Artigo - Escalas de Interesses Vocacionais
Artigo - Escalas de Interesses Vocacionais
Artigo - Escalas de Interesses Vocacionais
RESUMO. O objetivo deste estudo foi construir um instrumento para avaliar seis dimensões de interesses vocacionais:
realista (R), ivestigativa, atística (A), social (S), empreendedora (E) e cnvencional (C). Os itens gerados foram aplicados a
estudantes de ensino médio e universitários, totalizando 857 protocolos válidos. Análises de componentes principais foram
conduzidas para selecionar os melhores itens. Obteve-se uma solução de seis componentes, compatível com as expectativas
teóricas, com 48 itens (8 por dimensão). A consistência interna (alpha de Cronbach) obtida para cada uma das escalas foi: R
(0,83), I (0,79), A (0,78), S (0,85), E (0,74) e C (0,80). Análises das subamostras de estudantes universitários e de ensino
médio feitas separadamente produziram resultados similares. Comparações específicas entre pares contrastantes de cursos
universitários revelaram a capacidade das escalas para discriminar grupos-critério; portanto, há evidências de que o
instrumento proposto é válido e fidedigno, podendo ser utilizado em futuras pesquisas.
Palavras-chave: interesses profissionais, desenvolvimento vocacional, psicometria.
ABSTRACT. An instrument to assess six dimensions of vocational interests, namely, Realistic (R), Investigative (I), Artistic
(A), Social (S), Enterprising (E) and Conventional (C) is established. Items generated to evaluate the proposed dimensions
were applied to university and high school students, comprising 857 valid protocols. Principal components analysis was
conducted to select the best items. A six component solution compatible with theoretical expectations was obtained for 48
items (6 for each dimension). Reliability estimates (Cronbach’s alpha) for the scales were: R (0.83), I (0.79), A (0.78), S
(0.85), E (0.74), and C (0.80). Separate analyses with university and high school students showed similar results. Mean
comparison between contrasting pairs of university courses for each dimension showed that scales may discriminate criterion
groups. Results indicate that the instrument is valid and reliable, and may be used in future research.
Key words: Vocational interests, vocational development, Psychometrics.
RESUMEN. El objetivo de este estudio fue el construir un instrumento para avaluar seis dimensiones de intereses vocacionales:
Realista (R), Investigativo (I), Artístico (A), Social (S), Emprendedor (E) y Convencional (C). Los ítemes generados fueron aplicados
a estudiantes de secundaria y universitarios, totalizando 857 protocolos válidos. Análisis de componentes principales fueron
conducidos para seleccionar los mejores ítemes. Se obtuvo una solución de seis componentes compatible con las expectativas teóricas
con 48 ítemes (8 por dimensión). La consistencia interna (alpha de Cronbach) obtenida para cada una de las escalas fue: R (0,83), I
(0,79), A (0,78), S (0,85), E (0,74) y C (0,80). Análisis de las submuestras de estudiantes universitarios y de secundaria, por separado,
produjeron resultados similares. Comparaciones específicas entre pares contrastantes de cursos universitarios revelaron la capacidad
de las escalas para discriminar grupos-criterio. Por lo tanto, hay evidencias de que el instrumento propuesto es válido y fidedigno,
pudiendo ser utilizado en futuras investigaciones.
Palabras-clave: intereses profesionales, desarrollo vocacional, psicometría.
1
Apoio: FAPERGS.
* Doutor em Psicologia. Docente no Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul-RS.
#
Psicóloga.
