Raizes Da Depressao PR Coty
Raizes Da Depressao PR Coty
Raizes Da Depressao PR Coty
Piracicaba, SP
2015
Uma leitura sociológica da relação da
Igreja Metodista com suas Instituições de
Ensino a partir de Max Weber
Piracicaba, SP
2015
2
Ficha Catalográfica elaborada pelo Sistema de Bibliotecas da UNIMEP
Bibliotecária: Carolina Segatto Vianna CRB-8/7617
CDU – 37:287
BANCA EXAMINADORA
3
AGRADECIMENTOS
Aos mestres da vida (in memorian) José Carlos de Moraes e Elias Boaventura,
Dr. José Maria Paiva, Dr. Cesar Romero Amaral Vieira, Dr. Bruno Pucci, Drª. Roseli
Pacheco Schnetzler, Dr. Cleiton de Oliveira, Dr. Josué Adam Lazier, Drª. Maria
Angélica Penatti Pipitone, Dr. Clóvis Pinto de Castro (banca mestrado e doutorado).
4
RESUMO
Nosso trabalho é um exercício acadêmico que contempla uma leitura da relação da Igreja
Metodista com suas Instituições de Ensino a partir da sociologia, tendo como
pressupostos a sociologia de Max Weber. O problema levantado se refere à falta de
pesquisa acadêmica da relação Igreja – Escola através da sociologia, considerando que a
grande maioria desses trabalhos, senão sua totalidade, vem sendo desenvolvida através
de pressupostos históricos, teológicos ou pedagógicos. Nosso objetivo é demonstrar a
possibilidade da análise sociológica envolvendo o contexto da educação confessional
metodista, especificamente a relação da Igreja Metodista com suas Instituições de Ensino
tendo como base a teoria weberiana e os documentos oficiais balizadores destas
instituições. No primeiro capítulo expomos as fundamentações teóricas weberianas, pelas
quais analisamos nosso objeto de estudo. No segundo capítulo caracterizamos cada
instituição a partir da fundamentação apresentada, com a finalidade de buscar um
enquadramento teórico que as classifique segundo as perspectivas do autor. No terceiro
capítulo aprofundamos esses conceitos para perceber quais são as aproximações e
distanciamentos entre estas instituições a partir de suas características mais próprias. Por
ser sociológica, esta elaboração não tem como objetivo a constatação de possíveis acertos
e desacertos da relação, mas demonstrar a partir do referencial teórico as características
que as motivam e, portanto, que legitimam seus valores, propósitos e finalidades. Desta
maneira demonstramos que seus encontros e desencontros podem se dar primordialmente
a partir de valores intrínsecos às situações de interesses que molduram esta relação.
5
ABSTRACT
This paper is an academic exercise that covers a reading of the relationship of the
Methodist Church with its educational institutions through sociology, having as
assumptions the sociology of Max Weber. The problem raised concerns the lack of
academic research of the Church - School relationship through sociology, considering
that the vast majority of these works, if not its entirety, are being developed through
historical, theological or pedagogical assumptions. The goal is to demonstrate the
possibility of sociological analysis involving the context of the methodist confessional
education, specifically the relationship of the Methodist Church with its Educational
Institutions considering the weberian theory and the official documents underpinning
these institutions. In the first chapter are exposed the weberian theoretical fundamentals,
by which the object of study is analyzed. In the second chapter, each institution is
characterized from the given fundaments, with the purpose of seeking a theoretical
framework that classifies them according to the perspectives of the author. In the third
chapter these concepts are deepened to understand what are the similarities and diferences
between these institutions from its most distinctive characteristics. As this paper is
sociological, it is not meant to find possible rights and wrongs of the relationship, but
demonstrate from the theoretical framework the features that motivate and therefore
legitimate their values , purposes and objectives. That way it is shown that their
agreements and disagreements can occur primordially from intrinsic values to the
situations of interests that molds this relationship.
6
SUMÁRIO
Agradecimentos ................................................................................................................ 4
Resumo ............................................................................................................................. 5
Abstract ............................................................................................................................ 6
Sumário ............................................................................................................................ 7
Introdução ........................................................................................................................ 8
Capítulo 1 – Fundamentos teóricos: Burocracia, carisma, disciplina, religião e os três tipos
puros de legitimação de autoridade .............................................................................. 18
1.1 Burocracia ................................................................................................................. 18
1.2 Carisma ..................................................................................................................... 28
1.3 Disciplina .................................................................................................................. 31
1.4 Religião ..................................................................................................................... 34
1.4.1 Sofrimento ............................................................................................................. 35
1.5 Os Tipos Puros de Dominação Legítima .................................................................... 42
Capítulo 2 – Características da Igreja Metodista e das Instituições de Ensino Metodistas
brasileiras a partir do Plano de Vida e Missão e das Diretrizes para a Educação da Igreja
Metodista – Uma leitura Weberiana .............................................................................. 57
2.1 Igreja ......................................................................................................................... 58
2.1.1 Plano de Vida e Missão (PVM) ............................................................................... 60
2.1.2 O Plano de Vida e Missão como referência das características da Igreja Metodista
brasileira ......................................................................................................................... 69
2.2 Diretrizes para a Educação da Igreja Metodista (DEIM) ............................................ 73
2.2.1 As Diretrizes para a Educação como referência das características das Instituições de
Ensino da Igreja Metodista brasileira .............................................................................. 79
Capítulo 3 – A Relação entre a Igreja Metodista e suas Instituções de Ensino: Uma leitura
por meio dos tipos puros de dominação legítima ............................................................ 92
3.1 Tipos de dominação legítima .................................................................................... 97
3.2 Dominações a partir das situações, circunstâncias e interesses .............................. 121
3.3 A Igreja Metodista e suas Instituições de Ensino a partir dos três tipos puros de
dominação legitima – um retrato ................................................................................. 126
Considerações Finais ..................................................................................................... 128
Referências Bibliográficas ............................................................................................. 132
ANEXO 1 – Plano para a Vida e Missão ......................................................................... 136
ANEXO 2 – Diretrizes para a Educação na Igreja Metodista .......................................... 157
7
INTRODUÇÃO
8
Os pastores, ou seja, aqueles que não são Presbíteros, não contam com a formação
total exigida pela Igreja. Diáconos são leigos que recebem o reconhecimento pastoral para
o exercício de uma tarefa específica nos diversos ministérios da Igreja.
Além da estrutura das Regiões Eclesiásticas a Igreja conta com uma Sede Geral,
administrada por um Colégio Episcopal, composto por sete bispos e uma bispa que são
Pastores Presbíteros eleitos a cada cinco anos pelo Concílio Geral, designados por este
para presidir as referidas regiões. A Sede Geral organiza e gere tanto o caráter eclesiástico
quanto o administrativo através de assessorias e câmaras representadas pelas regiões,
dispondo de sede própria situada na cidade de São Paulo-SP.
9
foi organizada em 1923 como Escola Bíblica para formação de
candidatos ao ministério pastoral metodista. Em 1928 foi elevada à
categoria de Faculdade de Teologia do Sul, como parte do Colégio Porto
Alegre, e em 1930 equiparada à Faculdade d’O Granbery. Em 1934,
assumiu sua reitoria Santo Uberto Barbieri, que havia regressado dos
Estados Unidos após o término de seus quatro anos de estudos pós-
graduados em teologia. Barbieri se dedicou à sua nova função com a
decisão de, em suas próprias palavras na carta de sua despedida do Brasil
em 1939, formar um corpo bem treinado e suficiente de obreiros
metodistas para os três estados mais sulinos do Brasil. Em outubro de
1937, em meio a uma crise institucional envolvendo a Faculdade de
Teologia do Sul, o Colégio Porto Alegre e líderes da Igreja, Barbieri,
segundo ele autorizado pelo Bispo, tomou a decisão de mudar a
instituição teológica de Porto Alegre para Passo Fundo, onde a Igreja já
fazia funcionar o Instituto Ginasial Passo Fundo. Quatro meses depois,
no III Concílio Geral da Igreja, em fevereiro de 1938,
surpreendentemente o Bispo César Dacorso Filho, que estava terminando
o seu primeiro mandato episcopal, recomendou em seu relatório a criação
de uma nova instituição teológica, mediante a fusão das duas Faculdades
então existentes e a consequente extinção (Mattos, 2010, p. 48).
A fusão das duas faculdades concentrou todos os esforços num mesmo lugar
fazendo nascer o projeto da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista brasileira, o que
posteriormente motivaria o surgimento da Universidade Metodista de São Paulo. Isto
demonstra seu forte caráter acadêmico que se destina não somente a formar sacerdotes
para o exercício eclesiástico, mas, também, oferecer-lhes capacitação técnica, crítica e
acadêmica reconhecida pelos órgãos oficiais de Educação.
10
12. Colégio Noroeste - 1918 (Birigui)
13. Instituto Porto Alegre - 1919
14. Instituto Passo Fundo - 1920
15. Colégio Bennett - 1921
16. Colégio Centenário 1922 (Santa Maria)
17. Instituto Americano de Lins - 1928
18. Instituto Rural Metodista de Alegrete - 1960
19. Instituto Metodista de Ensino Superior - 1966
Além destas escolas, a história registra a existência de outras que foram fechadas,
sendo: Ginásio de Capivari-SP, de Taubaté-SP, de Marília-SP, Americano de Petrópolis-
RJ, Fluminense-RJ e Instituto Rural Evangélico de Itapira-ES. Atualmente, a Rede
Metodista de Educação conta com 43 instituições, sendo:
11
13 – Centro Universitário Metodista IPA
Decreto de Reconhecimento: Portaria do MEC nº 3.186 de 08/10/2004
(DOU de 11/10/2004) (Ensino Superior)
12
(Ensino Superior)
13
Rio de Janeiro – RJ
1
Dados informados pela Assessoria de Marketing da Rede Metodista de Educação em fevereiro de 2015.
14
Diante da conjuntura metodista brasileira, que também é caracterizada pela
combinação Igreja-escola, nossa impressão é que tanto a Instituição Eclesiástica como
suas Instituições de Ensino continuam aptas para outras abordagens e perspectivas
capazes de auxiliar na compreensão mais abrangente dos pressupostos que influenciaram
e ainda influenciam esta relação. A problemática apresentada se refere aos tipos de análise
acadêmica utilizados para a compreensão desta relação, comumente baseados em
pesquisa historiográfica, teológica ou pelo exame pedagógico dos currículos destas
instituições. Em nossa perspectiva, a sociologia também deveria ser utilizada.
15
uma ou outra característica, mas vislumbrar quais pressupostos as fundamentam,
compreendendo suas limitações e facilidades.
Quanto ao método, a partir de Abramo in Hirano (1988), podemos dizer que nosso
trabalho é monográfico e de profundidade, ou seja, limitado a um tema ou a um problema
especifico (pg. 39). Quanto ao procedimento metodológico, de "consulta bibliográfica e
documental”, através de pesquisa em livros, artigos, jornais ou documentos (p. 40). O
autor enfatiza que as pesquisas em ciências humanas podem ser monodisciplinares
(econômicas, históricas, sociológicas, antropológicas, administrativas, psicológicas, etc.).
A nossa é predominantemente sociológica (p. 34). Quanto ao método de análise,
consideramos o nosso caso como “combinações internamente congruentes de tipos e
modelos, permitindo a comparação, por semelhanças e diferenças, entre fenômenos
correlatos” (p. 42). Em síntese, entendemos este trabalho como uma análise sociológica,
por comparação de semelhanças e diferenças de fenômenos correlatos, envolvendo o
contexto educacional específico da relação entre a Igreja Metodista brasileira e suas
instituições de Ensino, por meio de consulta bibliográfica e documental.
16
possibilite a posterior, a análise através dos tipos de legitimação pura. Ressaltamos em
seus documentos e apontamentos oficiais as propriedades que nos dão condição de
estabelecer valor sociológico para a pesquisa.
Nossa elaboração, no entanto, não visa juízo de valor sobre uma ou outra
instituição e, por consequência, sobre possíveis acertos e desacertos desta relação, mas
demonstrar através da análise sociológica weberiana, as características que as motivam e,
portanto, que legitimam seus valores, propósitos e finalidades. Desta maneira
demonstramos que seus encontros e desencontros podem se dar primordialmente a partir
de valores intrínsecos à vocação particular de cada uma delas e não somente por situações
de interesses.
17
CAPÍTULO 1
Fundamentos teóricos: Burocracia, carisma, disciplina,
religião e os três tipos puros de legitimação de autoridade
1.1 - Burocracia
18
força de códigos preconcebidos em relações que envolvem esferas de mandatários e
dirigidos, em níveis, necessariamente, ocupados por indivíduos que obedecem a uma
determinada qualificação reconhecida pelo sistema organizacional específico que os
abrange. Weber enfatiza que esse “molde”, ou seja, este sistema de estruturas elaboradas
por regulamentos e normas em que se envolvam mando e subordinação, constitui a
maioria das organizações modernas, sejam elas governamentais, empresariais,
educacionais, religiosas, designadas por ele como “administração burocrática”. O
estabelecimento escrito, num ambiente onde se contemplam deveres e direitos, mais do
que ordenar os aspectos particulares da função de cada membro da organização,
normatiza níveis hierárquicos ou de importância, e o lugar do gestor ou do empresário se
instala na função de exemplo maior, denominado pelo autor como “primeiro
funcionário”. A esse respeito é necessário observar que ele enfatiza o pressuposto da
especialização na administração burocrática moderna, na qual a exigência de uma
formação específica sinaliza não somente o perfil do administrador, mas, sobretudo,
qualifica-o para a execução de tarefas restritas ao seu ambiente de trabalho e que permite
exercer seu cargo segundo as regras preestabelecidas pela estrutura burocrática.
19
de interesses que passam a não ser mais pessoais, e que estão a serviço de objetivos
peculiares às finalidades da estrutura. Mesmo os espaços tradicionais, como o
eclesiástico, ganham novas significações e graus de importância, o que rearticula os
relacionamentos entre o clero e o laicato de maneira significativa, chegando a níveis
profissionais, uma vez que as próprias organizações religiosas se tornam grandes
estruturas empresariais com objetivos específicos, como numa organização secular
normal. Isto realoca seu papel e seu propósito, chegando a deixar seu caráter filosófico e
ideológico em segundo plano:
20
relação de subordinação, por caracterizar em sua forma uma escolha de baixo e não de
cima. Essa forma de escolha interfere na atuação específica da função, que passa a
depender não somente da interação com a chefia ou mesmo das questões técnicas, mas,
também, do poder de representação atribuído ao cargo. Diferentemente, o funcionário que
não é eleito depende em maior proporção de sua atuação técnica e do bom relacionamento
com seu superior. Isso também se refere à ocorrência da condição vitalícia para o
funcionário público ao contrário do que ocorre com o trabalhador de empresa privada,
que é mantido no cargo por questões técnicas ou meramente administrativas. Com esses
parâmetros, Weber atribui ao desenvolvimento da economia monetária e, sobretudo, à
ocorrência de compensação financeira do trabalhador pelo serviço prestado, o
pressuposto da burocracia. É oportuno observar que a elaboração de estruturas
organizacionais torna-se mais necessária quando o fator monetário moldura as relações
de trabalho. Dessa maneira, os níveis de mando e submissão são viabilizados e, da mesma
forma, garantidos. Mesmo com o que o autor chama de remuneração in natura – quando
a retribuição pelo trabalho não é em dinheiro, mas em produto - a dimensão econômica
da relação exerce forte influência e organiza direitos e deveres. Nesse sentido avalia que:
21
absoluta, por meio da aplicação da ordem e da proteção (“polícia”) em todos os campos,
exerce uma influência especialmente perseverante no sentido da burocratização” (Weber,
2008, p. 149). Essa ilustração demonstra que a organização moderna rearticulou o
simbolismo da segurança e da organização anteriormente representadas pelas relações de
pertença aos clãs ou comunidades familiares que garantiam a vida social, agora sinalizada
por leis e estatutos, de uma estrutura burocrática rege o bem estar geral. Há outros fatores
que também figuram como promotores da burocratização, como os meios de
comunicação e transporte, que precisam ser organizados e regidos por uma sistematização
estatal.
22
Quanto mais complicada e especializada se torna a cultura moderna,
tanto mais seu aparato de apoio externo exige o perito despersonalizado
e rigorosamente “objetivo”, em lugar do mestre das velhas estruturas
sociais, que era movido pela simpatia e preferência pessoais, pela graça
e gratidão. A burocracia oferece as atitudes exigidas pelo aparato externo
da cultura moderna, na combinação mais favorável (WEBER, 2008,
p.151).
Como se percebe, o sociólogo constata não somente a ocorrência da adoção de
estruturas burocráticas como estilo da gestão profissional em empresas e organizações,
mas também uma influência, ou reorganização conceitual, dos diversos segmentos da
sociedade moderna. No Direito, por exemplo, o autor considera que essa forma “racional”
estabelece novos parâmetros para execução do ato judicial, ao comparar a forma moderna,
ao tipo de adjudicação – ligado principalmente às tradições sagradas – que não pode ser
resolvido sem ambiguidades pela tradição e solucionado pela “revelação concreta
(oráculo, profecia ou ordálio – isto é pela justiça carismática)” (Weber, 2008, p.152).
Essa alegação se baseia no entendimento de que as relações que envolvem poder e
autoridade necessitam minimamente de certa “objetividade” formal e racional, que
garanta a não ocorrência da arbitrariedade e, ao mesmo tempo, se oponha a informalidade
do velho domínio patrimonial.
23
socialmente desfavorecidas. Weber considera que “o processo de burocratização (...) é
um fenômeno paralelo da democracia”, (Weber, 2008, p.158), por isso não assegura
claramente que um tenha influência direta sobre o outro. Em termos gerais, acredita o
sociólogo, a burocracia é quando bem estabelecida, uma estrutura indestrutível, uma vez
que cada um de seus membros passa a depender dela para continuar a ser parte do todo.
Não somente o funcionário que se burocratiza através do seu treinamento metódico, é
submisso à organização, mas também os cargos superiores, uma vez que são garantidos
pelo movimento contínuo da estrutura. Assim, qualquer integrante da engrenagem torna-
se, ao mesmo tempo, sua força motriz e dependente do dinamismo dela. Como numa
máquina, cada peça precisa estar bem colocada em sua função e ativa para considerar-se
parte, sem que haja caráter pessoal ou individual.
24
por si só, uma condição de poder independente ou característica que lhe garanta poder.
Apesar disso, Weber entende que o modo burocrático é “tecnicamente o meio de poder
mais altamente desenvolvido nas mãos de homens que o controla” (Weber, 2008, p. 162)
levando em conta que esse sistema desarticula uma das principais características da
organização antiga, a “indispensabilidade”. Analisa o sociólogo, que nos modelos
passados as peças que garantiam as estruturas sempre foram consideradas indispensáveis
e insubstituíveis no funcionamento organizacional. Contudo na burocracia, isso é
reorganizado, uma vez que a capacidade de movimento das dinâmicas de cada segmento
é maior e mais importante do que a particularidade de cada indivíduo, uma vez que seu
funcionamento trata de substituir qualquer deficiência que venha ocorrer. Dessa maneira,
o poder está na estrutura e não na operação individual e, mais ainda, no conhecimento
teórico que na capacidade política. O funcionário qualificado é valorizado por sua técnica,
mais do que por qualquer outra questão e, portanto, substituível. Por outro lado, o
funcionário que domina o conhecimento burocrático pode dispor de um poder
considerável na estrutura, mesmo que haja uma figura hierárquica superior. Weber evoca,
para demonstrar essa questão, a figura do Governo constitucional que compreende a
existência do monarca e do primeiro-ministro. O monarca, mesmo ocupando o cargo
máximo da organização, necessita da ação de um funcionário técnico, o primeiro-
ministro. O monarca, apesar de ser o chefe do governo e, presumidamente, o dirigente
maior, depende do chefe da burocracia, figurado pelo primeiro-ministro. Desta maneira,
a burocracia apresenta um poder distinto em sua elaboração, na figura do conhecimento
especializado e, neste caso, a indispensabilidade prevalece.
