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Documentos Temáticos - ODS 6, ODS 7, ODS 11, ODS 12 e ODS 15

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DOCUMENTOS

TEMÁTICOS
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
6 - 7 - 11 - 12 - 15
BRASIL
DOCUMENTOS TEMÁTICOS
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

6 - 7 - 11 - 12 - 15

Brasília, julho de 2018

1
Organização
Haroldo Machado Filho

Colaboradore(a)s de conteúdo
Equipes técnicas no Brasil:
PNUD
ONU Ambiente
ONU Habitat
RCO
UNESCO
UNOPS

Revisão Final
Amanda Lima

Projeto Gráfico e Diagramação


Gustavo Henrique de Souza Bodenmuller e Guilherme Larsen

Apoio
Equipe de País das Nações Unidas no Brasil

Foto de Capa: Alain Grimard (ONU Habitat)

Encoraja-se o uso, a reprodução e a disseminação deste documento. É permitida a reprodução parcial ou total deste
documento, desde que citada a fonte. Não é autorizada a venda ou seu uso comercial sem permissão prévia por
escrito das Nações Unidas no Brasil.

Os seguintes termos deste glossário não representam a opinião das pessoas envolvidas na elaboração do documento
e nem necessariamente a decisão ou a política declarada dos organismos do Sistema das Nações Unidas no Brasil, e
as citações ou uso de nomes comerciais não constituem endosso.
SUMÁRIO

Carta de apresentação..................................................................................................5

Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 6 ................................................................7


Água potável e saneamento

Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 7 ..............................................................27


Energia limpa e acessível

Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 11 ..............................................................47


Cidade e comunidades sustentáveis

Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 12 ..............................................................73


Consumo e produção responsáveis

Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 15 ..............................................................91


Vida terrestre

Brasília, julho de 2018

1
UNITED NATIONS NAÇÕES UNIDAS

Brasília, 7 de julho de 2018.

À Comissão Nacional para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável,

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e suas metas desafiam todos os países a serem
ambiciosos e inovadores a fim de buscarem soluções multidimensionais para desafios
multidimensionais, bem como de estabelecerem meios de implementação inclusivos, eficientes e
transparentes, com vista a tornar realidade essa complexa agenda de desenvolvimento, do nível global
ao subnacional.

Assim, para que a Agenda 2030 seja efetivamente implementada, os governos têm a responsabilidade
primária de realizar acompanhamento e revisão, tanto em âmbito nacional quanto regional e global,
do progresso alcançado na implementação dos Objetivos e metas até 2030.

O Fórum Político de Alto Nível de 2018 terá como foco a revisão dos ODS 6, 7, 11, 12 e 15 e como tema
central "Transformação para sociedades sustentáveis e resilientes". Temos certeza de que esse evento
e as temáticas a serem nele discutidas serão de extrema relevância para a continuidade dos exercícios
de acompanhamento e revisão do progresso dos ODS no mundo, bem como no Brasil.

Nesse sentido, o Sistema das Nações Unidas no Brasil parabeniza a Comissão Nacional para os ODS
pelos avanços verificados no último ano, sobretudo no que diz respeito à publicação de seu Plano de
Trabalho 2018-2019 e ao lançamento da 1ª edição do Prêmio Nacional dos ODS.

As Nações Unidas no Brasil reconhecem, ainda, os importantes esforços empenhados até o momento
por parte das instituições governamentais e igualmente par parte das organizações da sociedade civil,
do setor privado e dos cidadãos em geral, no sentido de assegurar que essa Agenda seja incorporada
no trabalho e na vida quotidiana dos brasileiros e das suas instituições.

Neste momento preparatório para o Fórum Político de Alto Nível de 2018, o Sistema das Nações
Unidas no Brasil tem o prazer de encaminhar à Comissão Nacional para os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável “documentos temáticos” (issue papers) sobre cada ODS que será objeto
de apreciação durante a sessão do Fórum neste ano.

5
UNITED NATIONS NAÇÕES UNIDAS

A ideia de elaboração desses insumos foi inspirada nos subsídios que a ONU aportou durante a etapa
preparatória da Rio+20, quando o Governo Federal gentilmente convidou as Nações Unidas para
colaborar em alguns trabalhos preparatórios da Conferência, como os diálogos, no âmbito dos quais
foram realizados “papers” para instigar discussões temáticas.

Baseado nessa experiência anterior, bem como na bem-sucedida primeira edição publicada no âmbito
do processo preparatório do HLPF de 2017, cada agência especializada, fundo ou programa líder de
cada um dos ODS temáticos no âmbito do Grupo Assessor da ONU para a Agenda 2030 no Brasil ficou
responsável por coordenar o trabalho de elaboração destes “documentos temáticos”, frutos de uma
profícua construção coletiva. Em exercício desde 2014, o Grupo Assessor conta com a participação de
17 organismos do Sistema ONU: PNUD (inclusive por meio do IPC-IG), CEPAL, FAO, ONU-Habitat, ONU
Mulheres, OPAS/OMS, OIT, PNUMA, PMA, UNAIDS, UNESCO, UNFPA, UNICEF, UNIDO, UNODC, UNOPS
e UNV; contando ainda com a participação de membros do Governo Federal.

O conjunto de “documentos temáticos” que tenho o prazer de encaminhar apresenta temas e


questões que o Sistema ONU no Brasil considera relevantes no âmbito do processo de implementação
dos ODS 6, 7, 11, 12 e 15 no Brasil e têm a pretensão de servir como subsídios à Comissão Nacional
para as discussões temáticas correspondentes na fase preparatória para o Fórum Político de Alto Nível
de 2018, assim como em outras oportunidades relevantes.

As Nações Unidas no Brasil esperam que o exercício consubstanciado por estes “documentos
temáticos” sejam úteis para a construção de agendas propositivas e comprometidas com a
implementação da Agenda 2030 em âmbito nacional e subnacional.

O Brasil está no caminho da busca pelo desenvolvimento sustentável e as Nações Unidas continuam
apoiando a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável em todo o país, em todos
os setores. Esperamos que esta parceria se fortaleça cada vez mais a fim de que os ODS sejam
alcançados sem que ninguém seja deixado para trás.

Niky Fabiancic
Coordenador Residente da ONU no Brasil

6
DOCUMENTOS TEMÁTICOS
Nações Unidas no Brasil

ÁGUA POTÁVEL E SANEAMENTO


Assegurar a disponibilidade e a gestão
sustentável da água e o saneamento para todos

Palavras-chave
Acesso universal e equitativo; Água Doce; Água Potável; Águas residuais; Gestão
integrada de Recursos Hídricos; Gestão sustentável; Saneamento.

Sumário executivo
O Brasil detém 12% das reservas de água doce do planeta e 53% dos recursos hídricos
da América do Sul. Cerca de 60% de seu território é ocupado por bacias e rios que
compartilham fronteiras. Entretanto, o acesso universal e equitativo à água potável e
saneamento, tema principal do ODS 6, ainda é um grande desafio a ser vencido pelo
país, principalmente por causa das desigualdades regionais em termos de provisão de
serviços de abastecimento e saneamento.

Assegurar a provisão de serviços eficientes de água e saneamento para todos é


essencial para que o desenvolvimento do Brasil e de qualquer outro país seja realmente
sustentável, pois isso também auxilia a redução da pobreza, o desenvolvimento
econômico e a sustentabilidade ambiental. Da alimentação à segurança energética,
passando pela saúde ambiental, a disponibilidade de água e saneamento contribui para
melhorias no bem-estar das populações que promovem o crescimento inclusivo da
economia.

Se, por um lado, é muito importante contar com ações do governo e da iniciativa privada
para melhorar a infraestrutura e os serviços de água e saneamento, na visão das
Nações Unidas, a garantia de disponibilidade e gestão sustentável da água e
saneamento no Brasil também depende de efetivas mudanças de comportamento
humano e de iniciativas que envolvem ações coordenadas junto a comunidades locais

7
e organizações da sociedade civil. Nesse sentido, para promover maior engajamento
social, é necessário fortalecer as iniciativas de comunicação e sensibilização pública
das políticas e programas nacionais de educação e ciência.

Principais conceitos

Acesso universal e equitativo

O acesso a água e saneamento é considerado universal e equitativo quando é constante


e regularmente garantido para todos, independentemente de sua condição social,
econômica ou cultural, de gênero ou etnia. Este conceito está alinhado com a noção do
acesso à água como um direito humano. Por meio da Resolução 64/292, a Organização
das Nações Unidas reconhece explicitamente o direito humano à água e ao
saneamento, inclusive como meio essencial para a realização de todos os direitos
humanos. Essa Resolução conclama os Estados e as organizações internacionais a
prover recursos financeiros, capacitação e transferência de tecnologia para ajudar todos
os países do mundo, em particular os países em desenvolvimento, para que forneçam
a toda sua população água potável segura, limpa, de fácil acesso e a preço acessível,
bem como serviços de saneamento.

Água doce

É a água, usualmente proveniente de rios, lagos e de lençóis subterrâneos com


salinidade próxima de zero, por oposição à água do mar (que tem alta concentração de
sais dissolvidos por litro) e à água salobra, como a dos estuários, que tem uma
salinidade intermédia. No Brasil, é considerada como água doce a de salinidade igual
ou inferior a 0,5‰. Geralmente, a água doce advém de um processo de precipitação
(chuva, neve ou granizo) ou degelo de geleiras.

Água potável

A água potável é aquela que não apresenta riscos à saúde humana e que pode ser
utilizada para consumo pessoal, ou seja, para beber, cozinhar, preparar refeições e
tomar banho. A água potável precisa estar livre de quaisquer agentes patogênicos e de
altos níveis de substâncias tóxicas. O padrão de “potabilidade da água” é estabelecido
a partir de um conjunto de parâmetros microbiológicos, físicos, químicos e radioativos e
de respectivos limites aceitos pela saúde pública para o consumo humano da água.

Águas residuais

As águas residuais contêm resíduos sólidos ou líquidos, que podem causar poluição ou
contaminação dos recursos hídricos. Elas provêm de efluentes líquidos de edificações,
indústrias, agroindústrias e agropecuária, tratados ou não. Após passar por processos
de tratamento, podem se tornar potáveis e aptas para consumo humano.

Gestão integrada dos recursos hídricos

Conjunto de estratégias, ações, mecanismos e processos que promove o


gerenciamento e desenvolvimento coordenado dos recursos hídricos e dos seus

8
respectivos ecossistemas, terrestres e relacionados. Leva em consideração as múltiplas
finalidades de uso humano, bem como os princípios, diretrizes e normativas que
regulam a conservação e o uso dos recursos hídricos.

Gestão sustentável de água e saneamento

Aplicação de práticas de gestão que satisfazem as necessidades de água e saneamento


das gerações atuais sem comprometer as gerações futuras.

Saneamento

É a provisão de serviços e instalações operacionais para o gerenciamento dos resíduos


líquidos e sólidos gerados por atividades humanas, de modo a garantir a saúde pública
e ambiental. O saneamento básico, em particular, é o conjunto de serviços,
infraestruturas e instalações para abastecimento de água potável, esgotamento
sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, além da drenagem e manejo
das águas pluviais.

Dados e fatos importantes sobre os ODS 6 no Brasil

A gestão da água e do saneamento no Brasil está baseada em duas leis federais: a Lei
nº 9.433/1997, conhecida como a “Lei das Águas”, que instituiu a Política Nacional de
Recursos Hídricos (PNRH) e o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos (SINGREH); e a Lei nº 11.445/2007, conhecida como a “Lei do Saneamento”,
que estabeleceu as diretrizes nacionais e a política federal para o saneamento básico.

Ambas as leis levam em consideração o conceito de desenvolvimento sustentável. Em


particular, a Lei das Águas estabelece como um dos objetivos da PNRH a “utilização
racional e integrada dos recursos hídricos (...) com vistas ao desenvolvimento
sustentável”. Enquanto a Lei do Saneamento estabelece, como uma das diretrizes da
política federal de saneamento básico, a “aplicação dos recursos financeiros por ela
administrados de modo a promover o desenvolvimento sustentável, a eficiência e a
eficácia da política (...)”. Portanto, o Brasil possui um bom embasamento legal para
viabilizar o alcance do ODS 6 e das suas respectivas metas.

De acordo com a Lei das Águas, a PNRH está centrada em seis princípios
fundamentais: 1. A água é um bem público; 2. A água é um recurso limitado e com valor
econômico; 3. É preciso garantir os usos múltiplos da água; 4. Em casos de escassez,
os usos prioritários são o abastecimento público e uso para saciar a sede animal; 5. A
bacia hidrográfica é a unidade mínima de gestão de recursos hídricos; 6. A gestão dos
recursos hídricos deve ocorrer de maneira descentralizada. A citada gestão
descentralizada e participativa dos recursos hídricos é viabilizada pelo SINGREH. O
Sistema tem como objetivos coordenar a gestão integrada das águas; arbitrar
administrativamente os conflitos relacionados com os recursos hídricos; implementar a
PNRH; planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos recursos
hídricos e promover a cobrança pelo uso de recursos hídricos por parte dos grandes
usuários. Integram o SINGREH: a Agência Nacional de Águas (ANA), que regulamenta

9
o uso das águas de rios e lagos de domínio da União e gerencia o próprio SINGREH; e
três órgãos consultivos e deliberativos que formulam e implementam a política de
recursos hídricos em cada jurisdição relevante. O SINGREH também conta com vários
instrumentos para sua operacionalização, tais como: um sistema de informações;
instrumentos normativos, econômicos e financeiros como a outorga (i.e. concessão) de
direito de uso, a cobrança pelo uso da água e o enquadramento dos corpos d’água em
classes de uso; e instrumentos de planejamento e gestão estratégica, como os planos
de bacia hidrográfica. De modo geral, conforme observado pelo próprio governo, a
implementação de todos esses instrumentos tem sido mais difícil e lenta em áreas
rurais.

O saneamento básico é um direito assegurado pela Constituição Brasileira de 1988.


Garantir saneamento básico significa, além de garantir provisão de água para consumo
humano, manter boas condições de saúde pública, reduzindo a incidência de doenças
de veiculação hídrica, que geram internações hospitalares por cólera, febre tifoide e
paratifoide, amebíase, diarreia e outras doenças infecciosas intestinais. Desde 2003, as
taxas de internação por causa dessas doenças vêm diminuindo de forma constante em
todas as regiões do Brasil, principalmente na Região Nordeste. Em 2007, a Lei do
Saneamento foi aprovada e se instituiu o Plano Nacional de Saneamento Básico
(Plansab), que busca a universalização do acesso aos serviços de saneamento básico

10 anos após a aprovação da Lei nº 11.445/2007, apenas 61% da população urbana


brasileira pode contar com algum serviço de coleta e tratamento de esgoto, sendo que
18% têm seu esgoto coletado e não tratado e 12% utiliza soluções individuais, como a
fossa séptica1. De acordo com a ANA, as dificuldades de execução do Plansab incluem
projetos de infraestrutura inadequados, insuficiência de quadros técnicos nas empresas
públicas do setor e a pouca articulação entre os órgãos envolvidos. Na sua avaliação, é
necessário que os setores de recursos hídricos e saneamento atuem de forma
articulada, pois o tratamento de esgotos melhora significativamente a qualidade da
água, aumentando assim a disponibilidade hídrica para outros usos.

No atual contexto de crise hídrica, o reuso e a reciclagem de águas residuais, que


podem ser vistos como uma extensão dos serviços de saneamento, vêm ganhando
importância como fonte de água alternativa e confiável, principalmente no setor agrícola
e industrial, grandes consumidores e poluidores de recursos hídricos. Entretanto, no
Brasil, o reúso e a reciclagem de águas residuais ainda é muito incipiente, limitado a
poucas iniciativas de relativa pequena escala (i.e. no máximo, em nível municipal).

De forma geral, as leis federais das Águas e do Saneamento têm contribuído muito para
a realização de avanços significativos rumo à gestão sustentável da água e do
saneamento no Brasil. Apesar desses avanços, cerca de 35 milhões de pessoas ainda
não têm acesso à água tratada, e cerca de 100 milhões (i.e. metade da população do
Brasil) ainda não é servida por sistemas de coleta de esgotos. Além disso, apenas 40%
das águas residuais coletadas passa por estações ou processos de tratamento, e o
restante 60% é lançado sem tratamento algum nos rios, nos lagos ou no mar.

10
Soma-se a tudo isso a crescente incidência de eventos de extrema escassez ou excesso
de água, tais como estiagens, secas, inundações, que representam 84% dos desastres
naturais ocorridos no país entre 1991 e 2012 2. Esses eventos, causados em parte por
fatores naturais das próprias regiões geográficas onde ocorrem, tem se intensificado por
causa de efeitos associados à mudança do clima, em grande parte provocadas ou
aceleradas pelo desenvolvimento urbano, o desmatamento e outras ações de origem
humana. Portanto, o desafio de alcançar o ODS 6 e suas metas é ainda muito grande
para o Brasil e, para vencê-lo, é preciso contar com a colaboração de todos os setores
da sociedade.

Circunstâncias nacionais em relação ao ODS 6

Apresentam-se, a seguir, algumas das questões consideradas pelo Sistema ONU no


Brasil como mais importantes para o país, que serão tratadas em relação ao conjunto
de metas relevantes do ODS 6 (vide Anexo).

Acesso universal e equitativo à água potável e ao saneamento (ref. metas 6.1 e


6.2)

Embora o Brasil seja um dos maiores detentores de água doce do mundo, grande parte
da população do país ainda sofre com a falta d’água de água potável e segura durante
boa parte do ano, e com o baixo acesso a serviços de saneamento e higiene pública.
Esse problema é agravado pelas desigualdades regionais e sociais em termos de
provisão e acesso a serviços de abastecimento de água e saneamento. Em particular,
a região Norte tem os indicadores mais baixos do país (56,9% de abastecimento de
água, 8,7% de coleta de esgoto, do qual é tratado apenas 16,4%); enquanto a região
Sudeste é a região com a melhor situação, i.e. 91,2% de cobertura de abastecimento
de água e 77,2% de coleta de esgoto, sendo que 47,4% é tratado.

Quanto ao abastecimento, de acordo com dados de 2012 do Sistema Nacional de


Informações sobre Saneamento (SNIS), do Ministério das Cidades, apenas 83,3% da
população brasileira tem acesso à água potável. Portanto, cerca de 35 milhões de
brasileiros não têm acesso a esse serviço básico – a maior parte dessa população tem
baixa renda e vive em áreas urbanas e rurais caracterizadas por baixos indicadores de
desenvolvimento humano.

Existem situações extremas no Brasil em termos de oferta e demanda de água. Ao


mesmo tempo que existem regiões do país, como o Nordeste, onde há baixa
disponibilidade de água nas bacias hidrográficas e grande demanda de água pela
população, também existem regiões, como a do Norte, onde há grande disponibilidade
de água, mas baixa demanda, pois a população é pequena. De acordo com dados do
IBGE, no Brasil, o Nordeste também tem baixo abastecimento diário de água, em
comparação às demais regiões do país. Em 2016, enquanto 87,3% de todos os

11
domicílios do país ligados à rede geral tinham disponibilidade diária de água, no
Nordeste apenas 66,6% dos domicílios estavam nessa situação.

Além das desigualdades entre macrorregiões geográficas do país, também existe muita
desigualdade no que se refere à demanda de água potável em áreas rurais e urbanas.
No Brasil, 16% da população vive em áreas rurais. De acordo com dados da ANA, essa
população demanda 33,8m3/s para seu abastecimento, que, de forma geral, é provido
por meio de captações isoladas poços ou cisternas. A população urbana, 84% do total
da população brasileira, demanda 488,3m3/s, cerca de 15 vezes a demanda de
abastecimento da população rural. Nas cidades, os serviços de abastecimento são
geralmente providos por companhias públicas estaduais, municipais ou do setor
privado.

Quanto ao saneamento, o Brasil ocupa apenas a 123ª posição no ranking mundial do


setor. De acordo com dados recentes do Instituto Trata Brasil, bem como do SNIS,
apenas 50,3% da população do Brasil é atendida por serviços de coleta de esgoto. Isso
significa que mais de 100 milhões de pessoas coletam e descartam individualmente
seus esgotos domésticos – utilizando fossas sépticas, ou até despejando os esgotos
diretamente nos rios, nos lagos ou no mar. Ademais, de todo o esgoto coletado no país,
apenas 42% é tratado antes de ser, por fim, despejado em um corpo hídrico.

Observa-se, também, que ainda há muita desigualdade regional em termos de coleta e


tratamento de esgotos. A pior situação é na região Norte onde apenas 18,3% do esgoto
é tratado, e o índice de coleta é de 10,45%; enquanto a melhor situação atualmente é
na região Centro-Oeste, onde 52,62% do esgoto é tratado. A disparidade regional é
grande até dentro de um mesmo estado, onde, em muitos casos, existem cidades com
índices de tratamento de esgoto muito elevados bem como outras com índices muito
baixos. Além disso, dentro de um mesmo estado existem municípios atendidos por
serviços privatizados e outros apenas por serviços públicos.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o saneamento deve ser uma das
principais prioridades de governo de qualquer país. Isso principalmente porque a falta
de saneamento acarreta elevados custos sociais e ambientais, pois gera poluição dos
corpos hídricos que destrói espécies e ecossistemas aquáticos e terrestres de grande
valor econômico e provoca internações hospitalares por doenças infecciosas
gastrointestinais causadas pelo contato ou a ingestão via alimentar de bactérias,
parasitas e substâncias tóxicas como, por exemplo, os sais e metais pesados derivados
dos esgotos agrícolas e industriais.

Se, por um lado, esse problema é causado, em parte, pela baixa disponibilidade e
investimento de recursos públicos no setor de saneamento, por outro lado, já existem
estudos que demonstram que o investimento em saneamento pode impulsionar a
economia. De acordo com a OMS, a cada dólar investido em saneamento, há um retorno
de nove dólares para a economia de um país 3. Para reforçar o investimento e reverter a
situação do setor no Brasil, a Lei nº 13.329/2016 instituiu o Regime Especial de
Incentivos para o Desenvolvimento do Saneamento Básico (REISB), voltado para
empresas prestadoras de saneamento básico. De acordo com estimativa do Plano

12
Nacional de Saneamento Básico (Plansab), instituído em 2013, o Brasil deveria investir
cerca de R$ 508 bilhões até 2033 para universalizar os serviços de saneamento de água
no país. Especialmente para o alcance da meta 6.2, espera-se que essa Lei possa
contribuir para acelerar a universalização dos serviços de abastecimento de água e de
tratamento de esgotos. Em 2017, ainda que a Lei do Saneamento exigisse o
estabelecimento de planos municipais de saneamento em todos os municípios do país,
apenas 1.692 possuiam um plano; ou seja, em 5 anos da Lei apenas 30,4% dos 5.570
municípios brasileiros cumpriram com a diretriz.

Por fim, cabe destacar que, atualmente, não existem dados nacionais estatísticos
disponíveis e desagregáveis por sexo, raça, faixa de renda e idade com relação a estas
metas, principalmente no que se refere a meta 6.2. Isso, certamente, dificulta o
estabelecimento de indicadores de acompanhamento do progresso, tendo em vista que
esses indicadores deverão, necessariamente, indicar se alguém está sendo deixado
para trás no processo de universalização da água e do saneamento.

Melhorar a qualidade da água, reduzindo a poluição e aumentando o tratamento,


a reciclagem e a reutilização segura das águas residuais (ref. meta 6.3)

As fontes poluidoras da água no Brasil são diferenciadas no meio urbano e rural. Em


áreas urbanas, onde há maior densidade populacional, predominam fontes poluidoras
relacionadas aos esgotos domésticos e efluentes de drenagem das cidades. Em áreas
rurais, predominam cargas poluidoras difusas, de forma geral relacionadas às atividades
agropecuárias.

De acordo com dados da ANA, em 2017 foram gerados 1.065 m³/s de águas residuais,
associadas às seguintes atividades: abastecimento humano urbano (402 m³/s), irrigação
agrícola (340 m³/s), indústria (277 m³/s), pecuária (27 m³/s) e abastecimento humano
rural (19 m³/s). Conforme mencionado anteriormente, apenas 42% de todas essas
águas residuais são tratadas antes de serem despejadas nos corpos hídricos. Isso
significa que, para atender essa meta, reduzindo significativamente a poluição da água
dos rios que recebem tais esgotos, é preciso dobrar a cobertura nacional dos serviços
de tratamento de águas residuais.

No Brasil, embora já existam algumas experiências exitosas em alguns municípios


brasileiros (especialmente no estado de São Paulo), provavelmente essa porcentagem
ainda é muito baixa, sendo que não existem, atualmente, iniciativas de reciclagem e
reúso de águas residuais implementadas na escala estadual. Ademais, infelizmente,
são incipientes as estatísticas ou indicadores relevantes no país sobre o tema.

Aumentar a eficiência do uso da água em todos os setores e reduzir o número de


pessoas que sofrem com a escassez de água (ref. meta 6.4)

De 2013 a 2016, cerca de 48 milhões de pessoas foram afetadas por secas e estiagens
no Brasil, especialmente nos meses de outubro, abril e maio. 83% dessas pessoas
vivem na Região Nordeste. Segundo estudo recente do WWF-Brasil, em parceria com
o Ministério do Meio Ambiente e o Ministério da Integração Nacional, nas próximas

13
décadas, o Brasil enfrentará com mais frequência períodos de estiagem cada vez mais
rigorosos para as populações locais, principalmente na região do semiárido 4.

O Brasil, em potencial, dispõe de uma grande oferta hídrica, tanto em termos de águas
superficiais, quanto subterrâneas. Entretanto, em várias regiões densamente povoadas,
há baixa disponibilidade e grande demanda de recursos hídricos, enquanto em outras
regiões, menos povoadas, a situação é oposta. Nesse sentido, problemas como o
desenvolvimento urbano desordenado e as desigualdades em termos de condições
sociais, econômicas e ambientais representam grandes desafios que o país deve
superar para alcançar a meta 6.4.

Para aumentar a eficiência do uso da água, em um contexto de ocorrência frequente de


crises hídricas, as instituições relevantes do setor de recursos hídricos deverão
desenvolver ou aprimorar estratégias de gestão da demanda e da oferta. Mais
investimentos deverão ser feitos na difusão de políticas, programas e práticas de reúso
e reciclagem da água, bem como na aplicação de tecnologias mais eficientes de
irrigação agrícola, dentre outras.

Mesmo em condições normais, o desperdício de água de abastecimento público,


principalmente nas cidades, e as perdas ao longo dos processos de produção e
distribuição de água até o consumidor final são questões preocupantes e que devem
ser endereçadas desde já. As causas de tais perdas são várias, incluindo roubos e
desvios, sendo o vazamentos das tubulações a principal causa das perdas, de acordo
com o SNIS5. Estudos apontam que programas de controle de perdas de água são, em
muitos casos, a solução mais econômica para aumentar a oferta de água para a
população, principalmente no curto prazo6.

Proteger e restaurar ecossistemas relacionados com a água e implementar a


gestão integrada dos recursos hídricos (ref. metas 6.5 )

Devido a um conjunto de fatores, incluindo clima, características geográficas e


ambientais (associadas a cada bioma e aos seus ecossistemas), existe uma grande
desigualdade regional no que se refere à disponibilidade hídrica no Brasil: 70% da água
está na região Norte, que tem a menor densidade populacional do país 7.

A Região Norte é a região da bacia amazônica, onde predominam ecossistemas


florestais. A grande importância desse tipo de ecossistemas na regulação das chuvas e
na manutenção da quantidade e da qualidade da água captada para abastecimento
humano, inclusive em áreas urbanas distantes e densamente povoadas já foi mostrada
por diversos cientistas8. Com relação ao Brasil, em particular, estudos científicos
recentes9 demonstraram que a redução da pluviosidade, principalmente na região
Sudeste, tem sido em grande parte causada pelo crescente desmatamento na região

14
amazônica. Esses estudos também demonstram que as florestas contribuem para a
prevenção de desastres como deslizamentos, inundações e secas.

