Dialetos Do Tocantins PDF
Dialetos Do Tocantins PDF
Dialetos Do Tocantins PDF
Londrina
2018
GREIZE ALVES DA SILVA
Londrina
2018
GREIZE ALVES DA SILVA
BANCA EXAMINADORA
____________________________________
Orientadora: P rof.ª Dr.ª Vanderci de Andrade
Aguilera.
Universidade Estadual de Londrina - UEL
____________________________________
Prof. ª Dr.ª Sílvia Figueiredo Brandão
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
____________________________________
Prof. Dr. Felício Wessling Margotti
Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC
__________________________________
Prof. ª Dr.ª Aparecida Negri Isquerdo
Universidade Estadual de Londrina - UEL
____________________________________
Prof. ª Dr.ª Fabiane Cristina Altino
Universidade Estadual de Londrina - UEL
Em um dos muitos 11.460 dias da feitura da tese, deparei-me com a leitura bíblica
sobre o Paralítico de Cafarnaum que versava sobre os milagres de Jesus. Mais do que os
feitos Dele em curar aquele doente que já não andava, naquele momento, chamou-me a
atenção as figuras secundárias que ilustravam o relato: os amigos do paralítico.
Ao professor Felício Margotti, meus agradecimentos por dedicar seu tempo na leitura
do trabalho e, principalmente, pela elegância que possui no meio acadêmico, pelos textos que
abordam questões de migração que impulsionaram a definição de meu objeto de pesquisa, e,
sobretudo por me fazer enxergar a importância de se conhecer os contextos linguísticos
plurais.
Aos meus amados pais, que sonharam que sua única filha tivesse “faculdade”. Sou
eternamente grata pela simplicidade em que me criaram.
A Patrícia Andrea Borges, pela amizade, por ser minha parte ponderada, e pelo melhor
conselho que alguém poderia ter me dado: “Coma pelas beiradas”.
Ao meus menino e meninas: Kleiton Araujo, Tassita Alves e Bruna Menezes, que
tanto fizeram por mim, sem nada pedir em troca. Espero que a vida seja tão generosa com
vocês como foram comigo.
Aos amigos Valter Pereira Romano, Eloisa Elena Bárbara Oliveira, Juliana Franco,
Vanessa Yida e Ana Paula Puzzinato. A distância nem sempre permite que mantenhamos
contato como antes, mas nem por isso esqueço da importância de vocês em minha vida.
RESUMO
O atual estado do Tocantins, em seus primórdios pertencente à porção norte de Goiás, foi
marcado pelas constantes migrações interestaduais e pelos deslocamentos internos.
Geograficamente, faz fronteira com outras seis unidades federativas, conduzindo sua
população a um híbrido cultural e, consequentemente, linguístico, posto que grande parcela de
seus habitantes é procedente de contexto migratório, seja por iniciativa familiar ou por
disposição individual na busca por melhores condições de sobrevivência. Buscamos, com este
trabalho, traçar o perfil dialetológico do falar da população tocantinense por meio da
confecção de um atlas linguístico estadual, a saber: o Atlas Linguístico Topodinâmico e
Topoestático do Estado do Tocantins (ALiTTETO). Para tanto, fez-se uso da metodologia da
Dialetologia Pluridimensional, dadas as possibilidades de defrontar a binariedade oriunda das
dimensões diatópia (areal) e diatópica-cinética, cujo contraponto são as variedades
linguísticas provenientes dos informantes topoestáticos (nascidos nas localidades de pesquisa)
em contraste com os topodinânicos (oriundos de migrações ou de deslocamentos). Além do
parâmetro areal estabelecido como pedra fundamental, outras variáveis sociais também
fizeram parte da coleta e da análise, tais como as variações decorrentes da diageracionalidade
e da diassexualidade. Para isso, foram inquiridos 96 informantes, de ambos os sexos, de duas
faixas etárias, distribuídos entre 12 localidades tocantinenses, das mais antigas às mais
populosas e recentes. As análises apontam que a identificação fonética dos informantes
demostra aproximação com a variante nordestina. No léxico, ora a assimilação atrela-se ao
Nordeste, ora com o Norte ou com o Centro-Oeste. Além disso, neste último nível, há a
identificação de duas áreas lexicais: a do eixo histórico, situada no Sudeste do território,
divisa com a Bahia, e denotada por Nascentes (1953) como pertencente ao falar Baiano; a
outra área compreende o Sudoeste, o Norte e o Nordeste do Tocantins e apresenta
identificação, a depender da variante, com aspectos dialetais presentes nos estados nortistas,
nordestinos e centro-oestinos.
ABSTRACT
The state of Tocantins, formerly part of northern Goiás, has been marked by constant inter-
state migrations and by internal population displacements. Tocantins has borders with six
Brazilian states and features a culturally hybrid population, with linguistic variations. This is
due to the fact that great numbers of its inhabitants are the outcome of a migratory process
either through family initiative or through individual enterprise for better living conditions.
Current analysis forwards a dialectological profile of the speech of the people of the state of
Tocantins through a state linguistic atlas, called Topodynamic and Topostatical Linguistic
Atlas of the state of Tocantins (ALiTTETO). The pluridimensional dialectology method was
employed to cope with the binary arising from the diatopic (a-real) and the diatopic-kinetic
dimensions whose counterpoints are the linguistic varieties from topostatic informants (born
on the research sites) and topodynamic informants (originating due to migrations or
displacements). Besides the crucial a-real parameter, other social variables are also part and
parcel to collection and analysis, comprising variations resulting from dia-generationality and
dia-sexuality. Ninety-six male and female informants, from two age brackets, were selected.
They hailed from 12 different sites of the state of Tocantins, comprising the oldest and the
most recent and populous regions. Analyses reveal that the informants´ phonetic identification
lies close to that of people from the northeastern region of Brazil. The lexicon is sometimes
bound to the northeastern variant or to the northern variant and even to the center-western
one. At the latter level, two lexical areas have been identified, or rather, the historical axis at
the south-eastern region of the state, with its border with the state of Bahia, belonging to the
Bahia variant, already singled out by Nascentes in 1953; another region comprises the south-
western, northern and northeastern parts of the state of Tocantins with dialectic aspects
prevailing in the Northern, Northeastern and Center-Western states of Brazil.
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 17
INTRODUÇÃO
origem para o Tocantins e para outras localidades da região nortista. Segundo estimativas
censitárias, aproximadamente 40% de sua população é migrante, principalmente procedentes de
Goiás e do Maranhão (CUNHA; BAENINGER, 2000).
Além da presença migrante interestadual, outra característica é constante na população
do atual Tocantins: os deslocamentos dentro do território, configurando-se em um quase
nomadismo de seus habitantes. São frequentes as dispersões internas, sobretudo após a
construção da BR-153, no século XX, cujas cidades em seu entorno, populosas, abrigam os
antigos moradores das chamadas “cidades tradicionais”, localidades que, nos primórdios,
atuaram como entrepostos comerciais, arraias ou postos de defesa do território, das quais
podemos destacar Natividade, Paranã, Arraias, Dianópolis, Porto Nacional, dentre outras, em
sua maioria, situadas à sudeste.
Em termos dialetais, essa relação plural já havia sido notada por Antenor Nascentes,
em sua obra “Bases para a elaboração do Atlas Linguístico do Brasil” (1958-1961); o autor
propõe seis (6) localidades a serem pesquisadas, hoje situadas no Tocantins, mas que, na época,
pertenciam ao território goiano, a saber: 574 – Palma (Bom Jesus da Palma – atual Paranã); 576
– Peixes; 577 – Porto Nacional; 578 – Pedro Afonso; 579 – Pedra de Amolar (vila situada entre
Ponte Alta e Mateiros, no Jalapão) e 580 – Tocantinópolis.
Na proposta de divisão dialetal de Nascentes (1953), o então Norte goiano, atual
Tocantins, desempenharia ponto de transição entre três falares: Amazônico, Nordestino e
Baiano, além de pertencer, em sua faixa sudoeste, ao território incaracterístico, mais
recentemente denominado “multivarietal” (CUBA, 2015).
Contemporaneamente, dos pontos propostos por Nascentes (1953), o Atlas Linguístico
do Brasil (ALiB) contemplou uma localidade no Tocantins: Pedro Afonso e inseriu Natividade,
pois, dentro do estado, é a primeira cidade tombada pelo IPHAN – Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, e sua fundação remonta ao ano de 1734, em virtude do ciclo mineratório. O
ALiB optou por não incluir a capital Palmas, “por ser uma cidade ainda em formação, sem
habitante aí nascido” (ALiB, 1997).
Sobre os três falares elencados por Nascentes (1953), e cujas fronteiras perpassam o
território tocantinense, Ribeiro (2012) por meio do uso dos dados coletados em Natividade e
em Pedro Afonso pelo ALiB, ratifica a área do falar Baiano com análises versadas no campo
semântico dos brinquedos e das brincadeiras infantis, caminho esse também trilhado por
Saraiva (2013) quanto ao falar amazônico.
Além do ALiB, outro trabalho englobando quatro estados – Rondônia, Mato Grosso,
Goiás e Tocantins – foi realizado por Cuba (2015); trata-se do “Atlas Linguístico do Território
19
Incaracterístico” e, segundo a autora, esse espaço não pode mais ser tido como ausente de
características dialetais, mas uma zona multivarietal, na qual atuam diferentes normas
linguísticas, provenientes dos grupos migrantes que atuaram e continuam atuando nesse
ambiente.
Mesmo após a evidenciação dos três importantes trabalhos (RIBEIRO, 2012;
SARAIVA, 2013; CUBA, 2015) que visam averiguar a manutenção ou não das áreas outrora
propostas, cujas linhas demarcatórias perpassam o espaço que nos propomos a analisar, o
Tocantins, a lacuna ainda reside no fato de que as localidades utilizadas pelas autoras são
diminutas e não abarcam todas as regiões tocantinenses.
Assim, pelo exposto e pelo cenário diversificado que compõe o atual estado, surgiu a
motivação inicial para a feitura de um trabalho que propõe a descrição dialetal por meio de um
Atlas Linguístico no Tocantins. Essa motivação se constitui, primeiramente, por um interesse
dialetológico em verificar e constatar se há um falar tocantinense típico ou se o estado
apresenta um híbrido linguístico, resultado de intensas migrações. Além disso, interessou-nos
investigar como atua o sistema linguístico dessas populações de caráter mais local em contraste
com os migrantes que habitam o Tocantins. Destacamos também que, por se tratar de um
estado novo, há poucas pesquisas dialetógicas1 com enfoque para a diversidade da língua
portuguesa. Os raros trabalhos sociolinguísticos no Tocantins têm abordagem prioritária para as
línguas indígenas presentes na região.
Em função do contexto plural que compõe o cenário linguístico e social tocantinense,
adotamos as vertentes teórico-metodológicas da Dialetologia Pluridimensional, na perspectiva
de aliar o contexto areal aos aspectos sociais dessa população. A principal dimensão adotada na
execução deste trabalho é retratada como diatopia-cinética, cujo parâmetro binário de análise é
o contraponto entre a topoestática e a topodinâmica, ou seja, o contraste dialetológico entre o
falar dos informantes nascidos nas localidades de pesquisa e o dos não nascidos.
Diante das colocações supramencionadas, considerando o universo de pesquisa e o
contexto linguístico, não ficaríamos imunes à tentativa de responder às seguintes inquietações,
assim como à formulação de hipóteses para o trabalho:
a) Tinha Nascentes (1958; 1961) razão quando dividiu o território que compreende o
atual Tocantins em falares amazônico, nordestino e baiano, além de inseri-lo na área
denominada como incaracterística e, atualmente, multivarietal (CUBA, 2015)? Pesquisas
recentes, como as de Ribeiro (2012), de Saraiva (2013) e de Cuba (2015), ratificam, em grande
1
Foram consultadas as seguintes fontes para este trabalho: Currículos Lattes, site das Universidades e a Biblioteca
Digital Brasileira de Teses e Dissertações.
20
parte, a área outrora definida. Sendo assim, entendemos que o Tocantins atuaria, de fato, como
ponto de transição entre os falares.
b) Há uma norma tipicamente tocantinense ou há um hibridismo linguístico, resultado
das intensas migrações e deslocamentos presentes desde os primórdios no território? Em função
do contexto migratório atuante no espaço de pesquisa, por um lado, acreditamos que esse
território apresenta-se como um misto dialetal, agindo sobre ele diferentes normas, procedentes
do Nordeste, do Centro-Oeste e do próprio Norte. Por outro, há interesse na investigação do
comportamento dialetal dos espaços mais antigos do atual Tocantins, pois, possivelmente, há
nele algum indício de norma local vinculada às sinuosidades históricas de formação.
c) Quais variedades linguísticas estão mais presentes no Tocantins? Presumidamente
um misto, sobretudo procedente dos falantes das regiões limítrofes: Norte, Nordeste e Centro-
Oeste.
d) Se identificadas as modalidades dialetais, oriundas dos dois diferentes grupos,
topoestáticos e topodinâmicos, quais relações elas exercem: covariação ou se excluem
mutuamente? Pesquisas recentes têm identificado que o migrante nem sempre encontra um
terreno linguístico fértil, em que sua modalidade de origem é bem aceita na nova comunidade.
Nesse caso, importa-nos averiguar como se dá a existência dos diferentes grupos dialetais
atuando nesse mesmo espaço.
Para a retificação ou a ratificação de nossas hipóteses, nesta tese, temos o seguinte
objetivo geral: elaborar o Atlas Linguístico Topodinâmico e Topoestático do Estado do
Tocantins (ALiTTETO), com vistas prioritária em dois níveis da língua: fonético e lexical.
A escolha do título, que apresenta termos procedentes de nossa seleção metológica –
topoestático e topodinâmico –, presta-se a evidenciar o caráter constrastivo da obra, que visa à
coleta sistemática nas duas vertentes citadas. Aliados aos preceitos do primeiro escopo, estão os
objetivos específicos, a saber:
(1) Descrever a realidade dialetal tocantinense, com enfoque nas dimensões
interindividuais, tais como as variáveis diassexuais, diageracionais, diatópico-
topoestáticas e diatópico-cinéticas, consideradas na perspectiva da Dialetologia
Pluridimensional.
(2) Verificar a interinfluência exercida pelos dois grupos, tanto topoestáticos quanto
topodinâmicos, que compõem o cenário linguístico do Tocantins.
(3) Mapear os dados, com vistas às análises que permitam verificar as influências que
grupos detentores de instabilidade migratória imprimem no falar autóctone.
21
(4) Identificar possíveis isoglossas, a partir dos dados mapeados, e respectiva relação
com a história social do Tocantins e da formação étnica da população.
As três fases que a autora utiliza para delinear a história econômica na época das
conquistas e dos povoamentos em Goiás orientam o presente capítulo. Dessa forma, iniciamos
com a apresentação dos primeiros habitantes e dos colonizadores. Em um segundo momento,
discorremos sobre a formação dos primeiros povoamentos, comumente atrelados ao ciclo do
ouro na região e ao acesso pelos rios Araguaia e Tocantins. Ainda com relação à fixação dos
povoamentos, apresentaremos os fatores históricos e sociais que levaram à separação entre as
regiões Norte e Sul goianas, dando origem ao Tocantins. Por último, elencamos os principais
aspectos culturais presentes no estado, frutos dos contatos migratórios, sejam com os estados
limítrofes ou mesmo decorrentes das feições históricas e geográficas inerentes ao próprio
território.
2
Sistema de colonização adotado pelo governo português, no qual se forneceram terras para terceiros. Esses
donatários tinham como função explorar a terra e buscar o lucro para a Coroa portuguesa. No Brasil, ao todo,
foram distribuídas 15 capitanias para pessoas vinculadas ao reino ou importantes militares (AZEVEDO, 1999, p.
87).
26
3
Povoação de índios com direção ou administração exercida por missionários ou autoridades leigas (HOUAISS,
2009).
27
Além dos índios, havia dois tipos de grupos que frequentavam a região: os missionários,
em busca de índios para as atividades agropastoris e catequéticas em aldeias estruturadas na
Amazônia, e os bandeiras, cujo intuito era prear os índios e levá-los para o trabalho no
comércio açucareiro do Nordeste, na lida com as minas ou no serviço pastoril. Apesar de
frequentarem a região, ambos os grupos – missionários e bandeiras – não tinham o intuito de se
fixar no território.
É importante ressaltar que, em Goiás, agiram dois tipos de bandeirantes. O primeiro
grupo atuou durante o século XVII e tinha o objetivo de capturar os índios para suprir a mão de
obra escrava. O segundo núcleo bandeirante agiu a partir do final do século XVII e no início do
século XVIII e buscava encontrar ouro e metais preciosos (PARENTE, 2007, p. 37).
A partir do final do século XVII, foi considerável a passagem do segundo grupo de
bandeirantes: aqueles que buscavam nos sertões os metais preciosos (PARENTE, 2007). Com
esse objetivo, aliado ao interesse em habitar novas terras, segundo Palacín e Moraes (2008), o
primeiro bandeirante a conquistar o território de Goiás foi Bartolomeu Bueno da Silva,
conhecido como o Anhanguera-filho4, saindo de São Paulo em 03 de julho de 1722, após
concedida a licença Real para tal empreitada.
A expedição era formada pelo próprio Anhanguera, Domingos do Prado e João Leite
da Silva Ortiz, além de numerosos outros homens. Durante a viagem, muitos morreram e outros
retornaram a São Paulo. Os homens que restaram, juntamente com Anhanguera, vagaram pelo
sertão durante três anos até encontrar o ouro na cabeceira do rio Vermelho (atual cidade de
Goiás).
Em outubro de 1725, os bandeirantes retornam a São Paulo com notícias de “cinco
córregos auríferos com minas tão ricas quanto às de Cuiabá” (PALACÍN; MORAES, 2008, p.
22). Bueno (Anhanguera), agora com o título de Superintendente das minas, organiza nova
expedição para o sertão goiano e desse fato decorre a ocupação da região com a criação de
vários arraiais5.
4
Relata-se que Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera-pai, saiu de São Paulo rumo aos sertões em 1682 e,
tendo passado pelas terras de Goiás, deparou-se com a tribo indígena Goyá. Segundo a lenda, as índias estavam
adornadas com ouro, e o bandeirante perguntou-lhes onde poderia encontrá-lo. Não obtendo a localização do
ouro, Anhanguera pôs fogo em uma tigela de aguardente e ameaçou fazer o mesmo com os rios da região. Conta-
se ainda que Anhanguera-filho o acompanhava na expedição e que mais tarde retornou à Goiás para encontrar o
ouro descrito pelo pai (FRANCO, 1954).
5
Povoamentos, normalmente transitórios, de trabalhadores de garimpos e minas (HOUAISS, 2009).
28
O ciclo do ouro em terras goianas durou apenas 50 anos, mas, a exemplo das minas
encontradas em outras regiões brasileiras, trouxe para o território todo tipo de gente em busca
dos metais preciosos, favorecendo o surgimento de vários arraiais. Diferentemente do ouro
descoberto em Minas Gerais, os metais preciosos no território goiano eram do tipo aluvional6,
cujas fontes esgotaram-se rapidamente. Tal fato, aliado às dificuldades inerentes do território,
fazia que os núcleos populacionais sempre se deslocassem para outras regiões em busca de
novas fontes.
Segundo Palacín e Moraes (2008), no período aurífero, foram criadas três zonas
populacionais ao longo do século XVIII, a saber: a primeira no centro-sul, com arraiais
desconexos no caminho de São Paulo; a segunda localizava-se na região do rio Tocantins, no
alto Tocantins ou Maranhão. Consoante os autores, eram as zonas mais densas de povoação e
pertenciam à correição7 do Norte. A terceira situava-se no extremo norte da capitania, entre o
rio Tocantins e regiões limítrofes com a Bahia. Tratava-se da parte mais árida do território e as
povoações nessas regiões foram dispersas. Nesta última zona populacional, encontravam-se os
arraiais de São Félix, Arraias, Cavalcante, Natividade e Porto Real (Porto Nacional). Ao todo, a
capitania de Goiás contava com aproximadamente 40 arraiais.
Não há informações precisas sobre o contingente populacional, somadas as três zonas,
contudo consta, em registros de impostos, que, em 1736, a população beirava 15 mil pessoas e
6
Tipo de ouro encontrado no vale dos rios.
7
Região, distrito sob a alçada de um juiz; comarca (HOUAISS, 2009).
8
O termo designa os portugueses nascidos no reino, em Portugal (AZEVEDO, 1999, p. 299).
29
Com o movimento típico de diferentes grupos pelo sertão, outro problema enfrentado
pela Coroa portuguesa era o contrabando do ouro e a compra de manufaturas provenientes da
Bahia, comércio esse realizado no Norte da capitania, possivelmente pela menor fiscalização
nessa região. Para sanar o contratempo e manter o pagamento de impostos sobre o ouro
retirado, a Coroa instituiu medidas para conter o contrabando por meio do Alvará de
27/10/1733. As principais atitudes foram as seguintes:
Fechamento dos caminhos, mantendo aberto apenas um, onde se fazia severa
fiscalização; proibição da navegação do Tocantins, proibição esta que trouxe,
como consequência imediata, o trancamento das relações centro norte, o
isolamento das minas e a decadência e morte de diversas povoações
localizadas na zona daquele rio e seus afluentes (CHAIM, 1987, p. 31).
Os grupos que ocupavam os arraiais do Norte goiano, segundo Parente (2007, p. 63),
eram heterogêneos. A pesquisadora, por meio de levantamentos históricos, ressalta que a
população branca, em 1804, era de apenas 7,4% e quase todos habitavam Cavalcante, sede da
comarca do Norte. Eram comuns os cruzamentos de brancos com índias e escravas, dando
origem a uma população de mestiços, número que chegou, no final do século XVIII, a
representar 31% da população.
Com a decadência do ciclo da mineração, algumas regiões foram completamente
abandonadas. As populações que se mantiveram em solo goiano dedicaram-se às atividades de
subsistência, tais como a criação de gado e a lavoura, ocupações muito rudimentares. Palacín e
Moraes (2008) descrevem que os hábitos culturais dos brancos foram esquecidos e as
populações adquiriram os costumes dos “selvagens”, incluindo o não uso de roupas e do sal,
situação decorrente da precariedade da região (PALACÍN; MORAES, 2008, p. 74).
Para levar progresso à decadente área, o príncipe regente Dom João VI instituiu
algumas disposições na tentativa de estimular a produção e o comércio no local. Dentre elas,
podemos destacar a autorização para navegação nos rios Tocantins e Araguaia e a construção
de presídios9 de defesa às margens dos dois rios. Entretanto, mesmo após as tentativas de
incrementar lavouras às margens dos rios e de relações comerciais com outros estados, como,
por exemplo, Grão Pará (atual Pará), o território do Norte goiano, principalmente, continuou
em profunda crise ao longo do século XIX (PALACÍN; MORAES, 2008).
Além do incentivo à navegação, a Monarquia tentou estimular a agricultura, atividade
considerada pelos homens do sertão como desdenhosa. O desprezo dos antigos mineradores
pelos trabalhos agrícolas, na visão de Mattos (1979), acentuou a miséria na região: “acha-se o
maior desprezo e abatimento [...]. Parece que muitos homens aborrecem aquilo mesmo que é a
origem da sua existência, e principal base de sua sustentação. Inventando pretextos frívolos
com que encobrem sua preguiça [...] não querem trabalhar” (MATTOS, 1979, p. 75).
É nesse cenário econômico e geográfico que alguns capitães-generais reivindicaram a
separação da capitania. O movimento separatista foi encabeçado pelo ouvidor da comarca do
Norte goiano, Theotônio Segurado, culminando, em 1821, em um governo provisório em
Cavalcante, que se intitulava independente da Comarca do Sul. Com a desaprovação de Dom
Pedro I, o Norte goiano não conseguiu sua independência e os movimentos separatistas foram
suprimidos.
9
Tipo de fortificação utilizada para defesa de um território (BOTELHO; REIS; 2003, p. 142).
31
Theotônio Segurado, para propor a separação entre Norte e Sul, baseou-se, além dos
aspectos econômicos, nas diferenças sociais e culturais das populações da região: o Sul estava
atrelado a uma identificação mineiro-paulista, enquanto o Norte estava ligado aos Currais do
Nordeste (CAVALCANTE; KIMURA, 2008). Além disso, essas diferenças foram acentuadas
após o declínio das minas, no século XIX, o que causou, substancialmente, a evasão dos
núcleos populacionais, transformando as áreas que antes eram garimpos em ambientes rurais,
cuja principal atividade econômica era a de subsistência, com pequenas plantações e com a
criação de gado.
O panorama desolador instaurado na região só começou a se modificar, pelo menos
para a parte sul de Goiás, após a Revolução de 30 e a construção da cidade de Goiânia,
considerada um marco econômico para a região. O Sul goiano prosperava, mas o Norte do
estado ainda não havia alcançado um desenvolvimento econômico satisfatório.
Desse modo, foi o fator geográfico que pesou na escolha do arraial de São
Felix para a instalação dessa casa, ou seja, a sua posição central, pois, do
ponto de vista econômico, não tinha significação alguma. Esse investimento
deixou claro o desligamento inter-regional entre o Norte e o Centro-Sul, pelo
menos em termos de relação econômica, porque, no aspecto político-
administrativo, a região continuava vinculada à Vila Boa e, portanto, sob o
controle do Governo da Capitania (CAVALCANTE, 2003, p. 24).
10
Localidade extinta que ficava próxima à cidade de Niquelândia, Goiás.
11
“Local onde todo o ouro extraído das minas deveria ser recolhido, fundido e depois deduzido a quinto, reduzidos
a barras de ouro marcadas com Selo Real” (BOTELHO; REIS, 2003, p. 39).
12
Localidade também extinta.
13
Divisão territorial sobre a qual tem jurisdição o juiz ordinário (HOUAISS, 2009).
33
Figura 02 - Foto do acervo particular do Dr. Feliciano M. Braga, Porto Nacional, 1956
[...] o Sul de Goiás muito mais próximo dos caminhos do Sul, e composto pelo
Rio de Janeiro e Santos; e o Norte muito mais próximo e muito mais fácil o
contato com o Pará que era o Porto de Belém. E esse interesse, é claro, criou
mentalidades diferentes. E a atividade que mais caracterizou o Tocantins foi o
comércio com o Pará e, depois, é claro, fazendas de gado trazido da Bahia, do
Piauí, que se instalava ali nas margens do Tocantins justamente na margem
direita, porque a margem direita era o lado povoado do Tocantins (TEIXEIRA
NETO, 1993, apud CAVALCANTE, 2003, p. 188).
As autoras destacam que as regiões em torno dos dois rios são diversificadas
culturalmente, porque, enquanto o Araguaia encontra-se margeando o oeste do estado, o rio
Tocantins permeia o centro do território. Tal fator hídrico fez que as cidades presentes às
margens do rio Tocantins criassem uma mentalidade ‘nortense’, pois seus habitantes são mais
fixos às localidades:
Pelos dados fornecidos por Aquino (2004), a partir do Censo de 1991, verificamos que
o número de habitantes das cidades próximas à rodovia, quando comparado ao das localidades
tradicionais tocantinenses, praticamente quadriplicou. Quase 20 anos depois, no Censo de
2010, esse número continuou a subir; Araguaína, por exemplo, na década de 90, apresentava
103.396 habitantes, chegando, em 2010, a mais de 150 mil. Em posição oposta, dentre as cinco
cidades tradicionais, quatro delas apresentam decréscimo de sua população; a cidade de
Arraias, por exemplo, no primeiro recenciamento, apresentava 12.899 habitantes, duas décadas
depois, computou 10.645.
40
14
O extrato de Censo (IBGE, 2010) não nos permite averiguar o estado de procedência dos indivíduos, apenas a
região de nascimento.
15
O maior PIB do Estado pertence à capital Palmas, seguido pelas cidades de Araguaína e Gurupi (IBGE, 2016).
41
localidades. Salientamos que Palmas, entre os anos de 2000 e 2010, foi a capital brasileira que
mais cresceu em termos populacionais (5, 2%). Segundo o Censo de 2000 do IBGE, 84,1% de
seus habitantes são provenientes de outras localidades16. Esse aumento significativo do
contingente populacional na microrregião pode estar atrelado à construção e à inauguração da
capital e a um maior crescimento econômico. As maiores concentrações de migrantes são
oriundas do Maranhão, de Goiás, de Minas Gerais e do Pará, conforme gráfico demonstrativo.
16
O mesmo estudo cita Paranã como a cidade que menos recebeu migrantes (IBGE, 2000).
42
17
Não foi possível inserir dados mais recentes no quadro, pois o Censo de 2010, retirado diretamente da base de
dados do IBGE, não permite auferir os estados de procedência dos migrantes, apenas as regiões brasileiras.
43
Maranhão 7,3%
Piauí 1,7%
Ceará 0,7%
Rio Grande do Norte 0,7%
Nordeste
Paraíba 0,3%
13,0%
Pernambuco 0,6%
Alagoas 0,6%
Sergipe 0,5%
Bahia 0,6%
Rondônia 0,7%
Acre 0,6%
Norte Amazonas 0,5%
12,1% Roraima 1,2%
Pará 8,7%
Amapá 0,8%
Paraná 0,5%
Sul
Santa Catarina 0,3%
1,2%
Rio Grande do Sul 0,4%
Total de migrações 46, 4%
Fonte: Elaborado a partir de dados extraídos dos censos de 2005 a 2010 e de Ramalho et al. (2016,
p.74).
A partir dos dados descritos no Quadro 3, por ordem crescente, Goiás foi o estado que
mais enviou migrantes ao Tocantins (12,1%) nas últimas décadas, ou seja, em relação aos
44
18
A cidade de Miranorte, pertencente à microrregião de Miracema, fica no entorno da rodovia Belém-Brasília
(BR-153).
45
Pelos dados retratados por Brasil (1997), por Cunha e Baeninger (2000), por Aquino
(2004) e por Ramalho (2016), pudemos corroborar as premissas culturais descritas por
Cavalcante e Kimura (2008), sobretudo a de que o Tocantins só pode ser compreendido em sua
heterogeneidade cultural. Nesse cenário híbrido, também é importante destacar que as
localidades nos eixos históricos e tidas como tradicionais sofreram, após a construção da
rodovia Belém-Brasília, um esvaziamento. Em contrapartida, as localidades às margens da
rodovia cresceram consideravelmente nas últimas décadas e representam as localidades que
mais receberam migrantes.
46
19
Utilizamos na tese as nomenclaturas Geografia Linguística e Geolinguística como sinônimas.
48
nas obras de base, quanto no estado da arte dos trabalhos que se propõem a considerar uma
realidade dialetal específica.
Coseriu (1982, p. 79) define Geografia Linguística como método dialetológico
responsável por registrar “mapas especiais de um número relativamente elevado de formas
linguísticas (fônicas, lexicais ou gramaticais) comprovadas mediante pesquisa direta e unitária
numa rede de pontos de um determinado território” (COSERIU, 1982, p. 79).
A ampliação do conceito tradicional de Coseriu é fornecido por Campoy (2001), ao
expor que, para descrever fatores linguísticos, faz-se necessário compreender a dinâmica das
particularidades geográficas, tanto espaciais quanto sociais. Ou seja, o entendimento do
progresso das populações, seja a partir da distância dos grandes centros, do número de
habitantes, dos deslocamentos e das migrações, das conexões terrestres, pode auxiliar a
descrição e o entendimento de fenômenos dialetais (CAMPOY, 2001, p. 121).
Para Campoy (2001, p. 121), a Geolinguística atual é intrinsecamente interdisciplinar,
posto que alia conceitos de três áreas: a Dialetologia tradicional, eminentemente rural; a
Sociolinguística Laboviana, de base urbana; a Geografia, principalmente a humana. No último
item, acrescenta o autor que a Geografia Humana “se ocupa, fundamentalmente, do dinamismo
espacial do homem-habitante, em termos de movimentos naturais e migratórios, e as causas
desses fenômenos”20 (CAMPOY, 2001, p.122 [tradução nossa]).
Em outras palavras, à Geografia Linguística, cuja função principal é apresentar as
formas linguísticas na superfície de mapas, ao longo dos anos, especialmente nas últimas
décadas, têm sido acrescidas novas dimensões para o entendimento da variação tanto espacial,
quanto social na superfície cartográfica. Fatores esses que levaram os pesquisadores a formular
novas denominações a partir dos novos rumos fornecidos às ciências da variação: Dialetologia
Pluridimensional (THUN, 1998), Sociodialetologia (GUY, 2012) e Geossociolinguística
(RAZKY, 2003).
Decorrentes das contemporâneas denominações fornecidas à Geografia Linguística e
do entendimento da variação espacial em conjunto com o social, Thun (1998) estabelece novas
tipologias para os atlas linguísticos que podem ser divididos em três categorias:
monodimensionais, bidimensionais ou pluridimensionais/multidimensionais, conforme sua
abrangência e disposição cartográfica.
20
No original: “Se ocupa, fundamentalmente, del dinamismo espacial del hombre-habitante, en términos de
movimientos naturales y migratorios, y las causas de estos fenómenos” (CAMPOY, 2001, p. 122).
