01 Aproximacoes e Ensaios Sobre A Velhice
01 Aproximacoes e Ensaios Sobre A Velhice
01 Aproximacoes e Ensaios Sobre A Velhice
Vice-Diretora
Prof.ª Dr.ª Márcia Pereira da Silva
CONSELHO EDITORIAL
Prof.ª Dr.ª Celeste Aparecida Pereira Barbosa
Prof.ª Dr.ª Cirlene Ap. Hilário da Silva Oliveira
Prof.ª Dr.ª Cristiane José Borges
Prof.ª Dr.ª Edna Maria Campanhol
Prof.ª Dr.ª Eliana Bolorino Canteiro Martins
Prof.ª Dr.ª Fernanda de Oliveira Sarreta
Prof.ª Dr.ª Helen Barbosa Raiz Engler
Prof.ª Dr.ª Maria Cristina Piana
Prof.ª Dr.ª Maria José de Oliveira Lima
Prof.ª Dr.ª Nayara Hakime Dutra Oliveira
Prof.ª Dr.ª Tatiana Machiavelli Carmo Souza
Assessoria Técnica
Revisão Ortográfica
Sidney Wanderley de Lopes Lima
Capa
Foto da Sra Marfiza Maria de Jesus
Fotografia de Wanderley César Pedrosa
Campus de Franca
2017
Eneida Haddad
INTRODUÇÃO
Atualmente, vivencia-se um momento ímpar do aumento da expecta-
tiva de vida da população mundial, verificável na maioria dos continentes
com suas devidas especificidades; contudo, é necessário considerar as dispa-
ridades sociais existentes em cada país. Paiva (2014, p. 28) destaca que, em-
bora o envelhecimento populacional seja um fenômeno perceptível mundial-
mente, há nações marcadas pela exploração que ainda não vivenciam esse
fenômeno. Dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD) indicam que na Nigéria, no continente africano, a população idosa
com 65 anos ou mais não ultrapassa 0,5% da população; já na Alemanha, a
população idosa chega a 17,5% do total da população (PNUD, 2014, p. 224).
Torna-se inegável que o aumento da expectativa de vida é uma con-
quista social, porém deve-se considerar que tal conquista não é linear, pois
nem todas as populações têm tido o mesmo êxito em relação à longevidade.
Há, de fato, uma heterogeneidade no próprio processo de transição demográ-
3
Segundo Iamamoto (2005, p. 27), “[...] o conjunto das expressões das desigualdades da
sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais
coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, quanto a apropriação dos seus frutos
mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade”.
4
De acordo com Iamamoto (2008, p. 18), com a globalização mundial sob a hegemonia do
capital financeiro, a aliança entre capital bancário e capital industrial, instauram-se novos
padrões de produção e gerenciamento do trabalho. Diminui a demanda de trabalho, cresce a
população sobrante, ampliando-se a exclusão social política, cultural e econômica de homens,
mulheres, jovens, crianças e velhos, sujeitos alvo da violência institucionalizada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando se trata de refletir sobre o processo de envelhecimento e ve-
lhice das nações e as consequências da mudança do perfil demográfico, a
priori deveríamos recorrer à análise de conjuntura, baseada numa perspectiva
Resumo: Este artigo, orientado pela tradição marxista, traz uma reflexão so-
bre as políticas sociais destinadas aos velhos brasileiros, como a Política Na-
cional do Idoso e o Estatuto do Idoso. Governos implementam políticas públi-
cas a fim de “assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para
promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade” (BRA-
SIL, 2003), mas essa responsabilidade não é inteiramente assumida pelo Esta-
do, e assim a família e a comunidade são conclamadas a exercer este papel.
Nessa perspectiva, uma gama de serviços específicos é criada para atender, de
forma específica, este segmento populacional.
