Resumo de Obrigacoes
Resumo de Obrigacoes
Resumo de Obrigacoes
Princípio da Boa-Fé
Este princípio está expresso em enumeras normas. É um princípio basilar para o cumprimento
de uma obrigação e tem carater objetivo enquanto regra de conduta das partes. Segundo o art.
762º/2, “no cumprimento da obrigação, assim como no exercício do direito correspondente,
devem as partes proceder de boa-fé”, ou seja, celebrado um contrato ele deve ser cumprido,
portanto, está-se numa situação de cumprimento do contrato que produzirá outros efeitos e
outras obrigações. A boa-fé tem de estar na celebração do contrato e no cumprimento das
obrigações. (art. 227º/1: “quem negoceia com outrem para conclusão de um contrato deve,
tanto nos preliminares como na formação dele, proceder segundo as regras da boa-fé, sob pena
de responder pelos danos que culposamente causar à outra parte”, ou seja, no período da
formação do contrato tem-se uma regra que resulta no princípio basilar da boa-fé. Assim, junta-
se o art. 227º mais o art. 762º). Este princípio é importante para as fases vitais do negócio
jurídico e da relação obrigacional – formação, integração e execução – onde se exterioriza a
regra da boa-fé. Outro preceito a denunciar é o abuso do direito (art. 334º): “é ilegítimo o
exercício de um direito, quando o titular exceda manifestamente os limites impostos pela boa-fé,
pelos bons costumes ou pelo fim social ou económico desse direito”, por exemplo: tem-se um
contrato de arrendamento que está sujeito a forma escrita, mas o senhorio diz que não é
necessário, o contrato é nulo. Entretanto, o arrendatário foi pagando a renda e 18 meses depois,
o senhorio chega a conclusão que a renda era pouca e que arranjou que pagava mais. Meteu uma
ação para anular o negócio que já era nulo. O arrendatário pode também intentar uma ação por
abuso de direito, já que não agiu de boa-fé. Também as cláusulas de contratos gerais
(seguradoras) não podem ir contra a boa-fé: artigo 15º.
Conceito de Obrigação
O conceito de obrigação surge previsto no art.397º do CC, e são situações jurídicas que
têm por conteúdo a vinculação de uma pessoa em relação a outra á adoção de uma
determinada conduta em benefício desta.
Requisitos materiais: possível (caso não seja temos nulidade 401º), lícito (398º) e
determinável (400º)
Direitos obrigacionais que envolvem o gozo de uma coisa, por exemplo: a locação (art. 1022º).
Alguém se obriga a proporcionar o gozo da coisa. Também é o caso do contrato de comodato
(art. 1129º). Pretende-se a entrega de uma coisa para que se sirva dela. Quanto aos direitos de
gozo, eles têm umas características especiais que os diferem de direitos de crédito com regime
especial. São direitos de crédito só que não são os direitos de crédito comuns. Tais
características são:
1. Corpus e o animos (posse): a entrega da coisa e a intenção de agir como proprietário da
coisa. Sem estas características não se tem posse mas detenção de uma coisa e ou se é possuidor
ou se é detentor. A figura da usucapião dá a possibilidade ao possuidor de se tornar proprietário
da coisa, em função dos carateres. Outra característica da posse é os métodos de defesa da
posse (art. 1276º). A posse está ligada aos direitos reais e através dela pode-se adquirir a
propriedade, por exemplo: Senhorio celebra um contrato de arrendamento da habitação com
Arrendatário. A é detentor na medida que não tem o animos. O senhorio, pelo contrário,
preenche as duas categorias, é possuidor (art. 1037º/2: senhorio arromba porta ao arrendatário,
ele pode utilizar este artigo como manutenção da coisa). Há uma certa ligação entre os direitos
de gozo e os direitos reais. Segundo o artigo 407º, há uma incompatibilidade entre direitos
pessoais de gozo: quando, por contratos sucessivos, se constituírem, a favor de pessoas
diferentes, mas sobre a mesma coisa, prevalece o direito mais antigo em data, ou seja, o
senhorio arrendou em Janeiro de 2015 a Matilde e depois em Fevereiro arrendou a Carolina,
qual contrato prevalece? O primeiro, entre o senhorio e Matilde, pois vale o direito
primeiramente constituído. Outra situação que aproxima os direitos de gozo aos direitos reais: o
senhorio celebra um contrato de arrendamento com Ana. Entretanto, o senhorio vende a Sara
que agora é proprietário e senhorio de Ana. O direito ao arrendamento mantem-se apesar da
mudança de propriedade, pois dá-se o fenómeno da inerência à coisa (art. 1057º). Estas
características aproximam os direitos de crédito aos direitos reais. Também se dá o fenómeno
da cessação da posição de senhorio (crédito de rendas).
