Ensaio Edificio Yacoubian - Ana Salmont PDF
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de vermelho. Ela não é uma personagem que aparece por muito tempo no filme,
então suas roupas já deixam muito claro quem ela é, sempre muito apertadas e
sensuais. Quando ela troca, que é pela camisola preta, é momentos antes de ela
roubar Pasha Zaki.
As escolhas de ângulos é um ponto muito incrível de se observar no filme. Por
vários momentos, tive a impressão de estar espiando uma cena que não era para
eu ver, como na conversa entre o sacerdote e Taha, quando o comerciante Haj
conhece sua segunda esposa, Suad, na conversa entre Basoina e Taha antes de
ele se candidatar para polícia, Fanous e seu irmão alugando um apartamento ou
o jornalista Hatem no seu primeiro encontro com Abd Rabbo.
O primeiro e segundo encontro entre Hatem e Abd Rabbo são duas cenas que
eu gostaria de comparar melhor, inclusive porque diz muito sobre a relação entre
os dois. Na primeira situação, eles se encontram em um bar mais lotado, cheio e
com um ambiente mais aconchegante e popular, tive a impressão de que ali seria
um bar bem comum, não um lugar que se levaria para o primeiro encontro român-
tico, enquanto o segundo já tem essa característica. A fotografia também se altera
um pouco de um para o outro. As duas sequências começam apresentando o am-
biente, uma de forma que parece ser mais informal, seguindo as cadeiras, mos-
trando o redor e o outro mostrando a mesa e depois um plano geral dos dois na
mesa chique. A forma de retratar o diálogo também difere; o primeiro encontro
parte de dois planos mostrando os dois se aproximando, algumas falas jogando
com plano/contra-plano, mas a maior parte mostrando os dois juntos em quadro.
Na segunda sequência, o diálogo já é em sua maior parte plano/contra-plano. Os
dois planos, no entanto, fazem a maioria de seus enquadramentos como se esti-
véssemos espionando os personagens. Outra observação sobre a relação ao casal
que tive foi sobre a luz: quando os dois se conhecem, estão numa rua escura e,
enquanto Hatem conversa com Abd Rabbo, eles caminham para frente, onde há
mais luz e, já próximo ao fim do filme, quando Abd Rabbo vai embora com a famí-
lia, Hatem fica por um momento com o muito escuro.
Os espaços físicos são essenciais para o filme, já que estamos, por muitas ve-
zes, nas casas dos personagens. O espaço principal é o prédio Yacoubian, o cená-
rio principal onde a maioria das histórias contadas se passam. É um edifício an-
tigo, de um período de grande influência europeia. O prédio e sua história são re-
ais, desde o começo com a elite do Cairo até a atualidade em decadente, que tem
seu momento icônico com o elevador preso. Outras situações sociais convivendo
também tornam isso claro, mas é algo para ser tratado quando for pensar nos per-
sonagens ou na narrativa. É interessante pensar num espaço como ponto de con-
vergência ao contar várias histórias, coisa que acontece também em Estação Cen-
tral de Cairo (1958).
Outra sequência, logo no início, que despertou minha atenção pela fotografia
é quando Zaki chega em casa depois de ser assaltado. Sua irmã grita com ele e a
câmera dá um zoom in, meio que realçasse a culpa que Zaki sente por deixar tal
situação acontecer.
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As casas destoam bastante, principalmente pensando na história da segunda
esposa de Haj. Sua casa em Alexandria tinha muitas pessoas, o sofá parecia des-
confortável e a sala parecia pequena. Já depois do casamento, ela tem um apar-
tamento enorme apenas para ela, com uma cama suntuosa e um banheiro grande.
A casa de Taha também chama atenção, principalmente por lembrar a casa do
menino de Portas Fechadas (1999), pequena e um pouco escura. A casa que Hatem
aluga para a família de Abd Rabbo já parece maior e mais iluminada, enquanto a
casa de Bosaina parece a menor de todas e mais entulhada. O apartamento de
Pasha Zaki e seu escritório todos denotam riqueza, assim como todos os ambien-
tes que Haj se encontra. O único momento em que Haj aparece em um lugar mais
pobre é quando ele tem o sonho erótico.
