Fortalecimento de Gremio Estudantil
Fortalecimento de Gremio Estudantil
Fortalecimento de Gremio Estudantil
Introdução
Esta pesquisa é decorrente de uma ação de extensão universitária em uma escola
pública estadual de uma cidade do interior de São Paulo. O desenvolvimento dessa
ação no ano de 2014 foi constituída por uma série de dificuldades, que geraram
inúmeras reflexões, consolidadas em questões de pesquisa em 2015: Quais fatores
favorecem a organização dos estudantes em grêmio? O que é preciso para que o grêmio
se constitua e fortaleça como espaço forte de organização e representação estudantil ?
Por que os estudantes se envolvem tão pouco com o grêmio?
A escola participante é uma escola pública estadual de um bairro de uma cidade
do interior de São Paulo, que atende estudantes do ensino fundamental e médio, nos três
períodos, com aproximadamente 460 alunos. Tem boa estrutura física e pessoal,
contando com um corpo de gestores ( diretor, vice- diretor, coordenador ensino
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fundamental, coordenador ensino médio e mediadora de conflitos). Os estudantes são
moradores do próprio bairro ou de bairros próximos e alguns são trabalhadores. Em
relação ao grêmio, ele foi eleito em abril e é composto por estudantes de uma única
classe – 1º ano do ensino médio.
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convivência, a disciplina e o conflito como oportunidades educacionais únicas, requer
estruturas participativas para que a escola seja de todos.
A construção de uma escola em que se possa dialogar, duvidar, discutir,
questionar, transformar, errar, colaborar mutuamente e criar, com espaço para
contradições (REGO, 1995) é tarefa coletiva , que também pode e precisa ser assumida
pelos alunos.
E nessa perspectiva que compreendemos o grêmio estudantil, como espaço de
organização, representação e participação dos estudantes.
Segundo Fernandes, o grêmio
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(http://www.educacao.sp.gov.br/faq/faq.asp?pesq=1&intCodass
un=1068&intClass=49&intAgrup=49)
Assim como Martins (2010, p. 61) consideramos que grêmio estudantil “pode se
tornar um lugar concreto de prática social, e a escola, como arena relacional, pode se
tornar lugar profícuo para o exercício de experiências sociais de participação” e
compreendemos que o grêmio estudantil pode “funcionar como local possibilitador de
experiências participativas, e a atuação do coletivo de estudantes, no cotidiano escolar”.
Na nossa compreensão alguns princípios básicos precisam nortear o grêmio:
representação, participação, diálogo e disciplina.
A partir de Martins (2013), podemos compreender a representação como um
conceito complexo, que envolve responsabilidade, poder, distancia e tensão entre
representantes e representados. A participação tem por base o envolvimento dos
estudantes é entendida como processo de interação que resulta na criação de espaços
coletivos ( FERREIRA, 2011), o diálogo é compreendido a partir da idéia de falar com (
e não para) o outro, como troca que possibilita enriquecimento e verdadeiro pensar,
como afirma Paulo Freire ( 2005 ) e a disciplina como um “ conjunto de normas que
tornam possível a convivência relativa à organização escolar e ao respeito entre todos os
seus membros “ ( MASSAGUER, 2002). Aceitamos que estes princípios possibilitam a
análise e construção de consensos e a compreensão/o enfrentamento de conflitos, a
partir de uma perspectiva positiva de resolução.
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Face ao exposto, propusemos o estabelecimento de parceria com uma escola
pública, com o objetivos de: 1- contribuir para a constituição e fortalecimento do grêmio
estudantil e como objetivos específicos possibilitar que os estudantes do ensino médio
se reconheçam como agentes ativos na escola; mobilizando-os para questões
relacionadas à escola; favorecer e fortalecer a organização desses estudantes;
possibilitar a problematização, pelos alunos, da realidade da escola, com o diagnóstico
de possíveis dificuldades e necessidades e a elaboração de propostas coletivas e
fortalecer o grêmio como entidade representativa dos estudantes e 2- identificar e
analisar as possibilidades de constituição e fortalecimento do grêmio, reunindo as
dimensões de ação parceira entre escola e universidade e de pesquisa.
