Sequencias2 PDF
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Uma sequência numérica é uma função real com domínio N que, a cada n associa um
número real an . Os números an são chamados termos da sequência.
É comum indicar uma sequência escrevendo apenas uma lista ordenada de seus termos:
a1 , a2 , a3 , . . . , an , . . .
Também podemos descrever uma sequência por meio da fórmula do termo geral an , quando
houver. Por exemplo, a sequência 1, 21 , 13 , 41 , . . . pode ser representada da forma n1 n ou ainda
an ≤ N, para todo n ≥ 1
1
Ela é limitada inferiormente se existir um número M tal que
M ≤ an , para todo n ≥ 1
Se uma sequência for limitada superior e inferiormente, diremos que ela é uma sequência
limitada.
Exemplos 3.1.1 Alguns exemplos importantes de sequências são estudados já no Ensino Fun-
damental e no Ensino Médio:
• Uma Progressão Aritmética (PA) é uma sequência de números tais que a diferença entre
dois termos consecutivos quaisquer é sempre a mesma. Por exemplo, a sequência 10, 13,
16, 19, . . . é uma PA.
• Uma Progressão Geométrica (PG) é uma sequência de números em que o quociente entre
um termo e seu antecessor é constante. Esse quociente é uma constante não nula chamada
razão. Por exemplo, a sequência 2, 4, 8, 16, 32, . . . é uma progressão geométrica de razão
2. A sequência 1, − 31 , 19 , − 27
1 1
, 81 , . . . é uma PG de razão − 13 . Em geral, uma PG pode ser
escrita na forma
Há muitos aspectos interessantes e fatos importantes sobre as PGs que devem ser ensinados,
para preparar melhor os alunos do ensino médio para muito do que eles terão que enfrentar
no futuro. Por exemplo, usa-se PG para se calcular o valor, depois de n meses, do capital
investido a juros compostos. Também é muito importante saber que se −1 < r < 1, r 6= 0,
a soma dos infinitos termos da PG é finita. Voltaremos a esse assunto quando formos
estudar séries, isto é, somas com infinitas parcelas.
2
• Uma sequência famosa é a Sequência de Fibonacci. Trata-se da sequência cujos dois
primeiros termos são iguais a 1 e, todo número a partir do terceiro termo é a soma dos
dois que o precedem, isto é:
f1 = f2 = 1, e fn = fn−1 + fn−2 , ∀n ≥ 3
Exemplos 3.1.2 Nos exemplos de sequências abaixo, cada sequência está descrita de mais de
uma maneira.
• Na sequência 2 vale que 1 < bn < 2, ∀n (verifique!) e sua imagem é um conjunto infinito
(por que?);
1
veja, por exemplo, https://en.wikipedia.org/wiki/Fibonacci_numbers_in_popular_culture
3
• Na 3, o conjunto imagem tem apenas dois elementos, −1 e 1. A sequência é limitada, já
que −1 ≤ cn ≤ 1, ∀n;
Definição 3.1.3 Dizemos que uma sequência (an )n converge para um número real L se para
qualquer ε > 0, for possível encontrar um índice n0 tal que
b b -
a1 a2 · · ·L − ε an L L+ε
L = lim an ou an −→ L
n
Exemplo 3.1.4 Vamos demonstrar que a sequência n+1 n
converge para 1.
Rascunho: (Nosso objetivo é provar que, dado um número > 0 qualquer, consigo determinar
n
n0 com a propriedade 1 − n+1 < ε, para todo n ≥ n0 . Ou seja, precisamos resolver uma
inequação em n.)
n
Mas 1 − n+1
= n+1−n
n+1
= 1
n+1
< 1
n
e 1
n
< ε ⇐⇒ n > 1ε . Logo, se tomarmos um
natural maior do que 1ε , o problema estará resolvido. Uma última questão é: existe um natural
maior do que 1ε , para qualquer ε dado? A resposta afirmativa é consequência da Propriedade
Arquimediana, vista no capítulo 1.
