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R - e - Beatriz Gineste Treysse

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BEATRIZ GINESTE TREYSSE

SÍNDROME DE KLIPPEL-FEIL
UMA REVISÃO DE LITERATURA

Monografia apresentada como requisito parcial para


a conclusão do Curso de Especialização em
Odontopediatria, Departamento de Estomatologia,
Setor de Ciências da Saúde, Universidade Federal
do Paraná.

Orientador: Prof. Dr. Renato Cordeiro Gugisch

CURITIBA
2011
BEATRIZ GINESTE TREYSSE

SÍNDROME DE KLIPPEL-FEIL
UMA REVISÃO DE LITERATURA

Monografia apresentada como requisito parcial para


a conclusão do Curso de Especialização em
Odontopediatria, Departamento de Estomatologia,
Setor de Ciências da Saúde, Universidade Federal
do Paraná.

Orientador: Prof. Dr. Renato Cordeiro Gugisch

CURITIBA
2011
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu querido


pai. Um grande homem, um grande amigo,
com qualidades insubstituíveis como caráter,
bondade, honestidade, fidelidade,
responsabilidade e amor. Este pai que
infelizmente deixou o nosso convívio no
plano físico durante o período de minha
especialização, mas que sempre marcou
minha vida com palavras de carinho e
incentivo que me ajudaram a alcançar
grandes objetivos na vida, sendo um deles
esta pós-graduação. Dedico esta vitória à
memória eterna deste inesquecível pai.
AGRADECIMENTOS

A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste


trabalho e deste sonho, o de me tornar uma odontopediatra.

Ao meu pai, Carlos Udo Treysse (in memorian), pelo apoio e incentivo que
com imenso amor sempre me deu durante todos esses anos que estivemos juntos
neste plano como pai e filha. Seu jeito calmo, acolhedor, altruísta, incentivador e
amigo, fizeram e fazem de mim uma pessoa muito feliz e amada. Das melhores
qualidades que tenho, a maioria delas tenho que agradecer à educação e aos
ensinamentos sábios e valiosos de meu pai. Esta pessoa maravilhosa que me
ensinou a jamais desistir diante dos obstáculos, a ser uma pessoa boa para os
outros e para mim mesma, a ter orgulho dos meus bons atos e a valorizar tudo e
todos que fazem parte de minha vida.

À minha mãe, Rosilis Celmira Gineste Treysse, mulher forte e corajosa,


alegre e destemida, simpática e amiga. Ensinou-me a me defender diante dos
problemas, ensinou-me a ter coragem e a enfrentar os desafios da vida. Sua alegria
me inspira, seu amor me nutre, sua coragem sempre foi exemplo para mim.

Ao meu noivo, Luís Fernando Morgan dos Santos Alves, uma benção de
Deus em minha vida. Uma grata e alegre surpresa, fruto deste curso de
especialização. Sou grata ao imenso amor que sente e que demonstra por mim, ao
seu carinho, incentivo, aos momentos alegres e divertidos que passamos juntos e
aos sonhos que agora compartilha comigo. O homem que Deus colocou no meu
caminho para encher meus dias de alegria, amor e felicidade.

À minha tia Helga Treysse e ao meu primo Carlos Gieck Treysse, pelo
grande carinho e afeto que têm por mim. Pelas palavras generosas e sinceras, afeto
genuíno e cafés da tarde alegres e regados a deliciosas guloseimas. Duas pessoas
muito especiais e que eu tenho a felicidade de ter como membros de minha família.
Ao meu sobrinho, Rodrigo Otávio Gineste Donda, meu anjinho que está
crescendo, mas que para a tia vai ser sempre um menininho lindo, alegre, de ótimo
humor, engraçado, carinhoso e amoroso. Apesar de nos vermos pouco, os
momentos que passamos juntos são únicos e fazem parte dos episódios felizes
dessa longa jornada que se chama vida.

Aos meus sogros, Vânia Morgan e Carlos Roberto Alves, e à avó do meu
noivo, dona Arlete Morgan, três pessoas fantásticas e exemplares que eu tive a
sorte de encontrar em meu caminho. Sou agradecida pela maneira carinhosa e
amorosa com que me tratam, pela receptividade incrível que sempre têm quando
chego ao seu lar e pela oportunidade que me deram de serem agora também minha
nova família, um pouco de mãe, um pouco de pai, um pouco de avó, educados,
amorosos, exemplos de como se criar um filho e de um lar feliz.

A Deus, pois sem ele dificilmente saberíamos como conduzir a vida. Seu
amor infinito e sua bondade representam conforto e segurança em nosso caminhar.
Seu plano é perfeito e nos conduz a felicidade. Não há verdadeira felicidade sem o
amor e a fé em Deus.

Aos meus professores do Curso de Especialização em Odontopediatria da


UFPR, professores muito especiais e com um dom incrível para nos ensinar a arte
da Odontopediatria com amor, sabedoria, alegria e humanidade.

Em especial ao professor e orientador Renato Cordeiro Gugisch, pelos


seus ensinamentos não somente técnicos, que são indiscutivelmente excelentes,
mas também pela paciência com que transmitiu seus grandes conhecimentos,
praticamente como um pai ensina a um filho, e pelo agradável convívio nas clínicas
da especialização contando vários capítulos de sua história de vida. Sua trajetória é
guerreira e vitoriosa. Sinto-me orgulhosa de ter sido sua aluna.

Ao professor José Vitor Nogara Borges de Menezes, grande mestre,


sábio, dotado de uma paciência única e admirado por todos. Uma unanimidade entre
todas as alunas por seu jeito calmo, tranqüilo e amigo.

À professora Fernanda Morais Ferreira, mais que uma professora, uma


grande amiga. Dona de uma inteligência e competência admiráveis, jeito alegre,
calmo, sorriso singelo. Muito do conhecimento que obtive na pós-graduação devo a
ela.

Ao professor Fabian Calixto Fraiz, inteligente, possuidor de muito


conhecimento científico e que nos ensinou muito durante estes anos.

Às minhas colegas de Especialização: Ana Silvia, Belisa, Gisele, Graziele,


Dayana, Aline, Vanessa e Giovanna pelo maravilhoso convívio desde 2009. Turma
que será inesquecível pela união e pelo agradável convívio. E em especial à minha
colega, dupla de trabalho e amiga Elisa Kadowaki, grande amiga que fiz durante o
curso, ajudou-me em vários momentos, não só na minha vida profissional, mas
também na pessoal. Compartilhou comigo tanto minhas alegrias como minhas
tristezas e hoje posso chamar de grande amiga.

Aos meus pequenos pacientes e aos seus pais, por terem me permitido
exercer o conhecimento adquirido durante o curso, que confiaram em mim e que
através de um olhar carinhoso, de um abraço apertado, de um elogio ou de um
muito obrigada me fizeram sentir que eu estava no caminho certo.

À Prefeitura Municipal de São Mateus do Sul por ter concedido minha


liberação para a realização da pós graduação.

À Universidade Federal do Paraná, por nos ofertar o espaço para um


curso tão rico e engrandecedor como este de Odontopediatria.

E um último agradecimento à minha auxiliar e amiga Silvia Regina de


Araújo, que me ajuda todos os dias a aplicar os conhecimentos adquiridos na
especialização, pela sua competência e vontade de ajudar e aprender, por sempre
demonstrar alegria e satisfação em atender comigo as milhares de crianças que por
nossos cuidados já passaram e, principalmente, por ser uma boa pessoa, confiável,
inteligente, prestativa e grande amiga.
“...Deus nos concede, a cada dia, uma página de vida nova no livro do tempo. Aquilo
que colocarmos nela, corre por nossa conta...”

Chico Xavier
SUMÁRIO

RESUMO....................................................................................................................viii
ABSTRACT..................................................................................................................ix

1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................1

2 REVISÃO DE LITERATURA.....................................................................................3
2.1 Definição................................................................................................................3
2.2 Histórico.................................................................................................................3
2.3 Incidência...............................................................................................................5
2.4 Etiologia.................................................................................................................5
2.5 Classificação..........................................................................................................8
2.6 Características físicas, neurológicas e problemas sistêmicos associados..........10
2.6.1 Alterações músculo-esqueléticas......................................................................11
2.6.1.1 Escoliose........................................................................................................12
2.6.1.2 Deformidade de Sprengel...............................................................................13
2.6.1.3 Alterações em dedos e membros...................................................................14
2.6.1.4 Sincinesia.......................................................................................................14
2.6.1.5 Espinha bífida.................................................................................................15
2.6.2 Alterações cardiovasculares..............................................................................16
2.6.3 Alterações na laringe.........................................................................................17
2.6.4 Alterações geniturinárias...................................................................................17
2.6.5 Alterações gastrointestinais e dermatológicas..................................................19
2.6.6 Alterações neurológicas....................................................................................19
2.6.6.1 Problemas auditivos.......................................................................................21
2.6.6.2 Problemas oculares.......................................................................................22
2.7 Características bucais e faciais da Síndrome de Klippel-Feil..............................22
2.7.1 Fissura palatina.................................................................................................24
2.7.2 Assimetria facial................................................................................................25
2.7.3 Língua bífida......................................................................................................25
2.7.4 Hipoplasia mandibular e apnéia........................................................................25
2.7.5 Úvula bífida.......................................................................................................26
2.7.6 Má oclusão........................................................................................................26
2.8 Sintomas da Síndrome de Klippel-Feil.................................................................26
2.9 Características radiológicas.................................................................................28
2.10 Diagnóstico........................................................................................................30
2.11 Diagnóstico diferencial.......................................................................................31
2.12 Prognóstico e tratamento...................................................................................31
2.13 Cuidados, conduta com pacientes portadores da Síndrome de Klippel-Feil e
implicações odontológicas.........................................................................................33
2.13.1 Riscos de lesão medular e cuidados na intubação para anestesia geral.....33
2.13.2 Conduta odontológica......................................................................................36