No que se refere à proteção e restauração de ecossistemas, é crucial o papel


desempenhado pelas matas ciliares. As matas nas margens dos rios e de suas
nascentes, presentes em todos os biomas brasileiros, protegem essas margens
evitando deslizamentos de terra e retêm o excesso de sedimentos, inclusive prevenindo
o assoreamento dos rios. Além disso, as matas ciliares contribuem para a fixação de
gás carbônico e a preservação da biodiversidade terrestre e aquática. Logo, sua retirada
ou degradação influi no ciclo da água de uma bacia hidrográfica, bem como no equilíbrio
ecológico do seu território.

Como exemplo de boa prática, destaca-se a importância do Cadastro Ambiental Rural


(CAR) no monitoramento e suporte à conservação e à recuperação de áreas
degradadas. O CAR, criado pela Lei 12.651/2012, é um sistema nacional de registro
eletrônico que auxilia no processo de regularização ambiental de propriedades e posses
rurais, bem como no controle, monitoramento e combate do desmatamento, pois exige
que para todo imóvel rural do país sejam levantadas informações georreferenciadas
sobre a delimitação das chamadas Áreas de Proteção Permanente (APP), que incluem
áreas de vegetação nativa cuja proteção é de grande interesse público, tais como as
matas ciliares.

Com relação à meta 6.6, a Conferência Ministerial do 8º Fórum Mundial da Água


recomendou “trabalho adicional” dos governos e dos especialistas do setor de recursos
hídricos para: a) desenvolver e aumentar as Soluções Baseadas na Natureza (SbN); b)
melhorar a governança para a conservação dos ecossistemas e o gerenciamento da
água; c) prover apoio financeiro adequado para os países em desenvolvimento; e d)
levar em conta técnicas locais e tradicionais de gestão da água na pesquisa acadêmica
e nas políticas governamentais.

No que se refere à gestão integrada dos recursos hídricos, é fundamental contar com
sistemas e mecanismos eficientes de governança. É extremamente importante
promover maior eficiência operacional do SINGREH, em particular no que se refere a
atuação dos Comitês de Bacia Hidrográfica, que constituem sua base de ação e
planejamento. Avanços concretos nesta direção também contribuiriam para o
cumprimento da meta de implementação 6.b (vide abaixo).

Ampliar a cooperação transfronteiriça e a cooperação internacional,


especialmente com países em desenvolvimento, no que se refere à gestão
integrada dos recursos hídricos e do saneamento (ref. metas 6.5 e 6.a):

No que se refere à cooperação técnica internacional em recursos hídricos (meta 6.a),


existem várias iniciativas pontuais de cooperação bilateral e trilateral do governo
brasileiro com outros países. A ANA e a EMBRAPA são as instituições governamentais
brasileiras mais atuantes com países em desenvolvimento. Elas contam com a parceria
da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), órgão do Ministério das Relações
Exteriores, e de vários organismos internacionais e da ONU, tais como a UNESCO, o
PNUD, a FAO, o IICA, dentre outros.

15
A maioria dos projetos de cooperação técnica prestada pelo Brasil é com outros países
da América do Sul, especialmente na modalidade de cooperação Sul-Sul.
Especialmente no que se refere à meta 6.5, esse intercâmbio é muito importante, pois
a maior parte das fronteiras internacionais com outros países da região da América do
Sul são definidas por rios. Duas das maiores bacias hidrográficas do mundo, a
Amazônica e a do Prata, são compartilhadas com outros países dessa região – 60% do
território brasileiro está incluso na área dessas duas bacias, onde escorrem 83 rios
fronteiriços ou transfronteiriços – contemplados em um conjunto de tratados bilaterais,
tripartites e multilaterais relevantes entre o Brasil e os países dessa região.

Ampliar a cooperação transfronteiriça na área de recursos hídricos com Bolívia,


Paraguai e Argentina, ficou ainda mais importante à luz dos recentes estudos científicos
que demonstraram que a floresta amazônica, principalmente a partir do Brasil, gera “rios
aéreos de vapor” (também conhecidos como “rios voadores”) que, por meio do ciclo
hidrológico que culmina com as chuvas, beneficiam regiões agrícolas nesses países10.

A existência da Comissão Brasileira para Programas Hidrológicos Internacionais


(COBRAPHI), presidida pela ANA e integrada por vários ministérios e especialistas em
recursos hídricos, é uma boa notícia nesse cenário. Entre outros objetivos, a COBRAPHI
planeja, coordena e supervisiona as atividades relacionadas ao Programa Hidrológico
Internacional (PHI) da UNESCO. O PHI, criado em 1975, é o único programa
intergovernamental das Nações Unidas com foco em pesquisa, gestão e educação
sobre recursos hídricos.

Apoiar e fortalecer a participação de comunidades locais (meta 6.b)

Para facilitar o acompanhamento do progresso rumo a esta meta, é fundamental contar


com a contribuição dos Comitês de Bacia Hidrográfica (CBH) para criar indicadores da
participação social, especialmente no que se refere às comunidades locais.

De acordo com a Lei 9.433/1997, os CBH devem ter entre seus membros
representantes de todos os setores da sociedade que tenham interesse sobre a água
na respectiva bacia hidrográfica e poder de decisão sobre sua gestão. Entre as
principais competências dos CBH, enfatiza-se a faculdade de sugerir os valores de
cobrança pelo uso da água. A efetiva implementação desse instrumento econômico e
financeiro de gestão, contribui para prevenir e resolver situações de conflito pelo uso da
água (que envolvem, especialmente, empresas do setor agroindustrial), favorecendo o
crescimento econômico e o bem-estar social com segurança hídrica.

Caminhos para a ação

10
Veja-se, em particular, as páginas 74-75 da publicação “Água e sustentabilidade: desafios,
perspectivas e soluções” (Jacobi, P.R. e Grandisoli, 2017).

16
Ao analisar as metas associadas ao ODS 6, e as características nacionais do país, bem
como as respectivas necessidades referentes à água, percebe-se que o ODS 6 traz
quatro diretrizes principais para a ação global em prol da gestão sustentável da água e
do saneamento. Tais diretrizes estão de acordo com os seis princípios fundamentais da
Política Nacional De Recursos Hídricos (PNRH) estabelecidos pela Lei nº 9.433/1997.
Essas diferentes diretrizes apontam caminhos para as atuais e futuras ações do sistema
ONU no Brasil, em parceria com o governo brasileiro e os setores relevantes da
sociedade civil e da iniciativa privada, por meio de cooperação técnica e outras
iniciativas que contribuam para a implementação da PNRH no contexto da Agenda
2030, alinhada com o ODS 6.

No que diz respeito a assegurar o acesso universal e equitativo a meios e serviços


adequados para suprir as necessidades humanas de abastecimento de agua
potável e saneamento, observa-se que tal desafio aparece muito grande para o país,
tendo em vista que isso envolve o investimento de um grande volume de recursos para
universalizar e regularizar o acesso da população aos serviços providos por empresas
públicas e/ou privadas. Para compensar as desigualdades regionais em termos de
oferta e demanda hídrica, agravadas pela mudança global do clima que tem gerado
mais secas e inundações, serão necessárias ações que envolvem planejamento e
gestão integrada do desenvolvimento dos recursos hídricos junto a todos os setores da
sociedade. As várias iniciativas e experiências relevantes de cooperação do governo
brasileiro com o Sistema da ONU e as instituições financeiras internacionais no Brasil,
poderiam ser mais bem planejadas, articuladas e integradas no âmbito da PNRH, de
modo a atrair investimentos estrangeiros e viabilizar parcerias públicos-privadas
voltadas para a realização de grandes projetos de infraestrutura alinhados com a
Agenda 2030, de modo a evitar ou minimizar os impactos socioambientais que,
geralmente, estão associados a tais projetos.

Sobre garantir água em qualidade e quantidade apropriada de modo a evitar


problemas relacionados com sua escassez, reduzindo a poluição gerada pelas
atividades humanas e aumentando a eficiência de uso, bem como protegendo e
restaurando os ecossistemas que a fornecem, cabe destacar que a ANA, o IBGE e
o Ministério do Meio Ambiente realizaram em parceria o estudo “Contas Econômicas
Ambientais da Água no Brasil 2013-2015 (CEAA)”, publicado em março de 2018. O
estudo analisa e integra indicadores físicos e monetários sobre o uso da água, com o
objetivo de produzir e disseminar sistematicamente informações para a sociedade
referentes ao balanço entre a oferta de água pela natureza e a demanda hídrica dos
diversos setores da economia brasileira, numa perspectiva de contabilização e
valoração econômica do capital natural de recursos hídricos do país.

No que se refere ao reuso de águas residuais, o Ministério das Cidades, em parceria


com a ANA e com outros ministérios têm trabalhado para instituir uma Política de Reúso
de Efluentes Sanitários Tratados no Brasil. A implementação dessa política contribuiria
para o alcance da meta 6.3.

No que diz respeito a ampliar a cooperação internacional com países em


desenvolvimento, especialmente a transfronteiriça, para apoiar a gestão integrada
dos recursos hídricos e do saneamento; a ANA e a EMBRAPA têm desenvolvido e
implementado vários projetos, especialmente nas modalidades de cooperação bilateral

17
e Sul-Sul, inclusive com países vizinhos da América do Sul, em alguns casos em
parceria com a UNESCO, o PNUD, a FAO e o IICA. Esses projetos, portanto, devem
ser vistos como exemplos de boas práticas de parceria entre o governo brasileiro e o
Sistema da ONU, no sentido de contribuir para o alcance das metas 6.5 e 6.a.

A respeito da promoção da participação das comunidades locais e da sociedade


como um todo nos processos de tomada de decisão que influenciam a gestão
integrada e sustentável dos recursos hídricos, destaca-se a importante iniciativa do
governo brasileiro de sediar o 8º Fórum Mundial da Água (8FMA), que foi realizado em
Brasília, em março de 2018. O 8FMA contribuiu muito para promover a participação
aberta e democrática de um amplo conjunto de atores de diferentes setores da
sociedade civil, bem como das comunidades locais. Isso aconteceu principalmente por
meio do “Fórum Cidadão”, um dos processos de articulação e discussão em torno dos
temas do 8FMA, que teve por objetivo incentivar a participação efetiva dos atores da
sociedade civil, organizada ou não, tais como as ONGs, comunidades locais, produtores
rurais, empresários, movimentos indígenas, mulheres e jovens. Tais atores discutiram
várias ações atuais e potenciais no Brasil, na América Latina e em outros países. Quanto
ao Brasil, o Fórum Cidadão contou com a liderança da Rede Brasil de Organismos de
Bacia (REBOB), que já atua em parceria com a ANA e a UNESCO no âmbito de
atividades de cooperação Sul-Sul com países da América Latina e da CPLP. A REBOB,
entre outras ações, promove e apoia a participação efetiva dos Comitês de Bacia
Hidrográficas.

Promover maior e melhor conhecimento técnico e científico acerca dos temas do ODS
6 é certamente uma das condições fundamentais para promover maior engajamento da
sociedade nos temas relevantes a água e saneamento. Entretanto, esse conjunto de
conhecimentos deve ser disseminado de modo a ser recebido e entendido com maior
clareza por parte das comunidades locais e da população em geral. Nesse sentido, tem-
se como boa prática a publicação e disseminação do “Glossário de Termos do Objetivo
de Desenvolvimento Sustentável 6”, lançado em março de 2018, durante o 8FMA 11. O
Glossário, junto a várias outras publicações relevantes do Sistema da ONU no Brasil,
pode contribuir para essa popularização do conhecimento acerca do ODS 6 –
especialmente algumas da UNESCO voltadas para uso nas instituições do ensino
fundamental e médio, elaboradas em parceria com o Ministério da Educação 12.

Por fim, espera-se que a “Década Internacional para Ação, Água para o
Desenvolvimento Sustentável (2018-2028)”, lançada em 22 de março de 2018,
possibilitará a abertura de novas oportunidades para que o Brasil participe de novas
iniciativas de cooperação internacional junto ao Sistema da ONU no Brasil, em prol do
alcance do ODS 6. A Resolução da ONU que estabeleceu a Década também enfatiza a
necessidade de promover parcerias entre governos e setor privado, não apenas para
garantir o financiamento para as ações de cooperação, como também para promover o
engajamento do setor produtivo e empresarial, cujas operações afetam a qualidade e a
quantidade da água. A esse respeito, destaca-se o “Compromisso Empresarial
Brasileiro pela Segurança Hídrica” assinado durante o 8FMA por 18 grandes empresas
brasileiras ou com operações no Brasil, no âmbito de uma ação liderada pelo Conselho

18
Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), com foco nos
temas de gestão de bacias hidrográficas, reúso, agricultura e acesso a água potável e
ao saneamento. Com o Compromisso, essas empresas reconheceram a importância do
seu papel na redução da poluição e do consumo de água, estabelecendo seis metas
até 2025, para atuar mais efetivamente em prol do fortalecimento de uma agenda
nacional de segurança hídrica. Nesse sentido, seria muito importante estabelecer
iniciativas em parceria entre o CEBDS e a Rede Brasil do Pacto Global da ONU, que
disseminem boas práticas empresariais alinhadas com o ODS 6, no intuito de multiplicar
sua adoção por parte de outras empresas.

Considerações finais

O Brasil é um país que usufrui de grande quantidade de água doce, sendo um dos
países mais privilegiados nesse quesito. Porém, possuir toda essa quantidade de água
não significa necessariamente que os recursos hídricos são distribuídos e utilizados da
melhor forma possível. Muitas regiões do país ainda contrastam acerca do acesso à
água e saneamento básico seguro e de qualidade. Por isso, mesmo com algumas
conquistas brasileiras, muito ainda precisará ser feito ao longo dos anos para atingir
essa meta.

O desafio de assegurar água e saneamento para todos envolve a necessidade de


aumentar significativamente a porcentagem nacional de reciclagem e reutilização
segura de águas residuais, conforme realçado pela edição de 2017 do Relatório Mundial
das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos. Frente à crescente
demanda, as águas residuais ganham importância como fonte de água alternativa e
confiável, alterando o paradigma da gestão das mesmas: de “tratamento e eliminação”
para “reúso, reciclagem e recuperação de recursos”. Nesse sentido, as águas residuais
não devem ser mais vistas como um problema que precisa de uma solução, mas sim
como parte da solução para os desafios que as sociedades enfrentam na atualidade.

Devido à grande extensão territorial do Brasil e a sua quantidade de habitantes, bem


como às desigualdades existentes, o cumprimento das metas do ODS 6 é um grande
desafio para o país. São, sobretudo, desafiadores os montantes de investimentos que
necessitam ser mobilizados para universalizar os serviços de saneamento de água no
país.

Porém, não se pode desacreditar nos possíveis avanços que estão a ocorrer no Brasil.
Como explanado, medidas do Governo Federal como o Plano ou Política Nacional de
Recursos Hídricos, o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e
outras medidas têm tentado melhorar os índices brasileiros acerca do tema. Espera-se
que fontes inovadoras de financiamento sejam mobilizadas para o setor, sobretudo
quando se considera que o investimento em saneamento pode impulsionar a economia,
bem como trazer múltiplos benefícios ambientais e sociais, sobretudo relacionados à
saúde das populações.

19
Ademais, a participação da sociedade, que precisa ser conscientizada e atuar mais para
a preservação dos recursos hídricos, será também de grande significância para o país;
a atuação cada vez mais forte das organizações da sociedade civil que atuam em
relação ao tema e o apoio de organizações internacionais, em conjunto com os
Governos, para fortalecer as relações e criar e efetivar projetos que busquem a
preservação da água, serão contribuições preciosas para que o Brasil passe a ser um
país que não somente detém grande volume de água doce, mas que sabe fazer de
forma eficiente a gestão, a distribuição e o resguardo desse bem de tanta relevância
para a vida.

20
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21
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dos Recursos Hídricos. Resumo Executivo. 2017. Disponível em:
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REVISTA GALILEU. Secas devem ficar mais rigorosas no Brasil até 2099, aponta
estudo. Disponível em:
<https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2017/07/secas-devem-ficar-mais-
rigorosas-no-brasil-ate-2099-aponta-estudo.html>. Acesso em: 7 mai. 2018.

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<http://www.unwater.org/app/uploads/2017/03/SDG-6-targets-and-global-
indicators_2016-07-19.pdf>. Acesso em: 26 abr. 2018.

______. Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento dos


Recursos Hídricos 2017: Águas Residuais, o recurso inexplorado. 2017. Disponível
em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0024/002475/247552por.pdf>. Acesso em: 2
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facts/scarcity>. Acesso em: 15 jun. 2018.

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<https://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/areas_prioritarias/amazonia1/ameacas_ris
cos_amazonia/mudancas_climaticas_na_amazonia/impactos_nos__ecossistemas_de
_agua_doce/>. Acesso em: 2 mai. 2018.

______. Uma Organização Nacional. Disponível em:


<https://www.wwf.org.br/wwf_brasil/>. Acesso em: 2 mai. 2018.

23
Documento elaborado pelo subgrupo do ODS 6 (liderado pela Unesco) do Grupo
Assessor das Nações Unidas no Brasil sobre a Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável, do qual participam os seguintes organismos: Unesco, OPAS/OMS, PNUD,
Unicef, ONU Habitat e UNOPS.

24
ANEXO
Metas do ODS 6

6.1 até 2030, alcançar o acesso universal e equitativo à água potável, segura e acessível
para todos.

6.2 até 2030, alcançar o acesso a saneamento e higiene adequados e equitativos para
todos, e acabar com a defecação a céu aberto, com especial atenção para as
necessidades das mulheres e meninas e daqueles em situação de vulnerabilidade.

6.3 até 2030, melhorar a qualidade da água, reduzindo a poluição, eliminando despejo
e minimizando a liberação de produtos químicos e materiais perigosos, reduzindo à
metade a proporção de águas residuais não tratadas,e aumentando substancialmente
a reciclagem e reutilização segura em âmbito mundial.

6.4 até 2030, aumentar substancialmente a eficiência do uso da água em todos os


setores e assegurar retiradas sustentáveis e o abastecimento de água doce para
enfrentar a escassez de água, e reduzir substancialmente o número de pessoas que
sofrem com a escassez de água.

6.5 até 2030, implementar a gestão integrada dos recursos hídricos em todos os níveis,
inclusive via cooperação transfronteiriça, conforme apropriado.

6.6 até 2020, proteger e restaurar ecossistemas relacionados com a água, incluindo
montanhas, florestas, zonas úmidas, rios, aquíferos e lagos.

6.a até 2030, ampliar a cooperação internacional e o apoio ao desenvolvimento de


capacidades para os países em desenvolvimento em atividades e programas
relacionados à água e ao saneamento, incluindo a coleta de água, a dessalinização, a
eficiência no uso da água, o tratamento de afluentes, a reciclagem e as tecnologias de
reuso.

6.b apoiar e fortalecer a participação das comunidades locais, para melhorar a gestão
da água e do saneamento.

25
26
DOCUMENTOS TEMÁTICOS
Nações Unidas no Brasil

ENERGIA ACESSÍVEL E LIMPA


Assegurar a todos o acesso confiável, sustentável,
moderno e a preço acessível à energia

Palavras-chave
Acesso à energia; Acesso confiável; Acesso Sustentável; Acesso moderno; Acesso
universal; Eficiência energética; Energia limpa; Energia renovável.

Sumário executivo
O Brasil possui a matriz energética mais renovável do mundo industrializado, com 42,8%
de sua produção proveniente de fontes renováveis, como recursos hídricos, biomassa
e etanol, além das energias eólica e solar. A proporção de fontes renováveis na Oferta
Interna de Energia Elétrica - OIEE permaneceu acima de 80%, em 2017.1

No entanto, o setor energético é aquele que potencialmente deverá aumentar as


emissões de gases de efeito estufa, aproximando o Brasil do perfil de emissões dos
países desenvolvidos na medida em que continue o crescimento da população até a
década de 2040, que não haja mais demanda reprimida de energia na população e que
o consumo de energia se eleve com o aumento da renda.

Com esse contexto, será um desafio manter o percentual de fontes renováveis de


energia na sua matriz energética e, portanto, é importante incentivar medidas para
elevar a participação de fontes de origem não fóssil na matriz até 2030.

Uma preocupação recente no país em relação ao fornecimento da energia foi resultante


das recentes crises hídricas em várias regiões do Brasil, considerando que a capacidade
de geração de energia elétrica depende fortemente dos reservatórios das usinas
hidrelétricas, o que evidencia a importância do nexo energia e água. Esta questão tem

1
Ministério de Minas e Energia - MME, Departamento de Informações e Estudos Energéticos -
SPE/MME, Balanço Mensal de Energia, julho de 2017.

27
agravado uma outra preocupação constante no Brasil que é o preço da energia, o qual
é alto. Assegurar a provisão de serviços confiáveis de energia a preços acessíveis para
todo(a)s é essencial para que o desenvolvimento do Brasil e de qualquer outro país seja
realmente sustentável, pois isso também auxilia a redução da pobreza, o
desenvolvimento econômico e a sustentabilidade ambiental.

Principais conceitos

Acesso à energia

Acesso a serviços de energia limpos, confiáveis e acessíveis para cozinhar e aquecer,


iluminar, comunicar e produzir.2 A falta de acesso à energia pode implicar em “pobreza
de energia”, que é a falta de acesso aos serviços energéticos modernos. Assim, é
importante sempre atentar para que “ninguém fique para trás” no acesso à energia.

Acesso Confiável / Confiabilidade

A confiabilidade do acesso à energia está relacionada à disponibilidade ininterrupta de


fontes de energia adequadas3, de forma previsível. O acesso confiável também está
diretamente ligado à questão de segurança energética, a qual pode ser entendida como
o objetivo de um determinado país, ou da comunidade global como um todo, de manter
uma oferta de energia adequada, estável e previsível. A confiabilidade também está
relacionada à informação sobre os serviços de energia.

Acesso sustentável

As contradições intrínsecas do processo de desenvolvimento são também evidenciadas


no setor de energia. É preciso ter energia confiável e moderna para reduzir a pobreza e
promover o progresso econômico, mas cada vez mais há pressões para que esta
energia seja obtida de fontes “limpas”, com vistas a limitar o impacto sobre o meio
ambiente. A ampliação do acesso à energia não necessariamente tem que trazer
aumentos nas emissões de carbono e/ou outras externalidades ambientais. Os
investimentos no uso de eficiência energética, fontes renováveis de energia, redução do
desperdício e tecnologias menos intensivas podem ter benefícios financeiros, bem como
sociais e ambientais.4

Acesso moderno

Acesso aos serviços energéticos modernos. Os serviços de energia incluem, além do


acesso doméstico a eletricidade, instalações de cozinha limpas (por exemplo,
combustíveis e fogões que não causam poluição do ar nas casas)5, purificação da água,
refrigeração e transporte, de maneira que tudo isso pode ser realizado com mais

2
The Secretary-General’s Advisory Group on Energy and Climate Chance (AGECC), Energy for
a Sustainable Future: Summary Report and Recommendations, 2010
3
Idem.
4
Fundação Dom Cabral, Núcleo de Sustentabilidade, disponível em
https://hotsites.fdc.org.br/hotsites/mail/livro_objetivos_desenvolvimento_sustentavel/objetivo/as
segurar-energia-sustentavel-global.html acesso em 15 de maio de 2018.
5
http://www.iea.org/about/glossary/#tabs-2

28
rapidez, menos desperdício (como no caso dos alimentos sem refrigeração) e menos
esforço com o acesso a energia.6 O desenvolvimento dos serviços energéticos
modernos ainda não alcançou de forma igualitária toda a população. Assim, uma grande
parcela vê sua condição de pobreza se renovando, pois sem capital para adquirir
equipamentos que facilitariam suas atividades cotidianas, essas pessoas não
conseguem se dedicar exclusivamente às tarefas remuneradas, alimentando o ciclo da
pobreza.

Acesso universal

O acesso universal a serviços de energia, ou seja, garantir que todos e todas, em


qualquer região do mundo, tenham este acesso, é um elemento essencial para garantir
que os objetivos mais amplos do ODS 7 sejam alcançados até 2030. O Pacto
Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, em seu art. 11, insere o direito
de todos os indivíduos e famílias de possuírem um nível adequado de qualidade de vida.
Isso inclui o direito de todas as pessoas ao acesso à energia para as atividades
cotidianas, como cozinhar e purificar a água. A falta de acesso à energia atinge,
principalmente, mulheres e crianças de países em desenvolvimento, que
tradicionalmente são encarregadas dos serviços energéticos7. Estudos da Fundo de
Desenvolvimento das Nações Unidas para as Mulheres (UNIFEM) mostram que as
mulheres, em algumas situações, passam o dia procurando água potável e preparando
o fogo para cozinhar, sendo que, em muitas situações, quando não conseguem, estão
mais sujeitas à violência doméstica.8

Eficiência Energética

Procedimento que tem por finalidade reduzir o consumo de energia necessário à


realização de um determinado trabalho, excetuado o uso de energia proveniente de
matéria-prima não utilizada, em escala industrial, na matriz energética. 9 A eficiência
energética é fundamental para assegurar um sistema energético seguro, confiável,
acessível e sustentável para o futuro. É a maneira mais rápida e menos onerosa de
enfrentar a segurança energética, desafios ambientais e econômicos.

Energia limpa/ Energias renováveis

Não há uma definição consensuada sobre o termo “energia limpa”, a qual pode variar
amplamente dependendo da fonte de energia a qual ela está associada. A energia limpa
usualmente refere-se a qualquer fonte de energia que não polua ou prejudique o meio
ambiente. Os termos “energia limpa” e “energia renovável” muitas vezes são usados
indistintamente. Certamente, há uma sinergia e muitas vezes sobreposição entre elas
(como a energia solar que é uma fonte de energia renovável e limpa), mas ainda é
importante entender a diferença entre os termos. A energia limpa pode ser distinguida

6
WEHAB Working Group Report, 2002. https://www.gdrc.org/sustdev/un-
desd/wehab_energy.pdf
7
PNUD. World Energy Assessment, 2004
http://www.undp.org/content/undp/en/home/librarypage/environment-
energy/sustainable_energy/world_energy_assessmentoverview2004update.html
8
www.unifem.undp.org/resources/assessment/index.html
9
Resolução Normativa ANEEL, no 418, de 23 de novembro de 2010.

29
da energia renovável, considerando que geralmente tem como foco principal a redução
das emissões de gases de efeito estufa ou de gases poluentes como um método para
se contrapor à energia “suja”, que gera emissões, enquanto que as renováveis teriam,
por definição (qualquer forma de energia solar, geofísica, ou de fontes biológicas que é
reabastecida por processos naturais a uma taxa que é igual ou superior à taxa em que
é consumida), como foco principal a capacidade de reutilizar um recurso energético (ex:
solar, eólica, geotérmica, hidrelétrica e biomassa).10

Dados e fatos importantes sobre o ODS 7 no Brasil

O Brasil possui a matriz energética mais renovável dentre os países industrializados,


com 42,8% de sua produção proveniente de fontes renováveis, como recursos hídricos,
biomassa e etanol, além das energias eólica e solar. A proporção de fontes renováveis
na Oferta Interna de Energia Elétrica - OIEE permaneceu acima de 80%, em 2017.11
Vale lembrar que a matriz energética mundial é composta por 13% de fontes renováveis
no caso de países industrializados, caindo para 6% entre as nações em
desenvolvimento.12

Em relação à oferta doméstica de energia, o Brasil não teve déficit em 2017, fato que
não ocorria desde o ano de 1940, o ano inicial de estatísticas globais de energia. As
taxas de crescimento da produção de óleo e gás natural, acima de 5% no ano,
acompanhado de uma baixa demanda de energia global, acarretou em um pequeno
superávit. Indicadores econômicos e de energia, até dezembro de 2017, indicaram que
a Oferta Doméstica de Energia aumentou em até 1,7%, se comparado com o mesmo
período em 2016. No que diz respeito a esse indicador, 0,5% é devido ao aumento das
perdas na expansão da geração termoelétrica. Assim, estimava-se que o setor de
consumo tivesse crescido 1,2%.

A oferta doméstica de energia elétrica de 2017 foi estimada em 628,5 TWh, um aumento
de 1,4% comparado com 2016. Em relação à proporção de fontes de energia elétrica,
embora a energia hidrelétrica continue representando 65,1%, observou-se um
crescimento de mais de 1% das fontes de energia solar se comparadas ao ano anterior,
já representando 6,7% da matriz elétrica.