As atuações são muito boas, os personagens principais entregam como se re-
almente fossem os personagens. A cena em que Bosaina é abusada por seu chefe
e nós só vemos o seu rosto demonstra toda a sua habilidade em atuação. A se-
gunda esposa de Haj, Suad, também entrega muita bem, na discussão sobre se
casaria ou não, durante o banho, vejo muito sua tristeza e os sacrifícios que ela
fez. Em Haj, vejo um nervosismo que não sei bem se pertence ao personagem. O
ator que faz Zaki parece ser aquela pessoa que vejo em tela o tempo todo, muito
expansivo, simpático e um tanto sedutor. O ator de Taha é muito versátil e traba-
lhou em todos os momentos, desde os momentos tensos e dramáticos com Bo-
saina até ao treinamento de exército. A atriz de Dawlat é boa também, já que ela
fez um ótimo trabalho em conquistar meu ódio pela personagem. E Hatem tam-
bém, o que fica muito evidente na cena em que ele culpa os pais pela sua vida. É
engraçado porque o ator que o interpreta criança já não é tão bom quanto ele, cri-
ando um certo contraste.
Acredito que o filme sabe dialogar muito bem o figurino, os cenários e atuação
com os personagens e a narrativa, reforçando sinais que poderiam se passar des-
percebidos.
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Um som ruidoso que chama muita atenção e é incrível de se ouvir é o terço de
Haj quando ele está com o sacerdote ou quando ele está com o ministro, tentando
entrar no Parlamento. Parece uma ironia ele usar o terço e depois obrigar a se-
gunda esposa a abortar, além de praticar o tráfico de drogas e ser participante da
corrupção no governo egípcio. Mostra bem a hipocrisia do personagem.
Os momentos de Taha também merecem um destaque interessante. Ele co-
meça conversando com um sacerdote islâmico e medita entre o término com Bo-
saina e uma vida voltada para a religião. Um plano mostrando o cenário de Cairo
é acompanhado pelo som de pássaros diegético e logo começa uma música dra-
mática, criando um certo suspense pré-protesto. Um crescer da música, um certo
dinamismo e um tom de ação, com uma bateria e algo épico é acompanhado pela
entrada de caminhões de polícia que irão contra o protesto em que Taha está. A
sequência volta para a manifestação, deixando os toques dramáticos mais mar-
cados. O corte entre o plano dos polícias e o plano de Taha gritando “Islâmico!
Nem ocidental, nem oriental!” tem um som de crescente bem marcado justo na
troca que marca que haverá um confronto entre os dois grupos, isso pouco antes
do tom dramático que compõe a cena com os gritos dos manifestantes. No meio
dos gritos, o som abaixa um pouco antes de assumir uma batida de ação, marcada
por um som mais rápido, com batidas fortes que lembram filmes de ação, um som
que cria suspense e compõe o ambiente sonoro em conjunto com os gritos dos
manifestantes. Existe um som dramático crescente nesse momento, até que am-
bulância toca e um confronto épico parece se formar sonoramente. Algumas ba-
tidas de bateria marcam uma mudança drástica e os policiais começam a se mo-
vimentar; os planos encolhem muito e a montagem adquire uma maior veloci-
dade; a música começa a tomar mais espaço que os gritos de manifestantes até o
momento em que o portão se abre e só ouvimos a música não diegética. Nesse
momento, a música assume um papel de realçar a ação que acontece em tela mas
também diminuir o horror de toda aquela agressão. O filme não se detém nos por-
tões e na central da agressão, mas segue Taha, que foge de alguns policiais. Ao
sair do núcleo da confusão com um corte para a perseguição de Taha, o som as-
sume outra característica. Se antes parecia com um filme de ação de luta, ele
muda para um filme de ação de corrida, algo que provavelmente ouviríamos em
Velozes e Furiosos. Tem um saxofone em certo momento e uma guitarra muito
marcada; vejo aí a diferença, se antes o que marcava era uma batida forte, prova-
velmente de bateria, agora é uma guitarra que marca essa perseguição.
Outra cena de Taha que merece atenção é seu treinamento no deserto, que
também faz uso dessa trilha que realça o que há em tela e nos poupa de ruídos
que possam ser desagradáveis sem perder nada da narrativa. E um ruído de
marca sonora mas que também acresce narrativamente de forma muito mar-
cante é o isqueiro do torturador de Taha, que aparece quando ele está vendado,
mas na hora da vingança, ele se lembra exatamente do som.
