TCC Upe
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PRODUÇÃO DE COMBUSTÍVEIS
UTILIZANDO PNEUS DESCARTADOS
por
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Agradeço primeiramente àquEle que é poderoso para fazer infinitamente mais do que
tudo quanto pedimos ou pensamos, a Esse seja expressa minha gratidão (Ef 3:20,21).
À minha família pelo apoio incondicional, por me ensinar honradez e por acreditar em
Ao professor Dr. Sérgio Peres, meu orientador, por tornar possível este trabalho e pelos
seus valores admiráveis, em especial sua inclinação em ajudar até mesmo estranhos.
amigos Humberto Santos, Saulo Lagioia e Adalberto Freire, por todo o auxílio e conselhos de
grande valor.
Aos amigos de longe, por serem pontes com o passado, em especial os queridos Bernt
Olav e Gjørol Nyland, que me deram uma nova visão de mundo e hoje estão em terras
longínquas.
Aos amigos que se despediram prematuramente e já não podem mais nos dar o prazer de
sua companhia.
Junho/2016
O presente trabalho apresenta uma forma de reaproveitamento de pneus com vistas a aliviar a
sobrecarga ambiental gerada pelo descarte desses resíduos, problema intensificado pelo
crescente número de automóveis tanto no Brasil quanto ao redor do mundo. Propõe como uma
das soluções a decomposição térmica de pneus em reator de pirólise para obtenção de
combustíveis, através da qual se obtém dupla vantagem: gerenciamento de resíduos e geração
de energia. Para desenvolvimento da pesquisa, foi construído um reator de pirólise no
Laboratório de Combustíveis e Energia da Universidade de Pernambuco (POLICOM) para
aplicação prática da solução proposta. Pneus usados de motocicletas e caminhões foram obtidos
em oficinas e pirolisados em laboratório. O óleo obtido como produto foi analisado quanto às
suas características combustíveis. Os resultados demonstraram o potencial de geração de
energia que pode ser conseguido através desse processo. Embora alguns parâmetros, como
poder calorífico e teor de umidade, tenham ficado fora das especificações requeridas para o
óleo diesel, por exemplo, a caracterização energética dos produtos resultantes (óleo e carvão)
sugerem sua aplicação como um combustível alternativo.
LISTA DE FIGURAS
Termo Descrição
PC Poder Calorífico
Simbologia Descrição
% Percentual
” Polegada
C Carbono
Ca Cálcio
cal caloria
Cl Cloro
cm Centímetro
CP Centi-poise
Cr Cromo
cSt Centistokes
g Grama
H Hidrogênio
h Hora
Hz Hertz
Kcal Kilocaloria
kg Kilograma
kJ Kilojoule
km Quilômetro
l Litro
m² Metro quadrado
m³ Metro cúbico
mg Miligrama
mm Milímetro
N Nitrogênio
Ni Níquel
O Oxigênio
º Grau
ºC Grau Celsius
s Segundo
S Enxofre
s² Segundo Quadrado
μ Viscosidade dinâmica
ρ Densidade
Ω Resistência elétrica
𝜈 Viscosidade cinemática
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 15
2. OBJETIVOS .......................................................................................................... 17
3.1.1 Composição.................................................................................................... 19
3.1.2 Estrutura........................................................................................................ 21
3.1.7.4 Remoldagem.............................................................................................. 33
5. RESULTADOS ...................................................................................................... 54
6. CONCLUSÕES ..................................................................................................... 59
1. INTRODUÇÃO
2. OBJETIVOS
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 Pneu
Pneu Novo: aquele que não sofreu qualquer uso, nem foi submetido a qualquer tipo de
reforma, e não apresenta sinais de envelhecimento nem deteriorações de qualquer
origem (VELOSO, 2011);
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Pneu Usado: Pneu que foi submetido a qualquer tipo de uso e/ou desgaste (VELOSO,
2011);
Pneu Inservível: Pneu que apresente danos irreparáveis em sua estrutura (VELOSO,
2011).
3.1.1 Composição
Um olhar incauto sobre os pneus levaria à suposição de que ele é constituído puramente
de borracha. No entanto, há muito mais que isso. O pneu é um produto complexo formado por
vários componentes e matérias-primas, cada um dos quais apresenta características distintas
que garantem as propriedades desejadas.
Aproximadamente 40% do peso de um pneu corresponde à borracha, sendo este o seu
principal material constituinte (ANDRIETTA, 2002), além de outras matérias-primas como
fibras orgânicas - nylon e poliéster, arames de aço, derivados do petróleo e outros produtos
químicos. De acordo com o Serviço Empresarial para Reciclagem (CEMPRE), em território
brasileiro 70% da produção industrial de borracha é destinada à fabricação de pneus.
