Memória e Literatura Africana - Renata-Ribeiro
Memória e Literatura Africana - Renata-Ribeiro
Memória e Literatura Africana - Renata-Ribeiro
Pelotas, 2010
2
Banca examinadora:
AGRADECIMENTOS
Abstract: The objective of this dessertation is to talk about the literary work of Mia
Couto, emphasizing the memory. It was also tried to display recurring elements in
these works - tradition, orality - and, from the design of a text full of memories and
oblivion, to examine how to build and reveal the memories. It were considered for
this work all the literary works of Mia Couto published in Brazil, and it was researched
the historical-political and social situation in Mozambique.
LISTA DE FIGURAS
SUMÁRIO
Introdução ......................................................................................................... 8
1. Literatura e Poder ....................................................................................... 14
1.1 Poder na Literatura: Literatura nos PALOP ........................................... 17
1.2 Poder pela Literatura: Literatura como Resistência ............................. 19
1.3 Poder para Literatura: Literatura pós-colonial ...................................... 23
2. Velhas Terras, Novos Mundos .................................................................. 27
2.1 Processo de Colonização Africano ........................................................ 27
2.2 Moçambique: O País em Números e Coordenadas ............................... 33
2.3 Independência Moçambicana.................................................................. 40
2.4 Panorama Atual: Moçambique pós-colonial .......................................... 45
2.5 Literatura em Moçambique ..................................................................... 46
3. Condições Impostas, Expostas e Propostas: O Autor e as Obras
Literárias ......................................................................................................... 49
3.1 Mia Couto: Anfitrião da Literatura Moçambicana .................................. 49
3.2 Inventário das Obras Literárias............................................................... 54
4. Moçambique: “Na memória da África e do mundo” ................................ 62
4.1 Lembrar e Esquecer ................................................................................. 63
4.1.1 Esquecer a Violência Fundadora ........................................................ 64
4.1.2 Conflitos de Memória ............................................................................ 70
4.2. Guardiãs da Memória: As Obras de Mia Couto e Transmissão da
Memória Ancestral ......................................................................................... 76
4.2.1 Os Sonhos: A Porta de Chegada da Memória .................................... 84
4.2.2 Repovoar a Nação: A Invenção da Memória e dos Herois................ .87
4.2.3 Tradiçao Oral e Memória....................................................................... 91
4.2.4 Animismo e Oralidade........................................................................... 94
Aspectos Conclusivos ................................................................................. 101
Referências ................................................................................................... 105
8
INTRODUÇÃO
1. LITERATURA E PODER
poder, que exclui ou inclui, é carregado de ideologia. Quais obras vão representar o
país? Quem as escolhe? Como as escolhem?
Em Moçambique, com Mia Couto, ainda que esse tenha a tez branca, o
discurso negro aparece. A problemática sobre cor, raça, discriminação por ser
branco, negro ou mulato, é constante em sua obra:
Escrevo como Deus: direito mas sem pauta. Quem me ler que
desentorte as palavras. Alinhada só a morte. O resto tem as duas margens
da dúvida. Como eu, feito de raças cruzadas. Meu pai, português, cabelos e
olhos loiros. Minha mãe era negra, retintinha. Nasci assim, com pouco tom
na pele, muita cor na alma.
(...)
Na escola, o padre me ponteirava: esse deve ser filho das
chuvas. Não comparece nem em catequese, nem há doutrina que se lhe
conheça. E aconselhava os restantes miúdos a me guardar afastamento:
— Fruto estragado não deve sair do saco.
O conselho era seguido. Me evitavam. Hoje sei que não era por
obediência ao padre. Eu estava só por razão da minha raça. Como escrito
de Deus que a chuva manchara. Sim, o professor tinha razão: eu era filho
da chuva. (COUTO, 1996, p.113)
1
Ibid.,p.62.
17
vozes sugere o questionamento de que falar sobre uma identidade nacional única
seria um equívoco. A literatura atual, pós-colonialismo, reflete a tentativa de se
formar um todo, partindo-se de um mosaico de identidades. Esta tentativa, refletida
na obra da maioria dos autores, é a maneira encontrada para deixar registrado o
passado para que sirva de referência, ainda que isso se faça através da ficção.
Muito do que se encontra na palavra ficcionada pelos escritores dos PALOP tem a
mais profunda raiz nos marcos da história destes países.
