Auto Aceitação
Auto Aceitação
Auto Aceitação
ASSIS, SG., and AVANCI, JQ. A visão que os adolescentes têm de si: imagens nos espelhos. In:
Labirinto de espelhos: formação da auto-estima na infância e na adolescência [online]. Rio de Janeiro:
Editora FIOCRUZ, 2004. Criança, Mulher e Saúde collection, pp. 49-80. ISBN 978-85-7541-333-3.
Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>.
All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0
International license.
Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribição
4.0.
Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons
Reconocimento 4.0.
A ViSÃO QUE OS AOOLESCENTES TÊM OE Si:
IMAGENS NOS ESPELHOS
49
A definição do nível de auto-estima dos jovens segundo a escala de
Rosenberg (1989) permitiu a seguinte categorização: elevada AE - 32,3%
do total de alunos que demonstraram visão muito positiva quanto ao próprio
valor e competência; média AE - 27% que mostraram resultados
intermediários; baixa AE - 40, 7% que registraram percepções mais negativas
do próprio valor e competência.
Todas as dez questões que compõem a escala de auto-estima
mostraram que, ao reduzir a AE, decresce a visão que os jovens têm de
si. Adolescentes de baixa AE são os que mais freqüentemente se
desvalorizam, dizendo-se insatisfeitos consigo mesmos, que não prestam
para nada, não têm muito do que se orgulhar, se sentem um fracasso
ou inúteis e têm menos firmeza quanto a possuir boas qualidades . São
os que mais desejariam ser uma pessoa de valor, ter mais respeito por si
e ter uma atitude positiva em relação a si próprios. Esses jovens possuem
ainda mais incertezas quanto à competência pessoal, não se sentindo
capazes de fazer coisas tão bem quanto os outros. Esse quadro de
desvalorização gradativa de si será o elo condutor de todo o capítulo,
que mostrará o quanto o sentimento que os jovens têm de si próprios
está associado a outros atributos de personalidade e à forma como se
conduzem ao longo da vida.
Em relação ao 'gênero', rapazes e moças ostentaram níveis
equivalentes de auto-estima. Há ainda muitas inconsistências e
controvérsias a esse respeito na literatura especializada. Pesquisadores já
relataram AE mais elevada nos meninos (Martinez & Dukes apud Smith &
Muenchen, 1995), preponderante nas meninas (Ribeiro, 1988) e igual entre
os sexos (lsberg et aI. apud Smith & Muenchen, 1995).
Durante as entrevistas com os alunos de São Gonçalo, observou-se
que as meninas receberam um reforço para o bom comportamento, tendo
sido direcionadas pela família, mesmo que involuntariamente, a
desenvolverem mais habilidades relacionais e afetivas. Em contrapartida,
dos meninos são mais esperadas as habilidades de competência, uma vez
que é recorrente a preocupação dos pais quanto ao seu desempenho na
escola e ao estímulo em atividades esportivas.
50
Mruk (1995) indica que a auto-estima é valorizada pelas meninas
sob um enfoque valorativo, ou seja, em termos de aceitação e rejeição de si
mesmas. Já os rapazes tenderiam a avaliar a si próprios a partir da dimensão
de competência (sucesso e fracasso). Certamente que essas diferenças de
gênero são, essencialmente, conseqüências dos distintos modelos de
interação social e experiências interpessoais que caracterizam homens e
mulheres desde os primeiros anos de vida (Belensky et aI., 1986) . É provável
que uma investigação voltada para aspectos específicos da auto-estima
que destaque questões valorativas e de competência possa evidenciar, de
forma mais clara, diferenças entre gênero e auto-estima.
No que concerne à relação entre 'idade' e AE, constatou-se que há
mais alunos de baixa AE na faixa etária mais nova (54,3% dos estudantes
entre 10-14 anos). A faixa dos 15 a 19 anos sobressai entre os alunos de
médiaAE (53,1 %) e elevada AE (52,5%) . Pouco se sabe sobre a 'estabilidade
instável' da auto-estima, porém há autores que afirmam que haveria
uma oscilação na adolescência : declinaria da pré-adolescência até a metade
dessa fase de desenvolvimento; a partir de então, tenderia a aumentar
(Marsh, 1989).
A 'cor da pele' não se mostrou associada ao nível de AE. Boa parte
dos entrevistados relata possuir a pele branca (43,9%), seguida pela parda
(39,4%), negra (9,8%) e amarela/ indígena (6,8%). O 'nível socioeconômico'
também não mostrou diferenciação segundo o nível da AE: 55% pertencem
aos estratos sociais mais elevados (A e B) e os restantes aos estratos
populares (C, D e E) .
Resultados similares têm sido encontrados em vários países do
mundo. Uma pesquisa sobre auto-estima com quase 2 .000 estudantes de
escolas urbanas de Nova Iorque, muitos deles de origem africana, comprovou
que crianças negras e brancas tendem a ter níveis similares de auto-estima.
