Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Eduardo Viveiros PDF

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 6

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO


QUINTA DA BOA VISTA S/N. ÃO CRISTÓVÃO. CEP 20940-040
RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL
Tel.: 55 (21) 2568-9642 - fax 55 (21) 2254.6695
www://ppgasmuseu.etc.br
e-mail: ppgasmn@gmail.com /

Curso: MNA – 822 Antropologia e Filosofia – Antropologia -


especulativa nos tempos do Antropoceno: o caso da ficção científica
Professor: Eduardo Viveiros de Castro (PPGAS), Eric Silva Macedo
(pós-doutorando PPGAS), Prof. Déborah Danowski (PUC-Rio)
Período: 2o semestre de 2017
N° de Créditos: 03 (três), 45 horas, 15 sessões
Horário: 4ª Feira, 13H-16H (03 Créditos)
Local: Sala Lygia Sigaud do PPGAS

Ementa:

O conceito de “humano” contido no nome curiosamente autorreferencial de nossa


disciplina se vê circunscrito, a partir da era moderna, por um elenco de figuras da
alteridade que o definem, ou melhor dizendo, pelas quais e contra as quais ele se mede.
Nessa medida, elas funcionam como elementos de problematização do anthrópos —
seja por separação excepcionalizante deste último, seja por identificação ou hibridação
objetiva e subjetiva, seja por elas agirem como instigadores de devires (no sentido de
Deleuze). Além dos poderosos pólos magnéticos do “animal” e da “máquina” que
repelem-atraem perenemente o conceito de anthrópos, e da (não-)presença inquietante
dos “espectros” ou “espíritos” (cujo exorcismo instituiu o domínio do mundo político
moderno desde Hobbes), nosso imaginário contempor_âneo do “humano” incorporou a
figura máximamente outra do “extraterrestre” ou “alienígena”. Esta última é objeto de
tematização privilegiada por um ramo da antropologia especulativa — termo usado
pelo escritor Juan José Saer para definir a ficção em geral —, a saber, a chamada
“ficção científica”, ou, mais amplamente, “ficção especulativa” (em uma reduplicação
quase pleonástica, portanto, da definição de Saer). O objetivo deste curso é explorar as
potencialidades antropológicas, no sentido disciplinar do termo, da ficção científica
contemporânea, situando-as no contexto ominoso do Antropoceno, isto é, do processo
de entrelaçamento crescente e catastrófico entre as dimensões da “geopolítica” e da
“geofísica”, tradicionalmente pensadas como ontologicamente heterogêneas ou, pelo
menos, como incomensuráveis.

1
Na figura do alienígena o humano, o animal, a máquina e certos entes liminares como o
espectro e o vírus se fundem em uma representação multifacetada da alteridade. Ela
possibilitará investigar alguns “tratamentos específicos do mundo” que dão a ver
encontros entre alteridades radicais. A alteridade alienígena é, literalmente, uma
alteridade de mundo, cujas encarnações são tão diversas quanto as versões de mundo
que se podem imaginar, em todas as acep__ções desse verbo. Assim, o tema do
alienígena associa-se recorrentemente a outros, que fornecem uma imagem especular de
nós, terráqueos (humanos e extrahumanos). Sobressaem, nas narrativas de encontro
entre alteridades extraterrestres, aspectos que remetem a relações interespecíficas,
interétnicas, de gênero e interculturais, assim como relações de predação, de extermínio,
de colonização — o alienígena faz variar as relações que, na Terra, articulam
dimensões intra- e interespecíficas, fragmentando o “humano” segundo alianças
multiformes, antagônicas entre si, com o extrahumano, seja ele orgânico ou inorgânico.
Vai-se atentar, especial mas não exclusivamente, para o tema da colonização — o
colonialismo cósmico —, explorando duas hipóteses sobre as quais a ficção insiste: de
um lado, tentativas de colonização da Terra por seres alienígenas; de outro, a
colonização de outros planetas pelos humanos. Em ambos os casos, há um problema
que se repete: o esgotamento de recursos no mundo original do colonizador, o que ecoa,
evidentemente, a consciência antropocênica. Em poucas palavras, vamos tratar, de um
ponto de vista antropológico, a ficção científica (escrita ou filmada) como constituindo
a “metafísica popular”, como o impulso de produção da mitologia moderna: como a
mitofísica representativa por excelência do Antropoceno.

