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Sem Tempo para Deus - Mae Atarefada

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“Mães não precisam de mais um livro lhes

dizendo como elas falharam ou o que elas podem


fazer para ‘serem mães melhores’. Mães precisam
de um livro que afaste os seus olhos de si mesmas
e direcione-os para Cristo. Gloria Furman publicou
exatamente esse livro. Sua honestidade quanto às
suas lutas diárias e à sua esperança em seu forte
Salvador são um encorajamento maravilhoso. A
grande imagem de Deus e de seu amor redentor
que Gloria apresenta nos dá coragem para
enfrentarmos cada dia. Recomendamos este livro
para futuras mamães, novas mamães e mães que
têm estado no ramo há anos.”
Jessica Thompson e Elyse Fitzpatrick,
coautoras, Pais Fracos, Deus Forte

“Como mães, a nossa lista de coisas para fazer é


interminável, e muitas pessoas bem-intencionadas
fazem uma pilha de listas com instruções para
tentar nos ajudar a gerenciar tudo isso. Aqui está
uma boa notícia: Sem Tempo Para Deus: Intimidade
Com Cristo Para Mães Atarefadas refresca a alma
com as verdades do evangelho e não é um livro de
instruções. Gloria Furman compartilha o
evangelho libertador em cada página, ajudando-
nos a fixar os olhos na eternidade e não em nossas
circunstâncias. Você não sairá com mais uma
instrução para seguir; em vez disso, você
conhecerá aquele que deu tudo a você e tem muito
a dizer em sua Palavra para sustentá-la.”
Trillia Newbell, autora,
United: Captured by God’s Vision for Diversity

“Podemos encontrar nestas páginas abundante


honestidade útil e centralidade do evangelho à
medida que somos convidadas a olhar para o
mundo maravilhoso e confuso da maternidade! A
leitura foi como abrir uma janela no abafado
quarto da pretensão, culpa e autofoco que, muitas
vezes, se colocam sobre nós, mães. Deixe as janelas
se abrirem e venha respirar o ar fresco da graça!”
Kristyn Getty, hinóloga e artista musical

“Eu fui maravilhosamente abençoada por este


livro. Por meio de exemplos pessoais e ensinos
imersos na Escritura, Gloria nos convida a
saborear Cristo, a necessidade mais profunda e a
alegria de toda mãe. Certamente o lerei
novamente e aguardarei ansiosamente para
recomendá-lo a outras.”
Trisha DeYoung, dona de casa, mãe e feliz
esposa de Kevin DeYoung, autor de Super Ocupado,
Brecha em Nossa Santidade, Levando Deus a Sério e
Qual a Missão da Igreja?

“Precisamos deste livro. Na frenética e, por


vezes, árdua tarefa de criar filhos, é difícil se
lembrar do evangelho. Graças a Deus por Gloria
Furman! Ela nos ajuda a adorarmos Jesus em meio
ao tumulto caótico e a vermos ‘interrupções’ como
convites para confiarmos nele alegremente. Tanto
mães quanto pais encontrarão profundo
encorajamento aqui.”
Jon e Pam Bloom, Presidente do ministério
Desiring God e sua esposa

“Ah, como eu gostaria de ter tido uma voz como


a de Gloria Furman sussurrando essas doces
verdades do evangelho nas frustrações e
descontentamentos dos meus dias maternais mais
jovens! Não há nada simplista ou meloso aqui.
Este livro apresenta a rica e profunda sabedoria
que certamente gerará alegria e paz nos lares e nos
corações de muitas mães.”
Nancy Guthrie, professora da Bíblia;
autora, Antes de Partir
“Um convite impressionante para ver Cristo no
cotidiano e através dele. Toda mãe precisa ler este
livro para banhar a alma na verdade do evangelho,
para ‘estampar a eternidade em seus olhos’ e,
então, voltar no dia seguinte e fazer tudo de novo.
Este livro deve estar na cabeceira de cada mãe
exausta que se pergunta se há algo mais para
esperar do que outra pia cheia de louça suja, outro
dia só arrumando e limpando, cozinhando e
esfregando. A resposta para a qual Gloria nos
aponta é Jesus. E ele é mais do que suficiente. Eu
vou comprar uma caixa desse livro e dar a todas as
mães que eu encontrar!”
Joy Forney, mãe, missionária; esposa orgulhosa;
blogueira em GraceFullMama.com
Sem Tempo para Deus
Intimidade com Cristo para Mães Atarefadas
Traduzido do original em inglês Treasuring Christ When your
Hands are Full: Gospel Meditations for Busy Moms Copyright
©2014 por Gloria C. Furman
Publicado por Crossway Books, Um ministério de publicações
de Good News Publishers

1300 Crescent Street


Wheaton, Illinois 60187, USA.

Todas as citações bíblicas são da Almeida Revista e Atualizada


(ARA), a menos que estejam identificadas em outra versão no
próprio texto
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora
Fiel da Missão Evangélica Literária
Proibida a reprodução deste livro por quaisquer meios, sem a
permissão escrita dos editores, salvo em breves citações, com
indicação da fonte.
Copyright © 2014 Editora Fiel Primeira Edição em Português:
2015

Diretor: James Richard Denham III Editor: Tiago J. Santos


Filho Coordenação Editorial: Renata do Espírito Santo
Tradução: Ingrid Rosane de Andrade Revisão: Renata do
Espírito Santo Diagramação: Wirley Corrêa Capa: Rubner
Durais
Ebook: Yuri Freire

ISBN: 978-85-8132-281-0
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

F986s Furman, Gloria, 1980-

Sem tempo para Deus : intimidade com Cristo para


mães
atarefadas / Gloria Furman ; [traduzido por Ingrid
Rosane
de Andrade]. – São José dos Campos, SP : Fiel, 2016.
2Mb ; ePUB
Tradução de: Treasuring Christ when your hands are
full.
Inclui referências bibliográficas ISBN: 978-85-8132-
281-0
1. Mães – Vida religiosa. 2. Espiritualidade –
Cristianismo. I. Título

CDD: 248.8/431

Caixa Postal, 1601


CEP 12230-971
São José dos Campos-SP
PABX.: (12) 3919-9999
www.editorafiel.com.br
Para minha mãe, Catherine
Sumário

Agradecimentos
Introdução: Estampe a Eternidade em Meus Olhos

Parte 1
DEUS FEZ A MATERNIDADE PARA SI
MESMO

1. Mãos Cheias de Bênçãos


2. Deus Exibe sua Obra no Instinto Maternal
3. Cérebro de Mãe
4. Regra Número 1: Sempre Precisamos da Graça
de Deus
Parte 2
A MATERNIDADE COMO ADORAÇÃO

5. O “Chamado à Adoração” de uma Mãe


6. O Amor de uma Mãe
7. Mamãe nem Sempre Sabe o que é Melhor
8. As Boas-Novas nos Dias Maus
9. A “Mãe do Ano”
10. Mães são Fracas, mas Ele é Forte
11. A Metanarrativa da Maternidade
Conclusão: O Testemunho de Paz de uma Mãe

Notas
Agradecimentos

Obrigada, Jesus, por colocar a sua Igreja aqui no


Oriente Médio. Obrigada às mulheres mais velhas
da Redeemer Church de Dubai, que levam as
instruções em Tito 2 a sério. Vocês amam
entusiasticamente os inexperientes em Cristo,
instruem as mulheres mais jovens e ensinam o que
é bom. Obrigada pela “maternidade” fiel de vocês
ao exortarem e encorajarem mulheres a amarem
suas famílias e a adornarem o evangelho. Vocês
são uma bênção para mim e para tantos outros!
Obrigada, Cheryl Madewell, pelas inúmeras horas
que você passou comigo quando eu estava no
segundo ano da faculdade, ensinando-me a me
esforçar em estudar e amar a Palavra de Deus.
Obrigada, Ngoc Brown e Carolyn Wellons, por me
ensinarem que eu preciso valorizar Cristo para
amar meu marido-pastor. Obrigada, Mary Waters,
por me mostrar como a alegria do Senhor é a nossa
força para cuidar de pessoas em momentos de
sofrimento. Obrigada, Kim Blough, por sentar-se
comigo naquele período sombrio no deserto
quando eu achava que as minhas mãos se
ocupariam apenas de dor e desesperança. Você
estendeu a esperança do evangelho a mim vez
após vez, obrigada.
Sou grata por essas blogueiras que escrevem
especificamente para levarem as mães a
valorizarem Cristo. Obrigada pela amizade e forte
influência, Lindsey Carlson, Kimm Crandall,
Christina Fox, Trillia Newbell, Luma Simms e Jessica
Thompson.
É precioso ter amigas que buscam Cristo em
meio a todos os prazeres e tristezas da
maternidade. Obrigada, Monica deGarmeaux e
Laurie Cuchens, por serem modelos para mim,
tanto em meio a profunda tristeza quanto na
alegria. Pela graça de Deus, as suas vidas
testemunham que o Deus a quem vocês adoram é
digno de todo louvor.
Obrigada à equipe da Crossway (especialmente
Justin Taylor, Lydia Brownback, Josh Dennis, Amy
Kruis, Angie Cheatham e Janni Firestone) por toda a
energia e árduo trabalho que dispensaram a este
livro.
Um enorme obrigada à minha mãe, Catherine, e
minha sogra, Basia, que, mesmo a mais de 12.000
km de distância, encontram maneiras criativas de
amar e encorajar a nossa família.
Introdução
Estampe a Eternidade em Meus
Olhos

Minhas mãos já estavam ocupadas quando eu


estava grávida do nosso primeiro filho.
Elas estavam ocupadas com livros, potes,
maçanetas, torneiras, cadeiras, volantes, botões,
garfos e teclados.
Foi quando eu estava grávida do nosso primeiro
filho que meu marido começou a sofrer de dor
crônica devido a uma doença nervosa em ambos os
braços. Em um período bastante curto de tempo, a
dor aguda e penetrante restringiu grandemente o
que Dave era capaz de fazer com seus braços. “É
incrível o quanto você precisa de seus braços”,
Dave comentou uma noite enquanto eu me
curvava sobre a minha barriga de nove meses para
ajudá-lo com muito esforço a colocar suas meias e
amarrar seus sapatos. Naquela época, tínhamos
uma ideia muito pequena do que a sua doença
nervosa significaria para nossas vidas diárias
como pais. Quase oito anos se passaram desde que
suas dores semelhantes a choques iniciaram. Ao
longo dos anos, ele passou por vários
procedimentos cirúrgicos e ainda sente dor. Dave a
descreve como uma espécie de “ruído branco”.
Há dois anos, Dave teve uma infecção que se
desenvolveu para um grande furúnculo em cima
dos nervos de sua mão. Furúnculo é uma
enfermidade comum onde vivemos no Oriente
Médio, de acordo com os médicos do hospital onde
Dave foi tratado. Ele foi hospitalizado por três
dias, quando tiveram um cuidado especial para
recuperarem sua mão. “Como é ser casada com
Jó?”, Dave brincou quando teve alta do hospital.
Foi bom vê-lo sorrir, apesar dessa provação.
Lembrei-me da declaração de fé de Jó: “Embora ele
me mate, ainda assim esperarei nele” (Jó 13.15,
NVI). E fui despertada pela demonstração de falta
de fé da esposa de Jó, que disse: “Ainda conservas
a tua integridade? Amaldiçoa a Deus e morre” (Jó
2.9). O impacto de meu piedoso marido sofredor
tem sido uma influência fundamental na minha
maternidade.
Mesmo com o cenário de dor, vejo evidências
abundantes da graça de Deus agindo em nossas
vidas. Através de problemas diários, temos a
oportunidade de testemunhar que “a benignidade
do Senhor jamais acaba, as suas misericórdias não
têm fim” (Lm 3.22, ARIB).
Quis compartilhar essa parte da minha vida com
você porque ela moldou a minha perspectiva sobre
o que significa física e emocionalmente ter muitas
tarefas. Ter mais trabalho físico na maternidade
do que eu previa me obriga a esperar no Senhor
por força e provisão. Estou aprendendo em
primeira mão que voltar-me para o mundo em
busca de conforto e força apenas me deixa
insatisfeita e fraca. Deus tem usado as
circunstâncias físicas da nossa família para me
apontar para a única grande circunstância
permanente em minha vida, o evangelho de Jesus
Cristo. Estou ansiosa para compartilhar mais
sobre isso com você, e como isso se relaciona com a
maternidade.
Minhas mãos estão ocupadas com trabalho
árduo, ajudando meu marido e criando nossos
quatro filhos. Suas mãos também estão ocupadas,
ainda que as suas circunstâncias como mãe sejam
diferentes da minha. Em nosso trabalho
transcultural, temos o privilégio de viajar o
mundo. Atualmente vivemos em uma cidade
global onde pessoas de centenas de nacionalidades
vivem juntas. As mães são muito diversificadas,
mas acho que a afirmação é universalmente
verdadeira – as mãos de uma mãe estão sempre
ocupadas.
Mas com o que elas estão ocupadas?
Às vezes meu filho brincalhão me dá de presente
melecas e pedaços indiscerníveis de alimentos de
debaixo de sua cadeirinha de alimentação. Minhas
meninas me dão bilhetinhos enigmáticos
completamente saturados com canetas de
purpurina. É parte do meu trabalho como mãe
aceitar essas ofertas de amor com animação (e,
algumas vezes, com desinfetante para as mãos).É
verdade que o trabalho de uma mãe nunca acaba.
À medida que as mães passam o dia cuidando de
seus filhos, elas talvez os carreguem no colo,
recolham louça espalhada pela casa, trabalhem
para ajudar a prover para seus filhos, separem
brigas de irmãos, virem páginas de livros de
histórias e passem o aspirador de pó sobre pipocas
pisoteadas.
Mães também estão com as mãos ocupadas com
abraços e gestos divertidos. Não é nem necessário
dizer que muitas vezes por dia (ou por hora!), uma
mãe também pode apertar as mãos em frustração
e levantá-las em oração enquanto clama a Deus
por ajuda.
Com o que quer que seja que suas mãos estejam
cheias – bênçãos, ou dificuldades, ou uma mistura
dos dois – a Palavra de Deus contém um
encorajamento específico para você.
Há mais a ser dito sobre o trabalho de uma mãe
do que o fato de que é difícil e de que nunca acaba.
Há beleza, brilho e dignidade dada por Deus para
o trabalho de uma mãe. Falarei sobre algumas
dessas coisas neste livro.

Mas o que estou mais preocupada em comunicar


nestas páginas limitadas é que mães podem
apreciar uma realidade ainda maior do que a de
seu papel como mãe. Não importa de onde você
seja ou quais sejam as suas circunstâncias; a maior
realidade que uma mãe pode apreciar e na qual
pode descansar é a obra que Jesus fez na cruz em
nosso lugar.

A obra purificadora de Jesus por meio do


sacrifício de sangue do seu próprio corpo na
cruz é mais importante que a pilha de roupa
suja que ameaça desabar em breve.
A ressurreição vitoriosa de Jesus dos mortos e
o triunfo sobre a morte são mais importantes
que o caos da sua casa movimentada quando
todo mundo têm que sair depressa para os seus
compromissos.
O reinado soberano de Jesus sobre o cosmos e
o controle escatológico de tudo sob seus pés
são mais importantes que os planos que você
fez para a noite, sua agenda lotada para esse
fim de semana e as ideias que você tem sobre o
futuro do seu filho.

As mãos da mãe cristã estão cheias com cada


bênção espiritual em Cristo (Ef 1.3), e o trabalho
de nutrir filhos no temor do Senhor é a sua
participação privilegiada na obra de Deus em unir
todas as coisas em Jesus (Ef 1.10). Esse Jesus, a
quem temos o prazer de servir, oferece descanso
para as mães e enche nossas mãos com suas
bênçãos. Dia e noite, vez após vez, devemos
escolher descansar em Jesus. Isso é o que significa
valorizar Cristo mesmo quando estamos
atarefadas, quer você tenha um único filho ou uma
dúzia.
Uma mãe que tenha nascido de novo para uma
viva esperança por meio da ressurreição de Cristo
tem uma herança que é incorruptível, sem mácula
e imarcescível, reservada nos céus para ela (1Pe
1.3-4). Mesmo quando as mãos de uma mãe estão
ocupadas com problemas, trabalhos que deixam as
costas doloridas e com as incertezas da vida, ela
está sendo guardada pelo poder de Deus mediante
a fé, para a salvação que há de ser revelada no
futuro (1Pe 1.5). Por causa do evangelho, nós,
mães, podemos nos alegrar quando nos
encontramos com nossas mãos cheias de bênçãos
em Jesus, porque tudo o que conhecemos é graça.
O teólogo Herman Bavinck disse que, com base no
sacrifício de Jesus por nossos pecados na cruz,
“Deus pode arrancar o mundo e a humanidade das
garras do pecado e expandir o seu reino”.1 Essa é
uma notícia muito, muito boa.
Preciso ser lembrada dessa notícia o tempo todo,
dezenas de vezes por dia. Preciso de lembretes,
porque posso defender e anunciar uma teologia
bíblica da graça de Deus para mães e, ainda assim,
não viver na identidade e esperança que Deus me
dá.
A BOA NOTÍCIA PARA TODOS OS DIAS
Jonathan Edwards costumava orar e pedir a
Deus que “estampasse a eternidade em seus
olhos”. Essa oração tornou-se também o pedido do
meu próprio coração.
Quando seus olhos estão fixos no horizonte da
eternidade, isso afeta a sua visão da maternidade.
Precisamos ter olhos para ter uma visão de Deus
que é tão grande e tão gloriosa que transforme a
nossa perspectiva da maternidade. No contexto da
eternidade, onde Cristo está fazendo o seu
trabalho de reinar sobre o cosmos, precisamos
enxergar os nossos momentos mundanos pelo que
eles realmente são – adoração. No trabalho diário
(e noturno) da maternidade, temos dezenas de
convites para adorar a Deus, à medida que ele nos
lembra da esperança que temos por causa do seu
evangelho. Minha oração é que você veja que o
evangelho é uma boa notícia para as mães, não
apenas no nosso “aniversário de novo
nascimento”, mas todo dia.
O ministério do Espírito Santo inclui alinhar
nossas inseguranças subjetivas como mães com a
realidade objetiva da nossa segurança eterna em
Cristo. Como mães, temos que treinar a nós
mesmas a focar nas coisas que são invisíveis e
eternas (2Co 4.18). À medida que lutamos para
manter essa perspectiva, e até mesmo quando
deixamos de lutar, cedendo à tentação em direção
à apatia, devemos olhar para a Palavra de Deus e
crer nela mesmo quando não conseguimos senti-
la. Precisamos ser mulheres da Palavra de Deus,
cuja petição diária seja: “Ensina-me, SENHOR, o teu
caminho, e andarei na tua verdade; dispõe-me o
coração para só temer o teu nome” (Sl 86.11). À
medida que caminhamos na verdade de Deus,
também sentimos convites do Espírito para orar.
Embora tenham sido escritas para pastores, as
palavras de Martyn Lloyd-Jones sobre a oração
são relevantes para nós:
Sempre reaja favoravelmente a todo impulso
para orar. [...] De onde ele vem? É obra do
Espírito Santo (Fp 2.12-13) [...] Por
conseguinte, jamais resista, jamais adie esse
impulso e nunca o coloque de lado, por estar
demais ocupado. [...] Essa chamada à oração
jamais deve ser considerada uma distração;
sempre lhe responda imediatamente e dê graças
a Deus se esse impulso lhe ocorre com
frequência.2

O trabalho de uma mãe é sagrado para o Senhor.


Como mães, olhamos para Jesus não apenas
como nosso exemplo; também vemos que ele é o
nosso poder para amar a Deus e nossos filhos.
Porque Cristo fez por nós o que nunca poderíamos
fazer por nós mesmas, pelo seu poder podemos
pedir perdão aos nossos filhos quando pecamos
contra eles, porque Deus nos perdoou em Cristo
(Mt 6.12-15; Mc 11.25; Cl 3.13). Pelo seu poder,
podemos nos humilhar em nosso trabalho como
mães, porque ninguém jamais mostrou mais
humildade do que o nosso Redentor ao abandonar
o seu direito de permanecer no céu e morrer a
morte que nós merecíamos (Fp 2.3-8). Pelo seu
poder, podemos amar nossa família com amor
sacrificial, porque o Filho de bom grado se
submeteu à vontade do Pai (Jo 5.20,23; 14.30-31).
E, mesmo quando deixamos de amar como ele
ama, ele é a nossa justiça. Jesus fez por nós o que
jamais poderíamos fazer por nós mesmas. Jesus é
a nossa âncora, e ele nos ancorou em seu amor;
nada, nada, nada nos separará do amor de Deus
em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm 8.39).
O evangelho está acima e além de todas as
filosofias de maternidade mais práticas, voltadas
para a família ou com melhor custo-benefício
existentes. A boa-nova de Jesus Cristo é superior
às nossas listas de afazeres e troféus metafóricos
de mãe-do-ano. Isso porque o maior problema que
uma mãe tem não é a falta de criatividade,
realização ou habilidade, mas sua incapacidade de
amar a Deus e os outros como Jesus a ama (Jo
13.34). Sem um mediador para falar por nós,
nosso pecado certamente nos separará do nosso
santo Deus, agora e para sempre (Rm 3.23). Se
você nunca ficou alarmada com essa ideia e,
posteriormente, foi confortada pela cruz de Jesus
Cristo, então eu a encorajo – por favor, continue
lendo. Sem Tempo para Deus: Intimidade com Cristo
para Mães Atarefadas não é uma lista de instruções
sobre como ser uma boa mãe. É sobre o nosso bom
Deus e o que ele fez. A graça irresistível de Deus
une o nosso coração errante ao próprio Deus e nos
liberta para amá-lo e transbordar em amor pelo
próximo. Fomos resgatados do pecado e da morte,
e presenteados com a vida eterna pelo precioso
sangue de Cristo (1 Pe 1.18-19). E, por causa da
obra de Cristo na cruz, podemos viver a forma de
amor de Deus em nossas casas e no mundo,
mesmo quando nossas mãos estão cheias (Gl 5.16-
26; Ef 4.17–6.18.).
Embora eu não me arrisque a dar sábios
conselhos sobre o “como fazer isso” da
maternidade (minha filha mais velha ainda está
no ensino fundamental), a aplicação do evangelho
para a maternidade é muito prática. Eu mantive
um lembrete na minha escrivaninha ao escrever
estas páginas. O lembrete dizia: “Resista à
tentação de reduzir a Palavra de Deus a boas dicas
para uma vida agradável: dê-lhes o evangelho”.3
Dicas baseadas na Bíblia nunca resgataram a alma
de ninguém da destruição ou transmitiram os
sussurros de vida eterna às suas vidas terrenas.
Jesus salva, e o fruto do Espírito é muito mais
doce do que as flores infrutíferas do mero viver
moral. Deus nos transforma de dentro para fora.
Como o puritano Jeremiah Burroughs
acertadamente afirmou: “O contentamento é uma
coisa doce e interna do coração. É uma obra do
Espírito no interior”.4
As circunstâncias da sua maternidade podem ser
difíceis, problemáticas e confusas. Ainda assim, há
uma circunstância que suplanta todas as
complexidades da sua vida. É a simples verdade de
que a única grande e permanente circunstância em
que você vive é que você tem permissão para andar
em novidade de vida à medida que é unida a Cristo
pela fé, por meio da graça. Nossa alegria não pode
estar na maternidade, mas somente em Deus.
Todas nós precisamos permitir que o Espírito faça
sua “obra interna”, além de nos maravilhar
enquanto o Senhor cultiva o doce contentamento
interior em nosso coração à medida que
aprendemos a confiar nele.
Talvez você tenha acordado hoje antes do sol
para que pudesse desfrutar de comunhão com o
Senhor e fazer algum trabalho, e agora parece que
o dia está se arrastando. Eu entendo você. Não sei
quantas vezes me perguntei: “Será que ainda é
hora de dormir?”. Em dias como esse, precisamos
nos lembrar de que cada dia é como um suspiro
que é muito breve para medir, mas é repleto de
significado eterno. E nesse breve suspiro de um dia
comum, o Espírito Santo irrompe e transborda
com o amor de Deus em Cristo em nosso coração.
Isso é surpreendente. Jesus nos convida para algo
muito mais firme e indestrutível do que o
marcador roxo permanente que o seu filho usou
para decorar seus armários de cores claras da
cozinha. Por causa do seu amor, Jesus nos convida
para si. Ele diz em João 15.9: “Como o Pai me
amou, também eu vos amei; permanecei no meu
amor”.
Minha oração é que o que você encontrar neste
livro a leve a valorizar Cristo à medida que ele
mantém suas mãos cheias com o bom trabalho da
maternidade. Preciso me lembrar dessas coisas
também, a fim de que essas meditações no
evangelho possam igualmente ser um lembrete
para mim mesma. Que, pela graça de Deus, ele
refresque o nosso coração e renove a nossa mente
por meio da sua Palavra e do seu Espírito, para que
nos maravilhemos com “as virtudes daquele que
vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”
(1Pe 2.9.).
1
Mãos Cheias de Bênçãos

