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Danielle Euzébio Heinen

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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS

UNIDADE ACADÊMICA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
NÍVEL MESTRADO

DANIELLE EUZÉBIO HEINEN

TÉCNICA, MATERIALIDADE E FENOMENOLOGIA:


ESTUDO DE CASO NO MUSEU IBERÊ CAMARGO EM PORTO ALEGRE

São Leopoldo
2016
DANIELLE EUZÉBIO HEINEN

TÉCNICA, MATERIALIDADE E FENOMENOLOGIA:


ESTUDO DE CASO NO MUSEU IBERÊ CAMARGO EM PORTO ALEGRE

Dissertação apresentada como requisito parcial


para a obtenção do título de Mestre, pelo
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e
Urbanismo da Universidade do Vale do Rio dos
Sinos – UNISINOS
Área de concentração:

Orientadora: Profª. Dra. Roberta Krahe


Edelweiss

São Leopoldo
2016
H468t Heinen, Danielle Euzébio
Técnica, materialidade e fenomenologia : estudo de caso no
Museu Iberê Camargo em Porto Alegre / por Danielle Euzébio
Heinen – 2016.
150 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (mestrado) — Universidade do Vale do Rio


dos Sinos, Programa de Pós-graduação em Arquitetura e
Urbanismo, São Leopoldo, RS, 2016.

“Orientadora: Profª. Dra. Roberta Krahe Edelweiss.”

1. Arquitetura e tecnologia. 2. Materialidade. 3. Fenomenologia.


4. Camargo, Iberê I. Título.

CDU: 72.036

Catalogação na Publicação:
Bibliotecário Alessandro Dietrich - CRB 10/2338
A todas as pessoas que, igual a mim, enxergam
a verdadeira essência da arquitetura expressiva
que causa impacto, emoção e sensibilidade no
ser humano.
AGRADECIMENTOS

Ao meu marido Jardel Heinen, por todo apoio, compreensão e inúmeras xícaras
de café.
Aos meus pais, Nina e Sebastião Euzébio, pelo incentivo e amor incondicional.
À minha amiga Alice Dauber, por todo suporte, dedicação e companheirismo
inclusive nas horas da madrugada.
À minha orientadora Professora Doutora Roberta Krahe Edelweiss que
incentivou e apoiou a minha pesquisa.
À UNISINOS e seus professores que me ensinaram toda a base da arquitetura
e me desafiaram a seguir em frente.
RESUMO

A arquitetura é uma arte, para ser utilizada por pessoas, e consiste em deslumbrar,
transmitir sensações e recordações. Vai muito além do aspecto de funcionalidade e
não se resume em construção de paredes. No entanto, a tecnologia está
continuamente evoluindo, acarretando transformações e exigências na vida
profissional, e um dos requisitos da contratação de um arquiteto é a execução e
finalização do trabalho, o mais rápido possível. Deste modo, esta aceleração vem se
refletindo na qualidade do projeto de arquitetura, a isto se soma a ansiedade do cliente
para receber o projeto arquitetônico. O objetivo geral desta pesquisa é a percepção,
a partir do ponto de vista dos três pilares da arquitetura: técnica, materialidade e
fenomenologia, e sua aplicação no projeto, desenvolvido por Álvaro Siza, na
Fundação Iberê Camargo. Os objetivos específicos buscam: verificar as relações
entre a técnica, a materialidade e a fenomenologia no Museu Iberê Camargo em Porto
Alegre, como caso exemplar; evidenciar a importância do estudo detalhado da
conexão entre os três pilares da arquitetura, como ferramenta para uma criação
capacitada a provocar efeitos sobre os usuários; apresentar através de uma pesquisa,
por amostragem, a percepção do usuário em relação à edificação do Museu Iberê
Camargo em Porto Alegre. A metodologia escolhida foi o estudo de caso e, a partir
dos dados coletados, por diferentes vias: pesquisa bibliográfica, questionários e
observação in loco, são discutidos e analisados. O resultado é uma contemplação
sensorial que reforça a tríade projetual da arquitetura: a técnica, a materialidade, e a
fenomenologia; sem deixar de observar o quanto os efeitos da evolução tecnológica
auxiliam no processo e desenvolvimento do projeto.

Palavras-chave: Arquitetura. Tecnologia. Materialidade. Fenomenologia. Iberê


Camargo.
ABSTRACT

Architecture is an art, to be used by people, and entails provoking delight and


transmitting sensations and remembrances. It extends far beyond the aspect of
functionality and is not confined to the building of walls. However, technology is
continuously evolving, bringing about changes and requirements in professional life,
and one of the requirements of an architect is to execute and complete the job as
quickly as possible. This acceleration is reflected in the quality of the architectural
design, and added to this is the client's anxiousness to receive the architectural design.
The overall objective of this research is perception, from the point of view of the three
pillars of architecture: technique, materiality and phenomenology, and their application
in the design, done by Álvaro Siza, and execution of the Iberê Camargo Foundation.
The specific objectives seek to: determine the relationships between technique,
materiality and phenomenology in the Iberê Camargo Museum in Porto Alegre, as an
exemplary case; demonstrate the importance of a detailed study of the connection
between the three pillars of architecture, as a tool for a creation that is able to cause
impacts on users; present through a survey, via sampling, the perception of users in
relation to the Iberê Camargo Museum building in Porto Alegre. The methodology
chosen was the case study and through the data collected by different means –
literature review, questionnaires and on-site observation –the impacts are discussed
and analyzed. The result is a sensorial contemplation that strengthens the projectual
triad of architecture: technique, materiality, and phenomenology; while also observing
how the effects of technological progress aid in the design development process.

Keywords: Architecture; Technology; Materiality; Phenomenology; Iberê Camargo.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Enxergar com as mãos e boca. .................................................................. 15


Figura 2: De olhos fechados, é possível se descobrir um mundo surpreendente de
cheiros, texturas, temperaturas, sons e sabores acentuados. .................................. 17
Figura 3: Esquema do Curso Preliminar da Bauhaus. .............................................. 23
Figura 4: Tríade Vitruviana. ....................................................................................... 26
Figura 5: O quaterno contemporâneo ....................................................................... 27
Figura 6: Metodologia de projeto. .............................................................................. 28
Figura 7: Contexto ..................................................................................................... 30
Figura 8: Projeto de Louis Kahn - Esherick House. ................................................... 35
Figura 9: Filmes em que o espelho é o protagonista................................................. 38
Figura 10: Olhos da edificação. ................................................................................. 39
Figura 11: Palheta de cores ...................................................................................... 41
Figura 12: O Modulor ................................................................................................ 46
Figura 13: Homem Vitruviano. ................................................................................... 49
Figura 14: Sentir a arquitetura reforça a sensação de pertencer ao mundo. ............ 50
Figura 15: Casa da Cascata, a natureza entre a arquitetura. .................................... 51
Figura 16: A arquitetura é o real, o existente, é tudo que se pode tocar. .................. 53
Figura 17: Os cinco sentidos humanos ..................................................................... 58
Figura 18: O sentido da audição. .............................................................................. 59
Figura 19: O sentido do olfato. .................................................................................. 61
Figura 20: A maçaneta da porta é o aperto de mãos da edificação. ......................... 62
Figura 21: As mãos nos ajudam a imaginar. ............................................................. 63
Figura 22: O sentido do paladar. ............................................................................... 64
Figura 23: Olhares..................................................................................................... 65
Figura 24: Ambiente desenvolvido para o cliente utilizando 3ds max. ...................... 67
Figura 25: Iberê e esposa Maria Coussirat Camargo ................................................ 78
Figura 26: Miséria 1 de 1987 ..................................................................................... 79
Figura 27: Fantasmagoria IV, 1987 ........................................................................... 80
Figura 28: Artista gaúcho que morreu em 1994 ........................................................ 81
Figura 29: O arquiteto Álvaro Siza ............................................................................ 82
Figura 30: Casa de Chá da Boa Nova ....................................................................... 84
Figura 31: Faculdade de Arquitetura da Universidade de Porto ................................ 85
Figura 32: Igreja de Santa Maria, Portugal. ............................................................... 86
Figura 33: Pavilhão da Expo 98 ................................................................................ 87
Figura 34: Fachada principal do Museu Iberê Camargo ........................................... 95
Figura 35: Vista aérea da Fundação ......................................................................... 97
Figura 36: Vista topo da FIC e seu entorno. .............................................................. 98
Figura 37: SESC Pompéia x Fundação Iberê Camargo. ........................................... 99
Figura 38: Interior da FIC ........................................................................................ 101
Figura 39: Peitoril de mármore ................................................................................ 102
Figura 40: A paisagem torna-se mais uma obra de arte a ser contemplada pelos
visitantes. ................................................................................................................ 102
Figura 41: Aberturas em posições estratégicas despertam a curiosidade dos
visitantes. ................................................................................................................ 103
Figura 42: Croquis de Siza para o edifício Iberê Camargo ...................................... 104
Figura 43: Lanternim ............................................................................................... 106
Figura 44: Rasgos para a entrada de ar condicionado............................................ 107
Figura 45: Vista do espaço-café do Museu Iberê Camargo. ................................... 108
Figura 46: Implantação. ........................................................................................... 109
Figura 47: Os três pavimentos de exposição. ......................................................... 111
Figura 48: Entrada principal da sede, pátio e subsolo............................................. 112
Figura 49: Grandes aberturas direcionadas para as pequenas áreas do exterior. .. 113
Figura 50: Estacionamento do museu. .................................................................... 114
Figura 51: Átrio de acesso ao museu. ..................................................................... 114
Figura 52: Átrio a céu aberto, demarcado pelas passarelas em balanço. ............... 115
Figura 53: Assento de madeira ............................................................................... 116
Figura 54: Túnel de circulação com abertura zenital. .............................................. 117
Figura 55: Tríade Projetual ...................................................................................... 124
LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Estrutura Curricular da escola Bauhaus. .................................................. 25


Quadro 2: Visão geral – Elementos, sistemas e organizações ................................. 31
Quadro 3: Ordem arquitetônica ................................................................................. 32
Quadro 4: Vantagens e Desvantagens das questões ............................................... 73
Quadro 5: Questionário para o Museu Iberê Camargo ............................................. 73
Quadro 6: A influência da edificação nas obras expostas ......................................... 92
Quadro 7: Um projeto arquitetônico de qualidade é ... .............................................. 93
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11
2 ARQUITETURA PARA OS SENTIDOS ................................................................. 15
2.1 Arquitetura e Técnica ........................................................................................ 18
2.1.1 Termos significativos para a compreensão da técnica ..................................... 21
2.1.2 Visão geral de elementos, sistemas e organizações básicas........................... 29
2.2 Arquitetura e Materialidade .............................................................................. 32
2.3 Arquitetura e Fenomenologia........................................................................... 43
2.3.1 O homem como unidade de medida ................................................................ 46
2.3.2 Os sentidos como forma de percepção da arquitetura ..................................... 58
2.4 A arquitetura e a Virtualidade........................................................................... 66
3 PERCURSO METODOLÓGICO ............................................................................ 70
3.1 Tipo de Pesquisa ............................................................................................... 70
3.2 Coleta de Dados Utilizada................................................................................. 71
3.2.1 Pesquisa Bibliográfica ...................................................................................... 72
3.2.2 Questionário ..................................................................................................... 72
3.2.3 Observação direta ............................................................................................ 74
3.3 O objeto de estudo ............................................................................................ 75
3.4 Análise de Dados .............................................................................................. 75
3.5 Limitações.......................................................................................................... 76
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO ...................................................................................... 77
4.1 Da pessoa ao Museu: um pouco de Iberê Camargo....................................... 77
4.2 O Arquiteto e alguns de seus projetos ............................................................ 82
4.3 Um olhar de visitante para o Museu Iberê Camargo ...................................... 88
4.4 Técnica, materialidade e fenomenologia no Museu Iberê Camargo ............. 93
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 122
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 127
ANEXO 1: PLANTA SUBSOLO, ESTACIONAMENTO ABAIXO DA AVENIDA E
PLANTA PRIMEIRO PAVIMENTO ......................................................................... 139
ANEXO 2: PLANTA SEGUNDO E TERCEIRO PAVIMENTO ................................ 140
ANEXO 3: PLANTA QUARTO PAVIMENTO E PLANTA COBERTURA............... 141
ANEXO 4: CORTE TRANSVERSAL E LONGITUDINAL ....................................... 142
ANEXO 5: INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS E SISTEMA DE AR
CONDICIONADO .................................................................................................... 143
ANEXO 6: ARMAÇÃO DAS PAREDES E CONCRETAGEM DA LAJE ................ 144
ANEXO 7: EXECUÇÃO DAS PAREDES ............................................................... 145
ANEXO 8: CONCRETAGEM DAS RAMPAS E BASE DA ESQUADRIA .............. 146
ANEXO 9: ARMADURAS PAREDES, LAJE E RAMPA EXTERNA ...................... 147
ANEXO 10: PERFIS METÁLICOS E ÁTRIO APÓS CONCRETAGEM ................. 148
ANEXO 11: REVISTIMENTO DAS SALAS COM LÃ DE ROCHA ......................... 149
ANEXO 12: COLOCAÇÃO DE GESSO E SAÍDAS DE AR CONDICIONADO ...... 150
11

1 INTRODUÇÃO

A arquitetura inspira e transforma o cenário, urbano ou rural, antigo ou novo. O


simples ato de abrir uma porta ou janela e descortinar o mundo possibilita
experimentar o novo, despertar os sentidos. Uma janela não é apenas uma fenda na
parede para que entre a luminosidade ou para observar o tempo (chuva, frio, sol,
calor). Na concepção da arquitetura planejar, escolher materiais, pensar na posição
solar, entre outros, faz com que esta janela seja um quadro para o mundo externo.
Com esta visão, este estudo busca entrever o Museu Iberê Camargo com os olhos e
os demais sentidos.
Na concepção de Calvino (1990) vive-se em uma era da predominância da
imagem, na qual os meios de comunicação priorizam nas notícias a demonstração de
imagens, deixando em segundo plano o conteúdo de textos. O sentido da visão vem
liderando graças ao grande número de invenções tecnológicas que ponderam o uso
da imagem de maneira excessiva. O autor denomina esta condição experimental de
“chuva infinita de imagens”. O acelerado progresso da tecnologia de imagem
modificou a maneira de experienciar e comunicar com o mundo. Simultaneamente, a
primazia da imagem demonstra claramente seus impactos negativos.
Kearney (2003) sugere que a realidade transformou-se em uma reflexão
inexpressiva da imagem, pois é antecipada e representada pela mesma. No dia a dia,
constantemente a realidade é substituída e dominada pela imagem, nas práticas
comerciais e políticas, sendo então, muitas vezes, impossível de distinguir o real e o
imaginário.
Com o acelerado processo da globalização, a arquitetura pode deixar de
provocar impacto expressivo no usuário, quando se trata de uma experiência
sensorial, pois a exigência da aceleração dos projetos, que ocorre já no momento da
contratação cliente-arquiteto, fica evidenciada pela pressa e ansiedade que estão
definindo os clientes atuais. A partir desta necessidade, a estandardização e a
substituição do adorno pela produção industrial, possibilita a rapidez tão esperada
pelo cliente. Nas palavras da autora Malard:

A arquitetura parece, hoje, procurar o seu tempo. A utopia de um


socialismo internacional cedeu lugar à globalização capitalista. As
transações financeiras virtuais prescindem do espaço real. O tráfego
na internet sofre silenciosos e invisíveis congestionamentos, deixando
as pessoas desoladas e os lugares vazios, à mercê das
12

transgressões. As pessoas se comunicam muito mais e com maior


frequência, mas quase não se veem e nem se falam. A sociedade da
informação é algo que começamos a viver e que precisamos entender.
Não sabemos como ela se espacializa, se é que ela se espacializa. A
arquitetura não sabe mais o que ela vai mediar, pois ainda não criamos
as formas que podem mediar as relações virtuais, se é que elas podem
ser criadas. [...] No mundo globalizado, as diferenças abissais entre
países ricos e pobres não permite mais o florescimento de um estilo
internacional. O concreto, o aço, o vidro, a cerâmica eram materiais
acessíveis à França, à Índia, ao Brasil e aos países africanos onde o
suíço Corbusier deixou suas marcas indeléveis. O que dizer das
chapas de titânio, das cortinas de cristal, das fibras de carbono e das
ligas leves? Diante da estupefação que nos causam as maravilhas da
tecnologia, criamos formas desespacializadas, mimetizando um
mundo virtual onde o espaço não mais importa. Nesse processo, o
espaço de nossa experiência, o espaço vivido, é substituído por
alegorias computadorizadas, primas irmãs dos simulacros do Século
XIX. Espero que, como aqueles, estejam prenunciando uma nova
ordem arquitetônica, que dará fim ao delírio e lugar para um mundo
melhor. (MALARD, 2006, p. 129).

A tecnologia é uma das responsáveis por essa mudança, pois um processo


acelera o outro, provocando uma revolução na quantidade de informações. Com a era
da tecnologia avançada, acredita-se em ganhar tempo, mas a sensação é de que 24
horas não são mais suficientes para realizar todas as tarefas diárias. Nesse sentido,
o planeta fica caracterizado pelo consumo exagerado, pela universalização, pela
economia mundial e comunicação acelerada, e, constantemente, os seres humanos
estão expostos por incontáveis conteúdos visuais. (PALLASMAA, 2013).
Neste mesmo entendimento, Nóbrega (2012) afirma que nas últimas décadas,
a arquitetura passou por notáveis mudanças, resultantes do uso da tecnologia e de
computadores. São consideráveis e visíveis os aspectos positivos proporcionados,
com a atribuição da tecnologia na arquitetura, o potencial de armazenamento de
dados e informações, a agilidade e qualidade do processo projetual, representações
hiper-realistas de projetos, entre outras inúmeras novas possibilidades tecnológicas,
entretanto, estas mesmas facilidades adquiridas a partir das ferramentas digitais,
parecem estar padronizando a arquitetura, sobretudo no que diz respeito ao emprego
dos materiais e soluções construtivas. Uma razão pela qual a arquitetura fundamenta-
se em valores de estandardização e pré-fabricação, é o desenvolvimento de respostas
e soluções mais rápidas e quem sabe, eficientes em função da grande demanda da
sociedade contemporânea.
13

É importante ressaltar que, não é o propósito da pesquisa, alertar que a


tecnologia pode ser prejudicial aos seres humanos, e suas consequências, para a
arquitetura, possam ser negativas, mas sim, propor uma discussão entrelaçando a
arquitetura e a tecnologia. Esta característica dual da tecnologia, em proporcionar
aspectos favoráveis como: otimização do tempo, redução de custos, facilitação de
processos e informações, entre outras vantagens, contribuem no dia a dia do
profissional projetista, e consequentemente, também aos seus usuários. Ao mesmo
tempo, as inovações tecnológicas apresentam aspectos desfavoráveis, quando o
assunto é relacionado à aceleração na arquitetura e o processo de estandardização.
O concreto é um dos materiais mais utilizados nesta era tecnológica do novo
milênio. De acordo com Carlos Eduardo Comas (2008, p. 123) existem três tipos de
transparência do concreto: a) fenomenal: os corpos se interpenetram; b) literal: mais
comum; c) conceitual: que possui valor estético. Nesse sentido:

Nenhuma dessas transparências se associa ao Museu da Fundação


Iberê Camargo de Álvaro Siza. De fato, sua opacidade intriga ou
contraria muita gente e algum arquiteto. Dada a frente para o rio e o
crepúsculo famoso, não falta quem reclame que uma vez mais a
cidade deu as costas par ao Guaíba, ignorando a demanda de paredes
para exposição no terreno pequeno e a demanda de minimizar a
radiação ultravioleta sobre as obras de arte, o ofuscamento e o ganho
térmico, mais o ruído intenso da avenida. (COMAS. GIUSTINA.
CALOVI, 2008, p. 123)

Nasce então, a motivação pelo resgate dos conceitos de técnica, materialidade


e fenomenologia como ferramenta projetual e de compreensão do espaço habitado.
Nesse sentido, com o intuito de aperfeiçoamento do presente tema focalizado na
arquitetura, torna-se fundamental, o aprendizado aprimorado destes conceitos. A
arquitetura contemporânea pode proporcionar uma experiência fenomenológica,
como se comprova no exemplo do Iberê. Nesse sentido, a industrialização da
arquitetura moderna e a estandardização de processos servem como contraponto em
relação à fenomenologia, que é o que se busca analisar nesta pesquisa.
Este estudo tem como objetivo geral a verificação, a partir do ponto de vista
dos três pilares da arquitetura: técnica, materialidade e fenomenologia, e sua
aplicação no projeto, desenvolvido por Álvaro Siza, e executado na Fundação Iberê
Camargo. Destacam-se, também, os objetivos específicos que buscam: verificar as
relações entre a técnica, a materialidade e a fenomenologia no Museu Iberê Camargo
14

em Porto Alegre, como caso exemplar; evidenciar a importância do estudo detalhado


da conexão entre os três pilares da arquitetura, como ferramenta para uma criação
capacitada a provocar efeitos sobre os usuários; apresentar através de uma pesquisa,
por amostragem, a percepção do usuário em relação à edificação do Museu Iberê
Camargo em Porto Alegre.
A dissertação divide-se em 5 (cinco) capítulos, sendo o primeiro a introdução.
O segundo capítulo busca os aportes teóricos necessários para o entendimento e
explicação dos conceitos a serem investigados e analisados, quais sejam: a técnica,
a materialidade e a fenomenologia. Além disso, investiga a forma como a tecnologia
interfere na arquitetura atual. O capítulo três traça o percurso metodológico da
pesquisa, apresentando o estudo de caso como método escolhido.
No quarto capítulo são apresentados e discutidos os dados coletados no
decorrer da pesquisa. Em um primeiro momento é feito um resgate da pessoa Iberê
Camargo, sua relevância como artista e após a sua morte, e a criação de uma sede
própria para a Fundação Iberê Camargo. No decorrer do capítulo, apresenta-se a
trajetória do arquiteto responsável pela construção do Museu Iberê Camargo,
localizada em Porto Alegre/RS. Na sequência, através da pesquisa por amostragem,
realizada em 2015, buscou-se identificar o olhar dos visitantes e suas percepções em
relação ao projeto arquitetônico do Museu. Por fim, a partir da matriz conceitual, são
analisados os conceitos de técnica, materialidade e fenomenologia no Museu. As
considerações finais encerram a pesquisa, trazendo uma síntese sobre uma nova
possibilidade, a tríade projetual utilizando como cenário de análise o edifício da
Fundação Iberê Camargo.
15

2 ARQUITETURA PARA OS SENTIDOS

Com a hegemonia da imagem, a visão se torna mais significativa e os demais


sentidos são desvalorizados, gerando um desperdício sensório, direcionando, muitas
vezes, para o que é visível, apenas. Porém não se pode considerar apenas a visão,
ela não é tudo, pois na escuridão, este sentido possui outro significado. Pessoas com
deficiência visual não enxergam com os olhos, e sim com as mãos, ouvidos, nariz,
boca, enxergam com o corpo todo. Entretanto, não é preciso perder a visão para
perceber a importância dos demais sentidos e trazer à tona esse mundo de
sensações, tais como: tato, olfato, paladar.
A visão é um dos sentidos fundamentais na percepção da paisagem, entretanto
os demais sentidos, quando utilizados, proporcionam experiências instigantes.
Perceber a paisagem com todos os sentidos humanos pode ser um grande desafio,
mas fascinante e enriquecedor. (VALENTINI, 2012). “O visível é o que se apreende
com os olhos, o sensível é o que se apreende com os sentidos.” (MERLEAU-PONTY,
2011, p.28)

Figura 1: Enxergar com as mãos e boca.

Fonte: Pinterest (2016a, 2016b)

Assim, com o crescimento populacional, percebe-se o aumento da demanda


na construção civil, levando então a urbanização das cidades, o que
16

consequentemente, diminui o contato da população com a natureza, podendo ser este


um dos motivos causadores da privação sensorial. Um exemplo disto é o fato de não
mais se escutar o canto dos pássaros em meio ao barulho dos grandes centros
(carros, máquinas, etc.). Da mesma forma, não é mais possível sentir a suavidade do
ar fresco ou até mesmo contemplar as estrelas porque as luzes da cidade ofuscam o
brilho das mesmas. (APROBATO FILHO, 2008).
Demonstrando sinergia, o rapper, cantor e compositor brasileiro Valter Araújo,
mais conhecido pelo seu nome artístico Slim Rimografia, contribui, de acordo com o
que já foi mencionado anteriormente, com trecho da sua música: “Novos Tempos”

Em meio ao barulho de carros, motores e celulares em todos os


lugares na grande selva de edifícios é quase impossível ouvir o pulsar
do coração do ser humano que hoje vive sem caminho nem direção,
escravo do seu ego e da sua própria vaidade que confunde
necessidade com ostentação. Pois o que ontem era suficiente hoje é
pouco demais mesmo que tenha o que sonhou isso não mais te
satisfaz amar é tolice e bom sinônimo de burrice quem foi que disse
que o amor existe hoje em dia? Pois a minha poesia se perdeu entre
as linhas do caderno onde escrevo os desamores desse mundo
moderno onde não vivo e apenas sobrevivo, em meio ao barulho de
carros e construções de prédios velhos concretos, sem por nem brilho
e sentimento onde pássaros não pousam mais em árvores, sim,
sacadas de mármores fazem seus ninhos em monumentos de
concreto, ferro e cimento, novos tempos. (RIMOGRAFIA, 2016, s.p.)

A arquitetura é muito mais do que simples paredes de alvenaria para ser


pensada e elaborada de ontem para hoje. É necessário tempo, envolvimento e muita
dedicação para a elaboração da arquitetura expressiva e sensorial, como na poesia,
pois: “um verdadeiro poema é aquele que faz o cabelo arrepiar, os olhos lacrimejarem,
a garganta secar, a pele formigar e um calafrio descer pelas costas.” (GRAVES, 2003,
p.24).
A arquitetura expressiva busca causar impacto, emoção e sensibilidade no ser
humano, e vai muito além de ser apenas admirada. Desta forma, subentende-se que
para a maioria das pessoas, quando o assunto está relacionado à arquitetura,
imediatamente imagina-se a ligação com a casca, a plástica, a máscara do edifício,
ou seja, basicamente o sentido da visão prevalece. Porém, a arquitetura não está
apenas interligada a questão visual, precisa, também, estar conectada às
experiências sensoriais.
17

Ao fechar os olhos, é possível se libertar e encontrar um mundo surpreendente


com temperaturas, texturas, sons e cheiros, que possibilitam as percepções
sinestésicas. Com os olhos fechados, a audição torna-se aguçada e intensa, como
pode ser observado nas imagens a seguir (Figura 2). “As frutas ganham textura,
consistência, temperatura, peso, perfume e sabor acentuado; a pele adquire maciez,
o céu nublado comunica mudança de umidade e traz a perspectiva de vento e chuva;
as letras impressas tem cheiro, o papel ganha espessura.” (VALENTINI, 2012, p.2).