***

Nota sobre as leituras: a bibliografia abaixo listada é indicativa. Os textos a serem lidos
em cada sessão devem ser selecionados à medida que o curso avança. Pede-se atenção
ao fato de que a maior parte da bibliografia é em inglês, e, como grande parte dela é
literária, um domínio sólido desta língua (ou um bom dicionário) faz-se necessário. Ao
longo das primeiras sessões, será apresentada uma lista de produções cinematográficas
que são pertinentes aos temas do curso.

I. Sobre Ficção Científica e Antropologia Especulativa.

1ª sessão (09/08). Introdução ao tema. Discussão sobre a metodologia do curso e a


bibliografia utilizada.

2ª e 3ª sessões (16/08 e 23/08)

Saer, Juan José. “O conceito de ficção”. In: Sopro 15, 2009:


http://culturaebarbarie.org/sopro/n15.pdf

2
Nodari, Alexandre. “A literatura como antropologia especulativa”. Ms.
https://revistadaanpoll.emnuvens.com.br/revista/article/view/836

Stover, L. “Anthropology and Science Fiction”. Current Anthropology 14 (4), 1973, pp.
471-474

Stengers, Isabelle. “Science-fiction et expérimentation”. Hottois, G. Philosophie et


Science Fiction. Annales de l'institut de philosophie de l'université de Bruxelles, 2eme
trimestre 2000.

Haraway, Donna. “The Promises of Monsters: A Regenerative Politics for


Inappropriate/d Others”. In: Grossberg, Lawrence et alii (eds.), Cultural Studies.
Routledge, 1992, pp. 295-337.

Dick, Philip K. “Preface”. In: Beyond lies the Wub. Gollancz, 1999.

Rieder, John. "On defining SF, or not: Genre theory, SF, and history". In: Latham, Rob.
Science Fiction Criticism. Bloomsbury, 2017, pp. 74-93.

4ª e 5ª sessões (30/08 e 06/09)

Haraway, D. Staying with the Trouble: Making Kin in the Chthulucene. [trechos
selecionados]. Duke University Press, 2016.

Haraway, Donna. “Manifesto ciborgue: Ciência, tecnologia e feminismo-socialista no


final do século XX”. In: Tadeu, Tomaz (org.). Antropologia do Ciborgue: As vertigens
do pós-humano. Autêntica Editora, 2009.

Moisseeff, Marika. “La procréation dans les mythes contemporains: Une histoire de
science-fiction”. Anthropologie et Societés 29(2), 2005, p. 69–94

Le Guin, Ursula K. “Myth and Archetype in Science Fiction”. In: The Language of the
Night. Women’s Press, 1989.

Latham, Rob. Science Fiction Criticism. [textos selecionados] London: Bloomsbury,


2017

II. Mis/antropo/logia

6ª e 7ª sessões (13/09 e 20/09)

Hull, K. “What is Human? Ursula Le Guin and Science Fiction’s Great Theme”. MFS
Modern Fiction Studies 32 (1), 1986, pp. 65-74

Le Guin, U. [seleções de] The Language of the Night. Women’s Press, 1989.

____. [seleções de] Dancing at the Edge of the World: Thoughts on Words, Women,
Places. Grove Press, 1989.

3
Mazis, Glen. Humans, Animals, Machines: Blurring boundaries. SUNY Press, 2008.

Sheehan, James & Morton Sosna (eds.). seleções de The Boundaries of Humanity:
humans, animals, machines. University of California Press, 1991.

Donawerth, J. “Feminisms”. In: Bould, M., Butler, A., Roberts, A., Vint, S. The
Routledge Companion to Science Fiction. Taylor and Francis, 2009.

Pearson, W. “Queer Theory”. In: Bould, M., Butler, A., Roberts, A., Vint, S. The
Routledge Companion to Science Fiction. Taylor and Francis, 2009.

Kroker, Arthur. Exit to the Posthuman Future. Polity, 2014.

Butler, Octavia E. Bloodchild. Edição Kindle. Headline Publishing Group, 2014.

Le Guin, U. Os despossuídos. Aleph, 2017.

Le Guin, U. A mão esquerda da escuridão. Aleph, 2014.

Beckett, Chris. Dark Eden. Corvus, 2012.

III. Fins (d)e mundos

8ª, 9ª e 10ª sessões (27/09, 04/10, 11/10)

Szendy, P. L'apocalypse-cinéma: 2012 et autres fin du monde. Capricci, 2012.

