Livro-Texto - Unidade I
Livro-Texto - Unidade I
Livro-Texto - Unidade I
Incêndios e Explosão
Autores: Prof. Deives Junior de Paula
Profa. Luciana A. Alves
Profa. Rosiane Maria de Albuquerque Bonini
Colaborador: Prof. Ricardo Calasans
Professores conteudistas: Deives Junior de Paula / Luciana A. Alves /
Rosiane Maria de Albuquerque Bonini
Deives Junior de Paula é formado em Engenharia de Civil pela Faculdade de Engenharia Industrial – FEI (2000),
pós-graduado em Engenharia de Telecomunicações pela Faap (2003) e mestre em Habitação – Área de Tecnologia de
Construção de Edifícios (2014).
Luciana A. Alves é mestre em Habitação: planejamento e tecnologia, pelo Mestrado Profissional do Instituto
de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo. Graduada em Linguística pela Universidade de São Paulo (2002).
Pesquisadora do Laboratório de Segurança ao Fogo e a Explosões do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado
de São Paulo, desde 2008. Atua na área de segurança contra incêndio desde 2003, inicialmente na implantação de
brigadas de incêndio em favelas na cidade de São Paulo e, posteriormente, no projeto nacional que diagnosticou a
situação da segurança contra incêndio “Brasil Sem Chamas”. Especialista em equipes e planos de emergência contra
incêndio e gestão do conhecimento no segmento de segurança contra incêndio.
Rosiane Maria de Albuquerque Bonini é engenheira Mecânica graduada pela FEI e atualmente cursando pós-
graduação em Engenharia Clinica no Einstein, atuou durante seis anos em empresa do ramo Alimentício (máquinas
e refrigeração industrial), onde gerenciou a equipe de projetos de engenharia, dando suporte a diversos setores, tais
como compras, vendas, qualidade, manutenção e Assistência Técnica. Atuou por três anos no IPT (Instituto de Pesquisa
Tecnológica de São Paulo) no desenvolvimento do laboratório de explosão, desde a implementação dos equipamentos,
procedimentos de ensaios até a atuação no mercado.
CDU 614.841.31
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permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Vitor Andrade
Lucas Ricardi
Sumário
Prevenção e Combate a Incêndios e Explosão
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO......................................................................................................................................................... 10
Unidade I
1 HISTÓRICO........................................................................................................................................................... 13
1.1 Aprendendo com os grandes incêndios da História............................................................... 14
1.2 Normas e regulamentações ............................................................................................................. 17
1.2.1 As normas brasileiras.............................................................................................................................. 17
1.2.2 Regulamentações estaduais................................................................................................................ 18
1.2.3 Regulamentações municipais............................................................................................................. 19
1.2.4 Regulamentação federal....................................................................................................................... 19
1.2.5 Normas estrangeiras e internacionais............................................................................................. 20
1.2.6 NFPA – National Fire Protection Association............................................................................... 20
2 SISTEMA GLOBAL DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO................................................................... 21
2.1 Os requisitos funcionais na segurança de um edifício.......................................................... 25
2.2 Medidas de proteção passiva e ativa............................................................................................ 26
2.3 Segurança contra o fogo e as exigências humanas................................................................ 29
2.4 Compartimentação horizontal e vertical dos edifícios.......................................................... 30
2.5 Resistência da estrutura ao fogo.................................................................................................... 31
2.6 Distanciamento seguro entre edifícios......................................................................................... 32
2.7 Materiais de acabamento e revestimento................................................................................... 32
Unidade II
3 PLANOS DE EMERGÊNCIA............................................................................................................................ 37
3.1 Histórico.................................................................................................................................................... 37
3.2 Recomendações para elaboração de um plano de emergência......................................... 38
3.3 Estabelecimento de brigada de incêndio a partir do plano de emergência.................. 39
3.3.1 Erros mais comuns cometidos durante a implantação de uma brigada de incêndio.43
3.4 Bombeiro profissional civil................................................................................................................ 44
3.5 Treinamentos e simulados................................................................................................................. 45
3.6 Planos de abandono............................................................................................................................. 46
4 MEDIDAS PARA EVACUAÇÃO DE PESSOAS DA EDIFICAÇÃO.......................................................... 47
4.1 Saídas de emergência.......................................................................................................................... 47
4.1.1 Rotas de fuga............................................................................................................................................ 48
4.1.2 Dimensionamento................................................................................................................................... 49
4.2 Escadas de incêndio............................................................................................................................. 59
4.2.1 Escadas abertas (comuns ou não enclausuradas)...................................................................... 59
4.2.2 Escadas enclausuradas protegidas.................................................................................................... 59
4.2.3 Escadas enclausuradas à prova de fumaça................................................................................... 60
4.2.4 Escadas à prova de fumaça pressurizada....................................................................................... 62
4.2.5 Escadas externas...................................................................................................................................... 63
4.3 Sinalização de emergência................................................................................................................ 63
4.3.1 Funções da sinalização.......................................................................................................................... 63
4.3.2 Aplicação da sinalização nas edificações....................................................................................... 64
4.3.3 Fabricação e materiais empregados na sinalização de emergência................................... 65
4.4 Controle do movimento da fumaça.............................................................................................. 67
4.4.1 Princípios básicos..................................................................................................................................... 67
4.4.2 Parâmetros de projeto........................................................................................................................... 69
4.4.3 Sistemas naturais de controle de movimento de fumaça...................................................... 69
4.4.4 Sistemas mecânicos de controle de movimento de fumaça................................................. 72
4.4.5 Diferença de pressão.............................................................................................................................. 73
4.4.6 Controle de fumaça nos pavimentos.............................................................................................. 74
4.4.7 Controle de fumaça nas circulações verticais.............................................................................. 76
4.4.8 NFPA 92 A – Smoke Control Systems.............................................................................................. 77
4.4.9 BS 5588 Part 4 – Code of practice for smoke control in protected escape
routes using pressurization............................................................................................................................ 78
4.4.10 Sistema de controle de fumaça em shafts de elevadores.................................................... 80
Unidade III
5 TRANSMISSÃO DE CALOR, TÉCNICAS E SISTEMAS DE COMBATE A INCÊNDIO....................... 85
5.1 O que é preciso para iniciar o fogo?.............................................................................................. 85
5.2 O que é necessário para extinguir o fogo................................................................................... 86
5.3 Formas de transmissão de calor...................................................................................................... 86
5.4 Etapas de desenvolvimento de um incêndio, curva de incêndio real, curva
de incêndio padrão...................................................................................................................................... 87
5.5 Sequência de um combate a um incêndio................................................................................. 88
5.6 Os combustíveis e suas temperaturas........................................................................................... 88
5.7 Prevenção de incêndios...................................................................................................................... 89
5.8 Classes de fogo....................................................................................................................................... 90
5.9 Extintores de incêndio......................................................................................................................... 90
5.9.1 Conceituação............................................................................................................................................. 91
5.9.2 Classificação dos extintores................................................................................................................. 91
5.9.3 Classificação segundo a carga nominal e a capacidade extintora...................................... 93
5.9.4 Classificação dos riscos......................................................................................................................... 94
5.9.5 Seleção do agente extintor.................................................................................................................. 94
5.9.6 Condições de projeto............................................................................................................................. 94
5.9.7 Posicionamento dos extintores na edificação............................................................................. 95
5.9.8 Exemplo de dimensionamento de um sistema de proteção por extintores para
uma edificação com carga de incêndio classe A................................................................................... 99
5.10 Chuveiros automáticos para extinção de incêndios (sprinklers)...................................100
5.10.1 Conceitos e definições.......................................................................................................................100
5.10.2 Tipos de sistemas de proteção por chuveiros automáticos...............................................101
5.10.3 Componentes do sistema de proteção por chuveiros automáticos...............................101
5.10.4 Requisitos construtivos do dispositivo chuveiro automático...........................................104
