Teoria Do Direito Constitucional
Teoria Do Direito Constitucional
Teoria Do Direito Constitucional
do Direito
Constitucional
U1 - Título da unidade 1
Teoria geral do direito
constitucional
Presidente
Rodrigo Galindo
Conselho Acadêmico
Dieter S. S. Paiva
Camila Cardoso Rotella
Emanuel Santana
Alberto S. Santana
Regina Cláudia da Silva Fiorin
Cristiane Lisandra Danna
Danielly Nunes Andrade Noé
Revisão Técnica
Leandro da Silva Carneiro
Betania Faria e Pessoa
Editorial
Emanuel Santana
Cristiane Lisandra Danna
André Augusto de Andrade Ramos
Daniel Roggeri Rosa
Adilson Braga Fontes
Diogo Ribeiro Garcia
eGTB Editora
ISBN 978-85-8482-455-7
CDD 341.2
2016
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário
Constituição e
hermenêutica
Convite ao estudo
Caro aluno, creio que depois de unidades de ensino mais
propedêuticas, mais introdutórias, você esteja ansioso para ingressar
no rol daquelas em que pode perceber mais aplicação no seu dia
a dia, não é mesmo? Em Teoria Geral do Direito Constitucional,
apesar de o nome sugerir que trataremos de temas eminentemente
teóricos, vamos dar um enfoque bastante prático e atual para o nosso
estudo. No entanto, isso não significa que você poderá abandonar
a teoria. Ela será extremamente importante para construirmos e
analisarmos as questões mais discutidas atualmente no Congresso
Nacional e no Supremo Tribunal Federal (STF) e o faremos desde
essa primeira unidade, em que trataremos da Constituição e da
hermenêutica constitucional.
U1 - Constituição e hermenêutica 11
e fundamentos do constitucionalismo brasileiro”, você, enquanto
consultor, com base no conceito de Constituição que melhor se ajusta
a CF/88 e na classificação quanto à mutabilidade, considera ser possível
a modificação do sistema de governo estabelecido na CF/88? O que
significa a supremacia da CF/88 e quais são as suas implicações?
Então, vamos começar?
12 U1 - Constituição e hermenêutica
∞ Político – de acordo com Carl Schmitt (ALEXANDRINO, 2013, p.
6-7): a Constituição é uma decisão política fundamental, obra do poder
constituinte, que deve refletir a decisão de governo, relativas a direitos
fundamentais, princípios fundamentais e organização política do Estado.
Assim, todas as normas inseridas na Constituição são consideradas
formalmente constitucionais, mas só aquelas que tratarem de direitos
fundamentais, princípios fundamentais e organização política do
Estado são materialmente constitucionais.
Fonte:<http://www.nationalinterest.org/feature/carl-schmitt%E2%80%99s-war-
liberalism-12704>. Acesso em: 12 jul. 2015
U1 - Constituição e hermenêutica 13
Figura 1.3 – Kelsen
Constitucionais
nt
me
da
Infraconstitucionais
Escalonamento
fun
Normativo
se
Infralegal
Reflita
Qual desses conceitos é o que melhor define a CF/88? É possível no
ordenamento jurídico brasileiro verificar sinais dos outros conceitos?
14 U1 - Constituição e hermenêutica
carregou consigo todas as suas vivências, experiências e emoções, ou
seja, todo o seu horizonte cultural, na elaboração da CF/88.
U1 - Constituição e hermenêutica 15
A concepção política de Constituição de Kelsen trouxe um
elemento importantíssimo para compreendermos todo o sistema
jurídico, que é a ideia de supremacia da Constituição. Kelsen colocou,
conforme anteriormente apontado, as normas constitucionais no topo
da pirâmide normativa, servindo elas de fundamento de validade para
todas as demais normas. Que tal aprofundarmos um pouco mais nessa
discussão e tentarmos compreender melhor, em especial, o conceito
jurídico de Constituição?
Pesquise mais
Para tanto, indico como leitura complementar um autor sobre quem você
ainda ouvirá muito falar ao longo do curso:
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 8. ed. São Paulo: Martins Fontes,
2015. p. 215-238.
Fonte:<https://pt.wikipedia.org/wiki/Constitui%C3%A7%C3%A3o_brasileira_de_1891#/media/
File:Constitui%C3%A7%C3%A3o_Brasileira_de_1891.jpg>. Acesso em: 12 jul. 2015.
16 U1 - Constituição e hermenêutica
1934 – A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil
foi promulgada após a Revolução de 1930, que determinou a queda
do presidente Washington Luís e a ascensão de Getúlio Vargas. Ela foi
influenciada pela Constituição de Weimar e criou normas programáticas
correlatas a direitos sociais.
U1 - Constituição e hermenêutica 17
regime militar, o caráter de normas constitucionais. Pelo fato de essa
emenda não ter apenas trazido as alterações a serem promovidas no
texto constitucional, reeditando todo o texto da Constituição de 1967
com as respectivas modificações, muitos a elencam como uma nova
Constituição.
18 U1 - Constituição e hermenêutica
criar as Constituições subsequentes. Por sua vez, o poder constituinte
derivado, por meio do qual é feita a revisão do texto constitucional
e modificações posteriores, observados os limites estabelecidos pela
própria Constituição, em relação ao que ela estabelece ser imutável,
divide-se em reformador, que visa a reforma do texto constitucional
por meio de emendas, decorrente, que objetiva a organização dos
estados (Constituição Estadual) e do Distrito Federal (Lei Orgânica do
Distrito Federal), e revisor, que modifica a Constituição uma única vez,
após cinco anos de sua promulgação.
Assimile
A partir dessas noções, vamos à classificação das constituições quanto
à origem:
Reflita
A partir da classificação das Constituições quanto à origem e de acordo
com as noções relativas ao poder constituinte e a sua classificação,
como podemos percorrer esse histórico das Constituições brasileiras,
caracterizando-as?
U1 - Constituição e hermenêutica 19
Nesse ponto, é importante notar que o poder constituinte originário
histórico ou fundacional se refere apenas à primeira Constituição
editada pelo país. Todas as demais serão consideradas revolucionárias
ou pós-fundacionais. Além disso, não tivemos Constituições cesaristas,
inicialmente outorgada e, posteriormente, referendada pelo povo, nem
pactuadas, que são aquelas criadas por meio de pacto entre rivais.
Pesquise mais
Para melhor compreender o contexto histórico em que cada uma
das Constituições brasileiras foi criada, indico a seguinte leitura
complementar:
20 U1 - Constituição e hermenêutica
Figura 1.8 | Classificação das Constituições
Sintética ou concisa
Extensão
Analítica ou prolixa
Histórica
Modo de elaboração
Dogmática
Não escrita
Forma
Escrita
Rígida
CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES
Semirrígida ou semiflexível
Alterabilidade
Imutável
Flexível
Material
Conteúdo
Forma
Pactuada
Outorgada
Origem
Promulgada
Cesarista
• Quanto à extensão:
U1 - Constituição e hermenêutica 21
• Quanto ao modo de elaboração:
• Quanto à forma:
• Quanto ao conteúdo:
22 U1 - Constituição e hermenêutica
um documento solene que somente pode ser alterado de acordo com
o processo nela mesmo descrito.
Reflita
A classificação quanto ao conteúdo associa-se ao conceito de
Constituição proposto por Carl Schmitt, que define serem normas
constitucionais aquelas que se referem a direitos fundamentais,
princípios fundamentais e organização política do Estado, sendo todas
as demais apenas leis constitucionais?
• Quanto à origem:
Reflita
Avaliando critério por critério, como classificar a CF/88?
U1 - Constituição e hermenêutica 23
Federal (STF) das normas materialmente constitucionais e formalmente
constitucionais, e quanto à origem, ao estudarmos o histórico das
constituições brasileiras). Mas e em relação aos demais critérios?
24 U1 - Constituição e hermenêutica
Assimile
A partir da classificação das normas constitucionais em elementos,
vamos utilizar alguns exemplos para que você compreenda com mais
facilidades esses conceitos:
U1 - Constituição e hermenêutica 25
possibilidade de alteração do sistema de governo presidencialista para
o parlamentarista por meio de Emenda Constitucional.
Atenção
Aqui é muito importante relembrar o conceito jurídico, que revela
ser a Constituição fundamento de validade para todas as demais
normas infraconstitucionais, além de ser considerada norma
hipotética fundamental.
26 U1 - Constituição e hermenêutica
Lembre-se
A supremacia formal não se aplica às Constituições flexíveis, porque
nelas as normas podem ser alteradas por meio do mesmo processo
legislativo utilizado para criar leis ordinárias. Então, de onde as normas
infraconstitucionais, em relação às Constituições flexíveis, retiram seu
fundamento de validade se elas possuem o mesmo status das normas
constitucionais? Já em relação às Constituições imutáveis, rígidas e
semirrígidas, a Constituição possui supremacia formal, tendo em vista
que ela é fundamento de validade das normas infraconstitucionais, e
também material.
Avançando na prática
Pratique mais
Instrução
Desafiamos você a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situações
que pode encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com as de
seus colegas.
Possibilidade de alteração da democracia, como regime de governo previsto na CF/88, por
Emenda Constitucional
Compreender a mutabilidade constitucional com base na
1. Competência de Fundamentos
classificação, no conceito que melhor se ajusta à CF/88, na
de Área
sua classificação e supremacia de suas normas.
Compreender os reflexos da classificação e dos conceitos
2. Objetivos de aprendizagem da CF/88 no estudo sobre a alterabilidade dos institutos nela
contidos.
• Conceito de Constituição
3. Conteúdos relacionados • Classificação da CF/88
• Supremacia da CF/88
Diante das inúmeras discussões que rondam a reforma
política no Congresso Nacional, surgem manifestações em
todos os sentidos, o que foi evidenciado pelas manifestações
ocorridas no início do ano de 2015 em que algumas pessoas
expressavam a sua simpatia pelo retorno do regime militar, que,
durante mais de duas décadas (1964-1985), suprimiu direitos
4. Descrição da SP
políticos e sindicais, atentou contra a liberdade de expressão
e perseguiu diversos cidadãos. Após a promulgação da CF/88
e pensando no que estudamos nessa unidade, poderíamos
conceber a possibilidade de alteração do regime democrático
por Emenda Constitucional? Ou isso somente seria possível
por meio da edição de uma nova Constituição?
U1 - Constituição e hermenêutica 27
Para resolver a questão, vamos retornar ao conceito de
Constituição. Qual é o que melhor define a CF/88? Quanto
à mutabilidade, em que classe a CF/88 melhor se enquadra?
5. Resolução da SP E a democracia faz parte de um núcleo rígido imutável ou
ela pode ser alterada a qualquer momento por Emenda
Constitucional?
Lembre-se
Para solucionar a questão, será necessário que você se lembre de que
as Constituições se classificam, quanto à alterabilidade ou mutabilidade,
em rígidas, semirrígidas ou semiflexíveis, e flexíveis. Além disso, a partir
dessa classificação, extraíamos a definição de supremacia e como se
apresenta em cada caso. Por fim, faz-se necessário compreender qual
o conceito de Constituição melhor se ajusta à CF/88: o sociológico, o
político ou o jurídico?
28 U1 - Constituição e hermenêutica
vinte anos.
III. proibisse o anonimato em reclamações encaminhadas a qualquer ente
da Administração Pública Direta e Indireta.
É correto o que se afirma em:
(a) I, apenas.
(b) III, apenas.
(c) I e II, apenas.
(d) II e III, apenas.
(e) I, II e III.
U1 - Constituição e hermenêutica 29
(c) Outorgada pela Junta de Governo, da qual Augusto Pinochet era o
presidente.
(d) Cesarista, tendo sido elaborada pela Junta de Governo e, posteriormente,
convocada a manifestação popular a respeito.
(e) Semirrígida, em que parte dela pode ser alterada por procedimento
análogo à criação das leis e parte somente é alterável por processo
legislativo mais complexo do que o das leis.
