Apostila Discipulado Classe Adultos Na IPPSD
Apostila Discipulado Classe Adultos Na IPPSD
Apostila Discipulado Classe Adultos Na IPPSD
Cultivando relacionamentos
Transformando vidas
Fortalecendo a Igreja
2017
2
Conteúdo
Nossa proposta com este curso é dar uma compreensão do que significa ser um
discípulo de Cristo e como podemos ser usados por Deus para discipular outras
pessoas.
AULA 01
Ao adotar o tema do discipulado para 2017, nossa igreja deseja trabalhar muito mais a
videira (pessoas) do que a treliça (programação). Queremos investir em pessoas. E
desejamos ver ao longo do ano, gente
cuidando de gente. Queremos Discípulo •procura ajuda de outros para ser
como Cristo
crescer e entendemos que o
crescimento espiritual vem através •procura ajudar outros a serem
da compreensão e da prática de
Discipulado como Cristo
princípios dados pela Palavra de
Deus.
a) A primeira é akolouthéo (seguir), que indica a ação de alguém em seguir outra pessoa,
tornando-se assim seu discípulo. O sentido mais primitivo dessa palavra trazia a ideia de
ir atrás de alguém, ir para algum lugar com outra pessoa ou seguir a opinião de alguém.
b) A segunda palavra é mathetés (aprendiz). Todo discípulo deve ser um aprendiz. Por
meio do ensino e da experiência de vida, ele deve adquirir o conhecimento que lhe
possibilitará viver uma nova vida. Mathetés traz a ideia de alguém que ouviu o chamado
de seu mestre e resolveu unir-se a ele.
1
D. Muller, In: DISCIPULO. COLIN Brown, Ed. Dicionário Internacional de Teologia do Novo
Testamento (São Paulo, Ed. Vida Nova, 1981), vol. 1, p. 666
5
Sendo assim, podemos dizer que um discípulo é um seguidor (Mt 4.18-22; Mc 1.14-20),
um aprendiz (Mt 11.29; Fl 4.9), alguém que imita (Ef 5.1; I Co 11.1) ou é modelado por
outra pessoa.
Devemos ter cuidado para não fazer distinção entre cristão e discípulo. Todo crente é um
discípulo. Lemos no livro de Atos que o termo discípulo é usado também como sinônimo
de crente. O discípulo é um aluno que aprende não só a verdade através de seu mestre,
mas também imita seus atos e seu estilo de vida, com a finalidade de crescer em sua vida
cristã e depois ensinar a outros a fazer o mesmo.
Cristão é alguém que tomou uma decisão de seguir a Cristo e assumiu um compromisso
de servi-lo, de se submeter a ele com fé e obediência. O objetivo de todo cristão é o de
ser um discípulo de Jesus Cristo. Por isso não podemos fazer distinção entre cristão e
discípulo.
A Bíblia usa uma variedade de termos e metáforas para descrever maturidade espiritual.
Tais termos como provado (2 Co 9.13), maduro (Ef 4.13), santo (1 Ts 4.3), e completo
(Tg 1.4) referem-se ao conceito de maturidade espiritual. Metáforas tais como Cristo
habitando nos crentes (Ef 3.17), permanecendo em Cristo (Jo 15.5), e crentes andando
como Jesus andou (1 Jo 2.6) também descrevem o conceito de maturidade. Mas nenhuma
definição única e simples é oferecida. Portanto uma definição teológica dever ser
estabelecida para trazer a profundidade do dado bíblico para ser significativa.
6
Note bem que Paulo diz que ensinava com uma finalidade: “apresentar todo homem
perfeito em Cristo”. Obviamente que perfeito aqui não significa ausência de pecados,
mas, maturidade espiritual. O que queremos dizer por maturidade cristã é o processo de
santificação, o caminho progressivo para a conformidade à imagem de Cristo no crente.
A imagem original, desfigurada com a Queda (Gn 1:26-27), porém agora é renovada em
Cristo quando da conversão (Cl 1:15; Rm 8:29; I Jo 3:2, II Co 9:18). Sabemos que a
conversão apenas dá início a uma nova vida, mas, ao nascer o novo crente inicia uma
longa caminhada na espiritualidade, a qual necessitará de uma educação e que seja cristã,
a fim de proporcionar-lhe crescimento na fé, e assim, torná-lo “perfeito” em Cristo, ou
seja, um crente maduro.
Esta maturidade cristã (santificação progressiva) pode ser vista em passagens como Cl
3:9,10, onde o apóstolo Paulo lembra a seus ouvintes de que eles se despiram do velho
homem e se revestiram do novo. Este novo homem é descrito como aquele “que se refaz
para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” (v.10).
A palavra grega usada aqui por Paulo traduzida por “que se refaz” ou que “está sendo
refeito”, e significa uma renovação que perdura por toda a vida do crente.2
Um crente maduro é aquele que está crescendo progressivamente e continuamente sendo
transformado à imagem de Cristo, e sob a obra graciosa do Espírito Santo, ele prossegue
mortificando as práticas pecaminosas a que era inclinado. (cf. 2 Co 3:18; Cl 3:3; Rm 6:6;
8:13; Ef 4:22-24)3
b) “Tome a sua cruz”: (Lc 14.27) – essa expressão traz a ideia de renúncia (Lc 14.33),
de morte para o “eu” (I Co 15.31; Rm 8.36; Gl 2.19,20). Quando Jesus chamava alguém
para segui-lo fazia questão de instruir esta pessoa quanto ao custo de uma decisão como
esta. Por isso, pessoas que tinham um coração dividido e que não estavam dispostas a um
comprometimento sério com ele, não o seguiam (Lucas 14.28-30; Mateus 10.32-39).
2
Robertson, Archibald Thomas. Word Pictures In The New Testament. Grand Rapids, Michigan: Backer
Book House. 1931
3
HOEKEMA, Antony. Salvos Pela Graça – A Doutrina Bíblica da Salvação. São Paulo, SP: Cultura
Cristã. 1997. p. 214
7
Ser um discípulo de Jesus é muito mais que tomar uma decisão de fazer parte de uma
igreja, ou decidir “aceitar Jesus” ou abraçar um conjunto de crenças. Podemos dizer que
Assim, devemos entender que fazer discípulos não é apenas levar pessoas para a igreja.
Não basta conduzir indivíduos ao evangelho. Esso é apenas o começo. Mas depois, faz-
se necessário ensinar como o evangelho é necessário para aplicação em todas as esferas
da vida.
Conclusão:
Aplicando o ensino
1) Você consegue agora dar uma definição do que é ser um discípulo? Qual seria sua
definição?
2) Compartilhe com os demais colegas de classe, em que a aula de hoje foi útil a
você.
3) Existe alguma coisa na sua vida cristã que deve mudar a partir de sua compreensão
da aula de hoje? O quê?
4
Os destaques que faço nesta definição assinalam os elementos que entendo que devem estar presentes no
discipulado: Arrependimento (Lc 5.32); renúncia (Lc 14.33); submissão (Lc 14.27) e compromisso (Tg
2.17,26).
8
AULA 02
DISCIPULADO: UM ESTILO DE
VIDA, NÃO UM PROGRAMA
Texto básico: Lucas 14.27
INTRODUÇÃO
Em nossa primeira aula vimos o que é ser discípulo. Agora, nossa questão é: o
discipulado. Como a igreja deveria ver o discipulado? A igreja não deveria ver o
discipulado primariamente como um
evento especial ou um programa.
Discípulo •procura ajuda de outros para ser
como Cristo Discipulado não é algo ocasional ou
fora do normal, algo que pode ser
•procura ajudar outros a serem isolado do resto de nossa vida cristã.
Discipulado como Cristo
Ser um cristão é ser um discípulo de
Cristo. E ser um discípulo de Cristo
significa
Portanto, as igrejas deveriam ver o discipulado como um estilo de vida. O discipulado
deveria constituir uma parte normal de ser um cristão e um membro de igreja. É o que um
seguidor de Cristo faz.
Isso significa que igrejas podem ou não usar programas para promover o discipulado.
Mas elas definitivamente desejam promover uma cultura de discipulado. Deveria ser
normal que cristãos mais novos discutissem assuntos espirituais durante refeições com
cristãos mais velhos. Deveria ser normal que cristãos mais novos passassem tempo nas
casas de cristãos mais velhos para ver como eles aplicam sua fé a cada área da vida, até
como eles colocam as suas crianças para dormir. Pela graça de Deus, uma igreja que
fomenta uma cultura de discipulado será cheia de membros que parecem mais e mais com
o Senhor Jesus (1Co 11.1).
De fato, o Antigo Testamento já tratava desse assunto desde os tempos de Moisés. Ele
discipulou Josué, “o jovem que não se apartava da tenda” (Êx 33.11). Josué era seu
discípulo, ou servidor (Êx 24.13) e seguia de perto as ordens de Moisés (Êx 17.9) e
assimilou bem os ensinamentos de seu mestre. Quando o ministério de Moisés estava
chegando ao seu término, foi Josué quem o Senhor providenciou para colocar em seu
lugar (Dt 3.28), de modo que lemos: “O Senhor engrandeceu a Josué diante dos olhos de
todo o Israel; e temeram-no, como haviam temido a Moisés, todos os dias da sua vida”
(Js 4.14; Êx 24.13; 33.11; Nm 11.28).
9
Em outros lugares do Antigo Testamento ainda podemos ver este tipo de relacionamento
acontecendo. Samuel tinha um grupo de profetas sob sua orientação (I Sm 10.5-10; 19.20-
24). A relação Elias e Eliseu é outro exemplo (I Rs 19.19-21). E ainda podemos fazer
referência ao relacionamento entre Baruque e Jeremias (Jr. 36.26; 43.3). Esses poucos
exemplos servem para nos mostrar que o discipulado não é uma ideia nova.
Por essa definição de Keith Philips somos levados a entender que o discipulado não deve
ser entendido como uma sala de aula cheia de alunos recebendo instruções de um
professor. Não é simplesmente um curso doutrinário ou uma orientação esporádica na
5
PHILIPs, Keith. A Formação de Um Discípulo. Editora Vida. São Paulo: 1983. p. 16
10
qual uma pessoa, quando precisa, procura alguém mais experiente para receber uma
ajuda. Pode até conter estes elementos, mas vai além disso. Considerando e desdobrando
a definição acima, podemos extrair pelo menos quatro implicações ou pressupostos do
discipulado:
Vemos claramente nessa passagem, não apenas o aspecto relacional conforme apontado
anteriormente, mas também que o discipulado é uma relação entre mestre e aluno. Paulo
diz: “Você tem seguido de perto”. Discipulado é estar junto. Timóteo seguiu Paulo de
perto e assim pôde observar a vida dele. Pôde vivenciar, não apenas as conquistas de
Paulo, mas também seus sofrimentos e frustrações.
Jesus fez discípulos e ordenou a eles que também fizessem discípulos (Mt. 28:19). O
discipulado é um meio eficaz de se produzir tanto a quantidade como a qualidade de
crentes que Deus deseja. O discipulador sabe que a responsabilidade não termina até que
seu discípulo chegue à maturidade espiritual e a capacidade de reproduzir. Discipulado é
reprodução de qualidade que assegura que o processo da multiplicação espiritual
continuará na geração seguinte (I Co 4.14-17; 2 Tm 2.1.2; Fl 3.17; I Co 11.1).
O mestre deve reproduzir na vida do aluno a plenitude da vida que ele desfruta em Cristo.
Um discípulo maduro tem de ensinar a outros crentes como viver uma vida que agrade a
Deus, equipando-os a treinar outros e assim por diante.
11
Cristãos são imitadores, primeiro de Deus, depois uns dos outros. Nós crescemos na graça
de Deus por ouvirmos e imitarmos. Considere as seguintes passagens:
Em Lucas 6.40, lemos que “todo aquele, porém, que for bem instruído será como seu
mestre”. O alvo do discipulado é mudar o comportamento das pessoas e não somente
passar informações para serem absorvidas de maneira intelectualizada. O discipulado não
se limita a dar informação. Visa a transformação de vidas (Cl 1.28; 2.7). Visa nossa
semelhança com Jesus.
O discipulado não é um programa. Nem mesmo deveria ser confundido com uma série de
estudo de lições bíblicas. Não é um curso de iniciação doutrinária que ocorre em
encontros semanais. Como também não é um novo sistema de culto nos lares. Embora o
discipulado recorra à organização de um programa, o estudo sistemático de lições
doutrinárias, e aconteça em encontros semanais, ele é um princípio de formação e de
transformação (Colossenses 1.28). Discipular é um princípio de formação, é ensinar um
discípulo a viver - pensar, decidir, interpretar, construir, agir, relacionar, produzir, e tudo
isso com uma mente cristã.
6
COLIN Brown, Ed. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento (São Paulo, Ed. Vida
Nova, 1981), vol. 1, p. 666 -
12
Conclusão:
Aplicando o ensino:
1. Converse com os demais colegas da classe: Como você poderia se envolver com
a prática do discipulado em nossa igreja?
2. Comece um estudo bíblico em sua casa e convide alguém para participar.
13
AULA 03
O PROPÓSITO DO DISCÍPULO: A
GLÓRIA DE DEUS
Texto básico: “Quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer,
fazei tudo para a glória de Deus” (1Co 10.31).
Introdução
Se você saísse pela rua perguntando a dez pessoas quaisquer o que elas consideram ser o
maior tema do mundo, obteria na certa uma variedade de respostas: — Dinheiro. Amor.
Casamento. Sexo. Liberdade. Segurança. Status. Prazer. Paz. Felicidade. Mas do ponto
de vista de Deus, há apenas uma resposta. É o maior tema do mundo, da Palavra de Deus,
de todo o universo. Vai além da razão da Criação, da razão de se viver a vida cristã, da
razão pela qual Deus fez ou fará todas as coisas. Você sabe qual é? Encontramos a
resposta no chamado Catecismo Menor. Eis a primeira pergunta:
O Alvo Principal da Vida. A glória de Deus! Por que o homem está sobre a terra? Por
que Deus se preocupou em redimi-lo? Qual o propósito da vida? Como é que toda a
Criação — hoje tão corrompida e deformada — vai terminar, afinal? Para a glória de
Deus. É essencial que entendamos o conceito bíblico da glória de Deus.
Calvino disse que a “glória de Deus é quando sabemos o que ele é”7. Isto significa dizer,
que reconhecemos quem é Deus e, assim, o valorizamos acima de todas as outras coisas
(I Co 10.31). Calvino novamente é enfático: “Não busquemos nossos próprios interesses,
mas antes aquilo que compraz ao Senhor e contribui para promover sua gloria”8
A glória de Deus é sua essência. Por outro lado, a glória de Deus está em Sua essência,
em Sua natureza. Está no Seu ser, tão parte dEle como Sua graça, Sua misericórdia, Seu
poder e Seu conhecimento. Todos infinitos. Só podemos reconhecer, e dizer: "É verdade.
Deus é glorioso!"
A ressurreição de Lázaro ilustra a glória do Salvador. Lembre-se de como Jesus se
demorou além do Jordão até saber que Lázaro estava morto. Jesus amava profundamente
a Lázaro, mas esperou por sua morte para fazer um milagre. Quando o Senhor ordenou
que removessem a pedra tumular, Marta protestou. Mas Jesus respondeu "Não te disse eu
que se creres verás a glória de Deus? " (João 11:40).
O que era, neste caso, a glória de Deus? Que atributo seria demonstrado? Poder — o
mesmo grande poder usado na Criação — seria neste momento demonstrado com a
ressurreição de Lázaro. Marta não deu a glória a Deus. É algo que Ele já possuía. Mas
neste momento, Sua natureza seria revelada em glória. E o foi.
Em João 17:24 Jesus orou, "Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam comigo
também os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste..." A resposta
a essa oração será cumprida em Apocalipse 21:23, que descreve a Nova Jerusalém como
não tendo necessidade de sol ou lua, "pois a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a
sua lâmpada". Isso demonstra de maneira belíssima que a glória é parte essencial e
intrínseca da própria natureza de Deus.
Já que isto é verdadeiro, a glória de Deus é algo que Ele não dá ao homem. Isaías 48:11
declara: "A minha glória não dou a outrem". Deus não distribui Sua própria natureza.
Jesus coloca dentro de nós a Sua glória, mas jamais a coloca sobre nós e nem dentro de
nós se não estivermos nEle. Quando Deus dá de Sua glória ao crente, é Ele mesmo quem
vem habitar em sua vida. Mas a glória não é nunca do receptor, pois Deus não Se despe
da Sua glória.
Podemos usar a ilustração do anel que Faraó deu a José. Ele o tirou e deu a José, colocando
também uma corrente de ouro sobre o seu pescoço (Gênesis 41:42). "Somente no trono
eu serei maior do que tu", declarou Faraó (v.40). Em outras palavras: "Eu te darei um anel
e uma corrente, mas o trono continua sendo meu". Assim também Deus não Se desfaz de
Sua glória. Temos, portanto, o primeiro aspecto de nossa definição do que seja a glória
de Deus. É intrínseca a Ele e somente Ele a possui. É a soma de Seus atributos. Não pode
ser diminuída.
7
Calvino, João. Citado por Leonard T. Van. Estudos no Breve Catecismo de Westminster. São Paulo,SP:
Editora Os Puritanos. 2000 p.7
8
Calvino, João. A Verdadeira Vida Crista. São Paulo, SP: Editora Novo Século, p.30
15
1ª.) A razão mais óbvia pela qual devemos glorificar a Deus é porque Ele nos criou. O
Salmo 100 diz simplesmente: "Foi ele quem nos fez" (v.3). Compare isto com Romanos
11:36: "Porque dele, por meio dele, e para ele são todas as cousas. A glória pois, a ele
eternamente. Amém". Por que Deus merece glória? Porque ele nos deu nossa existência,
nossa vida e tudo que existe — esta é a primeira razão.
2ª.) Segundo, devemos glorificar a Deus porque Ele fez todas as coisas para render-Lhe
glória. Provérbios 16:4 diz: "O Senhor fez tudo para um fim". Fez todas as coisas para
que falem de Sua glória, para que irradiem Sua glória. A Criação demonstra os Seus
atributos, Seu poder, Seu amor, Sua misericórdia, Sua sabedoria, Sua graça. E toda a
Criação rende glória a Ele. As estrelas - "Os céus declaram a glória de Deus..." (Salmo
19:1). Os animais - "O* animais do campo me honrarão..." (Isaías 43:20). Os anjos - por
ocasião do nascimento de Cristo os anjos cantaram "Glória a Deus nas alturas..." (Lucas
2:14). Se as coisas abaixo do homem na ordem da Criação glorificam a Deus, poderemos
fazer menos do que dar a glória devida ao Seu nome? Deus recebe glória até dos
incrédulos que não escolheram glorificá-lo.
3ª.) Podemos dar como terceira razão pela qual é necessário glorificá-lo o fato que Deus
julga aqueles que se recusam a glorificá-lo. Temos um bom exemplo disso no caso do
Faraó do Egito, na época em que Deus libertou Seus filhos da escravidão. Esse homem
lutou contra Deus com todas as suas forças. Mas Deus declarou: "glorificar-me-ei em
Faraó..." (Êxodo 14:17). E assim o fez. Mais cedo ou mais tarde, todos darão glória a
Deus, voluntária ou involuntariamente.
2º.) Glorificamos a Deus através das boas obras: Mt 5.16: a Bíblia diz: ` Assim brilhe
também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e
glorifiquem a vosso Pai que está nos céus` Mt 5.16. O segundo princípio que Deus nos
revela de como podemos glorificar a Deus é através das boas obras. Isto é, as boas obras
são frutos dos dons e talentos que Deus deu a cada cristão, portanto, o que cada crente
precisa fazer é colocar em prática a graça de Deus que foi derramada sobre nós.
seu nome, adorai o Senhor na beleza da santidade` Sl 29.2. Adorar a Deus é cultuar a
sua glória em momentos específicos: seja pessoal, familiar ou como igreja. Adorar a Deus
é cultuar a sua glória em Espírito e em Verdade: Jo 4.24. Adorar a Deus é exaltar a sua
glória através do nosso culto racional (espiritual): que são sacrifício vivos, santo e
agradável a Deus: Rm 12.1.
Paulo escreveu: "Finalmente, irmãos, orai por nós, para que a palavra do Senhor se
propague, e seja glorificada, como também está acontecendo entre vós" (II
Tessalonicenses 3:1). Como a Palavra estava sendo glorificada neles? Quando ouviram e
creram. Foram salvos e Deus foi glorificado. As pessoas ouvem a voz de Deus e
respondem-na.
Glorificamos a Deus quando enaltecemos Sua glória perante o mundo. Não é somar algo
a Sua natureza, mas apenas demonstrar a glória de Deus às pessoas. I Crônicas deixa isso
bem claro. Davi diz: "Anunciai entre as nações a sua glória, entre todos os povos as suas
maravilhas" (I Crônicas 16:24).
Mais uma ilustração: "Os gentios, ouvindo isso, regozijavam-se e glorificavam a palavra
do Senhor..." (Atos 13:48). Quando ouviam Paulo pregar, glorificavam a Deus. A
apresentação da Palavra, portanto, dá glória a Deus. Cada vez que você vai dar aquela
aula para a criançada ou dirige um estudo bíblico em sua casa - ou mesmo cada vez em
que você se senta com sua família e começa a falar da Palavra de Deus - você está dando
glória a Deus.
Uma quarta forma de glorificar a Deus é confiar nEle. Romanos 4:20 diz que Abraão
"pela fé se fortaleceu, dando glória a Deus". Deus é glorificado quando se confia nEle. A
incredulidade questiona a Deus e difama a Sua glória. O maior problema em se transmitir
a glória de Deus ao mundo é que ela tem que vir através de nós! Gostamos de citar o
versículo "E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir em Cristo Jesus,
cada uma de vossas necessidades" (Filipenses 4:19). Mas quando nossa vida entra em
crise ficamos arrasados. Desmoronamos — e todos, no serviço e em casa, sabem disso.