NOTAS INTRODUTÓRIAS
A primeira geração de trabalhadores vivenciou péssimas condições de
trabalho, jornadas sem limite, habitações em condições insalubres, situações
que provocavam mortes prematuras e que obstavam fosse a velhice um está-
gio da vida a ser desfrutado por esta parcela da sociedade. O máximo que os
produtores da riqueza conseguiam sobreviver girava em torno de 30 a 40 anos
de idade (ENGELS, 1986).
Aos poucos a classe trabalhadora passou a reivindicar melhores con-
dições de trabalho, tanto nos espaços físicos como na extensão das jornadas
de trabalho, bem como outros fatores que conferissem qualidade às suas vi-
das. O desenvolvimento das forças produtivas viabilizou o prolongamento de
suas vidas e, consequentemente, o envelhecimento.
Entretanto, o “bom” envelhecer, com dignidade e qualidade de vida,
não era e continua a não ser uma realidade de todos. A qualidade de vida foi
ampliada para boa parte da população, mas não se distribuiu pelo seio de toda
a sociedade na mesma proporção. O envelhecer de quem usurpa a riqueza
produzida não é semelhante ao daquele que produz a riqueza. Isto é, o traba-
lhador velho sofre muito mais com as consequências do processo de envelhe-
cimento do que o capitalista que comprou a sua força de trabalho enquanto
Estatuto do Idoso
Após tramitar seis anos no Congresso Nacional, o Estatuto do Idoso
foi aprovado por unanimidade pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Fe-
deral. Visa à regulamentação das garantias dos idosos, algumas delas já asse-
guradas tanto pela Constituição Federal de 1988 como pela Política Nacional
do Idoso e pelo Código Civil, entre outras leis. Apesar de ter sido sancionado
pelo presidente da República do Brasil no dia 1° de outubro de 2003, somente
entrou em vigor no dia 1º de janeiro do ano subsequente.
De acordo com Costa (2004), a Lei n.º 10.741/2003
[...] reforça os direitos do seguro velhice iniciados com a proteção
social bismarckiana. Descrevendo os direitos fundamentais dos ido-
sos mencionados na Constituição Federal, com a defesa do conjunto
dos aspectos da vida que incidem no processo de envelhecimento,
intenta articular um conceito de bem-estar na velhice, enfocando um
certo espírito da seguridade. (COSTA, 2004, p. 1, grifos da autora).
À GUISA DE CONCLUSÕES
A luta desenvolvida pela classe trabalhadora é o único instrumento
possível para melhorar as condições de trabalho e, consequentemente, de vida
dos trabalhadores. É o que se comprova quando se estuda a história do movi-
mento operário. De fato, a busca da classe trabalhadora por melhores condi-
ções de trabalho foi responsável pela conquista da proteção ao trabalhador na
fase da velhice, em situações de doenças, entre outras (GRANEMANN, 2006).
Ao envelhecer, os trabalhadores, muitas vezes, não conseguem man-
ter as condições mínimas para uma vida digna, pois, não sendo possuidores da
propriedade privada, tendem a ser submetidos a situações de pobreza, bem
como a depender de recursos provenientes do poder público (TEIXEIRA,
2008). Em decorrência da condição de vida dos trabalhadores e das lutas assu-
midas por eles, nascem as políticas públicas destinadas aos velhos brasileiros.
No tocante às políticas públicas de atendimento ao idoso (PNI, Esta-
REFERÊNCIAS
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BRASIL. Política Nacional do Idoso – Lei n.º 8.842/94, Decreto n.º 1.948/
96, que Regulamenta a PNI. Brasília, 2003.
BRASIL. Relatório Nacional Brasileiro Sobre o Envelhecimento da Po-
pulação Brasileira. Itamaraty. Brasília, 2002. Disponível em
www2.mre.gov.br/relatorio_envelhecimento.doc. Acesso em 19 de fevereiro
de 2016.
