A Gaiola - Bukowski
A Gaiola - Bukowski
A Gaiola - Bukowski
PERSONAGENS:
A VOZ: Áudio voz masculina, distorcida
Grande Senhora – Luma
Número 13 – Amanda
Número 17 – Reinaldo
Número 37 – Pamela
Número 45 – Higor
Número 69 – Elliot
Número 92 – André
Número 108 – Flávia
Número 133 – Ana Clara
G SENHORA - Sejam todos bem vindos a minha gaiola… Me chamo Dawn e, assim como
vocês, quase sempre me sinto sozinha. Foi aí que tive a ideia, baseada em fundamentos
sociais é claro, de comprar seres humanos para recreação, assim como pets que
compramos pela internet. Num primeiro momento, fiquei horrorizada, me parecia muito
doentio manter outros seres humanos apriosionados em gaiolas, como naquelas histórias
de pessoas que mantém outros aprisionados para fins sexuais, torturas, etc, etc e etc. Que
tipo de animal seria capaz de manter outro animal preso apenas para se divertir? Eu. (risos)
Ou melhor, nós. Pensei. E olhando pelo lado bom disso, eles não tinham nada a perder. A
maioria deles eram infratores, moradores de rua, vagabundos, pobres, prostitutas,
aberrações, etc, etc, etc. Comecei com apenas um, mas aos poucos minha coleção foi
crescendo e logo se tornaram muitos. Então me lembrei de uma frase famosa. “Observava
as pessoas à distância, como numa peça de teatro. Apenas eles estavam no palco e
eu era platéia de um homem só”. F oi então que decidi compartilhar meu prazer com o
mundo, ou melhor, com o que sobrou dele.
G SENHORA - Muito bem, agora vocês tem um lar. Não se metam em confusão e terão
segurança para o resto de suas vidas.
N° 37 - Segurança? Isso é algo que se pode conseguir por aqui. Três metros quadrados,
nenhuma janela, nada de aluguel a pagar, nenhum bem de consumo, imposto de renda,
crianças para sustentar, detenção por dirigir bêbado, perda nas corridas de cavalo e o mais
importante, enterro grátis. E sempre que a sirene toca, é hora de criarmos uma nova cena
para divertí-la.
SINAL SONORO.
N° 37 - Como?
G SENHORA - Por mero prazer, vivemos a vida do outro, colecionamos tesouros em forma
de sensações. Por mero prazer, escravizamos e compramos seguidores por meio de
nossos evangelhos esquizofrênicos, inventados.
SINAL SONORO
“APARÊNCIAS”
Inspirada no conto: “A mulher mais linda da cidade”.
SINAL SONORO
Nº45 - Lógico que acho, mas não é só isso... é mais que uma simples questão de beleza…
Nº 133 - As pessoas sempre me acusam de ser bonita. Acha mesmo que eu sou?
(MÚSICA:)
DANÇAM JUNTOS
Nº133 - E agora, ainda me acha bonita? O que é que você acha agora, cara?
Nº45 - O corpo é meu faço dele o que bem entendo. (Continua queimando a em vários
locais do corpo)
Nº133 - ( Para público) Filho da puta, só porque paga umas biritas pensa que é dono da
gente?
.
G Senhora - Notícia de última hora! Nº133 tão comportadinha. Passou a tarde toda com
Nº92.
Nº45 - Olha para mim. Tu fodeste, não foi? Não olha, arranhou-te a cara
(G. SENHORA PEDE PRA QUE ELE REPITA COM MAIS AGRESSIVIDADE)
Nº 45 - Levanta a camisa. Quero ver as tuas costas . Oh, merda, 133. Tira a camisa. E anda
à minha volta. Que arranhão é este nas tuas costas?
G Senhora - Deforma mais. Mais. Depois eu seleciono outro número para as segundas. (Ri
freneticamente)
Nº 133 - Beleza não vale nada e depois não dura. Ela nem sabe a sorte que tem de ser
feia. Assim, quando alguém simpatiza, já sabe que é por outra razão.
