Direito Administrativo STF
Direito Administrativo STF
Direito Administrativo STF
DIREITO ADMINISTRATIVO
1. PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS
1.1. AUTOTUTELA: Recebimento de auxílio-moradia com má-fé e inexistência de
decadência – (Info 839)
1.2. Princípio da intranscendência e atos praticados pelas gestões anteriores – (Info 825) -
ATENÇÃO!!! = CONCURSOS FEDERAIS!!! – (TCEPR-2016)
Segundo a posição que prevalece no STF, se a irregularidade no convênio foi praticada pelo
gestor anterior e a gestão atual, depois que assumiu, tomou todas as medidas para ressarcir
o erário e corrigir as falhas (exs: apresentou todos os documentos ao órgão fiscalizador,
ajuizou ações de ressarcimento contra o antigo gestor etc.), neste caso, o ente (Estado ou
Município) não poderá ser incluído nos cadastros de inadimplentes da União.
Assim, segundo esta acepção, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções proíbe
a aplicação de sanções às administrações atuais por atos de gestão praticados por
administrações anteriores.
Segundo o Min. Luiz Fux, “não se pode inviabilizar a administração de quem foi eleito
democraticamente e não foi responsável diretamente pelas dificuldades financeiras que
acarretaram a inscrição combatida”. Penso que seja a posição que prevalece no STF.
A própria AGU admite esta tese: Súmula 46-AGU: Será liberada da restrição decorrente da
inscrição do município no SIAFI ou CADIN a prefeitura administrada pelo prefeito que
sucedeu o administrador faltoso, quando tomadas todas as providências objetivando o
ressarcimento ao erário.
Nesse sentido: STF. 1ª Turma. AC 2614/PE, AC 781/PI e AC 2946/PI, Rel. Min. Luiz Fux,
julgados em 23/6/2015 (Info 791).
OBS:
O que é o princípio da intranscendência subjetiva das sanções? Significa que não podem ser
impostas sanções e restrições que superem a dimensão estritamente pessoal do infrator e
atinjam pessoas que não tenham sido as causadoras do ato ilícito. Na jurisprudência do STF
encontramos dois exemplos de aplicação desse princípio em casos envolvendo inscrição de
Estados e Municípios nos cadastros de inadimplentes da União:
1ª acepção: quando a irregularidade foi praticada pela gestão anterior: Existem julgados do
STF afirmando que se a irregularidade no convênio foi praticada pelo gestor anterior e a gestão
atual, depois que assumiu, tomou todas as medidas para ressarcir o erário e corrigir as falhas
(exs: apresentou todos os documentos ao órgão fiscalizador, ajuizou ações de ressarcimento
contra o antigo gestor etc.), neste caso, o ente (Estado ou Município) não poderá ser incluído
nos cadastros de inadimplentes da União. Segundo esta acepção, o princípio da
intranscendência subjetiva das sanções proíbe a aplicação de sanções às administrações
atuais por atos de gestão praticados por administrações anteriores. Logo, deve-se aplicar o
princípio da intranscendência subjetiva das sanções, impedindo que a Administração atual seja
punida com a restrição na celebração de novos convênios ou recebimento de repasses federais.
Nesse sentido: STF. 1ª Turma. AC 2614/PE, AC 781/PI e AC 2946/PI, Rel. Min. Luiz Fux,
julgados em 23/6/2015 (Info 791).
1.3. Observância do devido processo legal, contraditório e ampla defesa antes da inclusão
de entes federativos nos cadastros federais de inadimplência – (Info 825) – ATENÇÃO!!!
CONCURSOS FEDERAIS!!! – (TCEPR-2016)
O Estado de Pernambuco celebrou convênio com a União por meio do qual recebeu
determinadas verbas para realizar projetos de interesse público no Estado, assumindo o
compromisso de prestar contas da utilização de tais valores perante a União e o TCU. Ocorre
que o Estado não prestou contas corretamente, o que fez com que a União o inserisse no
CAUC. Ao julgar uma ação proposta pelo Estado-membro contra a União, o STF exarou duas
importantes conclusões:
1) Viola o princípio do devido processo legal a inscrição de unidade federativa em cadastros
de inadimplentes antes de iniciada e julgada tomada de contas especial pelo Tribunal de
Contas da União. Em casos como esse, mostra-se necessária a tomada de contas especial e
sua respectiva conclusão, a fim de reconhecer que houve realmente irregularidades. Só a
partir disso é possível a inscrição do ente nos cadastros de restrição ao crédito organizados
e mantidos pela União.
A Administração Pública pode anular seus próprios atos quando estes forem ilegais. No
entanto, se a invalidação do ato administrativo repercute no campo de interesses
individuais, faz-se necessária a instauração de processo administrativo que assegure o
devido processo legal e a ampla defesa.
Assim, a prerrogativa de a Administração Pública controlar seus próprios atos não dispensa
a observância do contraditório e ampla defesa prévios em âmbito administrativo.
STF. 2ª Turma. RMS 31661/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, j. 10/12/13 (Info 732).
STF. Plenário. MS 25399/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 15/10/14 (Info 763).
É dizer, deve-se haver alguns cuidados para não se revelar CPF, RG e endereço dos servidores,
mas não pode haver negativa do nome do servidor e do seu subsídio ou remuneração.
2. NEPOTISMO
2.1. A nomeação da esposa do prefeito como Secretária Municipal não configura, por si só,
nepotismo e ato de improbidade administrativa – (Info 914) – IMPORTANTE!!!
Em regra, a proibição da SV 13 não se aplica para cargos públicos de natureza política, como,
por exemplo, Secretário Municipal.
Assim, a jurisprudência do STF, em regra, tem excepcionado a regra sumulada e garantido
a permanência de parentes de autoridades públicas em cargos políticos, sob o fundamento
de que tal prática não configura nepotismo.
Exceção: poderá ficar caracterizado o nepotismo mesmo em se tratando de cargo político caso
fique demonstrada a inequívoca falta de razoabilidade na nomeação por manifesta ausência
de qualificação técnica ou inidoneidade moral do nomeado.
STF. 1ª Turma. Rcl 28024 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 29/05/2018.
OBS: Vale ressaltar que a simples dissonância entre a área de formação e a área fim do cargo
não é suficiente, por si só, para se afirmar a inequívoca ausência de razoabilidade da nomeação.
Em outras palavras, o simples fato de a pessoa nomeada não ser daquela área não é motivo,
por si só, para se considerar que tenha havido nepotismo.
2.2. Não haverá nepotismo se a pessoa nomeada possui um parente no órgão, mas sem
influência hierárquica sobre a nomeação – (Info 815)
2.3. Norma que impede nepotismo no serviço público não alcança servidores de
provimento efetivo – (Info 786)
A Constituição do Estado do Espírito Santo prevê, em seu art. 32, VI, que é “vedado ao
servidor público servir sob a direção imediata de cônjuge ou parente até segundo grau civil”.
Foi proposta uma ADI contra esta norma.
O STF julgou a norma constitucional, mas decidiu dar interpretação conforme à
Constituição, no sentido de o dispositivo ser válido somente quando incidir sobre os cargos
de provimento em comissão, função gratificada, cargos de direção e assessoramento. Em
outras palavras, o STF afirmou que essa vedação não pode alcançar os servidores admitidos
mediante prévia aprovação em concurso público, ocupantes de cargo de provimento efetivo,
haja vista que isso poderia inibir o próprio provimento desses cargos, violando, dessa forma,
o art. 37, I e II, da CF/88, que garante o livre acesso aos cargos, funções e empregos públicos
aos aprovados em concurso público.
STF. Plenário. ADI 524/ES, rel. orig. Min. Sepúlveda Pertence, red. p/ o acórdão Min. Ricardo
Lewandowski, j. 20/5/2015 (Info 786).
3. PODER DE POLÍCIA
3.1. Poder de polícia de trânsito e guardas municipais – (Info 793) – IMPORTANTE!!! –
(MPSP-2015)
4. LICITAÇÃO
4.1. Correios podem ser contratados sem licitação, com fundamento no art. 24, VIII, da Lei
8.666/93, para a prestação de serviços de logística – (Info 934) – IMPORTANTE!!!
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), empresa pública federal, pode ser
contratada sem licitação, com fundamento no art. 24, VIII, da Lei nº 8.666/93, para a
prestação de serviços de logística:
Art. 24 (...) VIII - para a aquisição, por pessoa jurídica de direito público interno, de bens
produzidos ou serviços prestados por órgão ou entidade que integre a Administração
Pública e que tenha sido criado para esse fim específico em data anterior à vigência desta
Lei, desde que o preço contratado seja compatível com o praticado no mercado;
A ECT preenche todos os requisitos legais necessários à possibilidade de sua contratação
direta, haja vista integrar a Administração e ter sido criada em data anterior à da Lei nº
8.666/93 para prestação de serviços postais, dentre os quais se incluem os serviços de
logística integrada.
STF. 2ª Turma. MS 34939/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/3/2019 (Info 934).
4.2. É inconstitucional lei estadual que exige nova certidão negativa não prevista na Lei
8.666/93 – (Info 838) – IMPORTANTE!!!
É inconstitucional lei estadual que exija Certidão negativa de Violação aos Direitos do
Consumidor dos interessados em participar de licitações e em celebrar contratos com órgãos
e entidades estaduais.
Esta lei é inconstitucional porque compete privativamente à União legislar sobre normas
gerais de licitação e contratos (art. 22, XXVII, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 3.735/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 8/9/16 (Info 838).
OBS:
Certidão de Violação aos Direitos do Consumidor (CVDC): O Estado do Mato Grosso do Sul
editou uma lei prevendo que para a pessoa (física ou jurídica) participar de licitações ou assinar
contratos com a Administração Pública estadual acima de determinado valor, ela deveria
apresentar uma certidão negativa de violação aos direitos do consumidor. De acordo com a lei,
a pessoa ficaria impedida de tirar essa certidão negativa se já tivesse sido condenada,
administrativa ou judicialmente, por ofensa a direitos do consumidor, nos últimos 5 anos.
Isso significa que os Estados, DF e os Municípios podem editar leis tratando sobre licitações e
contratos, desde que sejam referentes a normas “não gerais”. Em outras palavras, tais entes
podem suplementar as normas gerais fixadas pela União, conforme autorizam os arts. 24, § 2º,
25, §1º, e 30, II:
Art. 24 (...)
§ 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não
exclui a competência suplementar dos Estados.
Art. 25 (...)
§ 1º - São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam
vedadas por esta Constituição.
Requisitos para que a suplementação feita pelos Estados, DF e Municípios seja válida: Para
se analisar se a suplementação feita pelos Estados, DF e Municípios foi válida ou não, deverá
ser feito um exame em duas etapas:
1ª) identificar quais são as normas gerais fixadas pela União no caso concreto como modelo
nacional;
2ª) verificar se as inovações feitas pelo legislador estadual, distrital ou municipal sobre o tema
são compatíveis com as normas gerais impostas pela União.
Lei do Estado do MS afrontou as normas gerais fixadas pela União: O principal diploma que
trata sobre licitações e contratos é a Lei nº 8.666/93. Nela, a União fixou as normas gerais sobre
o tema. A Lei nº 8.666/93 exige algumas certidões referentes à regularidade fiscal e trabalhista
(art. 29), mas não faz qualquer exigência quanto à inexistência de condenações relacionadas
com a violação de direitos do consumidor. Assim, a lei editada pelo Estado do MS criou novas
condições que somente lei federal poderia prever. Ao criar requisito de habilitação obrigatório
para a maioria dos contratos estaduais, o Estado-membro se arvorou na condição de intérprete
primeiro do direito constitucional de participar de licitações. Criou, ainda, uma presunção
legal, de sentido e alcance amplíssimos, segundo a qual a existência de registros desabonadores
nos cadastros públicos de proteção do consumidor seria motivo suficiente para justificar o
impedimento à contratação de pessoas físicas e jurídicas pela Administração local.
A lei estadual impugnada introduziu um requisito genérico e inteiramente novo para
habilitação em qualquer licitação. Ao assim prever, a legislação estadual afrontou as normas
gerais do ordenamento nacional de licitações e contratos e se apropriou de competência da
União.
4.3. É constitucional lei estadual que determina que a Administração Pública irá,
preferencialmente, utilizar “softwares” livres – (Info 780)
O Governo do Rio Grande do Sul editou uma lei estadual determinando que a
administração pública do Estado, assim como os órgãos autônomos e empresas sob o
controle do Estado utilizarão preferencialmente em seus sistemas e equipamentos de
informática programas abertos, livres de restrições proprietárias quanto à sua cessão,
alteração e distribuição (“softwares” livres).
Determinado partido político ajuizou uma ADI contra essa lei afirmando que ela teria
inconstitucionalidades materiais e formais.
O STF julgou improcedente a ADI e afirmou que a lei é constitucional.
A preferência pelo “software” livre, longe de afrontar os princípios constitucionais da
impessoalidade, da eficiência e da economicidade, promove e prestigia esses postulados,
além de viabilizar a autonomia tecnológica do País.
Não houve violação à competência da União para legislar sobre licitações e contratos porque
a competência da União para legislar sobre licitações e contratos fica restrita às normas
gerais, podendo os Estados complementar as normas gerais federais.
A referida lei também não viola o art. 61, II, “b”, da CF/88 porque a competência para legislar
sobre “licitação” não é de iniciativa reservada ao chefe do Poder Executivo, podendo ser
apresentada por um parlamentar, como foi o caso dessa lei.
STF. Plenário. ADI 3059/RS, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux,
julgado em 9/4/2015 (Info 780).
5. CONTRATOS ADMINISTRATIVOS
5.1. O inadimplemento dos encargos trabalhistas dos empregados do contratado não
transfere automaticamente ao Poder Público a responsabilidade pelo seu pagamento – (Info
862) – IMPORTANTE!!!
O inadimplemento dos encargos trabalhistas dos empregados do contratado não transfere
automaticamente ao Poder Público contratante a responsabilidade pelo seu pagamento, seja
em caráter solidário ou subsidiário, nos termos do art. 71, § 1º, da Lei 8.666/93.
Obs: a tese acima foi a fixada pelo STF. No entanto, penso que é importante um
esclarecimento revelado durante os debates: é possível sim, excepcionalmente, que a
Administração Pública responda pelas dívidas trabalhistas contraídas pela empresa
contratada e que não foram pagas, desde que o ex-empregado reclamante comprove, com
elementos concretos de prova, que houve efetiva falha do Poder Público na fiscalização do
contrato.
STF. Plenário. RE 760931/DF, rel. orig. Min. Rosá Weber, red. p/ o ác. Min. Luiz Fux, j. 26/4/17
(repercussão geral) (Info 862).
OBS:
SV 5-STF: A falta de defesa técnica por advogado no processo
administrativo disciplinar não ofende a Constituição.
A OAB tem legitimidade para propor o cancelamento de SV? SIM. A CF/88 determina que a
proposta de cancelamento da súmula vinculante poderá ser provocada pelas mesmas
autoridades e entidades que podem propor a ADI. Em outras palavras, quem pode propor ADI
pode também pedir o cancelamento de súmula vinculante. No caso, a OAB encontra-se no rol
de legitimados da ADI (art. 103, VII, da CF/88) e, consequentemente, pode requerer o
cancelamento de súmula vinculante.
STF continua entendendo que a falta de defesa técnica no PAD não ofenda a CF: O precedente
que deu origem à SV 5 foi o RE 434.059/DF (DJe 12.9.2008). Neste julgamento, o STF concluiu
que a falta de defesa técnica por advogado no PAD não ofende a CF. Após a edição da SV 5,
não houve mudança na legislação, na jurisprudência ou na percepção da sociedade a justificar
a revisão ou o cancelamento do verbete.
Estabilidade: A súmula vinculante deve ter certo grau de estabilidade, somente devendo ser
cancelada ou revista em caso de superveniência de fatos suficientemente relevantes, sob pena
de se negar autoridade e se transformar o verbete vinculante num precedente qualquer,
eliminando sua função no sistema, principalmente a de dar estabilidade e segurança às
decisões da Corte.
Existem processos judiciais que dispensam advogado: Importante relembrar que, caso se
reconheça que a SV 5 viola a Constituição, também deveria ser reconhecida a
inconstitucionalidade das normas que, em processo judicial, dispensam a presença de
advogado (exs: processos trabalhistas, juizados especiais etc.).
SV 5 não se aplica para processos disciplinares que apuram falta grave no sistema prisional:
Vale ressaltar que a SV 5 refere-se ao típico processo administrativo disciplinar, ou seja, aquele
que tramita no âmbito da Administração Pública. Este enunciado não se aplica para o processo
administrativo que apura infrações cometidas no sistema penitenciário. Assim, mesmo
havendo precedentes do STF exigindo advogado nos processos de apuração de falta grave do
condenado, estes não podem ser invocados para justificar o cancelamento da SV 5.
6.2. Ausência de transcrição integral de dados obtidos por meio de interceptação telefônica
não gera nulidade – (Info 834)
6.3. Empréstimo das interceptações telefônicas do processo criminal para o PAD – (Info
834) – (MPGO-2013)
OBS:
É possível a utilização, em processo administrativo disciplinar, de prova emprestada
validamente produzida em processo criminal? SIM. A jurisprudência do STJ e do STF são
firmes no sentido de que é admitida a utilização no processo administrativo de “prova
emprestada” do inquérito policial ou do processo penal, desde que autorizada pelo juízo
criminal e respeitados o contraditório e a ampla defesa (STJ. 1ª Seção. MS 17.472/DF, Rel. Min.
Arnaldo Esteves Lima, julgado em 13/6/2012).
Este “empréstimo” da prova é permitido mesmo que o processo penal ainda não tenha
transitado em julgado? SIM. É possível a utilização, em processo administrativo disciplinar,
de prova emprestada validamente produzida em processo criminal, independentemente do
trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Isso porque, em regra, o resultado da
sentença proferida no processo criminal não repercute na instância administrativa, tendo em
vista a independência existente entre as instâncias (STJ. 2ª Turma. RMS 33.628-PE, Rel. Min.
Humberto Martins, j. 2/4/13. Info 521).
Ex.: a Polícia Federal, por meio de interceptação judicial deferida pelo juízo criminal, conseguiu
captar conversa na qual determinado servidor público exige quantia para praticar certo ato
relacionado com suas atribuições. Com base nessa prova e em outras constantes do inquérito,
o MPF oferece denúncia contra esse servidor. A Administração Pública, por sua vez, instaura
processo administrativo disciplinar.
7. CONCURSO PÚBLICO
7.1. É inconstitucional dispositivo legal que preveja a possibilidade de o indivíduo
aprovado no concurso tomar posse e entrar em exercício, de imediato, na classe final da carreira
– (Info 932)
7.2. A candidata que esteja gestante no dia do teste físico possui o direito de fazer a prova
em uma nova data no futuro – (Info 924)
Os candidatos possuem direito à segunda chamada nos testes físicos em concursos públicos?
REGRA: NÃO.
Os candidatos em concurso público NÃO têm direito à prova de segunda chamada nos testes
de aptidão física em razão de circunstâncias pessoais, ainda que de caráter fisiológico ou de
força maior, salvo se houver previsão no edital permitindo essa possibilidade.
STF. Plenário. RE 630733/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 15/5/13 (repercussão geral) (Info
706).
STJ. 1ª Turma. REsp 1.597.570/DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 25/10/18
STJ. 2ª Turma REsp 1.721.068/MT, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 8/5/18.
7.3. Não se pode cassar a aposentadoria do servidor que ingressou no serviço público por
força de provimento judicial precário e se aposentou durante o processo, antes da decisão ser
reformada – (Info 911)
Em regra, não produzem fato consumado a posse e o exercício em cargo público decorrentes
de decisão judicial tomada à base de cognição não-exauriente.
Em outras palavras, não se aplica a teoria do fato consumado para candidatos que assumiram
o cargo público por força de decisão judicial provisória posteriormente revista. Trata-se do
entendimento firmado no RE 608482/RN (Tema 476).
A situação é diferente, contudo, se a pessoa, após permanecer vários anos no cargo (21 anos),
conseguiu a concessão de aposentadoria. Neste caso, em razão do elevado grau de
estabilidade da situação jurídica, o princípio da proteção da confiança legítima incide com
maior intensidade. Trata-se de uma excepcionalidade que autoriza a distinção (distinguish)
quanto ao leading case do RE 608482/RN (Tema 476).
STF. 1ª Turma. RE 740029 AgR/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 14/8/18 (Info 911).
Quando o exercício do cargo foi amparado por decisões judiciais precárias e o servidor se
aposentou, antes do julgamento final do mandado de segurança, por tempo de contribuição
durante esse exercício e após legítima contribuição ao sistema, a denegação posterior da
segurança que inicialmente permitira ao servidor prosseguir no certame não pode ocasionar
a cassação da aposentadoria.
STJ. 1ª Seção. MS 20558-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 22/2/17 (Info 600).
OBS:
Situação não contemplada no leading case: No julgamento do RE 608482/RN, o STF não tratou
sobre as hipóteses em que o servidor, em razão do decurso do tempo no exercício do cargo,
tem a aposentadoria concedida pela Administração Pública. Logo, este entendimento não
afronta o que decidiu o STF na repercussão geral.
Legislação não prevê cassação de aposentadoria por esse motivo: A Lei dos Servidores
Públicos federais (Lei n. 8.112/90), assim como as demais leis de servidores públicos dos
demais entes, preveem a cassação da aposentadoria apenas em duas hipóteses:
a) demissão do servidor público (art. 134); e
b) acumulação ilegal de cargos (art. 133, § 6º).