A pesquisa traz uma explicação para esse resultado: cada grupo elege suas
regras de sucesso e são a partir dessas que o indivíduo se compara; pessoas
negras consideram a raça branca e negra equivalentes; e os negros não
concordam com os estereótipos negativos que, algumas vezes, lhes são
atribuídos (Rosenberg, 1989) .
51
Outras explicações foram dadas por Mruk (1995), ao não encontrar
comprovação da associação entre auto-estima e situação socioeconômica:
deficiências metodológicas das pesquisas; proteção do grupo cultural,
proporcionando referências positivas à criança; associação restrita a certas
condições, exemplificando que a proteção do grup0 cultural pode não ser tão
absoluta. Quando crianças de diferentes estratos ou grupos culturais interagem
intimamente, aquelas de grupos minoritários ou mais pobres poderiam ter a
auto-estima mais depreciativa, pois sofreriam mais discriminações,
enfrentariam mais obstáculos e possuiriam menos suporte social.
A precária situação socioeconômica pode afetar todo um grupo de
referências significativas e dessa forma atingir a auto-estima da criança.
Ho, Lempers & Clark-Lempers (1995) estudaram 387 famílias norte-
americanas e constataram que uma difícil vida financeira tem um efeito
adverso na auto-estima, mas que esse efeito é mediado pela relação do
adolescente com a família . Esses resultados reforçam a crucial importância
da existência de pessoas significativas para a criança, que lhes passem
valores e bases sólidas, reduzindo, assim, a força dos preconceitos
provenientes da sociedade. Falam também em favor da importância que
cada cultura dá à capacidade de cada família construir-se, relacionar-se e
reproduzir-se com dignidade.
A maioria dos adolescentes é adepta de alguma 'religião' (79%),
independente do nível de auto-estima. As mais relatadas foram: católica
(51,9%) e protestante/ pentecostal (35,1 %). Rosenberg (1989) esclarece que
não é a religião em si que pode estar associada à auto-estima, mas sim o
isolamento e a discriminação que podem advir de algumas afiliações
religiosas. Crianças estigmatizadas por seguirem uma doutrina religiosa
tendem a desenvolver baixa AE, apresentando sentimentos de medo,
ansiedade, insegurança e tensão. Um exemplo é o de uma insegura aluna
de baixa AE que se sente fortemente discriminada em função da religião
que segue. Seu comportamento, hábitos pessoais e familiares a destacam
dos seus pares (toda sexta-feira sai da escola mais cedo para cumprir os
rituais religiosos, não pode freqüentar a escola aos sábados, não sai com
os amigos, nem vê televisão, e não pode ter uma vida descontraída) . Muitos
52
dos seus comportamentos são motivos de chacota entre os amigos, com
quem tem uma relação de desconfiança.
Também não se verificou associação entre auto-estima e 'trabalho
juvenil'. Um total de 18,5% dos estudantes relatou já ter trabalhado (12,3%
com e 6,2% sem remuneração) . Hoje, no país, são 2,9 milhões de
adolescentes entre 10 a 14 anos (16,9%) e 4,8 milhões dentre 15 a 19
anos (45,9%) que trabalham. As crianças e adolescentes representam ainda
10,1% da força de trabalho existente no país no final deste século (IBGE,
2000), excluindo dessa elevada cifra o trabalho de crianças com menos de
10 anos. Estimativas para o ano de 1995 informam que existiam no país
522 mil crianças trabalhadoras com menos de 10 anos (Unicef, 1994).
São pouco conhecidos os efeitos do trabalho infantil sobre o sentimento de
valoração e competência de uma criança em desenvolvimento.
53
que foram evocadas e secundariamente por terem tido prioridade na ordenação
efetuada pelos jovens ao responderem ao questionário.
A principal categoria que representa a forma como os jovens de todos
os grupos de AE (Quadros 1 a 3) se percebem é a da 'alegria/ extroversão'
(NC/ NP1), representando 23,4% do total das evocações. As principais
definições mencionadas foram legal, feliz, alegre, simpático, brincalhão,
divertido, engraçado e extrovertido. Esses atributos refletem um
autoconceito positivo, em que características emocionais como o humor e
a capacidade pessoal de comunicação são fundamentais. Tais atributos
são inerentes a uma fase da vida em que a esperança e o otimismo são
muito valorizados, além de serem próprios de uma imagem de juventude
socialmente construída na mídia e na sociedade em geral.
54
a 'satisfação com o corpo'. Essa representação diz respeito às percepções
diretas e indiretas que o aluno tem do seu corpo e à maneira como este é
percebido pelos outros; reflete a imagem corporal que os adolescentes têm
de si mesmos, estando intimamente dependente da valorização sociocultural
e histórica existente na sociedade e evidencia mais o corpo experienciado
pelo jovem do que o corpo objetivo (anatomia/fisiologia). A palavra 'bonito'
foi a que mais se destacou neste grupo, indicando o quanto a beleza corporal
está presente como valor para a juventude.