25
o governante se utiliza do recurso de assessorias técnicas, cercando-se de membros de um
órgão colegiado que:
26
Hoje, o “exame” é o mais universal desse monopólio e, portanto, os
exames avançaram irresistivelmente. Como a educação é necessária à
aquisição do título exige despesas consideráveis e um período de espera
de remuneração plena, essa luta significa um recuo para o talento
(carisma) em favor da riqueza, pois os custos “intelectuais” dos
certificados de educação são sempre baixos, e com o crescente volume
desses certificados os custos intelectuais não aumentam, mas decrescem.
(WEBER, 2008, p. 169).
Esse dado ilustra o significado do modelo burocrático não somente para a
composição da organização administrativa das empresas, mas também como fator de
reorganização social e política da sociedade moderna, já que suas representações e valores
acabam por influenciar outros espaços da sociedade. O autor aponta que “a burocracia
(...) luta em toda parte por um ‘direito ao cargo’” e isso rearticula todas as formas de
mando, uma vez que o direito de liderar passa a ser estabelecido pelo poder técnico
administrativo de racionalizar e mesmo de organizar procedimentos, deveres e direitos.
Essa questão indica outra característica importante da burocracia: “a minimização do
domínio”, ou seja, a partilha de decisões, ações e projeções sobre o trabalho a ser
realizado, que nesse molde, passa a ser mérito e responsabilidade do grupo e não somente
do chefe. Esse é um alicerce da democracia e, ao mesmo tempo, uma de suas condições,
pois, apesar de se pautar pela participação coletiva, não considera prerrogativa principal
para ocupação dos cargos somente o preparo técnico, mas, sobretudo, o reconhecimento
e a articulação política.
27
não foi discutido. É a mesma influência que o avanço do racionalismo
teve em geral. A marcha da burocracia destruiu as estruturas de domínio
que não tinham caráter racional, no sentido especial da palavra (WEBER,
2008, p. 170).
Possivelmente a burocracia, através de seu sistema organizacional, tenha
influenciado a sociedade como um todo ao estabelecer certa classificação social através
da implantação do modelo hierárquico, já que os indivíduos passam a representar não
somente a si mesmos, mas também os postos que ocupam. Com isso ela ganha significado
social ainda maior, articulando as relações através de interesses afins entre a sociedade
comum e o ambiente interno das empresas. As aspirações do jovem estudante se voltam
à conquista de um preparo que o leve a ocupar cargos na estrutura burocrática, bem como
capacitá-lo a desenvolver-se através deles, galgando níveis mais elevados. A burocracia
não reorganiza somente o mercado de trabalho, mas também a formação acadêmica e
técnica, a convivência entre as famílias, a composição e a ação política, o modo de
governo, o sentido de cidadania, as interações do direito, a gestão das igrejas e, até
mesmo, a vida religiosa.
1.2 - Carisma
28
apontamento não isenta a importância ou a existência das estruturas, mas localiza um
campo à parte, que está desassociado do poder organizacional. O sociólogo indica que:
29
hierárquica, como uma negação sumária aos encantos, necessidade e padrões “deste
mundo”.
30
Há de se enfatizar que Weber não se restringe, em sua análise sobre o carisma,
somente ao líder carismático religioso, mas também ao político e mesmo ao artístico. Ao
caracterizar o carisma como elemento de um poder próprio, o sociólogo evidencia um
sistema imaterial, desassociado de qualquer estruturação administrativa padrão e
dependente do carisma de uma determinada pessoa.
1.3 - Disciplina
31
militar, que simbolicamente retrata o temperamento racional do mando, pode ser exercida
por meios emocionais, como no contexto religioso, influenciando seus comandados a se
manterem em sintonia com a vontade do chefe.
Nesse sentido, Weber faz menção à relação da disciplina com a guerra, apontando
para a guerra e suas estratégias como fatores primários para o desenvolvimento dela. Para
ele, o fato de se necessitar de elementos táticos para vencer uma batalha, fez com que
fosse necessária a implementação da disciplina como elemento tático, pouco importando
a qualidade e a característica de suas armas. Assim, a disciplina agregou-se ao
planejamento e à criação das ações coletivas ou individuais que proporcionassem o bom
êxito do grupo, sendo incorporada também como força bélica. O sociólogo indica que
determinadas formas disciplinadas de atuação, em certos casos, causam melhores efeitos
do que o uso de armas. Dessa forma, acredita que a influência da disciplina sobre a guerra
e seus resultados práticos, sinalizados pelas conquistas e aquisição de poder,
repercutiram, da mesma maneira, na organização das sociedades.
32
não somente se serviram dela para a realização de suas conquistas, como também, com
isso, constituíram a necessidade para a concretização de seus objetivos.
33
racional-burocrático com o surgimento da “rotinização do carisma”, ou seja, quando o
carisma é adequado às estruturas disciplinares, mesmo que essa acomodação o transgrida
de alguma maneira.
1.4 - Religião
34
Outras esferas de interesse só poderiam ter uma influência secundária;
com frequência, porém, tal influencia é muito obvia e, por vezes,
decisiva.
Veremos que, em toda religião, uma modificação nas camadas
socialmente decisivas foi, quase sempre, de profunda importância. Por
outro lado, o tipo de uma religião, uma vez marcado exerceu
habitualmente uma influência de amplas consequências sobre o modo de
vida de camadas muito heterogêneas. De várias formas, as pessoas
buscaram interpretar a ligação entre ética religiosa e as situações de
interesse, de tal modo que a primeira surge como simples “função” da
segunda (WEBER, 2008, p. 191).
A partir dessa compreensão, Weber faz apontamentos sobre a participação da
religião no processo de influência psicológica da conduta social.
1.4.1 - O sofrimento
35
Se a expressão geral “fortuna” cobrir todo o bem representado pelas
honras, poder, posses e prazer, será então a formula mais geral a serviço
da legitimação, que a religião teve para realizar os interesses externos e
íntimos dos homens dominantes, os proprietários, os vitoriosos e os
sadios. Em suma, a religião proporciona a teodiceia da boa fortuna para
os que são afortunados. Essa teodiceia está ancorada em fortes
necessidades (“farisaicas”) do homem e, portanto, é facilmente
compreendida, mesmo que não se atente bem, com frequência, para os
seus efeitos (WEBER, 2008, p. 192).
De alguma maneira, o que Weber aponta remete a certo utilitarismo da religião,
no sentido de amoldá-la a interesses imediatos de quem dela se aproxima. Com isso, a
religião se torna acessível a uma camada ampla da sociedade, podendo ser identificada
com qualquer realidade. No aspecto do sofrimento, apontado pelo sociólogo, ela justifica
tanto a riqueza do abastado quanto os dilemas do necessitado, o que, na maioria das
situações tem como pressuposto uma relação enganosa entre riqueza e aprovação divina
e, em contrapartida, miséria e reprovação de Deus. Esse fato é assentado pelo escritor ao
anotar a glorificação do sofrimento, salientando a utilização de várias formas de punições
como status daquele que está a caminho da purificação. Por essa razão, determinadas
formas de abstinência, autoflagelos, passaram a sinalizar certo sinal de santidade ou
piedade, elevando o caráter do sofrimento a um nível de glória e não de dor.
36
passaram a se ocupar com questões amplas, como a chuva, o sol, a caça e a capacidade
de vencer os inimigos que ameaçavam a comunidade. Por consequência, os guias
religiosos são valorizados, afinal, são eles que orientam sobre o que fazer diante do
sofrimento, além de serem os únicos capazes de atrair a proteção dos céus. Com isso, o
mágico, ou o líder da religião, adquire posição de distinção, assim como sua
descendência, surgindo, por isso, dinastias hereditárias, consideradas supra-humanas,
profetas ou porta-vozes e agentes de seu deus. Os sacerdotes passam a ter a
responsabilidade de tratar com o sofrimento, procurando compreendê-lo ou justificá-lo, e
também de dar conselhos, e intermediar a confissão de pecados. Surge com isso a imagem
de um “redentor”. Em decorrência, fatores práticos da vida passam a se relacionar com a
dimensão religiosa, o sacerdote é inserido nos embates e dilemas diários e convocado a
decifrar manifestações da natureza, do clima. A figura de um deus ressurreto também
ganha força, uma vez que isto simboliza a possibilidade do retorno da boa sorte. A luta
diária é inspirada pelas lutas heroicas dos personagens da religião e a batalha ganha status
de glorificação ao salvador.
37
sociólogo levanta temas como o ressentimento e o ascetismo, considerando que nenhum
dos dois pode caracterizar o princípio básico desse espírito, embora tenham sido, em
ambos os casos, alvos do interesse da liderança de diversas correntes religiosas. Para
tanto, Weber destaca outros elementos essenciais à religião de salvação: o renascimento
e a redenção. O renascimento, como sinal da possibilidade mágica do retorno e do resgate
de valores e sentimentos perdidos. Weber aponta este renascimento como a possibilidade
da “aquisição de uma nova alma”.
38
Essa transferência da religião para o reino do irreal ocorreu por uma
operação perfeita, na qual não houvesse restos. Na música, a ‘coma’
pitagórica resistiu a uma racionalização completa orientada para a física
tonal. Os vários grandes sistemas de música de todos os povos e idades
diferiram na forma pela qual cobriam, ou ultrapassaram a irracionalidade
inevitável ou, por outro lado, colocaram a irracionalidade a serviço da
riqueza de tonalidades. O mesmo parece ter ocorrido com a concepção
teórica do mundo, apenas mais acentuadamente. Acima de tudo, pareceu
acontecer com a racionalização da vida prática. As várias grandes formas
de levar uma vida racional e metódica foram caracterizadas pelas
pressuposições irracionais, simplesmente aceitas como ‘dadas’, e que
foram incorporadas a esses modos de vida. Quais foram essas
pressuposições está, histórica e socialmente, determinado, pelo menos
em grande parte, através da peculiaridade das camadas que foram
portadoras dos modos de vida durante seu período formativo e decisivo.
A situação de interesse dessas camadas, determinada social e
psicologicamente, levou a peculiaridade, tal como aqui a entendemos
(WEBER, 2008, p. 198).
O autor se refere a uma racionalização efetiva dos modos e valores da religião
que, uma vez, fora do espaço da vida cotidiana se tornaram inexplicáveis para a
naturalidade da vida comum, já que se acomodou na irracionalidade, ou seja, num espaço
mais adequado à falta de compreensão do indivíduo comum. Contudo, essa transferência
da religião para o campo não racional fez com que o mundo se parecesse destituído de
irracionalidade. Desta maneira, a concepção de experiência sobrenatural e mística foi
realocada para o céu, no “além”, e o mundo passou a ser um espaço sem deuses. Weber
salienta que esse fato se deu pela influência do racionalismo intelectualista progressivo
que idealiza uma sociedade regida por regras estáticas e que marcaram de maneira mais
efetiva as religiões formadas por camadas mais intelectualizadas, que desenvolveram uma
visão mais pragmática da vida. Essas religiões deram à contemplação o status de
possibilidade única de religiosidade.
Nesse ponto o autor salienta que esta forma de religiosidade, que aproximou a
racionalidade da religião, promoveu o surgimento da hierocracia, ou seja, dos governos
exercidos por eclesiásticos e, ainda mais, o racionalismo da hierocracia, através de um
acento mais enfático nos ritos, inclusive com a “cura das almas, ou seja, a confissão do
pecado e o conselho aos pecadores” (Weber, 2008, p. 197). A religião procurou, assim,
“monopolizar a administração dos valores religiosos”. Esse fato resultou numa
desvalorização do rito, pelo menos, em relação ao quadro de funcionários políticos que
passaram a considerá-lo sem utilidade prática, resumido a mera obrigação da organização
social regida pela religião. Weber destaca aqui algo importante para a análise religiosa
diante das formações burocráticas, que, “o ritual respondeu a regras e regulamentos, e,
39
portanto, sempre que uma burocracia determinou sua natureza, a religião assumiu caráter
ritualista” (Weber, 2008, p. 199). Esse aparte talvez seja necessário ao contribuir para
uma interpretação futura sobre as relações da estrutura burocrática secular com a estrutura
eclesiástica, burocratizada ou não. Essa relação será objeto de nossa reflexão mais à
frente.
40
qual afluíam religiosamente na vida diária. Em quase todas as religiões
orientais, os virtuosos permitiram que as massas permanecessem
mergulhadas na tradição. Assim, a influência dos virtuosos religiosos foi
infinitamente menor do que a observada quando a religião empreendeu,
ética e geralmente, a racionalização da vida cotidiana. Isso aconteceu
quando a religião visou precisamente às massas e cancelou, porém,
muitas de suas exigências ideais. Além das relações entre a religiosidade
dos virtuosos e a religião das massas, que finalmente resultou dessa luta,
a natureza peculiar da religiosidade concreta dos virtuosos foi de
importância decisiva para o desenvolvimento do modo de vida das
massas. Esta religiosidade virtuosa também foi, assim, importante para a
ética econômica da respectiva religião. A religião do virtuoso foi a
religião autenticamente “exemplar” e prática. Segundo o modo de vida
que a religião prescrevia ao virtuoso, houve várias possibilidades de se
estabelecer uma ética racional da vida cotidiana. A relação entre religião
virtuosa com a vida diária de trabalho no centro da economia variou,
especialmente segundo a peculiaridade dos valores sagrados desejados
por essas religiões. (WEBER, 2008, p. 203).
Em geral, as religiões se mantiveram distantes dos assuntos relativos à vida diária,
variando, como afirma o autor, segundo seus interesses. No entanto, o distanciamento
entre os assuntos místicos e transcendentes e os mundanos sempre foi marcado por
lacunas profundas. Em sua maior parte, os atos religiosos ganharam o significado
simbólico do “sagrado”, numa clara separação entre as pessoas comuns – os leigos – e os
funcionários da fé organizada, denominados pelo sociólogo como virtuosos. Dessa
maneira, a imagem do virtuoso em relação ao povo comum, passou a ganhar destaque.
Ele tem o poder da “bênção” e a ele é atribuído o poder mágico da mística. Por isso, não
se ocupa dos trabalhos seculares, que o poderiam corromper, sobrevivendo de impostos
pagos pelo povo comum. Seu papel social é o de trabalhar pela salvação espiritual do
povo, ele é quem regulamenta o padrão ético da população, sendo seu conselheiro,
exercendo com isso uma forte influência sobre o mundo profano. “O carisma do ‘místico’
puro só serve a ele. O carisma do verdadeiro mágico serve aos outros” (Weber, 2008, p.
203).
41
sinalizar a análise sistemática de um pensador sobre o mundo ou a execução específica e
metódica de um determinado trabalho, mas deve ficar clara, sobretudo, a compreensão de
que o racionalismo deve ser analisado em suas muitas formas, em seus variados contextos,
conceitos e culturas, caso contrário a apreciação poderá ser equivocada ou imprecisa.
Por isso, Weber entende que essa influência religiosa gere a prática comum das
sociedades modernas, racionalizando a conduta da vida, sobretudo no que se refere ao
reconhecimento da autoridade. Isso se dá quando ela produz certo tipo de ética
relacionada à maneira de estabelecimento da legitimidade da autoridade, ao valorizar
somente o que lhe é peculiar, reconhecendo como importante apenas o valor moral que
autentica uma determinada autoridade diante de um público ou contexto. O teórico
considera que esses valores estabelecem um parâmetro de referência que legitima ou
desconsidera a autoridade a partir da proximidade ou do distanciamento que a liderança
tiver deles. Weber denomina esses valores como tipos puros, ideais para aquele
determinado nicho social e, portanto, reconhecidos e satisfatórios para analisar e valorar
aquela determinada autoridade.
43
sociológico que demonstra a demanda administrativa moderna: sendo “Dominação
Legal”, “Dominação Tradicional” e “Dominação Carismática”.
Aquele que dá ordens é categorizado como “superior”, porém, seu poder de mando
está restrito a um determinado ambiente, que lhe é designado pela norma. Fora dali não
há mando, pois este está restrito ao espaço de “competência concreta”, ligado a um fim e
a uma utilidade circunscrita. Por isso, da mesma maneira que o subalterno, seu cargo
também o limita a um espaço distinto, com um fim determinado pela regra.
44
probabilidade de ascender também está determinada pelo estatuto e reconhecida pela
capacidade de exercer os afazeres estabelecidos pelas regras. O trabalho é impessoal, “em
virtude do dever objetivo do cargo. Seu ideal é: proceder sine ira ET Studio, ou seja, sem
a menor influência de motivos pessoais e sem influências sentimentais de espécie alguma,
livre de arbítrio e capricho e, particularmente, ‘sem consideração da pessoa’, de modo
estritamente formal segundo regras racionais” (Cohn, 2008, p. 129). A obediência
também é regimental, determinada pelos níveis hierárquicos e estabelecida com critérios
específicos.
45
referência, que garante e sustenta as relações funcionais de uma determinada estrutura
empresarial ou administrativa. Sua distinção primária seria a impessoalidade e a
hierarquia, estando, processos e demandas, sujeitos à diretriz de regras preestabelecidas
por estatuto ou contrato. Esse tipo de autoridade não concede privilégios a seus membros,
por isso, sendo comandantes e comandados regidos pelas regras que lhes impõem
sistemas e ações. Diante disso o caráter da autoridade é garantido e determinado pela
regra e não por critério pessoal, assim como a submissão, regida pela obrigação do
cumprimento da norma e pelo desempenho segundo o regulamento.
46
comandante e comandados, não obstante a valorização de procedimentos de capacidade
ou disciplina.
47
considerado sagrado. Uma infração delas resultaria em males mágicos
ou religiosos. Lado a lado com este sistema há um setor de livre
arbitrariedade e preferência do senhor, que em princípio julga apenas em
termos de relações ‘pessoais’, e não ‘funcionais’. Nesse sentido, a
autoridade tradicionalista é irracional (WEBER, 2008, p. 208).
A constatação de Weber de um tipo de autoridade irracional, ligada à tradição,
contrapõe o arquétipo burocrático estudado anteriormente, sobretudo porque no modelo
tradicional, questões como o privilégio e os vínculos de afinidade podem suplantar
valores como disciplina e competência. A autoridade tradicional patriarcal, antes de tudo
valorizará a fidelidade e a boa vontade do serviçal, não obstante, seu compromisso com
seu dever funcional. Esse padrão de autoridade nasce no interior das famílias, na relação
de pais e filhos, de parentes próximos, em que a influência do provedor gere as regras, os
direitos e os deveres de todos os membros. Portanto, os valores pessoais, de preferências
e afinidade é que estabelecem os critérios. Cohn entende que essa questão tem profunda
importância, uma vez que a ausência dessa norma legal, regimental, que baliza e orienta
comportamentos e funções, influenciou intensamente, por exemplo, o sistema econômico
e jurídico da sociedade.