E as pessoas dizem: "Que Deus que você tem! Nem você confia nEle." Deus é glorificado
quando cremos nJEle, quando descansamos, plenamente seguros nEle. Isto glorifica a
Deus. Sempre penso nos três jovens israelitas e sua experiência na fornalha ardente.
Quando prestes a serem lançados na fogueira, eles não disseram: "Temos um problema
prático. Qual versículo se aplica aqui? " Não, eles declararam com ousadia: "O nosso
Deus, a quem servimos, quer nos livrar... nos livrará da fornalha de fogo ardente" (Daniel
3:17). Com isso, entraram. Se tivessem se apavorado, caído no chão, rastejado perante a
estátua de ouro, não teriam glorificado a Deus. Deus é glorificado quando confiamos
nEle! (1 João 5:10).
17
Deus não espera perfeição absoluta. Se você fizer alguma coisa errada ou tiver alguma
falha, Ele não diz que você está acabado e não é mais cristão. Não, pois Deus olha para o
jorrar constante de um coração que tem em si o espírito de obediência. O verdadeiro
cristão tem o desejo de se submeter a Jesus Cristo mesmo que nem sempre ele consiga
cumprir o desejado.
Conclusão
Salmo 73:25: "Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na
terra". O salmista tinha prazer em Deus - e em gozá-lo para sempre, no porvir. Nossa
alegria no céu será a mesma que experimentamos aqui. O céu será a expressão plena desse
gozo, totalmente desimpedido do pecado. Jesus orou: "Para que o meu gozo permaneça
em vós" (João 15:11). A alegria de Cristo que conhecemos agora será a alegria conhecida
perfeitamente no céu. A maior promessa da Bíblia encontra-se em 1 Tessalonicenses 4:17:
"...e assim estaremos para sempre com o Senhor". Isto é gozo!
O alvo supremo do homem é glorificar a Deus — e gozá-lo para sempre! - Uma chave
muito antiga para o crescimento espiritual, mas que sempre abre a fechadura.
AULA 04
O DISCÍPULO E SEU
CRESCIMENTO ESPIRITUAL
“Então, disse Jesus aos judeus que haviam crido nele: “Se
permanecerdes na minha Palavra, verdadeiramente sereis
meus discípulos. E conhecereis a verdade, e a verdade vos
libertará.” João 8.31,32
Introdução
A vida resulta em crescimento. Vida espiritual resulta em crescimento espiritual. Ou, pelo
menos deveria ser assim. Você' está crescendo? Se não estiver crescendo, ou não estiver
satisfeito com o seu índice de crescimento, a aula de hoje vai lhe ajudar. Esteja certo de
que Deus deseja que todo o crente atinja a maturidade espiritual. Sua Palavra nos ordena.
É esta a nossa obrigação e nosso privilégio. A cada dia, podemos progredir em nossa vida
espiritual prosseguindo num conhecimento mais pleno, mais alto, mais pessoal e
experimental de Deus e de Cristo.
1º.) O crescimento espiritual nada tem a ver com o favor de Deus. Deus não nos ama
mais à medida em que nos tornamos mais espirituais. Às vezes os pais ameaçam seus
filhos: "Se você fizer isso, Deus não vai mais gostar de você". De forma nenhuma! O
amor de Deus não é condicionado ao nosso comportamento. Quando ainda éramos fracos,
injustos, pecadores e inimigos (Romanos 5:6-10), Deus provou seu amor por nós
enviando-nos Seu Filho para morrer pelos nossos pecados. Deus não nos ama mais apenas
porque crescemos.
2º.) O crescimento espiritual nada tem a ver (necessariamente) com o tempo.
Não se mede crescimento espiritual pelo calendário. É possível uma pessoa ser cristã
durante meio século e ainda permanecer um bebê espiritual.
3º.) O crescimento espiritual nada tem a ver (necessariamente) com o conhecimento.
Uma pessoa pode conhecer muitos fatos, ter muitas informações, mas isso não é o mesmo
que ter maturidade espiritual. A não ser que o conhecimento resulte na sua conformidade
a Cristo, ele será inútil. Para ter valor, este conhecimento tem que transformar a vida.
19
Algumas pessoas pensam que crentes maduros são aqueles que estão sempre ocupados.
Mas a ocupação no trabalho da igreja não resulta em maturidade cristã, e nem a substitui.
Pode até ser um obstáculo ao que é realmente vital e importante na vida do crente. No
capítulo sete de Mateus, lemos sobre um grupo que clamará por aceitação da parte de
Cristo baseado em obras maravilhosas. Mas Ele os lançará fora. Ocupação não resulta em
salvação — menos ainda em maturidade.
Algumas pessoas dizem: "Veja só como Deus tem me abençoado. Tenho dinheiro, uma
casa maravilhosa, um bom carro e um emprego seguro. Deus tem me abençoado porque
eu O tenho honrado." Não acredite nisso. Deus pode ter permitido que você tivesse
sucesso — ou até você mesmo pode ter forçado a situação — mas isso não é sinal de
crescimento espiritual. Veja II Coríntios 12:7-10.
Uma das declarações que a Bíblia faz de si mesma é que a Palavra de Deus É viva. "Fostes
regenerados, não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a Palavra de
Deus, a qual vive e é permanente" (1 Pedro 1:23). Paulo refere-se à Bíblia como a Palavra
da Vida (Filipenses 2:16). O escritor de Hebreus declara ser a Palavra de Deus viva e
eficaz (Hebreus 4:12). Como a Palavra de Deus está viva?
a) A Bíblia é viva devido à sua atualidade. Você já folheou seus velhos livros de
escola? A maioria está desatualizada. A ciência continua a fazer novas descobertas
e novos livros são produzidos, no entanto, a Bíblia jamais se desatualiza.
b) A Bíblia é viva porque ela discerne os corações. Possui uma percepção interior
surpreendente. A Bíblia é uma espada afiada de dois gumes que discerne os
pensamentos e os propósitos do coração (Hebreus 4:12). Revela exatamente
aquilo que somos. E por isso que aqueles que desejam permanecer no erro não a
leem. Ela os descobre. Estas são algumas das razões pelas quais dizemos que a
Palavra de Deus é viva em si mesma.
2) Em segundo lugar, a Bíblia transmite vida. Não apenas a contém, mas transmite vida.
O maior poder de qualquer organismo vivo é a capacidade de se reproduzir. Os nossos
pensamentos e palavras são incapazes disso. Poderíamos falar o dia todo sem
20
produzirmos vida espiritual. Mas a Palavra de Deus é viva e reproduz vida. Tiago 1:18
nos diz: "Pois segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade..." A Palavra
de Deus é que faz isso. O Espírito Santo utiliza se da Palavra para produzir novo
nascimento. A única forma de se tornar filho de Deus é ser gerado pela Palavra, a semente
de nova vida.
Há outros lugares em que a Bíblia fala de si mesma como sustento: "Achadas as Tuas
palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração..."
(Jeremias 15:16).
Paulo lembra a mesma coisa a Timóteo, vista de outro ângulo: "Expondo estas cousas aos
irmãos, serás bom ministro de Cristo Jesus, alimentado com as palavras da fé e da boa
doutrina que tens seguido" (I Timóteo 4:6).
4) Uma quarta razão pela qual dizemos que a Palavra de Deus vive é que ela transforma
a vida.
Paulo escreveu aos crentes de Éfeso recomendando que “Vos renoveis no espírito do
vosso entendimento" (Efésios 4:23). E em Romanos 12.2 o apóstolo diz que a renovação
das nossas mentes é algo que deve ocorrer para que sejamos transformados. Mesmo como
crentes, precisamos permitir que a Palavra nos transforme. Não somos perfeitos ao nos
tornarmos cristãos. O Espírito Santo ainda tem muito a fazer para nos moldar conforme
a imagem de Cristo. Mesmo depois que entramos na família de Deus, a velha mente, com
seus hábitos de preocupação egoísta, com sua imaginação e apetites para as coisas erradas
ou duvidosas da vida - tudo isto tem que ser retirado. Como? Pela Palavra de Deus.
A melhor coisa que pode acontecer na nossa vida, após a salvação, é aprender a estudar a
Palavra de Deus noite e dia. Pois quanto maior a devoção que dedicamos no estudo da
palavra, mais podemos contemplar o rosto de Jesus Cristo através das páginas das
Escrituras, mais o Espírito de Deus me transforma segundo a imagem de Seu Filho. O
estudo bíblico precisa se tornar a paixão do nosso coração.
Todas as coisas boas vêm através dela. Se desejamos viver, a Palavra de Deus nos
vivifica. Se desejamos crescer, é a Palavra de Deus que nos dá o crescimento. E se
desejamos ser transformados, é enquanto focalizamos nossa atenção em suas páginas que
a Palavra de Deus nos transforma.
21
1) Primeiro: creia nela. Muitas coisas e muitas pessoas tentarão desviar sua atenção
e afeto, mas faça sua, a resposta de Pedro: "Senhor, para quem iremos? Tu tens as
palavras de vida eterna". (João 6:68). Creia na Bíblia. Aceite-a como revelação de
Deus.
2) Em segundo lugar, estude-a. Espero que, como Apoio, você se torne poderoso nas
Escrituras (Atos 18.24). Quando Jesus abriu e explicou as Escrituras aos dois
discípulos no caminho para Emaús, eles comentaram "Não nos ardia o coração? "
(Lucas 24.32). Estudar a Palavra deverá aquecer e inflamar o coração.
3) Em terceiro lugar, ame a Palavra de Deus. Dê a ela do seu tempo e de sua atenção
como você faria com qualquer outro objeto de estimação. "Quanto amo a tua lei!
É a minha meditação todo o dia," diz o salmista (Salmo 119.57). Será que você
pode dizer isto?
4) Em quarto lugar, obedeça a Palavra de Deus. Faça o que ela diz. A obediência a
Deus não é opcional, nem é algo ao qual você se submete se tem vontade. É
obrigatória. Não seja um ouvinte apenas da Palavra. Tiago 1.22
Conclusão:
Na aula de hoje aprendemos que a Palavra de Deus é a grande chave para ajudar você a
crescer espiritualmente. No entanto, há outras chaves, cada uma desvendando um novo
tesouro do crescimento espiritual. Nas próximas aulas estaremos estudando estas outras
“chaves”. Cada uma é baseada nesta Chave que estudamos hoje: a Palavra de Deus. Cada
uma é um princípio que vamos extrair da Palavra de Deus.
Aplicando o ensino
1. De acordo com a aula de hoje, que decisão prática você vai tomar para começar a
crescer na sua vida cristã? Compartilhe com a classe. Seja específico.
22
AULA 05
O CUIDADO DE UNS PELOS
OUTROS
Texto Básico: Colossenses 3.16
Introdução
Deus determinou que cuidássemos uns dos outros. Vemos, amplamente, por toda a Bíblia,
instruções acerca do cuidado mútuo. Nesta lição, veremos um princípio muito importante
do discipulado e examinaremos como o Espírito Santo nos habilita a cuidar uns dos
outros, e como devemos praticar isso, visando despertar em nós a necessidade de
proximidade e comunhão.
Pelo que lemos nas Escrituras, a soberba é um pecado odioso para Deus, o qual tem
consequências desastrosas (Rm 1.28). O orgulho, a vaidade, a autossuficiência, todos
derivados de um coração soberbo, são desastrosos, porque impedem, dentre outras coisas,
que busquemos ajuda tanto em Deus quanto nas pessoas ao nosso redor. Nós nos
consideramos tão autossuficientes, que não vemos no outro um ponto de apoio e refúgio
nos momentos de necessidade. Elevamos o “eu” como detentor de razões e soluções.
Tornamo-nos individualistas. Achamos que podemos sempre resolver nossos problemas
com nossos próprios meios, como se fosse possível renunciar a ajuda das pessoas que
estão ao nosso redor.
Por outro lado, nós nos recusamos a oferecer ajuda àqueles que estão sofrendo. Muitas
vezes, passamos ao largo, como as personagens da Parábola do Bom Samaritano, que
evitaram “se contaminar” com aquele homem caído na estrada (Lc 10.25-37,
especialmente os v. 31 e 32). Há muitas pessoas “caídas” por aí e nós, tantas vezes, não
nos ocupamos delas, preferindo, tantas outras vezes, julgá-las temerariamente.
A Palavra do Senhor nos ensina que a vida cristã não pode ser vivida isoladamente (Hb
10.25), pois somos uma família (Ef 2.19), escolhida antes da fundação do mundo (Ef 1.4)
para viver em comunhão uns com os outros (At 2.42-47), com alegria e devoção e,
especialmente, cuidando uns dos outros, pastoreando, aconselhando, admoestando e
orando (Cl 3.16-17; Tg 5.16). A vida cristã precisa ser fundamentada no “eu preciso de
você”. Devemos declarar uns aos outros a nossa incapacidade de lidar com os problemas,
23
e reconhecer que somos devedores uns aos outros do amor com que somos amados pelo
Senhor.
Para nos tornarmos membros uns dos outros, carecemos da ação do Espírito Santo em
nossa vida. Ninguém pode oferecer o que não possui. Portanto, somente aqueles que têm
o fruto do Espírito podem oferecê-lo satisfatoriamente às demais pessoas.
O Espírito Santo faz com que nos tornemos amigos uns dos outros, e próximos, a ponto
de se alegrar com os que se alegram e chorar com os que choram (ver Rm 12.9-21). Peter
Beyerhaus afirmou:
“A obra do Espírito Santo é tão corporativa como individual. Ele constrói a vida da igreja
estabelecendo o elo místico entre Cristo, a cabeça, e a igreja, seu corpo. Mediante essa
obra, a presença real do Senhor é sentida na adoração da congregação. Ele equipa a igreja
para sua missão por meio de ministérios e serviços vocacionais. Como aquele que
convence, ele abre o caminho para o mundo descrente. Os charismata, ou seja, dons
espirituais complementares, unem todos os cristãos como membros de um só corpo para
o serviço mútuo (1Co 12)”9
De que modo o Espírito Santo, agindo em nós e guiando os anjos do Senhor, nos ensina?
Na experiência de Felipe com o eunuco, vemos o Espírito do Senhor, um anjo, guiar seu
servo para o cuidado do outro: “Dispõe-te e vai para o lado do Sul, no caminho que desce
de Jerusalém a Gaza; este se acha deserto” (At 8.26). O Espírito do Senhor conduz seus
servos para o exercício da obra. Devemos entender essa fala como uma comunicação
natural entre o Espírito Santo do Senhor e os cristãos. É claro que não se tratam de “novas
revelações”, mas da interação espiritual entre nós e Deus, fruto da providência do Senhor
em guiar-nos. É a maneira “mui santa, sábia e poderosa de [Deus] preservar e governar
todas as suas criaturas e todas as suas ações, para a sua própria glória” (Catecismo
Maior de Westminster, pergunta 18).
9
Peter Beyerhaus, Dicionário de ética cristã, Carl Henry (org.), Editora Cultura Cristã.
24
O Espírito Santo do Senhor provê o sustento para os crentes. Muitas vezes, sem sabermos,
Deus está suprindo nossas necessidades mais profundas. Isso enquanto sofremos e
imaginamos que o Senhor não se importa conosco. Costumamos pensar que Deus tem
prioridades maiores do que cuidar de nós. Mas não é assim. Ele é Deus. Nem o tempo,
nem o espaço o limitam; ele pode ouvir todas as orações ao mesmo tempo e dá atenção a
todos, sem necessidade de filas ou senhas. O Espírito Santo do Senhor provê nosso
sustento e segurança, mesmo quando dormimos: “…aos seus amados ele o dá enquanto
dormem” (Sl 127.2). O Espírito também provê para que possamos prover para aos outros:
“Não negligencieis a hospitalidade, pois alguns, praticando-a, sem o saber acolheram
anjos” (Hb 13.2).
Há vários exemplos na Bíblia em que Deus, por meio de seu Espírito e dos anjos do
Senhor, protege seus servos. Um dos casos mais marcantes é o de Daniel e seus amigos,
conforme narrado em Daniel 3.28: “Falou Nabucodonosor e disse: Bendito seja o Deus
de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, que enviou o seu anjo e livrou os seus servos, que
confiaram nele, pois não quiseram cumprir a palavra do rei, preferindo entregar o seu
corpo, a servirem e adorarem a qualquer outro deus, senão ao seu Deus”. Podemos nos
lembrar de Paulo, e das tantas vezes que o Senhor livrou o apóstolo: naufrágios, picada
de víbora, perseguição, etc. Deus tem um propósito sublime em nossa vida e, mesmo
quando não percebemos, Deus está nos protegendo de todo mal.
A Bíblia afirma que “O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem e os livra”
(Sl 34.7). Aqueles que confiam no Senhor sabem que Deus destina seu santo Espírito para
cuidar deles, consolando-os, amparando-os e servindo-os. Quando Jesus Cristo contou
aos seus discípulos sobre seu retorno ao Céu, ele disse: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos
dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito da verdade,
que o mundo não pode receber, porque não no vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque
ele habita convosco e estará em vós” (Jo 14.16-17). Observe os detalhes do texto: (1)
Jesus afirma: “ele [o Pai] vos dará”, o Espírito Santo pertence a nós. Ele está conosco por
determinação de Deus Pai, a fim de que não fiquemos sozinhos e desamparados; (2)
“outro Consolador”, Cristo é nosso Consolador e, ainda assim, Deus, o Pai, nos dará
outro, o Espírito Santo, que nos guiará à verdade; (3) “esteja para sempre convosco”, não
há nenhum momento em nossa vida em que o Espírito Consolador não esteja presente.
(4) “porque ele habita convosco e estará em vós”, duas dimensões: “habita conosco”, ele
mora onde estamos, permanece junto de nós, e “está em nós”, porque atua dentro, em
nosso interior, onde somente o Espírito pode entrar (cf. Sl 139.23-24).
Se os anjos do Senhor e o Espírito Santo de Cristo agem em nós e nos ensinam, devemos
repetir suas ações e, desse modo, abençoar nossos irmãos e irmãs em Cristo. Vejamos que
atitudes podemos ter para com nossos irmãos em Cristo, utilizando nossos dons. De
acordo com John MacArthur Jr., os principais dons que devemos usar como cristãos são:
25
1. Profecia (Rm 12.6; 1Co 14.3), capacidade de pregar ou proclamar a verdade de Deus
a outros, para edificação, exortação e encorajamento.
9. Doação (Rm 12.8), capacidade de prover para a obra do Senhor e para outros que têm
dificuldade de suprir as próprias necessidades materiais. Isso deriva do propósito de
confiar suas posses materiais ao Senhor.
10. Administração (Rm 12.8; 1Co 12.28), capacidade de organizar e liderar com empenho
espiritual. É um dom chamado de”dom de comandar ou governar”.
11. Ajuda (Rm 12.7; 1Co 12.28), capacidade de servir fielmente “por trás das cortinas”,
dando assistência à obra do ministério de forma prática.
John MacArthur Jr. enumerou algumas atitudes, que são apontadas na Bíblia e que devem
fazer parte de nosso dia a dia na igreja:
Conclusão
O Espírito Santo do Senhor está conosco sempre, ele nos guia, provê tudo de que
necessitamos na vida, nos proteges e nos serve dia após dia. O Espírito Santo do Senhor
nos ensina a cuidar também de nossos irmãos e irmãs em Cristo. Ele nos dá vida e nos
encoraja a andar uns com os outros, suportando uns aos outros, em amor. Se quisermos
alcançar o sucesso em nossos relacionamentos, se quisermos nos tornar melhores em
nossa vida em comunidade, precisamos prestar atenção no Espírito agindo em nós e agir
conforme sua instrução.
Aplicação
Liste algumas atitudes que você pode ter em sua igreja. Pense em áreas da igreja que
estejam carentes e nas quais você possa colaborar, usando seus dons. Reúna-se com seus
colegas de classe e discuta com eles o que vocês podem fazer efetivamente pela igreja,
para demonstrar que o Espírito Santo age em vocês e, pela ação do Espírito, vocês também
podem agir pela igreja. Depois, comuniquem ao pastor a decisão do grupo e peçam o
auxílio dele.
Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã, na série Expressão – Vencendo
a Ansiedade.
27
AULA 06
ACONSELHAMENTO BÍBLICO
O DISCÍPULO AJUDANDO OUTROS A CRESCER NA VIDA CRISTÃ
Introdução
Provavelmente você já tenha ouvido o velho ditado: “Se conselho fosse bom, ninguém
dava, vendia”. Bom, isso é um dito popular que acreditamos estar totalmente errado. Na
verdade, o aconselhamento é muito bom. Mais que isso, o aconselhamento é bíblico. Uma
prática que pode, e muito, nos ajudar na prática do discipulado em nossa igreja. Nós, os
cristãos, não estamos imunes aos problemas que a vida trás. Também enfrentamos a
depressão, abuso de álcool e drogas, ansiedade, medo, distúrbios diversos, preocupação
com as finanças, crise no casamento, dificuldades na criação de filhos e uma variedade
de outros problemas que resultam em sofrimento.
Entendemos que algumas pessoas são chamadas por Deus e capacitadas com dons
específicos para desenvolverem o ministério de aconselhamento numa escala maior e com
mais profundidade (Ef. 4.11,12,16; I Co 12.7,12-27; I Pe 4.10). Não obstante, de acordo
com as Escrituras, todos os cristãos deveriam em alguma medida estarem aptos a
aconselhar em certas situações.10
O ensino das Escrituras é que todo crente pode e deve ser um conselheiro bíblico.
Podemos ver esse ensino à luz de Gálatas 6.1-5: “Irmãos, se alguém for surpreendido
nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te
para que não sejas também tentado. Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis
a lei de Cristo”. Lemos também em Colossenses 3.16: “Habite ricamente em vós a
10
Eyrich, Howard & Hines, Wiliam. Cura para o coração. São Paulo – SP: Cultura Cristã, p. 65.
