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Direito Administrativo STF

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RESUMO DOS INFORMATIVOS - SITE DIZER O DIREITO

DIREITO ADMINISTRATIVO

Atualizado em 20/04/2019: julgados + questões de concurso.

Pontos atualizados: nº 16 (Info 923 – 2 julgados); nº 07 (Info 924); nº 16 (Info 928); nº 07


(Info 932); nº 16 (Info 932); nº 12 (Info 932); nº 04 (Info 934)

1. PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS
1.1. AUTOTUTELA: Recebimento de auxílio-moradia com má-fé e inexistência de
decadência – (Info 839)

Servidor que recebeu auxílio-moradia apresentando declaração falsa de que havia se


mudado para outra cidade terá que ressarcir o erário e devolver os valores recebidos mesmo
que já se tenha passado mais de 5 anos desde a data em que o pagamento foi autorizado.
STF. 1ª Turma. MS 32.569/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, rel. p/ o ac. Min. Edson Fachin, j.
13/09/16 (Info 839).

1.2. Princípio da intranscendência e atos praticados pelas gestões anteriores – (Info 825) -
ATENÇÃO!!! = CONCURSOS FEDERAIS!!! – (TCEPR-2016)

Segundo a posição que prevalece no STF, se a irregularidade no convênio foi praticada pelo
gestor anterior e a gestão atual, depois que assumiu, tomou todas as medidas para ressarcir
o erário e corrigir as falhas (exs: apresentou todos os documentos ao órgão fiscalizador,
ajuizou ações de ressarcimento contra o antigo gestor etc.), neste caso, o ente (Estado ou
Município) não poderá ser incluído nos cadastros de inadimplentes da União.
Assim, segundo esta acepção, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções proíbe
a aplicação de sanções às administrações atuais por atos de gestão praticados por
administrações anteriores.
Segundo o Min. Luiz Fux, “não se pode inviabilizar a administração de quem foi eleito
democraticamente e não foi responsável diretamente pelas dificuldades financeiras que
acarretaram a inscrição combatida”. Penso que seja a posição que prevalece no STF.
A própria AGU admite esta tese: Súmula 46-AGU: Será liberada da restrição decorrente da
inscrição do município no SIAFI ou CADIN a prefeitura administrada pelo prefeito que
sucedeu o administrador faltoso, quando tomadas todas as providências objetivando o
ressarcimento ao erário.
Nesse sentido: STF. 1ª Turma. AC 2614/PE, AC 781/PI e AC 2946/PI, Rel. Min. Luiz Fux,
julgados em 23/6/2015 (Info 791).

Vale ressaltar, no entanto, que o Min. Marco Aurélio recentemente manifestou-se


contrariamente à tese afirmando que: A inscrição do nome do Estado-Membro em cadastro
federal de inadimplentes em face de ações e/ou omissões de gestões anteriores não configura
ofensa ao princípio da intranscendência. Vigora, no âmbito da Administração Pública, o
princípio da impessoalidade, previsto no art. 37, CF/88. A relação jurídica envolve a União e
o ente federal, e não a União e certo Governador ou outro agente. O governo se alterna
periodicamente nos termos da soberania popular, mas o Estado é permanente. A mudança
de comando político não exonera o Estado das obrigações assumidas. No caso concreto (ACO
732/AP), o STF julgou o pedido de forma favorável ao Estado porque a União não havia
respeitado o devido processo legal. Dessa forma, esta argumentação do Min. Marco Aurélio
não foi adotada pela Turma como razão de decidir. Por isso, penso que a posição do referido
Ministro é minoritária e, em concursos públicos, acredito que ainda se deve adotar o
entendimento no sentido de que é possível aplicar o princípio da intranscendência para esta
situação.
STF. 1ª Turma. ACO 732/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 10/5/16 (Info 825).

(TCEPR-2016-CESPE): Quando a União firma um convênio com um estado da Federação, a


relação jurídica envolve a União e o ente federado e não a União e determinado governador
ou outro agente. O governo se alterna periodicamente nos termos da soberania popular, mas
o estado federado é permanente. A mudança de comando político não exonera o estado das
obrigações assumidas. Nesse sentido, o STF tem entendido que a inscrição do nome de
estado-membro em cadastro federal de inadimplentes devido a ações e (ou) omissões de
gestões anteriores não configura ofensa ao princípio da administração pública denominado
princípio da intranscendência. BL: Info 825, STF.

OBS:
O que é o princípio da intranscendência subjetiva das sanções? Significa que não podem ser
impostas sanções e restrições que superem a dimensão estritamente pessoal do infrator e
atinjam pessoas que não tenham sido as causadoras do ato ilícito. Na jurisprudência do STF
encontramos dois exemplos de aplicação desse princípio em casos envolvendo inscrição de
Estados e Municípios nos cadastros de inadimplentes da União:

1ª acepção: quando a irregularidade foi praticada pela gestão anterior: Existem julgados do
STF afirmando que se a irregularidade no convênio foi praticada pelo gestor anterior e a gestão
atual, depois que assumiu, tomou todas as medidas para ressarcir o erário e corrigir as falhas
(exs: apresentou todos os documentos ao órgão fiscalizador, ajuizou ações de ressarcimento
contra o antigo gestor etc.), neste caso, o ente (Estado ou Município) não poderá ser incluído
nos cadastros de inadimplentes da União. Segundo esta acepção, o princípio da
intranscendência subjetiva das sanções proíbe a aplicação de sanções às administrações
atuais por atos de gestão praticados por administrações anteriores. Logo, deve-se aplicar o
princípio da intranscendência subjetiva das sanções, impedindo que a Administração atual seja
punida com a restrição na celebração de novos convênios ou recebimento de repasses federais.
Nesse sentido: STF. 1ª Turma. AC 2614/PE, AC 781/PI e AC 2946/PI, Rel. Min. Luiz Fux,
julgados em 23/6/2015 (Info 791).

2ª acepção: quando a irregularidade foi praticada por uma entidade do Estado/Município ou


pelos outros Poderes que não o Executivo: O princípio da intranscendência subjetiva das
sanções pode ser aplicado também nas situações em que uma entidade estadual/municipal
(ex: uma autarquia) descumpriu as regras do convênio e a União inscreve não apenas essa
entidade, como também o próprio ente (Estado/Município) nos cadastros restritivos. (STF.
Plenário. ACO 1848 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, j. 06/11/2014)

Também viola o princípio da intranscendência quando o Estado-membro é incluído nos


cadastros de inadimplentes da União por irregularidades praticadas pelos outros Poderes que
não o Executivo: O Estado só pode sofrer restrições nos cadastros de devedores da União por
atos praticados pelo Poder Executivo. Dessa forma, atos do Legislativo, Judiciário, Ministério
Público, Tribunal de Contas e dos entes da Administração Pública indireta (como as
autarquias e as empresas públicas) não podem gerar sanções da União contra o Estado,
diante da ausência de ingerência direta do Executivo sobre eles. (STF. Plenário. ACO 1.612-
AgR, Rel. Min. Celso de Mello, DJe 13/2/2015; STF. Plenário. ACO 2099 AgR, Rel. Min. Teori
Zavascki, julgado em 18/12/2015).

1.3. Observância do devido processo legal, contraditório e ampla defesa antes da inclusão
de entes federativos nos cadastros federais de inadimplência – (Info 825) – ATENÇÃO!!!
CONCURSOS FEDERAIS!!! – (TCEPR-2016)

É necessária a observância da garantia do devido processo legal, em especial, do


contraditório e da ampla defesa, relativamente à inscrição de entes públicos em cadastros
federais de inadimplência.
Assim, a União, antes de incluir Estados-membros ou Municípios nos cadastros federais de
inadimplência (exs: CAUC, SIAF) deverá assegurar o devido processo legal, o contraditório
e a ampla defesa.
STF. 1ª Turma. ACO 732/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 10/5/16 (Info 825).
STF. Plenário. ACO 1995/BA, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 26/3/15 (Info 779).
1.4. Princípio da intranscendência subjetiva na inscrição de unidade federativa em
cadastro de inadimplentes – (Info 791) – ATENÇÃO!!! ADVOCACIA PÚBLICA!!!

O Estado de Pernambuco celebrou convênio com a União por meio do qual recebeu
determinadas verbas para realizar projetos de interesse público no Estado, assumindo o
compromisso de prestar contas da utilização de tais valores perante a União e o TCU. Ocorre
que o Estado não prestou contas corretamente, o que fez com que a União o inserisse no
CAUC. Ao julgar uma ação proposta pelo Estado-membro contra a União, o STF exarou duas
importantes conclusões:
1) Viola o princípio do devido processo legal a inscrição de unidade federativa em cadastros
de inadimplentes antes de iniciada e julgada tomada de contas especial pelo Tribunal de
Contas da União. Em casos como esse, mostra-se necessária a tomada de contas especial e
sua respectiva conclusão, a fim de reconhecer que houve realmente irregularidades. Só a
partir disso é possível a inscrição do ente nos cadastros de restrição ao crédito organizados
e mantidos pela União.

2) O princípio da intranscendência subjetiva impede que sanções e restrições superem a


dimensão estritamente pessoal do infrator e atinjam pessoas que não tenham sido as
causadoras do ato ilícito. Assim, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções
proíbe a aplicação de sanções às administrações atuais por atos de gestão praticados por
administrações anteriores. A inscrição do Estado de Pernambuco no CAUC ocorreu em razão
do descumprimento de convênio celebrado por gestão anterior, ou seja, na época de outro
Governador. Ademais, ficou demonstrado que os novos gestores estavam tomando as
providências necessárias para sanar as irregularidades verificadas. Logo, deve-se aplicar, no
caso concreto, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções, impedindo que a
Administração atual seja punida com a restrição na celebração de novos convênios ou
recebimento de repasses federais.
STF. 1ª Turma. AC 2614/PE, AC 781/PI e AC 2946/PI, Rel. Min. Luiz Fux, julgados em
23/6/2015 (Info 791).

1.5. Princípio da autotutela e necessidade de se garantir contraditório e ampla defesa –


(Infos 732 e 763)

A Administração Pública pode anular seus próprios atos quando estes forem ilegais. No
entanto, se a invalidação do ato administrativo repercute no campo de interesses
individuais, faz-se necessária a instauração de processo administrativo que assegure o
devido processo legal e a ampla defesa.
Assim, a prerrogativa de a Administração Pública controlar seus próprios atos não dispensa
a observância do contraditório e ampla defesa prévios em âmbito administrativo.
STF. 2ª Turma. RMS 31661/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, j. 10/12/13 (Info 732).
STF. Plenário. MS 25399/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 15/10/14 (Info 763).

1.6. Princípio da Publicidade: Divulgação de vencimentos dos servidores públicos com


relação nominal – (Info 782) – (TJSP-2015)

É legítima a publicação, inclusive em sítio eletrônico mantido pela Administração Pública,


dos nomes de seus servidores e do valor dos correspondentes vencimentos e vantagens
pecuniárias.
STF. Plenário. ARE 652777/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 23/4/15 (repercussão geral) (Info
782)
(TJSP-2015-VUNESP): A divulgação, nos sites dos respectivos órgãos administrativos, de
nomes e vencimentos de servidores públicos, observado o decidido pelo Supremo Tribunal
Federal no julgamento do ARE 652.777, é medida que deve ser reconhecida como legítima
diante dos princípios constitucionais que regulam a atividade pública e da Lei federal nº
12.527/11. BL: Info 782, STF.
OBS: Lembrando de outro julgado em que o Supremo exarou o seguinte:
(...) "Não cabe, no caso, falar de intimidade ou de vida privada, pois
os dados objeto da divulgação em causa dizem respeito a agentes
públicos enquanto agentes públicos mesmos; ou, na linguagem da
própria Constituição, agentes estatais agindo “nessa qualidade” (§
6º do art. 37). E quanto à segurança física ou corporal dos servidores,
seja pessoal, seja familiarmente, claro que ela resultará um tanto ou
quanto fragilizada com a divulgação nominalizada dos dados em
debate, mas é um tipo de risco pessoal e familiar que se atenua com
a proibição de se revelar o endereço residencial, o CPF e a CI de cada
servidor. No mais, é o preço que se paga pela opção por uma carreira
pública no seio de um Estado republicano" (STF – SS 3902 AgR-
segundo)

É dizer, deve-se haver alguns cuidados para não se revelar CPF, RG e endereço dos servidores,
mas não pode haver negativa do nome do servidor e do seu subsídio ou remuneração.

2. NEPOTISMO
2.1. A nomeação da esposa do prefeito como Secretária Municipal não configura, por si só,
nepotismo e ato de improbidade administrativa – (Info 914) – IMPORTANTE!!!

A nomeação do cônjuge de prefeito para o cargo de Secretário Municipal, por se tratar de


cargo público de natureza política, por si só, não caracteriza ato de improbidade
administrativa.
STF. 2ª Turma. Rcl 22339 AgR/SP, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes,
j. 4/9/18 (Info 914).

Em regra, a proibição da SV 13 não se aplica para cargos públicos de natureza política, como,
por exemplo, Secretário Municipal.
Assim, a jurisprudência do STF, em regra, tem excepcionado a regra sumulada e garantido
a permanência de parentes de autoridades públicas em cargos políticos, sob o fundamento
de que tal prática não configura nepotismo.
Exceção: poderá ficar caracterizado o nepotismo mesmo em se tratando de cargo político caso
fique demonstrada a inequívoca falta de razoabilidade na nomeação por manifesta ausência
de qualificação técnica ou inidoneidade moral do nomeado.
STF. 1ª Turma. Rcl 28024 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 29/05/2018.
OBS: Vale ressaltar que a simples dissonância entre a área de formação e a área fim do cargo
não é suficiente, por si só, para se afirmar a inequívoca ausência de razoabilidade da nomeação.
Em outras palavras, o simples fato de a pessoa nomeada não ser daquela área não é motivo,
por si só, para se considerar que tenha havido nepotismo.

2.2. Não haverá nepotismo se a pessoa nomeada possui um parente no órgão, mas sem
influência hierárquica sobre a nomeação – (Info 815)

Não há nepotismo na nomeação de servidor para ocupar o cargo de assessor de controle


externo do Tribunal de Contas mesmo que seu tio (parente em linha colateral de 3º grau) já
exerça o cargo de assessor-chefe de gabinete de determinado Conselheiro, especialmente
pelo fato de que o cargo do referido tio não tem qualquer poder legal de nomeação do
sobrinho.
A incompatibilidade da prática enunciada na SV 13 com o art. 37 da CF/88 não decorre
diretamente da existência de relação de parentesco entre pessoa designada e agente político
ou servidor público, mas de presunção de que a escolha para ocupar cargo de direção, chefia
ou assessoramento tenha sido direcionado à pessoa com relação de parentesco com quem
tenha potencial de interferir no processo de seleção.
STF. 2ª Turma. Rcl 18564/SP, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o acórdão Min. Dias
Toffoli, julgado em 23/2/16 (Info 815).
OBS:
Não há nepotismo se a pessoa que será nomeada para o órgão público possui ali um parente,
mas este não detém competência legal para selecioná-la ou nomeá-la para o cargo de chefia,
direção ou assessoramento pleiteado, ou não exerce ascendência hierárquica sobre quem
possui essa competência.
Vedar o acesso de qualquer cidadão a cargo público apenas por conta de relação de parentesco
com servidor público que não tenha competência para selecionar ou nomear para o cargo
pleiteado é, em alguma medida, negar o princípio constitucional da impessoalidade.
Além disso, não existia, no caso concreto, nenhum indício de a autoridade nomeante tivesse
algum parentesco com o nomeado nem suspeita de que estaria havendo designações recíprocas
mediante ajuste ("nepotismo cruzado").
Por fim, importante esclarecer que, ao se analisar a estrutura administrativa da Corte de Contas
não se verifica a existência de hierarquia entre os cargos de chefe de gabinete e de assessor de
controle externo.

2.3. Norma que impede nepotismo no serviço público não alcança servidores de
provimento efetivo – (Info 786)

A Constituição do Estado do Espírito Santo prevê, em seu art. 32, VI, que é “vedado ao
servidor público servir sob a direção imediata de cônjuge ou parente até segundo grau civil”.
Foi proposta uma ADI contra esta norma.
O STF julgou a norma constitucional, mas decidiu dar interpretação conforme à
Constituição, no sentido de o dispositivo ser válido somente quando incidir sobre os cargos
de provimento em comissão, função gratificada, cargos de direção e assessoramento. Em
outras palavras, o STF afirmou que essa vedação não pode alcançar os servidores admitidos
mediante prévia aprovação em concurso público, ocupantes de cargo de provimento efetivo,
haja vista que isso poderia inibir o próprio provimento desses cargos, violando, dessa forma,
o art. 37, I e II, da CF/88, que garante o livre acesso aos cargos, funções e empregos públicos
aos aprovados em concurso público.
STF. Plenário. ADI 524/ES, rel. orig. Min. Sepúlveda Pertence, red. p/ o acórdão Min. Ricardo
Lewandowski, j. 20/5/2015 (Info 786).

3. PODER DE POLÍCIA
3.1. Poder de polícia de trânsito e guardas municipais – (Info 793) – IMPORTANTE!!! –
(MPSP-2015)

As guardas municipais podem realizar a fiscalização de trânsito?


SIM. As guardas municipais, desde que autorizadas por lei municipal, têm competência
para fiscalizar o trânsito, lavrar auto de infração de trânsito e impor multas.
O STF definiu a tese de que é constitucional a atribuição às guardas municipais do exercício
do poder de polícia de trânsito, inclusive para a imposição de sanções administrativas
legalmente previstas (ex: multas de trânsito).
STF. Plenário.RE 658570/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, j. 6/8/15 (Info 793).

(MPSC-2016): A fiscalização do trânsito, com aplicação das sanções administrativas


legalmente previstas, embora possa se dar ostensivamente, constitui mero exercício de
poder de polícia, não havendo, portanto, óbice ao seu exercício por entidades não policiais.

4. LICITAÇÃO
4.1. Correios podem ser contratados sem licitação, com fundamento no art. 24, VIII, da Lei
8.666/93, para a prestação de serviços de logística – (Info 934) – IMPORTANTE!!!
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), empresa pública federal, pode ser
contratada sem licitação, com fundamento no art. 24, VIII, da Lei nº 8.666/93, para a
prestação de serviços de logística:
Art. 24 (...) VIII - para a aquisição, por pessoa jurídica de direito público interno, de bens
produzidos ou serviços prestados por órgão ou entidade que integre a Administração
Pública e que tenha sido criado para esse fim específico em data anterior à vigência desta
Lei, desde que o preço contratado seja compatível com o praticado no mercado;
A ECT preenche todos os requisitos legais necessários à possibilidade de sua contratação
direta, haja vista integrar a Administração e ter sido criada em data anterior à da Lei nº
8.666/93 para prestação de serviços postais, dentre os quais se incluem os serviços de
logística integrada.
STF. 2ª Turma. MS 34939/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/3/2019 (Info 934).

4.2. É inconstitucional lei estadual que exige nova certidão negativa não prevista na Lei
8.666/93 – (Info 838) – IMPORTANTE!!!

É inconstitucional lei estadual que exija Certidão negativa de Violação aos Direitos do
Consumidor dos interessados em participar de licitações e em celebrar contratos com órgãos
e entidades estaduais.
Esta lei é inconstitucional porque compete privativamente à União legislar sobre normas
gerais de licitação e contratos (art. 22, XXVII, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 3.735/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 8/9/16 (Info 838).
OBS:
Certidão de Violação aos Direitos do Consumidor (CVDC): O Estado do Mato Grosso do Sul
editou uma lei prevendo que para a pessoa (física ou jurídica) participar de licitações ou assinar
contratos com a Administração Pública estadual acima de determinado valor, ela deveria
apresentar uma certidão negativa de violação aos direitos do consumidor. De acordo com a lei,
a pessoa ficaria impedida de tirar essa certidão negativa se já tivesse sido condenada,
administrativa ou judicialmente, por ofensa a direitos do consumidor, nos últimos 5 anos.

Essa Lei estadual é constitucional? NÃO.

Estados, DF e Municípios podem suplementar normas gerais fixadas pela União: A


Constituição previu que compete privativamente à União fixar as normas gerais sobre
licitações e contratos:

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


(...)
XXVII – normas gerais de licitação e contratação, em todas as
modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e
fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios,
obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e
sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III;

Isso significa que os Estados, DF e os Municípios podem editar leis tratando sobre licitações e
contratos, desde que sejam referentes a normas “não gerais”. Em outras palavras, tais entes
podem suplementar as normas gerais fixadas pela União, conforme autorizam os arts. 24, § 2º,
25, §1º, e 30, II:

Art. 24 (...)
§ 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não
exclui a competência suplementar dos Estados.

Art. 25 (...)
§ 1º - São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam
vedadas por esta Constituição.

Art. 30. Compete aos Municípios:


II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;
Assim, a ordem constitucional reconhece, em favor dos Estados-membros, autonomia para
criar direito em matéria de licitações e contratos independentemente de autorização formal da
União. Todavia, essa autonomia não é incondicionada, devendo ser exercida apenas para a
suplementação das normas gerais expedidas pela União.

Requisitos para que a suplementação feita pelos Estados, DF e Municípios seja válida: Para
se analisar se a suplementação feita pelos Estados, DF e Municípios foi válida ou não, deverá
ser feito um exame em duas etapas:
1ª) identificar quais são as normas gerais fixadas pela União no caso concreto como modelo
nacional;
2ª) verificar se as inovações feitas pelo legislador estadual, distrital ou municipal sobre o tema
são compatíveis com as normas gerais impostas pela União.

Lei do Estado do MS afrontou as normas gerais fixadas pela União: O principal diploma que
trata sobre licitações e contratos é a Lei nº 8.666/93. Nela, a União fixou as normas gerais sobre
o tema. A Lei nº 8.666/93 exige algumas certidões referentes à regularidade fiscal e trabalhista
(art. 29), mas não faz qualquer exigência quanto à inexistência de condenações relacionadas
com a violação de direitos do consumidor. Assim, a lei editada pelo Estado do MS criou novas
condições que somente lei federal poderia prever. Ao criar requisito de habilitação obrigatório
para a maioria dos contratos estaduais, o Estado-membro se arvorou na condição de intérprete
primeiro do direito constitucional de participar de licitações. Criou, ainda, uma presunção
legal, de sentido e alcance amplíssimos, segundo a qual a existência de registros desabonadores
nos cadastros públicos de proteção do consumidor seria motivo suficiente para justificar o
impedimento à contratação de pessoas físicas e jurídicas pela Administração local.
A lei estadual impugnada introduziu um requisito genérico e inteiramente novo para
habilitação em qualquer licitação. Ao assim prever, a legislação estadual afrontou as normas
gerais do ordenamento nacional de licitações e contratos e se apropriou de competência da
União.

4.3. É constitucional lei estadual que determina que a Administração Pública irá,
preferencialmente, utilizar “softwares” livres – (Info 780)

O Governo do Rio Grande do Sul editou uma lei estadual determinando que a
administração pública do Estado, assim como os órgãos autônomos e empresas sob o
controle do Estado utilizarão preferencialmente em seus sistemas e equipamentos de
informática programas abertos, livres de restrições proprietárias quanto à sua cessão,
alteração e distribuição (“softwares” livres).
Determinado partido político ajuizou uma ADI contra essa lei afirmando que ela teria
inconstitucionalidades materiais e formais.
O STF julgou improcedente a ADI e afirmou que a lei é constitucional.
A preferência pelo “software” livre, longe de afrontar os princípios constitucionais da
impessoalidade, da eficiência e da economicidade, promove e prestigia esses postulados,
além de viabilizar a autonomia tecnológica do País.
Não houve violação à competência da União para legislar sobre licitações e contratos porque
a competência da União para legislar sobre licitações e contratos fica restrita às normas
gerais, podendo os Estados complementar as normas gerais federais.
A referida lei também não viola o art. 61, II, “b”, da CF/88 porque a competência para legislar
sobre “licitação” não é de iniciativa reservada ao chefe do Poder Executivo, podendo ser
apresentada por um parlamentar, como foi o caso dessa lei.
STF. Plenário. ADI 3059/RS, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux,
julgado em 9/4/2015 (Info 780).

5. CONTRATOS ADMINISTRATIVOS
5.1. O inadimplemento dos encargos trabalhistas dos empregados do contratado não
transfere automaticamente ao Poder Público a responsabilidade pelo seu pagamento – (Info
862) – IMPORTANTE!!!
O inadimplemento dos encargos trabalhistas dos empregados do contratado não transfere
automaticamente ao Poder Público contratante a responsabilidade pelo seu pagamento, seja
em caráter solidário ou subsidiário, nos termos do art. 71, § 1º, da Lei 8.666/93.

Obs: a tese acima foi a fixada pelo STF. No entanto, penso que é importante um
esclarecimento revelado durante os debates: é possível sim, excepcionalmente, que a
Administração Pública responda pelas dívidas trabalhistas contraídas pela empresa
contratada e que não foram pagas, desde que o ex-empregado reclamante comprove, com
elementos concretos de prova, que houve efetiva falha do Poder Público na fiscalização do
contrato.
STF. Plenário. RE 760931/DF, rel. orig. Min. Rosá Weber, red. p/ o ác. Min. Luiz Fux, j. 26/4/17
(repercussão geral) (Info 862).

6. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR


6.1. A Súmula Vinculante 5 continua válida – (Info 849)

A Súmula Vinculante 5 continua válida.


O STF rejeitou proposta da OAB que pretendia o cancelamento do verbete.
Após a edição da SV 5, não houve mudança na legislação, na jurisprudência ou na percepção
da sociedade a justificar a revisão ou o cancelamento do enunciado.
A súmula vinculante deve ter certo grau de estabilidade, somente devendo ser cancelada ou
revista em caso de superveniência de fatos suficientemente relevantes.
Assim, a falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não
ofende a CF.
STF. Plenário. PSV 58/DF, j. 30/11/16 (Info 849).
(PGEMS-2014): Servidor público estatutário de autarquia estadual, em sede de recurso
administrativo manejado em face de decisão proferida em processo administrativo
disciplinar (PAD) que lhe aplicou pena de “advertência”; alegou, exclusivamente, que
mesmo sendo-lhe garantido direito à informação, à manifestação e à consideração de tal
manifestação, não foi assistido por advogado durante todo o PAD. Você, na condição de
Procurador(a) do Estado, com fundamento na jurisprudência vinculante sobre o tema, acaso
tivesse que realizar parecer, pugnaria: Pelo indeferimento do recurso administrativo, pois
não há nulidade a ser reconhecida exclusivamente por ausência de advogado constituído no
processo administrativo em análise. BL: SV 5, STF.

(DPEPR-2014) O verbete sumular vinculante de n. 5, que dispõe que “a falta de defesa


técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição”
somente é aplicável ao procedimento disciplinar na esfera cível-administrativa, não sendo
aplicável no procedimento disciplinar no âmbito da execução penal.

OBS:
SV 5-STF: A falta de defesa técnica por advogado no processo
administrativo disciplinar não ofende a Constituição.

A OAB tem legitimidade para propor o cancelamento de SV? SIM. A CF/88 determina que a
proposta de cancelamento da súmula vinculante poderá ser provocada pelas mesmas
autoridades e entidades que podem propor a ADI. Em outras palavras, quem pode propor ADI
pode também pedir o cancelamento de súmula vinculante. No caso, a OAB encontra-se no rol
de legitimados da ADI (art. 103, VII, da CF/88) e, consequentemente, pode requerer o
cancelamento de súmula vinculante.

STF continua entendendo que a falta de defesa técnica no PAD não ofenda a CF: O precedente
que deu origem à SV 5 foi o RE 434.059/DF (DJe 12.9.2008). Neste julgamento, o STF concluiu
que a falta de defesa técnica por advogado no PAD não ofende a CF. Após a edição da SV 5,
não houve mudança na legislação, na jurisprudência ou na percepção da sociedade a justificar
a revisão ou o cancelamento do verbete.
Estabilidade: A súmula vinculante deve ter certo grau de estabilidade, somente devendo ser
cancelada ou revista em caso de superveniência de fatos suficientemente relevantes, sob pena
de se negar autoridade e se transformar o verbete vinculante num precedente qualquer,
eliminando sua função no sistema, principalmente a de dar estabilidade e segurança às
decisões da Corte.

A participação do advogado no PAD é permitida e até recomendável, só não é obrigatória: Os


Ministros ressaltaram que não é proibida a participação dos advogados nos processos
administrativos disciplinares. Pelo contrário, a Administração Pública deve viabilizar a
presença de advogado nesses procedimentos administrativos, devendo também cientificar os
servidores públicos que eles possuem o direito de contratar um profissional para fazer a sua
defesa. Isso não significa, contudo, que, não havendo advogado, o PAD seja nulo. Para o Min.
Roberto Barroso, o PAD deve observar cautelas inerentes ao processo penal, mas não se pode
fazer uma equiparação plena entre um e outro porque, após o PAD, haverá ainda a
possibilidade de revisão judicial da decisão que lá for tomada.

Existem processos judiciais que dispensam advogado: Importante relembrar que, caso se
reconheça que a SV 5 viola a Constituição, também deveria ser reconhecida a
inconstitucionalidade das normas que, em processo judicial, dispensam a presença de
advogado (exs: processos trabalhistas, juizados especiais etc.).

SV 5 não se aplica para processos disciplinares que apuram falta grave no sistema prisional:
Vale ressaltar que a SV 5 refere-se ao típico processo administrativo disciplinar, ou seja, aquele
que tramita no âmbito da Administração Pública. Este enunciado não se aplica para o processo
administrativo que apura infrações cometidas no sistema penitenciário. Assim, mesmo
havendo precedentes do STF exigindo advogado nos processos de apuração de falta grave do
condenado, estes não podem ser invocados para justificar o cancelamento da SV 5.

6.2. Ausência de transcrição integral de dados obtidos por meio de interceptação telefônica
não gera nulidade – (Info 834)

Mesmo em matéria penal, a jurisprudência do STF e do STJ é no sentido de que não é


necessária a degravação integral das escutas, sendo bastante que dos autos constem excertos
suficientes a embasar o oferecimento da denúncia.
O servidor processado, que também é réu no processo criminal, tem acesso à integralidade
das interceptações e, se entender necessário, pode juntar no processo administrativo os
eventuais trechos que considera pertinentes ao deslinde da controvérsia.
O acusado em processo administrativo disciplinar não possui direito subjetivo ao
deferimento de todas as provas requeridas nos autos, ainda mais quando consideradas
impertinentes ou meramente protelatórias pela comissão processante (art. 156, §1º, Lei nº
8.112/90).
STF. 1ª Turma. RMS 28774/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, j. 9/8/16 (Info 834).

6.3. Empréstimo das interceptações telefônicas do processo criminal para o PAD – (Info
834) – (MPGO-2013)

A prova colhida mediante autorização judicial e para fins de investigação ou processo


criminal pode ser utilizada para instruir procedimento administrativo punitivo.
Assim, é possível que as provas provenientes de interceptações telefônicas autorizadas
judicialmente em processo criminal sejam emprestadas para o processo administrativo
disciplinar.
STF. 1ª Turma. RMS 28774/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, j. 9/8/2016 (Info 834).
(MPMG-2013): As provas colhidas no bojo de instrução processual penal, desde que obtidas
mediante interceptação telefônica devidamente autorizada por juízo competente, admitem
compartilhamento para fins de instruir procedimento criminal ou mesmo procedimento
administrativo disciplinar contra outros agentes.

OBS:
É possível a utilização, em processo administrativo disciplinar, de prova emprestada
validamente produzida em processo criminal? SIM. A jurisprudência do STJ e do STF são
firmes no sentido de que é admitida a utilização no processo administrativo de “prova
emprestada” do inquérito policial ou do processo penal, desde que autorizada pelo juízo
criminal e respeitados o contraditório e a ampla defesa (STJ. 1ª Seção. MS 17.472/DF, Rel. Min.
Arnaldo Esteves Lima, julgado em 13/6/2012).

Este “empréstimo” da prova é permitido mesmo que o processo penal ainda não tenha
transitado em julgado? SIM. É possível a utilização, em processo administrativo disciplinar,
de prova emprestada validamente produzida em processo criminal, independentemente do
trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Isso porque, em regra, o resultado da
sentença proferida no processo criminal não repercute na instância administrativa, tendo em
vista a independência existente entre as instâncias (STJ. 2ª Turma. RMS 33.628-PE, Rel. Min.
Humberto Martins, j. 2/4/13. Info 521).

É possível utilizar, em processo administrativo disciplinar, na qualidade de “prova


emprestada”, a interceptação telefônica produzida em ação penal? SIM, desde que a
interceptação tenha sido feita com autorização do juízo criminal e com observância das demais
exigências contidas na Lei nº 9.296/1996 (STJ. 3ª Seção. MS 14.140-DF, Rel. Min. Laurita Vaz,
julgado em 26/9/2012).

Ex.: a Polícia Federal, por meio de interceptação judicial deferida pelo juízo criminal, conseguiu
captar conversa na qual determinado servidor público exige quantia para praticar certo ato
relacionado com suas atribuições. Com base nessa prova e em outras constantes do inquérito,
o MPF oferece denúncia contra esse servidor. A Administração Pública, por sua vez, instaura
processo administrativo disciplinar.

O STF também decidiu no mesmo sentido.

6.4. Desnecessidade de intimação do servidor após o relatório final – (Info 834)

Não é obrigatória a intimação do interessado para apresentar alegações finais após o


relatório final de processo administrativo disciplinar. Inexiste previsão na Lei 8.112/90 de
intimação do acusado após a elaboração do relatório final da comissão processante.
STF. 1ª Turma. RMS 28774/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, j. 9/8/2016 (Info 834).
STJ. 1ª Seção. MS 18.090-DF, Rel. Min. Humberto Martins, j. 8/5/2013 (Info 523).

6.5. Inexistência de impedimento de que os membros da comissão do primeiro PAD, que


foi anulado, participem da segunda comissão – (Info 834) – IMPORTANTE!!!

Respeitados todos os aspectos processuais relativos à suspeição e impedimento dos


membros da Comissão Processante previstos pelas Leis 8.112/90 e 9.784/99, não há qualquer
impedimento ou prejuízo material na convocação dos mesmos servidores que anteriormente
tenham integrado Comissão Processante, cujo relatório conclusivo foi posteriormente
anulado (por cerceamento de defesa), para comporem a segunda Comissão de Inquérito.
Assim, não há qualquer impeditivo legal de que a comissão de inquérito em processo
administrativo disciplinar seja formada pelos mesmos membros de comissão anterior que
havia sido anulada.
STF. 1ª Turma. RMS 28774/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, j. 9/8/2016 (Info 834).
STJ. 1ª Seção. MS 16.192/DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 10/04/2013.
OBS:
O STF e o STJ, ao interpretarem este dispositivo, entendem que, quando ele diz "constituição
de outra comissão", não exige que nesta outra comissão os membros sejam diferentes daqueles
que compuseram a primeira. Em outras palavras, se o motivo pelo qual o primeiro PAD foi
anulado não está relacionado com a isenção da comissão, não existe impedimento legal para
que os membros da primeira participem da comissão que irá conduzir o segundo processo.
Aplica-se aqui a mesma lógica que é utilizada no processo judicial: a anulação de uma
decisão/sentença judicial não impede que o juiz que decidiu aprecie novamente a causa, salvo
se o vício estava relacionado com ele.

7. CONCURSO PÚBLICO
7.1. É inconstitucional dispositivo legal que preveja a possibilidade de o indivíduo
aprovado no concurso tomar posse e entrar em exercício, de imediato, na classe final da carreira
– (Info 932)

É inconstitucional lei que preveja a possibilidade de o indivíduo aprovado no concurso


público ingressar imediatamente no último padrão da classe mais elevada da carreira. Essa
disposição afronta os princípios da igualdade e da impessoalidade, os quais regem o
concurso público.
Por essa razão, o STF declarou a inconstitucionalidade do § 1º do art. 18 da Lei 8.691/93.
STF. Plenário. ADI 1240/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 28/2/2019 (Info 932).

7.2. A candidata que esteja gestante no dia do teste físico possui o direito de fazer a prova
em uma nova data no futuro – (Info 924)

Os candidatos possuem direito à segunda chamada nos testes físicos em concursos públicos?
REGRA: NÃO.
Os candidatos em concurso público NÃO têm direito à prova de segunda chamada nos testes
de aptidão física em razão de circunstâncias pessoais, ainda que de caráter fisiológico ou de
força maior, salvo se houver previsão no edital permitindo essa possibilidade.
STF. Plenário. RE 630733/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 15/5/13 (repercussão geral) (Info
706).
STJ. 1ª Turma. REsp 1.597.570/DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 25/10/18
STJ. 2ª Turma REsp 1.721.068/MT, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 8/5/18.

EXCEÇÃO: as candidatas gestantes possuem.


É constitucional a remarcação do teste de aptidão física de candidata que esteja grávida à
época de sua realização, independentemente da previsão expressa em edital do concurso
público.
STF. Plenário. RE 1058333/PR, Rel. Min. Luiz Fux, j. 21/11/18 (repercussão geral) (Info 924).
OBS: O STF entendeu que a situação da candidata grávida merece tratamento diferente do
caso de candidatos doentes ou que não compareceram ao teste por motivo de força maior.
Assim, justifica-se fazer um distinguishing em relação ao que foi decidido no RE 630733/DF
(Info 706).

7.3. Não se pode cassar a aposentadoria do servidor que ingressou no serviço público por
força de provimento judicial precário e se aposentou durante o processo, antes da decisão ser
reformada – (Info 911)

Em regra, não produzem fato consumado a posse e o exercício em cargo público decorrentes
de decisão judicial tomada à base de cognição não-exauriente.
Em outras palavras, não se aplica a teoria do fato consumado para candidatos que assumiram
o cargo público por força de decisão judicial provisória posteriormente revista. Trata-se do
entendimento firmado no RE 608482/RN (Tema 476).
A situação é diferente, contudo, se a pessoa, após permanecer vários anos no cargo (21 anos),
conseguiu a concessão de aposentadoria. Neste caso, em razão do elevado grau de
estabilidade da situação jurídica, o princípio da proteção da confiança legítima incide com
maior intensidade. Trata-se de uma excepcionalidade que autoriza a distinção (distinguish)
quanto ao leading case do RE 608482/RN (Tema 476).
STF. 1ª Turma. RE 740029 AgR/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 14/8/18 (Info 911).

Quando o exercício do cargo foi amparado por decisões judiciais precárias e o servidor se
aposentou, antes do julgamento final do mandado de segurança, por tempo de contribuição
durante esse exercício e após legítima contribuição ao sistema, a denegação posterior da
segurança que inicialmente permitira ao servidor prosseguir no certame não pode ocasionar
a cassação da aposentadoria.
STJ. 1ª Seção. MS 20558-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 22/2/17 (Info 600).
OBS:
Situação não contemplada no leading case: No julgamento do RE 608482/RN, o STF não tratou
sobre as hipóteses em que o servidor, em razão do decurso do tempo no exercício do cargo,
tem a aposentadoria concedida pela Administração Pública. Logo, este entendimento não
afronta o que decidiu o STF na repercussão geral.

Princípio da segurança jurídica: O princípio da segurança jurídica, em sua perspectiva


subjetiva, protege a confiança legítima, procurando preservar fatos pretéritos de eventuais
modificações na interpretação jurídica, bem como resguardando efeitos jurídicos de atos
considerados inválidos por qualquer razão. Em última análise, o princípio da confiança
legítima destina-se precipuamente a proteger expectativas legitimamente criadas em
indivíduos por atos estatais. A aplicação do princípio da proteção da confiança, portanto,
pressupõe a adoção de atos contraditórios pelo Estado que frustrem legítimas expectativas
nutridas por indivíduos de boa-fé. Naturalmente, tais expectativas podem ser frustradas não
apenas por decisões administrativas contraditórias, mas também por decisões judiciais dessa
natureza.