48
formalidade ou pela clareza das leis, mas pela sensibilidade e comando de quem lidera,
numa ordem preestabelecida pela tradição. Nesse ponto, vale salientar que a dominação
tradicional se divide em dois tipos: a tradicional patriarcal – que quando se instala como
regime político é chamado de patrimonial, de regime patrimonialista – e a tradicional
estamental, mais conhecida como feudal. A primeira se legitima pela piedade – afeto e
devoção – e a segunda pela lealdade – uma espécie de contrato pessoal, que antecede o
contrato social.
49
Cohn aponta como tipos puros desse tipo de autoridade, “a autoridade do profeta,
do herói guerreiro e do grande demagogo” (Cohn, 2008, p. 135). A estrutura
administrativa formada por essa liderança está ligada a critérios do carisma e da vocação
pessoal, desconsiderando questões como preparo profissional ou competência. Isso
remete ao cenário do apóstolo que é convocado pelo senhor ou ao missionário que, em
nome da obediência, se submete à determinação do líder. Apesar de se tratar de nomeação,
a autoridade carismática pode se servir de regras e estatutos, contudo, o senso balizador
desse tipo de administração é pautado pela “revelação ou a criação momentâneas, a ação
ou o exemplo, as decisões particulares, ou seja, em qualquer caso, – medido com a escala
das ordenações estatuídas – o irracional” (Cohn, 2008, p. 135). Com isso, contrariamente
ao tipo de dominação legal, que elabora todas as ações a partir da dialética racional,
demonstrada através de posturas e procedimentos, o tipo carismático se conduz pela
imprecisão de eventos que ocorrem de acordo com a necessidade e do interesse de manter
a legitimidade de sua autoridade.
50
de fé e sinal de compromisso espiritual, por esse motivo, cabe o castigo, configurando o
caráter dominador e autoritário desse tipo de autoridade.
51
determinadas circunstâncias, possa transparecer um caráter autoritário e personalista. Ao
contrário da autoridade legal que é regida por estatutos, regras e convenções, a liderança
carismática necessita comprovar invariavelmente o carisma que lhe garante o poder, sob
pena de perdê-lo. A resposta permanente ao anseio comunitário representa este comando
conjunto que se movimenta entre as demonstrações de carisma e o reconhecimento
comunitário de que, não somente a vontade de Deus, mas também o consenso será
respeitado. O antagonismo se dá pela mútua dependência entre comandantes e
comandados, já que ambos, indissociavelmente, detêm o poder.
52
neste caso à dos estamentos. Também reconhecemos formas, muito
importantes que se difundiram universalmente através da História, como
a estrutura feudal do domínio. Aspectos importantes dessas estruturas,
porém, não podem ser classificados tranquilamente sob qualquer das três
formas que distinguimos (WEBER, 2008, p. 210).
Weber enfatiza a ocorrência de dois casos específicos, a saber: o “estamento” e a
“situação de classe”. Ele define estamento por “um grupo socializado através de seus
estilos de vida especiais e noções especificas de honras, e as oportunidades econômicas
que monopoliza legalmente. Um estamento é sempre um tanto socializado, mas nem
sempre organizado em associação” (Weber, 2008, p. 210). Para o autor, além da
concepção dos tipos de dominação, é indispensável perceber a existência de agregações
provenientes do que ele chama de “estilos de vida” e “noções e honra”, ou seja, por
questões ligadas a outros valores que não somente os sociais, como religiosos, filosóficos,
humanitários, ou que envolvam estima mútua.
Talvez, neste momento, seja oportuno salientar que a maior atenção de Max
Weber se volta para a questão do poder e seus desdobramentos. Neste sentido, Kuper
53
afirma que “la inquietud por explicar el ejercicio del poder y la dominación social
constituye una preocupación constante en el pensamiento de Max Weber. “Sus
planteamientos sobre la toma de deciciones y sobre los motivos que sustentan las diversas
formas de autoridad” (Kuper,1994, p. 17), enfatizando que em toda a obra do sociólogo
é possível reconhecer a sociologia da dominação como uma referência, desenvolvida
sempre em relação a outras sociologias, como a religiosa, econômica e jurídica.
54
ideais apresentados, mas na utilização deles como “pontos de orientação conceituais”
capazes de encaminhar a análise de certas situações sociais.
55
Nosso trabalho, portanto, tratará dessa dimensão imprecisa das composições
sociais, recorrendo ao manuseio das elaborações sociológicas, como sugere o autor.
Dentro de cenários distintos serão estas composições terminológicas necessárias para
determinar com maior precisão os quadros formados pelos movimentos estruturais de
cada ambiente. Faz-se necessário, aqui, apelar para Cohn (2008, p. 128), ao se referir à
ocorrência de constelações de interesses, ao discorrer sobre a probabilidade da obediência
no contexto da dominação. Da mesma maneira, haveremos de visualizar as diversas
possibilidades de nossa tese a partir da perspectiva de constelações, que se movem
constantemente e nem sempre se formam da mesma maneira. Esse é o parâmetro
necessário para a análise sociológica das conjunturas de dominação, objeto de nossa
análise, sobretudo por se tratar de uma relação que entendemos ser entre dois tipos puros
e distintos que se dispõem conjuntamente em algumas situações, a saber, a Igreja
Metodista e suas Instituições de Ensino.
56
CAPÍTULO 2
Características da Igreja Metodista e das Instituições de
Ensino Metodistas brasileiras a partir do Plano de Vida e
Missão e das Diretrizes para a Educação da Igreja metodista
– uma leitura Weberiana
57
valores são elaborados pessoal e comunitariamente (interna e externamente) a partir da
relação do indivíduo com o meio em que vive:
2.1 – Igreja
58
A ética econômica tem, decerto, uma grande margem de autonomia,
certos fatores de Geografia e Historia determinam essa medida de
autonomia no mais alto grau. A determinação religiosa da conduta da
vida, porém, é também um e – note-se isso – apenas um dos elementos
determinantes da ética econômica. É claro que o modo de vida
determinado religiosamente é, em si, profundamente influenciado pelos
fatores econômicos e políticos que operam dentro de determinados
limites geográficos, políticos, sociais e nacionais. Iríamos perder-nos
nessas discussões, se tentássemos demonstrar essas dependências em
toda a sua singularidade. Só podemos, no caso, tentar retirar os elementos
diretivos na conduta de vida das camadas sociais que influenciaram mais
fortemente a ética prática, as características que distinguem uma ética das
outras; e, ao mesmo tempo, foram importantes para a respectiva ética
econômica.
De forma alguma devemos focalizar apenas uma camada. As camadas
que são decisivas na formação dos aspectos característicos de uma ética
econômica podem variar no curso da História. E a influência de uma
camada apenas jamais é exclusiva. Não obstante, em geral, podemos
determinar as camadas cujo estilo de vida foram pelo menos
predominantemente decisivos para certas religiões (WEBER, 1982, p.
190).
Por essa razão, a leitura interessada em distinguir um só ponto desse panorama
diverso e complexo, pouco alcançará sua realidade particular. Importante ainda é salientar
que na dinâmica da movimentação social, as camadas influenciam e são influenciadas
mutuamente, transformando e sendo transformadas. Disso a necessidade de compreender
momentos e camadas, histórica, geográfica e socialmente, visando localizar situações
específicas. Desta maneira, para uma análise que pretenda caracterizar a Igreja Metodista,
faz-se necessário referenciá-la historicamente como herdeira do cristianismo e da Igreja
Anglicana Inglesa, iniciada como um movimento em 1738, por John Wesley, pastor
anglicano, que desenvolveu métodos de disciplina pessoal e cultivo espiritual. Com o
decorrer do tempo, este movimento cresce e se estrutura como denominação religiosa nos
Estados Unidos, criando a Igreja Metodista que chega ao Brasil em 1867 com os primeiros
missionários americanos – vindos do sul dos Estados Unidos da América do Norte – que
se instalam no litoral fluminense. Em 02 de setembro de 1930, a Igreja Metodista do
Brasil torna-se autônoma da igreja americana. Para tanto, caracterizar uma Igreja que
desde sua implantação no país se expandiu por todo o território nacional e encontrou lugar
nas diversas regiões e culturas, é tarefa complexa. Contudo, sua estrutura e organização
documental dão condições de uma apreciação plausível já que a existência de uma única
“Constituição” possibilita clareza sobre questões administrativas e doutrinárias, tornando
possível a compreensão do que seria, na concepção weberiana, um “tipo puro”, a partir
de documentos aprovados em seus Concílios, portanto, com a legitimidade necessária
para expressar sua linha teológica, filosófica e burocrática.
59
A Igreja Metodista brasileira sempre foi pautada por referências documentais que
regeram legalmente suas ações. Isso se dá pela herança da igreja americana – Igreja
Metodista Episcopal do Sul, nos Estados Unidos da América – que aprovou a autonomia
da Igreja brasileira em 02 de setembro de 1930, ocasião em que foi elaborada e aprovada
a primeira “Lei Ordinária” da Igreja Metodista brasileira”. Desde então os “Cânones” da
Igreja Metodista – nome dado ao documento que referencia regimentalmente todas as
áreas e ações da Igreja, especificando doutrinas, missão, governo, administração,
organização, realização dos Concílios, das Ordens ministeriais, sobre como deve ocorrer
a estrutura e o andamento das Igrejas Locais, sobre a conduta dos Membros Leigos e
Clérigos, de sua organização jurídica, das representações legais, dos critérios e normas a
serem seguidos e das vigências de cargos e atribuições. Os Cânones estabelecem como
“elementos básicos” para sua caracterização, sete aspectos principais, a saber: 1.
Doutrinas do Metodismo; 2. Costumes do Metodismo; 3. Credo Social; 4. Normas do
Ritual; 5. Plano para a Vida e a Missão; 6. Diretrizes para a Educação; 7. Plano Diretor
Missionário, advertindo que “em nenhuma circunstância, qualquer Igreja Local, Órgão
ou Instituição pode planejar, decidir ou executar, ou, ainda, posicionar-se contra os
elementos indicados neste artigo, porque deles decorre a característica metodista”
(Cânones, 2012, p. 36). Pode-se entender que o compêndio desses documentos
compreende o “espírito” da Igreja, seu pensamento e modo de ser, portanto, referências
razoáveis para a configuração de um “tipo ideal”. Contudo, consideramos que uma análise
abrangente, contemplando a totalidade dessas normas e procedimentos pouco
acrescentará à nossa elaboração, pela riqueza de particularidades regimentais reguladoras
das instâncias, funções, obrigações e direitos de cada setor. Dessa forma, elegeremos
como referencial de nossa análise um documento que sintetiza um “espírito”, uma
conduta, através de motivações filosóficas e ideológicas da Igreja, o “Plano para a Vida
e a Missão”.
60
sobre a missão da Igreja e da Educação já vinham sendo realizadas através dos “Planos
Quadrienais” da Igreja e de outros documentos importantes como o “Credo Social da
Igreja Metodista”. Lazier (2012) aponta alguns documentos anteriores que sinalizaram o
momento da criação destes: O Credo Social; As Regras Gerais; O 1º Plano Quadrienal –
1975 – 1978; O 2º Plano Quadrienal – 1979 - 1982.
61
analistas sociais chamaram de “a década perdida”. Essa efervescência se
reproduzia em todo o continente latino-americano.
Nesse contexto de insatisfação, polarização política, social, teológica,
religiosa etc., a Igreja foi convocada a fazer uma leitura e releitura de sua
tarefa missionária, através de suas igrejas locais, instituições
educacionais, sociais, órgãos (p.48).
Pucci (2003) considera o PVM um “divisor de águas” para a Igreja Metodista e
sua missão, ao declarar de maneira incisiva seu desejo por autonomia e pela construção
de uma teologia brasileira. “O documento Vida e Missão representa um marco histórico
no interior da Igreja Metodista brasileira. É um grito de liberdade contra o domínio da
cultura alienígena, imposta historicamente às comunidades e às instituições formativas.”
(p. 36).
Com esta ênfase na missão, ou seja, em sua efetiva atuação na vida das próprias
comunidades metodistas e da sociedade, o documento reconhece que a espiritualidade
preconizada pelo metodismo não se restringe somente ao cultivo de uma conduta piedosa
e mística, mas também ao envolvimento concreto nos problemas e tensões gerados no
exercício social do país. “Certamente, aqui estamos diante da necessidade de revisar
profundamente nossa prática de piedade pessoal e a necessidade de rever nossos atos de
misericórdia, entendidos como ação concreta de amor a favor dos outros. Esses são os
dois caminhos que traduzem a visão de Wesley sobre a santificação na Bíblia.” (Cânones,
2012, p. 80). Noutra direção, as discussões conciliares que resultaram no PVM
ressaltaram que a missão deve agir como instrumento de mediação e unidade diante da
diversidade natural, tanto no interior da Igreja, quanto externamente, expressa na
62
multiplicidade de ações requeridas a ela, quer pelo trabalho efetivamente eclesiástico,
quer por sua atuação social e comunitária.
É o esforço da Igreja para que na Terra seja feita a vontade do Pai. Isso
acontece quando, sob a ação do Espírito Santo, nos envolvemos em
alternativas de amor e justiça que renovam a vida e vencem o pecado e a
morte, conforme a própria experiência e vida de Jesus Cristo [...]
Participar da solução de necessidades pessoais, sociais, econômicas, de
trabalho, saúde, escolares e outras fundamentais para a dignidade
humana. Propugnar por mudanças estruturais da sociedade que permitam
a desmarginalização social dos indivíduos e das populações pobres.
(CÂNONES, 2012, p. 99 e 100).
Com isso, a Igreja sinaliza a intenção de se libertar de um espaço restrito e atuar
na sociedade de maneira prática:
2
Herança Wesleyana é uma referência à prática dos princípios e regras instituídos por John Wesley,
fundador do Metodismo.
63
Assim, aquele Concílio priorizou, registrando no documento, o envolvimento da
Instituição Igreja Metodista em situações de crise, onde a Igreja passa a agir numa
proposta transformadora e humanitária, que deveria estar inserida nos diversos contextos
para se conhecerem e se entenderem processos e relações. Para tanto, ele conclama a
Igreja para:
3
Os documentos estudados, PVM e DEIM utilizam o termo “Educação” para se referir à sua missão
educacional, caracterizada nas instituições de Ensino da Igreja Metodista. Assim, quando utilizado, ele se
reportará a este sentido e aplicação.
4
Quando se utiliza o termo “Igreja” no contexto de “A Igreja entende”, “A Igreja decidiu”, queremos nos
referir às decisões conciliares que regimentam certo direcionamento para a vivência eclesiástica e
educacional da Igreja Metodista.
64
- analisar os fundamentos bíblico-teológicos das doutrinas cristãs
enfatizadas pelo metodismo, à luz da sociedade brasileira;
- preparar obreiros para exercer ministérios em áreas especiais;
- manter o ministério pastoral e leigo atualizado para a Missão;
- aprofundar a pesquisa teológica no contexto brasileiro e latino-
americano;
- integrar a Educação Teológica em um programa nacional de educação
teológica (CÂNONES, 2012, p. 110).
A “Educação Secular” é compreendida pela Igreja como uma ação que oferece
formação qualificada em seus vários níveis de maneira a promover consciência crítica de
forma que seus agentes sejam capacitados para auxiliar na transformação da sociedade na
perspectiva cristã. O PVM estabelece como objetivos da Educação Secular Metodista:
Depois de três décadas, o PVM continua vigente para a Igreja Metodista desde
sua elaboração em 1982, como parte de sua “carta magna”, os Cânones. Esse fato tem o
importante significado de considerar seus propósitos atuais e de continuar sendo uma
diretriz filosófica e teológica para o metodismo brasileiro. Nesse espírito, por ocasião dos
trinta anos do PVM, o departamento de Comunicação da Sede Geral da Igreja Metodista
entrevistou dois professores/pastores que fizeram parte da elaboração do documento e
participaram ativamente de seu processo de aprovação. Os professores Ely Eser Barreto
Cesar e Rui Josgrilberg, deram suas impressões sobre o teor do texto, além de analisar
sua contextualização na Igreja contemporânea.
65
Barreto Cesar lembra que a espiritualidade wesleyana5 está diretamente ligada à
ação prática, expressa pelo que John Wesley chamava de “atos de piedade” e “obras de
misericórdia”, relacionados à vivência mística e à atuação prática de auxílio aos
necessitados:
5
Atribuída à tradição iniciada por John Wesley.
66
oferecer. Isso requer um relacionamento com a comunidade em geral que vá além dos
limites da religiosidade institucionalizada. O professor afirma que:
67
aprovação e implantação de “dons e ministérios”6. No entanto, ele reconhece que, na
prática:
(...) o Plano para Vida e Missão está sempre como um alerta para as
igrejas que se acomodam e vivem a missão mais voltada para si. O Plano
é sempre um alerta para mostrar que a missão de Deus é no mundo e não
internalizada. Neste sentido, há muitos aspectos positivos. Mas, é claro,
o documento ficou longe daquilo que se pensou que pudesse realizar na
vida da igreja (IGREJA METODISTA, 2012).
Josgrilberg acredita que um dos obstáculos para esse distanciamento entre o que
se pretendia com o documento e o que se obteve com ele, foi o fato de que a formação do
metodismo brasileiro se deu pelos missionários americanos, de acordo com uma tradição
pietista e puritana, caracterizada por uma espiritualidade mística, litúrgica, centrada na
celebração e no templo. O PVM, por sua vez, se baseou no metodismo inglês e na tradição
dos primeiros metodistas, voltada ao evangelho prático, humanista e social:
A gente percebeu que Wesley não era o pietista dos americanos, ele tinha
um perfil mais inglês. Isto fez que com que o próprio Plano para Vida e
Missão tivesse uma introdução que reforçava um novo perfil wesleyano.
Mas, foi difícil, pois a formação deixada pelos americanos era muito
pietista. O Plano talvez não tivesse a intenção clara de reforçar a tradição,
nem foi voluntariamente assumido nesta direção, mas acabou refletindo
esta preocupação de propagar uma teologia wesleyana mais encarnada
(IGREJA METODISTA, 2012).
Outro fator, levantado por Josgrilberg é que a Igreja instituída, através do Colégio
Episcopal7, não assumiu como deveria a responsabilidade de efetivar o PVM. “Faltou
realmente a Área Geral tomar a frente e publicar o Plano com uma palavra forte do
Colégio Episcopal, símbolo da igreja. Faltou isto [...] Infelizmente parte da igreja não
presta muito a atenção para os seus documentos” (Igreja Metodista, 2012). Esse fato,
segundo o professor, descaracterizou o plano e ao longo do tempo deixou-se perder da
própria essência teológica metodista.
6
Dons e Ministérios foi um novo modo de organização do serviço desenvolvido pela membresia da Igreja,
com a substituição do modelo de cargos e comissões.
7
Colégio Episcopal é a reunião colegiada dos bispos metodistas brasileiros, que têm a responsabilidade de
gerir a Igreja em todas as suas áreas.
68
A Igreja Metodista cai vítima da fronteira com outras igrejas e não sabe
discernir qual a melhor influência. Hoje eu conheço igrejas pentecostais
que estão bem mais seriamente envolvidas profeticamente com a vida
social do que a Igreja Metodista. E a igreja, acho, que não percebe isto.