Figura 2: De olhos fechados, é possível se descobrir um mundo surpreendente de cheiros,


texturas, temperaturas, sons e sabores acentuados.

FONTE: Pinterest (2016c, 2016d)

De acordo com um dos mais importantes pesquisadores no campo da


percepção visual, o psicólogo americano James J. Gibson (1966) afirma que é através
dos sentidos que os seres humanos traduzem as sensações. Nesse contexto, o verbo
sentir possui dois significados: perceber alguma coisa; e ter uma sensação. No
momento em que os sentidos são considerados sistemas perceptivos, utiliza-se o
primeiro significado, no caso o de detectar algo.
18

Conforme Valentini (2012) o psicólogo Gibson (1904-1979) relacionou cinco


sentidos e os definiu como sistemas perceptivos, capazes de detectar informações
sem a intervenção de processos intelectuais: sistema visual, sistema auditivo, sistema
paladar/olfato, sistema básico de orientação e sistema háptico. Definiu também os
sistemas: básico de orientação e háptico, como os mais importantes no campo da
arquitetura, para facilitar o entendimento da tridimensionalidade.
Segundo Zumthor (2006) quando a compatibilidade entre o ser humano e o
espaço arquitetônico é atingida com sucesso, é possível afirmar a existência do
conceito de atmosfera, que expressa forças afetivas de sentimento, experiências
sensoriais, adquiridas a partir da relação, corpo humano e espaço. O que não se pode
permitir é que a aceleração do dia a dia influencie no planejamento do projeto.
Evidencia-se, então, a importância de elaboração do projeto, pois a arquitetura é a
arte para ser utilizada e sentida pelos seres humanos, sendo assim, imprescindível a
criação da arquitetura que transmita sensações, provoque emoções e traga boas
recordações.
O processo de percepção da paisagem urbana suplica por pausa e cautela,
pois o ritmo acelerado das cidades contraria e muitas vezes impossibilita a captação
de sensações. (VALENTINI, 2012). Por outro lado, é preciso estar consciente de que
a forma, a escala, a qualidade, a proporção, a permanência no tempo, os sentimentos,
a luz, as texturas, as cores, a emoção e a arquitetura, estão diretamente ligados aos
materiais e as técnicas de construção utilizadas. (MÁS LLORENS e MERÍ DE LA
MAZA, 2003. p.29).

2.1 Arquitetura e Técnica

A técnica é a habilidade humana de produzir, construir e usar instrumentos. A


questão da técnica sempre esteve relacionada à arquitetura, pois desde a origem
humana, o homem tem a necessidade de se proteger das intempéries da natureza,
utilizando a técnica para construir sua moradia. (NAKANISHI, 2007). Conforme a
descrição encontrada no dicionário visual de arquitetura, o termo técnica é um:

Método ou processo para se alcançar uma determinada meta ou


cumprir determinada tarefa, como aquele empregado por um artista
19

que exibe um alto nível de mestria ou domínio das regras


fundamentais. (CHING, 2006, p.163).

Percebe-se o quão abrangente é o significado desta palavra, sendo utilizada


em inúmeras áreas e incontáveis tópicos. Por isso é importante salientar que nesta
dissertação a palavra técnica será apenas relacionada ao domínio da arquitetura – a
técnica relativa às inúmeras maneiras em que um edifício pode ser proposto – desde
a metodologia projetual, que envolve inúmeros aspectos como: técnicos/construtivos,
funcionais, formais/estéticos, locais, legais e de sustentabilidade, até os sistemas
construtivos, que compreendem todos os métodos para a execução completa da obra.
Nesse sentido, se confirma, cada vez mais, a infinidade de técnicas disponíveis,
mesmo sendo apenas referidas à arquitetura.

Sem dúvida a trilogia técnica, tecnologia e tectônica são inimagináveis


por fora da arquitetura, se bem que a primeira compete por seu caráter
genérico e onipresente desde o nascimento do homem, razão pela
qual a filosofia a tomou entre suas mãos, a tecnologia ou lógica da
técnica já é propriedade dos saberes particulares e ainda mais os
especializados, com suas rotinas e automatismos próprios da era
moderna o que para muitos oclui o acesso a criatividade restando
possibilidades a arquitetura, finalmente a tectônica é o mais próprio e
especifico da arquitetura, desde suas raízes linguistas até seu peso
marcando a arquitetura pela sua materialidade e a maneira em que
esta nos provoca sensações que a percepção decodifica conforme os
imaginários dominantes de materiais nobres e não tão nobres, quentes
e frios, etc. etc. (SARQUIS, 2012, p.10).

E por se tratar de um termo tão abrangente, principalmente falando em


arquitetura, serão apresentadas, no decorrer deste subcapítulo, de maneira sucinta,
algumas das principais técnicas utilizadas na concepção de obras arquitetônicas. O
afastamento existente entre os profissionais arquitetos e as questões técnicas, é uma
realidade, e de acordo com os historiadores, declaram ter sido ainda iniciada no
período do Renascimento, acarretando críticas pelos arquitetos modernistas no início
do século XX, e até hoje procede afetando a imagem da profissão.
O arquiteto é quem determina as diretrizes, volumetria e materialidade da
edificação. Suas atividades estão diretamente relacionadas aos índices de impacto
ambiental, economia, conforto, durabilidade e funcionalidade da construção. Em vista
disso, evidencia-se a importância do conhecimento de domínio técnico. (NAKANISHI,
2007). Para Benévolo (1989) a separação entre projeto e execução começou na
20

Renascença, quando o projetista designou para si todas as definições projetuais,


deixando aos outros apenas a concretização material do edifício.

Representar os ideais platônicos de beleza passa a ser prioridade, em


detrimento da ritualística do culto. A dimensão tecnológica é invocada
para reafirmar a centralidade do templo e erigir as majestosas cúpulas
que marcarão a sua presença. O arquiteto se afasta do canteiro de
obras e se constitui no mestre do desenho, o mago das aparências.
(MALARD, 2006, p. 130).

Nesse sentido, entende-se que o arquiteto resguardou o lado artístico e se


afastou da parte técnica e construtiva, originando a duplicidade de competências, que
ainda na atualidade é expressa por dois profissionais, arquiteto e engenheiro.
Ademais, o arquiteto Marcelo Accioly Fragelli (FRAGELLI, 1982 apud NAKANISHI,
2007) afirma que a falta de conhecimento e domínio da técnica podem delimitar a
capacidade de expressão do arquiteto, e de modo inconveniente, o desenvolvimento
de obras frágeis e vulneráveis ao envelhecimento precoce e às intempéries.
A Revolução Industrial (1760-1830) transformou as técnicas construtivas. Os
materiais tradicionais: a pedra, tijolo e madeira passaram a ser utilizados
racionalmente, e surgiram novos materiais no setor como ferro, vidro e,
posteriormente, o concreto armado. Os avanços científicos e tecnológicos permitiram
a possível análise da resistência dos materiais, e ainda, passaram a ser utilizados de
maneira otimizada. (LOPES, 2009).
Desde a civilização da antiguidade, há mais de quatro mil anos, a preocupação
com a estrutura organizacional das obras, já estava presente na etapa projetual.
Alguns arquitetos procuravam aprimorar seus conhecimentos a respeito das técnicas
construtivas das edificações. Períodos como a antiguidade em Roma, Renascença e
a Revolução industrial na Europa demonstraram a importância das inovações
tecnológicas para o então desenvolvimento das novas técnicas construtivas. Os
avanços atingidos como o concreto, na idade antiga, e o ferro no século XIX, foram
essenciais para a nova linguagem arquitetônica das respectivas épocas. (FERREIRA,
2012).
A técnica é um fator determinante na percepção da edificação para os usuários,
sendo imprescindível a especialização e compreensão plena dos arquitetos na
utilização de cada uma das técnicas atribuídas em seus projetos. Na concepção de
21

Gregotti (2010, p. 169) a técnica consiste na capacidade de utilização da mesma para


dar consistência à obra, significando-a.

2.1.1 Termos significativos para a compreensão da técnica

A partir dos conceitos elaborados por Sabbatini (1989, s.p.) “a técnica


construtiva: é um conjunto de operações empregadas por um particular ofício para
produzir parte de uma construção.” Assim sendo, as técnicas construtivas, a título de
exemplo são – erguer uma parede de alvenaria; montar fôrmas de madeira para
moldar vigas de concreto; instalar esquadrias; pintar portas e janelas; fixar a estrutura
da cobertura; assentar pisos cerâmicos; embutir canalizações elétricas e hidráulicas,
e assim por diante. O agrupamento de todas estas técnicas, e inúmeras outras, é
compreendido como a técnica construtiva de uma edificação.

O método construtivo: é um conjunto de técnicas construtivas


interdependentes e adequadamente organizadas, empregado na
construção de uma parte (subsistema ou elemento) de uma edificação.
(SABBATINI, 1989, s.p.).

A descrição deste método possibilita o entendimento de que o método


construtivo é dependente da técnica, uma vez que um determinado conjunto de
específicas técnicas construtivas e a forma de relação entre elas determinam um
método construtivo. Nesse sentido, ao falar de um particular processo, como o método
construtivo para execução de estrutura reticulada em concreto armado, é o mesmo
que estar se referindo a um conjunto metódico de técnicas específicas, que se inter-
relacionam e possuem uma determinada sequência e organização para a execução
do método, para, então, obter-se a concepção da respectiva estrutura reticulada.

O processo construtivo: é um organizado e bem definido modo de


se construir um edifício. Um específico processo construtivo
caracteriza-se pelo seu particular conjunto de métodos utilizados na
construção da estrutura e das vedações do edifício (invólucro).
(SABBATINI, 1989, s.p.).

Um processo construtivo, geralmente, é caracterizado pelos métodos aplicados


na execução dos elementos fundamentais da edificação, dos quais se definem a forma
e a volumetria, que materializam o edifício. Portanto, os processos construtivos
caracterizam-se pelos métodos empregados na execução da estrutura e das
22

vedações tanto verticais quanto horizontais. Como exemplo observa-se o processo


construtivo de alvenaria estrutural, com a utilização de blocos cerâmicos, que tem uma
específica e bem definida forma de executar a estrutura e vedações de uma
edificação, com a aplicação de paredes de alvenaria resistentes.
O conjunto destes termos particulares submete a técnica ao método e este ao
processo. Os três conceitos correspondem às maneiras de se produzir uma obra; são
aplicados para representar a transformação de objetos de uma etapa para outra; e
todos possuem determinada quantidade de elementos que compõem um todo com o
desígnio de produzir. Contudo, cada um destes termos possui a sua própria e distinta
conceituação, em razão de representarem conjuntos de atividades com diferentes
condições de complexidade organizacional, progressivamente da técnica para o
processo.

O sistema construtivo: é um processo construtivo de elevados níveis


de industrialização e de organização, constituído por um conjunto de
elementos e componentes inter-relacionados e completamente
integrados pelo processo. (SABBATINI, 1989, s.p.).

O vocábulo sistema tem origem na palavra grega systema, que significa


“combinar”, “formar um conjunto”, sendo o termo sistema de uso comum e com
diversos sentidos. No Brasil, é frequente a utilização do conceito “sistema de
construção” para mencionar as inúmeras maneiras de se construir, transformando-se
em um sinônimo de técnica, método e processo construtivo. (FERREIRA, 2012).
Apesar das conceituações, apresentadas pelo engenheiro Sabbatini (1989),
técnicas, métodos, processos e sistemas construtivos, estarem intimamente
interligadas em prol da corrente produtiva da construção, possuem diferenças
significativas, tal como a hierarquia entre os termos, iniciando da técnica até o sistema
construtivo. Assim, de modo breve, o termo técnica está relacionado à atividade de
realizar uma determinada parte da obra, como erguer uma parede e instalar uma
banheira, por exemplo. Sua aplicação se restringe a uma parte delimitada do conjunto
da obra.
Já o método construtivo agrupa um conjunto de técnicas para assim executar
por completo um elemento da construção, como uma estrutura de concreto armado.
Já o processo construtivo envolve todos os métodos construtivos para executar uma
edificação. Enfim, o sistema construtivo, da mesma forma que o processo construtivo,
23

abrange todos os métodos para a execução completa da obra, diferenciando-se na


maneira como são elaboradas as três partes que envolvem a corrente produtiva:
produção dos elementos construtivos, desenvolvimento projetual e execução da obra,
pois no sistema construtivo estas três etapas são bem definidas em suas formas de
execução, além de apresentarem um processo consideravelmente industrializado. É
possível entender que “a técnica é uma destreza destinada a uma finalidade prática.”
(SARQUIS, 2012, p.21).
Sobre o processo de projetar, a atividade projetual é constituída por um
conjunto de etapas que tem por objetivo desenvolver e proporcionar respostas aos
problemas apresentados. É um processo conduzido por uma ordem, na qual se
apoiam cada uma destas etapas, sendo a metodologia projetual a responsável pela
orientação de todos os procedimentos de projeto. (LAWSON, 2006).
A Bauhaus1 (1919-1933), escola de design, artes plásticas e arquitetura,
fundada na cidade alemã Weimar, foi uma das maiores influências e revelações do
design moderno. A escola, dirigida pelo mestre Walter Gropius, priorizava o estudo
dos materiais e das novas tecnologias, demonstrando maior interesse na exploração
da forma e de inúmeros materiais, como: madeira, aço, vidro e metais.
Afirma-se que a beleza da forma arquitetônica, nasce a partir da união dos
materiais como o concreto, o vidro e o aço (FERREIRA, 2012). A Figura 3, a seguir,
demonstra as questões abordadas no decorrer do curso da escola, em que é possível
perceber a intensa preocupação com o estudo da percepção, dos materiais e técnicas
construtivas.

Figura 3: Esquema do Curso Preliminar da Bauhaus.

1 Bauhaus – Escola de artes e ofícios fundada em Weimar, Alemanha, em 1919, por Walter Gropius,
transferida para Dessau em 1926 e fechada em 1933 em consequência da hostilidade nazista. Os
conceitos e ideias desenvolvidos na Bauhaus caracterizavam-se principalmente pela síntese entre
tecnologia, ofícios e estética do desenho, com uma ênfase no desenho funcional na arquitetura e nas
artes aplicadas. (BAUHAUS, 2016)
24

Fonte: ARKITEKTURBO (2016)

Uma das mais importantes características da escola Bauhaus é a relevância do


estudo dos materiais. O conhecimento minucioso de suas propriedades, alternativas
plásticas e construtivas, era analisado em projetos de inúmeros produtos, desde
luminárias de mesa às edificações. A Bauhaus se tornou uma referência até os dias
de hoje em diversas áreas da arte, design e arquitetura.
A Bauhaus marcou um período importante na história da arquitetura
racionalista, em virtude dos seus estudos relacionados às formas e técnicas
construtivas. Os principais temas abordados na escola foram: o uso dos materiais; os
avanços tecnológicos; a metodologia de projeto, fundamentada na transformação do
problema a ser resolvido através de um método previamente definido – a forma segue
a função, famosa frase pronunciada e intercedida pelo arquiteto Louis Sullivan.
(BERDINI, 1996).
A Bauhaus formulou uma nova possibilidade de qualificar os materiais,
mesclando a produção industrial com uma produtividade estética magnífica, no
entanto sem ornamentos, a beleza estava na própria decorrência da forma funcional
e não em elementos sem função. A ideia da escola era conciliar a exploração dos
25

materiais com a originalidade exclusiva de produção artística de cada estudante. De


acordo com Argan (2005) o ensino era estruturado em três estágios:

Quadro 1: Estrutura Curricular da escola Bauhaus.


ESTRUTURA CURRICULAR - BAUHAUS
Teoria elementar da forma.
Curso Preliminar Experimentos sobre materiais em laboratório.
Pedra: escultura; madeira: marcenaria; metal: metais; terra:
cerâmica; vidro: vidraças; cor: pintura mural; tecidos: tecelagem.
Exercícios de laboratório:
Ensino Técnico a) Materiais e os instrumentos de trabalho;
b) Elementos de contabilidade, cálculo de preços.
Observação:
a) Estudo da natureza;
b) Análise dos materiais.
Representação:
a) Geometria descritiva;
Ensino Formal b) Teoria das construções;
c) Desenhos de projetos e construção de projetos.
Composição:
a) Teoria do espaço;
b) Teoria da cor;
c) Teoria da composição.
Fonte: Elaborado pela pesquisadora a partir de ARGAN (2005).

O primeiro estágio dos estudos, o curso preliminar, era um curso preparatório,


no qual o estudante compreendia os conceitos básicos relacionados à forma e aos
materiais, as informações básicas e necessárias para compreender a propagação das
ideias, projetos e execuções. O equilíbrio entre: vivência, experiências formais e
técnicas era uma composição consideravelmente fundamental nos estudos da escola.
O segundo estágio, o ensino técnico, era desenvolvido nos laboratórios, que
compreendia um grupo de variados materiais, que estavam diretamente introduzidos
aos estudos teóricos e seus respectivos instrumentos de trabalho. E por fim, no
terceiro estágio, o ensino formal, salientavam-se os estudos da forma, a partir de
observações da natureza, experiência vivencial, representações – teoria de projeções,
técnicas construtivas, desenhos e moldes para toda e qualquer construção –
composições do espaço e da cor. (ARGAN, 2005).
Analisando a estrutura curricular da escola, é possível perceber que os alunos
estavam em constante aperfeiçoamento, baseando-se tanto em lições teóricas quanto
práticas até o final do curso. Outro personagem bastante influente da arquitetura
moderna foi o arquiteto Le Corbusier, no qual seus princípios eram baseados na
racionalidade e funcionalidade, essencialmente, que acabou por influenciar de forma
26

considerável o mundo inteiro. Criador dos cinco pontos da arquitetura moderna –


pilotis, planta livre, terraço-jardim, fachada livre e janelas em fita – eram os elementos
básicos em sua própria metodologia de projeto. Conectado a esta antologia
construtiva, o arquiteto priorizava o uso racional dos materiais, técnicas construtivas
econômicas, formas arquitetônicas suaves e sem ornamentos. (FERREIRA, 2012).
Afirmava Vitrúvio, há 2.000 (dois mil) anos atrás: "em toda construção deve-se
levar em conta sua solidez, sua utilidade e sua beleza". (MAHFUZ, 2003, p.4). No
século XVIII, arquitetura de qualidade seria a que demonstrasse equilíbrio entre os
três elementos da tríade vitruviana: firmitas (solidez/estrutura); utilitas
(utilidade/funcional) e venustas (estética/beleza). O componente estético da tríade,
em tempos pré-modernos, encontrava-se centrado nas relações de proporção e
aplicação das ordens clássicas no exterior dos edifícios. No século XIX, adiciona-se a
este pensamento um novo julgamento da condição arquitetônica.

Figura 4: Tríade Vitruviana.

Fonte: 5Pontas (2016)

Para que uma edificação fosse considerada de qualidade, era preciso


manifestar-se a partir de sua configuração compositiva adequada, ou seja, com
suporte em sua organização formal e espacial. O caráter adequado, associado aos
aspectos arquitetônicos, expressivos e simbólicos, tanto dependia de sua
27

materialidade como de seus aspectos compositivos, além de sua relação com o


entorno. (MAHFUZ, 2003).
Remodelando essas interpretações, Mahfuz (2003, p.4) sugere uma
redefinição dos aspectos fundamentais da arquitetura, por intermédio:

De um quaterno composto por três condições internas ao problema


projetual (programa, lugar e construção) e uma condição externa, o
repertório de estruturas formais que fornece os meios de sintetizar na
forma as outras três. Enquanto a busca da beleza estava no centro
das preocupações arquitetônicas, até recentemente, o quaterno
contemporâneo tem como foco a forma pertinente. (MAHFUZ, 2003,
p.4).

Figura 5: O quaterno contemporâneo

Fonte: Mahfuz, (2003, p. 5).

Ao iniciar um projeto arquitetônico é preciso levar em consideração


determinados fatores, tais como: o propósito da edificação; recursos disponíveis,
iluminação mais adequada, proposta sustentável, entre outros. Nesse sentido alguns
aspectos são fundamentais e sugere-se que sejam considerados na metodologia de
projeto. Há aqueles aspectos que sempre estão presentes e há outros que são
incorporadas conforme a necessidade.
28

Segundo Malard (2006), um dos pontos positivos da arquitetura moderna foi a


conciliação da arquitetura com a materialidade, já que suas formas são resultantes a
partir dos materiais, técnicas e preceitos de composição disponíveis desta época.
Todavia, não foram todos os arquitetos desta geração que seguiram esta premissa, e
optaram pela escolha de materiais incorporados ao contexto geográfico do projeto. A
Figura 6 a seguir representa alguns aspectos básicos geralmente incorporados aos
projetos arquitetônicos, de acordo com os conceitos de Martínez (2000) e Mahfuz
(2003).

Figura 6: Metodologia de projeto.

ASPECTOS
TÉCNICOS/
CONSTRUTIVOS

ASPECTOS ASPECTOS
LEGAIS FUNCIONAIS

PROBLEMA

ASPECTOS
ASPECTOS LOCAIS FORMAIS/
ESTÉTICOS

ASPECTOS DE
SUSTENTABILIDADE

Fonte: Elaborado pela pesquisadora a partir de MARTÍNEZ (2000) e MAHFUZ (2003).

Os arquitetos Le Corbusier, Walter Gropius e outros, do período da arquitetura


moderna racionalista, utilizavam como embasamento metodológico projetual a defesa
de uma proposta teórica, associada aos andamentos históricos da época, sendo uma
das ferramentas de projeto, a ligação direta com a materialidade e as técnicas
construtivas, para então exercerem a profissão de arquiteto. O estudo aprofundado
da materialidade e suas possíveis combinações e possibilidades era um ponto
29

substancial para o projeto, pois de nada adiantaria projetar edificações eficientes e


surpreendentes se não existissem meios de construí-la. As indústrias precisavam
acompanhar estas novas ambições e ideias construtivas, vinculando as novas
oportunidades arquitetônicas aos novos materiais. (FERREIRA, 2012).
O arquiteto Le Corbusier (2014) anunciou em seu livro Por uma Arquitetura, a
substituição dos materiais naturais pelos artificiais, visto que os naturais não
proporcionam a precisão comportamental como os industrializados, devido as suas
características diversificáveis e heterogêneas. Para o arquiteto Frank Lloyd Wright a
arquitetura teria de ser orgânica, isto é, possuir unidade, totalidade e integração, por
intermédio da utilização de materiais locais e formas naturais. (LOPES, 2009).

2.1.2 Visão geral de elementos, sistemas e organizações básicas

A arquitetura normalmente é projetada – desenvolvida – corporificada em


feedback à um agrupado de circunstâncias ou problemas existentes. Estas
circunstâncias podem ser de organização funcional, ou até mesmo retratar, em níveis
variados, a atmosfera social, política e econômica. A prática de fazer arquitetura, por
conseguinte, organiza uma ordem de soluções de problemas ou de projeto. O início
de qualquer projeto se dá a partir do diagnóstico de uma condição problemática e a
determinação em se descobrir uma resposta para esta. Necessita, então, o arquiteto
primeiramente documentar as condições problemáticas existentes, determinar seu
contexto, levantar dados cruciais para apropriar-se de novas informações, analisar e
assimilar minuciosamente os fatos detectados.
Como arte, a arquitetura, é mais do que contentamento de exigências
meramente funcionais de planejamento construtivo. Basicamente, a arquitetura
acomoda a atividade humana. E a organização das formas e espaço contribui para a
maneira que a arquitetura promove iniciativas, traz respostas e comunica significados.
Portanto, possivelmente é mais apropriado que o profissional arquiteto reconheça os
elementos básicos de forma e espaço, e entenda como os mesmos podem ser
manipulados no desenvolvimento projetual, antes de dedicar sua atenção para o
sentido da arquitetura. (CHING, 2008).
De acordo com Ching (2008) uma obra de arquitetura é composta por
elementos, sistemas e organizações básicas. No qual estes componentes podem ser
apreendidos e experimentados, alguns são espontaneamente perceptíveis, enquanto
30

outros se apresentam misteriosamente ao intelecto e sentidos. Alguns são


predominantes, outros exercem um papel secundário na organização de uma
edificação. De qualquer maneira, estes componentes devem estar inter-relacionados
para constituírem um todo integrado que contenha uma estrutura unificadora e
harmônica, como se observa na Figura 7.

Figura 7: Contexto

Fonte: Ching, (2008, p. XI)

Para Ching (2008) a arquitetura é vivenciada através do movimento no espaço-


tempo, utilizando a tecnologia, acomodando um programa, compatível com seu
contexto. (CHING, 2008, p. X). A seguir será apresentada a visão geral dos
elementos, sistemas e organizações básicas, proposta pelo autor, de acordo com o
quadro 2.
31

Quadro 2: Visão geral – Elementos, sistemas e organizações

COMPONENTES DESCRIÇÃO

ESPAÇO / ESTRUTURA Padrão, relações, hierarquia organizacionais;


DELIMITAÇÃO Imagem formal e definição espacial;
Qualidades de formato, cor, textura, escala, proporção;
Qualidades de superfícies, arestas e aberturas.

MOVIMENTO NO ESPAÇO- Acesso e entrada;


TEMPO Configuração da via de acesso;
Sequência de espaços;
Luz, vista, toque, audição e olfato.

TECNOLOGIA Estrutura e delimitação;


Proteção e conforto ambiental;
Saúde, segurança e bem-estar;
Durabilidade.

Exigências, necessidades e aspirações do usuário;


PROGRAMA Fatores socioculturais;
Fatores econômicos;
Restrições legais;
Tradição e antecedentes históricos.

Terreno e meio ambiente;


CONTEXTO Clima: sol, vento, temperatura, precipitação;
Geografia: solos, topografia, vegetação, água;
Características sensoriais e culturais do local.

Fonte: Elaborado pela pesquisadora a partir de CHING (2008).

Quando a junção dos sistemas arquitetônicos torna visível a sua inter-relação


com cada um deles e com a estrutura como um todo, é criada a ordem arquitetônica.
No momento em que estas relações são vistas de forma, a contribuir reciprocamente,
para a natureza singular2 do todo, cria-se uma ordem conceitual. Esta ordem pode vir
a ser mais perdurável do que as visões perceptivas passageiras. (CHING, 2008).

2 Natureza Singular: Termo utilizado pelo autor Francis D. K. Ching, para expressar a unificação de
diversos fatores que compõem a estrutura do edifício.
32

Quadro 3: Ordem arquitetônica

ORDEM CONCEITO

É a percepção sensorial e compreensão dos elementos físicos ao


experimentá-los de modo sequencial no tempo.
ORDENS PERCEPTIVAS - Vias de acesso e saída;
- Entrada e saída;
- Movimento através da ordem dos espaços;
- Funcionamento dos espaços e atividades dentro destes;
- Qualidade de luz, cor, textura, vista e som.

É a compreensão das relações entre os elementos e sistemas da


edificação, que estimulam, evocam e trazem à tona significados.
ORDENS CONCEITUAIS - Imagens;
- Padrões;
- Sinais;
- Símbolos.

Fonte: Elaborado pela pesquisadora a partir de CHING (2008).

