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Ética Cristã e Ministerial

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ESCOLA CONVERGÊNCIA

de teologia & vida cristã

ÉTICA CRISTÃ E
MINISTERIAL
Desafios práticos para uma vida que
glorifica a deus

Monte Mor/SP
2019
Este ebook foi redigido a partir das videoaulas ministradas na Escola
Convergência de Teologia & Vida Cristã EAD (Ensino a Distância) e
outros materiais didáticos relacionados, cujas referências constam no
corpo da mesma.

Copyright© 2018 por Escola Convergência
Todos os direitos reservados

Autor:
Harold Walker

Compilação e Elaboração de Texto:


Carol S. Bazzo
Gabriel Galvão

Revisão Teológica:
Harlindo de Souza

Revisão Final:
Maria de Fátima Barboza

Diagramação:
Leticia Oliveira


Este material faz parte do material complementar do curso ÉTICA CRISTÃ
E MINISTERIAL - Desafios práticos para uma vida que glorifica a Deus,
ministrado por Harold Walker na Escola Convergência.
Para ter acesso ao material completo e aos vídeos acesse nosso site.

ESCOLA CONVERGÊNCIA
www.escolaconvergencia.com.br
contato@escolaconvergencia.com.br
(19) 98340-8088
Sumário

Ética: Como Devemos Viver . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

Princípio da Mordomia e Administração do Tempo . . . . . . . . . . . . . . 15

Como Administrar o Dinheiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

O Sustento para o Ministério Integral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45


ÉTICA CRISTÃ E MINISTERIAL
Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

ÉTICA: COMO
DEVEMOS
VIVER?

“Quanto ao mais, irmãos, nós vos pedimos e aconsel-


hamos no Senhor Jesus que, assim como aprendestes
de nós como deveis vos comportar e agradar a Deus,
e assim estais fazendo, nisso vos aperfeiçoeis cada
vez mais.” (1 Ts 4.1 – A21)

Nos dias em que vivemos, somos frequentemente persuadidos a


relativizar princípios e verdades cristãs nas quais cremos. É comum
vermos cristãos que afirmam confiar e seguir as Escrituras e, ao
mesmo tempo, vivem vidas baseadas no que a nossa atual socie-
dade dita como verdade, mesmo que isso seja contra os padrões e
princípios do Reino de Deus.
Será que a vida cristã é apenas frequentar igreja aos domingos,
fazer orações e ler alguns trechos da Bíblia regularmente? O que
a vontade de Deus tem a ver com a nossa segunda-feira, com a
forma que gastamos dinheiro, lidamos com o ministério ou organi-
zamos nosso tempo? Será que Deus se preocupou em revelar, nas
Escrituras, padrões e princípios sobre como devemos viver e nos
comportar em todas as áreas de nossa vida?

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ÉTICA CRISTÃ E MINISTERIAL
Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

Paulo afirma, em 2 Timóteo 3.16, que “toda a Escritura é divina-


mente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para
corrigir, para instruir em justiça; a fim de que o homem de Deus
tenha capacidade e pleno preparo para realizar toda boa obra”. As
Escrituras demonstram claramente o coração de Deus e ao mesmo
tempo expõem de forma objetiva a sua vontade sobre como deve-
mos viver na prática. Disso se trata a ética cristã.
Mas para que estudar ética quando vivemos debaixo da graça e
não de leis? Se o Espírito Santo age em nós e não vivemos por
obras, por que, então, precisaríamos aprender sobre ter um caráter
aprovado?

O QUE É ÉTICA CRISTÃ?

A palavra “ética” vem do grego ethos e significa aquilo


que pertence ao “bom costume”, “costume superior”,
“portador de caráter” ou “modo de ser”.¹

Ética é o nome dado ao ramo da filosofia dedicado aos assuntos


morais ou do comportamento humano. Como um assunto é bastan-
te abrangente e diverso, existem vários tipos e ramos da ética de
acordo com a crença e cultura.
O termo “ética cristã” é frequentemente utilizado para se referir à
conduta cristã em temas e áreas desafiadoras da sociedade atual,
tais como: aborto, eutanásia, ecologia, pena de morte, entre outros.
Nesta aula não falaremos sobre a ética nesses aspectos mais gerais
da vida cristã, mas focaremos principalmente na sua vida pessoal
e no ministério. Ou seja, como nós cristãos devemos viver e quais
princípios morais devem reger a nossa prática de vida? Também
falaremos aqui sobre princípios importantes para aqueles que atu-
am no ministério (pastores, líderes, etc).

“Porque Esdras tinha preparado o seu coração para buscar


e cumprir a lei do Senhor, e para ensinar em Israel os seus
estatutos e as suas ordenanças.” (Ed 7.10 – IBB)

¹Wikipédia

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ÉTICA CRISTÃ E MINISTERIAL
Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

ÉTICA CRISTÃ ÉTICA SECULAR


Revelada – vontade de Deus Costumes e valores da época
revelada nas Escrituras.
Imutável Sujeita a alterações
Objetiva Subjetiva
Absoluta Relativa
Determina o comportamento Submetida ao comportamento,
necessidade e desejo humano.
Transcendente – vai além da Imanente – só tem a ver com
esfera humana o homem
Teocêntrica Antropológica

Uma Ilustração pertinente:

A LOCOMOTIVA E O TRILHO
É impossível que uma locomotiva sem os trilhos funcione. Ela nunca
conseguirá carregar pessoas e cargas, e locomovê-las sem os trilhos
em que possa seguir; antes ficará parada sem serventia. Da mesma
forma, trilhos sem uma locomotiva não têm sentido algum e para
nada servem. A locomotiva precisa dos trilhos que, por sua vez, só
têm utilidade se houver uma locomotiva para andar neles.
Essa é uma boa figura da relação entre a ética e Espírito Santo.
Podemos dizer que a locomotiva é como o poder do Espírito Santo
no homem, enquanto os trilhos representam o estudo de ética. Po-
demos até ter os trilhos (padrões éticos consolidados), mas sem a
locomotiva (o poder do Espírito Santo) pouco proveito nós teremos.
Da mesma forma, é possível que tenhamos uma forte busca pelo
poder do Espírito Santo que poderá até nos levar longe (como uma
locomotiva), mas sem uma vida ética consolidada (trilhos) podere-
mos nos perder e ter uma vida cristã desordenada. É preciso ter os
dois: buscar o poder do Espírito Santo e crescer no entendimento e
prática dos princípios éticos essencialmente cristãos.
A busca por uma ética ministerial deve estar caminhando junto à
busca pelo poder e manifestação do Espírito Santo e vice e versa,
para que possamos chegar à plenitude de Cristo e, assim, permitin-
do que o poder do Espírito Santo nos motive e dê força para viver
uma vida de santidade.

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ÉTICA CRISTÃ E MINISTERIAL
Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

PARA ONDE ESTAMOS INDO?


“E todo o que tem nele essa esperança purifica a si mesmo,
assim como ele é puro.” (1 Jo 3.3 – A21)

“Porque a graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a


todos os homens e ensinando-nos para que, renunciando à
impiedade e às paixões mundanas, vivamos neste mundo de
maneira sóbria, justa e piedosa, aguardando a bendita espe-
rança e o aparecimento da glória do nosso grande Deus e
Salvador, Cristo Jesus.” (Tt 2.11-13 – A21)

Antes de falar sobre como viver segundo os padrões de Deus, é


necessário dizer que precisamos chegar a algum lugar, saber para
onde estamos indo. Qual o nosso alvo? Para onde nossas vidas es-
tão caminhando? As demandas do nosso dia-a-dia frequentemente
podem nos tirar a visão e o foco que devemos seguir. Se não te-
mos uma visão bem estabelecida seremos como que levados pelo
vento.
Toda ética (como um guia e padrão de comportamento) é pautada
por uma visão que fundamentará suas práticas. Da mesma forma,
quando falamos sobre ética cristã é impossível não falar de visão.
Em nosso caso, podemos dizer que todo cristão deve viver baseado
em uma visão profética – uma vida que olha para a vinda do Reino
de Deus.
Cristão é aquele que crê que Deus criou o mundo, que o homem
pecou, mas que Jesus o redimiu e está redimindo todas as coisas.
Mas não apenas isso, ele crê também que Jesus voltará para esta
Terra para reinar sobre ela. É para esse dia glorioso que nossos olhos
devem estar olhando. Este deve ser o verdadeiro foco e alvo de
todo filho de Deus. Mesmo nas coisas mais comuns e cotidianas,
deve haver um compromisso com a sua vinda.
Deus não nos criou para viver de qualquer maneira, como se não
houvesse um propósito para a nossa vida. Ele nos formou e nos cha-
mou para um alvo específico. Prestaremos contas a ele de todas as
nossas ações e seremos cobrados do que fizermos com o que nos
deu. Porém, Deus é um bom pai, que nos ama, e não alguém que
somente nos cobra, como um carrasco. Mas, como pai, ele nos leva
a responsabilidades.
Deus nos deu uma causa para viver. Não podemos levar, portanto,
a vida de qualquer jeito, buscando nossos próprios prazeres e de-

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ÉTICA CRISTÃ E MINISTERIAL
Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

leites. O que Cristo preparou para nós é muito melhor do que as


coisas que este mundo nos oferece.

“Portanto, tendo este ministério pela misericórdia que


nos foi concedida, não nos desanimamos. Pelo con-
trário, rejeitamos as coisas ocultas, que são vergonho-
sas, não procedendo com astúcia, nem distorcendo a
palavra de Deus. Mas, pela proclamação pública da
verdade, recomendamo-nos à consciência de todos
os homens diante de Deus. Se o nosso evangelho está
encoberto, é para os que estão perecendo que está
encoberto, é para os que estão perecendo que está
encoberto, entre os quais o deus deste século cegou
a mente dos incrédulos, para que não vejam a luz do
evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de
Deus. Pois não pregamos a nós mesmos, mas a Jesus
Cristo, o Senhor, e a nós mesmos como vossos ser-
vos por causa de Jesus. Porque Deus, que disse: Das
trevas brilhará a luz, foi ele mesmo quem brilhou em
nosso coração, para iluminação do conhecimento
da glória de Deus na face de Cristo. Temos, porém,
esse tesouro em vasos de barro, para que o poder
extraordinário seja de Deus e não nosso. Sofremos
pressões de todos os lados, mas não estamos arrasa-
dos; ficamos perplexos, mas não desesperados; somos
perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas
não destruídos; trazendo sempre no corpo o morrer
de Jesus, para que também a sua vida se manifeste
em nosso corpo. Pois nós, que vivemos, somos sem-
pre entregues à morte por causa de Jesus, para que
também a vida de Jesus se manifeste em nosso cor-
po mortal. De modo que em nós atua a morte, mas
em vós, a vida. Todavia, uma vez que temos o mes-
mo espírito de fé, conforme está escrito: Cri, por isso
falei; também nós cremos, por isso também falamos.
Sabemos que aquele que ressuscitou Jesus também
nos ressuscitará com ele e nos apresentará convosco.
Pois tudo é para o vosso benefício, para que a graça
multiplicada por causa de muitos faça transbordar as
ações de graças para a glória de Deus. Por isso não
nos desanimamos. Ainda que o nosso exterior esteja
se desgastando, o nosso interior está sendo renovado

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ÉTICA CRISTÃ E MINISTERIAL
Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

todos os dias. Pois nossa tribulação leve e passageira


produz para nós uma glória incomparável, de valor
eterno, pois não fixamos o olhar nas coisas visíveis,
mas naquelas que não se veem; pois as visíveis são
temporárias, ao passo que as que não se veem são
eternas.” (2 Co 4 – A21)

Como Deus nos deu um alvo é preciso entender que todo homem
caminha para descobrir e cumprir uma missão.

Missão

“Eu te louvarei, pois fui formado de modo tão ad-


mirável e maravilhoso! Tuas obras são maravilhosas,
tenho plena certeza disso! Meus ossos não te es-
tavam ocultos, quando em segredo fui formado e te-
cido com esmero nas profundezas da terra. Teus olhos
viram a minha substância ainda sem forma, e no teu
livro os dias foram escritos, sim, todos os dias que me
foram ordenados, quando nem um deles ainda havia.
Ó Deus, como são preciosos para mim os teus pensa-
mentos! Como é grande a soma deles!” (Sl 139.14-17
– A21)
Todo filho de Deus tem uma missão. Existe essa busca principal-
mente entre os jovens cristãos. Constantemente os ouvimos per-
guntar: “Qual é a minha missão?”
A missão é dada por Deus ao homem. Não vem de nós, mas daquele
que nos criou. Porém, ao homem cabe descobri-la.

“Pois fomos feitos por ele, criados em Cristo Jesus para


as boas obras, previamente preparadas por Deus
para que andássemos nelas.” (Ef 2.10 – A21)
Qualquer trabalho que nasce em Deus, que ele inspira alguém para
fazer e é útil para a sociedade, é boa obra preparada por ele antes
da fundação do mundo.
A missão do homem, portanto, não é cumprir suas próprias von-
tades e nem mesmo alguma missão evangélica ou de igreja local.
Temos a tendência de achar que se for uma atividade ou projeto
“espiritual”, obrigatoriamente, é de Deus; e se for uma atividade ma-
terial, mundana, não é “de Deus”. Essa não é a visão bíblica. Deus
nos criou para fazer boas obras, e não importa se são “espirituais” ou

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ÉTICA CRISTÃ E MINISTERIAL
Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

“materiais”. Se elas nasceram em Deus, são autênticas.


