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Cor, Raça/Etnia na Saúde 3

Organizadoras: Jussara Dias, Márcia R. Giovanetti,


Naila J. Seabra Santos

perguntar não ofende


Qual é a sua Cor ou Raça/Etnia?
responder ajuda a prevenir

Secretaria de Estado da Saúde


Coordenadoria de Controle de Doenças
Programa Estadual DST/Aids-SP
Centro de Referência e Treinamento DST/Aids-SP

São Paulo, 2009


Cor, Raça/Etnia na Saúde 5
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE
Luiz Roberto Barradas Barata - Secretário Estadual de Saúde

COORDENADORIA DE CONTROLE DE DOENÇAS


Clélia Maria S.S. Aranda – Coordenadora

COORDENAÇÃO DO PROGRAMA ESTADUAL DE DST/ AIDS


CENTRO DE REFERÊNCIA E TREINAMENTO EM DST/AIDS
sumário
Maria Clara Gianna – Coordenadora
Artur O. Kalichman – Coordenador Adjunto
Elvira M. Ventura Filipe – Gerente da Divisão de Prevenção
Caio P. Westin – Diretor do Núcleo de Populações Vulneráveis
Apresentação
CRÉDITOS
07
Coordenação Editorial: Jussara Dias, Márcia R. Giovanetti,
Naila Janilde Seabra Santos

Redação: Jussara Dias – Instituto AMMA Psique e Negritude


Capítulos
Colaboração: Naila Janilde Seabra Santos – Divisão de Prevenção – PE- DST/
AIDS – SES-SP, Márcia R. Giovanetti – Divisão de Prevenção - PE- DST/AIDS –
SES-SP, Ana Teresa Rodriguez Viso – Divisão de Assistência - PE- DST/AIDS – SES-SP
I) Por que Coletar o Quesito Cor ou Raça/Etnia na Saúde?
Projeto Gráfico e Diagramação: GB8 Design e Editoração Ltda. 10
Revisão: Janete Tir
II) A Trajetória do Centro de Referência e Treinamento na
Realização: Núcleo de Populações mais Vulneráveis da Gerência de Prevenção
Implantação do Quesito Cor ou Raça/Etnia nos Serviços
Contato: e-mail: vulneráveis@crt.saude.sp.gov.br, site:www.crt.saude.sp.gov.br de DST-AIDS no Estado de São Paulo
19

Dados internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) III) Como e Para que Coletar o Quesito Cor ou Raça/Etnia na Saúde?
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) 25
Brasil, Centro de Referência e Treinamento DST/aids
IV) Como Implementar o Quesito Cor ou Raça/Etnia no Sistema
Perguntar não ofende
Qual é a sua Cor ou Raça/Etnia? de Informação dos Serviços de Saúde?
Responder Ajuda a prevenir 34
Série: Prevenção às DST/aids
Anexos
ISBN 978-85-99792-10-0
51
1. Raça/Etnia 2. HIV/aids 3. Informação em saúde 4. Discriminação
Cor, Raça/Etnia na Saúde 7

Apresentação
Esta publicação relata a experiência inovadora de inclusão do quesito
cor no sistema de informação que o Programa Estadual de DST HIV/Aids
implantou no Estado de São Paulo.
A partir deste projeto – “Implementação da coleta do quesito cor/raça/
etnia” –, a SES-SP começou a discutir com os gestores do SUS-SP a ne-
cessidade de encetar medidas e práticas de inclusão social e de resgate da
cidadania para a população negra, bem como a apresentar aos profissionais
de saúde a discussão do impacto das desigualdades raciais na saúde.
Além de dar visibilidade ao tema vulnerabilidade da população negra
ao HIV/Aids, o projeto também desenvolveu uma metodologia para for-
mar os profissionais na coleta do quesito cor.
O desenvolvimento do projeto originou, em decorrência de várias de-
mandas específicas, uma rede de profissionais de saúde dos municípios e
DRS levando à criação do Grupo de Trabalho “Aids e População Negra” no
Comitê Técnico Saúde da População Negra do Estado de São Paulo.
O projeto também provocou o Ministério da Saúde a criar o Programa
Estratégico de Ações Afirmativas, reconhecendo a vulnerabilidade da po-
pulação negra e indígena às DSTs/HIV/Aids, e a implantar planos de ação
de combate ao racismo e à discriminação.
Essa experiência apresenta-se, portanto, como uma referência na dis-
seminação de boas práticas de superação do racismo, contribui para o apri-
moramento dos sistemas de informação, pauta o tema vulnerabilidade da
população negra às DSTs/HIV/Aids e amplia o acesso de grupos vulnerá-
veis aos serviços, aos insumos e à informação em HIV/Aids.
Mais que desejar uma boa leitura, espera-se que a publicação dessa
experiência exitosa possa subsidiar o trabalho dos profissionais de saúde e
gestores no âmbito do SUS.

Luis Eduardo Batista


Doutor em Sociologia,
Pesquisador do Instituto de Saúde e Coordenador
da Área Técnica Saúde da População Negra/GTAE - SES
Cor, Raça/Etnia na Saúde 9

Apresentação
A escassez de informações epidemiológicas abordando a cor ou raça
é um fato conhecido e que dificulta a criação de políticas públicas voltadas
para a promoção da equidade e diminuição do preconceito relacionado a
questões de raça e etnia. Neste sentido, o Programa Estadual DST/Aids de
São Paulo, por meio de sua Divisão de Prevenção, firmou, em 2004, parce-
ria com o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdade (CE-
ERT) para executar um projeto visando à implantação/implementação do
quesito cor raça/etnia nos formulários utilizados nos serviços de DST/Aids
no Estado de São Paulo. A continuidade deste trabalho fez-se, em 2006,
com a parceria das profissionais do Instituto AMMA Psique e Negritude,
sendo incorporado, posteriormente, à rotina da Divisão de Prevenção.
Cientes da importância fundamental da sensibilização/capacitação
dos profissionais da rede de serviços de saúde para a implantação deste
quesito, o Programa Estadual DST/Aids do ESP elaborou esta publicação
que coloca em pauta a discussão sobre a temática da cor, raça/etnia, pre-
conceito e discriminação.
Temos certeza de que as informações contidas neste livro irão embasar
essa discussão em várias esferas governamentais e não-governamentais. É
nosso papel, a partir da sensibilização e entendimento das complexas rela-
ções que envolvem a questão étnico-racial e saúde, propor e implementar
políticas públicas que promovam a equidade racial e étnica, levando os ser-
viços de saúde a realizar um atendimento mais adequado e que considere
as particularidades dos diversos segmentos da população, particularmente
das populações negras e indígenas.

Dra. Maria Clara Gianna Dr. Artur O. Kalichman


Coordenadora do PE - DST/Aids Coordenador Adjunto do PE - DST/Aids
Cor, Raça/Etnia na Saúde 11

I) Por que Coletar o Quesito Cor ou Raça/ Em 2000, os homens brancos tinham uma expectativa de vida de 68,24
anos e os homens negros de 63,27; as mulheres brancas 73,8 anos e as mu-
Etnia na Saúde? lheres negras 69,5.

Desde o final da década de 801, a coleta do quesito cor é questionada
por diferentes atores da área da saúde. Ainda hoje, são infindáveis os “por
quê?” e os “para quê?” a ponto de nos colocarmos também uma questão:
Qual é a razão de resistirmos tanto à coleta e à utilização do quesito cor?
Preconceito?
Racismo?
Por essa via, a princípio, parece que nos distanciamos da resposta, pois
muitos profissionais, assim como grande parcela da sociedade, negam cate-
goricamente ter preconceitos ou ser racistas. Ademais, os profissionais, em
geral, quando convidados a refletir sobre a questão étnico-racial, argumen-
tam que todos(as) usuários(as) que procuram os serviços são atendidos(as)
igualmente, seja qual for a sua cor/raça ou etnia.
Mas é exatamente este caminho que convidamos o(a) leitor(a) a per-
correr na busca de resposta a nossa questão. Inicialmente, pensemos na
hipótese de que não há racismo e nem preconceitos nos serviços de saúde
e, a seguir, analisemos o impacto do tratamento igualitário dado a todos(as)
Fonte: IBGE; Censos de 1980, 1991 e 2000
usuários(as) do Sistema Único de Saúde (SUS).
Nesse sentido, nosso primeiro exercício será buscar alguns dados dis-
Apesar da queda da mortalidade infantil nos últimos anos, em 2000 a
poníveis sobre a realidade dos grupos populacionais brasileiros.
taxa de mortalidade das crianças filhas de mulheres negras ainda era 66%
O censo demográfico de 2000 revelou que, de acordo com as categorias
maior do que a das crianças filhas de mulheres brancas.
do IBGE para o quesito cor ou raça/etnia2, 54% dos brasileiros se autodecla-
Quanto à saúde reprodutiva, em 1996, 51,9% das brancas e 68,6% das
ram brancos, 45% negros e 0,4% como indígenas e amarelos. A partir de da-
negras tiveram parto vaginal, e 47,5% das brancas e 29,9% das negras ti-
dos do Atlas Racial Brasileiro3 poderemos, a seguir, visualizar a situação dos
veram parto cesáreo. A prevalência de laqueadura (método contraceptivo
dois maiores grupos étnico-raciais da sociedade brasileira: brancos e negros,
irreversível) é maior entre negras, enquanto há mais usuárias de pílula entre
sendo estes últimos a soma dos indivíduos que se declararam pretos e pardos.
as mulheres brancas do que entre as negras.
Em 2000, a participação relativa da fecundidade na adolescência das
1
A Prefeitura de São Paulo, pela primeira vez, em 1990, implantou o Quesito Cor no Sistema de Infor- negras (17,1%) ultrapassava a das brancas (15,6%).
mação de Saúde, por meio da Portaria 696/90. Em 1996, foi introduzido no SIM e SINASC (sistemas
de informações sobre mortalidade e sobre nascidos vivos). E, em 2000, foi incluído no SINAN (sistema Para o mesmo período, o percentual de negros que nunca foram ao
nacional de agravos notificáveis). dentista era 24% e de brancos 14%. Outro dado refere-se à assistência mé-
2
Branca, Preta, Parda, Amarela, Indígena.
3
O Atlas Racial Brasileiro trabalha com dados dos censos de 1980, 1991 e 2000. PNUD/Cedeplar/UFMG, dica privada, o percentual de brancos que teve acesso a essa rede era 2,22
2004 vezes maior do que o de negros.
Cor, Raça/Etnia na Saúde 13

No que se refere à situação econômica, desde 1995 não houve indícios Em 2000, a taxa de analfabetismo, entre a população de 15 anos e mais,
de melhoria para brancos nem para negros que se encontram abaixo das para negros era 18,2% e para brancos 7,7%. A proporção de mulheres ne-
linhas de pobreza e indigência. Entretanto, a proporção de brancos abaixo gras economicamente ativas com ensino superior era 3,06% e de mulheres
da linha de pobreza, no total da população branca, era 25% e 10% abaixo brancas era 11,42%.
da linha de indigência. Nas mesmas proporções os negros eram 50% e 25%,
respectivamente.

Fonte: Atlas Racial Brasileiro – 2005

O quadro abaixo, retirado do estudo do professor Marcelo Paixão so-


Fonte: Atlas Racial Brasileiro – 2005 bre Indicadores de Desenvolvimento Humano4, complementa os dados an-
teriormente apresentados.
No gráfico abaixo podemos observar que os negros são maioria entre
os pobres e os indigentes. Alguns Indicadores sociais do Brasil, segundo
BRANCOS NEGROS
raça/cor, 2003

Composição na população total 54% 45,3%

Proporção de pobres 22% 45%

Proporção de indigentes 7,8% 19,5%

Rendimento médio do trabalho R$ 697 R$ 341

Taxa de desemprego 8,2% 10,3%

Analfabetismo de maiores de 15 anos 7,5% 17,2%

Fonte: Atlas Racial Brasileiro – 2005 4


BIS – Boletim do Instituto de Saúde, n° 31. São Paulo. Dezembro, 2003.
Cor, Raça/Etnia na Saúde 15

Alguns Indicadores sociais do Brasil, segundo


Assim, torna-se inviável a comprovação de nossa hipótese inicial de
BRANCOS NEGROS que não há racismo nem preconceitos nos serviços de saúde. E, se consi-
raça/cor, 2003
derarmos a saúde como um conjunto de condições integrais e coletivas de
Escolaridade média 7 anos 4,9 anos
existência influenciadas pelas condições culturais, políticas e socioeconô-
Crianças em atraso escolar 9,6% 22,3% micas (Valongueiro e Campineiro, 2002), nos depararemos com um quadro
Lares com serviço de esgoto adequado 76,5% 55,5%
grave, pois essas desigualdades afetarão a saúde física, mental e psicológica
de pessoas e grupos sociais.
Lares com água encanada 87,7% 62,7%

Esperança de vida (válido para ano 2000) 71,1 69,1 Racismo é um conjunto de crenças e valores alimentado pela tradição e pela
cultura que atribui características negativas a determinados padrões de diversidade e
Índice de Desenvolvimento Humano IDH (válido significados sociais negativos aos grupos que os detêm. Os significados sociais negativos
0,820 0,712
para 2001) atribuídos a estas características são utilizados para justificar o tratamento desigual.5
Posição do IDH entre os 175 países 46ª 107ª
Passemos ao nosso segundo exercício, analisar o impacto do tratamen-
Equivalente ao IDH do: Kuwait El Salvador e China Kuwait El Salvador e China
to igualitário dedicado a todos(as) usuários(as) do Sistema Único de Saúde
Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD – Brasil, 2002. (SUS). Afinal, um tratamento igualitário, sem distinção de cor ou raça/et-
www observatorioafrobrasileiro.org
nia, idade, sexo, orientação sexual, escolaridade, condição social etc., seria
a melhor conduta?
Um estudo realizado em 2000, no CRT (PE DST-HIV/AIDS), no CAI-
Se refletirmos à luz dos princípios do SUS – universalidade do acesso,
DS (HC/FMUSP) e no CRAIDS (PM DST-HIV/AIDS, Santos), revelou que
integralidade dos cuidados, equidade –, constataremos que os serviços deve-
as mulheres negras apresentavam as piores condições de escolaridade, mo-
riam ser oferecidos de forma justa, de acordo com a demanda e levando-se
radia, rendimento individual e rendimento familiar. Com maior frequência,
em conta o indivíduo, a coletividade e o meio. Ou seja, a complexidade do
elas apareciam como as principais responsáveis pelo orçamento familiar e
problema de cada usuário(a) deveria sempre determinar o tipo de atendi-
cuidavam de uma quantidade maior de pessoas. A maioria teve seu diagnós-
mento6, e “garantir igualdade na concessão de benefícios e serviços a cada
tico realizado em virtude do próprio adoecimento, adoecimento ou morte do
um segundo suas necessidades, considerando que essas podem ser, e geral-
parceiro ou do filho. O direito ao aconselhamento no pré e no pós-teste era
mente são, diferentes. Trata-se, pois, de ‘tratar diferentemente os desiguais’,
violado com mais frequência para mulheres negras quando comparado às
sem que isso reverta em privilégios ou discriminação”7.
não negras e, após terem chegado ao serviço especializado de saúde, tiveram
Esta reflexão nos coloca diante de um cenário delicado que, por um
menos chances de receber informações corretas e adequadas sobre os exames
lado, aponta a existência do racismo e da discriminação e, por outro, expli-
de CD4 e carga viral, sobre redução de danos no uso de drogas injetáveis e
cita a ineficácia do atendimento igualitário quando este não corresponde às
sobre uso de antirretrovirais para o recém-nascido.
reais necessidades dos(as) usuários(as).
Uma sociedade não discriminatória e não excludente, isenta de racis-
mo e preconceitos, seguramente não geraria desigualdades entre indivídu- 5
Goulart. F.A. e Tannús, L. Subsídios para o enfrentamento do racismo na saúde. DFID – Ministério do
os e grupos. Os dados que acabamos de ver apontam diferenças significa- Governo Britânico para o Desenvolvimento Internacional. Brasília, 2007.
tivas entre brancos(as) e negros(as) no que se refere a condições de vida e Política Nacional de Saúde Integral da População Negra.
6

7
Goulart. F.A. e Tannús, L. Subsídios para o enfrentamento do racismo na saúde. DFID – Ministério do
acesso a serviços. Governo Britânico para o Desenvolvimento Internacional. Brasília, 2007.
Cor, Raça/Etnia na Saúde 17

“... existem pessoas, famílias e grupos que (...) exigem uma atenção Assim como a informação sobre sexo e idade, é importante na hora
especial para que possam ser promovidos e colocados no mesmo patamar de do diagnóstico, a identificação por cor ou raça/etnia é fundamental para
igualdade de oportunidades”. a compreensão do processo de adoecimento e das causas de morte a que
estão submetidos os grupos populacionais, pois eles são acometidos dife-
Racismo Institucional é o fracasso coletivo de uma organização em prover um rentemente pelas doenças.
serviço apropriado e profissional às pessoas em razão de sua cor, cultura, ou origem ét- Segundo dados do PNUD, podemos agrupar em categorias algumas
nica. Ele se manifesta em normas, práticas e comportamentos discriminatórios adotados doenças prevalentes na população negra:
no cotidiano de trabalho, os quais são resultantes da ignorância, da falta de atenção, do
preconceito ou de estereótipos racistas. Em qualquer caso, o racismo institucional sempre
― geneticamente determinadas (anemia falciforme);
coloca pessoas de grupos raciais ou étnicos discriminados em situação de desvantagem no
― adquiridas em condições desfavoráveis (desnutrição, doenças do traba-
acesso a benefícios gerados pelo Estado e por demais instituições e organizações.8
lho, DST/HIV/aids, abortos sépticos, tuberculose);
― de evolução agravada ou tratamento dificultado (hipertensão arterial,
E, por fim, por que coletar o quesito cor ou raça/etnia?
diabetes mellitus, coronariopatia, insuficiência renal crônica, câncer,
Porque essa variável torna os sistemas nacionais e locais de informa-
miomatoses).
ção da saúde aptos a consolidar indicadores que traduzem os efeitos dos
fenômenos sociais e das desigualdades sobre os diferentes segmentos po-
Conhecendo a situação de saúde da população, pode-se estabelecer
pulacionais.
Por que mais? metas e estratégicas para melhoria dos problemas de saúde.
Porque: Como, então, superar a resistência em relação à coleta e à utilização do
quesito cor ou raça/etnia? Isso depende do reconhecimento da existência
O Plano Nacional de Saúde estabelece como diretriz a “inclusão do
n do racismo, da compreensão de como ele se manifesta e do compromisso
quesito raça/cor entre as informações essenciais dos atendimentos reali- em abordá-lo.
zados no SUS e na rede suplementar de serviços, e determina a utilização O reconhecimento do racismo é uma das etapas mais difíceis, pois a
da raça/cor como categoria analítica dos perfis de morbimortalidade, de sociedade em geral nega a sua existência e tem uma visão equivocada acer-
carga de doença e de condições ambientais”. ca das diferenças existentes entre os grupos étnico-raciais. O racismo inci-
n A 12ª Conferência Nacional de Saúde traz uma diretriz relacionada à de de múltiplas formas, em geral, de maneira implícita, por isso é preciso
Informação e Informática: “Divulgar informações e implantar banco de compreender e identificar os seus mecanismos de funcionamento. Ele se
dados epidemiológicos e estatísticos socioeconômicos por etnia, tais como materializa por intermédio da discriminação, que é um fenômeno social
moradia, condições de vida e saúde, com identificação do número de pes- intrínseco às relações, com símbolos e códigos utilizados para a perpetua-
soas atingidas pelas patologias, utilizando o índice de desenvolvimento ção das desigualdades. Trata-se, então, de transformar os nossos próprios
humano (IDH) desagregado por sexo e cor e os índices de exclusão social valores, crenças e concepções acerca dos diferentes grupos étnico-raciais.
como parâmetros para monitorar as doenças prevalentes entre as popula-
ções negras e indígenas”.

