TCC Pós-Graduação
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Professora Orientadora
Presidente
SUMÁRIO
RESUMO...................................................................................................... 07
ABSTRACT.................................................................................................. 08
INTRODUÇÃO............................................................................................. 09
RESUMO
Palavras-chave
ABSTRACT
The object of this work is to make teachers sensible to video production at school.
Video can be used as a tool for a successful inclusion in Elementary and Secondary
Education, as a motivation instrument, and an object of studies, with a wide social
intervention power. Likewise, it may be known and utilized as a language and
technology, and to facilitate the students’ criticism, specially concerning commercial
television.
The three chapters try to establish the Education/Communication interrelation
under the paradigm of a new field of studies, the Educommunication, which presents:
a brief School history through the years; the influence of the Mass Communication
Means on Culture, habits and ways of learning and understanding the world; and a
communication a pedagogy for citizenship as well.
Key words
INTRODUÇÃO
Os educadores que não atentam para esta obsolescência, parece não se darem
conta do fato de ser muito difícil resistir aos apelos da linguagem dos meios de
comunicação, com suas estratégias usadas para criar o apelo ao consumo,
embrulhadas em pura sedução e convencimento - especialmente na TV, que
conta com o reforço considerável da força da imagem em movimento. Estes
alheiam-se ao seu papel, enquanto formadores de opinião, pois exatamente por seu
caráter e pelas suas demais características, esta linguagem, precisa e deve ser
manipulada até a exaustão, enquanto objeto de estudo nas escolas.
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São educadores que parece que não levam em conta também que o vídeo pode
enriquecer a aprendizagem e a comunicação, facilitando a exposição de um tema.
Ao contrário das aulas expositivas ele é um método que aproxima, ao possibilitar a
releitura do cotidiano, com suas linguagens múltiplas, superpostas e interligadas,
auxiliando na informação, tornando a sua mensagem essencialmente sensorial e
visual, residindo aí a sua maior força. Atuando através da música, do desenho, da
fotografia, da palavra falada e escrita, do gestual, do teatro, da dança, etc.,
contemplando as Inteligências Múltiplas de Gardner ou a Inteligência Multifocal de
Augusto Cury,entre outras teorias.
Mais ainda porque na cabeça do aluno vídeo não é aula, umbilicalmente ligado
à TV ele relaciona-o ao prazer e lazer, colaborando para que o estudante
aprenda brincando por assim dizer, motivo pelo qual precisa ser aproveitada essa
expectativa positiva para atraí-lo para os assuntos que interessam ao
planejamento pedagógico.
Se for levado em conta também que a produção de vídeo pode motivar todos os
alunos para o convívio escolar, com bastante intensidade – e o vídeo é muito bom
nisto - para brincarem de fazer televisão, enquanto aprendem, e, em especial
segurar aqueles alunos que, por apresentarem necessidades educativas, com
ou sem deficiência, se evadem da escola, por não se sentirem bem lá, devido aos
inúmeros insucessos, ou por medo de falhar.
Abra-se então às portas da escola para a sua majestade o vídeo. Pois a escola
inclusiva tem a responsabilidade de assegurar que o aluno deficiente seja um
membro integrante e valorizado na sala de aula ou no grupo e a produção de
vídeo pode inseri-lo de diversas formas, até mesmo como assunto, tema, matéria
de estudo - no caso o próprio deficiente pode ser entrevistado - ou seus
familiares, na sua impossibilidade - outras pessoas acometidas da mesma ou de
outras deficiências que são exemplos de superação ao conseguirem se inserir
satisfatoriamente na sociedade, suas famílias, a deficiência em si, os
especialistas que tratam dela e outros quaisquer elementos a ela ligados. A
Escola em si é tema de trabalho, a rua, a comunidade, o mundo, a vida, aqui e em
qualquer lugar.
Para sua execução foram consultados diversos autores, conforme pode-se ver
Maria Teresa Egler Mantoan, Rosita Edler Carvalho, Susan e Willian Stainback, Piter
Mittler, Leny Magalhães Mrech, Romeu Kazumi Sassaki e Cláudia Werneck.Na área
France Kouloumdjian, Walter Bezerra, Edgar Morin, José Manuel Moran , Heloisa
sonhos e cantada em prosa por esta autora. O segundo fala de um sujeito antes e de
explicita uma forma de trabalhar-se com o vídeo na escola, para que a comunidade e
Uma onda crescente de violência e guerras que assola o mundo, taxas elevadas
de juros, desemprego, poluição, falta de assistência à saúde e tantos desastres
ecológicos, ao final do século XX - e que se estendem nos primórdios do século XXI
- são, na opinião de Fritjof Capra - autor de O Ponto de Mutação e o Tal da Física, -
prenúncios de uma crise de percepção, que reúne tudo isto e muito mais de negativo
no e para o universo.
Segundo Capra (1982), a nova visão do mundo sugerida pela física quântica não
é compatível com a sociedade atual; não reflete o harmonioso estado de
relacionamento que se observa na natureza. Para se alcançar tal estado de
equilíbrio dinâmico, seria necessário uma estrutura social e econômica radicalmente
diferente. Uma revolução cultural, na verdadeira acepção da palavra.
Tudo aponta, nos dias de hoje, para uma época de revisão dos fins e dos meios
da Educação, que precisa deixar de ter o controle autoritário nas mãos. O
autoritarismo, enquanto detentor da verdade e do conhecimento, precisa dar lugar a
outros métodos e modelos que conduzam à criação de uma autoridade interna em
cada indivíduo, bem como à consciência de grupo, para que a expansão da
democracia e da cidadania, como sistema de vida, possa ser considerada um
objetivo e condição necessária ao desenvolvimento individual.
E hora de revisar, para poder suprir, a ação educativa da família, que vem
declinando do seu papel, consideravelmente. Com o afrouxamento da relação mãe-
filho, conseqüência do afastamento da mulher, pelo trabalho fora do lar, mais tarefas
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couberam à escola, que precisa, acima de tudo, formar alguém capaz de pensar e
agir por si mesmo, livremente, sem preconceitos e, através de decisões altruísticas,
preferindo o bem social à qualquer vantagem ou bem individual.
Quem possui consciência crítica indaga, investiga, força, choca, aceita e delega
responsabilidades. Sabe que é, na medida que é, e não pelo que parece. Procura
livrar-se dos preconceitos e está aberto a revisões.
Falhando na sua tarefa pedagógica a escola passa a apontar cada vez mais uma
série de patologias nos estudantes. Mas o que é pedagógico e o que é patológico ?
Quem pode fazer este diagnóstico ? E a dimensão social onde se localiza ? Não dá
para esquecer que os alunos chegam à escola marcados por profundas
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A Psicologia afirma que se alguém não quer aprender, não o deseja, por qualquer
motivo, não há aprendizado. O problema pode residir fundamentalmente no
professor ou no seu método, mas também naquilo que é ensinado, bem como numa
combinação entre diferentes proporções de tais elementos.
Existem fatores que são motivos de grandes conseqüências sociais, tais como: a
luta pela liberdade e pela sobrevivência; a busca pela segurança; o desejo de vencer
na vida e alcançar os seus ideais; a aspiração por uma vida melhor... Certas
necessidades humanas universais, como: a necessidade de afeição, a de pertencer
a um grupo social, a de ser respeitado pelos outros, são fatores de interdependência
também.
Qualquer pessoa é uma ilha e só pode construir uma ponte para comunicar-se
com as outras ilhas se, primeiramente, dispor-se a ser ela mesma, e se lhe é
permitido ser ela mesma, como referenda Rogers (1961) “Descobri que é quando
posso aceitar outra pessoa, o que significa especificamente aceitar os sentimentos,
as atitudes e as crenças que a constituem como elementos integrantes reais e vitais,
que eu posso ajudá-la a tornar-se pessoa: e julgo que há nisto um grande valor.”
(p.235).
A idade Moderna foi palco da ascensão de uma nova e poderosa classe que se
rebelava contra os modelos vigentes. O homem mais interessado pela natureza
passa a estudar: Astronomia, Matemática, Artes, Medicina, Biologia, dentre outras
áreas. A Revolução Francesa marcou o período do Iluminismo, caracterizado pelo
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A autora, na obra citada, observa ainda que apesar das críticas ao modelo
escolanovista, ele trouxe contribuições importantes, especialmente na questão das
metodologias de ensino, tais como as inovações que levaram o rádio, a TV, o vídeo
e o computador para a sala de aula e sua conseqüente rede de informações jamais
imaginadas antes.
Convém lembrar que essa instituição chamada escola nem sempre existiu e
também não foi fruto de uma descoberta, mas uma invenção social do homem!
Portanto, deve servir a ele, interessar-se por ele e ajudar na sua construção.
Há tempos atrás, como já foi referido, o saber era transmitido de outra forma,
cabia aos mais velhos ensinarem aos mais moços o que sabiam fazer, o meio social
era o contexto educativo. Foi só na Idade Média que a educação tornou-se produto
da escola, como é hoje. Com esta finalidade, pessoas especializaram-se na tarefa
de transmitir o saber, em espaços específicos, reservados para essa atividade
destinada às elites. O ensino serviu aos nobres e depois à burguesia e, com raras
exceções, continua, até os dias de hoje, servindo às classes estabelecidas no alto da
pirâmide social.
Diante deste desafio, ela não pode mais ficar presa ao passado, à tradição. E isto
abre um espaço para o surgimento de uma escola crítica e inovadora:
transformadora, que, para tanto, precisa conhecer a sociedade, os seus modelos e
valores, a ciência com as suas novas tecnologias, seus inventos que devem servir,
acima de tudo, ao homem e não apenas ao capital.
Não há mais como se tolerar a interpretação errônea, dada muitas vezes, nas
salas de aula – porque leva facilmente à discriminação – quando o professor trata
como deficiência do aluno as suas diferenças culturais. Esta falta de tato e preparo,
por parte do professor não é mais cabível em pleno século XXI, pois implica na
despotencialização da criança.
E, quanto aos realmente deficientes, a escola também precisa estar aberta para
recebê-los, para suprir suas Necessidades Educativas Especiais, NEE, pois eles
também merecem fazer parte da comunidade em que se inserem e não estarem
mais segregados em Escolas Especiais. O sonho é uma Escola Regular de Especial
Qualidade para Todos. O sonho é transformar a escola num lugar para onde se vai
feliz –ou em busca da felicidade – diariamente, para ensinar aprendendo e aprender
ensinando, num lugar para se estudar e se trabalhar contentes.
E para isso, é necessário que a escola realize uma proposta pedagógica mais
comprometida, que dê vez e voz também às crianças das classes populares e as
com NE, que muitas vezes se entediam ou se revoltam com as tarefas que lhe são
impostas na sala de aula.
A escola tem que ouvir e compartilhar das múltiplas vozes que se cruzam na sala
de aula, advindas de uma cultura híbrida, constituída das interações realizadas pelos
alunos em diferentes espaços e tempos, onde eles vivem, trabalham, brincam e
estudam. Uma escuta sensível para a história das crianças que estão na escola e
ao mesmo tempo já enfrentam o trabalho, na luta pela sobrevivência, por exemplo,
pode construir um outro olhar para esta realidade que, compreendida, pode ser
trazida para a sala de aula enriquecendo o ambiente escolar.
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Do ponto de vista prático há um consenso, quase que geral, de que a escola não
pode mais fechar os olhos diante dos dramas de nossa realidade: os preconceito, os
tabus, a ignorância, o analfabetismo funcional, as guerras, a devastação ambiental,
o racismo, a intolerância, as drogas, a violência, a incidência de doenças
sexualmente transmissíveis, a gravidez precoce e muitos, muitos outros problemas-
temas ...
do futuro clama pela aproximação entre o ser e o saber, pelo rompimento dos muros
que separam a escola do mundo. O desafio que hoje se coloca, ultrapassa a esfera
da simples aquisição de conhecimento para dar sentido e aplicabilidade ao que é
aprendido.
E, para que a escola esteja cumprindo o papel que lhe é destinado, a cada
época, é necessário que ela própria se constitua em um espaço permanentemente
aberto à formação, a especialização e a atualização dos seus educadores, visando
a maior qualificação da ação pedagógica. Considerando-se isso, do ponto de vista
teórico, os educadores não podem mais desconsiderar a contribuição de
importantes teorias que dão conta da função do ambiente social no desenvolvimento
e na aprendizagem.
Espera-se, que todos reflitam sobre: que escola é essa que se está apresentando
às crianças que - em sua essência ativas e curiosas - quando chegam à sala de
aula perdem a vontade aprender ?