Dessa forma, não há fundamento na lei para se cassar a aposentadoria nesta hipótese.
A nomeação tardia de candidatos aprovados em concurso público, por meio de ato judicial,
à qual atribuída eficácia retroativa, não gera direito às promoções ou progressões funcionais
que alcançariam se houvesse ocorrido, a tempo e modo, a nomeação.
STF. Plenário. RE 629392 RG/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 8/6/17 (repercussão geral) (Info
868).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João foi aprovado em todas as provas teóricas do
concurso de Defensor Público, no entanto, foi eliminado no exame psicotécnico, fato ocorrido
no ano de 2013. O candidato ingressou com ação ordinária questionando os critérios utilizados
no teste psicotécnico aplicado. O pedido de tutela provisória antecipada, contudo, foi negado.
Todos os demais candidatos aprovados tomaram posse. A ação foi julgada procedente em
todas as instâncias, mas a Fazenda Pública sempre recorria e João ainda não havia tomado
posse. Somente em 2017, quando houve o trânsito em julgado, ele foi nomeado e empossado.
Significa que, enquanto os demais candidatos foram nomeados e estavam trabalhando desde
2013, João, mesmo tendo direito, só conseguiu ingressar no serviço público 5 anos mais tarde.
Inconformado com a situação, João propôs ação de indenização contra o Poder Público
alegando que teria direito de receber, a título de reparação, o valor da remuneração do cargo
referente ao período de 2013 até 2017.
O tema foi decidido pelo STF em sede de recurso extraordinário sob a sistemática da
repercussão geral:
Na hipótese de posse em cargo público determinada por decisão judicial, o
servidor não faz jus à indenização, sob fundamento de que deveria ter sido
investido em momento anterior, salvo situação de arbitrariedade flagrante. STF.
Plenário. RE 724347/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min.
Roberto Barroso, julgado em 26/2/2015 (repercussão geral) (Info 775).
Por que o candidato não terá direito ao pagamento da remuneração retroativa? O direito à
remuneração é consequência do exercício de fato do cargo. Dessa forma, inexistindo o efetivo
exercício, a pessoa não faz jus à percepção de qualquer importância, a título de ressarcimento
material, sob pena de enriquecimento sem causa.
O art. 236, § 3º, da CF é uma norma constitucional autoaplicável. Logo, mesmo antes da
edição da Lei 8.935/94, ela já tinha plena eficácia e o concurso público era obrigatório como
condição não apenas para ingresso na atividade notarial e de registro, como também nos
casos de remoção ou permuta.
As normas estaduais que admitem a remoção na atividade notarial e de registro
independentemente de prévio concurso público são incompatíveis com o art. 236, § 3º, da
Constituição, razão pela qual não foram por essa recepcionadas.
O prazo decadencial de 5 anos, de que trata o art. 54 da Lei nº 9.784/99, não se aplica à revisão
de atos de delegação de serventias extrajudiciais editados após a CF/88, sem o atendimento
das exigências prescritas no seu art. 236. Assim, se uma pessoa assumiu uma serventia
notarial ou registral sem concurso público após a CF/88, este ato poderá ser anulado mesmo
que já se tenham passado mais de 5 anos.
A decisão que anula o ato de investidura em serventia notarial e registral sem concurso
público não viola o direito adquirido nem a segurança jurídica.
STF. 1ª Turma. MS 29415/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, j.
27/09/16 (Info 841).
Editais de concurso público não podem estabelecer restrição a pessoas com tatuagem, salvo
situações excepcionais em razão de conteúdo que viole valores constitucionais.
STF. Plenário. RE 898450/SP, Rel. Min. Luiz Fux, j. 17/8/16 (repercussão geral) (Info 835).
(MPRR-2017-CESPE): De acordo com o entendimento do STF, no que se refere à inscrição
de candidatos que possuam tatuagens gravadas na pele, não havendo lei que disponha sobre
o tema, os editais de concursos públicos estão impedidos de restringi-la, com exceção dos
casos em que essas tatuagens violem valores constitucionais. BL: Info 835, STF.
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João prestou concurso para soldado da Polícia Militar.
O edital do certame previa restrições para candidatos que possuem tatuagens. Segundo o
edital, seriam excluídos do concurso candidatos que possuíssem tatuagens localizadas em
regiões do corpo que ficassem visíveis quando o indivíduo estivesse usando short e camisa (ex:
antebraço). João foi aprovado em todas as fases, mas eliminado do concurso porque possui
uma tatuagem tribal, medindo 14 por 13 cm na panturrilha.
É possível que o edital do concurso preveja a eliminação do candidato pelo simples fato de ter
uma tatuagem? Essa previsão é válida?
Regra: NÃO. Em regra, os editais de concurso não podem estabelecer restrição a
pessoas com tatuagem.
Exceção: é possível que o edital imponha restrições a candidatos que possuam
tatuagens cujo conteúdo viole valores constitucionais.
Restrições a cargos públicos somente podem estar relacionadas com o exercício das funções:
Qualquer obstáculo a acesso a cargo público deve estar relacionado unicamente ao exercício
das funções como, por exemplo, idade ou altura que impossibilitem o exercício de funções
específicas. A criação de barreiras arbitrárias para impedir o acesso de candidatos a cargos
públicos fere os princípios constitucionais da isonomia e da razoabilidade.
Exceções: Vale ressaltar, entretanto, que é possível que a Administração Pública impeça o
acesso do candidato se a tatuagem que ele possui tiver um conteúdo que viole os valores
previstos na Constituição Federal. É o caso, por exemplo, de tatuagens que contenham
obscenidades, ideologias terroristas, que sejam discriminatórias, que preguem a violência e a
criminalidade, a discriminação de raça, credo, sexo ou origem. Isso porque tais temas são,
inegavelmente, contrários às instituições democráticas. Se a Administração proibir tatuagens
como essa, não será uma prática desarrazoada ou desproporcional.
Determinado candidato foi aprovado fora do número de vagas. Todos os aprovados dentro
do número de vagas foram nomeados e empossados. Durante o prazo de validade do
concurso, um servidor se aposentou, mas não houve autorização do Ministério do
Planejamento para que o órgão federal fizesse o provimento desta vaga. Um mês após o fim
do prazo de validade do concurso, a Administração Pública abriu novo concurso para este
cargo.
O STF entendeu que este candidato não possui direito líquido e certo à nomeação porque:
foi aprovado fora do número de vagas previsto no edital; e
o prazo de validade do concurso em que ele foi aprovado expirou antes da abertura
do novo certame.
realmente surgiu uma vaga decorrente da aposentadoria, mas não houve
manifestação do órgão competente se havia disponibilidade orçamentária para que
este cargo fosse imediatamente provido.
O mero surgimento de vagas ou a abertura de novo concurso para o mesmo cargo não gera
direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado fora do número de vagas, cabendo a
ele demonstrar, de forma inequívoca, que houve preterição arbitrária e imotivada por parte
da administração pública. No caso concreto, o STF entendeu que isso não ficou comprovado.
Assim, para o Tribunal, a situação não se enquadra nas hipóteses previstas no RE 837311/PI.
STF. 1ª Turma. RMS 31478/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Edson
Fachin, julgado em 9/8/2016 (Info 834).
7.8. Surgimento de novas vagas e discussão sobre direito subjetivo à nomeação (Info 811)
– IMPORTANTE!!!
O surgimento de novas vagas ou a abertura de novo concurso para o mesmo cargo, durante
o prazo de validade do certame anterior, não gera automaticamente o direito à nomeação dos
candidatos aprovados fora das vagas previstas no edital, ressalvadas as hipóteses de
preterição arbitrária e imotivada por parte da administração, caracterizada por
comportamento tácito ou expresso do Poder Público capaz de revelar a inequívoca
necessidade de nomeação do aprovado durante o período de validade do certame, a ser
demonstrada de forma cabal pelo candidato.
Assim, o direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado em concurso público exsurge
nas seguintes hipóteses:
a) quando a aprovação ocorrer dentro do número de vagas dentro do edital;
b) quando houver preterição na nomeação por não observância da ordem de
classificação; e
c) quando surgirem novas vagas, ou for aberto novo concurso durante a validade do
certame anterior, e ocorrer a preterição de candidatos de forma arbitrária e
imotivada por parte da administração nos termos acima.
STF. Plenário. RE 837311/PI, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 09/12/2015 (repercussão geral)
(Info 811).
7.9. Teoria do fato consumado: inaplicabilidade em concurso público (Info 753 e Info 808)
– IMPORTANTE!!! (MPDFT-2015) (Anal. Judic./TRF1-2017) (TJCE-2018)
O candidato que toma posse em concurso público por força de decisão judicial precária
assume o risco de posterior reforma desse julgado que, em razão do efeito “ex tunc”,
inviabiliza a aplicação da teoria do fato consumado em tais hipóteses.
A posse ou o exercício em cargo público por força de decisão judicial de caráter provisório
não implica a manutenção, em definitivo, do candidato que não atende a exigência de prévia
aprovação em concurso público (art. 37, II, da CF/88), valor constitucional que prepondera
sobre o interesse individual do candidato, que não pode invocar, na hipótese, o princípio da
proteção da confiança legítima, pois conhece a precariedade da medida judicial.
Em suma, não se aplica a teoria do fato consumado para candidatos que assumiram o cargo
público por força de decisão judicial provisória posteriormente revista.
STF. 1ª Turma. RMS 31538/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio,
julgado em 17/11/2015 (Info 808).
STF. Plenário. RE 608482/RN, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 7/8/14 (repercussão geral) (Info
753).
(TJCE-2018-CESPE): O princípio da proteção da confiança legítima não autoriza a
manutenção em cargo público de servidor público empossado por força de decisão judicial
de caráter provisório posteriormente revista, ainda que decorridos mais de cinco anos da
investidura no cargo. BL: Info 753, STF.
É possível que o Poder Judiciário anule questão objetiva de concurso público que foi
elaborada de maneira equivocada? É possível que seja alterada a pontuação dada ao
candidato na questão sob o argumento de que a correção feita pela banca foi inadequada?
Regra: NÃO. Os critérios adotados por banca examinadora de concurso público não
podem ser revistos pelo Poder Judiciário. Não é possível controle jurisdicional sobre
o ato administrativo que corrige questões de concurso público. Não compete ao
Poder Judiciário substituir a banca examinadora para reexaminar o conteúdo das
questões e os critérios de correção utilizados.
Exceção: apenas em casos de flagrante ilegalidade ou inconstitucionalidade, a
Justiça poderá ingressar no mérito administrativo para rever critérios de correção e
de avaliação impostos pela banca examinadora.
STF. Plenário. RE 632853/CE, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/4/2015 (repercussão
geral) (Info 782).
7.13. É inconstitucional lei estadual que cria Serviço de Interesse Militar Voluntário
Estadual – (Info 780)
O Estado de Goiás editou uma lei criando algo que ele chamou de Serviço de Interesse
Militar Voluntário Estadual (SIMVE). Esse SIMVE funcionaria, em linhas gerais, da
seguinte forma: as pessoas poderiam se alistar para trabalhar “voluntariamente” como
soldado na Polícia Militar ou no Corpo de Bombeiros Militar. Haveria uma espécie de
seleção (menos rigorosa que um concurso público) e, se a pessoa fosse escolhida, ela
receberia, como contraprestação pelo trabalho desempenhado, um subsídio e atuaria como
se fosse um soldado. Esse contrato seria por um prazo determinado.
O STF entendeu que esse SIMVE é formal e materialmente inconstitucional.
O SIMVE viola a regra do concurso público (art. 37, II, da CF/88).
Além disso, o STF afirmou ainda que a Lei estadual possui um vício formal, já que trata
sobre prestação voluntária de serviços na PM e Corpo de Bombeiros de forma
diametralmente oposta ao que diz a Lei federal 10.029/2000.
STF. Plenário. ADI 5163/GO, rel. Min. Luiz Fux, julgado em 26/3/2015 (Infos 780 e 781).
Súmula vinculante 44-STF: Só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de
candidato a cargo público.
STF. Plenário. Aprovada em 08/04/2015 (Info 780).
7.16. Questão da prova objetiva que exige do candidato saber quantas afirmações estão
corretas – (Info 778)
Determinada candidata impetrou mandado de segurança questionando três questões da
prova objetiva do concurso para Procurador da República. As questões impugnadas foram
formuladas da seguinte forma: eram apresentadas quatro afirmações; após essas assertivas,
existiam quatro alternativas; a letra “A” dizia: “apenas uma está correta”; letra “B”: “duas
estão corretas”; letra “C”: “três estão corretas”; letra “D”: “todas estão corretas”.
Segundo a autora, essa forma de questão objetiva estaria em desacordo com as Resoluções
do CNMP e do CNJ sobre concursos públicos.
O STF concordou com a tese da impetrante? Essa forma de questão objetiva violou a
resolução do CNMP?
NÃO. Apesar de as referidas questões apresentarem realmente uma estrutura objetiva
diversa das demais perguntas normalmente feitas em prova objetiva, isso não significa
qualquer nulidade, sendo apenas uma forma de dificultar o nível da prova igualmente a
todos os candidatos e condizente com o objetivo de um concurso destinado a medir
conhecimentos de vários tipos, ou seja, não só jurídicos, mas também lógicos e gramaticais.
Ademais, entendeu-se que não se poderia invocar a Resolução 57/2009 do CNJ porque,
embora o CNJ e o CNMP possuam estruturas semelhantes e mesma origem constitucional,
são órgãos autônomos, de forma que o CNMP disciplinou o tema na forma que entendeu
melhor e não vedou esse tipo de questão.
STF. 1ª Turma. MS 31323 AgR/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 17/3/2015 (Info 778).
A lei estadual do Estado “X” prevê que, em caso de empate entre os candidatos em concurso
de remoção para serventias notariais e registrais, o primeiro critério de desempate é o maior
tempo de serviço público.
Ocorre que a Lei Federal 10.741/2003 (Estatuto do Idoso) determina que o primeiro critério
de desempate em concurso público será a idade, dando-se preferência ao de idade mais
elevada (art. 27, parágrafo único).
Qual das duas legislações deverá prevalecer no caso?
A legislação estadual. O Estatuto do Idoso, por ser lei geral, não se aplica como critério de
desempate, no concurso público de remoção para outorga de delegação notarial e de
registro, quando existir lei estadual específica que regule o certame e traga regras aplicáveis
em caso de empate. Desse modo, em nosso exemplo, a vaga deve ficar com o candidato que
tiver maior tempo de serviço público (e não necessariamente com o mais idoso).
STF. 1ª Turma. MS 33046/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 10/3/2015 (Info 777).
7.18. Posse em cargo público por determinação judicial e dever de indenizar – (Info 775) –
IMPORTANTE!!! – (DPEPR-2017) (TJMG-2018)
O candidato que teve postergada a assunção em cargo por conta de ato ilegal da
Administração tem direito a receber a remuneração retroativa?
Regra: NÃO. Não cabe indenização a servidor empossado por decisão judicial sob
o argumento de que houve demora na nomeação. Dito de outro modo, a nomeação
tardia a cargo público em decorrência de decisão judicial não gera direito à
indenização.
Exceção: será devida indenização se ficar demonstrado, no caso concreto, que o
servidor não foi nomeado logo por conta de uma situação de arbitrariedade
flagrante.
Nas exatas palavras do STF: “Na hipótese de posse em cargo público determinada por decisão
judicial, o servidor não faz jus à indenização, sob fundamento de que deveria ter sido
investido em momento anterior, salvo situação de arbitrariedade flagrante.”
STF. Plenário. RE 724347/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, julgado em 26/2/2015 (repercussão geral) (Info 775).
(TJMG-2018-Consulplan): Com relação à responsabilidade civil do Estado, assinale a
alternativa correta: O Supremo Tribunal Federal reconheceu a existência de repercussão
geral e firmou a tese de que, na hipótese de posse em cargo público determinada por
decisão judicial, o servidor não faz jus à indenização, sob fundamento de que deveria ter
sido investido em momento anterior, salvo situação de arbitrariedade flagrante. BL: Info
775, STF.
7.19. Sociedade de economia mista que contrata escritório de advocacia em vez de convocar
advogados aprovados – (Info 763) – IMPORTANTE!!!
7.20. Serviços sociais autônomos não precisam realizar concurso público – (Info 759) –
IMPORTANTE!!! – (Auditor Fisc. Munic.-Cuiabá/MT-2016) (DPEAC-2017) (DPEAL-2017)
Os serviços sociais autônomos precisam realizar concurso público para contratar seu pessoal?
NÃO. Os serviços sociais autônomos, por possuírem natureza jurídica de direito privado e
não integrarem a Administração Pública, mesmo que desempenhem atividade de interesse
público em cooperação com o ente estatal, NÃO estão sujeitos à observância da regra de
concurso público (art. 37, II, da CF/88) para contratação de seu pessoal.
STF. Plenário. RE 789874/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 17/9/2014 (repercussão
geral) (Info 759).
(DPEAC-2017-CESPE): Conforme entendimento do STF, as entidades de serviços sociais
autônomos integrantes do sistema “S” não se submetem à exigência do concurso público
para a contratação de pessoal. BL: Info 759, STF.
7.22. Contratação pela Administração Pública sem concurso público e ausência de efeitos
trabalhistas – (Info 756)
8. ORGANIZAÇÕES SOCIAIS
8.1. Constitucionalidade da Lei 9.637/98 – (Info 781) – IMPORTANTE!!! – (Anal.
Judic./TREPE-2017) (Anal. Judic./STJ-2018)
Organizações sociais são pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos,
prestadoras de atividades de interesse público e que, por terem preenchido determinados
requisitos previstos na Lei 9.637/98, recebem a qualificação de “organização social”.
A pessoa jurídica, depois de obter esse título de “organização social”, poderá celebrar com
o Poder Público um instrumento chamado de “contrato de gestão” por meio do qual
receberá incentivos públicos para continuar realizando suas atividades.
Foi ajuizada uma ADI contra diversos dispositivos da Lei 9.637/98 e também contra o art.
24, XXIV, da Lei 8.666/93, que prevê a dispensa de licitação nas contratações de organizações
sociais.
O Plenário do STF não declarou os dispositivos inconstitucionais, mas deu interpretação
conforme a Constituição para deixar explícitas as seguintes conclusões:
a) o procedimento de qualificação das organizações sociais deve ser conduzido de forma
pública, objetiva e impessoal, com observância dos princípios do “caput” do art. 37 da CF,
e de acordo com parâmetros fixados em abstrato segundo o disposto no art. 20 da Lei
9.637/98;
b) a celebração do contrato de gestão deve ser conduzida de forma pública, objetiva e
impessoal, com observância dos princípios do “caput” do art. 37 da CF;
c) as hipóteses de dispensa de licitação para contratações (Lei 8.666/1993, art. 24, XXIV) e
outorga de permissão de uso de bem público (Lei 9.637/1998, art. 12, § 3º) são válidas, mas
devem ser conduzidas de forma pública, objetiva e impessoal, com observância dos
princípios do “caput” do art. 37 da CF;
d) a seleção de pessoal pelas organizações sociais deve ser conduzida de forma pública,
objetiva e impessoal, com observância dos princípios do “caput” do art. 37 da CF, e nos
termos do regulamento próprio a ser editado por cada entidade; e
e) qualquer interpretação que restrinja o controle, pelo Ministério Público e pelo Tribunal
de Contas da União, da aplicação de verbas públicas deve ser afastada.
STF. Plenário. ADI 1923/DF, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux,
julgado em 15 e 16/4/2015 (Info 781)
Quem tem o privilégio de pagar por meio de precatório? A quem se aplica o regime dos
precatórios? As Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais. Essa expressão
abrange:
União, Estados, DF e Municípios (administração direta);
Autarquias;
Fundações;
Empresas públicas prestadoras de serviço público (ex: Correios);
Sociedades de economia mista prestadoras de serviço público de atuação própria do
Estado e de natureza não concorrencial.
Não atuar em regime de concorrência e não objetivar lucro: Segundo o STF, para que a
sociedade de economia mista goze dos privilégios da Fazenda Pública, é necessário que ela
não atue em regime de concorrência com outras empresas e que não tenha objetivo de lucro.
Confira:
(...) Os privilégios da Fazenda Pública são inextensíveis às
sociedades de economia mista que executam atividades em regime
de concorrência ou que tenham como objetivo distribuir lucros aos
seus acionistas. Portanto, a empresa Centrais Elétricas do Norte do
Brasil S.A. - Eletronorte não pode se beneficiar do sistema de
pagamento por precatório de dívidas decorrentes de decisões
judiciais (art. 100 da Constituição). (...) (STF. Plenário. RE 599628,
Rel. Min. Ayres Britto, Relator p/ Acórdão Min. Joaquim Barbosa, j.
25/5/11).
Exemplos: Você pode estar com alguma dificuldade de visualizar o que seria uma sociedade
de economia mista prestadora de serviço público próprio do Estado e de natureza não
concorrencial. Por isso, vejamos três exemplos já enfrentados pelo STF:
9.2. EMPRESAS PÚBLICAS: Os Correios têm o dever jurídico de motivar, em ato formal,
a demissão de seus empregados – (Info 919) – IMPORTANTE!!!
Os empregados das empresas públicas e sociedades de economia mista podem ser demitidos
sem motivação? Em 2013, o STF, ao analisar um caso envolvendo um empregado dos Correios
que havia sido demitido sem motivação, decidiu que NÃO.
Em outras palavras, o STF afirmou que a conduta da empresa pública foi errada e que a ECT
(Correios) tem o dever de motivar formalmente o ato de dispensa de seus empregados. STF.