30 U1 - Constituição e hermenêutica
Seção 1.2
Fundamentos filosóficos e políticos da
Constituição Federal de 1988 (CF/88)
Diálogo aberto
Vamos, nesta seção, retomar a discussão acerca da possibilidade
de alteração da CF/88 por meio de Emenda Constitucional para
adotarmos o parlamentarismo como sistema de governo, situação
geradora de aprendizado desta seção.
Relembrando o problema, destacamos na seção anterior, que a
CF/88 foi o marco da redemocratização do país, após mais de 20 anos
de regime militar. A partir dela, foram retomadas as eleições diretas,
dada liberdade de atuação para os sindicatos e consagrada a separação
dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, que, a partir de então,
devem atuar harmonicamente.
Na seção 1.1, analisamos os conceitos de Constituição e buscamos
apontar aquele que melhor define a CF/88. Além disso, falamos
sobre a classificação das Constituições, para verificarmos em que
classes, observados os critérios classificatórios, a CF/88 se enquadra
e, por fim, tecemos um histórico das Constituições brasileiras e suas
principais características. Com base especialmente nos conceitos de
Constituição e nas classificações analisadas, enfrentamos a questão da
possibilidade de alteração do sistema de governo que adotamos, qual
seja, o presidencialismo para o parlamentarismo.
Agora, na seção 1.2, analisaremos os princípios fundamentais
na CF/88, a separação de poderes e os fundamentos, objetivos
e princípios da República Federativa do Brasil. Buscaremos aqui
argumentos para responder à seguinte situação-problema: para fins
de análise da possibilidade de reforma da Constituição, a democracia
seria uma regra ou um princípio? A previsão do Estado Democrático
no preâmbulo da CF/88 tem conteúdo prescritivo ou se trata de mera
declaração de intenções?
Para tanto, deveremos: (i) compreender a diferença entre as
definições de forma de Estado, forma de governo, regime de governo
U1 - Constituição e hermenêutica 31
e sistema de governo; (ii) entender a abrangência do princípio da
separação de poderes e a busca pela harmonia entre eles; e (iii) analisar
quais são os princípios, os fundamentos e objetivos da República
Federativa do Brasil e como se diferenciam. A partir disso, poderemos
analisar a situação-problema proposta para essa seção 1.2.
E, então? Vamos começar?
32 U1 - Constituição e hermenêutica
jurídica em sentido estrito. Outras, como a previsão constitucional de
que Brasília é a capital federal, não, constituindo norma jurídica em
sentido amplo.
U1 - Constituição e hermenêutica 33
2. Repartição de competências para legislar e arrecadar impostos;
3. Rigidez constitucional, sendo necessário quórum qualificado
para ser alterada;
4. Ser o Supremo Tribunal Federal (STF) o órgão máximo do Poder
Judiciário, incumbido de resguardar a aplicação das normas insertas
na CF/88;
5. Intervenção federal como mecanismo de proteção dessa forma
de Estado;
6. Unidade de nacionalidade: a CF/88 deve ser observada por todos
os cidadãos.
• Estado Democrático de Direito: regime de governo eleito pelo
legislador constituinte de 1988. Trata-se da evolução do Estado de
Direito, que emergiu com o Liberalismo, e do Estado Social, possuindo
características de ambos, mas constituindo um regime de governo
novo. Segundo José Afonso da Silva (2015, p. 122).
Assimile
Vamos relembrar a evolução dos regimes de governo ao longo da
história?
34 U1 - Constituição e hermenêutica
de medidas tendentes a corrigir a injustiça social e objetivando o bem-
estar social;
Pesquise mais
O texto a seguir traz considerações sobre os principais tópicos desta
seção relacionando-os:
Reflita
Considerando o disposto no art. 1º, da CF/88, pode-se afirmar que
a forma de governo (República), a forma de Estado (Federação) e o
regime de governo (Estado Democrático de Direito), eleitos pelo
legislador constitucional, constituem um núcleo rígido ou podem ser
alterados por Emenda Constitucional?
U1 - Constituição e hermenêutica 35
Após refletir um pouquinho, vamos ao próximo ponto dessa seção:
o princípio da separação dos poderes, inserto em nossas Constituições
desde a do Império.
Esses poderes devem ser exercidos por órgão distintos para que
reste caracterizada a separação dos poderes. Se as funções forem
exercidas pelo mesmo órgão, ter-se-á concentração de poderes.
Por isso, a divisão de poderes se fundamenta em dois elementos:
(i) especialização funcional (Legislativo: Congresso e Assembleias
Legislativas; Executivo: órgãos da Administração Pública que exercem
a função Executiva; e Judiciário: órgãos que exercem a função
jurisdicional); e (ii) independência orgânica: não há subordinação entre
os poderes.
Exemplificando
Ao Legislativo compete a edição de normas, em que o Executivo
participa pela iniciativa das leis, pela sanção e pelo poder de veto.
Essa iniciativa do Executivo é contrabalanceada pela possibilidade de
o Congresso modificar o projeto por meio de emendas e rejeitá-lo.
Além disso, o poder de veto é verificado em relação aos projetos de
lei de iniciativa do Legislativo e em relação às emendas feitas pelo
Congresso nos projetos propostos pelo Executivo. O Congresso, por
sua vez, poderá rejeitar o veto presidencial por maioria absoluta de
seus membros e o Senado Federal poderá promulgar a lei, caso o
Presidente não a sancione no prazo previsto na CF/88.
36 U1 - Constituição e hermenêutica
Faça você mesmo
Esse exemplo demonstra como os poderes atuam de forma harmônica.
A partir disso, você deverá pensar como funciona esse sistema de pesos
e contrapesos, aplicado aos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário,
no que concerne à atuação do Supremo Tribunal Federal. Reflita sobre
como a indicação dos ministros é feita e que antes da nomeação eles
passam por sabatina.
Pesquise mais
A separação dos poderes é tema de grande relevância e que tem um
extenso histórico, passando por Aristóteles, Locke e Montesquieu. Para
compreender melhor essa origem e como isso está previsto na CF/88,
vamos ler mais um pouquinho?
U1 - Constituição e hermenêutica 37
deve assegurar uma existência digna, conforme os ditames da justiça
social.
• Pluralismo político: valorização da tolerância e da pluralidade
de ideias numa sociedade naturalmente conflituosa, com interesses
contrapostos, devendo haver diálogo entre opiniões divergentes.
Além da participação popular na condução política do país, preceitua
também a organização de partidos políticos.
O art. 3º elenca os seguintes objetivos fundamentais, que são
normas programáticas, ao contrário dos fundamentos, que tem
aplicabilidade imediata:
• Constituir uma sociedade livre, justa e solidária;
• Garantir o desenvolvimento nacional;
• Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais e regionais;
• Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Por fim, o art. 4º, relaciona os princípios que regem as relações
internacionais, que são: independência nacional, prevalência dos
direitos humanos, autodeterminação dos povos, não intervenção,
igualdade entre os Estados, defesa da paz, solução pacífica dos
conflitos, repúdio ao terrorismo e ao racismo, cooperação entre os
povos para o progresso da humanidade e concessão de asilo político.
Esses princípios podem ser divididos em três grupos da seguinte forma:
38 U1 - Constituição e hermenêutica
Figura 1.9 | Princípios que regem o Brasil em suas relações internacionais
IV - não intervenção
I - independência nacional
Ligados à paz
VI - defesa da paz
U1 - Constituição e hermenêutica 39
Democrático no preâmbulo da CF/88 tem conteúdo prescritivo ou se
trata de mera declaração de intenções?
Atenção
Aqui é muito importante relembrar a distinção entre princípios e regras,
que foi apontada no início desta seção, para enquadrar a democracia
em um ou em outro conforme a abrangência e a função dessas
espécies de norma.
Lembre-se
Lembre-se de que o Estado Democrático de Direito congrega
características do Estado Liberal e do Estado Social, mas constitui
um conceito de regime de governo novo, em que se consagram
instrumentos para a realização da cidadania e a concretização das
exigências de um Estado Social. Pensando nisso, seria esse regime
de governo norma de observância obrigatória e parte de um núcleo
imutável da CF/88? Ou ele pode ser alterado a qualquer momento?
40 U1 - Constituição e hermenêutica
E aí? Como você avalia a questão relativa ao Estado Democrático
de Direito? A democracia é um princípio ou uma regra? E diante
disso, ela é de observância obrigatória? E pode ser alterada por
Emenda Constitucional?
Avançando na prática
Pratique mais
Instrução
Desafiamos você a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situações
que pode encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com as de
seus colegas.
Análise da extensão da autonomia dos entes federados
Compreender a autonomia dos entes federados associada
1. Competência de fundamentos
aos fundamentos e objetivos da República Federativa do Brasil
de área
e princípios que regem as suas relações internacionais.
Analisar especialmente a aplicabilidade do fundamento da
2. Objetivos de aprendizagem
soberania aos entes federados.
• Conceito e características da federação
3. Conteúdos relacionados • Conceito de soberania na CF/88
• Conceito de autonomia na CF/88
A CF/88 estabeleceu que a República Federativa do Brasil é
formada pela união indissolúvel dos Estados, Distrito Federal e
dos Municípios, constituindo, assim, um Estado Democrático
de Direito. A partir disso, foi definido como um de seus
fundamentos a soberania. Ademais, os princípios fundamentais
4. Descrição da SP
que regem a República Federativa do Brasil são a república,
a federação e o Estado Democrático de Direito. Vale notar
que uma das características mais marcantes da federação
é a autonomia. Podemos aferir que os entes federados são
soberanos?
Para resolver a questão, vamos retornar ao conceito
federação. Quais são as características que melhor definem
a federação brasileira? A união indissolúvel dos Estados, do
5. Resolução da SP
Distrito Federal e dos Municípios, que compõem a federação,
possui soberania? E os entes federados? Eles são dotados de
soberania? Soberania e autonomia são sinônimas?
Lembre-se
Para solucionar a questão, você deverá se lembrar das características
da federação, especialmente da autonomia, que se refere ao
exercício das competências de organização, governo, legislação e
administração, nos limites estabelecidos na CF/88. Deverá também
analisar os fundamentos da República Federativa do Brasil e verificar
se eles se aplicam também aos entes federados. Lembre-se de que a
soberania se relaciona ao poder político supremo, no plano interno,
e independente, no plano internacional. A partir disso, podemos
U1 - Constituição e hermenêutica 41
afirmar que autonomia e soberania são sinônimas? E a soberania é
característica que pode ser atribuída aos entes federados?
(a) I e III.
(b) I e IV.
(c) II e IV.
(d) II e III.
(e) I, II e III.
42 U1 - Constituição e hermenêutica
I - O princípio da defesa da paz e o princípio da solução pacífica de
controvérsias internacionais estão relacionados ao reconhecimento do
direito à paz (direito de terceira geração) na medida em que buscam
garantir a paz de toda a coletividade.
II - O princípio da cooperação entre os povos para o progresso da
humanidade deriva necessariamente do direito à autodeterminação dos
povos (direito de terceira geração), ou seja, ao direito que os povos têm de
se desenvolver sem a interferência de outros.
III - O princípio da não intervenção internacional deixou de ser observado
pelo Brasil, recentemente, ao enviar soldados e oficiais para integrar as
forças de paz da ONU no Haiti.
IV - O princípio da cooperação entre os povos para o progresso
da humanidade está, em certa medida, relacionado ao direito ao
desenvolvimento, reconhecido pela ONU e pela UNESCO.
(a) I e II.
(b) I e III.
(c) I e IV.
(d) II e III.
(f) II e IV.
U1 - Constituição e hermenêutica 43
Seção 1.3
Mutação e reforma constitucional
Diálogo aberto
Vamos a mais uma seção do nosso estudo da Teoria Geral
do Direito Constitucional. Estamos estudando Constituição
e hermenêutica e nesta seção vamos novamente retomar a
discussão acerca da possibilidade de alteração da CF/88 por meio
de Emenda Constitucional para adotarmos o parlamentarismo
como sistema de governo.
Relembrando o problema, destacamos, que a CF/88 foi o marco
da redemocratização do país, após mais de 20 anos de regime militar.
