Direito Penal Resumos Catarina Coelho
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O problema que se coloca é: porque é que a generalidade das pessoas não comete crimes? Quais as
variáveis que determinam o processo individual de aprendizagem e socialização?
O medo das sanções nada explica > paradoxo do criminoso: o fenómeno de as penas não
dissuadirem o delinqunente da pratica de novos crimes. Os princípios gerais do hedonismo
fariam esperar que o desprazer do castigo neutralizasse a procura de prazer ligado ao cometer
um crime. Só se explica para EYSENK pela lei da sequência temporal > a consequência
de uma dada ação determina ou não a sua realização futura em função dos seus aspetos
quantitativos e proximidade temporal; quanto mais próxima no tempo estiver uma
consequência da ação que a origina, mais poderosa será a sua influência. O que sucede é que
o criminoso colhe IMEDIATAMENTE as gratificações do crime, enquanto as
consequências desagradáveis para além de improváveis acontecem diferidas no tempo.
O comportamento conforme Às normas postula a exisência duma instância interiro que
exprima e atualize os ditames da moral e sociedade e tenha a força suficiente para se opor às
solicitações hedonistas. É a consciência que o autor atribui o nome de “poder interior”
(sistema generalizado de reflexos condicionados).
Socialização = aquisição de respostas condicionadas > evicção de atos que os pais,
educadores e sociedade em geral consideram maus e que sancionam como castigo, ou da
prática de ações boas a que ligam a prémios.
A consciência desdobra-se em 2 componentes: 1) resistência à tentação que ANTECEDE a
prática de um crime, manifestação em graus de ansiedade 2) culpa posterior ao cometimento.
A explicação do crime é de índole conflitual, a sua prática dependerá SEMPRE da intensidade
da tentação e da intensidade da resposta condicionada da evicção.
Existem pessoas com uma consciência mais desenvolvida e forte > obriga ao
desenvolvimento da condicionalidade diferencial dos indivíduos. É pressuposto as
pressões ambientais favoráveis ou não ao condicionamento, as diferenças de
condicionabilidade relevam sobretudo da PERSONALIDADE. Há personalidades que
exibem a mark of Caim.
A teoria da personalidade de EYSENK parte da classificação de Galeno: 4 tipos
fundamentais de personalidade: 1) melancólico 2) colérico 3) fleumático 4) sanguíneo.
Adiciona o autor uma classificação dimensional de extroversão (vs introversão)e
Neuroticismo (emotividade vs instabilidade). A personalidade define-se pela sua posição em
relação a determinados eixos. Todos os indivíduos se situarão do extremo do extrovertido
típico ao introvertido típico. As posições das pessoas em relação a cada dimensão são
relativamente constantes, existe uma certa previsibilidade do comportamento humano,
nomeadamente do comportamento delinquente.
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Porém, não se pode ver o crime de forma unilateral, e esquecer que o crime é normal, e a
sociedade tolera-o. Se o crime e a sua punição constituem uma propriedade invariável da
ordem social, é necessário averiguar os seus efeitos positivos e que tipo de necessidades
sociais responde, que serviços presta à sociedade.
Assim, é possível apontar os seguintes efeitos positivos (ou funções latentes – expressão de )
do crime:
Crime como válvula de segurança: permite a satisfação de necessidades ilegítimas
ou criar meios ilegítimos como sucedâneos de meios legítimos escassos, o crime pode
assim evitar a acumulação perigosa de ressentimentos e frustrações contribuição
para a estabilidade das instituições
o COHEN: prostituição > devido à “distância social” das pessoas
“respeitáveis” em relação a ela a prostituição não é um verdadeiro
concorrente das gratificações oferecidas pelo casamento e família mas
satisfações sexuais ilegítimas, e evita tensões que poderiam ameaçar a
estabilidade familiar
o BELL: crime organizado e mercado negro (“american way of life”) oferece
estruturas alternativas de sucesso e mobilidade social concorrentes e
articulardas com as estruturas legais
o HUGHES: (“dirty work síndrome”) a sociedade incumbe o criminoso de
realizar tarefas imorais ou ilegais mas que correspondem a necessidades
coletivas
Crime como reforço da coesão e solidariedade sociais:
o «O crime reforça a coesão social, ajuda a vencer a rigidez das estruturas
institucionais e normativas e o imobilismo, “abrindo as portas às
modificações necessárias e progresso”» Durkheim
o «O criminoso é uma espécie de inimigo interno que (…) reforça a
solidariedade social. A hostilidade contra o infrator da lei tem a vantagem
de unir todos os membros da coletividade na solidariedade emocional
provocada pela agressão. (…) os cidadãos separados (…) unem-se contra
o inimigo comum» Mead
o Este efeito pode ter ou uma ou outra consequência:
Rejeição coletiva do delinquente
Tolerância (mais excecional): decorre com grupos que apoiam
desviantes, como expediente de resistência aos grupos exteriores
o Efeito contraste: a integridade da imagem de honestidade depende da
existência do crime, o criminoso presta aos cidadãos respeitáveis o serviço de
se poderem reconfortar como situados do lado da lei. Cohen acrescenta que
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investigação assenta no postulado: todo o ator age no contexto duma dada situação social
com a preocupação de influenciar o comportamento dos outros. Assim se explica o porque
de 1) todo o seu estudo assentar na integração metodológica os aspetos sociológicos stricto
sensu, de natureza abstrata e dos aspetos com a experiência individual concreta, recolhendo
tanto os elementos objetivo-culturais da vida social e as caraterísticas subjetivas do grupo
social 2) privilègio documentos pessoais de imigrantes como fontes de dados empíricos.
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o College boy: à custa de sacrifícios logra romper com a sua classe de origem e
atingir as qualificações necessárias ao sucesso no interior da classe média
(exceções)
o Corner boy: aceitação dos limites conaturais à sua classe, renúncia à
competição e à procura de status da classe médita e na procura de
gratificações que a família e vizinhança pode oferecer
Salvo a exceção dos college boys os jovens das classes trabalhadoras reproduzem a imagem
dos próprios pais. Na escola o contraste é evidente, em que numa ideologia democratizante
e meritocrática da sociedade global abre-se a todos, e são todos julgados pelos mesmos
padrões.
→ Para as classes médias a escola é um prolongamento do que aprenderam na educação
familiar
→ Para os jovens das classes trabalhadores a esocla é a desaculturação da sua
socialização familiar > correm em terreno alheio > condenação ao insucesso
Isto provoca para os jovens das classes trabalhadoras status frustration, sentimentos de
humilhação, angústia e culpa devido à inteorização da ética de sucesso, e de confusão do
sucesso com virtude.
Uma saída seria sair do jogo, criar novos jogos com as suas regras e critérios que possam
realizar-se satisfatoriamente, em cencontra outros significantes que distribuam o status
segundo critérios ao seu alcance.
Assim, para preservar a integridade da auto-imagem aso ssentimentos de status frustation e
dos “inimigos de dentro” (valores interiozados da classe média) a solução deve oferecer uma
constelação alternativa de valores. Isto é o processo de reação-formação. É um processo
psicodinâmico de rutura com a cultura dominante e de acolhimento à nova subcultura.
Processo coletivo e interativo-dialógico > pressupõe a existência de um certo número
de atores em interação recíproca com problemas semelhantes de ajustamento
A interação realiza-se através de gestos exploratórios: através de gestos e
insinuações sucessivas os jovens vão construindo a solução subcultural. Acolhe-se
com alegria qualquer sinal dos outros que encoraja desvios neste sentido. Afere-se se
um gesto é favorável ou não quando a inovação é avançada de molde a provocar nos
outros reações que são sinais de recitividade, e quando, através de pequenos avanços,
permitem ao auotr retira-la se os sinais são desfavoráveis. Isto é um processo de
mútua conversão. Para COHEN talvez todas as ações sociais tenham, além de
funções instrumentais e comunicativas e expressivas a qualidade de serem gestos
exploratórios.
Assim surge a subcultura delinquente, em virtude de um intenso diálogo e compromisso
coletivo, que se manterá pela força da inércia e enquanto se mantiver a sua capacidade para
resolver problemas idênticos àqueles que a fizeram surgir.
WALTER MILLER e a cultura da «lower-class»
Motivação: tentativa do ator para aderir a modelos de conduta e atingir padrões de valor, tal
como eles são definidos na sua comunidade.
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Nunca usa a expressão subcultura só cultura da classe inferior. Esta é contínua, universal,
autónoma da cultura dominante. Resulta de um processo histórico de evolução e
estratificações sociais. Afasta-se de outros sociólogos afirmando que o abismo que separa a
lower class das classes médias é superior é intransponível e total, abrangendo as relações
económico-sociais como o universo cultural.
A lower class é radicalmente diferente da classe média, donde realçam valores (áreas de tópico
que reclamam atenção generalizada e persistente) como envolvimento em conflitos, rudeza,
esperteza, excitação, sorte, e autonomia. Aos padrões de responsabilidade diferida de
gratificações da classe média contrasta a procura de status e exibição de força física, conflito
com autoridades e violência sobre homossexuais. Existem 2 poderosos concerns: desejo de
pertença e status.
A explicação da delinquência é linear: resulta da adesão dos jovens aos valores da cultura da
lowe class.
2 conceitos são fundamentais em Miller:
1) Female-based household: devido ao insucesso de gerações anteriores o homem da
classe inferior não sente atração pelo papel tradicional do chefe de família, sendo os
seus contactos com o lar instáveis. Assim, não existe um suporte económico estável
nem oferece aos filhos masculinos uma imagem consistente do homem.
2) One-sex peer group: o Female-based household provoca um problema de
identificação sexual, daí experimentarem os jovens uma obsessão pelos valores
próprios da masculinidade, com a correspondente procura de integração em grupos
unissexuais que cultivam os valores da lower class e asseguram o apoio e a aquisição
de status. As experiências maritais são excecionais, acabando por dar lugar à
organização em grupos unissexuais.
Assim, as sugestões políticas criminais das teorias da subcultura delinquente reconduzem-se
ao postulado do caráter social do homem. A principal responsabilidade pelo crime é atribuir-
se às fraturas e contradições no universo cultural. COHEN aponta para reformas estruturais
tendentes a alargar o campo das oportunidades legítimas, propostas coincidentes com a teoria
da anomia. Miller afirma que os problemas só poderão ser ultrapassados através de ações
dirigidas aos membros das classes mais desfavorecidas e suscetíveis e operarem uma
conversão massiva aos valores fundamentais da cultura dominante.
TEORIA DA ANOMIA
Teoria da anomia > tenta descobrir as tensões socialmente estruturaradas que induzem a
procura de soluções desviantes; indagar como o sistema produz o crime e o produz como
resultado normal. Teoria pré determinista, a violação dos códigos sociais constitui a resposta
normal. Objetivo: descobrir como certas estrutura sociais exercem uma pressão definida
sobre algumas pessoas da sociedade. O crime é o resultado normal do funcionamento do
sistema e da atualização da força normativa dos seus valores.
DURKHEIM
Na Divisão do Trabalho Social os casos de anomia são excecionais, de desajustamento,
significando falta de harmonia fáctica ou normativa entre determinados papéis ocupacionais.
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No Suicídio a anomia contende com variáveis que têm a dimensão do sistema social. Uma
sociedade anómica é uma sociedade carecida de ordem normativa e incapaz de controlar a
força centrifuga e desintegradora dos instintos, ambições e interesses individuais.
2 grandes obras:
Divisão do Trabalho Social (1893): a divisão do trabalho NÃO postula a desintegração
social, isto apesar da mesma potencializar a especialização e potenciar o
individualismo e o declínio da universalidade da consciência coletiva, ela é também
portadora da solidariedade orgânica. Esta contrapõe-se à solidariedade mecânica
(própria das sociedades primitivas, mesma consciência coletiva envolvente que se
apoiava em crenças de fundo religioso, predomínio de sanções punitivas, o crime era
a violação de sentimentos fortes e definidos da consciência coletiva). O normal era
que na sociedade moderna era que existisse solidariedade social, não isento de
conflitos entre trabalho e capital. Existe a divisão anómica quando não existe 1)
interação constante entre papéis ocupacionais de modo a maximizarem os contactos
entre eles (elemento fáctico-estrutural) 2) existência e eficácia de um sistema
normativo capaz de regular aquela interação (elemento normativo).
O Suicídio (1897): obra mais pessimista, existem grandes taxas de suicídio nos
períodos de crise económica ou nos de prosperidade súbita. Elabora a teoria das
necessidades humanas sendo que qualquer ser vivo só é feliz se as necessidades que
sente estiverem suficiemente de acordo com os meios que dispõe. Acontece de forma
automática para animais. A maior parte das necessidades do homem são insaciáveis
e ilimitados. Para acalmá-las é necessário uma força moral exterior ao homem e que
as limite, dado que só as necessidades limitadas podem ser satisfeitas e viabilizar a
felicidade. A força moral é uma autoridade que os indivíduos respeitam. É a
regulamentação social que dá ordem. Há perioods em que a sociedade se encontra
transitoriamente impedida de exercer essa função moderadora como crises
económicas e nas crises de aumento brusco da fortuna, nesas a aparência de rutura
de todos os limites subverte o sistema das relações sociias, é necessário um tempo
para que os homens sejam novamente classificados pela consciência públia.