8
Conceito utilizado pelo Programa de Combate ao Racismo Institucional – PCRI / Ministério Britânico
para o Desenvolvimento Internacional – DFID.
Cor, Raça/Etnia na Saúde 19

II) A Trajetória do Centro de Referência e


Treinamento na Implantação do Quesito Cor
ou Raça/Etnia nos Serviços de DST-Aids no
Estado de São Paulo.
Desde 1988, o Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids de
São Paulo (CRT DST/Aids-SP), sede da Coordenação do Programa Esta-
dual de DST/Aids-SP (CE DST/Aids-SP), registra a informação cor/raça de
seus usuários. Entretanto, é preciso dizer também que, durante um longo
período: (i) o percentual de informação ignorada era elevado; (ii) o méto-
do utilizado na coleta era o de heteroclassificação, ou seja, o funcionário
definia a cor/raça do usuário a partir de sua percepção; (iii) não havia um
acúmulo de conhecimento sobre a importância da questão étnico-racial e a
sua relação com a vulnerabilidade das DST/Aids.
Em 2001, a equipe da Divisão de Vigilância Epidemiológica do CRT-
DST-AIDS dedicou uma edição do Boletim Epidemiológico1 ao tema COR/
RAÇA E AIDS. Foi um exercício que aqueceu a discussão sobre a importân-
cia da variável cor ou raça/etnia, especialmente por ocasião da inserção desta
no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Fato que pos-
sibilitou, ainda, valorizar esta informação para a formulação de indicadores e
adoção de políticas públicas de promoção da equidade em saúde.
Em 2002, a mesma equipe do CRT DST/Aids-SP organizou uma discus-
são interna sobre a mortalidade da população negra no Estado de São Paulo,
com o objetivo de divulgar na instituição os dados referentes à mortalidade
de negros(as) por Aids. O debate contou com a presença do sociólogo Luís
Eduardo Batista, na ocasião, pesquisador do Instituto de Saúde e, atualmente,
coordenador da Área Técnica de Saúde da População Negra do Grupo Técni-
co de Ações Estratégicas (GTAE) da Secretaria de Estado da Saúde, que apre-
sentou resultados de pesquisa realizada durante seu doutorado sobre Mulhe-
res e Homens Negros: Saúde, Doença e Morte 2. Segundo dados apresentados,

1
BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO. C.R.T. - DST/AIDS – SP. C.V.E. · Ano XIX · Número 2 · Outubro 2001
2
BATISTA, L. E. Mulheres e homens negros: saúde, doença e morte. Araraquara, 2002. Tese (Doutora-
do) Faculdade de Ciências e Letras. Universidade Estadual Paulista.
Cor, Raça/Etnia na Saúde 21

a taxa de mortalidade por HIV/Aids no Estado de São Paulo, em 1999, foi de EM 2003, o Boletim Epidemiológico4 do Programa Estadual DST/
17,4 por 100.000 para os homens e 6,6 por 100.000 para mulheres. Ao avaliar Aids-SP traz novamente o tema, desta vez, discutindo “Raça/Cor e Morta-
a mortalidade por HIV/Aids, segundo cor ou raça/etnia, constatou-se que a lidade” a partir de dados qualitativos e quantitativos de estudos realizados
taxa de mortalidade dos homens brancos foi de 14,44/100 mil e dos negros pelos doutores Fernanda Lopes e Luis Eduardo Batista. Nesta publicação,
25,92/100 mil. Entre as mulheres, foram encontradas taxas de 4,92 para as discorreu-se sobre a ausência das questões de cunho étnico-racial nas ações
brancas e 11,39/100 mil para as mulheres negras. institucionais e seu impacto na vulnerabilidade da população negra, levan-
Diante destas constatações, e aproveitando que um recadastramento do-a muitas vezes ao adoecimento e, inclusive, à morte.
dos usuários do CRT DST/Aids-SP seria realizado para atualização de en- Neste mesmo ano, o GRUPO DE TRABALHO ETNIAS E VULNERA-
dereço, decidiu-se investir na coleta, de maneira a ampliar o preenchimen- BILIDADE organizou o I Seminário Sexualidade e Espiritualidade, em par-
to do campo com a informação cor ou raça/etnia, e adotar o método da ceria com várias entidades religiosas, objetivando o mapeamento de ações
autoclassificação, ou seja, o próprio entrevistado define sua cor ou raça/et- de prevenção realizadas por lideranças nos espaços dedicados às práticas
nia, método utilizado pelo IBGE. Este trabalho foi conduzido pela dra. An- religiosas. A partir deste evento, houve a criação do GRUPO DE TRABA-
dréa Rafael Alves, da Gerência da Assistência do CRT DST/Aids-SP, com LHO RELIGIÕES, composto por representantes das religiões cristãs, gru-
a consultoria da pesquisadora Fernanda Lopes, do Núcleo de Prevenção a pos de matrizes-africanas, pentecostais, espíritas, entre outras, e represen-
Aids (NEPAIDS) do Instituto de Psicologia da USP, que, naquele momento, tação dos ciganos dispostos a debater o tema ‘Aids e religião’ e organizar
finalizava sua pesquisa de doutorado sobre Mulheres Negras e Não Negras capacitações junto a entidades religiosas e serviços de DST/Aids.
vivendo com HIV/AIDS no Estado de São Paulo3, o que contribuiu de ma- Ainda em 2003, alguns dos integrantes do GRUPO DE TRABALHO
neira ímpar neste trabalho. ETNIAS E VULNERABILIDADE foram convidados a assumir funções re-
Nas análises preliminares dos resultados desse recadastramento, um lacionadas à política de saúde da população negra em diferentes instituições.
dado interessante foi o surgimento de um contingente de 22 pessoas auto- Assim, em 2004, este trabalho foi reestruturado pela Divisão de Pre-
declaradas indígenas, sendo que 20 destas haviam sido anteriormente ca- venção do CRT-DST/Aids, no GRUPO DE TRABALHO ETNIAS, com-
dastradas como “brancas” e apenas 1 como indígena, perfazendo 0,86% do posto por representantes de diversas áreas técnicas do CRT DST/Aids-SP
total de 2.547 pacientes já recadastrados. (prevenção, vigilância epidemiológica, planejamento, assistência, apoio
Ainda em 2002, diante da necessidade de se conhecer e compreender técnico e administração), com a atribuição de coordenar a execução do
melhor a vulnerabilidade das DST/Aids associada à questão étnico-racial Projeto Piloto Implantação do Quesito Cor ou Raça/Etnia nos Serviços de
foi constituído pela Divisão de Prevenção do CRT-DST/Aids, o GRUPO DST/Aids do Estado de São Paulo, uma iniciativa por intermédio de uma
DE TRABALHO ETNIAS E VULNERABILIDADE, com a finalidade de parceria firmada com a Organização Não-Governamental Centro de Estu-
integrar e ampliar os vários trabalhos que já vinham sendo desenvolvidos dos das Relações de Trabalho e Desigualdade (CEERT), com o Programa
no âmbito da Coordenação do Programa Estadual de DST/Aids junto às das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Programa Con-
comunidades negra e indígena. junto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS).
Dentre as responsabilidades do GT ETNIAS as prioridades eram: for-
mação de multiplicadores para implantação, monitoramento e avaliação
da coleta do quesito cor e o aprimoramento do sistema de informação em
3 LOPES, F. Mulheres negras e não negras vivendo com HIV/Aids no Estado de São Paulo. São Paulo,
3
LOPES,
2003. F. (Doutorado)
Tese Mulheres negras e não negras
– Faculdade vivendo
de Saúde com USP
Pública. HIV/Aids
. no Estado de São Paulo. São Paulo,
2003. Tese (Doutorado) – Faculdade de Saúde Pública. USP . 4 BOLETIM
4
BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO.
EPIDEMIOLÓGICO. C.R.T.
C.R.T. -- DST/AIDS
DST/AIDS –– SP.
SP. C.V.E.
C.V.E. ·· Ano
Ano XXII
XXII ·· Número
Número 11 ·· Outubro
Outubro 2003
2003
Cor, Raça/Etnia na Saúde 23

saúde dos serviços, visando à melhoria da qualidade dos dados e a possibi- Vale destacar que no fim de 2005 foi constituído o GRUPO DE TRA-
lidade de análise dos mesmos. BALHO POPULAÇÃO NEGRA E DST/HIV/Aids, vinculado ao Comitê
Em diálogo com as então Direções Regionais de Saúde (DIR), definiu- Técnico de Saúde da População Negra do Estado de São Paulo. Habilitado
se uma amostragem dos Serviços de Assistência às DST/Aids para partici- para “definir estratégias de intervenção e prioridades de ações referentes à
par do projeto. Além do CRT DST/Aids-SP, foram selecionados 24 serviços prevenção às DST/HIV/aids junto à população negra” 8, buscando assegurar
municipais de atendimento às DST/Aids (COAS/CTA, SAE, CR, AE)5, dis- o reconhecimento da vulnerabilidade a que está exposto esse segmento da
tribuídos em 20 municípios6 do Estado de São Paulo. sociedade brasileira.
Na Fase I do projeto foram realizadas várias oficinas para a sensibili- Em 2006, o CRT-DST/Aids-SP estabeleceu parceria com o Institu-
zação e capacitação dos profissionais envolvidos, por meio de um processo to AMMA Psique e Negritude para o acompanhamento dos profissionais
que culminou com a elaboração de um Plano de Ação apontando as neces- envolvidos na implantação da coleta do quesito cor, por se tratar de um
sidades mais imediatas: inclusão do quesito cor em todos os bancos de dados; processo dinâmico, com demandas permanentes de formação, reflexão,
implantação da coleta nos demais serviços; divulgação e explicação da coleta discussão e sensibilização para a incorporação de novos paradigmas de re-
do quesito cor junto aos usuários; levantamento das populações quilombola e lações inter-raciais.
indígena, por região. Nesta fase foi necessário envolver também secretários municipais de
Para a divulgação do projeto e seus objetivos junto à população foram saúde, por meio de um Termo de Adesão explicitando o compromisso de
produzidos folhetos e cartazes. Distribuído para os serviços de DST/Aids participação efetiva dos profissionais indicados; coordenadores dos Pro-
por meio das Direções Regionais de Saúde. Este material auxiliou os cole- gramas Municipais de DST/Aids; interlocutores de DST/Aids e respon-
tores no momento de abordar os usuários. sáveis pelo sistema de informação no âmbito local e regional (vigilância
Finalizada a Fase I, a Coordenação do Programa Estadual de DST/ epidemiológica).
Aids-SP (CE) designou ao Núcleo de Populações mais Vulneráveis da Gerên- A incorporação de novos atores da área da saúde, ampliando as repre-
cia de Prevenção a tarefa de consolidar a experiência. sentações no projeto, a aprovação da Política Nacional de Saúde Integral da
Na Fase II da Implantação do Quesito Cor ou Raça/Etnia nos Serviços de População Negra (PNSIPN), pelo Conselho Nacional de Saúde, revigora-
DST-Aids no Estado de São Paulo, período que compreendeu 2005 a 2007, o ram o debate sobre a importância da coleta do quesito cor.
Núcleo de Populações mais Vulneráveis incorporou 13 novos municípios 7. Em 2007, foi realizada uma avaliação conjunta da execução dos Planos
Em 2005, o Núcleo investiu fortemente para que os serviços pudessem de Ações elaborados em 2006, para identificar os avanços obtidos e as difi-
adquirir as condições necessárias para análises sistemáticas com o recorte culdades ainda existentes e, assim, poder reprogramar as ações para 2008.
étnico-racial e para proposições de superação das iniquidades em relação à Em 2008, o GT Etnia dedicou-se à sistematização da experiência de-
atenção da população negra. senvolvida, visando subsidiar serviços e municípios na continuidade da
implantação do quesito cor ou raça/etnia, particularmente, na análise dos
dados coletados, de forma a ampliar o conhecimento sobre as especificida-
5
Centro de Orientação e Apoio Sorológico/Centro de Testagem e Aconselhamento, Serviço de Assis- des relacionadas à saúde dos grupos étnico-raciais.
tência Especializada, Centro de Referência, Ambulatórios de Especialidades.
6
Americana, Barretos, Bauru, Caraguatatuba, Guarulhos, Jaú, Jundiaí, Marília, Ourinhos, Pariquera-
Açu, Peruíbe, Piracicaba, Praia Grande, Ribeirão Preto, São Bernardo do Campo, São José do Rio
Preto, São Paulo, São Vicente, Sorocaba, Vargem Grande Paulista.
7
Araçatuba, Araraquara, Brotas, Campinas, Caraguatatuba, Catanduva, Francisco Morato, Laranjal 8
Resoluções da Secretaria do Estado da Saúde SS-155 de 1 de dezembro de 2005 e SS-4 de 13 de
Paulista, Presidente Prudente, Registro, Santo André, Santos, Votuporanga. janeiro de 2006.
Cor, Raça/Etnia na Saúde 25

III) Como e Para que Coletar o Quesito Cor


ou Raça/Etnia na Saúde?
O sistema de informações de usuários(as) dos serviços de saúde de-
pende muito da equipe de recepcionistas, e também de outros profissionais
do SAME – Serviço de Arquivo Médico e Estatísticas, que trabalham com
fichas, cadastros e formulários hospitalares e ambulatoriais.
Algumas pessoas desconhecem, e muitas não reconhecem, o valor da
função de recepcionista. Poderíamos até dizer que é na Recepção que tudo
começa! A satisfação do(a) usuário(a) quanto aos serviços pode ser medi-
da, de certa forma, pela qualidade da relação estabelecida entre usuário(a)
e recepcionista.
Recepcionar significa mais do que receber ou atender, significa tam-
bém acolher, orientar e encaminhar.
Para que o serviço de recepção cumpra adequadamente o seu papel é
necessário que todos os profissionais de saúde compreendam a importância
deste setor, valorizando, respeitando e apoiando as funções da Recepção.
A equipe da recepção deve ser continuamente bem informada sobre
as rotinas da instituição. E é fundamental que todos(as) saibam para que
servem os dados que coletam. Somente assim poderão obter informações
corretas junto a usuários(as) e bem orientá-los(as).
As bases do sistema de informação da Saúde são compostas por muitos
dados, entre eles estão os que são coletados na recepção. A partir dessas
bases são construídos indicadores, ou seja, dados estatísticos que permitem
o planejamento, o gerenciamento e a avaliação do trabalho da instituição.
Esses dados permitem ainda identificar situações e práticas a serem modi-
ficadas para melhorar as condições de saúde da população.
Passaremos a algumas orientações que poderão ajudar o registro da
informação de “cor ou raça/etnia”, pois percebemos que ainda há dificul-
dades para a coleta em todos os setores, desde a direção até a recepção,
envolvendo os diversos profissionais e, inclusive, os(as) usuários(as).
Cor, Raça/Etnia na Saúde 27

A Informação Cor ou Raça/Etnia Atualmente, o método oficial, o qual recomendamos, é o mesmo em-
Existem bases de dados geradas por intermédio de sistemas de infor- pregado pelo IBGE.
mações e de levantamentos.
Vejamos alguns exemplos de sistemas de informações na área da Saúde: Qual é o Método de Identificação utilizado pelo IBGE?
É o método da AUTOCLASSIFICAÇÃO ou AUTODECLARAÇÃO,
SIM — Sistema de Informações de Mortalidade isto é, o(a) usuário(a) é quem indica a sua “cor ou raça/etnia” entre as cinco
n Declarações de Óbitos
categorias possíveis.
SINASC — Sistema de Nascidos Vivos Haverá situações em que será necessário utilizar a heteroclassificação,
n Declarações de Nascidos Vivos isto é, outra pessoa, preferencialmente um membro da família, define a cor
ou raça/etnia do(a) usuário(a), mas esta conduta deverá ser utilizada somen-
SIH — Sistema de Informações Hospitalares te em situações específicas, tais como: declaração de nascidos vivos, declara-
n Autorização de Internação Hospitalar (AIH) ção de óbito, registro de pacientes em coma ou quadros semelhantes.
SIA — Sistema de Informações Ambulatoriais
Quais são as Categorias utilizadas pelo IBGE?
SINAN — Sistema Nacional de Agravos Notificáveis Desde o censo de 2000, o IBGE utiliza nas pesquisas sobre cor ou raça/
etnia da população brasileira cinco categorias:
SI–CTA — Sistema de Informação dos Centros
de Testagem e Aconselhamento
1. Cor BRANCA
Formulário de Cadastro do Cartão SUS 2. Cor PRETA
3. Cor PARDA
Os levantamentos, tais como os censos e as pesquisas domiciliares reali- 4. Cor AMARELA
zados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), fornecem 5. Raça/Etnia INDÍGENA
as informações necessárias para estudar as características da população
brasileira e conhecer as suas condições de vida: moradia, saúde, educação, Mas as pessoas são mesmo dessas cores?
trabalho etc. Se pensarmos bem, não!
A “cor ou raça/etnia” faz parte das características das pessoas assim Assim como a população branca não tem exatamente a cor branca e
como sexo e idade. Desde os anos 90, praticamente todos os levantamentos nem a população oriental a cor amarela, também a população negra não
oficiais coletam este dado, de acordo com o sistema classificatório do IBGE, tem exatamente a cor preta nem a parda. São categorias criadas apenas para
no entanto, ainda há controvérsias e equívocos nessa coleta. classificar os grupos populacionais de diferentes origens étnico-raciais, ou
Uma importante providência a ser tomada para melhorar a qualida- seja, os brasileiros e brasileiras descendentes de europeus, de orientais, de
de da informação “cor ou raça/etnia” é a padronização da classificação e africanos, de indígenas ou da miscigenação (mistura) de dois destes grupos.
do método de identificação, ou seja, todos os formulários devem conter as É importante ressaltar que nenhuma dessas cores é utilizada, nas infor-
mesmas categorias de “cor ou raça/etnia”, e a mesma maneira de abordar mações em saúde, com sentido pejorativo ou com intenção de discriminar
o(a) usuário(a). qualquer um dos grupos étnico-raciais.
Cor, Raça/Etnia na Saúde 29