Um momento sonoro muito importante também é a cena de Christine no pi-
ano. Apesar de ser uma música diegética, a limpeza do som e ausência de sons
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ambientes criam uma sequência que parece de musical, com certa suspensão de
realidade.
Na casa de Hatem, quando Abd Rabbo vai dormir lá pela primeira vez, o som
do vinho sendo aberto e servido é algo que cria uma realidade no filme que per-
mite uma imersão muito grande no universo diegético. Até o arranhar da garrafa
no copo é audível. Quando Hatem coloca a fita para tocar, começa um pouco alto,
mas logo o som que a televisão emite adquire uma distância, respeitando o espaço
fílmico.
A cena em que Bosaina é abusada por seu chefe tem um agudo muito forte um
pouco antes de ele aparecer e a levar para o quarto, que já cria esse incomodo com
a cena. Apesar do som também marcar como um filme de horror, é mais agradá-
vel do que se ouvíssemos o som real que a cena emitiria, com todos os ruídos. E
no banheiro, um ambiente sonoro composto pela queda da água, roupa esfre-
gando e o choro de Bosaina concluem o teor da sequência, bem trágico.
O som do apartamento de Haj sendo redecorado, a rua quando estamos no te-
lhado, o chuveiro no banho de Suad ou no banho de Haj, os talheres nos restau-
rantes, Haj dando brilho no sapato, a cena de Pasha Zaki soltando o cabelo de Bo-
saina ou o choro de Bosaina quando eles são presos são todos muito marcantes e
criam um ambiente sonoro que facilitam a imersão no filme, com muitas músicas
usadas para criar a ambientação da cena, sem usar sons diegéticos e, ao usar os
ruídos diegéticos, aproveitá-los e saber como coloca-los.
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dessa vez dos Estados Unidos e o capitalismo (pense que ouve um período de re-
lações com a URSS).
O prédio Yacoubian abriga os mais diversos tipos de pessoas que esse período
histórico gerou, sendo um prédio que permite uma proximidade grande entre di-
ferentes classes sociais. Conhecemos alguém que conseguiu superar as adversi-
dades sociais e se tornar rico (de forma ilegal, mas alcançou), um jornalista ho-
mossexual no qual todos os vizinhos sabem de sua sexualidade mas não se im-
portam e um pasha que não exerce sua profissão e, apesar de se valorizar e ser
considerado como alguém importante, muitos outros não o levam a sério.
Tenho grandes dificuldades em demonstrar minha opinião em relação a fil-
mes de culturas muito diferentes a minha porque tenho construções sociais com-
pletamente diferentes a dos criadores do filme e a do público-alvo. Vários assun-
tos tratados no filme são condenados pelos meus princípios.
Um exemplo claro disso é toda a relação entre Abd Rabbo e Hatem. É questio-
nável a forma que Hatem encontra para ter um relacionamento homossexual. Ele
demora muito tempo para deixar claro para o policial suas intenções verdadeiras
e o embebeda para que o moço faça sexo com ele. É desconfortável a posição que
Hatem deixa Abd Rabbo, e entendo a posição da mulher dele quando ela reclama
do perfume e dos shorts de dormir. Vejo que começa como uma relação abusiva
e se torna uma troca comercial, o que é muito estranho quando pensamos que ele
fica realmente magoado quando Abd Rabbo vai embora. Toda a história de Hatem
é perturbadora, a culpabilização da mãe dele por ele ser gay parece que reforça a
ideia de que é errado ser homossexual ou como se fosse uma doença que poderia
ter sido prevenida se a mãe ou o pai tivessem dado mais atenção a ele.
No entanto, a história de Bosaina já é mais agradável para mim, apesar de Zaki
me incomodar um pouco. Ela tem algo de Cinderela na sua história, menina pobre
que encontra o príncipe rico e acaba casada e feliz para sempre. Acredito que a
recusa dela em fazer parte da vida de Taha como uma esposa muçulmana num
viés mais tradicional da religião possa ser condenado por quem faça parte de uma
comunidade islâmica, mas vejo como um símbolo de independência e me lembra
muito a mãe de Portas Fechadas (1999), que também prefere adotar uma conduta
secular e ter sua liberdade.
