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Fortalecimento de Gremio Estudantil

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FORTALECIMENTO DE GRÊMIO ESTUDANTIL EM UMA ESCOLA

PÚBLICA: POSSIBILIDADES E LIMITES. Luciana M. Lunardi Campos(1);


Mayara Martins da Silva (2); Loide Alexandrino(3). Instituto de Biociências – UNESP
Botucatu (1,2) ; Escola Estadual Prof. Pedro Torres (3) (1- Bolsista PROEX )
camposml@ibb.unesp.br
Eixo: Práticas pedagógicas

Resumo: O presente trabalho tem como objetivos identificar e analisar


possibilidades e limites na constituição e fortalecimento de um grêmio estudantil em
uma escola pública de Ensino Fundamental e Médio noturno e 2- compreender o
significado do grêmio para os estudantes. Trata-se de um estudo em desenvolvimento,
articulado a uma ação de extensão universitária. Os dados estão sendo coletados por
meio de observação participante, questionários e entrevistas semiestruturadas. Até o
presente momento, foram identificados como fatores que favorecem a constituição do
grêmio: disponibilidade para o diálogo e construção de consensos; a interação entre os
membros, a motivação interna dos participantes; a liderança de um dos membros e o
apoio dos gestores escolares. Como principal fator limitante foi identificado: a pouca
reflexão sobre o conceito de representação entre os membros do grêmio.

Palavras- chaves: grêmio; participação; estudantes

Introdução
Esta pesquisa é decorrente de uma ação de extensão universitária em uma escola
pública estadual de uma cidade do interior de São Paulo. O desenvolvimento dessa
ação no ano de 2014 foi constituída por uma série de dificuldades, que geraram
inúmeras reflexões, consolidadas em questões de pesquisa em 2015: Quais fatores
favorecem a organização dos estudantes em grêmio? O que é preciso para que o grêmio
se constitua e fortaleça como espaço forte de organização e representação estudantil ?
Por que os estudantes se envolvem tão pouco com o grêmio?
A escola participante é uma escola pública estadual de um bairro de uma cidade
do interior de São Paulo, que atende estudantes do ensino fundamental e médio, nos três
períodos, com aproximadamente 460 alunos. Tem boa estrutura física e pessoal,
contando com um corpo de gestores ( diretor, vice- diretor, coordenador ensino

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fundamental, coordenador ensino médio e mediadora de conflitos). Os estudantes são
moradores do próprio bairro ou de bairros próximos e alguns são trabalhadores. Em
relação ao grêmio, ele foi eleito em abril e é composto por estudantes de uma única
classe – 1º ano do ensino médio.

Neste estudo, compreendemos a escola como espaço de formação humana,


formação que se dá pela apropriação de conhecimento científico, artístico e filosófico,
que se caracteriza por relações constantes entre pessoas, com diferentes idades e
lugares e com papéis diferenciados, sendo essa dinâmica em permanente construção.
A partir de Novaski (1996, p.14) podemos entender a escola como um espaço de
encontro de gente com gente, no qual “todas as vicissitudes humanas perpassam de
ponta a ponta esse espaço ou tempo, vicissitudes que podem ser traduzidas em conflitos,
alegrias, expectativas mal ou nunca satisfeitas, recalques, exibicionismo, esperanças,
avanços e retrocessos. Enfim, tudo o que é humano” .
As dificuldades enfrentadas pelos atores da escola e na relação entre eles
(professores, gestores, funcionários e alunos) são freqüentemente indicadas por esses
sujeitos e relatadas na literatura.
Arroyo (2000,p.64) considera que as relações na escola podem “ser distantes,
formais, frias, coisificadas ou burocratizadas”, constituindo um clima humano que
dificulta a aprendizagem e que nesse contexto “os estudantes poderão até aprender
nossas matérias, passar, porém não aprenderão uma matéria, a principal, a serem
humanos. Nem os mestres mais vividos poderão ensinam nem os estudantes iniciantes
nas artes de viver aprenderão em que consiste ser gente”
Há também indicativos do sentimento de não pertencimento à escola pelos atores
escolares, em especial pelos alunos, refletido no descompromisso e descuido com o
espaço escolar e na pouca participação em questões relativas à escola.
A participação e o envolvimento dos estudantes com a escola (espaço físico e
relacional) são processos que precisam ser incentivados e promovidos.
Massaguer (2002), discutindo a necessidade de organização dos alunos, via
assembléia dos alunos, propõe que espaços físicos e momentos sejam criados “para que
pequenos grupos de alunos, com a mediação ou não do adulto, possam discutir e
solucionar suas diferenças ou seus problemas”. Segundo esse autor, a escola, que tem
como valores e procedimentos o diálogo e a confiança mútua e que reconhece a