Cabe ressaltar que os países cuja produção literária citou-se não possuem
um expressivo público leitor. Angola, segundo Visentini (2007) possui um índice de
alfabetização de 66% e Moçambique 46%, ou seja, números que sugerem um
paradoxo, entre uma literatura que claramente reflete a tentativa da reconstrução da
identidade nacional — ainda que esta identidade se dê de maneira muito plural— e o
povo que ali habita que não têm acesso aos livros.
Pires Laranjeira (2001) diz que os primeiros textos relacionados à África, não
necessariamente africanos, datam de 1849. Após esse primeiro livro impresso na
África, mais especificamente em Angola, Espontaneidades da minha alma, poemas
de Mala Ferreira, são consideradas seis fases da literatura africana: baixo
romantismo, negro realismo, regionalismo africano, sócio-realismo, resistência e
contemporaneidade.
Depoimento autobiográfico
Janeiro de 1977:
2
Inventar uma memória para construir uma identidade
21
José Craveirinha devido às suas atividades políticas esteve preso pela PIDE
(Polícia política portuguesa, cuja sigla significa: Política Internacional de Defesa do
Estado) de 1965 a 1969. Foi o primeiro Presidente da AEMO - Associação dos
Escritores Moçambicanos— e atualmente é considerado um dos maiores poetas
africanos. Em sua obra, enraizada, a resistência emerge como temática:
Aforismo
Havia uma formiga
Compartilhando comigo o isolamento
e comendo juntos.
Estávamos iguais
com duas diferenças:
33
Autora de uma das primeiras obras em Moçambique por uma literatura nacional , em 1951, intitulada
Sangue Negro, composto por poemas (livro policopiado)
22
4
Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=bE1EMuh_Tn8
24
prática nas literaturas pós-coloniais) publicado por Bill Asrehcroft, Gareth Griffitins e
Helen Tiffin, o que justifica o interesse ou a pertinência desta literatura em uma
perspectiva histórica, política, ideológica e literária é o fato de que três quarto dos
países do mundo foram colonizados.
A teoria pós-colonial, segundo Bonnici (1998), denomina Colonial o período
pré-independência; Moderno ou recente, pós independência; Pós-Colonial, a cultura
influenciada pelo processo imperial desde os primórdios da colonização até os dias
de hoje e Literatura pós-colonial a produção literária dos povos colonizados.
De acordo com Russel Hamilton (1999) os estudos sobre a teoria pós-
colonial surgem na década de 1980 e despertam interesse maior ainda na década
de 1990. Diversas obras são publicadas e teóricos discutem questões metodológicas
e ideológicas.
A primeira polêmica explanada por Russel Jacoby (apud Hamilton) em artigo
intitulado ―Marginal Returns: The Trouble with Post-Colonial Theory‖ (Um
Rendimento Duvidoso: O Mal da Teoria Pós-Colonial) versa sobre o que é pós-
colonialismo. Jacoby diz que para alguns o pós-colonialismo refere-se àquelas
sociedades que surgiram depois da chegada dos colonialistas. Contudo, para a
maioria dos estudiosos a independência política de determinada colônia é que dá
início ao período pós-colonial.
Outra questão discutida por Hamilton (1999) advém do prefixo pós. Seriam
coisas diferentes ―pós-colonialismo‖ e ―póscolonialismo‖?
Russel Hamilton cita Kwame Anthony Appiah — africano nascido em Gana e
autor de um estudo fundamental sobre a África, publicado no Brasil com o título de
―Na casa de meu pai‖— que problematiza o prefixo ―pós‖ perguntando se há
diferença entre o pós- do pós-modernismo e o pós- do pós-colonial. Appiah chega à
conclusão de que há diferenças entre um e outro, mas ambos significam um ―gesto
de abrir novos espaços‖ e, além disso, da mesma forma que o pós- do
pós-modernismo, o pós- do pós-colonialismo desafia os discursos legitimados
anteriormente.
Outros teóricos, no entanto, escrevem pós-colonialismo com traço
referindo-se a algo cronológico, significando simplesmente ―depois‖ do período
colonial. Sem traço, para eles então seria ―por causa do colonialismo‖, ou seja, a
rejeição das instituições impostas pelo antigo regime colonial. Portanto, neste último
25
Kwame Anthony Appiah em sua obra Na casa de meu pai (2008) nomeia um
de seus subtítulos de ―Velhos deuses, novos mundos‖ (p.155). Neste trabalho,
toma-se de empréstimo este nome e adapta-se para ―Velhas terras, novos mundos‖,
querendo-se apontar, assim como Appiah, a África. No entanto, versa-se aqui,
diferentemente do autor original — que em seu capítulo disserta a respeito de
religião, rituais e modernização—, sobre processo de colonização em África.
