Cartilha Direitos - Conhecer para Lutar PDF
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c o n h ecer
par a lutar
c a r tilh a pa r a f o r m a ç ã o p o lític a
Movimento nacional da população de rua
conhecer
par a lutar
Sumár io
Apresentação. ................................................................................................. xx
1. A realidade das ruas. ............................................................................ xx
2. A população em situação de rua tem direitos!.................. xx
3. Cadê nosso Direito? ............................................................................ xx
4. Política Pública como garantia de direito ............................. xx
5. A luta transforma a realidade. ........................................................ xx
6. O Movimento Nacional da População de Rua . ................ xx
7. Como organizar o MNPR em sua cidade. ............................. xx
8. Mística............................................................................................................. xx
Créditos................................................................................................................ xx
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Referências bibliográficas ..................................................................... xx
A pr e s enta ç ã o
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1. N o tr ech o : a r e a lid a d e d a s rua s
s e r á q u e a p e ss o a q u e va i p a r a a s r u a s
é t o t a l m e nt e r e s p o n sáv e l p o r e s t e p r o c e ss o
d e p e r d a s? O u e s t a s it u a ç ã o e s t á v i n c u l a d a
à fo r m a co m o a so ciedade es tá dividida,
e nt r e r i c o s e p o b r e s?
Rio de
Janeiro
Salvador
Curitiba
Fortaleza
Recife
Belo Horizonte
Porto Alegre
São Paulo
Brasília
e multiplicam esta divisão e desigualdade. É o preconceito que
reforça a imagem negativa de quem vive na rua. Os meios de
comunicação disseminam o termo “mendigo” e reforçam o
isolamento. É um estigma que rotula a todos como incapazes
4.585 3.289 2.766 1.734 1701 888 1164 1203 13.666
e vagabundos, e pior, como bandidos e criminosos, acentuan-
do a criminalização da pobreza. IDADE - A maior parte tem entre 25 a 55 anos.
SEXO - Há mais homens, mas vem aumentando o núme-
S ó q u e h oje a his tó r i a é o u t r a . ro de mulheres.
Es ta m os o r g a niz a d os e m u m m ov i ment o q u e v ei o
COR DA PELE - Na Pesquisa Nacional, quase 70% são
pa r a fi c a r n a cen a u r b a n a e p o líti c a .
não brancos, ou seja, pardos, pretos, amarelos.
ESCOLARIDADE - A maioria tem o 1º grau incompleto.
PROCEDÊNCIA - A maioria é de outras cidades do mes-
mo Estado ou de outros Estados da mesma região.
TRABALHO – A maior parte das pessoas trabalha! 70,9%
tem alguma atividade remunerada, na economia infor-
mal, principalmente na catação de material reciclável.
Apenas 15,7% pede dinheiro para sobreviver, o que des-
mistifica que são “mendigos” e “pedintes”.
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2 . A p o p u l a ç ão e m s it ua ç ão d e r ua t e m d ir eit os!
Para refletir e debater
O que é a Constituição
Federal?
É a lei maior do Brasil, que diz
como a sociedade deve se orga-
nizar e funcionar. Ela estabelece
os direitos e deveres dos cida-
dãos e do Estado, para garantir a
vida em sociedade.
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O s D ir eit os e x is t e m pa r a g a r a ntir
a d i gnida d e h u m a n a A cidade é de todos!!
Os direitos devem garantir a dignidade de todas as pesso-
as. Assim, a escravidão, o racismo, a tortura, os tratamentos Hoje, mais de 85% dos brasileiros vivem na cidade,
humilhantes e degradantes constituem crimes. mas poucos têm direito a ela. A prova disso, é o gran-
A população em situação de rua organizada e parceiros têm de número de pessoas que mora em habitações pre-
demonstrado capacidade e coragem de denunciar, mas tam- cárias, favelas, cortiços, abrigos e nas ruas.
bém de construir e anunciar um projeto de sociedade diferente,
na qual as pessoas reconheçam o valor de cada ser humano. Direito à cidade sustentável e democrática é o direito
ao uso da terra urbana, à moradia, ao saneamento am-
D IREITO S INDIVIDUAIS E COLETIVO S biental, à infraestrutura urbana, ao transporte, aos
A Constituição garante o direito de ir e vir, a liberdade de serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as pre-
expressar livremente o seu pensamento, que ninguém deverá sentes e futuras gerações.
ser submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degra-
dante. A população deve participar da construção desta polí-
tica urbana.