Plenário. RE 589998, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 20/3/13 (Info 699).
OJ nº 247 SDI-I
I – A despedida de empregados de empresa pública e de sociedade
de economia mista, mesmo admitidos por concurso público,
independe de ato motivado para sua validade;
II – A validade do ato de despedida do empregado da Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) está condicionada à
motivação, por gozar a empresa do mesmo tratamento destinado à
Fazenda Pública em relação à imunidade tributária e à execução por
precatório, além das prerrogativas de foro, prazos e custas
processuais.
Redação ampla da ementa: Conforme já dito, o caso concreto no qual o STF decidiu esse tema
envolvia um empregado dos Correios. Ocorre que a ementa do julgado ficou extremamente
genérica, especialmente o item II. Confira:
EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS – ECT.
DEMISSÃO IMOTIVADA DE SEUS EMPREGADOS.
IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE MOTIVAÇÃO DA
DISPENSA. RE PARCIALEMENTE PROVIDO.
I - Os empregados públicos não fazem jus à estabilidade prevista no
art. 41 da CF, salvo aqueles admitidos em período anterior ao
advento da EC nº 19/1998. Precedentes.
II - Em atenção, no entanto, aos princípios da impessoalidade e
isonomia, que regem a admissão por concurso público, a dispensa
do empregado de empresas públicas e sociedades de economia
mista que prestam serviços públicos deve ser motivada,
assegurando-se, assim, que tais princípios, observados no
momento daquela admissão, sejam também respeitados por
ocasião da dispensa.
III – A motivação do ato de dispensa, assim, visa a resguardar o
empregado de uma possível quebra do postulado da
impessoalidade por parte do agente estatal investido do poder de
demitir.
IV - Recurso extraordinário parcialmente provido para afastar a
aplicação, ao caso, do art. 41 da CF, exigindo-se, entretanto, a
motivação para legitimar a rescisão unilateral do contrato de
trabalho.
STF. Plenário. RE 589998, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado
em 20/03/2013.
Além disso, se você ler o voto do Min. Ricardo Lewandoski, vai perceber que ele fala de forma
também genérica, incluindo indistintamente todas as empresas públicas e sociedades de
economia mista. Diante disso, os livros e os professores passaram a dizer que a decisão do STF
no RE 589998 valeria para todas as empresas públicas e sociedades de economia mista.
Quem tem o privilégio de pagar por meio de precatório? A quem se aplica o regime dos
precatórios? As Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais.
Essa expressão abrange:
União, Estados, DF e Municípios (administração direta);
Autarquias;
Fundações;
Empresas públicas prestadoras de serviço público (ex: Correios);
Sociedades de economia mista prestadoras de serviço público de atuação própria do
Estado e de natureza não concorrencial.
Observação importante: É permitido que uma empresa pública seja formada por mais de um
ente (ex: União e Estado-membro) ou entidade (ex: Estado-membro e empresa pública federal).
Veja o que diz a Lei nº 13.303/2016:
Art. 3º (...)
Parágrafo único. Desde que a maioria do capital votante permaneça
em propriedade da União, do Estado, do Distrito Federal ou do
Município, será admitida, no capital da empresa pública, a
participação de outras pessoas jurídicas de direito público interno,
bem como de entidades da administração indireta da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
O objetivo precípuo do Poder Público não é a realização de atividades econômicas, mas sim a
prestação de serviços públicos. Por essa razão, a Constituição Federal (art. 173) prevê que o
Estado somente deverá fazer a exploração direta da atividade econômica quando isso for
necessário por razões de:
Segurança nacional ou
Relevante interesse coletivo.
Desse modo, se o Poder Público decide desenvolver determinada atividade econômica, ele
precisará fazer isso por meio de uma empresa pública ou sociedade de economia mista.
Bens: Como são pessoas jurídicas de direito privado, os bens das empresas públicas e das
sociedades de economia mista são classificados como bens privados (art. 98 do Código Civil).
Assim, em regra, as normas que regem esses bens são de direito privado, ou seja, recebem o
mesmo tratamento de bens privados. No entanto, apesar disso, existem algumas mitigações a
essa regra, isto é, situações nas quais se aplicam normas de direito público para esses bens
quando tais entidades forem prestadoras de serviços públicos. Ex: proibição da penhora dos
bens que sejam necessários à continuidade dos serviços.
2) Se for uma empresa pública que desenvolva atividade econômica sem monopólio e com
finalidade de lucro: NÃO.
Não se submetem ao regime de precatório as empresas públicas
dotadas de personalidade jurídica de direito privado com
patrimônio próprio e autonomia administrativa que exerçam
atividade econômica sem monopólio e com finalidade de lucro.
STF. 1ª Turma. RE 892727/DF, rel. orig. Min. Alexandre de Morais,
red. p/ o ac. Min. Rosa Weber, julgado em 7/8/2018 (Info 910).
9.4. É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de economia mista? – (Info
812) – IMPORTANTE!!! ATENÇÃO!!! ADVOCACIA PÚBLICA!!! – (MPSC-2016)
9.5. CE não pode ampliar a abrangência do art. 19 do ADCT da CF/88 – (Info 759)
É constitucional o art. 7º, III e XV, da Lei 9.782/99, que preveem que compete à ANVISA:
III - estabelecer normas, propor, acompanhar e executar as
políticas, as diretrizes e as ações de vigilância sanitária;
XV - proibir a fabricação, a importação, o armazenamento, a
distribuição e a comercialização de produtos e insumos, em caso
de violação da legislação pertinente ou de risco iminente à saúde;
Entendeu-se que tais normas consagram o poder normativo desta agência reguladora, sendo
importante instrumento para a implementação das diretrizes, finalidades, objetivos e
princípios expressos na Constituição e na legislação setorial.
Além disso, o STF, após empate na votação, manteve a validade da Resolução RDC 14/2012-
ANVISA, que proíbe a comercialização no Brasil de cigarros com sabor e aroma. Esta parte
do dispositivo não possui eficácia erga omnes e efeito vinculante. Significa dizer que,
provavelmente, as empresas continuarão ingressando com ações judiciais, em 1ª instância,
alegando que a Resolução é inconstitucional e pedindo a liberação da comercialização dos
cigarros com aroma. Os juízes e Tribunais estarão livres para, se assim entenderem,
declararem inconstitucional a Resolução e autorizar a venda. Existem, inclusive, algumas
decisões nesse sentido e que continuam valendo.
STF. Plenário. ADI 4874/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 1º/2/18 (Info 889).
10.2. Lei estadual que trata sobre a nomeação e destituição de dirigentes de agências
reguladoras – (Info 759) – (Anal. Previdência/IPERON-2017)
É CONSTITUCIONAL lei estadual que prevê que os dirigentes de determinada agência
reguladora somente poderão ser nomeados após previamente aprovados pela Assembleia
Legislativa.
Por outro lado, é INCONSTITUCIONAL a lei estadual que estabelece que os dirigentes de
agência reguladora somente poderão ser destituídos de seus cargos por decisão exclusiva da
Assembleia Legislativa, sem qualquer participação do Governador do Estado. Essa previsão
viola o princípio da separação dos poderes (at. 2º da CF/88).
STF. Plenário. ADI 1949/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 17/9/14 (Info 759).
(Anal. Previdência/IPERON-2017-IBADE): As Agências Reguladoras tomaram um espaço
de destaque no cenário do Direito Administrativo brasileiro, especialmente a partir da
Constituição de 1988. São autarquias em regime especial, sendo dotadas de algumas
características especiais. Identifique a alternativa correta acerca das Agências Reguladoras:
Será considerada inconstitucional lei estadual que venha estabelecer que os dirigentes de
agência reguladora estadual somente possam ser destituídos de seus cargos por decisão
exclusiva da respectiva Assembleia Legislativa estadual, sem qualquer participação do
Governador desse Estado. BL: Info 759, STF.
Esse dispositivo inserido é constitucional? SIM. Em verdade, esse preceito apenas reproduz
o que já era previsto no art. 1º do Decreto 20910/32. A única novidade foi incluir, entre os
destinatários da norma, as pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público,
atribuindo-lhes o mesmo regime prescricional das pessoas jurídicas de direito público.
O Estado responde, objetivamente, pelos atos dos tabeliães e registradores oficiais que, no
exercício de suas funções, causem dano a terceiros, assentado o dever de regresso contra o
responsável, nos casos de dolo ou culpa, sob pena de improbidade administrativa.
O Estado possui responsabilidade civil direta, primária e objetiva pelos danos que notários
e oficiais de registro, no exercício de serviço público por delegação, causem a terceiros.
STF. Plenário. RE 842846/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, j. 27/2/19 (repercussão geral) (Info 932).
OBS:
Ação de regresso: Vale ressaltar que, se o Estado for condenado e pagar a indenização à vítima,
ele tem o dever de cobrar de volta do tabelião ou registrador o valor que pagou. Em outras
palavras, depois de pagar a indenização, o Estado deve, obrigatoriamente, ajuizar ação de
regresso contra o responsável pelo dano. Se o Estado não ajuizar a ação de regresso, os
agentes públicos responsáveis por isso (exs: Governador, Procurador-Geral do Estado,
Secretário de Fazenda, a depender do caso concreto e da organização administrativa do ente)
poderão responder por ato de improbidade administrativa.
Nesta ação de regresso, o Estado, para ser indenizado, deverá comprovar que o tabelião ou
registrador agiu com dolo ou culpa? Qual é o tipo de responsabilidade civil dos notários e
registradores? SIM. Trata-se de responsabilidade SUBJETIVA.
A Lei 13.286/16 alterou o art. 22 da Lei nº 8.935/94 prevendo que a responsabilidade civil dos
notários e registradores é subjetiva. Essa opção do legislador é válida ou viola o art. 37, § 6º
da CF/88? O legislador poderia ter estipulado a responsabilidade subjetiva? Esse dispositivo
é constitucional? A maioria dos Ministros entendeu que sim, ou seja, trata-se de dispositivo
constitucional. O art. 236, § 1º, da CF/88 é uma norma de eficácia limitada na qual o
constituinte outorgou competência para o legislador infraconstitucional definir qual seria o
regime de responsabilidade dos notários e registradores. Veja:
Art. 236 (...)
§ 1º Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e criminal
dos notários, dos oficiais de registro e de seus prepostos, e definirá a fiscalização
de seus atos pelo Poder Judiciário.
Jurisprudência do STF: Vale ressaltar que a conclusão acima exposta já era o entendimento do
STF. No entanto, o STJ possuía inúmeros julgados em sentido diferente (ex: AgRg no REsp
1377074/RJ) e agora aquele Tribunal terá que se adequar à posição do STF, tendo em vista que
a tese foi fixada sob a sistemática da repercussão geral.
12.2. Estado deve indenizar preso que se encontre em situação degradante – (Info 854) –
IMPORTANTE!!! – REPERCUSSÃO GERAL!!! (TJPB-2015) (TJDFT-2015) (DPERS-2018)
Considerando que é dever do Estado, imposto pelo sistema normativo, manter em seus
presídios os padrões mínimos de humanidade previstos no ordenamento jurídico, é de sua
responsabilidade, nos termos do art. 37, § 6º, da Constituição, a obrigação de ressarcir os
danos, inclusive morais, comprovadamente causados aos detentos em decorrência da falta
ou insuficiência das condições legais de encarceramento.
Portanto, a violação a direitos fundamentais causadora de danos pessoais a detentos em
estabelecimentos carcerários não pode ser simplesmente relevada ao argumento de que a
indenização não tem alcance para eliminar o grave problema prisional globalmente
considerado, que depende da definição e da implantação de políticas públicas específicas,
providências de atribuição legislativa e administrativa, não de provimentos judiciais.
STF. Plenário. RE 580252/MS, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes,
j. 16/2/17 (repercussão geral) (Info 854).
(DPERS-2018-FCC): Em uma unidade prisional brasileira, superlotada e na qual ocorrem
violações diárias de direitos humanos pela ausência de condições mínimas de saúde,
higiene, segurança e preservação da intimidade, um preso cumpriu integralmente o
tempo correspondente de privação de liberdade de determinada pena. No período, foi
assediado moral e fisicamente de várias formas, ficou diversas vezes privado de sol e de
banho, não dormiu por muitas noites por falta de colchões, desenvolveu doença
pulmonar e ficou viciado em crack, substância com a qual jamais havia tido contato antes
da privação de liberdade. O Estado em que situada a unidade prisional passa por
gravíssima crise financeira e atrasa salários de seus servidores, mas aplica na gestão da
saúde, educação e segurança pública os percentuais constitucionais e legais mínimos
previstos, além de gastar nos limites de sua lei orçamentária, o que foi respeitado durante
todo o período em que o apenado cumpriu pena. Considerando a situação acima e a
jurisprudência recente do STF, decidida em sede de repercussão geral, que se assemelha
ao fato narrado, considerada a Teoria da Reserva do Possível, os danos experimentados
pelo preso deverão ser indenizados pelo Estado, tanto os danos materiais como os morais,
independentemente de comprovação de culpa na fiscalização das condições de saúde e
higiene da unidade prisional, sendo irrelevante conhecer se foram aplicados todos os
recursos previstos na lei orçamentária nas áreas da segurança e saúde prisional. BL: STF,
Info 854.
OBS:
Estado é responsável guarda e segurança dos presos: O Estado é responsável pela guarda e
segurança das pessoas submetidas a encarceramento, enquanto ali permanecerem detidas.
Assim, é dever do Poder Público mantê-las em condições carcerárias com mínimos padrões de
humanidade estabelecidos em lei, bem como, se for o caso, ressarcir os danos que daí
decorrerem. A jurisprudência do STF entende que o Estado possui responsabilidade objetiva
pela integridade física e psíquica daqueles que estão sob sua custódia.
“A negligência estatal no cumprimento do dever de guarda e
vigilância dos detentos configura ato omissivo a dar ensejo à
responsabilidade objetiva do Estado, uma vez que, na condição de
garante, tem o dever de zelar pela integridade física dos
custodiados” (trecho do voto do Min. Gilmar Mendes no ARE
662563 AgR, julgado em 20/03/2012).
Não aplicação do princípio da reserva do possível: Não há como acolher o argumento que
invoca o "princípio da reserva do possível". Segundo este princípio, os recursos públicos são
limitados e as necessidades ilimitadas, de forma que não há condições financeiras de o Estado
atender a todas as demandas sociais. Ocorre que só faz sentido considerar este princípio em
ações judiciais nas quais está sendo pedida a implementação de direitos fundamentais a
prestações, especialmente direitos de natureza social (ex: saúde, educação etc.). Em tais casos,
discute-se se é possível conceder o direito pleiteado mesmo que não haja, em tese, capacidade
financeira do Estado. Aqui, contudo, a situação é diferente. Neste caso, a matéria jurídica se
situa no âmbito da responsabilidade civil do Estado de responder pelos danos causados por
ação ou omissão de seus agentes, nos termos previstos no art. 37, § 6º, da CF/88. Trata-se de
dispositivo autoaplicável (de eficácia plena), que não depende de lei ou de qualquer outra
providência administrativa. Ocorrendo o dano e estabelecido o seu nexo causal com a atuação
da Administração ou dos seus agentes, nasce a responsabilidade civil do Estado.
A criação de subterfúgios teóricos, tais como a separação dos Poderes, a reserva do possível e
a natureza coletiva dos danos sofridos, para afastar a responsabilidade estatal pelas
calamitosas condições da carceragem afronta não apenas o sentido do art. 37, § 6º, da CF, como
também gera o esvaziamento dos dispositivos constitucionais, convencionais e legais que
impõem ao Estado o dever do Estado de garantir a integridade física e psíquica dos detentos.
Quem deverá pagar esta indenização? O Estado-membro responsável pela unidade prisional.
Se as péssimas condições forem verificadas em presídio federal (o que não se tem verificado
na prática), neste caso a indenização seria paga pela União.
Como é o pagamento desta indenização? Pode ser de outra forma que não seja dinheiro? NÃO.
Durante os debates do julgamento, o Min. Barroso propôs que a indenização não fosse em
dinheiro, mas sim por meio de remição da pena. Em vez de receber uma reparação pecuniária,
os presos que sofrem danos morais por cumprirem pena em presídios com condições
degradantes teriam direito ao "abatimento" de dias da pena. Vale ressaltar que esta solução do
Ministro Barroso não tem previsão na lei e seria feita por meio da aplicação, por analogia, do
art. 126 da LEP:
Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou
semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do
tempo de execução da pena.
Pela proposta do Ministro, os danos morais causados a presos por superlotação ou condições
degradantes deveriam ser reparados, preferencialmente, pela remição de parte do tempo da
pena – à razão de um dia de remição para cada 3 a 7 dias cumpridos sob essas condições
adversas, a critério do juiz da Vara de Execuções Penais competente. Barroso argumentou que,
com a solução, ganha o preso, que reduz o tempo de prisão, e ganha o Estado, que se desobriga
de despender recursos com indenizações, dinheiro que pode ser, inclusive, usado na melhoria
do sistema.
O voto do Min. Barroso foi acompanhado por Luiz Fux e Celso de Mello, sendo, portanto,
minoritário (vencido).
Assim, a maioria do STF decidiu que a indenização deve ser mesmo em pecúnia.
Valor da condenação: O Estado do Mato Grosso do Sul foi condenado a indenizar o preso em
R$ 2 mil.
Em caso de inobservância de seu dever específico de proteção previsto no art. 5º, inciso
XLIX, da CF/88, o Estado é responsável pela morte de detento.
STF. Plenário. RE 841526/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 30/3/2016 (repercussão geral)
(Info 819).
(Analista-CRBio/1ªRegião-2017-VUNESP): A condenação dos Estados ao pagamento de
indeniza-ção às famílias de detentos, ainda que mortos por outros presos, encontra
fundamento na responsabilidade objetiva, prevista na Constituição Federal. BL: Info 819,
STF.
OBS:
Responsabilidade civil do Estado: É a obrigação que a Administração Pública tem de indenizar
os danos patrimoniais ou morais que seus agentes, atuando nesta qualidade, causarem a
terceiros.
Art. 37 (...)
§ 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado
prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de
regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
ATENÇÃO: O §6º acima não está escrito expressamente que a responsabilidade é objetiva. A
doutrina e a jurisprudência, no entanto, de forma pacífica assim entendem por um motivo: o
dispositivo exige dolo ou culpa para que o agente público responda regressivamente, mas não
faz esta mesma exigência para que o Estado tenha que indenizar. Logo, interpreta-se que a
exigência de dolo ou culpa é unicamente para a ação regressiva.
Requisitos para que haja a responsabilidade civil do Estado: Quando se fala que a
responsabilidade do Estado é objetiva, isso significa que a pessoa que sofreu um dano causado
por um agente público terá que provar apenas três elementos:
a) conduta praticada por um agente público, nesta qualidade;
b) dano;
c) nexo de causalidade (demonstração de que o dano foi causado pela conduta).
ADVERTÊNCIA: o Estado responde de forma objetiva pelas suas omissões. No entanto, o nexo
de causalidade entre essas omissões e os danos sofridos pelos particulares só restará
caracterizado quando o Poder Público tinha o dever legal específico de agir para impedir o
evento danoso e mesmo assim não cumpriu essa obrigação legal. Assim, o Estado responde de
forma objetiva pelas suas omissões, desde que ele tivesse obrigação legal específica de agir
para impedir que o resultado danoso ocorresse. A isso se chama de "omissão específica" do
Estado. Dessa forma, para que haja responsabilidade civil no caso de omissão, deverá haver
uma omissão específica do Poder Público (STF. Plenário. RE 677139 AgR-EDv-AgR, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 22/10/2015).
Logo, o Poder Público poderá ser condenado a indenizar pelos danos que o preso venha a
sofrer. Esta responsabilidade é objetiva. Assim, a morte de detento gera responsabilidade civil
objetiva para o Estado em decorrência da sua omissão específica em cumprir o dever especial
de proteção que lhe é imposto pelo art. 5º, XLIX, da CF/88.
Ressalta-se, no entanto, que a responsabilidade civil neste caso, apesar de ser objetiva, é
regrada pela teoria do risco administrativo. Desse modo, o Estado poderá ser dispensado de
indenizar se ficar demonstrado que ele não tinha a efetiva possibilidade de evitar a ocorrência
do dano. Nas exatas palavras do Min. Luiz Fux: "(...) sendo inviável a atuação estatal para evitar
a morte do preso, é imperioso reconhecer que se rompe o nexo de causalidade entre essa
omissão e o dano. Entendimento em sentido contrário implicaria a adoção da teoria do risco
integral, não acolhida pelo texto constitucional (...)".
Em suma:
Em regra: o Estado é objetivamente responsável pela morte de detento. Isso porque
houve inobservância de seu dever específico de proteção previsto no art. 5º, inciso
XLIX, da CF/88.
Exceção: o Estado poderá ser dispensado de indenizar se ele conseguir provar que a
morte do detento não podia ser evitada. Neste caso, rompe-se o nexo de causalidade
entre o resultado morte e a omissão estatal.
Exemplo: Imagine que um detento está doente e precisa de tratamento médico. Ocorre que este
não lhe é oferecido de forma adequada pela administração penitenciária. Há claramente uma
violação ao art. 14 da LEP. Neste caso, se o preso falecer, o Estado deverá ser responsabilizado,
considerando que houve uma omissão específica e o óbito era plenamente previsível. Suponha,
no entanto, que o preso estivesse bem e saudável e, sem qualquer sinal anterior, sofre um mal
súbito no coração e cai morto instantaneamente no pátio do presídio. Nesta segunda hipótese,
o Poder Público não deverá ser responsabilizado por essa morte, já que não houve omissão
estatal e este óbito teria acontecido mesmo que o preso estivesse em liberdade.
