Trabalho de Etica
Trabalho de Etica
Trabalho de Etica
O discurso ético é tão antigo quanto é antiga a história do ser humano. Desde as suas origens,
sobretudo quando ganhou a consciência da sua presença como ser diferente, e desde que
começou a fazer a experiência da sua existência e busca de realização, o ser humano sempre se
inquietou sobre como estar com os outros, como agir, como deve ser e fazer. Por isso, pode-se
sustentar que o discurso ético inicia com grandes questionamentos, tais como: Quem sou eu?
De onde vim? Para onde vou? Em que mundo vivo? Como é que vivo? Até quando viverei? Como
viver e agir perante os outros e a natureza? E o que será o depois da minha partida deste mundo?
Boff refere que o capitalismo neoliberal nos levou a acreditar em dois infinitos totalmente
ilusórios: o infinito dos recursos naturais (convencimento de que os recursos que a natureza nos
dá são sempre renováveis) e o infinito do crescimento (a ideia do crescimento ilimitado,
sobretudo o crescimento económico). E, com estes infinitos, o séc. XX legou-nos uma aliança
entre dois tipos de desumanização:
a) O primeiro vem das profundezas do tempo (a nossa própria história cometeu erros) e traz
guerra, massacre, deportação, escravatura, fanatismo, entre outros;
b) O segundo vem do âmago da racionalização, que só conhece o cálculo e ignora a pessoa, seu
corpo, seus sentimentos, sua história, sua alma, sua emoção, e que multiplica o poderio da
ciência e da técnica, criando assim uma cultura de morte e de servidão técnico-industrial.
Portanto, estamos diante duma aliança de morte: é só pensar nas armas nucleares (guerras
ABC1), nos novos perigos (morte ecológica, drogas, violências, solidão, angústia existencial, e
muito mais).
De facto, hoje é comum ouvir expressões como: este nosso século sofre de falta de
autenticidade, o séc. XXI ou será ético ou não será; a espécie homo está a ser autodestruindo;
cuidemos da nossa terra, paremos de agredir e de destruir o nosso planeta, pois, o nosso futuro
e o da terra é o mesmo.
Por meio duma profunda conversão, precisamos de repensar a nossa aliança com a própria vida,
com Deus, conosco e com a natureza em que vivemos e da qual fazemos parte.
Etimologicamente, o termo “ética” vem do grego ethos. Quando escrito éthos, com acento
agudo (em grego, inicia com a letra épsilon), representa a ideia fundamental de usos, costumes,
que na vida de um povo ocupam um lugar importante no conceito próprio de moralidade, e,
portanto, identificando-se mais com a moral e, quando escrito êthos, com acento circunflexo
(em grego, inicia com a letra êta), significa carácter ou modo de ser, e dá, portanto, a ideia de
disposição interior, de personalidade. Portanto, podemos dizer que o universo ético
compreende esses dois pôlos: o pôlo exterior (próprio da moral, dos costumes), e o pôlo interior
(próprio da interioridade, do carácter).
Originariamente, o conceito era tomado a partir do seu carácter exterior, de vida coletiva. Daí o
conceito ser usado para ações que promovam o bem comum ou a justiça no meio social. Devido
ao facto de que os gregos a utilizavam no sentido de hábitos e costumes que privilegiassem a
boa vida e o bem viver entre os cidadãos, com o tempo tal palavra passou a significar modo de
ser ou carácter. Enfim, tinha que se garantir um modelo de vida que deveria ser adquirido ou
conquistado pelo homem por meio da disciplina rígida que lhe formaria o carácter e que seria
transmitida aos jovens pelos adultos. Na Grécia, o homem aparece no centro da política, da
ciência, da arte e da moral, uma vez que para sua cultura até os deuses eram humanos com seus
defeitos e qualidades.
