em:
3 mai. 2018.
BRASIL. Lei nº 12.305/10. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei
no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=636>. Acesso em: 15 jun.
2018.
88
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE [PNUMA]. ABC of
SCP: Clarifying Concepts on Sustainable Consumption and Production. 2010.
Disponível em:
<https://sustainabledevelopment.un.org/index.php?page=view&type=400&nr=945&me
nu=1515>. Acesso em: 14 mai. 2018.
WORLD BANK GROUP. Retaking the Path to Inclusion, Growth and Sustainabity:
Brazil Systematic Country Diagnostic. 2016. Disponível em:
<http://documents.worldbank.org/curated/pt/239741467991959045/Brazil-Systematic-
country-diagnostic-retaking-the-path-to-inclusion-growth-and-sustainability>. Acesso
em: 15 mai. 2018.
89
ANEXO
Metas do ODS 12
12.2 Até2030, alcançar gestão sustentável e uso eficiente dos recursos naturais.
12.3 Até2030, reduzir pela metade o desperdício de alimentos per capita mundial, em
nível de varejo e do consumidor, e reduzir as perdas de alimentos ao longo das cadeias
de produção e abastecimento, incluindo as perdas pós-colheita.
12.4 Até 2020, alcançar o manejo ambientalmente adequado dos produtos químicos e
de todos os resíduos, ao longo de todo o ciclo de vida destes, de acordo com os marcos
internacionalmente acordados, e reduzir significativamente a liberação destes para o ar,
água e solo, para minimizar seus impactos negativos sobre a saúde humana e o meio
ambiente.
12.5 Até 2030, reduzir substancialmente a geração de resíduos por meio da prevenção,
redução, reciclagem e reuso.
12.8 Até 2030, garantir que as pessoas, em todos os lugares, tenham informação
relevante e conscientização sobreo desenvolvimento sustentável e estilos de vida em
harmonia com a natureza.
90
DOCUMENTOS TEMÁTICOS
Nações Unidas no Brasil
VIDA TERRESTRE
Proteger, recuperar e promover o uso sustentável
dos ecossistemas terrestres, gerir de forma
sustentável as florestas, combater a
desertificação, deter e reverter a degradação da
terra, e deter a perda de biodiversidade
Palavras-chave
Conservação, recuperação e uso sustentável de ecossistemas. Florestas, águas doces,
montanhas, terras áridas. Gestão sustentável. Combate ao desmatamento e
desertificação. Reflorestamento e restauração. Combate às inundações. Conservação
da biodiversidade. Combate ao tráfico de espécies exóticas e à caça ilegal. Distribuição
equitativa de benefícios. Recursos para manejo florestal sustentável.
Sumário executivo
91
A valoração dos ecossistemas terrestres deve ocorrer tanto em relação aos retornos
financeiros diretos que o manejo sustentável desses recursos pode prover, como
também pelos serviços ecossistêmicos que dão suporte para grande parte das
atividades econômicas nacionais. Porém, independentemente do benefício gerado, a
distribuição e repartição dos benefícios deve ser equitativa e intergeracional.
Principais conceitos
No início dos anos 1970, o modelo de desenvolvimento a qualquer preço, com altos
níveis de poluição passou a ser questionado e eclodiu o debate sobre os padrões e
limites do crescimento. Os modelos alternativos que foram sendo propostos,
incorporando aspectos sociais e ecológicos aos parâmetros econômicos, levaram à
construção do que viria, cerca de duas décadas depois, a ser denominado de
desenvolvimento sustentável
92
reportadas, foram, em parte, obtidas em publicações de agências governamentais
brasileiras e, em parte, de base de dados do compilado pela CEPAL:
Área florestal como proporção da área total do território (ref. meta 15.1, indicador
15.1.1) é de 59% no Brasil.
93
Fonte: CNUC/MMA (2017); Boletim SNIF/SFB.
De acordo com o Serviço Florestal Brasileiro, responsável pela gestão das informações
florestais brasileiras, existem três planos de ação governamentais, que objetivam
promover o desenvolvimento sustentável, a diminuição do desmatamento e a redução
das emissões de gases de efeito estufa, e que afetam diretamente a gestão das florestas
do país.
94
✓ Eliminar a perda líquida da área de cobertura florestal até 2015, ou seja,
além de conservar a floresta nos níveis estabelecidos no objetivo
anterior, dobrar a área de florestas plantadas de 5,5 milhões de ha para
11 milhões de ha em 2020, com 2 milhões de ha com espécies nativas,
promovendo o plantio prioritariamente em áreas de pastos degradados,
para a recuperação econômica e ambiental. O impacto positivo deste
objetivo específico poderá ser mensurado tão logo se conclua o
inventário de estoques de carbono no âmbito do Inventário Florestal
Nacional.
Proporção do território com solos degradados (ref. meta 15.3, indicador 15.3.1)
Dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA) indicam que 140 milhões de hectares de
terras brasileiras estão degradadas, o que corresponde a 16,5% do território nacional.