Tipos de exceções
1. Exceção do não cumprimento: ideia de “toma lá, dá cá. Num contrato bilateral,
enquanto uma das partes não cumprir a sua obrigação, a outra invoca esta figura até a
verificação da obrigação (art. 428º e seguintes).
Prescrição (art. 402º a 404º): corresponde a um dever de justiça. A prescrição tem o prazo
ordinário de 20 anos, no entanto, há casos em que o prazo pode derivar, como por exemplo: art.
510º é de 5 anos, e no art. 317º é de 6 meses. Prescrever o direito é torna-lo mais fraco, porque
não se extingue, é fazer um contrato em que a outra parte pode alegar prescrição. O devedor
perde o direito de exigir e só tem o direito de pretender, ou seja, torna-o o direito fraco. O
regime destas obrigações é diferente das obrigações típicas.
Tipo de Impossibilidade
Originária – artigo 401º\1 e 289º, leva á nulidade com efeitos do artigo 289º,
isto é, retroatividade. Quando se celebra o contrato a prestação já não é possível.
Superveniente: Deixa de ser possível após a celebração do contrato.
o Impossibilidade culposa 801º, responde por responsabilidade civil.
o Impossibilidade não culposa 790º\1, nestes casos extingue-se a prestação
do devedor, nos contratos em geral (795º\1) o credor fica desobrigado e
tem direito a restituição. Exceção 796º com a propriedade transfere-se o
risco, ou seja, quando há transferência o credor não fica desobrigado.
Tipo de incumprimento
Mora (804º)
Características da solidariedade:
Identificação da prestação para todos.
Extensão integral do direito/ dever de prestar em relação a todos.
Efeito extintivo da obrigação por via do cumprimento.
Tipos de solidariedade:
Solidariedade passiva (de devedores)
A ______________________________________ B e C
Relações Externas
Art. 519º
Maior eficácia do direito do credor: A pode Art. 514º
exigir de B a prestação em falta. A devia a C 1500€, B demandado pode
invocar a exceção de não cumprimento do
contrato – amplitude dos meios de defesa.
Art. 517º/1 – 2ª Parte
O credor pode demandar ambos os devedores
conjuntamente. Art. 520º
Impossibilidade da prestação.
B _________________________________ C
Relações Internas
Art. 524º
Direito de Regresso
Art. 516º
Em princípio a repartição é proporcional
Codevedores: B e C
B pagou a C, se lhe foi dado um prazo mais largo
para pagar, pode invocar esse prazo para evitar o
cumprimento. Evita o pagamento de regresso
imediatamente. C vai pagar mas pode ser mais
tarde.
Art. 526º
Relações Externas
Ponto de vista do credor Ponto de vista do devedor
Art. 532º
Art. 517º/1
X e Y, qualquer um pode demandar o Banco
2.1 Reais Quoad Effectum: não é preciso outro ato para além do consenso.
2.2Reais Quoad Constitutionem: é preciso outro ato para além do consenso: mútuo (art. 1142º
- carece da entrega do dinheiro) ou penhor civil (precisa da entrega).
5.1. Gratuitos: gera obrigações para uma das partes, por exemplo: a doação.
5.2. Onerosos: gera obrigações para ambas as partes, por exemplo: a compra e venda.
Gestão de Negócios
Presente no art. 464º, e trata-se da prática de atos urgentes e necessários.
Contrato de Promessa
Os artigos mais importantes são o 410º a 413º, 441º a 442º, 755º\l\f (direito de
retenção), 830º (contrato de promessa de execução específica).