3 DISCUSSÃO...........................................................................................................39

4 CONCLUSÃO..........................................................................................................52

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................54
vii
RESUMO

SÍNDROME DE KLIPPEL-FEIL – UMA REVISÃO DE LITERATURA

A síndrome de Klippel-Feil é uma doença rara, complexa e congênita de


anomalias ósseas e viscerais. Consiste na fusão de pelo menos duas das sete
vértebras cervicais e, caracteriza-se pela presença de uma tríade clássica composta
por pescoço curto, implantação baixa da linha do cabelo e limitação dos movimentos
da cabeça e pescoço. É associada com vários defeitos auditivos, problemas
neurológicos, alterações cardiovasculares, renais e defeitos ósseos como escoliose
e deformidade de Sprengel. Ocorre em 1 a cada 42.000 nascimentos, sendo que
60% dos casos são em mulheres. Pode ser classificada em quatro tipos de acordo
com o grau de envolvimento vertebral. A etiologia desta síndrome é desconhecida,
porém há uma associação de fatores ambientais e genéticos, que entre a 3ª e 8ª
semana de gestação produzem um defeito no desenvolvimento embrionário e, como
conseqüência, os corpos vertebrais da coluna cervical não se separam
permanecendo fusionados. Esta síndrome pode ter várias implicações faciais e
bucais como assimetria facial, presença de fissura palatina, terço inferior da face
pequeno, úvula bífida, má-oclusão e ausência congênita de alguns dentes, portanto,
o cirurgião-dentista deve estar ciente da importância de se conhecer as
características e limitações desta síndrome, para dar o melhor cuidado e
atendimento possível ao paciente. O objetivo deste trabalho é, através de uma
revisão de literatura, identificar as principais características físicas, neurológicas,
problemas sistêmicos associados, características radiográficas e alterações bucais e
faciais dos portadores desta síndrome, enfatizando os riscos e implicações no
tratamento odontológico.

Palavras-chave: síndrome de Klippel-Feil, anomalias cervicais.

viii
ABSTRACT

KLIPPEL-FEIL SYNDROME – A LITERATURE REVIEW

The Klippel-Feil Syndrome is a rare, complex and congenital syndrome of


bone and visceral anomalies. It consists of the fusion of at least two of the seven
cervical vertebrae and is characterized by the presence of a classical triad of short
neck, a low posterior hair line and limitation of head and neck movements. It is
associated with several hearing defects, neurological disorders, congenital heart
defects, renal and bone defects such as scoliosis and Sprengel deformity. Klippel-
Feil Syndrome occurs in 1 out of every 42.000 births, and 60% of cases are in
females. It can be classified into four types according to the degree of vertebral
involvement. The etiology of this syndrome is unknown, but there is an association of
environmental and genetic factors, that between the third and eight weeks of
pregnancy produce a defect in embryonic development and consequently the
vertebrae bodies of cervical spine are not separate remaining fused. This syndrome
can exhibit many facial and oral implications such as facial asymmetry, presence of
cleft palate, smaller lower face, bifid uvula, malocclusion and congenital absence of
some teeth, so the dentist should be aware of the importance of knowing the
characteristics and limitation of this syndrome, in order to provide the best care and
service to the patient. The aim of this work is identify, by means of a literature review,
the main physical, neurological, systemic associated problems, radiographic features
and facial and oral abnormalities of people affected by this syndrome, emphasizing
the risks and implication for dental treatment.

Key words: Klippel-Feil Syndrome/ cervical vertebrae abnormalities.

ix
1

1 INTRODUÇÃO

A síndrome de Klippel-Feil (SKF) ou Sinostose congênita cervical foi


primeiramente descrita por Maurice Klippel e Andre Feil, em 1912, em um paciente
com fusão congênita das vértebras cervicais. É uma doença rara, congênita, do
grupo das chamadas malformações da articulação crânio-cervical (união entra a
parte superior da coluna e o crânio) e consiste na fusão de pelo menos duas das
sete vértebras cervicais e, caracteriza-se pela presença de uma tríade clássica que
ocorre entre 40 a 50% dos pacientes, e é composta por pescoço curto, implantação
baixa da linha do cabelo e limitação dos movimentos da cabeça e pescoço. Pode ser
acompanhada por uma série de outras alterações como escoliose (em 60% dos
pacientes), malformações cardiovasculares (4 a 14% de ocorrência, sendo a mais
comum o defeito do septo interventricular), alterações renais (34% apresentam
agenesia unilateral de um dos rins), alterações auditivas (surdez em
aproximadamente um terço dos pacientes), palato fissurado (5 a 10% dos casos,
entre outras. A incidência desta síndrome é de 1 em cada 42.000 casos, sendo que
as mulheres são mais afetadas do que os homens, cerca de 60% no sexo feminino.
Pode ser classificada em quatro tipos de acordo com o grau de envolvimento
vertebral. A etiologia desta síndrome é desconhecida, porém há uma associação de
fatores ambientais e genéticos, que entre a 3ª e 8ª semana de gestação produzem
um defeito no desenvolvimento embrionário e, como conseqüência, os corpos
vertebrais da coluna cervical não se separam permanecendo fusionados.
O cirurgião-dentista deve estar ciente da importância de se conhecer as
características e limitações desta síndrome, uma vez que ela pode ter várias
implicações faciais e bucais como assimetria facial, presença de fissura palatina,
terço inferior da face pequeno, úvula bífida, má-oclusão e ausência congênita de
alguns dentes. Estes profissionais podem desempenhar papel fundamental na saúde
geral destes pacientes, melhorando a harmonia facial, as funções respiratória e
mastigatória, além de colaborar com o aumento da auto-estima dos portadores desta
síndrome. O desafio para o cirurgião-dentista é reconhecer as anomalias que podem
ocorrer associadas à Síndrome de Klippel-Feil para dar o melhor cuidado e
atendimento possível ao paciente.
2

Portanto, o objetivo deste trabalho é, através de uma revisão de literatura,


identificar as principais características físicas, neurológicas, problemas sistêmicos
associados, características radiográficas e alterações bucais e faciais dos portadores
desta síndrome, enfatizando os riscos e implicações no tratamento odontológico,
visto que quando presentes, estas alterações repercutem diretamente em nosso
campo de atividade.
3

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 DEFINIÇÃO

A Síndrome de Klippel-Feil, também denominada de Sinostose congênito-


cervical ou Fusão das vértebras cervicais, é uma enfermidade rara, congênita, do
grupo das malformações crânio-cervicais (união entre a parte superior da coluna e
do crânio), que inclui uma série de anormalidades cuja principal característica é a
fusão congênita de duas ou mais vértebras cervicais, podendo apresentar similar
fusão envolvendo as vértebras torácicas e/ou lombares. Em alguns casos mais
severos pode haver união de todas as vértebras da coluna cervical. Como
conseqüência dessa fusão, esta síndrome está associada a uma clássica tríade
composta por pescoço curto e largo, baixa implantação da linha posterior do cabelo
e limitação dos movimentos do pescoço e cabeça (LAGRAVÈRE et al., 2004; SILVA,
1992).
Segundo Botero e Tello (2005) esta síndrome pode estar acompanhada de
uma série de outras anomalias como: escoliose, torcicolo, deformidade de Sprengel
(escápula elevada), malformações cardiovasculares, renais, auditivas e palato
fissurado.
Para os autores Lima et al. (2009), Lagravère et al. (2004) e Azambuja,
Azambuja e Zanatta (2003), os pacientes com Síndrome de Klippel-Feil
ocasionalmente podem também apresentar sinais de ptose palpebral, paralisia do
nervo facial, problemas neurológicos e intelectuais, espinha bífida, assimetria facial,
sincinesia, defeitos nas costelas, estrabismo e dificuldades em respirar e deglutir.
Ainda, de acordo com Ramsey e Bliznak (1971), outros sintomas associados
podem envolver os sistemas músculo-esquelético, geniturinário, gastrointestinal,
cardiovascular e dermatológico.

