Marxismo e Cultura
Marxismo e Cultura
Marxismo e Cultura
MARXISMO E CULTURA
Nildo Viana
12
MARXISMO E CULTURA
Nildo Viana1
13
VIANA, Nildo. Marxismo e Cultura
uma teoria marxista da cultura e por isso alguns aspectos ficaram de fora, bem como
abordagens não-marxistas serão citadas brevemente, seja para realizar uma comparação,
seja para assimilar algo que possa ser uma contribuição para a teoria da cultura na
perspectiva marxista. Também lançamos algumas ideias que podem servir de inspiração
para o aprofundamento de alguns aspectos não trabalhados ou apenas sugeridos por
alguns pensadores, visando compor a síntese de tal concepção de forma mais completa.
O primeiro elemento que precisamos destacar em nossa análise é o conceito de
cultura. Marx usou poucas vezes o termo “cultura”, pois trabalhou mais com o conceito
de consciência, bem como termos correlatos, como ideologia, representações, etc. Além
disso, Marx não era um pensador marcado por realizar definições. Os seus conceitos são
apresentados em suas explicações teóricas, mas raramente são definidos3. Depois de Marx,
poucos marxistas ou pensadores influenciados pelo marxismo trabalharam com cultura
de forma mais aprofundada e com uma definição desse termo. A abordagem da cultura
como fenômeno geralmente remete para autores como Gramsci e, mais recentemente,
Raymond Williams.
Gramsci não apresenta uma definição precisa de cultura, mas é possível tentar
resgatar o significado do termo em seu pensamento e em seu processo evolutivo para
extrair daí uma definição. Essa tentativa pode gerar a conclusão de que cultura em
Gramsci expressa dois fenômenos relacionados, mas distintos:
14
PráxisComunal, Belo Horizonte, v.1, n.1, p. 13-31 jan./dez. 2018.
A cultura como modo de vida global é o sentido mais comum atribuído à palavra cultura
no pensamento não-marxista e é, geralmente, o sentido antropológico do termo. Os
antropólogos, em sua maioria, concebem o termo cultura em sentido amplo, englobando
não somente as produções intelectuais, mas também os costumes e outros aspectos
da vida social, sendo semelhante à ideia de “modo de vida global”5. Esse conceito é tão
amplo que se confunde com “civilização” e “sociedade”.
Consideramos que esta concepção de cultura é extremamente ampla e não
coerente com a análise marxista. Essa definição cria um novo elemento que seria inserido
na concepção marxista de sociedade e que necessitaria uma reformulação da mesma para
se sustentar no seu interior. Por outro lado, esse termo entendido de forma tão ampla
acaba sendo equivalente ao sentido sociológico do termo “sociedade”. Marx compreende
a sociedade como o “conjunto das relações sociais”, e, nesse sentido, se aproxima do
sentido sociológico, apesar das imprecisões terminológicas, existentes em muitos casos,
no interior das produções sociológicas concretas. Assim, o sentido amplo do termo
cultura como “modo de vida global” não só é incoerente com a concepção marxista
original (a de Marx) como é desnecessária, pois já existe o conceito de sociedade e os
conceitos derivados (modo de vida, modo de produção, consciência, etc.) que expressam
tal realidade.
Assim, um conceito marxista de cultura necessitaria explicitar signo e significado,
ou seja, o fenômeno real e o conceito que o expressa. Desse modo, é necessário dizer
o que é cultura enquanto fenômeno real e assim explicitar seu significado como
conceito. No interior de uma teoria, não deve existir dois conceitos (no caso, sociedade
e cultura) com o mesmo significado pois é algo desnecessário, impreciso e que pode
gerar confusão, especialmente numa sociedade marcada pela “luta de classes em torno
do signo” (BAKHTIN, 1990). Por conseguinte, o sentido mais restrito do termo cultura é
mais adequado para a concepção marxista. A concepção de cultura que não entra em
contradição com o marxismo e que é necessária por abarcar um conjunto de fenômenos
no interior da sociedade que necessita ser abordada é a que a concebe como “conjunto das
produções intelectuais”6. Desta forma, distinguimos cultura de outros termos/fenômenos
como sociedade, civilização, etc., e, ainda, de termos como consciência, ideologia7, etc.,
pois ela remete a uma totalidade: o conjunto de todas as formas de produção intelectual,
as formas de consciência, religião, ciência, filosofia, arte, representações cotidianas,
valores, sentimentos, linguagem, etc.8 A cultura seria um termo que trabalha com o
conjunto de produções intelectuais de uma sociedade, sendo uma parte daquilo que se
mas apenas no caso da sociedade capitalista e como algo que não engloba a totalidade do fenômeno
cultural, pois as representações cotidianas e as formas de consciência não consideradas especializadas
integram o nosso conceito de cultura. A questão da formação individual vamos abordar brevemente, mas
sob outra perspectiva.
5
Para uma síntese introdutória a respeito do conceito de cultura no pensamento antropológico,
há o pequeno livro de Laraia (2001) e existem outras obras de outros autores que tratam disso (KAPLAN e
MANNERS, 1981).
6
Essa definição já foi apresentada por vários autores, mas consideramos que Alfred Weber (1970)
foi um dos primeiros a apresentar, no interior da sociologia, essa definição, e depois foi assimilada pelo
marxismo (VIANA, 2011). Ela corresponde ao sentido mais restrito apontada por Williams (1992), “atividades
intelectuais”. Há uma diferença, no entanto, pois nossa abordagem não se limita a atividades intelectuais
“especializadas” e sim toda e qualquer produção intelectual.
7
Alguns autores buscaram distinguir cultura e ideologia, colocando o primeiro termo no seu sentido
amplo e global e o segundo como “domínio ideativo de uma cultura”: “sob essa rubrica, incluímos valores,
normas, conhecimento, temas, filosofias e crenças religiosas, sentimentos, princípio éticos, visões de
mundo, sistemas e assim por diante” (KAPLAN e MANNERS, 1981, p. 171). Assim, o termo “ideologia” para
estes autores é semelhante ao de “cultura”, na nossa concepção.
8
É necessário ressaltar que aqui “produção intelectual” aparece em sentido amplo e por isso se
entende todas as formas de expressão mental dos seres humanos e por isso pode incluir arte, sentimentos,
valores, linguagem, etc., e não apenas produções filosóficas e científicas, como alguns pensam.
15
VIANA, Nildo. Marxismo e Cultura
convencionou chamar de “superestrutura”, ou seja, as formas sociais9. Em síntese, a
cultura é o conjunto das formas de produção intelectual de uma determinada sociedade.
Nesse sentido, cultura é um conceito universal, ou seja, existente em todas as
sociedades humanas10. Porém, assume distintas formas em sociedades diferentes. Em
cada sociedade, há um modo de produção dominante específico e uma forma de cultura
específica. A sociedade feudal possui o modo de produção feudal e a cultura feudal
que lhe corresponde, bem como a sociedade escravista possui uma cultura escravista
e a sociedade moderna uma cultura capitalista. Essa constatação nos remete para a
discussão da relação entre sociedade e cultura, o que, por sua vez, nos leva a discutir uma
das principais questões do materialismo histórico: a relação entre modo de produção e
formas sociais.