4
Solução: Seja ε > 0 dado. Pela Propriedade Arquimediana, existe n0 ∈ N tal que n0 > 1ε .
Para todo n > n0 , teremos:
n n + 1 − n
= 1 < 1 < 1 <ε
1 − =
n+1 n+1 n+1 n n0
Observação: Esse exemplo ilustra o fato que, quanto menor o número ε, maior o índice n0
necessário para aproximar o termo an do limite L. Por exemplo, se ε = 10−1 , precisamos
escolher n0 > 10; se ε = 10−2 , precisamos de n0 > 100.
Se para qualquer número M > 0 dado, existir um índice n0 tal que an > M, ∀n > n0 ,
dizemos que a sequência “tende a +∞” e escrevemos lim an = +∞ ou an −→ +∞. É o que
acontece com a sequência 1 do exemplo 3.1.2.
Analogamente, se para cada M > 0 dado, existir n0 ∈ N tal que an < −M, ∀n ≥ n0 ,
escrevemos lim an = −∞. Um exemplo para esse caso é o da sequência 5 em 3.1.2.
Se uma sequência tende a +∞ ou a −∞ ela também é considerada divergente.
5
Proposição 3.1.6 (Propriedades do limite)
Se (an )n e (bn )n são sequências convergentes tais que a = lim an , b = lim bn e se k é um número
real qualquer, então
1
é convergente e lim a1n = 1
(e) se an 6= 0, ∀n e a 6= 0 então a sequência an n a
Demonstração.
(a) Seja ε > 0. (Precisamos encontrar n0 tal que |(an + bn ) − (a + b)| < , para todo n ≥ n0 .)
Por hipótese, como a = lim an , existe n1 ∈ N tal que |an − a| < 2ε , para todo n ≥ n1 .
Analogamente, como b = lim bn , existe n2 ∈ N tal que |bn − b| < 2ε , para todo n ≥ n2 .
(b) Exercício.
(c) Exercício.
(d) (Rascunho: precisamos provar que, a partir de algum índice n0 , |an bn − ab| se torna tão
pequeno quanto se queira, sabendo que |an −a| e |bn −b| podem ser escolhidos tão pequenos
quanto quisermos. Um dos problemas é relacionar |an bn − ab| com as diferenças |an − a| e
|bn − b|. O que fazer? Uma ideia pode ser a seguinte:
6
Pronto: conseguimos relacionar a diferença an bn − ab com as diferenças |an − a| e |bn − b|.
Agora basta finalizar alguns detalhes.)
√
Solução. Seja ε > 0. Existem índices n1 e n2 tais que |an − a| < ε, ∀n ≥ n1 e
√
|bn − b| < ε, ∀n ≥ n2 . Logo, para todo n ≥ max{n1 , n2 }, temos |(an − a)(bn − b)| < ε.
(e) (Rascunho: precisamos provar que, a partir de algum índice n0 , a1n − a1 se torna tão
pequeno quanto se queira, sabendo que |an − a| pode ser tão pequeno quanto quisermos.
Façamos algumas contas para ver como é possível relacionar essas desigualdades:
− 1 = |a − an |
1
an a |a an |
b b -
|a| |a|
0 2
|an | |a| 3 2
|a|
Como lim an = a, existe n1 tal que |a − an | < para todo n ≥ n1 . Com isso, é
2
|a|
possível provar (exercício) que |an | > , ∀n ≥ n1 . (Veja a figura acima.) Portanto
2
7
|a| a2
|an | |a| > |a| = , para todo n ≥ n1 . Essa foi a parte difícil! Vamos então escrever a
2 2
|{z}
M
demonstração formal.
|a|
|an | > , ∀n ≥ n1 (∗)
2
A seguir, enunciamos alguns resultados bastante úteis para o cálculo de limites de sequên-
cias.
Proposição 3.1.7 Seja f uma função real, definida em um intervalo da forma [K, +∞[ e su-
ponha que exista lim f (x) = L. Se an = f (n), para todo n ∈ N, então
x→+∞
lim an = L
(figura copiada da página 695 do livro Calculus: early transcendentals, de James Stewart, 4a. ed.)