Resumo: Este artigo, fruto de uma análise documental, busca discutir o lugar
reservado à família nas principais legislações de proteção às pessoas idosas
vigentes no Brasil. Inicialmente, apresentam-se algumas considerações sobre
o conceito de família, papéis e funções assumidas por esta, bem como a sua
importância no cuidado e proteção à pessoa idosa. Em seguida, realiza-se uma
análise das legislações selecionadas com base em algumas perguntas nortea-
doras. Conclui-se que, com o envelhecimento da população brasileira, as fa-
mílias são diuturnamente convocadas a garantir o cuidado dos seus velhos,
recebendo escasso apoio por parte do Estado.
INTRODUÇÃO
Dados do IBGE, na Projeção da População do Brasil e das Unidades da
Federação, apontam que o número de brasileiros com mais 65 anos tem au-
mentado anualmente, passando de 5,61%, em 2000, para 8,46% da população
nacional, em 2017 (BRASIL, 2017). O aumento dessa faixa populacional de-
corre, principalmente, da redução nas taxas de fecundidade – em 2000, a faixa
etária dos 10-14 anos compunha 30,04% da população brasileira, enquanto,
em 2017, esse percentual não passa dos 22,22% (BRASIL, 2017) – e do avan-
ço na prevenção e no tratamento de doenças, que tem garantido uma maior
expectativa de vida para a população idosa. Diante desse fenômeno, o número
de estudos e pesquisas sobre o envelhecimento cresce nas mais diversas áreas
do conhecimento.
O presente estudo constitui-se em uma pesquisa documental, de abor-
dagem qualitativa, com revisão de literatura e análise da legislação de prote-
ção à pessoa idosa vigente no Brasil. As legislações a serem analisadas são:
Família e envelhecimento
A finalidade em abordar esse tema implica questões decorrentes das mu-
danças no processo de envelhecimento e suas consequências, bem como a neces-
sidade desse lugar /função da família como cuidadora.
Segundo Dalia, entre 1980 e 2013, o brasileiro ganhou 12,4 anos na
expectativa de vida ao nascer, passando de 62,5 para 74,9 anos. Dalia comen-
tou ainda que ter sucesso no envelhecimento não é apenas ganhar anos de
vida, mas dar qualidade a eles. Essa condição representa desafios para as po-
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Constituição Federal de 1988 não estabelece limites aos papéis que
devem ser assumidos pelos entes corresponsáveis pela proteção à pessoa idosa:
família, sociedade e Estado. Esteja o velho em uma família rica ou pobre, a
atuação desses partícipes se faz necessária e, em muitos casos, obrigatória. No
entanto, na análise das legislações infraconstitucionais, o Estado mitiga sua res-
ponsabilidade, o que acaba por transferir à família boa parcela da sua atuação.
Na análise do Plano de Enfrentamento à Violência, constatou-se que o
Estado delimita sua atuação às famílias que não possuem condições de cuidar
dos seus velhos, embora a violência não aconteça apenas na esfera das famílias
de baixa renda. A Constituição, ao tratar dos deveres em relação à pessoa idosa,
mais especificamente da criação de mecanismos para coibir a violência, não
estabelece nenhuma distinção em relação ao contexto econômico no qual o ido-
so está inserido.
Conclui-se que a família, ao longo dos anos, tem sido constantemente
convocada a assumir o cuidado com seus idosos. Exemplo disso ocorre quan-
do o Estatuto do Idoso estabelece, em seu artigo 16, que “ao idoso internado
ou em observação é garantido o direito ao acompanhante” (BRASIL, 2003,
online), e vários serviços de saúde tratam isso como dever, obrigando os fami-
liares a permanecer cuidando dos seus idosos, desconsiderando que, para a
sua subsistência, os membros de muitas famílias são inseridos em trabalhos
exaustivos, com vínculos frágeis, ficando impossibilitados de assumir inte-
gralmente o cuidado com seu idoso em situação de internação.