Posteriormente, englobam-se números acerca de Moçambique e historicidade do
mesmo, discorrendo sobre seu processo de ocupação, independência e ainda
panorama atual pós-colonial e literário.
De acordo com Visentini (2007), embora a maior parte dos povos africanos
estivessem organizados em reinos independentes, não estavam isolados do mundo
exterior. Antes mesmo da chegada de traficantes de escravos europeus, no século
XIV, os árabes já praticavam o comércio negreiro, transportando escravos para a
Arábia e para os mercados do Mediterrâneo. Desta forma, antes mesmo das
grandes navegações europeias o litoral do continente africano já era conhecido dos
europeus. Os primeiros contatos teriam surgido por intermédio dos muçulmanos,
que realizavam trocas de mercadorias.
Nos séculos XVI e XVII, afirmado por Genro (1982), o tráfico negreiro e o
cultivo da cana de açúcar — para abastecer mercados externos, tais como o Brasil -
eram intensos. Em 1752, pelo dinamismo do tráfico negreiro, Moçambique deixa de
ser reconhecido como um reino dependente, que era então administrado pelo vice-
rei de Goa, e passa a ter um governo colonial autônomo.
5
Ver figura 2.
6
Ver figura 5.
35
escravos e, além disso, instalou-se uma grave seca, que causou fome, epidemias e
grande número de mortos. Esses três fatores redesenharam o espaço geopolítico de
Moçambique, provocando graves consequências sociais e políticas. Começou então
outro processo de resistência, quando os moçambicanos fugiram para se refugiar
nas minas de ouro do Transvaal7.
7
Detalhes neste mesmo capítulo, inseridos no texto que apresenta como subtítulo “Independência
Moçambicana”.
36
Figura 6: mapa de Moçambique antigamente e suas fronteiras. Destaca-se também o extinto reino
Monomotapa (Hernandez, 2008, p.585)
37
1- Cabo Delgado
2- Gaza
3- Inhambane
4- Manica
5- Cidade de Maputo
6- Maputo (província)
7- Nampula
8- Niassa
9- Sofala
10- Tete
11- Zambézia
38
8
Detalhamento na figura 7.
39
Outro importante movimento, tal como diz Hernandez (2008), fora o Pan-
africanismo. Assim como a Negritude, ele nasceu fora da África, originado pelos
9
Termo que designava moçambicanos cujo comportamento era regido por normas portuguesas de conduta e
saber. Pregava a desidentificação do moçambicano. Algumas denominações equivalem civilizado à assimilado.
Para maiores detalhes, ver Valdemir Zamparoni “A política do assimilacionismo em Moçambique, c. 1890-
1930” in Ignacio C. Delgado et al. (org), Vozes do além da África: tópicos sobre identidade negra, literatura e
história africanas. Editora UFJF, 2006, pp. 145-76.
43
10
Sobre Dubois, Appiah faz uma extensa menção no livro intitulado Na casa de meu pai (2008). Cita-se uma
reflexão interessante, palavras de Dubois (do livro “The conservation of races”) inscritas no livro de Appiah,
p.54:
Conquanto essas forças sutis tenham seguido a clivagem natural do sangue, da ascendência e das
particularidades físicas comuns, noutras ocasiões elas passaram por cima destes e os ignoraram. Em todas as
épocas, entretanto, elas dividiram os seres humanos em raças, que, embora talvez transcendam a definição
científica, são, não obstante, claramente definidas aos olhos do historiador e do sociólogo.
Se isso é verdade, a história do mundo é a história, não de indivíduos, mas de grupos, não de nações, mas de
raças. (...) Que é uma raça então? É uma vasta família de seres humanos, em geral de sangue e língua comuns,
sempre com uma história, tradições e impulsos comuns, que lutam juntos, voluntária e involuntariamente, pela
realização de alguns ideais de vida, mais ou menos vividamente concebidos.
11
Eduardo Mondlane dá nome a Universidade homônima mais destacada em Moçambique:
http://www.uem.mz/
44
12
General do exército brasileiro que serviu em expedições da ONU em Angola, EUA, e ocupou o cargo de
Adido Cultural em Angola e função de coronel, mediando conflitos civis.
