Uma Economia Circular No Brasil Uma Exploracao Inicial
Uma Economia Circular No Brasil Uma Exploracao Inicial
Uma Economia Circular No Brasil Uma Exploracao Inicial
ECONOMIA
CIRCULAR NO
BRASIL:
Uma abordagem exploratória inicial
Produto da inteligência
coletiva dos membros da
rede CE100 Brasil
Janeiro de 2017
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2
SOBRE A ELLEN MACARTHUR FOUNDATION E O
PROGRAMA CE100
3
REFLEXÕES A RESPEITO DA ECONOMIA CIRCULAR
NO BRASIL
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“ Sabemos que organismos que apoiam a vida ao seu redor são mais resilientes e
mais sustentáveis ao longo do tempo. A prática da economia circular é crucial para
mantermos a geração de valor econômico sem necessitarmos aumentar a extração
de recursos naturais de nosso sistema. O Sistema B apoia integralmente a Ellen
MacArthur Foundation neste relevante estudo para a transição à um novo modelo
econômico, baseado nos princípios da interdependência, colaboração e baixa
emissão de carbono.”
– Tomás de Lara, Co-líder Sistema B Brasil
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INTRODUÇÃO
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AGRADECIMENTOS
Equipe de projeto
Luisa Santiago, Líder do Programa CE100 Brasil, Ellen MacArthur Foundation
Ashima Sukhdev, Líder do Programa de Governo & Cidades, Ellen MacArthur
Foundation
Victoria Almeida, Membro da Equipe de Projeto, Ellen MacArthur Foundation
Regi Magalhães, Consultor e Membro da Equipe de Projeto
François Souchet, Gerente de Projetos, Ellen MacArthur Foundation
Miranda Schnitger, Gerente de Projetos, Ellen MacArthur Foundation
Design gráfico
Sarah Churchill-Slough, Gerente de Design e Branding, Ellen MacArthur
Foundation
Rory Ian Waldegrave, Equipe de Design e Branding, Ellen MacArthur
Foundation
Texto
Ian Banks, Editor, Ellen MacArthur Foundation
Emma Parkin, Conker House Publishing Consultancy
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AGRADECIMENTOS (CONTINUAÇÃO)
AVISO LEGAL
8
ÍNDICE:
SUMÁRIO EXECUTIVO
EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS
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SUMÁRIO EXECUTIVO
1 Ellen MacArthur Foundation. ‘Growth Within: a circular economy vision for a competitive
Europe’, 2015
2 Ellen MacArthur Foundation. ‘Circular Economy in India: Rethinking Growth for Long-Term
Prosperity’, 2016
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DEFINIÇõES DA ECONOMIA CIRCULAR
PRINCÍPIO
1
Preservar e aprimorar o capital Renováveis Materiais finitos
natural controlando estoques
finitos e equilibrando os fluxos
de recursos renováveis Regenerar Substituir materiais Virtualizar Restaurar
Alavancas ReSOLVE: regenerar,
virtualizar, trocar Gestão do fluxo de renováveis Gestão de estoques
Agricultura/coleta1
Fabricante de peças
PRINCÍPIO Matérias-primas
bioquímicas Fabricante de
produtos Reciclar
Regeneração Biosfera
2
Otimizar o rendimento de
Prestador de
recursos fazendo circular Renovar/
serviços Compartilhar
produtos, componentes e
remanufaturar
materiais em uso no mais
alto nível de utilidade o
tempo todo, tanto no ciclo Reutilizar/redistribuir
técnico quanto no biológico.