Ademais, o Estado, quando se omite de exercer o seu papel de execu-
tor de políticas e de ser o principal responsável pela garantia dos direitos,
REFERÊNCIAS
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SOUZA, Rosane Mantilla de. Configurações Plurais. Viver Mente e
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INTRODUÇÃO
O entendimento da Assistência Social como direito é recente na histó-
ria do Brasil e durante muitos anos esteve ausente das formulações de políti-
cas no País. O marco que confere a condição de política à Assistência Social,
constituindo o tripé da Seguridade Social em conjunto com a Saúde e a Previ-
dência Social, ainda se encontra em construção.
A partir da Constituição Federal (CF) de 1988, conhecida como Cons-
tituição Cidadã, foi promulgada a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS),
que estabelece normas e critérios para a organização da Assistência Social en-
quanto direito. A implementação das transformações legalmente regulamenta-
das percorre uma trajetória de desafios, dificuldades e riscos de conservadoris-
mos, embora seja possível visualizar avanços e tentativas de superação da tradi-
ção histórica da área.
A inclusão da Assistência Social como política pública de proteção
social regulamentada em diversas legislações, como a Política Nacional de
Assistência Social (PNAS) e o Sistema Único de Assistência Social (SUAS),
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo Campelo e Paiva (2014), as últimas décadas têm se caracte-
rizado pelo aumento do processo de envelhecimento, tendo se tornado um
marco na história, a exigir do poder público e da sociedade, diante do novo
perfil, empenho para dar respostas às demandas impostas a partir do processo
de mudança demográfica.
Em nosso país, ainda é frequente o pensamento de que as pessoas
idosas são um ônus para a sociedade. A população que chega a alcançar uma
idade mais avançada encontra dificuldade de se adaptar às condições de vida
atuais, pois, além das dificuldades físicas, psíquicas, sociais e culturais decor-
APROXIMAÇÕES E ENSAIOS SOBRE A VELHICE 79
rentes do próprio envelhecimento, sente-se banida e relegada a um plano se-
cundário no mercado de trabalho, no seio familiar e na sociedade em geral.
É possível perceber que as famílias são vistas pelas próprias legislações
como um meio natural de proteção social, vinculando a sua participação no mer-
cado de trabalho à compra de bens e serviços necessários ao provimento de suas
necessidades. Na política de assistência social, assume-se a matricialidade socio-
familiar inicialmente como princípio e, posteriormente, como diretriz do SUAS.
Criam-se estratégias de fortalecimento desse grupo para que possa
cumprir sua “missão” de instância primária de amparo aos indivíduos como o
familismo, que de acordo com Esping-Andersen, 2000, é “entendido como a
perspectiva em que a política pública considera que as unidades familiares
devem assumir a principal responsabilidade pelo bem-estar de seus membros”
(apud MIOTO, 2015), implicando dizer, em outras palavras, que ocorre a trans-
ferência para as famílias da maior parte da responsabilidade pelo bem-estar
social dos seus membros, ratificando/destacando que a proteção social acha-
se organizada tendo como base as famílias; descobrindo e desenvolvendo suas
potencialidades individuais e coletivas. Desta forma, verifica-se que cada vez
mais o Estado se desincumbe do seu papel social na provisão das famílias.
Apesar dos avanços obtidos com a promulgação da CF (1988) e demais polí-
ticas pertinentes à proteção social à família e seus indivíduos mediante as
políticas sociais, ainda se tem a família como ator principal.
Os programas ofertados como suporte do Estado para o amparo às famí-
lias e indivíduos ainda mantêm as características focalizadoras, compensatórias
e residuais, caminhando em consonância com os pressupostos neoliberais. A
proteção social básica, através da política de assistência social, possui progra-
mas que visam à prevenção da quebra de vínculos e de situações de violência,
programas de convivência entre pessoas idosas, entre outros, que juntos podem
fortalecer a família. Isto mostra um avanço dessa política, mas, diante da crise
capitalista e do Estado neoliberal, com seus cortes no âmbito social, é urgente
que a população seja sensibilizada e orientada a perceber que a assistência é um
direito e não um favor. E assim a população possa se organizar e continuar
lutando pela concretização com qualidade dos seus direitos sociais.