28
Palavra de Cristo; ensinai e aconselhai uns aos outros com toda a sabedoria, e cantai
salmos, hinos e cânticos espirituais, louvando a Deus com gratidão no coração”.
Quando Paulo escreveu aos crentes da igreja de Roma (Rm 15.14) disse: “E certo estou,
meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito de que estais possuídos de bondade, cheios
de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros”. Era a
compreensão do apóstolo que toda a igreja, e não apenas os líderes, admoestasse uns aos
outros, em outras palavras, que se aconselhassem mutuamente.
Lemos em Tito 2.1-6 que o Apóstolo Paulo encarregou homens e mulheres mais velhos
de instruir os homens e mulheres mais jovens, respectivamente. Todo crente é chamado
para que “fale cada um a verdade com o seu próximo” (Efésios 4.25), e ainda: “exortai-
vos mutuamente cada dia” (Hebreus 3.13).
Como fica claro nessas passagens, corrigir, aconselhar, ensinar, não são responsabilidades
restritas aos pastores e oficiais da igreja. O mandamento é para o cristão.
2) Aconselhamento bíblico não é uma atividade opcional para a Igreja. Na Bíblia vemos
em várias situações Deus nos instruindo quanto ao cuidado que devemos ter uns com os
outros. Os chamados "mandamentos recíprocos", aparecem pelo menos 36 vezes no NT.
E são imperativos, ou seja, são mandamentos, são ordens de Deus à sua igreja, e não uma
opção. Por exemplo: "Acolhei-vos uns aos outros" (Rm. 15:7); "Tende igual cuidado uns
pelos outros" (I Co.12:24b-25); "Confessai os vossos pecados uns aos outros" (Tg. 5:16);
"Perdoai-vos uns aos outros" (Ef. 4:31,32).
A questão não é se a Psicologia, como ciência que alega ser, é ruim ou não. A questão é
que ela não se utiliza da Escritura Sagrada com a finalidade de conhecer e aconselhar as
pessoas (2 Tm 3.15-17; 2 Pe 1.4). A Bíblia sim, tem sempre a última palavra sobre o
homem, valores e sobre a vida. No aconselhamento bíblico, fazemos uso da Palavra de
Deus e não dos ensinamentos de pensadores como Freud, Adler, Jung, Erickson, dentre
outros. A Bíblia, seguramente, tem orientação para nossa vida, em todas as áreas. A Bíblia
é nossa única regra de fé e prática.
A Bíblia nos ensina como podemos fugir da corrupção que existe no mundo e em nosso
próprio coração. Ela nos ensina como podemos ser eficientes no ministério cristão;
como ser bons maridos e esposas, pais e filhos; como ser bons cidadãos, como amar a
Deus e ao nosso próximo (2 Pe 1.3,4). A Bíblia também nos ensina como resolver
nossos problemas à maneira de Deus (1 Co 10.13; Rm 8.32-39). Ela nos ensina como
ter alegria, paz, mansidão, paciência, bondade, amabilidade e autocontrole (2 Pe 1.5-
7; Gl 5.22,23). A Bíblia nos ensina tantas coisas preciosas a respeito de Deus, da vida
presente e da vida eterna. Na verdade, as Escrituras não contêm toda a vontade de
Deus, mas toda a vontade de Deus que quis que soubéssemos está contido na Bíblia.
(Dt. 29.29; Jo 21.25).12
11
MACARTHUR, Jr., John F. & Mack , Wayne A. Introdução ao Aconselhamento Bíblico. São Paulo -
SP: Hagnos, 2004. p. 87.
12
MACK, Wayne. A utilidade das Escrituras no Aconselhamento. Fé para hoje. São José dos Campos,
SP, ano 2004, n. 24, p. 16-19.
30
Por isso, o conselheiro precisa estar comprometido com a suficiência das Escrituras para
resolver e compreender todas as dificuldades não-físicas, relacionadas ao pecado, que
afetam o próprio indivíduo e seu relacionamento com Deus, com ele mesmo e com o
próximo.
Tomemos como exemplo algumas passagens. O Salmo 19:7-1 enfatiza a suficiência das
Escrituras em duas maneiras:
1) Restaura a alma v. 7.
2) Torna os simples em pessoas sábias v. 7.
3) Alegra o coração v. 8.
4) Ilumina os olhos v. 8.
5) Produz o temor do Senhor em nós v. 9.
6) traz gozo para a vida v. 10.
7) Concede direção, proteção e recompensa v. 11.
Esse é um ponto muito importante no estudo do nosso tema. As Escrituras nos ensinam
que a igreja local deve ser o instrumento usado por Deus para ajudar as pessoas. Dessa
forma a igreja precisa ter pessoas aptas para realizar o aconselhamento bíblico. (Gl 6.1,2;
Cl 3.16; 1 Ts 5.14,15).
13
ADAMS, Jay E. Conselheiro capaz. São José dos Campos: Fiel, 1982. p. 47
31
povo de Deus e que servimos ao Senhor servindo a seu povo. Sendo assim, algumas
qualidades do conselheiro bíblico são:
O conselheiro cristão deve ser o primeiro a ter a experiência de ser transformado pela
Escritura Sagrada e de estar sendo moldado, segundo “a mente de Cristo” (1 Coríntios
2.16).
A Escritura é a fonte de toda verdade. Paulo escrevendo a Timóteo diz: "Toda a Escritura
é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a
instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para
toda boa obra." (3.15-16).
Não podemos esquecer de que à luz da Escritura Sagrada, a Queda afetou todo ser humano
(Ef 2.1-12). Em razão disso, nossos relacionamentos foram afetados, nossas motivações.
Nosso coração se tornou corrupto. "Porque do coração procedem os maus pensamentos,
mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias." (Mateus 15.19).
Boa parte dos problemas que enfrentamos na vida são meras consequências do nosso
distanciamento de Deus.
O aconselhamento secular falha por não depender de Deus e por confiar na sabedoria e
força humanas para alcançar seu objetivo. No aconselhamento bíblico é diferente. A
oração é parte da solução dos problemas do aconselhado. Na oração revelamos nossa total
dependência de Deus para alcançar as mudanças desejadas. (Cl 4.2; I Tes 5.17)
32
Às vezes o aconselhado abre o seu coração contando pecados secretos. Por vezes
podemos até ficar chocados com aquilo que ouvimos. No entanto, precisamos respeitar e
saber que o aconselhado é uma pessoa, criada à imagem de Deus, valiosa aos olhos do
Senhor, que no momento passa por uma crise e veio lhe pedir ajuda. Não a condene. Não
dê uma de “amigos de Jó”. Respeite sua confissão e seu desabafo. Aspereza e falta de
humildade minam a bondade, que é essencial para um tratamento correto do irmão faltoso.
Isto não significa aceitar um comportamento errado. É respeitar a pessoa que está
querendo ajuda como pessoa. Paulo em Gálatas 6.1, nos ensina que devemos corrigir com
espírito de brandura, humildade e amor. E lembre-se de que todos nós precisamos de
aconselhamento porque somos também frágeis e propensos a cair.
Abrir o coração com alguém não é nada fácil. Muitas vezes é um desnudar da alma, e isso
pode ser doloroso para a pessoa. O que um conselheiro ouve deve morrer com ele. Ele
não deve passar adiante aquilo que ele ouve em um ambiente de orientação espiritual,
nem mesmo para outras pessoas interessadas no assunto.
O conselheiro deve saber que comentar com outras pessoas, sem a devida autorização do
aconselhado, o que lhe foi dito em confiança acabará com a relação conselheiro-
aconselhado. Se isso acontecer, você terá traído quem confiou em você. Poucas coisas
são tão ruins para um conselheiro que ser conhecido como fofoqueiro, como alguém que
passa para frente coisas que ouviu em confidência. Lemos em Provérbios 11.13 “O que
anda mexericando descobre [revela] o segredo, mas o fiel de espírito o encobre”. Em
Provérbios 20:19 lemos que “O mexeriqueiro trai a confiança; portanto, evita o que muito
abre os seus lábios”.
Conclusão e aplicação:
AULA 07
OS BENEFÍCIOS DOS PEQUENOS GRUPOS NA
IGREJA
Textos básicos: Atos 2.46; At 5.42
Introdução
Uma das estratégias bastante utilizadas nas igrejas, visando seu crescimento e saúde
espiritual, é o chamado “Pequenos Grupos”. Outros nomes têm sido dados para um
projeto desta natureza, dentre eles “igrejas em células”, “grupos familiares” e
“koinonias”.14 Mas o nome que damos não é tão significativo. Importante mesmo é saber
que a prática de se reunir nos lares para estudar a bíblia é muito antiga pois já encontramos
sua utilização na Bíblia. Os primeiros cristãos já se reuniam nas casas com a finalidade
de ler as Escrituras e adorar a Deus (At 2.42-47; 5.42; 10.24-48; 12.12; 20.7-12; Rm 16.3-
5,14-15).
O ministério de Pequenos Grupos não é uma novidade dos nossos tempos e nem fruto de
uma ação imatura ou de um modismo ministerial. Os pequenos grupos são bíblicos e
estratégicos.
Como grupo social organizado, a igreja possui uma personalidade jurídica, uma estrutura
física onde os cristãos se reúnem para adorar a Deus. No entanto, a igreja não pode ser
identificada com um prédio. Como já vimos em aula anterior, uma das figuras que Paulo
usa para descrever a igreja é o corpo humano. Assim como o corpo humano é organizado
para funcionar pela cooperação e interdependência das muitas partes, assim também a
Igreja, como um corpo, revela sua unidade (Ef 2.19; Rm 12.4-5). Esse Corpo, a igreja, é
governado por um "cabeça" - Cristo, e tem muitos membros, cada um deles dotados e
investidos por Deus a fim de contribuir para a obra de todo o corpo (Rm 12.4-5; 1Co
12.12-1; Ef 4.4-5).
Sendo assim, todos os membros numa igreja local são necessários para o seu
desenvolvimento. Há uma interdependência dos membros no corpo. Os Pequenos Grupos
são uma estrutura prática para viabilizar nossa vivência como corpo de Cristo.
14
ROBSON, Russ & Bill Donahue. Edificando uma Igreja de Grupos Pequenos. São Paulo:
Editora Vida. 2003. p. 15
34
Esta figura ressalta um aspecto muito importante na vida da igreja. Numa família, os
membros têm intimidade e cuidam uns dos outros. Assim deve ser na igreja (I Tm 5.1,2;
II Co 11.2; 6.18; Ef 2.19; 3.14; 5.32.). Num Pequeno Grupo ouvimos uns aos outros,
servimos uns aos outros, cuidamos uns dos outros, levamos as cargas uns dos outros. No
entanto, existem basicamente três grandes temores na vida em comunidade para
desfrutarmos de Intimidade:
2) Medo de confidências serem violadas: todo ser humano tem seus segredos. Alguns têm
deslizes e pecados por traz. Quem é que não tem medo de confidenciar algum segredo ou
fraqueza e isto se tornar público?
Para vivermos nesta grande família espiritual precisamos ter coragem de caminharmos
em direção a intimidade relacional e afetiva. Os Pequenos Grupos são uma estrutura
prática para viabilizar nossa vivência como a família de Deus.
Atos dos Apóstolos nos mostra como as casas eram usadas para reuniões
de oração (Atos 12.12) para ocasiões de comunhão (Atos 21.7), para
celebrações da Santa Ceia (Atos 2.46) para vigílias de oração, culto e
ensino (Atos 20.7), para reuniões evangelísticas improvisadas (Atos
16.32), para reuniões programadas com o fim de se ouvir o evangelho
cristão (Atos 10.22), para responder perguntas (Atos 18.26), para o
ensino organizado (Atos 5.42).15
Duas coisas ficam claras na Bíblia, quando pensamos nas reuniões dos primeiros cristãos:
Eles se reuniam no Templo de Jerusalém, nas sinagogas e nas casas. (At 2:46-
47; At. 5:42; 12.12; 20.7-12; Rm 16.3-5, 14,15).
Os diáconos e os apóstolos eram pequenos grupos (At. 13:13; 15:22); 15:39,
40; 18:18 etc.)
15
GREEN, Michael. Evangelização na Igreja Primitiva. SP: Edições Vida Nova. 1989. p. 262
35
O ministério de Jesus foi um exemplo de um pequeno grupo. Liderou por cerca de 3 anos
e meio um grupo básico de 12 pessoas e estes, após o Pentecostes, multiplicando-se
mudaram a história do mundo.
Ao longo da história tivemos vários líderes que fizeram uso dos Grupos Pequenos como
uma estratégia de dar uma nova vitalidade para a igreja. No Séc. XVII Philip Jacob Spener
(1635-1705) iniciou um movimento de pequenos grupos que foi denominado de “reunião
piedosa”. Ele tinha como objetivo fortalecer a fé dos cristãos e levá-los à maturidade. No
século XVIII John Wesley, visando a comunhão entre os cristãos e o cuidado pastoral
sobre eles, enfatizou a importância desse ministério para a igreja. No século XX o grande
incentivador do movimento de pequenos grupos foi David (Paul) Yonggi Cho, pastor da
Igreja do Evangelho Pleno, na Coréia. Esse autor disseminou o conceito de pequenos
grupos por meio de livros e conferências.16 Depois deles, tantos outros fizeram uso deste
recurso.
Por que é importante participar de um pequeno grupo, já que participo dos cultos da
igreja? O que vou ganhar saindo da minha casa ou abrindo a minha casa para participar
de um pequeno grupo? Vejamos, então, pelo menos sete razões para se participar de um
pequeno grupo:
De fato, em seu livro O Pastor Aprovado, Richard Baxter faz um alerta aos pastores, onde
ele revela a sua preocupação com o ensino das famílias:
16
CRUZ, Valberto da; RAMOS, Fabiana. Pequenos Grupos: para a igreja crescer
integralmente. Viçosa: Ultimato, 2007, p.56,57
17
MARRA, Cláudio. A Igreja Discipuladora. SP: Cultura Cristã. 2007. p. 89
18
BAXTER, Richard. O Pastor Aprovado, SP: PES. 1989. p. 109
36
4) Evangelização: No pequeno grupo, é possível levar visitantes que ainda não têm o
costume de irem à igreja. Eles poderão, então, conhecer o amor de Deus em um
grupo menor e, depois, sem preconceitos ou receios, poderão participar dos cultos
na igreja. A evangelização é mais completa e concreta através dos relacionamentos
pessoais, já que as pessoas podem iniciar seu contato com o evangelho não apenas
ouvindo a pregação, mas vendo o evangelho funcionar na vida de cristãos com
quem convivem.
Reunir poucas pessoas e colocar a Bíblia em suas mãos, gera o ambiente e a ocasião ideal
para que todos contribuam com seus conhecimentos, testemunhos, compartilhem suas
dúvidas e confessem suas mazelas e pecados. De tal maneira que a palavra de Deus possa
aplicar-se às situações específicas de cada pessoa.
a) São líderes comprometidos com a visão de Deus: São pessoas que amam ao
Senhor e querem ver outros crentes crescendo na vida cristã.
b) São líderes que conhecem a Bíblia. Ele precisa ter conhecimento das Escrituras,
porque este é o primeiro material que ele vai usar. O líder deve ser “apegado à
palavra fiel” (Tt 1:9; Js 1:7-8).
c) São líderes responsáveis: O líder responsável leva seu trabalho a sério; não
transfere responsabilidades a outrem quando estas são suas.
d) São líderes com um comportamento exemplar: Um líder pode ensinar muito com
sua vida, desde que ela esteja em harmonia com as Escrituras. Em Filipenses,
Paulo nos convida a olhar para a sua vida e imitar o seu comportamento: “Irmãos,
sede imitadores meus e observai os que andam segundo o modelo que tendes em
nós” (Fl 3:17) e “O que também aprendestes, e recebestes e vistes em mim, isso
praticai” (Fl 4:9).
e) Estão disponíveis: Liderar requer tempo para se preparar para cada encontro e
para o cuidado das pessoas que estão sob seus cuidados.
g) Leais à liderança pastoral da igreja: O perigo de um pequeno grupo, é que ele pode
se tornar um foco de divisão na igreja. Líderes que não seguem a visão da igreja,
do Conselho da Igreja, terminam por provocarem discórdias e conflitos na igreja.
1. Diante do estudo de hoje, você não acha que vale à pena você participar de um
Pequeno Grupo?
2. Que barreiras existem que podem dificultar a sua participação num Pequeno
Grupo?
3. Você estaria disposto a ser um líder de um Pequeno Grupo? Que tal conversar
com seu pastor sobre isso?
4. Você estaria disposto a chamar outras pessoas para formarem um Pequeno Grupo?
Quem seriam estas pessoas?
5. Qual é, na sua opinião, o maior benefício de um Pequeno Grupo?
38
AULA 08
PLENITUDE DO ESPÍRITO E VIDA FAMILIAR
Texto básico: Efésios 5.18–6.4
Introdução: A família é, com toda a certeza, uma das instituições mais bombardeadas
da atualidade. Há quem diga que a família é uma instituição falida. Outros afirmam que
a família tradicional não tem mais lugar no mundo pós-moderno. Apesar de todos esses
ataques malignos, nós cremos na família como instituição de Deus e bênção eterna para
a humanidade. Cremos que Deus criou uma família perfeita no Éden que foi corrompida
pelo pecado, mas que em Cristo tem recebido graça para lidar com os desafios, ser feliz
e bem-sucedida. Esta revista irá abordar várias questões relacionadas à família, como os
papéis do esposo, da esposa e dos filhos na família, o lugar da comunição, finanças e sexo
no casamento, e também a questão do divórcio e novo casamento. Todos estes assuntos
serão abordados à luz daquilo que Deus nos revelou em sua Palavra. Nesta primeira lição,
trataremos acerca da plenitude do Espírito Santo na vida familiar.
A. Garantia
Diante de tanta confusão nos casamentos, é preciso lembrar que é na Bíblia que
encontramos instruções seguras e preciosas acerca do casamento, tanto para os maridos
quanto para as esposas, e também para a criação dos filhos (cf. Ef 5.22, 25; 6.1-4). A
continuidade e estabilidade da paz e da felicidade no casamento depende do cumprimento
e obediência das instruções e mandamentos que Deus determina em sua Palavra.
B. Dificuldades
Contudo, ser comprometido com o padrão bíblico de casamento pode gerar ainda maiores
dificuldades. Aqueles que amam a Deus e sua Palavra irão perceber que aplicar os ensinos
bíblicos ao casamento não é algo fácil.
Para grande parte dos descrentes os problemas no casamento são resolvidos com base no
divórcio. Mas os cristãos sabem que Deus odeia o divórcio (Ml 2.16) e, portanto, deverão
empregar todos os esforços para manter o casamento, tais como renúncia e reconciliação.
C. Família e fé
Família não é um assunto à parte da nossa fé. Há cristãos que separam a sua fé do modo
como vivem em família. Ou seja, uma coisa é o que creem, outra é o que vivem. Essa é
39
uma visão extremante equivocada. Os cristãos devem orientar seu casamento de acordo
com os princípios revelados por Deus em sua Palavra. Portanto, as regras práticas para o
casamento e a família (Ef 5.18–6.4) não devem ser dissociadas da doutrina cristã. Como
veremos, somente uma compreensão adequada da relação entre Cristo e a sua Igreja nos
ajudará a ter um casamento feliz.
Todos os cristãos podem ser cheios do Espírito Santo. Podemos começar a ser cheios dele
colocando em ordem o nosso casamento e relacionamento com os filhos. O modo como
vivemos para Deus e como nos relacionamos com ele afetam diretamente a nossa família.
A raiz da infelicidade de muitos casamentos está na dureza do coração, como disse Jesus
(Mt 19.8). As frequentes exortações de Paulo para que os maridos amem suas mulheres,
e estas sejam submissas a eles, indicam que os cristãos casados devem estar sempre alerta
contra o egoísmo, a rebeldia e o orgulho que inundam os seus corações (Jr 17.9; Mt 15.19;
Pv 4.23). As pessoas encontram as mais variadas justificativas para se divorciar como
incompatibilidade de gênios (a mais comum), falta de comunicação, problemas
financeiros (muito comum também), problemas sexuais (como se tudo de resumisse
nisso) e, “o amor acabou…”. Mas o grande problema que leva o casamento ao fim é o
pecado da dureza do coração, a nossa carne – a velha natureza (Tg 4.1; Gl 5.19-21) e a
falta de andarmos diariamente no Espírito (Gl 5.16; Ef 5.18).
Educação e cultura não são suficientes para fazer um casamento feliz. Uma pessoa pode
ser muito educada e muito culta, mas se ela não tiver a ação do Espírito sobre a sua vida,
nada disso pode assegurar a felicidade do seu casamento. Educação, cultura e
conhecimento são coisas boas e devem, quando possível, ser adquiridas. Mas elas não
substituem o poder do Espírito Santo, que habilita duas pessoas pecadoras e diferentes a
viverem felizes, por muitos anos, debaixo do mesmo teto. Casais cristãos não estão livres,
de maneira alguma, de passar por lutas e dificuldades, mas é o poder do Espírito que os
ajudará a vencer tais desafios e serem vitoriosos (Jo 16.33). É pela maravilhosa graça de
Jesus que os casais, mesmo os mais simples, com pouco ou nenhuma cultura, conseguem
ser muito felizes (Sl 69.13-14).
40
Não devemos depender de nossas próprias forças. Manter um casamento a vida toda é
uma luta diária, não é algo fácil e jamais o será. Qual marido consegue, com suas próprias
forças, amar a sua esposa como Cristo amou a igreja? Qual esposa consegue, por si
mesma, ser submissa ao marido em humildade? Quais pais conseguem criar bem os seus
filhos, ou quais filhos conseguem obedecer aos seus pais em todo o tempo? A reposta é:
nenhum!