Por que devemos utilizar as categorias empregadas pelo IBGE? — DOENÇAS INFECCIOSAS PRÓPRIAS DA INFÂNCIA, como cata-
Porque possibilita o cruzamento dos dados obtidos em todo o país. pora e sarampo: têm aumentado muito nas populações indígenas (et-
Assim, podemos fazer comparações abrangentes e ter estatísticas em nível nias diversas).
nacional.
Além disso, antes de definir estas categorias, o IBGE pesquisou as co- Além disso, a informação “cor ou raça/etnia” possibilita ao Sistema
res mais declaradas pela população e concluiu que deveria usar estas, pois a Único de Saúde (SUS) cumprir um de seus princípios fundamentais que é a
maioria delas já era utilizada, desde a segunda metade do século XIX. EQUIDADE, ou seja, o compromisso de oferecer a todos cidadãos e cida-
Século dezenove (1801 – 1900)? dãs um tratamento igualitário e, ao mesmo tempo, atender às necessidades
É isso mesmo! que cada situação apresenta. É um dado que pode orientar o tratamento das
Um estudo realizado pelo IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica populações específicas.
Aplicada – relata que a classificação de “cor ou raça/etnia” não é inven-
ção de agora, e o 1º Censo oficial brasileiro, realizado em 1872, utilizou Quais são as possíveis reações desfavoráveis dos usuários
as seguintes categorias: preto, pardo, branco e caboclo. A categoria cabo- quando perguntamos a sua “cor ou raça/etnia”?
clo, naquela época, foi usada para classificar o grupo dos indígenas. Pardo Irritação, agressividade, curiosidade, desconfiança, dúvida, constran-
designava os mestiços; e, mais tarde, com a imigração asiática, criou-se a gimento.
categoria amarela para designar os orientais/asiáticos. Por isso, é fundamental estar preparado(a) para explicar por que e para
que precisamos desta informação.
Por que a Autoclassificação?
O velho ditado popular “as aparências enganam” pode ser uma verda- Quais são as dificuldades para coletar a cor ou raça/etnia?
de nesta situação. Afinal, ninguém melhor do que a própria pessoa para sa- Desde que os serviços de DST/Aids têm implantado o quesito cor ou
ber qual é a sua origem étnico-racial e assim poder definir qual é a sua “cor raça/etnia, no Estado de São Paulo, temos acompanhado o trabalho dos
ou raça/etnia”. De outra forma, corremos o risco de errar, pois não pode- diferentes serviços procurando superar os obstáculos mais frequentes.
mos afirmar, com certeza, qual é a origem de alguém apenas pela aparência. Percebemos que algumas das dificuldades estão relacionadas a uma
Os(as) usuários(as) devem ser orientados(as), porém respeitados dian- questão histórica, que se refere ao período em que houve no país a escra-
te de sua declaração. vização dos povos africanos negros. Este período marcou profundamente
a nossa sociedade, gerando consequências negativas até hoje, tais como o
Para que perguntar a “cor ou raça/etnia” dos(as) usuários(as)? preconceito e a discriminação. Portanto, são dificuldades relacionadas a
Para melhorar a qualidade dos serviços de saúde, para elaborar políti- questões pessoais, sociais e culturais.
cas públicas e identificar as doenças e agravos predominantes nos diferen- Apesar de sabermos que no mundo não existe nenhum ser humano infe-
tes grupos que compõem a nossa sociedade. rior ou superior em relação a outro, pois todos possuem direitos iguais, quando
Exemplos: falamos de cor ou raça/etnia, ainda há pessoas que se sentem constrangidas ou
— HIPERTENSÃO, ANEMIA FALCIFORME, DIABETES MELLITUS: ofendidas. Muitos profissionais relatam que sentem medo de ofender ou vergo-
são mais frequentes na população negra (cores preta e parda); nha de causar embaraço aos usuários(as) de cor preta, pois no passado, muitas
— DOENÇAS DE PELE, TALASSEMIA: atingem mais a população bran- vezes, este termo foi utilizado de maneira pejorativa. Por isso, há usuários(as)
ca (cor branca); de cor preta que têm receio de ser discriminados ou prejudicados.
Cor, Raça/Etnia na Saúde 31

É muito frequente também usuários(as) que reagem agressivamente, Discriminação racial é toda e qualquer atitude que desrespeite e viole
argumentando que não são pretos(as) e sim negros(as). Nestes casos é im- os direitos de alguém ou de um grupo por causa de sua cor ou raça/etnia.
portante concordar com ele ou com ela, explicar que sabemos que não são Perguntar a cor ou raça/etnia dos(as) usuários(as) de saúde é uma
pretos(as), mas sim cidadãos e cidadãs pertencentes à população negra, a forma de conhecer melhor o perfil dos(as) pacientes para melhor atendê-
um grupo étnico-racial de origem africana ou afro-brasileira. Mas que, de los(as) e para prevenir doenças.
acordo com a metodologia do IBGE, as opções de cor para os indivíduos
pertencentes à população negra são preta ou parda. Algumas DICAS para enfrentar as dificuldades:

Outras dificuldades: 1) Distribuir folhetos explicativos aos usuários(as), enquanto


n Emgeral, os usuários brancos e negros costumam ser irônicos ou permanecem na sala ou fila de espera;
agressivos. Ao serem indagados, respondem: “você não está vendo qual 2) Naturalizar a pergunta “qual é a sua cor ou raça/etnia?”, ou seja,
é a minha cor?”. Neste caso, é preciso explicar que somente a própria integrá-la ao conjunto de informações (nome, idade, sexo etc....) de
pessoa pode saber exatamente qual é a sua cor, levando em conta a sua forma natural;
origem e os seus ascendentes (pais, avós). 3) Dialogar com cada usuário(a) e orientar como se autoclassificar,
n As pessoas de cor parda, muitas vezes, ficam em dúvida, não sabem quando não souber;
se autoclassificar e devolvem a pergunta ao profissional: “o que você 4) Assegurar ao usuário(a) que esta informação não tem por objetivo
acha?”. Outras vezes respondem o que está no registro de nascimento. discriminar, mas sim prevenir doenças;
Nestas situações, a dúvida sobre qual das categorias escolher, devido 5) Solicitar apoio e orientações à chefia e à supervisão sempre que for
ao não reconhecimento da própria origem, poderá ser solucionada necessário.
com o diálogo, onde o profissional explicará ao usuário as diferentes
possibilidades de miscigenação (CONSULTAR CARTÃO DE CORES). E quando a gente não tiver tempo para dialogar com os(as)
usuários(as) e com a chefia?
Afinal, perguntar a “cor ou raça/etnia” é Racismo? Nós sabemos que cada serviço tem uma forma de funcionamento. No
Não! atendimento, há dias mais tranquilos e dias mais estressantes. Mas, seja
Não é racismo, nem preconceito e nem discriminação. qual for a realidade de cada setor, a busca por condições de trabalho huma-
E para podermos afirmar que não é nada disso, precisamos conhecer a nizado e de boa qualidade deve ser constante.
definição de cada um desses conceitos. A ação do setor da recepção, que envolve acolhimento, orientação e
Racismo é um conjunto de idéias, crenças, opiniões e valores que pre- encaminhamento, requer diálogo permanente entre trabalhadores, gestores
ga a superioridade de um grupo étnico-racial sobre outro. O racismo se e usuários(as).
manifesta por meio do preconceito e da discriminação raciais. Por isso, quando não houver tempo para o diálogo, será preciso rever
Preconceito racial ou de cor é uma opinião negativa sobre alguém ou a nossa conduta e restabelecer a possibilidade do diálogo, pois cada tra-
um grupo, gerando uma indisposição em relação a esse alguém ou grupo, balhador é também um agente de transformação social, podendo tornar
sem mesmo conhecê-lo, baseando-se somente em suas características físi- melhor e mais digno o atendimento dos serviços de saúde.
cas ou culturais (cor da pele, textura do cabelo, formato do nariz, religião,
idioma, alimentação etc.).
Cor, Raça/Etnia na Saúde 33

cartão de cores

QUAL É A SUA “COR OU RAÇA/ETNIA”?


A RESPOSTA DEVE SER DADA PELO(A) PRÓPRIO(A) USUÁRIO(A)
DO SERVIÇO DE SAÚDE, DE ACORDO COM AS OPÇÕES ABAIXO,
QUE SÃO AS MESMAS UTILIZADAS PELO IBGE.

COR BRANCA (DESCENDENTES DE EUROPEUS/OCIDENTAIS)



COR PRETA (DESCENDENTES DE AFRICANOS/AFRO-BRASILEIROS)

COR PARDA (DESCENDENTES DE INDIVÍDUOS DE COR/ETNIAS


DIFERENTES-MISCIGENAÇÃO/MESTIÇAGEM)
Mestiços de pais de cores ou etnias diferentes: preta e branca; preta
e índio; branca e índio, e assim por diante...

COR AMARELA (DESCENDENTES DE ASIÁTICOS/ORIENTAIS)

RAÇA/ETNIA INDÍGENA (DESCENDENTES DE ÍNDIOS)

Repassando as Informações
PARA QUE COLETAR A INFORMAÇÃO COR ou RAÇA/ETNIA?
Para melhorar a qualidade dos serviços de saúde, para elaborar políticas
públicas e para evitar determinadas doenças e agravos.

COMO COLETAR?
É simples!
A ficha deve conter as categorias do IBGE e ser preenchida de acordo
com a resposta do(a) usuário(a).
E quando ele/ela não souber se autoclassificar?
O profissional deverá explicar cada opção, podendo utilizar-se do cartão
de cores.
Cor, Raça/Etnia na Saúde 35

IV. Como Implementar o Quesito Cor ou b) Sensibilização da equipe técnica da Secretaria Municipal de Saúde e
dos serviços envolvidos na implantação e coleta do quesito raça/cor,
Raça/Etnia no Sistema de Informação dos em especial das Unidades Básicas de Saúde, Programa Saúde da Famí-
Serviços de Saúde lia e Serviços de Especialidades.
  c)     Implantação do método de autoclassificação no CTA e nos SAEs.
 As diversas experiências de implementação do quesito cor ou raça/ d)    Participação em reuniões do Grupo de Trabalho População Negra e Aids,
etnia realizadas até o momento têm contribuído para o aprimoramento das vinculado ao Comitê Técnico Estadual de Saúde da População Negra.
formas de abordar e de executar essa importante tarefa. Ao longo deste ca-
pítulo faremos referências a algumas destas experiências. Ações realizadas em Santos:
Inicialmente, vale destacar o inédito projeto “Gestão local, empregabi- a) Criação do Decreto 471 de 20/12/2006, que implanta a coleta do que-
lidade e equidade de gênero e raça”. Ele foi realizado na Prefeitura do Mu- sito raça/cor nos documentos de cadastro de usuários das Secretarias
nicípio de Santo André (1999-2002), coordenado pelo Centro de Estudos Municipais de Educação, Assistência Social e Saúde.
das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), em parceria com ins- b) Implantação do quesito cor ou raça/etnia no Sistema de Informação
tituições de pesquisa e do movimento social, resultando em um importante próprio da SMS (SISAM).
subsídio metodológico para a implantação do quesito cor/raça/etnia 1. c) Realização do Seminário Regional de Saúde da População Negra em
A prática também tem demonstrado que a realidade de cada institui- parceria com DRS 4 e SES/SP.
ção é determinante na definição das etapas de implementação. Os municí- d) Inclusão no protocolo de pré-natal da coleta do exame de eletroforese
pios de São José do Rio Preto, a partir de 2004, e de Santos, a partir de 2006, para diagnóstico de doença falciforme.
desencadearam ações decisivas para a consolidação da implementação do e) Realização de oficinas de sensibilização para as equipes da Vigilância
quesito cor ou raça/etnia em suas regiões. A seguir, destacamos algumas Epidemiológica, do Programa DST/Aids, do Programa Saúde da Fa-
destas ações, lembrando aos leitores que, apesar de sugerirmos mais adian- mília e para as Unidades Básicas de Saúde.
te um modelo de implementação, os caminhos de cada instituição serão f) Produção de material informativo sobre a coleta do quesito raça/cor.
sempre diversos. g) Divulgação do 1° Relatório de Dados da SMS com o quesito raça/cor
  no Conselho Municipal de Desenvolvimento e Participação da Comu-
Ações realizadas em São José do Rio Preto: nidade Negra.
a) Formação de um grupo de trabalho, GT Raça/Cor, com participação h) Inclusão no Plano Municipal de Saúde 2007/2008 do tema Saúde da
de: SAE – Serviço de Assistência Especializada (Ambulatório Munici- População Negra.
pal de DST/Aids), CTA – Centro de Testagem e Aconselhamento em i) Participação em reuniões do Comitê Técnico Estadual de Saúde da Po-
DST/Aids, Programa de Prevenção em Mulheres Afrodescendentes e pulação Negra.
seus parceiros, Centro Municipal de Control e e Prevenção das DST/
Aids e Vigilância Epidemiológica. Contudo, queremos compartilhar alguns procedimentos que conside-
ramos importantes na implementação. Trata-se de um modelo que prevê
quatro etapas específicas de implantação – comprometimento institucio-
1
Silva Jr. H. O Papel da Cor/ Raça/Etnia nas Políticas de Promoção da Igualdade – anotações sobre a
nal, capacitação de profissionais, sensibilização de usuários(as), análise de
experiência do município de Santo André. CEERT. São Paulo, 2003. www.ceert.org.br dados – e uma etapa contínua de monitoramento e avaliação.
Cor, Raça/Etnia na Saúde 37

Figura 1. Etapas para implantação do quesito cor nos serviços de saúde São exemplos de iniciativas de promoção de saúde voltadas para os
segmentos populacionais:
  Etapa Contínua
1- A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, apro-
MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO vada em 10/11/2006 pelo Conselho Nacional de Saúde, tendo por objetivo
 
“promover a equidade em saúde da população negra, priorizando o combate
  Etapa IV ao racismo e à discriminação nas instituições e serviços do SUS”.
   
    Por intermédio dessa política busca-se para esse segmento populacio-
 
  ANÁLISE E
   
DIFUSÃO nal a redução dos seguintes indicadores:
  Etapa III
 
DE DADOS a) mortalidade materna.
   
  Etapa II SENSIBILIZAÇÃO
 
b) mortalidade infantil.
  DE USUÁRIOS (AS)
  c) mortalidade precoce (em especial entre jovens e adultos).
Etapa I CAPACITAÇÃO
DE   d) homicídio entre jovens (especialmente homens).
PROFISSIONAIS
e) morbi-mortalidade pelas seguintes doenças: hipertensão arterial,
COMPROMETIMENTO
  diabetes mellitus, doença falciforme, HIV/aids, tuberculose, hanseníase,
INSTITUCIONAL
câncer de colo uterino e de mama, transtornos mentais.

A seguir, apresentaremos uma breve descrição de cada etapa, acompanha- 2- A Inclusão do quesito cor ou raça/etnia em todos os documentos e
da de um “Quadro Sugestivo” de ações a serem desenvolvidas. A estrutura formulários do SUS e sistemas de informação em saúde.
sugerida deve ser adaptada à realidade e às características de cada instituição. 3- O Plano de Saúde do Estado de São Paulo (2008-2011)2, contem-
   plando objetivos voltados à população negra:
a) Facilitar a implantação da Política Nacional de Saúde Integral da
Etapa I População Negra.
 
O Comprometimento Institucional constitui-se numa etapa primor- b) Melhorar a qualidade da informação (coleta, processamento e aná-
dial da implementação da coleta do quesito cor ou raça/etnia, pois dimen- lise) do quesito cor (branco, preto, pardo, amarelo e indígena).
siona e legitima as medidas a serem adotadas pelo(a) gestor(a). Este com- c) Capacitar os recursos humanos no tema diversidade cultural e étnico-
prometimento se dá com um processo que contempla uma revisão dos eixos racial.
programáticos da instituição a partir das diretrizes contidas nos Planos de
Saúde da Federação, do Estado e do Município; nas Políticas de Promoção de d) Implementar a política de atenção integral às pessoas com doença
Saúde voltadas para os segmentos populacionais da sociedade; nos Termos falciforme e outras hemoglobinopatias.
de Compromisso de Gestão (Pacto pela Saúde); na Programação Pactuada
Integrada e demais instrumentos concernentes à responsabilidade sanitária. 2
Publicado no D.O.U. em 14/05/2009
Cor, Raça/Etnia na Saúde 39

e) Valorizar as práticas tradicionais e as culturas de promoção à saúde


das religiões de matriz africana, parteiras e benzedeiras. Temário: Bloco I

f) Sensibilizar a população para as temáticas relacionadas à saúde da — Os princípios do SUS e a prática cotidiana.
população negra. — Equidade em Saúde e o Sistema de Informação.
— Sensibilização dos participantes para a dimensão da diversidade
g) Melhorar o acesso a serviços de saúde às populações remanescentes étnico-racial.
de quilombos. — Introdução Conceitual (racismo, discriminação, preconceito,
estereótipos, representação, construção social e imaginário coletivo).
— Indicadores de desigualdades raciais em saúde.
4- O Termo de Compromisso do Estado de São Paulo definindo a — Saúde da População Negra – Aspectos Epidemiológicos
atenção integral à saúde da população negra como uma das prioridades de
saúde (Pacto pela Vida e de Gestão). Bloco II
 
Quadro 1: Sugestão de estrutura de desenvolvimento das ações para a eta- — Planos de Saúde.
— Programas e Políticas Públicas de Promoção de Saúde.
pa de Comprometimento Institucional
— Termos de Compromissos de Gestão e Pactos pela Saúde.

Bloco III
Público-alvo: diretores, coordenadores, supervisores e chefias.

Formato: Oficinas — Constituição do Grupo de Trabalho responsável pela implantação


do quesito cor ou raça/etnia, pela reiteração dos compromissos e pelas
Metodologia: Avaliação e Planejamento Participativos. parcerias multissetoriais.
— Elaboração de Plano de Ação para implementação do Quesito Cor.
Carga Horária: 12 horas (distribuídas em 3 blocos)

Objetivos:  Etapa II
— Reconhecer que a atenção à saúde deve considerar as diferenças e
especificidades dos grupos populacionais, para garantir a redução das     A Capacitação de Profissionais é a ação mais fecunda de todo o
iniquidades em saúde. processo de implementação do quesito cor ou raça/etnia. Além de preparar
— Convocar as equipes profissionais e comunicar decisões de ações os profissionais para que, tecnicamente, possam coletar a informação de
na instituição que garantam um ambiente favorável à implementação forma adequada e fidedigna, viabiliza a construção de um novo olhar para
de políticas públicas equitativas. as relações interétnico-raciais. É uma experiência em que os participan-
— Constituir um Grupo de Trabalho (GT).
tes podem entrar em contato com os seus próprios preconceitos e, assim,
Resultados: Políticas e programas implementados na instituição
desvelar crenças e valores arraigados no imaginário social, que mantêm e
identificados e avaliados; Plano de Ação elaborado; Grupo de Trabalho reproduzem o racismo.
(GT) constituído para implantação do Quesito Cor ou Raça/Etnia. Este processo formativo pode ainda estimular a mudança de atitudes,
que só ocorre quando identificamos o que foi exatamente interiorizado
Cor, Raça/Etnia na Saúde 41

acerca das diferenças étnico-raciais. O racismo, quando tratado como um


— Capacitar os profissionais para abordar e coletar o quesito cor ou
fenômeno psicossocial, transparece a sua dimensão subjetiva, que é deter- raça/etnia nos serviços de saúde.
minante para a compreensão de suas múltiplas formas de expressão e de
seu impacto nas relações interpessoais. Somente conhecendo a repercussão Resultados:
do racismo no interior da instituição, no cotidiano das pessoas e grupos,
torna-se viável a implantação de medidas para combatê-lo e preveni-lo. — Instrumentos de coleta de dados dos sistemas de informação do
As oficinas de formação são espaços estratégicos para a construção SUS com o quesito cor ou raça/etnia incluído.
de um processo participativo e de proposição de ações. Por meio delas, — Profissionais de saúde capacitados para a coleta do quesito cor ou
raça/etnia.
os profissionais são informados sobre a importância da equidade em saú-
de e capacitados a utilizar a metodologia adotada pelo IBGE para a coleta Temário: Bloco I
do quesito cor ou raça/etnia. Durante a formação do público-alvo, reco-
menda-se a realização de atividades de sensibilização com os(as) demais — Sensibilização dos participantes para a dimensão da diversidade
funcionários(as) da instituição, na perspectiva de garantir visibilidade das étnico-racial.
novas práticas implementadas. Alguns exemplos destas atividades: distri-
— Introdução Conceitual (racismo, discriminação, preconceito,
buição de boletins informativos, reuniões, palestras, rodas de conversa,
estereótipos, representação, construção social e imaginário coletivo).
exibição de vídeos sobre quesito cor ou raça/etnia. E, por fim, a etapa de — A importância do quesito cor ou raça/etnia no sistema de saúde.
capacitação deve garantir a elaboração de um Plano de Ação que contemple — Indicadores de desigualdades raciais em saúde.
o Monitoramento da medida adotada. — Saúde da População Negra – Aspectos Epidemiológicos.
— Saúde da População Negra e o Plano Estadual de Saúde.
Quadro 2: Sugestão de estrutura de desenvolvimento das ações para a eta-
pa de Capacitação de Profissionais Bloco II

— A trajetória de implementação do quesito cor ou raça/etnia na


Público-alvo: recepcionistas, gerentes e técnicos de sistemas de saúde: experiências dos serviços de DST/Aids.
informação, membros das equipes multidisciplinares, chefias. — O IBGE, o Sistema de Informação e o método de coleta do quesito
cor ou raça /etnia.
Formato: Oficinas de formação
— Metodologia para a Coleta do Quesito Cor ou Raça/Etnia.
Metodologia: Participativa com abordagem teórico-vivencial. — Simulação da coleta (dificuldades, busca de alternativas e desafios).

