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OS MUÇULMANOS NA PENÍNSULA IBÉRICA

OCUPAÇÃO MUÇULMANA

O profeta Maomet e o Islamismo

No séc. VI a Arábia (península da Ásia) era bastante pobre. Foi neste local que
Maomet, nascido na cidade de Meca, anunciou-se em 612 como profeta (enviado
de Deus para revelar verdades sagradas aos homens) e começou a pregar uma
nova religião – o Islamismo.
Os seguidores desta religião são os Muçulmanos e acreditam num único deus –
Alá. Os princípios desta religião estão reunidos num livro sagrado chamado
Corão.
Obrigações dos Muçulmanos:
• reconhecer Alá como Deus único e Maomet como seu profeta;
• rezar cinco vezes por dia virados para Meca;
• jejuar no mês do Ramadão;
• dar esmola aos mais pobres;
• ir a Meca pelo menos uma vez na vida.
Conquista da Península Ibérica

Os Muçulmanos começaram a conquistar novos territórios de forma a:


• expandir o Islamismo, procurando converter outros povos à sua religião;
• melhorar as suas condições de vida dado que a Arábia era um território
bastante pobre.
Foram conquistados territórios na Ásia, no Norte de África e, em 711, iniciou-se a
conquista da Península Ibérica. Os Mouros (designação para os Muçulmanos
oriundos do Norte de África) entraram pelo estreito de Gibraltar e venceram os
cristãos visigodos na batalha de Guadalete.
Muito rapidamente (em cerca de dois anos) os Muçulmanos ocuparam
praticamente toda a Península Ibérica, com exceção das Astúrias e parte dos
Pirenéus, devido às suas condições adversas.
Esta ocupação foi realizada através do uso de armas, mas, em muitos casos,
faziam-se acordos com os visigodos que lhes permitiam viver em paz e
confraternizar, desde que se submetessem aos novos conquistadores.
CRISTÃOS E MUÇULMANOS NO PERÍODO DA RECONQUISTA CRISTÃ
A resistência cristã

Durante a ocupação muçulmana, alguns nobres visigodos conseguiram refugiar-se


nas Astúrias (zona montanhosa no norte da Península ibérica). Foi a partir deste
local que os cristãos formaram núcleos de resistência contra os Muçulmanos e, no
ano de 722, obtiveram a sua primeira grande vitória, na batalha de Covadonga,
chefiados por Pelágio. Depois deste acontecimento formou-se o reino das
Astúrias.

A Reconquista Cristã
Foi então a partir das Astúrias e junto dos Pirenéus que se iniciou a Reconquista
Cristã, ou seja, os cristãos começaram a lutar contra os Muçulmanos para voltar a
conquistar as terras que perderam para os Muçulmanos.

Reinos cristãos formados a partir do Reino das Astúrias:


• reino de Leão;
• reino de Castela;
• reino de Navarra;
• reino de Aragão.

Cada reino tinha como objetivo conquistar terras a sul aos Muçulmanos de forma
a expulsá-los da Península Ibérica.
Foram precisos quase 800 anos para o conseguirem. Entretanto também houve
períodos de paz e confraternização. Cristãos e Muçulmanos foram-se habituando
a aceitar costumes e tradições diferentes dos seus.

A HERANÇA MUÇULMANA
Influência muçulmana nos povos peninsulares

Os povos que sofreram maior influência da presença dos Muçulmanos na


Península Ibérica foram os do Sul pois foi aí que permaneceram mais tempo.
As principais marcas muçulmanas foram:
• construção de mesquitas e palácios decorados com azulejos;
• casas com terraços e pátios interiores e eram caiadas de branco;
• desenvolvimento de indústrias artesanais como armas, carros e tapetes;
• desenvolvimento da agricultura com novos processos de rega, a nora, a
picota e o açude;
• introdução de novas plantas como a laranjeira, o limoeiro, a amendoeira, a
figueira e da oliveira;
• novos conhecimentos de medicina, navegação, astronomia e matemática;
• cerca de 600 palavras, a maior parte começadas por al.