Vínculo previdenciário consolidou-se: O impetrante já estava aposentado quando veio a


decisão desfavorável. Assim, embora o vínculo de trabalho fosse precário, o autor da ação
pagou mensalmente as contribuições previdenciárias e completou todos os requisitos
necessários para a aposentadoria, de forma que o vínculo previdenciário foi consolidado.

Legislação não prevê cassação de aposentadoria por esse motivo: A Lei dos Servidores
Públicos federais (Lei n. 8.112/90), assim como as demais leis de servidores públicos dos
demais entes, preveem a cassação da aposentadoria apenas em duas hipóteses:
a) demissão do servidor público (art. 134); e
b) acumulação ilegal de cargos (art. 133, § 6º).

Dessa forma, não há fundamento na lei para se cassar a aposentadoria nesta hipótese.

7.4. POSSE TARDIA EM CARGO PÚBLICO POR DETERMINAÇÃO JUDICIAL: A


nomeação tardia a cargo público em decorrência de decisão judicial não gera direito à
promoção retroativa – (Info 868) – IMPORTANTE!!!

A nomeação tardia de candidatos aprovados em concurso público, por meio de ato judicial,
à qual atribuída eficácia retroativa, não gera direito às promoções ou progressões funcionais
que alcançariam se houvesse ocorrido, a tempo e modo, a nomeação.
STF. Plenário. RE 629392 RG/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 8/6/17 (repercussão geral) (Info
868).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João foi aprovado em todas as provas teóricas do
concurso de Defensor Público, no entanto, foi eliminado no exame psicotécnico, fato ocorrido
no ano de 2013. O candidato ingressou com ação ordinária questionando os critérios utilizados
no teste psicotécnico aplicado. O pedido de tutela provisória antecipada, contudo, foi negado.
Todos os demais candidatos aprovados tomaram posse. A ação foi julgada procedente em
todas as instâncias, mas a Fazenda Pública sempre recorria e João ainda não havia tomado
posse. Somente em 2017, quando houve o trânsito em julgado, ele foi nomeado e empossado.
Significa que, enquanto os demais candidatos foram nomeados e estavam trabalhando desde
2013, João, mesmo tendo direito, só conseguiu ingressar no serviço público 5 anos mais tarde.
Inconformado com a situação, João propôs ação de indenização contra o Poder Público
alegando que teria direito de receber, a título de reparação, o valor da remuneração do cargo
referente ao período de 2013 até 2017.

O pedido de indenização formulado por João encontra amparo na jurisprudência? O candidato


que teve postergada a assunção em cargo por conta de ato ilegal da Administração tem direito
a receber a remuneração retroativa?
 Regra: NÃO. Não cabe indenização a servidor empossado por decisão judicial sob o
argumento de que houve demora na nomeação. Dito de outro modo, a nomeação
tardia a cargo público em decorrência de decisão judicial não gera direito à
indenização.
 Exceção: será devida indenização se ficar demonstrado, no caso concreto, que o
servidor não foi nomeado logo por conta de uma situação de arbitrariedade
flagrante.

O tema foi decidido pelo STF em sede de recurso extraordinário sob a sistemática da
repercussão geral:
Na hipótese de posse em cargo público determinada por decisão judicial, o
servidor não faz jus à indenização, sob fundamento de que deveria ter sido
investido em momento anterior, salvo situação de arbitrariedade flagrante. STF.
Plenário. RE 724347/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min.
Roberto Barroso, julgado em 26/2/2015 (repercussão geral) (Info 775).

Por que o candidato não terá direito ao pagamento da remuneração retroativa? O direito à
remuneração é consequência do exercício de fato do cargo. Dessa forma, inexistindo o efetivo
exercício, a pessoa não faz jus à percepção de qualquer importância, a título de ressarcimento
material, sob pena de enriquecimento sem causa.

E quanto aos efeitos funcionais, o candidato terá direito? Suponhamos o seguinte: os


candidatos que tomaram posse em 2013 já passaram do estágio probatório e foram
promovidos de Defensores Públicos de 3ª classe para Defensores Públicos de 2ª classe. João
deveria ter tomado posse em 2013 juntamente com eles, mas isso só acabou ocorrendo em 2017
por erro da Administração Pública. A sentença reconheceu que João tem direito à nomeação
com eficácia retroativa à data em que os demais candidatos na mesma situação foram
nomeados (2013). Isso significa que João terá direito de assumir já como Defensor Público de
2ª classe (“promovido”), assim como os outros estão atualmente? NÃO. A promoção ou a
progressão funcional, a depender do caráter da movimentação, se vertical ou horizontal, não
se resolve apenas mediante o cumprimento do requisito temporal. Pressupõe a aprovação em
estágio probatório e a confirmação no cargo, bem como o preenchimento de outras condições
indicadas na legislação ordinária. Diante disso, uma vez empossado, cumpre ao servidor
cumprir todas as regras relacionados com o regime jurídico do cargo, incluídas aquelas
relativas ao estágio probatório e as específicas de cada carreira. Assim, somente considerado
o desempenho do agente, por meio de atuação concreta a partir da entrada em exercício, é
possível alcançar a confirmação no cargo e eventuais promoções.

7.5. Inconstitucionalidade de permuta de serventia sem concurso público após a CF/88 –


(Info 841)

O art. 236, § 3º, da CF é uma norma constitucional autoaplicável. Logo, mesmo antes da
edição da Lei 8.935/94, ela já tinha plena eficácia e o concurso público era obrigatório como
condição não apenas para ingresso na atividade notarial e de registro, como também nos
casos de remoção ou permuta.
As normas estaduais que admitem a remoção na atividade notarial e de registro
independentemente de prévio concurso público são incompatíveis com o art. 236, § 3º, da
Constituição, razão pela qual não foram por essa recepcionadas.
O prazo decadencial de 5 anos, de que trata o art. 54 da Lei nº 9.784/99, não se aplica à revisão
de atos de delegação de serventias extrajudiciais editados após a CF/88, sem o atendimento
das exigências prescritas no seu art. 236. Assim, se uma pessoa assumiu uma serventia
notarial ou registral sem concurso público após a CF/88, este ato poderá ser anulado mesmo
que já se tenham passado mais de 5 anos.
A decisão que anula o ato de investidura em serventia notarial e registral sem concurso
público não viola o direito adquirido nem a segurança jurídica.
STF. 1ª Turma. MS 29415/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, j.
27/09/16 (Info 841).

7.6. Restrição a candidatos com tatuagem – (Info 835) – IMPORTANTE!!! – (MPRR-2017)


(PGEPE-2018)

Editais de concurso público não podem estabelecer restrição a pessoas com tatuagem, salvo
situações excepcionais em razão de conteúdo que viole valores constitucionais.
STF. Plenário. RE 898450/SP, Rel. Min. Luiz Fux, j. 17/8/16 (repercussão geral) (Info 835).
(MPRR-2017-CESPE): De acordo com o entendimento do STF, no que se refere à inscrição
de candidatos que possuam tatuagens gravadas na pele, não havendo lei que disponha sobre
o tema, os editais de concursos públicos estão impedidos de restringi-la, com exceção dos
casos em que essas tatuagens violem valores constitucionais. BL: Info 835, STF.

OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João prestou concurso para soldado da Polícia Militar.
O edital do certame previa restrições para candidatos que possuem tatuagens. Segundo o
edital, seriam excluídos do concurso candidatos que possuíssem tatuagens localizadas em
regiões do corpo que ficassem visíveis quando o indivíduo estivesse usando short e camisa (ex:
antebraço). João foi aprovado em todas as fases, mas eliminado do concurso porque possui
uma tatuagem tribal, medindo 14 por 13 cm na panturrilha.

É possível que o edital do concurso preveja a eliminação do candidato pelo simples fato de ter
uma tatuagem? Essa previsão é válida?
 Regra: NÃO. Em regra, os editais de concurso não podem estabelecer restrição a
pessoas com tatuagem.
 Exceção: é possível que o edital imponha restrições a candidatos que possuam
tatuagens cujo conteúdo viole valores constitucionais.

Restrições a cargos públicos somente podem estar relacionadas com o exercício das funções:
Qualquer obstáculo a acesso a cargo público deve estar relacionado unicamente ao exercício
das funções como, por exemplo, idade ou altura que impossibilitem o exercício de funções
específicas. A criação de barreiras arbitrárias para impedir o acesso de candidatos a cargos
públicos fere os princípios constitucionais da isonomia e da razoabilidade.

No passado, a tatuagem foi associada a setores marginais da sociedade: A tatuagem, no


passado, especialmente durante o século XIX, era uma prática associada a determinados
grupos sociais que viviam à margem da sociedade, sendo conhecida como "flor do presídio".
Desse modo, durante muitos anos, no imaginário social a tatuagem foi vista como marca da
marginalidade e da delinquência. Segundo os sociólogos, no entanto, o sentido estigmatizador
do uso da tatuagem começou a mudar a partir da década de 80.

Tatuagem é forma de liberdade de manifestação: O certo é que, atualmente, a tatuagem, por si


só, não pode ser confundida como uma transgressão ou conduta atentatória aos bons costumes.
Não há qualquer ligação objetiva e direta entre o fato de um cidadão possuir tatuagens em seu
corpo e uma suposta conduta atentatória à moral, aos bons costumes ou ao ordenamento
jurídico. A decisão do indivíduo fazer uma tatuagem está diretamente relacionada com a sua
liberdade de pensamento e de expressão (art. 5º, IV e IX, da CF/88).

Restringir o acesso de candidato tatuado é forma de discriminação arbitrária: Não é razoável


restringir o acesso do candidato a uma função pública pelo simples fato de possuir tatuagem.
Esta restrição é flagrantemente discriminatória e carente de qualquer justificativa racional que
a ampare. O fato de uma pessoa possuir tatuagens, visíveis ou não, não pode ser tratado pelo
Estado como parâmetro discriminatório quando do deferimento de participação em concursos
de provas e títulos para ingresso em carreira pública. Isso porque o fato de o candidato possuir
tatuagem não macula, por si, sua honra pessoal, o profissionalismo, o respeito às Instituições
e, muito menos, lhe diminui a competência. O respeito à democracia não se dá apenas na
realização de eleições livres, mas também quando se permite aos cidadãos se manifestarem da
forma que quiserem, desde que isso não represente ofensa direta a grupos ou princípios e
valores éticos. O desejo de se expressar por meio de pigmentação definitiva não pode ser
obstáculo a que um cidadão exerça cargo público. Um policial não se torna melhor ou pior em
suas funções apenas por ter tatuagem. O Estado não pode querer representar o papel de
adversário da liberdade de expressão, impedindo que candidatos em concurso ostentem
tatuagens ou marcas corporais que demonstrem simpatia por ideais que não sejam ofensivos
aos preceitos e valores protegidos pela Constituição Federal.

Exceções: Vale ressaltar, entretanto, que é possível que a Administração Pública impeça o
acesso do candidato se a tatuagem que ele possui tiver um conteúdo que viole os valores
previstos na Constituição Federal. É o caso, por exemplo, de tatuagens que contenham
obscenidades, ideologias terroristas, que sejam discriminatórias, que preguem a violência e a
criminalidade, a discriminação de raça, credo, sexo ou origem. Isso porque tais temas são,
inegavelmente, contrários às instituições democráticas. Se a Administração proibir tatuagens
como essa, não será uma prática desarrazoada ou desproporcional.

Voltando ao exemplo dado: No caso concreto, o STF considerou que a conduta da


Administração Pública de eliminar João não foi correta porque a tatuagem tribal não se mostra
contrária aos valores previstos na Constituição Federal, sendo legítima manifestação de
expressão do indivíduo.

7.7. Surgimento de vaga durante o período validade do concurso e abertura de novo


certame logo depois do primeiro concurso expirar – (Info 834)

Determinado candidato foi aprovado fora do número de vagas. Todos os aprovados dentro
do número de vagas foram nomeados e empossados. Durante o prazo de validade do
concurso, um servidor se aposentou, mas não houve autorização do Ministério do
Planejamento para que o órgão federal fizesse o provimento desta vaga. Um mês após o fim
do prazo de validade do concurso, a Administração Pública abriu novo concurso para este
cargo.
O STF entendeu que este candidato não possui direito líquido e certo à nomeação porque:
 foi aprovado fora do número de vagas previsto no edital; e
 o prazo de validade do concurso em que ele foi aprovado expirou antes da abertura
do novo certame.
 realmente surgiu uma vaga decorrente da aposentadoria, mas não houve
manifestação do órgão competente se havia disponibilidade orçamentária para que
este cargo fosse imediatamente provido.
O mero surgimento de vagas ou a abertura de novo concurso para o mesmo cargo não gera
direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado fora do número de vagas, cabendo a
ele demonstrar, de forma inequívoca, que houve preterição arbitrária e imotivada por parte
da administração pública. No caso concreto, o STF entendeu que isso não ficou comprovado.
Assim, para o Tribunal, a situação não se enquadra nas hipóteses previstas no RE 837311/PI.
STF. 1ª Turma. RMS 31478/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Edson
Fachin, julgado em 9/8/2016 (Info 834).
7.8. Surgimento de novas vagas e discussão sobre direito subjetivo à nomeação (Info 811)
– IMPORTANTE!!!

O surgimento de novas vagas ou a abertura de novo concurso para o mesmo cargo, durante
o prazo de validade do certame anterior, não gera automaticamente o direito à nomeação dos
candidatos aprovados fora das vagas previstas no edital, ressalvadas as hipóteses de
preterição arbitrária e imotivada por parte da administração, caracterizada por
comportamento tácito ou expresso do Poder Público capaz de revelar a inequívoca
necessidade de nomeação do aprovado durante o período de validade do certame, a ser
demonstrada de forma cabal pelo candidato.
Assim, o direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado em concurso público exsurge
nas seguintes hipóteses:
a) quando a aprovação ocorrer dentro do número de vagas dentro do edital;
b) quando houver preterição na nomeação por não observância da ordem de
classificação; e
c) quando surgirem novas vagas, ou for aberto novo concurso durante a validade do
certame anterior, e ocorrer a preterição de candidatos de forma arbitrária e
imotivada por parte da administração nos termos acima.
STF. Plenário. RE 837311/PI, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 09/12/2015 (repercussão geral)
(Info 811).

7.9. Teoria do fato consumado: inaplicabilidade em concurso público (Info 753 e Info 808)
– IMPORTANTE!!! (MPDFT-2015) (Anal. Judic./TRF1-2017) (TJCE-2018)

O candidato que toma posse em concurso público por força de decisão judicial precária
assume o risco de posterior reforma desse julgado que, em razão do efeito “ex tunc”,
inviabiliza a aplicação da teoria do fato consumado em tais hipóteses.
A posse ou o exercício em cargo público por força de decisão judicial de caráter provisório
não implica a manutenção, em definitivo, do candidato que não atende a exigência de prévia
aprovação em concurso público (art. 37, II, da CF/88), valor constitucional que prepondera
sobre o interesse individual do candidato, que não pode invocar, na hipótese, o princípio da
proteção da confiança legítima, pois conhece a precariedade da medida judicial.
Em suma, não se aplica a teoria do fato consumado para candidatos que assumiram o cargo
público por força de decisão judicial provisória posteriormente revista.
STF. 1ª Turma. RMS 31538/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio,
julgado em 17/11/2015 (Info 808).
STF. Plenário. RE 608482/RN, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 7/8/14 (repercussão geral) (Info
753).
(TJCE-2018-CESPE): O princípio da proteção da confiança legítima não autoriza a
manutenção em cargo público de servidor público empossado por força de decisão judicial
de caráter provisório posteriormente revista, ainda que decorridos mais de cinco anos da
investidura no cargo. BL: Info 753, STF.

7.10. Momento para comprovação do limite de idade – (Info 791)

O limite de idade, quando regularmente fixado em lei e no edital de determinado concurso


público, há de ser comprovado no momento da inscrição no certame.
STF. 1ª Turma. ARE 840.592/CE, Min. Roberto Barroso, j. 23/6/2015 (Info 791).

7.11. Controle de questões de concurso pelo Poder Judiciário – (Info 782)

É possível que o Poder Judiciário anule questão objetiva de concurso público que foi
elaborada de maneira equivocada? É possível que seja alterada a pontuação dada ao
candidato na questão sob o argumento de que a correção feita pela banca foi inadequada?
 Regra: NÃO. Os critérios adotados por banca examinadora de concurso público não
podem ser revistos pelo Poder Judiciário. Não é possível controle jurisdicional sobre
o ato administrativo que corrige questões de concurso público. Não compete ao
Poder Judiciário substituir a banca examinadora para reexaminar o conteúdo das
questões e os critérios de correção utilizados.
 Exceção: apenas em casos de flagrante ilegalidade ou inconstitucionalidade, a
Justiça poderá ingressar no mérito administrativo para rever critérios de correção e
de avaliação impostos pela banca examinadora.
STF. Plenário. RE 632853/CE, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/4/2015 (repercussão
geral) (Info 782).

7.12. Súmula vinculante 43 – (Info 780)

Súmula vinculante 43-STF: É inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie


ao servidor investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu
provimento, em cargo que não integra a carreira na qual anteriormente investido.
STF. Plenário. Aprovada em 08/04/2015 (Info 780).

7.13. É inconstitucional lei estadual que cria Serviço de Interesse Militar Voluntário
Estadual – (Info 780)

O Estado de Goiás editou uma lei criando algo que ele chamou de Serviço de Interesse
Militar Voluntário Estadual (SIMVE). Esse SIMVE funcionaria, em linhas gerais, da
seguinte forma: as pessoas poderiam se alistar para trabalhar “voluntariamente” como
soldado na Polícia Militar ou no Corpo de Bombeiros Militar. Haveria uma espécie de
seleção (menos rigorosa que um concurso público) e, se a pessoa fosse escolhida, ela
receberia, como contraprestação pelo trabalho desempenhado, um subsídio e atuaria como
se fosse um soldado. Esse contrato seria por um prazo determinado.
O STF entendeu que esse SIMVE é formal e materialmente inconstitucional.
O SIMVE viola a regra do concurso público (art. 37, II, da CF/88).
Além disso, o STF afirmou ainda que a Lei estadual possui um vício formal, já que trata
sobre prestação voluntária de serviços na PM e Corpo de Bombeiros de forma
diametralmente oposta ao que diz a Lei federal 10.029/2000.
STF. Plenário. ADI 5163/GO, rel. Min. Luiz Fux, julgado em 26/3/2015 (Infos 780 e 781).

7.14. Súmula vinculante 44 – (info 780)

Súmula vinculante 44-STF: Só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de
candidato a cargo público.
STF. Plenário. Aprovada em 08/04/2015 (Info 780).

7.15. Constitucionalidade do art. 19-A da Lei 8.036/90 – (Info 779)

É nula a contratação de pessoal pela Administração Pública sem a observância de prévia


aprovação em concurso público, razão pela qual não gera quaisquer efeitos jurídicos válidos
em relação aos empregados eventualmente contratados, ressalvados os direitos à percepção
dos salários referentes ao período trabalhado e, nos termos do art. 19-A da Lei 8.036/90, ao
levantamento dos depósitos efetuados no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço — FGTS.
Neste julgado, o STF declarou que o art. 19-A da Lei 8.036/90 é CONSTITUCIONAL.
STF. Plenário. ADI 3127/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 26/3/2015 (Info 779).

7.16. Questão da prova objetiva que exige do candidato saber quantas afirmações estão
corretas – (Info 778)
Determinada candidata impetrou mandado de segurança questionando três questões da
prova objetiva do concurso para Procurador da República. As questões impugnadas foram
formuladas da seguinte forma: eram apresentadas quatro afirmações; após essas assertivas,
existiam quatro alternativas; a letra “A” dizia: “apenas uma está correta”; letra “B”: “duas
estão corretas”; letra “C”: “três estão corretas”; letra “D”: “todas estão corretas”.
Segundo a autora, essa forma de questão objetiva estaria em desacordo com as Resoluções
do CNMP e do CNJ sobre concursos públicos.
O STF concordou com a tese da impetrante? Essa forma de questão objetiva violou a
resolução do CNMP?
NÃO. Apesar de as referidas questões apresentarem realmente uma estrutura objetiva
diversa das demais perguntas normalmente feitas em prova objetiva, isso não significa
qualquer nulidade, sendo apenas uma forma de dificultar o nível da prova igualmente a
todos os candidatos e condizente com o objetivo de um concurso destinado a medir
conhecimentos de vários tipos, ou seja, não só jurídicos, mas também lógicos e gramaticais.
Ademais, entendeu-se que não se poderia invocar a Resolução 57/2009 do CNJ porque,
embora o CNJ e o CNMP possuam estruturas semelhantes e mesma origem constitucional,
são órgãos autônomos, de forma que o CNMP disciplinou o tema na forma que entendeu
melhor e não vedou esse tipo de questão.
STF. 1ª Turma. MS 31323 AgR/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 17/3/2015 (Info 778).

7.17. Critério de desempate em concursos de remoção de serventias notariais e registrais –


(Info 777)

A lei estadual do Estado “X” prevê que, em caso de empate entre os candidatos em concurso
de remoção para serventias notariais e registrais, o primeiro critério de desempate é o maior
tempo de serviço público.
Ocorre que a Lei Federal 10.741/2003 (Estatuto do Idoso) determina que o primeiro critério
de desempate em concurso público será a idade, dando-se preferência ao de idade mais
elevada (art. 27, parágrafo único).
Qual das duas legislações deverá prevalecer no caso?
A legislação estadual. O Estatuto do Idoso, por ser lei geral, não se aplica como critério de
desempate, no concurso público de remoção para outorga de delegação notarial e de
registro, quando existir lei estadual específica que regule o certame e traga regras aplicáveis
em caso de empate. Desse modo, em nosso exemplo, a vaga deve ficar com o candidato que
tiver maior tempo de serviço público (e não necessariamente com o mais idoso).
STF. 1ª Turma. MS 33046/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 10/3/2015 (Info 777).

7.18. Posse em cargo público por determinação judicial e dever de indenizar – (Info 775) –
IMPORTANTE!!! – (DPEPR-2017) (TJMG-2018)

O candidato que teve postergada a assunção em cargo por conta de ato ilegal da
Administração tem direito a receber a remuneração retroativa?
 Regra: NÃO. Não cabe indenização a servidor empossado por decisão judicial sob
o argumento de que houve demora na nomeação. Dito de outro modo, a nomeação
tardia a cargo público em decorrência de decisão judicial não gera direito à
indenização.
 Exceção: será devida indenização se ficar demonstrado, no caso concreto, que o
servidor não foi nomeado logo por conta de uma situação de arbitrariedade
flagrante.

Nas exatas palavras do STF: “Na hipótese de posse em cargo público determinada por decisão
judicial, o servidor não faz jus à indenização, sob fundamento de que deveria ter sido
investido em momento anterior, salvo situação de arbitrariedade flagrante.”
STF. Plenário. RE 724347/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, julgado em 26/2/2015 (repercussão geral) (Info 775).
(TJMG-2018-Consulplan): Com relação à responsabilidade civil do Estado, assinale a
alternativa correta: O Supremo Tribunal Federal reconheceu a existência de repercussão
geral e firmou a tese de que, na hipótese de posse em cargo público determinada por
decisão judicial, o servidor não faz jus à indenização, sob fundamento de que deveria ter
sido investido em momento anterior, salvo situação de arbitrariedade flagrante. BL: Info
775, STF.

7.19. Sociedade de economia mista que contrata escritório de advocacia em vez de convocar
advogados aprovados – (Info 763) – IMPORTANTE!!!

Se existem candidatos aprovados para advogado da sociedade de economia mista e esta, no


entanto, em vez de convocá-los, contrata escritório de advocacia, tal contratação é ilegal,
surgindo o direito subjetivo de que sejam nomeados os aprovados.
Segundo entende o STF, a ocupação precária por terceirização para desempenho de
atribuições idênticas às de cargo efetivo vago, para o qual há candidatos aprovados em
concurso público vigente, configura ato equivalente à preterição da ordem de classificação
no certame, ensejando o direito à nomeação.
A competência para julgar essa ação é da Justiça do Trabalho. Isso porque essa Justiça
laboral especializada é competente para julgar não apenas as demandas relacionadas com o
contrato de trabalho já assinado, mas também para as questões que envolvam o período pré-
contratual.
STF. 2ª Turma. ARE 774137 AgR/BA, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 14/10/2014 (Info
763).

7.20. Serviços sociais autônomos não precisam realizar concurso público – (Info 759) –
IMPORTANTE!!! – (Auditor Fisc. Munic.-Cuiabá/MT-2016) (DPEAC-2017) (DPEAL-2017)

Os serviços sociais autônomos precisam realizar concurso público para contratar seu pessoal?
NÃO. Os serviços sociais autônomos, por possuírem natureza jurídica de direito privado e
não integrarem a Administração Pública, mesmo que desempenhem atividade de interesse
público em cooperação com o ente estatal, NÃO estão sujeitos à observância da regra de
concurso público (art. 37, II, da CF/88) para contratação de seu pessoal.
STF. Plenário. RE 789874/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 17/9/2014 (repercussão
geral) (Info 759).
(DPEAC-2017-CESPE): Conforme entendimento do STF, as entidades de serviços sociais
autônomos integrantes do sistema “S” não se submetem à exigência do concurso público
para a contratação de pessoal. BL: Info 759, STF.

(Auditor Fisc. Munic.-Cuiabá/MT-2016-FGV): Edinaldo e Pedro, estudantes de direito,


travaram intenso debate a respeito da sujeição, ou não, dos serviços sociais autônomos à
exigência constitucional de que a investidura em cargo ou emprego público dependa de
aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos. À luz da sistemática
constitucional e da interpretação que lhe vem sendo dispensada pelo Supremo Tribunal
Federal, é correto afirmar que os serviços sociais autônomos, na medida em que não
integram a Administração Pública, não devem observar a referida exigência constitucional.
BL: Info 759, STF.

7.21. Concurso público e natureza classificatória da prova de títulos – (Info 757)

As provas de títulos em concurso público para provimento de cargos públicos efetivos na


Administração Pública, em qualquer dos Poderes e em qualquer nível federativo, não
podem ter natureza eliminatória.
A finalidade da prova de títulos é, unicamente, a de classificar os candidatos, sem jamais
justificar sua eliminação do certame.
STF. 1ª Turma. MS 31176/DF e MS 32074/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 2/9/2014 (Info 757).

7.22. Contratação pela Administração Pública sem concurso público e ausência de efeitos
trabalhistas – (Info 756)

É nula a contratação de pessoal pela Administração Pública sem a observância de prévia


aprovação em concurso público, razão pela qual não gera quaisquer efeitos jurídicos válidos
em relação ao empregado eventualmente contratado, ressalvados:
 o direito de ele receber os salários referentes ao período trabalhado; e
 o direito de ele levantar os depósitos do FGTS (art. 19-A da Lei 8.036/90).
STF. Plenário. RE 705140/RS, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 28/8/14 (repercussão geral) (Info
756).

7.23. CLÁUSULA DE BARREIRA EM CONCURSO PÚBLICO É CONSTITUCIONAL –


(Info 736) – IMPORTANTE!!!

É constitucional a regra denominada “cláusula de barreira”, inserida em edital de concurso


público, que limita o número de candidatos participantes de cada fase da disputa, com o
intuito de selecionar apenas os concorrentes mais bem classificados para prosseguir no
certame.
STF. Plenário. RE 635739/AL, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/2/2014 (Info 736).

7.24. Inconstitucionalidade de dispositivo da CE que amplie as hipóteses do art. 19 do


ADCT da CF/88 – (Info 734)

É inconstitucional dispositivo de Constituição estadual que preveja estabilidade para


servidores públicos admitidos sem concurso público fora das hipóteses previstas na CF/88.
O STF, contudo, decidiu modular os efeitos de uma decisão que julgou determinado artigo
da CE/AC, determinando que ela somente terá eficácia a partir de 12 meses contados da data
da publicação da ata de julgamento.
STF. Plenário. ADI 3609/AC, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 5/2/2014 (Info 734).

7.25. INCONSTITUCIONALIDADE DO PREENCHIMENTO DE CARGOS POR


CONCURSO INTERNO – (Info 727)

É inconstitucional a lei estadual que prevê que determinados cargos da Administração


Pública serão preenchidos mediante concurso do qual somente participarão servidores
públicos (concurso interno).
Essa espécie de “promoção interna” viola o princípio da ampla acessibilidade aos cargos
públicos (art. 37, II, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 917/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Teori
Zavascki, julgado em 6/11/2013 (Info 727).

7.26. VEDAÇÃO PARA MULHERES DEVE SER JUSTIFICADA, PROPORCIONAL E


PREVISTA EM LEI – (Info 718)

A imposição de discrímen de gênero para fins de participação em concurso público somente


é compatível com a Constituição nos excepcionais casos em que demonstradas a
fundamentação proporcional e a legalidade da imposição, sob pena de ofensa ao princípio
da isonomia.
STF. 2ª Turma. RE 528684/MS, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/9/2013 (Info 718).
7.27. Contagem do termo inicial para impetração de mandado de segurança a fim de
impugnar critérios de aprovação e de classificação de concurso público – (Sem Info) – (DPERN-
2015)

O termo inicial para impetração de mandado de segurança a fim de impugnar critérios de


aprovação e de classificação de concurso público conta-se do momento em que a cláusula do
edital causar prejuízo ao candidato.
STF. 2ª Turma. RMS 23586, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 25/10/2011.

8. ORGANIZAÇÕES SOCIAIS
8.1. Constitucionalidade da Lei 9.637/98 – (Info 781) – IMPORTANTE!!! – (Anal.
Judic./TREPE-2017) (Anal. Judic./STJ-2018)

Organizações sociais são pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos,
prestadoras de atividades de interesse público e que, por terem preenchido determinados
requisitos previstos na Lei 9.637/98, recebem a qualificação de “organização social”.
A pessoa jurídica, depois de obter esse título de “organização social”, poderá celebrar com
o Poder Público um instrumento chamado de “contrato de gestão” por meio do qual
receberá incentivos públicos para continuar realizando suas atividades.
Foi ajuizada uma ADI contra diversos dispositivos da Lei 9.637/98 e também contra o art.
24, XXIV, da Lei 8.666/93, que prevê a dispensa de licitação nas contratações de organizações
sociais.
O Plenário do STF não declarou os dispositivos inconstitucionais, mas deu interpretação
conforme a Constituição para deixar explícitas as seguintes conclusões:
a) o procedimento de qualificação das organizações sociais deve ser conduzido de forma
pública, objetiva e impessoal, com observância dos princípios do “caput” do art. 37 da CF,
e de acordo com parâmetros fixados em abstrato segundo o disposto no art. 20 da Lei
9.637/98;
b) a celebração do contrato de gestão deve ser conduzida de forma pública, objetiva e
impessoal, com observância dos princípios do “caput” do art. 37 da CF;
c) as hipóteses de dispensa de licitação para contratações (Lei 8.666/1993, art. 24, XXIV) e
outorga de permissão de uso de bem público (Lei 9.637/1998, art. 12, § 3º) são válidas, mas
devem ser conduzidas de forma pública, objetiva e impessoal, com observância dos
princípios do “caput” do art. 37 da CF;
d) a seleção de pessoal pelas organizações sociais deve ser conduzida de forma pública,
objetiva e impessoal, com observância dos princípios do “caput” do art. 37 da CF, e nos
termos do regulamento próprio a ser editado por cada entidade; e
e) qualquer interpretação que restrinja o controle, pelo Ministério Público e pelo Tribunal
de Contas da União, da aplicação de verbas públicas deve ser afastada.
STF. Plenário. ADI 1923/DF, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux,
julgado em 15 e 16/4/2015 (Info 781)

(Anal. Judic./TREPE-2017-CESPE): Pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos,


não integrante da administração pública, que atua na área de ensino e pode contratar
diretamente com o poder público por dispensa de licitação, para a prestação de serviços
contemplados no contrato de gestão firmado com o ente público, é denominada
organização social. BL: STF, Infos 628 e 781 e art. 1º da Lei 9637.

9. EMPRESAS PÚBLICAS E SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA


9.1. É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de economia mista? – (Info 858
e 920) - IMPORTANTE!!! – (TJDFT-2015) (TRF2-2017)

É aplicável o regime dos precatórios às sociedades de economia mista prestadoras de serviço


público próprio do Estado e de natureza não concorrencial.
STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 23/3/2017 (Info 858).
(TRF2-2017): Pagamentos devidos pela fazenda pública federal, estadual, distrital e
municipal em virtude de sentença judiciária deverão ser feitos exclusivamente na ordem
cronológica de apresentação dos precatórios. Conforme o entendimento do STF, é aplicável
o regime de precatório apenas à União, aos estados, ao Distrito Federal, aos municípios, às
autarquias, às fundações públicas, às empresas públicas e às sociedades de economia mista
prestadoras de serviço público próprio do Estado. BL: art. 100 da CF e Entendimento do
STF.

É inconstitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de sociedade de


economia mista prestadora de serviços públicos em regime não concorrencial, para fins de
pagamento de débitos trabalhistas.
Sociedade de economia mista prestadora de serviço público não concorrencial está sujeita
ao regime de precatórios (art. 100, CF/88) e, por isso, impossibilitada de sofrer constrição
judicial de seus bens, rendas e serviços, em respeito ao princípio da legalidade orçamentária
(art. 167, VI, CF/88) e da separação funcional dos poderes (art. 2º c/c art. 60, § 4º, III).
STF. Plenário. ADPF 275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 17/10/18 (Info 920).
OBS:
Regime de precatórios: O art. 100 da CF/88 prevê que, se a Fazenda Pública Federal, Estadual,
Distrital ou Municipal for condenada por sentença judicial transitada em julgado a pagar
determinada quantia a alguém, este pagamento será feito sob um regime especial chamado de
“precatório”:
Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal,
Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária,
far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação
dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a
designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos
créditos adicionais abertos para este fim.

O regime de precatórios é um privilégio instituído em favor da Fazenda Pública, considerando


que ela não terá que pagar imediatamente o valor para o qual foi condenada, ganhando, assim,
um "prazo" maior.

Quem tem o privilégio de pagar por meio de precatório? A quem se aplica o regime dos
precatórios? As Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais. Essa expressão
abrange:
 União, Estados, DF e Municípios (administração direta);
 Autarquias;
 Fundações;
 Empresas públicas prestadoras de serviço público (ex: Correios);
 Sociedades de economia mista prestadoras de serviço público de atuação própria do
Estado e de natureza não concorrencial.

Aplicação do regime dos precatórios às sociedades de economia mista: As sociedades de


economia mista são pessoas jurídicas de direito privado formadas majoritariamente com
capital público, mas possuindo também capital privado. Em virtude dessas características,
havia divergência se o regime dos precatórios poderia ser aplicado para as sociedades de
economia mista. O STF pacificou o tema no sentido de que é possível, mas desde que essa
sociedade de economia mista seja prestadora de serviço público de atuação própria do
Estado e de natureza não concorrencial. É o que foi decidido no Plenário da Corte, publicados
no Info 858 e 920.

Não atuar em regime de concorrência e não objetivar lucro: Segundo o STF, para que a
sociedade de economia mista goze dos privilégios da Fazenda Pública, é necessário que ela
não atue em regime de concorrência com outras empresas e que não tenha objetivo de lucro.
Confira:
(...) Os privilégios da Fazenda Pública são inextensíveis às
sociedades de economia mista que executam atividades em regime
de concorrência ou que tenham como objetivo distribuir lucros aos
seus acionistas. Portanto, a empresa Centrais Elétricas do Norte do
Brasil S.A. - Eletronorte não pode se beneficiar do sistema de
pagamento por precatório de dívidas decorrentes de decisões
judiciais (art. 100 da Constituição). (...) (STF. Plenário. RE 599628,
Rel. Min. Ayres Britto, Relator p/ Acórdão Min. Joaquim Barbosa, j.
25/5/11).

Assim, se a sociedade de economia mista atuar em mercado sujeito à concorrência ou permitir


a acumulação ou a distribuição de lucros, neste caso ela se submeterá ao regime de execução
comum aplicável às demais empresas do setor privado.

Exemplos: Você pode estar com alguma dificuldade de visualizar o que seria uma sociedade
de economia mista prestadora de serviço público próprio do Estado e de natureza não
concorrencial. Por isso, vejamos três exemplos já enfrentados pelo STF:

1) Companhia de Saneamento de Alagoas (CASAL): Trata-se de uma sociedade de economia


mista prestadora de serviços de abastecimento de água e saneamento que presta serviço
público primário e em regime de exclusividade. O STF entendeu que a atuação desta
sociedade de economia mista corresponde à própria atuação do Estado, já que ela não tem
objetivo de lucro e o capital social é majoritariamente estatal. Logo, diante disso, o Supremo
reconheceu que ela tem direito ao processamento da execução por meio de precatório. STF.
2ª Turma. RE 852302 AgR/AL, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 15/12/15 (Info 812).

2) Empresa de Gestão de Recursos do Estado do Piauí S/A (EMGERPI): A EMGERPI é uma


sociedade de economia mista voltada à capacitação e redistribuição de servidores para órgãos
e entidades da Administração Pública estadual. Tem como finalidade prioritária gerenciar
recursos humanos da Administração Pública estadual, na medida em que seu objeto social é
capacitar, aperfeiçoar, absorver, redistribuir e ceder pessoal para órgãos e entidades da
Administração Pública do Piauí. Neste caso, o STF entendeu que a EMGERPI não exerce
atividade econômica em regime de concorrência, devendo, portanto, ser submetida ao
regime de precatório. STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
23/3/2017 (Info 858). No caso concreto envolvendo a EMGERPI, a Justiça do Trabalho
condenou a empresa a pagar determinadas dívidas trabalhistas e, como estas não foram
quitadas, o magistrado determinou a penhora de valores contidos na conta única do Estado do
Piauí (sócio majoritário da EMGERPI). O STF cassou a decisão afirmando que a execução
deveria seguir o rito dos precatórios e que a penhora efetuada poderia comprometer as
finanças do Estado, além de acarretar dificuldades na execução de políticas públicas. O Min.
Gilmar Mendes destacou que a decisão do magistrado afrontava diretamente o regime de
precatórios estabelecido no art. 100 da CF/88 e também os princípios constitucionais da
atividade financeira estatal, em especial o da legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF/88).
Além disso, a referida ordem de bloqueio constituía interferência indevida, em ofensa aos
princípios da independência e da harmonia entre os Poderes (art. 2º, da CF/88).

3) Companhia de Desenvolvimento de Recursos Minerais da Paraíba (CDRM/PB): Trata-se de


sociedade de economia mista que tem por finalidade executar programas e projetos de
desenvolvimento de recursos minerais e hídricos no Estado da Paraíba. STF. Plenário. ADPF
275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 17/10/18 (Info 920).

9.2. EMPRESAS PÚBLICAS: Os Correios têm o dever jurídico de motivar, em ato formal,
a demissão de seus empregados – (Info 919) – IMPORTANTE!!!

A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) tem o dever jurídico de motivar, em


ato formal, a demissão de seus empregados.
STF. Plenário. RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 10/10/18 (repercussão geral)
(Info 919).
OBS:
Em que consiste a estabilidade do art. 41 da CF/88?
- É a garantia constitucional
- conferida ao servidor público estatutário,
- nomeado em virtude de concurso público
- para cargo de provimento efetivo,
- de permanecer no serviço público,
- desde que tenha completado mais de três anos de efetivo exercício e
- tenha sido aprovado em avaliação especial de desempenho realizada por comissão instituída
para essa finalidade.