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Cláudia Werneck (1999) faz uma bela analogia política sobre os preconceitos no
seio da sociedade que tanto atrapalham e dificultam a existência de um mundo
inclusivo, onde todos tenham direito de viver a sua individualidade, direito a ter vez e
voz. A jornalista diz que é muito difícil escalar o muro do preconceito e, ao descer,
pular para o outro lado, porque se aprende a subir nele desde criança. E também
porque do outro lado está: a informação, o novo, o desconhecido que chega a dar
medo e - ao mesmo tempo - parece até piegas, de tão libertador que é. Quem sobe
o tal muro pode: olhar lá de cima, comparar as paisagens, analisar as possibilidades
e até permitir-se a sonhar. Talvez, um dia, até salte para o outro lado! Mas, mesmo
quando alguém salta do muro do preconceito, pelo mesmo lado que subiu, já desce
uma pessoa diferente. Que se saiba esperar é o convite!
O genuíno sentido do respeito vai além da generosidade, por isso é tão difícil
solicitar ou exigir que alguém tenha um comportamento respeitoso. O respeito tem
que nascer do desejo e pressupõe uma relação sistemática e de interação entre
quem respeita e é respeitado.
As sociedades preferem ser lembradas mais por suas identidades do que por
suas diferenças. Quando a diferença é uma deficiência, isso se agrava mais. É como
se a humanidade tivesse um irrefutável padrão de qualidade. A história comprova
que pessoas muito diferentes da média - na aparência ou no modo de ser - têm sido
vistas como deslizes da natureza. Quem não lembra, por exemplo, do Carnaval do
Rio de 1997, quando a Unidos do Porto da Pedra - cujo samba-enredo, de Mauro
Quintana, tinha como tema a loucura? Na ocasião, o carnavalesco levou para o
sambódromo os usuários dos serviços psiquiátricos dos hospitais Pinel e Jurujuba,
porque ficou sabendo que o sonho de muitas pessoas consideradas loucas era sair
numa escola de samba... O carnavalesco não vacilou em tornar o desejo daquela
comunidade em realidade, encontrando uma forma prazerosa e inteligente de
romper com alguns mitos, especialmente o de que os loucos são necessariamente
perigosos. Muitos participantes da Escola confessaram que nunca haviam estado tão
perto dessas pessoas e muitos se encantaram com o samba no pé e com a
harmonia que a maioria deles demonstrou durante o desfile.
Para a autora citada, muitas das discussões atuais no Brasil, a respeito do tema,
minimizam sua importância, atribuindo-lhe um sentido mais ético e politicamente
correto, do que propriamente à importância da sua fundamentação científica e
teórico-prática. Opositores – para ela – pertencentes ao Paradigma da Segregação,
Prevenção ou Integração, que vêem a Inclusão apenas como uma moda sem
fundamentação alguma. Mas, ao contrário:
De 1964 a 1968, o mundo inteiro foi palco, no meio universitário – e também fora
dele – do movimento em defesa dos Direitos Humanos aplicado a todos os sujeitos,
visando a garantia do seu acesso e ingresso nos processos sociais e educativos.
Esses movimentos sociais representavam a retomada prática da luta pela
Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948.
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Fato este que a Pedagogia Institucional foi a primeira a perceber, dando importância
ao contexto educacional em que o aluno era visto e trabalhado na escola, conforme
a situação, ele poderia ou não se desenvolver.
Estes são fatos históricos que comprovam que a Educação Inclusiva tem seu
incubadouro num problema social maior, um problema público relacionado com a
maneira como os deficientes tem sido tratados ao longo da civilização, quando: na
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Pré-história, eram literalmente jogados fora, assim que eram paridos; passando pela
Idade Antiga, onde eram muitas vezes presos nos porões; indo para a Idade Média,
época em que eram exorcizados ou queimados vivos, para afastar as crenças
daquele tempo de que eram endemoniados; seguindo o seu calvário pela Idade
Moderna, quando a deficiência obtém a categoria de patologia, fazendo-se então o
uso de medicamentos para tratá-los; e, chegando, finalmente, aos dias atuais,
onde a luta continua pela sua inclusão na escola regular e na sociedade que o vem
segregando ao longo dos séculos e, hoje, já bem próximos de obterem a conquista
dos seus direitos de cidadãos respeitados.
Ainda segundo Mrech (1999), foi na década de 60 que nos países nórdicos
surgiu pela primeira vez, o Princípio da Normalização aplicado aos portadores de
deficiência, numa tentativa de lidar com as instituições de uma forma menos
estigmatizadora. Na Suécia, a partir de 1968, já era possível se encontrar crianças
deficientes sendo introduzidas no Sistema Municipal de Ensino.
Nos Estados Unidos, naquela época, os deficientes eram deixados pelos pais nas
instituições que faziam o atendimento contínuo do deficiente, escolas residenciais e
asilos. Constatou-se que este tipo de atendimento não funcionava.
No entanto, foi só em 1975 que surge nos EUA a primeira lei pública em defesa
dos deficientes. A Lei Pública – nº 94 -142 de 1975 – chamada de Ato de Educação
a Todas as Crianças Portadoras de Deficiência, que garantia os serviços de
Educação Especial; Fundos Federais para auxiliar os Estados na educação dos
deficientes; procedimentos e requisitos de auditoria para uma administração
transparente, em todos os níveis do governo; e assegurava que as decisões e
serviços aos deficientes fossem realizados adequadamente. Através dela, toda
criança deficiente passou a ter acesso a um ensino de qualidade.
Individual tem sido a alternativa mais escolhida pelo professor que trabalha no
Paradigma da Inclusão para avaliar os seus alunos.
Mas, segundo Geraldo Bueno, citado por Mrech (1999), para que a inclusão
venha a dar certo nas escolas brasileiras, que apresentam altos níveis de repetência
, de evasão e baixos níveis de aprendizagem - como comprovam as estatísticas -
torna-se necessário que tanto os sistemas de Educação Especial como os de Ensino
Regular se adeqüem à nova ordem e colaborem entre si, construindo práticas
políticas, institucionais e pedagógicas, que garantam a qualidade de ensino não só
aos alunos com NEE, mas a todos os alunos do Ensino Regular.
Fica claro que a simples inserção de alunos com NEE, nos sistemas regulares
de ensino, sem qualquer apoio ou assistência aos sistemas regulares de ensino,
acabará fatalmente em fracasso. Querendo ou não, o movimento de inclusão no
Brasil já começou, como afirma Mrech:
Além da denúncia acima, a autora alerta ainda para alguns cuidados que
precisam ser tomados por parte dos governos, em todos os níveis:
Não há como discordar de Mrech, quando afirma que a proposta da Inclusão não
está a acontecer apenas porque é politicamente correta e apresenta princípios
éticos. Ela traz também em seu bojo outros interesses, postulados e princípios deste
modelo social, político e econômico. A sociedade do 3º milênio está centrada sobre a
informação, que será o grande eixo articulador do futuro, “A informação é atualmente
o produto de maior consumo. Não é ao acaso que a informática e a Internet tenham
se desenvolvido muito. Elas são as fundações desta nova sociedade.” Mrech (2000,
45
p. 21)
Uma escola inclusiva, portanto, além de ser a escola aberta a todos que a
procurarem, deve constituir-se num lugar do qual todos fazem parte, em que todos
são aceitos, onde todos ajudam e são ajudados por seus colegas e por outros
membros da comunidade escolar, para que suas necessidades educacionais sejam
satisfeitas. O objetivo maior da Educação Inclusiva deve fazer com que a escola
atue, através de todos os seus escalões, para possibilitar a integração das criança
que fazem parte da comunidade.
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reprovação escolar como sendo um mecanismo perverso utilizado pela escola, com
a participação ativa do professor, sobretudo o das escolas públicas.
Mantoan (s.d) fala de uma instituição em que todas as crianças aprendam a ser
pessoas e onde o sucesso da aprendizagem esteja relacionado com a exploração
dos talentos de cada um, centrada nas possibilidades e não nas dificuldades dos
alunos.Outra exigência passa pelo rompimento das barreiras curriculares e das
fronteiras disciplinares, através da integração dos saberes, decorrentes da
interdisciplinaridade. O rumo é a policompreensão da realidade e a multiplicidade de
saberes. Que a avaliação seja uma análise do percurso de cada estudante do ponto
de vista de suas competências para resolver problemas de toda ordem.
Mais recentemente autores como Gardner buscam mudar a visão única, imutável
e divinizada da inteligência, rompendo com os testes e a avaliação que embasam a
idéia de que ela é privilégio de alguns e não pode ser desenvolvida. A teoria de
Gardner – que estuda as Psicologias do Desenvolvimento e a Cognitiva - ao
defender as múltiplas capacidades, contribui com o respeito ao ser humano em sua
individualidade, na medida que democratiza a aprendizagem, estendendo-a inclusive
àqueles considerados socialmente incapacitados. Desafia a concepção clássica da
inteligência e os padrões dos testes que marginalizam e excluem alunos avaliados
como incapazes pelos padrões da Psicologia Cognitiva clássica.
Porém, de forma oposta, e talvez mais obviamente, até mesmo o indivíduo mais
imaturamente talentoso naufragará sem algum ambiente apoiador positivo, afirma o
autor:
importantes.
Gardner (1994, p. 243).
Gardner, na obra citada, considera que uma intervenção intensiva nos primeiros
anos de vida da criança é crucial para seu desenvolvimento. Essa intervenção pode
fazer com que várias crianças atinjam um nível promissor, de grande destaque em
uma determinada habilidade e possivelmente auxiliem as que apresentem
dificuldades ou prejuízos em uma capacidade. Para ele, a visão limitada e única da
mente, pode levar ao desperdício de talentos, pelo fato de determinados indivíduos
não se encaixarem nos padrões testáveis de inteligência.
Gardner ainda, na mesma obra, reitera que na maioria das sociedades a escola
tem um papel fundamental na formação da inteligência, por ser valorizada
culturalmente como espaço de oportunidades de aprendizagem, no qual a
inteligência se revelará. Além da escola, os valores sociais e os conteúdos
considerados necessários à sobrevivência da cultura são determinantes na definição
da inteligência numa determinada sociedade.
55
Fala-se muito em barreiras físicas, em dar acesso às pessoas para entrar nas
escolas, nas instituições públicas, mas também existem barreiras ligadas à atitude.
Há pessoas que são contra a Inclusão, sem saber nem porquê. Já pessoas
engajadas ao processo de Inclusão, como a professora Priscila Augusta Lima, da
Faculdade de Educação da UFMG, que vem há alguns anos trabalhando na
proposta inclusiva, no Centro de Desenvolvimento da Criança – Creche, da mesma
Universidade, onde crianças autistas, crianças surdas, entre outras, estão incluídas
57
na sala comum, acredita que o termo deficiência precisa ser modificado, porque,
muitas vezes os assim chamados são pessoas com dificuldades numa área
específica, mas são capazes de realizar trabalhos em outra área. Como ela explica
em um pronunciamento no 1º Simpósio de Educação Infantil, promovido pelo CDC –
Creche UFMG, em novembro de 2002.
A professora também declara que em sua prática observou que as crianças têm
uma rejeição muito pequena aos deficientes, isso quando as têm:
Tornar a inclusão real, é condição sine qua non para se viver, como justifica
58
Mazzotta sugere ainda que, enquanto cidadãos de uma sociedade que se pretende
democrática, “ temos que propugnar por uma educação de qualidade para todos. E
essa busca não comporta qualquer exclusão, sob qualquer pretexto.” Ou seja, a
construção de uma educação que abranja todos os segmentos da população e cada
um dos cidadãos implica numa ação baseada no princípio de não segregação, ou ,
de inclusão de todos, quaisquer que sejam suas limitações e possibilidades
individuais e sociais.
Mantoan (2003) considera que é pelo fato da educação ser um direito natural e
indispensável, que quem tem de mudar para receber todos os alunos é a escola. Diz
não fazer acordos quando se propõe a lutar por uma escola para todos, sem
discriminações, sem ensino à parte para os mais e para os menos privilegiados,
porque a perspectiva de se formar uma nova geração dentro de um projeto
educacional inclusivo é fruto do exercício diário de cooperação e de fraternidade, do
reconhecimento e do valor das diferenças, o que não exclui a intenção com o
universo do conhecimento em suas diversas áreas.
A autora esclarece que uma escola para todos não menospreza o conhecimento
científico, sistematizado, mas também não precisa se restringir a instruir os alunos a
dominá-los a todo o custo, mesmo que os professores tenham aprendido a ensinar
segundo a hegemonia e a primazia dos conteúdos acadêmicos, embora os
professores tenham, naturalmente, muita dificuldade de se desprenderem desse
aprendizado, que refreia os processos de re-significação do seu papel, seja qual for
o nível de ensino em que atuem.
A educadora convida aos professores para refletirem sobre o papel social dos
professores, se seria tão elementar, reduzido a meros instrutores, que transmitiriam
um saber fechado e fragmentado, em tempos e disciplinas escolares que
aprisionam nas grades curriculares, e “ que conduzem e norteiam a capacidade de
conhecer de nossos alunos, transformando-os em seres passivos e acomodados a
aprender o que definimos como verdade?” Mantoan (2003, p. 10).