2.2 HISTÓRICO

McGaughran, Kuna e Das (1998) relatam em seu trabalho que a Síndrome


de Klippel-Feil foi descrita pela primeira vez, em 1912, por Maurice Klippel e Andre
Feil ao mencionarem o caso de um homem, alfaiate, de 46 anos com vértebras
4

cervicais fusionadas. Ele tinha a clássica tríade já descrita, caracterizada por


pescoço curto, implantação baixa da linha posterior do cabelo e redução nos
movimentos do pescoço devido à completa fusão das vértebras cervicais. Além da
tríade, o homem apresentava também fissura palatina (FIGUEROA; OROZCO;
ROSAS, 2005).
Outra observação interessante é o retrato de um ancião feito pelo pintor
inglês William Blake (1757-1827), que parece ser inspirado na aparência de uma
pessoa afetada por esta síndrome (SILVA, 1992; SILVA, 1982).
Um caso provável desta síndrome foi descrito em uma múmia egípcia no
ano de 500 a.c. No ano de 1922, o arqueólogo Howard Carter descobriu a tumba
intacta de um faraó que governou o Egito há mais de 3.000 anos e que morreu
misteriosamente jovem: Tutankhamon. O mundo todo ficou sabendo dos riquíssimos
e intocados achados e familiarizou-se principalmente com sua máscara mortuária,
toda em ouro e de inestimável beleza. Com 10 anos de idade casou-se com
Eneckhes-en-pa-Aton, a filha mais nova do faraó Ikhnaton (Amenophis IV) e
Nefertiti. Era um adolescente quando assumiu o trono, vivendo sempre sob a tutela
de sacerdotes de Tebas, partidários da antiga religião que tinha sido banida por
Ikhnaton. Embora tenha começado seu reinado em El Amarna, mudou-se logo para
Tebas e reinstalou a antiga capital do império egípcio. Nessa oportunidade alterou
significativamente seu nome para Tutankhamon, em homenagem ao Deus Amon.
Depois de pouco tempo de reinado, faleceu com apenas 18 anos de idade. Foi
enterrado no Vale dos Reis, em um túmulo magnífico, nunca violado. O nome desse
faraó esquecido em seu próprio tempo e enterrado com imensa pompa e num
túmulo repleto de tesouros, certamente por mera gratidão dos sacerdotes do Deus
Amon, volta às notícias com muita força nos dias atuais, não apenas porque foi feita
uma reconstrução de seu rosto, com a utilização de alta tecnologia, mas também
porque há indícios de que tenha sofrido de um mal raro: a Síndrome de Klippel-Feil.
Um dos maiores especialistas em reconstrução facial, Robin Richards, do
London College, utilizou informações das chapas de raios X da múmia do faraó,
datadas de 1968 e levou em consideração dados de sexo, idade e de etnia. Com o
auxilio de técnicos neozelandeses, que acrescentaram cor aos olhos, à pele e às
sobrancelhas, o modelador facial britânico Alex Fort fez um modelo em fibra, que
está no Museu das Ciências de Londres e que foi amplamente reproduzido nos
primeiros dias de outubro de 2002. No entanto, não é o rosto, totalmente diferente
5

daquele até hoje conhecido o que mais impressiona. O que realmente chama a
atenção na radiografia dos ossos do pescoço do faraó Tutankhamon, é que eles têm
uma característica muito próxima daquela identificada hoje como Síndrome de
Klippel-Feil, ou seja, os ossos são fusionados. Esse mal pode causar problemas
sérios de deficiências, levando a anomalias musculares, dificuldades neurológicas e
outras. Apenas a título de ilustração, segundo o Dr. Todd Grey, que examinou as
chapas de Raios X, Tutankhamon deveria ficar instável em pé e pode ter andado
com uma bengala ou alguém ajudando. Grey afirma também que apenas uma queda
pode ser fatal para os portadores da Síndrome de Klippel-Feil (SÍNDROME DE
KLIPPEL-FEIL. Disponível em: http://www.crfaster.com.br/kpf.htm. Acesso em:
03/01/2011).

2.3 INCIDÊNCIA

Segundo Boraz, Irwin e Blarcom (1986) a Síndrome de Klippel-Feil acomete


1 em cada 42.000 nascimentos e é mais comum nas mulheres do que nos homens.
Em cerca de 60% dos casos, a fusão das vértebras cervicais ocorre no sexo
feminino.

2.4 ETIOLOGIA

Llopis (2010) afirma que a etiologia desta Síndrome é desconhecida, porém


há associação de fatores ambientais e genéticos, que provocam um defeito no
desenvolvimento embrionário entre a terceira e oitava semanas de gestação,
resultando na falta de segmentação dos somitos mesodérmicos e como
conseqüência, os corpos vertebrais da coluna cervical não se separam e
permanecem fusionados. Apresenta uma grande heterogeneidade genética,
havendo-se descritos casos com herança autossômica dominante e outros com
herança autossômica recessiva, assim como casos esporádicos devido a mutações.
Senosian et al. (2001) dizem que a etiologia desta síndrome é pouco clara e
muito heterogênea. São associados alguns fatores ambientais, mas também são
relatados casos de herança autossômica dominante e autossômica recessiva.
Azambuja, Azambuja e Zanatta (2003) citam que sua base genética não está
bem estabelecida. A maior parte dos casos é esporádica, entretanto há alguns casos
familiares em que ocorre transmissão de pai para filho e outros em que ocorrem
6

irmãos afetados com pais não afetados. Estes autores sugerem que a anomalia se
deve a uma segmentação defeituosa dos somitos mesodérmicos entre a terceira e a
sétima semana de vida intra-uterina. Não existe evidência de anomalia
cromossômica.
Para Boraz, Irwin e Blarcom (1986), a Síndrome de Klippel-Feil pode ser
causada por uma falha na segmentação dos somitos mesodérmicos entre a terceira
e sétima semanas de gestação. Algumas pesquisas sugerem que esta síndrome
pode ser parte de um sério problema de desenvolvimento do tubo neural. Os
defeitos neurológicos podem ser paraplegia, hemiplegia e paralisia do nervo cervical.
Quase todos os casos desta síndrome ocorrem esporadicamente. A síndrome pode
ser autossômica dominante com expressão variável e autossômica recessiva, mas
nenhuma foi comprovada. Raramente ocorre em irmãos, mas a avaliação genética
dos membros mais próximos da família é indicada.
De acordo com Ramsey e Bliznak (1971) a etiologia da Síndrome de Klippel-
Feil é desconhecida e é provável que seja uma falha de segmentação determinada
geneticamente.
Para Silva (1982), a Síndrome de Klippel-Feil provavelmente representa uma
heterogeneidade genética, com pelo menos duas formas de herança: uma
autossômica dominante e outra autossômica recessiva.
Mahirogullari et al. (2006) comentam que a fusão cervical congênita ocorre
como resultado de uma falha na segmentação normal dos somitos mesodérmicos
cervicais. A causa dessa falha é desconhecida e ocorre entre a segunda e oitava
semanas de gestação.
Lagravère et al. (2004) dizem que a Síndrome de Klippel-Feil é listada como
sendo uma herança autossômica dominante esporádica, com penetrância reduzida e
expressão variável.
Lima et al. (2009) relatam que o defeito vertebral ocorre entre a quinta e
oitava semanas de gestação. A etiologia precisa é desconhecida. O determinante
genético pode ser recessivo ou dominante com penetrância variável.
Botero e Tello (2005) ressaltam que se desconhece a etiologia desta
Síndrome, mas têm sido associados fatores ambientais e genéticos que, entre a
terceira e oitava semanas de gestação produzem um defeito no desenvolvimento
embrionário, o qual provoca a falta de segmentação dos somitos mesodérmicos e,
7

como conseqüência, os corpos vertebrais da coluna cervical não se separam


permanecendo fusionados.
Segundo Figueroa, Orozco e Rosas (2005), a etiopatogenia desta síndrome
corresponde a uma alteração genética. É uma doença de herança autossômica
dominante com penetrância reduzida e expressão variável. A análise cromossômica
revela um cariótipo normal. Alguns casos são dominantes ligados ao cromossomo X.
O estudo de famílias sugere uma transmissão autossômica recessiva e um grande
número de casos são esporádicos. Há uma mutação genética específica e fatores
ambientais associados, aonde se identificou um locus genético. Isso explica a
heterogeneidade da síndrome. O problema se deve a uma alteração na migração do
tecido mesodérmico no momento da formação dos dicos cervicais e no
desenvolvimento de outros órgãos e sistemas, no mesmo tempo embriogênico, entre
a terceira e quarta semana de desenvolvimento embrionário. A segunda hipótese
considera uma alteração inicial do tubo neural primitivo, o qual explica a frequente
associação de sintomas neurológicos. Também se há descrito uma teoria de
obstrução vascular, na qual há uma interrupção a nível da artéria subclávia, que
explica a patogênese da Síndome de Klippel-Feil.
Bavinck e Weaver (1986) apud Silva (1992) propuseram uma hipótese
vascular para explicar a patogênese da Síndrome de Klippel-Feil: uma interrupção
do suprimento sangüíneo nas artérias subclávias, vertebrais e/ou seus ramos, por
volta da sexta semana do desenvolvimento embrionário, causaria estas anomalias.
Domínguez e Nájera (2006) citam que alguns fatores ambientais, alguns
fármacos como salicilatos, radiações, situações de hipóxia e agentes abortivos
provavelmente estejam envolvidos no aparecimento da Síndrome de Klippel-Feil. Em
relação à patogenia da síndrome, sabe-se que a fusão cervical congênita é resultado
de uma falha na segmentação dos somitos mesodérmicos durante a terceira e oitava
semanas de gestação. O defeito não se limita unicamente à espinha dorsal, sendo
que todo organismo em desenvolvimento é influenciado por este transtorno
intrauterino. Assim, parece haver uma explicação do porque existirem anomalias
geniturinárias em 2% dos casos afetados por esta síndrome.
Yildirim et al. (2008) consideram a síndrome de caráter multifatorial devido à
falta de um fenótipo específico e à imensa variabilidade de suas manifestações, o
que torna difícil determinar uma base hereditária. No entanto, relatos de famílias
com mais de um caso de Síndrome de Klippel-Feil e a identificação de um locus
8

