DANESE, Sergio. Diplomacia Presidencial
DANESE, Sergio. Diplomacia Presidencial
DANESE, Sergio. Diplomacia Presidencial
coleção
Internacionais
DIPLOMACIA PRESIDENCIAL
História e crítica
Ministério das Relações Exteriores
Instituto de Pesquisa de
Relações Internacionais
Centro de História e
Documentação Diplomática
Conselho Editorial da
Fundação Alexandre de Gusmão
DIPLOMACIA PRESIDENCIAL
História e crítica
2ª edição, revista
Brasília – 2017
Direitos de publicação reservados à
Fundação Alexandre de Gusmão
Ministério das Relações Exteriores
Esplanada dos Ministérios, Bloco H
Anexo II, Térreo
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Equipe Técnica:
Eliane Miranda Paiva
André Luiz Ventura Ferreira
Fernanda Antunes Siqueira
Gabriela Del Rio de Rezende
Luiz Antônio Gusmão
Projeto Gráfico:
Daniela Barbosa
ISBN: 978-85-7631-680-0
CDU 327.81
Prefácio....................................................................................................23
Nota do autor.........................................................................................29
Nota introdutória..................................................................................33
Capítulo 1
A diplomacia presidencial no governo
Fernando Henrique Cardoso..............................................................37
1.1. A intensidade da agenda diplomática presidencial...........38
1.2. A reorganização do discurso diplomático em torno da
diplomacia presidencial..................................................................41
1.3. A contribuição do presidente................................................53
1.4. Percepções e críticas................................................................58
1.5. Avaliando a diplomacia presidencial do governo
Fernando Henrique Cardoso.........................................................65
Capítulo 2
Diplomacia presidencial e diplomacia de cúpula: definição e
características genéricas......................................................................67
2.1. Mandatários e estadistas: uma precisão necessária..........69
2.2. Os chefes de estado e de governo como órgãos
das relações internacionais – o exemplo americano................70
2.3. Diplomacia de cúpula: gradações e tipologia essencial....79
2.4. A dimensão interna da diplomacia de cúpula....................83
2.5. O desenvolvimento da diplomacia de cúpula.....................86
Capítulo 3
Elementos de contraste, eixos de funcionamento, o mito das
relações pessoais e a crítica da diplomacia de cúpula....................91
3.1. Mandatários-chanceleres e seus chanceleres.....................91
3.2. A assessoria direta do mandatário........................................94
3.3. A importância da escolha do chanceler...............................98
3.4. O contraste com a diplomacia tradicional........................101
3.5. A questão da vocação pessoal do mandatário e a
capacidade de liderança...............................................................103
3.6. Eixos da diplomacia presidencial: a política interna e a
opinião pública...............................................................................107
3.7. A imprensa..............................................................................121
3.8. O eixo da política externa.....................................................122
3.9. O mito da relação pessoal e a crítica da
diplomacia de cúpula...................................................................127
3.10. O mito dos “caixeiros-viajantes”.......................................141
Capítulo 4
A diplomacia de cúpula na história diplomática ocidental:
do absolutismo a Woodrow Wilson................................................143
4.1. Diplomacia de cúpula e história diplomática mundial...143
4.2. Diplomacia de cúpula no absolutismo...............................145
4.3. O fim do patrimonialismo personalista na diplomacia
de cúpula.........................................................................................152
4.4. Os Estados Unidos e a diplomacia das doutrinas............154
4.5. O grande marco divisório da diplomacia de cúpula: o
Congresso de Viena.......................................................................159
4.6. Napoleão III e Bismarck, paradigmas da diplomacia de
cúpula no século XIX...................................................................163
4.7. Theodore Roosevelt e Woodrow Wilson: a redefinição
da diplomacia de cúpula no século XX.....................................170
4.8. Roosevelt: o cavaleiro durão da diplomacia de cúpula...171
4.9. As lições de Woodrow Wilson, presidente-diplomata...179
Capítulo 5
A história da diplomacia de cúpula: do entre-guerras
às formas contemporâneas................................................................199
5.1. Diplomacia de ditadores, diplomacia de democratas.....199
5.2. Franklin Roosevelt: da antidiplomacia presidencial
à grande diplomacia presidencial...............................................205
5.3. As grandes conferências e os encontros de
cúpula durante a guerra...............................................................216
5.4. A expansão da diplomacia de cúpula.................................223
5.5. Truman e o aprendizado da diplomacia presidencial.....226
5.6. Kennedy: liderança e iniciativas..........................................240
5.7. A continuação da expansão da diplomacia de cúpula....251
5.8. Nixon e Kissinger: um caso peculiar de
diplomacia de cúpula....................................................................253
5.9. Alguns outros exemplos da diplomacia presidencial
norte-americana............................................................................259
5.10. Os summits do pós-Guerra, as reuniões de cúpula, a
multiplicação das viagens............................................................263
Capítulo 6
A diplomacia de cúpula na história diplomática brasileira: da
fundação ao fim do Império..............................................................277
6.1. Diplomacia do Império ou diplomacia
do imperador?................................................................................279
6.2. “Sua Majestade Itinerante”...................................................289
Capítulo 7
Do início da República Velha à retirada da Liga das Nações......299
7.1. A inauguração da diplomacia presidencial brasileira.....299
7.2. A sombra de Rio Branco.......................................................302
7.3. Os caminhos da diplomacia presidencial brasileira
nos seus primórdios......................................................................307
7.4. Viagens do presidente eleito................................................308
7.5. Diplomacia protocolar..........................................................311
7.6. A inauguração da diplomacia das visitas: a troca de
visitas com a Argentina e a diplomacia gestual.......................313
7.7. Antidiplomacia presidencial: o Brasil fora da
Liga das Nações.............................................................................328
7.8. Uma diplomacia reflexa........................................................335
Capítulo 8
A diplomacia presidencial de Getúlio Vargas a
Juscelino Kubitschek...........................................................................337
8.1. Vargas: um caudilho na diplomacia
presidencial brasileira...................................................................337
8.2. Dutra e, de novo, Vargas: a retomada do padrão
residual anterior.............................................................................363
8.3. Juscelino Kubitschek e a afirmação da diplomacia
presidencial brasileira...................................................................370
8.4. Um programa de metas diplomáticas e a meta-síntese da
Operação Pan-Americana...........................................................372
Capítulo 9
A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco.....391
9.1. Jânio Quadros: o atacado e o varejo...................................391
9.2. Jango e a nova retomada do padrão mais reflexo da
diplomacia presidencial................................................................397
9.3. Os primeiros governos militares e o perfil burocrático da
diplomacia presidencial................................................................402
9.4. Castello, Costa e Silva e Médici:
uma diplomacia ex officio.............................................................404
9.5. Geisel: um novo grau zero na diplomacia
presidencial brasileira...................................................................413
9.6. O governo Figueiredo e a diplomacia das
visitas presidenciais.......................................................................421
9.7. O “momento presidencial” de Tancredo Neves...............434
9.8. José Sarney e a universalização da diplomacia
presidencial brasileira...................................................................436
9.9. Fernando Collor e Itamar Franco.......................................450
Capítulo 10
Uma tipologia e as vertentes da diplomacia de Cúpula...............461
10.1. Condução pessoal do processo decisório da política
externa.............................................................................................461
10.2. Iniciativas..............................................................................463
10.3. A diplomacia das doutrinas...............................................466
10.4. A vertente das visitas de mandatários: a diplomacia dos
encontros e dos deslocamentos..................................................468
10.5. Vertentes de uma visita de mandatário...........................476
10.6. Diplomacia vice-presidencial e diplomacia
de cônjuges de mandatários........................................................484
Capítulo 11
Aspectos práticos: assessoria, iniciativas,
preparação, follow-up .......................................................................489
11.1. Assessoria direta e colegiada.............................................489
11.2. Iniciativas..............................................................................500
11.3. Alguns aspectos práticos da diplomacia das visitas......505
11.4. O processo preparatório.....................................................505
11.5. A preparação de uma visita presidencial........................508
11.6. Outros aspectos da preparação.........................................516
11.7. Follow-up...............................................................................518
Capítulo 12
Comunicação na diplomacia presidencial: imprensa, discursos.....525
12.1. Imprensa................................................................................526
12.2. Discursos...............................................................................535
12.3. Importância do speechwriting ou
“redação de discursos”..................................................................539
12.4. O problema dos improvisos nos discursos de
política externa..............................................................................543
12.5. O problema da banalização dos discursos......................545
12.6. O discurso como parte de um diálogo.............................547
12.7. Sistematização do speechwriting.......................................548
12.8. Divulgação dos discursos...................................................552
Conclusão............................................................................................555
Referências..........................................................................................569
Índice onomástico-temático..........................................................595
PREFÁCIO
23
Celso Lafer
24
Prefácio
25
Celso Lafer
26
Prefácio
Celso Lafer
Genebra, junho de 1998
27
NOTA DO AUTOR PARA ESTA EDIÇÃO
29
Sérgio Danese
30
Nota do autor
31
Sérgio Danese
32
NOTA INTRODUTÓRIA
34
Nota introdutória
1 Por suas características e intenções, este trabalho não examinará aspectos protocolares ou de
organização logística de visitas e iniciativas presidenciais, a não ser quando possam ter um impacto
direto sobre os aspectos substantivos da política interna ou externa envolvida na diplomacia
presidencial.
35
CAPÍTULO 1
A DIPLOMACIA PRESIDENCIAL NO GOVERNO
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
37
Sérgio Danese
38
A diplomacia presidencial no governo Fernando Henrique Cardoso
o MERCOSUL e a União Europeia (19 a 22 de dezembro); 1996 – 23. Espanha (Barcelona): escala
técnica com programa (22 e 23 de janeiro); 24. Índia: visita de Estado (24 a 27 de janeiro); 25. Itália
(Palermo): escala técnica com programação (27 e 28 de janeiro); 26. México: visita de Estado (18 a
20 de fevereiro); 27. Estados Unidos da América (São Francisco): escala técnica com programação
(9 a 11 de março); 28. Japão: visita de Estado (12 a 15 de março); 29. Estados Unidos da América
(San Antonio): escala técnica com programação (15 de março); 30. Argentina: visita de Estado (7 a
9 de abril); 31. França: visita de Estado (26 a 30 de maio); 32. Suíça: Comitê Olímpico Internacional
(30 a 31 de maio); 33. Argentina (Buenos Aires e San Luís): X Conselho do MERCOSUL (24 a 26 de
junho); 34. Paraguai: encontro com o presidente Wasmosy (26 de junho); 35. Portugal: Cúpula dos
Presidentes dos Países de Língua Portuguesa (16 de julho); 36. Bolívia: X Reunião de Presidentes do
Grupo do Rio (2 a 4 de setembro); 37. Chile: VI Cúpula Ibero-Americana de Chefes de Estado e de
Governo (9 a 11 de novembro); 38. Angola: visita de Estado (24 e 25 de novembro); 39. África do
Sul: visita de Estado (25 a 28 de novembro); 40. Bolívia: Cúpula das Américas sobre Desenvolvimento
Sustentável (7 de dezembro); 1997 – 41. Reino Unido: seminário Reino Unido-América Latina (10 e
11 de fevereiro); 42. Itália: visita de Estado (11 a 13 de fevereiro); 43. Vaticano: visita de Estado (14 de
fevereiro); 44. Canadá: visita de Estado (21 a 24 de abril); 45. Uruguai: visita de Estado (5 e 6 de maio);
46. Paraguai: XII Conselho do MERCOSUL (19 de junho); 47. Estados Unidos da América (Nova
York): Sessão Especial da Assembleia Geral da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.
Houve um total de 17 visitas de Estado, três visitas oficiais, 14 compromissos multilaterais, três posses
presidenciais e apenas dois encontros de fronteira (levantamento feito pela Divisão da Europa-I do
Ministério das Relações Exteriores e completado e reeditado pelo A.). Para um relatório sucinto das
visitas realizadas entre janeiro de 1995 e março de 1996, cf. fac-símile 119, de 17 de maio de 1996,
da Secretaria de Estado para a Presidência da República, transmitindo o documento “Relatório das
viagens realizadas pelo Excelentíssimo Senhor Presidente da República no período de 1º de janeiro
de 1995 a março de 1996”. Arquivo do Gabinete do Ministro das Relações Exteriores.
3 As grandes retribuições de visitas, na verdade, só começariam em agosto de 1996, com as visitas do
primeiro-ministro japonês Hyutaro Hashimoto, em agosto, e do chanceler federal alemão Helmut
Kohl, em setembro. Visitaram o Brasil, de janeiro de 1995 a junho de 1997, 26 chefes de estado
(Polônia, Luxemburgo, Irlanda, Turquia, Uruguai, Itália, Angola, Vietnã, Palestina, Ucrânia, Namíbia,
Alemanha, Suriname, Peru, Lituânia, Chile, Venezuela, Coreia, República Tcheca, Suriname, Finlândia,
França, Hungria, Colômbia, Argentina e Japão) e oito chefes de governo (Canadá, Líbano, Portugal,
Mali, Japão, Alemanha, China e Espanha). Levantamento feito pelo Cerimonial em 30 de junho de
1997. O presidente teria um envolvimento reduzido com essas visitas, independentemente do seu
formato (de Estado ou oficial), normalmente uma reunião de trabalho e um banquete oferecido
ao visitante, em que se faz o único discurso do Executivo brasileiro. Excepcionalmente o presidente
compareceu à recepção de retribuição do visitante ou o acompanhou a outra cidade (por exemplo,
acompanhou o presidente da Alemanha na inauguração da Exposição Industrial Alemã em São
Paulo, em novembro de 1995, e o presidente francês Jacques Chirac em sua visita ao Rio de Janeiro
e São Paulo, em março de 1997). Também excepcionalmente ofereceu almoço ou jantar no Palácio
da Alvorada. As visitas de mandatários estrangeiros ao Brasil só ganharam maior destaque quando
puderam ser apresentadas como follow-up (na medida do possível, portanto, mais do que mera
retribuição protocolar) das próprias visitas do presidente brasileiro, ou quando os visitantes tinham
uma projeção própria, pela importância do seu país ou pelo seu prestígio pessoal.
39
Sérgio Danese
40
A diplomacia presidencial no governo Fernando Henrique Cardoso
8 Cf. Decreto 1.895, de 6 de maio de 1996, publicado no Diário Oficial da União de 7 de maio de 1996.
41
Sérgio Danese
9 Cf. LAMPREIA, L. F. “Discurso do Embaixador..., por ocasião de sua posse como Ministro de Estado
das Relações Exteriores, 2 de janeiro de 1995”. In: Resenha de política exterior do Brasil, n. 76, p. 19,
1º semestre de 1995.
10 Cf. CARDOSO, F. H. Mãos à obra Brasil: proposta de governo. Brasília, 1994, p. 12-13 e 84.
11 Cf. id. “Discurso de posse no Congresso Nacional, 1º de janeiro de 1995”. In: Pronunciamentos do
Presidente da República 1995. Brasília: Presidência da República, 1996. p. 137.
42
A diplomacia presidencial no governo Fernando Henrique Cardoso
12 Por exemplo, alguns presidentes do Conselho de Ministros no Segundo Império foram chanceleres
e vice-versa; James Monroe fora secretário de Estado de James Madison; Bismarck fora diplomata
da Prússia, tendo servido como embaixador em São Petersburgo; Aristide Briand, conhecido como
grande chanceler francês, foi presidente do Conselho várias vezes; Edouard Schevardnadze, o último
chanceler da União Soviética, foi eleito presidente da Geórgia.
43
Sérgio Danese
44
A diplomacia presidencial no governo Fernando Henrique Cardoso
15 Cf. ibid., p. 22. As qualificações do presidente para conduzir a política externa seriam invocadas
também no discurso que deu posse ao secretário-geral, embaixador Sebastião do Rego Barros, mais
voltado para aspectos organizacionais do Itamaraty: “Algumas dessas diretrizes, discuti-as com o
próprio presidente Fernando Henrique, cuja experiência à frente do Itamaraty lhe dá credenciais
inéditas como chefe de Estado, para conduzir a diplomacia e avaliar o trabalho do seu Ministério
das Relações Exteriores”. Cf. LAMPREIA, L. F. “Discurso por ocasião da posse do secretário-geral, 3 de
janeiro de 1995”. In: Resenha de Política Exterior do Brasil, n. 76, cit., p. 31.
16 Cf. LAMPREIA, L. F. “A política externa do governo Fernando Henrique”, Jornal do Brasil, 8 de janeiro
de 1995, p. 11.
45
Sérgio Danese
46
A diplomacia presidencial no governo Fernando Henrique Cardoso
47
Sérgio Danese
19 Cf. ibid.
20 Cf. ibid.
21 Cf. ibid.
48
A diplomacia presidencial no governo Fernando Henrique Cardoso
49
Sérgio Danese
28 Cf. id. “Prepared remarks by ambassador Luiz Felipe Lampreia, Minister of External Relations of Brazil,
at the ‘Symposium of Brazil – Panel III: prospects for US-Brazilian relations’”, Nova York, 19 de abril de
1995. Mimeo.
50
A diplomacia presidencial no governo Fernando Henrique Cardoso
51
Sérgio Danese
52
A diplomacia presidencial no governo Fernando Henrique Cardoso
53
Sérgio Danese
54
A diplomacia presidencial no governo Fernando Henrique Cardoso
38 Cf . ibid.
39 Cf. “Viagens são importantes, diz FH”, O Estado de S. Paulo, 16 de março de 1996.
40 A entrevista foi ao ar no dia indicado.
55
Sérgio Danese
41 Cf. CARDOSO, F. H. “Brinde do Senhor Presidente da República por ocasião do jantar que oferece ao
presidente da Finlândia, Senhor Martti Ahtisaari”, 24 de fevereiro de 1997. Mimeo.
42 Cf. id. “Brinde do Senhor Presidente da República por ocasião do jantar que oferece ao Presidente da
República da Hungria, Senhor Árpad Göncz”, 3 de abril de 1997. Mimeo.
43 “A primeira [das duas realidades mais novas e desafiadoras em que o Estado brasileiro deve mover-
‑se é] a crescente preeminência do cidadão, na sua vertente política de eleitor e na sua vertente
econômica de consumidor [...] como objetivo de políticas. [...] O Itamaraty tem, aliás, incorporado
sistematicamente o conceito de cidadão e de consumidor no discurso diplomático brasileiro”. Cf.
LAMPREIA, L. F. “O Brasil e o mundo no século XXI – uma visão do Itamaraty”. In: Política externa, v. 5,
n. 3, p. 42, dez./jan./fev. 1996-1997. “O mundo ganhou uma dimensão que antes não tinha no âmbito
interno dos países, refletindo-se essa nova realidade até nos padrões de consumo das populações,
para não falar por exemplo do impacto positivo de uma oferta ampliada de bens e serviços sobre
os esforços de estabilização de economias como a brasileira”. Cf. id. “A execução da política externa
brasileira”, cit., p. 3.
56
A diplomacia presidencial no governo Fernando Henrique Cardoso
44 Cf., entre outros textos, MACIEL, M. “Viajar é preciso? Sim”, Isto É, 6-13 de março de 1996;
id. “Diplomacia presidencial”, Diário de Pernambuco, 17 de março de 1996; id. “Aula inaugural do
PROFA-I, 4 de setembro de 1996”, transmitida pela circular postal 06/97, de 21 de janeiro de 1997.
Arquivo da Secretaria de Estado.
45 Cf. documento SF-321, de 12 de junho de 1996, do Senado Federal – Secretaria Legislativa.
46 Cf. documento SF-207, de 6 de fevereiro de 1996, do Senado Federal – Secretaria Legislativa.
47 Cf. REGO BARROS, S. do. “Mobilização extraordinária”, Folha de S. Paulo, 16 de março de 1996.
57
Sérgio Danese
48 Cf., por exemplo, LAFER, C. ‘‘Reeleição e maturidade política”, Folha de S. Paulo, 1º de dezembro de
1996; BARBOSA, R. A. “Ecos da visita presidencial a Londres”, Gazeta Mercantil, 18 de fevereiro de
1997.
49 A análise que a Oxford Analytica fez, por exemplo, da visita presidencial ao Japão é um primor de
objetividade e concisão e traz alguns elementos descritivos muito precisos sobre a diplomacia
presidencial: “Cardoso’s visit to Tokyo was yet another example of his conduct of presidential
diplomacy. It was designed to generate external support for domestic economic reform and
to lay the basis for longer term foreign policy goals. [...] [Cardoso] has been keen to exploit his
personal diplomatic and public relations skills, with a view to strengthening foreign confidence and
countering the negative image Brazil had acquired by the early 1990s. [...] Thus Cardoso has been
anxious to project the successes of the Real Plan and the structural economic reforms [...]”. Cf. Oxford
Analytica Daily Brief, March 19, 1996: Brazil: Presidential diplomacy.
50 Entre as inúmeras matérias sobre as sucessivas viagens presidenciais, podem-se encontrar às dezenas
títulos como estes: “O tucano voa mais longe – com visita à Índia, Fernando Henrique bate recorde
de viagens – e isso é bom”. (Veja, 31 de janeiro – 6 de fevereiro de 1996); “Reaproximação efetiva com
o Japão – Viagem presidencial reforça vínculos econômicos e abre novo diálogo político” (Gazeta
Mercantil, 18 de março de 1996); “Créditos do Japão chegam a US$ 3,5 bilhões” e “FH colhe vitória
política de viagem oficial ao Japão” (O Estado de S. Paulo, 15 e 17 de março de 1996); “Visita é sucesso
absoluto” (Jornal do Brasil, 16 de março de 1996); “Imagem internacional – Fernando Henrique
consolida posição de líder regional” (Gazeta Mercantil, 17 de fevereiro de 1997); “Viagem resulta em
novos negócios (Gazeta Mercantil, 25 de abril de 1997).
51 Cf. GOMES, C. “Boas novas na política externa”, Jornal do Brasil, 28 de janeiro de 1996.
58
A diplomacia presidencial no governo Fernando Henrique Cardoso
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Sérgio Danese
60
A diplomacia presidencial no governo Fernando Henrique Cardoso
61
Sérgio Danese
62
A diplomacia presidencial no governo Fernando Henrique Cardoso
67 Cf., por exemplo, Requerimento n. 1.771, de 14 de março de 1996, da Câmara dos Deputados,
dirigido ao ministro-chefe do Gabinete Civil da Presidência. O deputado critica a frequência das
visitas e uma alegada “falta de transparência” na sua realização, objetivos e resultados, solicitando
informações sobre objetivos de cada visita realizada, comitivas e custos.
68 Cf., por exemplo, “Cardoso chega e já prepara ida ao México”, Jornal de Brasília, 30 de janeiro de 1996;
“Ministros imitam o chefe no gosto pelas viagens”, Jornal de Brasília, 10 de março de 1996, “Mundo
está ficando pequeno para FH, que já soma 18 viagens internacionais”, O Globo, 10 de março de 1996.
69 Cf. editoriais “Turismo diplomático” e “Antes, cuidar de casa”, Jornal da Tarde, 24 de janeiro e 15 de
março de 1996; “Pousa, presidente”, Folha de S. Paulo, 11 de março de 1996; “Reeleição ou viagens”,
O Globo, 13 de janeiro de 1997.
70 Curiosamente, muitas “Cartas de leitores” de jornais se referem a este aspecto da diplomacia
presidencial. Reações típicas de leitores irados, incentivados pela coluna “Viajar... viajar...” do Painel
dos Leitores de O Estado de S. Paulo, são as seguintes: “Chuvas torrenciais, deslizamento, dezenas
de mortes, famílias destroçadas, milhares sem ter onde morar porque perderam tudo! E o homem
ouvindo mariachis e tomando tequila ao som de um bolerão... Décio Olimar, Rio de Janeiro”. “Alguém
precisa perguntar ao nosso presidente FH para que serve o ministro das Relações Exteriores e se ele
não é de sua confiança. [...] Ou FH esqueceu que foi eleito e não precisa mais ficar viajando para cima
e para baixo, como fazia quando estava no Itamaraty? Será que não tem nada para fazer no Brasil?
Esse total abandono não implica desconhecimento dos problemas que aqui surgem? [...] Gilson José
Batista, Capital”. Cf. “Viajar... viajar”, O Estado de S. Paulo, 19 e 20 de fevereiro de 1996.
71 “O hábito de viajar constantemente para o exterior preocupa os entrevistados e aparece em primeiro
lugar no ranking de seus defeitos”. Cf. “Os dedos quebrados do presidente”, Isto É, 19-26 de junho
de 1996. A matéria motivou o adiamento da visita presidencial a Angola, que se combinaria com a
cimeira da CPLP em Lisboa em julho de 1996.
63
Sérgio Danese
72 O Estado de S. Paulo, por exemplo, critica a surpresa com que o presidente recebeu a proposta
mexicana de uma “aliança estratégica”, durante a visita presidencial ao México, atribuindo-a ao
“preparo pouco cuidadoso de uma visita presidencial”. Cf. “Aliança estratégica?”, O Estado de S. Paulo,
22 de fevereiro de 1996.
73 Cf., por exemplo, ALBUQUERQUE, J. A. G. de. “O alcance da ‘diplomacia presidencial’”. In: Carta
internacional, n. 47, p. 8, janeiro de 1997. Em um dos poucos trabalhos acadêmicos brasileiros que
enfocam a diplomacia presidencial, o A. alega que a “decantada ‘diplomacia presidencial’ [...] ainda
carece de uma definição mais precisa. [...] Se a ‘diplomacia presidencial’ implica a formulação de
políticas diferentes ou inovadoras, e a operação direta dessas políticas, seja em fóruns multilaterais,
seja em encontros bilaterais, dificilmente se poderia empregar o conceito para caracterizar as viagens
presidenciais ou a participação do presidente em reuniões como o Conselho do MERCOSUL ou a
Assembleia Geral da ONU”.
74 Cf., por exemplo, “Gafe mesmo é ir ao Japão de chaleira velha”, Folha de S. Paulo, 15 de março de 1996.
64
A diplomacia presidencial no governo Fernando Henrique Cardoso
65
Sérgio Danese
66
CAPÍTULO 2
DIPLOMACIA PRESIDENCIAL E DIPLOMACIA DE
CÚPULA: DEFINIÇÃO E CARACTERÍSTICAS GENÉRICAS
67
Sérgio Danese
68
Diplomacia presidencial e diplomacia de cúpula: definição e características genéricas
77 “The key Soviet position was always that of the general secretary of the Communist Party; from
Lenin through Brezhnev, the communist leader rarely held a governmental office”. Cf. KISSINGER, H.
Diplomacy. New York: Simon and Schuster, 1994, p. 797.
69
Sérgio Danese
70
Diplomacia presidencial e diplomacia de cúpula: definição e características genéricas
the British Crown upon the Declaration of Independence and had in turn been inherited from that
Congress by the new federal government after 1787”. Cf. McDONALD, F. The American presidency.
An intellectual History. Lawrence: University Press of Kansas, 1994, p. 383.
81 Um bom estudo da evolução das competências do presidente e do Congresso norte-americanos
em matéria de condução da política externa é o de McDONALD, F. “President and Congress: foreign
affairs”. In: ibid., p. 382-424. O texto tem várias observações sobre o processo de fortalecimento e
controle da autoridade do presidente dos Estados Unidos na área de política externa. Examinando
cada um dos principais presidentes deste século, o capítulo 14 mostra como aquela autoridade
foi-se fortalecendo diante de cada desafio que os EUA foram encontrando na afirmação da sua
hegemonia, culminando com a presidência de Franklin Roosevelt e, mais adiante, com a Resolução
sobre o Golfo de Tonkin (1964), que marcou o início do grande envolvimento norte-americano
no Vietnã, até que o “War Powers Act”, de 1970, impusesse limites políticos muito claros à ação
presidencial.
71
Sérgio Danese
82 Cf. BARRETT, D. M. “Presidential foreign policy”. In: DUMBRELL, J. The making of US foreign policy
(with a chapter by David M. Barrett). Manchester/New York: Manchester University Press, 1990,
p. 70. Sobre o caso U.S. v. Curtiss-Wright Corp., cf. McDONALD, F., op. cit., p. 383; e SILVERSTEIN, G.
“Judicial enhancement of executive power”. In: PETERSON, P. E. (ed.). The President, the Congress and
the making of foreign policy. Londres/Norman: University of Oklahoma Press, 1994, p. 27-30.
83 Apud McDONALD, F., op. cit., p. 383.
72
Diplomacia presidencial e diplomacia de cúpula: definição e características genéricas
73
Sérgio Danese
89 “The purpose of the resolution was to guarantee that the president could not commit troops for
more than sixty days (or ninety under special conditions) without a congressional debate resulting
in congressional approval. [...] The resolution is in largest part a failure, however, in at least two
respects. First, it does not give Congress any substantial powers to check the president or any
substantial new opportunities to participate in foreign policy that it did not already have or could
not exercise without the resolution. Second, presidents since 1974 have not regarded themselves as
bound by the resolution, at least not in the sense Congress seems to have intended. Indeed, they are
able to disregard the provisions with impunity, and they seem to have every incentive to do so. [...]
Even when [the President] did choose to report to Congress, he based his actions on his authority
as commander-in-chief and therefore saw no need to observe the provisions of the resolution”. Cf.
ibid., p. 183-185. Para uma análise sucinta da War Powers Resolution, cf. também FISHER, L., op. cit.,
p. 265-272; e id. The politics of shared power. Congress and the Executive. 3ª ed. Washington: CQ Press,
1993, p. 145-176.
90 “President Jackson understood the value of seeking the advice of Senators on how best to pursue
treaty negotiations. [...] President James K. Polk adopted a similar attitude, asking the Senate to give
its advice on the negotiation of a treaty because it was prudent for a President to consult Senators
in advance of important measures of foreign policy which may ultimately come before them for
their consideration’. [...] Presidents William McKinley, Warren Harding, and Herbert Hoover included
Senators and Representatives as members of U.S. delegations that negotiated treaties”. Cf. FISHER, L.
Constitutional conflicts between Congress and the President, cit., p. 219.
74
Diplomacia presidencial e diplomacia de cúpula: definição e características genéricas
75
Sérgio Danese
92 Cf. “Constituição Política do Império do Brasil, 25 de março de 1824”. In: BONAVIDES, P.; AMARAL, R.
Textos políticos da História do Brasil. Vol. 8. Constitucionalismo. Brasília: Senado Federal (Subsecretaria
de Edições Técnicas), 1996, p. 183. A obra citada, em nove volumes, é um excelente compêndio da
maioria dos principais documentos (tratados, proclamas, decretos, leis, discursos, etc.) relevantes
para o estudo da história do Brasil do período colonial ao início do regime militar.
93 Cf. “Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, 24 de fevereiro de 1891”. In: ibid., p. 434.
94 Cf. ibid., p. 438.
95 Para uma comparação, cf. Constituição da República Federativa do Brasil. Quadro comparativo.
Brasília: Senado Federal/Secretaria de Documentação e Informação, 1991, p. 264-271.
76
Diplomacia presidencial e diplomacia de cúpula: definição e características genéricas
A Constituição de 1988, nos artigos 49, incisos I e II, 52, inciso IV,
e 84, incisos VII, VIII, XIX, repete praticamente com as mesmas
palavras as atribuições do presidente e do Congresso Nacional em
matéria de política externa96.
Os tratados de direito diplomático normalmente recolhem
esse tipo de realidade jurídico-política dos Estados, para atribuir
aos chefes de estado e de governo, como princípio geral ou norma
do direito internacional, a primazia como órgãos ou agentes das
relações internacionais. “Os chefes de estado são os representantes
supremos do estado nas suas relações com o exterior”, diz Rubens
Ferreira de Mello em um dos tratados clássicos difundidos no
Brasil97. “É indiferente ao direito internacional o regime que
representem ou o título que possuam”, conclui. Hildebrando
Accioly corrobora essa definição, completando-a:
O mais alto órgão do Estado, sua autoridade suprema, –
quer se intitule imperador, rei, presidente da república,
ou chefe de governo, – é quem verdadeiramente o
representa nas relações internacionais. [P]erante o
direito internacional, parece razoável que todos os atos
praticados por um chefe de Estado, nessa qualidade, nas
relações com outros Estados, todas as manifestações
de vontade por ele expressas, nesse caráter, devam ser
atribuídos ao próprio Estado, ainda quando se achem em
contradição com o seu direito interno. [...] Os chefes de
estado ou chefes de governo, dada a multiplicidade de
suas funções, não podem, em geral, atender pessoalmente
à direção dos serviços relativos às relações exteriores dos
77
Sérgio Danese
98 Cf. ACCIOLY, H. Manual de direito internacional público. 11ª ed. rev. São Paulo: Saraiva, 1978, p. 103-104.
99 Cf. SOARES, G. F. S. “Os órgãos das relações exteriores dos Estados e as formas da diplomacia”. Texto
preparado para ser incluído em livro editado sob a responsabilidade do Departamento de Direito
Internacional da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Mimeo, 1996, p. 6-7.
78
Diplomacia presidencial e diplomacia de cúpula: definição e características genéricas
80
Diplomacia presidencial e diplomacia de cúpula: definição e características genéricas
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Diplomacia presidencial e diplomacia de cúpula: definição e características genéricas
83
Sérgio Danese
101 Cf. CAMPOS, R. A lanterna na popa. Rio de Janeiro: Topbooks, 1994, p. 967.
84
Diplomacia presidencial e diplomacia de cúpula: definição e características genéricas
85
Sérgio Danese
86
Diplomacia presidencial e diplomacia de cúpula: definição e características genéricas
103 Jacques Droz faz bem o contraste entre os dois reis: “Louis XIV a marqué profondément de sa
personnalité la politique étrangère [...] Si scrupuleux fût-il dans son métier de roi, [Louis XV] était
incapable, par ennui ou par lassitude, de donner au gouvernement une impulsion personnelle, et,
par timidité, de travailler avec un ministre ou de présider effectivement le Conseil”. Cf. DROZ, J.
Histoire diplomatique de 1648 à 1919. 3ª ed. Paris: Dalloz, 1972, p. 21 e 106.
104 Para a análise da diplomacia presidencial de Theodore Roosevelt, cf. mais abaixo.
87
Sérgio Danese
88
Diplomacia presidencial e diplomacia de cúpula: definição e características genéricas
105 A revista Veja dá um de tantos exemplos dessa abordagem na matéria que analisa a visita ao Brasil do
presidente francês Jacques Chirac: “O charme do caixeiro-viajante. Em visita para promover vendas
francesas, Chirac esbanja simpatia e oferece alternativa aos EUA”. Cf. Veja, 21-28 de março de 1997,
p. 86-88. O tema será retomado no capítulo seguinte.
89
CAPÍTULO 3
ELEMENTOS DE CONTRASTE, EIXOS DE
FUNCIONAMENTO, O MITO DAS RELAÇÕES
PESSOAIS E A CRÍTICA DA DIPLOMACIA DE CÚPULA
91
Sérgio Danese
106 Cf. LOWI, T., op. cit., p. 166. Theodore Sorensen também lembra alguns casos ilustrativos de
predomínio presidencial sobre o secretário de Estado, começando por Wilson: “Woodrow Wilson
typed his own diplomatic messages, induced the resignation of both William Jennings Bryan and
Robert Lansing (with whom he did not consult about declaring war on Germany), and conducted
foreign relations largely through his personal envoy, Colonel Edward House. Theodore Roosevelt
often ignored Secretary John Hay, corresponded directly with other heads of state, and personally
made all key decisions on Panama. William McKinley initiated war against Spain without consulting
Secretary of State William Day. Even [the] first secretary of state, Thomas Jefferson, found his
jurisdiction challenged by Treasury Secretary Alexander Hamilton, who regarded himself as George
Washington’s prime minister”. Cf. SORENSEN, T. “The President and the Secretary of State”. In: Foreign
Ajfairs, v. 66, n. 2, p. 234, inverno 1987-1988.
107 Cf. KISSINGER, H., op. cit., p. 175.
92
Elementos de contraste, eixos de funcionamento,
o mito das relações pessoais e a crítica da diplomacia de cúpula
108 Wilson é exemplo de ambas as coisas, o que talvez esteja na origem da sua impetuosa e heterodoxa
diplomacia pessoal já em pleno segundo mandato, quando passou a fazer política externa afastado
do Departamento de Estado e a partir de uma visão pessoal: “Partly because he failed systematically
to consult the expert intelligences in the executive departments and the foreign service, Wilson fell
into traps formed by his own sentiments. Aware though he was of his own unfamiliarity with foreign
policy, he selected as Secretary of State another amateur, Bryan, who harbored the very attitudes
that at once inspired and handicapped his chief. [...] Bryan appointed ‘deserving Democrats’ to
diplomatic posts where other qualifications were needed, a practice the President permitted; and
Wilson entrusted critical diplomatic missions to other innocents. Sure of the virtue of their intentions,
supported by the naiveté alike of their staff and their constituency, President and Secretary of State
let their untutored instincts obscure what informed analysis might have illuminated. The complex
of their attitudes not only beclouded national interest but also conflicted on occasions of moment
with Wilson’s sincere abomination of imperialism and war”. Cf. BLUM, J. M. Woodrow Wilson and
93
Sérgio Danese
the politics of morality. Singapore: Harper Collins Publishers (Library of American Biography), s.d.,
p. 86. Não é de estranhar que, nos primeiros tempos da sua presidência, “[Wilson] was therefore
distracted, often dejected, by the succession of delicate and vexatious problems that increasingly
captured the energies of his administration”. Cf. ibid., p. 84.
109 Apud KISSINGER, H., op. cit., p. 538.
110 Cf. GIGLIO, J. N. The presidency of John F. Kennedy. Lawrence: The University Press of Kansas, 1992,
p. 35. (A citação é extraída de COHEN, W. I. Jean Rusk. Totowa: Cooper Square, 1980, p. 102.)
94
Elementos de contraste, eixos de funcionamento,
o mito das relações pessoais e a crítica da diplomacia de cúpula
95
Sérgio Danese
96
Elementos de contraste, eixos de funcionamento,
o mito das relações pessoais e a crítica da diplomacia de cúpula
116 Cf. ibid., p. 237. O National Security Council foi, de fato, criado, com o objetivo de dar ao presidente
um instrumento próprio da presidência, menos submetido às pressões do Congresso, para suprir as
deficiências naturais na relação com as agências encarregadas da política externa, especialmente a
chancelaria, e dar à Presidência capacidade de coordenação interna e de projeção externa a partir
da própria Presidência. “The National Security Act of 1947 recognized the need for a presidential
capacity to take and maintain foreign policy initiatives. Informally it was called the Unification Act.
It created the National Security Council, with its important staff, for the purpose of providing the
president with the capacity to make a central decision and to coordinate its implementation among
the relevant departments”. Cf. LOWI, T., op. cit., p. 165.
117 A Assessoria Diplomática ou Internacional começou informalmente no quarto andar do Palácio do
Planalto, em 1985, no governo José Sarney, e funcionou como dependência do Gabinete Civil, mas
respondendo diretamente ao presidente; depois desceu para o terceiro andar, ao lado do Gabinete
do presidente, a que tinha acesso por dentro, e já como parte do Gabinete Pessoal (Assessoria
Especial). No governo Collor foi rebatizada como Assessoria Diplomática, no âmbito da Secretaria-
‑Geral da Presidência, que substituiu o Gabinete Civil, e voltou ao quarto andar, onde permaneceu
no governo Itamar, mas outra vez como dependência da Casa Civil, recriação do Gabinete Civil. No
governo Fernando Henrique foi reinstituída como Assessoria Especial, dependente da Secretaria-
‑Geral da Presidência, e dividiu-se entre o quarto andar e uma sala no anexo. Embora originalmente
sua atribuição principal fosse a política externa, assessorando diretamente o presidente e
despachando o expediente indireto do Itamaraty, a Assessoria ocupou-se muitas vezes de assuntos
internos, especialmente no que se refere ao speechwriting. Embora tenha mudado tantas vezes de
nome, de tamanho – criada com dois, chegou a ter cinco diplomatas ao tempo de Itamar Franco
– e de atribuições (exclusivamente diplomática ou combinando assuntos de política interna), a
Assessoria parece estar consolidada como função e tem-se mostrado extremamente útil, mas
conservava em 1997 uma dificuldade para inserir-se funcionalmente na estrutura da Presidência e
fixar-se espacialmente em lugar prestigioso, compatível com a sua importância. No governo Lula,
com um titular de fora da carreira, voltou ao terceiro andar, com uma extensão no anexo.
97
Sérgio Danese
98
Elementos de contraste, eixos de funcionamento,
o mito das relações pessoais e a crítica da diplomacia de cúpula
99
Sérgio Danese
100
Elementos de contraste, eixos de funcionamento,
o mito das relações pessoais e a crítica da diplomacia de cúpula
122 O coronel House, verdadeiro alter ego de Wilson, é o exemplo histórico mais citado; sempre será
útil discutir até que ponto sua ascendência absoluta sobre Wilson foi responsável pela perda de
relação entre a diplomacia presidencial wilsoniana e as realidades de poder e de opinião pública
nos Estados Unidos. Kissinger é quem melhor ilustra essa relação em tempos mais recentes: ofuscou
inteiramente o secretário de Estado William Rogers enquanto foi assessor de Segurança Nacional e
depois, como secretário de Estado, transferiu para o comando do Departamento toda a influência
e poder de que desfrutava na Casa Branca junto ao presidente, como articulador da diplomacia de
Nixon.
101
Sérgio Danese
123 Cf. NICOLSON, H. La diplomacia. 2ª ed. em espanhol (3ª ed. em inglês). México: Fondo de Cultura
Económica, 1967, p. 71-72.
124 Cf. telegrama 555 (ostensivo), de 4 de abril de 1996, da Embaixada em Londres para a Secretaria de
Estado, Arquivo da Secretaria de Estado.
102
Elementos de contraste, eixos de funcionamento,
o mito das relações pessoais e a crítica da diplomacia de cúpula
125 Um caso recente de problema público entre a diplomacia de mandatários e a diplomacia tradicional
se deu no Oriente Médio, uma região de grande intensidade da diplomacia de cúpula, que se
especializou em cuidar de crises e em gestos espetaculares: enfurecido com o seu governo por não
ter sido informado de encontro-relâmpago entre o rei Hussein e o primeiro-ministro Netanyahu, o
embaixador de Israel em Amã pediu demissão antes mesmo de apresentar credenciais. Cf. telegrama
175, de 15 de maio de 1997, da Embaixada em Amã para a Secretaria de Estado. Arquivo da Secretaria
de Estado.
126 As indicações que se seguem serão retomadas mais adiante, com as devidas precisões bibliográficas.
103
Sérgio Danese
104
Elementos de contraste, eixos de funcionamento,
o mito das relações pessoais e a crítica da diplomacia de cúpula
127 Apud GILBERT, M. Churchill – A photographic portrait. Londres: Penguin Books, 1974, n. 339.
128 Cf. BLUM, J. M., op. cit., p. 84.
129 Apud SINCLAIR, B. “Studying presidential leadership”. In: EDWARDS III, G. C. et al. (ed.) Reaserching
the presidency. Vital questions, new approaches, cit., p. 204.
105
Sérgio Danese
130 “[L]eadership as a focus of group processes (the ‘centralization of effort in one person as an
expression of the power of all’); leadership as personality and its effects (‘a combination of traits
which enables an individual to induce others to accomplish a given task’); leadership as the art of
inducing compliance (‘the process by which an agent induces a subordinate to behave in a desired
manner’); leadership as the exercise of influence (‘the process of influencing the activities of an
organized group in its efforts toward a goal setting and a goal achievement’); leadership as act or
behavior (‘the behavior of an individual while he is involved in directing group activities’); leadership
as a form of persuasion (‘the activity of persuading people to cooperate in the achievement of
a common objective’); [...] leadership as an instrument of goal achievement (‘the human factor
which binds a group together and motivates it towards goals’); leadership as an emerging effect
of interaction (‘a process of mutual stimulation which, by the successful interplay of individual
differences, controls human energy in the pursuit of a common cause’); leadership as a differentiated
role (‘leadership is a role within the scheme of relations and is defined by reciprocal expectations
between the leader and other members’) [...]’’. Cf. ibid., p. 204-205.
131 Cf. BURNS, J. M. “A note on the study of political leadership”. In: id. Roosevelt 1882-1940. The lion and
the fox. San Diego: Harcourt Brace and Company, 1984, p. 481. Burns lembra também a importância
do estudo da liderança política no mundo contemporâneo: “This progress is all the more welcome
in an era when democratic peoples seek to understand the difficulties and possibilities of political
106
Elementos de contraste, eixos de funcionamento,
o mito das relações pessoais e a crítica da diplomacia de cúpula
leadership both in order to handle social and economic problems and to meet certain psychological
needs of the people”. Cf. ibid., p. 481.
107
Sérgio Danese
132 Cf. ANDERSON, P. A. “Deciding how to decide in foreign affairs”. In: EDWARDS III, G. C. et al. (ed.) The
presidency and public policy making. Pittsburgh: University of Pittsburgh Press, 1985, p. 156.
108
Elementos de contraste, eixos de funcionamento,
o mito das relações pessoais e a crítica da diplomacia de cúpula
109
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113
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114
Elementos de contraste, eixos de funcionamento,
o mito das relações pessoais e a crítica da diplomacia de cúpula
142 Cf. ERLANDGER, S.; SANGER, D. “A reluctant President embraces world role”, New York Times, 29 de
julho de 1996, p. 1.
143 “President Clinton and vice-president Gore have seized the opportunities of the post‑Cold War
era. Over the past four years, their leadership has made America safer, more prosperous, and more
engaged in solving the challenges of a new era. [...] The Clinton‑Gore administration’s record of
leadership has deterred America’s adversaries and earned respect from our allies and partners”. Apud
telegrama 1.445, de 27 de agosto de 1996, da Embaixada em Washington para a Secretaria de Estado.
Arquivo da Secretaria de Estado.
115
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116
Elementos de contraste, eixos de funcionamento,
o mito das relações pessoais e a crítica da diplomacia de cúpula
117
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149 Cf. KISSINGER, H., op. cit., p. 161. Truman foi quem consolidou as campanhas whistle-stop
(literalmente "parada com apito" dado pela locomotiva ao chegar a uma estação), utilizando-se
de um trem que ia percorrendo o país e parando a cada estação, onde o candidato se dirigia ao
eleitorado da plataforma do último vagão.
150 Cf. ibid., p. 163.
118
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3.7. A imprensa
Finalmente, a relação da imprensa com a diplomacia de cúpula
tornou-se problemática à medida que se foram multiplicando e
banalizando as iniciativas, gestos e deslocamentos diplomáticos de
chefes de estado e governo.
O interesse da mídia pela diplomacia de cúpula é antes de
mais nada decorrência do seu interesse pela figura do mandatário
– a figura política mais importante enquanto não houver um
sucessor estabelecido e com data certa para entrar em funções.
Grande parte da cobertura de mídia nacional que a diplomacia de
cúpula recebe é referida ao projeto interno do mandatário, e não à
diplomacia do país.
Inversamente, o interesse do mandatário pela cobertura da
imprensa é proporcional ao efeito positivo que essa cobertura
possa ter para o seu projeto interno. A diplomacia torna-se, assim,
um pretexto. O planejador diplomático deve compreender isso
para evitar toda sorte de frustrações, operando para conquistar as
sobras de espaço nas coberturas.