A educadora defende a inclusão total, numa escola inclusiva que receba, desde
a Educação Infantil, todas as crianças atendendo às suas diferenças, sem
discriminá-las, sem trabalhar à parte com alguns alunos, através de um ensino que
funcione com a abolição completa dos serviços segregadores de educação especial,
como os programas de reforço escolar, as salas de aceleração, as turmas especiais,
etc. Todos juntos, como na metáfora da inclusão que o caleidoscópio expressa. Nas
palavras de Marsha Forest, uma das grandes defensoras da inclusão citada por
Mantoan:
Nos seus sonhos de Mantoan pairam – e nos da autora deste trabalho também –
a construção de uma escola que vai contribuir para que cada aluno ponha em
prática a sua capacidade de aprender, de acordo com suas características pessoais.
Uma escola especialista que atenda a todos os alunos e não apenas alguns deles,
porque as dificuldades de alguns alunos não são apenas deles, mas resultam, em
grande parte, do modo como o ensino é ministrado e de como a aprendizagem é
concebida e avaliada.
Para os que dizem que a escola inclusiva é uma utopia pessoas que se negam
até mesmo a debater o assunto, os mesmos autores tem uma resposta:
brasileiro. Mas são, sem dúvidas, muito úteis ao atual momento de reforma
educacional. Poderão sofrer adaptações para o sistema educacional brasileiro que
vem lentamente, e com muita dificuldade, implantando a inclusão. Servem no
mínimo como fonte de pesquisa, subsídios para espelhamento, para que se planeje,
do Iapoque ao Chuí a Escola inclusiva.
Na mesma obra, Sassaki (1998), afirma que o envolvimento das famílias nas
práticas inclusivas da escola só de efetiva realmente se: existe, entre a escola e a
família, um sistema de comunicação (caderneta,via telefone,etc.) com o qual ambas
as partes concordam; os pais participam ativamente das reuniões da equipe escolar,
para planejarem e adaptarem o currículo e compartilhar os sucessos alcançados; as
prioridades da família são utilizadas como uma base para o preenchimento do Plano
Individualizado de Educação (PIE) do seu filho, onde serão acrescentados o
conteúdo curricular; os pais recebem todas as informações ( os direitos dos pais,
práticas educativas atuais, planejamento centrado-na-pessoa, notícias da escola,
etc.); os pais recebem ou têm acesso a treinamento relevante, sendo incluídos no
treinamento com a equipe escolar; os pais recebem informações sobre os serviços
de apoio à família; existem à disposição de membros das famílias serviços de apoio
na própria escola (acompanhamento e grupos de apoio, informações sobre
deficiências, etc.); os pais são estimulados a participarem de todos os aspectos
operacionais da escola (voluntários para salas de aula, membros do Conselho da
Escola, membros dos CPMs, treinadores, etc.); existem recursos para as NE de
família (reuniões após o horário comercial, intérpretes da língua de sinais, material
traduzidos, etc.); e a escola respeita a cultura e a etnicidade das famílias e
reconhece o impacto desses aspectos sobre as práticas educativas.
cumpridas e aconselham aos pais a entrarem na justiça para exigir seus direitos, a
coisa vai muito mal... Se esses mesmos MCM fizessem reportagens imparciais e
mais consistentes, explicando o que é necessário para que uma escola seja
realmente considerada inclusiva e ajudassem aos professores, diretores,
funcionários, pais e aos próprios alunos - e a sociedade como um todo - a cobrar
dos governos, em todos os seus níveis, as condições, mínimas que fossem, de
execução da prática inclusiva, a coisa andaria mais rápido, por certo. Se esses
MCM não ficassem apenas julgando, a título de denúncia, mas mostrando a triste
realidade das escolas, estas deixariam de ser bodes expiatórios ....
Sassuki (1998) reúne ainda onze características essenciais para que uma escola
seja considerada inclusiva. São elas:
O que acontece nas escolas no mundo todo é reflexo de cada sociedade onde
elas funcionam. Valores, crenças,tabus, preconceitos e as prioridades da sociedade,
transpõem os portões da escola indo se instalar nos seus sistemas educacionais. E
no Brasil,onde uma cifra escandalosa de crianças está fora da escola porque nunca
a freqüentou – pelos mais torpes motivos que este trabalho vem detalhando – e que
deveria envergonhar qualquer governo em todos os seus níveis – ou porque dela se
73
evadiu, por motivos que deveriam fazer corar muitos professores, a coisa não é
diferentes. Parafraseando Mittler pergunta-se: será que o mundo – e em especial o
Brasil – pode pagar o preço de não educar suas crianças? Respondendo não e
argumentando com Bennelt (1999), citado por Mittler, na obra referida, considera-se
que:
Conforme Mittler (2003) a fórmula para romper este círculo vicioso é tentar-se
prevenir a dificuldade de aprendizagem. Antes mesmo que elas surjam, o professor
deve planejar um currículo acessível em um ensino planejado de tal forma que fique
assegurado um modo de garantir uma aprendizagem efetiva, caso contrário:
Ninguém pode ser excluído de ser capacitado para a inclusão, defende Mittler
(2003) que diz que todos têm algo a aprender sobre ela. Durante a sua jornada, o
autor aposta que os professores vão construir e ampliar suas habilidades, encima
das experiências que já possuem, com a finalidade de atender as necessidades de
aprendizagem de todas as crianças. Além de criarem oportunidades para a sua
própria capacitação, eles precisam de oportunidades para refletirem sobre as
propostas de mudança que mexem com seus valores e com suas convicções e
ainda com as mudanças em sua prática profissional cotidiana.Por isso, quaisquer
dúvidas ou reservas que apresentem neste momento de implantação da inclusão,
não devem ser consideradas reacionárias ou anuladas, pois o momento é de
mudança e isso perturba as pessoas. Mas é otimista dizendo que a maioria dos
professores já possuem muito do conhecimento, habilidades e competência
requeridas para a educação inclusiva, o que lhes falta é confiança em seus atributos
Quando se fala que numa escola inclusiva contar com a parceria dos pais é algo
imprescindível, não se está falando somente dos pais de crianças deficientes, mas
dos pais de toda e qualquer criança, refere o autor. As relações entre a família e a
escola precisam ser repensadas, precisa-se inventar novos modos de trazer-se os
pais e os professores para um relação de trabalho,o que não é só válido para a
causa da inclusão, mas beneficia a todas as crianças, os pais e os professores,
assegura Mittler(2003). Além de uma relação mais estreita e saudável, essa nova
maneira de se relacionar pode provocar um impacto sobre a aprendizagem das
crianças e promover a inclusão social, assim como a inclusão escolar, sobretudo dos
excluídos. Nas suas palavras:
Apesar das escolas terem mudado, a maioria dos pais tem pouca experiência sobre
essas mudanças, estima o autor, que diz que a expressão “vínculos com a
comunidade” são freqüentemente pensados em termos de parcerias econômicas,
em vez de serem pensados em termos de parcerias com os pais. Além disto, alerta
que, necessariamente, a ausência dos pais nas reuniões não são sinônimo de
desinteresse pela educação de suas crianças. São juízos mal formulados a esse
respeito, já que os cursos universitários não tocam nesse assunto. A maioria dos
professores não tiveram oportunidades para freqüentar capacitações sobre as
necessidades de pais e famílias e como eles poderiam trabalhar juntos. Quantos
tiveram a oportunidade para escutar os pais que falam sobre as suas necessidades
e percepções, pergunta-se o autor. Algum curso ou disciplina referente a educação
infantil talvez tenha tocado por cima no assunto...
GOALS (QCA e DfEE, 1999),que parecem relevantes e úteis para tornar os pais
parceiros da Escola e dos professores, que servem para qualquer faixa etária, dos
quais seguem abaixo alguns discriminados :
O autor explica que uma verdadeira parceria, como em qualquer relação próxima,
implica em respeito mútuo, em vontade para aprender um como o outro, uma
finalidade comum, que no caso são as crianças. Um compartilhamento de
informações e de sentimentos, uma confiança mútua podem quebrar barreiras até
então existentes, visando o crescimento do aprendiz. Muitos pais não se sentem
bem-vindos na escola, muitas vezes sentem-se ignorados ou humilhados. Há
esperança. Nas palavras do autor:
Num país onde 10% dos mais ricos concentram cerca de 45% da renda nacional,
e onde 10% dos mais pobres, não chegam a concentrar 1% desta renda, segundo
dados do IBGE de 1997, citados por Carvalho (2003), os excluídos do acesso e
usufruto dos bens e serviços historicamente acumulados são numerosos. Esta
exclusão tem gerado efeitos danosos, alguns irrecuperáveis, nessa população que
deveria estar na escola. A perda da auto-estima e da identidade, por exemplo, os
sentimentos de menos-valia, que intensificam os comportamentos de apatia
acomodação ou, ao contrário, reações violentas de revoltas são costumeiros. Como
afirma Caraggio (1996):
A educação de quaisquer alunos deve ter como objetivo sua formação como
pessoas capazes de pensar e de agir, capazes de exercitar, plenamente, sua
cidadania. Isso requer do professor, além de habilidades e criatividade para
transmitir um saber crítico, uma enorme curiosidade ligada a interesses acadêmicos.
Para Carvalho (2003), isto é condição sine qua non, para que a escola inclusiva dê
certo:
85
[...] temos uma longa trajetória e boas razões para unir nossos
esforços, discutir nossas idéias, buscando alternativas que nos permitam[...]
perspectivas mais otimistas em relação às respostas educativas de nossas
escolas para todos. Uma escola que permita ajustar o ensino às diferenças
individuais e que construa uma cultura de paz. E que a moldura de paz e de
temperança esteja presente em todas as nossas ações!”
Carvalho (2003, pp. 168 e 172).
Carvalho (2003) diz que embora o Brasil possua uma das leis mais
progressistas para a infância e adolescência, ainda está longe de garantir, de fato,
os direitos à educação de portadores de deficiência. Além das barreiras
arquitetônicas e as dos meios de transportes, que não estão adaptados, há a
famigerada barreira atitudinal. E, o que é pior, entre os professores, inclusive! Há os
que temem a escola inclusiva, outros que a toleram e muitos que a rejeitam.
Os que a temem, dizem que estão despreparados para lidar com dificuldades de
aprendizagem, principalmente de deficientes. Muito impregnados, ainda, pelo
modelo médico, sugerem as ações de especialistas, supostamente os mais
86
E há os que rejeitam tais alunos em suas turmas. Dizem não terem sido
preparados em suas formações, estão desmotivados com os baixos salários que
recebem e, provavelmente, é o medo ancestral da deficiência em si, que os habita,
e lhes causa repulsa. E, quem for portador desse receio, realmente não está apto,
precisa tratar-se psicologicamente ou abandonar a profissão, afinal, Ana Freud já
dizia que os pedagogos precisariam passar por uma análise para trabalharem com
seus alunos passando pela relação de transferência própria, segundo Freud, do
processo de ensino-aprendizagem,sem problemas...
Parece claro que alguns professores nem “com banda de música” estarão
preparados para enfrentar a escola inclusiva. Parece lógico que esses devam
procurar outra profissão. Quanto aos futuros professores, acredita-se que ao
escolherem a carreira venham, se não preparados, para tal tipo de escola, afeitos à
idéia,pelos menos.
A Escola ideal, que se quer para os pequenos cidadãos que nela chegam e entre
seus muros desabrocham, deve levar em conta a diferença, propriedade inata e
característica de cada ser humano. Ela conta muito no trabalho pedagógico e, sob
sua luz, o educador pode atuar com probabilidade de maior êxito. Cada aluno é
único e como tal deve ser considerado e tratado. A partir da sua individualidade, do
seu mundo, com seus problemas e acertos, medos e avanços, sua cultura, com
criatividade, conforme Feltrin (2004, p. 17): “dando uma de alfaiate, costurando
todas as teorias e mais a última, do aluno em pauta”, a Escola – e cada educador no
processo de ensino-aprendizagem, pode chegar a uma tentativa de solução para
cada questão a ser abordada, mais ou menos adequada
Verdade seja dita, sempre houve sérias dificuldades impostas aos docentes. A
dificuldade de formação acadêmica e as poucas chances que o profissional da
educação encontra em sua real necessidade de se atualizar. A incompetência dos
poderes públicos, aliada a grande diversidade cultural do país, com sua enorme
extensão territorial, somadas às dificuldades sócio-econômicas, e ao descaso e a
pouca valorização do trabalho do professor e da educação como investimento de
formação de um povo, tornam o trabalho do professor bem mais complexo. Diante
desses pressupostos, nem sempre – para não dizer quase sempre – é das mais
acolhedoras. Quando o trabalho é sério, é sempre intenso e exige a dedicação de
profissionais idealistas e sonhadores.
Isso sem mencionar-se os que nem chegam a escola ou logo dela se evadem,
por vários motivos, tais quais as dificuldades de transporte, pouca cultura e vontade
dos pais, pela dificuldade de conseguir uma vaga próxima de casa, porque precisam
89
trabalhar para ajudar nas despesas de casa e, ainda tantos outros desalentadores
motivos ...
