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Um Novo Equilibrio Global Historia A 12º

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1.

Um novo equilíbrio global


Quatro anos de destruição e morte, tantos quanto durou a Primeira
Guerra Mundial, terminaram em 11 de novembro de 1918.

A Conferência de Paz teve inicio em janeiro de 1919, em Paris.

Contou apenas com a presença das potências vencedoras tal como a


França com Clemenceau; a Grã-Bretanha através de Lloyd George; e os
Estados Unidos com Wilson.

A mensagem em 14 pontos serviu de base às negociações. Defendia a
pratica de uma diplomacia transparente, a liberdade de navegação e de
trocas, a redução dos armamentos, o respeito para com as
nacionalidades e a criação de uma liga de nações.

Os acordos de paz surgiram a partir de junho de 1919.

1.1.1. A geografia política após a Primeira Guerra Mundial; A


sociedade das Nações

❖ O triunfo das nacionalidades e da democracia

Os tratados de paz conduziram a uma profunda transformação do mapa


da Europa e do medio oriente .

Depois da queda do império russo , na sequência da revolução


bolchevista de outubro de 1917 , os impérios alemão , austro-húngaro e
otomano desmoronaram-se . Povos que viviam oprimidos no território
dos impérios alcançam a independência política , proliferando estados-
nações. Alguns estados ampliam as suas fronteiras .

Para os vencidos ,as perdas afiguram-se deveras pesadas e violentas.


A grande perdedora foi a Alemanha , viu-se amputada de 1/7 do seu
solo ; 1/10 e cortada em duas ja que o “ corredor de Dantzig” (da
polónia) separou a Prussia oriental do restante território alemão. Perdeu
todas as suas colónias, a frota de guerra, parte da frota mercante, as
minas de carvão do Sarre e foi obrigada a reparar financeiramente os
prejuízos causados pela guerra . Alem disso foi aniquilada a capacidade
militar desta .

Sendo assim houve a criação de um organismo destinado a


salvaguardar a paz e a segurança internacionais - Sociedade Das
Nações .

❖ A Sociedade das Nações: esperança e desencanto


A SDN (1919) empenhou-se na cooperação entre os povos, na
promoção do desarmamento e na solução dos litígios pela via da
arbitragem pacífica.

A sede fixou-se em Genebra, onde se reuniam regularmente os estados-


membros em Assembleia Geral. Destes, apenas 9 formavam o
Conselho, encarregado de gerir os conflitos que ameaçassem a paz. O
secretariado preparava os trabalhos. O tribunal Internacional de Justiça,
o Banco Internacional, a Organização Internacional do Trabalho, a
Comissão Permanente dos Mandatos, dava cumprimento ao audacioso
programa da SDN.

A SDN foi um instrumento de esperança. Desejava-se que a Grande


Guerra tivesse sido a última, tal não veio a acontecer, tanto por
incapacidade da SDN como da nova ordem internacional que se revelou
ameaçada desde a própria Conferência de Paz.

Humilhados, os povos vencidos sempre rejeitaram os tratados em cuja


elaboração não participaram. A Alemanha, acabou por permitir a
ascensão do nazismo e, com ele, o segundo conflito mundial.

Nem todos os vencedores se mostravam satisfeitos com os tratados de


paz. A regulamentação de fronteiras e a não resolução, de forma
satisfatória, da questão das 'minorias nacionais' inquinaram, desde
cedo, as relações internacionais. O principio das nacionalidades, tal
como o século XIX o defendera, apenas foi parcialmente aplicado.

A questão das reparações de guerra tornou-se outro obstáculo a uma


paz duradoura .

Os E.U.A desistiram de participar na SDN. Cada vez mais, esta se


tornou um clube restrito de países vencedores. Assim, a SDN viu-se
impossibilitada de desempenhar o seu papel de organizadora da paz.

1.1.2 A difícil recuperação económica da Europa e a


decadência em relação aos Estados Unidos

❖ O declínio da Europa

A Primeira Guerra Mundial deixou uma Europa arruinada, no plano


humano e material.