Aprecio muito como as histórias se entrelaçam e como algumas outras são
contadas por um momento efêmero mas recebem uma atenção na construção da
linguagem que parece realmente o principal da história. Como Fanous conse-
guindo o apartamento para seu irmão. Depois dessa cena, quase não vemos Fa-
nous, mas naquele momento, ele é o personagem principal do filme todo. O núcleo
do bar e a família de Bosaina também recebem essa atenção quando preciso e cria
um mundo diegético muito maior do que o que vemos na tela.
A história de Haj e a de Zaki, vejo como dois lados de uma montanha. Enquanto
Zaki nasceu em berço de ouro e é considerado um fracasso no momento da his-
tória (tanto que a própria irmã o processa), Haj começou como engraxate e se
torna membro do parlamento egípcio. Claro que as questões morais de cada um
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são questionáveis em pontos diferentes, Haj aceita tráfico e tratar mulheres como
objetos, enquanto Zaki já vive no abuso de bebidas e sexo casual fora do casa-
mento. Os dois se complementam, mas vemos que tem certo desprezo um ao ou-
tro, principalmente quando Zaki vê Haj na televisão, discursando no parlamento,
e faz comentários sobre depreciativos, expressando sua opinião sobre o vizinho.
Tanto que o fim dos dois não poderiam ser mais opostos; Haj consegue o que quer,
tendo de pagar um preço altíssimo por isso e perdendo sua segunda esposa no
processo, e Zaki encontra um amor para sua vida e se livra do processo de sua
irmã.
A história de Taha é a mais trágica, o garoto estudioso que queria ser policial,
casar com sua vizinha e ter uma vida próspera, quando é negado de participar da
polícia e se volta para religião. Ele se envolve demais com o movimento político
islâmico e acredito que poderia ter se dado bem na universidade, mas gosto de
sua história e vejo como ela poderia ser um filme de ação emocionante de acom-
panhar.
As vidas no prédio Yacoubian que conhecemos são das mais diversas: ro-
mance, chantagem, corrupção, extremismo religioso e tragédia, a única coisa que
falta para tornar um filme completo é um núcleo cômico, o que não faz falta por
ter a força de prender o espectador na tela, curioso para saber se a próxima se-
quência é sobre seu personagem favorito.
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de se relacionar. Apesar de ter passado boa parte do filme tendo sentimentos con-
flitantes em relação a ele, quando ele morre, eu me sinto triste. Não acredito que
a morte dele fosse a resposta. Gostaria que ele encontrasse um amante que o cor-
respondesse e estivesse em posição de igual e não a morte.
Dawlat já considero como uma antagonista. As roupas, o cigarro e os gritos
constroem uma personagem fácil de detestar, ela é irritante e gananciosa.
Haj foi o personagem com o qual tive mais dificuldade de me relacionar. Ape-
sar de não entender Hatem, eu o respeito, mas Haj despertou um certo desgosto
em mim. Ele é hipócrita com o terço o tempo todo na mão enquanto pratica tráfico
de drogas, ganhando dinheiro a custas de doença alheia (tomando o vício a drogas
como uma doença), disposto a raptar a própria esposa para obriga-la a fazer um
aborto e se divorciando dela no final, isso sem mencionar que ele a escondeu no
apartamento por um longo período de tempo e não a permitiu ver o filho, escon-
dendo toda sua existência do resto da família. É um homem que cede facilmente
a seus desejos mais infantis, como fazer parte do parlamento ou fumar haxixe
mesmo que seja proibido pela religião. Sua existência é irritante por saber que
existem muitos outros como ele. O final, de saber que metade de seu dinheiro se-
ria usurpado, me agradou um pouco.
Zaki e Bosaina são, de longe, meus personagens favoritos. Bosaina passa por
mal bocado e, como já mencionado, vejo um complexo de Cinderela na sua vida.