13
Ver a lista completa em:
http://www.pnud.org.br/pobreza_desigualdade/reportagens/index.php?id01=3324&lay=pde
46
14
http://www.fomezero.gov.br/noticias/mocambique-cresce-rapido-e-melhora-idh
47
dois mil, é irrisório. Pepetela chegou a vender 100 mil exemplares, quando o
livro custava nada. (AGUALUSA apud BORGES,2009)
15
Ver conceito aprofundado no capítulo 4, subtítulo “Esquecer a violência fundadora”.
49
A obra de Mia Couto denota a fragilidade em que o país ficou após anos de
guerra devido às condições impostas pelo colonizador; expõem as condições de
miséria e de luta a que o povo está submetido diariamente e faz a proposta de que,
através da literatura, se preserve a memória e a tradição de Moçambique.
A trajetória deste autor, estando não somente como espectador, mas como
militante da FRELIMO, faz com que sua literatura reflita a preocupação com a
reconstrução da identidade nacional. Representante de um novo caminho da
literatura moçambicana, Mia Couto denota através de sua obra uma visão bastante
particular sobre o passado, o presente e as perspectivas para o futuro do país.
16
Entrevista concedida a Jonas Furtado, revista ISTO É, N° Edição 1978, 26.Set – 2009. Disponível em:
http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/3254_NAO+A+REFORMA+ORTOGRAFICA?pathImagens=
&path=&actualArea=internalPage
50
No início da década de 1970, Mia Couto deixa sua cidade natal para estudar
medicina, na cidade de Lourenço, atual Maputo. Contudo, anos mais tarde
abandonou esta pretensão e torna-se jornalista. Neste período, envolveu-se no
movimento estudantil, na luta pela Independência ao ligar-se à FRELIMO. Em 1983,
publica seu primeiro livro Raiz de Orvalho, que contém poemas. A partir desta data,
passa a produzir uma séria de publicações. Torna-se diretor da Agência de
Informação de Moçambique e logo passa a dedicar-se à biologia.
Mia Couto lutou pela independência de seu país. Ajudou a compor o hino
nacional moçambicano e trabalhou para o governo durante a guerra civil culminada
no período de 1976 a 1992. Depois de firmado o acordo de paz de 1992, que
estabeleceu uma democracia multipartidária, o autor segue apoiando a FRELIMO,
reconhecendo, no entanto, o desapontamento dos militantes da esquerda:
17
COUTO, Mia. 30 anos de independência. No passado, o futuro era melhor? Transverse: uma plataforma de
discussão da Agência Suíça para Desenvolvimento e Cooperação (Cooperação Suiça) 16 de junho de 2005
disponível em http://www.deza.admin.ch/ressources/resource_es_24839.pdf acesso em 22/05/2008
51
A obra Terra Sonâmbula (2007) recebeu o NOMA African Award, tendo sido
eleito pelo júri da Feira Internacional do Livro de Zimbabwe como um dos doze
melhores livros do século XX na África.
18
Ver www.festlip.com
52
Mia Couto publicou uma série de obras, passeando entre diversos gêneros,
expressando-se através de contos, crônicas, poesias, romances e novelas. Sua
primeira publicação data de 1983 e desde então já se somam 23 livros a este.
Mia Couto, no Brasil, começa a ser publicado pela editora Nova Fronteira em
1993, com o romance Terra Sonâmbula. No entanto, a partir de 2003 a Companhia
das Letras passa a editar as obras do escritor. A Nova fronteira publicou, além do
citado livro, outros dois: Estórias abensonhadas (1996) e Cada homem é uma raça
(1998). Além disso, a Companhia das Letras publicou todos os outros disponíveis
hoje no mercado e reeditou Terra sonâmbula (2007)19. Já em Portugal, a editora do
autor é a ―Caminho‖ e em Moçambique a ―Ndjira‖.
19
Tentou-se entrar em contato diversas vezes com a editora Companhia das Letras para a obtenção dos dados
relativos à distribuição e venda de livros. No entanto, nunca fora obtida resposta.