Considerando a pesquisa proposta tem por objetivos: 1-analisar as possibilidades
e dificuldades na constituição e fortalecimento de um grêmio estudantil em uma escola
pública de Ensino Fundamental e Médio noturno, 2- compreender o significado da
participação no grêmio para os estudantes membros do grêmio.
Metodologia
Este estudo pauta-se na perspectiva da pesquisa qualitativa, pois esta abordagem
possibilita a inclusão do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos, às
relações e às estruturas sociais, reconhecendo os participantes do estudo como sujeitos,
pertencentes a uma determinação condição e grupo, possuidores de crenças, valores,
interpretações e significados, o que requer o estabelecimento de relações e a análise e
processos (LUDKE E ANDRÉ, 1986; MINAYO, 2010).
Participaram deste estudo os estudantes integrantes (titulares) do grêmio
estudantil, num total de oito.
Os dados são coletados por meio de observações participantes e entrevistas semi
estruturadas.
As observações são realizadas nas reuniões semanais com os grupos de estudantes
e no ambiente escolar. O questionário e as entrevistas semi estruturadas serão realizadas
com os estudantes, com roteiros elaborados para esse fim, ao final de cada semestre. O
questionário é uma forma de entrevista, que permite ao entrevistador captar informações
gerais relevantes, bem como estabelecer relações, e ao entrevistado maior conforto por
não ter que expor suas opiniões na frente de outras pessoas. Já a entrevista semi-
estruturada possibilitará o aprofundamento de idéias indicadas no questionário.
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Os dados obtidos serão organizados e analisados, considerando os objetivos do
estudo e a partir da análise de conteúdo proposta por Bardin (1977).
Resultados parciais
A parceria com a gestão da escola em 2015 teve inicio em março, com a
realização de reunião para discussão e definição coletiva de como realizar incentivar a
formação de “chapas” para o grêmio.
Nessa fase, foi definido que a vice – diretora faria esclarecimentos em todas as
salas de aula da função, composição e importância do grêmio, informando sobre o
período e as regras para a inscrição das chapas. Após a inscrição de dois grupos, com a
entrega de propostas, realizamos uma reunião com os membros para a discussão das
propostas e para definição de estratégias de divulgação e da forma de eleição. O grupo
optou pela divulgação das propostas nas salas de aulas e pela produção de cédulas para
a votação que seria realizada em cada sala de aula. Após essa reunião, houve a inscrição
de mais uma chapa.
Neste processo inicial, os discursos dos estudantes revelaram dois aspectos: eles
compreendiam que a chapa vencedora “seria cobrada” e teria que “fazer coisas que
prometeu” e que caberia ao grêmio favorecer a “socialização dos alunos”, por meio de
festas e disputas esportivas. Quando questionados sobre a elaboração das propostas, se
houve consulta para identificar interesses e necessidades dos estudantes, eles alegraram
que “sabiam” o que os colegas queriam.
Identificamos aqui uma primeira limitação: a compreensão do papel do grêmio
pelos grupos interessados em assumir o grêmio.
A proposta de uma das chapas expressa que a intenção de desenvolver atividades
de cultura, esporte e social:
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arrecadaremos dinheiro vendendo coisas aqui na escola) e 12-Mais
melhorias nos materiais de Educação Física, com bolas, redes,
sinalização na quadra ex: futsal, vôlei, etc.
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pela estudante que tinha como função a secretaria. Não houve resistência, mas foi
expresso um incomodo da estudante ao assumir essa tarefa, mas logo o grupo discutiu
que a tarefa de registro poderia ser compartilhada pelos demais membros.