10
https://news.energysage.com/what-is-clean-energy-clean-energy-resources-explained/
11
Ministério de Minas e Energia - MME, Departamento de Informações e Estudos Energéticos -
SPE/MME, Balanço Mensal de Energia, julho de 2017.
12
http://www.brasil.gov.br/meio-ambiente/2010/11/matriz-energetica

30
Fonte: MME, 2017.

O consumo de energia elétrica, excluindo os auto-produtores que não usaram a rede


pública, terminou o ano de 2017 com um aumento de quase 1%, uma taxa mais baixa
do que a OIE, o que é incomum. Em 2016, a taxa foi negativa em até 1,6%. O consumo
residencial mostrou o maior aumento (1,2%), seguido da indústria (0,8%). A soma de
todos os setores foi praticamente estável.

Um outro recente dado interessante do setor energético brasileiro é o forte crescimento


da produção de biodiesel, a qual se deu predominantemente no segundo semestre de
2017, fechando o ano com um aumento de quase 13%.

Em relação à estruturação do setor energético brasileiro, o mesmo já passou por várias


fases. Em meados da década de 1990, a partir de um projeto de reestruturação do setor
elétrico, denominado RESEB, o Ministério de Minas e Energia preparou as mudanças
institucionais e operacionais que culminaram no atual modelo do setor. Esse baseou-se
no consenso político-econômico do “estado regulador”, o qual deveria direcionar as
políticas de desenvolvimento, bem como regular o setor, sem postar-se como executor
em última instância. Assim, muitas empresas foram privatizadas e autarquias de caráter
público e independente foram criadas, como é o caso da própria agência reguladora, a
ANEEL.

A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), autarquia em regime especial


vinculada ao Ministério de Minas e Energia, foi criada para regular o setor elétrico
brasileiro, por meio da Lei nº 9.427/1996 e do Decreto nº 2.335/1997, a qual iniciou suas
atividades em dezembro de 1997, tendo como principais atribuições, inter alia, “regular a
geração (produção), transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica”;
“fiscalizar, diretamente ou mediante convênios com órgãos estaduais, as concessões,
as permissões e os serviços de energia elétrica”; “implementar as políticas e diretrizes
do governo federal relativas à exploração da energia elétrica e ao aproveitamento dos
potenciais hidráulicos;” “dirimir as divergências, na esfera administrativa, entre os
agentes e entre esses agentes e os consumidores, e “promover as atividades
de outorgas de concessão, permissão e autorização de empreendimentos e serviços de
energia elétrica, por delegação do Governo Federal”.

31
Apesar das reformas, o novo modelo enfrentou dificuldade para garantir a suficiente
expansão da oferta de energia, o que levou o país a um racionamento significativo em
2001. Alguns estudiosos do setor atribuem o racionamento, entre outros fatores, à falta
de planejamento efetivo e também de monitoramento eficaz centralizado. Foi então, a
partir de 2004, que novos ajustes ao modelo foram feitos pelo governo com o intuito de
reduzir os riscos de falta de energia e melhorar o monitoramento e controle do sistema.
Assim, a segurança energética, a modicidade tarifária e a universalização do
atendimento foram os princípios estabelecidos para moldar o novo modelo.

Em 2008, foi apresentado o Plano Nacional de Energia (PNE) 2030, como um exercício
de planejamento setorial, orientando tendências e estratégias de expansão no longo
prazo. De acordo com o PNE 2030, a evolução da Matriz Energética, no período
2005/2030, apresenta uma ampliação na sua diversificação. Assim, no período
2005/2030, haveria uma redução significativa da utilização de lenha e carvão vegetal,
de 13% para 5,5%; um aumento da participação do gás natural, de 9,4% para 15,5%;
uma redução da participação do petróleo e derivados de 38,7% para 28%; uma elevação
na participação das fontes energéticas oriundas de produtos da cana-de–açúcar e
outras renováveis, (etanol, H-Bio, Biodiesel e outras), de 16,7% para 27,6%; e a
manutenção da participação das fontes renováveis, conforme é ilustrado na figura
abaixo sobre a Evolução da Estrutura de Oferta Interna de Energia, em um cenário de
crescimento médio:

Fonte: MME/EPE, 2008.

Um novo capítulo na história do setor elétrico iniciou-se com a Medida Provisória 579,
de setembro de 2012. Nessa MP, posteriormente convertida na Lei nº 12.783/2013,
empresas geradoras e transmissoras puderam renovar antecipadamente seus contratos
de concessão desde que seus preços fossem regulados pela ANEEL. Principalmente

32
devido à regulação dos preços das geradoras que aceitaram os termos da MP,
observou-se significativa mudança no contexto institucional do setor elétrico: empresas
geradoras que outrora atuavam em ambiente competitivo passaram a ter seus preços
regulados, da mesma forma que já ocorria com as distribuidoras e transmissoras,
consideradas monopólios naturais.

De acordo com à Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, conforme sua sigla


em inglês) para combater à mudança do clima, apresentada pelo Brasil em 2015, no
âmbito das negociações do Acordo de Paris, o país comprometeu-se a:

 aumentar a utilização de fontes renováveis, de modo que a matriz energética


brasileira atinja, em 2030, uma participação de 28% a 33% de fontes renováveis
(eletricidade e biocombustíveis) além da geração hidráulica;
 dobrar a participação de fontes renováveis (excetuando a geração hidráulica),
atingindo cerca de 23% da matriz elétrica brasileira até 2030;
 expandir o consumo de biocombustíveis, aumentando a oferta de etanol até
2030 em pelo menos 85%, ampliando o percentual de biocombustíveis
avançados na oferta de combustíveis e aumentando a quota de biodiesel na
mistura do diesel para pelo menos 10% até 2030;
 aumentar em mais de três vezes até 2030 a participação de energia eólica de
4% (níveis de 2015) para 13% na matriz elétrica;
 alcançar 10% de ganhos de eficiência no uso de eletricidade até 2030.

Em relação aos principais incentivos no Brasil para as energias renováveis, pode-se


citar o Programa de Desenvolvimento da Geração Distribuída de Energia Elétrica,
ProGD, lançado pelo Ministério de Minas e Energia -MME, em 15/12/2015, o com o
objetivo de aprofundar as ações de estímulo à geração de energia pelos próprios
consumidores (residencial, comercial, indústria e agropecuária), com base em fontes
renováveis, em especial, a solar fotovoltaica. Ademais, houve uma chamada Pública
(CP) da ANEEL, no âmbito de Projetos Estratégicos, intitulada “Arranjos Técnicos e
Comerciais para Inserção da Geração Solar Fotovoltaica na Matriz Energética
Brasileira” (24,6 MW contratados, ao custo de R$ 396 milhões). Outros incentivos que
se pode mencionar é o Convênio ICMS 101/97, celebrado entre as secretarias de
Fazenda de todos os estados, por meio do qual se garante a isenção do impos to Sobre
Circulação de Mercadorias (ICMS) para as operações com equipamentos e
componentes para o aproveitamento das energias solar e eólica, válido até 31/12/2021.

Ademais, há o “Plano Inova Energia”, que é um fundo de R$ 3 bilhões, criado em 2013,


pelo BNDES, a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e a ANEEL, com foco na
empresa privada e com o objetivo de pesquisa e inovação tecnológica nas áreas de:
redes inteligentes de energia elétrica, linhas de transmissão de longa distância em alta
tensão; energias alternativas, como a solar; e eficiência de veículos elétricos.

De forma geral, a legislação federal e as regulamentações da ANEEL têm contribuído


muito para a realização de avanços significativos rumo ao estabelecimento, com vistas
ao aumento, das energias renováveis no Brasil.

33
Circunstâncias nacionais em relação ao ODS 7

Destacam-se, a seguir, algumas das questões consideradas pelo Sistema ONU no


Brasil como mais importantes para o país, que serão tratadas em relação ao conjunto
de metas relevantes do ODS 7 (vide Anexo):

Acesso “universal” de energia no país: “não deixar ninguém para trás” (ref. meta
7.1)

No que diz respeito ao Brasil, em novembro de 2003 foi lançado, por meio do Decreto
no 4.873, de 11/11/2003, o Programa Luz para Todos (LPT), com o objetivo de promover
o acesso de famílias residentes em áreas rurais à energia elétrica, de forma gratuita,
acabando com a exclusão elétrica no país, por meio de extensões de rede, implantação
de sistemas isolados e realização de ligações domiciliares. A meta inicial era levar o
acesso à energia elétrica, gratuitamente, para mais de 10 milhões de pessoas do meio
rural até o ano de 2008.

A iniciativa é coordenada pelo Ministério de Minas e Energia, operacionalizada pela


Eletrobrás e executada pelas concessionárias de energia elétrica, em parceria com os
governos estaduais.

O mapa da exclusão elétrica no país revela que as famílias sem acesso à energia estão
majoritariamente nas localidades de menor Índice de Desenvolvimento Humano – IDH
e nas famílias de baixa renda. Cerca de 90% delas têm renda inferior a três salários-
mínimos.

Para pôr fim a essa realidade, o governo definiu como objetivo que a energia seja um
vetor de desenvolvimento social e econômico dessas comunidades, contribuindo para
a redução da pobreza e aumento da renda familiar. A chegada da energia elétrica facilita
a integração dos programas sociais do governo federal, além do acesso a serviços de
saúde, educação, abastecimento de água e saneamento.

Durante a execução do Luz para Todos, grande número de novas famílias sem energia
elétrica foi identificado, levando o Programa a ser prorrogado por três vezes (de 2011 a
2014, de 2014 a 2018, e de 2018 a 2022) para permitir o atendimento do maior número
de famílias.13

Até dezembro de 2017, mais de 16 milhões de pessoas foram beneficiadas com o LPT.
A meta inicial de atender a 10 milhões de pessoas foi alcançada em maio de 2009. Mais
recentemente, em abril de 2018 foi assinado Decreto que prorroga o LPT até dezembro
de 2022, com a perspectiva de que, até esta data, ocorra a efetiva universalização plena
do acesso à energia elétrica no país, o que deve alcançar mais de 2 milhões de
brasileiros do meio rural. Pretende-se com a nova fase do LPT que o acesso gratuito à
energia elétrica será levado principalmente ao Norte e Nordeste do país e às populações
que vivem em regiões isoladas, entre elas as comunidades quilombolas e indígenas,
assentamentos, ribeirinhos, pequenos agricultores e famílias em reservas extrativistas.

13
https://www.mme.gov.br/luzparatodos/Asp/o_programa.asp

34
De acordo com o mapa da exclusão elétrica do Brasil, as famílias sem acesso à energia
estão majoritariamente nas localidades de menor Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH) e nas famílias de baixa renda, sendo que cerca de 90% delas têm renda inferior
a três salários-mínimos.14

Por fim, mas não menos importante, a existência de energia elétrica na área rural
concedeu às mulheres maior independência e autonomia. Por conta da maior sensação
de segurança nas comunidades – percepção de 81,8% dos beneficiados entrevistados
–, cerca de 245 mil mulheres começaram a trabalhar e outras 309 mil começaram a
estudar ou retornaram aos estudos depois do Luz Para Todos.15 Esta questão está
diretamente relacionada ao ODS 5.

Promover o efetivo acesso “universal” de energia no país é fundamental para se honrar


o princípio da Agenda 2030 de “não deixar ninguém para trás”. Esta questão está
também diretamente relacionada ao ODS 1 e ODS 10 e, indiretamente relacionada com
os ODS 2, 3, 4 e 6.

Nexo água-energia e o acesso confiável (ref. meta 7.1)

A “riqueza hidrológica” do Brasil permitiu que o país desenvolvesse a sua matriz


energética, sobretudo devido à geração de energia elétrica, fortemente baseada nas
hidrelétricas. Assim, a produção de energia elétrica no país evidencia o nexo água-
energia.

Devido aos recentes problemas hídricos, durante os quais foram verificados níveis
baixos dos reservatórios em boa parte do Brasil, verificou-se a necessidade de novas
abordagens em relação ao uso da água, pois sua falta afeta muito mais do que apenas
o consumo desse próprio recurso. Num país onde a base energética é a geração
hidrelétrica, a água também é fundamental para qualquer processo que dependa de
energia. Essas novas abordagens envolvem uma valorização maior desse recurso,
muitas vezes não contabilizado de forma ideal nas atividades econômicas. Portanto, é
preciso avançar na governança da água no Brasil, que demanda decisões políticas,
maiores investimentos, mobilização e participação da sociedade, eficiência na gestão,
mas também no desenvolvimento de soluções de pesquisa para otimização de recursos
financeiros e humanos, redução das perdas e reuso da água, tratamento e disposição
de efluentes e métodos eficazes para a conservação agroambiental, que refletem
diretamente nos recursos hídricos (vide texto do documento temático sobre o ODS 6).

Embora não se possa afirmar que as crises hídricas no país serão cada vez mais
recorrentes e afetarão de forma definitiva a produção de energia elétrica no país, de
acordo com o “princípio da precaução”, é importante se pensar em fontes alternativas
de energia, de maneira complementar, e que sejam renováveis, como energia eólica e
a energia solar, bem como nas soluções de conservação de água baseadas na natureza
(o que também evidencia a relação entre o ODS 7 e o ODS 15) baseadas. Deverão ser
estimuladas também ações na área de eficiência energética e conservação de energia,

14
MME, http://www.mme.gov.br/web/guest/pagina-inicial/outras-noticas/-
/asset_publisher/32hLrOzMKwWb/content/decreto-prorroga-luz-para-todos-para-2022
15
http://www.politize.com.br/luz-para-todos-programa-social/

35
que possuem caráter de aperfeiçoamento de comportamentos mais sustentáveis
(relacionado também ao ODS 12).

Participação de energias renováveis na matriz energética (ref. meta 7.2)

Embora o Brasil possua uma das matrizes energéticas mais renováveis do mundo, com
42,8% de sua produção proveniente de fontes renováveis (recursos hídricos, biomassa
e etanol, além das energias eólica e solar) será um desafio para as próximas décadas
manter este percentual, considerando as perspectivas de crescimento da população até
a década de 2040, que não haja mais demanda reprimida de energia na população e
que o consumo de energia se eleve com o aumento da renda.

É importante considerar que os investimentos realizados hoje em infraestrutura de


energia deixarão sua marca nas próximas décadas. Por esse motivo, o setor de energia
apresenta oportunidades excepcionais, mas também grandes desafios para
investidores e governos que devem aplicar o capital no momento certo e no lugar certo,
considerando os horizontes de longo prazo. É por isso que boas decisões de
investimento exigem dados e análises oportunas, precisas e confiáveis,
preferencialmente incluindo consultas à população, para que se possa elaborar as
políticas mais adequadas para alcançar os objetivos de segurança energética,
sustentabilidade ambiental e crescimento econômico 16, bem como inclusão social.

Uma infraestrutura energética inadequada leva à falta de acesso a mercados, postos de


trabalho, informações e treinamento, o que gera barreiras para a realização de parcerias
e ações voltadas ao desenvolvimento sustentável (o que evidencia a relação entre os
ODS 7, 8 e 9). Decorrências de dificuldade de acesso à energia resultam no acesso
limitado a serviços de saúde e educação, aumento de risco de violência, sobretudo às
mulheres, entre outras (o que evidencia a relação entre os ODS 7 com os ODS 3, 4, 5,
11 e 16).17 Idealmente, a infraestrutura de energia também tem que atender os critérios
de infraestrutura sustentável, envolvendo questões de direitos humanos; trabalho
decente; meio ambiente; e transparência, prestação de contas e combate à corrupção. 18

Segundo documento publicado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos
Humanos, os grandes investimentos de infraestrutura – usualmente associados à
produção energética – estão sujeitos a inúmeros impactos negativos aos direitos
humanos. A fim de evitar a ocorrência desses impactos, a participação da população
civil nos processos de decisão é essencial. Além disso, deve-se considerar os impactos
para as populações indígenas e outras populações tradicionais, bem como para a
biodiversidade.19

16
IEA, World Energy Investment 2017: Executive Summary. Disponível em: https://goo.gl/84Foz5
Acesso 20 jun. 2018
17
Fonte: http://www.un.org/sustainabledevelopment/infrastructure-industrialization/
18
https://www.unops.org/SiteCollectionDocuments/Multimedia/Rio/unops_policy_for_sustainable
_infrastructure.pdf
19
OHCHR. Baseline Study on the Human Rights Impacts and Implications of Mega-
Infrasctructure Investment. Disponível em https://goo.gl/9AcfDi Acesso em 19 jun. 2018

36
Muito ainda pode ser feito para a expansão das redes de energia eólica e solar no país,
ambas com imenso potencial, o que precisaria de avanços regulatórios e mais opções
de financiamento.

Assegurar preços acessíveis a serviços de energia (ref. meta 7.1)

Infelizmente, a energia do Brasil ainda é considerada cara. Apesar do país ser um


importante produtor de petróleo, o preço do combustível que chega ao consumidor é
bem elevado, sobretudo se comparado com outros países do mundo, o que reflete
significativamente, inclusive, no cálculo da inflação, que, por sua vez, atrasa
investimentos no setor. A diminuição do preço da energia, desde que não acaretasse
em um aumento desfreado do consumo, seria altamente benéfico para o combate à
pobreza (ODS 1), redução das desigualdades (ODS 10), geração de emprego e renda
(ODS 8) e assentamento de infraestrutura (ODS 9), inclusive de mobilidade urbana
(ODS 11).

Melhorias referentes à conservação de energia, à eficiência energética e


promoção de pesquisa e tecnologias de energia limpa (ref. metas 7.3 e 7.a)

O país tem um grande potencial de conservação de energia, o que já foi evidenciado


em crises energéticas anteriores e nos resultados das campanhas junto à população
em geral. É importante que ações relacionadas à conservação de energia não sejam
apenas pontuais, mas que sejam partes de mudança de comportamento dos usuários,
em geral (o que evidencia a relação com o ODS 12).

A eficiência energética é fundamental para assegurar um sistema energético seguro,


confiável, acessível e sustentável para o futuro. É a maneira mais rápida e menos
onerosa de enfrentar a segurança energética, desafios ambientais e econômicos. Por
exemplo, quando uma lâmpada fluorescente compacta (CFL, sigla em inglês para
compact florescent light) usa menos energia do que uma lâmpada incandescente para
produzir a mesma quantidade de luz, o seu uso em grande escala pode retardar a
necessidade de investimentos adicionais na matriz energética, inclusive a introdução de
fontes não renováveis.

Modernizar as tecnologias de energia está relacionado à ação política necessária para


garantir que múltiplos benefícios econômicos, de segurança, de sustentabilidade
ambiental e outros sejam considerados por meio de uma abordagem sistemática e
coordenada, de forma a aumentar a escala e acelerar a implantação de tecnologias de
energia limpa.

A modernização e melhorias na tecnologia (relacionado ao ODS 17) continuam a


modificar as perspectivas para o setor de energia, gerando mudanças em modelos de
negócios, em padrões de demanda e oferta de energia, bem como em abordagens
regulatórias. Questões relacionadas à segurança energética, a qualidade do ar, à
mudança global do clima e à competitividade econômica são cada vez mais levadas em
conta pelos tomadores de decisão.

A transformação do setor energético é necessária, sobretudo, para possibilitar que o


uso de tecnologias limpas resulte em níveis de emissão de gases de efeito estufa
consistentes com o ponto médio da faixa de temperatura alvo do Acordo de Paris sobre

37
mudança global do clima (é fundamental entender a próxima relação entre o ODS 7 e o
ODS 13).20

Ademais, tal transformação está diretamente relacionada à inovação, que é a introdução


de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo ou social que resulte em novos
produtos, processos ou serviços. A inovação é um dos principais elementos
impulsionadores da produtividade, do crescimento econômico inclusivo e da criação de
emprego.

Caminhos para a ação

Ao analisar as metas associadas ao ODS 7 e as características nacionais do país, bem


como as respectivas necessidades referentes à energia, pode-se considerar que:

É importante enfrentar o desafio de assegurar energia para todos e todas em um país


tão grande e heterogêneo como o Brasil. Considerando que isso envolve o investimento
de um grande volume de recursos para universalizar e regularizar o acesso da
população aos serviços providos por empresas públicas e/ou privadas. É importante
buscar compensar as desigualdades regionais em termos de demanda e oferta de
energia, as quais podem ser agravadas pela possibilidade dos efeitos adversos da
mudança clima, considerando que já têm sido impactadas pelos fenômenos climáticos
mais extremos, refletidos em um número maior secas e inundações. Nesse sentido, as
várias iniciativas e experiências relevantes de cooperação do governo brasileiro com o
Sistema da ONU e as instituições financeiras nacionais e internacionais no Brasil,
devem ser estruturadas para honrar o princípio de “não deixar ninguém para trás”
e se buscar atingir a “ultima milha” (last mile), por meio do acesso de energia
moderna e acessível às populações mais vulneráveis e/ou que moram em áreas
remotas. Nesse sentido, é fundamental, de todo modo, evitar ou minimizar os impactos
socioambientais que, geralmente, estão associados a projetos de infraestrutura de
energia.

Embora o Brasil se destaque por possuir atualmente uma matriz energética com grande
participação de fontes renováveis, é necessário tomar medidas adicionais para que
as emissões de gases de efeito estufa por unidade de energia consumida no Brasil
sejam reduzidas.

Em relação aos indicadores socioeconômicos, o Brasil terá que superar desafios para
atingir padrões de consumo comparáveis aos de países desenvolvidos e isso impactará
diretamente na demanda de energia. Analisando a matriz brasileira em um cenário
econômico mais otimista (crescimento médio de 3,2% a.a frente a 2,5% a.a. na trajetória
de referência), este teria impactos sobre a demanda, aumentando o consumo per capita
em aproximadamente 6%, em 2026, e exigindo uma maior oferta de energia. Nesse
ambiente de crescimento mais robusto, a oferta interna de energia se mantém, até 2026,
nos patamares observados na trajetória de referência, ou seja, em torno de 48%,

20
IEA, Energy Technology Perspectives 2017: Catalysing Energy Technology Transformations,
2017. Disponível em: https://goo.gl/o4LMS1 Acesso 20 jun. 2018

38
composta por energias renováveis. A manutenção da elevada participação de fontes
renováveis em sua matriz é um desafio para o Brasil, mas é interessante observar que
as estratégias naturais de expansão da oferta – como a penetração de renováveis e a
ampliação da participação de combustíveis renováveis nos setores industrial e de
transportes, por exemplo – fazem sentido econômico para o país. A matriz energética
elaborada pela EPE serviu de base para as medidas do setor de energia que constam
na NDC brasileira, apresentada durante a COP21, em 2015. Como já mencionado, a
NDC do Brasil compreende o conjunto da economia e se baseia em caminhos flexíveis
para atingir esses objetivos, ou seja, o alcance dos objetivos pode ocorrer de diversas
formas, com diferentes contribuições dos setores da economia. Portanto, considerando
tais caminhos flexíveis, existe uma gama de trajetórias possíveis na esfera de decisão
do Brasil em privilegiar a expansão de fontes renováveis no consumo e geração de
energia. A definição de qual trajetória seguir, por sua vez, ancora-se em uma série de
estudos técnicos e conjunturais, que servem de base para a quantificação dos objetivos,
que são desafiadores, porém factíveis, e retrata o compromisso do Brasil na contribuição
para o desenvolvimento sustentável e combate à mudança do clima. 21

Dentro desse mesmo contexto, será importante elevar a participação de fontes de


origem não fóssil na matriz energética até 2030, o que demandará ações específicas
principalmente nas áreas de biocombustíveis (etanol e biodiesel) e energia eólica e, de
maneira complementar, em siderurgia verde baseada em carvão vegetal, cogeração de
energia com utilização de biomassa (principalmente cana-de-açúcar e cavaco de
madeira), energia solar e energia nuclear.

O potencial brasileiro para energia solar é enorme. A irradiação média anual brasileira
varia entre 1.200 e 2.400 kWh/m²/ano, bem acima da média da Europa, mas há no
mundo regiões com valores acima de 3.000 kWh/m²/ano, como Austrália, norte e sul da
África, Oriente Médio, parte da Ásia Central, parte da Índia, sudoeste dos USA, além de
México, Chile e Peru. A Região Nordeste apresenta os maiores valores de irradiação
solar global, com a maior média e a menor variabilidade anual entre todas as regiões
geográficas. Os valores máximos de irradiação solar no país são observados na região
central da Bahia (6,5kWh/m²/dia), incluindo, parcialmente, o noroeste de Minas Gerais.
Há, durante todo o ano, condições climáticas que conferem um regime estável de baixa
nebulosidade e alta incidência de irradiação solar para essa região semiárida. Observa-
se, portanto, que as maiores irradiações solares no Brasil estão em áreas de baixo
desenvolvimento econômico, em que o uso da terra e os impostos arrecadados podem
contribuir para o desenvolvimento local. Ademais, a instalação de painéis FV com
alturas acima de 2 metros de altura pode criar condições favoráveis ao cultivo de
hortaliças e legumes.

A energia solar é livre de carbono e, portanto, contribui para a redução de emissões de


CO2, deslocando o uso de energia de fontes fósseis. A geração solar centralizada é
complementar à hídrica e deve ser considerada junto com a operação dos reservatórios
no processo de variações do armazenamento de energia na forma de estoque de água.

21
Ministério de Minas e Energia; Empresa de Pesquisa Energética. Plano Decenal de Expansão
de Energia 2026. Brasília: MME/EPE, 2017. Disponível em https://goo.gl/mM316Q Acesso 20
jun. 2018

39
22
Outras oportunidades, tão significativas quanto, existem também relacionadas à
cogeração por queima de biomassa, biocombustíveis, energia eólica, pequenas centrais
hidrelétricas, etc.

Embora muito tenha se avançado, ainda há desafios importantes relacionados à


infraestrutura da distribuição de energia no Brasil, devido às grandes distâncias entre
as áreas produtoras e consumidoras de energias, acarretando problemas referentes à
perda de energia e manutenção de linhas de distribuição de energia elétrica, bem como
à dependência do transporte rodoviário para distribuição de gasolina, álcool, biodiesel e
diesel para todo o país. Deficiências em infraestrutura é um dos principais fatores que
acarretam em maiores preços de energia, os quais têm sido ainda majorados (aumentos
das bandeiras tarifárias) devido às recentes crises hídricas que afetam os reservatórios
das usinas hidrelétricas. Assim, investimentos em geração e distribuição de energia
são sempre relevantes, bem como medidas (como redução de tributos, por
exemplo) para reduzir o preço de energia no país, que ainda é alto, sobretudo
comparado com outros países.

Ademais, é fundamental promover Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), bem como


maiores informações e melhor conhecimento técnicos acerca dos temas
referentes ao ODS7, bem como promover maior engajamento da sociedade nos
temas relevantes à energia e a modernização do setor. Esse conjunto de
conhecimentos deve ser disseminado de modo a ser recebido e entendido com maior
clareza pelas comunidades locais e pela população em geral. Nesse sentido, destaca-
se como boa prática a publicação e disseminação do “Glossário de Termos do Objetivo
de Desenvolvimento Sustentável 7”, lançado em maio de 2018, durante o Dia Mundial
da Energia. O Glossário, junto a várias outras publicações relevantes do Sistema da
ONU no Brasil, pode contribuir para essa popularização do conhecimento acerca do
ODS7. Estão surgindo muitas inovações sobre energia, o que deve promover uma
modernização do setor tanto nos espaços privados como públicos. Um exemplo disso é
que tem surgido no Brasil iniciativas de Parcerias Público-Privadas (PPP) de Iluminação
Pública, as quais tem como um de seus objetivos a modernização do parque de
iluminação pública com a troca de tecnologias para LED, com expectativa de grande
economia gerada pela nova tecnologia.23

Deverão ser estimuladas também ações na área de conservação de energia e


eficiência energética, que possuem caráter de aperfeiçoamento de
comportamentos mais sustentáveis, relacionados ao ODS 12.