20
Detalhes em entrevista concedida Afonso Borges, no programa “Sempre um papo”, disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=bE1EMuh_Tn8
21
Ver trailer em http://www.youtube.com/watch?v=kCRZebjmiSc
54
Para que este trabalho não se limite aos recortes das obras de Mia Couto,
cabe um breve resumo sobre cada um dos livros analisados, observando que
integram este corpus todos os livros do autor publicados no Brasil. Um prelúdio que
conduz ao vasto e encantador mundo ficcionado por Mia Couto. Serão eles: Cada
homem é uma raça (1998), Terra sonâmbula (2007), Estórias abensonhadas (1996),
A varanda do frangipani (2008), O último voo do flamingo (2005), O gato e o escuro
(2008) , Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra (2003), O fio das
missangas (2009), O outro pé da sereia (2006), O beijo da palavrinha (2006),
Venenos de Deus, remédios do Diabo (2008) e Antes de nascer o mundo (2009).
Cada homem é uma raça (1998) é um livro de contos fantásticos em que a
questão racial não se atrela somente à hereditariedade. É necessário o morrer e
renascer. O morrer de uma identidade e o nascer de outra. Há muito da ideologia
anti-colonial imbuída nas falas desta obra:
22
Mais informações em: http://www.coloquiomiacouto.be/programa.htm
55
Ele mesmo fabricava aquelas jaulas, de tão leve material que nem
24
pareciam servir de prisão.
Já Terra sonâmbula (2007) é um romance que revela uma terra que nunca
dorme, por isso sonâmbula, devido aos conflitos da guerra. Um velho e um menino
fogem da sua realidade através da leitura das memórias de Kindzu, africano que
escrevera várias histórias e as colocara em uma mala. O autor intercala o relato da
história das personagens principais e dos cadernos de Kindzu. Aparece nesta obra
uma série de mitos, lendas e a marca da oralidade bastante acentuada. Através dos
relatos, sejam eles verossímeis ou absurdos, podemos conhecer um pouco mais da
raiz tribal moçambicana. O livro é classificado como romance, no entanto, pode ser
até visto como um livro de contos. É a obra mais vendida e premiada do autor.
23
Ibid. p.4
24
Ibid. p.23
25
Ibid.p.44
26
Ibid.,p.26.
56
O romance O último voo do flamingo (2005) trata de uma África liberta que
ainda possui traços dos colonizadores e que, por pior que possa ser, repete seu
comportamento, reproduzindo e tornando cíclicos atos de corrupção e tirania. O livro
versa acerca dos primeiros anos pós independência e da presença dos ―capacetes
azuis‖, representantes da ONU, ali naquele povoado. Ao longo da narrativa os
soldados vão explodindo, não se sabe ao certo como nem por que razão. Este
romance trata de superstição, abuso de poder e crítica ao velho modelo ainda
vigente.
Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra (2003) é uma obra em
que um menino, Marianito, recebe cartas do seu avô, Mariano. O interessante é a
condição do avô de não pertencente ao mundo dos vivos e não pertencente ao
mundo dos mortos. Nas cartas que Marianito recebe aparecem sempre lições sobre
as tradições, morte, tempo. Histórias de amor, briga entre parentes e enigmas
compõem este livro em que a casa não é só um abrigo e Luar-do-chão não é só uma
ilha. A missão do menino, que é o narrador, é tomar consciência da memória e
ancestralidade e ajudar o avô a morrer.
O fio das missangas (2009) traz 29 contos que giram no entorno da temática
do lembrar e silenciar. O silêncio é a marca maior de todos os contos, costura as
histórias e, por fim, é possível dar-se conta que quem rompe com o silêncio não são
as personagens, mas o autor que lhes empresta a voz. A opressão aparece na
quase totalidade dos contos, o poder imposto, o não agir.
Um exemplo está em As três irmãs, conto em que três moças são oprimidas
pelo pai após a morte da mãe e devem esquecer-se do seu futuro, dos
pensamentos e dedicarem-se apenas a ser filhas. Sendo assim, são impedidas de
se apaixonar, casar ou ter sua própria vida.
59
— É um ―m‖.
(...)
— É isso manito. Essa letra é feita por ondas. Eu já as vi no rio.
E essa outra letrinha, essa que vem a seguir?
— Essa a seguir é um ―a‖. É uma ave, uma gaivota pousada nela
própria, enrodilhada perante a brisa fria.
(...)
— E a seguinte letrinha?
— É uma letra tirada da pedra. É o ―r‖ da rocha.
E os dedos da menina magoaram-se no ―r‖ duro, rugoso, com
suas ásperas arestas. (COUTO, 2006, p.19-22).
