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Síntese NT - ATOS DOS APÓSTOLOS (Apostila de Danilo Estevo)

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO LOGOS

SÍNTESE DO NT: ATOS DOS APÓSTOLOS


Profº Danilo Estevo

INTRODUÇÃO

Atos dos Apóstolos, um dos livros mais estudos e


citados da Bíblia, é uma narrativa histórica que cobre um
período de aproximadamente trinta anos. Esse período trata
dos “primeiros dias” da Igreja cristã na face da terra; do seu
princípio, tendo como marco inicial do “Dia de Pentecostes”
(cap. 2), passando pela evangelização operosa de sinais e
milagres por parte dos apóstolos, perseguições e os
profícuos ministérios de Pedro (basicamente, para os
judeus) e Paulo, chamado de “o apóstolo dos gentios” –
este último, com imensurável destaque, terminando sua
vida, segundo o livro de Atos dos Apóstolos, em uma prisão
domiciliar em Roma e pregando o evangelho (cap. 28).
O nome “Atos” vem do grego πράξεις (práxeis), e
significa “atos”; “ações” ou “práticas”. A utilização do
termo remonta ao mundo antigo, em que ele era usado
para dar título aos livros que descreviam os grandes feitos
de um povo ou uma cidade. Portanto, o nome original do
livro de “Atos dos Apóstolos” é πράξεις τών ’αποστόλων (práxeis
tôn apostólôn). Há quase que um consenso entre os
1
estudiosos e expositores bíblicos de que o nome do livro de
Atos bem poderia ser “Atos do Espírito Santo” por
intermédio dos apóstolos, mas como se trata de uma
narrativa de eventos no estabelecimento da Igreja por
intermédio dos apóstolos, o nome do livro que temos hoje
não pode ser considerado indevido.
Para a elaboração desta apostila, será foi utilizado
como texto base o livro de esboços homiléticos “ATOS DOS
APÓSTOLOS – UMA HISTÓRIA SINGULAR”, do teólogo,
professor e expositor bíblico brasileiro Itamir Neves de
Souza, do qual faremos citações diretas ao longo de todo
este material, referenciando-o da forma “SOUZA (p...)”,
salvo indicação contrária. Para o enriquecimento desta
introdução, segue abaixo a transcrição de parte da
Introdução de SOUZA (2011; pp. 31-2):
Atos dos Apóstolos é um livro inspirado por Deus
para incentivar e encorajar os seus leitores com as
experiências vivenciadas pelos cristãos primitivos.
Em Atos dos Apóstolos percebemos uma
preocupação em se descrever os cristãos,
organizados em igreja, detalhando o viver primitivo
interno e externo deles. O livro nos apresenta o
desenvolvimento da igreja, a sua maneira de lidar
com o pecado, suas estruturas, suas maneiras de
tomar decisões, sua visão estratégica, seu sentido
de unidade alcançado depois da primeira década
de cristianismo e também a sua maneira de
cumprir a vontade de Deus. Mas no livro também
encontramos o desenvolvimento externo da igreja,
procurando alcançar sua missão de proclamar o
2
evangelho até os confins da terra: em Atos dos
Apóstolos, além do impacto inicial de cristianismo,
com mais de cinco mil conversões, observamos o
desejo de testemunhar, mesmo diante das
perseguições; observamos as transposições das
barreiras culturais, tornando a igreja “um lugar
para todos”; as estratégias missionárias; a
persistência na ‘obtenção dos alvos estabelecidos’
e a chegada do evangelho em Roma.
Sobretudo, em Atos dos Apóstolos, encontramos a
presença constante e contínua do Senhor Jesus
Cristo, o poder de Deus em diversas manifestações
sobrenaturais e a direção clara e preciosa do
Espírito a guiar os primeiros cristãos a cumprirem
os planos e a vontade de Deus.
Entretanto, por ser um livro histórico, os critérios
para a interpretação deste livro são diferentes das
cartas neotestamentárias. Não devemos extrair dos
Atos dos Apóstolos doutrinas, mas sim princípios
para a igreja. Exemplificamos esta afirmação ao
lermos, por exemplo, sobre a venda e repartição
dos bens entre os membros da comunidade
primitiva (conf. At 2.44,45; 4.32,34). Não é doutrina
repartir os bens. O princípio é a comunhão e a

unidade do corpo.1

1. ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

1.1. Contexto de Atos dos Apóstolos.

3
Há o consenso entre a maioria dos estudiosos de que o
livro de Atos é a segunda parte do evangelho de Lucas. O
livro de Atos começa revelando que seu autor já havia feito
um “primeiro tratado” dedicado a Teófilo, que recebeu do
autor o prefixo de “excelentíssimo” (1.1; Lc1.3), e
provavelmente era o financiador deste projeto literário.
Agora, o autor encontra-se escrevendo o segundo tratado.
Neste ele pretende apresentar os apóstolos e a Igreja
cumprindo as determinações do Senhor ressurreto:
“Fiquem em Jerusalém até que sejam revestidos de poder,
e sejam-me por testemunhas [...] até os confins da terra”
(1.8). Atos apresenta o cumprimento desse mandato.