49
A entrevista sistemática visando ao aspecto diassexual foi realizada, por exemplo, por
Ferreira et al. (1987), no ALS, e por Aguilera (1994), no ALPR, em todas as localidades de
inquérito de modo sistemática. A disposição desse eixo é indicada no plano cartográfico,
fazendo que o leitor estabeleça conexões entre a variável diatópica e sua correlação pelo sexo
do entrevistado. Assim, os dois atlas foram pioneiros em utilizar continuamente na cartografia
as respostas de ambos os sexos, tornando-se os primeiros atlas linguísticos de cunho
bidimensional publicados na América Latina, conforme destaca Thun (2005, p. 66).
21
No original: “la consciência de que es muy necessário agregar al estudio de ladimensión areal el de otros tipos
de variación” (THUN, 1998, p. 702).
51
22
No original: “La superficie bidimensional horizontal de la Dialetología y el eje vertical de la Sociolingüística
forman juntos el espacio variacional tridimensional de la Dialetología Pluridimensional y relacional” (THUN,
1998, p. 704).
52
23
No original: “O espacio variacional de la Dialectología Pluridimensional no compreende solamente los dialectos
“puros” preferidos por la Dialectología tradicional o los sociolectos de la Sociolingüística. Son de igual interés
las variedades mixtas, los fenómenos de contacto lingüístico entre lenguas contiguas o superpuestas de minorias
y de mayorías, formas regionales, la variación diafásica (o estilística), el comportamiento lingüístico de los
topodinámicos (demográficamente móviles) contrastando con el de los grupos topoestáticos (poco móviles en el
espacio), la actitud metalingüística de los hablantes comparada con su comportamiento lingüístico, y otros
parámetros más.” (THUN, 1998, p. 706).
53
A seleção de acordo com excertos sociais denota certa abstratividade, pois a triagem
dos informantes requer algumas especificidades, principalmente no que concerne a uma
possível renda familiar dos informantes. Em termos brasileiros, esse agrupamento é ainda mais
complexo, uma vez que a categorização por recorte social alto ou baixo traduz-se em um
enorme empecilho em relação à seleção de um informante.
Chambers e Trudgill (1994, p. 88) relatam que, devido a essa dificuldade, tem-se
escolhido, para a presente dimensão, informantes selecionados a partir de suas profissões, de
seu nível de instrução, carreira e vivência. Ou seja, o critério classe social alta ou baixa tem
sido medido pelo tipo de ocupação exercida pelo informante e pelo seu tempo de escolarização.
Comumente, no Brasil, para essa variável, utilizamos como parâmetro inquéritos
realizados separando os informantes por nível escolar; exemplo que pode ser verificado no
Atlas Linguístico do Brasil em que, nas capitais estaduais, entrevistaram-se quatro informantes
com ensino fundamental e quatro informantes com o superior completo, podendo ser realizados
estudos contrastivos entre os grupos.
Cabe ressaltar, porém, que a seleção por escolaridade não se traduz em agrupamentos
por classes altas ou baixas. No Brasil, ter ensino superior não significa necessariamente ter um
alto poder aquisitivo; do mesmo modo, informantes que tenham pouca escolaridade não são
imperiosamente pertencentes a estratos sociais baixos.
Por sua vez, a dimensão diageracional não tem se mostrado problemática na coleta de
dados para a Dialetologia Pluridimensional. Desde os primórdios, os dialetólogos veem a
necessidade de demonstrar, na superfície cartográfica, as variações linguísticas decorrentes das
diferentes faixas etárias, pois, aparentemente, as diferenças linguísticas mostram-se mais
evidentes que nas demais variáveis sociais (CARDOSO, 2010).
Os usos linguísticos de um indivíduo modificam-se de acordo com sua idade, como
assinalado por Moreno Fernández (1998), o que, segundo o autor, condiciona a variação
linguística com mais intensidade do que outras dimensões extralinguísticas. A esse respeito, são
oportunas as palavras de Busse (2010).
24
Cardoso apresenta um panorama histórico sobre os primeiros estudos realizados considerando a idade dos
informantes. In: Cardoso (2010).
25
Expressão cunhada por Labov e que visa à coleta e à análise de dados com faixas etárias distintas para a
verificação de uma possível mudança em curso. O referido autor ainda fornece a expressão tempo real, que se
baseia na coleta dos dados linguísticos junto ao informante e, anos mais tarde, repete-se a coleta com este
mesmo indivíduo (LABOV, 2008, p. 194).
26
Citamos o exemplo do Atlas Linguístico do Brasil em que a faixa etária I é representada pelos informantes com
idades entre 18 e 30 anos; a faixa etária II corresponde aos informantes entre 50 e 65. Esse mesmo perfil é
adotado em nosso trabalho.
56
27
No original: “Es por ello que los estúdios sobre la mobilidade espacial de la población pueden servir nos para
determinar dónde, cómo, y por qué se desplazan las lenguas, y, más croncretamente, la difusión de los câmbios
lingüísticos y las innovaciones tanto en el espacio como en el tiempo” (CAMPOY, 2001, p. 129).
28
Campoy (2001) propõe modelos de análises da concentração e dispersão das populações e dos povoamentos
com base em modelos utilizados pela Geografia Humana.
58
29
Dialeto falado no sudoeste da Alemanha, conhecido como francônio-renano ou francônio-moselano
(ANSCHAU, 2010).
60
Moreno Fernández (1998, p. 101) expõe que cabe ao pesquisador averiguar, dentro da
comunidade com que se almeja trabalhar, quais estilos pretende observar. Narrativas de caráter
pessoal, da infância, ou perigos de morte sugerem, normalmente, uma fala menos monitorada e
mais espontânea por parte do informante.
O Atlas Linguístico Diatópico Diastrático do Uruguai (ADDU) contempla a dimensão
diafásica em sua cartografia. Segundo Radke e Thun (1996, p. 40) “O ADDU contrasta,
principalmente para os fenômenos fonéticos, pelo menos três ‘fases’ ou estilos: leitura,
respostas a perguntas do ‘Questionário’, conversa livre/dirigida”. Entretanto, a respeito da
cartografação das respostas ligadas à variável estilo, os autores advertem que
Ou seja, o pesquisador deve dispor os dados de forma que o leitor tenha acesso ao
parâmetro dos itens coletados em diferentes contextos; deve-se identificar o tema que pautou a
coleta de determinado item, se a coleta foi realizada a partir de uma pergunta do tipo gatilho30
ou se sua recolha ocorreu dentro de uma narrativa. Ainda segundo o autor, a variável fonética é
mais perceptível quando auferida em contexto mais amplo (THUN, 2010, p. 508).
Thun (2000) acrescenta como importante à Dialetologia Pluridimensional a dimensão
diarreferencial, cuja finalidade é averiguar a consciência linguística do falante frente à sua
língua e aos usos que faz dela. Trata-se da coleta de dados metalinguísticos, em que o
informante descreve suas crenças a respeito de uma variante ou variedades presentes em sua ou
em outras localidades.
Nessa perspectiva, a coleta de dados pluridimensionais ainda prevê inquéritos com
informantes múltiplos, para recolher comentários metalinguísticos e epilinguísticos no
momento da interação entre dois ou mais entrevistados. Em caso de não respostas, há a “técnica
em três tempos” – estimulo à resposta, insistência e sugestão – (ALTENHOFEN, 2013), ou
seja, o inquiridor fornece possíveis respostas ao informante para verificar se uma delas é
conhecida pelo entrevistado31.
30
Perguntas realizadas com o auxílio de questionário semiestruturado.
31
Sobre a coleta com vários informantes simultâneos, aferimos sua importância, uma vez que os itens são captados
no momento de interação entre os informantes, em um ambiente menos monitorado, mas optamos por não
utilizar essa técnica, dadas a dificuldade de transcrição e análise posterior. Das sugestões fornecidas pela
Dialetologia Pluridimensional, utilizamos, no Questionário Semântico Lexical e nas questões da Retomada, a
“Técnica de três tempos”: o primeiro momento é marcado pela pergunta do questionário; após a resposta do
62
informante, perguntamos se ele não conhece outro nome; depois, sugerimos uma variante não auferida por ele
(FIGUEIREDO, 2014, p. 52). Essa prática permitiu-nos averiguar dados de natureza metalinguística
(diarreferencial) que, por vezes, indicaram se determinada variante é típica da localidade ou se é procedente de
grupos extracomunidade de pesquisa. Além disso, são interessantes as nuances de natureza diageracional
(intraindividual) que essa técnica nos forneceu.
32
No original: “en ciertos contextos predomine el uso de uma lengua en detrimento de outra” (MORENO
FERNÁNDEZ, 1998, p. 171).
33
Este trabalho é inserido na categoria de Atlas da Sociologia das Línguas. Mais informações: Thun (2000).
34
O ALiB inseriu em seu questionário seis perguntas de caráter metalinguístico. São questionamentos do tipo:
“Como se chama a língua que você fala?”, “Tem gente que fala diferente aqui?”. Estudo analítico com esses
dados foi realizado por Aguilera nas capitais brasileiras. In: AGUILERA, V. de A. Crenças e atitudes
linguísticas: o que dizem os falantes das capitais brasileiras. Estudos Linguísticos, São Paulo, v. 2, n. 37, p. 105-
112, maio/ago. 2008.
63
linguística deve sempre se atrelar ao contexto sociocultural e econômico de dada região, pois,
assim, teremos uma descrição plural dos fatos linguísticos a que nos propusemos analisar.
Também podemos mencionar, nesse sentido, trabalhos cujo enfoque recai na dimensão
contatual/dialingual entre o português e as línguas de migração: português/alemão,
português/italiano, dentre outros. Esses trabalhos apresentam um panorama linguístico
diversificado, não descrito apenas por uma dialetologia nos moldes tradicionais, uma vez que
os imigrantes europeus, em sua essência, eram inicialmente monolíngues em sua língua nativa,
tornando-se, posteriormente, bilíngues (português/língua de imigração) e, mais atualmente,
tendem a ser monolíngues em português (MARGOTTI, 2004; 2016).
A mudança linguística desses informantes está atrelada, sobretudo, a fatores diatópicos
e sociais, decorrentes do contato com a língua portuguesa. Há, por parte do falante/migrante,
um processo de ressignificação linguística, em que formas são trazidas da matriz de origem e
são integradas à fala local (ALTENHOFEN; THUN, p. 2016). Nessa continuidade, destacamos
trabalhos como os de Margotti (2004; 2016) e Altenhofen e Thun (2016), no que se refere aos
contatos linguísticos sulistas, pois as vertentes trabalhadas por esses autores inserem-se na
realidade linguística do Tocantins.
Margotti (2004; 2016), utilizando os preceitos da Dialetologia Pluridimensional,
realizou estudo contrastivo da Difusão Sócio-Geográfica do Português em contato com o
Italiano no Sul do Brasil. Para essa finalidade, foram inquiridos 32 informantes, oriundos de
duas colônias originais de assentamento de italianos e de duas colônias mais recentes,
procedentes de imigração interna. O perfil foi aplicado em Santa Catarina (Chapecó, Videira,
Rodeio, Orleans) e Rio Grande do Sul (Sarandi, Caxias do Sul, Nova Palma e Sananduva),
totalizando oito localidades (MARGOTTI, 2016, p. 355-359).
Interessante observar que as colônias de Rodeio (SC) e Sananduva (RS) apresentam
traços ainda marcados pelo italiano. Por outro lado, localidades como Caxias do Sul (RS) e
Orleans (SC) apresentam alto grau de contato com o português. As demais localidades
apresentam um estágio intermediário de mudança linguística. A manutenção da língua de
origem nas primeiras duas localidades citadas está diretamente ligada ao grau de isolamento no
início dessas colônias, à valorização dos costumes italianos pelos seus membros e à
manutenção do italiano, inclusive, pelos mais jovens (MARGOTTI, 2016, p. 362-363).
Outros resultados foram depreendidos pelo pesquisador, dos quais citamos: os
informantes procedentes do meio rural são os que possuem maiores marcas linguísticas do
italiano. Além disso, os jovens, urbanos, mais escolarizados, possuem tendência à utilização do
português, o que pode evidenciar uma mudança em curso, em maior ou menor grau, a depender
65
do “tempo” e da quantidade “de contatos” que esses falantes estabelecem (MARGOTTI, 2016,
p. 368).
Em nossos dados, apesar de trabalharmos com falantes de português, há evidências da
manutenção de marcas mais antigas atreladas aos informantes mais velhos. Em contrapartida,
os jovens utilizam de variantes linguísticas consideradas “mais padrão”, distanciando-se do
vernáculo das gerações antecessoras.
Merecem destaque os resultados fornecidos por Altenhofen e Thun (2016), procedentes
dos quatro atlas linguísticos pluridimensionais que contemplam contatos linguísticos em
diferentes perspectivas: i) Atlas Linguístico-Etnográfico da Região Sul do Brasil (ALERS); ii)
Atlas Linguístico-Contactual das minorias alemãs na bacia do Prata (ALMA-H); iii) Atlas
Lingüístico Diatópico y Diastrático del Uruguay (ADDU); iv) Atlas Linguístico Guarani-
Románico (ALGR)35.
Os autores evidenciam que a) a condição de migração (estado migratório), b) o espaço
da migração, c) a direcionalidade e o percurso da migração e d) a temporalidade da migração
deve ser rigorosamente observadas dentro da perspectiva Pluridimensional, para que se dê
conta das realidades plurivarietais.
O tópico a) “condição de migração” está diretamente ligado à mobilidade espacial do
falante. É nesse contexto que o migrante, em contato com diferentes realidades, ressignifica sua
língua, resultando, por vezes, na adoção de novas formas linguísticas extramatriz de origem.
Destacamos o exemplo de duas áreas lexicais marcadas, à leste do território sulista, pela
variante funde (hunsriqueano) e, na parte oeste, por bodoque (variante brasileira). Segundo os
autores, mesmo após migrações internas de teuto e ítalo-gaúchos para a parte oeste do
território, Região das Missões no Rio Grande do Sul, a variante bodoque foi adotada por esses
migrantes que, anteriormente, utilizavam funde em seu território (ALTENHOFEN; THUN,
2016, p. 379-380).
No que se refere ao item b) “espaço da migração”, devemos considerar contínuos
linguísticos/sociais, tais como: rural vs urbano, fronteiras vs interior, proximidade vs distância
de vias de comunicação para a descrição dialetal. Neste último ponto, indicam os autores que
fatores como, por exemplo, a Rodovia Cuiabá-Belém têm importante papel nas frentes
migratórias sulistas para outras regiões brasileiras (Centro-Oeste e Norte). Localidades que
estão às margens das rodovias possuem tendência de se desenvolverem mais rapidamente que
35
As três últimas obras buscam contatos linguísticos distintos: ALMA-H – contato entre o hunriqueano, língua de
imigração alemã e o português; ADDU – contato entre português e espanhol; ALGR – contato entre o guarani
(língua minoritária) e o português e o espanhol (ALTENHOFEN, THUN, 2016, p. 371).
66
cidades periféricas. Nesse aspecto, inserimos, em nossa realidade, o papel desempenhado pela
Rodovia Belém-Brasília (BR 153) em relação às frentes migratórias (vide capítulo 2).
Quanto ao elemento c) “direcionalidade e percurso da migração”, intenta verificar o
caminho migratório realizado pelo falante, com o intuito de contrapor sua variante com
trabalhos linguísticos realizados em seu local de origem. A partir desse percurso, o pesquisador
tem a possibilidade de verificar os processos de mudança linguística em curso, a adoção de
novas variantes e os desusos de formas linguísticas.
Por fim, a d) “temporalidade da migração”, em consonância com Margotti (2004; 2016),
diz respeito, entre outras direções, ao “tempo transcorrido de uma migração”, assim como à
“ordem de chegada” desse migrante em território escolhido (ALTENHOFEN; THUN, 2016, p.
391). O conhecimento desses fatores leva ao entendimento de mecanismos de manutenção ou
de adoção de uma nova variedade linguística por parte do migrante. Vale ressaltar, assim como
Margotti (2016), que gerações mais velhas tendem à manutenção de sua variante de origem,
enquanto os mais jovens inclinam-se à adoção da norma local.
Ainda dentro desse panorama, outro fator pertinente são as “transmigrações”
(ALTENHOFEN; THUN, 2016, p. 387) realizadas pelos sulistas para além dos estados do Sul:
Centro-Oeste e Norte, principalmente após benefícios governamentais para povoamento da
Amazônia Legal (FIGUEIREDO, 2013, p. 191), configurando uma nova realidade linguística,
tanto para os migrantes, quanto para os autóctones.
Essa contemporânea composição, aliada aos benefícios da vertente Pluridimensional,
tem viabilizado interessantes análises dialetais do ponto de vista diatópico-cinético, como
podemos verificar em Figueiredo (2014), cujo trabalho apresenta dados relativos à variação
linguística dos gaúchos em localidades do Mato Grosso, e em Cuba (2015) com o Atlas
Linguístico do território incaracterístico, em que a autora analisa a variação oriunda de grupos
migrantes na parte apontada por Nascentes (1953) como ausente de características dialetais.
Cuba (2015) destaca que até a década de 50 a densidade demográfica das localidades
que compõem o atual Centro-Oeste e Norte eram baixas e, somente nas décadas posteriores,
essas regiões começaram a ser povoadas, tanto pelo movimento da Marcha para o Oeste,
quanto pela construção de rodovias e a abertura da região para pastagens e para atividades
mineratórias.
Ainda aponta o fato de que, décadas mais tarde, a partir da criação dos estados de
Mato Grosso do Sul e do Tocantins e da transformação de antigos territórios em estados, como
por exemplo: Amapá, Roraima e Rondônia, houve a intensificação das levas migratórias para
67
essas regiões, tanto de grupos provenientes do Sul quanto do Norte e do Nordeste brasileiro
(CUBA, 2015).
No sentido descrito, Figueiredo (2014) analisa o comportamento linguístico de
migrantes teuto e ítalo-gaúchos no Mato Grosso, especificamente em três cidades: Porto dos
Gaúchos, Sinop e Sorriso. A pesquisadora inquiriu oito informantes em cada localidade
selecionada, totalizando 24 informantes (FIGUEIREDO, 2014, p. 71). Em seu trabalho,
verificou no nível fonético, especificamente na realização da vibrante em posição intervocálica
(carta 46), que há um possível processo de mudança em curso, uma vez que variantes como
vibrante alveolar sonora e tepe alveolar sonora , consideradas características do Rio
Grande do Sul [+RS], estão cedendo lugar à dorso velar sonora , tida como não característica
[-RS]. Outro dado intrigante no que se refere ao rótico no grupo dos teuto-gaúchos é sua
aderência à forma retroflexa em detrimento da tepe, conforme descrição da autora:
Os teuto-gaúchos, independentemente de grupo ou classe, aderiram à forma
retroflexa enquanto os ítalos permanecem utilizando ou a vibrante alveolar
sonora [] ou a tepe alveolar sonora [] (cf. cartogramas 16 e 17). Mais uma
vez, o grupo CbGII “resiste” às mudanças, sobretudo, os de ascendência
italiana (FIGUEIREDO, 2014, p. 124).
maior índice de ruralidade e menor contato com vias de comunicação apresentam variantes
mais nortistas, como é o caso dos pontos RO1, MT3 e TO1. Em contrapartida, nos pontos RO2,
MT2, MT4, MT5, MT6 e MT7, notamos a utilização de variantes mais sulistas: gaúchas e
paranaenses (CUBA, 2015, p. 205).
Os fatores morfossintáticos apresentados pela autora denotam aspectos interessantes
sobre o português falado no território incaracterístico. O primeiro refere-se à utilização dos
pronomes pessoais sujeito: “tu/você”, que refuta uma das hipóteses iniciais da autora de que a
forma hegemônica das localidades investigadas seria a utilização do “tu”. Os dados
demonstram que o pronome-sujeito mais utilizado é “você”, com 61,4% de ocorrências, contra
apenas 6,8% do pronome “tu”; também se constatou a utilização do pronome oculto em 31,8%
das análises (CUBA, 2015, p. 208-209).
No que tange à utilização do artigo diante de nome próprio, o que pode caracterizar
um falar com tendência mais sulista ou nortista, 71% dos informantes mencionam o artigo
diante de nome próprio e 23% não proferem o artigo (2015, p. 212). Cremos que a permanência
do artigo denota, no corpus da autora, uma tendência mais sulista, diferentemente do nível
fonético.
Em suma, Cuba (2015) nos apresenta algumas hipóteses estabelecidas a partir de seus
dados. Na maioria das localidades, segundo a dimensão diatópica, há uma tendência mais
sulista, proveniente dos migrantes dos estados do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do
Sul, com exceção dos pontos laterais e periféricos do território incaracterístico: RO1, RO2 e
TO1, que foram colonizados por migrantes nortistas e nordestinos e apresentam variantes,
segundo a bibliografia pesquisada, com marcas de suas antigas regiões (2015, p. 213-2014).
A descrição com tendência mais sulista apontada por Cuba também é exposta no
trabalho de Figueiredo (2014) embora, neste último, os jovens e as mulheres apresentem perda
quanto às variantes mais sulistas, sobretudo no nível fonético e morfossintático. No nível
lexical, é significativa a presença de covariação linguística entre formas mais sulistas e menos
sulistas (FIGUEIREDO, 2014).
Retomando a definição de Nascentes (1953) quanto às particularidades (ou a ausência
delas) na área delimitada como incaracterística, Cuba (2015) enfatiza que esse território não
pode mais ser considerado incaracterístico, mas sim, um espaço de coexistência entre formas
locais, sulistas e nordestinas. Segundo a autora:
36
Para Barros e Lehfeld (1986, p.1), a metodologia está ligada ao “estudar e avaliar os vários métodos disponíveis,
identificando suas limitações ou não ao nível das implicações de suas utilizações”.
37
Richardson (1985, p. 29) conceitua método como uma “escolha de procedimentos sistemáticos para a descrição
e explicação de fenômenos”.
74
A rede de pontos de um atlas linguístico refere-se à seleção prévia das localidades que
compõem a obra, na qual se realizarão os inquéritos linguísticos. Sua compilação está atrelada
aos objetivos do atlas linguístico, se sua abrangência será intercontinental, nacional, estadual ou
se visa à descrição de fatos específicos de uma língua. Comumente, a seleção das localidades
em que se realiza a escolha de dados baseia-se, em geral, na relação entre extensão territorial e
populacional da área de estudo (BRANDÃO, 1991, p. 27).38
No que se refere à quantidade de pontos selecionados, número variável, atlas nacionais
e intercontinentais tendem a adotar uma rede mais ampla, proporcional ao escopo da obra, uma
vez que objetivam explorar as possíveis isoglossas na área geográfica selecionada. Os atlas de
pequeno domínio, que visam averiguar um falar localizado geograficamente, propendem à rede
de pontos com menos distanciamento entre si (BRANDÃO, 1991, p. 27).39
Nascentes (1958), para selecionar os seis pontos de inquérito para o “Atlas Linguístico
do Brasil” (574 – Palma (Bom Jesus da Palma – atual Paranã); 576 – Peixes; 577 – Porto
Nacional; 578 – Pedro Afonso; 579 – Pedra de Amolar (vila entre Ponte Alta e Mateiros, no
Jalapão); 580 – Tocantinópolis), com exceção de Pedra de Amolar, possivelmente baseou-se
em préstimos históricos da formação da região, pois elencou as cidades mais antigas do atual
Tocantins. Em relação a Pedra de Amolar, sua escolha deu-se em função do isolamento
geográfico e proximidade com Bahia, Piauí e Maranhão. Esse vilarejo situa-se entre a cidade de
38
No Brasil, o trabalho pioneiro de Antenor Nascentes “Bases para a elaboração do Atlas Linguístico do Brasil”,
que serve de subsídio aos dialetólogos e geolinguístas, sugere 606 pontos, distribuídos entre os 22 estados
brasileiros, a serem inquiridos em um possível atlas linguístico nacional. Essa rede de pontos justifica-se pela
grande extensão territorial do país e pela coexistência de diferentes normas linguísticas. Para Nascentes (1958,
p.19), os pontos selecionados devem ser “fixados no meio das regiões mais características do tipo de
linguagem”.
39
Os atlas linguísticos europeus apresentam tendência a uma rede de pontos mais densa e critérios diversificados
quanto a sua formação. Vale ressaltar que os territórios contemplados por esses trabalhos são de pequeno
domínio e os projetos, em sua maioria, são interinstitucionais. Em âmbito brasileiro, os critérios para a seleção
da rede de pontos têm sido diversificados, entretanto observamos que, comumente, aplica-se mais de um
parâmetro para sua composição.
75
Ponte Alta e Mateiros, próxima à rodovia TO 247; não há informações oficiais sobre a
quantidade de habitantes nessa localidade.
Em consonância com as direções apontadas no capítulo 3, a utilização de uma
metodologia dialetológica apenas tradicional seria inviável na presente realidade, posto que o
Tocantins, mesmo quando pertencente a Goiás, recebeu forte contingente migratório,
proveniente principalmente do Maranhão, do Pará, de Minas Gerais e de Goiás, nas décadas de
70, 80, 90 e 2000. Diante disso, trabalhamos com os parâmetros topodinâmico e topoestático
em um atlas linguístico, a partir dos preceitos Pluridimensionais (contatual e relacional).
Após a leitura das obras de referência, esboçamos a rede de pontos do ALiTTETO,
cujos princípios norteadores visaram a contemplar as oito microrregiões administrativas do
Tocantins, observando que a seleção das localidades que constituem o trabalho seguiu,
prioritariamente, dois critérios: o histórico-cultural e o político-geográfico.
O critério histórico-cultural considerou os pormenores memoriais da formação do
estado: as povoações mais antigas, principalmente localidades que foram arraiais, zonas de
garimpo, regiões próximas aos rios Araguaia e Tocantins, que funcionaram como importantes
vias fluviais e entrepostos comerciais no século XVIII e XIX. Essas cidades, atualmente,
possuem baixa densidade demográfica, com pouca representatividade econômica, mas foram
elencadas por terem sido relevantes no contexto de formação do estado; acrescenta-se a isso o
fato de essas localidades terem recebido, no princípio da colonização, os primeiros migrantes.
Por esse parâmetro, selecionamos Tocantinópolis, Natividade, Pedro Afonso, Porto Nacional e
Paranã. Com exceção de Natividade, os demais pontos foram anteriormente citados por
Nascentes (1958; 1961); Natividade foi incluída, juntamente com Pedro Afonso, no Atlas
Linguístico do Brasil.
Quanto ao critério político-geográfico, buscamos, inicialmente, as cidades com
destaque no setor econômico e que tivessem grande contingente populacional e,
consequentemente, migratório, constituindo grandes centros urbanos no Tocantins. Por essas
características, foram selecionadas as três localidades com maior PIB estadual: Palmas,
Araguaína e Gurupi.
Além disso, seria fundamental recobrir geograficamente as regiões de fronteira com
outros estados, as localidades isoladas e as cidades em torno da rodovia Belém-Brasília (BR-
153), responsável, no século XX, pelos agrupamentos migratórios (AQUINO, 2004)40. Para
contemplar os limites estaduais, inserimos as seguintes localidades: Araguatins e Araguacema,
40
Vide capítulo 2.
76
na divisa com o Pará; Mateiros, na fronteira com Piauí, Maranhão e Bahia; Formoso do
Araguaia, na divisa com o Mato Grosso e pertencente ao Complexo do Cantão41.
Os pontos elencados, com exceção de Mateiros, Aguacema e Natividade, possuem
mais de 10 mil habitantes. Optamos pela manutenção de Mateiros por pertencer ao complexo
do Parque Estadual do Jalapão, pelo isolamento geográfico em relação às outras localidades e
por ser próximo à tríplice fronteira (Piauí, Maranhão e Bahia). Araguacema foi eleita em
função de sua antiga história e de se situar na divisa com o Pará; Natividade foi selecionada por
se tratar de uma antiga zona de garimpo e por ter sido a primeira cidade tocantinense tombada
pelo IPHAN, além de ser ponto selecionado pelo ALiB.
Na região central do estado, onde há maior concentração populacional, optamos por
manter as localidades de Palmas, Porto Nacional e Pedro Afonso, por entendermos que essas
regiões são significativas do ponto de vista linguístico-cultural e histórico. Inicialmente,
havíamos estipulado que a capital Palmas, com apenas 29 anos, não teria informantes da
segunda faixa etária (de 50 a 65 anos) ali nascidos e pretendíamos aplicar apenas o critério
topodinâmico, ou seja, investigaríamos apenas os quatro informantes procedentes de migrações
ou de deslocamentos.
Quanto a não inserção dos informantes topoestáticos tendo em vista a inexistência de
uma população anterior à construção de Palmas, verificamos que havia na região, antes de
198942, o povoado de Canela, distrito de Porto Nacional. A partir da construção de Palmas e da
hidrelétrica de Lajeado, essa população foi realocada para a quadra 508 Norte, na então
construída capital Palmas. Assim, inserimos também mais quatro informantes nessa localidade:
os topoestáticos, antigos moradores de Canela, primeiros habitantes do local que
posteriormente seria Palmas.
Ao todo, selecionamos 12 localidades e contemplamos todas as oito microrregiões
administrativas estaduais. Os pontos de inquérito são numerados de 01 a 12, sendo o primeiro
marcado na posição mais norte do Tocantins (Araguatins), enquanto o último ponto é
assinalado no sul do estado (Paranã). As cidades elegidas são apresentadas no quadro a seguir.
41
Inicialmente, nossa rede de pontos era constituída por 10 pontos de inquérito, entretanto, no decorrer da
pesquisa, inserimos mais duas localidades: Araguatins, no extremo norte do estado, divisa com o Pará, e Paranã,
no extremo sul, limítrofe com Goiás. A inserção de Paranã deveu-se, além do critério geográfico, a fatores
históricos que definiram o povoamento da localidade; trata-se da primeira sede da Comarca do Antigo Norte
Goiano e localidade sede do primeiro Movimento Separatista, no século XIX.
42
Após ponderações de Altino Informação verbal fornecida no Seminário de Teses e Dissertações em andamento.
Londrina: UEL, 2014 [debate].
77
A coleta dos dados nas localidades de pesquisa foi realizada entre março e dezembro
de 2015. As viagens totalizaram aproximadamente 5.000 quilômetros e as gravações em torno
de 8.640 minutos.
A seguir, apresentamos um pequeno esboço dos principais aspectos históricos e sociais
de cada cidade elencada.
Situada à margem direita do rio Araguaia, teve seus primeiros moradores vindos no
ano de 1867; posteriormente, a família de Bernardino Gomes, procedente de São João do
Araguaia, no Pará, fundou a cidade com o nome de São Vicente do Araguaia, nome atribuído
em homenagem ao padroeiro São Vicente e ao rio Araguaia, sendo modificado em 1943,
aludindo apenas aos dois rios: Araguaia e Tocantins (FERREIRA, 1958).
As principais atividades econômicas da cidade giram em torno da extração de madeira,
de babaçus, de cristais de rocha e das atividades agropastoris. As relações comerciais dessa
localidade são realizadas, principalmente, com Marabá, no Pará, dada sua realidade fronteiriça.
78
Situada entre os rios Andorinha e Lontra, afluentes do rio Araguaia, a região abrigou
seus primeiros habitantes: os índios Carajás. Em 1876, chegaram à localidade as primeiras
famílias, provenientes de Parnaguá, Piauí, que batizaram o local de “Livre-nos Deus”, “em
alusão ao temor pelos ataques dos índios e animais selvagens que ali habitavam” (IBGE, 2016).
Em seguida, vieram outras famílias, formando o povoado denominado Lontra, nome
concedido em alusão ao rio. As atividades econômicas eram principalmente o cultivo de
cereais, o comércio dos excedentes e a cultura do café, mas, devido à falta de infraestrutura
logística, a produção e a região foram abandonadas.
Somente em 1925, com a chegada de novas famílias, formou-se outro pequeno povoado
juntamente com o primeiro templo católico. Posteriormente, a região foi nomeada de Povoado
Araguaína, em clara referência ao rio. Devido à sua localização e à ausência de estradas, as
atividades econômicas da região, principalmente a pecuária, não se desenvolveram durante
anos. Em 1948, seu nome foi mudado para Araguaína.
Até meados do século XIX, as margens do rio Araguaia eram habitadas por etnias
indígenas ainda não catequizadas pelos missionários, embora essa região tenha sido percorrida
por bandeirantes e jesuítas em séculos anteriores.
Com o intuito de fomentar a navegação do rio Araguaia e manter comércio entre a
capitania de Goiás e Belém, no Pará, além de fortificar e manter os territórios seguros de
estrangeiros, era preciso construir presídios de defesa para também funcionarem como postos
de abastecimento aos navegantes (CARVALHO, 1998).
A primeira tentativa de colonização da região deu-se em 1812, com o desbravador
Tenente Francisco Xavier de Barros, cuja responsabilidade era instalar 80 pessoas às margens
do rio Araguaia para construir e manter o Presídio de Santa Maria do Araguaia (Fortaleza
Militar), para a proteção do comércio e da navegação (FERREIRA, 1958, p. 46).
Segundo Carvalho, além dos militares, foram recrutados para a construção do presídio
“indigentes”: pessoas “excluídas da sociedade, sem lar, sem ocupação, viviam de esmola”
(1998, p.