O Estado pode ser responsabilizado pela morte do detento mesmo que ele se suicide?
SIM. Existem precedentes do STF e do STJ nesse sentido: STF. 2ª Turma. ARE 700927 AgR, Rel.
Min. Gilmar Mendes, julgado em 28/08/2012. Todavia, aqui também, como se adota a teoria
do risco administrativo, o Estado poderá provar alguma causa excludente de
responsabilidade. Assim, nem sempre que houver um suicídio, haverá responsabilidade civil
do Poder Público.
Vale ressaltar que é a Administração Pública que tem o ônus de provar a causa excludente de
responsabilidade.
Obs: Durante os debates o Min. Marco Aurélio defendeu que a responsabilidade do Estado em
caso de violações a direitos dos detentos seria baseada no risco integral. Trata-se, contudo, de
posicionamento minoritário.
12.6. Inconstitucionalidade de lei estadual que preveja pensão para cônjuges de todos os
falecidos por crimes hediondos – (Info 773)
É inconstitucional lei estadual (distrital) que preveja o pagamento de pensão especial a ser
concedida pelo Governo do Estado (Distrito Federal) em benefício dos cônjuges de pessoas
vítimas de crimes hediondos, independentemente de o autor do crime ser ou não agente do
Estado. Tal lei amplia, de modo desmesurado (irrazoável), a responsabilidade civil do
Estado prevista no art. 37, § 6º, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 1358/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/2/2015 (Info 773).
12.7. “Caso Varig”: responsabilidade da União por plano econômico que determinou o
congelamento das tarifas – (Info 738)
STF reconheceu que a União deve indenizar companhia aérea, que explorava os serviços de
aviação, sob o regime de concessão, pelos prejuízos causados decorrentes de plano
econômico que determinou o congelamento das tarifas de aviação.
STF. Plenário. RE 571969/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 12/3/2014 (Info 738).
Desse modo, para essa tese, o que a parte final do § 5º quis dizer foi unicamente que, mesmo
sem Lei de Improbidade Administrativa, poderiam ser ajuizadas ações pedindo o
ressarcimento ao erário. Isso porque o § 5º deve ser interpretado em conjunto com o § 4º. Como
reforço a esse argumento, alegaram que a Lei de Improbidade somente foi editada em 1992
(Lei nº 8.429/92). Logo, o objetivo do constituinte foi o de evitar que se alegasse que o
ressarcimento ao erário somente poderia ser exigido com a edição de lei. Por fim,
argumentavam que a Constituição Federal, quando quis, determinou a imprescritibilidade de
forma expressa. Ex: art. 5º, XLII (racismo) e XLIV (ação de grupos armados, civis ou militares,
contra a ordem constitucional e o Estado Democrático).
O STF concordou com essa tese? O ressarcimento ao erário em caso de atos de improbidade
administrativa também prescreve da mesma forma que as demais sanções? NÃO. O STF
entendeu que a ação de ressarcimento decorrente de ato doloso de improbidade é realmente
imprescritível.
Justamente por isso, a regra geral no ordenamento jurídico é a de que as pretensões devem
ser exercidas dentro de um marco temporal limitado. Em outras palavras, a regra geral é que
exista prescrição. Há, no entanto, algumas exceções explícitas no texto constitucional, nas
quais se reconhece a imprescritibilidade em determinadas situações. É o caso, por exemplo,
dos crimes de racismo (art. 5º, XLII, CF/88) e da ação de grupos armados, civis ou militares,
contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (art. 5º, XLIV).
O art. 37, § 5º da CF/88 é uma dessas exceções: Vamos relembrar a redação do art. 37, § 5º:
Art. 37 (...)
§ 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados
por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao
erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento.
Na segunda parte, o constituinte disse o seguinte: não se aplica o que eu falei antes para as
ações de ressarcimento. O que isso quer dizer? Que a lei não poderá estabelecer prazos de
prescrição para tais ações, sendo elas, portanto, imprescritíveis. Assim, o texto constitucional
é expresso ao prever a ressalva da imprescritibilidade da ação de ressarcimento ao erário.
Ex: João dirigia seu carro quando, por imprudência, acabou batendo no carro de um órgão
público estadual em serviço. Ficou provado, por meio da perícia, que o particular foi o culpado
pelo acidente. O órgão público consertou o veículo, tendo isso custado R$ 10 mil. Sete anos
depois do acidente, o Estado ajuizou ação de indenização contra João cobrando os R$ 10 mil
gastos com o conserto do automóvel. A defesa de João alegou que houve prescrição. A alegação
da defesa está correta. Isso porque o prejuízo ao erário não decorreu de um ato de improbidade
administrativa, mas foi decorrente de um ilícito civil. Logo, incide prazo prescricional neste
caso.
Imprescritibilidade somente vale para atos de improbidade praticados com DOLO: O STF
entendeu, portanto, que as ações de ressarcimento ao erário envolvendo atos de improbidade
administrativa são imprescritíveis. No entanto, o Tribunal fez uma “exigência” a mais que
não está explícita no art. 37, § 5º da CF/88. O Supremo afirmou que somente são imprescritíveis
as ações de ressarcimento envolvendo atos de improbidade administrativa praticados
DOLOSAMENTE. Assim, se o ato de improbidade administrativa causou prejuízo ao erário,
mas foi praticado com CULPA, então, neste caso, a ação de ressarcimento será prescritível e
deverá ser proposta no prazo do art. 23 da LIA.
Vale ressaltar que apenas o art. 10 da Lei nº 8.429/92 admite a prática de ato CULPOSO de
improbidade administrativa. Relembre:
Critério objetivo Critério subjetivo
Art. 9º — Atos de improbidade que importam enriquecimento ilícito
Exige DOLO
do agente público
Pode ser DOLO ou,
Art. 10 — Atos de improbidade que causam prejuízo ao erário no mínimo,
CULPA
Art. 10-A — Atos de improbidade administrativa decorrentes de
concessão ou aplicação indevida de benefício financeiro ou Exige DOLO
tributário
Art. 11 — Atos de improbidade que atentam contra princípios da
Exige DOLO
administração pública
Tese fixada pelo STF: O STF fixou a seguinte tese para fins de repercussão geral:
São imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário fundadas
na prática de ato doloso tipificado na Lei de Improbidade
Administrativa. STF. Plenário. RE 852475/SP, Rel. orig. Min.
Alexandre de Moraes, Rel. para acórdão Min. Edson Fachin, julgado
em 08/08/2018(Info 910).
Placar: Vale ressaltar que o placar de votação foi bem apertado, com resultado de 6 x 5 em
favor da tese vencedora.
Uma peculiaridade está no fato de que os Ministros Luiz Fux e Roberto Barroso inicialmente
votaram em favor da prescritibilidade. Ocorre que, uma semana depois, revisaram o
posicionamento e alteraram o entendimento, votando em favor da tese da imprescritibilidade.
13.2. Ação de improbidade administrativa: ministro de estado e foro competente – (Info 901)
– IMPORTANTE!!! – (TJCE-2018)
Essa tese prevalece atualmente? NÃO. O entendimento atual é o de que, em regra, os agentes
políticos podem sim responder por ato de improbidade administrativa. Vigora aquilo que a
jurisprudência chamou de “duplo regime sancionatório”, ou seja, o fato de o agente estar
sujeito a:
• crime de responsabilidade e
• improbidade administrativa.
Por outro lado, a CF/88 trata sobre os crimes de responsabilidade em outros dispositivos:
Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:
I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de
responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da
Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos
com aqueles; (Redação dada pela EC 23/99) [...]
Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que
atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra: [...]
V - a probidade na administração;[...]
Desse modo, o que prevalece atualmente é que os agentes políticos, em regra, submetem-se
às punições por ato de improbidade administrativa (Lei nº 8.429/92), sem prejuízo de
também poderem ser punidos por crimes de responsabilidade. Nesse sentido:
(...) O Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento de que os agentes
políticos se submetem aos ditames da Lei de Improbidade Administrativa, sem
prejuízo da responsabilização política e criminal. (...) STJ. 2ª Turma. AgInt no
REsp 1607976/RJ, Rel. Min. Francisco Falcão, j. 17/10/2017.
Por que se falou “em regra”? Existe algum caso em que o agente político não responderá por
improbidade administrativa (devendo ser punido apenas por crime de responsabilidade)? SIM.
O Presidente da República. Os agentes políticos, com exceção do presidente da República,
encontram-se sujeitos a um duplo regime sancionatório, e se submetem tanto à
responsabilização civil pelos atos de improbidade administrativa quanto à responsabilização
político-administrativa por crimes de responsabilidade.
ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PREFEITO
MUNICIPAL. DUPLO REGIME SANCIONATÓRIO DOS AGENTES
POLÍTICOS: LEGITIMIDADE. PRECEDENTES.
1. A jurisprudência assentada no STJ, inclusive por sua Corte Especial, é no
sentido de que, "excetuada a hipótese de atos de improbidade praticados pelo
Presidente da República (art. 85, V), cujo julgamento se dá em regime especial
pelo Senado Federal (art. 86), não há norma constitucional alguma que imunize
os agentes políticos, sujeitos a crime de responsabilidade, de qualquer das
sanções por ato de improbidade previstas no art. 37, § 4º. Seria incompatível
com a Constituição eventual preceito normativo infraconstitucional que
impusesse imunidade dessa natureza" (Rcl 2.790/SC, DJe de 04/03/2010). (...)
STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1099900/MG, Rel. Min. Teori Albino Zavascki,
julgado em 16/11/2010.
E quanto ao foro competente? Existe foro por prerrogativa de função nas ações de improbidade
administrativa? NÃO. A ação de improbidade administrativa possui natureza cível. Em
outras palavras, é uma ação civil e não uma ação penal. Em regra, somente existe foro por
prerrogativa de função no caso de ações penais (e não em demandas cíveis).
Ex1: se for proposta uma ação penal contra um Deputado Federal por crime que ele tenha
cometido durante o seu mandato e que esteja relacionado com as suas funções, esta deverá ser
ajuizada no STF.
Ex2: se for ajuizada uma ação de cobrança de dívida contra esse mesmo Deputado, a demanda
será julgada por um juízo de 1ª instância.
Por que existe essa diferença? Porque a Constituição assim idealizou o sistema. Com efeito,
as competências do STF e do STJ foram previstas pela CF/88 de forma expressa e taxativa. Nos
arts. 102 e 105 da CF/88, que estabelecem as competências do STF e do STJ, existe a previsão
de que as ações penais contra determinadas autoridades serão julgadas por esses Tribunais.
Não há, contudo, nenhuma regra que disponha que as ações de improbidade serão julgadas
pelo STF e STJ.
Lei 10.628/12 previu foro por prerrogativa de função para a ação de improbidade: Em
24/12/02, foi editada a Lei 10.628, que acrescentou o § 2º ao art. 84 do CPP, prevendo foro por
prerrogativa de função para as ações de improbidade. Veja:
Art. 84. A competência pela prerrogativa de função é do Supremo Tribunal
Federal, do Superior Tribunal de Justiça, dos Tribunais Regionais Federais e
Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, relativamente às pessoas
que devam responder perante eles por crimes comuns e de responsabilidade. (...)
§ 2º A ação de improbidade, de que trata a Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992,
será proposta perante o tribunal competente para processar e julgar
criminalmente o funcionário ou autoridade na hipótese de prerrogativa de foro
em razão do exercício de função pública, observado o disposto no § 1º.
Diante dessa alteração legislativa, foi proposta a ADI 2797 contra a Lei 10.628/02 e o STF
julgou inconstitucional o referido § 2º do art. 84 do CPP, decisão proferida em 15/09/2005.
O Supremo decidiu que:
“no plano federal, as hipóteses de competência cível ou criminal dos tribunais da
União são as previstas na Constituição da República ou dela implicitamente
decorrentes. (...) Quanto aos Tribunais locais, a Constituição Federal — salvo as
hipóteses dos seus arts. 29, X e 96, III —, reservou explicitamente às Constituições
dos Estados-membros a definição da competência dos seus tribunais, o que afasta
a possibilidade de ser ela alterada por lei federal ordinária.”
STF. Plenário. ADI 2797, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgado em 15/09/2005.
Em suma, o STF afirmou que, como a Constituição não estabeleceu foro por prerrogativa de
função para as ações de improbidade administrativa, a lei ordinária assim não poderia
prever. Desse modo, com a decisão da ADI 2797, ficou prevalecendo o entendimento de que
as ações de improbidade administrativa deveriam ser julgadas em 1ª instância.
Alguns servidores continuavam tentando excluir do teto as vantagens pessoais que haviam
adquirido antes da EC 41/03 (que implementou, na prática, o teto no funcionalismo).
Argumentavam que a garantia da irredutibilidade de vencimentos, modalidade qualificada
de direito adquirido, impediria que as vantagens percebidas antes da vigência da EC 41/2003
fossem por ela alcançadas. O STF acolheu esse argumento? As vantagens pessoais anteriores
à EC 41/03 estão fora do teto?
NÃO. Computam-se para efeito de observância do teto remuneratório do artigo 37, XI, da
CF/88, também os valores percebidos anteriormente à vigência da EC 41/03 a título de
vantagens pessoais pelo servidor público, dispensada a restituição de valores
eventualmente recebidos em excesso e de boa-fé até o dia 18/11/2015.
STF. Plenário. RE 606358/SP, Rel. Min. Rosa Weber, j. 18/11/2015 (repercussão geral) (Info
808).
15.2. Eficácia imediata do teto de retribuição fixado pela EC 41/2003 – (Info 761)
A quem se aplica o teto? O teto é aplicado aos agentes públicos independentemente do tipo de
vínculo: estatutário, celetista, temporário, comissionado, político.
Os proventos recebidos pelo agente público aposentado também estão submetidos ao teto?
SIM. A redação do art. 37, XI, menciona expressamente os proventos.
Redação do inciso XI: A redação do inciso XI do art. 37 é muito grande e um pouco confusa:
A partir da sua interpretação, podemos construir a seguinte tabela:
Teto NACIONAL: subsídio dos Ministros do STF
Ninguém poderá receber acima desse valor; as Constituições estaduais e leis orgânicas
podem fixar subtetos para Estados/DF e Municípios; tais subtetos também deverão
respeitar o teto nacional.
Subteto Subteto nos
Subteto nos Estados/DF
na União Municípios
Subsídio dos Existem duas opções: Subsídio do
Ministros Opção 1 (subtetos diferentes para cada um dos Poderes): Prefeito
do STF Executivo: subsídio do Governador.
Legislativo: subsídio dos Deputados Estaduais.
Judiciário (inclui MP, Defensoria e Procuradoria):
subsídio dos Desembargadores do TJ, limitado a 90,25%
do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do STF.*
Essa regra do inciso XI que diz que o teto dos Procuradores é o do Poder Judiciário, aplica-se
também aos Procuradores do Município? A interpretação puramente literal não resolve a
dúvida, havendo argumentos para as duas soluções:
• Argumento favorável à aplicação aos Procuradores do Município: o fato de o inciso XI
utilizar uma expressão genérica “Procuradores”, não restringindo aos Procuradores do
Estado e do DF.
• Argumento contrário: o fato de essa regra estar na parte em que o inciso está tratando do
teto nos Estados-membros.
Diante dessa polêmica, o STF foi chamado a dar a resposta ao tema. O que decidiu a Corte?
Essa regra do inciso XI que diz que o teto dos Procuradores é o do Poder Judiciário, aplica-se
também aos Procuradores do Município? SIM. É o que foi decidido no Info 932 do STF. O
termo “Procuradores”, na axiologia do STF, engloba:
• os Procuradores do Estado e do DF;
• os procuradores autárquicos (que ainda existam validamente);
• assim como os procuradores municipais.
* “defensores dos municípios”: essa expressão foi utilizada no voto do Min. Fux
no sentido de “advogados” (“procuradores”) dos municípios. Não tem nada a ver
com Defensoria Pública municipal que, segundo a maioria da doutrina, não pode
existir.
Tabela atualizada: Diante dessa importante decisão do STF, podemos atualizar a tabela do
teto remuneratório:
Teto NACIONAL: subsídio dos Ministros do STF
Ninguém poderá receber acima desse valor; as Constituições estaduais e leis orgânicas
podem fixar subtetos para Estados/DF e Municípios; tais subtetos também deverão
respeitar o teto nacional.
Subteto Subteto nos
Subteto nos Estados/DF
na União Municípios
Subsídio dos Existem duas opções: Subsídio do Prefeito
Ministros do Opção 1 (subtetos diferentes para cada um dos
STF Poderes): Obs: os procuradores
Executivo: subsídio do Governador. municipais estão
Legislativo: subsídio dos Deputados Estaduais. submetidos ao teto de
Judiciário (inclui MP, Defensoria e Procuradoria): 90,25% do subsídio
subsídio dos Desembargadores do TJ, limitado a mensal, em espécie,
90,25% do subsídio mensal, em espécie, dos dos ministros do STF.
Ministros do STF.*
Concursados e organizados em carreira: Apesar de não ter constado na tese fixada, no voto do
Relator foi feita menção a um aspecto muito importante. Para o Min. Luiz Fux, essa
equiparação entre o teto dos Procuradores do Estado/DF com os Procuradores Municipais
somente é permitida se, naquele Município, os Procuradores forem concursados e
organizados em carreira. Assim, pelo voto do Relator, não seria admitido o teto de 90,25% dos
Ministros do STF para advogados contratados, sem concurso público, para o exercício de
funções de defesa jurídica do Município.
Essa ressalva também foi feita pelo Min. Gilmar Mendes: “Apesar de a Constituição não fazer
menção expressa aos procuradores municipais, há que se reconhecer que, quando organizados em
carreira, também exercem a atribuição de advogados públicos, realizando as atividades congêneres
àquelas desempenhadas pelos advogados da União e pelos procuradores federais, estaduais e distritais,
prestando consultoria jurídica e representando judicial e extrajudicialmente a municipalidade”.
Ganha força a tese de concurso para as Procuradorias Municipais: Existe uma polêmica se a
CF/88 exige ou não que os Municípios tenham Procuradorias Municipais, organizadas em
carreira, mediante concurso público, para o desempenho das funções de representação judicial
e consultoria jurídica. Há, inclusive, uma PEC tramitando para incluir as Procuradorias
Municipais no art. 132 da CF/88. A conclusão do STF no RE 663696/MG, ao equiparar as
Procuradorias Municipais às Procuradorias do Estado/DF, reforça a tese de que os
Municípios devem ter Procuradorias Municipais, organizadas em carreira mediante
concurso público. Esperamos que seja esse o entendimento a prevalecer.
16.4. Não devolução dos valores recebidos de boa-fé por servidor público por força de
decisão liminar revogada – (Info 923)
Não deve ser determinada a devolução de valores recebidos de boa-fé por servidor público,
percebidos a título precário no período em que liminar produziu efeitos.
É desnecessária a devolução dos valores recebidos por liminar revogada, em razão de
mudança de jurisprudência. Também é descabida a restituição de valores recebidos
indevidamente, circunstâncias em que o servidor público atuou de boa-fé.
Essa orientação ampara-se na confiança legítima que o beneficiário da decisão tem no
sentido de que a sua pretensão será acolhida.
Assim, os princípios da boa-fé e da segurança jurídica afastam o dever de restituição de
parcelas recebidas por ordem liminar revogada.
STF. 1ª Turma. MS 32185/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 13/11/2018 (Info 923).
OBS:
Veja outros precedentes no mesmo sentido:
(...) 1. Quando da publicação da decisão que deferiu o pedido de
medida liminar, a jurisprudência hegemônica do STF era no sentido
de que a glosa, pelo TCU, de percentuais pagos em virtude de
decisões judiciais transitadas em julgado importava em afronta à
garantia prevista no art. 5º, XXXVI, da Magna Carta. Esse contexto,
sem dúvida, alimentou no impetrante justificada expectativa por
provimento final favorável, ou seja, pela concessão da ordem, com a
confirmação da liminar deferida.
2. Houve, contudo, alteração da jurisprudência desta Suprema
Corte, que passou a rechaçar a tese de afronta à coisa julgada, ao
fundamento de que o Tribunal de Contas da União, em casos como
o presente, apenas identifica o exaurimento da eficácia de comandos
judiciais transitados em julgado, ante a superveniência de alterações
legislativas que promovem reestruturações remuneratórias e
absorvem parcelas judicialmente reconhecidas.
3. A mudança jurisprudencial solapou projeção razoavelmente
nutrida pelo impetrante e descortinou cenário suscetível de afastar,
de modo pontual e excepcional, considerados os princípios da boa-
fé, da segurança jurídica e da proteção da confiança, a regra do art.
46, § 3º, da Lei nº 8.112/1990. (...) STF. 1ª Turma. MS 30556 AgR, Rel.
Min. Rosa Weber, julgado em 26/05/2017.
O STJ possui o mesmo entendimento acima exposto? NÃO. O STJ, sem enfrentar
expressamente o tema referente à mudança na jurisprudência, em regra, afirma que é devida
a devolução. Confira:
Se o servidor público recebe valores por força de decisão judicial
posteriormente revogada, tal quantia poderá ser exigida pela
Administração Pública? SIM. É devida a restituição ao erário dos
valores de natureza alimentar pagos pela Administração Pública a
servidores públicos em cumprimento a decisão judicial precária
posteriormente revogada.
O STJ entende que, neste caso, não se pode falar em boa-fé do
servidor, considerando que ele sabia que poderia haver alteração
da decisão que tinha caráter precário (provisório). STJ. 1ª Seção.