Durante a guerra, a Europa tornou-se extremamente dependente dos


E.U.A, seu principal fornecedor. Acumulou dívidas. Acontece que,
finalizado o conflito, as economias europeias registaram grandes e
naturais dificuldades de reconversão.

A população ativa foi substancialmente ceifada; os campos,


queimados, não produziam; as fábricas, as minas e frotas estavam
destruídas e as finanças desorganizadas. Por isso, a Europa continuou
compradora de bens e serviços americanos e viu o endividamento então
agravar-se.

O recurso á emissão massiva de notas afigurou-se, aos dirigentes


europeus, a melhor solução para multiplicar o meios de pagamento e
fazer face ás dividas. Mas a circulação de uma maior quantidade de
moeda fiduciária, sem um incremento correspondente na produção,
provocou uma desvalorização monetária que se traduziu numa alta de
preços interna. Em 1920, a Europa viu-se a braços com uma inflação
galopante. A situação atingiu contornos gravíssimos entre os vencidos
da guerra, obrigados ao pagamento de pesadas indemnizações. Em
1922, o Estado austríaco declarou falência e foi colocado sobre o
controlo financeiro da SDN. Em 1923, na Alemanha desvalorizou-se o
marco. Filas de espera criavam-se constantemente á porta dos bancos
para obter novas notas dada a perda de valor das anteriores.

❖ A ascensão dos Estados Unidos e a Recuperação Europeia

Os E.U.A apresentavam, em 1919, uma imagem de sucesso, patente


numa prodigiosa capacidade de produção e na prosperidade da sua
balança de pagamentos.

Mas a economia americana não ficou imune ás dificuldades da Europa.


Em 1920-21, registou mesmo uma crise breve, mas violenta, relacionada
com a dificuldade da procura externa. A produção industrial desceu, o
índice de preços caiu e o desemprego cresceu. Um esforço na aplicação
dos métodos de racionalização do trabalho, a fim de diminuir os custos
de produção, permitiu que muitas empresas, embora com baixa de
lucros, continuassem viáveis, A concentração capitalista de empresas
tornou-se uma medida necessária para rentabilizar esforços e relançar a
economia nos países industrializados.

Entretanto, a Europa procurava a estabilidade monetária.

Foi, porém, nos créditos americanos que repousou a recuperação


económica europeia. Os E.U.A prestaram uma especial atenção ás
finanças europeias. Empréstimos avultados seguiram, desde 1924, para
a Europa, nomeadamente para a Alemanha, permitindo-lhe pagar as
reparações devidas á França e á Inglaterra. Ficaram estes países, em
consequência, em condições de reembolsar os Estados Unidos das
dívidas de guerra e dos empréstimos entretanto efetuados. A
dependência da Europa em relação aos Estados Unidos estava
consagrada. Entre 1925 e 1929, finalmente, o mundo capitalista respirou
fundo. Sob o lema de uma produção de massa para um consumo de
massa, viveram-se os anos da prosperidade americana e os ' felizes
anos 20' na Europa. A produção de petróleo e de eletricidade conheceu
notáveis progressos, tal como a siderurgia e a química. Eletrodomésticos
e automóveis satisfaziam a febre consumista de americanos e europeus.

1.2. A implantação do marxismo-leninismo na Rússia: a


construção do modelo soviético
Em outubro de 1917, a Rússia viveu uma revolução que fez do pais o
primeiro Estado Socialista do Mundo. Em Marx buscaram os
revolucionários a inspiração. Em Lenine encontraram o líder
incontestado e o grande responsável pela implementação dos princípios
marxistas. As suas ideias e a sua ação deram corpo ao chamado
marxismo-leninismo.

1.2.1. 1917: O ano das Revoluções

❖ Uma situação explosiva

Em 1917,o Império Russo, governado autocraticamente pelo Czar


Nicolau II, estava á beira do abismo.