Os interesses vocacionais são um construto “modelo de traço e fator”, devido à importância que
importante no âmbito da psicologia de escolha e atribuía às características individuais (traços) no
desenvolvimento de carreira. O termo interesse, processo de escolha (Brown & Brooks, 1996).
contudo, possui múltiplos significados (Savickas, Em 1959, John Holland propôs uma teoria de
1999). Em um sentido psicológico mais geral, o escolha vocacional baseada na idéia de traço e fator
conceito de interesse refere-se à posição de um (Holland, 1959), a qual foi sendo ampliada e
indivíduo em relação a um objeto específico, em reformulada ao longo dos anos e constitui-se hoje em
termos da atenção que o objeto desperta no sujeito, do uma das mais pesquisadas no âmbito do
sentimento em relação ao objeto que acompanha a desenvolvimento vocacional e de carreira (Spokane,
atenção (prazeroso/desprazeroso) e da tendência a 1996). A teoria de Holland mapeia seis principais
aproximar-se ou não do objeto (querer ou não dimensões de interesses vocacionais, que ele considera
interagair com ele). Já quando usamos o termo como expressões tanto da personalidade quanto dos
interesses, especialmente no âmbito vocacional, próprios ambientes de trabalho. De fato, estudos
referimo-nos a grupos de interesses específicos empíricos têm apoiado a idéia de que as dimensões de
razoavelmente homogêneos e relacionados entre si, interesses vocacionais propostas por Holland têm
que constituem então uma disposição que tende a ser estreita relação com traços de personalidade (Holland,
mais estável que um interesse particular. Assim, 1999). É importante ressaltar que o termo
entendidos mais como traço do que como estado, os “vocacional” é utilizado aqui não em um sentido de
interesses denotam uma tendência de resposta uma característica individual que supostamente se
razoavelmente estável, consistente e persistente, que encontre escondida nos indivíduos à espera de ser
aumenta a prontidão de um indivíduo para atender a descoberta, mas apenas como um adjetivo que se
certos tipos de estímulos ambientais e a agir em refere àquilo que diz respeito ao mundo profissional
relação a eles (Savickas, 1999). Os interesses estão ou ocupacional dos sujeitos.
intimamente associados aos conceitos de necessidade De acordo com o modelo de Holland, uma
e de valor. As necessidades são o impulso inicial para escolha vocacional ótima resulta de uma combinação
o comportamento, e emergem de um senso de de características individuais com as características
incompletude ou falta que demanda satisfação. Os dos ambientes de trabalho. Ele postulou teoricamente,
valores especificam os tipos de gratificação que e empiricamente identificou seis grandes dimensões de
poderão ser obtidos no ambiente em que o sujeito está interesses vocacionais e de ambientes de trabalho:
inserido. Os interesses, por sua vez, revelam o modo realista, investigativa, artística, social, empreendedora
como o indivíduo busca, no meio, realizar seus valores e convencional (as iniciais de cada uma destas
e atender às suas necessidades. Em comparação com dimensões formam uma sigla pela qual o modelo
as necessidades e os valores, os interesses são menos também é conhecido: RIASEC). Segundo a teoria, as
estáveis, pois eles dependem do contexto de estímulos pessoas buscam ambientes nos quais possam exercer
ou objetos no qual o sujeito está inserido (Savickas, suas habilidades, expressar suas atitudes e valores e
1999). Assim, interesses vocacionais podem ser assumir papéis e problemas congruentes com seus
entendidos como disposições do indivíduo a envolver- interesses. Além disso, o comportamento individual
se em atividades ocupacionais que de algum modo não é determinado apenas pelas características
contemplam valores e necessidades individuais. pessoais ou do ambiente, mas resulta de uma interação
A idéia de que os interesses vocacionais cumprem entre personalidade e contexto (Spokane, 1996).
um papel importante na escolha de carreiras é bastante Embora todas as pessoas apresentem nuanças das seis
antiga, remontando ao século XV, embora o primeiro dimensões, o modelo de Holland postula a
esforço de sistematização teórica sobre o assunto date predominância de uma delas sobre as demais,
do início do século XX, com os trabalhos de Frank caracterizando assim “tipos de personalidade” ou
Parsons nos Estados Unidos da América do Norte. “personalidades vocacionais”. As descrições dos tipos,
Para Parsons (1909), a escolha de uma carreira não no entanto, são apenas protótipos que caracterizam
deveria ser um evento que ocorresse ao acaso, e sim, casos extremos; a maioria das pessoas apresenta uma
um processo que contasse com o envolvimento ativo mescla dos seis tipos do modelo. Os tipos prototípicos
do sujeito na tarefa de escolha. Para tanto, cada são descritos genericamente a seguir, de acordo com
indivíduo deveria conhecer suas habilidades e indicações de Holland (1997) e Spokane (1996).