Cada indivíduo, apesar de ter uma missão específica dada por Deus,
não consegue cumpri-la sozinho. Deus deu uma missão individual
a cada um, que deve ser cumprida coletivamente. Sendo assim,
irmãos nos ajudarão a cumprir a nossa missão e nós os ajudaremos a
cumprir as suas. Por isso, precisamos entender de forma sábia quem
são os que estão contribuindo para o que Deus nos chamou, e
quem não está.
Para descobrir e cumprir de forma efetiva nossa missão, precisamos
de três coisas:

1. FOCO
Ao entender o que é a nossa missão e prosseguir em seu cumpri-
mento é necessário que tenhamos foco. Se andarmos distraídos,
permitindo que as muitas coisas do nosso dia-a-dia ou a busca por
nossos próprios interesses nos tirem a atenção, não conseguiremos
atingir o alvo planejado.
É necessário que não se perca o foco até cumprirmos o nosso
chamado específico. É trágico chegar ao fim de nossos dias com a
sensação de que nosso dever não foi cumprido. Além de ficar seri-
amente frustrados, também ficaremos arrasados por saber que pre-
staremos conta a Deus sobre isso. Hoje muitas pessoas se sentem
desanimadas por ver a vida passar e saber que nada estão fazendo
de significativo. Gastam seu tempo com prazeres próprios que não
produzirão nada duradouro.

“A parte que caiu entre os espinhos são os que ou-


viram e, seguindo seu caminho, são sufocados pelas
preocupações, riquezas e prazeres desta vida, e não
dão fruto que chegue a amadurecer.” (Lc 8.14 – A21)
Pegamos o exemplo de Jesus, que aos 33 anos de idade havia cum-
prido sua missão, pois viveu sua vida dedicada a obedecer ao seu
chamado. E mesmo quando foi difícil ele buscou fazer a vontade do
Pai em detrimento da sua própria.
Quem não gostaria de fazer suas as palavras de Paulo (abaixo) ao
chegar ao fim de sua vida?

“Combati o bom combate, terminei a carreira, guardei


a fé.” (2 Tm 4.7 – A21)

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ÉTICA CRISTÃ E MINISTERIAL
Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

Ou ouvir do próprio Pai?

“Muito bem, servo bom e fiel (...); entra no gozo do teu


senhor” (Mt 25.21 – IBB)
Mas para isso é preciso ter foco.
2. DISCIPLINA PARA FORMAR HÁBITOS
Outro ponto importante para se cumprir a missão que Deus deu é
ter disciplina para formar bons hábitos. Não é possível alcançar o
alvo da missão ou manter o foco sem persistência, sem uma busca
constante para prosseguir.
Neste ponto muitas pessoas confundem o fato de que devemos
andar pelo Espírito e permitir que ele comande nossa vida, com um
estilo de vida relapsa. Pensam que andar no Espírito é contraditório
a ter disciplina.
Porém, observe que na relação dos diferentes atributos do fruto do
Espírito em Gálatas 5.22,23, encontramos um que é importantís-
simo para as nossas vidas – o domínio próprio. Se não praticamos
disciplina e hábitos saudáveis, o Espírito não está comandando as
nossas vidas.
Domínio próprio é a capacidade de não nos permitir ser contro-
lados por sentimentos (interiores) ou circunstâncias (exteriores). É
quando não nos deixamos ser dominados pelos nossos próprios ím-
petos a reagir às situações.
Veja o que a Bíblia nos ensina sobre domínio próprio:

“A vontade de Deus para vós é esta: a vossa santi-


ficação; por isso, afastai-vos da imoralidade sexual.
Cada um de vós saiba manter o próprio corpo em
santidade e honra, não na paixão dos desejos, à se-
melhança dos gentios que não conhecem a Deus.
Nesse assunto ninguém iluda ou engane seu irmão,
pois o Senhor é vingador de todas essas coisas, como
já vos dissemos e testemunhamos. Porque Deus não
nos chamou para a impureza, mas para a santifi-
cação.” (1Ts 4.3-7 – A21)

“Nas muitas palavras não falta transgressão, mas o


que controla seus lábios é sensato.” (Pv 10.19 – A21)

“Quando sentirdes raiva, não pequeis; e não con-

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ÉTICA CRISTÃ E MINISTERIAL
Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

serveis a vossa raiva até o pôr do sol; nem deis lugar


ao Diabo.” (Ef 4.26,27 – A21)

Perceba que a Bíblia não nos encoraja a ser passivos em relação às


nossas ações. Muito pelo contrário, somos exortados a dominar as
nossas vontades. E para isso é necessário disciplina pessoal.

3. PATERNIDADE ESPIRITUAL

Este é mais um ponto extremamente importante para cumprirmos


o nosso chamado. O fruto do Espírito Santo não é desenvolvido em
nós de forma sobrenatural. Além de disciplina é necessário pater-
nidade espiritual. Precisamos ter uma autoridade sobre as nossas
vidas para que possamos crescer.
Veja o exemplo de Paulo com Timóteo:
Paulo se torna pai espiritual de Timóteo. Observe a sub-
missão do jovem:

“E chegou também a Derbe e Listra. Havia ali um dis-


cípulo chamado Timóteo, filho de uma judia crente,
mas de pai grego; e os irmãos em Listra e Icônio da-
vam bom testemunho dele. Paulo queria que ele o
acompanhasse; tomou-o, então, e o circuncidou, por
causa dos judeus que viviam na região; porque todos
sabiam que seu pai era grego.” (At 16.1-3 – A21)

Paulo ajuda o jovem Timóteo a cumprir sua missão:

“a Timóteo, meu verdadeiro filho na fé: Graça, mi-


sericórdia e paz da parte de Deus Pai e de Cristo Je-
sus, nosso Senhor. Conforme te pedi, quando partia
para a Macedônia, permanece em Éfeso para adver-
tires alguns de que não ensinem outra doutrina” (1 Tm
1.2,3 – A21)

“Espero no Senhor Jesus em breve vos enviar Timóteo,


para que eu também me anime, recebendo notícias
vossas. Porque não tenho nenhum outro com esse
mesmo sentimento, que sinceramente cuide do vosso
bem-estar. Pois todos buscam o que é seu, e não o
que é de Cristo Jesus. Mas sabeis que ele deu provas
de si e, como um filho ao lado do pai, serviu comigo
em favor do evangelho.” (Fp 2.19-22 – A21)

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ÉTICA CRISTÃ E MINISTERIAL
Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

Paulo dá bom testemunho de Timóteo:

“Dou graças a Deus, a quem sirvo com consciência


limpa, assim como serviram os meus antepassados,
ao mencionar-te sempre em minhas súplicas noite e
dia. Recordo-me das tuas lágrimas e desejo muito te
ver, para encher-me de alegria. Também recordo a
fé sincera que há em ti, que primeiro habitou em tua
avó Loide e em tua mãe Eunice, e estou certo de que
também habita em ti.” (2 Tm 1.3-5 – A21)
O apóstolo exorta e anima Timóteo a prosseguir em seu
chamado:

“Ninguém te menospreze por seres jovem, mas procu-


ra ser exemplo para os fiéis, na palavra, no comporta-
mento, no amor, na fé e na pureza. Enquanto aguar-
das a minha chegada, aplica-te à leitura, à exortação
e ao ensino. Não deixes de desenvolver o dom que há
em ti, que te foi dado por profecia, com a imposição
das mãos dos presbíteros. Ocupa-te dessas coisas,
dedica-te inteiramente a elas, para que todos possam
ver teu progresso. Tem cuidado de ti mesmo e do teu
ensino; persevera nessas coisas. Dessa forma, salvarás
tanto a ti mesmo como os que te ouvem.” (1 Tm 4.12-
16 – A21)

A maioria dos cristãos desta geração, como reflexo de nossa so-


ciedade, não tiveram um pai que os ensinasse de forma correta
como agir nas demais áreas de suas vidas. E mesmo bons pais não
acertaram em tudo. Por isso, mais do que nunca é necessário que
busquemos pessoas mais experientes que nos acompanhem.
Necessitamos de disciplina, prestar contas e confessar nossos peca-
dos. Sem isso não cresceremos o quanto podemos e perderemos o
foco na nossa caminhada.
Deus como pai nos castiga porque nos ama e a forma como ele faz
isso é através de irmãos mais maduros.

“e já vos esquecestes da exortação que vos admoesta


como a filhos: Filho meu, não desprezes a correção do
Senhor, nem te desanimes quando por ele és repreen-
dido; pois o Senhor corrige ao que ama, e açoita a

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ÉTICA CRISTÃ E MINISTERIAL
Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

todo o que recebe por filho. É para disciplina que sof-


reis; Deus vos trata como a filhos; pois qual é o filho a
quem o pai não corrija? Mas, se estais sem disciplina,
da qual todos se têm tornado participantes, sois então
bastardos, e não filhos.” (Hb 12.5-8 – IBB)

- Deus dá a missão ao homem;


- O homem precisa descobrir qual é a sua missão;
- Deus capacita o homem com dons e habilidades
para cumprir seu chamado; mas...

O homem precisa desenvolver:


- Foco;
- Disciplina;
- Paternidade.

Portanto, antes de entrar em detalhes mais práticos e objetivos


para ter uma vida pautada com as éticas cristãs, é preciso um olhar
cuidadoso sobre o nosso interior para analisar se realmente estamos
vivendo como aquele que cumprirá o chamado dado por Deus.

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ÉTICA CRISTÃ E MINISTERIAL
Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

PRINCÍPIOS DA
MORDOMIA E
ADMINISTRAÇÃO
DO TEMPO

I. MORDOMIA
“E Deus criou o homem à sua imagem; à imagem de
Deus o criou; homem e mulher os criou. Então Deus
os abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos;
enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do
mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais
que rastejam sobre a terra. Disse-lhes mais: Eu vos
dou todos os vegetais que dão semente, os quais se
acham sobre a face de toda a terra, bem como todas
as árvores em que há fruto que dê semente; eles vos
servirão de alimento. E a todos os animais selvagens,
a todas as aves do céu e a todo ser vivo que rasteja
sobre a terra dou toda planta verde como alimento. E
assim foi.” (Gn 1.27-30)

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Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

ETIMOLOGIA

A palavra mordomo, em português, vem do latim ma-


jordomus, que tem o mesmo significado do grego oi-
konomoV – oikonomos (oikoV – oikos, casa, e nomoV
– nomos, governo).
Major, em latim, é maior ou principal, e domus, casa
ou a casa com tudo que ela contém e significa. Assim,
mordomo é o principal servo, o que administra a casa
do seu senhor.

Mordomia é o princípio de administrar algo que não nos pertence.


A mordomia cristã estabelece como verdade que Deus é o Senhor
e dono de tudo quanto existe na Terra e no Céu, e concedeu ao
homem o privilégio e responsabilidade de ser seu administrador.
Os homens não são os donos, mas os mordomos. De forma mais
prática, a mordomia cristã requer do cristão a disposição, confiança
e obediência na execução da vontade de Deus em sua vida.

DEUS CRIADOR, HOMEM ADMINISTRADOR


“Assim diz Deus, o SENHOR, que criou os céus e os
desenrolou, e estendeu a terra e o que dela brota;
que dá fôlego ao povo que nela habita e vida aos que
andam por ela.” (Is 42.5)
Deus é o criador de todas as coisas, logo, tudo o que foi criado lhe
pertence. Ser criador implica em ser dono de tudo que foi feito pe-
las suas mãos. Mas, como vimos no versículo de Gênesis, Deus, em
sua misericórdia e de acordo com seu plano, concedeu ao homem
a administração da Terra. No Salmo 8, o salmista contempla a glória
de Deus e de sua perfeita criação, que inclui o homem e sua vo-
cação:

“Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos,


a lua e as estrelas que estabeleceste, que é o homem,
para que te lembres dele? E o filho do homem, para
que o visites? Tu o fizeste um pouco menor que os an-
jos e o coroaste de glória e honra. Deste-lhe domínio
sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo
de seus pés.”¹
¹Versículos 3 a 6

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ÉTICA CRISTÃ E MINISTERIAL
Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

Perceba, nesta passagem como Davi entende o ser humano. Pri-


meiro, declara a pequenez do homem diante da majestade dos
céus criados por Deus. Davi não está comparando o homem com
Deus, seu Criador, pois se o fizesse a diferença seria infinita. Aqui é
apenas uma comparação com outra obra criada por ele. Ao lado
das galáxias o homem é pequeno e frágil; diante da grandeza dos
céus, da lua e das estrelas ele é insignificante. Mas isso não quer
dizer que o homem não é nada, pois nos próximos versículos Davi
declara: “tu o fizeste um pouco menor que os anjos e o coroaste de
glória e honra”.
O homem tem dignidade e honra. Ele é a obra-prima da criação,
criado pelas mãos de Deus à sua imagem e semelhança, para uma
vocação. Nada na criação recebeu a missão dada ao homem. Davi
sabia disso, pois explica no versículo 6: “Deste-lhe domínio sobre as
obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés”.
Antes de falar sobre mordomia cristã. precisamos entender quem
é o homem. Quem é este ser chamado para administrar as coisas
de Deus?
O homem é criação de Deus. Sua constituição é o pó da terra insu-
flado com o sopro de Deus (Gênesis 2.7). Isso significa que tudo em
nós que tem algum valor procede de Deus e que de nós mesmos
não somos absolutamente nada. Se por um lado não somos nada,
por outro somos revestidos de glória, uma vez que feitos à imagem
e semelhança de Deus (Gênesis 1.26). O homem foi criado como
um ser singular diante de tudo o que fora criado dentro do plano
de Deus. Ele recebeu a missão de dominar sobre tudo, cuidar do
jardim e multiplicar-se. Até hoje ficamos encantados com a capaci-
dade humana de criação. Vejamos, como exemplo, as ciências, a
tecnologia e a arte. Vejamos também a complexidade do corpo e
mente humanos. De todos os seres criados, o ser humano é, inques-
tionavelmente, o mais incrível de todos.
Mas o homem pecou e este é outro ponto do qual não podemos
nos esquecer. Mesmo sendo um ser incrível em sua constituição,
ele caiu. A mistura das maravilhosas habilidades humanas com os
efeitos terríveis do pecado resultou, como podemos ver até hoje,
em um homem incrivelmente mau. Por isso, antes de falar sobre
como administrar bem as coisas de Deus, precisamos entender
quem somos e qual o nosso lugar.
Muitos pastores e líderes têm caído em pecados nas mais diversas
áreas dentro do ministério (quando estão administrando as coisas

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ÉTICA CRISTÃ E MINISTERIAL
Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

de Deus), porque não entenderam os limites do ser humano. Igual-


mente, muitos cristãos, administrando suas famílias e empresas, têm
caído e tropeçado por não entenderem seu devido lugar.
Não somos dono de nada. Família, dinheiro, ministério, trabalho,
recursos, dons, nada disso tem origem em nós ou nos pertence.
Precisamos entender que Deus é o criador, o dono de tudo. “Toda
a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai
das luzes” (Tiago 1.17). Antes da queda já éramos pó e agora além
disso somos pecadores miseráveis. Mas também somos “imago dei”
(imagem de Deus) revestidos e capacitados por Deus para realizar
coisas na Terra, capacidade esta usada até por não cristãos para
exercerem seus trabalhos com dignidade. E mais do que isso, quan-
do somos feitos filhos de Deus, isso nos leva a um nível de parceria
com o Pai celeste e, assim, podemos trabalhar de mãos dadas com
Ele no seu plano.