Os ganhos de cobertura que a diplomacia, como atividade
de Estado, tiver em função de uma atividade de diplomacia
presidencial poderão ser ocasionais. Diplomacia de cúpula não
gera cobertura diplomática, gera cobertura política. A menos que
seja capaz de gerar um lead importante – o que não é comum –, a
121
Sérgio Danese
122
Elementos de contraste, eixos de funcionamento,
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151 A lista é infindável: Richelieu, Luís XIV, Palmerston, Napoleão, Bismarck, Disraeli, Gladstone,
Theodore Roosevelt, Wilson, Franklin Roosevelt, Churchill, Stalin, De Gaulle, Adenauer, Nasser, Tito,
Gandhi, Anuar El-Sadat, Nelson Mandela, Yitzhak Rabin – todos viveram e atuaram em injunções
importantes da vida de seus países e projetaram essa injunção na política internacional e na política
interna.
123
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152 Cf. NEUSTADT, R. E. Presidential power and the modern presidents. The politics of leadership from
Roosevelt to Reagan. New York: The Free Press, 1991.
124
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125
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126
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153 Cf. HOFF, J. Nixon reconsidered. Nova York: Basic Books (Harper Collins), 1994, p. 184.
127
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154 Cf. CHURCHILL, W. Memories of the Second World War (Adridged edition by Denis Kelly). New York:
Bonanza Books, 1978, p. 489.
155 Apud KISSINGER, H., op. cit., p. 510.
128
Elementos de contraste, eixos de funcionamento,
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156 Cf. CHURCHILL, W. “Discurso na Câmara dos Comuns, 11 de maio de 1953”, apud ibid., p. 511.
157 Cf. ibid., p. 517.
129
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158 Cf. ibid., p. 579. Macmillan era incorrigível em seu otimismo sobre as relações pessoais. Querendo
ganhar tempo na crise de Berlim de 1961 e evitar o que parecia então muito possível – um
enfrentamento direto entre as duas superpotências em solo europeu –, encorajou negociações,
quaisquer negociações de cúpula, com o argumento simplista de que, “[i]f the Heads of State were
swanning around each other’s territories, one could hardly believe that there would be a sudden and
fatal explosion”. Cf. MACMILLAN, H. Pointing the way, 1959-1961, apud ibid., p. 573.
159 Cf. KISSINGER, H., op. cit., p. 581-582.
130
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o mito das relações pessoais e a crítica da diplomacia de cúpula
160 Cf. NIXON, R. “Superpower summitry”. In: Foreign affairs, v. 64, n. 1, p. 1, outono de 1995.
161 Cf. SEIXAS CORRÊA, L. F. de. “As Conferências de Cúpula Ibero-Americanas: um formato em busca
de substância”. In: FONSECA JR., G.; NABUCO, S. (org.). Temas de política externa brasileira II, v. I.
Brasília: IPRI/Paz e Terra, 1994, p. 156.
131
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162 Cf. telegrama de 26 de junho de 1997, da Embaixada em Londres para a Secretaria de Estado. Arquivo
da Secretaria de Estado. Na imprensa britânica, cf. JENKINS, S. “Unsustainable summitry”, The Times,
25 de junho de 1997: “Tony Blair’s globetrotting is wasteful, superfluous and exhausting. His survival
depends on regaining control of his diary”.
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172 “O chanceler Abel Matutes declarou que a Espanha não se sente, de modo algum, melindrada pela
proposta do presidente Chirac de realizar em 1998 uma reunião de cúpula entre a União Europeia e
a América Latina. Ao contrário, Malutes se felicitou com o presidente francês pelo que considerou
um respaldo à iniciativa espanhola”. Cf. telegrama de 25 de março de 1997, da Embaixada em Madri
para a Secretaria de Estado. Arquivo da Secretaria de Estado.
173 Cf. telegrama de 4 de abril de 1997, da Missão junto às Comunidades Europeias para a Secretaria de
Estado. Arquivo da Secretaria de Estado.
174 Cf. circular telegráfica de 4 de abril de 1997, da Secretaria de Estado para postos no exterior. Arquivo
da Secretaria de Estado. O Brasil acabou saindo do G15 em 2015.
175 O Grupo do Rio já deu um exemplo do custo que podem ter decisões impostas à última hora a um
colegiado de presidentes. As chamadas preferências andinas, que a União Europeia invocava para
discriminar certos produtos agrícolas brasileiros também produzidos nos países andinos produtores
139
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Elementos de contraste, eixos de funcionamento,
o mito das relações pessoais e a crítica da diplomacia de cúpula
141
Sérgio Danese
142
CAPÍTULO 4
A DIPLOMACIA DE CÚPULA NA HISTÓRIA
DIPLOMÁTICA OCIDENTAL: DO ABSOLUTISMO
A WOODROW WILSON182
182 Nestes dois capítulos, a intenção não é tanto a de historiar em detalhe a diplomacia de cúpula, mas
de extrair, de alguns dos seus momentos mais exemplares, alguns paradigmas úteis para a análise
dessa forma de atuação diplomática nos dias de hoje e particularmente no Brasil. De fato, são tantas
as manifestações da diplomacia de cúpula desde a consolidação do Estado-Nação soberano, que a
sua exposição detalhada praticamente se confundiria com uma história das Relações Internacionais,
apenas sob um prisma mais personalista.
143
Sérgio Danese
144
A diplomacia de cúpula na história diplomática ocidental: do absolutismo a Woodrow Wilson
183 Para uma reflexão sobre as origens da diplomacia e sua associação direta ao conceito de diplomacia
de cúpula, no sentido moderno do termo, cf. NICOLSON, H., op. cit., p. 15-35.
184 A diplomacia continua sendo uma das funções essenciais do Estado, quase sempre como uma
responsabilidade privativa, no máximo apenas parcialmente compartilhada, do chefe de estado ou
governo. Mesmo no mais impessoal dos sistemas de governo, existe a ficção de que a diplomacia
é conduzida pelo chefe do Executivo, que representa o Estado nas relações internacionais. Cf. mais
acima, no capítulo 2, a parte referente aos chefes de estado e governo como órgãos ou agentes das
relações internacionais.
185 Cf. MACHIAVEL, N. Le Prince. Introduction de Raymond Aron. Paris: Le Livre de Poche, 1972. Na
análise das origens da diplomacia de cúpula, O Príncipe de Maquiavel tem um lugar de realce, tanto
pela sua dimensão histórica, porque trata o tema na época áurea da consolidação do poder nacional
nas mãos dos soberanos e, por isso, reflete em boa medida a mecânica desse poder, como pela
sua dimensão filosófica ou de ciência política, ao ser uma espécie de tratado abrangente sobre o
exercício do poder absoluto. Hobbes e seu Leviatã (1651) também poderiam ser utilizados como
145
Sérgio Danese
146
A diplomacia de cúpula na história diplomática ocidental: do absolutismo a Woodrow Wilson
189 Isto é, os soberanos encarnam pessoalmente, como sujeitos da história e segundo as suas próprias
qualidades e competência, as forças que impulsionam os seus respectivos Estados nas relações
com os demais Estados – o poder econômico, as forças demográficas, o poder militar e o poder
tecnológico, que Paul Kennedy enfoca, no seu The rise and fall of the great powers, como os principais
vetores da história. “This does not deny that men make their own history, but they do make it within
a historical circumstance which can restrict (as well as open up) possibilities”. Cf. KENNEDY, P. The
rise and fall of the great powers. New York: Vintage Books, 1989, p. xxiv.
147
Sérgio Danese
190 Cf. NICOLSON, H., op. cit., p. 59. Nicolson se estende, nas páginas seguintes, sobre uma “diplomacia
de boudoir”, decorrência direta do fato de que os assuntos de Estado eram pessoalmente conduzidos
ou grandemente influenciados pela pessoa do soberano.
191 Cf. CARR, E. H. The twenty years’ crisis 1919-1939. New York: Harper and Row, 1964, p. 25. Kant
desenvolve suas ideias sobre o personalismo dos monarcas e seus efeitos sobre a guerra em seu
ensaio Da paz perpétua.
148
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de son auteur, son besoin exaspéré de gloire, le dynamisme inépuisable de son tempérament”. Cf.
ibid., p. 175.
195 Richelieu é o exemplo mais acabado de diplomacia de cúpula exercida por um primeiro-ministro
ou condestável do reino. “Few statesmen can claim a greater impact on history. Richelieu was the
father of the modern state system. [...]he left behind him a world radically different from the one he
had found, and set in motion the policy France would follow for the next three centuries. [...] In all
likelihood, he delayed German unification by some two centuries”. Cf. KISSINGER, H., op. cit., p. 58-65.
196 Cf. ibid., p. 140.
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197 Cf. DROZ, J., op. cit., p. 23. Droz lembra também o surgimento dos primeiros grandes manuais de
diplomacia; um deles, o de Caillières, é dedicado ao tema da diplomacia de soberanos: De la manière
de négocier avec les souverains (1716).
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208 “As early as 1819, at a cabinet meeting, Secretary of State John Quincy Adams declared that the
world must be ‘familiarized with the idea of considering our proper dominion to be the Continent
of North America’”. Cf. PERKINS, B. The Cambridge History of American foreign policy. Volume I. The
creation of a Republican Empire, 1776-1865. Cambridge: Cambridge University Press, 1995, p. 160.
209 “Monroe’s famous message to Congress assuredly did not contain much that was original.
Throughout the later eighteenth century there had been a feeling in America that the New Word
possessed institutions and a culture different from the Old [...] Thomas Paine [...] wrote that ‘It is the
true interest of America to steer clear of European contentions [...]’”. Cf. FERRELL, R. H. American
diplomacy. A history. 3ª ed. New York: W. W. Norton and Company, 1975, p. 169.
210 Cf. GAY, P.; GARRATY, J. (edit.). The Columbia History of the World. New York: Harper and Row
Publishers, 1987, p. 798.
211 Cf. PERKINS, B., op. cit., p. 164.
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A diplomacia de cúpula na história diplomática ocidental: do absolutismo a Woodrow Wilson
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214 Cf. WILSON, W. “Address to the United States Senate, 22 January 1917”, apud MEANEY, N. “American
nationalism, the Monroe Doctrine and Woodrow Wilson’s new world order”. In: CERVO, A.; DÖPCKE, W.
Relações internacionais dos países americanos. Vertentes da história. Brasília: Universidade de Brasília/
Linha Gráfica Editora, 1994, p. 230.
215 Cf. KISSINGER, H., op. cit., p. 36.
216 Cf. DANGERFIELD, G. The era of good feelings, p. 308. Apud PERKINS, B., op. cit., p. 168.
217 Bradford Perkins resume o significado histórico da Doutrina: “In one sense, the president’s message
was simply an important signpost on a very good road. Isolation from world politics had long been
an American ideal, and both the non-colonization and non-intervention doctrines clearly had roots
in earlier years. Monroe, indeed, felt that he was responding to immediate dangers, not inventing
grand new principles. For the moment the principles he here restated were expressed defensively
– what other powers could do, what the United States would not do – but in the future they
would become weapons of American expansion as well as hemispheric defense. […] Monroe’s
declaration was a fitting climax to a long search reaching back to 1776. The nation had created a
viable government. It had consolidated and expanded its territory. It had survived controversies over
neutral rights with two great powers. Now, almost for the first time and certainly more clearly than
before, it spoke boldly and on its own to major issues. President Monroe’s ‘policy statement [was] a
diplomatic declaration of independence’. At last the nation had ‘reached the point seen so distantly
158
A diplomacia de cúpula na história diplomática ocidental: do absolutismo a Woodrow Wilson
in 1776: it had achieved an American identity’”. Cf. PERKINS, B., op. cit., p. 168-169. As citações são de
Harry Hamon, James Monroe (New York, 1971).
218 A política da “boa vizinhança” de Roosevelt foi construída conceitualmente, em parte, em contraste
com a Doutrina Monroe, no contexto de uma reformulação da política interamericana dos EUA,
depois de quase três décadas de big stick e Corolário Roosevelt. O memorandum Clark sobre a
Doutrina Monroe, de 17 de dezembro de 1928, tornado público em 1930, repudia o corolário
Roosevelt da Doutrina Monroe e cria as bases conceituais da política de boa vizinhança de Franklin
Roosevelt. “La doctrine de Monroe était une déclaration des Etats-Unis addressée à l’Europe… et
non à l’Amérique Latine”. Cf. DUROSELLE, J.-B. Histoire diplomatique de 1919 à nos jours. 7ª ed. Paris:
Dalloz, 1978, p. 132.
219 As considerações genéricas sobre o Congresso de Viena são baseadas nos seguintes textos: DROZ, J.
Histoire diplomatique de 1648 a 1919, cit., p. 271-309; KISSINGER, H. Diplomacy, cit., p. 78-102; The
Columbia History of the World, cit., p. 787; e BURNS, E. M. História da civilização occidental, v. II. 2ª ed.
Rio de Janeiro: Editora Globo, 1965, p. 636-640.
159
Sérgio Danese
220 Viena reuniu seis monarcas: Rússia, Áustria, Prússia, Dinamarca, Baviera e Würtemberg. Os papéis
dominantes foram desempenhados por Alexandre I, entre os soberanos, e por Metternich, que
durante 40 anos seria ministro do Exterior da Áustria, e Talleyrand, que pela terceira vez era chanceler
da França. Cf. BURNS, E. M., op. cit., p. 636.
221 Cf. DROZ, J., op. cit., p. 290-291.
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A diplomacia de cúpula na história diplomática ocidental: do absolutismo a Woodrow Wilson
222 Cf. COOPER, D., Talleyrand. Londres: Jonathan Cape, 1938, p. 248.
223 Cf. ibid., p. 245-246.
161
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224 “While the victorious monarchs were being feasted and fêted in London, Talleyrand set himself to
the serious task of determining his policy and drafting his instructions for the coming Congress. […]
The first task, therefore, to be accomplished at Vienna was the reestablishment beyond all doubt
or question of France’s position as one of the great Powers of the world”. Cf. ibid., p. 240. A máxima
atribuída a Talleyrand – de que precisava de um cozinheiro, não de instruções (“Je n’ai pas besoin
d’instructions, j’ai besoin d’un Chef”) – resume a sua independência.
162
A diplomacia de cúpula na história diplomática ocidental: do absolutismo a Woodrow Wilson
225 Kissinger resume assim esta primeira grande iniciativa de um chefe de estado no plano da diplomacia:
“It was proposed by the Russian Tsar, who could not bring himself to abandon his self-appointed
mission to revamp the international system and reform its participants. […] Now Alexander was in
thrall to religion and to conservative values and proposed nothing less than a complete reform of
the international system based on the proposition that ‘the course formerly adopted by the Powers
in their mutual relations had to be fundamentally changed and that it was urgent to replace it with
an order of things based on the exalted truths of the eternal religion of our Savior’. The Austrian
Emperor joked that he was at a loss as to whether to discuss these ideas in the Council of Ministers
or in the confessional. But he also knew that he could neither join the Tsar’s crusade nor, in rebuffing
it, give Alexander a pretext to go it alone, leaving Austria to face the liberal and national currents
of the period without allies. This is why Metternich transformed the Tsar’s draft into what came to
be known as the Holy Alliance, which interpreted the religious imperative as an obligation by the
signatories to preserve the domestic status quo in Europe. For the first time in modern history, the
European Powers had given themselves a common mission”. Cf. KISSINGER, H., op. cit., p. 107.
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226 Cf. ibid., p. 175. Kissinger lembra que, em um período dramático para a diplomacia russa, o czar
Alexandre III afastou-se por quatro meses para praticar iatismo, assistir a manobras militares
e depois visitar parentes na Dinamarca. “With the only real decision-maker thus out of reach”,
completa Kissinger, “Russia’s foreign policy floundered”. O episódio, típico de uma monarquia, tem
semelhanças com as longas viagens que D. Pedro II fará nas décadas de 1870 (duas) e 1880 (uma),
afastando-se inteiramente dos negócios de Estado por períodos sempre superiores a um ano, em
momentos decisivos da vida brasileira. Cf. mais abaixo.
164
A diplomacia de cúpula na história diplomática ocidental: do absolutismo a Woodrow Wilson
227 Napoleão III não “deixou de aproveitar as oportunidades de abrilhantar o seu regime com uma
política exterior agressiva. Anexou a Argélia e estabeleceu um protetorado sobre a Indochina. Em
1854, sob o pretexto de proteger os monges católicos da Turquia, lançou-se à Guerra da Crimeia
com a Rússia [...] conseguiu sair vitorioso do conflito. Apesar de ter derramado, em dois anos de luta,
o sangue de 75.000 soldados franceses, pôde ainda gozar os aplausos da multidão e tomar atitudes
de árbitro dos destinos da Europa”. Cf. BURNS, E. M., op. cit., p. 722. Kissinger fala da política externa
de Napoleão como “driven by his quest for publicity”. Cf. KISSINGER, H., op. cit., p. 112.
228 Cf. ibid., p. 136.
229 Apud ibid., p. 107.
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230 “The Emperor’s policy, however, was largely idiosyncratic and driven by his mercurial nature”. Cf.
KISSINGER, H., op. cit., p. 109-110.
231 O caso é exemplar do tipo de histrionismo que tantas vezes caracteriza a diplomacia de cúpula.
Oferecida a coroa espanhola a Leopoldo de Hohenzollern, primo do rei da Prússia, Napoleão
informou que consideraria a aceitação um casus belli, exigindo de Guilherme I o compromisso
de jamais permitir que um membro da sua família reivindicasse o trono da Espanha. Deu assim o
pretexto que Bismarck buscava para declarar a guerra que ficou conhecida como “Guerra Franco
‑Prussiana”. Cf. BURNS, E. M., op. cit., p. 722-723.
232 Cf. ibid., p. 722. Fernando del Paso tem um extraordinário romance histórico baseado no episódio. Cf.
PASO, F. del. Noticias del Imperio. México: Grijalbo, 1990.
166
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A diplomacia de cúpula na história diplomática ocidental: do absolutismo a Woodrow Wilson
237 “The Chancellor was closer to both the Emperor and the Reichstag than each was to the other.
Therefore, within limits, Bismarck could play Germany’s domestic institutions off against each other,
much as he did the other states in his foreign policy”. Cf. KISSINGER, H., op. cit., p. 135.
238 Cf. DROZ, J., op. cit., p. 401.
239 A referência está em KISSINGER, H., op. cit., p. 124-125.
240 Cf. BURNS, E. M., op. cit., p. 729-732. Napoleão III foi feito prisioneiro de Guerra, uma humilhação que
só encontra precedentes quase 350 anos antes, quando Francisco I foi feito prisioneiro de Carlos V
da Áustria na Batalha de Pávia (1525).
169
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170
A diplomacia de cúpula na história diplomática ocidental: do absolutismo a Woodrow Wilson
role in managing American government and foreign policy. Simple deference to Congress was out.
Wilson thought the presidency uniquely endowed to represent democratic values of the American
people in world affairs”. Cf. BARRET, D., op. cit., p. 68.
245 A bibliografia sobre Lincoln é naturalmente extensa e variada. Serviu de apoio a mais recente no
momento da redação deste livro: DONALD, D. H. Lincoln. New York: Simon and Schuster, 1995.
171
Sérgio Danese
246 Os Prêmios Nobel foram concedidos por primeira vez em 10 de dezembro de 1901. A importância
do Nobel da Paz para a diplomacia de cúpula do século XX mereceria um estudo à parte. Com
sua mística peculiar, o Nobel consolidou-se como a consagração máxima, interna e internacional,
de qualquer ação individual nas áreas em que é concedido – física, química, medicina, literatura e
paz. É a materialização de uma consagração moral de forte impacto também na opinião pública
leiga, especialmente no país de quem o recebe. O Nobel da Paz foi concedido algumas vezes em
relação direta com a diplomacia de cúpula, mas também como corroboração da tese de que existe,
na categoria geral da “diplomacia de estadistas”, uma clara clivagem entre a ação dos chefes de
estado e governo e a ação de chanceleres e negociadores, cuja autonomia torna-se patente também
pelo crivo dos Prêmios Nobel. Até a redação deste livro, receberam o Nobel da Paz os seguintes
chefes de estado e de governo: Theodore Roosevelt, em 1906, pela mediação no acordo de paz que
concluiu a Guerra Russo-Japonesa; Woodrow Wilson, em 1919, pela fundação da Liga das Nações;
Willy Brandt, em 1971, pela sua Ostpolitik; Eisaku Sato, em 1974 (dois anos após ter deixado de
ser primeiro-ministro do Japão), por seus esforços na área de não proliferação; Menachem Begin e
Anwar El Sadat, pelos acordos de Camp David; Oscar Arias Sánchez, pelos esforços pela pacificação
da América Central (Plano Arias); Mikhail Gorbachev, em 1990, pela contribuição para o fim da
Guerra Fria; e Yitzhak Rabin e Yasser Arafat, em 1994, pelos acordos entre Israel e a Autoridade
Palestina. Receberam o Nobel da Paz os seguintes chanceleres ou ex-chanceleres: Elihu Root, em
1912, pelo acordo EUA/Japão sobre imigração japonesa na Califórnia; Austen Chamberlain, em
1925, pelo Acordo de Locarno; Aristide Briand e Gustav Stresemann, em 1926, respectivamente pelo
Acordo de Locarno e Pacto Briand-Kellogg e pelos esforços pela paz e pela retomada das reparações
alemãs; Frank B. Kellogg, em 1929, pelo Pacto Briand-Kellogg; Carlos Saavedra Lamas, em 1936, pela
mediação na Guerra do Chaco; Cordell Hull, em 1945, pela articulação das Nações Unidas; George
Marshall, em 1953, pelo Plano Marshall; Henry Kissinger e Le Duc Tho (que recusou), em 1973, pelo
Acordo de Cessar-Fogo no Vietnã; e Shimon Peres, em 1994, juntamente com Yitzhak Rabin e Yasser
Arafat, pelos Acordos entre Israel e a Autoridade Palestina. Dados pesquisados em diversas
fontes esparsas.
172
A diplomacia de cúpula na história diplomática ocidental: do absolutismo a Woodrow Wilson
247 “[Theodore Roosevelt and Woodrow Wilson] held the reins of government when world affairs were
drawing a reluctant nation into their vortex. Both recognized that America had a crucial role to play
in world affairs though they justified its emergence from isolation with opposite philosophies”. Cf.
KISSINGER, H., op. cit., p. 29.
248 “Progressive diplomacy first aimed at the creation of opportunity (as in Panama and the Russo-
Japanese War), or the maintenance and expansion of opportunity (as in the Dominican Republic,
Cuba, and Mexico). [It was] driven by the search for markets, the perceived need for strategic
outposts […]”. Cf. LaFEBER, W., op. cit., p. 184.
173
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A diplomacia de cúpula na história diplomática ocidental: do absolutismo a Woodrow Wilson
252 Roosevelt adotou vida afora o apelido que lhe valeu sua participação, como organizador e comandante,
em um batalhão de cavalaria na guerra hispano-americano, conhecido como os Rough riders.
253 Cf. ROOSEVELT, T., op. cit., p. 398-399.
254 Cf. ibid., p. 516.
255 Cf. MORRIS, E., op. cit., p. 12.
256 Cf. ROOSEVELT, T., op. cit., p. 479. “My belief was that it was not only [the President’s] right but his
duty to do anything that the needs of the Nation demanded unless such action was forbidden by
the Constitution or by the laws. […] I did not usurp power, but I did greatly broaden the use of
executive power”. Ibid., p. 372.
175
Sérgio Danese
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A diplomacia de cúpula na história diplomática ocidental: do absolutismo a Woodrow Wilson
258 A citação completa que deu origem ao conceito do big stick é: “There is a homely adage which
runs, ‘Speak softly and carry a big stick; you will go far’”. Roosevelt pronunciou-a ainda como vice-
‑presidente, em um discurso em Minnesota, em 2 de setembro de 1901, pouco antes de assumir
a presidência. Cf. FERRELL, R., op. cit., p. 395. Cf. também LaFEBER, W., op. cit., p. 188. Roosevelt
retomaria o adágio em outros discursos, já como presidente (por exemplo, em Chicago, em 2 de
abril de 1903).
259 Roosevelt estende-se, em sua autobiografia, em explicações sobre o porquê de haver extraído o corolário
da Doutrina Monroe. Nessas explicações, distingue muito claramente os grandes países latino-americanos
– Argentina, Brasil e Chile –, que se comparam ao Canadá, de “certain – not all – of the tropical states in
the neighborhood of the Caribbean Sea”. Cf. ROOSEVELT, T., op. cit.,p. 519-525. A intervenção na República
Dominicana é paradigmática: “This meant”, diz ele, “that unless I acted at once I would find foreign powers
in partial possession of Santo Domingo”. Cf. ibid., p. 521.
260 Apud FERRELL, R., op. cit., p. 408. Em mensagem ao Senado norte-americano, em 15 de fevereiro
de 1905, Roosevelt explicou e expandiu a sua doutrina-corolário: “The United States [...] under
177
Sérgio Danese
the Monroe Doctrine [...] can not see any European power seize and permanently occupy the
territory of one of these republics; and yet such seizure of territory, disguised or undisguised, may
eventually offer the only way in which the power in question can collect any debts, unless there is
interference on the part of the United States”. Cf. ibid., p. 408. O conceito de “polícia do mundo” já
havia sido estabelecido por Roosevelt em mensagem ao Congresso, em 1902: “More and more, the
increasing interdependence and complexity of international political and economic relations render
it incumbent on all civilized and orderly powers to insist on the proper policing of the world”. Apud
KISSINGER, H., op. cit., p. 39.
261 Cf. KISSINGER, H., op. cit., p. 39. Kissinger exemplifica a prática rooseveltiana: em 1902, o Haiti é
forçado a quitar débitos com bancos europeus; em 1903, incentivou a insurreição panamenha e
a independência em relação à Colômbia, mas não antes de os Estados Unidos estabelecerem a
Zona do Canal sob soberania norte-americana; em 1905, os EUA estabeleceram um protetorado
financeiro sobre a República Dominicana; em 1906, os marines ocuparam Cuba.
262 Cf. ROOSEVELT, T., op. cit., p. 553.
263 Cf. ibid., p. 565.
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A diplomacia de cúpula na história diplomática ocidental: do absolutismo a Woodrow Wilson
264 A bibliografia sobre Woodrow Wilson é vasta. As reflexões que se seguem foram inspiradas
basicamente pela excelente obra de John Morton Blum, Woodrow Wilson and the politics of morality,
cit. Além de constituir uma biografia concisa de Wilson, a obra faz uma análise cuidadosa da gênese
do ideário wilsoniano e das resistências que encontra entre seus contemporâneos e especialmente
no meio político norte-americano, de que o Senado assume a plena identidade. No Brasil, o livro de
José Carlos de Macedo Soares, O Brasil e a Sociedade das Nações (Paris: A. Pedone Editor, 1927), traz
um bom resumo analítico e indicações bibliográficas sobre as teses wilsonianas e a negociação em
torno da criação da Liga das Nações – uma contribuição autorizada que não perdeu vigor com a
passagem do tempo.
265 O discurso que continha os “14 pontos” foi pronunciado em 8 de janeiro de 1918, após uma
sequência de crises que, começando com a vitória bolchevique na Rússia, expuseram os problemas
da diplomacia europeia e do sistema de alianças. Dos 14 pontos, “[f]ive were broad: open diplomacy,
by which he meant not an end to private discussion but an end to secret agreements; free use of
the seas in peace and in war; the reduction of armaments; the removal of economic barriers to
free trade among nations; an impartial adjustment of colonial claims. Eight points, all pertaining to
specific territorial settlements, in common advanced the principle of self-determination. […] The
fourteenth, crowning point called for the formation of a ‘general association of nations… under
specific covenants for the purpose of affording mutual guarantees of political independence and
territorial integrity to great and small states alike’”. Cf. BLUM, J. M., op. cit., p. 147-148.
179
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A diplomacia de cúpula na história diplomática ocidental: do absolutismo a Woodrow Wilson
268 Apesar de não ter sido o criador original da ideia da Liga, Wilson apropriou-se cedo dela, diante das
reticências de Lloyd George. Wilson não só tinha pronto o projeto de pacto da Liga, já em julho de
1918, como desde muito antes vinha delineando o que era a sua concepção da paz a ser negociada
depois do inevitável armistício que viria com a derrota da Alemanha. Cf. BLUM, J. M., op. cit., p. 132-156.
269 A Delegação norte-americana era chefiada por um chefe de estado, Wilson; as da França, Itália
e Grã-Bretanha, por chefes de governo (respectivamente Clemenceau, Orlando e Lloyd George);
outras eram chefiadas por chanceleres, ex-chefes de governo, futuros chefes de estado (Epitácio
Pessoa). Cf. SOARES, J. C. de M., op. cit., p. 62 e 78.
270 “As he traveled through Europe during the interval between his arrival there and the beginning of
the conference, he was acclaimed by crowds in France, Italy and England as no man had been for
decades”. Cf. BLUM, J. M., op. cit., p. 162.
271 É surpreendente, embora compreensível, a forma pela qual Wilson, a partir da campanha presidencial
de 1916 (pela sua reeleição), e após um desempenho desastroso na área diplomática em seu
primeiro governo, especialmente no México, concentra sua atenção majoritariamente nas relações
exteriores dos EUA e particularmente nas negociações de paz em Paris: “Wilson’s conviction that he
was a special instrument of this moral force was the strongest of several considerations prompting
his determination to go to Europe to participate in making Peace. The pending settlements, as
he said, were of ‘transcendent importance’ to the world, sufficient cause for a President’s then
unprecedented departure from the United States upon a diplomatic mission”. Cf. ibid., p. 84 e
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159. Para uma boa análise da trajetória de Wilson, dos problemas de política externa para o seu
internacionalismo, cf. MEANEY, N., op. cit., p. 230-248.
272 “Universal law and not equilibrium, national trustworthiness and not national self-assertion were, in
Wilson’s view, the foundations of international order. Recomending the ratification of several treaties
of arbitration, Wilson argued that binding arbitration, not force, should become the method of
resolving international disputes”. Cf. KISSINGER, H., op. cit., p. 45.
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A diplomacia de cúpula na história diplomática ocidental: do absolutismo a Woodrow Wilson
273 Kissinger resume assim esses valores: “Wilson restated what had become the conventional American
wisdom since Jefferson, but put it in the service of a crusading ideology: America’s special mission
transcends day-to-day diplomacy and obliges it to serve as a beacon of liberty for the rest of
mankind; the foreign policies of democracies are morally superior because the people are inherently
peace-loving; foreign policy should reflect the same moral standards as personal ethics; the state has
no right to claim a separate morality for itself”. Cf. ibid., p. 45-46.
274 Cf. ibid., p. 221-222.
275 “Moreover, many Americans shared Wilson’s conviction that Anglo-American constitutional
arrangements, like much of the rest of Anglo-Saxon culture, had somehow a special moral as well as
historical basis, that the United States had a predestined obligation to bring constitutionalism to the
183
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world, and that the people of semideveloped countries either would welcome this American export
or should be taught to welcome it”. Cf. ibid., p. 85.
276 “As early as 1915, Wilson put forward the unprecedented doctrine that the security of America
was inseparable from the security of all the rest of mankind. This implied that it was henceforth
America’s duty to oppose aggression everywhere […]”. Cf. ibid., p. 47.
277 Cf. ibid., p. 46.
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278 O coronel Edward M. House proporcionaria um case-study singular sobre o papel e a importância do
“assessor internacional” de qualquer mandatário que esteja engajado em uma diplomacia pessoal.
House é abertamente identificado como a mente atrás das ideias de Wilson; é a ele que Wilson
encomenda o primeiro esboço do Pacto da Liga das Nações, a partir de ideias que já estavam em
discussão; seu preparo, sua proximidade com o presidente e sua ascendência sobre ele, em contraste
com a máquina da diplomacia tradicional norte-americana, ficam patentes para o estudioso da
história do Tratado de Versalhes e da Liga das Nações. “More useful, more influential than any
of these [Wilsonians] was colonel Edward M. House, the urbane Texan who attached himself to
Wilson in 1911 and rapidly became, in Wilson’s words, ‘my second personality… my independent
185
Sérgio Danese
uma doutrina que não tinha precedentes, pela sua força moral e
seu embasamento filosófico – uma doutrina que deitaria raízes
ao longo do tempo, mas que principalmente forneceu o suporte
ideológico de que os Estados Unidos necessitavam para assumir a
sua nova condição de primeira potência mundial, já delineada ao
final da Primeira Guerra Mundial.
Essa doutrina foi tomando corpo à medida que Wilson foi
sendo obrigado a lidar com a realidade cada vez mais evidente
de que os Estados Unidos teriam de entrar na Guerra ao lado das
democracias europeias, abandonando o neutralismo cuidado
samente construído nos dois primeiros anos da guerra e
vigorosamente defendido na campanha presidencial de 1916, cujo
lema democrata era “Keep us out of war” (“Mantenha-nos fora da
guerra”). “Em 1917”, afirma Edward Carr, “Wilson havia decidido
sobre a política de guerra com a Alemanha e procedera a abrigar
essa política na roupagem apropriada da integridade”279. As ideias
e conceitos de uma “paz sem vencidos nem vencedores”, de “fazer
o mundo seguro para a democracia”, ou de “uma guerra para acabar
com todas as guerras”, ou ainda de criar uma Liga das Nações,
foram sendo formulados e adiantados cuidadosa e paulatinamente
à opinião pública e ao Congresso norte-americanos, como
justificativas para um papel mais protagônico e inevitável dos
Estados Unidos no que restava da guerra e na reconstrução do
self’. […] House accepted no title or office but assumed large responsibilities”. Cf. BLUM, J. M., op. cit.,
p. 167-168. Sobre a ascendência de House na Casa Branca de Wilson, ver também p. 112-115. House
romperia com Wilson pouco antes de este deixar a França, por causa de um desentendimento
sobre a forma como negociar o Tratado de Paz e o Pacto da Liga das Nações com o Senado. Sobre
a concepção do projeto da Liga pelo coronel House e depois pelo próprio Wilson, pessoalmente, cf.
SOARES, J. C. de M., op. cit., p. 50-52.
279 Cf. CARR, E. H., op. cit., p. 73.
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280 O ideário wilsoniano é construído através de diversos discursos, entre os quais o que fez perante
o Congresso em 2 de abril de 1917 (“The world must be made safe for democracy”), solicitando
autorização para declarar guerra à Alemanha; o mais conhecido – e decisivo –, que ficou conhecido
como “14 pontos”, feito em 8 de janeiro de 1918 também no Congresso; e o de 11 de fevereiro,
centrado na autodeterminação. Para o discurso de 2 de abril de 1917, cf. SAFIRE, W., op. cit., p. 109-117.
Cf. também BLUM, J. M., op. cit., p. 147-148.
281 “Wilson was proposing a world order in which resistance to aggression would be based on moral
rather than geopolitical judgements. Nations would ask themselves whether an act was unjust rather
than whether it was threatening. Though America’s allies had little faith in this new dispensation,
they felt too weak to challenge it”. Cf. KISSINGER, H., op. cit., p. 227.
282 Kissinger chama a atenção para uma preciosidade na correspondência de Wilson ao seu mentor,
Coronel House: “Shortly after America entered the war in April 1917, he wrote to Colonel House:
‘When the war is over we can force them to our way of thinking, because by that time they will,
among other things, be financially in our hands’. For the time being, several of the Allies lingered over
their responses to Wilson’s idea. Though they could not quite bring themselves to approve views so
contrary to their traditions, they also needed America far too much to voice their reservations”. Cf.
ibid., p. 224.
283 Cf. ibid., p. 228.
187
Sérgio Danese
188
A diplomacia de cúpula na história diplomática ocidental: do absolutismo a Woodrow Wilson
286 “Presidents William McKinley, Warren Harding, and Herbert Hoover included Senators and
Representatives as members of U.S. delegations that negotiated treaties. Woodrow Wilson held a
different view. As a scholar he urged the President not to consult with the Senate and treat it as an
equal partner. Instead, he recommended that the negotiations be pursued independently. […] This
mousetrap theory of the treaty power had disastrous consequences for Wilson’s record in office
as well as for international events after World War I”. Cf. FISHER, L., op. cit., p. 219-220. Cf. também
DUROSELLE, J.-B., op. cit., p. 60: “Le président Wilson avait, par excès de confiance, omis d’inviter des
sénateurs à faire partie de la délégation américaine, et celle-ci, sur 5 membres officiels, ne comprenait
qu’un républicain, d’ailleurs assez effacé. [...] Le Sénat comprenait 47 démocrates et 49 républicains”.
Macedo Soares, citando o próprio Robert Lansing, lembra que esse secretário de Estado de Wilson,
que era republicano, submeteu várias sugestões de alteração no projeto norte-americano da Liga.
“Suas opiniões, conceitos e sugestões não foram jamais tomados na mínima consideração e nem
mereceram resposta do presidente Wilson a quem eram endereçados. Esse fato extraordinário
acentua a personalidade autoritária do presidente Wilson que entendia exercer largamente suas
atribuições constitucionais de condutor da política internacional de seu país [...]”. Cf. SOARES, J. C. de
M., op. cit., p. 57. “There was little to support his choice of associates. He selected neither any member
of the Senate, whose consent to the treaty might have been readier had one of its own helped frame
it, nor any active member of the Republican party, whose partisan sensitivities were swelled by this
omission. […] against the wise advice of several counselors, he also passed over the best qualified
statesman, Elihu Root […] Another eligible, ex-president Taft, unlike Root a public advocate of an
international league to enforce peace, likewise failed to win the president’s approval… […] Wilson
settled upon delegates from whom he expected informed but pliant cooperation […].” Cf. BLUM,
J. M., op. cit., p. 160-161.
287 “Le Président essaya de soulever l’opinion publique et entreprit, malgré son état de santé, une vaste
tournée de propagande”. Cf. DUROSELLE, J.-B., op. cit., p. 60.
288 Basicamente, a disputa se deu em torno da exigência de emendas ao Pacto da Liga e ao restante do
Tratado de Paz de Versalhes. Ambos contrariariam a Doutrina Monroe e obrigariam os Estados
189
Sérgio Danese
Unidos a irem à guerra para resistir a agressões contra terceiros países e para garantir fronteiras na
Europa. Cf. BLUM, J. M., op. cit., p. 157-180.
289 “Wilson entreprit alors de faire des élections de 1920 une sorte de plebiscite”. Cf. DUROSELLE, J.-B.,
op. cit., p. 61. “Many Democratic leaders wanted to discard the League as a major campaign issue.
[…] As tight as he could, Wilson had tied his party to his League. Convinced that the people were
with him, he told his party publicly that the election must be ‘a great and solemn referendum’ on
the settlement of the war and the shape of the peace”. Cf. BURNS, J. M., op. cit., p. 72.
290 O republicano Harding ganhou por uma diferença superior a 7 milhões de votos, uma das maiores
da história norte-americana: teve 16.152.220 votos contra 9.147.553 dados ao democrata Cox, que
tinha Franklin Roosevelt como companheiro de chapa. Cf. ibid., p. 76.
291 Cf. ibid., p. 76.
292 Franklin Roosevelt foi quem mais teve se suportar o impacto negativo da Liga como tema eleitoral.
Burns estende-se sobre a questão na sua densa e extraordinária biografia de FDR: “The campaign
on the League of Nations issue in 1920 was another example of defying political realities without
avail. Cox and Roosevelt knew that the League was a dangerous issue, but by a combination of
circumstances they campaigned largely on this plank. […] Indeed the result was worse than failure:
190
A diplomacia de cúpula na história diplomática ocidental: do absolutismo a Woodrow Wilson
actually the election had been lost for many other reasons besides the League, but the Republicans
could interpret the result as an endorsement of isolationism”. Cf. ibid., p. 80. Ainda na eleição
presidencial de 1932, os democratas tiveram de utilizar cautela para evitar que o tema da Liga das
Nações, que tanto prejuízo lhes havia causado também em 1924 e 1928, ameaçasse a expressiva
maioria que Roosevelt começava a consolidar. “He [Roosevelt] had fully retreated from his support
in 1920 of American entry into the League of Nations – so much so as to bring scores of bitter letters
from disappointed League supporters who remembered his stand in 1920”. Cf. ibid., p. 126. “Baker
[um dos pré-candidatos democratas] had not been taken seriously as a possible candidate because
of his repeated advocacy of United States entry into the League of Nations. In January 1932, however,
he backslid, stating that he would not take the country into the League ‘unless an enlightened
majority of the people favored the step’”. Cf. ibid., p. 134. Burns multiplica referências à Liga como
tema eleitoral polêmico e negativo para o Partido Democrata. Cf. ibid., p. 71-76.
293 Wilson fora levado à presidência por uma cisão do Partido Republicano, provocada por Theodore
Roosevelt, que, ao perder para Taft, o presidente de turno, a nomeação pelo partido, fundou o
Partido Progressista e por ele concorreu. Na votação popular, Wilson obteve 6.286.487 votos contra
7.601.617 dados a Taft e Roosevelt. Esse ponto de partida debilitante não foi empecilho, no entanto,
para que Wilson perseguisse com êxito uma intensa política de reformas – o programa conhecido
como “New Freedom”, que habilmente negociou com o Congresso, e para que se reelegesse em
1916 com relativa facilidade: “Wilson’s first administration effectuated the basic objectives of the
progressive movement. [...] His was incontestably a magnificent performance”. Cf. BLUM, J. M., op.
cit., p. 82.
294 Wilson foi acometido de um derrame, em 2 de outubro de 1919, após a interrupção intempestiva,
devida a um colapso, do longo périplo que fez pelo interior dos EUA para defender perante o
público norte-americano a ideia da Liga das Nações e da participação norte-americana no Pacto.
O derrame afastou-o por semanas da Presidência e impediu-lhe o pleno exercício do poder durante
todo o ano de 1920. Cf. ibid., p. 191.
191
Sérgio Danese
295 Cf. BURNS, J. M., op. cit., p. 69-70. Harold Nicolson atribui o fracasso de Wilson ao fato de que o
presidente não representava a autoridade central do seu próprio país, isto é, o seu eleitorado. Cf.
NICOLSON, H., op. cit., p. 65-66.
296 O sentimento isolacionista, exacerbado pela entrada dos EUA na guerra em 1917 (com um custo
humano – e, portanto, político – elevado), não chegava a se alterar diante da rejeição norte-
‑americana aos métodos e valores da diplomacia tradicional europeia, responsável, aos olhos da
opinião pública, pela tragédia da guerra. Ao contrário, era natural que, após o refluxo imposto pelas
192
A diplomacia de cúpula na história diplomática ocidental: do absolutismo a Woodrow Wilson
primeiras empreitadas internacionais dos EUA no final do século XIX e sob Theodore Roosevelt, o
isolacionismo voltasse a florescer sob o impacto da guerra e das dificuldades que se anteviam na paz
precária que se lhe seguiu.
297 Wilson enfrentou desde o início de seu protagonismo uma forte oposição no Senado, que deveria
ratificar o Tratado de Paz e consequentemente o Pacto da Liga das Nações, que era parte integrante
daquele e que tinha o defeito adicional de estar identificado pessoalmente com Wilson. “[H]e made
a brief trip to the United States to attend to unavoidable domestic chores before resuming his
work at Paris. At home he encountered directly the dangerous opposition to his League which, in
his absence, the Republican leadership had been organizing. The essence of this opposition was
partisanship, but it had other fertile sources”. Cf. BLUM, J. M., op. cit., p. 170. “Because the League
was so closely identified with Wilson, for partisan purposes the significant reservations pertained to
it”. Cf. ibid., p. 182. “[Senator Lodge] believed […] that the time had come for the Senate to reassert
authority over foreign policy, which, in their opinion, the President had too arbitrarily controlled”. Cf.
ibid., p. 184.
298 “The president disdained public opinion as well as politics. Only the newspapers could continuously
interpret his negotiations in Europe to the American people; he had, as he knew, no facility in dealing
with the press; but for his official press representative in Paris he chose George Creel, whose wartime
work had seemed to many journalists a form of censorship. Wilson had to agree, furthermore, to
holding important meetings of the conference in secret. This disturbed the journalists, who had
193
Sérgio Danese
mistakenly assumed that open diplomacy meant public negotiation. Unwilling to discuss his
unsuccessful opposition to the secrecy imposed, Wilson further alienated the press by making
consistently uninformative his official news releases. He simply saw no need to explain or justify
himself”. Cf. ibid., p. 161.
299 “The negotiators in Paris, furthermore, treated as they had been to an open display of the division
between President and Senate, aware as they were of the Senate’s power, not only pressed Wilson
hard before agreeing to what they knew he had to have, but also harassed him continually by
questioning, sometimes to his face, his ability to deliver what he promised. He secured the changes
in the Covenant, but at an inflated price”. Cf. ibid., p. 172.
300 “The attention Wilson gave to his splendid international purpose was needed equally at home. [...]
The President went one way, his Congress, his constituency, indeed his world, another, until he stood
at last alone”. Cf. ibid., p. 156-158.
301 Em setembro de 1919, criado o impasse nas negociações no Senado em torno de possíveis emendas
ao Pacto da Liga, que considerava inaceitáveis, Wilson percorreria cerca de 8 mil milhas de trem, com
37 paradas para grandes comícios em defesa da Liga, em um esforço que não renderia nenhuma
mudança de votos em Washington. Em Pueblo, Colorado, sentiu-se mal e teve de interromper a
viagem, regressando à Casa Branca, onde um derrame, em 2 de outubro, deixou-o semiparalisado.
Cf. ibid., p. 189-191.
302 Entre os problemas que afetavam a vida diária do cidadão norte-americano no imediato pós-guerra,
figuravam a inflação, o desemprego e as greves. “What remained of idealistic fervor for the League,
furthermore, was increasingly dispelled as problems close at hand gave world affairs the appearance
of remoteness. The dislocation of industrial reconversion made unemployment the first concern of
thousands of workers and thousands more of discharged veterans. […] Employed and unemployed
alike suffered from the surging inflation that followed the scrapping of most wartime controls.
Indeed, Wilson shared the headlines the day he returned with the troublesome cost of living, a
condition for which he proposed no basic solution. […] Unemployment, inflation, strikes and panic,
as time went by, diverted from the debate about the treaty the attention a free people owed a crisis
in its foreign policy”. Cf. ibid., p. 187-189.
194
A diplomacia de cúpula na história diplomática ocidental: do absolutismo a Woodrow Wilson
303 “The Fourteen Points became a symbol of what Wilson stood for, of what he called ‘the moral
climax of this… final war for human liberty’. Yet they were unofficial, neither the public policy
of the American government, of wich the executive was only one part, nor the settled policy of
the Allied governments, wich had no hand in their formulation. They were also in places vague –
self-determination, for example, could mean all things to all aspirant nations. They were in places
contradictory – the boundaries of an independent Poland were sure to contain non-Polish peoples.
They were in places at variance with inflexible national policies – the British had cultivated their navy
deliberately to prevent free use of the seas in time of war. They were in places anathema to many
Americans – those, for instance, who still cherished protective tariffs”. Cf. ibid., p. 148.
304 Em Diplomacy, cit., Kissinger tece diversas considerações sobre a resistência, o alcance e a
ascendência do ideário wilsoniano na política externa norte-americana e britânica: “Wilson was the
originator of the vision that a universal world organization, the League of Nations, wich would keep
the peace through collective security rather than alliances. Though Wilson could not convince his
own country of its merit, the ideia lived on. It is above all to the drumbeat of Wilsonian idealism
that American foreign policy has marched since his watershed presidency, and continues to march
to this day” (p. 30); “Every American president since Wilson has advanced variations of Wilson’s
theme” (p. 52); “Wilson’s legacy was that Europe embarked on the Wilsonian course of trying to
preserve stability via collective security rather than the traditional European approach of alliances
and the balance of power, despite the absence of America” (p. 247); “At first they [British statesmen]
went along with Wilson’s policy in order to ensure American support in the war. As time went on,
Wilsonian principles succeeded in capturing British public opinion. By the 1920s and 1930s, Great
Britain’s defence of collective security was no longer tactical. Wilsonianism had made a genuine
convert” (p. 249); “The Atlantic Charter cast the problem of postwar security entirely in Wilsonian
195
Sérgio Danese
terms and contained no geopolitical component at all” (p. 391). Cf. também, na p. 911, as referências
ao uso do wilsonianismo por outros estadistas (Gorbachev, Reagan, Nixon).