2.2 Arquitetura e Materialidade

Para dar início a este subcapítulo, considerou-se fundamental a demonstração


do significado elementar dos seguintes termos: “Matéria – Que ocupa espaço, que
pode ser percebido pelos sentidos e constitui a substância de um corpo físico”.
(CHING, 2006, p.189); “Material – matéria com qualidades específicas com base nas
quais é possível classificá-la”. (CHING, 2006, p.189).
Existe uma diferença significativa entre matéria-prima e matéria. O primeiro
termo submete-se somente às características físicas e químicas, enquanto que o
segundo está encarregado de aspectos geográficos, históricos, tecnológicos e
econômicos. Esta diferença pode ser ilustrada, por exemplo, com o tijolo, além do seu
tamanho, cor, resistência, peso, o fato de expor uma história, e suas possibilidades
construtivas. O material é tudo aquilo com que o arquiteto se defronta e tudo que se
dispõe como alternativas para a inspiração e concepção de um novo objeto. (LOPES,
2009). Reforçando este pensamento as palavras de Sarquis (2012, p. 22): “a
arquitetura acredite-se ou não, se faz com matéria, os edifícios se fazem com
materiais.”
Na história da arquitetura é possível identificar inúmeras obras arquitetônicas
que manifestaram a carga formal do material construtivo, assim como a pedra na
33

antiguidade clássica, o concreto de pozolana3 na execução da cúpula do Pantheon


em Roma, o ferro e o vidro no século XIX, e o concreto armado na arquitetura
modernista. (LOPES, 2009). Os materiais construtivos são normalmente classificados
pela sua forma de obtenção: naturais, como argila ou brita, ou a partir de um
tratamento industrial, modificados em sua composição e estrutura, como os tubos de
PVC e placas cerâmicas. Além disso, são organizados de acordo com sua
composição: básicos, como areia e cal, resultantes de um único material, ou
compostos, como o concreto, argamassa ou ligas metálicas, resultantes da fusão de
dois ou mais materiais. (KLOSS, 1991).
O uso excessivo de determinados materiais em cada período da história, como
o concreto na arquitetura moderna, conforme comentado anteriormente, é muito mais
que uma simples escolha, é uma convenção de sugestões, de estilos e tendências,
no qual cada época se caracteriza de acordo com a maneira que estava diretamente
ligada aos materiais, e suas particularidades em explorá-los. Portanto, é conveniente
a compreensão das possibilidades técnicas de cada um dos materiais, apartados ou
agregados a outros, assim como, a verificação na forma peculiar de aplicação, sendo
geralmente nesta fase em que acontecem os lapsos das construções e subsequentes
complicações do edifício. (MOREIRA, 2011). O conhecimento das propriedades dos
materiais possibilita um melhor entendimento para sua utilização, tanto na fase inicial
de projeto, bem como para evitar problemas posteriores de manifestações
patológicas4.
Com o desenvolvimento de materiais inovadores, nas últimas décadas, como
os compostos robustos com fibras de alta resistência, de vidro, carbono e com a
variabilidade dos polímeros, apareceram novas possibilidades de materiais nas
construções. E com isso, a dificuldade para empregá-los, uma vez que a falta de
informação a respeito dos mesmos, referente a durabilidade, resistência e técnicas de
aplicação, é comum para os profissionais que os utilizam. (FERREIRA, 2012).

3 POZOLANA: É um composto que possui sílica reativa, que quando finamente moído e em contato
com cal atua como ligante hidráulico, confere ao cimento uma maior impermeabilidade, possibilitando
a sua aplicação e melhorando a sua performance em ambientes úmidos e subterrâneos.
(TERMINOLOGIAS ARQUITETÔNICAS)
4 MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS: são doenças expostas nas construções, consequências das

falhas e dos sistemas de degradação das edificações. O surgimento de patologias em edificações


sugere a existência de uma ou mais falhas, seja durante a construção ou no próprio sistema de controle
de qualidade. (APRENDIZ DE ENGENHARIA)
34

Cada material construtivo utilizado na arquitetura possui suas características


distintas de elasticidade, rigidez e durabilidade, além de possuírem uma força máxima,
da qual não podem ser distendidos sem que se rachem, quebrem ou desmoronem.
Todos os materiais possuem proporções racionais que são especificadas pelas suas
próprias forças e fraquezas.
O tijolo, por exemplo, é resistente à compressão e sua austeridade depende de
sua massa. Caracterizando-o por um material volumétrico em termos de forma. Já o
aço, é um material resistente tanto à compressão quanto a tração, sendo possível
moldá-lo em forma de colunas e vigas lineares, bem como em chapas planas. A
madeira, material maleável e flexível, também pode ser utilizada em colunas e vigas
lineares, tábuas planas e na constituição volumétrica de cabanas rústicas. (CHING,
2008).
As possibilidades técnicas dos materiais estão associadas ao seu desempenho
físico e configurações em termos de proporções, tal como estandardizações,
propriedades físicas, resistência, durabilidade, adequação e trabalhabilidade. O
conhecimento de cada uma destas características técnicas contribui para o domínio e
compreensão dos tópicos que abrangem os materiais construtivos: forma de
exposição, aplicação e performance. Quanto maior a especialização no campo dos
materiais, mais vantajosos, favoráveis e auspiciosos serão os experimentos e
exploração da materialidade nas obras arquitetônicas. (FERREIRA, 2012).
Se ao experimentar a arquitetura, se concorda com as limitações de desenhos,
simulações por computadores e representações em escala reduzida, prontamente, a
arquitetura necessita ser edificada de modo a ser vivenciada plenamente, isto é, a
arquitetura precisa ser formada através de materiais específicos. No momento em que
está se elaborando um projeto arquitetônico, desde a fase inicial, a preocupação com
a escolha dos materiais a serem usados deve estar presente, principalmente, falando-
se sobre os materiais que irão influenciar na organização espacial e estética do
edifício. Em níveis variados os materiais que contemplam uma edificação são
importantes no raciocínio arquitetônico. (BRAWNE, 2003).
A maneira que a exploração da materialidade se revela em obras
arquitetônicas, está intensamente associada às características peculiares de projetar
de cada arquiteto, o que de fato, é fruto de sua história e experiências de vida, sendo
difícil estipular um parâmetro. Assim, na produção arquitetônica, existem vários
35

exemplos de práticas, na qual a materialidade tem papel fundamental na sua


concepção.
A exemplo disso, cita-se o arquiteto, naturalizado americano, Louis Kahn (1901-
1974), que, de acordo com Ferreira (2012), foi um dos grandes nomes da arquitetura
mundial, e utilizava a exploração da materialidade como sua principal diretriz projetual,
conforme a Figura 8. A partir da combinação entre diferentes materiais, como o
concreto com a madeira, a pedra, o vidro e o ladrilho, mesclando texturas, cores,
formas e luzes, surgindo assim, ambientes excepcionais e capacitados a provocar
efeitos sobre os usuários.

Figura 8: Projeto de Louis Kahn - Esherick House.

Fonte: Spikol (2012).

Seguindo esta mesma diretriz na elaboração de projeto, o arquiteto Zumthor


(2006), afirma que a junção dos materiais, em quantidades corretas, vibra e irradia o
ambiente, criando uma energia atmosférica. Como outro exemplo, menciona-se o
arquiteto português, Álvaro Siza, que demonstra esta valorização pela materialidade
em suas obras. “A matéria é o inconsciente da forma [...]. Somente a matéria pode se
encher de múltiplas impressões e sentimentos”. (BACHELARD, 1999, p.50)
36

Existe um mundo de princípio imaterial, opiniões e aspirações humanas, e


também o universo da matéria, com quantidades e propriedades do mundo físico. Há
a experiência com os dois mundos que compõem a particularidade existencial: um no
histórico e incessante da consciência e emoções humanas, outro no mundo da
materialidade e manifestações físicas. A missão da arquitetura e das demais artes é
coordenar e mostrar “como o mundo nos toca e como tocamos nosso mundo”.
(MERLEAU-PONTY, 1964, p.12)
A realidade que interessa e para qual se conduz a imaginação, é a realidade
do habitar, da arquitetura concreta. Nesse sentido, a realidade dos materiais, que
necessitam de aprofundamento em suas características, buscam possíveis
qualidades, capazes de estimular e sensibilizar o ser humano, para impulsionar a
realização de uma obra impactante. (ZUMTHOR, 2009). Em entrevista, realizada pela
revista italiana Casabella, o arquiteto Peter Zumthor afirma que no centro da
arquitetura existe um vazio. O arquiteto não pode criar um vazio, e sim desenhar suas
fronteiras e delimitações, é assim que o vazio vem à vida, proporcionando atmosferas
fascinantes entre os limites da matéria. Escolher os materiais e delimitar as fronteiras
do vazio é uma das tarefas do profissional arquiteto. (STEC, 2004).
A materialidade do edifício permite maior aproximação do homem com a
arquitetura, pois a escolha meticulosa dos materiais é capaz de motivar à
intensificação dos sentidos corpóreos. Um espaço “vazio cheio de atmosfera que tem
por limite a materialidade da arquitetura”. (CABERTI, 2013, p. 48). De acordo com
Pallasmaa (2011) o padrão contemporâneo das construções, caracterizado pela
superficialidade, é reforçado por um senso enfraquecido da materialidade. O autor
afirma que a utilização dos materiais naturais na construção, pedra, tijolo e madeira,
permitem a convicção da existência verdadeira da matéria. “Os materiais naturais
expressam sua idade e história, além de nos contar suas origens e seu histórico de
uso pelos humanos”. (PALLASMAA, 2011, p.30).
Conforme Brawne (2003) a escolha dos materiais geralmente é definida com
base em sua resistência à mudança ou por suas características evidentes sobre
tempo. O desgaste do material construtivo natural oferece experimentações
surpreendentes do tempo. Um exemplo disto é a Estátua da Liberdade revestida por
uma fina camada de cobre com aproximadamente 2mm de espessura, hoje, com
quase cento e trinta anos, representa um marco histórico através de seu material e
significado. Originalmente a estátua apresentava uma coloração bronze, entretanto,
37

devido a uma série de reações químicas, também denominada pátina5, ao longo das
décadas a sua cor transformou-se em verde.
Os materiais e as superfícies possuem expressões e linguagens particulares.
A pedra expressa sua resistência e a sua longa escala de tempo geológica, o tijolo
remete a terra, ao fogo e as tradições atemporais da construção. O bronze recorda a
alta temperatura dos antigos processos de fundição e também o decorrer das décadas
demarcadas pela pátina. A madeira fala de suas duas fases, a primeira como uma
árvore em desenvolvimento e a segunda como um elemento para utilidade do homem,
elaborado pelas mãos de um marceneiro. Todos estes materiais falam, de forma
satisfatória, sobre suas transformações temporais. (PALLASMAA, 2013).
Já os materiais industrializados, como as chapas de vidro, metais esmaltados
e plásticos sintéticos, têm tendência a se apresentarem de maneira austera aos olhos,
sem irradiar sua essência material ou demonstrar sua idade. As edificações da era
tecnológica aspiram à perfeição atemporal, e não incluem a dimensão do tempo ou o
importante processo do envelhecimento, relacionando, inconscientemente, este
receio das linhas do desgaste e da idade, com o medo da morte. (PALLASMAA, 2011).
Ao comparar o mundo antigo da realidade e da causalidade experimentadas, a
era tecnológica possui um número cada vez maior de elementos ilusórios e imateriais.
Esta direção do irrealismo fantasioso é estimulada por tecnologias que trabalham à
frente dos limites da percepção sensorial e da mesma forma, por materiais cujas
características não mais podem ser reveladas pelos sentidos. (PALLASMAA, 2013).
Um dos mais recentes materiais deste mundo ilusório da transparência, reflexão e
espelhamento, é o vidro. Suas principais características se resumem em deslumbrar
e seduzir, apesar de que algumas vezes, as superfícies refletivas e espelhadas,
possam transmitir a sensação de isolamento, ou inclusive medo aos indivíduos.

Quando era criança, eu sentia, em frente a espelhos grandes, o


mesmo horror de uma duplicação ou multiplicação espectral da
realidade [...]. Uma das preces que eu mais fazia a Deus e ao meu
anjo da guarda era não sonhar com espelhos. (BORGES, 2001, p.27).

5PÁTINA: Efeito oxidado, obtido artificialmente por meio de pintura ou pela ação do tempo, que dá
aspecto antigo às superfícies. A pátina natural é o processo de oxidação das tintas, metais e vernizes
que, ativados pela ação do tempo, vão se transformando pela ação da luz. É o caso do tom esverdeado
que se forma no cobre e no bronze, pela ação do tempo, ou inclusive através de tratamento por ácidos.
Também é o caso da cor amarelada que vemos em um quadro antigo. As pátinas artificiais é uma
espécie de restauração dando um novo aspecto à madeira, renovando-a ou transformando-a em uma
obra de arte. (TERMINOLOGIAS ARQUITETÔNICAS)
38

Os espelhos duplicam tudo, e esta duplicação é experimentada de maneira


espantosa e impactante. Em função dessas observações, os espelhos e a sua
condição de duplicação, estão presentes em inúmeras obras cinematográficas e
literárias do gênero do horror (Figura 9).

Figura 9: Filmes em que o espelho é o protagonista.

Fonte: Adorocinema (2016)

O vidro é constituído mediante a fusão e imediatamente o resfriamento de um


dos minerais mais abundantes do planeta, a sílica, sua produção possibilita a
obtenção de uma substância dura e estável como uma rocha e ao mesmo tempo
transparente como a água, tornando-se um dos materiais mais fabulosos já criados
pelo homem. Por toda a extensão de sua história, de quatro mil anos, o vidro tem sido
aplicado em quase todos os aspectos da prática humana. Nesse contexto, a inevitável
utilização deste material nas obras arquitetônicas, sendo demasiadamente utilizado
na criação de vedações transparentes, conduzindo às mudanças na maneira de viver
e interagir com o entorno, notadamente neste último milênio.
Se não fosse por este material, os ambientes ainda seriam muito mal
iluminados e ventilados, além de pouca ou nenhuma relação com o lado externo.
Arquitetos, contemporâneos no mundo inteiro, tiram vantagem do vidro para criações
39

de obras excepcionais, em que inúmeras vezes, este material se mostra como o astro
no conceito de projeto. (MCLEOD, 2011).
As edificações expressam-se por mímicas e por identidades corporais
inconscientes, mediante seus volumes, suas formas, sua materialidade, sua escala e
detalhes, criando um mundo animista da arquitetura. As janelas são os olhos do
edifício, estes olhos podem ser generosos, acolhedores e desejar o bem, ou cruéis e
aterrorizantes. Vidraças quebradas expressam sentimentos dolorosos, como olhos
feridos e cegos. Os olhos da edificação, assim como os olhos do ser humano, podem
sofrer de uma doença tenebrosa ou até mesmo ficarem cegos; os vidros coloridos e
polarizados, seguidamente, causam a impressão de uma doença oftalmológica.
(PALLASMAA, 2013).

Figura 10: Olhos da edificação.

Fonte: Pinterest (2016e, 2016f)

Na alquimia básica da arquitetura, há duas categorias fundamentais


de matéria: a matéria opaca e a matéria transparente. Uma cria
separação, privacidade e sombra; a outra proporciona conectividade,
visibilidade e luz. (PALLASMAA, 2013, p.81).

As formas arquitetônicas, os materiais construtivos, as texturas, os jogos de luz


e sombra, as cores, tudo se combina para incorporar qualidade e alma ao espaço. As
características arquitetônicas serão determinadas pela capacidade do arquiteto em
40

utilizar e inter-relacionar estes elementos, tanto no interior quanto no exterior do


edifício. “A forma arquitetônica é o ponto de contato entre massa e espaço”. (BACON,
1974 apud CHING, 2008, p. 33).
A prática arquitetônica a partir desta inter-relação entre os materiais e as
técnicas construtivas, está intimamente associada à “poética do construir” e ao
conceito de tectônica, anunciado por Kenneth Frampton:

A palavra “tectônica” desde que começou a ser usada em meados do


século XIX [...] indica não só a probidade material e estrutural de uma
obra, mas também uma poética do construir subjacente à prática da
arquitetura e das artes afins. (FRAMPTON, 2006, p. 560).

Na visão de Ching (2008, p. 86) “Nossa percepção de formato, tamanho,


escala, proporção e peso visual de um plano, é influenciada pelas propriedades de
suas superfícies assim como pelo seu contexto visual”. Estas particularidades que são
capazes de influenciar em nossa percepção, como menciona o autor, são por
exemplo: um contraste entre a cor da superfície de uma fachada e a cor do seu
entorno. Isto pode ajudar a esclarecer sua forma, enquanto a alteração da sua
tonalidade pode tanto diminuir como aumentar seu peso visual; os cantos
arredondados que expressam a continuidade da superfície, a sua condição compacta
e a suavidade da forma.
A cor pertence ao espaço e é uma forma de comunicação e referência, se torna
necessária para a interpretação do natural, artificial, arquitetônico e ambiental. A
percepção da cor no espaço origina efeitos visuais, associativos, sinestésicos,
simbólicos, emocionais e psicológicos. (MAHNKE, 1996). As cores e texturas tem
grande influência na percepção do ambiente, isto porque são elementos indicadores
de linguagens visuais, além de integrantes estruturais. As texturas podem revelar
diversos contornos, e também as cores podem apresentar aparências imprevisíveis.
Em certas ocasiões, é difícil perceber onde uma se inicia e a outra termina. (SIMÕES,
2007).
As cores, assim como as texturas, os materiais, são estimulantes que atuam
sobre os seres humanos provocando-lhes sensações de satisfação ou desânimo,
movimentação ou estagnação. As cores nos espaços, escritórios ou escolas, por
exemplo, podem promover a produtividade do mesmo modo que podem dificultá-la;
nos hospitais podem até mesmo influenciar na recuperação dos pacientes. As cores
41

influenciam as pessoas indiretamente por meio do efeito fisiológico, ampliando ou


diminuindo os ambientes, e com isso irradiando sensações de aprisionamento ou
liberdade. Cores escuras em um teto são capazes de sobrecarregar os ambientes e
dar a impressão de um pé-direito mais baixo; cores vibrantes nas paredes produzem
a sensação de ampliação do teto e piso. (NEUFERT, 2013).
A qualidade, luz, cor, profundidade, diante dos seres humanos, despertam
repercussão no corpo, dado que o mesmo às recepciona. (MERLEAU-PONTY, 1967).
A luz admite a visualização e moldagem dos ambientes, revela proporção, escala e
impressões, formulando composições poéticas, as quais são substanciadas através
da matéria, enriquecida pela incidência de sua textura e sua cor, estimulando
sensações tácteis e visuais. Partindo da lógica em que toda e qualquer matéria é
provida de uma ou mais cores.

Cores quentes tem efeito ativo, estimulante e excitante. Cores frias


passivo, calmante e introspectivo. Verde relaxa os nervos. [...] Cores
quentes e claras estimulam o espírito quando vêm de cima; da lateral
aquecem, aproximam; de baixo, tem efeito de leveza e suspensão.
Cores quentes e escuras de cima, produzem sensação de término,
solenidade; da lateral, cercamento; de baixo, segurança, firmeza.
Cores frias e claras de cima, sensação de luminosidade, relaxamento;
da lateral, acompanhamento; de baixo, quando lisas, estimulam o
caminhar. Cores frias e escuras de cima, ameaçadoras; da lateral,
sensação de frio e tristeza; de baixo, peso e atração para
profundidade. (NEUFERT, 2013, p.53).

Figura 11: Palheta de cores


42

Fonte: Jabuticaba (2014)

Os ambientes são percebidos através da influência de luz e sombra, a


plasticidade do espaço constitui-se nas junções das cores, efeitos luminosos e
sombrios, no entusiasmo das linhas e superfícies, insinuando a percepção da
temperatura e dimensão material. Neste sentido, percebe-se a luz e a atmosfera em
um espaço e tempo exclusivo, como valores momentâneos que suscitam originalidade
e peculiaridade, tonando-se perceptíveis porque são sustentados e criados pelas
cores e texturas. (SIMÕES, 2007).
O objeto é o corpo da cor e a cor é a alma do objeto. (GERSTNER, 1986). Ao
combinar forma e espaço em uma única essência, a arquitetura facilita sua finalidade
e comunica significado. A arte da arquitetura torna a existência humana visível e
significativa. (CHING, 2008).
A relação entre o espaço e o comportamento dos materiais, a importância da
escolha inteligente da materialidade do edifício, e os futuros efeitos das intempéries
da natureza, como sinais de reconhecimento e enredo que descreve a passagem do
43

tempo nas superfícies da edificação, podem ser um alvo de pretensão dos arquitetos,
no qual os mesmos precisam estar cientes na elaboração de seus projetos. O
envelhecimento dos materiais, possivelmente, agregam características especificas
para a edificação, oferecendo questões esteticamente positivas, se estes efeitos são
previstos e controlados, considerando características do ambiente ao qual estão
inseridos, já mesmo no ato de projetar e na seleção dos materiais e técnicas
construtivas. (MOSTAFAVI e LEATHERBARROW, 1993).
Com base na técnica e na materialidade é possível, então, passar para a
relação entre a arquitetura e a fenomenologia, que combinam esses conceitos e
influenciam os seres humanos, como se apresenta a seguir.

2.3 Arquitetura e Fenomenologia

Nomeia-se fenomenologia, um método filosófico desenvolvido, no século XX,


por Edmundo Husserl (1859-1938), que se inspirou na psicologia de seu mestre Franz
Brentano, além de ser influenciado pelas leituras de René Descartes (1596-1650) e
Immanuel Kant (1724-1804). Para o filósofo Husserl (2000), a partir da consciência é
que se entendem os fenômenos. Ou seja, a fenomenologia preocupa-se com o estudo
dos fenômenos e a maneira que os mesmos se apresentam para o ser humano.
A imaginação, o espaço e o tempo são dados ao indivíduo através da
consciência que os compreende, tornando a fenomenologia um método intelectual
natural e filosófico. Husserl reuniu diversos pesquisadores que colaboraram de
maneira direta ou indiretamente em suas pesquisas, sendo um deles o filósofo Martin
Heidegger, que interpreta a fenomenologia em sua obra publicada em 1927: Ser e
tempo. (KAHLMEYER-MERTENS, 2008).
A redução fenomenológica6, recurso metodológico criado por Husserl, é
essencial para se permitir o retorno da reflexão à consciência pura, e assim,
percepcionar o objeto constituído pela consciência. (HUSSERL, 2000). Além disso, a
redução fenomenológica se caracteriza por deixar o mundo entre parênteses e
direcionar a atenção para o mundo interior. Este método é dividido em três fases:
suspensão, apercepção e devir7. (DEPRAZ, VARELA e VERMERSCH, 2003).

6 Redução fenomenológica ou epoché requer a suspensão das atitudes, crenças e teorias, colocando

em suspenso ou “entre parênteses” o conhecimento das coisas do mundo. (HUSSERL, 2000).


7 Devir é um conceito filosófico referente ao processo de mudanças efetivas pelas quais todo ser passa;

passar a ser; fazer existir; tornar-se ou transformar-se.


44

A fenomenologia não se baseia em um único conceito ou uma única realidade.


Considera que cada ser – cabível de conhecimentos, experiências, crenças e teorias
– é capaz de produzir sua própria compreensão de todo e qualquer objeto. Nesse
sentido, ela é o estudo dos fenômenos em si mesmos, e toda a argumentação, no que
se refere a ela, resume-se em interpretar essências, tendo como exemplo: a essência
da percepção e a essência da consciência. A fenomenologia propõe a compreensão
do homem e do mundo exclusivamente a partir da sua facticidade. “É a ambição de
uma filosofia que seja uma “ciência exata”, mas é também um relato do espaço, do
tempo, do mundo vividos.” (MERLEAU-PONTY, 2011, p. 1). Assim, para o autor, a
fenomenologia de Husserl trata-se de descrever o fenômeno e não de analisar.
Conforme Monteiro (2015) o conceito de corpo é fundamental na filosofia de
Merleau-Ponty, pela importância dada ao assunto da percepção, a qual é
caracterizada pela inclusão do corpo no mundo. Logo, a interpretação que o ser
humano faz em relação ao mundo, é estabelecida pelo corpo, e sendo através dele
que se aprimora a criação da consciência. É possível constatar que a definição de
homem resume-se em sua corporeidade, em outras palavras, o homem é um corpo
entre outros corpos.
É necessário sentir, vivenciar, experimentar o mundo para então perceber as
sensações e revelações que despertam a partir deste processo de percepção. A
reflexão a respeito de algo é consequência da percepção realizada. Ou seja, é por
intermédio do olhar atento e minucioso, livre de óculos com lentes padronizadas e
fixistas8, que a fenomenologia acontece. (CLARO, PEREIRA, 2016).
A junção teórica entre o belo e a arte sucedeu no Renascimento9, em que a
natureza era a fonte de inspiração para o belo, integrando formas perfeitas, como
acreditava Leonardo da Vinci. Foi então, neste século que surgiu uma nova disciplina
filosófica, denominada estética10, com a intenção de analisar o belo e suas
manifestações na arte. O fundador desta nova doutrina foi o filósofo Alexander Gottlieb
Baumgarten (1714-1762), que conceituou a estética como a ciência do belo e da arte.
Na estética de Baumgarten, a ideia do belo, como domínio da sensibilidade,

8 Fixista aqui tem a definição de mesmice, monotonia, que não evoluiu desde a sua criação.
9 Renascimento ou Renascença - Atividade, espírito ou período da revivescência humanística da arte,
letras e cultura clássicas, que tem início na Itália no século XIV e se estende até o século XVII,
assinalando a transição do mundo medieval para o moderno. (CHING, 2006, p.144).
10 Estética – Ramo da filosofia que trata da natureza da arte, da beleza e do gosto, com vistas a

estabelecer o significado e a validade dos julgamentos críticos de obras de arte. (CHING, 2006, p.10).
45

diretamente relacionado com a percepção, sentimentos e imaginação, foi o conteúdo


central da estética atribuído pelo filósofo. Em vista disso, a temática do belo,
transforma-se na questão da experiência estética, variavelmente interpretada pelas
tendências ou correntes do século XIX. (NUNES, 2010).
Ainda de acordo com Nunes (2010) a experiência estética apresenta dois
aspectos: o subjetivo (quando o sujeito sente e julga) e o objetivo (determinam ou
estimulam o que se sente e se julga). O aspecto subjetivo foi exclusivamente estudado
pelas correntes psicologistas, as quais valorizavam elementos heterogêneos, como o
prazer sensível, os sentimentos e as emoções. Já as correntes que se dedicaram ao
aspecto objetivo, valorizavam os elementos materiais, como: sons, cores, linhas e
volumes; além das formas puras: ritmo, harmonia, proporção e simetria; e também as
formas concretas, habilitadas a produzir efeitos estéticos. Pertence à fenomenologia,
o papel de inserir na estética o raciocínio de que a análise é minuciosa e a percepção
dos fenômenos se apresenta de forma imediata. A estética fenomenológica descreve
os objetos, a partir da percepção direta pela consciência, no instante do ato de
contemplar das coisas belas.
Novamente na ideia de Nunes (2010) a sensibilidade e o entendimento são as
duas fontes do conhecimento. Através da sensibilidade é possível compreender os
objetos, por meio da intuição sem que haja a utilização do raciocínio. E de acordo com
as percepções dos sentidos, é factível representa-los no espaço e no tempo. O espaço
e o tempo são, para o filósofo Kant, formas de sentir, que estruturam as percepções,
matéria-prima do conhecimento e originam a experiência sensível.
O filosofo Alexander Baumgarten utilizou, pela primeira vez, no ano de 1735, o
termo: estética, para se referir às sensações, atribuindo à definição de estética como:
a ciência das sensações. O homem vitruviano, símbolo do Renascimento, pode ser
representado pela ideia do homem estar no centro de todas as coisas, além da
consideração da proporção do corpo para fins de cálculos, investigação científica e
criação de obras de arte. Este conceito revela o caráter humanista deste período da
história da Europa, e também evidencia a importância da subjetividade em muitos
aspectos da ciência e das artes. (NOYAMA, 2016).
46

2.3.1 O homem como unidade de medida

Um ponto significativo na arquitetura é a anatomia e a possibilidade de ler


estruturas através do corpo humano, isto é, contemplar no corpo uma idealização
arquitetônica, qualquer coisa que é feita, a proporção desta, sempre se relaciona com
os corpos. A arquitetura, naturalmente se relaciona aos humanos, em razão da
mesma ser feita por e para pessoas. Por isso a anatomia é considerada uma influente
inspiração, e não sucedia apenas no Renascimento, onde o corpo humano foi base
das regras e métodos proporcionais, mas também no século XX com o Modulor.
(CALATRAVA, 2002).
O homem desenvolve coisas para sua própria utilização. Seu corpo é por
consequência a principal referência para tudo que produz. Com isso, foram
consideradas naturalmente, em períodos antigos, as partes do corpo como alicerce
para as unidades de medidas. É possível obter a compreensão correta da escala de
um determinado objeto quando ao seu lado se têm uma figura humana como
referência, quer seja na realidade ou na representação. O arquiteto Le Corbusier, a
partir de 1945, fez uso em todos os seus projetos, de um sistema com proporções
fundamentado na seção áurea11 e nas medidas do corpo humano, o conhecido “Le
Modulor”. (NEUFERT, 2013).
Le Corbusier criou seu próprio sistema de proporcionalidade com o intuito de
organizar “as dimensões daquilo que contém e daquilo que é contido”. (CHING, 2008,
p.303). A malha básica compõe-se por três medidas: 113, 70 e 43 cm, adaptadas
conforme a seção áurea. O arquiteto compreendia o Modulor como um sistema de
medidas que poderiam determinar dimensões, superfícies e volumetrias, além de
manter a escala humana em qualquer lugar. Poderia “servir a uma infinidade de
combinações; ela assegura a unidade com diversidade [...] o milagre dos números”.
(LE CORBUSIER apud CHING, 2008, p.303).