Quando se pensa que vão longe os tempos de escrever mil vezes “Não devo
conversar em aula”, como castigo, ajoelhar-se em grãos de milho, as humilhações
públicas de fazer xixi nas calças porque o aluno não pode ir ao banheiro na hora da
aula, as notas baixas por pontos descontados pelo comportamento, ficar de pé,
encostado à parede, de costas para o grupo, as expulsões de aula e
encaminhamentos para a direção ou o dar a mão à palmatória, ou ao professor para
apanhar com ela, melhor dizendo ... Nem tudo foi visto ainda!
Em pleno século XXI, num dos países mais promissores do globo terrestre, e
onde a educação é considerada de bom nível - inclusive, Inclusiva! - pasmem, nos
USA, um ato violento, vil, bárbaro, covarde – felizmente flagrado por uma câmera de
vídeo que teve suas imagens cedidas aos MCM de vários países, entre os quais o
Brasil – mostra a prisão de uma menina negra de 5 anos, por quatro policiais, saindo
da escola algemada, aos gritos, por “mau comportamento” numa escola de
90
Na vida social, uma pessoa pode ser levada a buscar mil subterfúgios
para burlar uma lei que passa longe de regular o funcionamento daquela
sociedade. Pois muitas leis não fazem outra coisa se não, tentar cercear os
indivíduos por todos os lados ou privilegiar os interesses de minorias. E o
adolescente costuma ter um pouco de dificuldade com as leis.[...] Os
detentores do poder ou os que se acham com tal autoridade sempre cobram
as transgressões à lei, uns com multas em dinheiro, outros com a prisão. Uns
com castigos “leves”, outros com a pena de morte.
Feltrin (2004, pp. 48 – 49).
E, mesmo nos dias atuais, subsiste a idéia de que a diferença, a diversidade, não
existe. Tanto que prevalecem nas escolas – especialmente nas públicas – o fracasso
escolar, a repetência, a evasão, os problemas de indisciplina. Os famosos problemas
de aprendizagem, no dizer de Jussara Hoffman – em suas palestras – “problemas de
ensinagem”, isso sim! É necessário uma educação apropriada e de alta qualidade
para alunos com NEE ou não, numa escola inclusiva que disponha de recursos
materiais e humanos para o atendimento conveniente dos alunos que demandam
serviços.
Feltrin (2004):
Para Vgygotsky , a escola não pode esquecer-se , em seu processo
educativo, da educação que aconteceu e acontece na família, já que esta
assume importância e exerce impacto sobre a criança, embora essa
influência não seja única, determinante e irreversível. De fato, na escola a
criança vai encontrar um ambiente que lhe possibilita uma vivência social
diferente daquela da família. [...] ao conceituar a Zona de
Desenvolvimento Proximal como ensina ou avaliação de habilidades e
sub-habilidades diferentes na aula, deve-se enfatizar a transferência de
conhecimento e, especialmente, de habilidades daqueles que sabem
mais para aqueles que sabem menos e vice-versa.
Feltrin (2004, pp. 74 – 75.)
A escola ideal tem professores que respeitam a interação de cada um com o seu
meio próprio e permitem um exercício do funcionamento cognitivo dentro de
situações reais do cotidiano, e não sobre situações clínicas artificiais ou conteúdos
dissociados da realidade deles, como assinala Araújo (1998):
Segundo Carvalho (2004), para que eleja-se uma escola inclusiva de qualidade,
verdadeiramente democrática, um espaço de exercício de cidadania, todos os
envolvidos com a educação devem lutar, especialmente: a)por melhores condições
de trabalho e de salário dos professores;b) por maiores investimentos na formação
dos professores; c) pela realização sistemática de avaliações do processo ensino-
aprendizagem, ao invés de estatísticas de desempenho dos sistema educacionais;
capacitação dos gestores com vistas à administração compartilhada; d) pela
constante reflexão de todos os educadores a cerca do sentido da educação num
mundo globalizado e em permanente mudança;e) pela educação na diversidade,
ampliando-se e aprimorando-se as oportunidades de aprendizagem por toda a vida;
f) por constantes relações dialógicas entre professores dentro das escolas e entre
escolas; g) para que o direito à educação seja entendida como um bem essencial
que deve ser extensivo a todos.
Mantoan (2003) também aponta uma série de mudanças pelas quais a escola
tradicional deve passar para tornar-se inclusiva. Entre eles está a organização
curricular. O sentido das disciplinas acadêmicas muda na escola inclusiva. Para que
haja integração entre as áreas do conhecimento e este atinja a concepção
transversal nas propostas não disciplinares, as disciplinas passam a ser meios e
não fins em si mesmas. “O estudo das disciplinas partirá das experiências de vida
dos alunos, seus saberes e fazeres, dos significados e das suas vivências, para
chegar à sistematização dos conhecimentos.” (p. 66)
Para Mantoan (2003) as atuais turmas seriadas devem ceder lugar a implantação
dos ciclos de formação, solução justa e adequada, que concede mais tempo para
aprender, articulando o processo aprendido de acordo com o ritmo e as condições
de desenvolvimento dos aprendizes. Da mesma forma o trabalho individualizado
96
Mantoan (2003) sugere também a exploração dos talentos dos alunos, com a
finalidade de desenvolver suas predisposições naturais, ao ensinar atendendo as
suas diferenças, mas sem diferenciar o ensino para cada um, abandonando o ensino
transmissivo. A diferenciação é feita pelo próprio aluno, ao aprender, e, não pelo
professor, ao ensinar. Também a administração escolar – diretor, coordenador,
supervisor, funcionários – deve tornar-se mais pedagógica , a par do que se passa
nas salas de aula, e perder seu caráter burocrático e fiscalizador. Quanto à
avaliação, a escola deve priorizar o desenvolvimento de competências dos alunos
diante de situações-problema, ao invés de decorebas. O tempo de construção de
uma competência varia de aluno para aluno.
mas o respeito e a valorização dessas diferenças nos alunos, dos seus diferentes
saberes e não–saberes. Como tão bem refere Carvalho (2004):
Uma vez valorizada a diversidade quero e ajo para que meus alunos
tenham experiências e saberes múltiplos, não se terá mais a inquietação
de responder se alguém aprendeu como o outro, mas de observar e
acompanhar curiosamente o jeito inusitado e mágico de cada um viver,
de cada um vir-a-ser, no seu tempo, cuidando, acolhendo,
compartilhando diferentes jeitos de aprender.”
Carvalho (2004, p. 11).
E, para que esse sonho vire realidade, num mundo de paz e de harmonia, a
escola precisa ser: além de ética, prazerosa, integrativa, promotora de condições
necessárias para o desenvolvimento das potencialidades de cada um e de todos.
Quem, se não a escola, é um lugar próprio para formar gerações que elejam,
defendam e ajam de acordo com esses valores?
A escola que transformará este planeta numa sociedade mais justa, igualitária,
harmônica, pacífica, fraterna e solidária, depende muito da fé, da dedicação, da
motivação, da auto-estima e da preparação dos seus professores, que auxiliarão na
construção deste mundo inclusivo. “O mundo pode não os aplaudir, mas o
conhecimento mais lúcido da ciência tem de reconhecer que vocês são os
profissionais mais importantes da sociedade.” (p.168), argumenta o psiquiatra
Augusto Cury (2003), autor de Inteligência Multifocal, indicando, que os destinos da
humanidade estão nas mãos dos professores.
Cury (2003) alerta a sociedade de que não são só os salários e a dignidade dos
professores que precisam ser resgatados, mas também a sua saúde, pois a maioria
dos mestres brasileiros está estressada, portadores da SPA, Síndrome do
Pensamento Acelerado, que afeta também a maioria dos alunos, na sua opinião. O
psiquiatra aponta algumas pesquisas, coordenadas por ele, que revelam que: na
Espanha, 80% dos professores estão estressados, na Inglaterra, o governo está
tendo dificuldades para formar professores, especialmente para o Ensino
Fundamental e Médio, poucos querem abraçar a profissão; e no Brasil, 92% deles
apresentam três ou mais sintomas de estresse e 41 % , dez ou mais sintomas.
Qual é a escola dos seus sonhos? Para mim, é a escola que educa
os jovens para extraírem força da fragilidade, segurança da terra
do medo, esperança da desolação, sorriso das lágrimas e sabedoria
dos fracassos.
Cury (2003, p.155 ).
A memória – impossível de ser deletada, a menos que haja uma lesão cerebral
ou um grave problema psíquico ou mental - é o terreno onde é cultivada a
educação, e o registro, nos seus meandros, é automático e involuntário. Tudo o que
o sujeito, pensa e o universo de suas emoções se produz a partir da memória. Cada
idéia, pensamento, reação ansiosa, sentimento de amor ou desamor, o integrará.
“A emoção é que determina a qualidade do registro. Quanto maior o volume
emocional, maior a chance de ser registrada”, afirma Cury (2003, p. 23). Por isso, as
pessoas lembram com muitos detalhes de tudo que foi muito - ou pouquíssimo -
prazeroso para si ; se a dor for imensa, pode-se até bloquear tudo, como fazem as
crianças que sofreram muito na infância e que nem lembram deste período.
ferem, mas no entanto não querem nada com nada, sem metas, sem futuro, sem
sonhos, deixam-se levar pela vida....
A escola não tem conseguido educar a emoção, referenda o autor, que alerta
que na formação dos jovens é necessário atentar para que tenham uma emoção
rica, protegida e integrada.
Em Nunca Desista dos Seus Sonhos, Cury ( 2004) critica a cultura das provas
existentes nas escolas do mundo inteiro, porque desrespeita a riquíssima pedagogia
do ensaio e erro, que promoveu as grandes conquistas da história. Explica que ao
ser punido pelo erro, com notas baixas, no caso da escola, o sujeito não só registra
de maneira privilegiada o fato, através do fenômeno RAM, Registro Automático da
Memória, como inicia-se ali - ou ratifica-se - o processo de obstrução da sua
ousadia e inventividade.
110
O cientista relembra que nos alicerces das grandes descobertas existem grandes
falhas, nos alicerces das grandes falhas existem grandes sonhos de superação. Se
pais e professores não mudarem suas atitudes de recriminação frente ao erro de
seus filhos ou alunos, o medo de errar vai lhes sendo incentivado, acabando por
gerar um eu tímido e inseguro.
O que diferencia os jovens que fracassam dos que têm sucesso não é a
cultura acadêmica, mas a capacidade de superação das adversidades da vida,
acredita o psiquiatra, que lamenta que o medo tenha sepultado milhões de sonhos,
em todas as épocas, pois quando os sonhos individuais incluem os outros ou
buscam alguma maneira de contribuir para o bem da humanidade, os temores e os
dissabores da vida são suportados mais facilmente.
111
Cury (2004) enaltece o valor dos sonhos, o valor do livre pensar e o valor dos
pensadores apaixonados pela existência, afirma que nossa espécie está doente.
Acometida de: SPA, pessimismo, estresse, individualismo, competição predatória,
falta de amor, falta de fraternidade, falta de sabedoria, superficialidade, racismo,
preconceitos... Defende que as idéias devem servir à vida e não a vida às idéias,
pois os piores inimigos de uma idéia são aqueles que a defendem radicalmente, até
porque – como todos sabem - os grandes pensadores que a humanidade já viu
nascer foram exímios questionadores que usavam a arte da dúvida e da crítica para
ampliar o mundo das idéias e dos ideais.
mundo seria menos engessado, no dizer de Cury, e os alunos cultivariam uma das
nobilíssimas características da inteligência: pensar, pensar bem! Cury chama a
atenção dos professores sobre a importância de gerarem a consciência crítica em
seus alunos ,com um exemplo bem ilustrativo. Um professor de História que ensinar
sobre escravidão, terrorismo, nazismo ou guerras, fornecendo apenas informações,
sem teatralizar suas aulas e fazer com que os alunos se coloquem no lugar dos que
sofreram, estaria sendo lesivo aos seus alunos ao ministrar esse tipo de aula, pois
no seu entender sua atitude estaria apenas levando os alunos à insensibilidade
diante das atrocidades humanas.
Cury (2004) convoca seus leitores a sonharem com uma humanidade fraterna,
solidária, inclusiva, gentil e unida, porque os homens sempre foram mais iguais do
que imaginam nos bastidores de suas mentes, onde se encontram os sonhos, que,
por serem verdadeiros projetos de vida, resgatam o prazer de viver e o sentido de
vida, que representam a felicidade essencial que todos procuram.
E por falar em sonho, a escola com que Rubens Alves - poeta, pedagogo,
teólogo, escritor e psicanalista, que vive ocupado a diagnosticar as doenças da
Pedagogia - sempre sonhou, sem imaginar que pudesse existir, existe, conforme
contam seis crônicas suas, de puro encantamento, dedicadas a sua existência,
reunidas em Alves (2003).
