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REVISTA

Em Marcha
EXPEDIENTE Sumário
Em Marcha - 2016.1
Estudos Bíblicos para Adultos/as – Revista 08 Antigo Testamento: uma história de salvação
do/a professor/a
14 Deus faz uma aliança com Abrão
Publicado sob a coordenação do Departa- 20 O Êxodo: história de libertação
mento Nacional de Escola Dominical da Igreja
Metodista. Produzido pelo Departamento 28 O Êxodo: a caminhada no deserto
Editorial da Associação da Igreja Metodista -
Editora Angular. 36 Destino: Canaã – em busca do bem comum

Secretaria Editorial 42 Juízes: recordar é preciso!


Joana D’Arc Meireles
48 Monarquia: avaliar com sabedoria
Coordenação Nacional de Educação Cristã 54 A Importância da profecia
Eber Borges da Costa
62 Fim do Reino unido: resistência popular
Departamento Nacional de Escola contra a injustiça
Dominical
Andreia Fernandes Oliveira 70 Amós: o profeta da justiça
Luiz Virgílio Batista da Rosa – Bispo Assessor
76 A origem do povo de Samaria
Redatora 84 Oséias: perdão para a esposa infiel
Roseli Oliveira
90 Rei Josias: reformar é preciso!
Colaboradores 96 Jeremias: o profeta “chorão”?
Eber Borges da Costa
Ricardo Pereira da Silva 102 Deus ouve o lamento do seu povo!
Robson L. Almeida
108 Daniel: esperando em Deus!
Revisão
Andréia Anália Eugênio 116 Neemias: restaurando a esperança para
reconstruir os muros
Projeto Gráfico e Editoração 124 Ageu: uma casa para Deus
Alixandrino Design
132 Jó - quando faltam palavras
Departamento Nacional de Escola
Dominical 140 Todo ser que respira, louve ao Senhor!
Av. Piassanguaba, 3031 – Planalto Paulista
04060-004 – São Paulo 146 Provérbios: os benefícios da sabedoria
Tel. (11) 2813-8600
escoladominical@metodista.org.br 152 O amor tem atos lindos!
www.metodista.org.br
158 Zacarias: não perca a esperança!
PALAVRA DA REDAÇÃO
Irmãos e irmãs, graça e paz!

Estamos iniciando um novo semestre e com ele uma nova revista. Nesta
edição da Em Marcha vamos estudar a trajetória do povo de Israel no Antigo
Testamento, destacando os principais fatos ocorridos nesse período, além
dos grandes feitos de Deus na vida do seu povo.

A Bíblia foi escrita no decorrer de muitos séculos, por muitas pessoas e em


vários lugares diferentes. Nossa proposta nesta revista é conhecermos e es-
tudarmos a Bíblia, seguindo uma ordem cronológica e destacando os prin-
cipais períodos da trajetória do povo de Deus.

Vamos observar que a história do povo da Bíblia é a nossa história. Podemos


aprender com esse povo e de suas experiências, tirar forças para a nossa
própria caminhada cristã.

Logo no início desta revista apresentamos uma cronologia da história do


Antigo Testamento, como também algumas informações suplementares.
Dedique-se a essa leitura. Aplique-se aos estudos. Com certeza, estaremos
mais uma vez sendo aperfeiçoados e aperfeiçoadas no conhecimento da
Palavra de Deus.

A capa desta edição também foi preparada com muito carinho. A lâmpada
acesa nos lembra as palavras do salmista: “Lâmpada para meus pés é a tua
palavra, e luz para meu caminho” (Salmo 119.105). Que os estudos da Pala-
vra de Deus, aqui apresentados, iluminem o nosso caminhar e nos levem
para mais perto de Deus.

Bons estudos.
Deus nos abençoe!

No amor de Cristo,
Pastora Roseli Oliveira, redatora.
Cronologia da história do Antigo Testamento

HISTÓRIA DO HISTÓRIA
ANTIGO TESTAMENTO SECULAR
Nota: Não há um sistema de cronologia da Bíblia geralmente aceito. As da-
tas a seguir concordam com Usshe, mas estas são usadas somente como
base de trabalho, e não como absolutamente exatas.

Eventos principais Impérios Orientais

a.C. a.C. Os registros e datas


4004-2234 4004 - A queda. deste período são
Período dos 2348 - O dilúvio. muito incompletos e
começos. 2234 - A dispersão das raças. imprecisos.

2348-1706 1921 - A chamada de Abraão. 2200 a.C. (?)


Período 1760 - Jacó foge de Esaú. Construção da
Patriarcal. 1715 - José se torna primeira pirâmide.
governador do Egito.
1706 - A família do Jacó entra
no Egito.

1706-1451 1635 - Morte de José. Antigo


Período 1571 - Nascimento de Moisés. Império
compreendido 1491 – O Êxodo. Babilônico.
entre a descida 1452 - Josué é designado líder.
ao Egito e 1451 - A travessia do Jordão.
a entrada 1451-1444 - A conquista de
na Terra Canaã.
Prometida.

1394-1095 1394-1354 - Otoniel. 1100-625 (?)


Período 1249-1209 - Gideão. Império Assírio.
dos 1157-1117 - Eli.
Juízes. 1117-1095 - Samuel.

4 - Em Marcha
1095-975 1095-1055 - Saul. 1100-625 (?)
Período do 1055-1015 - Davi. Império Assírio.
Reino Unido 1015-975 - Salomão.
de Israel. 970 - Fundação do
reino Sírio.
Reino de Reino de Profetas 753 - Fundação de
Israel Judá Roma.
740 - Império Assírio
975-730 975- 598 Elias posterior.
Jeroboão Roboão a
a Oséias. Zedequias. Eliseu

Jonas,
625-536
Amós Império Babilônico
(Caldeu).
975-587 Miquéias
Período do Oséias,
Reino Dividido. Joel
Isaías,
Naum

721- 587- Habacuque


Cativeiro Cativeiro Sofonias, 536- Tomada de
de Israel. de Judá. Obadias
Babilônia por Ciro.
Jeremias

Ezequiel

587-400 535- A volta dos ju- Zacarias,


deus sob Zorobabel. Daniel
Período
Pós-Exílico. 516- A dedicação do
Templo.
458- Esdras regressa Império Persa.
liderando uma
caravana de Judeus. Ageu

445- Neemias Malaquias


regressa a Jerusalém
e começa a reparar
os muros da cidade.