Veja o texto constitucional:


Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores
nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso
público. (...)
§ 4º Como condição para a aquisição da estabilidade, é obrigatória a
avaliação especial de desempenho por comissão instituída para essa
finalidade.

Os servidores de empresas públicas e sociedades de economia mista, admitidos por concurso


público, gozam da estabilidade do art. 41 da CF/88? NÃO. A estabilidade do art. 41 da CF/88
é conferida apenas aos servidores estatutários. Os agentes públicos que atuam nas empresas
públicas e sociedades de economia mista são servidores celetistas (empregados públicos).
Logo, não gozam de estabilidade.

Os empregados das empresas públicas e sociedades de economia mista podem ser demitidos
sem motivação? Em 2013, o STF, ao analisar um caso envolvendo um empregado dos Correios
que havia sido demitido sem motivação, decidiu que NÃO.
Em outras palavras, o STF afirmou que a conduta da empresa pública foi errada e que a ECT
(Correios) tem o dever de motivar formalmente o ato de dispensa de seus empregados. STF.
Plenário. RE 589998, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 20/3/13 (Info 699).

Principais argumentos para essa conclusão:


 Os servidores dos Correios, mesmo admitidos por concurso público, não gozam da
estabilidade preconizada no art. 41 da CF/88. No entanto, apesar de não possuírem
estabilidade, somente podem ser demitidos por meio de um procedimento formal,
assegurado ao empregado o direito ao contraditório e à ampla defesa, e ao final, esta
demissão deverá ser sempre motivada.
 Os Correios possuem natureza jurídica de direito privado, mas se submetem a um
regime híbrido, ou seja, sujeitam-se a um conjunto de limitações que tem por
objetivo a realização do interesse público. Explicando de outra forma, esta entidade
submete-se a regras de direito privado, mas tais normas sofrem uma derrogação
parcial (mitigação) em favor de certas regras de direito público. Logo, o regime
aplicável à ECT não é inteiramente privado.
 Exemplos de derrogações das normas de direito privado em favor de normas de
direito público: teto remuneratório, proibição de acumulação de cargos, empregos e
funções, exigência de concurso etc.
 Assim, o regime dos empregados públicos não está sujeito integralmente às regras
da CLT, havendo uma derrogação (mitigação) em favor de regras de normas de
direito público, dentre elas os princípios administrativos contemplados no art. 37 da
CF/88.
 No caso, a motivação da demissão é justificada com base nos princípios da isonomia
e impessoalidade, evitando favorecimento ou perseguição de empregados públicos.
 Além disso, como os empregados são admitidos por concurso público, não é razoável
que sejam dispensados de forma imotivada, ou seja, sem que se observe um
paralelismo entre a admissão e a dispensa.

Sobre o tema, vale mencionar os seguintes entendimentos do TST:


Súmula nº 390
I – O servidor público celetista da administração direta, autárquica
ou fundacional é beneficiário da estabilidade prevista no art. 41 da
CF/1988.
II – Ao empregado de empresa pública ou de sociedade de
economia mista, ainda que admitido mediante aprovação em
concurso público, não é garantida a estabilidade prevista no art. 41
da CF/1988.

OJ nº 247 SDI-I
I – A despedida de empregados de empresa pública e de sociedade
de economia mista, mesmo admitidos por concurso público,
independe de ato motivado para sua validade;
II – A validade do ato de despedida do empregado da Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) está condicionada à
motivação, por gozar a empresa do mesmo tratamento destinado à
Fazenda Pública em relação à imunidade tributária e à execução por
precatório, além das prerrogativas de foro, prazos e custas
processuais.

Redação ampla da ementa: Conforme já dito, o caso concreto no qual o STF decidiu esse tema
envolvia um empregado dos Correios. Ocorre que a ementa do julgado ficou extremamente
genérica, especialmente o item II. Confira:
EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS – ECT.
DEMISSÃO IMOTIVADA DE SEUS EMPREGADOS.
IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE MOTIVAÇÃO DA
DISPENSA. RE PARCIALEMENTE PROVIDO.
I - Os empregados públicos não fazem jus à estabilidade prevista no
art. 41 da CF, salvo aqueles admitidos em período anterior ao
advento da EC nº 19/1998. Precedentes.
II - Em atenção, no entanto, aos princípios da impessoalidade e
isonomia, que regem a admissão por concurso público, a dispensa
do empregado de empresas públicas e sociedades de economia
mista que prestam serviços públicos deve ser motivada,
assegurando-se, assim, que tais princípios, observados no
momento daquela admissão, sejam também respeitados por
ocasião da dispensa.
III – A motivação do ato de dispensa, assim, visa a resguardar o
empregado de uma possível quebra do postulado da
impessoalidade por parte do agente estatal investido do poder de
demitir.
IV - Recurso extraordinário parcialmente provido para afastar a
aplicação, ao caso, do art. 41 da CF, exigindo-se, entretanto, a
motivação para legitimar a rescisão unilateral do contrato de
trabalho.
STF. Plenário. RE 589998, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado
em 20/03/2013.

Além disso, se você ler o voto do Min. Ricardo Lewandoski, vai perceber que ele fala de forma
também genérica, incluindo indistintamente todas as empresas públicas e sociedades de
economia mista. Diante disso, os livros e os professores passaram a dizer que a decisão do STF
no RE 589998 valeria para todas as empresas públicas e sociedades de economia mista.

Inconformismo de outras empresas públicas e sociedades de economia mista: Ocorre que


outras empresas públicas e sociedades de economia mista que exploram atividade econômica
não se conformaram com isso dizendo que elas são diferentes dos Correios e que a ECT recebe
tratamento muito parecido com o de Fazenda Pública, tanto que goza de imunidade tributária
(STF RE 601392, Rel. p/ Acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 28/02/2013). Assim, o
Banco do Brasil (sociedade de economia mista federal que explora atividade econômica)
ingressou com embargos de declaração dizendo o seguinte: olha, há uma obscuridade no
acórdão. Isso porque só se discutiu a questão dos Correios e a tese ficou muito genérica. Seria
bom o STF esclarecer essa questão.
Decisão dos embargos: Em 2018, o STF, ao julgar os embargos de declaração, afirmou que a
referida decisão (RE 589998/PI) só se aplica realmente para os Correios, considerando que o
caso concreto envolvia um empregado da ECT. Quanto às demais empresas públicas e
sociedades de economia mista, o STF afirmou que ainda não decidiu o tema, ou seja, terá que
ser analisado caso a caso. Assim, por enquanto, essa decisão, ao menos formalmente, só se
aplica para os Correios. O STF retificou a tese genérica que havia fixado anteriormente e agora
afirmou que:
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) tem o dever
jurídico de motivar, em ato formal, a demissão de seus
empregados. STF. Plenário. RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto
Barroso, julgado em 10/10/2018 (Info 919).

9.3. EMPRESAS PÚBLICAS: É possível aplicar o regime de precatórios às empresas


públicas? – (Info 910)

Não se submetem ao regime de precatório as empresas públicas dotadas de personalidade


jurídica de direito privado com patrimônio próprio e autonomia administrativa que exerçam
atividade econômica sem monopólio e com finalidade de lucro.
STF. 1ª Turma. RE 892727/DF, rel. orig. Min. Alexandre de Morais, red. p/ o ac. Min. Rosa
Weber, j. 7/8/18 (Info 910).
OBS:
Regime de precatórios: O art. 100 da CF/88 prevê que, se a Fazenda Pública Federal, Estadual,
Distrital ou Municipal for condenada por sentença judicial transitada em julgado a pagar
determinada quantia a alguém, este pagamento será feito sob um regime especial chamado de
“precatório”:
Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal,
Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária,
far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos
precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação
de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos
adicionais abertos para este fim.

O regime de precatórios é um privilégio instituído em favor da Fazenda Pública, considerando


que ela não terá que pagar imediatamente o valor para o qual foi condenada, ganhando, assim,
um "prazo" maior.

Quem tem o privilégio de pagar por meio de precatório? A quem se aplica o regime dos
precatórios? As Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais.
Essa expressão abrange:
 União, Estados, DF e Municípios (administração direta);
 Autarquias;
 Fundações;
 Empresas públicas prestadoras de serviço público (ex: Correios);
 Sociedades de economia mista prestadoras de serviço público de atuação própria do
Estado e de natureza não concorrencial.

Empresas públicas: Empresa pública é...


- a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado,
- com criação autorizada por lei e
- com patrimônio próprio,
- cujo capital social é integralmente detido pela União, pelos Estados, pelo DF ou pelos
Municípios.

Observação importante: É permitido que uma empresa pública seja formada por mais de um
ente (ex: União e Estado-membro) ou entidade (ex: Estado-membro e empresa pública federal).
Veja o que diz a Lei nº 13.303/2016:
Art. 3º (...)
Parágrafo único. Desde que a maioria do capital votante permaneça
em propriedade da União, do Estado, do Distrito Federal ou do
Município, será admitida, no capital da empresa pública, a
participação de outras pessoas jurídicas de direito público interno,
bem como de entidades da administração indireta da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

Finalidade das empresas públicas e sociedades de economia mista: As empresas públicas e as


sociedades de economia mista podem:
a) Explorar atividades de natureza econômica;
b) Executar serviços públicos.

O objetivo precípuo do Poder Público não é a realização de atividades econômicas, mas sim a
prestação de serviços públicos. Por essa razão, a Constituição Federal (art. 173) prevê que o
Estado somente deverá fazer a exploração direta da atividade econômica quando isso for
necessário por razões de:
 Segurança nacional ou
 Relevante interesse coletivo.

A Lei nº 13.303/2016 determina que:


Art. 2º A exploração de atividade econômica pelo Estado será
exercida por meio de empresa pública, de sociedade de economia
mista e de suas subsidiárias.

Desse modo, se o Poder Público decide desenvolver determinada atividade econômica, ele
precisará fazer isso por meio de uma empresa pública ou sociedade de economia mista.

Bens: Como são pessoas jurídicas de direito privado, os bens das empresas públicas e das
sociedades de economia mista são classificados como bens privados (art. 98 do Código Civil).
Assim, em regra, as normas que regem esses bens são de direito privado, ou seja, recebem o
mesmo tratamento de bens privados. No entanto, apesar disso, existem algumas mitigações a
essa regra, isto é, situações nas quais se aplicam normas de direito público para esses bens
quando tais entidades forem prestadoras de serviços públicos. Ex: proibição da penhora dos
bens que sejam necessários à continuidade dos serviços.

O regime de precatórios é aplicável para as empresas públicas? Depende:


1) Se for uma empresa pública prestadora de serviços públicos: SIM. Embora, em regra, as
sociedades de economia mista e as empresas públicas estejam submetidas ao regime próprio
das pessoas jurídicas de direito privado, o STF tem estendido algumas prerrogativas da
Fazenda Pública a determinadas empresas estatais prestadoras de relevantes serviços
públicos. Exemplos: Correios (ECT), Casa da Moeda, Infraero e companhias estaduais de
saneamento básico (nas hipóteses em que o capital social seja majoritariamente público e o
serviço seja prestado em regime de exclusividade e sem intuito de lucro). Nesse sentido:
A Casa da Moeda do Brasil executa e presta serviço público
mediante outorga da União. A CF/88 conferiu a ela, em regime de
monopólio, o encargo de emitir moeda (art. 21, VII).
Em razão disso, o STF atribuiu à Casa da Moeda as prerrogativas
de Fazenda Pública, como imunidade tributária e execução pelo
regime de precatórios. STF. 1ª Turma. RE 1009828 AgR, Rel. Min.
Roberto Barroso, julgado em 24/08/2018.

2) Se for uma empresa pública que desenvolva atividade econômica sem monopólio e com
finalidade de lucro: NÃO.
Não se submetem ao regime de precatório as empresas públicas
dotadas de personalidade jurídica de direito privado com
patrimônio próprio e autonomia administrativa que exerçam
atividade econômica sem monopólio e com finalidade de lucro.
STF. 1ª Turma. RE 892727/DF, rel. orig. Min. Alexandre de Morais,
red. p/ o ac. Min. Rosa Weber, julgado em 7/8/2018 (Info 910).
9.4. É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de economia mista? – (Info
812) – IMPORTANTE!!! ATENÇÃO!!! ADVOCACIA PÚBLICA!!! – (MPSC-2016)

As sociedades de economia mista prestadoras de serviço público de atuação própria do


Estado e de natureza não concorrencial submetem-se ao regime de precatório.
O caso concreto no qual o STF decidiu isso envolvia uma sociedade de economia mista
prestadora de serviços de abastecimento de água e saneamento que prestava serviço público
primário e em regime de exclusividade. O STF entendeu que a atuação desta sociedade de
economia mista correspondia à própria atuação do Estado, já que ela não tinha objetivo de
lucro e o capital social era majoritariamente estatal. Logo, diante disso, o STF reconheceu
que ela teria direito ao processamento da execução por meio de precatório.
STF. 2ª Turma. RE 852302 AgR/AL, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 15/12/15 (Info 812).
(MPSC-2016): Segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal, as sociedades de
economia mista prestadoras de serviço público de atuação própria do Estado e de natureza
não concorrencial submetem-se ao regime de precatório.

9.5. CE não pode ampliar a abrangência do art. 19 do ADCT da CF/88 – (Info 759)

É INCONSTITUCIONAL norma da Constituição estadual que amplia a abrangência do art.


19 do ADCT da CF/88 e confere estabilidade para servidores das empresas públicas e
sociedades de economia mista que ingressaram sem concurso público até cinco anos antes
da CF/88.
STF. Plenário. ADI 1808/AM, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 18/9/2014 (Info 759).

10. AGÊNCIAS REGULADORAS


10.1. AGÊNCIAS REGULADORAS E FUNÇÃO NORMATIVA: É constitucional a previsão
de que a ANVISA pode proibir produtos e insumos em caso de violação da legislação ou de
risco iminente à saúde, inclusive cigarros com sabor e aroma – (Info 889)

É constitucional o art. 7º, III e XV, da Lei 9.782/99, que preveem que compete à ANVISA:
III - estabelecer normas, propor, acompanhar e executar as
políticas, as diretrizes e as ações de vigilância sanitária;
XV - proibir a fabricação, a importação, o armazenamento, a
distribuição e a comercialização de produtos e insumos, em caso
de violação da legislação pertinente ou de risco iminente à saúde;

Entendeu-se que tais normas consagram o poder normativo desta agência reguladora, sendo
importante instrumento para a implementação das diretrizes, finalidades, objetivos e
princípios expressos na Constituição e na legislação setorial.
Além disso, o STF, após empate na votação, manteve a validade da Resolução RDC 14/2012-
ANVISA, que proíbe a comercialização no Brasil de cigarros com sabor e aroma. Esta parte
do dispositivo não possui eficácia erga omnes e efeito vinculante. Significa dizer que,
provavelmente, as empresas continuarão ingressando com ações judiciais, em 1ª instância,
alegando que a Resolução é inconstitucional e pedindo a liberação da comercialização dos
cigarros com aroma. Os juízes e Tribunais estarão livres para, se assim entenderem,
declararem inconstitucional a Resolução e autorizar a venda. Existem, inclusive, algumas
decisões nesse sentido e que continuam valendo.
STF. Plenário. ADI 4874/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 1º/2/18 (Info 889).

10.2. Lei estadual que trata sobre a nomeação e destituição de dirigentes de agências
reguladoras – (Info 759) – (Anal. Previdência/IPERON-2017)
É CONSTITUCIONAL lei estadual que prevê que os dirigentes de determinada agência
reguladora somente poderão ser nomeados após previamente aprovados pela Assembleia
Legislativa.
Por outro lado, é INCONSTITUCIONAL a lei estadual que estabelece que os dirigentes de
agência reguladora somente poderão ser destituídos de seus cargos por decisão exclusiva da
Assembleia Legislativa, sem qualquer participação do Governador do Estado. Essa previsão
viola o princípio da separação dos poderes (at. 2º da CF/88).
STF. Plenário. ADI 1949/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 17/9/14 (Info 759).
(Anal. Previdência/IPERON-2017-IBADE): As Agências Reguladoras tomaram um espaço
de destaque no cenário do Direito Administrativo brasileiro, especialmente a partir da
Constituição de 1988. São autarquias em regime especial, sendo dotadas de algumas
características especiais. Identifique a alternativa correta acerca das Agências Reguladoras:
Será considerada inconstitucional lei estadual que venha estabelecer que os dirigentes de
agência reguladora estadual somente possam ser destituídos de seus cargos por decisão
exclusiva da respectiva Assembleia Legislativa estadual, sem qualquer participação do
Governador desse Estado. BL: Info 759, STF.

11. RESPONSABILIDADE CIVIL


11.1. Responsabilidade civil da concessionária que administra a rodovia por furto ocorrido
em seu pátio – (Info 901)

A pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviço público possui responsabilidade


civil em razão de dano decorrente de crime de furto praticado em suas dependências, nos
termos do art. 37, § 6º, da CF/88.
Caso concreto: Em 1997, o caminhão de uma empresa transportadora foi parado na balança
de pesagem na Rodovia Anhanguera (SP), quando se constatou excesso de peso. Vale
ressaltar que esta rodovia era administrada pela DERSA. Os agentes da concessionária
determinaram que o condutor estacionasse o veículo no pátio da concessionária e, em
seguida, conduziram-no até o escritório para ser autuado.
Aproximadamente 10 minutos depois, ao retornar da autuação para o caminhão, o condutor
observou que o veículo havia sido furtado.
O STF condenou a Dersa – Desenvolvimento Rodoviário S/A, empresa concessionária
responsável pela rodovia a indenizar a transportadora.
O Supremo reconheceu a responsabilidade civil da prestadora de serviço público, ao
considerar que houve omissão no dever de vigilância e falha na prestação e organização do
serviço.
STF. 1ª Turma. RE 598356/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 8/5/2018 (Info 901).
OBS: Com base no art. 37, § 6º, da CF/88, o Min. Marco Aurélio entendeu que há
responsabilidade civil objetiva do Estado, ou da empresa prestadora do serviço público, em
razão de dano decorrente de crime de furto praticado em posto de pesagem, considerada a
omissão no dever de vigilância e falha na prestação e organização do serviço. Vamos relembrar
o que diz o art. 37, § 6º da CF/88:
Art. 37 (...)
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado
prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito
de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Repare que o STF reconheceu a responsabilidade objetiva da concessionária pela omissão no


dever de vigilância e falha na prestação e organização do serviço. O Min. Marco Aurélio
considerou que o Estado, por ter maior quantidade de poderes e prerrogativas, deve suportar
o ônus das atividades desenvolvidas. “Não há espaço para afastar responsabilidade
independentemente de culpa, mesmo sob a ótica da omissão, ante o princípio da legalidade,
presente a teoria do risco administrativo”.
Ainda segundo o Ministro Relator, o STF, no RE 841526, consolidou o entendimento de que o
art. 37, § 6º da CF/88 aplica-se também para as omissões administrativas.

11.2. Constitucionalidade do art. 1ºC da Lei 9.494/97 – (Info 824)

A fixação do prazo prescricional de 5 anos para os pedidos de indenização por danos


causados por agentes de pessoas jurídicas de direito público e de pessoas jurídicas de direito
privado prestadoras de serviços públicos, constante do art. 1º-C da Lei 9.494/97, é
constitucional.
STF. Plenário. ADI 2418/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 4/5/2016 (Info 824).
OBS:
MP 2.102-27/2001 e o art. 1ºC da Lei nº 9.494/97: A MP 2.102-27/01 inseriu o art. 1º C na Lei nº
9.494/97 prevendo o seguinte:

Art. 1º-C. Prescreverá em cinco anos o direito de obter indenização


dos danos causados por agentes de pessoas jurídicas de direito
público e de pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de
serviços públicos.

Esse dispositivo inserido é constitucional? SIM. Em verdade, esse preceito apenas reproduz
o que já era previsto no art. 1º do Decreto 20910/32. A única novidade foi incluir, entre os
destinatários da norma, as pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público,
atribuindo-lhes o mesmo regime prescricional das pessoas jurídicas de direito público.

Essa equiparação se justifica em razão do disposto no § 6º do art. 37 da CF/88, que


expressamente equipara essas entidades às pessoas de direito público relativamente ao regime
de responsabilidade civil pelos atos praticados por seus agentes. Vale ressaltar que, em razão
da previsão específica do art. 1º C da Lei nº 9.494/97, o prazo prescricional para ações de
indenização contra a Fazenda Pública e contra as pessoas jurídicas de direito privado
prestadoras de serviços públicos é de 5 anos, não se aplicando o prazo de 3 anos previsto no
art. 206, § 3º, V, do Código Civil.

12. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO


12.1. O Estado responde, objetivamente, pelos danos causados por notários e registradores
– (Info 932) – IMPORTANTE!!! REPERCUSSÃO GERAL!!!

O Estado responde, objetivamente, pelos atos dos tabeliães e registradores oficiais que, no
exercício de suas funções, causem dano a terceiros, assentado o dever de regresso contra o
responsável, nos casos de dolo ou culpa, sob pena de improbidade administrativa.
O Estado possui responsabilidade civil direta, primária e objetiva pelos danos que notários
e oficiais de registro, no exercício de serviço público por delegação, causem a terceiros.
STF. Plenário. RE 842846/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, j. 27/2/19 (repercussão geral) (Info 932).
OBS:
Ação de regresso: Vale ressaltar que, se o Estado for condenado e pagar a indenização à vítima,
ele tem o dever de cobrar de volta do tabelião ou registrador o valor que pagou. Em outras
palavras, depois de pagar a indenização, o Estado deve, obrigatoriamente, ajuizar ação de
regresso contra o responsável pelo dano. Se o Estado não ajuizar a ação de regresso, os
agentes públicos responsáveis por isso (exs: Governador, Procurador-Geral do Estado,
Secretário de Fazenda, a depender do caso concreto e da organização administrativa do ente)
poderão responder por ato de improbidade administrativa.

Nesta ação de regresso, o Estado, para ser indenizado, deverá comprovar que o tabelião ou
registrador agiu com dolo ou culpa? Qual é o tipo de responsabilidade civil dos notários e
registradores? SIM. Trata-se de responsabilidade SUBJETIVA.

Ação de indenização proposta por pessoa que sofreu


dano em razão de ato de notário ou registrador
Se for proposta contra o Estado: Se for proposta contra o tabelião ou
registrador:
Responsabilidade objetiva. Responsabilidade subjetiva
Prazo prescricional: 5 anos. Prazo prescricional: 3 anos
Receberá por precatório ou RPV. Receberá por execução comum.

A Lei 13.286/16 alterou o art. 22 da Lei nº 8.935/94 prevendo que a responsabilidade civil dos
notários e registradores é subjetiva. Essa opção do legislador é válida ou viola o art. 37, § 6º
da CF/88? O legislador poderia ter estipulado a responsabilidade subjetiva? Esse dispositivo
é constitucional? A maioria dos Ministros entendeu que sim, ou seja, trata-se de dispositivo
constitucional. O art. 236, § 1º, da CF/88 é uma norma de eficácia limitada na qual o
constituinte outorgou competência para o legislador infraconstitucional definir qual seria o
regime de responsabilidade dos notários e registradores. Veja:
Art. 236 (...)
§ 1º Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e criminal
dos notários, dos oficiais de registro e de seus prepostos, e definirá a fiscalização
de seus atos pelo Poder Judiciário.

Assim, a responsabilidade civil dos notários e registradores não precisa ser,


necessariamente, objetiva, tal qual prevê o art. 37, § 6º, da CF/88, considerando que o
constituinte facultou ao legislador a opção de estipular regra diversa. Em outras palavras, a
própria Constituição Federal retirou o assento constitucional da regulação da responsabilidade
civil e criminal dos notários, relegando-a à autoridade legislativa.

A disciplina conferida à matéria pelo legislador consagra a responsabilidade civil subjetiva


dos notários e oficiais de registro. Portanto, não compete ao STF fazer interpretação
analógica e extensiva, a fim de equiparar o regime jurídico da responsabilidade civil de
notários ao das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos (art. 37,
§ 6º, da CF/88). Ademais, o art. 37, § 6º, da CF/88 se refere a “pessoas jurídicas” prestadoras
de serviços públicos, ao passo que notários e tabeliães respondem civilmente como “pessoas
naturais” delegatárias de serviço público, nos termos do referido dispositivo legal.

Jurisprudência do STF: Vale ressaltar que a conclusão acima exposta já era o entendimento do
STF. No entanto, o STJ possuía inúmeros julgados em sentido diferente (ex: AgRg no REsp
1377074/RJ) e agora aquele Tribunal terá que se adequar à posição do STF, tendo em vista que
a tese foi fixada sob a sistemática da repercussão geral.

Como o tema já foi cobrado em concursos:


 (Analista Judiciário - TRF 2 - CONSUPLAN - 2017) A Administração Pública responde
objetivamente pelos atos cometidos por notários e oficiais de registro que, no exercício
de sua função, causem prejuízos a terceiros (Gabarito da Banca: Errado; Gabarito
Atualizado: CORRETO)

12.2. Estado deve indenizar preso que se encontre em situação degradante – (Info 854) –
IMPORTANTE!!! – REPERCUSSÃO GERAL!!! (TJPB-2015) (TJDFT-2015) (DPERS-2018)

Considerando que é dever do Estado, imposto pelo sistema normativo, manter em seus
presídios os padrões mínimos de humanidade previstos no ordenamento jurídico, é de sua
responsabilidade, nos termos do art. 37, § 6º, da Constituição, a obrigação de ressarcir os
danos, inclusive morais, comprovadamente causados aos detentos em decorrência da falta
ou insuficiência das condições legais de encarceramento.
Portanto, a violação a direitos fundamentais causadora de danos pessoais a detentos em
estabelecimentos carcerários não pode ser simplesmente relevada ao argumento de que a
indenização não tem alcance para eliminar o grave problema prisional globalmente
considerado, que depende da definição e da implantação de políticas públicas específicas,
providências de atribuição legislativa e administrativa, não de provimentos judiciais.
STF. Plenário. RE 580252/MS, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes,
j. 16/2/17 (repercussão geral) (Info 854).
(DPERS-2018-FCC): Em uma unidade prisional brasileira, superlotada e na qual ocorrem
violações diárias de direitos humanos pela ausência de condições mínimas de saúde,
higiene, segurança e preservação da intimidade, um preso cumpriu integralmente o
tempo correspondente de privação de liberdade de determinada pena. No período, foi
assediado moral e fisicamente de várias formas, ficou diversas vezes privado de sol e de
banho, não dormiu por muitas noites por falta de colchões, desenvolveu doença
pulmonar e ficou viciado em crack, substância com a qual jamais havia tido contato antes
da privação de liberdade. O Estado em que situada a unidade prisional passa por
gravíssima crise financeira e atrasa salários de seus servidores, mas aplica na gestão da
saúde, educação e segurança pública os percentuais constitucionais e legais mínimos
previstos, além de gastar nos limites de sua lei orçamentária, o que foi respeitado durante
todo o período em que o apenado cumpriu pena. Considerando a situação acima e a
jurisprudência recente do STF, decidida em sede de repercussão geral, que se assemelha
ao fato narrado, considerada a Teoria da Reserva do Possível, os danos experimentados
pelo preso deverão ser indenizados pelo Estado, tanto os danos materiais como os morais,
independentemente de comprovação de culpa na fiscalização das condições de saúde e
higiene da unidade prisional, sendo irrelevante conhecer se foram aplicados todos os
recursos previstos na lei orçamentária nas áreas da segurança e saúde prisional. BL: STF,
Info 854.
OBS:
Estado é responsável guarda e segurança dos presos: O Estado é responsável pela guarda e
segurança das pessoas submetidas a encarceramento, enquanto ali permanecerem detidas.
Assim, é dever do Poder Público mantê-las em condições carcerárias com mínimos padrões de
humanidade estabelecidos em lei, bem como, se for o caso, ressarcir os danos que daí
decorrerem. A jurisprudência do STF entende que o Estado possui responsabilidade objetiva
pela integridade física e psíquica daqueles que estão sob sua custódia.
“A negligência estatal no cumprimento do dever de guarda e
vigilância dos detentos configura ato omissivo a dar ensejo à
responsabilidade objetiva do Estado, uma vez que, na condição de
garante, tem o dever de zelar pela integridade física dos
custodiados” (trecho do voto do Min. Gilmar Mendes no ARE
662563 AgR, julgado em 20/03/2012).

Dever imposto pelo ordenamento nacional e internacional: O dever do Estado de garantir a


segurança pessoal, física e psíquica dos detentos é imposto não apenas no ordenamento
nacional, mas também por compromissos internacionais assumidos pelo Brasil.
Vejamos o fundamento constitucional, legal e convencional:
 Constituição Federal, art. 5º, XLVII, “e”; XLVIII; XLIX;
 Lei 7.210/84 (LEP), arts. 10; 11; 12; 40; 85; 87; 88;
 Lei 9.455/97 (Lei de tortura);
 Lei 12.874/2013 (Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura);
 Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos das Nações Unidas, de 1966, arts. 2; 7;
10; e 14;
 Convenção Americana de Direitos Humanos, de 1969, arts. 5º; 11; 25;
 Princípios e Boas Práticas para a Proteção de Pessoas Privadas de Liberdade nas
Américas – Resolução 01/08, aprovada em 13 de março de 2008, pela Comissão
Interamericana de Direitos Humanos;
 Convenção da ONU contra Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis,
Desumanos ou Degradantes, de 1984; e
 Regras Mínimas para o Tratamento de Prisioneiros – adotadas no 1º Congresso das
Nações Unidas para a Prevenção ao Crime e Tratamento de Delinquentes, de 1955.

Péssimas condições do sistema prisional: Como é do conhecimento de todos, o sistema


prisional brasileiro vive uma grande crise. São observados inúmeros problemas, como a
superlotação e a falta de condições mínimas de saúde e de higiene.
O STF, inclusive, já reconheceu que o sistema penitenciário brasileiro vive um "Estado de
Coisas Inconstitucional", com uma violação generalizada de direitos fundamentais dos
presos. As penas privativas de liberdade aplicadas nos presídios acabam sendo penas cruéis e
desumanas. A ausência de medidas legislativas, administrativas e orçamentárias eficazes
representa uma verdadeira "falha estrutural" que gera ofensa aos direitos dos presos, além da
perpetuação e do agravamento da situação. Nesse sentido: STF. Plenário. ADPF 347 MC/DF,
Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/9/2015 (Info 798).

Responsabilidade civil do Estado: A Constituição Federal determina que cabe ao Estado


responder pelos danos causados por ação ou omissão de seus agentes, em face da
autoaplicabilidade do art. 37, § 6º:
Art. 37 (...)
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado
prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito
de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

O Estado possui o dever de manter em seus presídios os padrões mínimos de humanidade


previstos no ordenamento jurídico. Se esse dever é descumprido, surge para o Poder Público
a responsabilidade de ressarcir os danos, inclusive morais, comprovadamente causados aos
detentos em decorrência da falta ou insuficiência das condições legais de encarceramento.
Assim, ocorrido o dano e estabelecido o seu nexo causal com a atuação da Administração ou
dos seus agentes, nasce a responsabilidade civil do Estado.

Não aplicação do princípio da reserva do possível: Não há como acolher o argumento que
invoca o "princípio da reserva do possível". Segundo este princípio, os recursos públicos são
limitados e as necessidades ilimitadas, de forma que não há condições financeiras de o Estado
atender a todas as demandas sociais. Ocorre que só faz sentido considerar este princípio em
ações judiciais nas quais está sendo pedida a implementação de direitos fundamentais a
prestações, especialmente direitos de natureza social (ex: saúde, educação etc.). Em tais casos,
discute-se se é possível conceder o direito pleiteado mesmo que não haja, em tese, capacidade
financeira do Estado. Aqui, contudo, a situação é diferente. Neste caso, a matéria jurídica se
situa no âmbito da responsabilidade civil do Estado de responder pelos danos causados por
ação ou omissão de seus agentes, nos termos previstos no art. 37, § 6º, da CF/88. Trata-se de
dispositivo autoaplicável (de eficácia plena), que não depende de lei ou de qualquer outra
providência administrativa. Ocorrendo o dano e estabelecido o seu nexo causal com a atuação
da Administração ou dos seus agentes, nasce a responsabilidade civil do Estado.

A criação de subterfúgios teóricos, tais como a separação dos Poderes, a reserva do possível e
a natureza coletiva dos danos sofridos, para afastar a responsabilidade estatal pelas
calamitosas condições da carceragem afronta não apenas o sentido do art. 37, § 6º, da CF, como
também gera o esvaziamento dos dispositivos constitucionais, convencionais e legais que
impõem ao Estado o dever do Estado de garantir a integridade física e psíquica dos detentos.

Quem deverá pagar esta indenização? O Estado-membro responsável pela unidade prisional.
Se as péssimas condições forem verificadas em presídio federal (o que não se tem verificado
na prática), neste caso a indenização seria paga pela União.

Como é o pagamento desta indenização? Pode ser de outra forma que não seja dinheiro? NÃO.
Durante os debates do julgamento, o Min. Barroso propôs que a indenização não fosse em
dinheiro, mas sim por meio de remição da pena. Em vez de receber uma reparação pecuniária,
os presos que sofrem danos morais por cumprirem pena em presídios com condições
degradantes teriam direito ao "abatimento" de dias da pena. Vale ressaltar que esta solução do
Ministro Barroso não tem previsão na lei e seria feita por meio da aplicação, por analogia, do
art. 126 da LEP:
Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou
semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do
tempo de execução da pena.
Pela proposta do Ministro, os danos morais causados a presos por superlotação ou condições
degradantes deveriam ser reparados, preferencialmente, pela remição de parte do tempo da
pena – à razão de um dia de remição para cada 3 a 7 dias cumpridos sob essas condições
adversas, a critério do juiz da Vara de Execuções Penais competente. Barroso argumentou que,
com a solução, ganha o preso, que reduz o tempo de prisão, e ganha o Estado, que se desobriga
de despender recursos com indenizações, dinheiro que pode ser, inclusive, usado na melhoria
do sistema.

O voto do Min. Barroso foi acompanhado por Luiz Fux e Celso de Mello, sendo, portanto,
minoritário (vencido).

Assim, a maioria do STF decidiu que a indenização deve ser mesmo em pecúnia.

Valor da condenação: O Estado do Mato Grosso do Sul foi condenado a indenizar o preso em
R$ 2 mil.

12.3. RESSARCIMENTO AO ERÁRIO: Prazo prescricional da ação de ressarcimento ao


erário – (Infos 813 e 830)

É prescritível a ação de reparação de danos à Fazenda Pública decorrente de ilícito civil.


Dito de outro modo, se o Poder Público sofreu um dano ao erário decorrente de um ilícito
civil e deseja ser ressarcido, ele deverá ajuizar a ação no prazo prescricional previsto em lei.
Vale ressaltar, entretanto, que essa tese não alcança prejuízos que decorram de ato de
improbidade administrativa que são considerados imprescritíveis (art. 37, § 5º).
STF. Plenário. RE 669069/MG, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 3/2/16 (repercussão geral) (Info
813).

Em embargos de declaração opostos contra esta decisão, o STF afirmou que:


a) O conceito de ilícito civil deve ser buscado pelo método de exclusão: não se consideram
ilícitos civis aqueles que decorram de infrações ao direito público, como os de natureza
penal, os decorrentes de atos de improbidade e assim por diante.
b) As questões relacionadas com o início do prazo prescricional não foram examinadas no
recurso extraordinário porque estão relacionadas com matéria infraconstitucional, que
devem ser decididas segundo a interpretação da legislação ordinária.
c) Não deveria haver modulação dos efeitos, considerando que na jurisprudência do STF
não havia julgados afirmando que as pretensões de ilícito civil seriam imprescritíveis. Logo,
o acórdão do STF não frustrou a expectativa legítima da Administração Pública.
STF. Plenário. RE 669069/MG, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 3/2/16 (repercussão geral) (Info
813).
STF. Plenário. RE 669069 ED/MG, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 16/6/16 (Info 830).

12.4. Responsabilidade civil do Estado em caso de morte de detento – (Info 819) –


IMPORTANTE!!! – (Anal.-CRBio/1ªRegião-2017) (TJMG-2018)

Em caso de inobservância de seu dever específico de proteção previsto no art. 5º, inciso
XLIX, da CF/88, o Estado é responsável pela morte de detento.
STF. Plenário. RE 841526/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 30/3/2016 (repercussão geral)
(Info 819).
(Analista-CRBio/1ªRegião-2017-VUNESP): A condenação dos Estados ao pagamento de
indeniza-ção às famílias de detentos, ainda que mortos por outros presos, encontra
fundamento na responsabilidade objetiva, prevista na Constituição Federal. BL: Info 819,
STF.

OBS:
Responsabilidade civil do Estado: É a obrigação que a Administração Pública tem de indenizar
os danos patrimoniais ou morais que seus agentes, atuando nesta qualidade, causarem a
terceiros.

Qual é o tipo de responsabilidade civil do Estado? Responsabilidade objetiva. Isso está


previsto no art. 37, § 6º da CF/88 e no art. 43 do Código Civil:

Art. 37 (...)
§ 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado
prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de
regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

ATENÇÃO: O §6º acima não está escrito expressamente que a responsabilidade é objetiva. A
doutrina e a jurisprudência, no entanto, de forma pacífica assim entendem por um motivo: o
dispositivo exige dolo ou culpa para que o agente público responda regressivamente, mas não
faz esta mesma exigência para que o Estado tenha que indenizar. Logo, interpreta-se que a
exigência de dolo ou culpa é unicamente para a ação regressiva.

Requisitos para que haja a responsabilidade civil do Estado: Quando se fala que a
responsabilidade do Estado é objetiva, isso significa que a pessoa que sofreu um dano causado
por um agente público terá que provar apenas três elementos:
a) conduta praticada por um agente público, nesta qualidade;
b) dano;
c) nexo de causalidade (demonstração de que o dano foi causado pela conduta).

Teorias do risco administrativo e do risco integral: A responsabilidade civil do Estado é


objetiva, ou seja, o lesado não precisa comprovar a culpa da Administração Pública. No
entanto, ainda persiste uma dúvida: o Estado deverá sempre indenizar? Ele poderá alegar
excludentes de responsabilidade para se isentar da indenização? Sobre este tema, destacamos
a existência de duas teorias principais:

Teoria que rege a teoria da responsabilidade civil do Estado:


 Regra: teoria do risco administrativo (o Estado pode invocar causas excludentes de
responsabilidade).
 Exceção: em alguns poucos casos, acolhe-se a teoria do risco integral.

Qual é o tipo de responsabilidade civil aplicável nos casos de omissão do Estado? Se a


Administração Pública causa um dano ao particular em virtude de uma conduta omissa, a
responsabilidade nesta hipótese também será objetiva? Existe intensa divergência sobre o
tema:
Veja alguns precedentes reconhecendo a responsabilidade objetiva:

(...) Responsabilidade objetiva prevista no art. 37, § 6º, da CF/88 abrange


também os atos omissivos do Poder Público. (...)
STF. 2ª Turma. RE 677283 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
17/04/2012.

(...) A jurisprudência da Corte firmou-se no sentido de que as pessoas


jurídicas de direito público respondem objetivamente pelos danos que
causarem a terceiros, com fundamento no art. 37, § 6º, da CF/88, tanto por
atos comissivos quanto por atos omissivos, desde que demonstrado o nexo
causal entre o dano e a omissão do Poder Público. (...)
STF. 2ª Turma. ARE 897890 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
22/09/2015.