305 Cf. BLUM, J. M., op. cit., p. 199.
196
A diplomacia de cúpula na história diplomática ocidental: do absolutismo a Woodrow Wilson
306 Kissinger chama atenção para o fato de que os princípios wilsonianos também levariam a Grã-Bretanha
à reação que pôs fim à política do appeasement, ela própria inspirada pelo wilsonianismo: “Ironically,
the Wilsonian approach to international relations, wich had facilitated Hitler’s advances beyond
what any previous European system would have considered acceptable, after a certain point also
caused Great Britain to draw the line more rigourously than it would have in a world based on
Realpolitik. If Wilsonianism had prevented earlier resistence to Hitler, it also laid the foundation
for implacable opposition to him once its moral criteria had been unambiguously violated”. Cf.
KISSINGER, H., op. cit., p. 317.
197
CAPÍTULO 5
A HISTÓRIA DA DIPLOMACIA DE CÚPULA: DO
ENTRE-GUERRAS ÀS FORMAS CONTEMPORÂNEAS
307 “Disillusionment with the results of the war erased to a considerable extent the distinctions between
the internationalists and the isolationists. Not even the most liberal internationalists any longer
discerned an American interest in sustaining a flawed postwar settlement”. Cf. KISSINGER, H., op.
cit., p. 372. O republicano Harding tinha sido eleito, em uma vitória esmagadora sobre o democrata
Cox, com uma plataforma que pregava o retorno à normalidade (normalcy). “Harding based his
campaign on his promise to return to normalcy”. Cf. BLUM, J. M., op. cit., p. 196.
308 Cf. DUROSELLE, J.-B., op. cit., p. 86-87 e 94-95.
199
Sérgio Danese
309 Cf. nota 246. Aristide Briand é um caso à parte: várias vezes presidente do Conselho ou chanceler,
a instabilidade e efemeridade de cada uma das suas missões justifica que seja considerado apenas
como um “estadista francês”, cuja diplomacia apareceu mais que nada na originalidade de suas
propostas e na defesa que delas fazia, ora como chefe de governo, ora como ministro das Relações
Exteriores.
310 O Brasil terá uma experiência dessa natureza com Getúlio Vargas, que inaugura, obviamente de
forma mais modesta, uma diplomacia presidencial brasileira mais intensa. Cf. mais abaixo.
200
A história da diplomacia de cúpula: do entre-guerras às formas contemporâneas
311 Os encontros entre Hitler e Molotov (que era primeiro-ministro e chanceler da URSS na ocasião,
mas obviamente não era o mandatário) e entre Stalin e Ribbentrop, por exemplo, são parte de uma
intensa agenda de diplomacia de cúpula ligada à guerra e à aliança germano-soviética. Não foram
apenas encontros de valor protocolar, mas passos diplomáticos decisivos na história.
312 A obra de Kissinger, Diplomacy, cit., estende-se em minuciosa análise da diplomacia de Hitler,
Mussolini e sobretudo Stalin, revelando, com sobrados exemplos, o manejo pessoal da diplomacia, a
inspiração na sua concepção e a participação na sua implementação. Cf. KISSINGER, H., op. cit.,
p. 288-318 e 332-368.
313 Cf. BURNS, J. M., op. cit., p. 353.
201
Sérgio Danese
314 “Chamberlain decided to end the tension on September 15 [1938] by visiting Hitler. Hitler showed
his disdain by choosing Berchtesgaden as the meeting place – the location in Germany farthest from
London and the least accessible [ ...] an airplane trip of five hours, in what turned to be Chamberlain’s
first flight, at the age of sixty-nine”. Cf. ibid., p. 312.
315 The four leaders met on September 29 in Munich, the birthplace of the Nazi Party, the sort of
symbolism victors reserve for themselves”. Cf. ibid., p. 313.
316 O encontro de Munique realizou-se em 29 de setembro de 1938, reunindo Chamberlain, Daladier,
Mussolini e o anfitrião, Hitler. Para uma descrição da reunião, que teve um segmento só de cúpula,
prejudicado pelo problema das línguas, cf. DUROSELLE, J.-B., op. cit., p. 227-228.
202
A história da diplomacia de cúpula: do entre-guerras às formas contemporâneas
317 Um dos muitos exemplos dessa dialética em Hitler é o discurso que pronunciou em Berlim, em 26
de setembro de 1938, três dias antes da Conferência de Munique, em que combina expressões de
extremo personalismo para indicar o curso que o Reich seguiria: “my patience is now at an end”,
“I have never been a coward”, “I ask you my German people to take your stand behind me” etc., na
sua versão inglesa. Cf. MACARTHUR, B. (ed.). The Penguin Book of Twentieth (Century speeches).
Londres: Penguin Books, 1993, p. 167-168.
318 A frase está no Mein Kampf, em sua versão inglesa. Apud id., ibid., p. 123.
319 Apud DALLOZ, J. Textes de politique étrangère de la France. Paris: P.U.F. (“Que sais-je?)”, 1989, p. 18.
203
Sérgio Danese
204
A história da diplomacia de cúpula: do entre-guerras às formas contemporâneas
honor. I believe it is peace for our time. We thank you from the bottom of our hearts. And now I
recommend you to go home and sleep quietly in your beds”. Cf. MACARTHUR, B. (ed.), op. cit.,
p. 198-199. As severas críticas de Churchill à política de appeasement e ao Acordo de Munique estão
no seu discurso “A total and unmitigated defeat”. Cf. ibid., p. 169-172.
324 Roosevelt foi empossado para o quarto mandato em 20 de janeiro de 1945 e faleceu em 12 de abril
do mesmo ano.
205
Sérgio Danese
325 “[O]verreaching any issue of the 1932 campaign and dominating the policies of the first two
Roosevelt administrations was the Great Depression [...] The Great Depression dominated American
diplomacy for a decade after 1929”. Cf. FERRELL, R., op. cit., p. 541 e 552.
326 Cf. BURNS, J. M., op. cit., p. 291-315. O Court Packing, a tentativa de reformar a Suprema Corte
para permitir a nomeação de juízes mais favoráveis ao New Deal e deter as ações que estavam
obstaculizando a sua implementação, terminou em compromisso, viabilizando em parte a
sustentação da recuperação.
206
A história da diplomacia de cúpula: do entre-guerras às formas contemporâneas
327 Cf. MACDONALD, F. The American presidency. An intellectual history. Lawrence: University Press of
Kansas, 1994, p. 403.
328 Cf. ROOSEVELT, F. D. Fireside chats. Nova York: Penguin Books USA. 1995. p. 1-8. O livro contém uma
seleção de oito dos 32 fireside chats. Roosevelt utilizaria alguns deles na mobilização para a guerra.
329 Apud GIGLIO, J. N., op. cit., p. 160.
330 Cf. BURNS, J. M., op. cit., p. 167-171.
207
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208
A história da diplomacia de cúpula: do entre-guerras às formas contemporâneas
who remained perched between isolationists and internationalists in his own administration and
party. [...] Roosevelt had given the impression during the years before 1932 that he favored reciprocal
tariff agreements between nations. But when Hull tried to push his ideas during the first Hundred
Days, he ran straight into the nationalistic emphasis in AAA and NRA. His trade program was
sidetracked”. Cf. BURNS, J. M., op. cit., p. 252.
336 “Hull also took the lead in applying the Good Neighborhood doctrine to the rest of the Americas.
but here he had full backing from the President. [...] As further proof of the Good Neighbor policy
Roosevelt also withdrew marines from Haiti and cased relations with Panama. [...] By 1936, Roosevelt
could call the Good Neighbor policy ‘a fact, active, present, pertinent and effective’”. Cf. ibid., p. 253.
337 Cf. ibid., p. 247. A cautela de Roosevelt com a política externa é explicada de várias formas por seu
biógrafo: “He had burned his fingers in the election campaign of 1920 […] Candidate Roosevelt’s
ditching of the League in 1932 showed how far he would compromise with previous principles to
realize immediate goals. [...] A host of politicians had their fingers in the foreign policy pie. [ ...] Great
numbers of [voters who held the destinies of foreign policy makers in their hands] were colossally
ignorant of affairs beyond the three-mile limit; as the old story went, they were more concerned
about a dogfight in Main Street than a flare-up in distant Ruritania. Others were rigidly bound by
loyalties absorbed in the countries of their national origin. Still others were prisoners of ancient fears
and shibboleths: [...] that America had never lost a war and never won a peace conference, that
salvation lay in keeping free of entangling alliances”. Cf. ibid., p. 247-248.
209
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338 Cf. ibid., p. 352. “Following the disappointing reaction to his ‘quarantine’ speech in October 1937,
Roosevelt tried again to take the initiative, although in a different direction. He had long toyed with
the idea of sponsoring a dramatic meeting at sea of chiefs of state”. Cf. ibid., p. 352-353.
339 Cf. ibid., p. 353-354. Em abril de 1939, Roosevelt escreveu a Hitler e Mussolini pedindo-lhes garantias
de que não atacariam 31 “países” (entre os quais contavam-se algumas colônias ou protetorados),
provocando que o lider alemão lesse a lista durante um discurso no Reichstag e ridicularizasse seu
autor, afirmando que havia consultado vários daqueles países e que nenhum havia confirmado ter
qualquer temor em relação à Alemanha. Cf. KISSINGER, H., op. cit., p. 384. Kissinger reconhece o
fiasco diplomático da iniciativa, mas considera-a um êxito de política interna, ao servir para deixar
claro junto à opinão pública que considerava a Itália e a Alemanha como os agressores.
210
A história da diplomacia de cúpula: do entre-guerras às formas contemporâneas
211
Sérgio Danese
212
A história da diplomacia de cúpula: do entre-guerras às formas contemporâneas
344 O Lend-Lease, aprovado no final de 1940, é um dos marcos da crescente condução da política
externa por Roosevelt. “When Lend-Lease passed Congress, Roosevelt scored a legislative victory
that was a milestone in the organizing of world resistance to Hitler”. Cf. BURNS, J. M., op. cit., p. 457.
345 Cf. KISSINGER, H., op. cit., p. 369 e 392.
213
Sérgio Danese
346 Cf. BURNS, J. M., op. cit., p. 399-400. Burns é extremamente crítico em relação ao papel de Roosevelt como
mobilizador, acusando-o de inação, depois de hesitação e de seguir os acontecimentos. O importante,
em todo caso, é assinalar que Roosevelt conquistou e manteve a liderança do processo, interpretando
corretamente os dados à sua disposição e tornando essa liderança um instrumento percebido como
indispensável. Sua fácil reeleição em 1940 e depois em 1944 prova essa tese.
347 Apud. id., ibid., p. 458-459. Churchill de fato notabilizou-se por seguir o curso oposto ao de Roosevelt;
seu discurso inaugural sobre não ter nada a oferecer senão “blood, toil, tears and sweat” é a maior
prova de que não se orientava pela preocupação em agradar. Cf. CHURCHILL, W. “Winston Churchill
braces Britons to their task”. In: SAFIRE, W., op. cit., p. 132. Talvez por isso foi derrotado em julho de
1945, em plena Conferência de Potsdam.
214
A história da diplomacia de cúpula: do entre-guerras às formas contemporâneas
215
Sérgio Danese
216
A história da diplomacia de cúpula: do entre-guerras às formas contemporâneas
352 As linhas imortais de Churchill vão indicando uma capacidade superior de mobilizar o povo
britânico no esforço de guerra. Do “This was their finest nour” (18 de junho de 1940), ao “Never
in the field of human conflict was so much owed by so many to so few’’ (20 de agosto de 1940),
passando pelo ‘‘We shall defend our island, whatever the cost may be, we shall fight on the beaches.
we shall fight on the landing grounds, we shall fight in the fields and in the streets, we shall fight
in the hills; we shall never surrender’’ (18 de junho de 1940), Churchill encarna através dos seus
discursos o conceito básico que está por trás da diplomacia de cúpula: que o mandatário de fato
conduz as relações externas do seu país e comanda o que é necessário para fazê-lo. Churchill levou
mais além dos seus mandatos essa capacidade de valer-se dos discursos para consolidar políticas
ou visões do mundo. Um exemplo disso é o seu discurso que lança o conceito de “cortina de ferro”,
pronunciado no Westminster College, em Fulton, Missouri, em 5 de março de l946, quase um ano
após ter deixado o governo: “From Stettin in the Baltic to Trieste in the Adriatic, an iron curtain has
descended across the Continent”. Cf. SAFIRE, W., op. cit., p. 783-795.
217
Sérgio Danese
353 “Throughout the war, Roosevelt was, on a human level, closer to Churchill than he was to almost any
American”. Cf. KISSINGER, H., op. cit., p. 401.
354 Foram os seguintes os summits aliados da Segunda Guerra: encontro de Roosevelt e Churchill
ao largo da costa de New Foundland, em agosto de 1941, a bordo de um cruzador, para lançar a
Carta do Atlântico; encontros novamente de Roosevelt e Churchill em Washington (por três vezes:
dezembro de 1941, logo após Pearl Harbor, junho de 1942 e maio de 1943), em Casablanca (janeiro
de 1943), Québec (agosto de 1943) e no Cairo (4 a 6 de dezembro de 1943); e as Cúpulas dos
“Três Grandes” de Teerã (28 de novembro a 1º de dezembro de 1943), Yalta (4 a 11 de fevereiro
de 1945) e Potsdam (iniciada em 17 de julho, suspensa em 25 de julho pela queda de Churchill,
retomada quando Clement Attlee assumiu o lugar de Churchill e concluída em 2 de agosto de
1945), esta última já com Truman no lugar de Roosevelt. Cf. DUROSELLE, J.-B., op. cit., p. 347-410.
Não podia ser propósito deste estudo aprofundar o exame das inúmeras decisões tomadas em
cada um desses encontros, para administrar o esforço de guerra aliado e decidir a reorganização do
218
A história da diplomacia de cúpula: do entre-guerras às formas contemporâneas
mundo após a guerra. A bibliografia sobre as cúpulas da Segunda Guerra Mundial é extensa e rica.
O melhor relato pessoal sobre cada um dos summits é precisamente o de Churchill. Cf. CHURCHILL,
W. Memoirs of the Second World War, cit., especialmente p. 487-493 (New Foundland), p. 577-586
(Washington), p. 664-675 (Casablanca), p. 751-773 (Teerã), p. 774-782 (Cairo), p. 911-917 (Yalta) e
p. 979-991 (Potsdam). Apenas para uma indicação, serviram de referência, além dos manuais de J.-B.
Duroselle e de Edward McNall Burns, citados, as seguintes obras: The Columbia History of the World,
cit.; KEYLOR, W. R. The twentieth Century World. An international history. 2ª ed. New York/Oxford:
Oxford University Press, 1992; KISSINGER, H., op. cit.; KIMHALL, W. F. (cd.) Franklin D. Roosevelt
and the world crisis, 1937-1945. Lexington: D.C. Heath and Company, 1973; BURNS, J. M., op. cit.;
id. Roosevelt: The soldier of freedom, 1940-1945. San Diego: Harcourt Brace. 1984; e PHILLIPS, C. The
Truman Presidency. The history of a triumphant succession. New York: Macmillan, 1966.
355 A autoridade, nesse caso, não é formal, é de fato; pode decorrer do exercício de uma função formal
de Estado, como presidente ou primeiro-ministro, ou do exercício do cargo que efetivamente
controla o poder, mesmo fora do Estado – o melhor exemplo, naturalmente, é o do secretário-geral
do Partido Comunista da URSS, que não necessariamente acumulava funções formais de Estado.
356 Cf. DOBRYNIN, A. In confidence. New York: Times Books (Random House), 1995, p. 36.
219
Sérgio Danese
357 De fato, enquanto nada distinguia um rei da França de um czar da Rússia ou um imperador da
Áustria, e pouco separava os sistemas sociais dos seus países, nada podia ser mais diferente do que
um patrício nova-iorquino como Roosevelt e um aristocrata de longa linhagem como Churchill e
um líder popular de origem camponesa como Stalin; nada era mais distinto, em termos de mecânica
do poder, do que um presidente norte-americano, um primeiro-ministro britânico e um secretário-
‑geral do PC da União Soviética; e nada diferia mais como sistemas sociais, políticos e econômicos do
que os Estados Unidos em plena ascensão, a Grã-Bretanha em franca decadência e a URSS proletária,
agressiva e expansionista de Stalin. A ideia de estabelecer a relação pessoal, que ficará para sempre
ligada à história dos summits, e que não esteve presente nem em Viena, nem em Paris, tem, portanto,
uma certa base de bom-senso, mas muito wishful thinking.
358 De fato, como relata Duroselle, um summit com o formato dos que ocorreram durante a guerra,
com vários dias de duração, forçava um convívio que poderia ter – ou não – esse efeito “Pendant
plusieurs jours [à Téhéran], les trois hommes d’Etat avaient passé de longues heures côte à côte,
avaient discuté franchement, parfois avec une certaine brutalité, avaient dîné ensemble, plaisanté et
manifesté, pouvait-on croire, une extrême cordialité. [...] Roosevelt avait désormais la certitude que
Staline était, selon sa propre expression, accessible, en dépit de sa tactique brutale et de son attitude
cynique [...]”. Cf. DUROSELLE, J.-B., op. cit., p. 376.
220
A história da diplomacia de cúpula: do entre-guerras às formas contemporâneas
acredito que vamos nos dar muito bem com ele e com o
povo russo – muito bem mesmo”359.
Roosevelt insistiria na importância da relação pessoal,
revelando o quanto a ênfase no relacionamento entre os manda
tários, que constitui parte fundamental da mecânica desses
exercícios, pode levar a distorções de avaliação:
Roosevelt confiava em relações pessoais com Stalin
de uma forma em que Churchill nunca confiaria. [...]
A importância das relações pessoais entre líderes e a
existência de uma harmonia subjacente entre as nações
continuavam a ser afirmadas pela América à medida em
que a guerra chegava a uma conclusão. Em 20 de janeiro
de 1945, em seu quarto discurso de posse, Roosevelt
descreveu sua abordagem citando Emerson: “... a única
forma de ter um amigo é sendo amigo”. Logo após Yalta,
Roosevelt caracterizou Stalin para o gabinete como
“tendo alguma coisa além dessa coisa revolucionária
bolchevique”. Ele atribuiu essa qualidade especial à
educação que Stalin tivera na juventude para o sacerdócio:
“Acho que entrou na sua natureza alguma coisa da forma
como um cavalheiro cristão deve comportar-se”360.
O próprio Truman, menos propenso a voos idealistas do
que Roosevelt, poria um forte acento na relação pessoal e na
crença na sua capacidade de persuasão. Em relato que faz de
uma das conversações que manteve com Stalin em Potsdam, diz
candidamente:
Eu estava falando francamente [com Stalin] e queria
convencê-lo de que estamos “nivelados” e interessados
221
Sérgio Danese
361 Apud DONOVAN, R. J. Conflict and crisis. The Presidency of Harry S. Truman. New York: W. W. Norton,
1977, p. 84.
362 Apud KISSINGER, H., op. cit., p. 433.
222
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364 “The absence of both an overriding ideological or strategic threat frees nations to pursue foreign
policies based increasingly on their immediate national interest”. Cf. ibid., p. 805.
224
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365 “While foreign policy, per se, never became a flammable issue in the campaign, largely because of
Dewey’s forbearance, the dramatic success of the Berlin airlift greatly enhanced Truman’s image as
a leader”. Cf. PHILIPS, C., op. cit., p. 250. Truman não descuidava tampouco os grupos de interesse
ligados à política interna. “Jews held the key to New York, and the key to the Jewish votes was what
the administration would do about Palestine. [...]. On direct orders of President Truman, United
States recognition was extended to Israel eleven minutes after it proclaimed itself a government on
May 14, 1948”. Cf. ibid., p. 198. “More in response to domestic pressures than to the rational needs
225
Sérgio Danese
of global policy, the administration did resume a program of limited military and economic aid to
Chiang Kai-shek”. Cf. ibid., p. 283.
226
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A história da diplomacia de cúpula: do entre-guerras às formas contemporâneas
“Many of Mr. Truman’s admirers feel that his decision to relieve General MacArthur was the single
most courageous act of his Presidency. [...] ‘Courage didn’t have anything to do with it’, he snapped.
‘General MacArthur was insubordinate and I fired him. That’s all there was to it’”. Cf. ibid., p. 350.
376 Truman logo assume a estatura dos grandes presidentes norte-americanos, dando uma interpretação
ampla aos poderes que a Constituição lhe garantia, na velha tradição jacksoniana-lincolniana que já
havia sido evocada por Theodore Roosevelt. “He believed that the powers not specifically denied
to the president in the Constitution were meant to be used by him. He knew the record of each of
his predecessors, and he knew that the nation’s fortunes had advanced under the bold and strong
Presidents – the Presidents who would take and use the vast arsenal of implied powers lying within
their reach – and that those fortunes had stagnated or regressed under the cautions and the timid”.
Cf. ibid., p. 398.
377 “The Truman era was significant for another reason in the history of the presidency and foreign
policy – the creation by Congress of a national security bureaucracy in the White House to assist
the President in co-ordinating other foreign policy bureaucracies, in gathering information, and in
providing expertise and advice on foreign policy”. Cf. BARRETT, D. M. “Presidential foreign policy”, cit.,
p. 71. Para uma boa análise sobre a criação e funções do NSC e suas relações com o Departamento
de Estado, cf. DUMBRELL, J. The making of US foreign policy, cit., p. 96-101.
231
Sérgio Danese
378 O memorandum de Kennan é do início de 1946 e foi redigido para interpretar o discurso de Stalin,
em 6 de fevereiro de 1946, em que definia os objetivos e a estratégia comunista no mundo do pós-
‑guerra. Cf. ibid., p. 258-259. O texto de Kennan foi publicado, com grande destaque e impacto, em
Foreign Affairs, XXV, n. 4 (julho de 1947), p. 566-582. Cf. KENNAN, G. American diplomacy. Expanded
edition. Chicago: University of Chicago Press. 1984, p. 107-128. O containment é uma construção
intelectual de Kennan que, transformada em política, associou-se à distintas e sucessivas iniciativas
diplomáticas, entre elas a da “Doutrina do Containement”, nome alternativo pelo qual é conhecida
a doutrina Truman. É comum a referência ao pensamento de Kennan como “doutrina”, mas em
sentido obviamente diverso do que assumem as doutrinas, como políticas específicas, para efeitos
da diplomacia de cúpula.
379 Cf. PHILLIPS, C., op. cit, p. 262-271.
380 O mais famoso desses bilhetes, escrito a lápis, é a ordem para o uso da bomba atômica contra o
Japão. Diz o bilhete: ‘‘Sec War Reply to your 41011 suggestions approved Release when ready but not
sooner than August 2 HST’’. Cf. McCULLOUGH, D., op. cit., reprodução, entre p. 288-289.
381 Para uma descrição histórica da doutrina Truman, suas relações com a doutrina do containment de
Kennan e como precursora do Plano Marshall, cf. DONOVAN, R., op. cit., p. 279-291. Cf. também
McCULLOUGH, D. op. cit., p. 539-542; e PHILLIPS, C., op. cit., 167-176.
382 Apud MACDONALD, F., op. cit., p. 412.
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A história da diplomacia de cúpula: do entre-guerras às formas contemporâneas
233
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which to launch a major foreign policy pronouncement, Acheson has recalled, but it was the only one
available at the moment, and time was pressing. He and the President agreed that this should be the
first public intimation of the administration’s thinking on a new approach to Europe’s problems, and the
substance of his speech was discussed carefully at the White House and among the Cabinet” (p. 178).
386 Cf. ibid., p. 178.
387 Cf. NEUSTADT, R. E., op. cit., p. 41-46. A citação está na p. 46.
234
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392 “The President had thus lined up his most important support before the battle started. In his
Memoirs he paid tribute to these allies in these words: ‘Credit is due to Republican Senator Arthur
H. Vandenberg and to Republican Representative Charles A. Eaton, the chairmen respectively of
the Senate Committee on Foreign Relations and the Committee on Foreign Affairs of the House
of Representatives. In a Congress dedicated to tax reduction and the pruning of governmental
expenditures, they championed this program in a truly bi-partisan manner’”. Cf. ibid., p. 185.
393 Cf. McCULLOUGH, D., op. cit., p. 564.
394 Cf. FERRELL, R., op. cit., p. 641-642.
395 “It was not, in fact, until the following year, on June 5, 1950, that Congress got around to enacting the
Point Four concept into law, with a hesitancy and with multiple restrictions that tended to vitiate
237
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the great propaganda value it had when President Truman first proposed it”. Cf. PHILLIPS, C., op. cit.,
p. 274.
238
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398 A análise da diplomacia presidencial de Kennedy está baseada principalmente na obra de GIGLIO,
J. N. The presidency of John F. Kennedy, cit. O livro clássico sobre a presidência de John F. Kennedy é o
de seu principal assessor, SCHELESINGER, A. A thousand days: John F. Kennedy in the White House.
Boston: Houghton Mifflin, 1965.
399 “He often contrasted himself to Eisenhower, who had supposedly weakened the nation by a failure
to lead, creating a vacuum that the legislative branch was ill-equipped to fill. Whether Kennedy
was aware of Ike’s ‘hidden-hand’ leadership is irrelevant. Eisenhower had conveyed the image of a
tired, aging leader of an outmoded party, an image that Kennedy exploited in 1960. [...] Kennedy’s
conception of presidential leadership meant more than more moral and legislative leadership: He
wished to unleash the president from the office of the presidency. He believed that Eisenhower had
so institutionalized the presidency that he was no longer free to act. Kennedy specifically objected
to the extent to which Eisenhower had shared power with the cabinet (which met weekly); the
chief of staff, Sherman Adams; and the National Security Council (NSC), created in 1947 to advise
the president on foreign and defense policy. The NSC especially became a formidable body under
Eisenhower, with its newly created planning board that defined issues placed before it; the Operations
Coordinating Board, which ensured that decisions were carried out; and the special assistant for
National Security Affairs, the White House liaison. To this Ike proposed to add a first secretary of the
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A história da diplomacia de cúpula: do entre-guerras às formas contemporâneas
government to oversee all foreign affairs agencies. In short Kennedy saw a ponderous bureaucratic
system, resulting in group or corporate decisions”. Cf. GIGLIO, J. N., op. cit., p. 29-30.
400 Apud ibid., p. 29.
401 “He was even more of an independent on matters of foreign policy. [...] Kennedy also made the
headlines following a Senate speech in 1957 on France and Algeria. By then a member of the
Senate Foreign Relations Committee, his greatest interest remained foreign affairs, where he was
outspoken, independent, and original. [...] His anti-colonialism undoubtedly stemmed partly from
his Irish heritage and his father’s strong isolationist antipathy to empire. He had become particularly
outspoken after visiting Asia in 1951. He strongly criticized French control in Indochina, which he
believed created Communists out of nationalists. [...] Still, Kennedy’s much publicized address [on
Algeria] won him the plaudits of Third World nationalists and Frenchmen opposing government
policy. lt also added to his many invitations to speak and write on matters of foreign policy. The
prestigious Foreign Affairs published a major essay under his byline that Sorensen and the staff had
composed”. Cf. ibid., p. 8 e 14-15.
241
Sérgio Danese
402 O famoso debate final entre Kennedy e Nixon atesta essa afirmação. Para uma transcrição dos
discursos de abertura e encerramento desse debate, cf. SAFIRE, W., op. cit., p. 279-288.
403 “Kennedy’s inaugural address made the occasion memorable. One of the briefest of such speeches,
it was also one of the most eloquent, made more so by the increasingly polished Kennedy delivery.
The writing was unmistakably Theodore Sorensen’s, although the ideas and some of the phraseology
came from Kennedy. [...] He proposed a new beginning in United States-Soviet relations, which he
knew concerned Americans greatly. He made no mention of domestic goals because of their divisive
nature”. Cf. GIGLIO, J. N., op. cit., p. 28. Para o texto completo do discurso de Kennedy, famoso pela
frase “Ask not what your country can do for you – ask what you can do for your country”, cf. SAFIRE,
W., op. cit., p. 811-814.
404 O discurso foi pronunciado em Berlim, em 6 de junho de 1963, perante uma multidão que saiu às
ruas para saudar Kennedy. Vinte e quatro anos depois, Reagan se valeria do mesmo cenário para
desafiar Gorbachev a demolir o muro de Berlim. Para o texto completo, cf. ibid., p. 493-494.
405 “Kennedy also delivered probably his best speech since the inaugural before the General Assembly
of the United Nations on 25 September [1961]. Kennedy sent Khrushchev a message, crafted largely
by Sorensen, and exploited the anti-Soviet reaction following the Berlin Wall and the resumption
of atmospheric testing. He again emphasized the finality of war – ‘mankind must put an end to
war – or war will put an end to mankind’”. Cf. GIGLIO, J. N., op. cit., p. 86. Os “sound bites” abundam:
“He challenged the Soviet Union ‘not to an arms race, but to a peace race’. He publicly came out for
‘general and complete disarmament under effective international control’, which could be secured
through the UN”. Cf. ibid., p. 86.
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406 “Kennedy also helped to set the mood by visiting Latin American countries in all three years of his
presidency, including a 1962 journey to Mexico City, where more than one million people greeted
him and his wife”. Cf. ibid., p. 234.
407 “During the 1960 campaign Kennedy referred to Africa nearly five hundred times. [...] In 1961 he
received eleven African leaders at the White House, ten in 1962, and seven in 1963”. Cf. ibid., p. 221 e
223.
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247
Sérgio Danese
como Food for peace (Alimentos para a paz) – todas elas cercadas
de grande esforço publicitário, mas com a novidade de estarem
voltadas para áreas do Terceiro Mundo onde a consolidação da
liderança de estadista de Kennedy prestava um grande serviço aos
interesses da política externa norte-americana em seus esforços de
conter as políticas de expansão da União Soviética:
Programas como o Peace Corps e a Aliança para o
progresso encarnavam o mesmo espírito idealista,
fazendo de Kennedy um líder atraente mesmo nas
mais remotas áreas do Terceiro Mundo. Na Guiné, por
exemplo, Sékou Touré exclamou no momento da morte
de Kennedy: “Perdi meu único amigo verdadeiro no
mundo lá fora”415.
Apresentada aos embaixadores latino-americanos em Washington
em 13 de março de 1961, a “Aliança para o Progresso” mostraria a
habilidade da presidência de Kennedy para retomar velhas ideias
como a política da “Boa Vizinhança” de Roosevelt, apresentando-
as sob nova roupagem, ao mesmo tempo em que se apropriava da
proposta brasileira da Operação Pan-Americana, que havia tido
uma curta sobrevivência, mas havia tido algum impacto sobre os
planejadores diplomáticos norte-americanos:
Lidando com a América Latina, Kennedy clamou por
uma nova e dramática política externa – uma Aliança
para o Progresso – para enfrentar as necessidades sociais
e econômicas de um povo carente no limiar da revolução.
[...] A América Latina apresentava um desafio ainda
maior para Kennedy. A hostilidade contra os Estados
Unidos havia alcançado um clímax, como atestado pela
rude recepção ao vice-presidente Richard Nixon em uma
248
A história da diplomacia de cúpula: do entre-guerras às formas contemporâneas
416 Cf. ibid., p. 222, 232 e 233. Notar a completa ausência de referência à Operação Pan‑Americana,
apesar da menção ao incidente que a desencadeou – a viagem latino-americana de Nixon.
417 Para as críticas pertinentes de James Giglio sobre a “Aliança para o progresso”, cf. nota 864.
249
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420 A expressão é de Roberto Campos. Cf. CAMPOS, R., op. cit., p. 1039. De Gaulle de fato encarnaria
o retorno da França à grande diplomacia de cúpula de Luís XIV, Napoleão e Napoleão III. Sua
personalidade e o manejo que daria à sua política externa e aos negócios do Estado francês estão
bem simbolizados na frase que pronunciou quando se refugiou na Inglaterra, após a invasão alemã
– “Je suis la France” –, em uma atitude que motivou de Churchill, na época, o comentário bem
‑humorado de que “The heaviest cross I beat is the Cross of Lorraine”. Cf. SAFIRE, W., op. cit., p. 815.
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421 “For nearly a decade, Adenauer had rejected all the proposals to advance unification by sacrificing
his Western ties”. Cf. KISSINGER, H., op. cit., p. 571.
422 “Brandt put forward the then startling thesis that, since reliance on the West had produced
stalemate, unification should be sought through German rapprochement with the communist
world. He urged his country to recognize the East German satellite, to accept the border with Poland
(the Oder-Neisse Line) and to improve relations with the Soviet Union. With East-West relations
eased, the Soviet Union might prove less rigid on the issue of unification”. Cf. ibid., p. 734-735.
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423 “Accuelli par une foule délirante, le Général alla beaucoup plus loin qu’une exaltation des liens
culturels entre la France et son ancienne colonie canadienne qu’elle avait perdue en 1763. Le 24 juillet
à Montréal, dans une alocution improvisée réclamée par la foule, il donna à ses paroles un caractère
nettement politique: ‘ce soir, ici et tout au long de la route, je me trouve dans une atmosphère
comme celle de la Libération... La France entière sait, voit et entend ce qui se passe ici. Vive Montréal,
vive le Québec, vive le Québec libre, vive le Canadá français, vive la France’”. Cf. DUROSELLE, J.-B., op.
cit., p. 703.
424 As considerações sobre Nixon estão baseadas nas obras de KISSINGER, H. Diplomacy, cit., p. 674-761;
e White House years. Boston: Little Brown, 1979; THORNTON, R. C. The Nixon Kissinger Years. The
reshaping of American foreign policy. New York: Paragon House, 1989; HOFF, J., op. cit., p. 147-273.
425 “Richard Nixon led an Administration of unusual importance in foreign affairs. The great crowning
achievement of the Nixon era was opening relations with the People’s Republic of China, which had
been estranged from the United States for over two decades”. Cf. BARRETT, D., op. cit., p. 79.
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254
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428 Na disputa para saber quem foi responsável pela política externa dos anos Nixon/Kissinger, o então
secretário de Estado tem seus detratores. Joan Hoff é mordaz, ao falar da “ability [Kissinger] showed
in creating the illusion that Nixon’s foreign policy was his own”. Cf. ibid., p. 149.
429 Apud ibid., p. 152.
430 “America’s opening to China offers a good case study of the role of personalities in the conduct of
foreign policy... [...] necessity dictated that rapprochement occur, and the attempt would have had to
be made no matter who governed in either country. But the smoothness and the speed with which
it developed and the scope it assumed owed a great deal to the subtlety and singlemindedness of
the leaders on both sides [...]”. Cf. ibid., p. 729.
431 Cf. ART, R. J. “A critique of bureacratic politics”. In: ART, R. J.; JERVIS, R. (ed.). International politics. New
York: Harper Collins Publishers, 1992, p. 442.
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432 Cf. KISSINGER, H. Diplomacy, cit., p. 719 e ss. Nixon diria em seu artigo: “Taking the long view, we
simply cannot afford to leave China forever outside the family of nations, there to nurture its
fantasies, cherish its hates and threaten its neighbors. There is no place on this small planet for a
billion of its potentially most able people to live in angry isolation”. Apud ibid., p. 721.
433 Cf. ibid., p. 703-732. A referência à Realpolitik está na p. 724.
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435 “Nixon unexpectedly presented it to a group of reporters on July 25, 1969, on a ‘non‑quotation basis’
at a background press briefing in Guam, the first stop on an around-the-world trip”. Cf. HOFF, J., op.
cit., p. 164.
436 Sobre a Doutrina, cf. KISSINGER, H. Diplomacy, cit., p. 708-709. “The Nixon Doctrine dealt with the
paradox that America’s two post war military engagements, Korea and Vietnam, had been on behalf
of countries to which America had no formal commitment, and in regions which were technically
not covered by alliances. With respect to these regions, the Nixon Doctrine sought to navigate
between overextension and abdication by establishing three criteria for American involvement: The
United States would keep its treaty commitments. The United States would ‘provide a shield if a
nuclear power threatens the freedom of a nation allied with us or of a nation whose survival we
consider vital to our security’. In cases involving non-nuclear aggression, the United States would
‘look to the nation directly threatened to assume the primary responsibility of providing the
manpower for defense’”. Cf. ibid., p. 708.
437 “By 1970 the Nixon Doctrine had evolved into the internationalization of the policy of Vietnamization
or, at the very least, its blanket application to the Far East”. Cf. HOFF, J., op. cit., p. 165-166.
258
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259
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440 Certamente, Carter tinha em mente o exemplo histórico de Wilson e sua Liga das Nações. “The
Carter Administration consulted with at least seventy Senators during the final negotiations of the
Panama Canal Treaty”. Cf. FISHER, L. Constitutional conflicts between Congress and the president,
cit. p. 221.
441 Sua atuação no processo que levou a Camp David, com grande impacto interno e internacional, é
exemplar. “The most spectacular success of the Carter Administration was the Camp David Accords,
which brought about peace between Israel and Egypt. Carter himself could take much personal
credit for the peace agreement, as he personally negotiated between Israel’s Menachem Begin and
Egypt’s Anwar Sadat, who personally disliked each other. Carter recalled: ‘We [Carter and Sadat]
walked into the cabin, we sat down, and we looked at each other. I didn’t say anything for quite a
while because I didn’t know what to say. I don’t think I’ve ever been so grave or so serious about
anything that I have said in my life. I then said to him, ‘I understand you’re leaving’. He said, ‘Yes’. I
said to him, ‘Have you really thought about what this means?’ He said, ‘Yes’. ‘Then let me tell you. It
will mean first of all an end to the relationship between the United States and Egypt. There is no way
we can explain this to our people ... last but not least, it will mean the end of something that is very
precious to me: my friendship with you’”. Cf. BARRETT, D., op. cit., p. 83-84.
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442 “[T]he Reagan Doctrine [stated] that the United States would help anticommunist
counterinsurgencies wrest their respective countries out of the Soviet sphere of influence. This
meant arming the Afghan mujahideen in their struggle with the Russians, supporting the Contras
in Nicaragua, and aiding anticommunist forces in Ethiopia and Angola. [...] [T]he Reagan Doctrine
amounted to a strategy of helping the enemy of one’s enemy”. Cf. KISSINGER, H., op. cit., p. 774.
443 “The picture emerging from the Tower Commission Report and other sources was of a President
with a remarkable ‘hands off’ style of management, leaving major decisions and implementation of
those decisions to others”. Cf. ibid., p. 88.
444 Cf. KISSINGER, H., op. cit., p. 765.
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445 Cf. PETERSON, P. “The international system and foreign policy”. In: PETERSON, P. (ed.). The President,
the Congress and the making of foreign policy, cit., p. 3.
262
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263
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448 A ideia de summit surgiu não para designar de modo geral a parte da diplomacia de cúpula que se
manifesta através de encontros de mandatários, mas sim aquela reduzida porção desses encontros
que tem uma relação com o poder mundial. O conceito de summit designa, assim, necessariamente,
um encontro entre os principais líderes mundiais. Obviamente, ao se falar da Rio-92, por exemplo,
como o Earth Summit, estava-se dando uma utilização lata ao conceito, mas mesmo assim uma
utilização que tinha uma relação com a ideia básica de summit: a de que de um summit participam
os mandatários que detêm poder, que contam. Sem a presença de diversos chefes de estado ou
de governo do G7 e de alguns poucos países em desenvolvimento, dificilmente se teria utilizado a
imagem de um summit para referir-se ao segmento de chefes de estado e de governo da Conferência
das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Nenhuma outra conferência de
cúpula das Nações Unidas ganhou esse apelativo, mesmo tendo segmentos de chefes de estado
e de governo. A tradução de “encontro de cúpula” para a expressão inglesa summit não é exata,
porque no mundo ibero-americano a expressão “cúpula” (“cimeira” em português de Portugal) tem
sido usada de forma genérica, como sinônimo de encontro de mandatários.
264
A história da diplomacia de cúpula: do entre-guerras às formas contemporâneas
449 “The Soviet delegation was led by Premier Nikolai Bulgarin [but] Khrushchev, as general secretary of
the Communist Party, played the most important role. President Eisenhower of course led the U.S.
delegation, but it was clear to us that foreign policy was handled by Dulles. Britain and France made
up the rest of the Big Four, and the principal topics were the division of Germany and the reduction
of arms”. Cf. DOBRYNIN, A., op. cit., p. 37.
450 “Prime Minister Winston Churchill had coined the phrase ‘a meeting at the summit’, but his term of
office did not last long enough for him to participate in the first summit meeting since those of Yalta
and Potsdam[...]”. Cf. ibid., p. 37.
451 Cf. KISSINGER, H., op. cit., p. 508-521.
265
Sérgio Danese
266
A história da diplomacia de cúpula: do entre-guerras às formas contemporâneas
267
Sérgio Danese
456 REAGAN, R. An American life. New York: Simon and Schuster, 1990, p. 576.
268
A história da diplomacia de cúpula: do entre-guerras às formas contemporâneas
269
Sérgio Danese
458 O convite foi feito por Nasser, Nehru e Tito e reuniu 25 participantes. Estiveram presentes vários
chefes de estado e governo notáveis à época: além dos “anfitriões Tito, Nasser e Nehru, também o
imperador da Etiópia. Hailé Selassié, o rei do Marrocos, Hassan II, o príncipe Norodom Sihanouk do
Camboja e os presidentes N’Krumah, de Gana, Sékou Touré, da Guiné, Habib Bourguiba, da Tunísia,
e Sukarno, da Indonésia, entre outros. Cf. DUROSELLE, J.-B., op. cit., p. 725.
459 Apud ibid., p. 725.
270
A história da diplomacia de cúpula: do entre-guerras às formas contemporâneas
271
Sérgio Danese
460 Nos anos 1990, um presidente do MERCOSUL cujo país seja membro do G15 tem fixas duas cúpulas
do MERCOSUL, uma do G-Rio, uma da Comunidade Ibero-Americana e uma do G15. Em 1998, serão
seis: a esses compromissos acrescenta-se a Cúpula Hemisférica. Com uma média de uma cúpula
mundial ou regional realizando-se a cada ano nos últimos cinco ou seis anos (Cúpula da Criança,
Rio-92, Cúpula de Miami, Cúpula Social, Cúpula do Desenvolvimento Sustentável, Cinquentenário
das Nações Unidas), o presidente do Brasil ou da Argentina teve entre seis e sete compromissos
internacionais previamente agendados em qualquer desses anos, mais do que qualquer agenda
internacional de presidente brasileiro até 1990.
272
A história da diplomacia de cúpula: do entre-guerras às formas contemporâneas
461 Cf. SOLANA, F. Cinco años de política exterior. México: Editorial Porrúa, 1994, p. 709-711.
462 Cf. ibid., p. 712-735.
463 Só o Brasil estava, nos anos 90, comprometido formal ou informalmente com cinco desses arranjos:
além de Portugal, a Argentina, o Uruguai, o Chile e a Venezuela.
273
Sérgio Danese
464 Um bom exemplo da densidade das agendas dessas visitas e do seu enfoque promocional são as
visitas do mexicano Salinas de Gortari, descritas por Fernando Solana. Em geral, combinam, além
das conversações com os interlocutores normais do chefe de estado mexicano (chefe de estado e
governo ou presidente e vice-presidente), autoridades do Executivo, do Congresso e do Judiciário,
contatos com a comunidade empresarial mexicana e do país visitado, contatos acadêmicos e com
a imprensa, programação cultural, em geral para a inauguração de mostras da cultura mexicana,
contatos com a comunidade mexicana residente, palestras, visitas a outras cidades além da capital;
todas as visitas incluíam um grande número de discursos preparados previamente, já que Salinas
apenas ocasionalmente falava de improviso, apesar de bom orador. Cf. ibid., p. 712-735.
274
A história da diplomacia de cúpula: do entre-guerras às formas contemporâneas
465 Cf. STENDHAL. Le rouge et le noir. Paris: Folio, 1972, p. 251 (epígrafe ao cap. XXX).
275
CAPÍTULO 6
A DIPLOMACIA DE CÚPULA NA HISTÓRIA
DIPLOMÁTICA BRASILEIRA: DA FUNDAÇÃO
AO FIM DO IMPÉRIO466
466 Embora as considerações sobre a história da diplomacia de cúpula brasileira, que se seguem, sejam
basicamente fruto de uma análise de fontes primárias e de reflexão, elas se nutrem em parte de alguns
textos de base sobre a história diplomática brasileira – sobretudo para situar certos dados fatuais –, ou
por eles podem ser corroboradas. Entre eles, naturalmente, encontram-se a obra clássica de Delgado
de Carvalho, História diplomática do Brasil (São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1959); o livro de
Hélio Vianna, História do Brasil (13ª ed. rev. e atualizada. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1977);
e o mais recente de Amado Luiz Cervo e Clodoaldo Bueno, História da Política exterior do Brasil
(São Paulo: Editora Ática, 1992), que serão citados sempre que a remissão parecer útil. Convém
notar, desde logo, que as escassas referências à diplomacia de cúpula nessas e em numerosas outras
análises da história diplomática brasileira são quase sempre incidentais, indiretas ou en passant. As
citações de textos em português anterior às reformas de 1943 e seguintes foram atualizadas para a
grafia atual.
467 Cf. “Tratado de Tordesilhas entre Portugal e Espanha (7 de junho de 1494)”. In: BONAVIDES, P.;
AMARAL, R. Textos Políticos da história do Brasil, v. 1, cit., p. 42-51.
468 Cf. “Inter Coetera – Bula do Papa Alexandre VI (4 de maio de 1493)”. In: ibid., p. 39-41.
277
Sérgio Danese
469 A dimensão de diplomacia de soberanos do Tratado de Tordesilhas está bem exposta em SEIXAS
CORRÊA, L. F. de. “A repercussão do Tratado de Tordesilhas na formação do Brasil”. II Jornadas de
Cartografia Hispânica, Valladolid, 7-9 de fevereiro de 1994. Mimeo. Diz o A., por exemplo: “[A]
política de D. João II revela clara consciência de objetivos e determinação de propósitos. Sua reação
negativa aos títulos de Castela sobre as terras achadas é sintomática dos direitos de que se acreditava
imbuído”. Cf. p. 7.
278
A diplomacia de cúpula na história diplomática brasileira: da fundação ao fim do Império
470 O Primeiro Reinado se inaugura e conclui por meio de atos de diplomacia dinástica. A Morte de
D. João VI, em 1825, abre uma crise dinástica em Portugal, que acaba envolvendo a diplomacia brasileira
e a de diversas outras coroas europeias interessadas na questão. O ato da abdicação é apenas o fecho
político de uma questão de natureza também diplomática. Cf. VIANNA, H., op. cit., p. 441-442.
471 Para uma análise da questão diplomática envolvida na independência – os entendimentos entre os
ramos da Casa Real portuguesa e o reconhecimento da independência –, ver, entre outros, ARAÚJO,
J. H. P. de. “O reconhecimento da independência”. In: VÁRIOS – Três ensaios sobre diplomacia
brasileira. Brasília: Ministério das Relações Exteriores, 1989, p. 13-27. Ver também CARVALHO, D. de.,
op. cit., p. 34-42.