Em Marcha - 5
Informações suplementares sobre os dados cronológicos
1) Período Hebreu – esta é a primeira fase da história bíblica. No An-
tigo Testamento, esta história está contada no Pentateuco (Gênesis,
Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio). Estes livros possuem uma
maneira diferente de contar a história. Por isso, os acontecimentos em
torno da criação, dos patriarcas e de Moisés, formam um conjunto de
relatos extremamente prazerosos de serem lidos. É bom que se diga
que os acontecimentos desse período foram essenciais à difusão da fé
bíblica: foi nele que Deus se revelou e agiu com mais intensidade; foi
nele que o povo se organizou exemplarmente, propondo uma justa
organização social – o tribalismo como sistema econômico, social, po-
lítico e religioso.
2) O Período Israelita começa aqui com uma novidade: os israelitas são
conduzidos à decisão de mudar o seu sistema de governo e a organi-
zação política. Israel deixa de viver sob o sistema tribalista, optando
pelo monárquico. A princípio, com os reis Saul e Davi, as dificuldades
econômicas não provocaram grandes combates, mas com Salomão,
os conflitos tornam-se evidentes. Em virtude disso, o reino unido de
Israel dividiu-se em dois estados independentes.
3) Reino do Norte ou Israel – O povo de Deus que vivia na região norte
declarou-se independente do governo instalado em Jerusalém, a ca-
pital de todos os israelitas, até então. O norte constitui-se num gran-
de celeiro de literatura bíblica, sobressaindo-se a tradição profética.
Como Estado organizado, o Reino do Norte durou cerca de dois sécu-
los (931-721 a.C). Ele foi riscado do mapa da Palestina pelos Assírios e
sua população foi praticamente dizimada.
4) O Reino do Sul ou Judá permaneceu como Estado cerca de 350
anos (931-587 a.C). Aqui foram preservadas algumas tradições notá-
veis como a do Templo, o Messianismo davidita camponês e sionita.
Todas as tradições e histórias bíblicas dos residentes no norte foram
trazidas e preservadas em Jerusalém, após a destruição, em 721 a.C.
Embora não sendo o berço do profetismo clássico, Jerusalém abrigou
e animou a maioria dos profetas escritores.
5) A grande tentativa de reforma empreendida pelo rei Josias (640-
6 - Em Marcha
609 a.C) não foi suficiente para evitar a catástrofe nacional de 587 a.C.:
destruição de Jerusalém e o exílio da maioria da população. O exílio
durou cerca de 60 anos, mas influiu decisivamente no pensamento
bíblico. Apesar da tragédia, foi o período que mais se produziu em
termos de reflexões e literatura. A grande força política nesse período
foi a Babilônia.
6) Período Judeu – Os persas, liderados por Ciro, derrotam os babi-
lônios em 539 a.C., possibilitando, aos israelitas exilados, retornarem
para a Palestina. Entre os que retornaram estavam Ageu, Zacarias e,
posteriormente, Neemias e Esdras. Foram reconstruídos, nesse perío-
do, a cidade e os muros de Jerusalém. O entusiasmo do princípio não
continuou e a comunidade de judeus entrou em crise. De um lado, os
que retornaram do exílio entraram em conflito com os que permane-
ceram na terra; do outro lado, a política persa impunha uma sutil, mas
violenta cultura. A grande solução, que os líderes judeus encontraram
para enfraquecer a crise, foi a pregação da obediência às leis. Muitas
leis foram adaptadas, outras criadas para atender às necessidades do
momento.
7) Em 333 a.C., Alexandre Magno, conquistador grego, dominou todo
o Oriente Médio, inclusive a Palestina. Embora os judeus esperassem
por liberdade, os gregos impuseram uma política escravagista. A li-
teratura bíblica dessa época reflete a crise do povo de Deus (conferir
Eclesiastes 5.8-10). Enquanto a tirania dos persas foi sutil, a dos gregos
foi clara e objetiva, chegando a perseguir os judeus que ousassem a
recusar a obediência. Foi em meio às perseguições e martírios que foi
escrito o livro de Daniel.
8) A chegada dos romanos à Palestina, em 63 a.C., não alterou muito
a situação dos judeus. Este foi um importante período para as discus-
sões em torno da canonização dos livros do Antigo Testamento. Em
meio às dificuldades de sobrevivência como povo de Deus, crescia a
ansiedade pela vinda do Messias que viria libertá-lo.
Fonte: SIQUEIRA. Tércio Machado. Missão e ministérios na história do povo de
Deus. Edição especial das revistas Em Marcha e Cruz de Malta. 1995, III quadrimes-
tre. Imprensa Metodista/Êxodus Editora.

Em Marcha - 7
Estudo 1
Antigo
Testamento:
uma história de
salvação
Texto bíblico: Salmo 77.11-14

A Bíblia é uma história de salvação! Salvação anunciada desde a sua


origem e que se completa no Novo Testamento com a vinda de
Jesus ao mundo. Deus escolheu e formou para si um povo, fez com
este povo uma aliança eterna, prometendo-lhes ser o seu Deus e re-
cebendo-os como seus filhos e filhas.
Nesta revista vamos relembrar a formação e trajetória deste povo e
perceber o constante agir de Deus na história, mas, antes disso, num
primeiro momento, teremos uma visão geral dos livros do Antigo Tes-
tamento.