A borracha pode ser dividida em dois tipos [1]:
Natural: polímero cuja principal extração vem da seiva de uma derivada da seringueira
– Hevea brasiliensis. Para extraí-la, são feitos vários cortes superficiais no caule da
árvore, através dos quais se recolhe o látex que, após seco e processado com outras
substâncias, transforma-se em borracha. A produção de pneus representa um terço do
consumo mundial de borracha.
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3.1.2 Estrutura
1. Revestimento de borracha interior: É uma camada de borracha sintética estanque ao ar. Esta
camada encontra-se no interior do pneu e faz a função de câmara de ar (MICHELIN, 2012).
2. Carcaça: É uma estrutura interna flexível formada por filamentos (têxteis ou de aço)
engastados na borracha, que formam arcos retos e se enrolam no aro do talão do pneu. Numa
carcaça de pneu de automóvel, existe cerca de 1.400 filamentos, cada um deles podendo
resistir a uma força de 15 kg (MICHELIN, 2012). Sobre a carcaça colocam-se resto de lonas
e camadas de borracha que formam o pneu. As lonas podem ser de poliéster, aço ou nylon,
dispostas no sentido diagonal uma das outras (nos pneus convencionais ou diagonais) ou na
forma radial (nos pneus radiais). Os pneus radiais ainda contam com uma estrutura adicional
de lonas, chamadas de cintura, que estabilizam a carcaça radial. Essas lonas são constituídas
de aço (FAPEMIG, 2003). As funções da carcaça são (MICHELIN, 2012):
Reter a pressão causada pelo ar;
Suportar a carga, peso do veículo e a velocidade com ajuda da pressão;
Participar na estabilidade e no conforto;
Participar no rendimento e eficiência energética do pneu.
3. Zona baixa: Tem o papel de transmitir o binário motor (potência do veículo) em aceleração
e travagem da jante para a zona de contato com o solo (MICHELIN, 2012).
4. Aro de talão: É a parte do pneu que se fixa e se ajusta à jante. É formado por um filamento
de aço inextensível de forma e proporção variável segundo a dimensão e tipo do pneu. Nele
enrola-se a lona carcaça (MICHELIN, 2012). Serve para acoplar o pneu ao aro. Possui uma
forma de anel e é constituído de arames de aço, recobertos por borracha (FAPEMIG, 2003).
Um aro pode suportar até 1.800 kg sem risco de ruptura. As suas funções são (MICHELIN,
2012):
Fixar o pneu à jante.
Realizar a vedação do pneu.
Transmitir o binário motor (a potência do motor do veículo) nos esforços de aceleração
e travagem.
5. Flanco: É a parte lateral do pneu, região compreendida entre a banda de rolagem e os talões.
O flanco representa a altura do pneu (MICHELIN, 2012). Tem a função de proteger a
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carcaça. É constituída de borracha com alto grau de elasticidade (Fapemig, 2003). As suas
funções são (MICHELIN, 2012):
Suportar a carga;
Suportar as constantes flexões mecânicas;
Resistência às fricções e agressões;
Participar na estabilidade e no conforto.
7. Banda de rolagem: É a parte do pneu que entra em contato com o solo e é formada por uma
camada de borracha em que se realizam uma série de ranhuras (MICHELIN, 2012). Os
desenhos formados nessa parte são chamados de esculturas. Possuem partes cheias e partes
vazias e servem para otimizar a aderência com a superfície. É feita com compostos de
borracha altamente resistentes ao desgaste (FAPEMIG, 2003). As suas funções são
(MICHELIN, 2012):
Proporcionar a aderência em solo seco e molhado;
Duração e resistência ao desgaste e agressões;
Participar na baixa resistência a rolagem;
Participar no conforto acústico (sonoridade na rolagem);
Participar no direcionamento e manobrabilidade do veículo;
Estética, que é importante para muitos utilizadores. Na zona de contato com o solo, a
banda de rolagem sofre e suporta esforços muito grandes.