PRESTANDO CONTAS
Muitos cristãos têm vivido sua vida dividida, como se apenas os
domingos e os 10% de seus salários pertencessem a Deus. Aos do-
mingos louvam ao Senhor, mas de segunda a sexta-feira vivem de
acordo com seus próprios padrões e princípios. Um estilo de vida
assim é fruto de um pensamento errado que diz: esse mundo não é
o mundo de Deus, mas apenas um resto de espaço que foi deixado
para o Diabo. Apenas o Céu pertence a Deus e é para lá que nós
vamos, portanto, o que fazemos aqui hoje não importa nem faz
sentido. Como esse pensamento é perigoso! É por causa dele que
muitos cristãos não têm vivido em santidade e alegria.
A Terra é obra das mãos de Deus. Embora o pecado tenha afeta-
do tudo (desde a criação até o mais profundo do homem), Jesus
está redimindo todas as coisas; no final, tanto os Céus como a Terra
serão redimidos². Mesmo que o pecado e o Diabo ainda dominem
o mundo, este continua sendo de Deus, pois foi criado por ele e a
ele pertence. Se nós temos um Deus que é dono de todas as coisas,
então, é necessário prestar-lhe contas de tudo que fizermos.
É perfeitamente justo que o dono de um negócio, ao contratar al-
guém para administrar sua empresa, exija que ele lhe preste con-
tas regularmente do andamento dos gastos, lucros e funcionários.
Se pensamos assim a respeito das coisas naturais da vida, por que
costumamos viver nossas vidas como se não precisássemos prestar
²Apocalipse 21.1; Isaías 65.17

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contas a Deus? Por que tantos cristãos vivem de forma indepen-


dente e egoísta?
Não devemos viver da maneira que bem entendemos, buscando
nossa própria realização naquilo que, de fato, não é nosso. Somos
apenas mordomos:
• Do nosso corpo;
• De nossas habilidades;
• Do nosso tempo;
• De nossa família;
• De nosso ministério;
• De nosso trabalho; e,
• De todas as outras coisas que Deus nos dá.
A Bíblia é clara ao afirmar que prestaremos conta de todas as coisas
que fizermos:

“Pois é necessário que todos sejamos apresentados di-


ante do tribunal de Cristo, para que cada um receba
retribuição pelo que fez por meio do corpo, de acordo
com o que praticou, seja o bem, seja o mal.” (2 Co
5.10)

“Jesus também disse aos seus discípulos: Havia um


homem rico que tinha um administrador; e este foi
acusado perante ele de esbanjar os seus bens. Então,
ele o chamou e disse: Que é isso que tenho ouvido
falar a teu respeito? Presta contas da tua adminis-
tração, pois não podes mais ser meu administrador.”
(Lc 16.1,2)

PRINCÍPIOS GERAIS DA MORDOMIA


Existem alguns princípios gerais que nos auxiliam no papel de bons
mordomos das coisas de Deus. Vejamos alguns:
• Não desperdiçar
Sabemos que não estamos desperdiçando quando conseguimos
atingir o máximo de produtividade com o menor esforço e gas-
to possível. Para que não haja desperdício, é preciso equilibrar

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duas contraditórias experiências: trabalho e descanso. Para ob-


ter um melhor aproveitamento e conseguir estar sempre focado
é necessário momentos de descanso do corpo e da mente. Ob-
viamente, não deve haver exagero de descanso nem de trabalho,
mas na dose certa o resultado será mais efetivo. Alguém que busca
desenfreadamente chegar ao objetivo, no fim das contas receberá
as consequências do descontrole de forma bastante negativa. O
resultado será o desperdício em alguma área da mordomia.
• Focar em projetos e metas X focar em pessoas
Estes são fatores que também parecem conflitantes, porém, de-
vem ser proporcionais. Valorizar apenas o trabalho ou apenas o rel-
acionamento pessoal é desarmonioso. Jesus sabia equilibrar bem os
dois. Ele gastava tempo em relacionamentos e ao mesmo tempo
não deixava de exercer com excelência o seu trabalho. Pessoas
que só pensam em amizades são pouco produtivas e não conseg-
uem ser bons líderes. Por outro lado, os que apenas se dedicam ao
trabalho se tornam arrogantes e solitários.
• Ser disciplinado
Para ser um bom mordomo é indispensável ter disciplina, horário,
rotina, e fazer as coisas da forma correta. Precisamos saber, porém,
que, apesar de respeitar a rotina, há momentos em que ela deve
ser quebrada para permitir a espontaneidade e a criatividade. Ou
seja, não devemos nos tornar reféns dela.

II. ADMINISTRAÇÃO DO TEMPO


“Apesar de estar sempre agindo com rapidez, eu ja-
mais estou com pressa, porque nunca assumo mais
trabalho do que posso realizar com a necessária paz
de espírito.” – John Wesley

Dentro do assunto de mordomia e boa administração de tudo o


que Senhor nos tem dado, um dos assuntos mais importantes é o
bom uso do nosso tempo. Vivemos em uma geração extremamente
acelerada. Nunca tivemos tanto acesso à informação em tão pouco
tempo e ainda assim somos a geração mais desfocada, estressada e
ocupada. A maneira como vivemos tem a ver, essencialmente, de
como utilizamos e administramos o nosso tempo. Dentro de uma
perspectiva cristã veremos alguns princípios fundamentais para a

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mordomia correta do tempo:


• Jesus é o Senhor do tempo
Deus é atemporal, ou seja, está acima do tempo. Ele tem o pas-
sado, o presente e o futuro em suas mãos – certa vez parou o sol
para que os israelitas ganhassem uma batalha. O tempo, portanto,
foi criado por Deus; isso significa que o tempo não é mau. Para um
não cristão o tempo é algo que está contra ele, um inimigo de fato.
Cada dia que passa o leva para mais perto do fim, da morte. Para
alguém que não acredita haver um Deus, a vida ansiosa é conse-
quência do pensamento de que o tempo é seu inimigo, isto é, não
tem um deus que cuida dele. Então, deduz que é preciso correr e
se preocupar com sua própria vida.
No niilismo não existe sentido para a vida, por isso, o tempo não
importa – “bebamos e comamos porque amanhã morreremos”. Para
nós que somos filhos de Deus, a visão é completamente diferente.
Jesus é Senhor do tempo. O tempo não é um deus com o qual tem
de lutar, porque Ele é o Senhor dele. O mundo e o tempo não são
coisas sem sentido. Tudo que foi criado tem sentido, porque faz
parte de uma história, de um objetivo do plano de Deus. Não esta-
mos “soltos em um universo sem sentido”.

A REDENÇÃO DO TEMPO
Antes de Cristo o tempo era só um relógio que cor-
ria determinando a hora que iríamos para o inferno.
Quanto mais tempo e vida nós tínhamos, mais opor-
tunidade de pecar nós tínhamos. Quanto mais tem-
po, mais pecado. Agora, em Cristo, o tempo se tornou
nosso aliado. Quanto mais tempo, mais oportunidade
de nos conformar à imagem de Cristo, e de nos tornar
mais santos.

• O tempo é muito valioso


Segundo Jonathan Edwards, no livro A Busca da Santidade, existem
quatro fatores que provam que o tempo é precioso:
- A eternidade depende do tempo – “A eternidade feliz ou
de miséria depende do bom ou mau aproveitamento do
tempo”³
- O tempo é muito breve – “O tempo é curto. E este é
³A Busca da Santidade, Jonathan Edwards, Editora Cultura Cristã, 2010, pg. 156.

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outro fator que o torna precioso. A tudo o que é raro, os


homens atribuem maior valor, especialmente se esse bem
for necessário e imprescindível à vida.”4
- O tempo é muito incerto – “O tempo deve ser considerado
precioso, pois não sabemos quanto ainda nos resta. Ninguém
está certo sobre o quanto irá viver. Sabemos que o tempo é
bastante curto, mas, ainda mais, não sabemos o quanto será
breve. Não sabemos quão pouco tempo temos de vida, se
um ano ou vários, se apenas um mês, uma semana ou um
amanhã. Todos os dias, vivemos incertos sobre se não será
esse o nosso último dia ou se teremos a tarde pela frente.”
- O tempo quando passa, não pode ser recuperado – “Por
mais que nos arrependamos de haver deixado passar o tem-
po, sem remi-lo quando tivemos oportunidade de fazê-lo,
nada conseguiremos. Toda parcela do tempo é concedida
sucessivamente para que escolhamos assumi-la ou não. Não
há espera: o tempo não para e aguarda para ver se cumpri-
remos ou não a sua oferta. Se recusarmos, ele é imediata-
mente retirado e nunca mais é oferecido. Quanto à parcela
de tempo que se foi, por mais que tenhamos sido negligen-
tes em melhorá-lo, já estará fora de nossas posses, fora de
nosso alcance.”5
A Bíblia também ensina sobre a importância de aproveitar o tempo
da melhor forma:

“Portanto, estai atentos para que o vosso procedi-


mento não seja de tolos, mas de sábios, aproveitando
bem cada oportunidade, porque os dias são maus.”
(Ef 5.15,16)

“Comportai-vos com sabedoria para com os de fora,


aproveitando bem cada oportunidade.” (Cl 4.5)

“Antes, exortai uns aos outros todos os dias, durante o


tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós
seja endurecido pelo engano do pecado.” (Hb 3.13)
• O tempo é igual para todos
Deus foi extremamente democrático nesse sentido. Todos nós te-
mos 24 horas no dia, que passam na mesma velocidade. A diferença

(Pg. 157) / 5(Pg 158)


4

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será em como usar o tempo e quais são as prioridades de cada um


de nós. Um milionário de Nova Iorque tem a mesma quantidade de
horas do dia que uma criança que está passando fome na Somália
ou um doente no hospital.

PRINCÍPIOS PARA SERMOS BONS


MORDOMOS DO TEMPO
1. A prioridade é o tempo a sós com Deus
É impossível administrar bem o nosso tempo se não dermos a Deus
as primícias dele. Qualquer método que não leva isso em consid-
eração vai falhar. Pode até funcionar para ganhar mais dinheiro ou
para adquirir saúde física, mas do ponto de vista da eternidade, nos
levará ao fracasso.
Deus é o criador do tempo e sabe exatamente, muito melhor que
nós, qual a maneira mais excelente de gastarmos as nossas 24 horas
do dia. Ouvir a sua voz diariamente nos faz mais efetivos em tudo
que fizermos no decorrer do dia. Isso não é algo místico, pelo con-
trário, é muito prático. Deus nos criou e planejou as boas obras que
devemos fazer antes de nascermos (Ef 2.10). Por isso, Ele é a melhor
pessoa com quem devemos nos aconselhar sobre como ocupar as
nossas horas. Simples assim!
Davi declara em Salmos que todos os nossos dias estão escritos em
um livro.

“Teus olhos viram a minha substância ainda sem for-


ma, e no teu livro os dias foram escritos, sim, todos os
dias que me foram ordenados, quando nem um deles
ainda havia. Ó Deus, como são preciosos para mim os
teus pensamentos! Como é grande a soma deles!” (Sl
139.16,17)
Parece contraditório quando falamos que para usar melhor o nosso
tempo e não desperdiçá-lo, devemos passar tempo aparentemente
“fazendo nada”. Mas esse tempo não é gasto e sim investido.
O tempo com Deus consiste em ler a sua Palavra sequencialmente,
não como um estudo, mas de forma que permita o Espírito Santo
nos trazer revelação por meio dela. A leitura da Palavra renova a
nossa mente - faz cessar os pensamentos naturais e nos eleva para
pensar os pensamentos de Deus. Após ler, é preciso orar e ouvir o
que Deus tem a falar através do texto bíblico ou pela reflexão sobre

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Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

as coisas que fizemos ou que aconteceram conosco recentemente.