Fundamento bíblico
Os versos destacados neste salmo formam um hino de louvor a Deus,
que recorda as ações realizadas por Ele no passado em favor do seu
povo. A Bíblia mostra como Deus tem se revelado, a princípio, na his-
tória de um povo e depois, de toda a humanidade.
A Bíblia está dividida em dois grandes blocos: Antigo Testamento
e Novo Testamento. O Antigo Testamento contém os livros escritos
8 - Em Marcha
antes de Cristo e o Novo Testa- Objetivos
mento, os livros escritos a partir
Apresentar uma visão am-
de Cristo. A palavra “testamento” pla sobre o Antigo Testa-
significa “Aliança” e refere-se à mento, suas divisões e importân-
antiga aliança estabelecida en- cia.
tre Deus e o seu povo (no Antigo
Testamento) e a nova aliança, fei- Para início de conversa
ta com Jesus (Novo Testamento). Inicie a aula com a seguinte dinâ-
Como já mencionado, nosso es- mica: em uma tigela com água,
tudo abrangerá apenas o Antigo mergulhe, um a um, os seguin-
Testamento. tes objetos: um giz, uma pedra
e uma esponja. Promova um di-
Existem várias divisões nos livros álogo com a turma comparan-
do Antigo Testamento, como do a reação destes objetos com
também existe diferença na di- a água. Compare essas reações
visão da Bíblia do povo cristão e à forma como as pessoas lidam
na Bíblia judaica (Bíblia Hebraica). com a Bíblia.
Essas divisões não seguem uma
ordem cronológica. 1- A água, fonte que restaura e
purifica, representa Bíblia.
Para o povo cristão, as divisões
2- A pedra, material rústico que
são as seguintes: Pentateuco, Li- não deixa que nada penetre den-
vros Históricos, Livros Poéticos e tro de si, não absorve a água e,
Livros Proféticos (Profetas maio- por isso, simboliza as pessoas
res e Profetas Menores). que se fecham e não deixam que
Pentateuco: abrange os livros de a Palavra de Deus as transforme e
molde suas vidas.
Gênesis a Deuteronômio;
3- O giz, feito de cal, consegue
Históricos: Josué, Juízes, Rute, 1 e absorvera água, mas não a eli-
2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crôni- mina. Por isso, representa as
cas, Esdras, Neemias, Ester; pessoas que recebem a Palavra
Poéticos: Jó, Salmos, Provérbios, de Deus, mas que a guardam so-
mente para si, não anunciam, não
Eclesiastes, Cantares;
testemunham.
Proféticos: Profetas Maiores: 4- Já a esponja, depois de molha-
Isaías, Jeremias, Lamentações, da, absorve certa quantidade de
Em Marcha - 9
água, e ao ser apertada, Ezequiel e Daniel. Profetas Me-
transmite o que tem den- nores: Oséias, Joel, Amós, Oba-
tro de si. Assim, são as dias, Jonas, Miquéias, Naum,
pessoas que absorvem a Palavra Habacuque, Sofonias, Ageu, Za-
de Deus e a transmitem, tornan- carias, Malaquias.
do-se também testemunhas fiéis
do Reino de Deus. A mensagem do Pentateuco, co-
nhecido como Torah (Lei), se ex-
Por dentro do assunto
pressa na fidelidade do povo à
Os textos bíblicos nascem de ex- Lei de Deus. Os livros da Lei nos
periências humanas com Deus. mostram um Deus que deseja
Estas experiências são primei- retidão e santidade das pessoas,
ramente contadas pelas pesso- que é fiel e poderoso para cum-
as (transmissão oral) e somente prir com suas promessas, e que
depois são transformadas em se identifica com o seu povo e o
textos. Na Bíblia não existia psi- liberta da opressão.
cografia (escrever mensagens
ditadas por “espíritos”), pois isso Os Livros Históricos narram os
era incompatível com a fé vétero acontecimentos desde a Ter-
e neotestamentária. Além disso, ra Prometida até o Cativeiro. Os
nesse período de transmissão acontecimentos narrados nes-
oral, parte da população bíblica ses livros revelam que Deus é o
se preocupava muito mais em an- Senhor da história. Ele intervém,
dar com Deus e estimular outras
age, transforma e liberta o seu
pessoas a fazerem o mesmo, do
que registrar suas experiências povo. A ideia central dos Livros
e aprendizados. As palavras do Históricos é apresentar o povo
Senhor tocavam os corações de de Deus entrando, conquistando
homens e mulheres, eram viven- e se organizando na terra de Ca-
ciadas, avaliadas e quem por elas naã.
foram impactados/as escolhiam
Os Livros Poéticos contemplam
se queriam ou não anunciá-las.
aspectos da espiritualidade, dos
A divisão dos textos bíblicos em sentimentos, das emoções e das
capítulos e versículos não cons- coisas práticas da vida do povo
tava dos “originais”. Um grupo de de Deus e, por isso, suas narrati-
estudiosos judeus (“massoretas”) vas, muitas vezes, feitas em forma
concluiu a divisão em versículos de cânticos e poemas a Deus.
10 - Em Marcha
Os Livros Proféticos anunciam e do Primeiro Testamento
denunciam o pecado e procla- entre os séculos IX e X da
mam o juízo de Deus. Eles apre- era cristã. Entre os anos
sentam pessoas comuns que são 1234 e 1242 foram cria-
chamadas por Deus para falarem dos os capítulos por um teólogo
das injustiças e ajudar o povo na inglês chamado Stephen Lan-
caminhada de fé. Pessoas que ghton. Em 1551 o francês Robert
d´Etiénne completou a divisão do
sofreram pela missão, testemu-
Segundo Testamento em versícu-
nharam das verdades divinas e los. E no ano de 1560 foi publica-
receberam inspiração, coragem e da a Bíblia de Genebra, ou seja, a
força do próprio Deus para seguir primeira Bíblia completa com ca-
adiante.. pítulos e versículos. Com o passar
dos anos, as ciências bíblicas e te-
Palavra que ilumina a ológicas se desenvolveram e con-
vida tribuíram com o aprimoramento
da formatação e da linguagem
O Antigo Testamento não está bíblica traduzida para os mais di-
em contradição com o Novo Tes- versos idiomas.
tamento, pois tanto no Antigo
A primeira parte da Bíblia é for-
como no Novo Testamento, a vida mada pelos livros do Antigo Tes-
eterna é oferecida gratuitamente tamento, escritos em sua maior
à humanidade por Cristo Jesus, parte em hebraico e alguns pe-
único mediador entre Deus e o quenos textos em aramaico e
ser humano (Romanos 3.23; 4.1- persa. Os primeiros escritos do
25). Portanto, mesmo que a Lei Antigo Testamento surgiram no
dada por Deus a Moisés quanto período pós-exílico, como con-
às cerimônias e ritos não se apli- sequência do expatriamento (de-
quem a nós, cristãos e cristãs, ain- portação) do povo judeu. Esse
da temos um compromisso com movimento prejudicou a prática
essa palavra e um dever para com da tradição oral e o surgimento
Deus em obedecer e cumprir os dos textos escritos se fez neces-
mandamentos, chamados mo- sários.
rais, nela apresentados. Devemos A divisão dos livros do Antigo
ler e estudar toda a Bíblia, pois ela Testamento vem da Septuagin-
nos aproxima de Deus e contém ta, através da Vulgata Latina. A
tudo o que é necessário para a Septuaginta foi a primeira tradu-
Em Marcha - 11
ção dos textos do Antigo nossa salvação.
Testamento, feita do he-
braico para o grego, em A base da fé e da prática da tra-
Alexandria no Egito, por volta do dição wesleyana é a Bíblia. João
ano 285 a.C. Wesley dizia: “Meu fundamento é
a Bíblia. Sim, sou intransigente a
A divisão dos livros também é fei- favor da Bíblia. Sigo-a em todas as
ta pelos seguintes assuntos: coisas, grandes ou pequenas”. “A
Lei ou Pentateuco: Gênesis, Êxo- regra cristã do certo ou do errado
do, Levítico, Números e Deutero- é a Palavra de Deus – os escritos
nômio. do Antigo e do Novo Testamento,
tudo o que os profetas e os ho-
Livros Históricos: Josué, Juízes,
Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 mens santos da antiguidade es-
e 2 Crônicas, Esdras, Neemias e creveram quando eram movidos
Ester. pelo Espírito Santo; toda a Escri-
tura que foi dada pela inspiração
Livros Poéticos: Jó, Salmos, Pro- de Deus que é realmente provei-
vérbios, Eclesiastes, Cântico dos tosa para a doutrina ou para ensi-
cânticos. nar toda a vontade de Deus, para
Livros Proféticos: PROFETAS a reprovação do que lhe é contrá-
MAIORES: Isaías, Jeremias, La- rio, para a correção do erro, para
mentações, Ezequiel e Daniel. instruir-nos e treinar-nos na justi-
PROFETAS MENORES: Oséias, ça (2 Timóteo 3.16)”.
Joel, Amós, Obadias, Jonas, Mi-
quéias, Naum, Habacuque, Sofo- Conclusão
nias, Ageu, Zacarias e Malaquias.
A Bíblia não é um livro qualquer!
Por fim Muito embora tenhamos uma in-
Finalize a aula incentivando a tur- finidade de acessos a ela, como
ma a não faltar às aulas da Escola computador e celular, e possa-
Dominical e a estudarem as lições mos usá-la em qualquer ambien-
em casa, preparando-se para os te pela facilidade que isso nos
dias de estudo, para que possam proporciona (ônibus, metrô, es-
absorver o máximo de seus con- cola, trabalho), devemos sempre
teúdos, a fim de se prepararem lê-la com muita reverência e res-
para anunciá-los onde quer que peito. Embora apresente narrati-
forem.
12 - Em Marcha
vas históricas de um povo, ela é a Palavra viva de Deus, e podemos
encontrá-lo através de suas páginas. Por isso, leia a Bíblia!