Condado Portucalense
Durante a Reconquista Cristã, os reis cristãos da Península Ibérica pediram auxílio
a outros reinos cristãos da Europa para reconquistar os territórios aos
Muçulmanos. Os cavaleiros que vieram ajudar na luta contra os Muçulmanos
chamavam-se cruzados.

A pedido de D. Afonso VI, rei de Leão e Castela, vieram de França os cruzados D.


Raimundo e D. Henrique. Em troca pelos seus serviços os cruzados receberam:
• D. Raimundo: a mão da filha legítima do rei, D. Urraca, e o Condado de
Galiza;
• D. Henrique: a mão da filha ilegítima do rei, D. Teresa, e o Condado de
Portucale.

Estes condados pertenciam ao reino de Leão, por isso D. Henrique tinha que
prestar obediência, lealdade e auxílio militar ao rei D. Afonso VI. Em 1112 morre
e, como o seu filho D. Afonso Henriques apenas tinha 4 anos de idade, ficou D.
Teresa a governar o Condado Portucalense.
A luta pela independência
Em 1125, aos 16 anos, D. Afonso Henriques armou-se a si próprio cavaleiro,
como só faziam os reis. D. Afonso Henriques tinha como ambição concretizar o
desejo do seu pai D. Henrique: tornar o Condado Portucalense independente do
reino de Leão e Castela.
Nesta altura, D. Teresa mantinha uma relação amorosa com um fidalgo galego, o
conde Fernão Peres de Trava. Esta relação prejudicava a ambição de tornar o
Condado Portucalense independente. Por isso, apoiado por alguns nobres
portucalenses, D. Afonso Henriques revoltou-se contra a sua mãe.
Em 1128, D. Teresa é derrotada na batalha de S. Mamede por D. Afonso
Henriques, que passa a governar o Condado Portucalense.

D. Afonso Henriques passa a ter duas lutas:


• luta contra D. Afonso VI, para conseguir a independência do Condado
Portucalense;
• luta contra os Muçulmanos, para aumentar o território para sul.
O reino de Portugal
Para a formação de Portugal foram bastante importantes as seguintes batalhas:
• 1136: batalha de Cerneja onde D. Afonso Henriques vence os galegos.
• 1139: batalha de Ourique onde D. Afonso Henriques derrota os exércitos
de cinco reis mouros.
• 1140: batalha em Arcos de Valdevez, D. Afonso Henriques vence
novamente os exércitos de D. Afonso VII.

Com estas vitórias de D. Afonso Henriques, D. Afonso VII, seu primo agora rei de
Leão e Castela, viu-se obrigado a fazer um acordo de paz – o Tratado de Zamora.
Neste tratado, assinado em 1143, Afonso VII concede a independência ao
Condado Portucalense que passa a chamar-se reino de Portugal, e reconhece D.
Afonso Henriques como seu rei.
A conquista da linha do Tejo
Feita a paz com o rei de Leão e Castela, D. Afonso Henriques passou a preocupar-
se exclusivamente em conquistar territórios a sul aos mouros de forma a alargar o
território do reino de Portugal:
• 1145: conquista definitiva de Leiria;
• 1147: conquista de Santarém e Lisboa.

Na reconquista das terras aos mouros participou quase toda a população


portuguesa que podia pegar em armas:
• senhores nobres e monges guerreiros: combatiam a cavalo, comandavam
os guerreiros e recebiam terras como recompensa pelos seus serviços
prestados ao rei;
• homens do povo: combatiam a pé e eram a grande maioria dos
combatentes.
Em algumas batalhas os portugueses foram ainda ajudados por cruzados bem
treinados e com armas próprias para atacar as muralhas, vindos do Norte da
Europa.