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convivência, a disciplina e o conflito como oportunidades educacionais únicas, requer
estruturas participativas para que a escola seja de todos.
A construção de uma escola em que se possa dialogar, duvidar, discutir,
questionar, transformar, errar, colaborar mutuamente e criar, com espaço para
contradições (REGO, 1995) é tarefa coletiva , que também pode e precisa ser assumida
pelos alunos.
E nessa perspectiva que compreendemos o grêmio estudantil, como espaço de
organização, representação e participação dos estudantes.
Segundo Fernandes, o grêmio

é um elemento institucional legal, sob a égide do qual os estudantes da


educação básica têm a possibilidade de se organizarem e
desenvolverem atividades as mais variadas, visando promover o
desenvolvimento intelectual, social e político de seus integrantes
(FERNANDES, 2001, p. 57).

No entanto, é preciso reconhecer que o grêmio nem sempre existiu ou foi


incentivado nas escolas brasileiras de educação básica. Martins (2010, p. 15) relata
estudos, no inicio de 2000, que indicam a “existência de poucos grêmios ativos em
escolas publicas estaduais de São Paulo”.
Sem qualificar a atuação dos grêmios, a Secretaria do Estado de São Paulo
divulga um dado interessante em 2015: 69% das escolas estaduais possuem grêmios
estudantis (http://www.educacao.sp.gov.br/gremio-estudantil). Segundo a SEESP
“levantamento feito em 2014, pelo núcleo responsável da Secretaria pelos grêmios,
identificou que 27% se dedicam na promoção de eventos culturais dentro e fora da
unidade de ensino, contribuindo para que as escolas estaduais sejam locais de interação”
(http://www.educacao.sp.gov.br/noticias/educacao-lanca-pesquisa-para-mapear-
gremios)
A SEE SP indica como objetivos do grêmio:

a. reunir os estudantes da escola; b. defender os interesses individuais


e coletivos dos alunos; c. incentivar e realizar intercâmbio de caráter
cultural, educacional e desportivo de seus membros; d. promover a
cooperação entre diretores, professores, funcionários e estudantes no
trabalho da escola; e. defender e lutar pela democracia, respeitando as
liberdades fundamentais do homem, sem preconceitos. f. zelar pela
adequação do ensino às reais necessidades da juventude e do povo,
bem como pelo ensino público e gratuito.

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(http://www.educacao.sp.gov.br/faq/faq.asp?pesq=1&intCodass
un=1068&intClass=49&intAgrup=49)

E como sugestões de atividades que podem ser desenvolvidas pelos Grêmios:

