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Pierre Weil Esfinge Estrutura e Misterio Do Homem PDF

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Pierre Weil

ESFINGE:
ESTRUTURA
E
MISTÉRIO
DO
HOMEM
Do mesmo autor:

EM FRANCES:

1. La Jeunesse et le Scoutisme devant le Probleme Sexuel. Prefácio do Prof.


Bourjade, da Universidade de Lyon Ed. "L'Arc Tendu", Paris 1947.

2. L'Affectivo Diagnostic - Presses Universitaires de France, Paris 1952.

3. Le Dessin chez l'Enfant - em colaboração com René Zazzo, Pierre Naville


etc... - Prefácio do Prof. Henri Wallon, professor na Sorbonne e no
"Collège de France" - Presses Universitaires de France, Paris 1950.

4. Relations Humaines dans ia vie familiale et professionnelle - DUNOD, Paris


1963.

5. Relations Humaines entre les parents, les enfants et leurs maitres - DUNOD,
Paris, 1963.

EM PORTUGUÊS:

6. ABC das Relações Humanas - Ed. Nacional, São Paulo 1954.

7. ABC da Psicotécnica (Psicologia Aplicada) - Ed. Nacional, São Paulo 1955.

8. Relações Humanas na Família e no Trabalho - Ed. Vozes, Petrópolis 1972 (26v


edição).

9. A Criança, o Lar, a Escola - Ed. Civilização Brasileira, Rio 1960.

10. A sua Vida e seu Futuro - Ed. Civilização Brasileira, Rio 1962.

11. Manual de Psicologia Aplicada - Ed. Itatiaia, 1967.

12. Amar e Ser Amado - Ed. Civilização Brasileira, 1965.

13. Dinâmica de Grupo e Desenvolvimento em Relações Humanas (DRH) - Ed.


Itatiaia.

14. O Psicodrama. Prefácio de J. Moreno - CEPA, Rio 1967.

15. Liderança, Tensões, Evolução - Ed. Itatiaia, Belo Horizonte 1972.

16. O Potencial de Inteligência do Brasileiro - em colaboração com Eva Nick -


CEPA, Rio, 1972.
17. Esfinge: Estrutura e Mistério do Homem - Vozes, Petrópolis, 1972.

EM ESPANHOL:

18. Relaciones Humanas en la Familia y en el Trabajo - Ed. Kapeluz, Buenos Aires,


1965.

19. Relaciones Humanas entre los Alumnos, sus Profesores y Padres - Ed. Kapeluz,
Buenos Aires, 1965:
HERMANN HESSE A. A. NEHER (257)

A vida de todo ser humano é um A duração da vida do homem pode ser


caminho em direção a si mesmo, a comparada a uma faísca entre duas
tentativa de um caminho, o seguir de eternidades. A eternidade que se
um simples rastro. Homem algum encontra atrás de nós tem nome de
chegou a ser completamente ele passado; a duração da faísca:
mesmo; mas todos aspiram a sê lo, presente; a eternidade que está diante
obscuramente alguns, outros mais de nós: futuro. O passado existiu, o
claramente, cada qual como pode. presente existe, por que não existiria o
Todos levam consigo, até o fim, futuro?
viscosidades e cascas de ovo de um
O nosso passado não é um enigma
mundo primitivo. Há os que não
tecido de hieróglifos dos quais
chegam jamais a ser homens, e
nenhuma hermenêutica nos fornece a
continuam sendo rãs, esquilos e
chave. Nós somos o produto direto
formigas. Outros que são homens da
dele. Numa seqüência sem parada
cintura para cima e peixes da cintura
nem fresta, os nossos pais nos
para baixo.
transmitiram a sua crença, e o
Mas cada um deles é um impulso em presente nos impõe a obrigação de
direção ao ser". prosseguir esta transmissão, de
moldar
e de continuar esta cadeia, com vistas
a um vir a ser.
Eis o objetivo de nossa existência, e
se atingirmos este objetivo, não
teremos vivido em vão".
Agradecimentos

Os nossos especiais agradecimentos a todos os que nos ajudaram neste


li vro.

Ao Professor Igor Caruso de Viena e da Universidade de Salzburgo. que


muito nos estimulou a escrever este livro.

Ao Professor Abraham Moles, da Universidade de Estrasburgo que nos


alertou a tempo sobre importantes aspectos metodológicos; lamentamos não termos
tido oportunidade de desfrutar mais tempo dos seus preciosos ensinamentos.

Ao Professor Jorge Kriticos, sem o qual este livro provavelmente nunca teria
sido escrito, a expressão de nossa profunda gratidão e ao seu Mestre" Sevananda"
o nosso reconhecimento pela sua gentil indicação de fontes bibliográficas esotéricas.

À Professora Suzanna Ezequiel da Cunha, professora de Estatística do


Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais e ao
Professor Antônio Luiz Rodrigues da Costa, Chefe do Serviço de Tratamento de
Dados do mesmo Departamento. os nossos agradecimentos pelos cálculos e
opiniões que muito nos ajudaram.

À Professora Maria Luiza Ramos e ao Professor Romanelli, do


Departamento de Letras da mesma Universidade, devemos a análise semântica de
várias palavras ligadas à Esfinge.

Às Doutoras Maria Silva Machado e Berta S. Porto Maia que tiveram a


gentileza de colocar à nossa disposição material do Teste "Bestiaire" colhido em
adolescentes delinqüentes.

À Professora Elza Lima do Departamento de Psicologia da Universidade


Federal de Minas Gerais, devemos uma investigação especial dos Sínodos
Humanos no Psicodiagnóstico de Rorschach.

Ao Maestro Carlos Alberto Pinto Fonseca, Dirigente da Orquestra Sinfônica


da Universidade Federal de Minas Gerais, que muito contribuiu nas interpretações
dos símbolos musicais ligados aos animais da Esfinge.

NOTA:
Este livro foi objeto de uma tese de Doutoramento na Universidade de Paris, tendo recebido menção
honrosa.
SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS

INTRODUÇAO De Como o Autor foi Levado à Análise da Esfinge.

CAPÍTULO O que é uma Esfing e?


1. A Esfinge como Enigma. 2. Dados Estatisticos sobre a
Comparação das Esfinges. 3. Tentativa de Definição.

CAPITULO III A Esfinge como Símbolo.


4. Interpretações Simbólicas de Esfinge. 5. O Elo entre a
esfinge e os Animais Simbolos do Antigo e Novo Testamento.
6. Os Querubins dos Textos Bíblicos. 7. Hipótese sobre a
Origem dos Mitemas Biblicos. 8. Significados Exotéricos e
Esotéricos. 9. A Posição da Esfinge. 10. Cabeça Coberta. 11. O
Sexo. 12. Função de Guardião.

CAPÍTULO III Os Símbolos Animais.

13. Os Símbolos Animais nas Religiões e na Psicologia


moderna. 14. O Boi. 15. O Leão. 16. A Águia. 17. A Serpente.
18. Serpente e Árvore da Vida. 19. Relações entre os
Elementos Simbólicos. Alguns dados estatísticos
complementares. 20. A Cauda, um Simbolo?. 21. A Esfinge e a
Árvore da Vida.

CAPÍTULO IV A Árvore da Vida e da Ciência.

22. Árvore da Vida, Um Modelo Cosmo lógico. 23. Metodologia


de Abordagem da Estrutura Cosmológica. 24. Árvore da Vida e
Numerologia. 25. A Cabala. 26. Da Árvore Sefirótica à Estrutura
da Esfinge.

CAPÍTULO V A Esfinge como Unidade Estrutural.


27. Conceito de Unidade nas Religiões. 28. A Unidade na
Cabala. 29. A Esfinge como Totalidade. 30. Da Unidade à
Pluralidade. 31. O Princípio de Unidade Psicossomática no
Século XX.

CAPITULO VI Dialética na Esfinge.

32. A Bipolaridade. 33. O Binário na Cabala. 34. O Yin Yan


Chinês. 35. A Terceira Força. 36. A Espaço Bidimensional e a
Hierarquia dos Elementos na Esfinge. 37. A Contradição na
Época Moderna. 38. A Dialética dos Contrários em Psicanálise.
39. A Bipolaridade em Psicologia.

CAPÍTULO VII O Ternário.


40. Análise Numerológica da Palqvra KRUB. Significância
Estatística. 41. O Ternário nas Religiões do Mundo. 42. A
Estrutura Ternária do Homem e a Esfinge. 43. O Ternário e os
Dados da Ciência Psicossomática Moderna. 44. Do Átomo ao
Cosmo. 45. Mensagem dos Antigos.

CAPITULO VIII O Homem e Sua Evolução.

46. O Quarto Elemento da Esfinge e o Tarô dos Ciganos. 47. A


Evolução Consciente do Homem. 48. Os Estágios Evolutivos.
49. O Despertar do Homem. 50. As "Vias" para o Quarto
Estágio. 51. Homem Consciente versus Autômato no Século
XX. 52. O Comportamento de Auto conhecimento e
Autocontrole. 53. Dos Animais da Esfinge ao Homem.

CAPÍTULO IX A Serpente da Esfinge na Experiência Estética e


Psicoterápica.

54. A Esfinge no Mundo das Formas. 55. A Esfinge e as Cores.


56 Esfinge e Música. 57. Experiência Culminante e a Serpente.
58. A Experiência Sublime em Psicoterapia. 59. Natureza da
Experiência Sublime. 60. O Problema do "Poder da Serpente".

CAPÍTULO X Maturidade e Amor.


61. A Maturidade. 62. O que é Maturidade nas Relações
Amorosas?. 63. Existe Estágio "Final" na Evolução das
Relações Amorosas?. 64. Um Conceito Dinâmico e Energético
da Maturação das Relações Amorosas. 65. A Esfinge na
Sociometria das Relações Amorosas. 66. Os Desencontros de
Nível de Maturação. 67. Perguntas Fundamentais sobre as
Origens da Evolução do Homem.

CAPÍTULO XI Esfinge e Estrutura.

68. Algumas Considerações Metodológicas. 69. Estrutura da


Obra e Estrutura da Esfinge. 70. Relações entre Estrutura do
Autor e Estrutura da Obra. 71. Definição do que é Esfinge. 72.
Natureza Simbólica da Esfinge. 73. A Esfinge como Simbolo
Cosmológico Exo Esoterico. 74. Sugestões para Pesquisas
Futuras sobre os Mitemas Animais da Esfinge. 75. Esfinge e
Simbolos Arborimórficos a Matemáticos Esotéricos. 76. Outras
Pesquisas Necessarias. 77. A Esfinge como Simbolo de
Modelo Estrutural "Primário" ou "Mãe". 78. Esfinge e
Comunicação.

CONCLUSÃO Esfinge e Sobrevivência da Humanidade.


Bibliografia.

Indica das Citações Bibliográficas.

Iconografia (indica das Fontes Bibliográficas das ilustrações).


INTRODUÇÃO
De Como o Autor
foi Levado à
Análise da Esfinge

Se alguém me tivesse dito há alguns anos atrás que eu escreveria um livro


sobre a esfinge e que isto me levaria a estudar a Cabala Hebraica, os Vedas Hindus,
a Bíblia e, ainda mais, o Tarot dos Ciganos e Lao Tse, procurando as relações
existentes com as Ciências Humanas do mundo moderno e, mais particularmente, a
Psicologia Científica, teria rejeitado esta idéia com jocoso ceticismo.

Como? Eu, formado e impregnado do cartesianismo francês, influenciado


pelos meus mestres, experimentalistas ferrenhos, como Henri Piéron, Wallon,
Piaget, Rey, Leon Walther e outros, poderia lidar com as chamadas Ciências
Esotéricas?

Na verdade, sem este preparo científico que me proporcionou certa


disciplinação racional na abordagem dos problemas, não teria escrito este livro na
forma que está. Hoje sou agradecido a estes mestres a quem devo a minha
formação psicológica. lamento, até hoje, não me ter deixado impregnar mais ainda
deste espírito, pois teria sido ainda mais rigoroso e mais exigente nesta abordagem
analítica do Mito da Esfinge.

Se o rigor científico foi preparado pelos meus mestres, a curiosidade em


torno dos assuntos ligados à esfinge tem profundas raízes na minha história pessoal.

Na minha família se praticavam três religiões: o catolicismo, o judaísmo e o


protestantismo. Havia certas semanas em que a minha mãe ou meu pai me levavam
a um casamento judaico na sinagoga, à missa católica ou a um culto protestante;
aprendi hebraico, estudei o Talmud, via a hóstia redonda nas missas, e o símbolo
ternário de Cristo se misturavam na minha mente com a idéia de um Deus Único,
com o nome de Jeová. A cruz cristã se avizinhava da estrela de Davi, do leio
guardião das Tábuas da lei de Moisés, e do Candelabro de Sete Velas. Assistia ao
Natal cristão, à missa de meia noite e ao acender as velas de Hanuka; a Páscoa me
levava a observar ritos em que, hoje o percebo, a esfinge estava indiretamente
presente no Seder Judaico e na Simbologia evolutiva da vida de Cristo.
De vez em quando, já adolescente, eu lia cartas que um tio, cabalista em
Argel, escrevia para o meu pai; eram coisas estranhas, que tendia mas que me
li gavam ao mesmo tempo, ao mundo da Cabala e também ao mundo muçulmano,
pois ate hoje, muçu manos e judeus acendem velas ao seu túmulo.

Lembro-me também que, quando eu ia para a escola, passava junto de um


camelô que vendia pedras para dar a sorte, e havia também uma roda do zodíaco.
Pacientemente e em segredo, copiei a roda em que havia possibilidade de dar o
número da sorte, a cor da pedra correspondente e, se não me engano, o caráter da
pessoa. Estava eu entrando na fase mágica da minha ontogênese de Psicólogo.
Chegando em casa, eu distribuía predições e horóscopos a quem quisesse. Eu me
sentia muito importante com este "poder".

É Obvio que aprendi muito cedo a relatividade cultural dos ritos religiosos; a
leitura de Voltaire nos meus estudos secundários, e a dissertação francesa, em que
se cultivava o levantamento da tese, da antítese e da síntese, me levaram a chegar,
aos poucos e por mim mesmo, à conclusão de que todas as religiões eram
parecidas, e que também as religiões dividiam os homens; eu sonhava com uma
espécie de "associação católica dos judeus protestantes a favor do maometanismo
budista". Lembro-me que isto era objeto de brincadeiras em casa.

A esta formação poli-religiosa se acrescentava a integração na minha


pessoa de duas culturas cujos povos entravam em guerra periodicamente: a
francesa e a alemã. Em minha casa, além disto se falava o alsaciano, misto destas
duas línguas. Na biblioteca do meu pai, eminente jurista alsaciano, eram vizinhos
Heine, Goethe, Molière, Corneille, Voltaire e Rousseau, e Hermann Hesse...

Se estas oposições culturais e religiosas me fizeram sofrer durante muito


tempo, devo reconhecer que elas me levaram também a uma abertura de espírito, a
uma disponibilidade para com idéias novas e a uma certa isenção de estereótipos e
preconceitos.

Três religiões e duas culturas em constante conflito constituíam um terreno


fértil em mim para compreender e analisar contradições. Não e de estranhar que me
entusiasmasse pelos assuntos relacionados com tensões e conflitos, psicoterapia de
grupo e psicodrama. E os seus estudos sobre a esfinge levavam me a imaginar uma
técnica especial de psicodrama: O "Psicodrama da Esfinge" que será objeto de
publicação a parte.

Quando conheci o Brasil, era quase fatal que eu gostasse deste país, misto
que é, como eu, de várias culturas e de várias raças. Creio que os meus vinte anos
de vida no Brasil muito me favoreceram também nesta análise da esfinge, pois
enquanto eu realizava pesquisas sobre o nível mental da popuilação ou sobre as
reações emotivas eletrocultâneas, tomava contacto aos poucos com o estranho
mundo da macumba, dos candomblés da Bahia e da umbanda.

Certo dia, num mercado da zona amazônica, encontrei uma estrela de Davi,
de madeira, com a cruz cristã dentro dela; que bonito símbolo unitário em relação ao
meu passado...

Numa sessão de umbanda, recebi explicações de um "pai-de-santo" sobre o


seu colar, em que notei o setenário, que muita relação tem com a esfinge, como
veremos mais adiante; as explicações que recebi deixaram me atônito: estava ele
me explicando as mesmas coisas que tinha encontrado nos meus estudos sobre a
cabala, a começar por Adão Kadmão e seres andróginos que precederam os
homens... São tradições que vieram provavelmente da África, pois os ritos são afro-
brasileiros.

Estavam se cultivando em mim as condições indispensáveis, para o


exercício da profissão de psicólogo, entre as quais figura a libertação do
antropocentrismo.

Interessante é que, á medida que estudava a esfinge, sentia em mim uma


espécie diferente de antropocentrismo. Como se sabe, a antropologia, como o
mostra, por exemplo, Lévi-Strauss, só se tornou possível a partir do momento em
que os cientistas se mostraram capazes de avaliar outra civilização, sem o
preconceito de superioridade da nossa; levou se, por exemplo, muito tempo para se
chegará conclusão de que os índios da América não eram animais. A decisão foi,
aliás, tomada por um Papa.

Eu não tinha sentimento de superioridade em relação aos índios ou negros


da nossa época. Mas havia em mim uma barreira, que eu chamaria de
antropocentrismo histórico ou de "cienticentrismo". É a idéia de que as verdades só
se encontram através da ciência ocidental oficial e contemporânea e que as
chamadas ciências esotéricas ou "ocultas" eram desprezíveis. Enquanto comprava
esses livros, surpreendi me várias vezes escondendo os das vistas de psicólogos
amigos meus; eu poderia ser mal interpretado. Além do mais, senti uma resistência
enorme ao ler os livros sobre o Tarô Sentia me ridículo, como sentia certa
desconfiança de Jung, quando abordava estes assuntos. Hoje, sinto me ridículo de
não o ter feito antes. Assim, como existe um antropocentrismo geográfico, em
relação a outros povos contemporâneos, existe também um antropocentrismo
histórico, em relação às civilizações passadas. Foi uma barreira, introjetada nos
meus estudos científicos, da qual eu tive que me livrar. Conservei, no entanto, a
metodologia de abordagem aprendida com os meus mestres.

É possível e conveniente uma abordagem positivista do esoterismo.

Quero dizer com isto que considerei, na presente análise, os documentos


esotéricos como objetos de análise crítica, de confrontação, ou melhor ainda, como
comportamentos analisáveis e comparáveis entre si. Uma escultura, um rito, um
texto, são produtos de comportamentos, e como tais, finalizados; no caso da esfinge,
o meu problema de psicólogo era de saber qual a finalidade dos seus autores.

O leitor deve se perguntar, nesta altura, como é que cheguei a me interessar


especificamente pela esfinge. Houve, realmente, um "incidente crítico" que
despertou a minha curiosidade. Vou contar como aconteceu. Há alguns anos atrás
eu tinha decidido aprender a hata-ioga. Procurei um professor. Falaram-me de um
mestre de ioga que tinha sido iniciado em regime de. mosteiro, durante seis anos;
era o Swami Sarvananda, Jorge Kriticos. Eu já tinha lido alguns livros esotéricos. Os
que mais me impressionaram foram os de Gurjieff e Ouspanski, possivelmente pelo
seu modelo evolutivo do homem, bastante fascinante para quem estuda psicologia.
Não somente eu fui muito bem recebido, mas logo o mestre me convidou para
assistir a uma aula de ioga, que ele ia dar para algumas moças, na noite do mesmo
dia de minha visita. Resolvi ir.

Era lá que uma surpresa me esperava. Dirigindo se para as moças, explicou-


lhes mais ou menos o seguinte: "Olhem para o seu corpo. Ele é composto de três
partes, não é? A cabeça, o tórax e o abdômen. Pois vou lhes contar uma história.
Existe uma tradição esotérica, muito antiga, sobre a esfinge do Egito; todo mundo
quebrou a cabeça para saber que mistério se escondia atrás desta esfinge. Pois,
segundo esta tradição, a esfinge representa na realidade o ser humano. Todos nós
temos uma esfinge em nós mesmos. Querem ver?

O boi representa os nossos intestinos, a nossa vida sexual e a nossa vida


orgânica; é um animal digestivo. O leão representa o nosso coração, o nosso
sistema circulatório, os nossos sentimentos. A águia representa a nossa mente. São
as três partes do nosso corpo. O homem pode aprender a conhecer e a dominar
estas três partes; é o objetivo da ioga ensinar-lhes isto".

Devo dizer que um pequeno calafrio passou pela minha espinha de


psicólogo. Sentia que havia, atrás do que me foi revelado naquela noite, algo a
analisar. Movido pela curiosidade, comecei a procurar as origens desta tradição. O
mestre do Prof. Jorge Kriticos Sri Sevananda teve a gentileza de me indicar a fonte
bibliográfica, o que me levou diretamente à Papus e ao seu "Traité Elementaire
d'Occultisme". A partir daí, consegui reconstituir progressivamente, e com muita
paciência, com fragmentos históricos, documentos, fotografias, ritos, mitos, as
provas de que a esfinge era um modelo psicossomático do homem.

A esfinge me levou, progressivamente, à numerologia, à caba la hebraica, à


Biblia, Tarô ou Jogo Adivinhatório dos Ciganos, aos Vedas, a Lao Tse e às
Sociedades Esotéricas; como e porque, será explicado neste livro.

O modelo de abordagem da estrutura da esfinge e do seu significado


si mbólico foi elaborando se progressivamente, à medida que descobria os
documentos que permitiam fortalecer a intencionalidade estruturalizante dos autores
da esfinge. É, por conseguinte, "a posteriori" que pude demonstrar o modelo da
abordagem metodológica; isto explica por que só aparece no capítulo final a
tentativa de reconstituição estruturalista da lógica dessa abordagem. Restava,
também, demonstrar que a esfinge era mesmo um modelo no sentido estruturlista
moderna do termo, e que era mesmo a primeira tentativa conhecida da humanidade,
de elaboração de um modelo estrutural cosmológico. As provas que consegui
acumular a respeito desta intenção parecem ser bastante convincentes, embora
carecendo ainda de um tratamento mais minucioso.

Além da minha formação cientifica, muito me ajudou a influência


psicanalítica de quem considero, hoje, como um dos meus mestres, Igor Caruso.
Sob influência da minha própria psicanálise e das aulas que assisti, consegui me
li vrar de uma estrutura maniqueísta que me teria impedido de realizar a análise da
esfinge. Para tanto, era necessário compenetrar me da maneira flexível dos orientais
na interpretação das mensagens. O nosso estilo ocidental da ciência tecnológica de
"ou ... ou ...", teria sido um obstáculo muito grande para apreensão e compreensão
dos fenômenos estudados.

O objetivo deste livro é juntar fatos relacionados com a esfinge, analisá-los,


tentar estabelecer relações entre estes fatos e, talvez, emitir algumas hipóteses
sobre o significado deste mitema. Trata-se de desbravar uma mata virgem; mata,
porém, constituída de árvores que podem ser identificadas, classificadas,
analisadas, catalogadas. As árvores correspondem aos documentos deixados pelos
antigos e relacionados com a esfinge, assim como testemunhos e tradições orais ou
escritas.

Afinal. o que este livro pretende é demonstrar que a esfinge é,


intencionalmente um símbolo atrás do qual se esconde verdadeiro modelo estrutural
do homem, entendido como microcosmo, possivelmente indicador de um modelo
microcósmico.

A cada passo, e a título de curiosidade, mostrarei como as ciências culturais,


sociais e humanas, e, mais particularmente, a Psicologia, se encontram diante dos
elementos desta estrutura, em confronto com as chamadas ciências esotéricas.

Ao fazer este confronto, forçosamente superficial, procurou se apenas


reforçar a idéia de que as preocupações dos autores da esfinge ainda são atuais, o
que, por si só, justificaria a extrema importância dada por eles, em perpetrar de
todas as maneiras possíveis, os modelos estruturais do universo e preservar o fruto
de trabalhos preciosos, realizados no fundo de tempos desconhecidos por nós.
CAPÍTULO 1
O que é uma Esfinge?
1. A ESFINGE COMO ENIGMA
Criou se em torno da esfinge um estereótipo. Em todos os dicionários
encontramos a idéia de enigma indecifrável, que os antigos deixaram. A esfinge
passou a ser sinônimo de mistério e silêncio. Pessoa calada, enigmática, é chamada
esfinge (244).

É um fato bastante impressionante a permanência da esfinge através de


mais de seis mil anos, se é que a esfinge de Giseh pode ser considerada a primeira
em idade; pelo menos é a mais antiga que conhecemos até a presente data (Fig. 1).
Quando falamos permanência. queremos referir nos a uma insistência quase
obsessiva por parte dos criadores e continuadores da maioria das religiões ou cultos
em instalar a esfinge, ou os animais que a compõem, principalmente o touro ou boi,
o leão, as asas e a serpente junto aos templos e, mais particularmente, como o
veremos, junto de símbolos iniciáticos. Encontram-se esfinges egípcias, (Fig. I)
assírias, (Fig. 5) persas, (Fig. 6) hititas, (Fig. 4) fenícias, (Fig. 2) gregas (Fig. 8) (64, 65,
66, 67, 68) e em muitas outras culturas ainda.

Da análise preliminar de vinte e uma esfinges, constatamos uma leve


tendência ao aumento do número de elementos simbólicos, através dos milenários,
a partir do modelo egípcio.

Tudo se passa como se houvesse uma apuração, uma sofisticação maior do


modelo original, ou pelo menos do mais antigo conhecido, que é egípcio. Como se
sabe, o egípcio tem cabeça humana, corpo de leão e serpente. Compõe se, por
conseguinte, de três elementos quando existe o "Uraeus" ou serpente na testa ou
dois elementos sem este. Só as esfinges muito mais recentes, em geral assírias,
persas e hititas, têm quatro elementos, como por exemplo o leão ouo touro, a figura
humana, as asas de águia e a serpente.

2. DADOS ESTATÍSTICOS SOBRE A COMPOSIÇÃO DAS ESFINGES


Algumas esfinges têm quatro elementos: pés de touro ou Cavalo, cauda de
leão, cabeça humana e asas de águia. É o caso mais particular da esfinge assíria de
Khorsabad, chamada Kerub (Fig. 5). Temos, por conseguinte, modelos de dois, três,
quatro, ou mesmo cinco elementos (ver Quadro 1).
A análise do Quadro 1 nos permite evidenciar alguns fatos:

- A maioria das esfinges tem três elementos: as de dois, quatro e cinco são
mais raras.
- A serpente está presente em mais da metade.
- O leão e a águia são os mais freqüentes.

Fizemos o Quadro kapenas a título de guia inicial. Do ponto de vista


metodológico, teríamos várias restrições a fazer.

- A amostra das esfinges aqui colhida ao acaso das pesquisas


bibliográficas possivelmente não representa o universo, isto é, todas as
esfinges existentes no mundo, e, de qualquer forma, o seu número é
insuficiente.

Civilização de N° de
N° de Esfinges
origem Elementos

2 3 4 5

Egípcia 8 1 7 8 8 7

Persa 3 2 1 3 1 1 3 3 1 1

Assiria 2 1 1 2 1 2 2 2

Grega 2 2 2 2 2

Outras 6 1 4 1 6 4 1 4 1 2

Total 21 2 13 4 2 21 16 4 11 13 1 1 2

Quadro 1

— Existem tradições que afirmam que a parte traseira das esfinges seria de
boi, quando a parte dianteira é de leão: e, quando as patas são de boi, o corpo seria
de leão. São fatos difíceis de verificar, a não ser por um estudo anatómico de todas
as esfinges, o que implicaria um deslocamento de especialistas junto de cada
modelo original.

Esta dúvida implica, logicamente, em tornar relativos os dados do Quadro 1,


quanto ao número de elementos encontrados nas esfinges.
No entanto, o Quadro I evidencia um fato importante para a nossa análise: a
existência de uma variação de número de elementos, variação esta para a qual
encontramos umas hipóteses que o leitor compreenderá mais adiante. Podemos
adiantar, no entanto, que se trata, possivelmente, do que Piaget chamaria de
"Centrações da Percepção" diferentes e, possivelmente, de fases evolutivas de
conceitos cosmológicos e psicossomáticos, através dos séculos e das civilizações.

A insuficiência numérica da nossa própria iconografia nos levou a procurar


outras fontes. Encontramos um autor que fez o que nos parece o estudo mais
exaustivo até agora empreendido: Dessenne, numa tese de doutoramento, estudou
mais de trezentas esfinges, catalogou-as e as descreveu metodicamente. A sua
iconografia provém do Egito, Chipre, Grécia, Creta, Rodes, Mesopotâmia, Coríntia e
Síria, entre outros países. O seu estudo se limitou, no entanto, a esfinges de mais de
1.000 AC, com cabeça humana e corpo de Leão (214).

A iconografia de Dessenne nos foi muito preciosa, pois nos permitiu uma
base estatística mais sólida para fazer certas demonstrações. A primeira delas é a
que vamos fazer logo a seguir: refere-se ao número de elementos nas esfinges da
amostra colhida por ele.

Antes, porém, queremos ainda fazer uma ressalva: seria de todo desejável
que esta estatística fosse controlada por especialistas em arqueologia ou etnologia,
pois, tanto no que se refere à serpente, como às asas, surgem certas dúvidas,
felizmente minoritárias, suscetíveis de modificar um pouco os dados que ora
publicamos.

De qualquer forma, isto não alteraria o fato da existência de variações


quanto ao número de elementos, nem da combinação dos elementos entre si.

Tal como a nossa modesta iconografia, a maioria das esfinges recenseadas


tem uma composição ternária. Em segundo lugar vêm as de composição quaternária
e, em terceiro lugar, as de composição binária.

Esses dados estatísticos vão nos permitir precisar melhor o que entendemos
por "esfinge".
N de Elementos Natureza Frequência

(Leão-homem) (E. Binária) 30


(Mais asas ou serpente) (E. Ternária) 131
( Mais asas e serpente) (E. Quaternária) 104
Identificação difícil 70
Total 335
Quadro II

3. TENTATIVA DE DEFINIÇÃO
O grande Larousse Enciclopédico (236) define a esfinge ou "sphynx" como
monstro que era filho de Equidna e de Tífon no mito de Édipo. Vem do grego e da
palavra egípcia, chepes ou chepes-ankh, e significa um leão deitado ou em pé, em
geral com cabeça de homem.

É este o sentido que adotou também Dessenne na sua pesquisa


iconográfica (214), que o distingue dos Kerub's ou touros alados, também com
cabeça de homem. Dicionários alemães, ingleses, espanhóis e portugueses,
seguem a mesma linha.

A respeito dos touros alados, diz Cemborain (5) que os "touros


antropocéfalos, de marcado caráter assírio,... são, em realidade, esfinges de caráter
ornamental".

Papus (178) e Wirth (199) incluem também o boi como elemento das
esfinges. O mesmo faz Cirlot no seu dicionário de símbolos, quando escreve: "Ser
fabuloso composto de partes de ser humano e de quatro animais. A de Tebas tinha
cabeça e seios de mulher, corpo de touro ou cachorro, garras de leão, cauda de
dragão e asas de águia" (177).

O próprio Dessenne inclui os querubins, como sendo provavelmente


esfinges. Ora, os querubins, como veremos mais adiante, eram compostos de leão,
boi, águia e Homem. Excluindo os touros alados e incluindo os querubins, entre as
esfinges, Dessenne passa a refletir para nós o problema geral que nos preocupa
aqui: o de uma definição exata do que é uma esfinge.

As estatísticas que levantamos nos levam na realidade a um círculo vicioso.


Para levantá-las, é preciso definir o que é uma esfinge e para definir o que é uma
esfinge, temos que fazer um levantamento estatístico da composição das esfinges...

Temos consciência da impropriedade da palavra esfinge para simbolizar


todas as espécies de representações polimorfas em que entra o homem junto com o
boi ou o leão, sobretudo que estes seres assumiram vários nomes conforme a
civilização em que foram reproduzidos.

O problema se complica ainda mais, se pensarmos que a palavra esfinge


também é usada no caso de apresentações polimorfas de leão com cabeça de
carneiro (5). O minotauro é uma combinação de homem com touro, apenas que a
cabeça é de touro e o corpo é de homem. Não é considerado esfinge.

Muitos definem a esfinge com asas, pensando nas esfinges gregas ligadas à
lenda de Édipo.

E quando se representa um leão com cabeça de boi e asas de águia, ele


assume o nome de grifão. E um homem com asas só, vira anjo... Ou serafim. E com
corpo de cavalo, asume o nome de "centauro". A "quimera" tem corpo de bode e
garras de leão.

Assim sendo, temos que tomar partido entre dois tipos de definições que
encontramos: o sentido restrito ao leão e homem com eventuais asas e serpente, ou
o sentido lato, que inclui também o boi neste conjunto polimórfico.

Empregamos a palavra esfinge, simplesmente por ela ser mais conhecida e


usada na nossa civilização. Termo mais apropriado seria talvez o de tetramorfo.
Mas, infelizmente, nem todas as esfinges são compostas de quatro partes.

Eis a definição que adotaremos:

O nosso estudo vai se limitar às esfinges humanas. Seres polimorfos


compostos de cabeça humana, corpo de boi ou de leão aos quais podem ser
acrescentados serpentes e asas. Outros estudos são possíveis, sobre outros seres
polimorfos, e não seria surpresa para nós, se eles confirmassem apenas esta nossa
análise. São, provavelmente, outras combinações simbólicas da estrutura humana
ou animal, possivelmente em função do estado evolutivo que se encara (21 1).

Se incluímos o boi ou touro na definição, é porque foi tetramorfo "boi, leão,


águia, homem" o ponto de partida da nossa pesquisa, conforme contamos na nossa
introdução. Além disto, como o veremos adiante, o nosso próprio trabalho indica
haver certa continuidade entre este tipo de seres polimorfos egípcios e das outras
civilizacões inclusive a judeu cristã, que parecem constituir sofisticações do modelo
original egípcio.

Este livro, com intenção de abrir uma clareira na mata virgem das.
Interpretações simbólicas sobre as esfinges, tratará o problema da esfinge de
maneira genérica, como se pertencessem à mesma "'cultura todas as esfinges
existentes no mundo.

Isto nos permitirá, talvez, elaborar modelos de pesquisas os quais poderão


servir para pesquisar e analisar esfinges em cada cultura, o que poderá ser feito por
especialistas daquela cultura. É verdade que diferenças estilísticas foram notadas
por autores, como Dessenne, entre esfinges de várias culturas; as pesquisas
realizadas por este autor coloca em relevo que cada esfinge assimilou o estilo
próprio à civilização a que pertence. Assim, existe o estilo original egípcio. Os sírios,
ao adotarem a esfinge, a adaptaram ao seu estilo. Passou a ser apresentada
sentada; o rabo adquiriu a forma de um S; a barba tornou se opulenta; o Uraeus
invadiu a cabeça até atrás. Do mesmo modo, existem particularidades próprias às
esfinges hititas, fenícias, babilônicas, etc.

Acontece que o nosso estudo não é estilístico, mas sim simbólico, antes de
mais nada. Ora, os elementos componentes das efinges de todas estas civilizações,
como o atesta o trabalho de Dessenne, não se dissociaram através dos tempos. O
estilo evoluiu; as posições, o sexo, as asas, a forma da serpente, a barba ou o
chapéu, mudaram de estilo. As nossas estatísticas mostram que há também
variações de número de elementos. Mas um fato permanece: os mesmos elementos
são reencontrados em várias civilizações e cobrindo cinco milenares no tempo, pelos
menos (269).

Isto justifica o nosso tratamento "genérico" e.. sincrético". Falaremos em


esfinge e nos seus elementos, dentro da definição já dada mais acima, isto é: o boi,
o leão, a águia, a serpente e o homem, embora saibamos que nem sempre estes
elementos se encontrem juntos; constituem, no entanto, a última forma em que os
encontramos nos textos sagrados da civilização judeu cristã.

Repetimos que serão necessários estudos simbólicos e estruturais levando


em conta, também, fatores próprios a cada civilização. Nestes estudos, as variações
de estilo deverão ser levadas em consideração, pois, muitas possuem,
possivelmente, valor simbólico próprio.

Vamos, agora, abordar a análise simbólica da esfinge no seu todo. Isto será
feito no próximo capítulo e continuado nos capítulos posteriores, a partir da análise
de cada animal.
CAPÍTULO 2
A Esfinge como Símbolo?
4. INTERPRETAÇÕES SIMBÓLICAS DE ESFINGE
Quando começamos a procurar, em diferentes autores, seja esotéricos, seja
cientistas sociais ou humanos, esbarramos numa grande dificuldade. Além de serem
poucos os que abordaram o problema da esfinge de maneira extensa, as hipóteses
aventadas eram bastante diversas e, pelo menos em aparência, muitas vezes
contraditórias. Monografias ou livros sobre esfinge são rarissimos.

Parece que cada um via um aspecto diferente da esfinge. ou encarava uma


esfinge diferente. Uma estrutura polimorfa como a esfinge, com efeito, deixa margem
para projetar nela as estruturas mentais, concepções filosóficas ou científicas de
cada autor. Separar o que é projeção e o que é realidade (e ás vezes ambos) é uma
das tarefas que nós nos propusemos quando iniciamos este livro.

Apenas para dar uma idéia da diversidade de opiniões encontradas,


passamos a resumir, a seguir, opiniões emitidas por vários autores, na sua maioria
esotéricos, alguns ligados ás ciências humanas, sociais ou arqueológicas.

M. A. Matthers (174), na sua introdução ao Sepher Jezirah, disse que a


doutrina secreta contida no Apocalipse de São João tem raizes na cabala judaica já
que os quatro Animais da Visão de São João se fundem com os quatro animais da
visão do profeta judeu. Entretanto, as raízes são mais longínquas, diz ele, já que os
quatro animais se fundam num só, na esfinge egípcia. Mas, antes ainda, encontra se
na India a deusa Adda Nari com cabeça de anjo, equilibrando a luta entre o animal
feroz e o touro pacífico.

Eliphas Levi (175) fala de quatro sinais elementares e astronômicos sob as


quatro formas da esfinge e dos quatro animais de Ezequiel e de São João.

Disse Paul Brunton, a respeito da esfinge de Giseh, que ela encarna a força
do leão, a inteligência do homem e a serenidade espiritual dos deuses. Ela nos
ensina que o ser humano, mediante o domínio de si próprio, pode sobrepor se ao
animal que traz no seu interior, e dominá-lo. Faz ainda referência á serpente ou
Uraeus frontal (176).

H. P. Blavatsky se refere á esfinge como um ser com corpo de animal e a


cara de super homem, deixando também entender uma simbolização do domínio do
animal no homem e pelo homem (135).
Cemborain L. (5) cita a corrente de antropólogos que sustentava O valor
simbólico da esfinge, como representando a dicotomia espírito matéria, mas defende
a tese de que as esfinges eram deuses solares.

É nos livros sobre o Tarô Adivinhatório (119, 200) que encontramos grande
número de interpretações simbólicas a respeito da esfinge, pois ela aparece em
quatro ou mais cartas do baralho, o qual é depositário uma tradição esotérica muita
antiga, pois tudo indica que, como veremos mais adiante, há correspondência entre
o Tarô dos ciganos e a cabala hebraica. Encontramos três destes jogos: embora o
estilo das imagens difira de um jogo ao outro, as esfinges aparecem nas mesmas
cartas. Oswald Wirth e Papus, principalmente, escreveram obras de síntese sobre o
Tarô. É nelas que encontramos explicações bastante esclarecedoras sobre o
simbolismo da esfinge e sobre os animais que a compõem. Vamos, aqui, resumir as
idéias expostas, pois iremos voltar a elas em outras partes do presente livro.

A esfinge, conforme as cartas do Tarô em que aparece, representa:

As três incógnitas eternas: De onde viemos, o Que somos e para onde


vamos?
Duas esfinges, uma branca e uma preta, simbolizam os antagonismos
vitais que levam a um paralelograma de forças (Fig. 50).
A esfinge parece também como equilibradora destas forças bipolares:
bem e mal, positivo, negativo, etc. É o princípio de equilíbrio que
assegura a estabilidade transitória das forças individuais (Fig. 53).
É no arcano 22 do Tarô que encontramos, ao mesmo tempo que a síntese
do Tarô e a Criação, os quatro animais da esfinge. Eis as diversas correspondências
que encontramos nos autores citados. São correspondências derivadas, em grande
parte, da tradição cabalística, cada uma tendo também valor simbólico, não podendo
ser interpretado ao pé da letra.

Boi Leão Águia Homem


(ou Anjo)
Elementos Terra Fogo Ar Água
Evangelistas Lucas Marcos João Mateus
Cores Preto Vermelho Azul Verde
Estações Primavera Verão Outono Inverno
Planetas Saturno Marte Júpiter Vênus
Metais Chumbo Ferro Estanho Cobre
Qualidades Frio-seco Quente-seco Quente-úmido Frio-úmido
elementares
Letra hebraica de Hei lod Vau Hei
Jehovah
Letra hebraica Mem. Schin Alef Mem
cabalística
Simbolismo Poder de Força do Saber Elevação
Geração Universo Consciência do
bem e do mal

Quadro III

Que estranha mistura de dados de física, astrõnomia, lingüística,


cli matologia, religião e simbologia! À medida que vamos indo adiante na presente
obra, muitos destes dados irão .tomando seu devido 1° lugar. Por ora, eles entram
numa categoria geral que poderíamos chamar de "cosmológica".

No seu "Dicionário de Símbolos", J. Eduardo Cirlot (177) diz que na tradição


esotérica a esfinge sintetiza toda a ciência do passado. Por trás dela se esconde o
mito da multiplicidade e da fragmentação do cosmos; é um símbolo que unifica,
ainda que dentro da heterogeneidade dos quatro elementos e da quintessência do
espírito.

No Teste de Rorschach foram encontrados dois autores atribuindo valor


simbólico á esfinge:

Ego e Inconsciente — Augras M. (281)

Insegurança interior e sentimento de insuficiência a respeito da estrutura


interna.

Adrados I. (278). Esta última interpretação provém do estereótipo atual da


esfinge como enigma.

Papus, que estudou as correspondências entre o tarô dos ciganos e a árvore


sefirótica da cabala de Israel, é que mais escreveu sobre o significado simbólico da
esfinge. O seu capítulo sobre a Constituição do Homem está inteiramente
consagrado a estabelecer um paralelo entre a esfinge como símbolo da constituição
do homem. Tem ele reconstituído, através dos seus estudos da constituição
anátomo-fisiológica do homem (era ele médico) e da estrutura cosmológica
cabalística (era esoterista), a hierarquia dos animais da esfinge. Muito nos
inspiramos no seu trabalho no presente livro (178).