EAREsp 58.820-AL, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em
8/10/2014.
DOD PLUS: Outros entendimentos jurisprudenciais que são importantes sobre o tema:
Servidor que recebe indevidamente valores por meio de decisão administrativa (posição do
STJ não exige esses mesmos requisitos do STF):
Se o servidor público recebe valores por força de decisão
administrativa posteriormente revogada, tal quantia poderá ser
exigida de volta pela Administração Pública?
NÃO. É incabível a restituição ao erário dos valores recebidos de
boa-fé pelo servidor público em decorrência de errônea ou
inadequada interpretação da lei por parte da Administração
Pública.
Em virtude do princípio da legítima confiança, o servidor público,
em regra, tem a justa expectativa de que são legais os valores pagos
pela Administração Pública, porque jungida à legalidade estrita.
Assim, diante da ausência da comprovação da má-fé no
recebimento dos valores pagos indevidamente por erro de direito
da Administração, não se pode efetuar qualquer desconto na
remuneração do servidor público, a título de reposição ao erário.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.244.182-PB, Rel. Min. Benedito Gonçalves,
julgado em 10/10/2012 (recurso repetitivo).
Quadro-resumo:
16.5. O aumento de 45% concedido aos militares pela Lei nº 8.237/91 não foi uma revisão
geral da remuneração, não podendo ser estendida para os servidores públicos civis – (Info 922)
– Baixa relevância!
Não é possível a extensão a servidores públicos civis da majoração de vencimentos, no
percentual de 45%, concedida a servidores militares, a título de reestruturação de cargos,
com base na Lei 8.237/91 e no princípio da isonomia dos índices revisionais disciplinados
na redação original do art. 37, X, da CF/88.
O reajuste de vencimentos concedido aos integrantes das Forças Armadas, à base de 45%,
pela Lei 8.237/91, não configurou um aumento geral na remuneração dos servidores
militares que autorizasse, com fundamento no art. 37, X, CF/88, a extensão aos servidores
civis.
STF. 2ª Turma. RE 229637/ SP, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Gilmar Mendes, j.
6/11/18 (Info 922).
OBS: A Lei nº 8.237/91 não foi uma revisão geral da remuneração para os militares. Esta Lei
foi uma restruturação das Forças Armadas, sendo, portanto, específica para os militares.
Assim, tendo em vista tratar-se de reestruturação remuneratória da carreira militar,
redefinindo remuneração, soldo, gratificações, adicionais, auxílios, indenizações e proventos,
não há que se falar em extensão aos servidores públicos civis.
16.6. Correios devem motivar a demissão de seus empregados – (Infos 699 e 919) –
IMPORTANTE!!!
Diante disso, imaginou-se que essa decisão valeria para todas as empresas públicas e
sociedades de economia mista.
No entanto, em 2018, o STF, em embargos de declaração, afirmou que esta decisão (RE
589998/PI) só se aplica para os Correios considerando que o caso concreto envolvia um
empregado da ECT).
Quanto às demais empresas públicas e sociedades de economia mista, o STF afirmou que
ainda não decidiu o tema, ou seja, terá que ser analisado caso a caso.
Assim, por enquanto, essa decisão só se aplica para os Correios.
A tese fixada foi a seguinte:
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) tem o dever jurídico de motivar, em
ato formal, a demissão de seus empregados.
STF. Plenário. RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 10/10/18 (Info 919).
16.7. A contribuição previdenciária paga pelo servidor não deve incidir sobre parcelas que
não são incorporadas à sua aposentadoria – (Info 919)
Não incide contribuição previdenciária sobre verba não incorporável aos proventos de
aposentadoria do servidor público, tais como terço de férias, serviços extraordinários (horas
extras), adicional noturno e adicional de insalubridade.
STF. Plenário. RE 593068/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 11/10/18 (repercussão geral) (Info
919).
OBS: O caso julgado pelo STF era, portanto, anterior à vigência da Lei nº 12.688/2012. Isso
porque depois dela não há mais discussão considerando que tais verbas foram expressamente
excluídas da cobrança.
16.8. Servidor que fazia faculdade particular e é removido, de ofício, para outra cidade tem
direito a matrícula em universidade pública, se não existir instituição privada congênere no
destino – (Info 915) – IMPORTANTE!!!
Lei nº 9.536/97
Art. 1º A transferência ex officio a que se refere o parágrafo único do
art. 49 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, será efetivada,
entre instituições vinculadas a qualquer sistema de ensino, em
qualquer época do ano e independente da existência de vaga,
quando se tratar de servidor público federal civil ou militar
estudante, ou seu dependente estudante, se requerida em razão de
comprovada remoção ou transferência de ofício, que acarrete
mudança de domicílio para o município onde se situe a instituição
recebedora, ou para localidade mais próxima desta.
Parágrafo único. A regra do caput não se aplica quando o
interessado na transferência se deslocar para assumir cargo efetivo
em razão de concurso público, cargo comissionado ou função de
confiança.
16.9. STF decide modular os efeitos de decisão que mandou afastar Delegados de Polícia do
cargo por ofensa à regra do concurso público – (Info 909)
Em 2001, foi editada uma lei estadual criando cargos e organizando a Polícia Civil do Estado
do Amazonas.
Nesta Lei foi previsto que, na estrutura da Polícia Civil, haveria cargos de Delegado de
Polícia e de Comissário de Polícia.
Ainda em 2001, foi realizado um concurso público, com provas específicas para cada um
desses cargos, e os aprovados nomeados e empossados.
Contudo, em 2004, houve duas leis modificando o cargo de Comissário de Polícia.
• a primeira delas afirmou que Comissário de Polícia seria autoridade policial, juntamente
com o Delegado de Polícia, equiparando a remuneração dos dois cargos.
• a segunda lei, transformando o cargo de "Comissário de Polícia" em "Delegado de
Polícia".
Essas duas leis foram impugnadas por meio de ADI.
Em 2015, o STF decidiu que elas são INCONSTITUCIONAIS porque representaram burla
à exigência do concurso público.
As referidas leis fizeram uma espécie de ASCENSÃO FUNCIONAL dos Comissários de
Polícia porque transformaram os ocupantes desses cargos em Delegados de Polícia sem que
eles tivessem feito concurso público para tanto.
No caso concreto, os Ministros entenderam que, quando o cargo de Comissário de Polícia
foi criado, ele possuía diferenças substanciais em relação ao de Delegado de Polícia, o que
impediria a transformação, mesmo sob o argumento de ser medida de racionalização
administrativa.
Foram opostos embargos de declaração contra a decisão.
Em 2018, o STF acolheu os embargos e aceitou modular os efeitos da decisão proferida na
ADI 3415. Além disso, o Tribunal determinou ao Estado do Amazonas que promova, no
prazo máximo de 18 meses, a contar da publicação da ata de julgamento (07/08/2018), a
abertura de concurso público para o cargo de Delegado de Polícia.
O Ministro Relator Alexandre de Moraes afirmou que mais de 70 delegacias de polícia
ficariam sem delegados e que a população amazonense é que sofreria as consequências.
Além disso, na decisão dos embargos, os Ministros esclareceram que são plenamente
válidos os atos praticados nos cargos de Delegado de Polícia que serão afastados.
STF. Plenário. ADI 3415 ED-segundos/AM, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 1º/8/18 (Info
909).
16.10. Não é compatível com a CF/88 a norma de CE que estabelece que o servidor público
inativo deverá receber obrigatoriamente a mais do que percebia na ativa – (Info 907)
São inconstitucionais os arts. 154, § 2º; 167, XII e XIII, §§ 1º e 2º; e 174, da Constituição do
Estado do Ceará, e os arts. 27 e 28 do seu ADCT. Tais dispositivos tratam de remuneração e
direitos de servidores públicos, que, por não encontrarem similares na CF/88, somente
poderiam ser veiculados por meio de lei de iniciativa do Chefe do Poder Executivo.
São previsões específicas que não tratam da organização e estruturação do Estado-membro
ou de seus órgãos, mas que versam sobre o regime jurídico de servidores públicos.
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 20/6/18 (Info 907).
A Constituição do Estado do Ceará prevê que deverá ser assegurada isonomia salarial para
docentes em exercício, com titulação idêntica, respeitando-se o grau de ensino em que
estiverem atuando.
O STF decidiu que essa regra é constitucional e que não ofende o art. 37, XIII, da CF/88. Isso
porque não há, no caso, equiparação salarial de carreiras distintas, considerando que se trata
especificamente da carreira de magistério público e de docentes com titulação idêntica.
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 20/6/18 (Info 907).
16.13. Inconstitucionalidade de norma que equipara remuneração de servidores públicos –
(Info 907)
A Constituição do Estado do Ceará previa que deveria ser assegurado “aos servidores da
administração pública direta, das autarquias e das fundações, isonomia de vencimentos
para cargos de atribuições iguais ou assemelhadas do mesmo Poder ou entre servidores dos
Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, ressalvadas as vantagens de caráter individual
e as relativas à natureza ou ao local de trabalho.”
O STF decidiu que é inconstitucional a expressão “das autarquias e das fundações”. Isso
porque a equiparação remuneratória entre servidores, a teor da redação originária do art.
39, § 1º, da CF/88, restringiu-se aos servidores da administração direta, não mencionando os
entes da administração indireta, como o faz a norma impugnada.
Além disso, o dispositivo estadual não foi recepcionado, em sua integralidade, pela redação
atual do art. 39 da Constituição Federal, na forma EC 19/1998.
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 20/6/2018 (Info 907).
OBS:
Essa previsão era incompatível com a redação originária do art. 39, § 1º da CF/88. Isso porque
este dispositivo constitucional afirmava que se deveria assegurar isonomia de vencimentos
apenas para os servidores da administração direta, não se mencionando os entes da
administração indireta. Veja:
Art. 39. (...)
§ 1º - A lei assegurará, aos servidores da administração direta,
isonomia de vencimentos para cargos de atribuições iguais ou
assemelhados do mesmo Poder ou entre servidores dos Poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário, ressalvadas as vantagens de
caráter individual e as relativas à natureza ou ao local de trabalho.
(Redação originária).
O art. 39, § 1º da CF/88, também alterado pela EC 19/98, não fala mais nada sobre isonomia
de vencimentos:
Art. 39 (...)
§ 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos demais componentes
do sistema remuneratório observará: (Redação dada pela EC/98)
I - a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade dos
cargos componentes de cada carreira; (Incluído pela EC 19/98)
II - os requisitos para a investidura; (Incluído pela EC 19/98)
III - as peculiaridades dos cargos. (Incluído pela EC 19/98)
16.14. Decisão que concede a gratificação de 13,23% viola a SV 37 – (Infos 884 e 886)
A decisão judicial que concede a servidor público a gratificação de 13,32% prevista na Lei
10.698/03 afronta a súmula vinculante 37, mesmo que o julgador fundamente sua decisão
no art. 37, X, da CF/88 e no art. 6º da Lei 13.317/16.
Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de
servidores públicos sob o fundamento de isonomia.
STF. 1ª Turma. Rcl 25927 AgR/SE e Rcl 24965 AgR/SE, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/
o ac. Min. Alexandre de Moraes, j. 31/10/17 (Info 884).
STF. 1ª Turma. Rcl 24965 AgR/SE, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre
de Moraes, j. 28/11/17 (Info 886).
OBS:
Súmula vinculante 37-STF: Não cabe ao poder judiciário, que não
tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidores
públicos sob o fundamento de isonomia.
Para o Supremo, o objetivo do juiz e do Tribunal, ao fundamentar a decisão com base no art.
37, X, da CF/88 e no art. 6º da Lei nº 13.317/2016, foi apenas o de tentar afastar a incidência da
SV 37. No entanto, o raciocínio adotado pelo Tribunal, em última análise, é fundamentado na
igualdade, razão pela qual se aplica a proibição da súmula vinculante.
16.15. Jornada de trabalho diferenciada para servidores médicos e dentistas – (Info 869)
16.16. Se a pessoa acumular licitamente dois cargos públicos ela poderá receber acima do teto
– (Info 862) – IMPORTANTE!!!
16.17. EC 70/2012 produz efeitos financeiros somente a partir da data de sua promulgação –
(Info 860)
Os efeitos financeiros das revisões de aposentadoria concedida com base no art. 6º-A da EC
41/2003, introduzido pela EC 70/2012, somente se produzirão a partir da data de sua
promulgação (30/3/2012).
STF. Plenário. RE 924456/RJ, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, j. 5/4/17 (Info 860).
16.18. Magistrado que estava recebendo abono de permanência e foi promovido terá direito
de continuar percebendo o benefício – (Info 859)
A ocupação de novo cargo dentro da estrutura do Poder Judiciário, pelo titular do abono de
permanência, não implica a cessação do benefício.
Ex: determinada pessoa ocupa o cargo de Desembargador do Trabalho e está recebendo
abono de permanência; se ela for promovida ao cargo de Ministro do TST, terá direito de
continuar recebendo o abono, não sendo necessário completar cinco anos no cargo de
Ministro para requerer o benefício.
STF. 1ª Turma. MS 33424/DF e MS 33456/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 28/3/17 (Info 859).
16.19. Regime de subsídio e pagamento de 13º e férias a Prefeito e Vice-Prefeito – (Info 852)
O art. 39, § 4º, da Constituição Federal não é incompatível com o pagamento de terço de
férias e décimo terceiro salário.
STF. Plenário. RE 650898/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso,
j. 1º/2/17 (repercussão geral) (Info 852).
OBS:
Segundo o Min. Luís Roberto Barroso, o regime de subsídio é incompatível apenas com o
pagamento de outras parcelas remuneratórias de natureza mensal, o que não é o caso do
décimo terceiro e das férias, que são verbas pagas a todos os trabalhadores e servidores, com
periodicidade anual.
A Constituição Federal prevê, em seu art. 39, § 3º, que os servidores públicos gozam de terço
de férias e 13º salário, não sendo vedado o seu pagamento de forma cumulada com o subsídio.
Os agentes políticos, como é o caso dos Prefeitos e Vice-Prefeitos, não devem ter um tratamento
melhor, mas também não podem ter uma situação pior do que a dos demais trabalhadores. Se
todos os trabalhadores em geral têm direito a um terço de férias e têm direito a décimo terceiro
salário, não se mostra razoável que isso seja retirado da espécie de servidores públicos
(Prefeitos e Vice-Prefeitos).
Assim, não é inconstitucional o pagamento de terço de férias e 13º salário a Prefeitos e Vice-
Prefeitos.
Assim, o STF julgou constitucional a previsão de terço de férias e 13º salário e, por outro lado,
inconstitucional o pagamento da chamada "verba de representação".
O art. 19 do ADCT da CF/88 previu que os servidores públicos que estavam em exercício há
pelo menos 5 anos quando a Constituição Federal foi promulgada, deveriam ser
considerados estáveis, mesmo não tendo sido admitidos por meio de concurso público.
Desse modo, quem ingressou no serviço público, sem concurso, até 05/10/1983 e assim
permaneceu, de forma continuada, tornou-se estável com a edição da CF/88.
É inconstitucional Constituição estadual ou lei estadual que amplie a abrangência do art.
19 do ADCT e preveja estabilidade para servidores públicos admitidos sem concurso
público mesmo após 05/10/1983 (5 anos antes da CF/88).
STF. Plenário. ADI 1241/RN, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 22/09/2016 (Info 840).
OBS:
Art. 19. Os servidores públicos civis da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, da administração direta,
autárquica e das fundações públicas, em exercício na data da
promulgação da Constituição, há pelo menos cinco anos
continuados, e que não tenham sido admitidos na forma regulada
no art. 37, da Constituição, são considerados estáveis no serviço
público.
(...)
§ 2º — O disposto neste artigo não se aplica aos ocupantes de
cargos, funções e empregos de confiança ou em comissão, nem aos
que a lei declare de livre exoneração, cujo tempo de serviço não será
computado para os fins do "caput" deste artigo, exceto se se tratar de
servidor.
§ 3º — O disposto neste artigo não se aplica aos professores
de nível superior, nos termos da lei.
O art. 1º da Lei nº 10.698/2003 concedeu reajuste aos servidores públicos federais de todos
os Poderes, porém em percentuais diferentes. A diferença entre o maior e o menor reajuste
foi de 13,23%.
Os servidores que receberam o menor percentual alegaram que o mencionado art. 1º
representou uma revisão geral anual, tendo, no entanto, violado o art. 37, X, da CF/88,
considerando que foi feita com índices diferentes, o que não é permitido por esse
dispositivo constitucional. Diante disso, pediram que fosse concedida a incorporação dos
13,23% em sua remuneração.
A 1ª Turma do TRF1 (órgão fracionário do Tribunal) concedeu a incorporação pedida.
Para o STF, esta decisão violou as súmulas vinculantes 10 e 37.
A 1ª Turma do TRF1, mesmo sem dizer isso expressamente, fez um controle de
constitucionalidade do art. 1º da Lei 10.698/03 concluindo que este dispositivo incidiu em
inconstitucionalidade por omissão parcial. No entanto, como se trata de órgão fracionário
do TRF, houve violação ao art. 97 da CF/88 e da SV 10: "Viola a cláusula de reserva de
plenário (CF, art. 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare
expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, afasta a
sua incidência no todo ou em parte."
Além disso, houve violação da SV 37: "Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função
legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob fundamento de isonomia."
STF. 2ª Turma. Rcl 14872, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 31/5/2016 (Info 828).
16.23. Revogação de lei que concedeu aumento sem que tenham se iniciado seus efeitos
financeiros – (Info 819)
Lei estadual de 2007 fixou aumento na remuneração dos servidores públicos estaduais. A
Lei entrou em vigor na data de sua publicação, mas estabeleceu que os efeitos financeiros
desse aumento seriam contados somente a partir do primeiro dia do ano seguinte.
Ocorre que, antes que chegasse a data prevista como início do reajuste, a referida Lei foi
revogada por uma outra.
O STF entendeu que esta Lei revogadora é inconstitucional por violar o direito adquirido
(art. 5º, XXXVI, da CF/88) e o princípio da irredutibilidade dos vencimentos (art. 37, XV).
A Lei que concedeu o reajuste entrou em vigor na data de sua publicação. Apenas os efeitos
financeiros é que foram postergados para o dia 1º/1/2008.
No momento em que a Lei entrou em vigor, os servidores passaram a ter direito adquirido
ao reajuste, ainda que os efeitos financeiros somente fossem em data futura.
STF. Plenário. ADI 4013/TO, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 31/3/2016 (Info 819).
No julgamento da ADI 3819, o STF declarou inconstitucional lei estadual, posterior à CF/88,
que transformou ocupantes de determinado cargo público em Defensores Públicos.
Entendeu-se que houve violação ao princípio do concurso público.
Os servidores foram, então, exonerados pelo Governador do Estado, mas conseguiram ser
reintegrados por decisão do STJ, que entendeu que, antes da exoneração, deveria a eles ser
garantido devido processo legal, com contraditório e ampla defesa.
O STF, em reclamação, cassou essa decisão do STJ por entender que ela contrariou a
autoridade da decisão proferida pelo STF no julgamento da ADI 3.819/MG.
STF. 2ª Turma. Rcl 16950/MG, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 1º/12/2015 (Info 810).
Súmula vinculante 51-STF: O reajuste de 28,86%, concedido aos servidores militares pelas
Leis 8.622/1993 e 8.627/1993, estende-se aos servidores civis do Poder Executivo, observadas
as eventuais compensações decorrentes dos reajustes diferenciados concedidos pelos
mesmos diplomas legais.
STF. Plenário. Aprovada em 17/06/2015.
Algumas Constituições estaduais preveem que a pessoa que tiver exercido o cargo de
Governador do Estado fará jus, após deixar o mandato, a um subsídio mensal e vitalício.
Alguns chamam isso de representação, outros de pensão vitalícia e outros de pensão civil.
A previsão desse pagamento é compatível com a CF/88?
NÃO. Essa regra fere o princípio da isonomia. Não há uma justificativa razoável para que
seja prevista genericamente a concessão da “pensão” para ex-governadores, configurando
um tratamento privilegiado sem haver fundamento legítimo.
STF. Plenário. ADI 4552 MC/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 9/4/2015 (Info 780).
16.32. TETO REMUNERATÓRIO: É inconstitucional lei estadual que fixa teto remuneratório
para servidores do Poder Judiciário – (Info 774)
Lei do Estado da Bahia fixava um teto remuneratório exclusivo para os servidores do Poder
Judiciário.
O STF entendeu que essa lei é inconstitucional.
O teto para o funcionalismo estadual somente pode ser fixado por meio de emenda à
Constituição estadual, não sendo permitido mediante lei estadual.
Além disso, a Constituição do Estado da Bahia adotou subteto único (§ 12º do art. 37 da
CF/88) e a lei viola a sistemática escolhida porque fixou um teto apenas para os servidores
do Poder Judiciário, excluindo-o para os demais Poderes.
STF. Plenário. ADI 4900/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, j. 11/2/2015 (Info 774).
16.33. Pensão por morte e menor sob guarda (Lei 8.112/90) – (Info 766)
O menor que, na data do óbito do servidor, esteja sob a guarda deste último, tem direito à
pensão temporária até completar 21 anos de idade (art. 217, II, "b" da Lei nº 8.112/90).
Vale ressaltar que é irrelevante o fato de a guarda ser provisória ou definitiva.
STF. 1ª Turma. MS 31687 AgR/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/3/2014 (Info 738).
STF. 2ª Turma. MS 31770/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 3/11/2014 (Info 766).