Nº45 - (Para público) Eu amo quando a G. Senhora deixava eu cortar a 133. Comecei com
cacos de vidro. Na barriga, nas pernas, nos peitos. Tentei no rosto, mas fui proibido.
Imitando a G. Senhora: “ As segundas quero beleza. Eu amo que você as corte. Mas as
brancas não. escolhe as negras para repor é mais fácil”
Nº 133 - Não gosta mais de mim? Deixei de ser bonita? Não gosta mais de mim? Deixei de
ser bonita?
(N°133 ANDA ATÉ A MARCAÇÃO LATERAL, VAI FICANDO FRÁGIL E DEITA. N° 45 SE
DEITA EM OUTRO PONTO, LATERAL OPOSTA A N° 133, COMEÇA A TIRAR CALÇA E
ESTUPRAR N° 133)
Nº133: Grande senhora que estais no céu, santificado seja vosso nome. Venha vós a nossa
gaiola… O pão nosso de cada dia, nos oferta hoje.. perdoai nossas afrontas… que
possamos entrete-la até o fim . Amém.
SINAL SONORO.
Nº17 - (Para público) Bem vindos a Gaiola. Exibição de limpeza programada. Isolamento
de Contato. Todas as terças-feiras, os contaminados recebem a desinfecção. Não se pode
haver a mínima possibilidade de transmissão de vírus. Por favor, não interajam com os
doentes. Não os toquem. Utilizem as luvas. Grande risco de Contaminação. Estamos ON
LINE.
Nº17- Contaminada com a Peste. Doença grave, contagiosa, epidemia. O último Nº que
ainda é GORDA.
Ela é o animal preferido da G Senhora. Bajuladora. Faz sempre o que mandam.
Nº37: Sem abastecimento senhora! (Para o público) Ela tem opiniões opostas às nossas,
não para de falar, não presta atenção, jamais escuta.
G Senhora: 17 opte pela segunda narrativa . Macho machucado. Sempre sei onde
encontrar carne boa.
Nº17 - continuando o que estava dizendo. Como foi que a desgraçada conseguiu te deixar a
noite inteira aqui, sem se intrometer ?
Nº37: Fácil. Ela espera a gente dormir e grita sempre no meio do nosso sono “te acordei?
Acorde AGORA! Até o nosso sono é controlado. Eles dizem para você sonhar. Mas no
primeiro sonho. Estraçalham sua perspectiva de ilusão.
Nº17 - Se não se acorda, ela berra: “eu sei que você está aí dentro!”
G senhora - esses vândalos, embora não tenham a menor ideia do processo de raciocínio
da gente, sabem perfeitamente que nos são antipáticos. HORA DA ESFREGAÇÃO.
Nº 17- você afirma que todos os senhores não prestam? Mas não é bem assim. Já
encontrei alguns de excelente caráter. Existem bons proprietários. (OLHANDO SEMPRE
PARA G Senhora)
Nº37- toda vez que um sujeito sob de nível na gaiola. Veste aquele uniforme, passa a
funcionar como assalariado de um sistema que quer manter a situação do jeito que está.
Nº17: Apega-se a outras pessoas para sobreviver. Se eu pedir, ela chupa meu pau. Só
porque sou autoridade. Chupa 37.
37 abaixa, coloca a cabeça por baixo do avental e faz movimentos. 17 grita como se
tivesse levado uma mordida.
Nº37 - (Para público) Ela tava contaminada. Ele arrastou ela por todo o chão, nas
primeiras horas a pele foi saindo. Com as costas em carne viva foi banhada com ácido, o
resto de pele que ainda tinha foi queimado. Ela gritou muito. Durante horas. Ela gritava. A
carne apodreceu. Fedia. Decomposição ainda viva. A peste é alguém que você conhece.
“AÇOUGUE ABERRAÇÃO”
Inspirada nos contos: “ Kid Foguete no matadouro” e
SINAL SONORO
Nº69: Um açougue. corpos pendurados. Cheiro excessivo de sangue. Nas quartas-feiras o
açougue abre, as carnes são embaladas e vendidas, as que apodreceram são eliminadas.