Na sua obra sobre Antropologia Estrutural, Lévi Strauss, a título de ilustração


do método de abordagem estruturalista, faz uma análise do mito edipiano e
estabelece curiosas relações entre vários fragmentos. Reproduzimos aqui a
disposição dos" mitemas", feita por Lévi Strauss, indicando o significado dos
agrupamentos por ele feitos. Neles aparece a esfinge.

1 2 3 4
Relações de parentesco Relações de Matança de Nomes evocando dificuldades de
superestimadas parentesco Monstros andar corretamente
subestimadas
Cadmo procura sua
irmã Europa, raptada
por Zeus
Édipo mata o Pai Lábdaco (Pai de Laio): "Coxo" (?)
laio Laio (Pai de Édipo): "Torto" (?)
Édipo: Pé-inchado (?).
Édipo imola a
esfinge
Édipo esposa Jocasta, Etéocles mata o seu
sua Mãe irmão Polinice
Antigona enterra
Polinice, seu irmão
violando a interdição

Qual a relacão entre andar patológico, matar monstros como a esfinge, a


relação incestuosa e o mito de Édipo? Lévi-Strauss adota ai uma interpretação da
esfinge como monstro bissexuado e de caráter ctônico, isto é, provindo da Terra;
traça um paralelo com mitos de índios norte-americanos, onde também os séres
ctônicos nasciam com deficiências físicas nos pés. Assim, a coluna quatro tem com
a coluna três (autoctonia) a mesma relação que a coluna dois com a coluna um (201-
202).

Interessante é comparar esta interpretação com a que foi dada para o


mesmo fato (pé inchado ligado com a esfinge) pelo teósofo Mário Roso de Luna.
Para ele a resposta dada por Édipo á esfinge simboliza as três grandes perguntas
feitas em todos os tempos pela humanidade: "De onde viemos, quem somos e onde
vamos?", e não apenas a infância, a idade madura e a velhice; e a resposta, em
síntese, é a seguinte: No começo andamos com quatro pés, tal como os animais.
Hoje somos seres diádicos ou binários. Temos dentro de nós um animal e um anjo;
andamos com dois pés. Amanhã os dois pés serão três, pois teremos evoluído. Os
dois primeiros elementos serão unidos por um terceiro, a mente, formando assim
uma estrutura ternária. Os "pés inchados" de Édipo se formaram de tanto caminhar,
pois Édipo também era um símbolo: o do peregrino rebelde perseguido pelos
homens bastardos como a esfinge (203).

Para R. Diehl a esfinge simboliza depravação e dominação perversa que


Édipo atacou em laiose no seu duplo simbólico, a própria esfinge.

Ela representa a perversidade do homem, visto como ser animal. dipo, pela
sua enfermidade no pé, é impossibilitado de se elevar acima do animal. Ele mesmo
é obrigado a andar com uma bengala, isto é, com "três pernas"; para lutar contra a
banalização, contra a morte do espírito, ele precisaria erguer se sobre dois pé (211).

C. G. Jung, analisando o sonho de cliente, interpreta a esfinge como símbolo


da mãe ruim, referindo se ao monstro eliminado por Édipo (128). Embora citasse os
animais símbolos dos Quatro Evangelistas e os comparasse com animais egípcios
(79), deixou de fazer a aproximação com a esfinge. Para E. Fromm (217, 218), a
esfinge é símbolo de matriarcado.

À medida que citamos os autores modernos que falaram sobre a esfinge,


vemos se perfilando uma série de categorias interpretativas sobre o significado
simbólico da esfinge. Vamos enumerá-las a seguir:

- A esfinge como símbolo do domínio ou luta do homem com a natureza.


- A esfinge como modelo psicossomático. Ênfases em estruturas unitárias,
binárias, ternárias e quaternárias.
- A esfinge como símbolo evolutivo do homem e da humanidade, desde as
suas origens.
- A esfinge como símbolo e modelo cosmo lógico.
- As ligações da esfinge com escolas esotéricas e religiões, mais
particularmente o cristianismo e o judaísmo.

5. O ELO ENTRE A ESFINGE E OS ANIMAIS SÍMBOLOS DO ANTIGO E


NOVO TESTAMENTO
São estas as ligações que nos escapavam do ponto de vista metodológico,
pois estava faltando um elo palpável que pudesse comprovar objetivamente os
paralelos citados entre os animais das esfinges e os mesmos citados na Bíblia e na
cabala. Este elo, nós o encontramos nos querubins, que nos levaram a afirmar a
hipótese de simbologia cosmológica da esfinge.
O que foi inesperado para nós foi a descoberta de a esfinge ter também sido
introduzida na religião judaica e cristã. Foi por acaso que encontramos (69), numa
Enciclopédia Judaica, a reprodução de um querubim (W), com corpo de leão, asa
de águia e cabeça de homem'. Procurando a origem da palavra querubim,
verificamos que vinha de kerub, nome dado a uma esfinge de Kharsabad (Fig. 5)
(236, 70) esfinge que tem pé de touro, cauda de leão, asas de aguia e cabeça de
homem. Era exatamente a esfinge que estávamos. procurando, pois o livro de Papus
(178) fala insistentemente numa esfinge com estas quatro partes, sem no entanto
indicar as suas fontes.

A palavra kerub vem do acadiano karabu, que significa "rezar, abençoar".


Mas existe também uma versão segundo a qual. Seria uma combinação de quatro
letras KRUB, cada uma sendo a primeira letra do animal da esfinge (71). A este
respeito fizemos uma descoberta descrita mais adiante.

No Egito a esfinge se chamava Seshey, o que significa poder de iluminar


(72), ou ainda "Hor em akhet", Horus no Horizonte (215). Ora, a prece, em toda

tradição religiosa oriental, é, na realidade, um recurso para chegar à iluminação


interior, à revelação. Isto é um dado muito importante, que nos servirá de subsídio
mais adiante, nesta nossa análise.

De qualquer modo, esta breve digressão etimológica já nos indica que muito
provavelmente a esfinge não era apenas um deus. Pode ter sido adorada como tal
pelo povo que não tinha a formação necessária para perceber o seu valor simbólico.
Mas tudo indica que, para os sacerdotes, tinha outro significado, significado este que
Moisés levou e transmitiu na cabala, como reação à idolatria que reinava no Egito na
sua época.

Com efeito, seria um contra senso muito grande Introduzir numa religião
monoteísta um Deus feito de animais alados. Além do mais Moisés proibiu
terminantemente a confecção de qualquer imagem, e quebrou as primeiras tábuas
da Lei, por causa do ídolo de ouro. Ora, apesar desta proibição, Moisés recebeu
ordem de colocar dois querubins de ouro na Arca da Aliança, e, ainda mais,
reproduzi-los de modo artístico nos tapetes do Tabernáculo (73). Que estátuas
importantes!... Acontece que os querubins aparecem já no Gênese (74) guardando o
caminho da árvore da vida, depois da expulsão de Adão e Eva. O rei Salomão
mandou colocá-los no Templo de Jerusalém (75-76). E os querubins reaparecem na
cabala (78), exatamente na árvore da vida ou sefiroth's numa ordem hierárquica de
Anjos. Ezequiel descreveu os animais da esfinge na sua visão (77) e São João no
Apocalipse (112). Mais tarde os monges medievais reproduzem na pedra os animais
da esfinge, como simbolizando os quatro evangelistas em torno de Cristo, da mesma
forma que os Filhos de Horus. Esta comparação foi feita por Jung (79), a respeito do
símbolo quaternário (Fig. 10). Mercúrio também aparece com animais da esfinge
(14).

No Sepher-Hazohar da cabala encontramos uma referência ao valor


simbólico dos animais como representando personagens bíblicas:

" Quando os israelitas chegarão no mês de Tischri, terão eles o apoio do lado
direito. do Messias filho de Davi, que é simbolizado pelo leão... O Messias, filho de
Davi, é o leão do lado direito do carro lado de Abraham. O Messias filho de Josef, é
o touro que está ao lado esquerdo do carro, lado de Isaac. A águia que está no meio
do carro simboliza Moisés (ou Jacó), é a "Coluna do Meio". O Schin do nome de
Moisés designa as três figuras dos Patriarcas, chamados os "Leões da Manha". Eles
são do lado direito, do lado do leão. Do lado esquerdo se encontra o touro que
combate. No meio se encontram as águias (315).

Na Palestina, escavações permitiram encontrar querubins de 700 aC, mais


particularmente, relevos em marfim de Samaria (113) (Fig. 7).

6. OS OUERUBINS DOS TEXTOS BÍBLICOS


Os textos bíblicos confirmam plenamente a existência dos querubins como
esfinges.

São realmente impressionantes, para quem está estudando a hipótese da


esfinge como símbolo, os textos bíblicos que fazem referência ou aos três animais
que a compõem, o boi, o leão e a águia, ou aos querubins.

Vamos aqui citar estes textos. Pelo menos os principais.

O primeiro texto se encontra no Gênesis "... E assim que Ele expulsou Adão;
e Ele colocou no oriente do Jardim do Éden os querubins que agitam uma espada
flamejante, para guardar o caminho da árvore da vida" (74).
Mais tarde, Jeová ordena a Moisés: Tu farás dois querubins de ouro, tu os
fará de ouro batido, às duas extremidades do propiciatório. Farás um querubim
numa extremidade e o outro querubim na outra extremidade. Tu farás os querubins,
saindo do propiciatório as suas duas extremidades. Os querubins estenderão as
suas asas por cima, cobrindo o propiciatório com as asas e fazendo frente um ao
outro. Os querubins terão a face virada em direção ao propiciatório... entre os dois
querubins, colocados sobre a arca do testemunho, é que lhe darei todas as minhas
ordens para os filhos de Israel" (73). Como eram importantes estes querubins!

E, um pouco mais adiante, com muitos detalhes, Deus manda fazer o


Candelabro de Sete Velas, o qual, como vamos ver mais adiante, é um dos símbolos
da árvore da vida.

Mas não contente com isto, Deus ainda mandou tecer querubins nos dez
tapetes do Tabernáculo: ..."Tu representarás neles querubins artisticamente
trabalhados"... (73).

O mesmo vai se passar em Jerusalém, no Templo de Salomão. "Ele fez, na


casa do santo lugar, dois querubins esculpidos, e foram recobertos de outro... Ele
fez o véu azul, vermelho... e representou neles querubins" (76).

A descrição que Ezequiel dá dos querubins do Templo é mais uma prova,


além da origem da palavra (kerub: esfinge assíria). deque os querubins eram
esfinges:... "Cada querubim tinha duas faces: uma face de homem, e uma face de
leão" (111).

Na sua visão, Ezequiel descreve os querubins com inúmeros detalhes. "No


centro aparecem quatro animais, cujo aspecto tinha semelhança humana. Cada um
tinha quatro faces e quatro asas. Os seus pés eram retos e a planta dos seus pés
era como a da pata de um boi. Tinha mãos de homem debaixo das asas... todos
tinham uma face de homem todos os quatro uma face de leão à direita, todos uma
face de boi à esquerda, e todos os quatro uma face de águia..." (77)

Mas a história não pára aí. Voltam os animais no Novo Testamento em São
João descrevendo o Apocalipse:... "Diante do trono, estão queimando sete luzes
ardentes que são os sete espíritos de Deus. No meio do trono e em volta dele, há
quatro seres vivos com olhos na frente e atrás. O primeiro ser vivo é semelhante a
um leão; o segundo, a um boi; o terceiro ser vivo tem face de um homem e o quarto
ser vivo parece uma águia que voa..." (II 2). As sete luzes lembram estranhamente a
Candelabro de Sete Velas, isto é, a árvore da vida.

Aliás, quem conhece algo da cabala e, mais particularmente, dos dez


sefiroth's, encontrará a cada passo do relato de São João (114) a numerologia
cabalística. Há uma frase bastante interessante de São João, mostrando
insofismavelmente a relação entre os animais e a numerologia: ... "e que ninguém
pudesse comprar nem vender, sem ter a marca, o nome do animal ou o número de
seu nome. Eis a Sabedoria. Que este que tem a inteligência calcule o número do
animal. Pois é um número de homem e o seu número é seiscentos e sessenta e
seis". Veja só o leitor, "calcule o número do animal"... É exatamente o que
procuramos fazer no presente livro. Poderíamos começar por dizer que 666 contém
várias vezes o ternário (três vezes seis, e seis éduas vezes três), e que na árvore
sefirótica o número seis (Vau) simboliza ao mesmo tempo a harmonia e o tetragrama
(JHVH). Mas estamos antecipando.

7. HIPÓTESE SOBRE A ORIGEM DOS MITEMAS BÍBLICOS

Segundo as tradições esotéricas, tanto Moisés como Cristo receberam


iniciação secreta em tempos iniciáticos.

Jesus, naquela fase da vida em que as escrituras ficaram silenciosas, isto é,


na sua adolescência, teria freqüentado templos do Egito e mesmo de Roma. Todos
os aspectos da sua vida lembram a vida dos grandes mestres da (ndia. mais
particularmente Krishna (249). Os essênios, dos quais ele teria sido um mestre,
segundo os "documentos do Mar Morto" e segundo a tradição esotérica, eram uma
coletividade esotérica.

Como o demonstra Freud no seu trabalho sobre Moisés (8), culturalmente


Moisés era, antes de tudo, um egípcio. Há inúmeros indícios de que foi ele iniciado
pelos sacerdotes da Grande Pirâmide em toda tradição esotérica, provindo, segundo
certas escolas esotéricas, dos atlantas. Entre os ensinamentos que recebeu, podia
muito bem figurar o simbolismo da esfinge, que transmitiu por tradição oral através
da cabala, a qual chegou até São João no Apocalipse.

A existência de tradições exotéricas e esotéricas nas religiões vem reforçar


esta nossa hipótese. É disto que vamos tratar a seguir.
8. SIGNIFICADOS EXOTÉRICOS E ESOTÉRICOS
Quase todas as religiões têm usos, costumes, rituais que se destinam ao
público, assim como rituais, interpretações simbólicas, reservados para uma elite
sacerdotal de iniciados. A primeira categoria, "exotérica", aparece sob forma de
rituais, estátuas, vestuário, textos sagrados, cujo significado pode ser
completamente diferente do ensinado em segredo, de boca em boca, por "tradições
orais" e "esotéricas".

Os mosteiros do Tibet têm uma parte externa aberta ao público. Só os


iniciados têm direito de penetrar, progressivamente, na parte interna.

Só podemos entender um fenômeno como a esfinge se aceitarmos a


existência do esoterismo como fato histórico, sem nos deixarmos levar por
estereótipos ou simpatias ou antipatias a respeito.

Luc Benoist é um dos raros autores que aborda o esoterismo dentro de um


critério puramente descritivo, fazendo dele um fato histórico, passível de análise
objetiva. Benoist distingue as seguintes escolas esotéricas:

No Oriente: A tradição hindu dos Vedas. O budismo. O taoísmo chinês. O


zenbudismo. A tradição hebraica da cabala. A tradição islâmica.

No Ocidente: O esoterismo cristão (essênios). Hesiquiasmo ortodoxo,


Templários, Fiéis do Amor, Rosa Cruzes. A cosmologia hermética, a
companheiragem e a Maçonaria, Mestre Eckhart e Nicolau de Cusa, a teosofia, o
tradicionalismo românico e o renascimento oriental (275).

Para confirmar esta prática na antiguidade encontramos o seguinte texto no


Bhagavad Gitá: "Muitos há que, saciando se com as letras (ou com o sentido
exterior, superficial) das Sagradas Escrituras e doutrinas e não podendo perceber o
seu verdadeiro sentido interior, acham grande deleite em controvérsias técnicas do
texto, em definições monstruosas e abstrusas interpretações; ou ainda: "Mas não
deves confundir, com estas idéias, as cabeças dos homens inexperientes... deixa-os
fazer o melhor que podem. Mas tu e os outros sábios deveis agir em harmonia
comigo, animando os outros á atividade, e dando-lhes o exemplo" (83).

É nos templos e monumentos que encontramos muitas mensagens de


natureza esotérica.
A grande Pirâmide, além de estar situada exatamente a 30° de latitude
Norte, continha mensagens matemáticas, astronômicas e geográficas, entre outras,
o número Pi e o cálculo exato das dimensões do raio polar terrestre.

O Egito tinha os seus ritos secretos, aos quais só iniciados tinham acesso,
entre os quais os Faraós (e provavelmente Platão, Pitágoras e Moisés).

A grande Pirâmide de Giseh era, provavelmente, um dos templos para as


iniciações esotéricas, e era guardada pela Grande Esfinge. É plausível que a grande
Pirâmide contivesse as mensagens das Ciências Físicas, enquanto a esfinge, as das
Ciências Humanas.

Uma das obras que permitirá talvez, através de uma analise estruturalista,
compreender melhor a esfinge e controlar, as hipóteses levantadas no presente
trabalho, é o Livro dos Mortos egípcio. Como o mostra Kolpaktchy na sua
Introdução, o Livro dos Mortos consta de Capítulos ou Cânticos que são uma
espécie de vulgarização dos Mistérios Iniciáticos dos egípcios. Estes mistérios eram
muito bem guardados até a queda da VI dinastia, aproximadamente 2.400 aC. e
eram reservados para uma elite (reis, conselheiros íntimos e altos dignitários).
Houve, nesta época, uma "traição" destes mistérios, que permitiam alcançar a vida
eterna. Houve uma espécie de "socialização" deste direito. Graças a esta
socialização do direito á imortalidade da alma, temos hoje documentos escritos que
nos permitem uma idéia do que constavam estes "mistérios". Continua, no
entretanto, um sistema de codificação hermético que impede maior compreensão
destes textos. Será necessário, diz o autor, reconstituir uma "egiptologia esotérica",
pois a simples tradução dos hieróglifos não leva a nada (267).

Na religião judaica existe a Bíblia ao alcance do povo e uma tradição oral,


conhecida sob o nome de cabala, reservada para os sacerdotes e mais tarde
rabinos iniciados que a colocaram por escrito. A cabala é uma interpretação e
complementação esotérica da Bíblia (7, 21, 307).

Com efeito, há indícios na Bíblia que mostram que, além do texto bíblico
propriamente dito e destinado ao povo, havia uma tradição oral, transmitida por
Moisés aos sacerdotes escolhidos por ele. Moisés seguiu nisto o método dos
sacerdotes egípcios. Para estes, a mesma palavra podia ter o sentido próprio,
figurado ou simbólico, ou ainda hieroglífico ou numérico (81, 307).
Cristo continuou esta tradição, pois São João (82) também distingue estes
dois tipos de ensinamentos quando disse textualmente:.."quando eu lhes visitei, não
foi com uma superioridade de linguagem ou sabedoria que eu fui lhes anunciar o
testemunho de Deus... No entanto, é uma sabedoria que pregamos entre os
perfeitos, sabedoria que não pertence a este século, nem aos chefes deste século...
são coisas que o olho não viu, que o ouvido não ouviu e que não subiram no
coração do homem".

Pitágoras e Platão também distinguiam, nos seus ensinamentos, os


exotéricos e os esotéricos reservados para os iniciados. Ora também eles tinham
feito estágios no Egito.

Mas não é. só na India, no Egito, na Grécia, em Israel ou entre os. cnstaos


que existe esta duplicidade de ensinamentos. Também os chlne.ses a adotavam.
Eis, por exemplo, as palavras de Lao Tse, no Tao Te King, que e, como se sabe, um
tratado sobre o princípio e a arte de Viver, segundo os antigos mestres chineses:

Na antigüidade, os mais versados na Via


( mestres e letrados) não iluminavam por isto o povo
Pois todas as luzes não vão aos homens. (82)

Inúmeras sociedades iniciáticas atuais, tais como a teosofia, a maçonaria, os


rosa cruzes, o espiritismo, as umbandas, etc receberam tradições de uma ou várias
fontes.

Os monges construtores das igrejas medievais teriam feito parte de


sociedades iniciáticas, o que explica a existência de inúmeros símbolos nestes
monumentos (IO - 15). Mais particularmente símbolos animais.

Assim, estátuas como a esfinge podiam muito bem significar um deus para o
uso externo e ser portadora de mensagens simbólicas intencionalmente deixadas
pelos seus autores. O mesmo pode se dizer dos ritos que tinham um valor mágico
para o povo e eram apenas símbolos para os sábios.

Assim, se nós examinamos mais de perto os símbolos animais da esfinge,


conseguiremos talvez nos aproximar das intenções dos seus construtores ou
escultores.

É o que vamos fazer no próximo capítulo. Antes, porém, queremos assinalar


alguns aspectos da esfinge, suscetíveis de significado simbólico.

9. A POSIÇÃO DA ESFINGE
É possível também que a posição da esfinge assuma determinado
significano. Com efeito, a estatística que fizemos com os dados de Dessenne
acusou os seguintes fatos:

Posição Freqüência

Ereta sobre duas patas 18


Sobre quatro patas 103
Sentadas 76
2
Deitadas com cabeça QUI = 20,20
Ereta 83
Identificação difícil 55
Total 335

O Teste do QUI' nos permite afirmar com alta segurança que a maioria das
esfinges está em pé nas quatro patas (algumas andando); em segundo lugar vêm as
efinges deitadas ou sentadas. Poucas são as efinges em posição ereta. Isto significa
que quase duzentas efinges assumem uma posição especificamente animal,
enquanto só dezoito têm uma posição intencionalmente humana.

Para compensar este fato, todas as esfinges deitadas mantêm a cabeça


humana ereta, o que parece simbolizar o primado do humano sobre o animal.

10. CABEÇA COBERTA


Interessante é notar um aspecto que escapa à primeira análise: é que
praticamente todas as esfinges têm a cabeça coberta por um chapéu. Dessenne
cita, entre outros: tiara, berê, bonéfrígio, coroa, diadema, turbante, calota, capacete,
mechas e plumas. Segundo Diehl (211 ) e Jung (246) cobrir a cabeça significaria
invisibilidade e morte.

11. O SEXO
O sexo das esfinges mereceria uma estatística. Existem algumas esfinges
com seios de mulher ou cabeça tipicamente feminina.

Em outras o sexo é reconhecidamente masculino por ser a cabeça de um


faraó, ou por ter barba. A análise do chapéu também permitiria identificar o sexo de
algumas esfinges. Só um estudo muito especializado permitiria levantar uma
estatística segura a respeito. Ainda segundo Dessenne, as esfinges egípcias seriam
essencialmente masculinas. E muitos estão a se perguntar por que e como a esfinge
grega se tornou feminina.

12. FUNÇÃO DE GUARDIÃ


Dessenne fala que encontrou esfinges na função de guardiãs de altar, de
porta de santuários, templos e cerimônias mortuárias, ou de coluna, além da de
guardiã da árvore já citada mais acima.

Segundo Oxford Dictionary, talvez a palavra esfinge teria a sua origem no


grego "sfiggo", que significa estrangulador, o que vem ao encontro desta função de
guardiã, sobre a qual voltaremos a falar mais adiante.

E agora passaremos a descrever interpretações simbólicas dos animais de


esfinge.
CAPÍTULO 3
Os Símbolos Animais
13. OS SÍMBOLOS ANIMAIS NAS RELIGIÕES E NA PSICOLOGIA
MODERNA
O uso de animais como símbolos é bastante antigo em quase todas as
civilizações e religiões. Os Vedas, o Bhagavad Gitá que são os livros sagrados mais
antigos da Índia e mesmo da humanidade, citam fartamente animais ao mesmo
tempo divinos e simbólicos. "Entre os cavalos, sou Uttchaisrava, o cavalo de Indra
(símbolo da poesia). Dos elefantes, sou Airavata (símbolo de sabedoria e grandeza)"
(31). Existe uma interpretação esotérica do "Bardo Thödol", o Livro dos Mortos
tibetano, segundo a qual os animais citados como objetos de reencarnação
significariam, na realidade, a dominante temperamental que caracterizará o ser
humano na sua nova encarnação (32).

A Bíblia é demasiado conhecida para lembrarmos da serpente do Gênesis,


do "bode expiatório", dos animais da visão de Ezequiel, ou de recordação de São
João, de "calcular o número do animal" (114).

A medida que examinamos mais de perto o significado simbólico de cada


animal que compõe as esfinges, voltaremos a dar alguns exemplos tirados dos livros
sagrados de diversas culturas.

De qualquer forma, como o mostra em particular Jung (33), na maioria das


vezes os animais representam a nossa vida instintiva, a nossa "animalidade" como o
indica, aliás, o próprio nome.

Jung se referia à sua experiência de psicanalista e o material utilizado era


mais especialmente os sonhos.

Existem, no entanto, outras técnicas de investigação experimental do valor


simbólico dos animais, que são os testes projetivos. Entre eles o Teste de
Rorschach (interpretação de manchas de tinta) provoca muitas interpretações
animais, as quais permitem, justamente através do simbolismo, tirar inferências
sobre a estrutura da personalidade. Pedimos a nossa colega Prof. Elza Lima para
procurar estudos estatísticos específicos sobre adjetivos dados aos animais
componentes da esfinge, mas não encontrou nada a respeito. O que existe são
interpretações simbólicas dadas por alguns autores, interpretações que iremos
assinalar quando do estudo do simbolismo de cada animal em separado (278 e 292).
Outro teste projetivo é o "Bestiaire" de Zazzo e Mathon. Diz Zazzo que neste
teste ele aproveitou uma tendência, tão antiga quanto o mundo, de simbolizar os
caracteres do homem pelos caracteres dos animais e cita La Fontaine que afirma
que, quando Prometeu quis formar o homem, tomou a qualidade dominante de cada
animal, e dessas peças diferentes compôs a nossa espécie (278).

No "Bestiaire" de Zazzo, pede se às crianças para dizer que animal gostaria


de ser e qual não gostaria de ser.

Nesta pesquisa podemos verificar que:

1) Os animais apresentam realmente um valor simbólico, expresso nas


razões que as crianças dão da sua escolha.
2) Que este valor simbólico já existe aos cinco anos de idade.
3) Que este valor simbólico tem conotações emocionais de atração ou
repulsão.
4) Que o mesmo animal pode ter valor de atração para uns dara outros,
conforme o aspecto simbólico encarado. Por exemplo: uma criança
escolhe o leão porque e o rei os animais. Uma outra tem urna reação de
contra identificação" e não gostaria de ser leão porque. é "mau e morde
as crianças".
5) O leão e a serpente são rejeitados pela maioria das crianças. A águia não
aparece. A vaca é escolhida pela maioria.

Pesquisa realizada no Brasil, em um grupo de menores infratores, de 14-18


anos, como o Teste "Bestiaire", por M. Silva Machado e Berta P. Maia (trabalho não
publicado e gentilmente emprestado ao autor) confirma os valores simbólicos dados
por crianças francesas aos diferentes animais. Interessante é notar uma diferença na
ordenação das escolhas: O leão vem em primeiro lugar (22%) e adquire também o
valor simbólico de libertação. Em segundo lugar vem o pássaro, que também
si mboliza a libertação. Como se trata de delinqüentes internados, podemos avaliar o
quanto os animais se prestam para projeções simbólicas, ainda mais se se
considera que o pássaro, na pesquisa francesa, só aparece entre os últimos
animais. É verdade que o confronto não é inteiramente válido, já que a pesquisa
francesa se refere a crianças pré adolescentes e pequenas, enquanto a pesquisa
brasileira foi feita sobre adolescentes delinqüentes. É possível que adolescentes
normais dêem resultados idênticos já que a adolescência é a idade da libertação.

Outros autores colocam em relevo animais como símbolos de virtudes (34).


Outros ainda mostram como os Animais simbolizavam ao mesmo tempo um deus e
uma das suas características principais como animal Por exemplo: o cachorro (ou
chacal domesticado) era o símbolo do deus Anúbis, que guardava (fielmente como
um cão) o mundo dos mortos (35).

Eis outro exemplo no que :;e refere ao leão, exemplo que encontramos no
li vro dos Mortos Egípcio, a respeito de Tum, que segundo Dessenne seria a esfinge.

" Me sinto vigoroso semelhante ao


Deus com dupla cabeça de leão... (273)

No Sepher Hazohar da cabala encontramos verdadeiro tratado de.


Caracteriologia Biotipológica. Eis 'um dos trechos referentes aos animais que nos
interessam, que não deixa pairar dúvidas sobre a utilização dos animais como
símbolos da caracteriologia humana:

" Os traços gerais transmitidos pela mãe formam quatro tipos gerais: cara de
homem, cara de leão, cara de boi e cara de águia" (312).

Vamos, então, passar a examinar mais de perto o simbolismo dos animais


das esfinges, pelo menos os que mais freqüentemente aparecem e que são: o leão,
o touro (ou boi, ou vaca), a águia ou ave (quando representada pelas asas), a
serpente (no Uraeus). Menos freqüentes sao o cavalo, o carneiro, o escorpião e o
cachorro (5).

14. O BOI

O touro e o boi simbolizam, segundo Jung (39), o instinto, a animalidade.

No Teste de Rorschach o touro e o boi são vistos por vários autores como
símbolos de:

Potência fálica M. Augras (281)


Força genética em geral
A mãe dentro de nós
Destruição Holtzman (287)
Agressão
Relação não resolvida com a figura paterna
Problema com a Autoridade Philips (289)

No Teste de "Bestiaire" de Zazzo (277), a vaca foi vista por crianças como
representando:

Bondade, serviçalismo
Maldade
Gordura
Solidão
Matável

A deusa hindu Kamaduk, no Bhagavad Gitá, representava a fertilidade (31).


Nos Vedas, Indra e Soma também eram representados por um touro nos textos
sagrados. Ora, Indra era o deus dos combates e Soma era ao mesmo tempo uma
bebida extasiante da imortalidade e um deus ritual (40). Para certos autores
esotéricos mais recentes, o boi representa a obediência e o trabalho físico (41). Para
o cristão, o boi representa São Lucas, por ser um animal de sacrifício e porque São
Lucas iniciou pelo sacrifício oferecido por Zacarias. Representa também o sacrifício
e a renúncia do cristão (34).

No Egito, uma cauda de touro era enrolada nas costas da cintura dos faraós,
isto até o Império Romano.

Apis era deus solar dos egípcios e era representado por um touro em
Mênfis. Encarnava o deus Ptah (265).

Em suma, o touro e o boi simbolizavam o instinto agressivo e sexual, o


trabalho físico, a obediência, o sacrifício e a renúncia.

Convém lembrar ainda a característica evidente do boi como ruminante, isto


é, animal essencialmente digestivo. Esta particularidade será importante quando
reconstituirmos a simbologia da esfinge.

15. O LEÃO
O leão simbolizava a realeza. O penteado dos faraós era representado por
uma juba de leão. Bastaria lembrar aqui, quase como lugar comum, o "leão da
Judéia". No Bhagavad Gitá, o "Verbo Divino" afirma que entre as feras é o leão (31).
O leão para os cristãos representava a coragem do cristão (36). Para os egípcios do
tempo dos faraós, simbolizava ele a impulsividade (41). Temos também o sentimento
em geral, a nobreza de alma, em "Ricardo Coração de leão". São Marcos era
representado por um leão, pois era a fogosidade da voz que pregava no deserto
(36).

O leão é muitas vezes representado em frente ao coração humano, o que


reforça o seu valor simbólico emocional (Fig. 15 - 4).
O leão era também considerado como símbolo do deus Rwty que era um
deus guardião (215). E na Índia, Buda era chamado o leão da Lei (243).

O leão também simboliza aspectos negativos, como a destruição e a


crueldade. É o caso da deusa Sekrnet, que era representada com cabeça de leoa,
no Templo de Ptah, no Egito (37).

Um casal de leões, no túmulo de Tutancamon, simbolizava o hoje e o


amanhã (38), o que é uma outra interpretação dada a este animal, visto como
símbolo solar.

No Teste de "Bestiaire" de Zazzo, encontramos o leão como sendo um


animal preferido pelas crianças do sexo masculino, embora com certa ambivalência
e rejeitado por quase todas as crianças do sexo feminino. Para o sexo masculino, o
leão representa força, dominação e prestígio enquanto que para o sexo feminino
representa crueldade, feiura e cativeiro (278).

A maioria das interpretações simbólicas dadas ao leão poderia ser resumida


da seguinte forma: coragem, impulsividade, sentimento, coração, agressão e
dominação.

16. A ÁGUIA
A águia simboliza, para os antigos, a vista penetrante a quem nada escapa
(42), isto é, a inteligência, a mente. Era também a ave de luz solar, pois era o único
pássaro capaz de olhar o sol em frente. Por isto, Horos, o deus do sol radiante que
vence a escuridão (43 - 44) (Figs. 17 — 18 — 19). Pelas mesmas razões foi escolhida a
águia para simbolizar São João, pois este olhava o céu pela frente (36) (Fig. 10). Daí
ela ter se ligado ao sol. Os discos solares alados egípcios, caldaicos, assírios e
Vucatan no México, são provas disto (45) (Fig. 20). No Bhagavad Gitá o "Verbo
Divino" disse que entre as aves é a águia (31) e nos Vedas encontramos a afirmação
de que" A luz divina, o olho da águia jamais envelhece" (46). Assim, a ave representa
também aeternidade, a contemplação das coisas eternas do cristão (34). É também
vista como mensageiro e mediador entre o homem e os deuses. Foi a águia que se
apoderou do Soma Hindu e o levou para os deuses (40). Para os mortos é o ..
psicopompa" e nas igrejas medievais a águia representava a Ascensão de Jesus
Cristo (36). Para os hindus era a Ave de Vichnou, para os gregos simbolizava Zeus,
e para os romanos, Júpiter. Desde então passou a significar também o poder dos
imperadores, de onde a expressão águia imperial. No seu mito, Prometeu
representava o aspecto involutivo do homem e a águia o aspecto evolutivo (42).

No Teste de Rorschach a águia aparece com Eis as interpretações dadas


por vários autores:

Dominação dos instintos M. Augras (281)


Princípio de Sublimação
Hostilidade Holtzman (287)
Atitude de Suspeita Phillips (289)
Poder, Dominação, Onipotência
Liberdade certa freqüência. Piotrowski (290)

Pessoalmente nós encontramos em nossos mestres em Psico-diagnóstico


de Rorschach, Loosli Usteri e Nella Canivet, a águia interpretada como símbolo de
dominação e desejo de liberdade, nos seminários a que assistimos.

Resumindo o simbolismo da águia, podemos fazê-lo do seguinte modo:


inteligência, acuidade mental, poder, evolução, veículo de luz divina ou solar e,
sendo representante de Deus, simbolizava também o poder de impor a lei e definir o
que é o bem e o mal, dominação dos instintos, liberdade.

17. A SERPENTE
A serpente passou praticamente despercebida nas descrições das diferentes
esfinges, sobretudo por causa do seu tamanho minúsculo relativamente ao corpo e
porque era percebida apenas como a Uraeus que todos os faraós tinham na sua
testa. Pensava se que a serpente fazia parte da indumentária do faraó e por isto se
encontrava nas esfinges. Na realidade, como já o vimos, o boi e o leão também
estão presentes na indumentária e na esfinge também, e as asas da águia cobrem o
túmulo de Tutancamon (49).

Também a nossa civilização perdeu inteiramente a tradição simbólica da


serpente, a não ser como a tentadora de Eva ou do animal traiçoeiro que morde
quando a gente menos espera, ou ainda o símbolo fálico na sexualidade.

Segundo Desoille (259), a serpente, conforme o contexto em que se


encontra nas produções e fantasias projetivas do inconsciente coletivo, pode
simbolizar a agressividade num nível inferior e o poder e a sabedoria num nível
superior. No plano do inconsciente individual é uma imagem fálica.
No Teste de Rorschach a serpente é interpretada pelos autores como
símbolo fálico, como símbolo materno, como símbolo do inconsciente (281), como
estereótipo cultural do medo (287) e como índice de alto nível mental (289).

No Teste do "Bestiaire" de Zazzo, temos indicações da serpente vista como


agressiva, cruel, anxiógena, hedionda (277).

A serpente merece um estudo especial, pois aparece de modo duradouro


em tôdas as civilizações antigas; a localização do Uraeus, na frente da testa na
altura do cérebro já é uma pista. É realmente grande parte das interpretações
simbólicas dadas à serpente; apontam a força original (47), a força criadora
energética (48). Também aparece, na fndia, Vasuki, o rei das serpentes, como
símbolo do saber e como dragão Ananta, símbolo da inteligência (31). A
transcendência e a eternidade são representadas pela serpente Ouroboros. segundo
um manuscrito de São Mateus. É a serpente que morde a própria cauda (Fig. 28) (50)
e que se encontra em motivos egípcios também (51). Mesmo no cristianismo,
encontramos a serpente como símbolo de Cristo, (Fie. 25 — 26 — 27) sob forma de
serpente crucificada (47 - 52). Não é por acaso que esse símbolo da força criadora
está ladeando praticamente todas as rodas solares aladas (55) (Fig. 20). Estas
serpentes seriam fsis e Os íris, ou também as forças positivas e negativas. Havia
distinção entre boas serpentes e serpentes infernais. Africanos, hindus, egípcios e
até astecas adoravam a serpente como representante do poder supremo. O fato de
que ele poderá assumir quantidade de aspectos diferentes em seus movimentos,
continuando a ser a mesma, reforçou ainda mais o seu valor simbólico do Espírito
único que impregna todas as formas do universo, ficando sempre o mesmo. Se
mudar de pele, como o faz a serpente, esta pele representa a nova forma que a
matéria vai tomar, mas a serpente, como o espírito ou força cósmica, continua viva
(55).

Nada melhor para ilustrar esta afirmação do que estes versos que
encontramos no "Livro dos Mortos" egípcio:

"Eu sou um filho da Terra


Longos foram os meus anos
Me deito à noite;
Renasço à vida, de manhã,
Segundo os ritmos milenários do tempo" (266).
Moisés dominou a serpente, transformando-a, na frente do faraó, em bastão,
o que aliás alguns domadores e faquires conseguem, através de provocação
hipnótica de ,um estado cataléptico. Mas pode significar também que Moisés tinha
descoberto o meio de dominar a "força da serpente" ou o "poder da serpente", que é
conhecido, na ioga, como "poder kundalini". O que é este poder kundalini?

Em praticamente todos os tratados de ioga, encontramos uma descrição de


uma experiência psicossomática, que é tida como perigosa, podendo inclusive
causar lesões, queimaduras ou psicoses se praticada sem mestre ou guru muito
experimentado. São as kundalinâsanas, ou posições que propiciam o despertar
deste poder. Este poder era, aliás, visto como provindo de absorção de energia solar
pelo corpo humano, através da serpente. No túmulo d'EI Armana, vêem se três
cobras com raios solares tocando a sua cabeça, o terceiro raio tocando uma cruz
anseata, e o quarto em contacto com Uraeus (ver fig. 46).

Segundo a ioga, temos, enrolada como uma serpente em torno da coluna


vertebral, uma corrente de força cósmica, chamada também de "fogo serpentino"
(Fig. 22). Graças a exercícios e posturas conjugadas físicas e mentais, a energia vai
subindo do plano sexual ao plano mental, passando a ativar, de modo evolutivo, os
sete "chakras", (a serpente da Fig. 22 dá sete voltas e há sete nós na Fig. 37) ou
centros de distribuição da energia vital. Cada um destes sete centros seria situado
na frente dos nossos plexos nervosos (Fig. 23). A sua circulação várias vezes
cruzada (tal como a corrente nervosa dos dois hemisférios cerebrais se cruzam para
excitar os músculos do lado oposto) é que dá esta impressão de serpente. Despertar
o poder kundalini consiste em concentrar a energia nos chakras superiores,
conseguindo se com isto estados de revelação ou de "consciência cósmica". São
estes estados estáticos que todos os místicos de todas as religiões procuravam
alcançar. É uma iluminação chamada de "Samadhi" na ioga, ou saber verdadeiro. É
a "revelação" dos cristãos. Esta evolução para o alto é o que almejaram todos os
místicos. Eis a razão mais plausível pela qual encontramos a serpente enrolada em
torno de cruzes e que representaria, neste caso, e entre outros significados, o nosso
sistema nervoso e principalmente a coluna vertebral.

Na ioga, jejum, privação de carne, restrições de atividade sexual, preces e


" mantras", meditações e concentrações da atividade mental, posturas especiais são
os meios usados para alcançar a revelação através do despertar do "poder da
serpente" (57). Os jejuns judaico cristãos, o celibato dos padres, as posturas
ajoelhadas, a percepção da atividade sexual como "pecado" ou coisa proibida, são,
com toda probabilidade, rastros, cujo significado desapareceu através dos tempos, e
que alguns estão procurando reconstituir em benefício da sua religião (57).

Interessante é notar que foi Freud que redescobriu os efeitos da sublimação


do instinto sexual na arte, na poesia, na música e na criação em geral, assim como
os efeitos da sua repressão no aparecimento de símbolos sexuais nos sonhos, entre
os quais, o da serpente... Isto deu margem a Jung de lançar a sua Teoria dos
Arquétipos (9 - 10). Como todas as religiões, o cristianismo retificou, burocratizou e
tornou obrigatórias medidas de sublimação que na sua origem eram apenas uma
opção pessoal.

18. SERPENTE E ÁRVORE DA VIDA


Com estas explicações começa a adquirir maior clareza a ligação que a
serpente tinha com a "árvore da vida". que, segundo o Gênesis, "era preciosa para
dar a ciência" (111-6). Por conseguinte, segundo a própria Bíblia, a árvore da vida era
uma árvore da Ciência. Podemos perguntar, de que Ciência? Do poder kundalini?
Mais adiante vamos ver que não era apenas isto.

Esta árvore se encontra também em baixos relevos caldaicos (Ver fig. 29 —


30) e sumérios (Fig. 37) constituída de serpentes ou guardada por serpentes ou
esfinges.

Além disto, convém lembrar que, ainda segundo o Gênesis, a árvore da vida
era guardada por querubins que, na realidade, eram esfinges (241), sentados em
direção ao oriente, tal qual a esfinge de Giseh, isto é, em direção, à fonte de energia
solar. Asmodeu, príncipe dos 'infernos, com a cabeça de touro, de homem e de
carneiro, pé de águia e cauda de serpente (ver Fig. 16), (dos cinco, quatro animais
que se encontram na esfinge), seria ao mesmo tempo, Ismael a serpente que
seduziu Eva. Teria sido dominada por Salomão, que o obrigou a ajudá-lo a construir
o templo (54). Ora, os querubins, como já vimos, também se encontram no templo de
Salomão, com o candelabro de sete velas, que também simboliza a árvore da Vida
(Fig. 34).