Cultura: peças de teatro, festivais de dança, exposições de desenhos e


pinturas, festas, shows, oficinas culturais de artesanatos, passeios
museus zoológicos e parques
Esporte: campeonato regional, mini-olimpiadas, corridas, saltos,
gincanas, times oficiais da escola e jogos interclasses.
Cidadania / política: cidadania e formação política, participação e
voto dos alunos no conselho de escola, cultura de paz, parcerias com
ONGs e estabelecimentos comerciais e trabalho comunitário
Social: palestras, debates, grupos de discussão sobre preconceito,
inclusão social e outros temas; campanhas de prevenção, comunicação
visual da escola (murais, painéis e muros); intercambio e parceria com
Grêmios de outras escolas, coleta seletiva
Comunicação: radio escolar e comunitária; boletim informativo,
produção e jornal e vídeo; participação em reuniões do Conselho da
escola e APM e divulgação das reuniões do Grêmio dos
Representantes de Classes e das Assembléias gerais
(http://www.educacao.sp.gov.br/noticias/tire-todas-suas-duvidas-e-
entenda-o-papel-dos-gremios-escolareas)

Assim como Martins (2010, p. 61) consideramos que grêmio estudantil “pode se
tornar um lugar concreto de prática social, e a escola, como arena relacional, pode se
tornar lugar profícuo para o exercício de experiências sociais de participação” e
compreendemos que o grêmio estudantil pode “funcionar como local possibilitador de
experiências participativas, e a atuação do coletivo de estudantes, no cotidiano escolar”.
Na nossa compreensão alguns princípios básicos precisam nortear o grêmio:
representação, participação, diálogo e disciplina.
A partir de Martins (2013), podemos compreender a representação como um
conceito complexo, que envolve responsabilidade, poder, distancia e tensão entre
representantes e representados. A participação tem por base o envolvimento dos
estudantes é entendida como processo de interação que resulta na criação de espaços
coletivos ( FERREIRA, 2011), o diálogo é compreendido a partir da idéia de falar com (
e não para) o outro, como troca que possibilita enriquecimento e verdadeiro pensar,
como afirma Paulo Freire ( 2005 ) e a disciplina como um “ conjunto de normas que
tornam possível a convivência relativa à organização escolar e ao respeito entre todos os
seus membros “ ( MASSAGUER, 2002). Aceitamos que estes princípios possibilitam a
análise e construção de consensos e a compreensão/o enfrentamento de conflitos, a
partir de uma perspectiva positiva de resolução.

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Face ao exposto, propusemos o estabelecimento de parceria com uma escola
pública, com o objetivos de: 1- contribuir para a constituição e fortalecimento do grêmio
estudantil e como objetivos específicos possibilitar que os estudantes do ensino médio
se reconheçam como agentes ativos na escola; mobilizando-os para questões
relacionadas à escola; favorecer e fortalecer a organização desses estudantes;
possibilitar a problematização, pelos alunos, da realidade da escola, com o diagnóstico
de possíveis dificuldades e necessidades e a elaboração de propostas coletivas e
fortalecer o grêmio como entidade representativa dos estudantes e 2- identificar e
analisar as possibilidades de constituição e fortalecimento do grêmio, reunindo as
dimensões de ação parceira entre escola e universidade e de pesquisa.
Considerando a pesquisa proposta tem por objetivos: 1-analisar as possibilidades
e dificuldades na constituição e fortalecimento de um grêmio estudantil em uma escola
pública de Ensino Fundamental e Médio noturno, 2- compreender o significado da
participação no grêmio para os estudantes membros do grêmio.

Metodologia
Este estudo pauta-se na perspectiva da pesquisa qualitativa, pois esta abordagem
possibilita a inclusão do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos, às
relações e às estruturas sociais, reconhecendo os participantes do estudo como sujeitos,
pertencentes a uma determinação condição e grupo, possuidores de crenças, valores,
interpretações e significados, o que requer o estabelecimento de relações e a análise e
processos (LUDKE E ANDRÉ, 1986; MINAYO, 2010).
Participaram deste estudo os estudantes integrantes (titulares) do grêmio
estudantil, num total de oito.
Os dados são coletados por meio de observações participantes e entrevistas semi
estruturadas.
As observações são realizadas nas reuniões semanais com os grupos de estudantes
e no ambiente escolar. O questionário e as entrevistas semi estruturadas serão realizadas
com os estudantes, com roteiros elaborados para esse fim, ao final de cada semestre. O
questionário é uma forma de entrevista, que permite ao entrevistador captar informações
gerais relevantes, bem como estabelecer relações, e ao entrevistado maior conforto por
não ter que expor suas opiniões na frente de outras pessoas. Já a entrevista semi-
estruturada possibilitará o aprofundamento de idéias indicadas no questionário.