A partir dela, foram retomadas as eleições diretas, dada liberdade de
atuação para os sindicatos e consagrada a separação dos Poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário, que, a partir de então, devem
atuar harmonicamente.
Na seção 1.1, analisamos os conceitos de Constituição e buscamos
apontar aquele que melhor define a CF/88. Além disso, falamos
sobre a classificação das Constituições, para verificarmos em que
classes, observados os critérios classificatórios, a CF/88 se enquadra
e, por fim, tecemos um histórico das Constituições brasileiras e suas
principais características.
Na seção 1.2, analisamos os princípios fundamentais na CF/88,
a separação de poderes e os fundamentos, objetivos e princípios da
República Federativa do Brasil e respondemos à questão atinente à
possibilidade de reforma da Constituição, se a democracia seria uma
regra ou um princípio e se a previsão do Estado Democrático no
preâmbulo da CF/88 tem conteúdo prescritivo ou se trata de mera
declaração de intenções.
Agora, na seção 1.3, estudaremos propriamente a mutação, reforma,
as regras e princípios e derrotabilidade, além da estrutura da CF/88:
o preâmbulo e o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
(ADCT). A partir desse estudo, responderemos a seguinte questão:
o preâmbulo veicula normas prescritivas ou é apenas orientação à
aplicação das normas constitucionais e infraconstitucionais? E ele
44 U1 - Constituição e hermenêutica
pode sofrer alterações por Emenda Constitucional?
Para tanto, deveremos: (i) compreender como a CF/88 se estrutura;
(ii) entender o papel do preâmbulo e do ADCT; e (iii) analisar como a
CF/88 pode ser alterada.
A análise da possibilidade de alteração do nosso sistema de governo
para o parlamentarismo determina que saibamos se o preâmbulo
compõe ou não um núcleo imutável da CF/88, quais são as hipóteses
de mutabilidade e, ainda, se a noção de Estado Democrático de
Direito, pressupõe a escolha do presidencialismo enquanto sistema de
governo.
E, então? Vamos começar?
Originário
PODER CONSTITUINTE
pós-fundacional ou revolucionário
Derivado revisor
reformador
decorrente
U1 - Constituição e hermenêutica 45
Pesquise mais
Luís Roberto Barroso (2012) ainda aponta a existência de um Poder
Constituinte transnacional, ou supranacional, responsável pela
produção de normas jurídicas aptas a se sobreporem às normas da
Constituição do Estado-nação. Vejamos o exemplo da União Europeia,
onde normas jurídicas são produzidas no âmbito da comunidade
regional, sobrepondo-se às normas das Constituições dos Estados-
membros daquela comunidade.
46 U1 - Constituição e hermenêutica
Constitucional, cinco anos após a promulgação da CF/88, por maioria
absoluta em sessão unicameral.
Assimile
Vale notar que a titularidade do poder constituinte difere da legitimidade
para exercê-lo. A titularidade é do povo. A legitimidade do poder
constituinte é da assembleia nacional constituinte, no caso das
constituições democráticas, fundamentando-se na soberania popular. Ela
também pode ser exercida por outorga, nos casos em que dispensa a
participação popular. Note aqui a correlação existente com a classificação
das Constituições quanto à origem: promulgada, outorgada, pactuada e
cesarista, conforme estudamos na seção 1.1.
U1 - Constituição e hermenêutica 47
Temos que ter em vista que a norma jurídica é fruto da interpretação
dos textos legislados. Nesse sentido, a mudança de entendimento dos
tribunais acerca dos enunciados constitucionais também se configura
como manifestação do poder constituinte derivado reformador.
Ele pode, então, ser classificado de duas maneiras: (i) revisão formal
(Emenda Constitucional, conforme art. 59, I, e art. 60, da CF/88, e
Reforma Constitucional, nos termos da norma exaurida, contida no
art. 3º, do ADCT), que alteram a forma escrita da CF/88; e (ii) revisão
informal, por meio da chamada de mutação constitucional, com a
alteração apenas da interpretação do texto, que é de competência do
STF. A revisão informal se materializa como manifestação do chamado
poder constituinte difuso.
Exemplificando
O STF enfrentou questão que ensejou a chamada mutação
constitucional, quando reconheceu, na Ação Direta de
Inconstitucionalidade - ADI 4277 e na Arguição de Descumprimento
de Preceito Fundamental - ADPF132, a união homoafetiva, conferindo
nova interpretação ao art. 226, §§ 3º e 4º, da CF/88, alterando, assim, a
concepção de entidade familiar até então restrita à união entre homem
e mulher.
48 U1 - Constituição e hermenêutica
como exceção à regra prevista pelo legislador, “derrotando-a”. Vamos
a um exemplo?
Exemplificando
O legislador infraconstitucional previu, nos arts. 124 e 126, do Código
Penal (CP) que o aborto provocado é crime, mas excepcionou a
hipótese de haver ameaça à vida da mãe (aborto necessário) e em se
tratando de gravidez resultante de estupro. Não há outras exceções
legalmente previstas. Todavia, o STF, na ADPF 54/DF, entendeu que
não deve ser tipificado como crime o aborto de feto anencéfalo,
derrotando, assim, aquela norma.
Pesquise mais
Um texto bastante completo para o estudo do poder constituinte é o
que Gilmar Mendes e Paulo Branco apresentam na obra abaixo indicada:
U1 - Constituição e hermenêutica 49
Figura 1.11 – Promulgação da CF/88
Fonte: <http://tribunadomoxoto.com/site-antigo/noticias/item/796-ha-20-anos-brasileiros-decidiram-pelo-
presidencialismo>. Acesso em: 28 jul. 2015.
50 U1 - Constituição e hermenêutica
normativa (prescritividade) como qualquer outra norma constitucional.
• Teoria específica: também chamada de tese da relevância jurídica
indireta, é a teoria majoritária e considera que o preâmbulo prevê a
forma de Estado (federação), a forma de governo (república), regime
de governo (democrático de Direito), Estado teísta (Deus) e omissão
quanto à religião (Estado laico), sendo assim fonte de interpretação das
normas contidas na CF/88.
Vale notar aqui o posicionamento adotado por Aurora Tomazini de
Carvalho (2013, p. 678-679), que afirma que o preâmbulo, juntamente
com os outros sinais que remetem ao processo de produção da CF/88,
a autoridade competente (Ulysses Guimarães) e as coordenadas de
espaço (Brasília) e de tempo (5 de outubro de 1988) em que se deu a
sua produção, constituem o que ela chama de enunciação-enunciada.
Assim, o preâmbulo faz parte das marcas do processo de criação da
CF/88 deixadas pelo legislador constitucional.
Agora passaremos à análise do ADCT. A ele, adota-se a teoria
jurídica comum, que entende que todos os atos contidos no ADCT
são normas constitucionais, sendo certo que todos eles possuem
eficácia normativa, sendo consideradas prescritivas de condutas,
exceto aqueles que já produziram efeitos, constituindo as denominadas
normas exauridas, como é o caso do exercício do poder constituinte
derivado revisor, nos termos do art. 3º, do ADCT.
E você se pergunta: Para que o ADCT foi editado? Foi justamente
para regular as situações que perdurariam no tempo, apesar da
promulgação da CF/88 e da emergência de uma nova ordem jurídica, o
legislador constitucional, no exercício do poder constituinte originário,
editou normas que estão fora do texto da CF/88, mas possuem o
mesmo status de norma constitucional.
Reflita
Nos termos do art. 19, do ADCT, os servidores públicos federais,
estaduais, distritais e municipais, que tivessem ingressado no serviço
público há mais de cinco anos continuados na data da promulgação
da CF/88 e que não tenham sido admitidos por concurso público são
considerados estáveis. Podemos considerar essa norma exaurida? Ela
pode ser modificada por Emenda Constitucional?
U1 - Constituição e hermenêutica 51
Para responder à questão, reflita sobre a finalidade do ADCT que
é justamente excepcionar hipóteses concretas da incidência de uma
norma, constante do corpo da CF/88, ou instituir um regime vantajoso
para um determinado grupo de indivíduos. Nesse sentido, o art. 19,
do ADCT, poderia ser objeto de Emenda Constitucional? O que você
acha?
Pesquise mais
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de
direito constitucional. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 77-80
Atenção
Aqui é muito importante relembrar das teorias que dispõem sobre a
eficácia normativa, sobre a prescritividade do preâmbulo: teoria política
(STF), teoria jurídica comum (teoria minoritária) e teoria específica
(teoria majoritária).
52 U1 - Constituição e hermenêutica
A partir de tudo que estudamos nessa seção e pensando as questões
anteriormente lembradas, você considera ser o preâmbulo irrelevante,
constituindo mera orientação para a interpretação e aplicação da
CF/88? Para tanto, avalie também o fato de que ele foi criado pelo
poder constituinte originário e se, a partir disso, pode ser alterado por
Emenda Constitucional.
Lembre-se
Lembre-se de que o poder constituinte originário se caracteriza por
ser inicial, autônomo, ilimitado, incondicionado e permanente, não
possuindo limitações nem condições prévias para a criação da nova
Constituição. A partir disso, o legislador constituinte originário optou
por constituir um núcleo rígido e imutável, previsto no art. 60, §4º,
da CF/88, quais sejam, forma federativa de Estado, a separação de
poderes o voto direto, secreto, universal e periódico, e os direitos e
garantias fundamentais.
Avançando na prática
Pratique mais
Instrução
Desafiamos você a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situações
que pode encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com as de
seus colegas.
U1 - Constituição e hermenêutica 53
O ADCT foi editado pelo poder constituinte originário para
dispor sobre aquelas situações que se alongam no tempo.
Sobre ele, adotamos a teoria jurídica comum, que considera
que suas normas possuem prescritividade. Todavia, nela há
4. Descrição da SP
normas que já produziram seus regulares efeitos no momento
da entrada em vigor da CF/88. A partir dessas considerações,
o ADCT pode ser modificado por Emenda Constitucional? Há
limitações para tanto?
Para resolver a questão, vamos analisar as características do
poder constituinte originário e do ADCT. Ele possui eficácia
normativa? Pode ser alterado por completo? Possui um
5. Resolução da SP
núcleo rígido e imutável que não pode ser objeto de Emenda
Constitucional? Ou são outras as limitações que se impõem à
alteração das normas exauridas?
Lembre-se
O poder constituinte originário editou o ADCT para dispor sobre
questões que se estendiam no tempo e que não deveriam compor
o rol das normas constitucionais, possuindo, no entanto, também
status de norma constitucional. Sobre ele adotamos a teoria
jurídica comum, o que, a princípio, ao conferir eficácia normativa,
determinaria a possibilidade de sua alteração por Emenda
Constitucional, fruto do poder constituinte derivado reformador. No
entanto, compete pensar: todas as normas contidas no ADCT são
suscetíveis de alteração? E as normas exauridas? O que justificaria a
possibilidade ou não de serem alteradas?
54 U1 - Constituição e hermenêutica
É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem
e a mulher configurada na convivência pública, contínua e duradoura e
estabelecida com o objetivo de constituição de família (BRASIL. Código
Civil. Lei n.º 10.406, de 10/01/2002, art. 1.723).
Pelo que dou ao art. 1.723 do Código Civil interpretação conforme
a Constituição, para dele excluir qualquer significado que impeça o
reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre pessoas
do mesmo sexo como “entidade familiar”, entendida esta como sinônimo
perfeito de “família”. Reconhecimento que é de ser feito segundo as
mesmas regras e com as mesmas consequências da união estável
heteroafetiva (BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n.º 4.277, Revista
Trimestral de Jurisprudência, v. 219, jan./mar. 2012, p. 240).
Considerando os textos apresentados acima, avalie as seguintes asserções
e a relação proposta entre elas.
I. No plano jurídico, inclusive no que concerne a processos judiciais de
natureza cível, ganhou força a interpretação de que deve ser reconhecida
a união estável entre pessoas do mesmo sexo, em razão da decisão
proferida na ADI n.º 4.277.
PORQUE
II. O Supremo Tribunal Federal é o intérprete máximo da Constituição
Federal, por exercer o controle de constitucionalidade, o que ocorre, entre
outras hipóteses, quando julga uma ação direta de inconstitucionalidade.