A árvore da vida aparece também nos Vedas e no Bhagavad Gitá. O Verbo


Divino afirma que entre as árvores é a figueira, a árvore da vida (31). A serpente,
guardiã desta árvore da vida, descoberta por deuses menores, inundou a terra pelo
seu veneno. Siva absorveu este veneno, assumindo a forma humana e evitando
assim a perversão de toda alma viva (58). Esta árvore, segundo os hindus,
comunicava a imortalidade.

Há uma ilustração no Livro dos Modos egípcio que mostra uma serpente
saindo do corpo do defunto e voando no espaço. Seria a energia que deixa o corpo
(Fig. 24) guardado pela esfinge.

A serpente representava, em resumo, a energia cósmica, o poder de


canalisar voluntariamente a energia para fins de revelação da consciência cósmica,
energia criadora, inclusive sexual, forças positivas e negativas. A transferência ou
transmutação de energia faz também da serpente enrolada um símbolo de evolução
(espiral evolucionária) e de terapia (A serpente de Hipócrates), ainda símbolo da
Medicina atual.

19. RELAÇÕES ENTRE OS ELEMENTOS SIMBÓLICOS. ALGUNS


DADOS ESTATÍSTICOS COMPLEMENTARES
Depois de analisar a simbologia de cada animal, teríamos que demonstrar
que estes animais foram colocados na esfinge para significar, cada um, algo de
diferente, gobretudo no caso da águia e da serpente que parecem ora coexistirem,
ora se substituírem um ao outro, como se tivessem significado equivalente ou
diferente conforme o caso.

Usando mais uma vez a iconografia de Dessenne, podemos verificar os


seguinte fatos.

Considerando fixa a relação homem leão, podemos facilmente verificar que


o que faz variar o número de elementos é a presença ou não da asa ou da serpente
ou da conjugação dos dois.

Para clarear este assunto resolvemos providenciar o cálculo da. freqüência


de cada um desses' elementos na esfinge, assim como a mter correlação entre eles.
Eis os resultados obtidos:

Elementos Freqüência Serp. N/serp.


Só serpente 44 N/Asa 44 30
Só asas 87 Asa 104 87
Serpente e asas 104
Nenhum dos dois elementos 30 Coeficiente de
contingência C = 0,41
Consideramos como "Serpente":
Localização da serpente Freqüência
Uraeus na frente da testa 60 Hipótese nula
rejeitada ao nível de
0,001.
Serpente saindo de outro lugar da cabeça 57
Serpente em outros lugares,
inclusive fora do corpo ....31

Total 148

A maioria das esfinges tem, ao mesmo tempo, serpentes e asas. Em


segundo lugar vêm as esfinges com asas. Em terceiro lugar as que só têm serpente.
As esfinges sem os dois elementos são as mais raras.

O cálculo do coeficiente de contingência permite afirmar que há uma certa


tendência a associar asas com serpentes.

Lamentamos não poder fazer o mesmo cálculo de correlação no caso do boi


e do leão, pois a estatística que fizemos, baseada na iconografia de Dessenne, foi
li mitada à esfinge com corpo de leão, já que a sua definição implica em não
considerar os "touros alados" como esfinges (233). Quanto à nossa própria
iconografia, o número de touros alados é demasiado reduzido para fazer qualquer
cálculo. Além disto, lembramos as reservas já feitas mais acima, quanto à
possibilidade de "dignosticar" a presença simultânea dos dois tipos de quadrúpedes.

Isto nos impede de afirmar com dados estatísticos se, na inexistência de um


dos elementos, o outro toma o seu significado simbólico. Por exemplo: se o leão
significará a mesma coisa que o boi, quando sozinho. O máximo que podemos fazer
é nos apoiar no testemunho de quem mais estudou a estrutura arquitetônica das
esfinges, ao nosso conhecimento, isto é, Dessenne.

Como já vimos, Dessenne analisou mais de trezentas esfinges, limitando o


seu estudo a uma definição restrita ao leão e excluindo o boi ou touro. Porém não o
conseguiu inteiramente, já que aparecem esfinges com chifres de boi num capacete,
como é o caso de uma esfinge hitita. A respeito desta acha Dessenne que deve ter
havido "contaminação" entre a esfinge e o touro alado (262). Estas contaminações
ele as atribui a fatores de ordem religiosa, a função de guardião, exercida de modo
idêntico pelos homens touro, pela esfinge e pelos deuses. É esta Identidade que
favorecia o intercâmbio de atributos (263). Dessenne cita também o fato do faraó ser
comparado, ao mesmo tempo, a um leão e ter muitas vezes o título de "touro-
poderoso" (264).

No caso das asas e da serpente, podemos fazer as seguintes hipóteses,


baseadas na intercorrelação obtida, que nos mostra que há um fator comum entre os
dois elementos, embora possam coexistir separadamente:

1. Quando só há serpente, esta assume também o significado simbólico da


asa.
2. Quando só há asa, esta assume o mesmo significado do que a serpente,
além do seu significado próprio.
3. Quando os dois estão juntos, além do sentido comum, tem um significado
diferente.
4. Quando inexistem os dois elementos, conviria procurar algo que
substitua o significado destes.

Interessante é notar a existência na Mesopotâmia, Babilônia Assíria, Assur,


Nínive, Suza do "Mito de Etana" em que a águia e a serpente fazem um pacto de
aliança:

A águia abriu a boca e falou para a serpente:


"Venha, façamos uma aliança, nós dois,
tornamo-nos associados, tu e eu" (256).

Mais tarde os dois animais entram em conflito. A águia come os filhotes da


serpente e a serpente se vinga: esconde se nas entranhas de um boi com ajuda de
Samash e inutiliza a águia para voar. Implorando Samash, este dá o perdão à águia
e lhe manda Etana para que a águia lhe mostre a "planta que faz gerar".

Temos aqui, juntos numa lenda, o boi, a águia, a serpente e a "planta" que
pode talvez ser a árvore da vida.

O fator comum, pela análise simbólica que acabamos de fazer, é o fator


energético.

Tanto a águia como a serpente lidam com a energia solar. Tanto isto é
verdade que se encontram quase sempre juntos no disco solar alado (Viu. 20). Ou,
como mostra Cirlot, em relação complementar (Hg. 21), a águia como princípio
celeste e a serpente como princípio ctônico (245).

Quando a serpente e as asas estão juntas, as asas significam a mente,


enquanto a serpente simboliza a energia propriamente dita.
Quando inexistem os dois elementos, seria interessante procurar saber se a
direção da esfinge para o levante não preencheria esta lacuna. Além disto, inúmeras
cabeças estão erguidas para o céu. O próprio homem assumiria o papel da águia.

Um raciocínio idêntico poderia ser feito para os dois quadropedes, se


tivéssemos dados estatísticos próprios. O boi (touro) e o leão, tem em comum o fato
de serem animais terrenos, corajosos e Impetuosos. Em suma, altamente
"instintivos". Quando estão juntos, representariam apenas o instinto ou o "animal",
enquanto o homem representaria o sentimento.

20.A CAUDA, UM SÍMBOLO?


Convém ainda, antes de terminar, fazer alguns comentários sobre a cauda.
Esta tem assumido uma série de formas, também suscetíveis de estatísticas.
Dessenne, na sua Iconografia, nos mostra as seguintes variedades: forma de
serpente, ou mesmo com cabeça de serpente; forma de um S; enrolada em torno da
coxa; levantada em arco de círculo ou em dobra; caída.

21. A ESFINGE E A ÁRVORE DA VIDA


Outro aspecto a considerar na simbologia é a presença de outros elementos
independentes do corpo da esfinge propriamente dita mas agregados a ela. Eis o
que encontramos na Iconografia de Dessenne:

Elemento Agregado Freqüência

Disco solar alado 2


Pessoa 11
Animal 10
Horas 1
Pirâmide 1
Vaso 2
Estatueta 1
Coluna 2
Grifão 1
Estrutura arborimórfica:
Externa 36 Total 44
Na cabeça 8
Total 75

Antes de analisarmos os dados, convém fazer algumas ressalvas. Esta


estatística foi levantada a partir dos desenhos da iconografia de Dessenne. O
próprio autor insiste sobre a necessidade de recorrer às fontes para investigações
estilísticas, mais particularmente.

Assim é possível que algumas (ou muitas) esfinges tenham sido isoladas do
seu contexto. Além disto, não sabemos quantas esfinges foram encontradas, já
isoladas dos objetos que foram esculpidos ou gravado sou ainda desenhados juntos.

Assim mesmo um fato parece saltar aos olhos, mesmo do leigo: a freqüência
alta e estatisticamente significante, (t = 5,4) de estruturas arborimórficas.
Entendemos por estruturas arborimórficas todo desenho reproduzindo árvore ou
partes de árvore, ou formas tipicamente de árvore. Isto vem de encontro às
constatações feitas à respeito da serpente ligada à árvore da vida.

Outro fato é a freqüência, embora menor, porém significante, de pessoas e


animais. No caso dos animais, convém fazer duas ressalvas: deixamos de assinalar
o fato de todos os animais se encontrarem abaixo da esfinge, o que parece significar
o domínio do animal pela esfinge que lhe seria superior. Além disto, excluímos as
serpentes por já terem sido tabuladas à parte (ver mais acima). Ora, das trinta e uma
serpentes, muitas são pisadas pela esfinge, o que vem reforçar esta idéia de
domínio do animal pela esfinge.

De qualquer forma, serpente e árvore são os elementos externos mais


freqüentes da nossa estatística.

O fato de a serpente, assim como a esfinge, estarem ligadas à árvore da


vida (ou da ciência) nos leva a examinar mais de perto estas árvores da vida. É o
que vamos fazer a seguir.

Isto vai nos levar a constatar a existência de verdadeiros modelos


psicossomáticos, integrados num modelo cosmológico mais amplo. Possíveis
divergências de interpretação desta estrutura entre várias escolas esotéricas
explicam provavelmente as divergências encontradas entre o número de elementos
das esfinges de várias gerações. É por isto que nos convém estudar mais de perto a
"árvore da vida".
CAPÍTULO 4
A Árvore da Vida e da Ciência
Acabamos de mostrar que de 75 esfinges que "guardam" algo, 44
"guardavam" uma estrutura arborimórfica. Isto é um fato estatístico significativo, que
merece uma análise mais acurada, ainda mais que apoiado, como já começamos a
mostrá-lo no capítulo precedente, por inúmeros textos sagrados. Isto nos levou a
consagrar este capítulo à árvore da vida e da ciência.

22. A ÁRVORE DA VIDA, UM MODELO COSMOLÓGICO


Mircea Eliade (232), uma das grandes autoridades em Ciências das
Religiões, demonstra o valor simbólico da árvore da vida. Diz ele o seguinte:

"Tudo isto está aliás Acifrado" nos ritmos cósmicos: não há mais do que
decifrar o que o cosmo "diz" pelos seus múltiplos modos de ser, para compreeender
o mistério da vida. Ora, uma coisa parece evidente: que o cosmo é um organismo
vivo, que se renova periodicamente. O mistério da inesgotável aparição da vida é
solidário do renovamento rítmico do cosmo. É por essa razão que o cosmo foi
imaginado sob a forma de uma árvore gigante: o modo de ser do cosmo e em
primeiro lugar a sua capacidade de se regenerar sem fim é expressa simbolicamente
pela vida da árvore.

É preciso notar, porém, que se não trata de uma simples transposição de


imagens da escala microcósmica para a escala macrocósmica. Como "objeto
natural", a árvore não podia sugerir a totalidade da vida cósmica: ao nível de
experiência profana, o seu modo de ser não recobre o modo de ser do cosmo em
toda a sua complexidade. Ao nível da experiência profana, a vida vegetal só revela
uma seqüência de "nascimentos" e de "mortes". É a visão religiosa da vida que
permite o "decifrar" outras significações no ritmo da vegetação, e em primeiro lugar
as idéias de regeneração, de eterna juventude, de saúde, de imortalidade; a idéia
religiosa da realidade absoluta é simbolicamente expressa, entre tantas outras
imagens, pela figura de um "fruto miraculoso" que confere ao mesmo tempo a
imortalidade, a onisciência, e a onipotência, fruto que é suscetível de transformar os
homens em deuses.

A imagem da árvore não foi escolhida unicamente para simbolizar o cosmo,


mas também para exprimir a vida, a juventude, a imortalidade, a sapiência. Ao lado
das árvores cósmicas, como Yggdrasil da mitologia germânica, a história das
religiões conhece árvores de vida (por ex. Mesopotâmia), de imortalidade (Ásia,
Antigo Testamento), de sabedoria (Antigo Testamento), de juventude (Mesopotâmia,
Índia, Irão) etc. Por outras palavras, a árvore conseguiu exprimir tudo o que o
homem religioso considera real e sagrado por excelência, tudo o que o ele sabe que
os deuses possuem pela sua própria natureza, e que só é raramente acessível aos
indivíduos privilegiados, os heróis e os semideuses. É por isso que os mitos da
busca da imortalidade ou de juventude ostentam uma árvore de frutos de ouro ou de
folhagem miraculosa, árvore que se encontra "num país longínquo". (na realidade —
no outro mundo) e que é defendida por monstros (grifos, dragões, serpentes).
Aquele que quer colher os frutos deve afrontar o monstro guardião e matá-lo. É o
mesmo que dizer que se trata de uma prova iniciática de tipo heróico: o vencedor
obtém "por violência" a condição sobre humana, quase divina, da eterna mocidade,
da invencibilidade e da onipotência. (Fig. 36)

Diz o Mestre: "Os caminhos são dois; as grandes perfeições, três; seis as
virtudes que transformam o corpo na árvore da sabedoria".

Comentando este trecho do "Livro dos Preceitos Áureos", Blavatsky diz que
a árvore da sabedoria é o título dado aos adepto; do Bodhidharma, que atingiram o
conhecimento místico. Tinha também o nome de árvore dragão (242 - 243).

23. METODOLOGIA DE ABORDAGEM DA ESTRUTURA


COSMOLÓGICA
Os cabalistas nos ensinam como abordar o estudo dos mundos. É através
da análise do homem ou microcosmo. Eis, por exemplo. o que diz Salomão Ibn
Gabirol (106) quanto ao método para chegar ao conhecimento: "Já que o nosso
objetivo é o conhecimento, que sobe da extremidade inferior dos seres até a sua
extremidade superior, é necessário que tudo o que encontramos na extremidade
inferior nos sirva de ponto de comparação e de prova para tudo o que é a
extremidade superior, a parte inferior sendo a imagem da parte superior de onde
emana. Poderemos, então, depois de ter compreendido a similitude que existe entre
as duas extremidades, chegar pelo que é visível ao conhecimento do que é
escondido".

Essa metodologia repousa, por conseguinte, sobre um axioma: A estrutura


do homem reproduz a do cosmo. Encontramos o mesmo axioma numa das árvores
da vida caldaica (Fig. 29). Dois homens, provavelmente sacerdotes, parecem estar
dando uma aula. Estão a indicar a parte de cima com uma mão e a parte de baixo
com outra mão. Não podemos deixar, ao vermos isto, de lembrar nos de uma
tradição esotérica da "Tábula de Esmeralda" de Hermes, que diz que "tudo que está
em cima também se encontra em baixo"; que o microcosmo é uma reprodução do
macrocosmo. O homem seria um microcosmo. A sa constituição física e psicológica
reproduziria, na realidade, o funcionamento do universo no seu todo. Assim, os dois
sacerdotes estão a dizer: "O microcosmo reproduz o macrocosmo. Tudo que está
em cima está em baixo".

Isto lembra também a frase do Gênesis (61): "Façamos o homem à nossa


imagem, segundo a nossa semelhança... Deus criou o homem à sua imagem, Ele o
criou à imagem de Deus; Ele os criou macho e fêmea".

E depois de o ter criado, reinando sobre toda natureza da terra, tal como
Deus, lhe foi no entanto proibido de se nutrir "da árvore do conhecimento do bem e
do mal" (60). O resto da história a gente já conhece.

É de São João esta afirmação: "... Sabemos que n'Ele e que Ele mora em
nós..." (62).

Nos Vedas encontramos também a idéia do homem miurgo, que resume na


sua personalidade todo universo:

Moramos como de
"O homem é tudo o que é,
O que foi e o que será,
É também dono do imortal
Cujo alimento supera o seu crescimento.
... Todos os seres são um quarto da sua medida
Os outros três quartos são o imortal no céu" (59).

24. ÁRVORE DA VIDA E NUMEROLOGIA


Vamos voltar um instante à árvore dos dois sacerdotes. O que eles indicam
em baixo seria então um símbolo da estrutura do microcosmo, isto é, do homem.
Façamos a conta de quantos pares de ramos tem este microcosmo humano:
chegamos ao número de sete (Fig. 29). Vamos agora voltar à figura dos chakras (Fig.
23). Também encontramos sete chakras com há sete laços na serpente do relevo
sumério (Fig. 37). A árvore caldaica indica ainda aprupamentos por três elementos. O
mesmo se dá com árvores assírias (Fig. 36), persas (Fig. 33), hindus (Fig. 31).
Também consideram se árvores da vida estilizadas a cruz cristã, anseática e taóica
(Fig. 47).

O candelabro de sete ramos que Deus mandou construir por Moisés na Arca
da Aliança, conjuntamente com os querubins, também tinha três de cada lado (Fig.
34). O texto bíblico (63) se refere de modo inequívoco a uma árvore, já que emprega

termos como ramos, flores e maçãs.

Está, por conseguinte, simbolizado algum sistema ou alguma estrutura em


que apareçam combinações numéricas da seguinte forma:

A Unidade: A árvore no seu todo, ou o tronco que une os ramos


formando a árvore.
Binário: Os ramos são dispostos aos pares.
Ternário: Os ramos são agrupados por três. E Deus mandou, além disto,
colocar três pratos em forma de amêndoas em cada um dos ramos (116).
Quaternário: A parte mediana da árvore caldaica tem quatro pares de
galhos. E Deus ordenou a Moisés colocar quatro pratos em forma de
amêndoas (116).
Setenário: E ainda temos combinações de sete pares ou sete velas,
conforme o candelabro dos judeus. Em Cartago, foi encontrado um vaso
de barro fenício com sete bocas. Na frente da boca do meio há uma
fisionomia humana e logo abaixo um boi (115) (ver Fig. 35).

25. A CABALA
É cabala judaica que encontramos um sistema numérico, muito semelhante.
É a figura dos dez sefiroth's ou números (ver Fig. 38). O texto da cabala, segundo
várias tradiçoes, como já dissemos, foi. introduzindoentre os judeus pelo judeu
egípcio Moisés. Este, por sua vez, a teria tirado, além dos egípcios, de bibliotecas de
Tebas que continham livros sagrados de tempos mais antigos (os atlantas e igreja
de Ram) ainda assim como tradições orais de Abraão, cujo nome se assemelha
estranhamente com Brama. Abraão teria sido representante, segundo uma lenda
(89), de um colégio de sacerdotes da Caldéia.

Além disto Esdras, e posteriormente Daniel, grão-mestre da universidade


dos magos caldeus, teriam também trazido a cabala das mãos dos caldeus onde, tal
como no Egito, a cabala teria sido a "Sabedoria" ensinada nas universidades
metropolitanas. Assim, a árvore da vida ou sabedoria, ou ainda do conhecimento,
seriam representações gráficas de um sistema numérico único, exposto na cabala.
Este sistema numérico, simbolizado por letras, se encontra, não somente entre os
hebreus, mas também entre os egípcios, caldeus, hindus (Fig. 45) e chineses (ver
Figs. 43 — 44). Os árabes, persas e marroquinos também usam sistemas cabalísticos
de transformação de letras em números.

Assim sendo, tanto pelos rastros de árvores da vida, como textos antigos e
análises semânticas, chega se a fortalecer a hipótese de que grande parte das
tradições esotéricas de todas as culturas humanas se encontram sistematizadas na
cabala (85).

A palavra cabala tem radical egípcio kheb e hebraica khebb ou khebbet, que
significa esconder, trancar, e ai que pode ser traduzido como tomar. Assim cabala
significaria "ciência deduzida de princípios escondidos". Outra interpretação é que
cabala em hebraico significa "tradição" (85), uma definição aliás completa a outra. A
cabala seria um conjunto de princípios 'científicos transmitidos por tradição.

A representação dos sefiroth's sob forma de árvore foi bastante analisada


por Rabbi Schabbathai (87) que diz que os sefiroth's podem .ser comparados à
árvore:

O conjunto da árvore forma uma unidade.


A coroa, mistério do ponto, é a raiz escondida.
Os três" cérebros" formam o seu tronco: são unidos ao ponto da raiz.
Os sete outros sefiroth's são os ramos, unidos ao tronco que são os três
cérebros.
— Eis por que, todos no seu conjunto, o ponto, os três cérebros e os
sefiroth's, são chamados uma unidade absoluta uma unidade única...".

Há também na tradição cabalística algo que lembra, de modo estranho, a


história de Adão e Eva. A cabala é chamada de "jardim" pelos cabalistas. Quem se
aventura a tirar deste sistema conclusões errôneas será punido. Procurar conhecer a
cabala chama-se, entre cabalistas, "intruduzir-se no jardim", e quem der
interpretações falsas destrol as plantas (88). Isto era um modo de garantir ainda mais
uma transmissão correta da tradição. A queda de Adão e Eva se esclarece com esta
explicação. Seria na realidade um símbolo de que houve quebra da tradição
cabalista, a qual continuou a ser conservada pelos nossos esfinges querubins.

Veja o leitor como tudo converge: a esfinge de Giseh "guardando" o templo


da grande pirâmide, os querubins (outras esfinges) "guardando" a árvore cabalística
no Éden. Poderíamos, também, lembrar a esfinge grega do templo de Delfos, e da
lenda de Édipo sobre a qual vamos ainda voltar a falar, sem contar os querubins da
Arca da aliança e do Tabernáculo, no templo de Salomão.

Existe, na cabala, uma classificação hierárquica de nove ordens de anjos.


Entre eles se encontram querubins. Papus (270), citando Kircher, mostra que esta
classificação provém de um desdobramento da Sefira (Binah) (inteligência) de
número três (Fig. 39). Este desdobramento consiste nas 50 "portas da inteligência"
subdivididas em seis classes. É um sistema de evolução cosmológica indutivo que
parte da natureza dos elementos (1' classe), para chegar à idéia do absoluto En-
soph (6' classe).

A 5a classe é a classe do "mundo Angélica" a qual reproduzimos a seguir:

Porta 41 — Haioth Hakadosch Animais Santos Serafins


42 — Ophaim, isto é, "Rodas" Querubins
43 — Anjos grandes e fortes Tronos
44 — Haschemalim, isto é Dominações
45 — Serafins, isto é Virtudes
46 — Malachim Potências
47 — Elohim Principados
48 — Ben Elohim, Arcanjos
49— Kerubim Anjos

Fomos verificar no texto hebraico do Sepher Yetzirah de onde parece ter


sido tirada parte desta classificação (195) e verificamos que precisaria rever o
problema da tradução de querubim por anjo, pois anjos em hebraico é expresso pela
palavra maleachei. Também não entendemos como se pode traduzir ophanim por
querubim, já que querubim tem uma palavra própria em hebraico: kerub. De outro
lado, haioth hakadosch é uma palavra usada independentemente de serafim. Há
confusões terminológicas que se acrescentam ao hermetismo cabalístico e que nos
levam prudentemente a nos limitarmos, até que estudos mais acurados se façam, à
simples constatação da presença dos querubins na cabala, o que justifica uma
investigação deste "campo", visando um confronto entre estrutura da árvore
sefirótica e estrutura simbólica da esfinge querubim.

26. DA ÁRVORE SEFIROTICA À ESTRUTURA DA ESFINGE


Vamos então passar a resumir, da maneira mais clara que pudermos, os
passos que nos levaram da cosmologia numérica dos sefiroth's da cabala ao
esclarecimento do enigma das esfinges.

Há na cabala dez sefiroth's ou números, dispostos da seguinte forma:

3 2

N
5 4

8 7

10

Além dos traços ligando os números ou canais, existem ainda outros canais
(ver Fig. 39) sendo que o número total destes é de vinte e dois, correspondendo às
vinte e duas letras do alfabeto hebraico, e a vinte e dois números. Os canais são as
vias de relação entre os dez números.

Vamos, em primeiro lugar, examinar as indicações dos cabalistas quanto ao


uso do sistema sefirótico.

O sistema sefirótico simboliza, sob forma numérica, as grandes leis que


regem a natureza, isto em todos os níveis ou mundos. Tanto no macrocosmo como
no microcosmo, ou seja, no nível das origens, da geração dos universos ou da
humanidade. São os quatro mundos: emanativo, criativo, formativo e factivo (90).

Vários princípios numéricos emanam dos sefiroth's, e mais particularmente


da morfologia das letras hebraicas. Assim existem:

O lod 0 ou unidade, que é o elemento do qual todas as outras letras são


feitas.
Três letras mãe (Alef, Mem, Schin).
Sete letras duplas (por expressar dois sons, um forte positivo e um fraco
negativo).
Doze simples.
Cada letra hebraica tinha três significações:
A da letra, propriamente dita, na sua morfologia.
- A do número.
- A idéia simbolizada pela letra, no sentido hieroglífico.

Assim, .por exemplo, a letra Alef corresponde ao número Um e tem o


signrficado hieroglífico de homem. Na sua morfologia é composta de quatro "lod"
opostos dois a dois.

Estas explicações são importantes para compreensão do que vai a seguir.


Pois a interpretação dos sefiroth's é baseada numa combinação destes três
significados das letras.

Voltando ao agrupamento dos sefiroth's vamos resumir a seguir o que os


estudiosos da cabala descrevem. Existem os seguintes agrupamentos e relações
numéricas.

1. A unidade que se encontra no número 1 que é o princípio e se reencontra


no número 10 (1 + O), que contêm todos os outros números. Assim, partindo da
unidade, se volta à unidade.

2. A dualidade

Os três números da direita (2, 4, 7) e os três da esquerda (3, 5, 8) em


relação ao eixo (1, 6, 9) representam respectivamente o elemento positivo, negativo
e neutro, ou equilibrante. Esta bipolaridade na realidade é uma tríade, pois existe o
terceiro elemento equilibrante.

-5 4+

10
3. Ternário

Temos três agrupamentos de três números, a saber:

4 5

7 8

1
10

Há por conseguinte três ternários que correspondem aos três mundos ou


três planos.

4. Quaternário

O número dez, que abrange as três tríades, é o continente e elo de ligação


com os outros mundos ou planos. Esta relação de conteúdo continente e de
interligações é sintetizada na Figura 41.

Assim o n° 10 com "a", "c", formam quatro elementos. Por su vez "a"
contém os números 1, 2, 3, que constituem o elemento de compenetração e de
li gação com b. Já apenas sob este aspecto numérico, se nós analisarmos o número
de elementos das esfinges (ver Quadro 1), verificaremos que temos:

A esfinge no seu todo representando a unidade.


Esfinges egípcias compostas de dois animais, o que representaria a
dualidade, também os agrupamentos de duas esfinges.
As esfinges de algumas outras culturas compostas de três e quatro
elementos, representando o ternário, ou o quaternário.

A variação do número de elementos das esfinges corresponde, tudo o


indica, a diferenças de abordagens cabalísticas.

A própria pirâmide tem o quaternário na sua base, o ternário nos seus lados,
e acaba sintetizada na unidade do seu ápice. Ver, por exemplo, o significado
matemático da grande pirâmide, descrito por Ghyka (212).

É nos aprofundando ainda mais no significado da unidade. que passaremos


a compreender melhor ainda o significado das diferentes esfinges. É o que vamos
fazer a seguir.
CAPÍTULO 5
A Esfinge como Unidade Estrutural
27. CONCEITO DE UNIDADE NAS RELIGIÕES
"Adonai echod", Deus é um, afirmação constantemente repetida na Bíblia, é
reforçada na cabala. Em cima dos sefiroth's, vê se a representação de um círculo
(Fig. 38) que simboliza a unidade primordial, o princípio. Embora este princípio se
desdobre, reencontramos a sua unidade no número dez dos sefiroth's, mostrando
assim que toda plural idade volta á unidade (Fig. 39).

É provável que Moisés, preocupado em não deixar o seu povo se


contaminar pela idolatria reinante no Egito da sua época, e conservar sínteses
científicas originais, tenha resolvido fazer emigrar o seu povo e lhe transmitir a
tradição original, tanto egípcia como de todos os povos antigos que era monoteísta.

Com efeito, há textos que mostram claramente isto. Por exemplo, o Livro dos
Mortos egípcio, que tem vários milhares de anos de idade, reza: "Homenagem a Ti,
Deus Grande, Senhor da Verdade e da Justiça". Do mesmo modo inscrições
hieroglíficas da terceira e quarta Dinastia falam repetidas vezes em "Deus, Deus UM,
Deus o Único". Os assírios simbolizavam a palavra de Deus por El de onde o nome
hebraico Elohim (92).

Na maioria das civilizações encontramos a unidade simbolizada pela roda


alada. Na Fig. 20 conseguimos reunir nada menos de seis rodas aladas, de seis
civilizações diferentes, entre as quais uma americana (de Uxmal, Yucatan no
México), a qual além do mais contém a estrela de Davi.

Quem viu as duas esfinges de Suza (Fig. 6), dominadas por uma roda alada,
dificilmente poderá duvidar do valor simbólico da esfinge. A roda alada está aí para
realçar que a pluralidade da esfinge está englobada numa unidade.

Os chineses simbolizaram a unidade por um círculo (ver Fig. 51) englobando


o Yin e Yan do qual falaremos quando abordarmos a dualidade. Lao Tsé (93) é
inequívoco quando, no seu Tao Te King, logo nas primeiras linhas afirma sob o
título:

'A Via na sua Essência":

A via que é uma via não é a Via;


Fonte e raiz de tudo
O nome que é um nome não é o Nome,
Essência exemplar do universal.
Seu nome é o começo do céu e da terra..."

Quem conhece bem a filosofia zenbudista (180) saberá melhor interpretar


estas palavras. Toda afirmação implica numa negação; dar nome ou indicar uma via
corresponde a situá-lo em relação a outro nome ou a outra via e, por conseguinte,
fazer perder a sua qualidade de princípio único, que é definido claramente como
"fonte e raiz de tudo" e "Essência exemplar do universal".

Os Vedas usam simplesmente a palavra "Um" para evitar as dicotomizações


às quais Lao Tsé se refere. Mostram eles que também na rndia havia uma
concepção unitária das origens:

"Não havia o ser, não havia o não ser naquele tempo.


Não havia nem espaço, nem firmamento além daí.
Qual era o conteúdo? Onde era isto? Sob a guarda de quem?
Qual era a água profunda, a água sem fundo?

Nem a morte, nem a não morte eram deste tempo,


Nenhum sinal distinguindo a noite do dia.
O Um respirava sem sopro movido de si-mesmo:
Nada de outro existia alhures" (94).

Este símbolo singelo de um nos mostra o quanto as religiões, nos seus


primórdios, estão longe da nossa concepção antropomórfica de um Deus barbado
feito à nossa imagem. O grau de obstração da linguagem religiosa antiga se
aproxima de uma linguagem matemática e científica, enquanto a nossa linguagem
religiosa atual ou pelo menos o seu significado subjetivo para o homem da rua tem
cunho de superstição primitiva e ingênua.

2& A UNIDADE NA CABALA


A idéia de que os animais simbolizam aspectos caracteriológicos diferentes
reunidos dentro de uma unidade que é o homem está claramente expressa no
Sepher Há-Zohar da cabala:

As Escrituras dizem: "Eles tinham a cara de um homem" (a respeito dos


querubins), isto é, a figura de um homem adulto, que é a síntese de todas as figuras,
pois traz a marca do Santo Nome, gravado em quatro letras correspondentes aos
quatro pontos cardiais do muno do: leste, Oeste, Sul e Norte. O Anjo Miguel
encontra se ao Norte, e todas as faces dos anjos estão viradas para ele. As
Escrituras dizem que os anjos tinham figuras de homem, figuras de leão, figuras de
boi e figuras de águia. Por figuras de homem, as Escrituras entendem as figuras de
macho e fêmea juntos, pois sem esta união o nome de "homem" não se aplica a um
indivíduo..., todos os anjos, que tenham a figura de boi, de águia, de leão ou de
homem têm em comum um traço particular ao homem... Os anjos com a figura de
boi... refletem o traço de força... Os anjos com figura de águia refletem o traço de
grandeza... Os anjos com figura de leão... refletem o traço de potência... Todas as
fi guras refletem a do homem e esta é a síntese de todas". Neste texto há ainda os
animais como símbolos de características de diferentes nomes de Deus (316).

Também na cabala encontramos análises bastante profundas do nome


principal de Deus: JHVH.

A primeira letra "Jod" 0 simboliza a unidade inicial e terminal, o princípio e o


fi m de todas as coisas. É da letra Jod que são feitas todas as outras letras do
alfabeto hebraico, mostrando assim que este princípio se encontra em todas as
coisas.

O conjunto de letras Hei, Vau, Hei que seguem imediatamente ao Jod,


significa ser estando. Assim, o nome completo significa: O que foi, que é e que será
(95).

Vejamos agora, nas esfinges, onde encontraremos o símbolo da unidade, do


infinito, do eterno recomeço. Quais dos animais, anteriormente estudados,
simbolizam esta idéia?

É claro que é a serpente, colocada na frente do cérebro dos faraós e


sacerdotes egípcios, mordendo a própria cauda numa evolução circular de perpétuo
recomeço vida morte, princípio fim, mudando de forma mas conservando o seu feitio,
cuja cabeça tem a forma do Jod hebraico e que simboliza a energia cósmica.

29. A ESFINGE COMO TOTALIDADE


A unidade é também representada pelo conjunto da esfinge. Cemborain,
uma das autoridades em matéria de esfinges, do ponto de vista da arte (5), afirma
existir uma tese segundo a qual a esfinge simbolizaria a unidade do espírito com a
matéria da inteligência com a força. O primeiro elemento seria simbolizado pelo
homem, o segundo pelo animal. Diz o autor que esta tese não seria válida, pois que
o povo egípcio era um povo essencialmente religioso, mais do que moral. Ora, essa
idéia de síntese é uma idéia essencialmente moral, segundo ele. Além do mais
aponta a existência de esfinges compostas de outros animais, tais como o carneiro e
a águia, o que destruiria esta tese.

O autor se mostra muito mais favorável à tese de que as esfinges


representavam deuses. Ora, por tudo que estudamos até agora, estamos
percebendo que uma tese não exclui outra, mas que as duas podem muito bem se
completar.

Em primeiro lugar. já falamos que a religião egípcia era, nos seus


primórdios, essencialmente monoteísta, logo favorável à unidade. A idolatria é
posterior e corresponde provavelmente a uma fase de decadência religiosa,
comparável às superstições rodando as imagens dos santos na Igreja Católica.

De outro lado, a "religião", como a temos descrito nas mãos dos sacerdotes
e iniciados por eles, era muito mais uma ciência, ou uma pesquisa da natureza do
homem e do universo, do que uma adoração de estátuas. Os próprios deuses eram
na realidade símbolos de que era considerado pelos sacerdotes como forças da
natureza. Assim, uma esfinge composta de carneiro ou de águia podia representar
Ammon e Horas. Ora, Ammon-Rê era o deus solar, e tinha como símbolo a roda
alada, isto é, a unidade ou infinito como já o vimos. Era a representação de Deus em
Tebas e do absoluto ou unidade cosmo lógica para os Sacerdotes.

Pode se dizer o mesmo da águia que simbolizava Horos. Ora, Horos


representava também o renascimento, o sol que vence a escuridão, que manda nas
estações do ano e que nos dá o calor e a energia vital. O confronto entre esfinges
humanas e esfinges somente animais ainda vem reforçar. em vez de enfraquecer. a
tese do símbolo de unidade. Queria significar que, talvez como o homem, também
os animais formaram uma unidade. Por exemplo: energia matéria.

Só o maniqueísmo característico da cultura ocidental nos impede de ter a


fl exibilidade interpretativa dos orientais. Dentro do Raciocínio de um ocidental uma
esfinge é ou um deus, ou um símbolo. Para um oriental, ela pode ser e um Deus, e
um símbolo ou mesmo vários símbolos, conforme o momento, o tipo de abordagem
e as pessoas a quem se destina.
30. DA UNIDADE À PLURALIDADE
Assim sendo, podemos sustentar a hipótese de que, na esfinge, estão
representadas a unidade de duas maneiras: A serpente, que representa o príncipe
energético, e a esfinge como unidade contendo uma pluralidade.

Na árvore sefirótica, a serpente corresponderia ao número um (1), enquanto


a esfinge no seu todo representaria o número 10 (dez).

Como disse o sábio chinês Lao Tsé: "Onde se encontra o rei pontífice,
cresce a árvore da vida" (96). Ora, será por acaso que justamente na árvore da vida
hebraica (tão longe da China...), isto é, nos sefiroth's o Alef ou número Um tem como
nome: Kether, a coroa, enquanto o número dez, o lod, tem como nome Malchut, o
Reino? Vejam só: A coroa e o reino de um mesmo rei ( Fig. 39).

A transformação ou evolução da unidade em pluralidade e a volta á unidade


da serpente ao todo da esfinge também é simbolizada nos sefiroth's.

Com efeito a letra Um Alef é simbolizada pelo Ein Soph que é o infinito
representado pelo círculo (ou zero também). Este círculo se divide em dois, tal com
a letra Alef é composta de dois pares de lods. Ora, Lao Tsé fala em "Transformações
da Via".

" O Tao (via) produz Um


Isto é de Não Manifestado, concentrado nele mesmo,
Ele se torna manifestado, se produz fora.
Um produz Dois.
Logo que há Um há Dois.
Dois produz três.
Três produz os dez mil seres" (97).

Os pré-socráticos eram bastante imbuídos, tanto da idéia de totalidade como


do princípio dos contrários. Eis, apenas a título de lembrete, alguns "Fragmentos" de
Heráclito:

"Tudo se faz por contraste. Da luta dos contrários nasce a mais bela
harmonia".

"Correlações: completo e incompleto, concorde e discorde, harmonia e


desarmonia, e de todas as coisas um, e de um, todas as coisas" (253).

É interessante notar, "en passant", que nos sefiroth's, o canal número vinte e
dois ( Fig. 39), que une o lesod (ou fundamento) ao Malchut (reino), é representado
pela letra Tau, que lembra estranhamente o Tao (via) chinês. Esta letra corresponde
justamente à via que une a última letra do sistema à letra príncipe lod ou dez.

Assim Lao Tsé, Heráclito, como os cabalistas, nos indicam que a unidade,
para chegar à multiplicidade (dos dez mil seres), tem que passar pela dualidade.

Vamos examinar agora como a ciência moderna encara o problema da


unidade mais particularmente no que se refere ao ser humano sintetizado pela
esfinge.

31. O PRINCIPIO DE UNIDADE PSICOSSOMÁTICA DO SÉCULO XX


Seria difícil falar em unidade no século XX sem tocar no estruturalismo. Num
estudo crítico e bastante sintético, apresentado por um dos nossos mestres, Jean
Piaget (173), o autor mostra que, entre todos os estruturalismos atualmente
existentes nas diferentes ciências, há um ponto comum que corresponde ao mesmo
tempo ao primeiro caráter de uma estrutura: a totalidade.

Mostra ele como o estruturalismo se opõe à compartimentagem. e procura


reencontrar a unidade dos elementos dispersados pelos estudos "diacrônicos" em
li ngüística ou pelo "associacionismo" em psicologia e pela "Atomização" da ciência
em geral.

Na psicologia, a teoria da Gestalt veio substituir a teoria associacionista,


enterrando a de maneira provavelmente definitiva.

Em psicoterapia se reconhece hoje que não é possível separar "espírito e


corpo" como dois seres antagônicos ou independentes, mas que existe uma
"unidade psicossomática", Em casos de neurose e de psicose, o médico e o
psicólogo trabalham juntos. Mesmo assim, a unidade psicossomática precisa estar
encarada nas suas relações com o mundo exterior, com o "Não Eu", do qual ela é
feita e para o qual ela voltará. Isto explica o aparecimento da tendência culturalista
em psicoterapia analítica, e do assistente social nas equipes terapêuticas.

Tudo se passa como se a análise científica levasse a um afastamento, a


uma negação da afirmação unitária das estruturas, tais como elas aparecem no
símbolo da esfinge e na estrutura da cabala, e que de repente, a ciência acordasse
e voltasse a concepções de uns cinco a dez mil anos atrás.
Merleau Ponty, como psicólogo e filósofo do Século XX, ao tentar fazer um
estudo da síntese dos nossos conhecimentos atuais sobre o comportamento
humano, poderia ser comparado a Maimônides, filósofo judeu da Idade Média, no
que se refere ao esforço para demonstrar a unidade do homem.

Eis uma afirmação de Maimônides:

"Saibas que a alma do homem é uma só, mas que as suas operações são
numerosas e diversas, e que algumas dentre elas são chamadas, às vezes, de
almas, o que pode fazer crer que o homem tem várias almas. Estas palavras são
muitas vezes empregadas pelos filósofos. Elas enumeram só os seus diferentes
atos, os quais são em relação à alma inteira como as partes em relação ao todo"
(294).

E agora, Merleau Ponty. "...Pareceu nos que matéria, vida, espírito, não
possam ser definidos como três ordens de realidade ou três es.as sim como três
planos de signifcação ou três formas de unidade" (293).

Mostra toda estrutura é composta de partes. Porém um todo, como o lembra


Piaget citando os gestaltistas, não é uma simples soma das partes.

As pesquisas sobre as estruturas (ou melhor, as estruturaçoes) das


operações lógicas na criança permitiu a Piaget trazer ao estruturalismo
contemporâneo uma grande contribuição: mostrou que um tudo é fruto de relações
entre os elementos.

Além disto, todas as suas pesquisas indicam que estas totalidades estão em
constante evolução e que uma estrutura é na realidade um sistema de
transformações.

As relações entre a unidade e as suas partes, como o mostra Piaget, nos


leva a constatar justamente a existência de uma primeira bipolaridade das
totalidades estruturadas da qual resulta uma propriedade de serem ao mesmo tempo
estruturantes e estruturadas.

Não sei se Piaget ou os estruturalistas estudaram a esfinge, a cabala ou Lao


Tsé, mas tudo indica que a ciência do Século XX está de certo modo voltando para
suas origens esotéricas e pré socráticas. É um ponto de vista que defende Suares
(302) a respeito do "Sepher Yetzirah" que ele considera como modelo estrutural que
falta às ciências modernas.