O conceito de sociedade engloba o conjunto das relações sociais, ou seja, a
totalidade da vida social, incluindo os modos de produção11 e as formas sociais. O primeiro
elemento extraído do materialismo histórico12 é a unidade e correspondência entre modo
de produção e cultura. O modo de produção dominante numa sociedade constitui uma
cultura que lhe é correspondente, tal como exemplificamos acima. O modo de produção
capitalista gera a cultura capitalista, assim como gera um Estado capitalista. Assim, como
o Estado, em qualquer sociedade, é uma relação de dominação de classe (VIANA, 2015a) ou
uma “associação da classe dominante” para fazer valer seus interesses de classe (MARX e
ENGELS, 1982), a cultura é o conjunto das produções intelectuais. E assim como o Estado
assume formas diferentes em sociedades diferentes, podendo ser um Estado escravista
ou capitalista, a cultura também assume formas distintas, podendo ser escravista ou
capitalista.
A cultura, assim como o Estado, não só corresponde a determinado modo de
produção, possuindo uma unidade com ele, como também o reproduz e reforça. A
cultura tem um papel regularizador das relações sociais, tal como o Estado. Assim, se no
feudalismo os guerreiros eram a força repressiva que garantia a reprodução das relações
de produção feudais, a cultura era a força persuasiva que possuía a mesma função. A
cultura feudal, marcadamente religiosa, justificava e legitimava a sociedade feudal com
9
Tal como Korsch (1983) já havia colocado e é retomado por Althusser (1989) e Canclini (1979),
“superestrutura” não é um conceito e sim uma metáfora. A metáfora tinha um caráter ilustrativo para
explicitar a relação com o outro termo metafórico, a estrutura, que seria a base do edifício e sem o qual
a superestrutura não poderia existir e se sustentar. O termo metafórico “estrutura” convivia com um
conceito que abarcava a realidade que ele expressava, que é modo de produção. No entanto, o termo
metafórico “superestrutura” não ganhou um conceito de forma tão clara e Marx (1983) usa os termos
“formas jurídicas, políticas e ideológicas” para expressar o seu significado. O conceito de formas sociais de
regularização (VIANA, 2007), ou, sinteticamente, formas sociais (VIANA, 2016), é o que consideramos mais
adequado nesse caso.
10
A distinção entre os conceitos universais e os conceitos singulares (VIANA, 2007a) é importante
na análise marxista. Os conceitos universais são aqueles que expressam relações existentes em todas as
sociedades e todas as épocas, como modo de produção, sociedade, cultura, etc. Eles se distinguem dos
conceitos singulares que expressam fenômenos que só existem em determinadas sociedades (tais como
Estado, classes sociais, ideologia, etc., que só existem nas sociedades de classes) e dos conceitos singulares
que expressam relações sociais de apenas uma sociedade (mais-valor, estado capitalista, trabalho
assalariado, liberalismo, etc., que só existem na sociedade capitalista).
11
Em uma sociedade determinada podem coexistir mais de um modo de produção (VIANA, 2007a), tal
como se pode deduzir das afirmações de Marx (1988), em O Capital e outras obras, no qual faz referências
aos modos de produção subordinados no capitalismo (camponês, por exemplo). No entanto, há um modo
de produção dominante, que é o que caracteriza determinada sociedade e é a determinação fundamental
das formas sociais (VIANA, 2007a).
12
No Prefácio de Contribuição à Crítica da Economia Política, Marx (1983) usa vários termos para explicitar
as complexas relações entre modo de produção dominante e formas sociais, como “correspondência”,
“elevação”, “contradição”, etc. A leitura rigorosa desse texto é fundamental para a compreensão do
materialismo histórico, assim como é essencial evitar as interpretações simplificadoras desse texto. Alguns
autores tentaram analisar tal texto rompendo com as simplificações deformadoras do mesmo (VIANA,
2017). Da mesma forma, esse texto é uma síntese e, como toda síntese, não abarca a totalidade das relações
sociais que visa sintetizar e por isso não deve ser lido dogmaticamente e como algo autossuficiente, pois
sua compreensão (no pensamento de Marx) remete para outras obras e desdobramentos.
16
PráxisComunal, Belo Horizonte, v.1, n.1, p. 13-31 jan./dez. 2018.
a naturalização das “três ordens”, nas quais uns nascem para trabalhar (servos), outros
para rezar (clero) e outros para guerrear (nobreza). A cultura feudal era religiosa e até os
contestadores se manifestavam através de heresias e linguagem religiosa (ENGELS, 1978).
No entanto, a cultura sendo o conjunto das formas de produção intelectual de
uma sociedade, está perpassada por contradições que nascem do modo de produção
dominante e da divisão social do trabalho. As lutas de classes se reproduzem no plano da
consciência e da produção intelectual. Essas contradições podem ser mais fortes ou mais
fracas, dependendo da sociedade e da época. No caso das sociedades tribais, elas nem
sequer existem. Nas sociedades de classes, elas existem, mas são menos fortes e presentes
em algumas delas. No caso da sociedade feudal, as formas de produção intelectual da
classe servil eram muito limitadas para combater a hegemonia da classe feudal. Elas só
ganham força com a crise do feudalismo e transição para o capitalismo, que é quando
o messianismo emerge com força. Nesse contexto, emerge uma rebelião cultural que
expressa as lutas de classes, como no caso de Thomas Münzer (BLOCH, 1973).
Esses aspectos explicitam, simultaneamente, o que alguns denominaram
“autonomia relativa” da cultura (o que é atribuído também às demais formas sociais) ou
seu caráter ativo (e não meramente passivo, um mero epifenômeno). A ideia de autonomia
relativa (ENGELS, 1987) ou de caráter ativo ou mobilizador (VIANA, 2007b) se confirma
ao constatarmos que a cultura reproduz e reforça a sociedade existente, especialmente
as relações de produção dominantes, e também por ela poder ser contestadora ou até
mesmo revolucionária. E essa dupla possibilidade de ação da cultura sobre a sociedade
expressa as duas classes fundamentais constituídas pelo modo de produção dominante.
Nesse contexto, algumas manifestações culturais específicas (como as ideologias com
seu caráter conservador e as utopias com seu caráter revolucionário) expressam esse
processo cultural de intervenção sobre a realidade e sua relação com a reprodução ou
transformação social.
Essas observações gerais sobre a relação entre modo de produção e cultura a
partir do materialismo histórico são apenas uma explicitação de algo mais geral e que
não pretendemos aprofundar aqui. O objetivo foi apenas mostrar, em linhas gerais, a
relação entre estes dois elementos constitutivos da realidade. Porém, as relações sociais
concretas são mais complexas e necessitam de análises que tratem da especificidade
histórica de cada sociedade particular. Nas sociedades tribais, por exemplo, a cultura
não é perpassada por contradições, pois a inexistência das classes sociais e a divisão
rudimentar do trabalho gera uma homogeneidade cultural (VIANA, 2011). A cultura nas
sociedades classistas se manifesta diferentemente, pois estas são perpassadas pelas
divisões sociais, especialmente a de classe, e por isso a homogeneidade é inexistente,
embora existam manifestações culturais comuns a todos os indivíduos e outras que são
de classes e grupos sociais. Em cada sociedade, a cultura assume uma especificidade e é
apenas na análise de casos concretos é que ela pode ser melhor compreendida.
A cultura na sociedade capitalista ganha uma enorme complexidade, pois não
apenas se expande e se vê envolvida por meios tecnológicos de comunicação e instituições
educacionais, como também se torna submetida à divisão social do trabalho e ao seu
produto derivado que é a divisão do trabalho intelectual. A divisão social do trabalho
no capitalismo gera um conjunto de classes sociais e entre elas, a classe intelectual,
especializada na produção intelectual (VIANA, 2018). Além da classe intelectual, ela gera
uma divisão do trabalho intelectual e esta produz diversas esferas sociais voltadas para
a produção intelectual. A esfera artística, a esfera científica, a esfera jurídica, entre
outras, produzem ideologias, representações, etc. que, cada uma, de acordo com suas
especificidades, buscam a reprodução da sociedade capitalista e da própria esfera,
através de autovaloração e autolegitimação. Outro elemento que complexifica a questão
da cultura no capitalismo é o Estado capitalista enquanto regularizador da produção
17
VIANA, Nildo. Marxismo e Cultura
cultural, com suas políticas culturais e educacionais, bem como outras instituições e o
capital comunicacional (“indústria cultural”). Esses processos remetem a uma diversidade
de questões que não poderão ser desenvolvidas aqui.
