Desafios Contemporâneos - Unid 3 PDF
Desafios Contemporâneos - Unid 3 PDF
Desafios Contemporâneos - Unid 3 PDF
INICIAR
Introdução
O desenvolvimento tecnológico é apontado por muitos pensadores contemporâneos
como o motor do progresso dos países. Afinal de contas, as nações com maiores índices
de crescimento em ciência e tecnologia também são as com melhores índices de
emprego, educação, saúde, transporte. Além disso, graças aos avanços tecnológicos
dos últimos anos, mais pessoas têm acesso a produtos como notebooks, celulares,
smartphones, tablets e fármacos para as mais diferentes doenças. E os prognósticos
apontam que, no futuro, isso se intensificará ainda mais, abrangendo todos os aspectos
da existência humana. Mas quais são, verdadeiramente, as consequências desse
intenso desenvolvimento tecnológico? Ele traz somente benefícios às sociedades? E
quais seus impactos no meio ambiente? É preciso se preocupar com questões éticas?
Neste capítulo, vamos abordar o impacto do desenvolvimento tecnológico no meio
ambiente, sobretudo, sua interface com o consumo e o consumismo. Também vamos
estudar os principais marcos do desenvolvimento tecnológico e sua influência na
organização social, especialmente a partir da expansão da internet. Vamos ver os
avanços da ciência na área da saúde e as questões éticas que isso suscita. E, por fim,
iremos refletir sobre a influência das tecnologias no mundo do trabalho, identificando
os desafios impostos aos trabalhadores.
Bons estudos!
VOCÊ SABIA?
No âmbito da natureza, são muitos os problemas ecológicos que resultam da
sociedade atual, dos métodos de consumo de energia, de matéria-prima e,
principalmente, dos rejeitos dos produtos eliminados no ambiente. A título de
exemplo, podem ser citados: desertificações, buracos na camada de ozônio,
alteração da acidez dos mares, desgelo das calotas polares, alterações climáticas,
alterações das correntes marítimas, improdutividade das terras, entre outros. Na
realidade, esses exemplos citados são somente alguns dos problemas ambientais que
ameaçam o ecossistema da Terra. (PEREIRA; HORN, p. 17, 2019).
Figura 1 - O lixo é um grande desafio às cidades: apenas 3% de todo o lixo produzido no Brasil é reciclado.
Fonte: Strahil Dimitrov, Shutterstock, 2018.
Outro recurso natural bastante utilizado em nossa sociedade é o petróleo, que ainda é
uma das bases que possibilita o movimento da economia de diversos países, tanto
como combustível para veículos automotores, como em seus diversos usos na indústria
de materiais plásticos. No entanto, a queima de combustíveis fósseis é responsável
pela emissão de grandes quantidades de CO2 (dióxido de carbono) no planeta, um dos
principais gases responsáveis pelo efeito estufa e, consequentemente, pelo
aquecimento global (GIDDENS, 2012).
A produção de lixo é outra consequência do consumo desenfreado dos nossos tempos.
Em todo o ciclo de produção de bens, que começa com o processo de extração de
matérias-primas da natureza, até sua utilização e descarte, há a geração de lixo em
estado gasoso, líquido e sólido. Além disso, um grande desafio enfrentado pelas
cidades é o que fazer com a quantidade de lixo produzido diariamente, uma vez que seu
descarte inadequado causa sérios danos ao meio ambiente. Um dos danos é a poluição
dos mares e rios, que gera degradação da vida marinha e põe em risco o abastecimento
de água potável (PEREIRA, 2011). Além disso, há a emissão de gases produzidos pelos
lixões, que intensificam o aquecimento global e poluem os lençóis freáticos. Apesar
disso, muitas pessoas ainda não têm consciência dos riscos à vida do planeta que o
descarte incorreto do lixo representa, por isso sacolas plásticas e embalagens de todo o
tipo são comumente encontrados jogados pelas ruas.
Mas será que a produção de lixo e a poluição do planeta é um caminho sem volta? E o
que nós podemos fazer para amenizar ou até mesmo frear essa situação?
VOCÊ SABIA?