Outra categoria que se faz presente no Núcleo Central dos jovens de
médiaAE (Quadro 2) e no NP1 dos demais grupos (Quadros 1 e 3) também
parece fazer parte integrante da representação social dos jovens sobre si
(9,7% do total geral de evocações): os 'valores ético-morais positivos'. Este
autoconceito está baseado em valores formados pela auto-avaliação e pela
percepção proveniente dos outros significativos e da sociedade em geral.
Os termos mais mencionados foram sincero, fiel, humilde e honesto.
55
A quarta categoria afere a 'competência'. Compreende as percepções
sobre como o indivíduo disciplina suas atividades, o desempenho alcançado
nas mesmas e as habilidades cognitivas ligadas ao aprendizado (11,6%
do total geral de evocações) . Tal categoria está presente no NPl de todos
os grupos de AE pela elevada freqüência e posterioridade na ordenação do
pensamento. Ocupa posição secundária as noções de alegria/ extroversão
e satisfação corporal, que são o cerne mais firme da visão que os jovens
têm de si. As palavras mais mencionadas foram inteligente e responsável.
A quinta e última categoria é a de 'atitudes de amizade, ajuda,
atenção, carinho, compreensão e cuidado com as pessoas' (14,5% do total
geral de evocações) que se fez presente no NP1 dos jovens de elevada e
média AE e no NC dos de baixa AE (Quadro 3). Isso significa que é uma
categoria muito presente na fala de todos os jovens - e, portanto, importante
para se compreender a representação que têm de si -, embora surja
primeiramente na fala dos que possuem pior visão de si mesmos. Essa
categoria refere-se a atitudes emocionais no contato com o próximo,
especialmente às percepções das atitudes emocionais e afetivas
disponibilizadas pelo indivíduo nos seus relacionamentos interpessoais e
com a sociedade em geral. As palavras mais mencionadas foram amigo e
carinhoso, demonstrando o elevado valor afetivo presente na fala e nas
relações que os jovens estabelecem.
56
Quadro 3 - Representação social de jovens de baixa auto-estima. São
Gonçalo/ R], 2002
57
- que refletem impulso e agressividade (3,4%), atitudes anti-sociais e de
distanciamento das pessoas (3,3%) e que revelam incompetência (2,9%).
No total, essas características negativas estão presentes em 22,8% das
evocações proferidas pelo grupo de AE menos privilegiada (13,1 % entre
os de elevada AE) .
As tênues distinções demonstradas pelos adolescentes de baixa
auto-estima devem ser entendidas como um sinal, apesar de, na
essência, as palavras positivas preponderarem entre todos os jovens.
Elas deram uma pista a ser explorada, especialmente nas entrevistas
individuais . Nos encontros face-a-face com os alunos, afinidades e
ambivalências se evidenciaram.
Entre as afinidades, comprovou-se os valores introjetados pelos
jovens , independente do nível de auto-estima, refletindo normas
culturais arraigadas. São eles : alegria - otimismo, extroversão,
capacidade de 'brincar com a vida', 'prazer em fazer os outros rirem';
estética - valorização do físico; respeito aos outros - igualdade entre as
pessoas, amizade com franqueza e sinceridade, solidii\riedade (ajudar
pessoas da família e necessitadas). Dentre as ambivalências, tem-se a
segurança e a convicção dos alunos de elevada AE quanto aos valores
positivos; entre aqueles de baixa AE, esses valores estiveram, muito
freqüentemente, misturados à profunda insegurança e a adjetivos
negativos. É como se a síntese individual que esses jovens alcançam
estivesse fragmentada entre o que desejariam ser e o que 'acham' que
conseguem ser.
Outras duas considerações podem ajudar a entender a visão positiva
que a juventude tem de si mesma . A primeira delas é a que entende que
os jovens têm essa atitude como uma forma de defesa perante a sociedade
que lhes impinge uma visão de risco e ameaça (Minayo et aI., 1999) . A
segunda hipótese é a de que, especialmente na adolescência, prepondera
uma visão narcisista de si próprio. Essa valorização excessiva de si, natural
na faixa etária e rica em potencial de transformação social, será posta à
prova ao longo da vida.
58
CONHECIMENTO E ACEITAÇÃO DE SI MESMO
59
Quadro 4 - Distribuição percentual e razão de prevalência entre satisfação
pessoal e auto-estima de alunos das escolas públicas e
particulares. São Gonçalo, 2002
N
I
% N
I
% N I %
MUITO
437
I 86.4 307
I
71,9 300
I 47,1
N
I
% N
I
% N
I %
Pouco
67
I
13,2 116
I
27,2 299
I 46,9
N % N % N %
I I I
NÃO
2
I 0,4 4
I 0,9 38
I 6,0
60
em quando), ficar' emburrada' (depois se acalmando e conversando), estar
'desinteressada' e 'acomodada', precisando de maior incentivo para as
coisas, batalhar, mas não dar o máximo de si (se cobrando maior empenho),
ser brincalhão (às vezes extrapolando na brincadeira), ser nervoso (às vezes),
preguiçoso (de vez em quando), discutir, mas não ser vingativo. Uma jovem
diz que sua sinceridade pode ser considerada como defeito, mas não tem
certeza, pois 'fala quando tem que falar'. Nas expressões utilizadas, nota-
se a cobrança interna por um melhor desempenho e a racionalização das
atitudes . Apenas um adolescente desse grupo mostrou dificuldade extrema
em falar de si, física ou emocionalmente.