A respeito dessas asserções, assinale a opção correta.
U1 - Constituição e hermenêutica 55
ou revisor, se submete ao controle de constitucionalidade, como ocorre
com a Emenda Constitucional que objetiva a alteração da forma federativa
de Estado.
(c) O poder constituinte derivado reformador, bem como o revisor, objetiva
a reforma do texto constitucional a qualquer tempo.
(d) A Emenda Constitucional deve ser aprovada pelo sistema unicameral
por três quintos de seus membros, não podendo dispor sobre as matérias
elencadas como cláusulas pétreas.
(e) A forma federativa de Estado é matéria que pode ser objeto de
apreciação pelo poder constituinte derivado decorrente.
apreciação pelo poder constituinte derivado decorrente.
56 U1 - Constituição e hermenêutica
Seção 1.4
Métodos, limites, princípios e regras de
interpretação constitucional
Diálogo aberto
Vamos à última seção dessa primeira unidade de ensino do
nosso estudo da Teoria Geral do Direito Constitucional. Estamos
estudando Constituição e hermenêutica e nesta Seção vamos
novamente retomar a situação geradora de aprendizado, em que
estamos discutindo a possibilidade de alteração da CF/88 por meio
de Emenda Constitucional para adotarmos o parlamentarismo
como sistema de governo.
Retomando a questão, a CF/88 foi o marco da redemocratização
do país, após mais de 20 anos de ditadura militar. A partir dela, foram
retomadas as eleições diretas, dada liberdade de atuação para os
sindicatos e consagrada a separação dos Poderes Executivo, Legislativo
e Judiciário, que, a partir de então, devem atuar harmonicamente.
Na seção 1.1, analisamos os conceitos de Constituição e buscamos
apontar aquele que melhor define a CF/88. Além disso, falamos
sobre a classificação das Constituições, para verificarmos em que
classes, observados os critérios classificatórios, a CF/88 se enquadra
e, por fim, tecemos um histórico das Constituições brasileiras e suas
principais características.
Na seção 1.2, analisamos os princípios fundamentais na CF/88,
a separação de poderes e os fundamentos, objetivos e princípios da
República Federativa do Brasil e respondemos à questão atinente à
possibilidade de reforma da Constituição, se a democracia seria uma
regra ou um princípio e se a previsão do Estado Democrático no
preâmbulo da CF/88 tem conteúdo prescritivo ou se trata de mera
declaração de intenções.
Na seção 1.3, estudamos propriamente a mutação, reforma, as
regras e princípios e derrotabilidade, além da estrutura da CF/88: o
preâmbulo e o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT).
U1 - Constituição e hermenêutica 57
Agora, na seção 1.4, estudaremos os métodos, limites, princípios
e regras de interpretação constitucional, objetivando responder a
seguinte questão: quais os métodos, princípios e regras de interpretação
se aplicam à adoção do sistema de governo presidencialista? Há limites
à interpretação do sistema de governo adotado pela CF/88?
Para tanto, deveremos: (i) compreender os métodos interpretativos
e os limites a que se submetem; (ii) analisar os princípios e regras de
interpretação constitucional.
A análise da possibilidade de alteração do nosso sistema de governo
para o parlamentarismo determina que saibamos
58 U1 - Constituição e hermenêutica
A partir disso, entende-se que para conhecer o Direito, deve-
se compreendê-lo, interpretá-lo, para que se possa construir o seu
conteúdo, o seu sentido e o seu alcance.
Pesquise mais
Para compreender um pouco mais sobre essa evolução das teorias
sobre a interpretação, vamos ler o texto de um dos autores pioneiros na
aplicação das novidades trazidas pelo giro-linguístico ao Direito brasileiro:
U1 - Constituição e hermenêutica 59
concretizador. Difere-se do método tópico-problemático, porque, ao
contrário dele, a norma prevalece sobre o problema.
Reflita
O método hermenêutico-concretizador determina a primazia da norma
sobre o problema, associada à pré-compreensão do intérprete. A partir
dele, como interpretaríamos o seguinte caso: no Centro de São Paulo,
há vários imóveis desocupados que foram invadidos. As pessoas que
ali estão reivindicam a adequação desses imóveis para o atendimento
das necessidades básicas, como ligação de água, luz e esgoto, ou a
concessão de moradias pelo Poder Público para essas famílias, sob o
argumento de que a moradia é direito social, expressamente previsto
no art. 6º, da CF/88. O direito social à moradia deve ser compreendido
como um direito absoluto? Como compreender, no caso o pressuposto
objetivo? E o subjetivo? Você sendo o intérprete, como definiria a pré-
compreensão necessária para interpretar o caso?
60 U1 - Constituição e hermenêutica
Figura 1.12 – Iceberg
Assimile
• Método jurídico: interpreta-se a CF/88 como se interpreta a lei.
U1 - Constituição e hermenêutica 61
(i) em decorrência do princípio da unidade da Constituição, todas
as normas insertas na CF/88 possuem mesma hierarquia, dignidade
e força normativa, inclusive as que integram o ADCT, estudado na
seção 1.3; (ii) não se pode falar em inconstitucionalidade das normas
constitucionais, fruto do poder constituinte originário. Somente as
normas constitucionais, fruto do poder constituinte derivado podem
se submeter ao controle de sua constitucionalidade; e (iii) inexistem
verdadeiras incompatibilidades ou antinomias entre as normas
constitucionais, porque seu texto deve ser lido de forma harmônica.
2. Efeito integrador: é consequência lógica do princípio da unidade
da Constituição e determina que na interpretação constitucional,
o intérprete confira primazia aos pontos de vista que favoreçam a
integração política a social e o reforço da unidade política.
3. Máxima efetividade: também chamado princípio da eficiência ou
da interpretação efetiva, afirma que o intérprete deve atribuir à norma
constitucional o sentido que lhe dê a máxima efetividade social. Esse
princípio é invocado especialmente em relação à interpretação dos
direitos fundamentais.
4. Justeza: também chamado de princípio da conformidade ou
da correção funcional, estabelece que a interpretação da CF/88 não
poderá ensejar um resultado que subverta o esquema organizatório-
funcional estabelecido pelo constituinte, ou seja, não poderá alterar a
estrutura de separação dos Poderes e de exercício das competências
constitucionais estabelecidas pelo poder constituinte originário.
Exemplificando
Hoje se discute muito o ativismo judicial, ou seja, os casos em que os
tribunais atuam como legislador positivo, especialmente o STF ao atuar
no controle de constitucionalidade das leis. Considera-se que ele, ao
fazê-lo, estaria subvertendo a repartição constitucional de funções
entre os Poderes, o que o princípio da justeza ou da conformidade
funcional tenta evitar.
62 U1 - Constituição e hermenêutica
do poder de regulamentar, ultrapassa o que a lei dispõe. Haveria
aqui também afronta ao princípio interpretativo da justeza ou da
conformidade funcional?
U1 - Constituição e hermenêutica 63
e a sua consequente retirada do ordenamento jurídico.
8. Teoria dos poderes implícitos: sempre que a CF/88 outorgar um
poder, competência ou um fim a ser atingido, estarão incluídos todos os
meios necessários à sua efetivação, guardada a relação de adequação
entre meios e fins, ou seja, isso deve ser feito em consonância com o
princípio da proporcionalidade.
Assimile
• Unidade da Constituição: considera que CF/88 em sua totalidade.
Pesquise mais
Há livros inteiros sobre o tema, mas fica aqui a indicação de alguns
excelentes cursos de Direito Constitucional, que o tratam de forma
64 U1 - Constituição e hermenêutica
mais direta e sistematizada, ideal para iniciar a análise da interpretação
constitucional. Com o tempo, por certo o interesse pelo tema, dada
a sua relevância, crescerá e você recorrerá aos autores clássicos, tais
como Canotilho, para aprofundar seus estudos:
Exemplificando
Na ADI 5081/DF, o STF determinou que à expressão “suplente”,
constante no art. 10, da Resolução TSE 22.610/07, deve ser atribuída
interpretação conforme a Constituição. O citado artigo prevê que:
“Julgando procedente o pedido, o tribunal decretará a perda do cargo,
comunicando a decisão ao presidente do órgão legislativo competente
para que emposse, conforme o caso, o suplente ou o vice, no prazo
de 10 (dez) dias”. Sendo assim, usando o princípio da interpretação
conforme a Constituição, o STF excluiu a aplicação da expressão
“suplente” aos cargos do sistema eleitoral majoritário, utilizado para a
eleição dos chefes do Poder Executivo.
U1 - Constituição e hermenêutica 65
E então? A partir de tudo que estudamos, vamos responder ao
problema que expusemos no início da seção?
Atenção
Aqui é muito importante retomarmos os métodos de interpretação
que estudamos: jurídico, tópico-problemático, hermenêutico-
concretizador, científico-espiritual, normativo-estruturante e
interpretação comparativa; bem como os princípios e regras relativos
à interpretação das normas constitucionais: unidade da Constituição,
efeito integrador, máxima efetividade, justeza (conformidade funcional),
harmonização, força normativa da Constituição, interpretação
conforme a Constituição e teoria dos poderes implícitos.
66 U1 - Constituição e hermenêutica
Lembre-se
Lembre-se de que a interpretação pode ainda ser considerada como
construção de sentido, como criação da norma jurídica a ser aplicada
no caso concreto, como definimos no início da seção.
Avançando na prática
Pratique mais
Instrução
Desafiamos você a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situações
que pode encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com as de
seus colegas.
U1 - Constituição e hermenêutica 67
Lembre-se
O princípio da interpretação conforme a Constituição assevera que
quando há a possibilidade de se atribuir interpretações distintas para a
mesma norma, deve-se optar por aquela que torna a norma compatível
com a CF/88, evitando-se a declaração de inconstitucionalidade. Por
outro lado, o princípio da justeza ou da conformidade funcional visa a
impedir que se viole a separação das funções atribuídas aos Poderes
na CF/88. Sendo assim, compatibilizar a interpretação da norma que
concede benefícios fiscais à importação de pneus a serem empregados
na cadeia produtiva, estendendo-os à importação de pneus para
reposição, não configuraria o ativismo judicial? Não estaria o Poder
Judiciário, caso assim decidisse, legislando positivamente?
68 U1 - Constituição e hermenêutica
PORQUE
II. Segundo o método jurídico, a interpretação da CF/88 não se distingue
da interpretação da lei.
A respeito dessas asserções, assinale a opção correta.
(a) Jurídico.
(b) Tópico-problemático.
(c) Hermenêutico-concretizador.
(d) Científico-espiritual.
(e) Interpretação comparativa.
U1 - Constituição e hermenêutica 69
I. No julgamento da ADI 4.815, ao considerar a inexigibilidade de
autorização do biografado ou deu seus familiares, o STF interpretou
conforme a CF/88 o art. 20, do Código Civil, que determina que “Salvo se
autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção
da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra,
ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa
poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização
que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou
se se destinarem a fins comerciais”.
II. Ao conferir a essas normas constitucionais no sentido que lhe atribui
maior eficácia, ela confere maior efetividade ao art. 5º, IV e XI, da CF/88.
III. Nesse caso, o STF utilizou o princípio da força normativa da Constituição
para, havendo conflito entre os bens jurídicos intimidade e liberdade de
expressão, um não seja sacrificado em relação ao outro.
É correto afirmar em:
(a) I, apenas.
(b) III, apenas.
(c) I e II, apenas.
(d) II e III, apenas.
(e) I, II e III.
70 U1 - Constituição e hermenêutica
Referências
BARROSO, Luis Roberto. União homoafetiva frente à vanguarda dos principios
constitucionais e a tutela dos direitos humanos. Revista dos Tribunais, n. 919, maio
2012. Disponível em: <http://www.luisrobertobarroso.com.br/wp-content/themes/
LRB/pdf/aqui_em_todo_lugar_dignidade_humana_direito_contemporaneo_discurso_
transnacional.pdf>. Acesso em: 6 maio 2015.