Demonstração. Exercício.
8
ln n
Exemplo 3.1.8 Calcule lim
n
Solução. Observe que tanto o numerador quanto o denominador tendem a +∞ quando n cresce. Mas
não podemos usar a regra de L’Hôspital para calcular o limite da sequência, já que não tem sentido usar
ln x
derivadas neste contexto. Entretanto, podemos considerar a função f (x) = , definida no intervalo
x
[1, +∞[.
ln n
É claro que an = = f (n). Usando a regra de L’Hôspital para f , podemos agora calcular
n
1
ln x
lim f (x) = lim = lim x = 0
x→+∞ x→+∞ x x→+∞ 1
ln n
Logo, pela proposição 3.1.7, podemos concluir que lim = 0.
n
Proposição 3.1.9 Se lim an = L e se f é uma função contínua em L, então o limite de f (an ) existe e
1
Exemplo 3.1.10 Calcule lim sen n
Solução. A função seno é contínua em todos os pontos. Em particular, é contínua em 0, que é o limite
da sequência dada por an = n1 . Assim, a proposição 3.1.9 nos permite concluir:
1 1
lim sen = sen lim = sen 0 = 0
n n
Proposição 3.1.11 (Teorema do confronto) Sejam (an ), (bn ), e (cn ) três sequências tais que an ≤
bn ≤ cn . Suponha que lim an = L = lim cn . Então a sequência (bn ) converge e seu limite é L.
2n
Exemplo 3.1.12 Calcule lim
nn 3
2 22 23 2
Solução. Para n = 1, temos a1 = = 2; se n = 2, temos a2 = 2 = 1; se n = 3, temos a3 = 3 = ;
1 2 3 3
4
2 2 n−1
n−1
2 2
a4 = , e assim por diante. Notamos que an = e que, para n ≥ 3, < 1.
4 n n n
Portanto, para n ≥ 3, vale:
2
0 ≤ an ≤
n
2 2n
Como lim = 0, pela proposição 3.1.11, concluímos que lim n = 0.
n n
9
Exemplo 3.1.13 Um exemplo importante, cujo resultado será útil mais adiante, é a sequência dada
√
por an = n n. Vamos provar que seu limite é 1.
Solução. Uma maneira de provar é por meio da proposição 3.1.7, calculando o limite, para
1
x → +∞ da função f (x) = x x , x > 1, e é deixada como exercício.
Vamos mostrar uma maneira direta de provar que o limite da sequência é 1. Inicialmente notamos
√ √ √
que a2 = 2, a3 = 3 3, . . . , n n, . . . são todos números maiores do que 1. (Por quê?)
√
Logo, podemos escrever n n = 1 + hn , para algum hn > 0. Assim,
n(n − 1) 2 n(n − 1) 2
n = (1 + hn )n = 1 + nhn + hn + · · · + hnn > hn
2 2
1
Exemplos 3.1.15 (a) A sequência é decrescente pois, como 2n + 5 < 2(n + 1) + 5, temos
2n + 5 n
1 1
> , para todo n ∈ N
2n + 5 2(n + 1) + 5
(−1)n
(b) A sequência dada por an = 2 + não é monótona. De fato, os primeiros termos dessa
n
sequência são 2 − 1, 2 + 12 , 2 − 31 , 2 + 14 , ...
1 1
De um modo geral, se n é ímpar, temos an = 2 − n < 2+ n+1 = an+1 ; se n é par, temos
1 1
an = 2 + n >2− n+1 = an+1 .
10
Demonstração. Faremos a demonstração supondo a sequência crescente e limitada superiormente. A
demonstração do caso de sequência decrescente e limitada inferiormente é análoga e fica como exercício.
Por hipótese, a1 ≤ a2 ≤ · · · an ≤ · · · e existe uma constante M tal que an ≤ M , para todo n.