Desafio: Que tal organizar um plano de leitura completo da


Bíblia e colocá-lo em prática? Vamos?
Bibliografia
BURTNER e CHILES. Coletânea da Teologia de João Wesley. Tradução de Messias Freire. 2ª
edição. 1995.

Revista Em Marcha. Bíblia e culto: um chamado à santidade. Revista do/a professor/a. Igre-
ja Metodista. São Paulo, 2011.

Manual do orientador. Escola Dominical. 3º quadrimestre de 95. Flâmula Juvenil, Cruz de


Malta, Em Marcha. Editora Êxodos.

Apoio à dinâmica: http://goo.gl/4gVhnz Acesso em 15/12/2015.

Para conversar Leia durante a semana


Qual o valor da Bíblia para :: Domingo: Salmo 77.11-14
você? :: Segunda-feira: Salmo 119.97-105
:: Terça-feira: 2 Tessalonicenses 2.15
Quais as contribuições que :: Quarta-feira: 2 Timóteo 3.14-17
ela traz para a vida indivi- :: Quinta-feira: 2 Pedro 1.16-21
dual e coletiva? :: Sexta-feira: Hebreus 4.12
:: Sábado: Mateus 22.29
Em Marcha - 13
Estudo 2
Deus faz uma
aliança com
Abrão
Texto bíblico: Gênesis 15.1-21

N a origem do povo hebreu, encontramos a orientação divina de


que os pais deveriam contar a seus filhos, os atos salvíficos de
Deus em meio ao seu povo. Com o passar dos anos e a chegada do
exílio, ficou difícil manter essa tradição, por isso foi necessário escrever
esses acontecimentos para registro às futuras gerações.
O texto bíblico em questão tem sua origem no período patriarcal,
inaugurado com Abrão e apresenta a Aliança, o pacto estabelecido
por Deus com seu povo.

