Dissonancia Cognitiva
Dissonancia Cognitiva
Dissonancia Cognitiva
Por exemplo, as pessoas que fumam sabem que fumar é um mau hábito.
Algumas justificam seu comportamento olhando para o lado bom: dizem a
si mesmas que fumar ajuda-as a manter o peso e que o excesso de peso
representaria um perigo maior para a saúde do que o fumo. Outras param
de fumar. A maioria de nós é inteligente o bastante para inventar hipóteses
ad hoc ou justificativas para salvar idéias que nos são caras. O fato de
sermos levados a racionalizar por estarmos tentando reduzir ou eliminar a
dissonância cognitiva não explica por que não podemos aplicar essa
inteligência de uma forma mais competente. Pessoas diferentes lidam com
o desconforto psicológico de formas diferentes. Algumas dessas formas
são claramente mais razoáveis que outras. Portanto, por que algumas
pessoas reagem à dissonância com competência cognitiva, enquanto que
outras respondem com incompetência?
Por exemplo, Marian Keech era a líder de uma seita OVNI nos anos 1950.
Alegava receber mensagens de extraterrestres conhecidos como Os
Guardiães através de escrita automática. Assim como os membros da seita
Heaven's Gate fizeram quarenta anos mais tarde, Keech e seus seguidores,
conhecidos como Os Buscadores da Irmandade dos Sete Raios, esperavam
ser recolhidos por discos voadores. Segundo as profecias de Keech, seu
grupo de 11 pessoas seria salvo pouco antes que a Terra fosse destruída por
um dilúvio maciço em 21 de dezembro de 1954. Quando se tornou
evidente que não haveria nenhum dilúvio e que os Guardiães não
passaríam para apanhá-los, Keech
Os Buscadores não teriam esperado pelo disco voador se achassem que ele
poderia não vir. Assim, quando ele não veio, seria de se esperar que
alguém que pensasse de forma competente teria visto isso como uma
refutação da alegação de Keech de que ele viria. No entanto, os maus
pensadores foram feitos incompetentes pela devoção a Keech. Sua crença
de que um disco voador os apanharia era baseada em fé, não em
evidências. Da mesma forma, a crença de que o fracasso da profecia não
deveria ser levado em conta contra suas crenças foi mais um ato de fé.
Com esse tipo de pensamento irracional, poderia parecer inútil apresentar
evidências para tentar convencer as pessoas de seus erros. Sua crença não é
baseada em evidências, mas na devoção a uma pessoa. Essa devoção pode
ser tão grande que mesmo o mais condenável comportamento de um
profeta pode ser racionalizado. Há muitos exemplos de pessoas tão devotas
a alguém que poderiam racionalizar ou ignorar abusos físicos e mentais
extremos de seu líder de seita (ou cônjuge, ou namorado). Se a base da
crença de uma pessoa é fé irracional, fundamentada na devoção a uma
personalidade poderosa, a única opção que essa pessoa tem ao ser
confrontada com evidências que poderiam minar sua fé seria continuar a
ser irracional, a não ser que essa fé não fosse mesmo tão grande. A questão
interessante, então, não é de dissonância cognitiva e sim de fé. O que havia
em Keech que teria levado algumas pessoas a terem fé em sua pessoa, e o
que havia nessas pessoas que as teria tornado vulneráveis a Keech? E o que
havia de diferente nos dois que abandonaram a seita?
leitura adicional
Festinger, Leon. A Theory of Cognitive Dissonance (Stanford University
Press 1957).
Levine, Robert. The Power of Persuasion - How We're Bought and Sold
(John Wiley & Sons 2003).
©copyright 2003 Última atualização: 2003-10-18
Robert Todd Carroll
Índice
traduzido por
Ronaldo Cordeiro