Circulacao Discursiva PDF
Circulacao Discursiva PDF
Circulacao Discursiva PDF
discursiva e
transformação da sociedade
Universidade Estadual da Paraíba
Conselho Editorial
Conselho Científico
Raffaele de Giorgi (UNISALENTO/IT)
Circulação discursiva e
transformação da sociedade
(ORGANIZADOR)
Campina Grande–PB
2018
Copyright © 2018 do Autor
Divulgação
Revisão Linguística
Os autores
Normalização Técnica
Capa
Fernanda Estevam
306.46
C578
Circulação discursiva e transformação da sociedade. / Paulo César Castro
(Organizador). - Campina Grande: EDUEPB, 2018.
ISBN 978-85-7879-550-4
Mesmo que fosse necessário excluir os bots2 desse total, ainda assim estes e
todos os perfis “verdadeiros”, em conexão “direta” com o candidato, podem
ter tido um papel decisivo no processo eleitoral: a capacidade de fazer
circular, em progressão geométrica, os conteúdos produzidos pelo
representante do PSL. Ou seja, além do consumo dos textos, imagens, vídeos
e áudios postos em circulação num primeiro estágio por Bolsonaro, e da
possibilidade de manifestar-se sobre eles a qualquer momento (com outra
mensagem), cada internauta teve a chance de também fazer circular ainda
mais os mesmos conteúdos por suas redes online, usando diferentes recursos
de circulação disponibilizados pelas ferramentas, como “retweet”,
“compartilhamento”, “like” etc. – isso sem levar em consideração o vasto
número de grupos no WhatsApp que também propagaram os discursos do
capitão reformado do Exército.
Sérgio Dayrell Porto e Célia Ladeira Mota tomam o filme Um perfil para
dois, de Stéphan Robelin, como objeto de análise, considerando-o um
acontecimento. Nas palavras dos dois autores, membros do Programa de
Pós-Graduação em Comunicação da FAC/UnB, acontecimento pode ser
visto como “sujeitos humanos que travam com sujeitos não humanos, como
as coisas, os lugares, os espaços, o tempo, uma relação de proximidade,
diálogos possíveis”. O filme é analisado a partir dos recursos metodológicos
da compreensão interpretativa de Heidegger e da Análise da Narrativa. A
polêmica em torno da exposição Queermuseu: Cartografias da Diferença na
Arte Brasileira, realizada no Santander Cultural, é o tema do texto
“Fragmentação e hackerização do Queermuseu: o reconhecimento
deslocado – dos campos regulados à disrupção em redes sócio-semio-
técnicas”, de Jairo Ferreira e Rochele Zandavalli. Os autores assumem
como hipótese que os sentidos regulados no campo das artes visuais,
constituído até o século passado, com a internet estão sendo questionados,
abrindo novas interpretações sobre a arte como produto cultural. O
exercício analítico de Ferreira e Zandavalli, da Unisinos, busca identificar
os processos de regulação relativos ao museu e às obras de arte.
1. Referências
• Muniz Sodré1
Na imagem, o inexistente quase existe. É de fato uma mentira (ou uma ficção, se
quiserem) que tem governado o Ocidente em todas as suas frentes, desde a
econômica à religiosa. Para começar, Deus teria criado o homem à sua imagem
e, na mesma operação, a natureza, para o uso do homem. Desta ficção teológica,
que separa homem de natureza, deriva-se a ideia de “alma”, que é um ponto de
articulação da imagem com o Criador e, ao mesmo tempo, de exclusão de tudo
que tenha a ver com natureza, inclusive o corpo humano.
Deus, quanto a Seu ser e a Sua substância é certamente um; mas quanto à sua
oikonomia, isto é, a maneira como organiza a Sua casa, Sua vida e o mundo que
criou, é trino. Assim como um bom pai pode confiar a seu filho a
responsabilidade por certas funções e certas tarefas, sem contudo nada perder de
seu poder e de sua unidade, Deus confia ao Cristo “a economia”, a administração
e o governo dos homens. (AGANBEM, 2007, p. 23-24)
No ouro está representado o valor da mercadoria, mas para que isso aconteça,
isto é, para que se converta em dinheiro, é preciso que não seja uma mercadoria
como as outras, que exista “ao lado e fora delas”. Daí, o que Marx designou (O
Capital, vol. I) como “uma falsa aparência” ou “a magia do dinheiro”: a imagem
da substância ou da matéria é o que justifica a confiança outorgada à moeda
fiduciária. É preciso ter fé em quem a emite, no responsável por essa operação
mágica ou alquímica, em que uma relação imaginária, isto é, a identificação
ideal com o ouro, determina concretamente a forma do valor de troca. Na “alma”
da mercadoria, assim como na “alma” dos homens, abriga-se, portanto, a
imagem de uma idealidade essencial – seja o ouro, seja Deus – designada como
uma “soberania perfeita” (DESCARTES).
A imagem, portanto, pode ser fortemente política, em especial quando se
considera o seu interno poder circulatório de afetar a dimensão espácio-
temporal, deslocando lugares e tempos. Isso é fundamental na questão do
racismo, em que se revela plena a importância do traço memorial da
espacialidade. É que todo e qualquer racismo exacerba-se precisamente no
instante da proximidade, como esclarece Enriquez a propósito da rejeição ao
imigrante:
Para o empirista inglês, é a própria natureza humana que associa as ideias por
imaginação, por regularidade ou por relação, gerando efeitos de fácil transição
de uma ideia a outra e sugerindo uma tendência do espírito, que se corporifica
em imagens.
Mas a imagem de que estamos falando até agora inscreve uma ambiguidade – a
ambiguidade do ser e não ser ao mesmo tempo – que é fonte do fazer poético,
plástico, mítico. É imagem que produz e ao mesmo tempo destrói – é a imagem
do desacerto de estrutura entre língua e linguagem, entre forma e formatividade,
entre objeto e representação, entre mundo e criação de mundos.
A realidade descrita meio século atrás por essa expressão referia-se à ponta mais
visível de um iceberg (televisão, cinema, rádio, revistas, discos etc.) cuja sombra
pairava sobre o núcleo erudito da cultura, ao passo que a midiatização
contemporânea corresponde a tudo isso, com o acréscimo da parte pouco visível
da infraestrutura digital, basicamente numérica. As imagens (em sentido lato,
não apenas visual) produzidas pela mídia passaram a canalizar as representações
individuais, gerando efeitos sociais e políticos, em última análise, criando
ideologicamente outro tipo de comum.
Bios midiático ou bios virtual são expressões adequadas para o novo tipo de
forma de vida caracterizado por uma realidade “imaginarizada”, isto é, feita de
fluxos de imagens e dígitos, que reinterpretam continuamente com novos
suportes tecnológicos as representações tradicionais do real. Nesse bios, os
velhos fenômenos de sociedade tornam-se objeto de uma saturação conceitual
afim a essa imaginariedade virtual. Trata-se geralmente de um imaginário
controlado e sistemático, sem potência imaginativa ou metafórica, mas com uma
notável capacidade ilocutória (portanto, um imaginário adaptável à produção)
que não deixa de evocar a dinâmica dos espelhamentos elementares ou primais.
Se antes o Estado totalitário pretendia enraizar-se na vida da nação, reunificando
(contra o liberalismo) corpo e espírito, agora é a mídia que se enraíza
culturalmente na vida social.
1. Referências
Desde “adentro hacia afuera” y desde “afuera hacia adentro” (o como afecta la
nueva circulación a las instituciones sociales)
• Mario Carlón
1. Introducción
En estos últimos años muchos procesos se aceleraron, entre ellos, una progresiva
mediatización de la vida social. Es así que en estas últimas décadas ha
comenzado a advertirse, cada vez más, que entre los procesos que había que
considerar para entender la transformación social debía incorporarse la
mediatización (HJARVARD, 2014 [2013; VERÓN, 2001). Son diagnósticos
muy importantes pero que, a su vez, deben ser actualizados en el contexto
contemporáneo, dado el grado de aceleración del nuevo proceso de
mediatización que estamos viviendo producto de la aparición y consolidación de
Internet. El diagnóstico de los estudios de mediatizaciones sobre la situación
actual está lejos de haber concluido, tanto porque la revolución tecnológica en la
que se apoyan como las prácticas sociales que pretenden instaurar (o con las que
intentan conectar) cambian constantemente en una sociedad que se está
construyendo, más allá de la modernidad, bajo un nuevo paradigma, el del
presentismo (CARLÓN, 2016b, 2018). Sin embargo, ya ha avanzado lo
suficiente como para que quede claro que con focalizar mediatizaciones no
alcanza y que para avanzar en la comprensión de la sociedad actual es
imprescindible atender a la dimensión comunicacional (y, con ella, la
problemática de la circulación del sentido3).
Como no puede ser de otra forma, los estudios sobre la circulación del sentido en
la sociedad hipermediatizada contemporánea, que a diferencia de las sociedades
moderna y posmoderna posee dos sistemas mediáticos, el de los medios masivos
y el de los nuevos medios con base en Internet y la telefonía celular, se
encuentran en una etapa fundacional. En términos personales lo que puedo
expresar es que en este contexto mis estudios de estos últimos años estuvieron
concentrados en tratar de generar un dispositivo analítico para estudiar la
circulación vertical-horizontal del sentido, que es ascendente (va desde “abajo
hacia arriba”, es decir, de las redes sociales mediáticas a los medios masivos), y
descendente (“desde arriba hacia abajo”, de los medios masivos a las redes
sociales mediáticas), y que frecuentemente tiene un momento horizontal (por
ejemplo, entre pares en las redes sociales mediáticas). He considerado a esta
forma de circulación, que viaja entre dos sistemas mediáticos, hipermediática.
Esos trabajos se continúan4.
Pero lo que pretendo en este texto es avanzar sobre otra área de los estudios
sobre circulación del sentido, que podemos considerar transversal5. Así, en el
marco de este trabajo pondré foco en determinar algunas de las transformaciones
que se establecen desde que cierto tipo de enunciadores, los individuos, hacen
circular sus discursos a través de “medios de comunicación individuales”.
Porque esos discursos mantienen relaciones tensas y complejas con instituciones
sociales que se encuentran en crisis como la familia, la escuela, los partidos
políticos, la democracia, etcétera. Como la investigación recién esta
comenzando, lamentablemente no presentaré grandes resultados. Pero brindaré
ejemplos que permitirán comprender mejor el campo circunscripto e intentaré
distinguir formas específicas de circulación del sentido que caracterizan, más
allá de la modernidad y de la posmodernidad, a la circulación contemporánea.
Obviamente esa tesis no podrá ser explorada en todas sus dimensiones en este
texto. Lo que aquí nos proponemos es identificar ciertas transformaciones que
afectan distintos niveles. En primer lugar, en el nivel de las interacciones entre
los individuos y las instituciones, es decir, en el nivel de circulación que, como
adelantamos, aquí llamamos transversal. En segundo lugar, en un nivel
interindividual, que es en el que se modifican las relaciones entre el online y el
offline.
C2) Relación de los medios con los actores individuales: campo que considera la
evolución de las estrategias de los actores individuales en relación con el
consumo de los medios (televidentes, lectores de prensa, etcétera). Siguiendo
análisis posteriores de Verón (2009) podemos decir que luego de la instalación
de los medios masivos en el siglo XX (prensa, radio, cine, televisión) la vida
cotidiana se vio fuertemente afectada por su presencia, que programó desde la
oferta el consumo y la vida social (a través, principalmente, de las grillas de
programación). También podría incluirse aquí un fenómeno no ejemplificado en
este texto por Verón pero teorizado por él (y estudiado también por otros) que es
el de la capacidad de los medios de construir una realidad compartida para todos
los actores individuales de la sociedad (sigo aquí a Verón, 1987 [1981]). En los
últimos años el cambio de prácticas de lectores, oyentes y espectadores ha hecho
que cada vez estén menos dispuestos a seguir los tiempos de la oferta
institucional, hecho que ha generado no sólo la “crisis” de los medios masivos
(sujetos que quieren ver y oír las cosas cuando lo desean y bajo la forma en que
lo desean) sino, también, de las “realidades sociales compartidas” que eran
capaces de construir los medios masivos de comunicación.
Dos comentarios sobre estas dos relaciones capaces de generar colectivos. Creo
que en ambos casos Eliseo Verón adoptó una posición tradicional porque se puso
“afuera” y jugó el juego de quien observa el funcionamiento de los medios y las
instituciones en la vida social de acuerdo a metodologías consolidadas de los
estudios de comunicación. La primera relación incluye una circulación típica de
la era de los medios masivos: viene “desde arriba hacia abajo” y es una
expresión de la capacidad de los medios de generar colectivos. La segunda
también viene “desde arriba hacia abajo” y se inscribe en el tradicional campo de
análisis de los “efectos”.
Veamos ahora las otras áreas delimitadas por Verón, que son aquellas en las que
nos vamos a detener.
C3) Relación de los actores con las instituciones: aquí señala la transformación
de la cultura interna de las organizaciones por obra de la mediatización. Aunque
no da un ejemplo en particular no es difícil imaginarse casos. En los años
noventa se habían vuelto muy importantes en la cultura empresaria los house
organs. Tomando a este medio como ejemplo podemos considerar como un caso
de la relación delimitada por Verón el hecho de que un empleado en particular
haya sido destacado como empleado del mes. La mediatización, como en otros
espacios de la vida social, permite destacarse a unos y relega a otros, etcétera. Y
estos procesos siempre tienen consecuencias.
C4) Cómo los medios afectan la relación entre actores e instituciones: en este
caso Verón ejemplifica con un caso de la época, la causa de coimas pagadas por
la empresa IBM para obtener el contrato de informatización del Banco Nación
de la República Argentina, y se refiere al “shock psicológico identitario del
ejecutivo de IBM” (aunque no da nombres es probable que se refiera a uno de
los imputados, que fue el subgerente, Carlos Soriani): “su relación con la
empresa en que trabaja no volverá a ser nunca como antes”, dice Verón.
4. La era contemporánea
Lo primero que podemos señalar es que aquí también nos encontramos con un
panorama fuertemente afectado por el cambio en la mediatización. En este
campo la principal novedad es consecuencia del hecho de que los individuos
mediatizados no solo intercambian discursos entre sí a través de distintas “redes
sociales mediáticas” en las que se encuentran inscriptos y a las que pertenecen.
También, se encuentran “adentro” de todas las instituciones, medios y colectivos,
porque instituciones, medios y colectivos están compuestos por individuos. Por
consiguiente, los contenidos ahora no van “hacia afuera” sólo desde los voceros
o los medios institucionales de partidos políticos, empresas, iglesias, fuerzas
armadas, etcétera, como lo hacían en la modernidad y la posmodernidad. Eras en
las que acceder a información del interior de instituciones era excepcional y se
producía principalmente en determinados contextos. También lo hacen
cotidianamente, desde los “medios individuales” que administran quienes
forman parte de cada institución. Y no sólo llegan “hacia adentro”, desde los
medios masivos a las instituciones. También lo hacen desde los “medios
individuales” y desde los “medios colectivos” de las redes sociales mediáticas en
las que estos medios están emplazados. Es decir: desde la circulación
hipermediática vertical-horizontal. Esos puntos de encuentros con la circulación
transversal en los que se producen un conjunto amplio y diverso de cambios de
escala y de transformaciones.11 Veamos estos casos con más detalle. Para que
quede más claro lo que acabamos de expresar, empecemos con el análisis de la
lógica de circulación transversal más conocida:
a. “desde arriba hacia abajo” y desde “afuera hacia adentro”: nos encontramos
aquí con un caso semejante al circunscripto por Eliseo Verón cuando ejemplificó
con IBM/Banco Nación. Se parte del conocido poder de los medios masivos de
construir agendas compartidas por todos y de producir información que puede
afectar a cualquier institución (una familia, un sindicato), un medio o un
colectivo. De acuerdo a la relevancia y al poder de la institución afectada en la
vida social puede ser desde “arriba abajo” (de un medio masivo a una familia) o
una relación más igualitaria (entre un medio de comunicación masiva y un poder
del estado, por ejemplo). Son fenómenos que cada vez hay que determinar en las
complejas y dinámicas sociedades actuales.
Los discursos que circulan desde afuera hacia adentro pueden llegar a tener gran
poder de impacto. Vemos aquí, como mínimo, tres posibles tipos de
informaciones (positivas, negativas y ambiguas) y tres modos de procesamiento
interno (repudio, reconocimiento, desinterés)13.
Consideremos tres ejemplos. Los dos últimos tienen el interés de que son
semejantes desde el punto de vista de la circulación, pero son diferentes por su
contenido.
a. de “adentro (de un medio masivo) hacia afuera” (“hacia arriba y hacia abajo”):
en la Argentina, podemos citar el caso del periodista Roberto Navarro, que
trabajaba en un medio de comunicación masiva y se peleó públicamente a través
de Twitter con Federico Maya, Gerente General de Contenidos del canal de
televisión donde trabajaba (C5N) y finalmente fue despedido. La noticia fue
retomada por los medios masivos y por otras redes sociales mediáticas.14
5. Los efectos de estas dos grandes formas de circulación del sentido específicos
de la cultura contemporánea
6. Referencias
BRAGA, Jose Luiz. “La política de los internautas es producir circuitos”. En:
CARLÓN, Mario; FAUSTO NETO, Antonio. Las políticas de los internautas:
nuevas formas de participación. Buenos Aires: La Crujía, 2012.
BURKE, Peter. Historia y teoría social. Buenos Aires: Amorrortu, 2005 [1991].
FAUSTO NETO, Antonio. A circulação além das bordas. Em: FAUSTO NETO,
Antonio; VALDETTARO, Sandra (dirs.). Mediatización, sociedad y sentido:
aproximaciones comparativas de modelos brasileños y argentinos”. Rosario:
UNR, 2010. p. 2-17.
MANN, Michael. Las fuentes del poder social. Madrid: Alianza, 1986-1993
[1991-1997].
3 A punto tal que el concepto circulación, que nos habla de la diferencia entre
producción y reconocimiento (VERÓN, 1987), es clave para conceptualizar
cómo incide para Verón el proceso de mediatización en la vida social: antes que
incrementar la unidimensionalidad, tiende a aumentar la complejidad. Dice
Verón: “Contrariamente a muchas profecías (…) que fueron formuladas ante el
surgimiento de las tecnologías de la comunicación llamadas de ‘masas’, los
soportes tecnológicos cuya emergencia han hecho posible diferentes
modalidades de comunicación colectiva, tienden en el largo plazo a acentuar el
desfase y no a reducirlo; tienden, dicho de otro modo a aumentar la complejidad
de la circulación” (VERÓN, 2001, p. 130).
4 Resultado de nuestras investigaciones ha sido, finalmente, la proposición de
una tipología sobre la circulación hipermediatica que distingue cuatro grandes
modalidades de acuerdo al sentido en que circulan los discursos (CARLÓN,
2017): a) ascendente/descendente (que surge desde la redes y luego desciende
desde los medios masivos, como Chicas bondi); b) descendente/ascendente (que
desciende desde los medios masivos y luego asciende desde las redes, como la
Campaña del miedo, del Frente para la Victoria que fue respondida por la del
BU!, con miedo votas mejor); c) descendente/horizontal (que desciende desde
los medios masivos y queda en las redes, como sucede con muchas noticias de
los medios masivos) y, d) ascendente/horizontal (que asciende desde las redes y
queda en ellas, como acontece con la comunicación de gran cantidad de
actividades, exposiciones, recitales, pequeños actos políticos, etcétera). Es un
dispositivo analítico que distingue, también, una dimensión temporal de la
circulación (a través de la identificación de distintas fases) y otra espacial (que
trabaja posicionando a los distintos enunciadores en la arena mediática a partir
de valoraciones positivas y negativas). Ambas trabajan con gráficos de alto
poder de síntesis.
6 Es probable que las redes sociales existan desde tiempos inmemoriales (según
autores como Michael Mann (1986-1993 [1991-1997]), por ejemplo, la sociedad
griega estaba compuesta por una serie de redes sociales de poder – esa es lectura
que realiza Peter Burke (2005 [1991]), quien destaca que Mann “aboliría el
concepto de sociedad” y lo reemplazaría por lo que llama “múltiples redes socio-
espaciales de poder superpuestas y entrecruzadas” (247)). Más allá de la
complejidad de este tema aquí llamamos redes sociales mediáticas a las que
surgen a partir de medios que tienen su base en Internet y las redes telefónicas
(Facebook, Twitter, Instagram, etcétera). Las redes sociales mediáticas son
“redes de medios”: los medios que instituciones, individuos, colectivos y otros
medios de comunicación administran dentro de dichas redes.