O que interessa destacar é que a cultura no capitalismo exerce a função de
reprodução através da hegemonia e que a existência de uma classe revolucionária, o
proletariado, permite a emergência de ideias revolucionárias e utópicas, incluindo a
produção teórica expressa no marxismo. Assim, é preciso entender que o processo de
constituição da classe intelectual e esferas sociais geram um processo de separação na
produção intelectual, realizada pelos especialistas, e a produção cultural do resto da
população. Isso cria a distinção entre a noosfera13 e as representações cotidianas, bem
como entre a arte erudita e a arte popular, entre outros processos semelhantes.
Estes elementos, que apontam para a historicidade e especificidade da cultura em
cada sociedade são importantes para não se perder de vista o caráter do método dialético
e do materialismo histórico, que não criam modelos que buscam encaixar a realidade
e sim, visa constituir recursos mentais para expressar a realidade. O método dialético
é uma ferramenta intelectual e o materialismo histórico é uma teoria e o objetivo de
ambos é captar a realidade em suas múltiplas determinações e historicidade. A cultura,
nesse caso, é compreendida como um fenômeno real, algo concreto. Enquanto fenômeno
real, o seu conteúdo pode ser verdadeiro ou falso. Independente de ser falso ou mera
ficção, como no caso da arte, é algo existente, que, como já dizia Korsch (1977), é parte
da realidade e uma das determinações dela. Assim, é útil distinguir entre o real-material
(o mundo dos objetos materiais e das relações sociais concretas) e o real-ideacional,
o mundo das ideias (VIANA, 2018). A crença em vampiros é falsa, mas é algo que existe,
é um fenômeno real-ideacional. A crença existe, mas inexiste o que ela diz existir, os
vampiros. Porém, a crença em vampiros é real e mobilizadora, gerando ação por parte
dos indivíduos que acreditam neles e a partir dela atuam sobre o resto da realidade. O
real-ideacional é o reconhecimento da existência das ideias e de seu caráter ativo, o que
não significa aceitar a veracidade de seu conteúdo.
Um outro elemento importante para a compreensão da questão cultural é a
relação entre cultura e indivíduo. Em cada sociedade, essa relação se altera. Nas sociedades
tribais, nas quais existe uma homogeneidade cultural, os indivíduos estão integrados na
cultura da sua sociedade, como se pode ver nas análises realizadas por Durkheim (1996)
a respeito das “representações coletivas”, mais especialmente do totemismo. Outras
especificidades ocorrem nessas sociedades, tal como o processo de formação intelectual
dos indivíduos, que provém do processo de socialização e trabalho. Nas sociedades de
classes, com a complexificação da divisão social do trabalho e da produção intelectual,
a formação via socialização e trabalho (neste caso, para algumas classes sociais e não
para todas) continua existindo, mas sendo mais comum para as classes desprivilegiadas,
enquanto que emergem os primeiros especialistas no trabalho intelectual e uma nova
forma de formação intelectual, através do ensino (como se vê no caso dos sofistas e
socráticos, que ensinavam os interessados em aprender debater na Ágora). Na sociedade
feudal essa dicotomia se reproduzia, pois havia a produção cultural da população em
geral e as igrejas e mosteiros que se dedicavam aos estudos religiosos e teológicos e o
trivium (gramática, retórica e dialética) e o quadrivium (aritmética, geometria, astronomia
e música).
Na sociedade capitalista, o processo de formação individual se complexifica ainda
mais. A formação intelectual dos indivíduos ocorre através da socialização (e do trabalho,
no caso de algumas classes sociais) e através de um conjunto de meios de comunicacao,
instituições de ensino, etc. O modo de educação capitalista e o saber escolar acabam
13
A noosfera é composta pelas formas de saber complexo, tais como a ciência, filosofia, teologia,
marxismo (VIANA, 2018).
18
PráxisComunal, Belo Horizonte, v.1, n.1, p. 13-31 jan./dez. 2018.
gerando novas diferenciações no interior da sociedade. Alguns não possuem acesso ao
saber escolar e isso, na maioria dos casos, significa analfabetismo, ou seja, o não domínio
da leitura e da escrita. A formação intelectual assume especificidades nesse caso. A
formação da classe intelectual gera não somente os especialistas na produção intelectual
mas também subdivisões no seu interior, gerando as esferas sociais, instituições, saberes
especializados, etc.
Um autor não-marxista que contribui com a compreensão desse fenômeno é o
sociólogo Pierre Bourdieu. Apesar dos limites teórico-metodológicos de sua abordagem
(VIANA, 2015b) e do problema de sua linguagem, que realiza uma transposição dos
construtos da ciência econômica ou do marxismo para a cultura, ele traz alguns elementos
que podem ser assimilados pelo marxismo. Este é o caso da ideia de “capital cultural”
e “capital linguístico”, bem como outros elementos relativos ao processo de formação
intelectual dos indivíduos.
No caso de Bourdieu seria necessário ressignificar seus termos ou então substituí-
los. Optamos pela substituição e os novos termos substitutos ganham outro significado e
coerência com o marxismo. Uma das questões mais importantes no processo de formação
intelectual na sociedade moderna são as diferenças de classes. Isso não gera “culturas
de classe”, apesar de alguns usarem tal expressão. A cultura é o conjunto das produções
intelectuais de uma determinada sociedade e uma classe social não é portadora de uma
cultura própria, pois reproduz a cultura da sociedade e apresenta formas específicas de
manifestações culturais. O termo “consciência de classe” é válido, mas cultura de classe
já não tem sentido.
Porém, existem diferenças culturais entre as classes sociais, que não constituem
“culturas distintas”, mas distinções no interior de uma mesma cultura, a capitalista.
Além disso, existe a formação de uma cultura antagônica à capitalista, mas que não está
encarnada em nenhuma classe social concreta, existente, e sim em determinada produção
intelectual, que é o marxismo14. Voltaremos a isso adiante. Entre essas diferenças estão
aquelas que atingem os indivíduos das várias classes sociais. Aqui ganha importância o
conceito de bagagem cultural (ao invés de “capital cultural”, desenvolvido por Bourdieu
e inserido no seu edifício ideológico). A bagagem cultural de um indivíduo é resultado do
seu processo de formação intelectual. As crianças, obviamente, possuem uma bagagem
cultural muito pequena; os jovens, tendem a ter uma bagagem cultural maior e os adultos
tendem a superá-los. Aqueles com maior idade tiveram mais experiências (socialização,
trabalho, etc.) e puderam (dependendo da classe, família, etc.) ter um acesso mais extenso
à cultura de sua sociedade. A classe social é fundamental para entender esse processo.
Uma criança das classes desprivilegiadas terá em sua bagagem cultural que pode ter sido
retirada das relações familiares, meios de comunicação (televisão, por exemplo), etc.
e uma criança das classes privilegiadas tende a ter acesso a um maior volume de bens
culturais e aqueles mais valorados pela escola, classe intelectual e classe dominante. Isso
possibilita, inclusive, que uma criança da burguesia tenha maior bagagem cultural do
que um jovem do lumpemproletariado.