Ela é trabalhadora e tenta se respeitar frente a sociedade, sem se tornar uma fa-
nática religiosa. Ela valoriza sua liberdade e suas escolhas e ganhou minha sim-
patia muito rápido, além de ter um cabelo lindo. Zaki demorou um tempo maior
para me conquistar, ele é mulherengo, alcoólatra e fumante, além de fazer parte
de uma classe social falida e ser zombado por isso (como Hatem e o moço que
entrega o processo fazem), mas ao ver a maneira com que ele tratava seus iguais
e quão controlado ele era perto de sua irmã louca, criei um certo carinho por ele e
senti toda a emoção da cena em que Zaki solta o cabelo de Bosaina.
Outros personagens secundários também são muito valorosos, como Rabaab,
que chama muita atenção no começo do filme, parece ser alguém adorável mas é
má. Christine, apoiadora, grande amiga de Zaki, que em sua primeira cena apa-
rece toda de branco, cantando, bem angelical. Fanous, que temos pouco tempo
para conhecer, mas que funciona como um certo alivio cômico em sua cena. Ma-
laak, mal caráter que ajuda Dawlat a entrar no escritório de Zaki. E Abd Rabbo que
aproveita todos os luxos que Hatem o fornece e vê o relacionamento como uma
troca econômica, um personagem que eu não vi tantas características, meio abo-
balhado e muito fixo na sua religião, que esquece rapidamente.
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VI. Qual é a sua avaliação do filme selecionado? Você acha que efetivamente
realiza o que você acredita que se propõe a fazer? Em sua resposta, com-
pare o filme a pelo menos dois outros filmes exibidos para o curso.
O Edifício Yacoubian tem várias narrativas, todas elas muito densas, o que o
torna um filme cativante e divertido de se ver, porque o uso das músicas para dar
o tom de diversas cenas tira um pouco de toda tensão emocional que carrega.
Essa habilidade de saber dosar os gêneros cinematográficos em cada sequência
e cada núcleo torna muito divertido e até educativo assistir esse filme, porque é
uma visão de mundo muito diferente da minha, por exemplo.
Uma das primeiras coisas que pensei ao começar a ver o filme era qual a pro-
posta, porque tinha lido que se concentraria no prédio e quando os créditos come-
çam e tem aquela introdução, a ideia é de que vivenciaríamos algum período do
prédio, focando apenas nele. Qual não foi minha surpresa ao viver outros ambi-
entes da Cairo de 1994, com muitas externas, podendo conhecer um pouco da ci-
dade. Acho que a proposta era usar o Edifício Yacoubian como pano de fundo, mas
ele se tornou um ponto de convergência e expandiu suas histórias para diferentes
espaços, o que eu vejo como um enorme acréscimo para o espectador.
Nesse último ponto, ele diverge muito de Estação Central de Cairo, que é um
filme que também segue narrativas diferentes assim como Edifício Yacoubian,
mas enquanto a película de 1958 se passa toda em um dia na estação, os persona-
gens do prédio são representados em um grande recorte de tempo (tanto que a
barba de Taha cresce, é feita, cresce e depois é cortada de novo, e Suad até engra-
vida).
A pobreza, ao contrário de Portas Fechadas, toma um caminha muito seme-
lhando. Talvez já tenha mencionado, mas vejo a mãe de Portas Fechadas uma
personagem muito similar a Bosaina, enquanto vejo em Taha o personagem do
filho. Até a moradia é parecida, os dois morando no telhado.
Apesar da fotografia da cópia disponível, Edifício Yacoubian foi um filme de
grande acréscimo para poder pensar nas diferenças e semelhanças entre cultu-
ras, como influências externas afetam países diferentes de formas iguais, permi-
tindo até me reconhecer na tela de um filme feito num lugar tão distante.
Fontes
https://www.nbcnews.com/id/7034848/ns/world_news/t/egyptian-leader-or-
ders-election-amendment/#.U8hrS_ldX9U, acesso em set/2018
https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,os-30-anos-de-hosni-muba-
rak-no-poder,678003, acesso em set/2018
http://enb.iisd.org/cairo.html, acesso set/2018
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/10/17/mundo/11.html, acesso set/2018
https://diplomatique.org.br/de-nasser-a-mubarak/, acesso set/2018
https://www.imdb.com/title/tt0425321/?ref_=ttfc_fc_tt, acesso set/2018
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https://g1.globo.com/mundo/noticia/relembre-os-principais-ataques-de-extre-
mistas-islamicos-no-egito.ghtml, acesso set/2018
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