Nº69: Tentaram todas as curas. Religião. Medicação. Terapia. Até mesmo Suicídio
provocado. 25 corpos enterrados com a etiqueta de “SEM IDENTIFICAÇÃO”.
Nº17: Você diz que não é mulher. Nega a ordem natural das coisas. Pecador Insolente.
Vamos ver quem é o machão? Aguenta o tranco?
G SENHORA: (em tom demoníaco) Defeito de Fábrica. Conserta ELE 17. AGORA.
Nº17: Seu amor é vulgar, busca vulgaridade. Eu sei que você gosta. Você merece sofrer.
Nojento. Asqueroso.
Nº 17:Podia sentir ele agonizando. Espumando pela boca. Sufocando com a própria saliva.
Se debatendo.
Pausa. Suícidio. Vigésimo sexto. acontece. Eles não aguentam.
SINAL SONORO.
N°108 - Eu estou aqui, nua, dentro da sua cabeça. Nua, mas você diz preferir mulheres
completamente vestidas, gosta de imaginar o que tem por baixo ou gosta de mulheres
escondidas? Você me ouve, mas não me vê de verdade... (Para o público, quebra de
personagem) vocês me ouvem?
N° 13 - Dos que vieram de fora e me ocuparam, dos que nasceram de mim e nunca vão
embora. Dos que tiram férias e sentem saudades. Uma mãe, patroa, dona, serva, puta,
maldita, provedora... (Quebra, exagero, “imitando” Grande Senhora em tom irônico) eu,
Gaiola! 465 anos com corpinho de 20, ou quase 30... eu, cidade, megalópole brasileira,
nesse sudeste fértil onde as fábricas não se cansam, onde as putas sorriem e nos
capturam! Nos enjaulam, nos enganam...
N° 13 - Ver os crânios atrás da pele das pessoas que passam pelas ruas?
N° 108 - Ver o fim no fundo do copo onde cinzas se misturam com o resto do seu suor
salgado?
SINAL SONORO.
CENA “ELIMINAÇÃO”
G. SENHORA - ELIMINAÇÃÃÃÃÃÃÃO!
(N°13 volta para a cadeira correndo, tomando o lugar de Nº 133 e empurrando-a para o
“ringue”)
G Senhora: Sexta-feira! Dia de ver os ratos caírem nas armadilhas. Eu as coloco por toda
parte: mulheres, drogas, bourbon, vinho, uísque, cerveja, charutos e cigarros. Armadilhas:
trabalhar ou não trabalhar. Armadilhas: ter ou não ter talento; tudo o levava a ser engolido
por uma teia de aranha. A minha teia de aranha.
SINAL SONORO II
SINAL SONORO II
Nº108: Sapatão…
N° 133 em áudio - Dia de eliminação . 13 tocou abaixo da minha barriga. Me limpava com
mãos macias que me excitava a cada toque. Colocou sua língua ávida, quente na minha
boca . Suas mãos nos meus seios . Depois começou a lambe- Los insaciável, como se
quisesse engoli-los. Sua boca começou a beijar minhas pernas , até que sentir sua língua
começando a me fuder. Gozei em sua boca.
G Senhora: Por que há tão poucas pessoas interessantes? O problema é que tenho de
continuar a me relacionar com eles. Isto é, se eu quiser que as luzes continuem acesas, a,
tenho que continuar a me relacionar. Preciso dos desgraçados para as menores
necessidades
(G. SENHORA MATA AS DUAS. N° 108 E N° 133 VÃO ATÉ AS CADEIRAS, CADA UMA
DERRUBA UMA E SE SENTAM NA PLATÉIA)
CENA “DIVERSÃO”
Inspirada em um trecho do livro “Mulheres” (Mercedes e Chinaski)
N°92 – ( Para público). Aos sábados ela quer diversão, festa, entretenimento barato, alguma
coisa rasa, assim, que combine com ela. Já tivemos grandes orgias, competição de
masturbação, chicoteamento em massa, enfim, muita coisa já rolou aqui.