Vamos analisar a bipolaridade no próximo capítulo, já que tanto a esfinge e


os modelos cabalísticos quanto o estruturalismo moderno nos levam a isto.
CAPÍTULO 6
Dialética na Esfinge
32. A BIPOLARIDADE
A dualidade aparece de forma simbólica na esfinge, de duas maneiras.
Primeiro na composição de algumas esfinges egípceas, compostas de duas partes:
o leão e o homem. Tudo indica que os egípcios queriam por em relevo a dualidade.

Algumas esfinges da Iconografia de Dessenne têm duas penas na cabeça.


Kolpaktchy, o tradutor para o francês dos hieróglifos do "Livro dos Mortos" egípcio,
observa a este respeito que o Egito tinha como visão central da sua visão moral o
equilíbrio cósmico, encarnado pela deusa Maat, que tinha duas penas na cabeça. A
deusa Maat encarnava a "verdade justiça". O autor coloca esta bipolaridade em
confronto com a "libração da balança" do Arcano VIII da árvore sefirótica, que
representa a justiça. A maioria dos deuses são duplos (Rá-Osíris, ptahTatenem,
Horus Duplo, etc). Estabeleceu o Egito uma verdadeira balança cósmica (além
embaixo).

Mais tarde a alquimia herdou do Egito este princípio de oposição e o


simbolizou através da bipolaridade Mercúrio Sulfuro (26K).

Em segundo lugar, muitas esfinges estão colocadas aos pares, (ver Fig. 6)
em geral uma na frente da outra.

Para demonstrar este fato, fizemos uma estatística. Eis os resultados


encontrados, sempre a partir dos dados de Dessenne. que afirma que são
justamente as esfinges guardiãs que se encontram aos pares.

Forma do acasalamento Freqüência


Frente uma à outra 35
Viradas de costas ou seguindo-se
uma à outra 9
Lado a lado 2
Total 46

Das 335 esfinges, 46 se encontram aos pares, o que é estatisticamente


significante (t = 7,37 com P = .01).

Mesmo os querubins se encontram, por ordem de Deus, segundo a Bíblia,


aos pares, tanto para guardar a árvore da vida como para compor a Arca da Aliança.
33. O BINÁRIO NA CABALA
Em todas as árvores da vida os galhos são agrupados aos pares (ver Figs.
29 — 30 — 31 — 32 — 33). O candelabro de sete velas, que simboliza a árvore sefirótica
da cabala, também tem os seus ramos agrupados aos pares (Fig. 34),
correspondendo aos três pares de sefiroth's laterais (Fig. 38).

Ainda na cabala, temos, como já o vimos, a dualidade representada pelas


sete letras duplas: b, g, d, k, p, r, t. Estas letras podem ser pronunciadas de modo
suave ou duro. Um dos livros da cabala, o Sepher Vetzirah, que teria sido escrito por
Abraão, diz textualmente:

"As letras duplas representam os contrários. O contrário da vida é a morte; o


contrário da paz é a desgraça; o contrário da sabedoria é a tolice; o contrário da
riqueza é a pobreza; o contrário da cultura é o deserto; o contrário da graça é a
feiura; o contrário do poder é a servidão" (98) (195).

Esta idéia dos contrários, a encontramos também na gênese, quando Deus


declara que criou o homem a sua imagem, isto é, os criou macho e fêmea. Assim se
reconhece, dentro do próprio Deus, uma dualidade ou bipolaridade.

O Sepher-Hazohar da cabala afirma, de maneira insofismável, em relação


aos querubins, a intenção de simbolizar a bipolaridade.

Eis o texto que encontramos: "Os dois querubins colocados na Arca da


Aliança eram a imagem dos princípios machos e fêmeos; pois tudo que há no mundo
aqui de baixo é formado de princípio macho e de princípio fêmeo, a exemplo do
mundo em cima" (310).

Nos seus comentários do Sepher Dzeniuta, o Rabbi Simeon Sen Yochai,


também afirma: "A imagem divina é dupla. Há a cabeça de luz e a cabeça de
sombra, o ideal branco e o ideal preto, a cabeça superior e a cabeça inferior. Uma é
o sonho do Homem Deus, outra é a suposição do Deus Homem... Toda luz, com
efeito, supõe uma sombra, e só se torna luz por oposição a esta sombra (99).

Entre as ilustrações que conseguimos coletar, temos várias provindo da


cabala e que colocam em relevo essa "lei dos contrários', através da oposição do
preto e do branco, seja na estrela de Davi, em que há um triângulo preto entrelaçado
com um triângulo branco (Fig. 13), e que encontramos também em motivos hindus
(Fig. 45), seja em ilustrações do nome JHVH (Fig. 52), seja na figuração da serpente
em duas cores, branco e preto (Fig. 28), ou ainda no círculo preto branco,
simbolizando o En Sof da árvore seftrótica (Fig. 38).

34. O YIN YAN CHINÊS


Talvez seja entre os chineses que encontramos mais desenvolvida e mais
claramente expressa a dualidade através da doutrina taoísta do Yin e do Yan, e
simbolizada por um círculo que contém duas partes divididas entre elas por uma
espécie de S. A parte branca é chamada Yan e a parte preta é chamada Yin ( Fig.
51).

La Tsé define o Yin Yan da seguinte forma:

"Enquanto ela (a vida) não tem o desejo,


Estado Yin permanente de concentração e de repouso,
Ela contempla a sua espiritualidade
Transcendente a todo modo e a toda potência.
Quando tem o desejo,
Estado Yan permanente de expansão e movimento,
Ela contempla a sua espiral.
Desenrolando se, o não manifestado produz o manifestado" (93).

Assim o Yin representa o estado de passividade e o Yang, o estado de


atividade. Sem desejo, sem finalidade não há movimento, não há atividade. É o
estado Yin.

O Yin e o Yan constituem uma alternância rítmica, uma sístole diástole


garantindo o equilíbrio do universo:

"Todo mundo sabe que a beleza é a qualidade do que é belo


E que a feiúra, deformidade de coração também existe.
Todos os homens sabem que bondade é a qualidade do que é bom.
E que maldade, defeito da natureza, também existe.
Beleza, bondade, aspectos simples de harmonia,
Equilíbrio universal, lei geral do mundo.
Assim.
Pulsação do universo,
Forma e não forma se produzem e se condicionam mutuamente.
Difícil e fácil... Longo e curto...
Alto e baixo... Som e Tom... Antes e Depois..." (99).
No primeiro texto de Lao Tsé, que acabamos de citar, está também descrita
a concepção da passagem do absoluto que não é polarizado em positivo e negativo,
para a existência que ela é polarizada em Yin e Yan: "O não manifestado produz o
manifestado". O círculo, simbolizando o absoluto, desenrola se numa" espiral" em
"pulsação" feita de Yin e de Yan. Voltaremos ainda a estas noções quando tratarmos
dos princípios evolutivos que se encontram na esfinge.

O Yin e o Yan. no entanto, não são separados por divisões herméticas (Ver
Fig. SI). Há constante passagem de um estado ao outro; o ponto preto no branco e
vice versa estão a indicar que há sempre um pouco de positivo no negativo e um
pouco de negativo no positivo. A forma do S mostra a oscilação (em serpente que
significa também energia que a move) entre os dois estados. No negativo há sempre
um pouco de positivo, num homem perverso há sempre elementos de bondade,
mesmo em grau mínimo. E a esfinge nos indica que em todo homem há um animal,
ou vários conforme a esfinge.

Este binário fundamental rege o macrocosmo e o microcosmo havendo


inclusive influência dos ritmos de um no outro.

No plano do macrocosmo, temos, por exemplo, as estações do ano e as


partes do dia. Eis, calculadas pelos chineses, as proporções de Yin e Yan (100).

Ano Dia Proporções Yin-Yan


Primavera Manhã 50/50
Verão Meio-Dia 1/90
Outono Tarde 50/50
Inverno Noite 9/1

Há uma constante alternância de ação (Yan) e repouso (Yin) Isto vale tanto
para as pulsações galácticas quanto para as estações do ano ou os raios cósmicos.

No plano do microcosmo, o organismo humano obedece ás mesmas leis de


alternância de Yin e Yan. Este ritmo ação repouso é encontrado numa infinidade de
ciclos desde o metabolismo celular (anabolismo catabolismo) até o ritmo cardíaco de
sístole diástole, respiratório ou digestivo. Eis as proporções de Yin Yan de algumas
funções do corpo humano, segundo a medicina chinesa de há mais de cinco mil
anos (101).
Função Proporções Yin-Yan
Evacuação 1/99
Hepática 75/25
Coração 65/35
Supra renal 99/1

A acupuntura e micromassagem chinesas são baseadas neste tipo de


proporções, assim como o seu sistema filosófico e sua sabedoria.

No "Há-Do" chinês (Fig. 44), que tem muita semelhança com a árvore
sefirótica, o binário é representado pelas cores branca e preta. O branco está em
cima (Yan) e o preto em baixo (Yin). Os três pares de três elementos parecem
representar a evolução das proporções Yin Yan, dentro do círculo que representa o
Absoluto e o ciclo do eterno recomeço. Este Absoluto, ou Tao, é a lei ou força
equilibrante que regula a pulsação universal.

35. A TERCEIRA FORÇA


Assim, é mera ilusão pensar que só existem forças positivas e negativas. Há
uma terceira força que é, ao mesmo tempo, anterior às duas, mas também resulta
do jogo das duas. Lao Tsé a definiu da forma já citada anteriormente: "Um produz
dois, Dois três". Esta afirmação "dois produz três" significa, segundo Stanislas Julien
(97), que o Yin e o Yan se unem e produzem a harmonia. "O sopro do vazio mediano
regula a harmonia deste", diz Lao Tsé (97) e o Yi-King explica que o sopro é a volta
alternativa do Yin e do Yan. O Tao é a razão deste fato (97, nota cinco). Como se
sabe, o Yi-King, escrito há aproximadamente cinco mil anos, é um comentário do
significado do "Há-Do", mostrando que já há cinco mil anos existia a idéia da
unidade, binário e do ternário (309).

Esta idéia existe também na cabala, tanto na árvore sefirótica, como no


candelabro de sete velas e no tetragrama ou nome de Deus.

O Zohar por exemplo aponta a águia como sendo o terceiro elemento:

na visão de Ezequiel, a face de leão estava à direita, a face do boi à


esquerda, e a da águia formava o traço de união entre as duas precedentes,
enquanto a face do homem planava acima de todas as outras faces". (318)

Tanto na árvore sefirótica como no candelabro de sete velas que a


materializa, encontramos três pares reunidos em torno de um eixo central. Neste
eixo central, há um ponto que está em relação, pelos canais, com todos os outros
pontos. Esta sefira que corresponde ao número 6 é o "Tiphereth" ou beleza (Fig. 39).
Ora, como cada um, dos sefiroth's, o número seis é representado por um dos nomes
de Deus: no caso, o nome mais expressivo e o único que, na religião mosaica, é
proibido pronunciar. Como já o vimos anteriormente, este tetragrama é composto
pelas letras: lod, Hei, Vau, Hei (JHVH), de onde a sua pronúncia latina: Jehovah.

Assim, a estrutura geométrica da árvore da vida em si mesma já indica a


unidade ou absoluto da origem (ver Figs. 38 e 39). Mas, não contente com isto, no
eixo central encontramos o tetragrama que simplesmente repete o mesmo princípio.
Veja mos:

O lod, conforme já vimos, é o elemento que compõe todas as outras letras


do alfabeto hebraico. É a unidade princípio e fim, pois o número 10 contém todos os
outros números. Além disto é constituído de Um mais Zero: 1 + 0. É, por
conseguinte, o princípio que se une ao nada, O, para formar o todo, 10. Este todo
Dez pode ser o homem como o universo.

Este Eu (humano ou cósmico) para existir tem que gerar um Não Eu. Isto só
se poderá fazer por uma divisão em duas partes. Dez dividido por dois dá cinco. Ora,
o número Cinco em hebraico é representado justamente pela letra Hei.

A letra Hei simboliza, por conseguinte, o princípio passivo em relação ao lod,


que simboliza o ativo. O Eu, ao se afirmar, só pode fazê-lo criando o Não Eu, pois o
nosso mundo é um mundo relativo. Tal é a origem da dualidade (102).

O Hei está também simbolizando a feminilidade a que se refere o Gênesis.


"Ele os criou à sua imagem; ele os criou macho e fêmea" (61). Assim se explica o
símbolo de Adão.

Como acabamos de ver no plano do macrocosmo, o absoluto para passar a


existir teve de se desdobrar em dois pólos. É neste sentido que se pode interpretar a
"i magem de Deus" composta de macho e fêmea.

Como o homem é uma imagem de Deus, Adão para passar a existir também
teve de se desdobrar em macho e fêmea, em princípio positivo e negativo, em Yin e
Yan. Daí a imagem simbólica de Eva tirada de uma costela de Adão. Assim, antes
do estado terrestre, teria havido, segundo a tradição cabalística, vários seres Adão-
Eva reunidos num só. Assim Adão teria sido, na sua origem, um ser andrógino, o
"Adam-Kadmon". O amor é o terceiro elemento que tende a eliminar a contradição
homem-mulher. Esta terceira força de atração leva o homem a procurar
indefinidamente recobrar a unidade perdida.

Voltando ao Hei, esta letra representa, por conseguinte, o elemento passivo


em relação ao lod Ativo, a feminilidade em relação à masculinidade, a substância em
relação à essência, o Yin em relação ao Yan.

O Vau (V) é o elemento equilibrador, é a força da harmonia.

Com efeito, o Vau corresponde ao número Seis dos sefiroth's (Fig. 39), que,
como já o vimos, representa a beleza (Tiphereth), a harmonia ou o amor.

O número Seis é, ao mesmo tempo, a soma de cinco (Hei com a unidade


lod. A sua forma hieroglífica é a de um gancho. Ele é real gancho entre o lod e o Hei,
entre o Yin e o Yan (102). Na árvore sefirótica, é o ponto de convergência e de
equilíbrio de todos os outros sefiroth's. É a emanação do Absoluto no mundo da
criação. É o Tau de Lao Tsé. É realmente impressionante verificar como as tradicões
religiosas em aparência tão distantes como o judaísmo (e através dele o
cristianismo) e o taoísmo se encontram.

Podemos ainda acrescentar o símbolo hieroglífico do disco alado em que o


disco é o Absoluto lod, as duas serpentes representam os dois Hei e as duas asas
seriam o Vau (103).

O segundo Hei é o elo entre um mundo e o outro. Voltaremos sobre esta


noção, quando falarmos do quaternário.

Segundo Wirth (252), haveria as seguintes correspondências entre os


animais da esfinge e as letras do nome JHVH:

lod: .................................... Leão


Hei: ................................... Anjo
Vau: ................................... Aguia
Hei: ................................... Boi

Voltando agora à esfinge, podemos compreender mais facilmente o


si mbolismo dos modelos egípcios binários da esfinge. O seu binário homem-animal,
Yin Yan, positivo negativo, etc.... é apenas aparente. A serpente foi acrescentada
para fazer deste conjunto um ternário.
36. O ESPAÇO BIDIMENSIONAL E A HIERARQUIA DOS ELEMENTOS
NA ESFINGE

No que se refere mais especialmente à bipolaridade na esfinge,


compreenderemos melhor a sua manifestação simbólica se consultarmos certas
tradições cabalísticas no que tange ao uso do espaço bidimensional para
representar a bipolaridade.

Rabbi Simeon Ben Yochai, nos seus comentários do Sepher Dzeniuta diz
que no simbolismo tradicional, a parte de baixo equivale à esquerda. O lado direito
corresponde ao branco, o lado esquerdo corresponde ao preto (204). Em outras
palavras o positivo é representado à direita e em cima, o negativo, à esquerda e
embaixo. O que está embaixo é negativo em relação ao que está em cima. O que
está à esquerda é negativo em relação ao que está à direita. Assim sendo, em
função da sua posição, um positivo pode-se tornar negativo e vice-versa. Estamos
em plena relatividade.

Idéia idêntica encontramos expressa por Gurdjeff. Para ele as forças ativas,
passivas ou neutralizantes, só aparecem assim no seu ponto de encontro. Assim por
exemplo, num corpo composto de quatro elementos ou centros (mais adiante
voltaremos sobre estas idéias), o elemento superior é sempre positivo em relação
aos elementos inferiores que ele domina (205).

Os monges construtores das igrejas medievais, seguiam o mesmo


simbolismo espacial (123).

No tarô encontramos esfinges em várias situações em que elas assumem


nitidamente sinais diferentes.

Na carta n° 2 que expressa a bipolaridade no seu nascimento


(desdobramento do n 1), a esfinge aparece, embaixo e à esquerda da "papisa" (Fig.
o

49), junto de símbolos bipolares (Letra dupla Beth, simbolo do Yin Yan, chão xadrez
branco e preto, quarto minguante de lua) de maneira duplamente (ainda dois)
negativa.

Na carta n° sete, que simboliza o setenário, (dois ternários harmonizados


pela unidade) encontramos duas esfinges simbolizando a bipolaridade dos ternários
do setenário. Uma delas à esquerda do condutor é preta, logo negativa ou passiva.
A outra é branca, logo positiva e situada à direita do condutor (Fig. 50).

Na carta n° 10 (1 + O) que simboliza a volta á unidade (Ver árvore sefirótica


nos capítulos anteriores), a esfinge aparece em cima e no meio das forças do bem e
do mal na roda da fortuna. Ela é, por conseguinte, o elemento equilibrador ativo e
positivo em relação às duas forças situadas embaixo e ao mesmo tempo neutra ou
equilibradora em relação a estas forças, pela sua posição mediana. As forças do
bem sobem assumindo uma direção positiva, enquanto as forças do mal descem em
direção ao negativo. As forças do bem partem de uma posição negativa, à esquerda
da esfinge em direção ao alto positivo, em direção à síntese final, simbolizada pela
esfinge (Fig. 53 — 54).

Na cada n° 21 (ou 22, conforme o baralho; há divergências a esse respeito),


os quatro elementos da esfinge aparecem justamente na carta que representa a
síntese final, a volta ao Absoluto. Se tomarmos agora o simbolismo dos animais já
analisado em capítulo anterior vamos descobrir relações bastante .interessantes. A
águia e o homem se encontram em cima; o leão e o boi se encontram embaixo.
Estamos, aqui, diante da oposição entre as forças espirituais (águia) e do ideal
humano (homem), de um lado e as forças animais do instinto (boi) e da paixão
(leão). Outro aspecto bipolar, a oposição entre o homem (anjo) e a matéria (boi) ou
ainda entre a razão (águia) e o sentimento (leão). entre a mente (águia) e afeto
(leão). Se tomarmos agora como ponto de referência o plano horizontal, teremos
outras oposições bipolares: o homem dominando a sua mente (águia). Embaixo o
conflito entre o sentimento (leão) e o instinto (boi). Há uma contradição entre esta
disposição espacial do boi e do leão e a encontrada nos quatro mitemas da esfinge,
no sonho de Ezequiel em que o leão é descrito à direita e o boi à esquerda. O
mesmo se dá nas estátuas e baixos relevos medievais dos mitemas em torno de
Cristo (77 - 79) (Figs. 11 - 12). Pode ser que haja uma inversão da simbologia, pelo
fato de os ciganos provirem possivelmente da Índia, de onde teriam sido expulsos
como casta indesejável. Ora, na índia o boi é sagrado, considerado um animal
pacífico, cheio de afeto e de sentimento, enquanto o leão seria então o animal
instintivo. É realmente difícil resolver esta contradição.

Existe ainda uma outra bipolaridade inerente à esfinge. E a oposição, ou


complementaridade, masculino-feminino. A esfinge é realmente um ser ambíguo a
este respeito. Ora aparece como ser masculino com cabeça de faraó, ora aparece
como ser feminino. Quando e um ser feminino em geral é um ser temido, devorador
e agressivo, cuspindo fogo ou munido de espada, o que são características
masculinas. Em francês, se a esfinge é masculina, nas línguas ibéricas e
germânicas, ela é feminina. A sua colocação uma em frente a outra provavelmente
simboliza também a bipolaridade masculino feminino. A análise de Lévi-Strauss, já
citada em capítulo anterior sobre o mito edipiano e as dúvidas sobre as nossas
origens autóctones, nos leva a relacionar a esfinge com a tradição cabalística da
existência anterior ao homem de um Adão Kadmon andrógino.

As relações bipolares no espaço, usadas na cabala e descritas mais acima,


explicam a maioria das estruturas quaternárias, que são, na realidade, bipolaridades
distribuídas no espaço bidimensional. Os quatro pontos cardeais, a caracterologia
quaternária de Jung (254), as quatro estações do ano, os quatro lados do retângulo,
implicam num ponto harmonizador comum, o qual, na árvore sefirótica, é
caracterizado pela letra Vau, o tetragrama Jehovah e simboliza a beleza ou
harmonia (Figs. 38 - 39).

Há um paralelo muito importante a fazer e analisar a este respeito: são as


relações existentes entre os retângulos da árvore sefirótica de um lado, em que,
como vimos, imperam relações bipolares biespaciais e o grupo de transformações
de Klein, tão conhecido em matemática e explorado pelos estruturalistas (206).

Este possível paralelo nos introduz na época moderna.

37. A CONTRADIÇÃO NA ÉPOCA MODERNA


Encontramos em Baudouin (260 - 261) uma classificação do espaço, com
alguns significados do ponto de vista psicanalítico. O simbolismo do espaço é
idêntico ao dos antigos:

- NEGATIVO + POSITIVO

Baixo (esquerda) Alto (direita)


Id Si
Pai tirânico mãe terrível-satã Pai ideal-mãe ideal-Deus
Escuridão Luz
Fatalidade (morte) Liberdade (nascimento)
Contração (depressão) Expansão (alegria)
Tendências captativas (orais-anais) Tendências oblativas (genitais)

Falar em contradição na nossa época nos leva a evocar de imediato a


dialética hegeliana. As considerações de Hegel sobre a contradição poderiam muito
bem ser acompanhadas de uma ilustração do símbolo do Yin Yan chinês ou do
Sepher Yetzirah.

Hegel colocou em relevo o papel da contradição na vida humana. A


oposição do positivo e do negativo, embora se anulem chegando a zero,
representam também o Um, já que + a, — a têm em comum um "a".

Para ele a contradição não somente representa uma diferen. ça entre o


positivo e o negativo, mas o negativo contém o positivo e vice.versa. Para Hegel, a
vida é contradição e união ao mesmo tempo. A tese e a antítese implicam numa
síntese. A idéia de uma constante superação do homem através da análise das suas
contradições nele mesmo e dele com a natureza está impregnando toda a filosofia
contemporânea de Hegel a Marx, de Teilhard de Chardin a Roger Garaudy,
passando por Jean Paul Sartre (182).

38. A DIALÉTICA DOS CONTRÁRIOS EM PSICANÁLISE


É, por conseguinte, perfeitamente compreensível que esta filosofia tenha
impregnado a psicoterapia moderna. A primeira grande contradição e bipolaridade
observada em psicoterapia é a contida no modelo de Freud. A contradição entre o
superego de um lado e o id de outro lado, entre a introjeção do mundo exterior e
mais particularmente o mundo social de um lado, e de outro, as forças da natureza,
representadas pelos instintos ou "pulsões". É interessante notar que Freud distingue
uma bipolaridade pulsional: o seu já famoso eros e thánatos ou instinto de vida e de
morte.

Em termos da esfinge estamos aqui evidenciando o conflito entre a águia de


um lado, e o leão e o boi de outro lado. A águia sim. bolizando o superego e o boi e
o leão, as pulsões.

A psicoterapia analítica, como o mostra mais particularmente Caruso,


consiste justamente numa aprendizagem da análise das contradições pelo homem.
Ao fazê-la, ele se torna cada vez mais consciente, mais autônomo, libertando se da
sua alienação, tanto ao seu mundo, externo, como interno (mundo exterior
introjetado). Mas estamos antecipando algo que será tratado mais adiante. Por
enquanto estamos apenas querendo mostrar que no nosso século a bipolaridade
constitui ainda uma preocupação essencial.

A psicanálise mostrou também a importância da "introjeção" na formação da


personalidade. A primeira bipolaridade introjetada é, segundo Melanie Klein, a do
seio bom e do seio mau (198). Nos introjeta. mos o mundo externo, colocamo lo
dentro de nós, inclusive com suas contradições. Isto nos permite afirmar, "a priori",
que, já que existem contradições, bipolaridades. no mundo exterior, estas
bipolaridades devem se refletir fatalmente na nossa vida psíquica e aparecer nos
resultados de investigações no terreno da psicologia científica propriamente dita.

39. A BIPOLARIDADE EM PSICOLOGIA

Como era de se esperar, as descobertas no terreno da bipolaridade em


psicologia são extremamente ricas. Vamos apenas aqui, a título de ilustração, citar
alguns exemplos.

Os psicólogos da Gestalt mostraram a existência de uma constante relação,


na percepção de um objeto entre a "Figura" e o "Fundo". Conforme a concentração
que damos à nossa percepção, uma figura pode virar fundo e vice-versa...

Em psicologia topológica, Kurt Lewin (183) e seus seguidores realçaram a


importância dos "campos" de forças, dos, sistemas de tensão que levam os
indivíduos a agir. Este campo de forças implica no mínimo duas forças Um nível de
aspiraçao, por exemplo, se caracteriza pelo descompasso existente entre o que uma
pessoa é e o que ele deseja ser entre o objetivo que ela pretende alcançar e o lugar
em que ela se encontra. Zeigarnik, em relaçao a este último aspecto, mostrou que
uma pessoa age em virtude de uma tensão criada pela presença de um objetivo a
alcançar. A tensão se torna nula quando o objetivo foi alcançado. Galeno P.
Alvarenga confirmou tais pesquisas no Brasil, através de situações de "Tarefas
Interrompidas" (184).

A psicologia da decisão também colocou em relevo o estado de tensão


criado entre duas ou várias alternativas, assim com a influência do sucesso e do
fracasso, outra bipolaridade, nas decisões (185). Outras bipolaridades ainda intervêm
nas decisões, como por exemplo: caminhos tradicionais, caminhos modernos, ou
decisões programadas e decisões não programadas (186). Ainda neste terreno da
decisão, Festinger colocou em destaque a tensão criada pela" dissonância
cognitiva", isto é, pela existência de aspectos positivos da alternativa rejeitada (187).

Em psicologia social, no estudo dos pequenos grupos e da interação


humana em geral, R. F. Bales conseguiu elaborar engenhoso sistema de
classificação do comportamento dos indivíduos em grupo. Neste sistema ele
distingue reações emocionais positivas e reações emocionais negativas, como por
exemplo: solidariedade antagonismo, tensão relax, aprovação passiva desaprovação
passiva (188).

Ainda em psicologia social, o comportamento de liderança foi objeto de


vários estudos em que a oposição bipolar indivíduo grupo tem sido bastante
realçada. Podemos citar, entre outros, os trabalhos de Chrys Argiris sobre o
interesse do homem e da organização, de Mc Gregor sobre a Teoria X e a Teoria
Vede Blake e Mouton, sobre as coordenadas interesse no homem interesse na
produção (190 — 191 — 192).

Em psicologia comportamentalista e reflexologia de Pavlov e Skinner, o


comportamento respondente é eliciado por estímulos positivos e muitas vezes
perturbado por estímulos aversivos. A modelagem do comportamento operante se
faz através de reforços positivos e negativos, tudo isto, ainda dentro de um binário
estímulo reação, tomado como ponto de partida metodológico (150).

A bipolaridade masculino feminino tem sido amplamente demonstrada tanto


pelos trabalhos de psicanalistas como Jung (10) no que se refere ao animus e anima
presentes em todo homem e mulher, em quantidades variáveis ou por
experimentalistas como Terman Miles, que chegaram a construir um teste de
masculinidade-feminilidade e uma escala de medida. A disttribuição estatística deste
"traço" bipolar é gaussiana (193). Está ainda em discussão a participação na
formação dos masculinos-femininos de outro binário: a do organismo
(endocrinologia) e do meio (introjeção da mãe e do pai). Como em todo
comportamento humano, é difícil distinguir os fatores fisiogênicos e psicogênicos e
as relações entre o ginandromorfismo (118) e a "ginandrofrenia".

Em caracterologia e teorias da estrutura da personalidade existem inúmeros


"traços" ou variáveis bipolares. Vamos citar algumas tiradas de um dos estudos mais
exaustivos realizados sobre o assunto por Murray (194): Conjuntividade-
Disjuntividade; Exocatexis-Endocatexis; Intracepção-Extracepção; Impulsão-
Deliberação; Projetividade-Objetividade; Radicalismo -Conservadorismo;
Uniformidade-Mudança.

Seria necessário um tratado para comentar todas as variáveis bipolares


isoladas pela análise fatorial de psicólogos, como por exemplo, Cattel, Leary e
outros ainda (196 - 197). A estrutura da personalidade, isolada por Cattell, por
exemplo, é constituída de 16 fatores bipolares, como por exemplo: Confiante-
Acomodado; Dependente-Auto-suficiente; Menor Força do Ego-Maior Força do Ego;
Reservado-Expansivo.

Embora a existência de contradições e bipolaridades seja um fato


demonstrado fartamente pela psicologia moderna, temos que reconhecer também
que, em geral, intervém um terceiro elemento. Entre o positivo e o negativo se situa
o elemento neutro. Do confronto da tese e da antítese nasce a síntese, como
processo dialético. No modelo psicanalítico o ego regula as forças do id e do
superego e toma decisões no "campo de forças" ou na escolha entre dois
comportamentos opostos. Além disso existe uma homeostase que regula as
interações entre o indivíduo e o seu meio.

Assim, chegamos ao ternário que será objeto do próximo capítulo.


CAPÍTULO 7
O Ternário
40. ANÁLISE NUMEROLÓGICA DA PALAVRA KRVB. SIGNIFICÂNCIA
ESTATÍSTICA
Seguindo o "conselho" de São João, já citado, quando disse que quem for
inteligente calcule o "número do animal", pois é o número do homem, isto é,
seiscentos e sessenta e seis, procuramos calcular o "número do animal" que nos
preocupa aqui, a esfinge-querubim.

A afirmação de São João indica claramente a intenção, nessa época, de


si mbolizar os animais por números. Resta saber como isto se fazia.

Encontramos a provável explicação tanto na cabala, como nos tratados de


"numerologia" (207). Aí encontramos, em primeiro lugar, uma descrição de certas
propriedades das letras hebraicas que, como significante fonético, tem vários
significados, entre outros um numérico. Assim, podemos facilmente transformar a
palavra hebraica Kerub em número.

K= 11
R= 20
V= 6
B= 2
Total: 39

Se examinarmos mais de perto este total, verificaremos que ele é composto


de três, e de três vezes três. Isto será intencional? Tirando o homem, são três os
animais que, conforme veremos adiante, se desdobram em três partes cada um, o
que dá o número de nove.

Cada parte do candelabro de sete velas é composto de três ramos no qual


Deus mandou Moisés colocar três prateleiras em forma de amêndoas, o que dá nove
prateleiras de cada lado.

Mas isto seria uma maneira ocidental de analisar o problema. Na realidade


os cabalistas usavam a chamada adição e redução teosófica, que consistem no
seguinte: para cada número faz-se a soma junto com o número analisado de todos
os números que o precedem. Por exemplo:

4 = 1 + 2 + 3 + 4 = 10

Depois se faz a redução, isto é, reduz se o número composto a um número


simples, somando os seus elementos. No caso de 10 teremos:

10 = 1 + = 1

Fizemos a redução teosófica das quatro letras da palavra Kerub. O resultado


é surpreendente:

Caph K - 11 = 3
Resch R = 20 = 3
VAU V - 6 = 3
Beth B - 2 = 3

Pela redução teosófica, todas as quatro letras são simbolizadas pelo número
três.

Assim o número da esfinge KRUB seria 3333.

A soma trinta e nove, obtida mais acima, nos indicaria que temos um ser
composto de três partes (o primeiro 3). Cada uma das suas partes é composta
também de três partes (três vezes três dá 9). Temos por conseguinte, quatro três.

A redução teosófica nos da a mesma idéia, de quatro ternários.

É extremamente difícil a correspondência numero lógica das letras de KRUB


ser devida ao acaso, isto porque das vinte e duas letras-números do alfabeto
hebraico, transformadas em números reduzidos, só existem cinco letras
correspondentes ao número três. Dessas cinco, quatro foram escolhidas. Há uma
manifesta intencionalidade, pois a probabilidade do acaso é de 0,012.

Esta intencionalidade vem a favor da tese segundo a qual os querubins são


representativos de uma estrutura de quatro elementos ternários ou de um elemento
ternário subdividido em três ternários.

Como se trata também de um quaternário, número preferido segundo Papus,


por Pitágoras, encontramo nos também diante de uma estrutura unitária, já que,
como vimos há pouco, a redução teosófica do número quatro dá o número Um. Isto
é, o quarto elemento Beth, como já o mostramos, simboliza provavelmente a volta à
unidade.

Assim, do ponto de vista numerológico, a mensagem deixada com muita


probabilidade pelos autores dos querubins é a de uma estrutura constituindo uma
unidade composta de três animais, cada um composto de três elementos. A
totalidade seria o homem.

No Sepher-Hazohar da cabala encontramos menção de um nome,


"Schinan", que sintetiza os animais. Eis o texto:

"A palavra Schinan é formada pelas iniciais das palavras" Schor" (b ),


"Nesher" (águia), "Ariyê" (leão) e "Adam" (homem)" (313, 316).

Além do nome Schinan a própria letra Schin, que é composta de três lod,
também representa os três animais, dentro do nome de Mosche (Moisés). Eis o que
fala o Zohar:

"A letra Schin do nome de Moisés é o emblema dos três ramos principais
cuja escritura diz: "Todos os quatro à direita tinham uma face de homem". Ora, pode
se ver que, além da figura de homem, há no Carro de Deus três outras figuras: o
leão, o boi e a águia. As letras Mem e He do nome de Moisés designam o homem,
quarta figura do carro" (314).

Descobrimos alguns fatos que vêm reforçar a idéia de intencionalidade da


escolha de quatro ternários para compor a palavra KRUB. Enquanto os querubins
foram colocados no centro do tabernáculo, as doze tnbos de Israel foram colocadas
em quatro grupos de três (4 vezes 3) num dispositivo em quadrado, por ordem de
Deus. Segundo um Targum do pseudo Jonathan, os emblemas destes quatro
agrupamentos eram exatamente os do tetramorfo. Combinando a sua posição nos
pontos cardeais, a sua ordem de marcha e as letras do nome de Deus, JHVH que
lhe corresponderia, temos o seguinte conjunto (295 296):-

Tetramorfo Tribos Posição Ordem de Letra do


Marcha Nome de
Deus
Judá
Leão Oriente Primeiros Hei
Issacar
Zabulon
Ruben
Homem Sul Segundos Iod
Simeão
Gad
Efraim
Touro Ocidente Terceiros Vau
Manassés
Benjamim
Dan
Águia Norte Quartos Hei
Aser
Neftali

Como se vê, a disposição das tribos em torno do santuário reproduz uma


ordem cósmica dividida em quatro ternários. São também quatro ternários os
resultados da redução teosófica das letras dos querubins. Não é, por conseguinte,
exagerado afirmar que os querubins resumem, na sua estrutura, além do
microcosmo, também o macrocosmo.

Os especialistas em estrutura arquitetônica de santuários são unânimes em


reconhecera intenção de figurar nestes (quatro pontos cardeais, sinais do zodíaco,
relógios solares, direção em relação ao sol), a concepção que os seus construtores
ti nham do macrocosmos. Isto também se deu para o tabernáculo e a disposição do
povo de Israel, como parte integrante de um grande santuário ambulante no deserto
(295).

No Sepher-Hazohar da cabala, encontramos também a idéia de que os


animais representavam as doze tribos de Israel:

"E a bandeira de Schiloh (Moisés) trará um leão à direita, um touro à


esquerda, uma águia no meio e um homem por cima. Há quatro faces à cada figura,
o que dá doze, correspondendo às doze tribos" (Fig. 13 e ref. 315).

A redução teosófica dos três seis de São João, que disse que é um "número
de homem", é de 333, pois cada 6 corresponde a 3.

41. O TERNÁRIO NAS RELIGIÕES DO MUNDO


Acabamos de constatar, no capítulo precedente, que, na realidade, não
existem esfinges binárias, feitas apenas de duas partes. Hásempre três partes: uma
bipolaridade equilibrada, harmonizada por um terceiro elemento ou uma terceira
força, que tende a fazer voltar o Ser à sua unidade.

Antes de começar a escrever este livro, passamos alguns anos acumulando


dados bibliográficos. Ora. é justamente sobre o ternário que encontramos,
estatisticamente falando, o. maior número de elementos. Este número é tão grande
e abrange tantaS disciplinas filosóficas e científicas que ariscamos nos perder,
sobretudo no que se refere a estabelecer relações racionais entre os ternários.

Descobrimos, aos poucos, que a esfinge nos tinha colocado no caminho do


estudo de leis muito gerais da estrutura dos universos, do átomo, da célula, dos
genes, do homem e dos planetas, e que uma vez que se sai da Unidade Absoluta,
passando pelo ilusório binário, é justamente o ternário que permitiu aos antigos uma
abordagem explicativa genérica e unitária dos fenômenos da vida.

E de novo, a árvore da vida, cujo sentido foi conservado pelos sábios judeus
até os nossos dias no sistema sefirótico, nos permitiu reagrupar os elementos
esparsos das nossas pesquisas, num modelo único.

Assim, os dois querubins esfinges do Gênesis, guardando a árvore da vida,


conseguiram, no nosso caso, preencher a sua finalidade: foram os guardiãos
porteiros que nos levaram a conhecer algo da árvore da vida sefirótica. É este algo
que procuramos transmitir ao leitor.

Para isto vamos voltar à descrição da árvore sefirótica. Conforme o leitor


deve se lembrar, há dez sefiroth's distribuídos em três ternários da forma já descrita
mais acima. A primeira safira (Alef, número 1) é chamada a coroa que criou os
outros sefiroth's. Ela encabeça, além do conjunto todo, também o primeiro ternário.
Este primeiro ternário corresponde ao mundo da criação. O segundo ternário
corresponde ao mundo da formação e o terceiro ternário constitui o mundo do
término, que é o nosso mundo material, sendo que o conjunto é o mundo da
emanação do Ein Soph ou ou Infinito ou Aziluth (105).

Cada um dos elementos componentes destes mundos também se subdivide


em dez sefiroth's e três ternários, e assim por diante.

É por conseguinte evidentemente que cada um dos sefiroth's assuma um


significado diferente segundo o plano encarado.

O ternário no mundo da criação é encontrado em todas as grandes religiões


e mitologias, seja no plano esotérico, como é o caso do judaísmo, seja no plano
exotérico. Eis alguns dos ternários que encontramos.

Egito Bramanismo Taoismo Budismo Judaismo


(Tri Kaya)
Osiris-Isis Brama Tao Dharma-Kaya Kether
Horus Vishnou Yin Sombogha-Kaya Chochmah
Ammon Phta Silva Yan Nirmana-Kaya Binah

Catolicismo Escandinávia (104) Gregos. Romanos


Pai Thor Jupiter
Filho Odin Juno
Espírito Santo Freyr Vulcão

Também os três mundos ou planos encontramo-los em várias religiões ou


mitologias. Eis alguns exemplos:
Judaismo Budismo Escandinávia Catolicismo
(104)
Beria Brama loka Asgard Espírito de Deus

Vesira Deva loka Utgard Alma (ou vida) de


Deus

Assiya Manoespe loka Mitgard Corpo de Deus

42. A ESTRUTURA TERNÁRIA DO HOMEM E A ESFINGE


O Sepher-Hazohar da cabala insiste muito sobre a estrutura ternária no
homem. Eis um dos textos que encontramos:

"O membro superior direito é composto de três articulações, assim como o


membro do lado esquerdo. As três articulações direitas correspondem aos
patriarcas; mas, objetar-se-á, não será às três cavidades do cérebro que
correspondem os patriarcas? Com efeito, este número três se encontra em todas as
partes do corpo..." (311).

Vamos seguir a orientação de Salomon Ibn Gabirol, dentro da metodologia


que traçamos no início desta obra, isto é, vamos tentar percorrer os mesmos
caminhos e meandros do pensamento antigo, usando a sua própria espécie de
abordagem.

Como o leitor deve se lembrar, o autor recomenda analisar o microcosmo,


isto é, o homem, para se ter posteriormente uma idéia do funcionamento do
macrocosmo. Reproduzimos aqui uma reconstituição feita por Papus (107 — 178 —
227).

Começamos pela célula. A célula possui três partes distintas:

núcleo
protoplasma
A membrana

Em outras palavras, uma célula é uma unidade que se divide em ternário:

O núcleo ou elemento central


O protoplasma ou elemento intermediário
A membrana que limita o corpo da célula

Vejamos agora o embrião humano. Também ele é dividido em três partes:

— O ectoderma
- O mesoderma
- O endoderma

Sabemos que cada um destes elementos dá nascimento a vários órgãos que


permitirão a instalação de funções, por exemplo:

O ectoderma dará o sistema nervoso (cérebro, nervos, fluido nervoso)


O mesoderma dará o sistema circulatório (coração, vasos, sangue)
O endoderma desenvolverá o sistema digestivo (estômago, intestino,
li nfa).

Conforme se vê, cada um dos sistemas é composto também de três


elementos.

O que observamos é um constante desdobramento em três partes


chamados mundos na cabala:

- mundo superior
- mundo mediano
- mundo inferior

Cada mundo, por sua vez, se desdobra em três mundos de tal forma que um
dos "mundos" seja a localização do mundo que se desdobre, e os dois outros o
reflexo dos dois outros mundos, o que podemos representar do seguinte modo,
tomando como exemplo o mundo mediano:

reflexo do mundo superior


Mundo mediano localização do mundo mediano
Lreflexo do mundo inferior
{

A interligação destes mundos obedeceria ao princípio já exposto


anteriormente e resumido na Fig. 41.

Vamos tomar como exemplo de desdobramento os três grandes "mundos"


do homem:

Mundo superior - O sistema nervoso (cabeça)


Mundo mediano - O sistema sangüíneo (tórax)
Mundo inferior - O sistema digestivo (abdômen)

O sistema nervoso está localizado na cabeça, mas tem as suas ramificações


e reflexos no tórax e no abdômen, onde se distribui o fluido nervoso através dos
nervos.

O sistema sangüíneo, localizado no tórax, está presente através dos vasos e


distribuindo o sangue na cabeça e no abdômen.

O sistema digestivo, localizado no abdômen através dos vasos linfáticos;


alimenta o organismo inteiro.

Voltando agora á esfinge, já estamos percebendo que os três animais — o


boi, o leão e a águia, cujo símbolo já analisamos, correspondem aos nossos três
" mundos" físicos, integrantes do nosso corpo.