Somos pecadores e incapazes de obedecer aos mandamentos do Senhor por nossa própria
vontade ou força. Devemos depender da ação do Espírito Santo sobre nós, moldando-nos
cada dia mais à imagem de Jesus Cristo. Veja o que a Escritura afirma: “E todos nós, com
o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos
transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito”
(2Co 3.18).
Precisamos ser pessoas cheias do Espírito Santo, controladas e capacitadas pelo Espírito
Santo, para podermos obedecer a Deus no que diz respeito à família e, consequentemente,
ter um lar feliz e duradouro.
A. Amor
B. Alegria e paz
D. Fidelidade
Essa é a qualidade de alguém em quem podemos confiar sempre. Manter-se fiel nos dias
de hoje está cada vez mais difícil, principalmente num tempo de tanta traição e adultério.
Ninguém consegue se manter fiel ao cônjuge durante toda a sua vida se não for pela
graciosa ação do Espírito Santo, conforme ensinou Jesus (Mt 5.28).
Ser manso significa agir com gentileza de atitude, em contraste com a grosseria. Mansidão
também tem que ver com o falar de forma suave e jamais levantar a voz para outra pessoa.
Mansidão é aquela capacitação do Espírito Santo para suportarmos com gentileza e
paciência as provocações que surgem no contexto da vida, especialmente no casamento.
Mansidão para suportar a ironia, o sarcasmo, os gritos, os acessos de raiva e as
incompreensões é fruto do Espírito. Ao mesmo tempo, somos chamados a ter domínio
próprio. Isso significa capacidade de autocontrole (Tg 3.13). De todas as qualidades
necessárias para que haja um casamento feliz, talvez essa seja a mais essencial. O nosso
coração só pode ser domado pela ação sobrenatural do Espírito Santo agindo em nós.
Conclusão: Como vimos, para que alguém possa fazer do seu lar um lugar feliz e
abençoado é necessário estar cheio do Espírito Santo (Ef 5.18). Ninguém, por si só, seja
por meio do dinheiro e/ou dos bens, é capaz de fazer do seu lar um lugar feliz. A felicidade
e a durabilidade do casamento dependem da ação do Espírito. Estar cheio do Espírito
significa produzir o fruto do Espírito: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade,
bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio.
Aplicação: Estar cheio do Espírito significa ler a Bíblia e orar todos os dias. Ore
intensamente por consagração espiritual. Ore com todo o fervor por sua família.
Busquem, com todas as forças, realizar o culto doméstico. Isso fortalece a família em
termos espirituais e de comunhão. Procure servir ao Senhor na igreja, com toda a sua
família. Envolva a sua família nas atividades da igreja, como escola bíblica dominical,
culto, estudo bíblico, reunião de oração, encontros de casais, acampamentos, passeios.
Faça tudo o que estiver ao seu alcance para que toda a família sirva ao Senhor (Js 24.15).
Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã, na série Nossa Fé -– A Bíblia
e a Sua Família.
42
AULA 09
O MITO DO CASAMENTO PERFEITO
LIDANDO COM AS ILUSÕES SOBRE A VIDA CONJUGAL
Introdução: Não é nenhuma novidade de que todas as pessoas entram para o casamento
com algumas expectativas. Isso é normal. Porém, o que ocorre é que, geralmente, muitas
destas expectativas não são reais. Elas têm suas origens em heranças e valores familiares,
conversas com amigos, livros lidos, ideias próprias e também da sociedade e seus meios
de comunicação.
É extremamente importante refletir um pouco sobre este tema. Isso porque as expectativas
irreais nos relacionamentos familiares são responsáveis por grande parte dos problemas
e frustrações que atingem em cheio nossas famílias.
Precisamos encarar o fato de que mesmo construindo uma família segundo a orientação
de Deus, o casamento ainda não será perfeito. Como bem disse o Rev. Adão Carlos: “O
único homem que podia ser um marido perfeito não se casou. Este homem é Jesus Cristo,
e o casamento não fazia parte de sua missão neste mundo. A mulher que tinha maiores
probabilidades de ser uma esposa perfeita era Eva, antes de pecar. Mas ela se deixou
seduzir pela serpente, arrastou seu marido para o pecado e arruinou a humanidade.
Todos os maridos são imperfeitos. Todas as esposas são imperfeitas. Logo, não pode
existir casamento perfeito”.
Quais são suas expectativas em relação ao casamento? Será que estas expectativas são
realistas? Casar com expectativas irreais e não ter os pés no chão por certo trará muitas
desilusões no relacionamento conjugal.
É nesta fase que muitas pessoas se desesperam na tentativa de mudar o outro, afim de que
ele corresponda à imagem idealizada. Você não aceita como ele é. Neste momento as
pessoas são capazes de qualquer coisa: sufocam, oprimem, chantageiam, ameaçam,
castigam-se mutuamente.
3ª.) Fase da maturidade: Quando os dois, marido e mulher, conscientes do que significa
"Casamento", conseguem superar as fases difíceis e seguir juntos, pode-se chegar a um
momento de integração. Podemos dizer que os dois atingiram o equilíbrio entre a
43
individualidade e intimidade. Não existe mais disputa sobre o quanto é meu; quanto é seu
quanto é nosso, o que há é companheirismo, compromisso de amizade e comunhão.
É claro que as fases não são rígidas, com tempos definidos e sequência predeterminada,
com uma, necessariamente seguindo a outra.
Casar com expectativas irreais e não ter os “pés no chão” por certo trará desilusões,
especialmente nos primeiros anos do casamento. Sem perceber, o cônjuge que possui
expectativas não comunicadas, baseia sua aceitação do outro na performance por ele
apresentada. Se um cônjuge age como o outro espera, ele é aceito. Caso contrário, haverá
frustração e briga. A performance se torna a “cola” que segura o relacionamento. Porém,
com o tempo, essa “cola” começa a se desgastar, desgrudar, especialmente quando
surgem as pressões, tensões e estresse da vida. Vejamos algumas dessas expectativas
irreais:
2) Em segundo lugar, se meu cônjuge me ama nunca vai sentir-se atraído (a) por outra
pessoa. Há muitas pessoas que depois do casamento descuidam-se da sua aparência.
Esquecem-se de que o amor precisa ser constantemente regado e o relacionamento
constantemente cultivado. É sabido que os homens são atraídos por aquilo que veem e as
mulheres por aquilo que ouvem. Sendo assim, as mulheres precisam ser mais cuidadosas
com sua aparência física e os homens mais atentos às suas palavras. A mulher precisa
cativar constantemente seu marido e o marido precisa conquistar continuamente sua
mulher. Qualquer descuido nessa área pode ser fatal para a felicidade e estabilidade do
casamento.
3) Em terceiro lugar, se meu cônjuge casou-se comigo nunca vai esperar que eu mude.
Um cristão não pode adotar o slogan de Gabriela: “Eu nasci assim, eu cresci e eu vou
morrer assim”. A indisposição para mudança é um perigo enorme para a felicidade
conjugal. Não somos um produto acabado. Estamos em constante transformação. Somos
desafiados todos os dias a despojar-nos de coisas inconvenientes e a agregarmos valores
importantes à nossa vida. A acomodação no casamento é um retrocesso, pois num mundo
em movimento, ficar parado é dar marcha ré. A vida cristã é uma corrida rumo ao alvo.
Nosso modelo é Cristo e todos os dias precisamos ser mais parecidos com Jesus. Para
isso, precisamos abandonar atitudes pecaminosas e adotar posturas piedosas.
44
4) Em quarto lugar, se eu casar com uma pessoa crente, o meu casamento estará
seguro e feliz. Ser um cristão verdadeiro não é garantia de que o casamento e a família
darão certos. O erro do movimento de batalha espiritual ou da chamada “Teologia da
prosperidade” é o de achar que expulsar o demônio, amarrar espíritos, ungir fotografias,
é o caminho para um lar feliz. Casamento feliz é resultado de praticar os princípios da
Palavra. Obedecer a Deus.
5) Em quinto lugar, se meu cônjuge me ama, nunca vai discordar de mim. O casamento
não é a união de dois iguais. Homem e mulher são dois universos distintos. A ideia de
almas gêmeas é absolutamente equivocada. O impressionante do casamento é que, sendo
tão diferentes, homem e mulher são unidos numa aliança indissolúvel, para se tornarem
uma só carne. As diferenças existem, entretanto, não para destruir o relacionamento, mas
para enriquecê-lo; não para separar o casal, mas para complementar a relação conjugal.
1) Aceitar a verdade bíblica de que você é uma pessoa pecadora, casada com um
pecador. I Tm 1.15
Aceite a realidade e coloque os pés no chão. É preciso ter uma compreensão bíblica da
pessoa com quem estamos casados. “A maioria dos problemas que enfrentamos no
casamento não é intencional nem pessoal. Na maioria das situações matrimoniais, você
não é confrontado com dificuldades porque seu cônjuge teve a intenção de dificultar sua
vida. Isso pode ser em algumas vezes. Mas na maior parte, você está sendo afetado pelos
pecados, fraquezas, e falhas da pessoa com quem está vivendo.
Egoísmo, insensível, ciúmes, amargura, ira, orgulho, grosseria, gritaria, etc. Gálatas
5.16-21; Tiago 4.1
Vivemos nosso casamento num mundo que as coisas não funcionam direito. Sofremos
os efeitos de um mundo danificado. I Pe 1.6,7
45
Deus está dando a você a chance de servir a Ele, ajudando na transformação de seu
cônjuge. Não deixe esta oportunidade lhe escapar. Não transforme a oportunidades de
servir a Deus e a seu cônjuge em momentos de irritação. Trabalhe em favor de seu cônjuge
e não contra ele. Ef 5. 26-28
Deus deseja usar as dificuldades para moldar você. Para ilustrar, dou apenas três pequenos
exemplos:
b. Pense em um lar cheio de conflitos. Deus pode estar querendo lhe ensinar a ser
um pacificador (Mt 5.9).
c. Pense em algo que seu cônjuge lhe fez e lhe feriu. Paulo diz que devemos perdoar
os nossos devedores. Cl 3.13
5) “Você precisa viver seu casamento com uma mentalidade de ceifa”. Gl 6.7
AULA 10
O CULTO DOMÉSTICO
“Se o Senhor não edificar a casa,
em vão trabalham os que a edificam...” Salmo 127.1
Introdução
A família não é o produto de uma necessidade ou convenção social, nem uma invenção
cultural moderna e descartável. A Bíblia apresenta a família como uma instituição que
nasceu no coração de Deus desde a Criação, como fonte de bem-estar para o ser humano.
A família foi sabiamente planejada por Deus (Gn 2.24). Você, certamente, já deve ter
ouvido esta frase: “famílias fortes, igrejas fortes”. Em outras palavras, somente teremos
igrejas fortes com o fortalecimento das famílias.
O puritano Richard Greenham declarou que “se queremos que a igreja de Deus continue
em nós, devemos trazê-la a nossa casa e nutri-la em nossas famílias”.20
A família é muito importante, mas infelizmente, há aqueles, que por razões diversas, não
investem em suas famílias. Há pessoas que cuidam mais da casa, do carro, do seu próprio
lazer, mas negligenciam o cuidado com a família. Em quantos lares cujos negócios vão
bem, e eles mesmos vão mal. Quantas casas limpinhas e bem arrumadas, onde moram
famílias que estão se desintegrando. Quantos executivos que dirigem bem suas empresas,
mas que não conseguem dirigir bem o seu lar.
20
Citado por Leland Ryken. Santos no Mundo. Editora Fiel. São José dos Campos, SP: 1992. p.99
47
No entanto, é importante deixar claro que problemas familiares existem desde que a
família existe. Basta olhar para a primeira família, e ali já vemos a dificuldade do marido
e mulher em assumirem a culpa pelo erro cometido. Um tentando empurrar a culpa para
cima do outro.
Não podemos perder de vista que a família é um projeto divino, nasceu no coração e na
mente de Deus. Como inverter este triste quadro e transformar o lar em um exemplo mais
vívido dos propósitos de Deus?
Temos que ter em mente que casamento, criação de filhos, vida financeira, não são
assuntos que devam ser tratados à parte de nossa fé (Efésios 5.18 - 6.4). Não podemos
dissociar espiritualidade da vida familiar. O culto doméstico é um excelente caminho se
queremos renovar a nossa família. Esta prática no lar é o cimento armado, o alicerce
seguro que não pode ser esquecido, se de fato queremos uma casa edificada solidamente.
Não é suficiente que oremos em particular como indivíduos, em privado, em nossas casas,
mas que também adoremos a Deus conjuntamente com nossas famílias. Ao menos uma
vez na semana, toda família cristã deveria se reunir para adorar ao Senhor; pais, filhos,
esposas, mães e irmãos. Precisamos nos reunir para dar graças a Deus pelas bênçãos
derramadas sobre nossos queridos, para buscar ajuda na solução de problemas que
normalmente afligem aos lares, para confessar pecados, para orientar nossos filhos
adolescentes, etc. As vantagens e bênçãos da adoração em família são inumeráveis.
Foram os Puritanos quem criaram o lema: “Cada casa uma pequena igreja”. Eles
defendiam que o pai deve ser o sacerdote do lar tal como o pastor de uma igreja. O pai
deve liderar os membros da família a adorar a Deus em casa. Os filhos devem aprender o
temor a Deus, pelo exemplo e o ensino dos seus pais. Foi também um puritano quem
disse: “Uma família sem oração é como uma casa sem teto, aberta e exposta a todas as
tormentas do céu”
Deus ordena aos pais crentes que transmitam a Palavra aos seus filhos. A fé começa em
casa. É no ambiente familiar que aprendemos a orar, louvar e ler a Bíblia. Pais crentes
precisam influenciar espiritualmente os seus filhos. Pois, quando os lares cristãos são
fortes, a igreja é forte e influenciadora.
Não obstante ser tão claro na Bíblia a importância de se fazer o culto em família, ainda
podemos encontrar pessoas que tentam justificar21 porque não fazem o culto doméstico:
1. Trabalho demais e não tenho tempo para realizar o culto em família: Sem dúvida,
quem mora nas grandes cidades, tem muitas atividades. Mas por mais difícil e lotada que
seja nossa agenda, se houver esforço para priorizar um tempinho junto com sua família
em adoração, certamente conseguiremos realizar o culto doméstico. Outra coisa é que se
temos tempo para recreações e diversões, por que não conseguiríamos tempo para a
adoração em família?
2. Todo mundo tem horário diferente de trabalho e estudo e nunca estamos todos
juntos em casa: Se temos agendas conflitantes, então devemos fazer um esforço para
harmonizá-las. Podemos cancelar algumas atividades que não são tão importantes quanto
21
http://www.monergismo.com/textos/adoracao/CultoDomestico_Beeke.pdf
49
o culto doméstico. Podemos quem sabe fazer dois, três cultos se for preciso para alcançar
todos. Se em um dos cultos você não puder estar presente, delegue sua esposa ou um dos
filhos para realizar.
3. Chego cansado do trabalho e não tenho forças para fazer o culto doméstico:
Entendo e compreendo esta dificuldade mas gostaria que você mesmo assim se
esforçasse. Lute para que Deus seja adorado em sua casa. Peça-lhe força e disposição.
Dr. Joel Beeke: “Se Jesus não estava muito cansado ao ponto de morrer por você, você
não deveria ficar muito cansado para viver para Ele”.
4. Meu cônjuge não é crente: Talvez essa seja uma das maiores dificuldades. No entanto,
ore a Deus para lhe dar sabedoria. Chame seu cônjuge para participar. Se ele não quiser,
faça com seus filhos, mesmo que no começo haja resistência. Chame um dos presbíteros
para fazer um culto doméstico com sua família. Não desista deles. Veja que o que está
em jogo é se vão adorar outros deuses ou vão adorar a Jesus.
5. Não sei ensinar e nem liderar um culto doméstico: Simples, peça para o pastor, ou
um dos presbíteros da sua igreja para lhe ensinar. George Whitefield: “o coração
corretamente motivado não requer habilidades incomuns para realizar o culto doméstico
de maneira decente e edificante”. E o mais importante, peça ao Espírito Santo para Lhe
mostrar como fazê-lo, e assim a boca fala daquilo que está cheio o coração. Como afirma
Provérbios 16.23: “o coração do sábio é mestre de sua boca e aumenta a persuasão nos
seus lábios”.
Como vimos na sessão anterior, são muitos os obstáculos que precisamos vencer para
reservar um momento adequado em nossa casa para a adoração ao Senhor em família.
Vejamos alguns benefícios que o culto em família pode nos trazer:
CONCLUSÃO
Família bem-sucedida não acontece por acaso. Não podemos colocar a família no piloto
automático. Ser um cristão genuíno não é garantia de que o casamento e a vida familiar
darão dar certo. “A grande diferença entre um lar seguro e estável e um lar desmoronando
não está na ausência de lutas, mas sim no terreno onde suas raízes foram fincadas. ” Nossa
casa não precisa de quadros evangélicos, Bíblias abertas ou de palavras bonitas na porta,
nosso lar precisa de Jesus, pois somente Ele pode estruturar a nossa família. ”Se o Senhor
não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam. ” Sl 127.1
Dr. Howard Hendricks conta a história22 do pregador inglês Richard Baxter. Durante três
anos este homem altamente capacitado por Deus pregou de todo o seu coração a um povo
rico e sofisticado, mas sem resultados visíveis. Finalmente, Baxter clamou a Deus:
"Senhor, faz algo por este povo ou então eu morro."
Conforme relato do próprio pregador, foi como se Deus tivesse respondido em voz bem
alta e recomendado a ele: "Baxter, você está trabalhando no lugar errado. Está esperando
que o avivamento venha através da igreja. Tente pelo lar." Baxter começou a visitar os
lares, ajudando famílias a organizarem um "altar familiar", até que o Espírito Santo ateou
fogo naquela congregação e fez dela uma igreja forte.
Aplicando o ensino:
1. Coloque no seu coração o propósito de realizar o Culto Doméstico pelo menos uma
vez por semana.
2. Escolha o melhor dia e horário onde se possa reunir o máximo possível de pessoas da
sua família.
3. Desligue a televisão, os aparelhos de celulares e não permita que nada venha distrair a
família nesse momento.
22
http://www.monergismo.com/textos/adoracao/CultoDomestico_Beeke.pdf
51
AULA 11
MEU FILHO, MEU DISCÍPULO
Texto básico: Deuteronômio 6.4-9, 20-25
Introdução
Em sermão pregado em Massachussets, em 1811, Samuel Worcester disse que, “Em todos
os relacionamentos da vida necessitamos de uma grande medida da graça de Deus para
executar muitas das várias obrigações de nossos deveres relacionais; mas dificilmente
precisamos de mais graça divina do que para ser pais e chefes de família. Ter filhos a
nosso cargo, para serem criados para Deus e para a glória eterna em seu reino, é
certamente uma situação de alta responsabilidade, cujos deveres não são desempenhados
sem grande sabedoria, diligência e piedade.”
Criar filhos para Deus e para a glória eterna é uma responsabilidade da qual só damos
conta pela graça de Deus. É ele quem nos habilita a cumprirmos esses compromissos com
seriedade e dignidade. É Deus quem nos dá sabedoria para que a admoestação do Senhor
seja regra de vida prática na vida de nossos filhos.
Para bem desempenharmos nossos deveres para com nossos filhos, devemos ter uma fé
viva nas promessas graciosas da aliança para que, ao entregá-los a Deus no batismo, a
entrega seja total e para, daí em diante, termos firme confiança na bênção de Deus sobre
eles.
Essa fé não é uma confiança vã de que o Senhor os salvará, quer sejamos fiéis ou não.
Pelo contrário, é um reconhecimento tal da promessa e da fidelidade de Deus, que
seremos constantemente induzidos a olhar para Deus e depender humildemente da sua
graça. É uma fé que honra a Deus e atribui toda a glória da nossa salvação e da salvação
de nossos filhos às riquezas da misericórdia de Deus.
Nosso ponto de partida na criação de filhos é a Palavra de Deus. Daí podemos escolher
uma variedade de métodos e ideias que vão nos ajudar a cumprir nosso propósito. É
necessário, entretanto, cuidado para não fazer do método escolhido uma camisa de força,
nem depositar no método escolhido uma confiança inadequada. É preciso ter sempre em
vista as promessas e exigências pactuais, pois elas nos tornam gratos a Deus e
dependentes dele.
fundados na verdade e um modo de vida baseado nessa verdade. Esse modelo abrange a
vida como um todo. Trata-se mais sobre quem somos, do que sobre o que fazemos. Trata-
se mais da vida que vivemos diante de nossos filhos, do que das regras que forçamos
nossos filhos a seguir.
Há muito engano hoje a respeito da palavra criar. Para muitos homens, criar filhos
significa sustentá-los financeiramente até que eles consigam emprego e passem a pagar
as próprias despesas. Criar para eles é basicamente dar comida, sustento, educação e
emprego para os filhos.
A Bíblia não conhece uma criação de filhos limitada apenas à alimentação do corpo, mas
a que traz consigo a idéia de nutrir, sustentar, prover, em todas as áreas, na área material,
na área psicológica, na área intelectual e especialmente, no relacionamento com Deus.
Particularmente, cremos que a mais importante tarefa que os pais crentes têm nesta vida
é criar os filhos nos caminhos do Senhor. Ensinar os filhos a conhecer a Deus é mais
importante do que educá-los física e intelectualmente. Aliás, a verdadeira cultura e o
verdadeiro conhecimento são precedidos pelo conhecimento de Deus e de nós mesmos.
O modelo cristão de criação de filhos fundamenta-se em educar os filhos nos caminhos
do Senhor nosso Deus, utilizando-se para isto de todos os recursos válidos (ver Gn 18.19;
Dt 4.9; 6.7; etc.). Os pais devem inculcar diariamente aos seus filhos todos os preceitos
do Senhor. Deixar de fazê-lo seria, por contraste, negligenciá-los ou deixá-los entregues
a si mesmo. Filhos entregues a si mesmos são órfãos de pais vivos.