para a síndrome no cromossomo 8, dissipam as dúvidas sobre a sua transmissão


genética.
Helmi e Pruzansky (1980) reconheceram a heterogeneidade para todos os
três tipos de fusão. A etiologia parece ser monogênica quando irmãos são afetados
ou quando há membros da família similarmente afetados em sucessivas gerações.
Gunderson et al. (1967) apud Helmi e Pruzansky (1980) estudaram 11
portadores da Síndrome de Klippel-Feil e 121 familiares utilizando a classificação de
fusão cervical de Feil. A partir de seus estudos, três anormalidades genéticas
específicas surgiram: A- fusão familial das vértebras C2-C3 transmitida como uma
doença autossômica dominante. B- fusão de C5-C6 é provavelmente uma desordem
herdada de maneira autossômica recessiva. C- variáveis fusões cervicais
manifestam-se como um traço de herança dominante com uma variação
considerável na penetrância e expressividade, que podem incluir a cifoescoliose. Os
autores concluiram que os efeitos genéticos podem estar envolvidos na
diferenciação vertebral. E, ainda, sugeriram uma herança autossômica recessiva
para as fusões vertebrais de tipo I e III.
De acordo com Lagravère et al. (2004), foi até mesmo especulado que a
Síndrome de Klippel-Feil possa ser proveniente da síndrome do alcoolismo fetal. O
consumo de um a três drinques por dia, durante os primeiros dois meses de
gravidez, pode resultar em dano significativo ao bebê em desenvolvimento. O
consumo de álcool causa múltiplos problemas, incluindo anomalias neurológicas,
defeitos cardíacos, retardo no crescimento e deficiências cognitivas. Os achados
físicos incluem microcefalia, ptose bilateral, face média curta e deprimida e ponte
nasal achatada. Podem ser vistos também fissura de palato e mandíbula
micrognata. A maior parte dos problemas dentários associados às crianças com
Síndrome do Alcoolismo Fetal estão associadas à alta incidência de maloclusões
dentárias e esqueléticas.

2.5 CLASSIFICAÇÃO

Segundo Llopis (2010), os pacientes com a Síndrome de Klippel-Feil podem


ser classificados em três tipos de acordo com o local da fusão vertebral.
9

Tipo I: Fusão em massa de várias vértebras cervicais e torácicas superiores em


blocos ósseos.
Tipo II: Fusão de apenas um ou dois pares de vértebras cervicais.
Tipo III: É uma combinação de fusão das vértebras cervicais com fusão de vértebras
torácicas inferiores e/ou lombares.
Silva (1992) sugeriu que a classificação fosse ampliada, objetivando incluir os
casos com padrões mais extensos de fusão vertebral. Foi proposto o acréscimo de
um IV tipo de fusão da anomalia de Klippel-Feil para agrupar os casos com fusões
nos diversos níveis (cervical, torácico superior, torácico inferior e/ou lombar).
Qualquer uma das vértebras pode estar envolvida, entretanto a fusão de
vértebras tipo II é a mais comum, sendo mais frequente a fusão das vértebras C2-
C3, seguida pela fusão entre C5-C6. (LAGRAVÈRE et al., 2004; RAMSEY,
BLIZNAK; 1971).
Segundo Mahirogullari et al. (2006) e Domínguez e Nájera (2006), as fusões
tipo I e III são de herança autossômica recessiva, enquanto que o padrão de fusão
tipo II para as vértebras C2-C3 tem caráter autossômico dominante e o tipo II para
as vértebras C5-C6 tem caráter recessivo. Além disso, os citam que no tipo II
observam-se mais associações de anomalias esqueléticas.

O conhecimento das características físicas e neurológicas, dos problemas


sistêmicos associados, assim como dos problemas bucais do paciente com a
Síndrome de Klippel-Feil são de grande relevância para o cirurgião-dentista
compreender estes pacientes, já que estas características trazem conseqüências
para o tratamento odontológico. A partir do momento que se tem conhecimento
desses aspectos, será possível o profisisonal evitar a ocorrência de acidentes
durante a execução do procedimento clínico, podendo exercer um trabalho correto e
com segurança.
Como o portador desta Síndrome apresenta diversas anomalias, estas serão
divididas em tópicos para facilitar a compreensão.
10

2.6 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS, NEUROLÓGICAS E PROBLEMAS


SISTÊMICOS ASSOCIADOS

Segundo Botero e Tello (2005), a apresentação clínica depende do grau de


manifestação da síndrome e das anomalias associadas. A cabeça parece descansar
diretamente sobre o tórax, sem a interposição do pescoço. A tríade clássica
(pescoço curto, inserção baixa da parte posterior do cabelo e limitação dos
movimentos da coluna cervical) ocorre entre 40 a 50% dos pacientes.
De acordo com Samartzis et al. (2006), apesar de a marca registrada da
Síndrome de Klippel-Feil ser a tríade clássica de baixa implantação da linha
posterior do cabelo, pescoço curto e limitação dos movimentos de cabeça e
pescoço, esta não está presente em todos os pacientes, sendo sua apresentação
em 34 a 74% dos afetados pela síndrome. Somando-se a isso, várias anomalias
neurológicas e viscerais estão associadas a esta doença.
Mahirogullari et al. (2006) afirmam que a clássica tríade da Síndrome de
Klippel-Feil é implantação baixa da linha posterior do cabelo, pescoço curto e
restrição dos movimentos do pescoço, e está presente em 40 a 50% dos portadores
da síndrome, sendo que, a manifestação mais comum é a limitação dos movimentos
do pescoço aparecendo em 50 a 76% dos pacientes. Em pessoas com moderado
envolvimento pela Síndrome de Klippel-Feil, esta clássica tríade pode não ser vista.
Alterações ósseas como escoliose estão presentes em 60%, Deformidade de
Sprengel (30%), torcicolo e alterações do sistema urinário (35%), perda da audição
(30%), assimetria facial (20%), sincinesia ou movimentos em espelho (20%),
problemas cardiovasculares congênitos (4,2 a 14%).
Uma ampla variedade de anomalias tem sido descrita em associação com a
Síndrome de Klippel-Feil, incluindo deformidade de Sprengel (escápula elevada),
escoliose, cifose, malformações geniturinárias, surdez e anomalias costais, oculares,
palatais e cardíacas (SILVA, 1992).
A clássica tríade já citada anteriormente é mais vista na Síndrome de
Klippel-Feil tipo I do que na do tipo II (RAMSEY; BLIZNAK, 1971).
Para Sullivan (2009), a manifestação clínica é variada devido as várias
associações com outras síndromes e com várias anomalias existentes. Uma boa
anamnese e um bom exame físico podem revelar a presença de anomalias
associadas. A Síndrome de Klippel-Feil é detectada ao longo da vida, e às vezes,
11

pode ser descoberta acidentalmente. Pacientes com envolvimento da coluna cervical


superior tendem a apresentar manifestações clínicas mais cedo do que os
portadores da síndrome que tenham um envolvimento menor da coluna. A clássica
tríade ocorre em 40 a 50% dos pacientes, sendo a limitação dos movimentos de
cabeça e pescoço a manifestação mais comum. A perda da rotação é mais
pronunciada do que a limitação nos movimentos de flexão e extensão do pescoço.
Segundo Llopis (2010), a cabeça dos pacientes portadores da Síndrome de
Klippel-Feil parece estar assentada diretamente sobre o tórax. A presença de
alterações sistêmicas e esqueléticas é frequente, associando-se com: escoliose
(curvatura oblíqua anormal da coluna dorsal) em 60% dos casos, anomalias renais
em 35%, deformidade de Sprengel (fusão da clavícula com as vértebras cervicais)
em 30%, hipoacusia (diminuição da capacidade auditiva) em 30%, sincinesia
(contrações coordenadas e involuntárias que aparecem em um grupo de músculos
quando se realizam movimentos voluntários em outro grupo muscular) em 20% e
anomalias cardíacas em 15% dos pacientes.

2.6.1 Alterações músculo esqueléticas

Dentre as alterações músculo-esqueléticas se encontram transtornos


degenerativos e protrusão dos discos vertebrais, siringomielia, cifose ou escoliose,
torcicolo por contratura muscular, deformidade de Sprengel, sindactilia, dedos
supranumerários, espasticidade, hiperreflexia, parestesias e cefaléia, além de
sincinesia. Pode existir subluxação, degeneração vertebral ou diminuição do espaço
intervertebral, que ocorre de forma espontânea (FIGUEROA; OROZCO; ROSAS,
2005).
De acordo com Ramsey e Bliznak (1971), as anomalias que envolvem o
sistema músculo-esquelético são: limitação do movimento do pescoço, espinha
bífida, deformidade de Sprengel, defeitos no osso occipital, problemas na coluna
(fusão ou deformidades), escoliose, lordose, torcicolo, hemivértebras, assimetria
cranial, assimetria torácica, osso omovertebral, forâmen magno alargado e atrofias
musculares.
Azambuja, Azambuja e Zanatta (2003) afirmam que caracteristicamente, nos
pacientes com Síndrome de Klippel-Feil, várias vértebras cervicais estão fusionadas,
formando uma massa sólida. Às vezes, podem estar afetadas algumas das
12

vértebras dorsais superiores. Em cerca de 30% dos casos observados há presença


de escoliose e deformidade de Sprengel. Outras manifestações são espinha bífida
oculta, fusão do osso atlas com o osso occipital, vértebras fendidas e hemivértebras.

