Resenha "O Que Precisa Saber Um Professor de História?" Flavia Caimi
Resenha "O Que Precisa Saber Um Professor de História?" Flavia Caimi
Resenha "O Que Precisa Saber Um Professor de História?" Flavia Caimi
Rio de Janeiro
2019
Flavia Caimi afirma que o que um professor de História precisa saber depende de muitas
variáveis, como as demandas sociais em cada época, os preceitos disseminados pelas
políticas educacionais públicas, os diferentes contextos escolares e afins. De certo modo,
o objetivo deste estudo é problematizar algumas das demandas essenciais apresentadas
no trabalho do professor de História no contexto brasileiro. Há uma crise no ensino
escolar brasileiro. Um dos motivos para a decadência da educação no país é a falta de
apelo das propostas do sistema escolar perante os jovens. Comumente a educação
tradicional exercida a décadas é vista pela juventude como composta de conteúdos
obsoletos e atividades irrelevantes.
Neste texto Caimi aborda as expectativas coletivas a respeito de consensos básicos sobre
o que e como se entende que deva ser a disciplina História na escola. A autora ressalta
que apesar de abordar diversas questões em seu artigo, não possui intenção de
rigorosamente responde-las, apenas debater sobre estas problemáticas. Caimi ressalta que
o conhecimento histórico possui relevância na atualidade, pois confere inteligibilidade e
justificativa ao tempo presente. Tendo papel imprescindível durante a formação escolar,
a história conta com o professor como mediador decisivo nos processos de aprendizagem.
Devido as transformações sociais vivenciadas nas últimas décadas, as exigências feitas
aos docentes têm aumentado. Atualmente é cobrado que os professores exerçam sua
função com maior autonomia, disposição e competência. Os professores são
indiretamente avaliados através dos resultados obtidos por seus alunos em índices
controlados por mecanismos públicos de avaliação em larga escala. Hoje em dia ensinar
não é o bastante.
Segundo Caimi, as reformas educativas implementadas no Brasil na década de 1990 e
2000 implementam demandas específicas aos professores de História. Um exemplo
destes novos temas é a incorporação de novos conteúdos no currículo escolar, temas estes
que ganharam destaque com a renovação historiografia. Os novos temas e metodologias
que deveriam ser incrementadas no ensino de história ainda não se concretizaram por
completo no âmbito prático. Dentre os motivos que afastam as teorias da pratica, se
destacam a redução da carga horaria da disciplina de história em conjunto a maior
complexidade das aulas. Caimi afirma que, apesar de todas as razoes, os docentes só
mudam suas práticas pedagógicas quando percebem que os resultados serão positivos e
efetivos.
Caimi defende que, para dar conta das exigências que emergem dos atuais contextos
social e escolar, o saber histórico não é o suficiente para ensinar história. Neste raciocínio,
a autora destaca três aspectos necessários na carreira de professor de história: os saberes
a ensinar; os saberes para ensinar; os saberes do aprender. Os “saberes a ensinar” é tudo
que está relacionado ao saber histórico. Já os “saberes para ensinar” se refere a tudo que
engloba a docência, o currículo e a cultura escolar. Por fim, os “saberes do aprender”
abordam questões do aluno, da cognição, do pensamento histórico e entre outros.
Os “saberes a ensinar” são fundamentais, pois o professor de História precisa dominar o
conteúdo para poder ensina-lo. O saber histórico é conteúdo que possibilita ao docente
selecionar conceitos e informação histórica cientificamente fundamentada. As decisões
de um professor de História sobre como selecionar e transmitir a matéria reflete a sua
concepção de História.
Segundo Caimi, dominar o saber histórico não é o suficiente para ser um professor eficaz.
Justamente pois, passar conhecimento é simples, difícil é fazer o outro aprender. No caso,
a dificuldade da docência está em criar condições para que o outro individuo possa
articular-se intelectualmente, de modo que comece a pensar por conta própria. Neste
sentido, os “saberes para ensinar” se referem a tarefa de transmitir conhecimento pautado
em saberes pedagógicos, de modo a transformar os conhecimentos científicos em
conhecimentos válidos socialmente. O professor é o mediador entre o currículo e os
alunos, ele tem a tarefa de ensinar através da decodificação da cultura atual. Apesar de
ser o docente quem interpreta o currículo, suas decisões estão situadas em um contexto
institucional, formulado tanto dentro da comunidade escolar como fora.
A maior questão pedagógica do ensino de História é transmitir os saberes de modo a
estimular a mobilização intelectual do aluno. Segundo Caimi, a essência da história
escolar é desenvolver nos alunos a capacidade de pensar historicamente. Todavia, para
provocar a mobilização intelectual dos estudantes é necessário utilizar os “saberes do
aprender”, pois é preciso conhecer os alunos para saber como estimula-los. É necessário
introduzir o conteúdo deixando explicito que ele foi formulado através de metodologias
cientificas em um processo de construção intelectual, para que o discente entenda que
este conteúdo é passível de alterações e reflexões.
O conhecimento histórico está intrinsecamente relacionado à composição de narrativas
acerca das experiências sociais presentes no tempo. As narrativas são uma das mais uteis
ferramentas de transmissão de saber histórico. Todavia, é preciso tomar cuidado para não
privilegiar uma narrativa ou simplificar o conteúdo, para não recair em problemáticas já
abordadas, como a ausência de mobilização intelectual do discente.
Segundo Caimi, alguns indivíduos creem que basta o saber histórico para ensinar de
forma eficaz, recaindo na crença do “conteúdo sem forma”. Já outros acreditam que as
ferramentas pedagógicas são o suficiente para se ensinar, perpetuando a “forma sem
conteúdo”. Caimi ressalta que para ensinar ao aluno de forma que ele se mobilize
intelectualmente, é necessária uma junção do saber histórico com as ferramentas
pedagógicas. Em relação ao currículo escolar, é essencial ressaltar que ele é resultado do
contexto social e politico de determinada sociedade e tempo. Deste modo, as disciplinas
e conteúdos presentes no currículo possuem implicitamente objetivos que determinada
sociedade acha necessário para as próximas gerações.