Figura 12: O Modulor

11 Proporção áurea significa que um segmento pode ser dividido de tal forma que o segmento total se

relaciona com a parte maior, da mesma maneira que a parte maior se relacionará com a menor. A
proporção áurea pode ser expressa geometricamente ou através de fórmulas. (NEUFERT, 2013, p.45).
47

Fonte: CHING (2008, p. 303).

A escala humana, na arquitetura, se baseia nas dimensões e


proporções do corpo humano [...] Enquanto algo em escala
monumental nos faz sentir comparativamente pequenos, um espaço
em escala íntima descreve um ambiente no qual nos sentimos
confortáveis, em posição de controle, ou importantes. Ambientes
íntimos, com mesas e espreguiçadeiras, em um grande saguão de
hotel nos dizem algo a respeito da amplitude de espaço, assim como
definem áreas confortáveis, em escala humana, dentro dele. Uma
escada que conduz a uma sacada ou galeria no segundo andar nos
dá uma ideia da dimensão vertical de um recinto, assim como sugere
uma presença humana. Uma janela em uma parede vazia transmite
algo a respeito do espaço por trás dela e também deixa a impressão
de que está habitada. (CHING, 2008, p.316).
48

O ser humano não é apenas constituído de corpo material que precisa de um


espaço. A parte relacionada às sensações tem a mesma relevância e deve ser
considerada, na forma como um local é dimensionado, segmentado, colorido,
iluminado, mobiliado, pois é essencial no quesito em causar impressões em quem o
ocupa. (NEUFERT, 2013).
É preciso novamente mencionar Vitrúvio, o arquiteto e autor de um dos livros
mais respeitáveis e divulgados da Arquitetura: De architectura, onde é encontrada a
famosa tríade vitruviana, que se resume em três condições: firmitas, utilitas e
venustas, as quais, segundo o autor romano, devem estar presentes em toda obra
arquitetônica. (MANENTI, 2014).

Arquitetura depende de ordem, arranjo, eurritmia, simetria,


propriedade e economia. Todos esses aspectos devem ser
estabelecidos com a devida referência à durabilidade, conveniência e
beleza. A durabilidade estará garantida quando as fundações forem
assentadas no terreno sólido e os materiais forem escolhidos com
prudência e liberalidade; a conveniência, quando o arranjo dos
ambientes for correto e não oferecer o menor obstáculo à sua
utilização, e quando cada tipo de edifício for submetido a sua
exposição própria e adequada; a beleza, quando o aspecto da obra for
aprazível e de bom gosto, e quando seus elementos guardarem a
devida proporção de acordo com os princípios corretos da simetria.
(VITRÚVIO apud CHING, 2006, p.8).

Nas obras de artistas como Michelangelo e Leonardo da Vinci é fácil perceber


a importância dada ao corpo humano. As artes plásticas desta época revelam a
tendência do homem em valorizar sua própria existência, o corpo e sua respectiva
expressividade como algo natural e parte da vida. Na contemporaneidade, a ciência e
a filosofia andam de mãos dadas, prestes a criar uma combinação indivisível.
(ENGELMANN e TREVISAN, 2015). Posteriormente, dando continuidade ao seu
trabalho, Leonardo da Vinci é quem insere e encaixa corretamente o corpo humano
dentro de um quadrado e também em um círculo, incluindo os padrões matemáticos.
49

Figura 13: Homem Vitruviano.

Fonte: Pinterest (2016g)

A visão da arquitetura como produtora de efeitos sobre os usuários, a partir do


uso dos sentidos no reconhecimento da matéria, permite criar a consciência de
espaço, baseada nas experiências sensoriais adquiridas pela percepção do ambiente.
É fundamental que a percepção seja direta, entre o corpo e o objeto, e imediata, pois
depende da materialidade e prescinde da virtualidade.
A arquitetura da imagem comercializada está resultando em um mundo cada
vez mais fictício, através de uma curiosa e encantadora arquitetura da imagem na
retina. Sendo assim, a função do arquiteto consciente é produzir e motivar o senso do
real. Ao invés de consentir ou favorecer um mundo de fantasias, simulação e
virtualidade, a obrigação da arquitetura é intensificar nossa experiência do real, e
“providenciar a pedra de toque do real.” (PALLASMAA, 2013, p.23). Diversos estudos
apontam para a utilização dos três pilares vitruvianos. Cada processo depende do
50

outro, assim mantém-se o ciclo de dependência entre a materialidade, técnica e


fenomenologia.
Segundo Pallasmaa (2011), todo sentimento impactante causado pela
arquitetura sobre o usuário é denominado experiência multissensorial; os olhos,
ouvidos, nariz, pele, língua, esqueleto e músculos avaliam igualmente as
características de espaço, matéria e escala. A nossa sensação de pertencer ao
mundo, a experiência existencial é reforçada pela arquitetura, sendo uma importante
experiência de reforço da identidade pessoal. Não são apenas os cinco sentidos
clássicos, a arquitetura também abrange diversos campos da experiência sensorial
que interagem e fundem entre si.

Figura 14: Sentir a arquitetura reforça a sensação de pertencer ao mundo.

FONTE: Pinterest (2016h, 2016i)

Nesta linha de raciocínio, Peter Zumthor afirma que qualidade arquitetônica não
significa a obra estar publicada em páginas de renomadas revistas. Em suas palavras,
“Qualidade arquitetônica só pode significar que sou tocado por uma obra. [...] Uma
denominação para isto é a atmosfera” (ZUMTHOR, 2006, p. 11). O conceito de
atmosfera também se comprova através de Pallasmaa, pois a experiência presencial
51

na Casa da Cascata, conforme a figura 15, do arquiteto Frank Lloyd Wright, demonstra
a unificação entre a floresta do entorno, os volumes, as superfícies, as texturas e as
cores da casa. Os cheiros da floresta e os sons do rio se fundem a esta experiência,
tornando-a completa e exclusiva. A obra arquitetônica não pode ser vista em partes
isoladas, e sim, contemplada mentalmente e espiritualmente de forma unificada, ou
seja: “A boa arquitetura oferece formas e superfícies moldadas para o toque prazeroso
dos olhos.” (PALLASMAA, 2011, p.42).

Figura 15: Casa da Cascata, a natureza entre a arquitetura.

FONTE: Ester (2016)

Esta relação entre a arquitetura e a natureza na Casa da Cascata, sugerida


anteriormente, transcreve o pensamento do arquiteto americano Peter Testa (1998),
insinuando assim, que a relação do ser humano com o espaço e a natureza, desafia
o paradigma cartesiano, buscando aspectos sensíveis e inteligíveis no projeto
arquitetônico. Para Testa (1998, p. 7), “A arquitetura atua como um universo
intermediário; como uma costura entre mente e natureza”.
52

A funcionalidade é um atributo essencial para a obra arquitetônica, no entanto


a arquitetura não se limita a esta característica, pois até mesmo a função pode estar
relacionada às percepções. De acordo com Van der Voordt e Van Wegen (2013),
existem duas expressões que subdividem a palavra funcionalidade: primária e
secundária. A funcionalidade primária é caracterizada pela importância da utilidade do
edifício. Já a secundária está relacionada ao ato de provocar sensações estéticas e/ou
vivenciar o “agradável”, “prazeroso” ou “atraente”, permitindo, assim, ser definida
como “funcionalidade afetiva”.
A qualidade arquitetônica origina-se do confronto entre o ser humano e a
edificação. Recomenda-se, para uma arquitetura mais significativa e estimulante,
treinar a sensibilidade e desenvolver o aprimoramento dos sentidos, para vivenciar e
experimentar um novo conhecimento. É indispensável aprender mais sobre a relação
entre pessoas e ambientes para assim, compreender o objetivo da arquitetura.
Segundo Pallasmaa (2013), o arquiteto é apto a transformar a essência de
projetar em sensações e imagens corporificadas e vivenciadas. Sugere também que
as mãos transformam o pensamento e a criatividade em algo concreto. Centralizado
em seu trabalho, o arquiteto concentra-se em transportar suas criações da mente para
o papel. Neste momento, imperceptivelmente, esquece-se de suas mãos e lápis,
surgindo, então, a imagem como projeção automática que sua mente inventa.
De acordo com Libeskind (2009), a arquitetura é baseada em fascinação e
história, uma história contada a partir de seus materiais sólidos e expressivos. Os
espaços expressivos não são mudos, podem perturbar e instigar, isto transforma a
arquitetura em uma conexão viva com o evento cósmico do qual os seres humanos
fazem parte e são protagonistas.
A arquitetura é entrelaçada ao coração e a alma humana, isto porque as
pessoas nascem e morrem em algum lugar, não é algo que vem de livros e teorias, a
arquitetura é profunda, visceral e não intelectual. Arquitetura é o real, o existente, é
tudo que se pode tocar, como a porta, a janela, a soleira, a cama, enfim, tudo que o
ambiente proporciona ao usuário.
53

Figura 16: A arquitetura é o real, o existente, é tudo que se pode tocar.

FONTE: Pinterest (2016n, 2016o)

Nas palavras do arquiteto Steven Holl (2016), a arquitetura precisa se


reconectar às outras artes, pois se não existir esta conexão e colaboração entre a
arquitetura e as demais artes, aos poucos a individualização das artes ocasionará um
desaparecimento das mesmas, e segundo o arquiteto: “Somos mais fortes juntos”.
Esta ideia de união entre as artes, que juntas se fortalecem, demonstra a importância
para o arquiteto Steven Holl em criar uma arquitetura significativa e emotiva.
(ROSENFIELD, 2016).
A arquitetura habitual e regrada não tem capacidade para instigar os humanos,
apenas existe em um determinado lugar. Entretanto, a arquitetura que transborda
efeitos e emoções aos humanos, vai além dela mesma, pois atinge a alma do usuário.
Ferrari (2013) afirma que, esta capacidade da arquitetura de ir além dos parâmetros
funcionais e estéticos, nasce a partir da simples escolha dos materiais e técnicas
construtivas. Portanto, a escolha do material é crucial para o nascimento da
experiência perceptiva na arquitetura.
54

A escolha dos materiais e a forma como os mesmos se apresentam no espaço,


então construído, está relacionada ao modo de criação e percepção, do profissional
arquiteto e o mundo à sua volta. Cada projetista possui sua forma específica de
trabalhar, e isto reflete diretamente na preferência e exploração da materialidade em
suas obras (FERREIRA, 2012).
Para Pallasmaa (2011) a utilização de materiais naturais como: madeira, pedra
e tijolo, permitem que a experiência entre o corpo e a arquitetura, no momento em que
o olhar penetra na superfície do material, seja convincente de sua veracidade, pois
expressam a sua história e idade, possibilitando uma enriquecedora experiência do
tempo.
De acordo com Kneib et al. (2013) a arquitetura que instiga é a que desperta a
curiosidade e o desejo de experimentar o espaço. Nesse sentido, o ambiente é,
especialmente, elaborado com o propósito de promover estímulos táteis, olfativos,
gustativos, auditivos e visuais, produzindo experiências sinestésicas. Este tema vem
sendo estudado há vários anos, por muitas disciplinas, como a psicologia, filosofia e
a arte, revelando-se um tópico substancial na concepção projetual e na experiência in
loco das obras arquitetônicas, contribuindo para a humanização de ambientes. Estes
conceitos estão interligados entre si, tais como: sensações, emoções, experiência e
percepção, que se soma ao conceito de atmosfera, criado pelo arquiteto Peter
Zumthor, que é a maneira mais eficaz de se percepcionar o espaço, através dos
sentidos que o ser humano possui. (PEREIRA, 2013).
A sensação pode ser interpretada como a captação das aptidões físicas do
homem: a cor, o som, o tato, o gosto e o cheiro. São múltiplas estas sensações, e
dependem das particularidades das situações, elementos ou ambientes que são
apresentados aos seres humanos. Por isso, os princípios da organização da
percepção ocorrem a partir dos cinco sentidos do corpo humano, consagrados por
Aristóteles. (PEREIRA, 2013).
É importante ressaltar a revolução industrial no século XIX, primeira notável
mudança tecnológica, caracterizou o período de transição do trabalho manufaturado
para o trabalho mediado por máquinas, revelando-se uma era de transformação do
corpo em máquina. (GARCIA, 2014). Desta forma, os profissionais projetistas se
empenham para trazer de volta a sensibilidade do ser humano para os recintos, o
entusiasmo em presenciar a arquitetura, e para que isso aconteça, é preciso ir além
55

de construir paredes e um teto que proporciona proteção, é preciso investir em uma


arquitetura que seja capaz de provocar reações nas pessoas. (GAMBOIAS, 2013).
A criação da arquitetura contemporânea está fundamentada na exploração da
percepção visual dos seres humanos, deixando, em segundo plano, os demais
sentidos. Um edifício, além de envolver-se visualmente na paisagem urbana, é um
elemento de experimentação, explorando diversas formas de percepção mediante aos
cinco sentidos corporais. (KNEIB et al., 2013).
Na Idade Média, os homens não manifestavam de caráter aparente a sua
relação com o espiritual e o divino, certamente, em razão de um grande número de
princípios culturais. Dessa forma, era comum a arquitetura deste período, como
palácios, templos e pirâmides, proceder com base nos sentidos, para a satisfatória
exploração deste vínculo com o sagrado. Exploravam os sentidos de diversas
maneiras, entretanto, algumas técnicas costumeiras de uso eram utilizadas, tais
como: o silêncio, a luz, a sombra e repetição de elementos arquitetônicos. Estas
técnicas eram aliadas às texturas dos materiais locais, destacando a materialidade e
tectônica12 das edificações. (KNEIB et al., 2013).
Pallasmaa (2011) compreende a arquitetura como algo que projeta e provoca
sensações, da mesma forma que Erika Kneib (2013) menciona o cenário urbano atual,
em que o homem passa maior parte do seu tempo no interior de edificações, sendo
necessário valorizar e utilizar os demais sentidos para geras espaços humanizados,
com maior acessibilidade, mais conforto, estimulação e significados, abandonando a
ideia de que o ambiente deva ser exclusivamente munido de aparência sedutora. Para
tanto, torna-se necessária a busca por ferramentas de experimentação do espaço,
que aplicadas nas edificações, possam vir a cooperar na criação de espaços atrativos
para seus respectivos desfrutadores.
Presenciar uma edificação, passear pelas ruas e calçadas da cidade,
locomover-se ao longo do interior de um edifício, caminhar pelas praças públicas,
admirar as fachadas, subir e descer escadas, pisar nos gramados dos jardins, esperar
em um determinado saguão, assistir palestras e fazer uso de mobiliários urbanos, são
apenas alguns dos inúmeros exemplos de costumes diários que compreendem a
relação homem-arquitetura. (KNEIB et al., 2013).

12Tectônica – Ciência ou arte de moldar, ornamentar ou reunir os materiais de uma construção.


(CHING, 2006, p.11).
56

A maioria dos estímulos sensoriais, apreendidos pelos seres humanos, origina-


se do espaço em que se presenciam. Rodeados por volumes, formas, tonalidades,
ruídos, aromas, sabores e sensações táteis, pelos quais o homem é constantemente
submetido a interagir, ainda que, muitas vezes de maneira involuntária, definem sua
inserção no mundo. Os arquitetos e urbanistas, preocupados em estimular
basicamente a percepção visual, propagam pelas cidades pórticos, painéis,
monumentos, jardins e colorem os edifícios com tons, nem sempre agradáveis.
No entanto, não estão preocupados, da mesma forma, em proporcionar efeitos
sonoros, sensorialmente estimulantes. O emprego minucioso de sons em edifícios,
praticamente restringe-se na utilização de música ambiente, independente da sua
importância, a música não é a única, ou necessariamente o mais estimulante dos tipos
de sons que podem ser associados ao ambiente edificado. Há uma série de sons, que
com criatividade, os arquitetos projetistas podem explorá-los. (RHEINGANTZ e
EMERY, 2001). Assim, para os autores, o som é invisível e a sua entrada pela porta
lateral do cérebro é permitida, sem que seja percebida. E de fato, o que é invisível
normalmente não recebe o prestígio ou a crítica que realmente deveria receber.
O arquiteto que aprende a ouvir consegue fazer a arquitetura “falar”. Porém,
boa parte do currículo dos cursos de arquitetura e urbanismo no Brasil, prioriza o
desenvolvimento da percepção visual nos profissionais em formação. Assim, apenas
uma única disciplina relacionada à acústica13, marca presença durante um período
letivo, e as demais disciplinas estão ligadas à valorização visual, presentes em quase
todos os semestres da grade curricular.
Para que os arquitetos e acadêmicos de arquitetura possam adquirir
conhecimento nesta nova experiência sonora, será fundamental a contribuição de
profissionais específicos da área de som, bem como: músicos, artistas sonoros,
engenheiros de áudio, sonoplastas, pois são estes que serão capazes de compartilhar
com os arquitetos, a sabedoria sensorial auditiva. Estimulada e compreendida a
audição, recomenda-se prestar atenção aos ensinamentos da principal produtora de
sons no meio ambiente: a natureza. Passear pelo campo, a título de exemplo, pode
demonstrar as notáveis qualidades, que a paisagem natural consegue proporcionar

13 ACÚSTICA: Em arquitetura, especialistas estudam o comportamento do som, como também


proteção contra ruídos em determinadas edificações. A absorção do som é importante no caso de
espaços fechados ou semiabertos, visando o bem-estar das pessoas e proporcionando boa audição.
Tem como objetivo, proporcionar em determinados ambientes condições de audibilidade.
(TERMINOLOGIAS ARQUITETÔNICAS)
57

por completo para os sentidos sensórios. O barulho do vento, das gotas da chuva
caindo sobre as folhas das árvores; os diferentes sons percebíveis ao caminhar acima
da terra, grama, folhas secas, pedregulhos ou areia; o cantar dos pássaros; além dos
perfumes e outros fenômenos; são inúmeras as sensações sonoras presenteadas
pelo ambiente natural, e as mesmas devem ser consideradas na criação da
arquitetura. (RHEINGANTZ e EMERY, 2001).
A distração das pessoas com a arquitetura, de maneira não intencional, pode
ser interpretada como uma decorrência do estilo de vida atual, pois o tempo conduz e
controla as atividades do homem, que passa a maioria de suas horas diárias, dentro
de um edifício, sem perceber a cor das paredes da sala em que esteve, por exemplo,
ou ainda, desconhecem os elementos que compõem a fachada do edifício em que
trabalha. A utilização dos preceitos da fenomenologia, como ferramenta projetual na
criação de projetos arquitetônicos, proporcionará aos usuários experiências cotidianas
mais interessantes na arquitetura. Além do envolvimento pleno entre o usuário e a
edificação, a partir de percepções e reavaliações das sensações que o ambiente
provocará no indivíduo. (KNEIB et al., 2013).
De acordo com Fuão (2004) “o sentido do espaço só existe a partir da
experiência do eu”, em vista disso, é o homem que confere existência aos ambientes
e as coisas. Refletir sobre um espaço, quer dizer refletir sobre si mesmo. O autor
menciona que o filósofo Merleau-Ponty enxergou o corpo como a principal referência
espacial, afirmando que é a partir do corpo, que surge a possibilidade de compreensão
dos espaços, sendo o espaço também uma extensão do próprio corpo.
A compreensão fenomenológica do espaço sustenta-se a partir da experiência
corpórea e existencial, e em meados dos anos 60 e 70 alguns teóricos do campo da
arquitetura contribuíram significativamente para esta ideia da percepção do espaço.
Entre eles citam-se os renomados arquitetos: Christian Norberg-Schulz, Josep
Muntañola, Charles Moore, Kevin Lynch e outros. (FUÃO, 2004).
A criação de conjuntos arquitetônicos interessantes deve estar aliada ao
conhecimento da multiplicidade de usuários. O arquiteto imagina sua obra recebendo
todo tipo de pessoas, crianças, jovens, adultos, idosos, portadores de necessidades
especiais, além disso, se preocupa com as diferentes culturas e pensamentos dos que
usufruem da edificação, projetada por ele. Pode-se então, perceber a
responsabilidade colocada sobre as mãos do arquiteto no momento da criação
58

arquitetônica, visto que pertence ao profissional imaginar e prever como o espaço


poderá tocar aos que um dia irão presenciá-lo. (KNEIB et al., 2013).

2.3.2 Os sentidos como forma de percepção da arquitetura

"O olho é o órgão da distância e da separação, enquanto o tato é o sentido da


proximidade, intimidade e afeição. O olho analisa, controla e investiga, ao passo que
o toque aproxima e acaricia". (PALLASMAA, 2011, p. 43). O ser humano, ao vivenciar
algumas experiências emocionais mais intensas, tende a interceptar com o sentido da
visão, ou seja, fecham os olhos para escutar música, acariciar seus amados, cantar,
suspirar, enfim, para expressar e sentir emoções. Neste instante, as sombras e a
escuridão surgem reduzindo a exatidão da visão, transformando a profundidade e a
distância em incertezas e dúvidas, instigando a visão periférica inconsciente e a
imaginação tátil. A fantasia e a imaginação são impulsionadas através das sombras e
da pouca iluminação. (PALLASMAA, 2011).
Como já mencionado anteriormente, é preciso aprofundar as formas de
exploração dos sentidos na arquitetura, tais como: a audição, o olfato, o tato, o
paladar, e por fim, a visão, exemplificados pela Figura 17 a seguir:

Figura 17: Os cinco sentidos humanos

Fonte: McGann (2015)

• Audição
O som na arquitetura, na maioria das ocasiões, somente se é sugerido na
escolha de músicas ambientes, em que se busca eliminar os ruídos perturbadores,
59

criando uma seleção de ruídos que interessam, tanto para projetos de auditórios,
como para estúdios e igrejas. (KNEIB et al., 2013). No entanto, “Oiçam! Cada espaço
funciona como um instrumento grande, colecciona, amplia e transmite os sons. Isso
tem a ver com a sua forma, com a superfície dos materiais e com a maneira como
estes estão fixos”. (ZUMTHOR, 2006, p.29). De acordo com Ching a audição é o:

Sentido pelo qual se dá a percepção do som e que envolve todo o


mecanismo do ouvido interno, médio e externo, além de incluir os
processos nervosos e cerebrais que traduzem as operações físicas
em sinais significativos. (CHING, 2006, p. 243).

Também descrita pelo mesmo autor, a palavra som é a “sensação estimulada


nos órgãos auditivos pela energia mecânica radiante transmitida como ondas de
pressão longitudinais que se propagam pelo ar ou outro meio.” (CHING, 2006, p. 242).

Figura 18: O sentido da audição.

Fonte: Pinterest (2016j)

Uma etapa imprescindível na intervenção da paisagem sonora interior e


urbana, é o corte ou a diminuição dos sons desagradáveis. Prever soluções e
materiais, que consigam interagir com elementos da natureza ou atividades humanas,
enriquece a sonoridade do relativo espaço. Recursos permitem trazer para o interior
dos ambientes o som da chuva e vento, que atuam de diversas maneiras conforme
passos ou vozes, fugindo do padrão tedioso das soluções tradicionais. Para a
paisagem urbana, recomenda-se a aproximação entre a natureza e os habitantes da
60

cidade, posicionando assim lugares arborizados, praças, parques perto das


edificações e distante de vias movimentadas. Esta proximidade entre a natureza e o
homem proporcionará sensações auditivas, olfativas e visuais prazerosas, além de
sinestésicas, amenizando o estresse do dia a dia acelerado do homem urbano.
(RHEINGANTZ e EMERY, 2001). Na concepção de Pallasmaa (2011) a audição
proporciona experiências que, muitas vezes, não são percebidas instantaneamente
pelo usuário, como por exemplo: retirando a trilha sonora de uma obra
cinematográfica, o filme perde sua flexibilidade, o senso de continuidade e vitalidade.
Em filmes mudos, era preciso utilizar uma representação exagerada, para assim
compensar a ausência de sons. (PALLASMAA, 2011, p. 47).
Neste viés, e com o desenvolvimento tecnológico contínuo, torna-se cada vez
mais fácil recuperar a paisagem sonora de lugares complexos e cheios de obstáculos.
Uma solução é a reprodução artificial dos sons naturais que a cidade afastou das
pessoas. Os sons das árvores balançando ao vento, da água correndo e escorrendo
sobre as pedras, dos pássaros cantando, entre outros sons da natureza que podem
ser produzidos com qualidade e baixo custo.