Noção
Presente no artigo 410º\1\1ª parte, “á convenção pela qual alguém se obriga a celebrar
certo contrato são aplicáveis as disposições legais relativas ao contrato prometido”.
Requisitos do contrato de promessa
Convenção contratual.
Efeitos obrigacionais: “alguém se obriga”.
Celebração futura de determinado contrato.
É possível distinguir contratos de promessa unilaterais e bilaterais e ainda, contratos de
promessa com eficácia real e com eficácia obrigacional.
1. Contrato de promessa bilateral (art. 410º/2): a promessa respeitante à celebração de um
contrato vincula ambas as partes e ambas têm de assinar o documento.
2. Contrato de promessa unilateral (art. 411º): vincula apenas uma das partes, por exemplo:
Ana celebrou um contrato com Bento, nos termos do qual apenas ela é que se vincula a vender.
O problema que suscita: Bento entregou 5.000€ a Ana. O que significa esses 5.000€? Podem ser
considerados sinal. Acontece que esta promessa é unilateral e Bento que, não se vinculou,
entregou o dinheiro, será que pode mesmo ser um sinal? A teoria maioritária defende que é uma
figura equivalente ao sinal e caso Ana falhe a promessa, Bento pode exigir de volta.
Príncipio da Equiparação:
Resulta duas ideias: o contrato de promessa é sempre um contrato e todas as regras gerais do
negócio são-lhe aplicáveis mas também são aplicáveis as regras do contrato prometido, no
entanto, há desvios:
Forma (410º\2): a partir do contrato prometido retira-se a forma do contrato promessa
(doc.autentico ou doc.particular), no fundo é necessário a redução a escrito do contrato
promessa. Para a venda de um quadro, não é preciso documento, pelo que há liberdade
de forma (410º\2). Além da redução a escrito exige-se duas formalidades:
reconhecimento das assinaturas e certificação da licença de construção (410º\3).
Regras do contrato definitivo que pela sua razão não são extensivas ao contrato
promessa, como é o caso dos artigos 879º, 1682º\A, 892º, 1408º.
3. Eficácia real da promessa (art. 413º): para este efeito é necessário o preenchimento de
cinco requisitos, nomeadamente:
Princípio da transmissão/ constituição dos direitos reais (compra e venda).
Sobre bens imoveis ou móveis sujeitos a registo.
Declaração expressa (as partes da promessa têm de atribuir eficácia real ou erga omnes).
Inscrição no registro.
Escritura pública ou documento particular autenticado.
Execução específica:
Se alguém se tiver obrigado a celebrar certo contrato e não cumprir a promessa, pode a outra
parte, na falta de convenção em contrário, obter sentença que produza os efeitos da declaração
negocial do faltoso, sempre que a isso não se oponha a natureza de obrigação assumida (art.
830º/1). Em face deste preceito, se qualquer um dos promitentes não celebrar o negócio
definitivo, cabe à outra parte a faculdade de conseguir sentença que substitua a manifestação de
vontade do faltoso. A execução específica é um efeito natural e meramente acidental do contrato
promessa. Contudo, a norma que a estabelece tem natureza supletiva e os contraentes podem
afastá-la mediante “convenção em contrário”. Não se exige uma cláusula expressa nesse
sentido, uma vez que, entende-se que há convenção em contrário se existir sinal (art. 440º a
442º) ou se houver sido fixada uma pena para o não cumprimento da promessa (art. 830º/2).
Todavia, elimina-se a possibilidade de exclusão expressa ou presumida da execução específica
quanto às promessas respeitantes a direitos reais sobre edifícios, frações autónomas. Nestes
casos, a norma é imperativa pois impede o afastamento da execução específica.
Por exemplo: Ana vendeu a Carlos um imóvel, depois de celebrar contrato promessa com
Bento. Por sua vez, Bento vai instaurar uma ação de execução específica contra Ana, mas Bento
só tem o direito obrigacional, oponível a registro. O contrato entre Ana e Bento só produz
efeitos obrigacionais e inter partes. Mas Carlos tem o direito real, não oponível mas não
registrou – inoponibilidade a terceiros. Porém é Bento ou Carlos que ganha a ação e fica com a
coisa? Prevalece o direito real mesmo ele não estando registado (acórdão 5/11/1998).