Anthony Giddens descreveu um cenário limítrofe que chamou de paradoxo de Giddens: por
mais que os prognósticos em relação ao futuro do planeta sejam desastrosos se não
revertermos a destruição do meio ambiente, o conhecimento que temos acerca do
fenômeno da mudança climática não é suficientemente forte para mudar os hábitos
cotidianos que contribuem para este fenômeno. O paradoxo reside no fato de que,
quando a mudança climática se fizer sentir ao ponto de modificar os hábitos da
população, será demasiado tarde para freá-la (GIDDENS, 2012).
CASO
A cidade de Paris, na França, tem por prática dar gratuidade no transporte
público em dias que a poluição na cidade alcança picos muito elevados, o que faz
com que menos carros circulem, diminuindo a emissão de gases poluentes. No
Brasil, há cidades em que a poluição alcança níveis até duas vezes superiores aos
estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde, como é o caso de São Paulo.
Apesar disso, não são tomadas medidas como a adotada por Paris. Quais
interesses estão em jogo quando medidas comprovadamente eficazes para o
combate à poluição não são observadas no Brasil? É comum em nosso país que
decisões importantes a respeito do meio ambiente sejam tomadas levando em
consideração, primeiramente, interesses econômicos – como é o caso dos das
empresas de transporte público – em detrimento de interesses de ordem social e
ambiental. Nesse sentido, é necessário um amplo debate na sociedade civil e
uma maior pressão sobre o poder público para que interesses econômicos não se
sobreponham ao da maioria da população.
Para além das ações individuais, também é preciso demandar ações voltadas para a
preservação do meio ambiente, tais como leis que coíbam o desmatamento e a
poluição do solo e dos rios. Adotar uma postura ética perante a natureza, tanto a nível
individual quanto a nível institucional e governamental, é urgente para frear a
degradação ambiental. Além da questão ambiental, o desenvolvimento tecnológico
também tem impacto nas relações sociais, assunto de estudo do nosso próximo tópico.
Figura 2 - Imagens de arte rupestre nos mostram que há muito tempo o homem já domina ferramentas e
domestica animais. Fonte: Jannarong, Shutterstock, 2018.
Figura 3 - A rede mundial de computadores conectou pessoas em todo o mundo, com velocidade e
qualidade. Fonte: nmedia, Shutterstock, 2018.
Figura 4 - A tecnologia abrange, hoje, todas as esferas da sociedade e das relações humanas trazendo
impactos positivos e negativos. Fonte: Shutterstock, 2018.
VOCÊ O CONHECE?
Considerado o pai da ciência moderna, Galileu Galilei foi um cientista italiano que viveu entre os séculos XVI e
XVII. Por defender a teoria heliocentrista de Nicolau Copérnico (1473-1543), de que a Terra girava em torno do
Sol, e não o contrário, entrou em conflito com a Igreja, instituição que definia então o que era a “verdade”,
segundo a interpretação das Sagradas Escrituras. Foi condenado pelo Tribunal do Santo Ofício e obrigado a
desmentir suas teses para escapar da morte.
3.3.1 Passos cada vez mais largos e mais rápidos: os avanços da ciência
Figura 5 - A tecnologia nuclear pode ser usada para gerar energia limpa, mas também para construir armas
de destruição em massa. Fonte: Sergey Nivens, Shutterstock, 2018.
A medicina científica foi uma das áreas que mais cresceu no último século. Em 1920,
Alexander Fleming descobriu, por acaso, o mais poderoso antibiótico utilizado na
medicina: a penicilina. Junto com os antibióticos, as vacinas, cirurgias assépticas,
anestesia, transplantes de órgãos, cirurgias menos invasivas, dentre outros, fizeram
saltar a expectativa de vida dos seres humanos no período (UJVARI; ADONI, 2014). No
Brasil, por exemplo, em 1910, a esperança de vida ao nascer era de 34,6 anos. Em 2010,
de 72,6 anos, ou seja, aumentou 38 anos no período (IBGE, 2018). Já o desenvolvimento
da engenharia genética, a partir da década de 1950, viria revolucionar o entendimento e
as possibilidades das terapias médicas.
Por outro lado, a história da tecnologia e da ciência médica é também um terreno
tortuoso no qual se conjugam avanços significativos com debates e entraves éticos
ferozes. Muitos dos tratamentos terapêuticos disponíveis atualmente são resultados de
testes, experiências e estudos questionáveis do ponto de vista ético.
VOCÊ SABIA?