ADVERTÊNCIA: o Estado responde de forma objetiva pelas suas omissões. No entanto, o nexo
de causalidade entre essas omissões e os danos sofridos pelos particulares só restará
caracterizado quando o Poder Público tinha o dever legal específico de agir para impedir o
evento danoso e mesmo assim não cumpriu essa obrigação legal. Assim, o Estado responde de
forma objetiva pelas suas omissões, desde que ele tivesse obrigação legal específica de agir
para impedir que o resultado danoso ocorresse. A isso se chama de "omissão específica" do
Estado. Dessa forma, para que haja responsabilidade civil no caso de omissão, deverá haver
uma omissão específica do Poder Público (STF. Plenário. RE 677139 AgR-EDv-AgR, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 22/10/2015).

Se um detento é morto dentro da unidade prisional, haverá responsabilidade civil do Estado?


SIM. A CF/88 determina que o Estado se responsabiliza pela integridade física do preso sob
sua custódia:

Art. 5º (...) XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e


moral;

Logo, o Poder Público poderá ser condenado a indenizar pelos danos que o preso venha a
sofrer. Esta responsabilidade é objetiva. Assim, a morte de detento gera responsabilidade civil
objetiva para o Estado em decorrência da sua omissão específica em cumprir o dever especial
de proteção que lhe é imposto pelo art. 5º, XLIX, da CF/88.

Ressalta-se, no entanto, que a responsabilidade civil neste caso, apesar de ser objetiva, é
regrada pela teoria do risco administrativo. Desse modo, o Estado poderá ser dispensado de
indenizar se ficar demonstrado que ele não tinha a efetiva possibilidade de evitar a ocorrência
do dano. Nas exatas palavras do Min. Luiz Fux: "(...) sendo inviável a atuação estatal para evitar
a morte do preso, é imperioso reconhecer que se rompe o nexo de causalidade entre essa
omissão e o dano. Entendimento em sentido contrário implicaria a adoção da teoria do risco
integral, não acolhida pelo texto constitucional (...)".

Em suma:
 Em regra: o Estado é objetivamente responsável pela morte de detento. Isso porque
houve inobservância de seu dever específico de proteção previsto no art. 5º, inciso
XLIX, da CF/88.
 Exceção: o Estado poderá ser dispensado de indenizar se ele conseguir provar que a
morte do detento não podia ser evitada. Neste caso, rompe-se o nexo de causalidade
entre o resultado morte e a omissão estatal.

Exemplo: Imagine que um detento está doente e precisa de tratamento médico. Ocorre que este
não lhe é oferecido de forma adequada pela administração penitenciária. Há claramente uma
violação ao art. 14 da LEP. Neste caso, se o preso falecer, o Estado deverá ser responsabilizado,
considerando que houve uma omissão específica e o óbito era plenamente previsível. Suponha,
no entanto, que o preso estivesse bem e saudável e, sem qualquer sinal anterior, sofre um mal
súbito no coração e cai morto instantaneamente no pátio do presídio. Nesta segunda hipótese,
o Poder Público não deverá ser responsabilizado por essa morte, já que não houve omissão
estatal e este óbito teria acontecido mesmo que o preso estivesse em liberdade.

O Estado pode ser responsabilizado pela morte do detento mesmo que ele se suicide?
SIM. Existem precedentes do STF e do STJ nesse sentido: STF. 2ª Turma. ARE 700927 AgR, Rel.
Min. Gilmar Mendes, julgado em 28/08/2012. Todavia, aqui também, como se adota a teoria
do risco administrativo, o Estado poderá provar alguma causa excludente de
responsabilidade. Assim, nem sempre que houver um suicídio, haverá responsabilidade civil
do Poder Público.

O Min. Luiz Fux exemplifica seu raciocínio com duas situações:


 Se o detento que praticou o suicídio já vinha apresentando indícios de que poderia agir
assim, então, neste caso, o Estado deverá ser condenado a indenizar seus familiares.
Isso porque o evento era previsível e o Poder Público deveria ter adotado medidas
para evitar que acontecesse.
 Por outro lado, se o preso nunca havia demonstrado anteriormente que poderia
praticar esta conduta, de forma que o suicídio foi um ato completamente repentino e
imprevisível, neste caso o Estado não será responsabilizado porque não houve
qualquer omissão atribuível ao Poder Público.

Vale ressaltar que é a Administração Pública que tem o ônus de provar a causa excludente de
responsabilidade.

Obs: Durante os debates o Min. Marco Aurélio defendeu que a responsabilidade do Estado em
caso de violações a direitos dos detentos seria baseada no risco integral. Trata-se, contudo, de
posicionamento minoritário.

12.5. RESSARCIMENTO AO ERÁRIO: Prazo prescricional da ação de ressarcimento ao


erário – (Info 813) – IMPORTANTE!!! (MPSC-2016)

É prescritível a ação de reparação de danos à Fazenda Pública decorrente de ilícito civil.


Dito de outro modo, se o Poder Público sofreu um dano ao erário decorrente de um ilícito
civil e deseja ser ressarcido, ele deverá ajuizar a ação no prazo prescricional previsto em lei.
Vale ressaltar, entretanto, que essa tese não alcança prejuízos que decorram de ato de
improbidade administrativa que, até o momento, continuam sendo considerados
imprescritíveis (art. 37, § 5º).
STF. Plenário. RE 669069/MG, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 03/02/2016 (repercussão
geral).
Principais argumentos:
 A prescritibilidade é a regra no Direito brasileiro, ou seja, em regra, as pretensões
indenizatórias estão sujeitas a prazos de prescrição. Para que uma pretensão seja
imprescritível, é indispensável que haja previsão expressa neste sentido.
 O § 5º do art. 37 da CF/88 deve ser lido em conjunto com o § 4º, de forma que ele, em
princípio, se refere apenas aos casos de improbidade administrativa.
 Se fosse realizada uma interpretação ampla da ressalva final contida no § 5º, isso faria com
que toda e qualquer ação de ressarcimento movida pela Fazenda Pública fosse imprescritível,
o que seria desproporcional.
 A prescrição é um instituto importante para se garantir a segurança e estabilidade das
relações jurídicas e da convivência social. É uma forma de se assegurar a ordem e a paz na
sociedade.
 Desse modo, a ressalva contida na parte final do § 5º do art. 37 da CF/88 deve ser
interpretada de forma estrita e não se aplica para danos causados ao Poder Público por força
de ilícitos civis.
 A tese acima fixada não vale para improbidade administrativa.

Por enquanto, podemos dizer que a jurisprudência entende o seguinte:


 Ações de ressarcimento decorrentes de ato de improbidade administrativa:
IMPRESCRITÍVEIS (§ 5º do art. 37 da CF/88).
Obs: apesar de já existirem precedentes neste sentido, isso poderá ser alterado pelo STF, que
irá novamente apreciar a questão em outro recurso extraordinário. O Ministros Roberto
Barroso e Marco Aurélio, por exemplo, indicaram que irão votar no sentido de que mesmo
as pretensões de ressarcimento nas ações de improbidade são prescritíveis.
 Ações de reparação de danos à Fazenda Pública decorrentes de ilícito civil: estão sujeitas à
prescrição (são prescritíveis) (RE 669069/MG).

12.6. Inconstitucionalidade de lei estadual que preveja pensão para cônjuges de todos os
falecidos por crimes hediondos – (Info 773)

É inconstitucional lei estadual (distrital) que preveja o pagamento de pensão especial a ser
concedida pelo Governo do Estado (Distrito Federal) em benefício dos cônjuges de pessoas
vítimas de crimes hediondos, independentemente de o autor do crime ser ou não agente do
Estado. Tal lei amplia, de modo desmesurado (irrazoável), a responsabilidade civil do
Estado prevista no art. 37, § 6º, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 1358/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/2/2015 (Info 773).

12.7. “Caso Varig”: responsabilidade da União por plano econômico que determinou o
congelamento das tarifas – (Info 738)

STF reconheceu que a União deve indenizar companhia aérea, que explorava os serviços de
aviação, sob o regime de concessão, pelos prejuízos causados decorrentes de plano
econômico que determinou o congelamento das tarifas de aviação.
STF. Plenário. RE 571969/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 12/3/2014 (Info 738).

13. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA


13.1. Imprescritibilidade da ação de ressarcimento ao erário em caso de atos de improbidade
praticados dolosamente – (Info 910) – IMPORTANTE!!!

São imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário fundadas na prática de ato doloso


tipificado na Lei de Improbidade Administrativa.
STF. Plenário. RE 852475/SP, Rel. orig. Min. Alexandre de Moraes, Rel. para acórdão Min.
Edson Fachin, j. 08/08/2018 (repercussão geral) (Info 910).
OBS:
Prescrição e atos de improbidade administrativa: Os atos de improbidade administrativa,
assim como ocorre com as infrações penais, também estão sujeitos a prazos prescricionais. Logo,
caso os legitimados ativos demorem muito tempo para ajuizar a ação de improbidade
administrativa contra o responsável pelo ato ímprobo, haverá a prescrição e a consequente perda
da pretensão punitiva.

Qual é o prazo prescricional para a propositura de ações de improbidade administrativa?


Como regra, 5 anos. Isso está previsto no art. 23 da Lei 8.429/92:
Art. 23. As ações destinadas a levar a efeitos as sanções previstas
nesta lei podem ser propostas:
I - até cinco anos após o término do exercício de mandato, de cargo
em comissão ou de função de confiança;
II - dentro do prazo prescricional previsto em lei específica para
faltas disciplinares puníveis com demissão a bem do serviço público,
nos casos de exercício de cargo efetivo ou emprego.
III - até cinco anos da data da apresentação à administração pública
da prestação de contas final pelas entidades referidas no parágrafo
único do art. 1o desta Lei.

Exceção: ressarcimento ao erário em casos de atos de improbidade praticados dolosamente: A


Lei 8.429/92 prevê, em seu art. 12, uma lista de sanções que podem ser aplicadas às pessoas
condenadas por ato de improbidade administrativa. São elas:
• perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente;
• perda da função pública;
• suspensão dos direitos políticos;
• multa civil; e
• proibição de contratar com o poder público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou
creditícios;
• ressarcimento integral do dano.

Uma das sanções acima é imprescritível: o ressarcimento integral do dano. O fundamento


para isso está na parte final do § 5º do art. 37 da CF/88:
Art. 37 (...)
§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a
suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a
indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e
gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
§ 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados
por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao
erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento.

Tese contrária à imprescritibilidade: Apesar da redação do § 5º do art. 37, muitas vozes se


levantavam contra a tese da imprescritibilidade. Argumentavam que a intenção do Poder
Constituinte não foi a de fixar a imprescritibilidade das ações de ressarcimento ao erário.
Segundo essa tese, a correta interpretação dos §§ 4º e 5º do art. 37 deveria ser a seguinte:
• o constituinte deu um comando ao legislador infraconstitucional: faça uma lei prevendo atos
de improbidade administrativa (§ 4º).
• as sanções para os atos de improbidade são a suspensão dos direitos políticos, a perda da
função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário (§ 4º);
• a lei deverá prever prazos prescricionais para a imposição dessas sanções (§ 5º);
• enquanto não houver lei prevendo quais são os atos de improbidade administrativa, não
poderão ser ajuizadas ações de improbidade administrativa pedindo a aplicação das sanções
previstas no § 4º;
• ficam ressalvadas dessa proibição as ações de ressarcimento (parte final do § 5º), ou seja,
mesmo sem lei expressa, as ações de ressarcimento já poderiam ser propostas.

Desse modo, para essa tese, o que a parte final do § 5º quis dizer foi unicamente que, mesmo
sem Lei de Improbidade Administrativa, poderiam ser ajuizadas ações pedindo o
ressarcimento ao erário. Isso porque o § 5º deve ser interpretado em conjunto com o § 4º. Como
reforço a esse argumento, alegaram que a Lei de Improbidade somente foi editada em 1992
(Lei nº 8.429/92). Logo, o objetivo do constituinte foi o de evitar que se alegasse que o
ressarcimento ao erário somente poderia ser exigido com a edição de lei. Por fim,
argumentavam que a Constituição Federal, quando quis, determinou a imprescritibilidade de
forma expressa. Ex: art. 5º, XLII (racismo) e XLIV (ação de grupos armados, civis ou militares,
contra a ordem constitucional e o Estado Democrático).

Veja as palavras do Min. Alexandre de Moraes, um dos adeptos dessa tese:


“A preocupação do legislador constituinte foi legítima, pois, em
virtude da exigência do § 4º de edição de lei específica para a
definição dos “atos de improbidade administrativa”, bem como da
forma e gradação da aplicação das sanções de suspensão dos direitos
políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e
o ressarcimento ao erário, poderiam surgir dúvidas sobre a recepção
do ordenamento jurídico que, desde a década de 1940, permitia
ações de ressarcimento no caso de improbidade administrativa,
apesar da inexistência de conceituação e de tipificação específica dos
denominados “atos de improbidade administrativa”.
Em outras palavras, com a promulgação da Constituição Federal de
1988, que ampliou a possibilidade de sanções por atos de
improbidade administrativa, e em respeito aos princípios da reserva
legal e da anterioridade, passou-se a exigir a edição de lei específica
para tipificar as condutas correspondentes a atos de improbidade
administrativa. Nesse momento, houve o justo receio do legislador
constituinte quanto à ocorrência de interpretações que passassem a
impossibilitar ações de ressarcimento ao erário pela prática de atos
ilícitos tradicionalmente entendidos como improbidade
administrativa, desde a década de 1940, mas ainda não tipificados
pela nova legislação, que somente foi editada em 1992.
A ressalva prevista no § 5º do art. 37 da CF não pretendeu
estabelecer uma exceção implícita de imprescritibilidade, mas
obrigar constitucionalmente a recepção das normas legais
definidoras dos instrumentos processuais e dos prazos
prescricionais para as ações de ressarcimento do erário, inclusive
referentes a condutas ímprobas, mesmo antes da tipificação legal
de elementares do denominado “ato de improbidade” (Decreto
20.910/1932, Lei 3.164/1957, Lei 3.502/1958, Lei 4.717/1965, Lei
7.347/1985, Decreto-Lei 2.300/1986); mantendo, dessa maneira, até
a edição da futura lei e para todos os atos pretéritos, a ampla
possibilidade de ajuizamentos de ações de ressarcimento.
(...)
Portanto, a ressalva do § 5º do art. 37 permitiu a recepção dos prazos
prescricionais existentes para as ações de ressarcimento decorrentes
de graves condutas de enriquecimento ilícito, por influência ou com
abuso de cargo ou função pública pela legislação então em vigor, até
que fosse editada a lei específica exigida pelo §4º do mesmo artigo;
não tendo, portanto, estabelecido qualquer hipótese implícita de
imprescritibilidade.”

O STF concordou com essa tese? O ressarcimento ao erário em caso de atos de improbidade
administrativa também prescreve da mesma forma que as demais sanções? NÃO. O STF
entendeu que a ação de ressarcimento decorrente de ato doloso de improbidade é realmente
imprescritível.

A regra no ordenamento jurídico é, de fato, a prescritibilidade: A prescrição é um instituto


pensado para garantir a estabilização das relações sociais, sendo, portanto, uma expressão do
princípio da segurança jurídica, que faz parte da estrutura do Estado de Direito.

Prescrição → estabilização das relações sociais → segurança jurídica → Estado de Direito

Justamente por isso, a regra geral no ordenamento jurídico é a de que as pretensões devem
ser exercidas dentro de um marco temporal limitado. Em outras palavras, a regra geral é que
exista prescrição. Há, no entanto, algumas exceções explícitas no texto constitucional, nas
quais se reconhece a imprescritibilidade em determinadas situações. É o caso, por exemplo,
dos crimes de racismo (art. 5º, XLII, CF/88) e da ação de grupos armados, civis ou militares,
contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (art. 5º, XLIV).

O art. 37, § 5º da CF/88 é uma dessas exceções: Vamos relembrar a redação do art. 37, § 5º:
Art. 37 (...)
§ 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados
por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao
erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento.

Em sua primeira parte, o dispositivo prevê que:


- a lei deverá estabelecer os prazos de prescrição para ilícitos
- praticados por qualquer pessoa (servidor ou não)
- que gerem prejuízo ao erário.

Na segunda parte, o constituinte disse o seguinte: não se aplica o que eu falei antes para as
ações de ressarcimento. O que isso quer dizer? Que a lei não poderá estabelecer prazos de
prescrição para tais ações, sendo elas, portanto, imprescritíveis. Assim, o texto constitucional
é expresso ao prever a ressalva da imprescritibilidade da ação de ressarcimento ao erário.

Imprescritibilidade não vale para ressarcimento decorrente de outros ilícitos civis: O § 5º do


art. 37 da CF/88 deve ser lido em conjunto com o § 4º, de forma que ele se refere apenas aos
casos de improbidade administrativa. Se fosse realizada uma interpretação ampla da ressalva
final contida no § 5º, isso faria com que toda e qualquer ação de ressarcimento movida pela
Fazenda Pública fosse imprescritível, o que seria desproporcional. A prescrição é um instituto
importante para se garantir a segurança e estabilidade das relações jurídicas e da convivência
social. É uma forma de se assegurar a ordem e a paz na sociedade. Desse modo, a ressalva
contida na parte final do § 5º do art. 37 da CF/88 deve ser interpretada de forma estrita e não
se aplica para danos causados ao Poder Público por força de ilícitos civis. Foi como decidiu
o STF ainda em 2016:
É prescritível a ação de reparação de danos à Fazenda Pública
decorrente de ilícito civil. Dito de outro modo, se o Poder Público
sofreu um dano ao erário decorrente de um ilícito civil e deseja ser
ressarcido, ele deverá ajuizar a ação no prazo prescricional previsto
em lei. STF. Plenário. RE 669069/MG, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado
em 03/02/2016 (repercussão geral).

Ex: João dirigia seu carro quando, por imprudência, acabou batendo no carro de um órgão
público estadual em serviço. Ficou provado, por meio da perícia, que o particular foi o culpado
pelo acidente. O órgão público consertou o veículo, tendo isso custado R$ 10 mil. Sete anos
depois do acidente, o Estado ajuizou ação de indenização contra João cobrando os R$ 10 mil
gastos com o conserto do automóvel. A defesa de João alegou que houve prescrição. A alegação
da defesa está correta. Isso porque o prejuízo ao erário não decorreu de um ato de improbidade
administrativa, mas foi decorrente de um ilícito civil. Logo, incide prazo prescricional neste
caso.

Desse modo, podemos fazer a seguinte distinção:


Ação de reparação de danos à Fazenda Pública é PRESCRITÍVEL
decorrentes de ilícito civil (STF RE 669069/MG).
é PRESCRITÍVEL
Ação de ressarcimento decorrente de
(devem ser propostas no
ato de improbidade administrativa praticado com CULPA
prazo do art. 23 da LIA).
Ação de ressarcimento decorrente de é IMPRESCRITÍVEL
ato de improbidade administrativa praticado com DOLO (§ 5º do art. 37 da CF/88).

Imprescritibilidade somente vale para atos de improbidade praticados com DOLO: O STF
entendeu, portanto, que as ações de ressarcimento ao erário envolvendo atos de improbidade
administrativa são imprescritíveis. No entanto, o Tribunal fez uma “exigência” a mais que
não está explícita no art. 37, § 5º da CF/88. O Supremo afirmou que somente são imprescritíveis
as ações de ressarcimento envolvendo atos de improbidade administrativa praticados
DOLOSAMENTE. Assim, se o ato de improbidade administrativa causou prejuízo ao erário,
mas foi praticado com CULPA, então, neste caso, a ação de ressarcimento será prescritível e
deverá ser proposta no prazo do art. 23 da LIA.

E existem atos de improbidade administrativa CULPOSOS que causam prejuízo ao erário?:


SIM. Isso é possível, nos termos do art. 10 da Lei nº 8.429/92:
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão
ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje
perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou
dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º
desta lei, e notadamente:
(...)

Vale ressaltar que apenas o art. 10 da Lei nº 8.429/92 admite a prática de ato CULPOSO de
improbidade administrativa. Relembre:
Critério objetivo Critério subjetivo
Art. 9º — Atos de improbidade que importam enriquecimento ilícito
Exige DOLO
do agente público
Pode ser DOLO ou,
Art. 10 — Atos de improbidade que causam prejuízo ao erário no mínimo,
CULPA
Art. 10-A — Atos de improbidade administrativa decorrentes de
concessão ou aplicação indevida de benefício financeiro ou Exige DOLO
tributário
Art. 11 — Atos de improbidade que atentam contra princípios da
Exige DOLO
administração pública

Tese fixada pelo STF: O STF fixou a seguinte tese para fins de repercussão geral:
São imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário fundadas
na prática de ato doloso tipificado na Lei de Improbidade
Administrativa. STF. Plenário. RE 852475/SP, Rel. orig. Min.
Alexandre de Moraes, Rel. para acórdão Min. Edson Fachin, julgado
em 08/08/2018(Info 910).

Placar: Vale ressaltar que o placar de votação foi bem apertado, com resultado de 6 x 5 em
favor da tese vencedora.

Votaram pela prescritibilidade:


• Alexandre de Moraes
• Dias Toffoli
• Ricardo Lewandowski
• Gilmar Mendes
• Marco Aurélio.

Votaram pela imprescritibilidade:


• Edson Fachin
• Rosa Weber
• Cármen Lúcia
• Celso de Mello
• Luiz Fux
• Roberto Barroso

Uma peculiaridade está no fato de que os Ministros Luiz Fux e Roberto Barroso inicialmente
votaram em favor da prescritibilidade. Ocorre que, uma semana depois, revisaram o
posicionamento e alteraram o entendimento, votando em favor da tese da imprescritibilidade.
13.2. Ação de improbidade administrativa: ministro de estado e foro competente – (Info 901)
– IMPORTANTE!!! – (TJCE-2018)

Os agentes políticos, com exceção do Presidente da República, encontram-se sujeitos a


duplo regime sancionatório, de modo que se submetem tanto à responsabilização civil pelos
atos de improbidade administrativa quanto à responsabilização político-administrativa por
crimes de responsabilidade.
O foro especial por prerrogativa de função previsto na Constituição Federal em relação às
infrações penais comuns não é extensível às ações de improbidade administrativa.
STF. Plenário. Pet 3240 AgR/DF, rel. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso,
j. 10/5/18 (Info 901).
OBS:
Dois temas geravam muita polêmica no Direito Administrativo:
1) A Lei de improbidade administrativa aplica-se ou não aos agentes políticos?
2) Existe ou não foro por prerrogativa de função (“foro privilegiado”) nas ações de
improbidade administrativa?

Vamos entender com calma.

Crimes de responsabilidade: Os agentes políticos estão sujeitos à prática de crimes de


responsabilidade. Os crimes de responsabilidade são infrações político-administrativas
praticadas por pessoas que ocupam determinados cargos públicos. Caso o agente seja
condenado por crime de responsabilidade, ele não receberá sanções penais (prisão ou multa),
mas sim sanções político-administrativas (perda do cargo e inabilitação para o exercício de
função pública).

Crimes de responsabilidade x improbidade administrativa: Como nos crimes de


responsabilidade as infrações são muito próximas (parecidas) com os atos de improbidade
administrativa, surgiu a tese de que se o agente político fosse condenado por crime de
responsabilidade e também improbidade administrativa, haveria bis in idem. Assim, defendeu-
se o argumento de que os agentes políticos deveriam estar sujeitos apenas e tão somente aos
crimes de responsabilidade (não sendo a eles aplicados os atos de improbidade
administrativa).

Essa tese prevalece atualmente? NÃO. O entendimento atual é o de que, em regra, os agentes
políticos podem sim responder por ato de improbidade administrativa. Vigora aquilo que a
jurisprudência chamou de “duplo regime sancionatório”, ou seja, o fato de o agente estar
sujeito a:
• crime de responsabilidade e
• improbidade administrativa.

Constituição prevê crime de responsabilidade e improbidade como institutos autônomos:


Fazendo uma interpretação sistemática do texto constitucional, conclui-se que há nítida
distinção entre os conceitos de improbidade administrativa e de crime de
responsabilidade. A Lei de Improbidade Administrativa (Lei 8.429/92) foi editada com
fundamento no art. 37, §4º, da CF:
§ 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos
políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o
ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da
ação penal cabível.

Por outro lado, a CF/88 trata sobre os crimes de responsabilidade em outros dispositivos:
Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:
I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de
responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da
Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos
com aqueles; (Redação dada pela EC 23/99) [...]
Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que
atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra: [...]
V - a probidade na administração;[...]

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da


Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente: [...]
c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros
de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica,
ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do
Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter
permanente; (Redação dada pela EC 23/99)

Assim, a tentativa de imunizar os agentes políticos das sanções da ação de improbidade


administrativa a pretexto de que essas seriam absorvidas pelo crime de responsabilidade
não tem fundamento constitucional. É plenamente possível a concorrência de esferas de
responsabilização distintas.

Eu entendo que há, no Brasil, uma dupla normatividade em matéria de


improbidade, com objetivos distintos: em primeiro lugar, existe aquela
específica da Lei 8.429/1992, de tipificação cerrada mas de incidência sobre um
vasto rol de possíveis acusados, incluindo até mesmo pessoas que não tenham
qualquer vínculo funcional com a Administração Pública (Lei 8.429/1992, art. 3º);
e uma outra normatividade relacionada à exigência de probidade que a
Constituição faz em relação aos agentes políticos, especialmente ao chefe do
Poder Executivo e aos ministros de Estado, ao estabelecer no art. 85, inciso V, que
constituem crime de responsabilidade os atos do Presidente da República que
atentem contra a probidade da administração. No plano infraconstitucional essa
segunda normatividade se completa com o art. 9º da Lei 1.079/1950.
Trata-se de disciplinas normativas diversas, as quais, embora visando, ambas, à
preservação do mesmo valor ou princípio constitucional, – isto é, a moralidade
na Administração Pública – têm, porém, objetivos constitucionais diversos.
(...)
Não há impedimento à coexistência entre esses dois sistemas de
responsabilização dos agentes do Estado.
STF. Plenário. Pet 3923 QO, Rel. Min. Joaquim Barbosa, j. 13/06/2007.

Desse modo, o que prevalece atualmente é que os agentes políticos, em regra, submetem-se
às punições por ato de improbidade administrativa (Lei nº 8.429/92), sem prejuízo de
também poderem ser punidos por crimes de responsabilidade. Nesse sentido:
(...) O Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento de que os agentes
políticos se submetem aos ditames da Lei de Improbidade Administrativa, sem
prejuízo da responsabilização política e criminal. (...) STJ. 2ª Turma. AgInt no
REsp 1607976/RJ, Rel. Min. Francisco Falcão, j. 17/10/2017.

Por que se falou “em regra”? Existe algum caso em que o agente político não responderá por
improbidade administrativa (devendo ser punido apenas por crime de responsabilidade)? SIM.
O Presidente da República. Os agentes políticos, com exceção do presidente da República,
encontram-se sujeitos a um duplo regime sancionatório, e se submetem tanto à
responsabilização civil pelos atos de improbidade administrativa quanto à responsabilização
político-administrativa por crimes de responsabilidade.
ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PREFEITO
MUNICIPAL. DUPLO REGIME SANCIONATÓRIO DOS AGENTES
POLÍTICOS: LEGITIMIDADE. PRECEDENTES.
1. A jurisprudência assentada no STJ, inclusive por sua Corte Especial, é no
sentido de que, "excetuada a hipótese de atos de improbidade praticados pelo
Presidente da República (art. 85, V), cujo julgamento se dá em regime especial
pelo Senado Federal (art. 86), não há norma constitucional alguma que imunize
os agentes políticos, sujeitos a crime de responsabilidade, de qualquer das
sanções por ato de improbidade previstas no art. 37, § 4º. Seria incompatível
com a Constituição eventual preceito normativo infraconstitucional que
impusesse imunidade dessa natureza" (Rcl 2.790/SC, DJe de 04/03/2010). (...)
STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1099900/MG, Rel. Min. Teori Albino Zavascki,
julgado em 16/11/2010.

E quanto ao foro competente? Existe foro por prerrogativa de função nas ações de improbidade
administrativa? NÃO. A ação de improbidade administrativa possui natureza cível. Em
outras palavras, é uma ação civil e não uma ação penal. Em regra, somente existe foro por
prerrogativa de função no caso de ações penais (e não em demandas cíveis).
Ex1: se for proposta uma ação penal contra um Deputado Federal por crime que ele tenha
cometido durante o seu mandato e que esteja relacionado com as suas funções, esta deverá ser
ajuizada no STF.
Ex2: se for ajuizada uma ação de cobrança de dívida contra esse mesmo Deputado, a demanda
será julgada por um juízo de 1ª instância.

Por que existe essa diferença? Porque a Constituição assim idealizou o sistema. Com efeito,
as competências do STF e do STJ foram previstas pela CF/88 de forma expressa e taxativa. Nos
arts. 102 e 105 da CF/88, que estabelecem as competências do STF e do STJ, existe a previsão
de que as ações penais contra determinadas autoridades serão julgadas por esses Tribunais.
Não há, contudo, nenhuma regra que disponha que as ações de improbidade serão julgadas
pelo STF e STJ.

Lei 10.628/12 previu foro por prerrogativa de função para a ação de improbidade: Em
24/12/02, foi editada a Lei 10.628, que acrescentou o § 2º ao art. 84 do CPP, prevendo foro por
prerrogativa de função para as ações de improbidade. Veja:
Art. 84. A competência pela prerrogativa de função é do Supremo Tribunal
Federal, do Superior Tribunal de Justiça, dos Tribunais Regionais Federais e
Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, relativamente às pessoas
que devam responder perante eles por crimes comuns e de responsabilidade. (...)
§ 2º A ação de improbidade, de que trata a Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992,
será proposta perante o tribunal competente para processar e julgar
criminalmente o funcionário ou autoridade na hipótese de prerrogativa de foro
em razão do exercício de função pública, observado o disposto no § 1º.

Diante dessa alteração legislativa, foi proposta a ADI 2797 contra a Lei 10.628/02 e o STF
julgou inconstitucional o referido § 2º do art. 84 do CPP, decisão proferida em 15/09/2005.
O Supremo decidiu que:
“no plano federal, as hipóteses de competência cível ou criminal dos tribunais da
União são as previstas na Constituição da República ou dela implicitamente
decorrentes. (...) Quanto aos Tribunais locais, a Constituição Federal — salvo as
hipóteses dos seus arts. 29, X e 96, III —, reservou explicitamente às Constituições
dos Estados-membros a definição da competência dos seus tribunais, o que afasta
a possibilidade de ser ela alterada por lei federal ordinária.”
STF. Plenário. ADI 2797, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgado em 15/09/2005.

Em suma, o STF afirmou que, como a Constituição não estabeleceu foro por prerrogativa de
função para as ações de improbidade administrativa, a lei ordinária assim não poderia
prever. Desse modo, com a decisão da ADI 2797, ficou prevalecendo o entendimento de que
as ações de improbidade administrativa deveriam ser julgadas em 1ª instância.

O STF reafirmou esse entendimento e fixou a seguinte tese:


Não existe foro por prerrogativa de função em ação de improbidade
administrativa proposta contra agente político. O foro por prerrogativa de
função é previsto pela Constituição Federal apenas para as infrações penais
comuns, não podendo ser estendido para ações de improbidade administrativa,
que têm natureza civil. STF. Plenário. Pet 3240 AgR/DF, rel. Min. Teori Zavascki,
red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, j. 10/5/18 (Info 901).
14. MINISTÉRIO PÚBLICO
14.1. Ilegitimidade ativa do MP para impetrar MS questionando decisão administrativa que
reconheceu a prescrição em processo administrativo – (Info 831) – IMPORTANTE!!!

O Procurador-Geral da República não possui legitimidade ativa para impetrar mandado de


segurança com o objetivo de questionar decisão que reconheça a prescrição da pretensão
punitiva em processo administrativo disciplinar.
A legitimidade para impetrar mandado de segurança pressupõe a titularidade do direito
pretensamente lesado ou ameaçado de lesão por ato de autoridade pública.
O Procurador-Geral da República não tem legitimidade para a impetração, pois não é o
titular do direito líquido e certo que afirmara ultrajado.
Para a impetração do MS não basta a demonstração do simples interesse ou atuação como
custos legis, uma vez que os direitos à ordem democrática e à ordem jurídica não são de
titularidade do Ministério Público, mas de toda a sociedade.
STF. 2ª Turma. MS 33736/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 21/6/16 (Info 831).
OBS:
E o § 6º do art. 103-B da CF/88? Quando o § 6º do art. 103-B da CF/88 prevê que o PGR oficiará
junto ao CNJ, esta atuação restringe-se ao âmbito interno do conselho, não significando que
ele tenha legitimidade para impetrar mandado de segurança contra as decisões ali proferidas.

14.2. Conselho Superior do MPE ou Colégio de Procuradores poderão anular questão de


concurso público do MP, mesmo sem previsão no edital – (Info 740)

É válido recurso contra a decisão da comissão examinadora do concurso de Promotor de


Justiça, mesmo que não tenha previsão no edital, desde que seja previsto na Lei Orgânica
da carreira.
O julgamento do recurso pelos órgãos internos do MP é válido mesmo sem a participação
da OAB. Isso porque tal decisão nada mais é do que o exercício do princípio da autotutela.
STF. 1ª Turma. MS 32176/DF, rel. Min. Dias Toffoli, j. 18/3/14 (Info 740)

15. TETO REMUNERATÓRIO


15.1. As vantagens pessoais do servidor também devem respeitar o teto, mesmo que sejam
anteriores à EC 41/2003 (Info 808) – IMPORTANTE!!!

Alguns servidores continuavam tentando excluir do teto as vantagens pessoais que haviam
adquirido antes da EC 41/03 (que implementou, na prática, o teto no funcionalismo).
Argumentavam que a garantia da irredutibilidade de vencimentos, modalidade qualificada
de direito adquirido, impediria que as vantagens percebidas antes da vigência da EC 41/2003
fossem por ela alcançadas. O STF acolheu esse argumento? As vantagens pessoais anteriores
à EC 41/03 estão fora do teto?
NÃO. Computam-se para efeito de observância do teto remuneratório do artigo 37, XI, da
CF/88, também os valores percebidos anteriormente à vigência da EC 41/03 a título de
vantagens pessoais pelo servidor público, dispensada a restituição de valores
eventualmente recebidos em excesso e de boa-fé até o dia 18/11/2015.
STF. Plenário. RE 606358/SP, Rel. Min. Rosa Weber, j. 18/11/2015 (repercussão geral) (Info
808).

15.2. Eficácia imediata do teto de retribuição fixado pela EC 41/2003 – (Info 761)

O teto de retribuição fixado pela EC nº 41/2003 é de eficácia imediata e todas as verbas de


natureza remuneratória recebidas pelos servidores públicos da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios devem se submeter a ele, ainda que adquiridas de acordo
com regime legal anterior.
A aplicação imediata da EC nº 41/2003 e a redução das remunerações acima do teto não
afrontou o princípio da irredutibilidade nem violou a garantia do direito adquirido.
Em outras palavras, com a EC nº 41/2003, quem recebia acima do teto fixado, teve a sua
remuneração reduzida para respeitar o teto. Essa redução foi legítima.
STF. Plenário. RE 609381/GO, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 2/10/2014 (Info 761).

16. SERVIDORES PÚBLICOS


16.1. TETO CONSTITUCIONAL REMUNERATÓRIO: Teto remuneratório de
Procuradores Municipais é o subsídio de Desembargador de TJ – (Info 932) – IMPORTANTE!!!

A expressão "Procuradores", contida na parte final do inciso XI do art. 37 da CF/88,


compreende os procuradores municipais, uma vez que estes se inserem nas funções
essenciais à Justiça, estando, portanto, submetidos ao teto de 90,25% (noventa inteiros e
vinte e cinco centésimos por cento) do subsídio mensal, em espécie, dos ministros do STF.
STF. Plenário. RE 663696/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 28/2/2019 (Info 932).
OBS:
Teto remuneratório: A CF/88 prevê, em seu art. 37, XI, o chamado “teto remuneratório”, ou
seja, o valor máximo que os agentes públicos podem receber no país. O objetivo do
constituinte foi o de evitar que alguns agentes públicos recebessem os chamados
“supersalários”, que são incompatíveis com o serviço público. Além de um teto geral
(nacional), o dispositivo constitucional prevê limites específicos para o âmbito dos Estados
e Municípios (chamados de subtetos). O teto geral do serviço público no Brasil é o subsídio
dos Ministros do STF que, atualmente, está em R$ 39.293,32 (bruto), conforme prevê a Lei
13.752/18.

A quem se aplica o teto? O teto é aplicado aos agentes públicos independentemente do tipo de
vínculo: estatutário, celetista, temporário, comissionado, político.

O teto vale também para a Administração direta e indireta?


• Agentes públicos da administração direta: SEMPRE

• Agentes públicos das autarquias e fundações: SEMPRE

• Empregados públicos das empresas públicas e sociedades de economia mista: o teto


somente se aplica se a empresa pública ou a sociedade de economia mista receber recursos
da União, dos Estados, do DF ou dos Municípios para pagamento de despesas de pessoal ou
de custeio em geral (art. 37, § 9º).

Quais as parcelas incluídas nesse limite?


Regra: o teto abrange todas as espécies remuneratórias e todas as parcelas integrantes do
valor total percebido, incluídas as vantagens pessoais ou quaisquer outras.

Exceções: Estão fora do teto as seguintes verbas:


a) parcelas de caráter indenizatório previstas em lei (§ 11 do art. 37);
b) verbas que correspondam aos direitos sociais previstos no art. 7º c/c o art. 39, § 3º da CF/88,
tais como 13º salário, 1/3 constitucional de férias etc.;
c) quantias recebidas pelo servidor a título de abono de permanência em serviço (§ 19 do art.
40);
d) remuneração em caso de acumulação legítima de cargos públicos (STF RE 612975/MT).
Ex.: se determinado Ministro do STF for também professor da UnB, ele irá receber seu subsídio
integral como Ministro e mais a remuneração decorrente do magistério. Nesse caso, o teto seria
considerado especificamente para cada cargo, sendo permitido que ele recebesse acima do
limite previsto no art. 37, XI da CF/88, se considerarmos seus ganhos globais.

Os proventos recebidos pelo agente público aposentado também estão submetidos ao teto?
SIM. A redação do art. 37, XI, menciona expressamente os proventos.

Redação do inciso XI: A redação do inciso XI do art. 37 é muito grande e um pouco confusa:
A partir da sua interpretação, podemos construir a seguinte tabela:
Teto NACIONAL: subsídio dos Ministros do STF
Ninguém poderá receber acima desse valor; as Constituições estaduais e leis orgânicas
podem fixar subtetos para Estados/DF e Municípios; tais subtetos também deverão
respeitar o teto nacional.
Subteto Subteto nos
Subteto nos Estados/DF
na União Municípios
Subsídio dos Existem duas opções: Subsídio do
Ministros Opção 1 (subtetos diferentes para cada um dos Poderes): Prefeito
do STF Executivo: subsídio do Governador.
Legislativo: subsídio dos Deputados Estaduais.
Judiciário (inclui MP, Defensoria e Procuradoria):
subsídio dos Desembargadores do TJ, limitado a 90,25%
do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do STF.*

Opção 2 (subteto único para todos os Poderes): o valor


máximo seria o subsídio dos Desembargadores do TJ,
limitado a 90,25% do subsídio mensal, em espécie, dos
Ministros do STF.*

O subsídio dos Deputados Estaduais/Distritais seguirá


regras próprias (§ 2º do art. 27), não estando sujeito ao
subsídio dos Desembargadores mesmo que se adote esta
2ª opção.

Vale ressaltar que quem define se o Estado-membro


adotará subtetos diferentes ou único é a Constituição
estadual.