472 Rubens Ricupero desenvolve, em alguns dos seus ensaios, essa concepção segundo a qual a diplomacia
brasileira evoluiria ao longo de dois eixos, o das relações simétricas ou de relativa igualdade (com
279
Sérgio Danese
280
A diplomacia de cúpula na história diplomática brasileira: da fundação ao fim do Império
281
Sérgio Danese
475 A bibliografia sobre Dom Pedro II é extensa e divide-se, em geral, nessas duas correntes. Exemplo
da vertente jacobina, de ridicularização da figura do imperador, é a obra de Carlos Süssekind
de Mendonça, Quem foi Pedro II. Golpeando, de frente o “saudosismo”! Rio de Janeiro, 1929.
Curiosamente, a visão encomiástica permanece viva. Veja-se, por exemplo, este trecho da obra de
Amado Cervo e Clodoaldo Bueno, com o subtítulo “D. Pedro II e sua diplomacia de prestígio”: “Nas
duas últimas décadas do Império, quando as relações internacionais se ampliavam sob o efeito da
expansão colonial europeia e dos primórdios do novo imperialismo, D. Pedro II investiu seu prestígio
pessoal, muito elevado tanto na Europa quanto na América, com a finalidade de resguardar o
interesse brasileiro no exterior. Usou, para tanto, de seus intensos e permanentes contatos com
instituições científicas, cientistas, escritores e membros das famílias reais europeias. Empreendeu três
importantes viagens pelo Ocidente (1871, 1875 [sic] e 1887), durante as quais estabeleceu contatos
de alto nível com governos e instituições dos Estados Unidos, de quase todos os países europeus,
incluindo a Rússia dos Czares, o Império Otomano, a Grécia, a Terra Santa e o Egito [sic]. O chefe
do Estado brasileiro tornava assim o país mais conhecido e respeitado no exterior”. Cf. CERVO, A;
BUENO, C., op. cit., p. 122.
476 Cf. LYRA, H. História de Dom Pedro II, 3 v. São Paulo: Companhia Editora Nacional (Coleção Brasiliana),
1938, v. I., p. 522.
282
A diplomacia de cúpula na história diplomática brasileira: da fundação ao fim do Império
477 “Como resultado desse mecanismo, houve, em um governo de cinquenta anos, a sucessão de 36
gabinetes, com a média de um ano e três meses de duração cada um. Aparentemente, havia uma
grande instabilidade, mas, de fato, não era bem isso que ocorria. Na verdade, tratava-se de um
sistema flexível que permitia o rodízio dos dois principais partidos no governo, sem maiores traumas.
Para quem estivesse na oposição, havia sempre a esperança de ser chamado a governar. Assim, o
recurso às armas se tornou desnecessário”. Cf. FAUSTO, B., op. cit., p. 180.
478 Cf. JORGE, A. G. de A. “Introdução”. In: Rio Branco – Obras completas, p. 7. Apud ARAÚJO, J. H. P. de.
“O Segundo Reinado”. In: VÁRIOS – Três ensaios sobre Diplomacia brasileira, cit., p. 76.
283
Sérgio Danese
284
A diplomacia de cúpula na história diplomática brasileira: da fundação ao fim do Império
480 Cf. SOUZA, J. A. S. de. A missão Bellegarde ao Paraguai, v. II. Rio de Janeiro: Ministério das Relações
Exteriores/Divisão de Documentação (Coleção “Documentos Diplomáticos”), 1968, p. 292-293. Em
outro trecho, o A. registra que o Imperador assinara um desses decretos de nomeações sem o ler, só
pedindo contas a Paulino Soares de Souza mais adiante, quando vê, publicada no jornal, a remoção
de Carvalho Moreira para Washington, como enviado extraordinário e ministro plenipotenciário,
em vez de uma corte europeia, como ministro-residente: “Nestas ideias assinei o decreto, que
agora vejo que não li...”. Ao justificar a nomeação para Washington, como primeiro passo para o
reingresso de Carvalho Moreira na carreira, em vez de uma corte europeia, Paulino argumenta que,
na capital norte-americana, “o ordenado é comparativamente pequeno, péssimo o clima, e escassos
os recursos, tendo-se de tratar de negócios melindrosíssimos com um Governo ambicioso, astuto e
poderoso”. Cf. ibid., p. 293-294.
481 Cf. LYRA, H., op. cit., v. 1, p. 316. “Foram Ministros de Estrangeiros, uma ou mais vezes, Aureliano,
Caravelas, Maranguape, Olinda, Uruguai, Paraná, Abaeté, São Vicente, Rio-Branco, Sinimbu, Saraiva,
Dantas, Cotegipe e Paranaguá – vale dizer, quase todos os estadistas do primeiro plano”.
285
Sérgio Danese
482 “Para um grande número deles”, diz Heitor Lyra, “o Prata passará a ser a verdadeira escola política [...] a
grande prova onde exibirão as suas qualidades, os recursos de suas inteligências, de suas habilidades,
a extensão de seus conhecimentos. Será, de fato, uma dura escola, e por ela passarão, além de Rio
Branco, de Sinimbu e de São Vicente, Paraná, Abaeté, Saraiva, Octaviano e Cotegipe”. Cf. ibid., p. 314.
483 Cf. ibid., p. 314-315.
286
A diplomacia de cúpula na história diplomática brasileira: da fundação ao fim do Império
484 Ecoando o que aponta Heitor Lyra, por exemplo, Jorge Caldeira, em sua biografia do Barão de Mauá,
faz diversas referências a essa atuação pessoal do Imperador nos assuntos relativos às intervenções
no Uruguai e na Argentina. Cf. CALDEIRA, J. Mauá, empresário do Império. São Paulo: Companhia
das Letras, 1995, p. 193-208.
485 Cf. LYRA, H., op. cit., v. I, p. 315-316.
486 BELLO, J. M. História da República. 6ª ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1972. p. 5-10.
O perfil que José Maria Bello traça de Pedro II é notável pelo seu equilíbrio.
287
Sérgio Danese
288
A diplomacia de cúpula na história diplomática brasileira: da fundação ao fim do Império
488 “O Barão do Rio Branco, que nada tem de suspeito à monarquia”, lembra José Maria Bello, “escreveu
ser possível sumariar a vida política do Império na luta sem elevação entre os partidos Conservador
e Liberal pela conquista do poder”. Cf. ibid., p. 10.
489 Para relatos detalhados do encontro de Uruguaiana e da viagem do imperador ao Rio Grande do Sul.
cf. LYRA, H., op. cit., v. II, p. 433-451; e GOUVÊA, F. da C. O Imperador itinerante. Recife: Secretaria de
Educação e Cultura, 1978, p. 99-106.
289
Sérgio Danese
490 O imperador insistirá muito, em sua correspondência, no fato de que viaja como cidadão particular,
como Dom Pedro d’Alcântara, recusando estipêndios do Estado brasileiro que lhe quiseram
autorizar. Cf. LYRA, H., op. cit., v. II, p. 275.
290
A diplomacia de cúpula na história diplomática brasileira: da fundação ao fim do Império
291
Sérgio Danese
493 É o caso da visita à Exposição de Filadélfia, gesto de inegável originalidade, que é mencionada como
antecedente diplomático, no discurso oficial brasileiro, quando da visita do secretário de Estado
Charles Hugues ao Brasil, em 1922. Cf. Relatório do MRE. Rio de Janeiro: Ministério das Relações
Exteriores, 1923, p. III. Também quando da visita oficial do presidente Dutra aos Estados Unidos,
em 1947, a visita de D. Pedro II àquele país foi mencionada como antecedente nos documentos
oficiais brasileiros e no discurso de Dutra perante o Congresso norte-americano. Cf. Ministério das
Relações Exteriores. Relatório apresentado ao Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil
pelo Ministro de Estado das Relações Exteriores. Ano de 1949. Rio de Janeiro: Ministério das Relações
Exteriores /Serviço de Publicações, 1949, p. 19 e 173. Em visita ao Líbano, em fevereiro de 1997, o
ministro Lampreia referiu-se à passagem de Pedro II por Beirute e exumou uma de suas impressões
sobre o país: “Como sabem, nosso imperador, Dom Pedro II, veio ao Líbano, em viagens de caráter
privado, em 1871 e 1876. Em uma dessas visitas, referiu-se ao Líbano como ‘um novo mundo’.
O [Monte] Líbano, disse ele, ‘ergue-se diante de mim com seus cimos nevados, seu aspecto severo,
como convém a essa sentinela da Terra Santa’”. Cf. LAMPREIA, L. F. “Discurso por ocasião do jantar
oferecido pelo Chanceler do Líbano”, 5 de fevereiro de 1997. Mimeo. (A visita do ministro Lampreia
era a primeira de uma alta autoridade política brasileira desde a última passagem de Pedro II por
Beirute, em 1876.) O presidente Fernando Henrique também evocou um trecho de uma das viagens
de Pedro II: “A Finlândia já era uma referência para o Brasil em 1876, quando o Imperador Pedro II fez
questão de incluir o então Grão-Ducado no roteiro de uma de suas visitas à Europa”. Cf. CARDOSO,
F. H. “Brinde ... por ocasião do jantar que oferece ao presidente da República da Finlândia”, cit. Com
esse tipo de exceções, as viagens de Pedro II, por serem particulares e desvinculadas de um projeto
diplomático, não constituem, a rigor, antecedentes ou marcos fundamentais nas relações do Brasil
com nenhum país.
292
A diplomacia de cúpula na história diplomática brasileira: da fundação ao fim do Império
293
Sérgio Danese
499 “Não mandei tomar passagens, propriamente falando...”. Carta de 24 de março de 1871, a Rio Branco,
apud LYRA, H., ibid., p. 268.
500 Para um relato pormenorizado das três viagens de Pedro II ao exterior, ver, além das obras de Heitor
Lyra, cit., v. II, p. 264 e ss. e 361 e ss., e v. III, p. 104 e ss., e de Fernando da Cruz Gouvêa, cit., p. 107-255
e 269-315, as seguintes: BERNSTEIN, H. Dom Pedro II. New York: Twayne Publishers, s.d., p. 173-188;
MOSSÉ, B. Dom Pedro II Imperador do Brasil. Trad. de Hermínia Themudo Lessa. São Paulo: Edições
Cultura Brasileira, s.d., p. 273-311; FREITAS, S. C. T. de. D. Pedro II. São Paulo: Editora Três, 1981, p. 143
e ss.; e PIMENTEL, M. D. Pedro II. Petrópolis: Comissão do Centenário de D. Pedro II, 1925. Todos os
relatos são ricos de episódios e recriam diálogos e situações que comporiam, ao longo do tempo,
uma espécie de mitologia de Pedro II no estrangeiro, sem, contudo, apresentar maior interesse para
a história diplomática brasileira.
294
A diplomacia de cúpula na história diplomática brasileira: da fundação ao fim do Império
501 Entre elas, Nova York, Filadélfia, Washington, Chicago, São Francisco, Saint Louis, Nova Orleans e
Boston. Cf. LYRA, H., op. cit., p. 371 a 379; e GOUVÊA, F. da C., op. cit., p. 187-195.
502 “Os Estados Unidos, que o Imperador D. Pedro II visitara pessoalmente em 1876, quando foi da
grande Exposição de Filadélfia, comemorativa do centenário da Independência da América do
Norte, tiveram o delicado pensamento de retribuir-nos essa visita o ano passado, em ocasião
idêntica. Veio com esse fim ao Brasil o ilustre secretário de Estado Sr. Charles Evans Hugues[...]”. Cf.
Relatório do MRE, Ministério das Relações Exteriores, 1923, cit. p. III.
295
Sérgio Danese
296
A diplomacia de cúpula na história diplomática brasileira: da fundação ao fim do Império
504 “A nação não tolerava sequer a ideia da chefia do estado em mãos de uma princesa, piedosa e digna,
mas casada com um príncipe estrangeiro, profundamente antipático, embora, muitas vezes, com
injustiça, no sentimento público”. Cf. BELLO, J. M., op. cit., p. 9.
297
CAPÍTULO 7
DO INÍCIO DA REPÚBLICA VELHA À RETIRADA DA
LIGA DAS NAÇÕES
299
Sérgio Danese
505 Cf. BUENO, C. A República e sua política exterior (1889 a 1902). São Paulo: Editora da UNESP/Brasília;
FUNAG, 1995, p. 23. A obra supre algumas lacunas informativas sobre o período, graças à pesquisa
de arquivo e fontes primárias que a embasam.
506 Cf. BELLO, J. M., op. cit., p. 58.
507 Cf. ibid., p. 60-61. Cf., também, p. 186: “Quintino Bocaiúva [...]apressou-se em aceitar o alvitre da
chancelaria de Buenos Aires sobre a divisão do território das Missões [...] Mais tarde, o próprio
Quintino Bocaiúva [...] penitenciando-se do erro político cometido, aconselhava o Congresso
brasileiro a não ratificar o Tratado de que fora signatário”.
300
Do início da República Velha à retirada da Liga das Nações
508 Cf. ibid., p. 186: “Os primeiros governos da República não alteraram os grandes rumos da política que
se fazia no antigo Ministério dos Negócios Estrangeiros, conservando em seu serviço os experientes
agentes diplomáticos e os velhos chefes burocráticos[...]”.
509 A obra clássica sobre a diplomacia de Floriano Peixoto é a de Sérgio Corrêa da Costa, A diplomacia do
Marechal. Intervenção estrangeira na revolta da Armada. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora Universidade
de Brasília/Tempo Brasileiro, 1979. Ao contrário, contudo, do que o título da obra faz supor, a atuação
de Floriano não tem nada que permita caracterizá-la como extraordinariamente pessoal ou original
na condução da questão externa da Revolta da Armada. Ao contrário: “Dificilmente terá havido
governo com tão escasso e difícil relacionamento com o corpo diplomático estrangeiro quanto o
de Floriano. [...] Quanto a audiências, a única exceção de que encontrei registro foi a concedida por
Floriano para lhe serem apresentados o Comandante e os oficiais da corveta portuguesa Mindello
[...]” (p. 176).
510 José Carlos de Macedo Soares resume bem o poder presidencial, no Brasil, na área da política externa:
“No Brasil, como nos Estados Unidos, cabe ao chefe do poder executivo dirigir discricionariamente
as relações políticas internacionais. O Congresso, ratificando tratados e convenções, aprovando ou
declarando a guerra, sempre se encontra, no terreno das negociações, diante de fatos consumados.
Só a responsabilidade tempera o poder discricionário como é concebido no nosso regime
constitucional”. Cf. MACEDO SOARES, J. C. de., op. cit., p. 177.
301
Sérgio Danese
302
Do início da República Velha à retirada da Liga das Nações
511 Carta de Rodrigues Alves a Rio Branco, apud LINS, A. Rio Branco. São Paulo: Alfa-Omega/FUNAG,
1996, p. 247.
512 A bibliografia sobre Rio Branco é vasta e tradicional, destacando-se os clássicos de Álvaro Lins, cit.;
Luís Viana Filho, A vida do Barão do Rio Branco (Brasília: Senado Federal/FUNAG, 1996) e E. Bradford
Burns, The Unwritten Alliance (Nova York: Columbia University Press, 1966). Delgado de Carvalho lhe
dedica páginas de grande precisão e qualidade analítica. Cf. CARVALHO, D. de. História diplomática
do Brasil, cit., sobretudo os capítulos 14, 15, 17 e 19. Um excelente texto de reinterpretação da obra e
do significado do Barão de Rio Branco é o de Rubens Ricupero, “Um personagem da República”. In:
ARAÚJO, J. H. P. (org.). José Maria da Silva Paranhos, Barão do Rio Branco – uma biografia fotográfica.
Texto de Rubens Ricupero. Brasília: FUNAG, 1995.
303
Sérgio Danese
304
Do início da República Velha à retirada da Liga das Nações
516 “Encetando os seus trabalhos a 23 de julho do ano passado, esse notável congresso elegeu para seu
presidente efetivo o Embaixador do Brasil em Washington, Sr. Joaquim Nabuco, e aclamou dois
presidentes honorários, um dos quais foi o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, distinções
essas que muito penhoram o povo brasileiro”. Cf. PENNA, A. “Mensagem ao Congresso Nacional,
3 de maio de 1907”. In: Mensagens presidenciais (3 v.). V. I. Brasília: Câmara dos Deputados, 1977, p. 578.
517 Cf. BURNS, E. B., op. cit. O conceito feliz de Burns ficou definitivamente incorporado à história
diplomática do Brasil e é utilizado de forma recorrente para descrever as relações Brasil-Estados
Unidos tal como se desenvolveram durante a gestão de Rio Branco e em anos posteriores.
305
Sérgio Danese
518 “Nas impressões dos estrangeiros que visitavam o Brasil encontramos uma certa perplexidade em
face do que lhes parecia um fato singular na vida política dos povos livres: um ministro de Estado
– tão distante do caráter de caudilho ou ditador – a dispor de uma autoridade incontrastável e
soberana”. Cf. LINS, A., op. cit., p. 394. A popularidade de Rio Branco dentro e fora do país, em contraste
com a dos presidentes a quem serviu, e a força política do seu nome são bem documentadas e
analisadas por Álvaro Lins. Cf. id., ibid., p. 392-419. Rubens Ricupero recolhe muitos dos elogios que
consagraram Rio Branco, especialmente os que lhe fez o seu crítico mais severo e por isso mesmo
juiz isento do valor do Barão, Oliveira Lima. Cf. RICUPERO, R. “Um personagem da República”,
cit., p. 127. José Maria Bello refere-se a Rio Branco como “definidor do território pátrio e criador, por
isso mesmo de uma forma, até então ignorada, de orgulho ou de exaltação nacional”. Cf. HELIO, J.
M., op. cit., p. 184.
519 “O longo reinado de quase 10 anos do Barão do Rio Branco (1902-1912) não serviu apenas [...] para
legitimar a República, dando-lhe os primeiros êxitos para contrabalançar Canudos, a Revolta da
Armada, o Encilhamento e a recessão de Campos Sales. Foi também a idade de ouro, o momento
fundador de uma diplomacia cujo prestígio na sociedade muito se deve ao patrono que, ao ter a sua
efígie glorificada na moeda, tornou-se talvez o primeiro diplomata de carreira na História a merecer
um lugar no panteão monetário usualmente reservado a militares e estadistas”. Cf. RICUPERO, R. “O Brasil,
a América Latina e os EUA desde 1930: 60 anos de uma relação triangular”. In: ALBUQUERQUE,
J. A. G. de (org.). 60 anos de política externa brasileira, 1930-1990. Volume I: Crescimento, modernização
e política externa. São Paulo: Cultura/Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da USP, 1997, p. 38.
520 Da mesma forma, seria Kissinger, e não Nixon, quem receberia o Nobel da Paz em 1974, e Shimon
Peres, chanceler do governo Rabin, quem dividiria com o seu chefe de governo o Nobel em 1994.
Desde Viena, e de forma crescente à medida que as políticas foram tornando-se públicas e sendo
306
Do início da República Velha à retirada da Liga das Nações
objeto de atenção da mídia e da opinião pública, reduz-se o espaço para o ghost acting em matéria
diplomática de visibilidade.
521 A comparação de Rio Branco a Talleyrand não é, naturalmente, original. Luís Viana Filho registra
carta de Oliveira Lima a Joaquim Nabuco, em 31 de janeiro de 1906, em que aquele, ao referir-se à
III Conferência Internacional Americana então já convocada para o Rio de Janeiro, diz que dela “[o
secretário de Estado Elihu] Root será o Metternich e o Rio Branco o Talleyrand...”. Cf. VIANA FILHO,
L., op. cit., p. 350.
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Sérgio Danese
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Do início da República Velha à retirada da Liga das Nações
524 Fizeram viagens de presidente eleito ao exterior os presidentes Epitácio Pessoa (na verdade, prossegue
a sua permanência na Europa na condição de chefe da delegação brasileira à Conferência de Paz de
Paris, durante a qual, in absentia, havia sido eleito presidente da República), Juscelino Kubitschek,
Jânio Quadros (ainda como candidato), Costa e Silva, Tancredo Neves, Fernando Collor, Fernando
Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. Cf. mais abaixo e DANESE, S. “As viagens internacionais
dos presidentes-eleitos”. In: A escola da liderança. Rio de Janeiro: Record, 2009, p. 240-244.
525 “Campos Sales apavorava-se com a ameaça de uma bancarrota, que lhe sacrificaria o governo.
Projeta uma viagem à Europa a fim de entender-se diretamente com os credores de Londres. [...]
As suas condições especiais de presidente eleito e, portanto, executor futuro do plano a ser traçado
emprestavam-lhe singular autoridade”. Cf. BELLO, J. M., op. cit., p. 161. Sobre a negociação do funding
loan de 1898, cf. ibid., p. 160-162.
526 Cf. BUENO, C., op. cit., p. 325-326. A viagem serviria aos propósitos práticos buscados por Campos
Sales e para dar-lhe certo prestígio: “as potências do Velho Mundo e as nações americanas fizeram‑se
representar na posse do segundo presidente civil por meio de navios de suas esquadras, fato que
para ele e para o seu apologista, Alcindo Guanabara, era incomum no continente, representando
309
Sérgio Danese
310
Do início da República Velha à retirada da Liga das Nações
528 Sobre a visita de Roque Sáenz Peña, cf. ARAÚJO, J. H. P. (org.). José Maria da Silva Paranhos, Barão do
Rio Branco – uma biografia fotográfica, cit., p. 106-110.
529 Cf. CARVALHO, D. de., op. cit., p. 251.
530 Em 31 de agosto de 1922, o Rio de Janeiro recebeu a visita do Dr. Marcello Alvear, recém-eleito
presidente da República Argentina, que fez escala no seu regresso da Europa a Buenos Aires. Foi
recebido pelo presidente da República, que lhe ofereceu banquete, e foi objeto de vários gestos
protocolares. Cf. Relatório do MRE, 1923, p. III e 11-12. Em julho de 1928, o governo brasileiro,
conhecendo a intenção do então recém-eleito presidente do Paraguai, José Guggiari, de realizar
uma viagem internacional nessa condição, tomou a iniciativa de convidá-lo a visitar o Brasil, o que
ocorreu em julho daquele ano, permanecendo ele no país de 3 a 14 e visitando o Rio Grande do
Sul, São Paulo e Rio de Janeiro. O presidente Washington Luís recebeu-o em audiência e ofereceu
‑lhe banquete. Para uma descrição mais minuciosa da visita, cf. Relatórios do Ministério das Relações
Exteriores, referente a 1928, p. 57-58, e referente a 1929, p. XL. Cf. também SOUZA, W. L. P. de.
“Mensagem ao Congresso Nacional”, 3 de maio de 1929. In: Mensagens presidenciais, v. II, cit., p. 387.
No mesmo ano de 1928, de 21 a 23 de dezembro, o Brasil recebeu a visita do presidente eleito
dos Estados Unidos, Herbert Hoover, que fazia um périplo pelo continente. A programação no
Rio de Janeiro espelhou a de uma visita de Estado: recepção pelo presidente da República e todas
as mais altas autoridades da República no cais Mauá, audiência com o presidente da República,
sessão especial do Congresso Nacional, sessão solene do Supremo Tribunal, banquete oferecido pelo
presidente Washington Luís, retribuído com almoço na Embaixada norte-americana, concessão de
Doutorado Honoris Causa da Universidade do Rio de Janeiro e comparecimento do presidente da
República às cerimônias de despedida no Arsenal da Marinha. Para uma descrição detalhada da
visita do presidente eleito Hoover, cf. Relatório do MRE, 1928, p. 59-62. Cf. também CARVALHO, D.
de, op. cit., p. 263.
311
Sérgio Danese
531 Cf. SALES, M. F. de C. “Mensagem ao Congresso Nacional”, 3 de maio de 1899. In: Mensagens
presidenciais, cit., p. 211-226. Cf. nota 526 supra.
532 Os Relatórios do Ministério das Relações Exteriores e as “Mensagens ao Congresso Nacional” fornecem
exemplos abundantes dessas ocorrências.
533 Cf. FONSECA, H. da. “Mensagem ao Congresso Nacional’’, 3 de maio de 1913. In: Relatório do MRE,
1913, p. VI. A esta nota segue-se referência a três outros acontecimentos pesarosos – a morte do
imperador Matsuhito do Japão, o assassinato do rei da Grécia Jorge I e o atentado contra o rei da
Espanha, Afonso XIII, todos eles merecedores de atenciosas mensagens de solidariedade, às quais se
dá grande destaque, à falta de coisa melhor para realçar.
312
Do início da República Velha à retirada da Liga das Nações
534 “O Governo brasileiro ficou profundamente penhorado, e aproveito esta oportunidade para
manifestar solene e publicamente o seu vivo reconhecimento ao povo e ao governo dos Estados
Unidos da América, pelo modo brilhante e carinhoso por que foi recebido e pelas grandes
manifestações de apreço com que foi honrado o nosso Ministro das Relações Exteriores, o Sr. Dr.
Lauro Müller, em sua visita àquele grande país, em representação oficial do nosso Governo, por
convite oficial do norte-americano, e em retribuição à visita que o Sr. Elihu Root, quando secretário
de Estado do seu país, fizera ao Brasil, em 1906. Levando àquela nação e ao seu governo as mais
sinceras provas da nossa consideração e amizade, ele nos trouxe as mais inequívocas e positivas
provas de reciprocidade daqueles sentimentos. Essa visita oficial contribuiu certamente para
estreitar ainda mais os laços que unem os dois povos, tanto quanto já o havia feito a anterior do
notável estadista Sr. Elihu Root”. Cf. id., “Mensagem ao Congresso Nacional”, 3 de maio de 1914. In:
Relatório do MRE, 1914, p. IX.
535 Essa prática, consolidada na República Velha, será mais tarde alterada quando as missões passarem
a ser chefiadas por ministros de estado e, no governo Sarney, quando passarem a ser chefiadas
pelo presidente da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal ou pelo próprio presidente da
República.
313
Sérgio Danese
536 O episódio servirá para uma de tantas referências pesarosas nas mensagens presidenciais: “Neste ano
em que o Brasil celebra o primeiro centenário da abertura dos seus portos ao comércio estrangeiro
e da terminação da época colonial na antiga América Portuguesa, contávamos festejar como nosso
hóspede Sua Majestade El-Rey D. Carlos I de Portugal. Infelizmente, um bárbaro atentado nos privou
da grande satisfação que teríamos em acolher condignamente o Soberano a cujo espírito de justiça
somos devedores da solução favorável, em 1896, de um grave conflito internacional [a questão da
Ilha da Trindade], e que nos havia manifestado, dando outras provas da sua amizade, o ardente
desejo de visitar este país. Enviei logo à Família Real e à nação portuguesa a expressão do profundo
pesar com que a República Brasileira recebeu a notícia de tão triste acontecimento, e nomeei uma
Embaixada extraordinária, que em representação do Brasil tomou parte nos funerais”. Cf. PENNA, A.
“Mensagem ao Congresso Nacional”, 3 de maio de 1908. In: Mensagens presidenciais, cit., p. 610.
537 Cf. CARVALHO, D. de, op. cit., p. 247. Diz o texto: “De grande alcance internacional, sob o ponto de
vista da solidariedade americana, foi a visita que Campos Sales fez à Argentina em outubro de 1900,
acompanhado de seu Ministro das Relações Exteriores. Era a retribuição da visita que, em agosto de
1899, havia feito ao Brasil o General Roca. Eram as primeiras visitas que trocavam entre si chefes de
estado na América do Sul. Ao chegar a Buenos Aires, Campos Sales saudava também, por telegrama,
o presidente do Chile, salientando assim a satisfação que nos tinha causado a recente aproximação
chileno-argentina e a política de concórdia que o Brasil apoiava”. (Os grifos são originais.)
538 Cf. El Brasil y la Argentina. Confraternidad sud-americana. Buenos Aires: Intendencia Municipal de
la Capital de la República Argentina, 1901. A obra que com mais minúcias relata a troca de visitas
presidenciais entre o Brasil e a Argentina é uma compilação de textos e fotografias minuciosamente
organizados sobre cada evento da programação das duas visitas; dá grande ênfase à dimensão
dos festejos populares em torno das visitas presidenciais e foi idealizada para ser “la relación más
completa que hasta ahora se haya publicado de las visitas del presidente Roca a Rio de Janeiro y del
Presidente Campos Sales a Buenos Aires”. (Cf. “Introducción”, p. XVIII.)
314
Do início da República Velha à retirada da Liga das Nações
315
Sérgio Danese
539 Cf. SALES, M. F. de C. “Mensagem ao Congresso Nacional”, 3 de maio de 1900. In: Mensagens
presidenciais, cit., p. 227-228.
540 Cf. ibid., p. 228.
541 O conceito de pronta retribuição parece de fato estar na mente dos governos. No ofício de 5
de julho de 1899, da Legação em Buenos Aires para a Secretaria de Estado, o ministro brasileiro
relata conversa com o presidente Julio Roca: “Na tarde do mesmo dia 1º [de julho], a convite do
Sr. Ministro das Relações Exteriores, compareci no Gabinete do General Roca, o qual em presença
daquele dignou-se anunciar-me que partiria para essa capital a 29 ou 30 deste mês. S.E. mostrou-se
penhorado pelo modo por que foi aí acolhida a notícia de sua visita, exprimindo o desejo de que,
se for possível, a que o Sr. Presidente da República tiver de fazer-lhe se realize em outubro próximo”.
Outras visitas presidenciais serão justificadas em primeiro lugar como de retribuição” (Vargas à
Argentina e Dutra aos Estados Unidos, entre outras).
542 Em telegrama de 14 de junho de 1899, o ministro brasileiro em Buenos Aires informa a Secretaria de
Estado de que o “General Roca comunicou-me ontem seu projeto de viagem ao Rio e o vivo desejo
de realizá-la em julho ou agosto. Julgo de toda conveniência que pelo telégrafo o Senhor Presidente
da República me ordene manifeste ao mesmo General o prazer com que receberá sua visita; esta tem
importante fim político maior aproximação do Brasil, Chile e Argentina. Cavalcanti” (sic).
543 O presidente argentino Julio Roca encontrara-se com o presidente chileno Federico Errázuriz, antes
da visita ao Rio de Janeiro, a bordo de belonaves dos dois países no Estreito de Magalhães. Cf. El Brasil
y la Argentina, cit., p. VII-VIII.
316
Do início da República Velha à retirada da Liga das Nações
544 A superação de hipotecas políticas como a diferença de sistema político e o diferendo sobre Palmas
parece ser uma causa profunda plausível para a decisão, amadurecida pela Argentina, de promover
a visita de Roca: “[...] fue precisamente esa circunstancia [o laudo arbitral de 1895] la que aprovechó
el presidente Roca para ir a visitar al presidente Campos Sales[...]. Cf. ibid., p. XII.
545 Cf. ibid., p. VI.
546 Cf. ofício de 26/5/1899 da Embaixada em Buenos Aires para a Secretaria de Estado. Arquivo
Histórico do Itamaraty. A memória brasileira da visita do presidente argentino é escassa.
O Arquivo Histórico do Itamaraty, no Rio de Janeiro, conserva alguns poucos expedientes trocados
à época entre a Secretaria de Estado e a Legação em Buenos Aires. São eles, basicamente: ofícios
de 26 e 28 de maio, 10 e 20 de junho, 5, 6 e 20 de julho e 23 de agosto de 1899, e telegramas
de 14 de junho, 1º, 18 e 20 de julho de 1899, da Legação em Buenos Aires para a Secretaria de
Estado; despachos telegráficos de 16 e 19 de junho, 5, 15 e 16 de julho de 1899, e despachos postais
de 24 e 30 de junho e de 6 de julho de 1899, da Secretaria de Estado para a Legação em Buenos
Aires. Arquivo Histórico do Itamaraty. A maior parte dessas lacônicas comunicações diz respeito à
tramitação do convite, ao acerto de datas e à comitiva do presidente argentino.
547 Clodoaldo Bueno adere à tese da unilateralidade da política que levou Roca ao Brasil; “[A visita
de Julio Roca] deve, preferentemente, ser inserida no contexto da política exterior do presidente
argentino do que na de Campos Sales, que o recebeu com todas as honras e retribuiu-lhe a cortesia
reforçando, assim, a concórdia entre as duas nações.[...] Para o governo platino, a visita de Roca ao
Rio de Janeiro produziria vantagens políticas e comerciais para ambos os países, além de efeitos
positivos em relação à segurança delas próprias e das demais nações da área [...] A intenção era
317
Sérgio Danese
estreitar a união entre a Argentina e o Brasil e que se fizesse constar tal circunstância no exterior, uma
vez que, após a solução do litígio das Missões, não havia qualquer questão a dividi-los. Tais foram os
argumentos utilizados pelo governo argentino para manifestar o desejo de receber convite para a
visita presidencial”. Cf. BUENO, C., op. cit., p. 250-251.
548 Cf. ofício de 10 de junho de 1899, da Legação em Buenos Aires para a Secretaria de Estado. Arquivo
Histórico do Itamaraty.
549 Citado por SEIXAS CORRÊA, L. F. de. “Exposição no Senado Federal’’, por ocasião da sua arguição
para o cargo de embaixador do Brasil em Buenos Aires, 23 de abril de 1997. Mimeo.
318
Do início da República Velha à retirada da Liga das Nações
550 Cf. JUSTO, A. P. “Discurso del General...”. In: Comisión de Recepción – Visita a la Argentina del Excmo.
Sr. Presidente de los EE.UU. del Brasil, Dr. Getúlio Vargas – reseña de los actos realizados y recopilación
de documentos. Buenos Aires, 1935, p. 64.
551 O ofício de 20 de julho, da legação em Buenos Aires, menciona como data de partida de Buenos
Aires o dia 31 de julho, com escala de 24 horas em Montevidéu, e uma permanência estimada
no Rio de Janeiro de oito dias; o mesmo ofício traz anexa a lista de integrantes da comitiva, que
o ofício de 5 de julho já adiantara em termos genéricos e que estaria composta pelos ministros
das Relações Exteriores, da Guerra e da Marinha, três oficiais-generais (dois do Exército e um da
Marinha), seis deputados nacionais, o diretor do departamento Nacional de Higiene, funcionários
de apoio (secretários e ajudantes-de-ordem) e dez soldados da escolta presidencial. Telegrama da
mesma data resume a comitiva: “número comitiva oficial 28, convidados 5, soldados 10, ao todo 43
pessoas. Tempo permanência aí 8 dias”. (Cf. telegrama de 20 de julho de 1899, da Legação em Buenos
Aires para a Secretaria de Estado, Arquivo Histórico do Itamaraty.) O presidente argentino viajou a
bordo do encouraçado “San Martín”, escoltado pelo cruzador “Buenos Aires”. Cf. ofício de 5 de julho
de 1899, da Legação em Buenos Aires para a Secretaria de Estado, Arquivo Histórico do Itamaraty.
552 O programa no Rio de Janeiro compreendeu: desembarque no Galeão de Dom João VI, desfile em
coche aberto, banquete oficial de chegada (8 de agosto), recepções oficiais e função de gala no
Teatro Lírico (9 de agosto), passeio ao Corcovado e baile no Palácio Itamaraty (10 de agosto), parada
militar (11 de agosto), excursão a Petrópolis e banquete oferecido ao chanceler argentino (12 de
agosto), ida ao Jóquei Clube para o Derby e banquete na Prefeitura (13 de agosto), visita à Câmara
de Deputados, piquenique na Tijuca, visita à Academia Nacional de Medicina e Instituto Histórico,
banquete oferecido pelos jornalistas (14 de agosto), inauguração da estátua do Duque de Caxias,
passeio ao Jardim Botânico e banquete oferecido pelo Congresso (15 de agosto), banquete na Escola
Naval, excursão a Palmeiras e festa no Botafogo (16 de agosto) e visita ao Palácio do Catete, ao
Senado e à Câmara Municipal (17 de agosto). Cf. El Brasil y la Argentina, cit., p. 455-456.
319
Sérgio Danese
553 Cf. despacho telegráfico de 1º de outubro de 1900, da Secretaria de Estado para a Legação em
Buenos Aires, Arquivo Histórico do Itamaraty. O expediente, na verdade, fala do regresso já no dia 30
de outubro.
554 Não faltou, no processo preparatório da visita, o fato às vezes comum de que o representante
brasileiro é informado de uma decisão do governo brasileiro por meios pouco ortodoxos: “Pelo
decreto deste Governo de 17 do corrente, junto em anexo, nomeando uma comissão de recepção
para Sua Excelência o Sr. Dr. Campos Sales, tendo eu ficado inteirado de que a vinda de Sua
Excelência a esta Capital foi oficialmente anunciada, venho solicitar de V. Ex...” (segue-se pedido de
utilização de verba disponível no banco para “reparações de que necessita a casa em que funciona
esta chancelaria, bem como de seu mobiliário”). Cf. ofício de 6 de fevereiro de 1900, da Legação em
Buenos Aires para a Secretaria de Estado, Arquivo Histórico do Itamaraty.
555 Cf. despacho telegráfico de 12 de outubro de 1900, da Secretaria de Estado para a Legação em
Buenos Aires. Arquivo Histórico do Itamaraty. A instrução se completa com uma menção protocolar:
“Desembarcarei em uniforme”.
556 Cf. El Brasil y la Argentina, cit., p. 265-447.
320
Do início da República Velha à retirada da Liga das Nações
557 O decreto de nomeação da Comissão está anexo ao ofício de 22 de janeiro de 1900, da Legação do
Brasil em Buenos Aires para a Secretaria de Estado. Arquivo Histórico do Itamaraty.
558 Cf. ofícios de 31 de julho, 9, 22 e 29 de agosto, 6, 13 e 20 (2 ofícios) de setembro de 1900.
559 ‘‘Ecos del día – Campos Sales en Buenos Aires – Cómo se hará la recepción – Todos los detalles –
En el dique número tres – A través de la ciudad – embanderamiento general – La gran carroza à la
Daumont – Una escolta especial – El alojamiento – La plaza Rodríguez Peña – Banquete oficial en
la Casa de Gobierno – Obsequio en la Municipalidad – Gran baile en el Jockey Club – Corso de las
Flores – excursión a la ‘Martona’ – En la exposición Rural’’. Cf. El diario, 18 de agosto de 1900. Anexo
ao ofício de 22 agosto de 1900, da Legação em Buenos Aires para a Secretaria de Estado. Arquivo
Histórico do Itamaraty.
560 O programa consistiu em: chegada com desfile em coche aberto (24 de outubro), banquete no
Palácio do Governo e baile no Jockey Club (25 de outubro), passeios pela cidade, recepção no
Palácio Devoto, visita à Exposição Rural e função de gala na Ópera (26 de outubro), visita ao Museu
Histórico, almoço e recepção no Palácio Devoto, banquetes separados oferecidos aos Ministros
de Relações Exteriores e da Marinha do Brasil, visita ao mercado de frutas e banquete oferecido
aos jornalistas (27 de outubro), visita ao Hipódromo e banquete oferecido pelo Comércio (28
de outubro), visita às Aguas Correntes e à Escola Normal número 1, almoço no Palácio Devoto,
recepção no Congresso, visita ao porto e à companhia “Mate Laranjeira” (29 de outubro), excursão
a “La Martona”, visita à Suprema Corte de Justiça, banquete oferecido pelo Congresso, baile na
residência do Senhor Carlos Casares (30 de outubro), despedidas, visita à casa do General Mitre,
matinée a bordo do encouraçado ‘‘Riachuelo”, homenagem às vítimas da Guerra do Paraguai (31 de
outubro) e partida (1º de novembro). Cf. El Brasil y la Argentina, cit., p. 456-457.
321
Sérgio Danese
561 A menção continua no mesmo tom: “Estes atos de mútua cortesia, proporcionando a troca de
cordial hospitalidade e a retribuição de amistosos cumprimentos, exercerão salutar influência na
vida dos dois povos amigos e nas soluções da política internacional, de cujas regiões emerge, sob
o alto patrocínio de grandes potências a generosa aspiração da paz geral. Ao deixar a República
Argentina, sob as vivas impressões das festas grandiosas celebradas por um povo amigo em honra
da nossa pátria, protestei ante o seu ilustre Presidente o meu imperecível reconhecimento pelo
carinhoso agasalho e fidalga hospitalidade com que fui recebido no caráter de supremo magistrado
do meu país. A Nação Brasileira tem justos motivos para registrar com ufania, nas melhores páginas
da história da sua política externa, o grandioso acontecimento que exprime, nos seus altos intuitos,
uma obra de afetuosa afinidade – entre duas nações que se estimam – em benefício da paz, da
justiça e da civilização”. Cf. SALES, M. F. de C. “Mensagem ao Congresso Nacional”, 3 de maio de 1901.
In: Mensagens presidenciais, cit., p. 246-7.
322
Do início da República Velha à retirada da Liga das Nações
323
Sérgio Danese
pela retomada de uma rivalidade que demoraria décadas para dissipar-se”. Cf. telegrama 456, de 22
de abril de 1997, da Embaixada em Buenos Aires para a Secretaria de Estado. Arquivo da Secretaria
de Estado.
567 Cf. BUENO, C., op. cit., p. 251-253.
568 Campos Sales retribui a visita de Julio Roca, Vargas a do presidente Justo, Dutra a visita de Truman
e Goulart a visita de Eisenhower; Juscelino vai a Portugal retribuindo a visita do presidente Craveiro
Lopes.
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Do início da República Velha à retirada da Liga das Nações
569 “A visita de Goulart era descrita como de cortesia e aproximação política, sem objetivos financeiros
e pacíficos. [...] Era visível a preocupação americana de estender o tapete vermelho para Goulart”. Cf.
CAMPOS, R., op. cit., p. 481.
570 Julio Roca, no entanto, havia estado antes no Chile e um antecessor seu no Uruguai. A Legação
em Buenos Aires, em ofício datado de 20 de julho de 1899, cit., refere-se a notas trocadas entre os
governos do Uruguai e da Argentina “acerca do cerimonial que se deve observar nos dois países por
ocasião de visitas oficiais dos respectivos presidentes”.
571 Essa menção ao significado da indicação de Campos Sales como Ministro Extraordinário e
Plenipotenciário do Brasil na Argentina foi sugerida por SEIXAS CORRÊA, L. F. de. “Exposição no
Senado Federal”, cit. Campos Sales ficou menos de 3 meses em Buenos Aires – partiu do Rio de
Janeiro em 7 de abril de 1912 e deixou Buenos Aires em 6 de julho do mesmo ano, tendo remetido à
Secretaria de Estado, nesse período, cerca de dez minguados ofícios capeando recortes de imprensa
e um deles anunciando a sua partida. Cf. Relatório apresentado ao Presidente da República dos
325
Sérgio Danese
Estados Unidos do Brasil pelo Ministro de Estado das Relações Exteriores, compreendendo o período
de 1º de janeiro a 30 de abril de 1912. Rio de Janeiro, 1912, p. 64. Cf. ofícios n. 30 a 40, entre 19 de abril
e 6 de julho de 1912, da Legação em Buenos Aires para a Secretaria de Estado. Arquivo Histórico do
Itamaraty. O governo argentino também nomeara Julio Roca embaixador no Rio de Janeiro, com o
mesmo simbolismo e a mesma intenção.
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Do início da República Velha à retirada da Liga das Nações
327
Sérgio Danese
577 O registro da passagem do presidente chileno pelo Rio de Janeiro está no Relatório do MRE, 1924-
‑1925, p. X.
578 Cf. Relatório do MRE, 1923, p. III e 4-6.
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Do início da República Velha à retirada da Liga das Nações
579 A obra de José Carlos de Macedo Soares, cit., é a referência básica sobre o episódio, matriz das
análises posteriores, com a vantagem de trazer algo do calor do debate contemporâneo sobre a
atitude do governo brasileiro e uma boa análise das negociações de Paris, da Sociedade das Nações
e da trajetória do Brasil como membro fundador. Além dessa obra, há bons resumos analíticos
da questão. Delgado de Carvalho trata a retirada da Liga nas páginas 388-3-389 da sua obra, cit.
José Honório Rodrigues refere-se ao episódio em Uma história diplomática do Brasil, reeditada
recentemente com o concurso de Ricardo Seitenfus. Cf. RODRIGUES, J. H.; SEITENFUS, R. Uma
história diplomática do Brasil, 1531-1945. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995, p. 268-346.
O texto, contudo, peca por um excesso de subjetivismo na análise, que se revela especialmente nos
ataques generalizados ao Itamaraty como instituição. Cf. também GARCIA, E. V. “A candidatura do
Brasil a um assento permanente no Conselho da Liga das Nações”. In: Revista Brasileira de Política
Internacional, n. 1, p. 5-23, 1994; e “O Brasil e a Liga das Nações: lições de um episódio” (monografia
apresentada no Curso de História Diplomática do Brasil, do Instituto Rio Branco, em novembro de
1994, 10 p.). Revigorada recentemente como antecedente e objeto de reflexão para a discussão sobre
eventual pleito brasileiro a ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações
Unidas, a questão foi abordada sob esse ângulo de interesse por Rubens Ricupero em “Os 70 anos do
‘veto’ do Brasil à Alemanha” (Jornal do Brasil, 17 de março de 1996), mas o artigo traz um excelente
resumo analítico da questão. O registro oficial da evolução e culminação do episódio encontra-se no
Relatório do MRE, 1925-1926, p. IV-VII; Relatório do MRE, 4 de maio a 31 de dezembro de 1926, p. 6-10
e 14-21 (onde se reproduz o “Parecer do Consultor Jurídico do Ministério das Relações Exteriores.
Dr. Clóvis Beviláqua, a propósito da retirada do Brasil da Liga das Nações”); Relatório do MRE, 1928,
p. 33-35 (considerações da conclusão do prazo para a retirada definitiva do Brasil da Liga e disposição
de manter a decisão); e SOUZA, W. L. P. de. “Mensagem ao Congresso Nacional”, 3 de maio de 1927.
In: Mensagens presidenciais, v. II, cit., p. 98-99. Uma boa recopilação dos estudos e versões sobre a
retirada brasileira da SdN está em CERVO, A.; BUENO, C., op. cit., p. 202-208.
580 Macedo Soares completa: “Dos quarenta e oito meses que governou, passou quarenta e dois em
estado de sítio extensivo à capital e à maior parte do território nacional. [...] O ambiente da política
doméstica tornou-se afinal irrespirável e nada mais natural que tivesse sugerido ao ditador da
política externa um derivativo fácil e brilhante para as dificuldades que ele próprio amontoou. Eis aí a
gênese do episódio brasileiro na crise da Sociedade das Nações em 1926. O Presidente da República
dispunha de todos os recursos positivos ou negativos para formar a opinião pública no seu país.
O seu programa era lisonjear com uma grande atitude no cenário mundial os sentimentos jacobinos
da plebe, excitando ao mesmo tempo a vaidade patriótica das camadas mais cultas, para arrancar
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Do início da República Velha à retirada da Liga das Nações
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Sérgio Danese
584 Citado por MELLO FRANCO, A. A. Um estadista da República. Apud RODRIGUES, J. H.; SEITENFUS,
R., op. cit., p. 334.
585 Apud SOARES, J. C. de M., op. cit., p. 15.
586 Ao referir-se à tentativa de dar o assento permanente à Alemanha em março de 1926, Duroselle
diz simplesmente: “L’affaire échoua, à cause de l’opposition du Brésil”. E acrescenta apenas, quando
expõe a proposta alternativa de ampliar o número de assentos não permanentes e criar três assentos
semipermanentes como compensação: “Mais le Brésil refusa cette solution et fit savoir qu’il se
retirait de l’organisation. Il n’y avait, dès lors, plus d’obstacles sérieux à l’admission de l’Allemagne”. Cf.