O boi corresponde ao nosso sistema digestivo, localizado no abdômen.


O leão, ao nosso sistema circulatório, localizado no tórax.
A águia simboliza o nosso sistema nervoso.

Com as ressalvas do princípio de inter relacionamento e interligação já


descrito (Fig. 41) e da existência de vários planos de desdobramento dos ternários,
tentamos dar, num quadro sinótico (Quadro II), correspondências entre diferentes
aspectos anatômicos e fisiológicos do homem.
Águia Ecto- Cabeça Maxilar Olhos Ondas Cérebro Influxo Nervos Neuroneo Córtex Olhos Olhar
derma Orelhas Luminosas e Usina Nervoso s Laringe Palavra
Acústicas Elétrica Exp.
Leão Mesod Peito Braços Nariz Ar Pulmões Força Vasos Glóbulos Hipotálam Braços Gesto
erma Coração Vital sangüíneo o Escrita
Usina a s
Vapor
Boi Endo- Ventre Pernas Boca Matéria Estômago Energia Vasos Gânglios Bulbo e Pernas Andar
derma (Vegetal, Intestino física Linfáticos Linfáticos espinha
Mineral e Usina
Animal) Hidráulica
Química
Física
Quadro IV

HOMEM. ANATOMIA E FISIOLOGIA


(Segundo Papus)
O exame do quadro nos permite observações bastante interessantes, por
exemplo, a hierarquia dos órgãos da cabeça corresponde exatamente à hierarquia
das três grandes partes do corpo: a boca está ligada ao estômago (boi); o nariz está
li gado ao tórax (leão), enfim, os olhos e os ouvidos estão em comunicação com o
cérebro (águia).

Os três grandes membros têm, cada um, uma função principal ligada ao
nível em que se encontra colocado: o maxilar permite a linguagem oral (águia); os
braços são os órgãos a expressão e sentimentos e as pernas sustentam o nosso
corpo.

Os olhos, embora sejam órgãos sensoriais, também são órgãos de


expressão. Podem expressar atenção intelectual (águia), emoções (leão), ou
desejos (boi).

O nariz é órgão respiratório (leão) mas ao mesmo tempo tem função


sensorial do olfato (águia) que nos abre o apetite (boi).

A boca é órgão de absorção alimentar (boi), mas permite também respirar


(l eão) ou expressar o pensamento (águia).

Há uma tradição oriental que compara o organismo humano a um veiculo,


ou melhor, uma carruagem. A carruagem é movida por um cavalo dirigido por um
cocheiro. São os três elementos que permitem a carruagem funcionar.

O cocheiro é o principio diretor deste conjunto. É ele quem manda e


governa. É a cabeça.

O veiculo é o principio movimentado, e o que suporta a carga. É o corpo.

O cavalo é o princípio motor. É o intermediário entre o cocheiro e o carro.


É a vida. É o elo entre a matéria e a vontade. (É o coração da
carruagem) (107).

O cocheiro é a águia, o cavalo é o leão e a carruagem corresponde ao boi.

Voltamos agora alguns instantes ao que dissemos a respeito do binário:


ativo passivo ou positivo negativo. Havia necessidade de uma força equilibrante ou
de um intermediário entre os dois. No caso do exemplo acima, o cocheiro é a força
ativa, o carro a força passiva e o cavalo, a vida e o princípio intermediário
equilibrador.
Podemos agora, segundo Papus, aplicar este princípio nos três ternários da
árvore sefirótica, conforme o Quadro V (108).

Quadro V

Cérebro

3) ÁGUIA
(Cabeça)

Nervos Fluido Nervoso

2) LEÃO
(Tórax) Vasos Sangüíneos sangue

Coração

1) BOI Intest inos Linfa


(Ventre)

Estômago

No Quadro V, o triângulo de cima representa a cabeça (águia), onde está a


vontade, o terceiro representa o ventre (boi) e o segundo, o tórax (leão) que contém
o coração, órgão essencial à vida do organismo e intermediário entre os dois outros
triângulos.

Em cima o princípio positivo, embaixo o princípio negativo, no meio o


princípio equilibrador ou intermediário.

Em cada um dos triângulos temos os mesmos princípios, desta vez


orientados da seguinte forma: à direita, os princípios ativos, que são os fluidos; à
esquerda os princípios passivos, que são os órgãos condutores; no meio, os órgãos
de mando, como forças propulsoras. O cérebro mandando o influxo nervoso através
dos nervos. O coração distribuindo o sangue através dos vasos e o estômago
distribuindo o alimento para o intestino, cujas células o transforma em linfa.

Na coluna central está o órgão de mando, à direita os elementos da vida e à


esquerda os veículos do corpo. Em simbologia da esfinge, temos no centro os
elementos representativos da águia, à direita os do leão e à esquerda os do boi.

Podemos fazer o mesmo para as grandes funções orgânicas ou psíquicas,


como por exemplo no Quadro VI, inspirado em Papus (108).

Quadro VI

Intelig ência
3) ÁGUIA

Cérebro Vida psíquica

Coração Vida orgânica

Sentimento

1) BOI Estômago Vida Celular

Intestinos
Reflexo

1 2

É realmente impressionante constatar o paralelismo existente entre o


si mbolismo da esfinge, a sua estruturação e a estrutura da árvore sefirótica. Agora
compreendemos cada vez melhor por que esta insistência em colocar juntos os
querubins e as "árvores da vida".
Temos, nos textos sagrados, provas da existência, na época das esfinges,
de ternários psicossomáticos. Vamos expor alguns a seguir, a fim de mostrar que os
escultores das esfinges ou os seus construtores tinham onde se inspirar.

Eis, por exemplo, o que fala o Bhagavad-Gitá. Krishna explica a Arjuna os


Três Gunas ou qualidades da matéria: "A matéria tem três qualidades, princípios ou
Gunas, que se chamam: Satwa ou Harmonia, Rajas ou Movimento e Tamas ou
Inércia... Satwa (Harmonia)... vincula a alma pelo amor ao conhecimento e
Harmonia... Rajas, a Emoção, é a natureza passional... Tamas, a Inércia vincula a
alma pelos laços da negligência, apatia e preguiça" (109).

Na cabala temos também três partes no homem:

Neschamah Rouach
(vontade) (vida)
(NOUS) (EPITVMIA)

Nephesch
(corpo)
(PSYCHE)

Estas três partes correspondem às "almas" de Platão, que também


constituem um ternário, ou aos corpos mental, astral e físico da teosofia ou ainda
aos corpos espiritual, natural e carnal dos cristãos.

Existe uma gravura medieval (Fig. 40), que mostra a árvore sefirótica da
cabala aplicada ao homem, com os seus três ternários.

Convém lembrar, "en passant", que foi Moisés que introduziu esta divisão
ternária nos seus livros ou Sepher e que foi o mesmo Moisés que colocou os
querubins na Arca da Aliança.

Na filosofia ioga encontramos também três grandes manifestações no


homem:

— China ou substância mental


— Prana ou energia
— Akasa ou matéria

Cabe ao ego consciente ou atman conhecer, dominar e guiar estas três


instâncias psíquicas. A Raja-Yoga, por exemplo, cuida do domínio sobre a mente,
enquanto a Hatha Yoga cuida do domínio sobre o corpo.
Interessante é que, como na cabala, na ioga o binário vem associado ao
ternário da seguinte forma: a matéria em relação à energia é negativa, isto é, a
energia é positiva em relação à matéria. Mas a mesma energia (Prana) é negativa
em relação à substância mental (Chitta) (117).

Como se vê, o ternário faz parte efetivamente de toda tradição oriental, no


que se refere à constituição psicossomática do homem.

43. O TERNÁRIO E OS DADOS DA CIÊNCIA PSICOSSOMÁTICA


MODERNA
Mais impressionante ainda é que a Ciência Moderna vem ao encontro do
ternário, seja na Embriologia, na Biotipologia, na Caraterologia ou na Sintomatologia
Psiquiátrica. Muitos estudos seriam necessários para estabelecer exatamente até
que ponto se justificam paralelos entre os ternários esotéricos e os ternários
científicos. Fato é que dos dois lados temos ternários, conforme o mostra o Quadro
VII.

Quadro VII

BIOTIPOLOGIA TEMPERAMENTO E CARÁTER


E SHELDON E STEVENS
KRETSCHMER

Biótipo Temperamento Biótipo Temperamento

LEPTOSSÔMICO ESQUIZOTÍMICO

ECTOMÓRFI CERBOTÔNI
ATLÉTICO EPILEPTÓIDE MESOMÓRFICO SOMATOTÔNICO

PÍCNICO CICLOTÍMICO ENDOMÓRFICO VISCEROTÔNICO

Antes destes dois autores existiam tipologias binárias e quaternárias, além


de uma maioria de ternárias (118). De trinta tipologias recenseadas, vinte são
ternárias.

As pesquisas de Kretschmer, e sobretudo de Sheldon e Stevens, constituem


até hoje os modelos mais usados no psicodiagnóstico psiquiátrico e psicológico.

Os últimos autores, após examinar e medir por meio de um sistema


fotográfico bastante objetivo e de questionários e entrevistas quatro mil indivíduos,
conseguiram colocar em evidência os seguintes fatos: (119)

1) Os três tipos físicos e temperamentais têm uma distribuição estatística


que evidencia que os tipos puros são extremos e raros, enquanto a maioria dos
indivíduos se agrupam em torno de uma média (Distribuição de Gauss). (Cada um
dos três tipos é medido numa escala de 1 a 7).

2) Entre os três tipos físicos o cálculo das intercorrelações mostra que há


uma nítida tendência a que os tipos se excluam um ao outro (correlações negativas
e altas).

3) As pesquisas de Sheldon e Stevens colocaram também em vidência uma


alta correlação entre o biótipo e o tipo temperamental.

É neste terceiro ponto que muitas discussões ainda estão em urso, mais
especialmente diante de objeções metodológicas de amostragem ou teóricas de
natureza psicossociológicas.

De qualquer forma, mesmo na nossa época, as grandes divisões da esfinge


estão ainda presentes na nossa biotipologia e caracterologia.

O próprio sistema nervoso está dividido em três grandes partes interligadas


e integradas, que correspondem, a grosso modo, as três grandes funções
simbolizadas pelos três animais da esfinge:

A cortiça cerebral onde se localizam as grandes funções mentais;


O hipotálamo. Os núcleos subcorticais são a sede das reações
emocionais.
A medula, onde se localiza a atividade reflexa.

Até pouco tempo se desconhecia a organização estrutural da cortiça


cerebral. As idéias de Gall do século XIX sobre localizações cerebrais
correspondendo as chamadas faculdades mentais, foram progressivamente
destruídas pelos trabalhos dos neurofisiologistas que ressaltaram a existência de um
sistema funcional integrado, embora reconhecendo a existência de "zonas" com
funções específicas. Encontra-se um paralelo nas descobertas dos psicólogos da
" Gestalt" sobre as relações "Figura-Fundo" e da Psicologia Topológica sobre a teoria
do campo, que se insere dentro do movimento desencadeado pela teoria da
relatividade de Einstein na Física. A tese das "localizações cranianas" e das
"faculdades mentais" pereceu, embora encontremos ainda muitos rastros dela na
li nguagem comum ou mesmo em tratados de psicologia educacional ou de filosofia.

Num recente simpósio sobre pesquisa cerebral e comportamento humano,


realizado pela UNESCO, o psicofisiologista russo Luria (172) procurou fazer uma
síntese dos trabalhos realizados no campo da cortiça cerebral. Afirma ele que
atualmente o problema já não é mais de procurar localizar as funções complexas da
mente. Na realidade, processos como a percepção, a ação voluntária, a memória
ativa e o pensamento abstrato são "sistemas funcionais" extremamente complicados,
de origem social, indiretos na sua estrutura e conscientemente auto regulados na
sua função. Para os psicofisiologistas e neuro-fisiólogos, os objetivos mudaram.
Trata-se de responder a uma outra pergunta: Como é que estes sistemas funcionais
são realizados por constelações dinâmicas de zonas cerebrais, e como é que cada
zona contribui na realização de todo sistema funcional?

Luria mostra, então, que atualmente se aceita como fato demonstrado que o
cérebro, como sistema auto regulado, consiste em última instância de três unidades
funcionais básicas, ou "blocos"

Um primeiro bloco, fornecedor geral de energia, é o bloco de homeostase e


vigilância. Este bloco lida com a parte interna do organismo.

— Um segundo bloco que Luria chama de input, codificação e conservação


da informação recebida do mundo externo. Recebe as informações do
mundo externo, analisa as e faz a sua codificação. É composto de
neurones com especializações diversas: figuras geométricas, cores etc.
Estes neurones são constituintes das zonas primárias ou extrínsecas, ou
sensoriais. Outra zona, dentro deste bloco, exerce uma função de
integração destas informações parceladas.

— O terceiro bloco, situado na parte anterior do cérebro, e mais


particularmente no lobo frontal, preenche o papel de auto regulação do
organismo. É o aparelho que cuida da programação, da regulação e do
controle do comportamento humano.

É interessante notar o "logotipo" (Fig. 42) adotado pela revista da UNESCO


que publicou o trabalho de Luria em 1970, na sua capa. É uma estrutura ternária que
lembra a estrutura sefirótica (Fig. 41).

No plano das operações intelectuais, que são o próprio da cortiça cerebral,


Piaget procura fazer uma análise comparativa entre as primeiras operações das
quais se serve a criança e que derivam diretamente "das coordenações gerais das
suas ações sobre os objetos".

São três grandes categorias. Segundo a reversibilidade, pode se proceder


por:

— Inversão (Estruturas de classificação e de números)


— Reciprocidade (Seriações. correspondências seriais etc.)
— Proximidade, continuidade e fronteiras

Mostra Piaget que estas estruturas elementares na criança rrespondem às


"estruturas mães", denominadas assim pelo grupo de matemáticos Burbaki por
serem as estruturas irredutíveis ,entre si e fontes de todas as outras. Estas
estruturas-mães são em número de três. Este número três foi obtido, diz Piaget, por
uma análise regressiva e não por uma construção apriorística.

É interessante notar o termo de "estrutura mãe" adotado pelos Burbaki's e


que se assemelha estranhamente com os termos de "três letras-mães" usado no
Sepher Yetzirah da cabala hebraica.

Estas estruturas são as seguintes:

As estruturas algébricas, caracterizadas pela presença de operações


diretas e inversas, no sentido de uma reversibilidade por negação. A sua
operação reversível é a inversão.
As estruturas de ordem, que se aplicam também a um número grande de
casos, como, por exemplo, conjunto das partes ou o grupo e os seus
subgrupos. A sua forma de reversibilidade é a reciprocidade.
As estruturas topo lógicas, que correspondem a noções de proximidade,
continuidade e fronteiras já assinaladas como terceiras categorias de
operações elementares notadas por Piaget nas crianças.

Assim, os trabalhos mais recentes sobre estruturas lógico matemáticas,


comparados com o realizado sobre estruturas de operações lógicas elementares,
permitiram identificar uma identidade entre os dois tipos de estruturas, ambas
ternárias (173).

44. DO ÁTOMO AO COSMO


Voltando agora à nossa metodologia de investigação do microcosmo,
visando compreender melhor o macrocosmo, achamos interessante tentar uma
pesquisa de ternários no macrocosmo ou no mundo dos átomos em função do que a
ciência moderna nos ensina.

Comecemos pelo átomo. Ele se compõe de três elementos:

- Próton (Positivo)
- Nêutron (Neutro)
- Eléctron (Negativo)
A energia contida no átomo foi liberada graças à aplicação da famosa
fórmula de Einstein: E: mc2

A energia é função da massa e da velocidade da luz. Em outras palavras, é


função da matéria (massa), do espaço e do tempo (velocidade: espaço percorrido
em determinado tempo).

Assim, a energia pode ser subdividida da seguinte forma, como sendo


função de:

- Matéria
- Espaço
- Tempo

Cada um desses elementos pode ser, por sua vez, dividido tradicionalmente
em três partes. Vejamos:

O tempo tem três dimensões:

- Passado
- Presente
- Futuro

O Espaço tem três dimensões:

- Comprimento
- Largura
- Altura

A matéria se classifica em três elementos:

- Sólidos
- Líquidos
- Gases

É a luz que foi utilizada na fórmula de Einstein para medir a velocidade.

Ora, a luz, pela análise espectográfica, se decompõe em três cores


primárias:
— Vermelho
Síntese Aditiva - Azul
(Branco)
— Verde
— Magenta
Síntese Subtrativa - Amarelo
(Preto)
— Cyan

E se procurarmos o sistema do universo, também encontrarmos três tipos de


astros:

— Estrelas (Sóis)
— Satélites
— Planetas

Também na Terra são três os reinos:

— Reino Mineral
— Reino Vegetal
— Reino Animal

Assim, se levarmos em conta apenas a estrutura ternária, somos forçados a


constatar que efetivamente a estrutura ternária que encontramos no homem existe
também no átomo, na Terra e no universo, pelo menos tal como o conhecemos
atualmente.

45. MENSAGEM DOS ANTIGOS


É, por conseguinte, compreensível que os antigos tenham também dividido o
Absoluto ou Deus num ternário, ou trindade, a não ser que os deuses astronautas
tenham instruído populações da Terra (é a tese Pauwels, Bergier e Von Däniken)
(120 - 121).

Explica-se, agora, a insistência em deixar consignado, sob todas as formas


possíveis, a existência da estrutura ternária. Tudo se passa como se já tivessem
existido civilizações possuidoras de conhecimehtos científicos a respeito da estrutura
do cosmo, e que estas civilizações ou grupos remanescentes, conscientes do seu
próximo aniquilamento por explosões (atômicas?), terremotos, guerras de
extermínio, dilúvios, maremotos, tivessem tido a preocupação de deixar gravado na
pedra, ou condicionado pequenos grupos a conservar o essencial desses
conhecimentos.
O que fariam, por exemplo, os nossos cientistas nucleares ou os nossos
astrônomos, se soubessem que os seus livros iam ser destruídos e que iriam
sobreviver junto de algumas tribos de índios do Amazonas? Como deixar entre os
índios do Amazonas o essencial dos seus conhecimentos?

A solução que parecem ter encontrado os sábios da antiguidade foi deixar


consignada a estrutura ternária, não somente na pedra, mas também nos ritos, nas
preces, nas lendas, nos objetos de uso ritual ou mesmo caseiro e nos textos
sagrados, na esperança de que estes chegassem, intactos, além dos textos
sagrados.

Comentando uma plaqueta assíria, conservada no British Museum,


representando a árvore da vida guardada por duas esfinges carregando dois outros
seres alados e o disco solar com um ser, comenta Erich Von Däniken o seguinte: O
objeto central é interpretado como uma "árvore sagrada", Mas poderia ser
igualmente identificado como representação simbólica de uma "estrutura atômica"
(122). O leitor já deve ter concluído que não há nenhuma oposição entre árvore
sagrada e estrutura atômica, já que a árvore sagrada é uma mensagem cabalística
da estrutura cósmica, e isto intencionalmente, como o mostra fartamente o presente
li vro.

Mensagens sobre estrutura ternária são encontradas, entre outros:

No sinal da cruz dos cristãos, na saudação dos maometanos, na estrela de


Davi (os dois primeiros triângulos da árvore sefirótica, entrelaçados), na cruz de
Cristo, na cruz anseática dos egípcios, a torre de três andares da Irlanda, os
triângulos das pirâmides, os três pontos na assinatura dos maçons e seu avental
triangular egípcio, o tríplice centro do Egito, as três letras-mães dos sefiroth's (Alef
Mem Schin), as três letras da palavra sagrada hindu (Aum), os três elementos do
Há-Dô chinês .os triângulos do I-King, as três letras do nome de Jehovah (lod, Hei,
Vau), sem contar os inúmeros escritos já citados dos Vedas, Bhagavad Gitá. Lao
Tsé, da Bíblia, da cabala e das tradições esotéricas.

Os símbolos animais aparecem agora como uma das maneiras de deixar


consignada a mensagem do ternário: as esfinges de três elementos, que incluem o
homem, simbolizam o homem como elemento equilibrante, como princípio vital ou
diretor entre a mente (águia) ou energia espiritual (serpente) de um um lado, e o
corpo material (leão ou boi), ou os instintos animais.

Quando há três animais, principalmente o boi, o leão e a águia, estes três


animais simbolizam os três planos acima descritos como modelo psicossomático do
homem. Há provas bastantes de que esta hierarquia é intencional. Por exemplo, a
ordem em que estão colocados os animais representando os Apóstolos de Cristo
segue a hierarquia adotada no uso do espaço pelos monges construtores das igrejas
e que corresponde, aliás, à hierarquia do espaço nos sefiroth's. Em cima e à direita
são os elementos positivos; em baixo e à esquerda, os elementos negativos. A
ordem de apresentação ou de leitura será sucessivamente: (123)

- Em cima à direita (o homem)


Em cima à esquerda (a águia)
- Em baixo à direita (o leão)
Em baixo à esquerda (o boi)

A mesma hierarquia encontramos na indumentária dos faraós:

- O Uraeus frontal
- A juba do leão
- A cauda de touro enrolada nas costas da cintura.

É a hierarquia que encontramos também na maioria das esfinges. A


presença do homem, nas esfinges com três animais, merece um estudo especial,
pois se trata do quarto elemento, formando o quaternário. É o que será objeto do
próximo capítulo.
CAPÍTULO 8
O Homem e sua Evolução
46. O QUARTO ELEMENTO DA ESFINGE E O TARÔ DOS CIGANOS
A figura que domina os três animais nas esfinges de quatro partes é o
homem. Esta hierarquia foi colocada em evidência no fim do último capítulo, quando
falamos da ordem adotada na colocação dos animais simbolizando os quatro
evangelistas.

Mas existem outras provas desta ordem hierárquica. Uma delas é o


aparecimento dos quatro elementos da esfinge no tarô dos ciganos. Segundo a
tradição esotérica, os ciganos, provindos da Índia de onde teriam sido expulsos,
passaram pelo Egito e foram iniciados pelos sacerdotes, os quais lhes deixaram o
jogo do tarô, o qual contém a mesma tradição da cabala (124 - 125). Vinte e dois
"arcanos" maiores do tarô correspondem às vinte e duas letras hebraicas, ao mesmo
título que os vinte e dois canais dos dez sefiroth's.

No tarô os quatro elementos separados da esfinge aparecem nos quatro


cantos do vigésimo segundo arcano, que corresponde justamente à síntese. Uma
mulher nua em volta da qual está o famoso símbolo da evolução e da eternidade
(vida morte), isto é, a serpente que morde a cauda. Em volta da serpente estão os
quatro elementos da esfinge ( Fig. 11).

Como já o mostramos anteriormente, a vigésima segunda letra hebraica é o


"Tau", que tem semelhança fonética com o "Tao" ou "via", de Lao Tsé (ou Absoluto)
e na cabala corresponde ao vigésimo segundo "canal" que une a nona sefira
(geração) com a décima ou lod, que simboliza a volta à unidade (Fig. 39).

É curioso que a esfinge aparece ainda três vezes no tarô, sempre em cartas
vitais do ponto de vista da numerologia.

A primeira vez a esfinge aparece no arcano menor das moedas na primeira


cada, ao lado do "Pai da Criação", que segura uma moeda com as letras já
analisadas, lod, Hei (Fig. 48).

A segunda vez, a esfinge se apresenta sob forma binária (Fig. 50), isto é,
duas esfinges guiando um carro quadrado (símbolo quaternário da obra realizada).
Inúmeros símbolos lembram o domínio do espírito sobre a matéria: o cetro
remontado por um triângulo (símbolo do espírito), por um quadrado (símbolo da
matéria) e por um círculo (símbolo da eternidade). As duas esfinges representam as
forças ativas e passivas, atreladas ao carro e dominadas pelo seu condutor. O
conjunto da carta corresponde à sétima sefira da cabala e significa a vitória do
espirito sobre a natureza (125) (Fig. 50).

A terceira vez, a esfinge se encontra na carta do arcano maior Dez ou letra


hebraica lod, que, como já vimos, significa o retorno à unidade (10: 1 + 0) na árvore
sefirótica (Fig. 53 — 54), como última. A carta representa, para fins exotéricos, a
famosa "roda da fortuna".

Mas a sua simbologia é bastante significativa: à direita (notem a posição


cabalística no espaço), está o gênio do bem, Hermanúbis. O gênio do bem está
subindo pela roda (de novo o espaço cabalístico: direção para cima...) A esquerda,
se encontra Tífon, o gênio do mal, que está caindo. Em cima da roda, se encontra a
esfinge com uma espada, simbolizando a força equilibradora entre as forças
positivas e negativas, suma o controle das forças da natureza. Sempre presentes
estão a estrela de seis pontas e duas cobras. O leitor já está familiarizado com estes
dois símbolos. Mas não é demais lembrar o poder Kundalini e a Kundalini-ioga, que
visa a conseguir o "Samadhi' ou iluminação através da sublimação da energia
(serpente) em direção da maior perfeição espiritual (estrela de seis pontas). Convém
notar que Hermanúbis está segurando um eixo (sistema nervoso), com duas cobras
enroladas (energia) e duas asas em cima (águia): o Caduceu de Mercúrio.

A quarta vez já foi analisada no início deste capítulo e simboliza a evolução


e volta à unidade.

Só pela análise da presença da esfinge no tarô dos ciganos, já podemos


inferir qual a função simbólica do homem: Ele é a esfinge, isto é, um ser composto
de três animais simbólicos, três forças da natureza, das quais ele precisa ter
consciência e aprender a dominar. Dominar significa sublinhar a energia,
conseguindo neutralizar as forças positivas e negativas, as da moral e do instinto
que estão em nós, a águia em cima e o boi e, ou o Leão (conforme a esfinge) que
está ou estão embaixo de nós. Trata-se, em termos dialéticos, de eliminar as nossas
contradições internas, para chegar, cada vez mais, à maior unidade do nosso ser.

Mas ainda há muito mais elementos demonstrando que a esfinge simboliza,


através do quaternário, a evolução consciente do homem. É o que vamos mostrar
agora.
47. A EVOLUÇÃO CONSCIENTE DO HOMEM
Estamos aqui diante de uma concepção estrutural do homem, e ao mesmo
tempo evolutiva. Estrutural, pois pressupõe o ponto de vista desenvolvido há pouco,
que além da mente, da emoção e do instinto, que seriam os três inconscientes do
homem, existiria uma função de conhecimento e de controle. Evolutiva, pois esta
consciência e este domínio constituem um caminho para chegar à iluminação ou
Samadhi.

Estas duas idéias de estrutura hierarquizada e de evolução dentro desta


estrutura, nós as encontramos, não somente em textos de vários autores esotéricos,
mas ainda em certos ritos.

Por exemplo, o tríplice cetro do Egito, que era composto de um chicote, um


bastão e uma vara, representava respectivamente:

Chicote: domínio sobre o corpo (boi)


Bastão: controle sobre os sentimentos (leão)
Vara: domínio do pensamento (águia)

O trono simbolizava o domínio da natureza animal no homem (126).

Há: num ritual judaico muito antigo, algo de parecido: são as quatro espécies
vegetais usadas na festa de Sukkoth (127).

Dessenne assinala que no "Texto das Pirâmides", a esfinge é mencionada


sob o nome de Rwty (deus leão), que era um deus-guardião e associado a Atum ou
Tum, no Livro dos Mortos do Egito.

Ora, este deus guardião é o que preside as cerimônias de iniciação. Hassan


(213) encontrou nas suas escavações em torno de Giseh inúmeras tabuletas com
desenhos de esfinges associadas a orelhas. Esta parece simbolizar a tradição
iniciática oral, as quais, como se sabe, consistiam em procurar a "iluminação' através
de uma evolução por estágios (Céus, Chakras, Fases) sucessivos, ou
metamorfoses. Nestas metamorfoses o iniciado (ou o morto) assumia o papel de
vários animais deuses, depois de ter rechaçado vários monstros. Entre os animais
figuram o leão, o touro, a serpente e o falcão, além da andorinha e do crocodilo. O
texto de "autodescrição" da esfinge RWTY, que transcrevemos a seguir, é bastante
il ustrativo a este respeito.

"Eu sou o hoje


Eu sou o ontem
Eu sou o amanhã
Através dos meus numerosos nascimentos
Permaneço jovem e vigoroso...
Sou o leme do oriente
Senhor das duas faces divinas.
Minha irradiação ilumina todo ser ressuscitado
O qual no entretanto passa, no Reino dos Mortos,
Por transformações sucessivas,
Procura o seu caminho penosamente
Através da região das trevas...
Grande será o meu esplendor
No meio desta bela ordem
Deste dia renascendo!
Na verdade, quebrarei a resistência destes
Que se unem contra mim e se escondem,
Forjando planos para me rechaçar!
Ah! Estes demônios que rastejam nas suas barrigas!...
Felizes os que no além
Contemplam em paz os seus restos mortais...
Na verdade eu sou o que
Anda em direção à plena luz do dia...
Que o Deus poderoso, que anda atrás de mim,
Durante o tempo em que me dirijo para o além,
Me mantenha debaixo da sua boa guarda
A fim de que a minha carne se torne mais forte e mais sadia,
Que o meu espirito santificado mantenha a guarda por dima
dos meus membros,
Que a minha alma os cubra e os proteja das suas asas... (274)

Se olharmos agora a Figura 24, que representa uma cerimônia funerária ou


de iniciação, compreenderemos melhor a função da esfinge. Era um deus que
acompanhava o iniciado ou o morto com o qual ao mesmo tempo este se
identificava. Interessante é notar, no texto, o aparecimento bem explicito do ternário:
carne, espirito, alma. Na figura 24 talvez seja o boi a carne, o Leão a alma (com
asas...) e a serpente o espirito que está deixando o corpo, e está montando a
guarda "por cima dos seus membros", como diz o texto.

É preciso lembrar que a descrição de uma cerimônia de iniciação ou


mortuária é idêntica.

Com efeito a iniciação consiste, na realidade, em conseguir uma morte


artificial em que o espirito fosse viajar fora do corpo e o contemplasse. Através dela
se conseguem estados de iluminação.

A iniciação consistia em morrer artificialmente para "renascer" (276).


Mayassis demonstra isto num livro de 700 páginas (299).

Estamos desejosos de que se faça uma análise estruturalista dos textos


principais do livro dos Mortos egípcio, o que permitiria talvez jogar mais luz ainda
sobre a função da esfinge e, aliás, das cerimônias iniciáticas em geral. São trezentas
páginas de texto...

De qualquer forma, encontramos nele a esfinge associada à

Função de guardiã
Cerimônia iniciática
Idéia de dominar monstros para
Chegar à iluminação após
Vários estágios de "metamorfose"
À procura de domínio, coesão e equilíbrio entre os elementos
De um ternário da estrutura humana bastante conhecido de todas as
escolas esotéricas (carne, espírito, alma)
De um ternário temporal: passado, presente, futuro, também já associado
com a esfinge por vários autores.

O texto das pirâmides, aliado à ilustração n° 24, está a nos demonstrar, em


resumo, que a esfinge é, ao mesmo tempo, um deus guardião, um símbolo de
estrutura psicossomática, da estrutura cosmológica, e, ainda mais, um símbolo do
caminho do "quarto estágio evolutivo" através do domínio do "monstro animal",
visando chegar à iluminação.

Jung (10 - 128) insistiu várias vezes em relação ao simbolismo de heróis que
matam animais ou monstros. Segundo ele, trata-se de um arquétipo simbolizando a
luta do homem contra a sua libido, contra a sua parte animal. A respeito do material
de fantasias trazido por Miss Miller, que inclui o aparecimento da esfinge do Egito,
analisando o símbolo da esfinge a partir da teogonia grega, Jung lembra o caráter
incestuoso da mãe da esfinge, Equidna, que era uma mulher formosa em cima e
uma horrenda serpente embaixo. Além disto, a esfinge foi gerada pela união de sua
mãe com o próprio filho desta, Geríon , que foi vencido por Hércules, que também
domou o leão, de Neméia, outro irmão da esfinge.

O próprio herói mitológico Édipo elimina a esfinge após ter respondido


corretamente ao problema proposto. Todo mundo sabe do complexo incestuoso de
Édipo. Assim, a esfinge representaria também o domínio precoce, isto é, o recalque
das nossas tendências incestuosas.

No Oriente Médio temos Dario matando um grifão, isto é, um leão alado


(129), e Neptune domando um cavalo alado (130). De novo, em os simbolizado o
domínio pelo homem da sua parte instintiva e da sua mente (Fig. 55).

Gilgamés, um herói mitológico assírio, acompanhado de Enkidou, era


célebre pela sua preocupação em procurar a imortalidade e penetrar no mundo do
além. Para alcançar a floresta de cedros, teve que matar o monstro Houmbaba (247).
Mais tarde vai procurar a planta da juventude, mas uma serpente o impede. Num
episódio aparece até o "boi celeste" mandado para matar Enkidou por ter
desprezado a deusa do amor.

Há nesta epopéia de Gilgamés um trecho bastante interessante no que se


refere ao valor simbológico de "domar o animal" para chegar a um estado extático:

"Se não domarmos Houwawa


O brilho de esplendor desaparecerá na confusão
E, desaparecendo o brilho do esplendor, obscurecerá
a claridade". (255).

Estão aqui bastante claros os símbolos de domínio do corpo animal, do


desprezo do amor físico. Para encontrar a árvore da vida é preciso "matar o animal".
A ilustração (Fig. 36), em anexo, é bastante clara. Além disto, para chegar à
il uminação e alcançar a imortalidade é preciso ainda dominar o poder da serpente
Kundalini.

Mayassis (300) fez uma análise exaustiva do mito de Gilgamés e demonstra


que este era, na realidade, um sacerdote e um iniciado.

Há uma experiência bastante interessante em que encontramos a função de


"guardião" ao mesmo tempo que uma explicação do valor simbólico de matá-lo. É na
técnica psicoterápica do "Rêve Eveillé" ou "Sonho Acordado" de Desoille. Esta
técnica explora o "inconsciente coletivo" de Jung. O paciente, deitado no divã,
imagina a sua própria pessoa viajando no espaço, subindo e descendo à vontade.
Todos os pacientes descritos, num certo momento em que querem "subir" mais,
enfrentam a um monstro, animal feroz, dragão ou serpente. Quando o paciente
" mata o animal", consegue ele "subir" mais e encontrar em geral uma luz branca e
sentimentos extremamente puros se associam a esta luz. Nós mesmos tivemos a
oportunidade de, nas nossas experiências de "Rêve Eveillé", verificar este
fenômeno.

Desoille distingue três situações, cada uma sujeita a uma interpretação


si mbólica diferente:

1) A imagem do guardião do jardim que representaria o superego impedindo


o ego de realizar a sua parte instintiva do id. É a interpretação freudiana feita no
nível do inconsciente individual.

2) O dragão do folclore faria parte do inconsciente coletivo e representaria a


Mãe que, mantendo o seu filho numa ligação incestuosa, o impediria de chegar à
plenitude de um amor normal.

Este tipo de guardião não impede o acesso a um jardim mas impede a


"subida" do paciente, isto é, impede o paciente de escolher livre e conscientemente
novos objetos de investimento da libido.

À interpretação freudiana vem se acrescentar uma interpretação mais lata.


Trata-se, não somente da relação incestuosa tomada como obstáculo, mas sim de
todas as traves instintivas que impedem o paciente de realizar o "si", isto é, o ideal
do ego, construído a partir das imagens positivas do pai e da mãe. Assim sendo, o
"tesouro" em geral guardado pelo dragão, é, na realidade, um tesouro espiritual.

Assim o id passa a ser a instância e recalque o si. Para chegar ao "Si": é


preciso matar o animal guardião.

3) Quando o paciente já chegou a um certo estágio de sublimação, então


aparece outro obstáculo, a subida. Não é mais o dragão, mas um ser benevolente e
firme que barra o caminho. Desta vez se trata do ego, consciente, que sente que, se
quer dar mais um passo para uma vida mais bela, mais profunda, terá que renunciar
a certos hábitos; é ainda a resistência do id através do ego consciente, para
alcançar o sublime. Disse Desoille que "recalcamos o sublime como recalcamos o
que nos parece ignóbil" (258). Esta idéia se aproxima muito da de Maslow, a do
recalque do sublime, e explicaria talvez melhor o seu mecanismo profundo.

Voltaremos sobre este aspecto no próximo capítulo.

Voltando ainda à história de Édipo em suas relações com a esfinge é


bastante interessante notar que a solução do enigma representa também um
símbolo: exatamente o símbolo da evolução, a respeito do qual estamos falando.
" Qual é o animal que tem quatro pés de manhã, dois ao meio dia e três ao
entardecer?" Édipo explicou que era o homem: ao nascer engatinha, como adulto
anda nos dois pés, na velhice apóia se numa vara (23). Está bastante claro que a
esfinge simboliza a evolução através da idade. Agora que conhecemos a simbologia
estrutural da esfinge, podemos também dizer que a infância é representada pelo boi,
pois é predominantemente motora e instintiva. A juventude pelo leão, pois é a idade
do recolhimento espiritual e da sabedoria.

Assim, toda história ligada a Édipo simboliza ao mesmo tempo a evolução e


o recai que dos nossos animais em nós, mais particularmente das nossas primeiras
tendências incestuosas.

Isto mostra que os antigos eram freudianos antes de existir Freud. Aliás, há
um texto muito inesperado, no Bardo- Thödol, o Livro dos Mortos tibetano, que
mostra que há vários milênios já se conhecia a relação edipiana. Descoberto por
Jung, reproduzimo-lo aqui. Ao fazê-lo, nosso intuito é apenas mostrar que a hipótese
de os autores da esfinge terem também pensado no domínio das primeiras relações
incestuosas e no seu recalque, visando garantir a evolução do homem, esta dentro
do possível. E agora vamos ao texto, bastante perturbador para nós se
considerarmos a idade em que foi escrito: "Se se deve nascer macho, o sentimento
de ser um macho desperta no "Cognoscente" e um sentimento de ódio e de ciúme
em relação ao pai e de atração em relação à mãe será sentido. Se se deve nascer
fêmea, o sentimento de ódio intenso em relação à mãe, de atração em relação ao
pai é sentido (1).

Este domínio das tendências incestuosas é, no entanto, um mero


condicionamento, operante primário, usando a linguagem de Skinner, isto é, o
domínio das tendências libidinosas foi recalcado por diversas "agências
controladoras" do comportamento humano, tais como a família e a religião. Criou-se
um domínio interior que gerou um hábito, uma segunda natureza. Em termos de
esfinge, a águia passou a dominar o boi. Mas o homem não é consciente deste
recalque. Através da psicanálise, o ego irá descobrir a relação edipiana.

O modelo psicanalítico de Freud é um modelo evolutivo que lembra muito a


esfinge: de um lado temos a nossa vida instintiva, o nosso id; do outro lado temos o
nosso superego, produto das introjeções dos valores parentais e sociais. Este
superego, em geral rígido, age como uma polícia interior, como uma justiça cega. O
ego será a força reguladora entre o id e o superego. Corresponderá, em termos de
esfinge, ao homem que, conscientemente, regula a interação da águia de um lado, e
do boi e leão do outro lado. A correspondência entre o modelo freudiano e o da
esfinge pode ser esquematizado da seguinte forma:

SERPENTE - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - LIBIDO
HOMEM - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - EGO
ÁGUIA - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - SUPEREGO
LEÃO - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - ID
Boi -------------------------- ID

A serpente representa a energia, a libido de Freud, que pode ser usada pelo
ego em vários níveis. No nível do boi, as pessoas encontrarão os prazeres da mesa,
dos sentidos e das relações puramente genitais ou sensuais.

Gastar energia no nível do leão corresponde a deixar-se dominar pelas


paixões, pela luta competitiva. Serão pessoas que gostarão de lidar com outras
pessoas no plano sentimental, de terem muitos amigos. As relações sexuais serão
condicionadas ao sentimento.

Quem gastar energia no nível da águia a colocará a serviço dos grandes


valores da humanidade: a beleza, a verdade e o amor espiritual. Serão pensadores,
fil ósofos e místicos, serão homens "sublimados" no sentido freudiano. Freud define a
sublimação como o desvio diante de obstáculos, das pulsões instintivas sobre
objetivos socialmente superiores (131).

Embora a águia seja um nível superior ao leão e ao boi, muitos autores


esotéricos consideram que há uma instância superior a estas três categorias. Estas
são consideradas como estágios evolutivos.

48. OS ESTÁGIOS EVOLUTIVOS


A ioga, por exemplo, nos ensina que a hierarquia ternária: vida instintiva,
vida emocional e vida intelectual, corresponde a três estágios de evolução:

1) O homem instintivo que tem uma vida semelhante a de um animal: comer,


beber, dormir, satisfazer as suas necesidades sensuais. Para estes indivíduos o "eu"
se confunde com os próprios desejos.

2) O homem emocional vive no mundo do "gostar" e "não gostar". Para estas


pessoas só existe o sentimento, o amor, a coragem. A sua vida instintiva e a sua
vida intelectual é dominada pela vida emocional. Para estas pessoas "o coração tem
as suas razões que a razão desconhece". Para o homem emocional o "eu" se
confunde com o "coração".

3) O homem mental representa um grau de consciência maior. Análise e


síntese, pensar, raciocinar, observar, fazer hipóteses e tirar conclusões são as suas
atividades principais na procura da verdade. A inteligência procura unir também a
sabedoria, e colocar-se a serviço dos valores que descobriu. A partir deste momento
está entrando na quarta fase ou quarto estado.

O homem mental confunde o seu "eu" com os seus pensamentos.


Descartes, quando anunciou o seu famoso "Cogito ergo sum": "Eu penso, por
conseguinte sou", traduziu de modo bastante expressivo este terceiro estado de
consciência.

Na Raja Yoga (20) encontramos uma série de exercícios cuja finalidade é


justamente conhecer estes três estados diferentes de consciência. À medida que se
toma conhecimento destes estados de consciência, também está se tomando
consciência da existência do verdadeiro "eu". É justamente o "eu" que se mostra
capaz de conhecer o instinto, a emoção e a mente, e que poderá fazer uma opção
consciente e responsável.

Essa opção foi muito bem sintetizada por Papus, cuja iconografia
reproduzimos na Figura 58. O homem pode escolher entre três tipos de esfinges
como objetivo de vida (301).

A primeira esfinge composta por animais extremamente "primitivos":

— O porco com os seus instintos "grosseiros"


— O javali com a sua agressividade desenfreada
— O macaco como caricatura do homem autómato que imita sem saber por
quê.
— O papagaio que só sabe repetir automaticamente, sem entender o que
está falando.