5.10.5 Métodos de cálculo dos sistemas de proteção por chuveiros automáticos................106
5.10.6 Requisitos a serem considerados na instalação do sistema .............................................106
5.10.7 Espaçamento entre chuveiros automáticos e paredes......................................................... 113
5.10.8 Posicionamento do defletor............................................................................................................114
5.10.9 Parâmetros de desempenho para funcionamento do chuveiro automático.............. 114
5.10.10 Classificação do grau de risco quanto à ocupação............................................................. 116
5.11 Detectores............................................................................................................................................118
5.12 Iluminação de emergência............................................................................................................119
5.13 Hidrantes..............................................................................................................................................119
5.13.1 Componentes dos sistemas............................................................................................................ 120
5.13.2 Mangueiras e mangotinhos de combate a incêndio........................................................... 120
5.13.3 Tubulações..............................................................................................................................................121
5.13.4 Recalque para o Corpo de Bombeiros........................................................................................121
5.13.5 Esguicho................................................................................................................................................. 122
5.13.6 Alarme..................................................................................................................................................... 122
5.13.7 Abrigo...................................................................................................................................................... 122
5.13.8 Válvulas de abertura para hidrantes ou mangotinhos....................................................... 122
5.13.9 Tipos de sistemas................................................................................................................................ 123
5.13.10 Localização dos pontos de hidrante ou de mangotinhos............................................... 123
5.13.11 Dimensionamento........................................................................................................................... 124
5.13.12 Reserva de incêndio....................................................................................................................... 126
5.13.13 Reservatórios..................................................................................................................................... 126
5.13.14 Bombas de incêndio....................................................................................................................... 126
5.13.15 Bombas acopladas a motores de combustão interna...................................................... 129
5.13.16 Brigada de incêndio........................................................................................................................ 129
5.13.17 Aceitação, vistoria e manutenção............................................................................................ 129
5.13.18 Aplicabilidade dos sistemas......................................................................................................... 133
5.14 Diques de contenção.......................................................................................................................135
6 SISTEMAS DE EXTINTORES E SISTEMAS DE HIDRANTES................................................................136
6.1 Sistemas de extintores de combate contra incêndio............................................................136
6.2 Sistemas de hidrantes e mangotinhos.......................................................................................136
6.2.1 Requisitos para instalações dos sistemas de proteção por chuveiros automáticos................142
6.2.2 Periodicidade das inspeções, ensaios e manutenções nos sistemas de proteção
por chuveiros automáticos.......................................................................................................................... 144
Unidade IV
7 EXPLOSÃO.........................................................................................................................................................148
7.1 Tipos de explosão................................................................................................................................149
7.2 Subdivisão das explosões químicas.............................................................................................150
7.3 Efeitos de uma explosão..................................................................................................................150
7.3.1 Efeitos primários................................................................................................................................... 150
7.3.2 Efeito da fragmentação..................................................................................................................... 150
7.3.3 Efeito térmico..........................................................................................................................................151
7.3.4 Efeitos secundários...............................................................................................................................151
7.3.5 Efeitos sobre o corpo humano.........................................................................................................151
7.4 Áreas classificadas – atmosfera explosiva.................................................................................151
7.4.1 Classificação de áreas..........................................................................................................................151
7.4.2 Agrupamento dos gases.................................................................................................................... 152
7.5 Espaço confinado................................................................................................................................153
7.5.1 Risco de espaço confinado............................................................................................................... 153
7.5.2 Deficiência de oxigênio...................................................................................................................... 153
7.5.3 Exposição a agentes perigosos........................................................................................................ 154
7.5.4 Explosões e incêndios......................................................................................................................... 154
7.5.5 Elétrico e mecânico.............................................................................................................................. 155
7.5.6 Ergonômicos........................................................................................................................................... 155
7.5.7 Riscos combinados............................................................................................................................... 155
7.5.8 Equipamentos........................................................................................................................................ 157
7.5.9 Avaliação de espaços confinados................................................................................................... 157
7.5.10 Procedimentos de monitoramento de espaços confinados.............................................. 158
7.5.11 Sistema de permissão....................................................................................................................... 159
7.5.12 Permissão de entrada....................................................................................................................... 159
7.5.13 Alertas......................................................................................................................................................161
7.5.14 Abandono...............................................................................................................................................161
7.5.15 Deveres dos vigias...............................................................................................................................161
7.5.16 Abandono.............................................................................................................................................. 162
7.5.17 Pessoas não autorizadas.................................................................................................................. 162
7.5.18 Os deveres do supervisor de entrada......................................................................................... 162
7.5.19 Serviços de emergência e resgate............................................................................................... 163
7.5.20 Serviços de terceiros......................................................................................................................... 164
7.5.21 Sistemas de resgate........................................................................................................................... 164
7.5.22 Materiais úteis na realização de salvamentos em espaços confinados....................... 164
7.5.23 Protocolo de atendimento a emergências em ambientes confinados......................... 166
7.5.24 Condições do trabalhador.............................................................................................................. 168
7.5.25 Riscos à saúde..................................................................................................................................... 168
7.6 Explosões confinadas e não confinadas....................................................................................170
7.7 Bleve.........................................................................................................................................................170
7.7.1 Boilover......................................................................................................................................................171
7.8 NR-20 – Líquidos combustíveis e inflamáveis........................................................................171
8 CERTIFICAÇÃO, TESTES E ENSAIOS..........................................................................................................173
8.1 Introdução..............................................................................................................................................173
8.2 Ensaios de reação ao fogo...............................................................................................................174
8.3 Ensaios de resistência ao fogo.......................................................................................................176
8.4 Ensaios em equipamentos, componentes e sistemas...........................................................178
8.5 Avaliação de serviços – aceitação de instalações..................................................................179
8.6 Panorama da certificação de produtos na área de segurança contra incêndio..................180
8.6.1 Questões estratégicas..........................................................................................................................181
8.6.2 Questões táticas e operacionais......................................................................................................181
8.6.3 Vantagens da certificação................................................................................................................. 182
8.6.4 O caminho da certificação................................................................................................................ 183
APRESENTAÇÃO
Este livro-texto foi elaborado com o objetivo de abordar os principais aspectos da segurança contra
incêndio, para que o aluno possa entender a importância e a abrangência do tema, sem perder de vista
o pragmatismo, ou seja, que ele vislumbre a aplicabilidade desses conceitos no dia a dia da segurança
do trabalho.