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Ainda sobre a estrutura do pneu, vale destacar que a principal diferença entre um pneu
diagonal e um radial está em sua carcaça: o pneu diagonal (convencional) possui uma carcaça
constituída de lonas têxteis cruzadas umas em relação às outras; a carcaça do pneu radial, por
sua vez, constitui-se de uma ou mais lonas com cordonéis em paralelo e no sentido radial. As
cintas de aço sob a banda de rodagem possibilitam a estabilidade dessa estrutura (BRAZIL
TIRES, 2012). Atualmente, a produção do pneu radial é cada vez maior. Nos veículos de
passeio, os pneus radiais já somam 97% do mercado, enquanto nos ônibus e caminhões esse
número fica em 45%. Apesar de serem mais caros, são mais resistentes e eficientes que os pneus
diagonais. Além do reforço na estrutura geral, o maior teor de borracha natural e os novos
desenhos na banda de rodagem contribuem para essa superioridade (ANDRIETTA, 2002).
Existe ainda a classificação dos pneus em “com câmara” e “sem câmara”. A diferença
entre eles reside no fato de os primeiros apresentaram um tubo de ar independente de borracha,
enquanto que nos últimos o ar é armazenado nos próprios pneus (COSTA, 2009). Segundo
PIRELLI (2009), os pneus sem câmara apresentam na parte interna da carcaça uma camada
adicional de uma borracha especial que garante a retenção do ar, conforme pode ser observado
na Figura 3. Ainda de acordo com BRASIL TIRES (2009), os pneus sem câmara possuem
maiores vantagens por apresentarem mais facilidade em ser montados e desmontados, além de
perderem o ar mais de forma mais lenta se perfurados.
O Brasil terminou o mês de março de 2016 com uma frota total de 91.458.547 veículos
automotores (DENATRAN, 2016). Em 2001, havia aproximadamente 34,9 milhões de
veículos. Houve, portanto, um incremento da ordem 56,5 milhões, ocorrendo, assim, um
crescimento superior a 162% entre esses dois anos. Vale lembrar que o crescimento
populacional no Brasil, entre os dois últimos Censos demográficos (2000 e 2010), foi de 11,8%
(IBGE, 2010).
O número de automóveis passou de pouco mais de 24,5 milhões, em 2001, para 50,1
milhões, em março de 2016. Isso significa que a quantidade de automóveis mais que dobrou,
com um crescimento de 104,5%. Assim, a frota brasileira passa de aproximadamente 46,7
milhões para os 50,2 milhões já mencionados em apenas um ano. Neste caso, é importante
destacar que, de todo o crescimento ocorrido nos últimos 10 anos (acréscimo de 24,2 milhões
de autos), 14,6% ocorreram apenas em 2012, conforme Figura 5.
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Figura 5. Evolução da frota de automóveis nas Grande Regiões do Brasil – 2001 a 2012. (Fonte: Elaborado pelo
Observatório das Metrópoles com dados do DENATRAN)
Até 1936, o Brasil dependia de importações para suprir sua necessidade interna de
pneus. Naquele ano, houve a instalação da Pneus Brasil (Companhia Brasileira de Artefatos de
Borracha) no Rio de Janeiro que, apenas em seu primeiro ano de funcionamento, produziu mais
de 29 mil pneus. A partir daí outras empresas surgiram no cenário nacional – inclusive grandes
fabricantes internacionais –, de forma que na década de 80 o Brasil já produzira mais de 29
milhões de unidades. A Figura 6 mostra os dados de produção de pneus em 2015 (ANIP).
Figura 8. Pneus inservíveis acumulados. (Fonte: ÁLVARO ORSI & CRISTIANA LIEBELD SIMON)
A frequência com que o motorista realiza a calibragem dos pneus e também a forma de
comportamento na condução do veículo (freadas bruscas, acelerações repentinas) são fatores
preponderantes que influenciam a performance do pneu. Embora nas últimas décadas tenham
havido inegáveis as melhorias no processo produtivo, as condições das estradas brasileiras
ainda comprometem a vida útil dos pneus.
Ainda de acordo com BEUKERING E JANSSEN (2001), um pneu, se utilizado de
maneira razoável, pode rodar em média 100.000 km. No final desse tempo, ele chega a perder
10% de seu peso. A maioria do material dissipado vem da banda de rolagem, parte que fica em
contato com o solo, recomposta na recauchutagem.
Diante do problema da crescente produção de pneus todos os anos, não é difícil perceber
que este já é considerado atualmente um dos maiores problemas ambientais do mundo. De 1999
até 2001, somente nos EUA, os pneus descartados pela sociedade subiram de 177,5 milhões
para 215 milhões de unidades (BLUMENTHAL, 2002) sem que houvesse um ano com registro
de queda. Há estimativas que em todo o globo terrestre haja mais de três bilhões de pneus
inservíveis descartados de maneira inapropriada.