Fundamento bíblico
A Era Patriarcal se inicia com o chamado de Deus a Abrão e a origem
e formação do povo hebreu. Os patriarcas Abraão, Isaque e Jacó, tive-
ram suas vidas marcadas na história do povo de Deus e conheceram o
Deus que se manifesta ao seu povo e lhe faz promessas.
Deus chamou seu servo Abrão para sair em viagem para Canaã, pro-
metendo-lhe que seria pai de uma numerosa nação (Gênesis 12.1-2),
tão numerosa quanto as estrelas do céu. O fato de Abrão e sua es-
posa Sarai serem idosos, fez com que o mesmo apresentasse a Deus
algumas indagações: como se tornar pai de uma grande nação, se
não tinham filhos e a pessoa mais provável para herdar seus bens, era
um escravo nascido em sua casa (Gênesis 15.2-3)? Como entender o
fato de herdar toda aquela terra em que estava sem ser dono de nada
14 - Em Marcha
(Gênesis 15.7-8)? Objetivos
Deus reafirma sua promessa (Gê- Apresentar a origem da
nesis 15.4-5) declarando que Era Patriarcal, destacando
Abrão e Sarai gerariam um filho a aliança de Deus com Abrão e o
(15.4) e apresenta algumas reve- cumprimento da promessa.
lações sobre o futuro de sua des-
Para início de conversa
cendência:
Peregrinos em terra estranha: Peça para cada pessoa criar sua
árvore genealógica, ou seja, ela-
Após trazer um profundo
borar um levantamento dos no-
sono sobre Abrão, Deus lhe
mes de seus ancestrais, até onde
revela que antes de herdar conseguirem se lembrar. Se qui-
a Terra Prometida, seu povo serem, poderão compartilhar ra-
seria peregrino em uma ter- pidamente um pouco dessa ex-
ra estranha. As densas trevas periência. A finalidade é levar a
que caíram sobre Abrão era turma a pensar que antes de nós,
símbolo da agonia dos 400 vieram muitas pessoas que de-
anos de escravidão que viria ram origem à nossa família. Ge-
sobre os hebreus (Gênesis ração após geração, e costumes
15.13), referindo-se ao tempo e tradições foram se formando,
em que a descendência de criando por meio de vínculos co-
Jacó iria ao Egito em busca de muns, a nossa história.
alimentos e acabaria escravi-
zada por Faraó. Destaque que todos/as que ali
estão fazem parte de uma família
Deus não se esquecerá dela: mais extensa, a família da fé, que
Deus lembra a Abrão que es- também não surgiu do nada, mas
taria atento a tudo que acon- que é fruto das experiências de
tecesse ao seu povo e que um fé de muitas pessoas. Da mesma
dia lhes faria justiça, julgando forma que nossas famílias têm
as ações do povo egípcio, li- histórias tristes e outras alegres,
bertando sua descendência, assim é com o povo da Bíblia, que
com a promessa de prosperi- compartilha muitas vitórias, mas
dade (Gênesis 15.14), e lhes muitos problemas também.
dando a posse de uma nova Por dentro do assunto
terra (Gênesis 15.18-21).
Abrão, casado com Sarai, era fi-
Em Marcha - 15
lho de Tera, descendente Deus faz uma aliança com
de Sem. Deus o chamou Abrão: Todas as promessas
para dar início à forma- de Deus foram ditas diante
ção da nação hebraica, quando de uma aliança estabelecida
habitava em Ur. Abrão (significa entre Ele e Abrão, firmada
o pai é exaltado) e Sarai (talvez, diante de animais oferecidos
contenciosa), após a instituição no altar. A presença de Deus,
da circuncisão, sinal da aliança representada pelo fogo e
de Deus com Abrão (Gênesis pela tocha que passou entre
17.1-15), passaram a se chamar as partes dos animais, atesta-
Abraão (Pai de uma multidão) e va que Deus estava se com-
Sara (Princesa). prometendo com sua palavra
Gênesis 15.1-6 tem a forma de e que no tempo certo, a pro-
um diálogo entre Deus e Abrão, messa se cumpriria (Gênesis
que pode ser dividido em quatro 15.17).
partes: v.1: promessa de Deus;
v.2: objeção de Abrão; vv.4-5: Palavra que ilumina a
resposta de Deus; v.6: reação po- vida
sitiva de Abrão.
Toda a promessa feita por Deus a
O sacrifício de animais solicitado Abrão foi estabelecida mediante
por Deus a Abrão (Gênesis 15.9- a fé que esse teve para com Deus
10) era fundamental para realizar (Gênesis 15.6), uma fé que era
uma antiga cerimônia em que era traduzida em confiança na provi-
estabelecida uma aliança entre são divina, esperando a salvação
duas pessoas. Os animais sacri- que aconteceria no futuro. Abrão
ficados eram partidos ao meio e
creu ao mesmo tempo em que
colocados um ao lado do outro.
se dispôs à ação divina. Por cau-
As pessoas envolvidas na aliança
deveriam passar por entre essas sa desta fé e fidelidade a Deus,
partes, afirmando assim, que o ele se tornou um exemplo e foi
não cumprimento por parte de- considerado o pai de todos os
las na aliança, implicaria em con- crentes: “É o caso de Abraão, que
sequências drásticas, tais como creu em Deus, e isso lhe foi im-
as ocorridas com os animais ofer- putado como justiça. Sabei, pois,
tados (cf. Jeremias 34.18). Ao es- que os que são da fé são filhos de
tabelecer sua aliança com Abrão, Abraão” (Gálatas 3.6-7). A justiça
aqui mencionada é o favor divi-
16 - Em Marcha
no que nunca nos abandona. É o o próprio Deus passou
agir de Deus em todo tempo. O pelo meio do sacrifício,
povo de Israel experimentou isso comprometendo-se em
quando esteve debaixo do jugo e cumprir sua palavra.
da opressão de Faraó, e pode ver
“Fogareiro fumegante e tocha de
a justiça divina se cumprindo a fogo” (Gênesis 15.17) simboliza-
partir da história do patriarca. vam a presença de Deus naquele
Através de Abrão aprendemos lugar. O fogo é representado na
que Deus é um Deus de alianças Bíblia como símbolo da presen-
e que Ele cumpre as suas pro- ça divina: Deus manifestou-se
messas. Todavia, é necessário crer a Moisés no meio da sarça ar-
com confiança e esperar, saben- dente (Êxodo 3.2); manifestou-
do que no tempo certo, as pro- -se no Monte Sinai por meio do
messas de Deus para nós tam- fogo (Êxodo 19.18); manifestou
bém se cumprirão. o seu fogo quando quis discipli-
nar o seu povo (Números 11.1);
manifestou o fogo no altar como
Conclusão símbolo da aceitação de Deus
Como nossos antepassados, mui- (Levíticos 9.24); o Espírito San-
tos/as de nós ainda vivemos de- to manifestou-se no Pentecostes
baixo de grande jugo e opressão. como línguas como que de fogo
Tal como Abrão, muitas vezes (Atos 2) e etc.
enxergamos um futuro incerto: O servo Eliézer, do qual Abrão su-
“o que será do amanhã, se não gere ser seu possível herdeiro, era
tenho quem caminhe comigo um escravo nascido em sua casa.
(Gênesis 15.2)?” Muitas vezes, ao Era um filho/membro da casa de
invés da fé, a dúvida nos domina Abraão, ou seja, um servo ou um
e dizemos: “temos promessa de estrangeiro fugitivo que recebeu
Deus em nossa vida, mas quando acolhida e proteção em sua famí-
ela irá se cumprir?”. lia. O gesto de deixar seus bens
a um escravo não era prática co-
Assim como Deus consolou a mum entre os hebreus. Não exis-
Abrão (Gênesis 15.1) sua Palavra tia nenhuma Lei que assegurasse
também nos consola. Precisamos isso. Havia sim, entre os povos vi-
confiar no Senhor e em todas as zinhos, um contrato que transfe-
suas promessas. Olhar para o céu ria aos escravos, a herdade (bens,
e contemplar a grandeza de Deus terras) deixada por seus senhores
Em Marcha - 17
quando não tivessem são formas de renovar a fé e con-
herdeiros, desde que es- tinuar crendo.
ses, se responsabilizas-
sem por cuidar de todo processo Abrão teve que ter esperança
de sepultamento do testamentei- contra a desesperança. Seguin-
ro. Na tradição oriental, a pessoa do seu exemplo, quando nos
que realizasse o sepultamento de encontramos sem esperança ou
um defunto teria direito à sua he- abatidos/as, devemos olhar para
rança. O verso 3 sugere que por o alto. Contemplar a majestade
não ter herdeiros, Abrão estava de Deus com todas as suas obras
pensando na possibilidade dessa magníficas, nos fará enxergar
doação, sendo este um gesto to- muito mais que nossas limitações
talmente voluntário. e trará à memória o poder do
Criador. Quem cria cada uma das
Esse pensamento de Abrão se ba- inúmeras estrelas do firmamen-
seava em alguns fatores: to, certamente poderá atender as
1. Naquela cultura, ter filhos nossas súplicas.
(muito mais do que filhas) ti-
nha um significado talvez muito maior do que é para nós hoje.
Gerar um filho era ter a certeza da continuidade da família, do seu
nome, costumes e memória. Portanto, sem descendência não ha-
via esperança de futuro.
2. Abrão demonstra preocupação com o amanhã. Lembrando a
idade avançada dele e de Sarai, sua indagação junto a Deus suge-
re que ele tinha preocupações quanto ao seu futuro: O que será
do meu amanhã? Quem fará meu sepultamento, já que não tenho
filhos?
3. O questionamento de Abrão revela dúvidas, quanto ao agir de
Deus. Deus é meu escudo (Gênesis 15.2), mas será que Ele não
pode resolver logo o meu problema? Abrão ainda não cria total-
mente. Só depois que Deus o mandou contemplar o céu, reve-
lando que lhe daria não somente um filho, mas uma numerosa
descendência, é que ele passou a crer (Gênesis 15.5).
Assim, vemos que Abrão teve que ter esperança contra a desesperan-
ça. Atitude correta, se queremos ver o cumprimento das promessas
de Deus em nossa vida.
18 - Em Marcha
Abrão/Abraão dá origem aos patriarcas, conhecidos como os
pais da fé. No conceito genérico da palavra, um patriarca era o
homem chefe da família ou da tribo. No conceito bíblico, o ter-
mo patriarca foi usado para se referir a Abraão, Isaque e Jacó.
Foi através da vida desses homens que surgiu a linhagem do povo de
Israel.
Por fim
Encerre a aula com uma oração de gratidão pelos seus antepassados
e pelas boas marcas que deixaram na família. Orem também pelas
futuras gerações.
Desafio: Marque um dia de culto familiar e de posse de sua árvore
genealógica, transmita à sua família, e principalmente às crianças, a
origem de vocês. Orem em gratidão pelos antepassados e apresen-
tem as futuras gerações diante de Deus.
Bibliografia
DREHER, Martin. Disponível em: http://goo.gl/zA4avc, acesso em 15/09/2015.
KILLP, Nelson. Disponível em: http://goo.gl/ZqQV2J, acesso em 15/09/2015.
BOYER, O. S. Pequena Enciclopédia Bíblica. São Paulo. Editora Vida, 1995.