Nas últimas décadas, no Brasil, a preocupação com a formação de profissionais para a segurança de
modo geral vem se traduzindo na criação e implementação de cursos e treinamentos direcionados para
a segurança no ambiente produtivo com base na legislação e nas normas técnicas vigentes.
Nota-se, nesse cenário, o papel secundário que a educação para a segurança contra incêndio
ocupa, e tal situação ocorre há muitas décadas no Brasil. Sua abordagem é feita quase sempre de modo
superficial e fortemente ancorado na proteção de edifícios, ou seja, como algo de interesse exclusivo
dos cursos de Engenharia Civil e Arquitetura e, ainda assim, com pouco impacto na carga horária da
disciplina.
Destaca-se que as queimaduras, quando não são fatais, deixam sequelas para o resto da vida do
trabalhador, que, normalmente, deve ser submetido a tratamentos longos e de alto custo, os quais
muitas vezes geram resultados insatisfatórios.
Não há duvida, portanto, de que o estudo desta disciplina contribuirá para que o aluno amplie seu
conhecimento sobre a gestão da segurança contra incêndio. Estará preparado para a tomada de decisão
sobre o conjunto de ações necessárias para tornar o ambiente de trabalho e seu entorno em um lugar
mais seguro e produtivo para todos.
Bons estudos!
INTRODUÇÃO
A definição de segurança contra incêndio é o nosso primeiro desafio. Trata-se de um tema abrangente,
e é preciso não desconsiderar aspectos relevantes da questão. Ressalta-se que a forma como se conceitua
um fenômeno revela como este é percebido e compreendido pelas pessoas que o definiram.
“Internacionalmente, a SCI é encarada como uma ciência, portanto, uma área de pesquisa,
desenvolvimento e ensino” (DEL CARLO apud SEITO, 2008, p. 1).
Contudo, para a maioria dos códigos estaduais, a segurança contra incêndio “é o conjunto de ações e
recursos internos e externos à edificação e áreas de risco que permite controlar a situação de incêndio”
(CORPO DE BOMBEIROS DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2011).
10
Apesar da abrangência da segurança contra incêndio, as definições mais comuns encontradas nas
referências brasileiras sobre o tema se limitam à proteção dos edifícios e ao meio urbano.
Comecemos, portanto, pelo incêndio: podemos afirmar que incêndio é o fogo sem controle. Essa
reação química, que fascina a espécie humana desde a sua descoberta, quando sob controle, remete
a conceitos como conforto e segurança. Em situação oposta, significa destruição e perdas de vidas
humanas e patrimoniais, com severos reflexos nos setores econômicos, sociais e no meio ambiente.
Quando os incêndios ocorrem nas áreas rurais e florestais, impactam o clima, o bioma, a vegetação e,
consequentemente, os níveis de precipitação (volume de chuvas) e o setor aeroportuário (provocando o
fechamento de aeroportos em virtude diminuição da visibilidade causada pela fumaça e, ainda, do calor
intenso que é irradiado e que pode afetar a estabilidade das aeronaves). Os incêndios também atingem
as empresas de base florestal, as terras indígenas e as áreas de preservação, além de comprometer a
saúde da população local, contribuindo para o surgimento de doenças respiratórias, devido aos gases e
à fumaça intensa.
Para haver uma ação bem elaborada, é necessário que ela seja subsidiada por sólidos conhecimentos,
que funcionem como uma caixa de ferramentas bem organizada, à qual se possa recorrer para encontrar
as soluções mais adequadas para as diferentes situações.
Nesse sentido, este livro-texto será uma espécie de caixa de ferramentas. O aluno poderá encontrar
uma breve visão histórica sobre temas como: segurança contra incêndio e explosões, a legislação e
regulamentações vigentes, as medidas de proteção passiva e os respectivos sistemas de proteção de
combate, explosões e proteção nas operações; esta obra também apresenta uma discussão sobre o papel
do tecnólogo na área de segurança contra incêndio.
Dessa forma, o aluno compreenderá a importância do tema e a contribuição profissional que poderá
fazer para aprimorar a segurança contra incêndio do país.
11
PREVENÇÃO E COMBATE A INCÊNDIOS E EXPLOSÃO
Unidade I
1 HISTÓRICO
Inicialmente, o fogo era produzido por fenômenos naturais como quedas de raios em árvores
(provocando incêndio) e erupção vulcânica seguida da eliminação de lava incandescente que, ao entrar
em contato com os mais diversos materiais ou seres vivos, causavam fogo e destruição.
Registros arqueológicos demonstram que por volta de 7.000 a.C. o homem conseguiu produzir o fogo
de forma premeditada, ação feita provavelmente pela fricção de dois galhos secos ou pela produção de
faíscas causada pelo choque entre duas pedras lascadas. O fogo era de grande utilidade para o homem
nos primórdios de sua história.
O fogo é uma força imensa que precisa ser controlada, caso contrário resulta em danos e perdas
irreparáveis, ou seja, em incêndios. Desde a Antiguidade, a melhor maneira de se garantir o bem-estar
e a integridade física do homem, do meio ambiente e dos seus bens é o controle do fogo de maneira
eficiente.