1
Atos dos Apóstolos – Uma História Singular.

1.2. Autoria de Atos dos Apóstolos.

Sobre a autoria de Atos dos Apóstolos, SOUZA (p. 33) 2


escreve que

A partir de passagens em que se empregam os


pronomes “nós” e “nos” (16.10-17; 20.5–21.18 e
27.1–28.16), fica evidente que o autor de livro foi
um companheiro de Paulo em algumas de suas
viagens. E quando essas passagens são estudadas
em profundidade, demonstram-nos que nenhum
outro companheiro de Paulo poderia ser o seu
autor, senão Lucas, “o médico amado” (Cl 4.14 e
Fm 24).

4
De acordo com a Tradição, Lucas era um homem culto.
O grego utilizado para a escrita do evangelho que leva o
seu nome revela isso. SOUZA (p. 33) ainda afirma que “o
uso freqüente de terminologia médica (1.3; 3.7 ss.; 9.18,33;
13.11 e 28.1-10), o entendimento científico das doenças
que encontramos nos diversos capítulos do livro [...] leva-
nos a identificar a autoria lucana” 3. No século IV, alguns
estudiosos sugeriram que Lucas é o mesmo “Lúcio, o
cireneu”, citado em 13.1.

1.3. Data e local de escrita.

É possível que Lucas tenha terminado a narrativa de


Atos dos apóstolos de forma abrupta pelo fato haver
cumprido sua intenção de relatar a expansão do evangelho,
e consequentemente da Igreja, de Jerusalém, onde tudo
começou no Pentecostes (caps. 1 e 2), até Roma, capital do
império (cap. 28). De acordo com SOUZA (p. 36), se tal
hipótese é verdadeira, então será perfeitamente possível
concluir que o local de origem do livro de Atos

2
Op. cit.
3
Ibid.
Foi a cidade de Roma, e a data de sua composição
foi a etapa final do aprisionamento de Paulo, pois
há ausência de citações sobre o incêndio de Roma,
à perseguição que Nero fez aos cristãos, bem como
à destruição de Jerusalém.

Portanto, entendendo-se que Paulo chegou a Roma


em 59 d.C., e ali demorou dois anos para ser
julgado, Atos foi escrito por volta de 60-61 d.C.,

5
cobrindo um período de 32 anos da história da

Igreja, isto é, de 30 d.C., ao final de 61 d.C.4

O último acontecimento de Atos dos Apóstolos ocorre


entre 61 e 62 d.C. O teólogo e escritor D. A. Carson (1997)
observa que estudiosos divergem sobre a data da escrita de
Atos, e que a maioria deles situa a escrita em pelo menos
três períodos: 62 a 70 d.C., 80 a 95 d.C. ou 115 a 130 d.C.
Ele afirma que estas datas são propostas com base no ano
do último acontecimento narrado em Atos (o apóstolo Paulo
preso em Roma), por volta de 62 d.C., até meados do
século II, quando “Justino Mártir”, em sua Apologia, faz pela
primeira vez uma citação explícita de Atos 5.

a) A teoria a partir do termo πρωτος (prôtos) = alguns


estudiosos e os teólogos liberais acreditam que Lucas tenha
escrito um “terceiro tratado”. Esta teoria brota da palavra
grega prôtos (primeiro), logo no 1º versículo de Atos: “Fiz o
primeiro tratado...” (1.1). O termo prôtos era utilizado pelos
gregos para aludir ao “primeiro de três ou mais”. No
entanto, GONZÁLEZ (2011) explica que “o grego helênico
do tempo de Lucas não faz mais uma distinção clara entre
prôtos e prôteros. Portanto, não é necessário supor, como
fazem alguns, que Lucas escreveu ou planejou escrever um
terceiro livro”6.
4
Op. cit.
5
CARSON, et. al. Introdução ao Novo Testamento; p. 215.
6
Atos – O Evangelho do Espírito Santo; p. 29, nota de rodapé (2).
1.4. O propósito de Atos dos Apóstolos.

6
Como já foi abordado anteriormente, pode-se dizer
que o propósito do livro de Atos dos Apóstolos é duplo:
Primeiro, relatar o início e avanço do evangelho, primeiro
entre os judeus e depois entre os gentios. Segundo,
demonstrar que o evangelho avançou por meio do poder de
Jesus Cristo, mediante o Espírito Santo, através da Igreja.
SOUZA (p. 36) escreve:
Lucas teve por propósito relatar o início e a
expansão da Igreja de Jerusalém até Roma, da
“cidade santa” do judaísmo até a “capital do
Império”, a metrópole mundial. Iniciando com o
cristianismo entre os judeus e terminando o livro
demonstrando como o cristianismo alcançou os
gentios, Lucas leva-nos, nas entrelinhas, em
continuidade ao Evangelho, à atividade de Cristo
no mundo. Usando a linguagem do próprio Lucas,
podemos dizer que o seu propósito foi mostrar que
o Cristo “ascendido” (assunto), aos céus, continuou
“tanto a fazer, como a ensinar” através do
ministério do Espírito Santo, agindo na e através da
7
igreja.