DUROSELLE, J.-B., op. cit., p. 87 e 88.
587 Cf. RICUPERO, R. “Os 70 anos do ‘veto’ do Brasil à Alemanha”, cit., parágrafo 9.
588 Cf. SOARES, J. C. de M., op. cit., p. 133-134.
332
Do início da República Velha à retirada da Liga das Nações
589 Ao contrário da retirada brasileira, a saída do Japão da Liga das Nações, em 1931, em vinculação
com o tratamento da invasão da Manchúria, não apenas teve um grande impacto político, como
acabaria paralisando a Liga e condenando-a ao início do processo de descrédito que, agravado mais
adiante pela saída da Itália e da Alemanha, levá-la-ia ao seu melancólico final.
590 A obra de José Honório Rodrigues e Ricardo Seitenfus, sem, contudo, apresentar argumentos que
corroborem a tese, faz referência a que “a derrota brasileira representa a vitória de Artur Bernardes.
O seu caótico governo pode, bravamente, dizer que lutou contra as grandes potências, em busca
de maior justiça nas relações internacionais e dos sagrados interesses brasileiros. Escondendo-se
detrás de conceitos nebulosos, como a universalidade das instituições internacionais e a igualdade
entre os Estados, poderá fazer da batalha perdida de Genebra uma vitória de política interna”. Cf.
RODRIGUES, J. H.; SEITENFUS, R., op. cit., p. 344. Entretanto, não é o que transparece do próprio
uso que Bernardes faz do episódio. Bernardes, que, em 15 de novembro de 1924, ao completar
dois anos de seu governo, lançara um “Manifesto à Nação” em que mencionava, entre os vários
objetos da atenção do seu governo até ali, “os nossos interesses internacionais e o nosso prestígio
na Sociedade das Nações”, não faz qualquer menção ao episódio da retirada da Liga no “Novo
Manifesto” que divulga em 14 de novembro de 1926, ao findar seu governo, mais preocupado que
estava em justificar as medidas de exceção que adotara ao longo de quase todo o seu mandato. Cf.
BERNARDES, A. “Manifesto à Nação” e “Novo Manifesto à Nação”. In: BONAVIDES, P.; AMARAL,
R. (org.). Textos Políticos da história do Brasil, v. 3. Brasília: Senado Federal (Subsecretaria de Edições
Técnicas), 1996, p. 635-647.
591 Cf. SOARES, J. C. de M., op. cit., p. 142. O Diário Oficial de 12 de junho de 1926 trouxe estampada
a nota sobre a alegada visita de apoio, formalmente desmentida pelo Consulado dos EUA em
Genebra.
333
Sérgio Danese
592 “Se a intransigência brasileira resulta em parte de questões de princípios, ela deve muito às
personalidades envolvidas, sobretudo a do presidente, em final de um mandato no qual, no dizer
de um adversário, ‘dos 48 meses que governou, passou 42 em estado de sítio’. Nacionalista altivo, de
temperamento obstinado e autoritário, Bernardes era o antípoda do estereótipo do político mineiro
como símbolo de conciliação e compromisso. Seu chanceler, o jornalista Félix Pacheco, formava com
o presidente, no juízo de Afonso Arinos, uma dupla de ‘provincianos reúnos em matéria internacional
... que tinha da luta diplomática uma concepção fanfarrona e estudantil’”. Cf. RICUPERO, R. “Os 70
anos do ‘veto’ do Brasil à Alemanha”, cit. par. 6.
593 Cf. SOARES, J. C. de M., op. cit., p. 154 e ss.
594 Cf. ibid., p. 165-166.
334
Do início da República Velha à retirada da Liga das Nações
595 A imagem é emprestada de Rubens Ricupero, que citou de memória o trecho em que se encontra:
“Após o Barão do Rio Branco houve um grande vazio e os diplomatas dos anos 20 lembram o que
se dizia de Latino Coelho em Portugal: ‘Um estilo à procura de um assunto’”.
596 “Cette Commission était donc extraordinairement brillante. Elle comprenait un chef d’Etat, le
Président Wilson, et un futur Chef d’Etat, Mr. Epitacio Pessoa; des présidents ou anciens présidents
du Conseil: MM. Bourgeois, Orlando, Venizelos, Kramar...”. Cf. LALOUEL, N. Les conceptions politiques
de la Société des nations et l’élaboration du Pacte. Paris: Pedone, 1923, p. 44. Apud SOARES, J. C. de M.,
op. cit., p. 62.
335
Sérgio Danese
597 Exemplo mais recente, embora menos personalista, desse tipo de antidiplomacia foi a invasão das
Geórgias do Sul e Malvinas pela Argentina, em 1º e 2 de abril de 1982, em um lance dramático de
política interna responsável por um fugaz momento de glória nacional e publicidade internacional
para o então presidente Galtieri, deposto pouco depois.
598 Cf. SOARES, J. C. de M., op. cit., p. 133-134.
336
CAPÍTULO 8
A DIPLOMACIA PRESIDENCIAL DE GETÚLIO VARGAS
A JUSCELINO KUBITSCHEK
599 Rubens Ricupero indica sucintamente as condições objetivas que possibilitaram essa mudança de
perfil da nossa diplomacia: “A solução sistemática das questões fronteiriças empreendida no decênio
da gestão do Barão do Rio Branco (1902-1912) e nos anos subsequentes vai produzir dois efeitos
principais: 1) Libera a diplomacia brasileira de disputas potenciais que poderiam absorver toda a
sua capacidade de negociação durante décadas; 2) Cria as condições de possibilidade para dirigir
crescentemente a política exterior para objetivos de cooperação e desenvolvimento. Consolidado o
território, era preciso desenvolvê‑lo”. Cf. RICUPERO, R. “A diplomacia do desenvolvimento”, cit., p. 193.
337
Sérgio Danese
600 Esse desenvolvimento está bem presente em qualquer boa obra de análise da evolução da diplomacia
brasileira. Delgado de Carvalho dedica muitas páginas da sua obra, cit., às negociações de natureza
política, que culminam na aliança com os Estados Unidos na Segunda Guerra e no alinhamento da
Guerra Fria e ganham preeminência no ambiente de confrontação que caracterizará o mundo; e de
natureza econômica, comercial e de infraestrutura física, que passam a ocupar boa parte do trabalho
da chancelaria brasileira a partir de 1932, quando o governo provisório está consolidado e o peso da
crise internacional obriga o Brasil a buscar melhorar seu acesso a mercados consumidores e a bens
de equipamento e de consumo. A obra coletiva 60 anos de política externa, 1930-1990. Crescimento,
modernização e política externa, cit., traz igualmente inúmeras referências a essa tripla via por onde
passa a correr a política externa brasileira.
601 O Brasil participou com relativa visibilidade do encaminhamento da questão de Letícia entre o Peru
e a Colômbia, em 1932, do restabelecimento da paz entre o Paraguai e a Bolívia, na Guerra do Chaco,
em 1935, e da adoção do protocolo de paz entre o Peru e o Equador, em 1942.
602 A bibliografia sobre Getúlio Vargas é extensa e rica, não cabendo aqui a menção a mais do que duas
ou três obras que serviram de marco para estas reflexões, além das citadas de Werneck Sodré e Boris
Fausto: HILTON, S. O Brasil e as grandes potências (1930-1939). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1977; SKIDMORE, T. Brasil: de Getúlio a Castelo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976; e VÁRIOS – Ensaios
de História diplomática do Brasil, cit., p. 17-64. Mais uma vez, a obra de Amado Cervo e Clodoaldo
Bueno traz uma boa recopilação das análises do primeiro período Vargas, dentro de um bom marco
fatual. Cf. CERVO, A., e BUENO, C., op. cit., p. 214-244.
603 “Ninguém [...], nem Pedro II no seu longo e pacífico reinado, nem Floriano Peixoto, na sua curta e
áspera ditadura, dispôs de maior soma de poderes. [G]overnou [a Nação] como antigo donatário
de Capitania, pois mesmo nos regimes de atribuições definidas, o arbítrio econômico através dos
338
A diplomacia presidencial de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek
bancos oficiais, das organizações paraestatais e das diversas autarquias, compensava-lhe as limitações
na esfera política”. Cf. BELLO, J. M., op. cit., p. 287.
339
Sérgio Danese
604 Cf. VARGAS, G. Diário. Volume I: 1930-1936. Volume II: 1937-1942. São Paulo e Rio de Janeiro:
Siciliano/Editora da FGV, 1995.
605 Veja-se, por exemplo, esta referência ao acordo comercial com os Estados Unidos, em 1935, de
acordo com uma entrada referente aos dias 1º a 3 de fevereiro daquele ano: “A ocorrência mais
importante destes dias foi a assinatura do tratado comercial com os Estados Unidos, após variada
troca de correspondência e conversas telefônicas diretas daqui para Washington. Na minha
correspondência particular com Osvaldo [Aranha], venho continuamente sugerindo a necessidade
de uma maior aproximação com aquele país no sentido político”. Cf. ibid., v. I, p. 357.
606 “He carried on [...] correspondence with ambassadors and lesser officials in Washington, London,
Lisbon, Montevideo, Buenos Aires, and Santiago, thus avoiding total dependence on his ministries
for information”. Cf. McCANN JR., F. The Brazilian-American alliance (1937-1945). Princeton: Princeton
University Press, 1973, p. 297.
340
A diplomacia presidencial de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek
607 Cf. ibid., v. I, p. 384. Entrada referente a 22 de abril de 1935. Vargas prossegue a sua lição de diplomacia
presidencial: “Várias seriam as consequências e desvantagens dessa iniciativa leviana: 1ª) O ato pouco
amistoso para com a Argentina, no momento em que se preparava a minha visita; 2ª) A suposição de
que a nossa recusa fora apenas um pretexto para querermos as glórias de uma solução exclusivista:
3ª) Tirávamos do assunto a sua significação continental; e, finalmente, 4ª) Nos afastávamos da
tradição seguida geralmente pela nossa diplomacia, principalmente desde Rio Branco, de nunca
nos oferecermos para a função de juízes [...]. A fim de sairmos deste impasse, telegrafei ao Osvaldo
Aranha narrando-lhe o que se passava e sugerindo-lhe tomar o governo americano a iniciativa
de novas negociações para um entendimento amistoso entre os países. Este aceitou, e está em
andamento”. Cf. ibid., p. 384-385.
608 O crescimento quantitativo da mídia no Brasil dos anos 30 é fator a ser levado em conta,
certamente, no reequacionamento por que passa a política externa, mais exposta agora pelo
noticiário e, portanto, mais afetada pela dimensão da opinião pública que começa a consolidar-se
nesse momento. Sobre o crescimento e a diversificação dos jornais e revistas no Brasil dos anos 30 e
40, ver MORAIS, F. Chatô, o rei do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
341
Sérgio Danese
609 Esse antecedente longínquo da “Câmara de Comércio Exterior”, instituída no governo Fernando
Henrique Cardoso, foi criado pelo decreto 24.429, de 20 de junho de 1934, para coordenar a política
de comércio exterior e estava vinculado diretamente à Presidência da República, sendo integrado
por ministros de estado e representantes dos setores bancário, agrícola e industrial. Cf. VARGAS, G.
Diário, v. II, cit., p. 640. Vargas faz inúmeras referências à sua participação em reuniões do Conselho.
342
A diplomacia presidencial de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek
610 Cf. VARGAS, G. “Mensagem ao Congresso Nacional”, 1933. In: Mensagens presidenciais, v. II, cit.,
p. 88-89.
611 Cf. ibid., p. 89. O Relatório do MRE, referente a 1933, traz uma referência sumaríssima à visita. Cf.
Relatório apresentado ao Chefe do Governo provisório dos Estados Unidos do Brasil pelo Ministro de
Estado das Relações Exteriores. Ano de 1933. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1936, p. 16.
343
Sérgio Danese
344
A diplomacia presidencial de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek
616 Referência a essa Comissão é feita no despacho telegráfico 87, de 14 de maio de 1935, da Secretaria
de Estado para a Embaixada em Buenos Aires. Arquivo Histórico do Itamaraty. A memória brasileira
sobre a “Viagem ao Prata” é pobre. Há referências esparsas e mais que nada de caráter logístico;
nada se encontrou sobre a substância das visitas. Há uma referência ao speechwriting: o despacho
telegráfico 52, de 22 de abril de 1935, da Secretaria de Estado para a Embaixada em Buenos Aires,
pede que se consiga cópia antecipada do discurso do presidente Justo no jantar que oferece ao
presidente Vargas, “para irmos preparando a resposta do nosso Presidente”. Vargas refere-se, na
entrada dos dias 17 a 19 de maio de 1935, a que está “revendo e corrigindo os discursos a pronunciar
na Argentina”. Cf. VARGAS, G. Diário, cit., p. 392.
345
Sérgio Danese
del Brasil, que publicou mais tarde uma obra com o registro histórico
completo da visita617.
A visita à Argentina – a perna mais importante da “viagem
ao Prata”618 – espelhou o que ocorrera com as visitas recentes de
mandatários estrangeiros ao Brasil, ampliando o modelo de base
protocolar e festiva para também incluir a assinatura de atos619 e
algumas negociações substantivas – uma, bilateral, sobre o tratado
de comércio com o Brasil, ao que tudo indica ultimado durante a
visita e finalmente assinado em cerimônia adicional à de assinatura
de atos, e outra, regional, sobre a paz no Chaco620, no contexto da
Conferência de Paz que se reuniu em Buenos Aires e parcialmente
concomitante com a visita.
O programa foi longo e intenso; reproduziu em grande
medida o do presidente Justo no Rio de Janeiro e estendeu-se
617 Cf. Comisión de Recepción. Visita a la Argentina del Excmo. Sr. Presidente de los EE.UU. del Brasil,
Dr. Getulio D. Vargas – reseña de los actos realizados y recopilación de documentos, cit. É a obra de
referência por excelência sobre a visita de Vargas à Argentina, descrevendo com minúcias todos os
momentos da sua realização, desde a preparação logística e protocolar pelo lado argentino até os
eventos paralelos, como as atenções dadas à escolta militar e naval brasileira, aos jornalistas e turistas
brasileiros, etc. A obra traz também a íntegra dos discursos pronunciados durante toda a visita por
autoridades dos dois países.
618 A visita ao Uruguai teve caráter eminentemente protocolar e de retribuição da vista do presidente
Terra em 1934; o único fato a ressaltar na sua realização foi o atentado que o presidente Terra sofreu
no Hipódromo, em 2 de junho de 1935, tendo ao seu lado Getúlio Vargas, que nada sofreu.
619 Foram assinados um Tratado de Comércio e Navegação, um Protocolo adicional ao Tratado de
Extradição de 1933, um convênio para intercâmbio de professores e estudantes, um convênio
para facilitar as visitas recíprocas de técnicos fitossanitários e um convênio sobre lutas civis. Estava
previsto um protocolo para a construção da ponte internacional sobre o Rio Uruguai, mencionado
em telegrama à Embaixada em Buenos Aires, mas depois omitido nas referências aos atos assinados.
Cf. despacho telegráfico 104, de 16 de maio de 1935, da Secretaria de Estado para a Embaixada em
Buenos Aires. Arquivo Histórico do Itamaraty.
620 Para uma referência às duas visitas, cf. SOARES, J. C. de M. Relatório apresentado ao Dr. Getúlio Vargas,
Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil, pelo Dr...., Ministro de Estado das Relações
Exteriores. Ano de 1935. v. I. Anexo A. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1937, p. XIV-XV; e VARGAS,
G. “Mensagem apresentada ao Congresso Nacional em 3 de maio de 1936”. In: ibid., p. 10-11. Sobre
a comitiva, cf. despachos telegráficos 68, de 8 de maio, e 87, de 14 de maio de 1935, da Secretaria
de Estado para a Embaixada em Buenos Aires. Arquivo Histórico do Itamaraty. A comitiva ficou
finalmente composta por 56 pessoas, incluindo pessoal de apoio.
346
A diplomacia presidencial de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek
621 O programa incluiu, entre outros itens, os seguintes: recepção e cortejo de chegada, visita à Casa
de Governo, recepção ao Corpo Diplomático e à coletividade brasileira, banquete na Casa de
Governo (22 de maio); visita ao Colégio Militar, inauguração de obra urbanística, recepção na Bolsa
de Comércio, recepção no Palácio dos Correios e Telégrafos, ato universitário, baile na Casa de
Governo (23); assistência a atos festivos e desportivos, inauguração de praça pública, homenagem
no Congresso Nacional, assinatura de atos (24); visita à Escola “República del Brasil”, Te Deum na
Catedral, desfile militar e revista de tropas, noite de gala no Teatro Colón, jantar no Jockey Club
(25); inauguração da Conferência de Paz do Chaco, visita à Exposição Rural, reunião social no
Hipódromo Argentino, banquete a bordo do encouraçado “São Paulo”, baile na Embaixada do Chile
(26, domingo); passeio a Tandil, recepção a bordo do encouraçado São Paulo (27); visitas ao porto
e obras sanitárias, recepção no Clube de Ginástica e Esgrima, assinatura do Tratado de Comércio e
Navegação, entrega de medalha comemorativa (28); e partida com cortejo pela cidade (29). A visita
foi cercada ainda de vários atos militares e navais e contou com a participação de uma esquadrilha
do Exército e corpos da Marinha e do Exército. Cf. Visita a la Argentina del Excmo. Sr. Presidente de los
EE.UU. del Brasil..., cit., p. 45-47 (programa oficial, realizado de forma algo diferenciada) e p. 55-179.
622 Os discursos são intensamente retóricos, ocupando-se em sua maior parte da exaltação da
amizade entre os dois países e da solidariedade americana. As vertentes protocolar, festiva e
de congraçamento da visita são ressaltadas como sendo o seu objetivo mais importante, a
comprovação do entendimento que se está exaltando. Os discursos situam a visita no patamar de
relações ainda formais, mas que se procura valorizar ao extremo através dos gestos recíprocos que já
se multiplicavam: o reconhecimento da República no Brasil, o reconhecimento argentino do laudo
arbitral sobre as Missões, a troca de visitas de 1899-1900 e posteriormente a visita de Sáenz Peña ao
Rio de Janeiro, como presidente eleito, a visita de Justo, os atos assinados. Cf. ibid., p. 63-66 (discurso
do presidente Justo no banquete), 66-68 (resposta de Vargas) e 109-116 (discurso de Vargas perante
o Congresso argentino, precedido das três saudações).
347
Sérgio Danese
348
A diplomacia presidencial de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek
349
Sérgio Danese
paz entre o Paraguai e a Bolívia, determinando a suspensão imediata das hostilidades. A ação pessoal
do ministro Macedo Soares foi fator essencial para o feliz resultado a que chegaram as conversações
iniciadas na capital argentina com a visita do presidente Getúlio Vargas. A fé inabalável e a confiança
no êxito final, apoiadas no conhecimento perfeito de todas as circunstâncias do conflito, fizeram
do chanceler brasileiro a figura principal do grande acontecimento que enche de júbilo o coração
de todos os americanos. Congratulo-me com Vossa Excelência por mais este triunfo da diplomacia
brasileira, hoje como ontem, inspirada sempre nos mais nobres sentimentos de paz e de concórdia
entre os povos do Continente”. Cf. ibid., v. II, anexo C, p. 389-390.
626 Cf. CARVALHO, D. de, op. cit., p. 320.
627 Cf. ibid., p. 479.
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A diplomacia presidencial de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek
628 Cf. VARGAS, G. “Mensagem apresentada pelo Senhor Presidente da República ao Congresso
Nacional, em 3 de maio de 1937”. In: SOARES, J. C. de M. Relatório apresentado ao Dr. Getúlio Vargas,
Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil, pelo Dr..., Ministro de Estado das Relações
Exteriores. Ano de 1936. Anexo A. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional: 1938, p. 3.
629 Burns de fato caracteriza a viagem de Roosevelt ao Rio de Janeiro e Buenos Aires como um “good
‑will tour”. Cf. BURNS, J. M., op. cit., p. 288.
630 Cf. VARGAS, G. Diário, cit., p. 563. A visita de Welles de fato se realizaria nos dias 30 e 31 de dezembro,
quando aquele, de regresso de Buenos Aires (onde a Conferência Interamericana de Consolidação
da Paz havia terminado no dia 22), passou pelo Rio de Janeiro. Em uma audiência no dia 30 e em
almoço no dia 31, Vargas com ele tratou da recém-concluída Conferência de Buenos Aires, da
351
Sérgio Danese
352
A diplomacia presidencial de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek
632 Cf. Ministério das Relações Exteriores. Relatório. Ano de 1941. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1944,
p. 11.
633 Cf. capítulo 6 supra.
634 Da fronteira boliviana Vargas dirigiu -se a Assunção para uma visita oficial ao Paraguai, a primeira
de um chefe de Estado brasileiro, de 1º a 4 de agosto de 1941. Além das tradicionais “calorosas
manifestações de simpatia e amizade”, a visita serviu para a troca de instrumentos de ratificação
de tratados e convênios assinados em 14 de junho no Rio de Janeiro, na visita que fez ao chanceler
Aranha o seu homólogo paraguaio Luís Argaña.
353
Sérgio Danese
635 Infelizmente, o Diário de Vargas já não cobre esse período e não temos o benefício do seu testemunho
pessoal sobre o encontro de Natal. Vargas fez a última entrada no diário em 30 de abril de 1942.
Em 1º de maio, sofreu um acidente automobilístico que o imobilizou vários meses, levando-o a
desistir do registro quotidiano que vinha fazendo desde 1930: “Quantos acontecimentos de grande
transcendência ocorreram na vida do Brasil. Aqui chegando, tracei rapidamente estas linhas, dando
por encerradas as anotações. Para que continuá-las após tão longa interrupção? A revolta, o sofrimento
também mudou muita coisa em mim!’’. Cf. VARGAS, G. Diário, v. II, cit., p. 477.
636 Cf. CAMPOS, R., op. cit., p. 96.
637 Cf. MOURA, G. “O Brasil na segunda guerra mundial, 1942-1945”. In: VÁRIOS – 60 anos de política
externa, 1930-1990. Crescimento, modernização e política externa, cit., p. 102. Além do Relatório do
MRE relativo a 1943, o artigo de Gerson Moura é dos poucos textos que dedicam mais do que um
ou dois parágrafos ao encontro de Natal. Cf. ibid., p. 101-102.
638 Apud id., ibid., p. 102.
354
A diplomacia presidencial de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek
639 “A participação efetiva do Brasil na guerra contra a Alemanha e a Itália, a presente colaboração
diplomática, militar e econômica que vem dando à causa das Nações Unidas e, sobretudo, o estreito
contato que vem mantendo com os Estados Unidos da América, para consultas e informações
recíprocas sobre todos os assuntos de interesse continental e mundial, determinaram que, a 29 de
janeiro, tivesse lugar a histórica entrevista de Natal entre os Presidentes Getúlio Vargas e Franklin
Roosevelt[...]”. Cf. Ministério das Relações Exteriores. Relatório apresentado ao Presidente da República
dos Estados Unidos do Brasil pelo Ministro de Estado das Relações Exteriores. Ano de 1943. Rio de
Janeiro: Imprensa Nacional, 1944, p. 6.
640 A entrevista dos dois presidentes é apresentada como um grande acontecimento do ponto de vista
da opinião pública e como a culminação de um processo de cooperação militar e bélica que já se
vinha acelerando ao longo de 1942; as ações conjuntas ou unilaterais brasileiras levadas a efeito
a partir de janeiro de 1943 são apresentadas como decorrência das “deliberações tomadas pelos
Presidentes Vargas e Roosevelt quando da histórica entrevista que os reuniu em Natal’’. Cf. ibid.,
p. 6-7.
641 Cf. ibid., p. 6.
355
Sérgio Danese
356
A diplomacia presidencial de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek
644 “Do ponto de vista político, [...] as declarações dos dois presidentes sobre a razão de ser de seu
encontro e sobre os assuntos nele ventilados constituem, como o acentuaram vários comentaristas,
uma consolidação da Carta do Atlântico. [...] Cumpre ainda destacar a repercussão favorável que
teve na imprensa do Continente e do mundo a Conferência de Natal, considerada consequência
necessária da de Casablanca”. Cf. Ministério das Relações Exteriores. Relatório... Ano de 1943, cit., p. 6-7.
645 Entre essas decisões, figuram, sucessivamente, a participação brasileira no sistema de Lend
‑Lease instituído pela Administração Roosevelt (o acordo Brasil-Estados Unidos de empréstimo
e arrendamento é de 3 de março de 1942), a instalação de bases norte-americanas em território
brasileiro (a maior delas, a de Natal), a declaração de guerra às potências do Eixo (em 21 de agosto
de 1943) e, finalmente, o envio da Força Expedicionária Brasileira à Itália (criada em 23 de novembro
de 1943, mas só engajada em combate ao final de 1944). Para consultar os documentos relativos a
alguns desses passos no processo de engajamento brasileiro no esforço de guerra aliado, inclusive os
atos presidenciais, cf. BONAVIDES, P.; AMARAL, R., op. cit., v. 5, p. 323-353.
646 No final de 1941 e ao longo de todo o ano de 1942, Vargas faz diversas entradas em seu Diário
relativas à condução do Brasil diante dos desenvolvimentos da guerra no front europeu e no front
asiático. Em alguns momentos, o personalismo do presidente é definitivo: “Às 15 e meia [de 27 de
janeiro de 1942] instalou-se a reunião do Ministério. Fiz uma exposição da situação criada pelos
acontecimentos, do insistente apelo que o Governo americano fazia ao Brasil, das conveniências em
atendê-lo, das desvantagens de qualquer procrastinação e das consequências que poderia ter uma
357
Sérgio Danese
atitude negativa. [...] Depois das justificativas de outros ministros, tomei novamente a palavra para
[...] terminar autorizando o Ministro do Exterior a declarar o rompimento na sessão de encerramento
da Conferência e declarando que tomava sobre os meus [ombros] a responsabilidade dessa atitude”.
Cf. VARGAS, G. Diário, v. II, cit., p. 457.
647 Para um relato das visitas, cf. Ministério das Relações Exteriores. Relatório... Ano de 1943, cit., p. 3-4. 23-
-25, 47-49, 68-70. Os discursos trocados entre os presidentes Vargas e Morínigo e Vargas e Peñaranda
encontram-se integralmente nas p. 140-142 e 147-149.
648 A visita do presidente paraguaio, que durou quatorze dias a partir de 1º de maio de 1943,
estendendo-se pelo Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo, foi marcada pelos aspectos
protocolares, pela assinatura de um Tratado de Comércio e Navegação entre os dois países e pelo
gesto simbólico brasileiro de, mediante decreto-lei assinado por Vargas na ocasião, perdoar a dívida
de guerra paraguaia. Segundo o Relatório do MRE, em sua linguagem muitas vezes superficial e
imprecisa, serviu também ao propósito de adiantar negociações sobre “problemas vários de
natureza econômica, e sobre questões relativas à entrada de cidadãos de cada um dos dois países no
território, havendo-se então elaborado tratados e convênios que bem refletem a harmonia de vistas
entre os dois governos”. Os discursos trocados, além das derramadas declarações de admiração e
amizade, tocam alguns aspectos substantivos – e ainda atuais – do paradigma Brasil-Paraguai: a
concessão de facilidades portuárias ao Paraguai no Brasil e a cooperação militar através da formação
de quadros nas escolas militares brasileiras. Cf. ibid., p. 24 e 139.
649 A visita do presidente boliviano, iniciada em 21 de junho de 1943 e com estada de seis dias no
Rio de Janeiro, a que se seguiu breve passagem por São Paulo, se fez sobre um pano de fundo de
maior substância diplomática. Embora o Relatório do MRE pouco esclareça sobre parte da agenda,
a visita serviu para a assinatura de vários atos e a tomada de decisões relativas à construção da
Estrada de Ferro Corumbá-Santa Cruz de Ia Sierra, a projetos de outras interconexões ferroviárias
e rodoferroviárias entre os dois países e ao funcionamento da Comissão Mista Brasileiro-Boliviana
de Estudos de Petróleo, que iriam dando forma à relação bilateral substantivamente inaugurada
com os Acordos de 1938. Também durante a visita “procedeu-se a uma troca de cartas entre
[os chanceleres] pela qual foi ajustado que, acedendo aos desejos da Bolívia, a Comissão Mista
Demarcadora de Limites [...] estudasse uma nova localização de um porto próprio, para a Bolívia, no
Canal de Tamengo, mais ao sul de Sucre, e, bem assim, a compensação territorial correspondente por
parte desse país”. Foram assinados um convênio sobre o regime cambial para o comércio fronteiriço,
um convênio para a concessão recíproca de facilidades de exportação de produtos essenciais e
cartas referentes à criação de uma agência do Banco do Brasil em La Paz e à concessão, no porto
de Santos, de um entreposto de depósito franco de mercadorias exportadas ou importadas pela
Bolívia. Cf. ibid., p. 24, 25 e 47. Um dos trechos é um primor de linguagem diplomática vazia: “teve
o presidente Peñaranda oportunidade de, durante essa visita, estudar e examinar com o governo
brasileiro a solução de vários problemas de interesse para os dois países, alguns dos quais, submetidos
358
A diplomacia presidencial de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek
359
Sérgio Danese
651 Para consultar o texto completo, cf. BONAVIDES, P.; AMARAL, R., op. cit., v. 5, cit., p. 315-317.
652 Cf. ibid., p. 318-320.
653 Cf. VARGAS, G. Diário, v. II, cit., p. 319.
654 No discurso, Vargas fazia uma ambígua apologia dos “povos vigorosos, aptos à vida”, que “necessitam
seguir o rumo de suas aspirações, em vez de se deterem na contemplação do que se desmorona e
tomba em ruína”; apontava que “a humanidade inteira transpõe um momento histórico de graves
repercussões, resultante da rápida e violenta mutação de valores”; vaticinava que “[m]archamos
para um futuro diverso de quanto conhecíamos em matéria de organização econômica, social ou
política, e sentimos que os velhos sistemas e formas antiquadas entram em declínio” e advertia: “Não
é, porém, como pretendem os pessimistas ou os conservadores empedernidos, o fim da civilização,
mas o início, tumultuoso e fecundo, de uma nova era.[...] É preciso, portanto, compreender a nossa
época e remover o entulho das ideias mortais e dos ideais estéreis”. Cf. BONAVIDES, P.; AMARAL, R.,
op. cit., p. 315.
360
A diplomacia presidencial de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek
655 Cf. VARGAS, G. Diário, v. II, cit., p. 319-320. No dia 13, Vargas ainda registraria: “Continua a repercussão
do discurso do dia 11, a despertar comentários no exterior, atacado por uns, louvado por outros,
tido por fascista, adepto dos regimes totalitários etc. Amanhã os jornais publicarão uma nota,
através do Departamento de Imprensa e Propaganda e redigida por mim, procurando o verdadeiro
sentido do discurso”. Cf. ibid., p. 320.
656 Cf. ibid., p. 321. Cf. também p. 324.
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A diplomacia presidencial de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek
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659 Uma abordagem completa sobre a diplomacia do governo Dutra, especialmente pela exaustiva
resenha que faz das diversas análises e interpretações do período, é de Paulo Roberto de Almeida,
“A diplomacia do liberalismo econômico”. In: VÁRIOS – 60 anos de política externa, 1930-1990.
Crescimento, modernização e política externa, cit., p. 173-210. Não há, no estudo, referência alguma à
diplomacia presidencial de Dutra.
660 A primeira visita foi a do presidente eleito do Uruguai, Tomás Berreta, que fez uma escala no Rio de
Janeiro de regresso de uma visita aos Estados Unidos. Em seguida, deu-se visita do presidente chileno,
Gabriel González Videla, que forneceu ocasião para a celebração de alguns atos internacionais,
situados na Mensagem presidencial de 1948 dentro da estratégia de ampliar mercados e facilitar
as exportações brasileiras: um Convênio de Cooperação Econômica, um Protocolo Adicional ao
Tratado de Comércio e Navegação de 1943 e um Convênio de Trânsito de Passageiros e Turismo. Cf.
DUTRA, E. G. Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo General..., Presidente da República.
Rio de Janeiro, 1948, p. 37. A memória da política externa brasileira no período Dutra, consignada
nas Mensagens presidenciais e no único Relatório do MRE disponível, o relativo ao ano de 1949, é
escassa e imprecisa. Os encontros presidenciais sequer trazem datas e menos ainda precisões sobre a
programação ou o contexto político-diplomático em que se produziram. Sua pequena importância,
contudo, não justifica, neste estudo, o recurso às fontes primárias do Arquivo Histórico do Itamaraty.
364
A diplomacia presidencial de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek
661 Cf. ibid., p. 38-39. Cf. também CARVALHO, D., op. cit., p. 273. Duas das mais notáveis biografias de
Truman não fazem qualquer menção à visita do presidente norte-americano ao Rio e a Petrópolis;
tampouco se referem à visita de Dutra aos EUA, onde foi hóspede de Truman. Cf. PHILIPS, C., op.
cit., e McCULLOUGH, D. Truman. New York: Simon and Schuster, 1992. McCullough menciona com
algum detalhe a visita de Truman ao México, em 1947. Cf. ibid., p. 539 e 542-543.
662 Ainda em 1947, Dutra se encontraria na fronteira com o presidente argentino, Juan Domingo Perón,
para a inauguração da ponte internacional sobre o Rio Uruguai, “o que logrou a melhor repercussão
na imprensa e na opinião pública do país. Para um registro documental e fotográfico do encontro de
Uruguaiana, cf. “Ponte Internacional – 50 anos. Caderno Especial’’, O Jornal de Uruguaiana, 21 de maio
de 1997. Outra piada maldosa sobre a diplomacia presidencial de Dutra conta que, ao avistarem-se
de longe sobre a ponte que inaugurariam, Perón, galhardamente vestido com um uniforme branco
da Marinha, teria levantado os braços e saudado em alto brado – “Hermano Dutra!” –, ao que o
brasileiro, vestido com um terninho simples, teria respondido timidamente: “Hermano, não, Eurico”.
Dutra encontrou-se ainda na fronteira com o presidente do Uruguai, quando se assinou o convênio
para a construção da ponte sobre o Quaraim. Cf. DUTRA, E. G. Mensagem apresentada ao Congresso
Nacional pelo General..., Presidente da República. Rio de Janeiro, 1949, p. 67. Em 1948, de 11 a 17 de
junho, Dutra receberia a visita do governador-geral do Canadá, o marechal visconde Alexander de
Túnis, de caráter protocolar e de confraternização, pelo papel que o visconde tivera no comando das
tropas brasileiras na Itália. Na linha da busca de significação para outras visitas do gênero, Dutra dirá
desta, em sua Mensagem ao Congresso: “certamente ficará o acontecimento como demonstração
do espírito de cordialidade que anima o povo brasileiro para com os seus bons vizinhos do extremo
norte”. Cf. ibid., p. 82. De 2 a 9 de setembro de 1948, Dutra recebeu a visita do presidente do Uruguai,
Batlle Berres, construída, na substância, em torno da assinatura de atos. Batlle também assistiu ao
desfile militar de 7 de setembro, marcando a retomada da prática da presença de alto dignitário
estrangeiro nas comemorações do Dia da Pátria. Cf. ibid., p. 82-83.
365
Sérgio Danese
663 Cf. Mensagem apresentada ao Congresso Nacional por ocasião da abertura da Sessão Legislativa de
1950 pelo General..., Presidente da República. Rio de Janeiro, 1950, p. 101-102.
664 Cf. Ministério das Relações Exteriores. Relatório apresentado ao Presidente da República dos Estados
Unidos do Brasil pelo Ministro de Estado das Relações Exteriores. Rio de Janeiro: Ministério das Relações
Exteriores/Serviço de Publicações, 1949, p. 20-21.
665 Cf. ibid., p. 19.
366
A diplomacia presidencial de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek
666 Cf. DUTRA, E. G. Mensagem apresentada ao Congresso Nacional por ocasião da abertura da Sessão
Legislativa de 1950 pelo General..., Presidente da República, cit., 101.
667 O programa da visita foi extenso, embora com a peculiaridade de apresentar grandes vazios.
Compreendeu recebimento na chegada pelo presidente Truman, acompanhamento por este
até a Blair House e banquete na Casa Branca (dia 18 de maio); recepção à colônia brasileira na
Embaixada do Brasil, sessão conjunta no Congresso, jantar oferecido pelo secretário de Estado
Dean Acheson (19); visita a Arlington, almoço no National Press Club, jantar de retribuição ao
presidente Truman (20); reunião e almoço na União Pan-Americana, partida para Nova York (21);
missa solene na catedral, almoço oferecido pelo cardeal Spellman e jantar oferecido por Nelson
Rockfeller (22, domingo); recepção pelo prefeito, almoço íntimo, recepção pelo Cônsul-geral e jantar
oferecido pela Sociedade Pan-Americana dos Estados Unidos e Associação Americano-Brasileira
(23); almoço íntimo e recepção oferecida pelo Sr. T. J. Watson (24); partida para Chatanooga, visita à
Administração do Vale do Tennessee e partida para Nashville (25); visita à Universidade Vanderbilt
e início do retorno ao Brasil, via Humboldt, Tennessee (26); e partida para o Brasil, de Nashville
(27). A comitiva oficial, reduzida, estava integrada pelo ministro das Relações Exteriores, pelo chefe
do Gabinete Civil da Presidência, dois deputados e auxiliares diretos. O discurso central da visita
foi o do Congresso, construído em torno da saudação ao Iegislativo, da exaltação da amizade
brasileiro-norte-americana, com a recordação de todos os contatos bilaterais havidos até então, e
de enaltecimento da solidariedade interamericana. O programa completo, a comitiva e a íntegra do
discurso no Congresso norte-americano estão no Relatório do MRE, 1949, cit., p. 169-174. As duas
declarações encontram-se às páginas 20-21.
367
Sérgio Danese
668 O rompimento é objeto de explicações na Mensagem ao Congresso Nacional de 1948, cit., p. 40-41,
e em vários textos sobre o governo Dutra.
368
A diplomacia presidencial de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek
669 Vejam-se estes trechos: “A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos
nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho”; “Quis criar a liberdade nacional na
potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás; mal começa esta a funcionar, a onda
de agitação se avoluma. A Eletrobras foi obstaculizada até o desespero”; “Os lucros das empresas
estrangeiras alcançavam até 500% ao ano”; “Veio a crise do café, valorizou-se o nosso produto.
Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a
ponto de sermos obrigados a ceder”; “Lutei contra a espoliação do Brasil”, etc. Cf. VARGAS, G.
“A carta-testamento de...”. In: BONAVIDES, P.; AMARAL, R., op. cit., v. 6, p. 485-486.
670 Cf. VARGAS, G. Mensagem ao Congresso Nacional, apresentada pelo Presidente da República por
ocasião da abertura da sessão legislativa de 1954. Rio de Janeiro, 1954, subtítulo “Visitantes ilustres”.
369
Sérgio Danese
671 Sobre as relações Brasil-Argentina no período, cf. GOLDMAN, F. C. “As relações Brasil-Argentina
sob Vargas e Perón (1951-1954)”, monografia apresentada no Curso de História Diplomática do
Brasil do Instituto Rio Branco, 1995. Aparentemente, o personalismo de Vargas na condução dessas
relações não vai muito além de designar o embaixador (político) Batista Luzardo para Buenos Aires,
atendendo a sugestão do próprio Perón.
672 Cf. CAMPOS, R., op. cit., p. 176.
673 Cf. ibid., p. 179. Sempre segundo Campos, que escreve como testemunha ocular, no encontro
com Dean Acheson, secretário de Estado, em julho de 1952, Vargas foi lacônico e alheio. Sua única
intervenção importante na conversa resumiu-se a um “Nós precisamos de navios”, que lhe havia sido
assoprado momentos antes por assessores como um dos pleitos brasileiros mais realizáveis. Cf. ibid.,
p. 177.
370
A diplomacia presidencial de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek
371
Sérgio Danese
372
A diplomacia presidencial de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek
679 Cf. ibid., p. 75. Para uma exposição mais minuciosa, com um relato pessoal interessante das diferentes
etapas da viagem, sua preparação e avaliação, cf. p. 279-292.
680 Desde o início, JK pediu o apoio do Itamaraty, que designou Edmundo Barbosa da Silva para a tarefa
de ajudar na preparação. A ele se somaram Roberto Campos, na qualidade de assessor econômico,
Carlos Calero Rodrigues e José Sette Câmara. Cf. ibid., p. 275-277.
373
Sérgio Danese
374
A diplomacia presidencial de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek
375
Sérgio Danese
684 A operação fazia parte das pressões que o governo brasileiro decidira fazer junto ao vice-presidente
dos EUA para obter a liberação de um empréstimo para a usina, que tramitava no Eximbank.
“[Nixon] teve de se pendurar ao telefone para obter autorização de Washington para o anúncio do
empréstimo. [...] Nixon anunciou o empréstimo em breve discurso que se seguiu ao pronunciamento
de Juscelino em Volta Redonda”. Cf. CAMPOS, R., op. cit., p. 303.
685 Em ocasiões anteriores – em Buenos Aires, em 1935, na Conferência de Paz do Chaco, no Rio de
Janeiro, em 1942, na reunião de consulta interamericana, e em Petrópolis, em 1947, na Conferência
de Quitandinha –, o presidente brasileiro havia estado presente em reuniões regionais, sem que estas
fossem caracterizadas como de cúpula.
686 Para uma apresentação da visita do vice-presidente João Goulart aos Estados Unidos, cf. CAMPOS,
R., op. cit., p. 306-307. Entretanto, Campos se confunde e, ao estabelecer uma relação direta entre
a hesitação de JK e a visita de Goulart aos EUA como vice-presidente, diz que o convite para a
conferência no Panamá foi feito por Eisenhower em 1958, o que está equivocado.
376
A diplomacia presidencial de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek
377
Sérgio Danese
690 De 26 a 30 de julho de 1956, JK, recém-chegado do Panamá (não havia podido receber, no dia
25, a visita do presidente em exercício da Argentina, general Pedro Aramburu, que fez escala no
Rio de Janeiro), recebeu a visita do presidente eleito da Bolívia, Hernán Siles Suazo. O encontro
teve uma agenda substantiva, centrada no exame de problemas relativos à interconexão ferroviária
e a retomada do acordo de 1938 sobre saída e aproveitamento do petróleo boliviano. Esses
entendimentos levarão mais tarde à celebração dos Acordos de Roboré, de 1958. Sobre a visita
de Siles Suazo, cf. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório do... 1956, cit., p. 6-7, 12, 39
e 96. Cf. também OLIVEIRA, J. K. de. Mensagem ... 1957, cit., p. 60. A escala técnica de Aramburu
merece apenas menções. Ainda em 1956, em 6 de outubro, JK se encontrou em Foz do Iguaçu com
o presidente do Paraguai, general Alfredo Stroessner. O encontro retornou a linha que se consolidava
desde o primeiro governo Getúlio Vargas, ou seja, a vinculação a iniciativas de interconexão
física: serviu para marcar o início dos trabalhos de construção da ponte internacional que mais
tarde seria inaugurada com o nome de “Ponte da Amizade”. Também houve entendimentos
sobre a regulamentação do uso de facilidades portuárias brasileiras pelo Paraguai. O encontro de
fronteira marcou também o início de um processo de intensificação das relações com o Paraguai,
no qual a diplomacia presidencial desempenhará um papel importante. JK ainda se encontraria
com Stroessner mais duas vezes durante o seu mandato, estabelecendo um record que claramente
traduz o novo paradigma que o Paraguai passaria a ser na diplomacia brasileira. Cf. MINISTÉRIO
DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório... 1956, cit., p. 7, 12 e 42; e OLIVEIRA, J. K. de. Mensagem...1957,
cit., p. 60 e 68-69. Stroessner visitou o Brasil de 5 a 9 de setembro de 1957, convidado oficialmente
para assistir às comemorações da Independência. A visita serviu como cenário para a troca
de instrumentos de ratificação de diversos acordos que iam formando a estrutura jurídica da
relação nas áreas de comércio e investimentos, comércio fronteiriço, facilidades portuárias para o
Paraguai e aproveitamentos hidrelétricos. Cf. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório
do... 1957. Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores/Serviço de Publicações do Serviço de
Documentação, 1957, p. 44 e 215; e OLIVEIRA, J. K. de. Mensagem ao Congresso Nacional, remetida
pelo Presidente da República por ocasião da abertura da sessão legislativa de 1958. Rio de Janeiro,
1958, p. 67. Stroessner voltou em 1958, para encontrar-se com Juscelino na inauguração do Hotel
das Cataratas, em Foz do Iguaçu – “encontro breve, assinalado, entretanto, por viva cordialidade
que bem traduz a compreensão e o entendimento entre Brasil e Paraguai”. Cf. OLIVEIRA, J. K. de.
Mensagem ao Congresso Nacional, remetida pelo Presidente da República por ocasião da abertura da
sessão legislativa de 1959. Rio de Janeiro, 1959, p. 69. Estava iniciada a longa convivência do presidente
paraguaio com os inúmeros presidentes brasileiros que se sucederam até a queda do ditador, em
1989, em pleno governo Sarney.
378
A diplomacia presidencial de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek
691 Cf. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório do... 1960. Rio de Janeiro: Ministério das
Relações Exteriores/Seção de Publicações, 1960, p. XV-XVI. A mesma linguagem genérica explica
que a presença desses visitantes “não apenas ensejou proveitosas conversas de ordem política,
econômica e cultural, como ainda permitiu que lhes fossem rendidas homenagens, que asseguraram
a continuidade dos laços afetivos que nos ligam aos países que aqui representaram”. Cf. ibid., p. XV.
692 Em junho de 1957, o Brasil recebeu a visita do presidente de Portugal, general Francisco Higino
Craveiro Lopes, que estendeu sua estada, além do Rio de Janeiro, a Salvador, Belo Horizonte, São
Paulo, Santos, Curitiba, Porto Alegre, Brasília, Manaus, Belém, Fortaleza e Recife. Cf. MINISTÉRIO
DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório do... 1957, cit., p. 12, 69-70 e 110-111; e OLIVEIRA, J. K. de.
Mensagem... 1958, cit., p. 57-58. Seria uma visita exemplar no quadro das relações privilegiadas que o
Brasil procurava manter com Portugal e que teriam expressão concreta não apenas nos documentos
bilaterais que vinculavam os dois países, mas na política de sistemático apoio ao colonialismo
português, de que a diplomacia brasileira seria ainda refém por muitos anos, com um breve intervalo
durante a chamada “política externa independente”. A Declaração assinada por JK e Craveiro Lopes
consigna esse duplo compromisso: nela, os dois presidentes “reafirmaram a unidade de pensamento
e de ação da política internacional dos dois países e o propósito de dar completa execução ao
Tratado de Amizade e Consulta de 1953”. Cf. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório
do... 1957, cit., p. 12. Em 1958, embora o foco da presidência se concentre fortemente na Operação
Pan-Americana, as visitas continuam como um contraponto da diplomacia presidencial. Arturo
Frondizi, presidente eleito da Argentina, visita o Brasil no início do ano. Para a sua posse, JK envia
uma delegação chefiada pelo presidente da Câmara dos Deputados, deputado Ranieri Mazzilli,
e composta por vários outros parlamentares, oficiais-generais das três forças, o presidente da
Associação Brasileira de Imprensa e o procurador-geral da República, além de vários diplomatas,
em um gesto singular, que inovaria em relação às missões enviadas a posses de mandatários,
tradicionalmente menos numerosas e de nível hierárquico um pouco menor. Cf. MINISTÉRIO DAS
RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório do... 1958, p. 33. Esse precedente, retomado em 1985, no governo
379
Sérgio Danese
Sarney, mostra a tendência a que governos democráticos recorram a fórmulas menos técnicas para
fazer, nas ocasiões das posses, um gesto político de maior visibilidade política e diplomática. Ainda
em 1958, no mês de setembro, o Brasil recebe a visita do presidente da Itália, Giovanni Gronchi,
que também participou das comemorações da Semana da Pátria, no Rio de Janeiro e copresidiu,
com JK, a assinatura de diversos atos bilaterais. Estendendo sua permanência por dez dias, o
presidente italiano também visitou Brasília e os estados de São Paulo e Rio Grande do Sul. Juscelino
acompanhou parte da visita pelo Brasil – a Brasília, onde homenageou o visitante com almoço no
Palácio da Alvorada, a São Paulo, onde firmou com Gronchi, em 10 de setembro, a “Declaração de
São Paulo”, uma espécie de documento de relançamento das relações Brasil-Itália, e a Porto Alegre.