Biogás Aproveitamento
Alavancas ReSOLVE: Manter/prolongar
em cascata
regenerar, compartilhar,
otimizar, promover a criação 6 2803 0006 9
FIGURA 1: DIAGRAMA DO SISTEMA DA ECONOMIA CIRCULAR
Extração de
matérias-primas
bioquímicas2
PRINCÍPIO
Minimizar perdas
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Estimular a efetividade sistêmicas e
do sistema revelando e externalidades
excluindo as externalidades negativas 1. Caça e pesca
negativas desde o princípio 2. Pode aproveitar tanto resíduos pós-colheita como pós-
Todas as alavancas consumo insumo
ReSOLVE
Fonte: Ellen MacArthur Foundation, SUN, and McKinsey Center
for Business and Environment; Drawing from Braungart &
McDonough, Cradle to Cradle (C2C).
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OPORTUNIDADES PARA O BRASIL: EXPLORANDO TRÊS SETORES
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Equipamentos eletroeletrônicos (EEE)
7. Aproveitar a dinâmica específica do mercado brasileiro de EEE para criar
novas oportunidades de negócio no contexto da economia circular. Essa
dinâmica de mercado inclui a proximidade entre mercados consumidores
em crescimento e centros de produção industrial, infraestrutura de ciclo
reverso já estabelecida e conhecimentos, habilidades e capacidade já
existentes.
8. Integrar a economia informal ao setor de EEE visando a uma colaboração
mutuamente vantajosa. Combinar o melhor de dois mundos: integrar a
eficiência e a capacidade operacional da indústria formal com a agilidade,
a escala e a capilaridade do setor informal.
9. Desenvolver novos modelos de negócio para ampliar o acesso e reduzir
os custos dos produtos do setor de EEE. Uma vez estabelecidas as
condições sistêmicas adequadas, modelos de negócio da economia
circular que promovam compartilhamento, modelos de serviços e produtos
recondicionados podem vir a oferecer aos usuários mercadorias de custo
mais acessível, com mais valor e mais modernos.
10. Criar mecanismos para influenciar processos de design. Uma abordagem
de baixo para cima na qual empresas brasileiras ofereçam feedback sobre
o processo de design de atores globais do setor de EEE pode ampliar os
conhecimentos gerados pelo mercado para aprimorar os processos de
design do setor.
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AGRICULTURA E ATIVOS DA BIODIVERSIDADE
14
Certificações ambientais estão sendo adotadas como uma primeira etapa
na transição para a economia circular. Como pré-requisitos de acesso ao
principal mercado internacional de commodities agrícolas8, estas certificações
têm atuado como um estímulo inicial para empresas se moverem em direção a
práticas agrícolas mais regenerativas. Por exemplo, a certificação “Roundtable
for Sustainable Palm Oil” (Mesa Redonda do Óleo de Palma Sustentável, em
tradução para o Português) requer práticas de manutenção da fertilidade
do solo (ou, onde possível, de melhoria da fertilidade do solo) a um nível
que garanta rendimento ótimo e sustentado, e mantenha a qualidade e a
disponibilidade de água superficial e de lençóis freáticos. O Imaflora (Instituto
de Manejo e de Certificação Florestal e Agrícola) tem visto estas certificações
cada vez mais como o início da jornada para produtores compreenderem a
importância de preservar e regenerar recursos naturais, na medida em que
começam a monitorar e medir, por exemplo, a produtividade do solo e o uso
de água.
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Produtores brasileiros estão extraindo valor adicional com o aproveitamento