interesses de modo a procurar ocupações que Tipo realista: prefere trabalhar com dados
combinassem com suas inclinações. O modelo objetivos, ao invés de suposições subjetivas. Valoriza
proposto por Parsons foi posteriormente chamado de coisas materiais e não costuma dar muita importância
a sentimentos. Tende a ser quieto e reservado, mas obediência, e em geral não se mostra muito criativo ou
com pouca auto-reflexão. Aprecia atividades práticas, imaginativo. Prefere atividades que impliquem a
nas quais possa ver um resultado mais imediato. manipulação sistemática e ordenada de dados, como
Tende a ser conservador e autocontrolado. Em geral, guarda e organização de registros, preenchimento de
demonstra interesse por atividades que envolvam documentos e uso de equipamentos de processamento
manipulação de objetos, ferramentas, máquinas ou de dados com o intuito de atingir suas metas.
animais. Para Holland (1997), as dimensões do modelo
Tipo investigativo: aprecia trabalhar com o apresentam um padrão de inter-relações que, num
raciocínio, usando palavras ou idéias. Tende a ser plano gráfico bidimensional, teria a forma de um
analítico, racional, independente, introvertido, crítico, hexágono, com os tipos aparecendo na seqüência R, I,
intelectual, inventivo, curioso, científico. Apresenta A, S, E e C. Ou seja, as distâncias entre tipos
preferência por atividades que envolvem a adjacentes (RI, IA, AS, SE, EC, CR) seriam menores
investigação sistemática e criativa de fenômenos do que as distâncias observadas entre tipos alternados
físicos, biológicos e culturais. Habilidades de (RA, IS, AE, SC, ER, CI), que por sua vez seriam
pesquisa, mecânicas e aritméticas também podem menores do que as distâncias entre tipos opostos (RS,
caracterizar este tipo. IE, AC). Isto significa que as dimensões mais
Tipo artístico: interage com o meio utilizando-se próximas entre si apresentam também maior
dos sentimentos, emoções, intuições e da imaginação. semelhança quanto aos tipos a que se referem (por
Tende a ser criativo, original, sonhador, idealista, exemplo, o tipo I é mais próximo dos tipos R e A do
rebelde, pouco convencional, às vezes descuidado. É que do S, e mais distante do E e do C).
sensível e expressivo, podendo ser também Dada a sua formulação teórica clara e sua
temperamental. Aprecia a estética e em geral não operacionalização através de instrumentos
valoriza muito a conformidade, a responsabilidade e a quantitativos bem validados (nos Estados Unidos), a
lógica. Revela interesse por atividades livres e pouco teoria de Holland tem sido bastante aplicada no
sistematizadas que envolvam a manipulação de contexto do aconselhamento de carreira e dos estudos
materiais físicos, verbais ou humanos para criar em desenvolvimento vocacional. O Self-Directed
formas de arte ou produtos. Search, desenvolvido por Holland, Fritzsche e Powell
Tipo social: apresenta necessidade de interação (1994), por exemplo, é um dos instrumentos mais
social. Suas características são o entusiasmo, a utilizados em orientação profissional nos Estados
amabilidade, a liderança, a persuasão, a sinceridade, a Unidos. Além disso, o potencial explicativo da teoria
compreensão, a generosidade, o calor humano. Tende vem suscitando diversas pesquisas. Sabe-se que os
a ser extrovertido e cooperativo, embora possa interesses vocacionais predizem a escolha de metas
eventualmente ser um tanto dependente dos demais. vocacionais e escolhas profissionais (Donnay &