* A CF/88 dá a entender que o subsídio dos


Desembargadores e dos juízes estaduais não poderia ser
maior que 90,25% do subsídio do Ministro do STF. O STF,
contudo, declarou que esta interpretação é
inconstitucional (STF ADI 3.854). O teto para os
Desembargadores e juízes estaduais é 100% do subsídio
dos Ministros do STF, ou seja, eles podem, em tese,
receber o mesmo que os Ministros do STF. Vale ressaltar,
no entanto, que o limite de 90,25% do subsídio dos
Ministros do STF aplica-se sim para os servidores do
Poder Judiciário estadual (na opção 1) e para os
servidores dos três Poderes estaduais (na opção 2).

Membros do MP, Defensoria Pública e Procuradoria: O legislador constituinte decidiu que os


membros do Ministério Público, da Defensoria Pública e da Procuradoria, para fins de teto
remuneratório, não deveriam estar submetidos aos limites impostos aos servidores do Poder
Executivo. Explicando melhor. Conforme vimos na opção 1 do quadro acima, a remuneração
dos servidores do Poder Executivo está limitada ao subsídio do Governador (esse é o subteto
dos servidores do Executivo). O inciso XI do art. 37 disse, contudo, o seguinte: o subsídio dos
membros do MP, da Defensoria Pública e da Procuradoria não precisa respeitar o teto
imposto ao Poder Executivo. Os membros dessas três carreiras deverão estar vinculados ao
teto imposto ao Poder Judiciário. Em outras palavras, como essas três funções são também
essenciais à Justiça, para fins de teto remuneratório, o inciso XI decidiu vinculá-los à
Magistratura. Assim, o teto para o membro do MP estadual, para o Defensor Público
estadual e para os Procuradores é o subsidio dos Desembargadores do TJ, limitado a 90,25%
do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do STF. É o que prevê a parte final do inciso
XI. Veja:
Art. 37 (...)
XI –(...)aplicando-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos
Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do
Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do
Poder Legislativo e o subsidio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça,
limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio
mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do
Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos
Procuradores e aos Defensores Públicos; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 41/2003)

Essa regra do inciso XI que diz que o teto dos Procuradores é o do Poder Judiciário, aplica-se
também aos Procuradores do Município? A interpretação puramente literal não resolve a
dúvida, havendo argumentos para as duas soluções:
• Argumento favorável à aplicação aos Procuradores do Município: o fato de o inciso XI
utilizar uma expressão genérica “Procuradores”, não restringindo aos Procuradores do
Estado e do DF.
• Argumento contrário: o fato de essa regra estar na parte em que o inciso está tratando do
teto nos Estados-membros.

Diante dessa polêmica, o STF foi chamado a dar a resposta ao tema. O que decidiu a Corte?
Essa regra do inciso XI que diz que o teto dos Procuradores é o do Poder Judiciário, aplica-se
também aos Procuradores do Município? SIM. É o que foi decidido no Info 932 do STF. O
termo “Procuradores”, na axiologia do STF, engloba:
• os Procuradores do Estado e do DF;
• os procuradores autárquicos (que ainda existam validamente);
• assim como os procuradores municipais.

É indiscutível que os Procuradores Municipais integram a categoria da advocacia pública a


que a Constituição denomina de “funções essenciais à Justiça” e, quanto ao teto
remuneratório, devem estar sujeitos ao subsídio dos desembargadores dos tribunais de
justiça estaduais.

Assim, é inconstitucional a hermenêutica que exclua da categoria “Procuradores” os


“defensores dos municípios” *, que desempenham idênticas atribuições dos procuradores
congêneres no âmbito da União, dos Estados e do Distrito Federal. Desse modo, não haveria
fundamento para referido discrímen (discriminação) entre os procuradores. Ao assim
proceder, os procuradores municipais estariam sujeitos às mais diversas contingências
políticas, distantes do subteto de 90,25% do subsídio mensal, em espécie, dos ministros do STF.
Assim, o teto dos Procuradores Municipais não é o subsídio do Prefeito, mas sim o teto de
90,25% do subsídio mensal dos Ministros do STF.

* “defensores dos municípios”: essa expressão foi utilizada no voto do Min. Fux
no sentido de “advogados” (“procuradores”) dos municípios. Não tem nada a ver
com Defensoria Pública municipal que, segundo a maioria da doutrina, não pode
existir.

Essa decisão do STF significa que os Procuradores do Município devem receber,


obrigatoriamente, 90,25% do subsídio mensal, em espécie, dos ministros do STF? NÃO. O
constituinte não obriga que os Municípios estipulem como subsídio dos Procuradores do
Município o valor de 90,25% do subsídio mensal, em espécie, dos ministros do STF. Trata-se de um
teto (e não de um piso). Logo, talvez, em Municípios pequenos do interior do Estado, com baixa
arrecadação, esse valor seja alto, o que não se verifica, por outro lado, em grandes capitais. A
definição do subsídio dos Procuradores Municipais é feita por meio de lei cujo projeto é de
iniciativa privativa do Prefeito, nos termos do art. 61, §1º, II, “c”, da CF/88. Dessa forma, cabe
ao Prefeito avaliar politicamente, diante das circunstâncias orçamentárias e da sua política
de recursos humanos, a conveniência de permitir que um procurador de município receba
mais do que o chefe do Poder Executivo municipal.

Tabela atualizada: Diante dessa importante decisão do STF, podemos atualizar a tabela do
teto remuneratório:
Teto NACIONAL: subsídio dos Ministros do STF
Ninguém poderá receber acima desse valor; as Constituições estaduais e leis orgânicas
podem fixar subtetos para Estados/DF e Municípios; tais subtetos também deverão
respeitar o teto nacional.
Subteto Subteto nos
Subteto nos Estados/DF
na União Municípios
Subsídio dos Existem duas opções: Subsídio do Prefeito
Ministros do Opção 1 (subtetos diferentes para cada um dos
STF Poderes): Obs: os procuradores
Executivo: subsídio do Governador. municipais estão
Legislativo: subsídio dos Deputados Estaduais. submetidos ao teto de
Judiciário (inclui MP, Defensoria e Procuradoria): 90,25% do subsídio
subsídio dos Desembargadores do TJ, limitado a mensal, em espécie,
90,25% do subsídio mensal, em espécie, dos dos ministros do STF.
Ministros do STF.*

Opção 2 (subteto único para todos os Poderes): o


valor máximo seria o subsídio dos
Desembargadores do TJ, limitado a 90,25% do
subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do
STF.*

O subsídio dos Deputados Estaduais/Distritais


seguirá regras próprias (§ 2º do art. 27), não
estando sujeito ao subsídio dos
Desembargadores mesmo que se adote esta 2ª
opção.

Vale ressaltar que quem define se o Estado-


membro adotará subtetos diferentes ou único é a
Constituição estadual.

* A CF/88 dá a entender que o subsídio dos


Desembargadores e dos juízes estaduais não
poderia ser maior que 90,25% do subsídio do
Ministro do STF. O STF, contudo, declarou que esta
interpretação é inconstitucional (STF ADI 3.854). O
teto para os Desembargadores e juízes estaduais é
100% do subsídio dos Ministros do STF, ou seja, eles
podem, em tese, receber o mesmo que os Ministros
do STF. Vale ressaltar, no entanto, que o limite de
90,25% do subsídio dos Ministros do STF aplica-se
sim para os servidores do Poder Judiciário estadual
(na opção 1) e para os servidores dos três Poderes
estaduais (na opção 2).

Concursados e organizados em carreira: Apesar de não ter constado na tese fixada, no voto do
Relator foi feita menção a um aspecto muito importante. Para o Min. Luiz Fux, essa
equiparação entre o teto dos Procuradores do Estado/DF com os Procuradores Municipais
somente é permitida se, naquele Município, os Procuradores forem concursados e
organizados em carreira. Assim, pelo voto do Relator, não seria admitido o teto de 90,25% dos
Ministros do STF para advogados contratados, sem concurso público, para o exercício de
funções de defesa jurídica do Município.

Essa ressalva também foi feita pelo Min. Gilmar Mendes: “Apesar de a Constituição não fazer
menção expressa aos procuradores municipais, há que se reconhecer que, quando organizados em
carreira, também exercem a atribuição de advogados públicos, realizando as atividades congêneres
àquelas desempenhadas pelos advogados da União e pelos procuradores federais, estaduais e distritais,
prestando consultoria jurídica e representando judicial e extrajudicialmente a municipalidade”.
Ganha força a tese de concurso para as Procuradorias Municipais: Existe uma polêmica se a
CF/88 exige ou não que os Municípios tenham Procuradorias Municipais, organizadas em
carreira, mediante concurso público, para o desempenho das funções de representação judicial
e consultoria jurídica. Há, inclusive, uma PEC tramitando para incluir as Procuradorias
Municipais no art. 132 da CF/88. A conclusão do STF no RE 663696/MG, ao equiparar as
Procuradorias Municipais às Procuradorias do Estado/DF, reforça a tese de que os
Municípios devem ter Procuradorias Municipais, organizadas em carreira mediante
concurso público. Esperamos que seja esse o entendimento a prevalecer.

16.2. REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL: Inconstitucionalidade das sanções


decorrentes da negativa de expedição de CRP (Certificado de Regularidade Previdenciária) –
(Info 928) – Pouca Relevância!

Ao editar o art. 7º da Lei 9.717/98 e o Decreto 3.788/01, a União extravasou a competência


legislativa para a edição de normas gerais sobre previdência social.
A União extrapolou os limites de sua competência legislativa na edição da Lei 9.717/98, ao
impor sanções decorrentes da negativa de expedição de Certificado de Regularidade
Previdenciária (CRP).
STF. 1ª Turma. ACO 3134 TP-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, red. p/ ac. Min. Marco
Aurélio, j. 18/12/18 (Info 928).

16.3. TETO CONSTITUCIONAL REMUNERATÓRIO: Os substitutos interinos dos


cartórios extrajudiciais devem receber limitado ao teto do funcionalismo público (art. 37, XI,
da CF/88) – (Info 923)

Incide o teto remuneratório constitucional aos substitutos interinos de serventias


extrajudiciais.
STF. 2ª Turma. MS 29039/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 13/11/18 (Info 923).
OBS: O titular interino não pode ser equiparado ao titular da serventia, considerando que
ele não preenche os requisitos para tanto. Assim, ele está atuando como um preposto do
Poder Público e, nessa condição, deve submeter-se aos limites remuneratórios previstos para
os agentes públicos. Esse é a posição pacífica de ambas as Turmas do STF:
O titular interino não atua como delegado do serviço notarial e de
registro porque não preenche os requisitos para tanto; age, em
verdade, como preposto do Poder Público e, nessa condição, deve-
se submeter aos limites remuneratórios previstos para os agentes
estatais, não se lhe aplicando o regime remuneratório previsto para
os delegados do serviço público extrajudicial (art. 28 da Lei nº
8.935/1994). STF. 1ª Turma. MS 30180 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, j.
21/10/14.

Aplica-se a quem detém interinamente a serventia extrajudicial a


limitação do teto prevista no art. 37, XI, da Constituição. STF. 2ª
Turma. MS 29083 ED-ED-AgR, Rel. Min. Teori Zavascki, Rel. p/
Acórdão Min. Dias Toffoli, j. 16/5/17.

16.4. Não devolução dos valores recebidos de boa-fé por servidor público por força de
decisão liminar revogada – (Info 923)

Não deve ser determinada a devolução de valores recebidos de boa-fé por servidor público,
percebidos a título precário no período em que liminar produziu efeitos.
É desnecessária a devolução dos valores recebidos por liminar revogada, em razão de
mudança de jurisprudência. Também é descabida a restituição de valores recebidos
indevidamente, circunstâncias em que o servidor público atuou de boa-fé.
Essa orientação ampara-se na confiança legítima que o beneficiário da decisão tem no
sentido de que a sua pretensão será acolhida.
Assim, os princípios da boa-fé e da segurança jurídica afastam o dever de restituição de
parcelas recebidas por ordem liminar revogada.
STF. 1ª Turma. MS 32185/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 13/11/2018 (Info 923).
OBS:
Veja outros precedentes no mesmo sentido:
(...) 1. Quando da publicação da decisão que deferiu o pedido de
medida liminar, a jurisprudência hegemônica do STF era no sentido
de que a glosa, pelo TCU, de percentuais pagos em virtude de
decisões judiciais transitadas em julgado importava em afronta à
garantia prevista no art. 5º, XXXVI, da Magna Carta. Esse contexto,
sem dúvida, alimentou no impetrante justificada expectativa por
provimento final favorável, ou seja, pela concessão da ordem, com a
confirmação da liminar deferida.
2. Houve, contudo, alteração da jurisprudência desta Suprema
Corte, que passou a rechaçar a tese de afronta à coisa julgada, ao
fundamento de que o Tribunal de Contas da União, em casos como
o presente, apenas identifica o exaurimento da eficácia de comandos
judiciais transitados em julgado, ante a superveniência de alterações
legislativas que promovem reestruturações remuneratórias e
absorvem parcelas judicialmente reconhecidas.
3. A mudança jurisprudencial solapou projeção razoavelmente
nutrida pelo impetrante e descortinou cenário suscetível de afastar,
de modo pontual e excepcional, considerados os princípios da boa-
fé, da segurança jurídica e da proteção da confiança, a regra do art.
46, § 3º, da Lei nº 8.112/1990. (...) STF. 1ª Turma. MS 30556 AgR, Rel.
Min. Rosa Weber, julgado em 26/05/2017.

(...) 3. Desnecessidade de restituição das parcelas recebidas por


força de medida liminar deferida com fundamento em
jurisprudência consolidada do Supremo Tribunal Federal, cassada
em virtude da recente mudança de entendimento. Projeção do
postulado da confiança assentada pelo plenário deste Supremo
Tribunal no julgamento do mandado de segurança n. 25.430 (...) STF.
2ª Turma. MS 26132 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
18/11/2016.

(...) Quando do julgamento do MS 25.430, o Supremo Tribunal


Federal assentou, por 10 votos a 1, que as verbas recebidas em
virtude de liminar deferida por este Tribunal não terão que ser
devolvidas por ocasião do julgamento final do mandado de
segurança, em função dos princípios da boa-fé e da segurança
jurídica e tendo em conta expressiva mudança de jurisprudência
relativamente à eventual ofensa à coisa julgada de parcela
vencimental incorporada à remuneração por força de decisão
judicial. (...) STF. 1ª Turma. MS 31543 AgR, Rel. Min. Edson Fachin,
julgado em 14/10/2016.

O STJ possui o mesmo entendimento acima exposto? NÃO. O STJ, sem enfrentar
expressamente o tema referente à mudança na jurisprudência, em regra, afirma que é devida
a devolução. Confira:
Se o servidor público recebe valores por força de decisão judicial
posteriormente revogada, tal quantia poderá ser exigida pela
Administração Pública? SIM. É devida a restituição ao erário dos
valores de natureza alimentar pagos pela Administração Pública a
servidores públicos em cumprimento a decisão judicial precária
posteriormente revogada.
O STJ entende que, neste caso, não se pode falar em boa-fé do
servidor, considerando que ele sabia que poderia haver alteração
da decisão que tinha caráter precário (provisório). STJ. 1ª Seção.
EAREsp 58.820-AL, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em
8/10/2014.

O servidor público recebe valores por sentença judicial transitada


em julgado. Posteriormente, esta sentença é desconstituída em ação
rescisória. O servidor deverá devolver as quantias percebidas?
NÃO. A jurisprudência do STJ firmou o entendimento no sentido de
que não é devida a restituição dos valores que, por força de decisão
transitada em julgado, foram recebidos de boa-fé, ainda que
posteriormente tal decisão tenha sido desconstituída em ação
rescisória (STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 2.447/RJ, Rel. Min.
Arnaldo Esteves Lima, julgado em 17/04/2012).

O entendimento consolidado segundo o qual é legítimo o desconto


de valores pagos em razão do cumprimento de decisão judicial
precária, posteriormente revogada, não tem aplicação neste caso
porque aqui o pagamento decorreu de sentença judicial definitiva,
que só depois foi desconstituída em ação rescisória.
STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 463.279/RJ, Rel. Min. Sérgio Kukina,
julgado em 02/09/2014.

DOD PLUS: Outros entendimentos jurisprudenciais que são importantes sobre o tema:

Servidor público que recebe, administrativamente, valores que, posteriormente, se mostram


indevidos, é obrigado a restituir a quantia?
As quantias percebidas pelos servidores em razão de decisão
administrativa dispensam a restituição quando:
a) auferidas de boa-fé;
b) há ocorrência de errônea interpretação da Lei pela Administração;
c) ínsito o caráter alimentício das parcelas percebidas, e
d) constatar-se o pagamento por iniciativa da Administração
Pública, sem participação dos servidores.
STF. 1ª Turma. MS 33976 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
24/11/2017.

Servidor que recebe indevidamente valores por meio de decisão administrativa (posição do
STJ não exige esses mesmos requisitos do STF):
Se o servidor público recebe valores por força de decisão
administrativa posteriormente revogada, tal quantia poderá ser
exigida de volta pela Administração Pública?
NÃO. É incabível a restituição ao erário dos valores recebidos de
boa-fé pelo servidor público em decorrência de errônea ou
inadequada interpretação da lei por parte da Administração
Pública.
Em virtude do princípio da legítima confiança, o servidor público,
em regra, tem a justa expectativa de que são legais os valores pagos
pela Administração Pública, porque jungida à legalidade estrita.
Assim, diante da ausência da comprovação da má-fé no
recebimento dos valores pagos indevidamente por erro de direito
da Administração, não se pode efetuar qualquer desconto na
remuneração do servidor público, a título de reposição ao erário.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.244.182-PB, Rel. Min. Benedito Gonçalves,
julgado em 10/10/2012 (recurso repetitivo).

Súmula 249 do TCU: É dispensada a reposição de importâncias


indevidamente percebidas, de boa-fé, por servidores ativos e
inativos, e pensionistas, em virtude de erro escusável de
interpretação de lei por parte do órgão/entidade, ou por parte de
autoridade legalmente investida em função de orientação e
supervisão, à vista da presunção de legalidade do ato administrativo
e do caráter alimentar das parcelas salariais.

Súmula 34-AGU: Não estão sujeitos à repetição os valores recebidos


de boa-fé pelo servidor público, em decorrência de errônea ou
inadequada interpretação da lei por parte da Administração Pública.

Servidor que recebe indevidamente valores em decorrência de erro operacional da


Administração:
A 1ª Seção do STJ, no julgamento do Recurso Especial
Representativo da Controvérsia 1.244.182/PB, firmou o
entendimento de que não é devida a restituição de valores pagos a
servidor público de boa-fé, por força de interpretação errônea ou
má aplicação da lei por parte da Administração.
O mesmo entendimento tem sido aplicado pelo STJ nos casos de
mero equívoco operacional da Administração Pública.
Assim, não é devida a devolução de verba paga indevidamente a
servidor em decorrência de erro operacional da Administração
Pública, quando se constata que o recebimento pelo beneficiado se
deu de boa-fé.
STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1447354/PE, Rel. Min. Napoleão
Nunes Maia Filho, julgado em 16/09/2014.
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1560973/RN, Rel. Min. Humberto
Martins, julgado em 05/04/2016.

Restituição à Administração Pública de proventos depositados a servidor público falecido:


Os herdeiros devem restituir os proventos que, por erro
operacional da Administração Pública, continuaram sendo
depositados em conta de servidor público após o seu falecimento.
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.387.971-DF, Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, julgado em 15/3/2016 (Info 579).

Quadro-resumo:

SITUAÇÃO TERÁ QUE DEVOLVER?


1) Servidor recebe por decisão ADMINISTRATIVA NÃO
depois revogada
2) Servidor que recebe indevidamente valores em NÃO
decorrência de erro operacional da Administração
3) Servidor recebe por decisão JUDICIAL não SIM
definitiva depois reformada (posição do STJ)
4) Servidor recebe por decisão JUDICIAL não NÃO
definitiva depois reformada (obs: a reforma da (posição do STF)
liminar foi decorrência de mudança na
jurisprudência).
4) Servidor recebe por sentença TRANSITADA EM NÃO
JULGADO e que posteriormente é rescindida
5) Herdeiro que recebe indevidamente proventos do SIM
servidor aposentado depois que ele morreu

16.5. O aumento de 45% concedido aos militares pela Lei nº 8.237/91 não foi uma revisão
geral da remuneração, não podendo ser estendida para os servidores públicos civis – (Info 922)
– Baixa relevância!
Não é possível a extensão a servidores públicos civis da majoração de vencimentos, no
percentual de 45%, concedida a servidores militares, a título de reestruturação de cargos,
com base na Lei 8.237/91 e no princípio da isonomia dos índices revisionais disciplinados
na redação original do art. 37, X, da CF/88.
O reajuste de vencimentos concedido aos integrantes das Forças Armadas, à base de 45%,
pela Lei 8.237/91, não configurou um aumento geral na remuneração dos servidores
militares que autorizasse, com fundamento no art. 37, X, CF/88, a extensão aos servidores
civis.
STF. 2ª Turma. RE 229637/ SP, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Gilmar Mendes, j.
6/11/18 (Info 922).
OBS: A Lei nº 8.237/91 não foi uma revisão geral da remuneração para os militares. Esta Lei
foi uma restruturação das Forças Armadas, sendo, portanto, específica para os militares.
Assim, tendo em vista tratar-se de reestruturação remuneratória da carreira militar,
redefinindo remuneração, soldo, gratificações, adicionais, auxílios, indenizações e proventos,
não há que se falar em extensão aos servidores públicos civis.

16.6. Correios devem motivar a demissão de seus empregados – (Infos 699 e 919) –
IMPORTANTE!!!

Em 2013, o STF decidiu, de forma genérica, que:


Os empregados públicos não fazem jus à estabilidade prevista no art. 41 da CF/88, salvo
aqueles admitidos em período anterior ao advento da EC 19/98.
Em atenção, no entanto, aos princípios da impessoalidade e isonomia, que regem a
admissão por concurso público, a dispensa do empregado de empresas públicas e
sociedades de economia mista que prestam serviços públicos deve ser motivada,
assegurando-se, assim, que tais princípios, observados no momento daquela admissão,
sejam também respeitados por ocasião da dispensa.
A motivação do ato de dispensa, assim, visa a resguardar o empregado de uma possível
quebra do postulado da impessoalidade por parte do agente estatal investido do poder de
demitir.
STF. Plenário. RE 589998/PI, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 20/3/13 (repercussão geral)
(Info 699).

Diante disso, imaginou-se que essa decisão valeria para todas as empresas públicas e
sociedades de economia mista.
No entanto, em 2018, o STF, em embargos de declaração, afirmou que esta decisão (RE
589998/PI) só se aplica para os Correios considerando que o caso concreto envolvia um
empregado da ECT).
Quanto às demais empresas públicas e sociedades de economia mista, o STF afirmou que
ainda não decidiu o tema, ou seja, terá que ser analisado caso a caso.
Assim, por enquanto, essa decisão só se aplica para os Correios.
A tese fixada foi a seguinte:
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) tem o dever jurídico de motivar, em
ato formal, a demissão de seus empregados.
STF. Plenário. RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 10/10/18 (Info 919).

16.7. A contribuição previdenciária paga pelo servidor não deve incidir sobre parcelas que
não são incorporadas à sua aposentadoria – (Info 919)

Não incide contribuição previdenciária sobre verba não incorporável aos proventos de
aposentadoria do servidor público, tais como terço de férias, serviços extraordinários (horas
extras), adicional noturno e adicional de insalubridade.
STF. Plenário. RE 593068/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 11/10/18 (repercussão geral) (Info
919).
OBS: O caso julgado pelo STF era, portanto, anterior à vigência da Lei nº 12.688/2012. Isso
porque depois dela não há mais discussão considerando que tais verbas foram expressamente
excluídas da cobrança.
16.8. Servidor que fazia faculdade particular e é removido, de ofício, para outra cidade tem
direito a matrícula em universidade pública, se não existir instituição privada congênere no
destino – (Info 915) – IMPORTANTE!!!

É constitucional a previsão legal que assegure, na hipótese de transferência ex officio de


servidor, a matrícula em instituição pública, se inexistir instituição congênere à de origem.
Ex: Paulo é servidor público federal, lotado em Recife (PE), onde faz faculdade de Medicina
em uma universidade particular. Ele é transferido, de ofício, para Rio Branco (AC).
Suponhamos, hipoteticamente, que, em Rio Branco, as universidades privadas lá existentes
não possuem o curso de medicina. Neste caso, Paulo teria direito a uma vaga no curso de
Medicina da universidade pública.
Fundamento legal: art. 1º da Lei nº 9.536/97.
STF. Plenário. RE 601580/RS, Rel. Min. Edson Fachin, j. 19/9/18 (repercussão geral) (Info
916).
OBS: A transferência ex officio é um direito assegurado pela Lei nº 9.536/97, que regulamentou
o parágrafo único do art. 49, parágrafo único, da Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da
Educação):
Lei nº 9.394/96
Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão a
transferência de alunos regulares, para cursos afins, na hipótese de
existência de vagas, e mediante processo seletivo.
Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão na forma da
lei.

Lei nº 9.536/97
Art. 1º A transferência ex officio a que se refere o parágrafo único do
art. 49 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, será efetivada,
entre instituições vinculadas a qualquer sistema de ensino, em
qualquer época do ano e independente da existência de vaga,
quando se tratar de servidor público federal civil ou militar
estudante, ou seu dependente estudante, se requerida em razão de
comprovada remoção ou transferência de ofício, que acarrete
mudança de domicílio para o município onde se situe a instituição
recebedora, ou para localidade mais próxima desta.
Parágrafo único. A regra do caput não se aplica quando o
interessado na transferência se deslocar para assumir cargo efetivo
em razão de concurso público, cargo comissionado ou função de
confiança.

16.9. STF decide modular os efeitos de decisão que mandou afastar Delegados de Polícia do
cargo por ofensa à regra do concurso público – (Info 909)

Em 2001, foi editada uma lei estadual criando cargos e organizando a Polícia Civil do Estado
do Amazonas.
Nesta Lei foi previsto que, na estrutura da Polícia Civil, haveria cargos de Delegado de
Polícia e de Comissário de Polícia.
Ainda em 2001, foi realizado um concurso público, com provas específicas para cada um
desses cargos, e os aprovados nomeados e empossados.
Contudo, em 2004, houve duas leis modificando o cargo de Comissário de Polícia.
• a primeira delas afirmou que Comissário de Polícia seria autoridade policial, juntamente
com o Delegado de Polícia, equiparando a remuneração dos dois cargos.
• a segunda lei, transformando o cargo de "Comissário de Polícia" em "Delegado de
Polícia".
Essas duas leis foram impugnadas por meio de ADI.
Em 2015, o STF decidiu que elas são INCONSTITUCIONAIS porque representaram burla
à exigência do concurso público.
As referidas leis fizeram uma espécie de ASCENSÃO FUNCIONAL dos Comissários de
Polícia porque transformaram os ocupantes desses cargos em Delegados de Polícia sem que
eles tivessem feito concurso público para tanto.
No caso concreto, os Ministros entenderam que, quando o cargo de Comissário de Polícia
foi criado, ele possuía diferenças substanciais em relação ao de Delegado de Polícia, o que
impediria a transformação, mesmo sob o argumento de ser medida de racionalização
administrativa.
Foram opostos embargos de declaração contra a decisão.
Em 2018, o STF acolheu os embargos e aceitou modular os efeitos da decisão proferida na
ADI 3415. Além disso, o Tribunal determinou ao Estado do Amazonas que promova, no
prazo máximo de 18 meses, a contar da publicação da ata de julgamento (07/08/2018), a
abertura de concurso público para o cargo de Delegado de Polícia.
O Ministro Relator Alexandre de Moraes afirmou que mais de 70 delegacias de polícia
ficariam sem delegados e que a população amazonense é que sofreria as consequências.
Além disso, na decisão dos embargos, os Ministros esclareceram que são plenamente
válidos os atos praticados nos cargos de Delegado de Polícia que serão afastados.
STF. Plenário. ADI 3415 ED-segundos/AM, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 1º/8/18 (Info
909).

16.10. Não é compatível com a CF/88 a norma de CE que estabelece que o servidor público
inativo deverá receber obrigatoriamente a mais do que percebia na ativa – (Info 907)

A Constituição do Estado do Ceará previa que o servidor, ao se aposentar, deveria receber,


como proventos, o valor pecuniário correspondente ao padrão de vencimento
imediatamente superior ao da sua classe funcional, e, se já ocupasse o ultimo escalão, faria
jus a uma gratificação adicional de 20% sobre a sua remuneração.
O STF decidiu que essa previsão não era considerada materialmente inconstitucional à
época da edição da Carta, uma vez que a superação da remuneração em atividade era
tolerada na redação original da CF. Porém, essa regra não foi recepcionada pela EC 20/98
que proibiu a superação do patamar remuneratório da atividade e a impossibilidade de
incorporação da remuneração do cargo em comissão para fins de aposentadoria (art. 40, §§
2º e 3º, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 20/6/18 (Info 907).

16.11. Inconstitucionalidade de normas da Constituição Estadual que tratam sobre


remuneração e direitos dos servidores públicos sem que existam previsões semelhantes na
CF/88 – (Info 907)

São inconstitucionais os arts. 154, § 2º; 167, XII e XIII, §§ 1º e 2º; e 174, da Constituição do
Estado do Ceará, e os arts. 27 e 28 do seu ADCT. Tais dispositivos tratam de remuneração e
direitos de servidores públicos, que, por não encontrarem similares na CF/88, somente
poderiam ser veiculados por meio de lei de iniciativa do Chefe do Poder Executivo.
São previsões específicas que não tratam da organização e estruturação do Estado-membro
ou de seus órgãos, mas que versam sobre o regime jurídico de servidores públicos.
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 20/6/18 (Info 907).

16.12. Constitucionalidade de norma da CE que assegura equiparação salarial para


professores com igual titulação, respeitando-se o grau de ensino em que estiverem atuando –
(Info 907)

A Constituição do Estado do Ceará prevê que deverá ser assegurada isonomia salarial para
docentes em exercício, com titulação idêntica, respeitando-se o grau de ensino em que
estiverem atuando.
O STF decidiu que essa regra é constitucional e que não ofende o art. 37, XIII, da CF/88. Isso
porque não há, no caso, equiparação salarial de carreiras distintas, considerando que se trata
especificamente da carreira de magistério público e de docentes com titulação idêntica.
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 20/6/18 (Info 907).
16.13. Inconstitucionalidade de norma que equipara remuneração de servidores públicos –
(Info 907)

A Constituição do Estado do Ceará previa que deveria ser assegurado “aos servidores da
administração pública direta, das autarquias e das fundações, isonomia de vencimentos
para cargos de atribuições iguais ou assemelhadas do mesmo Poder ou entre servidores dos
Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, ressalvadas as vantagens de caráter individual
e as relativas à natureza ou ao local de trabalho.”
O STF decidiu que é inconstitucional a expressão “das autarquias e das fundações”. Isso
porque a equiparação remuneratória entre servidores, a teor da redação originária do art.
39, § 1º, da CF/88, restringiu-se aos servidores da administração direta, não mencionando os
entes da administração indireta, como o faz a norma impugnada.
Além disso, o dispositivo estadual não foi recepcionado, em sua integralidade, pela redação
atual do art. 39 da Constituição Federal, na forma EC 19/1998.
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 20/6/2018 (Info 907).
OBS:
Essa previsão era incompatível com a redação originária do art. 39, § 1º da CF/88. Isso porque
este dispositivo constitucional afirmava que se deveria assegurar isonomia de vencimentos
apenas para os servidores da administração direta, não se mencionando os entes da
administração indireta. Veja:
Art. 39. (...)
§ 1º - A lei assegurará, aos servidores da administração direta,
isonomia de vencimentos para cargos de atribuições iguais ou
assemelhados do mesmo Poder ou entre servidores dos Poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário, ressalvadas as vantagens de
caráter individual e as relativas à natureza ou ao local de trabalho.
(Redação originária).

Após a EC 19/98, não há mais qualquer dúvida de que é proibida a equiparação de


vencimentos entre servidores de cargos diferentes. Veja o que diz o art. 37, XIII, da CF/88:
Art. 37 (...)
XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies
remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do serviço
público; (Redação dada pela EC 19/98)

O art. 39, § 1º da CF/88, também alterado pela EC 19/98, não fala mais nada sobre isonomia
de vencimentos:
Art. 39 (...)
§ 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos demais componentes
do sistema remuneratório observará: (Redação dada pela EC/98)
I - a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade dos
cargos componentes de cada carreira; (Incluído pela EC 19/98)
II - os requisitos para a investidura; (Incluído pela EC 19/98)
III - as peculiaridades dos cargos. (Incluído pela EC 19/98)

16.14. Decisão que concede a gratificação de 13,23% viola a SV 37 – (Infos 884 e 886)

A decisão judicial que concede a servidor público a gratificação de 13,32% prevista na Lei
10.698/03 afronta a súmula vinculante 37, mesmo que o julgador fundamente sua decisão
no art. 37, X, da CF/88 e no art. 6º da Lei 13.317/16.
Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de
servidores públicos sob o fundamento de isonomia.
STF. 1ª Turma. Rcl 25927 AgR/SE e Rcl 24965 AgR/SE, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/
o ac. Min. Alexandre de Moraes, j. 31/10/17 (Info 884).
STF. 1ª Turma. Rcl 24965 AgR/SE, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre
de Moraes, j. 28/11/17 (Info 886).
OBS:
Súmula vinculante 37-STF: Não cabe ao poder judiciário, que não
tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidores
públicos sob o fundamento de isonomia.

Para o Supremo, o objetivo do juiz e do Tribunal, ao fundamentar a decisão com base no art.
37, X, da CF/88 e no art. 6º da Lei nº 13.317/2016, foi apenas o de tentar afastar a incidência da
SV 37. No entanto, o raciocínio adotado pelo Tribunal, em última análise, é fundamentado na
igualdade, razão pela qual se aplica a proibição da súmula vinculante.

16.15. Jornada de trabalho diferenciada para servidores médicos e dentistas – (Info 869)

A jornada de trabalho do MÉDICO servidor público é de 4 horas diárias e de 20 horas


semanais, nos termos da Lei nº 12.702/2012.
A jornada de trabalho do ODONTÓLOGO servidor público é de 6 horas diárias e de 30
horas semanais, nos termos do DL 2.140/84.
Essas regras acima explicadas não se aplicam no caso de médicos e odontólogos que ocupem
cargo em comissão ou função de confiança, considerando que, neste caso, terão que cumprir
a jornada normal de trabalho.
STF. 2ª Turma. MS 33853/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 13/6/17 (Info 869).

16.16. Se a pessoa acumular licitamente dois cargos públicos ela poderá receber acima do teto
– (Info 862) – IMPORTANTE!!!

Nos casos autorizados constitucionalmente de acumulação de cargos, empregos e funções,


a incidência do art. 37, XI, da Constituição Federal pressupõe consideração de cada um dos
vínculos formalizados, afastada a observância do teto remuneratório quanto ao somatório
dos ganhos do agente público.
Ex: se determinado Ministro do STF for também professor da UnB, ele irá receber seu
subsídio integral como Ministro e mais a remuneração decorrente do magistério. Nesse
caso, o teto seria considerado especificamente para cada cargo, sendo permitido que ele
receba acima do limite previsto no art. 37, XI da CF se considerarmos seus ganhos globais.
STF. Plenário. RE 612975/MT e RE 602043/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 26 e 27/4/17
(repercussão geral) (Info 862).

16.17. EC 70/2012 produz efeitos financeiros somente a partir da data de sua promulgação –
(Info 860)

Os efeitos financeiros das revisões de aposentadoria concedida com base no art. 6º-A da EC
41/2003, introduzido pela EC 70/2012, somente se produzirão a partir da data de sua
promulgação (30/3/2012).
STF. Plenário. RE 924456/RJ, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, j. 5/4/17 (Info 860).

16.18. Magistrado que estava recebendo abono de permanência e foi promovido terá direito
de continuar percebendo o benefício – (Info 859)

A ocupação de novo cargo dentro da estrutura do Poder Judiciário, pelo titular do abono de
permanência, não implica a cessação do benefício.
Ex: determinada pessoa ocupa o cargo de Desembargador do Trabalho e está recebendo
abono de permanência; se ela for promovida ao cargo de Ministro do TST, terá direito de
continuar recebendo o abono, não sendo necessário completar cinco anos no cargo de
Ministro para requerer o benefício.
STF. 1ª Turma. MS 33424/DF e MS 33456/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 28/3/17 (Info 859).
16.19. Regime de subsídio e pagamento de 13º e férias a Prefeito e Vice-Prefeito – (Info 852)

O art. 39, § 4º, da Constituição Federal não é incompatível com o pagamento de terço de
férias e décimo terceiro salário.
STF. Plenário. RE 650898/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso,
j. 1º/2/17 (repercussão geral) (Info 852).
OBS:
Segundo o Min. Luís Roberto Barroso, o regime de subsídio é incompatível apenas com o
pagamento de outras parcelas remuneratórias de natureza mensal, o que não é o caso do
décimo terceiro e das férias, que são verbas pagas a todos os trabalhadores e servidores, com
periodicidade anual.
A Constituição Federal prevê, em seu art. 39, § 3º, que os servidores públicos gozam de terço
de férias e 13º salário, não sendo vedado o seu pagamento de forma cumulada com o subsídio.
Os agentes políticos, como é o caso dos Prefeitos e Vice-Prefeitos, não devem ter um tratamento
melhor, mas também não podem ter uma situação pior do que a dos demais trabalhadores. Se
todos os trabalhadores em geral têm direito a um terço de férias e têm direito a décimo terceiro
salário, não se mostra razoável que isso seja retirado da espécie de servidores públicos
(Prefeitos e Vice-Prefeitos).
Assim, não é inconstitucional o pagamento de terço de férias e 13º salário a Prefeitos e Vice-
Prefeitos.

E a previsão do pagamento de verba de representação? Aqui temos uma situação de


inconstitucionalidade. Esta verba de representação não é uma quantia paga a todos os
trabalhadores e servidores, não havendo, portanto, razão para que seja excepcionada do
regime de subsídio (parcela única).

Assim, o STF julgou constitucional a previsão de terço de férias e 13º salário e, por outro lado,
inconstitucional o pagamento da chamada "verba de representação".

16.20. Aposentadoria compulsória não se aplica a cargos comissionados – (Info 851) –


IMPORTANTE!!!

Os servidores ocupantes de cargo exclusivamente em comissão não se submetem à regra da


aposentadoria compulsória prevista no art. 40, § 1º, II, da CF, a qual atinge apenas os
ocupantes de cargo de provimento efetivo, inexistindo, também, qualquer idade limite para
fins de nomeação a cargo em comissão.
Ressalvados impedimentos de ordem infraconstitucional, não há óbice constitucional a que
o servidor efetivo, aposentado compulsoriamente, permaneça no cargo comissionado que
já desempenhava ou a que seja nomeado para cargo de livre nomeação e exoneração, uma
vez que não se trata de continuidade ou criação de vínculo efetivo com a Administração.
STF. Plenário. RE 786540/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 15/12/16 (repercussão geral) (Info
851).