Em relação à participação dos estudantes da escola, o grupo considerou a
possibilidade de envolver os representantes das classes. Era o momento de indicação
dos representantes e o grupo decidiu que o grêmio “cuidaria” desse processo:
informando os colegas, solicitando a organização para a indicação e realizando a eleição
dos representantes.
Nos encontros seguintes foram objetos de discussão e análise: o
desenvolvimento de uma ação para incentivar limpeza e organização nas salas de aula;
realização de um diagnóstico em todas as salas de aula das principais necessidades da
escola; participação do grêmio na organização da festa junina e produção de um jornal
do grêmio. As discussões resultaram na organização do grupo e na implementação de
uma campanha para limpeza das salas, com premiação ( assistir a um filme) para a sala
mais limpa do mês- chamada de Cine Sala Limpa - ; consulta às classes, por meio da
solicitação de resposta a uma questão escrita, dos interesses e necessidades dos
estudantes; campanha para arrecadação de alimentos para festa junina e organização de
um “ bate bola” durante a festa junina e elaboração e distribuição de um jornal, com o
nome da chapa eleita, com textos escolhidos pelos membros do grêmio. O jornal contem
seções de política, culinária, moda, esporte, charge, informações gerais e teve tiragem
de100 exemplares, distribuído aos estudantes da escola
A análise dos dados coletados até o presente momento permitiu a identificação
de quatro categorias dos aspectos facilitadores
- disponibilidade para o diálogo e construção de consensos
- motivação interna dos participantes
- liderança de um dos membros e
- apoio e valorização dos gestores escolares.
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descontração, com brincadeiras e ao mesmo tempo seriedade na exposição e discussão
de propostas. Os consensos resultaram de debates sobre questões que geraram
discordância e foram sustentados pela escuta e pela fala de cada participante. Não
foram registradas situações de conflitos ou agressões verbais ou físicas, embora em
alguns momentos, alguns alunos tenham demonstrado irritação.
“Motivação interna” foi identificada a partir do relato dos estudantes do interesse
pelo grupo e por fazer algo na escola. Embora eles expressem a necessidade de
reconhecimento pelos colegas e do grêmio “fazer algo”, por que a cobrança existe, eles
revelaram interesses pessoais para participar do grêmio, que não foram diretamente
relacionados à recompensas externas. O comprometimento e o envolvimento foram
indicados em diferentes ações, como por exemplo, no empenho para conseguir um
computador para o grupo, na presença na escola em outros horários para realizar ações
definidas pelo grupo e na presença constante nas reuniões.
“A liderança de um dos membros” foi claramente identificada, se expressando
na fala da estudante, na capacidade que demonstrou para organização do grupo e na
capacidade de propor e sintetizar as discussões. Esta liderança não parece construída
com base no autoritarismo e no controle, mas sim na constituição desta aluna como
autoridade para o grupo, por razões ainda não identificadas. Exemplo disto é que por
motivos pessoais, esta aluna precisou se ausentar por alguns dias da escola e das
reuniões. Na sua ausência, o grupo fez discussões, análises e tomou as decisões, sem
demonstrar a imobilização ou descontrole que poderia caracterizar um grupo mantido
sob controle.
“O apoio dos gestores escolares” foi identificada desde o início do processo. A
gestão contribui com as discussões, traz demandas e demonstra esforça na viabilização
das decisões do grupo, não apenas na dimensão material (providenciando sala, materiais
), mas também na dimensão relacional.
Como principal fator limitante foi identificado: a pouca reflexão sobre
representação entre os membros do grêmio. A busca por dialogar efetivamente com os
demais estudantes ainda é um processo que esta no inicio. Podemos indicar que a
compreensão ampliada e aprofundada do grêmio por todos os estudantes da escola é um
elemento dificultador de seu fortalecimento e requer ações para a reconstrução de
significados presentes. A dificuldade na articulação entre membros do grêmio e demais
estudantes da escola também foi identificada e analisada por Martins (2010).
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Considerações finais
Referencias:
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FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas.
São Paulo: EPU, 1986.
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