Por fim, Antes de nascer o mundo (2009), último livro de Mia Couto
publicado no Brasil, traz a história de dois meninos que foram levados pelo pai a um
local ermo, vazio, e lá ficaram na companhia do progenitor, de um empregado e de
um tio que vez que outra aparecia. Lá, não podia haver mulheres, as lembranças
eram proibidas e um novo país fora criado: Jerusalém. Eis que surge uma
portuguesa, Marta, que rompe com o silêncio lá imposto e modifica a história
daqueles meninos e do recém nascido país.
28
Ibid.,p.35.
62
29
Disponível em: http://www.mozambique.mz/hino.htm
63
Outra obra de Mia Couto que cabe citar, neste viés, é O fio das missangas
(2009), um livro que gira em torno do binômio lembrar e silenciar. A opressão faz-se
presente em todos os contos. O silêncio costura as histórias e quem empresta a voz
a elas é o autor através das suas fictícias narrações. A opressão, o poder imposto,
são temáticas recorrentes nesta obra:
Não existe memória fora dos marcos que os homens utilizam para
viver em sociedade, para fixar e encontrar suas lembranças. Estes marcos
não são somente um envolto para a memória, eles mesmos integram
antigas recordações que orientam a construção dos novos. Quando eles
são destruídos, ou simplesmente se modificam, os modos de memorizar da
sociedade também se alteram para poderem adaptar-se aos novos marcos
sociais que se instauraram. (HALBWACHS apud CANDAU, 2002, p.65)
Quando seu pai lhe comunicou o seu pavor por ter-se esquecido
até dos fatos mais impressionantes de sua infância, Aureliano lhe explicou
o seu método, e José Arcadio o pôs em prática para toda a casa e mais
tarde o impôs a todo o povoado. Com um pincel cheio de tinta, marcou
cada coisa com o seu nome: mesa, cadeira, relógio, porta, parede, cama,
panela. Foi ao curral e marcou os animais e as plantas: vaca, cabrito,
porco, galinha, aipim, taioba, bananeira. Pouco a pouco, estudando as
infinitas possibilidades do esquecimento, percebeu que podia chegar um
dia em que se reconhecessem as coisas pelas suas inscrições, mas não se
recordasse a sua utilidade. Então foi mais explícito. O letreiro que pendurou
no cachaço da vaca era uma amostra exemplar da forma pela qual os
habitantes de Macondo estavam dispostos a lutar contra o esquecimento:
Esta é a vaca, tem-se que ordenhá-la todas as manhãs para que produza o
68
leite e o leite é preciso ferver para misturá-lo com o café e fazer café com
leite. Assim, continuaram vivendo numa realidade escorregadia,
momentaneamente capturada pelas palavras, mas que haveria de fugir
sem remédio quando esquecessem os valores da letra escrita.
Visto que nenhuma história possui apenas uma versão e, como veremos
adiante, muito da transmissão da memória em África é norteada por relatos orais,
embasados em lembranças, é natural então que existam conflitos de memórias.
Em A varanda do frangipani (2008a) um militar, Vasto Excelêncio, é
assassinado. Um inspetor vai ao asilo em busca do assassino. Lá chegando decide
recolher o depoimento dos velhos que lá habitam. Para sua surpresa, todos admitem
que mataram Vasto Excelêncio, inventando diferentes versões para a mesma
morte:
Nego o roubo mas confesso o crime. Digo logo senhor inspector:
fui eu que matei Vasto Excelêncio. Já não precisa mais procurar. Estou
aqui, eu. Vou juntar outra verdade, ainda mais parecida com a realidade:
esse mulato se matou ele mesmo usando minhas mãos. (A confissão de
Navaia). (COUTO, 2008a, p.25)
30
Ibid. p.52
31
Ibid. p.70.
32
Ibid. p.90.
72
33
Ibid. p.173.
73
Assim como não existe uma só verdade, cada indivíduo que recorda um
acontecimento foca uma lembrança em detrimento à outra. Os discursos são
diferentes, pois cada ser reconstrói o passado de acordo com sua subjetividade e
vivências. Vom Simpson (2008) diz que nunca é a reconstrução do passado pela
nostalgia, sempre é caminhar entre tempos diversos para ser utilizada a memória no
presente ou no futuro. A teórica afirma ainda que quando escutado um relato oral,
deve-se levar em conta: quem fala, suas influências políticas, religiosas, classe
social; de onde fala, época, hierarquia social, aspectos geográficos que vivenciou; o
que fala, qual o interesse do narrador em deixar essa história registrada; para quem
fala, para quem pretende dirigir o seu discurso.