DIREITO S S OCIAIS, ECONÔMICO S E CULTURAIS
Na Constituição todo cidadão brasileiro tem direito à ali-
mentação, à habitação, à saúde, à educação, ao trabalho, sa-
lário mínimo, ao lazer, à segurança, à previdência e à assistên-
cia social.
A cida da ni a e a d e m o cr aci a
só exis te m d e v er da d e
s e h o u v er o acesso e g a r a nti a
d os d ir eit os f u nda menta is
à exis tên ci a hu m a n a .
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3 . C a d ê n o ss o D ir eit o ?
Para refletir e debater
ir p er m a ne cer vir
O que fazer?
No a r tig o 5º da
• Faça um boletim de Ocorrência.
Co ns tit u iç ão B r a sileir a é a ss egu r a d o • Procure entidades para que encaminhem
o “ DIREITO DE IR E VIR”. a denúncia ao Ministério Público.
• Organize manifestações, atos públicos e audiências
Em q ua l q u er ár e a da cida d e, a r es t r iç ão públicas.
à cir c u l aç ão e p er m a nên ci a da s p essoa s • Utilize do serviço Disque 100.
e m sit uaç ão d e r ua , p r atic a da p o r p o lici a is
e gua r da s m u nicipa is, fer e ess e d ir eit o
16 d e t o d o cida d ão. 17
4. P o lític a P ú b lic a : um d ir eit o c o ncr et o
Para refletir e debater
1. Quais direitos das pessoas em situação de rua estão
sendo violados diariamente? Que casos de violação já
sofreu?
Q ua l é a f u n ç ão da s p o líti c a s p ú b li c a s?
Garantir aos cidadãos a reprodução da sua vida material,
isto é, que todos comam, se vistam, calcem, morem, estudem
etc. Dessa maneira, têm o objetivo de gerar segurança e bem-
estar à pessoa e à sua família.
As políticas públicas podem contribuir assim com a redis-
tribuição da renda, ampliação dos direitos dos cidadãos e de-
mocratização da sociedade.
No entanto, é importante lembrar que a própria estrutura de
nossa sociedade é desigual. Portanto, a política pública pode
reduzir a pobreza e a desigualdade, mas não as elimina defini-
18 tivamente. 19
O q u e é p r e cis o pa r a c o ns t r u ir Co m o c o l o c a r e m p r áti c a u m a p o líti c a p ú b li c a?
u m a p o líti c a p ú b li c a?
Antes de tudo é importante que a população em situação
de rua organizada tenha clareza das políticas públicas que pre-
cisa, deve conhecer bem as propostas e as Legislações. Caso
contrário, é difícil fazer reivindicações, defender e negociar
com as instituições públicas.
É necessário que esteja organizada, que tenha capacidade
de mobilizar e formar opinião pública favorável a sua causa,
para que assim tenha capacidade de pressão e negociação
com os gestores públicos.
O Estado deve coorde- Deve ser destinada aos Além disso, pode haver também preconceito, por parte da
nar, gerir e implementar interesses de uma sociedade e dos gestores públicos, no processo de formula-
a política pública nas coletividade, a qual ção de políticas públicas para a população em situação de rua.
três esferas de poder: participa da elaboração, Para superar isso, é preciso unir forças e se organizar para
federal, estadual e gestão e controle dessa pressionar os governantes a aprová-las. Essa é uma das ban-
municipal. política
deiras do MNPR.
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Conheça as principais etapas da Para refletir e debater
construção de uma política pública
1. Já temos um decreto que instituiu a Política
1. Identificação do problema social e dos direitos Nacional para a População em Situação de Rua.
Pessoas vivendo nas ruas significa a violação de vá- O que fazer para implementá-la?
rios direitos, que exigem formas específicas de ação
do Estado. 2. Como o MNPR pode agir para interferir nas etapas
de construção de uma política pública?
2. Inserção na agenda política
Identificado o problema, ele deve entrar na pauta de 3. Por que as políticas públicas não resolvem
debate e ação do Estado. os problemas estruturais de desigualdade
da sociedade?
3. Definição das ações
O Estado e os beneficiários da política negociam os
serviços necessários, os princípios e diretrizes, os
programas públicos e o financiamento regular.