Prefere-se caminhar em uma direção – que é administrar a experiência
teológica – pregar o que as pessoas querem ouvir, uma pregação que
parece mais com autoajuda e que é contrária a mensagem bíblica. Temos
que discernir bem o nosso quadro religioso e não podemos deixar que os
pastores agarrem aqui e ali influências que vão facilitar o ministério deles
num momento (IGREJA METODISTA, 2012).
69
implantados esses projetos, expressa em recomendações pontuais para a realização de
análises sociológicas, econômicas, visando “conhecer o bairro, a cidade, o campo, o país,
o continente, o mundo e os acontecimentos que os envolvem, por que e como ocorrem e
suas consequências” (Cânones 2012, p. 103).
8
A Igreja entende como Educação Cristã, o preparo informal e leigo oferecido em estudos destinados às
suas comunidades. A Educação Teológica se refere à formação Acadêmica de Pastores e Leigos na área
Teológica Científica.
70
da ação, uma espécie de existência religiosa incógnita no mundo. Ele se
coloca à prova contra o mundo, contra sua ação no mundo. O ascetismo
deste mundo, pelo contrário, prova-se através da ação. Para o asceta deste
mundo, a conduta do místico é um gozo indolente do eu; para o místico
a conduta do asceta (voltado para o mundo) é uma participação nos
processos do mundo, combinada com uma hipocrisia complacente. Com
esse “fanatismo abençoado”, habitualmente atribuído ao puritano típico,
o ascetismo deste mundo executa as resoluções positivas e divinas cujo
sentido final continua oculto. O ascetismo executa tais resoluções como
dadas nas ordens nacionais da criatura, ordenadas por Deus. Para o
místico, pelo contrário, o que importa para sua salvação é apenas a
compreensão do significado último e completamente irracional, através
da experiência mística. As formas pelas quais ambos os modos de
conduta fogem do mundo podem ser distinguidas através de confrontos
semelhantes (WEBER, 2008, p. 228).
Portanto, a verificação da transcendência como orientação de conduta, torna a
religião, pelo seu sentido místico supramundano, um espaço típico do carisma, onde
normas e regimentos “humanos” podem e devem ser suplantados pelos sinais do “dom
divino”, ou da ligação espiritual com a irrealidade do divino. Esse caráter da religiosidade
faz com que a existência de uma liturgia ou de uma homilia transforme a humanidade do
líder na representação de Deus. Da mesma maneira, o carisma é relacionado ao poder
privilegiado de um contato direto com a irrealidade da vida que se torna poder na pessoa
do líder. A sociedade religiosa convive com a dicotômica relação com o mundo real, que
está baseada, como afirma Weber, numa esfera metafísica. Apesar de ser mística, essa
esfera não é irracional, pelo contrário, ela dispõe de outra racionalidade, que é própria e
abrangente. Por isso, o místico não está submetido somente à moral mundana, mas
também à do carisma de uma sociedade específica, no caso, a religiosa.
71
na submissão às leis e normas burocráticas de conduta, ela representa não somente o
preparo para a convivência, mas um meio de obter ascensão e vantagens.
72
no Brasil como reconhecimento de sua vigência legal e seu valor prático na condução e
no desenvolvimento destas instituições.
Para tanto, julgamos necessária a percepção das motivações, ensejos e anseios que
o levaram até a aprovação pelo XIII Concílio Geral da Igreja Metodista em 1982 na cidade
de Belo Horizonte.
9
BOAVENTURA, Elias. sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe2/pdfs/Tema4/4106.pdf - acesso em
07/02/2014
73
progresso de instituições particulares no ensino superior e, consequentemente, as
Instituições Metodistas de Educação. “A Igreja Metodista aproveitou os flancos abertos
e entrou fortemente neste nível de ensino, abrindo diversos cursos em suas instituições
em Piracicaba, Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre e São Bernardo do Campo”
(Boaventura, p.4).
Embora esse pequeno relato histórico, por um lado, não abranja todo o contexto
político e ideológico daquele momento, pode ilustrar o ambiente que precedeu o
surgimento do DEIM10; por outro lado, há de se considerar que essas crises promoveram
outros encaminhamentos através de documentos que passaram a nortear a Igreja
Metodista. Lazier (2012) destaca o Credo Social da Igreja Metodista como um dos mais
proeminentes. Apontado como a doutrina Social da Igreja Metodista, o Credo Social,
aponta para o entendimento de responsabilidade da Igreja e sua membresia diante das
questões sociais brasileiras. Simboliza o que seria o código doutrinal social de uma
instituição religiosa, no qual se contempla a visão da Igreja frente à sociedade e sua
responsabilidade religiosa de responder às suas demandas. “O Credo Social apresenta o
que poderia ser designado de doutrina social, onde se evidenciam aspectos da
compreensão e da leitura que a Igreja Metodista tem do mundo e da sociedade e a sua
responsabilidade na imersão no contexto social”.
(...) direitos iguais para todos; justiça para todos; justiça para todos em
todas as camadas sociais; cuidado com a família; abolição da exploração
de crianças através do trabalho; oferecimento de uma educação que
propicie o desenvolvimento das crianças; regulamentação do trabalho
para as mulheres; proteção do indivíduo e da sociedade contra os males
da bebida alcoólica e tóxicos, bem como conta os prejuízos causados
pelo comercio dessas substâncias e da prática do jogo e da prostituição;
sustento para o operário em sua velhice ou em caso de invalidez ou
desemprego; descanso semanal e horas de trabalho razoável; salário que
10
Para uma compreensão mais aprofundada do contexto sugerimos a leitura de “Antecedentes das
Diretrizes para a Educação na Igreja Metodista” do Prof. Josué Adam Lazier, constante em nossa
bibliografia.
11
Cânones é o documento que normatiza a Igreja Metodista do Brasil em todas as suas dimensões,
eclesiástica, missionária, educacional e administrativa.
74
sustente a família do trabalhador; repúdio à guerra; direito de voto
(CÂNONES, 1934).
Essa versão se manteve até 1960, quando a Igreja incluiu ao documento sua
preocupação com justiça social, política e a economia. “Para a época era um documento
de grande abrangência e de uma abertura no interior da Igreja metodista, no sentido de
conceber a sua missão de forma contextualizada, profética, sinalizadora da vida,
educativa e formadora da cidadania” (Lazier, 2012, p. 30). Esse documento tem base nos
primórdios do metodismo e enaltece de maneira evidente um comprometimento histórico
e teológico de uma conduta responsável e cidadã, na promoção de uma sociedade mais
justa e fraterna. Lazier, citando os Cânones, salienta atenção dada à Educação, indicando
que ela deve remeter a um programa que desperte no indivíduo a consciência de suas
relações com Deus, com o meio ambiente, a família, a Igreja e o bem estar da sociedade.
75
Pode-se considerar o DEIM como resultado do meio, de num ambiente de debates
e tensões provocados pelo desejo de entender quais os verdadeiros papeis de uma Igreja
preocupada com temas como justiça, direito e dignidade de vida. Portanto, o documento
não pode ser considerado somente como algo que rege procedimentos acadêmicos, ou
como um referencial pedagógico, mas como sinal da ação missionária da Igreja Metodista
por meio da Educação. Com esse pressuposto, passaremos para a análise do documento,
conscientes de que ele não acontece por acaso na vida da Igreja, mas como consequência
de uma reflexão sobre seu sentido mais profundo.
12
O Expositor Cristão é um jornal tradicional da Igreja Metodista brasileira, com circulação nacional para
membros da Igreja.
76
que a Educação deve agir “como instrumento de transformação social, ela é parte
essencial do envolvimento da Igreja no processo da implantação do Reino de Deus.”
(Cânones, 2012, p. 129). E acrescenta que a Igreja é comunidade educadora em todas as
suas ações, seja através da liturgia ou da homilia numa celebração ou em sua ação secular,
numa sala de aula:
77
- Exercitem o senso e a prática da justiça e solidariedade;
- Alcancem a sua realização como fruto do esforço comum;
- Tomem consciência de que todos têm direito de participar de modo justo
dos frutos do trabalho;
- reconheçam que, dentro de uma perspectiva cristã, útil é aquilo que tem
valor social (CÂNONES, 2012, p. 136).
A partir desses pressupostos, a Igreja estabelece suas diretrizes para a Educação
Metodista brasileira, ressaltando que:
78
1 - O ensino formal praticado em nossas instituições não se limitará a
preparar para o mercado de trabalho, mas, além disso, igualmente, deverá
despertar uma percepção crítica dos problemas da sociedade.
2 - As instituições superarão a simples transmissão repetitiva de
conhecimentos, buscando a criação de novas expressões do saber, a partir
da realidade e expectativa do povo.
3 - Terá prioridade a existência de pastorais escolares que atuem como
consciência crítica das instituições, em todos os seus aspectos, exercendo
suas funções profética e sacerdotal dentro e fora delas.
4 - Toda prática das instituições se caracterizará por um contínuo
aperfeiçoamento no sentido de democratizar cada vez mais as decisões.
5 - Os órgãos competentes farão com que estas diretrizes sejam
cumpridas em suas instituições.
6 - As instituições participarão em projetos da Igreja compatíveis com
suas finalidades estatutárias atendendo aos fins da Missão (CÂNONES
2012, p. 141 e 142).
Nossa observação é que a Igreja Metodista, através do DEIM, aponta para um
modelo de Educação efetivamente confessional, que se faz coerente com a teologia
metodista e com a teologia bíblica. Também, estabelece uma ação missionária atenta a
valores culturais e regionais, através de ações relacionadas com as pessoas e sua condição
de vida. Certamente, esse documento, que é o referencial metodista da conduta educativa,
contém o valor necessário para o intento de caracterizar a Educação Metodista
brasileira13.
13
O termo “Educação Metodista brasileira” se refere ao complexo de escolas, institutos de ensino superior
e universidades mantidas pela Igreja Metodista do Brasil. Entendemos a importância desta observação já
que a Igreja Metodista, mundialmente, dispõe da mesma forma, de instituições de ensino, sendo o nosso
objeto de análise, somente o contexto brasileiro. Apesar de considerar a terminologia “Educação”
demasiadamente abrangente para se referir às instituições, será utilizada seguindo o tratamento dado pela
própria Igreja em seus documentos ao se referir ao assunto.
79
propriedade como parâmetro documental do nosso interesse, ainda por sua atualidade,
estando vigente, aprovado no último Concílio Geral da Igreja Metodista no Brasil 14.
14
19º Concílio Geral
80
Outra evidência demonstrada pelo documento é a de que o modelo educacional
metodista brasileiro é filantrópico, no sentido de entender a educação como um meio de
promoção de igualdade social e de transformação da forma e condição de vida:
Lopes (2012) lembra que o envolvimento com as questões sociais pela educação
metodista tem relação com seus mais antigos princípios. Ele observa que antes de haver
uma escola metodista, Wesley15 reiterava o compromisso social como um dever de quem
professasse o cristianismo.
15
John Wesley, pastor anglicano e professor universitário, considerado o precursor do movimento
metodista que viria a formar a Igreja Metodista.
81
Outro aspecto é que o DEIM estabelece que cada Instituição de Educação
Metodista deve dispor de Pastoral Universitária ou Escolar16 com a finalidade de atuar
com coerência, cumprindo as determinações da Igreja Metodista, a saber: uma atuação
que procure, em todas as suas ações, agir “como consciência crítica [...] em todos os seus
aspectos, exercendo suas funções profética e sacerdotal dentro e fora delas” (Cânones
2012, pg. 141), ou seja, estimulando – em devocionais, em participações nos órgãos
colegiados, em reuniões de direção, formaturas, acolhimento de funcionários ou em cultos
– uma reflexão profunda sobre os valores do Reino de Deus, atenta à diversidade
acadêmica, social e religiosa que esses ambientes contemplam. Também no exercício
pastoral de acompanhamento a pessoas problematizadas por doenças, crises familiares,
que estejam enlutadas ou com dificuldades acadêmicas e econômicas, bem como na
participação de Conselhos internos ou externos ligados aos direitos humanos ou à
promoção da vida:
16
As Pastorais Universitárias e Escolares são formadas por Pastores e Leigos nomeados pela a Igreja
Metodista para atuar nas Instituições de Educação fomentando espiritualidade e consciência crítica.
82
relembrarmos nesse contexto o entendimento de Weber sobre carisma. Ele o considera
além do trâmite organizacional das estruturas formais, relacionado à variedade de
sentidos e formas, não limitado e não dependente da orientação de estatutos e convenções.
Para o autor, é nesse espaço que reside o carisma, na transcendência da estrutura. Esse
apontamento não isenta a importância ou a existência das estruturas, mas localiza um
campo à parte, que está desassociado do poder organizacional. Desta forma, surge um
novo espaço de autoridade, que não se localiza numa estrutura hierárquica ou se adéqua
a uma lógica metódica, tampouco se vincula à retribuição ou pagamento, porém, se
orienta por fatores incomuns, considerados sobrenaturais, à parte, ou além do ambiente
burocrático convencional. Diferentemente da burocracia, o carisma não se norteia por
balizas estáticas, como vínculos, estatutos, obrigações, ordens ou nomeações. Não há,
nesse conceito, a perspectiva burocrática, pois não está referenciado por alguma norma
ou orientação, antes, pauta-se por objetivos puros, segundo uma virtude própria. Seu
critério de avaliação está relacionado ao reconhecimento e aceitação do que diz e faz, e é
caracterizado pela condição de atrair seguidores:
83
Ao mesmo tempo, Vida e Missão é a afirmação de um compromisso com
os pobres, com os oprimidos, com a igreja local, sob a inspiração
evangélica. Em um grito de liberdade contra os valores capitalistas
dominantes: individualismo; espírito de competição; utilitarismo;
assistencialismo etc. nesse sentido, o documento constitui em uma crítica
persistente e funda ao sistema econômico-político de então, com o
propósito de “denunciar por palavras e pela prática todas as forças e
instrumentos que oprimem e destroem a vida humana”. É a presença da
voz profética no interior da Igreja. Simultaneamente, é a afirmação de
valores outros a serem construídos como realização de uma promessa
primeira presente desde sempre na ideia de Cristianismo: solidariedade,
o poder como serviço, justiça social. Assim diz o documento: “(...)
fazemos uma escolha clara pela vida, manifesta em Jesus Cristo, em
oposição à morte e a todas as forças que a produzem”.
O Vida e Missão expressa, nos inícios dos anos 80, um movimento de
renovação no interior da Igreja Metodista brasileira. Ao contrário dos
movimentos carismáticos e/ou pentecostais, apresenta um caráter
progressista. Configura-se como um indicativo de retorno ao
Cristianismo primitivo, ao início do movimento inovador de John Wesley
no interior da Igreja anglicana e, teologicamente, se assemelha a
movimentos outros, cristãos ou não, que, naquele momento, apontavam
a direção de uma sociedade justa e autônoma. (PUCCI, 2003, p. 36).
Nesse ponto, entendemos necessária a lembrança de que o PVM e o DEIM,
surgem no mesmo contexto, inspirados pelo ambiente descrito por Pucci. Isso comprova
o caráter inovador de um sistema educacional que se propõe ao movimento natural da
vida e da ciência, adequado aos desafios contemporâneos e disposto a percebê-los como
realidade prática da elaboração acadêmica. Pode-se afirmar que:
84
ela. Diante desta figura “santificada” pela tradição, é inaceitável modificar as normas, já
que estas são atribuídas pelo reconhecimento e pelo direito. O poder, exercido pelo direito
de dignidade pessoal, se pauta pelo critério pessoal e sensitivo do líder. Esse modelo
requer uma constante averiguação moral e ética da tradição e do reconhecimento pessoal
do líder.
(1) supor que apenas um único tipo possa ser construído para cada objeto,
esquecendo-se de que, afinal, o tipo é constitutivo do objeto e de que,
para cada segmento da realidade, tantos tipos podem ser construídos
quantos forem os interesses da pesquisa envolvidos;
(2) operar com um tipo isolado, esquecendo-se de que se trata de
instrumento caracterizador e comparativo útil para formular hipóteses e
de que isso implica operar com pelo menos dois deles, para poder
estabelecer as relações hipotéticas entre fenômenos relevantes para o
caso;
(3) confundir o conceito de tipo com o de modelo, ou seja, tomá-lo como
se fosse um sistema de variáveis que, pela manipulação dos seus valores
quantitativos, permite a simulação das características do objeto real.
(COHN, 2003, p. 204).
85
Cohn destaca também que a análise que opera com premissas weberianas
necessita utilizar o recurso dos “tipos ideais”, por isso nosso exercício de estabelecer um
“tipo puro” de educação metodista brasileira que demonstre seus parâmetros ideológicos
e conceituais. Desta forma, nossa elaboração considera de forma conjunta algumas linhas
mestras como o retrato objetivo da estrutura burocrática do Sistema de ensino metodista
brasileiro que está nos Cânones da Igreja Metodista e regulamenta sistematicamente sua
composição organizacional.
86
procedimentos legais de cada nível. Demonstra em detalhes a forma e o propósito da
Educação Metodista no Brasil, seu referencial ideológico e regimental. Da mesma forma
que isso ocorre orientando o Ensino Regular, os Cânones regem o Ensino Teológico,
estabelecendo detalhadamente sua maneira e propósito.
Dessa feita, pela constatação de uma estrutura organizada e regimentada por leis
de conduta, direitos e obrigações, consideramos a Educação Metodista Brasileira como
uma instituição burocrática.
87
organização de cultos e pastoreio geral da comunidade. Schützer relata que somente a
partir de uma nova compreensão da missão da Igreja na Educação, surgem os primeiros
grupos de pastores e leigos, organizados para o exercício de uma Pastoral Escolar.
88
Contudo, atribuir o caráter carismático da Educação Metodista somente à presença
da Pastoral Escolar em suas instituições de ensino, seria estar desatento a outros fatores
que, igualmente, sinalizam a confessionalidade e simbolizam a Igreja. Podemos ressaltar
que a Igreja se faz presente ao legitimar a autoridade do Reitor, dos Pró-Reitores, dando
base filosófica aos documentos e direcionamentos das Instituições, uma vez que a Política
Acadêmica, seus estatutos e as regras que regem a Educação são baseados nos
documentos eclesiásticos por ela aprovados.
17
Em 12 e 13.03.2014
18
www.unimep.br
89
Extensão na UNIMEP”; 5) “A Extensão como Elemento Constitutivo da Política
Acadêmica”; 6) “Perspectiva da Extensão na UNIMEP”.
19
http://www.unimep.br/viceacad/assessorias/extensao/politicaext/6perspec.html , Conselho de Extensão e
Pesquisa e Conselho Universitário. UNIMEP, novembro de 1995.
90
alunos e sociedade, ocorrendo em qualquer espaço e momento, dentro e
fora dos muros da universidade (UNIMEP, 1995).