Há uma grande polêmica envolvendo a pesquisa de células-tronco embrionárias para o
avanço da ciência médica. Células-tronco têm a capacidade de se recompor em qualquer
tecido do corpo humano e, teoricamente, seu uso poderia tratar um infindável número de
doenças, inclusive alguns tipos de câncer. Cientistas alegam que seriam usados embriões
descartados em clínicas de fertilização, mas setores religiosos e grupos antiaborto, que
consideram que a vida começa no momento da concepção, travam o avanço da pesquisa
neste setor da ciência (TAKEUCHI; TANNURI, 2006).
Os debates mencionados acima são questões para as quais não temos respostas exatas.
O que precisamos manter presente é a necessidade de estar atentos ao
desenvolvimento de novas tecnologias e descobertas, pesando as consequências de
seus usos e aplicações sob a égide da ética científica e do respeito à dignidade humana.
Inovações tecnológicas e científicas não são boas ou más em si mesmas, mas
dependem dos usos que a sociedade faz delas. E estes usos, muitas vezes, são pautados
por interesses econômicos, especialmente, de grandes corporações. Como
consequência desses interesses, temos o impacto do desenvolvimento tecnológico
também no mundo do trabalho, nosso assunto de estudo a seguir.
Figura 7 - Saber trabalhar em equipe é hoje uma exigência do mercado de trabalho configurado em um
ambiente marcado pelas TIC. Fonte: kurhan, Shutterstock, 2018.
VOCÊ SABIA?
A crescente informatização das relações de trabalho tem feito despontar novas relações e
formas de trabalho. Uma dessas novas formas é o home office, ou seja, o trabalho em
espaço alternativo ao escritório, ou trabalho remoto. Estudos apontam que tal
modalidade pode aumentar a satisfação pessoal do trabalhador com sua atividade, ao
mesmo tempo em que diminui o impacto ambiental, uma vez que haveria menos
deslocamentos nas cidades. Segundo dados do IBGE, em 2010 23% dos brasileiros
trabalhavam em home office durante parte da semana (FEIJÓ, 2017).
Por outro lado, se há um novo perfil de empresas com demandas específicas aos
trabalhadores, há também, como demonstra Mocelin (2009), uma nova geração de
trabalhadores que aspiram empregos com este perfil que surgiu na Era da Informação.
São pessoas dinâmicas, bem escolarizadas, que preferem um trabalho desafiador,
mesmo com risco de cair no desemprego, a um trabalho com estabilidade, mas
monótono. Preferem também a liberdade de escolher o tempo e o local de trabalho.
Enfim, os computadores e a internet mudaram o mundo do trabalho, e as sociedades
devem compreender estas mudanças para melhor reagir a elas.
Síntese
Chegamos ao final deste capítulo que nos proporcionou uma reflexão sobre o impacto
do desenvolvimento tecnológico na sociedade e sua influência em aspectos como o
meio ambiente, as relações sociais, a produção científica e o mundo do trabalho. Vimos
que a tecnologia contribui para suprir as necessidades humanas, mas, em decorrência
do desenvolvimento tecnológico, a oferta de bens tornou-se barata e abundante,
colaborando para o surgimento de uma mentalidade consumista na sociedade. Essa
pressão gera impacto ao ambiente e é responsabilidade da sociedade como um todo
adotar medidas, como as práticas de consumo responsável, para buscar o equilíbrio
ambiental. Isso nos permite repensar como a tecnologia deve ser utilizada para
trabalhar em favor da humanidade, não para degradá-la.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
• entender a relação da tecnologia com a sociedade e suas consequências;
• refletir sobre os impactos do desenvolvimento tecnológico e industrial no meio
ambiente, e a responsabilidade humana diante disso;
• compreender que o desenvolvimento científico pode melhorar nossa qualidade
de vida, mas que também comporta questões éticas que devem ser observadas;
• aprender que o trabalho e a forma de trabalhar foram completamente
modificadas pelo uso dos computadores e da internet, bem como pelas
inovações decorrentes destas tecnologias.
Bibliografia
ANTUNES, R. Os caminhos da liofilização organizacional: as formas diferenciadas da
reestruturação produtiva no Brasil. Ideias, Campinas, v. 9, n. 2, v. 10, n. 1, p.13-24, 2003.
BAUMAN, Z. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de
Janeiro: Zahar, 2012
BRAGA, R. Luta de classes, reestruturação produtiva e hegemonia. In: Novas
Tecnologias. Crítica da atual reestruturação produtiva. São Paulo: Xamã, 1995.