• Olfato
Pereira (2013) reconhece as qualidades do olfato na arquitetura, associando-o
em especial à memória e sensações consequentemente provocadas, devido a este
órgão sensorial. O olfato é estimulado de modo inevitável por todos e quaisquer
ambientes, porém se não possuir qualidades peculiares significativas, acaba por ser
despercebido pelas pessoas. Este sentido está completamente associado à memória,
sendo possível, a partir dos aromas e perfumes soltos pelos ambientes, a recordação
de experiências vividas pelos usuários. (KNEIB et al., 2013).
61

Figura 19: O sentido do olfato.

Fonte: Pinterest (2016k)

Para Kneib (2013) a exploração do olfato na arquitetura é mais complexa, pois


é considerado como uma consequência dos demais sentidos. O que se entende, é
que se bem planejada a estimulação do olfato em um espaço, por modo consequente,
estará se criando uma relação entre perfumes e memória. Tal perfume ficará
registrado na memória dos usuários, e num segundo contato com o mesmo cheiro,
recordarão da origem do mesmo, e assim surgirão lembranças como: conforto,
segurança, família, bem-estar, etc.

• Tato
As técnicas construtivas de antigamente envolviam o corpo humano
diretamente às obras arquitetônicas, possibilitando um contato íntimo entre o tato e a
construção. (KNEIB et al., 2013). Para que a percepção tátil seja explorada no campo
da arquitetura, é necessária uma associação entre os sentidos, que desperte a
curiosidade dos usuários em tocar a materialidade da arquitetura. Uma opção
interessante é a utilização de materiais naturais, uma vez que estes são convidativos
à experiência do toque, e por serem afetados pelas intempéries do tempo, tornam-se
ainda mais humanizados que os materiais sintéticos.
Toda a superfície cutânea é munida de terminações nervosas sensitivas, que
estão sujeitas a diferentes tipos de estímulos, permitindo assim circunstâncias
favoráveis de exploração do sentido do tato. Uma das alternativas é a utilização de
62

diversas texturas que estimulem o tato e a visão, e também permitam experiências


com diferentes sensações térmicas. (KNEIB et al., 2013).

A pele lê a textura, o peso, a densidade e a temperatura da matéria. A


superfície de um velho objeto, polido até a perfeição pela ferramenta
de um artesão e pelas mãos assíduas de seus usuários, seduz nossas
mãos a acariciá-lo. É um prazer apertar a maçaneta da porta que brilha
com os milhares de mãos que passaram por ela antes de nós; o brilho
tremeluzente do desgaste atemporal se tornou uma imagem de boas-
vindas e hospitalidade. A maçaneta da porta é o aperto de mãos do
prédio. (PALLASMAA, 2011, p.53)

Figura 20: A maçaneta da porta é o aperto de mãos da edificação.

Fonte: Imagens obtidas pela internet

Para explanar brevemente sobre o sentido do tato, utilizou-se, principalmente,


uma das obras do autor Pallasmaa: As mãos inteligentes, na qual ele analisa e
enfatiza a essência das mãos, além de criticar o predomínio do sentido da visão na
cultura tecnológica contemporânea, demonstrando a importância para os demais
sentidos, e uma convocação da abordagem multissensorial na arquitetura. “As mãos
não são meros executores fiéis e passivos das intenções do cérebro: elas possuem
suas próprias intenções, seus conhecimentos e suas habilidades”. (PALLASMAA,
2013, p.23).
As mãos estão, nitidamente, relacionadas com a habilidade humana de
raciocinar. Assim, para o filósofo Martin Heidegger: “A essência das mãos jamais pode
ser determinada ou explicada como sendo um órgão que pode pegar as coisas [...]
Todo o movimento das mãos, em cada uma das suas tarefas, se dá por meio do
pensamento”. (HEIDEGGER, 1977, p. 357). Na mesma linha de raciocínio, o filósofo
63

Gaston Bachelard, pressupõe que as mãos são capacitadas à imaginar: “Até mesmo
as mãos tem seus sonhos e pressupostos. Elas nos ajudam a entender a mais
profunda essência da matéria. É por isso que elas também nos ajudam a imaginar
[formas da] matéria”. (BACHELARD, 1982, p.107).

Figura 21: As mãos nos ajudam a imaginar.

Fonte: Pinterest (2016)

• Paladar
Os sentidos do tato e paladar são muito parecidos, “mas na experiência
sensitiva arquitetônica, o paladar interfere de forma metafórica e não prática”. (KNEIB
et al., 2013, p.186), já que não é de praxe as pessoas experimentarem os gostos dos
materiais construtivos. O sentido do paladar na arquitetura inclina-se para o lado
metafórico e não experimental. A obra arquitetônica, sendo ligada ao tato e a visão,
precisa ser fascinante, pois da mesma forma que um delicioso prato de comida
provoca um indivíduo e o faz salivar, a arquitetura, igualmente, deve estimular o
usuário à novas e prazerosas sensações. (KNEIB et al., 2013).
64

Figura 22: O sentido do paladar.

Fonte: Pinterest (2016m)

• Visão
O autor Ching (2006, p. 283) descreve o sentido da visão como o: “ato ou
capacidade de percepção através dos olhos”. E também expõe o termo ver como a
capacidade de:

Perceber através dos olhos. O ato de ver é um processo dinâmico e


criativo. É capaz de produzir uma percepção tridimensional estável de
imagens em mutação e movimento que formam nosso mundo visual.
São três as etapas envolvidas no processamento rápido e sofisticado
que resultam nas imagens que percebemos. (CHING, 2006, p. 283).

As três etapas anunciadas pelo autor são: “recepção – nossos olhos são
atingidos por uma energia na forma da luz; extração – dessa energia recebida são
extraídos os elementos visuais básicos; inferência – com base nesses elementos,
inferências são feitas acerca do nosso mundo”. (CHING, 2006, p. 283). A atividade do
olho resume-se em ver e observar. Enxergar em um primeiro momento é um auxílio à
segurança do corpo; o observar tem início onde termina o enxergar, induzindo à
apreciação das imagens reveladas pelo olhar. (NEUFERT, 2013).
O arquiteto Juhani Pallasmaa (2013) acredita que a melhor maneira para
explicar os fenômenos da arquitetura é através das outras artes, e concorda com a
sugestão feita por J. H. Van Den Berg: “Todos os pintores e poetas são
fenomenologistas natos”. (BACHELARD apud PALLASMAA, 2013, p. 23). Esta
65

reflexão insinua que todos os artistas investigam as essências das coisas. Além disso,
as artes são criadas a partir de um princípio comum: todas são expressões da
condição de existência humana.
A arquitetura, a pintura e a escultura são reconhecidas como as belas artes.
Elas apelam aos olhos do mesmo modo que a música apela aos ouvidos. No entanto,
a arquitetura não é considerada apenas com base no apelo visual, pois uma obra
arquitetônica afeta todos os sentidos humanos – audição, olfato, tato, paladar e visão.
(CHING, 2006).
Figura 23: Olhares

Fonte: Pinterest (2016p, 2016q)

Ainda que um projeto arquitetônico apresente certa beleza exuberante no


papel, provido de suas quatro fachadas bem harmonizadas e o volume completo bem
equilibrado, a edificação pode revelar-se uma arquitetura pobre. O interior da
edificação, o espaço que não pode ser representado por completo pode ser
compreendido e sentido através da experiência direta, ou seja, é o protagonista da
arquitetura. Apreender e ser capaz de perceber o espaço é o segredo para a
compreensão do edifício. (ZEVI apud CHING, 2006).

A visão isola, enquanto o som incorpora; a visão é direcional, o som é


onidirecional. O senso da visão implica exterioridade, mas a audição
cria uma experiência de interioridade. Eu observo um objeto, mas o
66

som me aborda; o olho alcança, mas o ouvido recebe. As edificações


não reagem ao nosso olhar, mas efetivamente retornam os sons de
volta aos nossos ouvidos. (PALLASMAA, 2011, p. 46).

No entanto, a tecnologia, as mídias sociais, tais como: Google Heart, sites


oficiais de museus, como o Museu do Louvre, que disponibiliza um tour virtual aos
visitantes, proporciona uma percepção apenas visual, porém possibilita aos usuários
conhecer espaços virtualmente que, provavelmente jamais conhecerão
pessoalmente. Conforme Pallasmaa (2011, p. 21): "o único sentido que é
suficientemente rápido para acompanhar o aumento assombroso da velocidade do
mundo tecnológico é a visão". Nesse sentido, a seguir uma breve explanação sobre a
intervenção da internet na arquitetura.

2.4 A arquitetura e a Virtualidade

Constantemente, o poder da tecnologia vem acarretando em mudanças na vida


das pessoas, conforme a velocidade do dia a dia, tornando a aceleração um
ingrediente primordial da tecnologia, sendo, a velocidade, uma das exigências nas
contratações de serviços profissionais arquitetônicos, pois a pressa do cliente
prevalece, e a principal requisição é a elaboração e finalização do projeto arquitetônico
em um determinado prazo, geralmente curto. Em contrapartida, muitas vezes, deixa-
se de lado um fator projetual essencial na arquitetura: a percepção, em detrimento à
praticidade e execução de um projeto.
Segundo Carr (2008) há alguns anos atrás era necessário visitar muitas
bibliotecas e consultar uma série de livros para se pesquisar. No entanto, o que antes
exigia muito mais tempo, hoje, com o auxílio da internet, realiza-se em alguns minutos.
Através de sites de pesquisas é possível encontrar dados e informações sobre quase
tudo que se deseja buscar, além da vantagem de acesso imediato.
Também através de softwares gráficos, com versões atualizadas e com
tutoriais, como o 3ds max, o arquiteto pode desenvolver um projeto e apresentar ao
seu cliente, utilizando a tecnologia a seu favor. Ainda que o cliente não consiga sentir
as texturas, os sons, o gosto, os olhos podem ver e imaginar tais sensações, como se
observa na figura a seguir:
67

Figura 24: Ambiente desenvolvido para o cliente utilizando 3ds max.

Fonte: Projeto desenvolvido pela pesquisadora em 2015.

Software de modelagem, animação e renderização 3D


Dê vida a personagens e ambientes em menos tempo com o software
3D personalizável e de colaboração 3ds Max®. Obtenha novos
recursos e aprimoramentos solicitados pelo usuário criados para
profissionais de entretenimento e designers. (3DS MAX, 2016)

Neste ambiente em particular, o cliente, que muitas vezes não tem a ideia de
como irá dispor os móveis, do projeto de iluminação, das cores a serem escolhidas,
consegue visualizar através do projeto desenvolvido. Assim, imagina a textura do
tapete, do conforto, das cores, entre outros detalhes e, se não gostar, pode sugerir
modificar, refazer o ambiente. Essa possibilidade permite que não seja desperdiçado
tempo nem custo com materiais, móveis e decoração que não sejam adequados ao
espaço. Entretanto, não há nada que substitua o toque, o gosto, o cheiro de um
ambiente real.

Sem dúvida, seria uma visão ludita ignorante e preconceituosa negar


os benefícios do computador. Em um período de tempo muito curto, a
informática modificou completamente inúmeros aspectos da pesquisa,
produção e vida cotidiana. Contudo, ao mesmo tempo em que
reconhecemos os benefícios do computador e das tecnologias digitais
associadas, precisamos identificar os modos pelos quais eles se
diferenciam dos instrumentos anteriores de projeto. Devemos
considerar as limitações e os problemas que eles podem impor, por
68

exemplo, nos aspectos mentais e sensoriais do trabalho do arquiteto.


(PALLASMAA, 2013, p. 97.)

O autor questiona, ainda, se o dom exclusivamente humano da imaginação


está ou não sendo ameaçado pelo excesso de imagens na cultura contemporânea, e
afirma “Será que as imagens produzidas em massa e geradas por computador estão
imaginando por nós?” Em seguida o próprio autor responde que sim. (PALLASMAA,
2013, p.17).
De acordo com Dusek (2009) a tecnologia é fator determinante na estrutura
social e cultural do ser humano, tornando o indivíduo dependente do sistema
tecnológico, abrangendo a publicidade e a administração governamental é possível
perceber que o ser humano é, cada vez mais, controlado pelo sistema da tecnologia.
A internet está se tornando um meio universal, um canal para a maioria das
informações que se origina através dos olhos, ouvidos e mente. O sistema de
computação está integrando a maioria das tecnologias intelectuais, tais como: mapa,
relógio, máquina de escrever, calculadora, telefone, rádio e TV, em um único
equipamento. Nunca um sistema de comunicação desempenhou tantos papéis na
vida do homem moderno, ou exerceu tão ampla influência sobre os pensamentos,
como a internet faz hoje.
De acordo com Alves (2009), a internet como um dos principais meios de
comunicação atual, vem promovendo informações, e inclusive, divulgações de
imagens arquitetônicas, concretas ou ilusórias, mesclando o real ao irreal. Com esta
informação do autor, percebe-se que a influência da virtualidade, é um dos motivos
pelo qual, a valorização da percepção direta entre o corpo e o espaço, vem sendo
deixada de lado, e, cada vez menos, se desperta o interesse pela experiência
presencial entre a arquitetura e o usuário, demonstrando assim, a satisfação apenas
com a percepção visual de imagens arquitetônicas.
A virtualidade cria uma distância entre o corpo e o espaço. O que se deve
valorizar é a experiência concreta, e para isso depende-se da materialidade, e
consequentemente, da técnica. Retornando então, para a questão da tecnologia, a
aceleração como um elemento complementar da era tecnológica, faz com que,
diariamente sejam oferecidas novas possibilidades, no campo de materiais e técnicas
construtivas. É permitido, portanto, a exploração e aplicação de diversos materiais na
área da construção, que decreta um conhecimento enraizado dos materiais para o
alcance do objetivo final, sendo tanto para a obtenção de efeitos perceptivos, como
69

para o conforto ambiental do edifício, a partir da escolha da materialidade. Nesse


contexto percebe-se que:

A diferença entre técnica e tecnologia é epistemológica. A técnica


estabelece procedimentos com a aplicação de conhecimentos; a
tecnologia estabelece conhecimentos com a aplicação de
procedimentos. (SARQUIS, 2012, p.21).

Após a revisão da literatura, que compreende grande parte da pesquisa, busca-


se, então, a verificação dos conceitos, para tentar exemplificar a fenomenologia da
arquitetura, a sensibilidade do espaço, a utilização dos sentidos na arquitetura, utiliza-
se como exemplo a Fundação Iberê Camargo, localizada na cidade de Porto Alegre,
que será apresentado no capítulo quarto, desta dissertação. A seguir o percurso
metodológico é apresentado, auxiliando no processo de análise.
70

3 PERCURSO METODOLÓGICO

Este capítulo tem como objetivo apresentar o método de pesquisa utilizado


neste trabalho. A partir das leituras realizadas buscou-se identificar qual a metodologia
mais adequada ao tipo de estudo proposto. De acordo com Roesch (1999, p. 78):
“definir a metodologia significa realizar uma escolha de como se pretende investigar a
realidade”. Com este mesmo pensamento, Yin (2001, p. 41) afirma que:

Um projeto de pesquisa é muito mais do que um plano de trabalho. O


propósito principal de um projeto é ajudar a evitar a situação em que
as evidências obtidas não remetem às questões iniciais da pesquisa.
Nesse sentido, um projeto de pesquisa ocupa-se de um problema
lógico e não logístico.

As etapas deste estudo são apresentadas a seguir, possibilitando traçar metas


a serem alcançadas a partir de cada etapa efetivada.
1) Questionários com visitantes do Museu em 2015;
2) Pesquisa bibliográfica para embasamento teórico;
3) Pesquisa sobre o artista Iberê Camargo, que deu origem ao Museu;
4) Pesquisa sobre o Arquiteto Álvaro Siza, que desenvolveu e realizou o
projeto arquitetônico do Museu, em Porto Alegre/RS;
5) Visitas ao Museu Iberê Camargo para observação direta;
6) Organização dos dados coletados (pesquisa bibliográfica, questionário,
visitas)
7) Análise dos dados coletados.

3.1 Tipo de Pesquisa

A modalidade escolhida para este trabalho é o estudo de caso. Além disso, no


estudo de caso, é possível descrever a situação do contexto em que está sendo
realizada a investigação, preservar o caráter unitário do objeto estudado e explicar as
variáveis causadoras de efeito em fenômenos bastante complexos. Para tanto, foi
escolhida para esta análise o Museu Iberê Camargo.
71

Como qualquer pesquisa, o estudo de caso é geralmente organizado em torno


de um pequeno número de questões que se referem ao como e ao porquê da
investigação. É provável que questões como essas estimulem também o uso de
experimentos e pesquisas históricas.
Segundo Gil (2008) o estudo de caso não aceita um roteiro rígido para a sua
delimitação, mas é possível definir quatro fases que mostram o seu delineamento: a)
delimitação da unidade-caso; b) coleta de dados; c) seleção, análise e interpretação
dos dados; d) elaboração do relatório. As vantagens podem ser definidas como:
estimular novas descobertas, em função da flexibilidade do seu
planejamento;
enfatizar a multiplicidade de dimensões de um problema, focalizando-o como
um todo e apresentar a simplicidade nos procedimentos, além de permitir
uma análise em profundidade dos processos e das relações entre eles.
De acordo com Flick (2013), o pesquisador não está preocupado em garantir
uma representatividade por amostragem aleatória dos participantes. A abordagem
qualitativa foi essencial para o atendimento dos objetivos deste estudo, principalmente
se for considerado a busca por informações pertinentes à pesquisa.
A pesquisa qualitativa é relevante e contemporânea em muitas áreas e possui
uma variedade de abordagens. Para Flick (2013, p. 23), a pesquisa qualitativa se
destina a analisar situações concretas, em suas particularidades locais e temporais,
partindo das expressões e atividades de pessoas inseridas nos contextos de interesse
do pesquisador.

3.2 Coleta de Dados Utilizada

A técnica de coleta de dados é necessária para demonstrar como foram obtidos


os dados que responderam à questão problema. Conforme Yin (2001, p. 107) existe
seis fontes de coletas de dados: a documentação, os registros em arquivos, as
entrevistas, a observação direta, a observação participante e os artefatos físicos, e,
além dessas, existem outras fontes como filmes, fotografias. Neste estudo, para a
obtenção das informações necessárias que viabilizem alcançar os objetivos deste
trabalho, foram utilizadas as seguintes técnicas de coleta de dados:
• Pesquisa bibliográfica;
72

• Questionário;
• Observação direta;
As técnicas de coleta de dados, descritas por Yin (2001) apresentam ainda
alguns princípios essenciais para o estudo de caso. Conforme o autor é importante a
utilização de mais de uma técnica de coleta com várias fontes disponíveis para isso.
Também se faz necessário organizar os dados coletados de forma acessível, criando
tabelas que facilitem a análise dos mesmos. E, por fim, é importante manter o
encadeamento das evidências coletadas para que o estudo seja confiável.

3.2.1 Pesquisa Bibliográfica

Fundamental para compor a base teórica, a pesquisa bibliográfica é


desenvolvida a partir de materiais publicados em livros, artigos, dissertações e teses.
Segundo Cervo, Bervian e da Silva (2007, p.61), a pesquisa bibliográfica “constitui o
procedimento básico para os estudos monográficos, pelos quais se busca o domínio
do estado da arte sobre determinado tema.”

3.2.2 Questionário

Quando este estudo teve início, ainda em 2015, foi realizada uma pequena
pesquisa no dia 14/06/2015, com pessoas que visitaram o Museu Iberê Camargo, para
fazer uma amostragem de público em um domingo. Foram contatadas diversas
pessoas, algumas não responderam, então, a amostra se restringiu a 15 (quinze)
visitantes. Como o foco principal deste estudo não é o olhar do visitante em relação à
construção, os dados apresentados no capítulo 4 servem para reforçar a importância
do projeto desenvolvido por Siza. Foram feitas 5 (cinco) perguntas. A primeira tinha
como objetivo, traçar um perfil destes visitantes. As outras 4 (quatro) questões eram:
2 (duas) objetivas e 2 (duas) dissertativas.
Conforme Aaker, et al. (2001) a construção de um questionário é considerada
uma “arte imperfeita” e, por isso, não existem procedimentos exatos que garantam
que seus objetivos sejam alcançados, e com a qualidade de informações que se
73

deseja. As questões podem ser abertas ou fechadas, no quadro a seguir são


demonstradas as vantagens e desvantagens de cada método:

Quadro 4: Vantagens e Desvantagens das questões


TIPO DE VANTAGENS DESVANTAGENS
QUESTÕES
Preza o pensamento livre e a Dificuldade em organizar e categorizar
originalidade; as respostas;
Surgem respostas mais variadas; Requer mais tempo para responder às
Respostas, mais representativas questões;
Resposta
e fiéis da opinião do inquirido; Muitas vezes a caligrafia é ilegível;
aberta
O inquirido concentra-se mais Em caso de baixo nível de instrução dos
sobre a questão; inquiridos, as respostas podem não
Vantajoso para o investigador, representar a opinião real do próprio.
pois lhe permite recolher variada
informação sobre o tema em
questão.

Rapidez e facilidade de resposta; Dificuldade em elaborar as respostas


Maior uniformidade, rapidez e possíveis a uma determinada questão;
simplificação na análise das Não estimula a originalidade e a
respostas; variedade de resposta;
Resposta
Facilita a categorização das Não preza uma elevada concentração do
fechada
respostas para posterior análise; inquirido sobre o assunto em questão;
Permite contextualizar melhor a O inquirido pode optar por uma resposta
questão. que se aproxima mais da sua opinião não
sendo esta uma representação fiel da
realidade.

Fonte: Elaboração própria, a partir de Marconi & Lakatos (1996)

De acordo com Marconi e Lakatos (1996) as vantagens do uso do método do


questionário são: a utilização de menos pessoas para execução e baixo custo, tempo,
viagens, com obtenção de uma amostra maior, sem sofrer a influência do pesquisador.
Dentre as desvantagens podem ser citadas: baixo índice de devolução, grande
quantidade de perguntas em branco; dificuldade de conferir a confiabilidade das
respostas; e a impossibilidade do respondente tirar dúvidas sobre as questões o que
pode levar a respostas equivocadas. Com esta visão, foram elaboradas as seguintes
questões:

Quadro 5: Questionário para o Museu Iberê Camargo

TIPO QUESTÃO
Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
74

Idade: _______ Profissão: __________


PERFIL Nível de escolaridade:
( ) Ensino Fundamental incompleto
( ) Ensino Fundamental completo
( ) Ensino Médio incompleto
( ) Ensino Médio completo
( ) Ensino Superior incompleto
( ) Ensino Superior completo
( ) Mestrado
( ) Doutorado
1 - Que importância tem os seguintes sentidos?
Tato
( ) Nenhuma ( ) Pouca ( ) Alguma ( ) Muita
OBJETIVAS Olfato
( ) Nenhuma ( ) Pouca ( ) Alguma ( ) Muita
Visão
( ) Nenhuma ( ) Pouca ( ) Alguma ( ) Muita
Audição
( ) Nenhuma ( ) Pouca ( ) Alguma ( ) Muita
Paladar
( ) Nenhuma ( ) Pouca ( ) Alguma ( ) Muita

2 – Na sua opinião, qual dos adjetivos abaixo definem melhor a arquitetura do


Museu Iberê Camargo? (selecione no máximo 3 adjetivos)
( ) Previsível ( ) Surpreendente ( ) Espiritual ( ) Sensual ( ) Clássico
( ) Moderno ( ) Tranquilo ( ) Excitante ( ) Sóbrio ( ) Extravagante

3 – Você acredita que o próprio edifício possui influência sobre as obras


expostas? ( ) Sim ( ) Não. Justifique:
DISSERTATIVAS
4 – O que seria um projeto arquitetônico com qualidade para você?

Fonte: Elaborado pela pesquisadora (2015)

3.2.3 Observação direta

Na concepção de Barros e Lehefeld (2000, p. 75) a pesquisa de campo precisa


estabelecer objetivos que busquem discriminar o que realmente é relevante para a
pesquisa. Recomenda-se iniciar esta fase realizando uma pesquisa bibliográfica, para
que o autor fique ciente de tudo o que já foi relatado sobre o assunto que está sendo
estudado.
A possibilidade de relacionar a fundamentação teórica, buscando aspectos
comuns que permitam comprovar ou explicar o fenômeno em estudo é ocasionada
através da observação direta, ou visitas de campo, que geram oportunidades para
observações sobre comportamentos ou condições ambientais relevantes para a
pesquisa. Conforme Yin (2001), as provas observacionais são úteis para fornecer
informações adicionais sobre o objeto de estudo. Neste contexto, a unidade de análise
75

da pesquisa em questão é o Museu Iberê Camargo, localizado na zona sul da cidade


de Porto Alegre/RS.

3.3 O objeto de estudo

A escolha do objeto-ambiente de estudo, o Museu Iberê Camargo, localizado


na cidade de Porto Alegre, parte de questões fundamentais para esta dissertação,
como:
a) Edifício público e de fácil acesso a todos;
b) Reconhecimento mundial pela qualidade do projeto (a obra levou o
arquiteto a vencer, em setembro de 2002, o Prêmio de Leão de Ouro, na
Bienal de Arquitetura de Veneza);
c) A materialidade do edifício;
d) A técnica do edifício;
e) Projeto elaborado por um arquiteto que se filia a ideia da percepção,
como diretriz projetual.

3.4 Análise de Dados

A análise dos dados coletados necessita de muita atenção, segundo Roesch


(1999), ao encerrar a coleta de dados, o pesquisador se depara com um grande
volume de notas de pesquisa ou de depoimentos. Estes documentos se materializam
na forma de textos, precisam ser organizados, para posteriormente serem
interpretados qualitativamente. Gil (2008) considera que a interpretação dos dados
consiste, fundamentalmente, em estabelecer a ligação entre os resultados
encontrados com os anteriormente conhecidos através de teorias ou estudos
desenvolvidos.
Após a coleta de dados, a fase seguinte da pesquisa é a de análise e
interpretação. Estes dois processos, apesar de conceitualmente distintos, aparecem
sempre estreitamente relacionados:

A análise tem como objetivo organizar e sumariar os dados de tal


forma que possibilitem o fornecimento de respostas ao problema
76

proposto para investigação. Já a interpretação tem como objetivo a


procura do sentido mais amplo das respostas, o que é feito mediante
sua ligação a outros conhecimentos anteriormente obtidos (GIL, 2008,
p. 168).