Alguns anos atrás nossa família foi abençoada


por podermos viver em quartos no andar superior
de uma casa que abrigava os escritórios e o espaço
comunitário da igreja. Havia sempre algo
emocionante acontecendo lá embaixo, quer fosse o
grupo de jovens, de estudo da Bíblia ou um
recheado almoço compartilhado entre os membros
da igreja.
Mesmo que as pessoas estivessem entrando e
saindo de nossa casa dia e noite, algumas vezes eu
não aguentava mais ficar dentro de casa. Eu tinha
uma comichão para sair.
Felizmente, morávamos na mesma rua de um
grande centro comercial, então eu podia sair de
casa (e evitar o calor sufocante do deserto). Às
vezes eu arrumava as crianças e as levava para ver
vitrines, e eu fazia disso uma experiência
educacional. “Quantos pratos você vê empilhados
sobre essa mesa?” “Vamos inventar uma história
sobre os modelos vestindo casacos de inverno.”
“Quem consegue adivinhar o vestido mais barato
desta loja?”
Quando levo meus filhos para um lugar público,
como o shopping, eu me torno uma espécie de
pastor de gatos. (Será que gatos podem ser
pastoreados?) “Fique aqui com a mamãe.” “Não
toque nisso!” “Onde você pegou isso?” “Não
coloque isso na boca.” “Não arranhem uns aos
outros; apenas deem as mãos de forma gentil.”
“Vamos, continuem andando, pessoal.”
Uma vez eu estava “cercando meus gatinhos” em
seus assentos em uma mesa na praça de
alimentação quando uma adorável mulher sentou-
se ao nosso lado.
Praticamente não existem “estranhos” onde
vivemos, e a hospitalidade é impecável. A
hospitalidade se estende para além da sala de
estar, visto que as pessoas alegremente se
envolvem na vida uns dos outros durante o dia. O
senso de comunidade se estende para muito além
de seus amigos pessoais. O ditado africano “É
preciso uma aldeia para educar uma criança” não é
apenas um ditado onde eu moro, mas uma
realidade honrada e normativa. Às vezes parece
que a camaradagem de simplesmente dividir o
espaço em uma fila no caixa eletrônico é suficiente
para facilitar a comunhão entre as pessoas.
“Você tem muito a fazer!”, nossa companheira de
almoço sorriu enquanto colocou as mãos nos
cachos loiros da minha filha mais nova. “Tão
linda! Mashallah” (que significa “Deus a abençoe”
em árabe).
Costumava me incomodar quando as pessoas
diziam que eu tinha muito a fazer.
Porque sou envergonhada e insegura, eu tomava
esses comentários como uma afronta à minha
capacidade de criar bem meus filhos. Eu assumia
que as pessoas que diziam isso estavam
insinuando que meus filhos eram mal-educados e
selvagens, e que eu não tinha ideia de como criá-
los, que eu tinha muito a fazer porque não
entendia nada da minha maternidade estabanada
e fora de controle. Quando ouvia esse comentário,
eu me tornava defensiva e arrogante (e, por vezes,
isso ainda é uma tentação).
Agora, sempre que alguém me diz que tenho
muito a fazer, concordo com eles por duas razões.
A primeira razão pela qual concordo com as
pessoas que dizem que tenho muito a fazer é que,
em noventa e nove por cento das vezes, as pessoas
querem dizer que eu literalmente tenho muito a
fazer.
“Deixe-me ajudá-la com isso”. A mulher amigável
levantou-se para tomar a bandeja que eu estava
segurando enquanto eu tentava puxar o carrinho
de bebê para mais perto da mesa com o meu
tornozelo.
Em segundo lugar, concordo com as pessoas que
dizem que minhas mãos estão cheias de coisas
para fazer porque minhas mãos não estão apenas
cheias. Elas estão transbordando – de bênçãos.
Quando as pessoas me dizem que as minhas
mãos estão cheias, é um bom momento para
lembrar que isso é verdade. “Sim! Minhas mãos
estão transbordando com dons de Deus!”
A abundância dos dons que Deus me deu por
meio da maternidade não é quantificável pelo
número de filhos que eu tenho ou por quão
agradáveis eles são para mim. Os dons que Deus
deu às mães não podem ser limitados ou
quantificados por seus filhos.
TODA MÃE TEM SUAS MÃOS OCUPADAS
Há um problema real, desânimo real e trabalho
árduo real que vêm com a maternidade. Dizer “ser
mãe não é fácil” é como dizer “chocolate é
gostoso”. Isso é óbvio. Basta assistir a uma mãe
grávida de nove meses tentando sair do carro sem
distender nenhum músculo. Basta ouvir uma mãe
compartilhar as dores em seu coração pelo filho
que ela está esperando para adotar. Ou peça a uma
mãe para lhe dizer seus pedidos de oração. Ser mãe
não é fácil.
Mas, algumas vezes, as mães pensam que suas
mãos estão ocupadas com inconveniência,
trabalho ingrato e futilidade. Manter a perspectiva
de que Deus abençoou você abundantemente é
uma luta muito real. A luta pela fé não pode ser
travada com a ideia caprichosa de que você só
precisa ver que “o copo está meio cheio”. A luta por
fé deve ser tratada com sensibilidade e graça, e
sempre sujeita à inerrante Palavra de Deus e à sua
autoridade.
Sei que as lutas, decepções e dores são questões
significativas na maternidade, por isso é com toda
a seriedade e sinceridade que eu me lembro do que
o apóstolo Pedro diz em 1 Pedro 1.3-5: Nasci de
novo para uma viva esperança por meio da
ressurreição de Cristo, e tenho uma herança
incorruptível, imaculada e imarcescível, reservada
nos céus para mim. Mesmo que a minha vida seja
cheia de angústias e vitórias triunfantes,
incógnitas e esperanças, estou sendo guardada
pelo poder de Deus mediante a fé, para a salvação
a ser revelada no futuro. Pregar o evangelho para
mim mesma todos os dias é a melhor maneira de
lembrar que a minha vida em Cristo é a realidade
principal e permanente em minha vida. A
habitação do Espírito Santo conforta minha alma
com as verdades da Palavra de Deus.
Quando Jesus me resgatou do inferno, ele
também me resgatou para si. Fui poupada de uma
eternidade de justo castigo que mereço e foi-me
entregue vida para sempre com o meu Salvador.
Ele pegou aquele cálice – cheio até a borda com a
ira de Deus contra o pecado – e bebeu até a última
gota. Então, ele não me entregou de volta um
cálice vazio (que por si só já teria sido uma
misericórdia indizível).5 A Bíblia diz que o meu
copo não está apenas meio cheio. Por causa de
Jesus, o nosso copo está transbordando com as
bênçãos de Deus (Sl 23.5).
Sei que posso não estar livre da próxima fralda
cheia que vazar até o chão do meu carro enquanto
estou presa no trânsito com crianças chorosas que
só querem sair e brincar. Mas, por causa do
evangelho, estou livre de ter que responder a esses
problemas na forma como a minha carne
pecaminosa desejaria – estou fortalecida pela
graça porque me foi dada a justiça de Jesus Cristo
quando eu, de fato, reajo de forma pecaminosa. Por
causa do evangelho, também posso ver as boas
intenções de Deus para cumprir suas promessas
em mim ao me tornar semelhante a Cristo e me
aproximar mais de si mesmo. Essas são apenas
algumas maneiras de como é possível considerar o
evangelho na vida diária de uma mãe.
Como o evangelho de Jesus Cristo impacta a sua
vida de uma forma significativa quando a sua
realidade no momento parece ser absorvida pelas
coisas corriqueiras, como acidentes com xixi ou
vômito e birras no supermercado?
Qualquer um pode aconselhar você sobre a
forma de lidar com essas coisas práticas, tangíveis.
Por exemplo, alguém pode sugerir que você compre
uma capa de chuva e use-a até que seus filhos
estejam no sexto ano escolar. Para abafar suas
birras em público, talvez você possa entrar em
algum provador de roupas ou banheiro e ter um
ataque de raiva em particular. Hein? Você pensou
que eu estivesse falando sobre a birra do seu filho
no supermercado? Bem, isso é uma coisa
completamente diferente!
Mesmo que o seu primeiro filho tenha acabado
de ser concebido em seu ventre ou você tenha sido
recentemente aprovada para uma adoção, você já
pode saborear a bondade de Deus para com você
na maternidade.
Quando vejo a maternidade não como um dom
de Deus para me fazer santa, mas sim como uma
função com tarefas que ficam no meu caminho,
estou deixando de ver um dos meios ordenados
por Deus de crescimento espiritual em minha vida.
Não apenas isso, mas estou deixando de desfrutar
Deus. Nenhuma angústia de mãe pode se comparar
com a miséria que vem de uma vida desprovida da
presença consoladora, encorajadora, protetora,
provedora e gratificante de nosso Deus santo.
Quero para mim o que Paulo queria para os seus
amados filipenses: “O que também aprendestes, e
recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso
praticai; e o Deus da paz será convosco” (Fp 4.9).
Quero que a paz de Deus governe a minha
maternidade.
Quero para mim o que o autor de Hebreus queria
para os seus leitores: “Segui a paz com todos e a
santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor”
(Hb 12.14). Quero viver cada dia da maneira pela
qual fui salva por Cristo – isto é, pela graça
mediante a fé. Preciso me despojar do velho
homem, sendo renovada no espírito do meu
entendimento, e me revestir do novo homem
criado à semelhança de Deus, em verdadeira
justiça e santidade (Ef 4.20-24). John Owen
comentou sobre o papel do evangelho nessa busca:
“O que então é a santidade? Santidade não é
senão a implantação, escrita e vivência do
evangelho em nossas almas (Ef 4.24)”.6
Essa vida de fé infundida pela graça faria
maravilhas na forma como crio os meus filhos, é
claro, mas, além disso, ela mantém o meu olhar
fixo em Deus. Pode-se dizer que o mandamento
mais amoroso na Bíblia é este:

Tu, ó Sião, que anuncias boas-novas,


sobe a um monte alto!
Tu, que anuncias boas-novas a Jerusalém,
ergue a tua voz fortemente;
levanta-a, não temas
e dize às cidades de Judá:
Eis aí está o vosso Deus! (Is 40.9)

Quero ser contada entre aqueles que “verão o


Senhor”. Quero contemplar o meu Deus!
DONS COM UM PROPÓSITO SANTO

Os dons que Deus nos dá servem a este santo


propósito – direcionar o nosso louvor ao doador
desses dons. Se você gosta do dom de seus filhos e
do dom da sua maternidade, mas a sua alegria se
restringe a eles, então você não entendeu o
objetivo dos dons.
O dom da maternidade leva mães a valorizar
Jesus Cristo à medida que ele transforma o nosso
coração de dentro para fora.
Esse é o assunto que tratarei neste livro. No caso
de você estar ocupada demais para ler o restante
dele (eu sei como é isso!), a essência da minha tese
é a seguinte:

Por causa do evangelho – a notícia sobre o que


Jesus fez na cruz para salvar os pecadores –
mães que fazem de Cristo o seu tesouro podem
se alegrar em seu trabalho à medida que Deus
trabalha nelas.

Por causa de Jesus, tudo que um cristão conhece


é graça sobre graça sobre graça. Pela graça de Deus,
nossas mãos estão transbordando segundo as suas
riquezas em Cristo Jesus. Essas riquezas incluem o
fruto do Espírito Santo – amor, alegria, paz,
longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade,
mansidão e domínio próprio (Gl 5.22-23). Mães
“que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com
as suas paixões e concupiscências” (Gl 5.24). Mães
que vivem pelo Espírito Santo devem também
andar nele (Gl 5.25). Então, como Paulo nos
exorta: “Não nos deixemos possuir de vanglória,
provocando uns aos outros, tendo inveja uns dos
outros” (Gl 5.26). Devemos buscar a paz uns com
os outros e nos fortalecer em nossa santíssima fé.
Mesmo essas manifestações do fruto do Espírito
não são um fim em si mesmas. Quando Deus
trabalha para nos tornar santos, ele tem um fim
em mente – nossa glorificação juntamente com
Cristo Jesus.
Leia Romanos 8.12-17 aplicando os versículos
a você mesma. “Assim, pois, _______ ...”.

Assim, pois, irmãos, somos devedores, não à


carne como se constrangidos a viver segundo a
carne.

Porque, se viverdes segundo a carne,


caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito,
mortificardes os feitos do corpo, certamente,
vivereis.

Pois todos os que são guiados pelo Espírito de


Deus são filhos de Deus.
Porque não recebestes o espírito de escravidão,
para viverdes, outra vez, atemorizados, mas
recebestes o espírito de adoção, baseados no
qual clamamos: Aba, Pai.

O próprio Espírito testifica com o nosso


espírito que somos filhos de Deus. Ora, se
somos filhos, somos também herdeiros,
herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se
com ele sofremos, também com ele seremos
glorificados.

Sim, mães, suas mãos estão cheias de coisas para


fazer, literalmente. E suas mãos estão
transbordando de graça que foi dada por aquele
que estendeu as mãos por você na cruz
2
Deus Exibe sua Obra no
Instinto Maternal

“Ela está comendo o próprio bebê!”


Minha filha gritou enquanto assistíamos a um
programa de televisão sobre animais. O narrador
explicou friamente que, quando se sentem
ameaçadas, as mães dessa espécie do reino animal
comem seus filhotes.
Consolei minha filha. “Não se preocupe, meu
docinho. Eu nunca comeria você. Mesmo que seus
dedinhos pareçam ser tão saborosos”. Mais gritos se
seguiram enquanto eu fingia comer os seus dedos
dos pés.
A MÃE URSO

Eu acho que poderia levantar um ônibus para


proteger a minha descendência, mas se você me
pedir para dar o meu smoothie de banana com
manteiga de amendoim para algum deles, então eu
tenho que realmente pensar sobre isso. O instinto
de mãe para nutrir seu filho é uma coisa
engraçada. Não acho que algum dia eu esqueça um
incidente em particular quando a minha segunda
filha era bem pequena, e ela se perdeu na multidão
tumultuada por 30 segundos.
Estávamos em meio a uma multidão de alguns
milhares de pessoas que foram impedidas de
entrar em uma estação de metrô após um show de
fogos de artifício na inauguração do Burj Khalifa,
o edifício mais alto do mundo. Milhares de
espectadores haviam chegado de metrô para
assistir aos fogos de artifício na base do edifício,
então milhares de nós precisávamos usar os trens
para voltar para casa. Mas logo após os fogos
acabarem, os trens ainda não estavam prontos
para serem embarcados porque as equipes estavam
trabalhando duro nos bastidores para levarem esse
enorme número de passageiros.
Era muito tarde. Estávamos exaustos e com
fome, e todos queríamos ir para casa. Ficamos ali
amontoados em uma multidão que ficava mais
inquieta a cada minuto. Não havia espaço para se
mover, e as pessoas estavam tão próximas que eu
tive que levantar a nossa filha de dois anos do
chão para que ela não fosse esmagada. O bebê
estava seguro no carrinho. Então, finalmente, os
guardas armados abriram as portas da estação de
trem e gritaram acima do barulho da multidão
para que as famílias com bebês entrassem.
Que alívio! Finalmente! Poderíamos começar a
viagem de volta para casa.
Os guardas abriram caminho seguro para as
jovens famílias entrarem na estação, mas nós
estávamos longe da porta. As pessoas estavam tão
densamente agrupadas que não conseguíamos nos
mover um centímetro para frente. Um homem que
estava por ali notou a nossa família e sugeriu que
eu dobrasse o carrinho para que ele e seu amigo
pudessem levantá-lo acima da multidão em
direção às portas abertas. Pensamos que essa era
uma ótima ideia. Já que meu marido não podia
carregar o bebê nem nossa filha de dois anos ou
levantar o carrinho por causa da doença de nervos
em seus braços, eu disse: “Obrigada!” Tirei a bebê
Norah de seu carrinho e a entreguei à mulher ao
meu lado para que eu pudesse dobrar o carrinho.
Eu precisava de apenas dois segundos para tirar o
carrinho do caminho para que pudéssemos tentar
passar no meio da multidão. Mas, no exato
segundo que levei para dobrar o carrinho, meu
bebê desapareceu da minha vista. O carrinho foi
sendo levado pela multidão e, aparentemente,
Norah também, e eu senti um surto de ira quase
primitivo que fez com que todo o meu corpo
começasse a tremer. Minhas cordas vocais
atingiram uma magnitude nunca antes alcançada
pela minha voz normalmente baixa quando soltei
um grito de arrepiar:

“CADÊ. O MEU. BEBÊ?”

A multidão, que até esse ponto ora murmurava


ora gritava, ficou em silêncio. Acho que até eu me
assustei.
Centenas de olhos se voltaram na minha direção
enquanto eu freneticamente examinava a
multidão por minha filha. Pessoas prenderam a
respiração, e um sussurro preocupado começou a
repercutir através da massa.
Mesmo enquanto escrevo sobre essa história, já
começo a sentir um frio na barriga. Então,
rapidamente, nós nos encontramos ao sermos
empurrados através da multidão em direção às
portas abertas da estação de trem quase como por
osmose.
E, graças a Deus, lá estava a bebê Norah, sã e
salva, chorando nos braços de um companheiro de
viagem bem-intencionado. De alguma forma, meu
bebê havia sido entregue da primeira pessoa para
outra e para outra, e o último homem que a
segurou havia entrado na estação de trem.
Aliviada e enfurecida ao mesmo tempo, eu a
agarrei e rosnei: “Me dá o meu bebê”. A “mãe urso”
ainda estava furiosa por todo o drama. Pesquei o
nosso carrinho de uma pilha de outros carrinhos
que haviam sido levados pela multidão, prendi o
bebê de volta em seu cinto de segurança, e
caminhamos até o elevador para pegar o primeiro
trem. Durante toda a viagem de 45 minutos até
em casa, meu marido e eu choramos. À medida que
a tensão dessa situação começou a crescer, todos
os “e se” passaram por nossas mentes, e nós
derramamos nossas ansiedades a Deus e louvamos
a ele com gratidão por intervir em nosso favor.
MATERNIDADE QUE REFLETE CRISTO

Você pode ter se sentido como uma mãe urso


algumas vezes ao proteger ou defender seus filhos,
mas a sua maternidade instintiva é de fato
diferente da de um animal. Em sua linguagem
bastante puritana, Richard Baxter descreveu como
Deus criou o instinto maternal para o louvor da
sua glória:

As mulheres, em especial, já devem esperar


tanto sofrimento no casamento, que se Deus
não tivesse posto nelas uma inclinação natural
para isso, e um amor tão forte por seus filhos
enquanto as torna pacientes sob os problemas
mais irritantes, o mundo há muito teria chegado
ao fim, por conta da recusa delas em viver uma
vida tão calamitosa.
Os enjoos na gravidez, as dores para dar à luz,
colocando suas próprias vidas em risco, os
problemas tediosos noite e dia - que têm com os
seus filhos na amamentação e infância-além da
sujeição a seus maridos, e o cuidado contínuo
dos assuntos familiares, sendo forçadas a
consumir suas vidas em uma infinidade de
assuntos pequenos e problemáticos: tudo isso, e
muito mais dissuadiria totalmente esse sexo do
casamento, se a própria natureza não as tivesse
inclinado para isso.7

Muito além do reino animal, em que há


inúmeras manifestações de características da mãe
urso, como seres humanos, temos um objetivo e
propósito redentivos para o nosso instinto
maternal. Quando criamos nossos filhos pela fé,
não estamos apenas voltando ao Éden à
semelhança de Eva, a mãe de todos os viventes,
que se vestiu de folhas de figueira após ter pecado.
Em vez de nos vestirmos com as folhas de figueira
e os trapos imundos de nossas “boas obras” de
autojustiça, vestimo-nos da justiça de Cristo,
tomando parte no plano de Deus de redimir a
criação por meio de Jesus. Tendo nascido de novo,
caminhamos nesse mundo em novidade de vida
eterna em Cristo, fazendo aquilo que ele tem para
nós. Especificamente, fazendo discípulos de todas
as nações (Mt 28.18-20). O resultado do nosso
trabalho é que as pessoas louvarão nosso Pai
quando virem nossas boas ações, e a glória de
Deus encherá o mundo.
A imagem de Deus é mais gloriosamente
mostrada em Cristo Jesus, que é a imagem perfeita
do Deus invisível (Cl 1.15). Pela graça comum de
Deus, o instinto de uma mãe para sofrer, amar,
exercitar a paciência, suportar a dor e trabalhar
para o bem de seus filhos é um reflexo da imagem
de Deus. Por meio da graça que nos foi mostrada
no evangelho, há algo distintamente de Cristo no
amor de uma mãe por seu filho.
IRMÃS JUNTAS PARA SEMPRE

Além disso, por meio da graça que nos foi


mostrada no evangelho, vemos como o amor de
Cristo transforma o nosso amor por outras mães
em Cristo também. Compartilhamos um só Senhor
e uma só fé, e juntas estamos discipulando nossos
filhos para amarem Jesus. Pela graça de Deus
estamos nos despojando do velho homem, que
instintivamente prefere se gabar para outras mães,
e nos revestindo do novo, o qual ama a santidade
(Ef 4.20-24). Colocamos de lado a falsidade e
falamos a verdade para outras mães, pois somos
membros umas das outras. Não pecamos com ira
umas contra as outras e guardamos rancor para o
diabo usar em seu perverso trabalho de causar
divisão. Falamos umas às outras palavras que são
boas para a edificação e que transmitem graça aos
que nos ouvem. Lançamos fora toda a amargura,
calúnia e malícia que sentimos em relação a outras
mães. Em vez disso, somos gentis e ternas umas
com as outras, perdoando-nos mutuamente, como
Deus nos perdoou em Cristo (Ef 4.25-32).
Desde que nossos corações foram unidos em
amor por meio de Cristo (Cl 2.2), compartilhamos
um vínculo que é mais profundo do que qualquer
lealdade à marca de um produto, denominação,
interesse comum ou tribo (tanto étnico quanto
ideológico). Irmãs em Cristo desfrutam de uma
doce comunhão duradoura à medida que suas
opiniões e formas como foram criadas parecem
não importar quando comparadas à unidade de fé
que têm em Cristo.
Faz sentido, então, que, por sermos unidas como
santas e amadas escolhidas de Deus, devemos nos
vestir de um coração compassivo, benignidade,
humildade, mansidão e paciência para com as
outras. Se descobrirmos que não temos nada de
bom para dizer sobre a nossa irmã em Cristo,
então devemos encher nosso coração com outra
coisa (Sl 19.14; 71.8; Mt 15.18). Se descobrirmos
que temos nos segregado em panelinhas, divididas
por coisas insignificantes, como estilo da criação
de filhos ou alimentos processados, então
devemos nos lembrar de que todas somos parte de
um só corpo. Sabemos que devemos tolerar umas
às outras e perdoar as queixas que temos umas
contra as outras, assim como Deus nos perdoou
em Cristo (Cl 3.12-13). Isso tudo faz parte do
significado de amar uns aos outros com o distinto
amor que nos marca como seguidoras de Cristo (Jo
13.35). Valorizamos Cristo quando valorizamos
nossas irmãs por quem Jesus morreu para salvar.
Essas virtudes e ideais cristãos são bastante
agradáveis e encantadores para nós. Que mulher
não quer ser mais compassiva? Que mulher não
precisa ser mais paciente? No entanto,
frequentemente percebemos que preferimos lançar
um olhar torto através da sala do que percorrer
uma multidão, a fim de admoestar humildemente
nossa irmã com a sabedoria de Deus. Preferimos
gostar das nossas divisões, da posição que temos
em nossa panelinha e do nosso zelo para
influenciar as escolhas pessoais de outras
mulheres.
Sabemos que temos um problema de coração e
que nossos afetos são desordenados. Cristo é
amável para conosco, somos unidas a ele pela fé e,
de fato, ansiamos por ver o seu reino estabelecido
aqui na terra. Queremos possuir essas virtudes em
medida crescente, de modo que sejamos eficazes e
frutíferas em nosso conhecimento do Senhor
Jesus. A ideia de constipação espiritual vem à
mente, e esse cenário parece bastante
desagradável e desconfortável. A fé e o
arrependimento são necessários.
Pela fé, compreendemos o fato glorioso de que
precisamos do amor de Cristo para nos controlar
(2Co 5.14), nos dar o desejo de amar uns aos
outros com amor fraternal e preferir honrar o
outro ao invés de a nós mesmos (Rm 12.10). É de
fundamental importância para o nosso
crescimento na piedade que permaneçamos em
Cristo, e ele em nós (Jo 15.1-11). Fora de Cristo
nada podemos fazer. Mas, como estamos unidas a
Cristo pela fé, o Espírito passa a residir em nossa
alma e assegura o nosso coração de que somos
filhas de Deus. Romanos 8.1-2 diz: “Agora, pois, já
nenhuma condenação há para os que estão em
Cristo Jesus. Porque a lei do Espírito da vida, em
Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da
morte”.
Por meio de Cristo somos livres do castigo do
pecado e livres para amarmos os outros como ele
nos amou. Esse amor dado e habilitado por Cristo
tem um contexto – o jardim comunitário. Paulo
ora em Efésios 3.17-19 para que “habite Cristo no
vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e
alicerçados em amor, a fim de poderdes
compreender, com todos os santos, qual é a
largura, e o comprimento, e a altura, e a
profundidade e conhecer o amor de Cristo, que
excede todo entendimento, para que sejais
tomados de toda a plenitude de Deus”.
Ser “tomado de toda a plenitude de Deus” é uma
frase que Paulo usou para descrever a maturidade
espiritual. Essa maturidade, como ele descreve, é
atingida à medida que exploramos as dimensões
ilimitadas do amor de Jesus. Você vê como Paulo
plantou o contexto de nossa maturidade espiritual
no jardim comunitário? Ele ora para que tenhamos
força junto “com todos os santos”. Cristo habita
em nossos corações individuais por meio da fé, e
seu amor que ultrapassa o entendimento é vivido
em comunidade.
Precisamos de outras mulheres cristãs em nossas
vidas para nos ajudar a entender o quão grande,
amplo, elevado e profundo é o amor de Jesus.
Separar nossa vida espiritual de nossas interações
com outras mulheres é inútil e espiritualmente
prejudicial. Quando relegamos nossa comunhão
com outras mulheres a discussões sobre coisas
passageiras e evitamos falar sobre o anseio de
nossos corações pela eternidade, não estamos
ajudando a nós mesmas nem nossas amigas.
Mulheres cristãs são irmãs no nível mais
profundo da comunidade, unidas a Cristo por toda
a eternidade. Tomando emprestado o tema do
tricô mais uma vez, Jesus não é apenas um mero
“fio em comum” que partilhamos como irmãs em
Cristo – ele é a tapeçaria. Jesus é a cabeça em
quem estamos crescendo em todos os sentidos à
medida que fortalecemos a nós mesmas em seu
amor (Ef 4.15-16). É verdade que outras mães
podem lhe dar grandes conselhos sobre cuidados
infantis e apoiar suas decisões parentais, mas
irmãs cristãs podem dar muito mais umas às
outras. Jesus nos dá a si mesmo, e nos dá irmãs
para nos fortalecermos à medida que aprendemos
mais sobre o seu amor que ultrapassa o
entendimento.
Deus nos projetou para precisarmos umas das
outras.
AS PORTAS DO INFERNO NÃO PREVALECERÃO