Requisitos da execução específica (art. 830º):
1. Tem de haver mora (mas ser possível)
2. Na falta de convenção em contrário (execução específica):
Existe cláusula de execução específica, é possível a execução específica.
Existe cláusula que impede execução específica, não se admite a execução e a cláusula pode
ser expressa ou tácita (art. 830º/2 – sinal ou pena para caso de não cumprimento da promessa.
Omissão no contrato promessa quanto à execução específica, é possível execução.
Sempre que a isso não se aplicar a natureza da obrigação assumida – pressupõe a entrega da
coisa (penhor) carece do consentimento de alguém (co- proprietário e cônjuge).
Direito de Retenção:
Direito de reter as coisas (art. 754º).
Muito importante o artigo 755º/f) que remete para o artigo 442º.
Por exemplo: Ana celebra um contrato promessa de compra e venda com Bento e Ana entrega a
coisa e Bento entrega um sinal de 100.000€ de uma coisa de 200.000€. Desta forma, dá o direito
à retenção da coisa quando não há cumprimento.
Bento designa-se como retentor, ele passa a reter mas não para sempre, não se transforma em
proprietário, só até ser ressarcido dos danos de 200.000€. Ele retém para receber o crédito.
Caso não houvesse sinal: o imóvel seria penhorado após uma ação executiva. Bento tem de abrir
mãos com a venda executiva e perde a coisa que nunca foi sua. No entanto, há um conflito
porque Bento tem um título de crédito em sede de ação executiva, assim Bento terá de reclamar
o seu crédito. Se reclamar vai receber o valor, senão reclamar recebe o crédito no âmbito da
ação executiva se a venda for 100.000€, mas Bento tem a receber 200.000€. Primeiramente
recebe os 100.000€ e depois propõe uma ação para receber o restante.
Pacto de preferência
Consiste num acordo pelo qual alguém se obriga a dar preferência a outrem na eventual
conclusão futura de um determinado contrato. O pacto de preferência apresenta-se sempre
unilateral, visto que só uma das partes se vincula. O beneficiário permanece livre de exercer ou
não o direito que lhe cabe. Já o promitente não assume uma obrigação ou vinculação pura e
simples mas antes condicionada. Ele fica adstrito a dar preferência a outrem na realização de
determinado contrato, todavia apenas se compromete a preferi-lo.
Sendo assim, o pacto de preferência pode ser:
1. Legal: decorre da compropriedade (art. 1409º), por exemplo: Ana e Bento são
comproprietários, se Ana quiser vender a sua cota parte a Carlos por 50.000€, tem de dar
preferência a Bento. No entanto, se Ana vende-se a Carlos, sem dar preferência a Bento, este
podia instaurar uma ação no prazo de 6 meses a contar da data que teve conhecimento (art.
1410º).
2. Convencional: decorre da convenção. Pode ser aplicada eficácia real (art. 1410º - 421º/2 –
instaura a ação de preferência) ou eficácia obrigacional (art. 1410º à contrário – só tem direito a
uma indemnização por causa dos danos causados).
Parte Prática
Caso Prático 1:
A e B, administrador da empresa Y, celebraram um contrato de compra e venda através
do qual, A adquire um imóvel de propriedade de Y.
A compromete-se a pagar, no prazo de 15 dias. Decorrido esse prazo, não o faz. B,
agastado com a situação, pretende receber a quantia em falta e tendo conhecimento que A
é socio de uma empresa pretende obter um montante da empresa em questão. Quid Iuris?
A celebrou um contrato de compra e venda de um imóvel com B, administrador da empresa Y.
15 dias depois B vai sobre a empresa de A, pois não fez o pagamento.
Assim, é preciso identificar a relação jurídica obrigacional, a fonte obrigacional (requisitos:
matérias e formais; e efeitos) e identificar o incumprimento.
Quanto à fonte tem-se um contrato de compra e venda (art. 874º), e são partes A e Y. Quanto aos
vínculos da relação jurídica obrigacional/efeitos: reais (879º/a) e obrigacionais (879º/b/c).
Assim, ambos são, simultaneamente, credor e devedor, logo tem-se dois vínculos e portanto, é
uma relação jurídica obrigacional complexa. Em que momento é que A se torna proprietário?