25). Além desse tipo de população, foram utilizados índios para o fornecimento de matéria-
prima e para o trabalho na construção. Esse fato, juntamente com uma difícil relação entre
colonizador e silvícolas, fez eclodir um grande assalto, destruindo a região em 1813, apenas um
ano após o início das obras. Várias outras tentativas de retomada do projeto surgiram,
entretanto todas sem sucesso.
80
Posteriormente, com o auxílio do frei capuchinho Francisco do Mont Sant Victo e sua
ação catequética junto aos índios, a construção do presídio foi restabelecida, em 1858, porém a
18 léguas acima do primeiro local escolhido (FERREIRA, 1958, p.46). Essa nova localização
deu, posteriormente, origem à cidade de Araguacema.
De acordo com Ferreira (FERREIRA, 1958, p.46), “Em 1870, o bravo sertanista,
General Couto de Magalhães, fundou a Companhia de Navegação a vapor do Rio Araguaia,
com sede no então presídio de Santa Maria”. Anos mais tarde, já no século XX, com a extração
da borracha, intensificou-se o comércio pelo rio Araguaia, e a localidade foi elevada à categoria
de Vila em 1931 e à de cidade em 1938.
O arraial foi fundado como missão religiosa do Frei Rafael Taggia, em 1845, cujo
intuito era a ação catequética para com os índios e a construção de uma escola para o ensino
religioso dos filhos dos gentios. Segundo Ferreira (1958, p. 331), o padre trouxe consigo 10
praças e aldeou os indígenas 24 quilômetros acima do arraial.
Entretanto, a exemplo de outras tentativas de missionários em catequizar os índios no
Norte goiano, essa, inicialmente, também sofreu algumas ofensivas. O Frei retirou-se da região,
regressando mais tarde acompanhado de 5.000 indígenas de Riachão (Maranhão), dando
continuidade à sua ação missionária. Com a chegada desse contingente, o arraial prosperou e,
em 1903, foi elevado à categoria de Vila.
Durante o século XX, a cidade dedicou-se à extração da borracha, atividade que trouxe
progresso à localidade e intenso comércio com a Bahia e com o Pará, utilizando o rio Sono para
escoamento da produção (IBGE, 2016). Por revoltas políticas e a grande atuação dos coronéis,
a região só retomou seu desenvolvimento a partir da construção da ponte sobre o rio Sono, em
1979.
Poucos dias após a eleição do primeiro governador, realizou-se um estudo para definir
a localidade em que se fixaria a capital definitiva do recém-criado estado. Elegeu-se a região
pertencente ao território de Porto Nacional, às margens do rio Tocantins.
Em 20 de maio de 1989, foi realizada a primeira missa e lançou-se a pedra
fundamental da nova sede, cujos critérios de construção e de ordenação seguiam os moldes de
Brasília-DF: “Palmas é uma cópia de Brasília numa escala regional” (SILVA, 2010, p. 76).
Como fora uma localidade criada, segundo dados do IBGE (2000), é a cidade tocantinense que
possui mais habitantes provenientes de deslocamentos ou de migrações.
Entretanto, antes da construção de Palmas, havia, na região, um pequeno povoado
conhecido por Canela, que surgiu com a vinda da primeira família para a região, no século
XIX, com o intuito de se fixar à margem direita do rio Tocantins para atividades pastoris e de
subsistência. Era procedente de Tocantínia, Tocantins, encabeçada por Olímpio Batista de
Araújo. Mais tarde, outras duas famílias vieram: os Santana e os Lima, provenientes da Bahia,
do Maranhão e do Piauí (SANTOS, 2011).
Após a construção do lago da usina hidrelétrica Luiz Carlos Magalhães (Usina de
Lajeado), em 2001, as famílias que possuíam o título da terra foram relocadas para o Plano
Diretor de Palmas (quadra 508-Norte); os demais ribeirinhos foram encaminhados para os
setores periféricos da cidade: Aureny e Santa Bárbara (SALES, 2008). Outros, porém, voltaram
a Porto Nacional, a 60 quilômetros de Palmas.
Essa população de Canela é descrita por Santos (2011) como “caboclo amazônico”,
dadas suas condições físicas e sociais. O autor pauta-se em Darcy Ribeiro (2006) ao descrever
esse tipo na formação do núcleo ribeirinho de Canela, quando delineia que essa população
representa um índio genérico, sem identidade cultural específica43.
4.1.7 Pontos 07 – Porto Nacional (antigos topônimos: Porto Real, Porto Imperial)
43
Acreditamos que tanto Ribeiro (2006) como Sales (2008), ao definir essa população, entendem que ela não seja
fixa à terra de origem, pois busca melhores condições de sobrevivência e, por esse motivo, desloca-se
constantemente dentro dos territórios.
82
44
Julgado: divisão territorial sobre a qual tem jurisdição o juiz ordinário (HOUAISS, 2009). A cabeça de julgado
refere-se à localidade mais importante dentro de um julgado.
83
oriundos das cidades de São Borja e de Santo Ângelo. Na década de 1980, chegaram gaúchos
de Bento Gonçalves, Caxias e Porto Alegre; essa segunda leva migratória sulista veio no anseio
da divisão do estado (ARBUÉS, 1995).
A fundação de Natividade teve início em 1734, com a extração do ouro de aluvião por
portugueses e escravos. Inicialmente, o arraial era localizado no alto da Serra Olhos d’Água.
Entretanto, pelas dificuldades de acesso, o povoado instalou-se na parte baixa da serra
(FERREIRA, 1958).
Segundo Mattos (1979, p. 127), foram trazidos à região cerca de 40 mil escravos para as
minas. Devido à significativa produção aurífera, Natividade tornou-se um dos mais importantes
arraiais do Norte goiano, sendo residência do ouvidor Theotônio Segurado entre os anos de
1809 e 1815, culminando na sede provisória da Comarca do Norte.
Natividade mantinha relações comerciais com Pará, Maranhão, Piauí, Minas Gerais e
Bahia; com este último estado, dada a proximidade geográfica, a relação era ainda mais
estreita. Entre Natividade e os citados estados, havia caminhos abertos para contrabando do
ouro.
Em 1832, o arraial foi elevado à categoria de Vila e, em 1933, foram definidos seus
limites territoriais. Com a decadência do ouro, seus habitantes empenharam-se em atividades
agrárias e pequenas plantações para subsistência. Atualmente, seus moradores dedicam-se às
atividades agropastoris e ligadas ao turismo. Natividade foi a primeira cidade tocantinense
tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional - IPHAN, em 1987.
85
Essa localidade, assim como Natividade, representou um dos mais importantes polos
auríferos no Norte goiano, sendo os garimpeiros os representantes das primeiras povoações,
que ocorreram no ano de 1740.
O arraial recebeu o nome de Palma dada sua localização entre os rios Paranã e Palma.
A confluência com rios forneceu à cidade grande importância, dada sua localização e
possibilidade de comércio com Belém do Pará. Em 1814, foi criada a comarca de São João de
Palma, promovida por Joaquim Theotônio Segurado para servir de sede da Comarca do Norte.
Em Paranã, também foram encabeçados os primeiros movimentos em prol da separação do Sul
goiano, ainda no ciclo da mineração (FERREIRA, 1958).
Dados os aspectos históricos de Paranã e sua importância para os primeiros
movimentos separatistas, o nome da capital Palmas, criada em 1989, foi dada em homenagem
ao antigo nome da localidade São João da Palma. Segundo o IBGE (2000), Paranã foi a cidade
que menos recebeu migrantes.
Descritas as principais nuances históricas dos pontos de pesquisa, a seguir
apresentamos um quadro sintetizador com a procedência dos colonizadores, a razão do
povoamento e os principais grupos migrantes, assim como o motivo da migração. Entretanto
encontramos dificuldades em precisar, nas obras analisadas, informações oficiais da
procedência migratória das levas mais recentes nos pontos de pesquisa.
86
45
Sugestão fornecida por Thun (2014) em conversa pessoal.
88
46
Segundo os censos do IBGE de 1980, 1991 e 2000, a escolarização média no Norte do Brasil apresenta os
seguintes índices: entre 1980 e 1991: 30% da população possuía o ensino o médio completo; nas décadas
seguintes, até o ano de 2000, a taxa média de ensino médio completo subiu para 60% (RIOS-NETO, 2005).
89
47
Baseados em Figueiredo (2014), consideramos o parâmetro contatual/dialingual como também sendo o contato
entre modalidades de uma mesma língua.
48
Dados iniciais publicados em SILVA, Greize Alves da. Consciência Sociolinguística em território tocantinense:
um estudo com base na teoria das Crenças e Atitudes Linguísticas. In: CAVALCANTE, Márcia Suany;
SANTOS, Midian; RIO, Ana Carna; BARBOZA, Tereza (Org.). Lingua(gem), Discurso e Ensino: Concepções
Teóricas e Ressignificações da Prática Docente. 1. ed. Goiânia: América, 2016, v. 1, p. 103-116.
90
principais grupos que migraram para/no Tocantins, dos quais podemos destacar os seguintes: a
maioria dos informantes topodinâmicos é procedente de deslocamentos internos, ou seja,
migrantes dentro do próprio estado, conforme verificado no gráfico a seguir.
Fonte: Elaboração da autora com os dados do corpus. Dados extraídos a partir das fichas dos informantes
(ALiTTETO).
49
Exemplo pode ser verificado no informante 5, de Araguacema: nasceu no município de Dois Irmãos (TO),
passou dois anos em Palmas (TO), três meses em Colméia e Aliança e, posteriormente, foi para Araguacema.
91
Composto por 109 questões, que visam observar as seguintes realizações fonéticas: a
altura das vogais médias pretônicas; os ditongos; as dentais seguidas da vogal alta anterior; a
92
lateral alveolar /l/ em coda silábica; o /R/ em diversas posições; a lateral palatal; a vogal
postônica nos proparoxítonos.
Das 159 perguntas presentes no questionário do ALiB, retiramos 50 para compor o
ALiTTETO; usando como critério para exclusão das questões a repetição de fatos fônicos em
diferentes perguntas do ALiB; desse modo, selecionamos apenas um vocábulo para ilustrar
determinado item e o ambiente fônico buscado.
Algumas perguntas, dado o caráter regional da pesquisa, exigiram reformulações e
empenho considerável por parte do inquiridor. É o caso da pergunta 060 do QFF: Aonde as
crianças vão para aprender a ler?, frequentemente respondida colégio ao invés de escola, item
buscado no questionário.
A regionalidade também interveio na resposta das questões questões 70 e 2: para a
questão: (070) Nas festas de igreja, que nome tem a caminhada que o povo faz, levando uma
imagem de um ponto a outro?, o informante normalmente citava Senhor do Bonfim, festa típica
das localidades interioranas do Tocantins, quando a resposta esperada era procissão; para a
questão (102) Quando uma criança está dormindo e não se quer que ela acorde, se diz: Fale
baixo, não faça..., a resposta regularmente dada zoada ao invés de barulho.
Constituído por 170 perguntas e subdivido nos seguintes campos semânticos: Acidentes
Geográficos, Fenômenos Atmosféricos, Astros e Tempo, Atividades Agropastoris, Fauna,
Corpo Humano, Ciclos da Vida, Convívio e Comportamento Social, Religião e Crenças, Jogos
e Diversões Infantis, Habitação, Alimentação e Cozinha, Vestuário e Acessórios e Vida
Urbana. Retiramos 53 questões50 do Questionário do ALiB (2001) e inserimos outras 21 do
universo local/regional tocantinense, ou seja, 35,7% das questões do QSL focam-se no âmbito
regional e evidenciadas a seguir.
50
Retiramos questionamentos dos seguintes campos semânticos, presentes no ALiB: acidentes geográficos, astros
e tempo, atividades agropastoris, fauna, corpo humano, ciclos da vida, convívio e comportamento social,
religiões e crenças, jogos e diversões infantis, habitação e vida urbana, dado o caráter não polissêmico verificado
nas respostas fornecidas.
93
BOROCA/ MALAS
“Quando você vai viajar, você tem que arrumar o quê?”
ACEIRO
“E quando você precisa limpar uma roça e colocar fogo, você faz o que
para o fogo não se espalhar?”
PIRIGUETE
“... a pessoa que é muito oferecida, assanhada?”
SALIENTE/PARA FRENTE
“... aquela pessoa que gosta de chamar a atenção?”
Convívio e Comportamento
Social ENFARENTA
“... aquela pessoa desagradável?”
LADINO
“... aquela pessoa (ou a criança) que é muito esperta?”
BROCADO
“Quando a pessoa está com fome, se diz que ela está...?”
Religiões e Crenças CEMITÉRIO/CAMPO SANTO
“... aquele lugar onde enterramos os mortos?”
CAIR NO POÇO
“... a brincadeira em que várias crianças participam, uma delas é vendada.
Jogos e diversões infantis As crianças cantam uma música e a criança com os olhos vendados aponta
para outra criança. Todos perguntam “Pera, uva, maçã ou salada mista?” e
a criança com os olhos vendados deve dar um aperto de mão, um abraço ou
um beijo na criança escolhida.”
ARROZ DE LEITE/ARROZ DOCE
“... Doce feito com arroz, leite e açúcar?”
MANGULÃO
“... aquilo que a gente faz com polvilho, coloca-se para assar em uma
forma de pudim; é salgado e se come acompanhado com café?”
GALINHADA
“... a comida feita com frango e pequi?”
FAROFA/FRITO/PAÇOCA
“... a comida feita com carne frita e farinha (que às vezes é levada para
viagem)?”
VITAMINA/SUCO/ SEBEREBA/BURUNDANGA
94
CHAMBARI/CHAMBARIL
“... tipo de cozido feito com a perna do gado; come-se com arroz?”
Fonte: Elaboração da autora.
material coletado, nesta tese, optamos por não trabalhar com o recorte morfossintático; o
corpus obtido será analisado em trabalhos posteriores.
Há, no ALiB, quatro tipos de relatos: pessoal, comentário, descrição e relato não
pessoal, dos quais aproveitamos o relato pessoal e o não pessoal, e inserimos a narrativa de
caráter folclórico para conseguirmos, além de itens de avaliação presentes no QFF, no QSL e
no QMS em ambiente menos monitorado, a coleta de discursos com lendas de caráter regionais,
exemplo retirado de Aguilera (1994).
As narrativas constituíram um desafio à equipe de inquiridores, sobretudo a de caráter
pessoal. Os informantes, principalmente os jovens, mostraram-se muito tímidos nesse item.
Quanto ao relato não pessoal, após várias tentativas frustradas com a pergunta: Relate-me um
acontecimento marcante na vida de outra pessoa, iniciávamos com a seguinte reformulação:
Verdade que aconteceu um crime aqui na cidade, como que foi? Um amigo seu já se acidentou
de moto? Conte-me como foi?
Nas narrativas folclóricas, a formulação do questionário também foi ineficaz: Conhece
alguma lenda típica da região? (Exemplos: Negro d’água, Mulher da estrada, Boiúna, Pé de
Garrafa, ouro enterrado). Por esse motivo, introduzimos o questionamento de forma mais
direta: Ouvi dizer que há uma cobra enterrada embaixo da igreja, é verdade? Dessa forma, o
informante sentia-se um pouco mais à vontade e a narrativa era mais solta.
local que possibilitou uma melhora de vida ao migrante e, por esse motivo, as crenças
linguísticas são extremamente positivas (SILVA, 2016).
51
O modelo utilizado pelo ALIB encontra-se descrito em Cardoso (2010, p. 102-103).
52
Projeto “Aspectos Dialetológicos e Geolinguísticos do Tocantins”, desenvolvido na Universidade Federal do
Tocantins, campus de Porto Nacional.
97
A base cartográfica, que compõe os mapas linguísticos, foi preparada pelo geógrafo
Ângelo Franco do N. Ribeiro (UFGD). Solicitamos que o mapa-base contivesse as seguintes
informações: localização do Tocantins no território brasileiro, escalas, projeção, limites
estaduais, marcações dos principais rios que perpassam o estado, tais como Araguaia,
Tocantins, Sono, Formoso ou Cristalino e Paranã. Além dos aspectos geográficos, inserimos o
trajeto da rodovia Transbrasiliana (BR-153) na superfície cartográfica. A carta-base ficou assim
constituída:
53
No tomo II, as cartas foram agrupadas com contexto fonológico para que o leitor tenha acesso a todos os
contextos de variação.
100
A presente análise versa sobre o conjunto de cartas que visam averiguar dados de
natureza fonético-fonológica, com o intuito de ter a macrovisão de áreas linguísticas em
território tocantinense, delimitadas por determinadas variantes. No entanto, baseados em Callou
e Brandão (2016), reconhecemos a difícil tarefa de determinar isófonas, pois o conjunto de
variáveis que, em algumas regiões brasileiras, configuram-se como características, por vezes,
em outras, apresentam-se de forma esparsa.
Examinamos as variáveis fonético-fonológicas: (i) altura das vogais médias em contexto
pretônico, (ii) róticos em posição de coda interna e externa e (iii) /S/ pós-vocálico em posição
medial, fenômenos amplamente analisados por pesquisadores brasileiros. Notadamente, nesse
tipo de exploração, o ambiente linguístico pode ou não favorecer a ocorrência de uma variante
em detrimento de outra e, por esse motivo, apresentamos os contextos gerais de cada variável e,
sem seguida, os agrupamentos por ambiente54, baseados nos trabalhos de Macedo (2004);
Brandão (2015); Brandão e Callou (2016)55 e Brandão (2018).
5.1.1 Realização das vogais médias anteriores e posteriores /e/ e /o/ em posição pretônica
Nascentes (1953, p. 18-26), em sua divisão dialetal, agrupou o país em duas regiões
linguísticas: o Norte, marcado pela abertura das vogais médias pretônicas, e o Sul,
caracterizado pelas vogais fechadas. Ao longo dos anos, os estudiosos têm se prestado a essas
análises e à verificação da permanência ou não dessa separação.
54
As observações, à guisa fonética, são sintetizadas a partir de um conjunto de cartas elaboradas, presentes no
Tomo II, cujos cartogramas linguísticos para cada variável foram realizados por item coletado, para que o leitor
tenha acesso a todos os contextos de variação.
55
Não foram utilizados programas estatísticos nas análises. As variáveis e as variantes foram inseridas no software
SGVClin que nos forneceu, além da diatopia, as quantificações em porcentagem simples.
102
Sobre a área do falar Baiano, englobando a Bahia, o Sergipe, o Norte de Minas Gerais e
o Sudeste do atual estado de Tocantins, evidenciada por Nascentes (1953) pela presença
majoritária de vogais médias abertas, pesquisas têm demonstrado a vitalidade dessa divisão,
pelo menos em relação aos dois primeiros estados e à área mineira, com a presença maciça
dessas vogais (CARDOSO, 1994). Em dados mais recentes, com as capitais estaduais, Mota e
Cardoso (2015) também asseveram que, na Bahia e em Sergipe, faz-se uso predominante das
vogais abertas.
No entanto, quando investigamos as localidades que compõem a região Norte,
enxergamos outra configuração, o que poderia explicar o fato de Nascentes (1953) ter
subdividido o Norte em falares Amazônico e Nordestino, tendo o Maranhão como zona de
transição do primeiro para o segundo (BRANDÃO, 2015).
Brandão e Cruz (2005), por exemplo, ao utilizarem dados de dois atlas linguísticos
nortistas – do Amazonas (ALAM) e do Pará (ALISPA) – e fornecidas as devidas diferenciações
entre as diversas posições pretônicas, chegam aos seguintes resultados quanto à presença das
médias abertas nos corpora: no ALAM: [] 28,50%, [] 18,35%; enquanto no ALISPA: []
36%, [] 21,10%. Notadamente, há presença das médias baixas em ambos os estados nortistas,
mas os resultados diferem consideravelmente daqueles apresentados em capitas nordestinas,
cujos percentuais no ALiB, por exemplo, quanto à preferência por médias abertas no Nordeste
chegam a índices compreendidos entre 51% e 71% (CARDOSO et al., 2014, p.71).
Razky et al. (2012), trabalhando a variação das vogais médias pretônicas em dez
cidades no Pará, demonstram preferência quantitativa pelas vogais fechadas no presente estado.
Os resultados apontaram 42% de ocorrência de vogais fechadas, 35% de vogais abertas e 23%
de alteamentos. As maiores diferenças percentuais estão nas posteriores que perfazem: 51%
para , 26% para e 23% para (RAZKY et al., 2012, p. 299-300).
Por amostragem diatópica, em apenas três localidades paraenses (Itaituba, Santarém e
Conceição do Araguaia) predominam as médias abertas. Segundo os autores, esse fato está
diretamente ligado aos grupos nordestinos migrantes que adentraram o estado via porção sul,
conforme relato a seguir: “Esses resultados revelam que em áreas de intensa migração
nordestina a variante aberta sobrepuja a variante [e] ou apresenta frequência próxima dessa
variante, como é o caso de Marabá” (RAZKY et al., 2012, p. 301).
Ao englobar duas regiões distintas, no caso do Baixo Amazonas, no Pará, e Médio
Solimões, no Amazonas, Azevedo (2013) assevera que os estados nortistas não podem mais ser
generalizados como pertencentes a apenas uma área linguística, no caso o Nordeste, conforme
103
Nascentes (1953) destacou em sua obra. Assim como Brandão e Cruz (2005), Azevedo (2013)
constatou a presença das médias baixas na seguinte proporção: [] 34%; [] 31% e [i] 24%,
apurando índices de covariação entre as formas médias abertas e fechadas (AZEVEDO, 2013,
p. 196-204).
Como demonstrado pelos trabalhos mencionados, e a depender de fatores sociais e
diatópicos, há tênue preferência ora para vogais médias abertas ora para as fechadas. Essa
oscilação diatópica, principalmente quanto à presença das formas médias abertas em
localidades nortistas, pode ser explicada pela migração nordestina, conforme destacado por
Razky et al. (2012).
Essa interpretação ganha tônica se partirmos dos dados presentes em Fagundes (2015),
especificamente na cidade de Belém, em que analisa, pelo viés da mobilidade, a presença de
vogais médias baixas nos seguintes grupos: a) grupo migrante, proveniente do Maranhão há
mais de 25 anos, residente na cidade de Belém; b) paraenses, cujos pais vieram do Maranhão
com até três anos de idade. Apresentamos a seguir apenas os dados de Fagundes (2015)
relativos às variáveis “sexo” e “grupo de amostra”.
A análise realizada pelo eixo diassexual demonstra que os homens favorecem o
abaixamento da vogal em detrimento das mulheres, fato que corrobora a descrição realizada por
Razky et al. (2012), em que o grupo feminino prefere as vogais fechadas, enquanto o masculino
utiliza mais as médias abertas (RAZKY et al., 2012, p. 305). Seriam, nesse caso, as vogais
médias abertas um caso de estigmatização social, e por essa razão as mulheres optam pelas
vogais fechadas?
Quanto à variável grupo de amostra, os percentuais demonstram que os migrantes com
mais de 25 anos em Belém favorecem a aplicação do abaixamento, enquanto o grupo de
controle, ou seja, os paraenses com pais maranhenses, desfavorece o abaixamento
(FAGUNDES, 2015, p.84). Assim, os filhos de migrantes, nascidos em Belém, adaptam o seu
falar à norma local, não utilizando a variante média aberta de seus pais e familiares
(FAGUNDES, 2015, p.86).
Diante do exposto, pretendemos verificar a posição do Tocantins na divisão elaborada
por Nascentes (1953) quanto à altura das vogais médias, em posição pretônica, a fim de
verificarmos se a realização dessas vogais se aproxima mais das ocorrências do Nordeste ou
dos estados nortistas da qual faz parte. Para isso, analisamos as vogais médias em contexto
anterior e posterior /e/ e /o/, observando os aspectos extralinguísticos, sobretudo a diatopia e as
variáveis intraindividuais sexo, idade e mobilidade.
104
Para a variável /e/, coletamos 2.007 ocorrências, a partir dos seguintes itens do QFF: 01
- prateleira; 02 - televisão; 04 - tesoura; 09 - elétrico; 20 - peneira; 23 - fervendo; 24 - cebola;
48 - estrada; 50 - desvio; 55 - seguro; 59 - emprego; 60 - escola; 64 - pernambucano; 71 -
pecado; 81 - desmaio; 94 - perfume; 98 - perdida; 99 - encontrar; 100 - perguntar e 105 -
esquerdo; do QSL: 024 - tangerina e 100 - menino (Cartas F01 a F23, Tomo II).
Em termos gerais, sem considerar os contextos fonológicos, os resultados demonstram o
predomínio dos alteamentos. Em processo de covariação, estão as vogais médias abertas e
fechadas, com proeminência das primeiras, divergindo em apenas três décimos percentuais
umas das outras.
Quadro 09 - Índice geral de ocorrências e percentuais para a altura da vogal média /e/ em
contexto pretônico
Variante N.º de ocorrências %
Alçadas [] 809 40,3%
Abertas [] 601 30,0%
Fechadas [] 597 29,7%
2.007
Fonte: Elaboração da autora com os dados do corpus.
A carta F23 (Volume II) demonstra distribuição regular entre as três variantes da vogal
anterior /e/, sem aparente formação de isófona.
Dos 22 itens lexicais trabalhados, em sete deles, pelo menos: estrada, escola, esquerdo,
desvio, desmaio, emprego e encontrar, predominam os alçamentos, como pode ser verificado
no quadro a seguir.
Para Bisol (1981), a presença de uma vogal alta em sílaba seguinte contribui para o
alçamento da vogal média [e] em posição pretônica. No caso do Quadro 10, apenas desvio
apresenta-se com vogal alta em sílaba tônica e, por essa razão, tende a realizar-se com
pretônica alçada, processo conhecido como Harmonia Vocálica (movimento em que a vogal
tônica alta harmoniza a anterior).
Nos demais vocábulos, as vogais subsequentes às pretônicas são médias altas, médias
baixas ou baixas. Nesses casos, segundo Monareto (2013), baseada em trabalhos como de Bisol
(1981), o principal fator condicionante refere-se à presença do contexto subsequente sibilante
ou nasal, casos, por exemplo, como os verificados em estrada, escola, esquerdo e emprego que
apresentam alçamentos em mais de 90% dos casos.
Além disso, em contexto vazio, ou seja, em que a vogal média se apresenta em início
absoluto de palavra, sem consoante precedente, predominam os alçamentos, principalmente nos
vocábulos seguidos de /s/, como evidenciado em pesquisas semelhantes (BRANDÃO; CRUZ,
2005).
Sobre outros itens analisados, a respeito dos alteamentos, a realização da vogal anterior
em posição pretônica, com tônicas médias altas ou altas [i] ou [u], como destacado na literatura
específica (BISOL, 1981), tende a realizar-se como alçadas, conforme dados expostos no
Quadro 11.
Quadro 11 - Vogal /e/ em contexto CV$ com vogal alta na sílaba subsequente
Nº da Vocábulo Abertas [] Fechadas [] Alçadas []
Questão
55 Seguro 5,0% 31,7% 63,4%
24 Tangerina - 21,1% 78,8%
100 (QSL) Menino 9,2% 18,5% 72,1%
Percentuais gerais 5,2% 24,2% 70,6%
Fonte: Elaboração da autora com os dados do corpus.
Para Bisol (1981), a vogal alta anterior [i] exerceria maior força articulatória que a
posterior [u] devido à própria configuração da cavidade bucal. Em menino e tangerina, por
exemplo, atuaria ainda a regra de atonicidade da vogal [i] (BRANDÃO, 2015).
Em dois vocábulos: elétrico e pecado (Quadro 12), não há incidências de alteamentos,
possivelmente por razões fonológicas. No caso do primeiro, por ser realizado com sílaba
composta apenas pela vogal e não haver vogal alta no vocábulo, em geral, não alteia. Por seu
turno, pecado, possivelmente não alteia por fazer par mínimo com picado (BRANDÃO, 2018,
[exposição oral]).
106
Por outro lado, dos 22 itens analisados nesse recorte, em cinco deles não se realizam os
alçamentos por apresentarem sílabas travadas por /R/ e, nesses casos, os maiores índices
referem-se às pretônicas médias baixas em mais de 60% da amostra, como se verifica no
Quadro 13.
Quadro 13 - Vogal /e/ em contexto #CV/R/$
Nº da Vocábulo Abertas [] Fechadas [] Alçadas []
Questão
23 Fervendo 84,8% 15,2% -
64 Pernambucano 62,1% 37,8% -
94 Perfume 66,6% 33,3% -
98 Perdida 53,2% 46,7% -
100 Perguntar 73,5% 26,4% -
Percentuais gerais 67,7% 32,3%
Fonte: Elaboração da autora com os dados do corpus.
Para Oliveira (1991), o não favorecimento de alçamentos em sílabas travadas por /R/
dá-se por questões de ordem fonética e fonológica, uma vez que a produção do rótico glotal ou
velar se realiza na posição posterior do véu palatino, enquanto a produção da vogal alta ocorre
na posição anterior do sistema vocálico e, dessa forma, o ambiente não é propício para a
realização de alçamentos em sílabas pretônicas preenchidas por /R/.
Em cinco itens as vogais anteriores apresentam-se com comportamentos distintos e,
dessa forma, acreditamos que esses vocábulos, excluindo-se os alteamentos, podem apresentar
os traços abertos ou fechados do falar presente no Tocantins quanto à altura das médias
pretônicas, conforme expomos no Quadro 14; são eles:
107
Como se evidencia no Quadro 14, predominam as vogais médias altas em quase metade
da amostra, seguidas pelas vogais médias baixas e, por fim, pelas alçadas, resultados
semelhantes aos encontrado nos trabalhos de Brandão e Cruz (2005), de Razky et al. (2012) e
de Azevedo (2013) nos estados que compõem a região Norte.
Diatopicamente, no Tocantins, embora os percentuais por localidade apresentem-se
razoavelmente distribuídos com predomínio das vogais fechadas, há tendência de algumas
localidades apresentarem maiores volumes de vogais médias abertas, caso da capital Palmas,
por exemplo, cujo percentual de [] angaria quase 50% das ocorrências, evidenciando
processo, nessa localidade, de covariação entre formas abertas e fechadas. Na mesma tendência
de Palmas, Araguaína (região Norte) e Formoso do Araguaia (Sudoeste) apresentam o segundo
percentual em vogais médias abertas: 34%.
Arealmente, não podemos delimitar isófonas quanto à presença de vogais médias
abertas ou fechadas, mas, a partir desses resultados, tal como verificados em Razky (2012) e
em Azevedo (2013), pressupomos que as levas migratórias, principalmente nordestinas influem
diretamente na presença, em algumas localidades, de vogais médias baixas. No nosso caso,
localidades mais antigas e mais próximas dos estados nordestinos, caso de Tocantinópolis, de
Mateiros de Paranã e de Natividade, há o indicativo de maiores índices de vogais abertas,
conforme registrado em nossos dados. No caso de Palmas, que não figura em situação de
fronteira, os dados censitários demonstram tratar-se da localidade que mais recebeu migrantes,
principalmente maranhenses, o que pode justificar a maior presença de vogais médias baixas.
O recorte por variáveis sociais, considerando todos os contextos aqui analisados,
também não detém dados enfáticos quanto às variantes em análise, pois, em todas as variáveis
intraindividuais, predominam os alteamentos, conforme gráfico a seguir.
108
Os dados do Gráfico 04 indicam que os falantes de ambas as faixas etárias realizam com
mais frequência os alteamentos (38% e 43% respectivamente), enquanto as fechadas têm maior
desempenho entre os da Faixa I (35%) e as abertas entre os da Faixa II (33%).
Quanto à variável sexo, os índices das variantes estão muito próximos entre os homens
e as mulheres. O núcleo masculino prefere as vogais abertas, enquanto o feminino opta, com
diferença mínima, pelas fechadas, disposição essa identicamente evidenciada no trabalho de
Razky et al. (2012, p. 305) e de Fagundes (2015), no estado paraense. No entanto, como em
nosso corpus essa diferenciação, diferentemente dos trabalhos mencionados, constitui-se como
diminuta, não podemos afirmar que a utilização mais recorrente das vogais médias fechadas por
parte do grupo feminino esteja atrelada à fatores de estigmatização social em relação às vogais
médias abertas, por exemplo.
A realização das vogais médias entre os grupos topoestáticos e topodinâmicos apresenta
resultados muito próximos de tal forma que não se pode afirmar categoricamente que os
naturais da localidade realizem mais as fechadas (28%) e os migrantes, as abertas (31%). No
entanto, 40% de cada grupo registram as vogais alçadas.
Por fim, do mesmo modo que Razky (2012), destacamos que as localidades que mais
apresentam vogais médias abertas tiveram forte influência migratória procedente do Nordeste,
o caso de Palmas e de Araguaína, por exemplo. Sendo assim, o Tocantins, a partir dos dados
aqui dispostos, apresenta maiores índices de vogais pretônicas médias altas, com leve tendência
à utilização das médias abertas em localidades com fluxo migratório.
109
Para a obtenção dos resultados da variável /o/ (Cartas F24 a F36, Volume II),
consideramos os seguintes itens lexicais presentes no QFF: 10 – torneira;18 – gordura; 21 –
colher; 25 –tomate; 28 – bonito; 32 – montar; 61 – colega;67 – advogado;70 – procissão; 75 –
coração; 78 – joelho e 96 – dormindo, perfazendo o total de 1.136 ocorrências, distribuídas
entre vogais abertas, fechadas e alçadas, conforme mostra o Quadro 15.