A bagagem cultural é a quantidade de elementos de cultura que um indivíduo
ou grupo social possui. Como a cultura é o conjunto das produções intelectuais de uma
determinada sociedade, então, ela se distingue da consciência. A consciência é o ser
consciente (MARX e ENGELS, 1982) e portanto é inseparável do indivíduo. A cultura, no
entanto, é algo externo ao indivíduo15, que ele pode ter acesso e realizar sua aquisição,
o que significa que a incorpora em sua consciência, seja sob a forma de assimilação
14
Isso pode ser percebido no antagonismo entre episteme marxista e episteme burguesa (VIANA,
2018).
15
Com exceção da sua própria produção intelectual, ou seja, sua consciência e produção cultural. A
externalidade aqui se refere à cultura produzida pelo conjunto da sociedade.
19
VIANA, Nildo. Marxismo e Cultura
ou acomodação. O acesso cultural é perpassado pelas divisões sociais, especialmente
a divisão de classes. A aquisição cultural dos indivíduos das classes desprivilegiadas é
inferior à dos indivíduos das classes privilegiadas.
Um elemento importante no que se refere ao conceito de bagagem cultural é que
ele é quantitativo e não qualitativo. Ou seja, um indivíduo pode ser poliglota, mas se o
seu acesso cultural é apenas ao mundo da produção intelectual trivial e mercantil, que
quantitativamente pode ser elevado (o que se convencionou denominar “cultura pop”,
ou seja, as músicas, programas de TV, vida de celebridades, histórias em quadrinhos,
etc.), em vários idiomas, isso é apenas quantidade. Assim, a sua bagagem cultural é
grande, mas o seu saber real e seu enriquecimento intelectual e humano pode ser
restrito. Da mesma forma, a bagagem cultural pode ser caracterizada por uma erudição
enciclopédica ou por uma erudição formativa. A erudição enciclopédica é aquela rica
em informações e quantidade, enquanto que a erudição formativa é que não se limita
a quantidade e informações, mas é reflexiva e permite a formação de novas ideias. A
erudição enciclopédica está para a acomodação enquanto que a erudição formativa está
para a assimilação16. Marx é exemplo de um indivíduo como erudição formativa e muitos
indivíduos com amplo espectro de leituras - sem gerar saber novo - são exemplos de
erudição enciclopédica17.
Por isso é necessário um conceito complementar ao de bagagem cultural. Esse
conceito complementar é domínio cultural. A bagagem cultural é o conjunto de elementos
da cultura acessados e adquiridos pelos indivíduos ou grupo social e o domínio cultural
são os elementos de cultura compreendidos e assimilados por um determinado indivíduo
ou grupo social. Assim, existem indivíduos com menor bagagem cultural, mas com maior
domínio cultural. Um estudante de filosofia pode dominar três idiomas, enquanto que
outro domina apenas o idioma do seu próprio país e isso significa que o poliglota possui
maior bagagem linguística (e, possivelmente, cultural) que outro estudante de filosofia.
Contudo, se este estudante de filosofia que é poliglota tem dificuldade de compreender
o pensamento filosófico enquanto que o que domina só um idioma tem facilidade, então
este último tem maior domínio cultural. Nesse exemplo, aquele que tem maior bagagem
cultural tem menor domínio cultural e vice-versa. Assim, bagagem cultural facilita
domínio cultural, mas nem sempre é isso que ocorre. É por isso que é possível ver nas
universidades muitos jovens das classes privilegiadas com grande bagagem cultural, mas
com menor domínio cultural do que alguns jovens das classes desprivilegiadas.
A aquisição cultural é um elemento importante para entender o processo
de constituição de bagagem e domínio cultural de indivíduos e grupos. As classes
desprivilegiadas tendem a possuir menor bagagem e domínio cultural, o que se estende,
obviamente, para a maioria dos indivíduos pertencentes a tais classes sociais, enquanto
que as classes privilegiadas tendem ao contrário. A aquisição cultural que permite ao
indivíduo constituir sua bagagem cultural e/ou domínio cultural ocorre via família,
amizades, escola, meios de comunicação, etc. A acessibilidade cultural é maior para os
indivíduos das classes privilegiadas, pois a bagagem cultural de seus familiares, amigos,
16
A assimilação é um processo criativo no qual o pensador extrai de outra concepção algum termo,
ideia, etc., e a insere na sua concepção própria. É o caso do marxismo assimilar algum elemento da
sociologia de Bourdieu, tal como estamos fazendo aqui. A acomodação é um processo no qual o indivíduo
se adequa ao pensamento alheio, seja através do ecletismo ou mera reprodução (VIANA, 2000).
17
Entenda-se por saber novo a realização de produção intelectual que vai desde o desenvolvimento
de uma teoria, análise de acontecimentos históricos e sociais, etc., ou seja, indo do mais simples para
o mais complexo. A erudição enciclopédica ajuda nesse processo, mas não garante que seus portadores
o efetivem. Um professor que cita muitos autores em sala de aula e nunca escreveu artigo é um desses
casos. Por outro lado, Korsch também possuía uma erudição formativa, apesar de sua base intelectual ser,
fundamentalmente, o pensamento de Marx. Ele não só inovou na interpretação de Marx, como resgatou,
enfatizou e desenvolveu aspectos do marxismo. Os exemplos poderiam se multiplicar e por isso nos
contentamos apenas com estes.
20
PráxisComunal, Belo Horizonte, v.1, n.1, p. 13-31 jan./dez. 2018.
etc., tende a ser maior, bem como o seu acesso à escola, bens culturais e meios de
comunicação é diferenciado e expressa seu pertencimento de classe.
Essa questão remete para a análise da produção cultural no capitalismo e sua
relação com os blocos sociais e a luta cultural. A luta cultural na sociedade capitalista,
em sua forma explicitamente de classe, ocorre geralmente através dos blocos sociais,
ou seja, as forças organizadas, combativas e conscientes que expressam determinadas
classes sociais (VIANA, 2015c). O bloco dominante é composto pelo aparato estatal,
instituições burguesas, ideólogos, etc., que expressam os interesses da classe capitalista,
enquanto que o bloco progressista expressa classes auxiliares da burguesia que buscam se
autonomizar (burocracia e intelectualidade, fundamentalmente) e o bloco revolucionário
expressa o proletariado e classes desprivilegiadas em geral.
A aquisição cultural das classes sociais é semelhante à dos indivíduos pertencentes
a elas. No entanto, todas as classes sociais são submetidas à hegemonia burguesa e
são atingidas pela política cultural do Estado capitalista e do bloco dominante como
um todo. As ações culturais do bloco progressista e do bloco revolucionário também
atingem as classes sociais, mas com muito menor impacto, mais ainda no último caso,
e de forma diferenciada, pois estes blocos pouco influenciam a burguesia. A aquisição
cultural das classes desprivilegiadas é muito dependente do capital comunicacional, do
aparato estatal e das instituições educacionais. Para os setores do proletariado de renda
mais baixa, o lumpemproletariado, etc., o acesso e aquisição culturais são bem restritos.
Uma das formas que o proletariado consegue ampliar a aquisição cultural é quando
emergem lutas radicalizadas ou processos revolucionários, pois os indivíduos proletários
ficam mais abertos e interessados em novas ideias devido às efervescências que ocorrem
nesses momentos. O próprio processo de luta constitui um momento de autoeducação
e autoformação que permite avançar no desenvolvimento de sua consciência, o que
também incentiva uma maior aquisição cultural, inclusive das tradições revolucionárias
anteriores.