Leia durante a semana


Para conversar
:: Domingo: Gênesis 15.1-21
Como a promessa de Deus feita :: Segunda-feira: Gálatas 3.1-14
a Abrão pode nos ajudar a lidar :: Terça-feira: Romanos 4.1-3 e
com as incertezas do futuro? 13-25
:: Quarta-feira: Isaías 30.18-26
:: Quinta-feira: 2 Coríntios 4.1-15
:: Sexta-feira: Gálatas 3.15-22
:: Sábado: Hebreus 11.8-21

Em Marcha - 19
Estudo 3
O Êxodo: história
de libertação
Texto bíblico: Êxodo 1.15-22

O evento mais importante da história do povo de Deus no Antigo


Testamento é o “Êxodo” ou a saída do Egito e a peregrinação pelo
deserto até a Terra Prometida. Ele é tão importante que ocupa 4 dos 5
livros da Torah e é constantemente relembrado até mesmo em alguns
livros no Novo Testamento. Pode-se afirmar que o Êxodo é o eixo em
torno do qual gira a história da fé do povo de Israel; é um evento fun-
dante!
Quando falamos de um acontecimento tão importante assim, é co-
mum nos referirmos às figuras mais proeminentes dessa história,
como Moisés neste caso. Mas, não podemos nos esquecer de que essa
e outras histórias de libertação não foram feitas só por personagens
destacados. Há muitas pessoas que entenderam a vontade de Deus e
a cumpriram com fidelidade e amor, tornando-se, também, indispen-
sáveis.
Neste estudo destacaremos duas mulheres que, apesar da simplicida-
de de suas vidas e de nem sempre serem lembradas, tornaram possí-
vel a história de Moisés.