Nesse sentido, seria também muito importante estabelecer iniciativas em parceria com
a Rede Brasil do Pacto Global da ONU, que conta com várias empresas de energia,
com vistas a disseminar boas práticas empresariais alinhadas com o ODS7, no intuito
de multiplicar sua adoção por parte de outras empresas.

22
Ministério de Minas e Energia. Energia Solar no Brasil e no Mundo”, 2016. Disponível em:
https://goo.gl/3k1Ug7 Acesso em 19 jun 2018
23
https://www.osetoreletrico.com.br/ppp-de-iluminacao-publica-aparece-como-solucao-para-os-
municipios/

40
Considerações finais

Há análises que indicam que, dentre todos os ODS, é em relação ao ODS 7 que o Brasil
tem a posição mais confortável24. Essa situação dá-se, em grande parte, devido a suas
circunstâncias nacionais e escolhas históricas feitas no passado para se privilegiar a
produção hidrelétrica. No entanto, obviamente, que se pode sempre avançar, vencer
ainda alguns problemas estruturais existentes − sobretudo referentes às deficiências de
infraestrutura na geração e distribuição, bem como aos preços altos de energia −, e
porque não, “aumentar o nível de ambição”.

O Brasil possui a matriz energética mais renovável do mundo industrializado, com 42,8%
de sua produção proveniente de fontes renováveis, como recursos hídricos, biomassa
e etanol, além das energias eólica e solar. No entanto, será um desafio manter o
percentual de fontes renováveis de energia na sua matriz energético e, portanto, é
importante incentivar medidas para elevar a participação de fontes de origem não fóssil
na matriz energética até 2030.

O desafio adicional de assegurar energia a todas e todos, incluindo os mais vulneráveis


e em localidades remotas (“last mile”) envolve a necessidade de se utilizar uma grande
variedade de fontes de energia, ligadas em rede ou não. Mas, em qualquer caso, é
importante que esse movimento seja pautado pelo respeito aos recursos naturais, bem
como ao uso de tecnologias sociais, dentro de uma perspectiva que sejam de baixo
custo, de fácil manutenção e uso pelas comunidades e que respeitem os conhecimentos
tradicionais sempre que possível.

Embora seja muito importante contar com ações do governo e da iniciativa privada para
melhorar a infraestrutura e os serviços de energia, na visão das Nações Unidas, a
garantia de disponibilidade de energia no Brasil também depende de efetivas mudanças
de comportamento humano e de iniciativas que envolvem ações coordenadas junto a
comunidades locais e organizações da sociedade civil para promover a eficiência
energética e a conservação de energia.

24 Bertelsmann Stiftung/SDSN. SDG Index & Dashboards 2017 – Individual Country Profiles:
Brazil. Disponível em https://goo.gl/hMWPnf Acesso em 19 jun 2018

41
REFERÊNCIAS

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2006/2004/lei/l10.973.htm>. Acesso em: 16. Mai. 2018.

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43
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<http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/prizes-and-celebrations/2018-
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POLITIZE!. Luz Para Todos: Você Conhece esse Programa Social?. Disponível em:
<http://www.politize.com.br/luz-para-todos-programa-social/>. Acesso em: 16 mai.
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CHANGE [AGECC]. Energy for a Sustainable Future: Summary Report and
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Energy Assessment Overview: 2004 Update. Nova York: 2004. Disponível em:
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Accelerating SDG7 Achievement Policy Briefs In Support Of The First SDG7
Review at The UN High-Level Political Forum 2018. Disponível em:
<https://sustainabledevelopment.un.org/content/documents/25571804578ESDG7_Poli
cy_Briefs_REV_3.pdf>. Acesso em: 30 abr. 2018.

Documento elaborado pelo subgrupo do ODS 7 (liderado pela PNUD) do Grupo


Assessor das Nações Unidas no Brasil sobre a Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável, do qual participam os seguintes organismos: PNUD, UNIDO, FAO e ONU
Habitat.

44
ANEXO
Metas do ODS 7

7.1 Até 2030, assegurar o acesso universal, confiável, moderno e a preços acessíveis
a serviços de energia.

7.2 Até 2030, aumentar substancialmente a participação de energias renováveis na


matriz energética global.

7.3 Até 2030, dobrar a taxa global de melhoria da eficiência energética.

7.a Até 2030, reforçar a cooperação internacional para facilitar o acesso a pesquisa e
tecnologias de energia limpa, incluindo energias renováveis, eficiência energética e
tecnologias de combustíveis fósseis avançadas e mais limpas, e promover o
investimento em infraestrutura de energia e em tecnologias de energia limpa.

7.b Até 2030, expandir a infraestrutura e modernizar a tecnologia para o fornecimento


de serviços de energia modernos e sustentáveis para todos nos países em
desenvolvimento, particularmente nos países de menor desenvolvimento relativo, nos
pequenos Estados insulares em desenvolvimento e nos países em desenvolvimento
sem litoral, de acordo com seus respectivos programas de apoio.

45
46
DOCUMENTOS TEMÁTICOS
Nações Unidas no Brasil

CIDADES E COMUNIDADES
SUSTENTÁVEIS
Tornar as cidades e os assentamentos humanos
inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis

Palavras-chave
Assentamentos humanos; cidades; moradia adequada; urbanização de favelas;
serviços básicos; transportes; urbanização inclusiva e sustentável; patrimônio cultural e
natural; desastres; qualidade do ar; resíduos; espaços públicos; planejamento;
resiliência; conexões urbanas, periurbanas e rurais.

Sumário executivo
Como é comum de se ouvir, “a vida acontece nas cidades”. Um ODS específico para
cidades e assentamentos humanos oferece uma oportunidade de discutir, entender e
monitorar o fenômeno da urbanização1, que impacta a vida da maior parte da população
mundial. De acordo com o IBGE (2017), “o envolvimento da comunidade internacional
na implementação de um objetivo com metas e indicadores dedicados à temática urbana
e aos assentamentos humanos demonstra o grande impacto da urbanização nos
territórios nacionais”.
Necessariamente o ODS 11 precisa ser entendido como uma possibilidade de
territorializar não só as metas deste objetivo em questão, mas de vários outros objetivos.
Utilizar a contextualização de diversos marcos globais também é fundamental para
entender e implementar o ODS 11, principalmente à luz da Nova Agenda Urbana
(A/RES/71/256*), adotada em outubro de 2016, na Conferência das Nações Unidas
sobre Habitação e Desenvolvimento Urbano Sustentável, conhecida como Habitat III,

1
Para monitorar profundamente a urbanização, o ONU-Habitat sugere o uso do Índice de
Prosperidade das Cidades, composto pelas seguintes dimensões: produtividade, infraestrutura
de desenvolvimento, qualidade de vida, equidade e inclusão social, sustentabilidade ambiental e
governança urbana e legislação. Para mais informações: http://cpi.unhabitat.org/

47
que trata dos avanços e desafios relacionados à urbanização sustentável e à gestão
das cidades.
O ODS 11 é o único Objetivo claramente focado em cidades e assentamentos humanos
para o qual são necessários indicadores com nível de desagregação municipal para
monitorá-lo. De forma geral, o Brasil possui diversos dados sobre os temas urbanos, em
especial sobre o acesso aos serviços básicos, que podem ser úteis para o
acompanhamento das metas deste objetivo. Contudo, algumas insuficiências em termos
de dados e informações são notadas, por exemplo no âmbito da resiliência e das
políticas, bem como do acesso para pessoas com deficiências. Dentre os indicadores
que já existem, nota-se também a inexistência de desagregação por gênero, raça e
idade, assim como por tamanho de município e caracterização urbana ou rural.
Adicionalmente, as metodologias de cálculos de diversos indicadores do ODS 11 ainda
carecem de consenso internacional enquanto para algumas outras não se têm dados
produzidos.
Este documento temático busca entender melhor este Objetivo e traçar algumas
recomendações de possíveis caminhos a percorrer.

Principais conceitos

Assentamentos humanos

De acordo com o Glossário de Estatísticas Ambientais das Nações Unidas (ONU, 1997),
o termo assentamentos humanos deve ser entendido como um conceito integrador
que compreende componentes físicos de abrigo e infraestrutura e serviços, como
educação, saúde, cultura, bem-estar, lazer e nutrição.

Cidades

Não há um consenso para o conceito de cidades2, ou mesmo de urbano, que varia de


país a país, dificultando comparações diretas. De acordo com o IBGE (2016),
“historicamente, a noção de cidade tem sido atribuída à concentração populacional e à
existência de um ambiente de trocas, de ligações, de transferências materiais e
imateriais; portanto, um ambiente que envolve fluxos, circulação e escalas variadas”.

Moradia adequada

A moradia adequada foi reconhecida como parte do direito a um nível de vida


adequado na Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948 e no Pacto
Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966. Deve ser interpretado
como o direito de viver em algum lugar com segurança, paz e dignidade. Para que a
moradia seja adequada, os seguintes critérios devem estar presentes: segurança da
posse (proteção jurídica contra despejo forçado); disponibilidade de serviços, materiais,
instalações e infraestrutura (água potável, instalações sanitárias, energia, etc.);

2
Estima-se que quase dois terços dos países utilizem uma definição administrativa para
classificar áreas urbanas, mas quase todos incluem um elemento adicional, como tamanho,
densidade, ocupação econômica ou funções urbanas para caracterizar ambientes urbanos
(ONU-Habitat, 2017). Disponível em
http://www.un.org/en/development/desa/population/events/pdf/expert/27/papers/II/paper-
Moreno-final.pdf

48
acessibilidade financeira/economicidade3 (se o seu custo põe em risco ou dificulta a
realização de outros direitos humanos por parte de seus moradores); habitabilidade
(espaço suficiente, proteção contra o frio, umidade, calor, chuva, etc.); acessibilidade
(deve ser acessível a grupos vulneráveis da sociedade); localização (deve estar em local
que ofereça oportunidades de desenvolvimento econômico, cultural e social, e onde
haja, nas proximidades, oferta de empregos e fontes de renda, meios de sobrevivência,
rede de transporte público, supermercados, farmácias, correios, e outras fontes de
abastecimento básicas); e adequação cultural (deve respeitar a expressão da identidade
cultural) (OHCHR & ONU-Habitat, 2010).

Resiliência

De acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres
(UNISDR), resiliência refere-se “à capacidade de um sistema, comunidade ou
sociedade exposta a uma ameaça para resistir, adsorver, adaptar-se e recuperar-se de
seus efeitos de maneira oportuna e eficaz, o que inclui a preservação e restauração de
suas estruturas e funções básicas” (UNISDR, 2009: 28). Nesta linha, o ONU-Habitat
complementa que quando falamos de resiliência não se trata somente de reduzir o risco
e o dano proveniente de um desastre, mas também da habilidade de voltar rapidamente
ao estado normal.

Patrimônio cultural e natural

Outro assunto trazido nas metas deste objetivo é o tema da preservação do patrimônio
cultural e natural, definidos pela Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial,
Cultural e Natural (1972) como monumentos – construídos ou naturais – que possuem
um valor excepcional do ponto de vista da história, da arte, da ciência, da estética, da
antropologia, da etnologia, da conservação, da beleza natural e, por fim, do ponto de
vista científico4. É certo que “o patrimônio urbano representa um ativo e recurso social,
cultural e econômico que reflete a superposição histórica dinâmica dos valores que
foram desenvolvidos, interpretados e transmitidos por gerações sucessivas e um
acúmulo de tradições e experiências reconhecidas como tal na sua diversidade” (ONU,
2015a: 2). A sua salvaguarda e proteção são fundamentais para o desenvolvimento
urbano sustentável.

Urbanização de favelas

Um outro conceito trazido por este ODS é o de urbanização de favelas, que busca
melhorar moradias e/ou infraestrutura básica, promover a integração urbana e a
qualidade ambiental nestes territórios. Em geral, o termo cobre uma ampla gama
intervenções. Na sua forma mais abrangente, consiste em melhorias físicas, sociais,
econômicas, organizacionais e ambientais empreendidas de forma cooperativa e local

3
A publicação “Direito à moradia adequada” da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência
da República utiliza o termo “economicidade” para este critério. Download disponível em:
http://www.sdh.gov.br/assuntos/bibliotecavirtual/promocao-e-defesa/publicacoes-
2013/pdfs/direito-a-moradia-adequada Acesso realizado em 08 de maio de 2018.
4
Vide também a Convenção sobre a Proteção e a Promoção da Diversidade da Expressões
Culturais (2005). Como contribuição para a implementação da Agenda 2030, a UNESCO
apresentou no Habitat III o Relatório Global sobre Cultura para o Desenvolvimento Urbano
Sustentável, conhecido como “Cultura: Futuro Urbano”, cujos pilares são patrimônio e
criatividade. Enquanto para a Convenção de 1972 tem a Lista Representativa do Patrimônio
Mundial, para a Convenção de 2005 tem como estratégica a Rede de Cidades Criativas da
UNESCO (UCCN). A UCCN lançou recentemente a iniciativa LAB.2030, com foco no ODS 11 a
ser implementado pelas 180 cidades da Rede, que apostam na inovação e na cultura em suas
políticas de desenvolvimento local sustentável.

49
entre cidadãos, grupos comunitários, empresas e governos nacionais e autoridades
municipais (ONU-Habitat, 2014: 16).

Urbanização inclusiva e sustentável

O ODS 11 não se limita a áreas urbanas, mas inclui também as áreas periurbanas5 e
rurais, assim como trata da questão do aumento de periferias que consomem terras
rurais, normalmente dentro dos contornos administrativos municipais. As conexões
urbano-rurais referem-se “às funções complementares e sinérgicas e aos fluxos de
pessoas, recursos naturais, capital, bens, empregos, serviços de ecossistema,
informações e tecnologia entre áreas rurais, periurbanas e urbanas” (ONU, 2015b: 1).
O planejamento articulado destas áreas é essencial, já que essas conexões têm
potencial para transformar o desenvolvimento humano sustentável em benefício de
todos e todas (ONU, 2015b).

A urbanização tem o potencial de contribuir para a sustentabilidade e enfrentamento das


mudanças climáticas ao promover compacidade, conectividade e mobilidade e
infraestruturas eficientes em baixo carbono. Um bom desenvolvimento urbano resulta
em menores emissões de gases de efeito estufa, contribuindo positivamente para a
qualidade do ar e, também, para a redução dos custos relacionados ao fornecimento de
infraestrutura e serviços urbanos (ONU-Habitat, 2017). Neste sentido, os sistemas de
transporte acessíveis e sustentáveis, quando apresentam qualidade e eficiência,
garantem o acesso a oportunidades, serviços, bens e equipamentos à população.
Quanto mais se investe em mobilidade urbana sustentável, maior é o grau de
acessibilidade que a cidade apresenta para todos os residentes, incluindo os pobres, os
idosos, os jovens, as pessoas com deficiências, mulheres e crianças (ONU, 2015c).

A urbanização inclusiva é a que oferece o potencial para novas formas de inclusão


social, incluindo mais igualdade, acesso a serviços e novas oportunidades com
engajamento e mobilização que reflitam a diversidade. Para isto é necessário
comprometimento político em diferentes níveis, mecanismos e instituições que facilitem
a inclusão e a participação cidadã na criação de políticas, no acesso a serviços e no
planejamento espacial (ONU, 2015d). Contribuem para uma urbanização adequada e
bem planejada diferentes tipos de intervenções, como a promoção de espaços
públicos seguros, inclusivos, acessíveis e verdes, que têm o potencial de definir a
identidade e carácter de uma cidade, promovendo recreação, mobilidade, integração e
união (ONU, 2016d), e fomentando o direito à cidade, reconhecido no parágrafo 11 da
Nova Agenda Urbana.

Dados e fatos importantes sobre o ODS 11 no Brasil

De acordo com a Nova Agenda Urbana, adotada na Habitat III, a população urbana
mundial praticamente dobrará até 2050, fazendo com que a urbanização
seja uma das tendências mais transformadoras do século XXI. E até 2030,
segundo projeções do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA),
cinco bilhões de pessoas viverão nas cidades, o equivalente a 60% da
população mundial. Dados de 2017 do Instituto Brasileiro de Geografia e

5
Periurbanização refere-se à urbanização de áreas periféricas anteriormente rurais, tanto no
sentido qualitativo (ex.: difusão do estilo de vida urbano) quanto no quantitativo (ex.: novas zonas
residenciais) (ONU-Habitat, 2012).

50
Estatística (IBGE) indicam que atualmente o Brasil possui 207 milhões de habitantes.
No último Censo Demográfico (2010), 84,4% da população vivia em áreas urbanas.

O mundo é cada vez mais urbano e não é à toa que o último relatório do Painel de Alto
Nível de Pessoas Eminentes sobre a Agenda de Desenvolvimento Pós-2015 afirmou
que “a batalha pelo desenvolvimento sustentável será vencida ou perdida nas cidades”6.
E é com esta mesma percepção e entendimento que o Estados-membros da ONU
adotaram o ODS 11, reconhecendo a centralidade do tema urbano e a necessidade de
uma urbanização inclusiva e sustentável. Neste sentido, conciliar o ODS 11 com as
recomendações da Nova Agenda Urbana é fundamental.

No Brasil, os municípios são entes federativos autônomos e possuem diversas


competências relacionadas às metas do ODS 11. O art. 30 da Constituição Federal de
1988 indica, em seu inciso I, a competência dos municípios de legislar sobre os assuntos
de interesse local. Mais detalhadamente, seus incisos V, VIII e IX tratam de temas como
transporte coletivo, ordenamento territorial, planejamento e controle do uso, do
parcelamento e da ocupação do solo urbano, proteção do patrimônio histórico-cultural
local, dentre outros. É preponderante que o ODS 11 seja trabalhado e implementado no
nível municipal, certamente alinhado aos Estados e à União, sobretudo porque muitos
temas urbanos, assim como os ambientais, ultrapassam as fronteiras municipais
legalmente instituídas, demandando um entendimento e coordenação com o entorno e
outros entes federativos.

Em termos de legislação relacionada ao ODS 11, o Brasil possui inúmeras. O Estatuto


da Cidade corresponde à lei nacional de desenvolvimento urbano ou ordenamento
territorial e vale ressaltar outras leis nacionais de temas relacionados ao ODS 11, como
habitação, saneamento básico, transporte urbano, meio ambiente, mudanças
climáticas, resíduos, riscos e desastres. Mas a implementação de algumas delas, e de
seus instrumentos, continua sendo um desafio. Esta vasta gama de normas também
dificulta o pleno entendimento por parte de muitos gestores públicos no país, que se
dividem para dar conta dos planos setoriais e fragmentados comprometendo a
perspectiva territorial e a integração das políticas públicas. Justamente é esse olhar para
o território que facilita a gestão integrada e holística de nossos municípios e fomenta o
cumprimento das funções sociais das cidades, conforme estipula o art. 182 da
Constituição Federal de 1988 e reforça o art. 2º do Estatuto da Cidade.

Gráfico 1: Política Nacional Urbana (ONU-Habitat)

1 Identificação de prioridades de desenvolvimento urbano


DESENVOLVIMENTO DE UMA
2 Orientação do futuro desenvolvimento
RESULT
RESULTADOS
POLÍTICA NACIONAL ADOS 3 Melhor coordenação e orientação de ações
URBANA 4 Maior volume e melhor coordenação de investimentos

É fundamental que a política urbana e seus instrumentos possam fomentar a


urbanização como uma força transformadora positiva e que saibam redistribuir os

6
ONU, 2013:17

51
benefícios gerados por ela de forma que um padrão inclusivo e sustentável seja seguido,
diminuindo as externalidades negativas e potencializando as positivas. A política
nacional urbana orienta todos os atores na mesma direção e sob a égide dos mesmos
princípios e normas.

No Brasil, um conceito muito importante no processo de elaboração da sua política


urbana foi (e continua sendo) o direito à cidade7. A Carta Mundial pelo Direito à Cidade,
resultado do Fórum Social Mundial Policêntrico que ocorreu em várias cidades do
mundo, define, no seu item 2 do artigo 1º, o direito à cidade como:

O usufruto equitativo das cidades dentro dos princípios de sustentabilidade, democracia,


equidade e justiça social. É um direito coletivo dos habitantes das cidades,
especialmente dos grupos vulneráveis e desfavorecidos, que lhes confere legitimidade
de ação e organização, com base em seus usos e costumes, com o objetivo de alcançar
o pleno exercício do direito à livre autodeterminação e um padrão de vida adequado. O
Direito à Cidade é interdependente a todos os direitos humanos internacionalmente
reconhecidos, concebidos integralmente, e inclui, portanto, todos os direitos civis,
políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais que já estão regulamentados nos
tratados internacionais de direitos humanos.

Tanto é assim que o direito à cidade foi escolhido como tema da quinta edição do Fórum
Urbano Mundial, realizado no Rio de Janeiro em 2010 com o tema “The Right to the
City: bridging the urban divide”. Igualmente, foi o tema selecionado como fio condutor
do Relatório Brasileiro para a Habitat III 8 , realizado em 2016. Como este direito promove
o uso da cidade de maneira coletiva e pública, planejada de forma participativa, ele
dialoga diretamente com o ODS 11 e suas metas, e é um caminho poderoso para se
repensar a urbanização9.

No Brasil, com o objetivo de um melhor seguimento da Agenda 2030, o IBGE lançou,


em abril deste ano, a Plataforma Digital dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável10. Ela acompanha os diferentes indicadores que monitoram cada meta de
cada ODS no país. No caso do ODS 11, e em relação às suas respectivas metas, a
plataforma indica: três indicadores produzidos até o momento (11.1.1; 11.5.1; 11.b.2),
um em análise/construção (11.b.1), cinco sem dados (11.2.1; 11.3.1; 11.5.2; 11.6.1;
11.6.2) e seis sem metodologia global (11.3.2; 11.4.1; 11.7.1; 11.7.2; 11.a.1; 11.c.1).
Este breve diagnóstico mostra o desafio e a complexidade relacionada ao
monitoramento das metas do ODS 11 não só no Brasil, como no mundo.

7
O “direito à cidade” foi, originalmente, definido pelo filósofo e sociólogo francês chamado Henri
Lefebvre no final dos anos 60 no seu livro clássico, traduzido para vários idiomas, intitulado “O
Direito à Cidade”. A principal ideia defendida por ele resumia-se no direito dos habitantes urbanos
a construir, decidir e criar a cidade.
8
Disponível em: http://habitat3.org/wp-content/uploads/National-Report-LAC-Brazil-
Portuguese.pdf
9
ONU, 2016:3
10
Para mais informações: https://ods.ibge.gov.br/

52
Gráfico 2: Exemplo da Plataforma Digital dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (IBGE) - ODS 11, Meta 11.5.111

Circunstâncias nacionais em relação ao ODS 11 e Caminhos


para a ação

Destacam-se, a seguir, algumas das questões consideradas pelo Sistema ONU no


Brasil como mais importantes para o país, que serão tratadas em relação ao conjunto
de metas relevantes do ODS 11 (vide Anexo).

É necessário ressaltar a importância do papel da habitação – especialmente se é


segura, adequada e a preço acessível (ref. meta 11.1). Também é fundamental
reconhecer que “a forma pela qual as moradias estão sendo produzidas e consumidas
moldaram o crescimento urbano, lamentavelmente, em muitos casos, produzindo
cidades fragmentadas, desiguais e não funcionais. O futuro sustentável das cidades e

Box: Habitação no centro do ODS 11

A habitação é um elemento integral da economia de uma nação. Suas conexões, para frente e
para trás, com outras partes da economia ligam de perto as necessidades, demandas e
processos sociais da população com o fornecimento de terra, infraestrutura, materiais de
construção, tecnologia, mão-de-obra e financiamento habitacional. Estas conexões permitem
que a habitação funcione como um importante motor para o desenvolvimento sustentável e a
redução da pobreza, tanto na sociedade como na economia. Operando dentro de uma estrutura
de governança abrangente, definida por sistemas institucionais e regulatórios que permitem à
sociedade construir moradias e bairros, a habitação tem uma manifestação física inescapável
através da construção de casas, abrigos, refúgios, acomodações, serviços e/ou unidades
residenciais. Sem um setor habitacional funcional, os centros urbanos não podem ser
estabelecidos ou desenvolvidos. Um setor habitacional funcional oferece moradia apropriada
e acessível e padrões urbanísticos sustentáveis – os quais são críticos para o futuro de nosso
planeta, sempre em processo de urbanização (ONU-Habitat, Housing Profiles: 5).

11
http://www.pgiods.ibge.gov.br/index.html?mapid=161

53
dos frutos da urbanização dependerá fortemente do enfrentamento e da resolução dos
problemas de habitação”12.

Os indicadores habitacionais influem diretamente na realidade de um país,


principalmente em relação aos níveis socioeconômicos. É por isto que “a habitação é
uma prioridade a ser colocada no debate público em torno da urbanização, integrada ao
quadro de políticas urbanas nacionais e do planejamento urbano (...) estimulando a
economia, reduzindo a pobreza e promovendo a inclusão nas cidades” 13. Neste sentido,
para que as políticas façam a diferença, elas devem estar bem informadas, baseadas
em evidências e sensíveis às demandas e necessidades reais, bem como a problemas
sociais relevantes para a habitação (ONU-Habitat, Housing Profiles).

No Brasil, segundo pesquisa da Fundação João Pinheiro, o déficit habitacional 14 em


2015 foi de 6,355 milhões famílias, estando 87,7% em áreas urbanas. O cálculo do
déficit se compõe dos seguintes fatores: habitações precárias (mais da metade em
áreas rurais); coabitação familiar (86,6% em áreas urbanas); ônus excessivo com
aluguel (3,177 milhões de famílias urbanas); e adensamento excessivo dos domicílios
alugados (96,3% em áreas urbanas)15. Estes dados mostram o grande desafio
habitacional nas cidades brasileiras e, considerando as suas diferentes implicações, a
grande necessidade de tomar ação.

Déficit Habitacional Total, Brasil, 201516

12
ONU-Habitat, 2015:3
13
ONU-Habitat, 2015: 9
14
O conceito de déficit habitacional utilizado está ligado diretamente às deficiências do estoque
de moradias. Engloba aquelas sem condições de serem habitadas em razão da precariedade
das construções ou do desgaste da estrutura física e que por isso devem ser repostas. Inclui
ainda a necessidade de incremento do estoque, em função da coabitação familiar forçada
(famílias que pretendem constituir um domicilio unifamiliar), dos moradores de baixa renda com
dificuldades de pagar aluguel nas áreas urbanas e dos que vivem em casas e apartamentos
alugados com grande densidade. Inclui-se, ainda nessa rubrica, a moradia em imóveis e locais
com fins não residenciais. O déficit habitacional pode ser entendido, portanto, como déficit por
reposição de estoque e déficit por incremento de estoque. Disponível em:
http://www.fiesp.com.br/noticias/levantamento-inedito-mostra-deficit-de-62-milhoes-de-
moradias-no-brasil/
15
http://www.fiesp.com.br/noticias/levantamento-inedito-mostra-deficit-de-62-milhoes-de-
moradias-no-brasil/ (p. 20; 37; 40-41).
16
http://www.fjp.mg.gov.br/index.php/docman/direi-2018/estatistica-e-informacoes/797-6-serie-
estatistica-e-informacoes-deficit-habitacional-no-brasil-2015/file (p. 35)

54
Como

mencionado anteriormente, o direito à cidade, junto à defesa da função social da


propriedade e à universalização do acesso à terra e à moradia digna, assegurados pelos
incisos II e VI do Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257, de 2001), são princípios que
norteiam o acesso à moradia adequada, principalmente por parte da população de baixa
renda. Neste sentido, foram concebidas diretrizes, instrumentos urbanos, ferramentas e
programas habitacionais implementados nos diferentes níveis de governo com o fim de
aliviar as cifras; embora houve avanços, não foram suficientemente inclusivos nem
sustentáveis, à escala territorial, econômica nem social. Produzem-se bairros inteiros
(quando não, cidades) sem a necessária urbanização, sem diversidade de usos, com
implantação marcada pela monotonia, e em áreas distantes dos centros (dada a

55
dificuldade de acesso à terra urbanizada em áreas centrais pelas camadas de renda
menos favorecidas) (Rolnick, 2010)17.