Cf. ibid., p. 30. Para um relatório completo e minucioso da visita, cf. p. 66-69. Juscelino mostrou, com
a visita de Gronchi, sua capacidade de se valer da presença de um visitante estrangeiro para adiantar
a sua própria agenda política, associando-se às festas e homenagens com que o presidente italiano
foi recebido em duas importantes cidades de forte presença italiana. Em meados de 1959 – de 6 a
21 de maio –, a diplomacia presidencial brasileira incursionou pela primeira vez pelo distante mundo
afro-asiático, com a visita ao Brasil do presidente da Indonésia, Sukarno, que esteve no Rio de Janeiro,
Brasília e São Paulo. A visita foi concebida “com o propósito de abrir novas perspectivas ao comércio
do Brasil e intensificar relações políticas e culturais” com os países afro-asiáticos. Cf. OLIVEIRA, J. K.
de. Mensagem ao Congresso Nacional, remetida pelo Presidente da República por ocasião da abertura
da sessão legislativa de 1960. Rio de Janeiro, 1960, p. 23. Mais uma vez Brasília em construção é palco
da diplomacia presidencial de Juscelino. Cf. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório do...
1959. Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores/Seção de Publicações, 1959, p. 7, 23 e 48-49.
Também em 1959, Juscelino recebe a visita do primeiro-ministro de Cuba, Fidel Castro. Em 1960,
Juscelino recebe as visitas dos presidentes do México, Adolfo López Mateos, dos Estados Unidos,
Dwight Eisenhower, e de Cuba, Osvaldo Dorticós, além do imperador da Etiópia, Hailé Selassié. Cf.
MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório do... 1960, cit., p. XV. As visitas mencionadas
estão descritas nas páginas 52-54. Cf. também OLIVEIRA, J. K. de. Mensagem... 1960, cit., p. 26. A
visita de Eisenhower, em fevereiro de 1960, foi certamente a mais prestigiosa. O presidente norte
‑americano chegou primeiro a Brasília, onde foi recebido por Juscelino, e só depois seguiu para o
Rio de Janeiro, a fim de cumprir a programação protocolar tradicional, que já havia consolidado o
formato da sessão solene no Congresso Nacional, visita ao Supremo Tribunal Federal, banquete no
Itamaraty e banquete de retribuição do visitante, etc.
380
A diplomacia presidencial de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek
381
Sérgio Danese
694 Cf. CAMPOS, R., op. cit., p. 361-362. A exposição completa de Campos sobre “A estratégia da ruptura”
encontra-se nas páginas 356-363.
695 Cf. ibid., p. 362.
382
A diplomacia presidencial de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek
383
Sérgio Danese
698 Cf. OLIVEIRA, J. K. de. Mensagem... 1959, cit., p. 11-12 e 60-68; e MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES
EXTERIORES. Relatório do... 1958, cit., p. XXI-XII e 3-10.
699 Cf. CARVALHO, D. de, op. cit., p. 338. O autor faz uma longa e detalhada exposição da OPA em sua
fase propositiva, isto é, durante o ano de 1958. Cf. ibid., p. 337-343.
700 Cf. ibid., p. 340.
384
A diplomacia presidencial de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek
701 Cf. SEIXAS CORRÊA, L. F. de. A palavra do Brasil nas Nações Unidas. Brasília: FUNAG/IPRI, 1995,
p. 114.
702 Cf. OLIVEIRA, J. K. de. Mensagem... 1959, cit., p. 6.
703 Cf. ibid., p. 9.
385
Sérgio Danese
704 “Consta que entre os assessores de Kennedy chegou a ser discutida a hipótese de se adotar o nome
jusceliniano de Operação Pan-Americana. Surgiram, entretanto, três razões negativas. Primeiro,
o receio de se antagonizar Jânio Quadros, recém-eleito numa campanha vituperativa contra
Kubitschek. Segundo, o fato de a concepção da Operação Pan‑Americana ser assistencialista, pois
acentuava a tônica de ‘auxílio’ para o desenvolvimento, enquanto Kennedy desejava afirmar a tônica
‘reformista’. Terceiro, o receio de ciúmes de outros países latino-americanos”. Cf. CAMPOS, R., op. cit.,
p. 419.
705 Cf. ibid., p. 530.
706 Para uma resenha de críticas e restrições à OPA, cf. VIZENTINI, P. F. “A política externa do Governo JK
(1956-1961)”. In: VÁRIOS – 60 anos de política externa. Crescimento, modernização e política externa,
cit., p. 236-237; e CERVO, A.; BUENO, C., op. cit., p. 262-263. Cervo e Bueno resenham basicamente as
restrições de Osvaldo Aranha, que, inspirado em um nacionalismo autárquico, faz ressalvas à OPA
no quadro de críticas severas ao próprio modelo de desenvolvimento de Juscelino, baseado em
capitais estrangeiros e em cooperação que “não poderá resolver os problemas básicos do Brasil ou
de qualquer outro país da América”. Cf. ibid., p. 262.
386
A diplomacia presidencial de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek
707 Cf. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório do... 1958, cit., p. 7.
708 Cf. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório do... 1959, cit., p. 3.
387
Sérgio Danese
709 Cf. SEIXAS CORRÊA, L. F. de, op. cit., p. 113-135. O discurso mais densamente marcado pela OPA é o
de Augusto Frederico Schmidt, que chefiou a delegação brasileira à XIV Sessão da Assembleia Geral
da ONU, em 1959. Cf. ibid., p. 121-127.
710 Cf. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório do... 1958, cit., p. 3 e 6-7.
711 Cf. OLIVEIRA, J. K. de. Mensagem...1959, cit., p. 12 e 60.
388
A diplomacia presidencial de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek
712 A OPA terá ainda uma sobrevida nos governos Quadros e Goulart, que a ela se referirão nas suas
respectivas mensagens presidenciais de 1961 e 1962.
389
Sérgio Danese
390
CAPÍTULO 9
A DIPLOMACIA PRESIDENCIAL DE JÂNIO QUADROS
A ITAMAR FRANCO
713 Cf. QUADROS, J. Mensagem ao Congresso Nacional, remetida pelo Presidente da República na
abertura da sessão legislativa de 1961. Brasília, 1961, p. 91-101.
714 Cf. id. “Brazil’s foreign policy”. In: Foreign affairs, v. 40, n. 1, october 1961. Há tradução para o português:
“A nova política externa brasileira”. In: Relações Internacionais, n. 3. Brasília: Editora da Universidade
de Brasília, 1978, p. 73-77. Publicado em outubro, o artigo certamente foi escrito durante o primeiro
semestre de 1961; embora não haja registro documental sobre a autoria do texto, sabe-se que foi
escrito por Carlos Castello Branco, Otto Lara Resende e um diplomata não identificado. Contudo,
segundo disse Carlos Castello Branco ao ex-presidente José Sarney, Jânio nunca sequer leu o artigo,
tendo-o aprovado em confiança. (José Sarney, entrevista ao autor, 10 de maio de 1997.) De qualquer
391
Sérgio Danese
forma, a autoridade sobre o artigo é do então presidente; o texto reflete a concepção de política
externa que desde o início do governo foi apresentada como sendo sua.
715 A boa bibliografia sobre a chamada “política externa independente” não deixa de assinalar esse
traço compensatório da diplomacia de Jânio Quadros, cujas credenciais conservadoras lhe davam
margem para atuar com certa independência. Cf., por exemplo, BENEVIDES, M. V. O governo Jânio
Quadros. São Paulo: Brasiliense, 1981. Há quem atenue essa característica, restando-lhe importância.
Cf. ÁLVARES, V. C. “Reflexões sobre o surgimento da ‘Política Externa Independente’ na gestão
de Jânio Quadros”. In: VÁRIOS – Ensaios de história diplomática do Brasil, cit., p. 79-87. Esse traço
compensatório, no entanto, se altera sob João Goulart, ainda que a diplomacia traçada por Quadros
seja basicamente mantida, porque as necessidades de política interna e externa do governo Goulart
eram outras. Cf. CRUZ, J. H. de B. “Aspectos da evolução da diplomacia brasileira no período da
política externa independente (1961-1964)”. In: VÁRIOS – Ensaios de história diplomática do Brasil,
cit., p. 65-78. O artigo de José Humberto de Brito Cruz constitui provavelmente o melhor estudo sobre
as modulações que a política externa independente sofre entre Jânio, o governo parlamentarista e o
governo presidencialista de Goulart.
392
A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
393
Sérgio Danese
do Brasil com grande parte dos países do mundo que, por uma série
de fatores, o Brasil vinha alheiando”718. Rubens Ricupero sintetiza:
Nos breves oito meses de sua presidência, Jânio
desenvolveu uma política externa intuitiva e inovadora,
às vezes desnecessariamente provocadora como no
episódio Guevara. Não se pode negar que antecipou
muitos dos temas e posturas que iriam definir o futuro
diplomático brasileiro. Além da atitude crítica em
relação à política norte-americana de isolamento de
Cuba, basta recordar a simpatia pela descolonização da
África portuguesa, a preparação do reatamento com a
URSS e a aproximação com a China [...]719.
Jânio utilizou a política externa para completar a definição de
um estilo de governo, que combinava a sua reconhecida intuição
com gestos histriônicos próprios da sua singular personalidade.
“No plano concreto, as manifestações heterodoxas de Jânio
começaram antes da posse, com as exóticas visitas a Cuba e ao
Egito”, recorda Roberto Campos720, referindo-se à viagem que Jânio
fez, ainda como candidato, a dois santuários do progressismo
político mundial. Os famosos “bilhetinhos”, que combinavam
a suprema informalidade com uma linguagem pomposa e que
entraram no anedotário político nacional por versarem sobre
assuntos os mais díspares e às vezes inverossímeis, também
se aplicaram à diplomacia, caracterizando a marginalização do
Itamaraty, transformado em mera agência executora, quando não
718 Cf. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório do... 1961. Rio de Janeiro: Ministério das
Relações Exteriores/Seção de publicações, 1961, p. XII.
719 Cf. RICUPERO, R. “O Brasil, a América Latina e os EUA desde 1930 – 60 anos de uma relação triangular”.
In: VÁRIOS – 60 anos de política externa. Crescimento, modernização e política externa, cit., p. 46. Uma
boa resenha da política externa de Jânio Quadros está em ARAÚJO, B. J. de. “A política externa no
Governo de Jânio Quadros”. In: VÁRIOS – 60 anos de política externa. Crescimento, modernização e
política externa, cit., p. 253-281.
720 Cf. CAMPOS, R., op. cit., p. 433.
394
A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
721 Cf. “Bilhete do presidente Jânio Quadros...”. In: BONAVIDES, P.; AMARAL, R., op. cit., v. 7. p. 60. Na
página 61, o decreto de condecoração de Ernesto “Che” Guevara.
722 Cf. CAMPOS, R., op. cit., p. 408-410. Campos faz um bom relato da missão e dos problemas por
ela causados, especialmente no que se refere ao quase-reconhecimento da República Democrática
Alemã, em violação da doutrina Hallstein, e à crise aberta com o Itamaraty, que levaria ao pedido
de demissão do secretário-geral, embaixador Vasco Leitão da Cunha. Cf. também MINISTÉRIO DAS
RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório do... 1961, cit., p. 57-59.
723 “De Buenos Aires, Guevara se dirigiu a Brasília para uma entrevista com Jânio Quadros. Isso nada
teria de anormal pois Guevara exercia a função de ministro da Indústria. Mas houve o incidente da
condecoração que Jânio lhe outorgou, com estardalhaço publicitário, em 19 de agosto, uma semana
antes da renúncia. Isso parecia ser parte da ‘estratégia de pirraça’ com os Estados Unidos, uma das
idiossincrasias de Jânio. [...] No mesmo 19 de agosto, Lacerda [...] condecorou, em represália, o líder
anticastrista Manuel Antonio de Verona, da Frente Revolucionária Democrática Cubana. O episódio
ficou conhecido como a ‘guerra das condecorações’”. Cf. CAMPOS, R., op. cit., p. 427.
395
Sérgio Danese
724 A citação de Santiago Dantas foi proporcionada verbalmente por Rubens Ricupero, que foi seu
oficial de gabinete em Brasília. A de Afonso Arinos é evocada no filme de Sílvio Tendler, “Os anos JK”.
725 Sobre o encontro de Uruguaiana, cf. LABAQUI, Ignacio. Argentina y Brasil 1958-1962 – análisis de las
políticas exterior y de defensa a partir de los mensajes presidenciales al Congreso. Cuaderno no. 219.
Buenos Aires: Centro de Estudios Unión para la Nueva Mayoría, 1996.
726 Os entendimentos de Uruguaiana seriam retomados em 24 de setembro de 1961, já sob João
Goulart, quando Frondizi, fazendo escala técnica no Rio de Janeiro, assinou com o presidente
brasileiro a “Declaração do Galeão”, que confirmava os princípios de Uruguaiana. O Relatório do
Itamaraty ressalta o papel da diplomacia presidencial na aproximação entre o Brasil e a Argentina:
“Pode-se dizer que as relações entre o Brasil e a Argentina foram postas em termos inteiramente
novos como decorrência dos encontros entre os chefes de estado dos dois países [...]. Inaugurou-se
um novo sistema de cooperação brasileiro-argentina como decorrência dos entendimentos entre os
presidentes Quadros e Frondizi, em Uruguaiana, e do encontro do Galeão[...]”. Cf. MINISTÉRIO DAS
RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório do... 1961, cit., p. 3 e 10-11.
396
A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
727 Cf., por exemplo, ARAÚJO, B. J. de, op. cit., p. 281: “Certamente, a política externa contribuiu bastante
para aumentar a desconfiança em torno da figura e da política de um presidente que, dia a dia, se
afastara de atores muito relevantes da política brasileira e internacional”; ou RICUPERO, Rubens.
“O Brasil, a América Latina e...”, cit., p. 46: “não é coincidência que a condecoração de Che Guevara
esteja indissoluvelmente ligada à renúncia de Jânio Quadros”.
728 Cf. CRUZ, J. H. de B., op. cit., p. 71.
729 Sobre as modulações da política externa independente, cf. ibid.
397
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A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
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A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
a visita de João Goulart”. Cf. ibid., p. 537. Para uma exposição mais detalhada sobre os entendimentos
Kennedy-Goulart relativos à nacionalização das empresas norte-americanas AMFORP e ITT, cf.
ibid., p. 588.
742 Goulart ainda se reencontraria com Kennedy em 1963, em Roma, à margem das festas de sagração
do papa Paulo VI. “Ali”, relata Roberto Campos, “[Kennedy] teve uma entrevista improvisada com
Goulart, propiciada por Hugo Gouthier, então embaixador em Roma. A embaixada em Washington
não fora notificada dessa entrevista, que se revelou fria e sem utilidade prática. Goulart tinha
aparentemente dois objetivos. Um era explicar a Kennedy as dificuldades políticas que o impediam
de cumprir o acordo de nacionalização pacífica das empresas de eletricidade da AMFORP, que
havia sido adumbrado durante sua visita a Washington em abril de 1962. O outro era solicitar uma
prorrogação do débito de 25 milhões de dólares então vencido, em momento de crise cambial”. Cf.
ibid., p. 505.
743 Além da visita aos Estados Unidos e ao México, em 1962, Goulart fez em abril de 1963 uma visita
ao Chile e ao Uruguai, que não merece maior atenção, e recebeu as visitas de Stroessner, para
conversações já ligadas ao aproveitamento do potencial energético das Sete Quedas, dentro do
paradigma de pragmatismo que sempre cercaria os encontros dos presidentes brasileiros com
o ditador paraguaio, e de Tito, o “primeiro chefe de estado socialista a visitar-nos”, marcada pela
assinatura de alguns atos e naturalmente pelo simbolismo político no quadro de um sensível
crescimento das relações com o Leste Europeu e a União Soviética. A visita ao Chile já é objeto de
menção na Mensagem relativa a 1962, enviada em 1963. Cf. GOULART, J. Mensagem... 1963, cit.,
p. 158. As demais visitas são mencionadas na Mensagem de 1964, relativa a 1963. Cf. id. Mensagem
ao Congresso Nacional remetida pelo Presidente da República na abertura da sessão legislativa de
1964. Brasília, 1964, p. 226-228 e 232-233. Goulart teria ainda uma participação ex officio em troca de
cartas com o presidente Charles De Gaulle, que normalizou o diálogo com a França, abrindo assim
o caminho para a conclusão da chamada “Guerra da Lagosta” e para a visita que o chefe de estado
francês faria ao Brasil em outubro de 1964, já sob a presidência Castello Branco. Goulart havia aceito
convite de Paz Estenssoro, da Bolívia, para uma visita em 1964, e recebido resposta afirmativa de
Arturo Illía, da Argentina, para visita ao Brasil. Cf. ibid., p. 231.
401
Sérgio Danese
744 O artigo clássico sobre a política externa brasileira sob os três primeiros governos militares é o de
MARTINS, C. E. “A evolução da política externa brasileira na década 64/74”. In: Estudos CEBRAP, 12.
São Paulo: Brasiliense, 1974.
745 A consolidação da prática dos discursos presidenciais nas formaturas do Instituto Rio Branco
ofereceu, por outro lado, uma plataforma periódica para a exposição presidencial de conceitos
e programas de política externa – mas sabe-se que são discursos burocráticos, quase sempre
oferecidos integralmente pela chancelaria ou redigidos por diplomatas profissionais, mesmo que
fora da chancelaria. Isto dava a esses discursos uma concepção técnica, impessoal, ainda que afinada
com a visão de mundo do sistema político.
402
A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
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A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
749 Cf. CAMPOS, R., op. cit., v. II, p. 745 e 802. Contrariando a prática brasileira de negar a existência de
ghostwriters, Roberto Campos, em suas memórias, se compraz em identificar diversos discursos de
política econômica e de política externa que escreveu para o presidente Castello Branco. Para uma
descrição do processo de elaboração do discurso da formatura de 1964, cf. ibid., p. 745-748.
750 Cf. CAMPOS, R., op. cit., p. 743. “Poucos meses depois da posse”, recorda Roberto Campos,
“apresentou-se a Castelo a oportunidade de uma reformulação conceitual da política externa
brasileira, que havia oscilado entre a ‘estratégia de pirraça’ de Jânio Quadros e os malabarismos
intelectuais da ‘política de independência’ de Afonso Arinos e San Tiago Dantas”. Sob a ótica estreita
da Guerra Fria, ali se fixam os conceitos de “círculos concêntricos” e de “interdependência”, se
reconstitui a política de apoio ao colonialismo português e se reconstrói o paradigma da relação
especial com os Estados Unidos em moldes muito diversos dos da aliança não escrita de Rio Branco.
751 “A política externa da Revolução devota especial atenção à integração latino-americana e cuida de
aprimorar, em todas as esferas, as relações com os demais países do continente”. Cf. Relatório do
Ministério das Relações Exteriores – 1964. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, 1965, p. 1.
405
Sérgio Danese
Este), e com Eduardo Frei, que fez escala técnica no Rio de Janeiro,
ambos em 1965752.
O restante da diplomacia presidencial de Castello Branco tem
relação com as visitas de chefes de estado e governo recebidas
no Brasil. “Ocioso”, reza o Relatório do Itamaraty de 1964, “seria
realçar o aumento crescente [sic] do número de visitantes oficiais
que procuram o Brasil, à medida que a Nação se desenvolve,
incrementando o interesse dos povos e governantes estrangeiros
que se deixam atrair pelas singulares soluções que o Brasil encontra
para seus problemas”753. O conjunto dessas visitas tem um caráter
curioso. Primeiro, porque revela um interesse de fato pelo Brasil da
parte de alguns importantes parceiros no mundo industrializado,
interesse que vai prolongar-se algo além do fim do mandato de
Castello Branco, para depois cessar até o governo Geisel; segundo,
porque não há, ao que tudo indica, qualquer política expressa, da
parte do Brasil, por trás dos convites754. A rigor, veio quem quis
vir, e quem quis vir foi recebido com todas as honras755. “Essas
752 A ponte foi inaugurada em 27 de março de 1965. Frei encontrou-se com Castello Branco na Base
Aérea do Galeão. Cf. Relatório do MRE – 1965. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, 1966,
p. 426-427.
753 Cf. Relatório do Ministério das Relações Exteriores – 1964, cit., p. 319.
754 Roberto Campos explica a visita de De Gaulle como sendo, em certa medida, parte de uma política
de remoção de áreas de atrito com os parceiros desenvolvidos: “Dizia San Tiago Dantas que as visitas
de chefe de estado, quando mais não seja, são como um ‘supositório da burocracia’. Foi o que se
deu no caso do contencioso franco-brasileiro [o problema das encampações getulistas durante a
Segunda Guerra]. O general Charles De Gaulle havia anunciado sua intenção de fazer uma tournée
latino-americana, que terminaria no Brasil na segunda semana de outubro de 1964. Ao meu interesse
em liquidar áreas de atrito somaram-se então os interesses do Itamaraty e do Quay d’Orsay em criar
um ambiente diplomático favorável. [...] Quando De Gaulle visitou o Brasil, em outubro de 1964, o
‘lixo’ havia sido removido”. Cf. CAMPOS, R., op. cit., p. 585-586.
755 Assim, o calendário das visitas recebidas registra, em 1964, as visitas dos presidentes da República
Federal da Alemanha, Heinrich Luebke (7 a 14 de maio); do Senegal, Léopold Senghor (19 a 27 de
setembro), “presença pioneira de governante africano entre nós”; e da França, Charles De Gaulle (13
a 16 de outubro), “figura das mais populares de nossa época, herói da Segunda Guerra Mundial,
chefe de estado discutido por todos, admirado por muitos, [que] recebeu do povo brasileiro e
das altas autoridades do país calorosas demonstrações, logo reproduzidas na imprensa mundial”.
Cf. Relatório do Ministério das Relações Exteriores – 1964, cit., p. 39-40, 45 e 319-321. Luebke visitou
406
A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul; Senghor esteve em Salvador,
Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, “sempre alvo das mais carinhosas manifestações populares”; De
Gaulle visitou Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. Cf. ibid., p. 321. Em 1965, além do encontro de
fronteira com Stroessner e da escala técnica de Eduardo Frei, produzem-se as visitas do xá do Irã,
Mohamed Reza Pahlevi (4 a 10 de maio); do presidente da Itália, Giuseppe Saragat (10 a 12 de
setembro); dos grão-duques do Luxemburgo (11 a 22 de setembro, com a parte oficial da visita entre
13 e 17); dos reis da Bélgica (9 a 15 de novembro); e do presidente do Alto Volta, Maurice Yamionge,
(novembro). Cf. Relatório do Ministério das Relações Exteriores – 1965, cit., p. 55 e 425-427. Em 1966, a
única visita registrada é a do presidente de Israel, Zalman Shazar, de 18 a 25 de julho. Cf. Relatório do
MRE – 1966. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, 1967, p. 72.
756 Cf. CASTELLO BRANCO, H. A. Mensagem ao Congresso Nacional remetida pelo Presidente da
República na abertura da sessão legislativa. Brasília, 1965, p. 101.
757 Cf. COSTA E SILVA, A. da. Mensagem ao Congresso Nacional remetida pelo Presidente da República
na abertura da sessão legislativa de 1968. Brasília, 1968, p. 131-132. Cf. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES
EXTERIORES. Relatório – 1967. Brasília: Seção de Publicações, 1970, p. 3 e ss.
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Sérgio Danese
758 Cf. COSTA E SILVA, A. da. Mensagem ao Congresso Nacional remetida pelo presidente da República na
abertura da sessão legislativa de 1968, cit., p. 133-134.
759 Cf. ibid., p. 24. Cf. também MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório – 1967, cit., p. 375
‑378.
760 Cf. COSTA E SILVA, A. da. Mensagem ao Congresso Nacional. Brasília, 1969, p. 112-113.
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761 Cf. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório – 1969. Brasília: Seção de Publicações, 1973,
p. 19, 46, 215 e 217.
409
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764 Cf. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório – 1971. Brasília: Serviço de Publicações,
1974, p. 7, 15-16. Cf. também MÉDICI, E. G. Mensagem ao Congresso Nacional. Brasília, 1972, p. 81.
765 CERVO, A.; BUENO, C., op. cit., p. 368-369.
766 Cf. ibid., p. 369.
767 Cf. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório – 1971, cit., p. 16.
768 Cf. MÉDICI, E. G. Mensagem ao Congresso Nacional, 1970, cit., p. 81.
411
Sérgio Danese
769 Cf. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório – 1972. Brasília: Serviço de Publicações,
1974, p. 10. A citação completa segue: “Queremos transformar a vizinhança geográfica em vizinhança
real, as linhas fronteiriças do mapa em linhas de encontro, trocas e congraçamento”.
770 Cf. MÉDICI, E. G. Mensagem ao Congresso Nacional. Brasília, 1973, p. 79. Cf. também MINISTÉRIO
DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório – 1972, cit., p. 9 e 15-16.
771 Cf. ibid., p. 11, 42 e 44. Cf. também MÉDICI, E. G. Mensagem ao Congresso Nacional, 1973, cit., p. 81.
412
A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
413
Sérgio Danese
776 “[A]o assumir o governo em março de 1974, Geisel encontrou um país muito mais exposto ao jogo
das forças econômicas internacionais do que aquele cujo controle os militares haviam assumido dez
anos antes”. Cf. SOUTO MAIOR, L. A. P., op. cit., p. 337.
414
A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
777 O chanceler Saraiva Guerreiro dá um testemunho sobre esses influxos pessoais de Geisel na
concepção da política externa: “Quando assumiu o presidente Geisel, realmente o Brasil tomou
posições próprias com relação a questões internacionais que definiam a política de um país. [...]
O volume do país na área externa era muito maior. Aí se deu o que 13 anos antes se tentara: o
aggiornamento a que me referi. Atualização que só podia resultar de uma decisão firme, ne varietur,
do presidente. Quando cheguei a Brasília [...] para assumir a Secretaria-Geral do Itamaraty, o Silveira
[...] me informou de três decisões importantes do presidente Geisel que marcariam o rumo da política
exterior [...] 1) Reconhecimento do governo de Pequim como governo da China; 2) Manifestação
crítica à ocupação dos territórios árabes por Israel, direito dos palestinos à autodeterminação,
inclusive independência, e preservação da soberania e segurança de todos os Estados da região, inclusive
Israel; 3) apoio à independência das colônias portuguesas”. Cf. GUERREIRO, R. S. Lembranças de um
empregado do Itamaraty. São Paulo: Siciliano, 1992, p. 26.
415
Sérgio Danese
778 Cf. Resenha de política exterior do Brasil, ano 1, n. 1. Brasília: Ministério das Relações Exteriores, 1974,
p. 9. As Resenhas de n. 1 a 20 trazem todos os discursos de política externa do presidente Ernesto
Geisel.
779 Um exemplo que ocorre é o da primeira exposição de motivos que sugeria a adesão do Brasil ao
Tratado da Antártica, em 1974. Contrariando a indicação da chancelaria, o presidente despachou
dizendo que “o momento não me parece oportuno” e congelou a iniciativa por mais algum tempo.
416
A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
780 Em 1976, Geisel visitou a França (26 a 28 de abril) e o Reino Unido (4 a 7 de maio), “pontos culminantes
do processo de aproximação com a Europa Ocidental”, e o Japão (15 a 20 de setembro), em viagens
memoráveis cercadas de todo o protocolo, mas com notável substância econômica e de cooperação
em áreas de grande visibilidade dentro do projeto de desenvolvimento brasileiro (infraestrutura, projetos
de petroquímica, financiamentos, etc.) e muitos resultados imediatamente quantificáveis em termos
financeiros, além de projetos de mais longa maturação. Cf. GEISEL, E. Mensagem ao Congresso Nacional.
Abertura da sessão legislativa de 1977. Brasília, 1977, p. 225. Cf. ibid., p. 725-228 e 230-231. Cf. MINISTÉRIO
DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório – 1976. Brasília, 1979, p. 90-91 (parte relativa à visita ao Japão),
p. 107-108 (parte relativa à visita à França), p. 112-113 (Reino Unido). A visita ao Japão serviu de moldura
para a primeira reunião ministerial Brasil‑Japão, que institucionalizou um mecanismo de consultas de alto
nível, logo caído em desuso. O desejo inglês era “de que a visita do presidente Geisel fosse marcada por
417
Sérgio Danese
uma retomada da presença financeira britânica no Brasil. O ECGD (Export Credit Guaranty Department)
tinha sido instruído para examinar projetos viáveis”. Cf. CAMPOS, R., op. cit., v. II, p. 968-969. Para um relato
pessoal e variado da visita de Geisel ao Reino Unido, cf. ibid., p. 953-959 e 967-976. Sobre o programa e
cerimonial, cf. p. 973-976. Sobre os presentes (animais brasileiros presenteados à rainha), cf. p. 957-958. Em
1978, três anos depois de assinado o Acordo Nuclear com a Alemanha, Geisel visitou aquele país de 6 a
10 de março, acompanhado de grande missão empresarial. A visita foi marcada pela assinatura de vários
acordos e ajustes na área nuclear, em complementação ao Acordo de 1975. Cf. GEISEL, E. Mensagem ao
Congresso Nacional. Abertura da sessão legislativa de 1979. Brasília, 1979, p. 187-188. Cf. MINISTÉRIO DAS
RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório – 1978. Brasília, 1978, p. 77-79.
781 Cf. CERVO, A.; BUENO, C., op. cit., p. 370.
782 Nessa altura, as comitivas já seguiam um padrão, incluindo ministros, presidentes de estatais e
parlamentares ligados ao governo, e a programação tinha na área econômicoempresarial a vertente
mais importante.
783 Roberto Campos resume o seu significado econômico e político: “Se a captação de recursos
financeiros, intensificada durante a visita do presidente Geisel, foi útil do ponto de vista de balanço
de pagamentos [...] seu significado político não foi menos importante. A Inglaterra se considerava
uma espécie de ‘guardiã da democracia’, título a que fizera jus, não só pela sua longa tradição
parlamentar, como pelo seu êxito na dissolução pacífica do Império. [...] uma visita oficial à Inglaterra,
com hospedagem pela rainha no palácio de Buckingham, significava se não um selo de aprovação,
pelo menos uma diferenciação entre a revolução modernizante do Brasil e as pitorescas ditaduras
latino-americanas. A imagem que se projetaria no rádio e na televisão seria a de um país executor de
uma revolução modernizante, e não apenas vítima de uma quartelada”. Cf. CAMPOS, R., op. cit., p. 972.
784 O rol de visitantes é crescente: Kakuei Tanaka, primeiro-ministro do Japão, inaugura a lista, em
setembro de 1974; Takeo Fukuda, vice-primeiro-ministro do Japão, retoma o contato em visita ao
Brasil de 20 a 27 de agosto de 1975; Mário Soares, primeiro-ministro de Portugal, visita de 15 a
21 de dezembro de 1976; Jimmy Carter, presidente dos Estados Uidos, de 29 a 31 de março de
1978; Ramalho Eanes, presidente de Portugal, de 22 a 27 de maio de 1978; Valéry Giscard d’Estaing,
presidente da França, de 4 a 7 de outubro de 1978. O ano de 1978 também registraria as visitas dos
príncipes herdeiros do Japão e da Grã-Bretanha. Os reis da Suécia visitariam privadamente o Brasil,
sendo recebidos pelo presidente em Brasília. Cf. GEISEL, E. Mensagem... 1979, cit., p 186 e 189-190. Cf.
MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório... 1978, cit., p. 37-38 (visita de Carter), p. 68-69
418
A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
(príncipe herdeiro do Japão), p. 82-83 (visita do presidente francês), p. 87-88 (visita de Ramalho
Eanes) e p. 88 (príncipe Charles).
785 O ano de 1974 começa com grande intensidade e Geisel encontra-se com os presidentes da
Bolívia, Chile, Costa Rica, México (Luís Echeverría, que visita o Brasil), Paraguai e Uruguai. Cf. GEISEL,
E. Mensagem ao Congresso Nacional. Abertura da sessão legislativa de 1975. Brasília, 1975, p. 144. Em
1975, em 12 de junho, Geisel encontrou-se na fronteira com seu homólogo do Uruguai, Juan María
Bordaberry, testemunhando a assinatura “do mais amplo complexo de acordos de cooperação na
história das relações entre os dois países” e recebeu, em Campo Grande, o presidente Stroessner, por
ocasião da XXXVII Exposição Agropecuária e Industrial (o primeiro de uma série de encontros entre
Stroessner e os presidentes brasileiros à margem de feiras e exposições, que se transformariam em outra
constante da intensa diplomacia presidencial Brasil-Paraguai). Geisel ainda visitou o Paraguai de 3 a 5
de dezembro, também com a assinatura de atos e com o gesto simbólico da restituição do “livro de
Ouro”, relíquia da Guerra do Paraguai. Cf. GEISEL, E. Mensagem... 1976, cit., p. 155-156. Cf. MINISTÉRIO
DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório – 1975. Brasília, 1977, p. 53-63. Em 1976, Geisel encontrou
‑se com o presidente do Paraguai, Alfredo Stroessner, em março, na cidade paulista de Presidente
Prudente; e com o presidente do Peru, Morales Bermúdez, em 5 de novembro, em ponto da fronteira
(Rio Solimões, a bordo dos navios de patrulha fluvial “Ucayali” e “Pedro Teixeira”), com a assinatura
de quatorze acordos e uma declaração conjunta. Cf. GEISEL, E. Mensagem... 1977, cit., p. 215-216. Cf.
MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório – 1976, cit., p. 17 e 25-28 (encontro Brasil-Peru).
O primeiro-ministro do Suriname, Henck Arron, visitou o Brasil de 21 a 23 de junho de 1976. Em 1977,
“ano de invulgar atividade”. Geisel recebeu as visitas dos presidentes do Uruguai, Aparicio Méndez, 6 a 8
de julho; da Bolívia, Hugo Banzer, de 12 a 17 de agosto; e da Venezuela, Carlos Andrés Pérez, de 16 a 20
de novembro, a primeira de um presidente venezuelano ao Brasil. Todas essas visitas foram marcadas
pela assinatura de numerosos atos bilaterais. Geisel encontrou-se novamente com Stroessner, em abril,
no Rio de Janeiro. Cf. GEISEL, E. Mensagem ao Congresso Nacional. Abertura da sessão legislativa de 1978.
Brasília, 1978, p. 239-243. Cf. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório – 1977, cit., p. 17-19,
26-27, 32 e 34-36. Em 1978, Geisel visitou o México, de 16 a 19 de janeiro, e o Uruguai, de 25 a 27 de
janeiro (seu quarto encontro com um presidente uruguaio), ambas as vezes com a assinatura de atos
bilaterais, e encontrou-se novamente com Stroessner, no canteiro de obras da Itaipu, por ocasião do
desvio do rio Paraná, em outubro de 1978, o sexto encontro entre Geisel e Stroessner em menos de
cinco anos. Geisel ainda se encontrou mais uma vez com o primeiro-ministro do Suriname, por ocasião
da assinatura do Tratado de Cooperação Amazônica. Cf. GEISEL, E. Mensagem... 1979, cit., p. 175, 176-180.
Cf. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório – 1978, cit., p. 17-20, 29 e 38-39.
419
Sérgio Danese
786 Em 1975, recebeu a visita do presidente da Romênia, Nicolae Ceauscescu, de 4 a 7 de junho (Cf.
GEISEL, E. Mensagem... 1976, cit., p. 162. A visita de Ceauscescu é objeto de uma frase: “Visitou o Brasil,
oficialmente, o presidente da República Socialista da Romênia”. Cf. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES
EXTERIORES. Relatório – 1975, cit., p. 149-151) e do presidente do Gabão, cujo nome à época era
Albert Bernard Bongo (mais tarde El Hadj Omar Bongo), de 11 a 17 de outubro (Cf. ibid., p. 114-115);
em 1977, recebeu a visita do presidente do Senegal, Léopold Senghor, 4 a 7 de novembro. Senghor
veio para inaugurar a Embaixada de seu país, melancolicamente fechada em 1996, menos de vinte
anos depois, e reaberta ao tempo do governo Lula. Cf. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES.
Relatório – 1977, cit., p. 76.
420
A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
421
Sérgio Danese
789 Isso é particularmente notável no caso da diplomacia, cuja profissionalização alcançaria um ápice
sob a administração Guerreiro, o terceiro ministro consecutivo oriundo da carreira diplomática e
cuja sofisticação intelectual, experiência e sensibilidade diplomática o contrastavam de maneira
muito acentuada com o presidente a quem servia.
422
A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
423
Sérgio Danese
794 Cf. FIGUEIREDO, J. Mensagem ao Congresso Nacional. Brasília, 1982, p. 143, 149 e 151.
795 Cf. ibid., p. 127. É importante fazer um paralelo entre esse uso da diplomacia presidencial na
reaproximação com a Venezuela e o que se fará mais tarde, em 1994, durante o governo Itamar
Franco, com o encontro de Maiquetía, em um esforço por reconstruir as relações abaladas com
sucessivos episódios conflitivos na região de fronteira entre os dois países.
796 Cf. GUERREIRO, R. S., op. cit., p. 97.
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A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
797 Cf. ibid., p. 98. Cf. também FIGUEIREDO, J. Mensagem [1980], cit., p. 156-157.
798 Cf. GUERREIRO, R. S., op. cit., p. 121-122.
799 Cf. FIGUEIREDO, J. Mensagem [1980], cit., p. 157-159. Sobe as visitas ao Paraguai e ao Chile, cf. também
GUERREIRO, R. S., op. cit., p. 118-119 (Paraguai) e p. 121-122 (Chile).
425
Sérgio Danese
426
A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
803 Em 1982, Figueiredo encontrou-se com Stroessner em Itaipu para a conclusão da primeira fase do
enchimento do reservatório e recebeu as visitas dos presidentes do Equador. Osvaldo Hurtado, e
da Guiana, Lynden Forbes Burham, ambas com a assinatura de acordos, e do primeiro-ministro de
Antígua e Barbuda. Cf. ibid. Mensagem ao Congresso Nacional. Brasília, 1983, p. 140-142. Em 1983,
Figueiredo visitou o México (em abril, indo a Cancún, por problemas de saúde que o impediam
de ir à Cidade do México) e encontrou-se com o presidente argentino, general Bignone, em Porto
Meira (em janeiro), para assistirem ao início das obras da ponte oriunda do acordo assinado
durante a visita presidencial a Buenos Aires, em 1980, e que receberia mais tarde o nome de Ponte
Tancredo Neves, que liga Foz do Iguaçu a Puerto Iguazú. O presidente do Peru, Belaúnde Terry,
visitou as obras de Itaipu. Figueiredo recebeu também a visita do primeiro-ministro do Suriname,
Errol Alibux, e aprovou pessoalmente a ofensiva diplomático-militar representada pela Missão
Danilo Venturini (então ministro-chefe do Gabinete Militar da Presidência e secretário-geral do
Conselho de Segurança Nacional) a Paramaribo, destinada a oferecer o Brasil como alternativa a
Cuba na cooperação com o Suriname do Coronel Bouterse, após o golpe de 1982. Cf. id. Mensagem
ao Congresso Nacional. Brasília, 1984. p. 160 e 162-164. Finalmente, em 1984, Figueiredo visitou
oficialmente a Bolívia (mas foi a Santa Cruz de la Sierra, e não a La Paz, pela altitude) e recebeu as
visitas dos presidentes do Uruguai e do Peru. Cf. id. Mensagem... [1985], cit., p. 200.
427
Sérgio Danese
804 Seixas Corrêa resume assim o discurso: “Seu discurso, refletindo as dificuldades por que atravessava
o Brasil, constituiria um expressivo chamamento ao mundo desenvolvido para que evitasse uma
crise recessiva global semelhante à dos anos trinta. Para tanto, seria necessário reformar as estruturas
normativas e decisórias do FMI, do Banco Mundial e do GATT, recuperando-se o sentido correto
do conceito de interdependência, com base no entendimento mútuo e na solidariedade. Não se
furtaria nesse contexto o Presidente de condenar o conceito de graduation [...] percebido pelo Brasil
como séria ameaça a seus interesses”. Cf. SEIXAS CORRÊA, L. F. de, op. cit., p. 394. O discurso está nas
p. 397-408. Cf. também FIGUEIREDO, J. Mensagem...[1983], cit., p. XVII e p. 138-139.
805 Cf. GUERREIRO, R. S., op. cit., p. 42. O próprio chanceler Guerreiro compreende, contudo, a natureza
do precedente criado em 1982: “Naturalmente, há que evitar que a ida do Chefe de governo à
assembleia se torne uma rotina e perca valor. Nós não somos os Estados Unidos e nem mesmo uma
potência com interesses e influência que justifiquem essa rotinização”. Cf. p. 42.
806 Cf. The New York Times, 28 de setembro de 1982.
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A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
807 Em 1979, Figueiredo recebeu as visitas do vice-presidente dos EUA, Walter Mondale, logo nos
primeiros dias do governo, sinalizando uma disposição nova em relação aos Estados Unidos.
O chanceler federal Helmut Schmidt fez a primeira visita oficial de um Chefe de governo alemão
ao Brasil e também veio o presidente de governo espanhol, Adolfo Suárez. Cf. FIGUEIREDO, J.
Mensagem... 1980, cit., p. 26 e 131-132. Em 1980, não se registra atividade presidencial de relevo junto
aos países desenvolvidos. A única visita de chefe de estado proveniente da Europa foi a do papa João
Paulo II. Cf. id. Mensagem ao Congresso Nacional. Brasília, 1981, p. 161. Em 1981, em compensação,
Figueiredo visitou oficialmente a França e Portugal, no início do ano, e a Alemanha, em maio, nos três
casos com a assinatura de vários acordos, recebendo no Brasil as visitas do vice-presidente dos EUA,
George Bush, e do primeiro-ministro do Canadá, Pierre Trudeau. Cf. id. Mensagem... [1982], p. 160.
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A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
809 Cf. FIGUEIREDO, J. Mensagem... [1982], p. 167-168. O chanceler Guerreiro diz que o discurso que
pronunciou “[n]aturalmente foi aprovado pelo presidente Figueiredo”. Cf. GUERREIRO, R. S., op. cit.,
p. 145.
810 Cf. FIGUEIREDO, J. Mensagem... [1983], cit., p. 137-138, 143, 146-147.
811 Cf. GUERREIRO, R. S., op. cit., p. 105.
431
Sérgio Danese
812 Os grupos cobriam as seguintes áreas: cooperação econômica, cooperação espacial, cooperação
científica e tecnológica, cooperação nuclear e cooperação industrial-militar. Os grupos reuniram
‑se ao longo de 1983 e apresentaram as suas conclusões aos dois chanceleres, criando na prática,
mesmo que sem resultados concretos, um processo de follow-up da troca de visitas e um conjunto
de foros políticos que serviram para conter em certa medida as diferenças e discutir possibilidades de
cooperação – algumas das quais teriam de esperar o governo Fernando Henrique para se concretizar
(área espacial e nuclear). Cf. FIGUEIREDO, J. Mensagem... [1984], p. 165.
813 Em 1983 e 1984, a diplomacia presidencial junto aos desenvolvidos prosseguiu com as visitas ao
Brasil do rei da Espanha e do primeiro-ministro da Holanda, ambas em maio de 1983, e do rei da
Suécia, Carlos XVI Gustavo, em abril de 1984, e com as visitas do presidente brasileiro à Espanha (11
a 13 de abril de 1984), em “retribuição” à dos soberanos espanhóis ao Brasil, e ao Japão, em maio de
1984, para “renovar o alto sentido político atribuído pelo Brasil aos vínculos existentes com aquela
nação asiática”. Cf. id., ibid., p. 170. Cf. id. Mensagem... [1985], cit., p. 208 e 210-211.
432
A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
814 O Brasil recebe as visitas dos seguintes presidentes africanos: Zâmbia (1979), Guiné Equatorial e
Guiné-Bissau (1980), Mali (1981), Congo (1982) e novamente da Guiné-Bissau (1984). As referências
são extraídas das Mensagens presidenciais relativas àqueles anos. Figueiredo fez sua viagem pioneira
à África, “marco histórico nas relações afro-brasileiras”, em novembro de 1983, visitando Argélia,
Cabo Verde, Guiné-Bissau, Nigéria e Senegal, com a ideia de afirmar a “política de aproximação
positiva e amistosa [...] da forma mais expressiva, com minha viagem a cinco países [...] que, em sua
diversidade, são representativos do continente africano”. Cf. FIGUEIREDO, J. Mensagem... [1984], cit.,
p. 159 e 165-166. A visita presidencial à China foi realizada em junho de 1984, “coroando um processo
de aproximação de dez anos”, e foi marcada pela assinatura de quatro acordos de cooperação
nas áreas de ciência e tecnologia e comercial. Não foi um fato isolado nas relações bilaterais; ao
contrário, teve um processo de preparação que se iniciou dois anos antes com a visita também
pioneira do chanceler Saraiva Guerreiro. Cf. GUERREIRO, R. S., op. cit., p. 169-171. Além de culminar
o processo iniciado com o reconhecimento em 1974, a visita presidencial foi parte de uma intensa
troca de visitas ministeriais e de missões técnicas entre os dois países, que prosseguiria nos governos
seguintes. Cf. FIGUEIREDO, J. Mensagem... [1985], cit., p. 208-209.
433
Sérgio Danese
815 Cf. LAFER, C. “El legado diplomático de Tancredo Neves: su significado para la política exterior de
Brasil”. In: id. Ensayos liberales. México: Fondo de Cultura Económica (Breviarios), 1993, p. 314-315.
816 Cf. SARNEY, J. Mensagem ao Congresso Nacional. Brasília, 1986, p. 52.
817 Cada escala diferiu em extensão e escopo, sendo a mais intensa em Portugal, onde Tancredo
recebeu inclusive o Doutorado Honoris Causa em Coimbra, e a mais importante, naturalmente, em
Washington, onde Tancredo manteve contatos no Executivo (o presidente Reagan, o secretário de
Estado Shultz), no Congresso, junto à imprensa (entrevista no National Press Club) e no BID e Banco
Mundial; no Peru, foi simples escala, que permitiu uma rápida entrevista com o presidente Belaúnde
Terry. O melhor relato sistemático da viagem, que guardou certa semelhança com a maratona pós
‑eleitoral de Juscelino Kubitschek, foi publicado 25 anos depois: trata-se do diário que fez durante
todo o périplo o embaixador Rubens Ricupero, que assessorou Tancredo, em parte, na preparação
substantiva dos encontros. Cf. RICUPERO, R. Diário de bordo: a viagem de Tancredo Neves. São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado, 2010. O livro inclui um testemunho pessoal meu sobre a preparação da
visita. Cf. DANESE, S. “Um anônimo da Nova República”, ibid.