Pode-se considerar como casos mais graves aqueles em que os pneus são deixados
expostos a céu aberto, pois eles são agressivos ao meio ambiente em diversos aspectos: poluem
visualmente o ambiente, servem de acúmulo para água e consequentemente como foco de
proliferação de mosquitos e doenças e ainda podem vir a provocar incêndios, liberando
substâncias nocivas na atmosfera.
O descarte de pneus ocorre quando eles são trocados por novos. Nesse momento, os
pneus são levados (ou deveriam ser) para centros de coleta, como em ocorre em muitos países
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desenvolvidos. Em alguns desses países, como nos Países Baixos, as pessoas chegam a ter que
pagar para fazer o descarte de seus pneus. Uma vez nesse centro de coleta, é analisada qual a
melhor destinação para o pneu – se ainda existe possibilidade de uso, encaminha-se para a
recauchutagem; se não, ele é usado como fonte energética.
Muitos países desenvolvidos costumam exportar seus pneus descartados para países em
desenvolvimento, onde geralmente há uma legislação enfraquecida que permite tal feito.
Infelizmente, a maior parte dos pneus ainda é descartada em aterros sanitários, uma prática que
traz risco a ambas natureza e sociedade. Há ainda países que realizam a queima desse material
a céu aberto, o que contamina o ar com uma fumaça altamente tóxica composta de carbono e
dióxido de enxofre, além de poluir o solo por liberar grande quantidade de óleo que se infiltra
e contamina o lençol freático (MATTIOLI et.al., 2009).
Uma das alternativas possíveis para a gestão da coleta, transporte e armazenamento dos
resíduos pneumáticos é a união dos revendedores, recauchutadores e borracharias, firmando
parcerias (MATTIOLI et.al., 2009).
Datam dos anos 90 os primeiros esforços em regulamentar o trato dados aos resíduos
pneumáticos. Tendo em vista a prática que até então os países desenvolvidos tinham em
exportar pneus para os países em desenvolvimento, conforme tópico anterior, a Portaria número
8 da Secretaria do Comércio Exterior – SECEX – determinou, em 1991, que a importação de
bens de consumo usados estaria proibida a partir de então, o que também incluía pneus
inservíveis. Nove anos mais tarde, em 2000, a mesma Portaria cancelou a concessão de licenças
para importar pneus recauchutados, alegando sua vida útil curta e a rapidez com que se
tornariam passivo ambiental. No entanto, em 2002 esta portaria foi alterada, pois o Brasil se viu
obrigado a abrir exceções em relação aos pneus do Uruguai e Argentina, para que não quebrasse
acordo do Mercado Comum do Sul (Mercosul). Mesmo assim, a regulamentação reduziu
consideravelmente a importação de pneus recuperados, que passou de 3,4 milhões em 1998
para menos de 1 milhão em 2001, enquanto a importação de pneus inservíveis diminuiu de 6,2
milhões em 1996 para 2,4 milhões em 2001 (OSAVA, 2001).
Diante da problemática dos pneus inservíveis, o Conselho Nacional de Meio Ambiente
(CONAMA), por meio da Lei nº 257/1999, estabeleceu que todos os resíduos de pneumáticos
devem ser adequadamente descartados, seja por fabricantes ou importadores. Essa lei começou
31
Por ser o segundo item mais caro em um veículo (depois do combustível), é importante
que o pneu seja reutilizado, ganhando uma camada nova de borracha. Para isso, entretanto, é
necessário que a estrutura geral do pneu esteja conservada, não apresentando cortes ou
deformações, e a banda de rodagem ainda apresente os sulcos e saliências que permitem sua
aderência ao solo.
A Associação dos Recauchutadores, Reformadores e Remoldadores (ABR) revelou que
o setor movimenta cerca de R$ 3,2 bilhões por ano, gerando uma economia anual de R$ 600
milhões em derivados de petróleo (GAZETA MERCANTIL, 2003).
A Tabela 3 mostra um cenário mundial do custo e número de reformas a que o pneu é
submetido. Conforme pode-se visualizar nela, uma das categorias que mais reforma pneus é a
aviação, sendo 85% dos pneus de avião reformados, com a participação de todas as Companhias
Aéreas (ABIP, 2005).
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Tabela 3. Custa da reforma dos pneus no mercado mundial e no Brasil. (Fonte: RECICLANIP, 2007)
3.1.7.2 Recapagem
3.1.7.3 Recauchutagem
Somente 30% dos pneus de carro e 65% dos pneus de caminhão são apropriados
para recauchutagem;
Processos que não atendam aos padrões de qualidade podem colocar usuários em
riscos;
Resíduos pneumáticos provenientes da perda da borracha adicional representam
passivos ambientais e riscos de acidentes em rodovias e estradas.