Imagine uma escola onde, desde a mais tenra idade, as crianças habituam-se a
pedir a palavra para falar e a ouvir os outros em silêncio e com atenção. Disciplina,
concentração, alegria e eficiência são a tônica da casa. A Escola da Ponte não é
como as brasileiras, com uma professora e sua turma ou uma turma e seus
professores. Um único espaço é partilhado por todos, sem separação, sem
campainhas anunciando a troca de disciplinas e de professores. Pequenos e
grandes são companheiros numa mesma aventura! Todos se ajudam, partilham de
um mesmo mundo! Não há competição, há cooperação!
Pode-se encher a boca dizendo que esta é uma escola inclusiva. Tão logo são
matriculados, numa etapa chamada de iniciação, os alunos agrupam-se por
empatia, o que conta é o afeto. Posteriormente os grupos se formam em torno de
interesses por um tema a ser pesquisado. Reunidos com um professor,
estabelecem um programa de trabalho de 15 dias, quando são orientados sobre o
que e onde devem pesquisar. Utilizam muita Internet. Ao final do período reúnem –
se de novo para avaliar o que aprenderam. Se o que aprenderam foi adequado o
grupo dissolve-se e outro é formado para estudar outro assunto.
Nas salas imensas, professores, espalhados por entre os alunos, fazem seu
atendimento, quando necessário. Nelas as crianças tem direito de ouvir música para
ajudá-las a trabalharem em silêncio. Em cada grupo há um aluno especial. Se a
professora não puder acompanhar diretamente o trabalho de uma das crianças, logo
um colega atento se disponibiliza para a ajudar.
114
Num depoimento dado sobre a Escola da Ponte, por vários elementos daquela
comunidade escolar, pais, professores, alunos, encontra-se essa pérola,
descrevendo-a, a pedido de Rubens Alves, como a escola que sonhava encontrar
para seus filhos :
...que compreenda como os saberes são gerados e nascem. Uma
escola em que o saber vá nascendo das perguntas que o corpo faz. Uma
escola em que o ponto de referência não seja o programa oficial a ser
cumprido (inutilmente), mas o corpo da criança que vive, admira,
encanta-se, espanta-se, pergunta, enfia o dedo, prova com a boca, erra,
machuca-se, brinca. Uma escola que seja iluminada pelo brilho dos
inícios.
Mãe e professora, in Alves (2003, p. 73).
Como a autora deste trabalho situa-se entre as pessoas que não acreditam em
coincidências e percebe todas as coisas como perfeitamente encaixadas no
universo, que conspira a favor de quem assim vê e vive a vida, dentro de uma
ordem exemplar, embora pareça por vezes caótico, aqui vai uma reflexão sobre dois
115
textos que lhe caíram às mãos e que servem como uma luva para a temática aqui
desenvolvida.
que navegassem como peixes, debaixo das águas. Estudava a água, consagrada
por ele como princípio vital do universo. Estudava os fósseis e concluiu que há
milhões de anos os cumes das montanhas haviam estado submersos nas águas.
Arquiteto, músico, poeta, engenheiro, geólogo o pintor viveu na Itália, de 1452 a
1519.
O psicanalista Rubens Alves pensando nas discrepâncias sociais de cada
época imaginou o que seria a vida de Da Vinci nos dias de hoje... Em plena era da
tecnologia e da qualidade total, a IBM lhe daria um emprego? Um homem com
tantos interesses e habilidades concomitantes, por certo despertaria suspeitas já na
apresentação do seu currículo... Mas, e se ele conseguisse o tal emprego e num dia
qualquer seu chefe lhe pedisse um relatório sobre um projeto de pesquisa e Da Vinci
lhe respondesse que não poderia naquele momento fazê-lo, pois estava preocupado
com um outro projeto estético, um quadro que pensava em pintar?
“É. [ pondera o autor] Acho que Leonardo Da Vinci não teria vida
longa nem como funcionário da IBM, nem como professor de uma de
nossas universidades.[...] Gastar tempo pensando em música,
jardinagem, política, ecologia, é uma doença a ser evitada a todo
custo,em benefício do controle de qualidade do pensamento.[...] é cortar
as asas da imaginação a fim de que ele marche ao ritmo dos tambores
institucionais.”
Rubens Alves in A Alegria de Ensinar.
Não é bem assim que a maioria das escolas faz com as diversas e singulares
crianças que chegam para ser seus alunos, não respeitando as suas características
diferentes, as suas visões de mundo, as suas percepções? Não lhes são cortadas
as asas? É hora de mudar! Escolas não são exércitos, muito menos fábricas! Chega
de tanta reprovação e evasão! É hora de acolher a todas, escancarando seus
portões e fazendo da escola um lugar para se estar e ser feliz, enquanto se aprende
a aprender com os alunos para toda a vida. Até porque chega de tanta reprovação e
evasão e porque para aprender a pensar é preciso primeiro aprender a dançar,
assim falava Zaratustra.
Quem dança com as idéias descobre que pensar é alegria. [...] pular
de pico em pico.Não ter medo da queda. Foi assim que se construiu a
ciência. [...] O conhecimento nada mais é que a aventura pelo mar
desconhecido, em busca da terra sonhada. Mas sonhar é coisa que não
se ensina. Brota das profundezas do corpo, como a água brota das
profundezas da terra.
Rubens Alves(2000).
A escola regular de especial qualidade para todos, acalentada nos sonhos desta
autora não é a escola cantada em prosa pelo grande poeta Mário Quintana, in
Poesias:
A escola cidadã, está mais para aquela cantada em versos pelo grande educador
Paulo Freire, citado em Currículo Estruturados: implantação de programas
pedagógicos, IESDE Brasil S.A., à página 7:
Escola é ...
O lugar onde se faz amigos,
Não se trata só de prédios, salas, quadros, programas,
Horários, conceitos ...
Escola é, sobretudo, gente,
Gente que trabalha, que estuda,
Que se alegra, se conhece, se estima.
.............................................................
“Nada de ilhas cercadas de gente por todos os lados.”
Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir
Que não tem amizade a ninguém,
Nada de ser como o tijolo que forma a parede,
Indiferente, frio, só.
Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar,
É também criar laços de amizade, é criar ambiente de camaradagem,
É conviver, é se “amarrar nela”!
Paulo Freire.
Esta escola deve estar atenta ao investimento afetivo nas relações que se
estabelecem dentro dela, relações que ajudam a construir – na e para a cidadania –
aprendizes capazes de inventar, criar, renovar e descobrir fórmulas de promover a
própria vida, apropriando-se dela com as próprias mãos, que precisam receber e
distribuir muito carinho.
Ensinar pra Freire (2003) exige:a corporeificação das palavras pelo exemplo;
correr riscos ao aceitar o novo, não que tudo o que foi aprendido tenha que ser
jogado fora, pois o velho que preserva sua validade ou encarna uma tradição através
dos tempos continua novo; rejeição a qualquer forma de discriminação, que ofenda a
substantividade do ser humano e negue a democracia; reflexão crítica sobre a
prática, pois é pensando criticamente sobre a prática de hoje ou de ontem que se
pode melhorar a de amanhã. Como ele mesmo lamenta:
Freire sempre acreditou que nenhuma formação docente pode fazer-se alheada
do reconhecimento do valor das emoções, da sensibilidade, da afetividade, da
intuição e do exercício da criticidade, que implica da passagem da curiosidade
ingênua à curiosidade epistemológica, do conhecimento bancário para o
conhecimento crítico. Constituir-se num professor crítico é tornar-se um aventureiro
122
responsável”, na expressão do mestre, que diz que as coisas até podem piorar
quando se está predisposto à aceitação do diferente, do novo, mas diz saber
também que é possível intervir para melhorá-las. A passagem do homem pelo
mundo não é predeterminada, a vida é feita de possibilidades, e não de
determinismos. Quando a presença humana no mundo não se faz no isolamento,
isenta da influência das forças sociais, culturais e históricas há esperança. “ ‘Não sou
esperançoso’, disse certa vez, por pura teimosia, mas por exigência ontológica.”
Freire (2003, p. 54).
A busca da cidadania plena de todos os alunos não deixa de ser um ato político,
do qual todos são co-partícepes na escola. A educação é um processo para o qual
devem convergir inúmeras variáveis, inclusive a motivação de cada participante e a
crença de cada um faz a diferença para que a mudança ocorra, aponta Carvalho
(2004). Baseada no Index para a Inclusão – texto produzido pelo Centro de Estudos
para a Educação Inclusiva em conjunto como o Centro de Estudos sobre as
Necessidades Especiais, da Universidade de Canterbury, da Inglaterra, em 2000 –
sugere que no projeto político-pedagógico, em questão devem constar três
dimensões, a saber:
a dimensão cultural – referindo-se aos aspectos filosóficos que devem nortear
os objetivos a serem atingidos;
125
É sabido que não são poucos os educandos que tem suas NE interpretadas como
especiais - ou muito diferentes da “média” - por parte de professores mal preparados
pelo sistema de ensino. Isto contrapõe-se a idéia de que enquanto cidadão de uma
sociedade que se pretenda democrática, a luta por uma educação de qualidade para
todos não comporta qualquer exclusão, sob qualquer pretexto. Portanto, é preciso
que, para além dos ideais proclamados e das garantias legais, procure-se conhecer,
o mais profunda e brevemente possível, as condições reais da educação brasileira,
que vem deixando muito a desejar.
Mazzotta (s.d.) reivindica que ao educador não cabe o papel de mero executor de
currículos e programas predeterminados, mas sim de alguém que tem condições de
escolher atividades, conteúdos, experiências que sejam mais adequadas para o
desenvolvimento das capacidades fundamentais dos seus alunos, levando em conta
as suas necessidades e desenvolvimento cognitivo em que se encontra. Nas suas
palavras:
O autor refere também que a medida que for se concretizando a idéia do currículo
especial para cada escola, direção para a qual o pensamento educacional vem
apontando, as diferenças entre educação especial e educação comum vão diminuir e
“conseqüentemente, o ‘currículo especial’ se converta em um dos elementos de uma
ação sócio-educacional global, que assegure, na medida necessária, o interesse por
cada membro da comunidade, seja qual for sua condição e o tipo de necessidade.”
Mazzotta (s.d., p.05)
Já foi dito que o estudo e a prática da ética não pode ficar fora dos portões da
escola, mas, como adverte Morin (2000), a ética não pode ser ensinada por meio de
lições de moral. Deve formar-se nas mentes dos estudantes, com base na
consciência de que o ser humano além de ser indivíduo, faz parte da sociedade e da
espécie, o que implica em que o verdadeiro desenvolvimento humano deve
compreender o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das
participações comunitárias e da consciência de pertencer à espécie humana.
Ensinar a identidade Terrena, terceiro saber, passa pelo ensino da história da era
planetária, que se inicia com o estabelecimento da comunicação entre todos os
continentes no século XVI, de forma a mostrar como todas as partes do mundo se
tornaram solidárias, sem contudo, ocultar as opressões e a dominação. Aborda a
crise planetária, onde todos os seres humanos compartilham os mesmos destinos
com problemas comuns de vida e morte.
Com os sete saberes que se inserem na idéia de uma identidade terrena onde o
destino de cada pessoa joga-se e decide-se em escala internacional, cabendo à
129
pessoa deve ser encorajada a seguir seu próprio desejo profundo de aprender, de
crescer, de criar, “em vez de ser planejada como o quer Skinner, creio que a
aprendizagem deveria ser muito espontânea e ocorrer quando a pessoa sente que
aquilo vai ser aprendido está relacionado com suas próprias necessidades e seu
próprio desejo de se desenvolver.” Carl Rogers in Evans (1979 , p. 45).
Rogers (1983) acredita que a personalidade real de cada ser humano mostra-se
através do relacionamento com os outros. Para ele os relacionamentos oferecem
ocasião para a pessoa funcionar por inteiro, para se harmonizar consigo mesmo,
com os outros e com o meio-ambiente. Em assim sendo, haveria palco melhor para
o desabrochar da personalidade real do que no seio das escolas inclusivas?
O autor define a pessoa de funcionamento integral como aquela que possui uma
personalidade plena, em contínuo estado de fluxo. É flexível, e mutável. Vive cada
momento, vive no presente, está sempre aberta à experiência. É capaz de
reestruturar suas respostas, à medida que a experiência sugere, permite ou exige
novas possibilidades. É também uma pessoa que confia na sua intuição e possui
cada vez maior capacidade de tomar decisões.
Preocupado com o amor, com a liberdade e com os sentimentos, Neil age mais
com o emocional do que com a racionalidade, porque acreditava que, se educarmos
as emoções, o intelecto se cuidará por si mesmo. Para ele, constranger uma criança
a estudar algo é o mesmo que um governo de forma autoritária obrigar a adoção de
uma religião.