O primeiro filósofo que escreveu sobre ética foi Aristóteles. Com esse título, Aristóteles escreveu
duas obras: Ética a Nicómaco (seu filho) e Ética a Eudemo (seu aluno). Os filósofos gregos sempre
subordinaram a ética às ideias de felicidade da vida presente e do sumo bem. Nos textos antigos,
ética quase sempre parece estar relacionada com desejo inato ao homem de busca da realização
do sumo bem. A filosofia grega preocupa-se com a reflexão sobre ética desde os primórdios.
Isso porque ética, ou a sede de justiça, é uma das três dimensões da filosofia. As outras duas
seriam a teoria e a sabedoria. Em Roma, ética passa a ser denominada “mores”; que significa
“moral”. No direito romano a palavra ética refere-se a normas de conduta ou princípios que
regem a sociedade ou um determinado grupo e em uma determinada época. Numa palavra: lei.
A ética é histórica, o que se deve ao facto de estar solidificada em noções de valor, que mudam
à medida que se descobrem novas verdades. O agir ético não será apenas uma simples
reprodução de ações das gerações anteriores, mas uma atividade reflexiva que oriente a ação a
seguir num determinado momento de nossa vida pessoal. Quando surgem questionamentos
sobre a validade de determinados valores ou costumes, e a realidade exige novos valores que
possam orientar a ética, surge a necessidade de uma teoria que justifique esse novo agir, uma
vez que é impossível a ação ética sem que o agente compreenda a racionalidade dessa ação.
Aqui aparecem os filósofos que produzem uma reflexão teórica que oriente a prática ou a crítica
do viver ético.
Os significados principais da ética podem ser sintetizados da seguinte forma, como expõe Carlos
Maria Martini, na sua obra Viagem pelo vocabulário da ética (citado em Ética geral:
apontamentos, s.a.: p.2):
A). Ética significa costume, o que se costuma fazer, aquilo que normalmente se faz. Ethos, em
língua grega, indica o costume social, o modo de comportamento próprio de uma determinada
sociedade.
B). Outro significado mais específico indica uma sociedade bem orientada, isto é, uma sociedade
que se pode definir ‘boa’, que segue comportamentos que brotam da experiência e da
sabedoria, como elementos positivos para a paz, a ordem social e o bem comum. Vem depois o
sentido absoluto que significa: aquilo que é bom em si mesmo, aquilo que deve ser feito ou
evitado a todo o custo, o que é digno do homem, o que se opõe ao que é indigno, o que não é
negociável, nem se pode discutir ou transgredir.
C). Por fim, temos também o significado de reflexão filosófica sobre os comportamentos
humanos e sobre o seu sentido último.
Penso que a ética deva ser principalmente um lugar onde as pessoas sejam permanentemente
encorajadas, animadas e confortadas. A grande palavra da ética é: podes fazer mais e melhor,
na vida és chamado a ser algo superior; é possível ser honesto e é uma aventura extraordinária
do espírito. (Martini, 1994, citado em Ética geral: apontamentos, s.a.: p.2)
A ética estuda as ações humanas. Sendo assim, seu objeto distingue-se em material e formal. O
objeto material diz respeito aos atos humanos que se devem distinguir dos atos do homem.
Os atos humanos são ações praticadas de forma livre, consciente, deliberada e voluntária, ações
essas que afetam a própria pessoa, a outras pessoas, ou a determinados grupos sociais ou
mesmo a sociedade no seu todo.
Os atos do homem são aqueles praticados de modo inconsciente e involuntário, ou seja, são
aqueles atos em que a vontade humana não entra ou a sua liberdade não entra em jogo. O
estudo do objeto da ética leva-nos à conclusão de que a pessoa antes de praticar qualquer ação
deve analisar os prós e os contras e estar preparada para assumir os riscos e as consequências.
Por outras palavras, toda a ação ética deve visar algum bem. Portanto, ela deve buscar todos os
meios possíveis para alcançar esse tal bem.