Para muitas pessoas amar os filhos e discipliná-los fisicamente são duas coisas
incompatíveis. Para elas, quem ama não faz isso. Punir os filhos fisicamente é sinônimo
de agressão e ódio, nunca de amor. Mas há vários textos da Palavra de Deus,
especialmente no livro de Provérbios, que nos mostram os benefícios para nossos filhos
de usarmos a correção física: “A estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara
da disciplina a afastará dela” (Pv 22.15); “O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o
que o ama, cedo, o disciplina” (Pv 13.24); “A vara e a disciplina dão sabedoria, mas a
criança entregue a si mesma vem a envergonhar a sua mãe. Corrige o teu filho, e te dará
descanso, dará delícias à tua alma” (Pv 29.15,17).
53
Notemos ainda que Paulo diz que devemos criar os filhos na “disciplina do Senhor”. Esta
expressão significa a disciplina que vem do Senhor. Isto quer dizer que é o Senhor Jesus
quem na verdade deseja disciplinar os nossos filhos – nós somos instrumentos dele e
devemos nos colocar nas suas mãos para que, por nosso intermédio, ele ensine os nossos
filhos no caminho em que devem andar.
O instrumento pelo qual isso é feito, é a Palavra de Deus. Ela é o instrumento divinamente
ordenado para orientar a criança na formulação correta das suas ideias, na aquisição de
valores corretos que vão servi-la até o fim da vida. A ideia contida neste termo é que nós
devemos, não apenas disciplinar fisicamente uma criança, mas conversar com ela e
colocar as suas ideias em ordem. Admoestar a criança no Senhor significa mostrar-lhe
pelo diálogo, instrução e encorajamento quais as implicações espirituais de suas atitudes,
como as promessas e advertências de Deus se aplicam à sua vida. Os pais são
instrumentos do Senhor deste aspecto também.
“Ensina a criança no caminho em que deve andar, e ainda quando for velho não se
desviará dele.” (Pv 22.6). Há três palavras nesse versículo que exigem especial atenção:
1ª) Ensina. A palavra hebraica para “treinar” é hanak. Em geral é traduzida como
“dedicar”, mas uma tradução mais precisa seria “iniciar”. É quase certo que se refira a
uma ação comunitária.
2ª) Criança. Apesar de hanak referir-se quase certamente a uma ação comunitária, o
versículo não diz ‘treina as crianças’ (no plural). Esse treinamento exige conhecimento
da singularidade de cada criança e sabedoria para encontrar métodos e estilos apropriados.
3ª) Caminho. O contexto de Provérbios 22.6 é o contexto do livro todo de Provérbios, que
é parte da Literatura de Sabedoria do Antigo Testamento. Portanto, esse versículo refere-
se ao caminho da sabedoria. A ideia essencial dos escritos de sabedoria da Bíblia é a de
uma forma de pensar e atitude a respeito das experiências da vida, incluindo assuntos de
interesse geral e de moralidade básica.
Está refletido nos ensinos do Antigo Testamento o ensino de um Deus pessoal, que é
santo e justo, e que espera que aqueles que o conhecem mostrem seu caráter nos muitos
afazeres práticos da vida. Portanto, a sabedoria hebraica não era teórica e especulativa.
Era prática, baseada em princípios revelados de certo e errado, para serem vividos no
cotidiano.
caminho da vida pactual entre o povo de Deus. Paulo se vale dessas ideias em sua carta à
igreja de Éfeso: “E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina
e na admoestação do Senhor” (Ef 6.4). A palavra traduzida por disciplina (instrução, na
NVI), vem da palavra grega paideia, que significa disciplinar, punir e corrigir. Instrução,
do grego nouthesia, compreende admoestação, instrução e aviso.
Necessário, portanto, estudar cada criança para descobrir como Deus criou a sua
individualidade. Precisamos orar por sabedoria para canalizar e expandir as inclinações
naturais da criança, sem restringir seu modo de ser. É preciso respeitar a maravilhosa
criatividade de Deus ao criar cada criança para as coisas que ele mesmo propôs para cada
uma delas.
Igreja é coluna e baluarte da verdade (1Tm 3.15); os pais crentes têm o recurso inigualável
do ensino e relacionamentos providos ali.
Ao sentarmos em casa, ou andando pelo caminho, nossas conversas devem ser cheias da
graça, conversa sempre agradável, temperada com sal (Cl 4.6). Nós ouvimos nossas
palavras e nosso tom de voz saindo da boca de nossos filhos. O modo como você fala a
uma criança é o modo como ela fala com um irmão ou irmã mais nova. Escute seus filhos
e você vai ouvir aquilo que você diz.
Uma das lições mais práticas que podemos ensinar a nossos filhos é que devem pedir, a
Deus, graça para verem seus pecados e graça para se arrependerem. Eles precisam
aprender a assumir a responsabilidade pelo que fizerem de errado. Precisamos ajudá-los
a desenvolver suas consciências e senso de justiça. A maneira de fazer isso é mostrar e
falar: as crianças precisam que lhes ensinemos os princípios, mas o que elas mais vão
aprender é o que elas nos vêem fazer.
Os pais devem adotar práticas para educar seus filhos a adorar a Deus, tais como:
1. Guardar o domingo;
2. Orar com os filhos para que eles sejam incentivo a outros na família da igreja;
3. Usar a hora das refeições para cada um contar o que aprendeu com a mensagem
ou com a aula.
No caso de as crianças resistirem, é preciso lembrar que devemos temer mais o desprazer
de Deus, do que o desprazer delas. Quando as crianças resistem, devemos orar por elas,
mas não devemos ceder.
Conclusão
Refletindo sobre o que a Bíblia diz a respeito do agir dos pais na esfera do pacto, vemos
que as admoestações bíblicas examinam a condição do coração de cada pai e mãe. A
Palavra de Deus expõe nossa pecaminosidade, nos impele até a cruz em busca de
misericórdia e chama-nos à obediência. Nós criamos nossos filhos de forma piedosa em
proporção à nossa própria piedade e fé.
56
Aplicação
AULA 12
APRENDENDO A LIDAR COM O
CONFLITO
Texto básico: Romanos 12.18
Introdução
Os conflitos entre pessoas são inevitáveis. Eles fazem parte das relações humanas - nos
relacionamentos na igreja, no relacionamento conjugal, no relacionamento no trabalho,
entre familiares, entre amigos e assim por diante. A própria Escritura traz relatos e
diversas histórias contendo conflitos, discórdias, iras. Como exemplo, em Tito 3.3 o
apóstolo Paulo diz que uma das marcas do homem pecador é que eles vivem “em malícia
e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros”. Em Fl 4.2, Paulo aconselha a duas irmãs
a encerrarem suas discórdias: “Rogo a Evódia e a Síntique pensem concordemente no
Senhor”. Quer queiramos quer não, os conflitos fazem parte do nosso dia-a-dia e, por isso
mesmo, é importante que aprendamos a lidar com eles.
De acordo com Ernst Jansen, “um conflito é uma disputa que surge sempre que as ações
de uma pessoa interferem nos objetivos de outra. Isso implica ainda em que, se uma parte
alcança seu objetivo, é impossível à outra alcançar o seu”.23 De forma semelhante, para
Alfred Poirier, “o conflito acontece quando meus desejos ou temores, minhas
expectativas ou metas entram em rota de colisão com os desejos, temores, expectativas
ou metas de outra pessoa”.24
VANTAGENS DO CONFLITO
Antes de mais nada, precisamos reconhecer que nem sempre o conflito deve ser encarado
como algo ruim. Podemos vê-lo também como um instrumento útil para a nossa vida
cristã. A incapacidade de se resolver o conflito geralmente acontece porque não o
aceitamos. Podemos errar se pensarmos que pelo fato de amar uns aos outros, não
podemos ter nossas diferenças. O conflito não é apenas inevitável, até certo ponto, ele
tem suas vantagens.
Vejamos algumas:
23
JANSEN, Ernst Werner. Conflitos: oportunidade ou perigo? A arte de transformar conflitos em
relacionamentos sadios. Editora Esperança. 2007. p. 13,14
24
POIRIER, Alfred. O Pastor Pacificador – um guia bíblico para a solução de conflitos na igreja. Editora
Vida Nova. 2011. p. 31
58
Mas por que as pessoas têm tanta dificuldade em se entenderem? Por que surgem os
conflitos?
Tiago ensina que a raiz dos conflitos está na necessidade de ser notado, de fazer a própria
vontade. Somos egoístas e não queremos ceder. Estamos sempre lutando para satisfazer
aos nossos desejos. Trata-se de um desejo de buscar a autossatisfação custe o que custar.
O coração do conflito
De acordo com Tiago, os conflitos não têm seu início nas situações e sim nas pessoas.
São as pessoas que provocam situações e causam divisões. A boca fala o que já está no
coração, o que contamina o homem não é o que entra e sim o que sai do homem (Mt
15.18,19). A falta de paciência e amor levam as pessoas a brigarem, dividirem e não
conviverem em harmonia.
Mas além desta causa original, podemos pensar em outras quatro razões da presença dos
conflitos, como desdobramentos do egoísmo:
Se o conflito é inevitável, a pergunta mais importante agora não é como evitar o conflito,
mas é como lidar com ele de modo que agrade a Deus. Nem sempre podemos escolher se
vamos ou não ter que enfrentar um conflito. No entanto, devemos saber como lidar com
ele. Gostaria de sugerir algumas dicas que podem ser muito úteis.
Devemos admitir que nem sempre é possível resolver uma situação conflituosa. No
entanto, em Romanos 12.18, o apóstolo nos orienta: “Se possível, quanto depender de
vós, tende paz com todos os homens”. A expressão “se possível, quanto depender de vós”
dá a entender que nem sempre depende de nós, mas que, quando depender, devemos nos
esforçar para viver em paz com todos os homens.
Então vejamos algumas dicas práticas que podem nos ajudar na solução de conflitos:
Para isso precisamos ser humildes e admitir que o erro pode estar em nós mesmos e não
no outro. Devemos perguntar a nós mesmos: “O que há a meu respeito que está causando
esta discórdia”. Para tomar esta atitude precisamos estar prontos a confessar nosso
pecado de egoísmo, ira, inveja, soberba, autocomiseração, hipocrisia, etc.
Colocar a culpa sobre os outros é um dos grandes obstáculos à verdadeira solução dos
conflitos. (Lc 6:42). Resistindo a ideia de jogar a culpa no outro, tiramos de foco das
pessoas, e buscamos encontrar a verdadeira razão ou raiz do conflito. Jesus disse que
temos que “tirar a trave do nosso olho, a fim de enxergarmos melhor para tirar o cisco no
olho do outro”. Mt 7.3-5
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Eis uma terceira dica. Você precisa se esforçar para compreender o ponto de vista de outra
pessoa. Talvez este seja um passo muito difícil a ser dado, mas ele é muito importante.
Caso contrário, o conflito não poderá ser solucionado. E para compreender o outro, quatro
aspectos merecem nossa atenção:
Além de ajudar na solução do conflito, precisamos entender que a atitude de não perdoar
prejudica a nós mesmos. Quando estamos magoados com alguém, é como se estivéssemos
presos numa cadeia.
Ausência de perdão gera tormentos na vida daquele que não quer perdoar. Quem não
perdoa está envenenando seu próprio coração, “destrói a ponte que ele mesmo há de
atravessar um dia”.
A primeira pessoa a se beneficiar com o perdão é sempre quem o oferece. Manter a mágoa
no coração é como segurar uma brasa na mão. O estrago pode ser grande.
“Na multidão de conselheiros há segurança" (PV.11.14). Em Mt 5.9, Jesus diz que “bem-
aventurados são os pacificadores”.
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Conclusão e aplicação
Chegamos ao final de nossa aula de hoje. É bem provável que enquanto a aula foi
transcorrendo você fez uma avaliação sobre como anda os seus relacionamentos. Talvez
tenha chegado à conclusão que existiu ou existe alguém com quem precisa se reconciliar.
1) Existe hoje em seu círculo de relacionamento alguma pessoa com quem você está
tendo conflito? Quem?
2) Você sabe qual a razão ou os motivos que geraram esta dificuldade de
relacionamento?
3) Você consegue identificar algo que você fez ou deixou de fazer que contribuísse para
o desgaste neste relacionamento?
4) Como você tem procurado lidar com este conflito? Sobrepujando, “apaziguando”,
evitando, sentindo-se injustiçado, ou envidando esforços para sua solução?
5) Você sente-se em paz quando tem que se relacionar com esta pessoa?
6) Diante deste artigo, você consegue perceber qual a vontade de Deus para a
restauração deste relacionamento? O que você pretende fazer?
25
POWLISON, Como alcançar o coração do conflito. Coletâneas de aconselhamento bíblico, Atibaia,
SBPV, v.5, p. 100-117, 2006. p.100
62
AULA 13
ANSIEDADE: SUA CAUSA,
CONSEQUÊNCIAS E CURA
Texto básico: Mateus 6:25-34
Introdução
A ansiedade pode ser definida como "estado afetivo onde há sentimento de insegurança"
ou "estar com a mente dividida entre dois pensamentos". Preocupação é a tentativa de
controlar o incontrolável. (pré-ocupação). É a tentativa de querer assumir o controle
daquilo que está na mão de Deus.
1. Ansiedade normal: Este tipo de ansiedade, como uma preocupação realista não é
condenada nem proibida nas Escrituras. Este tipo de ansiedade é um sinal de alerta que
adverte sobre o perigo eminente e nos capacita a tomar decisões eficientes e a agir de
maneira responsável.
Neste sentido o apóstolo Paulo também teve ansiedades: II Co 11:28; Fl 2:20; I Co 4:17.
Conforme as Escrituras, não há nenhum erro em reconhecer com realismo os problemas
identificáveis em nossa vida e tentar resolve-los. Ignorar o perigo é que seria insensato e
errado.
Há uma frustração, pelo fato de não conseguir resolver o problema, que no momento está
fora do seu controle. Surge um sentimento íntimo de apreensão, mau estar, preocupação,
angústia e medo, provocando diversas reações desagradáveis.
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No Sermão da Montanha, Jesus forneceu quatro razões para não nos preocuparmos, e os
segredos para vencer a ansiedade (Mateus 6:25-34). No v. 25 – “não”
V. 27 “vosso Pai” - Deus prometeu cuidar de você, caso você Lhe confie a sua vida em
todos os detalhes. Quando você era uma criança e pedia ao seu pai dinheiro para um
lanche na escola, nunca teve que se preocupar de onde viria este dinheiro. Este é o seu
problema. Deixe que Deus seja Deus em sua vida! Deus cuidará de você. Creia nisso. (v.
30).
Deus é o verdadeiro responsável pelas nossas vidas. Sem ele nada seríamos. Em vez de
confiar em nossa força, inteligência ou capacidade, a idéia é colocar a confiança em Deus
para qualquer aspecto da vida.
2. A ansiedade é inútil.. V. 27
A ansiedade é incapaz de produzir algo produtivo. Ela simplesmente não funciona. Não
pode alterar o passado. Não pode controlar o futuro. Somente faz com que você se sinta
entristecido hoje. Preocupar-se acerca de um problema jamais ocasiona a sua solução.
Quem, entre vocês, através da preocupação, poderia acrescentar uma única hora à sua
vida?" (verso 27).
propensa a doenças, trabalha com menos eficiência, age de forma inadequada em muitas
situações. Provérbios 12:25 ensina que A ansiedade no coração do homem o abate; mas
uma boa palavra o alegra.
Segundo informa David DeWitt, "não há nenhum valor na preocupação. Não faz nada de
bom para nós. Uma pessoa normal concentra sua ansiedade ou preocupação:
Jesus, no versículo 30, chama os ansiosos de “homens de pequena fé”. Depois ele se
utiliza de duas ilustrações para nos ensinar a confiar em Deus. Uma extraída da natureza
e outra da experiência humana.
Na experiência humana: Deus criou a vida e a sustenta. Ele criou nosso corpo e
também o sustenta. (v. 27)
A natureza: Jesus usa as aves flores para explicar seu cuidado conosco. (v.26)
"Buscai, pois. em primeiro lugar, o seu reino ... e todas estas coisas serão acrescentadas".
A resposta de Jesus para nossas vidas cheias de preocupação é bem diferente. Ele quer
que substituamos nosso ponto de gravidade, relocalizemos o centro de nossa atenção, que
mudemos as nossas prioridades. Jesus quer que deixemos as "muitas coisas" para a
"única coisa necessária".
Ele fala sobre uma mudança de coração. Esta mudança de coração faz todas as coisas
diferentes, até mesmo quando todas as coisas parecem permanecer as mesmas. Este é o
65
significado de: "Buscai, pois. em primeiro lugar, o seu reino ... e todas estas coisas serão
acrescentadas". O mais importante é onde estão nossos corações. Quando nos
preocupamos, temos nossos corações no lugar errado. Jesus pede que coloquemos nossos
corações no centro, onde todas as outras coisas irão se encaixar.
O “reino” é o lugar onde o Espírito de Deus nos dirige, nos cura, nos desafia, e nos
renova continuamente. Quando nossos corações estão fixos neste reino, nossas
preocupações lentamente ficam para trás, porque as muitas coisas que nos faziam
preocupar tanto começam a se encaixar. As palavras "todas as, outras coisas vos serão
acrescentadas" expressam que o amor e o cuidado de Deus se estendem para todo o
nosso ser. Quando buscarmos a vida no Espírito de Cristo, conseguiremos ver e entender
melhor como Deus nos guarda na palma de sua mão.
Conclusão:
Costumamos ficar muito ansiosos porque, no fundo, cremos que a solução dos
problemas está nas nossas mãos; isso, porém, não é verdadeiro. Precisamos reconhecer
que somos finitos e limitados. Sem a presença de Deus atuando em nós e através de nós,
não alcançaremos resultado favorável quanto ao afastamento da ansiedade. No Salmo
34 Davi ensina a respeito da necessidade de nos relacionarmos com Deus para afastar
toda a ansiedade.
Nos vs. 9 e 10 destacamos a gloriosa afirmação: “nada falta aos que o temem” e “aos que
buscam o Senhor bem nenhum lhes faltará”
66
AULA 14
O CONTENTAMENTO
Texto Básico: Filipenses 4.1-19
Introdução
Na ocasião em que escreveu Filipenses, Paulo estava preso no porão de sua casa em
Roma. Ele ficava acorrentado a um soldado romano 24 horas por dia. Tinha pouco do que
era considerado privilégio, mas, assim mesmo, ele estava contente. “A paz de Deus” (v.
7) e “o Deus da paz” (v. 9) eram realidades óbvias na vida de Paulo. O mesmo pode
ocorrer conosco, se aprendermos a viver contentes.
É importante observar, desde o início, que Paulo ilustra com sua própria vida o
contentamento que ele queria que os crentes de Filipos tivessem. Veja o que ele diz a
partir do versículo 10: “Alegrei-me, sobremaneira, no Senhor porque (…) renovastes a
meu favor o vosso cuidado; o qual também já tínheis antes, mas vos faltava oportunidade.
Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer
situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as
circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de
abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece (Fp 4.10-13, grifos
do autor).
A palavra grega traduzida por “contente” significa “estar satisfeito”, “ter o bastante”. Ela
indica independência e desnecessidade de auxílio. Algumas vezes, foi usada para
qualificar uma pessoa que se mantinha sem a ajuda de ninguém. Parafraseando, Paulo
estava dizendo: “Aprendi a ficar satisfeito – não propriamente por mim, mas suprido por
Cristo”.
Essa não é a espécie de contentamento da qual Paulo falava. Quando usou a palavra
contente, o apóstolo estava se referindo a algo muito diferente. Obviamente, não era
indiferença, pois Paulo era um homem muito compassivo. Suas epístolas de amor às
igrejas, registradas no Novo Testamento, tornam isso bem claro. Paulo nunca poderia
assumir uma atitude do tipo “não me importo”.
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Observe o que Paulo afirma: “Aprendi a viver contente (…) já tenho experiência”(Fp
4.11-12). Aqui ele usou outro termo grego cheio de significados – uma alusão às religiões
misteriosas da Grécia. A iniciação, para aqueles cultos pagãos, envolvia o conhecimento
sobre certas religiões secretas. Paulo se inteirou de segredos do contentamento e os
transmitiu a todos que foram iniciados na fé em Jesus Cristo. A seguir, descreveremos
quais são.
Paulo disse: “Alegrei-me, sobremaneira, no Senhor (…) [e] renovastes a meu favoro
vosso cuidado; o qual também já tínheis antes, mas vos faltava oportunidade” (v. 10).
Fazia cerca de dez anos desde que Paulo estivera em Filipos pela última vez. Atos 16
relata o que aconteceu durante sua primeira visita. Paulo e seus companheiros de viagem
encontraram uma mulher de negócios chamada Lídia epregaram o evangelho a ela e aos
seus. Sua conversão resultou naformação de uma igreja.
Esse texto de Filipenses deixa claro que eles conseguiram sustentá-lo nessa atividade
apenas por um tempo. Para Paulo, contudo estava tudo bem, pois ele sabia que não tinham
deixado de se preocupar com ele, o que lhes faltava era “oportunidade”. Paulo tinha
confiança paciente na providência soberana de Deus. Ele não se entregava ao pânico.
Paulo estava certo de que, no devido tempo, Deus resolveria essa situação e suas
necessidades seriam satisfeitas.
Hoje podemos ter essa mesma certeza. Tudo já está sob controle, nas mãos de alguém
muito maior que do que você ou eu. Através de sua providência, Deus orquestra todas as
coisas para cumprir seus propósitos. O contentamento vem de aprender que Deus é
soberano, não apenas pela intervenção sobrenatural, mas também pela orquestração
natural. E que incrível orquestra é essa! Avalie a complexidade do que Deus está fazendo
a todo momento, apenas para nos manter vivos. Quando olhamos as coisas sob esse
prisma, percebemos que estupidez é pensar que podemos controlar nossa vida. Quando
desistirmos de buscas inúteis, renunciaremos a maior fonte de ansiedade.