em cascata de produtos agrícolas. O segmento de suco de laranja brasileiro
é um bom exemplo do aproveitamento em cascata de subprodutos e sua
destinação a outros usos. A Citrosuco, maior produtora de suco de laranja do
mundo, utiliza resíduos de polpa cítrica de seus processos produtivos como
ração animal que pode substituir o milho. Óleos essenciais obtidos através
da prensagem da casca da laranja pós-extração do suco são usados pelas
indústrias alimentícia, farmacêutica e química. O álcool obtido da fermentação
dos açúcares em resíduos de laranja também é usado como combustível e na
composição de bebidas e vinagre. 100% da laranja é aproveitada de alguma
forma.11
11 http://www.citrosuco.com.br/en/
12 Valor International. “Amazon products gain‘certificate of origin’”. Março de 2016. http://www.
valor. com.br/international/news/4486936/amazon-products-gain-certificate-origin
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OPORTUNIDADES FUTURAS PARA O BRASIL
13 World Economic Forum & Ellen MacArthur Foundation “Project Mainstream Urban Biocycles”,
2017
14 O país é o maior exportador de cinco commodities agrícolas negociadas internacionalmente e
o segundo maior em soja e milho. The Economist, “The World’s Farm”, agosto de 2010. http://
www. economist.com/node/
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vanguarda da inovação e experimentação nessa área, compartilhando e
exportando seu conhecimento para o mundo. Além disso, os exemplos
estudados mencionam práticas que asseguram uma distribuição mais justa
dos benefícios ao longo das cadeias de valor, reconhecendo o papel das
comunidades tradicionais.
BARREIRAS
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SETOR DE EDIFÍCIOS E CONSTRUÇÃO
19
Environment” (2016), da Arup, Parceira de Conhecimento da Ellen MacArthur
Foundation.
20 Wired. “After the Games, Rio’s Stadiums Won’t Rot – They’ll Transform”, agosto de 2016.
https:// www.wired.com/2016/08/games-rios-stadiums-wont-rot-theyll-transform/
20
conforme princípios da economia circular no que diz respeito ao uso de
recursos e integração ao ambiente natural da cidade, mas também criou
uma atmosfera vibrante que revigorou a região. Em São Paulo, um mapa
colaborativo criado pela prefeitura a partir da ideia de “função social da
prosperidade urbana” 21 obtém, por meio de crowdsourcing, informações
da população sobre edifícios não utilizados, de modo que a cidade possa
começar a usá-los para fins que beneficiem a sociedade.
21 O projeto se baseia no fato definido na regulação de que um imóvel só cumpre sua função
social se o seu uso e ocupação, conforme determinados pelo proprietários, se orientarem
para os interesses (econômicos, sociais, ambientais, urbanísticos) da comunidade. Mais
informações: http:// mapacolaborativo.gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/funcao-social/
21
forma com que o espaço construído e a infraestrutura crescem em paralelo
a e se integram com outros sistemas urbanos tais como a bioeconomia, a
alimentação e a mobilidade.
BARREIRAS
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EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS (EEE)
23
informalidade é responsável pela recuperação de um grande volume
de equipamentos, partes e componentes, o setor sofre com vazamento
significativo de materiais já que essas atividades aplicam processos que fogem
aos padrões de qualidade da indústria para se manterem em novos ciclos de
uso. Um fator crítico é o design de produtos. Atualmente os designers tendem
a priorizar a otimização de produtos para a fase de uso. Porém, consideram
em muito menor grau a facilidade de desmontagem do produto após o uso
para recuperação de valor. Integrar o pensamento circular à fase de design
de equipamentos eletroeletrônicos pode contribuir significativamente para a
recuperação de valor e manter nutrientes técnicos em circulação em seu mais
alto valor possível. O recém-lançado Circular Design Guide (Guia do design
circular)27 oferece ferramentas de apoio a soluções criativas para a economia
circular.