3.5 Limitações

Na concepção de Yin (2001) os estudos de caso restringem-se somente a uma


organização ou instituição, e neste caso, apenas ao Museu Iberê Camargo. Nesse
sentido, as limitações podem ocorrer por causa da dificuldade e generalização dos
resultados obtidos.
77

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO

O propósito deste estudo é usar como cenário o Museu da Fundação Iberê


Camargo (FIC) para identificar e analisar os conceitos de técnica, materialidade e
fenomenologia. Entretanto, em primeiro lugar é preciso resgatar um pouco da
memória de quem foi o artista Iberê Camargo. Em seguida, é preciso compreender o
projeto desenvolvido por Álvaro Joaquim Melo Siza Vieira. Assim também é oportuno
resgatar um pouco da trajetória do arquiteto, seus projetos e conceitos utilizados.
Durante a elaboração desta dissertação, em 2015 foi feita uma pesquisa com
os visitantes do Museu, esta também é analisada no decorrer deste capítulo. Com a
coleta finalizada, passa-se, então, para a verificação dos conceitos apresentados na
fundamentação teórica, sob o olhar da pesquisadora e arquiteta.

4.1 Da pessoa ao Museu: um pouco de Iberê Camargo

Antes de falar do Museu Iberê Camargo é importante ressaltar a trajetória deste


artista que dá nome a uma obra conceitual da capital gaúcha. Nasceu em 18 de
novembro de 1914, na cidade de Restinga Seca, interior do Rio Grande do Sul, filho
de Adelino Alves de Camargo, agente ferroviário, e de Doralice Bassani de Camargo,
telegrafista. De acordo com os dados disponibilizados pela Fundação Iberê
Camargo14:

Em 1927, iniciou seu aprendizado em pintura na Escola de Artes e


Ofícios de Santa Maria. Em 1936, mudou-se para Porto Alegre, onde
conheceu Maria Coussirat Camargo. E foi com tela e tintas dela, então
estudante do Instituto de Belas Artes, que Iberê pintou seu primeiro
quadro, às margens do Riacho, na Cidade Baixa – assim começou o
namoro do casal e assim “começou o pintor”. Em 1939, Iberê e Maria
se casaram. Em 1942, ano de sua primeira exposição, o artista e sua
esposa mudaram-se para o Rio de Janeiro, onde viveram por 40 anos.
(FUNDAÇÃO IBERÊ CAMARGO, 2016)

14 Todas as informações foram coletadas a partir do site da Fundação Iberê Camargo. Disponível em:
http://www.iberecamargo.org.br/site/default.aspx Acesso em 07 set. 2016.
78

Figura 25: Iberê e esposa Maria Coussirat Camargo

Fonte: Fundação Iberê Camargo (2016)

Além da vasta coleção de obras, Iberê escreveu livros, ou foi tema de livros
publicados sobre a sua pessoa e obra. Entre eles destacam-se:
• Gaveta dos Guardados. Iberê Camargo, Augusto Massi (Org.) de 2009;
• No andar do tempo. Iberê Camargo de 1988;
• A gravura. Iberê Camargo de 1975;
• Conversações com Iberê Camargo. Lisette Lagnado de 1994;
• Iberê Camargo: origem e destino. Vera Beatriz Siqueira, 2009;
• Resumo. Antonio Olinto, 1954
• Quando nem sempre a morte vence: episódios da guerra do pé-de-
curica. Nilson do Monte Rezende, 1989.

Iberê ganhou diversos prêmios e participou de muitas exposições, entre elas:


Bienal de São Paulo, Bienal de Arte Hispano-Americana em Madri, Bienal de Veneza,
Bienal de Gravuras em Tóquio, entre outras. Apesar de participar de exposições, ele
nunca se filiou a correntes ou movimentos, sempre optou por uma produção única.
Uma de suas pinturas impactantes é a obra Miséria 1, de 1987, conforme se observa
a seguir:
79

Figura 26: Miséria 1 de 1987

Fonte: Fundação Iberê Camargo, Acervo, 1987.

Nas palavras de Iberê em publicação feita por Augusto Massi:

A minha pintura, sombria, dramática, suja, corresponde à verdade


mais profunda que habita no íntimo de uma burguesia que cobre a
miséria do dia a dia com o colorido das orgias e da alienação do povo.
Não faço mortalha colorida. [...] Para mim arte e vida confundem-se.
(MASSI, 2009, p. 135)

Ainda neste mesmo ano, Iberê Camargo lança uma série de obras, intituladas
“Fantasmagorias”, denotando assim a mudança de perspectivas da modernidade para
a pós-modernidade. (CRUZ, 2011, s.p.). Destaca-se a seguinte obra:
80

Figura 27: Fantasmagoria IV, 1987

Fonte: Pedro da Cruz, 2011.

Iberê Camargo faleceu em agosto de 1994, aos 79 anos, deixando um


grande acervo de mais de 7 mil obras, entre desenhos, gravuras e
pinturas. Grande parte desta produção foi deixada a Maria, sua esposa
e companheira inseparável, cuja coleção compõe hoje o acervo da
Fundação Iberê Camargo. (FUNDAÇÃO IBERÊ CAMARGO, 2016)

Em 1995, um ano após sua morte, a Fundação Iberê Camargo, que utilizava
como sede a própria residência de Iberê, buscou um novo local para estabelecer-se.
O grande propósito da Fundação era a preservação do Acervo de Iberê, além de
disponibilizar e aproximar o público deste artista contemporâneo, um ícone do século
XX. Sua esposa reuniu o acervo, guardado ao longo da carreira e doou todas as obras,
para iniciar o projeto institucional. A nova sede da Fundação Iberê Camargo foi
inaugurada em 2008. Tem como visão, missão, programas e projetos o seguinte:
Visão
Ser um centro de excelência dedicado à obra de Iberê Camargo e à
reflexão sobre arte moderna e contemporânea.
Missão
Preservar o acervo, promover o estudo e a divulgação da obra de Iberê
Camargo, e estimular a interação dos públicos da Fundação com a
arte, cultura e educação, a partir de programas interdisciplinares.
Programas e projetos
81

A Fundação Iberê Camargo atende seus públicos por meio


do Programa Educativo, que realiza visitas mediadas e técnicas,
oficinas, Encontros de Orientação para Educadores e a publicação de
materiais didáticos. Suas atividades destinam-se tanto a professores
e alunos dos ensinos infantil, fundamental, médio, superior e de
educação de jovens e adultos (EJA), quanto ao público em geral.
(FUNDAÇÃO IBERÊ CAMARGO, 2016)

2014 foi o ano do centenário de Iberê Camargo. Para comemorar a data, a


cidade de Bagé foi a primeira a receber uma exposição, parte do Projeto Itinerâncias,
com a parceria entre a Fundação e o sistema Fecomércio/SESC.

Figura 28: Artista gaúcho que morreu em 1994

Fonte: Mathias Craemer. Especial Jornal Minuano (2014)

De acordo com Fernando Couto, em artigo publicado para o Jornal Minuano,


publicado em 2014:

A exposição “Iberê Camargo: um homem a caminho” reúne desenhos,


gravuras em metal, guaches, serigrafia e litografias produzidas entre
a década de 60 e o início dos anos 90, quando o artista faleceu.
(MINUANO, 2014, s.p.).
82

Iberê Camargo ficou eternizado pela sua vasta coleção de obras e, com a
construção da Fundação e Museu que levam seu nome, foi imortalizado pelo arquiteto
Álvaro Joaquim Melo Siza, que entre outros projetos idealizou o edifício, projetou,
executou e certamente está entre um dos seus projetos mais conceituados, como Siza
mesmo se refere à Iberê em uma entrevista:

A homenagem, se há, é tentar fazer o melhor possível porque eu gosto


muitíssimo. A pintura dele é de uma autenticidade… Ali, não há nada
para agradar ou intelectualizar, uma autenticidade incrível. [...] É muito
dramática a obra dele, mas também tem coisas de encanto, das
bicicletinhas. Ele é fantástico. (DE LUCA, 2010, s.p).

Nesse sentido, para compreender melhor os projetos desenvolvidos por Álvaro


Siza é importante observar sua metodologia e suas fontes de inspiração, apresentada
a seguir.

4.2 O Arquiteto e alguns de seus projetos

Para entender os motivos que levaram a escolha do arquiteto Álvaro Joaquim


Melo Siza Vieira para realizar e desenvolver o projeto do Museu da Fundação Iberê
Camargo é preciso resgatar a sua trajetória.

Álvaro Joaquim Melo Siza Vieira nasceu em 1933 na cidade de


Matosinhos, na região metropolitana do Porto, em Portugal. Em 1949,
apesar do grande interesse que nutria pela escultura, acabou
ingressando no curso de arquitetura da Escola Superior de Belas Artes
do Porto (ESBAP), persuadido por seu pai. A opção pela arquitetura,
porém, se solidificou quando, ainda estudante, conheceu as obras de
Gaudí. Também encontrou inspiração na de Oscar Niemeyer, que, na
época, exercia grande influência sobre a escola do Porto. Siza,
entretanto, nunca abandonou o exercício da escultura e do desenho.
(FUNDAÇÃO IBERÊ CAMARGO, 2016)

Figura 29: O arquiteto Álvaro Siza


83

Fonte: DÍAZ (2016)

De acordo com a sua trajetória, desde o início da carreira profissional Álvaro


Joaquim Melo Siza Vieira não seguiu o processo formal da arquitetura, construindo
uma obra que busca sempre o novo. Seus projetos têm como características: “a
complexidade formal e a simplicidade do desenho, com investidas constantes nos
planos horizontais, na clareza das formas e no requinte dos espaços.” (FUNDAÇÃO
IBERÊ CAMARGO, 2016).
Uma das obras mais conhecidas de Álvaro Siza é a Casa de Chá da Boa Nova,
que fica localizada em Leça da Palmeira, Portugal. Construída na década de 50, a
edificação que fica próximo ao mar estava em ruínas. Em 2012 iniciou-se um processo
de restauração, ficando pronta em 2014. Conforme Luís J. Santos, em 2014:

A obra de restauro e requalificação, segundo projecto do seu


arquitecto original, prolongou-se por dez meses e terá custado mais
de 440 mil euros. Uma "intervenção profunda", resume a autarquia,
que permitiu "actualizar equipamentos, impermeabilizar o imóvel e
recuperar a cobertura, as madeiras interiores e exteriores, as
caixilharias e o betão aparente". E até o mobiliário original, desenhado
por Siza, foi "reproduzido de acordo com os desenhos da época e
usando os materiais inicialmente previstos". O fotógrafo João Morgado
levanta o véu sobre o novo espaço. (SANTOS, 2014, s.p.)
84

Figura 30: Casa de Chá da Boa Nova

Fonte: João Morgado, P3, 2014.

De acordo com a entrevista realizada com Álvaro Siza, por Dantas (2009), na
qual questiona sobre o processo projetual do arquiteto para com as experiências
sensoriais, Siza responde que para criar um projeto, o profissional necessita dominar
completamente o espaço, e para isto é preciso conhecer o edifício mentalmente. Para
Siza, quando o profissional está a ponto de finalizar a criação dos ambientes, exige-
se do arquiteto a habilidade de se imaginar no espaço em que se projeta de maneira
em que o edifício esteja preparado para receber seus usuários.
De longa distância, a Casa Chá estabelece a sua expressividade formal, sem
entrar em conflito com a paisagem, conectando-se de maneira harmoniosa com o
lugar na qual foi inserida, encontra-se "cuidadosamente integrada num afloramento
rochoso que, em certos locais, quase parece invadir o espaço interior". (JODIDIO,
2013, p.15). Nesse sentido, fica evidente que Siza iniciou o projeto a partir das
características topográficas do local. (MARTINS, 2009)
Nota-se a preocupação do arquiteto com a satisfação dos usuários em suas
obras, seus projetos são pensados e elaborados para seres humanos, com
pensamentos, sentimentos e vontades. Isto se confirma com o cuidado minucioso de
85

imaginar-se e sentir-se nos ambientes projetados, perguntando a si mesmo o que o


espaço expressará e quais experiências sensoriais serão acionadas. Outro projeto de
realização de Álvaro Siza que merece destaque é a construção da Faculdade de
Arquitetura da Universidade do Porto, Portugal, realizada em 1994.

Figura 31: Faculdade de Arquitetura da Universidade de Porto

Fonte: Fernando Guerra, 1994.

Mais um marco da arquitetura contemporânea é observado na Igreja de Santa


Maria. Construída entre 1990 e 1997, localiza-se em Marco de Canaveses, Portugal.
Na concepção de Marina de Holanda, Álvaro Siza aproveita a inclinação do terreno,
para destacar a construção da Igreja, que se manifesta como resultado de uma
estratégia de projeto com base nas particularidades do local. Assim, mais uma vez, é
demonstrado o cuidado com que Siza tem para inserir suas obras no lugar
disposto. (MARTINS, 2009).

Neste exemplo concreto, a luz natural entra através de três grandes


aberturas que se cortam no nível máximo da parede curva. A abertura
horizontal ao longo da parede sul-leste atua como um marco das
montanhas que rodeiam o terreno. No altar há dois grandes espaços
86

iluminados que admitem a luz na capela. A materialidade é a estampa


do trabalho de Siza, as paredes externas brancas são construídas de
concreto armado, já as paredes internas e tetos de estuque, que é
coberto por peças mármore ou pela água que corre. Os pisos são de
madeira, granito e mármore; e a cobertura é criada com lâminas de
zinco (HOLANDA, 2012, s.p.).

Figura 32: Igreja de Santa Maria, Portugal.

Fonte: Ezequiel Rodriguez (HOLANDA, 2012)

Nas obras do arquiteto Álvaro Siza ecoam as vibrações das origens, incitam
respeito e emoções intensas. Tais obras, nem sempre são refinadas ou elegantes,
falando-se em termos estéticos evidentemente, no entanto, sua arquitetura expressiva
e impactante desperta a sensibilidade no ser humano. (PALLASMAA, 2013).
Álvaro Siza, um dos arquitetos contemporâneos com grande tendência em
mesclar o senso da tradição com uma expressão pessoal exclusiva, ressalta: “Os
arquitetos não inventam nada, eles transformam a realidade”. (FRAMPTON, 2002,
p.18 apud PALLASMAA, 2013, p.16).
Por fim, destaca-se o projeto realizado por Álvaro Siza do Pavilhão Português
da Expo 98, que fica as margens do Tejo, em Lisboa Portugal. Um projeto audacioso,
com uma enorme estrutura que tem apenas 20 centímetros de espessura, que
conforme David Langdon:

De longe, com o perfil delgado claramente visível, passa a impressão


de extrema leveza. Por baixo, no entanto, a solidez do concreto e a
vastidão do enclausuramento cria uma sensação de peso e de certa
opressão, que força a atenção dos visitantes às vistas emolduradas
87

pela estrutura. A partir desta perspectiva, apenas a junção entre a


cobertura e os pórticos evidencia a espessura da cobertura. Aqui, em
um detalhe verdadeiramente magistral, o concreto é interrompido
abruptamente antes da parede e revela os finos cabos que ligam a
cobertura aos seus suportes. (LANGDON, 2016).

Novamente é possível observar a simplicidade dos traços e contornos do


arquiteto em seu projeto.

Figura 33: Pavilhão da Expo 98

Fonte: Pedro Moura Pinheiro (LANGSON, 2016)

Este mesmo raciocínio projetual, no qual exige maior sensibilidade do arquiteto


para com o projeto, em se imaginar no seu objeto-ambiente de estudo, também se
reflete na opinião do arquiteto Libeskind (2009), pois ao criar um espaço que nunca
existiu, é de seu maior interesse, a criação de algo que nunca esteve lá, um ambiente
nunca habitado, exceto nas mentes e espíritos. É realmente nisso que a arquitetura
se fundamenta. A arquitetura não é baseada em concreto, aço e demais elementos
do solo, e sim, motivada em deslumbrar o usuário.
Segundo Siza (2003), o ponto de partida para a elaboração de um projeto é a
percepção visual, ou seja, reconhecer o ambiente. O arquiteto necessita envolver-se
da atmosfera de um local para o qual projeta, precisa sentir o espaço, e
posteriormente, aprofundar-se em estudos e documentos, como dados climáticos e
demais objetos necessários para a preparação do projeto arquitetônico.
88

Pensando em observar as reações das pessoas que visitam o museu, antes de


partir para a análise conceitual, propriamente dita, foi realizada uma pesquisa com 15
(quinze) pessoas15 que visitaram o Museu Iberê Camargo, no dia 14/06/2015. Os
dados desta pesquisa são apresentados a seguir.

4.3 Um olhar de visitante para o Museu Iberê Camargo

Esta pesquisa não está pautada nos questionários entregues para os visitantes
do Museu. Entretanto, os dados coletados são fontes de estudo e auxiliam na análise
conceitual que será apresentada no subcapítulo 4.4. Nesse sentido, foram feitas 5
(cinco) questões. A primeira estabelece o perfil do visitante e após são feitas 2 (duas)
objetivas e 2 (duas) dissertativas.
Antes de responder a primeira questão, era preciso traçar um perfil dos
visitantes. Assim, perguntou-se: sexo, idade, profissão, e nível de escolaridade. 9
(nove) visitantes eram do sexo masculino e 6 (seis) femininos. A idade varia entre 19
(dezenove) e 65 (sessenta e cinco) anos, um perfil bem diversificado. Em relação ao
nível de escolaridade, todos os respondentes tinham o ensino superior completo, e 3
(três) possuem mestrado. Esta questão chamou a atenção. Será que os visitantes de
museus são apenas as pessoas com um grau de escolaridade maior?
Essa questão não tem uma resposta simples. Talvez no momento da pesquisa,
não havia nenhuma exposição que atraísse o olhar para outro tipo de público, no
entanto o Museu Iberê, através de parcerias e oficinas, se destaca com a programação
de 28 de agosto de 2016, disponibilizada pelo site da Fundação:

Neste domingo, dia 28 de agosto, a #FIC promove o último Domingo


Infantil de 2016. Nesta edição do projeto, o Programa Educativo
convida as crianças para conhecer e experimentar técnicas de
gravura. Monotipia e ponta seca serão exploradas através de materiais
alternativos em composições individuais e coletivas.
A atividade gratuita acontece das 16h às 18h, para crianças entre 06
e 08 anos. Ressaltamos a importância de respeitar a faixa etária
estipulada para a programação no momento da inscrição, assim todos
os participantes poderão aproveitá-la ao máximo (FUNDAÇÃO IBERÊ
CAMARGO, 2016).

Em estudo elaborado por Luciana Sepúlveda Köptcke, para a Fundação


Oswaldo Cruz (2012, p. 216), foram identificados os “tipos” de visitantes das

15 Os participantes da pesquisa não tiveram seus nomes divulgados.


89

instituições culturais: o público ou praticante, ou seja, aqueles que frequentam os


espaços, que acompanham as exposições, possuem uma agenda cultural; os grupos
que, por suas características sociais e culturais, constituem um público potencial,
aquele que se deseja conquistar; e o “não público”, sendo estes os visitantes
esporádicos, que estão no espaço por casualidade, sem perfil sociocultural e
demonstram pouco ou nenhum interesse ou familiaridade quando indagados a
respeito destas instituições. Como não é o propósito desta pesquisa estabelecer o
perfil dos visitantes, este é apenas um dado, que pode ser aprofundado em outra
pesquisa futura.
A arquitetura, os ambientes e os objetos, são instrumentos para os seres
humanos. No caso de não possuírem qualquer relação com os seus propósitos, serão
apenas elementos brutos, como se não existissem. A arquitetura vivenciada, quando
desocupada, retorna ao seu estado bruto. No entanto, os inúmeros significados e
percepções atribuídos pelos sentidos corporais, na relação usuário-arquitetura, são
transportados com os seres humanos. (FUÃO, 2004).
O espaço é experimentado diferentemente por cada um dos usuários, cada um
com a sua singularidade, no qual os estímulos atribuídos são armazenados pelos
mesmos. O espaço é um fator em comum entre os indivíduos, proporciona estímulos
diferenciados para quem o vive, apesar de cada ser humano o perceber de forma
diferente, o ambiente pode ser planejado para conceder um determinado estímulo nas
pessoas. (KNEIB et al., 2013).
No capítulo dois buscou-se compreender, através dos conceitos de técnica,
materialidade e fenomenologia, as formas de exploração dos sentidos na arquitetura.
Com esta perspectiva, questionou-se a importância dos sentidos (tato, olfato, visão,
audição e paladar) ao visitar o Museu Iberê Camargo, como demonstrado no Gráfico
1, a seguir:

Gráfico 1: A importância dos sentidos


90

nenhuma pouca alugma muita

paladar 1 14

audição 2 13

visão 1 14

olfato 1 14

tato 1 1 13

Fonte: Elaborado pela pesquisadora (2016)

Percorrer uma construção bem ventilada e iluminada, peregrinar pela cidade


apreciando o perfume das ruas, locomover-se pelo interior de um edifício prestando
atenção nas texturas dos materiais que o formam, desfrutar dos parques ouvindo os
pássaros cantarem, contemplar as fachadas com base na psicologia das cores, subir
e descer escadas notando as diferenças de luzes e sombras de um pavimento para o
outro, pisar em jardins e sentir a maciez da grama sob os pés, assistir palestras ao ar
livre e utilizar mobiliários urbanos com design funcional e surpreendente.
Com esta descrição é possível perceber, que quando acrescentadas as
experiências sensoriais, os momentos tornam-se mais vivos e prazerosos. Por isso, é
importante incorporar aos projetos arquitetônicos uma série de sentimentos,
procurando impressionar, não apenas os olhos de quem enxerga a arquitetura, mas
também tocar a alma dos que habitam o edifício. Se aplicadas com bom senso
algumas técnicas, para cada um dos cinco sentidos, é de se esperar que desperte
curiosidade e fascinação no ser humano, além de qualificar a arquitetura como arte.
(KNEIB et al., 2013).
Ao serem questionados sobre quais os adjetivos definem a arquitetura do
Museu Iberê Camargo, sendo que cada respondente poderia marcar 3 deles, obteve-
se o seguinte gráfico:

Gráfico 2: Adjetivos que definem a arquitetura do Museu Iberê


91

2%
Previsível
2% 7%
5% Surpreendente
Espiritual
27%
Sensual
Clássico
24%
Moderno
Tranquilo
2%
Excitante
Sóbrio
31%
Extravagante

Fonte: Elaborado pela pesquisadora (2016)

Interpretando o gráfico percebe-se que o estilo moderno do Museu Iberê


Camargo é o adjetivo mais citado, vindo, logo em seguida, por surpreendente e
tranquilo.

A experiência auditiva mais fundamental criada pela arquitetura é a


tranquilidade. A arquitetura nos apresenta o drama da construção
silenciado na matéria, no espaço e na luz. Enfim, a arquitetura é a arte
do silêncio petrificado. (PALLASMAA, 2011, p.49).

É evidente que a sede da Fundação Iberê Camargo manifesta aspetos de


sossego e tranquilidade. Por intermédio de sua própria volumetria com pouquíssimas
aberturas, faz com que o barulho da agitada avenida permaneça do lado de fora do
museu. Enquanto em seu interior, a calmaria e o aconchego prevalecem, já que as
cores claras transmitem esta ideia.
Também foi questionado se o edifício influenciou a percepção do visitante em
relação às obras expostas. O respondente dizia: Sim ou Não e justificava em seguida.
O gráfico a seguir apresenta o resultado:

Gráfico 3: O Museu Iberê influencia nas obras expostas?


92

12
10
10
8
6 5
4
2
0
SIM NÃO

Fonte: Elaborado pela pesquisadora (2016)

Cada respondente podia justificar a sua escolha. Assim, o quadro traz algumas
das respostas coletadas.

Quadro 6: A influência da edificação nas obras expostas

“A suavidade das linhas não “aprisiona” as obras.”


“Apesar da estrutura moderna do edifício, ele não deve influenciar nas
exposições.”
“Entendo que cada obra exposta tem a sua personalidade, independendo de
onde esteja sendo exposta (neste caso o Iberê).”
“Os ambientes expositivos não comprometem com as obras por serem sóbrios.
Ambientes amplos e silenciosos.”
“Porque a edificação valoriza as obras, assim como as obras valorizam a
edificação.”
“A beleza do espaço de convívio é complementada pela beleza das obras
expostas. É um lugar agradável.”
Fonte: Elaborado pela pesquisadora (2016)

Oscar Niemeyer sempre preferiu a curva, e nesse sentido, seu pensamento


complementa o projeto desenvolvido por Álvaro Siza na realização do Iberê.

[…] Fui talvez o primeiro a dizer francamente que o funcionalismo


ortodoxo não me interessava e que a beleza era também uma função,
e das mais importantes na arquitetura. Na verdade, o ângulo reto
nunca me entusiasmou, nem as formas rígidas e repetidas dos
primeiros anos da arquitetura contemporânea. A curva me atrai
intensamente com a sua sensualidade barroca, e a nossa tradição
colonial e o próprio concreto armado, a sugerem e recomendam.
Oscar Niemeyer (ZEIN, 2012, s.p.)
93

Para cada visitante foi deixado um espaço para que ele escrevesse o que seria
um projeto arquitetônico com qualidade. Dentre as diversas respostas ressaltam-se:
a luminosidade, a acessibilidade, as proporções, entre outras características Nesse
sentido, foram destacadas as seguintes frases:

Quadro 7: Um projeto arquitetônico de qualidade é ...

“Aquele que me passa sentimentos, como uma forma ou textura, ou algo que me
remeta à lembrança que vivi.”

“Que junte paisagem e espaços para convivência. Um projeto arquitetônico deve


inspirar as pessoas e fazer com que elas se aproximem.”

“Luz, amplidão, modernidade, toques pessoais ou artísticos. Misto de Oscar


Niemeyer com Frida Kahlo.”

“Seria um projeto no qual a pessoa pudesse explorar melhor, ao máximo, todos


os sentidos.”

“Que promova o bem estar e com boas soluções na integração com o meio
ambiente.”

Fonte: Elaborado pela pesquisadora (2016)

Conforme KNEIB, et al. (2013), nas construções antigas, a combinação dos


sentidos originavam uma provocação inevitável, desigual do que sucede hoje em dia,
no qual é habitual a desatenção para com o efeito das sombras, da luminosidade, das
dimensões internas e dos materiais selecionados. No atual episódio contemporâneo
e tecnológico, torna-se cada vez maior a valorização da visão como o sentido mais
importante, buscando encantar os usuários excepcionalmente por intermédio dos
olhos, a partir da aplicação da tecnologia inclinada para este propósito.

4.4 Técnica, materialidade e fenomenologia no Museu Iberê Camargo

A justificativa da escolha deste Museu resume-se em sua própria essência, pois


realça de maneira explícita e significativa cada um dos três conceitos relacionados
nos capítulos anteriores: técnica, materialidade e fenomenologia. Ao presenciar o
Museu Iberê Camargo percebe-se o impacto visual e emocional que o mesmo é capaz
de oferecer.
94

Siza, autor de outros dois museus, manifesta sensibilidade para com os


aspectos do lugar durante a criação de suas obras arquitetônicas. Uma de suas táticas
de projeto, bastante evidente, é definida pela investigação e apreensão da realidade,
por intermédio da compreensão das necessidades humanas e da alma do lugar em
que o projeto será inserido. Nas palavras do arquiteto:

[...] as coisas que mais me impressionaram valem da própria


dificuldade do projeto, que é uma coisa imediata. Um primeiro
pensamento: “Conseguir-se-á pôr aqui um museu?”, “Conseguir-se-á,
ainda, espaço para passar um carro de carga e descarga por trás?”,
porque não poderia passar pela marginal. Teve muita influência. Mas
também uma sensação, olhando para aquela escarpa, mesmo antes
de pensar na questão da carga e descarga, de que o edifício não
poderia tocar naquilo. Aquilo é lindíssimo, é revestido por vegetação,
como acontece por aquelas bandas. Isto dá destaque ao edifício. (DE
LUCA, 2010, s.p.)