Portanto, o grupo que possui o poder também é tido, muitas vezes, como o
detentor da memória ‗oficial‘ do acontecido ─ embora não neste caso, pois a
memória da Resistência não coincidia com a do Estado ─ não por o fato ter sido
como eles traduzem, mas pela sua hierarquia econômico-social.
Discorrendo sobre esta relação entre memória e violência, cabe dizer que a
memória do trauma é algo que independe da evocação. Dominick LaCapra (2005)
em seu texto ―Escribir la historia, escribir el trauma‖ conta que em uma situação pós
traumática é muito comum haver confusões de conceitos, sentimentos. Confunde-se
facilmente ausência com perda, cria-se um estado de desorientação, agitação.
Corre-se então o risco de apenas ficar-se focando o passado, não criando
expectativas e projeções em relação ao futuro. Ser vítima transforma-se em uma
identidade, não em uma situação passageira.
Logo, o trauma da guerra nestes países faz com que tentem reconstruir
suas identidades esfaceladas, ora crendo, ora descrendo, mas sempre recordando o
passado com intuito de amadurecer, aprender e projetar o futuro.
(epígrafe de Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra, 2003, p.8)
Faz tanto tempo que aconteceu que para lembrar devo ir além da
34
memória.
36
Ibid.,p.13.
37
Ibid.,p.33.
38
Ibid.,p.55.
39
Ibid.,p.107.
40
Ibid.,p.117.
41
Ibid.,p.147.
42
Ibid.,p.201.
79
43
Ibid.,p.209.
44
Ibid.,p.79.
80
Aos 10 anos todos nos dizem que somos espertos, mas que nos
faltam ideias próprias. Aos 20 anos dizem que somos muito espertos, mas
que não venhamos com ideias. Aos 30 anos pensamos que ninguém mais
tem ideias. Aos 40 achamos que as ideias dos outros são todas nossas.
Aos 50 pensamos com suficiente sabedoria para já não ter ideias. Aos 60
ainda temos ideias, mas esquecemos do que estávamos a pensar. Aos 70
só pensar já nos faz dormir. Aos 80 só pensamos quando dormimos.
(COUTO, 2008c, p.64)
Eclea Bosi (1987), no seu livro Memória e Sociedade, explicita que a velhice
faz com que as pessoas tornem-se a memória de sua família, grupo, sociedade, pois
o jovem não se ocupa com lembranças, dele espera-se a produção. Dos velhos,
entretanto, esperam-se estas recordações. Bosi afirma que os velhos têm uma
memória social atual mais contextualizada e definida, pois são expectadores de um
quadro já finalizado e bem delineado no tempo. Aos mais jovens, ainda absorvidos
nas lutas e contradições de um presente que os solicita intensamente, lhes falta
experiência para lidar com as lembranças.
45
Griot é o nome dado pelos franceses ao diéli (quem tem a força vital) que significa “contadores de histórias”.
(HERNANDEZ, 2008, p.29)
82
acenar os panos, dizia que lá era o local onde se perdia a fronteira entre terra e
água. O menino não entendia bem as intenções do avô, no entanto sempre o
acompanhava e a seus olhos o avô era ―um homem em flagrante infância, sempre
arrebatado pela novidade de viver‖ (p.9). Sucedeu que um dia o avô explicou-lhe os
motivos das visitas ao rio:
Nós temos olhos que se abrem para dentro, esses que usamos
para ver os sonhos. O que acontece, meu filho, é que quase todos estão
cegos, deixaram de ver esses outros que nos visitam. Os outros? Sim,
esses que nos acenam da outra margem. E assim lhes causamos uma total
tristeza. Eu levo-lhe lá nos pântanos para que você aprenda a ver. Não
posso ser o último a ser visitado pelos panos.
―Quero ser um encantador, mas não quero que seja tornado exótico
este universo da ligação com os antepassados, que é vital em África. Eu
tenho uma grande gratidão por esta coisa de eu poder me desdobrar em
vidas, em personagens... Eu no fundo sinto que sou eu a ser escrito e não
sou eu que estou a escrever‖ (COUTO, 2006).
46
Ibid.,p.124.
86
Uruguaio não, porque seria como mudar de bairro.‖ A citação da epígrafe antecipa o
tema do livro: a fabricação da memória e, com esta, a possibilidade e necessidade
de reordenar as escolhas do presente.