À medida que o homem evolui, as técnicas para o controle dos fenômenos naturais também são
aprimoradas. Atualmente, as atividades de segurança contra incêndios, nas fases de prevenção, proteção
e combate, são regulamentadas por procedimentos oriundos de estudos específicos sobre o fogo e
incêndios. Há, ainda, outros fatores, como: a experiência acumulada ao longo da história, que subsidia a
elaboração de normas e leis risco; a gestão dos riscos, o planejamento, a aquisição e o comissionamento
13
Unidade I
de sistemas de proteção contra incêndios; bem como as técnicas de combate a incêndios, de manuseio
e armazenamento e transportes de produtos perigosos etc.
Os incêndios podem ser classificados de acordo com sua origem: natural, acidental ou criminosa.
As causas naturais são decorrentes do aquecimento solar de áreas extremamente secas, da queda
de um raio ou ainda da erupção vulcânica, um tipo raríssimo, de acordo com o Inpe (Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais). Segundo Setzer (2012), nos últimos 30 anos de monitoramento, o Inpe só
identificou focos de incêndios nas áreas onde há a presença humana.
Os incêndios criminosos são motivados por diferentes razões, desde a intenção de fraudar empresas
de seguros a tentativas de assassinato.
São chamados acidentais os incêndios que não são premeditados ou intencionais. Entretanto, deve
se enfatizar que incêndios não são meras fatalidades, eles ocorrem por negligência, displicência ou
desconhecimento. Isso significa que, na maioria das vezes, poderiam ter sido evitados. É o que demonstra
a análise dos grandes incêndios da história. Vejamos alguns:
Um ex-funcionário do circo, após ter sido demitido, utilizou gasolina e ateou fogo à lona do circo,
feita de uma composição com parafina, que se incendiou rapidamente. Em seguida, a lona caiu sobre
as quase três mil pessoas que assistiam ao espetáculo. Morrem 503 pessoas, sendo que 70% das vítimas
eram crianças.
Acredita-se que a causa da tragédia foi uma sobrecarga no sistema elétrico do prédio, que se
espalhou rapidamente e gerou algumas explosões que o fizeram tremer. Embora ainda não houvesse as
redes sociais e os telefones celulares que filmavam, o evento foi televisionado ao vivo, promovendo uma
comoção nacional. Muitas pessoas se atiravam do prédio. A maioria dos sobreviventes foram pessoas
que conseguiram chegar ao último andar do edifício e aguardar o resgate lá. Ao todo, foram 16 mortos
e 330 feridos.
14
PREVENÇÃO E COMBATE A INCÊNDIOS E EXPLOSÃO
O edifício onde funcionava a Loja Renner, em Porto Alegre, sofreu um incêndio provavelmente
causado por um curto-circuito. Deixou 41 pessoas mortas e outras 60 feridas. Muitos se jogaram do
prédio de sete andares, que não dispunha de um terraço adequado para resgate com helicópteros.
Localizado na Avenida Paulista, em São Paulo, o prédio pegou fogo em um sábado de carnaval, o que
reduziu substancialmente o número de vítimas. Todos os andares do prédio foram destruídos. Morreram
17 pessoas e 53 ficaram feridas. Depois do episódio, novas leis de segurança contra incêndios foram
implementadas, especialmente na região da Avenida Paulista.
Um vazamento levou centenas de litros de gasolina para o mangue que ficava próximo a uma favela
na cidade de Cubatão-SP. Não se sabe exatamente o que provocou a ignição que causou o grande
incêndio, sabe-se apenas que 93 moradores perderam a vida nessa ocorrência.
O vazamento de GLP na praça de alimentação provocou uma explosão, que deixou 300 pessoas
feridas e 41 mortos.
Houve um acidente durante uma queima de fogos no palco, gerando um incêndio que matou
sete pessoas e deixou mais de 300 feridos em Belo Horizonte. A casa de show não tinha alvará para
funcionamento. O proprietário, um produtor e dois músicos foram condenados.
O incêndio ocorreu na indústria de carrocerias de ônibus. Deixou seis mortos e dois feridos. Segundo
o coronel dos bombeiros, o fogo teria começado no subsolo da garagem da empresa, em uma pequena
sala que funcionava como uma espécie de almoxarifado. Cinco dos seis mortos eram integrantes da
brigada de incêndio da organização; a outra vítima fatal era o engenheiro e supervisor de produção,
que se dirigiu ao local para tentar salvar os colegas. Todos morreram por inalação de fumaça. Segundo
testemunhas, o fogo se propagou muito rapidamente e o local possuía apenas um acesso.
15
Unidade I
O fogo teve início quando frequentadores do local resolveram soltar rojões em direção ao teto de
uma boate em Buenos Aires. Muitos tentaram sair pelas portas de emergência, mas a casa as mantinha
fechadas para evitar que as pessoas saíssem sem pagar. O saldo foi de 175 pessoas mortas e 619 feridos.
O caso teve grande repercussão no Brasil.
O acidente causou 245 mortes. O fogo se propagou quando a banda que se apresentava no local
acendeu um sinalizador. O teto era de isopor, e rapidamente o fogo se alastrou. A tragédia foi classificada
como o segundo pior incêndio da história do país.
Observação
Quando nos detemos em uma análise mais detalhada das causas dos incêndios, nos deparamos, quase
sempre, com a ausência de medidas de proteção. Nos projetos arquitetônicos, as saídas de emergência estão
mal dimensionadas ou estão obstruídas; não há controle dos materiais de acabamento e revestimento
(que facilitam a propagação e a criação de fumaça em situações de incêndio), desconhecimento ou
negligência na utilização e armazenamento de materiais ou produtos explosivos; há precariedade na
manutenção das instalações e condições de salvamento e combate ao fogo. Ou seja, é possível resumir
as causas em três situações: negligência, imprudência e desconhecimento.
De acordo com dados da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), 85% dos municípios
brasileiros – ou seja, quase 5 mil cidades – não têm proteção e estão cada vez mais populosas.
E por que há dificuldade em seguir regras? Porque as medidas de segurança adequadas a cada
situação encontram-se dispersas no emaranhado de leis, decretos, regulamentos e normas técnicas, nas
diferentes instâncias da administração pública com poder de legislar sobre o tema em todas as esferas
(municipal, estadual e federal) e ao nível interno das grandes empresas.
Lembrete
No Brasil, o órgão responsável pela elaboração, atualização e disseminação das normas técnicas é
a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que é signatária da Organization for International
Standardization (ISO), entidade responsável pela compatibilização de normas internacionais, ou seja,
genéricas o suficiente para serem aplicadas em diferentes países. Por isso existem no Brasil as normas
NBR ISO, que podem ser apenas traduções fiéis ou conterem sutis adaptações à realidade brasileira.
Já em meados de 1960, uma comissão especial de estudos ligada à ABNT, formada por estudiosos de
diferentes segmentos da segurança contra incêndio, oferecia suporte técnico à elaboração das leis de
segurança contra incêndio. Essa comissão é responsável pela elaboração dos documentos técnicos que
são precursores das normas técnicas que conhecemos atualmente.
Em 1970, a comissão especial de estudos foi reconhecida como permanente e recebeu o nome
de CBPI – Comissão Brasileira de Prevenção de Incêndio. Em 1987, essa instituição ocupava o 24° do
Comitê da ABNT e passou a se chamar Comitê Brasileiro de Segurança Contra Incêndio. No mesmo ano,
instalou sua sede no prédio do Corpo de Bombeiros de Estado de São Paulo, na Praça da Sé.
A primeira especificação técnica sobre segurança contra incêndio de que se tem registro é a
EB 132:1961 – Especificação Técnica – Portas corta-fogo de madeira revestida de metal, substituída
pela norma ABNT NBR 11711, em 1992.
A cada grande incêndio, fazia-se mais notável a necessidade e urgência de se ampliar a obrigatoriedade
da adoção de medidas de segurança contra incêndio. Entretanto, as referências nacionais não eram
suficientes. Assim, foram trazidas as normas internacionais e estrangeiras, que serviram de referência a
instruções técnicas, leis, decretos, decreto-lei, portarias, diretrizes técnicas e outros tantos documentos
regulamentadores.
17
Unidade I
O conhecimento sobre esse acervo é essencial ao profissional de segurança. Ele deve ser capaz de
discernir as diferenças e a hierarquia das normas e regulamentações, em função da instância e do local
de sua atuação. Embora nem todas elas sejam compatíveis entre si, todas são legítimas e devem ser
obedecidas.
Ressalta-se, ainda, que não há qualquer tipo de restrição ao fato das grandes empresas, com alto
nível de risco em seus processos, como a Petrobrás, por exemplo, definirem internamente suas normas de
segurança para minimizar as ocorrências e consequências de falhas em seus sistemas. Também não há
obrigatoriedade das indústrias do álcool combustível, que têm riscos similares, compartilharem tais regras.
Hoje não existe qualquer regulamentação ou norma que exerça o papel de um código nacional
de segurança contra incêndio. Por essa razão, além das normas brasileiras, algumas regulamentações
específicas têm a incumbência de garantir o atendimento às exigências de segurança contra incêndio.
Por esse motivo é que as exigências se concentram, principalmente, em instância estadual, e elas são
elaboradas pelos Corpos de Bombeiros Militares.
Uma breve análise da história demonstra que a preocupação com a segurança contra incêndio
sempre se inicia com acidentes de grande proporção.
No Brasil a história não foi diferente. Os incêndios mais graves motivaram a criação e a revisão
de leis, especificamente aquelas direcionadas à proteção contra incêndio para edifícios. Assim, as
regulamentações estaduais estabelecem os requisitos mínimos para garantia da segurança nas
edificações nos estados, e o atendimento a tais exigências legais é verificado por meio da aprovação de
projetos e desenhos e vistorias realizadas pelo Corpo de Bombeiros Estadual.
A maioria dos estados brasileiros possui uma regulamentação estadual própria, de modo geral
idêntica à do estado de São Paulo, tanto na forma quanto no conteúdo, ou seja, é composta por um
decreto estadual – no caso de São Paulo, o 56.819/11, que faz referência e é complementado por
Instruções Técnicas – Its. Estas podem mudar de nomenclatura: por exemplo, em Goiás e no Espírito
Santo são chamadas de normas técnicas – NTs; no Paraná recebem o nome de norma de procedimento
técnico – NPT, e em Santa Catarina são nomeadas Instrução Normativa – IN.
Diversos municípios mantêm um convênio com o Corpo de Bombeiros da Polícia Militar para
prestação de serviços em sua localidade. Não havendo legislação municipal que estabeleça as condições
exigíveis de segurança contra incêndio das edificações, a regulamentação estadual é aplicada.
Alguns municípios brasileiros possuem sua própria regulamentação contra incêndios, e não
necessariamente ela é incorporada ao Código de Obras e Edificações – COEs similares. No caso da cidade
de São Paulo, o código se concentra nas medidas construtivas, que visam garantir a segurança das
pessoas no abandono do edifício e deixa sob a responsabilidade da regulamentação estadual as questões
relativas às instalações e medidas de proteção ativa.
A ausência de um código nacional de segurança contra incêndio fez com que instituições
nacionais não voltadas exclusivamente para as questões diretamente relacionadas ao tema
incêndio se apresentassem para legislar sobre o assunto em nível federal. É o caso do Ministério
do Trabalho e Emprego, principal órgão regulamentador em nível federal sobre proteção contra
incêndio em ambientes produtivos. Suas diretrizes tratam de temas específicos ou remetem às
legislações estaduais e normas técnicas aplicáveis.
A NR-23 – Proteção contra incêndios, promulgada em 6 de maio de 2011, por exemplo, destaca que
as medidas de prevenção contra incêndio devem estar em conformidade com a legislação estadual e
as normas técnicas aplicáveis. Delibera, ainda, que o empregador deve providenciar informações sobre
procedimentos de abandono, dispositivos e alarmes. Dispõe sobre as saídas de emergência.
Outra norma é a NR-33 – Segurança e saúde no trabalho em espaços confinados, que tem como
objetivo estabelecer os requisitos mínimos para identificação de espaços confinados, bem como promover
o reconhecimento, a avaliação, o monitoramento e o controle dos riscos existentes nesses locais.
Saiba mais
Dessa forma, cabe ao profissional procurar as informações dentro da sua linha de atuação e dos seus
processos para a melhor tomada de decisão.
É evidente que as normas internacionais podem ser adotadas, desde que os devidos os cuidados
sejam atendidos. Em primeiro lugar, porque são direcionadas à realidade social, econômica, política
e cultural do seu país de origem, como é o caso das normas da NFPA – Nacional Fire Protection
Association, amplamente utilizadas em vários países, especialmente da América Latina, o que
inclui o Brasil.
Por outro lado, sendo o Brasil signatário da ISO, há um acordo entre alguns países da América Latina
para que as normas da NFPA tenham prioridade, uma vez que esta organização se comprometeu em
elaborar normas que contemplem também a realidade brasileira. A utilização de outras normas também
é possível, desde que haja uma justificativa técnica para isso.
A NFPA é uma organização internacional, sem fins lucrativos, fundada em 1896, nos Estados
Unidos. Sua missão é reduzir as ocorrências de incêndio em todo o mundo, além de outros perigos
à qualidade de vida, elaborando e disseminando códigos e normas técnicas, pesquisa, treinamento
e educação.
A instituição publicou mais de 300 códigos e normas direcionados para a melhoria da segurança
contra incêndio, estabelecendo critérios para a construção, transformação, projetos, serviços e
instalações. Para dar conta dessa produção, mais de 6 mil voluntários trabalham em 200 comitês
técnicos. Além das normas técnicas, também elaboram manuais e edições comentadas. No Brasil
há apenas um Comitê Brasileiro de Segurança contra Incêndio, o CB-24, com aproximadamente
20 comissões de estudos, e voluntários que trabalham mais fortemente na revisão de normas do
que na produção de novos códigos.
20
PREVENÇÃO E COMBATE A INCÊNDIOS E EXPLOSÃO
Saiba mais
A NFPA oferece acesso online gratuito aos seus códigos e normas, basta
se cadastrar na página da associação. Acesse: <www.nfpa.org.br>.
Ualfrido del Carlo (2008) volta a resgatar o tema alguns anos depois, destacando que os conceitos
na área de segurança contra incêndio ainda não estão plenamente incorporados aos profissionais de
projeto e construção de edifícios:
Nesse âmbito, uma das propostas mais coerentes para o emprego da segurança contra incêndio nas
edificações é o uso dos conceitos apresentados pelo sistema global de segurança contra incêndio, que
foi proposto por Berto (1991) em seus estudos.
21
Unidade I
A proposta apresentada pelo Sistema Global de Segurança contra Incêndio tem como objetivo o
conjunto de ações coerentes, que se originam do perfeito entendimento dos objetivos da segurança
contra incêndio que norteiam as soluções definitivas e funcionais. Estabelecê-lo para cada edifício é
responsabilidade de todos os técnicos envolvidos na concepção do projeto, mas o arquiteto pode vir
a ter o papel mais importante, na medida em que o projeto arquitetônico considera as características
relacionadas à segurança contra incêndio dentro do seu contexto. Será o arquiteto, então, quem fará
inicialmente a definição dos requisitos necessários para o cumprimento do sistema global de segurança
contra incêndio, específico para tal edifício.
Os incêndios apresentam, em sua evolução, três fases características, segundo Berto (1991) e
Seito et al. (2008): fase inicial, a fase de inflamação generalizada e a fase de extinção. Na fase
inicial, o incêndio se restringe a um foco representado pela combustão do primeiro objeto ignizado.
A seguir vem a fase de inflamação generalizada, com a elevação acentuada da temperatura
devido ao envolvimento simultâneo de grande quantidade de materiais combustíveis. Depois de
aproximadamente 80% dos materiais combustíveis já terem sido consumidos pelo fogo, o incêndio
chega à sua fase de extinção.
inicial generalizada
Temperatura
ambiente inicial
Inflamação
generalizada
Tempo
As medidas para segurança contra incêndio nas edificações podem ser divididas em dois grandes
grupos:
• medidas de proteção: estabelecidas para proteger a vida humana e os bens materiais dos efeitos
nocivos do incêndio que já se desenvolve.
22
PREVENÇÃO E COMBATE A INCÊNDIOS E EXPLOSÃO
Atuando em conjunto, as medidas de prevenção e proteção propostas para uma edificação visam
manter o risco de incêndio em níveis aceitáveis.
A segurança contra incêndio nas edificações, segundo a proposta definida por Berto (1991), agrupa-
se em oito elementos, que apresentamos no quadro a seguir:
Composto por medidas que visam facilitar a extinção do foco do incêndio, de forma
Extinção inicial do incêndio que ele não se generalize pelo ambiente.
Limitação da propagação do Composto por medidas que visam impedir a propagação do incêndio que cresceu para
incêndio além do seu ambiente de origem.
Tem o objetivo de assegurar a fuga dos usuários do edifício para que todos possam
Evacuação segura do edifício sair com rapidez e em segurança. Esta evacuação deverá ser processada a partir do
momento em que ocorrer a inflamação generalizada no local de origem.
Precaução contra a propagação Almeja obstar a propagação do incêndio para outros edifícios próximos.
Pretende impedir a ruína parcial ou total da edificação. As altas temperaturas, em
Precaução contra o colapso função do tempo de exposição, afetam as propriedades mecânicas dos elementos
estrutural estruturais, podendo enfraquecê-los até que provoquem a perda da estabilidade.
Visa assegurar as intervenções externas para o combate ao incêndio e o resgate de
eventuais vítimas. Tais intervenções devem primar pela rapidez, eficiência e segurança
Rapidez, eficiência e segurança daqueles que a realizam. Elas devem ocorrer no estágio mais incipiente do incêndio,
das operações antes de sua propagação pelo edifício. Contudo, mesmo após essa propagação ter
acontecido, continua a ser indispensável para se evitar a perda de vidas humanas e o
alastramento do fogo por todo o edifício, evitando-se o risco de colapso estrutural.
Essas medidas exigidas pelo sistema global podem estar anexas aos aspectos construtivos da
edificação ou estarem associadas ao uso e ocupação do edifício, correspondendo à sua operação e
manutenção.
Para que um prédio seja seguro contra incêndio, deve-se de antemão saber quais os objetivos desse
sistema global de segurança proposto e quais são os requisitos funcionais que devem ser atendidos.
23
Unidade I
As medidas de proteção contra incêndio podem ser divididas em duas categorias: passivas e ativas. A
primeira pode ser entendida como aquela em que o sistema instalado na edificação não reage ativamente
aos estímulos do incêndio, entretanto visa manter a integridade da estrutura pelo máximo de tempo
possível, evitando seu colapso, até que os ocupantes possam ser retirados da edificação com segurança.
Seguem algumas de suas características:
A proteção ativa pode ser entendida como aquela que, em face da ocorrência do incêndio, o sistema
instalado na edificação responde aos estímulos provocados pelo fogo de forma manual ou automática,
por exemplo:
As disposições apresentadas também devem também ser observadas em dois momentos distintos da
implantação do empreendimento, sendo:
• prevenções e proteções relativas ao processo produtivo do edifício: ínsitas nas etapas de concepção
e construção da edificação, ou seja, desde o projeto até a entrega do empreendimento;
O nível de segurança contra incêndio obtido para um edifício está diretamente ligado ao controle
das categorias de risco, tanto no processo produtivo como em sua utilização.
Saiba mais
Segundo as disposições estabelecidas por Berto (1991), os requisitos funcionais a serem atendidos
pelo edifício para que ele se torne seguro do ponto de vista da segurança contra incêndio estão
associados à sequência das etapas de desenvolvimento de um incêndio. Tais dispositivos são suportados
pelos elementos do sistema global.
Fontes de
Foco de incêndio Crescimento de incêndio Propagação de incêndio
ignição
Precaução Precaução
Limitação do Extinção Limitação da Evacuação contra a e segurança
contra o contra
crescimento inicial do propagação segura do propagação do nas operações
início do colapso
no incêndio incêndio do incêndio edifício incêndio entre de combate e
incêndio edifícios estrutural resgate
Figura 2 – Subsistemas
25
Unidade I
Segundo Berto (1998), uma vez que conhecemos o desenvolvimento de um incêndio e como os
elementos do sistema global (subsistemas) estão associados a cada etapa do incêndio, os requisitos
funcionais a serem atendidos pelo edifício consistem em resolver os tópicos abordados em cada
elemento, com as ações propostas a seguir:
• manter o edifício íntegro, sem danos, sem ruína parcial e/ou total;
A segurança contra incêndio deve ser considerada desde o estudo preliminar, pela concepção do
anteprojeto, pelo projeto executivo e pela construção, operação e manutenção do local. Se ela não
for reconhecida em qualquer uma das etapas, o edifício ficará suscetível a riscos de inconveniências
funcionais, gastos excessivos e níveis de segurança inadequados.
Tudo o que foi previsto em projeto deve ser considerado na fase de construção do prédio,
garantindo tanto a confiabilidade como a efetividade anteriormente prevista. Deve-se, ainda,
ressaltar que parte considerável dos problemas com relação à proteção contra incêndio ocorre
durante a fase de operação do edifício e depende da caracterização do tipo de usuário e das
regulamentações compulsórias existentes.
26
PREVENÇÃO E COMBATE A INCÊNDIOS E EXPLOSÃO
Lembrete
Seguem alguns aspectos das medidas de proteção passiva que estão relacionadas com os elementos
do sistema global:
• controle das características de reação ao fogo dos materiais incorporados aos elementos
construtivos;
O quadro a seguir apresenta quais são as medidas de prevenção e proteção contra incêndio associadas
aos elementos do Sistema Global de Segurança contra Incêndio.
27
Unidade I
28
PREVENÇÃO E COMBATE A INCÊNDIOS E EXPLOSÃO
Os elementos rapidez, eficiência e segurança das operações de combate e resgate são prejudicados
quando não são satisfatórios; a provisão de equipamentos de combate, o acesso seguro da brigada no
interior do edifício e o acesso externo ao edifício também constituem as medidas passivas.
Desse modo, percebe-se que as medidas passivas de proteção contra incêndio têm papel de destaque
dentro do Sistema Global de Segurança contra Incêndio.
29
Unidade I
Tendo em vista que devemos garantir a incolumidade da população fixa e flutuante da edificação, a
questão fundamental a ser proposta é relativa ao tempo em que essa condição deve ser mantida. Isso
envolve considerações a respeito da edificação e da sua localização e do percurso do posto de bombeiros
mais próximo até o local, bem como das facilidades de acesso até lá.
Durante esse período, deve-se afastar o perigo de colapso estrutural da edificação e de suas partes,
ou seja, cada componente da edificação deve manter intacta sua capacidade de atender às funções para
as quais foram projetadas.
A legislação urbanística também tem de ser considerada no que diz respeito à transmissão do
calor por convecção e radiação e da propagação direta do fogo aos edifícios vizinhos, o que implica
necessariamente a definição de medidas para limitar esses efeitos, tais como recuos laterais e de fundo,
larguras de ruas etc.
É necessário garantir a circulação interna vertical e horizontal do edifício para que todos possam
aguardar o resgate sem risco, pois é preciso assegurar condições mínimas de sobrevivência até a extinção
do fogo.
Os acessos externos devem ser localizados em pontos ao alcance das escadas de bombeiros, e
este requisito envolve localização oportuna das escadas internas. O heliporto no topo do edifício nem
sempre é solução possível ou conveniente. De qualquer maneira, é válida somente quando for possível
proporcionar o acesso desde os pavimentos inferiores.
A compartimentação visa dividir o edifício em células capazes de suportar a ação da queima dos
materiais combustíveis nela contidos, impedindo o alastramento do fogo. A contenção do incêndio em
seu ambiente de origem tende a facilitar as operações de combate ao fogo. Ademais, a compartimentação
restringe a livre movimentação da fumaça no interior do edifício. Dessa forma, os resultados que podem
ser alcançados são:
• paredes corta-fogo;
• portas corta-fogo nas aberturas das paredes corta-fogo destinadas à circulação de pessoas e de
equipamentos;
• registros corta-fogo nos dutos de ventilação e nos dutos de exaustão que transpassam essas
paredes;
• selos corta-fogo nas passagens de cabos elétricos e tubulações através das paredes corta-fogo.
• entrepisos corta-fogo;
• registros corta-fogo nos dutos de ventilação e nos dutos de exaustão que intercomunicam os
pavimentos;
• resistência ao fogo no entorno do edifício, em que são incluídas as fachadas cegas, as abas
verticais e as abas horizontais. Estas duas últimas separam aberturas de pavimentos consecutivos
e com adequada resistência ao fogo; neste caso, devem unicamente manter suas características
funcionais, ou seja, obstruir a livre emissão de gases quentes e chamas para o exterior.
O efeito global das mudanças promovidas pelas altas temperaturas alcançadas nos incêndios sobre a
estrutura do edifício pode ser observado por meio da diminuição progressiva de sua capacidade portante.
Durante esse processo, pode ser alcançado, em determinado momento, um ponto no qual o limite
último de tensão se iguala à primeira tensão aplicada, propiciando então a falência de elementos
estruturais.
As estruturas dos edifícios, em função dos materiais que as constituem, devem ser dimensionadas,
ou seja, precisam apresentar resistência ao fogo compatível com a magnitude do incêndio que possa
ocorrer.
31
Unidade I
Além do colapso do edifício, o pior fenômeno que se pode esperar na evolução do incêndio é o da
conflagração, quando os prédios são sucessivamente envolvidos na queima. Nessa situação, as perdas
ganham muita proporção e a situação torna-se incontrolável.
A propagação do incêndio entre edifícios isolados pode ocorrer por meio dos seguintes mecanismos:
• radiação térmica emitida pelo edifício incendiado por meio de: aberturas existentes na fachada;
da cobertura; chamas que saem pelas aberturas na fachada ou pela cobertura; e, ainda, chamas
desenvolvidas pela própria fachada, quando esta for composta por materiais combustíveis;
• convecção: caso os gases quentes emitidos pelas aberturas existentes na fachada ou pela cobertura
do edifício incendiado atinjam a fachada do prédio adjacente.
Na etapa de especificação dos materiais de acabamento e revestimentos que vão compor o projeto
de um edifício, materiais combustíveis podem ser incorporados ao sistema construtivo e ao projeto
como um todo. No caso de um princípio de incêndio, as chamas podem se propagar rapidamente,
colocando em risco outras medidas já tomadas para a segurança contra incêndio.
Observação
Em 2011, o Decreto 46.076 foi substituído pelo de número 56.819, quando todas as instruções
técnicas foram revisadas e melhoradas. A norma UBC 26.3 foi substituída pela EN 13823 e pela ISSO
11925-2, para determinação da ignitabilidade (BERTO, 1991).
32
PREVENÇÃO E COMBATE A INCÊNDIOS E EXPLOSÃO
Primeiramente, deve-se determinar a classe a que pertence o material (Classe I, II, III, IV, V e VI), sendo
que a Classe I é composta por materiais incombustíveis e as demais por materiais combustíveis, porém
com o índice de propagação de chamas diferentes. Esse índice será menor nos materiais da Classe II, e
assim sucessivamente. Na maioria dos estados brasileiros, incluindo São Paulo, a Instrução Técnica nº 10
dos Corpos de Bombeiros apresenta a proposta de classificação em seu conteúdo. Em Santa Catarina,
trata-se da IN-18; em Minas Gerais, a IN-48; no Rio Grande do Sul, essas informações encontram-se na
Instrução Normativa 001-1.2014.
Por exemplo, para um edifício residencial com altura superior a 12 metros, o Corpo de Bombeiros
do Estado de São Paulo solicita a elaboração de um projeto que considere o controle de materiais de
acabamento e revestimento (CMAR) aplicados, bem como indique as classes dos materiais escolhidos
para pisos, paredes e forros.
Além desse controle, deve-se conhecer a carga de incêndio específica da edificação, que é a soma das
energias caloríficas que podem ser liberadas na combustão completa de todos os materiais inflamáveis
no local, inclusive os revestimentos de paredes, divisória, pisos e tetos.
Como exemplo, cita-se a Instrução Técnica nº 14 do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo,
que apresenta a forma adequada para determinar esses valores. A carga de incêndio específica é o valor
da carga de incêndio dividido pela área de piso do espaço considerado – expresso em megajoule por
metro quadrado (MJ/m2).
Para um edifício residencial, calcula-se uma carga de incêndio específica de 300 MJ/m2, ou seja,
a soma de todos os materiais incorporados à edificação é dividida pela área da edificação, e esta não
poderá ultrapassar o valor especificado anteriormente.
Essas instruções são muito importantes, pois o descaso e negligência no controle de materiais de
acabamento e revestimento podem causar eventos catastróficos e danos irreparáveis – por exemplo,
o incêndio ocorrido na boate Kiss, em janeiro de 2013. O acidente foi causado durante um espetáculo
musical, devido ao uso de material pirotécnico lançado por um dos integrantes da banda no interior
da boate. Ao ativar tal dispositivo, este provocou a ignição do material no teto do palco, e as chamas
propagaram-se pelo teto da edificação. O resíduo que revestia o teto tinha grande capacidade de
propagar as chamas e produzir fumaça tóxica.
O incêndio causou 242 mortes, além de uma centena de pessoas feridas (queimados),
predominantemente jovens estudantes universitários brasileiros, residentes no município de Santa
Maria (RS).
33
Unidade I
Resumo
Exercícios
Questão 1. (TRT 2014, adaptada) A NR23, em sua última revisão dada pela Portaria SIT nº 221, de
06 de maio de 2011, referencia-se à adoção de medidas de prevenção contra incêndios. Para a maior
eficácia de sua aplicação, esta norma afirma que os empregadores devem adotar suas medidas em
conformidade com:
A) Alternativa incorreta.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: devem ser adotadas as normas técnicas em conformidade com a legislação estadual e
as normas técnicas aplicáveis.
C) Alternativa correta.
D) Alternativa incorreta.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: devem ser adotadas a legislação estadual e as instruções técnicas aplicáveis, e não
apenas as diretrizes do Corpo de Bombeiros.
Questão 2. (TRT 2014, adaptada) As portas de saída de emergência da empresa ALFA possibilitam
acesso à sua área externa, o que favorece a ocorrência de sinistros, devido ao risco da entrada de pessoas
estranhas no interior da empresa. Josué, gerente administrativo, objetivando garantir a segurança
patrimonial, instalou câmeras para filmagem deste acesso por 24 horas diárias ininterruptas, além de
ordenar que esta porta fosse mantida presa durante a jornada de trabalho, dificultando a abertura da
porta de qualquer forma, tanto externamente quanto internamente à empresa. De acordo com a NR-23,
a determinação de Josué está:
A) Errada, pois não é permitido bloquear o acesso às saídas de emergência em qualquer hipótese
durante a jornada de trabalho. Nesse caso, também não é permitida a utilização de dispositivo de
travamento que possibilite a abertura facilitada internamente ao estabelecimento.
35
Unidade I
B) Correta, pois quando há risco ao patrimônio da empresa é permitida a realização de ações como
a descrita no caso, inclusive com a instalação de fechaduras com chaves.
C) Errada, pois não é permitido que a saída de emergência fique bloqueada durante a jornada de
trabalho. Nesse caso, é possível a instalação de dispositivo de travamento que permita a abertura
facilitada pelo interior do estabelecimento.
D) Correta, desde que o vigilante da edificação seja capacitado para retirar o elemento que prende a
porta internamente, no caso de sinistros.
E) Errada, pois é proibido dificultar a abertura interna de saídas de emergência em qualquer momento
e de qualquer forma, mesmo com o uso de dispositivos ou travas que possibilitem facilidade de
abertura pelo seu interior.
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