Existem dois processos para recauchutagem dos pneus [11]: o processo a frio, um
método mais eficiente, e a recauchutagem a quente, que demanda menos espaço e oferece um
ganho de produtividade. O processo a frio utiliza bandas pré-curadas que são coladas nas
carcaças após os reparos das mesmas. São utilizados outros componentes para o reparo e união
entre a carcaça e a banda de rodagem, que são: o coxim, que é uma lâmina fina de borracha que
vai entre a carcaça e a banda pré-curada; e o cordão de borracha utilizado para preencher furos
e danos estruturais do pneu. Para a recauchutagem a quente é utilizada uma manta de borracha,
na qual é necessária a utilização de moldes para a vulcanização e a formação do desenho na
banda de rodagem (ABIP, 2009). É de suma importância que a recauchutagem apresente um
alto padrão de qualidade e a certificação do Instituto Nacional de Metrologia (INMETRO), uma
vez que uma ocorrência como perda da camada de borracha adicional pode resultar em graves
acidentes (MATTIOLI et.al., 2009). Segundo Miranda (2006), a recauchutagem dos pneus é
vastamente utilizada no Brasil e atinge 70% da frota de transporte de carga e passageiros.
3.1.7.4 Remoldagem
borracha da carcaça dos pneus, de talão a talão, sendo reconstruídos e vulcanizados em seguida
sem qualquer emenda, proporcionando perfeito balanceamento, apresentação e segurança no
uso (MATTIOLI et.al., 2009).
Tabela 4. Evolução do Consumo de Energia como % da Energia Total. (Fonte: Strehler A., 1987)
Combustível 1990 2010-2020
Petróleo 31,8 26,7
Gás Natural 19,3 20,9
Energia Hidráulica 5,7 5,8
Carvão (Fóssil) 26,1 28,5
Energia Atômica 4,5 5,8
Energia Renovável 12,5 12,2
Esse tipo de reação é muito utilizado na indústria, sendo comumente denominada reação
de calcinação. E também existe a separação entre pirólise rápida e carbonização, que é
considerada uma pirólise lenta. A diferença entre os dois métodos é que a pirólise rápida ocorre
em temperaturas moderadas (450 – 550 ºC) e o material pirolisado apresenta baixo teor de
granulometria; já a carbonização ocorre em baixas temperaturas (400 – 450 ºC) e as partículas
do material são grandes.
Os produtos tipicamente obtidos por meio dessa decomposição térmica de pirólise de
pneu é o bio-óleo ou alcatrão pirolítico (que pode ser usado no lugar do petróleo) e o carvão
mineral. O bio-óleo apresenta coloração marrom escura e sua constituição é aproximada à da
matéria-prima que o originou. É uma mistura complexa de compostos orgânicos que, embora
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tenha natureza química diferente da do petróleo, pode ser considerada como petróleo de origem
vegetal. Além disso, o bio-óleo produz menor quantidade de cinzas, não contém metais pesados
como chumbo, mercúrio (FOGAÇA, 2016).
1. Pirólise lenta
2. Pirólise rápida
Tabela 5. Parâmetros operacionais dos processos de pirólise. (Fonte: SÁNCHEZ; CAMPO, 2013)
Convencional Rápida Flash
Temperatura de Operação (ºC) 300 - 700 600 - 1000 800 - 1000
Taxa de Aquecimento (ºC/s) 0,1 - 1 10 - 200 ≥ 1000
Tempo de residência do sólido (s) 600 - 6000 0,5 - 5 < 0,5
Tamanho de Partícula (mm) 5 - 50 <1 < 0,5
4. MATERIAIS E MÉTODOS
O reator foi construído e montado desde seu início no POLICOM. O material foi obtido
no Ferro Velho localizado na Avenida Abdias de Carvalho, s/n, Recife, PE. Optou-se por um
tubo de ferro cilíndrico de 37 cm de altura. Uma de suas extremidades apresenta um flange de
23,5 cm de diâmetro com 6 furos, cada um dos quais com 1,5 cm de diâmetro, conforme Figura
11.
Após a construção da tampa do flange, a segunda metade da chapa de ferro foi soldada
à extremidade inferior do tubo, funcionando como base para dar sustentação à estrutura do
reator.