CARVALHO, Aurora Tomazini. Curso de teoria geral do direito. 3. ed. São Paulo: Noeses,
2013.
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário: linguagem e método. 5. ed. São Paulo:
Noeses, 2013.
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 40. ed. São Paulo:
Saraiva, 2015.
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 8. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2015.
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional.
10. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
MORAES, Alexandre. Direito constitucional. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 38. ed. São Paulo:
Malheiros, 2015.
Unidade 2
Eficácia, aplicação e
organização do Estado
Convite ao estudo
Caro aluno, vamos ao estudo da segunda unidade de ensino
do livro didático Teoria Geral do Direito Constitucional: Eficácia,
aplicação e organização do Estado. Nela, vamos analisar a eficácia
das normas constitucionais (plena, limitada e contida), além de
aprender as diferenças entre a eficácia técnica, jurídica e social,
diferenciando a eficácia da validade e da vigência de uma norma.
Diferenciaremos o Estado Federal e o Estado Unitário, analisando,
ainda, como a Federação brasileira se caracteriza. Por fim, vamos
estudar o instituto da intervenção, como se caracteriza e quais são
as hipóteses de intervenção federal e estadual.
Assimile
Existem inúmeras formas de definir sistema e ordenamento jurídico.
Adotaremos aquela que se refere ao conjunto de normas válidas em
determinado espaço e sob certas condições de tempo, colocando
sistema e ordenamento como sinônimos. Podemos, ainda, dizer que
o sistema ou o ordenamento jurídico é composto pelo conjunto de
enunciados prescritivos vigentes.
Pesquise mais
Alguns autores tratam ordenamento e sistema como sinônimos;
outros, traçam inúmeras diferenças entre eles. O texto indicado a
seguir sistematiza bem essas ideias:
Reflita
Pensando nessa acepção de validade, pode-se falar que uma lei declarada
inconstitucional pelo STF em Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI),
cuja decisão proferida tem efeitos retroativos (ex tunc), ou seja, desde a
publicação da aludida lei, é uma lei considerada nati morta, sendo, pois,
uma lei que já nasceu morta? Mas e os efeitos por ela produzidos desde
a sua edição até a sua declaração de inconstitucionalidade? É possível
desconstituí-los desde seu nascimento?
Fonte: <http://www.conjur.com.br/2009-out-21/livro-aberto-livros-vida-tributarista-paulo-barros-
carvalho>. Acesso em: 10 ago. 2015.
Pesquise mais
Uma leitura bastante esclarecedora sobre a classificação da eficácia das
normas em técnica, jurídica e social e que o ajudará a fixar essas definições,
você encontra em:
Fonte: <http://www.conjur.com.br/2013-out-13/entrevista-jose-afonso-silva-jurista-doutrinador-
constitucionalista>. Acesso em: 10 ago. 2015.
Exemplificando
O art. 18, §§ 2º, 3º e 4º, da CF/88, traz normas de eficácia limitada, ou
seja, normas que não são autoaplicáveis, demandando regulamentação
para a produção de seus regulares efeitos. Veja:
Pesquise mais
Maria Helena Diniz elaborou outra classificação das normas
constitucionais quanto a sua aplicabilidade, dividindo-as em: (i) normas
de eficácia absoluta, sendo aquelas que não podem ser contrariadas
sequer por emenda constitucional, como as cláusulas pétreas; (ii)
normas de eficácia plena, ou seja, aquelas prontas para produzirem
seus efeitos desde a sua entrada em vigor; (iii) normas de eficácia
relativa restringível, tais como aquelas classificadas por José Afonso
da Silva como sendo de eficácia contida; e (iv) normas de eficácia
relativa dependente de complementação legislativa, ou seja, aquelas
que dependem de regulamentação por norma infraconstitucional
para a produção de seus regulares efeitos. Para conhecê-la com mais
detalhes, sugiro a leitura do seguinte texto:
Atenção
Aqui é muito importante relembrar que a validade estabelece uma
relação de pertencimento da norma ao sistema jurídico, que a vigência
se refere à aptidão da norma para a produção de seus regulares efeitos
e que a eficácia da norma deve ser analisada sob os aspectos técnico,
jurídico e social.
Lembre-se
A classificação de José Afonso da Silva das normas constitucionais,
quanto a sua aplicabilidade, nos revela três tipos de normas: (i) as
Avançando na prática
Pratique mais
Instrução
Desafiamos você a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situações
que pode encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com as de
seus colegas.
Lembre-se
Para solucionar a questão, será necessário que você se lembre de
que as normas constitucionais foram classificadas por José Afonso
da Silva quanto a sua aplicabilidade em normas de eficácia plena,
contida e limitada. Essa classificação aponta para a prerrogativa dessa
norma produzir regulares efeitos após a sua edição. Diante disso, você
entende que essa norma possui efeitos imediatos ou se faz necessária
regulamentação infraconstitucional para tanto? Além disso, como
você avalia a possibilidade de restrição do seu âmbito de atuação?
(a) I, apenas.
(b) III, apenas.
(c) I e II, apenas.
(d) II e III, apenas.
(e) I, II e III.
Kelsen (2009, p. 316-321), por sua vez, entende que, para ser Estado,
a ordem jurídica demanda organização no sentido estrito do termo,
com o mínimo de centralização, que é o que o distingue da ordem
primitiva pré-estadual e da internacional. A partir disso, o autor entende
ser possível caracterizar juridicamente os seguintes elementos:
população, território e poder, exercido por um governo independente.
Vamos analisar cada um deles?
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 8. ed. São Paulo: WMF Martins
Fontes, 2009. p. 315-353.
Reflita
Considerando os critérios da imutabilidade constitucional da federação,
participação dos Estados-membros no poder central, por meio do
Senado e auto-organização, por um poder constituinte próprio, qual
deles melhor define a autonomia desses Estados-membros?
Assimile
Vamos esquematizar a repartição de competências horizontal e vertical
para que você não corra o risco de confundi-las:
Vocabulário
Talvez você fique se perguntando: O que é secessão? Trata-se de
termo que não utilizamos com tanta frequência e compreender a sua
Exemplificando
A CF/88 aponta para a impossibilidade de se dissolver a federação,
apontando para a inexistência do direito de secessão, por exemplo,
em seu art. 1°, ao dispor: “A República Federativa do Brasil, formada
pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
constitui-se em Estado Democrático de Direito”.
Atenção
Aqui é muito importante relembrar as características do Estado Federal,
especialmente a existência de uma Constituição Federal, bem como
a sua classificação quanto à mutabilidade ou alterabilidade em rígida,
semirrígida, flexível ou superrígida, e como funcionam as cláusulas
pétreas, previstas no art. 60, §4º, da CF/88.
Avançando na prática
Pratique mais
Instrução
Desafiamos você a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situações
que você pode encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com
as de seus colegas.
Assimile
Vamos assimilar as características do federalismo de integração e do
federalismo cooperativo, diferenciando-os:
Exemplificando
Uma dessas questões bastante discutidas, pelo fato de a CF/88 ser
silente em relação à aplicação das normas relativas ao processo
legislativo federal aos Estados, em especial, no que tange à reserva
de iniciativa para proposta de lei, prevista no art. 61, §1º, da CF/88,
se poderiam os Estados criar um processo legislativo próprio, sem
qualquer referência no que a CF/88 previu para a União. O STF, na ADI
97/RO, decidiu que não, manifestando-se no sentido de que as normas
básicas do processo legislativo deveriam ser observadas pelos Estados
em suas Constituições Estaduais, por força do princípio da separação
dos poderes, consagrado no art. 2º, da CF/88, e cláusula pétrea prevista
no art. 60, §4º, III, da CF/88, o que foi estudado na seção 1.2. Nesse
caso, o STF determinou ser o processo legislativo, conforme previsto
na CF/88, uma das chamadas normas de observância obrigatória, a
que as Constituições Estaduais se submetem.
Reflita
Diferentemente dos Estados, que têm seus representantes no Senado,
os Municípios não possuem representação no Legislativo Federal. Além
disso, a intervenção nos Municípios fica a cargo do Estado-membro
em que estiverem situados e não da União, tema que estudaremos
na próxima Seção, e na competência originária do STF para resolver
questões atinentes aos entes federados, não estão incluídas as hipóteses
em que os Municípios compõem um dos polos da lide. Diante disso,
poderíamos afirmar que o Município realmente é um ente federado?
Pesquise mais
José Afonso da Silva, autor que já lemos anteriormente, manifesta o seu
posicionamento a respeito de forma bastante fundamentada, sendo,
portanto, importante conhecê-lo:
É preciso que fique claro que não existe hierarquia entre lei federal
e lei estadual, porque o que existe é uma divisão de competências
entre esses entes. Sendo assim, há inconstitucionalidade tanto na
invasão de competência dos Estados pela União, quanto na invasão
das competências da União pelos Estados.
Atenção
Aqui é muito importante relembrar da classificação das normas
constitucionais, segundo José Afonso da Silva, que determina serem
elas de eficácia plena, contida e limitada.
Lembre-se
Lembre-se de que as normas podem ser classificadas quanto à
aplicabilidade em normas de eficácia plena (as que são plenamente
aplicáveis, sem a necessidade de regulamentação infraconstitucional
para tanto), de eficácia contida (as que possuem aplicabilidade
imediata, mas podem ter sua abrangência restrita por meio de
normas infraconstitucional) e de eficácia limitada (as que dependem
de regulamentação por meio de norma infraconstitucional para
produzirem seus regulares efeitos).
Pratique mais
Instrução
Desafiamos você a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situações
que você pode encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com
as de seus colegas.
Abrangência da competência dos Municípios para legislar sobre assuntos de interesse local
Compreender, a partir da análise do poder constituinte e da
1. Competências de fundamentos estrutura da CF/88, a possibilidade de alteração das normas
da área do ADCT, considerando aquelas que já produziram efeitos,
chamadas de normas exauridas.
Analisar especialmente como é formada a federação brasileira,
2. Objetivos de aprendizagem quais são os entes federados e suas características, bem como
funciona a repartição de competências
• Federação brasileira na CF/88
• Entes federados
3. Conteúdos relacionados • Características dos entes federados
• Repartição de competências.
Pesquise mais
José Afonso da Silva e Alexandre de Moraes analisam todas as
características dos entes federados e da autonomia que os marca:
Reflita
As hipóteses de intervenção federal estão elencadas no art. 34, da
CF/88.
Assimile
Diante disso, vamos diferenciar os entes que se submetem à intervenção
federal e aqueles que se sujeitam à intervenção estadual:
• Provocada:
Vocabulário
Aqui vale uma explicação sucinta sobre o que seja ato vinculado e ato
discricionário, uma vez que isso será estudado pormenorizadamente
em Direito Administrativo, mas é muito importante que você saiba
diferenciá-los:
Exemplificando
Em 2014, foram noticiados inúmeros casos de mortes ocorridas dentro do
sistema penitenciário maranhense. Dezenas de presos foram torturados,
Descumprimento de lei
Art. 34, I, II, III e V Suspensão do pagamento da estadual, ordem ou
dívida fundada por mais de dois decisão judicial
Por requisição: Art. 34, anos, salvo força maior
Por solicitação: Art. 34, IV, no caso de VI, quando a coação ou o
a coação ou impedimento recair sobre impedimento recair sobre o
os Poderes Executivo ou Legislativo Poder Judiciário, e art. 34, VI,
para prover a execução de
ordem ou decisão judicial
133
O organograma a seguir sintetiza o que estudamos nesta seção:
E então? A despeito de tudo que estudamos, vamos responder
ao problema que expusemos no início da seção?
Atenção
Aqui é muito importante retomarmos a classificação das normas
constitucionais em normas de eficácia plena, ou seja, aquelas que não
demandam regulamentação, normas de eficácia contida, que podem
ter seu campo de atuação restrito por norma infraconstitucional, e
normas de eficácia limitada, que dependem de regulamentação para
produção de todos os seus efeitos, para verificarmos em que situação
as normas de intervenção se enquadram.
Lembre-se
Lembre-se de que para analisar a questão, você precisará reler os arts.