Enquanto as forças sociais não encontram reequilíbrio o seu valor relativo é
indeterminado e não regulamentação. «A riqueza dá-nos a ilusão de que não
dependemos senão de nós próprios»
MERTON
Influenciado por DURKHEIM na ideia de anomia que se trata da ausência de normas. A
anomia mede-se pela extensão em que há ausência de consenso sobre as normas julgadas
legítimas, com a consequente insegurança e incerteza nas relações sociais. Existe anomia
substancial quando não podem esperar com elevada probabilidade que o comportamento
dos outors se conforme com os padrões que comummente consideram leg´timos.
Toda a sociedade se analisa numa:
Estrutura social: “conjunto organizado das relações sociais”, isto é, estrutura das
oportunidades de os membros da sociedade se orientarem para os objetivos culturais,
respeitando as normas institucionalizadas.
Estrutura cultural: define os objetivos culturais (goals, valores, interesses,
prepósitos, fins) propostos aos membros da sociedade e define e prescreve os meios
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1) Resposta mais comum numa sociedade estabilizada, não é solução desviante, não
suscita problemas de controlo social.
Respostas desviantes:
2) Recurso a meios ilegítimos para a realização dos objetivos culturais. Reconduz a
generalidade do comportamento desviante tratado como criminoso, implica um
intenso empenhamento na procura do sucesso sem a correspondente interiorização
das normas. Explica a criminalidade white collar e dos estratos mais desprotegidos.
Estes sofrem todo o impacto do desfasamento entre a estrutura cultural e social,
recorrem à inovação como resposta à frustração de se sentirem condenados a
procurar enriquecer numa estrutura social que os condena de antemão ao fracasso.
A situação social do trabalhador não os habita a competir, dentro dos padrões
consagrados de honestidade com as oportunidades de poder e altos rencimentos
oferecidos por vício, chantagem e crime. O equilíbrio entre os fins e os meios
culturais torna-se instável, devido à tendência crescente para se atingirem, por
qualquer meio, as metas carregadas de prestígio. Al Capone > triunfo.
1
+ = interiorização - = rejeição +/- = rejeição e substituição por novos valores
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LEMERT > deviance secundário: resposta de defesa, ataque e adaptação aos problemas
manifestos ou latentes criados pela reação social ao deviance primário (devida a uma
variedade de fatores culturais, sociais e psicológicos). Refere.se a deviance secundária a uma
classe especial de respostas socialmente definidas a problemas criados pela reação social à
deviance. São provocados pela estigmatização, punição e segregação e controlo social, que
têm como efeito comum de diferenciar o ambiente simbólico e internacional a que uma
pessoa responde, comprometendo drasticamente a sua socialização. Estes factos convertem-
se em eventos centrais na existência de quem os experimenta, alterando a sua estrutura
psíquica, crinado uma organização especial dos papéis sociais e de atitudes para consigo.
Logo, o desviante secundário é uma pessoa cuja vida e identidade se organizam em torno
dos factos da deviance.
Estigmatização com sucesso: assunção da identidade e do papel do delinquente.
O processo de reação à delinquência resulta sempre como uma profecia que se cumpre a si
mesma. «TRATAR uma pessoa como se ela não fosse afinal, mais do que um delinquente,
tem o efeito de uma self fullfinling prophecy». Poe em movimento um conjunto de
mecanismos que compelem a pessoa a conformar-se e a corresponder à imagem que o
público tem dela.
A resposta à delinquência desencadeia 2 tipos de consequências:
1. No plano dos outros significantes potencia a distância social em relação ao delinquente,
estreitando a sua margem de oportunidades legítimas e induzindo a procura de
oportunidades ilegítimas, esta procura é só possível com apoio e solidariedade de
grupos (subculturas como drogados) subculturalmente enquadrados. A experiência
no interior destes funciona como desaculturação em relação à vida exterior e
socialização em formas subculturais de vida
2. Provoca a conformação às expectativas estereotipadas da sociedade, a auto-
representação como delinquente e o respetivo role -engulfment (primado na carreira
do desviante, de forma a que toda a sua experiência tendem a polarizar-se em torno
deste papel) que muitas vezes será irreversível
O processo de reação social à deviance é um processo de bola de neve (SCHUR), que
multiplica a própria deviance.
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REGENTE
O que deve ser considerado como crime NÃO pode ser um tema que se abstraia das
condicionantes socio-psicológicas em que se produz a definição socialmente vigente. Assim
a discussão não se pode reduzir a ideias de liberdade, perigosidade ou valores objetivos sem
considerar as condicionantes sociopsicológicas dos comportamentos e das pré
compreensões dos próprios intervenientes nas discussões acerta dos FINS e fundamentos
do sistema
A delimitação dos princípios da criminalização tem sido uma racionalização do sistema penal,
associada ao desenvolvimento do Estado de Direito e à ideia de democracia, a informação
que resulta da Criminalidade mostra que o desafasamento entre o sistema normativo (formal)
e práticas dos tribunais e políticas (real) ou as representações sociais sobre o crime TEM que
ser consideradas numa perspetiva de necessidade real de incriminações, seus critérios e
limites.
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Cabe perguntar: o conceito material de crime como ideia ancorada num direito natural
universalista algo ultrapassado pela teoria da sociedade?
Visão funcionalista baseia-se em dados objetivos quando reconhece que não há
definição puramente naturalística das necessidades sociais + sistemas são
autoreferentes na medida que definem-se pelo seu modo de organização para
saberem quais os distúrbios que podem sofrer
Este reconhecimento objetivo permite discutir as decisões legislativas de o que
constitui crime tendo em vista fins do sistema VIABILIZA um controlo de
adequação que procurar controlar a legitimidade do Direito Penal PEMANECE
válido parcialmente a função/significado ao bem jurídico, mas isto sem uma conexão
extra-sistemática ou referências ontológicas. Ex:
o Ambiente: constitui meio de sobrevivência, sendo que merece proteção
perante ameaças graves em face de expectativas sociais. Porém discutível se
para além de uma direta função humana justifica a tutela penal, só em nome
do equilíbrio ecológico.
o Maus tratos de animais de companhia: é necessário procurar um bem que seja
condição do sistema, embora persista a necessidade de uma discussão crítica,
fora do sistema
o Incriminação de condutas lesivas à moralidade social> pornografia: não
reflete expectativa sobre núcleo de condições de existência na nossa
sociedade dum ponto de vista liberal, pois a coesão social NÃO se define a
partir da moral social mas da liberdade individual, quando a mesma diminui
a capacidade de decisão no domínio sexual ameaça a autodeteminaçaõ da
pessoa e o seu pleno desenvolvimento o D. Penal poderá intervir sem colidir
com um quadro valorativo baseado na articulação de liberdades, porém as
fronteiras entre o espaço do Direito e a moralidade sexual sejam instáveis;
porém há sempre uma lógica de sistema que é determinante da legitimidade
das soluções normativas.
A visão funcionalista não anula absolutamente a função crítica interna ao sistema do conceito
material do crime devido:
1) Referência de toda a legitimidade jurídico-penal aos fins sociais
2) A Definição destes fins é efeito objetivo da ação dos indivíduos (como subsistemas
eles próprios, vocacionados para a autorrealização)
3) O funcionalismo não exclui a discussão sobre o objeto da infração criminal, mas a
reduz à fundamentação da validade a uma adequação das decisões legislativas a uma
ideia de funcionalidade sistémica
Esta construção está relacionada com a conceção do Direito como sistema autopoiético que
adaptou ao Direito o pensamento de MATURANA e o seu discípulo, Varela, sobre o
funcionamento dos sistemas, tendo como referência os organismos biológicos que se
organizariam numa lógica de autorreprodução, de continuidade, e de sobrevivência a partir
da auto-referencalidade de todas as ações ao seu padrão iderntificador fundamental.
Haveriam critérios de controlo e aferição dos conteúdos normativos, mas com um modelo
de realidade muito rígido.
Surgem num sentido diverso visões que:
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Dias, José de Figueiredo, Direito Penal, parte geral tomo I, questões fundamentais, a doutrina geral do
crime, 2006
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como anulação do crime, que de outro modo continuaria a valer como restabelecimento
do Direito.
Forma como deveriam ser determinadas a compensação/igualação entre o mal do crime e o
mal da pena. A igualação é necessariamente normativa e não fáctica. Hoje, ultrapassada a
controvérsia de saber se a pretendida retribuição assumia o caráter de uma reparação do dano
real, ideal ou da culpa do agente a compensação que a retribuição se nutre é a ilicitude do
facto e da culpa do agente:
Estas teorias partem das exigências de JUSTIÇA > implicam que cada pessoa seja tratada
segundo a sua culpa e NÃO segundo a lotaria da sorte e azar em que se jogam os
comportamentos humanos e as suas consequências.
Está em causa > tratar o homem segundo a sua liberdade e dignidade pessoal conduz
ao princípio da culpa, como máxima de todo o direito penal humano, democrático e
civilizado
Leva também ao princípio de que NÃO pode haver pena sem culpa e a medida da pena
NÃO pode ultrapassar a medida da culpa reside aqui o grande mérito das doutrinas
absolutas erigiu o princípio da culpa em princípio absoluto de toda a aplicação
da pena, e ter levantado a um veto incondicional à aplicação de pena criminal que
viole a eminente dignidade da pessoa humana
Pena e culpa NÃO são biunívocas > toda a pena supõe culpa, mas nem toda a culpa supõe
uma pena. A culpa é pressuposto e limite, mas não fundamento da pena.
CRÍTICAS:
Como teoria dos fins das penas deve ser recusada > não é genuinamente uma teoria
dos fins das penas, mas visa a consideração da pena como entidade independente
dos fins, como entidade DISSACIADA de fins.
Inadequação à legitimação, fundamentação e ao sentido da intervenção penal >
podem resultar da necessidade, que ao Estado incumbe satisfazer, de proporcionar
as condições de existência comunitária, assegurando a cada pessoa o espaço possível
de realização livre da sua personalidade > só isto justifica que o Estado furte a cada
pessoa o mínimo indispensável de direitos, liberdades e garantias para assegurar o
direito dos outros e da comunidade. Para cumprimento da função a retribuição,
expiação ou compensação do mal do crime cconstituem meios inidóneos e ilegítimos
Estado democrático, pluralista e laico NÃO pode arvorar-se em entidade
sancionatória do pecado e do vício, tal como uma qualquer instância os define, mas
tem de limitar-se a proteger bens jurídicos. NÃO pode servir-se de uma pena
conscientemente dissaciada de fins, como apresentada pela teoria absoluta. Daí o
Estado não possa ser a realização terrenal da ideia pura de Jusitça, como justiça
divina.
De um ponto de vista socialmente interessado as doutrinas de retribuição devem ser
repudiadas porque uma pena retributiva esgota o seu sentido no mal que se faz sofrer
ao delinquente como compensação ou expiação do mal do crime doutrina social-
negativa > estranha a tentativa socialização do delinquente + restauração da paz
jurídica da comunidade afetada pelo crime + inimiga de atuação preventiva e da
pretensão de controle e domínio do fenómeno da criminalidade.
Teorias relativas: a pena como instrumento de prevenção
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As teorias relativas são teorias de fins. Elas reconhecem que, segundo a sua essência, a pena
se traduz num mal para quem a sofre. Mas como instrumento político-criminal destinado a
atuar no mundo, NÃO pode a pena bastar-se com essa caraterísitcia, em si emsmo
destit´tuida de sentido social positivo. Para se justigicar tem de se usar desse mal para alcançar
a prevenção ou prolixia criminal.
Crítica geral dos adeptos das teorias absolutas > aplicando-se as penas a seres umanos em
nome de fins utilitários ou pragmáticos que pretendem alcançar no contexto social, elas
transformariam a pessoa humana em objeto, dela se serviriam para a realização de finalidades
heterónomas e violaram a sua dignidade. O seu caráter relativo seria a violação do absoluto
da dignidade pessoal.
Kant > lei penal é imperativo categórico
Hegel > pena finalista é como um pau com que se bate num cão e não como um mal com
que se castiga o mal feito por um homem livre.
Para JFD > criticismo é destituído de fundamento. Se se desse razão ao argumento, teria de
concluir-se pela ilegitimidade total de todos os instrumentos destinados a atuar no campo
social e a realizar finalidades socialmente úteis, desde que a atuação limitasse liberdades da
pessoa. Para o funcionamento da sociedade cada pessoa tem de prescindir de direitos que
lhe assistem e lhe são conferidos em nome da sua eminente dignidade. A preservação da
dignidade da pesosa é estranha à questão das finalidades da pena e deve ser resolvida
independenemtente dela. O que releva é a aplicação da pena de acordo com a intocável
dignidade. Isto é um problema que contende com os LIMITES que sejam quais forem
aqueles fins, sendo que tem necessariamente de ser postas pelas condições da sua aplicaão.