A segunda esfinge, dita "normal", composta dos elementos já analisados no


presente livro:

— O boi passivo, domesticado para trabalhar


— O leão do coração e da paixão
— A águia ou mente, que controla o leão e o encadeia
— O homem despertando
A terceira esfinge, ou esfinge "evoluída", composta de mitemas bastante
eloquentes:

— O cavalo fiel e "nobre"


— O cão amigo fiel do homem
— O anjo
— O pombo, símbolo de evolução espiritual.

Na iconografia cristã os querubins se transformaram em anjos, como se a


cristandade tivesse definitivamente banido o animal Instintivo da sua vida. Haverá
uma certa pressa inconsciente em virar anjo?...

Em compensação a religião judaica ficou com o leão, que permanece


presente até hoje junto à Tora. São os judeus mais realistas?

4) O "eu" verdadeiro. O quarto estágio se caracteriza por uma tomada de


consciência do verdadeiro "eu". Isto pode ser feito observando, por exemplo, a nós
mesmos durante o período em que comemos, amamos ou pensamos. No momento
em que dizemos para nós mesmos: "eu estou comendo, ou eu estou amando, ou eu
estou pensando", desperta em nós a percepção da existência de um ser em nós que
é capaz de conhecer, de conscientizar a nossa atividade instintiva, emocional ou
mental, ou, em linguagem de esfinge: o nosso boi, o nosso leão ou a nossa águia.
Este ser é o nosso "eu" verdadeiro.

Uma vez despertado o eu, é que se pode iniciar o desenvolvimento do


controle voluntário dos três níveis anteriores, isto é, da canalização da energia em
atividades cada vez mais superiores, até atingir o estado de Samadhi ou iluminação
interior e posteriormente o estado de consciência cósmica ou Nirvana.

É este quarto estágio que é simbolizado na esfinge, pelo homem. A esfinge


de Giseh, antes de ter sido desfigurada por várias batalhas, tinha uma expressão
estática de felicidade tal, que era a coisa que mais impressionava os visitantes. E a
esfinge foi erigida voltada para o sol nascente, isto é, a fonte da luz, assim como o
início do dia (132). Evolução para iluminação, eis mais um aspecto da mensagem da
esfinge. Seu aspecto humano.

49. O DESPERTAR DO HOMEM

Gurdjeff e seu discípulo, o matemático Ouspanski, desenvolveram,


baseados nos seus estudos esotéricos e em prolongados estágios nos mosteiros do
Tibet (133), uma teoria evolutiva bastante sedutora, e que atraiu, no início deste
século, inúmeros homens de letras e filósofos, ao seu famoso retiro de
Fontainebleau (134).

A sua tese principal é que estamos todos adormecidos, num estado limite
entre o sono e o estado de vigília. Experiência clássica e simples que ele sugere
para tomarmos consciência deste estado é. a que consiste em tentarmos ouvir um
relógio, concentrarmo-nos nele sem pensar em outra coisa. Ninguém consegue isto
mais de alguns segundos. Voltamos a pensar, em função dos nossos
condicionamentos próprios. Na vida real, só de vez em quando "despertamos":
quando, por exemplo, dizemos para nós mesmos: "Que interessante, eu estou
deitado numa rede à beira-mar".

Este estado de adormecimento, Ouspanski o explica pelo condicionamento.


Nada nos pertence; tudo nos veio do mundo exterior com exceção de alguns
reflexos primários ligados à defesa do nosso organismo. É o meio ambiente e
sobretudo a sociedade. que condicionou os nossos hábitos, pensamentos e crenças,
a tal ponto que pensamos que as opiniões são nossas, quando na realidade
estamos repetindo simplesmente o que ouvimos dos nossos pais, parentes e
educadores (135).

Segundo a sua análise, o homem atual está inconsciente ou semiconsciente.


Todos nós estaríamos adormecidos e parados num dos primeiros estágios
evolutivos. Para evoluirmos temos de "acordar", isto é, tomar (o nosso "eu")
consciência progressiva e dominar os nossos quatro centros que correspondem aos
nossos quatro primeiros estágios evolutivos. Descreve ele estes quatro centros
como uma subida progressiva. Vamos resumir a sua descrição:

Cabeça Centro intelectual

Tórax Centro emocional

Costas e parte O Centros motores e


inferior do tronco instintivos

Estes centros corresponderiam aos três primeiros estágios evolutivos dos


sete que existiriam e que seriam os seguintes:

Homem N° 1: Dominado pelos instintos e pelos impulsos motores. É o


homem físico.

Homem N° 2: Homem emocional.

Homem N° 3: Homem intelectual dominado pelos seus pensamentos. A


maioria da humanidade seria fixada num destes estágios. Para passar a um estágio
seguinte, é preciso de uma cultura de "escola".

Homem N° 4: Tomou consciência de si mesmo e tem noção clara da


existência de uma unidade, de uma consciência e de um eu permanente. Tem, ao
mesmo tempo, um desejo permanente de se desenvolver, o que se tornou a sua
preocupação principal.

Homem N° 5: É o homem que chegou a ter ao mesmo tempo a unidade e a


consciência de si mesmo. Há um centro superior que trabalharia para ele.

Homem N° 6: É o homem que adquiriu uma consciência objetiva que seria


dirigida por um outro centro que lhe permite um domínio, ainda não permanente,
sobre todas as suas funções psicossomáticas. Possui novos poderes fora do
entendimento do homem comum.

Homem N° 7.. Possuiria consciência e domínio permanentes. Teria ele um eu


permanente e uma vontade livre.

Existiriam religiões, artes, ciências, culturas e civilizações classificáveis


nestas categorias.

O homem de nossa civilização ocidental dificilmente passaria do quarto


estágio. Só grandes místicos como Buda ou Jesus Cristo teriam chegado (Cristo na
"escola" dos essênios) ao estágio N° 7.

De novo encontramos, nos três primeiros estágios evolutivos, o equivalente


aos três animais da esfinge: o boi, o leão e a águia. O quarto estágio corresponde ao
despertar da consciência humana. Há uma coincidência notável entre a estrutura da
esfinge e a estrutura exposta por Gurdjeff e Ouspanski.

Este quarto estágio encontramos em inúmeros sistemas estruturais


esotéricos sob nomes diversos.
Por exemplo, segundo os hindus, a vida tem quatro objetivos e sentidos. Os
três primeiros sentidos definem o valor da pessoa. Eis os quatro sentidos da vida:

1. Kama: Prazer, sexo, realização de si no plano sensual.

2. Artha: Realização de si no plano social, no plano da ação.

3. Dharma: Dever, virtude, busca da perfeição do nosso ser.

4. Moksha: Libertação final e total das cadeias da existência. Realização do


eu.

A evolução se faz através da satisfação plena dos três primeiros sentidos da


vida, isto a fim de que o homem possa comparar estes com a realização do quarto
objetivo, e chegar livremente à conclusão de que este quarto estágio é mais
gratificante que todos os outros. "Nunca renunciei a nenhum vicio, são eles que me
deixaram", é a frase do Santo. Ela resume toda uma filosofia evolutiva (136).

Quando relatamos, a respeito do ternário, a imagem oriental da carruagem,


do condutor e do cavalo, tínhamos deixado de lado, para apresentá-la aqui, o quarto
elemento da estrutura, que é o dono da carruagem. O dono da carruagem
representa a vontade consciente que controla o cocheiro (mente), o cavalo
(sentimento, ação) e a carruagem (corpo). Segundo a terminologia teosófica, temos
o corpo físico, o corpo astral, o corpo mental e o corpo causal (137).

50. AS VIAS PARA O QUARTO ESTÁGIO


Gurdjeff distingue três "vias" para se chegar ao quarto estágio. Cada uma
destas vias corresponde a um dos "centros" anteriormente descritos.

1. A via do faquir, que corresponde à luta com o corpo físico.


Corresponderia, em termos da esfinge, em dominar o boi. Muitos faquires se tornam
monges ou jogues.

2. A via do monge. É a via da fé, do sentimento religioso. Ele passa anos


concentrado sobre o seu segundo centro, o sentimento. Ele procura encontrar a
unidade de toda a sua estrutura, em torno do centro emocional, do leão da esfinge.

3. A terceira via é a via do ioga, é a via do intelecto, do conhecimento. É a


via da meditação e do silêncio. É a via da águia.

Gurdjeff passou a sua vida procurando desenvolver uma quarta "via", pois
achava que poucos conseguem chegar ao quarto estado pelas três primeiras. A
quarta consistia numa abordagem simultânea e .consciente dos três "centros". Ao
morrer, falou para os seus discípulos: "Deixo-os em maus lençóis"... (138)

Mas não é só nas escolas esotéricas que se procura alcançar o


desenvolvimento de um homem consciente em vez de um autômato. Toda a
psicologia moderna, e mais particularmente a psicoterapia, tende a alcançar tal
objetivo. Vamos agora mostrar que o símbolo humanista da esfinge está presente na
ciência psicológica moderna.

51. HOMEM CONSCIENTE VERSUS AUTÔMATO NO SÉCULO XX


Igor Caruso tem acentuado o valor do símbolo como sendo o de um
encontro, pois o sentido etimológico de símbolo é "simbalein", que significa
justamente "encontro" (139). Sendo assim, o símbolo da esfinge é um encontro
nosso, nós os homens do século XX, nós os homens das ciências humanas,
devidamente equipados para abordagem dos símbolos, com os sacerdotes (ou
cientistas?) de uma ou várias dezenas de milênios atrás.

Conseguimos encontrar-nos através da esfinge, com a sua concepção da


estrutura psicossomática do homem. Mostramos, nos capítulos precedentes, como
esta concepção ainda é atual ou mesmo redescoberta como é o caso da estrutura
psicossomática sheldoniana ou das estruturas primárias ou "naturais" no
pensamento matemático segundo os Burbakis, ou da génese das operações lógicas
segundo Piaget.

Vamos tentar agora fazer o mesmo com a concepção que parece ser
expressa pelo destaque feito na esfinge à pessoa humana, a qual é sincrônica com
a idéia do quarto estágio evolutivo, que encontramos em todos os sistemas
iniciáticos esotéricos de que temos conhecimento, conforme o resumo que
acabamos de apresentar.

Já falamos mais acima do modelo freudiano, no qual duas forças


antagónicas são equilibradas, poderíamos dizer até administradas por um ego
consciente. No sistema freudiano, a evolução do homem se faz num sentido de
adaptar as pulsões libidinosas ou princípio do prazer às regras e normas impostas,
tanto pela natureza como pela própria sociedade, isto é, adaptar este princípio do
prazer ao princípio de realidade (149).

Como ele introjetou a própria natureza e o superego dos seus pais e


educadores, trata-se também de uma adaptação a si mesmo, como o mostrou
Caruso, cuja idéia foi desenvolvida recentemente por Jarbas Moacyr Portella (140 -
141).

Mas esta idéia de adaptação parece significar, na realidade, acomodação,


estagnação e reificação. É na medida em que o homem se desfaz da sua alienação
ao meio e ao próprio superego rigidamente policial que ele se torna realmente
humano. Amadurecer significa, amantes de tudo, tornar-se cada vez mais consciente
dos seus próprios condicionamentos alienantes. Consiste em substituir
progressivamente um superego alienado, por um ideal conscientemente escolhido,
por um ideal do eu que pode ou não coincidir com o superego ou ego ideal. Sem
isto, não há evolução possível, nem pessoal nem da humanidade, já que os nossos
superegos são introjeções dos superegos dos nossos pais, avós, bisavós, etc., como
o mostra Freud (141).

É justamente neste novo "ideal do eu", em perpétua evolução á medida que


o ser humano enfrenta novas contradições, que vemos o nascimento progressivo do
homem. De um homem cada vez mais livre, porque consegue constantemente
aperfeiçoar a administração de si mesmo.

É da constante dialética entre a águia de um lado, e os dois animais, o leão


e o boi de outro lado, que nasce progressivamente o homem. Há, porém, como o
mostra Caruso (142), uma constante opacidade do símbolo que preside o encontro
entre o eu e o não-eu (interno ou externo) e toda situação é ambígua. O homem tem
que aprender a viver com a ambigüidade, adquirindo progressivamente o que
Simone de Beauvoir chamou de "morale de l' ambiguité" (143), uma moral em que o
homem decide a cada momento importante, em função das variáveis da situação e
da sua formação humana.

Se há, como mostrou Freud, uma compulsão-repetição, esta constitui um


fator de aprendizagem. O mito de Sísifo, tão bem descrito por Camus (144),
representa muito bem esta compulsão-repetição, porém numa pessoa em evolução
a repetição nunca leva ao mesmo lugar. Depois de ter esclarecido um símbolo,
depois de ter eliminado uma contradição, o homem se encontra numa nova etapa
evolutiva. Esta etapa é sempre provisória e a evolução se faz em espiral, como o
mostra Caruso (142), e Lao Tsé (93). Seria uma espiral sinusoidal, "um ritmo em
espiral" (Fig . 55). Cada regressão é o prenúncio de um novo avanço. Avanço e
recuo, porém, acontecem em graus mais elevados do que os anteriores. A cada
avanço, o ego e o seu ideal se definem melhor. O homem renasce fortalecido.

Avanço-recuo, tese-antítese, transforma-se constantemente em novas


sínteses, que se transformam em teses, havendo um eterno recomeço. É graças a
eles que se faz a hominização teilhardiana ou personalização progressiva carusiana
(139 — 147 — 148).

Como o mostra Levy Valensi, temos uma tendência a perceber este conflito
apenas nos níveis mais elevados. Por exemplo: o conflito corneliano entre o amor e
o dever. No entanto, ele já se situa ao nível animal, ao nível da reflexologia
Pavloviana, onde aparecem os conflitos entre excitação e inibição (145). Logo, situa-
se também ao nível do boi, em linguagem de esfinge.

Mas não é só no nível animal que se faz o condicionamento. Os trabalhos do


Skinner e da sua escola têm, através de experimentação em animais em laboratório
e no homem nas clínicas e hospitais psiquiátricos (análise comportamental),
colocado em relevo vários fatos importantes, fatos que passaremos a resumir a
seguir.

Baseado nas experiências de Pavlov, de condicionamento de animais,


Skinner tem desenvolvido inúmeras pesquisas dentro do esquema:

Isto é, estímulo-reação. A medida que iam progredindo as suas pesquisas


descobriram que só os condicionamentos ligados aos músculos lisos e ao sistema
glandular se enquadravam dentro do esquema S — R, isto é, referem-se
principalmente à fisiologia interna do organismo. No "comportamento reflexo" ou
respondente", estabelece-se uma substituição de estímulo. Um estímulo
anteriormente neutro adquire propriedades de "eliciar" uma resposta anteriormente
específica de um estímulo efetivo, quando o estímulo neutro é imediatamente
seguido ou reforçado pelo estímulo efetivo (150).

Por exemplo, o som, na experiência de Pavlov, é seguido da visão do


alimento, o qual elicia a salivação. Aos poucos o som passa a adquirir as
propriedades de estímulo de salvação. Isto é, o que Skinner passou a chamar de
comportamento respondente para distingui-lo do comportamento operante.

No comportamento operante o estímulo reforçador se dá depois da resposta


e não depois do estímulo neutro, como é o caso do comportamento respondente. O
esquema simplificado seria:

Por exemplo, um pombo recebe alimento depois de bicar um disco, ou uma


mãe dá carinhos a sua criança depois que ela fez os seus deveres de escola, ou o
pai elogia o filho depois de ele ter trazido boas notas no seu caderno escolar.

Outro critério distinguindo o comportamento operante do comportamento


respondente é que o comportamento operante é específico dos músculos estriados.
Além disto se traduz por uma ação sobre o meio-ambiente. É um comportamento
exterior ao organismo.

O comportamento operante pode ser "modelado" tão bem quanto o


comportamento "reflexo", porém através de "reforços". A "modelagem" do
comportamento operante se faz, na sociedade humana, por meio do que Skinner
chama de "agências controladoras", tais como agências governamentais,
organizações religiosas, escolas, agências psicoterápicas, sem contar a própria
agência familiar. Comportamentos operantes, como por exemplo: a indução, a
discriminação ou a abstração, a linguagem, a obediência às leis, a cortesia, entre
outros constituem "cadeias operantes" bastante complexas, entre as quais o
"comportamento verbal" é o mais complexo.

Neste sentido, as pesquisas de Skinner mostram o quanto o nosso


comportamento é condicionado, deixando, ao que parece, pouca margem para o
li vre arbítrio, para um comportamento decisório "voluntário" e "consciente".

52. O COMPORTAMENTO DE AUTOCONHECIMENTO E


AUTOCONTROLE
Skinner tem-se preocupado muito com este problema. O que ele relata
lembra muito as opiniões emitidas por Gurdjeff e segundo as quais somos todos
adormecidos. Diz Skinner textualmente: "Um "Um homem pode não saber que fez
alguma coisa. Pode ter-se comportado de uma dada maneira, talvez energicamente,
e não obstante ser incapaz de descrever o que fez... Um homem pode não saber
que está fazendo alguma coisa... Um homem pode não saber que ele tende a ou
está indo fazer alguma coisa... Um homem pode não reconhecer as variáveis das
quais o seu comportamento é função..." e ainda "Um dos fatos mais extraordinários a
respeito do autoconhecimento é que ele pode não existir" (151).

O comportamento "consciente", ou chamado como tal por outros autores e


que Skinner intitula de "autoconhecimento", é um comportamento operante. O
comportamento de "autoconhecimento" existe quando um "repertório verbal" que
descreve o comportamento pessoal foi reforçado por uma comunidade que insiste
em respostas a questões como "O que foi que você disse? O que está fazendo? O
que é que você vai fazer? ou Por que está fazendo isso?". Isto o estimula ao
comportamento de "autoconhecimento".

Rogers, através de suas intervenções de conteúdo reflexivo, reforça, no


sentido skinneriano, o cliente em psicoterapia em emitir respostas de
autoconhecimento. Rogers reflete os sentimentos e as percepções emitidas pelo
cliente. Este comportamento do terapeuta significa para o cliente que o terapeuta
está atento e interessado no seu sentimento e nas suas percepções. Isto lhe reforça
o comportamento oral de emitir respostas relacionadas com o sentimento. É
justamente por isto que se tem mostrado eficaz como meio de obter respostas de
maior autoconhecimento (152).

Estamos aqui diante de um processo dialético extremamente complexo em


que Skinner está demonstrando que a própria liberação do homem, a própria
autonomização ainda é uma heteronomia.

A própria desalienação é alienada. Há, porém, uma alienação desalienante.

Do mesmo modo, segundo Skinner, a substituição de um superego rígido e


punitivo por um ideal do ego "livremente escolhido" no processo psicanalítico
também ainda é um condicionamento, pois o silêncio, a atitude permissiva do
analista reforçam comportamentos orais de emissão de operantes antigamente
reprimidos por estímulos aversivos, por punições. Isto permite a estruturação de
novos comportamentos. É o efeito da "audiência não punitiva" (153).

Outro aspecto do chamado "comportamento consciente" é o que Skinner


chama de autocontrole e que é diretamente ligado ao autoconhecimento.
O autocontrole consiste num reforçamento pelo próprio indivíduo do seu
próprio comportamento, graças ao autoconhecimento. Ele evita reforços negativos,
isto é, situações desagradáveis para ele, e escolhe comportamentos que ele sabe
serem reforçadores.

Diz Skinner que com frequência o indivíduo vem a controlar parte do seu
próprio comportamento quando uma resposta tem consequências conflituantes, isto
é, quando decisões alternativas levam a reforços, tanto positivos como negativos.
Por exemplo, o comportamento de beber álcool é seguido de reforços positivos de
elação, libertação de tensões, confiança em si mesmo, mas é seguido de punições,
tais como a ressaca, a desaprovação social, a perspectiva de um "delirium tremens",
as consequências de eventual perda de controle.

Se for escolhido um comportamento que enfraquece o comportamento de


beber, este comportamento será automaticamente reforçador, pois diminuirá a
probabilidade de estímulos aversivos.
As técnicas de autocontrole são inúmeras: podemos citar, entre outras, a
restrição física, a esquiva, o suicídio, a remoção da situação, a remoção de
estímulos, a privação, a saciação, técnicas de extinção, a estimulação aversiva, uso
de drogas, auto-reforço operante, etc. (154).
Quadro VIII
ALGUNS MODELOS COMPORTAMENTAIS ATUAIS

MORENO FREUD SKINNER


Serpente Fator S Libido Sobrevivência

Homem Criador Ego


Operantes de Auto-
Consciente conhecimento e
Autocontrole

Papéis Superego Cadeias complexas


Sociais de operantes
modeladas pelas
3 Águia Papéis
agências
Psicodramáti controladoras.
cos Linguagem
Comportamento
emocional
respondente e
2 Leão operante.
Id Síndrome de
ativação
Papéis Comportamento
1 Boi Psicossomát predominantemente
icos respondente
Inconsciente

53. DOS ANIMAIS DA ESFINGE AO HOMEM


Há, em relação ao assunto da esfinge, dois aspectos interessantes nos
trabalhos de Skinner:
1) A emergência progressiva de comportamentos de autocontrole e
autoconhecimento, a partir de condicionamentos, tanto operantes como
respondentes comuns ao homem e ao animal. Em outras palavras, voltamos a
constatar, como já o fizemos para psicanálise, uma possível evolução num sentido
de maior harmonização. No entretanto, esta evolução, segundo Skinner, não é um
fenômeno "espontâneo", mas é uma decisão a tomar pelas agências controladoras
das culturas, no sentido de reforçar ou não o comportamento de autocontrole e o
comportamento de autoconhecimento. É como ele mesmo disse, uma "questão
assustadora"(155).
A cabeça humana emergindo, na esfinge, dos animais, continua sendo o
problema dos cientistas do comportamento no fim do século XX. A continuação
deste "devir" do homem está nas mãos do próprio homem. Chegamos na época em
que o homem se torna capaz de dirigir a própria filogênese e ontogênese.

2) A existência de processos de condicionamento comuns ao homem e ao


animal corresponde ao significado simbólico da esfinge no sentido de que também
somos animais. Fizemos inclusive uma tentativa de hierarquização dos diferentes
mecanismos de estruturação do comportamento humano, partindo dos
condicionamentos respondentes elementares, indo até os condicionamentos de
maior complexidade e especificamente humanos (ver Quadro VIII).

Tudo se passa como se o homem, conforme já o dissemos, se libertasse


progressivamente das suas estruturas hierarquicamente inferiores.

Tal idéia é também desenvolvida na obra de J. L. Moreno. Este autor, como


se sabe, foi um dos que desenvolveu a teoria dos "papéis" na estruturação da
pessoa humana. Desde o berço exercemos papéis: papel de comedor, de jogador,
de filho, de mãe, de diretor, de subordinado, de vendedor, de amigo, etc., etc..

Moreno classificou os papéis em três (sempre três...) grandes categorias: Os


papéis psicossomáticos, os papéis psicodramáticos e os papéis sociais.

O exercício de papéis nos leva à estratificação de hábitos, opiniões, atitudes,


ou mesmo a emitir regulamentos, leis, escrever livros, conjunto este que Moreno
chamou de um nome muito ilustrativo: as "conservas culturais". Para o homem poder
evoluir, é preciso devolver-lhe a espontaneidade ou fator S. Assim, ele se tornará
um, ou o "criador". Só o conseguirá, libertando-se das "conservas culturais".

O psicodrama foi criado justamente para ajudar o homem a conscientizar os


seus papéis e treinar alternativas de decisões entre papéis em conflito. Ao fazer isto,
emerge o criador.

A espontaneidade está sendo travada, inibida, e desencorajada pelos


mecanismos culturais. É função do psicodrama treinar, desbloquear a
espontaneidade e fortificá-la.

Parece haver certos pontos comuns entre as escolas esotéricas de um lado,


e as escolas psicoterápicas modernas do outro lado.
Ambas admitem a possibilidade de desenvolver o próprio homem, como ser
li vre e consciente.

Aliás, uma análise terminológica de R. C. Romanelli vem reforçar o sentido


evolutivo de "crescer" da palavra "esfinge":

"Sphinx, — ngis f (desde Cícero) "esfinge" do gr. sphinx, talvez forma


nasalada da raiz ie. Spheig —, alargamento da raiz (s)phei (s)pi — "crescer, dilatar".
V. sphincter supra Sp(h)incter, — éris m. (desde Quirão) "bracelete", do gr. sphincter,
nervo, músculo: cognato de Sphinx "esfinge": ie. Spheig —, alargamento da raiz ie.
Sp(h)ei, spi — "crescer, dilatar". Cf. o gr. Sphings em face do let. Spaiglis, nor. —
Speika, spika. WH 574, EM. 642, Pok. 984" (303).

A alternativa evoluir ou ser estrangulado (de "sphigge" já visto anteriormente)


é a que se apresenta ao homem, e parece estar inerente à palavra esfinge.
As escolas científicas e esotéricas reconhecem também que o homem está
preso (estrangulado...) aos seus condicionamentos.
Ambas falam da necessidade de uma escola ou mestre ou psicoterapeuta
para catalisar esta evolução, embora os métodos sejam, em muitos pontos, bastante
diferentes.
Ambas admitem que esta libertação só se pode fazer na medida em que o
homem se toma a si mesmo nas suas próprias mãos.
Praticamente todas as escolas esotéricas, através desta libertação ou
desenvolvimento do homem propriamente dito. têm como objetivo também conseguir
estados privilegiados de iluminação e êxtase mística, simbolizados na esfinge de
Giseh pelo seu sorriso e em muitas outras esfinges pela serpente. É sobre este
aspecto que iremos relatar trabalhos recentes de psicoterapeutas modernos, embora
sejam ainda "pioneiros" isolados no assunto, pois a maioria dos psicoterapeutas
deixam de externar objetivos neste terreno. (Ver mais particularmente o trabalho
comparativo de Jacobs) (159).
CAPÍTULO 9
A Serpente da Esfinge na
Experiência Estética e Psicoterápica
A idéia implícita na esfinge, de evolução ou subida de estágios inferiores a
estágios superiores, está presente em três aspectos fundamentais da estética e que
constituem, ao mesmo tempo, três bases físicas do fenômeno estético. A esfinge
está relacionada com estes três mundos:

O mundo das formas


O mundo das cores
O mundo dos sons

54. A ESFINGE NO MUNDO DAS FORMAS


A esfinge constitui uma forma em si, da qual parecem emanar mensagens
que deveriam ser evidenciadas em pesquisas de laboratório de estética, mensagens
como por exemplo: paz, felicidade, sublimação, êxtase, força, iluminação, silêncio,
meditação, evolução, subida, etc....

Uma experiência interessante a fazer seria a de submeter um grupo de


pessoas à percepção de várias esfinges, pedindo-lhes para dizer a primeira palavra
que lhes ocorra. Um tratamento estatístico destas respostas permitiria talvez traçar
uma imagem sincrética da mensagem contida nas formas da esfinge, no seu
conjunto e nas suas partes.

Já falamos em outras partes deste livro da intenção dos seus autores de


estabelecer uma hierarquia dos animais da esfinge. Esta hierarquia implica na idéia
de "subida" de "Evolução" do mundo animal para o mundo do homem e, ao mesmo
tempo, a idéia de integração, de totalidade indissolúvel, inseparável destes
elementos.

O uso do espaço tridimensional também foi objeto de análise e mostramos


como, quando os animais são representados separados, há uma prevalência da
direita sobre a esquerda e da zona superior sobre a inferior. Assim, o homem e a
águia são superiores ao boi e ao leão. Por sua vez a águia seria superior ao homem
e o leão superior ao boi. O uso da direita e da esquerda varia conforme a
iconografia.

Além do espaço, as cores têm sido utilizadas em algumas esfinges. É o que


vamos estudar a seguir.
55. A ESFINGE E AS CORES
No Zohar da cabala encontramos afirmação da correspondência entre o
tetramorfo e as cores. Eis o texto:

"Como estas quatro figuras estão dispostas nos quatro cantos do


firmamento, resulta daí que este reflete em primeiro lugar as quatro cores peculiares
às quatro figuras que são: a figura do leão, a figura do boi, a figura da águia e a
fi gura do homem... E como o firmamento reflete cada uma destas figuras à cor
diferente, resulta daí que apresenta quatro cores que correspondem às quatro cores
principais... que são: o verde, o vermelho, o branco e o azul (3 17).

São bastante raras as esfinges coloridas. Das mais antigas encontramos as


duas esfinges de Suza, onde as cores da cerâmica ainda estão presentes, embora
não se possa garantir que sejam as cores originais (ver Fig. 6).

Nestas figuras temos as seguintes cores:

Asas (tanto do disco solar como das esfinges): amarelo, alaranjado (parte
exterior).

Disco solar: amarelo-alaranjado (parte interior); azul (parte interior); branco


(parte mediana das asas e terminal da cauda).

Serpente: amarelo-alaranjado; branco (círculo mediano); azul (círculo


exterior).

Cabeça de homem: roxo: cara.


azul: barba e cabelo
branco com azul: chapéu.

Corpo de leão: branco com peito azul, e outras partes (amarelo-alaranjadas).

Há alguma intencionalidade simbolizante na escolha destas cores? É


realmente difícil estabelecer isto de maneira sólida.

A cor amarelo-alaranjada coincide com o seu valor simbólico clássico, tanto


na simbologia esotérica como na psicodinâmica das cores: é a cor do sol, da luz. O
azul é a cor do céu, o que explicaria a sua posição no círculo em torno do sol. Mas a
nossa possibilidade interpretativa pára aí. O que vem fazer o roxo na fisionomia
humana e o amarelo nas garras do leão é difícil de explicar.
Bem mais nítida é a intenção simbolizante nas cores das esfinges do taro.
Oswald Wirth e Papus deixam isto bem claro (199). No taro de Wirth temos várias
esfinges coloridas.

Na carta n° Sete, uma esfinge branca e uma esfinge preta. A esfinge branca
representa as forças do bem e a esfinge preta, as forças do mal (Fig. 50).

Na cada n° Dez, lembramos que a esfinge simboliza o princípio do equilíbrio


e também a unidade e a síntese dos elementos que ela converte em energia vital.
Assim, as quatro cores correspondem aos quatro elementos (Fig. 53).

Cabeça vermelha: fogo


Asas azuis: ar
Peito e patas dianteiras verdes: água
Traseira preta: terra.

Já na carta Vinte e Um, temos as seguintes cores:

Boi: preto (terra) com chifres vermelhos (energia inerente à matéria).


Leão: cara amarela e olhos vermelhos (fogo do verão).
Águia: azul e parte das asas amarela.
Anjo: vestido de vermelho, asas e cabelos dourados, cara cor-de-rosa.

No jogo do taro de Papus (125), as cores são diferentes do jogo de Wirth: as


asas são amarelas ou vermelhas e azuis, a cabeça humana cor-de-rosa com a juba
vermelha ou vermelha e azul. O corpo é cor-de-rosa. O leão e o boi são marrons. A
serpente é verde.

Não é de se estranhar que haja estas diferenças, pois o significado simbólico


das cores varia conforme a cultura e os autores. Basta lembrar que para os judeus
branco é cor de luto.

O teste das "Pirâmides coloridas" de Pfister, aplicado no Brasil, acusou uma


escolha da cor verde muito superior ao grupo europeu, segundo pesquisa de
Vilemor Amaral. Isto mostra a influência do ambiente sobre preferências de cores, já
que o verde da natureza é bastante importante no Brasil (222).

Vamos, a seguir, dar a simbologia das cores, segundo Wirth e Papus, de um


lado representando uma síntese da simbologia das escolas esotéricas e de outro
lado, a síntese das escolas psicológicas, feita por Pfister e Vilemor Amaral.
Wirth (199) Papus (223) Pfister (222) e Vilemor Amaral
Vermelho Espírito, fogo Sanguíneo, jovial, Egocentrismo Afetivo,
espiritual. Princípio barulhento, impulsividade, descargas
animador, ardor, amor, dominador. agressivas bruscas.
coragem, energia.
Azul Céu, contemplação, piedade, Nervoso, Introversão, freio, elaboração dos
fidelidade, fé, alma, doçura, sentimental, estímulos externos, adaptação e
bondade, sentimento. amante. regulação emocional.
Amarelo Irradiação luminosa, Bilioso, sério, Extroversão adaptada,
manifestação objetiva, corpo, pensador. sensibilidade e irritação fácil,
fixação, estabilidade. ambições marcadas,
sugestionabilidade.
Roxo Intelectualidade, misticismo, Linfático, mole, Excitação introjetada,
discernimento, ensino, lento, inconstante, perturbabilidade, defesa contra
conciliação do sentimento e da tímido, modesto. impulsos.
razão.
Laranja Chama, fogo, veemência, Vide amarelo. Extroversão, impetuosidade,
paixão, ferocidade, instinto de exuberância, dominador,
crueldade, egoísmo, superestimação de si mesmo,
necessidade de ação. culpabilidade persecutória.
Verde Vegetação, fluido vital, água Fino, ágil, ardiloso Necessidade de contato, busca
nutridora. do fogo agindo, de adaptação efetiva.
lascividade, preguiça.
Marrom Madeira, sobrevivência, Violento, Instinto, agressão, destruição,
tradição, superstição, desenfreado, brutal. compulsividade, obsessividade,
concentração, isolamento, fixação materna,
reserva, discrição. conservadorismo.
Rosa Tudo que se refere ao humano
ou humanidade.
Ouro Perfeição intelectual, tesouros Grande, generoso,
do espírito, verdades artista.
incontestáveis, bens
indestrutíveis.
Preto Nada, morte, fatalidade, Luto, dor, sofrimento, tristeza,
desespero, desilusão, frustração, negação e repressão
profundidade, severidade, do estímulo, fuga do contato
conspiração, mistério, terra. afetivo.
Branco Síntese, pureza, inocência, Vulnerabilidade, perturbação do
candor, lealdade, harmonia, equilíbrio e estabilidade
conciliação, paz, integridade, emocionais, impulsividade.
consciência, ser, luz.
Cinza Cinzas, resíduo do que viveu, Vazio, inconsistência, fraqueza
inércia, indiferença, das estruturas, medo da perda de
desprendimento, controle dos impulsos. Histeria,
indeterminação, humildade, mitomania, negação da realidade.
pobreza, tristeza, apagamento.

Quadro IX

Estamos produzindo todas estas interpretações simbólicas, para mostrar a


dificuldade de fazer corresponder a simbologia dos animais da esfinge com a
simbologia das cores, já que há contradições marcantes entre diferentes autores,
sem contar as contradições entre civilizações, tanto para simbologia das cores como
para o seu uso nas esfinges.

Tudo que podemos constatar é a existência de uma intenção de associar o


simbolismo dos animais da esfinge ao simbolismo das cores, assim como uma certa
incoerência entre as cores escolhidas nas esfinges coloridas de que temos
conhecimento. Mais adiante encontraremos outros estudos ligando os animais com
cores e música.

Com efeito, encontramos também interpretações dos animais da esfinge


li gadas à música. É o que vamos descrever a seguir.

56. ESFINGE E MÚSICA


É de muita importância o trabalho de Schneider, apresentado ao Conselho
Superior de Investigações Científicas de Barcelona (225 - 226).

Schneider fez uma análise das origens musicais dos símbolos animais em
várias culturas. Demonstra ele que a música nasceu pela imitação, pelos primitivos,
dos ruídos da natureza, mais particularmente dos sons emitidos pelos animais.
Como os animais representavam também "espírito" da natureza, ou divindades,
assim como tinham cedas características temperamentais, além de estarem mais ou
menos ligados à terra, à água, ao ar ou céu, foi-se elaborando progressivamente.

uma correspondência entre animais, sons e ritmos, divindades,


características temperamentais, elementos da natureza e mais tarde com planetas e
constelações, e também cores.

Seria impossível reproduzir aqui todas as descobertas feitas pelo Autor, pois
o seu livro comporta uma análise bastante detalhada dos sistemas musicais
confrontados com os sistemas cosmológicos, religiosos e tradições de várias
culturas. Podemos, no entanto, reproduzir um quadro resumindo algumas das
correspondências encontradas nas suas pesquisas (Quadro X).
NOTA: Toda palavra entre aspas não foi possível a tradução. Quadro X
No que se refere mais especialmente aos "tetramorfos", Schneider fez uma
descoberta na liturgia romana, ligada às suas hipóteses sobre as correspondências
entre animais e notas musicais. Reproduzimos aqui, na sua íntegra, o parágrafo
relacionado com o tetramorfo.

"As interpretações musicais dos claustros demonstram que, não obstante a


evolução histórica que colocou os planetas em primeiro plano, o valor musical do
símbolo animal subsistiu nas altas culturas. Agrupando agora os símbolos animais
com os dos planetas, em seu aspecto diatónico, obtêm-se dois tetracórdios:

Júpiter Vénus Lua ( Marte)


oca grulla Kokila peixe (águia)
sol Lá si (dó)
Marte Mercúrio Saturno Sol
águia pavão real touro leão
dó ré Mi fá

dos quais o tetracórdio inferior, dó ré mi fá (águia, pavão real, touro, leão),


representa musicalmente os tetramorfos de Ezequiel, excetuando o pavão real, que
na profecia de Ezequiel, aparece substituído por um rosto humano como na tradição
egípcia.

Segundo Ezequiel (1,10), a cara do leão está à direita; a do boi, à esquerda,


e a da águia no alto da cabeça humana. Cada querubim tem duas rodas
entrecruzadas (como se uma roda estivesse no meio da outra, (1,16) as quais se
levantaram também, quando o querubim voou (1,19). Estas rodas tinham "uma
estrutura e uma altura enormes" (1,18), e "sua figura e sua cor eram semelhantes ao
mar" (1,16). As asas estavam "cheias de olhos" (1,18) e "havia nelas espírito de vida"
(1,21). Parece muito provável que aqui se tratava da descrição do pavão real (=
homem), pois é esta ave que atravessa diametralmente a roda de suas asas
despregadas (= duas rodas entrecruzadas), com cor do mar e semeada de olhos.
Além do mais, o ser com cabeça de homem, que os Padres da Igreja interpretavam
como símbolo da encarnação em seus comentários da visão de Ezequiel,
corresponde ao pavão real como símbolo do nascimento. Porém esta descrição das
asas aplica-se também a outros três seres místicos. Por isso, as asas (a roda) do
pavão real devem constituir seu símbolo propriamente celeste.

O tetracórdio, formado pelos quatro seres, constitui o âmbito melódico


clássico da salmodia, Isto é, da parte mais antiga do canto gregoriano e do prefácio,
único momento da missa no qual a liturgia romana — em oposição com a oriental —
fala dos querubins.

Hymnum gloriae tuae canimus sine fine dicentes

O conjunto de idéias no qual entram .agora os tetramorfos reclama uma


análise mais detalhada da orientação das cabeças. A esse respeito, não estão
completamente de acordo as três versões bíblicas.

Disse o texto hebraico e sírio que as cabeças de homem e de leão se


encontravam à direita, ao contrário das cabeças da águia e do boi, que estavam
esquerda.

O acompanhamento das orientações com os quatro pontos cardeais


expostos na p.111 (sistema C), com os animais correspondentes, sugere que os
quatro seres estavam colocados seguindo a série superior das direções do espaço.
Com relação a esta disposição, o lado direito (o leão e o homem) corresponde ao
sudeste e ao nordeste, assim como o lado esquerdo (águia e boi) ocupa as direções
sudoeste e nordeste. Comparando o tetracórdio referido com o tetracórdio ou
tricórdio — ave, kokila, peixe (águia) —, nota-se que os animais do tetracórdio dó-fá
ocupam todas as direções intermediárias, assim como o grupo sol-lá-si (dó) coincide
exatamente com as direções principais.

Prosseguindo a interpretação simbólica, revela-se como o verdadeiro


tetracórdio mediador entre o céu e a terra, o tetracórdio dó-ré-mi-fá, com o leão
(valentia, força), o boi (sacrifício, dever), o homem ou o pavão real (fé, encarnação)
e a águia (oração humana). Por outro lado, o tetracórdio sol-lá-si-dó poderia
representar, segundo a doutrina gnóstica, uma espécie de tetracórdio divino. Neste
caso, o dó, quer dizer, a águia (o animal comum entre os dois tetracórdios)
representa o voo rápido da oração no tetracórdio baixo ou humano e a solicitude de
Deus ou a graça no tetracórdio alto. Voltaremos a falar, mais adiante, da dupla
função da águia".

Já mostramos que existem relações entre os elementos da esfinge e o micro


e microcosmo. De outro lado, tanto na antiguidadi como por exemplo na escola de
Pitágoras, como em correntes esotéricas modernas ou mesmo na musicologia,
esforços têm sido feito para encontrar correspondências entre a harmonia sonora e a
harmonia universal.

Gurdjeff e Ouspanski (229) descrevem a ação do absoluto sobre os mundos


criados por ele. Esta criação seria permanente. O "raio da criação" existiria sob
forma de três oitavas, partindo do absoluto "dó-si" até a lua "dó", passando pelo sol e
a terra que também corresponderiam a dó-si. Maior a "densidade de vibrações",
mais baixa a densidade de matéria. A partir deste princípio, Gurdjeff indica uma
correspondência entre densidade de vibração e densidade de matéria. Assim, o
absoluto tem uma densidade mínima de matéria e uma densidade máxima de
vibrações. Obtém-se uma primeira trindade do absoluto da seguinte forma:

Dó Carbono (C) 1
Si Oxigénio ( O) 2 H6
Lá Azoto (N) 3

A este primeiro conjunto de matéria corresponderia o "hidrogênio 6". Gurdjeff


calculou uma "Tábua dos hidrogênios", na qual, por exemplo, o "alimento" "mi-ré-dó"
seria o hidrogênio H 768.

A partir deste sistema, Gurdjeff descreve como as três partes do organismo


humano: cabeça, peito, ventre, assimilam os alimentos e o ar, sob forma de uma
"usina a três andares", isto é, sob influência da "lei do oitavo". Os estados místicos
seriam obtidos no centro intelectual superior, através de assimilação de hidrogênio 6.

Encontramos em Papus (228) uma tábua de onde extraímos as seguintes


correspondências entre notas, cores e planetas:
Notas Planeta Cor

SI MERCÚRIO AZUL

LA SATURNO PRETO E MARROM

SOL MARTE VERMELHO

FÁ JÚPITER PÚRPURA E ROXO

MI LUA CINZA E BRANCO

RÉ VÉNUS AZULE ROSA

DÓ SOL AMARELO E LARANJA

Quadro XI

Fabre d'Olivet (227) também deu uma correspondência de notas com


planetas, porém completamente diferente da de Papus, não havendo mesmo
nenhuma correlação entre os sistemas. O que já assinalamos a respeito das cores
está a se repetir para a música. As contradições entre sistemas de correspondência
impedem qualquer conclusão a respeito.