Carga Horária: 24 horas, distribuídas em 3 blocos Bloco III

Objetivos: — Constituição do Grupo de Trabalho Local responsável pelo


Monitoramento e Avaliação da implantação da coleta do quesito cor
— Incluir na pauta programática o conceito de racismo institucional ou raça/etnia.
como um determinante social do processo saúde-doença-cuidado. — Elaboração do Plano de Ação Local, com definição de metas e
— Sensibilizar os profissionais sobre a importância da coleta da indicadores, para Monitoramento, Aprimoramento e Avaliação da
informação sobre cor ou raça/etnia. coleta do quesito cor ou raça/etnia.
Cor, Raça/Etnia na Saúde 43

 Etapa III
— Sistema de Informações de Saúde mais fidedigno.
  — Conselhos Gestores de Unidades, Conselhos Municipais de Saúde,
A Sensibilização de Usuários(as) é uma etapa que visa chamar a aten- Conselhos de Direito; Conselhos de Participação e Desenvolvimento da
ção para o tema da equidade na saúde. Trata-se de uma ação contínua jun- Comunidade Negra, atuantes no processo de implementação da coleta
to à comunidade que promova a compreensão de que receber tratamento e consolidação da proposta.
equânime nos serviços de saúde é um direito de cada cidadão/cidadã e que
a coleta do quesito cor ou raça/etnia não visa à discriminação, ao contrário, Estratégias:
visa auxiliar na prevenção de doenças prevalentes nos grupos étnico-raciais. — Informar sobre a coleta do quesito cor ou raça/etnia com a distribuição
de folhetos aos usuários e da fixação de cartazes em todos os setores
Quadro 3: Sugestão de estrutura de desenvolvimento das ações para a eta- onde ocorre o cadastramento.
pa de Sensibilização dos(as) Usuários(as) — Garantir ampla distribuição e veiculação junto aos equipamentos
  sociais e estabelecimentos comerciais do entorno dos serviços de
Público-alvo: usuários(as) do SUS e lideranças comunitárias do entorno saúde de:
dos serviços de saúde. Materiais de Divulgação: cartaz, faixa, outdoor, panfleto, filipeta.
Produtos Promocionais: adesivo, marcador de livro, camiseta, pasta, foto.
Formato: Múltiplo (ações coletivas e integradas)
Impressos e Eletrônicos: boletim, cartilha, manual, livro.
Metodologia: Participativa (exposições dialogadas, rodas de conversa,
recursos audiovisuais, dinâmicas, distribuição de material de divulgação Recursos Audiovisuais: vídeos, spots de rádio e TV, filmes.
com debate sobre o conteúdo divulgado). Vinhetas Publicitárias: jornal, revista, rádio, TV.

Duração: contínua — Realização de eventos para a população em geral, em parceria com


os gestores municipais e/ou movimentos sociais organizados sobre
Objetivos: Saúde da População Negra.
— Informar e sensibilizar os(as) usuários(as)do SUS e as lideranças  
comunitárias sobre a Coleta do Quesito Cor ou Raça/Etnia.   Etapa IV
— Facilitar a relação usuário(a) — coletor(a).  
— Melhorar a qualidade da informação coletada. A Análise e Difusão dos Dados produzidos pelos diversos sistemas
— Aprimorar a atuação do Controle social.
de informação em saúde é uma etapa imprescindível para garantir a vi-
Resultados: sibilidade estatística dos diferentes grupos étnico-raciais que compõem a
população usuária do Sistema Único de Saúde (SUS).
— Usuários(as) do SUS e lideranças comunitárias informados(as) É fundamental a devolução sistemática das informações produzidas
e sensibilizados(as) sobre a coleta do quesito e cor e sobre o direito aos serviços para mantê-los sensibilizados quanto à importância da ativi-
à equidade em saúde. dade de coleta contínua e cuidadosa dos dados. Sem este retorno, os profis-
— Usuários(as) do SUS mais aptos a responder aos coletores qual
sionais podem ter a impressão equivocada de que aquela é mais uma tarefa
é a sua cor ou raça/etnia.
sem utilidade prática, imposta pelos órgãos técnicos.
Cor, Raça/Etnia na Saúde 45

A maioria dos profissionais da saúde tem interesse na apropriação de Se há evidências científicas de que a evolução da infecção pelo HIV e
dados epidemiológicos produzidos pelas esferas federais, estaduais e mu- da Aids não mostra diferenças importantes que possam ser atribuídas aos
nicipais. Entretanto, em vários municípios e serviços, há dificuldade dos grupos étnico-raciais, por que a proporção de óbitos por Aids é tão maior
profissionais em se reconhecer como uma parte produtora daquelas infor- entre os negros do que entre os brancos no Brasil?
mações. Além disso, os técnicos não costumam lidar com os dados epide- O fato de a população negra, como um todo, ter condições socioeco-
miológicos locais, tanto no que diz respeito à sua análise, partindo do pres- nômicas mais desfavoráveis do que a população branca, sempre aparece
suposto de que esta é sempre uma tarefa complexa, quanto à visualização como a explicação mais rápida e fácil para justificar todas as diferenças
dos dados como instrumento para o planejamento de suas atividades. encontradas entre estes dois segmentos da população e pode ser usado
De fato, uma análise sofisticada requer uma abordagem epidemiológi- para explicar as diferenças encontradas entre os coeficientes de mortali-
ca e estatística especializada, no entanto, é possível e desejável a realização dade de Aids.
de análises epidemiológicas descritivas, que trabalham com frequências e Mas, refletindo um pouco, veremos que se a atenção aos portadores
proporções de eventos e podem trazer valiosas informações que ampliam a de HIV/Aids ocorre predominantemente no SUS, cujos serviços devem
visão da realidade e apontam caminhos de intervenção. obedecer aos princípios de universalidade, integralidade e equidade no
Voltando ao primeiro capítulo desta publicação, vimos dados que atendimento da população, e se o Brasil é um dos poucos países que tem
apontam para profundas diferenças entre os indicadores de saúde das po- como política pública a distribuição gratuita da medicação específica para
pulações brancas e negras. Aids a todos os pacientes que tenham indicação de tomá-la, então o fator
Tomando como exemplo os dados da tese de doutorado do sociólogo socioeconômico não serve para explicar as discrepâncias encontradas nos
Luís Eduardo Batista (Mulheres e Homens Negros: Saúde, Doença e Morte), coeficientes de mortalidade de Aids entre negros e brancos.
temos que na taxa de mortalidade por HIV/Aids no Estado de São Paulo, Temos, então, que buscar informações que levem a outras hipóteses
em 1999, segundo cor ou raça/etnia, constatou-se que a taxa de mortalidade explicativas e neste momento vamos à análise dos dados do Estado, da Re-
dos homens brancos foi de 14,44/100 mil e dos negros 25,92/100 mil. Entre gião, do Município ou do Serviço.
as mulheres, foram encontradas taxas de 4,92 para as brancas e 11,39/100 — Como será que anda isso na minha região?
mil para as mulheres negras. — Quantos brancos, negros, amarelos e indígenas foram diagnostica-
Salta aos olhos o quanto os coeficientes de mortalidade por Aids são dos com Aids na minha região? Quantos homens, quantas mulheres, quan-
maiores na população negra, sendo esta discrepância dos coeficientes maior tas crianças?
ainda entre as mulheres. — Será que a média de tempo entre a data de diagnóstico e a data do
Muito bem, este é um dado inquestionável e importante. óbito é a mesma para os diferentes grupos étnico/raciais?
E, então, o que fazemos a partir do conhecimento deste dado? — Qual o critério mais utilizado para notificar as pessoas de cada um
Podemos utilizá-lo, simplesmente, para sensibilizar gestores, profissio- destes grupos? O exame laboratorial (contagem de CD4), utilizado geral-
nais de saúde e os próprios usuários dos serviços da importância da coleta mente antes do aparecimento de doenças? A presença de doença oportu-
adequada do quesito raça/cor, pois apenas a partir da coleta é possível evi- nista definidora de Aids? O critério óbito (quando o diagnóstico da Aids se
denciar essa e outras realidades, que denunciam as diferentes formas de faz no momento do óbito)?
viver e acessar os recursos de saúde a que os diversos grupos étnico/raciais — Será que a questão do diagnóstico precoce, que tem tanta importân-
estão submetidos. cia na qualidade e no tempo de sobrevida dos indivíduos com HIV/Aids, é
Ou podemos buscar hipóteses explicativas. mais importante em um grupo do que no outro?
Cor, Raça/Etnia na Saúde 47

— Como será a distribuição por categoria de exposição ao HIV nos Enfim, é fundamental a apropriação dos dados epidemiológicos pelos
diversos grupos étnicos/raciais? profissionais da saúde. E, quer estes dados permaneçam nos serviços, quer
— A proporção de pessoas que faz uso de antirretrovirais é a mesma sejam enviados aos diversos sistemas de informação, devem ser utilizados
entre pacientes de diferentes grupos étnico-raciais? como um instrumento capaz de indicar as ações necessárias para garantir
— E a escolaridade nestes diversos grupos? a adequação da atenção dispensada à saúde da população, respeitando-se
— E outras questões locais etc., etc.... as especificidades de todos os segmentos da sociedade, sejam eles de or-
Todas estas respostas são facilmente obtidas dos sistemas de infor- dem religiosa, de gênero, cultural, geracional ou étnico-raciais, garantindo
mação ou dos registros dos serviços pela descrição de frequências simples o princípio, fundamental, de equidade no SUS.
ou proporções destes eventos e podem revelar várias questões, algumas
passíveis de intervenção, outras que, mesmo merecendo atenção, são   Quadro 4 : Sugestão de estrutura de desenvolvimento das ações para a
mais difíceis de intervir, especialmente se as soluções estiverem fora do etapa de Análise e Difusão dos Dados
âmbito do setor saúde.
Público-alvo: profissionais responsáveis pela coleta do quesito cor ou
Se, por exemplo, os dados mostrassem que os indivíduos da população raça/etnia e da vigilância epidemiológica.
negra fazem diagnósticos mais tardiamente do que os brancos, algumas
soluções poderiam ser propostas: uma campanha educativa que apontasse Formato: Oficinas, reuniões periódicas entre o grupo de vigilância
epidemiológica e profissionais da rede de serviços.
este fato para a população; difusão da informação entre os técnicos respon-
sáveis pelo atendimento na região por meio de documentos ou capacitação; Metodologia: Participativa com abordagem teórica.
estimular a rede básica a ampliar o oferecimento de teste diagnóstico para
a infecção pelo HIV; e outras propostas criadas localmente pelos profissio- Duração: Variável, dependendo do formato proposto, sendo importante
manter a periodicidade e a constância, tornando-se assim parte da
nais dos serviços que conhecem, melhor do que ninguém, a população da
rotina do trabalho em saúde.
sua área de abrangência.
E se os dados mostrassem que há uma taxa de transmissão vertical Objetivos:
maior para crianças que nascem em determinado serviço ou região? E se — Garantir a visibilidade estatística dos diferentes grupos étnico-raciais
houvesse diferenças nesta taxa entre crianças filhas de mulheres de um de- que compõem a população usuária do Sistema Único de Saúde (SUS).
terminado grupo étnico/racial, como indígenas, por exemplo? Com certeza — Manter os serviços informados sobre a importância da atividade de
seria possível pensar em diferentes propostas técnicas de intervenção, de- coleta contínua e cuidadosa dos dados.
pendendo dos dados encontrados. — Promover o reconhecimento dos profissionais quanto ao seu papel
E as questões de racismo institucional são passíveis de detecção por na produção de dados epidemiológicos.
intermédio de dados dos sistemas de informação hoje existentes? Resultados:
Provavelmente, não. Algumas coisas podem ser inferidas da análise — Melhoria da qualidade da coleta e análise da informação.
dos dados, isto é, se os dados apontam que a população negra tem maior di- — Sistema de Informações de Saúde mais fidedigno.
ficuldade de acesso aos serviços, o racismo institucional pode ser uma das
Estratégias:
hipóteses explicativas, mas para afirmar isso e investigar esta questão seria
necessário lançar mão de ferramentas que pesquisassem, especificamente, — Trabalhos dirigidos de grupos de análise dos dados coletados.
o racismo institucional. — Publicações.
Cor, Raça/Etnia na Saúde 49

Etapa Contínua — Receber subsídios da Vigilância Epidemiológica para que os servi-


  ços leiam adequadamente os dados colhidos.
O Monitoramento, uma ação contínua, é imprescindível à sustenta-  O monitoramento garante a visibilidade dos resultados, possibilitando
bilidade do processo de implementação da coleta do quesito cor ou raça/ a avaliação das políticas públicas formuladas.
etnia. Por meio dele, é possível acompanhar o desenvolvimento das ativi-
dades previstas no Plano de Ação e, registrando-se a trajetória dos atores,
intervir e sistematizar. É um movimento dinâmico pelo qual se identifica
entraves e busca soluções que garantam o aprimoramento da formação, a
ampliação da participação dos(as) usuários(as) e a melhoria dos dados, de
forma a caracterizar o real perfil dos usuários e suas respectivas patologias.
O acompanhamento contínuo da implementação do quesito raça-cor
possibilita:
— Identificar a evolução da aceitação/não aceitação dos usuários e co-
letores à pergunta “qual é a sua cor ou raça/etnia?”;
— Desenvolver ações para superação das dificuldades dos coletores e
dos(as) usuários(as) visando eliminar as respostas em branco;
— Coletar continuamente as observações dos coletores de forma a de-
finir estratégias para solucionar as dificuldades apresentadas.
 
Algumas estratégias de monitoramento direcionadas para:
 
1. O trabalho dos coletores:
 — Utilizar instrumento de registro dos atendimentos (ficha de moni-
toramento).
— Definir periodicidade dos registros e o tratamento deles.
 
2. O acompanhamento do processo:
  — Criar Grupo de Trabalho interno e intersetorial para o monitora-
mento.
— Estabelecer indicadores de resultados.
— Sistematizar todas as atividades e articulações realizadas no processo.
 
3. O banco de dados
  — Incluir a discussão da temática étnico-racial nas reuniões da Vigi-
lância Epidemiológica.
Cor, Raça/Etnia na Saúde 51

anexos
Cor, Raça/Etnia na Saúde 53

A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra representa


um esforço do governo federal no sentido de corrigir as iniqüidades da
atenção à saúde desta parcela da população, que corresponde a 45% dos
brasileiros.
O nosso desafio é trazer parceiros, gestores estaduais e municipais e re-
presentantes da sociedade civil e trabalhadores de saúde para essa política.
O movimento social negro é fundamental para essa mobilização, na defesa
do SUS e da saúde da população negra.
MINISTÉRIO DA SAÚDE O esforço deve ser abrangente, seja na acesso a educação, seja na redução
Assessoria de Comunicação Social da violência uma das principais causas de morte do jovem negro, seja na me-
lhora da qualidade de vida e renda desta população. Determinantes sociais
são itens que comprovadamente que interferem nas condições de saúde.
Desejo que este dia seja marcado pela força que a população negra
representa e que ele resulte em uma grande mobilização social para mudar-
mos o quadro de saúde que hoje enfrentamos.

Temporão. J.G. Disponível em


Mensagem do Ministro para o Dia de Mobilização Nacional http://portal.saude.gov.br/saude/saudedapopulacaonegra
Pró-Saúde da População Negra

O dia 27 de outubro, Dia de Mobilização Nacional Pró-Saúde da Popu-


lação Negra, marca o compromisso que temos na implementação de ações
que reduzam as desigualdades no acesso aos serviços de saúde e nos índices
de doenças da população negra.
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem olhado com
atenção esse tema. Em 2004, criou um comitê técnico para discussão sobre
o assunto, que logo conseguiu a ampliação do tratamento da anemia falci-
forme, uma doença genética freqüente nesta população.
No fim do ano passado, foi aprovada a Política Nacional de Saúde da
População Negra. O novo texto é um marco para o atendimento à saúde da
população negra. Por meio dele, o governo federal reconhece a existência
do racismo institucional e a desigualdade étnico-racial. A partir do diag-
nóstico, propõe ações como o treinamento profissional, as ações direciona-
das contra agravos e doenças de maior prevalência dessa população, a pes-
quisa no setor e a participação do controle social pelos movimentos negros.
Cor, Raça/Etnia na Saúde 55

DECRETO Nº 4.228, DE 13 DE MAIO DE 2002. Programa Nacional de Ações Afirmativas, com a finalidade de:
I - propor a adoção de medidas administrativas e de gestão estratégica
destinadas a implementar o Programa;
Institui, no âmbito da Administração Pública Federal, o Programa II - apoiar e incentivar ações com vistas à execução do Programa;
Nacional de Ações Afirmativas e dá outras providências III - propor diretrizes e procedimentos administrativos com vistas a
garantir a adequada implementação do Programa, sua incorporação aos
regimentos internos dos órgãos integrantes da estrutura organizacional
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o da Administração Pública Federal e a conseqüente realização das metas
art. 84, inciso VI, alínea “a”, da Constituição, estabelecidas no inciso I do art. 2o;
DECRETA: IV - articular, com parceiros do Governo Federal, a formulação de propostas
que promovam a implementação de políticas de ação afirmativa;
Art. 1o Fica instituído, no âmbito da Administração Pública Federal, o V - estimular o desenvolvimento de ações de capacitação com foco nas medidas
Programa Nacional de Ações Afirmativas, sob a coordenação da Secretaria de promoção da igualdade de oportunidades e de acesso à cidadania;
de Estado dos Direitos Humanos do Ministério da Justiça. VI - promover a sensibilização dos servidores públicos para a necessidade
de proteger os direitos humanos e eliminar as desigualdades de gênero, raça
Art. 2o O Programa Nacional de Ações Afirmativas contemplará, entre e as que se vinculam às pessoas portadoras de deficiência;
outras medidas administrativas e de gestão estratégica, as seguintes ações, VII - articular ações e parcerias com empreendedores sociais e representantes
respeitada a legislação em vigor: dos movimentos de afrodescendentes, de mulheres e de pessoas portadoras
I - observância, pelos órgãos da Administração Pública Federal, de de deficiência;
requisito que garanta a realização de metas percentuais de participação VIII - sistematizar e avaliar os resultados alcançados pelo Programa e
de afrodescendentes, mulheres e pessoas portadoras de deficiência no disponibilizá-los por intermédio dos meios de comunicação; e
preenchimento de cargos em comissão do Grupo-Direção e Assessoramento IX - promover, no âmbito interno, os instrumentos internacionais de
Superiores – DAS; que o Brasil seja parte sobre o combate à discriminação e a promoção da
II - inclusão, nos termos de transferências negociadas de recursos celebradas igualdade.
pela Administração Pública Federal, de cláusulas de adesão ao Programa; Parágrafo único. O Comitê de Avaliação e Acompanhamento do Programa
III - observância, nas licitações promovidas por órgãos da Administração Nacional de Ações Afirmativas apresentará, no prazo de sessenta dias,
Pública Federal, de critério adicional de pontuação, a ser utilizado para propostas de ações e metas a serem implementadas pelos órgãos da
beneficiar fornecedores que comprovem a adoção de políticas compatíveis Administração Pública Federal.
com os objetivos do Programa; e
IV - inclusão, nas contratações de empresas prestadoras de serviços, bem Art. 4o O Comitê de Avaliação e Acompanhamento do Programa Nacional
como de técnicos e consultores no âmbito de projetos desenvolvidos em de Ações Afirmativas tem a seguinte composição:
parceria com organismos internacionais, de dispositivo estabelecendo I - Secretário de Estado dos Direitos Humanos, que o presidirá;
metas percentuais de participação de afrodescendentes, mulheres e pessoas II - Presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA, que
portadoras de deficiência. substituirá o presidente em suas faltas e impedimentos;
Art. 3o Fica constituído o Comitê de Avaliação e Acompanhamento do III - um representante da Presidência da República;
Cor, Raça/Etnia na Saúde 57