Busca ajudar as pessoas, muitas vezes sacrificando-se Borgen, 1996; Hansen & Sackett, 1993; Lent, Brown
em favor dos outros. Demonstra interesse por & Hackett, 1994). Vários trabalhos, ainda, têm
atividades que envolvam o contato com outros para discutido a estrutura hexagonal dos interesses
informar, treinar, desenvolver, curar ou educar. vocacionais (Day & Rounds, 1998; Rounds & Day,
Tipo empreendedor: busca agir sobre o mundo 1999; Rounds, McKenna, Hubert, & Day, 2000;
para conseguir o que deseja. Tende a ser aventureiro, Tracey & Rounds, 1995), o desenvolvimento dos
entusiasta, dominante, extrovertido, impulsivo, interesses (Tracey, 2001, 2002), a relação entre
persuasivo, sociável, versátil, ambicioso, líder, interesses e habilidades (Ackerman & Heggestad,
responsável, dinâmico, autoconfiante. Costuma 1997), interesses e lazer (Kerby & Ragan, 2002),
valorizar assuntos de política, economia e negócios, e interesses e características de personalidade (Carson &
demonstra interesse por atividades em que possa Mowsesian, 1993), além da aplicabilidade
comandar ou controlar aquilo que faz, buscando transcultural do modelo hexagonal (Einarsdóttir,
estabelecer contato com os outros para atingir Rounds, Ægisdóttir & Gerstein, 2002; Farh, Leong &
objetivos organizacionais ou ganhos econômicos. Law, 1998; Glidden-Tracey & Parraga, 1996; Rounds
Tipo convencional: tende a se conformar às & Tracey, 1996) – apenas para citar alguns exemplos
normas estabelecidas. Interage com o meio escolhendo das diversas áreas de pesquisa relacionadas à teoria de
metas, atitudes e valores que sejam aceitos pela Holland.
sociedade. Suas características mais marcantes são o Infelizmente, no Brasil, estudos empíricos
senso prático, a conformidade, o conservadorismo e a metodologicamente adequados no campo da
meticulosidade. Valoriza o trabalho metódico e a orientação profissional e do desenvolvimento
vocacional ainda são incipientes. Em parte, isto se alguns tenha sido apontada certa ambigüidade de
deve à escassez de instrumentos devidamente sentido. Estes itens foram então modificados para
adaptados e validados em nossa cultura que permitam tornar o seu conteúdo semântico mais preciso.
a realização de pesquisas. Em virtude de tal escassez Um estudo-piloto foi ainda realizado com uma
de instrumentos validados na área de interesses amostra de 10 estudantes de ensino médio e 10
vocacionais no Brasil, esta pesquisa teve os seguintes estudantes universitários, com o intuito de testar a
objetivos: a) construir um instrumento psicométrico de compreensão destes quanto às instruções e ao uso do
auto-relato para avaliar as dimensões de interesses sistema de respostas.
vocacionais de acordo com o modelo RIASEC; b) A chave de respostas adotada foi elaborada em
obter evidências de validade fatorial e da capacidade um sistema Likert de 7 pontos: -3 (me desagrada
discriminativa das escalas; e c) avaliar a fidedignidade muito), -2 (me desagrada bastante), -1 (me desagrada
das escalas obtidas. um pouco), 0 (não me agrada nem me desagrada), +1
(me agrada um pouco), +2 (me agrada bastante) e +3
(me agrada muito). Os participantes do estudo-piloto
MÉTODO não relataram dificuldades de compreensão quanto às
instruções ou à forma de responder ao instrumento. Os
Desenvolvimento dos itens do instrumento e estudo- itens foram ordenados em 16 blocos de 6 itens na
piloto seqüência realista, investigativo, artístico, social,
A partir das definições dos seis tipos de empreendedor e convencional (por bloco).