91
CAPÍTULO 3
A relação entre a Igreja Metodista e suas instituições de
ensino: Uma leitura por meio dos tipos puros de dominação
legítima
92
de dominação, em virtude da ordem vigente” (Weber, 1991, p. 33), ou seja, não é o quadro
burocrático por si mesmo que caracteriza a ocorrência da “dominação”, mas a existência
de uma ordem à qual haja obediência:
93
hierocrática20, ou seja, a partir de critérios e comportamentos místicos ligados à
espiritualidade e à transcendência. Desta forma, a “dominação” eclesiástica contém duplo
poder, o institucional, que se refere às normas de conduta estabelecidas nos códigos de
ética e moral e o da obediência espiritual, como referência de submissão ao próprio Deus:
20
Hierocracia: governo dos sacerdotes ou a sua influência nos negócios do Estado.
hierocracia In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2014. [Consult. 2014-06-03].
http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/hierocracia;jsessionid=rmYi-
NZ0OCvYb4KBtYIo4w__>. Consulta realizada em 03.06.2014 09h10.
94
coação hierocrática denominada por Weber. A vontade do líder ganha status de vontade
divina na medida em que ele é quem, supostamente, tem a representação de Deus, por
isso, a vontade do líder é sempre observada, aceita e preferida. A dominação mística
caminha lado a lado com a dominação burocrática e administrativa.
95
individuais. Mas isso não é decisivo para identificar uma dominação [...]
“Obediência significa, para nós, que a ação de quem obedece ocorre
substancialmente como se este tivesse feito do conteúdo da ordem e em
nome dela a máxima de sua conduta, e isso unicamente em virtude da
relação formal de obediência, sem tomar em consideração a opinião
própria sobre o valor ou desvalor da ordem como tal (WEBER, 1991, p.
140).
Diante disso, a análise dos processos ligados à Igreja deverá contemplar uma
realidade de legitimidade com diversos desdobramentos, como legitimidade tradicional,
legitimidade carismática e, de maneira mais distante, a legitimidade racional, como
veremos à frente. Essa compreensão trará implicações significativas, uma vez que no
contexto eclesiástico nem sempre a legitimidade se referenciará por construções
racionais, relacionadas a interesses materiais ou elaboradas através da lógica racional. A
legitimidade nesse caso poderá estar ligada à representação simbólica e tradicional do
líder, isenta de relação histórica de sua pessoa com a comunidade, através de uma
aceitação mística da representatividade do caráter divino. Isso se relaciona, de maneira
próxima com as implicações do caráter carismático, transcendente e venerado pela Igreja.
21
A referência ao “sistema educacional” diz respeito ao ambiente acadêmico secular, caracterizado neste
trabalho pelas Instituições Metodistas de Ensino.
96
acadêmico comprovado e reconhecido que valide a condição de liderança. Não é mérito
pessoal somente, tampouco condição de conquistar obediência ao mando, mas de
comprovar merecimento intelectual reconhecido, através de documentos e registros. Em
dado momento é possível reconhecer certo valor tradicional, caso se possa admitir algum
nível de “crença na virtude de uma tradição” que postula ao preparo acadêmico condições
para ocupação da liderança. Dessa forma, assim como a Igreja idealiza a ocupação do
cargo, por si mesmo, como pressuposto de legitimidade, será possível compreender que
o sistema educacional conceberá, igualmente, que o preparo acadêmico é capaz de validar
a legitimidade do líder.
97
1. que todo direito, mediante pacto ou imposição, pode ser estatuído de
modo racional – racional referente a fins ou racional referente a valores
(ou ambas as coisas) – com a pretensão de ser respeitado pelo menos
pelos membros da associação, mas também, em regra, por pessoas que,
dentro do âmbito de poder desta (em caso de associações territoriais:
dentro do território), realizem ações sociais ou entrem em determinadas
relações sociais, declaradas relevantes pela ordem da associação;
2. que todo direito é, segundo sua essência, um cosmos de regras
abstratas, normalmente estatuídas com determinadas intenções; que a
judicatura é a aplicação dessas regras ao caso particular e que a
administração é o cuidado racional de interesses previstos pelas ordens
da associação, dentro dos limites das normas jurídicas e segundo
princípios indicáveis de forma geral, os quais encontra aprovação ou pelo
menos não são desaprovados nas ordens da associação;
3. que, portanto, o senhor legal típico o “superior”, enquanto ordena e,
como isso, manda, obedece por sua parte à ordem impessoal pela qual
orienta suas disposições;
4. que – como se costuma expressá-lo – quem obedece só o faz como
membro da associação e só obedece “ao direito”;
5. que se aplica, em correspondência com o tópico 3, a ideia de que os
membros da associação, ao obedecerem ao senhor, não o fazem à pessoa
deste mas, sim, àquelas ordens impessoais e que, por isso, só estão
obrigados à obediência dentro da competência objetiva, racionalmente
limitada, que lhe foi atribuída por essas ordens. (WEBER, 1991, p. 141).
Nessas bases, Weber delimita o caráter da relação regida e legitimada por vínculos
legais, representada por uma atividade de atitude constante, regida por normas e regras
delimitadas numa “competência” específica, onde os serviços e obrigações são
desempenhados a partir de uma obrigatoriedade, através da designação de “poderes de
mando”. É esse tipo de autoridade que o autor relaciona as estruturas de mando de
instituições privadas, partidos, exército, Estado e, até mesmo a Igreja. O vínculo peculiar
dessa legitimidade é a instituição, regida, segundo o autor, pelo princípio da hierarquia
oficial:
98
Abrindo um parêntese para analisar as estruturas da Igreja Metodista e de suas
instituições de ensino, pode-se verificar que, de maneira geral, ambas sugerem em sua
organização o caráter legal como estilo administrativo, uma vez que o poder da norma
instituída dá legalidade tanto à autoridade como à subordinação. Assim como pontua
Weber, a existência de instâncias de regulação determina o poder e a funcionalidade do
cargo que é sujeito a regulamentos balizadores de conduta, responsabilidades e direitos
inerentes a cada função. Nos dois casos pode-se observar a ocorrência destas instâncias
que simbolizam a hierarquia oficial soberana, que norteia a instituição sem necessária
representação pessoal, já que a norma, por si mesma, convenciona as ações e limites de
cada tarefa. No entanto, numa apreciação mais específica, poderá se observar que as
altercações entre Igreja e instituições de ensino se darão não somente pela constatação de
evidência ou ausência de determinado caráter, mas pela intensidade com que este ou
aquele influencia cada estrutura. Portanto, isso se mostrará com mais clareza à medida
que avançarmos nas conceituações do autor em contraposição com às estruturas
consideradas.
99
exemplo, a célula germinativa do moderno Estado ocidental. Que
ninguém se deixe enganar, nem por um momento, por quaisquer
instâncias aparentemente contrárias, sejam estas representações
colegiadas de interessados ou comissões parlamentares ou “ditaduras de
comissários” ou funcionários honoríficos ou juízes leigos (ou até
resmungos contra “São Burocrácio”), ao fato de que todo trabalho
continuo dos funcionários realiza-se em escritórios. Toda nossa vida
cotidiana está encaixada nesse quadro. Pois uma vez que a administração
burocrática é por toda parte – ceteris paribus – a mais racional do ponto
de vista técnico-formal (de pessoas ou objetos) (WEBER, 1991, p 146).
Essa observação demonstra que em qualquer nível, forma e estrutura, a
sociedade moderna é influenciada pelo tipo de dominação burocrática, uma vez que se
estabelece quase que totalmente, através da formalização de instituições, elaboradas
através de hierarquias dispostas por cargos exercidos a partir de habilitação específica.
Essa característica social influencia de maneira intensa, qualquer organização moderna.
Portanto, o cumprimento dessa solicitação significa, de maneira clara, que a legitimação
de qualquer dominação contemporânea deverá se pautar pelo caráter legal, mesmo que
em algum grau os outros tipos de caráter possam ter algum grau de validade sobre ela.
100
promoção de conhecimento, que é produto básico para a formação profissional técnica,
potencializando a valorização do preparo acadêmico como pressuposto de legitimidade
para a ocupação de cargos e exercício de poder. As instituições de ensino atribuem ao
conhecimento a legitimidade do domínio para si mesmas e para a sociedade. Esse
reconhecimento é esperado, uma vez que para ela o conhecimento é o substrato de
capacitação e produtividade. Conforme verificado no capítulo anterior, as instituições
metodistas de ensino, como parte do sistema educacional secular, conferem legitimidade
nos processos de dominação legal. Por serem instituídas e administradas através de
normas e procedimentos pautados em contratos e regimentos, elas não somente requerem
legitimidade de domínio pela capacitação técnica profissional de seus executivos,
funcionários e professores, como em seus documentos institucionais, que oficializam o
que Weber chama de hierarquia oficial, ao estabelecer critérios administrativos
burocráticos legais em suas relações internas e, da mesma forma, nas relações com outras
instituições, estatais ou eclesiásticas.
22
Denominamos aqui solicitações políticas o fato de que para alguns cargos de gestão das Instituições
Metodistas de Ensino, como direção, reitoria, pró-reitoria, é necessário estar arrolado como membro da
Igreja Metodista no Brasil. Em nosso entendimento, essa exigência se refere a uma política da Igreja que
adentra as políticas internas de suas Instituições de Ensino.
101
formalmente igual para “cada qual”, isto é, cada qual dos interessados
que efetivamente se encontram em situação igual – é assim que o
funcionário ideal exerce seu cargo (WEBER, 1991, p.147).
Desta forma, o caráter burocrático remete ao preparo acadêmico e à formação
profissional um elemento importante na organização social e mesmo no estilo de conduta
pessoal. Em certa medida, uma estrutura de formação acadêmica seguirá o prisma da
impessoalidade formalista orientada pelo dever e requerida na formação profissional,
como assevera Weber. Portanto, nas instituições de ensino da Igreja Metodista,
resguardada a dimensão confessional, não se fará de maneira diferente, uma vez que isso
acontece de modo histórico no sistema educacional instituído.
102
É necessário abrir novo parêntese para esclarecer que no caso de uma Igreja o
caráter da legitimidade não pode ser considerado estável e único, uma vez que sobre ela
incidem outras formas de legitimidade, como veremos à frente, em maior ou menor grau.
É possível estabelecer que no caso específico da Igreja Metodista, o caráter da
legitimidade legal, pela característica de sua organização e cuidado documental, ocorre
de maneira substancial, mas não de forma exclusiva.
23
Termo relativo à categoria ministerial da Igreja, pastores e bispos.
103
à imagem mística da dominação carismática, está de muitas formas, na estrutura
metodista, regido por critérios legais.
104
ou antipatia entre senhor e súdito. Weber aponta, a partir disso, para a ocorrência de uma
relação onde:
Segundo Weber, nesse tipo, é ausente o critério da “competência”, uma vez que a
escolha de quem ocupa os cargos depende da decisão do senhor, independentemente de
critérios ou parâmetros. Disso recorre a existência de competitividade particular pela
simpatia do senhor, o que representa a possibilidade de condições adequadas de trabalho
e ascensão; da mesma forma, inexiste a dimensão de uma “hierarquia racional fixa”, já
que a estrutura não está sujeita a critérios técnicos ou profissionais, mas à boa vontade e
parecer do senhor. A composição de cargos e funções está sujeita àquilo que pretende o
senhor que elege e cassa o direito e o status de seus servos, segundo sua vontade pessoal
e não a partir do cumprimento de deveres; Outro quesito não contemplado é a “nomeação
regulada por contrato livre”, ou seja, a contratação ou a vinculação através de juízo legal,
amparada por lei vigente. Isso acontece porque na dominação tradicional as queixas e
decisões cabem apenas ao senhor, dependendo totalmente de seu juízo ou da própria
tradição que sinaliza através daquilo que é “vigente desde sempre”, qual o
encaminhamento cabível; no mesmo sentido, Weber observa, nesse tipo de dominação,
inexistência de preocupação com a “formação profissional”, mesmo que haja algum
preparo doméstico e intuitivo no desempenho das funções; Outro ponto elencado pelo
sociólogo, como faltante nesse tipo de estrutura, é “o salário fixo”, ou “o salário pago em
dinheiro”, vestígio da relação dos antigos senhores que serviam seus servos de sua própria
mesa.
105
“ideal típico de orientação” para o estudo científico, que contempla a existência de
“esferas individuais de valor” que, segundo o autor, possuem uma “coerência racional”
própria que delimita a localização histórica de determinado “fenômeno”. O sociólogo
entende que a concepção de um “Deus e criador supramundano” foi importante para a
construção de um processo de salvação em que o indivíduo deve permanecer em estado
distinto e separado, que lhe garanta a salvação. Essa separação se dá como negação aos
valores “mundanos”. Dessa maneira:
106
de uma “comunidade” religiosa, que foi independente de associações
étnicas. Alguns dos “mistérios”, embora nem todos, seguiram esse curso.
Prometeram a salvação dos indivíduos, como indivíduos, em relação à
enfermidade, pobreza e todas as formas de sofrimento e perigo. Assim, o
mágico transformou-se no mistagogo; ou seja, surgiram as dinastias
hereditárias dos mistagogos, ou organizações de pessoal treinado por um
chefe de acordo com regras. Esse chefe tinha que ser aceito como
encarnação de um ser supramundano ou simplesmente como um profeta,
ou seja, como o porta-voz e agente de seu deus (WEBER, 2008, p. 192).
Guardadas as proporções, a Igreja contemporânea24, seja na escolha de seus
líderes, seja na condução de seus cargos, conta com o poder místico de “porta-voz” da
divindade. A crença na santidade de ordens e poderes senhoriais tradicionais exerce
forte influência nos processos e nas estruturas eclesiásticas, mesmo que organizadas
burocraticamente, mesmo que evoquem a racionalidade como procedimento funcional.
Desta maneira, evidencia-se outra premissa da dominação tradicional, a servidão ou a
submissão e fidelidade, que não se refere diretamente ao senhor e chefe da estrutura, mas
ao que esta representa como simbolismo da “vontade” divina. Nesse conceito, a
obediência figura como regra espiritual e transgredi-la constitui desobediência ao sagrado
e não somente à hierarquia. A imagem do chefe carrega uma representatividade espiritual
que foge à lógica burocrática. Com isso, outra evidência da tradição se mostra, a negação
dos estatutos. O líder passa a ter poder místico capaz de questionar a lei. A lei está nele,
que sinaliza a vontade soberana de Deus, portanto “tem” legitimidade para fazer
mudanças e reorganizar a norma, segundo seus próprios critérios. Mesmo numa
organização burocrática, esse “poder” é suficiente para suplantar, de forma política,
qualquer forma de regimento ou contrato prévio. É o poder inquestionável da divindade
que se impõe à estrutura, através do domínio tradicional. É importante destacar neste
momento que nossa análise não visa o poder do carisma, que será visto à frente.
Consideramos aqui somente o fator tradicional como articulador de nossa proposição. É
desta maneira que ganha importância o livre-arbítrio do senhor ou a benignidade do
senhor. Uma vez que a lei é suplantada pela tradição do cargo e do status do líder, está
nele qualquer possibilidade de ascensão ou favor. A seu critério, julga e concede direitos.
A regra o serve, beneficiando e prejudicando quem lhe apraz prejudicar. Com isso,
desfaz-se o caráter da hierarquia oficial, própria do tipo burocrático, em negação ao
reconhecimento de direitos, de preparo intelectual ou experiência. Entram em cena o
favoritismo e a prebenda. A satisfação pessoal do senhor torna-se importante, uma vez
24
Referimos-nos ao contexto religioso contemporâneo, no qual a Igreja Metodista está inserida.
107
que o sistema está em suas mãos. Neste ambiente é complexa qualquer sugestão nos
estatutos, a não ser que esta seja de interesse do senhor, pois o seu cargo e condição
remetem ao que Weber entende como força da regra vigente desde sempre. Submetem-se
o contexto, as necessidades e motivações, ao poder da tradição do cargo e da
representação que este tem. A estrutura burocrática, nesse caso, se curva ao domínio
tradicional, que dá legitimidade a quem se assenta na cadeira de senhor.
Weber vê nesse tipo de domínio o que chama de “ausências”, ou seja, fatores não
verificados. Contrariamente ao sistema de ensino, na Igreja, em determinadas situações,
algumas delas podem ser contempladas, como o caso da competência. Mesmo sendo
requerida de forma generalizada na sociedade, é possível conceber que a competência não
figura como fator limitador do exercício funcional eclesiástico. Se elaborada pelo prisma
intelectual e acadêmico, nem sempre seus membros serão suprimidos. A mística religiosa
é capaz de superar qualquer deficiência de determinado membro em relação à
competência, por não dar à competência importância maior do que à mística. Na mística,
mais que capacidade para o desempenho de uma função ou a soma de conhecimento e
habilidades, será requerido prestígio espiritual e, sobretudo, anuência do líder, o que ainda
mais enfatizará o poder do domínio tradicional na estrutura. Isso acontece também devido
à ocorrência de outra “ausência” elencada por Weber, a falta de hierarquia racional fixa.
Uma vez que a estrutura burocrática – racional – é enfraquecida diante da vontade pessoal
do senhor, ganham mais valia os vínculos de obediência e fidelidade do que a
competência, evidenciando outro fator, a nomeação regulada por contrato livre.
Desfazem-se os vínculos de obrigatoriedade e legalidade diante das relações de favores e
interesses. Portanto, fatores como formação profissional e salário fixo em dinheiro ficam
em segundo plano, mesmo que figurem em contratos trabalhistas e exigências legais.
É possível compreender com isso que a Igreja Metodista não está isenta das
características apresentadas. Com governo episcopal, ou seja, regida por um colégio de
bispos e bispas que, canonicamente, tem a atribuição de reger todos os seus aspectos,
conforme descrito nos Cânones da Igreja Metodista (p. 309 – 315), a Igreja é regulada
por diretrizes burocráticas, contidas em termo de lei, contudo, é possível considerar que
a chancela do cargo episcopal, mesmo obediente a processos estabelecidos em suas
normas e regras, simboliza certa incumbência espiritual e, nos termos weberianos, de
domínio tradicional. Há detalhes expressos na lei da Igreja que revelam um poder maior
do que os demonstrados na redação dos Cânones, como é o caso do item VI do artigo
108
119, onde se lê que uma das competências do colégio25 é a de “estabelecer a filosofia,
objetivos e metas” (Cânones 2012, pg. 310) da instituição. O estabelecimento da filosofia,
portanto, sugere que os bispos podem governar a Igreja além da sujeição ao concílio,
órgão máximo da Igreja. Oficialmente, o Concílio Geral é quem dá as regras, contudo,
canonicamente, quem dá o tom do Concílio, são os bispos. Entendemos aqui uma clara
evidência de domínio tradicional, onde, segundo Weber, é o cargo que dá o poder e não
o carisma ou a hierarquia burocrática. Logicamente, na Igreja Metodista, essas três
dimensões se confundem, já que é possível compreender o poder episcopal sobre todas
elas, contudo, nosso intuito é fazer perceber-se a força do poder tradicional nesse
emaranhado. O cargo do bispo na Igreja Metodista, oficialmente, é administrativo, sujeito
à eleição de um mandato, por assembleia que se reúne periodicamente, porém, de maneira
pragmática, o bispo é o senhor. É ele quem escolhe pessoas para a composição de cargos
expressivos, ordena para ministérios importantes, institui ou destitui pessoas e, mesmo
que não seja por suas próprias mãos, decide sobre a direção de processos. A força do
profeta e do porta-voz se confunde com a do diretor geral e administrativo. A imagem do
súdito é ilustrada por colegiados que, apesar de compreenderem sua função técnica e
administrativa, não ousam questionar o direcionamento espiritual da voz divina. Apesar
da lei que rege a Igreja, característica de um sistema burocrático, a energia das relações
pessoais, espiritualizadas pelo contexto religioso, reflete um organismo tradicional, onde
a investidura da “encarnação de um ser supramundano” convive com a organização
empresarial.