16.21. Inconstitucionalidade de norma estadual que amplie as hipóteses do art. 19 do ADCT


da CF/88 – (Info 840)

O art. 19 do ADCT da CF/88 previu que os servidores públicos que estavam em exercício há
pelo menos 5 anos quando a Constituição Federal foi promulgada, deveriam ser
considerados estáveis, mesmo não tendo sido admitidos por meio de concurso público.
Desse modo, quem ingressou no serviço público, sem concurso, até 05/10/1983 e assim
permaneceu, de forma continuada, tornou-se estável com a edição da CF/88.
É inconstitucional Constituição estadual ou lei estadual que amplie a abrangência do art.
19 do ADCT e preveja estabilidade para servidores públicos admitidos sem concurso
público mesmo após 05/10/1983 (5 anos antes da CF/88).
STF. Plenário. ADI 1241/RN, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 22/09/2016 (Info 840).
OBS:
Art. 19. Os servidores públicos civis da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, da administração direta,
autárquica e das fundações públicas, em exercício na data da
promulgação da Constituição, há pelo menos cinco anos
continuados, e que não tenham sido admitidos na forma regulada
no art. 37, da Constituição, são considerados estáveis no serviço
público.
(...)
§ 2º — O disposto neste artigo não se aplica aos ocupantes de
cargos, funções e empregos de confiança ou em comissão, nem aos
que a lei declare de livre exoneração, cujo tempo de serviço não será
computado para os fins do "caput" deste artigo, exceto se se tratar de
servidor.
§ 3º — O disposto neste artigo não se aplica aos professores
de nível superior, nos termos da lei.

16.22. A questão dos 13,23% e as súmulas vinculantes 10 e 37 – (Info 829)

O art. 1º da Lei nº 10.698/2003 concedeu reajuste aos servidores públicos federais de todos
os Poderes, porém em percentuais diferentes. A diferença entre o maior e o menor reajuste
foi de 13,23%.
Os servidores que receberam o menor percentual alegaram que o mencionado art. 1º
representou uma revisão geral anual, tendo, no entanto, violado o art. 37, X, da CF/88,
considerando que foi feita com índices diferentes, o que não é permitido por esse
dispositivo constitucional. Diante disso, pediram que fosse concedida a incorporação dos
13,23% em sua remuneração.
A 1ª Turma do TRF1 (órgão fracionário do Tribunal) concedeu a incorporação pedida.
Para o STF, esta decisão violou as súmulas vinculantes 10 e 37.
A 1ª Turma do TRF1, mesmo sem dizer isso expressamente, fez um controle de
constitucionalidade do art. 1º da Lei 10.698/03 concluindo que este dispositivo incidiu em
inconstitucionalidade por omissão parcial. No entanto, como se trata de órgão fracionário
do TRF, houve violação ao art. 97 da CF/88 e da SV 10: "Viola a cláusula de reserva de
plenário (CF, art. 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare
expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, afasta a
sua incidência no todo ou em parte."
Além disso, houve violação da SV 37: "Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função
legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob fundamento de isonomia."
STF. 2ª Turma. Rcl 14872, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 31/5/2016 (Info 828).

16.23. Revogação de lei que concedeu aumento sem que tenham se iniciado seus efeitos
financeiros – (Info 819)

Lei estadual de 2007 fixou aumento na remuneração dos servidores públicos estaduais. A
Lei entrou em vigor na data de sua publicação, mas estabeleceu que os efeitos financeiros
desse aumento seriam contados somente a partir do primeiro dia do ano seguinte.
Ocorre que, antes que chegasse a data prevista como início do reajuste, a referida Lei foi
revogada por uma outra.
O STF entendeu que esta Lei revogadora é inconstitucional por violar o direito adquirido
(art. 5º, XXXVI, da CF/88) e o princípio da irredutibilidade dos vencimentos (art. 37, XV).
A Lei que concedeu o reajuste entrou em vigor na data de sua publicação. Apenas os efeitos
financeiros é que foram postergados para o dia 1º/1/2008.
No momento em que a Lei entrou em vigor, os servidores passaram a ter direito adquirido
ao reajuste, ainda que os efeitos financeiros somente fossem em data futura.
STF. Plenário. ADI 4013/TO, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 31/3/2016 (Info 819).

16.24. Súmula Vinculante 55 (Info 818)


Súmula vinculante 55: O direito ao auxílio-alimentação não se estende aos servidores
inativos.
STF. Plenário. Aprovada em 17/03/2016, DJe 28/03/2016.

16.25. Declaração de inconstitucionalidade de lei que efetuou transposição e exoneração do


servidores – (Info 810)

No julgamento da ADI 3819, o STF declarou inconstitucional lei estadual, posterior à CF/88,
que transformou ocupantes de determinado cargo público em Defensores Públicos.
Entendeu-se que houve violação ao princípio do concurso público.
Os servidores foram, então, exonerados pelo Governador do Estado, mas conseguiram ser
reintegrados por decisão do STJ, que entendeu que, antes da exoneração, deveria a eles ser
garantido devido processo legal, com contraditório e ampla defesa.
O STF, em reclamação, cassou essa decisão do STJ por entender que ela contrariou a
autoridade da decisão proferida pelo STF no julgamento da ADI 3.819/MG.
STF. 2ª Turma. Rcl 16950/MG, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 1º/12/2015 (Info 810).

16.26. Adicional por tempo de serviço e direito adquirido – (Info 809)

Não há garantia à continuidade de recebimento de adicional por tempo de serviço em


percentual superior àquele previsto em legislação posterior sob o fundamento de direito
adquirido.
STF. Plenário. MS 22423/RS, rel. orig. Min. Eros Grau, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes,
julgado em 26/11/2015 (Info 809).

16.27. Revisão geral dos servidores antes da EC 19/98 – (Info 790)

Súmula vinculante 51-STF: O reajuste de 28,86%, concedido aos servidores militares pelas
Leis 8.622/1993 e 8.627/1993, estende-se aos servidores civis do Poder Executivo, observadas
as eventuais compensações decorrentes dos reajustes diferenciados concedidos pelos
mesmos diplomas legais.
STF. Plenário. Aprovada em 17/06/2015.

16.28. Remunerações acima do teto constitucional e base de cálculo para incidência do IR e


da contribuição previdenciária – (Info 781)

Existem determinados servidores, especialmente aposentados, que, por terem vantagens


pessoais incorporadas em seus vencimentos (ex: quintos), “no papel”, deveriam receber
mais do que o teto. Ex: João, Desembargador aposentado, incorporou diversas gratificações
pessoais ao longo de sua carreira. Assim, a remuneração bruta de João é de R$ 50 mil, mas
ele só receberá, de fato, até o valor do teto, devendo ser ressaltado que a quantia que superar
o limite constitucional não lhe será paga. O valor que, no momento do pagamento, é
descontado da remuneração total do servidor por estar superando o teto constitucional é
chamado de “abate-teto”.
O servidor público, antes de receber sua remuneração líquida, é obrigado a pagar imposto
de renda e contribuição previdenciária. Esse valor já é descontado na folha pela entidade
pagadora. Assim, o Tribunal de Justiça, antes de pagar a remuneração de um
Desembargador, já desconta os valores que ele deverá pagar de IR e contribuição
previdenciária. As alíquotas do IR e da contribuição previdenciária incidem sobre o valor
da remuneração do servidor público. Ex: valor do IR = 27,5% multiplicado pela remuneração
do servidor. Em termos tributários, podemos dizer que a base de cálculo do IR e da
contribuição previdenciária é a remuneração do servidor.
Se o servidor tem uma remuneração “no papel” superior ao teto, o imposto de renda e a
contribuição previdenciária incidirão sobre essa remuneração total ou sobre a remuneração
total menos o abate-teto? Em outras palavras, a remuneração de João é 50 mil; ocorre que o
teto do funcionalismo é 33 mil; João pagará IR e CP sobre 50 mil ou sobre 33 mil?
Sobre os 33 mil. A base de cálculo para se cobrar o IR e a contribuição previdenciária é o
valor da remuneração do servidor depois de ser excluída a quantia que exceder o teto.
Como o recurso extraordinário foi julgado sob a sistemática de repercussão geral, o STF
definiu, em uma frase, a tese que será aplicada em todos os demais casos idênticos. A tese
firmada foi a seguinte: “Subtraído o montante que exceder o teto e subteto previsto no artigo
37, inciso XI, da Constituição Federal, tem-se o valor que vale como base para o Imposto de
Renda e para a contribuição previdenciária”.
STF. Plenário. RE 675978/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 15/4/2015 (repercussão
geral) (Info 781).

16.29. Aposentadoria dos policiais civis e militares – (Info 781)

Foi ajuizada ação direta de inconstitucionalidade por omissão contra o Governador e a


Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo afirmando que eles estavam sendo omissos
porque ainda não haviam editado lei complementar estadual prevendo critérios
diferenciados para aposentadoria de policiais civis e militares do sexo feminino nos termos
do art. 40, §§ 1º e 4º, da CF/88. O STF julgou a ação improcedente por dois motivos:
 Quanto às policiais civis, o pleito formulado na ação já foi atendido com a edição,
pelo Congresso Nacional, da Lei Complementar federal 144/2014, de abrangência
nacional, que deu à policial civil o direito de se aposentar voluntariamente, com
proventos integrais, independentemente de idade, após 25 anos de contribuição,
desde que conte pelo menos 15 anos de exercício em cargo de natureza estritamente
policial.
 Quanto às policiais militares, o STF entendeu que não se aplica a regra de
aposentadoria especial do art. 40, § 4º, da CF/88, porque os militares não podem ser
considerados, atualmente, como servidores públicos, sendo a eles aplicável um
regime jurídico próprio disciplinado pelo art. 142, § 3º, X (e não pelo art. 40, § 4º).
Não havendo determinação constitucional expressa, a decisão de conceder
aposentadoria com critérios facilitados para policiais militares mulheres é uma
escolha discricionária de cada Estado-membro.
STF. Plenário. ADO 28/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 16/4/2015 (Info 781).

16.30. Inconstitucionalidade de subsídio vitalício a ex-governador – (Info 780)

Algumas Constituições estaduais preveem que a pessoa que tiver exercido o cargo de
Governador do Estado fará jus, após deixar o mandato, a um subsídio mensal e vitalício.
Alguns chamam isso de representação, outros de pensão vitalícia e outros de pensão civil.
A previsão desse pagamento é compatível com a CF/88?
NÃO. Essa regra fere o princípio da isonomia. Não há uma justificativa razoável para que
seja prevista genericamente a concessão da “pensão” para ex-governadores, configurando
um tratamento privilegiado sem haver fundamento legítimo.
STF. Plenário. ADI 4552 MC/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 9/4/2015 (Info 780).

16.31. SÚMULA VINCULANTE 42-STF (Info 777)

SÚMULA VINCULANTE 42-STF: É inconstitucional a vinculação do reajuste de


vencimentos de servidores estaduais ou municipais a índices federais de correção
monetária.

16.32. TETO REMUNERATÓRIO: É inconstitucional lei estadual que fixa teto remuneratório
para servidores do Poder Judiciário – (Info 774)

Lei do Estado da Bahia fixava um teto remuneratório exclusivo para os servidores do Poder
Judiciário.
O STF entendeu que essa lei é inconstitucional.
O teto para o funcionalismo estadual somente pode ser fixado por meio de emenda à
Constituição estadual, não sendo permitido mediante lei estadual.
Além disso, a Constituição do Estado da Bahia adotou subteto único (§ 12º do art. 37 da
CF/88) e a lei viola a sistemática escolhida porque fixou um teto apenas para os servidores
do Poder Judiciário, excluindo-o para os demais Poderes.
STF. Plenário. ADI 4900/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, j. 11/2/2015 (Info 774).

16.33. Pensão por morte e menor sob guarda (Lei 8.112/90) – (Info 766)

O menor que, na data do óbito do servidor, esteja sob a guarda deste último, tem direito à
pensão temporária até completar 21 anos de idade (art. 217, II, "b" da Lei nº 8.112/90).
Vale ressaltar que é irrelevante o fato de a guarda ser provisória ou definitiva.
STF. 1ª Turma. MS 31687 AgR/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/3/2014 (Info 738).
STF. 2ª Turma. MS 31770/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 3/11/2014 (Info 766).

16.34. A ampliação de jornada de trabalho sem alteração da remuneração do servidor viola a


regra constitucional da irredutibilidade de vencimentos – (Info 765) – IMPORTANTE!!!

O STF possui entendimento consolidado no sentido de que o servidor público não tem
direito adquirido de manter o regime jurídico existente no momento em que ingressou no
serviço público. No entanto, as mudanças no regime jurídico do servidor não podem reduzir
a sua remuneração, considerando que o art. 37, XV, da CF/88 assegura o princípio da
irredutibilidade dos vencimentos.
No caso concreto, os servidores de determinado órgão público tinham jornada de trabalho
de 20 horas semanais. Foi editada, então, uma Lei aumentando a jornada de trabalho para
40 horas semanais, sem, contudo, majorar a remuneração paga. O STF entendeu que a lei
que alterou a jornada de trabalho não poderia ser aplicada aos servidores que, antes de sua
edição, já estivessem legitimamente subordinados à carga horária inferior. Isso porque se
fossem obrigados a trabalhar mais sem aumento da remuneração, haveria uma redução
proporcional dos vencimentos recebidos.
Assim, nas hipóteses em que houver aumento de carga horária dos servidores, essa só será
válida se houver formal elevação proporcional da remuneração; caso contrário, a regra será
inconstitucional, por violação da norma constitucional da irredutibilidade vencimental.
STF. Plenário. ARE 660010/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 30/10/2014 (repercussão
geral) (Info 762).
STF. Plenário. MS 25875/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2014 (Info 762).

16.35. GDASST e extensão aos inativos – (Info 763)

Súmula Vinculante 34-STF: A Gratificação de Desempenho de Atividade de Seguridade


Social e do Trabalho – GDASST, instituída pela Lei 10.483/2002, deve ser estendida aos
inativos no valor correspondente a 60 (sessenta) pontos, desde o advento da Medida
Provisória 198/2004, convertida na Lei 10.971/2004, quando tais inativos façam jus à paridade
constitucional (EC 20/1998, 41/2003 e 47/2005).
STF. Plenário. Aprovada em 16/10/2014.

16.36. Aumento da remuneração de servidores públicos por meio de decisão judicial – (Info
763 e 756) – IMPORTANTE!!!

Súmula vinculante 37-STF: Não cabe ao poder judiciário, que não tem função legislativa,
aumentar vencimentos de servidores públicos sob o fundamento de isonomia.
STF. Plenário. Aprovada em 16/10/2014.
(...) O Poder Judiciário não tem poder para conceder aumentos para servidores regidos pelo
regime estatutário com base no princípio da isonomia.
STF. Plenário. RE 592317/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 28/8/2014 (repercussão
geral) (Info 756).

16.37. Impossibilidade de mudança no regime jurídico do servidor se houver redução da


remuneração – (Info 762)

O STF possui entendimento consolidado no sentido de que o servidor público não tem
direito adquirido de manter o regime jurídico existente no momento em que ingressou no
serviço público. No entanto, as mudanças no regime jurídico do servidor não podem reduzir
a sua remuneração, considerando que o art. 37, XV, da CF/88 assegura o princípio da
irredutibilidade dos vencimentos.
No caso concreto, a lei duplicou a jornada de trabalho dos servidores públicos e permitiu
que eles continuassem a prestar a jornada menor, desde que recebessem apenas a metade
da remuneração. O STF entendeu que essa modificação da jornada de trabalho não foi
válida para os médicos que já eram servidores do órgão antes da Lei. Isso porque se eles
continuassem a trabalhar na mesma jornada de trabalho anterior, iriam receber apenas a
metade da remuneração. Logo, houve, indiretamente, uma redução do valor dos
vencimentos.
STF. Plenário. MS 25875/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2014 (Info 762).

16.38. Licença para acompanhamento de cônjuge – (Info 760) – Atenção! Concursos Federais!

A Lei n. 8.112/90 prevê que poderá ser concedida licença ao servidor público federal para
acompanhar seu cônjuge ou companheira que foi deslocado para outro ponto do território
nacional, podendo ali exercer provisoriamente atividade compatível com seu cargo em
órgão ou entidade da Administração Federal direta, autárquica ou fundacional. Tal licença
remunerada está prevista no § 2º do art. 84.
Contudo, o servidor não terá direito a essa licença remunerada se o cônjuge se mudou para
outro Município para assumir um cargo público decorrente de concurso público para o qual
foi aprovado.
Em suma, a licença para o acompanhamento de cônjuge ou companheiro de que trata o § 2º
do art. 84 da Lei n. 8.112/90 não se aplica aos casos de provimento originário de cargo
público.
STF. 1ª Turma. MS 28620/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 23/9/2014 (Info 760).

16.39. Instituição de gratificação por ato infralegal – (Info 757)

É inconstitucional ato normativo interno de tribunal que institua gratificação


remuneratória aos seus servidores.
STF. Plenário. ADI 1776/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 4/9/2014 (Info 757).

16.40. Vedação à vinculação ou equiparação de espécies remuneratórias – (Info 755)

É incompatível com a CF/88 (art. 37, XIII e art. 39, § 1º) a lei estadual que equipara a
remuneração de uma carreira a de outra distinta.
STF. Plenário. ADPF 97/PA, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 21/8/2014 (Info 755).

16.41. Servidor público em inatividade não goza do adicional de férias – (Info 755)
É INCONSTITUCIONAL lei estadual que prevê que o servidor público, mesmo quando
for para a inatividade, continuará tendo direito, todos os anos, ao adicional de férias (terço
de férias).
Essa lei viola o princípio da razoabilidade já que o servidor público em inatividade não
pode gozar de férias, porquanto deixou de exercer cargo ou função pública, razão pela qual
a ele não se estende adicional de férias concedido a servidores em atividade.
STF. Plenário. ADI 1158/AM, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 20/8/2014 (Info 755).

16.42. Gratificação de desempenho genérica deve ser estendida aos aposentados e


pensionistas – (Info 755) – IMPORTANTE!!!

a) as vantagens remuneratórias legítimas e de caráter geral conferidas a determinada


categoria, carreira ou, indistintamente, a servidores públicos, por serem vantagens
genéricas, são extensíveis aos servidores inativos e pensionistas;
b) nesses casos, a extensão alcança os servidores que tenham ingressado no serviço público
antes da publicação da EC 20/1998 e da EC 41/2003 e se aposentado ou adquirido o direito à
aposentadoria antes da EC 41/2003;
c) com relação aos servidores que se aposentaram após a EC 41/2003, devem ser observados
os requisitos estabelecidos na regra de transição contida em seu art. 7º, em virtude da
extinção da paridade integral entre ativos e inativos contida no art. 40, § 8º, da CF, redação
original, para os servidores que ingressaram no serviço público após a publicação da EC
41/2003; e
d) com relação aos servidores que tivessem ingressado no serviço público antes da EC
41/2003 e se aposentaram ou adquiriram o direito à aposentadoria após a sua edição, é
necessário observar a incidência das regras de transição fixadas pela EC 47/2005, a qual
estabeleceu efeitos retroativos à data de vigência da EC 41/2003.
STF. Plenário. RE 596962/MT, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 21/8/2014 (Info 755).
STJ. STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.372.058-CE, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em
4/2/2014 (Info 534).

16.43. Aposentadoria por invalidez com proventos integrais – (Info 755) – IMPORTANTE!!!

A CF/88 prevê, em seu art. 40, § 1º, I, a possibilidade de os servidores públicos serem
aposentados caso se tornem total e permanentemente incapazes para o trabalho. Trata-se da
chamada aposentadoria por invalidez.
Em regra, a aposentadoria por invalidez será paga com proventos proporcionais ao tempo
de contribuição. Excepcionalmente, ela será devida com proventos integrais se essa
invalidez for decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave,
contagiosa ou incurável, especificada em lei.
Assim, a concessão de aposentadoria por invalidez com proventos integrais exige que a
doença incapacitante esteja prevista em rol taxativo da legislação de regência.
O art. 41, § 1º, I, da CF/88 é bastante claro ao exigir que a lei defina as doenças e moléstias
que ensejam aposentadoria por invalidez com proventos integrais. Logo, esse rol legal deve
ser tido como exaustivo (taxativo).
STF. Plenário. RE 656860/MT, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 21/8/2014 (Info 755).

16.44. Ajuda de custo para transporte e mudança de magistrados – (Info 753)

A LC 35/1979 (Loman) prevê, em seu art. 65, I, o pagamento de indenização para custeio de
despesas com transporte e mudança:
Apesar de a Loman falar que a matéria será regulada em lei, esse diploma legal nunca foi
editado. Por conta disso, o STF afirmou que é possível aplicar, de forma subsidiária, a
norma que rege os servidores públicos federais (Lei 8.112/1990) que, em seu arts. 53 e 54,
disciplina a ajuda de custo para transporte e mudança.
STF. 2ª Turma. AO 1656/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/8/2014 (Info 753).
16.45. Contratação por tempo determinado do art. 37, IX, da CF/88 – (Info 748)

A lei do ente federativo que regulamente o art. 37, IX, da CF/88, deverá especificar as
hipóteses emergenciais que justificam as medidas de contratação excepcional. Caso não o
faça, ela será tida por inconstitucional.
STF. Plenário. ADI 3649/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 28/5/2014 (Info 748)

16.46. CONCEITO DE CARGO TÉCNICO PARA OS FINS DO ART. 37, XVI, “B”, DA CF/88
– (Info 747) – IMPORTANTE!!!

A CF/88 permite a acumulação de um cargo de professor com outro técnico ou científico (art.
37, XVI, “b”).
Somente se pode considerar que um cargo tem natureza técnica se ele exigir, no
desempenho de suas atribuições, a aplicação de conhecimentos especializados de alguma
área do saber.
Não podem ser considerados cargos técnicos aqueles que impliquem a prática de atividades
meramente burocráticas, de caráter repetitivo e que não exijam formação específica.
Nesse sentido, atividades de agente administrativo, descritas como atividades de nível
médio, não se enquadram no conceito constitucional.
STF. 1ª Turma. RMS 28497/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Cármen Lúcia,
julgado em 20/5/2014 (Info 747).

16.47. Inconstitucionalidade de dispositivo da CE que preveja modos de investidura


derivada – (Info 746)

É inconstitucional dispositivo de Constituição estadual que assegure ao servidor público


estadual que, na data da promulgação da Constituição, estivesse à disposição de órgão
diferente daquele de sua lotação de origem, o direito de optar pelo enquadramento
definitivo no órgão em que estivesse servindo.
É também inconstitucional o artigo da CE que permita que o servidor que ocupasse um
cargo de nível médio fosse reenquadrado em um de nível superior quando concluísse curso
de nível superior.
STF. Plenário. ADI 351/RN, rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/5/2014 (Info 746)

16.48. O art. 170 da Lei 8.112/1990 é inconstitucional – (Info 743)

O art. 170 da Lei n. 8.112/90 prevê que, mesmo estando prescrita a infração disciplinar, é
possível que a prática dessa conduta fique registrada nos assentos funcionais do servidor.
O STF decidiu que esse art. 170 é INCONSTITUCIONAL por violar os princípios da
presunção de inocência e da razoabilidade.
STF. Plenário. MS 23262/DF, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 23/4/2014 (Info 743).

16.49. Contratação por tempo determinado do art. 37, IX, da CF/88 – (Info 742)

A lei do ente federativo que regulamente o art. 37, IX, da CF/88 não poderá prever hipóteses
abrangentes e genéricas de contratações temporárias sem concurso público.
Além disso, essa lei deverá especificar a contingência fática que caracteriza a situação de
emergência.
STF. Plenário. RE 658026/MG, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 9/4/2014 (Info 742).

16.50. Súmula vinculante 33-STF: aposentadoria especial para servidor público – (Info 742)
Súmula Vinculante 33-STF: Aplicam-se ao servidor público, no que couber, as regras do
Regime Geral de Previdência Social sobre aposentadoria especial de que trata o artigo 40,
parágrafo 4º, inciso III, da Constituição Federal, até edição de lei complementar específica.
STF. Plenário. Aprovada em 9/4/2014.

16.51. Lei que efetivava servidores sem concurso público e modulação dos seus efeitos – (Info
740)

Lei mineira transformava diversos servidores com vínculo precário com a Administração
em servidores efetivos.
STF julgou inconstitucional a referida Lei por violação à regra do concurso público.
A corte decidiu, contudo, modular os efeitos da decisão.
Com relação aos cargos para os quais não há concurso público em andamento ou em vigor:
a lei continuará produzindo efeitos por um período de até 12 meses.
Com relação aos cargos para os quais há concurso em andamento ou em vigor: os efeitos da
declaração de inconstitucionalidade são imediatos.
Servidores já aposentados (ou que preencheram os requisitos para jubilação), bem como
para aqueles que foram aprovados em concurso público ou que foram beneficiados pela
estabilidade excepcional do art. 19 do ADCT da CF/88: não se submetem aos efeitos da
decisão (continuarão em seus cargos com a aposentadoria).
STF. Plenário. ADI 4876/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26/3/2014 (Info 740).

16.52. Contratação por tempo determinado do art. 37, IX, da CF/88 – (Info 740)

O STF entende que o art. 37, IX, da CF/88 autoriza que a Administração Pública contrate
pessoas, sem concurso público, tanto para o desempenho de atividades de caráter eventual,
temporário ou excepcional, como também para o desempenho das funções de caráter
regular e permanente, desde que indispensáveis ao atendimento de necessidade temporária
de excepcional interesse público.
No caso concreto julgado pelo STF, estava sendo impugnada uma lei do Estado do
Maranhão que permite a contratação, com base no art. 37, IX, da CF/88, de professores para
os ensinos fundamental e médio, desde que não existam candidatos aprovados em concurso
público e devidamente habilitados. A Lei maranhense prevê que essa contratação deverá
ocorrer pelo prazo máximo de 12 meses e o STF conferiu interpretação conforme para que
esse prazo seja contado do último concurso realizado para a investidura de professores.
Desse modo, durante o período de 1 (um) ano, haveria necessidade temporária que
justificaria a contratação sem concurso até que fosse concluído o certame.
STF. Plenário. ADI 3247/MA, rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 26/3/2014 (Info 740).

16.53. O menor sob guarda tem direito à pensão temporária por morte na Lei n. 8.112/90 –
(Info 738) – Atenção! Concursos Federais!

O menor que, na data do óbito do servidor, esteja sob a guarda deste último, tem direito à
pensão temporária até completar 21 anos de idade (art. 217, II, "b" da Lei nº 8.112/90).
Vale ressaltar que é irrelevante o fato de a guarda ser provisória ou definitiva.
STF. 1ª Turma. MS 31687 AgR/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/3/2014 (Info 738).

16.54. Administração pode suspender cautelarmente, no curso de processo administrativo,


pagamento de gratificação supostamente indevida – (Info 737)

Durante o processo administrativo instaurado para apurar a legalidade de determinada


gratificação, a Administração Pública pode determinar, com fundamento no poder cautelar
previsto no art. 45 da Lei n. 9784/99, a suspensão do pagamento da verba impugnada até a
decisão definitiva do órgão sobre a sua validade no âmbito do procedimento aberto.
STF. 2ª Turma. RMS 31973/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 25/2/2014 (Info 737).
16.55. Lei estadual pode passar a exigir nível superior para cargo público, aumentando sua
remuneração – (Info 734)

É CONSTITUCIONAL Lei estadual que passa a exigir nível superior para determinado
cargo público (que antes era de ensino médio), determinando ainda o aumento da
remuneração paga para os ocupantes desse cargo, que irão agora receber como servidores
de nível superior.
STF. Plenário. ADI 4303/RN, rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/2/2014 (Info 734).

17. GREVE NO SERVIÇO PÚBLICO


17.1. Constitucionalidade de Decreto estadual que regulamenta as providências a serem
adotadas em caso de greve – (Info 906)

O Governador da Bahia editou um decreto prevendo que, em caso de greve, deverão ser
adotas as seguintes providências:
a) convocação dos grevistas a reassumirem seus cargos;
b) instauração de processo administrativo disciplinar;
c) desconto em folha de pagamento dos dias de greve;
d) contratação temporária de servidores;
e) exoneração dos ocupantes de cargo de provimento temporário e de função gratificada que
participarem da greve.
O STF decidiu que este Decreto é constitucional.
Trata-se de decreto autônomo que disciplina as consequências — estritamente
administrativas — do ato de greve dos servidores públicos e as providências a serem
adotadas pelos agentes públicos no sentido de dar continuidade aos serviços públicos.
A norma impugnada apenas prevê a instauração de processo administrativo para se apurar
a participação do servidor na greve e as condições em que ela se deu, bem como o não
pagamento dos dias de paralisação, o que está em consonância com a orientação fixada pelo
STF no julgamento do MI 708.
É possível a contratação temporária excepcional (art. 37, IX, da CF/88) prevista no decreto
porque o Poder Público tem o dever constitucional de prestar serviços essenciais que não
podem ser interrompidos, e que a contratação, no caso, é limitada ao período de duração da
greve e apenas para garantir a continuidade dos serviços.
STF. Plenário. ADI 1306/BA, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 13/6/2017 (Info 906).
OBS:
Os servidores públicos possuem direito de greve? SIM. Isso se encontra previsto no art. 37, VII,
da CF/88:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites
definidos em lei específica;

Este inciso VII afirma que o direito de greve dos servidores públicos será exercido nos termos
e nos limites definidos em lei específica. Esta lei, até o presente momento, não foi editada.
Mesmo sem haver lei, os servidores públicos podem fazer greve? SIM. O STF decidiu que,
mesmo sem ter sido ainda editada a lei de que trata o art. 37, VII, da CF/88, os servidores
públicos podem fazer greve, devendo ser aplicadas as leis que regulamentam a greve para
os trabalhadores da iniciativa privada (Lei nº 7.701/88 e Lei nº 7.783/89). Nesse sentido: STF.
Plenário. MI 708, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 25/10/2007.

Quais são os requisitos para que os servidores públicos possam fazer greve? São requisitos
para a deflagração de uma greve no serviço público:
a) tentativa de negociação prévia, direta e pacífica;
b) frustração ou impossibilidade de negociação ou de se estabelecer
uma agenda comum;
c) deflagração após decisão assemblear;
d) comunicação aos interessados, no caso, ao ente da Administração
Pública a que a categoria se encontre vinculada e à população, com
antecedência mínima de 72 horas (uma vez que todo serviço público
é atividade essencial);
e) adesão ao movimento por meios pacíficos; e
f) a garantia de que continuarão sendo prestados os serviços
indispensáveis ao atendimento das necessidades dos administrados
(usuários ou destinatários dos serviços) e à sociedade.

Caso os servidores públicos realizem greve, a Administração Pública deverá descontar da


remuneração os dias em que eles ficaram sem trabalhar?
 Regra: SIM. Em regra, a Administração Pública deve fazer o desconto dos dias de
paralisação decorrentes do exercício do direito de greve pelos servidores públicos.
 Exceção: não poderá ser feito o desconto se ficar demonstrado que a greve foi
provocada por conduta ilícita do Poder Público.
STF. Plenário. RE 693456/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 27/10/16 (repercussão geral) (Info 845).

Para que seja realizado o desconto dos dias não trabalhados, exige-se a instauração de
processo administrativo? NÃO. Não há necessidade de processo administrativo prévio para
realizar descontos na remuneração do servidor, em razão de dias parados decorrentes de
greve (STJ. 2ª Turma. AgInt no AREsp 780.209/SC, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em
24/5/2016).

17.2. Compete à Justiça Comum (estadual ou federal) decidir se a greve realizada por
servidor público é ou não abusiva – (Info 871)

A justiça comum, federal ou estadual, é competente para julgar a abusividade de greve de


servidores públicos celetistas da Administração pública direta, autarquias e fundações
públicas.
STF. Plenário. RE 846854/SP, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
j. 1º/8/17 (repercussão geral) (Info 871).
OBS:
Os servidores públicos possuem direito de greve? SIM. Isso se encontra previsto no art. 37, VII,
da CF/88:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites
definidos em lei específica;

Quais são os requisitos para que os servidores públicos possam fazer greve? São requisitos
para a deflagração de uma greve no serviço público:
a) tentativa de negociação prévia, direta e pacífica;
b) frustração ou impossibilidade de negociação ou de se estabelecer
uma agenda comum;
c) deflagração após decisão assemblear;
d) comunicação aos interessados, no caso, ao ente da Administração
Pública a que a categoria se encontre vinculada e à população, com
antecedência mínima de 72 horas (uma vez que todo serviço público
é atividade essencial);
e) adesão ao movimento por meios pacíficos; e
f) a garantia de que continuarão sendo prestados os serviços
indispensáveis ao atendimento das necessidades dos administrados
(usuários ou destinatários dos serviços) e à sociedade.
Caso os servidores públicos realizem greve, a Administração Pública deverá descontar da
remuneração os dias em que eles ficaram sem trabalhar?
 Regra: SIM. Em regra, a Administração Pública deve fazer o desconto dos dias de
paralisação decorrentes do exercício do direito de greve pelos servidores públicos.
 Exceção: não poderá ser feito o desconto se ficar demonstrado que a greve foi
provocada por conduta ilícita do Poder Público.
STF. Plenário. RE 693456/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 27/10/16 (repercussão geral) (Info 845).

Suponhamos que ocorra divergência entre os servidores e a Administração Pública sobre a


abusividade da greve realizada e a questão acabe chegando ao Judiciário. Neste caso, de quem
será a competência para decidir se a greve é legal ou não? Trata-se de competência da Justiça
Comum ou da Justiça do Trabalho? Justiça Comum. No julgamento do MI 708, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 25/10/07, o STF já havia definido que a competência para julgar
questões relativas à greve dos servidores públicos é da Justiça Comum.

A Justiça Comum será competente mesmo que se trate de empregado público (vínculo
celetista)? SIM. A Justiça Comum será competente mesmo que o vínculo do servidor com a
Administração Pública seja regido pela CLT, ou seja, ainda que se trate de empregado público.
Sobre o tema, o STF fixou a seguinte tese:
A justiça comum, federal ou estadual, é competente para julgar a
abusividade de greve de servidores públicos celetistas da
Administração pública direta, autarquias e fundações públicas. STF.
Plenário. RE 846854/SP, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, j. 1º/8/2017 (repercussão geral) (Info 871).

Assim, a Justiça Comum é sempre competente para julgar causa relacionada ao direito de
greve de servidor público da Administração direta, autárquica e fundacional, pouco
importando se se trata de celetista ou estatutário.

Vale fazer, contudo, uma importante ressalva: se a greve for de empregados públicos de
empresa pública ou sociedade de economia mista, a competência será da Justiça do
Trabalho.

Estadual ou Federal
 Se os servidores públicos que estiverem realizando a greve forem municipais ou
estaduais, a competência será da Justiça Estadual.
 Se os servidores públicos grevistas forem da União, suas autarquias ou fundações, a
competência será da Justiça Federal.

E se a greve abranger mais de um Estado?


 Se a greve for de servidores estaduais ou municipais e estiver restrita a uma unidade
da Federação (um único Estado), a competência será do respectivo Tribunal de
Justiça (por aplicação analógica do art. 6º da Lei 7.701/88).
 Se a greve for de servidores federais e estiver restrita a uma única região da Justiça
Federal (ex: greve dos servidores federais de PE, do CE, do RN e da PB): a competência
será do respectivo TRF (neste exemplo, o TRF5) (por aplicação analógica do art. 6º da
Lei 7.701/88).
 Se a greve for de âmbito nacional, ou abranger mais de uma região da Justiça Federal,
ou ainda, compreender mais de uma unidade da federação, a competência para o
dissídio de greve será do STJ (por aplicação analógica do art. 2º, I, "a", da Lei
7.701/88).

17.3. Policiais são proibidos de fazer greve – (Info 860) – IMPORTANTE!!!

O exercício do direito de greve, sob qualquer forma ou modalidade, é vedado aos policiais
civis e a todos os servidores públicos que atuem diretamente na área de segurança pública.
É obrigatória a participação do Poder Público em mediação instaurada pelos órgãos
classistas das carreiras de segurança pública, nos termos do art. 165 do CPC, para
vocalização dos interesses da categoria.
STF. Plenário. ARE 654432/GO, Rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, j. 5/4/17 (repercussão geral) (Info 860).
OBS:
A greve é um direito de todos os servidores públicos? NÃO. Existem determinadas categorias
para quem a greve é proibida.

Os policiais militares podem fazer greve? NÃO. A CF/88 proíbe expressamente que os
Policiais Militares, Bombeiros Militares e militares das Forças Armadas façam greve (art. 142,
3º, IV c/c art. 42, § 1º).

O art. 142, § 3º, IV, da CF/88 não menciona os policiais civis. Em verdade, não existe nenhum
dispositivo na Constituição que proíba expressamente os policiais civis de fazerem greve.
Diante disso, indaga-se: os policiais civis possuem direito de greve? NÃO. Apesar de não
haver uma proibição expressa na CF/88, o STF decidiu que os policiais civis não podem fazer
greve. Aliás, o Supremo foi além e afirmou que nenhum servidor público que trabalhe
diretamente na área da segurança pública pode fazer greve.

Carreira policial é carreira de Estado, essencial para a segurança pública: A carreira policial,
disciplinada pelo art. 144 da CF/88, tem como função exercer a segurança pública, garantindo
a “preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio. A carreira
policial é o braço armado do Estado para realizar a segurança pública e as Forças Armadas são
o braço armado do Estado para garantir a segurança nacional. Diante da relevância de suas
funções e considerando que se trata de uma atividade que não pode ser exercida pela iniciativa
privada, considera-se que a atividade policial é uma "carreira de Estado". A atividade policial
diferencia-se, contudo, de outras atividades essenciais, como educação e saúde, porque ela não
pode ser exercida por particulares. A segurança pública é, portanto, atividade privativa do
Estado. Vale ressaltar que, diante de suas peculiaridades, a Constituição disciplinou as
carreiras policiais de forma diferenciada, tratando delas em um capítulo específico, distinto do
capítulo dos servidores públicos.

Direito de greve é incompatível com a carreira policial: Não é possível compatibilizar que o
braço armado do Estado faça greve porque isso colocaria em risco a segurança pública, a ordem
e a paz social. Os integrantes das carreiras policiais possuem o dever de fazer intervenções e
prisões em flagrante, sendo isso inconciliável com o exercício da greve. Como já afirmado, não
há possibilidade de nenhum outro órgão da iniciativa privada suprir a atividade policial. Se
esta entra em greve, não há como sua função ser substituída. Vale ressaltar que a atividade
policial, além de ser importantíssima por si só, se for paralisada, afetará também as atribuições
do Ministério Público e do próprio Poder Judiciário.

Greve não é direito absoluto: A greve não é um direito absoluto e, neste caso, deverá ser feito
um balanceamento entre o direito de greve e o direito de toda a sociedade à segurança pública
e à manutenção da ordem pública e paz social. Neste caso, há a prevalência do interesse público
e do interesse social sobre o interesse individual de uma categoria. Por essa razão, em nome da
segurança pública, os policiais não podem fazer greve. Importante destacar que a ponderação
de interesses aqui não envolve direito de greve X continuidade do serviço público. A greve dos
policiais é proibida não por causa do princípio da continuidade do serviço público (o que seria
muito pouco), mas sim por conta do direito de toda a sociedade à garantia da segurança
pública, à garantia da ordem pública e da paz social.

Não se trata de aplicar por analogia o art. 142, § 3º, IV: É importante destacar que o STF
afirmou expressamente que, ao decidir que os policiais civis não possuem direito de greve, não
estava aplicando o art. 142, § 3º, IV, da CF/88 por analogia a eles. Não se trata, portanto, de
analogia. A greve é proibida por força dos princípios constitucionais que regem os órgãos de
segurança pública.
Carreira policial possui tratamento diferenciado: A pessoa que ingressa na carreira policial
sabe que estará integrando um órgão com regime especial, que possui regime de trabalho
diferenciado, escala, hierarquia e disciplina. Deve saber também que se trata de uma carreira
cuja atividade é incompatível com o direito de greve.

Estado de defesa e estado de sítio: Eventuais movimentos grevistas de carreiras policiais


podem levar à ruptura da segurança pública, o que é tão grave a ponto de permitir a decretação
do estado de defesa (art. 136 da CF/88) e se o estado de defesa, em 90 dias, não responder ao
anseio necessário à manutenção e à reintegração da ordem, será possível a decretação do estado
de sítio (art. 137, I).

