Módulo 11
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Módulo 11:
Apesar dessas suspeitas terem sido rebatidas incontáveis vezes, continuam existindo sites, livros
e artigos dedicados a defender a conspiração. E o assunto retorna de vez em quando à imprensa,
como quando no ano passado o goleiro espanhol Iker Casillas publicou um tuite que
questionava a chegada à Lua, provocando milhares de reações, algumas surpreendentemente a
favor.
1. Não há estrelas nas fotos. Os que defendem a conspiração afirmam que, enquanto a
superfície lunar e os trajes dos astronautas refletem a luz com muita intensidade e são vistos
com claridade, as estrelas não são vistas no fundo. Na verdade, o tempo de exposição das fotos
foi muito curto para captar com claridade a fraca luz das estrelas. Se algumas das fotos da Lua
são colocadas no Photoshop elas podem ser vistas. Acontece a mesma coisa se tiramos fotos
noturnas de uma paisagem muito brilhante na Terra, sem que ninguém insinue que todo nosso
planeta é, também, uma montagem da NASA.
2. Há muita radiação nos cinturões de Van Allen para que os astronautas sobrevivam ao
trajeto. Essas duas áreas que estão a 1.000 e 15.000 quilômetros da Terra são atravessadas em
apenas uma hora na viagem à Lua e o metal da aeronave bloqueia a maior parte da radiação.
3. Não se levantou poeira durante a alunissagem, que também não causou uma cratera. É
uma capa de pó de apenas milímetros em um ambiente sem ar. A velocidade do módulo lunar
também não é a que se afirma, de modo que não se levantou tanta poeira e não foi formada
nenhuma cratera.
4. A temperatura na Lua pode chegar aos 120 graus e teria matado os astronautas. Não, se
levarmos em consideração que a missão foi planejada para que os astronautas chegassem à
superfície lunar durante uma hora em que a temperatura não era, evidentemente, tão alta.
Não há, entretanto, maior motivo para colocar em dúvida toda essa suposta conspiração do que
pensar na quantidade de gente envolvida que precisaria ficar em silêncio. Mais de 400.000
pessoas trabalharam no projeto ao longo de dez anos. E se presume que ninguém vazou provas e
confessou qualquer coisa à imprensa.
Vamos comparar com a conspiração do Watergate: 69 pessoas estavam envolvidas, 48 das quais
acabaram na cadeia. A trama começou em janeiro de 1972. Em junho, o “Garganta Profunda” já
se reuniu com Bob Woodward e Carl Bernstein, do Washington Post. Em 1974 Nixon
renunciou. Como é possível que nos tenham enganado com a chegada à Lua durante 50 anos e
que uma trama urdida pelo círculo próximo ao presidente dos Estados Unidos desmoronasse em
questão de meses?
De qualquer forma, rebater essas suspeitas ponto por ponto não adianta muito porque sempre
existem novas dúvidas no debate. A lógica conspiracionista não ergue um edifício
argumentativo sólido: basta procurar frestas no que chamam de “versão oficial”. Lançam
centenas de espaguetes mal fervidos com a esperança de que algum grude na parede.
Eugenio Fernández, físico e autor de A Conspiração Lunar, que fraude!, nos lembra que as
explicações que refutam as suspeitas dos conspiracionistas “são mais complexas e precisam de
mais tempo”. É normal que não saibamos se a radiação do espaço é ou não perigosa, e qual era a
velocidade do módulo lunar quando pousou.
Isso se soma à predisposição de confirmação, de que todos somos vítimas às vezes. Essa
predisposição nos faz ficar atentos aos dados que apoiam nossas ideias pré-concebidas (não
chegamos à Lua), enquanto ignoramos todos os argumentos que as negam e que sustentam
outras ideias.
Acreditar em teorias da conspiração também faz com que nos sintamos bem: são histórias que
têm coerência interna e que nos ajudam a compreender as coisas inesperada e que nos causam
medo, motivo pelo qual também frequentemente aparecem por trás dos atentados terroristas. A
crença nessas teorias pode ajudar a superar o sentimento de impotência e de falta de controle,
como escrevem os psiquiatras Jack e Sara Gorman em seu livro Denying to the Grave.
Isso não elimina que os supostos argumentos dos negacionistas sejam na realidade bem
rasteiros. Como diz Plait em seu livro, se fosse tão claro que tudo se trata de uma montagem tão
grosseira que até se vê uma bandeira tremulando pelo vento, por que a União Soviética não a
denunciou há 49 anos em plena Guerra Fria? Talvez porque, como disse o astronauta russo
Georgy Grechko: “Quando recebíamos sinais da Lua, os recebíamos da Lua, não de
Hollywood”.
Fonte: brasil.elpais.com/brasil/2019/06/21/actualidad/1561128132_157440.html