Escolher nutrir e manter uma vida por meio da


doação de seu corpo, de seu sustento e de seu
futuro é um contrassenso em nossa sociedade
mundana. Sempre que mães escolhem dar de si, é
evidência da graça preservadora de Deus em nosso
mundo caído.
Quando Adão e Eva desobedeceram a Deus no
jardim do Éden, Deus respondeu com
misericórdia. Ele os havia instruído a não
comerem da Árvore do Conhecimento do Bem e do
Mal, “porque, no dia em que dela comeres,
certamente morrerás” (Gn 2.17). Mas Adão e Eva
não caíram mortos no momento em que seus
dentes perfuraram a deliciosa fruta.
Em vez disso, eles viveram para ouvir essas
palavras de graça da boca de Deus. Deus
amaldiçoou Satanás, que se aproximou de Adão e
Eva no corpo da Serpente a fim de tentá-los. Deus
disse à serpente: “Porei inimizade entre ti e a
mulher, entre a tua descendência e o seu
descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás
o calcanhar” (Gn 3.15).
Vida! Se haverá um Salvador que esmagará a
cabeça da serpente, então significa que o homem e
a mulher terão descendentes. Que misericórdia!
Parte da maldição que Deus pronunciou naquele
dia no jardim envolvia dor na gravidez para a
mulher, e ela também seria afligida com um desejo
pecaminoso de governar sobre o seu marido (Gn
3.16). O homem teria que lutar por alimento
através do “suor do teu rosto” (Gn 3.17-19), em
uma terra amaldiçoada. Adão e Eva mereciam
morrer ali mesmo pelo seu pecado. Mas, em sua
graça incomparável, Deus prometeu que haveria
vida.
Olhando adiante para a graça futura de Deus ao
enviar um salvador, pela fé “deu [Adão] o nome de
Eva a sua mulher, por ser a mãe de todos os seres
humanos” (Gn 3.20). Então Deus abateu um
animal e com sua pele fez roupas para Adão e Eva
(Gn 3.21). E a raça humana foi preservada pela
graça de Deus e passou a aguardar o Filho
prometido que destruiria o inimigo de Deus de
uma vez por todas.
Os poderes demoníacos acreditaram na
promessa de Deus também. Eles entenderam que o
descendente predito da mulher esmagaria a cabeça
de Satanás. Satanás passaria a procurar o
Prometido, a fim de destruí-lo. A Bíblia diz que “o
menor desses” (Mt 25.40,45) é portador da
imagem de Deus. Não me admira que Satanás os
odeie e trabalhe para extingui-los da existência e
para envenenar sua inocência.
O AUTOR DA VIDA SUSTENTA NOSSAS VIDAS

Todos nós, descendentes do primeiro homem e


mulher, experimentamos a morte quando
voltamos ao pó do qual fomos feitos. Falando em
termos de estatísticas, dez entre dez pessoas
morrem. A morte não é o nosso “amigo” ou um
“doce alívio da vida”; a morte é “o último inimigo”
que deve ser destruído (1Co 15.26). A morte é um
terror, parte de uma maldição – a separação da
alma de nosso corpo (Gn 2.17; 3.19,22; Rm 5.12;
8.10; Hb 2.15).
Mesmo Jesus, aquele que ressuscitaria dos
mortos vitorioso sobre a morte, não tinha ideias
extravagantes sobre a morte. O autor da vida, que
dá a bios e zoë, foi tomado pela dor no túmulo de
seu amigo (Jo 11.1-44). Jesus veio para tirar essa
maldição. A morte é frustrada pela misericórdia de
Deus. “Porque o salário do pecado é a morte, mas o
dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo
Jesus, nosso Senhor.” (Rm 6.23).
Por meio de sua morte na cruz, Jesus pagou
nossa dívida para tirar o terrível aguilhão da
morte, e ele nos dá vitória sobre o nosso último
inimigo. O “instinto” de Jesus o compeliu a voltar
seu rosto para Jerusalém, onde ele se permitiria
ser crucificado para redimir, sustentar e glorificar
aqueles cuja esperança está nele.
Jesus nos salvou completamente para que não
nos entristeçamos como aqueles que não têm
esperança (1Ts 4.13). Lamentamos a morte de
nossos entes queridos, sabendo que o amor de
Deus é mais poderoso do que as garras da morte. A
morte toma a vida dos crentes, mas a morte não
pode segurá-los, já que essas pessoas queridas são
retomadas por Jesus. Os santos vivem para
sempre na presença de Deus, onde eles estão mais
vivos do que nunca.
Esse poderoso amor de Deus é nosso, não apenas
na nossa morte, mas também na nossa vida
cotidiana. O mesmo poder que ressuscitou Jesus
dentre os mortos dá vida a nossos corpos mortais,
mesmo agora. “Se habita em vós o Espírito daquele
que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse
mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os
mortos vivificará também o vosso corpo mortal,
por meio do seu Espírito, que em vós habita” (Rm
8.11). Jesus oferece o seu poder para as mães que
vivem neste mundo pela fé, como filhas
sofredoras, amorosas, pacientes, perseverantes e
trabalhadoras do Rei. No trabalho de parto ou
perseverando na papelada da adoção, buscando
em oração o bem de nossos filhos, e em todas as
coisas que vivenciamos – o autor da vida nos
sustenta.
A Bíblia diz que, se temos participação na morte
de Cristo por meio de nossa fé em sua substituição
pelo nosso pecado, nós, portanto, também temos
participação em sua vida (Rm 6.1-12; Fp 3.10-11).
O poder de Cristo está disponível para nós quando
recebemos Cristo Jesus, o Senhor. Devemos andar
nele, enraizadas e edificadas nele, e confirmadas
na fé, assim como fomos ensinadas, abundando
em ação de graças. Cuidemos para que ninguém
nos leve cativas por filosofias e vãs sutilezas que
não estão de acordo com Cristo. Muitas coisas
procuram nos distrair ou desencorajar do bom
trabalho que Deus deu. O mundo está
transbordando de falsas esperanças e sonhos
míopes para a maternidade, mas Jesus permanece
para sempre. Jesus é suficiente: “porquanto, nele,
habita, corporalmente, toda a plenitude da
Divindade. Também, nele, estais aperfeiçoados. Ele
é o cabeça de todo principado e potestade” (Cl 2.9-
10).
Jesus é glorificado em nossa comunhão umas
com as outras quando mães cristãs vivem em
união.

Jesus desafia as garras da morte quando mães


escolhem nutrir a vida humana pela graça
comum de Deus.

Jesus empurra as portas do inferno quando


mães exultam na graça de Deus na cruz agindo
particularmente em seus esforços maternais.

Que o Deus que nos criou à sua imagem receba


todo louvor e glória em Cristo Jesus por meio de
mães vivificadas juntamente com ele.
3
Cérebro de Mãe

Lembro-me de quando o nosso filho mais novo


fez a sua primeira brincadeira. Eu o apoiava em
meu quadril durante a nossa reunião na igreja
enquanto falava com uma amiga. Era hora de
irmos embora, então eu o instruí: “Temos que ir,
Judson. Diga ‘tchau’ para Shami”.
“Tchau, tchau!”, ele repetia enquanto acenava
com a mãozinha no ar. Em seguida, ele se inclinou
em direção à minha amiga com os lábios franzidos.
Nós duas estávamos encantadas com a sua
demonstração de afeto. Judson se inclinou para
tascar um grande e molhado beijo de bebê em
Shami. Rindo, ela inclinou seu rosto em direção a
ele para receber o presente. Mas, no último
segundo, meu filho se virou e tascou esse beijo em
cheio na minha bochecha. Ele se desfez em
gargalhadas. Considero isso a primeira brincadeira
do Judson. Travessuras são uma tradição estimada
em nossa família. Você pode imaginar como eu
fiquei orgulhosa dele naquele momento. Mesmo
sendo criança, ele estava adaptado à nossa cultura
familiar de humor. E, no fim das contas, ele deu
um beijo de despedida na Shami.
Crianças crescem tão rápido, não é? Não passa
um dia sem que eu diga isso para mim mesma ou
ouça isso de alguém. Mesmo assim, eu não vivo
necessariamente como se isso fosse sempre
verdade.
A AMNÉSIA DOS PAIS

Apesar dos sinais diários de crescimento e


desenvolvimento que eu percebo nos meus filhos,
eu sofro de crises de amnésia. Amnésia de mãe e
pai não é apenas quando você entra em uma sala e
esquece por que você está carregando o cesto de
roupa com quatro canecas sujas nele. Isso é
chamado de normal. Amnésia parental é quando
nos esquecemos de duas coisas: do amanhã e da
eternidade.
Em primeiro lugar, nos esquecemos de que, se
Deus quiser, nossos filhos um dia crescerão e se
tornarão adultos. Eu tenho dificuldade em
imaginar a minha filha de cinco anos de idade com
seus trinta e cinco ou sessenta e cinco anos. Seu
maior objetivo agora é esperar pacientemente para
mexer no seu primeiro dente mole. Ela vibra
constantemente sobre o quanto está se esforçando
para aprender a ver as horas. Ela espalha manteiga
de amendoim em fatias de pepino, e ela gosta. Não
é à toa que, às vezes, eu suponho que ela terá cinco
anos para sempre e fará coisas dessa idade para
sempre.
A segunda coisa que nos esquecemos é de que
nossos filhos são muito mais do que apenas
adultos em potencial que um dia contribuirão para
a sociedade. Por mais que eu goste de ter pequenos
ajudantes para esvaziar a máquina de lavar louça,
o fato da eternidade nos impede de enxergar
nossos filhos a partir de uma perspectiva
utilitarista. Nossos filhos são pessoas criadas à
imagem de Deus, e eles têm almas eternas, e isso
traz valor às suas vidas, mesmo que vivam com
uma maturidade prejudicada quando adultos ou
nunca atinjam a idade adulta. Ser mãe é
loucamente divertido, no entanto, por causa da
eternidade, é, ao mesmo tempo, uma alegria séria.
Como mães, podemos tão facilmente nos fixar
na imaturidade desses pequenos portadores da
imagem de Deus, que mostram às pessoas as suas
melecas, que esquecemos de valorizá-los como
reflexos da glória de Deus. Em nossos nobres
esforços para praticamente educarmos nossos
filhos para crescerem e se tornarem adultos,
muitas vezes nos esquecemos de algo. Nos
esquecemos do sol nascente que sinaliza mais um
dia de graça em que Deus nos confiou a tarefa de
instruir os pequenos portadores de sua imagem a
amá-lo e honrá-lo acima de tudo e para sempre.
Quando as coisas terrenas surgem maiores que a
vida eterna, nos esquecemos de quem Deus é, de
quem somos e de quem nossos filhos são.
Tendemos a nos esquecer do amanhã e da
eternidade quando nosso dia é preenchido com a
tirania do urgente. Você já se sentiu como a bola
no jogo de fliperama que rebate nas paredes? Nós
supervisionamos os trabalhos de casa enquanto
impedimos nosso filho de dois anos de enfiar os
braços na privada. Damos vereditos no Tribunal
da Mamãe a fim de decidirmos de quem realmente
é o brinquedo. Tentamos não nos esquecer de tirar
a roupa lavada da máquina e pendurá-la no varal
para que possamos ter roupas limpas no dia
seguinte. Não me admira o fato de lutarmos para
lembrar o que fizemos nessa manhã, muito menos
para manter uma perspectiva eterna.
Quando temos a eternidade em mente,
respondemos à maternidade de forma diferente do
que se vivêssemos apenas para o momento. Vemos
que nossos filhos estão marchando em direção a
um destino. Consideramos que as nossas lutas
efêmeras e temporárias estão passando enquanto
aguardamos por Jesus, nossa bendita esperança.
Ansiamos por esse dia com expectativa da graça
futura de Deus porque nossos momentos
ordinários têm importância e significado eternos.
Fazemos sacrifícios em nossas decisões e
planejamentos porque entendemos que
pertencemos a Deus. Deus nos chamou para algo
muito maior do que a nossa felicidade ou a de
nossos filhos.
Como Paul Tripp disse em seu livro Forever:
“Eternidade nos diz que nossos filhos nunca serão
o centro do universo. Eternidade nos diz que
nossos filhos não escreverão suas próprias
histórias, nem nós escreveremos as suas histórias.
Eternidade nos lembra que nossos filhos não nos
pertencem; eles pertencem a Deus. Como pais,
somos agentes de Deus, enviados para promover a
sua vontade”.8 Manter uma perspectiva eterna nos
mantém firmes nos propósitos de Deus.
LEVANTE O SEU OLHAR ATRAVÉS
DA PALAVRA DE DEUS

Para mim, a amnésia parental se instala como


um nevoeiro nas primeiras horas da manhã. Se eu
não renovar minha mente com as verdades da
Palavra de Deus, então o nevoeiro não se dissipa e
não deixa a luz da esperança do evangelho entrar.
Até o final do dia, estou perdida em uma nuvem
de desânimo que não se eleva. Precisamos da
bússola da eternidade para direcionar a nossa
perspectiva.
É fácil deixar a nossa perspectiva ser enterrada
em uma avalanche de misturas de algodão no
Monte da Lavanderia. Mesmo assim, precisamos
fazer um esforço para lembrar que o nosso
trabalho é mais do que alimentar, banhar, vestir e
ajudar na educação dos nossos filhos. Essas tarefas
são significativas em si mesmas porque são parte
da mordomia que Deus nos deu. Como mães
cristãs, Deus nos chama a conviver com algo que
podemos enxergar apenas com olhos espirituais –
a eternidade.
A principal maneira pela qual Deus estampa a
eternidade em nossos olhos é por meio de sua
Palavra. Se você segurar uma Bíblia na posição
vertical e deixar suas páginas abrir, ela
provavelmente abrirá no meio, bem perto do
Salmo 119. O Salmo 119 é o maior capítulo da
Bíblia, e se você for capaz de ler em hebraico
bíblico, então você notará que ele é um tipo de
poema acróstico. Cada verso é dedicado à
apreciação e à adoração da Palavra de Deus.
O Salmo 119 contém encorajamento para as
mães em seus trabalhos que duram dia e noite. É
como um balde de água fria que poderia acordar
até mesmo a alma mais privada de sono e os olhos
mais sonolentos. No Salmo 119, você encontrará
aplicação específica, pessoal, do tipo ele-deve-ter-
lido-o-meu-diário (como se eu tivesse tempo para
escrever um diário). Não é incrível como Deus nos
fala através da sua Palavra?
Percebi que esses versos do Salmo 119 têm
relevância concreta ao me inspirarem a fazer
algumas mudanças oportunas em minha rotina
diária (e noturna).

Lembro-me, SENHOR, do teu nome, durante a


noite, e observo a tua lei. (v. 55)
Levanto-me à meia-noite para te dar graças,
por causa dos teus retos juízos. (v. 62)
Quanto amo a tua lei! É a minha meditação,
todo o dia! (v. 97)
Antecipo-me ao alvorecer do dia e clamo; na
tua palavra, espero confiante. (v. 147)
Os meus olhos antecipam-se às vigílias
noturnas, para que eu medite nas tuas
palavras. (v. 148)

Quero esperar em Deus quando meus filhos me


acordam antes do meu alarme. Quero amar a
Palavra de Deus todos os dias em que estou
afundada no trabalho terreno de cuidar da minha
casa. Quero meditar nas promessas de Deus, dar
graças a ele e me lembrar dele quando estou
acordada com o bebê à meia-noite e às 3 da manhã
(e às 22 da noite, 2 da manhã e 5 da manhã,
durante picos de crescimento).
De acordo com o Salmo 119, não há nenhuma
hora do dia ou da noite em que a Palavra de Deus
não seja relevante para as nossas vidas. Mesmo
quando estamos mais preocupadas em fazer as
merendas da escola e em escolher roupas para as
fotos de família, a Palavra de Deus pode levantar o
nosso olhar para o horizonte da eternidade.
ESPERANÇA EM CRISTO

A realidade do ‘para sempre’ nos lembra de


priorizar a eternidade em nossas esperanças para
com os nossos filhos. Mas, antes de estendermos
uma perspectiva eterna a outros, devemos esperar
em Cristo. Muitas vezes, a minha esperança está
baseada nas minhas circunstâncias, que estão em
constante mudança. Eu digo coisas como: “Eu
realmente preciso que o bebê tire uma soneca
nesta manhã”, que é uma coisa boa para se dizer e
esperar. Mas se chega a hora do almoço, e a soneca
não aconteceu, e eu estou tão emocionalmente
frustrada que isso arruína a minha tarde, então eu
provavelmente coloco mais fé nessa soneca do que
nas circunstâncias imutáveis do evangelho.
Nós, mães, como qualquer outra pessoa que luta
com o peso do pecado, tendemos a esquecer o
evangelho, e nossa ignorância sobre a esperança
que temos em Cristo gera frutos podres, como
crises de identidade e descontentamento.
Precisamos nos lembrar de que Deus não é menos
bom para nós quando nos encontramos em uma
batalha de vontades com um pré-escolar na fila do
caixa do supermercado do que ele era quando seu
filho arrastou uma cruz, colina acima, naquela
sexta-feira há dois mil anos.
Deus intercede misericordiosamente nesses
momentos e me mostra que os seus caminhos
estão acima dos meus. Pela graça de Deus posso
resistir à tentação de tratar meus filhos como
interrupções da minha vontade para a minha vida.
Em vez disso, Deus me capacita a tratar meus
filhos como presentes preciosos que ele está
usando para me moldar à sua imagem de acordo
com a sua vontade para a minha vida.
Certa manhã, minha filha correu de volta para o
andar de cima, a fim de pegar sua bolsa antes de
sair de casa. Ao carregar uma bolsa vazia, ela sente
que está pronta para salvar qualquer filhote de
cachorro ou gato abandonado com o qual se
deparar. (Uma vez ela resgatou um pássaro que se
afogava na piscina do nosso apartamento e o
carregou em sua bolsa para o gramado mais
próximo). Enquanto eu lutava para conseguir fazer
nosso circo familiar sair de casa, pensei em dizer a
ela para simplesmente deixar a bolsa para trás.
Mas algo me fez ficar parada na porta com bolsas
penduradas em mim. Fiquei impressionada com o
pensamento de que parecia ter sido ontem que
essa criança era um bebê indefeso. Ela precisava de
cuidado em todos os sentidos. E agora, apenas um
segundo mais tarde, ao que parecia, ela já queria
cuidar dos outros e tinha a capacidade de fazê-lo.
Algum dia essa doce criança pode vir a ter maiores
responsabilidades para ajudar os indefesos.
Naquele momento escolhi apreciar a obra de
Deus enquanto essa cena se desenrolava. Decidi
não lhe dizer para simplesmente entrar no carro.
Ela subiu a escada para pegar sua bolsa.
À luz da eternidade, quero aproveitar as
oportunidades diárias para levantar o olhar da
minha filha para que ela admire Deus e reflita a
sua imagem. Eu também preciso fazer isso! Minha
sequência de pensamento foi interrompida
quando ela pulou os dois últimos degraus e parou
no hall de entrada com a bolsa na mão. “Eu
peguei!”, ela anunciou sem fôlego. “Agora posso
trazer filhotes para casa como Jesus nos traz para
casa!”
Às vezes Deus usa nossos filhos para nos
lembrar da perspectiva eterna que nós
esquecemos. Eles crescem tão rápido, não é?
ABRAÇANDO A ETERNIDADE

Pensar bem e com frequência na eternidade não


é uma perspectiva pessimista. Quando negamos a
realidade da eternidade ou vivemos na ignorância
dela, estamos perdendo a alegria de Deus.
Eu entendo que toda essa conversa sobre
eternidade poderia evocar um sentimento de
urgência em relação a quão pouco tempo nós
temos. Até certo ponto, sentir a força gravitacional
da finitude é saudável. Cuidar dos filhos pode nos
levar a fixarmo-nos apenas nos meros minutos do
dia (ou da noite). Devemos orar como o salmista:
“Ensina-nos a contar os nossos dias, para que
alcancemos coração sábio” (Sl 90.12). Devemos
pedir ao Senhor que nos lembre de que “as coisas
que se vêem são temporais, e as que se não vêem
são eternas” (2Co 4.18).
É por isso que devemos tomar cuidado para que
não pensemos que o maior problema de uma mãe
é a falta de tempo. Como sou tentada a considerar
uma temporada agitada como um obstáculo para
me alegrar no Senhor! O maior obstáculo para a
nossa alegria em Deus não é a falta de tempo.
Quando perdemos de vista uma perspectiva eterna
em nossas vidas diárias, a expiação não se torna
vital nem preciosa para nós. Um presente maior
do que o tempo é o presente do perdão pelos
nossos pecados por meio de Jesus Cristo, de forma
que podemos contemplar o nosso Deus santo.
Viver com a eternidade em mente é, em última
análise, uma obra do amor redentor de Deus em
nossas vidas. Não tenho como expor para você um
plano criativo e estratégico para a construção de
um coração que abraça os propósitos de Deus na
eternidade. Nenhuma de nós pode reunir força de
vontade suficiente para amar a Deus e o seu
glorioso reino. Somente a graça redentora, toda-
poderosa e transformadora de Deus pode elevar o
nosso coração intoxicado pelo pecado dos mortos,
nos dar a vida eterna e direcionar o nosso olhar
para Jesus, nossa bendita esperança. Aqueles cujas
almas foram revividas pela graça experimentaram
algo que Jesus comparou com o milagre do
nascimento. Ele o chamou de “novo nascimento”.
“Em verdade, em verdade te digo que, se alguém
não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”
(Jo 3.3).
Como descendentes de nossos primeiros pais,
cujo pecado no jardim trouxe julgamento sobre
toda a humanidade, ficamos admirados com a
graça comum de Deus ao ordenar que a vida
humana devesse continuar em nosso mundo
caído. Homens e mulheres podem ver a graça
comum de Deus em dar o dom da vida. Isso é
verdade quer seja um filho biológico ou não. Isso é
verdade mesmo se uma criança for levada para o
céu antes de nascer. Quando consideramos o
milagre da vida, podemos começar a entender o
que nos aconteceu quando nascemos de novo e
recebemos a vida eterna. Onde anteriormente não
havia vida, Deus dá vida. Quanta graça!
Nascemos mortos em nossas transgressões – já
em inimizade com Deus, antes de falarmos a nossa
primeira palavra ou nos apegarmos ao nosso
primeiro pensamento orgulhoso. Estar separado
da vida em Deus é um viver morto. Por meio da fé,
vemos o dom de Deus multiplicado a um grande
número de pessoas. Porque Abraão creu em Deus,
podemos traçar nossa linhagem espiritual de volta
para ele. “Por isso, também de um, aliás já
amortecido, saiu uma posteridade tão numerosa
como as estrelas do céu e inumerável como a areia
que está na praia do mar” (Hb 11.12).
A fé de Abraão era como a de Adão. Embora a
morte tenha reinado por causa do pecado, ambos
creram na promessa de vida de Deus. Podemos nos
maravilhar com a graça de Deus juntamente com o
apóstolo Paulo: “Muito mais os que recebem a
abundância da graça e o dom da justiça reinarão
em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo”
(Rm 5.17). Nossa melhor resposta a essa boa-nova
é exultação em nosso Deus misericordioso.
“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos
regenerou para uma viva esperança, mediante a
ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos”
(1Pe 1.3).
Andamos pela fé. Podemos colocar nossos filhos
na cama pela fé, fechar nossos olhos para dormir
(ação frequentemente interrompida) pela fé, e
acordar de manhã cheios de fé porque Jesus é a
nossa esperança, mesmo quando nossos filhos
crescem rápido demais para o nosso gosto.
4
Regra Número 1: Sempre
Precisamos da Graça de Deus

Autodisciplina é uma luta que acontece de forma


sazonal para mim. Há momentos em que sou
muito diligente, e há momentos em que a
diligência cede lugar para a conveniência.
Quando minha filha mais velha chegou à idade
pré-escolar, eu pensei que havia solucionado os
meus problemas de autodisciplina. Você quer
saber o segredo?
Se você quer ser lembrada de alguma coisa, basta
dizer a um pré-escolar o que você está planejando
fazer e certifique-se de dizer a palavra “sempre”.
Por exemplo, eu não suporto ver uma tigela com
resto de massa de cookie afundar na pia, a menos
que ela já tenha sido “limpa”. Para combater o meu
problema de autodisciplina com a massa de cookie,
recrutei minha filha.
“Mãe, você disse que não ia mais comer massa de
cookie, porque você sempre nos daria a tigela para
lamber!”
“Eu sei que eu disse, querida. Mas veja, tem...”
“Mas nós sempre lambemos a tigela!”
“Eu sei que vocês lambem. Aqui, olha – o resto da
massa de cookie é de vocês.”
“Você disse que nós sempre lamberíamos a
tigela.”
“Eu sei, mamãe sente muito.”
“Mãe, o que você está mastigando?”