Quadro 15 - Índice geral de ocorrências e percentuais para a altura da vogal média /o/ em
contexto pretônico
Variante N.º de ocorrências %
Fechadas [] 392 34,5%
Alçadas [] 375 33,0%
Abertas [] 369 32,5%
1.136
Fonte: Elaboração da autora com os dados do corpus.
Quadro 16 - Vogal /o/ em sílaba CV, com consoante [-cor] antecedente e/ou subsequente
Nº da Vocábulo Abertas [] Fechadas [o] Alçadas[u]
Questão
21 Colher 13,5% 21,9% 64,6%
25 Tomate 74,0% 13,5% 12,5%
61 Colega 82,3% 17,7% -
67 Advogado 81,0% 19,0% -
75 Coração 82,0% 17,0% 1,0%
Percentuais gerais 66,7% 17,9% 15,5%
Fonte: Elaboração da autora com os dados do corpus.
110
Nesse recorte, de acordo com o Quadro 16 predominam as vogais médias baixas, exceto
em colher, com maioria de vogais alçadas. Diatopicamente, à exceção de Paranã (sul do
Estado), as demais cidades pesquisadas apresentam índices de mais de 50% para as médias
abertas.
Localidades como Araguatins, Araguacema, Mateiros e Natividade, sem aparente
conexão histórica ou social entre elas, registram índices absolutos de vogais abertas no item
advogado. Por outro lado, neste mesmo item, Paranã, no extremo sul, na divisa com Goiás,
revela a maioria de vogais fechadas, resultados opostos aos obtidos nas outras 11 cidades
tocantinenses. Este fato talvez possa ser explicado pela semelhança linguística com o estado
goiano, que apresenta, pelo menos em sua capital, índices maiores de médias altas de acordo
com os dados do Atlas Linguístico do Brasil (CARDOSO et al., 2014, p. 71).
No recorte b) vogal /o/ em sílaba com consoante [-cor] antecedente e/ou subsequente e
seguida de sílaba com vogal alta [i] e [u], como em gordura, bonito e dormindo, verificamos o
predomínio dos alçamentos, como consta do Quadro 17.
Quadro 17 - Vogal /o/ em sílaba com consoante [-cor] antecedente e/ou subsequente e seguida
de sílaba com vogal alta
Nº da Vocábulo Abertas [] Fechadas [o] Alçadas [u]
Questão
18 Gordura 2,0% 41,8% 56,1%
28 Bonito 1,9% 27,2% 70,9%
96 Dormindo 5,3% 48,4% 46,3%
Percentuais gerais 3,0% 38,9% 58,1%
Fonte: Elaboração da autora com os dados do corpus.
Nesses casos, fatores de ordem fonológica atuam consideravelmente, uma vez que a
vogal tônica alta opera como fator condicionador para a elevação das pretônicas, uma vez que
há a assimilação de traços de [u] e de [i] que atinge o timbre da pretônica. No entanto, podemos
depreender algumas considerações diatópicas.
Araguaína foi a localidade em que os informantes realizaram os índices mais altos de
alçamentos nos três vocábulos da seleção, chegando a 75% da amostra nessa cidade. Em
Araguatins e Pedro Afonso, as médias fechadas suplantaram os alçamentos, enquanto o baixo
índice de variantes médias baixas ocorre principalmente em Araguaína e Palmas (8,33%).
Sobre c) vogal /o/ em outros contextos, há comportamentos distintos vinculados aos
vocábulos da seleção, presentes no Quadro 18.
111
No grupo faixa etária, embora haja uma ligeira diferença de índices em relação à
preferência pelas vogais médias fechadas na Faixa I, as demais variantes apresentam os
mesmos percentuais (33% para as alçadas), ou quase os mesmos (32% e 33% para as abertas)
em ambas as faixas etárias.
O núcleo masculino prefere os alteamentos, enquanto as mulheres optam pelas vogais
fechadas. Em relação às realizações abertas, a diferença é insignificante do ponto de vista
diassexual.
No recorte por mobilidade, os nascidos e estabelecidos nas cidades pesquisadas
mostram ligeira preferência pelas vogais altas, enquanto os topodinâmicos apresentam maiores
percentuais de vogais alçadas. Quanto à realização das vogais abertas, os resultados estão muito
próximos.
A partir da análise dos segmentos /e/ e /o/, constatamos que o Tocantins apresenta
tendência à coexistência entre vogais médias pretônicas abertas e fechadas, com maiores
percentuais para as últimas. Algumas localidades são mais propensas às médias baixas, como
Araguaína, por exemplo. Esses resultados vão ao encontro dos dados apresentados por Brandão
e Cruz (2005) no Amazonas e no Pará, por Razky (2012) no Pará, e por Azevedo (2013) no
Baixo Amazonas e no Médio Solimões (Amazonas).
Para a análise do /R/ em coda interna, utilizamos como corpus 949 registros, obtidos a
partir dos seguintes vocábulos contidos no QFF: 10 – torneira; 18 – gordura; 23 – fervendo; 34
– borboleta; 43 – tarde; 46 – catorze; 69 – certo; 72 – perdão; 94 – perfume e 98 – perdida
(Cartas F37 a F47, Tomo II), cujo número de ocorrências e percentuais por variantes estão
descritos no Quadro 19.
114
Quadro 19 - Índice geral de ocorrências e percentuais para o /R/ em coda medial - Cartas F37
a F47.
Variante N.º de ocorrências %
[h] Fricativa glotal 650 68,5%
[x] Fricativa velar 110 11,6%
[ɽ] Retroflexo 88 9,3%
Apagamentos 60 6,3%
[ɾ] Tepe 39 4,1%
[r] Vibrante múltipla 2 0,2%
949
Fonte: Elaboração da autora com os dados do corpus.
capital Palmas, onde há um número maior de migrantes oriundos dos estados da Região Sul56.
Nas cidades do Norte tocantinense, ocorreu apenas um registro de tepe, em Tocantinópolis.
Em Costa (2015, p. 67), dos estados nortistas analisados pela autora, o Tocantins
apresentou o maior índice dessa vibrante: 17%, enquanto o Pará, apenas 3%; resultado
possivelmente relacionado à procedência migratória dos informantes do Tocantins, mais
eclética se comparada com outros estados que compõem o Norte.
Por fim, em menor escala, coletamos a vibrante múltipla em Mateiros e em
Araguacema, não sendo possível estabelecer distinção diatópica alguma para expressar a
ocorrência dessa variante nas referidas cidades. Não há registros dessa vibrante nos estados
nortistas analisados por Costa (2015).
No Quadro 20, apresentamos os vocábulos selecionados do QFF e os percentuais
relativos à utilização das cinco variantes e do apagamento em coda medial: à exceção de
catorze, nos demais itens lexicais predominou a fricativa glotal.
Quadro 20 - Índice de ocorrências por variantes de /R/ em coda interna distribuídas pelos itens
lexicais investigados
N.º da Vocábulo [h] [x] [ɽ] [ɾ] [r]
Questão
10 Torneira 75,8% 14,7% 6,3% - 3,1% -
18 Gordura 77,9% 14,7% 5,3% - 2,1% -
23 Fervendo 50,0% 8,7% 22,8% 6,5% 12,0% -
34 Borboleta 73,4% 6,4% 11,7% 4,3% 4,3% -
43 Tarde 79,1% 14,6% 5,2% - 1,0% -
46 Catorze 35,0% 1,0% 15,0% 44,0% 4,0% 1,0%
69 Certo 74,5% 18,1% 7,4% - - -
72 Perdão 74,7% 20,0% 4,2% - 1,1 -
94 Perfume 59,4% 10,4% 10,4% 6,2% 12,5% 1,0%
98 Perdida 87,0% 7,6% 4,3% - 1,0% -
68,5% 11,6% 9,3% 6,3% 4,1% 0,1%
Fonte: Elaboração da autora com os dados do corpus.
56
Vide capítulo 2.
116
Por meio da análise das variáveis sociais, expostas no Gráfico 06, podemos averiguar a
ampla utilização da fricativa glotal em todos os segmentos investigados (faixa etária, sexo e
mobilidade).
Gráfico 06 - Distribuição das variantes de /R/ por variáveis extralinguísticas – coda interna.
Os informantes jovens e os naturais da localidade em estudo são os que mais fazem uso
da fricativa glotal e menos utilizam o retroflexo. Costa (2015, p. 69) também verifica que a
primeira faixa etária possui tendência ao uso mais recorrente da glotal. Os mais velhos e os
migrantes, por sua vez, são os que apresentam maiores índices para o retroflexo (13%). A
fricativa velar foi mais recorrente entre os jovens e os migrantes, enquanto o tepe, com baixa
incidência (entre 0,2% e 6%) foi registrado entre os informantes da Faixa etária II e os
topodinâmicos.
Quanto à variável sexo, a velar foi mais frequente na fala feminina e a retroflexa na fala
masculina. Os apagamentos, assim como atestado em Costa (2015, p.71), apresentam maiores
índices na fala das mulheres. No entanto, em relação à utilização do tepe, enquanto em Costa
(2015) se verifica maior recorrência no falar dos homens, em nosso corpus, aparece com mais
frequência no núcleo feminino.
Em suma, a norma fonética, no Tocantins, quanto ao uso predominante da fricativa
glotal, está ligada à Região Norte. Salientamos que, embora essa variante se estabeleça como a
principal em ambos os grupos analisados (topoestáticos e topodinâmicos), os percentuais
averiguados para as glotais no corpus tocantinense ainda são menores do que os destacados por
117
Costa (2015) nos demais estados nortistas. Essa constatação nos leva ao entendimento de que
os processos sociais do Tocantins, seja a colonização, a emancipação política e os grupos
migrantes, constituem-se distintos dos demais estados do Norte.
Como identificado por Callou e Brandão (2016), a queda do /R/ em coda final constitui-
se fenômeno latente no português brasileiro e, em nossos dados, apresenta-se como
hegemônico em 11 cidades, representando quase 70% dos registros. Para as autoras, a ausência
do rótico nessa posição sinaliza um processo estável, devido ao enfraquecimento do fonema,
que leva à simplificação da estrutura silábica de CVC para CV e que não se associa à
estratificação social alguma.
A fricativa glotal efetivou-se em 27% dos casos, com registro regular em, pelo menos,
11 localidades. em Araguatins, a presença do rótico supera o índice de apagamento, registrando
mais de 50% das ocorrências para a glotal em coda final. Interessante observar que essa
localidade, na análise anterior do rótico em coda medial, também demonstrou comportamento
diferenciado quanto à norma das outras localidades de pesquisa, constituindo nesses dois
quesitos, uma subárea linguística.
Os demais róticos, cada um dos quais com menos de 2% do total do corpus,
apresentaram a seguinte configuração diatópica: o retroflexo em coda final ocorreu em três
57
Os dados obtidos em coda final ocorreram diante de pausa.
118
localidades: Mateiros, Gurupi e Paranã; nesta última, com uma porcentagem maior do que nas
demais. A fricativa velar foi registrada também em Mateiros, Paranã e em Araguacema. Por
fim, apesar do baixo índice, o tepe ocorreu nas cidades mais ao norte, em Araguacema e, no Sul
do estado, em Gurupi, Natividade e Paranã.
A seleção dos róticos por vocábulo – verbos e substantivos – demonstra, em todos eles,
o predomínio dos apagamentos, embora alguns itens lexicais também apresentem ocorrência de
outras variantes do /R/, conforme se verifica pelo Quadro 22, pelos índices percentuais de cada
variante.
Quadro 22 - Índice de ocorrências por variantes de /R/ distribuídas por itens lexicais - coda
externa
Nº da Vocábulo [h] [ɽ] [x] [ɾ]
Questão
14 Varrer 61,3% 36,6% 1,1% 1,1% -
21 Colher 55,2% 37,5% 2,1% 4,2% 1,0%
22 Liquidificador 67,0% 28,2% 1,9% 1,9% 1,0%
32 Montar 77,1% 19,6% - 3,3% -
42 Calor 57,3% 37,5% 2,1% 1,0% 2,1
58 Trabalhar 82,8% 14,1% 2.0% 1,0% -
63 Rasgar 68,5% 28,3% 2,2% 1,1% -
95 Beijar 69,4% 27,1% 3,5% - -
100 Perguntar 83,3% 12,5% 2,8% 1,4% -
68,7% 27,2% 1,9% 1,7% 0,5%
Fonte: Elaboração da autora com os dados do corpus.
Gráfico 07 - Distribuição das variantes de /R/ por variáveis extralinguísticas – coda externa.
Pelos dados expostos no Gráfico 07, observamos que a variável faixa etária tem alguma
influência sobre o apagamento, pois são os mais velhos os que, mais frequentemente, apagam o
rótico em final de palavra. Sobre a presença da glotal nesse contexto, são os jovens os que o
registram com um índice de 34% contra 20% desse rótico, na fala dos informantes da Faixa
etária II.
As variáveis sexo e local de origem mostraram que, na coda externa, o apagamento
ocorre com mais frequência entre os homens e os naturais da localidade em estudo
(topoestáticos), sem muita discrepância com os dados das mulheres e dos topodinâmicos.
Os jovens, as mulheres e os topoestáticos não apresentam a variante retroflexa em suas
respostas. A presença dessa variante, embora pouco representativa, está ligada a questões da
mobilidade migratória dentro do Tocantins.
Em síntese, podemos dizer que a variação do rótico ou a sua neutralização em coda final
no Tocantins segue padrões de outras regiões brasileiras, com índices de apagamentos que
120
Nossa última análise fonética versa sobre a realização do /S/ pós-vocálico em coda
medial que, em português brasileiro, pode realizar-se como variantes palatais surda e sonora
[][], sibilantes surda e sonora [s] [z], fricativa glotal [h] ou apagada [] (SCHERRE;
MACEDO, 1991).
A ocorrência de formas palatais é fenômeno marcante atribuído, principalmente, ao
português falado no Rio de Janeiro. Callou (2015) descreve a presença dessas variantes como
decorrentes de marcas sociais e históricas, a partir da vinda da família Real portuguesa, em
1808, e cujos padrões linguísticos de prestígio eram imitados.
Estudos recentes têm demonstrado a ocorrência das palatais em outras regiões do país.
Callou (2015) salienta que, no Rio de Janeiro e no Recife, predominam essas formas; em Minas
Gerais, São Paulo, Paraná e Santa Catarina, as sibilantes; na Bahia, há coexistência de ambas as
formas e, em outras partes do Nordeste, ocorre o uso da pós-alveolar, em áreas específicas
(CALLOU, 2015, p. 46).
Quanto à Região Norte, as cartas do ALAM demonstram a preferência, no Amazonas,
por realizações alveolares, em contexto interno e externo. No entanto, há a palatalização em
pontos específicos do estado, situados em três localidades, em sentido centro-leste: Barcelos,
Itacoatiara e Parintins, divisa com o Pará (CRUZ, 2004). Por meio dos dados, a autora traça a
possibilidade de uma isófona entre três microrregiões que compõem a parte nordeste de sua
área de pesquisa (CRUZ, 2004, p. 134).
Os resultados levantados por Cruz (2004) também foram confirmados por Maia (2012),
com pesquisa de campo realizada nos municípios de Boca do Acre, Lábrea (ponto coincidente
com o ALAM) e Tapauá. O autor destaca que, nas três localidades, o /S/ pós-vocálico
apresentou-se com predomínio das alveolares surda e sonora [s] e [z], seguido pelas pós-
alveolares surda e sonora ee pelaglotal [h] (MAIA, 2012, p. 107).
Maia (2012), sobre a possível área dialetal destacada por Cruz (2014), aponta ser
possível correlacionar o falar amazonense em dois subfalares: falares do Rio Negro e
Amazonas e falares do Solimões, fato esse corroborado por indicativos históricos e sociais,
principalmente a descendência portuguesa, conforme descrição do autor:
121
Os “falares do Solimões e seus afluentes”, dos quais faz parte o Purus, são
marcados pelo modo de falar de origem nordestina do maranhense e do
cearense, trazido pelos seringueiros a essa região do mapa, onde o ciclo da
borracha foi mais forte e presente. Esse modo de falar sibila o /S/ em posição
pós-vocálica. Já nas localidades dos rios Negro e Amazonas, apesar da
presença nordestina, a maior influência é do modo de falar do português.
Nesse modo de falar é mais comum o chiado. [...] É importante lembrar
também que Manaus, cidade dessa região e que apresenta índices
significativos de chiamento, embora tenha sido a grande beneficiada com a
extração do látex, não abrigava os seringueiros nordestinos, mas sim os
coronéis e seus familiares, sua grande maioria de descendência portuguesa.
Dessa forma, estariam os “falares do Amazonas e Negro” caracterizados pelo
uso da variante pós-alveolar do /S/ pós-vocálico. Não obstante, tal hipótese
ainda precisa ser melhor investigada (MAIA, 2012, p. 107-108).
58
A análise a seguir foi subdividida por contexto subsequente, ancorada no trabalho de Macedo (2014).
123
Quadro 24 - Índice de ocorrências por variantes de /S/ distribuídas por itens lexicais – coda
interna.
Nº da Vocábulo [s] [z] [] [] [h] []
Questão
59
Vide capítulo 2.
126
inserimos cartas que atestam a arealidade e a concorrência entre dois termos coletados. Nos
gráficos presentes, cujo intuito é apresentar os índices percentuais por variáveis
interindidividuais (faixa etária, sexo e mobilidade), inserimos apenas as lexias mais recorrentes
em cada análise e sua porcentagem.
Quadro 25 - Designações para a fruta que tem a casca verde, cheia de gominhos; abre-se com a
mão e se chupa a semente, e respectivos números de ocorrências e percentuais.
Variante N.º de ocorrências %
Ata 75 51,4%
Pinha 44 30,1%
Conde/Fruta-do-conde 13 8,9%
Condessa 10 6,9%
Bruto 2 1,4%
Biribá 1 0,7%
Araticum 1 0,7%
146
Fonte: Elaboração da autora com os dados do corpus.
60
Utilizamos, no momento da entrevista, fotos para ilustrar a fruta solicitada na questão.
127
A variante mais produtiva para a fruta em questão foi ata, com mais de 50% das
respostas, ocorrendo em todo o Tocantins, com menor propensão no Sudeste do estado. Este
vocábulo em Houaiss (2009) é apresentado como de origem controversa, datado de 1745, e
sinônimo para várias frutas que apresentam características semelhantes à solicitada no
questionário. Dentre as frutas citadas pelo dicionarista, encontramos fruta-do-conde, coração-
de-boi e araticum.
Cascudo (2012) descreve a fruta anonácea como proveniente das Antilhas e da
América Central. Segundo o folclorista, a forma ata procede de Moçambique e sua designação
é mexicana. Nesse mesmo verbete, Cascudo faz menção ao nome pinha que, segundo o autor, é
utilizado em Angola. Interessante observar que o dicionarista estabelece a comparação entre
ata e pinha: registra que a primeira denominação é característica do Norte do Brasil, enquanto
pinha é falada no Sul do país (CASCUDO, 2012, p. 632-633).
Pinha foi a segunda variante mais produtiva, com 30,1% das respostas, com
distribuição pelas doze localidades. Aulete (1986) a considera sinônima de ata e fruta-do-
conde. Para Cascudo (2012), a etimologia do termo provém de Portugal, uma vez que a fruta
lembra a pinha portuguesa. Foi datada em 1132, aparentando se tratar de designação mais
antiga que ata (HOUAISS, 2009)
Na distribuição diatópica, presente na carta L01 (Tomo II), há divisão do território
entre as variantes ata, concentrada mais ao Norte do Tocantins, e pinha, que ocorre,
predominantemente, no Sudeste do estado. Na carta de arealidade gradual, podemos constatar
as regiões em que incidiu predominantemente pinha.
128
Essa questão não faz parte do Questionário do ALiB (2001), o que impede de verificar
se, assim como citado por Cascudo (2012), ata seria característica do Norte e pinha do Sul.
Nesse caso, o Tocantins atuaria como zona de transição entre uma variante e outra61.
O terceiro item, por ordem de produtividade, refere-se à designação conde/fruta-do-
conde (13 respostas). Diatopicamente, encontra-se disperso pelo território de pesquisa, embora
não ocorra, apenas, na capital Palmas, região central, e em Tocantinópolis, nordeste
tocantinense.
Cascudo (2012, p. 637) descreve que a fruta foi trazida das Antilhas ao Brasil em
1926, pelo governador da Bahia, Diogo Luís de Oliveira, conhecido como Conde de Miranda.
Para o autor, ata e pinha são diferentes do conde/fruta-do-conde, tanto no formato quanto no
sabor. Ainda segundo o folclorista, fruta-do-conde e condessa são a mesma fruta.
A variante condessa obteve 6,9% das respostas e se distribui por toda a área. Cascudo
(2012) ressalta que a anonácea, assim como ata, procede das Antilhas e chegou ao estado do
61
No APFB (1963), há a cartografia para “espécie de fruta anonácea, semelhante a jaca-de-pobre”, entretanto,
acreditamos não se tratar do mesmo referente inserido em nosso questionário, por esse motivo, não realizamos o
contraste entre pinha/ata e as variantes encontradas na Bahia.
129
Pará em 1750, oriunda da Jamaica. Possivelmente, condessa seja uma analogia ao conde: fruta-
do-conde> fruta-da-condessa.
Bruto foi registrado por apenas dois informantes, ambos da segunda faixa etária, em
localidades que não demonstram conexão histórica e social: Araguatins e Mateiros. A fruta
apresenta semelhanças físicas ao solicitado na questão, no entanto, ela é maior e nativa do
cerrado brasileiro. O termo não se encontra lexicalizado com esse significado.
Por fim, biribá e araticum foram citados por apenas um informante cada uma, ambas
as formas correm em regiões de fronteira com outros estados: a primeira em Araguatins, divisa
com o Pará, e a segunda em Mateiros, limítrofe com Bahia, Piauí e Maranhão. O biribá, assim
como o bruto, possui características semelhantes à ata e à pinha, e Houaiss (2009) o descreve
como sinônimo de araticum. Araticum, por seu turno, é encontrada em Aulete (1986) como
brasileirismo e nome comum a várias árvores da família das anonáceas. Trata-se de um
tupinismo ocorrido em 1584 (HOUAISS, 2009).
No que se refere aos cruzamentos por variáveis sociais, os mais jovens apresentam
maior produção de ata se comparados aos mais velhos. O restante das designações manteve os
mesmos índices entre ambas as faixas etárias, à exceção de bruto, ligado à faixa etária II.
Quanto à variável sexo, os homens registraram maior número de variantes distintas
para o questionamento, com maior propensão à forma ata e citação de biribá e de araticum,
agrupadas em “demais variantes”. As mulheres demonstraram utilizar mais a lexia conde/fruta-
do-conde (16%).
130
62
Como anteriormente descrito, os gráficos apresentam apenas as variantes mais recorrentes. As menos produtivas
são agrupadas sob o título de “demais variantes”.
131
Mangará obteve o maior índice de citações e ocorre em quase todo o estado, com
exceção de Natividade e Paranã (Sudeste). O termo é fornecido por Houaiss (2009) como
tupinismo e regionalismo do Nordeste brasileiro, com datação que remonta 1584. Entretanto,
foi registrado como proeminente nos dados de Guedes (2012), no estado do Pará e, na carta
L07 do Atlas Linguístico do Brasil (CARDOSO et al., 2014), mangará é dominante tanto nas
capitais dos estados do Norte quanto nas nordestinas: Fortaleza, Natal e João Pessoa; em menor
escala, em São Luiz e Teresina. O vocábulo, portanto, não se configuraria apenas como
regionalismo nordestino.
Ainda no corpus de Guedes (2012), a hegemonia de mangará perde sua força no ponto
limítrofe entre Pará e Tocantins, onde concorre com umbigo, segunda variante em número
percentual em nossos dados, mas não lexicalizada em Houaiss (2009) para o item em questão.
Umbigo, por seu turno, ocorre em quase todo o Tocantins, com exceção da lateral
nordeste. Está agrupado em posição oposta à mangará e muito incidente nas cidades de
Natividade e de Paranã (Sudeste), conforme a carta a seguir, que apresenta a ocorrência
exclusiva de mangará e umbigo e a coexistência das duas formas.
132
Buzo, quarto item, registrou-se na área conhecida como falar baiano (NASCENTES,
1953; RIBEIRO, 2012), região oposta à mangará, formando uma isoléxica nesse espaço. No
ALS I, buzo concorre com buzina; na Bahia, encontra-se como buzo, buza e buzina em todo o
território (ROSSI et al., 1963). Seu registro não consta dos dados de Guedes (2012), no Pará,
nem nas capitais do Norte analisadas pelo ALiB, mas foi notada em Maceió e em Aracaju
(CARDOSO et al., 2014). Dessa forma, possivelmente se trata de uma variante Nordestina que
adentrou o Tocantins, e dada a localização da variante, foi introduzida via Bahia.
O termo não é registrado por Aulete (1986) nem por Houaiss (2009) como
inflorescência da banana, mas, dentre as acepções encontradas e dadas as características do
referente, podemos crer que se trata de uma alusão à aparência física do item, que remonta ao
instrumento buzina, em sua forma antiga ovalada, uma das variantes coletadas em Sergipe
(ALS) e Bahia (APFB).
A lexia flor (da bananeira), com nove ocorrências, encontra-se disseminada pelo
território de pesquisa, com exceção dos limites fronteiriços com o Maranhão. Inicialmente,
acreditávamos tratar-se de uma generalização fornecida pelos informantes, mas o item foi
coletado pelo ALiB em diferentes regiões brasileiras.
Na obra, a partir do cartograma L07 do ALiB, flor ocorre com maior frequência no
Rio Grande do Sul e São Paulo, com baixos índices em Vitória e no Recife. Na parte ocidental
do Brasil, aparece em Cuiabá, Porto Velho, Rio Branco e Macapá. A presente situação
averiguada, em confronto com nossos dados, pode evidenciar influências migratórias
procedentes do Sul/Sudeste, em direção ao Norte/Nordeste.
Vale destacar a quantidade de itens para essa questão que representam designações
mais gerais, comuns, possivelmente por o referente não fazer parte do universo linguístico dos
informantes. Essas designações gerais foram coletadas, em sua maioria, junto aos homens da
faixa etária I, agrupadas no gráfico a seguir em “demais variantes” (fio, figa, olho, pendão),
devido à baixa ocorrência no cômputo geral, mas validadas pelas descrições fornecidas pelo
informante.
134
Quadro 27 - Designações para os objetos feitos de fibra natural, colocados sobre o lombo do
cavalo ou do burro, e respectivos números de ocorrências e percentuais.
Variante N.º de % Variante N.º de %
ocorrências ocorrências
Jacá 49 41,5% Pacará 3 2,5%
Balaio 22 18,6% Alforje 2 1,7%
Cesto/cesta 19 16,1% Garajau 2 1,7%
Cofo 9 7,7% Cocho 1 0,9%
Caçuá 6 5,1% Chocononto 1 0,9%
Capanga/bolsa/embornal 3 2,5% Arupemba 1 0,9%
118
Fonte: Elaboração da autora com os dados do corpus.
A variante mais produtiva refere-se à jacá, que se distribui por todos os pontos de
inquérito, mais intensamente na fração Centro-Norte. Procede do tupi aiacá, registrado em
1698 (AULETE, 1986), com indicação de que sua produção é feita com a fibra natural da
taquara (HOUAISS, 2009).
Na porção Centro-Sul do Tocantins, irradiando para as divisas com a Bahia, Piauí e
Maranhão, na localidade de Mateiros, há maior concentração de balaio, cuja etimologia é
desconhecida, mas é datado em 1524, nosso segundo em ordem de produtividade. A carta de
arealidade demonstra a distribuição dos itens citados e a coexistência entre ambas as formas
(extremo Norte e região Sul):
136
Poderíamos, a partir da carta de arealidade, afirmar que jacá é uma variante típica do
Norte pela sua incidência areal, no entanto, esse mesmo item apresentou-se produtivamente no
Atlas semântico-lexical de Goiás (AUGUSTO, 2012), denotando que a forma encontra-se
difundida por outras regiões brasileiras, não estando restrita à região Norte do país.63
Cesto/cesta, forma mais genérica, obteve 16,1% de ocorrências e seu arranjo foi
uniforme pelo território de pesquisa, e predominantemente utilizado pelos jovens. A
generalidade do termo é corroborada por Houaiss (2009) quando o apresenta como “recipiente
de material diverso, geralmente entrançado, que resulta ou não de trabalho artesanal”. Em
Guedes (2012), ocorre com baixa produtividade e disperso no estado do Pará, assim como em
Goiás, a partir do Atlas semântico-lexical desse estado (AUGUSTO, 2012).
Cofo é o quarto item em ordem de produtividade; processa-se disperso pelo território,
tanto em localidades mais recentes quanto em cidades mais antigas. Aulete (1986) apresenta-o
63
O informante da segunda faixa etária de Araguatins descreve o jacá como um tipo de balaio: INF.- o jacá é um...
formato de um balaio feito de bambu, né, dessa taboca, aqui nóis falamo de taboca, que na verdade, é bambu,
você retira, ou ele pode ser feito de cipó, existe alguns tipos de cipó, que você faiz. Aqui nós temos o cipó do
índio, de iscara, temos um cipó, que no Pará, usa muito o cipó titica, que ele serve pra fazê remanchim, pra fazê
jacá, pra fazê cesto, temos o olho de (inint), que dá pra fazê cofa (001/3).
137
como objeto utilizado por pescadores e sua etimologia remete à cofinho, proveniente do Minho
(Portugal) com datação do século XIV.
Caçuá64, variante de origem controversa, possivelmente africana, de 1889 (HOUAISS,
2009), foi registrada por seis informantes e coletada sempre nos pontos de divisa estaduais, não
ocorrendo apenas no limite entre Goiás e Tocantins. Consultando outros atlas linguísticos
estaduais, verificamos que, segundo Guedes (2012), é a variante mais produtiva no Pará,
concorrendo com panero. Nos dados do Atlas Linguístico do Amazonas (CRUZ, 2004, [Carta
94]), foi pouco recorrente.
O agrupamento capanga/bolsa/embornal foi realizado a partir do traço semântico
comum entre as formas: todos estão dicionarizados como um tipo de bolsa usada para carregar
mantimentos, independentemente do material usado na confecção. Ocorreram de forma esparsa
no espaço de pesquisa: duas citações no Norte e outra na capital Palmas.
Na porção Centro-Leste, foram registrados, com pouca representatividade, os itens
pacará (Porto Nacional e Mateiros), garajaú (Palmas e Natividade) e alforje (Palmas e
Paranã). Os dois primeiros são tupinismo, de 1763 e 1899, respectivamente, e são descritos
como tipos de cestos feitos com fibras naturais. Alforje, por sua vez, possui origem no árabe al-
khurj, “saco que se leva ao lado, na sela”, apresentando a datação mais antiga dos três: 1162
(HOUAISS, 2009).
As incidências únicas – arupemba, cocho e chocononto – ocorrem no Sul-Sudeste do
Tocantins. Nenhum dos itens está lexicalizado com acepção atrelada aos objetos de fibras
naturais usados para levar mantimentos no lombo do animal.
Em todas as variáveis sociais analisadas predominam jacá, com maiores índices na
fala dos informantes idosos. Os jovens, por seu turno, além dessa variante, aludem a outras, tais
como: balaio e cesto/cesta. Foram agrupadas em “demais variantes”: capanga/bolsa/embornal,
pacará, alforje, garajau, cocho, chocononto e arupemba, em sua maioria, proferidos pelos
informantes topoestáticos, conforme demonstra o Gráfico 11.
64
A descrição do item é fornecida pelo informante topodinâmico de Tocantinópolis: “INF.- Eu conheço por dois
nome. Jacá e caçuá. Na realidade, o jacá mehmo é de taboca e o caçuá é feito de cipó, né (002/7)”.
138
Quadro 28 - Designações para os objetos de couro, utilizados para levar farinha, no lombo do
cavalo ou do burro, e respectivos números de ocorrências e percentuais.
Variante N.º de % Variante N.º de %
ocorrências ocorrências
Alforje 21 19,3% Caixote 5 4,6%
Buraca 14 12,8% Cesto/cesta 3 2,8%
Caçuá 14 12,8% Embornal 2 1,9%
Jacá 12 11,0% Gibão 1 0,9%
Mala/maleta (de couro) 11 10,1% Mocó 1 0,9%
Baú 9 8,3% Garajau 1 0,9%
Bolsa 7 6,4% Sucuntum 1 0,9%
Bruaca 6 5,5% Surão 1 0,9%
109
Fonte: Elaboração própria
65
Baseamo-nos no trabalho de Freitas Marins (2014) para o não agrupamento, nesse questionamento, dos itens
buraca e bruaca.
66
Houaiss descreve buraca como sendo um metaplasmo da forma mais antiga bruaca. No entanto, Cunha (2007)
destaca que a forma bruaca é datada em 1844, constituindo-se mais recente que buraca (1813).
