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INTOXICAÇÃO POR Cycas revoluta Thunb...

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INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS LESÕES DO LIGAMENTO


CRUZADO ANTERIOR (LCA) - REVISÃO DE LITERATURA

Thamires Germary de Oliveira¹, Andrês Valente Chiapeta²

Resumo: Cycas revoluta Thunb. é uma planta ornamental palatável para animais
domésticos e extremamente tóxica para animais e homens caso seja ingerida. Sua
ingestão é uma emergência veterinária. O presente trabalho teve como objetivo
relatar um caso de intoxicação crônica em cão pela planta Cycas revoluta Thunb.
e identificar quais as principais complicações referentes a esta intoxicação. Foi
atendido no Hospital Veterinário da UNIVIÇOSA um cão com ingestão crônica de
Cycas revoluta Thunb. apresentando vômito, hiporexia e perda de peso. Os exames
complementares constataram hepatopatia crônica, possível neoformação hepática
e suspeita de linfoma cutâneo. A escassez de relatos literários de intoxicação por
Cycas revoluta Thunb. ressalva a importância de se relatar um caso clínico, de modo
a fornecer informações a cerca desta intoxicação, facilitando o seu diagnóstico.
Conclui-se que animais saudáveis, não devem ser expostos a Cycas revoluta Thunb.
de forma crônica.

Palavras–chave: Doença hepática, neoplasia, palmeira cica

Abstract: Cycas revoluta Thunb. is a palatable ornamental plant for domestic


animals and extremely toxic to animals and humans if ingested. The ingestion is
a veterinary emergency. This study aimed to report a case of chronic poisoning
in dog by Cycas revoluta Thunb. and identify the main complications related. It
was admitted at Veterinary Hospital of UNIVIÇOSA a dog with chronic ingestion
of Cycas revoluta Thunb. presenting vomiting, appetite loss and weight loss.
Complementary tests found chronic liver disease, possible liver neoformation and

1Parte do Trabalho de Conclusão de Curso do primeiro autor


2 Bacharel em Medicina Veterinária; e-mail: ramalho.vet@hotmail.com
3Graduanda em Medicina Veterinária – FACISA/UNIVIÇOSA; leticiasouza_5@hotmail.com
4 Graduada em Medicina Veterinária – e-mail: ninha.an@hotmail.com
5 Professor do Curso de Medicina Veterinária – FACISA/UNIVIÇOSA; e-mail: luis .efranklin@
hotmail.com

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suspected cutaneous lymphoma. The lack of literary accounts of poisoning Cycas


revoluta Thunb. increases the importance of reporting a case, in order to provide
information about this poisoning, facilitating diagnosis. We conclude that healthy
animals should not be exposed to Cycas revoluta Thunb. chronically.

Keywords: Cica palm, liver disease, neoplasia

Introdução

Plantas tóxicas são vegetais capazes de causar danos à saúde e sinais


de intoxicação quando introduzidos no organismo de animais e homens. Na
rotina clínica veterinária a intoxicação por tais plantas em animais domésticos
é menos frequente que a incidência de doenças infecciosas (GÓRNIAK, 2008).
Alguns fatores predispõem às intoxicações por plantas, tais como
a idade do animal e mudanças no ambiente. Mudanças no ambiente, sejam
físicas ou a introdução de outros animais ou pessoas, podem gerar curiosidade
ou apetite depravado. Com relação à espécie, o cão é mais acometido do que
gato (GÓRNIAK, 2008).
O diagnóstico definitivo de intoxicação por plantas em animais muitas
vezes é dificultoso devido aos sinais apresentados serem inespecíficos, fazendo
necessária a associação entre histórico de exposição à planta, alterações
clínicas e duração destas (ALBRETSEN, 1998). Diagnóstico de intoxicação por
Cycas é raro e pouco conhecido pelos veterinários. Entretanto, alguns estudos
indicam que a Cycas revoluta Thunb. é uma das espécies mais envolvidas em
intoxicações em cães (ALBRETSEN, 1998).
Cycas revoluta Thunb. é uma planta ornamental palatável para
animais domésticos, e extremamente tóxica para animais caso seja ingerida.
Sua ingestão é caracterizada como emergência veterinária, causando duas
síndromes distintas: doença hepática e gastrintestinal e, ou, desordem
neurotóxica. As alterações laboratoriais incluem aumento nas concentrações
das enzimas hepáticas e bilirrubina total, hipoglicemia, hipoproteinemia,