Diante do exposto, faz-se necessário investir na superação das práticas
assistencialistas e tuteladoras, levando-se em conta uma análise da realidade que
recupere o potencial das políticas públicas e, consequentemente, do Estado na
provisão do bem-estar da população em geral.
Demonstrou-se que a família ainda continua sendo responsabilizada
pelo cuidado com seus membros idosos(as), embora existam políticas públi-
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, C. C. de. Os dilemas da Assistência Social no padrão brasileiro de
proteção social na atualidade. In: Série Políticas Públicas em Debate. v. 3, n.
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Brasil. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, DF. 1988.
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7 de dezembro de 1993, que dispõe sobre a organização da Assistência
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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-2014/2011/
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de novembro de 2009, publicada no DOU. Brasília.
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entações Técnicas: Centro de Referência de Assistência Social – CRAS. 1. ed.
Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2009 b.
INTRODUÇÃO
Seja pela necessidade de construir uma intervenção profissional usuá-
rio-centrada por meio do uso de evidências científicas, seja pelas pressões do
capital para substituir a razão totalizante pela razão instrumental e por sua ma-
triz teórica, a perspectiva fenomênica, é inegável a importância do discurso aca-
dêmico-científico para a instrumentalidade das ações dos assistentes sociais e
demais profissionais da saúde.
No âmbito da gerontologia não é diferente, mas em um contexto em
que tanto os intelectuais conservadores (e até mesmo reacionários) como os
progressistas disputam a hegemonia nas ciências e áreas de produção de co-
nhecimento para a produção de “verdades” e “saberes”, em uma clara relação
de forças favorável aos primeiros, a partir da maturação do capitalismo tardio.
É necessário analisar criticamente qual a direção social, quais as perspectivas
de direitos e políticas sociais afirmadas e/ou infirmadas nestes trabalhos. Nos
campos da Gerontologia, do Serviço Social e demais áreas de conhecimento
2
Essa perspectiva liberal ocasiona o esvaziamento do conteúdo social, político e econômico do
processo saúde-doença, que evidencia as contradições objetivas entre as classes sociais e a
impossibilidade de reconciliar os interesses/necessidade fundamentais das duas. A perspectiva
liberal de saúde tende a atribuir às preferências e estilos de vida individuais as principais
causas de adoecimento e morte. As posições majoritariamente seguidas pela saúde pública
tradicional e pela educação sanitária vão nesse sentido, ao afirmarem que os indivíduos são
livres para escolher seu local de moradia, condições de trabalho, seus comportamentos e a
exposição a situações de vulnerabilidade. Dessa forma, para os (neo)liberais, os sistemas de
saúde não deveriam ser os únicos, nem os principais responsáveis pela intervenção no processo
saúde-doença (BARATA, 2009). Para eles, a intervenção do Estado no processo na proteção à
saúde deve ser mínima, e o mercado, a família e a comunidade devem ser os principais
provedores da atenção em saúde (BARATA, 2009; MIOTO, 2010).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da hegemonia do ideário neoliberal entre as décadas de 1980
e 1990, o mercado é idealizado como supremo regulador das relações sociais;
contudo, a sua legitimação só pode se realizar na condição de uma suposta
ausência de intervenção estatal (BEHRING E BOSCHETTI, 2006). Até mes-
REFERÊNCIAS
BARATA, R. B. Como e por que as desigualdades sociais fazem mal à
saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2009. (Temas em saúde).
BEHRING, E. Política Social no Capitalismo Tardio. São Paulo: Cortez,
1998.
BEHRING, E.,BOSCHETTI, I. Política Social: fundamentos e história. São
Paulo: Cortez, 2006.