Isso nos remete para uma questão fundamental que é a relação entre marxismo
e cultura no âmbito histórico. Até aqui tratamos da análise marxista da cultura, mas
o marxismo não é um pensamento contemplativo, embora realize o processo de
explicação dos processos sociais. O marxismo é um pensamento ativo e por isso visa
intervir na realidade. O pensamento contemplativo intervém na realidade, mas sob
forma conservadora. O pensamento ativo interfere na realidade, sob várias formas,
dependendo de qual é esse pensamento. O marxismo intervém na realidade, tal como
qualquer produção intelectual, simplesmente por existir e mobilizar indivíduos. Porém,
ele pretende ir além disso, intervindo de forma intencional e revolucionária. Ele realiza
esse processo através da luta cultural no interior do capitalismo e avança no sentido de
buscar sua fusão com o movimento revolucionário do proletariado. Esses dois aspectos
precisam ser desenvolvidos.
A luta cultural no interior do capitalismo é uma necessidade da luta revolucionária
que o marxismo se propõe. Essa luta cultural visa combater a hegemonia burguesa (e
burocrática), as ideologias, as ilusões, os valores dominantes, as produções culturais
conservadoras e progressistas (VIANA, 2006) e, ao mesmo tempo, propagar a ideia de
união dos trabalhadores na luta por sua libertação e o projeto de uma nova sociedade.
Marx, por exemplo, efetivou uma ampla luta cultural (VIANA, 2014) e dedicou inúmeros
escritos refutando os mais diversos ideólogos, entre os quais os neo-hegelianos (MARX e
ENGELS, 1982), economistas políticos (MARX, 1988), pretensos socialistas (MARX e ENGELS,
1978), etc. Ao mesmo tempo, incentivou a organização dos trabalhadores e lutou contra
os setores problemáticos no seu interior, bem como as tendências conservadoras.
Marx efetivou uma ampla produção teórica que se tornou uma arma do
proletariado em sua luta contra o capital. Ele também criticou aqueles que, atrelados a
21
VIANA, Nildo. Marxismo e Cultura
partidos políticos que diziam representar os trabalhadores, ao invés de levar “elementos
de cultura”, levavam seus preconceitos burgueses. Essa passagem de Marx, criticando o
Manifesto dos Três de Zurique, produzido por social-democratas, exemplifica isso:
22
PráxisComunal, Belo Horizonte, v.1, n.1, p. 13-31 jan./dez. 2018.
conservadores que os deformadores do movimento operário produzem e divulgam, e
aumentar a adesão ao pensamento revolucionário. Isso ocorre, geralmente, quando há
ascensão das lutas radicalizadas (em menor grau) ou tentativas de revolução proletária.
Esse processo culmina com outro aspecto da concepção marxista de cultura: a
revolução proletária como revolução total, ou seja, que transforma o modo de produção
e todas as formas sociais, o conjunto das relações sociais. Tal como Marx colocou: “a
revolução comunista é a ruptura mais radical com as relações tradicionais, não é de se
estranhar, portanto, que seu desenvolvimento acarrete o rompimento mais radical com
as ideias tradicionais” (MARX e ENGELS, 1978, p. 111-112). Isso significa que a revolução
proletária é uma revolução cultural, além de ser uma transformação no processo de
produção, na política, etc., ou seja, da totalidade das relações sociais.
A luta cultural é uma parte das lutas de classes e é realizada por todas as classes,
expressando seus interesses. A classe capitalista luta para manter sua hegemonia, sua
dominação e reprodução cultural, enquanto que o proletariado, em seus momentos
de radicalização, luta contra tal dominação. No plano mais concreto, temos o bloco
dominante efetivando uma política cultural que expressa os interesses da classe capitalista
e, nesse processo de luta cultural, a burguesia tem a vantagem de possuir os meios de
produção cultural, o aparato estatal, etc. A hegemonia burguesa reina absoluta e disputa
espaço com a hegemonia burocrática do bloco progressista e a hegemonia proletária
do bloco revolucionário. Por outro lado, o bloco revolucionário luta pela hegemonia
proletária, que ocorre sob forma distinta e só pode ter relativo sucesso em setores da
sociedade, pois somente em momentos revolucionários pode ser tornar hegemônico no
conjunto da sociedade.
A hegemonia burguesa, bem como a burocrática, se realiza através de um processo
distinto do realizado pela hegemonia proletária. Mas antes de discutir essas questões,
é necessário entender o conceito de hegemonia. Esse termo é usado, geralmente, no
sentido gramscista. Para Gramsci, hegemonia é a direção moral e intelectual que se exerce
na sociedade civil (GRAMSCI, 1987; GRAMSCI, 1988; GRAMSCI, 1982). Tal direção moral e
intelectual é efetivada, geralmente, pela classe dominante e a ideologia é crucial nesse
processo, sendo entendida por Gramsci como o “cimento da dominação” (GRUPPI, 1991;
SANTOS, 1979; BODEI, 1978). Outra concepção de hegemonia é a de Lênin. No entanto,
no caso de Lênin é uma concepção pouco desenvolvida e mais restrita, pois ele aborda
apenas na hegemonia do proletariado (GRUPPI, 1991). Gramsci, por sua vez, trata da
hegemonia burguesa e da contra-hegemonia.
O conceito de hegemonia aqui adotado é outro. Para nós, hegemonia significa
vigência cultural. A hegemonia é marcada por uma vigência de determinados elementos
de cultura, o que significa que determinadas ideias, valores, ideologias, concepções,
teoria, representações cotidianas, são produzidas e reproduzidas no interior de uma
sociedade. Elas se distinguem das ideias mortas e superadas. Também se distinguem
das ideias marginalizadas. Aqui se torna útil distinguir hegemonia global e hegemonia
regional. A hegemonia global é aquela que se espalha por toda a sociedade, A hegemonia
global, numa determinada sociedade, é da classe dominante. Se não fosse, a dominação
teria que ser mantida via repressão. Isso só ocorre em momentos de crise e revolução.
A hegemonia regional é aquela que se efetiva em determinadas regiões culturais. As
regiões culturais, por sua vez, são produtos das regiões sociais e estas se organizam na
divisão espacial/social do trabalho. As classes sociais desprivilegiadas ocupam, no espaço
nacional e espaço urbano, determinadas regiões sociais (periferia, por exemplo) e podem
se subdividir em sub-regiões culturais. O mesmo ocorre com as classes privilegiadas.
No entanto, as regiões culturais dominadas pela classe dominante reproduzem a
hegemonia global. As regiões culturais dominadas pelas classes privilegiadas que buscam
se autonomizar e separar da burguesia, também reproduzem a hegemonia global, mas
23
VIANA, Nildo. Marxismo e Cultura
como algumas diferenciações.
A ideia de região cultural não aponta para uma concepção de que existem
“culturas de classes” em cada região, mas sim manifestações adaptadas da cultura de
uma determinada sociedade e elementos próprios e específicos que não formam “uma
cultura”, e sim, divisões no interior dela. Metaforicamente, podemos dizer que a cultura
é como o idioma e as regiões culturais são como os dialetos. No Brasil, o idioma oficial
e dominante é o português, mas as formas de falar, os sotaques, os signos, entre outros
processos, são diferentes. É claro que as regiões culturais são mais complexas que os
dialetos, pois assumem diferenças socialmente constituídas que são políticas e ligadas à
divisão social do trabalho. Em síntese, quando dizemos que algo é “cultural” queremos
tão somente dizer que é referente ao real-ideacional, excluindo o real-material, ou seja, é
do âmbito mais restrito da cultura, em comparação com o social ou a sociedade.