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Os dados obtidos serão organizados e analisados, considerando os objetivos do
estudo e a partir da análise de conteúdo proposta por Bardin (1977).

Resultados parciais
A parceria com a gestão da escola em 2015 teve inicio em março, com a
realização de reunião para discussão e definição coletiva de como realizar incentivar a
formação de “chapas” para o grêmio.
Nessa fase, foi definido que a vice – diretora faria esclarecimentos em todas as
salas de aula da função, composição e importância do grêmio, informando sobre o
período e as regras para a inscrição das chapas. Após a inscrição de dois grupos, com a
entrega de propostas, realizamos uma reunião com os membros para a discussão das
propostas e para definição de estratégias de divulgação e da forma de eleição. O grupo
optou pela divulgação das propostas nas salas de aulas e pela produção de cédulas para
a votação que seria realizada em cada sala de aula. Após essa reunião, houve a inscrição
de mais uma chapa.
Neste processo inicial, os discursos dos estudantes revelaram dois aspectos: eles
compreendiam que a chapa vencedora “seria cobrada” e teria que “fazer coisas que
prometeu” e que caberia ao grêmio favorecer a “socialização dos alunos”, por meio de
festas e disputas esportivas. Quando questionados sobre a elaboração das propostas, se
houve consulta para identificar interesses e necessidades dos estudantes, eles alegraram
que “sabiam” o que os colegas queriam.
Identificamos aqui uma primeira limitação: a compreensão do papel do grêmio
pelos grupos interessados em assumir o grêmio.
A proposta de uma das chapas expressa que a intenção de desenvolver atividades
de cultura, esporte e social:

1- Monitor nos corredores para a organização da escola (pedir para


algum aluno disposto e que não trabalha no período da tarde e da
manhã para nos ajudar apenas nisso ;2-Interclasse nos finais do ano
para a melhoria dos esportes; 3- Gincanas; 4-Futebol; 5- Volei, 6-
Zumba; 7-Campeonato de skate,8-Som no intervalo: Cada dia da
semana um estilo diferente. Apenas 10 minutos, pois não podemos
ficar muito tempo fora da sala e para aguardar a caixa demoraria mais
; 9- A sala mais organizada: no final de cada mês , a sala mais
organizada ganha um filme, faz a votação entre os alunos e pede para
um professor ceder uma aula; 10-Melhoria no material escolar, como:
cadeiras e carteiras ; 11-Melhoria na quadra : pintar a quadra (

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arrecadaremos dinheiro vendendo coisas aqui na escola) e 12-Mais
melhorias nos materiais de Educação Física, com bolas, redes,
sinalização na quadra ex: futsal, vôlei, etc.