Art. 408º, por mero efeito do acordo – princípio da consensualidade.
Qual é o objeto da obrigação? O imóvel, a entrega do imóvel, e tem de ter a forma de escritura
pública – requisito formal. Embora a regra seja a liberdade de forma (219º) para os imoveis há
uma exceção e por isso, tem de ser por escritura pública.
A prestação tem de ser possível (401º), determinável (400º) e lícita (298º) – requisitos materiais.
A não paga o preço, está-se perante um incumprimento que poderá ser de mora (atraso – 804º)
ou definitivo (798º). A mora tem dois requisitos: prestação ainda tem de ser possível e tem de
haver interesse do credor (808º/2).
O definitivo é quando já não é possível a realização da prestação e nesse sentido, Y notifica A
(Interpelação Admonitória – 808º/1) tem dois requisitos: tem de ter um prazo razoável e
estabelecer uma culminação (resolução do contrato).
Quando a mora cessa? Quando o credor deixa de ter interesse, quando se torna definitivo ou
quando se cumpre a obrigação.
Solução desta situação: Y quer receber o dinheiro da empresa X, em que há é acionista. Uma
obrigação tem as respetivas características: autonomia, relatividade e patrimonialidade (398º/2).
A que interessa aqui é a relatividade, é um direito relativo, só produz efeitos entre as partes e
não afeta terceiros, estabelece-se um vínculo da ausência da eficácia externa das obrigações.
Logo, Y só pode ir buscar a sua prestação a A e não pode a X por ser uma parte distinta.
Caso Prático 2:
A apresentou uma proposta à empresa X para adquirir um relógio de coleção. Enquanto
espera pela resposta foi abordado por B, que sabia daquela proposta, tinha muito interesse
na compra do relógio para completar a sua coleção.
Consequentemente, A e B celebraram um contrato de compra e venda. Entretanto, A
recebeu a resposta da empresa X, dizendo-lhe que não vai vender o relógio. Face a isso, A
exige o pagamento do preço a B, sendo que este invoca a nulidade do contrato. Quid Iuris?
Está-se perante uma relação jurídica complexa, são duas: A e X e A e B. A primeira relação tem
como objeto o relógio (art. 202º), no art. 211º fala que, as coisas podem ser futuras e aí
distinguem-se coisas absolutamente futuras (não existem naquela data e não estão na
disponibilidade) e coisas relativamente futuras (coisas que de facto existem mas que à data do
conhecimento não estão na disponibilidade).
Posteriormente, A celebra um contrato de compra e venda com B, pode faze-lo? Segundo o art.
880º, sim pode. E B pode invocar a nulidade? Sim, pode. O art. 880º permite a compra e venda
de bens futuros, mas distingue-se duas obrigações: obrigação de resultado e obrigação de meios
(compromete-se a diligenciar o relógio). Se A tivesse prometido tentar mas não consegui-se o
relógio, não haveria uma falta de cumprimento pois ele apenas se obrigou a tentar e não a
conseguir. Na obrigação de resultado obriga-se a entregar a coisa, logo há responsabilidade). A e
B são simultaneamente credor e devedor, está-se perante o regime de bens futuros (art. 880º: é
um negocio jurídico aleatório, é a sorte dos acontecimentos). Se tiver natureza aleatória, B pode
não pagar o preço. Então segundo o art. 880º/2, B pode arguir nulidade e porque? Porque X
recusou a proposta, logo o relógio não está nas mãos de A e por isso já não é venda de bens
futuros mas de bens alheios (art. 892º).
A quer exigir o dinheiro a B a qualquer custo, pode? Não, porque não há nada na hipótese que
nos diga que a compra e venda tem caracter aleatório. B pode arguir nulidade? Pode, pois tem a
certeza que A não é nem será proprietário do relógio.
Caso Prático 3:
Em 15/01/2015, Carolina vendeu a Matilde um automóvel pelo preço de 8000€ a ser pago
em 16 prestações mensais, sucessivas e iguais. Ficou convencionado que o automóvel seria
entregue apos o pagamento da primeira prestação. A vendedora reservou a propriedade
até ao pagamento integral das oito primeiras prestações.