O reconhecimento do reino
Apesar de o rei Afonso VII ter reconhecido em 1143 D. Afonso Henriques como rei
de Portugal, o mesmo não aconteceu com o Papa.
O Papa era o chefe supremo da Igreja Católica e tinha muitos poderes. Os reis
cristãos lhe deviam total obediência e fidelidade. Para a independência de um
reino ser respeitada pelos outros reinos cristãos teria de ser reconhecida por ele.
Para obter este reconhecimento D. Afonso Henriques mandou construir sés e
igrejas e deu privilégios e regalias aos mosteiros.
Só em 1179 é que houve o reconhecimento por parte do papa Alexandre III
através de uma bula (documento escrito pelo papa).
O REINO DE PORTUGAL E DO ALGARVE
Alargamento do território e definição de fronteiras
Portugal foi uma monarquia desde 1143 até 1910, ou seja, durante este período
Portugal foi sempre governado por um rei.
A monarquia portuguesa era hereditária. Isto significa que quem sucede um rei é
o seu filho mais velho (o príncipe herdeiro).

Depois da morte de D. Afonso Henriques sucederam-lhe:


• D. Sancho I;
• D. Afonso II;
• D. Sancho II;
• D. Afonso III;
• etc…
Os primeiros 4 reis de Portugal, a seguir a D. Afonso Henriques, continuaram a
conquistar territórios aos mouros até que em 1249 D. Afonso III conquista
definitivamente o Algarve.
Entretanto, os limites do território não estavam totalmente definidos pois havia
zonas a norte e a este que ainda estavam em disputa com o reino de Leão e
Castela.
Só em 1297, com o Tratado de Alcanises, entre D. Dinis, rei de Portugal, e D.
Fernando, rei de Leão e Castela, ficaram definidas as fronteiras do território
português que assim se mantiveram aproximadamente até os dias de hoje.
Apenas em 1801 Espanha ocupou Olivença que já não faz parte de Portugal.
Características naturais de Portugal
O relevo de Portugal no séc. XIII apresentava características idênticas às de hoje.
De realçar os contrastes que ainda hoje existem:
• Norte/Sul: terras altas, planaltos e serras no Norte enquanto que no Sul
predominam terras de baixa altitude como as planícies;
• Litoral/Interior: no litoral temos pequenas planícies costeiras enquanto
que no interior encontramos planaltos e serras.
Os rios correm para o Atlântico seguindo a inclinação do relevo e existem em
maior número no Norte.
Sobre o clima destacam-se três zonas climáticas:
• Norte Litoral: chuvas abundantes e temperaturas amenas tanto no Verão
como no Inverno;
• Norte Interior: poucas chuvas, muito frio no Inverno e quente no Verão:
• Sul: poucas chuvas, invernos suaves e temperaturas muito elevadas no
verão, sobretudo no interior.
No entanto, nem todas as características naturais permanecem exatamente
iguais aos dias de hoje. Ao longo dos tempos a paisagem do território português
foi-se alterando devido à influência humana e da própria Natureza. Um exemplo
disso mesmo é o facto de os rios serem antigamente mais navegáveis, mas com a
acumulação de areias trazidas pelos próprios rios o litoral ficou mais alinhado
tornando os rios menos navegáveis ao longo dos tempos.
No séc. XIII abundava a vegetação natural, ou seja, que ainda não tinha sido
modificada pelo homem. No Norte abundavam bosques e florestas muito densas
com árvores de folha caduca e no Sul as florestas eram menos densas e
predominavam as folhas de folha persistente.