Paulo estava contente porque tinha confiança na providência de Deus. Essa confiança,
porém, nunca o levou a uma atitude fatalista – “não importa o que eu faça”. O exemplo
68
da vida de Paulo ao longo do Novo Testamento é este: trabalhe o máximo que puder e
fique contente por Deus estar no controle dos resultados.
Aqui está outro segredo para o contentamento na vida de Paulo: “Não por causada
pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar
humilhado como também ser honrado” (Fp 4.11-12). Ele apreciava a generosidade
renovada da igreja de Filipos, mas queria que os crentes soubessem que ele não a estava
cobiçando, por isso mantinha seus anseios e desejos controlados, sem confundi-los com
suas necessidades. “Digo isso, não por causa da pobreza” é outro modo de dizer: “Na
realidade, tenho tudo de que preciso”.
Nossas necessidades, como seres humanos, são simples: alimentos, vestimentas, abrigo e
santidade com contentamento. As Escrituras dizem que devemos estar contentes porque
temos o suficiente para nossa vida. A postura do apóstolo contrasta notadamente com a
atitude da cultura da atualidade. As pessoas de nosso tempo não estão contentes – seja
com pouco, seja com muito. A experiência parece demonstrar que, quanto mais as pessoas
têm mais descontentes estão. Normalmente, as pessoas mais infelizes são as muito ricas.
Elas parecem acreditar que suas carências nunca são supridas. Diferente de Paulo, elas
admitem que seus desejos são “necessidades”. Elas seguem a direção da cultura
materialista, que redefine as coisas básicas da vida humana.
C. Supere as circunstâncias
Paulo suportou muitas situações horríveis (veja seu relato em 2Co 11.23-33), mas, com
elas, aprendeu a ser contente por ter uma perspectiva eterna. Observe: qualquer situação
que você enfrenta é temporária. A energia que você gasta com uma situação dificultosa,
ficando ansioso, não pode ser comparada à sua recompensa eterna. Aprenda a ser contente
sem levar muito a sério as circunstâncias terrenas.
Paulo pôde enfrentar qualquer circunstância terrena com esta afirmação confiante: “Tudo
posso naquele que me fortalece” (Fp 4.13). Ele aprendeu que não importa quão difíceis
as coisas sejam neste mundo material, todo cristão tem suporte espiritual. O
contentamento é um subproduto do sofrimento.
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Se você vive para si mesmo, nunca estará contente. Muitos deixam de experimentar o
contentamento, porque desejam que seu mundo seja exatamente do jeito que ele quer.
Desejamos que nosso cônjuge atenda às nossas expectativas e planos; que nossos filhos
se moldem àquilo que preestabelecemos; que tudo mais se encaixe no exatamente no lugar
o qual determinamos. Paulo orou para que os filipenses tivessem uma perspectiva
diferente. Ele começou essa epístola com uma oração para que o amor de uns pelos outros
fosse abundante (Fp 1.9); e prosseguiu dando este prático conselho: “Nada façais por
partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros
superiores a si mesmo” (Fp 2.3). Ele desejou que, em vez de viverem centrados em si
mesmos, os filipenses se preocupassem com o bem-estar dos outros. Este foi o exemplo
que o apóstolo deixou para eles e para nós:
• 2Coríntios 9.6: “Aquele que semeia pouco pouco também ceifará; e o que semeia com
fartura com abundância também ceifará”.
Paulo considerou a dádiva recebida “como aroma suave, como sacrifício aceitável e
aprazível a Deus” (Fp 4.18). No versículo 10, notamos quão feliz Paulo ficou ao receber
o donativo. Sua alegria se manifestou não porque ele finalmente recebeu o que estava
esperando (como vemos no versículo 11, ele cortesmente mencionou que não necessitava
aquilo), mas porque os filipenses ofereceram a ele algo que honrava a Deus e
acrescentaria benefício espiritual a eles.
Conclusão
Aplicação
Seja obediente à Palavra de Deus e confiante em seu poder, para que todas as suas
necessidades sejam supridas. Possa o nosso Senhor manter todos esses princípios bem
claros em nossa mente para que possamos viver contentes e livres da ansiedade.
AULA 15
O DISCÍPULO E AS PROVAÇÕES
Base bíblica: Tiago 1.2-8,12
Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações…
Introdução
Como você reage em tempos de dor e sofrimento? Você consegue se alegrar em tempos
de dificuldade? Jamais é sugerido no Novo Testamento que o cristianismo seria uma
tarefa fácil. Pelo contrário, em vez de prometer uma vida de paz e sossego àqueles que
queriam segui-Lo, o Senhor Jesus os advertiu sobre o alto preço do discipulado, dizendo:
“Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-
me” (Lc 9.23). Ele deixou claro que “se me perseguiram a mim, também perseguirão a
vós outros” (Jo 10.25). Seus seguidores deveriam saber que seriam enviados “como
cordeiros para o meio de lobos” (Lc 10.3), seriam “entregues até por vossos pais,
irmãos, parentes e amigos; e matarão alguns dentre vós” (Lc 21.16) e que seriam
“odiados de todas as nações, por causa do meu nome” (Mt 24.9).Tudo isso envolve ne-
cessariamente uma boa dose de sofrimento; experiência comum aos que carregam sobre
os ombros a cruz de Cristo.
Tiago, o irmão do Senhor, aborda o tema do sofrimento cristão de forma breve e prática
em sua preciosa epístola. Podemos aprender pelo menos três verdades com o texto que
estudaremos hoje: o objetivo do sofrimento; como nos preparar para enfrentá-lo, e o
prêmio dos cristãos que chegam triunfantes ao final da jornada de lutas terrenas.
A inusitada ordem de Tiago no início de sua carta tem deixado muitos cristãos atuais
assustados e, alguns, até escandalizados. Noutras palavras, o que ele diz é: “alegrem-se
no sofrimento” (Tg 1.2). A questão é que se tem dito em nossos dias que um cristão
verdadeiro não pode sofrer. Em sua maioria, os que ensinam esse erro são defensores da
chamada Teologia da Prosperidade. Eles dizem que um crente fiel não pode enfrentar
problemas como doença, fome, perseguição, desemprego, ou coisas do gênero. No
entanto, na contramão de todo esse pensamento, Tiago não nos manda “exigir” que Deus
nos dê a cura, nem sugere que “determinemos” que Ele faça o sofrimento cessar. O que
ele diz é: “Alegrem-se nas variadas tribulações que certamente vos sobrevirão” (Tg
1.2).Mas como isso é possível? O que há no sofrimento que possa nos dar alguma razão
para nos alegrar?
A ordem de Tiago é para que nos alegremos face às várias provações a que estamos
sujeitos neste mundo. “Provações” aqui significam adversidades e aflições que
72
enfrentamos como parte inevitável da vida. Não menos espantoso é que ele as menciona
no plural, como “várias” provações (palavra que significa “multicolorida”). Ou seja,
como cristãos, podemos ser testados em todo tipo de sofrimento, como perseguições
sociais (cf. Tg 2.6), doenças (cf. Tg 5.14), crises emocionais, desemprego e afins (cf. 1Pe
1.6; At 14.21-22). Como cristãos, todo sofrimento é por Cristo, não apenas aqueles
experimentados como consequência de um ministério ou algo semelhante. Portanto, a
ordem é: alegrem-se! Os cristãos precisam decidir pela alegria (cf. Rm 8.18-25).
A chave para manter a alegria cristã em meio às provações é entender o que Deus está
fazendo em nós e por nós por intermédio do sofrimento. No versículo 3, ele descreve o
sofrimento como teste que o próprio Deus aplica para aperfeiçoar nossa fé. Ideia se-
melhante é apresentada em 1Pedro 1.6-7, quando o apóstolo compara o efeito das prova-
ções em nossa fé ao efeito do fogo ao ouro. Assim como o fogo natural purifica o ouro, o
fogo da provação purifica a nossa fé e queima o que é sem valor em nosso caráter. Nesse
processo, a dor é inevitável, afinal estamos falando de fogo! No entanto, o ganho sempre
compensa as perdas, pois uma fé aprovada é a garantia da entrada no céu (cf. At 14.22).
A provação não somente é importante como também, necessária.
A provação da fé gera “perseverança” (cf. Rm 5.3-4). Nas palavras de David Field, “per-
severar é se recusar a achar uma saída fácil quando as pressões da vida se tornam
particularmente pesadas. É a firme atitude mental de quem não se curva diante de
circunstâncias nem se rende às provações”. Se você decidir permanecer firme na luta,
Deus garante lhe manter de pé e mais fortalecido ao final (2Ts 1.3-8; Hb 10.36; 12.1-3).
Ninguém jamais cresce em tempos de paz. As verdadeiras e mais profundas lições da vida
aprendemos na escola do sofrimento. Somente a dor nos mostra quanto somos incapazes
e necessitamos de Deus. Nas fornalhas do sofrimento, somos convidados a desistir da
autoconfiança para depender exclusivamente de Deus. Não podemos fingir que a dor não
é real. Porém podemos, pela graça de Deus, experimentá-la como primeiro passo
necessário (e breve) rumo ao gozo eterno nos céus (cf. 1Pe 4.12-13). Um cristão maduro
pode alegrar-se ante o sofrimento porque está convencido do amor de Deus que se revela
mesmo no fogo da provação (cf. Hb 12.3-7, 11). Ele pensa e vive como Paulo (cf. Fp 3.7-
11).
73
Satanás se aproveita da provação para destruir a nossa fé; enquanto Deus utiliza a
provação para fortalecer a nossa fé. Você tem aproveitado os momentos de teste para
fortalecer sua fé em Deus? Ou tem desperdiçado a oportunidade de crescer?
Um cristão maduro tende a receber a tribulação de Deus com a mesma mão agradecida
com que recebe a bonança. De modo contrário, o imaturo fica desorientado e é geralmente
rápido em murmurar e amaldiçoar a vida quando a fornalha “esquenta”. Qual o segredo
por trás dessas reações diversas?
Tiago concluiu o versículo 4 com a expressão “em nada deficientes” (ou “em nada tendo
falta”). Então, ocorreu-lhe que talvez faltasse ainda alguma coisa para que aqueles
cristãos fossem maduros e, portanto, capazes de encarar o sofrimento corretamente:
sabedoria é o “segredo”.
Se você acha que carece de sabedoria espiritual e deseja possuí-la ou simplesmente for-
talecê-la, Tiago lhe diz o que fazer: “peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada
lhes impropera; e ser-lhe-á concedida” (Tg 1.5). O nosso Deus é dadivoso e nos dá o que
lhe pedimos sem exigir algo em troca, desde que esse pedido esteja de acordo com Sua
vontade (cf. 1Jo 5.14). Portanto, anime-se! Pois é vontade de Deus que tenhamos
sabedoria!
A única coisa que você precisa fazer é pedir. Há duas maneiras de fazer isso:
1. com fé (Tg 1.6) – Ter fé é estar seguro de que Deus vai cumprir o que prometeu,
e estar convicto de que Ele está no controle da situação, mesmo quando não
conseguimos entendê-la ou enxergar a solução (cf. Hb 11.1). Somente pedidos
feitos com fé serão atendidos por Deus (cf. Mt 21.21-22).
74
2. com dúvidas (Tg 1.6-8) – Duvidar significa estar dividido entre dois pensamentos
ou atitudes de lealdade. O que duvida está sendo infiel e pondo o caráter de Deus
em xeque. Para que entendamos melhor o que isso significa, Tiago “pinta” três
retratos dos que duvidam.
Assim como as ondas do mar estão em constante movimento e nunca apresentam a mesma
aparência, são essas pessoas no relacionamento com Deus. Hoje acreditam, mas amanhã
duvidam. Em uma semana, decidem ser alunas regulares da escola bíblica, mas ninguém
é capaz de encontrá-las novamente na igreja duas semanas depois.
Assim como pessoas com duas personalidades, essas pessoas são dipsychos, “Duas
mentes” (cf. Tg 4.8). Por um lado, querem agradar a Deus; mas por outro, desejam algo
mais no mundo. Oram como Agostinho certa vez orou: “Senhor, faz-me puro, mas não
agora”. Ou cantam o verso: “tudo a ti, Jesus, entrego; Tudo, tudo deixarei”, e no coração
sussurram: “mas não posso esperar até o casamento para praticar sexo”.
Assim como um bêbado errante, que muda seu caminho a cada passo, são as pessoas que
duvidam. Sempre inconstantes em seus caminhos, são incapazes de se manter fiéis a um
único senhor (cf. 1Rs 18.21).
Em Romanos 8.28, Paulo diz que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que
amam a Deus”. É sempre mais fácil acreditar nessas palavras em momentos de paz. Ao
mencionar “todas as coisas”, ele inclui as boas e as más. Você acredita mesmo nisso?
Como essa verdade deve direcionar a maneira pela qual você reage ao sofrimento?
A vida cristã pode ser comparada a uma corrida de obstáculos. O cristão encontrará muitas
dificuldades ao longo de sua jornada, muitos altos e baixos, pedras e buracos pelo ca-
minho. No entanto, ao cruzar a linha de chegada, ele receberá a recompensa por todas as
lutas travadas. Não apenas o primeiro colocado, mas todos os que a cruzarem receberão
o prêmio.
mantém os cristãos satisfeitos em Deus mesmo em meio à dor da provação (cf. 2Co 12.7-
10; Rm 8.18).
Tiago diz que os que suportam com perseverança a provação receberão a coroa da vida.
A coroa simboliza glória e honra e, sendo a coroa da vida, simboliza ainda a vida
abundante e real que somente o cristão genuíno pode desfrutar. Paulo também esperava
receber uma coroa ao final de sua jornada de lutas e provações (2Tm 4.6-8; cf. 1Pe 5.1-
4; Ap 2.10).
O missionário Jim Elliot, martirizado em 1956, no Equador, por índios que ele e sua
equipe evangelizavam, disse: “Não é tolo quem entrega o que não pode reter, para ganhar
o que não pode perder”. Pelo que você tem sofrido? Isso durará para sempre? O que tem
sido seu objetivo de vida em lugar da glória de Deus?
Conclusăo: A ordem bíblica para a nossa vida é simples: primeiro, sofrimento; depois,
glória (cf. 1Pe 1.11; 4.13; 5.1). No entanto, é grande o número de pessoas que tentam
pular a primeira etapa da vida cristã exigindo prosperidade e sossego no mundo. Elas
buscam relacionamento com Deus em troca dos benefícios que Ele pode lhes dar. Querem
um Deus servidor, que lhes dê tudo o que exigem. Será que essa atitude não demonstra
um amor a Deus baseado apenas nos milagres que Ele pode fazer? E quanto a você? O
seu amor a Deus está baseado no que Ele pode lhe dar ou em quem Ele é? Você
continuaria amando o Senhor se Ele tirasse tudo o que você tem? (cf. Jó 1.21-22; Fp 3.7-
11).
Cristo jamais nos prometeu uma jornada fácil, mas garantiu que estaria conosco todos os
dias (Mt 28.20), compadecendo-se de nossas dores (Hb 4.15), ajudando-nos a carregar o
nosso fardo e levando-nos a salvo para o gozo eterno (Jo 14.1-3; 16.33). Portanto, tenha
paciência ao passar pela provação. Lembre-se de que Deus tem o tempo perfeito para
todas as coisas e certamente concluirá com glória o que começou com dor (cf. Tg 5.7-
11). O maior exemplo de sofrimento é o próprio Senhor Jesus (1Pe 2.18-25). Se você acha
sua vida injusta ou demasiadamente difícil, pense um pouco nos sofrimentos Daquele que
jamais pecou (cf. Is 53). Ele escolheu sofrer por você (Jo 10.17-18). Você está disposto a
escolher sofrer por Ele?
AULA 16
Introdução
Nossa vida cristã não é estática. Às vezes, como discípulos do Senhor, experimentamos
momentos de fervor espiritual, mas também podemos viver momentos de sequidão e
frieza na fé. E quando chega a esse ponto precisamos nos voltar para Deus e suplicar por
sua renovação. Precisamos buscar a restauração do primeiro amor, do entusiasmo pela
expansão do reino, do desejo de viver com um coração consagrado a Deus, desejo de orar
e ler a Palavra, coisas essas que corremos o risco de perdermos e às vezes sem nos dar
conta. Mas como restaurar nossa vida de oração e intimidade com o Senhor?
Como disse John Bunnyan: “Oração é o derramar sincero, consciente e afetuoso da alma
diante de Deus por meio do Senhor Jesus Cristo, na graça do Espírito Santo”.26 Em
outras palavras, orar é reconhecer o senhorio de Deus e a nossa inteira dependência dEle.
A prática da oração é um dos mais extraordinários meios de graça de que o homem pode
dispor. (Fp 4.6-7, Mt 7.7-8 e Tg 5.16b, Tg 4.2-3, 1 Pe 3.7 e Pv 28.9).
26
BUNYAN, John. Um Tratado sobre a Oração. E-book. O Estandarte De Cristo.com. 2014. p.5
(acessado em 27/12/2016)
27
KELLER, Timothy. Oração – experimentando intimidade com Deus. Edições Vida Nova. São Paulo.
2016. p.118
77
b) Cuidado com a oração mecânica: O segundo alerta que Jesus faz está no verso 7 é
que devemos evitar a oração mecânica, repleta de repetições. “E orando não useis
de vãs repetições, como fazem os gentios, que presumem que pelo muito falar, serão
ouvidos”. Jesus está proibindo qualquer tipo de oração com a boca, quando a mente
e coração não estão participando.
a) O Princípio da Exclusão. “Tu, porém, quando orardes entra no teu quarto e feche
a porta ...” v.6. O que Cristo está nos ensinando aqui é que devemos excluir tudo
aquilo que tenta nos desviar a atenção de estarmos na presença de Deus. Devemos
fechar a porta para não sermos distraídos e perturbados, mas também para fugir
aos olhos dos homens e para ficarmos a sós com Deus
De nada adianta entrar no quarto, fechar a porta, se a todo tempo, estou cheio de mim
mesmo, pensando em meu próprio eu, orgulhando-me de minhas orações. Com igual
razão eu poderia estar orando nas ruas e praças28.
28
John Stott, A Mensagem do Sermão do Monte. Editora ABU. São José dos Campos. 1997 p. 147
78
1) Pai nosso que estás no céu – v. 9 - "Que estás no céu" abre a oração modelo
lembrando-nos da sua infinita perfeição e da nossa imperfeição e o abismo que nos separa.
Devemos sim, nos aproximar de Deus como Pai, com intimidade, mas com toda
reverência, pois há um elemento de separação entre nós e Deus. Devemos chegar a Deus
com ousadia, porém nunca com arrogância e pretensão. “Que estás no céu” serve para
observar o seguinte: Quando oramos, devemos lembrar quem somos e a quem estamos
nos dirigindo29. Mas também, chamar Deus de Pai, nos lembra da nossa posição em
Cristo.30 Ninguém pode chamar Deus de pai a menos que esteja certo de sua filiação pela
graça a família da fé.
A Oração do Pai-Nosso pode ser dividida em duas partes31: Primeira: Os primeiros três
pedidos expressam nossa preocupação com a glória de Deus. Segunda: Os outros três
pedidos devem expressar nossa dependência da Graça de Deus.
Três primeiros expressam nossa preocupação Três últimos expressam nossa dependência de
com a Glória de Deus Deus
Santificado seja teu nome O pão nosso de cada dia
Venha a nós o teu Reino Perdoa-nos as nossas dívidas
Seja feita tua vontade Não nos deixe cair em tentação, mas
Livra-nos do mal
Assim que Pedro e João foram soltos, dirigiram-se aos irmãos e promoveram uma reunião
de oração (At 4.23,24). Se intencional ou não, a igreja seguiu o padrão da oração do Pai
Nosso. Podemos perceber que a oração de Atos 4.23-31 tem duas grandes divisões: 1ª.)
O centro da oração é a pessoa de Deus. O que eles dizem na sua oração salienta um dos
29
R.C. Sproul, Discípulos Hoje, pg. 98
30
KELLER, Timothy. Oração – experimentando intimidade com Deus. Edições Vida Nova. São Paulo.
2016. P.119
31
John R.W. Stott, A Mensagem do Sermão do Monte, ABU Editora, p. 150
79
propósitos mais importantes da oração – glorificar a Deus; 2ª.) Na segunda divisão eles
apresentam suas necessidades.
1.2. Venha a nós o teu Reino. Orar que o seu reino "venha" é orar que ele cresça à medida
que as pessoas se submetam a Jesus através do testemunho da Igreja, e que logo ele seja
consumado com a volta de Jesus em glória para assumir o seu poder e o seu reino. Estamos
na oração “Venha o teu Reino”, fazendo uma oração missionária. Estamos desejando que
o evangelho tenha sucesso alcançando homens e mulheres, tirando-os do domínio do
pecado e do reino das trevas, para o Reino de Deus (I Co 15:24-28; II Co 4:3-5 ).
1.3. Seja feita tua vontade. A vontade de Deus é "boa, aceitável e perfeita" (Rm 12.2;
Mt 26.39 – Jesus no Getsêmane). “Assim na terra como no céu”. O que Jesus nos incita
a orar é que a vida na terra se aproxime o mais possível da vida no céu, pois a expressão
na terra como no céu parece aplicar-se igualmente à santificação do nome de Deus, à
propagação do seu reino e à consumação da sua vontade.
1.2. Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos
devedores.
O perdão é tão indispensável à vida e à saúde da alma como o alimento para o corpo. Por
isso, o pedido seguinte é: Perdoa-nos as nossas dívidas. O pecado é comparado a uma
"dívida", porque merece o castigo. Mas quando Deus perdoa o pecado, ele cancela a
penalidade e anula a acusação que há contra nós (Cl 2.13-15).