IV - um representante do Ministério das Relações Exteriores; DOE - SEÇÃO I - 16/12/03


V - um representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário;
VI - um representante do Ministério da Ciência e Tecnologia;
VII - um representante do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; DECRETO Nº 48.328, DE 15 DE DEZEMBRO DE 2003
VIII - um representante do Ministério do Trabalho e Emprego;
IX - um representante do Ministério da Cultura;
X - um representante do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher - CNDA; Institui, no âmbito da Administração Pública do Estado de São Paulo, a
XI - um representante do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Política de Ações Afirmativas para Afrodescendentes e dá providências
Portadora de Deficiência - CONADE; correlatas
XII - um representante do Conselho Nacional de Combate à Discriminação
- CNCD; e GERALDO ALCKMIN, Governador do Estado de São Paulo, no uso de
XIII - um representante do Grupo de Trabalho Interministerial e Valorização suas atribuições legais,
da População Negra.
§ 1o O Presidente do Comitê de Avaliação e Acompanhamento do Decreta:
Programa Nacional de Ações Afirmativas poderá convidar para participar Artigo 1º - Fica instituída, nos termos deste decreto, no âmbito da
das reuniões um membro do Ministério Público do Trabalho. Administração Pública do Estado de São Paulo, a Política de Ações
§ 2o Os membros de que tratam os incisos III a XIII serão indicados pelos Afirmativas para Afrodescendentes.
titulares dos órgãos representados e designados pelo Ministro de Estado da Parágrafo único - Compreendem-se como afrodescendentes os pretos e os
Justiça. pardos, assim definidos, quando necessário, por autoclassificação.
Art. 5o Os trabalhos de Secretaria-Executiva do Comitê de Avaliação e Artigo 2º - Fica criada, junto à Secretaria da Justiça e da Defesa da
Acompanhamento de Ações Afirmativas serão prestados pelo IPEA. Cidadania, a Comissão de Coordenação e Acompanhamento da Política
de Ações Afirmativas para Afrodescendentes, composta dos seguintes
Art. 6o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
membros, designados pelo Governador do Estado:
Brasília, 13 de maio de 2002; 181o da Independência e 114o da República. I - o Secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania, que será seu
Presidente;
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO II - 1 (um) representante de cada uma das seguintes Secretarias de Estado:
Miguel Reale Junior a) Casa Civil;
Celso Lafer b) Secretaria de Economia e Planejamento;
Paulo Jobim Filho c) Secretaria da Segurança Pública;
Guilherme Gomes Dias d) Secretaria da Educação;
Francisco Weffort e) Secretaria da Saúde;
Ronaldo Mota Sardenberg f) Secretaria da Cultura;
José Abrão g) Secretaria da Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e
Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 14.5.2002 Turismo;
Cor, Raça/Etnia na Saúde 59

III - 1 (um) representante da Unidade de Assessoramento em Artigo 4º - A Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania deverá:
Comunicação, da Casa Civil; I - instituir o Prêmio “Ações Afirmativas para Afrodescendentes”,
IV - 3 (três) representantes do Conselho de Participação e contemplando as políticas internas e externas de organizações, públicas
Desenvolvimento da Comunidade Negra; ou privadas, que mais se destaquem na promoção das referidas ações
V - 1 (um) representante da Universidade de São Paulo - USP; afirmativas;
VI - 1 (um) representante da Universidade Estadual de Campinas - II - organizar concurso para escolha da propaganda de divulgação do
UNICAMP; Prêmio “Ações Afirmativas para Afrodescendentes”;
VII - 1 (um) representante da Universidade Estadual Paulista “Júlio de III - coordenar a realização de censo sócio-econômico e étnico dos
Mesquita Filho” - UNESP; servidores paulistas, da Administração direta e indireta, a fim de orientar
VIII - 4 (quatro) representantes de organizações não-governamentais o planejamento e a definição de ações afirmativas neste campo, a ser
ligadas à proteção e defesa dos direitos dos afrodescendentes; realizado pela Fundação Prefeito Faria Lima - Centro de Estudos e
IX - 4 (quatro) representantes de entidades a serem escolhidas pelo Pesquisas de Administração Municipal - CEPAM;
Secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania, dentre os nomes a serem IV - contribuir para o atendimento e a orientação dos indivíduos que
indicados pelas mesmas. sofrerem discriminação, mediante seu atendimento nos Centros de
§ 1º - A Comissão poderá dispor sobre a constituição de Subcomissões e Integração da Cidadania - CICs;
Grupos de Trabalho para análise e discussão de temas específicos. V - providenciar a titulação de terras das comunidades quilombolas
§ 2º - Cada Secretaria de Estado poderá disciplinar, internamente, de Galvão (entre os Municípios de Eldorado e Iporanga), Pedro Cubas
a consulta ou participação de representantes de organizações não- (Município de Eldorado) e Praia Grande (Município de Iporanga), até o
governamentais ligadas à proteção e defesa dos interesses dos final de 2003;
afrodescendentes na elaboração das respectivas propostas. VI - providenciar o reconhecimento para titulação através de Relatório
Técnico-Científico - RTC das comunidades de Morro Seco (Município de
Artigo 3º - À Comissão de Coordenação e Acompanhamento da Política Iguape), Biguazinho (Município de Miracatu) e Pedro Cubas de Cima, até
de Ações Afirmativas para Afrodescendentes cabe: o final de 2003.
I - sugerir diretrizes e procedimentos administrativos com vistas a Parágrafo único - A promoção de ações afirmativas para afrodescendentes,
garantir a adequada implementação da Política; segundo as diretrizes deste decreto, considera-se promoção de direitos
II - submeter à apreciação do Governador do Estado as propostas de humanos, para os fins dispostos na Lei nº 10.992, de 21 de dezembro de
diretrizes complementares, com vistas à adequada execução da Política e 2001.
ao seu aprofundamento;
III - apoiar, avaliar e supervisionar a implementação da Política, sugerindo Artigo 5º - A Secretaria da Saúde deverá, observadas suas atribuições no
a adoção de medidas destinadas a garantir a continuidade e a efetividade Sistema Único de Saúde:
das suas ações; I - estender o Programa de Saúde da Família - PSF para todos os
IV - coordenar a realização de oficinas e cursos sobre ações afirmativas Quilombolas existentes no Estado de São Paulo, se necessário com
para os servidores derecursos humanos e coordenadores de área, bem a adoção de incentivo do Governo do Estado para os municípios
como campanhas de sensibilização dos servidores para o problema da envolvidos, garantindo o acesso e o aperfeiçoamento da qualidade
exclusão social e necessidade de ações afirmativas. da atenção primária em saúde, para 100% (cem por cento) dessas
Cor, Raça/Etnia na Saúde 61

comunidades, que costumam ser isoladas (rurais) ou com condições III - instituir:
sociais que aumentam os riscos de doenças;
II - realizar grande campanha educativa para todos os médicos, com a) oficinas regulares para educadores, na Divisão de Arquivo do Estado,
relação à anemia falciforme, envolvendo a Sociedade de Pediatria e sobre a história cultural dos afrodescendentes de São Paulo;
voltada para o diagnóstico precoce e a prevenção de danos à saúde dos b) a produção de instrumentos de origem africana no Conservatório
portadores desta doença; Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos”, de Tatuí;
III - incluir o tema de doenças epidemiologicamente prioritárias para a c) cursos livres sobre a influência da música africana na música brasileira,
Comunidade Negra, nos treinamentos e capacitações realizados pelos no Centro de Estudos Musicais “Tom Jobim - Maestro Antônio Carlos
órgãos formadores dos profissionais do Programa de Saúde da Família - Brasileiro de Almeida Jobim”;
PSF, ligados à Secretaria da Saúde. d) a Semana do Continente Africano no Museu da Casa Brasileira;
e) o prêmio Solano Trindade para Jovens Criativos das Escolas de Arte
Artigo 6º - A Secretaria da Educação deverá: Cênica;
I - no exercício das prerrogativas fixadas no artigo 24, IX e §§ 1º a 4º, da IV - criar um observatório de monitoramento e avaliação dos projetos e
Constituição Federal, desenvolver um plano de ação para capacitação dos experiências positivas no combate à discriminação de gênero e raça nas
docentes e inclusão, no currículo das escolas da rede pública estadual, do diferentes áreas da cultura;
ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira, na forma da Lei Federal V - estabelecer a inclusão de afrodescendentes no Conselho Estadual da
nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, com a alteração prevista na Lei Cultura, no Conselho Paulista de Cinema, no Conselho Consultivo do
Federal nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, e legislação correlata; programa estadual de leitura denominado “SÃO PAULO: UM ESTADO
II - desenvolver o “Programa São Paulo: Educando pela Diferença DE LEITORES” e na Comissão Especial de Programação Cultural da
para a Igualdade” - Capacitação dos professores das áreas de Educação Loteria da Cultura;
Artística, Literatura e História a ser discutida com os representantes da VI - junto aos quilombos, instituir uma programação cultural, criar salas
Comunidade Negra. de leitura, publicar sua história cultural e elaborar um calendário de suas
Parágrafo único - O Secretário da Educação criará, mediante resolução, manifestações culturais;
comissão para o desenvolvimento do programa a que se refere o inciso II VII - articular a instituição de cursos para jovens criativos, nas Escolas
deste artigo. de Comunicação, referentes ao Dia da Consciência Negra e a criação
de núcleos de pesquisa da Cultura Negra Regional em parceria com
Artigo 7º - A Secretaria da Cultura deverá: universidades;
I - realizar o Censo dos Servidores Públicos da Secretaria da Cultura, VIII - promover a preservação e revitalização do patrimônio material e
estabelecendo comparações a partir de variáveis sexo (gênero) e raça (etnia) imaterial dos sítios, terreiros e casas da cultura tradicional de matrizes
identificando em que aspectos e graus se reproduzem a exclusão, a segregação africana;
ocupacional e as desigualdades e publicar um caderno com os resultados; IX - desenvolver um manual com sugestões para implementação
II - instituir cursos da cultura da África e dos afrodescendentes e de de ações afirmativas e estimular a sociedade civil e as secretarias de
história dos deuses africanos e incluir nas oficinas culturais artistas cultura dos municípios a formularem programas e projetos para a
afrodescendentes, como escritores, autores, diretores de teatro, músicos, promoção da igualdade racial e a apoiarem manifestações culturais dos
artistas plásticos, etc.; afrodescendentes;
Cor, Raça/Etnia na Saúde 63

X - incorporar, junto ao Mapa Cultural da Secretaria da Cultura, as GERALDO ALCKMIN


manifestações culturais relacionadas à comunidade afrodescendente, bem João Carlos de Souza Meirelles
como incentivar e propiciar a realização de feiras étnicas temáticas e criar Secretário da Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e
a 1ª Mostra de Arte Cênica Afrodescendente. Turismo
Cláudia Maria Costin
Artigo 8º - A Secretaria da Segurança Pública deverá: Secretária da Cultura
I - avaliar e adotar meios e medidas que contribuam para o aumento das Gabriel Chalita
denúncias e a eficiência da investigação de crimes raciais, dotando as Secretário da Educação
unidades policiais pertinentes dos meios e da capacitação adequados; Alexandre de Moraes
II - analisar a conveniência da criação de Delegacias Especializadas de Secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania
Crimes Raciais; Andrea Calabi
III - inserir, no curso de Direitos Humanos ministrado aos policiais em Secretário de Economia e Planejamento
formação, o tratamento das questões relativas a etnia e discriminação. Luiz Roberto Barradas Barata
Secretário da Saúde
Artigo 9º - A Secretaria da Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Saulo de Castro Abreu Filho
Econômico e Turismo fornecerá ao Conselho de Reitores das Secretário da Segurança Pública
Universidades Estaduais do Estado de São Paulo - CRUESP o suporte Arnaldo Madeira
necessário para a realização de estudos objetivando a instituição do Secretário-Chefe da Casa Civil
Programa Estadual de Inclusão Social e Ação Afirmativa no Ensino Publicado na Casa Civil, aos 15 de dezembro de 2003.
Superior.

Artigo 10 - A publicidade institucional do Governo do Estado de São


Paulo, na administração direta e indireta, observará a pluralidade étnica
da população brasileira, buscando aproximar-se das proporções obtidas
pelo Censo realizado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística - IBGE.

Artigo 11 - Ficam mantidas as disposições em vigor que instituam ações


em benefício dos afrodescendentes, em especial o Decreto nº 41.774, de
13 de maio de 1997.

Artigo 12 - Este decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Palácio dos Bandeirantes, 15 de dezembro de 2003


Cor, Raça/Etnia na Saúde 65

SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE III – propor e participar de iniciativas intersetoriais, especialmente em con-
Gabinete do Secretário junto com as demais instâncias do Sistema Único de Saúde – SUS (municí-
pios e Ministério da Saúde), relacionadas com o desenvolvimento de ações
de promoção da eqüidade racial/étnica na atenção à saúde;
RESOLUÇÃO SS nº 004, de 13 de janeiro 2006. IV – colaborar no acompanhamento e avaliação das políticas e ações do
Sistema Único de Saúde – SUS do Estado de São Paulo, que tratem da diver-
sidade racial/étnica e da promoção da eqüidade racial/étnica;
Constitui o Comitê Técnico de Saúde da População Negra do Estado de
São Paulo. Artigo 2º – O Comitê Técnico de Saúde da População Negra do Estado de
São Paulo será composto pelos seguintes membros permanentes:
O Secretário de Estado da Saúde de São Paulo, no uso de suas atribuições a) representantes da Coordenação de Controle de Doenças - CCD, que
legais e considerando, coordenará os trabalhos;
• as diretrizes nacionais de combate a todas as formas de discriminação, em b) representantes do Gabinete do Secretário;
especial, a discriminação racial, étnica e sexual em serviços de saúde, bem c) pesquisador(a)s do Instituto de Saúde;
como a portadores de condições mórbidas ou deficiências específicas; d) representantes da Coordenadoria de Serviços de Saúde – CSS;
e) representantes da Coordenadoria de Regiões de Saúde – CRS;
• que o desenvolvimento da eqüidade no Sistema Único de Saúde - SUS f) representantes da Coordenadoria de Recursos Humanos – CRH;
requer o reconhecimento dos diferenciados graus de vulnerabilidade a que g) representantes da Coordenadoria de Planejamento em Saúde – CPS
estão expostos os diversos segmentos da sociedade brasileira; h) representantes da Coordenadoria de Ciência, Tecnologia e Insumos
Estratégicos de Saúde – CCTIES
• que a população negra possui demandas e problemas específicos rela- i) representantes do Conselho dos Secretários Municipais de Saúde do
cionados com a saúde, que exigem ações particulares do Sistema Único de Estado de São Paulo – COSEMS/SP;
Saúde - SUS; j) representantes do Conselho Estadual de Saúde - CES
k) representantes do Conselho de Participação e Desenvolvimento da
Resolve: Comunidade Negra do Estado de São Paulo
Artigo 1º – Constituir o Comitê Técnico de Saúde da População Negra do l) representantes da Secretaria da Justiça
Estado de São Paulo, com as seguintes atribuições:
Parágrafo Primeiro – Poderão ainda constituir-se em membros perma-
I – acolher, analisar, avaliar e orientar a Secretaria de Estado da Saúde sobre nentes do Comitê, técnicos da SES, representantes das Universidades, Cen-
as propostas advindas da sociedade civil, de instituições não governamen- tros de Pesquisa e Organizações da Sociedade Civil sediados no Estado de
tais ou de outros órgãos e setores governamentais, que tenham como obje- São Paulo, que possam colaborar em suas atividades.
tivo a promoção da eqüidade racial/étnica na atenção à saúde;
II – elaborar propostas de intervenção referentes à questão da eqüidade ra- Parágrafo Segundo – Para o bom desempenho de suas atribuições, o Co-
cial/étnica na atenção à saúde, que envolvam as diversas instâncias e órgãos mitê Técnico de Saúde da População Negra poderá instituir formalmente
prestadores da Secretaria de Estado da Saúde; Grupos de Trabalho por tempo determinado, que tratem de questões espe-
Cor, Raça/Etnia na Saúde 67

cíficas relacionadas com a saúde da população negra, convidando sempre BIS - Boletim do Instituto de Saúde
que necessário, profissionais e representantes de Universidades, Centros de nº 31 - Dezembro 2003
Pesquisa, Organizações Não Governamentais e outros que possam colabo-
rar com o desenvolvimento dos trabalhos.