NOTA: Classificação das prestações no tempo:
1. Prestações Instantâneas: ir ao bar e tomar um café.
2. Prestações Fracionadas: estão limitadas.
3. Prestações Duradouras: o quanto não está definido.
a) Execução continuada: dar em arrendamento um imóvel.
b) Periódica: pagar o arrendamento.
Estas prestações têm regimes jurídicos diferentes, para a fracionada é o art. 781º (falhando uma
prestação, vencem-se as restantes) – perda do benefício do prazo, isto é, podem ser exigidas as
prestações vincendas. Outro aspeto desta prestação é a resolução do contrato (432º - 434º/1),
portanto, Carolina podia exigir o pagamento e resolver o contrato com efeitos retroativos.
Nas prestações duradouras já não há perda do benefício do prazo e a resolução do contrato tem
efeitos prospetivos (art. 432º - 434º/2).
No caso de uma compra e venda seria resolvida com o art.781º (perda do benefício do prazo
mais a resolução do contrato, art. 801º/2 – 432º e 434º/1). Em primeiro lugar tem-se a
manutenção do contrato, na segunda a destruição do contrato. No entanto, a compra e venda a
prestação tem um outro regime (art. 934º): a parte mais fraca é o devedor do preço. O art. 934º e
780º, pretende dar uma segunda oportunidade ao devedor. O art. 934º divide-se em duas partes:
uma a resolução de contrato (801º/2) e outra diz respeito à perda do beneficio do prazo (781).
Resolução do caso:
Matilde faltou à 4ª e 5ª prestação, podia Carolina resolver o contrato? Verificou-se a compra e
venda à prestação, a reserva da propriedade, a entrega da coisa e ainda, a falta do pagamento de
valor inferior a 1/8. Matilde não pode beneficiar do art. 934º, pois falhou com duas prestações,
sendo possível para Carolina resolver o contrato e exigir o pagamento do resto das prestações,
isto só no momento em que tem a reserva de propriedade.
c) Imagine agora que, Matilde falhou o pagamento da 10ª prestação. Quid Iuris?
O regime especial não é aplicável na medida que, já não há reserva de propriedade e assim, não
pode haver resolução do contrato (art. 934º/1ª parte). Quanto à perda do benefício do prazo: os
requisitos estão preenchidos, pelo que ainda é aplicável (art. 934º/ 2ª parte). Há, portanto, uma
inaplicabilidade do regime geral, artigo 781º. Assim, Carolina não pode fazer nada, apenas pode
exigir os juros da prestação em atraso.
Caso Prático 4:
João vende a Ana um computador pelo preço de 1000€ a pagar em 10 prestações mensais.
Reservou a propriedade até integral pagamento. A entrega da coisa foi imediata.
a) Ana falha o pagamento da 5ª prestação. Quid Iuris?
Está-se perante uma relação jurídica obrigacional complexa com dois vínculos: entrega da coisa
(instantânea) e pagamento da coisa (fracionada). Neste contrato está estabelecida a reserva de
propriedade (art. 409º). Ana faltou ao pagamento da 5ª prestação. Verifica-se o regime especial
do artigo 934º e retira-se que não se pode resolver o contrato nem beneficia da perda do prazo
por não preencher todos os requisitos. Logo, não acontece nada de mal a Ana, pelo que, se
aplica os mecanismos de defesa.
c) Pressuponha agora que, em vez da 5ª prestação referida na alínea a), Ana falhou a 5ª e
6ª prestação nas mesmas condições.
Não se aplica o regime especial do artigo 934º/1ª parte nem a 2ª parte, por isso pode-se aplicar o
regime geral do artigo 801º/2 sem o limite do 886º, ou o artigo 781º. Logo, João pode escolher o
regime que lhe der mais garantias, na medida que, se aplicar o artigo 801º/2 será para a
destruição do contrato (recebe a coisa mas devolve as prestações), ou o artigo 781º para a
manutenção do contrato (exige as restantes prestações).