14 http://www.lanacion.com.ar/2064575-echaron-a-roberto-navarro-de-c5n
15 https://www.lanacion.com.ar/1618843-ricardo-echegaray-le-regalo-un-audi-a-
su-hija-y-estallaron-las-redes
16 https://www.lanacion.com.ar/1618948-ricardo-echegaray-justifico-el-regalo-
de-un-audi-a-su-hija-cuando-uno-quiere-a-sus-hijos-les
Assim, a narrativa deste tipo de experiência não apenas passa a fazer sentido
para as novas audiências, mas passa a contar com uma legião de indivíduos
desejosos por enunciá-la, desejo que é viabilizado e potencializado pela
ampliação das possibilidades tecnológicas e incorporação de novas lógicas e
racionalidades massmidiáticas. O sofrimento, que por muito tempo foi matéria-
prima da mídia tradicional e catalisador de grande interesse, transbordou para
além desse espaço e atuou como um elemento de intensificação de circulação
discursiva, seja pela solidariedade e empatia ou pelo risco compartilhado. As
formas usuais de mediação dos jornalistas, que narravam a partir da noção de
verdade aquilo que viam, passaram a conviver com os inúmeros testemunhos dos
sofredores que falam, trazendo uma verdade pessoal e reconfigurando as
distintas formas de autoridade possíveis, por exemplo, imprimindo reforço e
autenticidade à autoridade da experiência. Esse lugar de fala, associado à
vivência do sofrimento, vem marcado pelo aumento de seu capital simbólico e
está vinculado à emergência de novas identidades sociais e novas formas de
atuação política.
2.1. Contextos
O câncer é uma enfermidade com uma longa história nas sociedades ocidentais.
Autores afirmam haver referências à doença desde a antiguidade, quando era
fortemente associada às ideias de morte e sofrimento (TEIXEIRA; PORTO;
NORONHA, 2012). Ainda que passando por mudanças e assumindo
configurações distintas segundo os contextos particulares, esses sentidos
sombrios permaneceram por muito tempo. Sontag (1984) assinala como a
doença permaneceu envolta por estigma, em que a imediata associação com a
morte fazia com que as pessoas que sofriam da enfermidade fossem vistas como
seres contagiosos, de quem se evitava o contato a qualquer custo. Trabalhos mais
recentes apontam a permanência de sentidos correlatos, em que a palavra câncer
é muitas vezes substituída por “essa doença” ou “problema” (BERTOLLI
FILHO, 2002; AURELIANO, 2006, p. 20).
Essa nova sensibilidade nascente dialogava não apenas com a memória de sua
letalidade e potencial sofrimento, mas com um contexto mais amplo, ligado à
experiência dos processos de saúde e doença em geral. Sendo uma doença muito
marcada pela lógica do risco, veio se instaurando a percepção de que somos
todos doentes em potencial, portanto devemos modificar nossos hábitos e rotinas
para dele escapar, e passou-se cada vez mais a se falar no câncer em sua
virtualidade. Se certamente o diagnóstico de uma neoplasia ainda evoca a ideia
de morte e sofrimento, vemos emergir na cena pública sentidos mais amenos
associados a uma experiência que, por muito tempo, permaneceu como um tabu
na sua própria enunciação.
O câncer aparece, também, associado ao debate sobre saúde pública (em especial
na editoria local, Rio), em que é o mote para se falar sobre uma suposta
incapacidade do governo federal para lidar com temas desta relevância,
repercutindo de forma vigorosa o que vários autores já sinalizaram sobre a
imagem negativa do SUS na mídia (MALINVERNI, 2011).
Textos sobre risco também estão presentes nesta editoria, assim como no
caderno de Economia, neste último caso vinculados prioritariamente a questões
ambientais. A cobertura sobre câncer aparece também sob a forma de notas
acerca de instituições privadas que se assemelham à publicidade, abordando a
modernização de equipamentos ou a oferta de tratamento gratuito a pacientes
carentes, eventos realizados pelo McDonald’s para auxílio a crianças doentes,
questões da indústria farmacêutica ou tabaqueira e assim por diante.
Cabe ainda destacar um terceiro elemento que caracterizava esses blogs: seu
cunho autobiográfico, de teor testemunhal. Embora tenham sido identificados
blogs de caráter institucional ou jornalístico, eles representavam a minoria.
Vários destes, inclusive, apresentavam também espaços autobiográficos, ao
trazer trechos ou links para blogs de pacientes narrando a sua experiência com a
doença. Amaral, Recuero e Montardo (2009) assinalam que o uso dos blogs
como espaços de expressão pessoal, publicação de relatos, experiências e
pensamentos é recorrente desde a sua origem, representando até hoje sua
utilização mais frequente. Nessa mesma linha, Oliveira busca refletir sobre os
blogs como espaços de escrita de si na contemporaneidade e acrescenta que se
trata de um espaço eminentemente feminino. Citando pesquisa de 2006, aponta
que dentre os mais de 100 milhões de diários digitais identificados, as mulheres
representavam 56% desse universo, enquanto os homens eram apenas 31,9%.
Além do recorte de gênero, ela aponta também a questão geracional: 94,3% eram
feitos por blogueiros entre 13 e 29 anos (OLIVEIRA, 2009, p. 63).
A identificação destas marcas nos levou à opção por fazer uma análise das
narrativas autobiográficas sobre câncer de mama. Para tal, selecionamos os 10
primeiros blogs que apareceram no Google a partir das palavras-chaves “câncer
de mama” e “blog”, e, deles, foram excluídos os que não apresentaram
atividades após 2015 e selecionados os três que tiveram o maior número de
postagens. O material analisado foi produzido por mulheres de 25, 27 e 30 anos,
pertencentes às camadas médias urbanas (Recife, Ribeirão Preto e Brasília), e
com bom grau de instrução (estatística formada pela UFPE, doutoranda em
toxicologia pela USP/RP e bióloga).2
Era o dia 20 de junho de 2010. Eu tirei o meu sutiã azul-claro, e percebi uma
pequena mancha amarronzada na parte de dentro do sutiã, do lado direito. (...)
Chamei meu namorado e disse: “Minha mama tá sangrando. O que é isso? Só
pode ser câncer. Eu vou morrer. Eu só tenho 25 anos. Não quero morrer”. Ele me
disse pra ficar calma e corremos para a internet pra pesquisar sobre câncer e
sobre sangramento na mama.
Decidi escrever um diário que veio na ideia de um blog para que pudesse
expressar meus sentimentos de uma forma evidente e esclarecedora e ao mesmo
tempo dividir momentos não somente com quem estivesse interessado em lê-los
e compartilhá-los comigo, mas principalmente para divulgar alternativas para
pessoas em situações peculiares como câncer de mama.
No entanto, por que essa fala traria tanto alívio? Para além da constituição de um
coletivo, de uma comunidade de sofredores tão bem expressa pelo pronome
“nós” (“Força para nós!”), outro elemento estaria em jogo. A expressão dessas
emoções permitiria a reconfiguração do lugar social daquele que fala. Além
disso, a relativa familiarização favorecida pelo testemunho acabava por outorgar
certo sentido de “normalidade” à experiência, reforçando esse ritual de
exposição como um espaço de transformação que permitia a diminuição das
ambiguidades que caracterizariam os seres doentes, na aflitiva condição daqueles
que estão no lugar indeterminado entre a vida e a morte. Expor-se representava a
afirmação da vida:
Tudo o que eu conseguia associar à palavra câncer era: gente doente, gente na
cama, gente ficando inchada por causa do tratamento, gente sem cabelo, gente
sem cor, gente com dor, gente de lencinho com as orelhas de fora, gente sem
forma e o pior, gente sem alegria (...) Um dia antes da minha primeira
quimioterapia, veio a ideia de criar uma página no Facebook (...) assim meus
amigos me viam no Facebook feliz, cheia de novidades então muitos deles
voltaram (...) encontrei uma razão, uma sensação de estar fazendo algo
realmente importante mostrando que é possível viver e sobreviver a esta doença
sem se vitimar e encarando tudo de frente.
O 3º médico era muito sério e seco. Examinou-me e perguntou por que a minha
médica anterior não tinha me passado um exame citológico da secreção. Deve
ser porque ela era completamente idiota, burra e adorava cuidar das plásticas que
fazia nas pacientes (provavelmente ganhava mais com isso) (...) Concordo com o
INCA quando ele diz que o autoexame não é forma de prevenção, mas
particularmente no meu caso, ninguém conseguia visualizar o câncer através da
ultrassonografia (...). “Se aconteceu comigo, pode acontecer com você também.”
Então, eu diria que é de suma importância ter consultas com um mastologista
que fará o exame das mamas além de prescrever os exames por imagem
(ultrassonografia e/ou mamografia) pelo menos uma vez por ano, mas, além
disso, como complemento, FAÇA SIM O AUTOEXAME!
3.1. Contextos
A UMA – União de Mães de Anjos é uma associação de mulheres que têm filhos
com microcefalia decorrente da epidemia do vírus Zika. Surgiu em Pernambuco,
em 22 de dezembro de 2015, quando duas mães se conheceram na fila de um
exame em um hospital de Recife e resolveram criar um grupo no aplicativo
WhatsApp para compartilhar suas experiências e se fortalecerem, convidando
outras famílias no decorrer dos dias. Oficializaram a associação alguns meses
depois, já contando com centenas de mães, em relato da entidade na página do
Facebook (“UMA – União de Mães”, 2016). Além do aplicativo, o grupo criou
uma página na internet e perfis em redes sociais (Facebook, Instagram e
Twitter), com destaque para o Facebook, com mais de 13 mil seguidores.
Assim, nas páginas do Facebook que lançam mão do termo “mães de anjos” no
seu título predomina a circulação discursiva da dor, por meio de testemunhos ou
da postagem de imagens e mensagens sobre luto, enquanto a página da UMA,
num movimento diferente, valoriza a circulação discursiva da superação, como
veremos em análise específica. A página ocupa o sexto lugar do ranking quando
considerado o critério “fan count” e é a quarta pelo critério “talking about”.
O discurso religioso, ainda parte dessa vertente, se faz presente nas postagens da
UMA, em especial nos enunciados envolvendo o luto pela morte de suas
crianças (com enunciados como “voltar para o céu”, em que há sublimação da
perda pelo componente religioso); na condenação do aborto e no contradiscurso
sobre o preconceito/estigma. Pela narrativa ancorada na superação, associada à
sublimação advinda do discurso religioso, as mulheres da UMA transcendem de
mães sofredoras a mães privilegiadas. As imagens são emblemáticas, as mães
estão sempre sorrindo e exibem seus bebês também alegres, de corpo inteiro.
Não há ocultamento, não há vergonha. Algumas imagens podem exemplificar
esse dispositivo.
Essa reconfiguração simbólica, ocorrida tanto nos blogs como no Facebook, tem
como principal elemento constitutivo e constituinte o movimento de
destigmatização da doença e dos afetados por ela. Ele é perpetrado por um modo
específico de falar e mostrar a enfermidade, marcado pela narrativa testemunhal,
que possibilita desvelar aspectos antes invisibilizados pelos dispositivos
tradicionais. No caso do câncer, por exemplo, o compartilhamento (nos seus
múltiplos sentidos) de eventos cotidianos antes fora do acesso dos que não
estavam diretamente envolvidos com a doença – sessão de quimioterapia, queda
de cabelo, raspagem da cabeça para evitar esse processo, “chá de lenço” – vem
contribuindo sobremaneira para sua rotinização e, consequentemente, maior
naturalização. Sob forma de “diários” virtuais (blogs), sites, vídeos no Youtube,
fotos no Instagram e demais formas de interação virtual produzidas pelos
indivíduos implicados na doença, permite-se o surgimento de comunidades de
sofredores que reconfiguraram antigas práticas e relações de autoridade e que
arrogam para si o direito de nomear, qualificar e explicar publicamente o que se
passa consigo
O mesmo ocorre no caso do câncer, também fortemente marcado por essa lógica,
mas é importante assinalar que sua longa presença no imaginário coletivo teve
nos meios massivos um espaço importante de transmutação de um evento da
ordem do interdito para ser, paulatinamente, incorporado e visibilizado como
questão pública. Nesse sentido, essa relação era mais pacificada, como vemos no
caso de algumas blogueiras que adquiriram legitimidade pelos seus blogs e
tornaram-se objeto de interesse jornalístico, seja dando entrevistas, aparecendo
como “símbolo” da luta contra a doença em reportagens etc. Os textos
jornalísticos eram pouco reproduzidos, sendo o seu embate prioritário com o
discurso médico.
De forma subsidiária aos achados principais, pudemos ver com muita nitidez o
sofrimento como elemento que mobiliza sentimentos de solidariedade, ajuda e
mútua proteção, mesmo entre pessoas que não se conhecem. Certamente o fato
de estar sendo mobilizado em um ambiente digital online potencializa esse
efeito, por serem esses espaços de interação social propícios à emergência de
novos coletivos. Também registramos uma visível e importante circulação dos
saberes, pela atualização – tanto nos blogs como no perfil do Facebook – da
relação com o saber médico e com o discurso científico, em nova chave de
autoridade. Por fim, nos chamou atenção como, tanto nos blogs como no
Facebook, o dispositivo de enunciação acentuava a performatividade da fala.
Aquelas mulheres não estão ali apenas expressando sua situação e marcando sua
posição em relação aos agravos de saúde, não querem só expressar o mundo,
mas também e fortemente querem afetar o mundo a partir de sua enunciação. E
certamente estão conseguindo.
6. Referências
AGUIAR, Raquel; ARAUJO, Inesita Soares de. A mídia em meio às
“emergências” do vírus Zika: questões para o campo da Comunicação e Saúde.
RECIIS. Revista Eletrônica de Comunicação, Informação & Inovação em Saúde
(Edição em Português. Online), v. 10, p. 1-15, 2016.
ARAUJO, Inesita Soares de; AGUIAR, Raquel. O vírus Zika e a circulação dos
sentidos: entre limites e ressonâncias, apontamentos para uma pauta de pesquisa.
In: CASTRO, P. C. (org.). A circulação discursiva: entre produção e
reconhecimento. Maceió: Edufal, 2017. p. 141-162.
2 Parte da análise de dois dos três blogs aqui descritos foi realizada em outro
contexto de pesquisa em colaboração com Waleska Aureliano. Os resultados
dessas análises, que envolvem outros debates, estão publicados em LERNER;
AURELIANO, 2018 (no prelo).
• Gastón Cingolani1
Siguiendo esta línea, el trabajo se centra en ver en qué medida la circulación (ya
que no se manifiesta sino como diferencia o distancia) opera como trasfondo de
sentido de algunas experiencias de recepción mediatizadas en las redes. ¿Cuáles
“experiencias”? Aquellas que agrupamos tentativamente como estéticas, algunas
de las cuales se materializan luego en prácticas estéticas.
Del otro polo tenemos una visión más funcional, la que sostiene que lo que
tipifica o caracteriza el comportamiento “estético” no es del orden del contenido,
sino del tipo de relación que se mantiene con el objeto, sea este una obra, una
práctica, un gesto, un discurso, o un conjunto complejo y heterogéneo de todo
ello. Para esta posición (en sus variantes naturalista, mentalista o cognitivista):
3. Mediatizaciones de la recepción
Regreso a la hipótesis: “la circulación parece ocupar una escena cada vez más
preponderante en la discursividad mediatizada”. Si bien puede que aún señale un
proceso minoritario (los comportamientos humanos exceden por mucho lo que
sucede en las redes), esta hipótesis se interesa por su constante crecimiento,
como efecto del traspaso progresivo e inédito de instancias de la experiencia de
la recepción a las redes.
Antes que nada, es necesario aclarar que, cuando decimos que se mediatiza algo
de lo que se ha llamado desde hace bastante tiempo la recepción, somos
conscientes de que bajo este título se agrupan actividades y acciones múltiples y
heterogéneas: la atención hacia medios electrónicos (radio, TV) para
información, espectáculo, educación o entretenimiento; la asistencia al cine, al
teatro, a conciertos, a museos, a estadios, a manifestaciones y actos políticos; la
escucha o expectación hogareña de música, películas y videos, recibidos o no
por la distribución convergente; la lectura de todo tipos de impresos (diarios,
revistas, libros). Este listado es incompleto y, con certeza, altamente
heterogéneo. Pero podemos ordenar las instancias que son abarcadas, de un
modo u otro, por este concepto en:
b) la instancia misma del consumo, variable según el tipo de texto de que se trate
(música, series, libros, notas periodísticas, juegos, videos, etc.) y la relación
práctica que traba el usuario con este texto, es decir, el tipo de contacto que
requiere el texto, pero sobre todo el que en definitiva activa el usuario, que
puede ser más o menos durativo, instantáneo o periódico, solitario o compartido,
único o seriado, acumulativo o seccionado, espectatorial o interactivo6, etc.;
c) el ejercicio de intervención sobre y/o a partir del texto, ejercicio que deviene
un comportamiento materializado en nuevo texto o, en el límite, una nueva
versión del texto original, o un nuevo estado del mismo texto. Esta última
taxonomía merece algunas aclaraciones: un ejemplo de texto nuevo podría ser el
comment del lector a partir de algo que leyó, escuchó, etc. (RAIMONDO
ANSELMINO, 2012, p. 120 y ss.) y que se ofrece como metatexto (GENETTE,
1989); un nuevo estado del texto es la intervención con modificación del texto
original o hipotexto, del cual resulta un hipertexto (siempre en la terminología
genettiana), como puede ser un meme (visual), un mash-up (sonoro o
audiovisual), un collage (dos recortes de diarios yuxtapuestos para comparar, por
ejemplo, diferentes tratamientos periodísticos o evidenciar contradicciones), una
cita (fragmento inserto en un nuevo texto mayor), etc.; finalmente, un nuevo
estado del mismo texto por su adquisición o cambio paratextual (reconocer que
asistimos o consumimos algo que pocos o muchos o algunos otros también, es,
frente a la vieja soledad del objeto mediático que nos hacía imaginarnos entre
muchedumbres, una concreción novedosa de la recepción mediática, que toma la
forma de likes, favs, rankings de más leídas, etc. (RAIMONDO ANSELMINO,
2012; CINGOLANI, 2016a)
Estas tres instancias se complementan, y tienen, cada una, un peso muy distinto
según el medio del cual se trate (en producción) y según también el tipo de
comportamiento de los usuarios (en reconocimiento)7.
Hasta hace poco, estas prácticas se producían en condiciones que dejaban una
baja o incluso nula proporción de “restos” en lo consumido. Esos “restos” eran
interesantes, en diferentes instancias, tanto para los medios, como para los
sociólogos, y desde ya para los propios actores sociales. Los actores tejían,
consciente o inconscientemente, redes de signos con los que hacían visible (o
daban forma, incluso disimulaban) su propio sesgo impregnado en esas prácticas
de recepción. Por cierto, algunas prácticas de recepción o consumos de medios,
artes y espectáculos eran más visibles que otras; la evolución de los mismos fue
de una etapa mayormente pública (la tertulia en las salas de teatro, la visita a los
museos, la salida al cine, las fiestas con espectáculos, los espacios bailables,
incluso las lecturas en voz alta con fines colectivos8) hacia una progresiva
domesticidad (los medios periodísticos y literarios impresos, la radio, la
fonografía, la televisión) y, en las últimas décadas, una acentuada individuación
de los consumos. Sin embargo, la escena social nunca desapareció: en todo caso,
se complejizó la discursividad intermediaria, y se amplificó el interés por lo que
los propios receptores tenían para decir, escuchar e intercambiar con los otros.
Los sociólogos, por su parte, procuraron reconstruir esas condiciones y
gramáticas de reconocimiento para conocer y comprender, de manera macro, el
carácter de esas prácticas. Las mediciones cuantitativas dominaron, porque
ofrecían, entre otras cosas, lo más tangible: el volumen cuantitativo de personas
que compraron, asistieron, etc., como dato sistemático e indicador de lo masivo.
No obstante, poco se sabía del sentido producido a partir de ello, desplegado con
profusión y detalle en la escurridiza discursividad interindividual.
Mientras funcionó así durante la era de los medios masivos, el feedback hacia
los medios y espectáculos era indirecto y escaso: además de las mediciones y
sondeos, los correos de lectores a las editoriales y diarios, las llamadas
telefónicas a la radio y la televisión, los libros de visita en exposiciones y otros
espectáculos, pese a su carácter indirecto (no eran sino el relato o procesamiento
en segunda instancia, incluso meta, de las prácticas de recepción) y no siempre
atendido, tuvieron un valor legítimo. Los investigadores, alertados, debieron
forzar algunas condiciones en instancias de laboratorio, o provocar la
“naturalidad” en otras (MORLEY, 1996; MORLEY; SILVERSTONE, 1991;
LIEBES; KATZ, 1997; VERÓN; FOUQUIER, 1986; DE CHEVEIGNÉ;
VERÓN, 1994; VERÓN, 2013). Esta pretensión siempre se construye como un
protocolo de control de los sesgos, más que como una reducción inviable
(FERNÁNDEZ, 2012).