O autor aponta que a função prioritária da comunicação talvez seja a que com
maior freqüência é mencionada: a de ser elemento formador da personalidade. Sem
a comunicação, o homem não pode existir como pessoa humana. Ilustra o
enunciado com um caso histórico que ocorreu em 1797, quando alguns caçadores
capturaram um menino que deveria ter em torno de 12 anos, num bosque da França.
Estava nu, vivia como um selvagem. Portava-se como um animalzinho, grunhia,
mordia e arranhava quem dele se aproximasse. Em Paris, expuseram-no em uma
jaula (o selvagem de Averyon ). Posteriormente um médico tomou a criança aos
seus cuidados e se propôs a ensinar-lhe a falar. Após vários anos ele chegou a
aprender algumas palavras e conduzir-se como um jovem civilizado. Entretanto o
135
educador teve que convencer-se de que sua inteligência não ultrapassava certos
limites mínimos.
Por outro lado, todo mundo sabe que a maioria esmagadora dos alunos, em
todas as faixas etárias, locupleta-se com a programação televisiva, ao mesmo tempo
em que seus professores, numa proporção um pouco menor, também se delicia em
frente a telinha. Mas, nega-se essa realidade na sala de aula. Por isso mesmo,
Edgar Morin recomenda que os professores em vez de ignorarem as séries
televisivas, mostrem que, por meio de convenções e visões estereotipadas, da
mesma forma que o romance e a tragédia, elas falam das aspirações, temores e
obsessões humanos: amores, ódios, incompreensões, mal-entendidos, encontros,
separações, felicidade, infelicidade, doença, morte, esperança, desespero, poder,
traição, ambição, engodo, dinheiro, drogas.
Como ele mesmo diz, sobre a boa cultura artística: “ em toda grande obra de
literatura, de cinema, de poesia, de música, de pintura, de escultura, há um
pensamento profundo sobre a condição humana.” Morin (2003, p. 44). Para o autor,
o romance e o filme que põem á mostra às relações do ser humano com o outro,
com a sociedade e com o mundo revelam a universalidade da condição humana, ao
mergulhar na singularidade de destinos individuais, localizados no tempo e no
140
espaço.
Ela coloca erotismo onde não existe, num fogão, numa geladeira e
aumenta a voltagem dos objetos já dotados naturalmente de carga
erótica. Parece que a erotização caminha lado a lado com o progresso da
semi-frigidez e da semi-impotência.
Morin (1977, p. 112).
Ele aponta também o que diferencia essa cultura de todas as outras: sua
exteriorização multiforme, maciça e permanente de violência que jorra sem cessar
sobre os homens pacíficos das cidades [ não tão mais pacíficos , da edição desta
sua obra, de 1977, até os dias de hoje, mesmo assim valendo ainda o comentário]
dos comics, da televisão, do cinema, dos jornais. É puro sensacionalismo: uma
mixórnia de acidentes, catástrofes, bofetadas, golpes, tumultos, batalhas, guerras,
explosões, incêndios, terremotos, erupções, enchentes, assaltos. A cultura de
massas dita modas, ao seu amplo espectro de público, como nenhuma outra
conseguiu até o presente momento:
Morin aponta para ao perigo dessa influência sobre o público, pois essa nova
cultura mediática age diferentemente, de acordo com o nível cultural dos povos à
ela submetidos:
Umberto Eco, também citado por Machado (1988) lembra que “...na TV moderna
temos visto surgir programas em que documentação e ficção se misturam de modo
indissolúvel, a ponto de a distinção entre notícias verdadeiras e invenções fictícias
tornar-se irrelevante.” (p. 83).
2.1 Um novo jeito de compreender, para além das disciplinas, através de uma
percepção audiovisual holística.
Babin e Kouloumdjian (1989) levantam a hipótese de que uma nova cultura está
nascendo – baseados em pesquisas e observações que realizaram, na década de
80. A pesquisa composta por entrevistas, encontros e experiências variadas com a
juventude e com educadores de horizontes e idades diferentes, responsáveis pela
formação permanente em empresas, docentes do ensino superior, professores de 2º
Grau e sociólogos, entre outros. Os especialistas e educadores que fizeram parte do
corpo da pesquisa são da América do Norte, África e Ásia.
Do estudo pode-se tirar que, em geral, os pais se queixam que os filhos estão
sempre com o som a mil, que os filhos estudam em frente a TV ou ouvindo música,
estão sempre com seus discos, sua TV, escapando deles ... Na deles, fugindo do
diálogo!
150
A marca de uma boa mixagem é criar uma experiência global unificada. O teste
acontece junto ao telespectador. Se ele perceber os quadros separados, a
montagem é considerada ruim. A mensagem está no todo. Ela dirige-se ao sujeito
inteiro, ele precisa ficar envolvido, tocado.
“Acompanhar as mídias é viver no drama: o das notícias, dos filmes policiais, dos
jogos inacabados e das dramatizações.” É o império da anormalidade, do
sensacionalismo! Frenesi de pressa e consumo desenfreado de neurônios. No
telejornalismo, por exemplo, é puro: “Drama, isto é, ação. Uma ação que se alimenta
de acontecimentos cuja força é aumentada, ou, de simples pormenores que
conseguem se tornar chocantes e ocupar todo o campo da consciência.” (op. cit. p.
44 ).
Percebe-se que o som das palavras tem mais importância do que o rigor
conceitual. O vigor, até a acidez das expressões, acrescentado ao gosto pelas
nuances, pelas imagens verbais e a mímica dos gestos de acompanhamento,
substituem os raciocínios e as construções explícitas e bem organizadas. Os autores
chamam de mixagem, o termo síntese que melhor define a fala dos jovens. É como
se eles estivessem fazendo cinema ...
“A linguagem é quase sem palavras [...] é cada vez mais descritiva, emocional e
até física, por exemplo, ‘Os professores arrancam os cabelos, piram de vez’... ”,
Babin e Kouloumdjian (1989, p. 60). A linguagem enche-se de contexto e esvazia-se
de texto. É quase total a ausência de conjunção e de coordenação. As frases
significando sua totalidade com o auxílio da expressão corporal, o tom da voz, a
mímica.
Contribuem para isso não só a TV, o cinema, mas a falta de leitura, a carência do
meio social, o não uso de dicionário, atribuem, os educadores. Os jovens de hoje em
dia são essencialmente visuais, eles lêem o que podem visualizar, e se
desinteressam por livros demasiados conceituais. Se eles não conseguirem imaginar
as idéias, não compreendem o texto. Da mesma forma, a fala é cada vez mais
sensorial e visual.
154
Os autores estão cobertos de razão, quando dizem que o parece ser sem pé
nem cabeça é assim, considerando-se a organização linear do discurso. Na
realidade, na linguagem audiovisual desses jovens o que conta é a visão do todo, e
não as ligações entre as partes desse todo. As distinções e as articulações do
discurso desaparecem em benefício de uma imagem global. Há o predomínio da
visão subjetiva e global como já foi referido.
Nas palavras de G. Berger, citado na obra que vem sendo explanada, “O que
a música nos oferece é a aguda tomada de consciência da morte dos conteúdos.”
Eis porque o impacto do som é tão forte. As pessoas reagem ao som física e
psicologicamente, antes de analisá-lo. “No som o ouvinte não está acima, está
dentro, não supervisiona, está imerso. A realidade o penetra até o fim do ser, pois o
ouvido é o sentido da intencionalidade.” (op.cit. pp. 83 - 85).
É nesta atitude crítica que a escola pode – e deve – interceder, assunto esse que
será abordado intensamente no item seguinte deste trabalho.
Quando acontece a reflexão diante e sobre o que se viveu e sentiu, se está diante
do tempo do distanciamento, da conceitualização, ou seja, da passagem às idéias
gerais, da apropriação ou reconstrução na linguagem do espectador, e, enfim, surge
o julgamento crítico sobre o conteúdo, a forma, a linguagem, a técnica, os processos
utilizados, os fundamentos comerciais e econômicos postos em jogo. Momento
importantíssimo, como previnem os autores:
Pelo fato do visual e dos diálogos terem menos importância, num audiovisual,
uma música atraente, alguns efeitos sonoros, os timbres e os efeitos de voz, as
freqüentes mudanças de interlocutores são os elementos que primeiramente captam
sua atenção. Sem contar o alto nível de atividade física ou de ação.
A par de todo esse entregar-se de corpo e alma das crianças dos dias de hoje às
novas tecnologias da comunicação, a escola tem a empreender um papel
fundamental: o de trabalhar com o distanciamento das mensagens, com a
relativização das informações e dos choques emocionais. Se é necessário a imersão
159
Ontem o texto era escolar, hoje ele é a sociedade mesma. Ele tem forma
urbanística, industrial, comercial, televisiva ou hipertextual. O conexionismo
generalizado da sociedade das redes de computadores criou novas formas de
espaço e tempo, complexos, flutuantes, indefinidos, rizomático. “Dentro desta
perspectiva, o hipertexto representa o último capítulo da história da escrita e do livro,
o livro hiperativo, audiovisual e multimídia.” Parente (2000, p. 19).
Aliada a essa enorme carga horária de estudo, todos, havia muito tempo,faziam
trabalho voluntário, um dos requisitos inclusive para a admissão ao mestrado,conta o
administrador. Passados trinta anos, num encontro com a turma de mestrado
constatou que todos ficaram ricos,como pretendiam; ele era única exceção.
Kanitz comenta que prefere a nova geração,que não é nem de esquerda, nem de
direita,nem agüenta mais esta discussão. Não querem mudar o mundo, querem
primeiro mudar o bairro para depois mudar seu estado e o país.
Como ironiza a jornalista, antes que alguém ache que é engano, porque tudo o
que se lê sobre a juventude está relacionado sempre a problemas, mais
especificamente à violência. Aconselha a que se respire fundo, despoje-se dos
estereótipos e observe com atenção os jornais do país, que estão cheios de
trabalhos belísssimos desenvolvidos pela juventude atual. Pode ser que a notícia
não ganhe destaque, mas há uns quadrinhos que falam disso e a TV também às
vezes se refere, com menor incidência que deveria é óbvio. Ela é da opinião de que
pequenas atitudes podem mudar o mundo. Não importa o tamanho desse mundo.
Essa é a diferença entre a juventude do ano 2000 e aquela que agitava bandeira nas
décadas de 60 e 70. Ninguém é melhor ou pior. São contextos diversos. O momento
histórico é outro, a conjuntura sócio-política-econômico–cultural é diversa.
E a julgar pelos dois relatos de Kanitz e Werneck a escolha destes jovens brasileiros
denota que culturalmente está-se chegando próximo aos países desenvolvidos. Que
se aplaudam estes gestos de solidariedade e que eles sejam a tônica da escola
inclusiva. Há muito por fazer, aproveite-se o sangue novo e a mente ainda não
deturpada pelo comodismo e preconceitos dos mais velhos.
166
Apesar das altas taxas de evasão e retenção escolar - que identifica uma possível
resistência cultural a traços oferecidos pela escola, destituídos de significado para
aqueles aos quais se destinam - muitos repetentes permanecem na escola.Penteado
(1990) atribui esta escolha ao valor da escolaridade de uma certa cultura da escola.
Baseada em Freitag (1984) a autora explica que mesmo com os deveres da vida
escolar a escola representa para a criança de baixo poder aquisitivo um espaço e
um tempo onde lhe dão o direito de ser criança, de brincar, de jogar, de contatar com
outras crianças.
A autora considera que o texto televisivo pelo fácil acesso que a população tem a
ele, amplo, irrestrito e prazeroso o torna impossível de ser ignorado pela escola.
Explica porém que não se trata de menosprezar o trabalho com o texto escrito ou
com outros quaisquer conhecimentos sistematizados com que se lida na escola.
“Devia mesmo é ‘ativar’ o trabalho escolar hoje desenvolvido.” Sua pedagogia da
168
Cada nova tecnologia é uma nova extensão do homem, explica Clea Bosi (1978).
Cada meio que surge é uma nova possibilidade de expressão para os seres
humanos. A palavra - fonética e escrita - sacrificou o mundo de significados e a
percepção. As culturas letradas somente dominaram as seqüências lineares
concatenadas como formas de organização novas. O segredo da imprensa é a
fragmentação da experiência em unidades uniformes. As diferenças entre a
comunicação oral e a escrita são de ordem semântica, psicológica e sociológica.
Estas diferenças geram diferentes comportamentos e percepções. O olho do leitor,
na busca de um significado após o outro, faz uma codificação linear do real.
McLuhan, segundo Bosi (1978) refere-se a era tribal, de tradição oral, como um
período mais íntegro, menos fragmentado. Era que as técnicas eletrônicas estariam
começando a restaurar. Toda tecnologia obriga aos que contatam com ela a novos
equilíbrios. A eletricidade envolve o indivíduo com toda a humanidade. O
computador que traduz outras línguas anuncia o advento de uma condição
pentecostal de compreensão e unidades universais. As línguas foram superadas por
uma consciência cósmica geral.