O STF possui entendimento consolidado no sentido de que o servidor público não tem
direito adquirido de manter o regime jurídico existente no momento em que ingressou no
serviço público. No entanto, as mudanças no regime jurídico do servidor não podem reduzir
a sua remuneração, considerando que o art. 37, XV, da CF/88 assegura o princípio da
irredutibilidade dos vencimentos.
No caso concreto, os servidores de determinado órgão público tinham jornada de trabalho
de 20 horas semanais. Foi editada, então, uma Lei aumentando a jornada de trabalho para
40 horas semanais, sem, contudo, majorar a remuneração paga. O STF entendeu que a lei
que alterou a jornada de trabalho não poderia ser aplicada aos servidores que, antes de sua
edição, já estivessem legitimamente subordinados à carga horária inferior. Isso porque se
fossem obrigados a trabalhar mais sem aumento da remuneração, haveria uma redução
proporcional dos vencimentos recebidos.
Assim, nas hipóteses em que houver aumento de carga horária dos servidores, essa só será
válida se houver formal elevação proporcional da remuneração; caso contrário, a regra será
inconstitucional, por violação da norma constitucional da irredutibilidade vencimental.
STF. Plenário. ARE 660010/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 30/10/2014 (repercussão
geral) (Info 762).
STF. Plenário. MS 25875/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2014 (Info 762).
16.36. Aumento da remuneração de servidores públicos por meio de decisão judicial – (Info
763 e 756) – IMPORTANTE!!!
Súmula vinculante 37-STF: Não cabe ao poder judiciário, que não tem função legislativa,
aumentar vencimentos de servidores públicos sob o fundamento de isonomia.
STF. Plenário. Aprovada em 16/10/2014.
(...) O Poder Judiciário não tem poder para conceder aumentos para servidores regidos pelo
regime estatutário com base no princípio da isonomia.
STF. Plenário. RE 592317/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 28/8/2014 (repercussão
geral) (Info 756).
O STF possui entendimento consolidado no sentido de que o servidor público não tem
direito adquirido de manter o regime jurídico existente no momento em que ingressou no
serviço público. No entanto, as mudanças no regime jurídico do servidor não podem reduzir
a sua remuneração, considerando que o art. 37, XV, da CF/88 assegura o princípio da
irredutibilidade dos vencimentos.
No caso concreto, a lei duplicou a jornada de trabalho dos servidores públicos e permitiu
que eles continuassem a prestar a jornada menor, desde que recebessem apenas a metade
da remuneração. O STF entendeu que essa modificação da jornada de trabalho não foi
válida para os médicos que já eram servidores do órgão antes da Lei. Isso porque se eles
continuassem a trabalhar na mesma jornada de trabalho anterior, iriam receber apenas a
metade da remuneração. Logo, houve, indiretamente, uma redução do valor dos
vencimentos.
STF. Plenário. MS 25875/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2014 (Info 762).
16.38. Licença para acompanhamento de cônjuge – (Info 760) – Atenção! Concursos Federais!
A Lei n. 8.112/90 prevê que poderá ser concedida licença ao servidor público federal para
acompanhar seu cônjuge ou companheira que foi deslocado para outro ponto do território
nacional, podendo ali exercer provisoriamente atividade compatível com seu cargo em
órgão ou entidade da Administração Federal direta, autárquica ou fundacional. Tal licença
remunerada está prevista no § 2º do art. 84.
Contudo, o servidor não terá direito a essa licença remunerada se o cônjuge se mudou para
outro Município para assumir um cargo público decorrente de concurso público para o qual
foi aprovado.
Em suma, a licença para o acompanhamento de cônjuge ou companheiro de que trata o § 2º
do art. 84 da Lei n. 8.112/90 não se aplica aos casos de provimento originário de cargo
público.
STF. 1ª Turma. MS 28620/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 23/9/2014 (Info 760).
É incompatível com a CF/88 (art. 37, XIII e art. 39, § 1º) a lei estadual que equipara a
remuneração de uma carreira a de outra distinta.
STF. Plenário. ADPF 97/PA, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 21/8/2014 (Info 755).
16.41. Servidor público em inatividade não goza do adicional de férias – (Info 755)
É INCONSTITUCIONAL lei estadual que prevê que o servidor público, mesmo quando
for para a inatividade, continuará tendo direito, todos os anos, ao adicional de férias (terço
de férias).
Essa lei viola o princípio da razoabilidade já que o servidor público em inatividade não
pode gozar de férias, porquanto deixou de exercer cargo ou função pública, razão pela qual
a ele não se estende adicional de férias concedido a servidores em atividade.
STF. Plenário. ADI 1158/AM, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 20/8/2014 (Info 755).
16.43. Aposentadoria por invalidez com proventos integrais – (Info 755) – IMPORTANTE!!!
A CF/88 prevê, em seu art. 40, § 1º, I, a possibilidade de os servidores públicos serem
aposentados caso se tornem total e permanentemente incapazes para o trabalho. Trata-se da
chamada aposentadoria por invalidez.
Em regra, a aposentadoria por invalidez será paga com proventos proporcionais ao tempo
de contribuição. Excepcionalmente, ela será devida com proventos integrais se essa
invalidez for decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave,
contagiosa ou incurável, especificada em lei.
Assim, a concessão de aposentadoria por invalidez com proventos integrais exige que a
doença incapacitante esteja prevista em rol taxativo da legislação de regência.
O art. 41, § 1º, I, da CF/88 é bastante claro ao exigir que a lei defina as doenças e moléstias
que ensejam aposentadoria por invalidez com proventos integrais. Logo, esse rol legal deve
ser tido como exaustivo (taxativo).
STF. Plenário. RE 656860/MT, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 21/8/2014 (Info 755).
A LC 35/1979 (Loman) prevê, em seu art. 65, I, o pagamento de indenização para custeio de
despesas com transporte e mudança:
Apesar de a Loman falar que a matéria será regulada em lei, esse diploma legal nunca foi
editado. Por conta disso, o STF afirmou que é possível aplicar, de forma subsidiária, a
norma que rege os servidores públicos federais (Lei 8.112/1990) que, em seu arts. 53 e 54,
disciplina a ajuda de custo para transporte e mudança.
STF. 2ª Turma. AO 1656/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/8/2014 (Info 753).
16.45. Contratação por tempo determinado do art. 37, IX, da CF/88 – (Info 748)
A lei do ente federativo que regulamente o art. 37, IX, da CF/88, deverá especificar as
hipóteses emergenciais que justificam as medidas de contratação excepcional. Caso não o
faça, ela será tida por inconstitucional.
STF. Plenário. ADI 3649/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 28/5/2014 (Info 748)
16.46. CONCEITO DE CARGO TÉCNICO PARA OS FINS DO ART. 37, XVI, “B”, DA CF/88
– (Info 747) – IMPORTANTE!!!
A CF/88 permite a acumulação de um cargo de professor com outro técnico ou científico (art.
37, XVI, “b”).
Somente se pode considerar que um cargo tem natureza técnica se ele exigir, no
desempenho de suas atribuições, a aplicação de conhecimentos especializados de alguma
área do saber.
Não podem ser considerados cargos técnicos aqueles que impliquem a prática de atividades
meramente burocráticas, de caráter repetitivo e que não exijam formação específica.
Nesse sentido, atividades de agente administrativo, descritas como atividades de nível
médio, não se enquadram no conceito constitucional.
STF. 1ª Turma. RMS 28497/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Cármen Lúcia,
julgado em 20/5/2014 (Info 747).
O art. 170 da Lei n. 8.112/90 prevê que, mesmo estando prescrita a infração disciplinar, é
possível que a prática dessa conduta fique registrada nos assentos funcionais do servidor.
O STF decidiu que esse art. 170 é INCONSTITUCIONAL por violar os princípios da
presunção de inocência e da razoabilidade.
STF. Plenário. MS 23262/DF, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 23/4/2014 (Info 743).
16.49. Contratação por tempo determinado do art. 37, IX, da CF/88 – (Info 742)
A lei do ente federativo que regulamente o art. 37, IX, da CF/88 não poderá prever hipóteses
abrangentes e genéricas de contratações temporárias sem concurso público.
Além disso, essa lei deverá especificar a contingência fática que caracteriza a situação de
emergência.
STF. Plenário. RE 658026/MG, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 9/4/2014 (Info 742).
16.50. Súmula vinculante 33-STF: aposentadoria especial para servidor público – (Info 742)
Súmula Vinculante 33-STF: Aplicam-se ao servidor público, no que couber, as regras do
Regime Geral de Previdência Social sobre aposentadoria especial de que trata o artigo 40,
parágrafo 4º, inciso III, da Constituição Federal, até edição de lei complementar específica.
STF. Plenário. Aprovada em 9/4/2014.
16.51. Lei que efetivava servidores sem concurso público e modulação dos seus efeitos – (Info
740)
Lei mineira transformava diversos servidores com vínculo precário com a Administração
em servidores efetivos.
STF julgou inconstitucional a referida Lei por violação à regra do concurso público.
A corte decidiu, contudo, modular os efeitos da decisão.
Com relação aos cargos para os quais não há concurso público em andamento ou em vigor:
a lei continuará produzindo efeitos por um período de até 12 meses.
Com relação aos cargos para os quais há concurso em andamento ou em vigor: os efeitos da
declaração de inconstitucionalidade são imediatos.
Servidores já aposentados (ou que preencheram os requisitos para jubilação), bem como
para aqueles que foram aprovados em concurso público ou que foram beneficiados pela
estabilidade excepcional do art. 19 do ADCT da CF/88: não se submetem aos efeitos da
decisão (continuarão em seus cargos com a aposentadoria).
STF. Plenário. ADI 4876/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26/3/2014 (Info 740).
16.52. Contratação por tempo determinado do art. 37, IX, da CF/88 – (Info 740)
O STF entende que o art. 37, IX, da CF/88 autoriza que a Administração Pública contrate
pessoas, sem concurso público, tanto para o desempenho de atividades de caráter eventual,
temporário ou excepcional, como também para o desempenho das funções de caráter
regular e permanente, desde que indispensáveis ao atendimento de necessidade temporária
de excepcional interesse público.
No caso concreto julgado pelo STF, estava sendo impugnada uma lei do Estado do
Maranhão que permite a contratação, com base no art. 37, IX, da CF/88, de professores para
os ensinos fundamental e médio, desde que não existam candidatos aprovados em concurso
público e devidamente habilitados. A Lei maranhense prevê que essa contratação deverá
ocorrer pelo prazo máximo de 12 meses e o STF conferiu interpretação conforme para que
esse prazo seja contado do último concurso realizado para a investidura de professores.
Desse modo, durante o período de 1 (um) ano, haveria necessidade temporária que
justificaria a contratação sem concurso até que fosse concluído o certame.
STF. Plenário. ADI 3247/MA, rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 26/3/2014 (Info 740).
16.53. O menor sob guarda tem direito à pensão temporária por morte na Lei n. 8.112/90 –
(Info 738) – Atenção! Concursos Federais!
O menor que, na data do óbito do servidor, esteja sob a guarda deste último, tem direito à
pensão temporária até completar 21 anos de idade (art. 217, II, "b" da Lei nº 8.112/90).
Vale ressaltar que é irrelevante o fato de a guarda ser provisória ou definitiva.
STF. 1ª Turma. MS 31687 AgR/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/3/2014 (Info 738).
É CONSTITUCIONAL Lei estadual que passa a exigir nível superior para determinado
cargo público (que antes era de ensino médio), determinando ainda o aumento da
remuneração paga para os ocupantes desse cargo, que irão agora receber como servidores
de nível superior.
STF. Plenário. ADI 4303/RN, rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/2/2014 (Info 734).
O Governador da Bahia editou um decreto prevendo que, em caso de greve, deverão ser
adotas as seguintes providências:
a) convocação dos grevistas a reassumirem seus cargos;
b) instauração de processo administrativo disciplinar;
c) desconto em folha de pagamento dos dias de greve;
d) contratação temporária de servidores;
e) exoneração dos ocupantes de cargo de provimento temporário e de função gratificada que
participarem da greve.
O STF decidiu que este Decreto é constitucional.
Trata-se de decreto autônomo que disciplina as consequências — estritamente
administrativas — do ato de greve dos servidores públicos e as providências a serem
adotadas pelos agentes públicos no sentido de dar continuidade aos serviços públicos.
A norma impugnada apenas prevê a instauração de processo administrativo para se apurar
a participação do servidor na greve e as condições em que ela se deu, bem como o não
pagamento dos dias de paralisação, o que está em consonância com a orientação fixada pelo
STF no julgamento do MI 708.
É possível a contratação temporária excepcional (art. 37, IX, da CF/88) prevista no decreto
porque o Poder Público tem o dever constitucional de prestar serviços essenciais que não
podem ser interrompidos, e que a contratação, no caso, é limitada ao período de duração da
greve e apenas para garantir a continuidade dos serviços.
STF. Plenário. ADI 1306/BA, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 13/6/2017 (Info 906).
OBS:
Os servidores públicos possuem direito de greve? SIM. Isso se encontra previsto no art. 37, VII,
da CF/88:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites
definidos em lei específica;
Este inciso VII afirma que o direito de greve dos servidores públicos será exercido nos termos
e nos limites definidos em lei específica. Esta lei, até o presente momento, não foi editada.
Mesmo sem haver lei, os servidores públicos podem fazer greve? SIM. O STF decidiu que,
mesmo sem ter sido ainda editada a lei de que trata o art. 37, VII, da CF/88, os servidores
públicos podem fazer greve, devendo ser aplicadas as leis que regulamentam a greve para
os trabalhadores da iniciativa privada (Lei nº 7.701/88 e Lei nº 7.783/89). Nesse sentido: STF.
Plenário. MI 708, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 25/10/2007.
Quais são os requisitos para que os servidores públicos possam fazer greve? São requisitos
para a deflagração de uma greve no serviço público:
a) tentativa de negociação prévia, direta e pacífica;
b) frustração ou impossibilidade de negociação ou de se estabelecer
uma agenda comum;
c) deflagração após decisão assemblear;
d) comunicação aos interessados, no caso, ao ente da Administração
Pública a que a categoria se encontre vinculada e à população, com
antecedência mínima de 72 horas (uma vez que todo serviço público
é atividade essencial);
e) adesão ao movimento por meios pacíficos; e
f) a garantia de que continuarão sendo prestados os serviços
indispensáveis ao atendimento das necessidades dos administrados
(usuários ou destinatários dos serviços) e à sociedade.
Para que seja realizado o desconto dos dias não trabalhados, exige-se a instauração de
processo administrativo? NÃO. Não há necessidade de processo administrativo prévio para
realizar descontos na remuneração do servidor, em razão de dias parados decorrentes de
greve (STJ. 2ª Turma. AgInt no AREsp 780.209/SC, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em
24/5/2016).
17.2. Compete à Justiça Comum (estadual ou federal) decidir se a greve realizada por
servidor público é ou não abusiva – (Info 871)
Quais são os requisitos para que os servidores públicos possam fazer greve? São requisitos
para a deflagração de uma greve no serviço público:
a) tentativa de negociação prévia, direta e pacífica;
b) frustração ou impossibilidade de negociação ou de se estabelecer
uma agenda comum;
c) deflagração após decisão assemblear;
d) comunicação aos interessados, no caso, ao ente da Administração
Pública a que a categoria se encontre vinculada e à população, com
antecedência mínima de 72 horas (uma vez que todo serviço público
é atividade essencial);
e) adesão ao movimento por meios pacíficos; e
f) a garantia de que continuarão sendo prestados os serviços
indispensáveis ao atendimento das necessidades dos administrados
(usuários ou destinatários dos serviços) e à sociedade.
Caso os servidores públicos realizem greve, a Administração Pública deverá descontar da
remuneração os dias em que eles ficaram sem trabalhar?
Regra: SIM. Em regra, a Administração Pública deve fazer o desconto dos dias de
paralisação decorrentes do exercício do direito de greve pelos servidores públicos.
Exceção: não poderá ser feito o desconto se ficar demonstrado que a greve foi
provocada por conduta ilícita do Poder Público.
STF. Plenário. RE 693456/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 27/10/16 (repercussão geral) (Info 845).
A Justiça Comum será competente mesmo que se trate de empregado público (vínculo
celetista)? SIM. A Justiça Comum será competente mesmo que o vínculo do servidor com a
Administração Pública seja regido pela CLT, ou seja, ainda que se trate de empregado público.
Sobre o tema, o STF fixou a seguinte tese:
A justiça comum, federal ou estadual, é competente para julgar a
abusividade de greve de servidores públicos celetistas da
Administração pública direta, autarquias e fundações públicas. STF.
Plenário. RE 846854/SP, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, j. 1º/8/2017 (repercussão geral) (Info 871).
Assim, a Justiça Comum é sempre competente para julgar causa relacionada ao direito de
greve de servidor público da Administração direta, autárquica e fundacional, pouco
importando se se trata de celetista ou estatutário.
Vale fazer, contudo, uma importante ressalva: se a greve for de empregados públicos de
empresa pública ou sociedade de economia mista, a competência será da Justiça do
Trabalho.
Estadual ou Federal
Se os servidores públicos que estiverem realizando a greve forem municipais ou
estaduais, a competência será da Justiça Estadual.
Se os servidores públicos grevistas forem da União, suas autarquias ou fundações, a
competência será da Justiça Federal.
O exercício do direito de greve, sob qualquer forma ou modalidade, é vedado aos policiais
civis e a todos os servidores públicos que atuem diretamente na área de segurança pública.
É obrigatória a participação do Poder Público em mediação instaurada pelos órgãos
classistas das carreiras de segurança pública, nos termos do art. 165 do CPC, para
vocalização dos interesses da categoria.
STF. Plenário. ARE 654432/GO, Rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, j. 5/4/17 (repercussão geral) (Info 860).
OBS:
A greve é um direito de todos os servidores públicos? NÃO. Existem determinadas categorias
para quem a greve é proibida.
Os policiais militares podem fazer greve? NÃO. A CF/88 proíbe expressamente que os
Policiais Militares, Bombeiros Militares e militares das Forças Armadas façam greve (art. 142,
3º, IV c/c art. 42, § 1º).
O art. 142, § 3º, IV, da CF/88 não menciona os policiais civis. Em verdade, não existe nenhum
dispositivo na Constituição que proíba expressamente os policiais civis de fazerem greve.
Diante disso, indaga-se: os policiais civis possuem direito de greve? NÃO. Apesar de não
haver uma proibição expressa na CF/88, o STF decidiu que os policiais civis não podem fazer
greve. Aliás, o Supremo foi além e afirmou que nenhum servidor público que trabalhe
diretamente na área da segurança pública pode fazer greve.
Carreira policial é carreira de Estado, essencial para a segurança pública: A carreira policial,
disciplinada pelo art. 144 da CF/88, tem como função exercer a segurança pública, garantindo
a “preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio. A carreira
policial é o braço armado do Estado para realizar a segurança pública e as Forças Armadas são
o braço armado do Estado para garantir a segurança nacional. Diante da relevância de suas
funções e considerando que se trata de uma atividade que não pode ser exercida pela iniciativa
privada, considera-se que a atividade policial é uma "carreira de Estado". A atividade policial
diferencia-se, contudo, de outras atividades essenciais, como educação e saúde, porque ela não
pode ser exercida por particulares. A segurança pública é, portanto, atividade privativa do
Estado. Vale ressaltar que, diante de suas peculiaridades, a Constituição disciplinou as
carreiras policiais de forma diferenciada, tratando delas em um capítulo específico, distinto do
capítulo dos servidores públicos.
Direito de greve é incompatível com a carreira policial: Não é possível compatibilizar que o
braço armado do Estado faça greve porque isso colocaria em risco a segurança pública, a ordem
e a paz social. Os integrantes das carreiras policiais possuem o dever de fazer intervenções e
prisões em flagrante, sendo isso inconciliável com o exercício da greve. Como já afirmado, não
há possibilidade de nenhum outro órgão da iniciativa privada suprir a atividade policial. Se
esta entra em greve, não há como sua função ser substituída. Vale ressaltar que a atividade
policial, além de ser importantíssima por si só, se for paralisada, afetará também as atribuições
do Ministério Público e do próprio Poder Judiciário.
Greve não é direito absoluto: A greve não é um direito absoluto e, neste caso, deverá ser feito
um balanceamento entre o direito de greve e o direito de toda a sociedade à segurança pública
e à manutenção da ordem pública e paz social. Neste caso, há a prevalência do interesse público
e do interesse social sobre o interesse individual de uma categoria. Por essa razão, em nome da
segurança pública, os policiais não podem fazer greve. Importante destacar que a ponderação
de interesses aqui não envolve direito de greve X continuidade do serviço público. A greve dos
policiais é proibida não por causa do princípio da continuidade do serviço público (o que seria
muito pouco), mas sim por conta do direito de toda a sociedade à garantia da segurança
pública, à garantia da ordem pública e da paz social.
Não se trata de aplicar por analogia o art. 142, § 3º, IV: É importante destacar que o STF
afirmou expressamente que, ao decidir que os policiais civis não possuem direito de greve, não
estava aplicando o art. 142, § 3º, IV, da CF/88 por analogia a eles. Não se trata, portanto, de
analogia. A greve é proibida por força dos princípios constitucionais que regem os órgãos de
segurança pública.
Carreira policial possui tratamento diferenciado: A pessoa que ingressa na carreira policial
sabe que estará integrando um órgão com regime especial, que possui regime de trabalho
diferenciado, escala, hierarquia e disciplina. Deve saber também que se trata de uma carreira
cuja atividade é incompatível com o direito de greve.