2.6.1.1 Escoliose

Aproximadamente 60% dos pacientes apresentam escoliose (curva oblíqua


anormal da coluna dorsal) (LLOPIS, 2010). Em alguns casos é considerada
congênita porque envolve outras partes da coluna vertebral: torácica e lombar.
Outros pacientes desenvolvem a escoliose para compensar outras patologias
cervicais, cérvico-dorsal ou lombar devido a uma diferença de altura das pernas, ou
mesmo devido a patologias podais (BOTERO; TELLO, 2005; SULLIVAN, 2009).
Hensinger, Lang e Macewen (1974) descreveram a evolução do caso de 50
pacientes com a síndrome de Klippel-Feil do Instituto Alfred I duPont e
demonstraram que há uma surpreendente alta incidência de outras anomalias
associadas nos portadores desta síndrome. Alguns destes pacientes foram apenas
em consultas periódicas, enquanto que outros foram tratados e acompanhados.
Muitos casos foram descobertos quando pacientes com deformidades de Sprengel
foram examinados para se detectar outras anomalias cervicais. A idade média
destes pacientes no momento do acompanhamento era de 16,4 anos, sendo que o
mais novo tinha 4 anos e o mais velho 43. As mulheres eram em número de 30, já
os homens eram em 20. A anomalia ortopédica mais freqüente encontrada neste
estudo foi a escoliose. Trinta pacientes, 60% foram encontrados com escoliose
significativa (mais de 15 graus). Doze destes trinta pacientes com escoliose não
realizaram tratamento. Seis destes já atingiram a maturidade e não se espera uma
evolução da escoliose. Um paciente adolescente foi avaliado com a condição de
cifoescoliose grave, sendo que este posteriormente faleceu com 26 anos devido à
insuficiência cardiorrespiratória severa atribuída à escoliose. Dezoito pacientes
precisaram tanto de órtese como de cirurgia para controlar a escoliose. Quatro
tiveram a curvatura da coluna controlada com medidas mais conservadoras
(imobilização de gesso em série). Quatorze necessitaram de estabilização posterior
da coluna devido a uma deformidade aumentada. Um paciente ficou paraplégico
após a cirurgia e morreu cinco anos depois após complicações. O potencial para a
escoliose progressiva nas vértebras aparentemente normais abaixo da curva
13

primária não pode ser excessivamente enfatizado. Se apenas os segmentos


congenitamente envolvidos forem examinados, um aumento compensatório de
escoliose na parte inferior das vértebras pode não ser reconhecido, nem o seu
significado apreciado até que apareçam como resultado algumas deformidades
graves. Da mesma forma, os exames radiográficos devem incluir radiografias laterais
da coluna vertebral. Um aumento da cifose pode fazer com que seja necessário um
tratamento da escoliose mais urgente. A progressão documentada da escoliose, seja
nos elementos congenitamente distorcidos ou na curva de compensação abaixo
deles, exige tratamento imediato e adequado para evitar grave deformidade
adicional. As curvas de muitas crianças podem ser bem controladas com sucesso
através da ortopedia para coluna. Ocasionalmente, as crianças pequenas exigirão
uma cinta modificada ou especialmente feita para elas. A escoliose envolvendo a
coluna torácica não deve ser permitida ter um progresso além de 55 graus (de
preferência menos), uma vez que pode comprometer ainda mais e seriamente a
função pulmonar.

2.6.1.2 Deformidade de Sprengel

A deformidade de Sprengel é uma anomalia associada bem conhecida da


Síndrome de Klippel-Feil. É lógico esperar uma significativa relação entre estas duas
anomalias. Começando na terceira semana de gestação, a escápula desenvolve-se
do tecido mesodérmico no alto do pescoço ao nível da terceira para a quarta
vértebra cervical. Desce na sua posição torácica por volta da oitava semana, ou
aproximadamente no mesmo momento da ocorrência da lesão da Síndrome de
Klippel-Feil (HENSINGER; LANG; MACEWEN, 1974; HELMI; PRUZANSKI, 1980).
A anomalia de Sprengel (escápula elevada) ocorre entre 20 a 30% dos
portadores da Síndrome. Apresenta-se como uma elevação e uma rotação para
medial do ângulo inferior da escápula. Em 30% dos pacientes a escápula está unida
à coluna cervical mediante um osso homovertebral que pode limitar severamente o
movimento escápulo-torácico. Esta condição pode ser uni ou bilateral (BOTERO;
TELLO, 2005).
Ainda, de acordo com estes autores, esta enfermidade tende a ser dolorosa
e em muitos pacientes, o diagnóstico correto só se faz na adolescência,
especialmente a partir da queixa que manifesta o paciente a respeito de torcicolo e
14

sobre a limitação dos movimentos do pescoço. Para o tratamento da dor,


prescrevem-se sessões de fisioterapia.

2.6.1.3 Alterações em dedos e membros

Outros sinais que podem se apresentar na Síndrome de Klippel-Feil são


anomalias das extremidades e dos dedos como sindactilia (a fusão normal é
geralmente restrita aos dedos ou artelhos, normalmente o mesênquima entre os
dedos e os artelhos se desfaz, mas pode não acontecer e o resultado é a fusão de
dois ou mais dedos ou artelhos), polegar hipoplásico, dedos supranumerários ou
polidactilia (outra categoria de anomalias apendiculares é a do aparecimento de
dedos extranumerários). O dedo extra é geralmente desprovido de conexões
musculares adequadas. As anomalias em que o número de ossos está aumentado
são geralmente bilaterais, ao passo que as ausências dando o exemplo de um
polegar são unilaterais ou braços e antebraços hipoplásicos. Os músculos trapézios
adotam um aspecto alado e são volumosos desde sua inserção na região mastóidea
até sua outra inserção no ombro (FIGUEROA; OROZCO; ROSAS, 2005).
Pode ainda ser observada presença de pé eqüino. Esta anormalidade é
geralmente vista associada à sindactilia. A planta do pé é voltada medialmente,
fletida e o pé em adução. Observa-se principalmente em indivíduos do sexo
masculino e, às vezes, hereditária.
Pinça de lagosta: o terceiro metacarpo e as falanges ósseas
correspondentes estão geralmente ausentes e o polegar e o indicador, bem como o
quarto e quinto dedos podem estar fundidos. As duas partes da mão apresentam
certa oposição e agem como pinça (DOENÇAS ORTOPÉDICAS CONGÊNITAS.
Disponível em:
http://www.wgate.com.br/conteudo/medicinaesaude/fisioterapia/doencas_ortopedica
s.htm Acesso em: 03/01/2011).

2.6.1.4 Sincinesia (movimentos em espelho)

Segundo Botero e Tello (2005), Mahirogullari et al. (2006) e Llopis (2010), os


movimentos em espelho das extremidades superiores, também denominados de
15

sincinesia (contrações coordenadas e involuntárias que aparecem num grupo de


músculos quando se realizam movimentos voluntários em outro grupo muscular)
ocorrem em aproximadamente 20% dos casos de Síndrome de Klippel-Feil. Como
exemplo, à medida que o paciente tenta opor o polegar e outro dedo da mão direita,
o mesmo movimento ocorre involuntariamente na mão esquerda (SULLIVAN, 2009).

Segundo Hensinger, Lang e Macewen (1974), este achado clínico peculiar


consiste em movimentos involuntários em pares, principalmente das mãos e
ocasionalmente dos braços. O paciente é incapaz de mover uma mão sem produzir
movimento recíproco e semelhante no lado oposto. Este movimento é chamado de
movimento em espelho. Esta condição pode ocorrer também em pacientes com
paralisia cerebral ou doença de Parkinson. No entanto, a maioria dos pacientes
acometidos por este problema tem a síndrome de Klippel-Feil. A etiologia da
sincinesia é desconhecida, mas parece ser um defeito neurológico congênito
separado e não devido à invasão óssea ou irritação da medula espinhal. Esta
condição é mais associada em crianças mais novas, principalmente menores de
cinco anos. Felizmente, a situação tende a melhorar com a idade, seno que a terapia
ocupacional tem sido muito útil para ajudar o controle dos movimentos por parte dos
pacientes.
Vários mecanismos neurofisiológicos dos movimentos em espelho têm sido
propostos, porém até agora nenhuma anormalidade da via motora central foi
identificada (FARMER; INGRAM; STEPHENS, 1990).