Atribuição de terras
Ao serem reconquistadas terras os reis tinham a necessidade de as povoar,
defender e explorar para não voltarem a ser ocupadas pelos mouros.
Os reis reservavam uma parte dessas terras para si e a grande parte era dada aos
nobres e às ordens religiosas militares como recompensa pela sua ajuda prestada
na guerra, bem como às ordens religiosas não militares para que fossem
povoadas mais rapidamente.
Sendo assim, as terras pertenciam ao rei, à Nobreza e ao Clero. O povo trabalhava
nessas terras e em troca recebiam proteção.
Aproveitamento dos recursos naturais
O aproveitamento dos recursos naturais das terras era realizado através da:
• terrenos bravios: pastorícia, criação de gado, caça e recolha de produtos
(como a lenha, a madeira, a cortiça, frutos silvestres, mel e cera).
• terrenos aráveis: agricultura onde se produzia cereais, vinho, azeite,
legumes, frutos e linho.
• mar e rios: pesca e salicultura.
Produção artesanal:
• O vestuário, calçado, instrumentos e todos os objetos necessários para o
dia-a-dia dos pastores, agricultores e pescadores eram feitos por eles
mesmos à mão e através da utilização de produtos retirados diretamente
da Natureza ou pelos materiais fornecidos pela agricultura e pela
pastorícia.
PORTUGAL NOS SÉCULOS XIII E XIV

A VIDA QUOTIDIANA NO SÉCULO XIII

Ordens sociais
A população portuguesa no séc. XIII era constituída por três grupos sociais:
• nobreza: grupo privilegiado que possuía terras, não pagava impostos,
recebia impostos e aplicava a justiça nas suas terras. A sua principal
atividade era combater;
• clero: grupo privilegiado que possuía terras, não pagava impostos, recebia
impostos e aplicava a justiça nas suas terras. A sua principal atividade era
prestar serviço religioso;
• povo: grupo não privilegiado que trabalhava nas terras do rei, da nobreza e
do clero e que ainda tinham que pagar impostos.
Todos os grupos sociais deviam ao rei fidelidade, obediência e auxílio.
Vida quotidiana nas terras senhoriais

As terras senhoriais, ou senhorios, pertenciam aos senhores nobres que viviam


numa casa acastelada situada na parte mais alta. À sua volta distribuíam-se
campos cultivados, a floresta, o moinho e as casas dos camponeses que
trabalhavam as terras.

Nestas terras era o nobre que aplicava a justiça, recrutava homens para o seu
exército e recebia impostos de todos os que lá trabalhavam. Em troca, tinha como
obrigação proteger as pessoas que estavam na sua dependência.
Atividades dos nobres:
• em tempo de guerra: combatiam;
• em tempo de paz: praticavam a caça, a equitação e exercícios desportivos
que os preparavam para a guerra.
Distrações dos nobres:
• À noite entretinham-se com jogos de sala, como o xadrez e dados, com os
saltimbancos, que faziam proezas, e com os jograis, que tocavam e
cantavam.
Casa senhorial:
• o salão era o aposento mais importante e era onde o nobre dava as suas
ordens, recebia os hóspedes e onde serviam-se as refeições;
• o mobiliário existente na casa era uma mesa, arcas para guardar a roupa e
outros objetos domésticos, poucas cadeiras e bancos chamados escanos;
• para a iluminação durante a noite utilizavam-se lamparinas de azeite ou
tochas e velas de cera e sebo.
Alimentação dos nobres:
• faziam-se normalmente duas refeições, o jantar e a ceia, onde
predominava a carne, pão de trigo, vinho, queijo e um pouco de fruta.
Por outro lado, os camponeses tinham uma vida dura e difícil. Trabalhavam seis
dias por semana nos campos dos senhores nobres e ainda tinham que lhes pagar
impostos pois só assim garantiam proteção.
Atividades dos camponeses:
• trabalhar nos campos.
Distrações dos camponeses:
• ida à missa, procissões e romarias.
Casa do camponês:
• Teto de colmo, paredes de madeira ou pedra, quase sem aberturas, e chão
em terra batida;
• tinha só uma divisão e havia pouca mobília;
• dormia-se num recanto coberto de molhos de palha.
Alimentação dos camponeses:
• baseava-se em pão negro, feito de mistura de cereais ou castanha,
acompanhado por cebolas, alhos ou toucinho. Apenas nos dias festivos
havia queijo, ovos e bocados de carne.

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