Um dos passos para atingir a primeira meta do ODS 11 é “aliar política urbana,
habitacional e fundiária com programas voltados à regularização fundiária e à ocupação
de áreas centrais e vazios urbanos” (Rolnick, 2010)18, com o fim de aproveitar
infraestruturas urbanas já consolidadas, evitar a especulação imobiliária e o crescimento
territorial não planejado e alcançar uma melhor integração e inclusão social na cidade.
Para isto, em relação ao sistema habitacional, deve existir uma melhor articulação
dentro da política econômica e social, no nível nacional e local, no âmbito do
desenvolvimento urbano.

Conforme indicado pelo ONU-Habitat, “só com forte vontade política, compromisso,
investimento e intervenção eficaz, coordenados no âmbito das políticas urbanas
nacionais e entre diferentes níveis de governos, os países e as cidades poderão
maximizar os benefícios da urbanização e fornecer respostas inclusivas à escala
necessária no setor habitacional” (ONU-Habitat, 2015). Isto inclui, no nível local, a
necessidade de fortalecimento de capacidades; de ambientes propícios para
investimentos e parcerias público-privadas; da participação ativa da sociedade civil,
academia e a da própria comunidade (especialmente a população em situação de
vulnerabilidade) nos processos de tomada de decisões; melhor distribuição espacial de
serviços e infraestrutura; consolidação de indicadores de monitoramento e avaliação
junto a processos transparentes e o total cumprimento dos direitos humanos dentro das
cidades.

O desenvolvimento de capacidades é central para a implementação de políticas


públicas transformativas e para o avanço dos objetivos da Agenda 2030 (ref.
metas 11.3 e 17.9). Sua importância está conectada com a eficácia de organizações e
indivíduos e com suas habilidades de compreender problemas, desenhar soluções e
desenvolver programas de desenvolvimento de longo prazo.

Aplicado à urbanização sustentável e às metas do ODS 11, o desenvolvimento de


capacidades pode ser entendido como um processo que deve envolver atores locais
múltiplos, governamentais e não governamentais, permitindo que eles tenham um
papel ativo no ciclo completo da política pública relacionado à construção de uma
cidade sustentável (ref. meta 11.3).

Em particular, este processo envolve expandir o conhecimento sobre a dimensão


espacial do desenvolvimento sustentável, os sistemas de governança urbana e os
elementos que produzem a prosperidade urbana como a moradia, o desenvolvimento
de infraestrutura, mobilidade sustentável, urbanização de favelas e inclusão social,
planejamento urbano e financiamento municipal (ONU-Habitat, 2015a). Para iniciar um
processo deste tipo, com êxito, é necessário fazer um diagnóstico inicial que mostre as
forças e as fragilidades em termos de capacidades e conhecimentos tanto dos
indivíduos como das organizações.

17
http://www.cidades.gov.br/images/stories/ArquivosSNH/ArquivosPDF/Publicacoes/capacitaca
o/publicacoes/habitacao_social.pdf (p. 24)
18
https://www.mprs.mp.br/media/areas/urbanistico/arquivos/manuais_orientacao/pmcmv.pdf

56
Como indicado acima, o IBGE lançou a Plataforma Digital dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável que brinda informações sobre o monitoramento de cada
ODS no país. Não restam dúvidas sobre a importância da liderança de uma instituição
nacional, aliada a outras igualmente importantes, como Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA), Ministérios e Secretarias Nacionais, para o adequado monitoramento
das metas. A participação e controle social é fundamental neste processo.

Em relação aos indicadores, é importante que se tenha uma infraestrutura de


dados robusta e atualizada (ref. metas 17.18 e 17.19). Deve-se, no contexto do Brasil,
salientar algumas questões. Além do Censo Nacional produzido pelo IBGE, os dados
necessários para alimentar os indicadores do ODS 11 são produzidos pelos próprios
municípios. Este fator aumenta, de maneira considerável, o desafio para sua construção
e monitoramento, uma vez que há a necessidade de articulação com um grande número
de governos locais para a obtenção das informações.

Um dos desafios está relacionado à obtenção de registros administrativos dos


municípios que estejam padronizados e atualizados. Este é o caso para os indicadores
formulados a partir de informações sobre o sistema de transporte público, os registros
de áreas públicas e dados sobre o uso da terra, apenas para citar alguns.

De modo geral, por um lado, há a necessidade de melhoria da qualidade desses


registros administrativos. Para se ter uma ideia, é comum encontrar problemas de falta
de padronização das informações, falta de integração entre bases de dados ou, ainda,
perda de registros por gerenciamento inadequado. O uso de entradas de dados
diferentes (CPF, RG, Título de Eleitor, Certidão de Nascimento e etc.) impossibilita a
integração das bases de dados e o cruzamento das informações. Também é importante
ressaltar as diferenças entre os municípios quando se consideram suas capacidades
técnicas, e de recursos, para lidar com a produção destes dados. Por fim, há a
necessidade de se realizar um esforço institucional de integração das informações
nacionais com essas informações locais.

Além do avanço em relação à produção de dados nos governos locais, outras ações
são recomendadas para reforçar a integridade dos dados e melhorar a capacidade de
monitoramento dos ODS: apoiar na institucionalização de observatórios locais de
monitoramento dos ODS; estimular os governos locais a publicarem os dados e
indicadores relacionados aos ODS em formatos visuais amigáveis e em formato aberto
para uso livre pelos atores interessados; apoiar no estabelecimento de uma amostra de
cidades para realização dos relatórios nacionais e colaboração na definição de linhas
de base e adaptação de metas às realidades locais; e promover oficinas e outras
atividades que permitam a reflexão e práticas sobre o uso de dados para melhoria da
gestão pública.

Com a disponibilidade de dados, utilizando o território como unidade de análise, pode-


se extrair informações que, por sua vez, sejam subsídios relevantes para o desenho e
implementação de políticas públicas integradas e territoriais (ref. meta 11.a). É o
olhar territorial e a vontade política de remodelar a forma como as cidades são
construídas que permitirão que sejam elaboradas políticas públicas de maneira
inovadora, que contemplem as necessidades e características de cada localizada.

57
Mas esta “visão localizada” não descarta a importância da utilização de marcos
globais como referência. (ref. meta 11.b) Os diferentes marcos globais das Nações
Unidas recentemente implementados, como o Marco de Sendai para a Redução de
Riscos de Desastres; a Agenda de Ação Addis Ababa (AAAA) sobre o Financiamento
para o Desenvolvimento; a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável; o Acordo
de Paris sobre Mudanças do Clima; e a Nova Agenda Urbana, cumprem com a função
de direcionar o desenvolvimento sustentável, mas “as metas ambiciosas destas
agendas só serão alcançadas se se presta atenção suficiente à sua implementação,
dentro e por parte das cidades, nos próximos anos”.19

As cidades são fatores-chave para o desenvolvimento sustentável e têm um papel


crucial não só na implementação, mas também na necessária articulação destes
marcos. Os enlaces são visíveis no papel das questões urbanas dentro do Acordo de
Paris, da AAAA, e do Marco de Sendai ao reconhecer as responsabilidades e deveres
que as cidades têm, junto aos seus potenciais, para ter sucesso em alcançar o
desenvolvimento sustentável.

A conexão mais clara, em referência às cidades e ao desenvolvimento sustentável, está


entre a Agenda 2030 e a Nova Agenda Urbana, já que esta última contribui para a
implementação da dimensão urbana dos ODS. Como descrito acima, a Nova Agenda
Urbana é um documento orientado para ação que definiu padrões globais para alcance
do desenvolvimento urbano sustentável, repensando a forma como construímos,
gerenciamos e vivemos nas cidades de forma alinhada às diretrizes da Agenda 2030.
Enquanto a Nova Agenda Urbana estabelece compromissos e ações efetivas que
orientam o processo de urbanização e de gestão do território, a Agenda 2030 estabelece
o horizonte onde se quer chegar, com objetivos, metas e indicadores, com base em
cinco grandes “P”: pessoa, planeta, prosperidade, paz e parceria.

Os ODS requerem uma abordagem territorial para alcançar a Agenda 2030 -


especialmente os ODS 1 (erradicação da pobreza), ODS 5 (igualdade de gênero), ODS
6 (água potável e saneamento), ODS 8 (trabalho decente e crescimento econômico),
ODS 9 (indústria, inovação e infraestrutura), ODS 10 (redução das desigualdades), ODS
12 (consumo e produção responsáveis) e o ODS 13 (ação contra a mudança global do
clima), os quais são impossíveis de abordar sem considerar a maneira em que as
cidades crescem, funcionam e são planejadas. Neste sentido, a Nova Agenda Urbana
propõe um leque de ações estratégicas que enquadram uma visão global a ser adaptada
e implementada nos contextos locais.

A Nova Agenda Urbana tem como base o ODS 11, mas abarca um conjunto mais amplo
de questões relacionadas aos assentamentos humanos, principalmente por meio da
consolidação de ações, processos e temáticas como políticas urbanas nacionais,
legislação, planejamento espacial e arcabouços locais financeiros. A Agenda 2030 e a
Nova Agenda Urbana enfatizam a importância da implementação local e do papel dos
governos neste nível, já que estes provêm serviços diretamente à população, além de
serem o ente federado com a competência de legislar sobre ordenamento territorial,
planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano. Para

19
Cities Alliance, Discussion paper, Framing, Impacts and Key Elements of the New Urban
Agenda.

58
isto, destaca-se também a necessidade de capacitação das autoridades locais, e outros
atores relevantes, para a correta implementação da Nova Agenda Urbana e dos ODS
no nível local.

Assim, um dos caminhos para a ação identificados para aumentar as chances de


implementação exitosa das metas do ODS 11 envolve difundir processos de
transparência, participação democrática e controle e inovação social no ciclo das
políticas públicas (ref. meta 11.3).

Recentemente, estas formas de fortalecimento da gestão pública e da democracia estão


sendo promovidas por uma agenda global de governo aberto 20 que está sendo vista por
pesquisadores acadêmicos, especialistas da área de desenvolvimento e organizações
multilaterais, como a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL),
como uma referência e um ponto de partida para a implementação exitosa da Agenda
2030 (Bapna et al., 2015; Naser et al. 2017).

Governo aberto pode ser definido como um novo modelo de governança (Cruz-Rubio,
2015), isto é, um novo paradigma de interação entre o Estado e os diferentes setores
que compõe a sociedade no processo de formulação, execução, monitoramento e
avaliação das políticas públicas. De acordo com a Aliança para o Governo Aberto, os
princípios que constituem esse novo modelo de governança incluem: a) transparência,
b) participação; 3) colaboração; 4) prestação de contas; 5) tecnologia e inovação (Cruz-
Rubio 2015).

As tecnologias de informação e comunicação que existem hoje permitem, por exemplo,


o surgimento de iniciativas inovadoras de colaboração, como o “CrowdLaw” (lei
colaborativa). Por meio do uso de tecnologia da informação, é possível se explorar o
conhecimento difuso na sociedade em geral para a elaboração de leis, com o objetivo
de melhorar a qualidade das legislações em geral. No Brasil, uma ferramenta de edição
legislativa foi desenvolvida pela organização “LabHacker” para permitir a contribuição
com sugestões de nova redação de artigos e/ou parágrafos. Os deputados relatores das
proposições podem acompanhar as participações e adotar as sugestões do público. O
Parlamento tem, assim, a oportunidade de aprovar leis mais conectadas às
necessidades dos cidadãos e cidadãs.

Outra experiência de uso de tecnologia e inovação que vem sendo incentivada pelos
governos locais, mas que também podem ser iniciativas da sociedade civil, são os
laboratórios de inovação em políticas públicas. Estes espaços buscam soluções
inovadoras para os problemas urbanos e geralmente utilizam metodologias que facilitam
o trabalho colaborativo entre atores com interesses diversos.

Instrumentos de planejamento urbano também podem ser fortalecidos quando há um


processo de participação para elaboração do documento. Um caso reconhecido
internacionalmente e premiado como boa prática pelo ONU-Habitat é o Plano Diretor
Estratégico de São Paulo, aprovado em 2014. O conteúdo e sua revisão foi conduzido

20
O impulso desta agenda tem sido liderado pela Aliança para o Governo Aberto (Open
Government Partnership). Os países podem participar desta iniciativa organizando planos de
ação participativos e comprometendo-se a implementar um certo número de compromissos
formulados com base na consulta aos cidadãos.

59
com participação popular, por meio de 114 audiências públicas que resultaram em 10
mil contribuições. Além da etapa presencial, a Plataforma Gestão Urbana serviu para
colher as propostas por meio eletrônico e para publicar informações sobre o processo.
Por fim, uma experiência de transparência que tem promovido o controle social das
gestões locais são as plataformas para acompanhamento do Plano de Metas da
Prefeitura. Como exemplo, uma ferramenta que permite o controle social é o “De Olho
nas Metas”21, uma iniciativa desenvolvida pela Rede Nossa São Paulo que tem por
objetivo ajudar a população a conhecer os projetos ou temas de seu interesse e
apresentar o progresso de cada meta com informações transmitidas pela própria gestão
municipal.

Um outro passo importante para a implementação da Agenda 2030 é o estabelecimento


de mecanismos de governanças ou outros arranjos institucionais com vistas à
incorporação dos ODS nos arcabouços nacionais, regionais e locais.

Em março de 2018, a Comissão Nacional dos ODS22 lançou um Plano de Ação (2017-
2019) para ampliar a disseminação dos ODS em todo o território nacional para o
aprimoramento de políticas públicas direcionadas para o alcance das metas da Agenda
2030. Uma das principais estratégias contidas no plano é a de internalização/localização
da Agenda 2030 em todo o território nacional. Para atingir tal objetivo, a comissão
nacional procura estimular estruturas locais de governança, com a criação de comissões
estaduais e municipais, que teriam a responsabilidade de coordenar a implementação
dos ODS nos respectivos níveis de governo. Além disso, procura-se estimular os entes
subnacionais a mapear suas políticas públicas, utilizando os instrumentos de
planejamento e estabelecer a correspondência com as metas dos ODS.

No plano de ação ainda há um reconhecimento da importância de fortalecer as


plataformas e observatórios públicos da sociedade civil que disponibilizam dados e
diagnósticos sobre a situação do país, dos estados e dos municípios. Outra ação que
deve ser fomentada nos dois anos de vigência do plano é o fortalecimento de parcerias
que contribuam com projetos, ações e iniciativas para o alcance dos ODS.

Em relação às estruturas de governança locais (comissões municipais para os ODS),


projetos de lei estão sendo analisados nas casas legislativas de cidades como Rio de
Janeiro e São Paulo.23

Como dito anteriormente, o Estatuto da Cidade é o principal marco regulatório para a


política nacional urbana no Brasil. O Estatuto contém uma série de instrumentos
urbanísticos dos quais as cidades podem lançar mão na execução de seus respectivos
planos locais. Os instrumentos de política urbana podem ajudar na implementação
dos ODS, inclusive reduzindo o impacto ambiental negativo das cidades (ref. meta
11.6). Como se pode observar na tabela do primeiro anexo deste documento temático,
os instrumentos de política urbana contidos no Estatuto da Cidade, dos quais as cidades
podem lançar mão na execução de seus respectivos planos locais, têm diversas

21
Para informações adicionais, acessar o endereço https://2017.deolhonasmetas.org.br
22
Informações adicionais disponíveis em: http://www4.planalto.gov.br/ods/menu-de-
relevancia/comissao-ods
23
Respectivamente Projeto de Lei 754/2018 e Projeto de Lei 320/2017.

60
conexões com as metas do ODS 11, as quais por sua vez se conectam com metas de
outros ODS, podendo apoiar na sua implantação.

As cidades brasileiras estão caracterizadas por um padrão de ocupação do solo


caracterizado por uma significativa segregação socioespacial, com acesso à
infraestrutura e serviços marcados pela desigualdade. O Estatuto da Cidade foi
aprovado em 2001 como resultado de um amplo debate entre diversos setores da
sociedade com o objetivo de enfrentar estes padrões de urbanização excludentes.

Essa legislação instituiu diretrizes e instrumentos para o cumprimento da função social


da propriedade e renovou o principal instrumento de planejamento das cidades. O plano
diretor adquiriu um caráter mais democrático ao integrar uma dimensão de participação
popular para sua formulação, distanciando-se assim de sua característica de
instrumento tecnocrático, ou seja, de um plano que é formulado apenas com base em
discussões de especialistas (Cymbalista & Santoro, 2009).

Ao analisar as metas associadas ao ODS 11 e as características nacionais do país, bem


como as respectivas necessidades para se levar o desenvolvimento sustentável às
cidades e aos assentamentos humanos, principalmente por meio de uma urbanização
bem planejada, pode-se considerar algumas questões que merecem atenção especial.

Um dos principais resultados do Estatuto foi de determinar a obrigatoriedade de adoção


desse instrumento de planejamento para os municípios de mais de 20 mil habitantes. A
evolução do atendimento a esta obrigação passou de 33% dos municípios em 2005,
para 87,2% em 2009, e quase 90%, em 2013 (Krause & Costa, 2017).

Se em termos quantitativos houve um avanço considerável, ainda restam inúmeros


desafios para o avanço qualitativo da aplicação dos instrumentos previstos no Estatuto
da Cidade. Alguns desses desafios podem ser assim elencados:

 O Estatuto da Cidade não foi desenhado para dar conta da realidade


heterogênea dos mais de 5.500 municípios em termos ambientais,
administrativos, político-institucionais, entre outros aspectos. A maioria dos
municípios é pequena com baixa capacidade gerencial e fiscal (Krause & Costa,
2017).
 Estudos apontam para as dificuldades de implementação de instrumentos
específicos, para a qualidade dos processos participativos ou, ainda, para a falta
de territorialização adequada dos planos diretores (Cymbalista & Santoro, 2009).
 A qualidade do marco jurídico não é suficiente para garantir a realização dos
princípios de função social da propriedade e de uma maior inclusão
socioespacial e justiça social. O Estatuto da Cidade demanda mobilização por
parte da população e um entendimento de que o Direito não é um campo
meramente técnico, mas que é uma arena aberta de conflitos e negociações
(Fernandes, 2013).
 Especialistas apontam também para uma fragilidade na dimensão do
planejamento regional/metropolitano.

Para o avanço de uma política urbana sustentável e para a implementação do ODS 11


é importante levar em conta estas fragilidades. Por outro lado, além de sua dimensão
de gestão democrática da cidade, o Estatuto da Cidade também trouxe novos

61
instrumentos ou regulamentou e reforçou mecanismos legais existentes para a
implantação de políticas públicas urbanas. Nesse sentido, o Estatuto da Cidade
fornece um arcabouço de dezenas de instrumentos regulatórios que podem ser
usados pelos municípios brasileiros para a implementação dos Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável.

Considerações finais

Apesar do reconhecimento formal dos vários direitos que se consolidam na concepção


do direito à cidade, é possível perceber que ainda há enormes desafios para a sua real
concretização e respeito. Indubitavelmente, a previsão legal é um dos passos mais
importantes, mas não é garantia de cumprimento na prática. Infelizmente, as
desigualdades estão claramente refletidas no espaço público. A urbanização,
considerada uma das principais forças transformativas do século XXI, não se mostrou
capaz de distribuir a riqueza produzida e de reduzir suas externalidades negativas
(basta dizer que as cidades ocupam menos de 2% da superfície terrestre, mas
consomem cerca de 78% da energia mundial e produzem, aproximadamente, mais ou
menos 80% dos gases causadores de efeito estufa). Sendo assim, a necessidade de
repensar o modelo de urbanização de nossas cidades faz-se preponderante e urgente,
e a Nova Agenda Urbana e o ODS 11 buscaram avançar nesta direção. No Brasil, a
Constituição de 1988 e o Estatuto da Cidade, em especial, também avançaram nesse
sentido.

No entanto, somente com um novo modelo de urbanização, de fato sustentável e


inclusiva, é que a função social das cidades será cumprida não só no Brasil, como no
mundo. O efetivo “direito à cidade” ganha cada vez mais relevância e é importante
escutar, nesse sentido, a voz dos movimentos sociais e outras organizações da
sociedade civil e da academia.

As desigualdades urbanas (e sociais) são evidentes na América Latina – e no Brasil – e


é imperativo passar de um espaço público segregado para um conectado e inclusivo,
onde as pessoas tenham os mesmos direitos e possam usufruir dos serviços que a
cidade oferece. Para isso, faz-se necessário ter um planejamento urbano adequado e
participativo, baseado em arcabouços jurídicos e financeiros que permitam executar
seus planos e projetos urbanos com controle social. O ODS 11, assim como outros ODS
que possuem metas urbanas, contribuem neste sentido.

Com o aumento das migrações rurais para as áreas urbanas, as sociedades urbanas
se tornaram mais diversificadas culturalmente24. No entanto, a falta de governança e
planejamento urbano adequados tem afetado o papel histórico das cidades como
plataformas para a promoção da cultura: a segregação social e espacial tornou-se uma
questão fundamental e novos tipos de ameaças surgiram. Ameaças à cultura urbana e
ao patrimônio urbano têm aumentado significativamente nos últimos 20 anos. Com as

24
Vide publicação da UNESCO (2016), sobre o acolhimento de a migrantes/refugiados em
cidades (http://unesdoc.unesco.org/images/0024/002465/246558e.pdf)

62
pressões crescentes da urbanização, o patrimônio urbano enfrenta graves questões em
termos de conservação e preservação. Danos resultantes de situações de conflito se
tornaram também uma questão importante.

Como indicado no sumário executivo deste documento, “é nas cidades onde a vida
acontece”; é nos assentamentos humanos aonde as pessoas vivem, convivem e
trabalham, e são justamente todas essas pessoas que contribuirão para o alcance não
só das metas do ODS 11, mas de todas as outras. O cumprimento, bem como o não-
cumprimento do ODS 11, facilita (ou prejudica) o cumprimento de todos os outros ODS.

63
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Documento elaborado pelo subgrupo do ODS 11 (liderado pela ONU Habitat) do Grupo
Assessor das Nações Unidas no Brasil sobre a Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável, do qual participam os seguintes organismos: ONU Habitat, PNUD, UNFPA,
e UNOPS.

67
ANEXOS

Instrumentos regulatórios no âmbito do Estatuto da Cidade que podem ser


usados pelos municípios brasileiros para a implementação do ODS 11

Instrumento Conexão com metas do


Descrição
urbanístico ODS 11

Permite ao governo municipal aumentar, de forma


progressiva, o valor do Imposto Predial e Territorial
Urbano de imóveis para coibir a retenção 11.1 Acesso à habitação,
IPTU Progressivo
especulativa de imóveis e aumentar o poder de serviços básicos e
no Tempo
regulação do poder público sobre o mercado urbanização de favelas
imobiliário. É um dos instrumentos utilizados para
garantir a função social da propriedade.

Confere prioridade à Prefeitura para a aquisição de


imóvel urbano objeto de alienação onerosa entre
particulares sempre que necessitar de áreas para
cumprir os objetivos e ações prioritárias definidas no
11.1 Acesso à habitação,
Direito de plano diretor. Pode ser mobilizado para que o Poder
serviços básicos e
Preempção Público possa criar espaços públicos de lazer e
urbanização de favelas
áreas verdes; proteger áreas de interesse histórico,
cultural ou paisagístico, além de executar
programas e projetos habitacionais de interesse
social.

Este instrumento é uma modalidade que torna


possível a regularização fundiária. Está previsto que
Usucapião 11.1 Acesso à habitação,
as áreas urbanas com mais de 250 metros
Especial de Imóvel serviços básicos e
quadrados, ocupadas por população de baixa renda
Urbano urbanização de favelas
para sua moradia por pelo menos cinco anos são
passíveis de serem usucapidas coletivamente.

A Prefeitura pode conceder o direito de construir


correspondente ao potencial construtivo adicional 11.1 Acesso à habitação,
mediante contrapartida financeira prestada pelo serviços básicos e
beneficiário. Os recursos obtidos com este urbanização de favelas
Outorga Onerosa instrumento são direcionados ao Fundo Municipal 11.2 Acesso a transporte
do Direito de de Desenvolvimento Urbano (FUNDURB) que é 11.4 Proteção do patrimônio
Construir utilizado para investimentos em melhorias urbanas cultural
que tenham caráter distributivo: habitação de 11.7 Acesso a espaços
interesse social, equipamentos sociais, patrimônio públicos
cultural, espaços públicos, planos de bairro, áreas
verdes, transporte público, sistema cicloviário,

68
sistema de circulação de pedestres e unidades de
conservação ambiental.

Instrumento que serve para viabilizar projetos


elaborados pelo poder público, com o propósito de
promover transformações urbanísticas estruturais,
11.1 Acesso à habitação,
melhorias sociais e valorização ambiental. A
Operações serviços básicos e
finalidade das OUC está em promover a otimização
Urbanas urbanização de favelas
de áreas subutilizadas, a qualificação do espaço
Consorciadas 11.7 Acesso a espaços
público, a promoção de habitação de interesse
públicos
social, a promoção do desenvolvimento econômico
e dinamização de áreas visando a geração de
empregos.

Imóveis possuem um potencial construtivo que é


calculado a partir de sua área e de seu coeficiente
de aproveitamento máximo. A Transferência do
Direito de Construir permite que o potencial
Transferência do construtivo seja utilizado em outro local em imóveis 11.4 Proteção do patrimônio
Direito de urbanos privados ou públicos, para fins de cultural
Construir preservação de bens culturais, implantação de 11.2 Acesso a transporte
corredores de ônibus, implantação de parques e
preservação de áreas de interesse ambiental e
habitação de interesse social e regularização
fundiária.

Trata-se de uma avaliação realizada sobre a


construção, ampliação, instalação, modificação e
11.3 Urbanização
operação de empreendimentos, atividades e
Estudo de Impacto sustentável e planejamento
intervenções urbanísticas causadoras de impactos
de Vizinhança (EIV) e gestão participativa de
ambientais, culturais, urbanos e socioeconômicos
moradia
de vizinhança. O EIV faz parte do rol de
instrumentos de gestão ambiental.

Prevê que as cidades devem elaborar um plano de


rotas acessíveis, compatível com o plano diretor no
Plano de qual está inserido, que disponha sobre os passeios
Transporte Urbano públicos a serem implantados ou reformados pelo 11.2 Acesso à transporte
Integrado poder público, com vistas a garantir acessibilidade
da pessoa com deficiência ou com mobilidade
reduzida a todas as rotas e vias existentes

Plano de delimitação do território em zonas de


11a Relações positivas
interesse ambiental que necessitam de
entre áreas urbanas,
Zoneamento intervenções especiais. É um instrumento de
periurbanas e rurais
Ambiental organização do território a ser obrigatoriamente
11.6 Reduzir o impacto
seguido na implantação de obras, intervenções e
ambiental das cidades
atividades públicas e privadas.

69
O tombamento é um instrumento de proteção do
patrimônio cultural brasileiro. Com a imposição do
Tombamento de
tombamento são criadas obrigações aos 11.4 Proteção do patrimônio
imóveis ou de
proprietários de bens tombados, para o poder cultural
mobiliário urbano
público e a sociedade. Para manter e conservar
este bem.

11.5 Segurança contra


O EIA é um instrumento que tem como papel avaliar
catástrofes naturais,
Estudo prévio de previamente os possíveis impactos produzidos pela
incluindo relacionados à
impacto ambiental ação humana e fundamentar e restringir a decisão
água
(EIA) da administração pública de conceder o
11.6 Reduzir o impacto
licenciamento ambiental.
ambiental das cidades

70
Metas do ODS 11

11.1 até 2030, garantir o acesso de todos a habitação adequada, segura e a preço
acessível, e aos serviços básicos, bem como assegurar o melhoramento das favelas.

11.2 até 2030, proporcionar o acesso a sistemas de transporte seguros, acessíveis,


sustentáveis e a preço acessível para todos, melhorando a segurança rodoviária por
meio da expansão dos transportes públicos, com especial atenção para as
necessidades das pessoas em situação de vulnerabilidade, mulheres, crianças,
pessoas com deficiência e idosos.

11.3 até 2030, aumentar a urbanização inclusiva e sustentável, e a capacidade para o


planejamento e a gestão participativa, integrada e sustentável dos assentamentos
humanos, em todos os países.