4. Aprovação legal
É o processo de definição das leis necessárias à polí-
tica pública, o que exige muita negociação com o Exe-
cutivo e o Legislativo.
5. Implementação
É preciso definir estratégias para garantir a política.
Esta é a grande batalha do movimento.
6. Monitoramento
É o “controle” da implementação da política por meio
de avaliação e aperfeiçoamento, como os feitos pelos
conselhos ou comitês de acompanhamento.
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5 . A luta tr a n s f o r m a a r e a lid a d e A luta organizada em defesa dos direitos e por políti-
cas públicas, para a população que está em situação de rua,
foi o caminho escolhido pelo Movimento Nacional da Popula-
ção de Rua para combater as violações de direitos e buscar
condições dignas de vida, direito de todo cidadão.
A d e m o cr aci a b r a sileir a
g a r a nte a lib er da d e d e exer cer
s e u p o d er d e p r essão so ci a l,
p o r mei o d e m a nifes taç õ es, at os
p ú b licos e au d iên ci a s p ú b lic a s,
O Brasil é um das maiores economias do mundo, mas mes-
mo assim há muita pobreza e desigualdade social. A situ-
ação de rua é uma prova disso. Vivemos em uma sociedade
pa r a a co n q u is ta d os d ir eit os
ind ivid ua is, so ci a is, e co n ô micos
individualista em que o valor do ser humano está na sua capa- e c u lt u r a is.
cidade de consumir. Quem não consegue participar da lógica
desta sociedade é discriminado.
Isso provoca sentimento de inferioridade e a tendência é o
isolamento, o “cada um por si”.
É possível superar essa situação individualmente se o pro-
blema está na estrutura da sociedade?
É um coletivo de pessoas com interesses comuns, que 1. O que quer dizer “Uma andorinha só não faz verão”
lutam contra a violação de seus direitos econômicos, e “A união faz a força”?
sociais, civis e culturais. É um sujeito coletivo históri-
co político. 2. Por que nos organizamos em um movimento popular?
• Ser movimento é não estar parado. 3. O que você sabe sobre os movimentos dos negros,
dos indígenas, das mulheres, dos sem-terra, da mora-
• Ser movimento é querer uma sociedade mais justa dia e outros? E o que eles conquistaram?
e solidária.
4. Quais outras formas de luta o MNPR pode desenvolver
• Ser movimento é acreditar na capacidade dos para modificar a estrutura desigual da sociedade?
companheiros.
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6. O M ov iment o N aci o n a l d a P o pul a ç ã o d e Rua rua realizavam mobilizações e manifestações por melhores
condições de vida e por políticas públicas que assegurassem
sua autonomia.
Neste momento, uma parte da população em situação de
rua, que trabalhava na catação de material reciclável, formou
as primeiras associações e cooperativas de catadores, depois
organizadas no Movimento Nacional dos Catadores de Mate-
riais Recicláveis.
No final dos anos 1990 e até o início dos anos 2000, inúme-
ras mobilizações nas principais cidades brasileiras tornaram
visíveis, à sociedade e aos poderes públicos, as duras condi-
ções de vida na rua.
Parcerias foram se consolidando por meio de fóruns de de-
bate, de manifestações públicas, com presença de pessoas
em situação de rua nos Conselhos de Assistência Social e de
Monitoramento.
Em 2004, na cidade de São Paulo, ocorreu a barbárie co-
O que é base?
É o alicerce e a força de um Movimento. É formada por Para refletir e debater
pessoas organizadas e identificadas com os princí-
pios e objetivos do movimento. Dá a direção e decide 1. Há vários tipos de liderança: paternalista, conservado-
sobre os rumos que o coletivo deve tomar e sobre o ra, ditatorial ou democrática. Quais características
papel de seus representantes. cada uma delas possui e de que forma influenciam o
movimento?
O que é liderança?
Uma liderança nasce do grupo de base, colabora na 2. Se a construção do movimento é coletiva, como
coordenação do movimento e executa as deliberações garantir uma boa relação entre base e liderança?
tomadas em instâncias de decisão. Ela também repre-
senta o movimento em atividades internas ou exter-
nas, em uma relação de confiança, de compromisso,
de responsabilidade e cumplicidade entre represen-
tantes e representados. Portanto, só pode falar pelo
outro quem tem legitimidade para isso.
Baticundum na bandeira,
O baticundum da mudança chegou
É na roça, é na cidade,
Na sociedade, sou trabalhador.
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