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trombocitopenia, hiperglicemia (FERGUSON, 2011), linfopenia, leucocitose


e hipocalcemia (ALBRETSEN, 1998), entre outros.
O glicosídeo cicasina é o principal princípio tóxico da planta e está
presente em todos os gêneros de cicadáceas. A cicasina torna-se tóxica
após sofrer hidrólise pelas bactérias intestinais, formando um subproduto,
metilazoximetanol, responsável pela toxicidade hepática e pelos sinais
gastrintestinais. A cicasina possui propriedades teratogênica, mutagênica e
carcinogênica (ALBRETSEN, 1998; BOTHA, 2009).
A análise toxicológica de material (sangue, urina, conteúdo gástrico)
coletado do animal não é essencial para instituição de tratamento emergencial
nas intoxicações por plantas, sendo instituído o tratamento sintomático
baseado nas alterações encontradas (OLIVIERA, 2002).
O objetivo do presente trabalho foi relatar um caso de intoxicação
crônica em cão pela planta Cycas revoluta Thunb. e identificar quais as
principais complicações referentes a esta intoxicação.

Relato de Caso

Foi atendido no Hospital Veterinário da UNIVIÇOSA/ESUV, Viçosa


– MG, um cão, da raça Labrador, macho não castrado, de 5 anos e 9 meses
de idade e pesando 26 Kg. O histórico era de hiporexia e apetite caprichoso
há dois meses, vômito há aproximadamente duas semanas, perda de peso
progressiva e anorexia há um dia. Durante a anamnese foi constatado que
o animal ingeria brotos da planta Cica desde filhote e que esporadicamente
apresentava episódios de vômito (contendo esta planta) acompanhados de leve
apatia. Ao exame físico geral os parâmetros se encontravam dentro dos valores
de normalidade para a espécie, exceto pela desidratação de 6% e foi observada
êmese de conteúdo não digerido durante o atendimento.
Durante a primeira consulta (15/07/13) foi coletado sangue para
realização de hemograma, e os valores mostraram-se dentro dos padrões
de normalidade para a espécie, com exceção aos eosinófilos e linfócitos que

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estavam abaixo dos valores de referência. O soro foi utilizado para os exames de
bioquímica sérica observando-se elevação nos valores de ALT, FA e globulinas.
Na ultrassonografia abdominal foi constada hepatomegalia e congestão
hepática. Aparentemente, no parênquima hepático, visualizou-se a presença
de uma massa hiperecogênica e heterogênea de aproximadamente 9 cm,
compatível com formação tumoral.
Foi realizada citologia hepática por agulha fina que apresentou
infiltrado inflamatório predominantemente polimorfonuclear e hepatócitos
degenerados. Não foram visualizadas células com características neoplásicas
e bactérias.
Diante dos achados clínicos e laboratoriais a intoxicação por Cycas
revoluta Thunb. firmou-se como principal suspeita diagnóstica.
Baseado-se no diagnóstico e sintomatologia clínica do paciente foi
prescrito Metronidazol, Ácido Ursodesoxicólico, Omeprazol, Ranitidina,
Buclizina, Colchicina, Hepatovet e ração hipoprotéica prescritiva para a
enfermidade em frações até novas recomendações. Além disso, aconselhou-se
que a planta fosse removida do jardim.
No dia 29 de julho de 2013 o paciente retornou para reavaliação. O
animal ainda apresentava hiporexia e apetite caprichoso. A frequência dos
episódios de êmese havia diminuído e havia uma semana que o paciente não
apresentava vômito.
No dia 16 de setembro o paciente retornou para nova consulta. Os
episódios de vômito estavam mais raros e o paciente havia ganhado peso (1,6
Kg). Permanecia o apetite caprichoso. Foi realizado exame onde o hemograma
apresentou eosinopenia e no bioquímico observou-se elevação nos valores de
ALT e FA. Foi prescrito S-adenosilmetionina.
No dia dois de outrubro o paciente foi apresentado ao Hospital
Veterinário com histórico de vômito intenso e diarreia há 5 dias, posição de
prece e sinais de dor abdominal há 3 dias, iniciados após mudança na dieta
sem prescrição médica-veterinária. Ao exame físico o paciente apresentava
desidratação de 7% e presença de nódulos no corpo. À palpação abdominal
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o animal apresentou muito desconforto em região epigástrica. Foi realizado