4
Como exemplo, o quadro de Quentin Metsys, em “A duquesa feia“, disponível em sites de
busca por imagens, em que a velha mulher aparece “grotescamente ataviada, hediondamente
decotada, de fisionomia bestial” (BEAUVOIR, 1976, p. 182). Quevedo, Saint-Amant e Mathurin
Régnier são outros homens citados pela autora que lamentavelmente disseminaram a imagem
da mulher idosa similar à morte, descrevendo-a de forma impiedosa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Consoante o exposto, identificou-se que, devido à heterogeneidade
da velhice, homens e mulheres vivenciam essa fase da vida de maneira diver-
sa. Diante dessa realidade, dados os elementos apontados, resta evidente a
feminização da velhice, sendo maior o número de mulheres idosas. Estas so-
frem a opressão de gênero desde tempos remotos; em se tratando da mulher
velha, isto não se altera, muitas vezes, se acentua, conforme visto nos estudos
realizados por Beauvoir (1976).
Ao se considerar a feminização da velhice axiomática, entende-se que
uma sociedade, para manter seu status quo, para atender aos interesses do
capital, do macho alfa, branco, burguês e jovem, mantém a desigualdade, a
injustiça e promove a cisão entre homens e mulheres de todas as idades, so-
bretudo entre aqueles velhos (as) trabalhadores (as) que já não servem à gran-
de massa de manobra produtiva.
Remonta-se a períodos medievais, da iconografia antiga e demais
momentos históricos, nos quais a velhice foi encarada como obsoleta e es-
drúxula. O capital neoliberal cria mecanismos para reforçar tais estigmas e
pseudovalorizações.
De fato, os avanços em diversas áreas propiciaram uma expectativa
de vida maior. Há muitas mulheres longevas, no entanto, as discrepâncias na
questão de gênero permanecem até mesmo nesta diferenciação de esperança
de vida.
A mulher continua pressionada para exercer papéis de cuidado e am-
paro: é a cuidadora, é a avó. O homem velho fica deslocado com o processo de
aposentadoria, e muitas vezes acaba depreciando-se por sua exclusão da ativi-
dade produtiva, considerando-se um inútil. A mulher, tida como “frágil” e
“inferior” pela ideologia determinista da classe dominante, arrisca-se menos e
procura cuidar-se mais. Já o homem não procura tanto pela rede de saúde e
REFERÊNCIAS
ALVES, B. M.. PITANGUY, J. O que é feminismo. São Paulo: Brasiliense,
2007.
BEAUVOIR, S. de. A velhice: realidade incômoda. 2. ed. Rio de Janeiro:
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2015.
VELHICE DE MULHER
Isolda Belo
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A situação de ambiguidade vivida por parcela expressiva das mulhe-
res de mais de 60 anos revela a preponderância de uma imagem que retira a
condição feminina daquelas que já ultrapassaram a fase reprodutiva, sendo,
portanto, consideradas apenas como pessoas idosas, assexuadas, sem corpo e
sem vida social.
Sob essa perspectiva, são frequentemente orientadas para que bus-
quem o atendimento nos serviços destinados ao coletivo idoso, deixando de
ser observadas as especificidades relativas à condição feminina. Na velhice,
elas vivem as desvantagens acumuladas ao longo de uma vida de discrimina-
ção e desigualdades.
Entre os principais aspectos que reforçam esta constatação está o fato
de que a atual geração de mulheres idosas, em sua maioria, exercia o trabalho
doméstico, mantendo uma posição de subordinação – pelo menos, econômica
– aos homens. Trata-se, portanto, de pessoas que, ao terem permanecido fora
INTRODUÇÃO
O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial proeminen-
te, característico dos países desenvolvidos e, de modo mais crescente, do cha-
mado “terceiro mundo”, apontando um crescimento mais elevado da popula-
ção idosa, com relação aos demais grupos etários. Segundo dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2015), a tábua de mortalidade
projetada para 2015 forneceu uma expectativa de vida de 75,5 anos para o
total da população.