personalidades vocacionais propostas por Holland
(1997), foram gerados pelos pesquisadores 113 itens Participantes
para avaliar as seis dimensões, com cerca de 18 itens O instrumento foi aplicado a uma amostra total de
por dimensão. Optou-se, na elaboração do 993 sujeitos, que produziram 857 protocolos válidos
instrumento, por itens que se referissem a diferentes (completos). Destes participantes que preencheram o
tipos de atividades ocupacionais, com graus variados instrumento de forma completa, 468 eram estudantes
de especificidade. Assim, o conteúdo de alguns itens de ensino médio (média de idade de 15,7 anos; devio-
criados foi associado à imagem de uma profissão padrão de 1,29; 56,7% mulheres) e 389 estudantes
específica (ou pelo menos o conteúdo dos itens universitários (média de idade de 21,8 anos; desvio-
sugeria uma associação mais direta com alguma padrão de 4,22; 48,3% mulheres).
atividade profissional), mas outros itens foram
deliberadamente gerados de forma a não se associar Instrumento
exclusivamente a uma profissão. Isto foi feito para que
a avaliação do nível de interesse dos sujeitos não O instrumento utilizado foi a versão com 96 itens,
ficasse restrita a atividades muito específicas, às quais já incluindo modificações sugeridas pelos juízes e
os indivíduos poderiam apresentar rejeição em virtude pelos sujeitos que fizeram a avaliação da clareza dos
de falta de conhecimentos acerca das profissões ou itens. Além das respostas aos itens, foi solicitado que
mesmo em função de uma visão muito estereotipada os participantes indicassem o sexo, a idade e o curso
sobre tais atividades. (ou série) em que estavam matriculados.
Os 113 itens produzidos foram então submetidos
Procedimentos
à avaliação de quatro juízes, que os classificaram de
acordo com as definições de cada tipo (as definições A aplicação do instrumento foi realizada
foram fornecidas previamente aos juízes). Os itens que coletivamente em salas de aula, após esclarecimentos
não foram classificados de acordo com o esperado (ou sobre a natureza da pesquisa e a obtenção de
seja, correspondendo à dimensão para a qual foram consentimento informado. Para os estudantes menores
construídos) por pelo menos três juízes tiveram o seu de idade, foi solicitada também a autorização dos pais
conteúdo revisado pelos pesquisadores ou foram para participar da pesquisa.
eliminados (num total de 20 itens). Ao final, obteve-se
um conjunto de 96 itens, com 16 para cada dimensão.
Os 96 itens foram a seguir analisados RESULTADOS
individualmente por quatro estudantes de ensino
médio e seis estudantes universitários, que avaliaram a Análise da estrutura componencial do instrumento
clareza dos itens. Nenhum item foi considerado de Um dos modos de verificar a validade de
difícil compreensão pelos estudantes, embora em construto de um instrumento, ou seja, se ele representa
adequadamente os construtos que se propõe a medir, selecionar itens que produzissem uma solução mais
consiste em empregar técnicas estatísticas de análise clara, ou seja, que tivessem cargas elevadas,
fatorial que indiquem a existência (ou não) das preferencialmente, em um componente apenas. Além
dimensões previstas teoricamente no conjunto de itens disso, buscou-se equalizar o número de itens nas
criado (Pasquali, 2004). Assim, os 96 itens foram diversas dimensões. Estabeleceu-se como critério
submetidos a procedimentos exploratórios de análise básico para seleção dos itens um valor mínimo de
de componentes principais, que é uma técnica carga componencial de 0,30 no componente esperado
estatística semelhante à análise fatorial. A primeira (embora se tenha admitido a possibilidade de um item
análise realizada apresentou um índice Kaiser-Meyer- ter cargas superiores a esse valor em outros
Olkin (KMO) de 0,90 e teste de esfericidade (Bartlett) componentes, desde que ocomponente previsto tivesse
com p<0,001, mostrando a adequação do conjunto dos a carga mais alta). Como critério complementar,
dados para o procedimento. A análise indicou 21 buscou-se reter itens que apresentassem variabilidade
componentes com eigenvalues maiores do que 1, e de conteúdo dentro de cada dimensão, evitando itens
destes apenas 7 tinham valores maiores do que 2. semelhantes.