Além dos policiais civis, os policiais federais também estão proibidos de fazer greve? SIM. O
STF entendeu que o exercício de greve é vedado a todas as carreiras policiais previstas no art.
144, ou seja, não podem fazer greve os integrantes da:
 Polícia Federal;
 Polícia Rodoviária Federal;
 Polícia Ferroviária Federal;
 Polícia Civil;
 Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros militar.

Mediação: Apesar de os policiais não poderem exercer o direito de greve, é indispensável que
essa categoria possa vocalizar (expressar) as suas reivindicações de alguma forma. Pensando
nisso, o STF afirmou, como alternativa, que o sindicato dos policiais possa acionar o Poder
Judiciário para que seja feita mediação com o Poder Público, nos termos do art. 165 do CPC:
Art. 165. Os tribunais criarão centros judiciários de solução
consensual de conflitos, responsáveis pela realização de sessões e
audiências de conciliação e mediação e pelo desenvolvimento de
programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a
autocomposição.

Nesta mediação, os integrantes das carreiras policiais serão representados pelos respectivos
órgãos classistas (ex: sindicatos, no caso de polícia civil, federal etc.; associações, no caso de
polícia militar) e o Poder Público é obrigado a participar.

17.4. Administração Pública deve descontar os dias não trabalhados por servidor público
em greve – (Info 845) – IMPORTANTE!!! – (TJSP-2017)

A administração pública deve proceder ao desconto dos dias de paralisação decorrentes do


exercício do direito de greve pelos servidores públicos, em virtude da suspensão do vínculo
funcional que dela decorre. É permitida a compensação em caso de acordo. O desconto será,
contudo, incabível se ficar demonstrado que a greve foi provocada por conduta ilícita do
Poder Público.
STF. Plenário. RE 693456/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 27/10/16 (repercussão geral) (Info 845).
(TJSP-2017-VUNESP): O direito de greve reconhecido constitucionalmente aos servidores
públicos implica que do seu exercício, todavia, poderá resultar o desconto dos dias
paralisados a ser efetuado pela Administração Pública, com possibilidade de compensação
na hipótese de acordo.

OBS:
Os servidores públicos possuem direito de greve? SIM. Isso se encontra previsto no art. 37, VII,
da CF/88:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites
definidos em lei específica;

Este inciso VII afirma que o direito de greve dos servidores públicos será exercido nos termos
e nos limites definidos em lei específica. Esta lei, até o presente momento, não foi editada.
Mesmo sem haver lei, os servidores públicos podem fazer greve? SIM. Mesmo sem ter sido
ainda editada a lei de que trata o art. 37, VII, da CF/88, os servidores públicos podem fazer
greve, devendo ser aplicadas as leis que regulamentam a greve para os trabalhadores da
iniciativa privada (Lei 7.701/88 e Lei 7.783/89). Nesse sentido: STF. Plenário. MI 708, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 25/10/2007.

Quais são os requisitos para que os servidores públicos possam fazer greve? São requisitos
para a deflagração de uma greve no serviço público:
a) tentativa de negociação prévia, direta e pacífica;
b) frustração ou impossibilidade de negociação ou de se estabelecer
uma agenda comum;
c) deflagração após decisão assemblear;
d) comunicação aos interessados, no caso, ao ente da Administração
Pública a que a categoria se encontre vinculada e à população, com
antecedência mínima de 72 horas (uma vez que todo serviço público
é atividade essencial);
e) adesão ao movimento por meios pacíficos; e
f) a garantia de que continuarão sendo prestados os serviços
indispensáveis ao atendimento das necessidades dos administrados
(usuários ou destinatários dos serviços) e à sociedade.

Caso os servidores públicos realizem greve, a Administração Pública deverá descontar da


remuneração os dias em que eles ficaram sem trabalhar?
 Regra: SIM. Em regra, a Administração Pública deve fazer o desconto dos dias de
paralisação decorrentes do exercício do direito de greve pelos servidores públicos.
 Exceção: não poderá ser feito o desconto se ficar demonstrado que a greve foi
provocada por conduta ilícita do Poder Público.
STF. Plenário. RE 693456/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 27/10/16 (repercussão geral) (Info 845).

Greve é considerada pela lei como suspensão do contrato de trabalho: Os dias em que o
trabalhador fica afastado do serviço com o objetivo de participar da greve são considerados
pela legislação como período de suspensão do contrato de trabalho. Veja o que diz a Lei nº
7.783/89:
Art. 7º Observadas as condições previstas nesta Lei, a participação
em greve suspende o contrato de trabalho, devendo as relações
obrigacionais, durante o período, ser regidas pelo acordo,
convenção, laudo arbitral ou decisão da Justiça do Trabalho.

O STF, no julgamento do MI 708, afirmou que este art. 7º deve ser aplicado nas greves
envolvendo servidores públicos.

O contrato de trabalho pode sofrer a paralisação temporária de seus efeitos, embora mantenha
a sua vigência. Essa paralisação pode ser classificada como suspensão ou interrupção.
Suspensão não há trabalho
(total) não há pagamento de salários
não há contagem do tempo de serviço
não há recolhimento fundiário ou mesmo previdenciário
Interrupção não há trabalho
(parcial) há pagamento de salários
há contagem do tempo de serviço
há recolhimento fundiário ou mesmo previdenciário

Quando a Lei classifica a greve como hipótese de suspensão do contrato de trabalho, ela está
dizendo que não haverá trabalho, mas que também não haverá pagamento de salários.
Greve é um direito, mas que possui consequências: Segundo o STF, embora a grave seja
possível, porque é um direito constitucional, ela tem consequências. O desconto dos dias de
paralisação é o ônus inerente à greve, assim como a paralisação parcial dos serviços públicos
imposta à sociedade é consequência natural do movimento. Esse desconto dos dias parados
não tem finalidade disciplinar punitiva. Trata-se de um “afastamento” não remunerado do
servidor, na medida em que, embora autorizado pela CF/88, esta não lhe garantiu o
pagamento integral dos vencimentos. Assim, em razão da ausência de prestação específica do
serviço por parte do grevista, os descontos devem ser realizados.

O administrador público poderá deixar de descontar da remuneração do servidor os dias em


que ele ficou sem trabalhar fazendo greve? NÃO. Ele é obrigado a tomar esta atitude, não
podendo dispor sobre isso. Caso não haja o desconto dos dias paralisados, isso representará:
 enriquecimento sem causa dos servidores que não trabalharam;
 violação ao princípio da indisponibilidade do interesse público;
 violação ao princípio da legalidade.

O fato de ser permitido o desconto da remuneração, não faz com que, na prática, o STF esteja
dizendo que a greve no serviço público é proibida? NÃO. Ao admitir o desconto dos dias
paralisados, o STF não está negando o exercício do direito do servidor público de realizar
greve. A participação do servidor público em um movimento paredista é um direito seu, mas
esse direito possui limites e ônus, em especial, por se tratar o serviço público de atividade de
importância estratégica para o Estado em prol da sociedade.

Experiência de outros países: Na maioria dos países onde a greve no serviço público é
permitida, também ocorre o desconto da remuneração dos grevistas, o que tem mobilizado a
criação, inclusive, de fundos de greve, como é o caso do Reino Unido (“strike fund”), da França
e do Canadá (“fonds de grève”), da Espanha e de diversos países de língua espanhola (“fondo
de huelga”) e de Portugal (“fundos de maneio”).

É possível que a lei que venha a regulamentar o inciso VII do art. 37 preveja a greve no serviço
público como hipótese de interrupção (autorizando o pagamento da remuneração)? SIM. O
Min. Dias Toffoli afirmou que não existe vedação para que o Poder Legislativo preveja na lei
que vier a ser editada que o movimento grevista seja hipótese de interrupção do vínculo.

Este entendimento de que deverá haver desconto na remuneração dos servidores grevistas já
era a posição do STF? SIM. Existem inúmeros julgados anteriores do STF no mesmo sentido.
Como exemplo, cite-se:
(...) Inexiste direito à restituição dos valores descontados decorrentes
dos dias de paralisação. Precedente. MI 708/DF, Rel. Min. Gilmar
Mendes. (...)
STF. 2ª Turma. AI 824949 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 23/08/2011.

TST: O TST também vem considerando a greve como hipótese de suspensão contratual (art. 7º
da Lei 7.783/89), de forma que os dias de paralisação não devem ser remunerados, salvo
situações excepcionais, tais como aquelas em que o empregador contribui, mediante conduta
recriminável, para que a greve ocorra, ou quando há acordo entre as partes. (TST, RO nº
1000229-73.2014.5.02.0000, Relatora a Ministra Dora Maria da Costa, Seção Especializada em
Dissídios Coletivos, DEJT 19/12/14).

Não poderá ser feito o desconto se ficar demonstrado que a greve foi provocada por conduta
ilícita do Poder Público: Considera-se assim aquelas circunstâncias em que o ente da
administração tenha contribuído, mediante conduta recriminável, para que a greve ocorresse.
Ex: não haverá desconto se a greve tiver sido provocada por atraso no pagamento aos
servidores públicos ou se houver outras circunstâncias excepcionais que justifiquem o
afastamento da premissa da suspensão da relação funcional ou de trabalho.
Em vez de realizar o desconto, é possível que os servidores públicos façam a compensação dos
dias parados (ex: trabalhando duas horas a mais por dia)? SIM. A compensação dos dias e
horas paradas ou mesmo o parcelamento dos descontos poderão ser objeto de negociação, uma
vez que se encontram dentro das opções discricionárias do administrador. Ressalte-se,
contudo, que não há uma obrigatoriedade de a Administração Pública aceitar a compensação.

18. CONCESSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO


18.1. A concessionária não tem direito adquirido à renovação do contrato de concessão –
(Info 885) – IMPORTANTE!!!

A concessionária não tem direito adquirido à renovação do contrato de concessão de usina


hidrelétrica.
A União possui a faculdade de prorrogar ou não o contrato de concessão, tendo em vista o
interesse público, não se podendo invocar direito líquido e certo a tal prorrogação.
Dessa forma, a prorrogação do contrato administrativo insere-se no campo da
discricionariedade.
A Lei 12.783/13 subordinou a prorrogação dos contratos de concessão de geração,
transmissão e distribuição de energia elétrica à aceitação expressa de determinadas
condições. Se estas são recusadas pela concessionária, a Administração Pública não é
obrigada a renovar a concessão.
A Lei 12.783/13 pode ser aplicada para a renovação de contratos ocorrida após a sua vigência
mesmo que a assinatura do pacto original tenha ocorrido antes da sua edição.
STF. 2ª Turma. RMS 34203/DF e AC 3980/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 21/11/17 (Info 885).
OBS:
Possibilidade de incidência da nova legislação sobre o contrato em curso: ausência de direito
adquirido: No caso concreto, não se trata de alteração legislativa com impacto em contrato em
curso. O prazo contratual definido tinha seu término previsto para 28/8/13. Após essa data
não havia qualquer garantia de continuidade do contrato, salvo por meio de prorrogação
contratual, se assim fosse do interesse público (discricionariedade administrativa).

Por escolha governamental, definiu-se novo rumo ao sistema de fornecimento de energia


elétrica por meio da Lei 12.783/13. Essa legislação trouxe novas disposições para as concessões
de energia elétrica, que deviam ser observadas pela Administração Pública no momento de
avaliar a renovação dos contratos de concessão. A lei era expressa nesse sentido. Também a
mesma lei estipulou a necessidade de manifestação das concessionárias quanto ao interesse de
permanecer sob a contratação nas novas bases legais, respeitando-se, assim, não apenas a
discricionariedade administrativa na renovação do contrato, mas também a bilateralidade,
igualmente característica dessa forma de ajuste.

O princípio do equilíbrio financeiro do contrato, que assegura a equivalência entre as


vantagens e os custos tal como calculados no momento da celebração do contrato, deve ser
aplicado durante o período de vigência do ajuste.
Todo contrato possui um prazo definido e é durante esse período que se exige o equilíbrio da
relação contratual. O princípio do equilíbrio do contrato não é obrigatório em caso de
prorrogação do ajuste considerando que, neste caso, a Administração Pública poderá impor
novas condições assim definidas na lei.

Dessa forma, quando uma legislação nova surge, ela deverá respeitar as cláusulas do contrato
que estão em vigor até que o ajuste chegue ao seu termo final. Em caso de prorrogação,
contudo, é possível já exigir as novas condições, estando o concessionário livre para aceitar
ou não os novos termos contratuais. Não se pode falar neste caso que haja violação ao
equilíbrio econômico-financeiro do contrato considerando que ele já chegou ao fim e o que
se está discutindo é a sua prorrogação.

19. ANISTIADO POLÍTICO


19.1. Pagamento dos valores retroativos a anistiados políticos – (Infos 847 e 917)
1 - Reconhecido o direito à anistia política, a falta de cumprimento de requisição ou
determinação de providências por parte da União, por intermédio do órgão competente, no
prazo previsto nos arts. 12, § 4º, e 18, caput, § único, da Lei 10.559/02, caracteriza ilegalidade
e violação de direito líquido e certo.
2 - Havendo rubricas no orçamento destinadas ao pagamento das indenizações devidas aos
anistiados políticos, e não demonstrada a ausência de disponibilidade de caixa, a União há
de promover o pagamento do valor ao anistiado no prazo de 60 dias.
3 - Na ausência ou na insuficiência de disponibilidade orçamentária no exercício em curso,
cumpre à União promover sua previsão no projeto de lei orçamentária imediatamente
seguinte.
STF. Plenário. RE 553710/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 17/11/16 (repercussão geral) (Info
847).
STF. 1ª Turma. RMS 28201/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 25/9/18 (Info 917).

20. PROVIMENTO DERIVADO


20.1. É inconstitucional lei estadual que transforma cargo de Comissário de Polícia em
Delegado de Polícia – (Info 800)

Em 2001, foi editada uma lei estadual criando cargos e organizando a Polícia Civil de
determinado Estado. Nesta Lei foi previsto que, na estrutura da Polícia Civil, haveria cargos
de Delegado de Polícia e de Comissário de Polícia.
Ainda em 2001, foi realizado um concurso público, com provas específicas para cada um
desses cargos, e os aprovados nomeados e empossados.
Contudo, em 2004, houve duas leis modificando o cargo de Comissário de Polícia.
• a primeira delas afirmou que Comissário de Polícia seria autoridade policial, juntamente
com o Delegado de Polícia, equiparando a remuneração dos dois cargos.
• a segunda lei, transformando o cargo de "Comissário de Polícia" em "Delegado de
Polícia".
Essas duas leis foram impugnadas por meio de ADI e o STF decidiu que elas são
INCONSTITUCIONAIS porque representaram burla à exigência do concurso público.
As referidas leis fizeram uma espécie de ASCENSÃO FUNCIONAL dos Comissários de
Polícia porque transformaram os ocupantes desses cargos em Delegados de Polícia sem que
eles tivessem feito concurso público para tanto.
No caso concreto, os Ministros entenderam que, quando o cargo de Comissário de Polícia
foi criado, ele possuía diferenças substanciais em relação ao de Delegado de Polícia, o que
impediria a transformação mesmo sob o argumento de ser medida de racionalização
administrativa.
STF. Plenário. ADI 3415/AM, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 24/9/2015 (Info 800).

20.2. Inconstitucionalidade de lei que preveja provimento derivado – (Info 771)

É materialmente inconstitucional lei estadual que possibilite o provimento derivado de


servidores investidos em cargos de outras carreiras no cargo de auditor de saúde. Isso
constitui provimento derivado, o que viola o art. 37, II, da CF/88, que exige a prévia
aprovação em concurso para a investidura em cargo público (Súmula 685-STF).
STF. Plenário. ADI 2940/ES, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/12/2014 (Info 771).

20.3. INCONSTITUCIONALIDADE DA ASCENSÃO E TRANSPOSIÇÃO – (Info 748)

A ascensão e a transposição constituem formas inconstitucionais de provimento derivado


de cargos por violarem o princípio do concurso público.
STF. Plenário. ADI 3341/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 29/5/14 (Info 748).

21. PENSÃO POR MORTE


21.1. Condição de companheira pode ser provada mesmo sem sentença judicial – (Info 824)
Não constitui requisito legal para a concessão de pensão por morte à companheira que a
união estável seja declarada judicialmente, mesmo que vigente formalmente o casamento.
Assim, é possível o reconhecimento de união estável de pessoa casada que esteja
comprovadamente separada judicialmente ou de fato, para fins de concessão de pensão por
morte, sem necessidade de decisão judicial neste sentido.
STF. 1ª Turma. MS 33008/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 3/5/2016 (Info 824).

21.2. Adoção de descendente maior com o único objetivo de deixar pensão por morte – (Info
785)

Não é legítima a adoção de descendente maior de idade, sem a constatação de suporte moral
ou econômico, com o fim de induzir o deferimento de benefício previdenciário.
No caso concreto, militar reformado do Exército, antes de falecer, adotou sua própria neta,
que na época tinha 41 anos de idade e era professora do ensino público estadual. Quando
faleceu, a neta habilitou-se para receber a pensão por morte como dependente do militar. O
Exército fez a concessão inicial do benefício, mas o TCU negou registro à pensão.
O STF considerou que a decisão do TCU foi correta porque a adoção não tinha suporte
moral nem econômico e tinha sido feita com o objetivo de induzir o deferimento do
benefício previdenciário. Logo, não foi legítima, tendo sido praticada com simulação e
fraude à lei.
STF. 1ª Turma. MS 31383/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 12/5/2015 (Info 785).

21.3. PENSÃO POR MORTE NO SERVIÇO PÚBLICO: Paridade e integralidade – (Info 786)

Os pensionistas de servidor falecido posteriormente à EC 41/2003 terão direito à paridade e à


integralidade?

PARIDADE
 Em regra, eles não têm direito à paridade com servidores em atividade;
 Exceção: terão direito à paridade caso se enquadrem na regra de transição prevista
no art. 3º da EC 47/2005.

INTEGRALIDADE
 Os pensionistas de servidor falecido posteriormente à EC 41/2003 não possuem
direito à integralidade (CF, art. 40, § 7º, I), não havendo regra de transição para isso.

A tese firmada pelo STF em sede de repercussão geral foi a seguinte:


“Os pensionistas de servidor falecido posteriormente à Emenda Constitucional 41/2003 têm
direito à paridade com servidores em atividade (artigo 7º EC 41/2003), caso se enquadrem na
regra de transição prevista no artigo 3º da EC 47/2005. Não têm, contudo, direito à
integralidade (artigo 40, parágrafo 7º, inciso I, CF).”
STF. Plenário. RE 603580/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/5/2015
(repercussão geral) (Info 786).

22. APOSENTADORIA ESPECIAL


22.1. Guardas municipais não têm direito à aposentadoria especial – (Info 907) –
IMPORTANTE!!!

Aposentadoria especial é aquela cujos requisitos e critérios exigidos do beneficiário são


mais favoráveis que os estabelecidos normalmente para as demais pessoas.
A CF/88 prevê que os servidores que exerçam atividades de risco têm direito à
aposentadoria especial, segundo requisitos e condições previstas em lei complementar (art.
40, § 4º, II, “b”).
Diante da ausência de legislação específica, não cabe ao Poder Judiciário garantir
aposentadoria especial (art. 40, § 4º, II, da CF/88) às guardas municipais.
A aposentadoria especial não pode ser estendida aos guardas civis, uma vez que suas
atividades precípuas não são inequivocamente perigosas e, ainda, pelo fato de não
integrarem o conjunto de órgãos de segurança pública relacionados no art. 144, I a V, da
CF/88.
STF. Plenário. MI 6515/DF, MI 6770/DF, MI 6773/DF, MI 6780/DF, MI 6874/DF, Rel. Min.
Roberto Barroso, j. 20/6/2018 (Info 907).

22.2. Oficiais de justiça não têm direito à aposentadoria especial – (Info 789)

Aposentadoria especial é aquela cujos requisitos e critérios exigidos do beneficiário são


mais favoráveis que os estabelecidos normalmente para as demais pessoas.
A CF/88 prevê que os servidores que exerçam atividades de risco têm direito à
aposentadoria especial, segundo requisitos e condições previstas em lei complementar (art.
40, § 4º, II, “b”).
O sindicato dos Oficiais de Justiça ajuizou, no STF, mandado de injunção coletivo alegando
que os oficiais de justiça exercem atividades de risco, nos termos do art. 40, § 4º, II, da CF/88
e que, apesar disso, até agora, não foi editada uma lei complementar nacional prevendo
aposentadoria especial para eles. Argumentou, então, que estaria havendo omissão
legislativa.
O STF concordou com o pedido formulado?
NÃO. Os Oficiais de Justiça, no exercício de suas funções, até sofrem, eventualmente,
exposição a situações de risco, mas isso, por si só, não confere a eles o direito subjetivo à
aposentadoria especial.
Os Oficiais de Justiça podem até, a depender do caso concreto, estar sujeitos a situações de
risco, notadamente quando no exercício de suas funções em áreas dominadas pela
criminalidade, ou em locais marcados por conflitos fundiários. No entanto, o STF entendeu
que esse risco é contingente (eventual), e não inerente ao serviço. Não se pode dizer que as
funções dos Oficiais de Justiça são perigosas (isso não está na sua essência). Elas podem ser
eventualmente perigosas.
Se uma atividade é eventualmente perigosa, o legislador pode prever que os servidores que
a desempenham tenham direito à aposentadoria especial com base no art. 40, § 4º, II, da
CF/88. Se o legislador não fizer isso, não haverá omissão de sua parte porque o texto
constitucional não exige. Ex: Oficiais de Justiça. Reconhecer ou não o direito à
aposentadoria especial é uma escolha da discricionariedade legislativa.
Se uma atividade é perigosa por sua própria natureza, o legislador tem o dever de prever
que os servidores que a desempenham terão direito à aposentadoria especial com base no
art. 40, § 4º, II, da CF/88. Se o legislador não fizer isso, haverá omissão inconstitucional de
sua parte porque o texto da CF/88 exige. Aqui não existe discricionariedade, mas sim um
dever do legislador. Ex: carreira policial.
STF. Plenário. MI 833/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso,
julgado em 11/6/2015 (Info 789).

22.3. Aposentadoria especial para servidores públicos e contagem de prazo diferenciado –


(Info 758)

Se o servidor trabalhou sob condições especiais que prejudiquem a sua saúde ou a sua
integridade física, ele poderá se utilizar deste tempo para gozar de aposentadoria especial,
cujo tempo de trabalho é inferior ao da aposentadoria comum (aplica-se aos servidores o
art. 57, caput e § 1º da Lei nº 8.213/91). Ex: trabalhou 25 anos em atividades insalubres, terá
direito à aposentadoria especial valendo-se das regras dos trabalhadores em geral. Isso é
assegurado pelo art. 40, § 3º, III, da CF e a mora legislativa não poderá mais prejudicar o
servidor.
No entanto, se o período que este servidor trabalhou sob condições especiais não for
suficiente para que ele goze da aposentadoria especial, ele não poderá converter este tempo
especial usando os índices de conversão previstos para os trabalhadores em geral (não se
aplica aos servidores o § 5º do art. 57 da Lei nº 8.213/91). Isso não é assegurado pelo art. 40,
§ 3º, III, da CF e a lei que vier a regular este dispositivo não precisa tratar sobre este tema.
Não se extrai da norma contida no art. 40, § 4º, III, da CF a existência de dever constitucional
de legislar acerca do reconhecimento à contagem diferenciada e da averbação de tempo de
serviço prestado por servidores públicos em condições prejudiciais à saúde e à integridade
física.
Logo, não cabe mandado de injunção para que servidor público pleiteie a verificação de
contagem de prazo diferenciado de serviço exercido em condições prejudiciais à saúde e à
integridade física.
STF. Plenário. MI 3162 ED/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j 11/9/2014 (Info 758).

23. DESAPROPRIAÇÃO
23.1. Análise da constitucionalidade da MP 2.183-56/2001, que alterou o DL 3.365/1941 – (Info
902)

O DL 3.365/41 dispõe sobre desapropriações por utilidade pública. Veja o que diz o art. 15-
A, que foi incluído pela MP 2.183-56/2001:
“Art. 15-A No caso de imissão prévia na posse, na desapropriação
por necessidade ou utilidade pública e interesse social, inclusive
para fins de reforma agrária, havendo divergência entre o preço
ofertado em juízo e o valor do bem, fixado na sentença, expressos
em termos reais, incidirão juros compensatórios de até seis por
cento ao ano sobre o valor da diferença eventualmente apurada,
a contar da imissão na posse, vedado o cálculo de juros
compostos.
§ 1º Os juros compensatórios destinam-se, apenas, a compensar
a perda de renda comprovadamente sofrida pelo proprietário.
§ 2º Não serão devidos juros compensatórios quando o imóvel
possuir graus de utilização da terra e de eficiência na exploração
iguais a zero.
§ 3º O disposto no caput deste artigo aplica-se também às ações
ordinárias de indenização por apossamento administrativo ou
desapropriação indireta, bem assim às ações que visem a
indenização por restrições decorrentes de atos do Poder Público,
em especial aqueles destinados à proteção ambiental, incidindo
os juros sobre o valor fixado na sentença.
§ 4º Nas ações referidas no § 3º, não será o Poder Público onerado
por juros compensatórios relativos a período anterior à aquisição
da propriedade ou posse titulada pelo autor da ação.”

O STF analisou a constitucionalidade do art. 15-A do DL 3.365/41 e chegou às seguintes


conclusões:
1) em relação ao “caput” do art. 15-A do Decreto-Lei 3.365/41: reconheceu a
constitucionalidade do percentual de juros compensatórios de 6% ao ano para remuneração
do proprietário pela imissão provisória do ente público na posse de seu bem;
1.a) declarou a inconstitucionalidade do vocábulo “até”;
1.b) deu interpretação conforme a Constituição ao “caput” do art. 15-A, de maneira a incidir
juros compensatórios sobre a diferença entre 80% (oitenta por cento) do preço ofertado em
juízo pelo ente público e o valor do bem fixado na sentença;
2) declarou a constitucionalidade dos §§ 1º e 2º do art. 15-A do DL 3.365/41;
3) declarou a constitucionalidade do § 3º do art. 15-A do DL 3.365/41;
4) declarou a inconstitucionalidade do § 4º do art. 15-A do DL 3.365/41;
5) declarou a constitucionalidade da estipulação de parâmetros mínimo e máximo para a
concessão de honorários advocatícios e a inconstitucionalidade da expressão “não podendo
os honorários ultrapassar R$ 151.000,00 (cento e cinquenta e um mil reais)” prevista no § 1º
do art. 27 do DL 3.365/41.
STF. Plenário. ADI 2332/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 17/5/18 (Info 902).

23.2. CONFISCO DO ART. 243 DA CF/88: Possibilidade de o proprietário afastar a sanção


do art. 243 da CF/88 se provar que não teve culpa – (Info 851) – IMPORTANTE!!!
A expropriação prevista no art. 243 da Constituição Federal pode ser afastada, desde que o
proprietário comprove que não incorreu em culpa, ainda que in vigilando ou in eligendo.
STF. Plenário. RE 635336/PE, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 14/12/16 (repercussão geral) (Info
851).
OBS:
Art. 243 da CF/88: O art. 243 da CF/88 prevê o seguinte:
Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do
País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas
ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão
expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de
habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem
prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que
couber, o disposto no art. 5º.
Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico
apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e
drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e
reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma da
lei.

Confisco constitucional: Parte da doutrina denomina este art. 243 de "desapropriação


confiscatória" em virtude de não conferir ao proprietário direito à indenização, como ocorre
com as demais espécies de desapropriação (CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 2016, p. 1044).

Outros autores preferem falar em "confisco" (MORAES, Alexandre. Constituição do Brasil


interpretada e legislação constitucional. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 2135).

O STF também reafirmou que se trata de confisco. Veja o que disse o Ministro Gilmar Mendes:
"O instituto previsto no art. 243 da CF não é verdadeira espécie de
desapropriação, mas uma penalidade imposta ao proprietário que
praticou a atividade ilícita de cultivar plantas psicotrópicas, sem
autorização prévia do órgão sanitário do Ministério da Saúde.
Portanto, a expropriação é espécie de confisco constitucional e tem
caráter sancionatório."

Pressupostos: Existem dois motivos que geram esse confisco:


a) o fato de no imóvel estarem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas; ou
b) o fato de no imóvel haver exploração de trabalho escravo.

Extensão da expropriação: A expropriação irá recair sobre a totalidade do imóvel, ainda que o
cultivo ilegal ou a utilização de trabalho escravo tenham ocorrido em apenas parte dele. Nesse
sentido: STF. Plenário. RE 543974, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 26/03/2009.

Procedimento: As regras e o procedimento para essa expropriação estão disciplinados na Lei


8.257/91 e no Decreto 577/92. Trata-se de um rito muito célere, no qual a Lei estipula poucos
dias para a realização de cada ato processual. Veja abaixo o resumo do procedimento:
1. Processo judicial. Para haver a desapropriação confiscatória, é necessário processo judicial
que tramita na Justiça Federal.
2. Petição inicial. A União deverá propor uma demanda chamada de "ação expropriatória"
contra o proprietário do imóvel (expropriado). Vale ressaltar que apenas a União é competente
para realizar a expropriação de que trata o art. 243 da CF/88, não podendo ser feita pelos outros
entes federativos.
3. Citação. Recebida a inicial, o juiz determinará a citação do expropriado, no prazo de 5 dias.
4. Perito. Ao ordenar a citação, o Juiz já nomeará um perito para fazer a avaliação do imóvel.
Este deverá entregar o laudo em 8 dias.
5. Audiência. O juiz determinará audiência de instrução e julgamento, que deverá ser realizada
no prazo máximo de 15 dias, a contar da data da contestação.
6. Mandado de imissão na posse. O juiz poderá imitir, liminarmente, a União na posse do
imóvel expropriando, garantindo-se o contraditório pela realização de audiência de
justificação. Em outras palavras, o magistrado poderá conceder tutela provisória de urgência
determinando que o proprietário saia do imóvel e este fique na posse da União. Vale ressaltar
que o INCRA é quem irá imitir-se em nome da União (art. 6º do Decreto nº 577/92).
7. Prova testemunhal. Na audiência de instrução e julgamento, cada parte poderá indicar até
5
testemunhas.
8. Oitiva do Ministério Público. A Lei nº 8.257/91 não prevê, mas o Procurador da República
deverá ser ouvido como fiscal da ordem jurídica, nos termos do art. 178, I, do CPC/2015.
9. Sentença. Encerrada a instrução, o Juiz prolatará a sentença em cinco dias.
10. Haverá expropriação mesmo que o imóvel esteja em garantia. A expropriação prevalece
sobre direitos reais de garantia, não se admitindo embargos de terceiro fundados em dívida
hipotecária, anticrética ou pignoratícia.
11. Recurso. Da sentença, caberá apelação.
12. Trânsito em julgado. Transitada em julgado a sentença expropriatória, o imóvel será
incorporado ao patrimônio da União. Em seguida, a gleba será destinada à reforma agrária e a
programas de habitação popular.

Não se exige que o proprietário tenha participado: Para que haja a sanção do art. 243, não se
exige a participação direta do proprietário no cultivo ilícito. No entanto, apesar disso, trata-se
de medida sancionatória, exigindo-se algum grau de culpa para sua caracterização. Assim,
mesmo que o proprietário não tenha participado diretamente, mas se agiu com culpa, deverá
ser expropriado. Isso porque a função social da propriedade gera para o proprietário o dever
de zelar pelo uso lícito do seu imóvel, ainda que não esteja na posse direta.

Mesmo tendo esse dever, poderá provar que não teve como evitar: Esse dever de zelar pelo
correto uso da propriedade não é ilimitado, só podendo ser exigido do proprietário que evite
o ilícito quando estiver ao seu alcance. Assim, o proprietário pode afastar sua responsabilidade
demonstrando que não incorreu em culpa. Ele pode provar, por exemplo, que foi esbulhado
ou até enganado pelo possuidor ou pelo detentor.

Se agiu com culpa, aplica-se o art. 243: Vale ressaltar, mais uma vez, que, se o proprietário
agiu com culpa, deverá ser expropriado. Essa culpa pode ser in vigilando ou in eligendo:
 Culpa in vigilando é a falta de atenção com a conduta de outra pessoa. Ocorre quando
não há uma fiscalização efetiva.
 Culpa in eligendo consiste na má escolha daquele a quem se confia a prática de um
ato. Também chamada de “responsabilidade pela má eleição”.
Desse modo, se o proprietário agiu com culpa in vigilando ou in eligendo, deverá incidir o art.
243 da CF/88.

A responsabilidade do proprietário é subjetiva ou objetiva? A responsabilidade do


proprietário é subjetiva, no entanto bastante próxima da objetiva.

E se houver mais de um proprietário, o que fazer neste caso? Se o imóvel pertencer a dois ou
mais proprietários (condomínio), haverá a expropriação mesmo que apenas um deles tenha
participação ou culpa. Restará apenas ao proprietário inocente buscar reparação daquele que
participou ou teve culpa.

Ônus da prova: Importante destacar que cabe ao proprietário (e não à União) o ônus da prova.
Em outras palavras, caberá ao proprietário provar que não agiu com culpa.

23.3. Desconsideração das conclusões do laudo pericial com base em outras provas – (Info
817)
A preferência do julgador por determinada prova insere-se no livre convencimento
motivado e não cabe compelir o magistrado a colher com primazia determinada prova em
detrimento de outras pretendidas pelas partes se, pela base do conjunto probatório tiver se
convencido da verdade dos fatos.
STF. Plenário. RE 567708/SP, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o acórdão Min. Cármen
Lúcia, julgado em 8/3/2016 (Info 817).
OBS: O magistrado, com base no livre convencimento motivado, tem a liberdade de deixar de
considerar as conclusões do laudo pericial desde que faça isso de forma fundamentada. Isso
está previsto no art. 479 do CPC 2015:

Art. 479. O juiz apreciará a prova pericial de acordo com o disposto no art.
371, indicando na sentença os motivos que o levaram a considerar ou a
deixar de considerar as conclusões do laudo, levando em conta o método
utilizado pelo perito.

Art. 371. O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente


do sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão as razões da
formação de seu convencimento.

Ao tecer comentários sobre este art. 479, Daniel Amorim Assumpção Neves explica que:
"O sistema de valoração das provas, adotado pelo sistema processual
brasileiro, é o da persuasão racional, também chamado de livre
convencimento motivado. Significa dizer que não existem cargas de
convencimento pré-estabelecidas dos meios de prova, sendo incorreto
afirmar abstratamente que determinado meio de prova é mais eficaz no
convencimento do juiz do que outro. Com inspiração nesse sistema de
valoração das provas, o art. 479 do Novo CPC prevê que o juiz não está
adstrito ao laudo pericial, podendo se convencer com outros elementos ou
fatos provados no processo." (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo
CPC comentado. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 784).

24. REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL


24.1. Lei estadual não pode incluir os titulares de serventias extrajudiciais no regime próprio
de Previdência Social – (Info 777) – (TJMG-2018)

Duas Leis estaduais incluíram no regime próprio de Previdência Social os titulares de


serventias extrajudiciais (notários e registradores).
Tais leis foram declaradas inconstitucionais.
Os titulares de serventias notariais e registrais exercem atividade estatal, entretanto não são
titulares de cargo público efetivo, tampouco ocupam cargo público. Não são servidores
públicos. Logo, a eles não se aplica o regime próprio de Previdência Social previsto para os
servidores públicos (art. 40 da CF/88).
Desse modo, a lei estadual não poderia tê-los incluído no regime próprio de previdência
social. As leis estaduais acima desviaram-se do modelo previsto na CF/88 e usurparam a
competência da União para legislar sobre o tema.
STF. Plenário. ADI 4639/GO e ADI 4641/SC, Rel. Min. Teori Zavascki, julgados em 11/3/2015
(Info 777).

24.2. Lei estadual não pode conceder isenção de contribuição previdenciária para todos os
servidores aposentados e pensionistas que tiverem doença incapacitante – (Info 776)

O Estado-membro pode tratar sobre o regime próprio de previdência social de seus


servidores por meio de lei, não sendo necessário que tal regulamentação seja feita na
Constituição estadual.
As normas estaduais, contudo, deverão observar as regras da CF/88, em especial aquelas
previstas no art. 40.
Determinada lei estadual previu que os servidores públicos aposentados e pensionistas que
fossem portadores de doenças incapacitantes não iriam pagar contribuição previdenciária
(seriam isentos). O STF afirmou que essa regra estadual está em confronto com o § 21 do
art. 40 da CF/88, considerando que a Carta Federal previu que os servidores públicos
aposentados e pensionistas que sejam portadores de doenças incapacitantes devem pagar
contribuição previdenciária se o valor dos proventos por eles recebidos superar o dobro do
teto do RGPS (dobro do maior valor de aposentadoria do INSS).
Assim, a norma da lei estadual deve receber interpretação conforme para que respeite essa
previsão do art. 40, § 21 da CF/88.
STF. Plenário. ADI 3477/RN, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux,
julgado em 4/3/2015 (Info 776).

25. SERVIDORES TEMPORÁRIOS


25.1. É constitucional a quarentena para recontratação de servidores temporários prevista no
art. 9º, III, da Lei 8.745/93 – (Info 869)

No âmbito da administração pública federal, é vedada a contratação temporária do mesmo


servidor antes de decorridos 24 meses do encerramento do contrato anterior. Tal regra está
prevista no art. 9º, III, da Lei nº 8.745/93:
Art. 9º O pessoal contratado nos termos desta Lei não poderá:
III - ser novamente contratado, com fundamento nesta Lei, antes
de decorridos 24 (vinte e quatro) meses do encerramento de seu
contrato anterior, salvo nas hipóteses dos incisos I e IX do art. 2º
desta Lei, mediante prévia autorização, conforme determina o
art. 5º desta Lei.

O STF, ao analisar um caso concreto envolvendo a contratação temporária de professores,


decidiu que essa regra é constitucional e fixou a seguinte tese:
“É compatível com a Constituição Federal a previsão legal que
exija o transcurso de 24 (vinte e quatro) meses, contados do
término do contrato, antes de nova admissão de professor
temporário anteriormente contratado.”
STF. Plenário. RE 635648/CE, Rel. Min. Edson Fachin, j. 14/6/17 (repercussão geral) (Info
869).
OBS:
Exceção ao princípio do concurso público: A CF/88 instituiu o “princípio do concurso
público”, segundo o qual, em regra, a pessoa somente pode ser investida em cargo ou emprego
público após ser aprovada em concurso público (art. 37, II). Esse princípio, que na verdade é
uma regra, possui exceções que são estabelecidas no próprio texto constitucional.

Assim, a CF/88 prevê situações em que o indivíduo poderá ser admitido no serviço público
mesmo sem concurso. Podemos citar como exemplos:
a) cargos em comissão (art. 37, II);
b) servidores temporários (art. 37, IX);
c) cargos eletivos;
d) nomeação de alguns juízes de Tribunais, Desembargadores, Ministros de Tribunais;
e) ex-combatentes (art. 53, I, do ADCT);
f) agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias (art. 198, § 4º).

Vamos estudar agora apenas a hipótese dos servidores temporários (art. 37, IX, da CF/88).

Redação do art. 37, IX: O art. 37, IX, prevê o seguinte:


IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado
para atender a necessidade temporária de excepcional interesse
público;

O inciso IX do art. 37 consiste em uma norma constitucional de eficácia limitada, dependendo,


portanto de lei para produzir todos os seus efeitos. Mais abaixo veremos que lei é essa.
Servidores temporários: Os servidores que são contratados com base nesse fundamento são
chamados de servidores temporários.

Características: Para ser válida, a contratação com fundamento no inciso IX deve ser...
- feita por tempo determinado (a lei prevê prazos máximos);
- com o objetivo de atender a uma necessidade temporária; e
- que se caracterize como sendo de excepcional interesse público.