A ética, partindo do seu étimo, pode ser entendida como o abrigo que confere proteção e
segurança aos indivíduos (cidadãos), aqueles responsáveis pelos destinos da pólis (cidade). Ela
é, por um lado, o produto das leis erigidas pelos costumes, e, por outro, das virtudes e hábitos
gerados pelo carácter dos indivíduos. Por isso, a ética não só diz respeito aos costumes culturais
ou sociais, mas também se refere ao perfil, a maneira de ser e a forma de vida adquirida ou
conquistada pelo homem. A ética imprime o carácter da pessoa: mostra-me como te comportas
e eu te direi o grau da tua ética.
A ética pode ser definida como a teoria acerca do comportamento moral dos homens em
sociedade, ou seja, ela trata dos fundamentos e da natureza das nossas atitudes, e se manifesta
efetivamente na conduta do homem livre. Por isso, o mundo do ethos é composto por dois
lados: a coletividade (intersubjetividade) e a subjetividade (individualidade). Existem
condicionantes internos (carácter) e externos (costumes) que determinam a conduta do
indivíduo. Portanto, o que se está a dizer é que a prática do bem e da justiça envolve o respeito
às leis da pólis (heteronomia) e a intenção individual de cada sujeito em fazer o bem
(autonomia).
Mas a boa conduta é também determinada pela educação (em grego paidéia). Paidéia é todo o
processo de formação do homem grego. É, portanto, o que chamamos de educação. Ela fornece
as regras e ensinamentos morais aos indivíduos; orienta os juízos e decisões dos homens no seio
da comunidade; e transmite valores acerca do bem e do mal, do justo e do injusto. Ela constitui-
se como elemento fundamental para a construção da sociabilidade do ser humano.
A função do ethos é promover a excelência moral, ou seja, a prática das virtudes (areté). E o
exercício das virtudes tem como fim último a felicidade (a vida boa, a vida virtuosa). A ética trata
do comportamento do ser humano, da relação entre sua vontade e a obrigação de seguir uma
norma, do que é o bem e de onde vem o mal, do que é certo e errado, da liberdade e da
necessidade de respeitar o próximo. Ela se impõe como a condição fundamental de
possibilidade para a prática das virtudes e o exercício da cidadania.
A ética também diz respeito ao saber científico específico que caminha em direção ao bom. O
ético expressa uma qualidade ou uma dimensão da realidade humana em relação à
responsabilidade das pessoas. O ético é o que revela bom carácter, boa conduta, ao passo que
o antiético é o oposto, ou seja, o que manifesta conduta duvidosa, uma conduta que deixa muito
a desejar.
Estas anotações de síntese levam-nos à reflexão das características da ética. De facto, como
resultado da análise do universo moral, surgem diversas características próprias deste
fenómeno. Das várias, e inspirados no manual de Ética geral: apontamentos, vamos apresentar
sete, que achamos serem principais.
Ainda que confundível e, de facto, frequentemente confundido com outras realidades, o moral
é essencialmente diferente e não redutível a elas. O que se verifica nomeadamente com relação
aos imperativos ou normas sociais, religiosas, jurídicas, etc. As diversas tentativas ‘redutoras’ do
moral – como a psicanalítica, a teoria emotiva, a da escola sociológica, etc., – revelam-se
insustentáveis, cometendo frequentemente o paralogismo que consiste em passar
indevidamente do que se refere à génese psicológica para o que diz respeito à essência ou
natureza da realidade em estudo.
O bem ou o mal moral só se consideram existentes, propriamente falando, nos atos livres; só
são atribuídos às pessoas que agem (ou são supostas a agir) livre e responsavelmente. Por outras
palavras, a moralidade é universalmente percebida como implicando essencialmente a
liberdade. O valor moral apresenta-se como o valor próprio do agir livre e do agente livre.
Formulando de outro modo o acima dito: é convicção universal que a moralidade não se verifica
em qualquer ato realizado por um ser humano, mas apenas naqueles de que este é verdadeiro
autor, que pode chamar verdadeiramente ‘seus’ e pelos quais é, por isso mesmo, responsável.
Tais atos, verdadeiramente ‘pessoais’, são os que, em terminologia escolástica (também
adoptada pelos autores não escolásticos) se designa por atos humanos, por contraposição aos
atos ditos simplesmente do homem (mas não da pessoa).