11.4 fortalecer esforços para proteger e salvaguardar o patrimônio cultural e natural do


mundo.

11.5 até 2030, reduzir significativamente o número de mortes e o número de pessoas


afetadas por catástrofes e diminuir substancialmente as perdas econômicas diretas
causadas por elas em relação ao produto interno bruto global, incluindo os desastres
relacionados à água, com o foco em proteger os pobres e as pessoas em situação de
vulnerabilidade.

11.6 até 2030, reduzir o impacto ambiental negativo per capita das cidades, inclusive
prestando especial atenção à qualidade do ar, gestão de resíduos municipais e outros.

11.7 até 2030, proporcionar o acesso universal a espaços públicos seguros, inclusivos,
acessíveis e verdes, em particular para as mulheres e crianças, pessoas idosas e
pessoas com deficiência.

11.a apoiar relações econômicas, sociais e ambientais positivas entre áreas urbanas,
peri-urbanas e rurais, reforçando o planejamento nacional e regional de
desenvolvimento.

11.b até 2020, aumentar substancialmente o número de cidades e assentamentos


humanos adotando e implementando políticas e planos integrados para a inclusão, a
eficiência dos recursos, mitigação e adaptação à mudança do clima, a resiliência a
desastres; e desenvolver e implementar, de acordo com o Marco de Sendai para a
Redução do Risco de Desastres 2015-2030, o gerenciamento holístico do risco de
desastres em todos os níveis.

11.c apoiar os países de menor desenvolvimento relativo, inclusive por meio de


assistência técnica e financeira, para construções sustentáveis e resilientes, utilizando
materiais locais.

71
72
DOCUMENTOS TEMÁTICOS
Nações Unidas no Brasil

CONSUMO E PRODUÇÃO
RESPONSÁVEIS
Assegurar padrões de produção e de consumo
sustentáveis

Palavras-chave
Consumo sustentável; Produção sustentável; Desperdício; Gestão de resíduos;
Compras sustentáveis; Estilo de vida sustentável; Relatórios de sustentabilidade;
10YFP.

Sumário executivo

Os impactos ambientais aumentaram significativamente ao longo do tempo,


principalmente devido à produção e ao consumo. Considerando a expectativa de
sermos 9,6 bilhões de pessoas em 2050, seriam necessários o equivalente a quase três
planetas para sustentar os estilos de vida atuais. O bem-estar da humanidade, a
preservação do meio ambiente, bem como o funcionamento da economia dependem
intrinsicamente da gestão mais responsável dos recursos naturais, considerando que
estes são finitos.
O ODS 12 busca remodelar os padrões de consumo e produção, ao levar em
consideração a cadeia de valor dos produtos e serviços, conectando as preocupações
ambientais e sociais com os processos econômicos e os mercados, tanto do lado da
oferta (produção) como da demanda (consumo). Pelo lado da produção, isso significa
a aplicação de práticas de produção mais limpas e eficientes resultantes de treinamento,
inovação e mudança tecnológica de toda a cadeia produtiva. Pelo lado do consumo, a
transição implica mudança no comportamento e nas escolhas dos consumidores, bem
como nas estratégias de compras do setor público (grandes licitadores de produtos e
serviços).

73
Haja vista a característica transversal e mais ampla das ações que tratam da mudança
dos padrões de consumo e produção, o ODS 12 é considerado hoje como o mais
importante viabilizador do alcance de muitos dos ODS. Uma avaliação realizada pelo
Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas (UNDESA) em
2015 aponta o ODS 12 como aquele que fornece as maiores conexões entre os
diferentes objetivos e metas de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030.

Principais conceitos

Desde a Rio-92, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio-Ambiente e


Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992, houve um reconhecimento
internacional de que a principal causa da deterioração contínua do meio ambiente global
são os padrões insustentáveis de consumo e produção. O desenvolvimento sustentável,
entendido como o desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem
comprometer a capacidade das futuras gerações de atenderem as suas próprias
necessidades, não pode ser alcançado, ou mesmo pensado, sem que a sociedade como
um todo mude os atuais padrões insustentáveis tanto de produção como de consumo.

Dois anos depois, durante o Simpósio de Oslo de 1994, o conceito de produção e


consumo sustentáveis foi formalmente estabelecido, sendo entendido como o “Uso de
serviços e produtos relacionados que responde às necessidades básicas humanas e
traz uma melhor qualidade de vida ao mesmo tempo em que minimiza o uso de recursos
naturais e materiais tóxicos, bem como as emissões de resíduos e poluentes ao longo
do ciclo de vida do serviço ou produto, para não colocar em risco as necessidades das
gerações futuras.

Entende-se como ciclo de vida de um serviço ou produto, todas as etapas


necessárias para a existência de um produto ou serviço, que vão desde a extração das
matérias-primas, passando pela manufatura, distribuição, uso, até o descarte final,
abrangendo a possibilidade de incorporar seus resíduos em novos ciclos produtivos.

Como dito anteriormente, além da análise do ciclo de vida, a produção e o consumo


sustentáveis também levam em consideração a cadeia de valor na qual os produtos ou
serviços se inserem. A “cadeia de valor descreve como se desenvolvem as atividades
de uma empresa, internamente e por meio de seus parceiros (fornecedores e clientes).
Ela começa com a retirada da matéria-prima e vai até à distribuição do produto acabado,
quando se tem início uma nova cadeia de valor: a do uso do produto até o seu descarte
adequado ou reciclagem e reaproveitamento dos materiais em outros processos de
produção”.

A Produção e o Consumo Sustentáveis (PCS) tratam da promoção da eficiência


energética e de recursos, bem como de uma infraestrutura sustentável, do acesso a
serviços básicos, empregos verdes e decentes e de uma melhor qualidade de vida para
todos. A implementação da PCS como abordagem integrada ajuda a alcançar os planos
gerais de desenvolvimento, reduzir os custos econômicos, ambientais e sociais futuros,
fortalecer a competitividade econômica e reduzir a pobreza.

A preocupação com a PCS foi reforçada pela Declaração do Milênio das Nações Unidas
( 2000), e pelo Plano de Implementação de Johanesburgo, resultante da Cúpula Mundial

74
sobre Desenvolvimento Sustentável, em 2002; esta última propôs a elaboração de um
marco de programas que apoie iniciativas regionais e nacionais que culminou no
lançamento do Processo de Marrakech, em 2003, o qual foi concebido para dar
aplicabilidade e expressão concreta ao conceito de PCS e a desenvolver o Quadro
Decenal de Programas em Consumo e Produção Sustentáveis (10 YFP, sigla em
inglês para The 10-year framework of programs on sustainable consumption and
production patterns).

O 10YFP é um conjunto de programas e parcerias globais instituído por chefes de


governo e de estado durante a RIO+20 que reúne diversas partes interessadas e que
desenvolvem, replicam e ampliam as políticas e iniciativas de PCS em todos os níveis.
Promove, também, o compartilhamento de conhecimentos e experiências e facilita o
acesso a recursos técnicos e financeiros. A ONU Meio Ambiente atua como Secretaria
do 10YFP.

Atualmente, existem seis programas temáticos e setoriais que orientam os trabalhos no


âmbito do 10YFP, reunindo atores, conhecimentos e recursos: Compras Públicas
Sustentáveis (CPS); Informações ao Consumidor (IC); Turismo Sustentável (TS); Estilos
de Vida Sustentáveis e Educação (EVSE); Edificações e Construções Sustentáveis
(ECS); Sistemas Sustentáveis de Alimentação (SSA).

Dados e fatos importantes sobre o ODS no Brasil

Os avanços brasileiros na agenda de produção e consumo sustentáveis têm sido


consideráveis.

Destacam-se, a seguir, algumas das questões consideradas pelo Sistema ONU no


Brasil como mais importantes para o país, que serão tratadas em relação ao conjunto
de metas relevantes do ODS 12 (vide anexo):

Implementação do Plano Decenal de Programas sobre Produção e Consumo


Sustentáveis (ref. meta 12.1)

No âmbito do ODS 12, a implementação do 10YFP será mensurada, em 2030, pelo


número de países que detém um Plano de Ação em Consumo e Produção Sustentáveis
ou que incorporaram essas dimensões em outras políticas nacionais. Atualmente, o
número de países que cumprem com esse requisito são, respectivamente, 30 e 37,
segundo estimativas do Secretariado do 10YFP. O Brasil é um deles, tendo lançado o
Plano de Ação em Produção e Consumo Sustentáveis (PPCS) em 2011.

Projeto de cooperação assinado em 2010 com o Ministério do Meio Ambiente (MMA)


apoia o desenvolvimento de várias ações do PPCS, assim como estudos que subsidiam
a tomada de decisão do governo em áreas prioritárias e alinhadas ao 10YFP: compras
públicas sustentáveis, estilos de vida e consumo sustentável, construções sustentáveis,
finanças sustentáveis, e gestão de resíduos sólidos. Dentre as atividades
implementadas, ressaltam-se a publicação da pesquisa “O que os brasileiros pensam
do Meio Ambiente”; a condução do programa de Agenda Ambiental da Administração
Pública (A3P), que promove a responsabilidade socioambiental no governo; bem como
a Campanha Passaporte Verde, que sensibiliza turistas e empresários sobre práticas

75
mais sustentáveis no turismo, tendo sido intensificada durante a Copa do Mundo e as
Olimpíadas no Brasil, alcançando cerca de 20 milhões de pessoas, considerando todas
as ferramentas de comunicação utilizada em 4 anos de campanha.

Promoção de práticas de compras públicas sustentáveis, de acordo com as


políticas e prioridades nacionais (ref. meta 12.7)

Ressaltam-se os esforços brasileiros no fomento da sustentabilidade por meio de


aquisições governamentais, que representam entre 10 e 15% do PIB brasileiro, segundo
o Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão (MP). Em 2013, foi iniciada a
implementação do projeto SPPEL, sigla em inglês para Compras Públicas Sustentáveis
e Rotulagem Ambiental, junto ao MMA, MP e Ministério da Indústria, Comércio Exterior
e Serviços (MDIC). O projeto discute ações para fortalecer o programa de licitações
sustentáveis do governo federal, como exemplo a promoção do uso de certificações,
rótulos ambientais ou outras ferramentas voluntárias de mercado. Em 2017 o projeto
aprovou uma metodologia que deverá auxiliar o governo federal no desenvolvimento de
critérios de sustentabilidade para compras públicas de qualquer produto ou serviço.
Ademais, foi criado, por meio da Portaria 228/2017 do MP, um Grupo Técnico de apoio
à Comissão Interministerial de Sustentabilidade na Administração Pública (CISAP) com
o intuito de desenvolver fichas para novos produtos e serviços. A metodologia será
testada pela primeira vez em 2018 em 3 produtos a serem adquiridos pelo governo
federal: papel sulfite A4, detergente lava-louças e divisórias de madeira.

Capacitações em compras públicas sustentáveis e rotulagem ambiental também foram


oferecidas a gestores públicos e ao setor privado em 2017, com o intuito de difundir
conceitos, treiná-los no uso das ferramentas desenvolvidas e garantir que o mercado se
prepare para responder às crescentes demandas por produtos e serviços sustentáveis.

Incentivo às empresas a adotar práticas sustentáveis e a integrar informações


sobre sustentabilidade em seu ciclo de relatórios (ref. meta 12.6)

As demandas por produtos ou serviços mais sustentáveis estão aumentando no mundo


todo, inclusive no Brasil, exigindo que as empresas estejam preparadas para lidar com
essas novas exigências nos negócios. Um exemplo disso é um projeto de fomento à
“ecoinovação” em micros e pequenas empresas (MPEs), em parceria com o SEBRAE.
Diferentes materiais técnicos sobre o tema foram adaptados à realidade das MPEs e
disponibilizados nas páginas das duas instituições. Ademais, nos anos de 2017 e 2018,
com apoio de outros parceiros, foram realizados camps de ecoinovação com o intuito
de encontrar soluções ecoinovadoras para diferentes cadeias produtivas. Durante os
camps, além do fornecimento de mentorias em ecoinovação, modelo de negócios e
discussões técnicas sobre as cadeias produtivas (como, por exemplo, o setor agrícola
e a cadeia da água, tema dos últimos camps), startups e empreendedores competem
entre si com vistas aos prêmios importantíssimos, como a participação em eventos de
startups de grande porte, encontros com investidores, entre outros.

Redução da geração de resíduos por meio da prevenção, redução, reciclagem e


reuso (ref. meta 12.5)

76
Ressalta-se o lançamento da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), em 2010,
promovendo a redução da geração de resíduos por meio da prevenção, redução,
reciclagem e reuso. A política prevê redução e prevenção na geração de resíduos ao
incentivar a prática de hábitos de consumo sustentável e ao fornecer um conjunto de
instrumentos que propiciam o aumento da reciclagem e da reutilização dos resíduos
sólidos (aquilo que tem valor econômico e pode ser reciclado ou reaproveitado) e a
destinação ambientalmente adequada dos rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado
ou reutilizado). Ademais, a PNRS institui a responsabilidade compartilhada dos
geradores de resíduos, dividindo responsabilidades da logística reversa de embalagens
entre governo, fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, cidadãos.

Infere-se, portanto, que o Brasil tem investido no avanço da produção e do consumo


sustentáveis no país, gerando muitas oportunidades de ações que apoiam o uso mais
eficiente dos recursos naturais. Mais à frente, serão apresentadas algumas das
oportunidades de iniciativas e parcerias a serem implementadas para o país continuar
avançando no alcance dessa agenda.

Circunstâncias nacionais em relação ao ODS 12

Atualmente, o Brasil é detentor de um arcabouço político e legal que o permite trabalhar


a sustentabilidade de forma integrada e em diferentes áreas relacionadas à produção e
o consumo sustentáveis.

Dentre os avanços encontrados, destacam-se:

• A Política Nacional da Biodiversidade (PNB) (Decreto nº 4.339/2002), que possui


como objetivo principal a promoção de uma cooperação interinstitucional e
internacional para a melhoria da implementação das ações de gestão da
biodiversidade, bem como para conhecer, conservar e valorizar a diversidade
biológica brasileira.

• A Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), instituída pela Lei das Águas
(Lei nº 9.433/1997), a qual defende que a água deve ser gerida de forma a
proporcionar usos múltiplos (abastecimento, energia, irrigação, indústria) e
sustentáveis, e que esta gestão deve se dar de forma descentralizada, com
participação de usuários, da sociedade civil e do governo.

• Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), instituída pela Lei nº


12.187/2009, busca garantir que o desenvolvimento econômico e social
contribua para a proteção do sistema climático global, bem como, define
estratégias e propõe políticas relacionadas ao monitoramento e à
implementação dos planos setoriais de mitigação e adaptação.

• A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), estabelecida pela Lei nº


12.305/2010 e regulamentada pelo Decreto nº 7.404/2010, que determinam
novos princípios, objetivos e instrumentos para a gestão de resíduos sólidos do

77
Brasil. Ademais, estabelece o princípio da responsabilidade compartilhada entre
os geradores de resíduos públicos e privados, incluindo os consumidores.

• A Política Nacional de Educação Ambiental, estabelecida pela Lei nº 9.795/1999,


que possibilita criar espaços para que o indivíduo e a coletividade construam
valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas
para a conservação do meio ambiente, essencial à sadia qualidade de vida e ao
desenvolvimento econômico.

• A Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO), criada pelo


do Decreto nº 7.794/2012, com o objetivo de apoiar a efetividade do
desenvolvimento rural sustentável e responder às crescentes preocupações de
organizações sociais ligadas ao meio rural e às florestas, bem como do público
em geral, sobre a necessidade de produzir alimentos saudáveis em sintonia com
a conservação dos recursos naturais.

• Cadastro Ambiental Rural – CAR (a Lei nº 12.651/2012), instrumento criado para


auxiliar no processo de regularização ambiental de propriedades e posses rurais.

Apesar do avanço legal e político, os dados ambientais, econômicos e sociais do país


apontam para a necessidade de continuar investindo na agenda de PCS, não só com a
criação de regulamentação adicional, bem como com o aumento de recursos
financeiros, de instrumentos de estímulos a adoção de boas práticas e tecnologias.

Embora o Brasil ainda seja um dos campeões em desigualdade de renda, com 10% dos
mais ricos concentrando mais de 40% da renda, a evolução do rendimento médio
mensal entre os anos de 2012 e 2015, vem crescendo timidamente.

Tabela 1 - Rendimento médio mensal nominal das pessoas

Ano 2012 2013 2014 2015

Rendimento mensal médio 1.437 1.567 1.679 1.746

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.

Observa-se que, conforme a renda aumenta, o padrão de consumo também se altera.


As despesas dos 10% de menor renda, que se concentram em habitação e alimentação,
somando 70% do total, passam a incorporar, também, bens e serviços ligados à saúde,
educação e transporte. O aumento da renda leva tanto a uma mudança dos tipos de
itens de consumo, como ao aumento do volume do que é consumido, gerando uma
maior pressão sobre os recursos naturais.

Segundo a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), do Governo Federal, em termos


de pegada ecológica, o aumento de 1% na renda de um indivíduo com renda familiar
per capita de R$ 2.268 (10% mais ricos) levaria a um aumento de 0,0094 gha (pegada
acumulada), enquanto o aumento de 1% na renda de um indivíduo com renda familiar
per capita de R$ 170 (10% mais pobre) levaria a um aumento de 0,0046 gha. A

78
distribuição da pegada ecológica por cada percentil de renda no Brasil está
representada na Figura 1.

Figura 1: Pegada Acumulada por percentil de renda

Fonte: SAE (2015).

Entende-se, portanto, que o maior desafio para o país seria garantir a inclusão dessa
população e suas novas necessidades de consumo, considerando, ao mesmo tempo,
que respeitem os novos padrões de consumo sustentável e a capacidade do meio
ambiente de responder à crescente demanda.

Do lado da produção, é preciso dar especial atenção às emissões de Gases de Efeito


Estufa (GEE); à gestão dos recursos hídricos; e à pegada de materiais (quantidade de
matéria-prima que um país consome).

As principais atividades antrópicas que geram uma grande emissão de GEE estão
ligadas a queima de combustíveis fósseis, o desmatamento, a agricultura, pecuária e a
ação das indústrias. O Brasil é um dos grandes emissores de gás estufa, sendo que as
principais fontes de emissão são o desflorestamento, principalmente no Cerrado, a
expansão da frota de veículos e a diminuição do uso do etanol em oposição ao uso de
combustíveis fósseis, que cresceu exponencialmente.

Observa-se, também, um aumento das emissões no setor de energia, tanto em termos


relativos quanto absolutos. O setor energético foi o que mais cresceu nos últimos anos.
Entre 2005 e 2012, verificou-se um aumento de 35,9% nas emissões. Dentro desse
setor, estão consideradas as atividades de geração de energia elétrica, e de produção
e consumo de combustíveis.

Já o setor da agropecuária, também uma grande fonte de GEE, apresentou na década


de 1995-2005 um aumento de 23,8% nas emissões, sendo que período de 2005-2012
houve um aumento de 7,4%. A pecuária bovina é a atividade que mais contribui para
emissão de GEE, parcela devida à fermentação entérica e à disposição de esterco nas
pastagens, que liberam grande quantidade de gás metano.

A dinâmica de emissões do setor industrial tem acompanhado as variações do Produto


Interno Bruto (PIB). Este é um setor altamente demandante de combustíveis fósseis,
ficando atrás apenas dos transportes e consumiu 41% da energia elétrica produzida no
Brasil no ano de 2012.

79
Todos os setores acima mencionados serão mais demandados com o aumento da renda
no Brasil, com especial atenção para o setor de alimentos, o consumo de carne bovina,
e de produtos industrializados, como aparelhos de ar-condicionado.

Em relação aos recursos hídricos, o Brasil possui grande oferta de água, cerca de 12%
de toda a água doce do planeta. Esse recurso natural, entretanto, encontra-se
distribuído de maneira heterogênea no território nacional. Passam pelo território
brasileiro em média cerca de 260.000 m3/s de água, dos quais 205.000 m3/s estão
localizados na bacia do rio Amazonas, restando para o restante do território 55.000 m3/s
de vazão média.

Além destas questões espaciais, o regime fluvial sofre variações ao longo do ano que
estão estreitamente relacionadas ao regime de precipitações. Na maior parte do Brasil
existe uma sazonalidade bem marcada com estações secas e chuvosas bem definidas,
de forma que ao final do período seco podem-se observar vazões muito abaixo da vazão
média e, inclusive, ausência de água (ANA, 2016).

Em relação ao consumo desse bem, observa-se um expressivo aumento da agricultura


irrigada no Brasil nas últimas décadas, crescendo sempre a taxas superiores às do
crescimento da área plantada total. Conforme dados do Painel Nacional de Indicadores
Ambientais, do Ministério do Meio Ambiente, 24,1% dos sistemas de abastecimento de
água urbanos são considerados satisfatórios, 42,5% requerem ampliação e 33,4%
requerem um novo manancial. Existem áreas com maior vulnerabilidade quanto à oferta,
tanto em termos de quantidade quanto de qualidade dos recursos hídricos. Essas áreas
estão em todas as regiões do país, apresentando características próprias que as
colocam em situações críticas.

A qualidade da água no Brasil também é muito variável em termos regionais, sendo que
as áreas com valores mais baixos do IQA (Índice de Qualidade da Água) em áreas
urbanas são aquelas que recebem as maiores cargas dos esgotos domésticos; e, no
meio urbano, aquelas que recebem os dejetos decorrentes do uso de fertilizantes.
Ademais, o excesso de fósforo na água pode desencadear um processo conhecido
como eutrofização, no qual a flora aquática se reproduz de forma excessiva provocando
o desequilíbrio dos ecossistemas aquáticos. Isso gera a proliferação de algas tóxicas
nos mananciais e riscos para o abastecimento público e à saúde. Os efeitos da
eutrofização também podem comprometer diversos usos dos recursos hídricos, como a
navegação, produção de energia hidrelétrica, dessedentação de animais, pesca e
recreação.

Outro segmento poluidor das águas é a indústria. Efluentes industriais, incluindo os


metais pesados e hidrocarbonetos, são recorrentemente detectados nos corpos hídricos
e nos sedimentos no entorno dos grandes centros urbanos, como São Paulo e Recife.

Já em relação à pegada de materiais do Brasil, ou seja, a quantidade de matéria-prima


que o país consome, nota-se um aumento considerável no período de 1990-2008,
superior ao Produto Interno Bruto (PIB) e ao Consumo Doméstico de Materiais (CDM)
(Figuras 2 e 3). Isso demonstra que os ganhos de produtividade não estão sendo
suficientes para reduzir a demanda por matéria-prima por unidade de PIB, ou seja, no
período analisado, não ocorreu o descolamento (figura 3) entre a atividade econômica
e o uso dos recursos naturais, nem em termos relativos, nem em termos absolutos. A

80
dissociação entre crescimento econômico e degradação ambiental é um dos grandes
objetivos da agenda de produção e consumo sustentáveis, ao mesmo tempo em que se
mostra um dos maiores desafios, principalmente ao considerarmos que, mesmo em
países desenvolvidos, a Pegada de Materiais per capita (PM/cap) torna-se
consideravelmente maior do que seu Consumo Doméstico de Materiais per capita
(CDM/cap).

Figura 2: Pegada de Materiais per capita (PM/cap) em quatro categorias e


Consumo Doméstico de Materiais per capita (CDM/cap)

Fonte: Adaptado de Wiedmann e colaboradores (2015).

Figura 3: Mudanças relativas no total de uso de recursos (PM e CDM) e PIB no


período de 1990 e 2008

81
Fonte: Adaptado de Wiedmann e colaboradores (2015).

Por fim, a gestão de resíduos também demonstra ser outro grande desafio para a
agenda de produção e consumo sustentáveis, principalmente em relação aos resíduos
sólidos urbanos (RSU).

Conforme dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, em 2013, foram geradas
76,4 milhões de toneladas de RSU. Do montante coletado (69,1 m/t), 40,3 milhões de
toneladas foram encaminhadas para disposição final em aterros sanitários, e 28,8
milhões de toneladas foram enviadas para lixões ou aterros controlados, que são formas
de disposição final ambientalmente inadequadas. A matéria orgânica possui uma
considerável participação dentre os subgrupos de RSU, com 51,4% do total, seguido do
plástico com 13,5%, papéis com 13,1% e outros com 16,7%.

Apesar de a coleta de RSU estar presente em todas as regiões brasileiras, apenas 62%
dos municípios contam com a prática de coleta seletiva entre resíduos secos e úmidos
(orgânicos). Ademais, a diferença do serviço entre as regiões do país se torna ainda
mais preocupante.

82
Observa-se que aproximadamente 41,7% de todo os resíduos sólidos coletados no
Brasil seguem para destinos de disposição final inadequados (aterro controlado e lixão),
em oposição ao que determina a Lei Federal n° 12.305/2010. A disposição final em
aterros sanitários, considerada ambientalmente adequada, recebe em torno de 58,3%
dos RSU gerados no país.

Apesar da disposição final adequada ter aumentado nos últimos anos, cerca de 60%
dos municípios ainda destinam seus resíduos a aterros controlados ou lixões,
demonstrando que a maioria dos municípios brasileiros ainda precisa adequar-se à Lei.

Em relação ao alcance, até 2020, do manejo ambientalmente saudável dos


produtos químicos e todos os resíduos, ao longo de todo o ciclo de vida destes,
de acordo com os marcos internacionais acordados, e de reduzir
significativamente a liberação destes para o ar, água e solo, para minimizar seus
impactos negativos sobre a saúde humana e o meio ambiente (ref. meta 12.4) – o
Brasil apresenta grandes desafios. No Brasil o uso indiscriminado de agrotóxicos na
produção agrícola, faz com que o país lidere, desde o ano de 2008, o consumo dessa
classe de produtos (GERAGE, 2018). De acordo com as análises do estudo, dos 283
agrotóxicos considerados para a pesquisa, 68 compostos excederam ao valor da
Ingestão Diária Aceitável (DA). O composto brometo de metila ocupou a primeira
posição como composto com maior consumo estimado para a população brasileira. Este
agrotóxico é classificado como extremamente tóxico, e seu uso está em descontinuação
global por causar danos à camada de ozônio, além dos riscos à saúde de trabalhadores
rurais e moradores de regiões próximas às áreas de produção agrícola. Quando
estudadas as grandes regiões do país, as regiões Norte (59 agrotóxicos), Nordeste (62
agrotóxicos) e Sul (48 agrotóxicos) apresentaram um menor número de agrotóxicos
extrapolando aos valores da IDA, em comparação com o total identificado para a
população brasileira (n= 68). Já as regiões sudeste e centro-oeste apresentaram
número superior de compostos que extrapolaram ao valor da IDA, sendo um total de 69
compostos para ambas as regiões. Também foi estudada a exposição nos setores
urbano e rural, sendo constatado que 67 compostos excederam ao valor da IDA em
ambas as situações domiciliares. Para a área rural os riscos envolvidos se relacionam
com a aplicação destes produtos, configurando risco de intoxicação aguda. O estudo
ressalta a importância de se considerar que a caracterização do risco crônico será mais
próxima da realidade quanto melhor os dados refletirem as condições do alimento no
momento do consumo. Para tanto, é recomendável a realização de estudos sobre a

83
exposição aos agrotóxicos para a população brasileira, principalmente quanto às
implicações toxicológicas, e considerando os grupos mais vulneráveis.

Caminhos para a ação

Haja vista a característica transversal e mais ampla das ações que tratam da mudança
dos padrões de consumo e produção, o ODS 12 tem a capacidade de viabilizar o
alcance de muitos dos ODS de forma integrada e abrangente. Uma avaliação
realizada pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas
(UNDESA), em 2015, aponta o ODS 12 como aquele que fornece as maiores conexões
entre os diferentes objetivos e metas de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030.
Dado que os ODS foram criados para endereçar o usual problema da falta de
coordenação intersetorial em políticas e tomadas de decisão do setor público ou privado,
a agenda de consumo e produção sustentáveis possui uma oportunidade concreta para
progredir no seu objetivo de alterar comportamentos e promover a eficiência dos
recursos.