Alguns alunos de baixa AE também informaram autoconceitos
positivos: gostar do jeito de ser, ser divertido e alegre, calmo, legal,
sentimental, amigo, carinhoso, legal, descontraído, brincalhão, simpático,
bagunceiro, fiel, gentil, preferir as coisas boas aos defeitos, não guardar
rancor, nem arrumar confusão. Entretanto, vários alunos hesitaram
quanto à existência de características positivas em si: alguns não
souberam dizer o que têm de positivo. Outros acharam que nada têm de
positivo, falando pouco sobre suas características negativas, comentando
pouco ou não sabendo dizer ou se lembrar ('amenos que os outros vejam',
complementa um aluno) . Os atributos negativos são muito mais
freqüentes, alternando a fala de todos osjovens desse grupo : não cumprir
o que diz; ausência de pulso firme, ser malcriado e preguiçoso, falar
muito e ser 'mandona', ser quieto, tímido, envergonhado, nervoso, pouco
emotivo, estourado; ter medo de falar, perder facilmente a paciência, ficar
triste, chorar e ser vingativo. Um dos jovens comenta não ver possibilidade
de mudanças da característica indesejada, mostrando uma visão mais
estática do próprio potencial.
Os alunos de média AE se adjetivaram positiva e negativamente.
Afirmações de que são regulares, de que não são 'nem muito positivos
nem muito negativos', definem o grupo.
A 'aceitação corporal' também decresce com o nível de auto-estima:
52,1% de alunos com elevada AE e 31,8% dos de baixa AE dizem gostar do
corpo do jeito que é (46,6% entre alunos de média AE) . Constata-se que a
61
aceitação corporal é a medida de auto-aceitação que apresentou percentuais
mais baixos para todos os alunos. O pólo oposto de resposta sinaliza grupos
de risco : enquanto 5,5% dos alunos de elevada AE dizem não gostar do
corpo, 21,2% daqueles com AE mais depreciativa relatam que apreciam o
próprio corpo.
Adolescentes de maior auto-estima definiram-se com maior freqüência
como: elegantes, sexy, atraentes, lindos, esbeltos, exuberantes, arrumados e
alinhados. Os de baixa AE se deslocam um pouco mais para o pólo oposto,
dizendo-se mais feios , sem graça, menos elegantes, menos exuberantes,
mais desalinhados, desarrumados e desgraciosos. Toma-se como exemplo
uma palavra que mostrou íntima identificação com os jovens: 82,8% dos
alunos de elevada AE e 66,2% dos de baixa AE se disseram 'atraentes' .
Os insights trazidos pelo contato pessoal com os alunos, durante as
entrevistas mostraram peculiaridades interessantes. Poucos alunos de
elevada AE apresentaram aceitação incondicional do físico. A aceitação
pessoal do corpo vem acompanhada de justificativas críticas para as
limitações percebidas: saber que poderia ser mais bonito, mas valorizar o
jeito de ser; se achar 'razoável' ou que 'dá para o gasto'; que 'defeitos todos
têm' , afinal, 'ninguém é perfeito'. As críticas ao próprio corpo são passíveis
de modificação ou são mais aceitas .
Dentre os de baixa AE, a aceitação do corpo é plena de conflitos,
prevalecendo a idéia de ser 'feio'. Uma jovem diz que fisicamente mudaria
tudo, embora todos digam que é muito bonita (opinião ratificada pela
pesquisadora). Queria ter um pouco de cada coisa que valoriza dos outros,
não reconhecendo em si o que está evidente para os olhos alheios. Longos
e enigmáticos silêncios mostraram a dificuldade dessa adolescente em falar
do seu físico e de si própria.
Os de média AE trazem respostas ambíguas. À afirmação de que
gostam de si e do corpo seguem observações: 'gosto de ser magrinha, mas
não gosto de ser baixinha'; 'às vezes me acho bonita e às vezes horrível' .
Críticas ao corpo, ao tamanho do pé, ao cabelo ressecado e alergias permearam
a fala desse grupo. A ambivalência também varia no tempo: dois jovens se
acham feios, mas ora querem mudar tudo em si, ora apenas alguns detalhes.
62
Vale lembrar que cada pessoa tem um retrato mental do seu físico que
transcende a imagem objetiva vista em fotografias. Esse retrato é uma
construção própria e, muitas vezes, discordante das opiniões que estão no
entorno do jovem.