140
Conforme destacado, caçuá (em azul) distribui-se por todo o Norte, pela parte Central
e pelo Sudoeste; concorre com buraca e bruaca em Gurupi e Mateiros (parte rosa), que
podemos considerar como zonas de transição dessa variante, enquanto, na parte Central e
Sudeste, predomina buraca e bruaca (verde). Dada a divisa com Goiás e a ocorrência desse
item em Augusto (2012) e Marins (2014), podemos deduzir que buraca e bruaca são oriundos
do Centro-Oeste67, enquanto caçuá, localizado nas cidades ao longo e proximidades da BR-
153, podem ser procedentes das migrações Norte/Nordeste, mesmo ocorrendo, em sua maioria,
nos informantes topoestáticos. Outro aspecto que pode ser levantado permeia o fato de que a
citação de caçuá indica certo desconhecimento dos informantes dessas localidades em relação
ao referente: bolsa de couro, ou seja, as localidades mais recentes exibem traços menos rurais
do que apresentados no Sudeste do Tocantins, por exemplo.
A forma jacá, também identificada no QSL 038, ocorre, assim como caçuá, nas
cidades do entorno da rodovia Transbrasiliana (BR-153) e do rio Tocantins. Apresenta-se com
67
Questionamento não cartografado pelo APFB (1963) para que verificássemos se buraca e bruaca são
pertencentes à área do falar baiano (NASCENTES, 1953).
143
68
Variante também auferida nos dados de Freitas Marins (2014), nas localidades do Centro-Oeste: Barra do
Garças (MT), Poxoréu (MS) e Corumbá (MS).
144
longo da BR-153; e a (ii) segunda, em sentido Sudeste, área considerada como de colonização
mais antiga (Microrregião de Dianópolis), na porção oriental do rio Tocantins.
5.2.2 Fauna
Tornava-se, pois, necessário atribuir nomes aos elementos desse novo mundo
e isso se faria de duas formas: ou assumindo a nomenclatura atribuída pelos
habitantes naturais da terra, ou, por criação popular baseada na analogia,
estender os nomes conhecidos pelo homem estrangeiro aos seres ‘exóticos’
que apresentassem alguma semelhança com os de sua terra de origem
(AGUILERA, 2010a, p.17).
Nessa vertente, selecionamos quatro questões para análise: QSL 049 – Como se
chama a ave de criação parecida com a galinha, de penas pretas com pintinhas brancas?; QSL
053 – Como se chama o bicho que solta um cheiro ruim quando se sente ameaçado?; QSL 065
– Como se chama o inseto de corpo comprido e fino, com quatro asas transparentes, que voa e
bate a parte traseira na água?; QSL 068 – Como se chama aquele inseto pequeno, de
perninhas compridas, que canta no ouvido das pessoas, de noite?
Para o questionamento de número QSL 049, salvo uma única abstenção, coletamos o
total de nove formas para designar a galinha de penas pretas com pintas brancas (Numida
meleagris), que, segundo Aguilera (2010a), foi um dos muitos animais trazidos pelos
portugueses ao território brasileiro, ou seja, não são aves típicas de nossa fauna.
Dadas essas condições, o processo de nomeação da galinha perpassa “o nome
atribuído pelos europeus e assume outras denominações baseadas na etimologia popular”
(AGUILERA, 2010a, p. 20), de acordo com as especificidades dialetais de cada região
brasileira. No Tocantins, as variantes e seus percentuais constam do Quadro 29.
146
Quadro 29 - Designações para a galinha de penas pretas com pintas brancas, e respectivos
números de ocorrências e percentuais.
Variante N.º de ocorrências %
Cocar 66 39,3%
Angolista 40 23,8%
Galinha-d’angola/angola 34 20,2%
Guiné 16 9,5%
Capote 5 3,0%
Tô-fraco 2 1,2%
Galinhola 3 1,8%
Galinha-d’água 1 0,6%
Galinha-da-índia 1 0,6%
168
Fonte: Elaboração da autora com os dados do corpus.
A variante mais produtiva no Tocantins foi cocar, cuja distribuição diatópica (Carta
L5, Tomo II) abrange todo o território de pesquisa, ocorrendo com mais frequência no Centro-
Sul do estado; acha-se predominante em todos os grupos, independentemente da variável
extralinguística. O termo não se encontra dicionarizado em Aulete (1986), mas Houaiss (2009)
o inscreve como proveniente do francês cocarde 'id.', de coq 'galo'. Outra hipótese seria a
representação onomatopaica do canto da ave.
No ALiB (CARDOSO et al., 2014), cocar é registrada apenas nas capitais Cuiabá e
Goiânia, pertencentes ao Centro-Oeste. Nos dados de Augusto (2012), essa variante é a
segunda mais produtiva, ocorrendo nas cidades goianas de Aruanã, Cidade de Goiás e
Pirenópolis, nas duas últimas de forma majoritária. Aparentemente, a partir da variação e da
distribuição diatópica de cocar, há nesse item, em específico, uma identificação lexical com a
região Centro-Oeste, uma vez que o termo ganha mais produtividade à medida que se aproxima
da fronteira entre Tocantins e Goiás.
Angolista, nosso segundo item (23,8%), foi detectado principalmente na porção Oeste
do rio Tocantins, em localidades consideradas mais recentes, e ao longo da BR-153. O nome
provém do topônimo Angola + ista, ou seja, aquela que veio/ascende de Angola, de datação
contemporânea, 1974 (HOUAISS, 2009).
No ALiB (CARDOSO et al., 2014), a lexia foi registrada nas capitais sulistas:
Florianópolis e Porto Alegre. Tal fato pode evidenciar que as frentes migratórias vindas do Sul
para o Tocantins têm influenciado no modo de designar o item em questão. Localidades como
Formoso do Araguaia e Pedro Afonso possuem grandes projetos agroindustriais, coordenados
por catarinenses e gaúchos e, nessas duas localidades, especificamente, o percentual de citação
perfaz mais de 30%.
147
adiante. Tô-fraco não está lexicalizada, mas é identificada por Aguilera (2010b) como nome
procedente de formação onomatopaica, criação popular que imita o som da ave.
Por fim, temos as incidências únicas: galinha-da-índia69 e galinha-d’água, a primeira
recolhida em Palmas e a segunda em Gurupi. No ALiB (CARDOSO et al., 2014), as duas
variantes foram inseridas como notas, mas não foram cartografadas por apresentarem baixa
produtividade. Apenas a primeira encontra-se lexicalizada como sinônima à galinha
d’angola/angola (HOUAISS, 2009).
Apesar de em todos os segmentos predominar cocar, na análise por variáveis,
constatamos alta preferência por esta forma pelos mais jovens, seguida do uso expressivo de
angolista. Nos menos jovens, há preferência por galinha-d’angola e angola, além das duas
primeiras citadas. Em relação à variável diassexual, as mulheres optam mais intensamente que
os homens por cocar e angolista, enquanto eles são responsáveis por maiores percentuais de
galinha-d’angola e guiné, conforme observamos no Gráfico 13.
69
O informante topodinâmico, da segunda faixa etária, de Palmas explica: “Éh, lá pra nós, isso nós falava era
cocar. Ah, eu já vi gente falá de, éh... galinha-da-índia, né. Mas nóis conhecia como cocar. Galinha-da-angola,
outros falava, né.
149
Quadro 30 - Designações para o bicho que solta cheiro ruim quando se sente ameaçado, e
respectivos números de ocorrências e percentuais
Variante N.º de ocorrências %
Gambá 69 64,5%
Mucura 25 23,4%
Lapixó 5 4,7%
Mambira 3 2,9%
Esquilo 1 0,9%
Raposa 1 0,9%
Catita 1 0,9%
Saruê 1 0,9%
Mixila 1 0,9%
107
Fonte: Elaboração da autora com os dados do corpus.
Gambá foi a unidade lexical mais utilizada pelos informantes, ocorrendo em todo o
território tocantinense; em Formoso do Araguaia, por exemplo, foi a única variante descrita em
todas as entrevistas. A formação do nome é atribuída ao tupi gaamba, de 1817, mas de étimo
controverso (HOUAISS, 2009).
Em estudo sobre o tema, Silva-Costa e Isquerdo (2012), a partir dos dados do ALiB,
demonstram que, na região Centro-Oeste, gambá também predomina, perfazendo índice de
88%. Por outro lado, em Guedes (2012), no Pará, essa forma é a segunda em ordem produtiva,
perdendo espaço para mucura.
Mucura também foi registrada em todo o Tocantins e, assim como o gambá, sua
distribuição areal, presente na carta L06 (Tomo II), foi uniforme. Houaiss (2009) apresenta o
termo com sinônimo para gambá e como regionalismo da Amazônia, dado esse corroborado
por Silva-Costa e Isquerdo (2012) em estudo sobre as variantes para o animal marsupial no
Centro-Oeste. Segundo as autoras, mucura foi coletada em Mato Grosso e Goiás. A esse
respeito, são oportunas as palavras das pesquisadoras.
Em Guedes (2012), mucura é predominante no Pará e concorre com gambá apenas nos
dois pontos próximos ao estado do Tocantins. Assim, a presença de mucura em nossos dados,
aliados aos de Guedes (2012) e Silva-Costa e Isquerdo (2012), denota tratar-se de uma variante
nortista que, possivelmente, tem irradiado para outras regiões brasileiras, apesar da consistência
na disposição da forma gambá.
A terceira variante, lapixó, coletada a partir de cinco respostas, distribui-se em sentido
centro-norte, a partir de Palmas. O termo não se encontra lexicalizado; há apenas menção em
um dicionário informal da internet de que lapixó é designação para um pássaro das regiões
Norte-Nordeste. Nos estudos dialetológicos, não há menção à forma nas regiões Centro-Oeste
ou Norte (CARDOSO et al., 2014).
Com pouca representatividade, ocorreu mambira em Palmas e Pedro Afonso. Houaiss
(2009) assinala que se trata de um regionalismo da Amazônia e designa um tipo de tamanduá.
Entretanto, apesar de os dicionários apresentarem que mambira designa outro animal, nossos
informantes responderam ao questionamento de forma consciente, como pode ser
exemplificado no seguinte fragmento: “INF.- Ah, essa é a mucura, que é aquela que come
galinha. Esse que a gente tá falando que é gambá, que é o memo... o mambira” (005/8). Esse
item também foi coletado em Guedes (2012) em três localidades paraenses, podendo sinalizar
para um regionalismo nortista presente no Pará e no Tocantins.
Com apenas uma resposta, obtivemos: esquilo, mixila, catita, raposa e saruê. Esquilo
não se trata de animal encontrado na América do Sul, cremos que foi designado pelo
informante por ter uma leve semelhança física com o marsupial descrito na questão. Mixila, por
seu turno, foi identificado nos dados de Silva-Costa e Isquerdo (2012) no Mato Grosso e no
Mato Grosso do Sul; entretanto, em nossos dados, foi proferido pelos informantes nascidos no
Tocantins, não sendo possível afirmar que a variante seja proveniente de processo migratório.
Catita é dicionarizado por Houaiss (2009) como um marsupial, mas se trata de um tipo
de roedor. Já raposa, similarmente encontrado por Silva-Costa e Isquerdo (2012) no Mato
Grosso do Sul, consta em Houaiss (2009) como regionalismo de São Paulo. Essa designação foi
expressa pela informante jovem de Palmas, casada com um sul mato-grossense, o que pode
explicar a alusão a essa forma. Aguilera (2010a) destaca que raposa tem sido coletada também
em localidades com forte contingente europeu, cujo imigrante atribui um nome de sua região de
origem ao animal encontrado em nossa fauna.
151
Por fim, há a hápax saruê, forma apresentada como regionalismo nordestino, mas
descrita pelo informante do grupo topodinâmico de Mateiros como sendo procedente do
Paraná: “Eu conheço, lá, lá no Paraná chamam ele de saruê, e aqui eles chamam ele de
mucura” (008/7).
Sobre as variáveis extralinguísticas, todos os informantes mantiveram índices
semelhantes de variantes, exceto a faixa etária II com a citação de mucura, o dobro da
apresentada pelos jovens. Além disso, os jovens são os que mais registraram a unidade gambá,
além de outras variantes: esquilo, raposa, catita, saruê e mixila, agrupadas em “demais
variantes” em decorrência da baixa produtividade.
termos coletados como resposta para esse questionamento incide propriamente nas crenças
populares sobre o inseto. Sua natureza dual, ora considerado benfeitor, ora considerado de mau
agouro faz que o falante atribua diferentes formas de nomeá-lo, sobretudo tendo em vista a
forma física do inseto e seus hábitos70 (LENKO; PAPAVERO, 1996; AGUILERA, 2010b).
Salvo as 24 abstenções, ao todo, auferimos 88 respostas, distribuídas em 15 formas
distintas. A maioria delas apresenta baixo índice de produtividade, citadas por um ou dois
informantes apenas. Outras, porém, apesar de apresentar baixo índice, demarcam aspectos
históricos e sociais das localidades em que foram coletadas. Além disso, há significativo
número que demonstra formas atribuídas a outros insetos e, nesses casos, usamos como critério
para a inserção das respostas as descrições fornecidas pelos próprios informante e a evidência
das lexias presentes em outras regiões brasileiras. O Quadro 31 mostra as variantes, o número
de ocorrências e os percentuais.
Quadro 31 - Designações para o inseto de corpo comprido e fino, com quatro asas
transparentes, que voa e bate a parte traseira na água, e respectivos números de
ocorrências e percentuais
Variante N.º de % Variante N.º de %
ocorrências ocorrências
Cambito 36 41,0% Louva-deus 2 2,3%
Libélula 20 22,7% Grilo-de-rabo 1 1,1%
Lava (bunda, cu, cuida) 8 9,1% Esperança 1 1,1%
Cavalo/cavalinho (de/do 7 8,0% Cabra-cega 1 1,1%
capeta, cão, judeu)
Helicóptero 3 3,4% Mané-mago 1 1,1%
Besouro 2 2,3% Canzil 1 1,1%
Palito 2 2,3% Tesoureiro 1 1,1%
Cavaleiro 2 2,3%
88
Fonte: Elaboração da autora com os dados do corpus.
70
As crenças populares que circundam o inseto são descritas por Lenko e Papavero: Insetos no Folclore (1996, p.
101-102).
153
(2009) registra a variante como regionalismo nordestino, de origem obscura, com datação
remontando ao século XIV.
Não há registro de cambito nas capitais do ALiB (CARDOSO et al., 2014). Entretanto
aparece nos dados de Guedes (2012) mais expressivamente na região Sudeste do Pará, divisa
com Tocantins, muito embora a variante mais produtiva nesse estado seja jacinta. No
Maranhão, segundo Ramos et al. (2012), com os dados do ALiB, cambito é registrado no
sentido Leste-Oeste, na metade sul do estado em questão. Em Augusto (2012), em Goiás, a
referida unidade foi coletada como incidência única em Aruanã. Os fatos apontados nos levam
a supor que, ao contrário dos dicionaristas, cambito não se encontra restrita ao Nordeste, mas
irradia no sentido Norte, descendo pelo Tocantins e chegando com pouca incidência em Goiás.
Libélula, considerada variante padrão, foi a segunda mais produtiva; com exceção de
Formoso do Araguaia, foi registrada em todo o território e hegemonicamente citada pelos
informantes da primeira faixa etária, com leve tendência às mulheres utilizarem essa variante.
Nas capitais analisadas pelo ALiB, registra-se em todas as regiões brasileiras (AGUILERA,
2010b; CARDOSO et al., 2014).
Segundo Aulete (1986), o termo é proveniente do latim clássico libellula, talvez por
alusão à libella, que significa nível/prumo, possivelmente uma menção às longas asas do
animal e o movimento do voo. Segundo Aguilera, em Portugal, é conhecida como libelinha,
forma utilizada no diminutivo, o que denota a delicadeza do animal (AGUILERA, 2010b).
Com oito ocorrências, temos os itens agrupados sobre o sema lava: lava-bunda/ lava-
cu/lava-cuida. Houaiss (2009) apresenta as acepções lava-bunda e lava-cu como sinônimos
para libélula, porém cita que a primeira é um regionalismo sulista, enquanto a segunda
relaciona-se ao estado de Sergipe. No ALiB, além das capitais sulistas, há a presença dessas
variantes no Sudeste e no Centro-Oeste (AGUILERA, 2010b; CARDOSO et al, 2014).
No caso dessas variantes agrupadas sob o sema lava, o fator diatópico não foi
preponderante, uma vez que foram coletadas em cinco localidades distintas, sem aparente
conexão entre elas. Por outro lado, o eixo mobilidade mostrou-se produtivo, pois todos os
informantes que as citaram são provenientes de deslocamentos e de migrações.
Os agrupamentos cavalo/cavalinho (de/do capeta, cão, judeu, pau) apresentam baixa
produtividade, entretanto evidenciam-se em forma de isoléxica, uma vez que foram coletadas
apenas nas localidades de Mateiros, Palmas, Natividade e Paranã, as três últimas pertencem ao
ciclo histórico do estado, e Mateiros localiza-se na tríplice fronteira: Bahia, Piauí e Maranhão.
A seguir, a carta demonstra a arealidade de cambito em contraste com
cavalo/cavalinho (de/do capeta, cão, judeu, pau).
154
alcançado, carregar preso às costas uma casca seca, o que leva os falantes a associarem a casca
retorcida à semelhança com o demônio (apud LENKO; PAPAVERO, 1996, p. 102).
Segundo Pérez (2011), cavalo ou cavalinho-do-diabo aufere-se em Portugal, tanto na
Ilha dos Açores quanto no continente, o que nos faz supor que essas variantes sejam originárias
de países europeus, posteriormente transportadas para o Brasil. As atividades de extração do
ouro em Natividade e Paranã, nos séculos anteriores, atraíram levas de portugueses71, o que
parece justificar a presença da variante na fala local. Por seu turno, Aguilera (2010b) destaca
que caballo ou caballito del diablo são variantes utilizadas também em partes da América do
Norte: Novo México e Colorado.
Helicóptero, nosso quarto item, ocorreu apenas em Formoso do Araguaia e Gurupi,
localidades próximas da BR-153, sendo esta última cortada pela rodovia. As três ocorrências
foram obtidas junto aos informantes jovens, dois deles nascidos nas cidades de pesquisa e um
topodinâmico. Lenko e Papavero (1996, p. 102) asseveram o caráter jovial do emprego do
termo, pois, segundo eles, é muito utilizado por crianças.
O registro dessa variante também foi realizado pelo ALiB em capitais muito distintas:
Florianópolis, Curitiba, São Paulo, Campo Grande, Goiânia, Natal e Rio Branco, o que dificulta
encontrar a origem do item lexical. Houaiss (2009) apresenta helicóptero apenas como
regionalismo brasileiro, sem especificar a possível região de origem dessa designação. Os
próximos volumes do ALiB, contendo os dados das localidades do interior, possivelmente,
elucidarão essa questão.
Quatro variantes obtiveram duas respostas cada, ou seja, 2,3% do total: besouro,
palito, cavaleiro e louva-deus, sendo as três primeiras citadas em Gurupi, cidade às margens da
rodovia Transbrasiliana (BR-153). Louva-deus ocorreu apenas em Araguatins, extremo Norte
do estado; validamos as duas respostas dos informantes idosos, dado o caráter diatópico
centralizado das respostas e as descrições dos informantes. Nenhum dos termos encontra-se
lexicalizado em Houaiss (2009) como sinônimo para o inseto em questão.
No ALiB, o item besouro realizou-se na capital Florianópolis. Em nossos dados, foi
proferido pelo informante jovem topodinâmico, em Gurupi, localidade que recebeu e tem
recebido muitas frentes sulistas em seu território, o que pode explicar a presença dessa variante.
Sete termos – grilo-de-rabo, esperança, cabra-cega, mané-mago, canzil e tesoureiro –
ocorreram apenas uma vez e, do ponto de vista diatópico (Carta L7, Tomo II), essas variantes
esparsas estão em localidades mais recentes e com grande fluxo migratório. De todas as lexias,
71
Vide capítulo 2.
156
Quadro 32 - Designações para o inseto pequeno, de perninhas compridas, que canta no ouvido
das pessoas, à noite, e respectivos números de ocorrências e percentuais.
Variante N.º de ocorrências %
Muriçoca 93 61,6%
Pernilongo 41 27,0%
Mosquito 11 7,3%
Carapanã 6 4,0%
15
Fonte: Elaboração da autora com os dados do corpus.
habitantes de todas as regiões brasileiras, embora com percentuais distintos de ocorrência entre
as regiões Nordeste/ Norte e Sudeste/Sul/Centro-Oeste” (COSTA; ISQUERDO, 2010, p. 514).
Na sequência, obtivemos 11 respostas para mosquito, coletado no Sudeste do
Tocantins e região do Bico do Papagaio, tanto na fala dos informantes topoestáticos quanto na
dos topodinâmicos. A lexia forma-se a partir de mosca, étimo latino com a junção do formador
de diminutivo também latino: ito (HOUAISS, 2009). No ALiB, mosquito efetua-se nas capitais
do Sul e do Sudeste e se configura em menor intensidade no Nordeste, com baixíssima
incidência no Norte (CARDOSO et al., 2014, p. 227 [carta L14]).
O cruzamento com nossas variáveis demonstra que pernilongo é mais frequente na
fala dos homens da segunda faixa etária. Na verdade, acreditávamos que, por ser considerada
variante padrão, teria a preferência dos falantes jovens. Esse fato demonstra que muriçoca,
variante mais regional, segue mantida pelos informantes de ambas as idades e se constitui como
norma no Tocantins. Há que se destacar a preferência pela forma mais regional muriçoca pelas
mulheres, enquanto os homens apresentam percentuais mais altos para pernilongo.
ocorridas nesse campo são predominantemente diatópicas, com pouca influência dos outros
fatores sociais, como sexo e faixa etária.
As variantes obtidas a partir dos quatro questionamentos analisados mostram marcas
de um Tocantins multivarietal e com semelhanças lexicais com diferentes regiões brasileiras.
No caso de cocar (QSL 049), há identificação com o Centro-Oeste. Por seu turno, angolista
assemelha-se ao Sul. Mucura (QSL 053) tem similaridade lexical com o Norte e muriçoca
(QSL 068), com o Nordeste.
As respostas à Questão 065 do QSL formam uma isoléxica relativa às variantes
cavalo/cavalinho (de/do capeta, cão, judeu, pau) na área Sudeste do território de pesquisa,
região de mineração, próxima da divisa com a Bahia. Tal fato parece indicar um lusitanismo
presente no território, podendo ter adentrado no Tocantins de forma direta: via colonizador
europeu, ou indiretamente, procedente do estado baiano e dos contatos migratórios.
Quadro 33 - Designações para a bolinha que nasce em cima do olho, fica vermelha e incha, e
respectivos números de ocorrências e percentuais.
Variante N.º Ocorrências %
Terçol 53 52,0%
Espinha 44 43,1%
Olho-de-sol 3 2,9%
Nascida 2 2,0%
102
Fonte: Elaboração da autora com os dados do corpus.
160
72
O respectivo dicionário também fornece as receitas caseiras para a cura: “cera de ouvido; esfregar uma aliança
de ouro num pano até aquecer e, em seguida, pôr sobre a espinha; excremento de galinha, quando mole,
aquecido; folhas de pimenteira aquecidas em banha de galinha aplicadas sobre a espinha. (PÓVOA, [s/d], p.
168).
161
produtividade se comparado aos demais itens, como gogó, por exemplo (ALTENHOFEN et al.,
2011).
Por último, com apenas duas citações cada, encontra-se o agrupamento galo/crista-de-
galo (Araguaína e Formoso do Araguaia) e a variante cangote (Araguatins e Tocantinópolis).
Não estão lexicalizados como sinônimo para pomo-de-adão em Aulete (1986) e em Houaiss
(2009); nos trabalhos dialetológicos consultados, não há menção a nenhum dos itens do
agrupamento.
Quanto às variáveis intraindividuais, como evidenciadas no Gráfico 18, o fator
diageracionalidade demonstra aspectos distintos. Os jovens, de forma primaz, utilizam
principalmente gogó; os informantes da segunda geração, apesar de também fazerem uso da
referida variante, manifestam frequência considerável para o agrupamento nó/caroço.
Quadro 35 - Designações para o osso que vai do pescoço até o ombro, e respectivos números
de ocorrências e percentuais.
Variante N.º de ocorrências %
Clavícula 76 76,0%
Cantareira 21 21,0%
Escápula 1 1,0%
Omoplata 1 1,0%
Pá 1 1,0%
100
Fonte: Elaboração da autora com os dados do corpus.
brasileiro, irradiando para os estados nortistas, tais como o Tocantins e o Pará (GUEDES,
2012), não chegando ao Centro-Oeste (AUGUSTO, 2012).
Os itens escápula, omoplata e pá, citadas por um informante cada, ocorreram
respectivamente, em Porto Nacional, Araguaína e Tocantinópolis. Os dois primeiros são termos
procedentes de rubrica anatômica, pouco usuais na população geral e não apurados nas obras
dialetais. Pá está dicionarizada, mas não apresenta acepção compatível com o que se pede na
questão do QSL 084.
Interessante observar que pá apresenta-se como segunda variante mais produtiva em
Goiás (AUGUSTO, 2012). No Pará, é pouco usual, aparecendo apenas em Altamira, podendo
indicar ser um regionalismo do Centro-Oeste, chegando com baixa produtividade ao Norte.
O cruzamento por variáveis denota resultados relevantes do ponto de vista diageracional
e da mobilidade, como comprovamos no Gráfico 19, que apresenta os percentuais realizados a
partir dos recortes sociais.
Por outro lado, distintamente dos dados do referido autor, cujas mulheres apresentam
maior número de citações para cantareira, em nosso corpus, os homens manifestam índices
mais produtivos do que o sexo feminino em relação a essa variante.
Ainda sobre o emprego de cantareira, notamos sua manifestação nos falantes nascidos
nas localidades de pesquisa, muito embora também tenha sido citada pelos topodinâmicos,
podendo indicar tratar-se de uma variante utilizada principalmente pelos nascidos nos locais de
pesquisa, mas com aceitação razoável pelos alóctones.
O penúltimo item em análise do campo semântico “Corpo Humano” refere-se às
variantes e agrupamentos adquiridos a partir de QSL 093 Como se chama o osso redondo que
fica na frente do joelho?, excetuando-se o alto índice de abstenções, 25, identificamos sete
agrupamentos e outras três variantes individuais, normalmente atreladas à criação metafórica
entre o osso redondo e outros objetos, o que denota polimorfismo nas designações
(AGUILERA, 2012), conforme ilustrado no quadro a seguir e constante na Carta L12, do Tomo
II.
Quadro 36 - Designações para o osso redondo que fica na frente do joelho, e respectivos
números de ocorrências e percentuais.
Variante N.º de % Variante N.º de %
ocorrências ocorrências
Rodela/rodelinha/ruela 28 37,3% Osso/junta 2 2,7%
(do joelho)
Rótula 20 26,7% Pedra (do 1 1,3%
joelho)
Bola/bolinha/bolotinha 9 12,0% Ministro 1 1,3%
(do joelho)
Bolacha/bolachinha 8 10,7% Tramela/janela 1 1,3%
(do joelho)
Patela 4 5,3% Pataca (do 1 1,3%
joelho)
75
Fonte: Elaboração da autora com os dados do corpus.
sinônimo para osso, mas sem especificar qual exatamente. Ruela, por seu turno, encontra-se nas
referidas obras como denominação para objetos circulares.
Rodela, no Atlas Semântico-lexical de Goiás, embora não tenha sido agrupada com sua
forma no diminutivo, apresenta-se como terceira variante em posição produtiva (AUGUSTO,
2012, p. 263). Na Bahia, ocorre na porção Centro-Oeste do território; na área Centro-Leste, a
hegemonia refere-se à bolacha do joelho e outras designações. Em Sergipe, por outro lado, não
foi coletada (AGUILERA, 2012). As demais formas do agrupamento não constam nas obras
dialetais.
Na sequência, temos rótula, identificada em todos os pontos de pesquisa, com maior
propensão em Araguacema, Oeste do estado e divisa com o Pará, irradiando ainda para toda a
margem Oeste do território e parte do Sudeste; ocorre com pouca propensão no Centro-Sul do
Tocantins. É verificada em Houaiss (2009) com o indicativo latino de rodinha, com datação de
1600. Em Aulete (1986), a rubrica estritamente anatômica alude ao osso da articulação, situado
entre o fêmur e a tíbia, entretanto não há menção neste último sobre a etimologia ou a datação
do termo.
Nos dados dos atlas linguísticos dos estados do Amazonas, de Goiás, do Sergipe e do
Paraná, a variante rótula configura-se como predominante, o que nos induz a afirmar tratar-se
de uma forma amplamente utilizada no Brasil. Contudo, no Território Incaracterístico,
apresenta-se como a segunda lexia mais citada, perdendo para “outras designações” (CUBA,
2016, p.189); na região Sul, é a quarta variante em percentual de uso (ALTENHOFEN et al.,
2011).
Bola/bolinha/bolotinha (do joelho), coadunadas em clara alusão à forma esférica do
objeto, têm sua significação fornecida a partir do uso informal para algumas partes do corpo
humano ou animal que apresentam formas arredondadas (AULETE, 1986; HOUAISS, 2009).
Ocorrem na porção Sudoeste e extremo Norte tocantinense, formando duas áreas isoladas para
o agrupamento em questão. A capital Palmas foi a localidade que apresentou maior número
dessa variante, no total de 40%. Nos atlas linguísticos, há menção ao aglomerado
bola/bolinha/bolotinha (do joelho) em Goiás (AUGUSTO, 2012), no Mato Grosso do Sul
(OLIVEIRA, 2007) e na região Sul (ALTENHOFEN et al., 2011).
Para bolacha/bolachinha (do joelho), cuja dicionarização em Aulete (1986) e Houaiss
(2009) não remetem ao osso do joelho, recolhemos o total de oito respostas, auferidas
principalmente no Centro-Sul e no extremo Norte do estado, nas mesmas regiões linguísticas
que coletamos os agrupamentos bola/bolinha/bolotinha (do joelho).
170
Quadro 37 - Designações para o osso situado entre a perna e o pé, e respectivos números de
ocorrências e percentuais.
Variante N.º de % Variante N.º de %
ocorrências ocorrências
Tornozelo 51 53,1% Osso/ossinho 4 4,2%
da saudade
Osso/ossinho gostoso 8 8,3% Rejeito 2 2,1%
Mocotó 8 8,3% Curvejão 1 1,0%
Osso/ossinho 7 7,3% Canela 1 1,0%
Macaúba 6 6,3% Olho-de- 1 1,0%
peixe
Nervo/tendão 6 6,3% Machinho 1 1,0%
96
Fonte: Elaboração da autora com os dados do corpus.
propício a sofrer pancadas” (ITAPETIM.NET, 201073). O referido sítio descreve que a forma é
encontrada na cidade de Itapetim, em Pernambuco. Entretanto, no atlas linguístico do referido
estado, osso/ossinho gostoso foi coletado a partir de resposta única em Petrolina.
Mocotó ocorre com mesmo percentual da forma anteriormente descrita, oito respostas.
Essa variante encontra-se na região Centro-Norte do Tocantins74, com maior índice de citações
em Araguaína e Araguatins, ambas localidades do norte do estado. Houaiss (2009) a fornece
como utilização informal para tornozelo e, segundo Nascentes (1955), advém do tupi
mboko'tog, “'que faz balançar”.
No Atlas Linguístico de Pernambuco, é a segunda variante em percentual nas
localidades de pesquisa (SÁ, 2013). Ocorre como incidência única no Mato Grosso do Sul,
especificamente em Bataguaçu; não é encontrada em Goiás (AUGUSTO, 2012), tampouco nos
estados do Sul (ALTENHOFEN et al., 2011), podendo indicar tratar-se de uma lexia restrita às
regiões Norte e Nordeste.
Osso/ossinho, quarta variante em número de ocorrências, atrela-se, a partir das acepções
encontradas em Houaiss (2009), como designação generalista para os tecidos rígidos que
compõem os corpos humanos e animais. As formas encontram-se esparsas no território de
pesquisa, em cinco localidades situadas em diferentes regiões do Tocantins, não sendo possível
o traçado de arealidade. São encontradas com baixíssima incidência no ALERS e no ALMS e
acompanhadas da descrição osso/ossinho da miséria ou da perna.
Macaúba, por sua vez, ocorre como designativo para o osso articular entre a perna e o
pé, em função de sua forma física, pois se trata de uma qualidade de coco fornecido por
Palmeira, encontrada em diferentes regiões brasileiras (AM e PA até MS, SP e RJ) (HOUAISS,
2009). Sua ocorrência deu-se exclusivamente em Palmas, Porto Nacional e Mateiros, formando
uma pequena isoléxica a partir dessas três localidades. Entretanto, nas obras dialetais utilizadas
como base comparativa, não foram verificadas ocorrências de macaúba e, dessa forma, não
podemos inferir o trajeto dessa variante. Acreditamos, por sua ocorrência em áreas mais
próximas com a Bahia, que proceda do Nordeste brasileiro.