Além dos policiais civis, os policiais federais também estão proibidos de fazer greve? SIM. O
STF entendeu que o exercício de greve é vedado a todas as carreiras policiais previstas no art.
144, ou seja, não podem fazer greve os integrantes da:
Polícia Federal;
Polícia Rodoviária Federal;
Polícia Ferroviária Federal;
Polícia Civil;
Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros militar.
Mediação: Apesar de os policiais não poderem exercer o direito de greve, é indispensável que
essa categoria possa vocalizar (expressar) as suas reivindicações de alguma forma. Pensando
nisso, o STF afirmou, como alternativa, que o sindicato dos policiais possa acionar o Poder
Judiciário para que seja feita mediação com o Poder Público, nos termos do art. 165 do CPC:
Art. 165. Os tribunais criarão centros judiciários de solução
consensual de conflitos, responsáveis pela realização de sessões e
audiências de conciliação e mediação e pelo desenvolvimento de
programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a
autocomposição.
Nesta mediação, os integrantes das carreiras policiais serão representados pelos respectivos
órgãos classistas (ex: sindicatos, no caso de polícia civil, federal etc.; associações, no caso de
polícia militar) e o Poder Público é obrigado a participar.
17.4. Administração Pública deve descontar os dias não trabalhados por servidor público
em greve – (Info 845) – IMPORTANTE!!! – (TJSP-2017)
OBS:
Os servidores públicos possuem direito de greve? SIM. Isso se encontra previsto no art. 37, VII,
da CF/88:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites
definidos em lei específica;
Este inciso VII afirma que o direito de greve dos servidores públicos será exercido nos termos
e nos limites definidos em lei específica. Esta lei, até o presente momento, não foi editada.
Mesmo sem haver lei, os servidores públicos podem fazer greve? SIM. Mesmo sem ter sido
ainda editada a lei de que trata o art. 37, VII, da CF/88, os servidores públicos podem fazer
greve, devendo ser aplicadas as leis que regulamentam a greve para os trabalhadores da
iniciativa privada (Lei 7.701/88 e Lei 7.783/89). Nesse sentido: STF. Plenário. MI 708, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 25/10/2007.
Quais são os requisitos para que os servidores públicos possam fazer greve? São requisitos
para a deflagração de uma greve no serviço público:
a) tentativa de negociação prévia, direta e pacífica;
b) frustração ou impossibilidade de negociação ou de se estabelecer
uma agenda comum;
c) deflagração após decisão assemblear;
d) comunicação aos interessados, no caso, ao ente da Administração
Pública a que a categoria se encontre vinculada e à população, com
antecedência mínima de 72 horas (uma vez que todo serviço público
é atividade essencial);
e) adesão ao movimento por meios pacíficos; e
f) a garantia de que continuarão sendo prestados os serviços
indispensáveis ao atendimento das necessidades dos administrados
(usuários ou destinatários dos serviços) e à sociedade.
Greve é considerada pela lei como suspensão do contrato de trabalho: Os dias em que o
trabalhador fica afastado do serviço com o objetivo de participar da greve são considerados
pela legislação como período de suspensão do contrato de trabalho. Veja o que diz a Lei nº
7.783/89:
Art. 7º Observadas as condições previstas nesta Lei, a participação
em greve suspende o contrato de trabalho, devendo as relações
obrigacionais, durante o período, ser regidas pelo acordo,
convenção, laudo arbitral ou decisão da Justiça do Trabalho.
O STF, no julgamento do MI 708, afirmou que este art. 7º deve ser aplicado nas greves
envolvendo servidores públicos.
O contrato de trabalho pode sofrer a paralisação temporária de seus efeitos, embora mantenha
a sua vigência. Essa paralisação pode ser classificada como suspensão ou interrupção.
Suspensão não há trabalho
(total) não há pagamento de salários
não há contagem do tempo de serviço
não há recolhimento fundiário ou mesmo previdenciário
Interrupção não há trabalho
(parcial) há pagamento de salários
há contagem do tempo de serviço
há recolhimento fundiário ou mesmo previdenciário
Quando a Lei classifica a greve como hipótese de suspensão do contrato de trabalho, ela está
dizendo que não haverá trabalho, mas que também não haverá pagamento de salários.
Greve é um direito, mas que possui consequências: Segundo o STF, embora a grave seja
possível, porque é um direito constitucional, ela tem consequências. O desconto dos dias de
paralisação é o ônus inerente à greve, assim como a paralisação parcial dos serviços públicos
imposta à sociedade é consequência natural do movimento. Esse desconto dos dias parados
não tem finalidade disciplinar punitiva. Trata-se de um “afastamento” não remunerado do
servidor, na medida em que, embora autorizado pela CF/88, esta não lhe garantiu o
pagamento integral dos vencimentos. Assim, em razão da ausência de prestação específica do
serviço por parte do grevista, os descontos devem ser realizados.
O fato de ser permitido o desconto da remuneração, não faz com que, na prática, o STF esteja
dizendo que a greve no serviço público é proibida? NÃO. Ao admitir o desconto dos dias
paralisados, o STF não está negando o exercício do direito do servidor público de realizar
greve. A participação do servidor público em um movimento paredista é um direito seu, mas
esse direito possui limites e ônus, em especial, por se tratar o serviço público de atividade de
importância estratégica para o Estado em prol da sociedade.
Experiência de outros países: Na maioria dos países onde a greve no serviço público é
permitida, também ocorre o desconto da remuneração dos grevistas, o que tem mobilizado a
criação, inclusive, de fundos de greve, como é o caso do Reino Unido (“strike fund”), da França
e do Canadá (“fonds de grève”), da Espanha e de diversos países de língua espanhola (“fondo
de huelga”) e de Portugal (“fundos de maneio”).
É possível que a lei que venha a regulamentar o inciso VII do art. 37 preveja a greve no serviço
público como hipótese de interrupção (autorizando o pagamento da remuneração)? SIM. O
Min. Dias Toffoli afirmou que não existe vedação para que o Poder Legislativo preveja na lei
que vier a ser editada que o movimento grevista seja hipótese de interrupção do vínculo.
Este entendimento de que deverá haver desconto na remuneração dos servidores grevistas já
era a posição do STF? SIM. Existem inúmeros julgados anteriores do STF no mesmo sentido.
Como exemplo, cite-se:
(...) Inexiste direito à restituição dos valores descontados decorrentes
dos dias de paralisação. Precedente. MI 708/DF, Rel. Min. Gilmar
Mendes. (...)
STF. 2ª Turma. AI 824949 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 23/08/2011.
TST: O TST também vem considerando a greve como hipótese de suspensão contratual (art. 7º
da Lei 7.783/89), de forma que os dias de paralisação não devem ser remunerados, salvo
situações excepcionais, tais como aquelas em que o empregador contribui, mediante conduta
recriminável, para que a greve ocorra, ou quando há acordo entre as partes. (TST, RO nº
1000229-73.2014.5.02.0000, Relatora a Ministra Dora Maria da Costa, Seção Especializada em
Dissídios Coletivos, DEJT 19/12/14).
Não poderá ser feito o desconto se ficar demonstrado que a greve foi provocada por conduta
ilícita do Poder Público: Considera-se assim aquelas circunstâncias em que o ente da
administração tenha contribuído, mediante conduta recriminável, para que a greve ocorresse.
Ex: não haverá desconto se a greve tiver sido provocada por atraso no pagamento aos
servidores públicos ou se houver outras circunstâncias excepcionais que justifiquem o
afastamento da premissa da suspensão da relação funcional ou de trabalho.
Em vez de realizar o desconto, é possível que os servidores públicos façam a compensação dos
dias parados (ex: trabalhando duas horas a mais por dia)? SIM. A compensação dos dias e
horas paradas ou mesmo o parcelamento dos descontos poderão ser objeto de negociação, uma
vez que se encontram dentro das opções discricionárias do administrador. Ressalte-se,
contudo, que não há uma obrigatoriedade de a Administração Pública aceitar a compensação.
Dessa forma, quando uma legislação nova surge, ela deverá respeitar as cláusulas do contrato
que estão em vigor até que o ajuste chegue ao seu termo final. Em caso de prorrogação,
contudo, é possível já exigir as novas condições, estando o concessionário livre para aceitar
ou não os novos termos contratuais. Não se pode falar neste caso que haja violação ao
equilíbrio econômico-financeiro do contrato considerando que ele já chegou ao fim e o que
se está discutindo é a sua prorrogação.
Em 2001, foi editada uma lei estadual criando cargos e organizando a Polícia Civil de
determinado Estado. Nesta Lei foi previsto que, na estrutura da Polícia Civil, haveria cargos
de Delegado de Polícia e de Comissário de Polícia.
Ainda em 2001, foi realizado um concurso público, com provas específicas para cada um
desses cargos, e os aprovados nomeados e empossados.
Contudo, em 2004, houve duas leis modificando o cargo de Comissário de Polícia.
• a primeira delas afirmou que Comissário de Polícia seria autoridade policial, juntamente
com o Delegado de Polícia, equiparando a remuneração dos dois cargos.
• a segunda lei, transformando o cargo de "Comissário de Polícia" em "Delegado de
Polícia".
Essas duas leis foram impugnadas por meio de ADI e o STF decidiu que elas são
INCONSTITUCIONAIS porque representaram burla à exigência do concurso público.
As referidas leis fizeram uma espécie de ASCENSÃO FUNCIONAL dos Comissários de
Polícia porque transformaram os ocupantes desses cargos em Delegados de Polícia sem que
eles tivessem feito concurso público para tanto.
No caso concreto, os Ministros entenderam que, quando o cargo de Comissário de Polícia
foi criado, ele possuía diferenças substanciais em relação ao de Delegado de Polícia, o que
impediria a transformação mesmo sob o argumento de ser medida de racionalização
administrativa.
STF. Plenário. ADI 3415/AM, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 24/9/2015 (Info 800).
21.2. Adoção de descendente maior com o único objetivo de deixar pensão por morte – (Info
785)
Não é legítima a adoção de descendente maior de idade, sem a constatação de suporte moral
ou econômico, com o fim de induzir o deferimento de benefício previdenciário.
No caso concreto, militar reformado do Exército, antes de falecer, adotou sua própria neta,
que na época tinha 41 anos de idade e era professora do ensino público estadual. Quando
faleceu, a neta habilitou-se para receber a pensão por morte como dependente do militar. O
Exército fez a concessão inicial do benefício, mas o TCU negou registro à pensão.
O STF considerou que a decisão do TCU foi correta porque a adoção não tinha suporte
moral nem econômico e tinha sido feita com o objetivo de induzir o deferimento do
benefício previdenciário. Logo, não foi legítima, tendo sido praticada com simulação e
fraude à lei.
STF. 1ª Turma. MS 31383/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 12/5/2015 (Info 785).
21.3. PENSÃO POR MORTE NO SERVIÇO PÚBLICO: Paridade e integralidade – (Info 786)
PARIDADE
Em regra, eles não têm direito à paridade com servidores em atividade;
Exceção: terão direito à paridade caso se enquadrem na regra de transição prevista
no art. 3º da EC 47/2005.
INTEGRALIDADE
Os pensionistas de servidor falecido posteriormente à EC 41/2003 não possuem
direito à integralidade (CF, art. 40, § 7º, I), não havendo regra de transição para isso.
22.2. Oficiais de justiça não têm direito à aposentadoria especial – (Info 789)
Se o servidor trabalhou sob condições especiais que prejudiquem a sua saúde ou a sua
integridade física, ele poderá se utilizar deste tempo para gozar de aposentadoria especial,
cujo tempo de trabalho é inferior ao da aposentadoria comum (aplica-se aos servidores o
art. 57, caput e § 1º da Lei nº 8.213/91). Ex: trabalhou 25 anos em atividades insalubres, terá
direito à aposentadoria especial valendo-se das regras dos trabalhadores em geral. Isso é
assegurado pelo art. 40, § 3º, III, da CF e a mora legislativa não poderá mais prejudicar o
servidor.
No entanto, se o período que este servidor trabalhou sob condições especiais não for
suficiente para que ele goze da aposentadoria especial, ele não poderá converter este tempo
especial usando os índices de conversão previstos para os trabalhadores em geral (não se
aplica aos servidores o § 5º do art. 57 da Lei nº 8.213/91). Isso não é assegurado pelo art. 40,
§ 3º, III, da CF e a lei que vier a regular este dispositivo não precisa tratar sobre este tema.
Não se extrai da norma contida no art. 40, § 4º, III, da CF a existência de dever constitucional
de legislar acerca do reconhecimento à contagem diferenciada e da averbação de tempo de
serviço prestado por servidores públicos em condições prejudiciais à saúde e à integridade
física.
Logo, não cabe mandado de injunção para que servidor público pleiteie a verificação de
contagem de prazo diferenciado de serviço exercido em condições prejudiciais à saúde e à
integridade física.
STF. Plenário. MI 3162 ED/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j 11/9/2014 (Info 758).
23. DESAPROPRIAÇÃO
23.1. Análise da constitucionalidade da MP 2.183-56/2001, que alterou o DL 3.365/1941 – (Info
902)
O DL 3.365/41 dispõe sobre desapropriações por utilidade pública. Veja o que diz o art. 15-
A, que foi incluído pela MP 2.183-56/2001:
“Art. 15-A No caso de imissão prévia na posse, na desapropriação
por necessidade ou utilidade pública e interesse social, inclusive
para fins de reforma agrária, havendo divergência entre o preço
ofertado em juízo e o valor do bem, fixado na sentença, expressos
em termos reais, incidirão juros compensatórios de até seis por
cento ao ano sobre o valor da diferença eventualmente apurada,
a contar da imissão na posse, vedado o cálculo de juros
compostos.
§ 1º Os juros compensatórios destinam-se, apenas, a compensar
a perda de renda comprovadamente sofrida pelo proprietário.
§ 2º Não serão devidos juros compensatórios quando o imóvel
possuir graus de utilização da terra e de eficiência na exploração
iguais a zero.
§ 3º O disposto no caput deste artigo aplica-se também às ações
ordinárias de indenização por apossamento administrativo ou
desapropriação indireta, bem assim às ações que visem a
indenização por restrições decorrentes de atos do Poder Público,
em especial aqueles destinados à proteção ambiental, incidindo
os juros sobre o valor fixado na sentença.
§ 4º Nas ações referidas no § 3º, não será o Poder Público onerado
por juros compensatórios relativos a período anterior à aquisição
da propriedade ou posse titulada pelo autor da ação.”
O STF também reafirmou que se trata de confisco. Veja o que disse o Ministro Gilmar Mendes:
"O instituto previsto no art. 243 da CF não é verdadeira espécie de
desapropriação, mas uma penalidade imposta ao proprietário que
praticou a atividade ilícita de cultivar plantas psicotrópicas, sem
autorização prévia do órgão sanitário do Ministério da Saúde.
Portanto, a expropriação é espécie de confisco constitucional e tem
caráter sancionatório."
Extensão da expropriação: A expropriação irá recair sobre a totalidade do imóvel, ainda que o
cultivo ilegal ou a utilização de trabalho escravo tenham ocorrido em apenas parte dele. Nesse
sentido: STF. Plenário. RE 543974, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 26/03/2009.
Não se exige que o proprietário tenha participado: Para que haja a sanção do art. 243, não se
exige a participação direta do proprietário no cultivo ilícito. No entanto, apesar disso, trata-se
de medida sancionatória, exigindo-se algum grau de culpa para sua caracterização. Assim,
mesmo que o proprietário não tenha participado diretamente, mas se agiu com culpa, deverá
ser expropriado. Isso porque a função social da propriedade gera para o proprietário o dever
de zelar pelo uso lícito do seu imóvel, ainda que não esteja na posse direta.
Mesmo tendo esse dever, poderá provar que não teve como evitar: Esse dever de zelar pelo
correto uso da propriedade não é ilimitado, só podendo ser exigido do proprietário que evite
o ilícito quando estiver ao seu alcance. Assim, o proprietário pode afastar sua responsabilidade
demonstrando que não incorreu em culpa. Ele pode provar, por exemplo, que foi esbulhado
ou até enganado pelo possuidor ou pelo detentor.
Se agiu com culpa, aplica-se o art. 243: Vale ressaltar, mais uma vez, que, se o proprietário
agiu com culpa, deverá ser expropriado. Essa culpa pode ser in vigilando ou in eligendo:
Culpa in vigilando é a falta de atenção com a conduta de outra pessoa. Ocorre quando
não há uma fiscalização efetiva.
Culpa in eligendo consiste na má escolha daquele a quem se confia a prática de um
ato. Também chamada de “responsabilidade pela má eleição”.
Desse modo, se o proprietário agiu com culpa in vigilando ou in eligendo, deverá incidir o art.
243 da CF/88.
E se houver mais de um proprietário, o que fazer neste caso? Se o imóvel pertencer a dois ou
mais proprietários (condomínio), haverá a expropriação mesmo que apenas um deles tenha
participação ou culpa. Restará apenas ao proprietário inocente buscar reparação daquele que
participou ou teve culpa.
Ônus da prova: Importante destacar que cabe ao proprietário (e não à União) o ônus da prova.
Em outras palavras, caberá ao proprietário provar que não agiu com culpa.
23.3. Desconsideração das conclusões do laudo pericial com base em outras provas – (Info
817)
A preferência do julgador por determinada prova insere-se no livre convencimento
motivado e não cabe compelir o magistrado a colher com primazia determinada prova em
detrimento de outras pretendidas pelas partes se, pela base do conjunto probatório tiver se
convencido da verdade dos fatos.
STF. Plenário. RE 567708/SP, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o acórdão Min. Cármen
Lúcia, julgado em 8/3/2016 (Info 817).
OBS: O magistrado, com base no livre convencimento motivado, tem a liberdade de deixar de
considerar as conclusões do laudo pericial desde que faça isso de forma fundamentada. Isso
está previsto no art. 479 do CPC 2015:
Art. 479. O juiz apreciará a prova pericial de acordo com o disposto no art.
371, indicando na sentença os motivos que o levaram a considerar ou a
deixar de considerar as conclusões do laudo, levando em conta o método
utilizado pelo perito.
Ao tecer comentários sobre este art. 479, Daniel Amorim Assumpção Neves explica que:
"O sistema de valoração das provas, adotado pelo sistema processual
brasileiro, é o da persuasão racional, também chamado de livre
convencimento motivado. Significa dizer que não existem cargas de
convencimento pré-estabelecidas dos meios de prova, sendo incorreto
afirmar abstratamente que determinado meio de prova é mais eficaz no
convencimento do juiz do que outro. Com inspiração nesse sistema de
valoração das provas, o art. 479 do Novo CPC prevê que o juiz não está
adstrito ao laudo pericial, podendo se convencer com outros elementos ou
fatos provados no processo." (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo
CPC comentado. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 784).
24.2. Lei estadual não pode conceder isenção de contribuição previdenciária para todos os
servidores aposentados e pensionistas que tiverem doença incapacitante – (Info 776)
Assim, a CF/88 prevê situações em que o indivíduo poderá ser admitido no serviço público
mesmo sem concurso. Podemos citar como exemplos:
a) cargos em comissão (art. 37, II);
b) servidores temporários (art. 37, IX);
c) cargos eletivos;
d) nomeação de alguns juízes de Tribunais, Desembargadores, Ministros de Tribunais;
e) ex-combatentes (art. 53, I, do ADCT);
f) agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias (art. 198, § 4º).
Vamos estudar agora apenas a hipótese dos servidores temporários (art. 37, IX, da CF/88).
Características: Para ser válida, a contratação com fundamento no inciso IX deve ser...
- feita por tempo determinado (a lei prevê prazos máximos);
- com o objetivo de atender a uma necessidade temporária; e
- que se caracterize como sendo de excepcional interesse público.
Processo seletivo simplificado: A contratação com base no inciso IX ocorre sem a realização de
prévio concurso público. A lei, no entanto, pode prever critérios e exigências a serem
observadas pelo administrador no momento de contratar. Ex.: a Lei 8.745/93, que rege o tema
em nível federal, exige, em regra, que os profissionais a serem contratados sejam submetidos
a uma espécie de processo seletivo simplificado (art. 3º), ou seja, um procedimento mais
simples que o concurso público, por meio do qual, no entanto, se possa selecionar os melhores
candidatos à função e de maneira impessoal. A contratação para atender às necessidades
decorrentes de calamidade pública, de emergência ambiental e de emergências em saúde
pública prescindirá de processo seletivo.
Lei de cada ente deverá reger o tema: Repare que o inciso IX fala que LEI estabelecerá os casos
de contratação. Não se trata de uma só lei. O que esse dispositivo está afirmando é que cada
ente da Federação deverá editar a sua própria lei prevendo os casos de contratação por tempo
determinado. Não poderia uma só lei dispor sobre o tema porque é preciso que se respeite a
autonomia administrativa dos entes.
Ex.1: no âmbito federal, a lei que rege o tema é a Lei 8.745/93.
Ex.2: em Goiás, quem traz as hipóteses é a Lei estadual 3.664/00.
Ex.3: em Manaus, a contratação por prazo determinado deverá observar a Lei
municipal 1.425/2010.
Atividades de caráter regular e permanente: No serviço público, há algumas atividades que são
regulares e permanentes. Exs.: servidores das áreas de saúde, educação e segurança pública.
Por outro lado, existem atividades que possuem caráter eventual, temporário ou excepcional.
Ex.: servidores para a realização do censo pelo IBGE.
É possível que, com fundamento no inciso IX, a Administração Pública contrate servidores
temporários para o exercício de atividades de caráter regular e permanente ou isso somente é
permitido para atividades de natureza temporária (eventual)? SIM.