Haviam inúmeras tensões sociais e políticas. Os camponeses


chamavam por terras, concentradas nas mãos dos grandes senhores e
latifundiários. O operariado exigia maiores salários e melhores condições
de vida e de trabalho. A burguesia e a nobreza liberal desejavam a
abertura política e a modernização do pais. A contestação política era
protagonista pelos socialistas-revolucionários, que reclamavam a
partilha de terras; pelos sociais-democratas, divididos em bolcheviques
e mecheviques; pelos constitucionais-democratas, adeptos do
parlamentarismo á maneira ocidental. A participação da Rússia na
Primeira Guerra Mundial agravou as fraquezas do regime. Liberais e
Socialistas denunciavam a incompetência do Czar e dos seus ministros.
Na frente de batalha, os soldados desertavam ou chegavam ao ponto de
se automutilarem para não combaterem.

❖ Da Revolução de fevereiro á Revolução de outubro

Entre 22 e 28 de fevereiro, Petrogado, sucederam-se grandiosas


manifestações de mulheres, acompanhadas de greves de operários da
cidade. Reunidos numa assembleia popular denominada Soviete, os
operários incitavam ao derrube do Czar.

A adesão dos soldados ao Soviete resultou no assalto do Palácio do


inverno.

Desprovido de apoios, Nicolau II abdicou a 2 de março. O Czarismo


chegou ao fim e a Rússia tornou-se uma república.

Os destinos da Rússia ficaram nas mãos do Governo Provisório.


Empenhou-se na instauração de uma democracia parlamentar e na
continuação da guerra com a Alemanha, que acreditava poder ganhar.
Toda a Rússia cobria-se de Sovietes, que apelavam á retirada imediata
da guerra, ao derrube do Governo Provisório que apelidavam de
burguês, á entrega do poder aos sovietes, á confiscação da grande
propriedade.

A Rússia vivia uma autêntica dualidade de poderes.

Entre 24 e 25 de outubro, Petrogado assistiu a uma nova revolução. Os


Guardas Vermelhos (milícias bolcheviques), assaltaram o Palácio de
inverno e derrubaram o Governo Provisório nele sediado. O II congresso
dos Sovietes entregou, de imediato, o poder ao Conselho dos
Comissários do Povo.

Pela primeira vez na História, os representantes do proletariado


conquistavam o poder político. Exatamente como Marx preconizara:
recorrendo á luta de classes e á revolução.

1.2.2. Da Democracia dos Sovietes ao Centralismo


Democrático

❖ A democracia dos sovietes; dificuldades e guerra civil


(1918-1920);

O novo Governo iniciou funções com a publicação dos decretos


revolucionários.

O decreto sobre a terra aboliu, sem indemnização, a grande


propriedade, entregando-a a sovietes camponeses. O decreto sobre o
controlo operário atribuía aos operários das empresas a superintendia e
a gestão da respetiva produção.

O decreto sobre as nacionalidades conferia a todos os povos do antigo


Império Russo a estatuto de igualdade e o direito á autodeterminação.

Os sovietes converteram-se nos grandes protagonistas da Revolução.


Os primeiros tempos da Revolução de outubro viveram-se sob o signo
da democracia dos sovietes. A Rússia assinou em 3 de março de 1918
uma paz separada com a Alemanha. Proprietários e empresários
criavam os maiores obstáculos á aplicação dos decretos relativos á terra
e ao controlo operário. O regresso de 7 milhões de soldados, sem
hipótese imediata de reintegração na vida civil, a persistência de carestia
e da inflação e o banditismo que se fazia sentir concorrera, igualmente,
para a débil adesão da população Russa ao projeto bolchevique. A
resistência ao bolchevismo resultou num dos mais dramáticos episódios
da revolução Russa, a terrível guerra civil iniciada em março de 1918 e
que se prolongou até 1920. Custou a vida a 10 milhões de seres
humanos, tendo a grande maioria padecido de fome, frio e epidemias.

Os brancos (opositores ao bolchevismo), contaram com o apoio de


corpos expedicionários da Inglaterra, França, Estados Unidos e Japão.

Venceram os Vermelhos (bolcheviques) que dispuseram de um coeso e


disciplinado Exército Vermelho, organizado por Trotsky desde janeiro de
1918.

❖ O Comunismo de guerra, face da ditadura do proletariado


(1918-1921)

A ditadura do proletariado, conceito-chave na teoria marxista, assume-


se como uma etapa transitória, no processo de construção da
sociedade socialista. O proletariado retiraria 'todo o capital á burguesia'
e centralizaria todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado,
entendido como representante exclusivo e legitimo do proletariado. 