A regra, então, é ouvir diariamente a voz de Deus


através do Espírito Santo, que nos mostrará de forma
direta qual o tempo específico e equilibrado devemos
usar em cada área da nossa vida.

2. A sabedoria do dizer não


É necessário ter sabedoria para escolher entre o sim e o não nas
diversas circunstâncias. A urgência deve ser muito bem avaliada. O
que faz a urgência é a nossa perspectiva quanto a ela.
Charles E. Hummel, em Livres da Tirania da Urgência diz:

“Um dos mais insidiosos inimigos de uma vida eficaz e


equilibrada é o elemento de urgência. Como o fogo,
a urgência pode ser uma boa serva mas seria ruim
como mestra. Ela geralmente é necessária em crises
de vida ou morte: um telefonema para a polícia, uma
corrida de ambulância para o hospital, aviso de uma
possível ameaça de bomba.
Contudo, a urgência pode ter uma falsa aparência...
A tarefa urgente é raramente sem valor; quando ocu-
pa o lugar adequado, tem o seu valor. No entanto,
quando constantemente realizamos substituições de
tarefas mais importantes, esta atitude torna-se uma
tirania da qual precisamos ser libertos.”6
E continua dizendo mais à frente:

“Outro fator também age contra a nossa negação


a um pedido de ajuda urgente. Como cristãos, sen-
timo-nos na obrigação de sermos bons samaritanos.
No entanto, precisamos entender que a necessidade
em si, embora urgente, não é necessariamente um
chamado para que a solucionemos. A necessidade
pode ser uma ocasião para fazermos o que a placa
nas estradas de ferro advertem: “pare, olhe e escute”
- e estarmos abertos para mudar nossos planos, se
necessário. Porém, o chamado à ação só pode vir do
Senhor, que conhece nossas limitações (Sl 103. 13-
14)”7
6
Livres da Tirania da Urgência, Charles E. Hummel, Editora Ultimato, 2011, pg. 76 / 7
(Pg. 77)

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Se nós somos pessoas que não conseguem dizer não às situações


ou às pessoas, nosso tempo será frequentemente roubado. Por isso,
precisamos aprender (claro que sempre de forma educada e sábia
para não ferir) a falar não.
Como mordomos, nós não sabemos o tempo de vida que teremos.
Não temos esse controle, mas temos o tempo de hoje. Devemos,
portanto, administrá-lo da melhor maneira possível e, muitas vezes,
será dizendo não.
3. Zelar pelo corpo físico
Um corpo saudável produz melhor. Nunca despreze a importância
de cuidar do corpo, pois ele é templo do Espírito Santo.
“Ou não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que
habita em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de
vós mesmos? Pois fostes comprados por preço; por isso, glorificai a
Deus no vosso corpo.” (1 Co 6.19,20)
Para que haja cuidado com o corpo é preciso equilibrar e dosar:
• O tempo de sono – dormir bem e de forma equilibrada
leva o corpo a um melhor desempenho.
• A alimentação – comer bem e regrado é muito importante
para a saúde do corpo.
• O tempo de lazer – devemos também ter momentos de
diversão, recreação, para levar, principalmente, refrigério à
mente.
Administrar bem o tempo e com equilíbrio faz com que tenhamos
condições para produzir mais na obra de Deus.
4. Nutrir a vida intelectual
É de suma importância ter saúde mental, não só através do lazer,
mas também e principalmente da leitura de bons livros.
Precisamos alimentar nossa mente com coisas boas, que edificam e
desenvolvem nosso intelecto, ou seja, bons livros, bons filmes, bons
seriados etc. Ler assuntos leves para trazer um descanso mental.
Livros que nos ensinam mais sobre Deus e nossa espiritualidade são
essenciais, porém, não devem constituir nossa única dieta literária.
É preciso ler outros assuntos: contos, poesias, romances, clássicos,
entre outros.
Paulo ensina a pensar em tudo aquilo que é bom:

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“Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro,


tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que
é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa
fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nis-
so pensai.” (Fp 4.8)

CONCLUSÃO
Um sinal que estamos fazendo bom uso do tempo é quando esta-
mos produzindo muito sem ficar estressados. Quando temos paz no
meio dos nossos tantos afazeres, é um sinal que o Espírito Santo está
no controle de nossas vidas. Jesus era assim: sempre calmo e sem
pressa e sempre ocupado no trabalho de seu Pai.
Finalmente, ser bons mordomos nos levará a alcançar o alvo final,
cumprir o chamado que Deus nos reservou. Seremos aqueles que
no dia da prestação de contas ouviremos do nosso Pai elogios e o
convite a participar da sua alegria, como na parábola a seguir:

“Também é como um homem que, ausentando-se do


país, chamou seus servos e lhes entregou seus bens:
a um deu cinco talentos; a outro, dois; e a outro, um,
de acordo com a capacidade de cada um; e saiu
em viagem. O que havia recebido cinco talentos foi
negociá-los imediatamente e ganhou mais cinco; da
mesma forma, o que havia recebido dois ganhou mais
dois; mas o que havia recebido um foi, cavou um bu-
raco na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor.
Depois de muito tempo, o senhor daqueles servos
voltou para acertar contas com eles. Então, chegando
o que havia recebido cinco talentos, apresentou-lhe
mais cinco talentos e disse: Senhor, entregaste-me
cinco talentos; aqui estão mais cinco que ganhei. E o
seu senhor lhe disse: Muito bem, servo bom e fiel; fos-
te fiel sobre pouco; sobre muito te colocarei; participa
da alegria do teu senhor! Chegando também o que
havia recebido dois talentos, disse: Senhor, entrega-
ste-me dois talentos; aqui estão mais dois que ganhei.
E o seu senhor lhe disse: Muito bem, servo bom e fiel;
foste fiel sobre pouco; sobre muito te colocarei; partic-
ipa da alegria do teu senhor. Por fim, chegando o que
havia recebido um talento, disse: Senhor, eu sabia que
és um homem severo, que colhes onde não semeaste

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Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

e recolhes onde não plantaste; então, fiquei com


medo e fui esconder na terra o teu talento; aqui tens
o que é teu. Mas o seu senhor lhe respondeu: Servo
mau e preguiçoso, sabias que colho onde não semeei
e recolho onde não plantei? Devias então entregar
meu dinheiro aos banqueiros e, ao voltar, eu o teria
recebido com juros. Tirai dele o talento e entregai-o
ao que tem dez talentos. Pois a todo o que tem, mais
lhe será dado, e terá com fartura; mas ao que não
tem, até aquilo que tem lhe será tirado. Lançai o servo
inútil nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger
de dentes.” (Mt 25.14-30)

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Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

COMO
ADMINISTRAR
O DINHEIRO

D inheiro sempre foi um assunto importante, tanto no tempo de


Jesus como nos dias de hoje. Quase metade das parábolas pro-
feridas por Jesus falam a respeito de dinheiro. Então, se este foi
um tema que mereceu a sua atenção, certamente deve merecer
a nossa.
Infelizmente, muitos cristãos e líderes sofrem em suas vidas pessoais
e ministeriais por não serem guiados pelos padrões da Palavra de
Deus em relação ao dinheiro. Hoje a igreja cambaleia entre a es-
cravidão do dinheiro (avareza) e a falsa prosperidade. É comum ver
pessoas endividadas por desejarem possuir coisas além do que a
sua condição financeira o permite; outros não seguem seu chama-
do para a vida missionária por medo ou por estarem presos a dívi-
das; e outros ainda não são generosos com a obra de Deus por
acharem que devem poupar para si.
Diante disso, perguntamos: Existe um padrão de como o cristão
deve lidar com o dinheiro? O que a Bíblia diz sobre isso? Há um
modelo de como Deus deseja que administremos nossas finanças?

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DÚVIDAS FREQUENTES
O dinheiro é coisa do diabo? Como
devemos usar o nosso dinheiro? Como
ajudar o necessitado se, muitas vezes,
não temos dinheiro? É pecado guardá-
lo? Devo comprar sempre que surge
uma oportunidade? Como administrar
o dinheiro da igreja? Dízimo é coisa do
Velho Testamento?

POR QUE FALAR SOBRE DINHEIRO?


“Se não fostes fiéis nas riquezas injustas, quem vos
confiará as verdadeiras? E, se não fostes fiéis com o
que é alheio, quem vos dará o que é vosso? Nenhum
servo pode servir a dois senhores, pois odiará a um
e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará
o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.” (Lc
16.11-13)
Esta passagem nos fornece duas verdades:
1. Se nós somos fiéis com as riquezas deste mundo, Deus nos
confiará as que são verdadeiras. O contrário também ocorre, isto é,
quando somos infiéis no uso do dinheiro, ele esconde as verdadei-
ras riquezas de nós.
2. As riquezas podem se transformar em um deus que com-
pete com o Senhor pelo domínio de nossas vidas.
A forma como lidamos com o dinheiro impacta diretamente nossa
comunhão com Deus, por isso, é preciso temor e seriedade em
relação a ele. Dinheiro não consiste apenas de papéis ou moedas
com os quais compramos coisas, nem mesmo do salário que re-
cebemos mensalmente pelo nosso trabalho. Dinheiro pode ser uma
grande tentação que tem poder para desviar nossas vidas levan-
do-nos à prática de outra religião e à adoração de outro deus que
não o Senhor.
Na Bíblia existem 2.350 versículos a respeito de dinheiro. Jesus, por
exemplo, falou sobre finanças mais do que qualquer outro assunto,
mostrando que as Escrituras fornecem um padrão de como deve-
mos administrar o dinheiro.

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PRINCÍPIOS BÁSICOS DA MORDOMIA


DO DINHEIRO

1. Tudo pertence a Deus


Como vimos nas aulas anteriores, Deus é dono de tudo o que foi
criado, inclusive, de todas as riquezas da Terra. Em última instân-
cia, até mesmo o que é “criado” pelo homem pertence a Deus.
Se todas as coisas pertencem ao Senhor e ele as permite chegar a
nós (por meio do trabalho, por exemplo), então, nos cabe ser seus
mordomos. Um bom mordomo é aquele que zela pelas coisas que
chegam às suas mãos e as usa para a glória de Deus sem se deixar
ser refém delas, pois isso se constituiria numa idolatria.

“Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra


qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus” (1 Co
10.31)

“Portanto, não digas no teu coração: A minha força e


a fortaleza da minha mão adquiriram para mim estas
riquezas. Pelo contrário, tu te lembrarás do SENHOR,
teu Deus, porque ele é quem te dá força para adquiri-
res riquezas, a fim de confirmar sua aliança, que jurou
a teus pais, como acontece hoje.” (Dt 8.17,18)
Tudo o que temos de bom é dádiva de Deus. Não somos propri-
etários independentes, mas despenseiros de seus bens. Devemos
ter a mentalidade de que somos chamados a usar o dinheiro para
os propósitos e glória do verdadeiro dono. Deus requererá de nós
fidelidade e o prestar conta do que fazemos com o dinheiro que
chega às nossas mãos.

2. Dinheiro pode ser bom


Se todas as coisas criadas pertencem a Deus, concluímos que elas
não são más em si mesmas. Tudo que Deus criou é bom.
A verdadeira visão cristã não diz que não podemos ter dinheiro ou
que não devemos usá-lo. Em nenhum momento nas Escrituras Deus
proíbe o seu uso. Porém, há muitos alertas sobre a forma de usá-lo e
enxergá-lo. Tanto no Antigo como no Novo Testamento há relatos
de como a obra e o plano de Deus avançou quando os recursos
foram bem empregados.

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Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

“Depois dessas coisas, Jesus começou a andar de


cidade em cidade, e de povoado em povoado, pre-
gando e anunciando o evangelho do reino de Deus;
e os Doze o acompanhavam e algumas mulheres
que haviam sido curadas de espíritos malignos e de
doenças também iam com ele: Maria, chamada Ma-
dalena, da qual haviam saído sete demônios; Joana,
mulher de Cusa, administrador de Herodes; Susana e
muitas outras que os serviam com os seus bens” (Lc
8.3)

“Pois não existia nenhum necessitado entre eles;


porque todos os que possuíam terras ou casas, ven-
dendo-as, traziam o valor do que vendiam e o depos-
itavam aos pés dos apóstolos. E se repartia a qualquer
um que tivesse necessidade” (At 4.34,35)

“Pois não só vos compadecestes dos que estavam nas


prisões, mas também aceitastes com alegria o confis-
co dos próprios bens, sabendo que tendes a posse de
algo melhor e permanente.” (Hb 10.34)

3. Dinheiro pode ser perigoso


Como disse João Calvino: “o coração do homem é uma fábrica de
ídolos”. Quando o homem não conhece a Deus e não se rende a
ele, seu coração procurará ídolos para prestar culto e manter neles
a sua confiança. Quando o dinheiro passa a ser o nosso porto-se-
guro, quando depositamos nele a nossa confiança e o deixamos
ditar nossas decisões, fazemos dele o nosso deus.
Aqui se faz necessário uma avaliação pessoal. O que mais temem-
os? Ficar sem dinheiro ou ficar sem Deus? Qual o nosso maior tem-
or? Se nos apegamos àquilo que o dinheiro pode nos dar, precisa-
mos de arrependimento.