Não se pode negar que o corpo, por ser a parte mais material e visível
do eu, desempenha grande papel nas percepções, especialmente na
adolescência . O retrato de si mesmo conecta-se à percepção de outros
atributos individuais, afeta a maneira de pensar sobre si como pessoa e os
mecanismos de interação com os outros. Como afirma Dempsey (apud
Moretti & Rovani, 1995: 26), uma crian ça que" entra na adolescência não
se sentindo bem a respeito do seu corpo e de si mesma, terá dificuldades".
A imagem corporal é uma estrutura antropológica decisiva em toda a ação
humana (Schilder apud Erthal, 1986).
Contudo, 'gostar de seu corpo' depende também do condicionamento
cultural- os padrões de beleza que a sociedade impõe, especialmente através
da mídia. Gera-se, com freqüência, uma fonte constante de conflito para o
jovem. Há, pois, na civilização ocidental, uma 'obsessão cultural' por
determinados tipos de corpos-físicos, em parte alimentada pela mídia
(McMullen, 1985; Witter, 1991). Os jovens acabam se ressentindo por
perceberem que não são tão atrativos quanto os modelos televisivos e por
criarem expectativas ilusórias acerca dos futuros parceiros . Tais padrões
postergam ou inviabilizam uma plena aceitação de si.
O 'autoconceito' dos jovens mostrou ser muito positivo, com a maioria
deles se conceituando de forma eficaz não apenas quanto à visão pessoal e
corporal, mas também quanto à capacidade de interação social e ao padrão
ético-moral. Entretanto, há diferenças significativas entre os grupos de auto-
estima. A visão que o adolescente possui de sua habilidade nas relações
interpessoais (autoconceito social) aponta para o privilégio dos adolescentes
de elevada auto-estima: se dizem mais pacíficos, dóceis, calmos e
responsáveis . Os adolescentes de baixa auto-estima se percebem mais
comumente vingativos, rebeldes, briguentos, nervosos e irresponsáveis.
A noção de responsabilidade é aquela em que os jovens mais se
identificaram. Contudo, os alunos de baixa AE dizem 2,2 vezes mais que
63
os de alta AE que são pouco responsáveis pelas coisas que fazem e 3,6
vezes mais que não são responsáveis pelos próprios atos (Quadro 5).
N % N % N %
N % N % N %
N % N % N %
64
CONFIANÇA EM SI MESMO
65
Todo mundo olha mais. Pros defeitos, seus. Mas eu acho que prefiro
o lado das coisas, eu sou mais alegre. Do que preferir olhar mais os
defeitos. Para eu ficar triste. (Beatriz)
Do jeito que você está me vendo. Sei lá. Eu não gosto muito de falar
isso não. (. .. ) Sei lá. Eu tenho um pouco de vergonha. Sou um pouco
fofinha . Deixa eu ver. Fora isso eu não sei não. Não tenho nem idéia
(... ). Sei lá. Que eu sou um pouco assim dedicada que quando eu
quero assim, as coisas, às vezes eu consigo, por enquanto, até agora.
S6. (Bruna)
66
Eu também não tenho muitas condições. Acho que se eu tivesse
condições eu estaria bem melhor! Eu ia ao médico para fazer uma
dieta, tratava da minha pele, vestia uma boa roupa, um bom
calçado, coisa que eu não tenho. (. ..) eu me sinto um pouquinho
triste, tão assim, pequena. Lá embaixo! (Marta)
Eu não sei o que vou falar do jeito que eu sou. Não sei. Sou tímido.
chateio algumas pessoas às vezes. Alegre às vezes, às vezes triste.
Falo com várias pessoas. Alegre na hora de ser (. . .) mais alegre.
Não fico triste com quase (. ..) nada assim. Não sei o que falar de
mim. Gordo. Não muito bonito. Só. Eu brinco com meus colegas. Eu
sou gostoso mesmo, sou lindo mesmo. Às vezes eu me acho mesmo.
Se eu não achar quem vai achar? Eu já fui mais gordo. Agora eu
estou normal mesmo, feio. Eu me acho gordo. Feio nem digo muito,
mas, gordo eu me acho. (Manuel)
67
Quadro 6 - Distribuição percentual e razão de prevalência entre
autoconfiança para alcançar sonhos e metas e auto-estima de
estudantes das escolas públicas e particulares. São Gonçalo, 2002
N % N % N %
N % N % N %
19 3.7 30 7.0 95 14 ,8
N/\o
ALTA X BAIXA ALTA X MÉDIA MÉDIA X BAIXA
N % N % N %
68
com uma dose de utopia que leva a pessoa a tentar o impossível para
atingi-lo. Enquanto o sonho nasce do inconsciente, o projeto junta o
sonho com o caminho das possibilidades relacionadas à capacidade
humana de prever (Claves, 2000) .