Poderíamos apenas reter a idéia inicialmente exposta neste parágrafo, a de


Schneider, que se refere ao valor simbólico da "subida e descida" na escala musical
para significar a subida e descida entre o céu e a terra, assim como a idéia de
vibração e evolução.

Neste sentido tem sido publicado um estudo recente e bastante interessante


de Ernest Ansermet, regente de orquestra suíço e filósofo. Numa análise
fenomenológica das relações entre a música e a consciência humana, tem ele
colocado em relevo o significado psíquico das relações posicionais das notas. Fala
ele de "tensões posicionais" das notas. As tensões posicionais ativas e extrovertidas
são subjacentes aos intervalos fundamentados pela quinta ascendente enquanto
que os intervalos fundamentados pela quinta descendente encobrem tensões
posicionais passivas introvertidas (231).

Esta relação intro-extroversão traduz ao mesmo tempo a relação entre o eu


e o mundo. Esta relacionalidade, para Ansermet, é a mesma que a existente entre a
tónica e a dominante, chamada de relação TDT, e coloca em correspondência com a
relação passado, presente, futuro, simbolizada por "Ps, Pr, F".

Chega-se assim a uma estrutura ternária, onde se reconhecem as diferentes


"trindades" religiosas ou os ternários científicos já descritos em outro capítulo. Para
Ansermet as correspondências são as seguintes:

Fá dó fá

t d t

ps pr f

— A estrutura relacional abstraia seria o Pai, o Criador, o Verbo, o Logos.

— A estrutura, a mesma fenomenalizada na consciência sob forma de fá,


dó, fá, seria o Filho que traz em si o Verbo e Logos substancializados.

— A relacionalidade é o Espírito Santo ou a Energia.

A análise fenomenológica de Ansermet vai muito além desta nossa


descrição, abordando as relações entre a ética e a estética na música, assim como a
percepção da unidade "eu no mundo" através da emoção estética. Anserment volta,
através da música, a traçar os mesmos caminhos que nos levaram à análise da
esfinge e às relações entre micro e microcosmo, descrita pelos cabalistas.

Além do mais, seria interessante classificar as músicas em função dos


diferentes "níveis da esfinge".

No que se refere mais especificamente às emoções estéticas, a música é


um dos grandes estímulos para despertá-las. O que é esta emoção estética? Em
que consiste? É o que será objeto do próximo parágrafo, ligado à serpente da
esfinge.

57. EXPERIÊNCIA CULMINANTE E A SERPENTE

Recentemente publicamos um trabalho sobre um fenômeno que muitos Já


viveram, embora poucos sejam os que o relatam por não ser reforçado na nossa
civilização.

Neste trabalho sobre a experiência sublime e a emoção estética, apontamos


vários estudos mostrando a possibilidade de abordagem científica de fenômenos
que A. Maslow reuniu sob o termo de "Peak Experience", ou experiências sublimes.
Vamos reproduzir aqui o resumo dos trabalhos de Maslow e de outros autores, que
fizemos no nosso referido artigo (158). Isto permitirá ao leitor acompanhar melhor a
discussão que iremos entabular posteriormente sobre as possíveis relações entre a
serpente da esfinge e estas experiências.

Maslow diz ter encontrado em numerosas pessoas essa experiência, que ele
considera natural e não supranatural, como fenômeno normal e não patológico; além
disso, verificou que são justamente as pessoas consideradas mais maduras, mais
equilibradas que apresentam maior número de experiências sublimes.

Pediu Maslow a 190 universitários uma descrição escrita da "mais


maravilhosa experiência de sua vida... experiência provocada pelo amor, ou ao ouvir
uma música, ou de ter uma grande impressão na leitura de um livro, ou ao ver uma
pintura, ou no momento de criar algo..." Pediu-lhes para descrever como cada um a
tivesse sentido, o que havia de diferente nestes momentos das maneiras de sentir
em ocasiões comuns, de que maneira o mundo era visto de modo diferente. Sobre
tal matéria realizou ainda 50 entrevistas orais com adultos (160).

Segundo esses dados, Maslow compôs uma imagem da experiência


sublime, e salientou suas características. Assim foi possível indicar uma listas de
"critérios" que permitem reconhecer esta experiência:

1. Percepção de uma totalidade, de uma unidade completa, desligada de


relações ou da idéia de utilidade, de conveniência ou de algum propósito;

2. Desaparecimento da relação figura/fundo; a atenção é total; não há


avaliação, julgamento, comparação;

3. Percepção da natureza com o algo na qual o homem tenha pequena


importância; o homem é visto como parte dela, ou ela está nele também,
desaparece a tendência antropocêntrica;

4. A repetição da experiência sublime enriquece a sua percepção;

5. A experiência sublime e transcendental; o ego está ausente; a pessoa se


esquece completamente de si mesma; inexiste motivação no sentido
dado pela nossa civilização ocidental que parte do pressuposto de que
todo comportamento é motivado;
6. A experiência sublime basta-se a si mesma; o momento se justifica a si
mesmo, tendo valor intrínseco;

7. Em todas as experiências sublimes há uma desorientação no tempo e no


espaço; um minuto vivido intensamente pode parecer um dia e um dia
pode passar como se fosse um minuto;

8. A experiência sublime é sempre vista como sendo algo de bom e


desejável, nunca como indesejável ou prejudicial. A experiência perfeita
em si não precisa de mais nada. Isso se deve provavelmente ao fato de
que a experiência está ligada a valores diferentes dos valores da nossa
civilização ocidental em que predomina a satisfação de necessidades
básicas. Por isso, Maslow distingue dois tipos de valores:

— Os valores D (de deficiência de necessidades) ligados à satisfação de


instintos ou necessidades, aos quais Maslow chamou de motivos de "déficit"; são os
que nos levam a reduzir uma tensão ou a restabelecer um equilíbrio.

— Os valores B (de Being, isto é, Ser), valores intrínsecos, que Maslow


arrolou da seguinte forma:

- Totalidade (unidade, - Bondade;


integração, etc.);
- Beleza; - Unicidade;
- Perfeição - Ausência de necessidade
de esforço;
- Inteireza; - Galhofa (jocosidade);
- Justiça; - Verdade;
- Vitalidade; - Autonomia
- Excelência; (independência).

- Simplicidade;

9. A experiência sublime é percebida como algo cada vez mais absoluto, ou


menos relativo. Disse Maslow que um vaso chinês pode ter dois mil anos e, ao
mesmo tempo, parecer novo; pode ser universal, na sua beleza, ao mesmo tempo
que chinês. Do mesmo modo, a experiência sublime pode ser ao mesmo tempo
descrita em termos idênticos, embora o seja por pessoas diferentes em atividades
diferentes, como a matemática, poesia, escultura, pintura, ou filosofia. De igual
modo, um objeto de arte pode ser visto de modo absoluto na sua totalidade, ao
mesmo tempo que sob determinado aspecto; e a emoção estética pode ser
provocada por esses aspectos relativos, ou pelo absoluto, ou por uns e outros ao
mesmo tempo.

10. A experiência sublime é predominantemente passiva e receptiva, mais


que ativa. É resultante de uma certa disposição receptiva e ao mesmo tempo de
uma ausência de seleção ou preferência perceptiva. Nela há o que Krisnamurti (161)
chamou imobilidade do espírito.

11. A reação emocional da experiência sublime é descrita como tendo um


sabor de maravilhoso, de reverência, de admiração, de humildade, de rendição ante
algo de grande. Os sujeitos em geral se expressam assim: "isto é belo demais; agora
posso morrer tranquilo; não sei como isto pode acontecer"...

12. O universo é percebido como um todo; isso pode se dar por uma
percepção direta e total; mas, no caso da experiência amorosa ou artística, uma
parte pode ser percebida como se fosse naquele momento o universo todo.

13. Existe uma percepção do concreto ao mesmo tempo que do abstraio;


entende-se por abstrair a operação corrente e costumeira de dar nome às coisas ou
pessoas, classificá-las, compará-las com objetos ou pessoas do passado ou do
presente; em suma, abstrair consiste em passar a realidade concreta por um filtro e
deformá-la em função da nossa estrutura mental; a partir do momento em que
percebo João como engenheiro e casado, perco a percepção total de João; estou
tendo uma percepção abstraía de João; na experiência sublime, percebo João na
sua essência e realidade, ao mesmo tempo que sei que ele é engenheiro e casado.
É a experiência direta de Bergson (162).

14. Há uma fusão de muitas dicotomias, contradições, polaridades e


conflitos; há a tendência de resolver paradoxos e antinomias; a apreensão total dos
seres e dos objetos faz com que os elementos de contradição adquiram outra
dimensão e se coloquem no devido lugar.

15. A pessoa, durante a experiência sublime, é divina no que se refere a


uma entrega total, a um amor incondicional com compaixão, e uma aceitação do
mundo e das pessoas, talvez um tanto divertida. Como se trata de uma experiência
momentânea, de uma percepção passageira, isto pode perfeitamente coexistir com
tendências nos demais momentos egoístas, hostis, agressivas. É que na maior parte
do tempo as pessoas têm percepções D, enquanto durante a experiência sublime
estão sujeitas à percepção B.

16. A percepção durante a experiência sublime é de determinado objeto ou


pessoa visto na sua originalidade e unicidade, enquanto que costumeiramente
percebemos as coisas e pessoas dentro de classes gerais.

17. Ausência completa, embora momentânea, de medo, ansiedade, inibição,


defesa e controle.

18. Percepção do próprio ser idêntico à percepção tal como descrita até
agora. Há uma interação nas duas direções; o percipiente se sente mais integrado,
mais espontâneo, mais expressivo, mais perfeito; sente-se mais unificado, pelo que
percebe no mundo maior unidade.

19. No sentido psicanalítico, afirma Maslow que tudo o que ele descreveu
até agora é "uma fusão do ego, do id, do superego e do ego ideal, do consciente e
do inconsciente, de processos primários e secundários, uma síntese do princípio de
prazer e de realidade, uma regressão sem medo a serviço de uma maturidade
maior, de uma verdadeira integração da pessoa em todos os seus níveis".

58. A EXPERIÊNCIA SUBLIME EM PSICOTERAPIA


Muitos psicoterapeutas modernos estão fazendo da experiência sublime,
através do encontro existencial, o objetivo principal da sua psicoterapia.

Moreno faz do psicodrama uma técnica que, por excelência, visa a vivência
do tele e do encontro existencial, através da prática constante da empatia durante as
sessões.

Desoille desenvolveu na França uma técnica de terapia, a que chama "Reve


Eveillé", isto é, sonho acordado; essa técnica consiste em pedir a uma pessoa
estendida num divã que se imagine flutuando no espaço, podendo subir ou descer à
vontade, através da simbologia tipicamente jungiana; acontece, no fim do
tratamento, uma experiência interior que é descrita sempre do mesmo modo pelos
doentes. Eles se encontram numa claridade muito grande, isenta de nuvens ou de
outros obstáculos e isso lhes evoca algo de superior, de puro, de verdadeiro e
sublime; sentem se em estado de comunhão com o absoluto; sentem-se relaxados,
felizes, em paz (163).
Mais recentemente, Guilhot e Jest aperfeiçoaram a técnica de Desoille com
ajuda da música, chegando a criar uma musicoterapia, em que se procura entre
outros objetivos provocar emoções estéticas (164).

Mário Berta, em Montevidéu (165), combinou o "Rêve Eveillé" com LSD


(ácido lisérgico). Eis a descrição de uma paciente: "No hay limite... sigo subiendo...
más... como si no existiera... me sinto totalmente liberada y serena... el tiempo
corre... la eternidad...; Me quedaba algo por conocer: el infinito".

Frankl (166) desenvolveu uma logoterapia, cuja missão é despertar os


valores espirituais que dêem ao neurótico um novo sentido à vida. Distingue ele três
tipos de valores: de criação, de vivência e de atitudes.

Parece, no entanto, que ainda é Maslow quem melhor descreve os efeitos


terapêuticos da experiência sublime e da emoção estética.

Disse ele que a experiência culminante poderá:

— remover definitivamente certos sintomas neuróticos;

— mudar as vistas de uma pessoa sobre si mesma numa direção mais


saudável;

— mudar a percepção que tenha dos outros, e de suas próprias relações,


em muitos sentidos;

— aumentar a sua criatividade, espontaneidade, expressividade e


originalidade;

— lembrar-se da experiência como algo de muito importante que convirá


repetir;

— aumentar a aptidão da pessoa em acreditar que vale a pena viver, mesmo


se a vida lhe tiver sido contrária, pois foi-lhe demonstrado que beleza, honestidade,
bondade, verdade, são coisas que existem.

Disse Maslow que todas essas hipóteses são perfeitamente controláveis no


terreno puramente experimental. Nisto ele contradiz as objeções de Piaget (167) à
natureza da psicologia intuitiva e existencial.
Em psicologia experimental, medem-se as reações emocionais:
perfeitamente possível registrar as reações respiratórias, circulatórias, musculares,
eletrocutâneas, eletroencefalográficas, por exemplo.

No entanto, é difícil dizer quais dessas reações são tipicamente estéticas,


pois uma reação de aceleração do ritmo cardíaco tanto pode ser efeito do medo, da
alegria, como de uma emoção estética, propriamente dita.

A farmacopsicologia, isto é, o estudo do psiquismo através da administração


de produtos químicos, em organismos sadios ou doentes, tem conseguido provocar
experimentalmente emoções estéticas.

Sob o efeito do LSD (ácido lisérgico) conseguem-se criar estados em que os


sujeitos sentem uma espécie de euforia ligada a percepções mais agudas de cores,
formas e símbolos. Fenômenos tipicamente emocionais foram registrados, tais como
reações motoras e vegetativas.

É de citar-se o livro de Huxiey (168) em que ele descreve as suas


experiências com uma substância também alucígena, a mescalina. Muitos que
passaram pela experiência dizem ter tido uma nítida percepção da verdade na sua
essência.

Ao estudar em pequenos grupos as leis que regem a interação de pessoas,


têm surgido nas mãos dos psicólogos sociais técnicas de dinâmica de grupo, de
psicodrama e sociodrama; e nas dos psicoterapeutas, técnicas de psicoterapia de
grupo.

No decorrer das experiências desses estudiosos são frequentes as emoções


estéticas e as experiências sublimes; há nisso várias razões de ordem teórica que
iremos abordar mais tarde; no entanto, podemos adiantar que vários fatores
contribuem para isso.

1. Tais experiências forçam seus participantes a tratar os problemas na


situação de "aqui e agora", a qual os desvincula de toda e qualquer estrutura
perceptiva passada, ou externa à experiência; o que é, como o mostrou Maslow,
uma condição de percepção concreta.
2. A atitude compreensiva do psicólogo que trabalhe em um grupo
comunica-se aos membros desse grupo, que passam a ter percepções em
profundidade da realidade presente, e das pessoas na sua essência.

3. A reciprocidade neste esforço provoca comunicações profundas,


encontros existenciais, que constituem experiências inesquecíveis e, como veremos
adiante, revivificantes.

4. A atitude não-diretiva favorece a elevação natural do sistema de valores


do grupo dentro de uma dinâmica que constitui a pedra angular da psicoterapia
rogeriana.

5. Há uma libertação intencional (sobretudo no psicodrama) da


espontaneidade. Como mostra Moreno, tornando-se espontâneo, o homem se
li berta das "conservas culturais", despe-se de seus papéis sociais e abandona os
valores que lhes são inerentes (na sua maioria valores D, de Maslow), e que facilita
o encontro das essências do ser, que despertam a emoção estética.

6. Havendo espontaneidade e liberdade, está livre o poder criador que por si


só também provoca ou se acompanha de experiências sublimes.

A experiência sublime muitas vezes ocorre em dinâmica de grupo, numa


fase que sucede à de intensa competição em que foram analisados fenômenos
li gados a valores D de Maslow; dentro de um clima de busca espontânea de maior
aproximação, surge um clímax expresso pelos participantes como uma experiência
sui-generis; as pálavras são as mesmas que as colhidas por Maslow, em seus
inquéritos.

Seguin (169) assinalou fenômenos análogos durante psicoterapia individual;


diz ele que "Ia experiência está Ilena de belleza y pfacer que proceden,
probablemente, de ese caer cada cosa en su lugar de ese aclararse todo en una
harmonia casi musical, de ese vibrar ai unisono dos personas que, juntas y merced
ai amor, han discubierto un nuevo horizonte". É o encontro existencial de Jaspers,
que descrevemos em nosso livro sobre comunicação profunda.

59. NATUREZA DA EXPERIÊNCIA SUBLIME


Quem tem estudado Freud deve, há muito tempo, ao ler estas nossas linhas,
ter-se perguntado até que ponto a emoção estética não seria apenas uma descarga
da tensão sexual desviada do seu objetivo, através da sublimação; a experiência
sublime seria apenas a experiência de uma sublimação do instinto sexual. Afirma
Freud, com efeito, que "...criações, obras de arte, são satisfações imaginativas de
desejos inconscientes..." Mas, a respeito de Leonardo da Vinci, afirmou também que
"...devemos reconhecer que a essência da função artística nos fica,
psicanaliticamente, inacessível...".

O problema é muito parecido com o da vivência romântica que também nos


parece uma experiência sublime cheia de emoção estética; para Freud, essa
emoção provém de "tendências sexuais derivadas do seu objeto". Certas pesquisas
antropológicas tendem, no entanto, a desmentir essa versão. Elwin e Malinowski, por
exemplo, segundo Grant (170), encontrou a forma romântica do amor em povos
primitivos, onde reinava absoluta liberdade sexual; é verdade que essa liberdade
seria periódica e sujeita a certos tabus, que muito bem poderiam provocar a
sublimação e a poesia citadas pelos autores.

Em 1963, muito recentemente por conseguinte, Maslow apresentou ao


Congresso Internacional de Psicologia (171) uma comunicação que talvez seja o
início de uma nova orientação na conceituação dos instintos humanos. Pelo menos
é um incentivo para muitas pesquisas. Afirma Maslow que há possibilidade de
demonstrar que os valores B correspondem na realidade a necessidades instintivas,
especificamente humanas; que a curiosidade, isto é, a procura da verdade, por
exemplo, é um instinto ao mesmo título que a necessidade de vitaminas ou o instinto
sexual. Fornece Maslow um modelo de pesquisa comparativa, baseada em 18
critérios, que permite dizer se uma necessidade é instintóide. Apenas, a título de
exemplo, aqui damos o primeiro critério:

"Insuficiência crónica de satisfação da necessidade produz patologia,


especialmente nos primórdios da vida. (Mas a deficiência transitória pode também
produzir efeitos favoráveis, como, por exemplo, apetite, tolerância à frustração,
habilidade saudável de protelação, autocontrole, etc.)".

Em outras palavras, é bem possível que a emoção estética seja a-expressão


do alívio da tensão criada pela existência de metamotivos, ou das necessidades B,
de Maslow.

60. O PROBLEMA DO "PODER DA SERPENTE"


Ao reler esta nossa explanação ficamos nos perguntando se está se
descrevendo realmente um só fenômeno ou se havia vários fenômenos distintos, ou
ainda se estávamos diante de degraus diferentes do mesmo fenômeno.

O problema principal seria o de saber qual a relação entre manifestações,


tais como, entre outras:

Estado de "graça", provocado pelo sentimento de comunhão com


membros de um grupo, ou com um terapeuta ou "mestre".

Estado de euforia e de "graça", provocado por um pôr de sol, um encontro


amoroso ou um concerto de Bach.

Percepção de luz interior acompanhado ou não de estado de "graça".

Sentimento de "fusão" do eu e do não-eu.

Êxtase; sentimento de percepção do absoluto, da verdade.

A hipótese de sublimação, que decorre dos trabalhos de Freud e de


canalização da energia para fins superiores, usando uma linguagem de Jung, estão
perfeitamente enquadrados dentro do significado simbólico da serpente como
representando a energia. O homem, uma vez consciente dos seus
condicionamentos, canaliza a sua energia nos níveis da esfinge que ele desejar. A
serpente corresponderia assim à libido de Freud, energia de Jung, ao fator S de
Moreno ou a um "princípio" geral de sobrevivência, usando a linguagem de Skinner
ou outros (Quadro VIII).

Dirigir a evolução consistiria então, para o homem, em fixar


progressivamente a energia em níveis superiores dentro da estrutura da esfinge (ver
Fig. 56).

Ao fazê-lo, estaríamos despertando a possibilidade de encontro ou


percepção desta energia sob forma desta luz interior, desta iluminação da qual falam
tanto os santos como os que passaram por esta experiência provocada por
estímulos ou diferentes técnicas em que o condicionamento parece também
preencher um papel que mereceria estudos especiais.

É uma pergunta que deixamos em aberto; é ela diretamente provocada pela


existência do famoso "poder kundalini" da ioga, do poder da serpente (13), do qual
falamos quando analisamos a simbologia da serpente. Este último elemento da
esfinge, a serpente, está nos despertando para um problema fundamental para a
humanidade. Existem realmente estágios posteriores a uma simples evolução
intelectual e espiritual?

A fim de dar ao leitor uma visão de síntese de como se afigura para nós, em
caráter hipotético e genérico, após este estudo, da esfinge, a dinâmica desta
evolução na antiguidade e nos nossos dias, fizemos o Quadro Sinótico XII.

Tudo indica que a esfinge na antiguidade era o símbolo de um sistema


integrado de evolução somatopsiquica dentro de uma concepção molar, homem-
cosmo, concepção que o homem do século XX parece procurar reencontrar. São
comentários que julgamos oportuno fazer à margem desta demonstração da
existência na nossa Civilização Ocidental dos mesmos fenômenos descritos no
Oriente e pelos antigos, fenômenos de manifestação possivelmente energéticos e
simbolizados pela serpente da esfinge, conforme o mostra o quadro a seguir:

Quadro XII
Mais uma vez a esfinge preencheu a sua função de encontro, de
"symballein" apontado por Caruso.

Ao mesmo tempo a esfinge, através da serpente, esta nos colocando diante


de problema correlato: o da maturidade e mais particularmente o da maturidade nas
relações amorosas. É o que vamos examinar a seguir.
CAPÍTULO 10
«Maturidade»

Amor
Já falamos da presença de esfinges agrupadas aos pares, o que, aliado à
simbologia espacial da esquerda e da direita como sendo o pólo masculino e
feminino, nos deixa supor que há também uma intenção dos autores destas esfinges
de provocar meditações e estudos em torno do encontro e do amor homem-mulher.

De outro lado, a possível mensagem evolutiva que descrevemos nos


capítulos anteriores nos provoca uma série de perguntas no que se refere às
relações entre o estado evolutivo em que se encontra cada um dos parceiros e a
qualidade das suas relações amorosas.

O que vai a seguir constitui apenas tema para meditações e traz em si talvez
muito mais perguntas do que respostas ao problema proposto.

Queremos frisar também que as propostas que se seguem são frutos tanto
de experiência e meditações pessoais, como de observações e experiências
cientificas. Não cremos, no entanto, que o conjunto tenha características
inteiramente científicas, pois tivemos de entrar (e era fatal) num terreno mais
filosófico, pois chegamos a fazer perguntas de cunho transcendental, diretamente
li gadas aos problema evolutivos apresentados nos capítulos precedentes.

Em primeiro lugar, o que é maturidade?

61. A MATURIDADE
O dicionário enciclopédico Larousse a define como sendo "Um período da
vida, compreendido entre a juventude e a velhice, e caracterizado por um equilíbrio
entre os ganhos e perdas sofridos pelo indivíduo, tanto do ponto de vista fisiológico,
como psicológico. Estado de pessoas ou coisas que se aproximam do seu completo
desenvolvimento ou do ponto de perfeição, ou que chegaram a ele" (236).

A maturidade, por conseguinte, só existe, caso exista um estado final de


equilíbrio ou um estado final de "perfeição". Ela pressupõe também estádios
anteriores de "maturação".

Assim poder-se-á dizer que uma pessoa é "madura" se ela:

ti ver chegado a este estado final; este se noe apresentou nos capítulos
anteriores como muito distante das nossas possibilidades atuais.

Permanecer neste estado sem regressões a estados anteriores.


Assim, pode-se dizer que uma fruta está madura, pois chegou ao máximo do
seu crescimento; o crescimento físico de plantas, animais e do próprio cornem tem,
em termos de simples bom-senso, fases identificáveis "a priori" como sendo de
maturidade.

Poderemos afirmar a mesma coisa no que se refere a algo tão complexo


como as "relações amorosas"? É o que iremos examinar no próximo parágrafo.

62. O QUE É MATURIDADE NAS RELAÇÕES AMOROSAS?


Quando se trata de relações interpessoais como é o caso em foco, temos de
considerar vários ângulos do mesmo problema.

1) A maturidade para o amor, ou o amor maduro, só existe se existem ou se


podemos definir todas as fases da evolução do amor do homem e se conhecemos a
fase final e ainda se esta fase final existe. Há aqui um problema de filogênese e de
ontogênese das relações amorosas.

• Se conhecemos as primeiras fases, podemos afirmar o mesmo das, ou


da fase última?

• Se existir uma fase final, caso o homem seja apenas um "intermediário


entre o macaco e o homem" como o afirmou um antropologista, inexistiria
também uma maturidade terminal. Se na sua filogênese o homem está
ainda num "porvir", numa hominização teilhardiana ou numa
personalização carusiana, então o que será da maturidade? Talvez o
ponto máximo em que é possível chegar em determinada cultura,
camada social ou civilização?

Piaget, a respeito da evolução da inteligência, faz observar com muita


propriedade que, se se examinasse as crianças gregas da antiguidade com os
nossos testes de nível mental de hoje, elas se situariam no nível de dez anos das
nossas crianças escolarizadas urbanas. Clovis Alvim, ao analisar os desenhos do
homem de Lagoa Santa, diagnosticou uma "idade mental" em torno de seis anos,
isto é, na idade pré-escolar atual. Onde podemos falar de maturidade, se
imaginarmos o homem do futuro em que a inteligência será aliada à "cibernética",
"Informática" e "problemática" com linguagens logísticas pouco imagináveis
atual mente?
Embora num domínio diferente e com a ressalva de que é discutível a
extrapolação da vida intelectual sobre a vida afetiva e mais particularmente amorosa,
podemos perguntar-nos se existe uma maturidade" na vida amorosa, isto é, se existe
um estágio "final".

É o que tentaremos analisar mais adiante. Mas a resposta a esta pergunta


depende de uma segunda consideração preliminar.

2) No caso do amor, a nosso ver a maturidade pode ter dois significados


conforme nos colocamos de um ponto de vista da evolução Individual ou da
evolução de uma relação.

• Em psicologia evolutiva podemos dizer que uma pessoa se torna capaz


de ter relações maduras amorosas com outra pessoa.

• Em psicossociologia evolutiva poderemos dizer que duas pessoas têm


entre si relações amorosas maduras. Isto pressupõe uma das seguintes
alternativas:

• Que cada uma delas chegou a esta capacidade no plano individual e já


se encontram "maduras".

• Ou que uma já estava "madura" e que a outra chegou a este estágio


posteriormente ao encontro. (Sob influência da primeira, por exemplo, ou
depois de ter feito uma psicanálise).

Ou que as duas pessoas evoluíram juntas para o estágio pressupostamente


"final" de "maturidade".

Assim sendo, teremos, antes de definir o que é a gênese de uma relação


madura, de definir quais são os estados evolutivos do indivíduo nas suas relações
amorosas, já que homem e mulher podem se encontrar e ter relações amorosas
cada um num estágio evolutivo diferente, o que aliás permitiria definir o desajuste
amoroso. Há, neste caso, descompasso evolutivo entre os parceiros.

3) Como já o pressentimos na ocasião da primeira consideração, à


dimensão da psicologia individual, na psicologia social, convém acrescentar uma
dimensão cultural e, por conseguinte, antropológica:
• O que chamamos de maturidade será talvez, na realidade, a posição de
uma pessoa ou de um casal no degrau mais adiantado na cultura em que
vive.

• Neste caso o que é maturidade numa cultura pode ser imaturidade em


outra.

• Se acrescentamos a dimensão do tempo, o que é maturidade numa


época da evolução de uma civilização pode ser imaturidade num estágio
mais evoluído.

Em face do que foi exposto até agora, seguindo estas linhas de raciocínio,
convém, agora, tentar analisar e pesquisar a existência de estágios "finais" nas
relações amorosas vistas do ponto de vista psicológico, psicossociológico e
antropológico. Iremos fazê-lo, usando exemplos tomados nestes diferentes níveis de
observação do fenômeno "homem" simbolizados na esfinge.

63. EXISTE ESTÁGIO "FINAL" NA EVOLUÇÃO DAS RELAÇÕES


AMOROSAS?
Em primeiro lugar, convém nos perguntar se existe uma direção evolutiva.
Falando dos diferentes estágios evolutivos, Freud (221), após tê-los resumido e
falando do período de latência, disse textualmente: "...Está aí uma das condições
que permitem ao homem o desenvolvimento em direção a uma civilização mais
elevada..." Mais adiante, fala Freud: "...da irrupção de um movimento amoroso
intenso, de caráter psíquico, com ressonância sobre a inervação das partes genitais;
a unidade da vida erótica normal está, enfim, realizada".

Freud admite, por conseguinte, que:

• A civilização pode caminhar para uma direção mais elevada (grifamos o


termo propositadamente).

• A vida erótica é uma unidade.

Freud nos aponta aí duas direções da pesquisa que nortearão, a título


hipotético, a nossa própria análise.
A idéia de "elevação" preside em grande número de modelos evolutivos,
tanto do indivíduo como da sociedade. Está ela explicitamente descrita em várias
disciplinas, umas filosóficas, outras científicas.

Nos capítulos precedentes sobre a esfinge, a evolução do homem e a


experiência estética, assim como, aliás, grande parte do presente livro, descrevemos
estes modelos evolutivos. Além disso, da biotipologia à psicoterapia, encontramos
constantemente a idéia de hierarquização estrutural.

É como se a "natureza" tivesse inscrito uma hierarquia de valores indo dos


mais instintivos aos intelectuais e espirituais. A subida ou o avanço (no caso dos
animais horizontais) estão escritos na anatomia, e isto nos mínimos detalhes. Por
exemplo, como já vimos, na cabeça, a testa (cérebro intelecto) domina o nariz
(respiração, sentimento, emoção) que domina a boca (digestão, instinto).

No próprio cérebro reencontramos uma hierarquia ascendente: A cortiça


cerebral (intelecto-águia), que domina o hipotálamo (emoções-leão) que domina o
bulbo raquidiano e a medula (instintos e reflexos motores-boi).

Não é por acaso que existe uma hierarquia também nos chamados sistemas
de valores próprios da axiologia.

Na teoria dos valores encontramos também uma série de "sistemas de


valores" em que se nota uma "subida".

Segundo Deschoux, Gagley e Bigler, "o universo axiológico comporta, no


sentido de uma profundidade crescente, valores sensíveis, valores vitais, valores
culturais, e valores espirituais" (220).

Vejam a gradação em "subida" ou "profundidade" usada pelos autores.

Este sistema de valores está explicitamente descrito nas descobertas da


psicoterapia no que se refere à evolução amorosa.

Como já vimos, talvez seja Abraham Maslow quem mais estudou a evolução
das relações amorosas, através da psicoterapia, ou por inquéritos feitos em clientes
e estudantes universitários. Já é bastante conhecida a distinção que faz entre:

O "need love" ou amor baseado em necessidades (valores D), e o "being


love" ou amor ao ser (valores B).
A evolução do homem em direção à maturidade no amor se faria em direção
ao B love que corresponde ao mesmo tempo aos valores superiores que ele chama
também de "metamotivos" como: beleza, verdade, bondade, integralidade, liberdade,
etc.... Lembramos que o B love é vivido sobretudo no que ele chama de "Peak-
Experience" ou "experiências privilegiadas" de cume, "experiências culminantes",
que se situariam na metade do caminho da experiência mística.

Esta experiência do "encontro existencial" tem, como já vimos, um valor


psicoterápico enorme. As pessoas que passaram por esta experiência afirmam, em
inquéritos feitos, sentirem-se mais "maduras", preferindo este tipo de relacionamento
amoroso ao "need love".

Seguin também fala (169) do valor terapêutico do "encontro" com o cliente,


que ele descreve como "una espécie de revelación capaz de cambiar la vida de una
manera definitiva".

Para Buber, o amor verdadeiro e "maduro" é um amor "cósmico", em que se


pode ajudar curar, educar, elevar, li berar.

Voltando ainda a Maslow, os seus estudos o levaram a dar "critérios"


bastante objetivos e "operacionais" para reconhecer e diagnosticar o estágio
evolutivo do amor necessidade e do amor ao ser.

64. UM CONCEITO DINÂMICO E ENERGÉTICO DA MATURAÇÃO DAS


RELAÇÕES AMOROSAS
Foi Jung que propôs um conceito "energético" no que se refere ao amor.
Podemos gastar energias em atividade sexual, em trabalho profissional, em
meditações filosóficas ou em úlceras duodenais (248).

Se acrescentarmos a este conceito a idéia da subida evolutiva, podemos


propor as seguintes hipóteses, para submetê-las à discussão ou como pontos de
partida para maiores pesquisas.

1) Na evolução das relações amorosas há um processo direcional


ascensional.

2) Pode ela ser representada por uma aspirai (ver Fig. 56).
3) Nesta aspirai há estágios cujo ponto terminal é discutido, pois abrange
aspectos eventualmente parapsicológicos ou místicos, ou cósmicos, conforme as
crenças ou posições filosóficas. É mais prudente, por conseguinte, falar de
maturação e não de "maturidade".

4) Aceitando a hipótese da evolução de uma fase instintiva até uma fase em


que são integrados valores espirituais, poderíamos propor o seguinte modelo teórico:

Intelecto (Espirito) (Águia)

Energia
Emoção (Leão)

Instinto (Boi) (ver Fig. 57)

5) No amor, a energia pode ser concentrada em atividades instintivas,


emotivas, espirituais ou distribuída equitativamente entre duas ou três destas
funções.

6) A evolução tende a levar o homem a concentrar a sua energia na direção


de maior amor espiritual?

7) A relação amorosa entre dois parceiros pode evoluir para maior


espiritualidade que inclui o encontro profundo existencial. Seria interessante analisar
o que é este encontro; qual a parte de transferência e projeção e qual a parte de
atração energética direta. A experiência da "ioga sexual" em que os parceiros ficam
na posição de loto, em união coital mas sem praticar a fricção coital, esperando a
energia "subir" nas esferas superiores do sistema nervoso, se prestaria a muitas
análises e estudos sobre este assunto de maturidade no amor (271).

8) A relação amorosa entre os níveis evolutivos de dois par ceiros tem várias
alternativas teóricas de conjugação, baseadas em modelo sociométrico. É o que
vamos agora descrever.

65. A ESFINGE NA SOCIOMETRIA DAS RELAÇÕES AMOROSAS


Como já o vimos, existem esfinges agrupadas aos pares, em geral uma na
frente da outra. Podemos imaginar que os seus autores quiseram mostrar que as
relações humanas são, na realidade, relações interestruturais. A título de hipótese
inverificável, vamos tentar reconstituir o que talvez tenha sido a intenção dos seus
autores.

Se colocarmos as duas estruturas da esfinge uma em frente a outra, e


procurarmos as relações teóricas possíveis entre elas, teremos, teoricamente,
dezenove relações possíveis, tal como o mostra o esquema seguinte.

ASPECTO PSICOSSOCIOLÓGICO
SOCIOMETRIA DAS RELAÇÕES AMOROSAS

Este modelo tem aplicações bastante interessantes no que se refere às


Podemos ter relações recíprocas positivas no plano do instinto, no plano do
sentimento ou no plano do intelecto.

Existe efetivamente um tipo de relação no nível 1 (boi), em que predomina o


aspecto instintivo e sexual.

Outro tipo de relações se dá no plano emocional. É o "amor ternura"


sentimental, ou a paixão (nível 2, leão).

Também existem casais, nós o sabemos, cujo encontro predileto se faz no


nível da mente, no nível dos valores intelectuais e espirituais (nível 3, águia).
Existem casais que têm encontros amorosos apenas num destes planos, e
outros que harmonizam num plano ou no outro conforme a situação, o momento e as
pressões em Jogo.

Há também os que têm experiência do encontro nos três planos ao mesmo


tempo, ou pelo menos em dois deles: espiritual e emocional ou emocional e sexual
ou ainda sexual e intelectual.

66. OS DESENCONTROS DE NÍVEL DE MATURAÇÃO

Os desencontros amorosos, as desarmonias, parecem ter também a sua


explicação neste modelo. Um dos parceiros encontrando-se num dos planos e o
outro no outro plano, surge o desencontro. Isto é muito frequente. Por exemplo, o
homem quer apenas uma descarga sexual no nível do boi, e a mulher quer dar e
receber ternura ou ainda se encontrar num plano espiritual. Tais desencontros
podem ser:

ocasionais, dependendo do estado momentâneo em níveis diferentes: A


mulher quer ir para a cama, por exemplo, e o homem quer dar um passeio ao luar
( mulher no nível 1 e homem no nível 2);

constantes: neste caso se trata de duas pessoas que se encontram em


níveis de maturação diferentes. O des nível pode-se dar, teoricamente, do seguinte
modo:

1. A mulher no nível 1 e o homem no nível 2


2. A mulher no nível 1 e o homem no nível 3
3. A mulher no nível 2 e o homem no nível 1
4. A mulher no nível 2 e o homem no nível 3
5. A mulher no nível 3 e o homem no nível 1
6. A mulher no nível 3 e o homem no nível 2

Também podemos aventar a hipótese teórica de encontros parcialmente


desarmônicos:

1. A mulher no plano 1 e 2 e o homem no plano 2 e 3


2. A mulher no plano 2 e 3 e o homem no plano 1 e 2
3. A mulher no plano 1 e 2 e o homem no plano 1 e 3
4. A mulher no plano 2 e 3 e o homem no plano 1 e 3
5. A mulher no plano 1 e 3 e o homem no plano 2 e 3
6. A mulher no plano 1 e 3 e o homem no plano 1 e 2
Interessante seria um estudo experimental destas tipologias de relações
amorosas, com instrumentos de medida bastante acurados.

Podemos citar, a este respeito, por analogia, uma tentativa neste sentido,
com a tipologia ternária de Le Senne, por André Le Gall (219).

Se juntarmos os três níveis de encontro sincrônico por um ponto, estaremos


chegando a um resultado bastante curioso:

Mudamos apenas os números:

3, 5, 7: mulher (águia, leão, boi)


2, 4, 8: homem (águia, leão, boi)

1. plano mental
6: plano sentimental
9: plano sexual

Quadro XIV 10: nova unidade resultante da união


sexual 9. O filho.

Acrescentando ao encontro das duas esfinges, nos seus diferentes planos,


três centros de atração (1, 6, 9), intermediários entre o masculino e o feminino,
reconstituímos, nada mais nada menos, do que a árvore sefirótical O número 10
corresponde ao produto da união sexual. Uma nova criação: o filho.

67. PERGUNTAS FUNDAMENTAIS SOBRE AS ORIGENS DA


EVOLUÇÃO DO HOMEM
Assim, tanto a nossa estrutura anatomofisiológica, como a teoria da
"Gestait", e as duas esfinges na árvore sefirática, nos levam a insistir na "unidade" a
que se refere Freud. Nesta unidade que incorpora os aspectos instintivos emocionais
e espirituais, será no entanto que a maturação individual, interindividual e cultural se
faz no sentido da "subida", já assinalada por Freud? Esta "subida" indica o caminho
da maturação, em direção de uma maturidade cuja natureza nos escapa ou nos é
dada por intuição, conforme a nossa experiência ou posição filosófica e metafísica.

Será esta "subida" inscrita como estrutura primária no ADN dos nossos
genes? Ou será ela uma opção, tanto para o indivíduo quanto para a sociedade?
Estará o homem construindo voluntariamente o seu próprio destino e a sua própria
evolução ou será esta inscrita de modo irreversível em alguma parte do nosso ser?

Ou, ainda, haverá em nós alguns fundamentos estruturais inscritos nos


nossos gens, e a partir destas estruturas elementares o homem estará livre de
construir progressivamente a sua própria evolução, para mais paz, harmonia e
elevação espiritual? A esfinge parece a favor desta terceira tese: o homem emerge
do animal, o homem se constrói voluntariamente a partir das suas estruturas
primárias e reflexas. Isto vale, também, para a sua vida amorosa.

Falamos em estruturas. Chegou o momento de analisarmos os aspectos


"estruturalistas" do nosso livro, a começar pela análise da própria estrutura do
mesmo.

É o que iremos tentar, a título de conclusão.


CAPÍTULO 11
Esfinge

Estrutura
68. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS
A medida que íamos reunindo dados e redigindo os primeiros capítulos, ia-
se esboçando a idéia de que realmente estávamos investigando um modelo
estrutural, como ele foi definido pelos estruturalistas (173 — 202). Resta-nos apenas
fazer uma tentativa para provar isto.

Tomamos consciência de que estávamos, no início dos nossos trabalhos, na


mesma situação que Lévi-Strauss descreve quando compara o trabalho do
antropólogo com o de arqueólogos do futuro, vindos de outro planeta e que
procurariam entender uma de nossas bibliotecas, sem nem conhecer o alfabeto, e
que além do mais descobririam nesta biblioteca, além de textos literários, partituras
musicais. Ou ainda, trabalho de um observador que não conhece nada das nossas
cartas de jogo e que observe uma cartomante com seus clientes (202).

Como psicólogo familiarizado com abordagem de conteúdos mentais


fornecidos em situações psicodramáticas e psicoterapia analítica, encontramo-nos
numa situação análoga: a de análise de um sonho em que temos que tentar
reconstituir fragmentos esparsos, significantes diversos e lhes reencontrar o
significado. Outra situação é a de encontrar o "fio de ligação" entre a verbalização e
produção psicodramática obtidas pelo mesmo indivíduo em várias sessões, ou por
indivíduos diferentes durante uma ou várias sessões. Muitas vezes encontram-se
elos de ligação, "feixes de relações", como os chama Lévi-Strauss, tais como:
competição fraterna-competição profissional, simbolismo onírico-comportamento
diário, relações de autoridade-relações com os pais, etc....

Para estabelecer tais relações, temos que penetrar, sobretudo, no caso de


material produzido pelo inconsciente, no código individual e muitas vezes emocional.
Temos que casar provisoriamente com a lógica pessoal do nosso cliente, para
posteriormente usar a nossa lógica racional, visando classificar os fenômenos e
procurar relações entre eles.

É o que fizemos durante os trabalhos que relatamos no presente volume.