A pena como instrumento de prevenção geral
Nas teorias preventivas há que distinguir:
Prevenção geral: denominador comum nestas e a conceção de pena como instrumento
político-criminal destinado a atuar (psiquicamente) sobre a generalidade dos membros
da comunidade, afastando-os da prática de crimes através da ameaça penal estatuída pela
lei, da realidade da sua aplicação e da efetividade da sua execução. Atuação estatal sobre
a generalidade das pessoas assume dupla perspetiva:
→ Prevenção negativa ou de intimidação: intimidação das outras pessoas através
do sofrimento que com ela se inflige ao delinquente e cujo receio as conduzirá a
não cometerem factos puníveis
→ Prevenção geral positiva ou de integração: pena é concebida, como forma de
que o Estado se serve para manter e reforçar a confiança da comunidade na
validade e na força da vigência das suas normas de tutela dos bens jurídicos e no
ordenamento jurídico penal, isto demonstrando a inquebrantibilidade da ordem
jurídica, apesar de todas as violações que tenham tido lugar e a reforçar, por esta
via, os padrões de comportamento adequado às normas. Os diferente efeitos
serão: 1) efeito de confiança e aprendizagem (resultante da demonstração dos
custos do facto punível) 2) integração verdadeira e própria (resolução do conflito
social suscitado pelo crime)
1.º formulação de uma doutrina de prevenção geral fica a dever-se a um dos fundadores do
Direito Penal moderno > Paul Johann Anselm von Feuerbach: doutrina da coação
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psicológica, segundo a qual a finalidade precípua da pena residiria em criar nos potenciais
criminosos um contra-motivo forte para os afastar da prática do crime (alma do criminoso
> arena com motivações conducentes ao crime e contramotivações derivadas do
conhecimento do mal da pena). As próprias doutrinas psicanalíticas > ideia de que muitas
pessoas só são capazes de dominar as suas tendências criminosas face ao reconhecimento de
que quem decide pela via do crime acaba por sofrer mais anos pessoas que vantagens (1)
função principal da pena é a legitimação da ordem vigente 2) manutenção da estabilidade e
paz jurídica).
A prevenção geral liga-se direta e imediatamente à função do direito penal de tutela
subsidiária de bens jurídicos exige-se da pena uma atuação preventiva sobre a
generalidade dos membros da comunidade nos diversos momentos:
1. º ameaça abstrata
2.º concreta aplicação
3.º efetiva execução
É indiscutível, para JFD que os dados do aumento da criminalidade mostram a inefetividade
de se apontar à pena uma finalidade de prevenção geral, isto porque indiscutível que tal
finalidade acaba por se cumprir na maioria da população.
CRÍTICAS:
comandadas apenas por considerações pragmáticas e eficientistas elas fazem da
pena um instrumento que viola, de forma inadmissível a dignidade da pessoa
humana. Este aponta uma fragilidade teorética e praticadas doutrinas de
prevenção geral, quando consideradas exclusivamente no seu cariz negativo,
como formas de intimidação sobre a generalidade dos cidadãos.
NÃO é possível determinar o quantum da pena necessário para alcançar tal
efeito.
Não logrando a erradicação do crime, fica próxima a tendência para serem
usadas penas mais severas e desumanas > isto ao ponto de desemcabar num
direito penal de terror absolutamente desproporcional e por isso direta e
imediatamente violador da eminente dignidade da pessoa.
Improcedente se a prevenção se perspetiva na sua vertente positiva,
como prevenção da integração, de tutela confiança geral na validade e
vigência das normas do ordenamento jurídico, ligado à proteção do bens
jurídicos. 1) critério permite encontre uma pena, que se revelerá também
uma pena justa e adequada à culpa do delinquente 2) medida concreta da
pena a aplicar a um delinquente, sendo embora fruto de considerações
de prevenção geral positiva, deve ter limites inultrapassáveis ditados pela
culpa, que se increvem na vertente liberal do Estado de Direito e se
erguem justamente em nome da inviolável dignidade pessoal. A doutrina
da prevenção geral oferece um entendimento racional e político-
criminalmente fundado ao problema dos fins das penas. E também um
entendimento suscetível de se fazer frutificar para a solução de muitos e
complexos problemas dogmáticos.
Prevenção especial: pena é um instrumento da atuação preventiva sobre pessoa do
delinquente com o fim de evitar que, no futuro, ele cometa novos crimes. Finalidade de
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dos direitos de cada pessoa, sendo que a lei geral da liberdade que permite a articulação do
livre arbítrio de cada um com os demais. Esta universalidade subjaz ao imperativo categórico.
Conceito de Direito como condição da liberdade que reclama a pena.
HEGEL
HEGEL considera a pena como um modo de honrar o criminoso (não um instrumento ao
serviço da sociedade) através do qual a dignidade do criminoso como pessoa possa ser
prejudicada. A pena é para Hegel uma consequência necessária do crime, pois sendo a
negação deste, constitui a reafirmação dialética do Direito.
Para Hegel a problemática da pena situa-se no plano do Direito abstrato e não no plano da
consciência, da subjetividade e da vontade, que a tomariam por uma pura vingança. Para que
a pena supere o plano da vingança é necessário uma transformação do princípio particular
em princípio universal. A pena conduz à moralidade objetiva, própria das comunidades
históricas e do Estado. SÓ no Estado se superaria o particularismo e subjetividade de unma
perspetiva moral e a moralidade seria objetiva. Não há moralização da pena em Hegel, sendo
que a pena deve pertencer meramente à racionalidade do Estado. A pena é algo da
objetividade do Direito, a partir das caraterísticas de generalidade e abstração. A pena, tal
como o crime, NÃO vale em função do merecimento da vontade nem dos autores do crime,
nem de qem impõe, mas como alguém que afirma ou nega o Direito num plano das ideias e
meramente lógico.
Hoje em dia a teoria justifica-se pela eficácia preventiva geral do Direito Penal, não sendo
uma teoria ABSOLUTA de pena > a retribuição é o único modo de demonstrar a eficácia
das penas e garantir as expectativas dos cidadãos relativamente à punição dos criminosos.
1. º crítica: é indemonstrável os seus pressupostos. A teoria parte de uma ideia de
responsabilidade individual baseada no livre arbítrio indeterminista que o conhecimento
científico não consegue provar. Só se presume que as pessoas são livres na medida que a
sociedade e o Direito reconhecem a responsabilidade individual. Um pressuposto tão radical
Não é suficiente para legitimar uma teoria retributiva radical.
2. º crítica: o pressuposto da teoria retributiva é a culpa ética, sua consequência necessária,
sendo que a intervenção do Estado investido do poder punitivo NÃO pode servir para
sancionar automaticamente a culpa. NENHUM meio de processo penal é assim tão
profundo nem a própria pena é adequada À própria personalidade do criminoso. NÃO cabe
ao Estado, nas CRP de estado democrático promover uma Ética ou uma Moral em si
mesmas, mas apenas na medida indispensável à preservaão das condição sociais de existência.
O princípio da necessidade da pena, no 18/2.º CRP postula que a pena só seja aplicada
quando for necessária para a preservação da sociedade.
PORÉM > Kant e Hegel são filósofos da retribuição, sendo que para eles o fundamento
ético associa-se a uma racionalidade do Estado e do Direito. Aqui há a necessidade lógica de
reafirmação do Direito.
O que é fundamental no entanto é saber se a necessidade de reafirmar o Direito se justifica
> é diferente o reconhecimento de haver uma imposição racional de afirmação do Direito
OUTRA é saber se a forma de afirmar o direito é a pena RETRIBUTIVA ou a
PREVENÇÃO de males futuros e a preservação da ordem jurídica:
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A reafirmação pode se dar pela DISPENSA da pena como o CP prevê para crimes
menos graves (74.ºCP) + formas de intervenção social alternativa que melhro
asseguram a proteção jurídica dos direitos e dos bens
O que há de universal e objetivo na pena é a ideia de reafirmação do Direito
perante a sua violação e NÃO uma retribuição historicamente concebida. A crítica
relevante à retribuição NÃO é apenas uma associada à promoção de uma
perspetiva moral determinada mas antes o reconhecimento de uma confusão entre
reafirmação e retribuição do direito > a reafirmação do Direito alcança-se se for
articulada com o princípio da necessidade da pena, da adequação e
proporcionalidade ao facto da mesma
A prevenção geral: justificação da pena pela intimidação dos cidadãos relativamente
à violação da lei penal (prevenção geral negativa) + fortalecimento dos juízos de valor
social dos cidadãos, que depende da cominação e da aplicação de penas (prevenção
geral positiva > fortalecimento das expectativas sobre a eficácia da justiça penal.
Feuerbach> a pena serviria para IMPEDIR quem tivesse tendências contrárias ao
Direito de se determinar por elas.
A pena preenche necessidades de retribuição no plano psicanalítico, cuja não
observância pode pôr em perigo a paz pública. A satisfação das necessidades produz
um efeito apaziagador, constatável empiricamente. Discutível SE É severidade +
prontidão da aplicação das penas que gera o efeito inibidor OU fortalecimento da
crença na validade do direito que gera a paz.
Críticas:
1) O interesse público NÃO pode justificar que se inflija ao agente qualquer pena>
pessoa não é meio ao serviço de fins sociais (1.º CRP) > posição não
culturalmente e eticamente defensável.
2) O pensamento NÃO consegue justificar a atribuição da pena ap criminoso por
algo que ele tenha feito com bse na medida de GRAVIDADE do facto > pena
deixaria de poder ser vista como consequência do crime.
A prevenção especial: fim das penas é a intervenção sobre o cidadão delinquente,
através da coação psicológica, inibindo-o da prática de crimes ou eliminado nele a
disposição para delinquir. Origem do pensamento preventivo-especial é em
Protágoras. Desenvolvimento global e coerente ocorre no século XVII, com uma
nova visão de pena privativa de liberdade e com a fundamentação do Direito no
contrato social, que levou a procurar o sentido da pena a sua necessidade estrita. No
século XIX Von Liszt distingue 3 funções no Direito Penal: intimidação, o
melhoramento e a eliminação do criminoso.
Críticas:
1) Conduz a consequências difíceis de aceitar, no plano ético como ao nível jurídico-
constitucional quando não moderadas por outros critérios
2) A investigação empírica não permite apoiar em dados absolutamente seguros a
prognose sobre a delinquência futura. A pena é criminológica, de modo a que as
prórpias condenações auemntam as probabilidades de reincidência
3) Prevenção especial menospreza o princípio da necessidade da pena – 18/2.º CRP
4) Discutível que justifique a criminalização das condutas > se a
recuperação/intimidação do delinquente são falíveis a legitimidade de utilizar meios
tão graves para a realização incerta desses fins pode estar em causa
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Dias, José de Figueiredo, Direito Penal, parte geral tomo I, questões fundamentais, a doutrina geral do
crime, 2006
Finalidades e limite das penas criminais
A natureza exclusivamente preventiva das finalidades da pena
A base da solução é que as penas SÓ podem ter natureza preventiva, não retributiva:
DP e o exercício pelo Estado > necessidade estatal de subtrair à disponibilidade de
cada pessoa o mínimo dos seus direitos, liberdades e garantias indispensáveis ao
funcionamento, tanto quanto possível sem entraves da sociedade à preservação dos
sues bens jurídicos essenciais, e a permitir a realização mais livre possível da
personalidade de cada um enquanto indivíduo e enquanto membro da comunidade.
Também a pena criminal, na sua ameaça só pode perseguir a realização daquela
finalidade, prevenindo a prática de futuros crimes.
Desta conceção retira-se que devem coexistir as diferentes prevenções e combinar-
se da melhor forma possível, porque umas e outras se encontram no prepósito
comum de prevenir a prática de futuros crimes.
Podem porém conflituar as duas prevenções
Há em todos os caso que saber como devem comportar-se mutuamente as 2 espécies
de finalidades no momento decisivo de o juiz determinar o quantum exato da pena
com que concretamente vai punir um crime (operação da determinação concreta da
medida da pena) > doutrina mais recente afirma que o problema de determinação do
modelo da medida da pena
Ponto de partida: as exigências de prevenção geral positiva e de integração
A 1.º finalidade visada pela pena será a tutela necessária dos bens jurídico-penais no
caso concreto. Tutela dos bens jurídicos não num sentido retrospetivo (face ao crime JÁ
verificado) mas num prospetivo, traduzido pela necessidade de tutela de confiança e das
expectativas da comunidade na manutenção da vigência da norma violada fim da pena:
restabelecimento da paz jurídica comunitária abalada pelo crime > coaduna-se com a dieia
de prevenção geral positiva. Isto dá conteúdo ao princípio da necessidade da pena referido
no 18/2.ºCRP consagra de forma paradigmática. Se a pena não for comandada por esta
finalidade, para JFD, seria uma infração ao espírito da norma constitucional.