É função da escola demonstrar aos seus alunos que, ao trazer uma forma pronta
e acabada de propagar a realidade, a TV, especialmente a comercial, interfere na
vida das pessoas, no social e na política, formando seres mediatizados, no dizer de
Bezerra (1999), que em nota introdutória do seu Manual do Telespectador
Insatisfeito, espera que a escola com essa instrumentalização possa acabar com o
telespectador passivo, que cederia lugar a um aluno-cidadão-telespectador : “ [...]
insatisfeito com os programas oferecidos, [que] poderá se colocar diante do
desabafo de aprender a lidar crítica e ativamente com o veículo que tem invadido
corações e mentes.” (p.09)
Mas a babá não toma conta das crianças somente na ausência dos pais. As
famílias quando reunidas - nas horas das refeições, muitas vezes - costumam
conversar com a TV ligada. Não raramente, a primeira e a última imagem do dia,
para milhões de pessoas, são geradas pelas TVs, como afirma Bezerra (1999) que,
além de reivindicar que as programações ditas educativas devam ter maior espaço
do que o das novelas, dos shows e dos filmes, denuncia a qualidade dos programas
televisivos: “Tudo isso bem ali na nossa frente, sem que, a olhos nus, em frente a
telinha, possamos perceber que o sangue, o sexo ou o mau cheiro da violência que
exala da TV pode nos atingir de verdade.” (p.19)
Qualquer observação mais atenta deixará explícito que os donos das emissoras –
que na verdade se dizem donos, mas não o são, são apenas concessionários de
serviços públicos, faz-se necessário que se esclareça – cidadãos que teriam a
obrigação de zelar prioritariamente pelos interesses da sociedade, não estão nem aí
com a qualidade dos serviços que prestam. O que importa são as cifras exorbitantes
que giram em torno destas programações e seus ibopes. Longe dos seus planos
estão a defesa dos Direitos Humanos, da cidadania, a preocupação com a Cultura e
a Educação. Qualidade que seria imprescindível, já que o que é apresentado como
informação e lazer, na realidade funciona como Educação e Cultura para muitos
membros da sociedade brasileira.
Como disse Dom Eugênio Salles, arcebispo do Rio de Janeiro, citado por Bezerra
(1999) “triste o futuro de um país quando o índice de audiência é o critério único para
172
Os dados atestam também que a violência da mídia entra na vida das crianças
quando elas estão buscando orientação, e, em não obtendo modelos de
comportamento no ambiente familiar; ou quando elas já aprenderam que a violência
é uma coisa normal, quanto mais a experenciam na realidade, mais procuram o
espelho na TV . Como elas estão em busca de um referencial comportamental,
e,em não encontrando na vida real, espelham-se nos heróis que encontram na TV,
no cinema, na Internet.
E dados – desta vez referentes à vida real – são também chocantes. Levantados
pela UNESCO e pelo Instituto Airton Senna, que revelam que num total de 1561
jovens para cada grupo de cem mil habitantes, com idade entre 15 e 24 anos,
morreram violentamente em 1996, no Rio de Janeiro. O número de mortes violentas
entre jovens na mesma faixa etária – incluindo assassinatos, acidentes de trânsito e
suicídios – é relativamente maior do que no conjunto da população.
Ainda outros índices são espantosos. Estes fornecidos pela Children Now . São
de uma pesquisa realizada com 750 jovens americanos entre 10 e 16 anos, em
1995. Dentre os entrevistados 66% possuem três ou mais televisores em casa e
metade um aparelho no quarto. Quase metade deles disse que os programas
transmitidos à noite levam a acreditar que a maioria das pessoas são desonestas; e
82% referiram que os programas de TV deveriam ajudar a ensinar o que é certo e o
que é errado.
Outros índices referem que a maior parte dos jovens acredita que a TV não é um
mundo de fantasia que não os afeta. Eles acreditam que a programação da TV
174
Todos esses índices que dizem respeito a violência na vida real e sua expressão
através dos meios de comunicação parecem corroborar para a hipótese de que aos
olhos dessas crianças e jovens pesquisados a violência compensa, pois se o mundo
é mau como a mídia mostra nos filmes, nas novelas, nos telejornais e certos
programas de auditório, a única solução – com uma certa lógica, inclusive - é ser
também agressivo...
Já vai longe o tempo - ou pelo menos deveria ir-se – em que havia grande
diferença entre o fato de aprender e o de se divertir. As escolas precisam abrir-se
para uma práxis mais alegre, mais harmoniosa, mais encantadora. As escolas
precisam constituir-se num lugar para onde se vai ao encontro do encantamento, um
lugar para ser e tornar os outros felizes. O conhecimento dentro e fora de seus
muros precisam efetuar-se pela afetividade, pelo gosto, pela imaginação, pela
criatividade, pela experiência fruidora.
“Uma escola que não ensina como assistir à televisão é uma escola que não
educa.”, afirma o pedagogo espanhol Joan Ferres, em entrevista à revista Nova
Escola, de dezembro de 1998. Autor de várias obras sobre o tema, como: Televisão
e Educação, Televisão Subliminar e Vídeo e Educação, ele observa que a tendência
nas escolas é a de adotar atitudes unilaterais diante do fenômeno da televisão. O
autor diz que as pessoas diante do conteúdo exposto pela TV, dividem-se em
“apocalípticas” ou “integradas”, na terminologia da dicotomia maniqueísta trabalhada
por Umberto Eco. “Talvez na escola o predomínio seja das primeiras. Segundo
esses catastrofistas, a televisão provoca todo tipo de males físicos e psíquicos:
problemas de visão, passividade, consumismo, alienação, trivialidade.”(p.21)
gostam de ver na TV, o que as atrai. “Depois disso, imagino ser possível, aos
poucos, desmontar o discurso da televisão e também da publicidade.” (p.22).
defende.
Bucci é da opinião que a TV hoje organiza o espaço público brasileiro: “Foi ela
que, após o golpe de 64, conferiu a identificação dos brasileiros entre si,
promovendo a integração nacional no plano do imaginário.” (p.22) Essa coesão se
existir por um motivo ético é válida, mas é perigosa, pois no maior valor deste meio,
que é atingir um grande público completamente diversificado, encontra-se também a
sua maior periculosidade.
sociedade inclusiva.
Aquilo que não passa pela mídia eletrônica torna-se estranho ao conhecimento e à
sensibilidade do homem contemporâneo. Baseado nisso, já é tempo de virar-se o
disco dos discursos sociológicos sobre o poder maléfico da televisão e começar a
encarar a mídia eletrônica como fato da cultura - capaz de complexidade - e as
contradições dos tempos atuais. Apesar de tudo, existe vida inteligente na TV e,
mesmo com o monopólio instaurado, há brecha por onde fazer-se penetrar a
sensibilidade e a transgressão.
Machado (1988) já observou que “...o vídeo stricto sensu, ou seja, aquele
produzido e difundido fora do circuito televisual, pode investir no aprofundamento da
função cultural da televisão, avançando, de um lado, na experimentação das
possibilidades da linguagem eletrônica; e buscando exprimir, de outro, as
inquietações mais agudas dos homens de nosso tempo.” (p.55). Além de
experimentar outras possibilidades de utilização e domínio do meio, reverte-se a
relação de autoridade entre produtor e consumidor, pelo fato dos interesses
comerciais básicos não entraram em jogo.
Observa-se também que a TV se inseriu de tal forma na vida cotidiana que hoje é
quase impossível pensar os eventos sem a sua presença. A televisão mudou
substancialmente a prática dos esportes. Atualmente, a própria TV participa da
organização e administração dos eventos, transformando competições em
espetáculos televisivos. Ela privilegiou o espaço profissional em detrimento do
atletismo amador e converteu os atletas em estrelas. Acontecimentos políticos,
cerimônias oficiais e até mesmo atentados terroristas são concebidos, antes de tudo,
como encenações para a mídia. Até bem pouco tempo dizia-se que a arte imita a
vida... E quanto ao 11 de setembro que repetiu uma aventura hollywdiana?
Os eventos não acontecem mais, via de regra, por conta própria, eles
pressupõem a mediação da TV e são forjados em função dessa mediação, quando
185
não são produzidos diretamente pelas redes de TV ou sob sua influência direta. A
esse respeito, como enuncia Machado (1988):
Concorde-se ou não, a verdade é que torna-se cada vez mais difícil fingir ignorá-
los ou supor que se trata apenas de um fenômeno de moda. Talvez resida no
videoclipe a expressão mais acabada da modernidade – com seu poder de síntese
e sua conseqüente economia expressiva – embora resulte num produto que
dificilmente a inteligência tradicional entenda ou engula.
187
Uma forma não-narrativa, não linear, que ganhou o título, nos EUA,
de “non associative imagery” e que em português poderia ser (mal)
traduzido por imagens dissociadas. O que importa é menos a intenção de
se contar uma história e mais o desejo de se passar uma overdose de
sensações, através de informações não-relacionadas, acompanhando
sons – o ritmo das imagens.
Walter Salles Jr.(apud op.cit.p 171).
Para Martin Barbero (1997), a simples introdução dos meios e das tecnologias na
escola, pode ser a forma mais enganosa de ocultar seus problemas de fundo, sob a
égide da modernização tecnológica. O desafio é como inserir na escola um
ecossistema comunicativo que contemple ao mesmo tempo: experiências culturais
heterogêneas, o entorno das novas tecnologias da informação e da comunicação,
além de configurar o espaço educacional como um lugar onde o processo de
aprendizagem conserve seu encanto.
Para Freire (1971), não é possível compreender o pensamento fora de sua dupla
função: a cognoscitiva e a comunicativa. Sob essa perspectiva, a comunicação
passa ser vista como relação, como modo dialógico de interação do agir
educomunicativo:”ser dialógico é vivenciar o diálogo, é não invadir, é não manipular,
é não sloganizar. O diálogo é o encontro amoroso dos homens que, mediatizados
pelo mundo, o pronunciam, isto é, o transformam e, transformando-o, o humanizam.”
(op.cit. p. 43).
Nesta direção o educador chileno Mário Kaplún, citado por Nádia Lauriti (s.d., p.
03) fala sobre a inter-relação Comunicação/Educação, por ele denominada
Comunicação Educativa, que tem a função de fornecer à educação métodos e
procedimentos para formar a competência comunicativa do educando. Kaplún
defende a comunicação pensada como um componente pedagógico, não como um
instrumento. Não se trata, portanto, de educar usando o instrumento de
comunicação, mas que ele se converta no eixo vertebrador dos processos
189
Tanto Paulo Freire como Kaplún, vinculam os três espaços: contexto sócio-
cultural, comunicação e educação como uma relação e não como um área que deva
ter seu objeto disputado. Há fortes razões para destacar a urgência desta
aproximação,como referenda Lauriti (s.d.):
Uma direção operacional para este trabalho pedagógico transdisciplinar, pode ser
a sugerida por Hugo Assmann (1996): a utilização do conceito metafórico de rizoma,
emprestado de Deleuse e Guatari:
Numa entrevista concedida ao site do Mundo Jovem, Ismar Soares fala da prática
da Educomunicação nos tempos atuais:
O jornalista explica que a alternativa nos dias de hoje não vem mais do ideário de
grupos que queiram fazer algum tipo de revolução na sociedade, mas acontece a
partir da incidência destes grupos junto à população, permitindo que ela se expresse
enquanto comunicadora, havendo transferência de lideranças, de grupos que no
passado comandavam a chamada comunicação alternativa, para a própria
sociedade. Estes líderes se transformaram hoje em motivadores e mobilizadores da
sociedade, permitindo que esta sociedade se comunique. Daí nasce o conceito de
Educomunicação, que é um conceito que reúne o objetivo de construção da
cidadania mediado por um relação entre Comunicação e Educação. Esta mediação
significa que os líderes que estão propondo esta mudança se transformam em
facilitadores do acesso da tecnologia às classes populares, por exemplo. Na escola
do mesmo jeito, busca-se essa construção da cidadania em meio a aprendizagem
como um todo.
Como afirma Hannah Arendt (1993), citada por Gomes e Lima (2003) faz parte de
condição humana expressar seus desejos, e interpretações em público para
construírem um mundo comum, ou seja, os indivíduos necessitam que suas ações
ganhem visibilidade no espaço público. A autora definiu a polis grega como:
Além disso, ressaltou que “sem o espaço da aparência e sem a confiança na ação e
no discurso como fórum de convivência, é impossível conhecer inequivocamente a
realidade do próprio eu, da própria identidade, ou a realidade do mundo
circundante.” (op.cit. p. 05).
200
Como refere Soares (1999): no dia a dia, enquanto professores, estamos dentro
de um trabalho de Educomunicação, que é “toda ação comunicativa no espaço
educativo, realizada como objeto de produzir e desenvolver ecossistemas
comunicativos.” (p. 09). A importância prioritária de um educomunicador no processo
educacional pode ser apreendida na reflexão de Paulo Freire sobre a mediação da
tecnologia na educação: “fazer pensar”; “pensar bem, com a cabeça bem feita”, na
expressão de Edgar Morin (2003).