2.6.1.5 Espinha bífida

O fechamento defeituoso do tubo neural leva a uma condição conhecida


como espinha bífida. Oculta da primeira vértebra sacra onde ocorre em cerca de
20% das colunas vertebrais dos pacientes com Síndrome de Klippel-Feil e que
tenham as radiografias de coluna analisadas. Às vezes a malformação é indicada
por uma depressão ou por um tufo de pêlos (DOENÇAS ORTOPÉDICAS
CONGÊNITAS. Disponível em:
http://www.wgate.com.br/conteudo/medicinaesaude/fisioterapia/doencas_ortopedica
s.htm Acesso em: 03/01/2011).
16

2.6.2 Alterações cardiovasculares

A Síndrome de Klippel-Feil associa-se com algumas malformações


congênitas, dentre elas as cardiopatias. Cerca de 4 a 14% dos pacientes com
Síndrome de Klippel-Feil apresentam transtornos cardiovasculares, sendo que o
mais freqüente é o defeito do septo interventricular. São mais comuns no gênero
feminino do que no masculino (BOTERO; TELLO, 2005; FIGUEROA; OROZCO;
ROSAS, 2005).
Outras alterações cardiovasculares que podem ser encontradas são:
estenose pulmonar, dextrocardia, tetralogia de Fallot, conduto arterioso, forâmen
oval persistente, aurícula única, ventrículo único, hipertensão pulmonar, anomalias
das veias pulmonares e arco aórtico direito (DOMINGUÉZ; NAJÉRA, 2006).
Das alterações cardiovasculares a mais freqüente é a comunicação
interventricular (CIV), além de várias outras associações da síndrome com outras
cardiopatias. Os problemas cardiovasculares são mais vistos nos tipo I e IV da
síndrome (FIGUEROA; OROZCO; ROSAS, 2005).
Em 2002, estes autores realizaram um estudo retrospectivo, linear, descritivo
e observacional de 46 crianças com Síndrome de Klippel-Feil atendidas durante os
últimos 22 anos no Instituto nacional de Pediatria da cidade do México, com o
objetivo de analisar as anomalias cardiovasculares associadas a esta Síndrome.
Foram analisados sexo, idade, tipo de herança, características clínicas,
cardiovasculares e evolução. Excluíram-se os casos que não seguiram os critérios
de diagnóstico da Síndrome como fusão das vértebras cervicais, diminuição da
movimentação do pescoço, pescoço curto e implantação baixa da linha posterior do
cabelo. Também foram eliminados os casos de pacientes com diagnósticos
diferenciais como enfermidade facio-aurículo-cervical, Jarcho Levine (displasia
espondilocostal, polidactilia e anomalias retais), síndrome de Nooman, Turner e
displasias costovertebrais. O diagnóstico clínico foi realizado por um ortopedista
juntamente com um cardiologista. Os pacientes com cardiopatias foram
diagnosticados mediante estudos ecocardiográficos. Dos 46 pacientes, 24 eram do
sexo feminino e 22 do masculino. As idades oscilaram entre um mês de vida e 14
anos. Dos 46 pacientes, 19 foram avaliados pelo serviço de cardiologia, sendo que
sete apresentaram malformações cardiovasculares. As cardiopatias detectadas
foram: comunicação interatrial (CIA), estenose pulmonar (EP), comunicação
17

interventricular (CIV) e dextrocardia. Um paciente também se apresentou com


hipertensão arterial primária. Como descrito acima, a incidência na literatura de
cardiopatias associadas à Síndrome de Klippel-Feil é de 4 a 14%. Neste estudo a
proporção foi de 0,15, o que está dentro de um intervalo maior que o esperado.
Considera-se que poderia ser maior se os médicos clínicos gerais, pediatras e
cardiologistas olhassem com maior critério para a área cardiovascular destes
pacientes. Geralmente as cardiopatias associadas à Síndrome de Klippel-Feil são
benignas, isto quer dizer que estes pacientes podem sobreviver por diversos anos
em aceitáveis condições físicas. As cardiopatias congênitas neste estudo
corresponderam à terceira malformação em freqüência desta síndrome, logo atrás
das malformações músculo-esqueléticas e renais. Como conclusão pode-se citar a
alta freqüência de alterações cardiovasculares. Uma vez que são alterações muito
freqüentes, deve-se salientar que todos estes pacientes devem ser vistos por vários
especialistas, incluindo cardiologistas, independentemente de manifestações ou não
de cardiopatias, realizando-se um exame de ecocardiograma para o correto
diagnóstico e tratamento.
Segundo Teoh e Williams (2007), anomalias cardiovasculares congênitas
têm uma prevalência de 4,2 a 14%. As lesões mais comuns são defeito no septo
ventricular, problemas no canal arterial, prolapso da válvula mitral e coarctação da
aorta. Um ecocardiograma deve ser considerado antes das cirurgias para alguns
pacientes.

2.6.3 Alterações na laringe

Com alguma freqüência estes pacientes apresentam também malformações


da cartilagem laríngea, suspeitas devido a alterações na fonação e na fala
(BOTERO; TELLO, 2005).

2.6.4 Alterações geniturinárias

A incidência de anomalias renais é grande, cerca de 35%, muito mais


elevada nos pacientes com Síndrome de Klippel-Feil do que na população em geral
e podem ser bastante severas (SULLIVAN, 2009; LLOPIS, 2010). Estas anomalias
18

associam-se aos três tipos desta síndrome, sendo em 62% no tipo I, 71% no tipo III
e muito menor no tipo II (BOTERO; TELLO, 2005).
A anomalia geniturinária mais comum é a agenesia renal unilateral
(VAIDYANATHAN et al.; 2002). Outras anomalias urinárias encontradas são: além
de agenesia renal, rim em ferradura, litíase renal contralateral, útero bicorne,
malrotação renal (segundo em freqüência), ectopia renal e as genitais: criptocardia,
ausência de vagina e ovários (FIGUEROA; OROZCO; ROSAS, 2005; DOMÍNGUEZ;
NAJÉRA, 2006).
Segundo Teoh e Williams (2007), anomalias geniturinárias estão presentes
em 64% dos pacientes. Dentre as alterações que podem ser encontradas estão:
hidronefrose, ausência de rim e rins ectópicos. Quando os pacientes com a
síndrome tiverem tetraplegia ou outras lesões medulares, há maiores chances de
desenvolvimento de cálculos do trato urinário. Estima-se que dentro de 10 anos
depois do ferimento, 7% das pessoas com lesão medular desenvolverá a sua
primeira pedra no rim. O tratamento desses cálculos renais pode apresentar um
desafio em virtude das anomalias renais associadas. Os profissionais da área da
saúde destinados a cuidar de pacientes com síndrome de Klippel-Feil associados à
lesão medular e anomalias renais, devem enfatizar a prevenção de pedras nos rins.
A grande ingestão de líquidos é recomendada para estes pacientes. É ainda a mais
poderosa e com certeza o meio mais econômico de prevenção da nefrolitíase.
Apesar de que cálculos renais são uma causa rara de insuficiência renal, infecções
relacionadas, associadas anomalias anatômicas e funcionais do trato urinário e da
medula espinhal, e ainda ferimento da medula apresentam grande risco para
insuficiência renal. Portanto a prevenção de infecção urinária e evasão de cateteres
urinários são de extrema importância nos pacientes com síndrome de Klippel-Feil e
tetraplegia.
Hensinger, Lang e Macewen (1974) trataram uma criança de cinco anos com
deformidade de Sprengel e síndrome de Klippel-Feil leve. Durante avaliação pré-
operatória, a urografia excretora revelou ausência de um rim e hipoplasia do rim
remanescente. Neste, houve o desenvolvimento de insuficiência renal subseqüente
e o transplante renal foi necessário quando a criança tinha quatorze anos. Num
estudo realizado por estes autores, de cinqüenta pacientes com a síndrome,
quarenta e cinco fizeram urografia excretora e dezesseis tiveram uma anomalia
renal. Embora este estudo se baseie numa amostra pequena, os resultados
19

sugerem que as crianças com esta síndrome estão em maior risco de ter uma
anomalia renal (35%), do que para o desenvolvimento de escoliose congênita
isolada (20%). A urografia excretora deve ser parte integrante da avaliação tanto
para a síndrome de Klippel-Feil como para escoliose congênita. É interessante notar
que o paciente descrito por Klippel e Feil em 1912 morreu devido a uma doença
renal e uremia, e não devido a problemas relacionados a anomalias cervicais.
Para pacientes com a Síndrome de Klippel-Feil a ultrasonografia serve como
teste inicial para determinar se ambos os rins estão em bom funcionamento
(SULLIVAN, 2009).

2.6.5 Anomalias gastrointestinais e dermatológicas

Em relação aos distúrbios gastrointestinais pode haver presença de


duplicações, megacolon congênito e cistos neuroentéricos. Alterações no sistema
dermatológico são representadas por múltiplos carcinomas de nevos de células
basais e distúrbio de Von Recklinghausen (RAMSEY; BLIZNAK, 1971).

2.6.6 Alterações neurológicas

Na síndrome de Klippel-Feil têm sido observados diversos transtornos


neurológicos, a saber: espasticidade ou hiperreflexia, movimentos das extremidades
superiores em espelho ou sincinesia presente em aproximadamente 20% dos casos,
siringomielia, hemiplegia, paraplegia ou quadriplegia (BOTERO; TELLO, 2005).
Pode associar-se a malformações do sistema nervoso central como
encefalocele, meningocele, hidrocefalia, malformação de Arnold-Chiari, microcefalia
e alterações da fossa posterior. Existem alterações neurosensoriais como surdez e
oculares: coloboma, microftalmia e ptose palpebral (FIGUEROA; OROZCO; ROSAS,
2005).
Alguns sintomas na coluna vertebral podem aparecer se uma
hipermobilidade ocorrer nas vértebras que não apresentam fusão. Seqüelas
neurológicas podem estar presentes. Se uma instabilidade progressiva e persistente
ocorrer, espasticidade, fraqueza, hiperreflexia, quadriplegia e súbita morte por
20

trauma podem ser vistos quando a medula espinhal é afetada (MAHIROGULLARI et


al., 2006).
Outros achados neurológicos que podem ser encontrados em portadores da
Síndrome de Klippel-Feil são: hidrocefalia, surdez congênita, sincinesia (movimentos
em espelho), retardo mental, estrabismo, quadriplegia, ataxia hereditária,
siringomielia, parestesias, distúrbios óculo-motores, distúrbios psíquicos e radiculites
cervicais (RAMSEY; BLIZNAK, 1971).
Problemas neurológicos podem se desenvolver em 20% das crianças.
Rouvreau encontrou 5 pacientes com Síndrome de Klippel-Feil de 19 analisados
com envolvimento neurológico, sendo que destes 5 pacientes, 2 tiveram problemas
neurológicos decorrentes de hipermobilidade vertebral em algum nível.
Anormalidades occiptocervicais foram a causa mais comum dos problemas
neurológicos (ROUVREAU, 1998 apud SULLIVAN, 2009).
A síndrome de Klippel-Feil pode estar associada a um grande número de
transtornos neurológicos, como espasticidade ou hiperreflexia, sincinesia bimanual
ou movimentos em espelho, siringomielia ou siringobulbia, hemiplegia, paraplegia,
triplegia ou quadriplegia. Pode ocorrer ocasionalmente retardo mental (AZAMBUJA;
AZAMBUJA; ZANATTA, 2003).
Como resultado de alterações ósseas que geralmente estão ligadas com as
mudanças na base do crânio podem surgir sintomas neurológicos como paralisia
das extremidades, parestesia, insensibilidade superficial e profunda e radiculopatia
(STADNICKI; RASSUMOWSKI, 1972).