25
Leia-se: Colégio Episcopal da Igreja Metodista
109
considerarmos necessária essa observação aqui, pretendemos discorrer sobre essa
dinâmica mais à frente.
110
segundo as regras da burocracia de cada contexto e a formação de consciência crítica e
analítica.
Como já exposto, Weber verifica certos valores ausentes nesse domínio, que
refletem diretamente no que ele chama de educação moderna, como: competência – fator
de extrema valia ao processo acadêmico contemporâneo; hierarquia racional física – sem
a qual se inviabiliza qualquer iniciativa acadêmica, uma vez que esta decorre a
necessidade de reconhecimento legal e institucional competente; nomeação regulada por
contrato livre – pressuposto essencial para qualquer estrutura burocrática
institucionalizada; formação profissional – sem a qual nada se dará em termos
educacionais; remuneração fixa em dinheiro – vínculo básico de qualquer procedimento
funcional regularizado.
113
legítima da vontade divina. Quando questionada, a disputa se dará por “meios mágicos”
ou pelo “reconhecimento” da comunidade, “luta em que, de um lado, somente pode estar
o direito e, do outro, somente a infração sujeita a expiação”
114
2. de tal modo que esteja colocada, ideal e materialmente, a
posição própria sobre um fundamento cotidiano duradouro;
externamente, o estabelecimento da existência familiar ou,
pelo menos, da existência saturada, em lugar das “missões”
estranhas à família e à economia, e isoladas do mundo
(WEBER, 2012, p. 162).
A secularização ou rotinização normatiza o carisma desencadeando processos
diversos relativos à manutenção de determinada relação carismática. Desta forma é
admitida a regra como via de escolha de novos líderes que obtêm legitimidade não
somente de seu próprio carisma, mas também de normas de adequação da própria
comunidade para a continuidade da relação. Weber remete esta adequação na escolha do
novo Dalai-Lama como exemplo que indica uma criança a partir de indícios da
encarnação do divino. Com isso “a legitimidade do novo portador do carisma está ligada
a características, isto é, “regras” para as quais existe uma tradição (tradicionalização),
retrocedendo, portanto, o caráter puramente pessoal” (WEBER, 2012, p. 162).
Pelo seu caráter místico, a fé, por si mesma, remete a certa submissão do carisma.
O ideário transcendente exercido pela figura de um profeta, um “homem de Deus”, que o
invoca e d’Ele traz mensagens, remete à figura do líder uma imagem que valida o poder.
Mais que o líder, a simbologia utilizada na religião, a liturgia, os paramentos, os
simbolismos do templo, a oração, a invocação do transcendente, a música, estabelecem
um contexto que, por si mesmo, legitima a dominação. Como afirma Weber, a invocação
do Eterno, traz ao líder o poder do semideus, já que está agraciado pelo dom
extraordinário que o qualifica e o autentica como autoridade diante do grupo. O poder
carismático, portanto, não está somente na representação do líder que impõe o domínio,
mas na própria aceitação voluntária do crente que, diante da mística, submete-se ao
cenário simbólico da transcendência. A fé está sujeita à crença, à anuência espontânea,
115
individual, ligada a um conjunto de fatores abstratos que tocam o estado emocional,
físico, social e até intelectual, configurando um momento específico, situacional, de cada
pessoa.
Este fato não se verifica apenas onde a diferença da região coincide com
uma nacionalidade, e portanto com seu desenvolvimento cultural, como
116
é o caso dos poloneses e dos alemães da Alemanha Oriental. Observamos
a mesma coisa na estatística de filiação religiosa de qualquer parte em
que o capitalismo, na época de sua grande expansão, pôde alterar a
distribuição social conforme suas necessidades e determinar a estrutura
ocupacional. Quanto maior for a liberdade de ação, mais claro o efeito
apontado (WEBER, 2001, p. 39).
Assim, o autor constata uma “empatia” entre protestantismo e capitalismo
supondo que a experiência protestante da quebra de tradições religiosas e seu distintivo
questionador, tenham contribuído para esse processo. Weber argumenta que a Reforma
Protestante:
117
bens e na satisfação dos benefícios da prosperidade material, contraposta ao desapego
católico, enfatizado em seu espírito devoto ao mundo espiritual.
118
Diante das considerações apresentadas, é possível analisar de que forma e com
qual intensidade o sistema educacional contemporâneo se apresenta frente à concepção
weberiana de legitimação do domínio carismático, ou seja, em que proporção a estrutura
educacional pode ser reconhecida por um domínio carismático. Cabe relembrar que o
sistema educacional formal deve ser analisado através da elaboração de conceitos e
organizado por balizamento metodológico e pedagógico, com forte caráter burocrático
racional. Com isso seria possível concluir que ela não se adequaria ao tipo de domínio do
carisma, no entanto, Weber ao conceituar a dominação carismática, observou que em
conjunturas de domínio tradicional a educação formal (apresentada por ele como
intelectualização) pode se mostrar como força carismática:
119
cristã, transformação pessoal e crescimento intelectual. O âmago da
proposta é que Verdade, Sabedoria e Excelência instruam o ser e o saber
do educando em todos os âmbitos de sua vida. A estratégia analítica é
prover a ele recursos para que exerça seu direito de saber diferenciar, nas
diversas áreas de aprendizado, o dado teórico e científico, de um lado, e
o pressuposto filosófico, de outro (MOURA, 2008, p. 97).
Com isso é possível aceitar que a escola confessional elabora, em seu processo
educativo, uma pedagogia carismática, no sentido de sinalizar para além da formação
tradicional, estimulando uma reflexão humanística e espiritualista da realidade cotidiana,
portanto, utilizando-se do extraordinário, do não tangível, como ferramenta de formação
pessoal, como já visto no capítulo anterior. O sistema educacional metodista encontra
fundamentação para esse princípio nas primeiras iniciativas de John Wesley na
Inglaterra26, contudo, é necessário destacar que há vários metodismos, oriundos dos
desdobramentos do movimento ao migrar da Inglaterra para a América do Norte e,
posteriormente, para o Brasil, o que influenciou a forma de ser Igreja, bem como de
“fazer” educação. Peri Mesquida, em Hegemonia norte-americana e Educação
Protestante no Brasil (1994), cita, como exemplo dessa questão, a educação oferecida
pelos missionários americanos que trouxeram, para o Brasil, um metodismo que se
revestiu de componentes civilizatórios legitimados por elementos religiosos. Segundo o
autor, houve tentativa de implementar a cultura considerada “superior” que promovesse
crescimento religioso, cultural e social ao Brasil condicionada à educação escolar e à
adesão das pessoas ao cristianismo protestante (Mesquida, 1994, p. 105).
26
As primeiras ações do movimento metodista inglês aconteceram através da alfabetização de pessoas
excluídas socialmente.
120
Portanto, podemos considerar que, mesmo vinculada legalmente às diretrizes
pedagógicas, burocráticas e institucionais, a escola confessional, por seu caráter e
dependência institucional, pode ser considerada sujeita à dominação carismática e, ainda
mais, legitimada por esse tipo de dominação. Mensurar, portanto, em que nível, ou com
qual intensidade, o sistema educacional metodista pode ser classificado como
carismático, é tarefa incerta, se considerarmos os movimentos naturais de interesse, de
caráter ideológico, que aproximam e distanciam a escola da Igreja conforme o momento
social e político em que ela se encontra. Ora as Instituições estarão mais sujeitas à
dominação carismática, ora mais arredias. Ora, a própria Igreja será, em maior grau,
carismática, ora, mais tradicional ou burocrática. Demonstrar essa oscilação será nosso
objetivo mais à frente.
121
É necessário pontuar que, apesar de termos estabelecido características próprias
da Igreja e de suas instituições de ensino, devemos considerar que os domínios não podem
ser considerados estáticos, mas sujeitos a circunstâncias e interesses. Para tanto é
necessário lembrar que Weber entende as relações sociais através das ações sociais e que:
122
disso, percebe-se sempre a presença das mais diversas constelações de
interesses dos participantes (WEBER, 1995, p. 332).
(...)
Na maioria das vezes não se percebe que a oposição é outra, ou seja, a
oposição entre a ação humana que persegue um fim, por um lado, e as
condições para esta ação, isto é, os condicionamentos dados pela natureza
e pelas respectivas constelações históricas e políticas (WEBER, 1993, p.
33).
123
Observemos a ocorrência de circunstâncias internas e externas, demonstradas por
crises da Universidade em relação à Igreja e, ao mesmo tempo, da Universidade em
relação a ela mesma, o que evidencia a teoria de particularidades distintas pelos matizes
de cada instituição.
Se a autonomia não era, até a crise, algo que despertasse maior interesse,
muito menos o era a confessionalidade. Apesar de a confessionalidade
estar contemplada nos documentos da Igreja, a sua presença neles não
era visível aos olhos da maioria da comunidade universitária. A questão,
como dissemos, não era abordada nos debates internos, como seria
desejável. Mas foi exatamente o caráter confessional metodista presente
na instituição, pouco transparente à grande maioria, que permitiu e
fortaleceu a resistência à intervenção. A confessionalidade ajudou
também o grupo metodista da UNIMEP a se aglutinar e lutar contra o ato
da força. Ao mesmo tempo, forneceu os caminhos para uma
124
recomposição inteligente e eficaz, após o restabelecimento, por vias
judiciais, do status quo. Ao experimentar na prática, por força dos
acontecimentos, o espírito da autonomia universitária, numa instituição
particular, a comunidade compreendeu claramente que, em grande parte,
isto só fora possível porque a proposta metodista, conhecida dos diversos
segmentos, a incorporava. Era difícil aos representantes da Igreja,
essencialmente ao Colégio episcopal, como administradores de uma
instituição social, reconhecida como utilidade pública, sem fins
lucrativos, negar a “função social da propriedade” ou refutar modelos
mais democráticos de gestão e de autonomia universitária (ALVIM,
1995, p. 91 E 92).
De outro lado, estão os conflitos particulares da Igreja que decorrem, sobretudo,
do caráter ideológico – teológico – de suas lideranças que são substituídas, ou
substituíveis a cada cinco anos, conforme a lei atual. Essas alterações de mando, por sua
vez, refletem em alteração de filosofia que ora comunga com uns valores, ora com outros,
alternando pragmaticamente os rumos tanto da Igreja como de suas instituições de ensino.
Boaventura (2010) observa, do interior da Instituição Educacional – UNIMEP –, que a
existência de crises internas ocasionadas por crises externas, ou seja, crises das
Instituições de Ensino oriundas das crises da Igreja:
27
Boaventura se refere às decisões do 19º CONCÍLIO GERAL DA IGREJA METODISTA que ocorreu
em 2006.
125
Em A Igreja Metodista no Brasil, suas universidades, escolas e igrejas diante da
temporalidade pós moderna, Renders aponta para a existência de uma nova
temporalidade que impacta toda a estrutura eclesiástica e educacional. Para o autor, há
uma aceleração dos processos da vida que incidem sobre o modo de ser Igreja, assim
como o modo de fazer educação, por isso, a constatação de que os processos que
envolvem estas instituições são cada vez mais tensos e em algumas vezes conflitantes:
28
Igreja e suas instituições de ensino.
126
Dessa maneira observamos que a análise dos tipos de dominação que regem a
Igreja e suas instituições de ensino será, em todos os casos, imprecisa, ou minimamente
parcial, uma vez que ela somente poderá acontecer através de retratos distintos que
considerem situações específicas da história e da relação das instituições. Cada pesquisa
poderá ter enfoque característico, localizado graças aos dados históricos, tensões ou
interesses. É o movimento desses fatores que distinguirá o tipo de dominação de cada
momento de uma e de outra instituição, bem como observará quais tensões foram
ocasionadas pelas influências das crises internas e externas nessas relações.
Pela existência dessa dinâmica, que envolve questões tão diversas, torna-se
complexa a constatação de uma dominação predominante. Se possível, em certos
momentos, retratar a Igreja como uma instituição de dominação predominantemente
tradicional, noutro instante, carismática, noutro, legal. Não obstante, ela poderá ser
tradicional e carismática, ou ainda, legal e carismática. Da mesma forma será com a
instituição educacional. Tudo dependerá da situação, da composição das constelações de
interesses que organizam determinado cenário, e que poderá ser “fotografado” também,
com o devido rigor metodológico, a partir de interesses e situações de quem observa.
127
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Faz-se necessário reiterar também que esta análise foi admissível através do
estudo dos documentos norteadores de ambas instituições, a saber: o Plano de Vida e
Missão, para a apreciação da Igreja Metodista e as Diretrizes para a Educação da Igreja
Metodista, para o exame de suas Instituições de Ensino. Estes foram a linha mestra de
análise considerando que constituem das referências oficiais da Igreja para o desempenho
de sua vida eclesiástica e educacional.
128
religião, o que provavelmente abriria possibilidade para outras reflexões sobre a relação
estudada, no entanto, consideramos que esta tarefa ampliaria nosso foco em demasia o
que, talvez, trouxesse prejuízo à nossa pesquisa. Mesmo assim, entendemos que o
detalhamento desses temas subsidiou favoravelmente esta análise.
129
da relação entre a Igreja e suas Instituições de Ensino, a incidência destas características.
Elaboramos um exercício por meio dos tipos puros de legitimação de autoridade para
demonstrar a existência de variações que, no decorrer das interações entre estas
instituições, facilitaram ou dificultaram este processo. Estas alterações resultantes dos
movimentos sociológicos destas organizações nos levaram à conclusão que tanto a Igreja
quanto as Instituições de Ensino não podem ser consideradas como instituições inertes,
como se estivessem paralisadas diante das referências documentais que as balizam. Antes,
demonstraram que se desenvolvem a partir de movimentos que ora estão influenciados
pelas demandas da sociedade, ora estão influenciadas por si mesmas. Verificamos que a
legitimidade que as direciona vive em constante oscilação, ora mais carismática, ora mais
burocrática, ora mais tradicional. Esta intranquilidade pode ser explicada por vários
fatores que sobrevivem na religiosidade contemporânea e no próprio metodismo – que é
o nosso objeto de estudo – porém, da mesma forma, borbulham nas movimentações
sociais, como foi exemplificado no caso da UNIMEP diante de tensões políticas vividas
no decorrer da história de nosso país.
130
de Ensino sob qualquer referência que possa ter sido apresentada nesse trabalho. Nosso
objetivo maior foi demonstrar através de um exercício acadêmico a possibilidade e a
importância de se utilizar a sociologia como instrumento de análise também neste
ambiente específico que envolve educação e religião.
131
na análise e na relação dos vários documentos da Igreja entre si e na coerência e aplicação
à Igreja e as Instituições contemporâneas, no entanto, não foi este o nosso propósito.
Provavelmente, este trabalho possa provocar estas ações e outras tantas que vislumbrem
a relação das Instituições através de outros pressupostos.
132
foi este nosso propósito, e, ao nosso ver, o que este trabalho demonstrou, foi a viabilidade
desses registros que, embora destacados em situações distintas, ajudam quanto à
possibilidade de analisar sociologicamente a condução histórica desta relação.
133
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARROS, Davi. Relações entre Igreja Metodista e suas escolas: autonomia e conexidade
Revista Caminhando, v. 10 , n. 2 [ 1 6] , p. 8 3- 9 6, j ul . / d e z. 2 0 05.
CREDO SOCIAL da Igreja Metodista. São Paulo, SP: Editora Cedro, 1999.
COHN, Gabriel. (org) Max Weber, in: Sociologia. 5. ed. São Paulo: Ática, 1991.
134
DIRETRIZES para Educação na Igreja Metodista. In: Biblioteca Vida e Missão. São
Paulo, SP: Imprensa Metodista, 1996.
HIRANO, Sedi (Org). Pesquisa Social: Projeto e Planejamento. 2ª ed. São Paulo,
T.A.Queiroz. 1988.
IGREJA METODISTA, 2012, Testemunha ocular: Professor da FaTeo fala sobre os 30
anos do Plano de Vida e Missão da Igreja Metodista
https://www.metodista.br/fateo/noticias/testemunha-ocular-professor-da-fateo-fala-sobre-os-30-
anos-do-plano-de-vida-e-missao-da-igreja-metodista, acesso feito em 17.03.2014.
IGREJA METODISTA, 2012, Entrevista: Rev. Ely Eser Barreto analisa Plano Vida
e Missão http://www.metodista.br/fateo/noticias/entrevista-rev.-ely-eser-barreto-analisa-
plano-vida-e-missao acesso feito em 17.03.2014.
MAIA & LEITE, Adriel de Souza, Nelson Luiz Campos. Revista de Educação do
Cogeime – Ano 21 – n. 41 – julho/dezembro 2012.
135
MESQUIDA, Peri. Hegemonia norte-americana e educação protestante no Brasil:
Juiz de Fora/São Bernardo do Campo: EDUFJF/EDITEO, 1994.
UNIMEP. http://www.unimep.br/viceacad/assessorias/extensao/politicaext/6perspec.html ,
Conselho de Extensão e Pesquisa e Conselho Universitário. UNIMEP, novembro de
1995.
WEBER, Max. (1993) Metodologia das ciências sociais (parte I). São Paulo, Cortez.
136
WEBER, Max. Economia e Sociedade. Fundamentos da Sociologia compreensiva.
Tradução Regis Barbosa e Karen Elsabe Barbosa. Revisão técnica de Gabriel Cohn. –
Brasilia, DF: Editora Universidade de Brasília, 1991.
137
ANEXO 1
PLANO PARA A VIDA E A MISSÃO
Art. 24 - O XIII Concílio Geral aprovou o seguinte Plano para a Vida e a Missão da Igreja
Metodista: O “Plano Para a Vida e a Missão da Igreja” é continuação dos Planos
Quadrienais de 1974 e 1978 e conseqüência direta da consulta nacional de 1981 sobre a
Vida e a Missão da Igreja, principal evento da celebração de nosso 50º aniversário da
Autonomia.
Estas experiências nos têm mostrado que a Igreja necessita de um plano geral, que inspire
sua vida e programação, e que não será dentro do curto espaço de um quadriênio, que
corrigiremos os antigos vícios que nos impedem caminhar. Esse fato esteve claro na
semana da consulta Vida e Missão, e no documento que ela produziu. Ao adotarmos
aquele documento como a base do novo plano, estamos propondo ao Concílio não mais
um programa de ação para o quadriênio, mas linhas gerais que deverão orientar toda a
ação da Igreja nos próximos anos, enquanto necessário, devendo ser avaliado
periodicamente.
Deveremos continuar o processo que permitirá que tudo na Igreja se oriente para a
Missão. A Igreja deverá experimentar de modo cada vez mais claro que sua principal
tarefa é repartir fora dos limites do templo o que ela de graça recebe do seu Senhor. Por
isto estamos sendo convidados ao desafio tipicamente Wesleyano da santificação.
Certamente aqui estamos diante da necessidade de revisarmos profundamente nossa
prática de piedade pessoal e a necessidade de revermos nossos atos de misericórdia,
entendidos como ação concreta de amor a favor dos outros. Estes são os dois caminhos
que traduzem a visão de Wesley sobre a santificação na Bíblia.