Continuar os estudos faz parte fundamental do planejamento futuro
tanto dos jovens entrevistados como de outros grupos dejovens brasileiros
(Claves, 2000; Minayo et aI., 1999) . Todavia, o projeto de futuro é afetado
pelos níveis de auto-estima. A quase totalidade dos jovens de elevada auto-
estima acha que terminará os estudos (95,5%). Entre os alunos de mais
baixa AE, um total de 87% mostrou firmeza quanto à vida escolar. Nesse
grupo, há um índice maior das respostas 'talvez', 'não sei' e 'não vou
conseguir terminar os estudos'.
Essa insegurança também aparece nas respostas sobre se acham
que vão conseguir encontrar um emprego ou progredir no trabalho. Em
relação a obter trabalho no futuro, os jovens de baixa AE respondem 'talvez'
com freqüência 3,2 vezes maior que os de alta AE. No que se refere à
progressão profissional, os de baixa AE responderam 3,2 vezes mais 'talvez'
e 2,7 vezes mais que 'não sabem' se progredirão profissionalmente que os
de AE elevada .
Os garotos de elevada AE projetaram o futuro com profissões de
nível superior: psicologia, educação física, biologia, engenharia eletrônica
ou publicidade. Umjovem deseja ser músico, mas hesita, pois não quer ter
pouco retorno financeiro, mostrando o conflito entre o sonho e a realidade
econômica. A competitividade do mercado de trabalho se faz presente,
sendo necessário 'meter a cara' para 'destruir o pessoal'. Entre os alunos
da rede particular, surgiram outras possibilidades além do curso univer-
sitário, demonstrando uma maior exeqüibilidade para os projetos futuros .
São elas : fazer outros cursos, obter várias qualificações e opções no mercado
de trabalho e abrir clínica própria. 'Ser o bom na área em que escolher'
define a motivação desse grupo para a vida profissional.
A vida familiar também foi lembrada como integrante do projeto de
futuro dos jovens de 'todos' os grupos de auto-estima. As diferentes
representações de família variam do modelo tradicional àquela tardiamente
69
construída e com indivíduos mais independentes. Há também alguns
adolescentes que pensam em viver só . Percebe-se uma mudança
significativa na visão conservadora de família . A fala mais recorrente é a
de independência, notando-se freqüente hesitação em relação ao casamento,
especialmente quando é visto pelo ângulo das responsabilidades, isolamento
dos amigos e da família e impedimento ao trabalho. A visão dicotômica
entre trabalho e casa surgiu por parte de poucas meninas das escolas
públicas, que entendem que ao casarem deixarão de trabalhar. A ambição
de ter filhos foi questionada por alguns poucos jovens.
Dentre os jovens de baixa AE, também se vê uma idéia geral,
positiva, de que a vida será boa e de que concluirão os estudos . Os
cursos mencionados são mais de nível técnico ou militar, com apenas
umjovem almejando ser veterinário. Desejo de bens materiais também
foram lembrados: dinheiro, carro do ano, casa boa, viajar muito e morar
no exterior com maior padrão de vida e segurança . Alguns adolescentes
revelam dificuldade em se ver no futuro, pois 'ficar mais velho é chato,
traz preocupações'; não querem pensar em estudar e trabalhar; estão
satisfeitos com o que têm; não tem nada que queiram ser. Uma menina
vê no seu futuro a solidão, tendo apenas sua profissão por companhia .
Os jovens com auto-estima média idealizam profissões de nível superior
e ou técnico, seguidas da expressão 'talvez', indicando certo grau de
incerteza sobre o futuro, embora alguns digam não querer pensar muito
nesse assunto.
A capacidade de 'autodeterminação' se define pela habilidade de
assumir a direção e o controle da própria vida, traçando o próprio caminho
(Costa, 2002) . É o movimento essencial do amadurecimento humano,
substituindo a tendência dos pais de querer tomar decisões em substituição
aos filhos . Uma das formas de se constatar a autodeterminação é a
capacidade que o jovem tem de lutar por suas idéias e opiniões. Essa
habilidade se reduz à medida que decresce o nível da auto-estima (Quadro 7).
Jovens de baixa AE relatam 5,5 vezes mais que os de alta AE que poucas
vezes ou nunca defendem suas idéias .
70
Quadro 7 - Distribuição percentual e razão de prevalência entre defender
idéias e auto-estima de estudantes das escolas públicas e
particulares. São Gonçalo, 2002
N % N % N %
SEMPREI 489 95.7 365 85.3 493 76.5
MUITAS
VEZES ALTA X BAIXA ALTA X MÉDIA MÉDIA X BAIXA
N % N % N %
71
de admiração, de fé, de curtir pequenas alegrias; estimular disposição para
aprender; acalentar sonhos a partir de degraus alcançados sucessivamente;
aprofundar o sentido de inclusão e o senso de superação. Estudos têm
mostrado que os jovens costumam se ver positivamente quanto à capacidade
de superação das dificuldades (Claves, 2000).