Com o mesmo número de ocorrências de macaúba, temos nervo/tendão, apesar de
ambos se referirem a outros tipos de tecido encontrados no corpo, não necessariamente
relacionados ao osso articular solicitado na questão. São encontrados, principalmente, na
porção central, irradiando com pouca incidência para o Leste e para o Sudeste tocantinense.
73
ITAPETIM.NET. Letra O do dicionário de Matutês. Notícias. Disponível em:
http://www.itapetim.net/2010/01/letra-o-do-dicionario-matutes-2/. Acesso em 15 abril 2017.
74
Guedes (2012) não cartografou a presente questão para que verificássemos se mocotó irradia para o Pará.
174
como o osso/ossinho apresentam-se mais produtivamente na segunda faixa etária, assim como
nervo/tendão, curvejão, canela, olho-de peixe e machinho, agrupadas em “demais variantes”.
Os informantes não nascidos nas localidades de pesquisa utilizam tornozelo 14% a mais
que os topoestáticos, também apresentam menores índices de variantes com baixa incidência no
cômputo geral (14%). As variantes curvejão, canela, olho-de peixe e machinho são citadas
exclusivamente pelo núcleo extra localidade de pesquisa, podendo denotar que as referidas
variantes talvez tenham sido adquiridas do contato desses falantes em outros estados.
Em suma, o presente campo semântico apresenta extremo polimorfismo,
particularmente fornecido a partir de formações metafóricas, em que há alusão às partes do
corpo humano com outros objetos que apresentam mesma aparência ou função. Além disso,
destacamos a utilização de formas regionais, embora ocorram com percentual menor do que as
tidas como padrão por serem encontradas em várias regiões brasileiras.
Essa subárea tem servido como base de estudos lexicais para delimitação de áreas
dialetais, sobretudo em relação à divisão presente em Nascentes (1953), no que se refere ao
balar Baiano (RIBEIRO, 2012) e ao falar Amazônico (SARAIVA, 2013).
176
Quadro 38 - Designações para a brincadeira em que as crianças riscam uma figura no chão,
formada por quadrados numerados, jogam uma pedrinha e vão pulando com uma
perna só, e respectivos números de ocorrências e percentuais.
Variante N.º de ocorrências %
Amarelinha 46 59,0%
Macaco/macacão 26 33,3%
Pula-pula 3 3,9%
Guariba 1 1,3%
Cancão 1 1,3%
Maré 1 1,3%
78
Fonte: Elaboração da autora com os dados do corpus.
2014, p. 315 [carta L23]). Ainda nessa obra, nas capitais estaduais, Cuiabá, Campo Grande,
São Paulo, Vitória, Rio de Janeiro e Florianópolis, é hegemônica, sem concorrência com outra
variante. Para Barbeiro e Isquerdo (2007), a incidência predominante de amarelinha,
principalmente no Centro-Oeste, Sul e no Sudeste, pode indicar que essa variante seja uma
forma inovadora nas localidades nortistas.
Em Ribeiro (2012, p.412), por exemplo, verifica-se que, no cômputo das localidades
que compõem o falar baiano, a variante predominante é amarelinha (presença em 64,9% das
localidades), mas, quando considerada a frequência em ocorrências, a forma macaca suplanta a
primeira (39,9%), pois ocorreu em todas as localidades. Em Saraiva (2013), sobre o falar
Amazônico, o item proeminente refere-se à macaca e macaquinho, seguida de amarelinha.
Em nosso corpus, a citação ocorreu para macaco e macacão; macaquinho citado por
Saraiva (2013) não foi auferido no Tocantins. Assim, o agrupamento macaco/macacão perfez
mais de 30% das respostas, com distribuição regular pelo território, ocorrendo principalmente à
margem direita da BR-153; Araguaína, Porto Nacional e Natividade registraram os maiores
índices dessa variante, sobrepujando a forma amarelinha.
A acepção do termo com rubrica ludológica é vista em Houaiss (2009) que declara a
forma como brasileirismo, e Ferreira (2004) a insere como lusitanismo. Cascudo (2012, p. 6)
atribui macaco ao português europeu, falado no Norte de Portugal, como jogo da macaca,
pular macaca e jogar macaca.
Nas capitais estaduais analisadas pelo ALiB, o agrupamento macaca/macaco/macacão
concentra-se principalmente na região Norte, onde se efetua predominante; forma uma
isoléxica no Nordeste, especificamente em Salvador e Aracaju, e ocorre de forma esparsa em
Fortaleza (CARDOSO et al., 2014, p. 315 [carta L23]).
Especificamente na área do falar baiano analisada por Ribeiro (2012, p. 431), utilizando
dados do interior dos estados, destacamos as seguintes considerações da autora: “As lexias
presentes na Área de Controle (AC), macaco e macacão, estão concentradas no noroeste
(pontos 104, 023 e 038) e no norte (037, 073 e 071), o que corresponde a 12,1% da Área de
Controle (6 de 36)” e “Macaco, além da presença em AC, está concentrado no estado da Bahia,
exceção para o ponto 127 (Januária/MG)”. Em outras palavras, a área de controle, englobando
parte do Tocantins, é demarcada pela presença das variantes macaco/macacão.
No território do falar Amazônico descrito por Saraiva, macaco/macaquinho denotou ser
aglutinamento preferido nos estados nortistas, irradiando para a área de controle da autora,
constituída por São Felix do Araguaia, no Mato Grosso (SARAIVA, 2013, p. 132),
178
demonstrando que macaco, macaca, macaquinho e macacão são formas presentes em áreas
nortistas e nordestinas, chegando com pouca incidência ao Centro-Oeste.
O terceiro item em ordem produtiva refere-se à lexia pula-pula, com apenas três
respostas coletadas em Araguatins e Palmas. Registra-se em Houaiss (2009) a acepção
ludológica, mas ela alude a um tipo de brinquedo formado por “uma haste com apoios para as
mãos na extremidade superior e uma pequena plataforma na extremidade inferior para o apoio
dos pés, por baixo da qual existem molas ou peças de borracha, que permitem à criança saltar
do chão, em pé no aparelho”; não há remissão à brincadeira buscada na questão do QSL 131.
Acreditamos que a citação dessa forma advém do desconhecimento do informante sobre
a brincadeira em que se riscam as formas no chão. Além disso, o questionamento: “a
brincadeira em que as crianças riscam uma figura no chão, formada por quadrados numerados,
jogam uma pedrinha e vão pulando” por si só pode induzir o informante a fornecer a resposta
de forma genérica.
Em Ribeiro (2012), pula-pula ocorreu como resposta única em São Domingos, Goiás.
Nos estados nortistas trabalhados por Saraiva (2013), não há menção a essa forma. Nas capitais
estaduais, ocorreu como hápax em Fortaleza e Goiânia (CARDOSO et al., 2014, p. 314).
Coletamos ainda três respostas únicas: guariba, cancão e maré, as duas primeiras em
Araguatins, extremo Norte do estado, e a última na cidade de Formoso do Araguaia. A única
forma lexicalizada é maré como sinônimo para amarelinha. Em Houaiss (2009), guariba
remete à designação para um tipo de macaco e cancão uma espécie de pássaro encontrado em
algumas regiões brasileiras, dentre elas o Norte. Nos trabalhos dialetológicos, apenas maré
constitui-se como variante. No Atlas Linguístico do Brasil, por exemplo, é exclusiva de
Goiânia e Belo Horizonte e, possivelmente, trazida ao Tocantins via migrante.
Quanto ao cruzamento por variáveis, evidenciamos que a idade do informante está
intrinsicamente ligada à variação entre a forma padrão amarelinha e a regional
macaco/macacão, como descrito no gráfico 22 a seguir.
179
Quadro 39 - Designações para a peça do vestuário que serve para segurar os seios, e
respectivos números de ocorrências e percentuais.
Variante N.º de ocorrências %
Sutiã 94 72,3%
Corpete 23 17,7%
Bustiê 4 3,1%
Segura (caídos, mamão, teta) 3 2,3%
Biquíni 3 2,3%
Lingerie 1 0,8%
Bojo 1 0,8%
Baladeira 1 0,8%
130
Fonte: Elaboração da autora com os dados do corpus.
A variante sutiã foi hegemônica nos dados do corpus, com mais de 70% das respostas,
distribuída por todas as localidades da rede de pontos e nas demais variáveis consideradas,
como o sexo, a idade e a mobilidade. Houaiss (2009) a registra como galicismo, procedente de
soutien: aquilo que sustenta. Em francês, há a especificação de soutien-gorge (seios), atribuído
nomeadamente para denotar a peça do vestuário feminino.
No ALiB, sutiã ocorreu em todas as capitais de forma primaz (CARDOSO et al.,
2014, p. 329), indicando tratar-se da forma padrão no Brasil. No Amazonas, ocorre distribuída
181
por todo o território, porém, na porção Centro-Oeste deste estado, concorre com o item corpete
(CRUZ, 2004, [carta 66]), nosso segundo item por ordem de produtividade.
Com 23 ocorrências, registramos corpete, cuja organização diatópica também é
homogênea, com maior intensidade no extremo Norte do Tocantins, em Araguatins e
Tocantinópolis. Sua etimologia indica o termo como proveniente do italiano corpetto, “jaleco,
corpete; parte superior da roupa feminina, aderente ao corpo”, com datação de 1873
(HOUAISS, 2009).
A cartografia do ALiB (2014) registrou o item nas capitais de três regiões distintas:
Norte (Rio Branco, Manaus e Boa Vista); Nordeste (Teresinha, Fortaleza, Natal, Recife e
Maceió) e Sul (Porto Alegre), indicando tratar-se de uma variante difundida, sobretudo nas
regiões Norte e Nordeste brasileiro. Especificamente nas localidades interioranas do Pará, nos
dados de Guedes (2012), apesar de não ser predominante, a forma em questão concorre com
sutiã.
Com baixa produtividade, recolhemos bustiê, citado exclusivamente pela segunda
faixa etária e, em sua maioria, pelos informantes topodinâmicos, o que pode indicar tratar-se de
uma variante proveniente de outras localidades. Sua distribuição ocorreu tanto em localidades
do extremo Norte quanto no Sul do Tocantins, não sendo possível averiguar o trajeto do termo.
Segundo Houaiss (2009), bustiê procede do francês bustier: “tipo de corpete usado
pelas mulheres, curto, geralmente sem alças, e que cobre apenas o busto; top”. O termo não se
encontra em Aulete (1986). Esse item não foi inserido na carta do ALiB em decorrência da
pouca incidência nos dados coletados, mas foi coletado em capitais nortistas. Em Guedes
(2012), há apenas uma ocorrência no Pará e não há registro dessa variante no Amazonas
(ALAM) (CRUZ, 2004).
Coletamos ainda o agrupamento sob o prefixo segura caídos/mamão/teta. Os termos
ocorreram em localidades distintas: Tocantinópolis, Porto Nacional e Formoso do Araguaia,
com tendência de os jovens o utilizarem como forma jocosa em conversa descontraída. O
primeiro elemento da composição – segura – faz alusão à utilidade da peça de roupa; já os
substantivos caídos/mamão/teta relacionam-se ao próprio seio e não há lexicalização para
nenhum dos termos (HOUAISS, 2009).
Com apenas 2,3%, há biquíni, resposta para a pergunta em questão na região Sul-
Sudeste do estado, proferida apenas pelos informantes masculinos, nascidos nas localidades de
pesquisa (topoestáticos). A dicionarização do termo indica que biquíni refere-se a outro tipo de
vestuário, como roupa de banho ou um tipo de calcinha (HOUAISS, 2009), mas dado que seu
proferimento está atrelado ao eixo diassexual, optamos por manter e validar essas respostas.
182
Há, ainda, as formas lingerie, bojo e baladeira, com apenas uma resposta cada, em
Gurupi, Porto Nacional e Palmas, respectivamente. O primeiro foi proferido por um informante
masculino e designa uma terminologia mais generalista, pois se refere do conjunto de roupa
íntima feminina. Bojo, por seu turno, também fornecido por um informante masculino, assinala
o formato da peça.
Por fim, baladeira, obtida na fala de uma jovem da capital, parece ser uma variante
utilizada dentro do ambiente familiar, como indicado pela própria informante: “Minha vó
chamava baladera, porque disse que segurava (risos). Oh, o tamanho daquela baladera”.
(06/2). Baladeira é um dos nomes atribuídos ao estilingue em todas as capitais do Norte e na
maioria das capitais do Nordeste e, nesse caso, trata-se de criação metafórica e de extensão do
significado.
As variáveis sociais indicam que o fator idade é significativo nessa análise, pois os
mais jovens utilizam predominantemente a forma padrão sutiã, além da citação das hápax
lingerie, bojo e baladeira, descritas em “demais variantes”, enquanto os falantes da segunda
faixa etária proferem mais recorrentemente corpete, como explicitado no Gráfico 23.
A presença de corpete nos informantes da segunda faixa etária também foi averiguada
em Guedes (2012), podendo indicar um termo em vias de arcaísmo. As abonações diacrônicas
são fornecidas pelos informantes:
183
Quadro 40 - Designações para o objeto fino de metal, que serve para prender o cabelo, e
respectivos números de ocorrências e percentuais.
Variante N.º de ocorrências %
Presilha 59 41,3%
Grampo 51 35,7%
Grampina 21 14,7%
Ramona 7 5,0%
Prendedor/pregador 2 1,4%
Misse 1 0,7%
Fivela 1 0,7%
Berilo 1 0,7%
143
Fonte: Elaboração da autora com os dados do corpus.
Para o item grampo, obtivemos 35,7% das respostas, perfazendo o segundo lugar em
produtividade no corpus. Assim como presilha, a distribuição areal de grampo é uniforme pelo
território, com maior tendência à sua utilização no núcleo feminino e, predominantemente,
pelos não nascidos no Tocantins, conforme destacado no Gráfico 24.
Grampo encontra-se em Aulete (1986) e Houaiss (2009) como regionalismo brasileiro,
com datação de 1881, ou seja, mais recente que presilha; há a remissão ao termo grampa,
procedente do gótico krampa, provido pelo italiano grampa, “garra”.
Nos dados de Augusto (2012), a variante grampo é hegemônica, ocorrendo em todo o
interior goiano. Em Guedes (2012), o item lexical predomina no Pará, contudo, na divisa com o
Tocantins, há uma isoléxica para presilha, nosso primeiro item em ordem de produtividade,
como anteriormente evidenciado.
A terceira forma coletada refere-se à grampina, cuja arealidade denota uma
interessante isoléxica no Sudeste do estado, englobando Palmas, Porto Nacional, Mateiros,
Natividade e Paranã, localidades do eixo histórico do estado, conforme carta de arealidade
inscrita na Figura 13.
75
Disponível em: http://www.bagsandfashion.com/h-rkamm-08-ha2-grampina-picolina.html
186
(2012), no Pará, há apenas uma alusão ao item em questão, o que nos faz crer tratar-se de uma
variante geral citada pela informante.
Conforme destacado no Gráfico 24, as variáveis sociais denotam a utilização
predominante de presilha em todos os segmentos (sexo, idade e mobilidade), assim como o uso
da segunda variante em ordem de produtividade, grampo.
Quadro 41 - Designações para o objeto de metal ou de plástico que pega de um lado a outro da
cabeça e que serve para prender o cabelo, e respectivos números de ocorrências e
percentuais.
Variante N.º de ocorrências %
Diadema 72 59,5%
Tiara 44 36,4%
Arco/arquinho 3 2,5%
Passadeira 1 0,8%
Gigolé 1 0,8%
121
Fonte: Elaboração da autora com os dados do corpus.
particularidades. Nas análises do QSL 163, há novamente uma isoléxica no Sudeste, demarcada
a partir de grampina. Nas demais localidades, predomina a variante presilha, concorrendo com
grampo. Diadema constitui-se norma no Tocantins para o objeto utilizado de um lado a outro
da cabeça (QSL 164), tanto nos informantes topoestáticos, quanto topodinâmicos.
A macrovisão fornecida pelo conjunto dos elementos estudados – altura das vogais
médias pretônicas, róticos em coda medial/final e /S/ pós-vocálico em contexto medial –
apresenta configurações distintas, sem aparente formação de iminentes áreas dialetais, mas
indica similitudes com padrões linguísticos de diferentes regiões brasileiras, a depender das
variáveis, ora mais propensas à região Norte, ora à região Nordeste.
Sobre a proposta de Nascentes (1953), no tocante à dualização do Brasil em extensões
dialetais, indicando o Norte como detentor das vogais médias abertas, em contraste com a
metade Sul do país, tendo como marca as vogais fechadas, estudos mais recentes têm destacado
que o falar Amazônico apresenta diversidade em relação à variável em questão, havendo
oscilação entre vogais médias baixas e altas. Em localidades que apresentam
predominantemente médias baixas, o fator extralinguístico atua consideravelmente, pois se trata
de cidades que têm por característica forte migração advinda da região Nordeste.
Nesse contexto, o Tocantins, por meio dos dados dispostos na presente tese e a
depender de fatores de ordem linguística, apresenta oscilação entre as médias anteriores e
posteriores. As anteriores indicam maior propensão à realização como fechadas, enquanto as
posteriores realizam-se com maiores percentuais, a depender do recorte, como altas.
Destacamos, no entanto, que os índices entre ambas as variáveis e suas variantes, abertas ou
fechadas, atuam em proximidade e julgamos que a norma linguística, no que subjaz ao aludido
recorte, atua em processo de covariação linguística, com maior tendência às médias baixas no
segmento /e/ e menor propensão no /o/.
No Tocantins, embora a diatopia forneça moderadamente distribuição regular entre as
variantes, salientamos que há maior propensão ao uso das vogais abertas em localidades como
Palmas e Araguaína, as duas localidades mais populosas do estado e detentoras dos maiores
índices migratórios registrados. Sendo assim, na análise das variantes para as vogais médias
posteriores e anteriores, o comportamento linguístico denota que a procedência migratória,
190
76
Vide discussão fornecida por Margotti (2016) e Altenhofen; Thun (2016).
191
O fator faixa etária foi o que mais se destacou nas análises sobre presença versus
ausência de /R/ em final de palavra, sendo os jovens os que menos utilizam o apagamento em
contraste com os mais velhos, o que pode ser explicado por maior índice de escolarização por
parte desse núcleo, contato com meios de comunicação ou casos de hipercorreção em situação
monitorada (entrevista).
Os topodinâmicos, assim como na análise do rótico em coda medial, apresentam
maiores índices de variantes retroflexas em final de palavra, reafirmando que essa variante é
procedente de outras localidades, chegando com baixa incidência ao Tocantins e, por ora, não
constituindo caso de mudança em curso, por essa variante não se apresentar nos informantes
mais jovens.
Sinteticamente, partindo das análises da presença versus ausência dos róticos em coda
interna e externa, o Tocantins atrela-se às regiões Norte e Nordeste quanto ao uso da forma
glotal presente em coda medial e a uma tendência brasileira aos apagamentos quando o fonema
se localiza em coda final.
O fonema pós-vocálico /S/ realiza-se predominantemente como alveolar, a exemplo de
outras regiões, contrariando nossas expectativas iniciais quanto ao predomínio de variantes pós-
alveolares, principalmente em localidades cujo histórico de colonização mostra a presença de
descendentes portugueses, como no caso de cidades como Paranã e Natividade, antigas zonas
de garimpo.
Ao contrário, a maior concentração de variantes procedentes do português europeu está
na porção Norte do estado: Araguatins, Tocantinópolis e Araguaína, o que poderia indicar
influência direta de migrantes paraenses ou nordestinos. No entanto, a análise por fator social,
principalmente a mobilidade do informante, não denota que o uso das pós-alveolares esteja
ligado aos migrantes, uma vez que o percentual dessas variantes está muito próximo em ambos
os grupos: topoestáticos ou topodinâmicos. Dessa forma, no segmento /S/ pós-vocálico
predominam, no estado e em todos os componentes sociais, as realizações alveolares, com
áreas específicas de ocorrência das formas palatais a partir do Norte em direção ao Centro do
estado.
Em síntese, temos os seguintes resultados oriundos dos segmentos fonético-fonológicos:
i) covariação entre vogais médias abertas e fechadas, com tendência às últimas; ii) soberania da
variante glotal em todos os segmentos, tanto diatópicos quanto sociais; iii) predomínio de
realizações alveolares no segmento /S/ pós-vocálico, com presença diminuta de pós-alveolares
na parte Norte e Central do estado, não denotando que a procedência migratória seja
condicionadora dessa variante. Ainda nesse caso, os fatores históricos, como apontados em
192
outros trabalhos, referente à presença das pós-alveolares como decorrente de contato com o
português europeu, não se confirmam em nosso corpus.
Quanto às variáveis sociais, ainda podemos depreender as seguintes nuances: i) maior
índice de manutenção da variante de origem nos informantes da segunda faixa etária
topodinâmicos e ii) uso por parte dos jovens das formas que apresentam maiores índices gerais
nos três segmentos analisados: altura das vogais, róticos e /S/ pós-vocálico.
Se, por um lado, os fatores de ordem fonética não indicam a ocorrência de formação de
áreas linguísticas, o nível lexical apresenta a constituição de duas frentes dialetais no Tocantins:
i) Área A – Tocantins antigo, de composição inicial no século XVIII, situada no
Sudeste do estado, primeiras localidades do ainda Norte goiano, que abrigaram minas no
período colonial e que atualmente estão distantes da BR-153. As localidades que compõem essa
área são principalmente Natividade e Paranã, atuando como núcleos linguísticos irradiadores
para outras três localidades mais ao centro: Porto Nacional e Palmas, e para a lateral leste:
Mateiros; as formas coletadas nessa região vinculam-se predominantemente ao Nordeste
brasileiro e apresentam caráter mais rural.
ii) Área B: Tocantins contemporâneo, com disposição mais recente, englobando o
restante do estado. Apresenta semelhanças linguísticas com diferentes regiões, tanto Norte e
Nordeste como Centro-Oeste, aparentando um misto dialetal e, por vezes, dentro dessa
macroárea ocorrem presenças de subáreas dialetais, a depender da variante.
A divisão em áreas A e B realiza-se a partir de um conjunto de variantes lexicais, não
necessariamente a forma predominante em todos os segmentos, mas parte da ocorrência de
itens distintos que ocorrem no Sudeste e que aparecem com pouca irradiação nas demais áreas
de pesquisa. O campo semântico que mais demonstrou essa divisão foi o de Frutas e Atividades
Agropastoris, possivelmente resultante do caráter mais antigo dos referentes, mais próximos do
universo rural, assim como as denominações oriundas deles.
O primeiro caso averiguado consta do QSL 025: designações para ata e pinha, sendo a
segunda específica da área Sudeste e mais recorrente nos informantes móveis, enquanto ata
concentra-se no restante do estado, com mais propensão no Norte. No QSL 028, apesar do
predomínio em todos os segmentos para mangará, observa-se a formação de duas isoléxicas,
uma para buzo e outra para umbigo, nas localidades de Natividade e Paranã (Área A), a
primeira marcada no uso de autóctones e a outra nos alóctones.
193
77
Vide Isquerdo (2010).
194
demonstram arealidade lexical ou qualquer diferenciação diatópica. Nesse item, as nuances são
sociais, principalmente no recorte faixa etária, pois os jovens usam mais a forma gogó e os
mais velhos, principalmente topodinâmicos, variantes do agrupamento nó/caroço da garganta.
O mesmo ocorre no QSL 084, apresentando forte uso de clavícula pelos informantes da
primeira faixa etária, enquanto os mais velhos utilizam a forma cantareira; além disso, a maior
incidência desta forma lexical encontra-se nos informantes topoestáticos.
Também de modo mais ou menos equilibrado, o QSL 093 – osso redondo do joelho
apresenta, nas localidades antigas, o maior número de formas para rodela/rodelinha/ruela (do
joelho), em contraste com a variante rótula, aqui preferencialmente pelos informantes idosos,
quando acreditávamos que, por se tratar de uma forma padronizada, seria mais incidente nos
entrevistados jovens. Os jovens optam, além da forma mais recorrente rodela/rodelinha/ruela,
por designações gerais, como bola/bolinha/bolotinha (do joelho).
Na última análise do campo do Corpo Humano, o QSL 094 – saliência óssea localizada
entre a perna e o pé, verificamos alto nível de polimorfismo nas respostas analisadas, com
supremacia da forma difundida pelo país: tornozelo. Apenas em macaúba verifica-se a
formação de isoléxica, a partir de Palmas, demarcando a área A: Tocantins antigo.
Nosso penúltimo campo semântico analisado, Jogos e Diversões Infantis, apesar de
conter apenas uma questão, QSL 131 – designações para o jogo em que a criança risca uma
figura no chão, formada por quadrados numerados, apresenta, em contraste com outros
trabalhos dialetais, a covariação entre as formas amarelinha e macaco/macacão, tida como
oriunda do português lusitano.
No caso de macaco/macacão, o Tocantins, em comparação com as demais obras
versadas na descrição de variantes lexicais nordestinas e nortistas, insere-se tanto na área do
falar baiano como do amazônico78, demarcando ampla zona dialetal, cujo agrupamento em
questão chega com pouca incidência às regiões limítrofes ao Centro-Oeste. Nesse caso, ocorre
a formação de área A ou B, sendo o Tocantins pertencente, nesse quesito, a uma macroárea
linguística, englobando o Nordeste e o Norte.
Quanto à amarelinha, sua ocorrência está intrinsecamente ligada ao fator faixa etária,
registrada na fala dos jovens, enquanto os mais velhos optam pela forma regional
macaco/macacão. Aqui novamente vemos o comportamento dos informantes da faixa etária I
ligados à norma padrão do português brasileiro.
78
Vide Ribeiro (2012) e Saraiva (2013).
196
Outro fato linguístico que circunscreve os jovens como usuários de formas lexicais
padrão encontra-se no último campo semântico descrito - Acessórios e Vestuários,
especificamente no QSL 159, com o uso da variante sutiã por esses informantes ao lado de
corpete pelos mais velhos. Ainda sobre corpete, diatopicamente, ocorre principalmente na
divisa com o Maranhão e com a Bahia, mas não indica a geração de áreas linguísticas.
Por outro lado, nas variantes para o QSL 163 – objeto fino de metal que serve para
prender o cabelo, a forma hegemônica relaciona-se ao português regional em todos os
segmentos: presilha, tanto na faixa etária I quanto na II. Nesse questionamento, outra forma
local delimita a área dialetal A: grampina, encontrada exclusivamente em Palmas, Porto
Nacional, Mateiros, Natividade e Paranã, formando consistente isoléxica no Centro-Sudeste do
Tocantins.
Por fim, a última investigação, presente no QSL 164, apresenta o uso de outra forma
regional predominante em todos os eixos: diadema. Como essa lexia foi registrada em
localidades de Goiás e de Mato Grosso do Sul, parece-nos que o Tocantins acompanha a norma
lexical do Centro-Oeste.
Em suma, o nível lexical mostrou-se extremamente suscetível às influências externas,
de diferentes regiões brasileiras, a depender do questionamento analisado. No entanto, pelo
número de formas coletadas, em contraste com atlas linguísticos e trabalhos dialetais, o
Tocantins vincula-se predominantemente à norma linguística do Nordeste e do Norte, tanto nos
informantes topoestáticos quanto nos topodinâmicos, demonstrando, neste último segmento, as
matrizes migratórias que adentraram o Estado nas últimas décadas.
Cabe destacar que as particularidades varietais, a partir do conjunto de cartas,
evidenciam que, em território tocantinense, prevalecem as diferenças diatópicas, uma vez que o
recorte por segmento social, seja a idade do informante, o sexo ou a mobilidade, não apresenta
resultados muito significativos do ponto de vista dialetal.
Quanto ao recorte por informantes nascidos e não nascidos nos locais pesquisados,
aparentemente os topodinâmicos adaptaram seu falar à norma local, não havendo disparidade
entre as variantes coletadas no primeiro grupo em contraste com o segundo. Esse fato pode
estar atrelado a dois aspectos: i) à própria formação do território tocantinense, anteriormente
pertencente a Goiás, cujo elemento nortista e nordestino, assim como sua cultura, sempre se
vincularam a essas regiões; ii) às crenças positivas dos migrantes em relação ao Tocantins,
visto que o Estado propiciou uma melhora em sua condição social e, consequentemente, não há
evidências de embate linguístico entre ambos os grupos.
197
CONSIDERAÇÕES FINAIS
evidenciaram covariação entre as variantes obtidas, a partir da fala dos dois grupos de
informantes.
Para o segundo objetivo, verificar a interinfluência exercida pelos dois grupos, tanto
topoestáticos quanto topodinâmicos, que compõem o cenário linguístico do Tocantins,
notadamente não foram evidenciadas resistências dialetais em relação ao uso de variantes tidas
como pertencentes a grupos intra ou extralocalidades, havendo um padrão de covariação entre
as formas linguísticas.
Por vezes, mesmo quando os topoestáticos aludem a variantes linguísticas como
procedentes de grupos de outras regiões, não reportam características negativas quanto a essas
formas “não típicas”; expressam apenas como fator de curiosidade. Sendo assim, há
interinfluência mútua entre ambos os grupos de informantes, ocorrendo, na segunda faixa etária
dos informantes migrantes, uma relativa ação centrífuga quanto ao uso de formas dialetais
atreladas a seu espaço de origem, mas se permitindo também usar a forma mais local.
Quanto ao terceiro objetivo específico, mapear os dados, com vistas ás análises que
permitam verificar as influências que grupos detentores de instabilidade migratória imprimem
no falar autóctone, usamos, em toda a extensão da análise, presente no Tomo I, estatísticas e
interpretações que visaram à comparação entre os grupos estáveis geograficamente e os
topodinâmicos, o que nos permitiu verificar moderada variação entre eles.
Subordinado a esse propósito, o Tomo II exibe as cartas linguísticas: fonéticas e
lexicais, cuja disposição apresenta a distinção entre o grupo I, representando os informantes
nascidos e estabelecidos nas cidades de pesquisa e o grupo II, com os habitantes procedentes de
migração ou de deslocamentos.
Sobre o último objetivo específico, identificar possíveis isoglossas a partir dos dados
mapeados e respectiva relação com a história social do Tocantins e a formação étnica da
população, foi possível, a partir de um conjunto de formas lexicais, a distinção do Tocantins
em duas áreas dialetais: i) área A – Tocantins antigo e ii) área B – Tocantins contemporâneo.
O espaço “A” estabelece-se no Sudeste, região mais antiga do território, que abrigou
os primeiros migrantes para o trabalho nas minas auríferas. Sua composição remonta ao século
XVII que tem como centro irradiador duas localidades: Natividade e Paranã. A depender da
variante em análise, essa área expande-se para localidades circunvizinhas: Porto Nacional,
Palmas e Mateiros, abrangendo todo o Sudeste e parte da Zona Central. Predominam nesse
território semelhanças dialetais com o Nordeste brasileiro e tendência lexical a variantes mais
rurais, fato que se dá pelo menor contato com as principais vias de comunicação, a rodovia
Transbrasiliana, por exemplo.
201
Em contrapartida, a área “B” reúne as demais cidades pesquisadas, situadas nas partes
Sudoeste, Centro e Norte. São de colonização mais recente e contêm assimilação com
diferentes regiões, a depender dos dados, Norte, Nordeste e Centro-Oeste, possivelmente pela
maior proximidade com a rodovia BR-153, que liga o Tocantins a outros estados.
Em face do exposto, esperamos que o trabalho que se apresentou tenha fornecido a
macrovisão dos veios dialetais do estado do Tocantins, assim como a evidenciação das nuances
e das trocas linguísticas entre informantes topoestáticos e topodinâmicos. A presente tese não
se encerra nesses dois volumes. Há aproximadamente 28 mil dados que ainda servirão para
muitos outros estudos de natureza fonética, lexical e morfossintática.
Por fim, que a confecção Atlas Linguístico Topodinâmico e Topoestático do Tocantins
– ALiTTETO - contribua para o aprofundamento de pesquisas, além das questões pertinentes
ao português falado no Tocantins, para o contraste entre a diatopia com outras variáveis,
principalmente o contraponto e a interinfluência exercida pelos falantes situados em realidades
plurais, tão características em nosso país.
202
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Comentários. Kiel: Westensee-Verl., 2002.
1. PRATELEIRA
... aquilo assim (mímica), onde se colocam objetos em casa (latas de mantimentos na cozinha, enfeites na
sala...) ou produtos para vender nos supermercados, mercearias, etc.?
2. TELEVISÃO
... aquele aparelho onde se pode ver novela, jogo, programas...?
3. CAIXA
Quando se compra uma TV, um ventilador, um sapato, ele vem da loja dentro de quê?
4. TESOURA
... o objeto com que se corta tecido?
5. CAMINHA (subst.)
Um copo pequeno é um copinho. E aquele lugar onde a pessoa se deita para dormir, se for pequeno, como
se chama?
6. TRAVESSEIRO
... aquilo onde se recosta a cabeça para dormir na cama?
7. LUZ
Quando está escuro é porque faltou o quê? [Quando falta energia é que ficou sem _______ ?]
8. LÂMPADA
... aquilo que se acende para clarear a casa e, se estiver queimada, a casa fica no escuro? [Quando tem
problema com a luz, que queima, como é que se chama aquilo que precisa trocar?]
9. ELÉTRICO
Antigamente, para passar a roupa, usava-se ferro a brasa. Hoje, qual o tipo de ferro que se usa?