Ao tratarmos de regiões culturais entramos na diversidade de formas e
manifestações da cultura de uma sociedade. Se o foco ao tratar do conceito de cultura é
a unidade, o foco ao tratar das regiões culturais é a diversidade. Essa diversidade significa
formas e manifestações da cultura de uma determinada sociedade e não distintas culturas
no seu interior. As regiões culturais expressam essas distintas formas de manifestação
cultural, que podem ser opostas, complementares ou antagônicas. A cultura remete ao
conjunto das produções intelectuais da sociedade e as regiões culturais à forma como
ela se manifesta em distintos espaços sociais, o que apenas complementa a ideia de que
a cultura nas sociedades complexas, especialmente no capitalismo, não é homogênea.
A região cultural pode remeter para distintas formas de produção intelectual
numa determinada sociedade, englobando, por exemplo, a divisão do trabalho
intelectual, as esferas sociais, constituindo cada uma região cultural (arte, ciência,
teologia, etc.), a distinção social entre noosfera (as formas do saber complexo: ciência,
filosofia, marxismo, etc.) e representações cotidianas, bem como as regiões culturais
que expressam os blocos sociais com seus respectivos espaços e hegemonias regionais.
Hoje as regiões culturais também podem ser identificadas através da internet e das redes
sociais. É possível identificar o processo de formação de correntes de opinião e posições
políticas nos quais as regiões culturais são virtuais. As diversas pesquisas sobre diversos
acontecimentos (o que ficou mais comum depois das manifestações populares de 2013
no Brasil) mostram grandes correntes de opiniões que expressam os blocos sociais e
setores relativamente alheios a eles19. Da mesma forma, as pesquisas sobre redes sociais
revelam outro fenômeno que é o enclave cultural. O enclave cultural é um pequeno
setor de dissidentes dentro de uma determinada região cultural. Por exemplo, na região
cultural onde se mostra o predomínio de uma corrente de opinião ligada a jornais, blogs,
perfis, conservadores, pode haver um setor bem minúsculo de caráter progressista ou até
mesmo revolucionário.
Assim, a região cultural da noosfera, âmbito do saber complexo (VIANA, 2018), é
fundamental para entender a dinâmica cultural na sociedade moderna. Pois é através dela
que as formas mais complexas, estruturadas, sistemáticas e conscientes dos interesses
de classe se manifestam. Marx, por exemplo, apontou um elemento fundamental nesse
sentido ao analisar as três tendências da economia política de sua época: a economia
política clássica, a economia política vultar e a economia política eclética, sendo as
duas primeiras expressões diretas dos interesses da burguesia e a última uma concepção
eclética que expressava os mesmos interesses, mas sob forma diferenciada e fazendo
concessões ao movimento operário. Ao lado disso, Marx apresenta a sua própria concepção,
19
Um exemplo pode ser visto em: https://www.revistaforum.com.br/mapeamento/. Apesar dos
problemas metodológicos que podem ser apontados em diversas dessas pesquisas (por exemplo, algumas
analisam através das palavras utilizadas e essas podem ter significados distintos para grupos diferentes,
bem como seu uso depende do contexto, podendo ser favorável ou contrário, o que não pode ser percebido
apenas através do registro da palavra utilizada).
24
PráxisComunal, Belo Horizonte, v.1, n.1, p. 13-31 jan./dez. 2018.
distinta das demais por seu caráter crítico, por ser expressão do proletariado. A noosfera,
obviamente, é hegemonizada pela classe dominante e o marxismo aparece aqui como
essencialmente crítico e uma alternativa, gerando uma oposição entre ideologia (sistema
de pensamento ilusório) e teoria (expressão da realidade)20.
A episteme burguesa, que é um modo de pensar, é gerada historicamente e se
torna hegemônica na sociedade capitalista. Esse modo de pensar é uma infraestrutura do
pensamento e tem como seus elementos constitutivos um campo axiomático, um campo
linguístico, um campo analítico e um campo perceptivo21 que tornam difícil perceber
determinados fenômenos e tendências. A utopia, por exemplo, está expulsa desse modo
de pensar, que é anistórico. A episteme burguesa é permanente na sociedade capitalista,
alterando apenas as suas formas, ou seja, os seus paradigmas e ideologias. Os paradigmas
são determinadas formas assumidas pela episteme burguesa, enfatizando um ou outro
aspecto seu (objetivismo ou subjetivismo, racionalismo ou empiricismo, iluminismo ou
romantismo, entre outras antinomias do pensamento burguês). A episteme burguesa
continua existindo e sendo hegemônica, mas assume formas distintas na história
do desenvolvimento do capitalismo, gerando um novo paradigma a cada regime de
acumulação, bem como novas ideologias filiadas a ele.
A importância da análise desse processo é que a episteme burguesa é a
raiz da hegemonia paradigmática e ideológica e uma vez produzida se espalha por
toda a sociedade. As características básicas da episteme burguesa coincidem com
as representações cotidianas ilusórias e traz processos semelhantes. Assim, se nas
representações cotidianas temos a simplificação, na episteme burguesa temos a sua
forma complexa que é o reducionismo (mais facilmente perceptível nos determinismos,
tais como o biológico, geográfico, cultural, econômico, etc.). Se as representações
cotidianas trazem em si a naturalização, a episteme burguesa promove o anistorismo.
As contradições existentes na sociedade, especialmente o antagonismo da luta de classes
entre burguesia e proletariado, são substituídas por diversas antinomias (tais como as
citadas anteriormente e que poderiam se multiplicar ao infinito: direita/esquerda, sujeito/
objeto, individualismo/holismo, dogmatismo/ceticismo).
Assim, a hegemonia burguesa domina toda a sociedade capitalista e a hegemonia
proletária é marginalizada, sendo essa uma hegemonia regional e bastante diminuta e
que só cresce com o avanço das lutas sociais e da luta cultural. Na maioria dos casos,
a hegemonia proletária é um enclave nas regiões culturais da noosfera e outras. A cada
regime de acumulação ocorre uma renovação hegemônica, na qual a burguesia busca
realizar novas tarefas para a reprodução da acumulação capitalista (VIANA, 2018). O
processo de hegemonia burguesa tem mecanismos diferentes da hegemonia proletária. A
hegemonia burguesa funciona através da dominação e inércia e a hegemonia proletária
da confluência e autoformação. As ideias dominantes são as ideias que reproduzem os
interesses da classe dominantes. Trata-se de uma dominação cultural, na qual as políticas
culturais ganham grande força e se impõe ao conjunto da sociedade. As produções
ideológicas (economia neoliberal, por exemplo) são gestadas através de determinados
ideólogos e uma vez constituídas são reproduzidas, simplificadas, até chegar a uma parte
considerável da população. A inércia é o processo no qual essas ideias produzidas são
reproduzidas acriticamente, seja por interesses, falta de reflexão, comodismo, submissão
20
A oposição entre teoria e ideologia é esboçada por Marx, ao colocar que os economistas são os
representantes ideológicos da burguesia e os socialistas e comunistas os representantes teóricos do
proletariado (MARX, 1989). Essa ideia também está presente em Korsch (1977) e vem sendo retomada
contemporaneamente (VIANA, 2008).
21
Seria impossível apresentar, aqui, esses diversos conceitos, bem como outros derivados e elementos
relacionados. Para uma compreensão do conceito de episteme, campos mentais, e para o entendimento
da episteme burguesa e da episteme marxista, sugerimos a leitura da obra O Modo de Pensar Burguês –
Episteme Burguesa e Episteme Marxista (VIANA, 2018).