G. SENHORA – Alôôôôô!? Vamos ver o que temos por aqui (Olha para baixo, em direção à
gaiola). Ah.... Sobraram tão poucos. Onde foram parar todos?!?! (Risos) N°13 e N°92?!
SINAL SONORO
N° 13 – Quer maconha?
N° 92 – Claro!
N°13 – Aham…
N°92 – (Para o público). Ela não era muito de falar, era mais de fazer. Tiramos a roupa,
começamos a nos beijar, fiquei sassaricando aquela buceta, ela pegou no meu pau e ela
mesma meteu meu pau lá dentro. Eu colocava e tirava, colocava e tirava, devagarinho, sem
pressa. Ela gemia e eu continuei chacoalhando, mais cinco, dez vezes, não conseguia
gozar. Comecei a fraquejar, fiquei mole... A vida me fugiu, meu pau murchava!
G. SENHORA – (Interrompendo) Ahhh... mas que coisa mais chata! Parece novelinha das
18h... Agora bate! na cara dela N° 92. Com gosto, vamos, pesa essa mão homem! Ela
gosta de uns tapas que eu sei… Qual mulher não gosta?! (Risos)
G. SENHORA – (Cada vez mais exaltada, vai se excitando). Estamos ganhando mais
audiência, não esqueçam que estamos ON LINE! Já sei! Imitem cachorros no cio, se
cheirem, se lambam, abanem esses rabos para mim!
G. SENHORA – 13 querida, chupa o pau do 92! Bem gostoso, devagar e olhando para
mim…
G. SENHORA – (Rindo histericamente) NÃO??? Você disse não para mim?! Se nega a
obedecer nessa altura, meu bem? Ahhh... N° 17 e N° 45 me façam um favorzinho…
SINAL SONORO
(PAUSA)
N°92???
92!!!!!
SINAL SONORO
G. SENHORA - Ah... sejam bem-vindos, vejo que vieram me visitar, a que devo a honra?! –
(SURPRESA/ASSUSTADA, CORRE PARA O TELEFONE E TENTA CONTATO COM “A
VOZ”)
N° 45 – (EM TOM DE IRONIA). Não vai nos oferecer um drink, um cigarro, um lugar para
sentar?
G. SENHORA – Vocês deveriam estar na Gaiola, não? Vocês todos são inteligentes e
conhecem bem o regulamento... (PARA FORA DA CENA/AO ALTO) ATENÇÃO, FUGA NA
GAIOLA! COMANDANTE, MANDE REFORÇOS!
N° 17 – Ah Grande Senhora, já estávamos um pouco entediados lá, ainda mais agora que
não temos nenhuma putinha para nos fazer companhia, a senhora bem que poderia
comprar umas bucetas novas, renovar seu casting, ou então…
FIM.
47 - A situação.
47 - Eu trabalhar e você ficar aí, largado. Os vizinhos estão pensando que eu te sustento.
52 - Ah, eu não sabia disso. pensei que vocês mulheres estivessem berrando por direitos
iguais.
47 - Sei o que está rolando entre você e aquele poço de banhas ali do fundo, ela fica
andando na sua frente com os peitos de fora…
52 - Peitos de fora?
52 - Ela é puta!
52 - Você enlouqueceu.
47 - Só não quero que toda essa gente pense que eu estou sustentando você.
52 - Fodam-se! Porque devemos nos importar com o que eles pensam? Nunca demos bola
pra isso antes. Além disso sou eu quem paga essa porra de aluguel. Sou eu quem paga a
comida. Ganho meu dinheiro nos caça níqueis e nas corridas…
Ele se afasta.
52 - Fique com essa boceta. Nunca foi grande coisa mesmo. Levantei, fui para o carro e
aluguei o primeiro lugar que encontrei com um placa de aluga-se. Me mudei naquela
mesma noite. depois daquele dia uma coisa nunca me saiu da cabeça. Tinha perdido um
cachorro e uma buceta.