27 Circular Design Guide: uma publicasign GuEllen MacArthur Foundation em colaboraoão com a
IDEO, www.circulardesignguide.com
28 REMADE Institute www.rit.edu/remade/
24
capturando mais valor. Como tem se evidenciado em pesquisas da Ellen
MacArthur Foundation, iniciativas de reciclagem mais focadas nos ciclos
externos da criação de valor (veja a Figura 1) são as menos eficazes na
retenção da utilidade, do valor e da lucratividade dos materiais, componentes
e produtos. Inovadores precoces da circularidade no setor de EEE brasileiro
têm se movido em direção aos ciclos internos, que se orientam por modelos
de negócio em remanufatura, reforma e reutilização. A Recicladora Urbana,
uma pequena empresa com unidade industrial em Jacareí (SP), é um exemplo
claro disso: o valor gerado a partir de sua atuação no segmento de reforma
é aproximadamente 10 vezes maior do que o proveniente da reciclagem
(consulte o estudo de caso no apêndice). Outro exemplo inovador: a eStoks,
start-up constituída em 2015, está desenvolvendo um modelo de negócio para
capturar valor dos resíduos pré-consumo (equipamentos que nunca entraram
no mercado ou são recolhidos do mercado de consumo praticamente
sem ter sido usados). A eStoks otimiza a logística de coleta e recuperação
aproveitando a concentração de unidades produtivas de EEE nas regiões
sul e central do Brasil. Então, a empresa aplica um algoritmo para analisar a
condição do equipamento para redirecioná-lo aos mercados secundários por
50% a 70% do preço do produto novo.
29 World Bank. “Wasting No Opportunity: The case for managing Brazil’s electronic waste”. 2012.
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volume e minimizar os custos, particularmente os de transporte.
No Brasil, modelos bem-sucedidos estão surgindo a partir de novas formas
de colaboração entre grandes atores da indústria, que operam com altos
padrões de qualidade, e organizações (antes) informais, que são responsáveis
por grandes fluxos de materiais e pela oferta de capacidade e infraestrutura.
O envolvimento de outros stakeholders, como a academia e as ONGs, pode
ajudar a estabelecer as condições viabilizadoras necessárias para o aumento
da capacidade de processamento e a formalização do mercado. Em abril de
2016, a Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica) e
seus 48 membros criaram uma organização dedicada à gestão de logística
reversa para as empresas do setor, a Green Eletron. O objetivo da organização
é ajudar a identificar e administrar as organizações responsáveis por logística
reversa no setor. Sistemas produto-serviço estão crescendo em mercados B2B
e surgindo em mercados B2C. Grandes corporações já prestam serviços de
impressão, TI, iluminação e condicionamento de ar com base em modelos de
desempenho, como contratos de arrendamento ou locação. Esses modelos de
pagamento por uso criam interações comerciais de mais longo prazo, reduzem
o nível de investimento inicial dos usuários e melhora os fluxos de caixa dos
prestadores de serviços. Por exemplo, o pacote de serviços gerenciados da
HP Brasil inclui serviços de TI. Esse modelo de desempenho otimiza o ciclo de
vida da tecnologia, reduz o risco de volumes desnecessários de serviços, reduz
os custos de compra e oferece um prazo mais flexível para o investimento
(consulte o estudo de caso no apêndice.) Modelos de desempenho ou de uso
ainda são novos nos mercados B2C, embora já haja iniciativas voltadas para
dispositivos móveis e domésticos. Um exemplo de modelo de desempenho
B2C que está sendo aplicado com sucesso no Brasil é o da Whirlpool,
fabricante de eletrodomésticos que oferece filtros de água como um serviço,
com manutenção e garantia vitalícia, retendo a propriedade dos filtros.
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produtos, componentes e materiais. Formas estruturadas de formalização
dos stakeholders atualmente atuando na informalidade poderiam destravar
maiores volumes de materiais com maior padrão de qualidade que estão
atualmente vazando do sistema, e ao mesmo tempo promover inclusão
social. Colaboração multi setorial pode viabilizar que estas organizações
atendam a padrões e regras de qualidade e construam a apropriada
capacidade resultando, em consequência, em melhor restauração dos
fluxos materiais no setor. Trata-se de uma oportunidade de unir o melhor
de dois mundos: integrando a eficiência e a capacidade operacional da
indústria formal com a agilidade, volume e capilaridade do setor informal.
BARREIRAS
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UM CHAMADO PARA PESQUISAS FUTURAS
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30
www.ellenmacarthurfoundation.org
@circulareconomy
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