JAKOBS > finalidade primária da pena: estabilização contrafácitca das expectativas
comunitárias na validade da norma violada. Esta função estabilizadora seria diferente da
proteção de bens jurídicos, sendo que esta prévia não caberia ao direito penal, não sendo a
sociedade nenhuma instância para a conservação ou maximização dos bens. Isto tem como
consequência haver perigosidade no resvalamento da pena e do DP a uma função simbólica
puramente negativa que seria usada pelas classes dirigentes na autodefesa dos seus privilégios
e do aumento das margens de exclusão social.
Para JFD a função primordial primária do DP é a tutela de bens jurídicos, sendo a
ideia de estabilização das expectativas comunitárias uma forma de tradução daquela
ideia essencial no plano de confiança comunitária na validade do seu sistema
narrativo de proteção.
A finalidade primordial da pena é, para JFD, a prevenção geral positiva ou de integração e+
ponto de partida para a resolução de conflitos entre as diferentes finalidades preventivas >
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logo > existe uma medida ótima de tutela de bens jurídicos e das expectativas
comunitárias que a pena se deve propor alcançar. Esta não pode ser excedida por nada, muito
menos por exigências de prevenção especial, derivadas de uma especial perigosidade do
delinquente.
Medida ótima de tutela de bens jurídicos não fornece ao juiz um quantum exacto da
pena.
Mesmo nos casos abaixo do ponto ideal > tutela é ainda efetiva e consistente e a
pena concreta aplicada pode-se situar, sem que perca a sua função primordial de
tutela dos bens jurídicos
Limiar mínimo (= defesa do ordenamento jurídico) abaixo do qual é
comunitariamente soputável a fixação da pena sem se por em causa a sua função de
tutelar os bens jurídicos em causa.
Assim, a prevenção geral positiva fornece uma moldura de prevenção dentro de cujo os
limites PODEM e DEVEM atuar considerações de prevenção especial e NÃO a culpa, para
JFD, com entende a doutrina maioritária.
A intimidação da generalidade (prevenção geral -) é um efeito a considerar DENTRO da
moldura de prevenção geral positiva, não constitui por si mesma uma finalidade autónoma
da pena, mas apenas efeito lateral da necessidade da tutela de bens jurídicos.
Ponto de chegada: as exigências de prevenção especial, nomeadamente da
prevenção especial positiva e de socialização
Dentro da moldura ou dos limites consentidos pela prevenlão geral positiva devem atuar
pontos de vista de prevenção especial, sendo assim que eles vão determinar a medida da
pena. Releva qualquer uma das funções que o pensamento da prevenção especial realiza:
Função positiva de socialização
Função negativa soburdinada da advertência individual ou de segurança
Medida da necessidade da socialização do agente é o critério decisivo das exigências
de prevenção especial, isto apenas se o agente revelar se carente de socialização. Se
tal carência NÃO se verificar pena é função de advertência, o que permitrá que a
medida da pena dexça até perto do limite mínimo da moldura de prevenção ou
coincida com esta
A culpa como pressuposto e limite da pena
A retribuição tem o inegável mérito de ter posto em evidência a essencialidade do princípio
da culpa e do significado deste para o problema das finalidades da pena não há pena sem
culpa e a medida da pena NÃO pode ultrapassar a medida da culpa.
Função da pena: proibição do excesso
Culpa NÃO é fundamento da pena
Culpa é pressuposto necessário e o seu limite inultrapassável > isto por quaisquer
considerações ou exigências preventivas
Função da culpa, inscrita na vertente liberal do Estado de Direito é estabelecer o
máximo da pena ainda compatível com as exigências de preservação da dignidade da
pessoa e de garantia do livre desenvolvimento nos quadros do Estado de Direito
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Porém, para a Regente, o DP não tem apenas legitimidade porque as suas normas
realizam os objetivos da sociedade – como representadas pelo estado – mas também
porque os seus comandos e proibições (e o processo que conduz à sua aplicação)
realizam ideias culturais de justiça que enformam as expectativas dominantes na
sociedade.
O princípio da culpa como fundamento do DP, apesar de parecer desadequado do
ponto de vista de racionalidade jurídica, encontra o seu sentido como realização de
um princípio de JUSTIÇA.
O princípio da culpa liga-se ao princípio da justiça da seguinte forma:
1) A mera censurabilidade ético pessoal não torna a pessoa instrumento da
sociedade ou do poder (dignidade da pessoa humana). Correspondência
à máxima kantiana > a pessoa é tomada como um fim em si mesmo.
2) SÓ a censurabilidade ético-pessoal permite a discussão do acusado com
o poder. Assento numa conceção da realização de justiça através de um
processo em que a sociedade e o acusado se defrontam como partes de
um conflito.
Culpa tem função de segurança jurídica que delimita a intervenção penal em fins
utilitários do Estado > princípio restritivo.
O princípio da culpa, que se liga à justiça ultrapassa o mero papel restritivo, já que a
democracia exige a igual consideração pelos interesses e subjetividade de cada um.
Dar a cada um o que é devido (sum cuique tribuere), aquele que é merecedor, na base
da justa oportunidade de participar no todo, na comunidade, na sociedade política.
2. º Fator de determinação da medida da pena: é utilizado como medida devido à sua
maior possibilidade de chegar a comparações entre comportamentos e agentes do
que a prevenção geral.
3. º Princípio da responsabilidade subjetiva: produto de uma longa evolução de
construção jurídica de responsabilidade penal (rejeitar uma conceção em que o agente
seria responsabilizado por comportamentos ilícitos meramente objetivos – versari in
re ilícita). Limita-se a responsabilidade ao âmbito do domínio da vontade humana.
A crença na liberdade e no poder de ação causal da pessoa é o seu pressuposto (?).
É relevante para a legitimação das normas incriminadoras que os comportamentos
incriminados tenham uma configuração que os torne aptos a que no processo de atribuição
da responsabilidade sejam cumpridas estas funções do princípio da culpa.
Princípio da necessidade da pena
Este principio traduziu historicamente a ideia de que a utilização pelo Estado de meios penais
deveria ser limitada, ou mesmo excecioanl, só se justificando pela proteção dos direitos
fundamentias.
Tratou-se de uma reação contra a utilização discricionária das penas pelo poder político,
ao serviço de quaisquer fins
Inicialmente, na sua origem ideológica, o princípio pretendeu ser um limite substancial do
DP, relacionado com o contrato social SÓ se justifica a restrição da liberdade quando, de
alguma forma, as liberdades, instituídas pela sociedade política, estivessem em causa.
Conteúdo de contrato social tem-se alterado com a evolução da realidade e das ideologias
políticas da sociedade democrática proteção de liberdades + realização de múltiplos fins
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sociais como saúde, educação, bem estar e cultura. Ultrapassando a ideia primitiva de
contrato social chega-se ao estado de aceitação de que o poder político se justifica pelo
serviço aos membros da sociedade (a subordinação racional dos abstratos fins políticos à
realização da pessoa em sociedade).
Conceção liberdade e democrática do contratio social de Sousa e Brito relevo à proteção
da pessoa, relativização do poder e secundarização dos meios penais na resolução dos
problemas sociais. Uma conceção absolutamente supra-individualista deste fins é alheia a
uma CRP baseada na igual dignidade da pessoa humana.
Muitos autores invocam o princípio com a pretensão de soburdinar a intervenção penal do
Estado à realização de fins necessários à subsistência e desenvolvimento da sociedade.
O princípio da necessidade assume uma perspetiva social do DP, estando associado ao
pensamento sobre os fins do Estado.
Destaque-se a relevância do princípio na discussão sobre:
legitimidade da incriminação > apelo ao princípio surge na discussão sobre:
1) a carência de proteção penal do bem jurídico> contrariada quando se tratar de
um mero valor moral sem expressão num bem jurídico determinado, como a
vida, a integridade física, a liberdade, a honra ou o património (ex: relações
homoxessuais entre adultos)
2) falta de alternativas à penalização da conduta > não se afirmará quando os meios
penais não forem absolutamente indispensáveis, existindo outros meios sociais
capazes de evitar determinados comportamentos (ex: pornografia perseguida
penalmente em vez da educação sexual)
3) eficácia concreta da incriminação > eficácia concreta da incriminação não se
verificará quando o DP não evita a prática de certos condutas e chega a ter um
papel criminógeno (ex: condutas criminosas associadas ao aborto clandestino)
problemas da determinação da responsabilidade penal> 2 aspetos:
1) conformação do contéudo de certos conceitos valorativos (33/2.ºCP >
considerar o que legitimará a exclusão da responsabilidade penal, sem ausência
da necessidade de punir, embora com a pretensa exclusão de culpa, no caso da
legítima defesa pelo medo do defendendente, que não demonstra a perigosidade
para a Ordem jurídica em confronto) e critérios dos quais depende a
responsabilização penal (24/1.ºCP)
2) influência da medida da pena (74.ºCP)
10.5. Princípio da igualdade penal
A igualdade, constante do 13.º CRP, orienta profundamente as soluções do DP. Para além
de proscrever a discriminação entre pessoas (Livro V) é a igualdade que subjaz à ideia de
proporcionalidade entre a 1) gravidade do ilícito e 2)gravidade da pena e 3) medida da pena
pela culpa.
NÃO se deve retirar uma exigência de parificação das penas
A proporcionalidade é expressão da garantia constitucioanl de que NÍNGUEM pode ser
punido mais severamente do que outrem por um facto menos grave.
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Não é expressão do princípio > ninguém pode ser punido menos severamente do que
outrem por factos idênticos ou mais graves > a igualdade só se expressa na igualdade de
direitos ou na igualdade de deveres se for necessária à satisfação de direitos alheios.
A proporcionalidade é um princípio formal preenchido no seu conteúdo por outros
princípios constitucionais de Direito Penal, como a culpa e a necessidade da pena. Assim,
idêntica necessidade de punir e idêntica culpa justificarão idênticas penas.
A diferenciação entre as penas dos crimes contras as pessoas e dos crimes contra outros bens
jurídicos é manifestação do princípio da proporcionalidade > a máxima danosidade social se
articula com a máxima gravidade ética > lesão dos bens da pessoa do outro.
A igualdade justifica a seleção de novos bens jurídico-penais > bens de igualdade: proteção
dos mais fracos na estrutura social conduz À agravação de crimes clássicos devido à qualidade
da vítima + criação de novos crimes em função da essencialidade da não descriminação no
Estado de Direito democrático e social.
Conceito material de crime o princípio da igualdade tem relevância na delimitação negativa
das incriminações negativas e legitima o conteúdo das normas incriminaodas mas NÃO
prevalece sobre o princípio da necessidade da pena.
12. Quarta etapa conclusiva: fundamentos da punição no sistema penal português.
Interpretação do artigo 40.º do Código Penal
A norma mais exemplar da organização logica do sistema é o 40.º CP que estabelece as
finalidades da punição.
Introduzido reforma de 1995 do CP como norma orientadora quanto às penas numa fase
em que se pretendeu ultrapassar as rotinas judiciais retributivas.
40. º CP > desígnio de estabelecer que o fundamento da punição seira a prevenção geral na
dimensão da proteção de bens jurídicos (coadjuvada pela prevenção especial) e que a culpa
retribuição teria uma função restritiva (40/2.º). A lógica seria fazer depender a punição da
necessidade de se prevenir geralmente o crime, em termos positivos + prevenção especial +
remeter razões de censurabilidade pessoal do agente relacionadas com 1) capacidade de
motivação 2) motivação pelo cumprimento do dever medianamente exigível para o papel
acessório de limite formal da medida da pena. Esta ideia de associar a culpabilidade do agente
a função restritiva, inspira-se em Roxin. JFD sempre revelou a intenção de exclusivamente
ter como fundamentação preventivo geral da decisão de punir.
40> punição resultante da necessidade preventiva MESMO que os limites da culpabilidade
anulem a justificação da pena, mesmo que as exigências da culpa apontassem para um limite
inferior, fixando abaixo dos mínimos da prevenção a culpabilidade do agente.
Culpa releva para medida da pena
a criação da pena, a razão de esta existir > prevenção geral positiva
Esta leitura tem, para a regente, dificuldades sistemáticas:
a culpa do agente é o critério fundamental da medida da pena, que justifica a sua
variação entre o máximo o mínimo (70.ºCP) > objeção : critério da medida judicial
da pena pode ser de natureza divera do fundamento legal da punição
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Dias, José de Figueiredo, Direito Penal, parte geral, tomo I, questões fundamentais, a doutrina geral do
crime, 2004
A LEI PENAL E A SUA APLICAÇAÕ
O princípio da legalidade da intervenção penal
O princípio nullum crimen, nulla poena sine lege
Para o êxito da intervenção estadual num Estado de Direito democrático é necessário
LIMITES estritos em nome da defesa dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, para
que não oorream excesso ou uma intervenção arbitrária. Assim, a intervenção estadual está
submetida ao princípio da legalidade.