Conforme afirma Paiva (2014), ao contrário de ser uma fase da vida
marcada pelo descanso do trabalho, protegida pela família, pelas políticas so-
ciais e acolhida pela sociedade, a velhice vivenciada por grande parcela da
população é marcada pela negação dos diversos direitos sociais historicamen-
te conquistados pelos movimentos sociais e organização dos(as)
trabalhadores(as). Nessa seara, muitos(as) desses(as) idosos(as) vivem
sozinhos(as), pois tiveram seus vínculos consanguíneos e de transmissão he-
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As novas tecnologias, o avanço da ciência e as novas formas de ali-
mentação e cuidado têm proporcionado a tão sonhada longevidade, atingindo
todas as classes da sociedade. Entretanto, conforme foi discutido ao longo
deste estudo, a Política de Saúde não está preparada para essa nova realidade.
Seguindo no foco das privatizações, “a grande questão é a segmenta-
ção do sistema, com ênfase nas ações privadas que passam de complementa-
REFERÊNCIAS
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vil_03/Leis/2003/L10.741.htm>. Acesso em: 23 fev. 2017.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo de envelhecimento da população brasileira está aconte-
cendo de forma muito rápida. Entretanto, esse fenômeno é desacompanhado
do desenvolvimento social necessário para se garantir direitos a todas as clas-
ses sociais.
O crescimento da população envelhecida ocasiona novas demandas na
REFERÊNCIAS
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Nanci Soares
Marta Regina Farinelli
Andréia Aparecida Reis de Carvalho Liporoni
INTRODUÇÃO
O envelhecimento do perfil demográfico é um dos temas mais discuti-
dos na atualidade; todavia, essa compreensão sobre tal fenômeno, muitas vezes,
não ultrapassa a imediatidade da vida real, não refletindo sobre as contradições
do envelhecer sobre o embate entre capital e trabalho, numa sociedade em que
os velhos trabalhadores são penalizados por sua condição de vida. Há de se
destacar que a análise do processo de envelhecimento e velhice, sob uma pers-
pectiva crítica, requer uma visão contextualizada historicamente, pois não é uma
simples soma de fatores, nem mesmo uma interposição destes, mas sim uma
complexa teia de condicionantes sociais, políticos, econômicos e culturais.
Este artigo está fundamentado na concepção teórico-metodológica do
materialismo histórico-dialético e analisa a centralidade do trabalho e da luta
de classe nas relações sociais sob o modo de produção capitalista, fazendo
aproximações sucessivas à concreticidade, partindo do real para a dimensão
reflexiva.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O envelhecimento populacional é um desafio para o século XXI, exi-
gindo novas posturas do poder público e da sociedade civil. Para tanto, é ne-
cessária a responsabilização do Estado na materialização dos direitos da po-
pulação idosa, na garantia de políticas públicas para o envelhecimento digno e
ativo, bem como a mobilização da sociedade civil para exigir a efetivação de
tais políticas, contribuindo para a construção de uma sociedade sem opressão
de classe, etnia, gênero ou mesmo geração, colaborando, assim, para a cons-
trução de um projeto societário que confira amplitude às lutas políticas.
Diante do contexto histórico da sociedade brasileira, deve-se levar em
conta a marca da repressão, a timidez e o silêncio imposto pela ditadura, prin-
cipalmente aos velhos trabalhadores, em relação à reivindicação e à luta por
direitos e melhoria de condições de vida. No entanto, não se deve persistir na
inércia daquele período histórico; como profissionais do Serviço Social, cum-
pre incentivar e participar junto ao sujeito de direitos, buscando os espaços de
luta e de decisão, tendo o Conselho de Direito da Pessoa Idosa como um dos
caminhos para a participação e o exercício do controle democrático.