Uma lição desse ponto da oração do Senhor é que devemos aprender a confessar os nossos
pecados. “Perdoa-nos as nossas dívidas” é um pedido de perdão pelos pecados
cometidos. A prática da confissão é a decisão de apresentar diante de Deus para se
declarar culpado de pecados pessoais e específicos, com o propósito de obter perdão e
purificação, mediante a obra vicária de Jesus Cristo.
A confissão verdadeira remove a crise provocada pelo pecado e restaura a comunhão
perdida. A comprovação de sua eficácia depende mais da fé do que de sentimentos. Por
meio da contínua confissão de qualquer transgressão e de qualquer omissão é
perfeitamente possível manter a higiene da alma (Salmo 38:18; Salmo 51:12, I João 1.7)
O acréscimo na oração “como nós temos perdoado aos nossos devedores”(Vs 14 e 15),
não significa que o perdão que concedemos aos outros garante-nos o direito de sermos
perdoados. Antes, esta adição nos ensina que Deus perdoa somente o arrependido, e uma
das principais evidências do verdadeiro arrependimento é um espírito perdoador. Vemos
esse ensino claramente ilustrado na parábola do credor incompassivo (Mt 18:23-35). Sua
conclusão é: "Perdoei-te aquela dívida toda (que era imensa) . . .; não devias tu,
igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti?" (v.
33).
O propósito dessa parábola é deixar claro que, se nós recebemos o perdão de Deus em
Cristo devemos também mostrar este perdão ao nosso próximo que porventura nos tenha
ofendido. A recusa de perdoar pode ser um sinal de que talvez a pessoa não tenha
experimentado o maravilhoso perdão de Deus.
Precisamos levar em conta que todos nós temos a necessidade de perdoar. O perdão faz
bem e restaura nossos relacionamentos. Onde há relações partidas, feridas não resolvidas,
mágoas não tratadas e relacionamentos interrompidos, está faltando perdão. Alguém já
disse que guardar ressentimentos “equivale a ingerir veneno esperando que aquele que
nos ofendeu morra”. Neste sentido, podemos entender que perdoar é drenar o veneno de
nosso coração. Perdoar é romper as cadeias da prisão que nos mantém escravos de um
passado inalterável. Quem se recusa a perdoar, armazenando mágoas em seu coração,
será atormentado por pensamentos e sentimentos interiores (Mt 18.23-35, Salmo 32.3,4).
É sempre uma tragédia para a vida cristã e para a nossa comunhão com Deus quando
caímos em tentação. Por isso, nosso Senhor, na sua oração modelo nos ensina a orar para
não cairmos em tentação. Tentar é induzir ao pecado com o objetivo de: nos enfraquecer,
81
nos afastar de Deus, nos entristecer, roubar nossa alegria cristã e gerar endurecimento em
nosso coração, dentre outras coisas. A tentação é universal e inevitável. Todos, sem
exceção, em todo o lugar, passam pelo crivo da tentação (João 17.15).
O melhor dos santos pode ser tentado pelo pior dos pecados. Por isso, não devemos
estimular, mas também não podemos ignorar esta realidade. Ser tentado não é pecado. O
cair é. “Não vos sobreveio tentação que não fosse humana” (cf. 1Co 10.13). “Aquele,
pois, que pensa estar em pé veja que não caia” (cf. 1Co 10.12).
Quais são algumas áreas de sua vida em que você precisa estar mais atento, vigiando em
oração para não cair diante das tentações?
"Não permitas que sejamos induzidos à tentação que nos possa derrotar, mas livra-nos
do maligno". Assim, por trás dessas palavras que Jesus nos deu para orar, encontramos
a implicação de que o diabo é o tentador. Satanás nos tenta em momentos oportunos,
quando estamos mais vulneráveis. Devemos nos lembrar de que um dos momentos em
que Jesus foi tentado foi quando estava com fome. Satanás tenta nos momentos de
carência, necessidade, onde podemos estar mais fragilizados. Satanás pode se aproveitar
de algum momento oportuno (Lucas 4.13).
Jesus foi tentado também quando estava só. Nestes momentos, somos mais tentados.
Após um momento de auge espiritual, tendemos a “baixar a guarda”. Quando estamos
debilitados, o inimigo sempre tentará no ponto fraco. Quando estamos sós, somos mais
tentados ainda, pois ninguém está vendo. Satanás sabe qual é a área em que você será
mais fácil de ser tentado.
Conclusão e aplicação
Os três pedidos que Jesus coloca em nossos lábios são magnificamente completos.
Incluem, em princípio, todas as nossas necessidades humanas: materiais (o pão de cada
dia), espirituais (perdão de pecados) e morais (livramento do mal). O que fazemos,
sempre que proferimos esta oração, é expressar nossa dependência de Deus em cada setor
da vida humana.
1) Qual é o lugar da oração em sua vida?
2) Que importância ela tem para você? Quão essencial ela é na sua vida cristã? Será que
temos consciência de que sem ela desfalecemos?
3) Se a oração é tão indispensável, pôr que a faço tão pouco?
4) Você tem algum plano de oração?
82
AULA 17
A OBEDIÊNCIA DO DISCÍPULO
"Por que me chamais Senhor, Senhor e não fazeis o que eu
vos mando? " (Lucas 6:46).
“Se vocês permanecerem firmes na minha palavra,
verdadeiramente serão meus discípulos” (Jo 8.31).
INTRODUÇÃO
Como se pode saber se uma pessoa é cristã genuína ou falsa? Há diversos critérios, mas
entre os mais importantes está a questão da obediência. Uma pessoa pode dizer: "Ah, sim,
eu creio, eu creio." Mas se sua vida não for de obediência àquele a quem professa como
Senhor, algo estará errado. Não combina. Nosso Salvador perguntou: "Por que me
chamais Senhor, Senhor e não fazeis o que eu vos mando? " (Lucas 6:46).
Tiago declarou que a fé tem que resultar em certas obras a fim de ser visivelmente válida.
(Tiago 2.26). Se você realmente acredita em Deus, haverá evidências na sua forma de
viver, nas coisas que você diz, e nas coisas que você faz.
É difícil falar de uma sem incluir a outra. Na aula de hoje vamos aprender sobre a
importância da obediência na vida do discípulo. O discípulo cresce espiritualmente
quando obedece — como filhos obedientes que crescem para ser adultos maduros,
obedientes e produtivos.
I. O que é obediência?
Obediência é expressar o amor de Cristo a Cristo ao guardar a Palavra. Cristo produz em
nós o fruto do Espírito (Gl 5:22-25). O Espírito produz em nós o amor de Cristo por boas
obras; pois é para isto que fomos criados. Deus nos criou para as boas obras (Ef 2:10). O
amor de Cristo em nós nos leva a boas obras quando estudamos e observamos a Palavra.
Quando nós nos agradamos em seguir todos os mandamentos de Deus, ele se agrada. Não
deveríamos ser obedientes a Deus quando Deus, em numerosas passagens, ordena
obediência de nossa parte como representantes de sua Palavra? (Nm 27:20; Isaías 1:19;
Atos 6:7; Rm 6:16; 16:19; 16:26; 2Co 7:15; 9:13; Fp 1:21; 1Pe 1:2). Deus requer de nós
que sejamos obedientes em toda circunstância.
83
A palavra que João utiliza aqui por "mandamento" é também significativa. Neste livro
João usa a palavra entolé pelo menos 14 vezes, ao referir-se aos preceitos de Cristo. Mas
no Evangelho, quando João fala sobre a Lei de Moisés, ele usa outra palavra — nomos.
João quer enfatizar os preceitos de Cristo mais que a lei de Moisés. Se tivermos um
espírito de obediência quanto à guarda dos preceitos de Cristo, um desejo ardente de que
sejam honrados, uma determinação em obedecê-los, isto constitui prova experimental
contínua de que a pessoa veio ao conhecimento de Deus e do Senhor Jesus Cristo.
Quando uma pessoa se torna crente, reconhece abertamente que Jesus é seu Senhor. Se
ela realmente O entroniza, ela se submete com alegria à autoridade de Cristo. Se a pessoa
diz a Jesus: "Tu és Senhor!" a questão está terminada. Os que continuam a guardar os
Seus mandamentos são os que estão realmente conhecendo a Deus, seguros nEle.
Mas existe a obediência graciosa, onde as próprias palavras têm um som melhor. A
obediência graciosa pertence à aliança da graça. É um espírito amoroso e sincero de
obediência que, embora repleta de defeitos, é aceita por Deus, pois suas máculas são
apagadas pelo sangue de Jesus Cristo. Percebe a diferença?
Na aliança da graça, Deus olha o coração, não as obras. Fico contente com isso — e
você? Se Deus me julgasse pela obediência legal, eu passaria a eternidade no inferno.
Mas Deus olha para mim e diz: "Gildásio, com todos os seus defeitos, você tem um
coração que tende a me obedecer. Você possui um espírito que deseja submeter-se ao
meu senhorio, mesmo que você falhe com frequência".
É por isso que nós somos abençoados por nos encontrarmos deste lado da cruz. Jesus
morreu para que Seu sangue cuidasse dos defeitos da obediência. É muito melhor estar
sob a obediência graciosa do que sob a obediência à lei.
O Desejo do Coração. Para que ninguém se engane, permita-me outra ilustração. Será
que os discípulos, sempre - sempre mesmo – obedeceram legalmente a Deus? É claro que
não. Pedro, por exemplo, ou Tiago ou João.
Todos falharam para com o Senhor e cometeram erros, pois eram homens pecadores. No
entanto, Jesus pôde dizer ao Pai "...eles têm guardado a tua palavra" (João 17:6). Será que
eles tinham mesmo guardado a palavra de Deus consistentemente? Claro que não. Será
que Jesus os media com a obediência absoluta, da lei mosaica, ou Ele media o espírito
obediente? Nós sabemos a resposta — suas propensões, desejos e
determinações em se submeterem a Jesus Cristo — era isso que Jesus media, e
Ele cobriu os defeitos com Seu sangue derramado.
Deus não espera perfeição absoluta. Se você fizer alguma coisa errada ou tiver alguma
falha, Ele não diz que você está acabado e não é mais cristão. Não, pois Deus olha para
o jorrar constante de um coração que tem em si o espírito de obediência.
Tal obediência não se baseia na lei, mas no amor; não no medo mas na amizade. Vários
versículos de João destacam isso. Quando Jesus falou que voltaria ao céu, Ele não disse:
"Guardem os meus mandamentos -senão..." Ele disse: "Aquele que tem os meus
mandamentos e os guarda, esse é o que me ama..." (João 14:21). Assim, obedecemos,
não por temor, mas por amor.
85
Deus nos deu seus mandamentos para que possamos nos tornar obedientes a seus
mandamentos. E nós somos capazes de ser obedientes por meio do sacrifício de seu Filho
na cruz por nós. Sem o lavar-se no sangue de Cristo, nenhum homem é capaz de seguir a
Lei. Não, nós não somos legalistas, e não somos antinomianos. Nós somos cristãos que
desejam fazer a vontade do Pai. Nós somos aqueles que podem dizer com Paulo: “Toda
a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção,
para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente
habilitado para toda boa obra” (2Tm 3:16-17).
Talvez você diga: "Já era difícil ter que guardar os Seus mandamentos. Agora temos que
ser como Ele. Eu não consigo!" O versículo não diz que seremos exatamente como Ele,
mas que deveremos ser como Ele. Cristo é nosso modelo e molde. Devemos conduzir-
nos à semelhança de Cristo. Viver como Ele viveu. “A obediência nos conduz à
maior semelhança com Cristo”.
Tomemos alguns exemplos específicos. Filipenses 2:8 fala-nos a respeito de Jesus: "e
reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à
morte, e morte de cruz". Jesus tinha a forma de Deus, mas não insistiu em guardar essa
glória, esse privilégio. Ele voluntariamente deixou de lado essa glória para vir ao mundo,
humilhando-se. É o maior exemplo de humildade que já houve. E é esse o nosso molde.
Note que esta passagem fala também sobre a obediência de Cristo. Nosso Senhor foi
obediente em todas as coisas. Pagou seus impostos. Obedeceu à risca a lei mosaica.
Obedeceu a lei cerimonial. Obedeceu as determinações divinas de sua messianidade. O
Evangelho de João deixa bem claro essa questão. Jesus disse: "Porque eu desci do céu
não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou." (João
6:38). Todo seu espírito era de obediência.
Mais uma vez: "...Aquele que me enviou está comigo, não me deixou só, porque
eu faço sempre o que lhe agrada" (João 8:29). E em João 14:31: "...faço como o
Pai me ordenou". Mais uma vez: obediência. Cristo deu o modelo. Sua obediência
em amor torna-se, portanto, aquilo sobre o qual deveremos traçar nossas vidas. Essa
espécie de obediência caracterizava o nosso bendito Senhor e deverá caracterizar-nos
também.
86
Conclusão
Quando obedecemos a Jesus, vamos conhecê-Lo mais profundamente, tornamo-nos mais
como Ele, e Ele manifesta-se nas nossas vidas. Você cresce para ser como Cristo enquanto
obedece.
1) Nós que nos tornamos filhos de Deus devemos obedecer-lhe completamente. Por
quê? João 10.27
2) Compartihe com as demais pessoas do seu grupo uma situação em que você seguiu o
exemplo de Jesus e obedeceu à voz de Deus.
87
AULA 18
CONFISSÃO: O DISCÍPULO
BUSCANDO RESTAURAÇÃO
“Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar
os pecados e nos purificar de toda injustiça” [1 Jo 1.9].
Introdução
Na caminhada cristã, todos tropeçamos e nos sujamos de novo com o pecado. Como
voltar ao prumo? Como retomar o caminho de santidade e obediência proposto por Deus?
E o pecado é um grande obstáculo à nossa consagração.
I. O QUE É CONFISSÃO?
A confissão do pecado é uma providência tornada possível pela misericórdia divina para
sanar as fraquezas cometidas ao longo da caminhada cristã. A confissão verdadeira
remove a crise provocada pelo pecado e restaura a comunhão perdida ou arranhada. Por
meio da contínua confissão de qualquer transgressão e de qualquer omissão é
perfeitamente possível manter a higiene da alma. Assim posto, a confissão é um meio que
Deus nos concede para a nossa consagração a Ele.
Aprecio a definição de confissão, elaborada pelo pastor Elben M. Lens Cesar, que diz:
Deus exige que você confesse "aquilo em que pecou" (Lv 5.5). Cite o pecado pelo nome
certo. Talvez seja a inveja, a maledicência, a dificuldade de perdoar, a irritação, a palavra
88
Mesmo que você não tenha chegado ao ponto de satisfazer a vontade de pecar, é justo que
você lamente diante de Deus o potencial pecaminoso de que é portador. Já é um transtorno
e sinal de decadência a vontade de mentir, a vontade de adulterar, a vontade de aparecer,
a vontade de roubar, a vontade de difamar. Nesse caso, você confessa não o pecado
cometido, mas o pecado desejado. Esse tipo de confissão é saudável, pois revela que você
tem consciência pessoal da queda, da vulnerabilidade e da necessidade do auxílio do alto.
Observe como o salmista se queixa de alguma coisa que o acompanha sempre: "Pois estou
prestes a tropeçar; a minha dor está sempre perante mim" (Sl 38.17); "A minha ignomínia
está sempre diante de mim" (Sl 44.15); "O meu pecado está sempre diante de mim" (Sl
51.3). A melhor confissão da pecaminosidade latente foi escrita e assinada por Paulo: "Eu
sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum" (Rm 7.18).
Há pecados tão corriqueiros, costumeiros e generalizados que não são de imediato e fácil
discernimento. Mesmo assim devem ser confessados, a exemplo de Davi: "Quem sou eu
para saber os pecados que se escondem em meu interior? Por favor, Senhor, perdoa estes
meus pecados ocultos!" (Sl 19-12) Junto com essa confissão, você deve fazer esta súplica:
"Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração: prova-me e conhece os meus pensamentos;
vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno" (Sl 139.23, 24).
1. Orgulho
O pecador não quer admitir que pecou e resiste ao processo que o pode levar a ter
convicção de pecado. Ele diz: "Não pequei", quando deveria dizer exatamente o contrário:
"Pequei". O fariseu da parábola de Jesus chegava a dar graças a Deus porque não era
como os demais homens, nem ainda como aquele publicano que se declarava culpado
89
diante de Deus (Lc 18.9-14). Tais pessoas preferem fugir a vida inteira da justiça divina,
à semelhança de Caim: "Serei fugitivo e errante pela terra" (Gn 4.14).
2. Consciência endurecida
O pecador não percebe o seu próprio pecado. Enxerga com facilidade e, às vezes, com
lentes de aumento o pecado alheio, mas é incapaz de se ver "infeliz, sim, miserável, pobre,
cego e nu", como aconteceu com o anjo da igreja em Laodicéia. (Ap 3.17.) Este é um
fenômeno comum. Quando acusado, o pecador sempre pergunta: "Por que nos ameaça o
Senhor com todo este grande mal? qual é a nossa iniquidade, qual é o nosso pecado, que
cometemos contra o Senhor nosso Deus?" (Jr 16.10.) Essa dificuldade leva o pecador às
raias do cinismo: "Em que desprezamos nós o teu nome?", "Em que o enfadamos?", "Em
que havemos de tornar?", "Em que te roubamos?" e "Que temos falado contra ti?" (Ml
1.6; 2.17; 3.7, 8, 13.)
Ora, se Jesus nos ensinou a perdoar "até setenta vezes sete" (Mt 18.22), não nos perdoaria
o mesmo tanto se dele nos aproximássemos para dizer mais uma vez: "Estou
arrependido"? (Lc 17.3-4.)
4. Noção de pecado
O pecador não sabe ao certo o que é pecado. Ele é capaz de coar o mosquito e engolir o
camelo (Mt 23.24). Dá mais atenção à tradição cultural do que à Palavra de Deus (Mt
15.6). Às vezes, só enxerga o pecado sexual; outras, só toma conhecimento do pecado
social. Para resolver essa dificuldade realmente séria, é necessário recorrer ao conceito
de pecado tão bem resumido nestas palavras: "Pecado é qualquer falta de conformidade
com a lei de Deus, ou qualquer transgressão dessa lei".
A paz interior é sinal de comunhão perene com Deus e de confiança nele: "Tu, Senhor,
conservarás em perfeita paz aquele cujo propósito é firme" (Is 26.3). Qualquer alteração
dessa paz pode indicar a presença de algo errado no comportamento. Daí a palavra de
Paulo: "Seja a paz de Cristo o árbitro em vossos corações" (Cl 3.15).
Senhor. Deus ainda se manifesta em glória, ora por meio de um texto sagrado, ora por
meio de uma mensagem poderosa, ora por meio de uma experiência pessoal com o
Senhor.
7. A palavra acusatória de alguém
Em certos casos, os expedientes introspectivos até agora apresentados não dão resultado
ou não funcionam sozinhos. É preciso que alguém diga ao pecador que ele pecou. Foi o
que Nata fez com o rei Davi: "Tu és o homem" (2 Sm 12.7). Ou o que Elias fez com o rei
Acabe (1 Rs 21.17-29) e o que Paulo fez com Cefas (Gl 2.11-14).
8. O escândalo
Os pecados ocultos podem ser confessados e perdoados sem que venham
obrigatoriamente a público. Quando, porém, isso não acontece, o escândalo é uma
necessidade. Trata-se de um expediente doloroso e de impacto, mas extremamente útil
para acabar com o pecado secreto e provocar a necessária confissão: "Confessei-te o meu
pecado e a minha iniquidade não mais ocultei" (Sl 32.4). Só depois de ter sido
nacionalmente responsabilizado pela derrota dos israelitas na tomada de Ai é que Acã
confessou o seu crime: "Verdadeiramente, pequei contra o Senhor, Deus de Israel, e fiz
assim e assim" (Js 7.20). Judá, um dos seis filhos de Jacó e Lia, só admitiu a hediondez
de seu pecado e de sua hipocrisia quando o seu relacionamento carnal com a nora Tamar
veio à tona: "Mais justa é ela do que eu" (Gn 38.26).
9. A disciplina eclesiástica
Pode acontecer que o pecador não enxergue ou não se valha das várias oportunidades de
confissão que Deus lhe dá. Nesse caso, para o bem dele e da igreja, será necessária a
disciplina eclesiástica. Essa medida terapêutica, embora extrema, quando bem feita pode
dar excelente resultado. O membro da igreja de Corinto que possuiu a mulher de seu
próprio pai e que foi duramente disciplinado por Paulo (1 Co 5.1-5) alcançou mais tarde
a bênção da plena restauração de seu vergonhoso comportamento (2 Co 2.5-11).
CONCLUSÃO: A resistência à prática da confissão não vale a pena. É uma experiência dolorosa
e desconfortável: “Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus
constantes gemidos todo o dia. Porque a tua mão pesava dia e noite sobre mim, e o meu vigor se tornou
em sequidão de estio” (Sl 32.3,4) Portanto, valorizemos a prática da confissão! Consideremos a
advertência e a promessa bíblicas: “O que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que
as confessa e deixa alcançará misericórdia” (Pv 28.13)
APLICANDO O ENSINO
Estudo adaptado do livro Práticas Devocionais. Editora Ultimato. Elben Lenz Cesar.
92
AULA 19
O DISCÍPULO E O COMPROMISSO
COM A IGREJA LOCAL
Introdução
O discípulo é alguém chamado para participar, não somente para crer. Fomos criados para
viver em comunidade, moldados para o companheirismo e formados para uma família; e
nenhum de nós pode cumprir os propósitos de Deus sozinho e sem ajuda. A Bíblia diz
que fomos ajuntados, reunidos, juntamente edificados, juntamente tornados membros,
juntamente feitos herdeiros, combinados, mantidos juntos e que seremos juntamente
arrebatados. (I Co 12.2; Ef 2.21,22; 3.6; 4.16; Cl 2.19; I Ts 4.17). Você não está mais por
conta própria.