O estádio a que Marx chamava “a forma mais alta de organização da
sociedade” é o comunismo. Nela, o Homem alcançaria o verdadeiro
bem-estar, a verdadeira liberdade.

Profundamente fiel ao marxismo, Lenine jamais escondeu os seus
propósitos de implementação imediata da ditadura do proletariado. Na
Rússia bolchevista, ela revestiu-se porém de aspetos bem específicos.
Um deles foi a composição do próprio proletariado. (Marx incluía nele
operários vitimas de exploração capitalista, já Lenine também incluía os
camponeses pois tinha em consideração o atraso industrial da Rússia e
as suas estruturas arcaicas e rurais).

A democracia dos sovietes chegou ao fim com o abandono dos
decretos revolucionários que concediam a terra aos camponeses e o
controlo das fábricas aos operários.

Toda a economia foi nacionalizada, o que está de acordo com as
propostas de Marx de “centralização dos meios de produção nas mãos
do Estado”.

Apelando ao heroísmo revolucionário para desenvolver a produção, o


Governo bolchevique instaurou o trabalho obrigatório dos 16 aos 50
anos; prolongou o tempo de trabalho; reprimiu a indisciplina; atribuiu o
salário de acordo com o rendimento.

A ditadura do proletariado foi, porém, antes de mais, a ditadura do


Partido Comunista, nome adotado pelo Partido Bolchevique em março
de 1918.

A mesma orientação seria seguida nos sovietes, que se viram depurados


dos seus membros mencheviques e socialistas-revolucionarios.

A tcheca, policia política criada em dezembro de 1917, foi investida de


elevados poderes, na ausência de uma justiça organizada. Prendia os
suspeitos e julgava-os rapidamente.

❖ O centralismo democrático

Desde 1922, a Rússia converteu-se na união das repúblicas socialistas


soviéticas (URSS), um Estado multinacional e federal cujas republicas
iguais em direitos dispunham de uma constituição e de uma certa
autonomia. Para Lenine impunha-se que o estado soviético fosse forte,
disciplinado e democrático de modo a garantir a vitória do socialismo. A
conciliação da disciplina e da democracia conseguiu-se com a formula
do centralismo democrático. Teoricamente todo o poder emanava da
base, isto é, dos sovietes e escolhidos por sufrágio universal, tinham
âmbito local e regional, cabendo-lhes representar o conjunto das
repúblicas federadas e as nacionalidades.

Ao congresso dos sovietes competia, por sua vez, designar o comité
executivo central, uma espécie de parlamento dotado de duas câmaras:
o Conselho de união e o conselho das nacionalidades. A esta estrutura
democráticas baseada no sufrágio universal e exercida de baixo para
cima impunha-se porém o controlo de duas forças, uma exercia-se de
cima para baixo, por parte dos órgãos do topo do estado cujas diretrizes
eram rigorosamente obedecidas pelas respetivas bases. A outra fazia-se
sentir por parte do partido comunista, uma hierarquia paralela ao estado
e que o subordinava.

A hegemonia do partido comunista na organização do estado acabava


por fazer dos sovietes simples elementos de transmissão entre as
instâncias dirigentes do partido e a população da URSS.

❖ A Nova politica económica (1921 – 1927)

Em inícios de 1921 a economia do país estava na ruína. A produção de


cereais descera para metade da de 1913. Obrigados a requisição de
géneros os camponeses não produziam, escondiam ou destruíam as
suas colheitas.

Nas cidades e nas fábricas, a situação não se mostrava mais favorável.


A produção industrial diminuíra ¾ relativamente à de 1913. O
comunismo de guerra cedera lugar à nova política económica (NEP), um
recuo estratégico que recorreu ao capitalismo, já que o socialismo não
deveria edificar-se sobre ruínas.