CARVALHO, J. F. Energia e sociedade. Estud. av. São Paulo, v. 28, n. 82, p. 25-39, dez.
2014. Disponível em:<http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142014000300003
(http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142014000300003)>. Acesso em: 20/04/2018.
CASTELLS, M. A sociedade em Rede. 6. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
CHAPLIN, C. Tempos Modernos. Direção: Charles Chaplin. Produção: Charles Chaplin.
EUA, 1936.
MIRANDA, L. C. D. A produção científica e a ética em pesquisa. Rev Col Bras Cir.
[periódico na Internet]. 2006 Nov-Dez;33(6).
OS EFEITOS da tecnologia nas relações humanas e novas gerações. Jornal Futura Canal
Futura 1205. [s.i.]: Canal Futura, 2015. P&B. Disponível em:
<https://youtu.be/DLwmdfvC_cs>. Acesso em: 02 ago. 2019.
O TRABALHO no Futuro | Documentário. [s.i.]: Nt Jornalismo, 2017. P&B. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=oDcgWE_3VII&feature=youtu.be>. Acesso em: 02
ago. 2019.
PEREIRA, A. HORN, L. Relações de consumo: meio ambiente / org. Agostinho Oli Koppe
Pereira, Luiz Fernando Del Rio Horn. – Caxias do Sul, RS : Educs, 2009.
FEIJÓ. N. Os desafios do home office. Jornal do Comércio. Porto Alegre, 20 mar. 2017,
Mercado de Trabalho. Disponível
em:<http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/03/cadernos/empresas_e_negocios/551603-
os-desafios-do-home-office.html
(http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/03/cadernos/empresas_e_negocios/551603-os-
desafios-do-home-office.html)>. Acesso em: 20/04/2018.
GIDDENS, A. A política da mudança climática. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.
HARVEY, D. Condição Pós-Moderna. São Paulo: Loyola, 1992.
HOBSBAWM, E. J. A Era das Revoluções. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
HUXLEY, A. Admirável Mundo Novo. Rio de Janeiro: Globo, 1932.
IBGE. Esperança de Vida. Séries Históricas e Estatísticas, 2018. Disponível em:
<https://seriesestatisticas.ibge.gov.br/series.aspx?vcodigo=POP209
(https://seriesestatisticas.ibge.gov.br/series.aspx?vcodigo=POP209)>. Acesso em:
20/04/2018.
KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. 5. ed. São Paulo: Editora
Perspectiva S.A, 1997.
LEONARD, A. A história das coisas: da natureza ao lixo e o que acontece com tudo que
consumimos. Tradução: Heloisa Mourão. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.
MOCELIN, D. G. Melhores Empregos para uma Nova Geração de Trabalhadores? In:
GUIMARÃES, Sonia M.K (org.). Trabalho, emprego e relações laborais em setores
intensivos em conhecimento: Brasil, México e Canadá. Porto Alegre: Editora da UFRGS,
2009.
MOTA, C. V. Após dois anos, impacto ambiental do desastre em Mariana ainda não é
totalmente conhecido. BBC Brasil. São Paulo, 5 nov. 2017, Brasil. Disponível em:
<http://www.bbc.com/portuguese/brasil-41873660
(http://www.bbc.com/portuguese/brasil-41873660)>. Acesso em: 20/04/2018.
MUNIZ, C. Um Ano Sem Lixo. Disponível em: <https://www.umanosemlixo.com/
(https://www.umanosemlixo.com/)>. Acesso em: 20/04/2018.
MASAGÃO, M. Nós que aqui estamos por vós esperamos.[documentário] Direção:
Marcelo Masagão. Produção: Marcelo Masagão. Brasil, 1999.
PEREIRA, A. C.; SILVA, G. Z.; CARBONARI, M. E. E. Sustentabilidade, responsabilidade
social e meio ambiente. São Paulo: Saraiva, 2011.
TAKEUCHI, C. A.; TANNURI, U. A. polêmica da utilização de células-tronco embrionárias
com fins terapêuticos. Rev. Assoc. Med. Bras. São Paulo, 2006, v. 52, n. 2, p. 63, abr.
2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
42302006000200001 (http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
42302006000200001)>. Acesso em: 20/04/2018.
UJVARI S. C.; ADONI, T. A História do Século XX Pelas Descobertas da Medicina. São
Paulo: Editora Contexto Trade, 2014.