Ligado a esto, el tercer aspecto es que el sistema emplea esa información para
construir “atajos” en los recorridos de los usuarios para accionar sus consumos.
En una vida social anterior o ajena a la mediatización de estas prácticas, había
discursos “intermediarios” (discursos profesionales como la crítica, la
publicidad, el periodismo, los especialistas, pero también no profesionales como
amigos, familiares, conocidos y desconocidos) que sugerían tomar o no contacto
con determinados consumos (TRAVERSA, 1984, p. 11). En la actualidad, se
llega a una buena parte de lo que se consume en las redes (y también fuera de
ellas) por vías sugeridas en esos espacios a partir de esa acumulación de datos
registrados. Más aún, los viejos discursos intermediarios han perdido terreno
importante en la dosis de influencia, en manos de estos sistemas (TRAVERSA,
2017).
El fenómeno que está creciendo tiene que ver con una experiencia que podemos
simplificar así: cuando entramos en la Red (en algunos sitios o usamos algunas
aplicaciones), nos encontramos con un conjunto complejo:
a) hay elementos que en realidad están puestos allí a partir de nuestras entradas
anteriores, por lo tanto es la estela que voluntaria o involutariamente dejamos al
movernos. No son solo productos, sino productos-que-dicen-algo-de-nosotros;
c) otros elementos están ahí porque son promocionados para ser popularizados;
d) pero no sabemos bien cuánto ni qué de todo ello está allí por (a), (b) o (c)9.
Por sencillos que parezcan estos dos modos de la circulación, aquí interesan
porque van a ser útiles para comprender cómo se manifiesta la circulación en las
plataformas musicales. Para ello, hemos analizado plataformas de distribución
de música por streaming y/o para descargar.
a. Buscar/Encontrar música
c. Cargar/descargar música
d. Organizar música
e. Compartir música
Cada una de estas cinco actividades o macro-operaciones comporta diferentes
maneras de manifestar signos de la circulación, e incluso de retroalimentarse.
b. Cargar/descargar música
Estas son operaciones que dejan una huella simple en las plataformas: son
anunciadas para el propio usuario (y a veces, para los otros, en las secciones
“Novedades”) aquello que se agrega. Las descargas no tienen la misma
visibilidad pública, aunque sí para el propio usuario como registro de sus propias
piezas.
d. Compartir música
e. Organizar música
5. Comentarios finales
1. Es evidente que de las cinco macro operaciones que hemos descrito, las cuatro
últimas revierten sobre las operaciones de buscar/encontrar, y solo esas cuatro
expresan discursivamente la circulación con marcas en coexistencia, es decir,
con elementos que expresan el desplazamiento o diferencia articulada por un
operador y un operando contiguos en la misma superficie, ya sea el caso de un
elemento de un tiempo anterior conviviendo con uno temporalmente posterior, o
bien el de un agente (usuario, influencer, contacto, artista, sello, la propia
plataforma) en alguna relación (de recomendación-recomendado, obsequio-
obsequiado, compra-venta, colaboración) con otro agente.
Quedan por delante una serie de preguntas que quizás puedan responderse con
más investigaciones y también con la evolución de las mismas plataformas y sus
prácticas asociadas: en la práctica estética de la socialización de nuestras
relaciones con la música ¿podemos seguir viendo como importante la dimensión
compartida de la música, pese a que las plataformas privilegian la relación
individual? ¿qué pasa con la dimensión de los estilos, la exhibición del estilo
propio y de los rechazos ajenos? ¿de qué modo esa caja negra que son los SRs
influyen sobre esa otra caja negra que son los individuos?
6. Referencias
GILLESPIE, Tarleton. The politics of platforms. New Media & Society, 12 (3),
2010. p. 347-364.
PHILIP, Robert. Performing music in the age of recording. New Haven, USA:
Yale University Press, 2004.
2 Este trabajo se realiza en el marco del proyecto “De los medios a las
mediatizaciones (II). Mediatizaciones de la experiencia estética”, (COD
34/0410) Instituto de Investigación y Experimentación en Arte y Crítica, Área
Transdepartamental de Crítica de Artes, Universidad Nacional de las Artes.
3 Al respecto, Luhmann (2000) señala que esa figura opera como la exterioridad
del sistema mediático, en el propio sistema. Es preciso, sin embargo, evitar
confundir al receptor o espectador con las figuras de esa “exterioridad” en los
medios – confusión que entendemos, aparece en trabajos como el de Lacalle
(2001) –, sobre todo en el sistema mediático como se configuró hasta la
aparición de las redes. Ensayamos una generalización sobre su funcionamiento
en los géneros televisivos en CINGOLANI, 2006.
6 Tomamos esta distinción que Fernández (2016a, p. 20) propone para clasificar
los tipos de “posiciones de intercambios” o “prácticas de intercambio”, donde, si
entendemos bien, la interacción no es solo una espectación que deja rastros, sino
una actividad absolutamente diferenciada, y esencialmente coparticipativa.
15 Puede leerse una compilación de trabajos que analiza estos y otros casos en
Fernandez (2014), Koldobsky (2014), Vargas (2014), Núñez (2014).
1. Primeiros movimentos
2) que estas diferenças podem ser identificadas pelo viés de marcas não
homogêneas (VERON, 1980, 2004) distribuídas na superfície dos objetos
analisados na forma de operações linguísticas, à revelia de seu formato (texto,
imagem, imagem em movimento etc.).
Importante salientar que nossa perspectiva se insere naquilo que Onfray (2015)
categorizou como uma teoria da viagem, que alcançamos pelo viés das
narrativas. “Todos os viajantes narram suas peregrinações em cartas, cadernos,
relatos” (2015, p. 31), ainda que estes recortes sejam pouco diante da realidade.
“Entre a ausência de vestígios e seu excesso, a fixação dos instantes fortes e
raros transforma o tempo longo do acontecimento num tempo curto e denso: o
do advento estético” (2015, p. 53). Observar este tempo que se transforma em
objeto estético, sem desconsiderar o lugar de análise, exige, por outro ângulo,
um olhar antes de etnólogo que de turista, nas palavras de Augé (2010): “O que
difere verdadeiramente o etnólogo do turista é, sobretudo, seu método: a
observação sistemática, solitária e prolongada” (2010, p. 74).
2. Um problema de circulação
Isso posto, ao pensarmos a circulação, o que temos, então, mais que intervalo, ou
lugar de passagem, é um espaço de possibilidades, nas palavras de Braga (2012);
ou, ainda, “(...) instância em que processos de enunciação, portanto de sentidos,
têm lugar” (SOSTER, 2016, p. 11), em decorrência de sua natureza complexa,
não linear.
3. Circuitos informacionais
4 Zonas intermediárias
assim como
Isso se dá dessa forma porque os sistemas são formados, como dito, pelos
dispositivos, e não podem ser pensados sem estes, mas os dispositivos não
resumem, em essência, o sistema como um todo (BERTALANFY, 2013), ainda
que o sistema não exista sem eles, de tal maneira que pensar em um implica
necessariamente levar o outro em consideração, relacionalmente.
5 Narrativas de bicicleta
Por meio dos relatos sistemáticos que realizavam em seus blog e redes sociais
(Facebook, Instagram e Youtube, principalmente), Luid e Stefane não apenas
descreveram seus preparativos para as cicloviagens como publicizaram os
mesmos até a realização. Inseriram, dessa maneira, o que era para ser simples
viagem de bicicleta na discursividade midiática, midiatizando suas próprias
narrativas. As Imagens 1 e 2, a seguir, ilustram o que estamos afirmando.
Nosso objetivo é mostrar a vida de uma forma mais leve, e assim, incentivar as
pessoas a serem felizes. Queremos levar entretenimento e diversão para as
famílias de forma simples e descontraída e futuramente conseguir independência
financeira, para que assim possamos dedicar a maior parte do nosso tempo de
trabalho para produzir conteúdo para vocês no canal do youtube10. (o destaque é
nosso)
Nela, um mês depois de ter tomado a decisão de realizar uma cicloviagem pelo
mundo, Lammel grava um vídeo no Youtube dizendo que se desligara do
emprego; mas adiante, que terminara seu relacionamento. A Imagem 9 registra
todo o roteiro e programa da cicloviagem.
Imagem 9 – Site com etapas da viagem / Fonte: http://mochilaebike.org/roteiro-
e-cronograma.php
À medida que a viagem avançava, aos relatos em filme identificados pela tag
“Manual”, Lammel compartilha, via Youtube, o que chama de “suas
experiências para executar tarefas, conseguir algo ou vencer desafios em prol de
uma viagem mais econômica, longa, cultural e divertida”20. É o que se observa
na Imagem 11.
Imagem 11 – Dialogando via Youtube / Fonte: https://www.youtube.com/watch?
v=I4nXN_P9xKs
redes sociais :)
Vale lembrar que tudo aqui é independente e ainda não colocamos nosso app na
Google Play por ser caro para nós (U$25/anual), mas ainda assim você pode
baixar direto do nosso site e instalar com segurança. Versão para iPhone e iPad,
em breve.
Baixe o App: http://mochilaebike.org22
Ou, ainda, quando promove pesquisa23 (Imagem 13) para saber quantos
cicloturistas, ao redor do mundo, estão viajando tendo como inspiração sua
experiência:
Imagem 13 – Interatividade / Fonte: Google Docs
Tudo o que peço a quem me acompanha desde 2015 quando pus meu
apartamento pra alugar e fui pra estrada e a quem passará a me fazer companhia
desde agora, peço que respeite meu momento de estar quietinho em Praga com a
minha flor antes de termos de dizer adeus um para o outro pra seguirmos sonhos
em direções opostas por vivermos momentos de vida tão diferentes. A vida não é
preto no branco como regras escritas num manual para amadores, as histórias
são complexas e com infinitas perspectivas. Usufrua de tudo o que compartilho
no Youtube, Facebook e em meus livros gratuitos no Medium que te prometo
que vc encontrará novas possibilidades bem diante dos teus olhos, sem mágica
ou romantismo em excesso. (destaques nossos)
O que vem depois disso? O anúncio, em primeiro lugar, via redes sociais, de que
a viagem está chegando ao seu fim.
Imagem 15 – Mensagem, via Facebook, sobre o fim da viagem / Fonte:
https://www.facebook.com/search/top/?q=aldo%20lammel
6. Considerações interpretativas
Ou, por outras palavras, que estamos diante de um fenômeno que reflete, em
essência, o tempo de mundo em que estamos vivendo, e onde não se pode pensar
a ação do homem sem considerar, na visada, a relação deste com o aparato
tecnológico que o cerca, compreendida a relação como processo interacional de
referência.
Vale lembrar que, até bem pouco tempo atrás, quando da sociedade dos meios,
os dispositivos que compunham o sistema midiático – rádios, televisões, jornais
etc. – eram os grandes artífices, do ponto de vista axiomático, da composição
disso que Silverstone (2002) chamou, em outro momento, de tessitura da
experiência. Um tempo de “meios e mediações”, na categorização seminal de
Barbero (2009). À medida que a sociedade se complexifica pela processualidade
da midiatização – e a internet ocupa um lugar central nesta discussão –, as
condições de acesso, no diálogo com Verón (2013), mudam substancialmente,
reconfigurando toda uma ecologia comunicacional.
Com isso, Luid e Stefane Monsores, Aldo Lammel, e tantos outros cicloturistas
passam a tecer, por meio de seus relatos, não a rede, mas a malha da
discursividade midiática, transformando e sendo transformado neste percurso.
“À medida que os dispositivos da web permitem aos usuários produzirem
conteúdos, e tendo em conta, também, que os usuários têm controle do switch
entre o privado e o público, podemos ter uma ideia da complexidade e das
mudanças em curso”25 (VERON, 2013, p. 282). Compreender o que estas
transformações representam, portanto, é o desafio que se nos apresenta.
7. Referências
BRAGA, José Luiz. Circuitos versus campos sociais. In: JANOTTI JÚNIOR,
Jader; MATTOS, Maria Angela; JACKS, Nilda (orgs.). Mediatização &
midiatização. Salvador: EDUFBA; Brasília: Compós, 2012.
SILVESTONE, Roger. Por que estudar a mídia? São Paulo: Loyola, 2002.
6 Disponível em:
https://www.facebook.com/dsoster.jor/posts/10155201953529260. Acesso em:
15.jul.2017.
11 http://mochilaebike.org/
12 https://www.youtube.com/channel/UCjK_6o4JAwe7Ecx7Rl26kqA
13 https://www.facebook.com/avlammel?ref=br_rs
14 https://medium.com/mochilaebike-fotos/livro-de-fotografias-7c475fd25e36
15 http://mochilaebike.org/sobre.php
16 http://twitter.com/aldolammel
17 http://instagram.com/aldolammel
18 https://www.youtube.com/playlist?
list=PLseCxrn4VPolnJ9FLq42peGW5BSBOC6oW
19 https://www.swarmapp.com/
22 Disponível em:
https://www.facebook.com/avlammel/posts/10213514437518750. Acesso em:
17.jul.2017.
23 Cf. em:
https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSct21X8ALNJRIST25N_3GB0usv5Gln9hs3ro-
g7iWPTec1sgw/viewform
• Manuel Libenson1
1. Presentación
Desde el punto de vista del tipo de intercambio que propician, Tinder habilita la
posibilidad de que el usuario configure su búsqueda tanto para establecer
contactos heterosexuales como homosexuales entre hombres o mujeres, mientras
que Grindr, por su parte, solo admite contactos homosexuales exclusivamente
entre hombres.
Tal como puede notarse, Tinder funciona como una plataforma mediadora en la
medida en que trabaja como una agencia de citas que facilita contactos a través
de la semiotización de la coincidencia entre los participantes (la aplicación “te
hace gancho” con alguien). En este sentido, y por medio de este tipo de
operatoria de acceso al vínculo, Tinder construye la estructura del contacto
apelando a cierto imaginario romántico que opera como marco.
Si bien se puede acceder a ambas redes de manera gratuita, cada una de ellas
ofrece ciertas funcionalidades específicas que deben pagarse con tarjeta de
crédito (de manera optativa) y que permiten explotar y diversificar aún más el
mercado de dones que estas aplicaciones configuran. Esto ocurre, por ejemplo, si
el usuario desea suspender el geolocalizador y contactarse con personas de otros
lugares, o bien si desea conocer sus estadísticas (cuantos likes recibió en
determinados plazos de tiempo) o bien si desea tener contar con más recursos
para interactuar con los perfiles (“super likes” o “deshacer la acción”), entre
otras alternativas disponibles.
Al igual que lo que ocurre con las tapas de las revistas, el discurso
autopresentativo de perfil se constituye como la primera instancia discursiva en
la que se juega el contacto entre producción y reconocimiento. En este sentido,
cada perfil individual propone un contrato de lectura vincular (con amplitudes
temporales totalmente variables) que se apoya en la mostración de los propios
dones del participante tanto como en los requisitos que se imponen a los otros a
modo de condición para acceder al intercambio verbal. Ahora bien, la lógica en
reconocimiento de este tipo de contrato de lectura difiere del que configuran los
medios masivos puesto que la concreción del vínculo entre el yo y un tú
específico dependerá de una reciprocidad de contratos de lectura. En otras
palabras, al tiempo que el yo es leído por el tú, ese tú es leído por un yo. Solo se
hará posible la extensión del contacto en la medida en que se desencadene una
afinidad en las posiciones de lectura recíprocas.
Entre los trabajos que se destacan desde enfoques que no se corresponden con el
quese adoptará aquí, Lik Sam Chan (2016) o Ellison, Hancock y Toma (2012)
desarrollan investigaciones que abordan la problemática respecto de qué tipo de
uso le dan los actores sociales a estas aplicaciones y de cómo intervienen los
factores culturales en la presentación del yo. Lik Sam Chan (2016), por caso,
desarrolla un análisis intercultural por medio de entrevistas en profundidad y
compara el uso que se hace de las fotografías y de los estilos de comunicación en
el discurso de presentación de participantes homosexuales masculinos chinos y
estadounidenses en una aplicación para encuentros gay. Desde otra perspectiva,
Grosskopf, LeVasseur y Glaser (2014) realizan una investigación que se interesa
en la percepción del riesgo de enfermedades de transmisión sexual que tienen los
usuarios al hacer uso de estas redes y por la incidencia que tiene el ser usuario de
estas aplicaciones en la construcción de la identidad sociocultural de una
minoría.
Respecto de las categorías de análisis para dar cuenta del fenómeno discursivo
que nos ocupa, nos apoyaremos las siguientes tres nociones fundamentales:
circulación, dispositivo y cronotopo (o más específicamente articulación
cronotópica). En primer lugar, comprendemos el fenómeno de la circulación
discursiva tal como lo define la teoría de los discursos sociales (VERÓN, 1998),
esto es, como un desfasaje o conjunto de diferencias entre las instancias de
producción y de reconocimiento. La categoría de circulación es siempre de tipo
abductivo en la medida en que solo se llena por medio de hipótesis realizadas
por el observador respecto de las diferencias que estarían operando entre dos
conjuntos discursivos dados. Podríamos decir más llanamente que la circulación
es una especie de agujero negro por el cual el pasaje de sentido es producto de
una diferencia entre gramáticas. En otras palabras, es el efecto de acople de la
diferencia: de algo que estaba surge algo que no estaba.
En particular para este trabajo nos interesa indagar de qué modo el dispositivo de
circulación estructura de manera novedosa y en distintos niveles de
funcionamiento la dimensión témporo-espacial (o cronotópica) de los vínculos
erótico-afectivos que se desencadenan. Por último solo queda presentar la noción
de cronotopo, categoría estructurante de la clasificación propuesta en el análisis
que sigue. Para ello, nos apoyamos en la definición clásica de Bajtin:
1. Calentown 39
2. 28
Conectado a 1 milla
Con lugar y por Barracas. Quiero pasivo o versátil para ahora, sin vueltas!!!
Ahora bien, tal como puede suponerse, este topos puede quedar explotado a
partir de distinto tipo de inflexiones de sentido en reconocimiento, habilitando
una variedad de posicionamientos subjetivos (colectivos) frente a la instancia de
encuentro. En efecto, no solo pueden desencadenarse distintas lógicas que lo
aplican en forma conclusiva (cercanía por lo tanto inmediatez potencial) sino
también de manera transgresiva (cercanía sin embargo no inmediatez de
contacto). En cuanto a las modalidades de reconocimiento que explotan el topos
de manera conclusiva (cerca por lo tanto encuentro YA), identificamos tres tipos
de lógicas diferenciadas a partir de la detección de huellas en el plano de la
textualidad y de la observación no sistemática y no participante de grupos de
adolescentes que utilizan estas aplicaciones: la errancia, la itinerancia y la
pertenencia al barrio.
4. WALT
5. Ahora???
Conectado a 425 pies
6. Andy
7. VIENDO
En este sentido, lejos de producir la ilusión de un sujeto asilado y cada vez más
solitario, tal como afirman las perspectivas afiliadas a cierta sociología crítica
(HIRIGOYEN, 2013), las aplicaciones crean la posibilidad de un contacto
permanente en cualquier lugar, hora o situación. Y esto no es una mera ilusión.
Las posibilidades de vinculación son concretas, empíricas y reales.
8. Leo. ZN. 38
Vicente López. De regreso al barrio.
Sin dudas, estas y otras lógicas posibles de ser descriptas muestran inflexiones
de sentido sobre la base del mismo sustrato semántico-argumentativo. De todas
modos, los posicionamientos subjetivos en reconocimiento no se restringen a
una aplicación normativa del topos mencionado. Existen también
posicionamientos transgresivos que, si bien se apoyan o conceden la idea de que
la cercanía es factor para el encuentro rápido, se constituyen en oposición al
discurso resultativo que surge de la aplicación de ese principio. Tal es lo que
ocurre en (9) o (10):
9. Susana 37
A 8 km de distancia
Separada con dos hijos. Busco algo serio, un compañero, conocernos y ver qué
pasa.
Medellín. Colombia. Busco algo serio. Soy re buena onda. Espero tener suerte
por aquí, jejeje. Quién se anima? No sexo express.