As primeiras medidas da NEP visaram a recuperação agrícola. Em julho,
foi a vez de a indústria ser alvo de medida. Desnacionalizaram-se as
empresas com menos de 20 operários, sendo muitas delas entregues
aos antigos proprietários. Embora o regresso ao capitalismo tivesse sido
parcial os transportes, os bancos, a média e grande industria e o
comercio externo continuaram nacionalizadas, não deixaram de se fazer
sentir as criticas. Uma classe de camponeses abastados (os kulaks) e de
pequenos comerciantes (os nepmen) suscitou os ódios dos
bolcheviques e do partido comunista que não tardaram a repor a
ortodoxia marxista.

1.3 A regressão do Demoliberalismo



1.3.1 O impacto do socialismo revolucionário; Dificuldades
económicas e radicalização dos movimentos sociais;
Emergência de autoritarismos
O calvário da Europa parecia não ter fim, com os seus campos
destruídos, , as suas fabricas paradas, os seus transportes
desorganizados, as suas finanças deficitárias e o espectro da inflação
galopante.

Neste contexto de difícil recuperação económica, grandiosas greves e
movimentos revolucionários sacudiram a Europa.

❖ Komintern e o impacto do socialismo revolucionário

O komintern propunha-se a coordenar a luta dos partidos operários a


nível mundial para que o marxismo-leninismo triunfasse. Reactivava-se,
pois, a máxima marxista do internacionalismo proletário. 

Lenine e Torsky, os grandes mentores do Komintern, impuseram
condições rigorosas para que a revolução socialista se concretizasse na
Europa. Deveria ser conduzida por partidos comunistas decalcados do
modelo russo e fies ao marxismo-leninismo. No segundo congresso do
Komintern, realizado em julho de 1920, os partidos socialistas e sociais-
democratas foram mesmo obrigados a libertarem-se das tendências
reformista-revisionistas, anarquistas e pequeno-burguesas, bem como a
defenderem a Rússia bolchevista e o centralismo democrático! Aqueles
que o fizeram passaram a ser designados por partidos comunistas,
enquanto os partidos socialistas e sociais-democratas ficaram para
sempre identificados com o reformismo.

❖ Radicalização social e política

Fruto do caos económico do pós-guerra, do socialismo revolucionário


implementado na Rússia e das atividades do komintern, a Europa
assistiu, entre fins de 1918 e 1923, à radicalização social e política.

Na Alemanha os tumultos remontam a novembro de 1918 quando o país
capitulava perante os Aliados. Constituíram-se conselhos de operários.
Logo depois, a fação de extrema-esquerda do partido social-democrata
alemão pegava em armas contra a republica parlamentar de Weimar. Os
revolucionários auto-apelidavam-se de espartaquistas e proclamaram
em Berlim uma “república socialista”.

A execução dos seus chefes, Rosa Luxemburg e Karl Liebknecht, cobriu
de martírio o movimento comunista e minou a confiança do proletariado
alemão na República democrática de Weimar.

Embora sem sucesso, a hostilidade operaria e comunista voltaria a
manifestar-se nos meses seguintes, bem como em 1920 no Ruhr, em
1921 na Alemanha central e, em 1923, na Saxónia, na Turíngia e em
Hamburgo.


Também a Itália se viu atingida por uma grande efervescência


revolucionaria inspirada no bolchevismo. Durante o verão de 1919, os
camponeses ocuparam terras incultas, indo ao ponto de reivindicar a
partilha dos latifúndios.

Em 1920, a greve dos metalúrgicos de Turim desencadeou uma vaga de
ocupação de fábricas. Mas a falta de créditos bancários e o acordo
entre o Governo, o Partido Socialista e a Confederação Geral do
Trabalho, na base de progressos sociais, determinaram o fim do
movimento grevista e do controlo operário da produção.

Enfim, nenhum país da Europa pareceu poupado pela vaga grevista. Até
em Portugal, o precário nível de vida, em virtude de os salários não
acompanharem a inflação dos preços, esteve na origem de violentas
greves, algumas gerais entre 1919 e 1921.

❖ Emergência de autoritarismos

Este surto revolucionário deixou a Europa apavorada.



O medo do bolchevismo faz tremer, naturalmente, a grande burguesia
proprietária e financeira, a quem jamais poderia agradar o controlo
operário e camponês da produção. 