34 a 36, da CF/88, para verificar se eles trazem alguma pista a respeito.
Muitas vezes, as normas constitucionais remetem à lei que deverá ser
produzida com o intuito de regulamentá-las.
Avançando na prática
Pratique mais
Instrução
Desafiamos você a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situações
que você pode encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com
as de seus colegas.
Lembre-se
A intervenção federal é medida excepcional, utilizada para restabelecer
o proteger tanto o Estado Federal quanto as unidades que o integram.
Lembre-se de que a intervenção federal é medida que relativiza a
autonomia dos Estados e do Distrito Federal, verificada qualquer das
situações elencadas no art. 34, da CF/88, sem ferir o pacto federativo,
sendo seu objetivo defendê-lo. Mas, no caso em comento, a intervenção
federal seria, de fato, cabível? A atuação do STF, ao solicitar informações
ao governador, é legítima? O STF não estaria invadindo o poder do
Executivo de regulamentar, em âmbito interno, a atuação da polícia
militar? Ou o deslocamento dos policiais militares para exercer as funções
de agente penitenciário ensejaria alguma das hipóteses excepcionais,
previstas no art. 34, da CF/88, a ensejar a intervenção federal?
(a) I, apenas.
(b) III, apenas.
(c) I e II, apenas.
(d) II e III, apenas.
(e) I, II e III.
CARVALHO, Aurora Tomazini. Curso de teoria geral do direito. 3. ed. São Paulo:
Noeses, 2013.
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 19. ed. São Paulo: Saraiva,
2007.
_______. Direito tributário: linguagem e método. 5. ed. São Paulo: Noeses, 2013.
FERREIRA FILHO, Monoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 40. ed. São
Paulo: Saraiva, 2015.
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 8. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Eficácia das normas constitucionais e direitos
sociais. São Paulo, Malheiros: 2009.
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 38. ed. São Paulo:
Malheiros, 2015.
Direitos e garantias
fundamentais
Convite ao estudo
Iniciaremos o estudo dos Direito e garantias fundamentais.
Vamos conhecer e analisar a evolução das gerações de direitos,
as características, abrangência e aplicabilidade dos direitos e
garantias fundamentais, os deveres fundamentais e direitos
individuais, coletivos e sociais e os remédios constitucionais:
habeas corpus, habeas data, mandado de segurança, mandado
de injunção e ação popular.
Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Eug%C3%A8ne_Delacroix_-_La_libert%C3%A9_guidant_le_
peuple.jpg>.
Assimile
As três primeiras gerações de direitos podem ser sintetizadas pelas
seguintes palavras-chave: 1ª geração: direitos negativos – liberdade.
Ex.: direito de propriedade, diretos políticos, direito de locomoção,
liberdade de crença religiosa etc.; 2ª geração: direitos positivos –
Pesquise mais
Para que você possa saber um pouco mais a respeito das concepções
apresentadas, correlatas à 4ª e à 5ª gerações de direitos fundamentais,
seguem algumas indicações de leituras:
Reflita
O advento de uma nova geração de direitos fundamentais não faz com
que a geração anterior seja superada. Certo? É justamente por isso
que parte da doutrina prefere chamar as gerações de “dimensões dos
direitos fundamentais” para deixar claro que a consagração de novos
direitos fundamentais implica o convívio desses direitos com os que
foram anteriormente reconhecidos. Você consegue identificar na
CF/88 direitos pertencentes às cinco gerações que estudamos?
Pesquise mais
Recomenda-se que você aprofunde seus estudos lendo um pouco a
respeito dessa 6ª geração de direitos:
Exemplificando
Suponhamos que um indivíduo registre em cartório, para produzir
efeitos em relação a todos (erga omnes), a sua renúncia à inviolabilidade
de sua honra, direito fundamental garantido no art. 5º, X, da CF/88. Tal
documento não teria validade, ante a irrenunciabilidade desse direito.
Exemplificando
Um exemplo de como isso funciona é o caso decidido pelo STF a
respeito da desnecessidade de autorização para publicação de
biografias (ADI 4.815), que, diante do conflito entre a liberdade de
expressão e o direito à intimidade, além da inviolabilidade da honra
e a dignidade da pessoa humana, afastou-se a hierarquia entre eles,
restou entendido que, apesar do conflito, no caso, esses direitos
continuam sendo consagrados no ordenamento jurídico e, aplicando-
se o princípio da harmonização, foi emitido juízo de ponderação para
definir que prevaleceria a liberdade de expressão. Contudo, o direito à
intimidade, a inviolabilidade da honra e a dignidade da pessoa humana
não foram aniquilados, restando ao biografado e à sua família todas as
medidas cabíveis que podem ser adotadas na esfera penal e cível, no
caso de supressão desses direitos. Assim, caso o exercício da liberdade
de expressão pelo autor importe em calúnia ou difamação ou exponha
o biografado e sua família ao ridículo, assegura-se por meio das ações
penais e civil cabíveis à reparação desses danos.
Atenção
Aqui é muito importante relembrar que a doutrina consagra três
gerações de direitos, sendo a 1ª correlata à consagração dos
chamados direitos negativos, relativos à liberdade; a 2ª, relativa aos
direitos positivos, em que se enquadram os direitos sociais; e a 3ª,
associada aos direitos difusos e coletivos. Além disso, há autores que
sustentam a existência de direitos de 4ª geração, como Bobbio (direitos
relativos à engenharia genética) e Paulo Bonavides (direitos relativos à
democracia, à informação e ao pluralismo jurídico). Este último autor
defende ainda que a paz foi consagrada como direito fundamental de
5ª geração.
Lembre-se
Havendo conflito entre princípios (no caso, o direito à saúde fundamenta
tanto o tratamento da criança no exterior quanto à prestação de
serviços de saúde e tratamentos médicos e hospitalares para a
população do Maranhão), utiliza-se o princípio da harmonização, que
retira a hierarquia entre eles, reconhece que os direitos continuarão
válidos e vigentes no sistema jurídico e promove o sopesamento
desses princípios.
Avançando na prática
Pratique mais
Instrução
Desafiamos você a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situações
que podem ser encontradas no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com
as de seus colegas.
Lembre-se
Para solucionar a questão, será necessário que você se lembre de que
a doutrina consagra três gerações de direitos, sendo a 1ª correlata à
liberdade, a 2ª, relativa aos direitos sociais, e a 3ª, aos direitos difusos
e coletivos. Além disso, há autores que sustentam a existência de
direitos de 4ª geração, como Bobbio e Paulo Bonavides, este último
ainda defende que a paz foi consagrada como direito fundamental
de 5ª geração. Além disso, havendo conflito entre princípios, utiliza-
se o princípio da harmonização, que retira a hierarquia entre eles,
reconhece que os direitos continuarão válidos e vigentes no sistema
jurídico e promove o sopesamento desses princípios. Com base nisso,
o direito ao transporte se enquadraria mais precisamente em qual das
gerações de direitos? E como solucionar o aludido conflito?
a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.
a) 1ª geração.
b) 2ª geração.
c) 3ª geração.
d) 4ª geração.
e) 5ª geração.
Pesquise mais
Sobre o status dos tratados internacionais a respeito dos direitos
humanos, leia o artigo seguinte, que pormenoriza os efeitos do
julgamento do RE 466.343-1/SP pelo STF: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11686>.
Acesso em: 18 fev. 2015.
Reflita
Como sustentar as hipóteses de quebra de sigilo bancário (decisão
judicial, determinação de Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI,
determinação do Ministério Público) em caso de procedimento
administrativo tendente à defesa do patrimônio público e pelas
autoridades fiscais, em caso de processo administrativo instaurado?
Exemplificando
O art. 33, §4º, da Lei n. 11.343/2006, determinou a redução da pena
de um sexto a dois terços em caso de o agente acusado de tráfico
Lembre-se
O rol de direitos fundamentais não é exaustivo. É importante
lembrar da inviolabilidade domiciliar (art. 5º, XI, da CF/88): o citado
dispositivo elenca três hipóteses em que a inviolabilidade de domicílio
é excepcionada nos casos de: (i) flagrante delito ou desastre; (ii)
prestação de socorro; e (iii) durante o dia, por determinação judicial.
Quanto à aplicabilidade, trata-se também de norma de eficácia relativa
restringível, de acordo com a classificação de Maria Helena Diniz
(2009, p. 118).
Pesquise mais
O texto a seguir é a fonte mais completa de pesquisa sobre os direitos
e garantias fundamentais entre os manuais de Direito Constitucional
brasileiros:
Atenção
Aqui é muito importante relembrar que o direito à saúde é um dos
direitos sociais, elencados no art. 6º da CF/88, considerado, portanto,
direito de 2ª geração, que tem por fundamento a igualdade e demanda
a atuação do Estado, ao contrário dos direitos de 1ª geração, que são
considerados direitos negativos.
Lembre-se
Lembre-se de que a classificação de José Afonso da Silva das normas
constitucionais, quanto à sua aplicabilidade, nos revela três tipos de
normas: (i) as de eficácia plena, que possuem aplicação e efeitos
imediatos; (ii) as de eficácia contida, que possuem aplicação imediata
e efeitos mediatos, podendo ter seu campo de atuação restringido por
norma infraconstitucional; e (iii) as de eficácia limitada, que possuem
aplicação mediatas e somente efeitos jurídicos, por depender de
norma infraconstitucional que a regulamente.
Pratique mais
Instrução
Desafiamos você a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situações
que podem ser encontradas no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com
as de seus colegas.
Lembre-se
Para solucionar a questão, você deverá se lembrar de que Maria Helena
Diniz elaborou outra classificação quanto à aplicabilidade das normas
constitucionais, dividindo-as em: (i) normas de eficácia absoluta,
sendo aquelas que não podem ser contrariadas sequer por emenda
constitucional, como as cláusulas pétreas; (ii) normas de eficácia
plena, ou seja, aquelas prontas para produzirem seus efeitos desde a
sua entrada em vigor; (iii) normas de eficácia relativa restringível, tais
como aquelas classificadas por José Afonso da Silva como norma
Fonte: <http://revistaleite.com.br/presos-por-fraude-no-leite-em-teutonia-conseguem-habeas-corpus>.
Acesso em: 21 jan. 2016.
Lembre-se
No mandado de segurança, identificamos as seguintes figuras: a)
Impetrante: titular do direito violado; b) Impetrado: a autoridade
coatora, que, no caso concreto, tenha poder de decisão para
determinar que o ato que enseje a ilegalidade ou abuso de poder seja
desfeito ou refeito. Também poderá figurar como impetrado, ou seja,
como autoridade coatora, o agente público, ou seja, pessoa jurídica
de direito privado a quem o Poder Público tenha delegado poderes
para exercer atribuições que lhe são próprias, tal como ocorre nos
casos de concessão e permissão de obras ou serviço público. Poderão
ainda figurar como impetrado os serventuários, notários e oficiais de
registros públicos, que se sujeitam a autorização do Poder Público.
Exemplificando
Por motivo de crença religiosa, um candidato adventista do sétimo
dia impetra mandado de segurança para realização da prova em
horário diverso daquele determinado pela comissão organizadora do
concurso público, conforme discutido no RE 611.874/DF, em que foi
declarada a repercussão geral da matéria. Conforme o impetrante, seu
direito estaria amparado pelo art. 5º, VIII, da CF/88, que determina que
Pesquise mais
Fica aqui a indicação de duas leituras sobre os remédios constitucionais
estudados nesta seção:
Atenção
Aqui é muito importante relembrar a finalidade dos remédios
constitucionais estudados nesta seção: (i) habeas corpus: para
combater a ameaça ou violação do direito à liberdade de locomoção
por ilegalidade ou abuso de poder; (ii) mandado de segurança: para a
proteção de direito líquido e certo não amparado por habeas corpus
nem por habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso
de poder for autoridade pública ou seu agente; e (iii) mandado de
segurança coletivo: o direito líquido e certo, nesse caso, deve ser coletivo
ou individual homogêneo para que partido político com representação
no Congresso Nacional (desde que, nos termos da Lei 12.016/2009,
esteja vinculado à defesa de seus interesses legítimos, correlatos a seus
integrantes ou à finalidade partidária), organização sindical, entidade
de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento
há mais de um ano possam impetrá-lo, sendo, para tanto, necessário
demonstrar a relação de pertinência.
