Marcadores Conversacionais
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Resumo
Partindo da análise de áudio e transcrição do discurso proferido por um falante culto da
cidade de São Paulo, o presente artigo tem como objetivo verificar elementos conhecidos
na Análise Conversacional como Marcadores Conversacionais. O estudo procura
identificar e definir as unidades de conversação encontradas no corpus e demonstrar que,
para uma interação oral, são necessários princípios comunicativos em detrimento de
princípios meramente sintáticos. É discutido também o papel dos marcadores segundo
diversos autores, focalizando nas funções interacional e textual.
Palavras-chave: análise do discurso oral, função interacional, função textual, marcador
conversacional
Como base para as considerações do artigo foi utilizada a alocução de uma mulher
de aproximadamente trinta anos, paulistana, professora de História do Ensino
Fundamental. A gravação de aproximadamente trinta minutos tem como objeto uma aula
datada de nove de dezembro de 1976, cujo tema é a periodização da História, e foi
transcrita para fins observacionais. O texto evidencia que os elementos de caráter
cognitivo-informativo são permeados por outros que ficam à margem do assunto,
desnecessários para o entendimento do contexto: os denominados Marcadores
Conversacionais (MC).
1
Graduanda em Letras pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e em Jornalismo pela
Faculdade Cásper Líbero.
caracterizando total independência sintática. É o caso dos marcadores do tipo certo? (linha
4), éh (linha 28) ah:: (linha 99) e né? (linha 132). Os não lexicalizados, como ahn:: (linha
49), hein... (linha 134) e hum hum (linha 159), entremeiam a estrutura oracional sem
integrá-la sintaticamente.
Existe, ainda, um grupo de elementos que:
mantém, em menor ou maior grau, parcela do seu sentido. Com efeito, eles mantêm
parcialmente o sentido e a função sintática originais, assumindo, por acréscimo, uma
função pragmática2 (URBANO, 2003: 101).
Tomemos como exemplo a palavra assim (linha 77). Ela liga-se sintaticamente a
“bem rudimentar” e sinaliza, ao mesmo tempo, a hesitação do falante, apontada também
pelo alongamento e repetição da palavra “bem”: “um modo assim bem:::: bem
rudimentar... bem:::... bem tosco mesmo...”.
Visto unicamente sob o aspecto pragmático, assim preenche uma pausa referente a
incerteza, e caso o vocábulo não tivesse sido empregado, a pausa se converteria em um
silêncio. Como preenchimento de pausa, assim pode ser considerado como uma ruptura de
informação, proporcionando momentos facilitadores para a premeditação e o preparo do
texto e oferecendo tempo para o falante se situar. A palavra assim assume então, além de
classe de “advérbio de frase”, a de “advérbio de enunciação”: “não servem para tornar
mais explícitas as ‘pequenas cenas’ mas veiculam opiniões, atitudes que o locutor assume a
respeito do fato de falas delas” (ILARI & GERALDI, 1985: 39).
A maior parte dos Marcadores Conversacionais encontrados no texto expõe a
necessidade de apoio para a progressão conversacional, ou a busca de aprovação
discursiva. É o caso dos marcadores mencionados acima como mediais de sustentação,
notadamente o certo? e o entende?, que juntos aparecem 76 vezes em um discurso de
aproximadamente meia hora.
Tal recorrência justifica-se no fato de que o interlocutor está dando uma aula a
alunos do Ensino Médio; logo, a atenção dos mesmos está sujeita a ser facilmente perdida
pela distração característica da faixa etária e da própria situação de sala de aula. Assim, a
professora de História estará sempre buscando alertar e exigir a atenção e compreensão de
seus alunos.
2
Por “pragmático”, entende-se “a relação entre a linguagem e seus usuários”.
4. Considerações finais
A abordagem aqui apresentada não pretende ser completa, mas procura elaborar e
entender elementos cruciais para uma visão detalhada acerca das especificidades da fala e
para a medida de sua naturalidade. É preciso que a linguagem seja vista como artifício de
interação, de correlação e de construção de identidades.
A fim de suscitar e manter uma conversação, temos como preceito que os
interlocutores devem partilhar de noções comuns. São estas a competência lingüística, a
envoltura cultural e o domínio das situações sociais de informação; relacionados à
progressão do texto oral, através do uso de marcadores que contribuem para tal,
observando a conversação como um meio de aquisição de uma finalidade interacional a ser
atingida pelos interlocutores.
A partir da análise feita, é possível perceber a importância dos marcadores para a
espontaneidade e continuidade de uma conversação, tornando-a dinâmica e eficaz. Os MCs
ainda proporcionam um campo de pesquisa vasto e promissor, sobretudo se atentarmos
para a necessidade de um enquadramento mais preciso no contexto da Gramática
Funcional.
Referências Bibliográficas
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