“Portanto, eliminai vossas inclinações carnais: prostituição, impureza,


paixão, desejo mau e avareza, que é idolatria; é por causa dessas coisas
que a ira de Deus sobrevém aos desobedientes.”
Colossenses 3:5-6

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ÉTICA CRISTÃ E MINISTERIAL
Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

Idolatria ao dinheiro não é praticada somente no mundo, mas tam-


bém no meio da igreja. Na parábola do semeador, Jesus fala que a
semente (a Palavra de Deus) cai em quatro tipos de solo e um deles
é cheio de espinhos. Diz a Palavra: “Outra parte caiu entre espinhos,
os quais a sufocaram quando cresceram.” (Mt 13:7) . Os espinhos
não parecem ser perigosos, mas com o passar do tempo sufocam a
Palavra de Deus. Jesus explica: “E o que foi semeado entre os espin-
hos, esse é o que ouve a palavra, mas as preocupações do mundo
e a sedução da riqueza sufocam a palavra, e ela não produz fruto.”
(Mt 13:22).
É preciso ficar atento se a sedução das riquezas e as preocupações
do mundo não estão nos fazendo servos do dinheiro ao invés do
dinheiro ser nosso servo para a glória de Deus.
Os puritanos são conhecidos como um exemplo cristão de trabalho
para a glória de Deus. Sua visão de que Deus colocou o homem no
mundo com a missão de trabalhar em qualquer situação para a sua
glória e em serviço ao próximo, cooperou para que a visão errônea
de que apenas padres e cleros poderiam servir totalmente a Deus
fosse corrigida. Apesar de trabalharem muito e consequentemente
receberem muito dinheiro, eles viam grande perigo na riqueza. O
livro, Santos no Mundo, de Leland Ryken, conta que os puritanos
sempre estavam atentos à tendência do dinheiro de substituir Deus,
à confiança no eu ao invés de em Deus e ao apetite insaciável que
a riqueza gera.

OS TRÊS PERIGOS DA RIQUEZA


segundo os puritanos
1. Tendência de substituir Deus
2. Confiança no eu ao invés de em
Deus
3. Gerar um apetite que nunca pode
ser satisfeito

PASSAGENS PARA REFLEXÃO:

“Quem ama o dinheiro nunca terá o suficiente; quem

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ÉTICA CRISTÃ E MINISTERIAL
Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

ama a riqueza nunca ficará satisfeito com o lucro.


Isso também é ilusão! Quando os bens se multiplicam,
multiplicam-se também os que os consomem. Que
proveito tem o seu dono, a não ser contemplá-los
com os olhos? O sono do trabalhador é doce, quer
coma pouco quer coma muito; mas a fartura do rico
não o deixa dormir. Há um grande mal que vi debaixo
do sol: riquezas que foram guardadas por seu dono
para sua própria infelicidade. Se as riquezas dele se
perdem num infortúnio, não deixará nada para o fil-
ho que lhe nascer. Como saiu nu do ventre de sua
mãe, assim também se irá. Não terá nada para levar
de todo o seu trabalho. Isso também é um grande
mal: assim como o homem vem, assim se vai; e que
proveito terá por ter trabalhado para o vento?” (Ec
5.10-16)

“Aproximou-se dele um jovem e lhe disse: Mestre, que


farei de bom para ter a vida eterna? Ele lhe respon-
deu: Por que me perguntas sobre o que é bom? So-
mente um é bom; mas se queres entrar na vida, obe-
dece aos mandamentos. Ele lhe perguntou: Quais?
Jesus respondeu: Não matarás; não adulterarás; não
furtarás; não darás falso testemunho; honra teu pai e
tua mãe; e amarás o teu próximo como a ti mesmo. O
jovem lhe disse: Tenho obedecido a tudo isso; que me
falta ainda? Jesus respondeu: Se queres ser perfeito,
vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres; e terás
um tesouro no céu; depois vem e segue-me. Mas, ou-
vindo essas palavras, o jovem retirou-se triste, porque
possuía muitos bens. Então Jesus disse aos discípulos:
Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará
no reino do céu.” (Mt 19.16-23)

4. Dinheiro é tempo congelado


Na aula passada falamos sobre a importância de administrar bem o
tempo. Dinheiro tem tudo a ver com tempo. Pare para pensar: uma
pessoa que trabalha 10 horas por dia e recebe X reais gastando
tudo em bebida, não está apenas jogando seu dinheiro no lixo, mas
também o seu tempo. Dinheiro é aquilo que você recebe pelo seu
trabalho, o qual é realizado no tempo. Portanto, a forma com que
gastamos o nosso dinheiro tem tudo a ver com a forma como gasta-

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ÉTICA CRISTÃ E MINISTERIAL
Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

mos o nosso tempo. Por isso, precisamos ser sábios administradores


de ambos.
Nessa relação tempo e dinheiro, alguns extremos são completa-
mente nocivos:
a) Preguiça: “Porque a Escritura diz: Não amarres a boca do boi
quando ele estiver debulhando”; e: “O trabalhador é digno do seu
salário.” (1 Tm 5:18). Aquele que não trabalha não é digno de
salário, e não participa da administração dos bens de Deus.
b) Desperdício: É ocasionado por uma falta de equilíbrio entre am-
bos. Você pode desperdiçar o seu tempo, ficando ocioso, e deix-
ando de ganhar dinheiro. Você pode desperdiçar o seu dinheiro,
trabalhando muito e ganhando bem, mas gastando mal.
c) Avareza: O excesso de apego ao dinheiro leva o indivíduo a usar
todo o seu tempo em função dele. Muitas vezes, o resumo de sua
vida é trabalhar para prosperar e apenas isso. Muitos casamentos e
ministérios fracassam por causa do apego ao dinheiro.

E O DÍZIMO?
Falar sobre o dízimo não é tão simples quanto possa parecer.
Apesar de ser uma das práticas mais universais em todas as de-
nominações, linhas e correntes do cristianismo atual, é também
um dos nossos maiores estigmas em relação aos que nos olham
de fora.
Não que seja um consenso absoluto. Aproveitando-se do fato de
que o Novo Testamento quase nem faz menção do dízimo, algu-
mas vozes têm-se levantado para contestar a prática. E aí envolve
uma questão muito mais ampla que a do dízimo: como aplicar leis
e princípios do Antigo Testamento à Nova Aliança inaugurada por
Jesus?
Para ajudar a pensar sobre as principais dúvidas e discussões em
torno do dízimo, abordamos a seguir algumas das perguntas mais
frequentes. Não estamos insinuando que temos respostas defini-
tivas ou infalíveis; pelo contrário, nosso papel é estimular o pens-
amento honesto e corajoso a respeito de temas importantes para
a igreja, com o objetivo de abrir mais o diálogo e facilitar nosso re-
torno coletivo ao “primeiro amor” e à prática das “primeiras obras”
(Ap 2.4,5) da igreja do primeiro século.
Se Abraão pagou o dízimo a Melquisedeque (Gn 14.20; Hb 7.1-10)
antes da introdução da lei de Moisés, isso não mostra que o dízimo

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Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

é anterior à lei e, consequentemente, uma prática que deve ser


mantida na Nova Aliança?
É uma observação válida dizer que o dízimo é anterior à lei. No en-
tanto, um princípio importante na interpretação das Escrituras é
ler a passagem em questão em todo o seu contexto, procurando
entender exatamente o que o autor estava querendo transmitir
(não tentando tirar dele o que nós queremos provar). No caso do
texto em Hebreus 7, fica muito claro que o objetivo do autor não
era reforçar a prática do dízimo; era mostrar a superioridade do
sacerdócio segundo a ordem de Melquisedeque. E o que Abraão fez
naquele incidente não foi iniciar um padrão de pagar regularmente
10% de sua renda, mas apenas oferecer a Melquisedeque, como
representante de Deus, uma oferta de gratidão pela vitória divina-
mente concedida.
Com isso, não estamos querendo levantar um argumento contra
o dízimo, apenas observar que o texto em Hebreus não foi escrito
para dar autenticidade a essa prática. O tema do capítulo e de toda
a epístola aos Hebreus é a superioridade da Nova Aliança.
Na lei de Moisés, os dízimos eram dados aos levitas e sacerdotes.
Como devemos aplicar isso na Nova Aliança?
Em primeiro lugar, os dízimos não eram destinados integralmente
aos levitas e sacerdotes. Eram usados, em parte, para financiar os
momentos especiais de festa ao Senhor em Jerusalém, quando to-
dos deveriam celebrar e comer juntos diante de Deus (Dt 12.17-18;
14.22-23). Somente de três em três anos, o dízimo era destinado
aos levitas – e aos peregrinos, órfãos e viúvas (Dt 14.28,29; 26.12;
Am 4.4).
Mesmo no regime da lei, as doações não eram limitadas a 10%.
Além do dízimo, havia as primícias de toda a produção agrícola
e dos rebanhos, as ofertas e sacrifícios, além de dádivas, votos e
coisas consagradas (Nm 18.9-14). Alguns estudiosos já calcularam
que o total de tudo o que um fiel observador da lei de Moisés daria
ao Senhor somaria mais de 20% de sua renda. A maioria dessas do-
ações era destinada realmente aos levitas e sacerdotes (Nm 18.8-
14).
Os levitas e sacerdotes cuidavam da casa de Deus, dos sacrifícios
e de todos os serviços relacionados. Eles não tinham herança na
terra, mas eram sustentados pelas ofertas e dízimos do restante
do povo.
Não existe, no Novo Testamento, uma ligação clara entre os levitas
e sacerdotes da Velha Aliança e os líderes (presbíteros ou anciãos
e diáconos) da igreja local ou os cinco ministérios de Efésios 4.11
(apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres). É eviden-
te que existia uma liderança reconhecida na igreja primitiva, e que

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Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

alguns se dedicavam ao ministério de tempo integral. Existe base


bíblica para sustentar pessoas que estão servindo à igreja com
ministérios itinerantes ou na liderança da igreja local, especial-
mente no ministério da Palavra (1 Tm 5.17,18; Gl 6.6; Mt 10.9,10; 1
Co 9.3-14).
Novamente, para aplicar um princípio do Velho Testamento, deve-
mos entender que não podemos transferir uma lei ou um sistema
de forma rígida ou literal para a igreja. Precisamos entender como
adaptar os princípios para o regime da Nova Aliança.
É errado ensinar que Deus abençoa financeiramente aqueles que
dão dízimos e ofertas?
Em geral, um ensino errado é “quase certo”. Em outras palavras,
contém muitos elementos verdadeiros. Este é o problema: quan-
to mais próximo da verdade, mais nocivo e enganador é. Quando
alguém ensina uma prática ou doutrina, usando a Bíblia, provavel-
mente diz quase tudo certo; afinal, está usando a Bíblia! O proble-
ma está na atitude, nas pequenas distorções.
Existem muitos textos que mostram que Deus abençoa a quem dá
(Ml 3.10; Lc 6.38; 2 Co 9.10,11). O problema maior está na atitude e
motivação de quem está doando.
Em primeiro lugar, não existe uma fórmula. Não é uma troca mági-
ca. Não funciona sem fé, sem doar livre e espontaneamente, de
coração, oferecendo a si mesmo em primeiro lugar e reconhecen-
do que tudo vem de Deus e pertence a ele. Dar por obrigação, para
agradar aos homens, para se sentir justo – nada disso tem valor
para Deus!
Em segundo lugar, não devemos dar com intenção de receber algo
de volta. Deus promete que abençoará, mas não é por isso que
contribuímos. Ofertamos aquilo que já pertence ao Senhor, damos
porque queremos agradar-lhe, porque é nossa alegria fazer a sua
vontade com os recursos que ele nos deu! Dar com vistas à rec-
ompensa é procurar vantagem para si – o que é o contrário de dar
como Deus dá.
Na verdade, o que queremos é que o Reino de Deus cresça, que haja
multiplicação de recursos para estender o Evangelho e trazer glória
para o Senhor. Essa deve ser a nossa motivação.
______________
Trecho extraído do artigo “Esclarecendo dúvidas em relação ao dízi-
mo”, de Christopher Walker, publicado na Revista Impacto, edição 75.
(Disponível em: www.revistaimpacto.com.br)

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Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

VERSÍCULOS SOBRE DÍZIMOS NO ANTIGO E


NOVO TESTAMENTO
“E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus
inimigos nas tuas mãos! E Abrão deu-lhe o dízimo de
tudo.” (Gn 14.20)

“Considerai, pois, como esse homem era importante,


a quem até o patriarca Abraão deu o dízimo dos mel-
hores despojos. Aqueles que dentre os filhos de Levi
recebem o sacerdócio têm ordem, segundo a lei, de
receber os dízimos do povo, isto é, de seus irmãos,
ainda que estes também sejam filhos de Abraão. Mas
aquele cuja genealogia não é contada entre eles re-
cebeu dízimos de Abraão e abençoou o que havia
recebido as promessas. Sem contradição alguma, o
inferior é abençoado pelo superior. Neste último caso,
homens mortais recebem os dízimos; no outro, porém,
aquele de quem se afirma que vive. E por assim dizer,
até Levi, que recebe dízimos, pagou-os por meio de
Abraão” (Hb 7.4-10)

“... então esta pedra que coloquei como coluna será


casa de Deus; e certamente te darei o dízimo de tudo
quanto me deres.” (Gn 28.22)

“Também todos os dízimos da terra, quer dos cereais,


quer do fruto das árvores, pertencem ao SENHOR; são
santos ao SENHOR. Se alguém quiser resgatar uma
parte dos seus dízimos, deverá acrescentar-lhe um
quinto. Quanto a todo dízimo do rebanho bovino e do
rebanho ovino e caprino, de tudo o que passa sob o
cajado do pastor, esse dízimo será santo ao SENHOR.
Não se examinará se é bom ou ruim, nem se trocará.
Mas, se for trocado, tanto um como o outro serão san-
tos; não serão resgatados. São esses os mandamentos
que o SENHOR ordenou a Moisés para os israelitas, no
monte Sinai.” (Lv 27.30-34)