Princípio legalidade: não pode haver crime, nem pena que NÃO resultem de lei
PRÉVIA, ESCRITA, ESTRITA e CERTA (nullum crimen, nulla poena sine lege). Presente no
29.º CRP e 1.º CP materialmente.
29/2.º CRP crimes contra o direito internacional, mesmo que as condutas visadas não
sejam puníveis à luz da lei positiva intena. Necessário que sejam 8/1.ºCRP.
A ideia de que o direito internacional pode impor deveres aos indivíduos consolidou-se nos
julgamentos de Norumberga/tóqui em que houve violações graves do direito internacional
punidas, apesar de não o serem pela lei interna desses países. ~
O artigo parece não se encontrar sujeita ao princípio da legalidade do 29/1.º CRP, valido
apenas para lei estadual. Porém, o princípio nullum crimen sine lege constitui também um
princípio do direito internacional na medida em que existe o direito internacional costumeiro
(é problema grave à determinibilidade de condutas puníveis), hoje cristalizado positivamente
no direito costumeiro em várias convenções internacionais, cujas normas do Estados vão
incorporando no seu direito interno. A lei interna deve servir assim de proteção ao direito
internacional.
O princípio da legalidade tem uma pluralidade de fundamentos:
Fundamentos externos: ligam-se à conceção do Estado
Princípio liberal: toda a atividade intervencionista do Estado na esfera de
direitos, liberdades e garantias das pessoas tem de ligar-se à existência de uma
lei, esta sendo abstrata, geral e anterior (18/2.º e 18/3.º CRP)
Princípio da separação dos poderes e democrático: só se encontra
legitimidade da intervenção epnal na instância que representa o povo, como
titular último do ius puniendi, onde se prende a exigência de lei formal
emanada do Parlamento ou por ele competenteente autorizada (165/1/c).º
CRP)
Fundamentos internos: ligam-se à natureza especificamente jurídico-penal
Prevenção geral
Princípio da culpa > é IMPOSSÍVEL condenar uma atitude sem os
cidadãos saberem, devido a lei anterior, estrita e certa os comportamentos
puníveis. Também não seria legítimo dirigir a alguém censura por ter atuado
de certa forma se uma lei com aquelas caraterísiticas não considerasse o
comportamento um crime.
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Palma, Maria Fernanda, Direito Penal conceito material de crime, princípios e fundamentos, teoria da lei
penal, interpretação, aplicação no tempo, no espaço e quanto às pessoas, 2.º edição, 2017
II- PRINCÍPIO DA LEGALIDADE E O PROBLEMA DA INTERPRETAÇÃO DA
LEI PENAL
As fontes do Direito Penal
Princípio geral: SÓ a lei pode ser fonte de direito penal > reserva relativa de competência
da A.R. no 165/1/c).º CRP > só a AR ou Governo munido de autorização, sob pena de
inconstitucionalidade ORGÂNICA dos DL, têm competência em matéria penal.
Afastado o princípio no 29/2.º CRP que admite a legitimidade da punição, nos limites da lei
interna se as ações forem consideradas criminosas segundo os princípios gerais do direito
internacional comummente reconhecidos. Costuem internacional pode ser fonte de DP
convicção generalizada na sociedae internacional sobre o caráter criminoso de certas
condutas é bastante para nos limites da lei interna uma conduta seja punida sem lei prévia à
sua prática.
Exceção com origem no século XX, em que a perversão do poder político originou
uma legalidade permissiva da perpetração dos factos lesivos de direitos humanos
fundamentais, como o genocídio, apesar de não serem legalmente reconhecidos pelos
Estados.
Fundamento da reserva de lei - SEGURANÇA DEMOCRÁTICA – não impede que
a exceção seja legítima.
A segurança formal contrapõe-se a uma segurança fundamentada no respeito dos
valores humanos essenciais
É difícil não obstante a aplicação do 29/2.º CRP, já que os princípios gerais do DIP
não contêm por definição normas penais completas e precisas que cominem a
penalidade aplicável ao crime Lacuna DEVE ser integrada nos limites da lei
interan, valendo os limites gerias das penas do 40.º e 46.º CP + determinação por
raciocínios de analogia entre crimes identicamente graves previstos na lei, tendo que
ser proporcional o crime e a pena
Logo, o 29/2.º apesar de não exprimir a reserva de lei, ainda garante uma lógica de
preservar expectativas legítimas
Exceção do 29/2.º ≠ 292.º CRP > estas leis incriminaram a pertença a organizações do
Estado que praticavam sistematicamente ato criminosos não diretamente a prática desses
atos, diferentemente do que decorreu no Tribunal de Nuremberga, em que a mera pertença
Às organizações nazis era bastante.
Formulação, âmbito e fundamento do princípio da legalidade
O nullum crimn nulla poena sine lege é a base mínima e essencial da adequação do DP ao
Estado de Direito democrático.
O princípio da legalidade exige de legislador e interprete um cumprimento estrito, como
QUALQUER comando da estatuição de uma norma jurídica.
O 29/1.º CRP e 1ª 3.º CP têm o seguinte regime:
SÓ a lei pode ser fonte de DP > reserva relativa do AR 165/1/c).ºCRP
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Esta técnica legislativa é FREQUENTE por razões inerentes à complexidade dos setores em
que o DP intervêm (Economia, saúde pública, ambiente) e o seu crescente papel sancionador
de normas formuladas noutras áreas do sistema jurídico, através da implementação no
ordenamento jurídico português de inúmeros regulamentos comunitários após a sua
transposição para a ordem jurídica nacional.
A remissão de uma norma para outras NÃO é em si mesma um obstáculo ao princípio da
legalidade, mas SIM o grau de esvaziamento do conteúdo precetivo + atribuição de
competência para definir o comportamento proibido a leis hierarquicamente
inferiores ou atos administrativos decorre nas situações em que o núcleo de
comportamento proibido pela norma depende TOTALMENTE da norma para o qual se
remete, não sendo previsível para os destinatários da norma.
quando remissão é puramente um critério técnico não estando o objeto da norma
remissiva o interesse fundamental protegido depende do conteúdo concreto deste critério,
pode se falar de um efeito de regulação da norma inrimnidadora que NÃO depende do
conteúdo da norma para o qual se remete. Encontram-se normas em que a cerne da proibição
se cetnra num efeito pretendido ou interesse fundamentalmente prosseguod, NAÕ
dependendo do mesmo critério técnico, em si mesmo variável em função de novos
conhecimentos.
Decorre nos crimes ambientais que estão dependentes da cominação legal para
autoridade administrativa e da desobediência à mesma a relevância típica do
comportamento.
Estas são admitidas
Distinção entre normas remissivas que VIOLAM a reserva e as que com ela são compatíveis:
Função da norma penal é
o Estabelecer direta e materialmente a fronteira entre o proibido e o permitido
o Sinalizar que um certo efeito material dependente da obediência à regualçaõ
legal, isto devido à natureza ou grau de risco da atividade
A remissão, segundo o TC, NÃO interfere com a previsibilidade e com a segurança jurídicas,
mas apenas cumpre o papel de orientar o interprete segundo critérios objetivos quanto á
verificação do comportamento proibido.
Acordão 427/95 > done> remissão casos
Acordão n.º 534/98 > a norma técnica regulamentar SÓ dava indicações do tipo perical para
delimitação do comportamento proibido. A norma fixada em portaria ÃO ela constitutiva
do ilícito, tendo a função de sucedâneo de uma perícia.
Acordão 115/2008 > done > remissão casos
Assim, para a REGENTE, a fronteira da violação da reserva de lei encontra-se a garantia de
que NÃO emana da norma regulamentar ou do ato de autoridade administrativa a
diferenciação entre comp proibido ou permitido mas antes da norma remissiva. Esta é a linha
de distinção entre normas penais em branco propriamente ditas, inconstitucionais e as
normas remissivas para normas técnicas que NÃO violam a reserva de certeza e de
previsibilidade.
O Problema da interpretação da lei penal: A PROIBIÇÃO DA ANALOGIA
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≠ analogia > caso real é semelhante aos casos considerados pela lei, sem ter
sido pensado pela lei. Na interpretação extensiva o legislador exprime
imperfeitamente o que pretende regular
Porém, esta construção parte da de uma doutrina tradicional que se baseia na interpretação
jurídica como subsunção (incluir em algo mais amplo ou abrangente), segundo o qual seriam
separáveis os momentos de pura investigação do sentido e âmbito da lei e da sua aplicação
aos casos concretos. O que pressupõe, erroneamente, que:
→ a interpretação jurídica NUNCA é constitutiva, que a própria analogia é subtraída ao
pensamento inspirador do caso legal
→ a integração de lacunas não recorre a um fundamento jurídico derivado da própria
lei que abrange casos semelhantes
→ pressupõe a existência prévia de um sentido literal que se impõe à interpretação,
visando a interpretação esclarecer a coincidência com aquele sentido dos elementos
não literais.
É, porém, discutido se esse sentido literal poderá ser 1) limitativo da interpretação 2) não
terá de ser apenas PRODUTO da interpretação.
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2
sujeito é prejudicado pela interpretação da lei
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3
A doutrina e a jurisprudência portuguesas (9S) têm retirado uma proibição da interpretação
extensiva da 2.;i parte do art. 18." do Código Penal, onde se diz ser «sempre necessário que se
verifiquem os elementos essencialmente constitutivos do facto criminoso, que a lei penal
expressamente declarar». Ora a exigência da declaração expressa também consta do n." 3 do
art. 29.° («expressamente cominadas»), pelo que pode perguntar-se se a actual Constituição
também consagra a proibição. Note-se que a doutrina italiana e suíça, perante preceitos
semelhantes dos Códigos penais italiano (art. 1.": «crime ... expressamente previsto») e suíço
(art. l.°: «facto ... a que a lei expressamente comina uma pena») têm considerado permitida a,
interpretação extensiva ). Mas, por outro lado, em países onde só há proibição de analogia,
como na Alemanha, a jurisprudência e a doutrina dominante entre os penalistas estabelece
como limite entre interpretação e analogia «o sentido possível das palavras» (I0°). o sentido
possível das palavras é precisamente o limite até ao qual pode ir, segundo a doutrina
portuguesa, a interpretação declarativa .Deve entender-se que uma interpretação que vá além
do sentido possível das palavras é incompatível com o fundamento de segurança jurídica do
princípio nullum, crimen nuila poena sine lege} embora não esteja, em rigor, abrangida por
ele. Com efeito, entre o sentido possível das palavras e «o mínimo de correspondência verbal»
a que se refere o n." 2 do art. 9." do Código Civil, há ainda um espaço a ser percorrido pela
interpretação. A interpretação que, embora tendo na lei um mínimo de correspondência verbal,
excede o sentido possível das palavras de lei, é interpretação extensiva e deve considerar-se
proibida pelo art. 18." do Código Penal e pelo art. 29.° da Constituição. Sendo, nestes termos,
a proibição da interpretação extensiva inteiramente justificada, não se vê porque limitá-la às
«normas incriminadoras» (II"), isto é, as disposições que indicam os elementos constitutivos
essenciais do crime — ficando de fora as disposições relativas às circunstâncias agravantes ou
às penas—; ou até apenas ao «momento da incriminação» O'13), para o fim do enquadramento
numa disposição que estabelece uma pena mais grave.
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Exemplos relevantes na pp 146
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Após o CPP de 1987 deixou de ser o Tribunal de Instrução para ser o MP a investigar criminalmente,
numa fase denominada de inquérito. O CP 1982 para efeitos de interrupção da prescrição do
procedimento criminal manteve a referência aao satos de instrução preparatória como previsot no CPP
de 1929. Vários tribunais entendiam que onde se falava de instrução preparatória deveria se entender a
constituir do arguido no inquérito.
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(tipo legal) e atendendo esta a qualificação de infração penal a responsabilidade penal dela
emergente. Aplica-se o 2/4.º CP.
A aplicação retroativa da lei penal mais favorável pressupõe uma verdadeira sucessão de leis
penais (prevista no 2/4.º CP), sendo os pressupostos os seguintes:
1. º Sucessão de leis penais
2. º Aplicabilidade ao facto concreto da lei vigente no momento da prática do facto
(tempus delicti) quer da lei sucessiva
3. º Quando entra em vigor a LN a situação jurídico-penal criada na vigência da lei penal
anterior pela infração não se tenha esgotado plenamente, que não se tenha extinguido
toda a responsabilidade penal
4. º A lei penal nova, não extinguindo a situação jurídico-penal existente à data da sua
entrada em vigor altere os termos da responsabilidade penal imputada ao agente do
facto pela lei antiga, agravando-a ou atenuando-a
A questão + complicado: casos em que a modificação da estrutura do tipo legal de crime,
tanto a L.A. como a L.N. preveem tipos legais de crime, mas a LN adiciona ou subtraí
circunstâncias do tipo legal de crime consagrado pela L.A.