Danowski, Déborah. & Viveiros de Castro, Eduardo. Há mundo por vir?: Ensaio sobre
os medos e os fins. Cultura e Barbárie / ISA, 2015.

Gosh, Amitav. The Great Derangement. Climate Change and the Unthinkable.
University of Chicago Press, 2016.

Tsing, Anna et al. [seleções de] Arts of Living on a Damaged Planet: Ghost of the
Anthropocene, Monsters of the Anthropocene. University of Minnesota Press, 2017.

Shaviro, Steven. No Speed Limit. Three Essays on Accelerationism. University of


Minnesota Press, 2015.

Jensen, Casper B. “Wound-up Worlds and The Wind-Up Girl: On the Anthropology of
Climate Change and Climate Fiction” Ms.

Fausto, Juliana. “Terra e terror em Phase IV, de Saul Bass”. Viso: Cadernos de estética
aplicada, 18, jan-jun/2016.

Murphy, P. “Environmentalism”. In: Bould, M., Butler, A., Roberts, A., Vint, S. The
Routledge Companion to Science Fiction. Taylor and Francis, 2009.

Butler, Octavia. Parable of the Sower (Earthseed). Grand Central Publishing, 2000.

4
Robinson, Kim Stanley. Forty Signs of Rain. Bantam: 2005.

Martin, M. (Ed.) [seleções de] I'm With the Bears: Short Stories from a Damaged
Planet. Verso, 2011.

McHugh, Maureen. “The Kingdom of the Blind”, in After the Apocalypse. Small Beer
Press, 2011.

Adams, John Joseph (ed.). [seleções de] Loosed Upon the World: The saga
anthropology of climate fiction. Saga Press, 2015.

IV. Realidades alternativas

11ª e 12ª sessões (18/10 e 25/10)

Jameson, Frederic. Archaeologies of the Future: The Desire Called Utopia and Other
Science Fictions. Verso, 2007.

Shaviro, Steve. “A Desire Called Utopia”, review of Jameson, Archaeologies of the


Future: http://www.thestranger.com/seattle/Content?oid=25666

Dick, Philip K. Ubik. Aleph, 2009.

____. O homem do castelo alto. Aleph, 2006.

____. Androides sonham com ovelhas elétricas? Aleph, 2014.

Atwood, Margaret. The Handmaid’s Tale. Anchor Books, 1998.

Robinson, Kim Stanley. 2312. Orbit, 2012.

V. Vida alienígena e inteligências não-humanas

13ª e 14ª sessões (25/10 e 01/11)

Shaviro, Steven. Discognition. Repeater, 2016.

Szendy, P. Kant chez les extraterrestres: Philosofictions cosmopolitiques. Minuit, 2011.

Stoczkowski, W. Des hommes, des dieux et des extraterrestres: Ethnologie d'une


croyance moderne. Flammarion, 1999.

Asimov, Isaac. Extraterrestrial civilizations. Fawcett Columbine, 1979.

Lem, Stanislaw. Solaris. Círculo do Livro, 1986.

Scott Baker, R. Neuropath. Penguin, 2008.

Watts, Peter. Blindsight. Tor Books, 2008.


5
Roberts, A. The thing itself. Gollancz, 2015.

VI. Colonialismos

15ª e 16ª sessões (08/11 e 15/11)

Latham, Rob. Science Fiction Criticism. [textos selecionados] London: Bloomsbury,


2017

Lempert, William. “Navajos on Mars: Native Sci-Fi Film Futures”.


https://medium.com/space-anthropology/navajos-on-mars-4c336175d945

Lavender III, I. “Critical Race Theory”. In: Bould, M., Butler, A., Roberts, A., Vint, S.
The Routledge Companion to Science Fiction. Taylor and Francis, 2009.

Reid, M. “Postcolonialism”. In: Bould, M., Butler, A., Roberts, A., Vint, S. The
Routledge Companion to Science Fiction. Taylor and Francis, 2009.

Dick, Philip K. Os Três Estigmas de Palmer Eldrich. Aleph, 2010.

Bradbury, Ray. As Crônicas Marcianas. Biblioteca Azul, 2013.

Liu, Cixin. O Problema dos Três Corpos. Suma de Letras, 2016.

Le Guin, Ursula K. The Word for World is Forest. Granada, 1980.

Hopkins, Nalo. The Salt Roads. Warner, 2003.

____. Midnight Robber. Warner, 2000.

Você também pode gostar