É necessário investir na integração de conselhos de direito e de políti-
cas a fim de preservar as diversas especificidades, tendo em vista que as diver-
sas políticas públicas atendem ao segmento idoso. Essa questão se estende ao
espaço das conferências, de forma tal que o espaço de luta pela manutenção e
expansão dos direitos sociais envolverá os trabalhadores das diversas políti-
cas públicas, a população usuária e o segmento idoso.
Nesta reflexão, não se pode esquecer que, apesar dos avanços e das
conquistas na compreensão dos direitos sociais e das políticas sociais, elas
desvelam que o envelhecer bem, com qualidade de vida, ainda é visto como
responsabilidade exclusiva de cada indivíduo. Fato esse que reitera o discurso
ideológico-político de cunho neoliberal, que se apresenta nos diversos ata-
ques aos direitos sociais nos últimos anos (seguro-desemprego, pensões por
morte, auxílio-doença, aumento da DRU para 30% e aprovação da PEC 55),
que reverberam não somente para o segmento idoso, mas para toda a popula-
ção brasileira.
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INTRODUÇÃO
O Serviço Social, desde os anos 1980, vem avançando na crítica ao
conservadorismo da profissão e construiu, no trânsito para os anos 1990, o
Projeto Ético-Político (PEP) da profissão, uma direção hegemônica, porém,
não unívoca e uniforme, uma vez que comporta o respeito ao pluralismo de
perspectivas teórico-metodológicas, embora haja a direção e uma orientação-
pela teoria marxiana e tradição marxista, compatível com a direção ético-polí-
tica, e por um debate frontal com as demais teorias.
Todavia, esse avanço não tem sido suficiente para gerar tradição na
abordagem de inúmeras expressões da questão social, como o envelhecimento
pobre, doentio, isolado, com acesso precário ou insuficiente às políticas pú-
blicas, que caracterizam o envelhecimento do trabalhador, de maneira a abor-
dá-lo a partir do método histórico dialético e a gerar conhecimentos na temá-
tica capazes de iluminar o trabalho profissional crítico e materializador do
Projeto Ético-Político da profissão.
As inquietações sobre o porquê das dificuldades na produção do co-
nhecimento em Serviço Social sobre a temática do envelhecimento, em pers-
pectivas compatíveis com o PEP, inspiraram a produção deste artigo. E, para
levantar as tendências na produção do conhecimento na área do Serviço Soci-
CONSIDERAÇÔES FINAIS
Sobre a temática do envelhecimento, o ponto de partida do Serviço
Social é a pergunta: afinal, de que idoso se está falando? Pois este é o caminho
para visualizar os demarcadores opressores que geram desigualdades e dife-
renças no modo como se envelhece. Nesse sentido, a classe social assume a
centralidade como elemento explicativo dessas desigualdades e heterogenei-
dades que, somadas a outras categorias como gênero, raça e etnia, agem con-
juntamente e se constroem mutuamente, sendo um entrecruzamento de dife-
renciações sociais como processos múltiplos que conformam as desigualda-
des. Todavia, o método histórico dialético ajuda não apenas a superar as ho-
mogeneizações a-históricas, os universalismos e os essencialismos, mas tam-
bém as individualizações e as singularizações desarticuladas da totalidade
social, além de permitir a produção do conhecimento compatível com o PEP.
Todavia, apesar de hegemônica, essa direção social posta pelo PEP
sofre ataques constantes, ameaças na sua implementação, seja pela adesão
epidérmica de muitos profissionais a esses valores e à perspectiva teórico-
metodológica, ao ecletismo, ao avanço do neoconservadorismo dos referenci-
ais pós-modernos, seja pelo movimento conjuntural e estrutural da atualidade
capitalista, uma ofensiva político-ideológica contra a classe trabalhadora que
a atinge de forma objetiva e subjetiva, alcançando também o Serviço Social,
nas condições de trabalho, de contratação, mas também nos seus objetivos
profissionais e na sua formação profissional.
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