Porém, desde os anos 1980 não são conduzidos levantamento sistemáticos sobre os
95
solos brasileiros. Assim, o Programa Nacional de Solos do Brasil (PronaSolos)
coordenado pela Embrapa-Solos (RJ) vai mapear o território brasileiro e gerar dados
com diferentes graus de detalhamento para subsidiar políticas públicas, auxiliar gestão
territorial, embasar a agricultura de precisão e apoiar decisões de concessão do crédito
agrícola, entre muitas outras aplicações.
96
administrativos, isto é, federal, estadual e municipal e cobrem sítios importante para a
biodiversidade em todas as regiões do Brasil (MMA 2017). Duas dessas UCs federais −
- o Parque Nacional do Itatiaia e a Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra da
Mantiqueira − foram listadas em publicação da Revista Science (Le Saout et al. 2013)
entre as 10 áreas mais importantes do mundo para a conservação efetiva da
biodiversidade.
Índice de cobertura vegetal nas regiões de montanha (ref. meta 15.4, indicador
15.4.2)
97
conseguiu fazer a repartição de benefícios de forma satisfatória. Por isso, foi alvo de
críticas da sociedade civil e da comunidade científica, que reivindicavam uma legislação
com regras mais claras e simples, com abordagens menos burocráticas e capazes de
estabelecer um ambiente de tranquilidade e de segurança jurídica para estimular a
pesquisa e o desenvolvimento tecnológico que faz uso da biodiversidade brasileira.
Após quase 15 anos de amadurecimento do marco legal, em 20 de maio de 2015, foi
sancionada a Lei no 13.123 (Lei da Biodiversidade), que entrou em vigor no dia 17 de
novembro de 2015.
Segundo o Relatório, 60% dos animais comercializados ilegalmente são para consumo
interno, o chamado tráfico doméstico. Seguem para destinos internacionais 40% dos
animais retirados da fauna brasileira. De acordo esse relatório, a exportação ilegal de
aves e peixes ornamentais é feita, principalmente, para a Europa. Na Ásia, o consumo
majoritário é de répteis e insetos. Já na América do Norte, o mercado consome
principalmente primatas, papagaios e araras.
98
detecção precoce, monitoramento, controle e erradicação de espécies exóticas
invasoras. Essencialmente, estas ações dizem respeito à revisão e desenvolvimento de
normativas relacionadas à matéria, realização de inventários das espécies exóticas
ocorrentes nos diversos ecossistemas brasileiros, discussão relativa à elaboração de
lista oficial de espécies exóticas invasoras em âmbito nacional, e estímulo à abertura de
linhas de financiamento no Fundo Nacional de Meio Ambiente.
99
Assistência oficial ao desenvolvimento e gastos públicos com conservação e uso
sustentável da biodiversidade e dos ecossistemas (ref. meta 15.a, indicador
15.a.1)
Uma resposta direta do Governo Brasileiro sobre o tema é o Projeto TEEB Regional-
Local, uma iniciativa coordenada pelo MMA em conjunto com a Confederação Nacional
da Indústria (CNI), no contexto da Cooperação Brasil-Alemanha para o
Desenvolvimento Sustentável.
A estratégia do Projeto abrange tanto o setor público como o setor privado. Juntamente
com o setor público busca-se desenvolver e disseminar conhecimentos e capacidades
sobre SE, abordagem ISE e métodos para sua integração em políticas e no
planejamento; prestar assessoria técnica a casos-piloto de como integrar o valor de SE
no planejamento do território, em processos de gestão e no desenho de políticas e
instrumentos económicos; identificar oportunidades e pontos de entrada para a
integração de SE; comunicar o valor dos SE; transversalizar o tema de SE nas agendas
setoriais; bem como desenvolver políticas públicas, planos, programas e estratégias de
100
desenvolvimento mais sustentáveis. Juntamente com o setor privado, busca-se
desenvolver e adequar métodos e ferramentas; engajar as Federações Estaduais das
Indústrias e de Empresas; aplicar métodos e procedimentos em empresas-piloto; inserir/
consolidar o tema de biodiversidade e SE na agenda do setor industrial; incorporar o
capital natural na tomada de decisão de negócios.
101
1
BIOMA
CAATINGA
BIOMA CERRADO
BIOMA MATA
ATLÃ T CA
BIOMA
102
Fonte: IBGE.
1
http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/natural-sciences/environment/natural-heritage/ e
http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/natural-sciences/environment/biodiversity/biodiversity/
2
Vide http://www.mma.gov.br/informma/item/11734-conecta
103
No âmbito do uso sustentável dos recursos naturais terrestres, o manejo florestal
sustentável das florestas nativas (ref. meta 15.2, indicador 15.2.1) também ilustra
os esforços do Brasil em relação ao ODS 15.
104
No âmbito da restauração de ecossistemas, merecem destaque as medidas para
assegurar a capacidade adaptativa nos cenários de desertificação e reversão da
degradação das terras (ref. meta 15.3). O Programa de Ação Nacional de Combate à
Desertificação (PAN-Brasil), publicado em 2005, configura-se como instrumento
norteador para a implementação de ações articuladas no controle e no combate à
desertificação, incluindo os acordos sociais envolvendo os mais diversos segmentos da
sociedade.