Debe señalarse aquí, sin embargo, que ambas aplicaciones (Tinder y Grindr)
difieren en el modo en que emplazan a los actores dentro del espacio-tiempo
social. Tinder, por ejemplo, construye la figura de un “yo oficial” en tanto
recupera información de Facebook y define el perfil del usuario a partir de
calificadores que inscriben al yo en espacios institucionales reconocibles o bien
lo asocian a ciertos oficios o tareas. Esta inscripción del yo en el espacio social
reconocible está dotada de performatividad dado que opera como la proyección
metonímica de una promesa de continuidad del Yo más allá de los límites de la
aplicación. Esto puede verse con claridad en (11), (12) y (13):
11. Pam 26
12. Cristian 36
Farmacéutico
13. Powen 26
Masajes y dietética
Este imaginario aparece de algún modo retomado en la semiosis que activan los
discursos en Grindr en la medida en que el yo jamás se define en función de la
pertenencia a un espacio institucional reconocible, un trabajo o formación
académica. Esto se evidencia no solo en la elipsis de calificadores institucionales
sino también en los parámetros estandarizados que la misma aplicación dispone
para que el actor se define de manera optativa, a saber: complexión física, origen
étnico, rol frente al sexo, estado de VIH, tribu gay (osos, leather, etc.). Por otra
parte, los textos autobiográficos que aparecen en Grindr suelen estar
exclusivamente enfocados en los dones sexuales del participante o en sus
intenciones de tener determinado tipo de relaciones sexuales. En otras palabras,
el tiempo-espacio que semiotizan los discursos de perfil es el tiempo-espacio de
la sexualidad cruda y explícita, como se observa en (14) y (15)
Versátil. Ativo. Procurando Passivos, ativos y versáteis para sexo. Vamos nessa?
Afim de curtir sem muito compromisso. Soy discreto e quero tudo no sigilo, blz?
Grindr, por su parte, aísla a los participantes de cualquier vínculo con otros
espacios de la red, precisamente porque no explota el contacto entre ellos a partir
de rasgos propios de las identidades oficialmente construidas. En este caso, el
dispositivo establece un espacio de contacto cerrado, en ruptura con otros
espacios y tiempos socialmente reconocibles. Por ello, al no nutrirse de la
inscripción del yo en otros espacios semióticos de la vida cotidiana, el
dispositivo Grindr no activa un sistema de normas de legitimación de los perfiles
por efecto de una lectura transmediática.
Por último, solo nos queda presentar una última articulación del nivel espacio-
temporal del vínculo que construyen los dispositivos analizados. Nos referimos a
las restricciones que ejerce el dispositivo en las modalidades de acceso al
espacio-tiempo vincular y que constituyen, sin dudas, una transformación
novedosa en la historia de las vinculaciones sociales amorosas.
Sin dudas, esta modalidad de veda no solo dota de inexistencia al otro frente al
yo (i.e., literalmente el otro queda borrado para siempre del panel de contactos
del yo) sino que al producir una extinción de los intercambios conversacionales,
elimina la historia común y con ello al tiempo mismo. No se trata entonces de
relaciones que mantienen un vínculo efímero en relación con su duración en el
tiempo sino que es el tiempo en sí lo que aparece borrado. Este rasgo nunca
antes visto en la historia de los vínculos amorosos le otorga a los lazos erótico-
afectivos que construyen estos dispositivos un carácter mucho frágil, endeble y
menos comprometido. Por las cualidades vinculares que activa el dispositivo, el
participante no debe hacerse cargo de ninguna responsabilidad frente al otro.
Simplemente lo extingue y la vida sigue como si nada hubiese ocurrido.
A partir del análisis realizado nos proponemos en esta última sección señalar de
manera sintética un conjunto de transformaciones que introducen estos
dispositivos en las modalidades de circulación discursiva para con ello intentar
hipótesis acerca de su incidencia en la construcción de lazos sociales. Cuando se
habla aquí de transformaciones, no estamos poniendo el foco en un contraste
entre un antes definitivo y un después único, sino más bien en cómo ciertas
formas novedosas de mediatización del yo ponen en evidencia distintos procesos
de circulación combinados, imbricados, a través del cuales pueden irrumpir
distintas modalidades de producción de sujetos sexualizados, esto es de
colectivos frente a la instancia de encuentro íntimo. Asumimos entonces la
circulación como un funcionamiento semiótico (ni físico ni meramente
mecánico) específico del sentido y que se produce por una operación de flechado
hacia el pasado, por medio de la recuperación de lógicas previas, y de flechado
hacia el futuro, a través del rebautismo y la inauguración de nuevas trayectorias
inusitadas.
5. Referencias
BAJTIN, Mijail. Las formas del tiempo y del cronotopo en la novela. Ensayos de
poética histórica. En: ______. Teoría y estética de la novela, Madrid: Taurus,
1989, 409 p.
BAYM, Nancy. Personal connections in the digital age. Cambridge: Polity Press,
2015.
HIRIGOYEN, Marie France. Las nuevas soledades. Buenos Aires: Paidós, 2008.
MAUSS, Marcel, Ensayo sobre el don: razón y forma del cambio en las
sociedades primitivas. Madrid: Tecnos, 1971.
2 Tinder es una aplicación geosocial que propicia citas entre personas. Creada en
2012 por Sean Rad, Justin Mateen, Jonathan Badeen, Joe Munoz, Dinesh
Moorjani y Whitney Wolfe, Tinder es considerada una de las aplicaciones para
citas de mayor penetración en el mercado mundial: cuenta con 50 millones de
usuarios y se encuentra disponible en 24 idiomas. Argentina, por su parte, cuenta
con 2.5 millones de usuarios y es el segundo país de Latinoamérica con más
cantidad de usuarios detrás de Brasil, uno de los mayores mercados de Tinder,
junto a Estados Unidos, Inglaterra, Francia y Canadá.
1. Palavras iniciais
2. O mundo real
Começamos a caminhada com os pés no chão. Um chão muito conhecido nosso,
o da realidade que nos cerca. Duarte Júnior afirma que “o real é o terreno firme
que pisamos no nosso cotidiano” (1994, p. 28). Antes do surgimento da internet,
a realidade surgiu como o único chão que levou a humanidade a evoluir em
conhecimento, em tecnologia. “A vida cotidiana a qual retornamos sempre é a
nossa realidade por excelência, é o mundo estável e ordenado no qual nos
movemos desembaraçadamente” (DUARTE Júnior, 1994, p. 29).
3. O lugar do signo
Nas discussões que se iniciaram sobre o conceito de signo com Saussure, restou
que o significado deve ser compreendido não como “uma coisa”, mas uma
representação da “coisa”. O próprio Saussure considerou o significado como
uma natureza psíquica do signo e deu como exemplo a palavra “boi”: “o
significado não é o animal ‘boi’ mas sua imagem psíquica” (SAUSSURE, 1969,
p. 115). Barthes preferiu uma definição funcional: o significado é um dos dois
componentes do signo. O outro é o significante. É uma operação fundamental
porque seu objetivo é destacar a forma do conteúdo. A língua tenta colar todos
os significantes aos seus significados, mas estes escapolem, seja em
interpretações poéticas, científicas, que nos permitem uma visão polissêmica de
uma determinada palavra, seja no uso pessoal de cada um.
Trata-se de uma polifonia virtual que inclui imagens e falas narradas de forma a
construir a arquitetura discursiva do filme. Neste sentido, o cinema é um
fenômeno que implica numa multiplicação de informações espaciais. Na
montagem entre primeiros planos e planos sequenciais, o filme libera uma
quantidade indefinida de informações, contextualizadas pelas narrações verbais.
Assim, a ação ganha seu quadro situacional. É um quadro espacial no meio do
qual se desenrola cada um dos eventos que constituem a trama da história.
Gaudreault (2009) lembra que a unidade básica da narrativa cinematográfica é a
imagem, que é um significante eminentemente espacial, ao contrário da maioria
dos veículos narrativos. Assim, o cinema apresenta as ações que fazem a
narrativa e o contexto de ocorrência delas.
O caráter icônico do significante fílmico vai até mesmo impor ao espaço uma
primazia sobre o tempo, conforme asseveram Jost e Gaudreault. O tempo não
começa a existir a não ser quando se opera a passagem entre um fotograma (que
já é espaço) e outro fotograma (que também é espaço). Portanto, a maioria das
narrativas fílmicas se baseia na montagem de um quadro espacial que ajuda a
construir os significados da narração. Por outro lado, o tempo da exibição de um
filme é fixo, o que ajuda a finalizar a narrativa. Deixa-se o cinema e vai-se para
casa com a memória das imagens recebidas ao mesmo tempo em que se reflete
sobre os significados não só das imagens, mas da história contada.
4. Os signos do filme
Como compreender este novo tempo, esta vida que não é a “coisa em si” posto
que virtual? Segundo o dicionário, o mundo virtual é um ambiente imersivo
simulado através de recursos computacionais, destinado a ser habitado e permitir
a interação dos seus usuários através de “avatares”, que são representações
personificadas do usuário dentro do ambiente digital. Este ser “avatar”
representa a identidade online de uma pessoa, designada por uma reprodução
imagética de seu criador, seja ela fiel às suas características físicas ou não, mas a
personalidade de um avatar é essencialmente a de seu criador, já que ele é a
essência que dá vida ao personagem inanimado, o eu virtual.
Na vida do personagem do filme tudo muda. Ele esquece rugas, cansaço, dores
nos joelhos, cabelos brancos. Parte da mágica de possuir um avatar é ter a
liberdade de ser fisicamente como deseja, é não ter que aceitar características
negativas do corpo físico, é ter a aparência que quiser por tempo indeterminado,
além de aumentar o status entre outros usuários online através do acúmulo de
riquezas virtuais, objetos e materiais de alto valor e, na maioria dos casos, sem
limites ou punições como os determinados para a vida real, apesar de cada
ambiente virtual possuir suas próprias regras.
Esta criatividade do virtual, como afirma Lévy, é o não realizado, mas sonhado,
uma busca do possível que leva o personagem do filme Um perfil para dois a se
aventurar na procura do amor. O virtual ganha, assim, a condição de algo que
fornece a tensão para um recomeço. No entanto, um conceito importante para a
compreensão da virtualidade é considerar o hipertexto como algo
“desterritorializado”, sem um lugar físico. Como esclarece Pierre Levy, quando
uma pessoa, uma coletividade, uma informação se virtualizam, elas se tornam
não presentes, elas se desterritorializam. Este é um conceito que é difícil de ser
representado pela narrativa fílmica. Que signo pode criar um sentido para o que
não é presente?
Para uma narrativa feita por sequências de imagens, como criar uma não-
imagem? Escurecendo a tela? E como transmitir a ideia de não-presença se
existem sites, blogs, lugares virtuais onde a pessoa passa a existir? Sempre resta
o texto, como uma prova de que por ali passou alguém. Este rastro textual vai
criar novos sentidos, vai gerar uma permanência no campo virtual. Com isso, o
signo sobrevive. Desterritorializado, sem representação física, mas produzindo
sentidos.
Seria também importante situar e condicionar o cinema, e este filme em
particular Um perfil para dois, mais do que um signo, um ícone, uma imagem de
uma situação de um homem idoso que vê sua vida prolongada virtualmente por
ação do computador, mas também como a prática de uma forma simbólica de
nossa atualidade virtual, já que para Thompson, “as formas simbólicas estão
sempre inseridas em processos e contextos socio-históricos específicos dentro
dos quais e por meio dos quais elas são produzidas, transmitidas e recebidas”.
(1999, p. 192). Fazendo parte do “festival Varilux do cinema francês” produzido
pela Paris Filmes em 2017, trata-se de um filme que trata de um tema atual e
vital para que se possa compreender as dimensões da vida de pessoas que se
encontram na terceira idade, e que erroneamente são chamadas pessoas vivendo
uma idade de ouro...
Talvez a questão do “tempo que passa” seja a “coisa em si”, que sempre nos
desafia e buscamos compreender neste filme Um perfil para dois. Ou, talvez a
fixação na ideia de poder do tempo virtual, que ocupa parte significativa da vida
das pessoas, esteja a força produtiva e ideológica deste mesmo filme.
O tempo que chega para todos, no mundo real, e que sobrevive com imponência
no mundo virtual. O tempo que condiciona a nossa existência territorializada e
que um dia nos levará a uma “não-presença”, sem direito a outros signos que
ainda possam nos representar.
Compositor de destinos
E pareceres contínuo
És um dos deuses mais lindos
E o movimento preciso
E eu espalhe benefícios
E te ofereço elogios
Nas rimas do meu estilo – Tempo, tempo, tempo, tempo.”
Ouvindo e interpretando esta música, perguntamos que mal existe no sonho, que
mal existe até mesmo no pesadelo, que mal existe no desejo de se ter um(a)
namorado(a), mesmo que já se tenha 80 anos, que mal existe em se acreditar nas
capacidades tecnológicas da internet, que mal existe em usufruir das benesses do
computador, que mal existe em poeticamente voar dialogando com o tempo, com
o vento e suas narrativas literárias?
O filme Um perfil para dois, em que se louve suas situações ligadas a uma
narrativa poética e hilariante, pode ser visto como mostra de disputa de sentidos:
o que está em jogo é a felicidade das pessoas envolvidas em sua trama temporal,
mormente do senhor de 80 anos vivido pelo ator Pierre Richard. A tecnologia da
internet, que produz uma sobrevida virtual ao personagem principal, tenta se
rebelar contra a vivência atual, real e temporal que marca a vida do personagem
em questão e da vida de cada um dos seres humanos, sempre presos como se
estivéssemos pelo menos com tornozeleiras eletrônicas.
Uma postura possível seria aceitarmos a nossa vida inteiramente subjugada aos
poderes mortais do deus Chronos, temerosos de sua ação que um dia porá fim as
nossas vidas mortais, ainda mais se este deus Chronos tenha os poderes
mórbidos dos titãs. Chronos seria então
A outra postura é a do poeta, Caetano Veloso, que traz o tempo para perto de si,
sem medo de que possa um dia ser destruído por ele mesmo, o tempo, mas
tratando-o como um avatar com quem virtualmente trava relações de
aproximação e negociações, como nos diz a sua música Oração ao Sol, “quando
o tempo for propício, de modo que o meu espírito ganhe um brilho definido e eu
espalhe benefícios, o que usaremos para isso fica guardado em sigilo, apenas
comigo e migo, tempo, tempo, tempo, tempo”.
A saída virtual e poética nos parece a mais conveniente, representando um bom
negócio que podemos fazer, seres mortais, dotados de poderes simbólicos, diante
de deuses com os poderes de chronos e de titãs. O filme Um perfil para dois faz
clara opção pela vida virtual, levando seu personagem principal a se deliciar com
o seu prolongamento de vida através dos sites de relacionamento na internet. O
filme de Stéphane Robelin não tem essas inspirações poéticas e corajosas do
cantor Caetano Veloso. No entanto, ambos fazem esta opção, que eu chamaria de
política e ideológica, pois tudo pode acontecer no tempo de nossas vidas, novos
fatos e informações marcantes poderão mudar o curso de nossas vidas. E
precisamos estar preparados para tanto, para a luta, para a guerra.
Como nos diz Maurice Mouillaud, em seu livro O jornal: da forma ao sentido, a
respeito do próprio jornal, podemos adaptar o seu texto ao cinema, e assim
pensarmos fazendo as devidas substituições:
8. Conclusão
O filme Um perfil para dois se apresenta assim como uma membrana capaz de
acolher nossas vivências e aspirações temporais. No que me toca
particularmente, Sergio Porto, um dos autores deste trabalho, quando meu filho
mais velho, que tem o meu nome, tendo visto o filme no Festival Varilux do
cinema francês de 2017, recomendando-me que fosse também vê-lo, falou-me ao
telefone: – Pai, este filme fará a tua cabeça... Depois de vê-lo, ainda sob sua
emoção, candidatei-me ao VI Colóquio do CISECO – Semiótica das Mídias. E
por uma questão de programação, aqui estou antecipando-me ao colóquio, dando
uma pequena volta e certo curso no tempo deste VIII Pentálogo, que se dedica à
“circulação discursiva e a transformação da sociedade”. A minha ansiedade, aos
76 anos, jogou-me ainda mais rapidamente numa dessas artimanhas da
virtualidade. O tempo é como o vento, já dizia a Bíblia, ninguém sabe de onde
vem, ninguém sabe para onde vai.
Para minha colega Célia Ladeira Mota, co-autora destas reflexões, também
lembrando das palavras de Vera França acima mencionadas: este filme é um
acontecimento, que desorganiza o presente, numa narrativa de temporalidade
estendida, reconvocando um passado com o qual ela estabelece ligações,
anunciando futuros possíveis.
9. Referências
DEWEY, John. Experience and nature. New York, Dover Publications Inc.,
1925.
MEAD, G. H. The philosophy of the present. Chicago: Open Court Publ., 1932.
PRADO, José Luiz Aidar. Orelha do livro. In: FRANÇA, Vera Regina Veiga;
OLIVEIRA, Luciana de (orgs.). Acontecimento: reverberações. Belo Horizonte:
Editora Autêntica, 2012.
1. Introdução
A mostra, que tinha em média 700 visitantes por dia, foi encerrada, com um
pedido de desculpas, conforme nota publicada pelo Santander Cultural em sua
página no Facebook3. O diagrama de Época mostra isso no fluxo do tempo. O
que a revista chama de caos refere-se ao que chamamos de disrupção semiótica.
A disrupção é uma situação potencial em toda interação. Revela-se, neste caso
midiático, uma derivação de dilemas, impasses e agonísticas da cultura
(comportamento e sexualidade; arte e classificações sociais subjacentes; relações
entre o museu e a arte) em suas articulações com a política (polarização) e a
economia (a instituição Santander).
A abertura semântica nas artes visuais é ampla devido a uma menor rigidez na
sintaxe. Essa abertura é necessária à arte. Trata-se de um paradoxo inevitável;
porém, sendo a mostra em questão acompanhada de diversas pesquisas que
deram origem a textos que acompanhavam as obras, e formada em sua maioria
por trabalhos existentes há anos ou décadas, com valor artístico, cultural e
mercadológico já assegurado. A hipótese que é trabalhada neste artigo é de que
os sentidos regulados nesse campo constituído até o século passado estão em
permanente questionamento, quando os meios estão imersos em redes digitais,
por disrupções semióticas, imprevisíveis e incertas, que abrem novas
interpretações sobre a arte como produto cultural.
***
Nesses estudos, tem sido importante definir o que está sendo conceituado como
circuito-ambiente. Entendemos essa conceituação como relações passíveis de
análise de fluxos entre configurações de meios, instituições e atores envolvidos
nas interações. Mas não só processos irruptivos são observados. Muitos
circuitos-ambientes são, também, regulados. As instituições ou atores articulam
formas de uso, práticas e apropriações tentativas em diversos sentidos,
configurando uma rede específica que visa a fortalecer as referências atualizadas
dos valores que os identificam, mas de forma ampliada, em novas narrativas
entrecruzadas, coletivos de fãs, celebridades e relações carismáticas. Isso pode
acontecer com a religião como objeto cultural (CORTES; FERREIRA, 2018).
Ao contrário da semiose aberta, aí se verifica a tentativa e, muitas vezes, o
sucesso da reprodução ampliada das instituições e atores referenciais nas
interações mediatizadas.
Uma das questões centrais nestes fluxos têm sido as operações realizadas entre o
que vem a montante e o que emerge a jusante. Esse entre não é vazio, não é
apenas passagem. É, na perspectiva dos estudos sobre circulação midiática, o
espaço de produção. Como foi caracterizado de Marx a Verón, este é o espaço de
operações. Caracterizamos essas operações como esquemas, estruturas e
sistemas de produção. O esquema é um fragmento de um discurso. Exemplo
mais nítido, hoje, é a produção musical, que fragmenta o discurso musical,
segmenta uma estrutura musical em uma biblioteca de esquemas e refaz, por
mixagem, estruturas musicais (utilizando-se das tecnologias digitais). Nessa
perspectiva, um sistema é da ordem de agenciamentos coletivos – empresariais
ou não – que consolidam normas e processos relativos às possibilidades de
fragmentação e desfragmentação, desconstrução e reconstrução dos discursos
sociais. O reconhecimento dessas operações na forma de esquemas, estruturas e
sistemas é o lugar de realização, sem o qual talvez seja impossível falar em
circulação.