Fundamento bíblico
As parteiras do Egito, Sifrá e Puá, foram colocadas, pelas circunstân-
cias, diante de uma importante decisão: obediência a Faraó ou fideli-
dade a Deus.
Faraó era a maior autoridade no Egito. Suas leis eram severas e de-
veriam ser obedecidas. Entretanto, temendo mais a Deus do que às
20 - Em Marcha
ordens, elas se recusaram a obe- Objetivo
decê-las. Não hesitaram quando
Refletir sobre a atuação
confrontadas com a escolha en-
de Sifrá e Puá no proces-
tre servir a Deus e atender às de- so de libertação do povo hebreu.
mandas pecaminosas de Faraó.
Para início de conversa
Essas mulheres arriscaram suas
próprias vidas para salvar os me- Leia o texto bíblico e coloque em
ninos hebreus. Por que alguém discussão a atitude de Sifrá e Puá.
faria isso? A atitude delas foi mo- Um olhar legalista as condenará,
tivada por várias razões: mas um olhar de valorização da
vida entenderá o que aconteceu.
Temor a Deus (v. 17): O serviço Não se trata de uma ação apoia-
prestado tem sua origem no da na mentira, mas apoiada na
temor a Deus, que não deve vida, que é contra as injustiças.
ser entendido como “medo”, Em seguida pergunte se alguém
mas respeito e apego aos já se sentiu no mesmo dilema de
princípios de Deus (leia o Sal- Sifrá e Puá: omitir uma situação
mo 111.10). A fé no Deus da para preservar a vida de outra
vida inspirava um modo de pessoa. Falar desse tema talvez
ser (uma ética) pautado pelo seja um pouco desconfortante,
respeito à vida e pelo serviço. contudo, essa discussão ajudará a
Serviço ao outro, ainda que perceber a tensão e o dilema que
isso significasse riscos à vida. podem ter ocupado o coração
das parteiras na decisão de ter de
Fé que alimentava a esperan- escolher proteger a si mesmas ou
ça de libertação: O povo au- aos bebês. Explore os sentimen-
mentaria, formaria um exér- tos relacionados a essas situações
cito e Israel seria liberto do que nos sobrevêm, dê continui-
Egito. Agindo assim, elas tor- dade ao estudo.
naram-se parceiras de Deus
no seu plano de libertar o Por dentro do assunto
povo da escravidão no Egito. O Êxodo é um dos eventos mais
Se obedecessem a Faraó po- importantes da Bíblia, ele re-
deriam ter matado Moisés ou presenta a libertação do povo
qualquer menino que pudes- hebreu da escravidão do Egito.
se fazer o que ele fez. Em resposta ao clamor desse
povo, Deus chamou Moisés para
Em Marcha - 21
libertá-lo da opressão e Coragem diante do ameaça-
guiá-lo a “uma terra boa dor Faraó: Se ele era capaz de
e larga, a uma terra que ordenar a morte de recém-
mana leite e mel” (Êxodo -nascidos inocentes, o que
3.7-10). não faria com mulheres deso-
O Egito guarda uma história mui- bedientes? Mesmo sabendo
to antiga contendo uma grande dos perigos elas não desisti-
riqueza cultural que o mundo ram. Lutaram pela vida e ven-
moderno ainda não conseguiu ceram a morte.
interpretar plenamente. Por se
tratar de um país rico, o Egito re- Palavra que ilumina a
cebeu muitos grupos nômades, vida
dentre eles, o povo hebreu, que
cresceu e tornou-se numeroso. O texto bíblico nos coloca diante
de questões éticas importantes.
O Egito entrou numa fase de
grandes projetos de construções Da primeira já falamos: a quem se
e transformou esse povo em mão deve ser fiel? Aos princípios éti-
de obra escrava. É nesse momen- cos de amor, temor a Deus e bon-
to da história que Israel surge dade ou a vontades malignas?
como povo, com identidade pró- Ainda hoje, é possível ver situa-
pria (Êxodo 1.11). ções de maldade e injustiça como
Moisés é o grande personagem as que Faraó impôs sobre o povo
do êxodo e, infelizmente, o seu de Deus no passado. Essa história
forte carisma tem ofuscado o va- de sacrifícios de crianças, infeliz-
lor do testemunho das parteiras, mente, não pertence só ao pas-
pois foram elas que prepararam sado remoto. Está bem perto de
o caminho de libertação para o nós! Sempre que há alguma situ-
povo, porque preservaram a vida ação de injustiça, de violência ou
do menino Moisés. maldade, crianças são vítimas.
O texto nos apresenta um Faraó Na história bíblica, a fé e a sensi-
inflexível e cruel que ordena a bilidade de duas mulheres salva-
morte para os meninos (vv.16 ram muitas delas. É preciso que
e 22) e as parteiras, colocadas a a mesma fé e a mesma sensibili-
serviço das mulheres hebreias e dade nos mova hoje a ações co-
solidárias aos escravos.
rajosas em favor das pessoas que
22 - Em Marcha
sofrem. Lições de Êxodo 1:
A segunda questão está na res- 1. Beleza e esplendor –
posta dada pelas mulheres a Fa- O capítulo 1 do livro de
raó ao serem confrontadas por Êxodo é muito importante para
ele. Elas mentiram? Mentir não é compreendermos o aconteci-
pecar? Ao fazer isso elas não de- mento da libertação do povo de
sobedeceram a uma ordem do Deus. Ele apresenta a tensão cau-
próprio Deus? sada pela tirania do Faraó sobre
os hebreus. Não seria impróprio
Na Bíblia, o conceito de verdade perguntar: “haveria o êxodo sem
está mais ligado à justiça do que a atitude das parteiras?”. É impor-
ao relato exato dos fatos, como tante pensar que a história da
em 1 Coríntios 13.6 em que ver- salvação também foi construída
dade é colocada em contrapo- com o testemunho dessas duas
sição à injustiça. Verdade é sinô- mulheres – Sifrá e Puá – cujos no-
nimo de andar com Deus e fazer mes espelham bem o significado
o que lhe agrada: “Ensina-me, de seus testemunhos para o povo
Senhor, o teu caminho, e andarei de Deus: “beleza e esplendor”.
na tua verdade; dispõe-me o co- Assim, o testemunho das partei-
ras levou o povo a denominá-las
ração para só temer o teu nome” de “beleza” e “esplendor”, em ra-
(Salmo 86.11). zão do que elas fizeram.
Neste caso, o que elas fizeram 2. O fim justifica os meios? – Na
não pode ser considerado um história da salvação descrita no
erro ou pecado. Pecado seria se Antigo Testamento, encontramos
fossem coniventes com os erros muitos espinhos. Um dos mais
de Faraó. Prova disso é que Deus constantes é o poder político-
as recompensou: “Portanto Deus -econômico exercido pelos go-
fez bem às parteiras. E o povo au- vernantes e povos. Vejamos bem:
mentou, e se fortaleceu muito. E o decreto para matar os meninos
porque as parteiras temeram a hebreus (versos 15 e 22) é mais
Deus, ele lhes constituiu família” de que a vontade neurótica de
(Êxodo 1.20-21). um faraó. É um projeto de gover-
no que contraria todo o bom sen-
Episódio semelhante vemos no so, mas que ainda continua ativo
relato de Josué capítulo 2. Raabe, no mundo de hoje. A justificativa
que era uma prostituta, salva a para esta barbárie é o dinheiro,
Em Marcha - 23
o lucro. Infelizmente, o
princípio básico da ga-
nância é: “o fim justifica
os meios”. Para o Faraó,
matar crianças era um meio para
se obter o controle sobre o povo
escravizado.
3. Uma memória bonita – A atitu-
de das parteiras não foi descrita
como indesejável. Pelo contrário,
a memória do testemunho des-
sas mulheres foi guardada e com-
partilhada com futuras gerações
do povo de Deus até os nossos
dias. Tudo isso tem servido de
exemplo e ânimo para o povo
de Deus ao longo dos séculos.
Nesse testemunho, as parteiras vida de dois espias hebreus ao es-
contaram com a participação das condê-los em sua casa e “mentir”
parturientes (gestantes) hebreias. ao rei de Jericó dizendo que eles
A subversão, liderada pelas par- haviam ido embora. Novamente,
teiras, foi um ato comunitário e Deus aprova tal atitude e preser-
o seu fundamento tinha um alvo va sua vida e a de sua família (Jo-
muito honesto: libertar-se daque- sué 6.22-27).
la visão tão triste e feia.
Percebemos aqui a diferença en-
4. Exemplo de discernimento – As
parteiras souberam discernir en- tre ética e moralismo. Um mora-
tre a intenção de Faraó e a von- lista, com certeza, desaprovaria
tade de Deus. A força política e a atitude dessas mulheres (Sifrá,
o poder econômico de faraó não Puá e Raabe), mas na perspecti-
foram suficientes para quebrar va da ética a preservação da vida
a resistência e comprar a hones- tem valor maior!
tidade de Sifrá e Puá. O funda-
mento dessa resistência estava Conclusão
no temor a Deus (vv.17 e 21). As
parteiras perceberam que a solu- Do texto estudado, destacamos
ção da crise entre Faraó e o povo as seguintes lições:
24 - Em Marcha
Se Moisés, Arão e tantos outros estava na atitude de não
personagens famosos na histó- fazer o que faraó orde-
ria bíblica foram importantes, as nara. Assim, percebemos
desconhecidas parteiras do Egi- que há muitos poderes
to também foram. Na verdade, atraindo e seduzindo o povo de
foram essenciais. Toda pessoa é Deus. O testemunho das partei-
importante e todo serviço é pre- ras é um excelente exemplo de
cioso! discernimento.