Nesse primeiro momento, é também possível identificar um elemento


favorecedor na constituição do grêmio: o apoio e incentivo da gestão da escola à
constituição de um grupo para o grêmio.
Após a eleição, reuniões semanais foram estabelecidas com a chapa eleita. Nesse
momento, dois elementos dificultadores são destacados: horário e espaço físico para os
encontros do grupo.
A opção foi pela não realização no horário de aulas, o que implicaria em
ausência dos estudantes em aulas e por realizar as reuniões no contra turno. Mas alguns
trabalham, realizam outros cursos e/ou os pais não deixam e assim não poderiam
participar. O grupo ponderou as implicações de cada possibilidade e optou pela
realização no contra turno, com a participação daqueles que podem e, eventualmente, a
reunião poderia ser realizada em horário de aula, alternando-se o dia da semana para
que não houvesse prejuízo de disciplinas.
A dificuldade e conciliar tempo da escola e do tempo do grêmio também foi
identificada por Martins (2010)
A questão relativa ao espaço físico foi rapidamente resolvida pela intervenção da
gestão escolar, que destinou um espaço físico não apenas para a realização das reuniões,
mas para o grêmio. Esta ação gerou a possibilidade de discussão sobre a importância da
-“materialidade”-ou seja, de um espaço físico que seria identificado por todos os
estudantes da escola como “ grêmio”, o que causou grande satisfação entre os membros
do grupo.
Pudemos identificar, ainda, nesse momento, a rotatividade dos estudantes. Não
só durante o período de inscrição das chapas, mas também nas primeiras reuniões,
houve “trocas” dos estudantes. Esta situação pode ser considerada um fator limitante,
pois pode indicar falta de comprometimento com as propostas e com os grupos, mas por
outro lado indica que outros estudantes estão dispostos a participar. Ressaltamos que na
fase inicial do processo, esta “troca” não comprometeu as discussões.
Nas reuniões iniciais foi discutida a função de cada um no grupo e necessidade
da participação efetiva dos estudantes na escola. Nesse momento, foi indicada a
necessidade de registro das reuniões e decisões, decidindo-se pelo registro em caderno

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pela estudante que tinha como função a secretaria. Não houve resistência, mas foi
expresso um incomodo da estudante ao assumir essa tarefa, mas logo o grupo discutiu
que a tarefa de registro poderia ser compartilhada pelos demais membros.
Em relação à participação dos estudantes da escola, o grupo considerou a
possibilidade de envolver os representantes das classes. Era o momento de indicação
dos representantes e o grupo decidiu que o grêmio “cuidaria” desse processo:
informando os colegas, solicitando a organização para a indicação e realizando a eleição
dos representantes.
Nos encontros seguintes foram objetos de discussão e análise: o
desenvolvimento de uma ação para incentivar limpeza e organização nas salas de aula;
realização de um diagnóstico em todas as salas de aula das principais necessidades da
escola; participação do grêmio na organização da festa junina e produção de um jornal
do grêmio. As discussões resultaram na organização do grupo e na implementação de
uma campanha para limpeza das salas, com premiação ( assistir a um filme) para a sala
mais limpa do mês- chamada de Cine Sala Limpa - ; consulta às classes, por meio da
solicitação de resposta a uma questão escrita, dos interesses e necessidades dos
estudantes; campanha para arrecadação de alimentos para festa junina e organização de
um “ bate bola” durante a festa junina e elaboração e distribuição de um jornal, com o
nome da chapa eleita, com textos escolhidos pelos membros do grêmio. O jornal contem
seções de política, culinária, moda, esporte, charge, informações gerais e teve tiragem
de100 exemplares, distribuído aos estudantes da escola
A análise dos dados coletados até o presente momento permitiu a identificação
de quatro categorias dos aspectos facilitadores
- disponibilidade para o diálogo e construção de consensos
- motivação interna dos participantes
- liderança de um dos membros e
- apoio e valorização dos gestores escolares.

A categoria “Disponibilidade para o diálogo e construção de consensos” foi


elaborada a partir da identificação do clima favorável nas reuniões,em que os
estudantes apresentam suas idéias e o grupo as analisava. Alguns estudantes são
oriundos de outras escolas e fazem relatos de suas experiências, apresentando propostas,
que eram escutadas e discutidas. De um modo geral, todos participam, apresentando
propostas ou analisando as propostas apresentadas. Houve um clima de respeito e