Pré-escolares irão cobrar você sobre qualquer


regra que tenha estabelecido. Eles levam isso a
sério. Quer se trate de sempre colocar primeiro o
sapato do pé direito ou nunca misturar as cores da
massa de modelar, regra é o nome do jogo.
Então, a moral da história é expressar apenas as
expectativas que você tem certeza que irá cumprir?
Livros sobre liderança discutem sobre como
moldar a cultura dentro de uma corporação.
Executivos e gerentes não são os únicos que se
importam com essas ideias. Os pais têm a
responsabilidade e o privilégio de moldar o ethos
da casa. Ethos significa simplesmente “os seus
costumes”. A palavra ethos não significa muito
para um bebê ou um pré-escolar, mas as crianças
sabem o que fazem sempre. “O papai sempre me dá
tchau da rua em seu caminho para o trabalho”.
“Você sempre deixa a luz do meu banheiro acesa à
noite”. “Eu sempre sento nessa cadeira da mesa de
jantar”. “Nós sempre assistimos a um filme nas
tardes de sexta-feira”.
Talvez eu nunca esqueça a semana em que
perdemos o Elmo. Minha filha sempre tirou suas
sonecas com seu boneco Elmo no berço.
Percebemos o quanto ela se importava com esse
hábito, quando ela agiu de forma birrenta. As
coisas do tipo “nós sempre” são especiais e
importantes. Elas fornecem a confiança de que
nossos filhos precisam. O “nós sempre” pode ser
divertido de se começar e perseverar. Alguns
amigos nossos têm uma tradição chamada
Sábados das Rosquinhas, quando o pai leva as
crianças para comerem rosquinhas na parte da
manhã. Que tradição divertida!
Eu tenho grandes ideias para inventar tradições.
Uma vez tentei instituir uma “tradição” chamada
“Quartas-feiras sem palavras”: em vez de discutir
uns com os outros com berros e gritos, faríamos
mímicas. Essa ideia não funcionou com as
crianças.
SEMPRE PRECISAMOS DA GRAÇA DE DEUS
Mães têm um papel estratégico em permitir que
o evangelho molde a sua casa, ao esperarem
sempre na necessidade que têm da graça de Deus.
Você precisa da graça de Deus? Ou você tem o que
é preciso para trabalhar nas múltiplas tarefas da
sua rotina? Você precisa da graça de Deus? Ou
você já “passou por isso antes” com o seu marido, e
sabe que esse conflito se resolverá com o tempo?
Você precisa da graça de Deus? Ou você só precisa
do Google? Você precisa da graça de Deus? Ou
você praticamente já tem a maternidade toda
resolvida?
Se quisermos dar graça aos nossos filhos, então
primeiro temos que estar dispostas a recebê-la de
Deus.
Em meio às infinitas possibilidades para o “nós
sempre” de nossas casas, há uma única expectativa
que podemos estar certos de encontrar todos os
dias, quer estejamos conscientes disso ou não:
sempre precisamos da graça de Deus. Como um
hinólogo escreveu: “Toda a habilidade que ele exige
é sentir a sua necessidade dele”.9
Graça é a coisa mais importante para
mantermos em mente enquanto moldamos as
expectativas de nossa casa. Nossos filhos precisam
crescer sabendo que “sempre confiamos em Deus
porque ele é capaz de nos ajudar e está disposto a
fazê-lo” e “sempre louvamos a Deus, porque ele é o
nosso tesouro mais valioso”. E precisamos nos
levantar a cada manhã sabendo que “eu sempre
confio em Deus porque ele está disposto e é capaz
de me ajudar”.
O evangelho deve moldar a nossa forma de
moldar nossa casa por meio de nossas tradições.
Será que isso significa que devemos estudar o
catecismo com nossos filhos? Será que isso
significa que temos que ser mais intencionais
sobre como celebramos feriados religiosos? Talvez.
Essas são questões pessoais.
O evangelho, no entanto, não é uma questão de
preferência pessoal; é uma questão de vida e morte
espiritual. O evangelho pode moldar a nossa casa
quando nós, mães, percebemos que não
alcançaremos sempre os padrões de excelência que
desejamos. Se quisermos dar graça aos nossos
filhos, então devemos estar dispostas a recebê-la
de Deus primeiro. Tendemos a nos chafurdar na
vergonha ou a ser cínicas em relação à nossa
incapacidade de não incorrer no mesmo erro. Em
algum momento, fracassaremos e, às vezes,
cairemos feio. Então devemos nos gloriar no
evangelho, porque nele Deus misericordiosamente
nos dá Cristo para ser nosso tesouro valioso.
Coisas como “culpa de mãe” não podem nos
esmagar porque Cristo foi esmagado na cruz em
nosso lugar. Jesus é a nossa esperança; ele
cumpriu as mais elevadas expectativas de
perfeição de Deus, e todas as promessas de Deus
encontram nele o seu sim (2Co 1.20). Nele,
encontramos misericórdia em tempos de
necessidade – que é sempre.
SENDO MODELOS DE COMO
“SEMPRE PRECISAMOS DA GRAÇA DE DEUS”

Uma maneira de ensinar nossos filhos sobre a


nossa necessidade da graça de Deus em Cristo é
confessando adequadamente nosso pecado para
eles. Peça ao Senhor sabedoria sobre isso e ore para
que ele lhe conceda a humildade de pedir perdão
aos seus filhos quando você precisar fazê-lo. Isso é
um desafio para mim, já que frequentemente
escolho minimizar a ofensa do meu pecado ou
justificá-lo, culpando as minhas circunstâncias.
Entristece-me pensar sobre como culpei o pecado
dos meus filhos com minha resposta pecaminosa a
eles. Todos nós sempre precisamos da graça.
Às vezes meus filhos entram no que eu chamo de
“corre-corre do pecado”, em que uma criança
aciona a outra, e, de repente, todas as três estão
brigando em um alvoroço. Nesses momentos eu
me pergunto: “Por quê? O que fez você pensar que
essa ou aquela seria a melhor reação por ela ter
tomado o seu brinquedo”?
Deus tem sido misericordioso em me dar
bastante clareza para as razões desses corre-corres
do pecado: meus filhos são pecadores, porque eles
são seres humanos. Somos todos pecadores que
herdaram a natureza pecaminosa de nossos
primeiros pais, Adão e Eva. Mesmo que eu
amarrasse meus filhos juntos, para que eles
pudessem resolver a discussão sobre quem
realmente é o dono daquele brinquedo, eles
acabariam discutindo sobre quem é o dono da
corda. Eu não sou diferente dos meus filhos. Lidar
com aborrecimentos e o pecado dos outros é parte
da vida diária, mas podemos escolher reagir a eles
de uma maneira que honre a Deus. Sou propensa a
explosões quando estou extremamente frustrada.
Esse é um grande problema para mim, e ele diz
algo sobre como vejo a bondade soberana de Deus.
Isso também influencia os meus filhos.
Uma vez o motor da máquina de lavar roupa
queimou. Isso representou um grande problema
para a nossa grande família com muitos hóspedes.
Porque eu acho que o mundo gira em torno de
mim, fiquei muito agitada pela inconveniência de
um tambor de máquina de lavar roupa não se
mexer mais. Eu soltava fumaça pela lavanderia:
“Você está brincando comigo?” Talvez eu tenha
jogado as toalhas encharcadas com força no chão
em um acesso de raiva e gritado exasperadamente
com os dentes cerrados. Meus filhos ouviram a
minha birra e vieram correndo. Quando vi seus
olhos arregalados de medo, o Espírito Santo me
fez tomar consciência do meu pecado. Meu coração
rapidamente se entristeceu pelo pecado e se
alegrou pelo meu Salvador, e me arrependi
publicamente. Pela graça de Deus aproveitei a
oportunidade para lembrar os meus filhos (e a
mim) da misericórdia de Deus em salvar pessoas
que pensam que o mundo gira em torno delas,
quando, na verdade, o mundo existe para ele.
Quão bom é o nosso Deus em usar momentos
ordinários para nos santificar!
Precisamos sempre de graça. Sermos perdoados
de nossos pecados ao nascermos de novo em
Cristo Jesus pela fé, por meio da graça, é apenas o
começo. Salvação, em suma, significa estar unido a
Cristo. E apesar de continuarmos a pecar e sermos
tentados todos os dias ao pecado, Jesus, nosso
Sumo Sacerdote, permanece disposto e é capaz de
vir em nosso auxílio. Podemos confiantemente
colocar toda a nossa confiança em Jesus – ele é
capaz! Nossos filhos notarão quando valorizarmos
Jesus em meio a nossas tentações para pecar. Pela
graça de Deus, nosso exemplo de fé testemunhará
que “Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será
para sempre” (Hb 13.8) – sempre.
5
O “Chamado à Adoração” de
uma Mãe

Brincamos em nossa casa que se alguém quiser


acordar em uma determinada hora, tudo o que
precisa fazer é colocar o alarme para despertar 10
minutos depois daquele horário. As crianças
vencerão o despertador e acordarão mais cedo do
que você espera que acordem. Um amigo meu
costuma dizer que os filhos são despertadores
eficientes, só que eles não têm função soneca.
Quando me casei, meu estilo de vida mudou.
Como não era mais solteira, me adaptei à vida com
o meu marido, me ajustando à nossa nova
realidade juntos. Quando me tornei mãe, meu
estilo de vida mudou novamente. Havia novas
rotinas para aprender, ajustar, reajustar e
reaprender. O pensamento de que “cada bebê é
diferente” é verdadeiro, e mães são diferentes
também, mesmo quando estão aprendendo e
crescendo.
TEMPO PARA MIM, TEMPO TRANQUILO
– TUDO É TEMPO DE DEUS

Quando me tornei mãe, uma das primeiras


grandes mudanças que ocorreram na minha vida
foi na área de disciplina espiritual. Eu estava
acostumada a ter o meu próprio tempo. No
momento em que a minha barriga começou a
esconder os meus pés, as mulheres começaram a
me alertar: “Aproveite o seu tempo agora
enquanto você pode!” Eu sabia que isso era
verdade; eu havia visto minha própria mãe dar do
seu tempo para mim e minhas irmãs. No entanto,
eu não imaginava que a primeira coisa a sair da
minha rotina diária seria o meu tempo regular de
devocional com o Senhor. Infelizmente, minha
reação inicial foi culpar a bebê e a minha nova fase
de vida.
Eu tinha uma perspectiva distorcida do tempo,
acreditando que ele me pertencia e que eu poderia
organizá-lo como quisesse. O tempo para mim e o
tempo tranquilo gritaram e espernearam em seu
caminho para fora de casa, à medida que a vida da
jovem mãe entrava em cena. Meu estudo
disciplinado e rigoroso da Palavra de Deus, de
repente, parecia acontecer somente quando
escrevia trabalhos para os meus professores do
seminário. Percebi que a única vez que eu orava era
quando não estava ocupada com a bebê, e eu
estava ocupada cuidando dela o tempo todo.
Confessei a uma amiga que me tornar mãe me fez
sentir como se tivesse esquecido o Senhor, e a
minha prática das disciplinas espirituais revelou
ser dependente do meio em que vivia.
Serenidade, silêncio e solidão são coisas boas.
Deus usa a tranquilidade para preparar o nosso
coração para ouvi-lo por meio de sua Palavra. O
silêncio pode nos ajudar a orar sem distrações.
Quando há tranquilidade ao nosso redor, o Senhor
pode aquietar o nosso ocupado coração. Tempo
“verdadeiramente sozinho” com o Senhor é um
presente. Mas também é um presente o tempo em
que você está dirigindo o “espetáculo de circo” que
é a família. O Senhor está tão perto de você
quando está usando um aspirador nasal em um
pequeno nariz congestionado, quanto quando você
está convocando a sabedoria de Salomão para
resolver uma disputa acerca de um brinquedo.
Minha vida espiritual definhou quando minha
primeira filha nasceu. Isso não foi culpa dela, de
maneira alguma. Eu acreditava na falsa premissa
de que o Espírito Santo me confortaria, guiaria e
asseguraria apenas quando minha rotina estivesse
vazia ou o meu diário estivesse no colo. Eu
pensava que não podia ouvir Deus se houvesse
barulho na minha vida.
Quando o barulho e a correria vieram, falhei em
me esforçar para ter comunhão com Deus. Adquiri
o mau hábito de chamar o dia de um fracasso –
espiritualmente falando – se eu não fosse a
primeira pessoa acordada a desfrutar do silêncio e
da solidão em nossa casa. Eu ficava frustrada até
não poder mais quando algo ou alguém refutava
meus planos bem definidos de ter comunhão com
o Senhor, em silêncio, logo que eu acordasse.
O Espírito me tornou bem consciente da
grosseria do meu pecado, trazendo à mente
passagens sobre a bondade do Senhor.
Particularmente, essa descrição da misericórdia de
Deus para com os pecadores realmente amoleceu o
meu coração: “Não esmagará a cana quebrada,
nem apagará a torcida que fumega” (Is 42.3). Eu
sabia que se eu fosse uma cana quebrada ou uma
torcida que fumega era somente pela graça de
Deus. Eu achava que tinha muitos motivos para
ser amarga. A principal raiz amarga que se enrolou
em volta do meu coração era que eu tinha que
fazer todo o trabalho físico de criar nossa bebê
devido à deficiência física do meu marido. “Se pelo
menos eu pudesse contar com a ajuda física do
meu marido, então talvez eu tivesse tempo para o
Senhor,” Esse era o meu pensamento errado. Mal
sabia que a bondade de Deus estava a ponto de
prevalecer sobre o meu coração amargurado (Rm
2.4).
Senti que minha perspectiva sobre a natureza da
vida espiritual como uma jovem mãe estava sendo
chacoalhada e remodelada. Tive uma conversa
edificante com uma amiga querida. Ela
compartilhou comigo 2 Coríntios 9.8: “Deus pode
fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que,
tendo sempre, em tudo, ampla suficiência,
superabundeis em toda boa obra”. Deus planeja o
fim desde o começo e governa todo o tempo entre
os dois, e ele é capaz de me dar a graça que preciso
para o tempo que planejou, bem no momento em
que preciso dela, para que eu possa estar debaixo
de sua vontade. Se Jesus me assegurou que está
comigo até o fim dos tempos (Mt 28.20), então
certamente ele está comigo sempre que carrego
minha bebê, limpo a casa, dirijo o carro, cuido da
bebê à noite e ajudo o meu marido.
AS ASSIM CHAMADAS INTERRUPÇÕES

Quando sentimos que o nosso meio deve ser


“exatamente dessa maneira” a fim de termos
comunhão com Deus, qualquer fator surpresa
ganha o nome de “interrupção”. A súplica de uma
criança para obter ajuda com um jogo é uma
interrupção. O horário precoce das crianças
acordarem é uma interrupção. O bebê que se
recusa a se acalmar é uma interrupção.
E se Deus quiser ter comunhão conosco
exatamente onde estamos – até mesmo na
agitação da vida comum? Com toda certeza ele
quer. Considere como o Deus trino está
trabalhando para garantir que você contemple a
sua glória ao longo dos seus dias e noites.
Seu Pai celeste é soberano sobre todas as coisas.
Um pardal deixa a sua pena cair no chão,
escapando das garras de um menino curioso. A
bateria do carro morre no estacionamento, após
um dia de brincadeira, no momento em que seus
filhos superfatigados atingem o limite deles. A
chupeta cai da boca do bebê pouco antes de o bebê
dormir. Nada – nada acontece sem o soberano
Senhor ordenar. Ele é digno de confiança e louvor
em cada momento, em cada circunstância.
O eterno Filho de Deus é Emanuel – Deus
conosco. Jesus cumpriu a santa lei de Deus, foi
crucificado em nosso lugar, ressuscitou
vitoriosamente dos mortos, e está reinando à
direita do Pai. Jesus satisfez a ira de Deus contra o
pecado e nos comprou da escravidão do pecado.
Pela fé recebemos a perfeita justiça de Jesus, e ele
cria em nós novos corações inclinados a amá-lo.
Mesmo quando não sente que isso seja verdade
sobre você mesma, uma filha do rei, isso é. Mesmo
quando você imagina que a sua vida é um inferno
e se esquece de que foi transferida para o reino da
maravilhosa luz de Deus, você ainda é dele para
sempre. Você pode ter certeza de que nada irá
separá-la do amor de Deus por você em Cristo
Jesus, seu Senhor – “nem morte, nem vida” (Rm
8.38).
O Espírito Santo de Deus habita no coração dos
crentes e escreve a lei de Deus em seus corações.
Quando meditamos na Palavra de Deus, o Espírito
tem prazer em confirmar em nosso coração que
Deus é quem ele diz ser. O Espírito graciosamente
nos desperta para a aflição do nosso pecado e
aviva em nós um afeto pela santidade de Deus.
Quando colocamos nossa mão no arado (ou seja,
na esponja), o Espírito nos vivifica para trabalhar
para o Senhor. O Espírito nos ajuda em nossa
fraqueza e ignorância, orando por nós quando não
sabemos pelo que orar. O Espírito Santo é como o
impulso que vai de nossas papilas gustativas para
o cérebro com a mensagem de que fatias de laranja
cobertas com chocolate meio amargo são
excelentes. Quando provamos, por exemplo, a
providência ou nossa união com Cristo, é o
Espírito que diz ao nosso coração que o Senhor é
bom.
UM CONVITE PARA ADORAR A DEUS

Nas reuniões semanais de adoração de nossa


igreja, temos o que se chama de “o Chamado à
Adoração”. Alguém vai até a frente com o
microfone e lê um trecho das Escrituras,
convidando todos para adorar a Deus. Alinhado à
ideia das “assim chamadas interrupções”, mães
ouvem o “chamado à adoração” ao longo dos seus
dias e noites. Se tivermos ouvidos para ouvir esses
convites, então temos oportunidades para adorar
ao Senhor, que está mais próximo de nós do que
muitas vezes percebemos.
Bebês choram por comida, carinho, companhia e
amor. Eles rogam a nossa ajuda. Os gritos dos
nossos preciosos pequeninos nos lembram de que
nós não somos muito diferentes deles. Nós
também estamos desamparados e em um estado
desesperado; precisamos desesperadamente do
Senhor. A Palavra de Deus nos instrui a não
desistir de clamar por ele até que ele responda.
Sintonize o seu coração para ouvir as suas
fraquezas e impotências diante do Senhor, mesmo
nos momentos difíceis. “Inclina, SENHOR, os
ouvidos e responde-me, pois estou aflito e
necessitado” (Sl 86.1).
Nossos corações podem ser chamados a adorar
mesmo em meio a gritos de raiva. Crianças
frustradas gritam indignadas com a perda de um
“bem precioso” da caixa de brinquedos. A justiça
deve ser cumprida! E quanto a você? Você alguma
vez sentiu justa indignação pela injustiça? Você se
permite sentir dor pelo seu próprio pecado? Você
entorpece a sua consciência com “Oh, bem, o que
pode ser feito?”, ao ver o horror do mal em nosso
mundo? Quando um cristão reconhece a maldade
do pecado e do mal, o Espírito conforta o seu
coração e o leva à exaltação do Deus que vence os
seus inimigos com justiça perfeita. Quando você
sentir frustração e indignação, lembre-se do que a
Palavra de Deus diz sobre a quem pertence a
prerrogativa de executar justiça. Responda em seu
coração com uma postura de descanso tranquilo
no plano de Deus de conquistar seus inimigos. “Os
ímpios, no entanto, perecerão, e os inimigos do
SENHOR serão como o viço das pastagens; serão
aniquilados e se desfarão em fumaça” (Sl 37.20). E
alcance aqueles à sua volta com misericórdia e
amor, servindo como um servo humilde.
“Olha para mim, mamãe!” Em meio a melodias
suaves que tocavam através dos alto-falantes, uma
pequena bailarina me convida ansiosamente para
vê-la rodopiar. Ela quer compartilhar sua alegria
com todos que quiserem assistir e se encantar com
a música e a dança. Sua expectativa de
compartilhar a alegria me lembra de como Jesus
me convida para participar de sua infinita alegria
para sempre. Você já reparou que uma criança
pequena não irá parar de convidá-la para
participar da sua alegria até que você ceda? A
alegria de Jesus não é de curta duração nem
passageira; ela é completa e chega às mais
extremas profundezas de nosso coração. Responda
pela fé ao convite de Jesus de satisfazê-la
totalmente para sempre. “Tenho-vos dito estas
coisas para que o meu gozo esteja em vós, e o vosso
gozo seja completo” (Jo 15.11).
Em meio ao barulho do vento que corre pelo
carro posso ouvir um choramingar vindo do banco
de trás. A impaciência é manifesta na reclamação.
Isso é tão eu. Quero o que eu quero, e quero para
ontem. Enquanto jogo um pacote de biscoitos nas
mãos de um pré-escolar faminto, lembro-me de
como é difícil reclamar quando o seu coração está
cheio de louvor. Você já ouviu a advertência “Não
fale com a boca cheia”. Mas a Bíblia diz o contrário
– devemos falar com a nossa boca e coração cheios!
“Os meus lábios estão cheios do teu louvor e da
tua glória continuamente” (Sl 71.8); “Aleluia! De
todo o coração renderei graças ao SENHOR, na
companhia dos justos e na assembleia” (Sl 111.1);
“O homem bom do bom tesouro do coração tira o
bem, e o mau do mau tesouro tira o mal; porque a
boca fala do que está cheio o coração” (Lc 6.45).
Para mim, o convite à adoração que mais tenho
dificuldade em ouvir é aquele no início da manhã.
Nos anos em que nossa jovem família teve que
dividir um quarto, eu era regularmente despertada
por sussurros ofegantes e animados em meu
ouvido, anunciando o próximo nascer do sol.
Minha incredulidade sonolenta é apenas uma
fração da exaustão e peso de alma que sentiram as
mulheres que chegaram a um certo túmulo antes
do amanhecer e não esperavam contemplar o Filho
ressurreto.
Mas porque Jesus ressuscitou dentre os mortos,
cada glorioso nascer do sol (mesmo os precoces)
avança e nos leva a olharmos adiante para o dia
que está chegando, quando será o fim da escuridão
para sempre. Nesse dia todos nós veremos nosso
Salvador face a face sem dúvidas, ou afeições
mornas, ou morosidade de alma. Então,
chamaremos uns aos outros para adorar a Deus
para todo o sempre, dizendo: “Àquele que está
sentado no trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra,
e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos” (Ap
5.13b).
COMO O CHORO DE UM BEBÊ SILENCIA SATANÁS
Quando um bebê chora no meio da noite – com
fome, frio, solitário, molhado, desconfortável –
nós, mães, muitas vezes nos sentimos
incomodadas. De novo? O que foi agora? Nós
suspiramos profundamente, gememos,
murmuramos, esfregamos os olhos e
relutantemente arrastamos nossas pernas
cansadas para fora da cama mais uma vez.
Mas essas lágrimas – berradas, frustradas,
desesperadas, e tudo o que existir entre isso, –
estão anunciando muito mais do que o que o seu
bebê quer ou precisa. São gritos que silenciam o
inimigo, que odeia a Deus, odeia a criação de Deus
e odeia o dom da própria vida. As lágrimas
desamparadas de seu bebê estão rasgando o
escárnio do diabo em pedaços. O alcance das
lágrimas do bebê é cósmico (e não estou falando
apenas sobre a altura do som que perfura os
ouvidos). No Salmo 8.1, lemos: “Ó SENHOR, Senhor
nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu
nome! Pois expuseste nos céus a tua majestade”. O
nome do Senhor, isto é, a sua reputação – tudo
sobre quem ele é e o que faz – é exaltado acima de
tudo e de todos que o desafiam.
O versículo 2 continua esse pensamento e nos
compele a ter um sentimento de admiração pela
força de nosso Senhor. Ele magnifica sua força
através da fraqueza. “Da boca de pequeninos e
crianças de peito suscitaste força, por causa dos
teus adversários, para fazeres emudecer o inimigo
e o vingador”. O inimigo de Deus é Satanás, e
Satanás semeia sua amarga vingança ao tomar,
abafar, sufocar e mutilar a vida.Como fez o rei
Davi no Salmo 8, considere a majestade de Deus
na criação do cosmos: “Quando contemplo os teus
céus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas que
estabeleceste, que é o homem, que dele te lembres?
E o filho do homem, que o visites?” (v. 3-4). O
universo criado é um eufemismo quando
comparado à glória do seu Criador. Não há nada
que tire mais o nosso fôlego do que os céus –
exceto o próprio Deus. Os céus que ele criou são
apenas um reflexo da sua glória. A nossa Via
Láctea sozinha é o lar de, pelo menos, 200 bilhões
de estrelas. Quão maravilhadas devemos ficar
quando consideramos a magnitude da infinita
glória de Deus.
Aquele pequeno bebê carrega a imagem daquele
que é Santo. No palco cósmico da glória de Deus
exibida no universo, o choro de uma criança
silencia a vanglória insolente do inimigo de Deus.
Deus ordenou que a vida continuasse apesar da
decadente serva do Diabo, a morte. Deus concedeu
que a vida eterna prevalecesse por meio de seu
Filho, que ressuscitou vitorioso da sepultura, para
nunca mais ver corrupção. Deus dá essa vida
eterna como presente para aqueles que confiam
em seu Filho. A vida está aqui para permanecer
eternamente.
Quando você escutar o choro do seu bebê, ore
por “ouvidos para ouvir” sintonizados
espiritualmente. Ouça como o Espírito convoca o
seu coração em um chamado para adorar o Senhor
soberano. Ele usa as coisas fracas para
envergonhar as fortes (1Co 1.27); que vislumbre
profundamente misterioso do caráter do nosso
Deus, cujos propósitos não podem ser frustrados,
interrompidos ou prejudicados.
Enquanto você estiver ouvindo, observe.
Quando o seu filho pré-escolar chorar por sua
amada colher de plástico azul (“Não, mãe, a
amarela não!”), ou você ouvir o início de uma longa
noite através da estática babá eletrônica, olhe
através dessas janelas de graça com os olhos do
seu coração. Veja evidências da graça de Deus em
dar e manter a vida em nosso mundo caído. Creia
que Deus está com você em seu bom trabalho da
maternidade. Sei que isso é difícil e, muitas vezes,
penoso. Mas, uma vez que “os sofrimentos do
tempo presente não podem ser comparados com a
glória a ser revelada em nós” (Rm 8.18), não
fixemos nossos olhos nessas dores passageiras,
mas em Cristo. Responda aos chamados de Deus à
adoração ao longo de seus dias e noites, servindo e
nutrindo pequeninos desamparados, e adorando o
autor da vida.
6
O Amor de Uma Mãe

“Eu amo você um tanto assim!”