O projeto para a sede da Fundação Iberê Camargo (FIC) foi realizado e


executado entre 1998 e 2008, momento em que o arquiteto Siza conquistou
reconhecimento internacional. O museu designado para expor as obras do artista
expressionista gaúcho, falecido em 1994, contempla uma independência formal, e que
é capaz de reportar-se ao debate da excessiva autonomia dos arquitetos do intitulado
star system16, decorrente do episódio efeito bilbao17.
De acordo com Fingerle (2008) a arquitetura só pode ser julgada e interpretada,
quando em contato direto com o espaço, ou seja, presencialmente. Assim como para
se apreciar um bom vinho, é necessário bebê-lo e não refletir sobre a sua fórmula
química. Para compreender uma forma arquitetônica, é preciso vivenciá-la frente a
frente, e não apenas se contentar em ouvir descrições a seu respeito. (TÁVORA,
2006). Para esta parte da análise buscou-se a percepção da pesquisadora em visitas
ao Museu Iberê Camargo, bem com a seleção de imagens a partir de fotógrafos que
ilustram com primor cada detalhe do edifício.

16 STAR SYSTEM: Um grupo de oito a dez arquitetos que vão deixando suas marcas, cada qual com
uma linguagem, visando o espetáculo. O arquiteto do star system engrandece sua própria imagem
através desta arquitetura monumental. (BECKER, 2014, s.p.)
17 EFEITO BILBAO: É um exemplo paradigmático pelo uso que se fez do edifício como estratégia de

desenho urbano. Nesse caso, a imagem da arquitetura empregada para gerar crescimento econômico,
político e social. (DORFMAN, 2008, s.p.)
95

Figura 34: Fachada principal do Museu Iberê Camargo

Fonte: ARCHTENDENCIA (2013)

Os arquitetos são, constantemente, acusados de exercerem sob a lógica da


inovação, uma imagem influente e prestigiada de suas edificações, para então se
eternizarem na mídia. De forma complementar, auxilia para esta situação o anseio de
prestígio internacional por parte da própria FIC, que tem o apoio de influentes
patrocinadores. (ALMEIDA, 2012).
As inovações construtivas do museu também estão presentes na idealização
estrutural. A fundação não manifesta pilares e nem sapatas, e sim uma enorme laje
que se equilibra sobre o terreno, atuando como um tipo de casco de navio, que suporta
a volumetria principal do museu, e no qual então, os braços em balanço equilibram-
se e sustentam-se. (NÓBREGA e MOREIRA, 2010). Para Martins (2014, s.p.) o que
pode causar estranheza no início, foi convertido em desafio pelo arquiteto e pelo
engenheiro, pois:

Para aprender a trabalhar com o concreto branco, frequente na


Europa, mas até então pouco usado deste lado do Atlântico - por
causa do preço e da falta de mão-de-obra treinada para utilizá-lo -,
Canal empregou-o já na estruturação do estacionamento,
subterrâneo. Dessa maneira, ele e os operários sabiam como lidar
96

com o material sem surpresas ao levantar as paredes deixadas à vista.


O cuidado extremo com a execução também levou o engenheiro a
elaborar mais de 1 200 "mapas", como ele chama as plantas que
determinavam onde seriam instalados tubulações de água e esgoto,
fiações, dutos de ar condicionado e itens de acabamento. Por fim,
aproveitou-se a facilidade da internet para enviar relatórios semanais
e fotos ao escritório no Porto durante os quase cinco anos de obra,
iniciados em julho de 2003. "É preciso dominar a técnica para fazer a
arte", avalia Canal, outro perfeccionista a cruzar o caminho de Iberê.
(MARTINS, 2014, s.p.)

Álvaro Siza demonstra sua grande apreciação para com o lugar em que projeta,
sendo que para ele “a arquitetura está no sítio”. É possível até mesmo afirmar que é
graças a esta amarração entre seus edifícios e a paisagem envolvente, que sua
arquitetura passou a ser reconhecida. A partir de uma sensibilidade original, Siza
consegue fazer com que a expressão do lugar reflita sobre os elementos da obra
arquitetônica: “um sítio vale pelo que é, e pelo que pode ou deseja ser – coisas talvez
opostas, mas nunca sem relação”. (SIZA, 1995, p. 65). Este conceito assume um
papel central na criação arquitetônica do museu da Fundação Iberê Camargo, como
uma solução eficaz para o envolvente local, e suas respectivas condições oferecidas.
(ALMEIDA, 2012).
Siza, em uma entrevista realizada no ano de 2009 pela arquiteta Adriane De
Luca (2010, s.p.), faz uso do termo atmosferas, assim como o arquiteto Zumthor, para
se referir a uma obra arquitetônica. Siza utiliza o termo para se expressar sobre as
particularidades do sítio, comentando que não são apenas as características físicas
do lugar, mas também as da “atmosfera” encontrada em Porto Alegre, que o
entusiasmaram na elaboração projetual do museu.

Também é física, e no caso de Porto Alegre conta muito porque [o


terreno] é um sítio dificílimo: um buraco, um rio do lado, um estreito.
Portanto, teve muita influência no projeto tentar adequar-se à
topografia. Agora, noutros aspectos, o que me sensibilizou muito, me
impressionou, foi aquilo que tem muito a ver com o Brasil, com a
reação de um europeu, particularmente de um português, no Brasil.
Pela vastidão do espaço, aquela toalha d’água em frente [Guaíba],
enormíssima, e a luz. As duas coisas estão relacionadas. A toalha
d’água que tem os poentes mais bonitos que eu já vi, vermelhos, é
maravilhoso! Portanto, esta sensação de espaço sensibilizou-me
muito, teve muita influência. Depois, a relação com a cidade, com o
centro da cidade, que também é uma coisa muito interessante. A gente
tem que sair do centro da cidade, seguir aquela marginal com jardins
e estar a uma certa distância do fervilhar da cidade. Do edifício vê-se
a cidade toda, aquelas janelas foram muito pensadas, também houve
um bocado de sorte, porque a gente às vezes engana-se no ângulo.
97

Realmente, quando se faz o percurso das rampas, há umas janelas de


que se vê a cidade inteira. Depois, noutros ângulos, vê-se a outra
margem e a tal grande toalha. (DE LUCA, 2010, s.p.).

Para Siza muitos fatores influenciaram seu projeto, entre eles as relações que
se estabeleceram com a cidade, o rio, a luz e a beleza da escarpa. (DE LUCA, 2010,
s.p.). Concebido a partir de uma conspiração de relações formais e visuais com o
cenário em que se encontra, resultou no domínio de uma volumetria vertical de
concreto branco, inserida no pedaço mais largo do terreno, sobressaindo-se com um
conjunto de menores volumes que configura uma série horizontal que se adaptam
sobre a porção plana do lote. Considerado como um positivo da encosta pelo próprio
Siza, a volumetria dominante do museu manifesta caráter dual, constituindo diálogos
com sensibilidades distintas encontradas na arquitetura contemporânea.

Figura 35: Vista aérea da Fundação

Fonte: Gerson LDN (2011)


98

Associa-se ao conceito de arquitetura como paisagem, no momento em que


reproduz igualmente a topografia do terreno, sem abandonar seu caráter específico
de elemento arquitetônico. De modo simultâneo, apresenta-se como um objeto
desconexo, relato que se percebe através de sua materialidade e natureza escultórica,
inconfundíveis. Conforme os usuários se aproximam dos elementos em balanço, os
mesmos adquirem forma e insinuam impressões de que o prisma retangular foi
esculpido com chanfros e escavações em seu volume. (ALMEIDA, 2012).

Figura 36: Vista topo da FIC e seu entorno.

Fonte: Google Maps (2016)

Uma das estratégias de projeto, também encontradas na sede da Fundação, é


o paisagismo visivelmente neutro. Esta escolha em cobrir o terreno com leito de brita
de basalto cogita amplificar a compreensão visual do plano horizontal da Avenida
Padre Cacique, evitando a fragmentação do entorno do edifício, e ainda facilita a
inserção do volume arquitetônico, além de realçar o protagonismo natural da encosta
99

repleta de vegetação. (ALMEIDA, 2012). Associada as estratégias de projeto, a alta


qualidade da construção percebe-se em cada detalhe pensado por Siza, pois:

Essa qualidade reside não apenas no emprego bem-sucedido de


técnicas construtivas inéditas por aqui e no detalhamento exaustivo e
inspirado realizado pelo autor do projeto - serve como exemplo os
vários modos como os encontros entre as peças de mármore que
revestem muitas paredes do museu foram resolvidos [...] A FIC é uma
obra polêmica, instigante, e que certamente terá impacto sobre os
caminhos da arquitetura gaúcha nos próximos anos. (MAHFUZ, 2008,
s.p.).

Alguns traços que se destacaram consideravelmente no edifício da Fundação


Iberê Camargo (FIC), rapidamente, foram comparados às diretrizes de projeto
particulares do arquiteto Oscar Niemeyer, sobretudo a obra do Museu de Arte
Contemporânea de Niterói (1991-1996). Também foram associados aos traços da
arquiteta Lina Bo Bardi, especialmente falando-se na edificação do SESC Pompéia
(1977-1986), como pode ser observado na Figura 36.

Figura 37: SESC Pompéia x Fundação Iberê Camargo.

Fonte: ARCHTENDÊNCIAS (2013)

O estilo hermético do edifício, a volumetria fragmentada, o invólucro em


concreto bruto, a sublime plástica da obra, as formas brancas e as aberturas
exclusivas, ainda que sejam apresentadas similaridades com outras obras
arquitetônicas brasileiras, são aspectos que encontram no contexto motivos mais
100

complexos que esclarecem a sua essência e existência, impedindo interpretações


repentinas e precipitadas.

Sabe que a referência para um arquiteto que está a trabalhar há 50


anos já não é como era quando eu estudava - ver revistas,
entusiasmar-se, tomar ideias. Quando eu entrei na Escola, estava
mais ou menos fixado em um arquiteto, que era o Le Corbusier. A
Escola queria ser moderna e era o Le Corbusier, depois começaram a
aparecer outros. A formação de um arquiteto é de maior
conhecimento, a gente começa a viajar, a ver muito mais coisas e
descobre que não há só um ou dois, embora eles possam se destacar,
mas que há um mundo inteiro de beleza na arquitetura. Vai
assimilando isto a um ponto tal que o que se passa ao projetar já não
é “Bom, aqui segue o Niemeyer”, porque tudo isto que nós vimos está
cá dentro [aponta para a cabeça]. E muitas vezes acho engraçado
porque são apontadas pela crítica referências em que eu nunca
pensei. Por exemplo, a da Lina Bo Bardi, nunca pensei, nunca me veio
à cabeça. No entanto, não há dúvida que eu vi a Lina Bo Bardi e
apreciei muitíssimo. (DE LUCA, 2010, s.p.).

A vinculação entre o edifício e a paisagem urbana, eventualmente, relacionado


a um bunker18 e censurado pela sua forma hermética perante a paisagem composta
pelo lago Guaíba, é uma resposta à condição problemática, como solução para
preservação e acondicionamento das obras de arte. As poucas aberturas colaboram
para conservação e admiração das obras de arte, além de enriquecer a relação entre
interior e exterior, já que o visitante é convidado à contemplar a vista em momentos
específicos do itinerário. (NÓBREGA e MOREIRA, 2010).
O arquiteto cria aberturas de maneira pontual, e cuidadosamente, durante o
percurso, às enquadra com a paisagem e vistas para o exterior, transformando as
próprias aberturas em “obras de arte”, circunscritas no decorrer da circulação das
rampas, as quais dão origem ao átrio e passarelas, como se observa da Figura 38, a
seguir.

18 BUNKER: Abrigo excessivamente protegido e/ou fortificado. (DICIONÁRIO ONLINE PORTUGUÊS)


101

Figura 38: Interior da FIC

Fonte: GUERRA (2014)

A escolha da materialidade do museu, o concreto branco, permitiu ousadia e


liberdade no desenvolvimento volumétrico e flexível da construção. É possível
também mencionar outras qualidades, como a menor absorção de calor, a facilidade
de manutenção e a valorização da iluminação zenital atribuída pelas claraboias. Além
deste material protagonista na obra arquitetônica da FIC, Siza elegeu o mármore, a
madeira e o gesso como os principais revestimentos internos do edifício. (DANTAS,
2009). De acordo com o engenheiro civil José Luiz Canal (2014), Siza preocupou-se
até mesmo, com o detalhamento da instalação das placas de mármore utilizadas no
edifício (Figura 39), sendo todas as peças assentadas com os veios voltados para a
mesma direção. (MARTINS, 2014)

No mármore branco grego que dá acabamento ao topo do guardo-


corpo, uma única peça em cruz revela o exaustivo detalhamento a que
foi submetido o edifício. Em cada canto, rodapé ou soleira, há um
detalhe à espera do olhar atento. A mesma intenção de lapidar o todo
é percebida na parte. Parece quase uma obsessão do projetista [...]
pode-se dizer que Siza é herdeiro de uma tradição arquitetônica
iniciada pelo movimento inglês arts & crafts. William Morris e seus
discípulos trabalhavam em reação ao movimento industrial,
valorizando o artesanato e a manufatura. Nos projetos deles - e de
seguidores de movimentos posteriores, como os orgânicos que tanto
influenciaram Siza (Aalto e Wright) - há o mesmo detalhamento
minucioso do pormenor e até do mobiliário. (SERAPIÃO, 2008, s.p.)
102

Figura 39: Peitoril de mármore

Fonte: Serapião (2008)

No país, o edifício é considerado exclusivo, no quesito materialidade, referindo-


se ao concreto branco, o que dispensa pinturas e acabamentos, expressando leveza
à obra arquitetônica. Foi também empregado na execução, o aço galvanizado a fogo,
para escapar-se da oxidação. (PORTAL VITRUVIUS, 2008)

Figura 40: A paisagem torna-se mais uma obra de arte a ser contemplada pelos visitantes.

Fonte: GUERRA (2014)


103

A construção de uma obra arquitetônica que surge da paisagem está


fundamentada na valorização dos elementos que integram o lugar, no qual a
construção não se baseia em uma forma pictórica19 ou exclusivamente tecnológica,
mas sim a partir da sensibilidade existente no contexto.

Figura 41: Aberturas em posições estratégicas despertam a curiosidade dos visitantes.

Fonte: GUERRA (2014)

Observando os croquis de Siza, é revelada a influência das características do


sítio para a decisão do projeto arquitetônico (Figura 42). As linhas do terreno refletem
na volumetria da edificação, desde os primeiros desenhos e maquetes. O volume final
do museu, em formato espiral que nasce do solo como um bloco compacto esculpido,
se materializa a partir das existências ocultas do lugar. (NÓBREGA e MOREIRA,
2010).

19 PICTÓRICA: Representado visualmente ou por imagens. (DICIONÁRIO ONLINE PORTUGUÊS)


104

Figura 42: Croquis de Siza para o edifício Iberê Camargo

Fonte: ARCHTENDÊNCIAS (2013)

A iluminação natural é utilizada em todos os espaços de serviço e a iluminação


artificial é monitorada por sistemas computadorizados. (COLOMBO e BRUSCATO,
2011). O sistema de iluminação tem como base a luz natural que entra pela claraboia
de vidro leitoso do último pavimento. A iluminação é gerada com a mesma intensidade
por lâmpadas nos pavimentos inferiores, proporcionalmente ao nascer ou entardecer
do dia, o que favorece para a economia de uma grande parcela de energia. Com este
sistema, a iluminação da edificação permanece uniformemente no decorrer do dia. E
ainda a disposição das lâmpadas foi cuidadosamente pensada a fim de não projetar
sombras nas salas expositivas. (PORTAL VITRUVIUS, 2008). Conforme Siza:

Nos museus de arte contemporânea, o problema é cada vez mais o


da organização de exposições temporárias. Mesmo nos museus que
possuem boas coleções permanentes, e organizam manifestações
temporárias a partir de suas coleções. O problema dos museus não é
criar um cenário para obras específicas, mas espaços que permitam
diferentes utilizações; é preciso flexibilidade e certa neutralidade. Mas
não a neutralidade desejada por alguns conservadores, que é uma
não arquitetura ou um vazio. Penso que um museu deve possuir o seu
carácter próprio e manter as ligações com o meio a que pertence.
105

Deve igualmente ser capaz de acolher o que quer que seja. (SIZA
apud JODIDIO, 2013, p.35).

A FIC está localizada em uma antiga pedreira, o terreno com pequenas


dimensões, estreitado e restringido por uma via de intenso fluxo de veículos, além de
oportunizar uma perspectiva deslumbrante para o lago Guaíba. Após a análise da
topografia, e em consequência da pequena porção plana do terreno, Siza escolheu
trabalhar a edificação na vertical, mantendo a vegetação intacta, então assumindo
uma forma que “é como que o negativo, ou, neste caso, o positivo do buraco ondulado
da encosta em que se situa, e a frente do edifício tem uma ondulação simétrica à da
encosta”. (SIZA, 2009, p. 27 apud MARTINS, 2009, p. 131). Isto é, o arquiteto buscou
introduzir características topográficas na edificação.
A volumetria dominante, com quatro andares reservados para as salas
expositivas, acomoda-se no lote produzindo um contraste entre o branco do concreto
e o verde da natureza. (MARTINS, 2009). Foi necessário um estudo aprofundado
referente à modulação da estrutura, para a utilização do concreto branco,
particularidade dos projetos de Siza, existem diferenças de execução entre o concreto
branco e o concreto tradicional, demonstrando que a inovação desta edificação
contemporânea não se restringe às atividades, e sim, em sua própria materialidade e
projeto arquitetônico. (COLOMBO e BRUSCATO, 2011).

O branco é a cor da pureza absoluta, da limpeza e ordem. Na


organização cromática de um ambiente o branco tem um papel
decisivo, para libertar as diferentes cores entre si, neutralizar e assim
clarear, permitindo uma estruturação viva do espaço. (NEUFERT,
2013, p.53).

A sustentabilidade está presente em todo o contexto da construção, que foi


edificada com a atenção voltada para o meio ambiente e economia. A sede da FIC
consome de 30 a 40% menos energia que uma edificação convencional. (MUSAS,
2009). Ainda, Siza preocupou-se em introduzir uma pequena estação de tratamento
de esgoto, oportunizando o reaproveitamento da água no próprio museu. (AMARAL,
2013). Os vasos sanitários são abastecidos por um sistema de captação de água
pluvial. Assim como os resíduos sólidos e líquidos são tratados por uma estação de
esgoto no próprio museu. Sendo a água decorrente do processo e utilizada para irrigar
a área verde da imediação. (ROSSO, 2008, s.p.)
106

Por intermédio do lanternim, os ambientes do último pavimento, são iluminados


naturalmente. O lanternim, constituído por duplo envidraçado possui acesso para
limpeza e ajuste de luz. A iluminação artificial das salas expositivas dos demais
pavimentos é indireta, fundamentada em projetores não visíveis, posicionados acima
de plataformas suspensas no teto. "O edifício em concreto armado emerge como uma
gigantesca escultura branca voltada para o pôr-do-sol no rio Guaíba, como se os três
braços quisessem tocá-lo". (ROSSO, 2008, s.p.)

Figura 43: Lanternim

Fonte: GUERRA (2014)

A temperatura e a umidade interna são administradas por um controlo


engenhoso de monitoração, que garante a conservação do acervo. O sistema de ar
condicionado é do tipo termoacumulação de gelo, no qual o processo consiste
basicamente em produzir gelo durante a noite, período em que a tarifa elétrica é mais
barata, para então refrigerar os ambientes no horário de funcionamento do museu,
reduzindo os custos do sistema de refrigeração, consequentemente minimizando o
consumo de energia. Este sistema se encontra embutido nas paredes das salas
expositivas, com o intuito de se tornarem invisíveis aos olhos dos visitantes, no qual o
107

ar surge através de rasgos inteiros, que estão localizados nas extremidades


superiores e inferiores das paredes expositivas (Figura 44). Além disso, as paredes
são revestidas com lã de rocha (Anexo 11), um eficiente material isolante térmico e
acústico. (PORTAL VITRUVIUS, 2008).

Figura 44: Rasgos para a entrada de ar condicionado

Fonte: Serapião (2008)

É possível contemplar o pôr-do-sol enquanto se desfruta de um delicioso café


(Figura 45). Logo, o espaço-café do museu proporciona momentos de relaxamento e
reflexão aos usuários. Na loja, localizada próxima ao foyer, são comercializados livros
de arte, arquitetura, cinema, fotografia e inclusive livros a respeito das obras de arte e
vida do artista Iberê Camargo. (COLOMBO e BRUSCATO, 2011).

É uma arquitetura que, partindo da atividade interior, busca os focos


de luz natural e as vistas para o entorno [...] É uma posição que se
fundamenta no respeito aos dados preexistentes: para o interior,
coleção e critérios museológicos, e para o exterior, espaço urbano,
jardins e paisagens (MONTANER, 2003, p. 76).
108

Figura 45: Vista do espaço-café do Museu Iberê Camargo.

Fonte: GUERRA (2014)

Em 2002, o projeto arquitetônico da Fundação Iberê Camargo recebeu o Leão


de Ouro, prêmio máximo da Bienal de Arquitetura de Veneza. Uma obra arquitetônica
que marca presença em importantes publicações no mundo inteiro, até mesmo antes
de ser construída já era considerada um marco para a arquitetura brasileira.
(AMARAL, 2013).
Álvaro Siza elaborou o conceito do museu antes mesmo de visitar a cidade de
Porto Alegre, entretanto, como na maioria de seus projetos, o lugar, a inserção urbana
e as características naturais do local são aspectos fundamentais e considerados no
desenvolvimento inicial do projeto arquitetônico para o respectivo arquiteto. (HIRAO e
NERES, 2014).
A volumetria dominante é disposta no limitado terreno, defronte um paredão de
rocha envolvido pela vegetação, ocupando o espaço vazio gerado pela antiga
pedreira. Este volume contempla quase que a mesma altura da encosta existente,
sendo aproximadamente vinte e cinco metros, a geometria abstrata é visivelmente
inspirada no perfil topográfico, um tipo de rebatimento das curvas de nível da encosta,
proporcionando uma ideia de continuidade da mesma, ainda que exista um vão que
109

separe o construído do natural, de modo simultâneo, a materialidade expressiva do


edifício, reforça o confronto entre o museu e a natureza exuberante às suas costas.
(HIRAO e NERES, 2014). Siza refere-se a sede da Fundação Iberê Camargo: “de um
modo geral é muito geométrico o museu”. (DE LUCA, 2010, s.p.).

Figura 46: Implantação.

Fonte: ARCHTENDÊNCIAS (2013)

O museu Iberê apresenta-se como um pronunciamento contemporâneo


complexo e provocativo, tanto em seu formato, como na sua percepção. (SEGRE,
2010). Estas suas características de complexidade e provocação é principalmente
atribuída por meio da relação do edifício e seu entorno. Existe um sentimento de
pertencimento e ainda de libertação, uma criação contextual que se afasta da
tendência arquitetônica do contextualismo e da tendência filosófica do reducionismo,
mas se aproxima do universalismo. Uma vez que Siza tem como objetivo se libertar,
e também pertencer ao lugar. (FIGUEIRA, 2008).
A volumetria branca é realçada pelos braços das rampas, que “longe de serem
percebidos como rampas autossustentáveis ou mesmo como pontes, são
representados como os tendões fraturados de um monstro calcificado”. (FRAMPTON
apud HIRAO e NERES, 2014, p.140). As rampas conduzem os usuários para dentro
e para fora do ambiente de exposição, produzindo uma sensação labiríntica, já que as
mesmas vencem um pavimento a cada lance, sendo que as salas de exposição
110

possuem pé-direito duplo. Esta solução resulta esteticamente em um conjunto de três


braços externos que despertam curiosidade a quem observa do lado de fora. Esta
técnica de circulação conduz os usuários a um percurso que proporciona a
visualização do vestíbulo central interno e das salas de exposição com suas
respectivas obras de arte, e em seguida, dirige os visitantes à rampa externa que com
suas aberturas estratégicas favorecem a contemplação do exterior.
Em um diálogo com Juan Domingo Santos (2008), Siza através de suas
próprias palavras, demonstra não desistir das surpresas e condições problemáticas
decorrentes no projeto, durante o processo de criação. Consistiu em uma arquitetura
inclusiva, fundamentada em pontos funcionais e programáticos, trabalhando com
inúmeras ideias e soluções, disposto a incorporar diferentes estratégias que
contribuíram para a estimulação de experiências arquitetônicas preciosas.

[Os braços] surgiram no momento em que fui consciente de que com


as normativas atuais a pendente da rampa no interior do edifício era
insuficiente, o que me deu a oportunidade de continuá-la ao exterior,
fora do edifício. [...]; e aí surge o desafio da posição que deveriam
adotar em relação com a massa do edifício. Existem alguns croquis do
princípio com as rampas junto ao edifício. Construtivamente teria sido
muito mais fácil de fazer, mas a separação provém justamente da
intenção de criar um átrio, um vestíbulo ao ar livre antes de entrar no
museu, e isso se podia conseguir com as sucessivas rampas em altura
separadas do edifício. Como vê, tudo provém de uma série de
questões muito lógicas. Quase diria que estava obrigado a fazer desta
maneira, era inevitável, e por tanto não se trata de uma invenção
formal senão de algo que se produz com naturalidade. (SANTOS,
2008, p. 34).

A maneira com que Siza sintetizou a conexão entre o programa e o local,


através da forma, ocasionou em traços de inevitabilidade do edifício, uma excelente e
mais sensata síntese nesta circunstância. O arquiteto estabelece a volumetria
principal como uma enorme rocha, e com perfeição e meticulosidade esculpe as
partes. (MAHFUZ, 2008). Sendo assim, difícil de identificar os elementos do sistema
construtivo, como de costume: constituído por pilar, viga e laje. A edificação é íntegra,
síntese formada por propriedades técnicas e poéticas, que causam impressões nos
usuários que à percepcionam. (HIRAO e NERES, 2014).
A sede da FIC, estruturalmente articulando, e abrangendo os volumes
menores, é constituída por paredes autoportantes em concreto armado, inclusive as
paredes internas da volumetria principal são estruturais e auxiliam na distribuição dos
111

esforços sem modificar padrões visuais do ambiente interno. A escolha de Siza na


materialidade do museu, o concreto armado branco, demonstra seu desejo em atribuir
qualidades herméticas e consolidadas à sua obra arquitetônica, simultaneamente,
garante o caráter arquitetônico monumental, típico em projetos contemporâneos para
museus artísticos. Os ambientes internos são revestidos com painéis de gesso
acartonado, que formam shafts amplos para acomodarem as instalações da
edificação. As tubulações não estão aparentes e o detalhamento final da edificação
foi elaborado minuciosamente, como pode ser observado no Anexo 12. (AMARAL,
2013).
O terreno designado ao museu dispõe de 8.800 metros quadrados, sendo que
apenas dois mil metros quadrados consistem área plana. A forma arquitetônica, de
modo geométrico, resume-se em um quadrilátero irregular, que está restrito ao fundo
por um remanescente montanhoso coberto de vegetação, cuja preservação estava
prevista já no início, dos desígnios de Siza. A área total de 8.250 metros quadrados
de área construída compreende o programa de necessidades de museus
contemporâneos, a partir de uma estratégia projetual de edificação em altura, em
função da quantidade limitada de área plana do lote. (AMARAL, 2013).

