Eduardo Viveiros PDF
Eduardo Viveiros PDF
Eduardo Viveiros PDF
Ementa:
1
Na figura do alienígena o humano, o animal, a máquina e certos entes liminares como o
espectro e o vírus se fundem em uma representação multifacetada da alteridade. Ela
possibilitará investigar alguns “tratamentos específicos do mundo” que dão a ver
encontros entre alteridades radicais. A alteridade alienígena é, literalmente, uma
alteridade de mundo, cujas encarnações são tão diversas quanto as versões de mundo
que se podem imaginar, em todas as acep__ções desse verbo. Assim, o tema do
alienígena associa-se recorrentemente a outros, que fornecem uma imagem especular de
nós, terráqueos (humanos e extrahumanos). Sobressaem, nas narrativas de encontro
entre alteridades extraterrestres, aspectos que remetem a relações interespecíficas,
interétnicas, de gênero e interculturais, assim como relações de predação, de extermínio,
de colonização — o alienígena faz variar as relações que, na Terra, articulam
dimensões intra- e interespecíficas, fragmentando o “humano” segundo alianças
multiformes, antagônicas entre si, com o extrahumano, seja ele orgânico ou inorgânico.
Vai-se atentar, especial mas não exclusivamente, para o tema da colonização — o
colonialismo cósmico —, explorando duas hipóteses sobre as quais a ficção insiste: de
um lado, tentativas de colonização da Terra por seres alienígenas; de outro, a
colonização de outros planetas pelos humanos. Em ambos os casos, há um problema
que se repete: o esgotamento de recursos no mundo original do colonizador, o que ecoa,
evidentemente, a consciência antropocênica. Em poucas palavras, vamos tratar, de um
ponto de vista antropológico, a ficção científica (escrita ou filmada) como constituindo
a “metafísica popular”, como o impulso de produção da mitologia moderna: como a
mitofísica representativa por excelência do Antropoceno.
***
Nota sobre as leituras: a bibliografia abaixo listada é indicativa. Os textos a serem lidos
em cada sessão devem ser selecionados à medida que o curso avança. Pede-se atenção
ao fato de que a maior parte da bibliografia é em inglês, e, como grande parte dela é
literária, um domínio sólido desta língua (ou um bom dicionário) faz-se necessário. Ao
longo das primeiras sessões, será apresentada uma lista de produções cinematográficas
que são pertinentes aos temas do curso.
2
Nodari, Alexandre. “A literatura como antropologia especulativa”. Ms.
https://revistadaanpoll.emnuvens.com.br/revista/article/view/836
Stover, L. “Anthropology and Science Fiction”. Current Anthropology 14 (4), 1973, pp.
471-474
Dick, Philip K. “Preface”. In: Beyond lies the Wub. Gollancz, 1999.
Rieder, John. "On defining SF, or not: Genre theory, SF, and history". In: Latham, Rob.
Science Fiction Criticism. Bloomsbury, 2017, pp. 74-93.
Haraway, D. Staying with the Trouble: Making Kin in the Chthulucene. [trechos
selecionados]. Duke University Press, 2016.
Moisseeff, Marika. “La procréation dans les mythes contemporains: Une histoire de
science-fiction”. Anthropologie et Societés 29(2), 2005, p. 69–94
Le Guin, Ursula K. “Myth and Archetype in Science Fiction”. In: The Language of the
Night. Women’s Press, 1989.
II. Mis/antropo/logia
Hull, K. “What is Human? Ursula Le Guin and Science Fiction’s Great Theme”. MFS
Modern Fiction Studies 32 (1), 1986, pp. 65-74
Le Guin, U. [seleções de] The Language of the Night. Women’s Press, 1989.
____. [seleções de] Dancing at the Edge of the World: Thoughts on Words, Women,
Places. Grove Press, 1989.
3
Mazis, Glen. Humans, Animals, Machines: Blurring boundaries. SUNY Press, 2008.
Sheehan, James & Morton Sosna (eds.). seleções de The Boundaries of Humanity:
humans, animals, machines. University of California Press, 1991.
Donawerth, J. “Feminisms”. In: Bould, M., Butler, A., Roberts, A., Vint, S. The
Routledge Companion to Science Fiction. Taylor and Francis, 2009.
Pearson, W. “Queer Theory”. In: Bould, M., Butler, A., Roberts, A., Vint, S. The
Routledge Companion to Science Fiction. Taylor and Francis, 2009.
Danowski, Déborah. & Viveiros de Castro, Eduardo. Há mundo por vir?: Ensaio sobre
os medos e os fins. Cultura e Barbárie / ISA, 2015.
Gosh, Amitav. The Great Derangement. Climate Change and the Unthinkable.
University of Chicago Press, 2016.
Tsing, Anna et al. [seleções de] Arts of Living on a Damaged Planet: Ghost of the
Anthropocene, Monsters of the Anthropocene. University of Minnesota Press, 2017.
Jensen, Casper B. “Wound-up Worlds and The Wind-Up Girl: On the Anthropology of
Climate Change and Climate Fiction” Ms.
Fausto, Juliana. “Terra e terror em Phase IV, de Saul Bass”. Viso: Cadernos de estética
aplicada, 18, jan-jun/2016.
Murphy, P. “Environmentalism”. In: Bould, M., Butler, A., Roberts, A., Vint, S. The
Routledge Companion to Science Fiction. Taylor and Francis, 2009.
Butler, Octavia. Parable of the Sower (Earthseed). Grand Central Publishing, 2000.
4
Robinson, Kim Stanley. Forty Signs of Rain. Bantam: 2005.
Martin, M. (Ed.) [seleções de] I'm With the Bears: Short Stories from a Damaged
Planet. Verso, 2011.
McHugh, Maureen. “The Kingdom of the Blind”, in After the Apocalypse. Small Beer
Press, 2011.
Adams, John Joseph (ed.). [seleções de] Loosed Upon the World: The saga
anthropology of climate fiction. Saga Press, 2015.
Jameson, Frederic. Archaeologies of the Future: The Desire Called Utopia and Other
Science Fictions. Verso, 2007.
VI. Colonialismos
Lavender III, I. “Critical Race Theory”. In: Bould, M., Butler, A., Roberts, A., Vint, S.
The Routledge Companion to Science Fiction. Taylor and Francis, 2009.
Reid, M. “Postcolonialism”. In: Bould, M., Butler, A., Roberts, A., Vint, S. The
Routledge Companion to Science Fiction. Taylor and Francis, 2009.