Caso Prático 5:
a) Nuno compra a Jorge um computado em segunda mão pelo preço de 600€ a pagar em
seis prestações mensais e sucessivas de 100€ cada. Havendo reserva de propriedade até
integral pagamento. Acordam entre eles que, Jorge procederá à entrega da coisa 5 dias
depois, data em que se vencerá a primeira prestação do preço. Na véspera da data
acordada, um incendio destrói o computador. Quando Nuno se dirige para levantar o
computador é informado por Jorge que a sua obrigação se extinguiu mas que ele terá de
proceder de qualquer maneira ao pagamento do preço.
Contrato de compra e venda (art. 874º com os efeitos no art. 879º/a/b/c). O efeito da alínea a)
não opera porque há uma reserva de propriedade nos termos do art. 409º. Quais são as
consequências jurídicas: não há transferência do risco, na medida que, não houve transferência
de propriedade. MAS, como há reserva de propriedade (condição suspensiva, o risco corre por
conta do alienante (vendedor) durante a pendencia da ação – art. 796º/3/2ª parte). Logo,
extingue-se a obrigação por causa imputável do devedor (art. 790º/1) e Nuno foi exonerado do
pagamento da sua prestação (art. 795º/1).
b) Imagine que, Jorge entrega a Nuno o computador de forma acordada e que Nuno
cumpre as três primeiras prestações, acabando por falhar a quarta. Quid Iuris?
Relação Jurídica Obrigacional Complexa: o pagamento do preço é uma prestação fracionada.
Nuno faltou ao pagamento de uma prestação, poderia aplicar o regime do art. 934º/1ª parte e 2ª
parte? Não, porque a prestação é superior a 1/8. Por isso, aplica-se o regime geral, há o limite do
art. 886º? Não, porque ainda não foi transmitida a propriedade, pelo que, Jorge pode resolver o
contrato (art. 801º/2) ou exigir as restantes prestações (art. 781º). Assim, Jorge irá escolher o
regime que lhe for mais favorável.
Caso Prático 6:
Maria tem uma herdade no Alentejo na qual produz vinho. Vendeu a Joaquim e a Nuno,
dois irmãos, 500 litros de vinho tinto da colheita de 2011 de entre aqueles que tinha no seu
armazém, tendo ficado acordado que o vinho seria entregue daí a 30 dias na caso dos
adquirentes e que o pagamento seria efetuado em 8 prestações iguais, mensais e sucessivas,
vencendo-se a primeira na data de celebração do contrato.
a) Pressuponha que, 3 dias antes da celebração do contrato houve uma inundação que
levou à perda do vinho, facto que Maria desconhecia.
Relação Jurídica Obrigacional Complexa que tem origem num contrato de compra e venda (art.
874º que pode ter ou não os efeitos do art. 879º). O que se passa aqui? Maria vendeu o vinho
mas desconhecia que 3 dias antes tinha havido uma inundação, logo a obrigação é impossível,
isto é, há uma impossibilidade que pode ser:
1. Originaria (art. 401º - gera a nulidade e tem efeitos retroativos – art. 289º).
2. Superveniente (art. 790º/1 – não culposa. A impossibilidade culposa está no art. 798º e tem
responsabilidade civil). A Superveniente ainda extingue a prestação do devedor e o credor está
desobrigado e tem direito à restituição (art. 785º/1). Há uma exceção (art. 796º): quando há
transferência de propriedade, o credor não fica obrigado.
Está-se perante uma impossibilidade originária, pelo que, o negócio seria nulo (art. 401º) e caso
já tenha havido entrega do preço, este deveria ser restituído (art. 289º).
a) A camioneta foi assaltada durante o percurso e aparecem as garrafas partidas uns dias
depois. Quid Iuris?
O risco corre por parte do devedor, ele não fica exonerado enquanto não cumprir a sua
obrigação (art. 540º). Enquanto Bento tiver garrafas daquela colheita tem de entregar, senão tem
de devolver o dinheiro a Ana.
Caso Prático 8:
Nuno arrenda a Jorge um imóvel pelo valor de 6000 euros anuais a pagar em prestações
sucessivas de 12 meses de 500 euros cada.
Nuno entrega o arrendado a Jorge e este cumpre as cinco primeiras prestações, acabando
por falhar a sexta. Nuno, revoltado, pretende resolver o contrato fazendo suas as
prestações já recebidas, pode fazê-lo?