25
VIANA, Nildo. Marxismo e Cultura
aos modismos, etc. A hegemonia burocrática segue, praticamente, a mesma dinâmica.
Ela está subordinada à episteme burguesa e por isso reproduz vários elementos e aspectos
da mesma e da hegemonia burguesa, não gerando nenhum forte antagonismo.
A dinâmica da hegemonia proletária é diferente. Ao invés de dominação e
inércia, temos confluência e autoformação. O bloco revolucionário, a partir das lutas
e experiências históricas do movimento operário e da produção intelectual existente,
especialmente o pensamento crítico, constitui determinadas ideias, concepções, teorias,
valores, etc., que expressam a perspectiva do proletariado22. Essa produção intelectual,
geralmente realizada por intelectuais engajados, círculos militantes, grupos de jovens
e proletários que avançam no desenvolvimento da consciência e rompem, mesmo que
parcialmente (em alguns casos, devido à formação insuficiente, pressão da hegemonia
burguesa, influência do modo de pensar dominante, etc.), com a hegemonia burguesa,
acaba sendo divulgada na sociedade e endereçada para os trabalhadores. Estes, no
entanto, devido à dominação cultural da burguesia e outras determinações, não aceitam
facilmente e imediatamente tais ideias.
A confluência significa que, no processo de luta do proletariado, esse avança
em sua autoeducação e autoformação, ampliando o número de indivíduos e setores que
acabam chegando a ideias semelhantes ao do bloco revolucionário e se aproximando dele
intelectualmente e praticamente e, quanto mais a luta aumenta, maior é a confluência. Em
momentos revolucionários, a confluência torna-se contagiante e a hegemonia proletária,
existente em apenas algumas regiões culturais (bloco revolucionário, círculos políticos,
etc.), vai se expandindo e conquistando novas regiões culturais (bairros proletários e
fábricas, por exemplo). A hegemonia proletária nasce, portanto, no interior do bloco
revolucionário e no interior do próprio proletariado em sua luta, sob forma menos
desenvolvida, e a confluência acaba gerando a fusão entre ambos.
Por último, resta tratar do fetichismo da cultura. As diversas definições e
abordagens da questão cultural formam um amplo espectro. No entanto, algumas delas
carregam em si um problema que é o fetichismo da cultura. A cultura, nessas abordagens,
parece ter “vida própria” e ser determinante da ação humana. A antropologia foi a
principal geradora das ideologias culturalistas (WAGNER, 2012; WHITE, 1978; GEERTZ,
2008; LARAIA, 2007)23 que proliferaram e se tornaram hegemônicas não apenas nesta
ciência particular, mas no conjunto das ciências humanas e além delas, especialmente
com a ascensão do paradigma subjetivista24. Sem dúvida, essas concepções antropológicas
tiveram antecedentes filosóficos, tal como as chamadas filosofias idealistas. No entanto,
o culturalismo antropológico é diferente, por se colocar como ciência e por usar o termo
cultura (ao invés de razão, ideia, etc.), e buscar a comprovação empírica de sua tese.
O paradigma subjetivista também gera novas ideologias culturalistas, com as
tematizações sobre “identidade”, “gênero”, etc. Aqui o pressuposto é inverso ao do
marxismo. Se para o marxismo há uma constituição social da cultura, para o culturalismo
há uma construção cultural do social. Porém, a concepção de cultura não é mais, na
22
Como classe autodeterminada, ou seja, “para-si” e não como classe determinada pelo capital,
constituída no plano das relações de produção. No caso de classe determinada pelo capital ou “em-si”,
o proletariado possui uma “consciência contraditória” (REICH, 1976; GRAMSCI, 1987) e é na luta que
vai superando essas contradições e passa para uma consciência revolucionária. O bloco revolucionário,
especialmente o marxismo, expressa teoricamente o proletariado como classe autodeterminada e nas
épocas revolucionárias há uma confluência e fusão entre ambos. Esse processo, nas experiências históricas
concretas, se realizou parcialmente ou mais amplamente, dependendo da radicalidade da luta.
23
Keesing (1961) cita as teorias idealistas da cultura na pesquisa antropológica, destacando a que
aborda a cultura como sistema cognitivo (Goodenough), como sistema estrutural (Lévi-Strauss) e sistema
simbólico (Geertz e Schneider). Consideramos que essas concepções são fetichistas, mas a lista nos parece
ser muito mais longa na produção antropológica do que a apontada por Keesing.
24
O paradigma subjetivista começa a surgir a partir de 1969 através de diversas ideologias que passam
da ênfase ao holismo e objetivismo do paradigma hegemônico anterior para o particular (sujeito ou
“múltiplos sujeitos”) e subjetivismo, tal como o pós-estruturalismo, multiculturalismo, etc.
26
PráxisComunal, Belo Horizonte, v.1, n.1, p. 13-31 jan./dez. 2018.
maioria dos casos, uma totalidade e sim algo fragmentado, produção dos sujeitos
(indivíduos, grupos). Esse novo tipo de fetichismo da cultura também fica preso a uma
concepção segundo a qual o social é “construído” culturalmente (e, para alguns dos
ideólogos subjetivistas, pode ser “desconstruído”). Isso, em alguns casos extremos,
pode gerar a ideia de que basta mudar as palavras, a linguagem (como o “politicamente
correto”) para mudar as relações sociais.
No entanto, o estruturalismo era um culturalismo holista e o pós-estruturalismo
e as ideologias subjetivistas são culturalistas, mas não são holistas. O ataque ao marxismo
que aparece como questionamento de “metanarrativas” (LYOTARD, 1993) é o motivo
pelo qual se declara a ruptura com o holismo estruturalista e funcionalista. O alvo é
o marxismo e isso foi produto da contrarrevolução cultural preventiva após a rebelião
estudantil de maio de 1968 e outras lutas sociais da época (VIANA, 2009). É nesse contexto
que há a produção de um novo fetichismo da cultura. O alvo declarado, o estruturalismo
(de onde deriva “pós-estruturalismo”), é apenas uma declaração falsa (mesmo porque ele
é retomado posteriormente), pois o alvo verdadeiro é o marxismo.
Como colocamos anteriormente, para o marxismo a cultura tem um caráter
ativo (ou “autonomia relativa”) e é uma das determinações da sociedade. Contudo,
não é possível pensar numa construção cultural da sociedade. No caso das concepções
antropológicas, mesmo usando cultural num sentido holista e amplo, a centralidade é
sempre do mundo das ideias e não nas relações sociais concretas. Mesmo porque, se assim
não fosse, não teria sentido dizer que a cultura (entendida como sociedade, ou seja, uma
totalidade, um “modo de vida global”) constitui a sociedade. Claro que isso se manifesta
numa determinada concepção de sociedade, entendida fundamentalmente como cultural
e que, no caso, determina suas “partes”. É por isso que é possível usar expressões como
“construção cultural do gênero”, “construção cultural da realidade”, etc. Também nesses
casos há problemas, pois não é o cultural, isoladamente, que constitui um fenômeno
social específico e sim o conjunto das relações sociais.
No caso das concepções subjetivistas, a centralidade é sempre do sujeito
(e sua subjetividade) e não a sociedade. A ideia de uma construção cultural do social
pode ser vista no caso das chamadas “relações de gênero”, nas quais a cultura é que
seria o elemento determinante dos gêneros. A centralidade é atribuída para a cultura
entendida como real-ideacional e isso permite deduzir vários elementos: arbitrariedade,
atos subjetivos, etc., o que significa que é uma construção e pode ser “desconstruída”
e, mais do que isso, já que tal “desconstrução” é tão subjetiva e arbitrária quanto a
construção, sendo meramente cultural (em sentido estrito). Claro que existem variações
no interior das concepções subjetivistas, mas eles remetem a esse tipo de problema de
base. A forma como se compreende essa “arbitrariedade” subjetiva é derivada da forma
como se entende o “sujeito”25.