Desde que aprenderam a falar, nossos filhos têm
sido catequizados com a seguinte pergunta quase
todas as noites antes de irem dormir: “Mamãe e
papai amam vocês. Mas quem ama vocês mais do
que qualquer um?”10 Essa pergunta é respondida
com um sonoro “Jesus!” por todas as vozes no
ambiente.
O salmista roga ao Senhor por esse tipo de amor:
“Mostra-nos, SENHOR, a tua misericórdia e
concede-nos a tua salvação” (Sl 85.7).
Jesus anuncia que ele é a resposta ao clamor do
coração do salmista: “Ninguém tem maior amor do
que este: de dar alguém a própria vida em favor
dos seus amigos” (Jo 15.13). Paulo descreve o
amor sacrificial de Jesus em Romanos 5.7-8:
“Dificilmente, alguém morreria por um justo; pois
poderá ser que pelo bom alguém se anime a
morrer. Mas Deus prova o seu próprio amor para
conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós,
sendo nós ainda pecadores”. Alguns versículos
antes, em Romanos 5.5, aprendemos sobre o
ministério consolador do Espírito Santo, que
derrama o amor de Deus em nosso coração.
UMA MÃE AMA PORQUE DEUS A AMOU PRIMEIRO

De fato, o amor inabalável do Senhor é melhor


que a vida (Sl 63.3) porque o seu amor nos dá a
sua vida. Por causa de seu amor, somos capazes de
amar. “Nós amamos porque ele nos amou
primeiro” (1Jo 4.19).
É esse amor – o amor de Cristo – que compele
mães cristãs a amarem seus filhos. O amor de
Cristo em seu coração é o que transborda quando
uma mãe fala gentilmente a seus filhos, mesmo
quando eles não respondem gentilmente. O amor
de Cristo ecoando em sua alma é o que faz com
que uma mãe estenda graça aos seus filhos, que
conseguem ouvir um saco de batatas fritas sendo
aberto do outro lado da casa, mas não conseguem
ouvir certas palavras ditas na presença deles,
como: “Limpe. Seu. Quarto”. O amor de Cristo nos
controla quando falamos as palavras do evangelho
de esperança aos nossos filhos vez após vez. O
amor de Cristo convence as mães a não viverem
para si mesmas, mas a viverem para Jesus, que
morreu e ressuscitou por elas (2Co 5.15).
Uma mãe que tem fé em Jesus Cristo ama por
causa da esperança preservada para ela no céu (Cl
1.4-5). Sabemos que isso é verdade porque a Bíblia
diz que é verdade. Pessoalmente, outra razão pela
qual sei que isso é verdade é porque minha própria
mãe me amou de forma sacrificial e incondicional
por causa de sua fé em Cristo. A fé na graça futura
foi, sem dúvida, o que sustentou o coração da
minha mãe no pesadelo que foi a minha
adolescência. Eu era uma escarnecedora; ela me
amava sinceramente. Eu andei no conselho dos
ímpios; ela me amou o suficiente para me dizer
que eu estava desgarrada. Eu andava no caminho
dos pecadores; ela me amou o suficiente para me
contar sobre o perdão de Jesus. Nenhum vale de
pesadelo de uma mãe é tão escuro que Jesus não
possa suportar seus fardos por todo o caminho.
A esperança na graça futura de Deus por meio de
Cristo Jesus é o que mantém o coração de uma
mãe firme quando tudo o que ela sente é que está
se desfazendo em milhões de pedaços. Sabemos
que, por causa do grande amor do Senhor, não
somos consumidos, e suas misericórdias não têm
fim (Lm 3.22). Mesmo Jeremias, que viu a
desolação de sua amada cidade, colocou sua
esperança no próprio Senhor Deus e não em suas
circunstâncias. Ele reconheceu que as
misericórdias de Deus se renovam a cada manhã
(Lm 3.23). E essa fé na graça futura de Deus foi o
que capacitou Jeremias a dizer: “A minha porção é
o SENHOR, diz a minha alma; portanto, esperarei
nele.” (Lm 3.24). Você não ama a forma como a
Escritura faz o seu coração ficar abalado com as
inescrutáveis maravilhas da glória e ao mesmo
tempo seguro? Imagine – o Senhor é a sua porção.
Não está convencida? Basta olhar para o que o Pai
fez com o seu único Filho (que voluntariamente
deu a si mesmo em seu lugar), a fim de que Jesus
pudesse fazer de você o tesouro dele, e você
pudesse fazer dele o seu.
Estou tentada a apostar tudo o que tenho na
mudança de comportamento, cruzar os dedos e
esperar o melhor. Mas a salvação para as mães e
seus filhos pertence ao Senhor. Nós – todos nós –
devemos depositar a nossa confiança no Filho,
agarrando-nos à sua cruz, e devemos nos alegrar
na esperança da glória de Deus.
O AMOR COMPLICA A VIDA

O amor sacrificial de uma mãe capacitado pelo


Espírito é o que permite que ela voluntariamente
“complique” sua vida para o bem de seus filhos.
Basta pensar nas dificuldades extraordinárias que
você já observou em sua própria vida, na vida da
sua mãe, e na vida de outras mães que você
conhece. Particularmente, as muitas mães adotivas
que conheço dificultaram suas vidas de forma
voluntária e alegre a fim de amarem
sacrificialmente seus filhos. O amor como o de
Cristo encontra espaço, de forma voluntária e
alegre, para as dificuldades, a fim de olhar para os
interesses dos outros. Se recebemos
encorajamento, conforto, afeição e compaixão de
Cristo e fomos enxertados nele pelo seu Espírito,
então devemos transbordar com esse mesmo
encorajamento, conforto, afeição e compaixão que
flui da unidade com Cristo (Fp 2.2). Quando
servimos nossa família, tomamos o cuidado para
não servi-la de uma maneira que aumente o nosso
ego; em humildade consideramos os outros
superiores a nós mesmos (Fp 2.3). Ao criarmos
nossos filhos não existe nenhuma tarefa
demasiadamente humilhante quando temos essa
mentalidade – a mentalidade de Cristo Jesus, o
servo humilde.
Pense em como o Senhor Jesus Cristo, de forma
voluntária e alegre, tornou sua vida difícil para
que pudesse partilhá-la conosco. Embora
subsistisse em forma de Deus, “não julgou como
usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se
esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-
se em semelhança de homens; e, reconhecido em
figura humana, a si mesmo se humilhou,
tornando-se obediente até à morte e morte de
cruz” (Fp 2.6-8). Como se não fosse
suficientemente humilhante para o Criador
tornar-se o Deus encarnado, esse inocente autor
da vida humilhou-se ainda mais, permitindo-se ser
crucificado como um criminoso.
É verdade que os nossos filhos precisam ouvir
constantemente esse evangelho que dá vida. Nós,
mães, precisamos ouvi-lo também.
Lembro-me de como o meu apego ao “eu
primeiro” tornou-se evidente para toda a minha
família em uma manhã de calor no deserto. As
cirurgias no braço de Dave trouxeram alguns
períodos de recuperação muito intensos e dor
física persistente. Às vezes ele não podia tomar
banho sozinho, vestir-se ou alimentar-se. Algumas
vezes tive que colocar meus filhos mais novos ao
lado do meu marido para alimentá-los todos de
uma vez!
Durante uma manhã particularmente difícil,
todo mundo estava pedindo pela ajuda e atenção
da mamãe. Havia duas fraldas para serem
trocadas, ninguém tinha separado suas roupas
para aquele dia, e meu marido precisava da minha
ajuda para abrir o chuveiro e a pia do banheiro. Em
meio aos gritos das crianças, Dave ainda tinha
humor para fazer piada: “Muito bem, crianças!
Quem de nós gritar mais alto vai ter a ajuda da
mamãe para se vestir primeiro!” Eu não ri. Eu não
podia.
Por alguma razão, a amargura que eu senti em
relação à minha situação era tão profunda que
havia criado raízes. Eu estava com raiva, e
suponho que eu tenha ficado com raiva por um
bom tempo. Eu havia esquecido que Deus não é
apático à minha situação. Eu havia deixado de ver
a vida como uma batalha pela alegria em meio à
tristeza em um mundo caído. Naquele momento
eu só queria que todos me deixassem em paz. Eu
disse isso em voz alta com os dentes cerrados:
“Será que todos vocês me deixam em paz, por
favor?” As crianças me ignoraram e continuaram
choramingando. Meu marido saiu do banheiro em
silêncio sem terminar a sua rotina matinal.
Por que eu estava tão vazia de amor pelos
outros? Por que a minha atitude era tão hostil
para com as pessoas que eu mais amava? Em
minhas reflexões em oração acerca desse
incidente, o Senhor graciosamente me revelou que
eu tinha um desejo profundo de satisfazer as
minhas necessidades antes de satisfazer as
necessidades dos outros. Eu percebi como o
trabalho quase incessante pela minha família
havia sido, na verdade, alimentado por tentativas
de reanimar a mim mesma através da minha
própria força e de controlar tudo ao meu redor. Eu
tinha a mentalidade de que se eu pudesse fazer
isso por mais um dia, então eu poderia dormir de
novo e ninguém me incomodaria até a manhã
seguinte (talvez). Eu tinha a ideia de que se eu
descobrisse a tabela de tarefas perfeita, então a
casa ficaria arrumada. Eu pensava que se eu
pudesse encontrar os melhores truques para pais,
então as crianças se apascentariam via piloto
automático. E, claro, eu pensava que se a
deficiência do meu marido finalmente fosse
embora, então todos nós poderíamos continuar
com nossas vidas. Eu havia me esquecido do
Senhor, e esse tipo de amnésia pode lançar uma
sombra profunda na alma.
Amar como Jesus amou é morrer para si mesmo
mil mortes por dia. Há momentos em que não
estamos motivadas pelo amor de Cristo e nos
frustramos com os nossos filhos não porque eles
quebram a lei de Deus, mas porque quebram a
nossa. Podemos superestimar atitudes erradas
insignificantes e discussões inúteis com os nossos
filhos. Podemos negligenciar o bem-estar físico,
emocional e espiritual de nossos filhos. Podemos
refletir sobre nossas vidas mil vezes por dia (e
noite) e ainda assim resistir colocá-las a serviço
dos outros.
Podemos até mesmo servir muito bem os outros,
mas murmuramos o tempo todo que nossos filhos
e marido não estão aplaudindo o suficiente para
parabenizar nossos esforços.
A humildade de Jesus redefine nossas ideias
mundanas sobre o que significa servir os outros.
Ele nos deu um novo mandamento: “Novo
mandamento vos dou: que vos ameis uns aos
outros; assim como eu vos amei, que também vos
ameis uns aos outros” (Jo 13.34). Precisamos ser
redimidos e aperfeiçoados pela graça de Deus.
Precisamos nos submeter ao Salvador que pode
quebrar nossa escravidão de servir e adorar a nós
mesmos. Quando uma mãe confia, pela fé, na
morte expiatória de Cristo, ela vê a morte de seu
pecado na morte de Cristo. “Agora, pois, já
nenhuma condenação há para os que estão em
Cristo Jesus. Porque a lei do Espírito da vida, em
Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte”
(Rm 8.1-2).
A mãe cujo pecado foi sepultado com Cristo na
sua morte foi levantada para uma nova vida na
sua ressurreição. Ela agora é uma escrava da
justiça (Rm 6.18). Ela tem uma nova canção para
cantar – um refrão que ecoará ao longo de seus
dias e noites – uma canção sobre o amor redentor.
NUNCA FAÇA SACRIFÍCIOS

Um dos meus heróis missionários é David


Livingstone, um homem que passou a maior parte
de sua vida perseverando em meio a dificuldades
extraordinárias pela causa do evangelho na África.
Costumo me lembrar do seu exemplo de
perseverança e fé quando estou em cenários do
tipo “acho que poderia ser pior”. Mas não é por
isso que Livingstone me encoraja tanto. A fé
robusta não é forjada por considerar quão mais
agradáveis minhas circunstâncias terrenas são
quando comparadas com as de outra pessoa.
“Sempre poderia ser pior” não pode sustentar o
meu frágil coração. Somente a esperança na
fidelidade duradoura de Deus é uma garantia
inquebrável. Meu coração é fortalecido ao
considerar que nós temos o mesmo Pai celeste,
somos salvos pelo mesmo Jesus, somos habitados
pelo mesmo Espírito Santo e nos alegramos no
mesmo evangelho. Se Deus sustentou esse homem
santo, então ele também pode me sustentar.
Então, o que essa história sobre um missionário
na África tem a ver com maternidade e sacrifícios?
Livingstone fez um discurso na Universidade de
Cambridge que moldou a forma como eu penso
sobre a maternidade. Ele não estava falando
especificamente sobre maternidade; ele estava
falando sobre ter uma perspectiva eterna e sobre o
seu papel como missionário. Quando leio suas
palavras, não posso deixar de pensar sobre como
os mesmos princípios estão trabalhando na minha
vida de mãe, cuja esperança está no evangelho.
Livingstone disse:
Da minha parte, nunca deixei de me alegrar por Deus
ter me nomeado para tal ofício. As pessoas falam do
sacrifício que fiz em gastar tanto tempo da minha vida na
África... Mas será que é um sacrifício aquilo que traz sua
própria abençoada recompensa na atividade saudável, na
consciência de fazer o bem, na paz de espírito e na
brilhante esperança de um destino glorioso depois daqui?
Fora tal visão e tal pensamento! Esse não é enfaticamente
nenhum sacrifício. Mas sim, um privilégio. Quando
abdicamos das conveniências e caridades comuns dessa
vida, a ansiedade, a doença, o sofrimento ou o perigo
pelos quais eventualmente passamos podem nos fazer
parar ou fazer com que o nosso espírito vacile e a nossa
alma afunde; mas isso é só por um momento. Tudo isso
não é nada quando comparado à glória a ser revelada em
nós e para nós. Nunca fiz um sacrifício.

Certamente mães fazem sacrifícios pelos seus


filhos de mil maneiras diferentes a cada dia. Mas
precisamos definir e avaliar essas coisas com uma
perspectiva eterna. Como Livingstone, devemos
perguntar: Será que esse serviço pelo meu filho
que traz sua própria recompensa no bem-estar
dele, na consciência de servir Deus, na paz de
espírito e na brilhante esperança de um destino
glorioso é um sacrifício? Falando de outra
maneira, quando uma mãe triunfa por meio do
evangelho, sua brilhante esperança em Jesus
ofusca qualquer ganho terreno que ela poderia ter
tido ao optar por fazer qualquer serviço que não
fosse mostrar o amor sacrificial de Jesus ao seu
filho.
Então, quando consideramos o chamado, o
trabalho e os sacrifícios da maternidade através
dessa visão, com emoção em nosso coração,
podemos dizer que nunca fizemos um sacrifício.
AMANDO OS SEUS FILHOS PARA A
GLÓRIA DE DEUS SOMENTE

Também é possível que obras feitas em nome do


amor por um filho possam revelar como nossos
corações são como fábricas de ídolos. Tremo só de
pensar em quantas vezes justifico a minha
autoadoração sob o pretexto de “porque eu amo os
meus filhos”, e elevo a mim ou a meus filhos à
posição de Deus. Eu valorizo muito meus filhos e
minhas preferências na criação deles, e valorizo
pouco Deus. Essa continua sendo uma enorme
tentação para mim, visto que caio nessa armadilha
do ego o tempo todo, e é por isso que sou tão grata
pela forma como o evangelho me liberta de buscar
a minha glória na criação de filhos ou em meus
próprios filhos. Meus filhos, embora não possam
articular isso ainda, ficam aliviados quando eu
valorizo Jesus, porque assim eles estão livres do
fardo de serem o centro do meu mundo. Nenhuma
criança deveria ter que arcar com o peso da glória e
da reputação de sua mãe.
Toda mãe pode ser liberta de buscar sua própria
glória ao amar seus filhos para que o nome de
Jesus seja proclamado entre as nações. Talvez a
correção mais pertinente que já recebi à luz dessa
tentação tenha sido o que Jesus disse a Paulo
sobre a vanglória: “Ele me disse: A minha graça te
basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza.
De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas
fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de
Cristo” (2Co 12.9). Será que quero que o poder de
Cristo repouse sobre mim enquanto crio os meus
filhos? Sim, por favor! Então preciso de Jesus para
me livrar do meu desejo de ser adorada por minha
maternidade. Preciso confessar minhas fraquezas
para que eu possa estimar o poder de Cristo.
A soberana graça de Deus me liberta da
preocupação de estar fazendo um trabalho ao
acaso de orquestrar a vida de meus filhos por eles.
O evangelho me lembra de que os planos de uma
mãe não são finais; os de Deus são. Deus foi quem
criou essas crianças, e ele tem muito mais
“intenções intencionais” para glorificar a si mesmo
por meio dessas crianças do que eu poderia
sonhar. Deus fez essas crianças para si – por amor
do seu nome.
Cada mitocôndria em seus pequenos corpinhos
existe para a glória de Deus. O Senhor conhecia o
destino dos nossos filhos antes de o
espermatozóide encontrar o óvulo. Ele comanda o
seu destino desde antes da fundação do mundo.
Ele conhece o número de seus dias e nenhuma
parte de sua história o surpreende. Ele é o Deus a
quem queremos confiar nossos filhos ativamente e
diariamente. O Senhor soberano do universo
merece o nosso reconhecimento cheio de fé de que
nossos filhos são propriedade dele. Todos nós
pertencemos ao nosso Criador. Quando pensamos
que os nossos filhos existem para servir nossos
egos, somos distraídos de nosso propósito
primário de servir nossos filhos ensinando-lhes
quem Deus é e como eles existem para desfrutar
dele. Ao valorizarmos Cristo como a coisa mais
importante de nossas vidas, agimos com
abnegação, serviço ao próximo, perdão de pecados
e graça estendida, e isso serve de ilustração para
os nossos filhos de como Deus é digno de ser visto,
admirado e revelado como a maior esperança que
poderíamos ter. Jesus é aquele que nos ama acima
de todos com seu amor redentor.
7
Mamãe nem Sempre Sabe o que
é Melhor

Mesmo se uma mãe não for seletiva, ela terá que


fazer escolhas. Certa noite, na hora de dormir,
minha filha mais velha se aproximou de mim com
um plano para o cardápio do dia seguinte: “Mãe,
eu tenho uma ótima ideia. Que tal amanhã no café
da manhã comermos cereal. Então, no almoço,
comemos manteiga de amendoim e sanduíches de
geleia com batatas fritas. E no jantar, comemos
aquela sobra de sopa que você fez para hoje”.
Isso soou como um plano maravilhoso para mim,
então eu disse: “Olha só, me parece ótimo”.
Ela acrescentou uma dica: “E, mamãe, você
talvez queira anotar isso tudo. Talvez eu pudesse
desenhar imagens ao lado de cada coisa. Então
você não irá esquecer que nós conversamos sobre
isso, e não terá que pensar sobre isso amanhã”.
Minha filha me conhece muito bem.
Planejamento de cardápio e compras de
supermercado são um obstáculo doméstico para
mim, então eu realmente aprecio sua sugestão.
Parecia que eu havia acabado de descobrir como
cozinhar para dois quando nossa primeira filha
nasceu. Então, quando pensei que havia resolvido
como gerenciar as refeições para a nossa pequena
família, nós nos mudamos para o exterior. Troquei
onças por gramas, dólar por dirham, abobrinha por
tutano, granola por muesli, carne moída por
picadinho, e assim por diante. No primeiro ano em
que moramos fora, o supermercado me deixava
tonta (e muitas vezes chateada) com todas as
formas estrangeiras de comprar e os novos
alimentos que não tinham tabelas nutricionais.
As decisões sobre a forma de alimentar nossa
família, de repente, tornaram-se complexas e
desconcertantes. Havia tanta coisa que eu tinha
que aprender, que isso acabava comigo.
O FARDO DAS DECISÕES

Acho que muitas de nós nos sentimos


sobrecarregadas quando nos tornamos mães.
Sentimo-nos sobrecarregadas com decisões antes
mesmo de o bebê chegar. Qual vitamina pré-natal
eu deveria tomar? Como faço para escolher um
obstetra ou uma parteira? Qual é o melhor
caminho para adoção? Queremos saber o sexo do
bebê? Estamos abertos a adoções inter-raciais ou
internacionais? Devo parar de trabalhar? Quando
devo sair do meu emprego? Como é que vamos
chegar a um acordo sobre o nome do bebê?
Se você embarcou nessa jornada sem saber de
tudo isso, então esse aspecto da maternidade de
ter que tomar decisões provavelmente caiu em
você como uma tonelada de massinha de modelar.
Talvez você tenha ficado chocada pela forma como
as suas escolhas pessoais pareciam rotular você
como uma “mãe-______”. Você talvez tenha ficado
surpresa ao descobrir valores que nem imaginava
que possuía. Você, sem dúvida, deve ter se
entristecido ao ser confrontada com críticas que
não sabia que receberia. E é de se esperar que você
tenha tido alegria ao compartilhar pontos em
comum com novos amigos.
Certamente não faltam decisões a serem
tomadas por uma mãe no curso de um dia. Nossas
escolhas variam de temporais a longo prazo. Onde
uma mãe pode encontrar sabedoria? A decisão
mais importante que uma mãe pode tomar a cada
dia é temer o Senhor e buscar a sua sabedoria.
Tiago 1.5 diz: “Se, porém, algum de vós necessita
de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá
liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á
concedida”. Essa sabedoria do Senhor não é uma
busca trivial ao acaso de versos da Bíblia em que
você folheia as páginas da Palavra de Deus até que
os seus olhos parem em algo que parece bom para
você. A sabedoria de Deus é adquirida ao pedir-lhe
isso, e sua sabedoria é demonstrada mais
profundamente no presente que é o seu Filho. A
cruz de Jesus Cristo é a sabedoria de Deus que
confunde a sabedoria da época. Não há sabedoria
mais profunda ou mais relevante que se poderia
compartilhar do que temer o Senhor e adorar ao
Deus-homem Jesus Cristo.
A tirania das decisões urgentes é ilusória. Muitas
vezes achamos que a decisão mais importante que
precisamos tomar em um dia é sobre a atividade
extracurricular do nosso filho ou se devemos dar a
chupeta ao bebê. Contudo, o que impacta muito
mais as nossas vidas diárias é o fato de estarmos
buscando o Senhor em sua Palavra e através da
oração, para que ele possa nos encher com o
conhecimento da sua vontade em toda a sabedoria
e entendimento espiritual. Mais relevante do que
nossas escolhas ou estratégias maternais é o fato
de estarmos caminhando de maneira digna dele,
agradando-o, frutificando em toda boa obra e
crescendo no conhecimento de Deus (Cl 1.9-10).
FALTA SABEDORIA A TODAS NÓS

Quando eu era uma mãe novata, uma amiga


mais velha me deu um bom conselho: “Assim que
você desvendar uma etapa, outra começa. Então,
não fique muito obcecada com os detalhes”. Acho
que o que ela disse foi muito útil, especialmente
para alguém como eu que se sente desconfortável
com as incertezas da maternidade.
Além da falta de sabedoria devido à nossa
inexperiência, temos um problema mais profundo.
Nosso pecado nos induz a trabalhar para sermos
independentes de Deus. Não desejamos sua
sabedoria. Paulo diz em Romanos 7.18: “Porque eu
sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita
bem nenhum, pois o querer o bem está em mim;
não, porém, o efetuá-lo”. Mesmo quando sabemos
que precisamos buscar a sabedoria de Deus, temos
que lutar contra a nossa carne, que se opõe à
bondade de Deus. Somos pecadores natos; longe
de Cristo somos intolerantes à santidade.
O puritano Thomas Watson disse: “Até que o
pecado se torne amargo, Cristo não será doce”.
Acho que o pastor escocês Thomas Chalmers, que
pregou sobre “o poder expulsivo de uma nova
afeição”, teria acrescentado: até que Cristo se torne
doce, o pecado não será amargo.
Nossa afeição equivocada pelo pecado precisa ser
expulsa do trono em nosso coração por um poder
superior. Precisamos de um novo coração. Nossas
afeições santas precisam ser conduzidas através da
habitação do Espírito Santo, que inclina o nosso
coração para amar Jesus e para ser atraído por sua
santidade. Nada menos que isso é suficiente. “Não
conheço nenhum outro caminho para o triunfo
sobre o pecado de longo prazo do que ganhar um
desgosto por ele por causa de uma satisfação
superior em Deus.”11
Não podemos simplesmente mudar a nossa
carne e o nosso amor pelas coisas do mundo
criticando todas as maneiras pelas quais ficamos
decepcionadas com o nosso pecado ou o mundo.
Talvez você já tenha notado como é ineficaz
reclamar com suas amigas sobre quaisquer
decepções que você tenha tido com a maternidade.
Simplesmente discutir sobre essas decepções não
provoca em nós um senso da esperança em Deus.
Remoê-las é uma cura incompleta e, em última
análise, inútil para os males do coração. Esse tipo
de atitude não é mais distintamente cristão do que
o hedonismo de uma mãe que idolatra sua
maternidade.
A profundidade da nossa depravação e a
inclinação do nosso coração para se justificar
significam algo importante. Significam que apenas
lamentar a corrupção do mundo é uma maneira
incompetente de resgatar e recuperar o nosso
coração cativo de afeições erradas. Nosso coração
precisa ser redimido por Jesus e feito novo.
O poder superior da afeição e devoção a Jesus
pode fazer o que nenhuma lamentação do mundo
ou das bênçãos que Deus nos dá, como a
maternidade, poderia fazer. Simplesmente mostrar
como você, por exemplo, constantemente cai em
determinadas armadilhas e ciladas não é
suficiente. Você precisa introduzir uma afeição
maior à alma, uma que seja “poderosa o suficiente
para livrar a primeira de sua influência”.12 Essa
afeição maior deve ter a capacidade de satisfazer o
coração como nada mais. É como quando você
prova o cheesecake caseiro estilo nova-iorquino,
que não se compara a nenhuma mistura de
cheesecake de caixinha. Essa afeição mais excelente
é o que torna todas as tentações e ídolos patéticos,
ridículos e banais.
COMO PODEMOS AMAR A SABEDORIA?

Quando os bebês começam a comer alimentos


sólidos, tomamos muito cuidado para alimentá-los
com comidas nutritivas que sejam apropriadas à
idade deles. Atentamos para a textura,
temperatura e quantidade porque os bebês não
sabem como fazer isso por si mesmos.
Como você está se alimentando espiritualmente?
Você está faminta pela sabedoria de Deus? Você
almeja a Palavra de Deus acima de todas as
informações, notícias e atualizações de status que
estão disponíveis para você? Todos os dias nos
deparamos com a tentação de nos questionarmos
sobre “como fazer” qualquer coisa e levamos isso
ao extremo. Em si mesmos, as dicas, os guias
práticos e sites para as mães são muito úteis.
Precisamos de ajuda prática. Acabei de verificar o
histórico de pesquisa no meu navegador e nas
últimas 48 horas procurei respostas para sete
perguntas práticas de “como fazer”.
Mas me esforçar para aprender coisas práticas
para a vida não é o meu problema. Meu maior
problema é que vivo sob a ilusão de que posso
fazer qualquer coisa por esforço próprio enquanto
digo, da boca para fora, que preciso da sabedoria
de Deus. Meu coração precisa entender que não
posso fazer nada graciosamente para a glória de
Deus sem a orientação e ajuda do Espírito Santo. A
doutrina bíblica a esse respeito sustenta o meu
coração com a verdade de Deus e me dá a
sabedoria que preciso para entender que o meu
maior problema não é fazer muitas coisas ao
mesmo tempo, ou a falta de experiência com a
maternidade ou com a vida doméstica. Mães que
nutrem sua alma com a Palavra de Deus
prosperam à medida que seus corações são
ensinados pela sabedoria de Deus.
Listas de tarefas são ótimas ferramentas, mas
elas têm o seu lugar subordinado à sabedoria de
Deus. Tendemos preferir listas de coisas a fazer
quando se trata de questões difíceis sobre as quais
devemos tomar decisões. “Apenas me diga o que
fazer!” Ouço isso muitas vezes quando aconselho
mulheres que sentem que estão entre a cruz e a
espada. A Teologia tem muito a contribuir para a
mãe que toma decisões – difíceis ou fáceis. A
Teologia é onde a prática começa. Olhe para a
Escritura!