A idade em que os sintomas neurológicos aparecem depende do nível de


fusão. As fusões na primeira e segunda vértebras cervicais tendem a produzir
sintomas na primeira década de vida, enquanto fusões nas segunda e terceira
vértebras estão associadas com sintomas neurológicos na terceira década de vida.
A maioria dos sintomas, independentemente da localização da lesão, aparecem
antes dos 30 anos (GRAY et al., 1964 apud HELMI; PRUZANSKY, 1980).
Os distúrbios neurológicos podem ser secundários a uma má formação
cervical, ou associados a malformações concomitantes do sistema nervoso central.
As mais freqüentes são espinha bífida e meningocele, causadas pelo fechamento
incompleto da placa neural. Alguns sintomas neurológicos que se têm observado
são: sincinesia bimanual ou movimentos em espelho (cada movimento de uma mão
21

é copiado pela outra e isto pode interferir em algumas funções), hiperestesia por
pinçamento de nervos e paralisia de nervos craniais. Como complicações tardias
configuram: siringobilbia, siringomielia, paralisia espástica, ataxia, hemiplegia e
quadriplegia (DOMÍNGUEZ; NAJÉRA, 2006).

2.6.6.1 Problemas audititivos

Apesar do caso original desta Síndrome descrito por Klippel e Feil em 1912
não ter sido relatado com alterações na audição, estudos na seqüência têm
mostrado a significativa associação entre os três tipos de Síndrome de Klippel-Feil e
a presença de surdez e outras alterações auditivas.
Segundo McGaughran, Kuna e Das (1998), Yldirim et al. (2008) e Oeken et al.
(1996), a surdez é o segundo defeito em importância associado à Síndrome e está
presente em aproximadamente 30%, (um terço dos pacientes com Síndrome de
Klippel-Feil) devido a deficiências no desenvolvimento do ouvido interno. Pode haver
também alterações do ouvido externo e ouvido médio. Estas anormalidades
auditivas podem ser uni ou bilaterais.
A perda auditiva pode ser do tipo neurossensorial, condutiva ou mista
(SULLIVAN, 2009) e sua detecção precoce é importante, permitindo o início da fala
e da linguagem numa idade mais precoce do que normalmente seria se houvesse
um atraso (HENSINGER, LANG, MACEWEN, 1974).
Estes autores encontraram 36% dos pacientes estudados com perda
audititiva. Uma revisão de Helmi e Pruzanski (1980) sugeriu que 24% dos pacientes
com Síndrome de Klippel-Feil são portadores de alterações audititivas.
McGaughran, Kuna e Das (1998) realizaram uma avaliação auditiva em 44
pacientes com a síndrome de Klippel-Feil, com o objetivo de relacionar a
característica de surdez e outros problemas auditivos com esta síndrome. Para a
realização dos testes foram selecionados pacientes que viviam em determinadas
regiões do Reino Unido, sendo que se disponibilizou aos mesmos a realização dos
testes no Centro de Audição de Timperley ou a possibilidade de fazê-los em visitas
domiciliares. O consentimento foi obtido no início do estudo. Obteve-se um histórico
detalhado, exame clínico e avaliação auditiva. A perda audiológica neurossensorial
foi a mais comum, sendo encontrada em 15 casos. Foi relacionado o tipo de perda
auditiva ao tipo de síndrome de Klippel-Feil. O tipo I da síndrome estava presente
22

em 24 casos analisados. O tipo II em 13 pacientes. Houve 6 casos com tipo III.


Pode-se observar que o tipo mais comum de deficiência auditiva associada à
síndrome de Klippel-Feil foi do tipo I, seguida do tipo II e em menor porcentagem a
síndrome do tipo III. Embora no primeiro caso relatado desta síndrome em 1912, não
tenha sido apontada perda auditiva, os estudos subseqüentes demonstraram uma
clara associação entre os três tipos da síndrome de Klippel-Feil e a surdez.
Observou-se que de todos os pacientes analisados nesta pesquisa, em 35 foram
encontradas anormalidades auditivas, ou seja, esse tipo de anormalidade está
presente em um número significativo de pacientes com síndrome de Klippel-Feil.
Pacientes com esta síndrome podem necessitar de várias especialidades médicas,
como cardiologia, ortopedia, cuidados renais e neurológicos. É importante para os
outros profissionais e pessoas envolvidas nos cuidados com estes pacientes,
saberem da grande associação da síndrome com problemas auditivos e tomarem as
devidas providências para que estes pacientes realizem os testes adequados e
tratamento se necessário.

2.6.6.2 Problemas oculares

Num estudo realizado por Helmi e Pruzansky (1980), encontrou-se


coexistência entre defeitos oculares e Síndrome de Klippel-Feil em 20,63% dos
pacientes.
A Manifestação ocular mais comum é o estrabismo convergente. Com menor
freqüência, têm-se observado nistagmo horizontal e atrofia corioretiniana
(AZAMBUJA; AZAMBUJA; ZANATTA, 2003). Um achado comum também é a ptose
palpebral (BOTERO; TELLO, 2005).

2.7 Características bucais e faciais da síndrome de Klippel-Feil

Segundo Lagravère et al. (2004), pacientes com a Síndrome de Klippel-Feil


possuem terço inferior da face pequeno e assimetria facial sem implicações dentais.
Para esses autores, o cirurgião-dentista deve estar ciente das características desta
síndrome para realizar um correto diagnóstico e plano de tratamento. Estes
23

profissionais devem checar a presença de palato fissurado submucoso e a ausência


congênita de alguns dentes, pois estas características são comuns nesta síndrome.
Para Ozdiler, Ackam e Sayin (2000), anomalias associadas como assimetria
facial, malformação frontonasal, lábio e palato fissurados, obstrução crônica de via
aérea superior, anomalias no processo odontóide a na junção atlanto-axial ocorrem
ocasionalmente. Micrognatia, ponte nasal proeminente e palato fissurado
submucoso foram mencionados. Ainda, segundo estes autores, como a Síndrome
de Klippel-Feil é caracterizada pela fusão de algumas vértebras, isso afeta a postura
natural da cabeça e do pescoço, podendo causar alterações no desenvolvimento
crânio-facial.
De acordo com Boraz, Irwin e Blarcom (1986), a presença de palato fissurado
e úvula bífida podem aparecer em cerca de 5 a 20% dos pacientes com a Síndrome
de Klippel-Feil. Assimetria facial é encontrada ocasionalmente. As manifestações
orais desta síndrome podem ser extensivas e de difícil manejo, necessitando de uma
relação essencial com profissionais de outras áreas, como pediatras. Apesar de
grandes avanços nas técnicas de cirurgias crânio-faciais terem acontecido nos
últimos anos, complicações e algumas falhas ainda ocorrem.
Segundo Azambuja, Azambuja e Zanatta (2003), como características de
crânio e face relacionadas à Síndrome de Klippel-Feil, pode-se citar que a cabeça
parece descansar diretamente sobre o tórax, sem a interposição do pescoço. A
inserção do músculo trapézio estende-se desde as regiões mastóideas até os
ombros. Em alguns casos, ocorre assimetria facial e, na parte posterior, a linha dos
cabelos estende-se aos ombros.
Stadnicki e Rassumowski (1972) relatam a possibilidade de se encontrarem
alguns achados como assimetria facial, micrognatia, anomalias dos dentes e palato
estreito e fissurado.
Cooper (1976) afirma que palato fissurado e úvula bífida podem estar
presentes em alguns pacientes portadores desta síndrome, apesar de a verdadeira
incidência destas manifestações nunca ter sido corretamente determinada. Este
autor sugere que pode haver uma relação de desenvolvimento funcional entre as
estruturas faciais e vértebras cervicais.
Barbosa, Maganzini e Nieberg (2005) salientam que os achados crânio-faciais
incluem a aparência da cabeça assentada diretamente sobre o tórax, microssomia
hemifacial e ponte nasal proeminente. São relatados alguns casos de fissura
24

palatina, cerca de 15%, além de oligodontia em ambas dentições decídua e


permanente, micrognatia e bruxismo.
Podem ser encontrados defeitos na fala em cerca de 16,87% destes
pacientes, sendo que a hipernasalidade é o problema mais comum (HELMI;
PRUZANSKY, 1980). Estes problemas podem ser amenizados quando a deficiência
auditiva é reconhecida cedo na vida destes pacientes.

