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Resenha Cidadania

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RESENHA CRÍTICA SOBRE O TEXTO

CIDADANIA: SENTIDOS E SIGNIFICADOS

O texto Cidadania: Sentidos e Significados disserta sobre um leque de


conceitos e pensamentos de teóricos e filósofos sobre o que seria a cidadania e como
a cidadania foi pensada no decorrer da história, e como a educação deve interagir
com ela.

A cidadania é completamente ligada ao desenvolvimento humano, a cultura e


a sua tecnologia, dessa forma, seu conceito não é determinado, a compreensão do
que é cidadania varia com o tempo e o espaço, se transformando e se editando
conforme o interesse de quem de fato quer ser cidadão. Por isso o conceito de
cidadão se confunde um pouco com o de ser humano, pois a cidadania é parte da
trajetória de quem convive em sociedade.

Sabemos que o seu significado clássico associava-se à participação polit́ ica.


Sua origem remonta à Grécia Antiga, que nos liga a ideia de comunidade constituid
́ a
́ uos livres, autônomos, participantes da vida pública, engajados em
por individ
solucionar e melhorar em teoria a sua vida com os que lhe rodeiam e a vida de todos
por um bem comum. A base do que temos hoje.

Aristóteles define o cidadão como aquele que possui poder para participar de
decisões legais e polit́ icas, deliberativas ou judiciais, podendo governar e ser
governado, àquela época o exercicío de forma pública acontecia na própria cidade,
assim a política era educadora natural da cidadania e a educação era decorrência
disso. Porém as barreiras quanto a ser cidadão já entravam em conflitos fortes quando
excluía de forma totalmente negligente diversas pessoas, pois não havia um conselho
democrático, ele teria sido ignorado quando exigia que o indivíduo que fosse livre para
exercer sua vontade em espaço público, o que era negado a mulheres, escravos,
pobres e etc…

Com isso, o conceito de cidadania passou por uma vasta abrangência e uma
sequência de formas de registrar e legislar o significado de ser cidadão. Muita
conquistas sociais tiveram seu advento a partir do século XVI, em que a Revolução
Francesa e a Revolução Americana destacam-se na luta pela superação do
absolutismo do Estado, como resultado de uma movimentação de grandes grupos de
individuos que buscam a cidadania. Depois, com a noção moderna de Estado, com
suas bases alicerçadas na cidadania e no papel fundamental da educação para a
construção da identidade burguesa, pode-se dizer que as revoluções burguesas
apresentaram a ideia de cidadania ligada aos ideais apenas deles, como havia dio
anteriormente, a cidadania expressava aquilo que o sociedade naquele momento
entendia ser o seu melhor protótipo de cidadão, se baseando então nos critérios de
liberdade, igualdade e propriedade, colocando a educação como instrumentalizadora
do cidadão, essencial para a difusão dos valores culturais para todos, para que dessa
forma fosse conservado o que criado até então, garantindo assim não repetir o que já
fosse considerado erros e repassar acertos.

Após a década de 1950 percebe-se o que parece tratar de um outro conceito, nessa
concepção britânica de cidadania define-se que o exercić io da cidadania somente
será atingido quando houver observância aos direitos humanos em seus diferentes
âmbitos (econômico, civil, social e coletivo), sob uma perspectiva inglesa a cidadania
deve-se a direitos fundamentais, à vida, à liberdade, à propriedade e à igualdade;
após várias demandas e conquistas sociais com base nesses princípios outros
direitos e deveres são garantidos pela legislação, como o direito ao voto, à
participação da população na política do Estado, e melhorias nas condições de vida.
E que essas conquistas foram se aprimorando e se moldando ao que na década de
1980 refletisse que “a ideia de igualdade na liberdade toma como referência a
compatibilidade entre a liberdade de todos os cidadãos, que se refere aos direitos
́ icos – todos são iguais perante a lei – e aos direitos civis fundamentais”, BOBBIO
jurid
(1988). Assim cidadania e direito estariam intimamente relacionados:

“A condição de cidadania depende sempre de condições fixadas pelo


próprio Estado, podendo ocorrer com o simples fato do nascimento em
determinadas circunstâncias, bem como pelo atendimento de certos
pressupostos que o Estado estabelece. A condição de cidadão implica
em direitos e deveres que acompanham o indivíduo mesmo quando se
ache fora do território do Estado”. Dallari (1989, p.85).