Parágrafo Terceiro – O comitê deverá contar, a princípio, com quatro


Grupos de Trabalho: Aids; população quilombola, mortalidade materna e Perguntar a cor e raça é racismo?
anemia falciforme. O impacto da autoclassificação na rotina de um serviço de saúde pú-
blica em São Paulo
Artigo 3º – Os integrantes do Comitê ora instituído terão mandato de 3
anos, com reuniões mensais.
Andréa Santos Rafael*
Artigo 4º – As atividades do Comitê são de caráter público, não podendo * Médica Infectologista, Mestre em Doenças Infecciosas pela Faculdade
ser remuneradas em qualquer hipótese. de Medicina da Universidade de São Paulo, Assistente da Diretoria
CE-DST/Aids – SP. Email: andrearafael@crt.saude.sp.gov.br

Artigo 5º – O apoio administrativo necessário ao funcionamento do


Comitê será responsabilidade da Secretaria de Estado da Saúde, por meio Me desculpe, mas qual é a sua cor? Hoje esta frase carrega um sentido
da Coordenação de Controle de Doenças - CCD. provocativo, porém há bem pouco tempo ela traduzia nosso embaraço ao
consultarmos os usuários quanto ao quesito cor e raça, no nosso primeiro
Artigo 6º – Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação: contato com a autoclassificação, no Centro de Referência e Treinamento
em DST/Aids (CRT/DST-Aids) de São Paulo.
LUIZ ROBERTO BARRADAS BARATA Nem tínhamos idéia das possíveis transformações que se iniciavam
Secretário de Estado da Saúde em nós, profissionais de saúde de um serviço que atende aproximadamente
(REPUBLICADO POR HAVER SAÍDO COM INCORREÇÕES) 3.500 portadores de HIV/ Aids em um dos seus ambulatórios e que preci-
sava atualizar urgentemente os dados de identificação dos seus usuários.
Nosso foco de atenção era o contrato de segredo que iríamos estabele-
cer com cada indivíduo, com relação às formas do CRT entrar em contato
com seus clientes, tendo em vista o enorme número de falsos endereços e
telefones que nossos pacientes nos forneciam. Ninguém queria ser localiza-
do em seu trabalho ou domicílio, com medo de ser revelada a sua situação
de portador do HIV. Apesar de que a supervisão dos cuidados quanto à
ética e ao sigilo no contato com nossos usuários fosse uma preocupação
constante, ainda não havíamos passado por uma situação de campanha,
nossos dados estavam desatualizados, não conseguíamos, por exemplo,
desmarcar ou remarcar consultas adequadamente. Esta limitação de comu-
Cor, Raça/Etnia na Saúde 69

nicação trazia prejuízos e desgastes para o serviço, e para os usuários, que, o objetivo e importância deste dado. Tivemos de passar por um proces-
muitas vezes, só sabiam do reagendamento, quando compareciam ao CRT. so de discussão, no qual constatamos que o primeiro fator importante é a
Por tudo isso chegara o nosso momento de uma reflexão conjunta sobre a maneira pela qual cada indivíduo se reconhece, e não a idéia que fazemos
ética, sigilo, cidadania e respeito mútuo entre instituição e clientela. Convo- dele, ao olharmos a cor da sua pele. Existem pessoas de cor preta que não
camos voluntários para aplicar a ficha de atualização de matrícula com seu se identificam como pretos, assim como há pessoas de pele clara enraizadas
respectivo contrato de sigilo, mas era preciso parar e rever todo o processo, na cultura negra.
havia uma tarefa adicional: Esta foi a nossa primeira lição, a heteroclassificação é falha e não reflete
o conjunto de valores étnico-raciais a que pertence um indivíduo ou grupo
Incorporar a autoclassificação para cor e raça ao nosso questionário...”Quer de pessoas, como os nossos pacientes.
dizer que a gente vai ter de perguntar também aos usuários qual é a cor e a A segunda etapa foi discutir com a equipe a necessidade de levantar
raça deles?”; “ este dado, momento de aprender sobre as desigualdades de incidência de
mortalidade pelo HIV/
Mas perguntar sobre a cor e raça das pessoas não é racismo?” Reagimos Aids nos indivíduos negros e brancos, incluindo dados do próprio
com estupefação e algum incômodo começou a brotar, pois, a partir da- CRT. Aos poucos, foi tornando-se evidente que precisávamos realizar um
quele momento, percebemos o quanto é difícil falar sobre a cor da pele ou diagnóstico mais adequado para avaliar se estratégias adicionais deveriam
raça das pessoas no Brasil, tanto para quem pergunta quanto para quem ser pensadas para esta ou aquela população. Foi um longo processo de dis-
responde. cussão, envolvendo toda a equipe e, muito mais profundamente, os volun-
Neste país, até há poucos anos escravocrata, chamar as pessoas de tários, que fariam o corpoa- corpo com os usuários. Revimos nossos con-
“preto (a)” tornou-se quase sinônimo de desmerecimento. A cor da pele e/ ceitos e sentimentos, em relação ao racismo, assistimos a vídeos e palestras
ou raça das pessoas é assunto vetado em nossos círculos de família ou de epidemiológicas, foi um trabalho de treinamento e capacitação, para que
amigos. No entanto comentários sobre questões raciais permeiam as con- nossos entrevistadores pudessem perguntar mais tranqüilamente aos usu-
versas de pé de ouvido, ou desabafos irônicos nos elevadores, cozinhas e ários a qual cor/raça eles pertenciam. Nem sempre foi um processo sereno,
corredores. No Brasil não é costume perguntar a cor/raça das pessoas. Este alguns usuários respondiam “ué, não tá vendo não?” Outros ainda ficavam
traço da nossa cultura também estava introjetado em nós, profissionais de incomodados e diziam “isto é racismo”, mas a equipe procurava esclarecer a
saúde, que não nos sentíamos nem um pouco à vontade nem entendía- importância e o objetivo de levantar este dado desta maneira.
mos a necessidade de pesquisarmos desta forma este item. Afinal de contas, Foi uma experiência realmente transformadora, não só em nossas vi-
todo mundo, lá matriculado, já tinha sido identificado por outro profissio- das mas também pelos principais resultados levantados . Um deles foi o sur-
nal como pertencente ao mundo dos brancos, pardos, negros ou amarelos, gimento de uma população que se autoclassificou como indígena, formada
no clássico método de heteroclassificação... por 24 usuários da instituição que haviam sido anteriormente classificados
(heteroclassificação) como brancos (22) e negros (2). A oportunidade de
Para que perguntar isso a cada um deles na campanha de atualização expressão e reflexão das pessoas sobre as questões étnico-raciais foi muito
de matrícula? enriquecedora, deu-nos oportunidade para perceber falhas, possibilitan-
Nossa experiência talvez possa ajudar outros serviços, pois, no início, do melhorar nosso atendimento, rever estratégias e ampliar nosso olhar de
não estávamos preparados para esta rotina, e nosso primeiro passo foi en- cuidadores da saúde mais adequados às singularidades de cada indivíduo.
tender melhor e compartilhar com a equipe de profissionais e voluntários
Cor, Raça/Etnia na Saúde 71

HISTORIA DOS CENSOS NO BRASIL Dois anos mais tarde, em 1872, foi realizado o primeiro recenseamento na-
cional no país, o qual recebeu o nome de Recenseamento da População
do Império do Brasil. Depois deste e até 1940, novas operações censitárias
sucederam-se em 1890, 1900 e 1920. Em 1910 e em 1930, não foram reali-
zados os recenseamentos.
Com a criação do IBGE, em 1938, e com a contribuição do renomado
demógrafo italiano Giorgio Mortara, inaugurou-se a moderna fase censi-
tária no Brasil. Caracterizada, principalmente, pela periodicidade decenal
dos censos demográficos, nessa nova fase foi ampliada a abrangência temá-
Você sabia que o tamanho da população brasileira é conhecido desde o tica do questionário com introdução de quesitos de interesse econômico e
período colonial? social, tais como os de mão-de-obra, emprego, desemprego, rendimento,
Até 1872 os dados sobre a população brasileira eram obtidos de forma fecundidade, migrações internas, dentre outros temas.
indireta, isto é, não eram feitos levantamentos com o objetivo estrito de O período logo após o censo de 1991 esteve fortemente marcado pela
contar o número de habitantes. As fontes de dados eram relatórios prepara- integração com a sociedade. O IBGE incentivou essa integração: estimu-
dos com outras finalidades, como os relatórios de autoridades eclesiásticas, lando a discussão para reformular alguns itens já constantes do questioná-
sobre os fiéis que freqüentavam a igreja, e os relatórios de funcionários da rio e para incorporar novos ao Censo 2000. A participação cada vez maior
Colônia, enviados para as autoridades da Metrópole. Usava-se, também, e a importantíssima contribuição dos governos municipais e estaduais no
como fonte de informação, as estimativas da população fornecidas pelos preparo dos mapas que apóiam os trabalhos do Censo são um reflexo dessa
Ouvidores, ou outras autoridades, à Intendência Geral da Polícia. tendência . Todo o Brasil, hoje, pode participar!
Somente a partir de 1750, visando a objetivos estritamente militares, a
Coroa Portuguesa decidiu realizar levantamentos, de forma direta, da po-
pulação livre e adulta, apta a ser convocada para a defesa do território. IBGE. O Censo de 2000. Disponível em
O primeiro regulamento censitário no Brasil data de 1846. Tal regula- http://www1.ibge.gov.br/ibgeteen/censo2k/index.html
mento definiu o caráter periódico do censo demográfico, fixando um inter-
valo de 8 anos. Somente em 1850 o governo foi autorizado a despender os
recursos necessários para a realização de uma operação do porte de um censo
demográfico. O primeiro censo, então, foi programado para ocorrer em 1852.
Entretanto, a operação prevista para 1852 não foi realizada: a população
revoltou-se e impediu o levantamento que já estava em pleno início de exe-
cução! Revoltou-se contra o Decreto no 797/junho de 1851, então conhecido
como a “ lei do cativeiro”. Acreditava-se que o decreto era uma odiosa medida
governamental visando à escravização dos homens de cor. Este episódio foi
suficiente para adiar por 20 anos a realização do primeiro censo.
Em 1870, um novo regulamento censitário determinou que os censos
cobririam todo o território nacional e que deveriam ocorrer a cada 10 anos.
Cor, Raça/Etnia na Saúde 73

SUGESTÕES DE LEITURAS, VIDEOS, Promovendo a equidade na atenção à saúde (folheto informativo)


Disponível em: http://www.combateaoracismoinstitucional.com/images/padf/
FILMES e SITES equidade_saude.pdf
Disponível em:
http://www.combateaoracismoinstitucional.com/images/padf/equidade_saude.pdf

A historia dos censos no Brasil


Disponível em: http://www1.ibge.gov.br/ibgeteen/censo2k/index.html

Declaração sobre a Raça e os Preconceitos Raciais.


Disponível em:
http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/discrimina/dec78.htm.

Seminário Nacional de Saúde da População Negra. Realização: Ministério Atlas Racial Brasileiro
da Saúde e Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. www.pnud.org.br/publicacoes/atlas_racial/index.php
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Disponível em: Igualdade. Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdade. 2003.
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Política Nacional de Saúde Integral da População Negra http://www.ceert.org.br/modulos/publicacoes/publicacoes.php
Disponível em: OLIVEIRA, Fátima. Saúde da população negra : Brasil ano 2001 Brasília:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politicapopnegra.pdf Organização Pan-Americana da Saúde, 2003.
Disponível em:
Seminário Saúde da População Negra Estado de São Paulo 2004 http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/0081_saude_popnegra.pdf
Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/ms/ WERNECK, Jurema. Segurança e justiça nas cores.
Disponível em: www.social.org.br/relatorio2003/relatorio030.htm
Saúde da População Negra: contribuições para a equidade - Funasa O desafio de eliminar o racismo no Brasil: a nova institucionalidade no combate à
Disponível em: desigualdade racial”
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/pop_negra/pdf/saudepopneg.pdf Disponível em: http://www.inesc.org.br/biblioteca/publicacoes/artigos/
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Quesito Cor (folheto informativo) BARBOSA, Raquel. A questão do quesito raça/cor nos prontuários do Programa
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Cor, Raça/Etnia na Saúde 77

vídeos Filmes

Promovendo a Eqüidade na Atenção à Saúde. Realização Programa de Combate ao Abolição (BRA, 1987, 150 min.) Documentário. Direção: Zózimo Bulbul
Racismo Institucional - PCRI
http://64.246.56.111/video.pnud.org.br/videos/racismo/promoven_256.wmv A Negação do Brasil (BRA, 2000, 90 min.) Documentário. Direção: Joel Zito Araújo

Quesito Cor. Realização Programa de Combate ao Racismo Institucional - PCRI Kiriku e a feiticeira. Direção: Michel N´Dour. França/Bélgica, Cult Filmes, 1998.
http://64.246.56.111/video.pnud.org.br/videos/racismo/promoven_256.wmv
Filhas do vento. Direção: Joel Zito Araújo. Rio de Janeiro, Asa, 2005.
Saúde de Desenvolvimento com Equidade. Realização Programa de Combate ao Ra-
cismo Institucional - PCRI e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimen- Quilombo. Direção Cacá Diegues. Brasil, 1984.
to - PNUD
www.combateaoracismoinstitucional.com

Discriminação, Minorias e Racismo. Realização Associação Nacional de Direitos


Humanos – Pesquisa e Pós-Graduação – ANDHEP
http://www.andhep.org.br/content/blogcategory/29/80/ Links
Programa de Combate ao Racismo Institucional. Realização Ministério do Governo
Britânico para o Desenvolvimento Internacional – DFID
www.combateaoracismoinstitucional.com
Governamentais:
Zumbi Somos Nós. Documentário, 52 minutos. 2006.Realizado pelo coletivo Fren-
te 3 de Fevereiro. http://www.frente3defevereiro.com.br/ www.aids.gov.br
www.crt.saude.sp.gov.br
Retrato em preto e branco. Roteiro e direção: Joel Zito Araújo. São Paulo, Ceert, www.ibge.gov.br
Vista minha pele. Direção: Joel Zito Araújo. São Paulo, Ceert, 2004. www.ceert.org.br www.ipeadata.gov.br
www.isaude.sp.gov.br
Narciso Rap. Direção: Jeferson De. São Paulo, Prefeitura de São Paulo / Secretaria www.planalto.gov.br/seppir
Municipal de Educação / Projeto Vida, 2004. www.pnud.org.br
www.rndh.gov.br
www.seade.gov.br
Cor, Raça/Etnia na Saúde 79

Não-Governamentais:
GLOSSARIO1
www.afrobas.org.br

www.afropress.com

www.ammapsique.org.br

www.ceert.org.br
Ações afirmativas. As ações afirmativas correspondem a um tipo de po-
lítica compensatória dirigida à correção de desigualdades/disparidades e dis-
www.criola.org.br
criminações forjadas com base nas dimensões de gênero, etnia, raça, porte de
deficiência permanente, idade. Trata-se de medidas especiais e temporárias
www.combateaoracismoinstitucional.com
instituídas pelo Estado e/ou suas instituições, bem como pela iniciativa pri-
vada, de forma espontânea, facultativa ou compulsória (obrigatória).
www.dialogoscontraoracismo.org.br
O conceito originou-se na Índia imediatamente após a Primeira Guerra
Mundial (1914-1919) a fim de proteger os interesses dos segmentos popu-
www.geledes.org.br
lacionais (castas) inferiorizados naquela sociedade. Seu desenvolvimento se
realizou com os processos de independência dos países africanos, da Ásia,
www.gvtr.kit.net
do Caribe e do Pacífico Sul – antes colonizados por nações européias –, ten-
do se popularizado após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). As ações
www.irohin.org.br
afirmativas não surgiram, portanto, no contexto de luta pela garantia dos
direitos civis da população negra nos Estados Unidos, na década de 1960.
www.leliagonzalez.org.br
Em todo caso, esse foi um episódio emblemático para difusão dessa catego-
ria política. No Brasil, as políticas de ação afirmativa destinadas à população
www.mulheresnegras.org
negra têm se dirigido basicamente aos campos da educação, do emprego e
da saúde. Ver: Focalização, Políticas Afirmativas.
www.redesaude.org.br
Referência:
WEDDERBURN, Carlos Moore. Do marco histórico das políticas de ações afirmati-
www.rets.org.br vas – perspectivas e considerações. In: SANTOS, Sales Augusto dos (org.). Ações afirmati-
vas e combate ao racismo nas Américas. Brasília: MEC/SECAD, 2005.
www.unfpa.org.br

Fonte: Subsídios para o enfrentamento do racismo na saúde. Programa de Combate ao Racismo Institu-
1

cional. Realização DFID – Ministério do Governo Britânico para o Desenvolvimento Internacional Bra-
sília, maio de 2007. In Conceitos e expressões importantes no enfrentamento do racismo institucional.
Cor, Raça/Etnia na Saúde 81

Autodeclaração de cor. Procedimento para a construção de registros es- Comunidades remanescentes de quilombos / Comunidades quilombo-
tatísticos, a identificação racial pode ser opcional (de escolha) e contextual, las. De acordo com o artigo 20, do Decreto 4.887, de 20 de novembro de
depende da forma como a informação é solicitada e da repercussão social 2003, consideram-se comunidades remanescentes de quilombos, “os grupos
e econômica (benefícios e prejuízos) que essa categorização pode implicar. étnico-raciais, segundo critérios de auto-atribuição, com trajetória históri-
No Brasil, há uma divergência evidente na autoclassificação de negros poli- ca própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de
ticamente engajados e aquela adotada pelas bases não mobilizadas, deixan- ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica so-
do nítida a ideologia do embranquecimento que marca significativamente frida”. Em sua origem, os quilombos foram organizações sociais e comuni-
o inconsciente e o imaginário coletivos. Logo, a cor ou pertencimento racial tárias formadas por ex-escravizados libertos e/ou fugidos, com o objetivo de
que alguém se atribui é confirmado ou negado pelo olhar do outro, poden- promover a segurança e a sobrevivência de seus membros. Localizadas qua-
do determinar uma dissonância entre o reconhecimento de si mesmo e o se sempre em áreas rurais, as comunidades remanescentes de quilombos,
reconhecimento a partir do olhar do outro. atualmente, podem também ser encontradas em zonas urbanas. O exemplo
Referências: mais conhecido de sociedade quilombola foi Palmares, localizado entre os
LOPES, Fernanda. Vamos fazer um teste: qual é a sua cor? A importância do Quesito atuais estados de Alagoas e Pernambuco. O Quilombo de Palmares foi cria-
Cor na saúde. Suplemento 6 do Boletim Epidemiológico Paulista – Saúde da População Ne- do em fins do século XVI e resistiu por aproximadamente setenta anos, até
gra no Estado de São Paulo, volume 3, dezembro de 2006.
OSÓRIO, Rafael Guerreiro. O Sistema Classificatório se “Cor ou Raça” do IBGE (Tex-
1695, tendo entre suas lideranças personalidades históricas: mulheres, como
to para Discussão n. 996). Brasília: Ipea, novembro de 2003. Aqualtume, Acotirene e Dandara; e homens, como Ganga Zumba e Zumbi.
Referência:
BRASIL. Decreto n. 4.887, de 20 de novembro de 2003. Disponível em:
Branqueamento. Traço marcante do racismo brasileiro, a ideologia do
www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2003/D4887.htm.
branqueamento figurou como peça chave nos projetos de modernização
nacional postos em curso no Brasil entre meados do século XIX e primei-
Discriminação. Práticas de restrição, desrespeito e/ou violação dos direi-
ras décadas do XX. Visava a promover a diluição/eliminação da presença
tos objetivos de outras pessoas em razão de fatores como cultura, religião,
africana e ameríndia entre a população do país. Entre as estratégias adota-
raça, etnia, nacionalidade, língua, classe, sexo, orientação sexual, entre outras.
das, empreendeu-se o incentivo à entrada de imigrantes europeus, seguida
Supõe a classificação dos indivíduos em diferentes grupos, em que alguns re-
da marginalização e exclusão dos afro-brasileiros e indígenas dos espaços
cebem tratamentos distintos em detrimento dos demais, sendo comumente
sociais, políticos, econômicos e culturais de prestígio. Paralelamente, natu-
reprodutores de preconceitos naturalizados. A discriminação é considerada
ralizou-se a associação do fracasso social e econômico com a cor negra e do
preconceituosa se gerar uma ação em que a pessoa ou o grupo lesado seja
sucesso com a cor branca. Nesse sentido, o apelo à miscigenação e a exalta-
considerado inferior; essa forma de discriminação é crime no Brasil. Ver:
ção da imagem do “país mestiço” serviram ao mesmo propósito de limpeza
apartheid, discriminação racial, preconceito, racismo e xenofobia.
étnico-racial, não à promoção de uma democracia racial efetiva no Brasil.
Referência:
Ver: mito da democracia racial, miscigenação e racismo. PNUD. Relatório de Desenvolvimento Humano – Brasil 2005: racismo pobreza e vio-
Referências: lência. Brasília: PNUD, 2005.
MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil – identidade nacional
versus identidade negra. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
Discriminação racial. Corresponde à expressão ativa ou comportamen-
SANTOS, Gislene Aparecida dos. A invenção do ser negro: um percurso das idéias
que naturalizavam a inferioridade dos negros. São Paulo: Educ/Fapesp; Rio de Janeiro: tal do racismo e do preconceito racial. O preconceito e o racismo são mo-
Pallas, 2002. dos de ver, concepções, representações sobre determinadas pessoas ou gru-
Cor, Raça/Etnia na Saúde 83