Embora seu relacionamento com Cristo seja pessoal, Deus nunca quis que fosse
particular. Na família de Deus, você está unido a todos os outros crentes, e faremos parte
uns dos outros por toda a eternidade. A Bíblia diz: Em Cristo nós, que somos muitos,
formamos um corpo, e cada membro está ligado a todos os outros ( Rm 12.5). Seguir a
Cristo inclui integrar, não apenas acreditar. Somos membros de seu corpo — a igreja.
Na aula de hoje vamos estudar sobre a importância da igreja local na vida do discípulo e
qual deve ser seu compromisso cm ela.
1) Fazer parte da igreja me identifica como crente autêntico. Não posso afirmar que sou
um seguidor de Cristo se não sou comprometido com um grupo específico de discípulos.
Jesus disse: O amor de vocês uns pelos outros irá provar ao mundo que vocês são meus
discípulos. João 13.35
Quando em amor, reunimo-nos como uma família na igreja, com diferentes formações,
raça e status social, levamos ao mundo um poderoso testemunho. Você não é o corpo de
Cristo isoladamente; você precisa de outros para expressar essa condição. Juntos, e não
separados, somos o seu corpo.
2) Fazer parte da igreja me retira do isolamento egoísta. A igreja local é a sala de aula
onde você aprenderá a se relacionar com a família de Deus. É o laboratório para a prática
do altruísmo e do amor compassivo. Como membro ativo, você aprende a se interessar
pelos outros e a partilhar suas experiências: Se uma parte do corpo sofre, as demais partes
sofrem com ela. Ou, se uma parte é honrada, as demais compartilham de sua honra (I Co
12.26). Somente pelo contato regular com crentes comuns e imperfeitos podemos
aprender o verdadeiro companheirismo e experimentar a verdade do Novo Testamento:
ser unidos e dependentes uns dos outros (Ef 4.16). Além do mais, ninguém consegue
seguir a Cristo sozinho, de maneira isolada. As pressões do mundo, as inclinações de
hábitos antigos (carne) e os ataques do inimigo tornam o apoio de outros, algo
93
3) Fazer parte da igreja ajuda a desenvolver músculos espirituais. Você jamais chegará
à maturidade apenas comparecendo aos cultos de adoração como espectador passivo.
Somente a plena participação nas atividades da igreja local desenvolve músculos
espirituais. A Bíblia diz: À medida que cada parte realiza o seu trabalho, ela coopera para
o crescimento das outras partes, para que todo o corpo esteja saudável, crescendo e cheio
de amor (Ef 4.16).
As expressões “uns com os outros” e “entre si” são usadas mais de 50 vezes no Novo
Testamento. Somos ordenados a amar uns aos outros, a orar uns pelos outros, a incentivar
uns aos outros, a admoestar uns aos outros, a saudar uns aos outros, a servir uns aos outros,
a ensinar uns aos outros, a aceitar uns aos outros, a honrar uns aos outros, a carregar os
fardos uns dos outros, a perdoar uns aos outros, a nos submeter uns aos outros, a ser
dedicados uns aos outros, além de muitas outras obrigações mútuas. Isso é ser um
membro, do ponto de vista bíblico! Essas são suas “responsabilidades familiares”, que
Deus espera que você cumpra na comunidade local. Com quem você vem agindo dessa
forma?
4) Fazer parte da igreja irá impedi-lo de cair. Nenhum de nós está imune à tentação.
Nas circunstâncias apropriadas, você e eu somos capazes de qualquer pecado (I Co 10.12;
T Tm 1.19). Deus sabe disso, então nos atribuiu individualmente a responsabilidade de
mantermos uns aos outros no caminho certo. A Bíblia diz: Encorajem-se uns aos outros
todos os dias [...] de modo que nenhum de vocês seja endurecido pelo engano do pecado
(Hb 3.13). “Não é da sua conta” não é uma frase cristã. Somos chamados e ordenados a
nos envolver na vida uns dos outros. Se você conhece pessoas que estão vacilando
espiritualmente neste exato momento, é sua a responsabilidade de ir atrás delas e trazê-
las de volta para a comunhão. Tiago nos diz: Se vocês conhecerem pessoas que se
desviaram da verdade de Deus, não as desprezem. Procurem-nas e tragam-nas de volta
( Tg 5.19).
Ao contrário do que muitos pensam, o ingresso numa igreja gera para o discípulo certos
deveres e obrigações diante da comunidade, da irmandade. Isso é tão claro no Novo
Testamento que é de surpreender que, nos tempos atuais, esse aspecto do ensino
apostólico seja tão negligenciado. Essas responsabilidades podem ser resumidas em três
palavras: comunhão, cooperação e contribuição.
1. COMUNHÃO
Por comunhão entende-se a convivência amorosa, pacífica, pura e produtiva que deve
marcar todo ajuntamento cristão. Sendo, a princípio, amorosa e pacífica, a comunhão
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cristã revela o sentido da verdadeira unidade e, com isso, mostra ao mundo que a igreja é
uma autêntica comunidade de discípulos de Jesus (Jo 13.35).
Como isso ocorre? É simples: a unidade que caracteriza o convívio cristão revela que os
membros da igreja estão nutrindo “o mesmo sentimento que houve também em Cristo
Jesus” (Fp 2.5), provando, assim, que são seus verdadeiros seguidores.
De fato, após ensinar que os filipenses deveriam ter seu ajuntamento marcado por amor,
compaixão, unidade, humildade e desprendimento (vv.1-4), o apóstolo resumiu todos
esses itens num exemplo magnífico, apontando para o auto esvaziamento do Senhor. É,
pois, como se dissesse: “Irmãos, sejam amorosos e humildes no seu convívio, ou seja,
imitem o Senhor. Assim como ele se esvaziou por amor de nós, abrindo mão de sua glória
real, esvaziem-se vocês também no trato de uns com os outros, abrindo mão de sua glória
imaginária”.
Assim, a base do apelo à comunhão cristã amorosa não é o simples anelo pela paz social
(presente até nos incrédulos), mas sim a cristologia ortodoxa que destaca a disposição
humilde do Filho de Deus, apontando-a como modelo a ser seguido pelos discípulos no
cultivo do relacionamento que têm entre si. Negligenciar, pois, essa santa comunhão, ou
militar contra ela, é, em último caso, desprezar o exemplo dado por Cristo em sua
encarnação, humilhação e morte.
A comunhão cristã, além de amorosa e pacífica, também deve ser produtiva. Não basta
ao membro da igreja ser apenas um “cara legal”, um amigo bonzinho que nunca se
indispõe com os outros. Mais do que isso, sua aproximação dos irmãos deve também
promover crescimento, consolo e correção.
No fundamento desse ensino está, por exemplo, a ordem de Jesus dirigida a Pedro: “E
quando você se converter, fortaleça os seus irmãos” (Lc 22.32), mostrando que a
restauração da comunhão com Deus deve ser seguida de trabalho em prol da saúde
espiritual da igreja. Há também a verdade ilustrada por Paulo na figura da igreja como
organismo vivo, no qual cada crente deve atuar como membro singular, usando seus dons
e desempenhando suas funções em favor do crescimento do todo (Rm 12.3-8; 1Co 12.12-
31; Ef 4.1-16).
Finalmente, existe a firme exortação dirigida aos cristãos hebreus, ordenando que eles
não deixem de se congregar. O que chama a atenção nessa ordem é que o autor bíblico
não diz que a conduta oposta ao abandono da congregação é apenas voltar a reunir-se.
Em vez disso, ele diz: “... mas procuremos encorajar-nos uns aos outros...” (Hb 10.25),
dando a entender que o contrário de abandonar a igreja é mais do que frequentá-la. É
frequentá-la realizando um trabalho de aconselhamento, correção, admoestação e
consolo.
2. COOPERAÇÃO
Cooperação é termo usado para se referir ao trabalho conjunto. Cooperar, pois, com
alguém é labutar ao seu lado, empenhando-se por alcançar seus mesmos objetivos. Assim,
quando se diz que o crente deve cooperar com sua igreja, isso significa que ele deve
empreender esforços ao lado de seus irmãos para fazer com que a comunidade eclesiástica
de que faz parte realize seus ideais da maneira mais célere e da melhor forma possível.
Quais seriam os ideais da igreja pelos quais os seus membros deveriam juntos lutar? O
Novo Testamento aponta pelo menos três: a promoção e defesa da fé evangélica; a
edificação do corpo de Cristo; e a pureza da comunidade dos santos.
95
Primeiro, devemos suprir as nossas necessidades e da nossa família. Deus sabe que temos
necessidades (Mateus 6.31-32) e que o dinheiro é usado para supri-las (Atos 20.34).
Segundo, Deus deseja abençoar outros por nosso intermédio. Devemos usar nossos
recursos para ajudar os irmãos que estão passando por necessidade (Romanos 12.3),
aqueles que são pobres (Deut 15.7-8). Um grande exemplo disto são os crentes de Corinto
(leia 2Coríntios 8 e 9).
Terceiro, devemos usar o dinheiro para sustentar a obra de Deus neste mundo, através das
contribuições regulares e proporcionais que fazemos para a Igreja e organizações
evangélicas envolvidas com a evangelização do mundo e as obras sociais. Os legítimos
obreiros cristãos são dignos de receber seu sustento das igrejas, como Jesus e Paulo
ensinaram (Lucas 10:7; 1Coríntios 9:1-12). Para alguns, a contribuição por meio de
dízimos é a correta (Malaquias 3:10). Todavia, o que importa é que nossa contribuição
seja regular, proporcional ao que recebemos de Deus e dada de coração.
Quarto, através do dinheiro, Deus quer mostrar seu poder e bênção, suprindo as nossas
necessidades (Mateus 6.33), despertando assim gratidão em nosso coração (Deut 8.18) e
recompensando fielmente os que contribuem de forma voluntária e regular para sua obra
(2Coríntios 9:1-11).
Todo cristão sincero, todo discípulo deveria refletir sobre o uso que faz do dinheiro,
lembrando que prestará contas a Deus, como um gerente presta contas ao proprietário.
CONCLUSÃO:
Comunhão, cooperação e contribuição. Conforme visto nesta aula, essas três palavras
encerram praticamente a totalidade dos deveres do discípulo em relação à igreja local de
que é membro. À luz do exposto, todos esses deveres têm sólido fundamento nas
Escrituras, o que faz com que não sejam opcionais para o crente. Sendo assim, cada
cristão em particular deve levá-los muito a sério e ajustar sua vida a eles. Com certeza,
isso fará muita diferença na construção de igrejas fortes nesta era de fraquezas.
Aplicando o ensino
a) Se todo membro da IPPSD fosse assíduo aos trabalhos da igreja tanto quanto como
você, sua igreja conseguiria crescer?
b) Se todo membro da IPPSD fosse dizimista como você, nossa igreja iria crescer?
c) Se todos os membros da IPPSD frequentassem a igreja tanto quanto você
frequenta, você acha que teríamos uma igreja mais forte?
d) Em uma escala de 1 a 10, como você avalia o seu compromisso com a sua igreja
local? Se a sua avaliação não é a nota máxima, por quê?
Aula preparada tomando como base o livro de Rick Warren, Uma Vida com Propósito, Editora
Vida Nova e artigo de autoria de Augustus Nicodemus Lopes, http://tempora-
mores.blogspot.com.br/2014/01/contribuindo-para-o-reino-de-deus.html
97
AULA 20
O DISCIPULO E A EVANGELIZAÇÃO:
QUALIDADES INDISPENSÁVEIS
Texto básico: I Timóteo 3.1-13
Introdução
Como vimos em uma lição anterior, o discípulo deve ter responsabilidades para com a
igreja. Uma delas é o compromisso de compartilhar as boas novas de salvação. Essa é
sem dúvida nossa mais sublime responsabilidade. No entanto, para realizar essa honrosa
missão, precisamos preencher alguns requisitos. Lemos em I Timóteo 3.1-13, as
qualificações que um oficial de igreja deve preencher. Embora não esteja se referindo
diretamente ao evangelista, não devemos ter dúvidas de que as exigências nessa lista
também são exigidas, não apenas do presbítero e diácono, mas de todo aquele que deseja
servir ao Senhor com integridade. Portanto, isso inclui o evangelista.
Deve também chamar nossa atenção nessa lista de exigências que nada é dito sobre a
formação acadêmica ou profissional. As qualificações apontadas por Paulo focalizam o
caráter da pessoa, como alguém aprovado como servo fiel a Deus em lugar das
habilidades administrativas ou capacidades intelectivas.
É o Espírito Santo que capacita Cristo (Mt 3.16; 4.1; Lc 4.1, 16-21), é ele que capacita a
igreja. E foi exatamente sobre isso que Jesus falou quando disse que os discípulos
deveriam ficar em Jerusalém somente até que do alto eles fossem revestidos de poder (Lc
24.49).
Notem bem o ensino bíblico: “não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem
da vontade do homem, mas de Deus." As pessoas são regeneradas, não pela vontade
humana, mas pela vontade de Deus. Essa graça é chamada de irresistível porque é
impossível a um eleito resistir ao chamado do Espírito Santo em seu coração, sendo ela o
único motivo pelo qual alguns pecadores recebem o evangelho e outros não. (Atos 16.14).
Quando estamos evangelizando, devemos fazê-lo confiantes de que Deus, pelo Espírito,
aplicará os méritos de Cristo no coração dos ouvintes. Sobre isso Billy Graham observou:
Quem abriu o coração dela para Jesus? Que ensina a Bíblia? Que o pecador abre o coração
a Jesus, ou que o Senhor que lhe abre o coração? O Espírito Santo tem como função
testemunhar de Cristo e é por isso que se torna inconcebível alguém que tem o Espírito
Santo e sente vergonha em dar testemunho de Cristo (Jo 16.14).
Não precisamos manipular as pessoas para aceitarem Jesus. Não precisamos depender de
técnicas e métodos carnais. Temos uma arma poderosa que é o poder do Espírito através
da Palavra. Devemos pregar a Bíblia com fidelidade e dobrar nossos joelhos em oração e
confiar que Deus vai agir conforme sua soberana vontade.
32 Billy Graham, Por que Lausanne?: In: A Missão da Igreja no Mundo de Hoje, São Paulo/Belo Horizonte, MG.: ABU/Visão
Mundial, 1982, p. 30.
99
preparado para evangelizar. O desejo de Deus é que tornemos o Evangelho atraente para
todos os que vivem a nossa volta. Fazemos isso quando vivemos de forma coerente. Em
Mt. 5.13-16, Jesus ensina que os cristãos, quando desempenham o seu papel de sal da
terra e luz do mundo, fazem com que os ímpios glorifiquem a Deus. Isso quer dizer que
se vivemos em obediência aos mandamentos de Deus, de forma fiel e coerente, as
pessoas verão a beleza em nossa vida, os atos de bondade, a vida diária de integridade
e fidelidade, e a reação deles será a de glorificar a Deus. Os incrédulos podem mudar a
maneira de ver Deus e a igreja, a depender daquilo que eles vêm na vida dos crentes.33
As Escrituras nos ensinam que o Senhor Criador e Soberano do universo (Êx 20:11, At 4:24) é
um Deus santo e justo e que Ele que estabeleceu leis morais pelo qual todos os homens devem
viver. Ao apresentar o evangelho precisamos ensinar às pessoas que Deus responsabiliza os
homens pela sua obediência e desobediência a estas leis.
Na prática evangelística precisamos mostrar às pessoas como elas estão aquém dos padrões
estabelecidos por Deus (Rm 3:23). Os homens quebraram as leis de Deus e por isso se tornaram
culpados (Rm 5.8; I Tm 1.15). É impossível pregar as Boas Novas de salvação sem falar da
gravidade dos nossos pecados.
3º.) É preciso apresentar uma mensagem clara de quem é Jesus Cristo. (Marcos 1.1; Romanos
15.19, I Co 2.1-2)
Se queremos uma evangelização eficaz e sadia, teremos que pregar a mensagem certa. (I Co 15.3-
4). Jesus é a solução, o remédio para o pecado do homem. É preciso pregar quem é Jesus e o que
Ele fez.
4º.) É preciso ensinar que o evangelho é uma mensagem que exige fé e arrependimento.
33
BARRS, Jerram. A Essência da Evangelização. Tradução de Neuza B. da Silva. São
Paulo – SP: Cultura Cristã. p. 52.
34
PACKER, J. I. A Evangelização e a Soberania de Deus. Editora Cultura Cristã,
2002. São Paulo, SP: pp.52-67
100
A salvação não pode ser conquistada por obras ou por tentar cumprir a lei. Esse não é o caminho
proposto por Deus, até porque, ninguém jamais conseguiria cumprir plenamente a lei (Rm 3.10;
Tg 2.10). Ela é um presente de Deus e por isso quem não for salvo pela graça, não será salvo de
maneira alguma.
J. Blanchard afirmou certa vez: “Tentar fazer alguma coisa para Deus sem oração é tão
inútil quanto tentar lançar um satélite com um estilingue”.35 O nosso primeiro passo na
preparação para evangelizar deve nossa humildade diante de Deus. Se assim formos,
teremos que reconhecer quem somos e quem Deus é, e isso nos levará a total dependência
do Senhor.
A oração é sem dúvida por onde devemos começar. É um dos meios pelos quais o crente
cultiva um relacionamento íntimo com Deus. A oração é indispensável na devoção
pessoal. Envolve conversar e ter comunhão com Deus (I Tm 2.1; Lc 6.12; I Ts 5.17). E
esta comunhão com Deus, por meio da oração, tanto nos fortalece e habilita para a
evangelização quanto nos permite apresentarmos primeiro a Deus aqueles a quem
pretendemos evangelizar.
Mas se a oração é tão importante para a evangelização, pelo que nós devemos orar?
a) Devemos orar pela obra do Espírito Santo em nossos amigos (João 14.13;15.5).
Como vimos no ponto anterior, o Espírito Santo pode suavizar um coração duro,
dobrar uma vontade teimosa, abrir uma mente fechada desafiar preconceitos
cristalizados e curar memórias dolorosas (Jr 3.17; 7.24; 11.8; 16.12; 18.12, 2 Co
4:6)
b) Devemos orar para que portas sejam abertas para o Evangelho (Cl 4.3; I Co 16.9).
Paulo, através da oração, buscava uma oportunidade para pregar. Veja o que ele
disse: “Suplicai, ao mesmo tempo, também por nós, para que Deus nos abra porta
à palavra” (Cl 4.3). Para Paulo, a oração é a chave que abre a porta para divulgar
o mistério de Cristo.
c) Devemos orar por coragem (Ef. 6.18-19; At 4.29). Por meio da oração, Paulo nos
ensina que devemos buscar coragem e intrepidez. “Vigiando com toda
perseverança e súplica por todos os santos e também por mim, para que me seja
dado, no abrir da minha boca, a palavra, para com intrepidez, fazer conhecido o
mistério do evangelho” (Ef 6.18,19). Uma vez que o Senhor nos abre a porta, será
necessária coragem para anunciarmos a Cristo.
d) Devemos orar por clareza e sabedoria (Cl 4.6; Is 50.4). Além de oportunidades e
coragem, precisamos também de sabedoria para falar com as pessoas. O apóstolo
35
BLANCHARD, John. Pérolas para a Vida. Editora Vida Nova. SP: 1993. p. 268
101
escreveu: “Nossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para
saberdes como deveis responder a cada um” (Cl 4.6). Paulo desejava sabedoria,
uma linguagem agradável, clara para despertar o interesse dos incrédulos. Vemos
isso na pessoa de Jesus, maravilhando pessoas com palavras de graça que lhe
saíam da boca (Lc 4.22). Temos que ter sabedoria para evangelizar nossos
conhecidos para não magoar a crença deles. Devemos ensinar a verdade de
maneira sábia e não agressiva.
Paulo pediu também para que Deus lhe desse clareza para falar a respeito do
Evangelho. Ele disse: “Para que eu o manifeste, como devo fazer” (Cl. 4.4). É
importante destacar que “Paulo tinha dificuldade em ser claro. Ele não era dos
melhores comunicadores; sabia que precisava de orações e não hesitou em pedi-
las.”36
Usando da analogia da pesca, sabemos que o pescador precisa ser paciente e aguardar que
o peixe morda a isca. Isso pode ser rápido, mas também pode demorar muito. O mesmo
acontece com a pregação do evangelho. Talvez seja por isso que Jesus disse a Pedro e
André: “Sigam-me, e eu farei de vocês pescadores de homens” (Mateus 4.19)
Não temos dúvida. Deus trará seus eleitos à salvação, a despeito da nossa fraqueza. Sua
Palavra não retornará vazia, mas cumprirá o que ele deseja (Is. 55.10-11). Mas Deus tem
o tempo certo para isso. Será no tempo dele. Precisamos ter paciência. Podemos estar
certos de que todos os eleitos serão salvos e a causa de Deus triunfará no final, para a sua
honra e glória. Por isso, tenhamos paciência e perseverança. Paulo despedindo-se dos
presbíteros de Éfeso revela sua perseverança: “...em nada considero a vida preciosa para
mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor
Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus”. (At 20.24).
Conclusão: Finalmente, devemos nos lembrar de que Deus é o Senhor. Como já vimos,
a salvação é um ato exclusivo de Deus (Jn 2.9; 1 Co 1.21; Hb 2.10; 5.9; Tg 4.12). A nós
compete pregar e depender de Deus. Que o Senhor nos abençoe, nos capacitando, pelo
seu Espírito a sermos testemunhas fiéis.
36
Jerram BARRS, A Essência da Evangelização, p. 49.
102
CONCLUSÃO
Que Deus abençoe a cada um de nós na caminhada do discipulado. Nós apenas demos os
primeiros passos.