O valor moral está assim ligado ao que no ser humano é mais ‘seu’, mais pessoal, mais humano.
Este carácter eminentemente humano do moral patenteia-se eloquentemente no facto
conhecido da linguagem comum, que reserva o sentido moral aos adjetivos bom/mal quando
usados sem qualquer especificação: dizer de alguém que é bom, sem mais, equivale a dizer que
é moralmente bom. O que sugere que o valor do ser humano como ser humano, está ligado ao
que ele vale moralmente.
a) O valor próprio do ser humano enquanto ser humano (o valor moral) não se refere apenas a
um determinado sector ou sectores da vida humana, mas estende-se a todos (individual,
familiar, profissional, económico, etc.). A moralidade penetra toda a vida humana, desde que aí
esteja implicada a liberdade.
b) O mundo moral estende-se a todos os seres humanos, a todos os seres que partilham a
mesma ‘natureza’ que os faz seres humanos. E isto em nada contradiz, antes pelo contrário, a
diversidade individual e as variações históricas entre os homens.
Como se verifica em todas as avaliações, também a atribuição de valor moral aos atos humanos
e seus autores é feita mediante a sua confrontação (implícita ou explícita) com as normas que
se julga deverem reger a conduta humana. Nisto consiste precisamente o “emitir um juízo de
valor”, afirmar a conformidade ou não entre o que ‘é’ e o que ‘devia ser’.
O carácter incondicional ou absoluto de que aparece revestido o valor moral faz com que ela
surja como superior a todos os outros (com a exceção, até certo ponto, do valor religioso, o qual
está de resto intimamente ligado a ele), preferível a qualquer outro, não sacrificável perante
nenhum, inegociável. Isto faz com que, em vez de se apresentar como um valor para o ser
humano, parece que, pelo contrário, é o ser humano que para ele está orientado e a ele
submetido. E esta é uma questão fundamental e decisiva, em cuja elucidação culmina a tarefa
da filosofia moral.
a) Ética filosófica: reflete sobre o significado do ser ético. A questão fundamental que se coloca
aqui é, “o que significa ser ético? ”
c) A ética cristã: reflete sobre o agir cristão. Reflete sobre a identidade ou originalidade cristã.
d) Ética social: reflete sobre o agir da sociedade, o ordenamento das instituições sociais, e se
correspondem aos padrões éticos.
e) Ética sexual: reflete sobre os aspectos da ética que dizem respeito a questões da sexualidade
humana, incluindo o comportamento sexual humano. Em termos gerais, a ética sexual diz
respeito à conduta humana em relação a questões de consentimento, das relações sexuais antes
do casamento ou quando casado (tais como a fidelidade conjugal, sexo antes do casamento e
sexo fora do casamento).
Como foi afirmado acima, ética provém do grego ethos e significa costumes, bem como
“carácter” e “modo de ser”. A palavra moral, porém, provém do latim mos ou mores e também
significa costume ou costumes, no sentido de conjunto de normas ou regras adquiridas por
hábito. (Vázquez, 1978, p. 14). Por esta feliz coincidência etimológica e conceptual, estudiosos
há, que preferem afirmar que a ética e a moral são a mesma coisa, visto que todas dizem
respeito aos costumes e ambas tratam das questões teóricas bem como práticas do agir
humano. Outros estudiosos vão mais longe separando uma da outra. Esses últimos se agarram
aos argumentos de que, enquanto a moral estuda os costumes contextualizados, a ética julga a
moral distinguindo o bem do mal.
A presente reflexão irá na linha do segundo grupo dos estudiosos, aqueles que distinguem a
moral da ética. Neste sentido, partindo da etimologia das duas palavras, tem-se o seguinte: a
moral é o conjunto de regras, princípios e valores que determinam a conduta do indivíduo,
enquanto a ética é o instrumento fundamental para a instauração de um viver em conjunto, a
base para a construção do mundo sociopolítico, condição necessária para a sobrevivência da
espécie humana.
Ética
Moral
e) Comportamentos automatizados