Com manifesta desaprovação, assistiam à escala grevista e às regalias
sociais concedidas aos “insurretos” pelos governos democráticos que
elas haviam ajudado a eleger. Os patriotas, os conservadores, amantes
da ordem, e as classes médias juntamente com as classes possidentes
acabaram a defender um governo forte como garantia da paz social, da
riqueza e da dignidade.

Não admira por isso, que soluções autoritárias de direita, conservadoras
e nacionalistas, começassem a estar na moda no espectro político
europeu, desde inícios do dos anos 20. Especialmente nos países onde
a democracia liberal não dispunha de raízes sólidas e/ou onde a guerra
provocaria gravíssimos problemas económicos, humilhações e
insatisfações.

Mercê de uma ditadura baseada no partido e nas organizações
fascistas, o fascismo ficou, desde 1925, implantado na Itália, servindo
de modelo de inspiração a muitos outros países europeus durante mais
de 20 anos.

Na Espanha, entre 1923 e 1930, viveu-se a ditadura militar do general
Miguel Primo de Rivera, que contou com o apoio do rei Afonso XIII.

Outros regimes autoritários instalaram-se, entretanto, na Hungria (1920),
na Bulgária e na Turquia (1923), na Grécia, em Portugal, na Polónia, na
Lituânia (1926) e na Jugoslávia (1929). A Áustria teve, desde 1922, um
governo conservador e autoritário. A Alemanha assistiu, em 1923, ao
Putsch de Hitler em Munique dirigido contra a Republica democrática de
Weimar.

Agastada com a recuperação económica, contestada pelo proletariado,
pelas classes médias e grandes proprietários, a democracia liberal
europeia, triunfante em 1919, parecia, em fins dos anos 20, um
organismo pálido e doente. A emergência dos autoritarismos confirma,
de facto, a regressão do demoliberalismo.

1.4. Mutações nos comportamentos e na cultura



1.4.1. As transformações da vida urbana
Nas vésperas da Primeira Guerra Mundial, contavam-se, na Europa, 180
aglomerados urbanos com mais de 100 000 habitantes, e alguns, como
Londres, Paris, Moscovo ou Berlim, atingiam já uma escala gigantesca,
congregando vários milhões de almas. Pela primeira vez na História, no
mundo industrializado, a população urbana superou a das zonas rurais.

❖ A nova sociabilidade

Os citadinos dirigem-se para o trabalho a mesma hora, partilham os


mesmos transportes, consomem os mesmos produtos, habitam casas
semelhantes e mesmo os lazeres tendem para a massificação. O
crescimento da classe media e sobretudo a melhoria do nível de vida
proporcionam uma nova cultura do ócio que a cidade fomenta,
oferecendo inúmeras distrações. A convivência entre os sexos, outrora
contida por rígidas convenções sociais torna-se mais livre e ousada.
Quem pode desloca-se com frequência de carro ou de comboio, quer
para um dia passado nos arredores, quer para uma viagem entre as
grandes cidades da Europa ou da America.

Este gosto pelo movimento, pela “ação” fomenta a pratica desportiva
que pela primeira vez entra nos hábitos quotidianos. O ritmo de vida,
outrora lento e pacato acelera-se e nos anos 20 torna-se quase
frenético. A brutalidade da primeira guerra mundial pôs em causa as
instituições, os valores espirituais e morais, todo o edifício social que
tinha sustentado a ordem burguesa do século XIX. O impacto da
destruição gerou um sentimento de descrença e pessimismo, que afetou
tanto os intelectuais como a gente comum. Do choque da guerra e da
decepção por ela provocada nasceu, pois, a convicção de que o mundo
não mais voltaria a ser o que era. Uma vaga de contestação a todos os
níveis abalou a sociedade que, mergulhada numa profunda “crise de
consciência” se viu sem referentes sólidos.

❖ A emancipação feminina

O movimento feminista organizado remonta ao século XIX. As primeiras


feministas lutaram por alterações jurídicas que terminassem com o
estatuto de eterna menoridade que a sociedade burguesa oitocentista
reservava à mulher. Cerca de 1900, o direito de participação na vida
política (direito ao voto) passou a assumir um papel preponderante nas
reivindicações femininas. Organizam-se então numerosas associações
de sufragistas que com um enorme espírito de militância
desencadearam uma luta tenaz pelo voto feminino. 

em Portugal fundou-se em 1909, a liga republicana das mulheres
portuguesas e mais tarde, a associação de propaganda feminista (1911)
que perseguiam objetivos idênticos aos das pessoas congéneres
europeias e contaram com a dedicação e o esforço de mulheres
prestigiadas.