Um estudo do IPEA (2017) descreve a correspondência das metas dos ODS com os
atributos estabelecidos no Plano Plurianual 2016-2017 (PPA). No exercício de traçar
essa correlação, o Ministério do Planejamento construiu um banco de dados que
permitiu relacionar cada uma das metas e indicadores dos ODS com os atributos do
PPA (vide figura abaixo). Os primeiros resultados dessa iniciativa demonstraram que
96% das metas dos ODS possuem algum atributo do PPA relacionado à sua
implementação.
105
Todavia, nem todos os ODS estão contemplados nesse exercício e chama a atenção a
ausência de um enfoque no ODS 15 (entre outros). O Brasil é internacionalmente
reconhecido como um pais megadiverso e possui uma riqueza biológica extremamente
grande, a qual é submetida a um alto grau de ameaça. O país abriga a segunda maior
cobertura florestal e a maior extensão de florestas tropicais do planeta. As florestas
nativas brasileiras representam mais de 50% do território.
106
com destaque, a área de mudança no uso do solo e das florestas e também do
setor agrícola, incluindo a restauração de pastagens degradadas e reforçando a
integração dos sistemas terra de cultivo-pecuária-florestal (ICLFS, na sigla em
inglês).
O Censo de 2010 mapeou no território brasileiro 305 etnias indígenas e 274 línguas,
totalizando 896.000 pessoas, sendo a maior parte em reservas e áreas protegidas, mas
em constante conflito com fazendeiros, madeireiros e garimpeiros ilegais. A manutenção
de comunidades agroextrativistas, ribeirinhos e quilombolas em seus territórios é
essencial para a biodiversidade e conservação de uma variedade de espécies dos
ecossistemas Cerrado e Caatinga.
107
Todos esses caminhos apontados apenas serão possíveis por meio do envolvimento
de múltiplos atores para a busca de soluções eficazes, incluindo por meio
fortalecimento de parcerias com os tomadores de decisão nos níveis regional e local,
sejam eles governos estaduais e municipais, bem como representantes do setor
empresarial, de forma conjugada com instituições de pesquisa e atores da sociedade
civil que influenciam a elaboração de políticas sobre clima, ecossistemas e
biodiversidade e que acompanham foros de diálogo intersetorial. Nesse sentido, é
importante trabalhar com o princípio de pleno respeito aos direitos humanos,
particularmente aos direitos das comunidades vulneráveis, populações
indígenas, comunidades tradicionais e trabalhadores de setores afetados pelas
políticas e planos relevantes, promovendo paralelamente medidas de resposta
sensíveis a gênero.
Considerações finais
O uso sustentável da biodiversidade, ações para deter e reverter degradação das terras,
bem como o combate à desertificação relacionam-se igualmente com o combate à fome
(ODS 2), uma vez que as populações vulneráveis muitas vezes dependem diretamente
do extrativismo para estabelecer os seus meios de vida. O uso sustentável da
biodiversidade também está relacionado com produção e consumo responsável (ODS
12), pois as cadeias de suprimento deverão reduzir o impacto na biodiversidade.
Ademais, a evidência do nexo entre o ODS 15 e a disponibilidade de água (ODS 6) é
108
cada vez mais evidente: trabalhar com a natureza melhora a gestão dos recursos
hídricos, ajuda a alcançar a segurança dos recursos hídricos para todos, além de apoiar
o desenvolvimento sustentável em geral.
109
REFERÊNCIAS
LE SAOUT, S.; HOFFMANN, M.; SHI, Y.; HUGHES, A.; BERNARD, C.; BROOKS, T.
M.; BERTZKY, B. Protected Areas and Effective Biodiversity Conservation.
Science 15 Nov 2013: Vol. 342, Issue 6160, pp. 803-805.
110
<www.mma.gov.br/estruturas/conabio/_arquivos/anexo_resoluoconabio05_estrategia_
nacional__espcies__invasoras_anexo_resoluoconabio05_15.pdf>. Acesso em: 11 jun.
2018.
111
SERVIÇO FLORESTAL BRASILEIRO. Boletim SNIF 2017. Disponível em:
<http://www.florestal.gov.br/snif/images/Publicacoes/boletim_snif_2017.pdf>. Acesso
em: 11 jun. 2018.
112
ANEXO
Metas do ODS 15
15.6 Garantir uma repartição justa e equitativa dos benefícios derivados da utilização
dos recursos genéticos, e promover o acesso adequado aos recursos genéticos
15.7 Tomar medidas urgentes para acabar com a caça ilegal e o tráfico de espécies da
flora e fauna protegidas, e abordar tanto a demanda quanto a oferta de produtos ilegais
da vida selvagem
113
15.c Reforçar o apoio global para os esforços de combate à caça ilegal e ao tráfico de
espécies protegidas, inclusive por meio do aumento da capacidade das comunidades
locais para buscar oportunidades de subsistência sustentável
114
1