Adolescentes de baixa AE mostraram menor capacidade de resiliência
em várias questões. A 'dificuldade de superação das dificuldades' é uma
delas (Quadro 8). Esses alunos relataram 12,1 vezes mais não se acharem
capazes de superar as dificuldades e de realizar os seus sonhos que os de
alta AE. Também tiveram maior dificuldade em responder à pergunta, não
sabendo opinar sobre sua própria capacidade de superação.
N % N % N %
N % N % N %
N % N % N %
35 6,8 39 9, 1 116 18 , 1
NÃO SEI
ALTA X BAIXA ALTA X MÉD~\ MÉDIA X BAIXA
72
As falas dos entrevistados de alta AE comprovam a firme capacidade
de resiliência, denotando habilidade para transformar as situações difíceis:
"se acontece alguma coisa de ruim, eu tento fazer o possível para mudar
aquilo, fazer aquele ruim ser uma coisa boa" (Antônio). Outra jovem
sobrepuja os graves aspectos negativos de sua vida e revela o quanto ela
poderia ter sido pior e não foi .
73
Quadro 9 - Distribuição percentual e razão de prevalência entre resposta
à frustração e auto-estima de estudantes das escolas públicas
e particulares. São Gonçalo, 2002
N % N % N %
N % N % N %
N % N % N %
6 1,2 2 0 .5 46 7,2
DESISTO
ALTA X BAIXA ALTA X MtOIA MtolA X BAIXA
N % N % N %
16 3,1 24 5,6 42 6 ,5
NÃO SEI
RESPONDER
ALTA X BAIXA ALTA X MtOIA MtolA X BAIXA
74
sistemas externos de apoio que encorajem e reforcem a criança para lidar
com as circunstâncias de vida (Masten & Garmezy apud Antoni, Medeiros
& Hoppe, 1999).
A existência desses fatores de proteção não elimina o problema
existente, mas encorajam o indivíduo a enfrentar as dificuldades,
minimizando o sofrimento desencadeado pela vivência negativa. Por essa
razão, destaca-se a importância de relacionamentos interpessoais seguros
e do sentimento de sucesso na realização de tarefas para a socialização do
indivíduo (Rutter, 1987).
SITUAÇÕES DE RISCO
75
Muitas são as situações de risco social na adolescência traçadas na
literatura, acometendo:
76
Às vezes tem uma hora que eu sinto um aperto no coração assim, eu
não tenho nada pra, não tenho nada pra, como é que se fala? É, pra
sentir isso. Mas tem outras que eu sinto um aperto no coração. Dá
vontade de chorar, aí eu choro, me tranco no quarto e choro, só eu que
sei, porque eu não falo pra ninguém (. ..). Fico deitada assim na cama
aí dá vontade de chorar, eu não sei porquê, mas dá. Aí eu choro, meu
médico falou que é bom chorar. Aí eu assim, mas é muito ruim. Eu
acordo com o olho assim, com o olho inchado, é horrível. (Bárbara)
N % N % N %
94 18, 5 93 21 ,8 28 2 4 3, 9
SIM
ALTA X BAIXA ALTA X MimlA MÉDIA X BAIXA
N % N % N %
77
A baixa auto-estima está associada a vários sintomas depressivos
(Kernis, Grannemann & Mathis, 1991 ; Gee, Williams & Nada-Raja, 2001;
Gonzalez-Fortaleza & Ruiz, 1993) . Sentimentos de desesperança e baixa
auto-estima funcionam como 'mecanismos geradores' de ideações suicidas,
correlacionando-se à sintomatologia depressiva em geral.
A literatura relata que a baixa auto-estima estaria relacionada à
maior ocorrência de 'gravidez' na adolescência. As adolescentes entre-
vistadas informaram se já tinham engravidado e os rapazes se já tinham
engravidado alguma garota. Comprovou-se que os jovens de elevada auto-
estima vivenciaram menos gestação (0,8%) do que os de média (3,8%) e
baixa auto-estima (1,3%) .
A gravidez na adolescência pode significar uma situação de risco
social, pois é freqüentemente uma conseqüência da violência estrutural,
vinculada às situações de pobreza . Dados do IBGE mostram que as
adolescentes pertencentes aos estratos de menor renda são as que têm
mais filhos e em idades mais precoces. Em 1997, 9% das adolescentes
brasileiras de 15 a 17 anos com renda familiar per capita de até 1/ 2 salário
mínimo tiveram filhos nascidos vivos. Dentre as adolescentes com renda
superior a 2 salários mínimos, esse percentual caía para 0,8% (IBGE, 1997).
Informação, suporte familiar, escolar e comunitário, em paralelo com as
diferenciadas expectativas futuras das adolescentes desses dois grupos sociais
contribuem para as distintas taxas observadas.