434
A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
435
Sérgio Danese
818 Cf. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório 1985. Brasília: Ministério das Relações
Exteriores, 1986, p. 7.
819 Até o momento, o texto que melhor descreve a política externa do governo Sarney, com ênfase em
aspectos próprios da diplomacia presidencial, é o de SEIXAS CORRÊA, L. F. “A política externa de José
Sarney”. In: 60 anos de política externa. Crescimento, modernização e política externa, cit., p. 361-385.
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A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
Os principais textos da política externa do governo Sarney encontram-se nas Resenhas de Política
Exterior do Brasil, n. 44 a 64. Brasília: Ministério das Relações Exteriores, 1985-1990. As Mensagens
ao Congresso Nacional e os Relatórios do MRE, referentes ao período Sarney, são muito pobres de
informação sobre a diplomacia presidencial e contêm, não raras vezes, erros ou omissões graves, que
explicam a relutância em remeter a eles.
820 Além de comparecer à abertura da XL Sessão da Assembleia Geral da ONU, em setembro de 1985,
quando pronunciou seu discurso intitulado “Sentimento do mundo”, Sarney, compareceu à III Sessão
Especial da Assembleia Geral, em junho de 1988, e à abertura da XLIV Sessão da Assembleia Geral,
em setembro de 1989. Cf. SEIXAS CORRÊA, L. F. de. A palavra do Brasil nas Nações Unidas, cit., p.
433-451 e 491-506.
437
Sérgio Danese
438
A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
823 Perguntado sobre a relação entre política externa e política interna, o ex-presidente insistiu que
nunca procurou extrair benefícios diretos da sua ação diplomática, porque nunca acreditou que a
política externa pudesse ter relevância maior seja no Congresso, seja na opinião pública. Entrevista
ao A., 10 de maio de 1997.
824 Em Portugal, por exemplo, Sarney discursou na Academia de Ciências de Lisboa, encontrou-se com
escritores portugueses, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Coimbra,
discursou em sessão solene da Assembleia Legislativa de Portugal e da Câmara Municipal do Porto.
Cf. Resenha de política exterior do Brasil, n. 49, abr./maio/jun. de 1986, p. 3-36. No México, falou ao
Congresso e fez palestra no Colegio de México, além de ter mantido encontro com intelectuais
mexicanos.
825 Cf. SEIXAS CORRÊA, L. F. de. “A política externa de José Sarney”, cit., p. 365.
439
Sérgio Danese
826 Depoimento ao A., em 10 de maio de 1997. Seixas Corrêa corrobora a informação: Sarney “[i]ntegrara
diversas delegações do Brasil a reuniões internacionais e realizara inúmeras missões no exterior como
deputado, governador e senador. Adquirira nesse processo a experiência de que se valeria tanto
para formular a política exterior do seu governo, como para executá-la, no exercício permanente da
chamada ‘diplomacia presidencial’, que soube conduzir, abrindo ao Brasil acesso e participação em
círculos anteriormente fechados em virtude das inibições de seus antecessores”. Cf. SEIXAS CORRÊA,
L. F. de. “A política externa de José Sarney “, cit., p. 364.
827 “Eu era um dos poucos parlamentares que tratava de política externa [...]”, diz Sarney. “Sempre
tive um gosto pela política externa. No parlamento não me lembro de muitos que tivessem essas
preocupações; eu tinha sempre; opinei sobre vários assuntos, fiz alguns discursos e fui o orador que
saudou o Carlos Andrés Pérez quando veio ao Brasil, próximo ao presidente Carter. Nesse dia, eu disse
que a visita dele era mais importante do que a visita do Carter. Isso criou uma certa perplexidade.
Eu achava que, em relação à América Latina, dizia-se que éramos irmãos, mas na verdade sempre
vivíamos de costas [...]”. Entrevista ao A., 10 de maio de 1997.
828 Cf. SEIXAS CORRÊA, L. F. de. “A política externa de José Sarney”, cit., p. 364.
829 “Levei para o governo essas duas noções básicas: primeiro, a de que havia uma América do Sul,
e, segundo, a de que o Brasil devia ter uma posição não hegemônica, mas de exercício do seu
peso específico na região. Nosso complicador era a Argentina. Nunca tivemos divisões de fundo,
problemas de fronteira, guerras; sempre foram rivalidades superficiais; não existia o que houve entre
a Alemanha e a França. Estava na minha cabeça o Tratado Franco-Germânico”. Cf. Ibid.
440
A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
830 Ibid.
831 Ibid.
832 Cf. SEIXAS CORRÊA, L. F. de. “A política externa de José Sarney”, cit., p. 365. A Assessoria Internacional,
como ficou sendo chamada informalmente, foi chefiada pelos embaixadores Rubens Ricupero
(1985-1987) e Seixas Corrêa (1987-1990). Contava, ademais, com apenas um assessor diplomata –
excepcionalmente, em 1987, chegou a contar com dois assessores. Sobre a assessoria, ver a nota 117.
Ali trabalhei de abril de 1985 a abril de 1987, exercendo primordialmente a função de speechwriter,
não apenas da área de política externa.
833 Cf. SEIXAS CORRÊA, L. F. de. A palavra do Brasil nas Nações Unidas, cit., p. 433-451.
441
Sérgio Danese
834 Cf. SARNEY, J. “Brazil: a President’s story”. In: Foreign Affairs, outono de 1986. Ao contrário de Jânio
Quadros, Sarney participou ativamente da redação do artigo, que revisou incontáveis vezes na
versão em português.
835 Cf. id. “The path of maturity in Brazilian-American relations”. In: Harvard lnternational Review,
fevereiro de 1989.
836 “Revivo hoje antiga tradição: os novos diplomatas, no dia da sua formatura, recebem do Presidente
da República estímulo e esclarecimento sobre as diretrizes de política externa que lhes caberá
executar [...]”. Cf. SARNEY, J. “Discurso do dia do diplomata”, 13 de maio de 1987. In: Resenha de
Política Exterior do Brasil, n. 53, abr./maio/jun. de 1987, p. 61.
837 Em 1985, Sarney visitou o Uruguai (12 a 14 de agosto); fez, a caminho das Nações Unidas, escala
técnica em Caracas e no México, recém-afetado por violento terremoto, mantendo conversações
com os presidentes (última semana de setembro); encontrou-se com o presidente argentino Raúl
442
A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
Alfonsín em Foz do Iguaçu e Puerto Iguazú (29 e 30 de novembro) e com o presidente Stroessner,
em Itaipu, para inaugurar a terceira turbina (9 de outubro) e recebeu a visita do primeiro-ministro do
Suriname. Em 1986, recebeu o presidente colombiano Belisario Betancur em Manaus, para instituir
a Comissão de Coordenação Brasileiro-Colombiana (30 de janeiro); visitou a Argentina (28 a 30 de
julho); recebeu os presidentes da Venezuela, Jaime Lusinchi (9 de abril), de El Salvador, José Napoleón
Duarte (20 e 21 de maio), do Uruguai, Julio Sanguinetti (11 a 13 de agosto) e da Argentina, Raul
Alfonsín (9 a 11 de dezembro) e encontrou-se com Julio Sanguinetti nas duas vezes em que esteve
com Alfonsín. Em 1987, viajou a Montevidéu, para encontrar-se com os presidentes do Uruguai
e da Argentina, este último em visita oficial ao Uruguai (maio); visitou a Argentina, estendendo
sua viagem até Viedma, então pensada para ser a futura capital da Argentina (15 a 17 de julho), o
México (16 a 20 de agosto) e a Venezuela (15 a 17 de outubro); encontrou-se com Stroessner, em
Itaipu, para inaugurar as duas primeiras turbinas de 60 ciclos (16 de janeiro) e com o presidente
do Peru, Alán García, em Rio Branco e Puerto Maldonado, com o lançamento do “Programa de
Ação de Puerto Maldonado” (2 e 3 de junho); fez escala técnica em Trinidad e Tobago, mantendo
conversações com o primeiro-ministro Robinson (agosto); participou da I Reunião Presidencial
do Mecanismo Permanente de Consulta e Concertação (Grupo dos 8, depois Grupo do Rio), em
Acapulco (novembro), no regresso da qual fez escala em São José da Costa Rica para cumprimentar
o presidente Oscar Arias pelo recém-obtido Nobel da Paz; conversou por telefone com Fidel Castro
(janeiro) e recebeu a visita do mandatário surinamense Desi Bouterse (11 de setembro). Em 1988,
fez nova troca de visitas com Alfonsín (Alfonsín visita o Brasil de 6 a 8 de abril e Sarney visita a
Argentina de 28 a 30 de novembro); visitou a Colômbia (7 a 9 de fevereiro) e a Bolívia (31 de julho
a 3 de agosto); encontrou-se com o presidente da Colômbia, Virgilio Barco, em Carajás (16 de abril),
e com o presidente da Venezuela, Jaime Lusinchi, em São Luís e Trombetas (8 e 9 de outubro); e
participou da II Reunião Presidencial do Mecanismo Permanente, em Punta del Este (novembro).
Em 1989, foi o primeiro presidente brasileiro a visitar o Suriname e a Guiana (2 e 3 e 3 e 4 de março,
respectivamente) e o Equador (25 e 26 de outubro); visitou o Paraguai (13 de novembro); promoveu
a primeira reunião dos presidentes dos países-membros do Tratado de Cooperação Amazônica,
em Manaus (4 a 6 de maio); participou da II Reunião Presidencial do Mecanismo Permanente de
Consulta e Concertação, em Ica, Peru (11 e 12 de outubro); encontrou-se em Uruguaiana com
os presidentes Sanguinetti e Menem, recém-empossado (22 de agosto); e recebeu as visitas dos
presidentes do Peru, Alán García (6 e 7 de maio), do Suriname, Ramsewak Shankar (9 a 13 de agosto),
da Argentina, Carlos Menem (23 de agosto, em seguida ao encontro tripartite de Uruguaiana) e da
Guiana, Hugh Desmond Hoyte (3 a 7 de outubro). Sarney também esteve presente às posses de
alguns presidentes sul-americanos; aproveitou-se desse pretexto para visitar, nos últimos dias do
seu governo, o Chile, o único país sul-americano em que não havia estado, para a posse do primeiro
presidente civil chileno desde Allende. Patricio Aylwin. Os dados sobre as atividades presidenciais do
governo Sarney estão esparsos nas Mensagens ao Congresso Nacional, 1986 a 1990, nos Relatórios
do Ministério das Relações Exteriores, 1985 a 1989, e nas Resenhas de Política Exterior do Brasil, n. 44
a 64, 1985 a 1990.
443
Sérgio Danese
838 Cf. SARNEY, J. Mensagem ao Congresso Nacional na abertura da 4ª Sessão Legislativa da 48ª Legislatura.
Brasília, 1990, p. XXIII-XXIV. Seixas Corrêa lembra que “[a]o final do seu mandato, o presidente
Sarney orgulhava-se de ter visitado todos os países da América do Sul [além do México (Trinidad
e Tobago) e Costa Rica], alguns mais de uma vez, tendo recebido em Brasília praticamente todos
os seus colegas da região. Alterando a prática anterior, o presidente passou também a prestigiar
pessoalmente a posse de diversos presidentes latino-americanos, estabelecendo com seus colegas
uma relação de trabalho e confiança fundamental para o êxito do seu projeto regional”. Cf. SEIXAS
CORRÊA, L. F. de. ‘‘A política externa de José Sarney”, cit., p. 373.
839 Sarney fez uma histórica visita de Estado a Buenos Aires de 28 a 30 de julho de 1986, sendo o
primeiro presidente a ser recebido no Congresso argentino desde a visita de Getúlio Vargas em
1935; Alfonsín retribuiu a visita de 9 a 11 de dezembro de 1985. “[D]esde 1986, [Sanguinetti] esteve
presente a todos os encontros dos seus colegas do Brasil e da Argentina”. Cf. SARNEY, J. Mensagem...
444
A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
48ª legislatura [1990], cit., p. 48. A chancelaria da embaixada brasileira em Buenos Aires registra o ato
inaugural, em 1989, com a presença dos três presidentes...
840 Sarney encontrou se com os presidentes de Moçambique. Samora Machel, do México, Miguel
de la Madrid, do Peru. Alán García, do Uruguai, Julio Sanguinetti, da Venezuela, Jaime Lusinchi e
do Panamá, Nicolás Ardito Barletta; com os chefes de governo da Espanha, Felipe González, e da
Polônia, Wojciech Jaruselski; e com o secretário de Estado George Shultz e o chanceler soviético
Edouard Shevardnadze. Cf. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório 1985, cit., p. 54-55.
841 Além de Portugal e URSS, onde assinou com Gorbachev, além de vários atos bilaterais, a pomposa
Declaração sobre os princípios da integração em prol da paz e da cooperação internacional,
“documento balizador das relações Leste-Sul”, de acordo com a Mensagem ao Congresso de 1990
445
Sérgio Danese
(cit., p. 54), Sarney visitou oficialmente a Itália (em conexão com a visita a Portugal, mas essa visita
é objeto apenas de menção tanto na Mensagem ao Congresso Nacional relativa a 1986 quanto no
Relatório do MRE, de 1985, sem qualquer menção na Resenha correspondente); fez escalas técnicas
em Lisboa e Paris, a caminho da União Soviética, em 1988, mantendo conversações com seus
homólogos; e esteve na França, para as comemorações do bicentenário da Revolução Francesa
(julho de 1989); e recebeu no Brasil as visitas dos presidentes da França, François Mitterrand (outubro
de 1985), da Alemanha, Richard von Wizsaecker (15 de março de 1987) e de Portugal, Mário Soares
(março de 1987), dos chefes de governo da Finlândia, Kalevi Sorsa (16 e 17 de junho de 1986, da
Espanha, Felipe González (13 a 19 de junho de 1987), de Portugal, Aníbal Cavaco Silva (9 de junho
de 1988), e da Tchecoslováquia, Lubomir Strougal (11 de maio de 1988) e do presidente do Conselho
Presidencial da Hungria, Károly Néméth (novembro de 1987). A governadora-geral do Canadá, país
“assemelhado’’ aos europeus da OCDE, visitou o Brasil em 16 de fevereiro de 1989. É uma agenda
reduzida, esparsa e irrelevante, se comparada com a agenda latino-americana do presidente. Os
dados são retirados das Mensagens ao Congresso Nacional, 1986-1990, Relatórios do MRE, 1985-1989,
e Resenhas de Política Exterior do Brasil, n. 44 a 64, 1985-1990.
842 Entrevista ao A., 10 de maio de 1997.
446
A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
843 “A decisão do presidente Sarney de ir aos EUA em setembro de 1986, quando o contencioso
comercial parecia alcançar o ápice, respondeu a preocupações de duas ordens. A primeira, a de
apresentar nos EUA o regime civil e a sua faceta econômica, o Plano Cruzado, que já começava a
apresentar sinais de esgotamento, mas que permaneceria submetido às injunções político-eleitorais.
A segunda, a de desobstruir os canais de comunicação direta com o governo norte-americano no
mais alto nível. [Parecia] importante persuadir o governo, o Congresso e a opinião pública norte
‑americanos de que as relações globais entre o Brasil e os Estados Unidos eram politicamente muito
mais relevantes do que qualquer problema setorial, e que não se deveria deixar que as questões
específicas contaminassem o contexto mais amplo”. Cf. SEIXAS CORRÊA, L. F. de. “A política externa
de José Sarney”, cit., p. 378.
844 Entrevista ao A., 10 de maio de 1997. A partir de 1987, a questão ambiental veio somar-se aos
contenciosos comerciais e financeiros e aos diferendos políticos na área de não proliferação e vendas
de armas, envenenando ainda mais a relação bilateral.
447
Sérgio Danese
845 Cf. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório 1988. Brasília: Ministério das Relações
Exteriores, 1990, p. 29-33. Sobre o processo preparatório no ano anterior ao da visita, cf. MINISTÉRIO
DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório 1987. Brasília: Ministério das Relações Exteriores, 1989, p. 25-27.
846 O presidente recebeu no Brasil os presidentes da Argélia, Chadli Bendjedid (13 e 14 de outubro de
1985), do Zaire, Mobutu Sese Seko (16 a 18 de janeiro de 1987), do Cabo Verde, Aristides Pereira (21
a 28 de abril de 1987), e de Moçambique, Joaquim Chissano (8 e 9 de abril de 1988). Em 1989, Sarney
promoveu, em São Luís, o Encontro dos Chefes de Estado dos Países de Língua Portuguesa (1º de
novembro), que constituiria um embrião da futura Comunidade de Países de Língua Portuguesa. Cf.
Relatórios do MRE e Mensagens presidenciais relativos aos anos mencionados.
448
A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
847 Para a visita a Cabo Verde, cf. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório 1986, cit., p. 17-18.
Não há referências à visita a Angola (26 a 28 de janeiro de 1989) no Relatório, na Mensagem ou na
Resenha correspondentes a janeiro de 1989. A descrição da visita pioneira está na nota de serviço
334v/89, de 20 de janeiro de 1989, do Gabinete Militar da Presidência da República, anexo A.
848 A ZOPACAS, que o presidente foi antecipando como iniciativa já no discurso nas Nações Unidas,
em 1985, e nos discursos que fez em Portugal e Cabo Verde, em 1986 foi talvez a única iniciativa
de diplomacia paralela do governo Sarney. O presidente reconheceu que a proposta foi feita a
ele, pessoalmente, pelo embaixador Celso Souza e Silva, que lhe levou um documento sobre o
assunto, mais ambicioso do que a forma finalmente adquirida pela ZOPACAS. Sarney, que à época
já estava comprometido com a sua política sul-americana, passou o assunto ao Itamaraty, com a
recomendação de que fosse levado adiante com menos abrangência do que a proposta. Entrevista
ao A., 10 de maio de 1997. Cf., TAMBÉM MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório 1986.
Brasília: Ministério das Relações Exteriores, 1988, p. 63-64.
849 Tanto o reconhecimento da capacitação brasileira para enriquecer o urânio, com a ressalva formal
de que somente seria utilizado para fins pacíficos (1987), quanto o lançamento do “Programa Nossa
Natureza” (1989), foram objeto de discursos presidenciais. Cf. Resenha de Política Exterior do Brasil,
n. 54, jul./ago./set. de 1987, p. 31-34 (urânio), e n. 61, abr./maio/jun. de 1989, p. 11-24 (“Programa
Nossa Natureza”).
449
Sérgio Danese
850 Essa tendência regional espelhava a tendência mundial da criação de grupos de geometria variável,
como o Grupo dos Quinze, que também se somou à nossa agenda presidencial, ou de convocação
de reuniões de cúpula mundial como a Cúpula da Criança e a Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento, a que se seguiram várias outras.
451
Sérgio Danese
452
A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
851 Collor visitou os Estados Unidos (25-26/1/90), Japão (29/1), União Soviética (1º/2), Alemanha
(2-3/2), Reino Unido (7-8/2) e Portugal (9/2). Em cada visita, pronunciou ao menos um discurso de
substância. Falou em locais como o Council of the Americas, o Keidanren e a Academia de Ciências
da URSS.
453
Sérgio Danese
852 Para um registro da atividade presidencial de Fernando Collor, cf. Resenhas de política exterior do
Brasil, n. 65 a 71, 1990-1992. Para uma análise crítica da política externa de Collor, cf. BATISTA, P. N.
“Modernização ou retrocesso?”. In: Política externa, v. 1, n. 4, mar./abr./maio de 1993, p. 106-135.
853 Alguns dos principais discursos de Collor na área externa foram o de sua posse (15/3/1990), os três
discursos nas Nações Unidas, o discurso perante a Assembleia Legislativa de Portugal e o discurso
de abertura da Rio-92. Também tiveram impacto os discursos de anúncios de medidas tópicas nas
áreas de direitos humanos, direitos dos indígenas e direitos das crianças.
854 Em 1990, Collor fez sua primeira visita oficial ao exterior à Argentina (5 e 6 de julho), e encontrou-se
com Menem em Foz do Iguaçu (28 de novembro), assinando a “Declaração sobre Política Nuclear
Comum”; visitou também, em outubro, Portugal – outra imponente visita de Estado de presidente
brasileiro – e a então República Tcheca e Eslovaca, e o Japão, em novembro; recebeu as visitas dos
presidentes da China, Yang Shangkun (17 a 19 de maio), do Chile, Patricio Aylwin (25 a 27 de julho),
do México, Carlos Salinas de Gortari (9 e 10 de outubro), do Equador, Rodrigo Borja (6 e 7 de
novembro), e dos Estados Unidos, George Bush (3 e 4 de dezembro), e encontrou-se também com
o presidente da Venezuela na fronteira; e participou das Assembleias Gerais da ONU e da OEA e da
Cúpula Mundial da Criança, em Nova York. Teve alguns encontros paralelos nas Nações Unidas, um
deles com Salinas, que o cooptou para lançar as Reuniões de Cúpula Ibero-Americanas. Cd. COLLOR, F.
Mensagem ao Congresso Nacional na abertura da 1ª Sessão Legislativa Ordinária da 49ª LegisIatura.
Brasília, 1991, p. 95-98. Para o discurso na XLV AGNU, cf. SEIXAS CORRÊA, L. F. de. A palavra do Brasil
nas Nações Unidas, cit., p. 507-520. Em 1991, já com o seu programa econômico em dificuldades, o
início das denúncias sobre corrupção que levariam ao seu afastamento e impeachment em 1992, e
454
A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
uma sensível e inesperada mudança no seu discurso diplomático pessoal (expressa na entrevista
que concedeu em julho ao jornal mexicano Excelsior), Collor visitou a Antártica (fevereiro), fez sua
visita oficial aos Estados Unidos (18 e 19 de junho); visitou a Espanha (maio), a Suécia – para receber
a “tocha ambiental” (sic) – e a Noruega (junho), fora, portanto, do eixo central das relações com
a Europa; e fez um rápido périplo africano, compreendendo Angola, Moçambique, Zimbábue e
Namíbia (setembro). Encontrou-se na fronteira com o presidente do Uruguai (março) e em Itaipu
com o presidente paraguaio Andrés Rodríguez, para mais uma inauguração de turbina (maio).
Inaugurou a participação brasileira na Cúpula Ibero-Americana, em Guadalajara, que havia ajudado
o México e a Espanha a promover e convocar; voltou à ONU para abrir a XLVI Sessão da Assembleia
Geral, quando cunhou a frase que sintetizaria uma parte dos objetivos da Conferência do Rio (“Não
podemos ter um planeta ambientalmente sadio num mundo socialmente injusto”); e recebeu as
visitas dos presidentes do Uruguai, do Paraguai, da Argentina, da Colômbia e da Venezuela; do
papa João Paulo II; do chanceler Federal Helmut Kohl, dos primeiros-ministros de Portugal, da
Romênia e da Malásia, Mohamed Mahatir, dos príncipes-herdeiros da Grã-Bretanha e de Nelson
Mandela. O ano de 1992 foi dominado pela Conferência de Cúpula das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, que gerou, por iniciativa brasileira, duas reuniões de cúpula regionais,
preparatórias do encontro: a II Reunião Presidencial dos Países Amazônicos, realizada em Manaus,
em 10 de fevereiro de 1992, e Reunião de Presidentes do MERCOSUL, em Canela, em 20 de fevereiro.
Afetado pelas denúncias de seu irmão, pouco antes do início da Conferência, Collor participou
protocolarmente da Rio-92, desempenhando-se como anfitrião dos mais de cem chefes de estado
e governo presentes no Rio de Janeiro – ainda hoje o maior encontro de cúpula da história – e
discursando na abertura da reunião, no encerramento do segmento de cúpula, por ocasião de fazer
o sumário da reunião, e nas cerimônias de assinatura das duas convenções aprovadas, a do clima e a
da biodiversidade. Collor recebeu algumas visitas (primeira-ministra da Noruega, Gro Brundtland, de
16 a 18 de março, e da presidente da Nicarágua, Violeta Chamorro, de 22 a 25 de março). Em julho
de 1992, ainda participou da II Cúpula Ibero-Americana de Madri, na qual a delegação brasileira teve
de ser submetida ao constrangimento de contornar propostas de inclusão do tema da corrupção na
declaração presidencial. Já prestes a ser afastado do governo, em agosto de 1992, Collor entrevistou
‑se em Santa Cruz de la Sierra com o presidente Paz Zamora, para novo compromisso presidencial
brasileiro relativo ao gás boliviano (17/8/92). A exemplo do que ocorrera em Guadalajara no jantar
a dois que reuniu Collor e Salinas de Gortari, não ficou registro do que foi conversado entre Collor e
Paz Zamora. Mais tarde, o governo boliviano reclamou o cumprimento de promessa, alegadamente
feita pelo presidente brasileiro ao seu colega boliviano, de financiamento brasileiro para a construção
do aeroporto de Cobija. Cf. COLLOR, F. Entrevista ao jornal Excelsior, 14 de julho de 1991. Cf. id.
Mensagem ao Congresso Nacional na abertura da 2ª Sessão Legislativa Ordinária da 49ª Legislatura.
Brasília, 1992, p. 81-85. Para o discurso na XLVI AGNU, cf. SEIXAS CORRÊA, L. F. de. A palavra do
Brasil nas Nações Unidas, cit., p. 521-536. Cf. Resenha de Política Exterior do Brasil, n. 70, 1º semestre
de 1992, p. 147-161.
455
Sérgio Danese
855 Collor encontrou Salinas em Nova York, à margem da Cúpula da Mundial da Criança, pouco antes
da viagem de Salinas ao Brasil. “Foi dito que o objetivo da reunião seria simplesmente o de quebrar
o gelo entre os dois mandatários, que não se conheciam, de maneira a facilitar o diálogo a ser
empreendido na visita oficial [que Salinas faria ao Brasil em outubro]. [...] Após as cortesias de praxe,
Salinas foi ao assunto. Propunha, em nome do México e da Espanha, que o Brasil se associasse à
convocatória de uma série de conferências de alcance ibero-americano. [...] A reação do presidente
Collor foi imediata. Comprometeu, sem reservas, o apoio do Brasil. Autorizou o presidente Salinas
a anunciar à imprensa, à saída do encontro, a decisão a que haviam chegado os três países”. Cf.
SEIXAS CORRÊA, L. F. de. “As Conferências de Cúpula Ibero-Americanas: um formato em busca de
substância”, cit., p. 153-154.
456
A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
856 Para um registro da atividade presidencial de Itamar Franco, cf. Resenhas de Política Exterior do Brasil,
n. 71 a 75, 1992 (segundo semestre) a 1994 (segundo semestre). Cf. também FRANCO, I. Mensagem
ao Congresso Nacional na abertura da 3ª Sessão Legislativa da 49ª Legislatura. Brasília, 1993, p. 57-61;
e Mensagem ao Congresso Nacional na abertura da 4ª Sessão Legislativa da 49ª Legislatura. Brasília,
1994, p. XV-XVII e 71-76. Itamar Franco foi o anfitrião da III Cúpula Ibero-Americana, em Salvador
(julho de 1993) e da VIII Reunião de Cúpula do Grupo do Rio, no Rio de Janeiro (setembro de
1994), e participou, já nos últimos dias do seu governo, da Reunião de Cúpula Hemisférica de Miami,
quando convidou o presidente eleito Fernando Henrique Cardoso para acompanhá-lo e participar
das deliberações.
857 Itamar Franco visitou a Bolívia (Cochabamba, em fevereiro de 1993, novamente por causa do gás),
a Argentina, durante as comemorações da data nacional, e o Uruguai (maio de 1993). Encontrou
‑se com o presidente colombiano, César Gaviria, em Letícia, para a inauguração da Comissão de
Vizinhança (janeiro de 1994) e com o presidente venezuelano, Rafael Caldera, em La Guaira (março
de 1994), para relançar as relações bilaterais adversamente afetadas por problemas gerados pela
atividade garimpeira na região da fronteira. Recebeu diversas visitas de mandatários estrangeiros,
entre eles o presidente da China, Jiang Zemin (novembro de 1993), e reviveu a prática de convidar
chefes de estado estrangeiros para participarem das comemorações da Independência, convidando
o presidente venezuelano em 1994.
457
Sérgio Danese
458
A diplomacia presidencial de Jânio Quadros a Itamar Franco
459
CAPÍTULO 10
UMA TIPOLOGIA E AS VERTENTES DA DIPLOMACIA
DE CÚPULA
461
Sérgio Danese
858 Cf. BARILLEAUX, R. J. “Evaluating performance in foreign affairs”. In: EDWARDS III, G. C. et al. (ed.).
The president and public policy making, cit., p. 114 e ss.
859 Cf. ibid., p. 115-116.
860 Cf. ibid., p. 116.
462
Uma tipologia e as vertentes da diplomacia de Cúpula
10.2. Iniciativas
A segunda vertente é a das iniciativas que o mandatário
propõe e assume como próprias. É normalmente decorrência
natural da primeira vertente, uma espécie de resultado prático,
463
Sérgio Danese
464
Uma tipologia e as vertentes da diplomacia de Cúpula
que eles estavam procurando alguma coisa, então eles vieram com
alguma coisa”863.
As iniciativas são também a área mais original e unilateral da
diplomacia de cúpula. Não são, senão indiretamente, decorrência
de moda ou da intensificação geral do uso da diplomacia de cúpula,
porque dependem de elementos mais concretos, como uma base real
de possibilidade. É claro que muitas vezes a capacidade de iniciativa
se reduz a propor reuniões ou conferências – geralmente de cúpula,
mesmo –, como foi o caso das reuniões ibero-americanas, ou mais
recentemente da proposta de reuniões de cúpula Europa-América
Latina, mas esse tipo de propostas apenas superficialmente se
identifica com a diplomacia das iniciativas. Os melhores exemplos
de iniciativas são mesmo unilaterais, como o Plano Marshall, a
Aliança para o Progresso, projetos de tratados e convenções, etc.,
que confirmam a liderança do país em um processo ou conduzem a
ela, com evidente retorno para o mandatário responsável ou para
a sua Administração.
Uma lição importante da história em matéria de iniciativas é
que dificilmente uma iniciativa conjunta com um país mais poderoso
ou um mandatário mais proeminente e com melhor assessoria
gera para o coparticipante ou o proponente original os benefícios
esperados. A Operação Pan-Americana é paradigmática: a proposta
dependia da anuência e da cooperação norte-americana; o governo
dos Estados Unidos aproveitou-se da generalidade propositiva da
OPA e logo a tomou para si, convocando a reunião de chanceleres
em Washington. A partir daí, a projeção da OPA ficou muito mais
por conta do esforço do governo brasileiro e do próprio presidente
Kubitschek, que acabou aparecendo como o proponente, apenas,
de um movimento continental. Logo depois, Kennedy daria
863 Citado por HARRIS, J. F. “Clinton to pursue strategic vision with drive for NATO expansion”. The
Washington Post, 22 de maio de 1997, p. A28.
465
Sérgio Danese
864 Giglio resume algumas das críticas que a “Aliança para o Progresso” recebeu dentro e fora da
Administração norte-americana. “‘The Alianza’, [Richard Goodwin] contended [em memorandum
de 10 de setembro de 1963 para Kennedy], ‘has the same troubles as the Washington (baseball)
Nats – they don’t have the ballplayers. There are, of course, some very good people, but there is also
a tremendous amount of mediocrity in high places’. Goodwin blamed the failure on the ‘complete
lack of good recruiting effort, impossible personnel procedures, a structure which discourages
individual initiative and responsibility, a careerist mentality, and inability to recognize mediocrity
when it is seen’. [...] The Brazilian Ambassador Roberto Campos added that the program under
Kennedy became ‘highly bureaucratized, extremely timid, and overly conservative’. [...] For the most
part, the Alliance represents an ambiguous legacy largely because of the administration’s unfulfilled
and contradictory objectives. What survived was as much a military as an economic aid program;
Kennedy had devoted too much attention to Castro and not enough time to the Alliance’s lofty
goals”. Cf. ibid., p. 235-236.
466
Uma tipologia e as vertentes da diplomacia de Cúpula
467
Sérgio Danese
468
Uma tipologia e as vertentes da diplomacia de Cúpula
866 A reunião realizou-se em 16 de junho de 1997, em meio a muitas dúvidas sobre o futuro do Euro em
razão das vitórias de centro-esquerda na Grã-Bretanha e na França.
469
Sérgio Danese
867 Cf. MORRIS, E. The rise of Theodore Roosevelt. New York: Ballantine Books, 1980, p. 12.
868 Também como instrumentos de relações públicas algumas visitas norte-americanas são exemplares.
David McCullough relembra, ao expor a visita de Truman ao México, no início de março de 1947
(a primeira de um presidente norte-americano), a importância de certos gestos simples de simpatia
em relação ao país visitado. De forma apresentada como improvisada na programação, Truman
anunciou, em sua estada na Cidade do México, que desejava conhecer o monumento aos Meninos
Heróis de Chapultepec (cadetes mexicanos que se teriam atirado do penhasco de Chapultepec
para não entregar a bandeira aos invasores ianques, na guerra de 1847). O efeito sobre o público
mexicano pode ser resumido na frase de um proeminente engenheiro: “One hundred years of
misunderstanding and bitterness wiped out by one man in one minute. This is the best neighbor
policy”. McCullough resume o significado do gesto: “with one simple, unheralded gesture, he
[Truman] did more to improve Mexican-American relations than any President in a century. Within
hours, as the word spread, he had become a hero”. Cf. McCULLOUGH, D., op. cit., p. 542-543.
869 Em telegrama de análise sobre o significado da visita do imperador do Japão ao Brasil – um caso
extremo, mas ilustrativo –, o embaixador em Tóquio, Fernando Reis, diz: “[...] o significado primordial
da visita está em sua própria realização. No plano diplomático bilateral, seu êxito está assegurado por
antecipação, pois o gesto constitui, em si mesmo, a máxima distinção de amizade dada pelo Japão
a outro país. Em outras palavras, a visita do casal imperial sinaliza, no mais alto nível, a importância
que o Japão confere ao relacionamento com o Brasil”. Cf. telegrama 237, de 1º de maio de 1997, da
Embaixada em Tóquio para a Secretaria de Estado. Arquivo da Secretaria de Estado.
470
Uma tipologia e as vertentes da diplomacia de Cúpula
870 Cf. documento “Notas sobre comitivas de viagens presidenciais ao exterior”, de 19 de julho de 1996,
preparado pela Assessoria Especial da Presidência da República. Arquivo do Gabinete do Ministro
de Estado. Sem chegar a uma tipologia abrangente – na verdade, reduzida a viagens bilaterais e
multilaterais, com uma variante identificada como “viagens cerimoniais”, o estudo conclui pela
flexibilidade das comitivas em função da combinação dos elementos básicos que orientam
a preparação de uma visita: os objetivos e os aspectos simbólicos da viagem, a austeridade, e o
binômio segurança e comodidade.
871 O então deputado José María Aznar, líder da oposição espanhola, visitou o Brasil em outubro
de 1995 na condição de virtual candidato ao cargo de presidente do governo espanhol. Durante
a campanha presidencial brasileira de 1989, alguns candidatos viajaram para apresentar-se à
comunidade internacional (Lula, Mário Covas). Jânio viajou como candidato em 1960.
872 A participação do presidente brasileiro em posses presidenciais é novidade que remonta apenas ao
governo Sarney; antes disso, a prática era o envio de missões especiais ou a acreditação do próprio
embaixador no posto. Houve momentos em que essas missões especiais tiveram nível de chefia
superior ao de ministro de estado – o vice-presidente ou os presidentes dos outros Poderes.
O problema maior com essa prática é a criação da obrigatoriedade e o significado que a ausência
passa a ter (em outro país, no mesmo país com outro presidente). Tempos atrás, apresentou-se o
problema no Brasil: o presidente foi à posse do presidente peruano em julho de 1996, mas não foi
à posse do presidente equatoriano logo depois (por uma questão de equidade, e porque somos
garantes do Protocolo do Rio de Janeiro, deveria em princípio ter ido a ambas ou a nenhuma delas).
Como nada se faz sem um pouco de sorte, o presidente equatoriano foi impedido alguns meses
depois da sua posse e o problema, mais do que neutralizado, transformou-se em uma indicação a
posteriori do extraordinário faro político da diplomacia brasileira (“El Itamaraty no improvisa...”).
471
Sérgio Danese
6. Atos comemorativos:
a) unilaterais (por exemplo, as festividades do bicentenário
da Revolução Francesa, em Paris, em 1989)
b) bilaterais
c) multilaterais (comemorações do VE-Day, Cinquentenário
da ONU)
7. Escala técnica com contato oficial;
8. Visitas bilaterais unitárias, nas três categorias usualmente
utilizadas pelos protocolos:
a) visita de Estado
b) visita oficial
c) visita de trabalho873
9. Encontros bilaterais regulares, alternando a sede;
10. Encontros bilaterais paralelos a compromissos regionais ou
multilaterais;
11. Encontros sub-regionais paralelos a compromissos regionais
ou multilaterais;
12. Encontros de fronteira874:
a) do lado do país do mandatário
873 A visita de trabalho pode dar-se em cidade que não seja a capital; as demais, a não ser
excepcionalmente, incluem sempre a capital e, se for o caso, a cidade onde está sediado o Poder
Legislativo (por exemplo, Valparaíso, no Chile); por uma questão de conveniência, pode-se fazer
uma visita oficial fora da capital (Figueiredo foi a Santa Cruz de la Sierra, em vez de La Paz, e a
Cancún, em vez da Cidade do México, por motivo de saúde).
874 A diplomacia brasileira tem dado uma contribuição importante na consolidação dos encontros
de fronteira como modalidade funcional da diplomacia de cúpula, seja para avançar pontos
específicos da agenda (em geral vinculados a obras de infraestrutura e a questões de interesse das
áreas fronteiriças), seja como alternativa política a encontros de maior envergadura e visibilidade.
Essa contribuição é natural provindo de um país com dez vizinhos e áreas fronteiriças com intensa
atividade humana nos dois lados da fronteira. É talvez uma das linhas de força da diplomacia
presidencial brasileira, até porque o número de encontros de fronteira é equiparável ao de visitas
propriamente ditas. É até simbólico que o primeiro encontro de cúpula de um chefe de estado
brasileiro tenha sido de fronteira – D. Pedro II em Uruguaiana, em 1865.
472
Uma tipologia e as vertentes da diplomacia de Cúpula
473
Sérgio Danese
474
Uma tipologia e as vertentes da diplomacia de Cúpula
875 Vários episódios mais recentes na diplomacia brasileira ilustram esse problema e a importância de
que se estabeleçam critérios funcionais de hierarquização das visitas. Por exemplo: nunca tinha
havido uma troca de visitas entre as Filipinas e o Brasil. Depois de alguma insistência de parte das
autoridades filipinas, sem que houvesse maior substância no relacionamento bilateral do que um
contencioso comercial sobre o coco seco e ralado, levado à Organização Mundial do Comércio e
ganho pelo Brasil para grande desespero filipino, o governo brasileiro aceitou convidar o presidente
filipino para uma visita ao Brasil. Não bastasse a disfuncionalidade do convite – afinal, para convidar
alguém não deveria ser suficiente apenas o seu desejo de vir ou de aproveitar um périplo pela
região –, propôs-se que o mandatário filipino fosse convidado para uma visita de Estado. Ou seja,
sem qualquer grau intermediário de aproximação ou de intensificação das relações, passar-se-ia,
no plano das relações bilaterais, diretamente da indiferença de décadas a uma visita de Estado. Cf.
memorandum DAOC-II/66, de 10 de outubro de 1996. Arquivo do Gabinete do Ministro de Estado.
475
Sérgio Danese
876 Cf. LAFER, C.; FONSECA JR., G. “Questões para a diplomacia no contexto internacional das
polaridades indefinidas (notas analíticas e algumas sugestões)”. In: FONSECA JR., G.; NABUCO, S.
(org.). Temas de política externa brasileira II, v. 1, cit., p. 73.
877 O documento “Notas sobre comitivas...”, cit., faz uma divisão entre a parte “rígida” da visita e a parte
“livre”, considerando rígida toda a parte protocolar e de contatos oficiais, e livre precisamente o
conjunto de variantes que aqui se consideram obrigatórias. “A viagem não se resume assim às
476
Uma tipologia e as vertentes da diplomacia de Cúpula
477
Sérgio Danese
2. Vertente parlamentar:
a) Contatos com parlamentares do país visitado
b) Inclusão de parlamentares na comitiva
c) Visita ao Parlamento do país visitado
3. Vertente federativa:
a) Inclusão de governadores, prefeitos ou parlamentares
estaduais ou locais na comitiva
b) Participação em evento promovido por estado/província
ou município nacional no país visitado
c) Contatos com representantes da sociedade organizada de
estados ou municípios
4. Vertente de política interna nacional:
a) Inclusão de políticos na comitiva
b) Discurso ou mensagem voltada para o público interno
c) Anúncios de medidas administrativas internas
5. Vertente econômica:
a) Contatos na área econômica do governo anfitrião
b) Contatos nas agências de Cooperação Econômica do
governo anfitrião ou sediadas no país visitado
c) Participação em seminário econômico
6. Vertente empresarial:
a) Acompanhamento por missão empresarial nacional
b) Inclusão de empresários na comitiva
ne peut se restreindre au dialogue entre les seules capitales”. Cf. CARDOSO, F. H. “Discours ... à
l’occasion du déjeuner offert par le Ministre de la Défense, Monsieur Charles Millon, Président du
Conseil Régional de Rhône-Alpes, le 30 mai 1996’’. In : Embaixada do Brasil em Paris – Visite d’Etat du
Président de la République Fédérative du Brésil et de Madame Fernando Henrique Cardoso. Discours.
Paris: Embaixada do Brasil, 1996, p. 122.
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Uma tipologia e as vertentes da diplomacia de Cúpula
880 Aqui se encaixa, por exemplo, a utilização do EMB-145 pelo presidente Fernando Henrique Cardoso
em seu deslocamento a Santiago do Chile, para VII Cúpula Ibero-Americana, em novembro de 1996.
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Uma tipologia e as vertentes da diplomacia de Cúpula
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881 Cf. KISSINGER, H., op. cit., p. 649. A diplomacia brasileira tradicionalmente atribuía ao vice-presidente
ser anfitrião de chefes de governo (primeiros-ministros), por uma questão de hierarquia protocolar,
mas a prática felizmente caiu em desuso pela razão óbvia de que os primeiros-ministros/chefes de
governo são para todos os fins políticos, administrativos e diplomáticos plenamente equiparáveis ao
presidente brasileiro.
882 “Jacqueline Kennedy turned into a major asset for the Kennedy presidency. Opinion polls gave her
high approval ratings, and she soon headed the list of ‘most admired women’. [...] Jackie helped
create the cultural aura of the Kennedy years”. Cf. GIGLIO, J., op. cit., p. 272.
486
Uma tipologia e as vertentes da diplomacia de Cúpula
883 “Jacqueline also played a positive role abroad in furthering the New Frontier image. In 1961 she
captivated de Gaulle, Khrushchev, and other foreign leaders as well as the European press. She did
the same later in Italy and Mexico, not only by projecting youth, beauty, and poise but by being
able to speak the language of the country. This made up for the president’s linguistic shortcomings
(according to a contemporary, he attempted French ‘with a bad Cuban accent’). On her extended
trip to India and Pakistan in 1962, taken without her husband, she charmed Prime Minister Nehru,
ordinarily a difficult person to move. He soon hung a picture of himself and Jackie strolling arm-in-
arm in the garden. Her letters from India, Pakistan, and elsewhere reportedly provided Kennedy with
insightful observations. At home as well despite her disdain of politics, she proved a valuable go-
between with Adlai Stevenson, Chester Bowles, and others whom Kennedy found hard to soothe.
She also gave him occasional advice, favoring the Test Ban Treaty and the Russian wheat deal”. Cf.
ibid., p. 273.
884 Nos Estados Unidos, por exemplo, Bess Truman, Mamie Eisenhower, Lady Bird Johnson e Patty Nixon
foram modelos de discrição; ninguém se lembra do nome da mulher de Gerald Ford e Barbara
Bush foi contida e distante: Rosalyn Carter foi utilizada pela diplomacia norte-americana e veio ao
Brasil em um momento difícil da relação bilateral, em parte servindo para melhorá-la, em parte
amplificando o tema dos direitos humanos, que constituía uma das raízes dos desentendimentos.
Nancy Reagan foi protocolar, mas Hillary Clinton teve maior visibilidade, de certa forma emulando
Jackie Kennedy.
487
Sérgio Danese
488
CAPÍTULO 11
ASPECTOS PRÁTICOS: ASSESSORIA, INICIATIVAS,
PREPARAÇÃO, FOLLOW-UP
489
Sérgio Danese
490
Aspectos práticos: assessoria, iniciativas, preparação, follow-up
885 “On matters of foreign policy, Kennedy relied mostly on McGeorge Bundy, special assistant for
national security affairs [...] Bundy’s job was to present Kennedy with clear alternatives on problems
of foreign policy and to oversee the bureaucracy. To assist him Bundy had a ten-to-fifteen-member
staff, including experts in European affairs, economics, intelligence, and communications. [...]
Bundy’s office became more significant following Kennedy’s growing disenchantment with the
State Department for its lack of fresh approaches and its dilatoriness, which caused Kennedy to
remark, ‘Damn it, Bundy and I get more done in one day...than they do in six months in the State
Department’. [...] In essence Bundy’s operation began to duplicate the work of the State Department
as it gathered material on the Common Market, NATO troop levels, Cuba, and Vietnam”. Cf. GIGLIO,
J., op. cit., p. 33.
886 “Bundy supplanted Secretary of State Rusk as the primary foreign policy adviser even though
Kennedy continued to listen to Rusk, McNamara, and others. No president kept a tighter rein on
foreign policy, yet few presidents learned to listen to as many divergent viewpoints”. Cf. ibid., p. 33.
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Aspectos práticos: assessoria, iniciativas, preparação, follow-up
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Aspectos práticos: assessoria, iniciativas, preparação, follow-up
888 A assessoria tem sido informalmente chamada a participar de reuniões preparatórias de visitas
presidenciais, mas a informalidade é precisamente o que causa descontinuidade e imprevistos. Essa
participação deveria ser institucionalizada.
889 Embora essas recomendações possam parecer evidentes, há uma tendência inercial a excluir a
assessoria de eventos e discussões no Itamaraty. Um exemplo simples é a participação de assessores
em banquetes oficiais no Itamaraty – uma participação natural, visto que nessas ocasiões, sempre, o
presidente faz um discurso cuja responsabilidade final é da assessoria. Apenas em 1997 houve uma
instrução taxativa do Ministro para que sistematicamente se incluísse um dos assessores juniores
da assessoria nesses banquetes. Cf. memorandum G/063 (ostensivo), de 13 de março de 1997, do
Ministro de Estado ao Secretário-Geral. Arquivo do Gabinete do Ministro de Estado. A inclusão nas
comitivas presidenciais não é atribuição do Itamaraty, que se limitaria a cumprir uma determinação
da Presidência.
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Aspectos práticos: assessoria, iniciativas, preparação, follow-up
890 Já com relação à imprensa seria preciso tomar mais cuidado. É frequente que relatos de conversações
do presidente com outros mandatários ou personalidades em geral sejam introduzidos já com a
ressalva de que “nada de importante foi dito”. Se assim foi, é melhor não dizer nada; ideal mesmo é
evitar que aconteçam conversas sem transcendência, comuns nos chamados “encontros paralelos”,
muitas vezes marcados apenas para preencher agendas.