Existe REFORMULAÇÃO do TIPO LEGAL, através de modificações dos seus elementos
constitutivos.
É necessário NUNCA esquecer na aplicação prática os princípios constitucionais e político-
criminais, sendo que perante um critério e um princípio cede o critério.
Teoria do facto concreto: para se afirmar uma relação de verdadeira sucessão basta que o
facto praticado fosse subsumível à hipótese da LA e à da LN, independemente das alterações
introduzidas na constituição do tipo legal e das rationes normativas subjacentes à decisão
tipificadora quer da LA quer da LN.
Recusa-se: valora situação como típicas quando na prática do ato não o eram,
violação da proibição da retroatividade da lex severior, secundariza a distinção e
diferentes valorações jurídico-penal entre circunstâncias típicas e circunstâncias
gerais, menospreza a função de orientação que cabe à lei penal
Teoria da continuidade do tipo do ilícito: exigir um duplo pressuposto: 1) agimaçao de
continuidade do tipo de ilícito, continuidade do bem jurídico protegido 2) continuidade da
modalidade da conduta, ou seja identidade do bem jurídica e da factualidade típica
Recusa-se: é muito rígida quando exige identidade entre factualidaes típicas entre L.A.
e L.N
CRITÉRIO dotado de objetividade postulado por sucessão das leis penais, e o avançado por
Taipa de Carvalho foi o critério da identidade ou continuidade normativo-típica.
Ponto de referência: tipo-legal
a) Alargamento da punibilidade por supressão de elementos especializadores constante
da L.A., a LN comporta-se, face à lei nova, como uma lex generalis > menor
compreensão (menor exigência normativa) e maior extensão (maior o círculo de
factos puníveis abrangidos subsumíveis à LN do que o círculo dos factos subsumidos
á lei antiga) (ALGO que todos concordam)
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Noções importantes:
Crimes instantâneos, crimes duradouros (ou permanentes) e crimes habituais
Crimes instantâneos: a consumação de um crime se traduza na realização de um
ato cuja duração seja instantânea, ou seja, não se prolonga no tempo, esgotando-se
num ÚNICO momento (ex: homicídio, furto)
Crime permanente/duradouro: consumação do crime prolonga-se no tempo, por
vontade do autor, a consumação ocorre LOGO que se cria o estado antijurídico, só
dura até um tal estado tenha cessado (ex: sequestro ou violação do domicílio)
Crimes habituais: a realização do tipo incriminador supõe que o agente pratique
determinado comportamento de forma reiterada, até ao ponto da mesma se poder
dizer habitual (ex: lenocídio)
O bem jurídico. Crimes de dano e crimes de perigo
Forma como bem jurídico é posto em causa pela atuação do agente distingue-se em crimes
de dano e crimes de perigo.
Crimes de dano: lesão efetiva do bem jurídico (homicídio, dano, violação sexual).
Crimes de perigo: realização do tipo não pressupõe lesão, mas mera colocação em
perigo do bem jurídico.
o Perigo concreto: perigo faz parte do perigo, o tipo só é preenchido quando
o bem jurídico tenha efetivamente sido posto em perigo (138.º CP >
abandono), comprovação de que o bem jurídico tenha sido posto em perigo
o Perigo abstrato: o perigo é MOTIVO da proibição, são tipificados perigos
que pela sua perigosidade típica para um bem jurídico, mas sem que
necessite de ser comprovada no caso concreto. Presunção inilidível de
perigo > conduta do agente é punida independemente de ter criado ou não
um perigo efetiov para o bem jurídico. Ex: condução em estado de
embriaguez (292.º) perigo potencial para a segurança rodoviária.
Crimes de resultado: conduta visa a produção de um resultado, tipo pressupõe a
produção de um evento como consequência da atividade do agente
O que são crimes públicos e semi-públicos?
Crimes públicos: não depende de queixa, prosseguido oficiosamente
Crime semipúblico: depende de queixa
O “TEMPUS DELICTI”
A proibição da retroatividade da lei penal desfavorável está dependente da determinação do
tempus delicti fixação do momento em que se considere cometido o crime.
O tipo legal decompõe-se em vários elementos de onde se destaca a conduta e o resultado.
Estes podem ocorrer em momentos distintos entre si, sendo possível que no tempo
intermédio vigore uma lei que CRIMINALIZE o facto ou AGRAVE a responsabilidade
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penal do agente do facto praticado. Daí ser indispensável determinar o elemento do crime a
considerar decisivo na relação temporal com o início da vigência da lei penal.
Momento de referência: 3.º CP > critério unilateral da conduta, é IRRELEVANTE a
verificação do resultado.
Proibição da retroatividade da lei criminalizadora/agravante = não é possível a aplicação de
uma conduta praticada ANTES do início da vigência de uma lei, mesmo que o resultado
venha a produzir-se quando essa conduta já estava em vigor.
Fundamentação do critério:
Razões essenciais:
Necessidade de garantia jurídico-política da pessoa humana frente à possível
arbitrariedade legislativa no exercício do poder punitivo > se a contrario fosse
relevante o resultado a ratio da garantia política sairia frustada, pois que o
legislador, praticada a conduta e antes que ocorresse o resultado, poderia
fazer entrar em vigor uma lei penal persecutória
Princípio político-criminal da culpa: a culpabilidade como fundamento limite
da pena e sendo o juízo de culpa um juízo de censura ética pela prática da
conduta e não pela ocorrência do resultado, tem que ser censurável a conduta.
O censurável também a conduta do agente porque dependem dos mesmos
para se concretizarem. Os resultados são aleatórios muitas vezes, o que não
implica que não possa ser utilizado como condição objetiva da punibilidade.
Princípio político-criminal da prevenção geral
Razões suplementares:
A função da norma penal como orientador de condutas, contendo implícita
a valoração de certos bens jurídicos, a norma determina destinatários a não
praticarem (norma de proibição) ou a praticarem (norma de imposição)
determinadas condutas. A violação da norma é a prática do conduta, não a
realização do resultado.
Argumento extraído da conceção subjetiva da ilicitude penal > a
essencialidade da infração penal radica no desvalor da ação (da conduta) e
não no desvalor do resultado.
Fim preventivo-geral de intimidação da pena: a ameaça penal contida na
norma jurídico-criminal pretende coagir o agente a omitir ou a praticar
condutas, sendo possível ameaçar o destinatário da norma daquilo que ele
controla e não de aquilo que NÃO depende necessariamente dele
Existem casos em que a conduta se protai por um tempo mais ou menos longo, como nos
casos doe tipos legais de crime permanente. Nestes casos não há relevância do momento do
resolturado, nem de na hipótese de LN entrar em vigor depois do crime efetuado mas o
resultado não se tenha verificado fosse tentando evitá-lo. Assim, aquando a entrada em vigor
de LN o dever de garante de impedir um resultado criminoso que se quis produzir não será
em princípio relevante e não impedirá que a conduta seja valorada.
O momento decisivo num caso de doseamento de veneno com vista o homicídio para T.
Carvalho será momento em que foi ministrada a dose de veneno mortal, isto é, a dose que,
juntamente com as anteriores, converteu a conduta do agente em conduta adequada a
produzir a morte. Assim, se a LN mais gravosa entrar em vigor ANTES do momento da
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dose mortal aplicar-se-á a LN a agente. Se entra em vigor posteriormente, não pode ser
aplicável, aplicando-se a LA.
Apesar da diversidade que será possível haverá sempre um denominador comum: possível
distribuição do tempo da conduta exigida pelo tipo OU pluralidade de condutas que
apesar de cada uma preencher o tipo legal são jurídico penalmente assumidas como
UMA SÓ UNIDADE criminosa.
Esta matéria articula-se com a da sucessão das leis penais que agravam a responsabilidade
penal ou quando a LN entra em vigor no decurso da execução do facto., sendo uma lex
severior.
Lei criminalizadora: só podem ser consideradas as ações que foram praticadas
depois do seu início da vigência. As anteriores serão irrelevantes sob o aspeto
jurídico-penal, já que o contrário constituiria uma violação da proibição
constitucional da retroatividade da lei criminalizadora
LN favorável: despenaliza (descriminaliza) OU diminui a responsabilidade penal >
aplica-se LN porque mais favorável
LN com agravação da pena: todas as soluções devem, sob pena de
inconstitucionalidade, respeitar o princípio da segurança jurídica e o princípio da
culpa que fundamentam a irretroatividade da lei penal mais desfavorável
o Critério de T. C.:(adere JFD) deve aplicar-se a lei antiga a não ser que a
totalidade dos pressupostos da LN se tenham verificado na vigência
desta
Crimes de omissão com agravação da pena: o dever de ação é decisivo o último momento
emq eu o omitente podia ter praticado a ação imposta (crime de mera omissão) ou a ação
adequada a impedir o resultado (crime de comissão por omissão). O critério será, seguindo-
se Jakobs, tempo durante o qual a ação importa se apresenta ainda como adequada
para impeir o resultado > Só se aplica a LN quando entrar em vigor antes de esgotada a
última hipótese de intervenção jurídico-penalmente adequada.
Comparticipação (autoria mediata, instigação, cumplicidade): decisivo é o momento de cada
uma das condutas consideradas per se.
Actio libera in causa: o momento determinante para este efeito é o momento em que o
agente se coloca no estado de inimputabilidde e não o momento posterior em que ele pratica
o facto tipificado na lei penal
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LEI INTERMÉDIA
A Lei intermédia é aquela lei penal cujo início de vigência é posterior ao momento da prática
do facto criminoso mas o termo da vigência ocorre antes do julgamento. A lei não está em
vigor em nenhum dos momentos (nem no MPF nem no trânsito em julgado da sentença)
sendo que o problema da sua aplicabilidade só se levanta quando a lei intermédia é mais
favorável que as outras duas leis em confronto.
Porque é mais favorável aplica-se, já que se aplica a uma conduta praticada ANTES a sua
entrada em vigor é retroativa e porque é aplicada depois de ter cessado a sua vigência é
ultraativa.
Razões da sua aplicabilidade:
1) princípios jurídico-político da segurança individual contra possíveis arbitrariedades
legislativas ou judiciais
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O que decorre é que existe a hipótese de vigorar para certo crime uma deposição penal ao
tempo do MPF, outra disposição penal para o tempo do seu julgamento e outra no período
intermédio entre as duas. É por razões de justiça que se aplica a mais favorável, e menos
grave.
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Lei penal que visando prevenir a prática de determinadas condutas numa situação
de emergência ou de anormalidade social, se destina a vigorar apenas durante essa
situação de emergência, pré-determinando ela própria a data da cessação da sua
vigência
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sua como que normalização retirou àqueles factos (abstratamente considerados) a sua
perigosidade.
Regente: a retroatividade da lei penal de conteúdo mais favorável não abrange as leis
de emergência, sendo que o 2/3.º CP claramente subtrai a retroavidade in mellius
nestas situações; não pretende referir-se a sucessão de leis penais em sentido próprio:
a lei posterior que descriminaliza a conduta (ou pena menos grave) não inclui entre
os seus elementos típicos a situação de crise, havendo alteração essencial no ilícito
típico. Esta exceção TEM que obedecer em face do 29/4.º CP, aos princípios da
necessidade da pena e da igualdade. O 2/3.º não pode ultrapassar estes princípios
apenas apoiado na prevalência da intenção legislativa quanto ao caráter temporário
da lei.
Um fundamento secundário do regime especial da lei temporária será a sua eficácia
preventiva, ou seja, uma vez que o julgamento realizar-se-á na maioria das vezes num
momento em que a lei NÃO está em vigor a ultratividade confere eficácia intimidativa.
Nota: as leis penais económicas apesar de instáveis e mutáveis não são leis temporárias, sendo
uma realidade normal, e normalmente resulta da efetiva mudança das conceções político-
económicas do legislador. A mutabilidade da situação económica pertence também à
realidade social, sendo uma situação NORMAL. Aplica-se em regra o princípio da
retroatividade da lei penal favorável, podendo revestir a natureza de leis de emergência se
cumprirem os requisitos.
Uma lei temporária pode agravar a responsabilidade (não só criminalizar) sendo uma
lex severior , ou seja, uma lei que por força da situação de emergência vem agravar
temporariamente a responsabilidade penal pela prática de um facto que já é, na
situação normal, considerado crime.
Pode existir uma verdadeira sucessão de leis penais temporárias com a consequente
aplicação da lei penal mais favorável. Isto ocorre se existir entre 2 leis uma verdadeira
relação de sucessão, pois que há identidade da situação fáctica assumida por ambas e
determinante do regime especial destas, aplicando-se retroativamente a lei temporária mais
favorável. Se ambas visam a mesma situação de emergência, tendo havido apenas uma
alteração da conceção político-criminal.