“Pode um homem roubar a Deus? Todavia vós me


roubais, e ainda perguntais: Como te roubamos? Nos
dízimos e nas ofertas. Estais debaixo de grande mal-
dição, pois me roubais; a nação toda me rouba.” (Ml

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Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

3.8,9)

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque dais


o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e omi-
tis o que há de mais importante na Lei: a justiça, a
misericórdia e a fidelidade; devíeis fazer estas coisas,
sem omitir aquelas.” (Mt 23.23)

GENEROSIDADE: NÃO TENHA


MEDO DE IR ALÉM
Deus quer que sejamos pessoas generosas, e nos abençoa quando
o somos. Ele próprio é generoso, nos deu vida quando éramos seus
inimigos, e nos fez, em Cristo, coerdeiros de todas as coisas.
Na distribuição de seus bens, Deus em sua soberania, deu a alguns
mais do que a outros. A generosidade tem a ver com o coração.
Muitas vezes quem menos tem é quem tem maior facilidade em
dar, mesmo que em menor quantidade. Mas, muitas vezes, a mal-
dade em nosso coração e a idolatria nos faz apegar ao dinheiro
como se ele fosse, de fato, nosso. Portanto, seja generoso e expulse
a ganância do seu coração. Dave Harvey diz:

“Um erro comum que confunde alguns cristãos é


a “doação virtual”- uma doação que só ocorre na
cabeça das pessoas, se-as-coisas-fossem-diferentes -
“se eu tivesse mais”, pensamos, “daria mais”. Essa é a
doação virtual. Na realidade, se tivéssemos mais, sem
dúvida encontraríamos maneiras de usar ou armaze-
nar o adicional.” 1
Em todos os aspectos relacionados ao dinheiro deve haver equilíbrio.
É sábio, quando formos ajudar alguém, entender a situação que a
pessoa está passando. Muitas vezes, a ajuda, por mais que pareça
positiva, pode não causar o bem. Se existe alguma falha de caráter
que o leve a alguns dos extremos citados acima, dar é, muitas vez-
es, contribuir para que a pessoa se mantenha no pecado e não seja
tratada. Por isso, é importante também que haja um prazo estipu-
lado, pois poucas pessoas precisarão de ajuda para sempre, sem
conseguir sair da situação de necessidade.
Outro fator importante é não agir por impulso, muito menos por
pena. É preciso ser sensível à situação e tentar entender o efeito
1 Mundanismo, editado por C.J. Mahaney, Editora Tempo de Colheita, 2010, Pg. 87.

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ÉTICA CRISTÃ E MINISTERIAL
Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

que a sua ajuda trará ao outro; se trará crescimento ou alimentará


a comodidade dele. Lógico que existem casos urgentes em que a
necessidade vai ser tratada e depois o caráter, ainda assim, a ajuda
não deve ser impulsiva.
Outro ponto importante acerca da generosidade é que ser gen-
eroso não é simplesmente ajudar o outro, mas tem a ver também
conosco. É preciso observar se a nossa “generosidade” não está
afetando nosso caráter, pois a natureza do homem é egoísta e con-
trária a isso. Sendo assim, não estamos alcançando o nível máximo
que podemos chegar. Veja nas palavras de Madre Tereza:

“O amor, para ser verdadeiro, tem de doer. Não basta


dar o supérfluo a quem necessita, é preciso dar até
que isso nos machuque.”

OUTROS CONSELHOS IMPORTANTES

1. Faça tudo com excelência


Quando passamos a entender que o dinheiro é de Deus temos
que zelar ainda mais por sua administração, sem desperdício ou
exageros, tratando-o com o devido cuidado.

“Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito; quem


é injusto no pouco, também é injusto no muito.” (Lc
16.10)

2. Não contraia dívidas

“Não fiqueis devendo coisa alguma a ninguém, a não


ser o amor de uns para com os outros; pois quem ama
o próximo tem cumprido a lei.” (Rm 13.8)
A Bíblia nos ensina a não fazer dívida. Quem a faz se torna escravo
do outro. Fazer dívida não é de Deus e é muito perigoso. Ele não
quer que nos tornemos escravos dessas situações. Pagar juros é usar
o tempo e o suor do nosso trabalho (que pertencem a Deus) em
favor daquele que se beneficiará deles. Por isso, tanto pagar juros
como fazer dívidas é algo muito ruim e não deve fazer parte da vida
e caráter do cristão.
É preciso ir contra o consumismo que é cada vez maior hoje em dia.
As oportunidades batem à nossa porta; comprar a crédito permite

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ÉTICA CRISTÃ E MINISTERIAL
Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

que possamos ter hoje algo que levaríamos meses para adquirir.
Cuidado! Isso nos faz reféns dos juros e pode facilmente se tornar
uma bola de neve sem controle.

Dívida, para o cristão, é violação do mandamento: “A ninguém


fiqueis devendo coisa alguma” (Rm 13.8). Dívida resulta de cobiça,
um desejo de possuir o que nosso próximo tem, mesmo que não ten-
hamos seus recursos.
Por causa da cobiça, o escravo deseja possuir uma casa, um carro,
móveis, e roupas que vê entre os ricos, e o único meio de adquirir
tudo isso é através da dívida. Mas Paulo declarou: “De fato, grande
fonte de lucro é a piedade com o contentamento. Porque nada te-
mos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele;
tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes” (1 Tm
6.6-8).
O homem ganancioso, ou a nação avarenta, entra em dívida a fim de
conseguir mais poder, poder aquisitivo, prestígio, recursos, e outras
formas de poder visível. Isto resulta, de fato, em mais poder, mas é
poder a curto prazo comprado pelo preço de desastre a longo pra-
zo. O devedor constantemente vê novos alvos, novos incrementos
de poder possíveis de serem alcançados através de mais dívidas, e
consequentemente se afunda cada vez mais em escravidão. Dever
é um estilo de vida, uma forma gananciosa de viver, e uma forma de
escravidão. O resultado final de uma economia baseada em dívidas,
tanto para o indivíduo, como para a nação, é falência.
____________
Trecho extraído do artigo “Cobiça - a fonte da dívida”, de R. J.
Rushdoony, publicado na Revista Impacto - Edição 25.

3. Poupe
Devemos investir ou guardar com diligência parte do dinheiro que
administramos. Poupar não significa falta de fé, mas sabedoria na
administração. Veja o exemplo de José no Egito, que sabiamente
poupou recursos durante sete anos de fartura para sobreviver aos
sete anos de escassez que estavam por vir.

“As mãos dos diligentes governarão, mas o preguiçoso


se tornará escravo.” (Pv 12:24)

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ÉTICA CRISTÃ E MINISTERIAL
Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

NOSSO DINHEIRO DEVE SER SEPARADO EM


TRÊS PARTES:
1ª – Gastos mensais (com o quanto vivemos);
2ª – Dízimos e ofertas (igreja e pessoas);
3ª – Poupança ou investimento (para o futuro).

4. Converse com seu cônjuge (e família) sobre suas finanças


É importantíssimo que a família concorde sobre as questões finan-
ceiras. Cada um tem seu papel e responsabilidade, mas isso não
quer dizer que não se deva ter diálogo sobre o assunto. Embora
o homem seja o responsável pela liderança da casa (incluindo fi-
nanças), marido e esposa devem sentir paz mútua sobre as de-
cisões, para assim poderem caminhar em parceria rumo à visão
estabelecida.
Outro princípio extremamente importante é entender que o din-
heiro do casal é um só. Nos dias de hoje, infelizmente, em mui-
tos casos cada cônjuge administra seu próprio salário. Porém, essa
prática é totalmente contrária ao princípio bíblico do casamento,
que diz ser o homem e a mulher uma só carne – uma só mente e
um só coração. Por isso, apesar de ambos trabalharem, o dinheiro é
administrado como um só.
Da mesma forma, quando os filhos crescem devem também partic-
ipar das decisões em família sobre a administração financeira. Isso
será um aprendizado para eles de que as decisões não são tomadas
sozinhas, mas em família.

5. Cuide do dinheiro da igreja com sabedoria


Quando se trata da administração do nosso dinheiro já é uma
enorme responsabilidade, mas quando lidamos com as finanças da
igreja o cuidado deve ser ainda maior. Por isso, sempre que for mex-
er no caixa (para contar dízimos e ofertas ou decidir sobre o seu
uso) nunca o faça sozinho, mas chame um irmão para acompanhar
o processo. Mesmo não havendo nenhuma desconfiança é preci-

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ÉTICA CRISTÃ E MINISTERIAL
Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

so zelar entendendo que algo pode dar errado ou algum engano


acontecer. Além do mais, Satanás pode usar situações e mal en-
tendidos para causar divisão. Não podemos apenas ser honestos e
fazer o certo, precisamos fugir da aparência do mal, o que significa
que temos de agir de tal forma que ninguém poderia levantar uma
calúnia contra nós. (Na Bíblia podemos ver o exemplo de Daniel e
na história recente, Billy Graham. Seus mais ferrenhos inimigos nun-
ca os acusaram de fazer mal uso do dinheiro.)

6. Busque conselhos sábios


Procure ter pessoas que toquem em todas as áreas de sua vida,
inclusive que tenham liberdade para darem conselhos ou apontar
pecados na área financeira. Muitas decisões difíceis podem se tor-
nar fáceis com conselhos sábios. Por isso, tenha pessoas sábias ao
seu lado, para o auxiliarem a usar o seu dinheiro corretamente e a
tomar grandes decisões, contudo, sem tirar-lhe a responsabilidade
sobre elas.

7. Tenha calma
Na hora das decisões não é preciso ter pressa. Os vendedores sem-
pre fazem pressão quando querem vender seus produtos; tentam
nos convencer que não podemos viver sem eles e que estamos
perdendo em não adquiri-los. Para não cairmos nesse tipo de cilada
é muito importante que busquemos a direção de Deus, da família
e dos irmãos. Não seja precipitado, tenha calma ao fazer seus
negócios.

Materialismo, no sentido usado geralmente no meio cristão, pode ser


definido como uma destemida preocupação pelos bens materiais, sua
posse e aquisição; supondo serem eles o essencial da vida em detri-
mento da vida espiritual. Também atenta contra um sentido cristão de
justiça social. A mesma conotação é encontrada nas palavras avareza e
cobiça. A atitude materialista, avarenta ou cobiçosa é condenada ener-
gicamente pela Palavra de Deus (Mc 7.20-23; Ef 5.3; Cl 3.5; 1Tm 6.6-10;
Hb 13.5; 2 Co 8.9).
1) O homem se torna materialista ao crer em três mentiras básicas:
a) Cada pessoa é dona do que possui.
b) A vida do homem consiste na abundância de bens que possui.

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ÉTICA CRISTÃ E MINISTERIAL
Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

c) O homem pode dispor a seu modo do que possui, seja isto adquirido
por herança, trabalho, capacidade, vivacidade, engano ao próximo etc.
Essas mentiras são do diabo, o pai da mentira, e têm colocado o homem
no caminho da cobiça e da avareza. O homem está adormecido, não
tem consciência desses pecados, uma vez que creu nessas mentiras.
2) A avareza destrói o homem
A avareza é filha do egoísmo. É idolatria (Cl 3.5; Ef 5.5; Mt 6.24), e o
amor ao dinheiro é a raiz de todos os males: mentiras, enganos, subor-
nos, injustiças, roubos, rixas, inimizades (1 Tm 6.6-10).
A cobiça é o desejo desordenado de possuir coisas e riquezas com o fim
de satisfazer às exigências egoístas da vida (Mt 13.22).
Os avarentos não podem herdar o reino de Deus (Ef 5.5; 1 Co 6.10). A
publicidade e a propaganda comercial apelam constantemente à co-
biça do coração do homem (1 Jo 2.16,17).
Resumindo, podemos dizer que a avareza:
• Impede o homem de usar tranquilamente, com liberdade e com
alegria, os bens que possui. (Ec 1.3-10).
• Torna o homem duro e insensível para com os seus semelhantes (Na-
bal – 1 Sm 25.10, 11; Ne 5.1-12).
• Converte o homem em escravo do dinheiro (Mt 6.24; Lc 16.13).
• Faz o homem cair em idolatria (Ef 5.5).
• Atormenta o homem com desejos insaciáveis de aumentar suas
riquezas, levando-o a se apoderar injustamente do alheio.
• Torna o homem suscetível aos subornos na administração da justiça
(Êx 18.21; 1 Sm 8.1-3; Sl 15.5; Ez 22.12,13).
• Leva o homem a trair os seus e a oprimir os fracos (Pv 30.14).
• Leva o homem a reter ou a atrasar os pagamentos de seus assalari-
ados (Tg 5.1-5).
Nas listas de pecados que se acham no Novo Testamento, primeiro
aparecem os que dizem respeito ao sexo e em segundo lugar os ligados
à avareza. Paulo os coloca no mesmo nível de idolatria (Cl 3.5).
Por tudo isso Deus reprova os avarentos: ver os casos de Acã (Js 7); Na-
bal (1 Sm 25); Geazi (2 Rs 5.20-27); Judas (Jo 12.6; Mt 26.14-16); Ananias
e Safira (At 5.1-11).
A palavra de Deus nos orienta respondendo com clareza às três menti-
ras básicas citadas anteriormente:
1ª Resposta – Jesus é o dono e senhor de tudo o que possuímos (Sl 24.1;

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ÉTICA CRISTÃ E MINISTERIAL
Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

Lc 14.33; At 4.32; Fp 2.11).