Avançando na prática
Pratique mais
Instrução
Desafiamos você a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situações
que podem ser encontradas no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com
as de seus colegas.
a) Habeas corpus.
b) Mandado de segurança individual.
c) Mandado de segurança coletivo, em se tratando de direito coletivo.
d) Mandado de segurança coletivo, em se tratando de direito individual
homogêneo.
e) Direito de petição, independentemente do recolhimento de taxa.
José Afonso da Silva (2015, p. 456) afirma que o habeas data objetiva
a proteção da esfera íntima dos indivíduos contra: (i) o uso abusivo
de dados obtidos por meios ilícitos, fraudulentos ou desleais; (ii) a
introdução nesses registros dos chamados dados sensíveis, correlatos
à raça, à opinião política, filosófica ou religiosa, à filiação partidária ou
sindical, à orientação sexual etc; e (iii) conservação de dados falsos ou
inexatos ou, ainda, com fins diversos daqueles legalmente previstos. Ele
se fundamenta essencialmente na inviolabilidade do sigilo de dados, em
que se assegura o sigilo de correspondência e das comunicações em
geral, conforme art. 5º, XII, da CF/88, no direito à informação, previsto
Reflita
A requisição de informações pelo Ministério Público, na instituição
financeira, para instruir processo judicial, pode ser feita por mandado
de segurança ou por habeas data? Lembre-se de que o habeas data
somente pode ser usado para a obtenção de informações de caráter
Síndrome da
Normas Ausência
Direitos inefetividade
MANDADO DE INJUNÇÃO programáticas de norma
fundamentais da norma
(eficácia limitada) regulamentadora
constitucional
Assimile
Como requisito para impetrar o mandado de injunção, é preciso:
Exemplificando
O art. 37, VII, da CF/88, determina que: “o direito de greve será
exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica”. Trata-
se de norma de eficácia limitada, conforme a classificação das
normas constitucionais segundo a sua aplicabilidade, elaborada por
José Afonso da Silva, demandando, portanto, a edição de norma
infraconstitucional para a produção de seus regulares efeitos. Ante
a inexistência da aludida norma regulamentadora, entidade sindical
representativa de servidores públicos do Estado do Pará, impetraram
mandado de injunção coletivo MI 712/PA. Em seu julgamento, o STF
entendeu ser aplicável ao caso a Lei n. 7.783/1989, que regulamentou
a greve na iniciativa privada, até que o Congresso Nacional edite lei
específica, que regulamente o direito de greve dos servidores públicos.
A ação popular deve ser proposta (art. 6º, Lei n. 4.717/1965) contra
a entidade lesada, além dos autores e responsáveis pelo ato, bem
como aqueles que dele se beneficiaram, configurando o chamado
litisconsórcio passivo. Por outro lado, é legitimado para propô-la
o cidadão, considerado como tal o nacional no gozo dos direitos
políticos, ou seja, aquele que é alistado eleitoralmente. São alistáveis
os brasileiros maiores de 16 anos. O cidadão, nesse caso, postula, em
nome próprio, pedido de defesa de direito de toda a sociedade.
Pesquise mais
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de
direito constitucional. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 449-454.
Atenção
É muito importante relembrar a finalidade dos remédios constitucionais
estudados nesta seção: (i) habeas data: para o conhecimento de
informações de natureza pessoal, relativas ao impetrante e para a
retificação de dados; (ii) mandado de injunção: conferir imediata
aplicabilidade à norma constitucional, inerte em virtude de ausência de
regulamentação; e (iii) ação popular: anular ato lesivo ao patrimônio
público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural.
Avançando na prática
Pratique mais
Instrução
Desafiamos você a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situações
que podem ser encontradas no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois compare-as com
as de seus colegas.
Lembre-se
A classificação de José Afonso da Silva das normas constitucionais
quanto à sua aplicabilidade nos revela três tipos de normas: (i) as
de eficácia plena, que possuem aplicação e efeitos imediatos; (ii)
as de eficácia contida, que possuem aplicação imediata e efeitos
mediatos, podendo ter seu campo de atuação restringido por
norma infraconstitucional; e (iii) as de eficácia limitada, que possuem
aplicação mediatas e somente efeitos jurídicos, por depender de
norma infraconstitucional que a regulamente.
a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.
DINIZ, Maria Helena. Norma constitucional e seus efeitos. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 40. ed. São Paulo:
Saraiva, 2015.
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional.
10. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
MORAES, Alexandre. Direito constitucional. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. 8. ed. São Paulo:
Malheiros, 2012.
________. Curso de direito constitucional positivo. 38. ed. São Paulo: Malheiros, 2015.
Unidade 4
Convite ao estudo
Você sabia que apesar de o caput do art. 5º, da CF/88
determinar que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade”, a própria CF/88 prevê
situações em que o tratamento dos brasileiros e dos estrangeiros
será diferenciado? Entre essas situações estão os direitos políticos,
que não são, em geral, atribuídos aos estrangeiros.
PLEBISCITO NA
ORGANIZAÇÃO POLÍTICO- ESTADOS MUNICÍPIOS
ADMINISTRATIVA
Norma constitucional Art. 18, §3º Art. 18, §4º
Criação, incorporação,
Criação, incorporação,
Finalidade desmembramento e
desmembramento e fusão.
subdivisão.
Plebiscito, aprovação pelo
Plebiscito, estudo de viabilidade
Requisitos Congresso Nacional e lei
municipal e lei estadual.
complementar.
Alistamento eleitoral
Positivos Passivos Elegíveis
Filiação partidária
Negativos Ativos
Estrangeiros e conscritos
Inelegíveis
Analfabetos e Inalistáveis
Exemplificando
Suponhamos que um cidadão seja deputado estadual em seu primeiro
mandato, sem que nunca tenha ocupado outro cargo eletivo. Nas
eleições subsequentes, ele poderá se candidatar a governador de seu
Estado, sem a necessidade de renunciar ao cargo em que ocupa, ou
seja, sem que haja a necessidade de se desincompatibilizar.
Para terminar esse ponto, vamos analisar o §7º, do art. 14, da CF/88,
que determina que os chefes do Poder Executivo, no território de sua
jurisdição, têm o cônjuge ou companheiro, os parentes consanguíneos
ou afins, até o segundo grau, inelegíveis, salvo se titular de mandato
eletivo e candidato à reeleição. Assim, por exemplo, se determinada
pessoa era governadora de Estado e o cônjuge se tornou Presidente da
República, ela somente poderá, a partir de então, concorrer à reeleição.
O §9º, do art. 14, por sua vez, determina que “lei complementar
estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua
cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade
para exercício de mandato, considerada a vida pregressa do candidato,
e a normalidade e a legitimidade das eleições contra a influência
do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou
emprego na administração direta ou indireta”.
Assimile
A inelegibilidade pode ser absoluta ou relativa: absoluta (art. 14, §4º,
da CF/88): os inalistáveis (estrangeiros e constritos) e os analfabetos;
relativa (art. 14, §§5º a 9º): por motivos funcionais (§§5º e 6º), devido
a casamento, parentesco ou afinidade (§7º), dos militares (§8º) e por
previsão de ordem legal (§9º).
Reflita
Suponhamos que um cidadão tenha sido condenado nas esferas
cível e criminal por improbidade administrativa, nos termos do art.
37, §4º, da CF/88, o que importa em suspensão dos direitos políticos,
conforme art. 15, III, da CF/88. Aplicar a inelegibilidade após o período
de suspensão dos direitos políticos não seria abusivo? Poderíamos
dizer que isso se equipararia a uma pena de caráter perpétuo, o que é
vedado pelo art. 5º, XLVII, b, da CF/88? E se esse cidadão não sofrer
condenação em juízo? Poderíamos dizer que ele se beneficiaria da
presunção de inocência (art. 5º, LVII, da CF/88)?
O art. 16, da CF/88, afirma que “a lei que alterar o processo eleitoral
entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição
que ocorra até um ano da data de sua vigência”. Assim, a lei que alterou
o processo eleitoral em 10/01/2014 somente será aplicada a partir de
2015, por força do princípio da anualidade, não atingindo, assim, as
eleições ocorridas em outubro de 2014.
Pesquise mais
Para que você possa saber um pouco mais a respeito dos direitos políticos,
dos partidos políticos e especialmente compreender o funcionamento
dos sistemas eleitorais proporcional e majoritário, fica a indicação das
seguintes leituras:
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 30. ed. São Paulo: Atlas,
2014, p. 238-285.
Atenção
Aqui é muito importante relembrar que os direitos políticos positivos
são aqueles correlatos à capacidade eleitoral, que pode ser: (i) ativa,
ao se referir ao direito subjetivo de votar, exercido por aqueles que são
alistáveis, ou seja, pelos brasileiros e maiores de 16 anos; e (ii) passiva,
ao se referir ao direito de ser votado, ou seja, de ser elegível.
Lembre-se
A alistabilidade se refere à capacidade de exercício dos direitos
políticos positivos, ou seja, de participar do processo político elegendo
seus representantes. Assim, podemos afirmar que a alistabilidade é a
capacidade de se tornar eleitor. Por fim, não se esqueça de que todo
elegível deve ser eleitor, mas nem todo eleitor é elegível.
Pratique mais
Instrução
Desafiamos você a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situações
que pode encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com as de
seus colegas.
Lembre-se
Para solucionar a questão, será necessário que você se lembre de
que o direito à vida bem como à igualdade, à liberdade, à segurança
e à propriedade estão consagrados no art. 5º, caput, da CF/88. No
entanto, esses direitos são relativizados no próprio art. 5º, XLVII, que
indica que não haverá pena de morte, exceto em caso de guerra
externa declarada pelo Presidente da República, nos termos do art. 84,
XIX, da CF/88. Atente-se para o fato de que o citado inciso XLVII afasta,
em qualquer caso, penas de caráter perpétuo, de trabalhos forçados,
de banimento e cruéis. Além disso, o art. 5º, III, também garante que
“ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou
degradante”, em conformidade com esses direitos.
a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.
Reflita
Considerando que a nacionalidade é pressuposto da cidadania
e que são considerados nacionais tanto o brasileiro nato quanto
o naturalizado, o brasileiro naturalizado poderá votar? Quais são
os requisitos, estudados na seção 4.1, para tanto? O brasileiro
naturalizado poderá propor ação popular?
Assimile
Vamos verificar as hipóteses que se enquadram nas teorias relativas
à aquisição da nacionalidade pelos brasileiros natos: Jus soli (art.
12, I, a, da CF/88): São brasileiros natos os nascidos no Brasil, ainda
que filhos de estrangeiros, desde que tanto o pai quanto a mãe
não estejam a serviço de seu país; Jus sanguinis (art. 12, I, b e c da
CF/88): São brasileiros natos: (i) os que nasceram no estrangeiro, filho
de pai brasileiro ou de mãe brasileira, a serviço do país; e (ii) os que
nasceram no estrangeiro, filho de pai ou de mãe brasileira, desde que:
(a) seja registrado em repartição competente (consulado brasileiro);
ou (b) venham a residir no Brasil e optem a qualquer tempo, após a
maioridade civil, pela nacionalidade brasileira.
O art. 12, II, da CF/88, por sua vez, traz os critérios correlatos
à identificação dos brasileiros naturalizados. Trata-se de forma de
aquisição da nacionalidade secundária pelo processo de naturalização.
A CF/88 traz ainda uma regra de reciprocidade, aplicada em relação
aos portugueses, que não se configura como forma de aquisição
O art. 12, §2º, da CF/88, determina que a lei não poderá estabelecer
distinções entre os brasileiros natos e os naturalizados, exceto nos
casos constitucionalmente previstos. Podemos aqui elencar essas
distinções, previstas na CF/88:
- Art. 5º, LI, da CF/88: veda a extradição de brasileiro nato, mas afirma
que o naturalizado poderá ser extraditado em caso de crime comum,
praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei.