891 “The NSC was created under the National Defense Act of 1946 to provide a policy planning and
advisory staff at the very pinnacle of government. lt serves to focus at one spot, immediately under
the President’s hand and for his exclusive use, all that this government knows or can learn about
conditions around the world affecting United States security, and the nation’s capability for dealing
with those conditions. Its purpose is not to grind out blueprints and directives but to involve broad
strategic concepts on which Presidential policies can be based. There might not have been a Pearl
Harbor if FDR had had a National Security Council to guide him. There could hardly have been a
NATO – or a Korean intervention – without it”. Cf. PHILLIPS, C., op. cit., p. 305. A literatura sobre o
NSC é vasta, mas pode ser útil para ajudar a recriar o papel de uma SAE no novo contexto fornecido
pela atuação da CREDEN e pela criação do Ministério de Defesa. Para duas boas sínteses, cf. HULT,
K., op. cit., p. 121 e ss; e DUMBRELL, J. “Executive foreign policy”. In: op. cit., p. 96-101.
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Aspectos práticos: assessoria, iniciativas, preparação, follow-up
894 Foi o que se viu na decisão de encaminhar o Tratado sobre a Não Proliferação Nuclear ao Congresso:
foi um ato típico de diplomacia presidencial, embasado no processo decisório colegiado da CREDEN.
895 O presidente Fernando Henrique recorreu ao expediente em 28 de março de 1997, mas a iniciativa
esbarrou em um problema de comunicação, porque se estabeleceu um vínculo entre a convocação
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11.2. Iniciativas
A diplomacia presidencial brasileira tem sido modesta na
sua capacidade de propor e implementar iniciativas de respon
sabilidade do próprio presidente. Seja por causa do reduzido
poder relativo do país, seja por uma questão de personalidade da
nossa diplomacia profissional, que tem grande ascendência sobre a
condução da política externa pelos presidentes, a palavra “liderança”
não faz parte do vocabulário diplomático brasileiro. Entretanto,
existe uma relação direta entre diplomacia presidencial afirmativa
ou ativa e a percepção de liderança – ou de busca de liderança.
E iniciativas são essencialmente atos de liderança. É expressivo,
a esse respeito, o seguinte editorial, que comentava a aula magna
do presidente Fernando Henrique Cardoso na Universidade de
Witwatersrand, na África do Sul:
O presidente Fernando Henrique Cardoso, se continuar,
como se espera, exercendo sua capacidade analítica em
discursos em universidades estrangeiras, logo obrigará o
Itamaraty a retirar do cofre a palavra “liderança”, para
colocá-la no lugar apropriado do discurso diplomático
brasileiro. Nas últimas décadas, o Itamaraty tem sido
excessivamente cauteloso para não dar a qualquer
de nossos vizinhos a impressão de que o Brasil tem a
pretensão de liderar a região, sob qualquer aspecto que
seja. [...] A realidade, no entanto, tornou tais cautelas
desnecessárias896.
As iniciativas poderão ser a melhor forma de expressão, por
um presidente brasileiro, dessa busca ou afirmação de liderança
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Aspectos práticos: assessoria, iniciativas, preparação, follow-up
897 Visitas programadas não foram combinadas com a outra parte e não puderam ser realizadas (foi o
caso da visita à África do Sul, que só se realizou em 1996); outras, combinadas com a outra parte,
tiveram de ser adiadas porque inexplicavelmente foram colocadas em momentos complicados do
ponto de vista da política interna: convocação extraordinária do Congresso, votações importantes,
administração de crises (foi o caso de visitas a Portugal, Angola, Itália, Reino Unido); outras, ainda
realizaram-se intempestivamente, sem maior preparação, provocando toda sorte de surpresas (foi o
caso da visita ao México, cuja realização em fevereiro de 1996 se deveu a um oferecimento de datas
“para os mexicanos não aceitarem” – e aceitaram); algumas visitas se “encavalaram”, criando graves
dificuldades para a sua preparação, pela escassez de recursos (foi o caso das visitas ao Canadá e ao
Uruguai, realizadas com dez dias de intervalo); o presidente acabou indo à Ásia duas vezes em pouco
mais de um mês (China e Malásia em dezembro de 1995 e Índia em janeiro de 1996), levantando
uma grita na imprensa contra as suas ausências; em março de 1996, menos de dois meses depois de
voltar da Índia, o presidente ia novamente ao Japão.
898 Deveria ser uma regra básica que os presidentes brasileiros não aceitem tornar de periodicidade
obrigatória qualquer troca de visitas; para um país do porte do Brasil, aceitar esses mecanismos
com países menores – em sua esmagadora maioria serão menores – é um gesto de tal magnitude
e magnanimidade que voltar atrás ou desativar o mecanismo depois de aceito ou implementado
tem um custo político infinitamente maior do que simplesmente dar uma desculpa polida – de
preferência não pelo presidente, cujo constrangimento seria sempre grande. É claro que nem sempre
é possível prever uma proposta dessa natureza, geralmente feita em conversa reservada entre os
mandatários precisamente para que o constrangimento force uma decisão favorável e irrecorrível.
Aliás, para isso, seria importante que se fixe a noção de que a melhor reação nesses casos é sempre
uma dilação. O presidente não reage na hora, porque uma reação imediata será quase sempre a
de aquiescência – ao menos, é o que a história tem demonstrado e o que se acha que a cortesia
brasileira obriga a fazer.
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901 Cf. ibid. O levantamento feito pela DAOC-I está no mesmo memorandum, que de fato é um bom
exemplo de atividade preparatória substantiva.
902 Cf. Arquivo do Gabinete do Ministro de Estado.
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Aspectos práticos: assessoria, iniciativas, preparação, follow-up
903 Cf. ibid. A instrução básica sobre providências relativas a visitas de autoridades brasileiras ao exterior
e de autoridades estrangeiras ao Brasil está em circular postal de novembro de 1995. Arquivo da
Secretaria de Estado. A circular contém o checklist básico das providências ligadas às duas formas
de visitas, no exterior e no Brasil. Apesar disso, tem havido dificuldade em incorporar essas
recomendações à rotina de trabalho das unidades e postos que tratam das visitas.
904 Despacho telegráfico, de outubro de 1996, da Secretaria de Estado para a Embaixada em
Pretória, relata a segunda reunião preparatória e lista os seguintes itens sob exame: comitiva,
imprensa, programa empresarial, programa acadêmico, programação cultural, acordos, agenda de
conversações, subsídios da Embaixada, comunicado final, Consulado em Cape Town e Secom em
Johanesburgo, bolsista no IRBr e MERCOSUL-SADC. Dessa forma, vai-se construindo cada item, em um
processo de sedimentação. Cf. Arquivo da Secretaria de Estado.
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905 Cf. “Aliança estratégica?”, O Estado de S. Paulo, 22 de fevereiro de 1996. A ideia de surpresa na agenda
de conversações foi amplamente recolhida. Cf., por exemplo, ABREU, M. de P. ‘‘Parceiros volúveis”,
O Estado de S. Paulo, 7 de março de 1996, p. B-2: “O presidente Fernando Henrique, em visita ao
México concebida como de natureza essencialmente política e cultural, foi surpreendido pela
proposta mexicana para que os dois países integrassem uma ‘aliança estratégica’, sem menção aos
blocos sub‑regionais dos quais participam”.
906 Cf. “A viagem do Presidente ao México”, O Estado de S. Paulo, 20 de fevereiro de 1996.
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Aspectos práticos: assessoria, iniciativas, preparação, follow-up
907 Roberto Campos ilustra com uma narração pitoresca essa antiga preocupação. Para a visita
presidencial de 1962, diz ele, “[o]s preparativos foram meticulosos. Enviei a San Tiago Dantas
o projeto de um memorandum com uma análise assaz completa dos problemas do nosso
relacionamento com os Estados Unidos, com recomendações específicas sobre cada um deles.
‘– Mas são 32 páginas – telefonou-me San Tiago. Jango jamais lerá esse catatau’. Enviei-lhe então
um compacto em cinco páginas que ele me pediu, ao chegar a Washington, que fosse comprimido
para três páginas, praticamente um roteiro para discussão. Mas não tenho certeza de que Jango,
que absorvia mais na conversa que na leitura, tenha sequer lido o papelucho”. Cf. CAMPOS, R.,
op. cit., p. 476. O memorandum detalhava os principais pontos de conversação com o presidente
e autoridades do Executivo norte-americano. Dividido em “Problemas de natureza política” e
“Problemas de natureza econômica”, o documento longo, de 32 páginas, a instâncias do chanceler
San Tiago Dantas, foi resumido a cinco páginas, sob o argumento de que o presidente não leria a
versão completa, e finalmente a três páginas. Ambos – o documento completo e o resumo final –
constituem bons exemplos de pontos de conversação, naturalmente dirigidos a leitores distintos,
porque dão fundamentalmente uma visão sucinta dos temas – o primeiro, um diagnóstico da
situação e os interesses brasileiros, e o segundo procurando informar, em pílulas, sobre o que a
parte norte-americana diria, para assim permitir a preparação da parte brasileira do diálogo. Os
documentos estão reproduzidos em ibid., p. 1297-1325 e 1326-1328.
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909 Cf. “Fórum dos leitores – Viagem ao Japão”, O Estado de S. Paulo, 12 de março de 1996.
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11.7. Follow-up
Como parte de um processo nas relações bilaterais, uma visita
presidencial naturalmente não deve esgotar-se na sua realização.
Visitas geram compromissos, entendimentos e muitas vezes
outra visita. Do ponto de vista diplomático, é importante que as
visitas sirvam de catalisador para avançar nas relações bilaterais.
Do ponto de vista da política interna, é importante que as visitas
possam apresentar resultados duradouros, ou que os resultados
das visitas anteriores possam servir de justificativa para visitas
futuras. O processo de follow-up é, portanto, parte da tentativa
de prolongar os resultados políticos imediatos de uma visita,
administrando os compromissos e expectativas dela oriundos.
910 Cf. MOTTA, A. “Discurso em plenário, 6 de fevereiro de 1997”, documento 451 da Câmara dos
Deputados. O presidente de governo da Espanha, José María Aznar, visitaria Porto Alegre, a caminho
de Buenos Aires, em 19 de abril de 1997.
518
Aspectos práticos: assessoria, iniciativas, preparação, follow-up
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912 Foi o caso, durante muitos anos, das turbinas geradoras prometidas ao governo da Guiana em visita
do presidente Sarney a Georgetown, que a Eletrobrás teve dificuldade em entregar.
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Aspectos práticos: assessoria, iniciativas, preparação, follow-up
913 Cf. memorandum G/016 (ostensivo), de 29 de janeiro de 1996, do Ministro de Estado para o
Secretário-Geral. Arquivo do Gabinete do Ministro de Estado.
914 Cf. ibid.
915 Cf. ibid.
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Aspectos práticos: assessoria, iniciativas, preparação, follow-up
919 O maço de acompanhamento da Malásia, por exemplo, foi encaminhado aos antigos ministérios
da Ciência e Tecnologia, da Indústria, do Comércio e do Turismo e do Meio Ambiente, dos
Recursos Hídricos e da Amazônia Legal e à SAE, cujos titulares ou secretários-executivos Ministérios
integraram a comitiva presidencial; e a vários outros ministérios interessados ou com competência
sobre assuntos da agenda bilateral. Cf. Informação n. 263-A, de 2 de dezembro de 1996, do ministro
de Estado para o presidente da República. Arquivo do Gabinete do Ministro de Estado. Outros
exemplos de processo de follow-up foram os da visita à África do Sul e da visita ao Japão.
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CAPÍTULO 12
COMUNICAÇÃO NA DIPLOMACIA PRESIDENCIAL:
IMPRENSA, DISCURSOS
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12.1. Imprensa
A imprensa tem sido tratada nas visitas presidenciais de
acordo com os cânones modernos. Através de entrevistas prévias à
visita ou no seu decorrer, individuais ou coletivas, tem-se buscado,
com sucesso, uma exposição de qualidade do presidente à imprensa
internacional em geral e do país visitado em particular, cobrindo
os vários tipos de mídia (grandes jornais, jornais especializados,
televisão, etc.). A combinação de interesse genérico pelo Brasil com
a alavancagem produzida pelos deslocamentos internacionais do
presidente parece estar funcionando bem, explorando, dentro dos
limites do possível, a atenção da mídia internacional.
A percepção dessa cobertura internacional pela imprensa
brasileira é expressiva do seu alcance. Nelson de Sá, por exemplo,
na coluna “No ar”, da Folha de S. Paulo, enxergava sinais de liderança
presidencial no interesse da mídia em espanhol: “FHC parece estar
mesmo se tornando um líder regional. Canais como a CNN em
espanhol, NBC em espanhol e Telenoticias começam a cobrir as
suas viagens e até entrar com imagens do dia”921.
920 Falta muito ainda para que a atividade de divulgação se integre harmoniosamente como uma das
dimensões-chave das visitas. O Brasil infelizmente não tem ainda uma política de difusão cultural
e divulgação no exterior equiparável à do México, por exemplo, para permitir uma sistematização
do seu uso como instrumento de apoio da diplomacia presidencial. O patrulhamento feito sobre
os custos, a existência de grupos antagônicos nas áreas de excelência da divulgação (artes plásticas,
teatro, música, futebol) e a própria improvisação e falta de recursos dão ainda uma feição embrionária
aos esforços que vêm sendo feitos. A carência de comunicação social no plano interno, por outro
lado, é justificativa ainda aceitável para concentrar aqui os esforços de divulgação e de orientação do
governo. Para um sumário das atividades e propostas de divulgação do Brasil no exterior nos anos
1990, cf. documento Divulgação do Brasil no Exterior. Brasília: Presidência da República/Secretaria de
Comunicação Social, 1996.
921 Cf. “O porte do Brasil”, coluna “No ar’’, Folha de S. Paulo, 16 de março de 1996.
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Comunicação na diplomacia presidencial: imprensa, discursos
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Sérgio Danese
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Comunicação na diplomacia presidencial: imprensa, discursos
923 Um exemplo interessante desse ponto de vista foi a programação da visita de FHC à Itália, que acabou
privilegiando uma ida do presidente a Bolonha, para mais um doutorado Honoris Causa, e que
tomou praticamente o dia inteiro, oferecendo a contrapartida de um auditório apenas meio cheio
e a imprensa brasileira concentrada em alegados protestos de italianos contra a situação agrária no
Brasil. Inexplicavelmente, perdeu-se a chance de ir a Pistoia e à área onde a FEB combateu, para uma
homenagem à participação brasileira na libertação da Itália, precisamente quando a novela da Rede
Globo, O Rei do Gado, havia indiretamente preparado a opinião pública para a visita, mostrando, dias
antes da viagem, um ex-pracinha em emocionada visita aos antigos campos de batalha. Quando se
compara a oportunidade perdida com o desempenho de Reagan na comemoração dos 40 anos do
desembarque na Normandia, quando fez um discurso épico na presença de veteranos, percebe-se
que talvez tenha faltando criatividade para combinar política externa com política interna. Em vez
disso, Bolonha deu manchetes com os tais “protestos”, na verdade uma panfletagem feita por um
único ativista italiano.
924 Antes da realização da visita presidencial ao Canadá, o governo canadense convidou alguns
formadores de opinião brasileiros (entre eles Dora Kramer), para um programa de visitas ao Canadá,
no formato aproximado do que o governo brasileiro tem promovido com formadores de opinião
estrangeiros. A iniciativa serviu para dar algum espaço extra na imprensa brasileira ao país visitado
pelo presidente, às relações bilaterais e às expectativas em relação à visita. O Itamaraty ficou sabendo
do programa por acaso, mas foi possível colocar os jornalistas em contato com a Embaixada do
Brasil em Ottawa, que com eles manteve bom diálogo, dando-lhes uma atenção que foi muito
elogiada no seu regresso ao Brasil.
529
Sérgio Danese
925 As ocasiões têm sido de fato numerosas. Por exemplo, o presidente criticou o Congresso durante a
visita ao México e retomou as críticas na visita ao Canadá; na visita à França, momentos após sair do
compromisso central da viagem, a audiência com o presidente francês Jacques Chirac, o presidente,
provocado por um repórter em meio a uma descontraída caminhada à beira do Sena, achou que
deveria confirmar o lançamento da candidatura do senador, então ministro do Planejamento,
José Serra, à prefeitura de São Paulo; na viagem ao Japão, um exemplo de discrição presidencial
sobre assuntos internos, foi a vez de um integrante da comitiva desancar repetidas vezes o então
presidente do Congresso. Cada episódio desses constituiu uma festa de manchetes e repercussões
na imprensa brasileira, impondo à dimensão diplomática das visitas um caráter apenas residual na
cobertura.
926 Cf. “Palavras preocupantes”, O Estado de S. Paulo, 22 de fevereiro de 1996.
530
Comunicação na diplomacia presidencial: imprensa, discursos
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Sérgio Danese
927 Kennedy, por exemplo, valia-se das entrevistas coletivas ligadas a fatos de política externa para
promover a sua imagem de estadista, enquanto evitava as perguntas que não lhe interessava
responder: “George Herman recalled that Kennedy deliberately gave the dullest possible answers
to unfriendly questions, knowing that they would be dropped. Otherwise he projected a smooth,
thoughtful image, showing himself able to handle peace and war. Herman called it ‘a fascinating
performance of skill’”. Cf. GIGLIO, J. N., op. cit., p. 262.
928 “[De Gaulle] understood the importance of speaking and of keeping silent: ‘There can be no power
without mystery’, he wrote […] ‘There must always be a ‘something’ which others cannot altogether
fathom, which puzzles them, stirs them, and rivets their attention... Nothing more enhances
authority than silence. It is the crowning virtue of the strong, the refuge of the weak, the modesty of
the proud, the pride of the humble, the prudence of the wise, and the sense of the fools”. Cf. SAFIRE,
W., op. cit., p. 815.
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930 Não deixa de ser impressionante que essa prática desorganizada e conflitiva praticamente se reduza
ao Brasil. Não se tem visto, nas inúmeras visitas dos presidentes brasileiros, que outros mandatários
sejam submetidos a tamanhos constrangimentos ou assédio pela imprensa e menos ainda que os
mandatários aceitem submeter-se a essa situação. Anos depois do fim do autoritarismo, era tempo
de começarmos a nos acostumar a uma relação mais organizada entre o governo e a imprensa, para
benefício de todos e sensível redução do stress e do ruído na comunicação social.
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12.2. Discursos
Como um dos pilares da vertente de comunicação, os
discursos cumprem, na diplomacia presidencial, três funções
complementares de grande importância, embora isso seja cada
931 Há variantes desse problema do adiamento da visita para o jornal da noite. Na visita à África do Sul,
em 1996, o presidente FHC fez o discurso no banquete oferecido pelo presidente Mandela tendo
uma barreira de cinegrafistas entre ele e a plateia. Quem quis ver – e a rigor ouvir – o presidente
falando teve de esperar pelo noticiário, apesar de estar a metros de distância dele.
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933 Cf. JAMIESON, K. H. Eloquence in an electronic age. The transformation of political speechmaking.
Oxford: Oxford University Press, 1988, p. 5.
934 Apud ibid., p. IX-X.
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extraordinary conviction and persuasiveness. Any acquaintance with Reagan leaves little doubt that
they expressed his actual views [...] Reagan put forward a foreign policy doctrine of great coherence
and considerable intellectual power”. Cf. KISSINGER, H., op. cit., p. 765.
938 Cf. JAMIESON, K. H., op. cit., p. X e 27.
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Comunicação na diplomacia presidencial: imprensa, discursos
939 Cf. ibid., p. 204. James Giglio, o biógrafo de Kennedy a quem tanto se recorre neste trabalho, lembra a
influência do principal sprechwriter de JFK e a sua identidade com o presidente: “Few senior staffers
saw the president more than special counsel Sorensen, whom Kennedy called his ‘intellectual blood
bank’. [...] [Sorensen’s] greatest influence remained a speechwriter, where he could incorporate
ideas into drafts that committed JFK to positions or policies consistent with Kennedy’s political
philosophy”. Cf. GIGLIO, J. N., op. cit., p. 31. Kathleen Jamieson estende-se na análise do papel dos
speechwriters como policy makers. Cf. JAMIESON, K. H. “The divorce between speech and thought”.
In: id., op. cit., p. 201-237.
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941 Dois episódios históricos – e engraçados – ilustram os limites a que pode chegar essa explicitação do
processo de speechwriting: após ler uma passagem de um dos seus discursos, o presidente Warren
G. Harding comentou: “I never saw this before. I didn’t write this speech and I don’t believe what I
just read’’. Durante sua campanha para o Senado pelo estado de Oregon em 1956, Douglas McKay
concluiu um longo discurso com um anúncio: “And now I’d like to say a few words of my own”. Apud
ibid., p. 210. Um problema recorrente com improvisos enxertados no texto escrito é que eles podem
antecipar, negar ou contradizer algo que vem depois, criando um grave problema de comunicação.
544
Comunicação na diplomacia presidencial: imprensa, discursos
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945 Lincoln deu um exemplo disso, em 17 de junho de 1864, ao responder a uma multidão que veio
saudá-lo após ele ter discursado na Feira de Filadélfia: “[H]aving said at the fair what I thought was
proper for me to say [...] I am without anything to say. I have really appeared before you now more
for the purpose of seeing you... and allowing you to see me a little while (laughter) and, to show to
you that I am not wanting in due consideration and respect for you [...] At the same time I must beg
of you to excuse me from saying anything further”. Apud JAMIESON, K., op. cit., p. 213.
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946 Cf. telegrama 221/97, da Embaixada em Paris: “O Quay d’Orsay manifestou o interesse de contar com
as seguintes informações relativas à visita do presidente Chirac ao Brasil: [...] c) texto antecipado do
discurso do presidente brasileiro no Itamaraty, a fim de a ele adaptar a réplica do presidente francês”.
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Comunicação na diplomacia presidencial: imprensa, discursos
947 Cf. memorandum G/036 (ostensivo), de 2 de fevereiro de 1995, do ministro de Estado para o
secretário-geral. Arquivo do Gabinete do Ministro de Estado. Cf. circular postal 213/95, cit., par. 14
e 15. Basicamente, a estrutura virtual de um discurso típico de visita de Estado conteria: objetivos
da visita; o que dizer sobre o visitante ou anfitrião; o que dizer sobre a comitiva; o que dizer sobre
o país; o que assinalar no quadro político e econômico internacional e regional; o que assinalar
sobre o Brasil; o que assinalar sobre o relacionamento bilateral; o que se espera da visita; significado
dos atos assinados; particularidades a assinalar; sugestões de citações; sugestão de lead para a
imprensa; estatísticas sucintas sobre comércio e investimentos, pauta bilateral e evolução mais
recente do comércio. Para circunstanciar os discursos, pede-se: ocasião (banquete, reunião, palestra,
saudação, brinde, etc.); tempo previsto; interlocutores; se o anfitrião ou hóspede fala de improviso
ou contexto escrito; língua em que se espera que o presidente fale; tema central do discurso; outras
particularidades que ajudem na concepção do texto brasileiro.
948 O conceito de staffing é bem ilustrado por Peggy Noonan, em seu relato sobre suas experiências
como speechwriter da Casa Branca nos governos Reagan e Bush. Cf. NOONAN, P. What I saw at the
revolution. A political life in the Reagan era. New York: Ivy Books, 1991, especialmente p. 221-241.
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949 É muito importante que as áreas saibam que lhes é pedida uma correção tópica, não para reescrever
o discurso, como às vezes ocorre. A área não pode achar que tem competência sobre o speechwriting,
que vai mais além do conteúdo substantivo do discurso. Não há nada pior do que o burocrata que
quer atuar como speechwriter bissexto sem necessidade.
950 Martin Luther King redigiu sozinho, e até às quatro horas da manhã do dia em que seria feito, o
seu discurso I have a dream, uma das melhores peças de oratória da história, e Lincoln retocou até
o último momento o seu Gettysburg address de 272 palavras, o mais célebre discurso da oratória
norte-americana. Para o discurso de King no Lincoln Memorial, em 23 de agosto de 1963, cf. SAFIRE,
W., op. cit., p. 495-500; para o Gettysburg address, cf. ibid., p. 50-51. São discursos de leitura obrigatória.
951 Cf. JAMIESON, K. H., op. cit., p. 218.
952 O staffing e o recurso a speechwriters específicos funcionou admiravelmente em discursos
presidenciais como o do anúncio da adesão ao TNP, em 20 de junho de 1997, ou o que expressou
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956 O governo britânico, por exemplo, usa este último sistema, distribuindo o discurso da autoridade
com um press release em forma de notícia e com trechos do discurso destacados e identificados em
seu conteúdo. Segue depois o texto completo.
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CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
Discursos e conferências
CARDOSO, Fernando Henrique. “Discours à l’occasion du
déjeûner offert par le Ministre de la Défense, Monsieur Charles
Millon, Président du Conseil de Rhône-Alpes, le 30 mai 1996”. In:
EMBAIXADA DO BRASIL EM PARIS. Visite d’Etat du Président de
la République Fédérative du Brésil et de Madame Fernando Henrique
Cardoso. Paris: Embaixada do Brasil, 1996.
_____. “Brinde do Senhor Presidente da República por ocasião
do jantar que oferece ao Presidente da Finlândia, Senhor Martii
Ahtisaari (24 de fevereiro de 1996)”. Mimeo.
_____. “Brinde do Senhor Presidente da República por ocasião do
jantar que oferece ao Presidente da República da Hungria, Senhor
Árpad Göncz (3 de abril de 1997)”. Mimeo.
HASHIMOTO, Ryutaro. “Discurso por ocasião do almoço que lhe
oferece o Senhor Presidente da República (26 de agosto de 1996)”.
Mimeo.
LAMPREIA, Luiz Felipe. “Apresentação do Chanceler Luiz
Felipe Lampreia na Comissão de Relações Exteriores da Câmara
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Artigos
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7 de março de 1996.
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Crescimento, modernização e política externa. São Paulo: Cultura/
Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da Universidade
de São Paulo, 1997.
ÁLVARES, Vera Cíntia. “Reflexões sobre o surgimento da ‘Política
Externa Independente’ na gestão de Jânio Quadros”. In: VÁRIOS
– Ensaios de história diplomática do Brasil. Introdução de Rubens
Ricupero. Brasília: FUNAG/IPRI (Cadernos do IPRI, v. 2), 1989.
ALVES, Márcio Moreira. “Viagem ao México”, O Globo, 17 de
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Livros
ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. 11ª
ed. rev. São Paulo: Saraiva, 1978.
ALBUQUERQUE, José Augusto Guilhon de (org.). 60 anos de
política externa brasileira, 1930-1990. Crescimento, modernização e
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ÍNDICE ONOMÁSTICO-TEMÁTICO
A
Abaeté, Antônio Paulino Limpo de Abreu, visconde de – 285n,
286n
absolutismo – 78, 145-153, 200
Accioly, Hildebrando – 77
Acheson, Dean – 94, 95, 99, 100, 233n, 234, 236, 244, 370n
Acordo Militar Brasil-Estados Unidos, denúncia do – 417
Acordo Nuclear Brasil-Alemanha – 416, 418n
Acordo Tripartite (Itaipu-Corpus) – 422, 424, 444
acordos desiguais – v. Tratados desiguais
Acre, questão do – 304n
Adams, John Quincy – 155-156, 156n
Adenauer, Konrad – 123n, 251, 252, 252n
Afonso XIII (rei da Espanha) – 312n
Aguirre, Atanasio Cruz – 286
Ahtisaari, Martii – 55, 56n
595
Sérgio Danese
596
Índice onomástico-temático
597
Sérgio Danese
B
Baía dos Porcos, invasão da – 244, 245-246, 246n, 393n
Balduíno I – 407n
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) – 383, 385, 434n
Banco Mundial – 428n, 434n
Banzer, Hugo – 412
Barco, Virgilio – 443n
Barros, Sebastião do Rego – 45n, 57
Barthes, Roland – 81
Begin, Menachem – 172n, 260n
Belaúnde Terry, Fernando – 426, 427n, 434n
Bell, Alexander – 295
Bello, José Maria – 287, 287n, 289n
Bendjedid, Chadli – 448n
Benedito XV (papa) – 310
Berlim, crises de – 125, 130n, 197, 227, 239, 242, 242n, 243, 245,
246
Bernardes, Arthur da Silva – 301, 330n, 331-334, 333n, 334n, 336
Berres, Batlle – 352, 365n
Berreta, Tomás – 364n
598
Índice onomástico-temático
599
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C
Caetano, Marcello – 352n, 409, 412
Café Filho, João – 370
600
Índice onomástico-temático
601
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Carlos V – 144
Carlos XVI Gustavo (rei da Suécia) – 432n
Carstens, Karl – 431
Carta Testamento de Getúlio Vargas – v. Vargas, Carta Testamento de
Cartagena, Grupo de – 426, 429
Carter, Jimmy (James Earl) – 26, 92, 114, 114n, 126, 197, 257,
259-260, 259n-260n, 440n, 541
Carter, Rosalyn – 487n
Carter-Torrijos, acordo – 260
Carvalho, Carlos Delgado de – 314, 338n, 350, 384
Casablanca, conferência de – 353-354
Castlereagh, Henry Robert Stewart, visconde – 160, 307
Castro Ruz, Fidel – 245, 249, 251, 380n, 438, 443n, 466n
Catarina II, a Grande – 147, 148, 150
Caxias, Luís Alves de Lima, duque de – 318
Ceauscescu, Nicolae – 420n
Cem dias (de Franklin D. Roosevelt) – 207-208, 208n, 209n
Cem dias (de John F. Kennedy) – 207
Cem dias (de Napoleão Bonaparte) – 161
CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina) – 383
Cervo, Amado – 282n, 329n
Chaco, conferência de Paz do – 340-341, 341n, 342, 346, 347n, 349-
350, 376
Chaco, guerra do – 172n, 338n, 340-342, 344, 345, 346, 348-350,
349n-350n
Chamberlain, Arthur Neville – 202, 202n, 204, 204n, 210-211
602
Índice onomástico-temático
603
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604
Índice onomástico-temático
605
Sérgio Danese
D
Da Costa e Silva, Alberto Vasconcelos – 30, 309n 402, 404, 407,
407n, 408, 408n, 409
606
Índice onomástico-temático
607
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E
Earth summit – 264n
Eaton, Charles A. – 237n
Economist, The – 141-142
Eisenhower, “Mamie” – 487n
Eisenhower, doutrina – 239n
Eisenhower, Dwight E. – 91cit, 103, 239, 239n, 240, 240n, 265n,
324, 376, 376n, 380, 382-386, 484
Eixo, diplomacia do – 201, 368, 377, 418, 419, 429, 444, 445, 448
608
Índice onomástico-temático
Elizabeth II – 408
Emerson, Ralph Waldo – 221n, 295
encilhamento – 306n
encontros de fronteira – 39n, 290, 306, 368, 371, 372, 378, 403,
407, 409, 412, 419, 472n (v. também Quadros – Frondizi,
encontro; Uruguaiana, encontro...; Itaipu. hidrelétrica de; Ponte
da Amizade; Ponte Tancredo Neves; Stroessner, Alfredo)
encontros paralelos – 39, 83, 120, 272, 445, 452, 454, 474, 497
Errázuriz, Federico – 316n
Esaú, Elias – 30
espírito de – v. pelo nome do encontro (espírito de Genebra) estadista
– 129, 130, 267
Estatuto da Igualdade (entre Brasil e Portugal) – 412
Estigarribia, marechal – 289
Estrada, doutrina – 467
Eu, conde d’ – 293
F
Fair Deal – 239n
Farroupilha, Revolução – 300
Faure, Edgard – 372
Federalist papers – 71
Felipe II – 144, 148
Fernandes, Raul – 363-364
Fernando de Aragão (rei católico) – 277
609
Sérgio Danese
610
Índice onomástico-temático
Franco, Itamar Augusto Cautiero – 43, 97n, 352n, 391, 424n, 450-
-452, 457-458, 457n
Franco-Prussiana, guerra – 166
Frederico VII (rei da Dinamarca) – 312
Frederico, o Grande – 147
Frei Montalva, Eduardo – 406, 406n-407n, 408-409
Frondizi, Arturo – 348, 379n, 388cit, 396, 396n
Fujimori Fujimori, Alberto – 38n, 469
Fumihito (príncipe) – 448
funding loan – 27, 309, 309cit, 309n
Fundo Monetário Internacional (FMI) – 372, 381-383, 382cit-
-383cit, 428, 428n, 438
G
G15 (Grupo dos Quinze) – 139n, 272n, 451, 451n, 457
G7 (Grupo dos Sete Países mais industrializados) – 82, 132, 224, 264,
264n, 270
G-Rio (Grupo do Rio) – 39n, 139, 139n-140n, 272n, 437, 443n, 451,
457, 457n, 469
Gabinete Militar da Presidência da República – 427n, 498, 449n
Galbraith, Jonh Kenneth – 399n
Gallup, Instituto – 214cit
Gandhi, Indira – 252, 408, 409
Gandhi, Mahatma Mohandas Karamchand – 151n
García, Alán – 443n, 445n
611
Sérgio Danese
GATT – 428n
Gaulle, Charles André Joseph Marie de – 88, 123n, 144, 251-252,
251n, 401n, 406n-407n, 487n, 532n
Gaviria, Cesar – 457n
Geisel, Ernest O – 26, 393n, 406, 408, 413-422, 413n-421n, 425,
429, 432-433, 459, 508
Genebra, “espírito” de – 130, 127
Genebra, summit de – 129, 265, 267
Genoíno, José – 58
Georgias do Sul – 336n
Gettysburg address – 550n
ghostwriter (v. também speechwriting) – 539, 539n
Giers, Nikolai de – 92cit, 163cit
Giglio, James – 94n, 112n, 207n, 240n-242n, 249n, 267n
Gladstone, William Ewart – 117, 117cit, 123n, 144, 294
Gobineau, Joseph Arthur, Conde de – 294-295
Golfo, guerra do – 263
Gomes, Ciro – 58
Göncz, Árpad (presidente da Hungria) – 56n
González Videla, Gabriel – 364n
González, Felipe – 445n-446n, 446
Goodwin, Richard – 466n
Gorbachev, Mikhail – 172n, 196n, 242n, 252, 445, 445n, 453
Gorchakov, Alexander Mikhailovitch, príncipe – 92cit, 163cit
Gordon, Lincoln – 399n
Gore, Al (Albert) – 115n
612
Índice onomástico-temático
613
Sérgio Danese
H
Habsburgos, dinastia dos – 148, 166
Hamilton, Alexander – 92n
Harding, Warren Gamaliel – 74n, 189n-190n, 190, 199n, 544n
Harriman, Averell – 227
Harvard International Review – 442, 442n
Hashimoto, Hyutaro – 39n, 60n
Hassan II (rei do Marrocos) – 270n
Hay, John (secretário de estado de Theodore Roosevelt) – 92n
hegemonia em Gramsci – 180, 180n, 192
Herculano, Alexandre – 294-295
Herman, George – 532n
Herrera Campíns, Luís – 424
Hiroíto (imperador) – 251, 448
Hispano-Americana, guerra (1898) – 92n, 103, 174, 178
Hitler, Adolf – 144, 197n, 200, 201n, 202-204, 202n, 204cit, 204n,
210n, 212, 213n
Hobbes, Thomas – 78, 145n
Hohenzollern, Leopoldo de – 166n
Hoover, Herbert – 74n, 189n, 311n
Hopkins, Harry – 254cit, 491
614
Índice onomástico-temático
I
Ibero-Americana (Reunião dos chefes de estado e governo dos países
ibero-americanos) – v. Cúpula Ibero-Americana
III Reich – 203, 204n
Illía, Arturo – 401n
impeachment – 454n, 556
Imperador, poder do – 279-283, 285
Imperador, viagens internacionais do – 282n, 289-297, 289n-297n
Império do Brasil (v. também Constituição do Império) – 279-297
Império, diplomacia do – 282
Imprensa – 37-38, 40n, 43, 49, 51cit, 53, 55, 57, 59-62, 60n, 64
‑65, 67, 84cit, 89, 95cit, 100, 109, 118, 121, 132, 134cit, 140
‑141, 218, 236, 236cit, 240, 258, 268, 274n, 292, 314, 321,
323, 325n, 333, 344, 348, 357n, 361n, 365, 365n, 366cit,
379n, 406n, 434n, 435, 439, 455, 456n, 462, 480, 484,
615
Sérgio Danese
J
Jackson, Andrew – 74n, 175, 231n
Jamieson, Kathleen – 538-539, 541n, 546, 550
616
Índice onomástico-temático
K
Kant, Emmanuel – 148, 1448n
Kellogg, Frank B. – 172n, 199
Kennan, George F. – 231, 232n, 234
Kennedy, Jacqueline Bouvier – 486, 486n-487n
Kennedy, John Fitzgerald – 26, 88, 91cit, 94cit, 96cit, 103, 107,
112, 112cit, 123, 144, 207, 240-251, 240n-243n, 267,
266n-267n, 386, 398cit, 399n-401n, 465, 466n, 486cit,
487n, 491, 491cit, 532n, 541n
617
Sérgio Danese
L
Lacerda, Carlos – 395n
Lacerda, Henrique de Barros Cavalcanti de – 317
Lafer, Celso – 84, 476
Lafer, Horácio – 387
Lagosta, Guerra da – 401n
Lampreia, Luiz Felipe Palmeira – 42-43, 46, 49n-50n, 52, 292n,
468n, 510, 523
Lamsdorf, conde de – 163cit
618
Índice onomástico-temático
619
Sérgio Danese
620
Índice onomástico-temático
M
MacArthur, Douglas – 226, 230, 230n-231n
macarthysmo – 256
Machel, Samora – 445n
Maciel, Marco Antônio de Oliveira – 55cit, 57
Macmillan, Maurice Harold – 129cit, 130n, 265
Magalhães, Antônio Carlos – 57
Magalhães, Olyntho de – 300, 317
Mahatir, Mohamed – 455n
Malan, Pedro Sampaio – 393n
Malvinas, guerra das – 336n, 426, 428, 431
Mandela, Nelson – 123n, 455n, 535n
Manhattan, projeto – 104
Manifesto aos governos e nações amigas – 278
Mao Tse-tung – 226
Maquiavel, Niccolò – 78, 145-147, 145n-146n
Maranguape, Caetano Maria Lopes Gama, visconde de – 285n
Marketing – 43, 48, 53, 296, 455, 503
Marshall, George Catlett – 93, 172n, 235, 235cit, 237
Marshall, John – 70
Marshall, plano – 108, 125, 172n, 197, 232-233, 232n-233n, 234,
235, 235cit, 236, 236cit, 237, 239cit, 247, 465
Martins, Carlos Estevam – 402n
Martins, Luciano – 30
Matsuhito (imperador) – 312n
621
Sérgio Danese
622
Índice onomástico-temático
623
Sérgio Danese
N
N’Krumah, Kwam – 270n
Nabuco, Joaquim – 305n, 307n
Nações Unidas, abertura da Assembleia Geral das – 427-428, 428n,
437, 437n, 441, 445
Nações Unidas, Assembleia Geral das – 64, 75cit, 437, 439
Nações Unidas, cinquentenário das – 38n, 251, 272n, 472
Nações Unidas, III Sessão Especial da Assembleia Geral das – 437n
Nações Unidas, Sessão Especial da Assembleia Geral das... sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento – 39n
Não Alinhado, Movimento – 251, 270, 270n, 438
Napoleão I – v. Bonaparte, Napoleão
Napoleão III (Charles Louis Napoléon Bonaparte, 1808-1873) –
26, 144, 164-165, 165n, 166-169, 168n-169n, 200, 251n,
281-282
Nasser, Gamal Abdel – 123n, 251, 270n
Natal, declaração de – 355-356, 355n-356n
Natal, encontro de... entre G. Vargas e F. D. Roosevelt – 26, 290, 342,
353-357, 353n-357n
National Security Council – 97n, 231, 231n, 240n, 497n
NATO – v. OTAN
624
Índice onomástico-temático
625
Sérgio Danese
O
Odría, Manoel A. – 369
Olavo V (rei da Noruega) – 352n, 408
Olinda, Pedro de Araújo Lima, marquês de – 285n
ONGs – 476cit, 477n, 482, 492, 502, 516
Operação Pan-Americana (OPA) – 26, 88, 123, 248, 372, 377, 379n,
381, 383-384, 383n-384n, 385-386, 386n, 387-388, 388cit,
389, 389n, 464-466, 468, 484, 501
opinião pública – 24, 37, 68, 95, 95cit, 100, 109, 110-120, 124, 132,
140, 164, 165, 179-180, 184, 185, 192, 192n, 201, 205, 208-
-214, 218, 223, 224, 230, 257, 323, 329, 329n, 331cit, 341n,
365, 382, 384, 389, 453, 462, 489, 501, 505, 528, 529n, 536,
546, 556-561, 567
oratória – 538, 542, 544, 545, 550n, 551
Organização dos Estados Americanos (OEA) – 377n, 388, 449, 454n
Organização Mundial do Comércio (OMC) – 475n, 565
Orlando, Vittorio Emanuele – 181n, 264, 335n
Orléans e Bragança, dinastia de – 297
Ostpolitik – 172n, 252, 252n
OTAN – 155n, 227cit, 232, 252, 274, 464, 491cit, 497n
Ouro Preto, Acordo de – 452
Oviedo, Lino (general) – 40n
Oxford Analytica – 58, 58n
P
Pacheco Areco, Jorge – 409
626
Índice onomástico-temático
627
Sérgio Danese
628
Índice onomástico-temático
Q
Quadros, Jânio da Silva – 232, 309n, 348, 368, 386n, 389n, 391-
-398, 398cit, 399, 401, 391n-397n, 405n, 442n, 471n, 484
629
Sérgio Danese
R
Rabin, Yitzhak – 123n, 172n, 306n
Raymont, Henry – 40n
Razão de Estado – 146, 146n, 147, 179, 200
Reagan, doutrina – 261, 261n, 468
Reagan, Nancy – 487n
Reagan, Ronald – 113-114, 144, 196n, 242n, 253, 259-261, 268,
431, 434n, 447, 466, 468, 529n, 531, 539n-540n, 549n
Real (Plano) – 8cit, 52n, 57, 458, 561
Realpolitik – 146n, 183cit, 184, 192cit, 197n, 256, 256n
Rede Globo de Televisão – 529n
Reis, Fernando Guimarães – 470n
Reis, senador Konder – 440
República Velha – 299-336
Resende, Otto Lara – 391n
Reston, James – 244cit
Retribuição de visita – 39n, 308n, 313n-314n, 316, 316n, 320, 324-
-325, 327, 335, 345n-346n, 350, 366, 367n, 381, 417, 426,
432n
630
Índice onomástico-temático
631
Sérgio Danese
S
Sá, Nelson de – 526
Saavedra-Lamas, Carlos – 93, 172n, 350
Sadat, Anuar El – 26, 123n, 172n, 469
SADC (South Africa Development Cooperation) – 271, 511n
Sáenz Peña, Roque – 310-311, 311n, 347n
Sales, Dom Eugênio – 410
632
Índice onomástico-temático
633
Sérgio Danese
634
Índice onomástico-temático
635
Sérgio Danese
T
Taft, William Howard – 189n, 191n
Talking points – 510, 515-516, 515n, 545
Talleyrand, Charles-Maurice de Périgord – 93, 144, 149n, 160-162,
160n, 162n, 278, 281, 307, 307n
Tchecoslováquia, partilha da – 202, 211
Teerã, conferência de – 218n-219n, 220
Terra, Gabriel – 344-345, 344n, 346n
Test Band Treaty – 487n
Thatcher, Margareth – 251, 453
Thiers, Louis Adolphe – 294
Thomaz, Américo – 352n, 412
Thornburgh, Richard – 262
Thornton, Edward – 290
Tito, Josip Broz – 123n, 251, 270, 270n, 401n
Toledo, Roberto Pompeu de – 25, 30
Tonkin, resolução sobre o Golfo de – 71n
Tordesilhas, Tratado de – 277n-278n, 278
Touré, Sékou – 248cit, 270n
Transmigração da Família Real – 278
Tratado de Amizade e Consulta entre o Brasil e Portugal – 379n, 381
Tratado de Cooperação Amazônica – 419, 419n, 426, 443n, 473
Tratado de Cooperação Franco-Germânico (1963) – 440n
Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) – 40n, 408-409, 550n
636
Índice onomástico-temático
U
União Africana (UA) – 270, 270n, 271, 473
União das Coroas Ibéricas – 278
União Europeia – 38n-39n, 88, 139n, 274, 469, 473
União Soviética, rompimento de relações do Brasil com a – 368, 368n
Unwritten alliance – 305, 305n
Uruguai, Paulino José Soares de Sousa, visconde do – 281, 284,
284cit-285cit, 285n
Uruguaiana, Encontro de ... entre D. Pedro, Mitre e Flores – 26, 289
‑290, 289n, 296, 353, 472n
Uruguaiana, encontro em... entre Dutra e Peron – 365n
637
Sérgio Danese
V
Vance, Cyrus – 92cit
Vandenberg, Arthur H. – 237n
Vargas, Carta Testamento de – 369, 369n
Vargas, diário de – 340-341, 340n, 344, 347-348, 348cit, 350-351,
354n, 357n, 360, 361n
Vargas, Getúlio Dornelles – 26, 200n, 290, 308n, 316n, 318-319,
324, 324n, 335, 337-354, 338n, 341n-342n, 345n-347n,
350n-351n, 353n-361n, 357-363, 368-370, 370n, 378, 378n,
390, 393n, 396, 416, 444n, 510cit
Vargas, José Israel – 510cit
VE Day, cinquentenário do – 38n, 251, 472
Venizelos, Eleuthérios – 335n
Ventre Livre, lei do – 293, 293n
Venturini, Danilo – 427n
Vergennes, Charles Gravier, conde de – 149n
Verona, Manuel Antonio de – 395n
Versalhes, Tratado de – 137, 155n, 180, 185n, 187-195, 199, 330,
333
Viagens – v. visitas, diplomacia das
Viana Filho, Luís – 303n, 307n, 539n, 405
Vice-presidente e cônjuges de mandatários, diplomacia de – 352, 484,
486, 486n
Videla, Jorge Rafael – 425
Viena, Congresso de – 93, 159, 159n-161n, 181, 202, 220n, 278,
281, 306
638
Índice onomástico-temático
W
Wagner, Richard – 294
War Powers Act of 1970 – 71n
War Powers Act of 1973 – 74, 74n
Washington Luís – v. Souza, Washington Luís Pereira de
Washington, doutrina – 154-155, 154n
Washington, George – 92n, 154-155, 170n
Wasmosy, Juan Carlos – 39n-40n
Watergate, escândalo de – 258-259
Waterloo, batalha de – 152, 161
Welles, Sumner – 215, 351cit, 351n, 362
Weltpolitik – 170n
Whistle-stop campaign – 117, 118n, 194
639
Sérgio Danese
X
X, Mr. (pseudônimo de George F. Kennan) – 231
Y
Yalta, conferência de – 206, 218n, 220, 221cit, 223, 228-230, 265,
265n, 357
Yamazaki, Tizuka – 517
Z
Zeballos, Estanislao – 320
Zedillo Ponce de León, Ernesto – 513
Zemin, Jiang – 457n
Zico – 517
640
Índice onomástico-temático
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Formato 15,5 x 22,5 cm