O serviço que tem a sua origem Por fim


na fé, no temor a Deus e no amor Diante de uma situação tão difícil,
ao próximo, terá sua recompensa as parteiras tiveram tempo para
das mãos de Deus e sempre pro- refletir se valeria a pena salvar a
duzirá bons frutos, até mais do própria pele, enquanto sacrifica-
que imaginamos. As parteiras, ao vam a vida humana e ao mesmo
renunciarem a própria seguran- tempo abriam mão de uma cons-
ça, tornaram possível a história ciência limpa e tranquila.
de Moisés. Diante da opressão, o povo he-
Por fim, aprendemos com essas breu escravizado demonstrou
Em Marcha - 25
mulheres que o serviço deve ser pautado pela ética em favor da vida
e da justiça. Diante de situações difíceis e decisões importantes, é isso
que deve nortear nossas vidas.

que a fé em Deus e a consciência de grupos foram e são as


forças que podem derrotar os faraós da vida que afligem,
oprimem, imobilizam e matam as pessoas, grupos e nações.
Desafio: Proponha ao grupo listarem alguns dos “faraós de nosso
tempo” e as opressões que eles geram. Orem a Deus para que esses
males sejam retirados também da nossa sociedade.

Bibliografia

SIQUEIRA. Tércio Machado. Missão e ministérios na história do povo de Deus. Edi-


ção especial das revistas Em Marcha e Cruz de Malta. 1995, III quadrimestre. Im-
prensa Metodista/Êxodus editora.

A missão do Reino de Deus (parte 1), disponível em: http://www.ultimato.com.br/


revista/artigos/337/a-missao-do-reino-de-deus-parte-1, acesso em 14/10/2015.

Para conversar
Escolher agradar a Deus significa renunciar a própria vontade para
fazer a vontade dEle, e assim demonstrar que Ele é o centro da vida.
Como agir diante de situações onde é preciso escolher entre agradar
as pessoas ou agradar a Deus? Até que ponto estamos disponíveis
para arriscar a nossa vida em favor de outras pessoas?

26 - Em Marcha
Leia durante a semana
:: Domingo: Êxodo 1.15-22
:: Segunda-feira: 1 Coríntios 13
:: Terça-feira: João 8.30-32
:: Quarta-feira: Salmo 86.8-11
:: Quinta-feira: Atos 4.18-21
:: Sexta-feira: Salmo 111
:: Sábado: Josué 6.22-27

Em Marcha - 27

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