2ª Resposta – A vida do homem não consiste na abundância dos bens
que possui (Mt 4.4; Lc 12.15).
3ª Resposta – É melhor dar do que receber (At 20.35).
______________
Trecho extraído da série “Fundamentos para a Fé e Obediência” - volume II
(Impacto Publicações).

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ÉTICA CRISTÃ E MINISTERIAL
Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

O SUSTENTO PARA
O MINISTÉRIO
INTEGRAL

N as aulas anteriores falamos sobre mordomia e os princípios


básicos da administração do tempo. Também vimos como um
cristão deve se relacionar com o dinheiro e todos os recursos finan-
ceiros. Nesta aula iremos, de certa forma, unir todos os conceitos e
princípios estudados anteriormente dentro do escopo do ministério
de tempo integral para a igreja.
Quando falamos de “ministério integral”, nos referimos ao trabalho
exercido de forma exclusiva para a igreja. Um exemplo clássico de
ministério de tempo integral são pastores que trabalham apenas no
serviço da igreja – atuando na pregação, no ensino, no aconselha-
mento, na administração da igreja etc. Porém, este não é o único
exemplo. Temos os missionários no campo, mestres da Palavra, lí-
deres de ministérios de ensino, justiça social, entre outros. Antes de
entrar no assunto de sustento e de como deve viver alguém que
se propõe a viver integralmente para o ministério, é importante dar
algumas explicações sobre o que é ministério e suas variações.

O QUE, AFINAL, É MINISTÉRIO?


A palavra “ministério”, em sua origem latina, deriva de “ministeriu”
que significa “incumbência, comissão, cargo, serviço”. Em seu uso

45
ÉTICA CRISTÃ E MINISTERIAL
Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

amplo, a palavra é utilizada para falar de cargos dentro de uma área


específica. No Brasil, por exemplo, falamos do “Ministro da Econo-
mia”, “Ministério da Fazenda” etc. Mas em seu uso bíblico se refere
especialmente a serviço na obra de Deus.
No Antigo Testamento, o termo é aplicado ao serviço dos levitas
que trabalhavam na tenda, mas também é utilizado ao se referir ao
serviço dos profetas.

“Recebe-os deles, e serão para servir no ministério da


tenda da congregação; e os darás aos levitas, a cada
qual segundo o seu ministério.” (Nm 7.5)

“E estabeleceu os sacerdotes nos seus cargos, e os


animou ao ministério da casa do Senhor.” (2 Cr 35.2)

“Então o Senhor falou pelo ministério de seus servos,


os profetas, dizendo...” (2 Rs 21.10)

“E Davi, juntamente com os capitães do exército,


separou para o ministério os filhos de Asafe, e de
Hemã, e de Jedutum, para profetizarem com harpas,
com címbalos, e com saltérios; e este foi o número
dos homens aptos para a obra do seu ministério...” (1
Cr 25.1)
As passagens acima são da versão Almeida Corrigida Fiel, na qual
os termos hebraicos no original podem ser “abodah”, “mishmereth”
ou “ebed”, traduzidos como serviço, cargo e, como algumas versões
o preferem, ministério. Embora os termos possam ser usados para
qualquer tipo de serviço, para Deus ou não, no geral passaram a
ser mais utilizados referindo-se ao trabalho na casa de Deus e para
Deus.

“abodah ou abowdah” = trabalho, serviço, obra, trabalho de servo ou es-


cravo, trabalho ou serviço de cativo ou súdito, serviço de Deus.
“mishmereth” = guarda, cargo, função, obrigação, serviço, vigia, ato de
guardar, preservar, cargo, mandato, ofício, função cerimonial.
“ebed” = escravo, servo, servidor, súdito, adoradores (referindo-se a
Deus), servo (sem sentido especial de profetas, levitas etc), servo (refer-
indo-se a Israel).

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ÉTICA CRISTÃ E MINISTERIAL
Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

No Novo Testamento, o termo em grego usado é “diakonia” e apa-


rece em diversas passagens diferentes, também se referindo ao
serviço na obra de Deus.

“Ora, tinha Jesus cerca de trinta anos ao começar o


seu ministério.” (Lc 3.23)

“Mas nós perseveraremos na oração e no ministério


da palavra.” (At 6.4)

“E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o


mesmo.” (1 Co 12.5)

“E dizei a Arquipo: Atenta para o ministério que rece-


beste no Senhor, para que o cumpras.” (Cl 4.17)

“diakonia” = serviço, ministério, ofício de Moisés,


do ofício dos apóstolos, evangelistas, anciãos
etc, serviço daqueles que brindam aos outros os
ofícios da afeição cristã especialmente daque-
les que ajudam a atender necessidades, ofício do
diácono, etc.

Embora as Escrituras usem a palavra ministério para falar de um


serviço específico que alguém faz para Deus ou para sua casa
(serviço à igreja ou ao outro, à semelhança dos levitas que min-
istravam a Deus e ao povo), elas também a usam para falar de uma
atuação de Deus. Como por exemplo:

“Como não será de maior glória o ministério do Espíri-


to?” (2 Co 3.8)

“Porque, se o ministério da condenação foi glorioso,


muito mais excederá em glória o ministério da justiça.”
(2 Co 3.9)
Podemos dizer então que na visão bíblica, embora haja um serviço
ou cargo que todo ser humano realiza durante a sua vida, há o
serviço ou ministério para Deus sendo executado do Antigo ao
Novo Testamento – seja ele na figura dos levitas, dos sacerdotes ou
profetas, dos apóstolos, presbíteros ou diáconos.
Hoje em dia, quando se fala em ministério, muitas pessoas tendem

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ÉTICA CRISTÃ E MINISTERIAL
Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

a pensar apenas nos cinco ministérios descritos em Efésios 4.11;


outras entendem como um serviço que qualquer um pode fazer,
contanto, que seja feito para a glória de Deus. Você já deve ter vis-
to um evangelista dizer: “Meu ministério é pregar para as nações!”.
Como deve também ter ouvido uma mãe declarar: “Meu ministério
é cuidar dos meus filhos!”.
Em certo sentido, nenhum dos dois pensamentos está errado, mas
isolados podem trazer confusão e erro. Portanto, precisamos deixar
claro que:
- Existe, sim, um grupo de pessoas que se dedica exclusivamente ao
ministério (no sentido de se dedicar exclusivamente a atividades de
âmbito eclesiástico);
- Todos podem servir totalmente a Deus e trabalhar para ele, mes-
mo que estejam atuando em cargos não eclesiásticos.
Como a Bíblia utiliza mais o termo ministério para falar daqueles que
exercem atividades mais focadas no serviço a Deus, sua obra e seu
povo, nesta aula falaremos dele nesse sentido.

SACERDÓCIO E SUSTENTO NO
ANTIGO TESTAMENTO
“Mas só tu e os teus filhos poderão cumprir com os de-
veres sagrados dentro do tabernáculo mesmo” (Nm
18.2)

A característica do sacerdócio, a partir de Moisés, é que era ex-


clusivo à tribo de Levi – escolhida entre todas para servir a Deus e
ao povo. No Antigo Testamento, um grupo foi consagrado para ser
exclusivo, e o ministério sacerdotal era exercido somente por eles.
Ao estudar o livro de Levítico, rapidamente se percebe que a função
dos levitas e sacerdotes não era meramente cerimonial ou voltada
à adoração, mas envolvia trabalhos práticos e cuidados diários com
o tabernáculo. O capítulo 4 de Números é um bom exemplo da
organização e deveres práticos das famílias sacerdotais, que incluía
toda a logística de transporte do tabernáculo, assim como a mon-
tagem, desmontagem, cuidado e limpeza de utensílios etc. Logo, o
Antigo Testamento nos ensina que ministério não é apenas serviço
“espiritual” no sentido de lidar com o mundo invisível e práticas de
oração, adoração etc, embora sejam estas muito importantes e pri-

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mordiais.
Além disso, vemos claramente que o sustento do ministério sacer-
dotal vinha do povo, princípio este estabelecido por Deus:

“O Senhor ainda lhe acrescentou as seguintes in-


struções: Dei aos sacerdotes todas as dádivas que
foram trazidas ao Senhor pelo povo; todas estas ofer-
tas apresentadas ao Senhor, num gesto balanceado
perante o altar, pertence a ti e aos teus filhos; é uma
lei para sempre.” (Nm 18.8)

“Vocês, os sacerdotes, não possuirão qualquer pro-


priedade, nem qualquer outro rendimento, porque eu
constituo tudo aquilo de que precisam. Quanto à tri-
bo de Levi, vossos familiares receberão em troca dos
seus serviços os dízimos de toda a terra de Israel.” (Nm
18.20,21)

SACERDÓCIO E SUSTENTO NO
NOVO TESTAMENTO
“O que está sendo instruído na palavra deve repartir
todas as boas coisas com aquele que o instrui.” (Gl
6.6)
No Novo Testamento, vemos que todos são chamados ao sac-
erdócio, ao serviço a Deus. Contudo, isso não quer dizer que ele
extinguiu o princípio de que alguns cuidarão de sua casa e sua obra
mais que outros; e, muito menos, que o princípio de sustento para
o ministério foi excluído.
Jesus ensinou aos seus discípulos:

“Não leveis sacola, nem bolsa de viagem, nem


sandálias; e a ninguém cumprimenteis pelo caminho.
Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro:
A paz esteja nesta casa. E se nela houver um filho da
paz, a vossa paz repousará sobre ele; caso contrário,
ela voltará para vós. Ficai nessa casa, comendo e be-
bendo do que tiverem; pois o trabalhador é digno do
seu salário.” (Lc 10.1-7)
Jesus é um dos primeiros exemplos de seu ensino. Observando que

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o seu ministério foi sustentado por mulheres (Lc 8.3) e Judas cuidan-
do da bolsa (Jo 12.6), somos levados a entender que Jesus e seus
discípulos recebiam ofertas. Podemos concluir com base na pas-
sagem acima que o ministério constitui trabalho, e como tal é digno
de ser sustentado.
Vemos também o apóstolo Paulo afirmando o mesmo:

“Os presbíteros que governam bem devem ser dignos


de honra em dobro, principalmente os que trabalham
na pregação e no ensino. Porque a Escritura diz: Não
amarres a boca do boi quando ele estiver debulhan-
do; e: O trabalhador é digno do seu salário.” (1 Tm
5.17-18)
A palavra “honra” utilizada nesta passagem é comumente inter-
pretada como honorários, ou seja, os presbíteros que trabalhavam
bem, sendo diligentes e dedicados, deveriam receber duplos hon-
orários, salário dobrado.
Paulo, em 1 Coríntios, escreve, em sua defesa, sobre o sustento de
quem está trabalhando no ministério:

“Esta é a minha defesa para com os que me acusam.


Não temos nós o direito de comer e beber? Não te-
mos nós o direito de levar conosco esposa crente,
como também fazem os demais apóstolos, os irmãos
do Senhor e Cefas? Ou será que somente eu e Barn-
abé não temos o direito de deixar de trabalhar pelo
sustento financeiro? (...) Pois na lei de Moisés está es-
crito: Não atarás a boca do boi quando debulha o
grão. Será que Deus está preocupado com bois? Ou
será que de fato não diz isso por nós? É claro que é
em nosso favor que isso está escrito. Pois quem lavra
a terra deve debulhar o grão com a esperança de
participar da colheita.” (1 Co 9.3-9)

“Irmãos, sabeis que a família de Estéfanas são os primeiros frutos da


Acaia; eles têm se dedicado ao serviço dos santos; assim, suplico-vos
agora que também vos sujeiteis aos que são como eles e a todo que
coopera e trabalha na obra. Alegro-me com a vinda de Estéfanas,
Fortunato e Acaico; pois eles supriram o que me faltava da vossa parte.
Porque revigoraram o meu espírito assim como o vosso. Homens como
eles merecem o vosso reconhecimento.” (1 Co 16.17,18)

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O CORAÇÃO DE ALGUÉM QUE É SUSTENTADO


Paulo foi um dos apóstolos que mais se dedicou a escrever e ensinar
sobre os princípios práticos para a vida da igreja. Nesse sentido, foi
também um dos que mais falou sobre liderança, serviço e sustento.
E apesar de não ter vergonha de falar sobre a necessidade de seu
sustento pessoal, como vimos acima, Paulo é um exemplo de flexib-
ilidade, pois ele mesmo (durante certo período e não por toda a sua
vida) se dedicou a fazer tendas.
Se, por um lado, Paulo ensinou sobre a relevância e honra de se
sustentarem pessoas, também fez questão de deixar claro que não
queria ser um peso para ninguém:

“Irmãos, sem dúvida vos lembrais do nosso trabalho


e fadiga; trabalhamos dia e noite para não ser um
peso a nenhum de vós, enquanto vos pregamos o
evangelho de Deus.” (1 Ts 2.9)

“E, quando estava presente convosco e passei necessi-


dade financeira, não fui um peso para ninguém; pois,
quando os irmãos vieram da Macedônia, supriram a
minha necessidade. Em tudo evitei ser um peso para
vós e continuarei a agir assim.” (2 Co 11.9)

“E, por exercerem o mesmo ofício, passou a morar e


a trabalhar com eles, pois eram fabricantes de ten-
das.” (At 18.3)

“Portanto, estai atentos, lembrando-vos de que duran-


te três anos não cessei, dia e noite e com lágrimas,
de aconselhar cada um de vós. Vós mesmos sabeis
que estas mãos supriram as minhas necessidades e
as de meus companheiros. Em tudo vos dei o exemplo
de que deveis trabalhar assim, a fim de socorrerdes
os doentes, recordando as palavras do próprio Senhor
Jesus: Dar é mais bem-aventurado que receber.” (At
20.31,34,35)
Por falar em sustento do ministério, aqueles que são sustentados
devem sempre lutar para manter seus corações livres de exigências,
rancor ou desejo de serem bajulados. Nossa motivação ao exercer
o ministério deve ser abençoar e servir a outros. Jamais devemos
nos colocar em uma posição de dependência da igreja, nem servir

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por causa do dinheiro. Tudo isso pode nos levar à amargura e es-
cravidão.