Contudo, uma análise visual do gráfico de scree Análises sucessivas permitiram chegar a uma
sugeriu a presença de 6 componentes mais relevantes solução claramente interpretável de seis dimensões,
que explicaram 39,9% da variabilidade total, como se com oito itens mais relevantes por dimensão. O
pode observar na Figura 1. conjunto final de 48 itens foi analisado considerando-
se a amostra total (857 casos) e as subamostras de
14
estudantes universitários (389 casos) e de ensino
12
médio (468 casos). Nas três situações o gráfico de
scree sugeriu a extração dos 6 primeiros componentes
10 para a posterior rotação (oblíqua). Os índices KMO
observados foram adequados (0,87 para a amostra
8 total, 0,83 para a de estudantes universitários e 0,86
para a de estudantes de esnino médio), bem como os
6
resultados do teste de esfericidade de Bartlett
4 (ps<0,001). Os percentuais totais de variância
explicada pelos seis componentes extraídos foram, em
Eigenvalue
propostas podem ser usadas, no âmbito de pesquisas, Carson, A. D. & Mowsesian, R. (1993). Self-monitoring and
como medidas fidedignas dos seus respectivos private self-consciousness: Relations to Holland’s
personality types. Journal of Vocational Behavior, 42,
construtos. 212-222.
Em relação às evidências complementares de
Day, S. X. & Rounds, J. (1998). Universality of vocational
validade das escalas, ou seja, sua capacidade de interest structure among racial and ethnic minorities.
discriminar grupos entre os quais se esperariam American Psychologist, 53, 728-736.
diferenças significativas, os resultados também Donnay, D. A. C. & Borgen, F. H. (1996). Validity, structure
foram favoráveis. Em todas as comparações feitas as and content of the 1994 Strong Interest Inventory.
escalas mostraram-se capazes de apontar diferenças Journal of Counseling Psychology, 43, 275-291.
significativas entre os grupos contrastantes conforme Einarsdóttir, S., Rounds, J., Ægisdóttir, S. & Gerstein, L. H.
esperado, o que sugere sua validade. (2002). The structure of vocational interests in Iceland:
Em resumo, o presente estudo teve por objetivo Examining Holland’s and Gati’s RIASEC models.
construir um instrumento de auto-relato para avaliar European Journal of Psychological Assessment, 18, 85-
95.
dimensões de interesse vocacional dentro do modelo
RIASEC, além de obter evidências acerca de sua Farh, J., Leong, F. T. L. & Law, K. S. (1998). Cross-cultural
validity of Holland’s model in Hong Kong. Journal of
validade e fidedignidade. Os resultados obtidos
Vocational Behavior, 52, 425-440.
indicam, em seu conjunto, o sucesso do
empreendimento. As dimensões previstas emergiram Glidden-Tracey, C. E. & Parraga, M. I. (1996). Assessing the
structure of vocational interests among bolivian
das análises de componentes principais, university students. Journal of Vocational Behavior, 48,
evidenciando a validade fatorial do instrumento. Em 96-106.
complemento, as escalas mostraram-se capazes de
Hansen, J. C. & Sackett, S. A. (1993). Agreement between
detectar diferenças significativas entre grupos college major and vocational interests for female athlete
selecionados, o que é mais um indicador da validade and non-athlete college students. Journal of Vocational
do instrumento. Por sua vez, os índices de Behavior, 43, 298-309.
fidedignidade observados para as escalas também Holland, J. G. (1959). A theory of vocational choice. Journal
variaram de satisfatórios a excelentes. De modo of Counseling Psychology, 6, 35-45.