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descontração, com brincadeiras e ao mesmo tempo seriedade na exposição e discussão
de propostas. Os consensos resultaram de debates sobre questões que geraram
discordância e foram sustentados pela escuta e pela fala de cada participante. Não
foram registradas situações de conflitos ou agressões verbais ou físicas, embora em
alguns momentos, alguns alunos tenham demonstrado irritação.
“Motivação interna” foi identificada a partir do relato dos estudantes do interesse
pelo grupo e por fazer algo na escola. Embora eles expressem a necessidade de
reconhecimento pelos colegas e do grêmio “fazer algo”, por que a cobrança existe, eles
revelaram interesses pessoais para participar do grêmio, que não foram diretamente
relacionados à recompensas externas. O comprometimento e o envolvimento foram
indicados em diferentes ações, como por exemplo, no empenho para conseguir um
computador para o grupo, na presença na escola em outros horários para realizar ações
definidas pelo grupo e na presença constante nas reuniões.
“A liderança de um dos membros” foi claramente identificada, se expressando
na fala da estudante, na capacidade que demonstrou para organização do grupo e na
capacidade de propor e sintetizar as discussões. Esta liderança não parece construída
com base no autoritarismo e no controle, mas sim na constituição desta aluna como
autoridade para o grupo, por razões ainda não identificadas. Exemplo disto é que por
motivos pessoais, esta aluna precisou se ausentar por alguns dias da escola e das
reuniões. Na sua ausência, o grupo fez discussões, análises e tomou as decisões, sem
demonstrar a imobilização ou descontrole que poderia caracterizar um grupo mantido
sob controle.
“O apoio dos gestores escolares” foi identificada desde o início do processo. A
gestão contribui com as discussões, traz demandas e demonstra esforça na viabilização
das decisões do grupo, não apenas na dimensão material (providenciando sala, materiais
), mas também na dimensão relacional.
Como principal fator limitante foi identificado: a pouca reflexão sobre
representação entre os membros do grêmio. A busca por dialogar efetivamente com os
demais estudantes ainda é um processo que esta no inicio. Podemos indicar que a
compreensão ampliada e aprofundada do grêmio por todos os estudantes da escola é um
elemento dificultador de seu fortalecimento e requer ações para a reconstrução de
significados presentes. A dificuldade na articulação entre membros do grêmio e demais
estudantes da escola também foi identificada e analisada por Martins (2010).

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Considerações finais

Os dados iniciais indicam que o grêmio tem se constituído como espaço de


aprendizagem e formação para os estudantes.
Até o presente momento, foram identificados alguns fatores facilitadores e
dificultadores na constituição e fortalecimento do grêmio e esperamos que dados
coletados futuramente e as análises realizadas possibilitem a identificação e
compreensão de novos elementos.
A constituição de grêmios parece ser reconhecida como estratégia importante
para a escola e tem sido incentivada, de modo geral. Mas cabe questionar sob quais
princípios e compreensões estes grêmios tem se constituído.
A compreensão do grêmio como “organizador de eventos” esportivos e culturais
esta sendo reconstruído pelos estudantes membros do grêmio e nos parece um dos
maiores desafios em relação aos demais estudantes para a consolidação do grêmio.
Segundo Massaguer (2002) é participando que aprendemos a participar e
precisamos exercitar o diálogo e a participação para que ele se amplie.
Reconhecemos que a representação, participação e diálogo não são comumente
norteadores de ações em nossas escolas e que desses princípios não são freqüentes em
nossas escolas. O individualismo e o elevado grau de competitividade, assim como a
desmobilização para a participação política compõem um cenário que dificulta o
fortalecimento e a efetiva e ampla atuação do grêmio.
Enfrentar e superar, mesmo que parcialmente, essa realidade é tarefa a ser
assumida no, com e pela organização e participação dos alunos, via grêmio estudantil.

Referencias:

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Vozes, 1994.
REGO, C.T. Vigotsky –uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis:
Vozes, 1996
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO – Grêmio Estudantil
disponível em: http://www.educacao.sp.gov.br/gremio-estudantil Acesso em 20 de maio
de 2015.

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