Em sua abordagem sobre o propósito do livro de Atos


dos Apóstolos, BROADUS (2002) corrobora que se trata de
uma “continuação” do evangelho de Lucas. Ele afirma que
“no Evangelho de Lucas Jesus Cristo foi encarnado para
fazer a obra da salvação; em Atos, Jesus Cristo vive e opera
através de seu povo redimido, a Igreja, para trazer todas as
pessoas a si”8.

7
1.5. Alguns esboços do livro de Atos dos
Apóstolos.
Assim como acontece no “manejo” de qualquer livro
bíblico, Atos dos Apóstolos oferece variadas possibilidades
de se fazer “arranjos” ou esboços a partir de perspectivas
diferentes. SOUZA apresenta algumas dessas opções:
7
Atos dos Apóstolos... Op. cit.
8
Introdução ao Estudo do Novo Testamento; p. 181.
a) Esboço de Atos tendo por perspectiva o “avanço da
Igreja”9, em At 1.8:
A. O início da Igreja – 1.1 a 2.47;
B. A Igreja enfrenta as primeiras oposições – 3.1 a
5.42;
C. A Igreja começa a se expandir – 6.1 a 9.31;
D. A Igreja se abre para os gentios – 9.32 a 12.25;
E. A primeira viagem missionária de Paulo* – 13.1 a
15.35;
F. A segunda viagem missionária de Paulo* – 15.36 a
18.17;
G. A terceira viagem missionária de Paulo* – 18.18 a
20.38;
H. Paulo é preso e encarcerado – 21.1 a 28.31.

8
1) *Mapa da primeira viagem missionária de Paulo

9
Atos dos Apóstolos... Op. cit.; p. 37.
2) *Mapa da segunda viagem missionária de Paulo

9
3) *Mapa da terceira viagem missionária de Paulo

b) Esboço de Atos em perspectiva das etnias “judeus X


gentios”10:

10
A. A igreja hebraica – o judaísmo cristão – 1.1 a 6.7;
B. O caráter universal do cristianismo – 6.8 a 12.25;
C. A desimpedida pregação do evangelho e a auto-
exclusão dos judeus – 13.1 a 28.31.
c) Esboço de Atos em perspectiva “geográfica”;
também At 1.811:
A. O evangelho em Jerusalém – caps. 1 a 7;
B. O evangelho na Judéia e Samaria – caps. 8 a 12;
C. O evangelho até os confins da terra – caps. 13 a 28.

1.6. O versículo-chave e a ideia central de Atos


dos Apóstolos.
É unânime que o versículo-chave de Atos se encontra
em seu primeiro capítulo, verso oito (1.8). SOUZA (pp.
38,39) escreve que ao observarmos o conteúdo deste
versículo, é possível reparar que se trata de é uma palavra
de Jesus aos discípulos, e isso “implica no compromisso da
promessa, na designação da missão, no significado da
tarefa, na definição da metodologia e no estabelecimento
da abrangência”12 – grifo meu.
a) Compromisso da promessa = Uma vez enviados, os
apóstolos do Senhor iriam contar com a garantia do Espírito
Santo de que seu testemunho seria poderoso. Estava se
cumprindo o que Jesus prometeu (1.8; cf. Lc 24.49; Jo
14.16-18; 16.7-14).
b) Designação da tarefa = Proclamar com a própria
vida o que Jesus “fez e ensinou” (20.24; cf. 2Co 12.15; Fp
3.8-11).

11
10
Op. cit.
11
Ibid.; p. 38.
12
Ibid.
c) Significado da tarefa = Em 1.8, a palavra “testemunhas”
vem do grego “martiria”, que significa “dar testemunho
com sofrimento”. É desta palavra que vem nosso vocábulo
mártir. Assim sendo, a tarefa da igreja, inevitavelmente,
envolve sofrer pelo evangelho (9.19; cf. 2Co 11.23).

d) Definição da metodologia = O método é o da


simultaneidade. “Em Jerusalém, na Judéia, em Samaria...”,
ou seja, enquanto um está aplicado a um povo, outro, a
outro povo. Todos precisam ouvir, e o tempo é hoje!

e) Estabelecimento da abrangência = A abrangência é por


toda parte: “... até os confins da terra”. Enquanto uma
igreja local está aplicada a um lugar, outra, a outro lugar, e
todas em todos os lugares! *

12
* O esquema acima também é de SOUZA (2011; pp. 38,39), com
adequações do elaborador deste material.

1.7. A cronologia de Atos dos Apóstolos.

13
A tabela cronológica a seguir é extraída de STTOT
(1994, apud. SOUZA, pp. 46-7).

14

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