O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria,


e o conhecimento do Santo é prudência. (Pv
9.10)
E disse ao homem: Eis que o temor do Senhor
é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o
entendimento. (Jó 28.28)

O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria;


revelam prudência todos os que o praticam. O
seu louvor permanece para sempre. (Sl 111.10)

O temor do SENHOR é a instrução da


sabedoria, e a humildade precede a honra. (Pv
15.33)

Escrevo com a autoridade de uma mulher que


nutriu a alma com muita besteira e sofreu de
dolorosas cáries espirituais. Conselho espiritual
que tem “calorias vazias” ou é desprovido da rica
doutrina bíblica não pode e não irá satisfazer uma
alma que foi feita para ser satisfeita apenas com
um Deus infinito. “Provai e vede que o SENHOR é
bom; bem-aventurado o homem que nele se
refugia” (Sl 34.8). Precisamos humildemente abrir
nossos corações antes de abrir os sites de busca à
procura de respostas. O Salmo 34.18 diz: “Perto
está o SENHOR dos que têm o coração quebrantado
e salva os de espírito oprimido”. Deus, nosso sábio
Pai, livremente dá sabedoria a qualquer um dos
seus filhos que lhe pedir (Tg 1.5). Ele nos dá sua
sabedoria e nos satisfaz com ele mesmo, a fim de
nos salvar de vagar pelo deserto e morrer de
desidratação espiritual.
Jesus é a sabedoria de Deus. Sua cruz é a mais
profunda expressão de sabedoria que o Santo Deus
já demonstrou. A obra expiatória do Cordeiro de
Deus confunde a sabedoria da nossa era. Por meio
de sua morte na cruz, Jesus nos leva direto ao
nosso Pai através de si mesmo – o único mediador
entre Deus e o homem. Jesus nos oferece a si
mesmo e sua sabedoria livremente:

Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às


águas; e vós, os que não tendes dinheiro, vinde,
comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem
dinheiro e sem preço, vinho e leite. Por que
gastais o dinheiro naquilo que não é pão, e o
vosso suor, naquilo que não satisfaz? Ouvi-me
atentamente, comei o que é bom e vos
deleitareis com finos manjares. Inclinai os
ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma
viverá. (Is 55.1-3)

Seguir Cristo, amar Cristo e obedecer a Cristo


são, sem dúvida, as decisões mais importantes que
qualquer mãe poderia tomar. E o seguir adiante
com essas decisões deve acontecer dia após dia.
8
As Boas-Novas nos Dias
Maus

Não todos os dias, mas em alguns dias, a hora da


soneca demora a chegar, porque quem está tendo a
crise da tarde é a mamãe. Lembro-me de um dia
em que os meus filhos mais velhos estavam
passando por um ciclo repetitivo de lamentação e
agitação, e eu perguntei em voz alta: “Quando é a
vez de a mamãe ficar chateada?” Um deles
realmente parou e respondeu pensativo: “Tudo
bem, mamãe. Pode ser a sua vez. É justo”.
Até mesmo as mães que não têm feito “birras”
há algum tempo podem se identificar com a
sensação de que já aguentaram o suficiente
quando chegam ao final do dia cansadas,
emocionalmente esgotadas e irritadas. Para
muitas de nós, a frustração decorre das
expectativas irracionais que temos para nós
mesmas. Em vez de sentirmos o doce alívio e a
satisfação que vêm de um longo dia de trabalho
árduo e bom, remoemos os erros, as
oportunidades perdidas e os pontos negativos.
“Não há mães perfeitas”, nós dizemos, mas
morreremos tentando provar que podemos ser a
exceção.
Outras mães são sobrecarregadas com a logística
da própria vida. Essa foi uma frustração na qual
me afundei quando mudamos para o exterior, em
uma fase difícil durante a minha segunda gravidez
e com o agravamento da deficiência física do meu
marido. A vida em si parecia impossível, quanto
menos uma vida transbordando de alegria. Foi
durante esse tempo que me convenci de que
clichês de encorajamento sobre a vida são como
fraldas baratas. Somente o evangelho pode fazer
sua fé perseverar em meio a uma crise espiritual.
Muito frequentemente nos contentamos em jogar
bastões luminosos de clichês na escuridão das
nossas dúvidas. Mas sua luz e conforto
desaparecem rapidamente.
Talvez os sentimentos mais temerosos em meio
a essas frustrações venham de um pensamento
sombrio em particular. É uma mentira na qual
somos tentadas a acreditar. Esta ideia tem mais a
ver com carma do que com graça: suspeitamos que,
dependendo de como foi o dia, essa é forma como
Deus se sente a nosso respeito.
APENAS SE DAR UMA FOLGA É SUFICIENTE?

Qual é a nossa esperança quando uma


inundação de frustrações domésticas ameaça nos
arrastar para o mar do desânimo? É que essa é
apenas uma fase que passará?
Talvez você seja a mãe frustrada ou a mãe que
está buscando encorajar outras donas de casa
desesperadas. O cotidiano das mães ao redor do
mundo é diferente, mas a nossa esperança é a
mesma. Todas nós precisamos experimentar a
realidade concreta de uma esperança que é para
todas as fases e jamais passará. Mães frustradas e
donas de casa desesperadas têm um problema que
vai muito além da nossa necessidade de uma
pausa na rotina diária, embora o descanso físico
seja uma necessidade diária.
Negar que temos dias maus só funciona até o
próximo dia mau chegar. Apenas nos dar uma
folga de vez em quando não nos manterá
descansadas a longo prazo.
O que todas nós precisamos é ser resgatadas do
nosso pecado pelo Filho, que foi separado do Pai
ao tomar sobre si o nosso pecado, para que
pudéssemos ser unidas a Deus por meio de sua
graça para sempre. O que precisamos ver é a luz do
conhecimento da glória de Deus na face de Jesus
Cristo brilhando em nosso coração (2Co 4.6).
Somente a luz resplandecente do evangelho
pode dissipar as nossas dúvidas sombrias e
iluminar o pecado do qual precisamos nos
arrepender. Por meio da luz do evangelho, vemos
como a bondade de Deus nos leva ao
arrependimento. E, por sua graça, Deus sujeita
nossas circunstâncias de frustração aos seus
propósitos em nossa vida. Deus usa essas
situações para nos fazer crescer na semelhança de
Cristo, repugnar o nosso pecado e ensinar o nosso
coração a ansiar pela graça futura. Amo o que Ed
Welch disse sobre a esperança na graça futura de
Deus: “Seu futuro inclui maná. Ele virá. Não faz
sentido elaborar cenários futuros agora porque
Deus fará mais do que você imagina. Quando você
entende o plano de Deus da graça futura, você tem
acesso àquilo que é, sem dúvida, o remédio mais
potente de Deus contra a preocupação e o
medo”.13
À medida que fazemos nosso trabalho de casa,
precisamos ver com os olhos do nosso coração que
Cristo é a justiça de todo aquele que crê (Rm 10.4).
Isso significa que nós não tentamos lavar ou
consertar os trapos da nossa justiça própria, como
se eles nos recomendassem a Deus. Jesus é a nossa
recomendação. Não polimos nossos troféus de
realização doméstica como se eles nos dessem
confiança diante do trono de Deus. Cristo é a
nossa confiança. É como Jerry Bridges disse em
seu livro The Discipline of Grace: “Seus piores dias
nunca são tão ruins a ponto de você estar além do
alcance da graça de Deus. E seus melhores dias
nunca são tão bons a ponto de você estar além da
necessidade da graça de Deus”.14
Cristo é a nossa justiça, e ele é o mesmo ontem,
hoje e sempre (Hb 13.8). Por isso, não nos
atrevamos a colocar nossa confiança no melhor dia
de todos ou na mais doce das emoções; também
não devemos tremer de medo porque tivemos o
pior dia de todos e a mais amarga das atitudes.
Deleitemo-nos em Jesus que se tornou para nós
sabedoria de Deus, nossa justiça, santificação e
redenção (1Co 1.30). Nosso deleite em Jesus
transborda em louvor, e o Espírito produz o seu
fruto em nossas vidas para que Deus receba a
glória.
“TEMPO DE NECESSIDADE?”
ISSO É O TEMPO TODO NA MINHA CASA!

Mães frustradas e donas de casa desesperadas


podem aproximar-se do trono da graça de Deus
todos os dias. Não temos que esperar até o
próximo dia mau. Jesus, nosso Sumo Sacerdote,
está à direita do Pai intercedendo por nós,
pecadores impotentes que confiam no sacrifício
que ele fez na cruz em nosso lugar. “Assim sendo,
aproximemo-nos do trono da graça com toda a
confiança, a fim de recebermos misericórdia e
encontrarmos graça que nos ajude no momento da
necessidade” (Hb 4.16, NVI).
Uma amiga minha uma vez comentou: “Tempo
de necessidade? Isso é o tempo todo na minha
casa!” Não há melhor momento do que o tempo
todo para ousadamente pedirmos a Deus por
misericórdia e graça. Seu Pai cuida de você, Jesus
não a abandonou, e o Espírito traz segurança ao
nosso coração (Rm 5.5).
O Senhor é o seu pastor? Ele não deixará você
desprovida. Deus nos dá essa mordomia da graça
segundo as suas riquezas na glória em Cristo
Jesus, e ele nos capacita a fazer o que nos chamou
para fazer. Todos os dias!
A maternidade é um trabalho desgastante
fisicamente e que nos esgota emocionalmente.
Onde uma mãe pode encontrar a força de que
precisa para servir a sua família? De Deus, que
“pode fazer-vos abundar em toda graça, a fim de
que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência,
superabundeis em toda boa obra” (2Co 9.8).
Mesmo quando as nossas costas desistem, e o
nosso corpo está cansado, Deus pode fortalecer as
mães “com todo o poder, segundo a força da sua
glória, em toda a perseverança e longanimidade;
com alegria” (Cl 1.11). Ação de graças é a resposta
apropriada a Deus, uma vez que ele estende a
todas nós a herança da graça que temos em Cristo
(Cl 1.12).
Assim, embora você esteja sem fôlego com todo o
trabalho árduo, você está respirando – o que é um
motivo de louvor! Quando você se sentir
desesperada por alívio, isso é um lembrete de que
você está desesperada pela graça de Deus.
Agradeça ao Senhor pela bênção de sentir
necessidade dele. Você sabe onde está exatamente
agora? Você pode estar lendo este livro em seu
carro enquanto espera para pegar seus filhos na
escola. Mas você sabe onde você está? Você foi
ressuscitada com Cristo? Você está em Cristo,
sentada nos lugares celestiais com ele. Então,
coloque a sua mente nas coisas que são de cima,
onde Cristo está (Cl 3.2). Você pertence a ele, que
ressuscitou dentre os mortos? Frutifique para
Deus (Rm 7.4). Quando o seu dia for difícil demais
para você aguentar, e as coisas parecerem estar
girando fora de controle, respire fundo e lembre-
se: “O nosso Deus é o Deus libertador; com Deus, o
SENHOR, está o escaparmos da morte” (Sl 68.20).
Há promessas compradas pelo sangue que são
suas para ajudá-la nesses momentos específicos.
Cada dia que o sol nasce e se põe nos serve de
lembrança de que virá um dia quando a vontade
de Deus será feita tanto na terra quanto no céu.
De todas essas formas e muitas outras, mães
podem receber o reino de Deus mesmo em meio às
suas vidas atarefadas.
MELHOR DO QUE MAIS UM BEIJO DE BOA NOITE
Todos que em nossa casa têm menos de 1,20
metro de altura tendem a ficar um pouco doidos
por volta das 19 horas. Uma sábia amiga me
lembra frequentemente de que dias estão vindo
em que o quadro mudará. Algum dia eu terei que
convencer meus filhos a acordar e sair de suas
camas. Esses dias parecem muito distantes.
Crianças pequenas tendem a se sentir mais
vulneráveis à noite. É escuro lá fora, a atividade da
casa está sendo encerrada, e elas ouvem o refrão
“sem mais” da hora de dormir: sem mais copos
com canudinho, sem mais lanches, sem mais jogos,
sem mais brinquedos, sem mais cambalhotas.
E então é a deixa para a resposta “só mais um”
do coro: Só mais um livro? Só mais um gole de
água? Só mais um abraço? Só mais um beijo de boa
noite?
Pela graça de Deus, o fruto da paciência e
mansidão do Espírito Santo cresce e amadurece
nesses momentos. Deus recebe a glória por me dar
a força que preciso para ser gentil com os meus
filhos quando estou apressada ou irritada no final
de um dia muito longo. E, nos momentos em que
deixo o fruto do Espírito apodrecer por causa da
minha pecaminosidade, o Senhor me dá a graça
que preciso para me desculpar com os meus filhos
pela minha pressa, insensibilidade e palavras
grosseiras. A horas de dormir é uma experiência de
amadurecimento para todas nós. Eu asseguro
meus filhos da minha presença. “A mamãe só vai
para a sala, e depois vou dormir no meu quarto.
Eu estou aqui.” Eu deixo lembretes e coisas para
ajudá-los a dormir: “Aqui está o xerife e o
astronauta do Judson, aqui está o travesseiro rosa
da Aliza, e aqui está o unicórnio da Norah – e
ursinhos, e pulseiras, ah, e bonecas. Deixei a
música de vocês programada, e a luz do banheiro
está acesa caso precisem ir até lá”.
Eu lhes dou carinho extra para mostrar a eles
que os amo: “Mais um beijo para você, e você, e
você. E mais um abraço para você, e você, e você”.
Mesmo assim, os suspiros e protestos podem
aumentar. Repito um último verso como um
lembrete da presença de Deus e de seu cuidado
paternal por eles: “Vocês podem dormir em
segurança porque o Senhor nunca dorme, e ele
está cuidando de vocês. Até mesmo a escuridão é
como a luz do dia para ele, de forma que ele
sempre pode ver vocês. Se vocês se sentem
ansiosos, então orem a Deus e lhe digam tudo
sobre isso, porque ele os ama muito e pode ajudá-
los”.
Mas, por fim, tenho que sair. Tenho que dar-lhes
um último beijo, dizer um boa noite final e fechar
a porta do quarto. O que meus filhos achariam
muito melhor do que todas essas garantias
externas do meu amor e cuidado por eles? Uma
presença interna, permanente. Em seu quarto,
especificamente: “Mamãe, por que você não fica
mais tempo? Ou dorme no nosso quarto?” Eles se
sentem mais seguros com a minha presença
constante.
Essa cacofonia na hora de dormir é um
vislumbre da graça que me faz lembrar de que
parte do ministério do Espírito Santo na minha
vida é acalmar meus medos ansiosos, e me dar paz
e segurança quando me sinto insegura em relação
ao cuidado e amor de Deus.
A separação da nossa alma para Deus é um
trabalho eficaz e incontestável do Espírito. Por
várias razões, há momentos em que os crentes não
se sentem particularmente perto de Deus, mas nós
permanecemos em Cristo por causa da presença
interior do Espírito Santo. O Espírito Santo não
tolera nenhum “colega de quarto” quando passa a
habitar em você. Ele nunca pode receber um aviso
de despejo; sua locação é permanente. Comecei a
apreciar mais essa garantia ao refletir sobre os
testemunhos de crentes em Cristo que haviam sido
previamente influenciados ou possessos por
espíritos imundos. Mortos em suas transgressões
e submetidos às vontades dos espíritos imundos,
esses homens e mulheres se comportavam de
acordo com o caráter impuro e ímpio do espírito
que ocupava a “casa” deles. Quando o Espírito
Santo passou a residir neles permanentemente,
eles foram selados para sempre. Da mesma forma,
se você está em Cristo então a presença do
Espírito é a sua garantia de que você está selado e
marcado para o Pai celestial para sempre. O
Espírito é Deus, e a sua obra eficaz e inalterável é
uma realidade objetiva que não pode ser negada
nem confirmada por suas emoções subjetivas (Ef
1.13-15), nem ameaçada por nenhum espírito
imundo.
Certamente, nossos corações são encorajados
pelas lembranças e evidências que vemos do amor
de Deus por nós em todas as coisas ao nosso redor.
Vemos a graça comum de Deus, sua divina
providência e muito mais!
Mesmo quando sentimos que estamos
enlouquecendo por causa deste ou daquele
sentimento de incerteza ou vulnerabilidade,
podemos desfrutar da segurança interna e
permanente que recebemos do Espírito Santo (Is
59.21), que derrama o amor de Deus em nosso
coração. Veja quanta coisa Deus fez a fim de que o
nosso coração inseguro pudesse ser confortado
pelo seu amor!
Com essa perspectiva sobre a nossa verdadeira
esperança e a fonte do nosso conforto, podemos
ver o brilho da oração de Paulo e pedir ao Senhor
que faça o mesmo por nós: “Ora, o Senhor conduza
o vosso coração ao amor de Deus e à constância de
Cristo” (2Ts 3.5).
9
A “Mãe do Ano”

Certo ano, no Natal, eu acidentalmente joguei


fora o biscoito que minha filha havia
meticulosamente decorado. Ela ficou tão chateada
comigo que eu ouvi sobre o incidente do biscoito
até bem depois do Ano Novo. Suponho que, ao
mesmo tempo que me atrapalhei jogando o
biscoito no lixo, também joguei fora minha
indicação para Mãe do Ano.
É claro que não existe uma premiação real de
“Mãe do Ano”, mas falamos isso como se fosse
uma brincadeira divertida. A realidade, porém, é
que toda mãe falha em refletir perfeitamente a
imagem de Deus em sua maternidade. O que não
parece tão divertido é o sentimento de culpa que
experimentamos quando consideramos
sinceramente nossas deficiências.
E OS NOMEADOS NÃO SÃO...

Que mãe não é atormentada por seus


sentimentos de inadequação e culpa sobre os seus
erros? Uma amiga me disse que sempre evita
reuniões de mães porque se sente esmagada com
toda a “perfeição” que ela vê. É possível
simpatizar-se com os sentimentos dela. Imaginar
uma sala cheia de pessoas cujas apresentações de
vida trazem à tona nossos sentimentos de
insegurança e culpa faria até mesmo a pessoa mais
confiante se sentir constrangida.
Aquelas de nós que raramente ficam inseguras
também sentem naturalmente a dificuldade em
corresponder à santidade de Deus. E com razão. O
Senhor graciosamente nos criou com uma
consciência que testemunha essa ideia – nenhuma
de nós é “boa” pelos padrões de Deus.
Mesmo que não tenhamos cometido erros graves
dos quais estejamos cientes, não precisamos olhar
muito profundamente o nosso coração para
descobrirmos nossa pecaminosidade. Usamos
nossos filhos para encher o nosso ego e
parecermos boas. Criticamos outras mães a fim de
aliviar nossos sentimentos de insegurança.
Deixamos de amar nossos filhos com amor
altruísta e sacrificial. Negligenciamos nossos filhos
em nome do ministério. Quebramos comunhão
com nossas irmãs cristãs por causa de questões
mesquinhas sobre preferências de criação de filhos.
Damos mau exemplo e ensinamos nossos filhos a
valorizarem mais a opinião do mundo do que a de
Deus. E essas são apenas algumas das maneiras
que falhamos em viver de forma justa.
Há também outros padrões impossíveis que nós
inventamos e aos quais nos apegamos. Sentimos
vergonha de projetos que começamos e não
terminamos. Sentimo-nos culpadas por nossos
filhos não estarem “se saindo” como tínhamos
planejado. Tropeçamos na armadilha do “temor do
homem” e vivemos para a aprovação de outras
mães. Ficamos com raiva dos sonhos de perfeição
materna que poderiam ter acontecido. Somos
nossas críticas mais severas, aplicando punição
para crimes contra os nossos frágeis egos.
Olhando para essa lista, percebo que não foi muito
difícil chegar até ela; estou bem familiarizada com
essas questões. Quando olho para a minha
trajetória de mãe, há mais coincidências felizes e
fracassos do que fantásticas proezas de fé.
Que esperança tem uma mãe imperfeita?
Contra o pano de fundo desse panorama
desolador, o evangelho brilha mais forte e dá uma
esperança mais durável que as promessas vazias de
autorrealização e o encorajamento de curta
duração do otimismo do copo-meio-cheio. O
evangelho muda a forma como vemos os nossos
fracassos, e vemos como Deus redime nossas
falhas para a sua própria glória. Deus libertou a
mãe cristã do domínio das trevas e a transferiu
para o reino do seu Filho amado, em quem ela tem
redenção e perdão dos pecados (Cl 1.13). No
evangelho, ouvimos sobre como temos graça para
hoje e esperança resplandecente para o amanhã.
O evangelho da graça diz que Deus aceita você
em Cristo, e, então, ele lhe dá a posição justa de
seu filho como um presente por meio da fé. Não
nos tornarmos santos primeiro para que, então,
Deus nos aceite. Nossa posição em Cristo permite
que tenhamos acesso a uma série de alegrias que
transformam a nossa maternidade. Entre essas
alegrias está experimentar o poder incomparável
da habitação do Espírito Santo para resistir à
tentação e fugir do pecado. Mas, antes de
chegarmos a isso, vamos celebrar o quão firme a
nossa fundação da justificação pela fé realmente é.
A CRUZ REVELOU TODA A NOSSA ROUPA SUJA

Levantamo-nos para nos defender de coisas


mesquinhas. Retratamo-nos sobre coisas tais como
quanto pagamos por algo, por que uma criança
respondeu de uma determinada maneira ou por
que a bancada da cozinha está uma bagunça.
Também justificamos coisas que são um grande
problema – como o nosso pecado. Vestimos a
máscara da autojustiça para encobrir o mal
escabroso em nosso coração. Esfregamos nossa
consciência culpada com os trapos sujos de nossas
boas obras.

Todos nós somos como o imundo, e todas as


nossas justiças, como trapo da imundícia; todos
nós murchamos como a folha, e as nossas
iniquidades, como um vento, nos arrebatam. (Is
64.6)
A Bíblia diz que fingir que não temos pecado é
inútil, porque a cruz já anunciou ao mundo quão
culpados nós somos. Precisamos de um Salvador,
não de um guru de autoajuda. Nossa “roupa mais
suja” já foi revelada. Nosso pecado ofendeu um
Deus infinitamente santo, de forma que foi
necessária a morte do Filho perfeito de Deus para
nos resgatar do castigo eterno que merecemos. É
por isso que Jesus morreu em nosso lugar na cruz.
A graça que nos foi dada por meio da cruz nos
liberta do pesado fardo da pretensão diante dos
outros e (o mais importante) diante de Deus.
Por meio do evangelho, Deus faz algo melhor
para nós do que simplesmente negar a nossa
culpa. Deus tira de nós os nossos trapos imundos
e nos veste com a justiça de Cristo.

Regozijar-me-ei muito no SENHOR, a minha


alma se alegra no meu Deus; porque me cobriu
de vestes de salvação e me envolveu com o
manto de justiça, como noivo que se adorna de
turbante, como noiva que se enfeita com as suas
joias. (Is 61.10)

Irmã, isso significa que você pode descansar!


Você pode deixar de lado qualquer noção de
trabalhar pela aprovação de Deus e descansar em
Cristo. Sua posição justa diante de Deus é algo que
Cristo realizou e sempre mantém por você. Não há
uma única coisa sequer que alguém possa fazer
para alterar o que Jesus fez. Essa graça nos liberta
da escravidão do pecado e do pesado fardo da
pretensão, e nos impulsiona a compartilhar com
outros como eles podem ser libertos também.
Então, por que nos escondemos de Deus? Por
que entorpecemos a nossa alma com nossa
anestesia preferida para tentar nos livrar da
convicção do Espírito Santo? Por que suamos e
ficamos tensos sob o peso da pretensão na frente
dos amigos que foram salvos pela mesma graça
dada a eles pelo mesmo Salvador, ou na frente de
amigos que não sabem que a graça também pode
libertá-los? Não temos nenhuma boa razão para
temermos confessar nossos pecados ao Senhor ou
a nossas confiáveis irmãs em Cristo. Temos todas
as razões para nos gloriarmos na cruz e
confiarmos em Jesus como o nosso departamento
de relações públicas. Milton Vincent diz sobre a
graça da cruz: “Com os piores fatos sobre mim,
portanto, expostos à vista dos outros, encontro-
me pensando que realmente não tenho nada mais
a esconder”.15 John Bunyan descreve a nossa
justificação como um grande mistério: “E, de fato,
este é um dos maiores mistérios do mundo; a
saber, que uma justiça que reside no céu deve
justificar-me, um pecador na terra!”16 Esse é, de
fato, um mistério exuberante!
Se você está em Cristo, então não há pecado que
você possa cometer cujo castigo já não tenha sido
tratado na cruz. Sofremos consequências pelo
nosso pecado – relacionamentos quebrados, danos
físicos, uma reputação arruinada e outros. Mas,
mesmo assim, a sua justificação em Cristo está
intacta. Deus não mudará e não muda de ideia. Ele
sabia as piores coisas a seu respeito, e sabia das
suas tendências à autojustiça quando lhe declarou
justo pelo amor de Jesus.
O veredito está dado, irmã: Jesus pagou tudo.
Somos justos em Cristo, perdoados de nossos
pecados e livres para amarmos o Senhor e o
próximo como Jesus nos amou (Jo 13.34), à
medida que o amor de Cristo nos controla (2Co
5.14). Podemos nos livrar do pecado que tão
facilmente nos enreda, e percorrer com
perseverança essa aventura da maternidade que
Deus nos deu. Não vivemos mais para nós
mesmas, mas para Aquele que morreu por nós e
ressuscitou (2Co 5.15). Isso é mais do que apenas
uma boa notícia para nós; é uma boa notícia para
os nossos filhos e para outras mães com as quais
passamos o tempo. Em vez de ficarmos
preocupadas com a construção do nosso próprio
reino, podemos assumir o ministério de
reconciliação que Deus nos deu. “De sorte que
somos embaixadores em nome de Cristo, como se
Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de
Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com
Deus. Aquele que não conheceu pecado, ele o fez
pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos
justiça de Deus” (2Co 5.20-21). Quando você
descobre que é a destinatária indigna da graça
abundante de Deus, você não consegue evitar
compartilhar isso com os outros.
MESMO SUPERMÃES PRECISAM DA GRAÇA DE DEUS

Conselhos sobre coisas tais como a escolha de


uma cadeirinha de carro segura ou como ensinar
um pré-escolar mimado a comer uma refeição bem
equilibrada são fáceis de encontrar. Instruções
sobre como amar o próximo e como criar seus
filhos também estão prontamente disponíveis. O
que estamos menos propensos a encontrar é o
encorajamento para considerar como o evangelho
transforma nossa maternidade.
Meu coração orgulhoso quer muito ser uma
supermãe e que outras mães pensem que sou uma
supermãe. Às vezes prefiro me gloriar em coisas ao
invés de me gloriar na graça de Deus. O orgulho se
mostra de muitas formas. Quando somos tentadas
a nos deleitar na aceitação dos outros, precisamos
nos aproximar do trono da graça de Deus.
Podemos ter confiança de que Deus ouve as nossas
orações, vem em nosso auxílio e reforça a nossa
esperança nele por causa do que Cristo fez por nós
na cruz. O orgulho nos induz a nos preocuparmos
com o amanhã, como se pudéssemos controlá-lo
com a nossa ansiedade. Nesses momentos de
tensão precisamos lembrar que a graça de Deus
ainda será suficiente amanhã. Isso significa que
temos toda a graça de que necessitamos para
agora. E quando o amanhã se tornar o agora, Deus
nos dará a graça de que precisamos naquele
momento também. A graça futura de Deus em
Cristo é mais real do que todas as situações
hipotéticas e cheias de ansiedade que ameaçam
nos manter acordadas à noite.
O orgulho mostra-se em nossas interações com
nossos filhos também. Por exemplo, em momentos
cheios de frustração humilhamos nossos filhos por
mera infantilidade, insinuando que, naquele
momento, não há graça disponível para eles. Em
vez de juntos nos maravilharmos com a graça da
qual todos nós precisamos, distribuímos culpa
para suas jovens consciências carregarem. Nosso
coração orgulhoso é relutante em render-se à graça
de Deus que é dada a nós e a nossos filhos.
Sei que o meu orgulho vive em uma casa de
espelhos. Vislumbro lampejos do pecado que há
em mim e hesito em acreditar: Eu sabia que estava
errada! Esse não é o meu verdadeiro eu. O meu
verdadeiro eu só precisava ser lembrado disso a fim de
ser o melhor de mim que eu sei que sou. Você luta com
isso também? Mais do que nunca, quando
ouvimos nós mesmas orgulhosamente justificando
o nosso pecado, devemos resistir à mentira que diz
que a nossa mais profunda necessidade é o
esquecimento. Precisamos de um Salvador! O
evangelho fala de Jesus, que é o único que
realmente amou o seu próximo. O precioso sangue
de Cristo é o meio pelo qual o nosso pecado é
expiado – não é através da negação ou da
autojustificação ilusória.
Como mulheres que querem se gloriar em suas
fraquezas, servir com a força de Cristo e se
regozijar no sangue de Cristo que cobre todos os
seus pecados, temos algumas perguntas diretas
para nos fazer:

Por que tentamos tomar de volta de Cristo


algumas das vergonhas que ele sofreu por nossa
causa?