“Portanto, suplico aos presbíteros, pastoreai o rebanho


de Deus que está entre vós, cuidando dele não por
obrigação, mas espontaneamente, segundo a vonta-
de de Deus; nem por interesse em ganho ilícito, mas
de boa vontade; nem como dominadores dos que vos
foram confiados, mas servindo de exemplo ao reban-
ho.” (1 Pe 5.1-3)
Nossa fé sempre deve estar em Deus, não em pessoas ou organi-
zações. É dele que vem o nosso sustento! O Senhor pode ser muito
criativo quanto ao nosso sustento, assim como foi com Elias que por
um tempo teve seu sustendo através dos corvos, e depois através
da viúva pobre.

A NECESSIDADE DE DEDICAÇÃO E
EXCLUSIVIDADE
“Portanto, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de
boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabe-
doria, aos quais encarreguemos deste serviço. Mas
nós nos devotaremos à oração e ao ministério da pa-
lavra.” (At 6.3,4)
É importante entender que o princípio de alguém ser sustentado
para exercer o serviço integral do ministério surge a partir da neces-
sidade de dedicação e exclusividade. Um bom exemplo disso é o
caso de Neemias. Ele percebeu que a casa de Deus estava aban-
donada porque não se observava a lei de sustentar os levitas para
que estes se dedicassem exclusivamente à casa de Deus. Ele disse:

“Fiquei sabendo também que a parte prescrita aos


levitas não lhes era entregue e que, por isso, os levitas
e os cantores responsáveis pelo culto tinham fugido
cada um para as suas terras. Então censurei os ofici-
ais e lhes perguntei: Por que o templo de Deus ficou
abandonado? Convoquei então os levitas e os can-
tores, e os coloquei nos seus postos. Todo o povo de
Judá, então, trouxe os dízimos dos cereais, do vinho
novo e do azeite para os depósitos. E designei como
tesoureiros sobre os depósitos Selemias, o sacerdote,

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e Zadoque, o escrivão, e Pedaías, dentre os levitas,


e como ajudante deles Hanã, filho de Zacur, filho de
Matanias, porque eram homens de confiança. E rece-
beram a responsabilidade de fazerem a distribuição
entre seus irmãos. Por isso, Deus meu, lembra-te de
mim, e não te esqueças das coisas que fielmente
fiz pelo templo do meu Deus e pelo seu culto.” (Ne
13.10-14)
Embora a ordem de culto e sacerdócio tenha mudado do Antigo
para o Novo Testamento, o princípio permanece o mesmo. É preci-
so investir e sustentar pessoas que se dedicam ao cuidado da casa
e da obra de Deus. Muitas igrejas e ministérios hoje estão morrendo
por falta de pessoas que entende a importância de sustentar os
homens que Deus deu à igreja como dons. Pare e pense nesta ver-
dade: Deus deu homens como dons, presentes, para a igreja. Cabe
a ela recebê-los, mantê-los e sustentá-los.

TRABALHO, CARÁTER E MINISTÉRIO


“Aquele que roubava, não roube mais; pelo contrário,
trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para
que tenha o que repartir com quem está passando
necessidade.” (Ef 4.28)
Agora falando para aqueles que se dedicam com exclusividade ao
ministério, é importante entender que o ministério não pode ser
feito de qualquer maneira. De fato, todo cristão, qualquer que seja
seu trabalho, deve executá-lo segundo os princípios cristãos.
Preguiça, ganância, inveja, falta de amor ao próximo, ausência de
temor do Senhor são pecados que precisam ser extirpados de nos-
sa vida, especialmente quando se trata do ministério. Se você é
alguém que está trabalhando no serviço de Deus, saiba que, assim
como é digno de ser sustentado, também precisará prestar contas a
Deus de tudo o que recebe.
É essencial que pessoas que trabalham no ministério, especialmente
em cargos pastorais e de liderança, sejam aprovadas em seu caráter
e espiritualidade cristã.

“Bom é para o homem suportar o jugo na sua juven-


tude. Que se assente sozinho e fique calado, porque
Deus o pôs sobre ele” (Lm 3.27,28)

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O trabalho por si só é um grande formador de caráter. Trabalhar


duro, suportar as dificuldades, perseverar, negar a si mesmo fazen-
do o que não quer ou não gosta, leva à maturidade e à verdadeira
liberdade. É nessas coisas que o nosso caráter vai sendo formado.
Como disse Harold Walker: “Um homem é a soma de horas que
fez coisas que ele não gosta de fazer”. Há homens de 40 anos de
idade que são “moleques”, não têm caráter, nunca foram acostu-
mados a negar a si mesmos ou a perseverar em trabalhos chatos e
cansativos; há jovens de 15 anos que sustentam suas mães viúvas e
irmãozinhos, que possuem um caráter aprovado.
Aqueles que entram no ministério sem entender a mortificação e
sem conhecer o caminho de Jesus de carregar a cruz estão fadados
ao fracasso. Podem até ter ministérios prósperos e famosos, mas no
fim poderão se desviar da verdade do evangelho e da obediência a
Deus, por serem sempre reféns de suas próprias vontades.

JESUS NÃO TINHA PREGUIÇA

Mc 1.21-39 Jesus: exemplo de trabalho no ministério


sem o pecado da preguiça
v. 21 Jesus ensinando na sinagoga no dia de sába-
do;
vs .29,30 Logo em seguida curando a sogra de Pedro;
vs.33,34 Ao pôr do sol “toda a cidade estava reunida à
porta” e ele curou a muitos;

v.35 Por fim, já na alta madrugada, Jesus se retira


para orar;
v.38,39 Jesus tem seu “devocional” interrompido, pois
ainda havia trabalho!

Isso é que é um dia produtivo! O próprio Jesus nos afirma em Jo


5.17: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também”. Ele nos
mostra que o trabalho, seja exclusivo para a igreja ou não, tem sua
origem em Deus. Ele é seu criador e ele mesmo trabalha até agora,
logo, servir e trabalhar não é algo ruim.
Hoje em dia, um aspecto importante a considerar é que é bom ter

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uma profissão (ou mais que uma) com a qual possamos nos susten-
tar e abençoar a outros.
Podemos ver esse paradigma na vida de Jesus (que foi carpinteiro),
como também na vida do apóstolo Paulo (que fazia tendas) e na de
muitos outros homens ao longo da Bíblia, como José, Davi, Daniel
etc.
Devemos ter em mente que precisamos estar habilitados a tra-
balhar com excelência, e sermos servos fiéis e bons administradores
de tudo que o Senhor colocar em nossas mãos. Nossa profissão
pode e deve ser uma importante ferramenta em prol do evangelho.
Devemos também considerar que agregar missões e trabalho pode
ser algo extremamente útil; a profissão pode ser uma porta de en-
trada em diversos campos de trabalho missionário.

COMO SABER A QUEM SUSTENTAR?


Veja algumas dicas de como avaliar se você deve sustentar alguém
para a exclusividade do ministério eclesiástico:

1. Você o conhece?
Assim como para um emprego é avaliado se o candidato se adequa
ao perfil necessitado pela empresa, para a obra do ministério é pre-
ciso se adequar ao perfil bíblico. Quando falamos de pastores, pres-
bíteros e diáconos, está claro o padrão das Escrituras em 1 Timóteo
3.1-7. Infelizmente muitas igrejas têm se preocupado mais com os
dons e talentos de seus líderes do que com o padrão referido por
Paulo em 1 Timóteo.
Se o sustento será para alguém em outras áreas ministeriais que não
as de ensino, governo e pastoreio da igreja é preciso conhecê-lo do
mesmo jeito. Ele é verdadeiramente convertido? Há em sua vida
frutos de um verdadeiro cristão? Sabe administrar bem o seu tem-
po? Leva horas a fio assistindo seriados ou filmes? Administra bem
suas frustrações? Sabe negar a si mesmo em favor de outros? É
sábio na administração de suas finanças? Relaciona bem com seus
familiares? Tem bom testemunho diante dos incrédulos?

2. Ele foi fiel no pouco?


Primeiramente devemos observar aquelas pessoas que foram dili-
gentes produzindo bons frutos em suas tarefas ordinárias e em suas

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horas vagas.
Se pergunte se essa pessoa conciliou bem seu trabalho “secular”
com o ministério. O que ela faz para o ministério tem frutos? Seu
trabalho frutificará se ela dedicar mais horas? Essa pessoa precisa
de liberação e ajuda para produzir mais a ponto de ser sustentada?
Se alguém não foi fiel no pouco que lhe foi dado não há garantia
de que será fiel no muito. Ou seja, se ela não fez no pouco tempo
que lhe sobrava, será que irá fazer quando tiver muito tempo livre?

3. É um investimento?
Também devemos levar em consideração, aqueles que estão
em processo de transição, como jovens em cursos preparatórios,
seminários teológicos, ou missionários em treinamento e processo
de aculturação. Pessoas assim estão em fase de estudo e prepa-
ração e não têm tempo para trabalhar fora e obter sustento. São,
portanto, um perfil de pessoas a serem sustentadas como um bom
investimento.
Seja qual for a nossa esfera de atuação, devemos ser excelentes
naquilo que fazemos. Isso inclui manter-se atualizado na sua profis-
são, continuar estudando, se dedicando, além de ser solícito e
proativo. Devemos semear agora, trabalhar duro e estar atentos ao
mover de Deus, pois pode ser que ele nos traga novos direciona-
mentos acerca de nossos trabalhos e ministérios.

CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES
1 – O ministério de dedicação integral à Palavra e à oração ainda é válido,
necessário, e vital.
2 – Na maioria dos casos, porém, o ministro deve ter uma profissão e ser
capaz de se manter quando necessário.
3 – Os ministérios de pastor e missionário geralmente devem ser acom-
panhados por uma atividade profissional, pois isso, além de não impedir
o exercício do ministério, muitas vezes aumenta a sua eficácia. (Isso não
significa que o pastor ou missionário não deva ser sustentado integral-
mente, e, sim, que ele pode exercer outras funções além das “espirituais”,
como, por exemplo, administrar creches, escolas vocacionais, orfanatos,
escolas bíblicas, projetos comunitários etc.)
4 – Em todos os casos, o mentoriamento dos vocacionados é de suma

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importância, pois a formação do caráter é tão importante quanto o


aprimoramento dos talentos e dons ministeriais. Em especial, a ati-
tude da pessoa em relação ao dinheiro pode construir ou destruir o
seu ministério. Quer trabalhando “secularmente”, quer sendo susten-
tado integralmente, o obreiro precisa dar bom testemunho nesta área,
mostrando que não desperdiça nem dinheiro nem tempo e que não se
entrega ao luxo ou à ambição.
5 – O aprofundamento na compreensão da Palavra e o estudo da teolo-
gia “viva” continuam sendo imprescindíveis para um ministério eficaz.
Apesar de não ser mais necessário cursar quatro anos de um seminário
teológico, é indispensável fazer cursos e seminários mais curtos. Acima
de tudo, o obreiro nunca deve cessar de “cavar” na Palavra, por meio de
estudo intensivo, para achar novos tesouros e aprender de outros me-
stres, atuais e do passado (pelos livros), para manter um bom estoque
de riquezas em seu “armazém espiritual”.
6 – Em contraste com o passado, quando apenas os pastores eram sus-
tentados pelas igrejas, existem várias outras atividades e ministérios
que deveriam ser sustentados. Por exemplo, biblicamente, o sustento
necessário para liberar a pessoa do trabalho secular é mais ligado às
atividades de estudar e pregar a Palavra e à dedicação à oração. Pre-
cisamos ver muitas pessoas comissionadas por Deus para se tornarem
“missionários de oração”, para levantarem e apoiarem casas de oração
24 horas por dia, sete dias por semana, pelo mundo afora. Precisamos
deixar para trás a ideia egoísta de que a igreja só sustenta ministérios
que ministram a ela mesma. A igreja não existe para si mesma, mas para
o Senhor. Ela pode e deve sustentar ministérios pastorais, mas, muito
mais do que isso, deve sustentar missionários que fazem a obra de Deus
em outros lugares, e pessoas que exercem o ministério ao Senhor!
Trecho extraído do artigo “Mudança de regras sobre vocação ministerial”,
de Harold Walker, publicado na Revista Impacto, Edição 74. Disponível
em: www.revistaimpacto.com.br.

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Desafios Práticos para uma Vida que Glorifica a Deus

Este material faz parte do material complementar do curso ÉTICA CRISTÃ


E MINISTERIAL - Desafios práticos para uma vida que glorifica a Deus,
ministrado por Harold Walker na Escola Convergência.
Para ter acesso ao material completo e aos vídeos acesse nosso site.

ESCOLA CONVERGÊNCIA
www.escolaconvergencia.com.br
contato@escolaconvergencia.com.br
(19) 98340-8088

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