novo hemograma e foi constatada presença de anemia e leucocitose. A
dosagem de amilase se encontrou aumentada e constatou-se hipercloremia e
hipocalcemia. Os íons sódio (Na+), fósforo (P) e potássio (K) se encontram
dentro dos valores de normalidade.
O exame ultrassonográfico foi sugestivo de pancreatite, devido ao
aumento do pâncreas (Figura 4) e o exame radiográfico não demonstrou
presença de metástase pulmonar. Com o intuito de obter um diagnóstico
presuntivo, foi realizada citologia aspirativa por agulha fina dos nódulos
cutâneos observados ao exame físico. O resultado foi compatível com linfoma.
Devido à gravidade do quadro apresentado, o paciente foi internado.
Foi instituído jejum e tratamento com Ampicilina, Metronidazol, Tramadol,
Ranitidina, Omeprazol, Citrato de Maropitant e fluidoterapia intravenosa com
solução de NaCl 0,9%.

Discussão e Conclusão

A planta Cycas revoluta Thunb. tem potencial de causar toxicidade com


comprometimento orgânico severo, sendo as sementes a porção da planta que
contém maior teor de toxinas entretanto, esta porção da planta não foi ingerida
pelo animal. O proprietário relatou que o animal ingeria os brotos da planta,
possivelmente o motivo do longo período decorrido até a manifestação de
sintomatologia clínica severa.
Na primeira consulta (15/07/13) o paciente não apresentou alterações
no hemograma, exceto eosinopenia, possivelmente desencadeada por um
quadro de estresse, já que o animal era submetido à viagem de automóvel para
ser consultado.
O dano tóxico causado ao fígado é comumente relatado (ALBRETSEN,
1998) e foi observado na primeira (15/07/13) e segunda (16/09/13) consultas
devido ao aumentado das enzimas hepáticas (BOTHA, 1991), sendo o exame
ultrassonográfico compatível com hepatopatia e possível presença de massa

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tumoral.
Ao hemograma constatou-se que o animal apresentava um quadro
anêmico, o qual condiz com a literatura (ALBRETSEN, 1998). Os sinais
gastrintestinais de vômito e diarreia levaram à desidratação, e a hipercloremia
está associada à este quadro. O diagnóstico presuntivo de pancreatite baseou-
se na associação da anamnese, sinais clínicos e exames complementares
evidenciando pela neutrofilia presente ao hemograma, aumento nos valores
da enzima amilase (WILLIAMS, 2004) e edema e aumento pancreático à
ultrassonografia (ROCHENBACH, 2006).
O tratamento instituído no caso intoxicação por Cycas revoluta Thunb.
teve como objetivo remover a causa desencadeante, tratar os distúrbios
sistêmicos associados à disfunção hepática e pancreática, e facilitar a
regeneração do fígado e recuperação do pâncreas (WILLIAMS, 2004).
O potencial carcinogênico da planta (ALBRETSEN, 1998) e as agressões
tóxicas durante longo período, demandam, necessidade de investigação
meticulosa sobre a possível neoformação hepática. O aparecimento de nódulos
cutâneos compatíveis com linfoma reforça a suspeita de neoplasia hepática.
Neste intuito foi recomendada a celiotomia exploratória acompanhada de
biópsia hepática e biópsia dos nódulos para confirmação do diagnóstico,
sendo o paciente encaminhado à oncologista.
A escassez de relatos literários de intoxicação por Cycas revoluta
Thunb. ressalva a importância de se relatar um caso clínico, de modo a
fornecer informações a cerca desta intoxicação, facilitando o seu diagnóstico. A
intoxicação por Cycas revoluta Thunb. é uma emergência veterinária capaz de
induzir a um quadro gastrintestinal e hepatopatia crônica. Devido aos efeitos
carcinogênicos de suas toxinas, existe a possibilidade de desenvolvimento de
neoplasias, desta forma, pode-se concluir que animais saudáveis, não devem
ser expostos Cycas revoluta Thunb. de forma crônica.

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