201
A escola é o começo de tudo e se ela não alterar seus princípios, sua filosofia, a
sua pedagogia, a sua forma de tratar os pequenos cidadãos que crescem dentro de
seus muros, adeus sociedade inclusiva, é o que pensa Werneck (1977) e também
esta autora. O professor do ensino básico é a principal figura da sociedade
inclusiva, diz a jornalista, em sala de aula ele é o rei, especialmente nos primeiros
anos de escolaridade, pelos quais todos os membros da sociedade planetária
merecem e devem passar, ao serem incluídos.
Há quem diga rei sem castelo ou senhor feudal sem terras, tantas as
dificuldades que enfrenta. O professor também é maestro. Agora vai
reger sem partituras uma orquestra aparentemente desafinada.[...] ou ele
percebe a mensagem dessa música e permite que seja executada
com vigor pela percussão, metais, caudas e demais instrumentos ou
essa nova harmonia não se sustentará.[...] Incluir não é favor, mas troca.
[...] conviver com as diferenças humanas é direito do pequeno cidadão,
deficiente ou não. Juntos construirão um país diferente. A escola
transformadora é a semente desse Brasil-do-tamanho-exato-das-nossas-
idéias.
Werneck (1977, pp. 61 – 64).
Só que, como alerta Werneck (1997), mesmo que não se tenha sido educado
para entender a diversidade como uma situação natural de vida, não se pode relutar
em seguir as regras que dão aos indivíduos com deficiência direitos assegurados
pela Constituição Brasileira.E, se a família não atenta para isto, a escola precisa
atentar, pois é impossível acabar com o preconceito na idade adulta, por já estar
incrustado na personalidade do sujeito. A falta de informação e formação impedem
que as crianças vejam a questão da deficiência e da doença como sua. Para
minimizar a questão do preconceito é preciso impedir que ele se instale ainda na
infância. E é aqui que o trabalho com vídeo serve como uma luva, há muitas
entrevistas, programas, reportagens, filmes,etc., verdadeiros e de ficção, já
elaborados por profissionais para serem vistos e analisados na escola e muitas
outros para serem feitos com os alunos, na própria escola, na comunidade
circunscrita à Escola e em outras, tratando deste e de outros assuntos.
A jornalista fala de cátedra sobre esse assunto. No seu currículo consta a edição
de uma coleção, com três livros, chamada Meu Amigo Down, com o objetivo de
levar não só aos lares, mas às escolas do Brasil, uma ampla discussão sobre as
diferenças individuais a partir da Síndrome de Down. A chegada de um menino com
a síndrome à escola regular é tema de um deles. “Escrevi a história a partir do relato,
às vezes triste, às vezes confiante, das cartas que me descrevem esse momento,
chegadas ao projeto Muito prazer, eu existo. Estudando os depoimentos sobre a
postura das pessoas na rua diante de uma criança de algum modo diferente, escrevi
Meu Amigo Down , na rua.” Werneck (1997, p.148). E o terceiro fala da dificuldade
dos pais ao nascimento de um bebê down.
Claudia conta que o sucesso foi tal, que após a terceira edição da coleção,
resolveu editar também Um Amigo diferente?
O livro conta a história de um amigo que afirma ser diferente. A cada página o
amigo imaginário vai dando novas pistas, atiçando a imaginação dos pequenos
leitores, que vão se deparando com temas pouco abordados no dia-a-dia, doenças e
deficiências. Das diferenças simples, como ter seis dedos nas mão – e tornar-se o
campeão de fazer cócegas, da rua – até as mais complexas, como quando o
personagem levanta a camiseta “ e mostra o corpo estrelado que há dentro de si e
pergunta: ‘Quem sabe o mistério esteja dentro do meu corpo?’. Essa é a dica para o
professor falar de AIDS, de câncer, de hemofilia e por aí vai.” Werneck ( 1997, p.
153).
O silêncio é a fala oficial dos dominados, segundo Werneck. Este trabalho traz
embutido em si – através da produção de vídeo na escola – a porta a ser aberta para
pessoas como essas referidas, que comumente não freqüentam nem as
preocupações da sua comunidade, quanto mais a mídia. Quer dar-lhes vez e voz, de
forma literal e simbólica. Cada civilização tem o seu padrão de comunicação social
aceito e institucionalizado, mas aqui é buscado o rompimento, um canal alternativo.
“A crise da comunicação é nossa, dos ‘vencedores’, de quem sempre falou e pouco
ouviu. Para superá-la, será preciso se dedicar a um exercício de auto
questionamento.”, diz Werneck (1977, p. 168).
Mas não são só os deficientes que deverão ter vez e voz nesse canal
comunicativo a ser aberto nas escolas inclusivas, na visão deste trabalho. A
prioridade deve ser conferida aos grupos mais desfavorecidos e vulnerabilizados
pela condição de pobreza, os analfabetos maiores de 15 anos, as populações rurais,
os menores de 6 anos, os alunos com dificuldades de aprendizagem, as minorias
étnicas e religiosas, como registra a Declaração de Cochabamba sobre políticas
educativas no início do século XXI, em uma de suas considerações, citada por
Carvalho (2004, p. 90): o uso pedagógico das tecnologias da informação e
comunicação deve ser considerado como um marco de projetos sociais e
educacionais, comprometidos com a eqüidade e com a qualidade.
Como afirma Morin (2003) a educação pode ajudar a tornar os seres humanos
melhores se não mais felizes, e ensiná-los a assumir a parte prosaica e viverem a
parte poética de suas vidas. Para o sociólogo francês o princípio da inclusão é
fundamental e supõe para os humanos a possibilidade de comunicação entre os
sujeitos de uma mesma espécie, de uma mesma cultura, de uma mesma sociedade.
O homem celebra com facilidade o saber de alguém que admira. Difícil é aceitar um
saber que pareça incoerente ou que aparentemente nada vai acrescentar.
Comunicação é acordo, acordo não se impõe, nem se manipula. “Busquemos um
consenso permanente. A compreensão do mundo não é monopólio de ninguém.”
Werneck. (1997, p. 176).
A instituição escolar tem o papel principal nessa história. Cabe a ela apropriar-se
dele, não para decidir por, mas decidir junto e, mais ainda, educar ética, moral e
esteticamente. Uma sociedade autônoma é feita de cidadãos que são sujeitos de
seus caminhos, que fazem escolhas conscientes de suas opções. Uma sociedade
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Segundo Moran (1994) o vídeo pode aproximar o conteúdo didático dos alunos,
considerando-se que sua normativa seja significativa para eles. Ele é apenas um
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recurso, mas um recurso muito especial. Ele parte do visível, do que toca vários
sentidos. Seus diálogos, em geral, expressam a fala coloquial, enquanto o narrador
faz a síntese dentro da norma culta, orientando a significação do conjunto. As
músicas e os efeitos sonoros evocam lembranças e criam expectativas, antecipando
reações e informações. Ele faz a combinação da intuição com o a lógica, da emoção
com a razão. Ele é sensorial, visual, linguagem falada, musical e escrita. Através
dele o telespectador é atingido por todos os sentidos, em outros tempos e espaço.
O vídeo ainda, refere Moran (1994) aproxima a sala de aula do cotidiano, das
linguagens de aprendizagem e de comunicação da sociedade urbana e introduz
novas questões no processo educacional. E melhor, vídeo significa para os alunos
descanso e não “aula”, já está lançada de antemão a expectativa prazerosa.
Vídeo como ilustração – pode ajudar a mostrar o que é falado em aula, a compor
cenários desconhecidos dos alunos. A vida pode se aproximar da escola, através do
vídeo. Tempos e espaços longínquos podem tornar-se próprios e ao alcance dos
olhos.
Quanto à forma de ver o vídeo, Moran (1994) sugere que deve-se informar
somente os aspectos gerais do vídeo (autor, duração, prêmios). Não deve se
interpretar nem pré-julgar antes da exibição, para que cada um possa fazer a sua
leitura. Durante a exibição, anotar as cenas importantes. Se necessário pode-se
interromper para algum rápido comentário, utilizando o “pause” ou “still”, sem
demorar, porque danifica a fita. Observar as reações do grupo, depois da exibição,
rever as cenas mais importantes ou difíceis e se for complexo, exibi-lo uma segunda
vez, chamando a atenção para determinadas cenas, para a trilha musical, diálogos e
cenas. Passar quadro a quadro as imagens mais significativas. Observar o som, a
música, os efeitos, as frases mais importantes.
A análise de linguagem pode ser feita com o auxílio do roteiro apresentado por
Moran (1994):que história é contada (reconstrução); como é contada essa história; o
que chamou a atenção visualmente; o que descartaria nos diálogos e na música; que
idéias passa claramente o programa (o que diz claramente esta história); o que
contam e representam as personagens; o modelo de sociedade apresentado;
ideologia do programa; mensagens não questionadas (pressupostos ou hipóteses
aceitas de antemão, sem discussão; valores afirmados e negados pelo programa
(como são apresentados a justiça, o trabalho, o amor, o mundo); como cada
participantes julga esses valores (concordância e discordâncias nos sistemas de
valores envolvidos). A partir de onde cada um julga a história.
como ele interfere num texto escrito, modificando-o, acrescentando novos dados,
novas interpretações, contextos mais próximos do aluno. Pode querer intervir
acrescentando uma trilha sonora, editando o material de forma compacta ou
introduzindo significados recomenda Moran .
O autor explica que os alunos podem ser incentivados a produzir dentro de uma
determinada matéria, ou dentro de um trabalho interdisciplinar. E também produzir
programas informativos, feitos por eles mesmos e colocá-los em lugares visíveis
dentro da escola e em horários onde muitas crianças possam assisti-los. Moran
chama a essa modalidade de trabalho de Vídeo como expressão. É um trabalho que
envolve: a pesquisa em jornal, revista, entrevista com pessoas da escola ou da
comunidade, elaboração de roteiro, gravação, edição, sonorização, exibição em
classe ou circuito interno. Comentários positivos e negativos, a diferença entre a
intenção e o resultado. No caso do vídeo espelho a câmara registra pessoas ou
grupos e depois se observa o resultado com comentários de cada um sobre seu
desempenho e sobre o dos outros. O professor olha o seu desempenho, comenta e
ouve o comentário dos outros.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao ocupar o tempo das crianças e jovens, antes de tudo, a mídia exerce sobre
eles um poder de consumo no imediato, da programação televisiva e de mediato,
no consumo dos produtos que anuncia. Cabe à Escola a construção de mediações
substanciais, no que se refere a uma leitura crítica dessas expressões, tanto na
esfera perceptual, como na ideológica. Se por um lado, na família não é
consolidada uma crítica da mídia – pelo contrário, ela é alimentada pelos próprios
padrões de consumo que se volatizam desde a comida, a roupa, acessórios, carros,
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todos, como se eles falassem das mesmas coisas, na mesma linguagem, como se
tivessem a mesma percepção de mundo.
Nos dias de hoje, se a escola insistir em manter-se alheada às mídias, poderá ser
considerada marginal à sua época. Segundo a sociologia da comunicação, as idéias
que emanam das mídias não atingem o público de maneira direta, passando primeiro
pelos líderes de opinião e só num segundo tempo agindo sobre os grupos aos quais
esses líderes estão ligados. Portanto, queira-se ou não, é por seu intermédio que as
mensagens são aceitas, interpretadas, rejeitadas, ou não. O professor não poderá
voltar ao papel destacado que ocupava até 50 anos atrás, quando junto com o
prefeito e o vigário eram as referências culturais das pequenas cidades? Como?
Ao tomarem a si a responsabilidade, o lugar de líderes de opinião ao trabalhar
criticamente a mídia na escola!
A educação não deve ser bancária, no dizer de Freire, muito menos imposta, o
aluno precisa ter liberdade para aprender, como sonhou Rogers. O aluno precisa
antes de tudo ser aceito na comunidade escolar e receber estímulos para a criação.
O debate, a análise, a crítica construtiva devem de ser matérias constantes, para
que o aluno chegue a auto-conscientizar e tenha consciência dos problemas que o
cercam e das soluções para os mesmos, para que se sinta aceito, inicialmente na
comunidade escolar e possa achar seu lugar no mundo e dele participar ativa e
construtivamente, hoje e futuramente.
A escola inclusiva tem que levar em conta que precisa vencer barreiras sócio-
culturais - que o aluno percebe muito bem e que, a escola, muitas vezes, ratifica,
fazendo-o emudecer diante da turma ou do professor, por intimidar-se – trabalhando
com uma prática social cultural que seja comum a ambos, escola e aluno.
APÊNDICE N –
A TV NOSSA DE CADA DIA; MAU CARATISMO E CHARLATANICE,
SERÁ QUE É ISTO QUE QUEREMOS PARA NOSSAS CRIANÇAS ?
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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