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MEDIDAS DE SEGURANÇA
No passado foi negado a soburdinação dos pressupostos das medidas de segurança à
proibição da retroatividade, porque se considerava as medidas de segurança realidade alheia
ao direito penal de facto. A perigosidade do agente era o fundamento e pressuposto da
medida, de modo que não existiria retroatividade desde que a lei criasse/modificasse uma
certa medida de segurança fosse contemporânea d eum estado de perigosidade duradouro e
anterior, não se agravando assim a medida. Isto justificava-se pela ideia de que a proibição
da retroatividade se baseava num princípio de culpa, de modo que onde se procurasse
assegurar finalidades preventivas das sanções penais, nem sequer sendo tutelável o
conhecimento pela sanção por parte do agente.
Hoje isto não colhe, até pela doutrina alemã que inicialmente a sustentou, decididamente
afastada pelo 29/1.º e 3.º CRP e 2.º CP. Hoje entende-se que o fundamento da proibição
da retroatividade é a segurança dos destinatários do Direito própria de um Estado de Direito
democrático. Uma alteração agravante ou a criação de uma medida AFETAM a segurança,
na medida em que permitam uma intervenção sem controlo do poder punitivo na liberdade
dos cidadãos. Contende com a segurança a ausência de limites à intervenção do Estado,
mesmo devido a objetivos de prevenção e política criminal.
As medidas de segurança estão também sujeitas ao princípio da legalidade e da
jurisdicionalidade. SÓ o tribunal pode aplica uma medida de segurança e o seu tratamento,
não podendo ao delinquente ser aplicada uma medida mais grave do que a prevista no
momento da prática do facto.
Devem ser POSTERIORES ao início da vigência da lei que descreve os pressupostos 1)
pressupostos da declaração judicial da perigosidade 2) aplicabilidade da medida de segurança
3) próprias medidas de segurança aplicáveis ao delinquente inimputável NÃO podem ser +
gravosas do que as previstas no momento de preenchimento dos pressupostos (29/4.º CRP
+ 2/1.º CP).
Se a lei posterior ao preenchimento dos pressupostos da perigosidade é favorável então
aplicar-se-á retroativamente.
O 29/4.º CRP e o 2/4.º CP NÃO mencionam expressamente as medidas de segurança, mas
as mesmas, segundo T.C. são abrangidas a fortiri as medidas de segurança e pressupostos.
Apesar de desprovidas de fundamentação ético-retributiva e assumidas como tendo
objetivos de mera defesa social também serão aplicáveis retroativamente.
Ponto de referência para defender a aplicação: momento do preenchimento dos pressupostos
(factos).
Se a lei posterior ao facto pressuposto descriminaliza esse facto é óbvio que se aplicará
retroativamente, sendo que ao delinquente já não poderá aplicar qualquer medida de
segurança, e se já tiver sido aplicada cessará a sua execução (29/4º 2.º parte CRP e 2/2.º CP).
Se a lei posteiror ao MPF prevê uma medida de segurança mais favorável também se aplicará
retroativamente (29/2.º 2.º parte e 2/3.º CP). Logo o princípio da retroativadade da lei
criminalizadora mais favorável aplica-se igualmente às medidas de segurança.
Ratio da aplicação: apesar de não terem o fundamento étcio de uma pena, nada retira
gravidade da sua intervenção e ao perigo da sua utilização abusiva/persecutória. A
consciencialização jurídico-política + aprofundamento do Estado de Direito vê na sujeição
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Pode uma lei inconstitucional ser ainda aplicável por ser mais favorável de
acordo com o 29/4.º CRP? (ou outra norma constitucional)
NÃO > RUI PEREIRA: a lei inconstitucional é INVÁLIDA e não pode por isso
produzir quaisquer efeitos;
1) 282.º CRP > a declaração de inconstitucionalidade produz efeitos DESDE
a entrada em vigor da norma declarada inconstitucional. Consequência:
REPRISTINAÇÃO das normas que ela haja revogado, mesmo que menos
favoráveis
2) Não há sucessão de leis no tempo
3) Se declarada inconstitucional a norma a lei posterior mais favorável nem
sequer se trata de uma situação do 29/4.º CRP
4) Se tiver havido erro sobre a ilicitude do facto e o agente agiu durante a
vigência da norma inconstitucional exclui-se a culpabilidade do agente
ao abrigo do 17.º CP
5) Quando JÁ se tiver aplicado a lei mais favorável (inconstitucional) >
preserva-se o caso julgado ao abrigo do 282/1.º CRP
a. Exceção: 282/3.º CRP > casos de aplicação da lei penal
inconstitucional menos favorável; levanta-se o caso julgado para
repristinar a lei penal revogada mais favorável, de acordo com o
282/1.º CRP
SIM > JORGE MIRANDA: a lei penal posterior DEVE ser aplicada, porque foi ela
que orientou o comportamento do agente e o Estado o vinculou através dela o
comportamento dos destinatários; argumentos:
1) não se pode aplicar rigidamente o 282.º CRP, devendo ser articulado com
outros critérios constitucionais como:
a. Princípio do Estado de Direito assente na confiança perante os
destinatários das normas penais
b. Prevalência do princípio da igualdade subjacente ao 29/4.º CRP
c. Princípio do Estado de Direito: expressão da vinculação do Estado ao
Direito que cria perante os destinatários
2) Há uma lacuna no 282.º CRP já que configurando a não salvaguarda do caso
julgado os casos de lei penal menos favorável, dá prevalência ao princípio da
lei mais favorável, ao inverso, não tem em conta a situação da lei
inconstitucional mais favorável
Regente: adere a JOMI porque:
1) Não se recorre a uma verificação fictícia do erro sobre a ilicitude e ao 17.º
CP para deixar de punir o agente pela lei menos severa. Defende-se assim
que se no caso de não ser aplicável o 17.º CP atenua-se a pena de acordo
com a medida da lei inconstitucional mais favorável
2) Tem que se ter em conta que o problema se coloca nos intersicios de 2
normas constitucionais de vários princípios e dada a importância da
aplicação da lei + favorável em termos de direitos, igualdade e de restrição
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mínima da liberdade, haverá uma lacuna a ser integrada pela articulação dos
princípios
3) O 282.º CRP denota uma prevalência do princípio da aplicabilidade da lei
mais favorável que tem um papel de revogação do próprio caso julgado >
esta supremacia mosta que também será feita uma articulação semelhante
na situação não contemplada no artigo, da lei + favorável, salvaguardando
assim por razões de igualdade, necessidade da lei penal e da confiança
inerente ao Estado de Dirieot a aplicação da lei penal inconstitucional mais
favorável
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factualidade típica, algo que ultrapassa a ação típica e que se imputa objetivamente
àquela, significando um acontecimento relevante para o Direito para além da ação
típica. O perigo afronta a Ordem Jurídica e põe em causa a segurança dos bens e a
confiança no Direito, clamando pela soberania punitiva do Estado, do mesmo modo
que a ação e o resultado
A ocorrência do dano sem que o resultado típico se verifique em Portugal permite
considerar o crime praticado em território português o facto? DEPENDE de se os
elementos de conexão especial com a lei penal portuguesa contêm uma intensificação
ou um desenvolvimento do evento típico, isto nos tipos legais de crimes em que a
tipicidade se consuma com um resultado ANTERIOR à lesão efetiva do bem jurídico
(como 256.º e 262.ºCP, injúria e difamação). Todo o dano pressupõe nos crimes
de resultado uma manutenção do resultado típico ou a sua intensificação.
Nota: ver a página 183 antes do exame.
Crimes de resultado cortado/ parcial ou espécie de consumação antecipada > e com
outra consumação material se determina a aplicação da lei portuguesa. Exe: 272.º CP,
255.º CP > também o resultado material NÃO é já necessário para a consumação
continua a ser relevante para a determinação do lugar da prática do crime
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violação do princípio da aplicação da lei penal estrangeira mais favorável, expresso no 6/2.º
CP.
Regente: a melhor interpretação do 5/1/e)/ii).º CP imporá que a lei portuguesa seja
aplicável por força do princípio da nacionalidade conjugado com o da aplicação da lei penal
estrangeira mais favorável, somente nos casos em que o facto seja em concreto punível em
país estrangeiro.
6/2.º CP impõe por maioria de razão que se aplique também a lei penal estrangeira
mais favorável quando:
o onde o agente nem pudesse ter sido julgado no estrangeiro (condição objetiva
ou subjetiva de punibilidade ou condição de procedibilidade)
o onde o agente fosse julgado nunca poderia ter sido condenado (devido a uma
causa de exclusão de culpa)
o onde o agente nem sequer deva ser submetido à aplicabilidade da lei penal
portuguesa
Na alínea b) do 5/1.º CP o que são crimes contra portugueses?
→ Historicamente: aborto e bigamia
→ Aborto: no caso do 140/2.º CP pode ser entendido como crime contra portugueses
sem recurso à analogia?
o Objeto da ação típica: o próprio feto
o Bem jurídico protegido: via intra-uterina
o São para MFP os interesses da sociedade portuguesa como um todo que são
afetados, vida intra-uterina de um «futuro cidadão português» é um bem cuja
tutela penal se tem que justificar por um interesse objetivo da sociedade
o A cidadania não implica o reconhecimento de personalidade jurídica nos
termos da lei civil, mas a irreversibilidade de aquisição dessa personalidade,
como acontecerá durante o parte, antes do corte do cordão umbilical tmbém
o Não há necessidade de recorrer à analogia para MFP entre o conceito de feto
e cidadão português na medida em que é possível através de interpretação
sistematicamente justificada referir o sujeito passivo do crime a toda a
sociedade, isto é, a todos os portugueses.
→ Há várias infeações de titularidade coletiva do bem jurídico que justifica a
incriminação como é o caso dos crimes contra a vida em sociedade ou contra o
Estado: 247.º CP – 307.º e 308.º- 385.º CP
→ Porém, estando o 5/e)º próximo sistematicamente do 5/b).º sendo o b) uma
extensão do e), o elemento sistemático da interpretação de uma norma que consagra
um alargamento excecional do princípio da nacionalidade não poderá integrar
interesses gerais e coletivos dos portugueses sem ultrapassar o sentido possível das
palavras
5/1/g).º CP > estende o princípio da nacionalidade Às pessoas coletivas com sede em
território português >necessárias articulação com 11.º CP
6/2.º CP > princípio da aplicação da lei masi favorável do direito estrangeiro. Neste caso,
apesar de aplicável por força dos princípios da nacionalidade e da universalidade, aplicar-se-
á a lei estrangeira. Isto implicará que não estejam em causa os princípios da territorialidade
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(4.º CP, ou seja, o facto NÃO foi praticado em território português) nem o da defesa de
interesses nacionais, nem ocorrer o previsto no 6/1º CP.
Isto é excluído no caso do terrorismo (8/2.º crimes de organização terrorista e no 2.º
e 4.º Lei 52/2003) e de violação do Direito internacional Humanitário (Lei n.º
31/2004 nos termos do 5/2.º), isto devido à gravidade dos crimes e o facto de o
Estado Português se assumir como representante da comunidade internacional de
modo proativa e não meramente de cobrir lacunas da punibilidade não se justifica a
aplicação da lei penal mais favorável
Exige-se pelo 6/2.º CP que deve ser aplicada a lei do país em que o facto tiver sido praticado
sempre que aquela for concretamente mais favorável ao agente, consubstanciando numa
restrição à aplicação da lei penal portuguesa.
Fundamento: conjugação da subsidiariedade do exercício do poder punitivo do
Estado Português com o princípio da culpa, igualdade, necessidade da pena e da
segurança jurídica (1.º 13/1.º 18/2.º 29/1.º CRP)
o A punição nos termos mais graves pelo Estado Português não garantiria uma
adequação da consciência da ilicitude do agente ao desvalor da ação e à
gravidade do ilícito para ele previsível
A ratio do 6/2.º CP NÃO abrange do 5/1/a).º e 5/1/b).º porque aí o poder punitivo do
Estado português NÃO é subsidiário, sendo que nos prévios artigos baseiam-se na
presunção de que o facto não é punível no território em que é praticado nem em abstrato
nem em concreto ou ser menos gravemente punível.
Nota: punição em concreto = punibilidade efetiva do facto, consideradas todas as
circunstâncias da sua ocorrência e até mesmo os aspetos relacionados com a culpa do autor.
O 6/1.º CP exprime um condicionamento geral da aplicabilidade da lei penal portuguesa
pelo princípio non bis in idem (29/5.º CRP). O pressuposto é o facto de o agente,
encontrado em Portugal, não tive sido julgado no país da prática do facto ou ter-se subtraído
ao cumprimento total ou parcial da condenação.
O princípio non bis in idem é a expressão a garantia de que a perseguição criminal mediante
o processo penal não é instrumento da arbitrariedade do poder punitivo utilizável
renovadamente e sem limites, mas é um modo controlável e garantido de aplicação do Direito
Penal. ASSIM > tanto a 1) repetição do julgamento pelo mesmo crime de que foi absolvido
ou condenado a certa pena 2) como a repetição da punição do agente já condenado e punido
são negações do valor geral do processo penal e do direito do arguido a que o Estado se
vincule ao desfecho do processo penal que desencadeou.