Em A questão judaica (1989), Marx discute a dicotomia que a burguesia realiza


entre o homem e o cidadão – ou entre burguês/cidadão, entre os planos
individual/coletivo, econômico/polit́ ico, enfim, entre a esfera da vida privada e o
espaço público. Desse modo, a burguesia efetiva a separação entre a sociedade civil
– lugar de defesa dos interesses privados – e o Estado polit́ ico – lócus da vida pública,
dos interesses coletivos. Assim, os direitos do homem “[...] nada mais são do que
direitos do membro da sociedade burguesa, isto é, do homem egoiś ta, do homem
separado do homem e da comunidade” (MARX, 1989, p. 41). Marx fala, ainda, de
́ ios das revoluções burguesas – liberté (liberdade), proprieté
cada um dos princip
(propriedade), égalité (igualdade), sureté (segurança) –, afirmando que eles
representam apenas o direito do homem burguês em dispor de bens, tendo a
sociedade que garanti-los, uma vez que existe a premissa de que todos são iguais e
que, portanto, podem ser proprietários. Por isso, a cidadania polit́ ica seria um artifić io
do capitalismo com a finalidade de administrar a mais-valia em territórios estanques.
Por entender o homem como sujeito de sua história, acreditava que o proletariado,
unido e mobilizado, teria força suficiente para superar o capitalismo e, com isso,
garantir o direito ao acesso a uma cidadania efetiva e igualitária a todos os homens.
Tonet (2005), para Marx, o ato fundante da sociabilidade capitalista é o ato de compra
e venda da força de trabalho e nenhuma mudança ou conquista de direitos que
compõem a cidadania poderá eliminar a raiz que produz a desigualdade social, em
que há uma relação indissolúvel entre a sociedade civil (o momento das relações
econômicas) e a emancipação polit́ ica (o momento jurid
́ ico-polit́ ico), da qual fazem
parte a democracia e a cidadania. Tudo no capitalismo se transforma em mercadoria,
até o trabalho humano.

O trabalhador é trabalhador exatamente porque não possui os meios de


produção, possui apenas sua força de trabalho e a vende por determinada quantia de
dinheiro. Desse ponto de vista, o trabalhador, por vender sua força de trabalho em
busca de sua sobrevivência, acaba por se tornar alienado, e, consequentemente,
manipulado pelas classes dominantes, aprofundando as desigualdades sociais. Logo,
a cidadania não passa de uma conquista de direitos polit́ icos no escopo da ordem
burguesa, tratando-a, erroneamente, como sinônimo de emancipação ou liberdade
́ etro
plena e, por mais plena que seja a cidadania, ela jamais pode ultrapassar o perim
da sociabilidade regida pelo capital, já que o individ
́ uo pode perfeitamente ser cidadão
sem deixar de ser trabalhador assalariado, ou seja, sem deixar de ser explorado.

E entre vários conceitos, significados, legislações, a designação de cidadania


foi se transformando e sendo moldada, independente de qual visão se tem sobre ser
́ io e manejo racional dos bens materiais e espirituais ao
cidadão, é claro que o domin
longo da história da modernidade influenciaram a transformação do Estado e, para
que o sujeito possa se tornar cidadão, é necessário habilitá-lo à convivência social.
Assim, a educação assume a centralidade na discussão sobre a conquista da
cidadania.

Com o indivíduo imerso em uma rotina de direitos e deveres, a educação entra


como a significadora do conceito de cidadania, agora é repassada a Escola o dever
de civilização do povo, para que assim tenha capacidade de cumprir seu papel de
cidadão. Saviani (2013, p. 1) aponta a educação levando em conta a etimologia da
palavra instituteur (professor, mestre, educador), “que institui a humanidade no
homem”, humanidade que proporcionará condições para o desenvolvimento de uma
sociedade mais igualitária. Sendo assim, a educação se constitui em uma “atividade
mediadora no seio da prática social global”. Cury (2002) já dizia que sem educação
não pode haver cidadania, são intrínsecos: “a educação é, assim, um direito social
fundante da cidadania e o primeiro na ordem das citações”.

É fácil ver como o significado do termo e sua história sofreram alterações e


evoluções cruciais para o entendimento em si de seu conceito, de forma mais
abrangente e complexa. Apesar dos fundamentos burgueses voltados a um interesse
de grupo específico e majoritário, a cidadania leva consigo uma oportunidade de
engajamento e poder de mudança, e a melhor forma que existe hoje de se
compreender, utilizar e conquistar o poder de ser cidadão é através da educação.

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