Para o marxismo, ao contrário, o que existe é uma constituição social da cultura,
o que significa é que o social remete à totalidade da sociedade e também a tudo que está
integrado nela. No sentido amplo, social remete para a totalidade da sociedade e, no
sentido restrito, se refere aos elementos constitutivos dela, suas partes. Assim, para o
marxismo não há “construção cultural do gênero” e sim constituição social (no sentido
amplo) dos ethos sexuais masculinos e femininos. Por outro lado, isso não descarta os
elementos corporais e outras determinações, incluindo a cultura (que faz parte do social
em sentido amplo). Para o marxismo há a primazia das relações sociais concretas e isso
inclui a cultura, mas essa é determinada e é uma das determinações de si mesma. Por
exemplo, a revolução francesa foi um produto da luta de classes, das relações sociais
25
A obra de Young (2002), A Sociedade Excludente, serve para exemplificar isso ao tratar do caso da
criação de identidades essencializadas, que podem ser interpretadas como subprodutos do paradigma
subjetivista.
27
VIANA, Nildo. Marxismo e Cultura
concretas, com o desenvolvimento do capital e sua força, mas as classes sociais em luta a
efetiva apelando para concepções anteriores e presentes para se posicionar, legitimar, etc.
Por isso, o iluminismo teve um significado importante no processo de desencadeamento
da revolução francesa. As ideias iluministas, por sua vez, não surgiram do nada. Elas
emergem a partir de novas classes, interesses, relações sociais, e retoma ideias anteriores
já existentes (o empiricismo de Bacon e o racionalismo de Descartes, por exemplo). A
cultura anterior, que nasce num contexto social distinto, é um freio ou um acelerador para
mudanças sociais e sempre que é preciso é reinterpretada, transformada ou substituída.
A construção cultural cria uma espécie de separação na sociedade e coloca
um elemento desta como acima e determinante, a cultura. Esse processo é realizado
sob distintas formas em distintas concepções. No caso do marxismo, o social remete à
totalidade e por isso inclui a cultura, mas vai além no sentido de colocar a determinação
fundamental que remete ao modo de produção (e anteriormente analisamos a relação
entre este e a cultura). No conjunto das relações sociais que é a sociedade, há um processo
de primazia do modo de produção sobre as demais relações sociais e a cultura. Isso não
é uma conclusão arbitrária, mas sim algo concreto, real, que, como já dizia Marx, pode
ser observado concretamente, materialmente (MARX e ENGELS, 1982; MARX, 1983). Uma
sociedade só sobrevive produzindo os bens materiais para garantir sua sobrevivência
e isso ocorre no modo de produção. Nenhuma sociedade sobrevive de cultura ou de
discurso ideológico ou de “construções subjetivas”. Essas fantasmagorias só são possíveis
por existir um processo de produção que garante a existência delas e dos seus produtores,
os ideólogos.
O fetichismo da cultura é, ele mesmo, um fenômeno cultural determinado pela
sociedade que o engendra. As formas do fetichismo da cultura, por sua vez, remete às
mutações sociais dos regimes de acumulação e aos paradigmas hegemônicos instituídos
a partir das novas tarefas políticas da burguesia em sua luta para manter a reprodução
ampliada da acumulação de capital e das relações de produção capitalistas. Nesse sentido,
a cultura só pode ser compreendida historicamente e a partir de uma análise totalizante,
proporcionada pelo marxismo.
Em síntese, a relação entre marxismo e cultura é bastante complexa e envolve
um conjunto de questões que abordamos introdutoriamente aqui, indo desde o
conceito de cultura, passando pela relação entre cultura e sociedade e outros elementos
derivados, até chegar ao problema do fetichismo da cultura. A breve síntese introdutória
aqui apresentada tratou de aspectos já desenvolvidos pelo marxismo e outros apenas
esboçados e que necessitam desenvolvimento. O enfoque sintético que realizamos
pretendeu apenas apontar os elementos essenciais de uma teoria marxista da cultura,
que já avançou em diversas questões, mas que ainda precisa desenvolver aspectos novos
e ainda não explorados de forma mais profunda.
REFERÊNCIAS
ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos de Estado. 4ª edição, Rio de Janeiro: Graal, 1989.
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. 5ª edição, São Paulo: Hucitec, 1990.
BLOCH, Ernst. Thomas Münzer, Teólogo da Revolução. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,
1973.
28
PráxisComunal, Belo Horizonte, v.1, n.1, p. 13-31 jan./dez. 2018.
BODEI, Remo. “Gramsci: Vontade, Hegemonia, Racionalização”. In: FERRI, Franco (org.).
Política e História em Gramsci. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
DURKHEIM, Emile. As Formas elementares da vida religiosa. São Paulo: Martins Fontes,
1996.
ENGELS, Friedrich. “Carta a Konrad Schimidt” In: MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Cartas
Filosóficas e Manifesto Comunista de 1848. São Paulo, Moraes, 1987.
KAPLAN, David e MANNERS, Robert. Teoria da Cultura. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: Um Conceito Antropológico. 14ª edição, Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2001.
LUKÁCS, Georg. História e Consciência de Classe. 2a edição, Rio de Janeiro: Elfos, 1989.
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã (Feuerbach). 3ª Edição, São Paulo:
29
VIANA, Nildo. Marxismo e Cultura
Ciências Humanas, 1982.
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. “Manifesto do Partido Comunista”. In: LASKI, Harold. J. O
Manifesto Comunista de Marx e Engels. 2ª Edição, Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
MARX, Karl. Critica de la Filosofia del Derecho de Hegel. Buenos Aires: Ediciones Nuevas,
1968.
MARX, Karl. O Capital. Vol. 1. 3a edição, São Paulo, Nova Cultural, 1988.
MARX, Karl. “O Manifesto dos Três de Zurique”. In: Marxismo e Autogestão. Vol. 01, num.
02, jul./dez. de 2014.
VIANA, Nildo. A Mercantilização das Relações Sociais. Modo de Produção Capitalista e Formas
Sociais Burguesas. Rio de Janeiro, Ar Editora, 2016.
VIANA, Nildo. “Blocos Sociais e Luta de Classes”. In: Espaço Livre, Vol. 10, n.º 10, jul./dez.
2015.
VIANA, Nildo. Karl Marx: A Crítica Desapiedada do Existente. Curitiba, Prismas, 2017.
VIANA, Nildo. “Luta de Classes e Universo Cultural”. Letralivre. Rio de Janeiro, Ano 11, n. 45,
2006.
VIANA, Nildo. “Marx e a Luta Cultural”. In: Enfrentamento. Goiânia: ano 9, N. 15, jan/jun.
2014. http://www.enfrentamento.net/enf15.pdf
VIANA, Nildo. O Capitalismo na Era da Acumulação Integral. São Paulo: Ideias e Letras, 2009.
30
PráxisComunal, Belo Horizonte, v.1, n.1, p. 13-31 jan./dez. 2018.
VIANA, Nildo. O Modo de Pensar Burguês. Episteme Burguesa e Episteme Marxista. Curitiba:
CRV, 2018.
WEBER, Alfred. História Sociológica da Cultura. São Paulo: Mestre Jou, 1970.
31
VIANA, Nildo. Marxismo e Cultura