O próximo passo foi providenciar uma fonte externa de calor para desencadear a reação
de pirólise. A solução adotada foi envolver o tubo com um fio resistivo de diâmetro 1,024 mm
(18 AWG), composição 80% Ni - 20% Cr e resistividade 1,3235 Ω/m. Foram utilizados 19 m
de fio isolados com miçangas de cerâmica para impedir que o contato entre o resistor e o tubo
de ferro gerasse um ponto de fuga de corrente e consequentemente um curto circuito. As
extremidades do fio foram devidamente conectadas a um plugue para permitir liga-lo na energia
elétrica. A tensão utilizada foi 220 V. A corrente medida durante os experimentos foi em média
9,5 A. A potência dissipada pelo conjunto, portanto, é:
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𝑃 = 𝑈 × 𝐼, (2)
em que:
P – Potência dissipada (W)
U – Tensão elétrica (V)
I – Corrente elétrica (A)
𝑃 = 220 × 9,5
𝑃 = 2090 𝑊
Foi considerada também a perda de calor que poderia ocorrer caso a resistência ficasse
exposta da maneira mostrada na Figura 14. O reator foi então envolvido em isolante térmico de
fitas de fibra cerâmica e, adicionalmente por cima deste, foi feito um novo revestimento em
manta de fibra cerâmica, garantindo menores perdas de calor e, assim, uma reação mais rápida
(Figura 15).
Figura 15. Isolamento térmico do reator, estágios inicial e final (da esquerda pra direita, repectivamente).
(Fonte: acervo próprio)
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Após os primeiros testes de pirólise, percebeu-se que a base apresentava forte corrosão,
possivelmente devido à fina espessura da chapa. Dessa forma, ela foi substituída por uma
estrutura de suporte mais robusta, que pode ser visualizada em azul na Figura 16. O esquema
computadorizado está representado na Figura 17.
Figura 17. Esquema computadorizado exibindo as perspectivas do reator: a. Vista lateral; b. Perspectiva
Cavaleira e c. Detalhe do flange. Feito através do software Inventor 2016 da AutoDesk.
vários pontos da sua extensão, inviabilizando a experiência. Por isso, ela foi substituída por
uma mangueira de pressão de comprimento 1,2 m, que resistiu a diversos experimentos sem
apresentar sinais de desgaste.
Na sequência, foi construída a coleta dos produtos do reator. Para isso, utilizou-se uma
caixa de isopor de dimensões 26 cm x 23 cm x 34 cm preenchida parcialmente por uma solução
de água e gelo numa temperatura aproximada de 5 ºC. Dentro dela, foi colocado um balão de
Erlenmeyer vazio de 1 l hermeticamente fechado com uma rolha. Esta, por sua vez, tinha dois
furos: o primeiro para se conectar à mangueira proveniente do reator e o segundo para permitir
a expulsão de gases não-condensáveis. O intuito dessa etapa foi permitir que os gases
provenientes da pirólise escapassem pela saída do flange, percorressem a extensão da
mangueira e, ao encontrarem um ambiente de baixa temperatura no Erlenmeyer, se
condensassem e produzissem bio-óleo, sendo o restante dos gases não condensáveis expulsos
naturalmente por pressão pela segunda saída da rolha. A estrutura montada encontra-se na
Figura 18.
O material utilizado para alimentar o reator de pirólise foi obtido em oficinas mecânicas
diversas e na Casa da Borracha, na cidade de Vitória de Santo Antão, Pernambuco (Figura 19).
Houve a preocupação de se escolher apenas pneus usados, isto é, aqueles que estavam
armazenados com pouca possibilidade de reutilização. Por serem resíduos, os donos das
oficinas geralmente mostraram satisfação em fazer o descarte desse material, de forma que
todos os pneus foram doados para esta pesquisa sem absolutamente nenhum custo.
45
Figura 19. Fragmentos de pneus no estoque da Casa da Borracha, Vitória de Santo Antão/PE. (Foto: acervo
próprio)
Os pneus escolhidos foram de automóveis populares e tiveram que ser cortados, dado o
diâmetro limitado do tubo do reator (vide Figura 11) e também para aumentar a área de
superfície de contato, facilitando trocas de calor. As primeiras tentativas de cortar o material
foram feitas com uma esmerilhadeira comum. Mesmo após sucessivas tentativas, foram gastos
3 discos de 9” sem que fossem conseguidos resultados satisfatórios, pois a rigidez do material
associada à tela de aço que recobre os pneus fez com que os pedaços continuassem grandes
demais para caber no reator.