Procuramos esquecer da nossa própria estrutura mental, para adotar o modo de
pensar e de se expressar dos antigos, cujos rastros encontramos, entre outros, nas
escolas esotéricas. Tal maneira de proceder nos permitiu, por exemplo, reencontrar
o provável "número" da esfinge, usando a técnica de "redução teosófica", que pode
parecer bastante estranha aos nossos modos ocidentais de tratar os números.

Da mesma forma, adotamos a flexibilidade de manejo dos símbolos, partindo


do pressuposto que um mesmo significante pode ter várias significações, e não um
só como o pensamento "maniqueu" nos acostumou a fazê-lo.

O nosso trabalho poderia ser também comparado ao do psicanalista que, tal


como seu cliente, costuma adotar uma certa atitude mental de "relax", a fim de
melhor "embarcar" nas associações do seu cliente, criando um estado de verdadeira
comunhão" de pensamentos e sentimentos. Só depois da sessão, é que ele poderá
retomar os dados e analisá-los com critérios mais racionais, procurando estabelecer
relações entre os elementos e pesquisar a estrutura que os une.

Tal como Lévi-Strauss o aconselha, depois de colhidos os dados,


procuramos primeiro agrupá-los em classe, pela sua semelhança. Numa segunda
fase, procuramos as ligações existentes entre as classes.

Ao fazer isto, estamos conscientes de que conseguimos apenas abrir uma


clareira. Muitas pesquisas ainda serão necessárias para confirmar estas ligações. As
nossas limitações e talvez deformações perceptivas nos impelem a fazer um apelo a
antropólogos, historiadores, matemáticos, epistemólogos, filósofos, arqueólogos,
teólogos, biólogos, físicos e outros cientistas, para entrarem nesta clareira onde
parece estar depositado o mais antigo modelo cosmológico da humanidade. Tudo
indica que este modelo tem características principais de um modelo estrutural
moderno. É o que tentaremos demonstrar, dentro de nossas limitadas possibilidades
pessoais.

69. ESTRUTURA DA OBRA E ESTRUTURA DA ESFINGE


Temos, por conseguinte, do ponto de vista estruturalista, dois problemas a
resolver:

1) Qual a estrutura da nossa abordagem na pesquisa do, ou dos significados


da esfinge, isto é, como tentamos demonstrar que a esfinge é intencionalmente um
símbolo e um modelo estrutural, psicossomático?

2) Demonstrar que os principais critérios de definição de uma estrutura pelos


estrutural istas modernos aplicam-se à esfinge, o que faz desta e da "árvore
sefirótica" o primeiro modelo estrutural micro e macrocosmológico conhecido da
humanidade.

Iremos abordar sucessivamente estes dois problemas. Como se trata de


análise estrutural do nosso próprio pensamento e método de abordagem e
demonstração da existência de uma estrutura, é de esperar que muitas perguntas
feitas a respeito do segundo problema já serão, em parte, respondidas por ocasião
da análise do primeiro.

Muitos são os leitores que acharão desnecessárias e redundantes estas


demonstrações visto que, possivelmente, o que já foi exposto seria bastante
convincente. Nós estaríamos de acordo com eles, se nos encontrássemos num
terreno firme de dados da nossa cultura e civilização, baseados em observações e
medidas colhidas "in vivo", numa pesquisa de campo dirigida por nós mesmos.

Isto, no caso da esfinge, não se dá. Muito pelo contrário. A todo instante
encontramo-nos no terreno movediço de mitos, em que, como já dissemos, todas as
projeções pessoais são possíveis. Se fizemos, no início desta obra, um pouco de
análise da nossa própria história, é justamente para incluir esta variável subjetiva na
nossa investigação, a fim de evitar que ela entre como mecanismo projetivo. Ao
tentar isto estamos realizando simbolicamente o quarto elemento da esfinge. O
homem que procura se tornar consciente dos seus próprios processos mentais,
emocionais e pulsionais, a fim de controlá-los.

70. RELAÇÕES ENTRE A. ESTRUTURA DO AUTOR E A ESTRUTURA


DA OBRA
Como acabamos de dizer, começamos este livro descrevendo a nossa
própria história, isto é, as principais variáveis das quais estamos conscientes e que
nos levaram a estudar a esfinge. Esta operação corresponderia à que nós
psicólogos chamamos de análise da "contratransferência". Assim, procuramos,
depois de estarmos mais conscientes da nossa própria motivação e da nossa própria
história, afastar, na medida do possível, os nossos sentimentos pessoais ou a nossa
preferência por tal ou qual teoria, e analisar os fatos colhidos.

Qualquer obra precisaria ser analisada dentro do seguinte modelo:

OBRA
FATOS
Há uma interdependência constante entre as estruturas dos fatos, do autor,
da obra e do leitor. A estrutura da obra precisa reproduzir a estrutura dos fatos, o
que pode ser facilitado se a estrutura do autor estiver sintonizada com os fatos.

O leitor, por sua vez, só assimilará a obra se a sua estrutura estiver


relacionada com os fatos e sua critica será mais acurada se conhecer melhor a
estrutura do autor.

O autor, por sua vez, aumentará a qualidade da sua comunicação, se pensar


na estrutura do leitor.

O aspecto mais importante, do ponto de vista cientifico, é a análise critica


dos condicionamentos, que levam o autor a analisar os fatos e a descrevê-los na sua
obra, pois estes condicionamentos são os grandes responsáveis por deformações
perceptivas da realidade

Esta análise poderia ser esquematizada da seguinte forma:

Quadro XV
Uma série de condicionamentos levaram o autor a colher fatos sobre a
esfinge, a analisá-los e colocá-los em correspondência. Desta tentativa de
relacionamento é que nasceu a obra.

De um lado temos Pierre Weil e seus condicionamentos; de outro lado,


temos os fatos colhidos e relacionados entre si, por Pierre Weil. O problema é Pierre
Weil evitar, na análise dos fatos, deixar-se levar pelos seus condicionamentos. Isto é
só parcialmente possível. Se estivesse no nosso lugar um antropólogo ou um
matemático, certamente difeririam o tratamento dos dados e mesmo o relevo dado a
certos aspectos em detrimento de outros. Por exemplo, os "pés deformados" de
Édipo são colocados pelo antropólogo Lévi-Strauss em relação com mitemas de
matança de monstros e pelo teósofo Roso de Luna, com fenômenos de ordem
mística. O primeiro está preocupado com relações incestuosas e conceito de
autoctonia do homem; o segundo vê Édipo como peregrino de pés deformados de
tanto andar à procura da verdade. Com o mesmo rigor que Lévi-Strauss usou para
colocar os seus mite' mas em correspondência, deve ser possível estabelecer uma
relação em torno do tema: procura da verdade. Por exemplo, procurar relações entre
Édipo, esfinges, templo, ritos iniciáticos, etc... .

Em outras palavras, mesmo se os fatos constituem em relação ao autor um


"não-eu" a ser tratado como tal, tanto as fontes de pesquisa dos fatos como o ato de
colocá-los em correspondência são produto de uma decisão em que entram fatores
de condicionamentos pessoais. Pierre Weil não escapou a isto, já que foi como
psicólogo que ele foi atraído pela idéia de que a esfinge poderia ser um símbolo e
modelo psicossomático. Aconteceu, no entretanto, que procuramos evitar deixar-nos
levar por um "psicologismo" exclusivo. Encontramos, por exemplo, as primeiras
aparentes contradições entre a esfinge como símbolo religioso e a esfinge como
símbolo psicossomático, ou a esfinge como símbolo cosmológico, ou matemático ou
psicossomático (microcosmológico). Essas aparentes contradições nos levaram a
procurar colocar os fatos que nós tínhamos em correspondência. Ao fazê-lo,
estávamos (mais uma vez na nossa vida) saindo das fronteiras artificiais da
psicologia.

O objetivo do presente capítulo é justamente o de explicitar melhor as


principais operações de relacionamento que, por enquanto, estavam apenas
subjacentes no nosso texto. Isto nos permitira criticar o nosso próprio trabalho e
apontar as deficiências e lacunas que poderiam ser ulteriormente corrigidos ou
preenchidos por nós mesmos ou outros autores. Estaremos descrevendo, de certa
forma, o "vir a ser" deste trabalho sobre a esfinge ou o que achamos do que ele
deveria ter sido, se não fossem as nossas limitações pessoais. Só uma equipe de
especialistas poderá dar passos adiante.

Seria necessária a colaboração de filólogos para um estudo semântico das


relações entre significados e significantes, no que se refere, por exemplo, às
seguintes palavras e às suas relações entre elas:

- ESFINGE
- KRUB
- CHEFES
- SESHEY
- QUERUBIM

No nosso estudo foi muito fértil o relacionamento entre KRUB e QUERUBIM,


pois nos levou a estabelecer um elo entre esfinges assírias e judeu-cristãs, elo
reforçado pelos textos religiosos e pesquisas arqueológicas.

71. DEFINIÇÃO DO QUE É ESFINGE


Quando tentamos definir o que é esfinge, sentimos muito, também, a
necessidade de colaboração de arqueólogos especializados. Só eles poderiam
estruturar dados, de onde se poderia fazer um tratamento estatístico, calculando a
correlação existente entre os elementos que compõem as esfinges de diversas
civilizações.

Dever-se-ia reunir documentos sobre todas as esfinges conhecidas,


comparar a sua estrutura em função de variáveis, tais como idade, cultura a que
pertence, contingência com outros "mitemas".

De análise deste género, poder-se-ia dar uma base mais sólida para definir o
que é uma "esfinge". A título precário, fornecemos estatísticas baseadas em
amostras de esfinges, que estavam em nosso poder.

A esplêndida iconografia de Dessenne, de mais de trezentas esfinges, nos


foi bastante útil embora restrita a uma definição limitativa, e parando no ano 1.000
aC.
Depois da nossa tentativa de definição do que é esfinge, prócuramos
demonstrar a natureza simbólica da esfinge.

72. NATUREZA SIMBÓLICA DA ESFINGE


Ao analisar e citar alguns autores que procuraram mostrar ou, pelo menos,
citar o aspecto simbólico da esfinge, encontramo-nos diante de interpretações em
aparência contraditórias, a saber:

- A esfinge como símbolo religioso.


- A esfinge como símbolo da estrutura psicossomática do homem
( microcosmo).
- A esfinge como símbolo do macrocosmo e do microcosmo ao mesmo
tempo.

- A esfinge como símbolo evolutivo.


- A esfinge como símbolo ligado ao incesto e à autoctonia (mito de Édipo).
- A esfinge como símbolo da luta do homem para- dominar a sua natureza
animal.
- A esfinge como símbolo extático.

Encontramos, esparsos em vários capítulos, esforços para colocar em


correspondência estas aparentes contradições. Chegamos, aos poucos, a
desenvolver a idéia de que havia inter-relacionamento entre estas várias afirmações.

Estas tentativas de relacionamento poderiam ser agrupadas em duas


grandes categorias:

1. A esfinge como símbolo cosmológico exo e esotérico (as primeiras três


afirmações).

2. A esfinge como símbolo evolutivo (as outras afirmações seguintes).

Vamos mostrar primeiro a estrutura da demonstração do valor simbólico da


esfinge no primeiro sentido.

São dois grandes grupos de confrontações que fizemos:

1) Demonstrar que a esfinge é um símbolo, analisando os significados dos


significantes mitêmicos.
2) Demonstrar que este símbolo está relacionado com modelos
matemáticos, prováveis símbolos de estruturas cosmológicas "Mães" ou que
pretendem ser as famosas estruturas "primárias" tão cobiçadas - por muitos
estruturalistas atuais. Esta segunda demonstração vem reforçar a primeira, pois
mostra-se que, além de ser um símbolo cosmológico, a esfinge é vizinha, ou mesmo
introdutora a outros símbolos, que têm toda a aparência de lhe ser analógicos.

73. A ESFINGE COMO SÍMBOLO COSMOLÓGICO EXO-ESOTÉRICO


Ela o modelo que nos permitirá melhor analisar as diferentes
correspondências encontradas na demonstração da esfinge como símbolo
cosmológico. Temos seis tipos de correspondências. Para cada uma iremos lembrar
as principais relações encontradas. Dispensamos novas citações bibliográficas, pois
já foram dadas por ocasião da redação dos capítulos precedentes.

Animais da Divindades
Esfinge

Microcosmo Macrocosmo
(Homem) (Universos)

Correspondência N° 1. Animais da Esfinge e Microcosmo

- Animais como símbolos psicológicos nos Vedas, Baghavat Gitá, Livro


dos Mortos egípcio, Bardo- Thödol, Bíblia, Zohar.
- Leão: coragem, impulsividade, fogosidade, sentimento, nobreza de alma,
crueldade.
- Boi: instinto, animalidade, trabalho físico, fertilidade.
- Águia: mente, inteligência, elevação, dominação, vida espiritual.
- Serpente: energia, teoria da sublimação da energia (poder kundalini),
forças positivas e negativas da mente.
- Esfinge no seu todo: unidade espírito-corpo; domínio do instinto animal
pelo homem.
Correspondência N° 2. Animais da Esfinge e Divindades

- Animais como símbolos de divindades nos Vedas, Baghavat Gitá, Livro


dos Mortos, Bíblia, Zohar.
- Boi: deusa hindu Kamaduk. Indra. Soma. Deusa egípcia Hathor. São
Lucas. José.
- Leão: Sekmet e Rwty no Egito. Coragem do cristão. São Marcos. Leão
junto à Tora. Davi.
- Águia: Luz divina hindu. Psicopompa. Ave de Vishnou. Júpiter. Zeus. São
João. Moisés. Ascensão de Jesus Cristo. Discos solares alados junto a
templos e divindades.
- Serpente: Vasuki. Ananta. Ouroboros. ísis-Osíris. Moisés e a serpente.
Cristo crucificado. Iluminação mística na Kundalini-Yoga. Deus e a
Serpente no Jardim de Éden.
- Esfinge no seu todo: Origem de Kerub: Rezar. Seschei: Iluminar.
Proximidade da esfinge e querubins de templos, arca da aliança.
Cerimônias iniciáticas. Símbolo de Febo-Apolo, Deus do céu.
Correspondência N° 3. Divindades e Macrocosmo

- Diferentes cosmologias religiosas: bramanistas, budistas, judaicas,


greco-romanas.
- Horus, seus quatro filhos e suas relações com os ciclos solares. Deus do sol .

- lsis-Osíris: Dia e noite.


- Relações entre diferentes divindades maias, astecas e o sol.
- Júpiter e Zeus e o relâmpago.
- As diferentes trindades e a estrutura ternária cósmica, na tradição
esotérica.
- A interpretação cabalista do nome JHVH de Deus e a passagem da
unidade à pluralidade.
- A existência do exoterismo e do esoterismo como correspondência entre
religião e cosmologia.
- Inúmeros confrontos entre a unidade matéria-energia e o princípio divino.
- Discos solares alados de várias culturas junto a templos.
Correspondência N° 4. Macrocosmo e Microcosmo (Homem).

- Schin, Alef, Mem, as "letras-mães" do primeiro ternário da estrutura


sefirótica, dá Schema ou Esquema.
- Definição da metodologia de abordagem do macrocosmo através do
estudo do microcosmo na cabala por Salomão Ibn Gabirol.
- Os sacerdotes apontando para o disco alado e a árvore da vida (o que
está em cima está em baixo).
- Presença em inúmeras escolas esotéricas da tradição: "O microcosmo
reproduz o macrocosmo". Pedra esmeralda de Hermes.
- Confronto, em diferentes escolas esotéricas, dos aspectos unitários,
binários, ternários etc da estrutura do homem e do universo, do átomo
às estrelas, e do seu funcionamento.
- Correspondências astronômicas dos órgãos anatómicos do homem.
- A árvore sefirótica como estrutura "mãe" comum ao micro e macrocosmo.
Correspondência N° 5. Microcosmo e Divindades

- Representação antropomórfica dos deuses em toda iconografia.


- "Façamos o homem à nossa imagem, segundo a nossa semelhança...
Deus criou o homem à sua imagem",
- São João: "Sabemos que moramos n'Ele e que Ele mora em nós".
- Vedas: "Todos os seres são um quarto da sua medida..."
- Representação cabalística das letras de JHVH do nome de . Deus nas
partes do corpo humano.
- Sinal da cruz cristão.
- Trindade em várias religiões e ternário no homem.
- Conceito de unidade teológica e unidade psicossomática do homem na
religião judaica.

Correspondência N° 6. Esfinge e Macrocosmo

- Disco solar alado junto a várias esfinges.


- Correspondência dos animais da esfinge com pontos cardeais.
- Correspondência dos animais da esfinge com planetas e constelações.
- Animais da esfinge e estações do ano.
- Associação no sonho de Ezequiel dos quatro animais com os quatro sóis
dos soistícios e dos equinócios.
- A serpente símbolo de energia cósmica e da unidade do cosmo.
- A águia como intermediária entre o sol e o homem.

74. SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS SOBRE OS MITEMAS


ANIMAIS
Para esta demonstração analógica entre esfinge, divindade, micro e
macrocosmo ser ainda mais convincente, do ponto de vista da metodologia
científica, seria interessante aplicar o presente modelo, isolando as variáveis
"civilização" e "divindade".

Eis alguns exemplos:


Civilização Judeu-Cristã

Serpente Cristo na Cruz


(Serpente enrolada)

Moisés dominando a
serpente
(transformação em Serpente no Gênesis
bastão)

Águia São João

Inteligência
Sol
Civilização Egípcia

Serpente Rã
Isis-Osiris

Serpente nas rods aladas


Uracus na Testa solares

Boi Hator (Morada de


Horus)

Fertilidade Sol

Para cada civilização seria interessante aplicar o nosso modelo, primeiro na


esfinge no seu conjunto, e depois, animal por animal.

Como se pode constatar, há inúmeros índices de inter-relacionamento da


esfinge, das divindades, do micro e macrocosmo.

A esfinge e os seus animais simbolizam ao mesmo tempo divindades e o


micro e macrocosmo. Não há nenhuma contradição nisto, já que as divindades
também simbolizam o micro e macrocosmo. Além disto, segundo as tradições
esotéricas antigas, o homem é um macrocosmo em miniatura, isto é, um
microcosmo.

Assim sendo, a esfinge é também um símbolo da unidade entre Ciência,


Religião, Filosofia e Arte, que, segundo cedas tradições esotéricas, constituem os
quatro lados da base da Grande Pirâmide, que ela "guarda".

Vamos, a seguir, procurar reforçar esta demonstração, resumindo as


correspondências encontradas entre a esfinge e estruturas matemáticas esotéricas.

75. ESFINGE E SÍMBOLOS ARBORIMÓRFICOS E MATEMÁTICOS


ESOTÉRICOS
Em nossa iconografia, assim como em certos textos bíblicos, encontramos a
esfinge associada com outros símbolos. Estes símbolos podem ser classificados em
três grandes categorias: símbolos arbori mórficos e sistemas numerológicos, discos
solares alados. Este último já tem sido tratado na correspondência N° 6 do modelo
precedente.

Entre os sistemas arborimórficos onde encontramos esfinges, ou


combinações homem-animal, podemos citar:

Árvore da vida caldaicas e assírias.


Candelabro de sete velas.
Sete vasos (conjunto fenício).

Entre os sistemas matemáticos onde encontramos esfinges podemos citar:

A pirâmide.
A árvore sefirótica da cabala (Zohar).
O sistema alfabético-numerológico do Sefer Yetzirah da cabala.
O taro dos ciganos.
O sonho de Ezequiel e Daniel.
O Apocalipse de São João.
As duas Tábuas dos Dez Mandamentos.

Assim, podemos colocar em correspondência à esfinge os sistemas e os


símbolos matemáticos esotéricos e os Esfinge arborimórficos

Esfinge

símbolos
Esfinge
matemáticos
arbori mórficos
esotéricos
3

Vamos enumerar a seguir as correspondências encontradas.


Quadro XVI

CORRESPONDÊNCIA N° 1
ESFINGE E SÍMBOLO ARBORIMÓRFICOS

CONJUNTO ESFINGE SÍMBOLOS ARBORIMÓRFICOS

Duas Esfinges junto à Árvore da Duas Esfinges Simétricas de Dois conjuntos simétricos de sete
Vida Assíria. Três elementos galhos, em torno do tronco. Galhos em
forma de Serpente.

Em cima, sete galhos agrupados em


dois conjuntos si métricos de três
galhos.

Homem e Boi junto de sete vasos Dois dos Elementos Esfinge. Sete vasos divididos em dois grupos
fenícios. de Três vasos simétricos em torno de
Um central.

Querubins junto da Árvore da Vida Dois Querubins. Árvore da Vida com a Serpente e Adão
no Éden. e Eva.

Dois Querubins junto do Dois Querubins. Redução Sete Velas por Dois conjuntos
Teosófica de KRUB: 3333. Simétricos de Três velas em torno de
Candelabro de Sete Velas e as
(Quatro vezes Três). Uma Central.
Tábuas do Decálogo.
Quatro Animais (Segundo Três conjuntos de três prateleiras de
Ezequiel e São João) cada Lado do Candelabro e um
conjunto de quatro prateleiras centrais.
Símbolos de quatro grupos
de três tribos de Israel. Dez leis em Duas Tábuas de Cinco
Leis cada.

Boi, Homem e Serpente junto à Um ser Humano, Um ser Dois conjuntos simétricos de três
Árvore da Vida Caldeica. Humano com Chifres, Uma galhos. Sete Galhos. Duas Serpentes
Serpente (Três Elementos). simétricas.

Gilgamesh e Enkidu e Árvore. Dois homens sendo que um Sete galhos agrupados em dois
Homem — boi matando dois conjuntos de ires galhos.
animais. (Dois elementos da
Esfinge).
CORRESPONDÊNCIA N" 2
ESFINGE E SISTEMAS MATEMÁTICOS ESOTÉRICOS

CONJUNTO ESFINGE SISTEMAS MATEMÁTICOS


ESOTÉRICOS
Esfinge junto à Pirâmide de Três elementos (Com à Quatro Ternários tendendo à Unidade
Gizeh Serpente). (Pirâmide).

Tarot com Cinco Esfinges:

1 Uma Esfinge. Número Um de uma Série de Arcanes


Secundários, simbolizando o Absoluto
Esfinge Carta Deus o Pai.
na Criação.

2 Uma Esfinge. Carta número Dois simbolizando a


Esfinge com a Papisa. dualidade da Criação junto de vários
símbolos binários.

3 Duas Esfinges. Carta número Sete Simbolizando a


Bipolaridade.
Esfinge puxando o carro.
Um Ternário composto das Duas Esfinges
guiadas pelo Homem.

4 Uma Esfinge composta Carta Número Dez Simbolizando a


Totalidade.
de Quatro partes.
Esfinge em cima, da Roda da
Um Ternário composto da Esfinge,
Fortuna equilibrando Hermanúbis e Tífon.

Outro Ternário: Duas Cobras em torno


de Um eixo.
5 Quatro Elementos. Carta Número 22 Simbolizando a
Unidade (2 + 2 = 4) Pitágoras. 4 = 1.
Os Quatro Elementos da Esfinge Unidade do Circulo.
em torno do Circulo e Mulher
despida.

Querubins no Sistema Sefirótico Querubim. Um Homem e Segunda Sefira.


da Cabala.6 Três Animais — KRUB: Nona Sefira.
3333 ( Quaternário de
Um conjunto de Três Ternários
Ternários).
Sistema Integrado de Três Ternários
de Três elementos. (Ou um conjunto
de Dois Ternários laterais e de Um
Quaternário central.

Quatro Seres Vivos no Sonho de Um Homem e Três Inúmeras referências numerológicas.


Ezequiel no Apocalipse de São Animais. Seria necessária uma estatística
João. sobre a frequência de cada número
nos textos bíblicos.

Quadro XVII
CORRESPONDÊNCIA N° 3
SÍMBOLOS ARBORIMÓRFICOS
E SISTEMAS MATEMÁTICOS ESOTÉRICOS

SÍMBOLOS ARBORIMORFICOS SISTEMAS MATEMÁTICOS ESOTÉRICOS


Candelabro de Sete Velas: Cabala: a) Sefer Yetzirah Três letras-mãe, Sete letras duplas,
22 Prateiras. Doze letras simples; Total: 22 letras.
10 Maçãs. b) Árvore Sefirática:22 Canais de vinte e duas letras
7 Luminários agrupados em dois Hebraicas.
ternários. 10 Sefiras.
Árvores da Vida Assírias
7 Sefiras agrupadas em dois ternários verticais.
Caldeicas, Hindus:.
c) Tarot:
Sete galhos agrupados em dois
22 Arcanos Maiores.
ternários.
Esfinges aparecendo nos Números Um, Dois, Sete, Des e
Vinte e Dois.
As Dez primeiras cartas constituem um conjunto,
correspondendo às Dez Sefiras
Cruz Cristã Apocalipse de São João
Uma cruz, Dois Binários num Livro selado com Sete lacrados. Carneiro com Sete Chifres,
quaternário. Sete Olhos, que são os Sete Espíritos de Deus.
Ternário superior. Sete Anjos.
Quatro Seres Vivos.
Vinte e Quatro Anciões.
Um animal com Dez chifres e Sete cabeças.
Um animal com Dois chifres. "Calcule o número do Animal...
pois é um número de Homem, e seu número é 666".
Cruz Anseatica Pirâmide
Unidade de Círculo, Binário e Quatro (Dois Binários) Ternários
Ternário.
Unidos pela ponta.

Quadro XVIII

O confronto que fizemos entre a esfinge, símbolos arborimórficos e sistemas


matemáticos esotéricos, nos leva a pensar que:

- A esfinge é para os símbolos arborimórficos o que os símbolos


arborimórficos são para os sistemas matemáticos esotéricos.

- A esfinge é para os sistemas matemáticos esotéricos o que os símbolos


arborimórficos são para os sistemas matemáticos esotéricos.

Entre a esfinge e os dois outros sistemas simbólicos estudados, parece


haver uma analogia em torno das idéias de unidade, binário, ternário e quaternário.
Já fizemos várias vezes alusão à existência de esfinges de dois, três e
quatro elementos.

76. OUTRAS PESQUISAS NECESSÁRIAS

Se fosse possível, seria interessante realizar estudos pormenorizados,


procurando analogias dentro de cada civilização, usando o modelo aqui proposto.
Por exemplo:
Civilização Judaica

Querubim

Candelabro de
sete velas Árvore sefirótica

Civilização cristã

Quatro seres vivos do


Apocalipse (Querubim)

Sistema numerológico
do Apocalipse

Civilização egípcia
Esfinge

Cruz anseática Aspectos namerológicos


da pirâmide

Trabalhos estatísticos se revelariam necessários, se possíveis, para apurar a


frequência de cada número (por exemplo no Apocalipse) e sua correspondência com
a numerologia própria à, ou às esfinges de cada civilização.

Com efeito, colocar em correspondência sistemas numerológicos a fim de


encontrar similitudes é uma operação bastante aleatória, já que a maioria dos
números são compostos ou múltiplos de um, dois ou três.
Em nosso trabalho, por estas razões, consideramos importante a
demonstração de uma intencionalidade nesta numerologia. Isto diminuiria esta
possibilidade de influência acasual.

Procuramos mostrar, neste livro, que a esfinge constituía um modelo


estrutural cosmológico. Vamos, a seguir, tentar demonstrar que esta estrutura —
significado do significante esfinge — é, na realidade, um condensado das principais
regras estruturais, tal como ela é anunciada pelos estruturalistas modernos e nos
leva a modelos estruturais mais explícitos.

77. A ESFINGE COMO SÍMBOLO DE MODELO ESTRUTURAL


"PRIMÁRIO" OU "MÃE"
Quando lemos a respeito da procura pelos Matemáticos Burbakis e
descoberta de "três estruturas-mães", lembramo-nos imediatamente das "três letras-
mães" do Sefer Yetzirah. Embora a analogia se refira apenas à intenção de definir
estruturas primárias e não à analogia entre modelos matemáticos, temos de
reconhecer que havia ali índice de algo importante a indagar: haverá uma analogia
entre o que a esfinge e os sistemas matemático-esotéricos a ela ligados procuravam
definir e, de outro lado, as estruturas-mães e as leis estruturais procuradas pelos
estruturalistas modernos?

Se retomarmos o plano do presente livro, plano nascido espontaneamente


como já dissemos, por uma espécie de associação Livre, partida do material
encontrado, ao descrever a simbologia da esfinge, e compararmos este plano
(unidade, bipolaridade, etc....) aos critérios adotados pelos estruturalistas modernos,
encontraremos analogias bastante eloquentes.

Vamos apontá-las a seguir.

1) A noção de "esquema", e o primeiro "modelo" cosmológico da


humanidade.

É justamente na cabala hebraica, nos Sefiroths e no Sefer Yetzirah, que


contém querubins, que encontramos as "três letras-mães", Alef, Schin e Mem, que,
em uma das suas combinações, dão a palavra SCHEMA, ou esquema eu português.
Isto é, a esfinge nos encaminha para o primeiro "modelo" conhecido na humanidade,
e além do mais um modelo cosmológico ou "esquema".
A idéia de que o mesmo modelo possa explicar a gênese, o funcionamento e
a interligação dos elementos da microestrutura e da macroestrutura do cosmo, e que
este modelo pretende justamente ser a árvore sefirótica e o taro foi bastante
demonstrado no presente livro para que não seja necessário voltar a ela.

Vimos também que a esfinge parece, além de nos levar a tais modelos,
simbolizar na sua própria estrutura os princípios essenciais que definem uma
estrutura ou modelo que a concretiza.

2) A Noção de Totalidade ou Unidade.

A esfinge constitui um símbolo de unidade ou totalidade dos elementos que


a compõem. Esta noção de totalidade também é expressa de várias formas nos
símbolos ou estruturas matemáticas a que a esfinge nos leva.

Embora formada de partes animais ou humanas, de formas definidas e


semanticamente distintas, no conjunto esfinge não é uma simples soma das suas
partes. Constitui, na realidade, um novo ser, chamado esfinge, com significado
simbólico próprio.

3) A relação entre os elementos e a auto-regulação

Foi também demonstrada a intencionalidade de estabelecer relações


dialéticas de oposição entre os elementos da esfinge (bipolaridade) havendo uma
terceira força equilibradora que assegura o equilíbrio homeostático do sistema
(ternário).

Os ternários se interpenetram de tal modo que cada elemento de uma


subestrutura tem o seu representante na outra, havendo canais de comunicação
entre as partes. Existe uma hierarquia das partes de tal modo que a parte superior
possa controlar a parte inferior.

4) A Noção de Transformação e Ritmo Evolutivo.

Este controle progressivo da parte inferior pela parte superior, mais


particularmente dos "animais" pelo homem (Mitos de Édipo e Enkidu), através do uso
consciente da energia (serpente e poder kundalini), faz com que o sistema seja ao
mesmo tempo estruturado e estruturante, tendendo a uma possível "harmonização"
progressiva do microcosmo homem, graças a uma desalienação, um
descondicionamento progressivo, fruto do constante movimento tese, antítese,
síntese. Assim, a esfinge é, também, um modelo evolutivo.

Esta evolução obedeceria a um ritmo: unidade — pluralidade — volta à


unidade (1-10 da árvore sefirótica).

5) As Relações entre as Estruturas

As esfinges muitas vezes são agrupadas aos pares, simbolizando assim as


relações interestruturais ou, no caso do homem, "sociométricas".

Além disto, a relação da estrutura do microcosmo com o macrocosmo é


simbolizada pelo fato de que a esfinge está virada do lado do sol nascente.

Se levarmos ainda em consideração os modelos estruturais colaterais a


certas esfinges, poderíamos lembrar as relações entre a Filosofia, a Ciência, a Arte e
a Religião, unidos na grande pirâmide, ou ainda os "vinte e dois canais" que unem
as dez estruturas primárias, simbolizadas nos sefirots.

78. ESFINGE E COMUNICAÇÃO

A idéia da esfinge como meio de comunicação aparece numa descoberta


bastante curiosa feita por Hassan (304) em pesquisas arqueológicas em torno do
templo da esfinge de Giseh. Hassan encontrou várias tabuletas em que a esfinge ou
horus sob forma de águia se encontram junto com o desenho de uma ou várias
orelhas (Fig. 59).

Hassan afirma que para certos autores trata-se de tabuletas destinadas a


reforçar os pedidos feitos por fiéis do deus; as orelhas seriam então as orelhas do
deus. O costume era de o pedido ser feito na orelha do deus e a chamada "tabuleta
à orelha" enterrada para que o pedido fosse transmitido diretamente e com maior
facilidade ao deus. No início das descobertas se pensava que eram oferendas de
surdos para a esfinge os curar.

Ao ler o Livro de Mayassis, surgiu na nossa mente uma outra interpretação


destas "tabuletas à orelha". O autor (306) analisa textos sagrados sobre cerimónias
de iniciação na pré-história e proto-história, o significado dado à orelha e em geral à
palavra "ouvir e escutar".
Cita inúmeros textos que demonstram que a orelha era, na antiguidade,
símbolo da iniciação através da transmissão de tradição oral; era símbolo de
inteligência, sabedoria e iniciação. Existia a expressão "ter orelhas largas", para
significar o fato de ter sido iniciado.

Assim, orelha é símbolo de segredo iniciático. Ainda hoje temos uma


expressão popular: "falar ao pé do ouvido", que significa confiar um segredo a
alguém.

De qualquer forma, aceitando a tese da comunicação Deus-homem ou


homem-Deus, a interpretação de orelha por todos os autores que analisaram as
"tabuletas à orelha" é a de um símbolo da comunicação.

Eis alguns dos trechos colhidos por Mayassis:

" O filho de Eridu com orelhas largas" (Marduk iniciado).

O deus Nabü é "largo de orelha".

O deus Ea-Enki dotou os soberanos de Lagash e Uruk de "orelhas" de


inteligência.

Assurbanipal se vangloria de que: "Nabu e Tasmêtum deram (a ele) orelhas


largas: A sabedoria universal, eles a comunicaram à sua inteligência".

E Mayassis lembra ainda a prescrição egípcia: "Eu sou aquele cujo olho vê e
cujas orelhas ouvem".

Tudo indica, por conseguinte, que o símbolo da comunicação iniciática era a


orelha, e este símbolo se encontra associado à esfinge.

Adaptando o modelo clássico de uma comunicação, tirado da teoria da


informação, encontrado entre outros no tratado de Abraham Moles, podemos
representar o mecanismo da comunicação dos antigos para os "modernos" da
seguinte forma (250).
Quadro XIX

O que fizemos neste livro foi justamente uma tentativa de descodificação das
mensagens relacionadas à esfinge e consignadas em monumentos, mitos, ritos,
textos sagrados e jogos adivinhatórios.

Acontece que, em matéria de codificação, os antigos eram verdadeiros


mestres. Comparando as mensagens dos antigos a um castelo da Idade Média, em
que, quando se demole um muro, a gente encontra um outro, Kolpaktchy, o tradutor
para o francês do Livro dos Mortos Egípcio, disse que, uma vez conquistado o
cinturão externo, os hieróglifos, encontramo-nos diante de um segundo muro, ainda
mais temível: o da decifração esotérica (251).

A nossa decifração esotérica da palavra hebraica KRUB foi um exemplo


deste tipo de trabalho, para o qual ainda tomamos a precaução de demonstrar
matematicamente a probabilidade extremamente elevada de haver intencionalidade
nesta codificação numerológica.

Neste sentido de decifragem, o nosso livro é apenas um estudo exploratório.


Como acabamos de demonstrar, inúmeros controles ainda se revelam necessários.
Indicamos vários estudos a serem feitos.
Feitas estas ressalvas, tudo leva a crer que a esfinge é realmente um
símbolo ligado a modelos cosmológicos. Este símbolo constitui, com muita
probabilidade, um modelo estrutural do homem, tomado como microcosmo nas suas
relações com o macrocosmo. Neste sentido seria o modelo mais antigo nas ciências
culturais, além de nos apontar a árvore sefirótica e seus congêneres orientais como
os modelos cosmológicos mais antigos da humanidade. Mesmo se ainda subsistirem
dúvidas a respeito da primeira hipótese, permanece evidente a sua função de
"guardião" introdutor a estes modelos.

Além disto, tudo indica ser ela uma mensagem para as gerações futuras: a
da possível existência de estágios evolutivos desconhecidos em que o homem, ao
assumir a direção e domínio consciente dos seus "animais" e partindo deles, pode
chegar, na sua ontogênese, a uma personalização progressiva e, na sua filogênese,
a uma nova fase das relações entre os homens, e da maturação no amor.

A descrição da "experiência sublime" entre ocidentais nos permite ter uma


antevisão desta nova fase.

É uma das opções que o homem "moderno" tem nas suas mãos.

Esta, a provável mensagem que os antigos moldaram na esfinge, talvez para


evitar um novo Apocalipse para as gerações futuras.

A esfinge contém, tudo o indica, a mensagem do "vir a ser" do homem, "vir a


ser" que parece estar nas suas próprias mãos.
CONCLUSÃO
Esfinge e Sobrevivência da Humanidade
Na introdução deste livro, eu me dirigi pessoalmente ao leitor, adotando a
primeira pessoa do singular. Depois de uma análise mais impessoal em que
empreguei o "nós", volto a falar-lhe diretamente.

Faço-o movido por várias razões, em que a esfinge tem participação


ponderável.

Em primeiro lugar atendo a inúmeras criticas que me foram feitas por leitores
de livros meus. Dizem eles que sempre escrevo em tom impessoal de cientista frio e
que falta calor humano na minha redação.

Durante muito tempo recusei tal critica, convencido de que metodologia


cientifica exigia isenção de ânimo e que só se podia fazer ciência experimental
colocando o coração de lado.

Continuo achando que motivações de cunho emocional podem levar o


pesquisador a destorcer involuntariamente as suas conclusões.

Longo treino é necessário para evitar tais interferências.

No entanto, ao fazer isto podemo-nos perguntar até que ponto a ciência


experimental não seria responsável pela criação de um novo mito que constituiria um
novo ideal, do qual a nossa juventude se está impregnando cada vez mais. Refiro-
me à da imagem do cientista e da ciência sem afetividade e sem espirito. O próprio
psicólogo é vítima desta imagem, como o mostramos em recente artigo.

É verdade que a ciência experimental é o grande fator de evolução material


dos dois últimos séculos, como o mostra mais particularmente Fourastié numa
"Lettre ouverte à quatre milliards d'hommes" e publicada a tempo de ser citada nesta
conclusão, mas é também este livro um dos apelos mais patéticos feitos até agora
no mundo, para salvaguardar a humanidade de um desastre.

Ao ler o livro de Fourastié, muito me lembrei da esfinge. Com efeito mostra o


autor como a humanidade se distingue do mundo animal. Acima do "pareocéfalo",
desenvolveu-se um "neocéfalo" propriamente humano. Mas este "neocéfalo" ainda
está em plena evolução.

Fourastié pergunta a si mesmo se a ciência experimental não se


desenvolveu cedo demais, já que o "neocéfalo está quase que inteiramente
dominado pelo "paleocéfalo". Isto quer dizer que a ciência experimental, produto do
"neocéfalo", está, na realidade, a serviço do "paleocéfalo".

Em linguagem da esfinge, poder-se-ia dizer que a águia produziu a ciência


experimental, mas que o boi e o leão são mais fortes, sendo que o homem
propriamente dito, o ego consciente, não tem força suficiente para dominar os seus
três animais, e é que ele os conhece bem.

O resultado de tal estado de coisas é aquele a que assistimos diariamente


em todo o mundo: a metodologia científica a serviço da agressão e da destruição de
indivíduos e coletividades.

A esfinge constitui, na realidade, o equivalente simbólico desta Carta Aberta


a Quatro Bilhões de Homens.

No presente livro mostrei que na realidade inexiste o enigma para quem está
acostumado a ler os símbolos e que se há um mito, este é justamente o próprio
enigma.

Parece que o desequilíbrio do século XX apontado por numerosos autores,


como Huxley, Russel, A. Carrel, Fourastié, Teilharde Chardin, é justamente o que os
antigos queriam evitar, mantendo os seus segredos sobre a estrutura do universo e
comunicando-os "ao pé do ouvido" nas cerimónias iniciáticas. Ao mesmo tempo que
simbolizava claramente a estrutura e o "vir a ser" do homem, a esfinge era, tudo o
indica, uma guardiã simbólica dos segredos iniciáticos; estes eram comunicados,
juntamente com uma prudente modelagem do comportamento no sentido de um
domínio dos condicionamentos pelo homem e de um equilíbrio entre a Ciência, a
Filosofia, a Arte e a Religião, equilíbrio simbolizado pela base da pirâmide de Giseh,
guardada pela esfinge; é o que permitiu a humanidade sobreviver e se desenvolver,
durante um número ignorado de milênios.

Seria redundante e desnecessário mais um resumo do conteúdo do presente


volume. O último capítulo atende, em grande parte, a esta necessidade.

O que eu queria deixar como conclusão é justamente o que me parece o


mais importante para nossa civilização científica e industrial: a necessidade, diante
do desmoronamento do equilíbrio a que me referi, de uma nova ética científica que
assegure aos nossos filhos que a Ciência jamais será empregada para destruir a
vida. Isto equivale a reforçar, nos homens de ciência, os seus valores humanistas.
A você, leitor, posso dizer que este livro constitui para minha vida um novo
marco. Sinto que há necessidade para todos nós de constatar realisticamente que a
nossa vida instintiva existe e se traduz pelo nosso narcisismo que carregaremos até
a nossa morte. Mas que também está em nossas mãos colocar este narcisismo a
serviço do desenvolvimento da consciência humana.

Tornar o homem cada vez mais consciente é contribuir para a realização


progressiva do seu "vir a ser", tão bem simbolizado pela esfinge.
ICONOGRAFIA
Fig. 1
Fig. 2

I
Fig. 3
Fig. 4
Fig. 5
Fig. 6
reg. 7
Fig. 8
Fig. 9
Fig. 10
Fig. I I
Fig. 12
Fig. 13
Fig. 14
Fig. 15
Fig. I6
Fig. 17
Fig. 18
Fig. 19
Fig. 20
Fig. 21
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Fig. 24
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'12\
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Fig. 5$
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Fig. 59
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Fig. 62
Fig. 63
Fig. 64
Fig. 65
Fig. 66
Fig. 67
Fig. 68
Fig. 69
Fig. 70
BIBLIOGRAFIA
NOTA:

1. Em virtude de heterogeneidade das fontes bibliográficas, resolvemos dividir a


bibliografia em vários agrupamentos.

2. O asterisco se refere a livros não consultados por nós, mas que nos parece
apresentar algum interesse para o assunto.

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