pos sociais racializados. A discriminação racial remete a ações em que essas dariedade, composto por pessoas conscientes, ao menos em forma latente,
representações são apresentadas por meio de práticas sociais e cotidianas, em ter origem e interesses comuns. Tal como registra Cashmore (2000),
gerando situações de desvantagem e desigualdades entre os segmentos po- um grupo étnico é um fenômeno cultural e não um mero agrupamento de
pulacionais envolvidos. Manifestam-se de forma intencional ou não, seja pessoas ou de um setor da população, mas uma agregação consciente de
pela atribuição de rótulos pejorativos, seja até mesmo pela negação do aces- pessoas unidas ou associadas por experiências compartilhadas.
so aos bens públicos e constitucionais, como saúde, educação, justiça, habi- O termo etnia, em muitos momentos, tem sido utilizado para substi-
tação, participação política, etc. Ver: preconceito e racismo. tuir o termo raça, por parecer “mais politicamente correto”.
Referências: Essa substituição pode ser, na verdade, uma confusão de significados.
CASHMORE, Ellis. Dicionário de Relações Étnicas e Raciais. São Paulo: Summus, 2000. Enquanto o termo raça refere-se aos atributos dados a um determinado
SANTOS, Hélio. Discriminação Racial no Brasil. In: SABOIA, Gilberto Vergne segmento, o termo etnia ou grupo étnico, refere-se à resposta criativa de
(org.). Anais de Seminários Regionais Preparatórios para Conferência Mundial contra Ra-
cismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata. Brasília: Ministério da um povo que, de alguma maneira, se sente marginalizado pela sociedade.
Justiça, 2001. Portanto, etnia é um termo que define a característica proeminente de um
grupo que se reconhece de algum modo distinto. Ainda assim, a filiação ou
Equidade. Diz-se do princípio jurídico e político de garantir igualdade bagagem étnica não é algo que se pode abandonar livremente como se fosse
na concessão de benefícios e serviços a cada um segundo suas necessida- apenas uma opção cultural, ela é algo profundamente arraigado na cons-
des, considerando que essas podem ser, e geralmente são, diferentes. Trata- ciência das pessoas durante anos de socialização em um grupo étnico. Ela
se, pois, de “tratar diferentemente os desiguais”, sem que isso reverta em assume características passadas de geração a geração, mas que podem ser
privilégios ou discriminação. submetidas a um questionamento das sucessivas gerações e sofrer modela-
As ações afirmativas são típicos exemplos de prática da equidade. No ção; como elemento cultural, ela não é estática, é dinâmica, o que permite
âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), devem ser disponibilizados re- (re)apropriações, (re)leituras e (re)interpretações de dentro e de fora do
cursos e serviços de forma justa, de acordo com as necessidades específicas grupo. Ver: Raça.
de quem a ele recorre. O que determina o tipo de atendimento é a com- Referências:
plexidade do problema de cada usuário. Ver: Política Nacional de Saúde CASHMORE, Ellis. Dicionário de Relações Étnicas e Raciais. São Paulo: Summus, 2000.
Integral da População Negra. KI-ZERBO, Joseph. Introdução Geral. In: KI-ZERBO, Joseph (coord.). História
Geral da África, Volume I: Metodologia e pré-história da África. São Paulo: Ática; Paris:
Referência:
Unesco, 1982.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS). O SUS de A a Z: garantindo saúde nos
municípios. Brasília: Ministério da Saúde / Conselho Nacional de Secretários Municipais
de Saúde, 2005. Estereótipo. Trata-se de uma generalização excessiva a respeito do
comportamento ou de outras características de membros de determinados
Etnia. Derivada do grego ethnikos, adjetivo de ethos, a etnia refere-se grupos sociais. Os estereótipos podem ser positivos ou negativos, sendo os
a um povo ou nação. Durante o período moderno, segundo o historiador últimos normalmente mais ressaltados. Mesmo os ostensivamente positi-
Joseph Ki-Zerbo (1982), o termo etnia, atribuído aos chamados povos sem vos podem comumente remeter a uma avaliação negativa. Ver: intolerân-
escrita, foi sempre marcado pelo preconceito racista, sendo o vocábulo ét- cia, preconceito, machismo, racismo e sexismo.
nico utilizado como sinônimo de idólatra. Em sua forma contemporânea, Referência:
o emprego do termo etnia ainda mantém os significados básicos no sentido CASHMORE, Ellis. Dicionário de Relações Étnicas e Raciais. São Paulo: Summus,
em que descreve um grupo possuidor de algum grau de coerência e soli- 2000.
Cor, Raça/Etnia na Saúde 85

IDH - Índice de Desenvolvimento Humano. É uma medida comparativa Intersetorialidade. A prática da intersetorialidade em saúde é uma es-
com base em três categorias analíticas: PIB per capita, longevidade e edu- tratégia que visa à superação da fragmentação das políticas nas várias áreas
cação. O objetivo da elaboração do Índice de Desenvolvimento Humano é onde são executadas, legitimando, assim, a articulação de diferentes setores
oferecer um contraponto a outro indicador muito utilizado, o Produto In- na resolução de problemas no cotidiano da gestão. Como registra o Minis-
terno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a dimensão econômica tério da Saúde, na obra O SUS de A a Z: garantindo saúde nos municípios,
do desenvolvimento. Além de computar o PIB per capita, o IDH o corrige “a intersetorialidade como prática de gestão na saúde permite o estabele-
pelo poder de compra da moeda de cada país. A renda é mensurada pelo cimento de espaços compartilhados de decisões entre instituições e dife-
PIB per capita em dólar PPC (paridade do poder de compra, que elimina rentes setores do governo que atuam na produção da saúde na formulação,
as diferenças de custo de vida entre os países). Para aferir a longevidade, o implementação e acompanhamento de políticas públicas que possam ter
indicador utiliza números de expectativa de vida ao nascer. O item edu- impacto positivo sobre a saúde da população”. Ademais, constitui-se num
cação é avaliado pelo índice de analfabetismo e pela taxa de matrícula em instrumento de promoção da cidadania, ao propiciar a participação dos
todos os níveis de ensino. Essas três dimensões têm a mesma importância sujeitos sociais individuais e coletivos, e serve como estímulo ao trabalho
no índice, que varia de zero a um. Em 2000, a população branca do Brasil em rede, cuja prática requer articulação, vinculações, ações complemen-
apresentava um IDH-M (variante municipal) de 0,814, enquanto o IDH-M tares, relações horizontais entre parceiros e interdependência de serviços
da população negra era de 0,703. Caso formassem uma nação à parte, os para garantir a integralidade das ações. Trata-se, portanto, de uma peça im-
brancos, com um nível de desenvolvimento humano alto (acima de 0,800), portante para possibilitar a atuação dos movimentos sociais nos processos
ficariam na 44ª posição no ranking do IDH das nações. decisórios sobre qualidade de vida e saúde de que dispõem.
Já a população negra, com um nível de desenvolvimento humano mé- Referência:
dio (entre 0,500 e 0,799), teria IDH compatível com a 105ª posição. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS). O SUS de A a Z: garantindo saúde nos
Um recorte por regiões mostra que o Brasil abriga, em uma ponta, municípios. Brasília: Ministério da Saúde / Conselho Nacional de Secretários Municipais
de Saúde, 2005.
uma população com desenvolvimento humano semelhante ao da Polô-
nia (brancos do Sudeste, com IDH de 0,833, equivalente à 37ª posição no Machismo. Conjunto de leis, normas, atitudes e/ou traços sociocultu-
ranking de países) e, em outra, um grupo com condições de vida semelhan- rais que sustentam ou simulam espaços de poder aos homens com a fina-
tes às da Bolívia (negros do Nordeste, com IDH-M de 0,652, equivalente lidade, explícita e/ou implícita, de manter a submissão das mulheres em
à 115ª posição). No caso da população negra, em 2000, não havia região todos os níveis: sexual, procriativo, trabalhista e afetivo-comportamental
brasileira em que o IDH-M estivesse acima de 0,750. Esses dados sugerem – o que tende a negar às mulheres a extensão de prerrogativas ou direitos
que há uma combinação entre desigualdades regionais e raciais. É evidente dos homens. Liga-se, ainda, a outras formas de preconceito, intolerância e
que as desigualdades raciais medidas pelo IDH perpassam todas as regiões discriminação. Ver: discriminação, gênero homofobia e sexismo.
e estados do país, não existe região brasileira nem unidade da Federação
onde o IDH dos negros fosse maior ou igual ao dos brancos, o mesmo va- Miscigenação. Muito mais do que representar o processo ou resultado de
lendo para cada um dos índices que compõem o indicador (longevidade, mistura de raças, em sua falsa dimensão biológica, a miscigenação representa
educação e renda). um dos fatores históricos que ajudaram a construir o padrão das relações
Referência: sociais no Brasil. A partir da imagem de uma sociedade miscigenada, por
PNUD. Relatório de Desenvolvimento Humano – Brasil 2005: racismo pobreza e vio-
lência. Brasília: PNUD, 2005.
muito tempo se afirmou a idéia de que o Brasil havia superado o problema
do racismo. Todavia, como observa Sueli Carneiro, “a miscigenação como
Cor, Raça/Etnia na Saúde 87

suposta prova de ausência de racismo e discriminação racial faz supor que os direitos de mulheres e homens negros, no contexto da luta contra o ra-
em países em que se praticou racismo legal ou que viveram conflitos raciais cismo. Trata-se de uma concepção ampla de movimento social, que busca
explícitos a miscigenação tenha sido um fenômeno ausente ou irrelevante”. contemplar a complexidade, a heterogeneidade e a multiplicidade das or-
Referência: ganizações que atuam no campo das relações raciais e combate ao racismo.
CARNEIRO, Sueli. Faz-de-conta. Correio Braziliense, 31 de agosto de 2006. Desse modo, considera-se Movimento Social Negro um conjunto plural de
entidades, incluindo as organizações tradicionais, como as casas e os terrei-
Mito da democracia racial. Fenômeno singular no racismo brasileiro, o ros de religiões de matriz africana, as irmandades, os grupos culturais, blo-
mito da democracia racial corresponde à construção imaginária acerca da cos carnavalescos e grêmios recreativos das escolas de samba e os grupos de
vigência de um harmonioso convívio entre os grupos racializados. capoeira, as posses de rap, bem como as organizações não-governamentais
Trata-se de uma idéia altamente difundida por representantes de go- antirracistas, as associações de empresários, os grupos de base comunitária,
verno, intelectuais, meios de comunicação e reproduzida entre a população bem como o movimento hip-hop. Entre as entidades de destaque histórico
em geral, desde o fim do século XIX. Tendo Gilberto Freyre entre as figuras do movimento negro brasileiro, têm-se a Imprensa Negra, que atuou de
de destaque, estas teorias alimentaram uma visão do sistema escravista do 1915 a 1963, o Teatro Experimental do Negro (década de 30), a Frente Ne-
Brasil como um modelo paternalista, de interações mais próximas e har- gra Brasileira, na década de 1940, e o Movimento Negro Unificado (MNU),
mônicas entre senhores e escravos. fundado em 1978. Ver: Sociedade Civil.
Com base nisso, enfatizou-se o papel da população negra escravizada
na formação da nação brasileira e sua influência na cultura, na produção Naturalização. No âmbito dos costumes, corresponde ao fenômeno de
econômica e na prestação de serviços. incorporação pela sociedade da desigualdade, do racismo, bem como de ou-
Ao mesmo tempo, foram colocados em segundo plano o dilaceramento tros fatos sociais, como ocorrências normais ou corriqueiras, que de outra
da identidade cultural dos africanos e seus descendentes pela sociedade, o forma deveriam ser considerados anômalos, irregulares ou mesmo ilegais,
tratamento de negação e exclusão que os negros receberam do Estado e da mas que são correntemente assumidos como parte da paisagem e da norma
sociedade após a abolição da escravatura e também as reações da população do cotidiano. Esta ação acaba por dificultar ainda mais a sua reversão ou seu
negra a essa situação, por meio de movimentos de resistência. As teses da de- combate, como no caso do racismo. Ver: mito da democracia racial.
mocracia racial sempre tiveram seus opositores. O Movimento Social Negro
teve papel importante nesse processo, como, por exemplo, nas manifestações Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. A Política Na-
empreendidas nos anos 1930 e nas lutas pela redemocratização do país, no cional de Saúde Integral da População Negra (PNSPN) define o conjunto
fim da década de 1970. Algumas conquistas importantes efetivaram-se na de princípios, marcas, diretrizes e objetivos voltados para a melhoria das
Constituição Federal de 1988, que estabeleceu disposições antidiscriminató- condições de saúde desse segmento da população. Inclui ações de cuidado e
rias, transformou o racismo em crime inafiançável, protegeu a manifestação atenção à saúde, bem como de gestão participativa, controle social, produ-
das culturas indígenas e afro-brasileiras e determinou a proteção legal aos ção de conhecimento, formação e educação permanente de trabalhadores
documentos locais dos antigos quilombos. Ver: discriminação racial, misci- de saúde, visando à promoção da equidade em saúde da população negra.
genação, mito da democracia racial, movimento social negro. Abrange ações e programas de diversas secretarias e órgãos vinculados
ao Ministério da Saúde. Trata-se, portanto, de uma política transversal a ser
Movimento Social Negro. A expressão movimento negro refere-se ao implementada pelo conjunto das instituições federais, estaduais e munici-
conjunto de organizações e instituições dedicadas a defender e a promover pais do SUS, a fim de garantir maior grau de equidade no que diz respeito à
Cor, Raça/Etnia na Saúde 89

efetivação do direito humano e constitucional à saúde, em seus aspectos de Preto, Pardo, Negro. A classificação racial é entendida como o conjunto
promoção, prevenção, atenção e tratamento às doenças e agravos transmis- de categorias em que os sujeitos da classificação podem ser enquadrados.
síveis e não transmissíveis, incluindo aqueles de maior prevalência nesse Na coleta e apresentação de dados, o Instituto Brasileiro de Geografia e Es-
segmento populacional. A Política insere-se na dinâmica do SUS por meio tatística (IBGE) adota, desde 1990, cinco categorias de classificação de cor
de estratégias de gestão participativa. ou raça da população nacional: branca, preta, parda, amarela e indígena.
Observa-se que, em termos estatísticos, pretos e pardos se distinguem bas-
Políticas Afirmativas. Políticas que priorizam grupos populacionais dis- tante dos brancos, mas virtualmente diferem pouco entre si em qualquer
criminados no contexto da luta pela universalização dos direitos. Ver: ações indicador de situação ou posição social que se possa imaginar. Por isso,
afirmativas e focalização. com base nesse sistema classificatório, torna-se possível o emprego poste-
Referência: rior da categoria “negra”, na qual se reúnem pretos e pardos, com o objetivo
PNUD. Relatório de Desenvolvimento Humano – Brasil 2005: racismo pobreza e vio- de fazer referência aos descentes de africanos no Brasil. Esse procedimento
lência. Brasília: PNUD, 2005. é possível uma vez que o propósito da classificação racial é se aproximar
de uma caracterização sociocultural local. Do ponto de vista político, essa
Políticas Universais. As políticas universais de caráter público gover- categoria é utilizada pelo Movimento Social Negro como algo que denota
namental, ou não, são aquelas que buscam garantir que todas as pessoas identidade, em que preto e pardo seriam apenas cores, enquanto negra seria
na sociedade tenham seus direitos fundamentais efetivados. Embora sejam a raça, em sua dimensão social. Ver: Autodeclaração de cor. Quesito Cor.
elaboradas para atender a todas e a todos, as políticas universais nem sem- Referência:
pre levam em consideração o impacto das desigualdades socioeconômicas OSÓRIO, Rafael Guerreiro. O Sistema Classificatório se “Cor ou Raça” do IBGE (Tex-
e as necessidades específicas derivadas junto aos grupos populacionais his- to para Discussão n. 996). Brasília: IPEA, novembro de 2003.
toricamente discriminados, socialmente excluídos e/ou em situação de vul-
Quesito Cor. O Quesito Cor é instrumento voltado à atribuição de cor
nerabilidade social, tais como as mulheres, os negros, os índios, os jovens e
os adolescentes, entre outros. a partir de uma lista de categorias-padrão utilizadas pelo Instituto Brasi-
Referência:
leiro de Geografia e Estatística (IBGE) – branca, preta, parda, amarela e
PNUD. Relatório de Desenvolvimento Humano – Brasil 2005: racismo pobreza e vio- indígena. Sua inclusão em vários dos documentos oficiais, bancos de dados
lência. Brasília: PNUD, 2005. e sistemas de informação utilizados no Brasil resulta do trabalho conjunto
e do empenho de pesquisadores e pesquisadoras das áreas de demografia
Preconceito. Do latim prae, antes, e conceptu, conceito, preconceito re- e saúde, técnicos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
mete a um conjunto de crenças e valores preconcebidos e apreendidos, sem e militantes do Movimento Social Negro, empreendidos desde a década de
razão objetiva ou refletida, que levam um indivíduo ou um grupo a nutrir 1980. No campo da saúde, em 1996, o Quesito Cor passou a figurar nos
opiniões a favor ou contra os membros de determinados grupos, antes de Sistemas de Informações sobre Mortalidade (SIM) e sobre Nascidos Vivos
uma efetiva experiência com estes. No terreno das relações raciais, o em- (SINASC) e, em 2000, foi incluído no Sistema Nacional de Agravos Noti-
prego do termo normalmente se refere “ao aspecto negativo de um grupo ficáveis (SINAN). Antes disso já constava dos questionários do Instituto
herdar ou gerar visões hostis a respeito de outro, distinguível com base em Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para a amostra do Censo De-
generalizações”. Ver: discriminação racial, racismo. mográfico e das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios (Pnad). A
Referência: maioria dos serviços que coleta a informação sobre raça/cor/etnia o faz por
CASHMORE, Ellis. Dicionário de Relações Étnicas e Raciais. São Paulo: Summus, 2000. meio da observação.
Cor, Raça/Etnia na Saúde 91