geral, conclui-se que o instrumento proposto pode Holland, J. H. (1997, 3ª Ed.). Making vocational choices: A
ser empregado em futuras pesquisas que pretendam theory of vocational personalities and work
avaliar as dimensões do modelo RIASEC, ao menos environments. Odessa: Psychological Assessment
em populações de estudantes de ensino médio e de Resources.
universitários. Pesquisas complementares são ainda Holland, J. H. (1999). Why interest inventories are also
necessárias a fim de verificar a validade e a personality inventories. In M. L. Savickas & A. R.
fidedignidade do instrumento em populações Spokane (Eds.), Meaning, mesasurement and counseling
diferentes das que foram aqui estudadas. Por fim, use of vocational interests (pp. 87-101). Palo Alto:
deve-se salientar que aplicações clínicas do Davies-Black.
instrumento não são recomendadas, uma vez que os Holland, J., Fritzsche, B. & Powell, A. (1994). Technical
resultados desta pesquisa não se constituem em manual for the Self-Directed Search. Lutz: Psychological
Assessment Resources.
normas que possam ser utilizadas para efeitos de
avaliação individual, além de serem necessários Kerby, D. S. & Ragan, K. M. (2002). Activities interests and
outros estudos que investiguem de modo mais Holland’s RIASEC system in older adults. International
Journal of Aging and Human Development, 55, 117-139.
detalhado a aplicabilidade do modelo RIASEC em
nossa cultura. Lent, R. W., Brown, S. D. & Hackett, G. (1994). Toward a
unifying social cognitive theory of career and academic
interest, choice, and performance. Journal of Vocational
Behavior, 45, 79-122.
REFERÊNCIAS
Parsons, F (1909). Choosing a vocation. Boston: Houghton
Ackerman, P. L. & Heggestad, E. D. (1997). Intelligence, Mifflin.
personality, and interests: Evidence for overlapping traits. Pasquali, L. (2004). Psicometria: teoria dos testes na
Psychological Bulletin, 121, 219-245. psicologia e na educação. Petrópolis: Vozes.
Brown, D. & Brooks, L. (1996, 3ª ed.). Introduction to Rounds, J. & Day, S. X. (1999). Describing, evaluating, and
theories of career development and choice: Origins, creating vocational interest structures. In M. L. Savickas
evolution, and current efforts. In D. Brown & L. Brooks & A. R. Spokane (Eds.), Meaning, mesasurement and
(Eds.), Career choice and development (pp. 1-32). San counseling use of vocational interests (pp. 103-133). Palo
Francisco: Jossey-Bass. Alto: Davies-Black.
Rounds, J. & Tracey, T. J. (1996). Cross-cultural structural Tracey, T. J. (2002). Development of interests and
equivalence of RIASEC models and measures. Journal of competency beliefs: A 1-year longitudinal study of fifth
Counseling Psychology, 43, 310-329. to eight grade students using the ICA-R and structural
Rounds, J., McKenna, M. C., Hubert, L. & Day, S. X. (2000). equation modeling. Journal of Counseling Psychology,
Tinsley on Holland: A misshapen argument. Journal of 49, 148-163.
Vocational Behavior, 56, 205-215. Tracey, T. J. G. & Rounds, J. (1995). The arbitrary nature of
Savickas, M. L. (1999). The psychology of interests. In M. L. Holland’s RIASEC types: A concentric-circles structure.
Savickas & A. R. Spokane (Eds.), Meaning, Journal of Counseling Psychology, 42, 431-439.
mesasurement and counseling use of vocational interests
(pp. 19-56). Palo Alto: Davies-Black. Recebido em 16/01/06
Spokane, A. (1996, 3ª ed.). Holland’s theory. In D. Brown & Aceito em 08/01/07
L. Brooks (Eds.), Career choice and development (pp.
33-74). San Francisco: Jossey-Bass.
Endereço para correspondência: Marco Antônio Pereira Teixeira. Rua Ramiro Barcelos, 2600, Instituto de Psicologia da
UFRGS, CEP 900035-003, Porto Alegre-RS. E-mail: mapteixeira@yahoo.com.br