Lygia Clark, então, inicia seus trabalhos voltados para o corpo relacionando
diferentes sensações às emoções. O público é quem ativa a obra. A artista é
apenas uma propositora ou canalizadora de experiências. Em Luvas Sensoriais,
de 1968, dá-se a redescoberta do tato, pesos e texturas; em O Eu e o Tu: Série
Roupa-Corpo-Roupa, de 1967, obra exposta no Queermuseu e alvo de polêmica,
um casal veste roupas confeccionadas pela artista com materiais diversos.
Aberturas na roupa permitem, através do tato, uma sensação feminina ao homem
e uma sensação masculina à mulher. “Com esta obra, a artista realiza uma das
mais radicais intervenções nas questões de gênero que se conhece no Brasil”
(FIDELIS, 2017, p. 84). A obra de Lygia foi acusada de apologia à
homossexualidade e de incentivar a descoberta precoce da sexualidade no caso
de participantes menores de idade, visto não haver classificação indicativa na
expografia. A instalação A Casa é o Corpo: Labirinto (1968) oferece uma
vivência sensorial e simbólica, experimentada pelo visitante que penetra numa
estrutura de 8 metros de comprimento, passando por ambientes denominados
penetração, ovulação, germinação e expulsão. Através de múltiplas estratégias
sensoriais, a artista simula o nascimento.
Sua obra Cena de Interior II, de 1994, foi acusada de fazer apologia à pedofilia e
zoofilia. A tela apresenta variadas relações sexuais não convencionais, como um
casal de lésbicas, outro inter-racial, outro que, além de inter-racial, é também
homossexual e constituído de três figuras masculinas, e outro ainda que
apresenta zoofilia com uma cabra. A posição da figura da cabra (branca) e a do
homem que está em primeiro plano (negro) durante o ato sexual é passiva e
servil, e os dois se encontram na posição horizontal. Essa relação de
verticalidade e horizontalidade parece remeter a formas de poder e subserviência
exercidas em nossa sociedade. Essa mesma estratégia é usada em Filho Bastardo
II – Cena de Interior. Questões étnico-raciais se colocam fortemente nessas telas.
Varejão tem na relação entre violência e abordagens do campo acadêmico da
história o ponto-chave do entendimento de sua obra. Sua produção é uma
espécie de denúncia poética das relações de poder, dominação e violência que
ocorreram e ocorrem em nossa história colonialista. Não à toa o título Cena de
Interior tensiona relações entre o que é público e o que é privado, entre o que é
visto e o que é escondido ou censurado. Segundo a artista:
Esta é uma obra adulta feita para adultos. A pintura é uma compilação de
práticas sexuais existentes, algumas históricas (como as chungas, clássicas
imagens eróticas da arte popular japonesa) e outras baseadas em narrativas
literárias ou coletadas em viagens pelo Brasil. O trabalho não visa julgar essas
práticas. Como artista, apenas busco jogar luz sobre coisas que muitas vezes
existem escondidas. É um aspecto do meu trabalho, a reflexão adulta. (FOSTER,
2017)
No catálogo da mostra Fidelis afirma que “se trata de uma pintura que cobre um
considerável território na confluência entre sexualidade e história, revirando
literalmente as hierarquias de raça, influências, miscigenação, mestiçagem e
canibalismo queer” (FIDELIS, 2017, p 40). Fazendo uso de elementos visuais
incorporados à cultura brasileira pela colonização, como na pintura de azulejos
portugueses e nos trabalhos que simulam a carne e o sangue, ela traça relações
paradoxais entre sensualidade, dor e violência. A identidade brasileira é
apresentada de forma crua, expondo a natureza multivalente da história, da
memória, e da representação cultural. Fidelis complementa:
Aquele quadro tem 21 anos. Era uma semana santa, e eu estava lendo sobre as
santas indianas, então resolvi fazer uma cruza entre Jesus Cristo e a deusa Shiva.
Deu aquele montaréu de braços carregando só as porcarias que o Ocidente e a
Igreja nos oferecem – explica Baril, que desabafa: – Certa vez, Matisse fez uma
exposição em Paris e, na mostra, tinha uma pintura de uma mulher
completamente verde. Uma dama da sociedade parisiense disse “desculpe,
senhor Matisse, mas nunca vi uma mulher verde”, ao que Matisse respondeu que
aquilo não era uma mulher verde, mas uma pintura. Aquilo não é Jesus, é uma
pintura. (FOSTER, 2017)
Uma das denúncias mais graves que a exposição recebeu foi a de apologia à
pedofilia. Nos vídeos e textos que motivaram o fechamento da mostra há poucas
acusações a obras específicas, mas à exposição como um todo. A acusação mais
direta foi feita às obras de Bia Leite. A artista utilizou como material de
inspiração os posts do site Criança Viada – em que pessoas enviavam suas
próprias fotografias antigas quando crianças. Os participantes publicam fotos
que apresentam comportamentos e trejeitos não heteronormativos. É uma forma
de ironizar o comportamento heteronormativo justamente pelo seu viés
convencionado e, ao mesmo tempo, refletir sobre o bullying sofrido por pessoas
LGBTs durante a infância e adolescência, segundo relato da própria artista.
Nós, LGBTs, já fomos crianças. Esse assunto incomoda porque nunca viramos
LGBTs, nós sempre fomos. Todos devemos cuidar das crianças, e não reprimir a
identidade delas ou seu modo de ser no mundo. Isso é muito grave. Sou
totalmente contra a pedofilia e o abuso psicológico de crianças. O objetivo do
trabalho é justamente o contrário, é que essas crianças tenham suas existências
respeitadas – diz a artista. (FOSTER, 2017)
Esta disrupção que emerge em redes digitais se articula com redes sociais. Este
processo disruptivo é inaugurado como uma tentativa de apropriação e
deslocamento de signos que estavam relativamente estabilizados no campo
constituído pelo cruzamento entre o museu como instituição, a arte, seus
públicos e críticos, como veremos na seção a seguir.
Deve-se lembrar aqui que a mensagem pode ser facilmente subvertida num
processo de edição. Nas redes sociais, por exemplo, circulava um único
fragmento da obra de Adriana Varejão. Um recorte da obra, um detalhe,
descontextualizado de todo o conteúdo e logística expositiva e das outras
informações contidas na própria tela. O recorte marcava apenas o coito entre o
homem e a cabra. Esse ruído que surge da fragmentação da informação marcou o
processo todo, desde as referências à curadoria em si, a produção dos vídeos dos
membros do MBL, a profusão da repercussão nas redes sociais, os debates
suscitados e, também, as conclusões.
***
***
Rafinha – Tá, então olha só. Tem outras coisas aqui que estão cometendo crime
de pedofilia, por exemplo. Artigo 241. Tá, vamos dar uma olhadinha aqui.
Vamos dar só uma olhadinha... Olha só, pessoal, olha só... (Obra 2) ... o cúmulo
do absurdo. Olha só essa exposição, isso eles chamam de exposição. Olha isso...
Olha só... “Adriano criança viada”, olha aqui, olha isso. Olha só. É o senhor que
é o responsável aqui, dessa exposição? Olha ali, ele vira o rosto, ele vira as
costas aqui.
Amigo do Rafinha – (Obra 2) Por causa que justamente “Criança viada, travesti
da lambada”....
Rafinha – Olha só, pessoal, isso eles chamam de exposição aqui no Santander
Cultural.
Rafinha – (Obra 3) Olha só, pessoal, aqui, como vocês estão vendo, é uma
mulher com um pinto. Uma outra mulher ali deitada, com uma outra mulher em
cima, ali, colocando a bunda no rosto da mulher. Agora tem um outro ali em
cima, um negão ali comendo um cara. Tá, certo. Esse é o tipo de cultura e
exposição que está sendo colocado para as crianças assistirem aqui no Santander
Cultural.
***
Rafinha – Tu tá ligado que isso aí é pedofilia? Não, agora vamos falar a verdade,
vamos falar sério. Isso aí é pedofilia, isso é pedofilia, isso que tá acontecendo aí
é pedofilia. Pedofilia não é crime? Me diz uma coisa, por que que as crianças
podem entrar aqui pra ver isso aí, me diz?
***
Fernando – Esse aqui é um homem com um pinto. Mais dois homens. Pura
putaria. Zoofilia, pessoal. Presta atenção. O professor Olavo de Carvalho já
dizia: depois que quebrar o gênero, vão quebrar o número do casal, né? Da
família. Já estão pervertendo a noção de família, tão pervertendo a noção de
respeito. Agora tão fazendo exposição de pornografia, incentivo à pedofilia,
incentivo à putaria, sacanagem, até zoofilia.
***
Rafinha – Olha, tem uma criança ali ó. Dá licença? Ó, tem uma criança
assistindo ali ó. Olha só pessoal, ali ó, aberto ao público. Tá, tem uma criança
assistindo aquilo dali. Dá licença. Tem crianças assistindo aquilo ali, rapaz. Olha
só... calma, calma. Calma, cara. Vocês... olha só, os caras tão me tirando daqui à
força. Olha aqui, meu Deus do céu. Olha só o que eles tão fazendo, cara. Olha
só... Tem uma criança assistindo aquilo dali, ia filmar agora. E os caras tão me
tirando. Olha só...
Rafinha – Tá, bom trabalho. Eu só estou lhe informando também que indução à
pedofilia também é proibido, tá. Abraço.
***
Rafinha – Também não. Agora mudou a regra? Semana passada eu vim aqui e
podia.
Rafinha – Tá, tudo bem. Isso aqui na verdade é blasfêmia, tá. Isso aqui fere o
artigo 208 do Código Penal, vilipendiar publicamente...
***
Rafinha – Qual o público que está vindo aqui, que mal lhe pergunte?
Rafinha – Tá, mas o que eu estou fazendo aqui é uma denúncia. Tá, então só me
diz uma coisa... o senhor pode procurar seus direitos, fica à vontade, é teu direito
de cidadão.
Rafinha – Mas eu só estou te fazendo uma pergunta, qual que é o público que
está vindo aqui?
Funcionário 2 – Não, eu tô só lhe informando que o senhor não pode filmar, só
isso, tá.
Rafinha – Tá, então tu pode chamar a polícia. Vamos fazer o seguinte, pode
chamar a polícia.
Rafinha – Tá, então fica à vontade. Bom trabalho aí, tá... Eu vou continuar
fazendo a minha denúncia aqui, porque eu sou um cidadão...
***
Rafinha – Opa, tudo bem meu amigo? Muito boa tarde, muito prazer, eu sou o
Rafael.
Rafinha – Tá, antes podia filmar e fotografar, por que que agora não pode?
Rafinha – Não posso gravar aqui? Tudo bem, amigo, pode procurar teus direitos,
pode chamar a polícia.
Rafinha – O senhor é o responsável? Ó, o pessoal diz aqui pra mim que não é pra
filmar, que não é pra gravar. Mas é que eles não explicam, não dão detalhes aí,
referente a essa exposição que eles estão fazendo aqui.
Rafinha – Não, tudo bem. Eu só vou filmar isso aqui, tá. (Obra 4)... olha só o
nível da exposição.
Rafinha – (Obra 5) Olha só isso aqui ó, pessoal. Olha só... segundo denúncias, as
crianças também estão assistindo isso daqui.
***
Rafinha – Olha, tem uma criança ali ó. Dá licença? Ó, tem uma criança
assistindo ali ó. Olha só, pessoal, ali ó, aberto ao público, tá? Tem uma criança
assistindo aquilo dali. Calma, calma, meu. Calma, cara. Vocês... olha só, os caras
tão me tirando daqui à força. Tem uma criança assistindo aquilo dali, ia filmar
agora. E os caras tão me tirando. Olha só...
Rafinha – Olha só, olha só, cara. Pedofilia, pedofilia, exposição à pedofilia os
caras tão fazendo. Tu tá ligado que isso aí é pedofilia? Não, agora vamos falar a
verdade, vamos falar sério. Isso aí é pedofilia, isso é pedofilia. Isso que tá
acontecendo aí é pedofilia. Pedofilia não é crime? Me diz uma coisa, por que que
as crianças podem entrar aqui pra ver isso aí?
5. Referências
ALMEIDA, Maria das Graças Andrade Ataíde de. Estado Novo: projeto político
pedagógico e a construção do saber. Revista Brasileira de História [online], v.
18, n. 36, p. 137-160, 1998. ISSN 0102-0188. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-
01881998000200008.
ROSA, Ana Paula da. Imagens totens: a fixação de símbolos nos processos de
midiatização. 2012. Tese, Doutorado em Comunicação – Universidade Vale do
Rio dos Sinos, 2012. (Orientador: Jairo Getulio Ferreira)
1 PPGCC – UNISINOS.
Examinamos, sob ângulo distinto, a questão das fake news, refletindo sobre
aspectos que envolvem suas condições de produção e de circulação no ambiente
da midiatização em processo. Quando falamos sobre o assunto, destacamos
algumas vertentes sobre as quais se ocupam especialistas de diferentes áreas de
conhecimento, além de relatos do “homem ordinário”. Se é problemático afirmar
que há uma relação direta entre a disseminação das fake news e as decisões
tomadas pelos indivíduos acerca dos temas por elas explorados, por outro lado,
elas são temas de conversação e de outras iniciativas, seja nos circuitos das redes
digitais, seja também nos âmbitos de práticas sociais diversas, muitas delas
convertidas em “laboratórios” ou, então, em “palco” de intensas disputas de
sentidos. Mas devemos também considerar aquelas leituras que têm como
pretensão desmontar algumas destas mensagens, como é a que nos motiva neste
artigo, valendo-nos de processos observacionais que se encontram na periferia
de alguns protocolos sobre os quais se funda a produção desta modalidade de
relatos.
O foco central deste artigo volta-se para examinar as implicações que as fakes
news têm com as novas formas de engendramento e de funcionamento dos
discursos informativo e político. Principalmente, nos cenários em que se dão
transformações de rituais, processos e produtos de práticas sociais que tinham
nas lógicas da mediação, e no trabalho dos seus operadores, um traço peculiar da
organização sócio-comunicacional.
Há dez anos, por ocasião do evento científico que marcava a criação do Centro
Internacional de Semiótica e Comunicação (CISECO), esta problemática foi seu
tema principal quando se discutiu a midiatização do corpo presidencial. Ali
foram relatadas várias situações de comunicação nas quais líderes presidenciais,
chefes de governos e outros agentes da política passavam a se colocar em
contato direto com os atores sociais, sem o concurso da mediação dos
dispositivos, processos e atores do campo “mass midiático”. Este cenário de “elo
de contato” entre instituições e sociedade dá lugar, de modo célere, às novas
modalidades de interação cujas dinâmicas afastam de cena a singularidade e a
importância das instâncias de mediação. Emergem os protocolos digitais que se
caracterizam “pelo fato de que informações são produzidas, enviadas e recebidas
sem mediação por meio de intermediários” (HAN, 2018, p. 35).
Quase dez anos após, elegemos como objeto deste artigo algo que chamaríamos
como um pequeno registro desta problemática suscitada por Eco e pelos
conteúdos debatidos naquele fórum inaugural. Pretendemos refletir sobre
aspectos da estratégia construída e posta em circulação 40 dias antes do 1º turno
das eleições presidenciais de 2018, no âmbito da complexa ambiência da
campanha política do presidente eleito, cuja dinâmica se assentou em uma
equidistância crescente com os chamados “velhos” meios midiáticos. Construída
tendo como pano de fundo a noção de “grande público”, enquanto um coletivo
que dava corpo à “comunidade bolsonariana”, as ações comunicacionais foram
tecidas sob as injunções de lógicas de contato direto entre o candidato e os seus
seguidores. E, neste contexto, a estratégia engendra por conta própria a
construção de uma mensagem que tem sua gênese a partir do acesso e de
extração de dados de acervo de imagens nos Estados Unidos, segundo ação
longínqua da geografia brasileira, uma vez efetivada, mais precisamente, no
mundo digital.
À revelia das lógicas e motivações que deram forma ao cenário junto ao qual
estes dados foram extraídos, a circulação da mensagem dinamiza este objeto
segundo circuitos que vão além dos postulados e das fronteiras da sua própria
organização. E, conforme mostramos a partir das leituras aqui feitas sobre a
produção desta fake news, ocorrem marcas de feedbacks em divergência com a
oferta, que tratam de denunciar a sua existência e seus efeitos presumidos. As
repercussões sobre este caso extrapolaram fronteiras nacionais bem como
aquelas de sistemas sociais diversos, como, por exemplo, o das velhas mediações
que operam, conforme mostramos neste caso, como potentes leitores
desconstruindo a estratégia.
Nossos objetivos visam, ao fazer esta leitura, mostrar que, apesar de estratégias
político-midiáticas evoluírem na sua forma de construção, elaborando-se em
torno de interpenetrações de lógicas de vários sistemas cooperantes (político,
financeiro, midiático, tecnológico etc.), sempre deixam pistas necessariamente
não aparentes (dos seus “pontos cegos”) e não previstos por suas racionalidades.
Mas elas podem ser desvendadas por leituras que valorizam impressões que são
deixadas como “sobras” para serem objeto de análises que vão além da
motivação consciencial e linear com que as estratégias são elaboradas e postas
em circulação. Pensamos que além das tentativas de regular o “mercado das fake
news”, algo que certamente as conteria sob certo aspecto, exercícios de leituras
voltadas para sua desconstrução poderiam fazer surgir outros signos que
poderiam desautomatizar, com a emergência de outros sentidos, o imponderável
ambiente da circulação.
1. Cenários em formação
Sete meses antes das últimas eleições presidenciais no Brasil, o tema das fake
news comparecia em vários círculos, principalmente naqueles de natureza
midiática, como uma questão relativamente distante, ou de forma genérica, sem
estar ainda atravessado por materialidades de produtos específicos. Porém, as
primeiras narrativas sobre sua manifestação ressalvam que o avanço de
tecnologias, e suas possibilidades de reprodução de mensagens, tornariam cada
vez mais fácil falsificar vídeos ou áudios, ensejando a divulgação de textos com
conteúdo não verdadeiro. Responsabilizavam-se dois outros fatores como
prováveis causas pelo desembarque de manifestações de fake news no país: a
velocidade no trânsito de funcionamento de circuitos de mensagens e a própria
capilaridade oferecida pela mediação de plataformas de alcance global e
instantâneo. Estes dois fatores associados ao fato de o manejo de processos
editoriais estar nas mãos de atores – situados de modo distante da observância de
processos regulatórios e de rotinas de curadorias – potencializariam a geração de
fatos eivados de imprecisões e de construções interpretativas, de caráter
duvidoso.
De um modo distinto, para não dizer distante, o tema das fake news foi tratado
nos círculos governamentais como um fenômeno interno. Os debates e estudos a
cargo de grupos de trabalho governamentais se mantinham circunscritos às
rotinas de instituições: “TSE coloca sigilo em atas de reuniões sobre fake news e
eleições” (Estado de Minas, 6 ago. 2018). Poucas ações resultam de grupo de
trabalho que é criado 14 meses antes das eleições presidenciais, com objetivo de
desenvolver pesquisas e estudos sobre as regras eleitorais e a influência da
internet nas eleições, em especial o risco das fake news e o uso de robôs na
disseminação das informações (Estado de Minas, 6 ago. 2018).
Mas, sem que tais estudos tenham contemplado de modo prospectivo marcas de
circulação de notícias falsas, estas se registram pouco antes das eleições de 2018,
segundo pistas de sua materialização através de redes sociais. Alguns dos seus
efeitos são enfrentados apenas de modo emblemático. O Facebook exclui de sua
página contas falsas (de origem brasileira) cujos responsáveis faziam “parte de
uma rede coordenada que se ocultava com uso de contas falsas e escondia das
pessoas a natureza e a origem do seu conteúdo com o propósito de gerar divisão
e espalhar desinformação” (Facebook, nota em 25 jul. 2018). Porém, a ação
daquele “motor de dados” não enfrenta o problema da remoção de notícias falsas
da plataforma, atuando apenas na redução de sua distribuição, numa espécie de
ação indireta sobre a circulação.
Seria inócuo pensar que os atos de detectar e bloquear o acesso de fake news
conteriam a circulação, uma vez que o processo de levar mensagens adiante se
encontraria impulsionado por dinâmicas de complexos e bifurcantes circuitos,
cujo controle seria impossível de conter sentidos por eles dinamizados. Ou seja,
as contas foram removidas, mas, quando este ato se deu, as mensagens por elas
anunciadas já se encontravam em novos territórios de circulação e assim por
diante...
2. Antecipação dos traços da maquinaria
A maquinaria das fake news tem forma, território e atividade que vão lhe dando
contornos. E, particularmente, duas de suas manifestações, no atual contexto
político brasileiro, são apresentadas através de duas reportagens jornalísticas
emitidas pelos serviços em português da BBC (Inglaterra) e do El País
(Espanha), entre 16 e 28 de setembro deste ano. Denunciam a materialidade de
complexa aliança envolvendo redes sociais e a campanha política do presidente
eleito, segundo complexas estratégias e de protocolos de produção de fake news.