O poder punitivo do Estado português terá que se justificar pela estrita necessidade de
intervir (julgar e punir) nos termos do 18/2º CRP. A necessidade de intervenção do poder
punitivo quando uma pessoa já foi julgada e absolvida no estrangeiro ou já aí cumpriu pena,
NÃO EXISTE!
SÓ se justifica a intervenção penal quando se trata da proteção de interesses nacionais.
O princípio non bis in idem surge como emanação de 2 ideias fundamentais:
1) Vinculação do poder punitivo do Estado de Direito pelo desfecho do processo penal
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Será que o 29/5.º CRP abrange o julgamento anterior no estrangeiro pelo mesmo crime,
depois da condenação ou cumprimento parcial da pena ou só o julgamento pelos tribunais
portugueses?
Resposta moderada: os efeitos das sentenças estrangeiras previstas no 6/1.º CP são
expressão exigível da CRP. Esta resposta limita o âmbito do non bis in idem a
julgamentos absolutórios ou em que houve cumprimento da condenação (não houve
subtração ao cumprimento total ou parcial da condenação)
Resposta radical: o 6/1.º é incompatível com o 29/5.º CRP porque se alguém se
subtraísse ao cumprimento da pena renovar-se-ia o julgamento pelo mesmo crime.
o Regente: esta interpretação que resulta na inconstitucionalidade no 6/1.º
parte final é evitada de que esse pretenso novo julgamento seria apnas a
revisão e confirmação da sentença estrangeira à luz da lei penal mais favorável
o Porém > a proteção absoluta do non bis in idem não é exigida pela CRP,
desde que o novo julgamento esteja contido pelo princípio do desconto (a
pena já cumprida fosse descontada na nova condenação, 82.º CP). Assim, o
non bis in idem proíbe a dupla punição, mas não a repetição do julgamento
realizado em país estrangeiro
NÃO esquecer a segunda parte do 6/2.º CP > aplica-se a sentença proferida por tribunal
português como revisão e confirmação da sentença penal estrangeira pelos tribunais
portugueses, isto é decorrência do princípio da praticabilidade, necessidade da pena (só a
pena correspondente é necessária) e non bis in idem (a pena aplicável NUNCA poderá, pela
conversão, vir a impor uma segunda punição, ou punição mais gravosa do agente que se
subtraí total ou parcialmente à execução da pena.
Cooperação judiciária internacional: extradição e regime do mandato de detenção
europeu
EXTRADIÇÃO – problemas de constitucionalidade
A Lei 144/99 estabelece os critérios gerais relativos à cooperação judiciária internacional em
matéria penal, aplicáveis à extradição:
Passiva > em que o estado português é solicitado
Ativa > em que o estado português é o requisitante
A lei também prevê requisitos concretos de inadmissibilidade da extradição e outras razões
apenas invocáveis facultativamente pelo Estado Português.
No artigo 4.º da Lei 144/99 prevê-se a reciprocidade, como princípio geral.
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O TC conclui que os “objectivos que o Governo gostaria que viesse a ser alcançado era
o de se flexibilizar a possibilidade de extradição, desde que fossem prestadas garantias
– designadamente políticas ou diplomáticas – tidas por suficientes, quando ao crime
correspondesse abstractamente quer a prisão perpétua quer a pena de morte”.
Porém, devido à adesão de Portugal à Convenção de Aplicação de Schengen, e em virtude
de um caso de requerimento de extradição de um jugoslavo para a Alemanha onde foi
condenado à prisão perpétua (caso Varizo (Acórdão nº 474/95) os estados contraentes da
convenção urgiam Portugal ao cumpriemnto dos acórdos, o que implicava a extradição.
Assim, apesar da intenção inicial da AR, e para mudar a jurisprudência uniforme dos tribunais
das relações 6 e do TC, foi proposta uma alteração da CRP em agosto de 1996, de impor uma
diferenciação entre pena de morte e pena perpétua. José Magalhães assinala que em matéria
de pena de morte, houve uma "não alteração"7. Quanto à pena de prisão perpétua,
afirmando os deputados que o TC foi longe de mais identificando a morte a outras penas,
poderá haver extradição se o Estado requisitante der garantias consideradas suficientes de
que esta pena, não será aplicada" (ibidem).
“Logo por aqui, pois, se afigura claro que o legislador constituinte não quis alterar a
doutrina do Tribunal Constitucional relativa à extradição por crimes a que seja aplicável
pena de morte e quis criar direito constitucional diferente mais permissivo para a
6
O Tribunal da Relação de Lisboa baseando-se no TC não extradita o jugoslavo
7
Temos um património histórico e cultural que temos de preservar. Fomos os primeiros países a abolir a
pena de morte, a qual não é aplicada em Portugal para crimes políticos desde 1834, embora só abolida
em 1852, e para os crimes comuns em 67 (JOSE MAGALHÃES)
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extradição por crimes a que seja aplicável pena ou medida de segurança de carácter
perpétuo.”
33/5.º CRP > à exigência de "reciprocidade" – também feita no nº 5 do artigo 33º se reflecte
sobre as garantias consideradas suficientes, uma vez que estas terão que ser vinculativas por
força de uma convenção ou acordo internacional. As garantias diplomáticas de tais medidas
são garantias de direito internacional público - e nesse sentido não são meramente políticas
-, mas não são garantias de direito interno imediatamente vinculantes para os tribunais.
Em suma: o que o Tribunal declarou com força obrigatória geral no Acórdão nº 1146/96 foi
que era inaceitável, para o efeito de permitir a extradição, uma garantia da substituição da
pena de morte - e mais geralmente, poderia interpretar-se, uma garantia da sua não execução
-, se esta garantia não fosse, segundo o ordenamento penal e processual penal do Estado
requerente, juridicamente vinculante para os respectivos tribunais. E estendeu essa doutrina
no caso Varizo (Acórdão nº 474/95) à extradição por crimes puníveis com prisão perpétua
Ora, o fundamento desta proibição de extradição do 33/5.º CRP é a garantia individual de
não haver penas nem medidas de segurança privativas ou restritivas da liberdade com carácter
perpétuo ou de duração ilimitada ou indefinida (nº 1 do artigo 30º da Constituição), que se
entende integrar a ordem pública internacional do Estado português. A única maneira de
evitar a sua total denegação por parte de Estados que prevêm genericamente tais penas ou
medidas na sua legislação para factos praticados por certas pessoas é recusar a extradição
dessas pessoas, se não houver garantia de não execução.
Tendo em conta o modo como a Constituição Portuguesa desenvolve, através do
reconhecimento de direitos pessoais, a protecção da dignidade da pessoa humana, as penas
ou medidas de segurança privativas de liberdade perpétuas ou de duração ilimitada ou
indefinida atacam a integridade moral da pessoa, que a Constituição considera "inviolável"
(nº 1 do artigo 25º). Por palavras mais expressivas, quebram a espinha do delinquente. Ora
tais penas estão, por isso, expressamente proibidas no nº 2 do artigo 25º da Constituição
como "desumanas", e o mesmo vale para medidas análogas. 08/09/2016 TC >
Jurisprudência > Acordãos > Acórdão 1/2001
http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/20010001.html 10/12 Por outro lado,
os fins das penas articulam-se com a dignidade da pessoa humana e com o princípio do
Estado de direito, tal como ele se concretiza na Constituição portuguesa. A dignidade da
pessoa não é respeitada se ela não é tratada como livre e, por isso, susceptível de culpa (artigo
1º da Constituição). Ora a pena perpétua é uma pena fixa, que não pode variar segundo a
medida da culpa. As únicas variações que admite são indirectas, através da substituição por
outra pena, ou através do regime da sua execução. A pena perpétua é sempre imperfeitamente
retributiva, pelo que haveria que demonstrar a necessidade (face ao princípio geral do artigo
18º, nº 2 da Constituição) dessa limitação ao princípio da culpa.
Ora a prisão perpétua é constitucionalmente tida por desnecessária do ponto de vista da
prevenção geral. pena perpétua tira todo o sentido racional que deve ter a execução de
qualquer pena ou medida de segurança. A recuperação do delinquente é uma obrigação do
Estado na medida do possível (artigos 1º, 2º e 18º da Constituição) e a Constituição,
independentemente da questão filosófica do livre arbítrio e do determinismo, obriga as
entidades públicas e privadas a tratarem as pessoas como livres (artigos 1º e 27º da
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Existe um vasto elenco de crimes graves, sendo que este instrumento dispensa a dupla
incriminação pelo Estado de emissão e de execução do mandado. Esse elenco inclui os
crimes mencionados no 2/2.º.
O mandato tem uma utilização frequente, e o seu modelo inspirou o mandato de obtenção
de provas (permite a um Estado solicitar a outro, para efeitos de utilização num processo a
apreensão e preservação dos meios de prova obtidos no território deste).
A construção de um Direito Europeu sem a assimilação dos vários direitos nacionais
constitui expressão de uma União de Estados membros soberanos baseado num
reconhecimento de matriz comum de Estado de Direito Democrático, apesar de conteúdos
diversos de sistemas jurídicos nacionais.
Mandato de Detenção Europeu Extradição
Dispensa da dupla incriminação quanto a
um vasto elenco tipificado de infrações
criminais graves (2/2.º na Lei n.º
65/2003)
Afastamento do princípio constitucional princípio constitucional da não
da não extradição de nacionais, admite-se extradição de nacionais (33/3º CRP)
SEMPRE a entrega de nacionais >
beneplácito do 33/5.º CRP . Nota: este
não é obrigatório, dando origem a uma
causa de recusa facultativa desde que
12/g).º > possibilidade de recusa NÃO
prevalece quando não haja dupla
incriminação, pois não seria aplicável a lei
portuguesa
Afastamento do princípio da O princípio da territorialidade é causa
territorialidade como causa impeditiva da impeditiva da entrega
entrega, passa a causa de recusa
facultativa (12/1/h).º e i).º)
Afastamento das garantias Existem as garantias previstas no 33/4.º
constitucionais no 33/4.º CRP quanto às CRP
garantias exigíveis no caso de infrações a
que corresponda a pena de prisão
perpétua ou de duração indefinida >
decisão de entrega BASTA-SE com
garantia de estar previsto no sistema
jurídico do Estado de emissão uma
revisão da pena (13/1/a). º). Mais uma
vez 33/5.º CRP
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“(…) The Court observes that the fact that a State confers immunity on the members of its
parliament may affect the protection of fundamental rights. It would be incompatible with the
purpose and object of the Convention, however, if the Contracting States, by adopting a
particular system of parliamentary immunity, were thereby absolved of their responsibility
under the Convention in relation to parliamentary activity. The Court reiterates that, while
freedom of expression is important for everybody, it is especially so for elected representatives
of the people; they represent the electorate, draw attention to their preoccupations and defend
their interests. (…) Very weighty reasons must be advanced to justify interfering with the
freedom of expression exercised therein (…) Mr Sgarbi's statements, having been made at an
election meeting and therefore outside a legislative chamber, were not connected with the
exercise of parliamentary functions in the strict sense, and seem to be more consistent with a
personal quarrel. (…) The Court takes the view that the lack of any clear connection with
parliamentary activity requires it to adopt a narrow interpretation of the concept of
proportionality between the aim sought to be achieved and the means employed. (…) now
considers it wrong for immunity to extend to statements lacking any substantial connection with
prior parliamentary activities which the parliamentarian concerned could be thought to be
relaying”
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Regente: uma conceção moderna de soberania não pode deixar de fazer prevalecer a
responsabilidade perante a comunidade internacional de quem pratica crimes de tal natureza
sobre uma visão nacionalista de soberania. A própria soberania só pode ser justificada
enquanto contribui para a repressão de tais crimes.
As convenções que protegem a imunidade diplomática não as únicas fontes de DI, sendo
que os Tribunais Internacionais de Nuremberga e de Tóquio afastam a imunidade como
obstáculo à sua jurisdição.
Concretamente no caso Pinochet relativamente à aplicabilidade do direito interno a decisão
da House of the Lords e do tribunal inglês que decidiu do problema da extradição orientou-
se pelo sentido da não prevalência em matéria de extradição das imunidades diplomáticas,
concedendo do ponto de vista jurídico a extradição para Espanha de Pinochet, com o
argumento que crimes contra a humanidade como a tortura nunca seriam considerados como
cometidos durante o exercício das funções. No caso pesou bastante o facto de não se
encontrar em funções e de a imunidade diplomática dever ser entendida como ratione
personae, extinguindo-se após a cessação de funções.
No plano das imunidades diplomáticas já terá cabimento especial na proteção de imunidades
funcionais, mas tal categoria NÃO pode servir de fundamento da irresponsabilidade de
crimes contra a humanidade em que está necessariamente em causa a essência do DI Penal,
seja ele aplicável pelos tribunais nacionais ou internacionais.
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