Seja A = {a1 , a2 , · · · , an · · · } o conjunto de todos os valores da sequência. Então A é não vazio e
limitado superiormente (por M ). Portanto, pelo axioma do supremo, existe um número real s = sup A.
Vamos provar que lim an = s.
Seja ε > 0. Pela definição de supremo, an ≤ s para todo n. Além disso, existe um elemento an0
em A tal que s − ε < an0 ≤ s (caso contrário, o supremo seria menor do que s − ε).
Como a sequência é não-decrescente, para todo n ≥ n0 vale an0 ≤ an . Mas an ≤ s.
Portanto, para todo n ≥ n0 , vale s − ε < an ≤ s < s + ε, ou seja, |s − an | < ε.
r r -
s−ε an0 an s s+ε
Observando esses números, percebemos que eles estão aumentando, mas cada vez mais devagar.
Será a sequência crescente? Será limitada?
• Vamos provar, por indução, que a sequência é crescente, isto é, que an ≤ an+1 para todo n. A
desigualdade vale para n = 1 pois a1 = 1 < 2 = a2 .
Suponhamos ak−1 ≤ ak para algum k. Como os termos da sequência são todos positivos, temos:
1 1
≥
ak−1 ak
1 1
⇒ − ≤ −
ak−1 ak
1 1
⇒3− ≤ 3−
ak−1 ak
11
Portanto,
ak ≤ ak+1
Assim, pelo Princípio de Indução Finita, podemos concluir que an ≤ an+1 para todo n.
• Vamos provar, também por indução, que a sequência é limitada, mostrando que
Sendo crescente e limitada, o teorema 3.1.16 nos garante que (an ) converge para algum número
L. Mas o teorema não nos conta qual é o valor do limite. Entretanto, sabemos que existe L = lim an e
que L 6= 0 (por quê?). Isso nos permite calcular o seguinte:
1 1 1
lim an+1 = lim 3 − = 3 − lim =3−
an an lim an
Como an converge para L, é claro que an+1 também converge para L. Portanto, termos:
1
L=3−
L
√ √
3+ 5 3− 5
A última equação é equivalente a L2 − 3L + 1 = 0, cujas raízes são e .
2 2
Como todos os termos da sequência
√ são maiores do que 1, seu limite necessariamente é maior
3− 5
ou igual a 1. Portanto, a raiz ≈ 0, 38 não pode ser o limite. Dessa forma, concluímos que
2
√
3+ 5
L=
2
12
Exercícios 3.1.18 1. Determine se a sequência (an ) dada é convergente ou divergente. Se for
convergente, calcule seu limite:
1 − n + 2n4 √ √ 1
a) an = b) an = n+5− n c) an = sen
2 + 3n4 √ n
sen n n n
d) an = e) an = √ f) an = √
n 3+ n 3+ n
g) an = ne−n h) an = arctg n i) an = cos(n3 ) 2−n
n! 7n+1 n2
j) an = l) an = m) an = n
(n + 2)! 10n e
2. Se (an )n é uma sequência convergente tal que an ≥ 1 para todo n, mostre que lim an ≥ 1.
5. Seja f uma função contínua e seja x um ponto qualquer de seu domínio. Defina a sequência
a1 = x, a2 = f (x), a3 = f (a2 ), . . . an+1 = f (an ). Mostre que se lim an = L então f (L) = L. (Por
esse motivo, o número L é chamado ponto fixo de f .)
6. Encontre uma aproximação com 5 casas decimais para a solução da equação cos x = x. Sugestão:
Use o exercício anterior tomando f (x) = cos x e a = 1.
2
Exercício extraído do livro [5]
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Referências Bibliográficas
[1] Geraldo Ávila. Análise Matemática para Licenciatura. Edgard Blucher Ltda, 3 edition, 2006.
[2] Djairo Guedes de Figueiredo. Análise I. Livros Técnicos e Científicos S.A., 1975.
[4] Walter Rudin. Princípios de Análise Matemática. Ed. Ao Livro Técnico S.A., 1971.
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