- Art. 12, §3º, da CF/88: elenca quais são os cargos privativos dos
José Afonso da Silva (2015, p. 336) traz uma regra bastante útil no
estudo dos brasileiros nato e naturalizado e da qual não podemos
nos esquecer: “se a Constituição só fala em brasileiro, sem qualquer
qualificativo, para qualquer fim, a expressão inclui o nato e o naturalizado;
se quer excluir esse último, expressamente menciona brasileiro nato”.
Pesquise mais
A fonte mais completa de estudos sobre os brasileiros nato e naturalizado,
que foi, por vezes, citada nesta seção:
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 38. ed.
São Paulo: Malheiros, 2015. p. 328-337.
Atenção
É muito importante que você se lembre do que dispõe o art. 5º,
caput, da CF/88, que determina que “todos são iguais perante a lei,
sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida,
à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. Além disso,
o art. 12, §2º, da CF/88, determina que a lei não poderá estabelecer
distinções entre os brasileiros natos e os naturalizados, exceto nos
casos constitucionalmente previstos.
Lembre-se
Lembre-se de que a CF/88 prevê as seguintes hipóteses de naturalização
do estrangeiro:
Avançando na prática
Pratique mais
Instrução
Desafiamos você a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situações
que pode encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com as de
seus colegas.
Lembre-se
Lembre-se de que além de a CF/88 prever as seguintes hipóteses de
naturalização do estrangeiro, o Estatuto do Estrangeiro também traz
regras específicas para tanto. Com base no art. 12, da CF/88, podemos
elencar os seguintes requisitos para cada caso: (i) ordinária: (a)
estrangeiro nascido em países de língua portuguesa; (b) residência no
país por um ano ininterrupto; e (c) idoneidade moral; (ii) extraordinária:
(a) estrangeiro nascido em países que não tenham a língua portuguesa
como oficial; (b) residência no país por 15 anos ininterruptos; e (c)
não possuir condenação penal; (iii) quase nacionalidade: (a) aplica-
se somente aos portugueses; (b) desde que haja reciprocidade em
relação aos brasileiros; e (c) residência permanente no país.
O art. 12, §2º, da CF/88, assevera que “a lei não poderá estabelecer
distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos
previstos nesta Constituição”. Sendo assim, em regra, os brasileiros
natos e naturalizados são iguais perante a lei e a CF/88, mas a própria
norma constitucional poderá estabelecer distinções entre eles, o que é
feito nas seguintes hipóteses:
Reflita
O art. 5º, LII, da CF/88, determina que “não será concedida extradição
de estrangeiro por crime político ou de opinião”. Note que o inciso
trata apenas do estrangeiro. No entanto, poderíamos interpretá-lo
extensivamente para abranger também o brasileiro naturalizado nesse
rol? Seria necessário estender essa proteção ao brasileiro naturalizado
ou o inciso LI do citado artigo já deixa claro que, após a naturalização,
a única hipótese de extradição a ele aplicável é o comprovado
envolvimento com o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins?
Exemplificando
O Governo da Itália pediu a extradição do ativista de extrema esquerda
Cesare Battisti, condenado em seu país por múltiplos homicídios
qualificados. Na condição de refugiado, reconhecida pelo governo
brasileiro, em função de suas opiniões políticas, ele não poderia ser
extraditado. Sobreveio decisão que deferiu o pedido de refúgio no país,
o que ensejaria a libertação de Cesare Battisti e julgado prejudicado
o pedido de extradição. Mas, conforme visto, nos termos do art. 77,
§2º, da Lei 6.815/1980, compete ao STF a apreciação do caráter da
infração, que entendeu se tratar de crime comum sem natureza política,
ensejando, assim, a extradição do italiano. Decretada a extradição pelo
STF, o Presidente da República pode, por meio do decreto presidencial,
ou seja, ato discricionário que se submete à sua conveniência e
oportunidade (o Presidente possui liberdade para agir dentro dos
limites da lei interna e do tratado de extradição firmado entre os países
envolvidos), determinar a execução da entrega do extraditando, tendo,
pela primeira vez na história, a negado, por entender que se tratava de
crime político. Esse ato de recusa da execução da entrega de Cesare
Battisti ao governo italiano teve a sua constitucionalidade apreciada
pelo STF, que, nesse momento, negou a extradição e concedeu o seu
alvará de soltura.
Assimile
Vamos assimilar as características mais marcantes desses institutos?
Vale lembrar que todos eles revelam uma forma de retirada compulsória
de estrangeiros do país.
Pesquise mais
Fica aqui a indicação de leitura sobre os remédios constitucionais
estudados nesta seção:
Atenção
Aqui é muito importante relembrar que a naturalização é hipótese
de aquisição secundária da nacionalidade brasileira, não decorrendo
do nascimento nem de laços consanguíneos, mas da manifestação
de vontade de estrangeiro, que quer assumir esse vínculo jurídico
com o país. A naturalização ordinária aplica-se aos estrangeiros,
originários de países lusófonos que tenham residência ininterrupta
no país há pelo menos um ano e comprovada idoneidade moral. A
extraordinária se aplica a quaisquer outros estrangeiros que residam
ininterruptamente no país há mais de 15 anos e não tenham sofrido
condenação penal. Por outro lado, a quase nacionalidade não é
hipótese de naturalização, mas de atribuição aos portugueses dos
direitos concedidos aos brasileiros, caso haja reciprocidade em favor
dos brasileiros naquele país.
Lembre-se
Lembre-se de que a extradição não se aplica aos brasileiros natos, mas
tão somente aos naturalizados e aos estrangeiros. Os naturalizados
poderão ser extraditados por envolvimento com o tráfico ilícito de
entorpecentes ou de drogas afins e os estrangeiros, pela prática de
crime comum. Todavia, nos termos do art. 5º, LII, da CF/88, é vedada
a extradição pela prática de crime político ou de opinião.
Avançando na prática
Pratique mais
Instrução
Desafiamos você a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situações
que pode encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com as de
seus colegas.
Extradição aplicada ao estrangeiro e ao brasileiro naturalizado
1. Competência de Fundamentos Compreender, a partir da análise das hipóteses de extradição,
de Área a possibilidade de ela ser aplicada no caso concreto.
Analisar especialmente as hipóteses de extradição aplicadas
2. Objetivos de aprendizagem
ao brasileiro naturalizado e ao estrangeiro.
• Naturalização ordinária e extraordinária.
• Hipóteses de extradição aplicadas ao brasileiro naturalizado.
3. Conteúdos relacionados
• Hipóteses de extradição aplicadas ao estrangeiro.
• Inaplicabilidade da extradição em caso de crime político.
Lembre-se
Conforme a Súmula 421, do STF, a existência de relações familiares,
de filhos brasileiros, cônjuge ou companheiro do extraditando, ainda
que dependentes economicamente dele, não possui relevância
jurídica para determinar ou não a extradição. Diferentemente ocorre
com a expulsão, o art. 75, da Lei 6.815/1980 a veda se o estrangeiro
tiver cônjuge brasileiro, de quem não esteja divorciado ou separado,
de fato ou de direito, e desde que o casamento tenha sido celebrado
há mais de cinco anos e caso o estrangeiro tenha filho brasileiro
que, comprovadamente, esteja sob sua guarda ou dele dependa
economicamente. Nesse sentido, a Súmula 1, do STF, diz que “é
vedada a expulsão de estrangeiro casado com Brasileira, ou que tenha
filho Brasileiro, dependente da economia paterna”.
Reflita
O art. 119, parágrafo único da CF/88, determina que a presidência e a
vice-presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sejam ocupadas
por Ministro do STF. Além disso, o art. 103-B, I, da CF/88, afirma que
a presidência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) seja ocupada
pelo Presidente do STF. Sendo assim, é possível concluir que além das
hipóteses listadas no art. 12, §3º, da CF/88, existem mais três cargos
privativos de brasileiros natos, quais sejam: Presidente e Vice-Presidente
do TSE e Presidente do CNJ?
Assimile
Devemos memorizar os cargos privativos de brasileiros natos, mas
devemos ter em mente as seguintes observações:
Atenção
Note que a privatividade desses cargos, que somente podem ser
ocupados por brasileiros natos, relaciona-se diretamente à linha de
sucessão presidencial, que, conforme disposto nos arts. 79 e 80,
da CF/88, será feita pelo Vice-presidente e sucessivamente pelo
Presidente da Câmara dos Deputados, pelo presidente do Senado
Federal e pelo presidente do STF. Além disso, a razão por se reservar
os cargos de Ministro da Defesa, de membros da carreira diplomática
e das forças armadas é puramente estratégica do ponto de vista das
relações externas mantidas pelo país.
Exemplificando
Um alemão que se mudou para o Brasil há mais de 15 anos e vive
aqui ininterruptamente desde então, não tendo condenação penal,
formulou requerimento de nacionalidade e teve a sua naturalização
deferida. Posteriormente, envolveu-se com o tráfico ilícito de drogas,
o que enseja, além da extradição, nos termos do art. 5º, LI, da CF/88,
o cancelamento da naturalização por sentença judicial transitada em
julgado, se essa atividade for considerada nociva ao interesse nacional,
conforme o art. 12, §4º, I, da CF/88.
Pesquise mais
Fica aqui a indicação de uma leitura bastante curta a respeito dos pontos
estudados nesta seção:
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 38. ed.
São Paulo: Malheiros, 2015. p. 336-338.
Atenção
São os seguintes os cargos privativos de brasileiros natos, ou seja, que
compõem exceção ao tratamento equânime que deve ser conferido
aos brasileiros naturalizados, por força do art. 12, §2º, da CF/88:
Lembre-se
Nos termos do art. 12, §4º, da CF/88, resultam na perda da
nacionalidade brasileira: (i) o cancelamento da naturalização, por
sentença judicial transitada em julgado, diante da prática de atividade
nociva ao interesse nacional por brasileiro naturalizado; (ii) a aquisição
voluntária de outra nacionalidade por brasileiro nato ou naturalizado,
salvo nos casos de reconhecimento de nacionalidade ordinária
por lei estrangeira ou imposição, também pela lei estrangeira, da
naturalização como condição para permanência no território ou para
exercício de direitos civis.
Pratique mais
Instrução
Desafiamos você a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situações
que pode encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com as de
seus colegas.
Lembre-se
A exploração de mão de obra escrava em virtude da permanência
irregular de chineses no país afronta os fundamentos da República
Federativa do Brasil da dignidade da pessoa humana e dos valores
sociais do trabalho, nos termos do art. 1º, III e IV, da CF/88. Além disso,
atenta contra o objetivo fundamental, previsto no art. 3º, IV, da CF/88,
“promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. Com base
nessas normas constitucionais, a manutenção de chineses ilegalmente
no Brasil, em condições subumanas, pode se encaixar no conceito de
a) Prefeito.
b) Governador.
c) Deputado estadual.
d) Deputado federal.
e) Vice-presidente.
3. O art. 12, §3º, da CF/88, elenca os cargos que são privativos de brasileiros
natos. Sobre isso, julgue as assertivas a seguir:
I. Os cargos privativos de brasileiros natos podem ser ocupados por
brasileiros naturalizados, mas não por estrangeiros.
II. Tendo em vista que a quase nacionalidade atribui aos portugueses
os direitos conferidos aos brasileiros, caso haja reciprocidade em favor
dos brasileiros em Portugal, os portugueses, mesmo que haja a aludida
reciprocidade, não poderão ocupar os cargos privativos de brasileiros
natos, porque eles passam a gozar apenas dos direitos inerentes aos
brasileiros naturalizados.
III. O cargo de Presidente do Superior Tribunal de Justiça não é privativo
de brasileiro nato.
É correto o que se afirma em:
a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.
DINIZ, Maria Helena. Norma constitucional e seus efeitos. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 40. ed. São Paulo:
Saraiva, 2015.
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional.
10. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
MORAES, Alexandre. Direito constitucional. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 38. ed. São Paulo:
Malheiros, 2015.
Anotações
Anotações
Anotações