O 'uso de substâncias' que alteram estados da consciência sempre
esteve inscrito na história humana, desde as comunidades primitivas até
as sociedades pós-industriais e complexas . Com raras exceções, é na
adolescência e na juventude que se inicia o uso de várias substâncias,
lícitas e ilícitas. Entre as drogas lícitas, o consumo de cigarros mostrou
diferença segundo a auto-estima do adolescente. Jovens de baixa AE
consumiram mais cigarros no último ano (15 ,3%) que os de média AE
(12%) e elevada AE (10,5%) .
O consumo de bebidas alcoólicas não mostrou diferença estatística
significativa entre os grupos de auto-estima, embora os relatos de uso no
último m ês indicam uma tendência nesse sentido (p.064) . Mais jovens de
78
baixa AE (23,1%) beberam no último mês, em relação aos de elevada AE
(15,6%) e média AE (19,9%) . Relatos de embriaguez surgiram por parte de
18,3% dos jovens.
O uso de bebidas alcoólicas é amplamente estimulado pela sociedade,
justificando os percentuais encontrados na adolescência. Ocupa, há décadas,
o primeiro lugar na escala de consumo de substâncias psicoativas,
considerando-se tanto as lícitas como as ilícitas (Musumeci, 1994). Entre
estudantes brasileiros de }!l. e 2 11. graus, 15% consomem álcool
freqüentemente (Cebrid, 1997); entre alunos fluminenses, 81,8% já
experimentaram bebidas alcoólicas (Caldeira, 1999).
De acordo com a cultura de diferentes sociedades, algumas
substâncias são consideradas ilegais (Claves, 2000). No Brasil, as
substâncias tóxicas ilegais mais consumidas são a maconha (em maior
quantidade) e a cocaína. Existe uma tendência da carreira do usuário iniciar-
se precocemente, por volta dos 10 anos de idade, e desdobrar-se para o uso
de várias substâncias concomitantemente (Bastos, 1996) .
O uso de drogas ilícitas como maconha e cocaína não mostrou
diferença por nível de auto- estima, talvez por ser baixo o consumo nesta
faixa etária. Apenas 25 alunos consumiram maconha (1,6%) no último
ano e 22 no último mês . Em relação à cocaína, seis jovens (0,4%) relataram
uso no ano e quatro no mês .
Diferentes sociedades apontam que osjovens constituem o grupo etário
e cultural de maior risco para sofrer e para cometer violência. Ajuventude é
reconhecida como a idade da transgressão (Burke, 1995 ; Chesnais, 1981,
1999). Considerar o jovem como transgressor' das normas é outra abordagem
para avaliar as situações de risco em que ele pode estar envolvido.
Observou-se similaridade no cometimento de atos transgressores
nos jovens, independente do nível de AE (54,3%). Apenas duas questões
diferenciaram os grupos : falsificar assinatura de alguém em documentos
(17,1% - baixa AE e 14,4% - alta AE) e ter humilhado outra pessoa (21,2%
e 16%, respectivamente) . As perguntas restantes mostraram
comportamento similar: 12,3% dos alunos danificaram coisas de outras
pessoas propositalmente; 9,4% praticaram furto e 4,1% roubo; 6, 1%
79
agrediram alguém de forma forte o bastante para que necessitasse de
cuidados médicos; 17,5% tomaram parte de briga entre grupos rivais; 2,3%
portaram arma de fogo e 4,3% arma branca.
Outra pesquisa com jovens brasileiros mostrou percentual elevado
de comportamentos infracionais, tais como estelionato, dano ao
patrimônio, furto, porte de arma branca e uso de arma de fogo,
demonstrando a dialética existente na violência, com muitos indivíduos
se colocando simultaneamente no lugar de vítima e agressor (Claves, 2000).
Este capítulo procurou mostrar como a auto-estima está inti-
mamente ligada ao próprio indivíduo e à sua relação com a sociedade. O
sentimento de estar satisfeito consigo mesmo constitui-se em um legado
valioso, uma vez que favorece o enfrentamento de tensões e a coragem
para que o jovem se torne uma pessoa dedicada, responsável, produtiva e
criativa, características importantes para o bem-estar pessoal e social.
Sentir-se mal e inseguro quanto ao próprio potencial traz para o adolescente
um 'gigante' difícil, mas possível de ser enfrentado. O adolescente de baixa
auto-estima é como um 'pequeno Davi' enfrentando um 'gigante Golias ' ,
só que, ao invés de um inimigo externo, ele está incrustado nas emoções e
na confiança em si.
Como refere Sartre (1978), ninguém é a totalidade de suas
determinações, pois tem a chance histórica de se apropriar delas e
transformá-las, re-atualizando em si o protagonismo da liberdade humana.
Esse é um processo que nunca termina; durante toda a vida, o ser humano
estará construindo e reconstruindo a si e aos outros . Não há como dizer
onde começa e onde finda esse caminhar, mas não seria errado admitir que
alguns momentos parecem cruciais nesta jornada (Claves, 2000). Todo
jovem tem um potencial que pode mudar o curso de sua existência, mesmo
quando as marcas deixadas na sua psiquê são profundas.
80