Em alternativa, pode Nuno exigir as prestações vincendas?
Como não se trata de uma compra e venda não se pode aplicar o regime especial do art. 934º.
Está aqui presente um contrato de arrendamento de prestações duradouras e periódicas a ser
pagas em prestações sucessivas. Nuno pode resolver o contrato, por ter efeitos prospetivos e não
retroativos. Mas já não se aplica a perda do benefício do prazo (art. 781º). Portanto, pode faze-lo
nos termos do art. 434º/2, ficando com as prestações já recebidas, no entanto, não pode pedir as
vincendas porque o tempo é indeterminado e não se sabe o prazo que o Jorge vai permanecer no
arrendado.
Caso Prático 9:
António, emigrante em França, possui uma casa onde é natural.
Na sua ausência, e após um temporal, o seu irmão mandou restaurar o telhado da casa por
a água estar a danificar o recheio. Porque o empreiteiro fez um preço de amigo deu
também uma pintadela ao exterior sendo certo que era conhecida a repugnância de
António pela cor rosa com qua a casa foi pintada.
Para o conserto do telhado, primeiramente, deve-se verificar os requisitos da gestão de negócios
Direção de negócio alheio.
Falta de autorização (impossibilidade de contacto ou dono do negócio não estava em
condições físicas/ psíquicas para dar autorização) – há o dever de informar. O irmão logo que
possa tem de prestar todas as informações e manter a gestão se necessário.
Os atos que constituem a direção do negócio alheio devem ser urgentes.
Tem de ser no interesse e por conta de outrem.
A gestão de negócios pode ser irregular ou regular. Na regular há aprovação final (art. 469º) ou
nos termos (art. 468º) quando se consegue fazer prova jurídica de que os atos efetuados foram
por conta da vontade real ou presumida do dono). Para o arranjo do telhado está-se perante uma
gestão regular.
Já para o conserto da pintura, a gestão não foi aprovada logo é irregular. Como não é um ato
urgente, não chega a ser gestão de negócios pelo que resolve-se esta questão pelas regras do
enriquecimento sem causa.
b) Pressuponha que meses mais tarde Bento recebeu uma carta de Ana: “comunico-lhe
que estou disposta a vender o meu quadro por 10.000€. Queira informar nos termos e
prazo legais se está interessado na compra”. Bento não respondeu. Um ano depois o
quadro foi vendido a Daniel por aquele preço. Diga se Bento conserva algum direito.
A comunicação para ser dada a preferência tem requisitos, nomeadamente:
1. Objeto do pacto de preferência:
Móvel (não há nunca uma ação de preferência): o juiz substituiu a terceira pessoa pelo
preferente no contrato celebrado com o autor do pacto de preferência, ou seja, substitui Carlos
por Bento.
Imóvel (art. 1410º + 413º “senão” 798º)
2. Projeto de contrato: (montante preço; forma do pagamento; quando vai ser celebrada a
escritura da venda deve-se dizer a quem vai ser vendida a coisa – art. 416º).
3. Forma (é uma questão de prova).
Neste caso, a comunicação não cumpre requisitos logo o direito de preferência não caduca. Só
caduca quando for feita comunicação nos moldes previstos na lei e passado o prazo estipulado.
O bem é móvel, pelo que, não está sujeito a registro e não há lugar a ação de preferência (art.
421º - 798º).
Frequência de 11 de Julho de 2014 (GRUPO IV) – ver aula prática 28/05 TGO
1. P invoca nulidade do contrato de promessa com base em conhecimento presencial das
assinaturas. Pelo art. 410º/2/3 o contrato seria nulo e através do art. 220º, Pedro não tem de
invocar a nulidade (art. 410º/3). A falta de consentimento não gera nulidade (art. 1682º/A). Um
terceiro podia invocar? Não, não se aplica o artigo 286º. E se as partes pusessem uma clausula
em que não podiam invocar nulidade. Mas o artigo 410º/3 é uma norma imperativa e por isso
não podiam colocar uma vez que, seria abuso de direito. E se um terceiro invocasse a nulidade
com base na simulação? Os terceiros só não podem invocar a nulidade por omissão das
formalidades: (acórdãos do art. 410º/3), Mas por simulação pode.