Processo seletivo simplificado: A contratação com base no inciso IX ocorre sem a realização de
prévio concurso público. A lei, no entanto, pode prever critérios e exigências a serem
observadas pelo administrador no momento de contratar. Ex.: a Lei 8.745/93, que rege o tema
em nível federal, exige, em regra, que os profissionais a serem contratados sejam submetidos
a uma espécie de processo seletivo simplificado (art. 3º), ou seja, um procedimento mais
simples que o concurso público, por meio do qual, no entanto, se possa selecionar os melhores
candidatos à função e de maneira impessoal. A contratação para atender às necessidades
decorrentes de calamidade pública, de emergência ambiental e de emergências em saúde
pública prescindirá de processo seletivo.

Lei de cada ente deverá reger o tema: Repare que o inciso IX fala que LEI estabelecerá os casos
de contratação. Não se trata de uma só lei. O que esse dispositivo está afirmando é que cada
ente da Federação deverá editar a sua própria lei prevendo os casos de contratação por tempo
determinado. Não poderia uma só lei dispor sobre o tema porque é preciso que se respeite a
autonomia administrativa dos entes.
 Ex.1: no âmbito federal, a lei que rege o tema é a Lei 8.745/93.
 Ex.2: em Goiás, quem traz as hipóteses é a Lei estadual 3.664/00.
 Ex.3: em Manaus, a contratação por prazo determinado deverá observar a Lei
municipal 1.425/2010.

ATENÇÃO: Ao prestar concursos estaduais/municipais, é importante verificar se o edital


exige a lei de contratação por tempo determinado. A lei de cada ente irá prever as regras sobre
essa contratação, ou seja, as hipóteses em que ela ocorre, seu prazo de duração, direitos e
deveres dos servidores, atribuições, responsabilidades etc. Vale ressaltar que a referida lei não
poderá contrariar a moldura (os limites) que o inciso IX do art. 37 da CF/88 deu ao tema.

Atividades de caráter regular e permanente: No serviço público, há algumas atividades que são
regulares e permanentes. Exs.: servidores das áreas de saúde, educação e segurança pública.
Por outro lado, existem atividades que possuem caráter eventual, temporário ou excepcional.
Ex.: servidores para a realização do censo pelo IBGE.

É possível que, com fundamento no inciso IX, a Administração Pública contrate servidores
temporários para o exercício de atividades de caráter regular e permanente ou isso somente é
permitido para atividades de natureza temporária (eventual)? SIM.
O art. 37, IX, da CF/88 autoriza que a Administração Pública
contrate pessoas, sem concurso público, tanto para o desempenho
de atividades de caráter eventual, temporário ou excepcional, como
também para o desempenho das funções de caráter regular e
permanente, desde que indispensáveis ao atendimento de
necessidade temporária de excepcional interesse público.
STF. Plenário. ADI 3068, Rel. p/ Ac. Min. Eros Grau, j. 25/08/04.
STF. Plenário. ADI 3247/MA, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 26/3/14
(Info 740).

A natureza da atividade a ser desempenhada (se permanente ou eventual) não será o fator
determinante para se definir se é possível ou não a contratação de servidor com base no art.
37, IX, da CF/88.

Para saber se é legítima a contratação com base no art. 37, IX, deverão ser analisados dois
aspectos:
a) a necessidade da contratação deve ser transitória (temporária);
b) deve haver um excepcional interesse público que a justifique.

Ex.1: a atividade de um médico em um Estado possui natureza permanente (regular),


considerando que é dever do ente estadual prestar saúde à população (art. 196 da CF/88). Em
regra, os médicos devem ser selecionados por meio de concurso público. Ocorre que é possível
imaginar situações em que haja uma necessidade temporária de médicos em número acima do
normal e de forma imediata, o que justifica, de forma excepcional, a contratação desses
profissionais sem concurso público, por um prazo determinado, com base no inciso IX. É o caso
de uma epidemia que esteja ocorrendo em determinada região do Estado, na qual haja a
necessidade de médicos especialistas no tratamento daquela moléstia específica para tentar
erradicar o surto. Logo, será permitida a contratação de tantos médicos quantos sejam
necessários para solucionar aquela demanda (exemplo da Min. Cármem Lúcia).

Ex.2: no caso concreto julgado pelo STF, estava sendo impugnada uma lei do Estado do
Maranhão que permite a contratação, com base no art. 37, IX, da CF/88, de professores para os
ensinos fundamental e médio, desde que não existam candidatos aprovados em concurso
público e devidamente habilitados. A Lei maranhense prevê que essa contratação deverá
ocorrer pelo prazo máximo de 12 meses e o STF conferiu interpretação conforme para que esse
prazo seja contado do último concurso realizado para a investidura de professores. Desse
modo, durante o período de 1 (um) ano, haveria necessidade temporária que justificaria a
contratação sem concurso até que fosse concluído o certame. STF. Plenário. ADI 3247/MA, rel.
Min. Cármen Lúcia, julgado em 26/3/2014 (Info 740).

Em resumo, mesmo em atividades públicas de natureza permanente, como as desenvolvidas


nas áreas de saúde, educação e segurança pública, é possível, em tese, a contratação por prazo
determinado para suprir uma demanda eventual ou passageira.

Regra do art. 9º, III, da Lei nº 8.745/93: No âmbito da administração pública federal, é vedada
a contratação temporária do mesmo servidor antes de decorridos 24 meses do encerramento
do contrato anterior. Tal regra está prevista no art. 9º, III, da Lei nº 8.745/93:
Art. 9º O pessoal contratado nos termos desta Lei não poderá:
III - ser novamente contratado, com fundamento nesta Lei, antes de
decorridos 24 (vinte e quatro) meses do encerramento de seu
contrato anterior, salvo nas hipóteses dos incisos I e IX do art. 2º
desta Lei, mediante prévia autorização, conforme determina o art. 5º
desta Lei.

O STF, ao analisar um caso concreto envolvendo a contratação temporária de professores,


decidiu que essa regra é constitucional e fixou a seguinte tese:
É compatível com a Constituição Federal a previsão legal que exija o
transcurso de 24 (vinte e quatro) meses, contados do término do
contrato, antes de nova admissão de professor temporário
anteriormente contratado.
STF. Plenário. RE 635648/CE, Rel. Min. Edson Fachin, j. 14/6/17
(repercussão geral) (Info 869).

A regra do art. 9º, III, da Lei 8.745/93 é salutar porque evita que uma função temporária seja
transformada em algo ordinário. Dessa forma, o referido dispositivo é necessário e adequado
para preservar a impessoalidade do concurso público.
Assim, não configura ofensa à isonomia a previsão legal de proibição, por prazo
determinado, de nova contratação de candidato já anteriormente admitido em processo
seletivo simplificado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse
público.

Obs1: apesar de a redação da tese mencionar apenas “admissão de professor”, o certo é que o
art. 9º, III, é constitucional, razão pela qual a vedação existe para outros cargos. O que o STF
fez foi declarar constitucional o art. 9º, III, da Lei nº 8.745/93. Constou a menção expressa aos
professores porque o caso concreto julgado no RE abrangia essa categoria.
Obs2: vale ressaltar que inúmeras leis estaduais e municipais repetem a redação do art. 9º, III,
da Lei nº 8.745/93. Tais leis também são constitucionais.

25.2. Lei de contratação temporária não pode prever hipóteses genéricas nem a prorrogação
indefinida dos contratos – (Info 858)

São inconstitucionais, por violarem o art. 37, IX, da CF/88, a autorização legislativa genérica
para contratação temporária e a permissão de prorrogação indefinida do prazo de
contratações temporárias.
STF. Plenário. ADI 3662/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 23/3/17 (Info 858).
OBS:
Exceção ao princípio do concurso público: A CF/88 instituiu o “princípio do concurso
público”, segundo o qual, em regra, a pessoa somente pode ser investida em cargo ou emprego
público após ser aprovada em concurso público (art. 37, II). Esse princípio, que na verdade é
uma regra, possui exceções que são estabelecidas no próprio texto constitucional.

Assim, a CF/88 prevê situações em que o indivíduo poderá ser admitido no serviço público
mesmo sem concurso. Podemos citar como exemplos:
a) cargos em comissão (art. 37, II);
b) servidores temporários (art. 37, IX);
c) cargos eletivos;
d) nomeação de alguns juízes de Tribunais, Desembargadores, Ministros de Tribunais;
e) ex-combatentes (art. 53, I, do ADCT);
f) agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias (art. 198, § 4º).

Vamos estudar agora apenas a hipótese dos servidores temporários (art. 37, IX, da CF/88).

Redação do art. 37, IX: O art. 37, IX, prevê o seguinte:


IX — a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo
determinado para atender a necessidade temporária de excepcional
interesse público;

O inciso IX do art. 37 consiste em uma norma constitucional de eficácia limitada, dependendo,


portanto de lei para produzir todos os seus efeitos. Mais abaixo veremos que lei é essa.

Servidores temporários: Os servidores que são contratados com base nesse fundamento são
chamados de servidores temporários.

Características: Para ser válida, a contratação com fundamento no inciso IX deve ser...
- feita por tempo determinado (a lei prevê prazos máximos);
- com o objetivo de atender a uma necessidade temporária; e
- que se caracterize como sendo de excepcional interesse público.

Processo seletivo simplificado: A contratação com base no inciso IX ocorre sem a realização de
prévio concurso público. A lei, no entanto, pode prever critérios e exigências a serem
observadas pelo administrador no momento de contratar. Ex.: a Lei 8.745/93, que rege o tema
em nível federal, exige, em regra, que os profissionais a serem contratados sejam submetidos
a uma espécie de processo seletivo simplificado (art. 3º), ou seja, um procedimento mais
simples que o concurso público, por meio do qual, no entanto, se possa selecionar os melhores
candidatos à função e de maneira impessoal. A contratação para atender às necessidades
decorrentes de calamidade pública, de emergência ambiental e de emergências em saúde
pública prescindirá de processo seletivo.

Lei de cada ente deverá reger o tema: Repare que o inciso IX fala que LEI estabelecerá os casos
de contratação. Não se trata de uma só lei. O que esse dispositivo está afirmando é que cada
ente da Federação deverá editar a sua própria lei prevendo os casos de contratação por tempo
determinado. Não poderia uma só lei dispor sobre o tema porque é preciso que se respeite a
autonomia administrativa dos entes.
 Ex.1: no âmbito federal, a lei que rege o tema é a Lei 8.745/93.
 Ex.2: em Goiás, quem traz as hipóteses é a Lei estadual 3.664/00.
 Ex.3: em Manaus, a contratação por prazo determinado deverá observar a Lei
municipal 1.425/2010.

ATENÇÃO: Ao prestar concursos estaduais/municipais, é importante verificar se o edital


exige a lei de contratação por tempo determinado. A lei de cada ente irá prever as regras sobre
essa contratação, ou seja, as hipóteses em que ela ocorre, seu prazo de duração, direitos e
deveres dos servidores, atribuições, responsabilidades etc. Vale ressaltar que a referida lei não
poderá contrariar a moldura (os limites) que o inciso IX do art. 37 da CF/88 deu ao tema.

Lei que institua hipóteses abrangentes e genéricas é inconstitucional: O STF entende que a lei
do ente federativo regulamentando o art. 37, IX, da CF/88 não poderá prever hipóteses
abrangentes e genéricas de contratações temporárias sem concurso público. Além disso, essa
lei deverá especificar a contingência fática que caracteriza a situação de emergência.
Exemplo: em um caso concreto, o STF analisou a constitucionalidade da LC 4/90, do Estado
do Mato Grosso, que dizia o seguinte:
Art. 263 Para atender a necessidade temporária de excepcional
interesse público, poderão ser efetuadas contratações de pessoal por
tempo determinado.
Art. 264 Consideram-se como de necessidade temporária de
excepcional interesse público as contratações que visem a:
(...)
VI - atender as outras situações motivadamente de urgência.

Os Ministros entenderam que o referido inciso VI desse art. 264 permite, de forma muito
genérica, a contratação temporária de servidores, o que se mostra inconstitucional. STF.
Plenário. ADI 3662/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 23/3/2017 (Info 858).

Lei que permita a prorrogação indefinida do prazo das contratações é inconstitucional: O art.
37, IX, da CF/88 afirma que a contratação deverá ocorrer por tempo determinado. Apesar
disso, algumas leis municipais e estaduais burlam essa regra e estabelecem a possibilidade de
os contratos temporários serem prorrogados indefinidamente, ou seja, sem limite de vezes.
Essa prática é considerada inconstitucional pelo STF.
Exemplo: veja o que prevê o § 1º do art. 264 da LC 4/90:
Art. 264 Consideram-se como de necessidade temporária de
excepcional interesse público as contratações que visem a:
(...)
§ 1º As contratações de que trata este artigo terão dotação específica
e não poderão ultrapassar o prazo de 06 (seis) meses, exceto nas
hipóteses dos incisos II, IV e VI, cujo prazo máximo será de 12 (doze)
meses, e inciso V, cujo prazo máximo será de 24 (vinte e quatro)
meses, prazos estes somente prorrogáveis se o interesse público,
justificadamente, assim o exigir ou até a nomeação por concurso
público.

O STF julgou inconstitucional essa parte final (em amarelo) do § 1º acima transcrito. Isso
porque ela permite a prorrogação indefinida do prazo de contratações temporárias, o que não
se coaduna com o art. 37, IX, da CF/88.

ATENÇÃO: neste caso concreto, o STF julgou inconstitucionais o inciso VI e o § 1º do art. 264
da LC 4/90-MT, mas modulou os efeitos da declaração de forma que somente irá surtir efeitos
um ano após a data da publicação da ata de julgamento. Em outras palavras, até lá, as pessoas
que estão contratadas temporariamente com base nesses dispositivos poderão continuar
trabalhando.
25.3. Contratação por tempo determinado para atendimento de necessidade temporária de
excepcional interesse público e possíveis efeitos jurídicos decorrentes de tal contratação – (Sem
Info) – (TJMG-2018)

Reafirma-se, para fins de repercussão geral, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal


no sentido de que a contratação por tempo determinado para atendimento de necessidade
temporária de excepcional interesse público realizada em desconformidade com os
preceitos do art. 37, IX, da CF/88 não gera quaisquer efeitos jurídicos válidos em relação aos
servidores contratados, com exceção do direito à percepção dos salários referentes ao
período trabalhado e, nos termos do art. 19-A da Lei 8.036/1990, ao levantamento dos
depósitos efetuados no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS.
STF. Plenário. RE 765320 RG, Rel. Min. Teori Zavaski, j. 15/9/16 (repercussão geral).
(TJMG-2018-Consulplan): O STF firmou a tese de que a contratação por tempo
determinado para atendimento de necessidade temporária de excepcional interesse
público em desconformidade com os preceitos do art. 37, IX, da CF/88, não gera quaisquer
efeitos jurídicos válidos, com exceção do direito à percepção dos salários referentes ao
período trabalhado e ao levantamento dos depósitos efetuados no FGTS.

25.4. Lei que prevê hipóteses genéricas de contratação temporária é inconstitucional. Lei que
autoriza contratação temporária para projetos educacionais ordinários é inconstitucional –
(Info 829)

A LC 22/2000, do Estado do Ceará, autoriza a contratação de professores, por tempo


determinado, para atender necessidade temporária de excepcional interesse público nas
escolas estaduais. O art. 3º da referida Lei prevê diversas hipóteses nas quais é possível a
referida contratação.
O STF afirmou que, em tese, é possível a contratação temporária por excepcional interesse
público (art. 37, IX, da CF/88) mesmo para atividades permanentes da Administração (como
é o caso de professores). No entanto, o legislador tem o ônus de especificar, em cada
circunstância, os traços de emergencialidade que a justificam.
As alíneas "a, b, c, d, e" preveem a contratação temporária caso o titular se afaste para gozar
de licenças ou para fazer cursos de capacitação. O STF reputou que tais hipóteses são
constitucionais já que elas descrevem situações que são alheias ao controle da
Administração Pública, ou seja, hipóteses que estão fora do controle do Poder Público e
que, se este não tomasse nenhuma atitude, poderia resultar em desaparelhamento
transitório do corpo docente. Logo, para tais situações está demonstrada a
emergencialidade.
A alínea "f" previa que poderia haver a contratação temporária para suprir "outros
afastamentos que repercutam em carência de natureza temporária". O STF entendeu que
esta situação é extremamente genérica, de forma que não cumpre o art. 37, IX, da CF/88.
O parágrafo único do art. 3º autoriza a contratação temporária para que a Administração
Pública pudesse implementar "projetos educacionais, com vista à erradicação do
analfabetismo, correção do fluxo escolar e qualificação da população cearense". O STF
entendeu que esta previsão também é inconstitucional porque estes são objetivos
corriqueiros (normais, ordinários) da política educacional. Desse modo, esse tipo de ação
não pode ser implementado por meio de contratos episódicos (temporários), já que não
constitui contingência especial a ser atendida.
STF. Plenário. ADI 3721/CE, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 9/6/16 (Info 829).

25.5. Competência da Justiça Comum (Info 807) - IMPORTANTE!!!


A justiça comum é competente para processar e julgar causas em que se discuta a validade
de vínculo jurídico-administrativo entre o poder público e servidores temporários.
Dito de outra forma: a Justiça competente para julgar litígios envolvendo servidores
temporários (art. 37, IX, da CF/88) e a Administração Pública é a JUSTIÇA COMUM
(estadual ou federal).
A competência NÃO é da Justiça do Trabalho, ainda que o autor da ação alegue que houve
desvirtuamento do vínculo e mesmo que ele formule os seus pedidos baseados na CLT ou
na lei do FGTS.
STF. Plenário. Rcl 4351 MC-AgR/PE, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min.
Dias Toffoli, julgado em 11/11/2015 (Info 807).

25.6. CONTRATO DE TRABALHO TEMPORÁRIO DECLARADO NULO E


INAPLICABILIDADE DO ART. 19-A DA LEI 8.036/90

O art. 19-A da Lei nº 8.036/90 deve ser aplicado também nas hipóteses em que a pessoa foi
contratada temporariamente, nos termos do art. 37, IX da CF/88?
A 1ª Turma do STF decidiu que SIM. O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS é
devido aos servidores temporários, nas hipóteses em há declaração de nulidade do contrato
firmado com a Administração Pública, consoante decidido pelo Plenário do STF, na análise
do RE 705.140-RG, Rel. Min. Teori Zavascki (STF. 1ª Turma. ARE 839606 AgR, Rel. Min. Luiz
Fux, julgado em 11/11/2014).
É importante, no entanto, ressaltar que o STJ possui precedente mais antigo em sentido
contrário: STJ. 1ª Turma. AgRg nos EDcl no AREsp 45.467-MG, Rel. Min. Arnaldo Esteves
Lima, julgado em 5/3/2013 (Info 518).

26. TRIBUNAL DE CONTAS


26.1. Fiscalização do TC sobre pessoas jurídicas de direito privado que recebem recursos
públicos – (Info 768)

Os Tribunais de Contas possuem competência para fiscalizar pessoas jurídicas de direito


privado que recebam recursos públicos. Ex: associações. Todo aquele que administra
recursos e bens públicos está sujeito à fiscalização perante o Tribunal de Contas,
independentemente de ser pessoa jurídica de direito público ou privado. Essa competência
sempre esteve prevista de forma implícita no inciso II do art. 71 da CF/88. Em 1998, o
parágrafo único do art. 70 foi alterado pela EC 18 para deixar isso ainda mais explícito.
O simples fato de a associação que recebeu recursos públicos estar sendo processada por
improbidade administrativa não impede que ela seja condenada pelo Tribunal de Contas a
ressarcir o erário se constatada alguma irregularidade. Isso porque as instâncias
administrativa (TCU) e judicial (improbidade) são independentes (arts. 12 e 21, II, da Lei
8.429/92).
STF. 1ª Turma. MS 26969/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 18/11/2014 (Info 768).

26.2. Desnecessidade de intimação pessoal do julgamento pelo TCU – (Info 754)

Nos processos que tramitam no TCU não é necessária a intimação pessoal da data em que
será realizada a sessão de julgamento, bastando que essa informação seja publicada em
veículo de comunicação oficial (imprensa oficial).
STF. 2ª Turma. MS 28644/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 12/8/14 (Info 752).

27. INTERVENÇÃO ESTATAL NA PROPRIEDADE PRIVADA


27.1. Tombamento
27.1.1. Ato do Poder Legislativo que efetiva o tombamento e que pretenda alterar as condições
de tombamento regularmente instituído pelo Poder Executivo
O Supremo Tribunal Federal - STF - no julgamento da ADI no 1.706-4, publicada no "Diário
da Justiça" de 12/9/2008, posicionou-se no sentido de que o tombamento é constituído
mediante ato do Poder Executivo, que, observada a legislação pertinente, estabelece o
alcance da limitação ao direito de propriedade. Dessa forma, ato do Poder Legislativo que
efetive o tombamento e, de igual modo, aquele que pretenda alterar as condições de
tombamento regularmente instituído pelo Poder Executivo são inconstitucionais, dada a
sua incompatibilidade com o princípio da harmonia entre os Poderes.
STF, ADI no 1.706-4, publicada no "Diário da Justiça" de 12/9/2008.

(TJPI – 2015 – FCC): O tombamento é constituído mediante ato do Poder Executivo que, observada
a legislação pertinente, estabelece o alcance da limitação ao direito de propriedade, ato emanado do
Poder Legislativo não podendo alterar essas restrições. De acordo com o ordenamento jurídico
brasileiro vigente, tal como compreendido pelo Supremo Tribunal Federal, a afirmação
está correta, eis que o ato do Poder Legislativo, alterando tombamento concretamente
fixado por ato do Poder Executivo, seria incompatível com o princípio da harmonia entre
os Poderes. BL: ADI 1706-4 do STF.

28. AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA


28.1. Inconstitucionalidade de lei que preveja plantão criminal para escritório de prática
jurídica da Universidade estadual – (Info 840)

É inconstitucional lei estadual que preveja que o escritório de prática jurídica da


Universidade Estadual deverá manter plantão criminal nos finais de semana e feriados para
atender pessoas hipossuficientes que sejam presas em flagrante.
Esta lei viola a autonomia administrativa, financeira, didática e científica assegurada às
universidades no art. 207 da CF/88 (inconstitucionalidade material).
Além disso, contém vício de iniciativa (inconstitucionalidade formal), na medida em que
foi usurpada a iniciativa privativa do Governador.
STF. Plenário. ADI 3792/RN, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 22/09/2016 (Info 840).

29. BENS PÚBLICOS


30.1. Não se pode caracterizar as terras ocupadas pelos indígenas como devolutas – (Info
873)

As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios são bens da União (art. 20, XI, da CF/88)
e, portanto, não podem ser consideradas como terras devolutas de domínio do Estado-
membro.
STF. Plenário. ACO 362/MT e ACO 366/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 16/8/17 (Info 873).
OBS:
Desapropriação indireta: A desapropriação indireta ocorre quando o Estado (Poder Público)
se apropria de um bem sem observar as formalidades previstas em lei para a desapropriação,
dentre as quais a declaração indicativa de seu interesse e a indenização prévia. Trata-se de um
verdadeiro esbulho possessório praticado pelo Poder Público. A desapropriação indireta é
também chamada de apossamento administrativo.

O que a pessoa faz no caso de desapropriação indireta?


 Se o bem expropriado ainda não está sendo utilizado em nenhuma finalidade
pública: pode ser proposta uma ação possessória visando a manter ou retomar a posse
do bem.
 Se o bem expropriado já está afetado a uma finalidade pública: considera-se que
houve fato consumado e somente restará ao proprietário ajuizar uma “ação de
desapropriação indireta” a fim de ser indenizado. Nesse sentido é o art. 35 do Decreto-
Lei 3.365/41.

Terras devolutas: Terras devolutas são aquelas que não tem nenhuma utilização pública
específica e que não se encontram, por qualquer título, integradas ao domínio privado. As
terras devolutas pertencem, em regra, aos Estados-membros, com exceção daquelas
indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias
federais de comunicação e à preservação ambiental, que são de propriedade da União (art. 20,
II).

Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação: O Estado de Mato Grosso ajuizou
contra a União e a Funai ação ordinária de indenização por desapropriação indireta, sob a
alegação de que as rés teriam incluído, dentro do perímetro de áreas indígenas, terras
devolutas que pertenceriam ao Estado autor. Em outras palavras, Mato Grosso alegou que a
União, no momento de fazer a demarcação de terras indígenas, utilizou parte de terras
devolutas que pertenceriam ao Estado, razão pela qual ele deveria ser indenizado por isso.

O pedido foi aceitou pelo STF? NÃO. O STF julgou improcedente a ação.

Os laudos antropológicos juntados aos autos deixaram claro que as áreas em questão eram
habitadas historicamente por indígenas. Diante disso, o STF reconheceu que a titularidade das
terras não é do Estado do Mato Grosso, sendo indevida, portanto, a indenização pleiteada.
Vale ressaltar que, desde a Constituição de 1934 é reconhecida a proteção da posse dos
indígenas das terras que tradicionalmente ocupam. Assim, desde a Carta de 1934, não se pode
caracterizar as terras ocupadas pelos indígenas como devolutas.

30.2. Continuam pertencendo à União os terrenos de marinha situados em ilha costeira que
seja sede de Município – (Info 862) – IMPORTANTE!!!

A EC 46/05 não interferiu na propriedade da União, nos moldes do art. 20, VII, da
Constituição Federal, sobre os terrenos de marinha e seus acrescidos situados em ilhas
costeiras sede de Municípios.
STF. Plenário. RE 636199/ES, Rel. Min. Rosa Weber, j. 27/4/17 (repercussão geral) (Info 862).

31. REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA


31.1. ADI proposta contra a Lei nº 11.952/2009 – (Info 882)

A Lei 11.952/2009 trata sobre a regularização fundiária das ocupações incidentes em terras
situadas em áreas da União, no âmbito da Amazônia Legal.
O STF deu intepretação conforme ao art. 4º, § 2º da Lei para dizer que é inconstitucional
qualquer interpretação que permita a regularização fundiária das terras ocupadas por
quilombolas e outras comunidades tradicionais da Amazônia Legal em nome de terceiros
ou de forma a descaracterizar o modo de apropriação da terra por esses grupos. Em outras
palavras, os quilombolas e outras comunidades tradicionais não podem perder suas terras
em caso de regularização fundiária.
O STF também deu intepretação conforme ao art. 13 da Lei para afastar quaisquer
interpretações que concluam pela desnecessidade de fiscalização dos imóveis rurais até
quatro módulos fiscais, devendo o ente federal utilizar-se de todos os meios referidos em
suas informações para assegurar a devida proteção ambiental e a concretização dos
propósitos da norma para, somente então, ser possível a dispensa da vistoria prévia, como
condição para a inclusão da propriedade no programa de regularização fundiária de
imóveis rurais de domínio público na Amazônia Legal. Em outras palavras, a União deve
utilizar-se de todos os meios para assegurar a devida proteção ambiental e a concretização
dos propósitos da norma, para somente então ser possível a dispensa da vistoria prévia
como condição para inclusão da propriedade no programa de regularização fundiária de
imóveis rurais de domínio público na Amazônia Legal.
STF. Plenário. ADI 4269/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 18/10/2017 (Info 882).
OBS:
Art. 4º (...)
§ 2º As terras ocupadas por comunidades quilombolas ou
tradicionais que façam uso coletivo da área serão regularizadas de
acordo com as normas específicas, aplicando-se-lhes, no que couber,
os dispositivos desta Lei.
Art. 13. Os requisitos para a regularização fundiária dos imóveis de
até 4 (quatro) módulos fiscais serão averiguados por meio de
declaração do ocupante, sujeita a responsabilização nas esferas
penal, administrativa e civil, dispensada a vistoria prévia.

32. ACORDO DE LENIÊNCIA E COMPARTILHAMENTO DE PROVAS


32.1. É possível o compartilhamento das provas obtidas no acordo de leniência, desde que
sejam respeitados os limites estabelecidos no acordo em relação aos aderentes – (Info 913)

É possível o compartilhamento, para outros órgãos e autoridades públicas, das provas


obtidas no acordo de leniência, desde que sejam respeitados os limites estabelecidos no
acordo em relação aos aderentes.
Assim, por exemplo, se uma empresa celebra acordo de leniência com o MPF aceitando
fornecer provas contra si, estas provas somente poderão ser utilizadas para as sanções que
foram ajustadas no acordo.
No entanto, nada impede que tais provas sejam fornecidas (compartilhadas) para os órgãos
de apuração para que sejam propostas medidas contra as outras pessoas envolvidas nos
ilícitos e que fizeram parte do acordo.
STF. 2ª Turma. Inq 4420/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 28/8/18 (Info 913)
OBS:
Acordo de leniência: A Lei 12.846/13 prevê a possibilidade de a pessoa jurídica que praticar
ato lesivo à administração pública celebrar um “acordo de leniência” para abrandar a sua
punição. O acordo de leniência é uma espécie de “colaboração premiada”.

Quais são os requisitos para que o acordo seja celebrado? Para que o acordo de leniência seja
celebrado deverão ser preenchidos, cumulativamente, os seguintes requisitos:
I - a pessoa jurídica seja a primeira a se manifestar sobre seu interesse
em cooperar para a apuração do ato ilícito;
II - a pessoa jurídica cesse completamente seu envolvimento na
infração investigada a partir da data de propositura do acordo;
III - a pessoa jurídica admita sua participação no ilícito e coopere
plena e permanentemente com as investigações e o processo
administrativo, comparecendo, sob suas expensas, sempre que
solicitada, a todos os atos processuais, até seu encerramento.

A colaboração da pessoa jurídica precisa ser eficaz? SIM. É necessário que a pessoa jurídica
colabore efetivamente com as investigações e com o processo e dessa colaboração deve resultar:
I - a identificação dos demais envolvidos na infração, quando
couber; e
II - a obtenção célere de informações e documentos que comprovem
o ilícito sob apuração.

No acordo de leniência serão estipuladas as condições necessárias para que seja assegurada a
efetividade da colaboração e o resultado útil do processo.

O Ministério Público pode celebrar acordo de leniência? Existe uma polêmica sobre isso. O
art. 16, § 10 da Lei 12.846/13 afirma que “a Controladoria-Geral da União - CGU é o órgão
competente para celebrar os acordos de leniência no âmbito do Poder Executivo federal, bem como no
caso de atos lesivos praticados contra a administração pública estrangeira.” A posição que prevalece,
contudo, é a de que, mesmo no silêncio da Lei, o Ministério Público pode sim fazer o acordo
de leniência porque isso decorre do art. 129 da CF/88.

Cuidado para não confundir: Existe um acordo de leniência que é previsto na Lei 12.529/2011.
Ele é diferente do que estamos estudando aqui. O acordo de leniência da Lei 12.529/11 “é um
instrumento de defesa da concorrência por meio do qual um ou mais agentes que praticaram
infração à ordem econômica cooperam voluntariamente com as investigações em troca de
redução da pena ou até mesmo do perdão total. Trata-se de instituto equivalente à delação
premiada do direito penal." (RAMOS, André Luiz Santa Cruz; GUTERRES, Thiago Martins.
Lei Antitruste. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 163).

É interessante fazer a leitura da ementa do julgado:


Penal e Processual Penal. 2. Compartilhamento de provas e acordo
de leniência. 3. A possibilidade de compartilhamento de provas
produzidas consensualmente para outras investigações não
incluídas na abrangência do negócio jurídico pode colocar em
risco a sua efetividade e a esfera de direitos dos imputados que
consentirem em colaborar com a persecução estatal. 4. No caso em
concreto, o inquérito civil investiga possível prática de ato que
envolve imputado que não é abrangido pelo acordo de leniência
em questão. 5. Contudo, deverão ser respeitados os termos do
acordo em relação à agravante e aos demais aderentes, em caso de
eventual prejuízo a tais pessoas. 6. Nego provimento ao agravo,
mantendo a decisão impugnada e o compartilhamento de provas,
observados os limites estabelecidos no acordo de leniência em
relação à agravante e aos demais aderentes. STF. 2ª Turma. Inq 4420
AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 28/08/2018.

33. CONSELHOS PROFISSIONAIS


33.1. Conselhos profissionais não estão sujeitos ao regime de precatórios – (Info 861) –
IMPORTANTE!!!

Os pagamentos devidos, em razão de pronunciamento judicial, pelos Conselhos de


Fiscalização (exs: CREA, CRM, COREN, CRO) não se submetem ao regime de precatórios.
STF. Plenário. RE 938837/SP, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, j.
19/4/17 (repercussão geral) (Info 861).

33.2. Constitucionalidade da Lei 12.514/2011 – (Info 842)

A Lei 12.514/11, que trata sobre as contribuições (anuidades) devidas aos Conselhos
Profissionais, é constitucional.
Sob o ponto de vista formal, esta Lei, apesar de ser fruto de uma MP que originalmente
dispunha sobre outro assunto, não pode ser declarada inconstitucional porque foi editada
antes de o STF declarar ilegítima a prática do “contrabando legislativo” (ADI 5127/DF).
Ainda quanto ao aspecto formal, esta Lei não trata sobre normas gerais de Direito
Tributário, motivo pelo qual não precisava ser veiculada por lei complementar.
Sob o ponto de vista material, a Lei respeitou os princípios da capacidade contributiva, da
vedação ao confisco e da legalidade.
STF. Plenário. ADI 4697/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 06/10/16 (Info 842).
OBS:
Qual é a natureza jurídica dos Conselhos Profissionais (exs.: CREA, CRM, COREN, CRO
etc.)? Os Conselhos Profissionais possuem natureza jurídica de autarquias federais. Exceção: a
OAB que, segundo a concepção majoritária, é um serviço público independente, categoria
ímpar no elenco das personalidades jurídicas existentes no direito brasileiro.

Anuidades: Os Conselhos podem cobrar um valor todos os anos dos profissionais que integram
a sua categoria. A isso se dá o nome de anuidade (art. 4º, II, da Lei 12.514/11). Veja o que diz
também a Lei nº 11.000/2004:
Art. 2º Os Conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas
são autorizados a fixar, cobrar e executar as contribuições anuais,
devidas por pessoas físicas ou jurídicas, bem como as multas e os
preços de serviços, relacionados com suas atribuições legais, que
constituirão receitas próprias de cada Conselho.
Exercem atividade tipicamente pública: Esses Conselhos são criados por lei e possuem
personalidade jurídica de direito público, exercendo uma atividade tipicamente pública, qual
seja, a fiscalização do exercício profissional. Os Conselhos são dotados de poder de polícia e
poder arrecadador. STF. 1ª Turma. MS 28469, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 09/06/2015.

Qual é a natureza jurídica dessas anuidades? Tais contribuições são consideradas tributo,
sendo classificadas como “contribuições profissionais ou corporativas”, estando prevista no
art. 149 da CF/88:
Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições
sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das
categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua
atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III,
e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente
às contribuições a que alude o dispositivo.

Fato gerador: O fato gerador das anuidades é a existência de inscrição no conselho, ainda que
por tempo limitado, ao longo do exercício (art. 5º da Lei nº 12.514/2011).

Execução fiscal: Como a anuidade é um tributo e os Conselhos profissionais são autarquias,


em caso de inadimplemento, o valor devido é cobrado por meio de uma execução fiscal.

Competência: A execução fiscal, nesse caso, é de competência da Justiça Federal, tendo em vista
que os Conselhos são autarquias federais (Súmula 66 do STJ).

33.3. Os Conselhos de Fiscalização Profissional estão isentos de custas processuais? – (Sem


Info) – (TRF4-2014)

Os Conselhos Profissionais, apesar de sua natureza autárquica, não estão isentos do


pagamento de custas judiciais, conforme previsão expressa do art. 4º, parágrafo único, da
Lei nº 9.289/96.
Assim, o benefício da isenção do preparo conferido aos entes públicos previstos no art. 4º,
caput, da Lei 9.289/1996 é inaplicável aos Conselhos de Fiscalização Profissional.
STF. 1ª Turma. RMS 33572 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 09/08/2016.
STJ. 1ª Seção. REsp 1338247/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 10/10/2012 (recurso
repetitivo)
(TRF4-2014): O benefício da isenção do preparo, conferido aos entes públicos previstos no
art. 4º, caput, da Lei nº 9.289/96, é inaplicável aos conselhos de fiscalização profissional.
BL: STF, RMS 33572 AgR e STJ, Resp 1338247/RS.

33.4. Os Conselhos Profissionais, para contratarem "funcionários", precisam fazer concurso


público? – (Sem Info) – (MPGO-2016) (PGMSP-2014)

Como os Conselhos Profissionais são autarquias exercendo uma atividade tipicamente


pública (fiscalização do exercício profissional), precisam respeitar a regra do art. 37, II, da
CF/88, que exige concurso público para a contratação de servidores.
Assim, quando os Conselhos de Fiscalização Profissional vão fazer a contratação de seu
pessoal é imprescindível a realização de concurso público.
STF. 1ª Turma. MS 28469, Rel. Min. Luiz Fux, j. 09/06/15.
STF. 2ª Turma. RE 758168 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 24/06/14.

Exceção: OAB. O STF decidiu que a OAB, quando vai contratar seus empregados, não
precisa realizar concurso público (STF ADI 3026).
(MPGO-2016): Os Conselhos de fiscalização profissional, por possuírem natureza jurídica
de autarquia corporativa, devem se submeter aos princípios constitucionais concernentes
à Administração Pública, inclusive o da exigência de realização de concurso público para
contratação de pessoal. BL: STF, MS 28469 e RE 758168 AgR.

33.5. Para o exercício de toda e qualquer profissão, é necessário que a pessoa se inscreva no
respectivo Conselho Profissional (ex: o músico é obrigado a se inscrever na Ordem dos
Músicos do Brasil)? – (Sem Info) – (MPDFT-2013)

Nem todos os ofícios ou profissões podem ser condicionados ao cumprimento de condições


legais para o seu exercício.
Na verdade, a regra é a liberdade. Assim, apenas quando houver potencial lesivo na
atividade é que pode ser exigida inscrição em conselho de fiscalização profissional (exs:
advogado, médico etc.).
A atividade de músico prescinde de controle. Constitui, ademais, manifestação artística
protegida pela garantia da liberdade de expressão. Logo, para que o músico exerça sua
profissão não é indispensável a sua prévia inscrição na Ordem dos Músicos do Brasil.
STF. Plenário. RE 414426, Rel. Min. Ellen Gracie, julgado em 01/08/2011.

(MPDFT-2013): Apenas quando houver potencial lesivo na atividade é que pode ser
exigida inscrição em conselho de fiscalização profissional. BL: STF, RE 414426.

34. FUNDEF
34.1. União deverá indenizar Estados prejudicados com o cálculo incorreto do VMNA –
(Info 876)

O valor da complementação da União ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do


Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) deve ser calculado com base
no valor mínimo nacional por aluno extraído da média nacional.
A complementação ao Fundef realizada a partir do valor mínimo anual por aluno fixada em
desacordo com a média nacional impõe à União o dever de suplementação de recursos,
mantida a vinculação constitucional a ações de desenvolvimento e manutenção do ensino.
Em outras palavras, os Estados prejudicados com o cálculo incorreto do valor mínimo
nacional por aluno deverão ser indenizados por conta do montante pago a menor a título
de complementação pela União no período de vigência do FUNDEF, isto é, nos exercícios
financeiros de 1998 a 2007.
Essa indenização abrange apenas os danos materiais, não sendo devidos danos morais
coletivos por conta desse repasse a menor.
STF. Plenário. ACO 648/BA, ACO 660/AM, ACO 669/SE e ACO 700/RN, rel. orig. Min.
Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, j. 6/9/2017 (Info 876).

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