Dada a dificuldade em realizar o corte dos pneus de automóveis e a indisponibilidade
de uma tesoura industrial ou equipamento que permitisse tal feito, foi feita nova visita às
mesmas oficinas já citadas, dessa vez para coletar pneus de motocicletas. Como se supunha, o
corte foi realizado muito mais facilmente. Inicialmente foi removido o talão com auxílio de
uma serra manual e posteriormente chegou a ser possível o uso de faca de cozinha para reduzir
ainda mais o tamanho dos pedaços. O formato e dimensões finais ficaram respectivamente
quadrados de tamanho aproximado 8 cm x 4 cm.
Com o intuito de ampliar o horizonte da pesquisa, foram escolhidos pneus de caminhão
para realizar nova pirólise, a fim de comparar os resultados com os iniciais. Dessa vez, o corte
foi feito com equipamentos profissionais na Casa da Borracha (em Vitória de Santo Antão/PE),
dada a impossibilidade de fazê-lo no POLICOM. A Figura 20 mostra o estado final dos
fragmentos.
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Figura 20. Resultado final dos cortes realizados nos pneus obtidos. Dimensões aproximadas dos fragmentos: 7,5
cm x 2 cm x 3 cm. (Fonte: acervo próprio)
Uma vez montado o reator, foi possível proceder com o experimento da pirólise. Toda
estrutura foi montada e colocada em funcionamento nas dependências do laboratório
POLICOM.
O material, que já tinha sido obtido e devidamente tratado anteriormente, foi inserido
no corpo principal do reator, que teve sua tampa fechada. A quantidade de pneu utilizada em
cada pirólise foi, em média, 750 g. Há que se considerar a limitação de espaço imposta pelo
próprio corpo do reator. Para garantir a hermeticidade do forno, foram inseridos entre o flange
e o corpo discos concêntricos de gaxeta Teadit® composta por tranças de grafite flexível,
recomendadas pelo fabricante para flanges de formato irregular, dada sua grande capacidade de
vedação. Na sequência, o flange foi fechado, sendo acoplado ao eixo do tubo por meio de
parafusos com porcas e arruelas.
O plugue que encerrava o fio resistivo foi conectado à uma tomada comum de 220 V /
60 Hz. Nas primeiras tentativas, após alguns minutos de aquecimento, o disjuntor do circuito a
que o plugue estava conectado desarmou. Procedeu-se uma inspeção para determinar a fonte
do curto-circuito. Percebeu-se, então, que a manta de fibra cerâmica continha umidade e, ao
receber calor proveniente do fio resistivo, a água evaporava e se condensava na parte inferior
da tampa do tubo, originando um ponto de curto circuito (já que a água é condutora de
eletricidade). Dessa forma, a manta foi encaminhada para a estufa e, após a secagem, o
problema não persistiu.
A temperatura interna do tubo foi acompanhada durante todo o processo através do
termopar e de um termômetro da Minipa tipo MT-455 Dual Input K Thermometer. A
47
Figura 21. Produtos obtidos através da pirólise: óleo (à esquerda) e carvão (à direita). (Foto: acervo próprio)
4.4.1 Densidade
𝜇
𝜈=𝜌 (3)
Corresponde à resistência oferecido pelo fluido ao seu próprio movimento. Se sobre ele
ocorrer uma força maior que o valor de sua viscosidade cinemática, ele irá escoar. A
Viscosidade Dinâmica, também chamada Absoluta, é obtida multiplicando-se a viscosidade
cinemática pela gravidade específica do fluido, geralmente dada na unidade Centi-poise (CP).
O instrumento utilizado para determinar a viscosidade cinemática nesta pesquisa foi o
viscosímetro automática da Tanaka, Kinematic Viscosity Measuring System do tipo AKV-202
(Figura 24).
presença de água. Para isso, foi utilizado um titulador coulométrico Karl Fischer MKC-501, da
Kyoto Electronics Manufacturing (Figura 25), um equipamento para análises quantitativas com
o seguinte princípio de funcionamento: um fluxo constante de corrente é mantido entre os dois
pinos de platina do eletrodo do titulador. Quando a solução no recipiente de titulação contiver
água, é necessária uma tensão elétrica relativamente grande para manter o fluxo de corrente
entre os pinos. Com o decorrer da titulação, a água na amostra é consumida pelo titulante. Ao
atingir o ponto final, toda a água foi reagida e a célula contém iodo em excesso, cuja presença
dentro da célula de titulação resulta numa redução na quantidade de tensão necessária para
manter a corrente constante entre os pinos do eletrodo. Os relatórios e métodos de titulação são
então transferidos para um computador.