138
experimentamos será acelerado na medida em que fizermos convergir todos os nossos
esforços movidos por um plano comum. Movidos por esta esperança apresentamos à
Igreja o plano que Deus nos inspirou nestes últimos anos de estudos, tentativas concretas
de mudança, e rexame de nossa tradição.
A) HERANÇA WESLEYANA
b) O Metodismo afirma que a vida cristã comunitária e pessoal deve ser a expressão
verdadeira da experiência pessoal do crente com Jesus Cristo, como Senhor e Salvador
(Ef. 3.14-19). Através do testemunho interno do Espírito sabemos que somos feitos filhos
de Deus, pela fé no Cristo que nos salva, nos liberta, nos reconcilia, e nos oferece vida
abundante e eterna ( Rm 8.1-2, 14-16; Jo 10.10; II Co 5.18-20).
139
se concretiza tanto em atos de piedade ( participação na Ceia do Senhor, leitura
devocional da Bíblia, prática da oração, do jejum, participação nos cultos, etc., At 2.42-
47) como em atos de misericórdia ( solidariedade ativa junto aos pobres, necessitados e
marginalizados sociais, At 2.42-47). Os metodistas como Wesley, crêem que tornar o
cristianismo uma religião solitária, é, na verdade, destruí-lo ( Lc 4.16-19, 6.20-21; Rm
14.7-8). e) O Metodismo caracteriza-se por sua paixão evangelística, procurando
proclamar as boas-novas de salvação a todas as pessoas, de tal sorte que o amor e a
misericórdia de Deus, revelados em Jesus Cristo, sejam proclamados e aceitos por todos
os homens e mulheres (I Cor. 1.22-24). No poder do Espírito Santo, através do
testemunho e do serviço prestados pela Igreja ao mundo em nome de Deus, da maneira
mais abrangente e persuasiva possíveis, os metodistas procuram anunciar a Cristo como
Senhor e Salvador ( I Co 9.16; Fp 1.12-14; At 7.55-58). a) O Metodismo demonstra
permanente compromisso com o bem estar da pessoa total, não só espiritual, mas também
seus aspectos sociais ( Lc 4.16-20). Este compromisso é parte integrante de sua
experiência de santificação e se constitui em expressão convicta do seu crescimento na
graça e no amor de Deus. De modo especial os metodistas se preocupam com a situação
de penúria e miséria dos pobres. Como Wesley, combatem tenazmente os problemas
sociais que oprimem os povos e as sociedades onde Deus os tem colocado, denunciando
as causas sociais, políticas, econômicas e morais que determinam a miséria e a exploração
e anunciando a libertação que o Evangelho de Jesus Cristo oferece às vítimas da opressão.
Esta compreensão abrangente da salvação faz com que os metodistas se comprometam
com as lutas que visam a eliminar a pobreza e a exploração e toda a forma de
discriminação ( Tg. 5.1-6; Gl.5.1). b) O Metodismo procura desenvolver de forma
adequada a doutrina do sacerdócio universal de todos os crentes ( I Pe 2.9). Reconhece
que todo o povo de Deus é chamado a desempenhar com eficácia na Igreja e no mundo,
ministérios através dos quais Deus realiza o seu propósito, ministérios essenciais para a
evangelização do mundo, para a assistência, nutrição e capacitação dos crentes, para o
serviço e o testemunho no momento histórico em que Deus os vocaciona ( I Co 12.7-11).
c) O Metodismo afirma que o sistema conexional é característica fundamental e básica
para a sua existência, tanto como movimento espiritual, quanto como instituição
eclesiástica. (EF. 1.22-23). Deus lhe deu esta forma de articulação unificadora para
cumprir a vocação histórica de : “reformar a nação particularmente a Igreja, e espalhar a
santidade bíblica sobre toda a terra” ( Wesley ) ( At 17.4-6; Jo 17.17-19). d) O Metodismo
é parte da Igreja Universal de Jesus Cristo. Procura preservar o espírito de renovação da
140
Igreja dentro da unidade conforme a intenção da reforma Protestante do século XVI e do
Movimento Wesleyano na Igreja Anglicana do século XVIII, que, por circunstâncias
históricas, resultaram em divisões. Por isto, dá sua mão a todos cujo coração é como o
seu e busca no Espírito os caminhos para o estabelecimento da unidade visível da Igreja
de Cristo ( Jo. 17.17-23). e) O Metodismo afirma que a vivência e a fé do cristão e da
Igreja se fundamentam na revelação e ação da Graça Divina. A Graça Divina é o
fundamento de toda a revelação e a ação históricas de Deus e se manifesta de forma
Preveniente, Justificadora e Santificadora, na vida do crente e da Igreja, através da fé
pessoal e comunitária ( Tt 2.11-15). A vivência cristã se fundamenta na fé ( Rm 1.16-17).
Fé obediente, amorosa e ativa, centralizada na ação histórica de Deus, na pessoa, vida e
obra de Cristo e na ação atualizadora do Espírito Santo ( Hb 1.1-3, 12.1-2). A palavra de
Deus, testemunha da ação e da revelação de Deus, é elemento básico para o
despertamento e a nutrição da fé ( II Tm 3.15; Lc 24.25-27; Gl 3.22). f) O Metodismo
afirma que a Igreja, antes de ser organização, instituição ou grupo social, é um Corpo, um
Organismo vivo, uma Comunidade de Cristo ( Ef 1.22-23; I Co 12.27). Sua vivência deve
ser expressa como uma comunidade de fé, adoração, crescimento, testemunho, amor,
apoio e serviço ( At 2.42-47; Rm 12.9-21). Nesta comunidade os metodistas são
despertados, alimentados, crescem, compartilham, vivem juntos, expressam sua vivência
e fé, edificam o Corpo de Cristo, são equipados para o serviço e o expressam junto das
pessoas e das comunidades ( I Co 12.16-26; II Co 9.12-14; Ef 4.11-16). g) O Metodismo
afirma o valor da prática e da experiência da fé cristã. Esta prática e experiência são
confirmadas pelo Palavra de Deus, pela tradição da Igreja, pela razão e pela comunidade
da Igreja ( At 16.10). A prática da fé é característica básica do metodismo, pois ele é um
“cristianismo prático”. Este cristianismo prático tem como fonte de conhecimento de
Deus a natureza, a razão, a tradição, a experiência cristã, a vivência na comunidade da fé,
sempre confrontadas pelo testemunho bíblico, que é
141
completa paz. Tudo isto esta introduzido em nós e no mundo como semente que o Espírito
Santo está fazendo brotar, como lemos em Rm 8.23:nós temos as primícias do Espírito,
aguardando a adoção de filhos, ou ainda em II Co 7.21-22: “mas aquele que nos confirma
convosco em Cristo, e nos ungiu, é Deus, que também nos selou e nos deu o penhor do
Espírito em nossos corações”. 3- Jesus iniciou a sua Missão no mundo com a pregação:
“O tempo está cumprido e o Reino de Deus está próximo, arrependei-vos e crede no
Evangelho ”Mc 1.15. 4- O propósito de Deus é, reconciliar consigo mesmo o ser humano,
libertando-o de todas as coisas que o escravizam, concedendo-lhe uma nova vida à
imagem de Jesus Cristo, através da ação e poder do Espírito Santo, a fim de que, como
Igreja, constitua neste mundo e neste momento histórico, sinais concretos do Reino de
Deus. 5- A missão é de Deus - Pai, Filho e Espírito Santo. O objetivo é construir o Reino
de Deus. O seu amor é a força motivadora de sua presença e ação. “Ele trabalha até agora”
( Mt 28.19; Jo 3.16): a) criando as pessoas e comunidades, dando-lhes condições para
viver, trabalhar e construir suas vidas como pessoas e como comunidades ( Gn 1.26-31;
Gn 2; II Co 5.17); b) Ajudando as pessoas e comunidades a superar seus conflitos e
pecados, trabalhando juntos e participando da vida abundante, concedida em Cristo por
meio da reconciliação ( Gn 3.8-21; Gn 12.1- 13; Jo 10.10; II Co 5.19); c) possibilitando
as pessoas e comunidades a se encontrarem como irmãos e irmãs, reconhecendo e
aceitando como Pai ( Mt 6.8-10) ; d) abrindo, pela ação do Espírito Santo, novas
possibilidades e fontes de vida ( At 2.17-21; I Co 12.4-11; Rm 12.6-8); e) sarando as
pessoas e as instituições, podando delas o que não convém, por meio de seu juízo e graça
( Ef 2.11-21; Fp 4.2-9; Jo 15); f) envolvendo todas as pessoas e comunidades e todas as
coisas neste seu trabalho. 6- Na História, e especialmente na do povo de Israel, Deus
revela a sua ação salvadora a favor das pessoas e do mundo. A concretização plena desta
ação deu-se na encarnação de Jesus Cristo. Ele assumiu as limitações humanas, trouxe as
boas-novas do Reino de Deus, confrontou os poderes do mal, do sofrimento e da morte,
vencendo-os em sua ressurreição ( Hb 1.1-14). 7- Na construção da vida e na realização
desta obra, as pessoas e comunidades sofrem com o domínio das forças satânicas e do
pecado. O pecado e o domínio destas forças manifestam-se de diferentes maneiras em
pessoas, grupos e instituições impedindo a vida abundante e contrariando a vontade de
Deus. 8- Através de Jesus Cristo, sua vida, trabalho e mensagem, sua morte, ressurreição
e ação redentora podemos compreender a ação de Deus no passado; as oportunidades à
esperança da vida plena no futuro que Ele nos oferece no presente, e a possibilidade de
se participar na construção deste futuro agora. É de Jesus Cristo que vem o poder para
142
esta participação. 9- A Igreja, fiel a Jesus Cristo, é sinal e testemunha do Reino de Deus.
É chamada a sair de si mesma e se envolver no trabalho de Deus, na construção do novo
ser humano e do Reino de Deus. Assim, ela realiza sua tarefa de evangelização ( Hb 2.18
). 10- A Igreja Metodista no Brasil é parte da Igreja Metodista na América Latina e no
mundo, ramo da Igreja Universal de Nosso Senhor Jesus Cristo. Sensível à ação do
Espírito Santo, reconhece-se chamada e enviada a trabalhar com Deus neste tempo e lugar
onde ela está. Neste tempo, fazemos uma escolha clara pela vida, manifesta em Jesus
Cristo, em oposição à morte e a todas as forças que a produzem. C) NECESSIDADES
E OPORTUNIDADES
143
D ) O QUE É TRABALHAR NA MISSÃO DE DEUS?
• É trabalhar para o Senhor do Reino num mundo espremido pelas forças do pecado e da
morte, participando, como comunidade, com dons e serviços para o nascer da vida ( Jr
1.4-10; Fp 1.18-26, 3.10- 11; II Tm 1.10; I Jo 3.14); • É somar esforços com outras pessoas
e grupos que também trabalham na promoção da vida ( Mc 9.38-41 ; At 10.28, 15.8-11).
A Igreja participa na missão e cresce em santificação, o que acontece quando produz atos
de piedade e obras de misericórdia. Os atos de piedade são principalmente o culto e o
cultivo da piedade pessoal e comunitária e as obras de misericórdia são preferencialmente
o trabalho que valoriza e realiza a pessoa enquanto constrói em amor e justiça, a nova
comunidade e o Reino de Deus. Assim, a Igreja participa na Missão e cresce quando:
Cultua a Deus
O culto deve:
• Ser amplamente participativo, onde a comunidade tenha vez e voz; • ser inserido no dia-
a-dia da comunidade onde a Igreja está localizada; • expressar as angústias, lutas, alegrias
e esperanças do povo, ofertando-as a Deus ( I Co 14.26; Cl 3.16- 17; Sl 150; Cl 3.17; Ef.
5.19-21; Mt 6; Sl. 71; Rm 8.15-39; Ef 3.14-17, 20-21). O culto continua através da oração
e meditação pessoais, da família e de grupos. Ele se completa no oferecimento da vida
em atos de amor e justiça ( Ef 6.10-20; Dt 6.4-9 ; Sl 15).
Ser uma oportunidade para “apelos” a todos os homens e mulheres para aceitarem Jesus
Cristo como Salvador.
144
2- Aprende em comunidade
3- Trabalha
O trabalho é algo próprio do ser humano porque é próprio do Criador. O trabalho pode
ser experiência de sofrimento ou de libertação. Nossa participação no Reino de Deus
renova a nossa compreensão acerca do trabalho . Seus resultados e seus benefícios torna-
se fontes de realização da vida pessoal e comunitária ( Jo 5.17;II Tm 2.6; I Co 15.58 ; II
Co 6.5ss, 11.22-27, Tg 5.4; I Tm 5.18; Gn 2.15).
145
• para que haja vida é necessário comunhão e reconciliação com Deus e o próximo, direito
à terra, habitação, alimentação, valorização da família e dos marginalizados da família,
saúde, educação, lazer, participação na vida comunitária, política e artística, e preservação
da natureza ( At 2.42; II Co 5.18-20; Jo 10.10, 15.5; I Jo 1.7); • para que haja trabalho, é
necessário haver, humanização do trabalho, melhor distribuição da riqueza, organização
e proteção do trabalhador, segurança, valorização, oportunidade para todos de salários e
empregos ( Êx 23.12-13, Jr 23.12; Lv 19.13-14, 25.35-38; Dt 24.14-15; Sl 72).
Colhemos a nova vida em Cristo como fruto do trabalho de Deus em nós, através de nós
e do mundo ( Mt 12.33, 13.8, 23, 7.16-17; Jo 15.12-16).
Esta nova vida se expressa: • na descoberta do novo relacionamento com Deus e com os
outros ( Mt 22.36-40); • na redescoberta contínua do sentido pleno da vida em nosso
compromisso com a vontade de Deus na História ( Mt 6.10; Mc 3.35; Jo 4.34, 6.40);
Nosso trabalho tem sua raiz e força na confiança de que Deus está conosco, vai à frente e
é a garantia da concretização do Reino de Deus no presente e no porvir. Ainda que as
forças do mal e da morte lutem para dominar o nosso mundo, nossa esperança reside
naquele que as venceu, Jesus Cristo, que tornou real a ressurreição e a vida eterna. A
vitória da vida já pode ser percebida na luta que travamos contra as forças da morte, pois
já temos os primeiros frutos do Reino (primícias) que nos nutrem e nos levam a preservar
na caminhada orando “VENHA O TEU REINO” (Ex 3.7-15; Mt 28.20; Sl 2; Rm 8.37-
39; Gl 5.5; Ef 4.4; l Co 15.55-58).
Apresentamos, a seguir, o plano específico para cada área de vida e trabalho da Igreja
Metodista.
O que é Missão? Missão é a construção do Reino de Deus, sob o poder do Espírito Santo,
através da ação da comunidade cristã e de pessoas, visando surgimento da nova vida
146
trazida por Jesus Cristo para renovação do ser humano e das estruturas sociais, marcados
pelos sinais da morte.
1- Conceito: A ação social da Igreja, como parte da missão, é nossa expressão humana
do amor de Deus. É o esforço da Igreja para que na terra seja feita a vontade do pai. Isto
acontece quando sobre a ação do Espírito Santo, nos envolvemos em alternativas de amor
e justiça que renovam a vida e vencem o pecado e a morte, conforme a própria experiência
e vida de Jesus Cristo.
2 - Objetivos :
3 - Campo de Atuação : A Igreja Metodista cumpre a sua missão na área de ação social,
atuando nas seguintes ocasiões:
3.1 - em qualquer situação onde a opressão e a morte negou a realidade da vida com a
qual Deus comprometeu desde o começo do mundo; 3.2 - as estruturas sociais que se
tornaram obsoletas e desumanizantes, opressoras e injustas; 3.3 - na pessoa visando à
restauração da sua integralidade e do seu ambiente de vida; 3.4 - nos sofrimentos
humanos, participando de soluções para sua superação; 3.5 - nos conflitos humanos,
buscando promover a paz, combater a guerra e toda a violência; 3.6 - na educação integral
da pessoa.
4 - Meios de Atuação:
4.1 - exercer a justiça e o amor, como sinais da vinda do Reino de Deus; 4.2 - prática dos
princípios manifestados no Credo Social da Igreja Metodista; 4.3 - conhecer a Igreja,
especialmente a igreja local, descobrir suas possibilidades e seus dons e valorizar seus
ministérios para alcançar a participação total do povo na missão de Deus ( 1Co 12.1-30;
Ef 4.5); 4.4 - conhecer o bairro, a cidade, o campo, o país, o continente, o mundo e os
147
acontecimentos que os envolvem, porque e como ocorrem e suas conseqüências. Isso
inclui conhecer a maneira como as
2 - Objetivos :
148
Missão; 2.2 - orientar a Igreja em todas as suas áreas, no uso das comunicações sociais;
2.3 - conscientizar a população quanto ao uso dos meios de comunicação em massa,
esclarecendo-lhe os aspectos positivos e negativos dos mesmos, e como afetam a própria
concepção da vida, podendo ser utilizados como instrumentos de sustentação da anti-vida;
2.4 - produzir ou fazer produzir o material de comunicação social, necessário aos
programas e atividades da Missão; 2.5 - atender as solicitações de prestação de serviço,
dentro das prioridades da Igreja, em todos os setores de sua atuação; 2.6 - criar ou
estimular a criação de programas de comunicação social, especialmente em áreas carentes
da presença evangelizante da Igreja.
3 - Campos de Atuação:
A Igreja Metodista cumpre a sua missão na área de Comunicação Cristã atuando nos
seguintes campos:
4 - Meios de Atuação:
149
comunicação social, como instrumento da Missão; 4.10- organização de um cadastro dos
meios de comunicação que estão sendo utilizados pela Igreja Metodista, relacionando-os;
4.11- utilização de uma assessoria de imprensa junto ao Colégio Episcopal e o Conselho
Geral, para divulgar pronunciamentos e informações oficiais da Igreja Metodista; 4.12-
utilização de espaços disponíveis em veículos de comunicação social para divulgação de
matérias e assuntos da Igreja; 4.13- municiamento da igreja local com sugestões e idéias
para atividade da comissão de comunicação local; 4.14- dinamizar a atividade musical,
inclusive instrumental, como veículo de comunicação na adoração, proclamação,
testemunho e serviço.
C ) Área de Educação
A educação como parte da Missão é o processo que visa oferecer à pessoa e comunidade,
uma compreensão da vida e da sociedade, comprometida com uma prática libertadora,
recriando a vida e a sociedade, segundo o modelo de Jesus Cristo, e questionando os
sistemas de dominação e morte, à luz do Reino de Deus.
2- Objetivos:
3- Campo de Atuação
A Igreja Metodista cumpre sua missão na área de Educação Cristã, atuando nos seguintes
campos:
150
3.1- no lar; 3.2- na igreja local; 3.3- nas instituições de Ensino da Igreja, Escolas Oficiais
do Estado e Universidades, grupos comunitários; 3.4- na sociedade.
4 - Meios de Atuação
A Igreja Metodista cumpre sua missão na área de Educação Cristã, usando os seguintes
meios:
2- Objetivos:
151
2.1 - criar instrumentos para a reflexão teológica que propicie a ação pastoral de todo o
povo de Deus; 2.2 - preparar pastores e pastoras leigos e leigas para a Missão; 2.3 -
capacitar o pastor para o preparo dos membros com vistas à Missão; 2.4 - analisar os
fundamentos bíblico-teológicos das doutrinas cristãs enfatizadas pelo metodismo à luz da
sociedade brasileira; 2.5 - preparar obreiros para exercer ministérios em áreas especiais;
2.6 - manter o ministério pastoral e leigo atualizado para a Missão; 2.7 aprofundar a
pesquisa teológica no contexto brasileiro e latino-americano; 2.8 - integrar a educação
teológica em um programa nacional de educação teológica.