Figura 47: Os três pavimentos de exposição.

Fonte: ARCHTENDÊNCIAS (2013)


112

O projeto constitui-se na disposição de quatro volumes poligonais em planta


(ver anexos 1 a 3), assemelhando-se a polígonos distorcidos. A maior volumetria
corresponde à principal área do museu, sendo também a única que dispõe de mais
de um pavimento, em um total de quatro andares. Os outros volumes são destinados
aos serviços como: administração, setor de arquivos, sala de reuniões, biblioteca,
ateliês e cafeteria. Os espaços destinados tanto às exposições permanentes quanto
temporárias, localizados no volume principal, possuem uma compartimentação interior
simples, repetindo-se nos três pavimentos de exposição, sendo três salas expositivas
que se apresentam a partir de uma configuração em L, com circulação vertical nas
extremidades.
No pavimento térreo encontra-se a recepção, a loja e o átrio, o qual possui pé-
direito contínuo até a cobertura, proporcionando uma visão de todo o interior da
edificação. É essencial falar sobre os braços suspensos que caracterizam a fachada
do museu, uma vez que são canais de conexão entre os pavimentos, e formam um
percurso museológico, conectando-se à cidade através das aberturas que nestas
rampas se encontram no decorrer do circuito, além de relacionar o interior e o exterior.
O percurso museológico acaba por ser ordenado por estes elementos. (AMARAL,
2013).

Figura 48: Entrada principal da sede, pátio e subsolo.

Fonte: GUERRA (2014)


113

A escada, localizada perto da entrada principal, possibilita acesso ao auditório


e acervos situados no subsolo, abaixo do corpo principal, e também permite circulação
aos volumes secundários, os quais possuem iluminação natural através de grandes
aberturas direcionadas para pequenas áreas do exterior, destinados às áreas
administrativas e ao programa educativo da fundação: biblioteca e ateliês para artista-
residente e crianças. (ALMEIDA, 2012).

Figura 49: Grandes aberturas direcionadas para as pequenas áreas do exterior.

Fonte: GUERRA (2014)

A cafeteria, com sua entrada junto ao pequeno átrio de acesso ao museu,


possui aberturas, mais uma vez estrategicamente elaboradas por Siza, voltadas para
as três unidades chave da paisagem: lago, museu e encosta. Situado ao lado da
cafeteria, longitudinalmente, porém, sob à movimentada avenida Padre Cacique,
encontra-se o estacionamento para aproximadamente 100 (cem) veículos. (ALMEIDA,
2012).
114

Figura 50: Estacionamento do museu.

Fonte: GUERRA (2014)

O átrio a céu aberto é demarcado pelas passarelas em balanço que contribuem


para a condução do percurso museológico; a curvatura das passarelas, do mesmo
modo que a as curvas que integram a pequena esplanada, direcionam os visitantes
para a entrada principal, bastante despretensiosa se comparada ao impressionante
átrio a céu aberto. (ALMEIDA, 2012).

Figura 51: Átrio de acesso ao museu.

Fonte: GUERRA (2014)


115

A pequena escala da entrada principal é rompida, em seguida, pelo átrio de


altura integral do museu, tal como um positivo do átrio a céu aberto, sendo possível
visualizar as atividades ocorrentes nos ambientes internos, galerias superpostas e
rampas que efetuam a transição vertical.

Figura 52: Átrio a céu aberto, demarcado pelas passarelas em balanço.

Fonte: GUERRA (2014)

Para dar sequência a visitação e contemplação das obras expostas, é preciso


dirigir-se até o fundo do museu, perpassando por um sinuoso assento de madeira
(Figura 53), que mantém o raciocínio do roteiro, encaminhando os usuários ao
elevador de conexão entre o térreo e último andar.
116

Figura 53: Assento de madeira

Fonte: Serapião (2008)

Saindo do elevador, o percurso museológico, sugerido por Siza, é iniciado,


atravessando as primeiras salas de exposição do último andar torna-se evidente a
sequência de impressões espaciais e experiências sensoriais, aos quais os visitantes
são expostos. Estes espaços bem iluminados são dominados pela amplitude e
tridimensionalidade, o tranquilo e apropriado percurso para a contemplação das obras
artísticas são configurados por uma sequência rítmica de vãos que implica na
transição transversal do espaço. (ALMEIDA, 2012).
No interior da limitada rampa, provida de iluminação suave, que dirige para os
pavimentos inferiores, pode-se ser dominado pela sensação labiríntica. É dado o início
ao jogo de dentro e fora, brilhante e sombrio, ordem e desordem, intensificando-se no
decorrer do percurso alternado que sucede a cada pavimento. A circulação no espaço
estreito e baixo do túnel, transitado longitudinalmente por sua profundeza, é
estimulada por pequenas aberturas, que por vezes apontam-se para a paisagem, ou
117

para a própria edificação, fortalecendo o conceito labiríntico. Estas janelas que se


repetem de forma semelhante, durante o percurso nos diferentes andares, insinuam
possivelmente, a alucinação do déjà-vu. Ao mesmo instante, no decorrer do circuito,
cria-se um distanciamento temporário das alas expositivas, permitindo uma
interrupção fundamental para se refletir e ponderar ao longo da visita; além de tornar
os pavimentos independentes, o que colabora para a flexibilidade da fundação.
(ALMEIDA, 2012).

Figura 54: Túnel de circulação com abertura zenital.

Fonte: GUERRA (2014)

Conforme Pallasmaa (2013) uma obra icônica na arquitetura são edificações


que elucidam uma apresentação formal distinta, que é sensata e inesquecível. Isto é,
edificações icônicas são centralizações de conceitos poderosos e representações
formais intensas e memoráveis, cada uma delas simboliza uma natureza arquitetônica
exclusiva, irradiando uma aura e um senso especifico de importância e autoridade.
Em virtude de seus espaços de excelência e absolutismo, uma obra arquitetônica
icônica é capaz de alcançar uma aura sagrada espiritual. As edificações icônicas
inclusive expressam uma atmosfera de deslumbramento e nobreza, uma vez que a
118

obra e sua respectiva materialidade estimulam a consciência do ser humano a uma


realidade espiritual e imaginativa. Nessa perspectiva, é devido a estes aspetos, que
provavelmente, o museu da Fundação Iberê Camargo seja apontado como um edifício
icônico por alguns autores.

Uma edificação é encontrada, não apenas vista; ela é acessada,


confrontada, adentrada, relacionada com nosso corpo, percorrida e
utilizada como um contexto e uma condição para diversas atividades
e coisas. Uma edificação direciona, confere escala e emoldura ações,
relações, percepções e pensamentos. (PALLASMAA, 2013, p.124).

De forma análoga ao raciocínio do autor, sugere-se que o mesmo ocorre com


a edificação Iberê Camargo, visto que pode ser acessado, percorrido, contemplado,
relacionado ao corpo, sendo neste momento, do encontro corporal com a edificação,
que se manifestam as percepções e sensações mediadas pelos sentidos humanos. O
Museu Iberê Camargo desperta, também, os sentidos. Como já mencionado
anteriormente, os sentidos trazem percepções que precisam ser vivenciadas,
experimentadas. O olfato pode ser percebido pelos aromas de café que já na entrada
principal aguçam o visitante a conhecer a cafeteria. Quem está no Museu e até quem
não vai visitar as instalações, tem a sua disposição uma cafeteria que disponibiliza um
local para contemplar a orla do Guaíba e seu magnífico por do sol. Novamente
retomando o pensamento de Pallasmaa (2011, p. 56)

Há uma transferência sutil entre as experiências do tato e do paladar.


A visão também se transfere ao tato; certas cores e detalhes delicados
evocam sensações orais. Uma superfície de pedra polida de cor
delicada é sentida subliminarmente pela língua. Nossa experiência
sensorial do mundo se origina na sensação interna da boca, e o mundo
tende a retornar às suas origens orais. A origem mais arcaica do
espaço de arquitetura é a cavidade oral.

A partir deste pensamento de Pallasmaa e das impressões pessoais da


pesquisadora é possível dizer que o tato pode ser percebido em toda a sua imponente
estrutura em concreto branco, que ao tocá-la sente a textura fria e lisa das instalações.
O paladar, a partir do tato, convida o visitante a degustar um café para se aquecer.

Muitos anos atrás, quando estava visitando a DL James Residence,


em Carmel, na Califórnia, projetada por Charles e Henry Greene,
senti-me compelido a ajoelhar e tocar com a língua a soleira de
mármore branco da porta de entrada, que brilhava delicadamente. Os
materiais sensuais e tão bem trabalhados pela arquitetura de Carlo
119

Scarpa, assim como as cores sensuais das casas de Luis Barragan,


frequentemente evocam experiências orais. As superfícies
deliciosamente coloridas de stucco lustro, revestimento extremamente
polido de superfícies de madeira, também se oferecem à apreciação
da língua. (PALLASMAA, 2011, p.56).

Levando em consideração as palavras do autor, e ainda deduzindo que os


materiais descritos anteriormente, nos quais afirma ser estimulado à experiência oral,
são semelhantes ao mármore branco radiante, e a madeira lustrada do museu Iberê
Camargo, presumindo-se então, que os mesmos também são convidativos à
oralidade.
A audição tem duas facetas no Museu Iberê Camargo. Sua construção sólida
e hermética mantém os sons do lado de fora, causando um silêncio aconchegante que
permite a contemplação das obras de arte. Por outro lado, como seu projeto permite
ambientes externos e internos, quando o visitante está do lado de fora, é invadido por
uma quantidade enorme e diversificada de sons (carros, barulho das águas,
pássaros). Com essa percepção e com o pensamento de Rheingantz e Emery (2001,
s.p.) entende-se que Siza pensou nesses aspectos, ao observar o local e inserir os
sons em sua obra de forma a contemplar os espaços e preencher com sons
estimulantes:

O passo mais importante para a intervenção na paisagem sonora


interior e urbana é, sem dúvida, a eliminação ou a redução a níveis
razoáveis dos sons desagradáveis. Um nível excessivo de ruídos,
além de acarretar problemas de natureza física e psicológica,
sobrepõe-se aos sons desejáveis, dificultando ou até mesmo
impossibilitando sua percepção. É necessário "demolir" o ruído para
abrir espaço à construção de um novo ambiente sonoro, utilizando
elementos com nuances, "texturas", "cores", "formas" e sensações
agradáveis e estimulantes, além de uma maior "fidelidade".
(RHEINGANTZ. EMERY, 2001, s.p.)

A visão, talvez o sentido mais perceptível do Museu, recebe uma chuva de


imagens, tanto internas quanto externas. As aberturas que proporcionam uma vista
monumental, as curvas sinuosas da edificação que causam efeitos diversos,
dependendo da localização, as janelas que emolduram o por do sol e proporcionam
um espetáculo à parte. Os olhos penetram na materialidade do museu, e
testemunham o que enxerga, como escreveu Heráclito (1993, p.1): "os olhos são
testemunhos mais confiáveis do que os ouvidos". Além de observada e contemplada,
a arquitetura do museu proporciona prazer aos olhos, estimulando e convidando os
120

demais sentidos, como por exemplo, o tátil, nele é despertado a curiosidade do toque,
na materialidade descoberta pelo sentido da visão. "O homem vê a criação da
arquitetura com seus olhos, que estão a 1 metro e 70 centímetros do solo". (LE
CORBUSIER, 1959, p.164).
As texturas, materiais, luzes, sombras, cores, geometria, identificação entre o
construído e o natural, são igualmente testemunhados pelo sentido da visão, como
dito anteriormente, cuja seleção, cuidadosamente elaborada por Siza, permite
interpretações fenomenológicas, e consequentemente, estimula e provoca sensações
nos visitantes. “Os olhos colaboram com o corpo e os demais sentidos. Nosso senso
de realidade é reforçado e articulado por essa interação constante”. (PALLASMAA,
2011, p.39).
O encontro ao vivo com o museu Iberê Camargo revela uma experiência única
de ligação entre a paisagem e a volumetria compacta branca do edifício; os aromas
da cafeteria e da vegetação ao fundo, os sons do lago Guaíba, os ruídos da
movimentada Avenida Padre Cacique. Nesse sentido, a arquitetura do museu gera
um todo indivisível de sensações. A obra arquitetônica deste museu não é apenas
experimentada como uma representação visual, mas também em sua existência
material e espiritual completamente corporificada através de sua técnica construtiva e
decorrente materialidade.
“A imaginação e a fantasia são estimuladas pela luz fraca e pelas sombras.
Para que possamos pensar com clareza, a precisão da visão tem de ser reprimida,
pois as ideias viajam longe quando nosso olhar fica distraído e não focado”.
(PALLASMAA, 2011, p.44). Possivelmente, Siza, seguindo este mesmo raciocínio,
atribuiu como estratégia de projeto, a utilização de iluminação suave para os túneis
do museu, com a intenção de estimular a imaginação dos visitantes, em cada
“esquina” ou curva, uma surpresa.
Ao experimentar o museu, sucede-se uma transferência recíproca, na qual as
emoções do corpo são cedidas ao espaço e o espaço cede sua aura ao corpo de
quem o experimenta. Estimulando assim, as percepções e pensamentos dos usuários.
As experiências arquitetônicas mais impactantes são aquelas que envolvem todos os
sentidos humanos ao mesmo tempo, por isso, é importante salientar e reforçar a ideia
de projetar para todos os cinco sentidos, permitindo a conexão do usuário ao espaço
projetado, e simultaneamente proporcionando experiências fenomenológicas
exclusivas e memoráveis aos mesmos.
121

A fenomenologia da arquitetura evidencia as essências na experiência vivida,


ou seja, a percepção fenomenológica é realizada a partir dos aromas, texturas, sons,
sabores e temperaturas dos materiais e detalhes arquitetônicos, sendo a
fenomenologia compreendida pelas características sensórias da materialidade. A
combinação de ideias, percepções e funcionalidade estão relacionadas com as
propriedades físicas dos materiais, tais como: peso, temperatura, dureza, maciez,
umidade, textura, cor, que são determinantes nas decorrentes impressões causadas
aos usuários.
122

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Fundação Iberê Camargo, em sua sede atual, é testemunha das


transformações urbanas em Porto Alegre. Projetada e construída pelo arquiteto Álvaro
Siza, guarda em seus mais de 8.000 m2 um acervo digno de ser reverenciado, assim
como o edifício. Sua posição se molda com o sítio onde está edificada, contribuindo
para uma harmonização entre o concreto e a paisagem urbana.
Em um primeiro momento, quando observado do lado de fora, o museu Iberê
causa uma impressão claustrofóbica, em razão da sua forma hermética. Mas, já
mesmo no encontro frente a frente com a entrada principal, esta sensação de um
edifício totalmente tapado, obscuro e misterioso, é abandonada, pois a entrada é
demarcada pela sua transparência e, inclusive, pelo átrio a céu aberto, formado pelas
rampas em balanço, que parecem abraçar os visitantes. Além, de induzir a olhar para
cima, promovem um momento de reflexão e contemplação, antes do contato com as
obras de artes que no museu estão expostas.
A materialidade do museu estimula os usuários ao toque, uma vez que o
concreto branco é considerado um material inédito no país, o piso e os mobiliários em
madeira sugerem intimidade aos espaços, o mármore branco, dispostos sobre os
peitoris e escadas, transmite a sensação de uma temperatura fria, ao mesmo instante
em que se contrasta com a sensação de calor transmitida pela madeira encontrada
nos ambientes e pisos. As luminárias de luz artificial das salas de exposição,
cuidadosamente projetadas por Siza, expressam a ideia de o ambiente ser iluminado
constantemente por luz natural.
Nessa perspectiva, este estudo nasceu da motivação e da possibilidade de
resgatar os conceitos de técnica, materialidade e fenomenologia como ferramentas
de projeto. A partir do museu foi possível perceber que, apesar dos avanços
tecnológicos e da necessidade do imediatismo, ainda assim a fenomenologia se faz
presente, aliadas à técnica e a materialidade. Retomando o objetivo geral da pesquisa,
entende-se que o mesmo foi alcançado, pois em cada espaço do museu encontram-
se detalhes que remetem aos três pilares da arquitetura, que são técnica,
materialidade e fenomenologia.
Recuperando o embasamento teórico apresentado no decorrer da pesquisa, é
possível dizer que, na concepção de Vitrúvio, o arquiteto se preocupava com a
perfeição do conjunto, sem desmerecer nenhuma das partes da execução da
123

metodologia projetual (técnica, materialidade e fenomenologia). Nesse sentido, dada


a relação entre as proporções e a simetria, através dos cálculos, associada à
observação do local, onde seria feita a construção, o arquiteto projeta para harmonizar
e inserir sua obra à paisagem. A arquitetura tem o poder de inspirar e transformar a
existência diária, com qualidade, pois de acordo com Zumthor (2006) ao ser tocado
por uma obra o usuário assimila a atmosfera que o arquiteto deseja transmitir,
sentindo-a, ou seja, atmosferas são experiências em presença corporal em relação a
pessoas e espaços.
A arquitetura contemporânea trouxe, entre outras modificações, uma suposta
liberdade na elaboração de projetos. No entanto há ainda que se buscar conceitos
tradicionais e incorporá-los aos novos projetos, unindo a liberdade com a tradição. A
fenomenologia consiste em um pensamento filosófico que faz reflexões sobre a
experiência vivida. Na arquitetura, este conceito precisa fazer parte da metodologia
de projeto, uma vez que a arquitetura que se apresenta contempla os sentidos: visão,
audição, paladar, olfato e tato. É preciso valorizar a experiência sensorial a partir de
estratégias de projeto, transformando em impressões e sensações para os
usuários/visitantes da edificação.

A função atemporal da arquitetura é criar metáforas existenciais para


o corpo e para a vida que concretizem e estruturem nossa existência
no mundo. A arquitetura reflete, materializa e torna eternas as ideias
e imagens da vida ideal. As edificações e cidades nos permitem
estruturar, entender e lembrar quem somos. A arquitetura permite-nos
perceber e entender a dialética da permanência e da mudança, nos
inserir no mundo e nos colocar no continuum da cultura e do tempo.
(PALLASMAA, 2011, p. 67)

A prática arquitetônica mais sensível, a preocupação com a perspectiva do


usuário, as recomendações especificas remetendo à sensibilização, despertam todos
os sentidos humanos, tais como: as estratégias como manipulação de luz (tanto
natural quanto artificial) e sombra; materiais e suas respectivas texturas que
despertam o interesse do toque; o som do espaço; os cheiros do ambiente; a
disposição dos ambientes que atribuem aconchego; a distribuição dos móveis; as
cores das paredes; a escala dos ambientes; a temperatura do espaço; a conexão entre
interior x exterior (natureza); o tamanho, a massa, o peso das coisas; estar em
harmonia com a natureza. A atmosfera arquitetônica pode até mesmo contribuir para
a sustentabilidade.
124

Na concepção de Ching (2008) a escala humana possui como base o próprio


corpo e a escala monumental deixa o homem “pequeno” em relação às suas
proporções. Este é o caso do Museu Iberê Camargo que foi projetado em escala
monumental, no entanto traz conforto, aconchego, como bem se observou quando os
visitantes, aos serem questionados, definiram o museu com uma característica, e as
principais citadas foram: moderno, surpreendente e tranquilo.
Para que a arquitetura seja capaz de estimular e sensibilizar o ser humano, é
preciso um conhecimento aprofundado sobre a materialidade e a técnica do edifício.
A relação entre o corpo e a arquitetura, a experiência direta com a matéria,
proporciona impressões aos usuários, e para que esta percepção seja significativa, é
preciso, uma maior preocupação com a fenomenologia na metodologia projetual,
priorizando também a materialidade e a técnica para potencializar a concepção da
edificação.
A fenomenologia de Merleau-Ponty pode ser interpretada no museu, quando
se fala em termos formais, materiais, texturas, cores, luzes e sombras que compõem
a edificação, e que podem ser experimentados pelos visitantes da mesma. As
sensações, memórias, significações, associações, sons (a presença e ausência do
mesmo), e os cheiros que estes espaços podem oferecer, tem a mesma força de sua
exterioridade.
A partir da bibliografia consultada e do ponto de vista fenomenológico, a
percepção não existe sem a materialidade. E para que o virtual transforme-se em real,
mais precisamente, em materialidade, é necessária uma técnica. Portanto, um
processo depende do outro, criando um ciclo de interligação entre a percepção, a
materialidade e a técnica. Estes três elementos fundamentais da arquitetura, criam
um novo conceito de tríade projetual.

Figura 55: Tríade Projetual


125

Técnica

TRÍADE
PROJETUAL

Materialidade Fenomenologia

Fonte: Elaborado pela pesquisadora (2016)

Na arquitetura, a exploração da materialidade, em conjunto com inovações


técnicas, e sua respectiva saturação de recursos digitais e tecnológicos, neste
instante, conectam-se às ideias fenomenológicas, ocasionando uma unificação,
possivelmente, necessária para a metodologia de projeto e consequentemente para
um todo da obra arquitetônica. Desta forma, esta pesquisa buscou evidenciar a
importância do estudo detalhado da conexão entre técnica, materialidade e
fenomenologia na arquitetura, como ferramenta para criação de uma arquitetura
capacitada a provocar efeitos sobre os usuários.
A propensão em prol do sentido da visão, o abandono dos demais sentidos
como ferramenta de projeto, a maneira com que a arquitetura é desenvolvida,
instruída e censurada, a resultante desaparição dos atributos sensoriais nas obras
arquitetônicas da atualidade, foram também alguns dos aspectos de motivação na
elaboração desta pesquisa. Nesse sentido, a veracidade da experiência
multissensorial da arquitetura se constitui na linguagem tectônica de se materializar e
na amplitude de se construir uma arquitetura para os sentidos. Contemplar, tocar, ver,
126

sentir, experimentar, ouvir e medir os espaços com toda a existência corporal,


articulando e organizando assim, os ambientes ao redor do centro do corpo humano.
A acelerada evolução urbana e a frenética transformação da cultura em
dispositivos de consumo em massa são algumas das razões que estão refletindo
desfavoravelmente na produção arquitetônica contemporânea, resultando em um
fenômeno de globalização, desenvolvimento de padrões construtivos e chuva infinita
de formas e imagens. Provocam, assim, um certo distanciamento entre a arquitetura,
o lugar e as pessoas. A arquitetura precisa ser capaz de fortalecer as relações entre
ambientes e pessoas.
A Fundação Iberê Camargo chama a atenção das pessoas que passam pela
avenida, à beira do Guaíba. A arquitetura, por si só, já é uma obra de arte a céu aberto.
Assim, aliar os conceitos da tríade vitruviana e as hipóteses apresentadas neste
estudo impulsiona a pesquisadora a aprofundar o tema. A utilização da nova tríade
projetual, descortinada pelo estudo de caso da Fundação Iberê Camargo, é a base
para pesquisas futuras.
127

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Acesso em 25 set. 2016.
138

ANEXOS
139

ANEXO 1: PLANTA SUBSOLO, ESTACIONAMENTO ABAIXO DA AVENIDA E


PLANTA PRIMEIRO PAVIMENTO

Fonte: ARCHTENDÊNCIAS, 2013

Fonte: ARCHTENDÊNCIAS, 2013


140

ANEXO 2: PLANTA SEGUNDO E TERCEIRO PAVIMENTO

Fonte: ARCHTENDÊNCIAS, 2013

Fonte: ARCHTENDÊNCIAS, 2013


141

ANEXO 3: PLANTA QUARTO PAVIMENTO E PLANTA COBERTURA

Fonte: ARCHTENDÊNCIAS, 2013

Fonte: ARCHTENDÊNCIAS, 2013


142

ANEXO 4: CORTE TRANSVERSAL E LONGITUDINAL

Fonte: ARCHTENDÊNCIAS, 2013

Fonte: ARCHTENDÊNCIAS, 2013


143

ANEXO 5: INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS E SISTEMA DE AR CONDICIONADO

Instalações hidráulicas na galeria técnica do subsolo.

Fonte: Fundação Iberê Camargo (2016)

Equipamentos de ar condicionado na galeria técnica do subsolo.

Fonte: Fundação Iberê Camargo (2016)


144

ANEXO 6: ARMAÇÃO DAS PAREDES E CONCRETAGEM DA LAJE

Armação das paredes.

Fonte: Fundação Iberê Camargo (2016)

Concretagem da laje.

Fonte: Fundação Iberê Camargo (2016)


145

ANEXO 7: EXECUÇÃO DAS PAREDES

Execução de paredes internas dos pavimentos inferiores.

Fonte: Fundação Iberê Camargo (2016)

Armadura das paredes

Fonte: Fundação Iberê Camargo (2016)


146

ANEXO 8: CONCRETAGEM DAS RAMPAS E BASE DA ESQUADRIA

Concretagem das rampas.

Fonte: Fundação Iberê Camargo (2016)

Armadura das paredes das rampas exteriores e base da esquadria.

Fonte: Fundação Iberê Camargo (2016)


147

ANEXO 9: ARMADURAS PAREDES, LAJE E RAMPA EXTERNA

Armadura paredes e laje.

Fonte: Fundação Iberê Camargo (2016)

Armação da laje da rampa externa.

Fonte: Fundação Iberê Camargo (2016)


148

ANEXO 10: PERFIS METÁLICOS E ÁTRIO APÓS CONCRETAGEM

Posicionamento dos perfis metálicos na laje de cobertura.

Fonte: Fundação Iberê Camargo (2016)

Vista interna do átrio após concretagem.

Fonte: Fundação Iberê Camargo (2016)


149

ANEXO 11: REVISTIMENTO DAS SALAS COM LÃ DE ROCHA

Revestimento das salas de exposição com lã de rocha.

Fonte: Fundação Iberê Camargo (2016)

Espaço interno das salas expositivas.

Fonte: Fundação Iberê Camargo (2016)


150

ANEXO 12: COLOCAÇÃO DE GESSO E SAÍDAS DE AR CONDICIONADO

Colocação de gesso nas salas expositivas.

Fonte: Fundação Iberê Camargo (2016)

Auditório no subsolo e suas respectivas saídas de ar condicionado.

Fonte: Fundação Iberê Camargo (2016)

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