A BBC denuncia a fabricação e midiatização de uma notícia falsa, atribuída à
campanha de Jair Bolsonaro (JB), através de um vídeo que veicula mensagem de
mulher negra – referida como brasileira – anunciando seu apoio ao candidato
eleito. Trata-se de uma operação de propaganda política e que é desmascarada ao
apontar que a matéria foi produzida e posta em circulação desde o exterior.
“Canadense e executiva: a verdadeira história da ‘brasileira negra e pobre’ de
vídeo divulgado pela campanha de Bolsonaro”, diz o título da matéria (BBC
News Brasil em Washington, 16 set. 2018).
Em função dos objetivos deste artigo que estão voltados para descrever a
fabricação de fake news, a referência desencadeadora desta análise é a
reportagem da BBC. E, dentre as razões que justificariam tal escolha, destaca-se
o espectro que ela deu ao processo de montagem/des-montagem desta notícia
falsa. Mesmo que não se possa tirar todas as consequências do processo
observacional jornalístico, sua importância é reconhecida. Destaca ângulos que,
de alguma forma, são retomados e aprofundados por análises posteriores, como a
que se pretende aqui abordar. Também valoriza a ação pedagógica do discurso da
informação, cuja importância é destacada por outros campos analíticos, como o
sociológico, ao reconhecer que aquilo que sabemos se efetiva por causa da
existência dos meios (LUHMANN, 2006).
Em duas ou três falas, ele afirma que “não dissemina fake news, mas admitiu
que não tem controle sobre eventuais apoiadores que repassam informações
falsas” (Terra, 4 out. 2018). Na segunda, aponta atividade mais proativa para
com os seus seguidores, destacando a sua condição de fonte desencadeadora de
fluxos a serem cumpridos pelos seguidores. Diz que “alimenta suas redes sociais
com ‘verdades’ e que conta com um exército de seguidores para divulgá-las”
(Terra, 4 out. 2018). E, numa terceira mensagem, declarou que “não tenho
controle sobre quem espalha fake news” (CBN, 12 out. 2018). Se na terceira
afirmação exclui qualquer tipo de controle sobre quem espalha notícias falsas, na
segunda aponta uma certa contradição em relação à assertiva anterior, ao lembrar
que exerce sobre os seguidores duas formas de influências: dissemina sobre eles
verdades, expressão que aparece entre aspas e que as mesmas são por ele
repassadas para seguidores para que estes possam, em seguida, difundi-las.
Sou mulher negra e vinda de família pobre, mas não passei procuração para que
ninguém fale em meu nome. Há muito me libertei do vitimismo, que ainda
insistem em me colocar sobre os ombros. Sim, sou mulher negra e de família
pobre, mas que aprendeu a lutar com as próprias forças para realizar suas
conquistas. E será assim, que também ensinarei os meus filhos. E será assim, que
em 2018 elegerei o próximo presidente do Brasil. Um presidente que não
aceitará o fato de que por sermos mulheres e negras devamos nos manter pobres
para manter o jogo da velha política do voto por esmola. Meu voto é pelo Brasil.
Meu voto é Bolsonaro. (Transcrição fidedigna do vídeo dos “Militantes de
Esquerda”).
Na foto exibida pela BBC, há sobre a imagem do corpo da mulher uma palavra
como operador de identificação (shutterstock), espécie de uma marca d’água
alusiva ao nome da plataforma na qual o vídeo fora hospedado e posto à venda.
A empresa, ao se pronunciar sobre a existência do vídeo, declarou que o uso de
imagens do seu arquivo é proibido tanto pelo produtor quanto pelo banco de
dados para uso de campanhas políticas. Esta opinião contraria a versão da
assessoria jurídica da campanha, quando disse abaixo que não havia
impedimento para o uso da imagem por parte da campanha de JB. Em terceiro
lugar, o vídeo apropriado no qual a mulher aparece vestida com trajes de uma
enfermeira foi selecionado dentre outros, nos quais foi ela “filmada
interpretando uma operadora de telemarketing e uma cantora”, revela o autor do
filme em entrevista à BBC. Sobre a estratégia da campanha, ele comenta: “não
me parece muito patriótico usar as imagens de uma estrangeira, sem prévia
autorização, em um vídeo que supostamente fala pelas mulheres negras
brasileiras”.
No item anterior vimos que o caso da fabricação da fake news relatada pela BBC
dá ênfase a um conjunto de “micro fatos” que vão irrigando o processo da
noticiabilidade que visa a dizer, no lugar da fabricação, a verdadeira história da
“brasileira negra e pobre da campanha de Bolsonaro”. Para tanto, ouve fontes,
inclusive o ponto de vista da campanha do presidenciável Bolsonaro, questão
que vai merecer registro especial no contexto deste artigo.
4. Conclusões
5. Referências
VERÓN, E. Prólogo. In: CARLÓN, M.; FAUSTO NETO, A. Las políticas de los
internautas. Buenos Aires: La crujía, 2012.
VERÓN, E. Teoría de la mediatización: una perspectiva semio-antropológica.
CIC Cuadernos de Información y Comunicación, v. 20, p. 173-182, 2015.
Disponível
em: http://revistas.ucm.es/index.php/CIYC/article/view/50682/47076. Acesso
em: 16 ago. 2018.
• Suzanne de Cheveigné1
Por outro lado, os vlogs (“vídeo blogs” no YouTube), que são mais diretamente
comparáveis, em termos de forma, aos programas científicos televisivos, são
destinados ao grande público. É sobre eles que se foca esta análise. A questão da
construção de um corpus de estudo se coloca imediatamente. A tarefa é sempre
bem mais difícil para discursos que circulam na Internet do que nas mídias
tradicionais, para as quais uma “gama” – por exemplo diários nacionais de
informação ou revistas científicas – delimitam um universo reduzido. Bastaria
então selecionar os quatro ou cinco títulos de maior circulação e se obteria um
corpus “bem construído”, para retomar os termos de Eliseo Verón no texto que
serviu de enquadramento ao Pentalogo VII. É bem mais complicado no universo
pouco estruturado da teia. Mas os princípios subjacentes a essa exigência se
mantêm: os da comparabilidade (ficar dentro da mesma gama, na terminologia
antiga) e da diversidade em termos semióticos e sociológicos (cobrir o conjunto
da gama – e, logo, dos públicos). Para construir o corpus examinado aqui,
procedi por aproximações sucessivas, interrogando primeiro os amantes do
gênero, saqueando a literatura (DE LARA et al., 2017; MUÑOZ MORCILLO,
2016), seguindo os links propostos pelos produtores dos vlogs encontrados e
acrescentando um “filtro” em termos de audiência (número de visualizações ou
de assinantes) para selecionar os sites mais visitados. Não pretenderei ter
alcançado a exaustão, mas, para os fins desta análise, a diversidade de exemplos
encontrada é suficiente.
Se examinamos os vlogs com esta grade que “mede” o domínio relativo das
instituições midiática e científica, a primeira constatação é uma presença mais
fraca de suas marcas institucionais. A palavra parece ter sido “confiscada” por
usuários comuns, apresentadores que não se identificam nem como jornalistas,
nem como cientistas, mas como indivíduos interessados. Não se faz, de fato,
referência à instituição midiática, no sentido tradicional do termo. Todavia, isso
não significa que ela esteja ausente, visto que se observa processos de
organização e de agrupamento de blogs e vlogs individuais (por exemplo, em
sites como cafe-sciences.org, scienceblogs.org5...). Outros são, na verdade,
produzidos por empresas conhecidas no mundo midiático (por exemplo, os
canais de televisão ou os museus), cujos exemplos veremos na sequência.
O mediador pode estar bem mais presente e visível, como nesse exemplo do
Veritasium12, 4,3 milhões de assinantes. Ele chega ao ponto de manipular
objetos científicos; por exemplo, uma esfera de silício ultra puro, apesar da
evidente preocupação da cientista. Esses formatos, com mediador muito visível –
e muito audível, com muitos monólogos –, são muito frequentes e têm sempre
um número bem alto de assinantes. Eles correspondem, provavelmente, ao tipo
ideal do vlog UGC: aparentemente um usuário comum, quase sempre jovem,
que parte explorar o mundo da ciência ou dos objetos técnicos do cotidiano13.
3. Discussão
A sequência das pesquisas a serem desenvolvidas está, logo, clara: esta análise
da produção dos vlogs se baseou em trabalhos anteriores sobre a produção
televisiva. Agora só falta transpor os métodos de estudo da recepção.
Continuação no próximo Pentálogo.
4. Bibliografia
CHEVEIGNÉ, Suzanne de. La science, c'est pas pour nous: réception des
discours sur la science à la télévision. In : GESLIN, Philippe; ALBALADEJO,
Christophe; SALEMBIER, Pascal; MAGDA, Danièle (dirs.). La mise à
l’épreuve : la circulation des connaissances scientifiques en questions. Editions
Quae, Paris, p. 55-68, 2009.
KOUPER, Inna. Science blogs and public engagement with science: practices,
challenges, and opportunities. Journal of Science Communication, v. 9, n. 1, p.
1-10
SHAPIRO, Matthew A.; PARK, Han Woo. More than entertainment: YouTube
and public responses to the science of global warming and climate change.
Social Science Information, Paris, v. 54, n. 1, p. 115–145, 2015.
14 Disponível em:
https://www.youtube.com/channel/UC7DdEm33SyaTDtWYGO2CwdA (887
000 assinantes). Acesso em: 1 de mai de 2018.
Esta peça de arte de rua traz várias camadas de significado, pois consegue
simultaneamente evocar um clássico da literatura francesa, um musical
mundialmente famoso e uma prática de repressão. Como muitas outras
intervenções urbanas feitas pelo artista sobre questões políticas controversas, o
trabalho de Banksy é uma mistura de ativismo, ironia e acidez. A justaposição
dos elementos contrastantes (a menina e o gás), características das práticas de
culture jamming, retrata a incoerência entre os ideais aclamados do humanismo e
as práticas reais de tratamento desumano para com os excluídos. Assim, a obra
marca um dano, uma desigualdade. Se os seres humanos devem viver e agir sob
a égide da tríade “liberté, égalité, fraternité”, cunhada na França e defendida por
Hugo, esses valores ideais parecem não se aplicar às pessoas refugiadas não-
francesas na vida real.
O mural de Banksy é uma intervenção urbana que fez sentido na época do ataque
ao acampamento, o que confirma o caráter de crônica que as intervenções
urbanas podem apresentar, apontando questões que emergem na sociedade num
dado tempo e lugar. Em 2016, a chamada “crise dos refugiados” estava sendo
discutida intensamente na Europa e especialmente no Reino Unido, em meio a
disputas relacionadas às políticas públicas, à imigração e ao Brexit, que seria
votado dali a cinco meses, em junho de 2016.
O trabalho de Banksy pode ser considerado uma obra de arte in situ, pois leva
em conta e faz sentido no seu local de realização e exposição: em frente à
embaixada da França – o que pode ser considerado bastante ousado por ser um
espaço altamente monitorado, na cidade mais vigiada do mundo7. Assim, a obra
in situ não é totalmente transportável sem perda de seu significado político,
mesmo que o tapume-tela, de dimensões manejáveis, tenha sido retirado do local
em poucas horas.
O contexto histórico no qual se insere o caso Skol, a segunda metade dos anos
2010, deve considerar décadas de campanhas publicitárias anteriores
caracterizadas por discursos sexistas e exploração do corpo feminino. Por muito
tempo, a mulher representada nos comerciais de cerveja tem sido um
objeto/produto a ser consumido, assim como a bebida, pelo homem
consumidor8.
Em 2015, a Skol lança uma campanha de Carnaval que traz como mote “Aceitar
os convites da vida e aproveitar os bons momentos”. Um dos cartazes da
campanha que, desta vez, não traz a imagem de mulheres seminuas é composto
basicamente pelo texto “Esqueci o ‘não’ em casa”. O uso ambíguo do “não”
gerou indignação quase imediata, pois a palavra tem sido usada mundialmente
como uma bandeira feminista em que mulheres reclamam autonomia sobre seus
corpos e combatem o abuso e a violência sexual.
Figura 2 – Adesivo em Londres. Dados de pesquisa, 2017
É nesse contexto que, em 2017, a Pepsi lança o filme publicitário Live for Now
Moments Anthem, que significa algo como Hino do Viva os Momentos de
Agora. A peça publicitária tem 2’40’’ e não apresenta diálogo ou narração; o
texto verbal é a letra de Lions, uma canção de Skip Marley, neto de Bob, que
convida à união com frases do tipo “Nós somos o movimento, essa geração. É
melhor você saber quem nós somos, quem nós somos.”10 A personagem
principal do clipe-comercial é a celebridade branca Kendall Jenner. Também têm
destaque um jovem músico de traços asiáticos, uma jovem fotógrafa com um
hijab e um policial. Resumidamente, o comercial retrata um protesto no qual
jovens (brancos, em sua maioria) protestam na rua com cartazes que trazem
frases como “Junte-se à conversa” em línguas diferentes e símbolos da paz e do
amor. Não há referência a uma causa específica pela qual estão se manifestando.
6. Referências
HALL, Stuart; JHALLY, Sut. Stuart Hall: representation & the media. Vídeo.
Northampton, MA: Media Education Foundation. 1997. Disponível em https://
www.youtube.com/watch?v=LBVYty1Wnvc. Acesso em 19 mar. 2017.
JENKINS, Henry. Convergence culture: where old and new media collide. Nova
Iorque: New York University Press, 2006.
HARVEY, David. Rebel cities: from the right to the city to the urban revolution.
Londres/Nova Iorque: Verso, 2012.
6.1. Vídeos
Calais Jungle police assaults (5th and 6th of January). Youtube. 6 de jan de 2016.
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=OQCP_inka-Q. Acesso em 3
jun. 2018.
Live for Now Moments Anthem. Pepsi. Youtube. 4 abr. 2017. Disponível em
https://www.youtube.com/watch?time_continue=9&v=dA5Yq1DLSmQ. Acesso
em: 07 mai. 2018
8 Ver as pesquisas que têm sido desenvolvidas por Letícia Lins (2004, 2016,
2017).
9 Depois de Reposter, por exemplo, a marca lançou um comercial que mais uma
vez retratou apenas jovens brancos como protagonistas e consumidores, em uma
espécie de amnésia conveniente sobre o que havia sido dito alguns meses antes.
10 No original: “We are the movement, this generation / You better know who
we are, who we are” (tradução nossa).
11 Fonte: https://www.wired.com/2017/04/pepsi-ad-internet-response/.
Bernice King, filha de Martin Luther King tuitou: “Se Papai ao menos
conhecesse o poder da Pepsi”.
“Diretor: ‘Você, cavalheiro urbano do cabelo interessante. Venha por favor tocar
a lata da Srta. Jenner. Faça-a parecer autêntica’.”
1. Exordio
Es cierto que no tiene nada de novedoso considerar al texto como una entidad
abierta, pasible de intervención por un “otro” diferente al autor, pero tampoco es
posible desconocer que los cambios socio-tecnológicos que se han dado en el
pasaje del texto impreso al texto digital y, de ahí, a su puesta online a través de
las redes sociales en internet, afectaron las gramáticas de producción, circulación
y reconocimiento de los textos. Se presenta, así, una situación que altera las
condiciones de producción de los discursos mediáticos contemporáneos y que
nos permite sumar un hito más a la larga serie de modificaciones a las
modalidades clásicas de la prensa que vienen siendo analizadas en el ámbito de
la semiótica de los medios masivos desde hace ya varios años; transformaciones
que atañen también, por supuesto, al modo en que se construye el vínculo diario-
lector.
Volviendo a Facebook, puede decirse que su plataforma oficia como una zona en
donde se materializan, se cristalizan, los procesos de interpenetración entre el
sistema de los medios y los sistemas psíquicos socio-individuales; una zona de
contacto, en palabras de Fausto Neto (2010). Es decir, un espacio en donde,
recuperando las perspectivas luhmanniana y veroneana, se activan procesos
autopoiéticos de dos sistemas distintos que, a su vez, funcionan cada uno como
entorno del otro. Allí se habilita que los posteos-noticia, además de ser, por
supuesto, resignificados por el acto inmaterial de la interpretación – que, como
ya sabemos, no toca el cuerpo físico del texto –, puedan ser penetrados por otros
tipos de actividades del usuario que sí dejan una marca sensible: los usuarios-
lectores pueden adherir al post una reacción de gusto, enojo, sorpresa, etc.;
pueden interpolar un comentario sobre la nota o sobre cualquier otra cosa y;
pueden compartirlo en su muro, disgregando, manipulando y re-
contextualizando el contenido producido por el medio. Incluso, no debe perderse
de vista que, de este modo, es el público el que también participa de la puesta en
circulación de los posteos – dirían Jenkins, Ford y Green (2015): colabora con su
propagabilidad – al interactuar con los mismos en tanto el algoritmo de la
plataforma establece ciertas relaciones entre el nivel de engagement obtenido por
cada entrada y su visibilidad (o nivel de accesibilidad) en el newsfeed de los
usuarios.
Lo dicho hasta aquí explica las razones por las cuales la investigación presentada
se propuso estudiar, concretamente, las cuentas oficiales que tienen en Facebook
los diarios argentinos de información general y alcance nacional Clarín y La
Nación3, entre 2010 y 2015, teniendo en cuenta dos instancias. Por un lado,
indagar los modos de composición de los posteos y el tipo de contenido
difundido y la frecuencia de publicación en dichas fanpages, considerando
factores como: la localización geográfica de la información, el género
periodístico, la temática de referencia, y la temporalidad de los acontecimientos
presentados en las notas. Por otro lado, analizar ciertas regularidades en términos
de estrategias discursivas de las cuentas seleccionadas. Para afrontar dichos
objetivos se trabajó sobre dos corpus: en primer lugar, un corpus denominado
corpus de base que consiste en una colección de 1129 posteos – 534 de Clarín y
595 de La Nación; en segundo lugar, otro denominado corpus total, que
comprende el universo completo de los posteos publicados por ambos diarios
durante el período de indagación y que supone 54.742 posteos – 29.341 de
Clarín y 25.401 de La Nación. Para llevar a cabo el análisis, se partió de una
estrategia metodológica cuyo diseño combina las labores artesanales propias del
análisis socio-semiótico con el empleo de herramientas digitales y métodos
computacionales que permiten la recopilación, el pre-procesamiento, el
procesamiento y la visualización de cantidades mucho más masivas de datos y
metadatos que son, inicialmente, no estructurados y que pueden ser tanto
textuales como no textuales.
Además de texto lingüístico, el texto del post puede comprender otros elementos
paratextuales, tales como corchetes, emoticones tipográficos o los emojis y
presentar, en su interior, links enterrados (o buried links, como se los denomina
en inglés) producidos al insertarse un enlace corto, al etiquetarse otras cuentas o
lugares de la plataforma, o al incorporarse un hashtag. Dichos elementos
paralingüísticos no estuvieron siempre sino que fueron apareciendo
gradualmente a lo largo del período estudiado4.
Por otra parte, vale agregar que aunque es diversa la configuración que asume el
texto del post a lo largo del período, la misma podría resumirse, sin pretender
exhaustividad, en el siguiente conjunto de posibilidades:
7. Enunciado interpelativo;
La fisonomía del texto del post en las cuentas de los diarios analizados también
ha ido alterándose al aplicarse otras estrategias que procuran atraer el interés del
público y la obtención del preciado tráfico web, como son aquellas denominadas
como click-baiting y formato lista. La primera, se observa en ambos diarios y se
concentra, sobre todo, en 2015 y obedece a un procedimiento de creación de
enigma a partir de la omisión de información (tanto en el texto del post como en
el título del link) que funciona como cebo o promotor de clics. Algo semejante
puede observarse en la Imagen 6 donde se presenta un posteo que La Nación
realiza para compartir en Facebook la nota que en su web titula: “Jürgen Damm,
el mexicano-alemán que jugará contra River y es el segundo futbolista más
rápido del mundo”. La segunda estrategia, presente exclusivamente en La
Nación, no es sólo una manera de titular en Facebook – ya que, a diferencia del
click-baiting, también la encontramos en el diario online – sino que es un modo
de estructurar el contenido informativo (Imagen 7).