1 - Conceito: É o processo que oferece formação melhor qualificada nas suas diversas
fases, possibilitando às pessoas desenvolvimento de uma consciência crítica e seu
comprometimento com a transformação da sociedade, segundo a Missão de Jesus Cristo.
2 - Objetivos :
152
necessidades do povo através da criação de escolas em áreas geográficas em
desenvolvimento e em áreas carentes; 2.5 - propiciar possibilidades de estudos a alunos
carentes; 2.6 - deixar claro o chamado de Jesus Cristo para o comprometimento da fé num
espírito não-sectarista.
1 - Conceitos:
1.1 - Ministério Cristão como parte da Missão é serviço de todo o povo a partir do batismo
e da vocação divina. O cumprimento da Missão, todas a áreas da existência e da
sociedade, sob ação do Espírito Santo, requer preparo oferecido pela Igreja. 1.2 -
Ministério Cristão é também exercido de modo especial por pessoas que Deus chama
dentre os membros da Igreja como pastores e pastoras para a tarefa de edificar, equipar e
aperfeiçoar a comunidade da fé, capacitando-a para o cumprimento da Missão ( Ef 4.11-
12). 1.3 - A Igreja afirma a existência de dons para o exercício de outros ministérios - tais
como capelanias, serviços sociais, evangelistas, músicos etc. - cabendo-lhe perceber e
definir prioridades e facilitar o desenvolvimento e uso destes dons. ( Ef. 4.7-13; Rm
12.12-14; I Co 12,13 e 14; I Pe 4).
2 - Objetivos:
153
pessoa com Deus e o reencontro da Igreja com sua vocação e missão; 2.3 - desenvolver a
consciência de que, através do batismo, profissão de fé ou confirmação, o cristão se torna
membro do corpo de Cristo, por isto, participa da missão; 2.4 - o ministério pastoral visa
converter a capacitação e desenvolvimento da vida e ação dos membros da Igreja em
todas as áreas de existência.
3.1 - na sociedade; 3.2 - na Igreja em geral; 3.3 - na igreja local; 3.4 - nas instituições da
Igreja; 3.5 - nas áreas de ministérios especiais, particularmente com jovens, juvenis e
crianças; 3.6 - no exercício profissional consciente de estar operando os sinais do Reino
de Deus. 4 - Meios de Atuação: A Igreja Metodista cumpre a sua missão na área de
Ministério Cristão, usando os seguintes meios:
E) Área de Evangelização
2 - Objetivos:
2.1 - confrontar o ser humano e as estruturas sociais com Jesus Cristo e o Reino por Ele
proclamado a fim de que as pessoas e a sociedade o confessem como Senhor, Salvador e
Libertador, e as estruturas sejam transformadas segundo o Evangelho; 2.2 - libertar a
154
pessoa e a comunidade de tudo que as escravizam e conduzi-las a plena comunhão com
Deus e o próximo.
3.1 - pessoas, grupos e estruturas; 3.2 - lares e instituições; 3.3 - zona rural, suburbana e
urbana; 3.4 - grupos periféricos, marginalizados e minorias étnicas ( pobres, menores,
presos, prostitutas, idosos, toxicômanos, alcoólatras e outros).
4.1 - presença de Jesus Cristo, através do cristão e da comunidade cristã, nas mais
diferentes situações da vida humana; 4.2 - conscientização e preparo do cristão para o
exercício da Missão; 4.3 - estudos bíblicos através de pessoas capacitadas; 4.4 - literatura
adequada, visando ao preparo e a tarefa do evangelista; 4.5 - pontos missionários locais;
4.6 - campos missionários regionais e gerais, com envolvimento das igrejas locais;
4.7 - atividades e programas regulares da igreja local; 4.8 - culto comunitário e familiar;
4.9 - serviço de capelania em hospitais, prisões, escolas e outros; 4.10 - visitação nos
lares; 4.11 - realização de séries de pregações, que incluam o preparo, a realização e o
acompanhamento dos que se mostrarem interessados na nova vida em Cristo; 4.12 - igreja
local como comunidade solidária em situações de crise; 4.13 - veículos de comunicação
social; 4.14 - Escolas Dominicais.
2 - Objetivos:
155
); 2.5 - observar os princípios da ética cristã no uso do patrimônio e finanças ( Ex 23.1-9;
Pv 2.6-9 ); 2.6 - manter todos os recursos patrimoniais e financeiros em nome da
Associação da Igreja Metodista e em regularidade legal.
3.1 - Concílio e conselhos, Geral, Regional e Local; 3.2 - órgãos e instituições gerais,
regionais e locais; 3.3 - igrejas locais; 3.4 - programas e atividade da Igreja.
Espírito Santo através da rica diversidade de dons, ministérios, serviços e estruturas que
possibilitam aos cristãos trabalharem em amor na construção do Reino de Deus até a sua
concretização plena ( Jo 10.17; 17.17-23; I Co 1.10-13; 12.4-7, 12 e 13; Ef 4.3-6; Ef 2.10-
11 ).
156
2 - Objetivos :
2.1 - cumprir a ordem do Senhor Jesus Cristo, “que todos sejam um para que o mundo
creia”; 2.2 - fortalecer o sistema de conexão através de um processo dinâmico de inter-
relacionamento das Igrejas Metodistas a nível local, regional e geral; 2.3 - cultivar a
identidade histórica do metodismo como contribuição para a unidade do Corpo de Cristo;
2.4 - dentro da unidade cristã, cultivar a riqueza da diversidade de dons e serviços cristãos,
na unidade do Espírito ( I Co 12.4-11l Ef 4.3-6; Rm 12.1n); 2.5 - dar continuidade aos
esforços e a participação da Igreja Metodista em favor da Unidade Cristã, bem como
incentivo a participação e cooperação da Igreja em sinais visíveis; que enriqueçam a
unidade cristã; 2.6 - dar continuidade à tradição metodista reconhecendo que ela oferece
uma base própria e condizente para o diálogo entre posições.
3 - Campo de Atuação: A Igreja Metodista cumpre sua missão na Área de Unidade Cristã,
atuando nos seguintes campos:
3.1 - áreas de ação mencionadas neste Plano; 3.2 - metodismo brasileiro, latino-americano
e mundial; 3.3 - outras Igrejas e organizações e movimentos cristãos; 3.4 - movimentos e
organizações ecumênicas; 3.5 - comunidade local: em atividades de alcance social e
comunitária onde Igrejas ou grupos de diferentes confissões encontram uma missão
comum.
4 - Meios de Atuação: A Igreja Metodista cumpre sua missão na área de Unidade Cristã,
usando os seguintes meios:
4.1 - divulgação e análise através dos órgãos de comunicação, das decisões do Concílio
Geral; 4.2 - desenvolvimento de uma teologia que fortaleça nossa identidade wesleyana,
visando a uma prática pastoral comum e uma abertura para a unidade dos cristãos; 4.3 -
ação permanente do Colégio Episcopal, dos Bispos, dos pastores, dos leigos em geral, na
direção da unidade da Igreja; 4.4 - continuação e fortalecimento da integração da Igreja
Metodista brasileira com o metodismo latino- americano e mundial; 4.5 - participação em
organizações cristãs de nível nacional, continental e mundial, visando a uma ação
profética comum; 4.6 - formação de consciência de uma identidade metodista, a nível
comum na Missão com outros grupos cristãos, respeitadas as diversidades de dons e
estruturas; 4.7 - diálogo com as demais Igrejas de tradição metodista existentes no Brasil,
para conhecimento mútuo e busca de caminhos de aproximação; 4.8 - através de
declarações oficiais, definições doutrinárias e pastorais emanadas do Colégio Episcopal.
157
Parágrafo único - Os organismos integrantes de Administração Superior, Intermediária e
Básica, elaboram os Planejamentos e Programas Nacionais, Regionais e Locais,
respectivamente, com base no Plano para a Vida e a Missão, consubstanciado-o em seus
níveis correspondentes.
158
ANEXO 2
DIRETRIZES PARA A EDUCAÇÃO NA IGREJA METODISTA
Art. 25 - O XIII Concílio Geral aprovou as seguintes Diretrizes para a Educação na Igreja
Metodista:
Prefácio Histórico
159
dos representantes. Os alunos de cada instituição de ensino teológico também foram
convidados a enviar um representante.
A educação tem sido um dos instrumentos sempre presentes na ação da Igreja Metodista
no Brasil. Como instrumento de transformação social, ela é parte essencial do
envolvimento da Igreja no processo da implantação do Reino de Deus.
Levando em conta o evangelho e sua influência sobre todos os aspectos da vida, a ação
educativa metodista trouxe muitas contribuições positivas. Por meio especialmente da
igreja local, muitas pessoas foram convertidas e transformadas, modificando suas vidas e
seu modo de agir. Por intermédio das instituições a Igreja buscou a democratização e a
liberalização da educação Brasileira. Suas propostas educacionais eram inovadoras e
humanizantes pois ofereciam um tipo de educação alternativa aos rígidos sistemas jesuíta
e governamental.
A ação educativa da Igreja, entretanto, deu muito mais valor às atitudes individualistas
em relação à sociedade. O mais importante era uma participação pessoal e isolada. No
caso específico das nossas escolas,
160
culturais a ação educativa metodista tornou-se prejudicada em dois pontos importantes:
primeiro, porque não se identificou plenamente com a cultura brasileira; segundo, por ter
apresentado pouca preocupação em descobrir soluções em profundidade para os
problemas dos pobres e desvalidos, que são a maioria do nosso povo.
Hoje, no Brasil, vivemos situações que exigem de nós resposta concreta. Os problemas
que afligem nosso povo, desde a família até os aspectos mais amplos da vida nacional,
colocam um grande desafio e todos precisamos contribuir para encontrar as soluções que
atendam aos verdadeiros interesses da maioria da nossa população. Percebemos que
muitas são as forças contrárias a vida. Mas Também acreditamos que o evangelho nos
capacita para encontrar aquelas soluções que possibilitam a realização dos verdadeiros
interesses do povo Brasileiro. Por isso, nós, metodistas, à luz da Palavra de Deus,
examinamos nossa ação educativa presente, dispondo-nos a buscar novas linhas para esta
ação.
O Deus da Bíblia - que é Pai, Filho e Espírito Santo - se revela na história humana como
Criador, Senhor, Redentor, Reconciliador e Fortalecedor. Este Deus Trino, em seu
relacionamento com o Ser Humano, cria uma nova comunidade, sinalizada
historicamente através da vida do povo de Israel e da Igreja. A ação divina sempre nos
aponta para a realização plena do Reino de Deus.
A ação de Deus se realiza por meio do Espírito Santo ( Jo 16.7-14 ). O dom do Espírito é
a força e o poder que faz brotarem entre nós os sinais do Reino de Deus e sua justiça, da
nova criação, do novo homem, da nova mulher, da nova sociedade ( II Co 5.5, 14-17). O
161
Espírito nos revela que o Reino de Deus é maior que qualquer instituição ou projeto
humano ( Mt 12.1-8).
Toda a nossa prática deve estar de acordo como o Reino de Deus ( Mt 6.33; Jo 14.26 ) e
o Espírito Santo é quem nos mostra se esta concordância existe ou não. O Espírito de
Deus age onde, como e quando quer ( Jo 3.5-8) a fim de criar as condições para o
estabelecimento do Reino. Só quando compreendemos isso é que nos comprometemos
com o projeto de Deus. Então percebemos claramente que Deus que dar ao ser humano
uma nova vida à imagem de Jesus Cristo, através da ação e do poder do Espírito Santo.
Por isso Ele condena o pecado individual e social gerador das forças que impedem as
pessoas e os grupos de viverem plenamente.
A revelação do Reino de Deus em Jesus Cristo é motivo de esperança para todos nós (
Rm 8.20-25). O Reino se realiza parcialmente na história ( Mt 12.28) por meio de sinais,
que apontam para a plenitude futura. Ele é o modelo permanente para a ação do povo de
Deus ( Mt 20.24-28) criando em nós consciência crítica ( I Co 2.14-16), capaz de
desmascarar todos os sistemas de pensamento que se julgam donos exclusivos da verdade.
A esperança no Reino permite que participemos de projetos históricos que visam à
libertação da sociedade e do ser humano. Ao mesmo tempo nos liberta da idéia de que os
projetos humanos são auto-suficientes e nos leva a qualquer atitude de endeusamento de
instituições.
exige compromisso do novo homem e da nova mulher e sua sociedade, na direção da vida
abundante da justiça e liberdade oferecidas por Cristo.
162
Deus se manifesta sempre em atos de amor, pois ele é amor ( I Jo 4.7-8 ) e quer alcançar
a toda a criação, pois nada foge à graça divina. Em Cristo, Deus nos ama de tal maneira
que dá sua vida por todos, alcançando especialmente os pobres, os oprimidos e
marginalizados dos quais assume a defesa com justiça e amor. Seu amor quebra as cadeias
da opressão, do pecado, em todas as suas formas. Por seu amor ele nos liberta do egoísmo
para uma vida de comunidade em amor e serviço ao próximo.
O Reino de Deus alcança qualquer tipo de pessoa, quaisquer que sejam suas idéias, suas
condições sociais, culturais, políticas, econômicas ou religiosas. Alcança igualmente a
pessoa como um todo.: corpo, mente e espírito, com todas as suas exigências.
Os atos de Deus, através dos quais ele revela e inauguras o seu Reino, nos ensinam
também como devemos agir, e são o critério para a ação missionária da Igreja.
Toda a ação educativa se baseia numa filosofia, isto é, numa visão a respeito do mundo e
das pessoas. Em nosso caso, a filosofia é iluminada pela fé, estando por isso sempre
relacionada com a reflexão teológica à luz da revelação bíblica em confronto com a
realidade.
Até o momento, nossa ação educativa tem sido influenciada por idéias da chamada
filosofia liberal, típicas de nossa sociedade, resultando num tipo de educação com
características acentuadamente individualistas.
Nenhum desses elementos está de acordo com as bases bíblico-teológicas sobre as quais
se deve fundamentar a prática educativa metodista.
A Educação na perspectiva cristã, “como parte da Missão é o processo que visa oferecer
à pessoa e comunidade, uma compreensão da vida e da sociedade, comprometida com
uma prática libertadora, recriando a vida e a sociedade, segundo o modelo de Jesus Cristo,
e questionando os sistemas de dominações e morte, à luz do Reino de Deus”( Plano Para
a Vida e a Missão da Igreja Metodista ). Por isso a Igreja precisou definir novas diretrizes
educacionais voltadas para a libertação das pessoas e da sociedade.
163
A partir dessas diretrizes a Igreja desenvolverá sua prática educativa, de tal modo que os
indivíduos e os grupos:
A ação educativa da Igreja tem que estar mais firmemente ligada aos objetivos da Missão
de Deus, visando a implantação do seu reino. Além disso, nossos esforços educacionais
de todo tipo têm também que se identificar mais com a cultura brasileira, e atender às
principais necessidades do nosso povo. Por isso é preciso que busquemos novos
caminhos.
Uma tomada de decisão nesse sentido não deve ser entendida como simples reação às
falhas que encontramos na ação educativa, mas como uma atitude necessária de uma
Igreja que deseja ser serva fiel, participando ativamente na construção do Reino de Deus.
1 - Dar continuidade, sob a ação do Espírito Santo, ao processo educativo realizado por
Deus em Cristo, que promove a transformação da pessoa em nova criatura e do mundo
em novo mundo, na perspectiva do Reino de Deus; 2 - Motivar educadores e educandos
a se tornarem agentes positivos de libertação, através de uma prática educativa de acordo
com o Evangelho; 3 - Confrontar permanentemente as filosofias vigentes com o
Evangelho; 4 - Denunciar todo e qualquer tipo de discriminação ou dominação que
164
marginalize a pessoa humana, e anunciar a libertação em Jesus Cristo; 5 - Respeitar e
valorizar a cultura dos participantes do processo educativo, na medida em que estejam de
acordo com os valores do Reino de Deus; 6 - Apoiar os movimentos que visem à
libertação dos oprimidos dentro do espírito do Evangelho libertador de Jesus Cristo; 7 -
Despertar consciência crítica e sensibilizada para o problema da justiça, num mundo
marcado pela opressão.
165
da Igreja Metodista, tanto ao nível local quanto a nível de instituição, procurarão orientar
os participantes de seu trabalho sobre as diretrizes ora adotadas, empenhando-se
igualmente para que elas sejam vividas na prática.
A Igreja entende a Educação Secular que promove como o “processo que oferece
formação melhor qualificada nas suas diversas fases, possibilitando às pessoas o
desenvolvimento de uma consciência crítica e seu comprometimento com a
transformação da sociedade , segundo a missão de Jesus Cristo”( Plano Para a Vida e a
Missão da Igreja).
Por isso:
166
ser feita a partir da revelação, no contexto do povo brasileiro e tendo em vista o
atendimento de suas necessidades. 4 - O processo de recrutamento dos que aspiram ao
pastorado, incluirá, sistematicamente, um programa pré- teológico de estudos, que os
iniciará no processo de reflexão sobre as preocupações da Igreja, como definidas nos seus
documentos. 5 - A educação teológica será desenvolvida observando-se os seguintes
relacionamentos:
de Deus, num comprometimento com a Missão de Deus no mundo, sob a ação do Espírito
Santo, que revela Jesus Cristo, segundo as Escrituras” ( Plano Para a Vida e a Missão da
Igreja ). 2 - O currículo de educação cristã na escola dominical será fundamentado na
Bíblia e tratará de relacionar os relatos bíblicos à realidade na qual a Igreja se encontra. 3
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- As secretarias executivas regionais de educação cristã estabelecerão cursos e programas,
com vistas à formação e aperfeiçoamento dos obreiros da Escola Dominical, para que
desenvolvam uma metodologia de ensino compatível com as diretrizes contidas neste
documento. 4 - A Igreja retomará especial cuidado para com a criança e o adolescente,
redefinindo a organização destes grupos e provendo material educativo adequado para
estas idades. 5 - Os grupos societários desenvolverão estudos e programas que auxiliem
os seus participantes a compreender e viver a ação libertadora do Evangelho e serão
municiados pela Igreja com literatura e sugestões apropriadas para alcançarem este
objetivo. 6 - Tendo em vista o fato de que a liturgia é um processo educativo, os pastores
e obreiros leigos serão incentivados a descobrirem novas formas litúrgicas que promovam
a educação do povo de Deus. 7 - O Conselho Geral estabelecerá programas mínimos de
educação religiosa para as instituições metodistas de ensino secular, em todos os níveis,
levando em conta as diretrizes aqui estabelecidas. 8 - O Conselho Geral providenciará
programas mínimos de educação religiosa a serem desenvolvidos, quando isto for
possível, em escolas públicas. 9 - O Conselho Geral providenciará material educativo a
ser utilizado na igreja local e capacitação do catecúmeno, neo-convertido, pais e
testemunhas quanto ao batismo e noivos, quanto ao casamento. 10- O Conselho Geral
providenciará material educativo a ser utilizado na igreja local visando à conscientizar a
família acerca de seu papel à luz da Missão.
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