Por que queremos ter de volta o fardo de nossa


culpa que Jesus levou na cruz? Só para
podermos perseguir uma sombra de dignidade
hipócrita?

Será que o nosso pecado está além do alcance


da graça transformadora de Deus?
Nós realmente nos atrevemos a sugerir que a
obra de Cristo na cruz não é suficiente para
cobrir as nossas fraquezas, tolices e falhas como
mãe?

Nós realmente nos atrevemos a devolver a


Deus sua sentença afirmativa – “Esse pecador
está justificado!” – para que possamos vagar um
pouco mais no Purgatório das Mães?

Certamente a graça de Deus é totalmente


irresistível e infinitamente mais adorável que
qualquer vanglória que possamos ter. “A graça
irrompeu espontaneamente do seio do amor
eterno e não descansou até retirar todo
impedimento e encontrar seu caminho até o
pecador, crescendo ao seu redor em pleno fluxo. A
graça acaba com a distância que o pecado havia
criado entre o pecador e Deus. A graça encontra o
pecador onde ele está; a graça se aproxima dele
assim como ele é”.17
LEVANTA-TE, MINHA ALMA, LEVANTA-TE

Nossa garantia não está baseada em sabermos as


coisas certas a se fazer ou em pensarmos que, se
tivéssemos a chance, faríamos melhor. Nenhuma
autodepreciação ou boas intenções podem expiar o
pecado diante de um Deus santo. Não, nós somos
representados por um fiador, alguém que
voluntariamente tomou a responsabilidade
jurídica plena pela nossa dívida de pecado
intransponível com Deus. Jesus é o nosso fiador
(Hb 7.22). E o nosso fiador está agora diante do
trono de Deus – seu sacrifício de sangue pelos
pecados pleiteia a graça de Deus (Hb 12.24).
Sinclair Ferguson disse em seu livro In Christ
Alone: “Quando sei que Cristo é o único verdadeiro
sacrifício pelos meus pecados, que a sua obra em
meu lugar foi aceita por Deus, que ele é meu
Intercessor celestial – então seu sangue é o
antídoto ao veneno nas vozes que ecoam em
minha consciência, condenando-me por minhas
muitas falhas. De fato, o sangue derramado de
Cristo as sufoca até silenciarem!”18
Culpa é uma motivação terrível, e a culpa nunca
fortaleceu o coração de ninguém. Somente em
Cristo podemos estar certos do perdão pleno de
hoje e de mais graça para amanhã. O indigno
lamento de justiça própria: “Eu sou melhor do que
isso; como pude ser tão tolo?” é um pobre
condutor de graça em nossas vidas e não nos
oferece nada para o amanhã, senão culpa
agravada. Mas a notícia do evangelho que liberta a
alma e diz que Jesus nos amou perfeitamente na
cruz e que redime as nossas falhas – é outro tipo
de notícia. Essa é uma notícia muito boa. Agora,
com alegria cheia de fé podemos nos alegrar em
Deus e dizer: “Como eu pude ser tão tola? Veja a
graça que ele me mostrou em seu Filho!” Você vê a
sua necessidade de Jesus? Corra para ele! Não
perca tempo. O sangue de Jesus nos perdoa de
nossa intransponível hipoteca de pecado e nos
liberta das correntes do nosso farisaísmo
delirante. Somos livres para caminhar no amor de
Deus e amar o nosso próximo com a força que ele
nos dá. Podemos cantar com Charles Wesley:
“Levanta-te, minha alma, levanta-te; deixe seus
medos culpados e ergue-te!” À medida que nos
erguemos, erguemo-nos com temor e tremor de
que Deus – o Deus que colocou as estrelas em seu
lugar – é capaz de trabalhar em nós e tem prazer
em fazê-lo.
À medida que nos erguemos, erguemo-nos para
Deus, que executou seu juízo sobre o seu Filho por
nós e que nos traz para a sua luz (Mq 7.8-9). Nós
nos aproximamos de seu trono com confiança para
reivindicar a graça que agora está garantida a nós
em Cristo. Então, pela graça de Deus, podemos
estender graça aos nossos filhos.
NÃO DESISTA

Deus decretou que aqueles que estão em Cristo


estarão firmados em uma justiça que não é a sua
própria. “Agora, pois, já nenhuma condenação há
para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). Deus,
nosso Pai, que nos disciplina porque nos ama (Pv
3.11-12), é o mesmo Deus que é por nós
ininterruptamente até o fim (Rm 8.38-39). É o
Senhor que é capaz de nos fazer permanecer como
mães cujos corações são totalmente dele. Temos
confiança em Cristo diante de qualquer coisa que
,de forma impotente, ameace nos separar do seu
amor. “Ó inimiga minha, não te alegres a meu
respeito; ainda que eu tenha caído, levantar-me-ei;
se morar nas trevas, o SENHOR será a minha luz”
(Mq 7.8). Magnificamos a graça de Deus quando
servimos a nossa família com todas as nossas
forças, ainda que estejamos cercadas de fraquezas,
fragilidade, timidez e falta de fé.
O Senhor, que disciplina a quem ama, será o seu
advogado invencível e triunfará no tribunal por
você. Ele pleiteará a sua causa. Ele será a sua luz. A
nuvem passará. E você permanecerá em uma
justiça que não é sua própria e fará o trabalho que
ele lhe deu para fazer. Ó, aprendamos o segredo da
culpa corajosa com a perseverança dos santos
pecadores que não foram paralisados por suas
imperfeições. Deus tem uma grande obra para
cada um fazer. Crie seus filhos com toda a sua
força – sim, e até mesmo com todas as suas falhas
e todos os seus pecados. E, na obediência da sua
fé, magnifique a glória da graça de Deus e não se
canse de fazer o bem.
Você e eu talvez nunca sejamos nomeadas para o
prêmio de “Mãe do Ano”. A estante de troféus
poderia permanecer vazia. Mas, realmente, não
precisamos de um troféu para comemorar o nosso
trabalho na maternidade. Para nos gloriarmos no
poder de Cristo, não precisamos nem mesmo que
os nossos filhos se levantem e nos chamem ditosa
(embora isso seja bom). A glória que queremos em
nossa maternidade é de um tipo mais radical.
Queremos nos gloriar ainda mais alegremente em
nossas fraquezas e na necessidade da graça de
Deus para que o poder de Cristo repouse sobre nós
(2Co 12.9).
Considere a expiação de Cristo, o dom da
justificação e da justiça imputada, e a intercessão
sacerdotal de Jesus por você. Resista à tentação de
se cansar e desfalecer (Gl 6.9). Glorifique a Deus
ao desfrutar dele – ele é um prêmio mais
verdadeiro e melhor do que as adulações dos
nossos filhos, de outras mulheres e, até mesmo, da
nossa autoaprovação.
10
Mães são Fracas, mas Ele é
Forte

Certa manhã, antes de meus três filhos


cumprimentarem o sol com as suas declarações
exuberantes de amor pelas primeiras horas do dia,
eu estava escrevendo algumas anotações para o
manuscrito desse livro. Cansada, mas ansiosa para
estudar mais sobre a misericórdia de Deus por nós,
mães, eu estava encolhida debaixo de um cobertor
no sofá com o meu laptop e uma xícara de café.
Então, de repente, percebi que meu café da manhã
tinha gosto de óleo de motor e espuma de sabão.
“Isso é realmente verdade? Poderia ser?” Meu
coração começou a bater mais rápido. Pensei se as
minhas papilas gustativas estariam mentindo.
Com as mãos já suando, levantei minha caneca
para tomar outro gole. Sim, tinha gosto de óleo de
motor e espuma de sabão preparados juntos e
disfarçados como algo delicioso e reconfortante.
Então, joguei o café de péssimo gosto pelo ralo e
enxaguei minha boca com um pouco de água.
Ouvi minhas meninas discutindo sobre o que
seu irmãozinho bebê deveria vestir naquele dia,
então fui até o quarto onde estavam e intervim em
nome dele. Após o café da manhã, meu marido deu
um beijo de despedida em todos nós e desceu as
escadas para pegar um táxi para o trabalho.
“Todo mundo com sapatos!” - eu gritei, e
deixamos a nossa rotina matinal para dar uma
saída. Andamos pelo corredor, pegamos o elevador
até o térreo e caminhamos até a farmácia. Eu
tinha que descobrir se a minha suspeita era
verdadeira.
E ela era. Era bem verdadeira. O bebê número
quatro estava a caminho!
Sentimentos de alegria misturaram-se ao medo
com essa descoberta. Outra criança! Eu me senti
tão indigna desse presente tão grandioso de Deus.
Mas, ao mesmo tempo, meu coração tremeu por
causa da incrível realidade da responsabilidade e
do trabalho que outro bebê traria. Justamente
naquela semana meu marido havia me pedido para
orar especificamente por alegria e alívio do
sofrimento porque sua dor crônica no braço era a
pior que ele havia sentido em um longo tempo.
Minha mente voltou a antigas dúvidas familiares:
E se as coisas continuarem a piorar cada vez mais em
relação à saúde de David? E então? Deus poderia
sustentar a nossa família em meio à dor crônica e tudo
mais que viesse com ela, além de um novo bebê? A
tentação de duvidar da perfeita vontade de Deus
parecia quase tangível. Mas também parecia
tangível a garantia da habitação do Espírito Santo
que falou ao meu coração: “Rendei graças ao
SENHOR, porque ele é bom; porque a sua
misericórdia dura para sempre” (1Cr 16.34).
Lembrei-me de que a maternidade não é uma
bênção dada a mim porque eu mereço. Não é uma
recompensa por minhas boas ações ou (como
alguns poderiam sugerir) uma condenação por
minhas más ações. Deus me fez mãe porque ele,
zelosa e justamente, deseja louvores ao seu próprio
nome, e foi assim que ele achou por bem fazê-lo.
Deus tem por objetivo glorificar a si mesmo por
meio da nossa família, e nós somos sustentados
pela sua graça. Ele criou essas crianças, nessas
circunstâncias, para esse momento. Deus é tão
bom. Sua bondade não é uma sombra inconstante
de uma atitude mutável, mas um atributo
imutável. Tudo o que Deus tem para nós em Jesus
é um presente de sua misericórdia. E assim, pela
graça de Deus, ainda tremendo, porém confiando,
louvei ao Senhor pelo seu generoso presente de
uma nova vida!
Mãe cristã, todas nós precisamos nos lembrar de
quem somos e do que ele diz que nós somos. Deus
tem planos para glorificar a si mesmo por meio de
sua vida que estão além do que você pode
imaginar.
A ILUSÃO DA FORÇA

Embora possamos reconhecer que o trabalho de


uma mãe é difícil, às vezes vivemos como se não
precisássemos de nenhuma ajuda. Dito como
testemunho da força de uma mulher, ouvimos que
“a maternidade não é para os fracos”.
No entanto, pode-se argumentar que a
maternidade é somente para os fracos. Quando a
primeira criança nasceu, Eva disse: “Adquiri um
varão com o auxílio do SENHOR” (Gn 4.1). De vez
em quando, em meu trabalho como doula, uma
mulher admite para mim que ela não acha que
conseguirá – perseverar até o fim de sua gravidez,
dar à luz o seu bebê ou criar seu filho. Quando
reconhecemos nossa incapacidade de criar nossos
filhos longe da provisão e da força do Senhor,
honramos a Deus. É claro que não somos capazes
de fazer esse trabalho de criar os filhos e educá-los
na instrução do Senhor. É por isso que precisamos
desesperadamente do Senhor! Devemos ser
“fortalecidos no Senhor e na força do seu poder” (Ef
6.10).
Esse tipo de dependência absoluta em Deus
insulta o nosso orgulho. Somos muito rápidas em
abraçar outras soluções para o nosso cansaço
emocional, físico e mental. “Eu posso resolver isso
sozinha”, dizemos a nós mesmas. Na maioria das
vezes, em nossas provações, fingimos que está
tudo bem e mergulhamos de cabeça em
autossuficiência. A fé, no entanto, reconhece a
fúria da tempestade e nos lança para o mar, e
nadamos o mais rápido que podemos para onde
vemos Jesus andar sobre as águas (Jo 6.16-21).
Fisicamente, emocionalmente, mentalmente e
espiritualmente, precisamos da força do Senhor
para honrá-lo em nossa maternidade. Às vezes, o
barulho de pezinhos no chão significa que seu
filho está passando uma caneta colorida ao longo
da parede do corredor enquanto foge de você. Os
doces berros de um recém-nascido podem se
transformar em respostas atrevidas e palavras
rancorosas. Em todas as ocasiões, as mães devem
contar com a força de Deus. Se pensarmos que
podemos fazer “essa coisa da maternidade” com a
nossa própria força, então estamos enganando a
nós mesmas.
Alguns verões atrás, fui a um ortopedista por
causa de algumas dores nas costas que eu estava
tendo. Eu não conseguia me debruçar para mudar
uma fralda sem que as minhas costas travassem, e
elas continuavam doendo mesmo depois de uma
boa noite de descanso. Depois de um exame físico
e algumas radiografias, o médico diagnosticou o
meu problema. “Sua força está esgotada!”, disse.
“Quando foi a última vez que você fez exercícios de
fortalecimento da parte central do corpo?” O “Dr.
Sincero” explicou que meus músculos das costas
estavam lutando para compensar meus fracos
músculos abdominais. Ele prescreveu alguns
analgésicos para quando as minhas costas
realmente doessem e me deu alguns conselhos
valiosos: “Se você não fizer alguns abdominais
logo, então você causará danos mais graves às suas
costas”. Sua franqueza me assustou, mas ele estava
certo. Fico contente por ele ter me contado a
verdade sobre a minha dor e me incentivado a
fazer o que eu podia para fortalecer o meu corpo.
Minha força física havia sido uma ilusão, e
descobrir isso foi uma boa chamada para a
disciplina.
CRIANDO FILHOS MESMO SEM FORÇA
Uma querida amiga que tem uma filha casada,
um filho graduado na faculdade e outro no Ensino
Médio gosta de me lembrar: “Sua força física é
esgotada quando seus filhos são novos, e então,
quando eles envelhecem, a sua força emocional
acaba também”. À medida que os nossos filhos
crescem, nós nunca superamos a nossa
necessidade da graça de Deus, em todo momento,
por meio do evangelho. Disciplinar a nós mesmas
a depender conscientemente de sua força é uma
forma de crescermos na fé.
Sempre que considero a maternidade, costumo
recorrer a uma lista mental de todas as maneiras
pelas quais eu gostaria de poder fazer mais pelos
meus filhos. Quero orar de forma mais
perseverante por eles, ser mais consciente em
instruí-los nos caminhos do Senhor, beijá-los e
abraçá-los mais, e me lembrar de dar os seus
multivitamínicos todos os dias. Essas são boas
metas para se ter, mas, quando minha visão está
focada na minha força limitada, o meu trabalho é
um fardo e não uma alegria habilitada pela graça.
Na versão ESV (English Standard Version) da
Bíblia em inglês, o título para o Salmo 71 é o
seguinte: “Não me desampares quando minha
força se for”. Isso é profundamente sugestivo para
um salmo que louva o Senhor como aquele que nos
salva em sua justiça e é para nós uma rocha de
refúgio. Quer você sinta que simplesmente não
pode suportar, ou que você não “tem isso em você”
mais, ou que, ao contrário, sabe que tem o que é
necessário, o evangelho triunfa sobre tudo. Só a
graça de Deus no evangelho pode fortalecer a
nossa fé a fim de deixar Jesus carregar os nossos
fardos na criação de filhos.
FALE A SI MESMA

Uma das maneiras de ter a fé fortalecida é


renovando sua mente continuamente ao meditar
sobre as verdades do evangelho. Fale consigo
mesma sobre o que a Palavra de Deus diz. Lembre
seus filhos e a si mesma frequentemente sobre
quem Deus é, o que ele fez para salvar pecadores
através da morte de Jesus na cruz, e como ele nos
mostrou seu compromisso de nos sustentar até o
fim por meio da garantia da habitação do Espírito
em nós.
Você está se sentindo invencível hoje? Seja
humilde à medida que você se lembrar de quem,
primeiramente, a criou e sustenta a sua própria
vida. “Pois tu formaste o meu interior, tu me
teceste no seio de minha mãe” (Sl 139.13).
Você está se sentindo sobrecarregada por causa
de sua fraqueza? Glorie-se no poder de Deus para
usá-la apesar de sua fraqueza. “Então, ele me
disse: A minha graça te basta, porque o poder se
aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais
me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim
repouse o poder de Cristo” (2Co 12.9). Lembre-se
de que Cristo, o seu fiador, é por você.
Quando o vingador de sangue seguir você, fuja
imediatamente para esse santuário. Pense: Não
me deixe negar, ao mesmo tempo, consolo a
mim e glória a Deus. “Onde o pecado abunda, a
graça abunda muito mais” (Rm 5.20). Embora
pecados após a conversão manchem nossa
profissão de fé mais que os pecados cometidos
antes da conversão, ainda assim vá à
misericórdia gloriosa de Deus. Para setenta
vezes setenta, ainda há misericórdia. Nós vos
rogamos ser reconciliados, disse São Paulo aos
Coríntios, quando eles estavam em estado de
graça e já haviam recebido o perdão. Nunca
devemos nos desanimar de ir à Cristo.19

O evangelho tem relevância para o seu dia hoje,


não importa quão forte você se sinta nesse
momento. A resposta que devemos ter a essa
notícia é transbordar em louvor para que outros
possam ver como Deus, o Senhor, é para você.

A minha boca relatará a tua justiça e de


contínuo os feitos da tua salvação, ainda que eu
não saiba o seu número. Sinto-me na força do
SENHOR Deus; e rememoro a tua justiça, a tua
somente. Tu me tens ensinado, ó Deus, desde a
minha mocidade; e até agora tenho anunciado
as tuas maravilhas. Não me desampares, pois, ó
Deus, até à minha velhice e às cãs; até que eu
tenha declarado à presente geração a tua força e
às vindouras o teu poder. Ora, a tua justiça, ó
Deus, se eleva até aos céus. Grandes coisas tens
feito, ó Deus; quem é semelhante a ti? (Sl 71.15-
19)
SIRVA COM A FORÇA QUE DEUS PROVÊ
O Senhor nos diz por meio de Pedro que não
devemos servir com a nossa própria força. Deus
nos diz isso porque não temos força com a qual
possamos servi-lo primeiro.

Servi uns aos outros, cada um conforme o


dom que recebeu, como bons despenseiros da
multiforme graça de Deus. Se alguém fala, fale
de acordo com os oráculos de Deus; se alguém
serve, faça-o na força que Deus supre, para que,
em todas as coisas, seja Deus glorificado, por
meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e
o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!
(1Pe 4.10-11).

Jesus morreu na cruz para que tivéssemos a


graça gratuita e imerecida de Deus. E, quando nos
apropriamos dessa graça em nossas vidas e
servimos os outros, estamos servindo na força que
Deus supre. É assim que podemos servir de forma
que Deus receba a glória – por meio de sua força
devido à sua graça que nos foi mostrada em Jesus.
A graça de Deus é suficiente para tudo o que ele
nos chamou a fazer. “Deus pode fazer-vos abundar
em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em
tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda
boa obra” (2Co 9.8). Deus faz toda graça abundar
em nós por meio de seu Filho Jesus. E é por meio
da força do Espírito Santo que habita em nós que
somos capazes de abundar (não apenas nos
arrastar) em toda boa obra que ele colocar diante
de nós. E à medida que trabalhamos, trabalhamos
com um olho na eternidade, sabendo que o nosso
trabalho não é vão no Senhor. “Portanto, meus
amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre
abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no
Senhor, o vosso trabalho não é vão” (1Co 15.58).
Mesmo quando estamos tremendo, mas
confiando no Senhor, Deus nos torna dignos da
sua vocação e cumpre todo propósito de bondade e
obra de fé pelo seu poder (2Ts 1.11). De acordo
com a sua graça, Deus glorifica o nome do nosso
Senhor Jesus em mães que servem na força que ele
supre.
11
A Metanarrativa da
Maternidade

Culturas ao redor do mundo reconhecem que a


maternidade é honrosa.
Certa vez comemos em uma famosa churrascaria
em Nova Iorque. Sentado a uma mesa próxima a
nós estava um motociclista com uma elaborada
tatuagem “Eu amo a minha mãe” em seu bíceps.
Quando passei algum tempo em Mombaça,
Quênia, observei pessoas abrirem espaço no
lotado mutatus (uma espécie de ônibus/táxi) para
dar lugar a mães. Alguns anos atrás, quando a
minha própria mãe e a mãe do meu marido vieram
nos visitar aqui no Oriente Médio, membros de
nossa igreja as honraram com encorajamentos e
elogios. Nessa cidade global multicultural, não
consigo contar todas as vezes que saí e recebi
tratamento especial de pessoas simplesmente
porque sou mãe. Quando estou grávida, meu
marido gosta especialmente quando nos
presenteiam com uma sobremesa grátis “para o
bebê”. Quando se ouve uma história de como uma
mãe foi maltratada ou criticada, muitas vezes há
uma reação visceral de injustiça ou vergonha. Ao
observar pessoas de várias culturas aqui, tenho
notado que não honrar a sua mãe fará você ganhar
o título de “ingrato”.
A MATERNIDADE É UM DOM PRECIOSO

No entanto, mesmo que tenhamos a


maternidade em alta estima, algumas declarações
que ouvimos sobre isso tendem a soar falsas e
banais. Lembro-me bem de sentir isso quando
tentava trocar uma fralda explosiva no meu colo
em um avião, e um senhor mais velho ao meu lado
comentar: “A maternidade não é uma bênção”?
Tive que perguntar a mim mesma se ele estava
sendo sincero, ou fazendo uma piada leve, ou
sendo desdenhosamente sarcástico.
Se a maternidade é um presente, então por que a
verdadeira bem-aventurança da maternidade suscita
em nós tal ceticismo?
Penso que uma das razões de eu lutar com isso
seja o meu pecado. Preciso ser transformada pela
renovação da minha mente mundana para que eu
possa discernir a boa e perfeita vontade de Deus
(Rm 12.2). Sem a obra de Deus de santificação na
minha vida, eu seria deixada com meus
pensamentos pecaminosos que tanto idolatram
quanto desprezam a maternidade. Posso
facilmente transformar a maternidade em algo
que se trata só de mim ou mesmo minimizá-la ao
nível de algo que dá pena.
A Bíblia não descreve a maternidade como uma
diminuição da personalidade de uma mulher nem
como a soma de sua personalidade. Feminilidade,
em última análise, tem como foco outra pessoa,
Jesus. Do mesmo jeito, a maternidade também
tem como foco outra pessoa, Jesus. O maior
objetivo da feminilidade não é a maternidade; o
mais alto objetivo da feminilidade é ser
conformada à imagem de Cristo. O objetivo
multifacetado da maternidade nos aponta na
mesma direção, Jesus. Um dos presentes da
maternidade é que Deus a utiliza para traçar a
imagem de seu Filho em nossas vidas.
Quando fazemos da maternidade (ou qualquer
outra coisa) algo totalmente sobre nós,
eventualmente nos entediamos. E é claro que
ficamos entediadas com a maternidade quando
somos obcecadas por ela, porque a maternidade
nunca foi concebida para nos satisfazer
plenamente. Quando nos entediamos, tornamo-
nos cínicas: “Maternidade – um presente? Claro”.
Algumas mulheres lamentam que, se Deus alguma
vez lhes der filhos, elas ficarão devastadas.
Algumas mulheres lamentam que, se Deus nunca
lhes der filhos, eles ficarão devastadas.
Deveríamos estar procurando um meio termo?
Será que mulheres cristãs deveriam apenas tomar
uma dose de cinismo e seguir com o copo meio
cheio de gratidão, como o mundo poderia sugerir?
Acho que a Bíblia nos dá a resposta para essa
pergunta.
EM ADÃO, TODOS MORRERAM

A Bíblia oferece um paradigma para pensarmos


sobre uma maternidade que está fora dos nossos
ideais mundanos.
Talvez, como eu, você precise de um “lembrete”
constante da Palavra de Deus sobre a
maternidade. É fundamental lembrar o que a
Bíblia diz quando lutamos com nossos
sentimentos de apatia ou desejo idólatra em
relação ao dom da maternidade.
Em Gênesis 1.28, Deus abençoou o homem e a
mulher que criou. Ele lhes disse (entre outras
coisas): “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a
terra e sujeitai-a”. Sujeitar, governar, multiplicar –
essas são coisas que nenhum deles poderia fazer
por si mesmo. Essas são coisas que eles nunca
poderiam fazer sem a ajuda de Deus. Deus fez
macho e fêmea, ambos à sua semelhança, e, em
seguida, os uniu. Ele os projetou para serem
totalmente dependentes dele em tudo.
Mas Adão e Eva decidiram que não precisavam
depender de Deus em tudo. Quem precisa da
sabedoria de Deus quando se tem o que é preciso? era
o raciocínio deles. Envolvidos em si mesmos e
comendo a mentira que a Serpente sussurrou, o
homem e a mulher desobedeceram a Deus e
comeram do fruto proibido. Eles zombaram da
morte, que é a justa punição de Deus pelo pecado.
Caramba é uma palavra muito fraca para esse
dilema.
Já discutimos essa história neste livro, mas o seu
significado merece ser repetido. É fácil para nós
sentirmo-nos distantes desse incidente no jardim.
Nascemos em um mundo onde ouvimos a ideia
absurda de que “a morte é um fato da vida”. Que
relevância tem esse incidente no jardim do Éden
para as nossas vidas? A resposta, em suma, é que o
pecado e a morte de Adão estão ligados ao nosso.
“Porque, assim como todos morrem em Adão...”
(1Co 15.22). Fique com esse pensamento em
mente – e agora? Especificamente, e agora o que
será da maternidade? Não seria a raça humana
justamente extinta por causa da traição cósmica
do homem e da mulher contra o Deus Todo-
Poderoso?
VIDA APESAR DA MORTE
Dentro da maldição que Deus pronunciou contra
a Serpente, podemos ouvir as reverberações dos
batimentos de seu coração misericordioso. Ele olha
para Adão e Eva, que se tornaram seus inimigos, e
tem compaixão deles. Na maldição, Deus descreve
uma guerra épica que acontecerá entre o Maligno e
a descendência da mulher:

Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua


descendência e o seu descendente. Este te ferirá
a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. (Gn 3.15)

A mulher teria descendência.