10. TORNEIRA
... aquilo que se abre quando se quer lavar as mãos numa pia?
11. FECHA
Para que a porta não fique aberta, se diz: Fulano, ________ a porta.
12. FÓSFORO
... aquilo que se usa (mímica) para acender o fogo?
13. PÓLVORA
... aquilo que se coloca nos fogos/foguetes para que eles estourem?
14. VARRER
Para limpar o chão, o que é que é preciso fazer (mímica)?
15. ALMOÇO
... uma refeição que se faz, em geral, às 12 horas?
16. RUIM
215
17. ARROZ
... o que se come no almoço, uns grãozinhos brancos que podem acompanhar o feijão, a carne?
18. GORDURA
A carne do porco não é magra porque tem _______.
19. GRELHA
... uma pequena grade de metal ou de ferro, que se coloca em cima da churrasqueira ou da brasa, para assar
carne, frango, etc.?
20. PENEIRA
... aquele objeto que se usa na cozinha para passar (mímica) farinha?
23. FERVENDO
Quando a água da panela está bem quente, cheia de bolhinhas, como é que se diz que ela está?
24. CEBOLA
... um tempero de comida que quando se está cortando se chora?
25. TOMATE
... aquilo vermelho que vende na feira e que se usa para preparar o molho do macarrão?
26. CASCA
Para comer uma banana, o que é que se tira?
27. ABÓBORA
... aquilo que dá no chão, grande (mímica), com uma casca grossa vermelho-amarelada por dentro e que se
cozinha para comer, para fazer doce?
28. BONITO
Qual o contrário de feio?
29. ROSA
... aquela flor bonita, cheirosa, que é presa num talo com espinho?
30. ÁRVORE
O que é que dá sombra nas ruas, no campo / para o gado nos pastos?
31. PLANTA
Para ter flores no jardim, depois que se prepara a terra, o que é que se faz? [Costuma-se dizer: Só colhe
quem _____?]
32. MONTAR
Para andar a cavalo, o que é que se tem que fazer (mímica)?
33. ABELHA
... um inseto que carrega o pólen das flores, vive em colmeias, fabrica um líquido grosso, amarelado, que é
usado como alimento e como remédio?
34. BORBOLETA
... um bichinho que voa e tem as asas bonitas e coloridas?
216
35. TEIA
... aquilo que a aranha faz nas paredes?
36. PEIXE
O que é que se pesca nos rios, no mar? Explorar os tipos de peixe.
37. CANOA
... uma embarcação feita de madeira ou de tronco de árvore, utilizada para a navegação em rios,
principalmente por índios, por pessoas que moram em lugares próximos de rios?
38. NOITE
Quando fica tudo escuro e as pessoas vão dormir é a ______?
39. DIA
E depois da noite, o que é que vem?
40. SOL
... aquilo que brilha no céu, de dia?
41. AMANHÃ
... o dia que vem depois de hoje? [O que não deu para acabar hoje se deixa para acabar _______.]
42. CALOR
No inverno faz frio. E no verão?
43. TARDE
Qual é o contrário de cedo?
44. TRÊS
O que é que vem depois do dois?
45. DEZ
O que é que vem depois do nove?
47. NÚMERO
Quatorze não é uma letra, é o quê?
48. ESTRADA
Por onde os carros passam para irem de uma cidade para outra?
49. POÇA
... aquela água de chuva que fica parada num buraco da rua ou no meio da estrada?
50. DESVIO
Quando uma estrada fica interrompida por algum problema, o que é que se faz ao lado para que os carros
possam passar?
51. PLACA
O que é que se põe nas estradas para indicar as direções, avisar de desvios? [O que é que se põe nos pára-
choques dos carros para identificar, uma coisa assim (mímica), com números?]
52. BICICLETA
... aquilo que tem duas rodas grandes que se senta e sai pedalando?
53. PNEU
... aquilo que o carro tem: preto, redondo, se passar por um prego, fura e se esvazia?
217
54. VIDRO
De que material são feitas as janelas, os pára-brisas dos carros?
55. SEGURO
Quando uma pessoa compra um carro e quer se prevenir de um prejuízo grande (um roubo, uma batida),
procura um corretor e faz o quê?
56. PASSAGEM
Quando se pega um transporte de uma cidade para outra, como se chama aquilo que se tem que pagar para
poder viajar?
57. MUITO
Qual é o contrário de pouco?
58. TRABALHAR
Para ganhar dinheiro, o que é que se precisa fazer?
59. EMPREGO
Para trabalhar e ganhar dinheiro, é preciso procurar o quê? [Quando uma pessoa é mandada embora do
trabalho, ela perdeu o ______?]
60. ESCOLA
Onde as crianças vão para aprender a ler?
61. COLEGAS
O que as pessoas que trabalham juntas são umas das outras?
62. BORRACHA
... aquele objeto que serve para apagar no papel o que se escreveu errado?
63. RASGAR
Fazer assim (mímica) em um papel é ______?
64. PERNAMBUCANO
Quem nasce no Rio de Janeiro é carioca. E quem nasce em Pernambuco?
65. CALÇÃO
Os jogadores de futebol aqui (apontar) usam camiseta. E aqui (apontar) o que é que usam?
66. UNIÃO
Para vencer uma guerra, para fazer uma greve, ganhar um jogo, é preciso que todos fiquem juntos, é
preciso que haja o quê? [Há um ditado que diz: Onde há ______, há força.]
67. ADVOGADO
Que profissional se pode contratar para defender os interesses na Justiça?
68. PEGO
Um ladrão sai correndo e o policial sai atrás e consegue pegar o ladrão. Você / o(a) senhor(a) diz: O ladrão
foi ______ pela polícia.
69. CERTO
Qual o contrário de errado?
70. PROCISSÃO
Nas festas de igreja, que nome tem a caminhada que o povo faz, levando uma imagem de um ponto a
outro?
71. PECADO
Deixar de obedecer às leis de Deus é cometer o quê?
218
72. PERDÃO
Quando se comete uma falta grave, o que é se pede a Deus?
73. DENTE
E isto? Apontar.
74. PEITO
Onde a criança mama na mãe? [Onde o bezerro mama na mãe?] [A carne branca da galinha se chama
carne do...?]
75. CORAÇÃO
Qual o nome da parte do corpo que, se parar, a pessoa morre?
76. COSTAS
Aqui (mostrar) é a frente, e aqui (mostrar)?
77. UMBIGO
... aquele buraquinho que se tem no meio da barriga?
78. JOELHO
... esta parte? Apontar.
79. CASPA
... uma coisinha branca que dá na cabeça da pessoa?
80. BANHO
Quando se está sujo, suado, para ficar limpo novamente, o que é que se toma?
81. DESMAIO
Quando uma pessoa se sente mal, a vista fica turva, ela vai caindo no chão, sem sentidos, o que é que se
diz que ela teve?
82. HOMEM
Adão foi o primeiro _____?
83. MULHER
E Eva foi a primeira _____?
84. FAMÍLIA
Pai, mãe e filhos juntos formam o quê?
85. TIO
O que é que o irmão de seu pai ou de sua mãe é seu?
86. ALTA
O que é que se diz de uma pessoa que mede 1 metro e 90 cm, 2 metros?
87. BAIXA
Qual é o contrário de alta?
88. LOURA
A pessoa que tem cabelos escuros, a gente chama de morena. E a pessoa que tem cabelos claros, dourados,
amarelados?
89. VOZ
Uma pessoa que canta bem se diz que ela tem uma boa _____?
90. DOIDO
219
Que nome se dá a uma pessoa que às vezes fica furiosa, agressiva, precisa até ser internada no hospício?
91. VELHO
Um sapato que não é novo é ______?
92. BRAGUILHA
... a abertura da calça do homem, normalmente fechada com botões ou com zíper? [Se você / o(a)
senhor(a) encontra um conhecido com a calça aberta, você / o(a) senhor(a) diz: Fulano, fecha a...?]
93. ANEL
O que é que se usa aqui no dedo? Ou apontar.
94. PERFUME
O que é que se põe no corpo para ficar cheiroso?
95. BEIJAR
Dar um abraço é abraçar. E fazer assim (mímica)?
96. DORMINDO
A pessoa que não está acordada, está _______ (mímica)?
97. ASSOBIO
Como se chama isto? Assobiar.
98. PERDIDA
Quando não se acha uma coisa, ela fica ______?
99. ENCONTRAR
Quando se perde uma coisa, se vai procurar até ______?
100. PERGUNTAR
Quando se quer saber uma coisa, se vai ______?
101. SAIR
Qual é o contrário de entrar?
102. BARULHO
Quando uma criança está dormindo e não se quer que ela acorde, se diz: Fale baixo, não faça ______, para
ela não acordar.
103. PAZ
Se a pessoa não quer ser incomodada, a pessoa diz: Me deixe em _____.
104. MESMA
Uma pessoa usa uma roupa num dia. No dia seguinte, ela não tem outra roupa, então ela usa essa ______
roupa. [Se duas mulheres são casadas com dois irmãos, se diz que as duas têm a _______ sogra.] [ Você /
o(a) senhor(a) vai viajar e não leva roupa. Você / o(a) senhor(a) vai usar a _______ roupa.]
105. ESQUERDO
Este lado é o direito e este (mostrar)?
220
ACIDENTES GEOGRÁFICOS
1. CÓRREGO / RIACHO
... um rio pequeno, de uns dois metros de largura?
2. PINGUELA
... tronco, pedaço de pau ou tábua que serve para passar por cima de um _____ (cf. item 1)?
3. FOZ
... o lugar onde o rio termina ou encontra com outro rio?
5. ONDA DE MAR
... o movimento da água do mar? Imitar o balanço das águas.
6. ONDA DE RIO/BANZEIRO
... o movimento da água do rio? Idem item 5.
FENÔMENOS ATMOSFÉRICOS
8. RELÂMPAGO
... um clarão que surge no céu em dias de chuva?
9. RAIO
... uma luz forte e rápida que sai das nuvens, podendo queimar uma árvore, matar pessoas e animais, em
dias de mau tempo?
10. TROVÃO
... o barulho forte que se escuta logo depois de um... (cf. item 9)?
15. ARCO-ÍRIS
Quase sempre, depois de uma chuva, aparece no céu uma faixa com listras coloridas e curvas (mímica).
Que nomes dão a essa faixa?
221
16. GAROA
... uma chuva bem fininha?
ASTROS E TEMPO
ATIVIDADES AGROPASTORIS
24. TANGERINA/PONCA/MEXERICA
... as frutas menores que a laranja, que se descascam com a mão, e, normalmente, deixam um cheiro na
mão? Como elas são?
PEDIR PARA DESCREVER, PARA APURAR AS DIFERENÇAS ENTRE AS DESIGNAÇÕES CITADAS
PELO INFORMANTE.
26. PENCA
... cada parte que se corta do cacho da bananeira para pôr para madurar/amadurecer?
36. CANGALHA
... a armação de madeira que se coloca no lombo do cavalo ou do burro para levar cestos ou cargas?
Mostrar gravura.
37. CANGA
... a peça de madeira que vai no pescoço do boi, para puxar o carro ou o arado? Mostrar gravura.
45. ACEIRO
223
E quando você precisa limpar uma roça e colocar fogo, você faz o que para o fogo não se espalhar?
FAUNA
46. URUBU
... a ave preta que come animal morto, podre?
48. JOÃO-DE-BARRO
... a ave que faz a casa com terra, nos postes, nas árvores e até nos cantos da casa?
50. PAPAGAIO
... a ave de penas coloridas que, quando presa, pode aprender a falar?
51. SURA
... uma galinha sem rabo?
52. COTÓ
... um cachorro de rabo cortado?
53. GAMBÁ
... o bicho que solta um cheiro ruim quando se sente ameaçado?
57. LOMBO
... a parte do cavalo onde vai a sela?
59. CHIFRE
O que o boi tem na cabeça?
61. ÚBERE
Em que parte da vaca fica o leite?
62. MANCO
... o animal que tem uma perna mais curta e que puxa de uma perna?
64. SANGUESSUGA
... um bichinho que se gruda nas pernas das pessoas quando elas entram num córrego ou banhado (cf. item
1)?
67. CORÓ
... aquele bicho que dá em esterco, em pau podre?
68. PERNILONGO/MURIÇOCA
... aquele inseto pequeno, de perninhas compridas, que canta no ouvido das pessoas, de noite? Imitar o
zumbido.
CORPO HUMANO
71. VESGO
... a pessoa que tem os olhos voltados para direções diferentes? Completar com um gesto dos dedos.
72. MÍOPE
... a pessoa que não enxerga longe, e tem que usar óculos?
75. CATARATA
... aquela pele branca no olho que dá em pessoas mais idosas?
82. SOLUÇO
...este barulhinho que se faz? Soluçar.
84. CLAVÍCULA
... o osso que vai do pescoço até o ombro? Apontar?
85. CORCUNDA
... a pessoa que tem um calombo grande nas costas e fica assim (mímica)?
86. AXILA
... esta parte aqui? Apontar.
88. VOMITAR
Se uma pessoa come muito e sente que vai pôr/botar para fora o que comeu, se diz que vai o quê?
89. ÚTERO
... a parte do corpo da mãe onde fica o nenê / bebê antes de nascer?
90. PERNETA
... a pessoa que não tem uma perna?
91. MANCO
... a pessoa que puxa de uma perna?
94. TORNOZELO/MACAÚBA/OSSINHO
... isto? Apontar.
95. CALCANHAR
... isto? Apontar.
CICLOS DA VIDA
96. MENSTRUAÇÃO
As mulheres perdem sangue todos os meses. Como se chama isso?
97. AMA-DE-LEITE
Quando a mãe não tem leite e outra mulher amamenta a criança, como chamam essa mulher?
101. MENINA
E se for do sexo feminino, como se chama?
107. PIRIGUETE
Como se chama a pessoa que é muito oferecida, assanhada?
108. SALIENTE
Como se chama aquela pessoa que gosta de chamar a atenção?
109. EMFARENTA
Como se chama aquela pessoa chata?
110. LADINO
Como se chama aquela pessoa (ou a criança) que é muito esperta?
112. PROSTITUTA
... a mulher que se vende para qualquer homem?
114. BROCADO
Quando a pessoa está com fome, se diz que ela está...?
RELIGIÃO E CRENÇAS
117. DIABO
Deus está no céu e no inferno está...?
119. FANTASMA/VISAGEM/LIVUSIA
O que algumas pessoas dizem já ter visto, à noite, em cemitérios ou em casas, que se diz que é do outro
mundo?
120. CAMBALHOTA
... a brincadeira em que se gira o corpo sobre a cabeça e acaba sentado? Mímica.
124. PIPA
E um brinquedo parecido com o (a) _____ (cf. item 158), também feito de papel, mas sem varetas, que se
empina ao vento por meio de uma linha?
125. ESCONDE-ESCONDE
... a brincadeira em que uma criança fecha os olhos, enquanto as outras correm para um lugar onde não são
vistas e depois essa criança que fechou os olhos vai procurar as outras?
126. CABRA-CEGA
... a brincadeira em que uma criança, com os olhos vendados, tenta pegar as outras?
127. PEGA-PEGA
... uma brincadeira em que uma criança corre atrás das outras para tocar numa delas, antes que alcance um
ponto combinado?
129. GANGORRA
... uma tábua apoiada no meio, em cujas pontas sentam duas crianças e quando uma sobe, a outra desce?
Mímica.
130. BALANÇO
228
... uma tábua, pendurada por meio de cordas, onde uma criança se senta e se move para frente e para trás?
Mímica.
131. AMARELINHA
... a brincadeira em que as crianças riscam uma figura no chão, formada por quadrados numerados, jogam
uma pedrinha (mímica) e vão pulando com uma perna só?
SOLICITAR DESCRIÇÃO DETALHADA
HABITAÇÃO
134. FULIGEM
... aquilo, preto, que se forma na chaminé, na parede ou no teto da cozinha, acima do fogão a lenha?
135. BORRALHO
... a cinza quente que fica dentro do fogão a lenha?
ALIMENTAÇÃO E COZINHA
138. GELÉIA
... a pasta feita de frutas para passar no pão, biscoito?
141. CURAU
E essa mesma papa, com milho verde ralado, sem coco, como é que se chama?
PEDIR PARA DESCREVER COMO SE FAZ.
144. AGUARDENTE
229
148. GELADINHO/GELINHO/SACOLÉ
Como se chama o um tipo de sorvete, feito com leite e frutas que a gente coloca em saquinho?
149. MANGULÃO
Como se chama aquilo que a gente faz com polvilho, coloca-se para assar em uma forma de pudim; é
salgado e a gente come acompanhado com café?
155. GALINHADA
Como se chama a comida feita com galinha e pequi?
VESTUÁRIO E ACESSÓRIOS
159. SUTIÃ
... a peça do vestuário que serve para segurar os seios?
160. CUECA
... roupa que o homem usa debaixo da calça?
161. CALCINHA
230
162. ROUGE
... aquilo que as mulheres passam no rosto, nas bochechas, para ficarem mais rosadas?
VIDA URBANA
ARTIGO
1. Tem filhos / irmãos? Como se chamam? O que eles fazem? Poderia dizer o nome de alguns amigos,
vizinhos? Com quem costuma falar mais?
PRONOME
Pronomes Pessoais
2. TU / VOCÊ sujeito
Quando se vê um amigo com uma mala e se quer saber para onde ele vai, como é que se pergunta?
231
4. NÓS / A GENTE
O que vocês fazem no fim de semana?
VERBO
Concordância Verbal
5. Como era esta cidade, antigamente, em termos de festas? [Antigamente, esta cidade era mais
desenvolvida? Por quê?]
TER / HAVER em sentido existencial
ADVÉRBIO
1. Relato pessoal
Relate um acontecimento marcante em sua vida (casamento, namoro...).
3. Lenda
Conhece alguma lenda típica da região? (Exemplos: Negro d’água, Mulher da estrada, Boiúna, Pé de
Garrafa, ouro enterrado, etc)
2. Tem gente que fala diferente aqui em ______ (citar a cidade onde está)? Se houver, identificar os grupos
“que falam diferente”. Exemplos?
5. E a mais feia?
7. E as pessoas que vieram de outros lugares e moram aqui, como eles falam?
8. E, em outros lugares do Brasil, fala-se diferente daqui de _____ (citar a cidade onde está)? Poderia dar um
exemplo do modo como falam em outros lugares do Brasil?
AUTORIZAÇÃO
Gostaria de agradecer pela sua ajuda. Posso utilizar as respostas em meu trabalho?
GREIZE ALVES DA SILVA
Londrina
2018
GREIZE ALVES DA SILVA
Londrina
2018
LISTA DE QUADROS
APRESENTAÇÃO
Este volume apresenta as cartas oriundas da pesquisa in loco em doze localidades do estado do Tocantins e nele estão inseridos o total
de 126 cartas, distribuídas entre: (i) quatro introdutórias, que apresentam as microrregiões juntamente com os 132 municípios tocantinenses, a
hidrografia, as rodovias e a rede de pontos do atlas; (ii) as cartas fonéticas, no total de 88, que versam a respeito de três fatos fônicos amplamente
analisados no português brasileiro – a abertura das vogais médias em posição pretônica, os róticos em coda e o /S/ pós-vocálico; e (iii) as cartas
lexicais que são representadas por 34 cartogramas, decorrentes de 17 questões.
Como o objetivo do atlas pauta-se no contraponto entre a fala de informantes topoestáticos e topodinâmicos, há a inserção de cartas que
apresentam em seu título as letras A e B. As do primeiro tipo são puramente diatópicas, não havendo distinção entre os grupos de informantes;
essa evidenciação coube às cartas do perfil B, que demonstram os esquemas representativos das respostas dos informantes nascidos e
estabelecidos nas cidades de pesquisa e a dos falantes procedentes de deslocamentos ou migrações.
Apresentamos a seguir um pequeno relato do processo metodológico que originou o presente tomo, tais como: a rede de pontos, os
informantes, a cartografia para, em seguida, apresentarmos as cartas linguísticas. As análises decorrentes dos cartogramas deste volume estão
inseridas no Tomo I da tese.
237
2 PERCURSO METODOLÓGICO
O ALiTTETO seguiu os passos fornecidos pela Dialetologia Pluridimensional e Relacional, cujo contraponto de análise advém de dois
grupos de informantes: os topoestáticos, nascidos e estabelecidos nas localidades selecionadas, e os topodinâmicos, grupos procedentes de
deslocamentos ou migrações, ou seja, que não sejam nativos daquela cidade especificamente. Ao considerarmos esse universo plural, coube a
triagem da rede de pontos, o perfil dos informantes e a cartografia indicar as minúcias da coexistência dos diferentes grupos dentro do Tocantins.
A composição das localidades seguiu dois critérios de seleção: histórico-social e político-geográfico. O primeiro intentou estabelecer as
principais cidades que compuseram o antigo norte de Goiás. São localidades que funcionaram como arraiais ou entrepostos comerciais, mas,
atualmente, apresentam pouca densidade demográfica, posto que, em sua maioria, situam-se à leste do rio Tocantins e longe das margens da
rodovia Transbrasiliana. Com a finalidade de contemplar outras realidades, inserimos o critério político-geográfico.
Nesse segundo direcionamento, elencamos os municípios com maior representatividade econômica para o Estado, o que também
culminou em cidades com maiores contingentes populacionais. Além disso, foi necessário recobrir os pontos limítrofes com as seis unidades
federativas que estabelecem fronteira com o Tocantins: Pará, Maranhão, Piauí, Bahia, Mato Grosso e Goiás, de quem foi desmembrado em 1988.
Dessa forma, estabelecemos o total de 12 pontos de entrevista distribuídos pelas oito microrregiões estaduais. As cidades de inquérito são:
238
A pesquisa de campo foi realizada no ano de 2015, com o auxílio de mais três inquiridores: Bruna Lorraynne Dias Menezes, Tassita
Kamassagre Ferreira Alves e Kleiton Araújo, as duas primeiras bolsistas de iniciação científica, da Universidade Federal do Tocantins, e o último
graduado em Letras pela mesma universidade. Aproximadamente, percorremos cinco mil quilômetros dentro do espaço tocantinense, o que gerou
em torno de nove mil horas de gravação.
2.2 OS INFORMANTES
Foram entrevistados dois grupos de informantes por localidade: os nascidos e fixos nas cidades de pesquisa, cujos pais também são
oriundos daquela localidade, os topoestáticos; e informantes procedentes de migrações estaduais ou de deslocamentos dentro do próprio estado,
mas que habitam o local a mais de 10 anos, os topodinâmicos. Além dessa variável, controlamos a idade e o gênero/sexo dos informantes,
convencionando o número de oito informantes por cidade, o que nos forneceu o total de 96 entrevistados, conforme distribuição no quadro a
seguir
239
Os informantes topodinâmicos, 37,5%, são oriundos de deslocamentos internos dentro do próprio território; apresentam características
transmigratórias, ou seja, mudaram-se, ao longo de sua vida, mais de uma vez, para diferentes microrregiões. Por seu turno, os entrevistados
advindos de outros estados são representados principalmente por maranhenses (16,7%) e por goianos (8,3%), unidades fronteiriças ao Tocantins.
Há ainda, embora com pouca representatividade, informantes procedentes de outros 11 Estados: Ceará, Paraíba, Minas Gerais, Pará, Piauí, Bahia,
Brasília, São Paulo, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.
240
06 - Palmas
242
2.3 A CARTOGRAFIA
A disposição cartográfica do ALiTTETO visa a identificação das variantes por meio de esferas (pizzas) localizadas em cada ponto de
inquérito. Optamos por esse esquema com a finalidade de facilitar a interpretação do leitor, posto que em cada localidade é possível auferir a
quantidade percentual de variantes obtidas, sejam elas fonéticas ou lexicais.
A configuração de leitura das cartas segue o seguinte padrão: ao lado esquerdo encontra-se o mapa do Tocantins com os 12 pontos de
inquérito; ao lado direito há as informações necessárias à leitura completa do cartograma. Na parte superior, após o título do trabalho, alocamos o
número da carta acompanhada ora das letras F, de fonética, ora L, que indica tratar-se de carta lexical; em seguida o título da carta. Abaixo está a
245
legenda com as variantes obtidas para o respectivo questionamento e, por fim, um gráfico com os percentuais das variantes que originaram a
carta.
As 88 cartas fonéticas são formuladas a partir de 63 questionamentos aplicados in loco. Optamos por inserir nesse volume todas as
questões cartografadas individualmente para que o leitor tenha acesso a todos os dados, não apenas à síntese deles. Para as legendas dos
cartogramas, trabalhos com o Alfabeto Fonético Internacional (IPA), cujos símbolos usados estão dispostos a seguir:
Cartografamos as questões que se referem aos seguintes fatos: (i) abertura das vogais médias anteriores e posteriores, em contexto
pretônico; (ii) a realização do rótico em coda medial e final e (iii) o /S/ pós-vocálico. Além das cartas específicas que demonstram o contexto de
ocorrência do segmento, há a inserção cartogramas do tipo sintético, agrupados em A, representando os índices gerais, independente do grupo de
entrevistados, e B demonstrando a arealidade de acordo com o tipo de informante: topoestáticos e topodinâmicos. Sendo assim, após o
agrupamento de cada fato analisado, inserimos duas cartas sintéticas (A e B).
As cartas que versam sobre (i) abertura das vogais médias anteriores e posteriores, em contexto pretônico são oriundas dos
questionamentos presentes nos Quadros 46 e 47.
Quadro 46 - Questões analisadas que visam averiguar a vogal média /e/ em contexto pretônico
Nº Item Questionamento Nº Item Questionamento
001 PRAT[E]LEIRA ... aquilo onde se colocam objetos em casa (latas 060 [E]SCOLA Onde as crianças vão para aprender a ler?
de mantimentos na cozinha, enfeites na sala...) ou
produtos para vender nos supermercados,
mercearias, etc.?
002 T[E]LEVISÃO ... aquele aparelho onde se pode ver novela, jogo, 064 P[E]RNAMBUCANO Quem nasce no Rio de Janeiro é carioca. E quem
programas...? nasce em Pernambuco?
004 T[E]SOURA ... o objeto com que se corta tecido? 071 P[E]CADO Deixar de obedecer às leis de Deus é cometer o
quê?
009 [E]LÉTRICO Antigamente, para passar a roupa, usava-se ferro a 081 D[E]SMAIO Quando uma pessoa se sente mal, a vista fica turva,
brasa. Hoje, qual o tipo de ferro que se usa? ela vai caindo no chão, sem sentidos, o que é que
se diz que ela teve?
020 P[E]NEIRA ... aquele objeto que se usa na cozinha para passar 094 P[E]RFUME O que é que se põe no corpo para ficar cheiroso?
farinha?
023 F[E]RVENDO Quando a água da panela está bem quente, cheia 098 P[E]RDIDA Quando não se acha uma coisa, ela fica...?
de bolhinhas, como é que se diz que ela está?
024 C[E]BOLA ... um tempero de comida que quando se está 099 [E]NCONTRAR Quando se perde uma coisa, se vai procurar até...?
cortando se chora?
048 [E]STRADA Por onde os carros passam para irem de uma 100 P[E]RGUNTAR Quando se quer saber uma coisa, se vai...?
cidade para outra?
050 D[E]SVIO Quando uma estrada fica interrompida por algum 105 [E]SQUERDO Este lado é o direito e este (mostrar)?
problema, o que é que se faz ao lado para que os
247
059 [E]MPREGO Para trabalhar e ganhar dinheiro, é preciso 100 M[E]NINO Criança pequenininha, a gente diz que é bebê. E
procurar o quê? quando ela tem de 5 a 10 anos, do sexo masculino?
Fonte: Elaboração da autora com os dados do corpus.
Quadro 47 - Questões analisadas que visam averiguar a vogal média /o/ em contexto pretônico
Nº Item Questionamento Nº Item Questionamento
010 T[O]RNEIRA ... aquilo que se abre quando se quer lavar as mãos 061 C[O]LEGA O que as pessoas que trabalham juntas são umas
numa pia? das outras?
018 G[O]RDURA A carne do porco não é magra porque tem...? 067 ADV[O]GADO Que profissional se pode contratar para defender os
interesses na Justiça?
021 C[O]LHER A carne se come de garfo e faca. E a sopa, com 070 PR[O]CISSÃO Nas festas de igreja, que nome tem a caminhada
que se toma? que o povo faz, levando uma imagem de um ponto
a outro?
025 T[O]MATE ... aquilo vermelho que vende na feira e que se usa 075 C[O]RAÇÃO Qual o nome da parte do corpo que, se parar, a
para preparar o molho do macarrão? pessoa morre?
028 B[O]NITO Qual o contrário de feio? 078 J[O]ELHO ... esta parte? Apontar.
032 M[O]NTAR Para andar a cavalo, o que é que se tem que fazer? 96 D[O]RMINDO A pessoa que não está acordada, está ...?
Por seu turno, as cartas que visam demonstrar o (ii) o rótico em coda silábica foram separadas por itens que demonstram essa realização
em coda interna, ou seja, no interior da palavra, e coda externa, em final de vocábulo, conforme distribuição nos Quadros seguintes, 48 e 49.
248
Quadro 48 - Questões analisadas que visam averiguar a realização do rótico em coda medial
Nº Item Questionamento Nº Item Questionamento
010 TO[R]NEIRA ... aquilo que se abre quando se quer lavar as mãos 046 CATO[R]ZE O que é que vem depois do treze?
numa pia?
018 GO[R]DURA A carne do porco não é magra porque tem...? 069 CE[R]TO Qual o contrário de errado?
023 FE[R]VENDO Quando a água da panela está bem quente, cheia 072 PE[R]D]ÃO Quando se comete uma falta grave, o que é se pede
de bolhinhas, como é que se diz que ela está? a Deus?
034 BO[R]BOLETA ... um bichinho que voa e tem as asas bonitas e 094 PE[R]FUME O que é que se põe no corpo para ficar cheiroso?
coloridas?
043 TA[R]DE Qual é o contrário de cedo? 098 PE[R]DIDA Quando não se acha uma coisa, ela fica...?
Quadro 49 - Questões analisadas que visam averiguar a realização do rótico em coda final
Nº Item Questionamento Nº Item Questionamento
014 VARRE[R] Para limpar o chão, o que é que é preciso fazer 058 TRABALHA[R] Para ganhar dinheiro, o que é que se precisa fazer?
(mímica)?
021 COLHE[R] A carne se come de garfo e faca. E a sopa, com 063 RASGA[R] Fazer assim (mímica) em um papel é...?
que se toma?
022 LIQUIDIFICADO[R] ... um aparelho que é usado para fazer vitamina, 095 BEIJA[R] Dar um abraço é abraçar. E fazer assim (mímica)?
suco, etc.?
032 MONTA[R] Para andar a cavalo, o que é que se tem que 100 PERGUNTA[R] Quando se quer saber uma coisa, se vai ...?
fazer?
O item (iii) o /S/ pós-vocálico compõem-se a partir de análise de nove questões, dispostas no Quadro 50.
249
048 E[S]TRADA Por onde os carros passam para irem de uma 081 DE[S]MAIO Quando uma pessoa se sente mal, a vista fica turva,
cidade para outra? ela vai caindo no chão, sem sentidos, o que é que
se diz que ela teve?
050 DE[S]VIO Quando uma estrada fica interrompida por algum 104 ME[S]MA Uma pessoa usa uma roupa num dia. No dia
problema, o que é que se faz ao lado para que os seguinte, ela não tem outra roupa, então ela usa
carros possam passar? essa... roupa.
063 RA[S]GAR Fazer assim em um papel é...?
As cartas são pertencentes ao universo de cinco campos semânticos: frutas e atividades agropastoris, fauna, corpo humano, jogos e
diversões infantis e vestuário e acessórios, em um total de 17 questões. Para cada questão cartografada há duas cartas, uma introduzida pelas
iniciais A: diatópica e a outra pela letra B, que apresentam as respostas dos migrantes e não migrantes concomitantemente.
Algumas questões, principalmente as do corpo humano, em razão de sua polimorfia, apresentaram alto número de variantes. Nesse caso,
com o intuito de não poluir a leitura dos cartogramas, inserimos as menos produtivas na parte esquerda do tomo, fora da carta, juntamente com os
comentários metalinguísticos e epilinguísticos dos informantes. As questões de cada campo léxico usadas na cartografia estão dispostas no
próximo Quadro.
250
3 CARTAS INTRODUTÓRIAS
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4 CARTAS FONÉTICAS
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343
5 CARTAS LEXICAIS
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INF.- Eu conheço ela com o nome de ata, agora outos lugá o povo chama pinha,
Comentários - Informantes Topoestáticos né. Pernambuco é pinha, Ceará, esses lugá. Aí não sei qual que é o nome certo.
(02/7)
INF.- É, mas o comum é ata. Essa pinha já é um nome mais recente. Mas é ata
INF.- Ata, que aqui tem muita gente que chama de fruta-do-conde, tem uns que
mehmo. (02/3)
chama vê fora, chama fora que é fruta-do-conde, aí passa um mêis qué chegá
falante, aí chama fruta-do-conde, mais pra nóis aqui é ata. Aqui é ata, num tem
INF.- É. Ata. Essa aí que é a fruta-do-conde que chama também?
nada de fruta-de-conde não. (03/8)
INQ.- Sim. Tem gente que chama assim. Você conhece aqui como...?