Com exceção de um pequeno punhado de países como a Austrália ou a
Finlândia, as pretensões políticas femininas chocaram ate à Primeira
Guerra Mundial, com uma forte oposição, sendo alvo da censura e do
escárnio dos poderes políticos e da própria sociedade, maioritariamente
conservadora. As convulsões da guerra vieram alterar este estado de
espírito. Com os homens nas trincheiras, as mulheres viram-se libertas
das suas tradicionais limitações como donas de casa, assumindo a
autoridade do lar e o sustento da família. 

Embora a efetiva igualdade entre os dois sexos tenha demorado a
concretizar-se e se depare ainda hoje com algumas resistências o
movimento feminista do inicio do século derrubou as principais barreiras
e abriu à mulher uma nova etapa da sua história.

1.4.2. A descrença no pensamento positivista e as novas


conceções científicas.
No início do século XX, o pensamento ocidental rebela-se contra este
quadro de estrita racionalidade valorizando outras dimensões do
conhecimento. Na filosofia, Henri Bergson defende haver realidades
(como a atividade psíquica) que escapam as leis da física e da
matemática e só podem ser compreendidas através de uma outra via a
que chama intuição.

❖ O relativismo

Foi Albert Einstein e a sua teoria da relatividade quem protagonizou a


revolução cientifica do inicio do século. Einstein destruiu as mais sólidas
bases da física ao negar o caráter absoluto do espaço e do tempo. As
teorias de Max Planck e Einstein provocaram um profundo choque na
comunidade cientifica que se viu obrigada a reconhecer que o universo
era mais instável do que ate ai se pensava e a verdade cientifica menos
universal do que se tinha acreditado. 

Abriu-se uma nova concepção de ciência – o relativismo – que aceita o
mistério, a desordem, a probabilidade como partes integrantes do
conhecimento, rejeitando o determinismo racionalista fundado na
clareza, na ordem, na previsibilidade de todos os fenómenos. Embora tal
mudança tenha representado de facto, um avanço, o certo é que
contribuiu para abalar a fé na ciência e na sua capacidade para
compreender e controlar a natureza.

❖ As conceções psicanalíticas

Freud, compreendeu que, sobre o estado hipnótico, os pacientes se


recordavam de pensamentos, factos e desejos que aparentemente
haviam esquecido, esta constatação revelou a existência de uma zona
obscura, irracional, na mente humana, que o indivíduo não controla e da
qual não tem consciência, mas que se manifesta permanentemente no
comportamento – o inconsciente. Foi com base nesta descoberta que
Freud elaborou, a partir de 1897, os princípios do que veio a chamar
psicologia analítica ou psicanálise. Segundo a psicanálise, o psiquismo
humano estrutura-se em 3 níveis distintos: o consciente, o
subconsciente e o inconsciente. 

Por influência das normas morais o indivíduo tem tendência para
bloquear desejos ou factos indecorosos e culpabilizantes, remetendo-os
para o inconsciente onde ficam aprisionados, num aparente
esquecimento. No entanto os impulsos e sentimentos assim recalcados
persistem em afluir à consciência, materializando-se em lapsos (troca de
palavras), esquecimentos súbitos, pequenos gestos de que não nos
damos conta ou, de forma mais grave, em distúrbios psíquicos a que
Freud chama neuroses. Para alem de uma teoria revolucionária sobre o
psiquismo, a psicanálise engloba ainda um método de tratamento das
neuroses que, basicamente consiste em fazer emergir o recalcamento
(trauma) que lhes deu origem e racionaliza-lo. Esta terapeuta baseia-se
em grande parte na “livre associação”, em que, sob a orientação do
médico, o paciente deixa fluir livremente, as ideias que lhe vêm à mente,
e na análise dos sonhos, considerados por Freud a “via regia do acesso
ao consciente”.

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