O lançamento do Plano de Produção e Consumo Sustentáveis (PPCS) do Brasil,


em 2011, pelo Ministério do Meio Ambiente em parceria com um grupo diversificado de
instituições, tanto governamentais como da sociedade civil, pode ser considerado o
principal avanço para a agenda de PCS e continuará servindo de base para as
ações nacionais com a implementação do segundo ciclo de 2016-2020. O próprio
plano sugere alguns meios de implementação eficientes e integrados além das ações
governamentais, como os Acordos de Cooperação Técnica (ACT), os Pactos Setoriais,
o lançamento de campanhas e fóruns de discussão, e o reconhecimento de iniciativas
voluntárias por parte do setor privado e da sociedade civil.

O plano possui como objetivo principal fomentar as “dinâmicas e ações no médio e


longo prazos, que mudem o atual paradigma de produção e consumo” e possui
como eixos temáticos prioritários de trabalho: as compras públicas sustentáveis; as
finanças sustentáveis; a indústria sustentável; a construção sustentável; o varejo
sustentável; a agricultura sustentável; o consumo sustentável; a Agenda Ambiental na
Administração Pública (A3P); a gestão de resíduos sólidos; e os relatórios corporativos
de sustentabilidade.

Para garantir uma implementação eficiente do plano, é importante garantir, em


primeiro lugar, o fortalecimento do Comitê Gestor do PPCS, composto por membros
de instituições governamentais, de instituições financeira, de associações do setor
privado e da indústria e de organizações da sociedade civil, por meio da integração,
ampliação e qualificação da participação desses atores, garantindo o
planejamento e implementação de ações conjuntas.

Dentre as áreas prioritárias de trabalho com o governo, ressalta-se a necessidade de


investimento na municipalização das ações, tendo em vista as grandes disparidades
encontradas no avanço da agenda PCS em cada região do país. A A3P continua sendo
uma importante ferramenta no avanço dessa temática, podendo incorporar novas

84
estratégias como a criação de unidades específicas para tratar do tema da
sustentabilidade nas instituições públicas, a implantação do sistema de monitoramento
online da A3P (Ressoa) e de um banco de boas práticas; da inclusão de ações da A3P
junto às escolas públicas, dentre outras iniciativas.

A ação governamental poderá se fortalecer, ainda, com a implementação das


compras públicas sustentáveis, por meio de capacitação em legislação,
rotulagem ambiental e no uso das fichas técnicas com critérios de
sustentabilidade para produtos e serviços. A criação do Grupo Técnico de apoio a
CISAP que dará continuidade ao desenvolvimento de fichas técnicas com critérios para
novos produtos e serviços, possui grande importância para o avanço dessa agenda no
país e precisa ser fortalecido politicamente e tecnicamente, para que garanta a
continuidade da iniciativa. Do lado da oferta, o setor privado, se for corretamente incluído
a essas discussões, poderá se adaptar e fornecer produtos e serviços diferenciados do
ponto de vista socioambiental.

A gestão adequada de resíduos também deve ser considerada uma área prioritária
de ação, não só governamental como também da iniciativa privada. É necessário
revisitar e superar as dificuldades encontradas no âmbito da implementação da
Política Nacional de Resíduos, como a falta de recursos adequados, a pequena
aderência dos munícipios – que em grande parte não possuem iniciativas de gestão
sustentável de resíduos, e a fraca cooperação e colaboração entre os parceiros
envolvidos na gestão de resíduos. Iniciativas de geração de energia renovável por meio
da decomposição de orgânicos (biogás), de transformação de lixo em produtos
(economia circular) e o investimento em infraestrutura para garantir a aplicação da
logística, devem ser impulsionadas.

A Economia Circular e a Ecoinovação também têm se mostrado como importantes


metodologias de mudança do setor produtivo em prol da sustentabilidade.
Observa-se, também que instituições financeiras têm procurado identificar e incentivar
ações sustentáveis inovadoras em diferentes setores produtivos e para empresas de
pequeno a grande portes.

No que diz respeito aos consumidores, percebe-se a necessidade de se ampliar o


debate sobre o consumo sustentável e os riscos em se manter os atuais padrões
de consumo em todos os setores da sociedade. Isso se torna mais importante ainda,
ao considerarmos o aumento da renda da população e, consequentemente, o aumento
do consumo de bens e serviços.

Por fim, também por meio do trabalho do Comitê Gestor do PPCS e de sua ampla gama
de atores engajados, que conta ainda com a presença do IBGE e da ONU Meio
Ambiente, é necessário dar início a criação de indicadores para o ODS 12, trabalho
essencial para o monitoramento dos avanços na agenda 2030.

85
Considerações finais

Os avanços brasileiros em prol da produção e do consumo sustentáveis são


abrangentes. Entretanto, frente ao crescimento dos desafios sociais, ambientais e
econômicos – principalmente no que concerne à erradicação da pobreza, à mudança
global do clima e à proteção da biodiversidade –, percebe-se que ainda há um grande
gargalo no alcance da gestão mais responsável dos recursos naturais, da promoção de
padrões de produção e de consumo mais conscientes e do aumento da produtividade
sustentável de bens e serviços que possam responder às demandas da população
crescente.

É preciso continuar envidando esforços no alinhamento das ações nacionais com o ODS
12 e suas metas abrangentes, principalmente por meio da implementação do Plano de
Ação em Produção e Consumo Sustentáveis (PPCS) e do fortalecimento do Comitê
Gestor. Composto por atores de diferentes setores, o Comitê poderá garantir o
planejamento e implementação de ações conjuntas. Ademais, é importante promover o
engajamento da sociedade nas ações, de maneira a garantir escala e efetividade.

Destaca-se, também, a importância de se municipalizar ações – tendo em vista as


grandes disparidades encontradas no avanço da agenda PCS em cada região do país
–, de capacitar membros governamentais e de envolver o setor produtivo nas
discussões e implementação de iniciativas integradas.

O aumento da renda da população, ao mesmo tempo em que ajuda a superar a grande


pobreza que assola o país, gera impactos negativos ao meio ambiente, demonstrando
a necessidade de ampliação do debate sobre as mudanças dos atuais padrões de
produção e de consumo em prol de uma economia circular.

Reitera-se, por fim, que o avanço na implementação do ODS 12 apoiará o país no


alcance das metas de outros ODS. Por exemplo, por meio da implementação de uma
gestão sustentável e do uso eficiente dos recursos naturais, da redução do desperdício
de alimentos e do fortalecimento das capacidades científicas e tecnológicas dos países
em prol de padrões mais sustentáveis de produção e consumo, será possível contribuir
para o aumento da disponibilidade e do acesso a água e ao saneamento a todos e todas
(ODS6), para a construção de resiliência das pessoas em situação de vulnerabilidade e
redução de sua exposição a eventos extremos relacionados com o clima e outros
choques e desastres econômicos, sociais e ambientais (Meta 1.5, ODS 1), bem como
para apoiar a erradicação da fome ao garantir o acesso de todas as pessoas a alimentos
seguros, nutritivos e suficientes durante todo o ano (Meta.2.1, ODS 2).

Ademais, por meio da implementação do 10YFP, especialmente do Programa de


Sistemas Alimentares Sustentáveis (SFS, em inglês), será possível trabalhar no alcance
da meta 2.4, a qual procura “garantir sistemas sustentáveis de produção de alimentos e
implementar práticas agrícolas resilientes, que aumentem a produtividade e a produção,
que ajudem a manter os ecossistemas, que fortaleçam a capacidade de adaptação às
mudanças climáticas, às condições meteorológicas extremas, secas, inundações e
outros desastres, e que melhorem progressivamente a qualidade da terra e do solo”
(Meta 2.4, ODS 2).

86
No que diz respeito ao ODS 3, de promoção da saúde e do bem-estar de todos, é
imprescindível que seja realizado um manejo ambientalmente saudável dos produtos
químicos e todos os resíduos, ao longo de todo o ciclo de vida destes, o que reduzirá
significativamente a liberação destes para o ar, água e solo e minimizará seus impactos
negativos sobre a saúde humana e o meio ambiente.

No campo privado, as iniciativas de economia circular, economia verde e ecoinovação


tem apoiado significativamente no alcance de níveis mais elevados de produtividade
das economias por meio a diversificação, modernização tecnológica e inovação (Meta
8.2, ODS 8) no fortalecimento e crescimento das micro, pequenas e médias empresas,
inclusive por meio do acesso a serviços financeiros (Meta 8.3, ODS 8), além de
contribuir para o acesso à energia confiável, sustentável e a preço acessível (ODS 7).

87
REFERÊNCIAS
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Brazil Systematic Country Diagnostic. 2016. Disponível em:
<http://documents.worldbank.org/curated/pt/239741467991959045/Brazil-Systematic-
country-diagnostic-retaking-the-path-to-inclusion-growth-and-sustainability>. Acesso
em: 15 mai. 2018.

Documento elaborado pelo subgrupo do ODS 12 (liderado pela ONU Ambiente) do


Grupo Assessor das Nações Unidas no Brasil sobre a Agenda 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável, do qual participam os seguintes organismos: ONU
Ambiente, PNUD, UNIDO e OIT. A Unesco e UNOPS também contribuíram para a
elaboração deste documento.

89
ANEXO
Metas do ODS 12

12.1 Implementar o Plano Decenal de Programas sobre Produção e Consumo


Sustentáveis, com todos os países tomando medidas, e os países desenvolvidos
assumindo a liderança, tendo em conta o desenvolvimento e as capacidades dos países
em desenvolvimento.

12.2 Até2030, alcançar gestão sustentável e uso eficiente dos recursos naturais.

12.3 Até2030, reduzir pela metade o desperdício de alimentos per capita mundial, em
nível de varejo e do consumidor, e reduzir as perdas de alimentos ao longo das cadeias
de produção e abastecimento, incluindo as perdas pós-colheita.

12.4 Até 2020, alcançar o manejo ambientalmente adequado dos produtos químicos e
de todos os resíduos, ao longo de todo o ciclo de vida destes, de acordo com os marcos
internacionalmente acordados, e reduzir significativamente a liberação destes para o ar,
água e solo, para minimizar seus impactos negativos sobre a saúde humana e o meio
ambiente.

12.5 Até 2030, reduzir substancialmente a geração de resíduos por meio da prevenção,
redução, reciclagem e reuso.

12.6 Incentivar as empresas, especialmente as empresas grandes e transnacionais, a


adotar práticas sustentáveis e a integrar informações sobre sustentabilidade em seu
ciclo de relatórios.

12.7 Promover práticas de compras públicas sustentáveis, de acordo com as políticas e


prioridades nacionais.

12.8 Até 2030, garantir que as pessoas, em todos os lugares, tenham informação
relevante e conscientização sobreo desenvolvimento sustentável e estilos de vida em
harmonia com a natureza.

12.a Apoiar países em desenvolvimento para que fortaleçam suas capacidades


científicas e tecnológicas em rumo a padrões mais sustentáveis de produção e
consumo.

12.b Desenvolver e implementar ferramentas para monitorar os impactos do


desenvolvimento sustentável para o turismo sustentável que gera empregos, promove
a cultura e os produtos locais.

12.c Racionalizar subsídios ineficientes aos combustíveis fósseis, que encorajam o


consumo exagerado, eliminando as distorções de mercado, de acordo com as
circunstâncias nacionais, inclusive por meio da reestruturação fiscal e a eliminação
gradual desses subsídios prejudiciais, caso existam, para refletir os seus impactos
ambientais, tendo plenamente em conta as necessidades específicas e condições dos
países em desenvolvimento e minimizando os possíveis impactos adversos sobre o seu
desenvolvimento de maneira que proteja os pobres e as comunidades afetadas.

90
DOCUMENTOS TEMÁTICOS
Nações Unidas no Brasil

VIDA TERRESTRE
Proteger, recuperar e promover o uso sustentável
dos ecossistemas terrestres, gerir de forma
sustentável as florestas, combater a
desertificação, deter e reverter a degradação da
terra, e deter a perda de biodiversidade

Palavras-chave
Conservação, recuperação e uso sustentável de ecossistemas. Florestas, águas doces,
montanhas, terras áridas. Gestão sustentável. Combate ao desmatamento e
desertificação. Reflorestamento e restauração. Combate às inundações. Conservação
da biodiversidade. Combate ao tráfico de espécies exóticas e à caça ilegal. Distribuição
equitativa de benefícios. Recursos para manejo florestal sustentável.

Sumário executivo

O Brasil é internacionalmente reconhecido como um pais megadiverso, possui uma


riqueza biológica extremamente grande e submetida a um alto grau de ameaça. O país
abriga a segunda maior cobertura florestal e a maior extensão de florestas tropicais do
planeta. A maior extensão de florestas nativas brasileiras está na Amazônia, onde
restam cerca de 3,3 milhões de quilômetros quadrados de cobertura florestal, apesar do
desmatamento, já ter consumido cerca de 700.000 km.
O ODS 15 é de extrema importância para o Brasil como referência para adoção de um
modelo de desenvolvimento com forte enfoque na conservação de ecossistemas,
assegurando o uso sustentável e legal dos recursos. A estratégia para implementação
desse modelo de desenvolvimento deve ter como base a transversalidade de ações em
relação à conservação da biodiversidade.

91
A valoração dos ecossistemas terrestres deve ocorrer tanto em relação aos retornos
financeiros diretos que o manejo sustentável desses recursos pode prover, como
também pelos serviços ecossistêmicos que dão suporte para grande parte das
atividades econômicas nacionais. Porém, independentemente do benefício gerado, a
distribuição e repartição dos benefícios deve ser equitativa e intergeracional.

Principais conceitos

No início dos anos 1970, o modelo de desenvolvimento a qualquer preço, com altos
níveis de poluição passou a ser questionado e eclodiu o debate sobre os padrões e
limites do crescimento. Os modelos alternativos que foram sendo propostos,
incorporando aspectos sociais e ecológicos aos parâmetros econômicos, levaram à
construção do que viria, cerca de duas décadas depois, a ser denominado de
desenvolvimento sustentável

O desenvolvimento sustentável, baseia-se tanto no uso sustentável e legal dos recursos


naturais como na conservação de ecossistemas. A conservação dos ecossistemas
por meio da criação de Unidades de Conservação é a estratégia mais direta de proteção
da biodiversidade, mas a gestão sustentável dos recursos também assegura esse
objetivo. A biodiversidade, ou diversidade biológica, é o conjunto de todos os seres
vivos, de todas as origens, tanto terrestres, como aquáticos.

A gestão sustentável dos solos é a estratégia a ser adotada para o combate à


desertificação e a degradação dos solos. A desertificação é o fenômeno que
corresponde ao empobrecimento e diminuição da umidade em solos arenosos,
localizados em regiões de clima subúmido, árido e semiárido. Já a degradação dos
solos pode ocorrer em todos os biomas, já que, o processo de esgotamento de
nutrientes e perda das características físicas, pode ser causado por fatores naturais ou
por ações humanas inadequadas.

Dados e fatos importantes sobre o ODS no Brasil

Em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e


Desenvolvimento (UNCED, conforme sua sigla em inglês, ou Rio 92), foram lançadas
as bases de três convenções das Nações Unidas que se relacionam com o ODS 15, a
saber: a Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima, a Convenção sobre Diversidade
Biológica e a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação. O governo
brasileiro cita as ratificações da participação do País nas Convenções da Biodiversidade
(em 1994) e de Combate à Desertificação (em 1997), como demonstrativo do
compromisso com o ODS 15 (MMA 2017).

Com base no quadro de indicadores identificados pelo Grupo Inter-Agencial de Peritos


em ODS (IAEG-SDGs) e aprovados durante a 48a Sessão da Comissão Estatística das
Nações Unidas, em março de 2017, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), responsável pelas estatísticas nacionais, selecionou os seguintes indicadores
para relatar as ações e avanços em relação ao ODS 15. As informações aqui

92
reportadas, foram, em parte, obtidas em publicações de agências governamentais
brasileiras e, em parte, de base de dados do compilado pela CEPAL:

Área florestal como proporção da área total do território (ref. meta 15.1, indicador
15.1.1) é de 59% no Brasil.

Fonte: SFB (2013).

Proporção de sítios importantes para a biodiversidade terrestre e de água doce


cobertos por áreas protegidas, por tipo de ecossistema (ref. meta 15.1, indicador
15.1.2)

As áreas protegidas terrestres nacionais, incluindo as unidades de conservação, terras


indígenas e territórios quilombolas, somam aproximadamente 2,5 milhões de
quilômetros quadrados, o que representa 28,94% do território nacional.

➢ Em relação as áreas úmidas protegidas, de acordo com a Convenção de


Ramsar, o Brasil conta com 25 sítios, sendo 23 Unidades de Conservação e 2
sítios Ramsar regionais.

93
Fonte: CNUC/MMA (2017); Boletim SNIF/SFB.

Progressos na gestão florestal sustentável (ref. meta 15.2, indicador 15.2.1)

De acordo com o Serviço Florestal Brasileiro, responsável pela gestão das informações
florestais brasileiras, existem três planos de ação governamentais, que objetivam
promover o desenvolvimento sustentável, a diminuição do desmatamento e a redução
das emissões de gases de efeito estufa, e que afetam diretamente a gestão das florestas
do país.

➢ Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal


(PPCDAM): Lançada em 2004, esta iniciativa já está na 4ª. Fase (2016-2020), e
tem como objetivo a diminuição do desmatamento na Amazônia Legal. Está
organizada em três eixos: Ordenamento Territorial e Fundiário; Monitoramento
e Controle Ambiental; e Fomento a Atividades Produtivas Sustentáveis.

➢ Plano Nacional sobre Mudanças do Clima (PNMC): Lançado em 2008, o PNMC


tem como objetivo identificar, planejar e coordenar as ações e medidas que
possam ser empreendidas para mitigar as emissões de gases de efeito estufa
geradas no Brasil, bem como aquelas necessárias à adaptação da sociedade
aos impactos que ocorram devido às mudanças do clima. Dentre as principais
metas do PNMC, duas são relacionadas ao setor florestal:

✓ Buscar a redução sustentada das taxas de desmatamento, em sua média


quadrienal, em todos os biomas brasileiros, até que se atinja o
desmatamento ilegal zero, ou seja, redução do desmatamento em 40%
no período 2006-2010, relativamente à média dos dez anos do período
de 1996 a 2005, e 30% a mais em cada um dos dois quadriênios
seguintes, relativamente aos quadriênios anteriores. No caso do bioma
Amazônia, o alcance deste objetivo específico poderá evitar emissões
em torno de 4,8 bilhões de toneladas de dióxido carbono, no período de
2006 a 2017, considerando a razão de 100 tC/ha. Esse valor será
reavaliado após a conclusão do inventário de estoques de carbono no
âmbito do Inventário Florestal Nacional.

94
✓ Eliminar a perda líquida da área de cobertura florestal até 2015, ou seja,
além de conservar a floresta nos níveis estabelecidos no objetivo
anterior, dobrar a área de florestas plantadas de 5,5 milhões de ha para
11 milhões de ha em 2020, com 2 milhões de ha com espécies nativas,
promovendo o plantio prioritariamente em áreas de pastos degradados,
para a recuperação econômica e ambiental. O impacto positivo deste
objetivo específico poderá ser mensurado tão logo se conclua o
inventário de estoques de carbono no âmbito do Inventário Florestal
Nacional.

➢ Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas


no Cerrado (PPCerrado): Lançado em 2009, o PPCerrado visa a coordenar,
articular e executar iniciativas de redução do desmatamento na região, definir as
metas de redução das taxas de desmatamento e servir como base para o cálculo
das emissões de gases de efeito estufa. Esse cálculo será utilizado para a
definição de metas de diminuição de emissões no âmbito do Plano Nacional
sobre Mudanças do Clima.

Além destas iniciativas, a Lei de Gestão de Florestas Públicas, de 2006, estabeleceu os


mecanismos para licitação de áreas de florestas públicas para implementação de
atividades de manejo florestal sustentável. Como as áreas de floresta públicas
representam mais de 72% das áreas florestais da Amazônia, as concessões florestais,
tanto federais como estaduais, são idealizadas como a alternativa para a gestão
sustentável dos recursos florestais. Atualmente, o Brasil conta com cerca de um milhão
de hectares sob concessões florestais federais e 500 mil hectares em áreas de
concessões florestais estaduais.

Todavia, como as áreas de florestas privadas ainda detém relevante contribuição no


volume de produção de madeira nativa, os órgãos governamentais reguladores das
atividades florestais, utilizam vários mecanismos de controle da produção, transporte e
comercialização de produtos florestais: o Documento de Origem Florestal (DOF), as
Guias Florestais (GFs), o Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos
Florestais (SINAFLOR), etc.

Também existem iniciativas de entidades da sociedade civil e do setor produtivo como


os esquemas voluntários de certificação florestal com controle de terceira parte. Além
da obrigatoriedade de cumprimento da legislação vigente, esses esquemas
estabelecem uma série de princípios e critérios adicionais que asseguram o acesso a
esses mecanismos de mercado. No Brasil, quase 9 milhões de hectares de áreas de
manejo florestal são certificadas em esquemas voluntários.

Proporção do território com solos degradados (ref. meta 15.3, indicador 15.3.1)

Dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA) indicam que 140 milhões de hectares de
terras brasileiras estão degradadas, o que corresponde a 16,5% do território nacional.
Porém, desde os anos 1980 não são conduzidos levantamento sistemáticos sobre os

95
solos brasileiros. Assim, o Programa Nacional de Solos do Brasil (PronaSolos)
coordenado pela Embrapa-Solos (RJ) vai mapear o território brasileiro e gerar dados
com diferentes graus de detalhamento para subsidiar políticas públicas, auxiliar gestão
territorial, embasar a agricultura de precisão e apoiar decisões de concessão do crédito
agrícola, entre muitas outras aplicações.

Outra ferramenta é a iniciativa do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) com o


Sistema de Alerta Precoce Contra Seca e Desertificação (SAP). A metodologia adotada
para a compilação das informações nesse sistema irá possibilitar a geração de
Indicadores Regionais de Desertificação (RDIs) e Áreas Ambientalmente Sensíveis
(ESAs). Esses indicadores combinam informações topográficas (mapas e Modelos
Digitais de Terreno – DEMs), biogeofísicas e socioeconômicas.

Cobertura de áreas protegidas de sítios importantes para a biodiversidade das


montanhas (ref. meta 15.4, indicador 15.4.1)

As Unidades de Conservação (UCs) em áreas montanhosas no Brasil cobrem cerca de


400 mil quilômetros quadrados. Essas UCs estão distribuídas nos três níveis

96
administrativos, isto é, federal, estadual e municipal e cobrem sítios importante para a
biodiversidade em todas as regiões do Brasil (MMA 2017). Duas dessas UCs federais −
- o Parque Nacional do Itatiaia e a Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra da
Mantiqueira − foram listadas em publicação da Revista Science (Le Saout et al. 2013)
entre as 10 áreas mais importantes do mundo para a conservação efetiva da
biodiversidade.

Índice de cobertura vegetal nas regiões de montanha (ref. meta 15.4, indicador
15.4.2)

No Brasil, em 2008, a Deliberação CONABIO no 57, determinou a criação de uma


Câmara Técnica Temporária sobre Ecossistemas de Montanha. Em decorrência, em
2009, o Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro foi incumbido de
elaborar um Programa Nacional de Pesquisas e Conservação em Ecossistemas de
Montanhas. As instituições envolvidas nesse processo, incluindo o Centro Nacional de
Conservação da Flora – CNCFlora do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, o Ministério
do Meio Ambiente (MMA), o Ministério da Ciência Tecnologia, Inovações e
Comunicações (MCTIC), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e o
Ministério da Defesa, identificaram que os ecossistemas de montanhas no Brasil a
serem mapeados são: a. tepuis (bioma Amazônia) b. campos rupestres (bioma Cerrado
e Caatinga) c. campos de altitude (biomas Mata Atlântica e Amazônia) d. brejos de
altitude (bioma Caatinga) e. floresta de neblina (vários biomas) f. floresta Montana
(vários biomas). Além disto, a Lei de vegetação nativa (código florestal) classifica como
áreas de preservação permanente os topos de morro, conferindo um grau de proteção
na vegetação destes ambientes.

Índice das listas vermelhas (ref. meta 15.5, indicador 15.5.1)

O Brasil produz listas de espécies ameaçadas de extinção desde 1968, e as tem


publicado por meio de instruções normativas do MMA; atualmente a lista conta com 627
espécies ameaçadas de extinção. Em 2016, foi publicado o “Livro Vermelho da fauna
ameaçada de extinção”, com informações ecológicas, biológicas e das ameaças das
espécies ameaçadas. Em 2018, deverá ser publicado o livro da flora ameaçada.

Número de países que adotaram quadros legislativos, administrativos e políticos


para assegurar a partilha justa e equitativa de benefícios (ref. meta 15.6, indicador
15.6.1)

O Brasil foi um dos países pioneiros na implementação de uma lei de acesso ao


patrimônio genético, ao conhecimento tradicional associado e à repartição de
benefícios: a Medida Provisória (MP) no 2186-16/2001, alinhada à Convenção sobre
Diversidade Biológica. A intenção foi evitar a biopirataria e garantir a repartição de
benefícios oriundos do uso desta biodiversidade de forma justa e equitativa. Na prática,
porém, essa lei criou barreiras para a Pesquisa & Desenvolvimento (P&D), trouxe
obstáculos à inovação e às patentes, interferiu nas colaborações internacionais e não

97
conseguiu fazer a repartição de benefícios de forma satisfatória. Por isso, foi alvo de
críticas da sociedade civil e da comunidade científica, que reivindicavam uma legislação
com regras mais claras e simples, com abordagens menos burocráticas e capazes de
estabelecer um ambiente de tranquilidade e de segurança jurídica para estimular a
pesquisa e o desenvolvimento tecnológico que faz uso da biodiversidade brasileira.
Após quase 15 anos de amadurecimento do marco legal, em 20 de maio de 2015, foi
sancionada a Lei no 13.123 (Lei da Biodiversidade), que entrou em vigor no dia 17 de
novembro de 2015.

Proporção da vida silvestre comercializada que foi objeto de caça furtiva ou de


tráfico ilícito (ref. meta 15.7, indicador 15.7.1)

A Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (RENCTAS), em 2014,


publicou o 1º Relatório Nacional sobre o Tráfico de Fauna Silvestre. Foi o primeiro
exercício no mapeamento do problema no Brasil. Todavia, como relatado na introdução
desse documento:

“uma das principais dificuldades encontradas pela equipe responsável pelo


projeto foi exatamente a ausência de critérios e de uniformização nos registros
dos órgãos responsáveis pelo controle e fiscalização ambiental. Muitos sequer
registravam os resultados de suas apreensões, outros nunca se preocupavam
em fazer uma análise dessas informações. O que existia eram amontoados de
dados, que precisavam de ser separados, avaliados e sistematizados. Existiam
exceções, é claro. Estas normalmente eram encontradas nos registros dos
Batalhões de Polícias Florestais Estaduais”.

Segundo o Relatório, 60% dos animais comercializados ilegalmente são para consumo
interno, o chamado tráfico doméstico. Seguem para destinos internacionais 40% dos
animais retirados da fauna brasileira. De acordo esse relatório, a exportação ilegal de
aves e peixes ornamentais é feita, principalmente, para a Europa. Na Ásia, o consumo
majoritário é de répteis e insetos. Já na América do Norte, o mercado consome
principalmente primatas, papagaios e araras.

Como a captura e comercialização ilegal da fauna silvestre, de maneira geral, é efetuada


na ponta por populações de baixa renda, ainda que financiada por intermediários com
alto poder aquisitivo, o combate às práticas ilícitas passa por um trabalho de longo prazo
de educação ambiental e construção de alternativas de geração de renda.