INF.- Mais é ata.
INQ.- Qual que é a mais comum assim para a senhora [pinha ou condessa]?
INQ.- Aqui, né?
INF.- Aqui, que a gente conhece dimais, é a... a ata. Que chamam pinha, né, que
INF.- Uhum. (04/2)
dá o nome de pinha, né. Que ela é verdinha, verdinha nesse formato, tem os
carocinho preto, tudo. Tem até delas ali ainda, depois eu vô mostrá pra você.
INF.- Condessa o pessoal chama.
INQ.- E onde fala condessa, dona Elza? Onde que a senhora ouviu?
INQ.- Qual que é mais comum, dona Lídia?
INF.- Não, a condessa já vem de... é uma tradição que já vem muito tempo, porque
INF.- A gente chama, mas geralmente chama de ata. (04/4)
tem gente que pranta e tem a diferença do gosto d’uma pra outra, da ata, o gosto
da, dessa condessa é outro. É o memo formato, só tem que ela é igual o... ela nasce
INF.- Ata. Nós tinha o pé dela aqui. A gente chama de ata, outros chama de pinha.
cascorenta e amarela. Essa outra é verdinha. A ata é verdinha, né, que a gente
Aprendi... chamá ata, aí depois, com o tempo, aprendi chamá pinha também. É
chama ata, mas o povo chama pinha, né. E essa, essa daqui, que a gente trata como
dois nome pra uma fruta só. Aí tem a fruta-do-conde que é meia parecida, mas a
condessa, é o memo formato, só tem que ela, a... a casca dela é mais grossa e
casca é mais avermelhada e lisa. Porque ela é a do conde. Ela tem mei’ mundo de
amarela. (05/8)
massa, só que a massa dela é mais arenosa. Só que essa daqui é mais doce e a
outra é mais arenosa. É mais um pouco sem doce. Essa aí é ótima. (08/4)
INF.- Na verdade, eu conheço isso aí como pinha, outros já dá outro nome aqui.
Eles chamam de... Conheci muito também isso aí por araticum lá em Minas e no
Paraná. Articum. Outros conhece ela aqui... como é o nome, meu Deus do Céu? É
pinha. Lembrei o outro nome. Araticum... Pinha, araticum... (08/7)
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346
347
Questão: QSL 028 – Como se chama a ponta roxa no cacho da Comentários - Informantes Topodinâmicos
banana?
INF.- Tira o mangará da banana.
Baixas incidências: figa (Tocantinópolis); pendão (Paranã); olho INQ.- O que é o mangará?
INF.- O mangará é a áve (=árvore) que fica pregada a banana, é o mangará.
(Formoso do Araguaia); pião (Paranã); fio (Araguaína e INQ.- Não é isso aqui não, né, dona Maria? Ou é? ((mostra a figura))
Araguacema) INF.- Exato, isso aqui, que é mangará.
INQ.- Faz alguma coisa com mangará depois?
Comentários - Informantes Topoestáticos INF.- Não, faz com esse.
INQ.- Como que é o nome desse aqui?
INQ.- A senhora chama de figa? INF.- Esse daí é o bu... bu... buzo, é o imbigo da banana.
INF.- É. INQ.- Que é essa parte roxa, né?
INQ.- (risos) Que aí ela vai saindo até cair, né? INF.- É. (06/8)
INF.- É, a gente chama figa da banana. (02/4) INQ.- Faz o que com ele, dona Maria?
INF.- Essa parte aí você faz melado.
INF.- Mangará. INQ.- Tem algum remédio que se faz?
INQ.- Quem chamava mangará? INF.- Se faz um melado pa tosse, a pessoa tá gripada muito, pó fazer isso aí.
INF.- Meus pais.
INQ.- O senhor, hoje em dia, fala umbigo ou fala mangará? INF.- Lá pra nós do Nordeste chama maringá. Aqui eu num sei mesmo com’é que
INF.- Quando é só essa pontinha a gente fala umbigo mehmo, agora quando é toda chama. Falá a verdade eu nunca vi nem falano com’é que chama aqui.
é mangará. INQ.- É mesmo? E o maringá, costumam fazer alguma coisa com ele?
INQ.- Costuma fazer alguma coisa com o umbigo? INF.- Ói, lá pra nós tem... tem gente que faz, tipo comida típica, alguma coisa
INF.- Os mais velhos fazia remédio. (07/3) assim. (08/5)
INF.- Em cá nóis chama mangará da banana. INF.- É o... imbigo, pendão, mais é imbigo, imbigo da bananera. (12/7)
INQ.- Tem outro nome que o pessoal dá?
INF.- Imbigo.
INQ.- Qual que é mais utilizado aqui?
INF.- Pode ser o imbigo, né. (09/3)
INF.- É o búzio, o búzio, que o povo fala. Tem um ditado que o povo fala lá, tá
um... aí dá aqui os cacho, as banana termina de dá e eles... depois já corta ele, pras
banana engrossá. É búzio que o povo fala, um trem roxo. (12/4)
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349
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Questão: QSL 040 – Como se chamam os objetos de couro, com caçuá. Que é de carregá farinha, carregá todos eles, piqui, todos eles, quando esse
tampa, para levar farinha, no lombo do cavalo ou do burro? trem é de coro.
INQ.- O senhor já viu dele aqui?
INF.- Já. De primeiro o povo usava muito dele, desse negócio aí. (08/3)
Baixas incidências: cesto (Tocantinópolis, Formoso do Araguaia e
Gurupi); gibão (Araguaína e Araguacema); embornal (Araguacema); INQ.- Eu também lembro do meu avô com esses trem.
sucuntum (Mateiros); garajau (Palmas); mocó (Tocantinópolis); INF.- Hein, mas era bom essas coisa. Quando as, a carne secava, a hente (=gente)
surrão (Araguaína). gostava de armazená nas bruaca e trancava, pra bicho num ficá...
INQ.- Pegando.
INF.- Passeando dentro das comida, coisa e tal. Farinha também. Meu Deus, a
gente tinha uma bruaca de guardá farinha, era um encanto, de tão boa que era. A
Comentários - Informantes Topoestáticos gente fazia as farinha e armazenava na bruaca. (08/4)
INF.- Deixo explicar o que é o caçoar. Feito de coro de boi, né, que ‘cê falô? Ele é INF.- É alfoje, alfoje, não, alfoje... é num pode da buraca...
um formato não quadrado quanto o jacá, mas é um formato redondo, de boca, o INQ.- Como é que é a bruaca?
fundo dele é todo fechado feito de coro de boi custurado. (001/3) INF.- A buraca é desse jeito aqui ó. Só que tem um arriata aqui que marra...
INQ.- Você pode me explicar como é que é a buraca?
INF.- ‘Cê pega ele e costura, aí ‘cê... faz tipo um jacá, só que deixa a boca bem INF.- A buraca ela, é tipo uma caxa. Aí faiz que ela vem com uma arriata, aí ‘cê
larga, aí põe a, as coisa dentro... que fica bem mais segura do que no jacá. (02/1) ‘marra aqui e puxa. Aí ‘cê pode...
INQ.- Ela tem tampa?
INF.- É, a gente chamava mala de couro, mas... papai chamava era caçuá. Já vi INF.- Tem, aqui uma arriata aqui, e puxa aqui, e marra. É a buraca. (12/2)
muito. (02/3)
Comentários - Informantes Topodinâmicos
INF.- Era caçuá. Coloca também no lombo do cavalo, que ele dá carga, né, que
nem do jacá, mas chamava caçuá. É, de couro, se fazia costurado que ele é um INF.- Caçuá é feito de couro, aí faize e coloca de um lado e do outro do animal pra
cofão, né. É que aí bota as vazia, bota no ombro. coloca as coisas dentro. E o outro, o caçuá é de couro pra carregá grão, que aí pra
INQ.- Tem tampa? Nesse tem? num vazá... Que o outro muitais veiz começa vazano nos buraquinho, né, aí põe
INF.- Quê? Nem tem não, não tem não, se ‘ocê quisé botá, bota. Que ele num tem ele, ele é de coro, aí carrega, pa carrega grão. (01/7)
não, que ele é tipo meio... caçuá... é bom demais, que ele faiz, faiz do couro do
gado, né. (05/3) INF.- Rapaz, lá em casa usava muito buraca, assim, de couro de animal de vaca,
né. E a buraca é de couro. O pacará é de taboca fazer... e botava um do lado e do
INF.- Ah, é os... alfoje. É feito de couro, sabe, de gado, aí põe um d’um lado outro outro, né, esse não tinha tampa, a buraca tinha tampa, que ai fazia a tampa. (07/7)
do outro por cima da sela, aí põe o cochonio e munta em cima.
INQ.- Como se fosse esse aqui?
INF.- Ah, esse aqui é o... é isso mesmo é alfoje, é alfoje mesmo. (06/4)
INF.- Ah, esse daí o povo fala que é um suncuntum de coro, rapaz. É. Oto chama
caçuá. Éh, é o povo que chama esse trem aí, sucuntum, mas eu, eu trato ele por
354
355
356
Questão: QSL 049 – Como se chama a ave de criação parecida INF.- Aqui é angulista, guiné. Ela é angulista, é guiné, galinha da angola. Tudo
com a galinha, de penas pretas com pintinhas brancas? isso.
INQ.- E lá onde o senhor morava?
INF.- Éh, lá... nós... é só angulista que nós conhecia lá. (04/7)
Baixas incidências: galinhola (Pedro Afonso e Formoso do
Araguaia); tô-fraco (Araguaína e Natividade); galinha-d’água INF.- Lá pra nós, isso nós falava era cocar.
(Gurupi); galinha-da-índia (Palmas). INQ.- Tem outro nome para cocar?
INF.- Ah, eu já vi gente falá de, éh... galinha-da-índia, né. Mas nóis conhecia
como cocar.
INQ.- E diz que ela cozida fica tão bom.
Comentários - Informantes Topoestáticos INF.- Galinha-da-angola, outros falava, né.
INQ.- Mas para vocês era cocar, né?
INF.- Capote, guiné na minha terra. Aqui, galinha-d’angola. (03/3) INF.- Cocar. (06/7)
INF.- Parece que é cocá que eles fala, mai nói’ chama galinha-da-angola. (04/1) INQ.- Lá no Maranhão, vocês chamam de cocar?
INF.- É. (08/6)
INF.- Cocar.
INQ.- Tem outro nome para ela, seu Luiz? INF.- Aí o povo chama... lá no Maranhão chama de angulista, aqui o povo já
INF.- Angola. chama de cocá.
INQ.- Qual o senhor usa mais? INQ.- E lá vocês chamam de angulista?
INF.- O mais que chamava mehmo é cocar. (06/3) INF.- É, angulista. (10/6)
INF.- Ah, é o galim’ angola. Pra muitos é cocá, é guiné, depende da região vareia INF.- Galinhola.
o nome. INQ.- Tem outro nome pra ela?
INQ.- E o senhor chama como? INF.- Não, aqui chama de angolista. Eu conheci, quando eu conheci eu conheci
INF.- É cocá, ou então galim’ angola. (11/3) galinha-de-angola, né. Aí quando eu vim pra cá eles chamava de angulista. (10/7)
INF.- O nome que eu conheci era cocar ou guiné, mas hoje o povo chama muito
angulista, né. (02/8)
Questão: QSL 53 – Como se chama o bicho que solta um cheiro INF.- Os dois. (07/3)
ruim quando se sente ameaçado?
Comentários - Informantes Topodinâmicos
Baixas incidências: mixila (Araguacema); saruê (Mateiros); catita
INF.- Eu conheço como mucura ou catita.
(Araguaína); raposa (Palmas); esquilo (Araguacema). INQ.- Como que é a catita?
INF.- Que nem mucura, ela fede. (03/5)
Comentários - Informantes Topoestáticos
INF.- [Mambira] É um bichão que tem as unhona assim e o focinho cumpridão
INQ.- Qual que você usa mais? assim, que fede demais. A mucura é pequena, mas é a catinga deles é quase uma
INF.- Mucura. só. Porque o que chama-se tamanduá... é a mambira. E tem o tamanduá bandeira,
INQ.- Tem diferença entre o mucura e o gambá? que tem o fucinzão tamém, as unha grandona tamém e anda de quatro e tem uma
INF.- Acho que não. banderona. E o outro não é. O outro é fedido demais...
INQ.- É o mesmo bicho? INQ.- O mucura?
INF.- Aqui nós conhece como o mesmo. (02/2) INF.- É. E... a mucura é que mais é à noite que ‘cê acha ela assim querendo cumê
coisas de cunzinha, coisa assim. Pega galinha. Agora já o... o mambira num come.
INF.- Raposa. INQ.- Mas fede também?
INQ.- Como que é a raposa? Ela solta um cheiro ruim quando...? INF.- Fede demais! (04/7)
INF.- A mucura. Eu acho que é a mesma, a raposa porque ela come galinha e
pinto. Ela tem um cheiro ruim. INF.- Ah, essa é a mucura, que é aquela que come galinha. Esse que a gente tá
INQ.- Como que é a mucura? falando que é gambá, que é o memo bande’... memo o mambira. (05/8)
INF.- Pois é, parece que é parecido a mucura com a raposa, é da mesma família.
INQ.- E a mucura come galinha? INQ.- Como que é a mucura?
INF.- A mucura não. Acho que só a raposa mehmo, come galinha, os ovos. (06/2) INQ.- Mucura ela é piquena assim, tipo tamanho assim, menor de que o (gato?) às
vezes e fica sempre em cima das árvore e ela acostuma tá mais onde tem muita
INQ.- Como que é o mambira? galinha. (07/8)
INF.- Mambira é um animal do mato tipo o cachorro e ele é e fedido, ele é muito
fedido. INF.- É o gambá. Eu conheço, na verdade, tem dois tipo de gambá, que é um que
INQ.- Ele come galinha? é um... ele, a urina dele é a defesa dele, é um cheiro terrível. E tem um outro que...
INF.- Come, come galinha sim. eu conheço também, eles conhece aqui como mucura. Mas eu conheço ele como
INQ.- Ele não é que nem o tamanduá não? Ele é tipo um cachorro mesmo? saruê, que é um, não deixa de sê um gambá também. É. Eu conheço, lá, lá no
INF.- Ele é tipo um cachorro, tamanduá é outro. (06/4) Paraná chamam ele de saruê, e aqui eles chamam ele de mucura. (08/7)
INF.- Ah, esse bicho aqui é... cavalo-de-judeu, é. Que o povo chama. Eu conheço
Baixas incidências: helicóptero (Formoso do Araguaia e Gurupi); ele é por cavalo-de-judeu. (11/3)
cavaleiro (Porto Nacional e Gurupi); palito (Gurupi e Paranã);
louva-deus (Araguatins); besouro (Mateiros e Gurupi); esperança
Comentários - Informantes Topodinâmicos
(Palmas); gafanhoto (Formoso do Araguaia); grilo-de-rabo
(Natividade); mariposa (Gurupi); cabra-cega (Porto Nacional); INF.- Esse é dois nome que eu tenho, mas um meio... (risos). Uns fala louva-Deus
mané-mago (Araguaína); canzil (Araguacema); tesoureiro e outro lava-cu. (01/7)
(Natividade).
INQ.- E os mais velhos...
INF.- Cambito. Aqui nessa região o pessoal fala por cambito, cambitim de grota,
Comentários - Informantes Topoestáticos cambito.
INQ.- E você chama de quê?
INF.- Eu chamo libélula. (04/6)
INF.- Libélula ou mané-mago.
INQ.- Por que mané-mago? INQ.- E você conhece mais por libélula ou cavalero?
INF.- Porque ele é maguin’, magricelin’ assim. Na minha terra ninguém sabia que INF.- Cavalero.
era libélula. (...) Aqui é libélula. (03/3) INQ.- E suas meninas, chamam mais do quê?
INF.- Agora é libélula. (07/6)
INF.- Iss’é libélula, povo chama de cambito. (04/1)
INF.- Na Bahia que eu já ouvi. O povo fala lava-bunda, fala cambito. Lava-bunda
INF.- Esse aí é a libélula. porque ele encosta os ovos ne água assim, né, dizem que é pra ele por os ovos,
INQ.- Tem outro nome aqui na região? mas o povo fala que não, que ele gosta de ficá se lavano, aí o povo fala lava-
INF.- Bizorro. (08/1) bunda. (10/8)
INF.- Isso aí é um cavaleiro, povo fala, ai esqueci o nome desse aí que dá o nome. INF.- A gente tem... Eu conheço ele em alguns lugar com dois nomes. Aqui, por
Povo chamam palito. exemplo, nóis chamamos ele de cavalo-do-cão. E em outros lugares chamam ele
INQ.- Quem que falava cavaleiro? de grilo-de-rabo. Que ele tem uma cauda fininha, longa e ele voa e, de vez
INF.- Ah, os povo mai’ véio falava assim: o cavaleiro tá vuando, otos chama de enquanto, dá um triscada n’água. A gente chama ele de cavalo-do-cão ou grilo-de-
palito. (09/3) rabo. (11/7)
INF.- É. Gafanhoto ou então helicópto.
INQ.- Ele encosta essa parte na água, né?
INF.- Esse daí mehmo. (10/1)
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Questão: QSL 068 – Como se chama aquele inseto pequeno, de Comentários - Informantes Topodinâmicos
perninhas compridas, que canta no ouvido das pessoas, de noite?
INQ.- Qual é mais comum aqui?
INF.- Aqui eles fala é carapanã, muriçoca é mais lá pro Goiás. A gente chegava
aqui e via eles fala carapanã e não sabia o que que era, era a mesma muriçoca.
INQ.- O senhor usa mais qual?
Comentários - Informantes Topoestáticos INF.- Muriçoca mesmo. Em veiz de nóis acostumá com o eles, eles acostumô com
o nosso jeito, então ficô muriçoca mesmo. Carapanã é muito difícil vê um fala.
INF.- Musquito. (01/7)
INQ.- Tem outro nome? Porque a muriçoca, ela é menorzinha...
INF.- É assim, são várias depende, o formato é um só, mais tem o musquito, tem o INF.- Rapaz, ali tem, tem vários... tem vários tipo dele que faz esse tipo de coisa,
pernilongo, tem..., eu cunheço por uns trêis nome, né? (01/3) né. Mas, na verdade, eu conheço lá em São Paulo por pernilongo. Aqui é
muriçoca. (08/7)
INF.- Pernilongo. Aí tem... vai de região. Conheço uma região que chama de
carapanã. INQ.- A senhora veio conhecer muriçoca aqui?
INQ.- Carapanã? INF.- Aqui. Camapuá, tem vários nomes.
INF.- Mas não é aqui. INQ.- Lá em São Paulo é?
INQ.- Mas é a mesma muriçoca? INF.- É pernilongo. (12/8)
INF.- É a mesma muriçoca. (02/3)
INF.- Muriçoca?
INQ.- Já ouviu outro nome para muriçoca?
INF.- Pernilongo.
INQ.- Qual que é mais comum aqui?
INF.- Moriçoca.
INQ.- Quem que fala pernilongo?
INF.- É os paulista pra lá, né. (risos)
INQ.- (risos) Eles nem sabem o que é muriçoca. (06/1)
INF.- Muriçoca, pernilongo. Tem um lugar que chama carapanã, no Pará, que uma
vez que eu fui lá, eles fala diferente.
INQ.- Aqui a gente fala mais...?
INF.- Muriçoca
INQ.- Pernilongo você acha que fala aonde?
INF.- Acho que pra lá onde meu marido mora (risos), morava [Mato Grosso].
(06/2)
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Questão: QSL 073 – Como se chama a bolinha que nasce em INQ.- É bem nessa parte dos cílios e a curvinha assim do olho, nasce e coça muito,
cima do olho, fica vermelha e incha? incha fica vermelho.
INF.- Espinha, não é...
INQ.- Tem gente que diz que se negar alguma coisa para a mulher grávida ela
bota, como é que chama?
Comentários - Informantes Topoestáticos INF.- A gente chama de nascida aqui. (03/6)
INF.- Ah é, uma espinha? INF.- Por exemplo, assim, se tivé grávida e aí desejá comê uma coisa e num co...
INQ.- Essa é uma que uma pessoa esquenta a aliança e trisca nela. Mas é espinha mehmo, num é? É espinha mehmo.
INF.- É espinha mesmo. (04/1) INQ.- Lá em Porto também...
INF.- Treiçol, que chama, treiçol, né. (risos)
INF.- É oi’-de-sol. Falava oi’-de-sol. INQ.- É a mesma coisa, espinha e treiçol?
INQ.- Isso mesmo. É esse dizer mesmo, de esquentar a aliança e pôr? INF.- É. Uhum.
INF.- É. E fala que é espinha, né? INQ.- É de pegar a aliança mesmo e pôr, né?
INQ.- É a mesma coisa? INF.- É. Uhum. Aqui chama... éh, mais, eu... assim, mais... tradicional é... treiçol.
INF.- É quas’ a mesma coisa. Oi’-de-sol, espinha. Aí diz que quando é espinha (05/8)
eles qué, a muié buchuda é que bota no oi’ do outro, né. (risos)
INQ.- Tem isso? (risos) INF.- É, essa bolinha vermelha que você falou, que às vezes nasce assim e ela fica
INF.- Tem. Diz que aí a muié deseja cumê uma coisa e pede à pessoa, a pessoa bem avermelhadinha e aí eles fala que é treiçol. Então tem que fa... é trêsi, a mulhé
num dá e aí ela já coloca a espinha. (risos) faz três, às vezes três, três coisa que ela qué e tem que fazê pelo meno uma, que...
(10/5)
INF.- Geralmente a gente chama de espinha aqui, mas é terçol, né. Aprendi depois
que era terçol. (07/2) INF.- É espinha, espinha. fala: “Ah fulano tá com espinha, foi porque a muié
grávida pediu uma coisa... tá no olho”, né? E aí não deu, saiu a espinha, é espinha
INQ.- Por que nascida? no olho... aí a gente... esfrega o olho e põe aliança. (11/8)
INF.- Num sei. Que o povo aqui, muitas vez que nasce, fala que negô alguma
coisa pa... mulhé grávida, aí fala que vai dá nacida no olho.
INQ.- Você nunca ouviu outro nome não, né?
INF.- Não. (11/1)
INF.- É o treiçol, é pegando a berada do olho assim. Aí eles diz que a gente negô
alguma coisa pa muié buchuda (risos). (01/7)
INF.- Tal do... como é que se fala? Nascida. Não é um caroço que nasce que dói e
coça?
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INF.- Rapai’, isso é quase que uma brincadeira, lá sempre as pessoa chamava nó-
na-guela, otos chama nó-do-pirão e assim eu não sei qual o certo. (02/7)
Baixas incidências: galo/crista-de-galo (Araguaína e Formoso do
Araguaia); cangote (Araguatins e Tocantinópolis). INF.- A gente fala: o nó, gondó.
INQ.- Como que é?
Comentários - Informantes Topoestáticos INF.- Gondó, nó.
INQ.- Quem falava esse nome?
INF.- Eu falo nó, nó-do-pirão, sempre o pessoal mais velho fala. INF.- Meus avós. Esse pessoal mais antigo aqui da região, tudo fala assim
INQ.- Por quê nó-do-pirão? também. (04/6)
INF.- Agora aí eu num sei.
INQ.- Quem falava nó-do-pirão? INF.- Gogó.
INF.- Meu pai, minha vó. (01/2) INQ.- Tem outro nome que você ouviu aqui?
INF.- Garguelo.
INQ.- Essa você ouviu aqui ou lá [Recife]?
INF.- Ah esse aqui que o pessoal chama aqui é o nozim’ da garganta, oto, aí o INF.- Lá. Gogó e garguelo é de lá. (07/5)
nome de você num sei não.
INQ.- Mas aqui pra você, você chama o nozinho da garganta? INF.- É, chama de gogó. Caroço da garganta. Aí um falo assim pô outro: “mais
INF.- É, o nozinho da garganta, é. (05/3) fulano é um gogó”, que dizer é porque o ‘cê conversa muito, e que ser muito e
quer ser muito sabido, aí fala: “ fulano tá num gogó danado” (risos). (11/7)
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INF.- O primero nome que eu vi chamá, esse aqui a gente chamava cantarera.
Agora é cravícula. (02/3)
INF.- Lá, pra gente no interior, a gente falava cantarera, né. (risos) (06/7)
Questão: QSL 093 – Como se chama o osso redondo que fica na Comentários - Informantes Topodinâmicos
frente do joelho?
INF.- Rodela do joelho e o ministro tamém, né. Eu acho que é porque ele admistra
as pernas. (01/7)
Baixas incidências: osso/junta (Gurupi e Paranã); pataca (do
joelho) (Mateiros); ministro (Araguatins); tramela/janela (Formoso INF.- A bulacha do juei’.
do Araguaia; pedra (do joelho) (Pedro Afonso). INQ.- O senhor fala por esse nome mesmo?
INF.- Ah, eu... minha mãe chamava esses nome assim. A bulacha do juei’, que é
esse aqui, ó. Mas o nome científico num sei se é esse não. (05/7)
Comentários - Informantes Topoestáticos
INF.- Hum... rapaz, tem um nome, até um... caipira mesmo, eles chama de pataca
do juelho. Pataca do juelho, mas faiz muito tempo que eu num vejo falá. Mas
INF.- Bola. chamava de pataca do juelho, que eu lembro meus pais. Mas ele num deixa de sê a
INQ.- Você conhece por esse nome? rótulo do jueio. (08/7)
INF.- Uma bola do juei’, né? (01/1)
INF.- Essa bola eu não sei. Eu sempre chamei de bola. Às vezes quando eu caía eu
INF.- É a bolotinha aqui, mas num sei não. (01/4) falava assim: “mãe, coloca remédio aqui na minha bola”. Nunca aprendi outro
nome. (09/5)
INF.- É a... rodela. Chama rodela do jueio. (02/3)
INF.- Janela do juelho.
INQ.- Esse osso redondo?
INF.- É, essa janelinha aqui, essa rotazinha.
INQ.- Janela do joelho, nunca tinha visto.
INF.- Tramela do juelho... isso vareia muito de região, né? Eu conheço como
rótula. (10/7)
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Questão: QSL 094 – Como se chama o ossinho que fica entre a INQ.- Os mais velhos que usam mocotó?
perna e o pé? INF.- É. (04/5)
INF.- Oi’-de-peixe.
Baixas incidências: canela (Porto Nacional); curvejão (Mateiros); INQ.- É mesmo? Por que será?
machinho (Pedro Afonso); olho-de-peixe (Porto Nacional); rejeito INF.- Não sei. (risos) Até esses dias pa atrás eu fui pedir a chave pra minha
(Araguatins e Tocantinópolis). esposa, cara, eu não sei como, ela jogou lá do portão pra cá, e pegou bem no
olhinho de peixe aqui, ó. E é o ossinho que mais dói é ele.
INQ.- O pior que é. Aqui também, olha.
Comentários - Informantes Topoestáticos INF.- É. Na hora que ela jogou a chave, eu falei assim: “(inint.) de-peixe, valeu
pelo (olho de pexada?) aí”. (risos) (07/5)
INF.- Machim, pra nóis é o machim.
INQ.- Esse ossinho aqui?
INF.- É, uhun. É o machim da, da canela. Do pé. (05/4)
INF.- É, nóis conhece pelo osso da saudade, porque quando leva uma pancada
num esquece... (risos) (12/2)
INF.- Aqui antigamente a gente chamava... amarelinha. Primeiro era macaco, pulá INQ.- Lá vocês chamam de macaco ou de amarelinha, lá em Carolina
macaco, agora não, é amarelinha. (02/3) [Maranhão]?
INF.- Mais por macaco. (03/6)
INQ.- Qual que é mais comum? INQ.- Pular macaco? E hoje em dia, a senhora conhece, vê os netos da senhora
INF.- Amarelinha. brincando?
INQ.- Você já ouviu macaco? Você usava, ou não? INF.- Amarelinha, né. (05/4)
INF.- Já. Não. Era algumas minina assim, às vezes, que brincava comigo, que
usava, né. Mas eu sempre usei amarelinha. (05/2) INQ.- Você pode me descrever como que é?
INF.- Você faiz o corpo, aí os quadrado, faiz um braço, aí você (inint.) a cabeça,
parte no meio, aí quando fala amarelinha põe os número, né, na escola usa os
número pra trabalhá matemática. Senão, você fica de cá, joga algum objeto, aí se
Comentários - Informantes Topodinâmicos caí aqui no meio, você vem e salta, num pode pisá na linha, é macaco. (11/6)
INQ. Quem fala cancão?
INF.- A menina fala aí: “vamo brincá de amarelinha, cancão”. (01/6)
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Questão: QSL 159 – Como se chama a peça do vestuário que INF.- Sutiã.
serve para segurar os seios? INQ.- Antigamente chamava outro nome?
INF.- O biquíni. (08/1)
Questão: QSL 163 – Como se chama o objeto fino de metal, que Comentários - Informantes Topodinâmicos
serve para prender o cabelo?
INF.- Uns chama prisia, otos chama grampo. (02/7)
INQ.- Lá no Piauí chama por qual nome mais assim [grampina, presilha, grampo]?
Comentários - Informantes Topoestáticos INF.- Também, presilha, grampo. Esses dias eu ‘té tava lá e precisei de comprá
uma caxa de grampo, ai eu pedi o minino pra ir compra, filho de lá mesmo, “meu
INQ.- É a mesma coisa? filho vá comprá uma caxa de grampo pra mim”, o menino endoidô, não sabia o
INF.- É. que era grampo e ai caçamos essa presilha pa mostrá pra ele, terminô indo uma
INQ.- Presilha e grampo? outra pessoa acompanhando ele porque ele num sabia, essa geração mais nova não
INF.- Uhum. sabe, não entendi ainda. (08/8)
INQ.- Você usa mais presilha?
INF.- Uhum. INF.- Grampo. Grampo, otros fala misse.
INQ.- Grampo são as pessoas mais antigas, né. INQ.- Misse, nunca ouvi.
INF.- É. (05/2) INF.- Pois na Bahia o povo fala misse. Misse é aqueles grampo mehmo de botá no
cabelo. (10/8)
INF.- De primeiro o nome era grampina que o povo chamava isso aí, hoje já
chama presilha, né. (06/4)
Questão: QSL 164 – Como se chama o objeto de metal ou INF.- Ti... não, tiara, porque hoje se falá diadema até, as pessoa até ri da sua cara.
plástico que pega de um lado a outro da cabeça e serve para (risos) (05/8)
prender os cabelos? INF.- Tem a tiara, mas eu conhecia muito como se fosse diadema.
INQ.- E usa mais qual?
INF- De hoje, né? De hoje chama mais tiara. Mas eu conheci como diadema.
INQ.- E você continua usando qual delas?
Comentários - Informantes Topoestáticos INF.- Fico na tiara (risos). (06/6)
INF.- Uns fala diadema, outros tiara, outros fala... (01/2) INF.- Lá no interior, naquele tempo, falava tara. Mas aqui agora fala éh... como
que fala? Éh... Eu esqueci, mas falava tara. Enfiava assim no cabelo assim pra
INF.- Aquele arquim. Diadema antigamente. Hoje eu não sei se ainda chama por segurá.
esse nome mais. (02/3) INQ.- Que ele é assim redondo?
INF.- Uhum, redondo. Meio assim, né? Enfiado assim, né?
INF.- A minha vó que fala diadema. (05/2) INQ.- Isso.
INF.- Falava tara.
INF.- No Canela a gente conhecia como diadema. Agora mudou pra capital, é ((A propósito da Retomada:
tiara. (06/2) INQ.- O senhor lembrou o nome daquele objeto que põe na cabeça? O senhor
lembrou um nome meio antigo, o senhor ficou de lembrar o de hoje.
INF.- Diadema? Eles falava diadema também. Tem... Ah, agora eu esqueci
INF.- É tiara. com’é... Num lembro disso, num lembrei esse aí, num lembro esse aí.)) (06/7)
INQ.- O pessoal antigamente falava outro nome.
INF.- Diadema. Qual é a diferença de diadema pra tiara, né?... A minha mãe INF.- Gigolé? Porque lá pra nóis conheço por esse nome.
cansava de dizer: “vai usar diadema, minina, vai pegar aquela diadema”. INQ.2- É? Que é assim, que coloca na cabeça assim?
INQ.- Aí, hoje já é...? INF.- É.
INF.- Hoje ela, a gente fala: “mãe é tiara”, “o que é isso, minina?” (10/4) INQ.2- De um lado a outro?
INF.- Ahãm.
INQ.2- Ai, que legal!
Comentários - Informantes Topodinâmicos INF.- Isso, lá pra nóis é gigolé eles chama.
INQ.2- É de plástico?
INF.- Não, porque ‘cê tem a diadema, a tiara... A tiara é feita de pano, só a INF.- É de plástico. Tem plástico, às vez tem... igual já vi de... tipo uns araminho
diadema mehmo que eu conheço. finim assim, com mais... detalhezinho (inint.). (08/5)
INQ.- A tiara, no caso, é de pano?
INF.- De pano. Uhun. (05/5)
INF.- Diadema.
INQ.- Qual que a senhora costuma falar mais? Diadema...
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