O poder calorífico (PC) é expresso pelo conteúdo de energia liberada quando ocorre a
combustão completa por unidade de massa do combustível. O poder calorífico divide-se em
dois tipos: o poder calorífico superior (PCS) e o inferior (PCI). O Poder Calorífico Superior –
PCS, refere-se à quantidade de calorias liberadas por um material em sua combustão completa,
expresso em calorias por grama (cal/g) ou quilocaloria/quilograma (kcal/kg) (QUIRINO et al.,
2011). Quanto maior for este parâmetro, maior será a energia contida no combustível
(CARVALHO JÚNIOR, 2010). No PCS a água formada durante o processo de combustão é
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A análise elementar consiste na determinação exata dos elementos que formam uma
amostra (qualitativa), geralmente carbono, hidrogênio e nitrogênio, bem como as proporções
em que eles aparecem na molécula (quantitativa, tipicamente em porcentagem em massa).
Nos ensaios desta pesquisa, foi utilizado o analisador elementar da Labcontrol modelo
vario EL cube, um equipamento analítico moderno conectado a um computador, capaz de fazer
tanto a análise qualitativa quando a quantitativa diretamente de C, H, N, S, O e Cl. Seu
funcionamento é baseado no método de Pregl-Dumas, em que as amostras são sujeitas à
combustão em uma atmosfera de oxigênio puro, e os gases resultantes dessa combustão são
quantificados em um detector DCT (detector de condutividade térmica). Isso foi importante
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para garantir a precisão e exatidão da análise, assim como para evitar o contato com substâncias
desconhecidas (e potencialmente perigosas).
5. RESULTADOS
5.1 Densidade
Observa-se que o perfil de degradação do óleo tem uma queda suave quando comparado
ao da borracha do pneu, dada a distinta composição dos materiais. Destaca-se também a
ausência de umidade no gráfico por causa do processo da secagem em escala laboratorial.
Portanto, para fins de cálculo a massa utilizada foi a própria massa inicial. Ao final da segunda
inflexão do perfil do óleo, restou na balança um valor de 0,1 mg correspondente a carbono fixo
(C.F.) e cinzas. Portanto, a diferença em relação à massa inicial é composta de voláteis, isto é,
o que pode ser transformado em gás e óleo. Como o carbono fixo ainda pode ser queimado, a
atmosfera de nitrogênio foi substituída por oxigênio, resultando na balança um valor de 0,05
mg de cinzas. A diferença em relação à massa final, portanto, corresponde à massa de carbono
fixo.
𝑚𝑣𝑜𝑙 = 𝑚𝑖 − 𝑚𝑓 , (4)
Em que:
mvol - massa de materiais voláteis (mg)
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Para o teor de umidade, foram encontrados os valores de 4,82% para o óleo de pneu de
motocicleta e 9,17% para o de caminhão, conforme a Tabela 10.
O óleo diesel sempre contém água, podendo existir em quantidades maiores ou menores
e em diferentes formas: água dissolvida, água livre ou água emulsificada. Na prática, é
impossível manter diesel livre de água dissolvida, pois o mesmo absorve água do próprio ar
durante a estocagem e transporte.
A Resolução ANP Nº 50, de 23.12.2013 determina que o teor de água para óleo diesel
rodoviário não deve ultrapassar 0,05% em volume. Para o óleo obtidos em questão, portanto,
percebe-se que o valor de umidade se encontra bastante superior ao limite máximo. Caso eles
sejam utilizados como combustível, portanto, deve haver um tratamento prévio a fim de
enquadrá-los nas especificações.
A análise da composição revelou que o óleo de pneu (para ambos os tipos considerados
nesta pesquisa) apresenta como principais constituintes carbono, oxigênio e hidrogênio.,
havendo ainda presença de um certo percentual de enxofre. Este, último por sua vez, ao ser
comparado com o valor correspondente para o óleo diesel, foi notada que o teor de enxofre
encontrava-se bem acima do máximo permitido pela legislação, que é 50 mg/kg ou 0,005%. Os
valores podem ser observados na Tabela 12.
Tabela 12. Resultados da Análise Elementar.
6. CONCLUSÕES
Foi notada ainda a falta de políticas públicas relativas a melhores destinações para pneus
usados. Nas cidades pesquisadas, Recife/PE e Vitória de Santo Antão/PE, percebeu-se bastante
descarte irregular em oficinas, esquinas, lixões e ferros velhos.
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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS