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Corpo de Delito

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Corpo de delito, vestígio, evidência e indício

Décio Mallmith
Perito Criminalístico plantonista - Rio Grande do Sul

O objetivo deste artigo é apresentar aos profissionais que labutam na área


de segurança pública alguns conceitos aplicáveis aos locais de crime.
Obviamente, trata-se de uma interpretação pessoal e, como tal, impregnada da
minha visão particular de mundo. Entretanto, alicerçado na experiência adquirida
pela atuação direta em locais em que se desenrolaram os mais variados tipos de
delitos, imagino ter credibilidade suficiente para ousar explanar a visão da
Criminalística sobre os conceitos a seguir expostos.

Inicialmente e por razões de ordem didática, podemos segmentar um local


de crime em duas partes: o corpo de delito e os vestígios.

O conceito de corpo de delito, como originalmente aparece no Código de


Processo Penal, um decreto-lei publicado em 3 de outubro de 1941, referia-se,
com certeza, apenas ao corpo humano. Todavia, do ponto de vista técnico-
pericial atual, entende-se corpo de delito como “qualquer coisa material
relacionada a um crime passível de um exame pericial.”

“É o delito em sua corporação física.”

Desta forma, o corpo de delito constitui-se no elemento principal de um local


de crime, em torno do qual gravitam os vestígios e para o qual convergem as
evidências. É o elemento desencadeador da perícia e o motivo e a razão última
de sua implementação.

Exemplificando, em um local em que ocorreu um homicídio, o corpo de delito


será, naturalmente, o cadáver da vítima. Tratando-se, porém, de um local de
Disparo de Arma de Fogo, no qual uma vidraça fora atingida por um projétil de
origem desconhecida, o corpo de delito será a vidraça e, por extensão, o prédio
em que esta se localizava.

Em perícias internas, efetuadas nos diversos órgãos do IGP, o corpo de


delito poderá se constituir em uma fita de videocassete, uma fita k-7, um cd-rom,
em uma pessoa vítima de lesões corporais, em elementos de munição, armas,
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documentos, etc, dependendo do tipo de perícia solicitada e os propósitos a que


se destina.

Define-se o termo vestígio, conforme o Novo Dicionário da Língua


Portuguesa, como “Sinal que homem ou animal deixa no lugar onde passa;
rastro, pegada, pista; no sentido figurado, indício, pista, sinal, (...)”.

Os vestígios constituem-se, pois, em qualquer marca, objeto ou sinal


sensível que possa ter relação com o fato investigado. A existência do vestígio
pressupõe a existência de um agente provocador (que o causou ou contribuiu
para tanto) e de um suporte adequado para a sua ocorrência (local em que o
vestígio se materializou).

Os conceitos de corpo de delito e vestígios nem sempre são facilmente


distinguíveis. Contudo, segregando-se um deles, o outro por exclusão é
facilmente reconhecido.

Evidência, conforme o dicionário, é a “qualidade daquilo que é evidente, que


é incontestável, que todos vêem ou podem ver e verificar”. No âmbito da
Criminalística, porém, constitui uma evidência o vestígio que, após analisado
pelos peritos, se mostrar diretamente relacionado com o delito investigado. As
evidências são, portanto, os vestígios depurados pelos peritos.

Observamos que as evidências, por decorrerem dos vestígios, são


elementos exclusivamente materiais e, por conseguinte, de natureza puramente
objetiva.

O termo indício encontra-se explicitamente definido no artigo 239 do Código


de Processo Penal: “Considera-se indício a circunstância conhecida e provada
que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de
outra ou outras circunstâncias.”

Num primeiro momento, o termo definido pelo art. 239 do CPP parece
sinônimo do conceito de evidência. Contudo, a expressão indício foi definida para
a fase processual, portanto para um momento pós-perícia, o que quer dizer que a
nomenclatura “indício” engloba, além dos elementos materiais de que trata a
perícia, outros de natureza subjetiva, próprios da esfera da polícia judiciária.

Neste contexto, cabe aos peritos a alquimia de transformar vestígios em


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evidências, enquanto aos policiais reserva-se a tarefa de, agregando-se às


evidências informações subjetivas, apresentar o indiciado à Justiça. Disto conclui-
se que toda evidência é um indício, porém, nem todo indício é uma evidência.

Por fim, encerramos esta pequena digressão lembrando o eminente


Professor Gilberto Porto que, em sua obra Manual de Criminalística, informava
que “o vestígio encaminha; o indício aponta.”

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