Isso significa que um(a) funcionário(a) do serviço preenche a ficha Referências:


e define, por conta própria, a cor/etnia do(a) usuário(a) do serviço, sem CASHMORE, Ellis. Dicionário de Relações Étnicas e Raciais. São Paulo: Summus, 2000.
OIT. Manual de capacitação e informação sobre gênero, raça, pobreza e emprego: guia
consultá-lo(a) – heteroclassificação. para o leitor. Brasília: OIT, 2005.
Contudo, é importante ressaltar que, mesmo que esses(as) funcionários(as)
sejam orientados(as) e capacitados(as) para coletar a informação da melhor
Racismo. É um fenômeno ideológico complexo cujas manifestações, em-
maneira possível, o ideal é que o próprio usuário ou usuária diga qual é sua cor,
bora variadas e diversas, estão ligadas à necessidade e aos interesses, de um
seguindo as categorias utilizadas pelo IBGE (preta, parda, amarela, branca e
grupo social conferir-se uma imagem e representar-se. O racismo engloba
indígena). Para os nascidos vivos é importante que a pergunta seja feita à mãe.
as ideologias racistas, as atitudes fundadas em preconceitos raciais, com-
Em caso de morte, a informação deve ser solicitada ao declarante e,
portamentos discriminatórios, disposições estruturais e práticas institucio-
frente a outras impossibilidades, a pergunta deve ser feita à pessoa respon-
nalizadas que atribuem características negativas a determinados padrões de
sável. Ver: autodeclaração de cor. Preto, Pardo, Negro.
diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detêm, resul-
Referência:
LOPES, Fernanda. Vamos fazer um teste: qual é a sua cor? A importância do Quesito tando em desigualdade racial, assim como a noção enganosa de que as rela-
Cor na saúde. Suplemento 6 do Boletim Epidemiológico Paulista – Saúde da População Ne- ções discriminatórias entre grupos são moral e cientificamente justificáveis.
gra no Estado de São Paulo, volume 3, dezembro de 2006. O elemento central desse sistema de valores é de que a “raça” determina o
desenvolvimento cultural dos povos. Dele derivariam as alegações de supe-
Raça. A espécie humana é indivisível. No campo biológico-genético, as rioridade racial. O racismo, sob o aspecto de fenômeno ideológico, submete
variações de traços físicos, como cor da pele e dos olhos, textura do cabe- a todos e a todas, sem distinção, revitaliza e mantém sua dinâmica com a
lo, formato do nariz e do crânio (chamados fenótipos), não configuram a evolução da sociedade e das conjunturas históricas. Segundo a Declaração da
existência de diferentes raças humanas. Estudos científicos demonstraram Unesco sobre a Raça e os Preconceitos Raciais, de 27 de novembro de 1978,
a unidade da espécie humana, desautorizando o emprego biológico do ter- o racismo manifesta-se por meio de disposições legais ou regimentais e por
mo. Porém, na medida em que as diferenças físicas atraem prontamente a práticas discriminatórias, assim como por meio de crenças e atos antissociais;
atenção dos indivíduos em sociedade, verifica-se a confirmação social do impede o desenvolvimento de suas vítimas, perverte quem o pratica, divide
conceito de raça, independentemente da invalidade da biológica. Assim, a as nações internamente, constitui um obstáculo para a cooperação interna-
categoria permanece empregada em dois contextos básicos, na deprecia- cional e cria tensões políticas entre os povos; é contrário aos princípios fun-
ção/hierarquização de grupos racializados (racismo) e no estabelecimento damentais do direito internacional e, por conseguinte, perturba seriamente a
de senso de coletividade de segmentos discriminados em busca da garantia paz e a segurança internacionais. Não se trata, portanto, de uma questão de
de sua integridade (antirracismo). opinião pessoal. Ver: discriminação racial, preconceito e segregação.
Em outras palavras, “raça” é um signo cujo significado só pode ser Referências:
encontrado na experiência do racismo. De acordo com documentos da Or- CASHMORE, Ellis. Dicionário de Relações Étnicas e Raciais. São Paulo: Summus, 2000.
ganização Internacional do Trabalho (OIT), “onde o complexo raça/cor é UNESCO. Declaração sobre a Raça e os Preconceitos Raciais.
um elemento de controle e hierarquia social, a inclusão da cor como dado Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/discrimina/dec78.htm.
de identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre re-
lações sociais, direitos e privilégios passa a ser extremamente importan- Racismo Institucional. É o fracasso das instituições e organizações em
te como indicador da existência de desigualdades”. Ver: afrodescendente, prover um serviço profissional e adequado às pessoas. Subsídios para o en-
branqueamento, negro, racismo. frentamento do racismo na saúde em virtude de sua cor/fenótipo, cultura,
Cor, Raça/Etnia na Saúde 93

origem étnico-racial. Manifesta-se em normas, práticas e comportamentos Sexismo. O sexismo corresponde à discriminação ou tratamento in-
discriminatórios adotados no cotidiano de trabalho resultantes da igno- digno a um determinado gênero ou ainda a determinada identidade se-
rância, da falta de atenção, do preconceito ou de estereótipos racistas. Em xual. Diferencia-se do machismo por ser mais consciente e pretensamente
qualquer situação, o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos racionalizado, ao passo que o machismo tende a se manifestar a partir de
raciais ou étnicos discriminados em situação de desvantagem no acesso a comportamentos naturalizados.
benefícios gerados pelo Estado e por demais instituições e organizações. Ver: discriminação, gênero homofobia e machismo.
Com a finalidade de desenvolver habilidades para identificar e subsidiar
os(as) trabalhadores(as) na abordagem, prevenção e combate ao racismo ins- Sistema Único de Saúde – SUS. O Sistema Único de Saúde – SUS – é fruto
titucional no setor público, na experiência de implementação do Programa do movimento da reforma sanitária e uma conquista da população brasileira.
de Combate ao Racismo Institucional (PCRI), foram definidas duas dimen- Foi constituído em 1988, ao ser incluído na Constituição Federal subsídios
sões interdependentes e correlacionadas de análise: (1) a das relações inter- para o enfrentamento do racismo na saúde Brasileira. A Lei n. 8.080/1990
pessoais, e (2) a político-programática. A primeira diz respeito às relações que (Lei Orgânica da Saúde) regulamenta, em todo território nacional, as ações
se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores(as), entre os(as) próprios(as) do SUS, estabelece as diretrizes para seu gerenciamento e descentralização e
trabalhadores(as) e entre estes(as) e os(as) usuários(as) dos serviços. A segunda detalha as competências de cada esfera governamental. A Lei n. 8.142/1990
dimensão – político-programática – pode ser caracterizada pela produção e dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS e sobre as trans-
disseminação de informações sobre as condições de vida e de saúde (experiên- ferências de recursos financeiros entre a União, Estados e Distrito Federal.
cias diferentes e/ou desiguais em nascer, viver, adoecer e morrer); pela capaci-
dade em reconhecer o racismo como um dos determinantes das desigualdades Sociedade Civil. Compreende as organizações e instituições, formadas
no processo de ampliação das potencialidades individuais; pelo investimento por cidadãos e cidadãs, constituídas de relativa ou plena autonomia perante
em ações e programas específicos para a identificação de práticas discrimina- as estruturas do Estado e do mercado, que atuam com o objetivo de pres-
tórias; pelas possibilidades de elaboração e implementação de mecanismos e sionar essas instâncias em nome da garantia e da promoção da cidadania
estratégias de não discriminação, combate e prevenção do racismo e intolerân- em contextos específicos e/ou ampliados. Logo, a Sociedade Civil lida di-
cias correlatas – incluindo a sensibilização e capacitação de profissionais; pelo retamente com as demandas dos vários segmentos populacionais e envolve
compromisso em priorizar a formulação e implementação de mecanismos e sujeitos e atores diferentes a partir de formas institucionais também diver-
estratégias de redução das disparidades e promoção da equidade. A apreensão sificadas. Ver: movimento social negro.
dessas dimensões e do conceito de racismo institucional possibilita entender Referência:
como, mesmo diante da negação da existência do racismo, o Brasil alimentou CRI. Sociedade Civil. Disponível em: www.combateaoracismoinstitucional.com.
(e alimenta) tamanhas desigualdades entre brancos e negros, como atestam as
estatísticas oficiais, os estudos e as pesquisas. Sistema de Cotas. Trata-se de um tipo de política de ação afirmativa que
Referências: trabalha com reserva de vagas na ocupação de lugares e vagas no mercado
CRI. Combate ao Racismo Institucional. de trabalho, no sistema educacional etc. Ver: ações e políticas afirmativas.
Disponível em: www.combateaoracismoinstitucional.com.
PNUD. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. DFID. Ministério
do Governo Britânico para o Desenvolvimento Internacional. Programa de Combate ao Violência de gênero contra a mulher. De acordo com a Organização
Racismo Institucional. Relatório revisão anual. Brasília: Mundial de Saúde (OMS), a violência de gênero contra a mulher pode ser
PNUD/DFID, 2005. Disponível em: www.combateaoracismoinstitucional.com. compreendida como qualquer ato que resulta ou possa resultar em dano ou
Cor, Raça/Etnia na Saúde 95

sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, até mesmo ameaças de tais


atos, coerção ou privação arbitrária de liberdade em público ou na vida priva-
da, assim como castigos, maus-tratos, pornografia, agressão sexual e incesto.
Referência:
Krug, E.G. et alii (eds.) World Report on violence and health. Genebra: Organização
Mundial de Saúde, 2002.

Violência e Racismo. A violência pode ser representada por ações reali-


zadas por indivíduos, grupos, classes ou nações que ocasionam danos físicos
ou morais a si próprios ou a outros. Para além da dimensão intencional da
violência, a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera os altos índices
de prejuízos causados pela violência como um problema de saúde pública.
Nos estudos estatísticos sobre mortalidade, estes casos são reunidos sob a
denominação “causas externas” – homicídios, suicídios, acidentes de trânsito.
O impacto da morbimortalidade entre a população negra tem se revela-
do bastante alto. A título de ilustração, o peso desproporcionalmente alto dos
negros entre as vítimas mortas nas ações policiais constitui indício da exis-
tência de viés racista nos aparelhos de repressão. Pode-se argumentar, porém,
que esse grupo é alvo mais frequente da ação policial não em razão do fenó-
tipo, mas porque pretos e pardos estão, em sua maioria, entre a população de
baixa renda e, por isso, estariam mais envolvidos em crimes violentos.
Um estudo coordenado por Ignácio Cano sugere que essa hipótese não
se sustenta, ao demonstrar que, no Rio de Janeiro, a proporção de negros
mortos pela polícia era maior que a de brancos tanto dentro quanto fora das
favelas. A análise dos dados confirmou que a diferença na chance de sobre-
vivência entre pessoas de fenótipo não branco é estatisticamente significa-
tiva e não depende do local em que ocorrem os confrontos com a polícia.
A probabilidade de negros morrerem em confrontos com a polícia é muito
maior nas favelas, que são os locais em que o número de mortos pela polícia
é maior, mas a diferença entre brancos e negros continua desproporcional
quando consideradas outras áreas urbanas. Ver: racismo, segregação espacial.
Referência:
WERNECK, Jurema. Segurança e justiça nas cores.
Disponível em: www.social.org.br/relatorio2003/relatorio030.htm.
Cor, Raça/Etnia na Saúde 97

SAÚDE
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pode atendê-lo(a) melhor

Projeto
Projeto original
original realizado
realizado por:
por:
CEERT
CEERT ee CRT-DST/AIDS
CRT-DST/AIDS Apoio
Apoio Realização
Realização
Com
Com apoio:
apoio:
UNAIDS
UNAIDS ee PNUD
PNUD

DFID UU
UU
U
U
CENTRO
CENTRODEDEESTUDOS
ESTUDOSDAS
DASRELAÇÕES
RELAÇÕES
DE
DETRABALHO
TRABALHOEEDESIGUALDADES
DESIGUALDADES
Secretaria
Secretaria Núcleo
Núcleo Negra
Negra da
da COORDENADORIA
COORDENADORIA
www.ceert.org.br
www.ceert.org.br
de
deEstado
EstadodadaSaúde
SaúdeS.P
S.P
.. Unesp
Unesp para
para DE
DE CONTROLE
CONTROLE SECRETARIA
SECRETARIA
Pesquisa
Pesquisa ee
Mídia
Mídia ee Etnia
Etnia Secretaria
Secretaria Municipal
Municipal de
de Saúde
Saúde Extensão
Extensão DE
DE DOENÇAS
DOENÇAS DA
DA SAÚDE
SAÚDE RREESSPPEEIITTO
O PPO
ORR VVO
OCCÊÊ
Cor, Raça/Etnia na Saúde 99

PL A N O DE AÇÃO - “Quesito Co ou Raça/Etnia”

AÇÕES ESTRATÉGICAS FOCO INSTRUMENTOS PROVIDÊNCIAS RECURSOS VIABILIDADE RESPONSÁVEIS PRAZOS


NECESSÁRIOS (Alta-Média-Baixa)

FUNCIONÁRIOS E VOLUNTÁRIOS

USUÁRIOS
(Recepções e Portarias)

USUÁRIOS
(Sala de Espera)

USUÁRIOS
(Comunidade)

TÉCNICOS DE INFORMÁTICA
RECEPCIONISTAS
COLETORES

RECEPCIONISTAS
COLETORES
Cor, Raça/Etnia na Saúde 101

2 – A coleta de dados de cor/raça no seu serviço:

( ) é realizada para todos os pacientes.

( ) é realizada só para alguns pacientes. Quais? ____________________________

( ) é realizada para a maioria dos pacientes. Quais? _________________________


SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE
( ) nunca é realizada.

INFORMAÇÕES SOBRE A COLETA DO


QUESITO COR OU RAÇA/ETNIA NOS SERVIÇOS DE SAÚDE

3 – Como é realizada essa coleta de dados?


MUNICÍPIO: ( ) SAE ( ) o próprio usuário define a sua cor a partir de pergunta feita por funcionário.
TIPO DE SERVIÇO ( ) o funcionário é quem define a cor do usuário.
REGIÃO: ( ) OUTRO:
( ) algumas vezes o usuário define sua cor; em outras, o funcionário é quem define
a cor do usuário.
( ) não sei responder.

NOME DO SERVIÇO:

NOME DO RESPONSÁVEL PELO PREENCHIMENTO: 4 – As pessoas responsáveis pela coleta de dados foram suficientemente
orientadas para essa atividade?

TELEFONE: ( ) FAX: ( ) ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei

DATA DO PREENCHIMENTO :

5 – Em caso afirmativo na questão anterior, que tipo de orientação os


funcionários receberam?
1 - Os formulários do seu serviço de saúde possuem a informação sobre a cor ou _________________________________________________________________________
raça/etnia dos pacientes? _________________________________________________________________________
( ) Sim, todos possuem. ( ) Sim, alguns possuem. _________________________________________________________________________
( ) Não. Por quê? ( ) Outros: ________________________ _________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
Cor, Raça/Etnia na Saúde 103

6 – Cite três principais dificuldades para o preenchimento da informação sobre a Roteiro para 1º Monitoramento Pós Implantação do
cor ou raça/etnia dos pacientes? Quesito cor ou raça/etnia
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
Município: Data do Monitoramento: / /
_________________________________________________________________________

Entrevistado(a): Entrevistador(a):
7 – Na sua opinião, qual a importância de se conhecer a cor ou raça/etnia da
população usuária do serviço? 1. Atualização de cadastro
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________ Telefone: ______________________________________________________________
_________________________________________________________________________ E-mail institucional: ____________________________________________________
_________________________________________________________________________ E-mail pessoal: _________________________________________________________

2. Plano de Trabalho
8 – Esse serviço de saúde considera necessário receber capacitação sobre a Verificar o Plano de Trabalho e perguntar:
implantação do quesito cor ou raça/etnia em seus formulários?
( ) Sim ( ) Não Das ações planejadas, alguma já foi executada até o momento?
Ø Se SIM:
a) Quais? (anotar o que já foi feito - não esquecer de checar se já foi
realizada capacitação para coleta e se algum serviço já foi iniciou a
9 – Em caso afirmativo, o serviço de saúde concordaria em participar da capacitação coleta)
na capital, São Paulo, e em ser multiplicador na região? b) Que tipos de obstáculos e facilidades foram encontrados para a
( ) Sim ( ) Não realização da Ação?

Ø Se NÃO:
a) Por quê?
b) Em sua opinião, o que o Grupo de Trabalho de monitoramento da
Prazo de devolução deste Questionário: ______________________ implantação da coleta do quesito cor ou raça/etnia poderia fazer
para ajudar a desencadear este processo?
Após preenchido, enviar este questionário para: _______________
3. Impacto
(perguntar somente se houver Coleta iniciada em algum Serviço)
Mais informações: _______________________________________
a) Qual a reação dos usuários ao serem questionados sobre sua cor-
raça-etnia? Exemplos.

b) Os coletores - cadastradores têm encontrado dificuldades? Se sim,


como têm superado?
Cor, Raça/Etnia na Saúde 105

4. Parcerias
O serviço já tem parcerias com movimentos sociais (movimento negro ou
outros, universidades?) se sim, que tipo?

5. Participaçâo Social
O serviço conta com canais de participação de usuários? O usuário do
serviço está sendo envolvido na discussão? De que forma?

6. Atividades
Está planejado algum evento sobre a temática? Qual? Quem está
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE
envolvido? Qual data?
FICHA DE MONITORAMENTO
7. Material Didático-Pedagógico
Estão utilizando algum material informativo sobre a coleta do quesito cor Coleta do Quesito Cor ou Raça/ Etnia
ou raça/etnia?

Instituição: ________________________________________________________________________________
( ) SIM ( ) NÃO
Função do respondente: __________________________________________ Data: ____________________

Se sim:
( ) De elaboração local? Solicitamos o preenchimento deste Formulário para que possamos fazer o monitoramento
( ) Reprodução de material de outras instituições? da coleta do quesito cor/raça/etnia. ATENÇÃO: não é necessário identificar-se.
( ) Sedido por outras instituições?
( ) Outro: ________________________________
1) Assinale com um X duas das alternativas abaixo que melhor expressem as reações dos(as)
usuários(as) quando você pergunta “Qual é a sua cor ou raça/etnia?”:

( ) Aceitação ( ) Curiosidade ( ) Negação ( ) Crítica ( ) Agressividade ( ) Irritação

( ) Outras. Quais: ____________________________________________________________________________


___________________________________________________________________________________________

2) De acordo com a sua observação, em que medida os usuários têm dificuldades em responder à
pergunta “Qual é a sua cor ou raça/etnia?” ( ) quase a totalidade ( ) muitos ( ) mais
ou menos a metade ( ) poucos ( ) uma minoria

3) Se respondeu: mais ou menos a metade, muitos ou quase a totalidade, assinale com um X duas
das alternativas abaixo que melhor expressem tais dificuldades.

( ) não sabe autoclassificar‑se ( ) sente-se constrangido ( ) sente‑se discriminado


( ) tem receio de ser prejudicado ( ) tem receio de ser
discriminado
( ) outras. Quais: ____________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
Cor, Raça/Etnia na Saúde 107

4) Os usuários que mais reagem negativamente à pergunta “Qual é a sua cor ou raça/etnia?”
pertencem ao grupo de cor/raça/etnia:

( ) branca ( ) preta ( ) parda ( ) amarela ( ) indígena ( ) nenhuma

5) O que você sente ao perguntar ao usuário “Qual é a sua cor ou raça/etnia”?


___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________

6) Descreva o que mais chamou a sua atenção na coleta do “quesito cor” junto aos usuários,
durante o último mês.
_________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________

7) Quando você precisa de ajuda relativa ao “quesito cor/raça/etnia” a quem você recorre?
_________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________

8) Com que frequência você precisou de ajuda no último mês?


( ) muitas vezes ( ) poucas vezes ( ) nenhuma vez

9) Que tipo de ajuda você solicitou?


_________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________

10) A ajuda recebida atendeu às suas necessidades? ( ) sim ( ) não ( ) parcialmente

11) Do que você precisa para melhorar seu desempenho na coleta do “quesito cor ou raça/etnia”?
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________

12) Você viveu ou presenciou alguma situação de discriminação nos últimos meses?
( ) sim ( ) não

Se SIM, compartilhe, descreva-a.


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_________________________________________________________________________________________
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13) COMENTÁRIOS GERAIS (sugestão, dúvida, curiosidade, crítica etc.).


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