A maldição pronunciada sobre a Serpente está
carregada da misericórdia de Deus para com os
seus filhos. A descendência específica que Deus
prometeu é Cristo Jesus, nossa bendita esperança.
Satanás iria feri-lo; na lógica inversa de força
através do sofrimento, o Messias teria a vitória
decisiva nessa guerra. Algum dia, um Messias
nasceria e mudaria o curso do universo para
sempre.
Richard Sibbes falou desse vislumbre do
evangelho: “Você conhece a promessa que gera
todas as outras, ‘a semente da mulher’ (Gn 3.15).
Ela revogou a maldição e transmitiu a misericórdia
de Deus em Cristo para Adão. Assim, todas as
doces e graciosas promessas têm sua fonte nela.
Todas têm Cristo como centro; todas são feitas por
ele e nele; ele é a soma de todas as promessas.
Todas as coisas boas que temos são parcelas de
Cristo”.20
Adão considerou como certa a promessa de vida
de Deus. “E deu o homem o nome de Eva a sua
mulher, por ser a mãe de todos os seres humanos”
(Gn 3.20). Quero esperar em Deus da mesma
forma que Adão fez naquele momento.
O fato da vida é uma manifestação global,
histórica e escatológica da rica misericórdia de
Deus. Isso era verdade no jardim, e isso é verdade
para nós agora. Temos fôlego pela graça e
misericórdia do Senhor que não tarda em cumprir
a sua promessa, mas é paciente para com os
pecadores, para que possamos nos arrepender e
nos prender a ele para sempre (2Pe 3.9).
MATERNIDADE PELA FÉ

Como Adão e Eva, todos nós merecemos a morte


por causa do nosso pecado contra Deus. E, como
Adão e Eva, a nossa única esperança está no
Messias prometido, que fez por nós o que nunca
poderíamos e nunca faríamos por nós mesmos.
Jesus apresentou-se como um sacrifício pelos
nossos pecados e deu o golpe fatal contra a morte
e Satanás.
Pelo poder de sua palavra, Jesus sustenta o
universo, incluindo todas as crianças que já
tenham sido concebidas. A maternidade é uma
concepção de Deus – ele a ordenou e a sustentou
para o louvor da sua gloriosa graça. A vida serve a
glória de Deus somente. Além do dom da vida
física, que nenhum de nós merece, nosso soberano
Senhor Jesus oferece para nós a esperança da vida
eterna, a qual Deus, que nunca mente, prometeu
antes dos tempos eternos (Ti 1.2). Quando
confiamos em Cristo, ele nos une a si e nos dá essa
vida eterna.
Nascer de novo não é monótono nem insípido.
“Porque, assim como, em Adão, todos morrem,
assim também todos serão vivificados em Cristo”
(1Co 15.22). Pela fé, olhamos para a cruz e vemos
o autor da vida tomando sobre si os nossos
pecados. Pela fé, ansiamos pelo dia em que
estaremos face a face com o Senhor para sempre.
Quando as mães nutrem a vida pela fé, elas participam
do triunfo escatológico da vitória de Cristo sobre o
pecado e a morte.
Na eternidade, sempre estaremos
profundamente cientes de como é maravilhoso ser
um vaso da graça de Deus, porque isso significa
que estamos recebendo o próprio Deus. O próprio
fato da vida é evidência de que o autor da vida é
um Deus de misericórdia, graça e fidelidade.
Assim, quando parecer que o seu coração está
prestes a explodir enquanto olha fixamente para o
seu bebê dormindo, ou quando sentir-se
maravilhada ao observar o horizonte da sua cidade
cheio de gente, ou quando você se maravilhar com
retratos de portadores da imagem de Deus de todo
o mundo, erga-se em louvor a Deus. Não há nada
de entediante sobre o conceito da maternidade.
Ainda assim, quão rapidamente podemos nos
esquecer de Jesus quando os dias e as noites estão
cheios de bons presentes de Deus. Muitas vezes,
estamos alegremente limitadas em nosso pequeno
reino míope onde derretemos sinais que nos
apontam para Jesus e os moldamos em ídolos para
adoração.
No entanto, o caráter perfeito de Deus nos
assegura de que ele é maior do que as nossas
fraquezas: “Se somos infiéis, ele permanece fiel,
pois de maneira nenhuma pode negar-se a si
mesmo” (2Tm 2.13). Cristo, a nossa âncora, nos
resgata de perseguirmos nossas vaidades e libera-
nos para, em vez disso, usarmos os nossos dons
para construirmos o seu reino eterno. O fogo da
nossa esperança em Cristo é alimentado pela
Palavra de Deus, mas não apenas para que nos
sintamos satisfeitas. À medida que vivenciamos a
maternidade pela graça de Deus, nossa esperança
em Cristo se torna um testemunho para as pessoas
em nossas casas. Nossa satisfação em Cristo gera
ainda mais satisfação em Cristo quando colocamos
nossas vidas a serviço dos outros. Quando a nossa
esperança está em Cristo, aqueles em nossa casa
ficam intrigados e querem respostas: qual é a
razão da esperança que há em você? (1Pe 3.15).
QUAL É O OBJETIVO DA MATERNIDADE?

A maternidade é uma evidência do plano


triunfante de Deus para dar vida, apesar da
maldição da morte. É um presente que nos aponta
para Jesus. À medida que a vida marcha para o
louvor da glória de Deus, vemos uma fascinante
exibição da graça de nosso Pai, que cumprirá sua
promessa de dar o seu Filho como herança às
nações para o louvor da sua glória. Não há objetivo
maior do que esse.
Existem ideias supérfluas circulando no mundo
que tentam explicar o objetivo da maternidade.
Muitas dessas ideias possuem uma inclinação
espiritual, descrevendo a maternidade como uma
expressão do “espírito humano” ou uma metáfora
da “Mãe Terra”. Como cristãos, entendemos que
qualquer orientação espiritual para a maternidade
que tente conectar uma mulher a Deus, longe da
morte expiatória substitutiva de Jesus, não pode
ser bem-sucedida. A afirmação de Jesus sobre ser
“o caminho, e a verdade, e a vida” (Jo 14.6) tem
implicações no modo como vemos o nosso papel
de mães. A lente da profunda realidade do
evangelho é por onde vemos a maternidade pelo
que ela é – uma misericórdia. Louve a Deus pela
misericórdia que ele tem sobre nós mesmo quando
transformamos esse presente em um veículo para
a nossa autorrealização.
Com o pecado de Adão e Eva no jardim, toda a
sua descendência, juntamente com eles, foi
justamente acusada e condenada à morte. Apesar
do grande pecado deles, Deus não apenas permitiu
vida, mas também a facilitou e a sustenta ainda
hoje. A misericórdia mostrada a nós na cruz de
Jesus Cristo é o ponto alto da graça abundante de
Deus. Herman Bavinck escreveu: “Com base nesse
sacrifício [Cristo], Deus pode arrancar o mundo e
a humanidade das garras do pecado e expandir seu
reino”.
Embora nós roubemos a glória de Deus e
insistamos na ideia de que a maternidade existe
para servir os nossos egos e reputações, Deus nos
dá ainda mais misericórdia. Mesmo quando
ficamos ansiosas com o tempo de Deus de fazer as
coisas para a nossa família, Deus graciosamente
continua a cumprir os seus propósitos eternos na
criação de cada membro da nossa família. Libertas
de nossas paixões egoístas, podemos nos alegrar
com a reconciliação que recebemos por meio de
Jesus, abraçar os propósitos de Deus em nossa
maternidade, e sorrir para o futuro à medida que
olhamos adiante para a graça futura que nos é
dada em Cristo Jesus. Deus projetou a
maternidade para evidenciar sua grande
misericórdia e nos direcionar (e nossos filhos)
àquele para quem fomos feitos: o Cristo ressurreto
no qual estaremos eternamente satisfeitos (Jo
17.24). As alegrias da maternidade de hoje são
verdadeiras, mas elas são como sombras refletidas
em um espelho. No final de cada dia – tanto os
caóticos quanto os normais – a maternidade é
para adorarmos e desfrutarmos o nosso grande
Deus. Os serafins no céu clamam continuamente:
“E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo,
santo, santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra
está cheia da sua glória” (Is 6.3). Alegramo-nos
com a maternidade hoje, uma vez que ela se
destina a nos levar a adorar a Deus em tudo o que
fazemos, como uma pequena degustação para a
adoração que desfrutaremos no céu eternamente.
Mesmo durante o trabalho exaustivo da
maternidade que muitas vezes parece tão fútil,
podemos desfrutar o que vivenciaremos para
sempre. Em Apocalipse 5, João tem uma visão do
Cristo ressurreto, glorificado e reinante. No
versículo 13, João nos diz como todo mundo
responderá a Jesus: “Ouvi que toda criatura que há
no céu e sobre a terra, debaixo da terra e sobre o
mar, e tudo o que neles há, estava dizendo: Àquele
que está sentado no trono e ao Cordeiro, seja o
louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos
séculos dos séculos”. Para sempre na eternidade
estaremos louvando ao Senhor e, mesmo agora,
podemos louvá-lo, conhecendo Jesus Cristo, e esse
crucificado por nós.
A próxima vez que algo rotineiro acontecer,
como o cesto de roupas sujas se encher (de novo),
ou descobrir o que restou da (outra) caixa de
lenços que o seu filho curiosamente pegou, deixe o
seu murmúrio se transformar em aleluias: “Louvai
ao SENHOR, vós todos os gentios, louvai-o, todos os
povos. Porque mui grande é a sua misericórdia
para conosco, e a fidelidade do SENHOR subsiste
para sempre. Aleluia!” (Sl 117.1-2). Lembre-se das
verdades da Palavra de Deus e surpreenda-se à
medida que o Espírito lembrar você do que os seus
olhos da fé viram. “[Fé] é a visão mais nobre de
todas. E é tão rápida quanto uma visão; pois a fé é
aquela águia na nuvem. Ela atravessa tudo e vê,
em um momento, Cristo nos céus; ela olha para
trás e vê Cristo na cruz; ela olha adiante e vê
Cristo vir em glória. A fé é uma graça instantânea
que apresenta as coisas do passado, coisas do alto
e coisas do por vir – tudo em um só momento, tão
rápido é esse olho de águia da fé”.21
Permita que a maternidade incline o seu coração
para adorar, e bendiga ao Senhor que enche as
suas mãos com bênçãos. “Exaltar-te-ei, ó Deus meu
e Rei; bendirei o teu nome para todo o sempre.
Todos os dias te bendirei e louvarei o teu nome
para todo o sempre. Grande é o SENHOR e mui
digno de ser louvado; a sua grandeza é insondável”
(Sl 145.1-3).
Louvar o nosso grande e misericordioso Deus é o
hino de uma mãe – a canção que ela estará
cantando para todo o sempre.
Conclusão
O Testemunho de Paz de Uma
Mãe

Costumamos conversar em nossa casa sobre o


que outras pessoas estão fazendo naquele exato
momento em diferentes partes do mundo.
Nossos filhos fazem perguntas como: “Em que
parte do mundo já é noite agora?” “O que as
crianças na Índia estão fazendo agora?” “Você
acha que os nossos amigos na Escócia estão na
escola agora?” “Quem está tomando café da
manhã agora?”
Talvez a pergunta mais engraçada até agora
tenha sido: “[suspiro] Será que alguma outra
menina de cinco anos de idade em todo o mundo
tem que ficar de castigo agora”?
Falar sobre coisas como fuso horário e geografia
é um claro exercício educativo para as crianças.
Também serve para mim como um lembrete
oportuno do amor inabalável do Senhor e de como
a sua misericórdia nunca acaba. Em todo o
mundo, Deus está dando e sustentando a vida
para o louvor da sua graça. Sua misericórdia é
nova a cada manhã, e sempre é manhã em algum
lugar.
Precisamos ser lembradas de quem Deus é a cada
dia. John Owen nos lembra de como o processo de
santificação é apenas isso, um processo. “O
crescimento de árvores e plantas ocorre tão
lentamente que não é facilmente observado.
Diariamente notamos pouca mudança. Mas, no
decorrer do tempo, vemos que uma grande
mudança ocorreu. Assim é com a graça. A
santificação é um trabalho progressivo ao longo da
vida (Pv 4.18). É um trabalho incrível da graça de
Deus, e é um trabalho pelo qual temos que orar
(Rm 8.27)”.22
Nosso coração precisa valorizar Jesus, a quem
Deus designou como herdeiro de todas as coisas,
que criou todas as coisas e que sustenta o universo
pela palavra do seu poder (Hb 1.1-3). O pequeno
pedaço de rocha no qual estamos girando em meio
ao vasto cosmos está sendo mantido por Cristo. É
bom que nos humilhemos e lembremo-nos de que,
mesmo em todo o seu brilho aparentemente
inescrutável, o universo é um eufemismo da glória
radiante de Jesus. Ninguém pode imaginar o
alcance da sua grandeza. “Ó profundidade da
riqueza, tanto da sabedoria como do
conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os
seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus
caminhos!” (Rm 11.33; veja também Jó 26; Sl
145.3).
Em nossos momentos de frustração, orgulho e
apatia, é bom lembrarmos que a Jesus foi dada
toda a autoridade sobre tudo (Sl 8.6; Mt 28.18; Ef
1.22.). Tudo foi criado por meio dele e para ele (Cl
1.16). Não há nenhuma coisa, situação ou
circunstância que seja mais poderosa do que ele é.
Meditar sobre o caráter de Deus dá uma grande
esperança ao nosso coração, mesmo em tempos de
provações terríveis. A ocasião para a lamentação
do profeta Jeremias foi a impiedosa destruição de
Jerusalém pela Babilônia. Em meio ao horror
indescritível, Jeremias encontrou motivo de
esperança por causa de quem Deus é:

Quero trazer à memória o que me pode dar


esperança. As misericórdias do SENHOR são a
causa de não sermos consumidos, porque as
suas misericórdias não têm fim; renovam-se
cada manhã. Grande é a tua fidelidade. A minha
porção é o SENHOR, diz a minha alma; portanto,
esperarei nele. (Lm 3.21-24)

Você vê como o amor de Deus é inabalável e as


suas misericórdias não têm fim? O Deus eterno
nos dá a si mesmo como nossa porção. Nossas
mentes mortais não podem compreender o
significado de tal presente.
Quando nossos filhos estão lutando com a
ansiedade de ficar distante dos pais, nós lhes
damos razões para ter paz. Quando nós, filhos de
Deus, sentimo-nos ansiosos por estarmos
separados do Senhor, ele nos dá motivo
indiscutível para sentirmos a sua paz.
A maior demonstração de amor que Deus nos
mostrou foi enviar seu Filho Jesus para morrer em
nosso lugar na cruz pelos nossos pecados quando
ainda éramos seus inimigos (Rm 5.8). Jesus sofreu a
mais profunda “ansiedade de separação” que
ninguém no mundo jamais enfrentaria para que
nós, que confiamos nele, pudéssemos estar sempre
unidos ao Pai para sempre. Embora mortos em
nossos pecados, Deus, sendo rico em misericórdia,
nos amou com um amor tão grande que nos deu
vida juntamente com Cristo pela graça mediante a
fé (Ef 2.4-8). Nunca alcançaremos a plenitude das
graciosas implicações desse brilhante evangelho.
Jonathan Edwards disse: “Soberania absoluta é o
que eu amo atribuir a Deus”.23 Eu não poderia
concordar mais – a soberania de Deus evidencia
sua liberdade gloriosa em derramar sua graça
sobre os seus inimigos. Um Deus que usa a sua
liberdade para salvar seus inimigos de modo a
garantir que eles estejam inexplicavelmente
regozijando-se nele para sempre é um Deus que é
digno de toda nossa adoração.
A graça de Deus em Cristo é maior do que
qualquer frustração que ameace nos fazer
desmoronar. Porque Jesus está sustentando o
universo com a sua palavra, podemos confiar nele
em qualquer dia mau.
A graça de Deus em Cristo nos livra de idolatrar
a maternidade. Porque Jesus é extremamente
digno de todos os nossos afetos, não há nenhum
aspecto de ser mãe que possa ofuscar a sua beleza.
A graça de Deus em Cristo supera nossas ilusões
orgulhosas do “eu tenho tudo sob controle”.
Porque Jesus tem autoridade sobre todas as coisas,
podemos alegremente nos humilhar sob seu
governo misericordioso e servi-lo para sempre.
A graça de Deus em Cristo desperta nossa alma
calejada e letárgica. Porque a grandeza de Jesus é
insondável, ele é capaz de reavivar nossas afeições
mornas por ele à medida que buscamos a sua face.
Existe apenas um ótimo lugar onde uma mãe pode
descobrir mais sobre a grandeza de Jesus Cristo:
na Palavra de Deus. Jerry Bridges aconselhou:
“Não acredite em tudo o que você pensa. Você não
é confiável para dizer a verdade a si mesmo.
Atenha-se à palavra”.24 A recomendação de J. I.
Packer é semelhante:

Eu, como cristão, me entendo? Eu conheço a minha


própria identidade real? Meu próprio destino real? Eu sou
filho de Deus, Deus é meu Pai; o céu é a minha casa; cada
dia é um dia mais próximo. Meu Salvador é meu irmão;
todo cristão é meu irmão também. Diga isso para si
mesmo vez após vez logo de manhã, e quando for dormir,
quando estiver esperando o ônibus, a qualquer momento
em que sua mente estiver livre, e peça a Deus para que
você possa ser capaz de viver como alguém que sabe que
tudo isso é totalmente e completamente verdadeiro. Pois
esse é o segredo do cristão, de uma vida cristã, de uma
vida que honra a Deus.25

Mergulhar na Palavra de Deus para descobrir as


maravilhas do amor de Deus por mim – uma
pecadora – me lembra de que eu não tenho motivo
para me gloriar, senão na cruz de Jesus Cristo (Gl
6.14). Essas meditações servem para alimentar a
minha adoração a Jesus, e inerente a essa
adoração está um proclamar, orientado pela
alegria, da sua fidelidade a todas as gerações (Sl
89.1). Quero que meus filhos me acompanhem à
medida que sondo as profundezas, altura e largura
do amor de Cristo.
A ampla visão da maternidade vê muito além do
terceiro trimestre da gravidez, do ensino para
fazer xixi no vaso sanitário e, até mesmo, da
graduação do Ensino Médio. A ampla visão da
maternidade perscruta o horizonte da eternidade.
Entendemos que nossos filhos podem, um dia, ser
nossos irmãos ou irmãs em Cristo. Nós, mães,
precisamos sempre ter em mente uma ampla visão
da vida à medida que vivemos nossos dias. Deus
faz o seu trabalho de criar pessoas, que são criadas
e recriadas à imagem de seu Filho. Nós somos
parte de um novo povo cujo padrão de vida está
sendo transformado por Deus, para que não mais
andemos em caminhos que nos escravizam com
morte e futilidade. Um dia o mundo será
preenchido com a glória do Senhor, assim como as
águas cobrem o mar! Ao longo de toda a nossa
maternidade, olhamos para esse dia.
Talvez o seu dia tenha acabado de começar, ou já
tenha avançado, ou tenha chegado ao fim e você
está “no fuso horário em que todos estão
dormindo”. Não importa que horas são, esse é um
bom momento para dar graças a Deus por suas
ricas misericórdias, que são sempre novas por
meio de Jesus Cristo, e para compartilhar sua
alegria com todos os que quiserem ouvir.
Nosso chamado como mãe é prosseguir com a
força que Deus supre e nos apropriar de Jesus,
porque ele nos tornou seus (Fp 3.12). Esquecemos
das coisas que para trás ficam e avançamos para as
que estão adiante, prosseguindo para o alvo, para
o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo
Jesus (Fp 3.13-14).
Talvez você tenha dispensado bastante tempo
pensando na primeira roupa com que vestirá a sua
filha quando a trouxer pela primeira vez para casa.
Há alguns meses, nossos amigos nos convidaram
para nos unirmos a eles no aeroporto a fim de
ajudá-los a dar as boas-vindas ao filho que
adotaram. Ainda mais intencionais e planejadas
do que essas coisas, as boas-vindas que o nosso Pai
celestial planejou nos deixarão maravilhadas.
Valorizar Cristo em nossa maternidade faz com
que tenhamos mentes celestiais, pensando
frequentemente no Senhor que nos trouxe para a
sua família eterna, e capacita-nos a viver para o
seu reino à medida que servimos a nossa família.
Notas

1. Herman Bavinck, Reformed Dogmatics (Grand


Rapids, MI: Baker Academic, 2008), 3:455.

2. Martyn Lloyd-Jones, Pregação e Pregadores


(São José dos Campos: Editora Fiel, 2 ed, 2008),
160.

3. “Nunca se corrompa em dar conselhos sem


relação com as boas-novas de Jesus crucificado,
vivo, presente, em ação e voltando.” David
Powlison, “Who Is God?” Journal of Biblical
Counseling, 17 (Inverno 1999): 16.

4. Jeremiah Burroughs, The Rare Jewel of


Christian Contentment,
http://www.monergism.com/contentment.html.

5. Devo muito a Milton Vincent por apontar isso


em seu excelente livro sobre valorizar o evangelho,
A Gospel Primer for Christians: Learning to See the
Glories of God’s Love (Bemidji, MN: Focus, 2008).

6. John Owen, The Works of John Owen, vol. 3,


The Holy Spirit (Carlisle, PA: Banner of Truth,
1966), 100.

7. Richard Baxter, The Practical Works of the Rev.


Richard Baxter, vol. 4 (Londres: Paternoster, 1830),
18.

8. Paul Tripp, Forever: Why You Can’t Live without


It (Grand Rapids, MI: Zondervan, 2011), 141.

9. Joseph Hart, “Come, Ye Sinners, Poor and


Needy”, 1759.
10. Essa amada tradição foi inspirada pelo livro
de Noël Piper Most of All, Jesus Loves You!
(Wheaton, IL: Crossway, 2004).

11. John Piper, Desiring God: Meditations of a


Christian Hedonist (Colorado Springs, CO:
Multnomah, 2003), 12.

12. Thomas Chalmers, “The Expulsive Power of


a New Affection” Sermon,
http://www.newble.co.uk/chalmers/comm9.html.

13. Edward Welch, Running Scared: Fear, Worry,


and the God of Rest (Greensboro, NC: New Growth
Press, 2007), 140.

14. Jerry Bridges, The Discipline of Grace: God’s


Role and Our Role in the Pursuit of Holiness
(Colorado Springs, CO: Navpress, 2006), 19.

15. Vincent, Gospel Primer for Christians.


16. John Bunyan, Justification by an Imputed
Righteousness,
http://acacia.pair.com/Acacia.John.Bunyan/Sermons.Alleg

17. Horatious Bonar, “God’s Purpose of Grace”


Sermon,
http://www.reformedliterature.com/bonar-gods-
purpose-of-grace.php.

18. Sinclair Ferguson, In Christ Alone: Living the


Gospel-Centered Life (Sanford, FL: Reformation
Trust, 2007), 151.

19. Richard Sibbes, Glorious Freedom (Carlisle,


PA: Banner of Truth, 2000), 81.

20. Ibid., 83.

21. Ibid., 91–92.

22. Owen, Works of John Owen, 108–9.


23. Jonathan Edwards, Selections (Nova York:
Hill and Wang, 1962), p. 58-59.

24. Jerry Bridges, The Great Exchange: My Sin for


His Righteousness (Wheaton, IL: Crossway, 2007).

25. J. I. Packer, Knowing God (Downers Grove, IL:


InterVarsity Press, 2011).
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