Por otra parte, la frecuente ocurrencia tanto del “anuncio o posteo de saludo”
como de los “otros” manifiesta una peculiaridad propia del tipo de mensajes que
circulan en esta red social en particular y cuyo funcionamiento parece
frecuentemente relacionado con la dimensión retórica que – al pensar los textos
televisivos – se designa en Morley (1996) como homología. La misma “consiste
en la coincidencia entre temporalidades textuales y experimentadas” (p. 302) y
permite explicar ciertas operaciones por medio de las cuales las fanpages de los
diarios estudiados procuran adaptarse y ajustarse a las rutinas domésticas y
cotidianas de su potencial audiencia. Es esta una clase de posteo representativa
del tipo de vínculo que las cuentas oficiales de los diarios digitales les proponen
a sus públicos.
Por otro lado, y para cerrar con lo expresado en torno a los géneros, resta decir
que las notas clasificadas como reportaje también tienen una presencia destacada
– el 11,09% en La Nación y el 8,05% en Clarín, dejando en un lugar más
relegado al resto de los géneros cuya preponderancia es menor en los dos
periódicos en cuestión. Esto último, por ejemplo, también llama la atención si
consideramos el exiguo lugar otorgado a la opinión, tan representativa del diario
La Nación que tradicionalmente se ha distinguido por tener un nutrido staff de
columnistas tanto en su versión papel como online. Como se advierte en
Raimondo Anselmino, Sambrana y Cardoso (2017), la opinión queda, así,
relegada en el discurso de este medio en Facebook, al tiempo que sí se solicita,
casi constantemente, una reacción afectiva o una apreciación por parte de la
audiencia. Como excepción, el único momento en donde se observó un
promedio significativamente mayor a lo habitual de posteos que enlazan a notas
de opinión en la fanpage de La Nación fue durante la semana seleccionada por
2015 para el corpus de base, que coincide con las elecciones presidenciales de
primera vuelta en Argentina.
En síntesis, se evidencia en las fanpages analizadas una fuerte predilección por
aquellas notas que le permiten a su público de usuarios-seguidores conocer
hechos y compartir emociones. Una preponderancia de los denominados géneros
informativos que, como señala de Fontcuberta (2011), son aquellos centrados en
dar a conocer hechos – en detrimento de los géneros de opinión, que dan a
conocer ideas – así como de los que podríamos denominar, momentáneamente,
géneros del contacto en redes o géneros del contacto en plataformas de red.
Si bien éste es uno de los aspectos aún no concluidos del estudio, a partir del
primer acercamiento al corpus de base puede decirse que la presencia de las
Modalidades-4 es constante en los posteos de ambos diarios. Es decir, hay
proliferación de enunciados que proponen “una relación modal que pone en
juego Ego y Alter, el enunciador y el co-enunciador” (FISHER; VERÓN, 1986,
s/n), cuyo ejemplo más expresivo es, precisamente, el de la interpelación. Como
ya lo han explicado Fisher y Verón (1986), los enunciados en los que está
presente este tipo de modalidad, son aquellos que se dirigen a un co-enunciador
anónimo que se propone como co-presente, co-temporáneo de la enunciación (es
decir, como no habiendo desface temporal) y pueden caracterizarse por la
presencia de frases interrogativas u otras marcas como la segunda persona (del
singular o el plural) o el modo del verbo. Para el caso del texto del post de los
posteos-noticia advertimos, asimismo, que esto supone un cambio, al menos en
parte, en las operaciones de encuadre (VERÓN, 2004, p. 82) que conlleva el
titular (sobre todo en su función metalingüística).
En este sentido, podría decirse que ambos diarios emplean estrategias tendientes
a emular el contacto interpersonal, aunque en La Nación se observa, también,
particularmente, otro tipo de estrategia que se orienta, más bien, a la
conformación de un nosotros poco habitual en el tipo de discurso que estamos
analizando – casi exótico en el discurso de información al que estábamos
habituados en otros espacios—, un nosotros en donde los co-enunciadores
parecerían estar ocupando más bien el lugar de Ego y no de Alter. Y bien podría
asociarse esto con una modalidad que propende a generar procedimientos de
identificación y al establecimiento de lazos, en cierto modo, comunitarios, en
clara afinidad con la retórica de la socialidad online preponderante en este tipo
de plataformas.
5. Breve epílogo
Atravesados por los cambios que internet ha propiciado en casi todas las facetas
de la vida cotidiana, los medios en general, y los periódicos en particular, se han
visto ante la necesidad de seguir los desplazamientos de un público cada vez más
inasible. Y es precisamente así como los diarios llegaron a las redes, en donde un
posteo se convierte en un dispositivo de materialización de los textos diferente a
aquellos empleados hasta entonces por la prensa. Y esta no es la única novedad:
la noticia compartida en una plataforma como la de Facebook está encastrada en
una secuencia cuyo contrato temporal no es periódico, es decir, se inscribe en un
espacio-tiempo cuya regularidad de publicación es sustancialmente distinta tanto
a la del diario papel como al del online; en ruptura, por ello, con aquello que
Verón (2011, p. 297) identifica como el “núcleo duro inicial del periodismo
moderno”.
6. Referencias
FAUSTO NETO, Antonio. A circulação além das bordas. En: FAUSTO NETO,
Antonio; VALDETTARO, Sandra (dirs.) Mediatización, sociedad y sentido:
diálogos entre Brasil y Argentina. Rosario: UNR Editora, 2010.
GUILLESPIE, Tarleton. The politics of platforms. New Media & Society, 12(3),
2010.
HUGHES, Helen. News and the human interest story. New Brunswick:
Transaction, 1981.
4 Los corchetes fueron utilizados en ambas cuentas por primera vez en 2011,
momento en que la fanpage de Clarín se sirve, también, de los emojis. La Nación
hará esto último recién en 2012. Los sintagmas construidos a partir de asociar el
símbolo numeral (#) con una o varias palabras también aparecen por ese
entonces, aunque los hashtags pueden usarse en esta plataforma como etiquetas
de hipervínculo recién a partir de junio de 2013.
6 Se trata de un recurso que sólo está presente en 883 posteos del corpus total (a
saber, un 1,61% del universo completo), de los cuales el 70%, aproximadamente,
pertenecen a la cuenta de La Nación.
7 Recordemos que, para Bajtín (1998, p. 248), los géneros son “tipos
relativamente estables de enunciados” entre los cuáles, más allá de su enorme
diversidad y heterogeneidad, es posible distinguir los géneros primarios de los
géneros secundarios. Los géneros discursivos primarios, simples, son
“constituidos en la comunicación discursiva inmediata” (p. 250). Por su parte,
los géneros discursivos secundarios, son aquellos que “surgen en condiciones de
comunicación cultural más compleja, relativamente más desarrollada y
organizada, principalmente escrita” (p. 250) y entre ellos el autor ubica a los
“grandes géneros periodísticos” (p. 250).
Ruptura da linearidade dos sentidos em um acontecimento discursivo
Esse jornal, que ainda não tem nome, é um espaço de informação. Saber o que
está acontecendo é seu direito e é importante para você tomar decisões seguras.
Nossa vontade é que você participe com suas dúvidas, críticas e possa perguntar
o que gostaria de entender. (JORNAL FR, 2017, nº 0, p. 5).
Figura 3 – Exemplares do jornal A Sirene, criado com o propósito de dar voz aos
atingidos / Fonte: Jornal A Sirene
Muitas pessoas que não perderam casa ou emprego, mas perderam terrenos,
plantações, criações, pasto para gado, perderam com isso muitos trabalhos e
tiveram também suas vidas alteradas de diversas formas pelo rompimento da
barragem. Assim deveriam ser indenizadas imediatamente. A definição de quem
vai ser incluído e quem será deixado de fora não deveria se tornar uma disputa
entre os atingidos. Um levantamento a partir da perspectiva dos atingidos seria
essencial. Direitos não deveriam ser negociados dessa forma, externa à realidade
das pessoas envolvidas, que traz sofrimentos e perdas adicionais às vítimas.
(Andrea Zhouri, professora da UFMG e coordenadora do Grupo de Estudos em
Temáticas Ambientais – Gesta)
Nas páginas 14 e 15, os relatos dos moradores de São Bento e Paracatu que
sobreviveram à tragédia chamam a atenção: “Já era noite e o nosso paraíso tinha
sido destruído rapidamente. A tarde radiante deu lugar para a agonia e o
anoitecer trouxe uma tristeza quer persiste até hoje”, registra a página 14, sobre
Bento Rodrigues. Na página seguinte, o relato é sobre a chegada da lama a
Paracatu. “A lama chegou à ponte. Veio arrebentando tudo. [...] Tudo foi
destruído. Casas. Igreja. Escola. Choradeira. Angústia. Impotência. Todos sem
casa. Sons de destruição. A força da lama arrastou tudo que estava pela frente”
(A SIRENE, 2017, nº 8, p. 14 e 15).
Tais relatos nos indicam que as demandas dos atingidos vão além de um espaço
adequado para viver. Mais que isso, eles choram pela perda de sua história, dos
vizinhos, do espaço social e da convivência familiar e afetiva presentes naquele
local. Apesar de saberem que a memória acerca da vivência é irrecuperável,
sofrem as consequências do abandono e a incerteza do começo de uma outra
forma de vida. Assim, exigem da Fundação a tarefa árdua de cuidar não só da
recuperação da casa, de coisas concretas, mas, também, da dimensão emocional
e sentimental – revelando, ao que nos parece, delicado espaço para os
enfrentamentos discursivos. Retomando a ideia da circulação, Fausto Neto
mostra que ela se transforma em local de embate de várias origens. Percebe-se aí
o jornal A Sirene como uma instância geradora de desarticulação entre o que é
dito pela Renova e o que é vivido e dito pelos atingidos. A prática discursiva dos
atingidos demonstra uma organização com consciência do que aconteceu e eles
reivindicam uma posição da mineradora, dando a essa relação um caráter
também político.
Nas oito páginas do número zero do jornal da Fundação Renova fica clara a
proposta da organização de trabalhar em conjunto com os atingidos, tornando o
processo de reparação mais transparente, especialmente em relação aos projetos
de reassentamento da “Nova Bento Rodrigues” e do “Novo Paracatu”.
Igualmente, a disposição da Fundação Renova em conversar com os atingidos,
por meio dos diversos veículos existentes e reuniões periódicas. Já na página
três, a Fundação trata de informar que é uma organização autônoma em relação
aos seus mantenedores:
Pode ser que tenha gente que acha que as empresas pararam por sua causa e
alguns podem pensar até que seus direitos, como por exemplo o cartão de
auxílio-financeiro, são maneiras de se aproveitar da Fundação Renova. [...]
Somos todos solidários à angústia das famílias cujos membros perderam seus
empregos e tiveram queda em sua renda. Precisamos entender que o momento é
complicado para todos. É tempo de mais compreensão, pois os problemas não se
resolvem jogando a culpa um no outro. (JORNAL FR, 2017, nº 0, p. 6 e 7)
Hoje você convive com novas pessoas e vizinhos e tem uma outra rotina que
exigiu da sua família adaptar-se a uma realidade diferente e que vocês não
pediram para ter. É por isso que a gente conversa tanto, discute, duvida, erra e
acerta até encontrar uma solução. (JORNAL FR, 2017, nº 0, p. 4)
5. Considerações finais
Diante dessa complexa relação, a falta de clareza por parte das comunidades
sobre o significado da criação da Fundação Renova gera sentidos ambíguos. E a
Fundação contribui para a criação desse distanciamento, pois assumiu a
liderança no processo quase um ano após o rompimento da barragem. Houve
uma ausência da emissão. Situação semelhante ocorre com o Jornal Juntos,
criado um ano e meio depois da tragédia. E o primeiro número chega ao leitor
ainda sem identidade, vazio de informação, sem emoção, representando a
dificuldade da Fundação de superar um fosso quase intransponível entre a
emissão e a recepção. Fica evidente que a Fundação está tendo dificuldade para
agir e lidar com os grupos de atingidos, porque sabe que não conseguirá
devolvê-los a vida, a história, e a solidariedade da vizinhança. A Fundação sabe
da extensão dos problemas provocados pelo rompimento da barragem – e da sua
incapacidade de recompor os laços afetivos. A relação com os atingidos será
sempre marcada pelos fantasmas que a circundam e que estão inseridos em um
contexto de dor, raiva e medo.
Hoje, a Renova já produziu a segunda edição do jornal. Ainda está sem nome.
Por enquanto, chama-se Jornal da Renova.
6. Referências
FRANÇA, Vera. Dossiê Mariana: Rio Doce – muito além de Bento Rodrigues.
GRIS – Grupo de Pesquisa em Imagem e Sociabilidade, 26 nov. 2015.
Disponível em http://www.fafich.ufmg.br/gris/. Acesso em: 23 fev. 2017.
• Pedro Russi1
O. Wilde
Venho de forma feliz ou, melhor, “sem medo de ser feliz”, a compartilhar alguns
afetos (porque me afetam) sobre a necessidade de assumir de forma intensa e
vivencial – não meramente nos projetos cativos as normas e demandas dos
ministérios para avaliação – nosso lugar de fala epistémico e de razão criativa2.
Aliás, feliz, que palavra mais ausente dos domínios científico-acadêmico,
fazendo-a parecer brega, cafona e ridícula. Venho a experimentar reflexões para
entender a circulação de saberes (pelas nossas inferências e inquirições), como
ações de “sentido de circulação” como próprio da nossa ética3 (ethos) –
periceanamente falando – e não como a busca de modelos fundacionais e
doutrinários – veremos isto daqui a pouco.
A ciência está orientada à ação, porém, essa ação também é jogo, elemento
estético, liberdade. Em todo conhecimento, em toda aventura da ciência, há parte
de jogo – como contemplação ou também como musement4 – e parte de
trabalho, sempre em interlocução (d’ORS, 1995). Pensar desde essa perspectiva
potencializa os movimentos para desburocratizar, desindustrializar os atos de
pesquisa para sair do capitalismo e neoliberalismo das ideias acadêmicas, do
intelectualismo, dirá Weber (1997). Para reforçar e recuperar aquilo que torna as
pesquisas vitais: o simples e intenso anelo de entender o mundo, isto é, nos
entender.
Nesse cotidiano, todas nossas ações por mínimas que sejam, são atos de
interação de sentido, portanto, interpretativos e inferenciais. Para nos ajustar no
cenário pedagógico, desde essa perspectiva epistémica, um plano de
ensino/bibliografia, fala do nosso lugar de fala. Não do lugar administrativo
(professor), senão, daquele que sustenta significativamente nossas escolhas e
que, como ação mental, são resultados dos sentidos e conceitos vivenciados, eis
a experiência no sentido semiótico no qual e pelo qual o sujeito se expressa.
Observe-se que, para Cortázar (1997, p.315), a novela é uma ação subversiva,
um ato de consciência, portadora de interrogantes acerca do sentido e destino, de
carga reflexiva, onde o novelista deve ser um “dinamitador”. Portanto, muito
felizmente, podemos espelhar-nos nessa acentuada ideia, compromisso e
perspectiva, para pensar o pesquisador-estudante, assim como também o nosso
lugar de docentes – ser “dinamitadores”.
Visto que a relação pesquisa-humano não é um entendimento dualista ou
dicotômico, que “empreende suas análises com um machado, deixando para trás
pedaços não-relacionados do ser” (PEIRCE, CP 7.570). Destarte, se pesquisar é
problematizar, observar não dicotomicamente, ter um olhar periférico, ser
radicais (ir até a raiz) para “escovar a história a contrapelo”, como dirá Benjamin
(1985), então, podem ser levantadas algumas questões iniciais: o que ensinamos
quando ensinamos nos cursos de metodologia? Porque a euforia de manualizar
esses cursos? Estamos propondo operadores para reformar as ressignificações
estruturais? Em qual lugar ancora-se a luxúria pelos manuais, pelas técnicas
higienizadas, pela domesticação dos instrumentos?
A situação que vivemos hoje demanda parar e pensar o que estamos fazendo
como professores e estudantes? Devemos colocar e propor outras perguntas,
outras pautas que provoquem distância do lugar comum, da mediocridade e
indústria que se diz analítica. Pensar a educação como processo, subverter –
transtornar, inverter, revolver; colocar embaixo o que está acima – o saber como
ação transformadora e de resistência.
Não obstante, Cortázar (1997) chama a atenção de que é o próprio trabalho que
vai delineando o método – a forma de caminhar, as dinâmicas das descobertas.
Assentindo isso como desafio ao contexto individualista, megalômano,
egocêntrico, de eliminação do diverso (do alter, isto é, da secundidade na
categoria semiótica) do cenário imediatista e fabril. A curiosidade é eliminada, é
deslocada. Portanto, estamos diante da necessidade de projetar e repensar os
processos pedagógicos para formular, problematizar e não só para responder. Eis
um paradoxo, pedimos e manualizamos para que se trabalhe dentro do
“admirável mundo novo” e concomitantemente discursamos para que elaborem a
“revolução dos bichos”. Verón destaca a necessidade da versatilidade, a não
estagnação do pensamento para render-se aos modelos; não são estes os que vão
permitir as experimentações e experiências inferenciais.
Retomando o que foi mencionado – valendo ser redundante –, não é por simples
acaso que Verón problematiza nossas matrizes e suscita o pensamento na
contramão, a contrapelo, como mutantes ou transeuntes intelectuais, como trota
mundos, buscando a emancipação…. Mas para quê? Precisamente, para
compreender as marcas, huellas15, como circulação de sentidos entre as
gramáticas de produção e de reconhecimento. Isto é, a relação identificada entre
uma marca e outra – presente nas condições de produção (elaboração) e o
discurso (objeto); não seria mais a marca, senão; falamos de huella. Isso quer
dizer que a análise de uma produção é a busca das huellas que relacionem o
discurso enquanto objeto às condições de produção.
al bote del musement, empújalo en el lago del pensamiento y deja que la brisa
del cielo empuje tu navegación. Con tus ojos abiertos, despierta a lo que está a tu
alrededor o dentro de ti y entabla conversación contigo mismo; para eso es toda
meditación” (CP 6.461, 1908).
Com frequência eu caminho à noite, por volta de uma milha, por toda uma
estrada deserta, em um descampado sem uma casa à vista. As circunstâncias não
são favoráveis para um estudo severo, mas o são para uma calma meditação. Se
o céu está limpo, observo as estrelas em silêncio, pensando em como uma
sucessiva abertura de um telescópio revelaria muito mais delas do que jamais
visto antes. O fato de que os céus não revelam um pano de luz prova que há
muito mais corpos escuros, por exemplo planetas, do que há sóis. Eles devem ser
habitados, e muito provavelmente milhões deles por seres muito mais
inteligentes do que nós (...). (CP 6.501)
Isso pode ser também um gesto da livre voluptuosidade do pensar, “que somente
pode-se conseguir [esse pensar] quando se mistura, uma grande atividade de
espírito, [com] uma significativa partícula do divino ócio” (d’ORS, 1995, p. 52).
São processos que pleiteiam a crítica à banalidade, ao naturalizado, ao
normalizado e definido, ao inquestionável e auto evidente, ao lugar comum.
Devemos escutar mais a Mafalda... No mesmo percurso e voltando ao café,
Galeano dirá em uma das últimas entrevistas:
… soy hijo de los cafés. Todo lo que sé se lo debo a ellos. Sobre todo, el arte de
narrar. Lo aprendí escuchando, en las mesas de los bares, a aquellos maravillosos
narradores orales cuyos nombres ignoro, que contaban mentiras prodigiosas y las
contaban de tan bella manera que todo lo que contaban volvía a ocurrir cada vez
que ellos lo narraban. Soy hijo de esos cafés y de ese Montevideo donde había
tiempo para perder el tiempo.22
¿Qué es un absoluto, Horacio? – Mirá – dijo Oliveira –, viene a ser ese momento
en que algo logra su máxima profundidad, su máximo alcance, su máximo
sentido, y deja por completo de ser interesante.
* * *
1. Referências
D’ORS, Eugenio. La filosofía del hombre que trabaja y que juega. Madrid:
Libertarias/Prodhufi, 1995.
SANTOS, Milton. O tempo nas cidades. Cienc. Cult., São Paulo, v. 54, n. 2, p.
21-22, Oct. 2002. Em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S0009-67252002000200020&lng=en&nrm=iso. Acesso:
03.Jun.2018.
8 Embora isto seja uma metáfora (um mito), porque o avestruz não faz tal coisa,
serve, pela sabedoria popular como ilustração da negação da realidade etc.
• Oscar Traversa
1. Exordio
Tal afirmación de pertinencia nos obliga a cumplir con una doble exigencia: por
un lado fijar el contorno de aquello que se entiende como mediatización y, por
otro, dar cuenta de la propiedad de adjudicarle a ese contorno el ser materia
historiable y, además susceptible de ser situada, esa nueva historia, un peldaño
más arriba, en una posición meta, respecto de alguna otra, la Historia de los
Medios para el caso, de la que se debe, entonces, fijar tanto sus alcances como
sus restricciones, respecto de sus vecinos.