Existe, no livro de Agualusa, um comerciante de passados, um homem que
inventa passados gloriosos, ou não, para pessoas que não os têm. Os capítulos
versam sobre um povo que precisa literalmente inventar o seu passado. Se existe
alguém que comercializa passados, é por que há quem precisa comprá-los. A
questão da identidade angolana é dessacralizada, a nacionalidade é posta à venda
como um produto. O mote principal é: o passado, recuperação ou invenção?
O historiador Eric Hobsbawn (1997) afirma que antigas cerimônias são
retomadas ─ junto a novos rituais ─ e adaptadas para que se tenha uma impressão
de estabilidade em períodos nos quais os países passam por mudanças internas.
Cita o caso da monarquia britânica e seus rituais. Assim, pode-se comparar tal fato à
recuperação da identidade feita no livro de Agualusa. A personagem principal tem
sua identidade inventada. No entanto, ao longo da narrativa, ele procura saber se
aquela pessoa fictícia realmente existiu. Quando obtém uma resposta positiva, vai
atrás do dono do seu, agora, nome. Sabendo que o indivíduo está morto, a
personagem então decide assumir a sua identidade, ou seja, a identidade real que
baseou a inventada. No entanto, segundo Izquierdo (2002), essas memórias não
são tão somente inventadas, já estavam nele de alguma forma.
Outros teóricos compartilham a visão de Izquierdo:
enorme. Assim, segundo o McGAUGH, talvez, não tenha muito sentido falar em
"memória", senão em "memórias".
Fato ou acontecimento
48
Tradução feita pela autora e adaptada.
93
Toda literatura de Mia Couto deveria ser lida em voz alta, com a colaboração
da imaginação auditiva. As obras do autor foram criadas para contar histórias, as
quais têm na oralidade seu dorso principal. Couto viaja pelo interior do país
escutando o relato dos anciãos, anotando-os:
Claro que não se pode descartar o valor da sedução dos vocábulos de Mia
Couto, o exotismo que os dialetos conferem à sua literatura. Contudo, este exótico
não mostra a visão colonial, daqueles que através do exotismo inventam uma África,
distorcem as mistificações, como afirma Russel Hamilton (1999). A ideologia
encontrada em Mia Couto é o protesto, o proporcionar da reflexão:
49
Ibid. p.42
50
Ibid. p.51
51
Ibid. p.31
52
Ibid. p.158
96
53
Informação obtida em palestra realizada pelo autor em Porto Alegre, por ocasião do Fórum Social Mundial,
em 2005.
98
ASPECTOS CONCLUSIVOS
Refletindo acerca da obra do autor, arrisco-me a dizer que Mia Couto está
sempre escrevendo a mesma história, embora cada uma delas possua
individualidade o suficiente para existir em separado. A memória, a tradição, o
relembrar, o esquecer, os herois, os corruptos, sempre servem a uma mesma
estrutura.
A literatura não são os livros. Ela á anterior a eles e posterior a eles. Ela
sobrevive ainda que o suporte material desapareça. A memória coletiva é capaz de
salvaguardá-la ainda que não exista a materialidade. A oralidade, através da
memorização, repassa o saber, a tradição que nela existe. Só assim a literatura
pode sustentar-se em Moçambique, país em que a imensa maioria é de iletrados.
Percebe-se que preservar esta memória coletiva tem sido nitidamente uma
preocupação da literatura dos países africanos. O motivo não é de difícil
compreensão, visto que o país hoje tenta reconstruir suas origens. Deste modo, a
103
Deve-se, porém, sempre levar em conta que a crise gerada no pós guerra,
pós independência, fez com que dois pólos surgissem: de um lado a aqueles que
perpetuam o sistema colonial, do outro aqueles que lutaram pela independência e
são desejosos do fim da opressão. Por isso a literatura não pode ser vista como a
construção de uma verdade histórica nova, pois essa só existiria no campo das
ideias, mas sim como a tentativa de um resgate histórico, uma recriação.
A nação que Mia Couto idealiza é a Moçambique que valoriza seus velhos,
seu falar, suas tradições, sua relação com os animais e a natureza. Uma pátria que
busca reconstruir-se a partir da memória coletiva que não é a oficial, mas a
conflitante e rica do povo que originou e povoou a hoje liberta Moçambique. Como
traduz o título desta dissertação ―a memória é a bússola‖, é ela a responsável por
nortear o caminho dos moçambicanos, ajudar, amparar quando não se sabe que
rumo seguir.
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