O art. 37, IX, da CF/88 autoriza que a Administração Pública
contrate pessoas, sem concurso público, tanto para o desempenho
de atividades de caráter eventual, temporário ou excepcional, como
também para o desempenho das funções de caráter regular e
permanente, desde que indispensáveis ao atendimento de
necessidade temporária de excepcional interesse público.
STF. Plenário. ADI 3068, Rel. p/ Ac. Min. Eros Grau, j. 25/08/04.
STF. Plenário. ADI 3247/MA, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 26/3/14
(Info 740).
A natureza da atividade a ser desempenhada (se permanente ou eventual) não será o fator
determinante para se definir se é possível ou não a contratação de servidor com base no art.
37, IX, da CF/88.
Para saber se é legítima a contratação com base no art. 37, IX, deverão ser analisados dois
aspectos:
a) a necessidade da contratação deve ser transitória (temporária);
b) deve haver um excepcional interesse público que a justifique.
Ex.2: no caso concreto julgado pelo STF, estava sendo impugnada uma lei do Estado do
Maranhão que permite a contratação, com base no art. 37, IX, da CF/88, de professores para os
ensinos fundamental e médio, desde que não existam candidatos aprovados em concurso
público e devidamente habilitados. A Lei maranhense prevê que essa contratação deverá
ocorrer pelo prazo máximo de 12 meses e o STF conferiu interpretação conforme para que esse
prazo seja contado do último concurso realizado para a investidura de professores. Desse
modo, durante o período de 1 (um) ano, haveria necessidade temporária que justificaria a
contratação sem concurso até que fosse concluído o certame. STF. Plenário. ADI 3247/MA, rel.
Min. Cármen Lúcia, julgado em 26/3/2014 (Info 740).
Regra do art. 9º, III, da Lei nº 8.745/93: No âmbito da administração pública federal, é vedada
a contratação temporária do mesmo servidor antes de decorridos 24 meses do encerramento
do contrato anterior. Tal regra está prevista no art. 9º, III, da Lei nº 8.745/93:
Art. 9º O pessoal contratado nos termos desta Lei não poderá:
III - ser novamente contratado, com fundamento nesta Lei, antes de
decorridos 24 (vinte e quatro) meses do encerramento de seu
contrato anterior, salvo nas hipóteses dos incisos I e IX do art. 2º
desta Lei, mediante prévia autorização, conforme determina o art. 5º
desta Lei.
A regra do art. 9º, III, da Lei 8.745/93 é salutar porque evita que uma função temporária seja
transformada em algo ordinário. Dessa forma, o referido dispositivo é necessário e adequado
para preservar a impessoalidade do concurso público.
Assim, não configura ofensa à isonomia a previsão legal de proibição, por prazo
determinado, de nova contratação de candidato já anteriormente admitido em processo
seletivo simplificado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse
público.
Obs1: apesar de a redação da tese mencionar apenas “admissão de professor”, o certo é que o
art. 9º, III, é constitucional, razão pela qual a vedação existe para outros cargos. O que o STF
fez foi declarar constitucional o art. 9º, III, da Lei nº 8.745/93. Constou a menção expressa aos
professores porque o caso concreto julgado no RE abrangia essa categoria.
Obs2: vale ressaltar que inúmeras leis estaduais e municipais repetem a redação do art. 9º, III,
da Lei nº 8.745/93. Tais leis também são constitucionais.
25.2. Lei de contratação temporária não pode prever hipóteses genéricas nem a prorrogação
indefinida dos contratos – (Info 858)
São inconstitucionais, por violarem o art. 37, IX, da CF/88, a autorização legislativa genérica
para contratação temporária e a permissão de prorrogação indefinida do prazo de
contratações temporárias.
STF. Plenário. ADI 3662/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 23/3/17 (Info 858).
OBS:
Exceção ao princípio do concurso público: A CF/88 instituiu o “princípio do concurso
público”, segundo o qual, em regra, a pessoa somente pode ser investida em cargo ou emprego
público após ser aprovada em concurso público (art. 37, II). Esse princípio, que na verdade é
uma regra, possui exceções que são estabelecidas no próprio texto constitucional.
Assim, a CF/88 prevê situações em que o indivíduo poderá ser admitido no serviço público
mesmo sem concurso. Podemos citar como exemplos:
a) cargos em comissão (art. 37, II);
b) servidores temporários (art. 37, IX);
c) cargos eletivos;
d) nomeação de alguns juízes de Tribunais, Desembargadores, Ministros de Tribunais;
e) ex-combatentes (art. 53, I, do ADCT);
f) agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias (art. 198, § 4º).
Vamos estudar agora apenas a hipótese dos servidores temporários (art. 37, IX, da CF/88).
Servidores temporários: Os servidores que são contratados com base nesse fundamento são
chamados de servidores temporários.
Características: Para ser válida, a contratação com fundamento no inciso IX deve ser...
- feita por tempo determinado (a lei prevê prazos máximos);
- com o objetivo de atender a uma necessidade temporária; e
- que se caracterize como sendo de excepcional interesse público.
Processo seletivo simplificado: A contratação com base no inciso IX ocorre sem a realização de
prévio concurso público. A lei, no entanto, pode prever critérios e exigências a serem
observadas pelo administrador no momento de contratar. Ex.: a Lei 8.745/93, que rege o tema
em nível federal, exige, em regra, que os profissionais a serem contratados sejam submetidos
a uma espécie de processo seletivo simplificado (art. 3º), ou seja, um procedimento mais
simples que o concurso público, por meio do qual, no entanto, se possa selecionar os melhores
candidatos à função e de maneira impessoal. A contratação para atender às necessidades
decorrentes de calamidade pública, de emergência ambiental e de emergências em saúde
pública prescindirá de processo seletivo.
Lei de cada ente deverá reger o tema: Repare que o inciso IX fala que LEI estabelecerá os casos
de contratação. Não se trata de uma só lei. O que esse dispositivo está afirmando é que cada
ente da Federação deverá editar a sua própria lei prevendo os casos de contratação por tempo
determinado. Não poderia uma só lei dispor sobre o tema porque é preciso que se respeite a
autonomia administrativa dos entes.
Ex.1: no âmbito federal, a lei que rege o tema é a Lei 8.745/93.
Ex.2: em Goiás, quem traz as hipóteses é a Lei estadual 3.664/00.
Ex.3: em Manaus, a contratação por prazo determinado deverá observar a Lei
municipal 1.425/2010.
Lei que institua hipóteses abrangentes e genéricas é inconstitucional: O STF entende que a lei
do ente federativo regulamentando o art. 37, IX, da CF/88 não poderá prever hipóteses
abrangentes e genéricas de contratações temporárias sem concurso público. Além disso, essa
lei deverá especificar a contingência fática que caracteriza a situação de emergência.
Exemplo: em um caso concreto, o STF analisou a constitucionalidade da LC 4/90, do Estado
do Mato Grosso, que dizia o seguinte:
Art. 263 Para atender a necessidade temporária de excepcional
interesse público, poderão ser efetuadas contratações de pessoal por
tempo determinado.
Art. 264 Consideram-se como de necessidade temporária de
excepcional interesse público as contratações que visem a:
(...)
VI - atender as outras situações motivadamente de urgência.
Os Ministros entenderam que o referido inciso VI desse art. 264 permite, de forma muito
genérica, a contratação temporária de servidores, o que se mostra inconstitucional. STF.
Plenário. ADI 3662/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 23/3/2017 (Info 858).
Lei que permita a prorrogação indefinida do prazo das contratações é inconstitucional: O art.
37, IX, da CF/88 afirma que a contratação deverá ocorrer por tempo determinado. Apesar
disso, algumas leis municipais e estaduais burlam essa regra e estabelecem a possibilidade de
os contratos temporários serem prorrogados indefinidamente, ou seja, sem limite de vezes.
Essa prática é considerada inconstitucional pelo STF.
Exemplo: veja o que prevê o § 1º do art. 264 da LC 4/90:
Art. 264 Consideram-se como de necessidade temporária de
excepcional interesse público as contratações que visem a:
(...)
§ 1º As contratações de que trata este artigo terão dotação específica
e não poderão ultrapassar o prazo de 06 (seis) meses, exceto nas
hipóteses dos incisos II, IV e VI, cujo prazo máximo será de 12 (doze)
meses, e inciso V, cujo prazo máximo será de 24 (vinte e quatro)
meses, prazos estes somente prorrogáveis se o interesse público,
justificadamente, assim o exigir ou até a nomeação por concurso
público.
O STF julgou inconstitucional essa parte final (em amarelo) do § 1º acima transcrito. Isso
porque ela permite a prorrogação indefinida do prazo de contratações temporárias, o que não
se coaduna com o art. 37, IX, da CF/88.
ATENÇÃO: neste caso concreto, o STF julgou inconstitucionais o inciso VI e o § 1º do art. 264
da LC 4/90-MT, mas modulou os efeitos da declaração de forma que somente irá surtir efeitos
um ano após a data da publicação da ata de julgamento. Em outras palavras, até lá, as pessoas
que estão contratadas temporariamente com base nesses dispositivos poderão continuar
trabalhando.
25.3. Contratação por tempo determinado para atendimento de necessidade temporária de
excepcional interesse público e possíveis efeitos jurídicos decorrentes de tal contratação – (Sem
Info) – (TJMG-2018)
25.4. Lei que prevê hipóteses genéricas de contratação temporária é inconstitucional. Lei que
autoriza contratação temporária para projetos educacionais ordinários é inconstitucional –
(Info 829)
O art. 19-A da Lei nº 8.036/90 deve ser aplicado também nas hipóteses em que a pessoa foi
contratada temporariamente, nos termos do art. 37, IX da CF/88?
A 1ª Turma do STF decidiu que SIM. O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS é
devido aos servidores temporários, nas hipóteses em há declaração de nulidade do contrato
firmado com a Administração Pública, consoante decidido pelo Plenário do STF, na análise
do RE 705.140-RG, Rel. Min. Teori Zavascki (STF. 1ª Turma. ARE 839606 AgR, Rel. Min. Luiz
Fux, julgado em 11/11/2014).
É importante, no entanto, ressaltar que o STJ possui precedente mais antigo em sentido
contrário: STJ. 1ª Turma. AgRg nos EDcl no AREsp 45.467-MG, Rel. Min. Arnaldo Esteves
Lima, julgado em 5/3/2013 (Info 518).
Nos processos que tramitam no TCU não é necessária a intimação pessoal da data em que
será realizada a sessão de julgamento, bastando que essa informação seja publicada em
veículo de comunicação oficial (imprensa oficial).
STF. 2ª Turma. MS 28644/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 12/8/14 (Info 752).
(TJPI – 2015 – FCC): O tombamento é constituído mediante ato do Poder Executivo que, observada
a legislação pertinente, estabelece o alcance da limitação ao direito de propriedade, ato emanado do
Poder Legislativo não podendo alterar essas restrições. De acordo com o ordenamento jurídico
brasileiro vigente, tal como compreendido pelo Supremo Tribunal Federal, a afirmação
está correta, eis que o ato do Poder Legislativo, alterando tombamento concretamente
fixado por ato do Poder Executivo, seria incompatível com o princípio da harmonia entre
os Poderes. BL: ADI 1706-4 do STF.
As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios são bens da União (art. 20, XI, da CF/88)
e, portanto, não podem ser consideradas como terras devolutas de domínio do Estado-
membro.
STF. Plenário. ACO 362/MT e ACO 366/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 16/8/17 (Info 873).
OBS:
Desapropriação indireta: A desapropriação indireta ocorre quando o Estado (Poder Público)
se apropria de um bem sem observar as formalidades previstas em lei para a desapropriação,
dentre as quais a declaração indicativa de seu interesse e a indenização prévia. Trata-se de um
verdadeiro esbulho possessório praticado pelo Poder Público. A desapropriação indireta é
também chamada de apossamento administrativo.
Terras devolutas: Terras devolutas são aquelas que não tem nenhuma utilização pública
específica e que não se encontram, por qualquer título, integradas ao domínio privado. As
terras devolutas pertencem, em regra, aos Estados-membros, com exceção daquelas
indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias
federais de comunicação e à preservação ambiental, que são de propriedade da União (art. 20,
II).
Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação: O Estado de Mato Grosso ajuizou
contra a União e a Funai ação ordinária de indenização por desapropriação indireta, sob a
alegação de que as rés teriam incluído, dentro do perímetro de áreas indígenas, terras
devolutas que pertenceriam ao Estado autor. Em outras palavras, Mato Grosso alegou que a
União, no momento de fazer a demarcação de terras indígenas, utilizou parte de terras
devolutas que pertenceriam ao Estado, razão pela qual ele deveria ser indenizado por isso.
O pedido foi aceitou pelo STF? NÃO. O STF julgou improcedente a ação.
Os laudos antropológicos juntados aos autos deixaram claro que as áreas em questão eram
habitadas historicamente por indígenas. Diante disso, o STF reconheceu que a titularidade das
terras não é do Estado do Mato Grosso, sendo indevida, portanto, a indenização pleiteada.
Vale ressaltar que, desde a Constituição de 1934 é reconhecida a proteção da posse dos
indígenas das terras que tradicionalmente ocupam. Assim, desde a Carta de 1934, não se pode
caracterizar as terras ocupadas pelos indígenas como devolutas.
30.2. Continuam pertencendo à União os terrenos de marinha situados em ilha costeira que
seja sede de Município – (Info 862) – IMPORTANTE!!!
A EC 46/05 não interferiu na propriedade da União, nos moldes do art. 20, VII, da
Constituição Federal, sobre os terrenos de marinha e seus acrescidos situados em ilhas
costeiras sede de Municípios.
STF. Plenário. RE 636199/ES, Rel. Min. Rosa Weber, j. 27/4/17 (repercussão geral) (Info 862).
A Lei 11.952/2009 trata sobre a regularização fundiária das ocupações incidentes em terras
situadas em áreas da União, no âmbito da Amazônia Legal.
O STF deu intepretação conforme ao art. 4º, § 2º da Lei para dizer que é inconstitucional
qualquer interpretação que permita a regularização fundiária das terras ocupadas por
quilombolas e outras comunidades tradicionais da Amazônia Legal em nome de terceiros
ou de forma a descaracterizar o modo de apropriação da terra por esses grupos. Em outras
palavras, os quilombolas e outras comunidades tradicionais não podem perder suas terras
em caso de regularização fundiária.
O STF também deu intepretação conforme ao art. 13 da Lei para afastar quaisquer
interpretações que concluam pela desnecessidade de fiscalização dos imóveis rurais até
quatro módulos fiscais, devendo o ente federal utilizar-se de todos os meios referidos em
suas informações para assegurar a devida proteção ambiental e a concretização dos
propósitos da norma para, somente então, ser possível a dispensa da vistoria prévia, como
condição para a inclusão da propriedade no programa de regularização fundiária de
imóveis rurais de domínio público na Amazônia Legal. Em outras palavras, a União deve
utilizar-se de todos os meios para assegurar a devida proteção ambiental e a concretização
dos propósitos da norma, para somente então ser possível a dispensa da vistoria prévia
como condição para inclusão da propriedade no programa de regularização fundiária de
imóveis rurais de domínio público na Amazônia Legal.
STF. Plenário. ADI 4269/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 18/10/2017 (Info 882).
OBS:
Art. 4º (...)
§ 2º As terras ocupadas por comunidades quilombolas ou
tradicionais que façam uso coletivo da área serão regularizadas de
acordo com as normas específicas, aplicando-se-lhes, no que couber,
os dispositivos desta Lei.
Art. 13. Os requisitos para a regularização fundiária dos imóveis de
até 4 (quatro) módulos fiscais serão averiguados por meio de
declaração do ocupante, sujeita a responsabilização nas esferas
penal, administrativa e civil, dispensada a vistoria prévia.
Quais são os requisitos para que o acordo seja celebrado? Para que o acordo de leniência seja
celebrado deverão ser preenchidos, cumulativamente, os seguintes requisitos:
I - a pessoa jurídica seja a primeira a se manifestar sobre seu interesse
em cooperar para a apuração do ato ilícito;
II - a pessoa jurídica cesse completamente seu envolvimento na
infração investigada a partir da data de propositura do acordo;
III - a pessoa jurídica admita sua participação no ilícito e coopere
plena e permanentemente com as investigações e o processo
administrativo, comparecendo, sob suas expensas, sempre que
solicitada, a todos os atos processuais, até seu encerramento.
A colaboração da pessoa jurídica precisa ser eficaz? SIM. É necessário que a pessoa jurídica
colabore efetivamente com as investigações e com o processo e dessa colaboração deve resultar:
I - a identificação dos demais envolvidos na infração, quando
couber; e
II - a obtenção célere de informações e documentos que comprovem
o ilícito sob apuração.
No acordo de leniência serão estipuladas as condições necessárias para que seja assegurada a
efetividade da colaboração e o resultado útil do processo.
O Ministério Público pode celebrar acordo de leniência? Existe uma polêmica sobre isso. O
art. 16, § 10 da Lei 12.846/13 afirma que “a Controladoria-Geral da União - CGU é o órgão
competente para celebrar os acordos de leniência no âmbito do Poder Executivo federal, bem como no
caso de atos lesivos praticados contra a administração pública estrangeira.” A posição que prevalece,
contudo, é a de que, mesmo no silêncio da Lei, o Ministério Público pode sim fazer o acordo
de leniência porque isso decorre do art. 129 da CF/88.
Cuidado para não confundir: Existe um acordo de leniência que é previsto na Lei 12.529/2011.
Ele é diferente do que estamos estudando aqui. O acordo de leniência da Lei 12.529/11 “é um
instrumento de defesa da concorrência por meio do qual um ou mais agentes que praticaram
infração à ordem econômica cooperam voluntariamente com as investigações em troca de
redução da pena ou até mesmo do perdão total. Trata-se de instituto equivalente à delação
premiada do direito penal." (RAMOS, André Luiz Santa Cruz; GUTERRES, Thiago Martins.
Lei Antitruste. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 163).
A Lei 12.514/11, que trata sobre as contribuições (anuidades) devidas aos Conselhos
Profissionais, é constitucional.
Sob o ponto de vista formal, esta Lei, apesar de ser fruto de uma MP que originalmente
dispunha sobre outro assunto, não pode ser declarada inconstitucional porque foi editada
antes de o STF declarar ilegítima a prática do “contrabando legislativo” (ADI 5127/DF).
Ainda quanto ao aspecto formal, esta Lei não trata sobre normas gerais de Direito
Tributário, motivo pelo qual não precisava ser veiculada por lei complementar.
Sob o ponto de vista material, a Lei respeitou os princípios da capacidade contributiva, da
vedação ao confisco e da legalidade.
STF. Plenário. ADI 4697/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 06/10/16 (Info 842).
OBS:
Qual é a natureza jurídica dos Conselhos Profissionais (exs.: CREA, CRM, COREN, CRO
etc.)? Os Conselhos Profissionais possuem natureza jurídica de autarquias federais. Exceção: a
OAB que, segundo a concepção majoritária, é um serviço público independente, categoria
ímpar no elenco das personalidades jurídicas existentes no direito brasileiro.
Anuidades: Os Conselhos podem cobrar um valor todos os anos dos profissionais que integram
a sua categoria. A isso se dá o nome de anuidade (art. 4º, II, da Lei 12.514/11). Veja o que diz
também a Lei nº 11.000/2004:
Art. 2º Os Conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas
são autorizados a fixar, cobrar e executar as contribuições anuais,
devidas por pessoas físicas ou jurídicas, bem como as multas e os
preços de serviços, relacionados com suas atribuições legais, que
constituirão receitas próprias de cada Conselho.
Exercem atividade tipicamente pública: Esses Conselhos são criados por lei e possuem
personalidade jurídica de direito público, exercendo uma atividade tipicamente pública, qual
seja, a fiscalização do exercício profissional. Os Conselhos são dotados de poder de polícia e
poder arrecadador. STF. 1ª Turma. MS 28469, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 09/06/2015.
Qual é a natureza jurídica dessas anuidades? Tais contribuições são consideradas tributo,
sendo classificadas como “contribuições profissionais ou corporativas”, estando prevista no
art. 149 da CF/88:
Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições
sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das
categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua
atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III,
e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente
às contribuições a que alude o dispositivo.
Fato gerador: O fato gerador das anuidades é a existência de inscrição no conselho, ainda que
por tempo limitado, ao longo do exercício (art. 5º da Lei nº 12.514/2011).
Competência: A execução fiscal, nesse caso, é de competência da Justiça Federal, tendo em vista
que os Conselhos são autarquias federais (Súmula 66 do STJ).
Exceção: OAB. O STF decidiu que a OAB, quando vai contratar seus empregados, não
precisa realizar concurso público (STF ADI 3026).
(MPGO-2016): Os Conselhos de fiscalização profissional, por possuírem natureza jurídica
de autarquia corporativa, devem se submeter aos princípios constitucionais concernentes
à Administração Pública, inclusive o da exigência de realização de concurso público para
contratação de pessoal. BL: STF, MS 28469 e RE 758168 AgR.
33.5. Para o exercício de toda e qualquer profissão, é necessário que a pessoa se inscreva no
respectivo Conselho Profissional (ex: o músico é obrigado a se inscrever na Ordem dos
Músicos do Brasil)? – (Sem Info) – (MPDFT-2013)
(MPDFT-2013): Apenas quando houver potencial lesivo na atividade é que pode ser
exigida inscrição em conselho de fiscalização profissional. BL: STF, RE 414426.
34. FUNDEF
34.1. União deverá indenizar Estados prejudicados com o cálculo incorreto do VMNA –
(Info 876)