Llevar adelante esa metahistoria nos excede largamente, podríamos darnos por
satisfechos si estas páginas sirven para impulsar la discusión acerca de la
pertinencia o acierto de la propuesta, no es otro el alcance que adjudicamos a
estas páginas.
Las exigencias que nos hemos propuesto cumplir requieren, ante todo, un
reconocimiento de origen de lo que trataremos. El pensar la mediatización en su
historia (¿metahistoria?, sin designarla de este modo) corresponde a Eliseo
Verón, tanto en lo que concierne a lo que consta en sus escritos como al
desenvolvimiento docente que sostuvo por varios períodos en la cátedra – fruto
de su creación – de Historia de la Mediatización3, de una innegable singularidad
pues se sitúa en lo que ha sido señalado como historia larga de ese proceso (se
remonta a millones de años pues, coincide con el proceso de hominización).
El programa de ese curso es encabezado por media docena de líneas de texto que
indican su objeto: “Lo que aquí llamamos mediatización es la secuencia histórica
del surgimiento de los fenómenos mediáticos, dispositivos técnicos de
producción y circulación de los signos que han participado en los procesos de
comunicación de las sociedades humanas…”. La noción de mediatización de la
que nos valdremos, en este texto, es la empleada en ese curso; al igual que otras
nociones que vieron la luz en distintos momentos de ese autor, de presentar
alguna diferencia o matiz que se les refiera tendremos cuidado en consignarla.
Es fácil notar que una historia como la que proponemos –el caso que
presentamos es uno entre tantos más complejos – tiene como requisito principal
el prestar atención a las cualidades específicas de cada una de las singulares
manifestaciones de los hechos mediáticos, es decir prestar atención a su
especificidad8 en cuánto dispositivos9. Estos últimos son los modeladores
finales del tránsito semiótico, asocian a la materia plástica discursiva con los
recursos que la instalan para dar lugar a los vínculos sociales. Basta pensar en las
variedades en que se nos hace presente la voz o la escritura: la voz en el ágora
ateniense o una emisión política radial, el escrito funerario en una tumba del bajo
Nilo o el obituario de un periódico, no dieron ni dan lugar a los mismos vínculos
y, en consecuencia, a similares producciones de sentido.
Verón destaca los avances de Goody pues acentúan una cuestión que se tornará
crucial para el Homo sapiens, pues la escritura fue la que permitió desenvolver la
conceptualización de dos grandes entidades: por una parte las que dan lugar a la
organización colectiva distinta (y opuesta) a las que competen al singular, que
denomina: sistemas sociales y sistemas socio individuales. Así se favorecerá un,
la escritura mediante, abandono de cierto tipo de temporalidad, basada en la
recurrencia y la repetición para dar lugar a otra basada en la diferencia y la
singularidad: ya no abra un “hoy” que recurre sino “uno” que discurre, gracias a
la mediación de un soporte permanente – el texto escrito – que indica la
existencia singular e irrepetible de un pasado. El que observa desde el “ayer” –
desde el texto – no está en el mismo lugar que el que lo hace desde “hoy”, así
surgirán mundos resultado de lo escrito, el observador (el lector) no podrá sino
adscribirse a alguno de ellos.
Llegados a este punto el comentario que realiza Verón al texto de Goody, nos
regresa a lo que señalábamos más arriba, respecto al lugar en que se sitúa el
observador de la Historia de la Mediatización, y aquí Verón lo muestra, digamos,
en acción. El análisis del proceso de las consecuencias de la mediatización son,
al fin, el análisis de los textos de Goody, los que resultan a su vez de una
integración de exámenes de otros textos y de observaciones empíricas de terreno.
Verón, para el caso, desenvuelve dos análisis diferenciados: uno acompaña a los
resultados de Goody, que integra con los propio, y otro corresponde al
señalamiento de sus límites (o carencias) de ese mismo camino. Esto da lugar a
dos posiciones: una, diferente a lo invalidante, la que podemos llamar integrativa
y, a la otra, limitante. Una y otra son metahistóricas exigidas pues estarán
siempre presentes en el operador de ese saber, incluso desde el punto de partida
de su trabajo, ya que con suma frecuencia (¿siempre?) se verá exigido a elegir
entre posibles fuentes para construir sus referencias11. La razón, entonces, de
esta última exigencia nace de las características de sus observables (otros textos)
los que indefectiblemente deben ser tratados de modo deliberadamente parcial y
descontextualizados, base para la reconstrucción-reinterpretación de un
momento o proceso. No es menor, de ser cierta esta advertencia, el cuidado tanto
en la elección de las fuentes como la discusión de las posibles diferencias; es
precisamente este punto de vista – limitante – el que sostiene la consistencia de
las proposiciones metahistóricas y sus eventuales resultados.
Al aludido estudio a partir del texto de Goody le sigue otro, “El nacimiento de
los cuerpos densos”, referido al pasaje del rollo al códice, transito que se articula
con la cristianización del Imperio Romano. Le sigue “La proliferación” alude a
los procesos ligados con el desarrollo de la imprenta, centrándose en la Reforma
Religiosa. “Los cuerpos efímeros: de los panfletos a los papeles de noticias” se
centra sobre el plural desarrollo de un conjunto de materiales que preceden a la
prensa moderna (panfletos, almanaques, que culminan en los periódicos), alude a
la expansión de la escritura, en concordancia con la segunda revolución
industrial. Le siguen dos textos: “La máquina del tiempo”, aludiendo a la
fotografía y “La mediatización de la temporalidad”, referido a la fonografía.
Coronan este segmento de la Semiosis social, 2 otros dos textos: uno que alude a
la televisión, ¿Seguimos en contacto? y otro a Internet: “La revolución del
acceso”14.
6. Referencias
10 Menciona “The consequences of literacy” (1963) realizado junto con Ian Watt
y The domestication of the Savage Mind (1977).
– Vai trabalhar.
O diálogo continuou ainda por mais algum tempo e, pouco depois, foi
interrompido, pela mãe:
– Agora já chega. Vai arrumar as tuas coisas para ires para a escola.
– Tens um cão?
– Porque?
– Tens um gato?
– Porque?
É claro que, pelo menos a partir do segundo dia dos nossos encontros à porta do
meu apartamento, ela já sabia perfeitamente a resposta às perguntas que me ia
fazer. E, no entanto, a sequência das perguntas continuava sempre a mesma, até
que o pai ou mãe a viesse buscar. O que é que ela estava fazendo então? Estava
evidentemente exercitando os mecanismos da linguagem e a descobrir que, para
eu falar com ela, para conseguir obter a minha atenção, para estabelecer
interação comigo, havia um mecanismo extraordinariamente apropriado, o de
fazer perguntas.
A nossa maneira de encarar o que a criança está a fazer é considerar que ela está
brincando. Mas esta é uma maneira de os adultos verem as coisas
completamente diferentes da maneira como as crianças as vêem; o que as
crianças desta idade fazem não é propriamente brincar. Bem vistas as coisas, só
os adultos é que são capazes de brincar, quando adotam comportamentos que
jogam com os dispositivos interacionais que precisamente a criança está
descobrindo nesta fase da sua vida; o comportamento da criança é todo ele muito
sério, porque, nesta fase da vida, ela não tem possibilidade de adotar outro
comportamento a não ser aquele que ela adota.
A propósito, recordo-me que, no dia em que uma das minhas netas fez dois anos,
quando me viu rir de uma resposta que ela tinha acabado de dar à mãe, virou-se
para mim e disse: “não tem graça nenhuma”. Ela tinha razão: nestes primeiros
anos, as crianças não brincam; realizam aquilo que lhes compete, adotando os
comportamentos apropriados para interiorizarem aquilo a que nós damos o nome
de senso comum, os saberes práticos que constituem o nosso mundo. O que elas
estão o tempo todo fazendo é a adquirir aquilo a que Bourdieu, seguindo neste
ponto a terminologia de Aristóteles, dava o nome de habitus, as competências
apropriadas à experiência do mundo que constituímos pela linguagem,
competências que nos levam a adotar os comportamentos apropriados às
situações com que nos confrontamos todos os dias quando interagimos uns com
os outros.
Mas voltemos de novo ao diálogo com que comecei este texto. A saída do pai
todas as manhãs é uma rotina e aquilo que a criança está descobrindo é, por um
lado, que as atividades rotineiras que as pessoas adotam não ocorrem ao acaso,
mas têm explicações ou razões de ser e, por outro lado, que estas razões seguem
normas, são organizadas. As relações em que as pessoas se envolvem umas com
as outras, em particular as pessoas com as quais a criança está ela própria
diariamente envolvida, têm uma razão de ser, não são aleatórias e, por
conseguinte, podem ser explicadas. O que a criança está fazendo é testar as
razões que podem ser dadas para justificar os comportamentos rotineiros, a que
nos dedicamos habitualmente no nosso dia a dia. Os sociólogos, seguindo de
perto Émile Durkheim, costumam dar o pomposo nome de normas sociais a
estas razões.
Mas, ao mesmo tempo que descobre que a ordem sequencial das interações
verbais é por natureza ilimitada, a criança faz uma outra descoberta
extraordinária, a de que é só a intervenção de uma palavra exterior à sequência
das perguntas e respostas em que ela e a mãe estão envolvidas, de que é só a
palavra autoritária da mãe, que a manda ir arrumar as suas coisas para ir para a
escola, que pode dar por finalizada a ordem das sequências interacionais. Está
fazendo uma descoberta temível, a de que é só a força de uma intervenção
exterior à ordem que regula, tanto as sequências da atividade comunicacional, o
encadeamento das intervenções, como as sequências das interações sociais, que
pode dar por terminadas as sequências interacionais em que as pessoas se
envolvem. Descobre, deste modo, a necessidade inevitável da ordem
institucional, neste caso assumida pela mãe, dotada do poder de coagir o livre
encadeamento das sequências do diálogo em que está envolvida.
Como vemos, com este diálogo a criança não está brincando nem propriamente
procurando respostas para as perguntas que faz; está testando a organização da
ordem sequencial da atividade comunicacional que constitui o mundo em que
está entrando e no qual vai construir as suas próprias identidades, o acesso ao
lugar que lhe está destinado na comunidade humana pelo funcionamento da
ordem da linguagem. Está descobrindo não só que as pessoas mobilizam
recursos para se obrigarem mutuamente a interagir umas com as outras, mas
também que essa ordem é inevitavelmente coagida pela ordem institucional que
põe termo ao seu fluxo, por natureza, logicamente ilimitado. Por outras palavras,
está descobrindo, por um lado, que tem o poder de desencadear a ordem
interacional, ao mobilizar aquilo a que Harvey Sacks dava o nome de
“maquinaria conversacional” e que a sequência de perguntas e respostas é
provavelmente uma das maquinarias mais eficazes. Mas também está
descobrindo, por outro lado, que este seu poder é constantemente controlado,
vigiado e finalizado por uma instância externa. É claro que acabará também por
descobrir que existem outros recursos que as pessoas utilizam para se obrigarem
a interagir, tais como, por exemplo, a troca de saudações, de olhares ou de
sorrisos. Mas formular perguntas é a maneira como a criança, ao desencadear
este diálogo, está constituindo e alimentando a sua interação com a mãe,
aprendendo o mecanismo apropriado, tendo em conta a situação. Está
aprendendo, ao provocar a ordem com que a mãe dá por terminada a conversa,
que dar por terminada as interações não é uma questão simples nem natural, mas
o resultado de uma intervenção externa, institucional, que funda inevitavelmente
a constituição da autoridade e daquilo a que os adultos dão o nome pretensioso
de poder.
Bem vistas as coisas, a intervenção que a mãe realiza para dar por terminadas as
sequências das perguntas e respostas inicia todo o conjunto de intervenções
institucionais que regularão, ao longo da vida, as sequências interacionais que
pontuarão a sua experiência do mundo. Está aprendendo, por conseguinte, que
há dois momentos cruciais da comunicação: o primeiro e o último. O primeiro,
porque é aquele em que tudo se joga, porque é aquele em que alguém obriga o
outro a encadear um segundo e a fazer as escolhas dos recursos ou dos
dispositivos apropriados à situação criada pelo primeiro. O último, porque é
aquele em que uma intervenção exterior torna impossível continuar o
encadeamento de outras sequências posteriores.
Poderíamos fazer muito mais descobertas com a observação atenta deste diálogo.
Gostaria ainda de chamar a atenção para mais uma descoberta extraordinária: ao
formular cada uma das perguntas, a criança faz com que a mãe categorize o
mundo. Está deste modo adquirindo o domínio de mais um dos dispositivos
interacionais importantes que as pessoas utilizam quando se envolvem em
atividades comunicacionais, para constituírem em conjunto o seu mundo, o
dispositivo de categorização, a que Sacks nas suas primeiras lições dedicou uma
atenção particular. Com o domínio deste dispositivo, ela aprende que as pessoas
constituem em conjunto as suas múltiplas identidades, assim como a
multiplicidade das identidades das pessoas, das coisas, dos acontecimentos e das
atividades rotineiras a que se referem quando, no seu dia a dia, interagem umas
com as outras. Com este diálogo está testando categorias que pertencem a
conjuntos, tais como o da família, o da divisão social do trabalho, o da
organização do tempo.
3. que, para terminar a sequência interminável das interações verbais, tem que
haver uma intervenção exterior à ordem que a regula;
para atrair a atenção sobre si e provocar da outra pessoa uma intervenção que lhe
confere o direito de prosseguir a interação:
– O que foi?
Ela sabe agora que pode obrigar o adulto a fazer uma pergunta e que, deste
modo, ela própria adquire o direito de falar, de prosseguir com a interação, de
entrar no fluxo interacional da atividade comunicacional. Foi precisamente isto
mesmo que se passou no diálogo com a mãe com que iniciei este texto.
É por isso que Harvey Sacks (1992, p. 656-664) lembra que, quando as pessoas
querem interagir com alguém que desperta a sua atenção, fazem habitualmente
uma pergunta:
ou então:
A repetição do termo utilizado pela mãe para responder à sua pergunta é um dos
mecanismos mais poderosos que alimentam a ordem sequencial das interações
verbais, e a criança está a descobrir este mecanismo fascinante. Ao repetir a
expressão utilizada pela mãe, ela descobre que faz pelo menos duas coisas
extraordinariamente importantes: assinala à mãe que entendeu a resposta que ela
deu à sua pergunta anterior e, ao mesmo tempo, constitui a nova situação que
viabiliza a formulação de uma nova pergunta e, deste modo, alimenta a ordem
sequencial da atividade comunicacional.
Cada uma destas perguntas gramaticais fazem coisas sempre diferentes, não só
em função do ambiente em que forem formuladas, mas também dependendo
daquilo que está em jogo em cada uma das atividades comunicacionais. “Sabe
que dia é hoje?” é raramente uma verdadeira pergunta. Pode ser um aviso, uma
promessa, a provocação de uma recordação e uma infinidade de muitas outras
coisas. A análise do discurso não têm instrumentos para descobrir o que fazem
perguntas como esta, porque habitualmente ignora o ambiente e a natureza da
atividade comunicacional em que ocorrem os enunciados que as pessoas trocam
entre si. É por isso uma disciplina imprópria para os estudos da comunicação.
Como vemos, a função dos media é constituir o nosso mundo e, por conseguinte,
sem darmos por isso, estão presentes em todas as nossas atividades
comunicacionais. Para compreender aquilo que pretendo dizer, basta imaginar
que éramos baleias vivendo no oceano e que alguém nos perguntava se sabíamos
o que é a água. Acharíamos a pergunta incompreensível, uma vez que a água
seria o ambiente em que viveríamos. É esta a característica fundamental dos
artefactos a que damos o nome de media, dispositivos, uma espécie de artefactos
que se distinguem dos instrumentos, dos utensílios e das máquinas pelo facto de
funcionarem tanto melhor quanto menos nos dermos conta deles.
A melhor maneira de nos darmos conta destes saberes práticos que regulam os
nossos comportamentos é, de facto, verificar o que se passa quando verificamos
comportamentos que não os respeitam. Se, por exemplo, a pessoa a quem
dirigimos uma saudação não nos responde, somos inevitavelmente levados a
procurar se há alguma razão que o levou a não o fazer, isto é, só procuramos as
razões dos comportamentos quando parecem não acontecer de acordo com as
expectativas: será que a pessoa não ouviu o que eu disse? Será que está zangada
comigo? Procuramos razões que impeçam ou justifiquem o facto de a nossa
saudação não ter desencadeado a sua retribuição por parte da pessoa que
saudámos.
Se consegui fazer entender o que apresentei até aqui, creio que já fiz
compreender porque razão decidi dedicar este texto ao senso comum. A principal
razão tem a ver com a insatisfação que muitas vezes sinto perante os estudos da
comunicação que tenho lido. Vejamos algumas das razões desta insatisfação.
Grande parte destes estudos pretende, por um lado, que existe uma boa
comunicação, uma comunicação autêntica e, por outro lado, que os estudos da
comunicação se destinam a descobrir e a aprender instrumentos eficazes para a
sua implementação. Se quiséssemos caraterizar a atitude destes estudos da
comunicação, poderíamos dizer que partem de uma atitude suspeita em relação à
atividade comunicacional em que as pessoas se envolvem, mobilizando
simplesmente os saberes espontâneos do senso comum. Estes estudos partem do
princípio de que a atividade comunicacional em que as pessoas se envolvem
seria melhor, mais autêntica ou mais eficaz se utilizassem as descobertas
científicas dos estudiosos da comunicação. Esta maneira de ver está
fundamentalmente errada e é perniciosa porque nos impede de estudar
efetivamente a comunicação, porque nos distrai da observação dos fenómenos
que constituem a comunicação.
Para adquirir esta disponibilidade, o pesquisador tem que pôr entre parêntese as
suas próprias convicções, as suas crenças, as suas causas que impedem um olhar
descomprometido sobre os comportamentos observados. A comunicação não se
aprende em escolas nem nas universidades. A comunicação é a atividade
intersubjetiva que aprendemos a realizar logo na primeira infância, com a
aprendizagem da língua materna. São estas competências interiorizadas pelas
pessoas que a atitude etnometodológica procura identificar e compreender. É
uma evidência de tal modo óbvia que costuma cegar os estudiosos da
comunicação.
Aquilo que as pessoas querem dizer raramente coincide com aquilo que palavras
que elas dizem significam e aquilo que elas dizem quer dizer sempre coisas
diferentes de cada vez que falam. É a solução destes enigmas que a perspectiva
etnometodológica da comunicação pretende descobrir, observando os métodos
que as pessoas seguem para os resolver. A solução está no facto de as pessoas
mobilizarem em permanência saberes do senso comum, que constituem aquilo a
que costumo dar o nome de experiência. Trata-se de saberes indiscutíveis que
regulam, até ao mais ínfimo pormenor, os comportamentos de todos quantos
tomam parte localmente nas interações uns com os outros em que se envolvem.
Como sabemos o que uma pessoa está fazendo, por exemplo, quando a vemos
junto a um carro a mexer na bolsa, quando a vemos a mexer os dedos sobre o
ecrã do celular, quando a vemos contrair os músculos faciais de uma
determinada maneira ou quando a vemos a olhar para cima? Podem
evidentemente responder-me que não sabemos exatamente o que as pessoas
estão fazendo quando observamos estes comportamentos, mas, na maior parte
das vezes, se alguém me perguntar o que está fazendo a pessoa que adota um dos
comportamentos referidos, eu sei dizer o que ela está fazendo. Assim, por
exemplo, se me perguntarem o que está fazendo a pessoa junto a um carro
mexendo na bolsa, responderei que está provavelmente procurando as chaves do
carro. O mesmo se passa quando alguém me pergunta o que está fazendo a
pessoa que mexe os dedos sobre o ecrã do celular, pelo facto de responder que
está navegando na internet ou digitando o número de telefone da pessoa a quem
pretende telefonar. Não preciso sequer que alguém me pergunte o que está
fazendo a pessoa que eu observo para mostrar que sei o que ela está fazendo;
basta que eu próprio adote o comportamento que se ajusta ao que ela adoptou.
Assim, por exemplo, quando vejo alguém olhando para cima, sou também eu
levado a olhar na mesma direção. Deste modo, estou mostrando que entendi que
aquilo que ela faz, adoptando também eu um comportamento ajustado ao que
observo, provocado pela percepção do comportamento observado.
6. Algumas referências