Proporção de países que adotam legislação nacional relevante e recursos


adequados para a prevenção ou o controle de espécies exóticas invasoras (ref.
meta 15.8, indicador 15.8.1)

Reconhecendo a importância do problema das invasões biológicas, o Brasil, por meio


do MMA, e em estreita articulação com os diferentes setores da sociedade, vem
desenvolvendo, desde 2001, uma série de ações voltadas à prevenção das introduções,

98
detecção precoce, monitoramento, controle e erradicação de espécies exóticas
invasoras. Essencialmente, estas ações dizem respeito à revisão e desenvolvimento de
normativas relacionadas à matéria, realização de inventários das espécies exóticas
ocorrentes nos diversos ecossistemas brasileiros, discussão relativa à elaboração de
lista oficial de espécies exóticas invasoras em âmbito nacional, e estímulo à abertura de
linhas de financiamento no Fundo Nacional de Meio Ambiente.

Em 2003, diante da constatação da precariedade de referências bibliográficas e de


pesquisas no Brasil relacionadas ao assunto, o MMA, por meio do Projeto de
Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira (PROBIO),
coordenou a elaboração do “Primeiro Informe Nacional sobre Espécies Exóticas
Invasoras”. O objetivo consistiu na sistematização e divulgação das informações
disponíveis sobre o tema. Outros avanços dizem respeito à criação da Câmara Técnica
Permanente sobre Espécies Exóticas Invasoras (CTPEEI) no âmbito da Comissão
Nacional de Biodiversidade (CONABIO) (Deliberação CONABIO no 49, de 30 de agosto
de 2006). O principal produto da Câmara Técnica Permanente sobre Espécies Exóticas
Invasoras foi a elaboração da “Estratégia Nacional sobre Espécies Exóticas Invasoras”
aprovada pela CONABIO, por meio da Resolução nº 5, de 21 de outubro de 2009.

O Brasil possui legislação específica relacionada às espécies exóticas em ambiente


marinhos, em ambientes de produção agropecuária e em relação à espécies que afetam
a saúde humana.

Progressos das metas nacionais estabelecidas de acordo com a Meta 2 de Aichi


sobre biodiversidade do Plano Estratégico para a Biodiversidade 2011-2020 (ref.
meta 15.9, indicador 15.9.1)

As Metas Nacionais de Biodiversidade 2011-2020 foram definidas na Resolução do


CONABIO nº 06, de 3 de setembro de 2003. Em 2017, foi publicada a Estratégia e Plano
de Ação Nacionais para a Biodiversidade (EPANB) que apresenta a contribuição
brasileira ao alcance da Meta 17 de Aichi. Essa Estratégia é resultante de um processo
de discussão e consultas na busca do consenso para a definição das Metas Nacionais
de Biodiversidade 2011-2020, que teve início em 2011, e inclui a elaboração de
documentos intermediários, como o Diálogos sobre a Biodiversidade, os Subsídios para
um Plano de Ação Governamental para a Conservação e Uso Sustentável da
Biodiversidade e a criação do Painel Brasileiro de Biodiversidade (PainelBio).

A estrutura de governança para a implementação da EPANB é ilustrada abaixo:

99
Assistência oficial ao desenvolvimento e gastos públicos com conservação e uso
sustentável da biodiversidade e dos ecossistemas (ref. meta 15.a, indicador
15.a.1)

Uma resposta direta do Governo Brasileiro sobre o tema é o Projeto TEEB Regional-
Local, uma iniciativa coordenada pelo MMA em conjunto com a Confederação Nacional
da Indústria (CNI), no contexto da Cooperação Brasil-Alemanha para o
Desenvolvimento Sustentável.

O foco do Projeto está no fomento de exemplos concretos de implementação em nível


local, regional e nacional, disponibilizando modelos que possibilitem integrar o valor da
biodiversidade e dos ecossistemas nos processos de planejamento e na elaboração de
políticas públicas, fortalecendo o diálogo entre atores públicos e privados. O projeto atua
por meio da identificação de processos em curso (ex. políticas, planos, programas,
instrumentos) nos três níveis (nacional, regional e local) onde possa contribuir com
abordagens inovadoras para a valoração e conservação da biodiversidade e serviços
ecossistêmicos (SE) com vistas a subsidiar a tomada de decisão. Parcerias com os
tomadores de decisão nos níveis regional e local, sejam eles governos estaduais e
municipais, bem como representantes do setor empresarial, permitem uma estrutura
conjunta de condução do projeto e de implementação dos casos-piloto. Além disso, são
envolvidas instituições de pesquisa e atores da sociedade civil que influenciam a
elaboração de políticas sobre clima, ecossistemas e biodiversidade e que acompanham
foros de diálogo intersetorial.

A estratégia do Projeto abrange tanto o setor público como o setor privado. Juntamente
com o setor público busca-se desenvolver e disseminar conhecimentos e capacidades
sobre SE, abordagem ISE e métodos para sua integração em políticas e no
planejamento; prestar assessoria técnica a casos-piloto de como integrar o valor de SE
no planejamento do território, em processos de gestão e no desenho de políticas e
instrumentos económicos; identificar oportunidades e pontos de entrada para a
integração de SE; comunicar o valor dos SE; transversalizar o tema de SE nas agendas
setoriais; bem como desenvolver políticas públicas, planos, programas e estratégias de

100
desenvolvimento mais sustentáveis. Juntamente com o setor privado, busca-se
desenvolver e adequar métodos e ferramentas; engajar as Federações Estaduais das
Indústrias e de Empresas; aplicar métodos e procedimentos em empresas-piloto; inserir/
consolidar o tema de biodiversidade e SE na agenda do setor industrial; incorporar o
capital natural na tomada de decisão de negócios.

Circunstâncias nacionais em relação ao ODS 15

O ODS 15 tem ênfase em proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos


ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a
desertificação, deter e reverter a degradação da terra, e deter a perda de biodiversidade.

No âmbito da proteção de ecossistemas e proteção da biodiversidade (ref. meta


15.1, 15.2 e 15.5), o bioma Amazônico que cobre quase 50% do território nacional (ver
mapa e quadro abaixo) detém o maior percentual das Unidades de Conservação (UC)
brasileiras (28,5%; área de 1.196.778 km2) sejam de proteção integral ou de uso
sustentável, nas três esferas administrativas (federal, estadual e municipal). Contudo,
os demais biomas brasileiros – Cerrado (corresponde a 23,92% do território), Mata
Atlântica (13,04% do território), Caatinga (9,92% do território), Pampa (2,07%) e
Pantanal (1,76%) - são igualmente importantes, especialmente porque alguns são
reconhecidos como hotspots de biodiversidade, abrigando espécies endêmicas, raras e
ameaçadas. A Mata Atlântica (com 115.431 km2 em UCs; 10,3% das UCs) tem recebido
esforços de restauração florestal, e o conhecimento cientifico em regeneração de
florestas no bioma é reconhecido internacionalmente. A Caatinga (com 64.767 km 2 em
UCs; 7,8% das UCs) é um dos biomas mais ameaçados pelas mudanças no clima, com
o esperado aumento de temperatura e concentração dos períodos chuvosos, situação
que coloca em risco a biodiversidade e população local. O Cerrado (com 177.355 km 2
em UCs; 8,7% das UCs) possui uma grande amplitude de formações vegetais (florestais
e não florestais), e possui grande importância para os serviços ecossistêmicos de
regulação hídrica. O Pampa (com 5.073 km2 em UCs; 2,8% das UCs) possui uma
grande diversidade de espécies gramíneas nativas e é habitat de espécies de aves e
mamíferos, sendo ameaçados pela expansão de monoculturas de espécies exóticas. O
Pantanal (com 6.891 km2 em UCs; 4,6% das UCs), pela sua grande importância
ambiental, foi decretado Patrimônio Nacional, pela Constituição de 1988, e Patrimônio
da Humanidade e Reserva da Biosfera, pelas Nações Unidas, em 2000.

101
1
BIOMA
CAATINGA

BIOMA CERRADO

BIOMA MATA

ATLÃ T CA

BIOMA

102
Fonte: IBGE.

Ainda que todas as Unidades de Conservação existentes no Brasil ocupem 18,39% do


território, as ameaças à integridade dessas áreas são constantes. Existe grande pressão
pela redução de áreas e ocupação desses territórios com atividades econômicas que
ameaçam a saúde dos ecossistemas. Porém, por unanimidade, o Supremo Tribunal
Federal (STF) decidiu no dia 5 de abril de 2018, que unidades de conservação não
podem mais ser reduzidas por meio de Medida Provisória (MP). O entendimento foi
firmado pelos ministros durante o julgamento de uma Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI) ajuizada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que
questionou medida provisória presidencial, que alterou, em 2012, os limites de unidades
de conservação na Amazônia para permitir a implantação de hidrelétricas e a
regularização de propriedades rurais. A MP ampliava o Parque Nacional dos Campos
Amazônicos (AM/RO/MT), mas reduzia os Parques da Amazônia (AM/PA) e do
Mapinguari (AM/RO), as Florestas Nacionais de Crepori, Itaituba I e II (PA) e a Floresta
Nacional do Tapajós (PA). No total, o primeiro PARNA ganhou 87,7 mil hectares e as
outras seis áreas perderam juntas 86 mil hectares.

O Brasil ainda conta atualmente com 7 sítios do patrimônio natural e 7 reservas da


biosfera, as quais são importantes aliadas na preservação dos biomas brasileiros) 1.

Um programa interessante, é o Programa Conecta, lançado pelo MMA em 2018. Esse


programa, potencialmente, facilitará a gestão integrada da biodiversidade brasileira,
conciliando conservação e uso sustentável e favorecendo o alcance de outros ODS, tais
como o 11 e o 12, entre outros, por meio de uma maior e melhor conectividade entre
paisagens que incluem UCs e terras privadas destinadas à produção agrícola.2

1
http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/natural-sciences/environment/natural-heritage/ e
http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/natural-sciences/environment/biodiversity/biodiversity/
2
Vide http://www.mma.gov.br/informma/item/11734-conecta

103
No âmbito do uso sustentável dos recursos naturais terrestres, o manejo florestal
sustentável das florestas nativas (ref. meta 15.2, indicador 15.2.1) também ilustra
os esforços do Brasil em relação ao ODS 15.

Mais recentemente, o Serviço Florestal Brasileiro, representando o Governo, participou,


no fim de 2017, da estruturação de uma iniciativa promovida pela FAO, ITTO, CIFOR,
Banco Mundial e o WWF para lançar a iniciativa “Madeira sustentável para um mundo
sustentável”. Essa iniciativa baseia-se no princípio de que a Agenda 2030 para o
desenvolvimento sustentável considera a utilização sustentável dos recursos naturais,
incluindo florestas, como um princípio-chave da visão do desenvolvimento. Os
benefícios das florestas para o desenvolvimento sustentável têm sido amplamente
reconhecidos. Todavia, apesar dos benefícios bem reconhecidos das florestas para
alcançar os ODS, sobretudo referente ao objetivo de combate à mudança do clima e
produção e consumo sustentáveis de produtos florestais (especialmente, produtos de
madeira), elas nem sempre recebem o destaque que merecem na agenda de
desenvolvimento internacional por causa de vários motivos, incluindo aqueles
relacionados a práticas insustentáveis persistentes. O valor do manejo florestal
sustentável é correlacionado com todos os demais ODS, mas especialmente com os
ODS 8 (trabalho decente e crescimento econômico), 12 (consumo e produção
responsáveis) e 13 (ação contra a mudança global do clima), sendo ainda
correlacionado com os ODS 1 (erradicação da pobreza), 2 (fome zero e agricultura
sustentável), 5 (igualdade de gênero), 6 (água potável e saneamento), 7 (energia limpa
e acessível) e 9 (indústria, inovação e infraestrutura).

Uma outra questão extremamente relevante é a necessidade de conscientização do


nexo entre o ODS 15 com a disponibilidade de água (ODS 6). A edição de 2018 do
Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos
(WWDR 2018), apresentado no 8º Fórum Mundial de Águas, em Brasília, em março de
2018, tem como foco as soluções baseadas na natureza (SbN; ou em inglês, nature-
based solutions, NBS). As SbN são inspiradas e apoiadas pela natureza e usam, ou
simulam, processos naturais a fim de contribuir para o aperfeiçoamento da gestão da
água, para melhorar a segurança hídrica e para oferecer cobenefícios vitais em todos
os aspectos do desenvolvimento sustentável.

As soluções baseadas na natureza são fundamentais para alcançar os Objetivos e as


Metas relacionadas à água da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
Particularmente, as SbN geram cobenefícios sociais, econômicos e ambientais,
incluindo a saúde humana e os meios de subsistência, a segurança alimentar e
energética, o crescimento econômico sustentável, a reabilitação de ecossistemas e a
biodiversidade.

A gestão de recursos hídricos ainda é amplamente dominada pela tradicional


infraestrutura hídrica “cinza” (construída/física), enquanto o enorme potencial para as
SbN permanece subutilizado. O objetivo consiste em encontrar um equilíbrio entre as
soluções “verdes” (fornecidas pela natureza) e as “cinzas”, para melhorar a eficiência e
minimizar os custos. A segurança hídrica sustentável, inclusive nas cidades (ODS 11),
não será alcançada sem que sejam tomadas soluções inovadoras. Nesse sentido, as
SbN são um meio essencial de ir além das abordagens convencionais.

104
No âmbito da restauração de ecossistemas, merecem destaque as medidas para
assegurar a capacidade adaptativa nos cenários de desertificação e reversão da
degradação das terras (ref. meta 15.3). O Programa de Ação Nacional de Combate à
Desertificação (PAN-Brasil), publicado em 2005, configura-se como instrumento
norteador para a implementação de ações articuladas no controle e no combate à
desertificação, incluindo os acordos sociais envolvendo os mais diversos segmentos da
sociedade.

O Brasil assinou a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação e


Mitigação dos Efeitos da Seca (UNCCD, de acordo com sua sigla em inglês), em 1994.
Desde a assinatura da UNCCD, o país produziu informações das atividades realizadas
e análises dos alcances mais importantes, resumidas em relatórios publicados em 2000,
2002, 2006, 2010 e 2012. Em 1999 foi lançada a primeira fase (1999-2014) do Programa
de Ação Nacional de Combate à Desertificação (PANCD). Em 2014, foi lançada a
segunda fase (2014-2020) do PANCD. Em 2015, foi publicada a Lei no. 13.153 que
institui a Política Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca
e seus instrumentos.

A desertificação no Brasil tem causas identificadas em alguns vetores mais importantes


como: o desmatamento para fins energéticos e produção agropecuária não sustentável,
a mineração, a irrigação, a expansão urbana sem planejamento e as mudanças
climáticas. As Áreas Suscetíveis à Desertificação (ASD) no Brasil estão localizadas nos
estados da região Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo, um espaço territorial de
1.340.172,60 Km2, equivalente a quase 16% do território brasileiro com 34,8 milhões de
pessoas (17% da população brasileira) distribuídas em 1.488 municípios. A vegetação
predominante nas ASD pertence a ecossistemas integrantes do bioma Caatinga.

As ações do Governo Brasileiro em relação ao combate à desertificação estão


distribuídas em quatro eixos: a) promover a melhoria das condições de vida dada
população das áreas susceptíveis; b) promover a gestão sustentável dos ecossistemas
das áreas susceptíveis e a recuperação das áreas afetadas; c) gerar benefícios globais
e potenciar sinergias com os processos das alterações climáticas e da biodiversidade
nas áreas susceptíveis; d) mobilizar recursos para a implementação do PANCD e da
Convenção de Combate à Desertificação no geral.

Caminhos para a ação

Um estudo do IPEA (2017) descreve a correspondência das metas dos ODS com os
atributos estabelecidos no Plano Plurianual 2016-2017 (PPA). No exercício de traçar
essa correlação, o Ministério do Planejamento construiu um banco de dados que
permitiu relacionar cada uma das metas e indicadores dos ODS com os atributos do
PPA (vide figura abaixo). Os primeiros resultados dessa iniciativa demonstraram que
96% das metas dos ODS possuem algum atributo do PPA relacionado à sua
implementação.

105
Todavia, nem todos os ODS estão contemplados nesse exercício e chama a atenção a
ausência de um enfoque no ODS 15 (entre outros). O Brasil é internacionalmente
reconhecido como um pais megadiverso e possui uma riqueza biológica extremamente
grande, a qual é submetida a um alto grau de ameaça. O país abriga a segunda maior
cobertura florestal e a maior extensão de florestas tropicais do planeta. As florestas
nativas brasileiras representam mais de 50% do território.

Os ecossistemas terrestres, as florestas, os solos e a biodiversidade devem ser vistas


não como ônus, mas como riquezas, sendo consideradas como ativos em todas as
propostas de planejamento nacionais.

No caso das florestas, o Brasil atingiu resultados impressionantes na redução das


emissões por desmatamento, principalmente por meio da redução da taxa de
desmatamento da Amazônia em 82% entre 2004 e 2014.

O governo brasileiro tem demonstrado sua disposição a intensificar as contribuições


para alcançar o objetivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
Mudança do Clima (UNFCCC, conforme sua sigla em inglês). Como parte dos esforços
para aumentar a ambição referente à mitigação da mudança do clima na fase
preparatória da CoP 21, o Brasil apresentou suas pretendidas Contribuições
Nacionalmente Determinadas (iNDC), que contêm um amplo escopo, incluindo
mitigação, adaptação e meios de implementação coerentes com os propósitos de
alcançar o objetivo final da Convenção. Nas pretendidas Contribuições Nacionalmente
Determinadas (NDC), o País destacou que pretende adotar medidas adicionais que
sejam consistentes com o objetivo de 2º C da temperatura global. Elas incluem,

106
com destaque, a área de mudança no uso do solo e das florestas e também do
setor agrícola, incluindo a restauração de pastagens degradadas e reforçando a
integração dos sistemas terra de cultivo-pecuária-florestal (ICLFS, na sigla em
inglês).

Apesar do progresso considerável no que diz respeito a segurança alimentar, o País


ainda enfrenta desafios importantes para combinar o crescimento da produção
agrícola com a proteção ambiental e o desenvolvimento sustentável. A plena
implementação do Cadastro Ambiental Rural (CAR), criado pela Lei nº 12.651/2012, é
importante para auxiliar no processo de regularização ambiental de propriedades e
posses rurais. O apoio à agricultura familiar é chave para garantir a produção e
segurança alimentar, a nutrição e a redução da pobreza rural, a qual deve ser
combinada com a conscientização de que a preservação dos ecossistemas terrestres,
florestas, solos e biodiversidades são fundamentais para a geração de renda de forma
sustentada.

Apesar do avanço legal e político, os dados ambientais, econômicos e sociais do país


apontam para a necessidade de continuar investindo na agenda de biodiversidade,
não só com a criação de regulamentação adicional, bem como com o aumento de
recursos financeiros. O Brasil apresenta uma rica biodiversidade com inúmeras
espécies endêmicas em todos os biomas, e é importante que medidas de conservação
incluam práticas sustentáveis para proporcionar o sustento das populações tradicionais
e indígenas.

A manutenção de serviços ecossistêmicos proporcionados pelos recursos


nacionais é outra questão importante para o Brasil. Os mecanismos de uso e
conservação apropriados dos recursos naturais mantém as fontes de água, a
integridade do solo, a cobertura florestal, a qualidade do ar e muitos outros serviços
necessários para sustentar a vida no planeta.

Conforme mencionado anteriormente, exemplificado pelo Projeto TEEB Regional-Local,


é extremamente importante fomentar modelos – por meio de projetos concretos de
implementação em nível local, regional e nacional –, que possibilitem integrar o valor
da biodiversidade e dos ecossistemas nos processos de planejamento e na
elaboração de políticas públicas, fortalecendo o diálogo entre atores públicos e
privados. De acordo ao exposto relacionado ao projeto TEEB, deve-se incentivar a
identificação de processos em curso (ex. políticas, planos, programas, instrumentos)
nos três níveis (nacional, regional e local) que possam contribuir com abordagens
inovadoras para a valoração e conservação da biodiversidade e serviços
ecossistêmicos (SE), com vistas a divulgá-las para subsidiar a tomada de decisão,
adaptá-las a outras realidades e eventualmente replicá-las.

O Censo de 2010 mapeou no território brasileiro 305 etnias indígenas e 274 línguas,
totalizando 896.000 pessoas, sendo a maior parte em reservas e áreas protegidas, mas
em constante conflito com fazendeiros, madeireiros e garimpeiros ilegais. A manutenção
de comunidades agroextrativistas, ribeirinhos e quilombolas em seus territórios é
essencial para a biodiversidade e conservação de uma variedade de espécies dos
ecossistemas Cerrado e Caatinga.

107
Todos esses caminhos apontados apenas serão possíveis por meio do envolvimento
de múltiplos atores para a busca de soluções eficazes, incluindo por meio
fortalecimento de parcerias com os tomadores de decisão nos níveis regional e local,
sejam eles governos estaduais e municipais, bem como representantes do setor
empresarial, de forma conjugada com instituições de pesquisa e atores da sociedade
civil que influenciam a elaboração de políticas sobre clima, ecossistemas e
biodiversidade e que acompanham foros de diálogo intersetorial. Nesse sentido, é
importante trabalhar com o princípio de pleno respeito aos direitos humanos,
particularmente aos direitos das comunidades vulneráveis, populações
indígenas, comunidades tradicionais e trabalhadores de setores afetados pelas
políticas e planos relevantes, promovendo paralelamente medidas de resposta
sensíveis a gênero.

Considerações finais

O Brasil é signatário de convenções internacionais que são implementadas no País por


meio de esforços da cooperação internacional.

O ODS 15 tem na Convenção da Diversidade Biológica um grande pilar. A CDB possui


3 objetivos: a conservação, o uso sustentável e a repartição de benefícios da
biodiversidade.

A conservação da biodiversidade está intrinsecamente ligada aos objetivos da ação


global de combate à mudança do clima (ODS 13), pois a redução do desmatamento e
a restauração de paisagens são consideradas ações que oferecem grande potencial de
mitigação das mudanças no clima. As pretendidas Contribuições Nacionalmente
Determinadas apresentadas pelo Brasil, no contexto da CoP 21 da UNFCCC (que
resultou no Acordo de Paris), podem ajudar a estimular as metas relacionadas ao ODS
15, bem como a outros. Construir sociedades resilientes e promover o desenvolvimento
voltado para baixas emissões de carbono pode proporcionar oportunidades
econômicas, incluindo a criação de empregos. São necessários não só medidas de
mitigação no empenho global para combater a mudança do clima. A implementação de
políticas e estratégias de adaptação à mudança do clima contribui para a construção da
resiliência das populações, ecossistemas, infraestrutura e dos sistemas de produção,
por meio da redução da vulnerabilidade e da provisão de serviços dos ecossistemas. A
dimensão social está no cerne da estratégia de adaptação do Brasil, que leva em conta
a necessidade de proteger as populações vulneráveis dos efeitos negativos da mudança
do clima e o aumento da resiliência

O uso sustentável da biodiversidade, ações para deter e reverter degradação das terras,
bem como o combate à desertificação relacionam-se igualmente com o combate à fome
(ODS 2), uma vez que as populações vulneráveis muitas vezes dependem diretamente
do extrativismo para estabelecer os seus meios de vida. O uso sustentável da
biodiversidade também está relacionado com produção e consumo responsável (ODS
12), pois as cadeias de suprimento deverão reduzir o impacto na biodiversidade.
Ademais, a evidência do nexo entre o ODS 15 e a disponibilidade de água (ODS 6) é

108
cada vez mais evidente: trabalhar com a natureza melhora a gestão dos recursos
hídricos, ajuda a alcançar a segurança dos recursos hídricos para todos, além de apoiar
o desenvolvimento sustentável em geral.

Portanto, em consideração da interdependência do ODS15 com vários outros ODS, é


de grande importância para o governo brasileiro fortalecer as políticas e os programas
de proteção, recuperação e promoção do uso sustentável dos ecossistemas terrestres,
bem como a gestão a sustentável de florestas e o combate à desertificação. Todas
essas são ações fundamentais para deter e reverter degradação das terras, assim como
para deter a perda de biodiversidade e devem ser vistas como ações que oferecem
múltiplos ganhos e importantes oportunidades de geração de ativos econômicos, os
quais podem ser preciosos para a inclusão social e produtiva.

109
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2016-2019: Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade. Elemento da Estratégia
Nacional de Biodiversidade 2011-2020. 2015. Disponível em:
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REDE NACIONAL DE COMBATE AO TRÁFICO DE ANIMAIS SILVESTRES


[RENCTAS]. 10 Relatório Nacional sobre o Tráfico de Fauna Silvestre. 2014.
Disponível em: <http://www.renctas.org.br/wp-
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111
SERVIÇO FLORESTAL BRASILEIRO. Boletim SNIF 2017. Disponível em:
<http://www.florestal.gov.br/snif/images/Publicacoes/boletim_snif_2017.pdf>. Acesso
em: 11 jun. 2018.

______. Florestas do Brasil em Resumo 2013. Disponível em:


<http://www.florestal.gov.br/publicacoes/572-florestas-do-brasil-em-resumo-2013>.
Acesso em: 11 jun. 2018.

SILVA, Enid Rocha Andrade da. Capítulo 35: Os Objetivos de Desenvolvimento


Sustentável e os Desafios da Nação. In: INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA
APLICADA [IPEA]. Desafios da Nação: artigos de apoio. Volume 2. 2018. Disponível
em:<www.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/livros/livros/180413_desafios_da_
nacao_artigos_vol2_cap35.pdf>. Acesso em: 11 jun. 2018.

Documento elaborado pelo subgrupo do ODS 15 (liderado pela ONU Ambiente) do


Grupo Assessor das Nações Unidas no Brasil sobre a Agenda 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável, do qual participam os seguintes organismos: ONU
Ambiente, PNUD, CEPAL, FAO, Unesco e UNODC. A ONU Habitat e a UNOPS também
contribuíram para a elaboração deste documento.

112
ANEXO
Metas do ODS 15

15.1 Até 2020, assegurar a conservação, a recuperação e o uso sustentável de


ecossistemas terrestres e de água doce interiores e seus serviços, em especial,
florestas, zonas úmidas, montanhas e terras áridas, em conformidade com as
obrigações decorrentes dos acordos internacionais

15.2 Até 2020, promover a implementação da gestão sustentável de todos os tipos de


florestas, deter o desmatamento, restaurar florestas degradadas e aumentar
substancialmente o florestamento e o reflorestamento globalmente

15.3 Até2030, combater a desertificação, e restaurar a terra e o solo degradado,


incluindo terrenos afetados pela desertificação, secas e inundações, e lutar para
alcançar um mundo neutro em termos de degradação do solo

15.4 Até2030, assegurar a conservação dos ecossistemas de montanha, incluindo a sua


biodiversidade, para melhorar a sua capacidade de proporcionar benefícios, que são
essenciais para o desenvolvimento sustentável

15.5 Tomar medidas urgentes e significativas para reduzir a degradação de habitat


naturais, estancara perda de biodiversidade e, até 2020, proteger e evitar a extinção de
espécies ameaçadas

15.6 Garantir uma repartição justa e equitativa dos benefícios derivados da utilização
dos recursos genéticos, e promover o acesso adequado aos recursos genéticos

15.7 Tomar medidas urgentes para acabar com a caça ilegal e o tráfico de espécies da
flora e fauna protegidas, e abordar tanto a demanda quanto a oferta de produtos ilegais
da vida selvagem

15.8 Até 2020, implementar medidas para evitar a introdução e reduzir


significativamente o impacto de espécies exóticas invasoras em ecossistemas terrestres
e aquáticos, e controlar ou erradicar as espécies prioritárias

15.9 Até2020, integrar os valores dos ecossistemas e da biodiversidade ao


planejamento nacional e local, nos processos de desenvolvimento, nas estratégias de
redução da pobreza, e nos sistemas de contas

15.a Mobilizar e aumentar significativamente, a partir de todas as fontes, os recursos


financeiros para a conservação e o uso sustentável da biodiversidade e dos
ecossistemas

15.b Mobilizar significativamente os recursos de todas as fontes e em todos os níveis,


para financiar o manejo florestal sustentável e proporcionar incentivos adequados aos
países em desenvolvimento, para promover o manejo florestal sustentável, inclusive
para a conservação e o reflorestamento

113
15.c Reforçar o apoio global para os esforços de combate à caça ilegal e ao tráfico de
espécies protegidas, inclusive por meio do aumento da capacidade das comunidades
locais para buscar oportunidades de subsistência sustentável

114
1

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