2.7.1 Fissura palatina

Botero e Tello (2005) dizem que a aparição de palato fissurado nos


pacientes com a Síndrome de Klippel-Feil é entre 5 a 10% dos casos, o que é
considerado uma incidência relevante. Como possíveis causas primárias da falta de
fusão do palato são reportadas as anomalias da coluna cervical superior e
alterações na base do crânio, defeitos que impedem a fusão dos processos
horizontais dos maxilares.
Segundo Boraz, Irwin e Blarcom (1986) e Azambuja, Azambuja e Zanatta
(2003), a fissura palatina pode aparecer em 5 a 20% dos casos.
Stadinicki e Rassumowski (1972) enfatizam que os problemas no tratamento
de palato fissurado em portadores da Síndrome de Klippel-Feil incluem dificuldades
na intubação para anestesia e restrito acesso para reconstrução do palato. No
entanto, a deformidade da coluna cervical não representa uma contra-indicação para
a cirurgia de fechamento de palato fissurado.
De acordo com Helmi e Pruzansky (1980), a fusão congênita das vértebras
cervicais é um achado freqüente nas síndromes em que há associação com fissura
palatina. A Síndrome de Klippel-Feil apresenta especial interesse em relação à
associação da presença de fissura palatina devido a algumas razões: 1- Palato
fissurado é um achado comum nesta síndrome. 2- Malformações das vértebras
cervicais são comuns em pacientes com fissura palatina. 3- Perda de audição é um
achado freqüente na presença de palato fissurado. 4- Anomalias cervicais podem
complicar a intubação para anestesia. 5- Pescoço curto pode ser o defeito primário
que impede a fusão palatal. Ainda, segundo estes autores, há presença na literatura
de palato fissurado nos pacientes com Síndrome de Klippel-Feil e não de fissura de
lábio.
25

Segundo Yoshihara, Suzuki e Yawaka (2010), entre a oitava e nona


semanas de vida embrionária, a língua do feto fica orientada verticalmente entre as
apófises palatais. Na nona ou décima semanas, a cabeça é levantada a partir da
região do pericárdio, e em seguida, a mandíbula e a língua se de deslocam dessa
posição permitindo que o palato se fusione na linha média e finalmente, formando o
palato mole. Se o feto tem uma fusão de vértebras cervicais, a mandíbula
permanece comprimida contra o peito e força a língua a continuar entre as apófises
horizontais do palato, resultando em incompleto fechamento do palato.

2.7.2 Assimetria facial

A assimetria facial afeta entre 21 a 50% dos pacientes com a Síndrome de


Klippel-Feil. Em alguns casos, esta deformidade se caracteriza por diferentes alturas
dos olhos. É freqüente o estrabismo convergente, a ptose palpebral, a paralisia do
músculo reto lateral e paralisia do nervo facial. (BOTERO; TELLO, 2005).
Lagravère et al. (2004) citam que os pacientes portadores desta síndrome
possuem terço inferior da face pequeno e assimetria facial sem implicações dentais.
Estes autores também relatam a associação existente entre perda auditiva parcial ou
total e assimetria facial em pacientes com fusão cervical tipo II.
De acordo com Mahirogullari et al. (2006) e Sullivan (2009), a incidência de
assimetria facial é de 20%.

2.7.3 Língua bífida

Há referência da associação entre língua bífida e Síndrome de Klippel-Feil


(BOTERO; TELLO, 2005).

2.7.4 Hipoplasia mandibular e apnéia

De acordo com Lima et al. (2009), a hipoplasia mandibular ocorre em um


número pequeno de pacientes com a Síndrome de Klippel-Feil e pode contribuir para
a obstrução de vias aéreas superiores, resultando em apnéia.
26

Raramente, desordens de respiração como apnéia são vistas em pacientes


diagnosticados com esta síndrome. Limitação de abertura bucal e assimetria facial
são freqüentemente observadas nestes pacientes.

2.7.5 Úvula bífida

O aparecimento desta anomalia está associado a uma freqüência entre 5 a


20% (BORAZ; IRWIN; BLARCOM, 1986; AZAMBUJA; AZAMBUJA; ZANATTA,
2003).
A úvula bífida está presente em alguns pacientes, porém sua verdadeira
incidência nunca foi determinada (COOPER,1976).

2.7.6 Má – oclusão

Em 20% dos portadores de Síndrome de Klippel-Feil há presença de


alterações oclusais (AZAMBUJA; AZAMBUJA; ZANATTA, 2003).

2.8 Sintomas da síndrome de Klippel-Feil

A maioria dos sintomas está relacionada com a hipermobilidade ou limitação


de mobilidade que ocorre nos segmentos cervicais. Pode haver sintomas mecânicos
devido à irritação das articulações e sintomas neurológicos devido à compressão ou
irritação da medula espinhal. Um trauma leve pode nestes pacientes de alto risco,
pode ocasionar maiores seqüelas como quadriplegia total ou morte (BOTERO;
TELLO, 2005).

Embora vários autores tenham enfatizado que os sintomas relacionados a


coluna cervical em pacientes com Síndrome de Klippel-feil são pronunciados
na idade adulta, uma revisão crítica da literatura diz que até 50% dos pacientes
pediátricos são sintomáticos. Embora uma variedade de manifestações clínicas
esteja associada a esta síndrome, a epidemiologia e o papel dos padrões de fusão
cervical, idade e fatores tempo dependentes e sua associação com o
desenvolvimento dos sintomas, até então não haviam sido devidamente abordados
27

quantitativamente em uma população de pacientes. Por isso, em 2006, Samartzis et


al. realizaram um estudo retrospectivo de coorte e uma revisão clínica e radiográfica
de 28 pacientes, sendo 12 do sexo masculino (43%) e 16 do sexo feminino (57%)
com idade média de 7,1 anos, com Síndrome de Klippel-Feil, sendo estes pacientes
do Shriners Hospital for Children, em Chicago, entre os anos de 1979 a junho de
2003. O objetivo foi avaliar o papel dos padrões específicos de fusão da coluna
cervical no aparecimento dos sintomas clinicamente significativos na coluna, assim
como determinar qual a influência dos fatores sexo e idade no aparecimento destes
sintomas. Com base nas imagens radiográficas os pacientes foram classificados em
três tipos distintos: tipo I (presença de um único segmento cervical fusionado), tipo II
(múltiplos segmentos fusionados não contíguos) e tipo III (múltiplos e contíguos
segmentos cervicais fusionados). Radiograficamente 7 pacientes (25%) eram do tipo
I, 14 pacientes (50%) tipo II e 7 pacientes (25%) do tipo III, sendo que os pacientes
desse último tipo eram assintomáticos, mas em grande parte associados com o
maior risco de desenvolvimento de radiculopatias (alterações no sistema nervoso
central por compressão dos gânglios nervosos que saem da coluna cervical) e
mielopatias (patologias cervicais muito comuns expressas em geral por fraqueza
muscular). Pacientes do tipo I eram predominantemente femininas, enquanto que o
sexo masculino foi predominante no tipo III. Os registros clínicos de relevância
anotados foram presença, tipo de sintomas e evolução clínica. Os sintomas notados
foram diminuição da amplitude de movimento cervical e presença predominante de
queixas e sintomas axiais (dores na cabeça e pescoço, e rigidez do pescoço),
radiculopatia ou mielopatia. Clinicamente 64% dos pacientes não tinham
manifestações sintomatológicas na coluna cervical. Os autores chegaram à
conclusão de que 10 pacientes (36%) apresentaram Síndrome de Klippel-Feil
associada a sintomas na coluna cervical. Dos 10 pacientes sintomáticos, 10%
desenvolveu os sintomas iniciais até os 7 anos de idade, 20% com 10 anos de
idade, 70% com 16 anos e 90% com 18 anos. Cuidadosa atenção aos padrões
radiográficos de fusão da coluna cervical em pacientes com Síndrome de Klippel-Feil
ajuda na detecção precoce para o risco de desenvolvimento de sintomas futuros. Na
maioria dos casos da síndrome predominam os sintomas axiais e podem ser
tratados de maneira conservadora com bons resultados. Pacientes com muitas
fusões cervicais consecutivas e não consecutivas tem um maior risco para
desenvolvimento de radiculopatias e mielopatias, sendo que estes devem receber
28

uma atenção especial. Como conclusão também os autores chegaram a um acordo


de que o padrão de fusão cervical não é dependente da idade, normalmente se
manifesta como tipo II e são em grande parte assintomáticos na população
pediátrica. O desenvolvimento destes padrões pode estar associado com o tipo de
sexo e por fim, a maioria destes pacientes pode ser tratada sintomaticamente e a
cirurgia deve ser exclusiva para pacientes que desenvolveram radiculopatias e
mielopatias (SAMARTZIS et al., 2006).
Os sintomas importantes e anomalias são geralmente revelados
incidentalmente em exames radiológicos nos casos leves. No entanto, os pacientes
podem desenvolver sintomas neurológicos que são secundários à degeneração do
disco ou doença dos segmentos adjacentes móveis, instabilidade da coluna cervical,
hipermobilidade da coluna ou devido à trauma e estenose espinhal em épocas
posteriores da vida (YUKSEL et al., 2005).
Há casos de pacientes em que os sintomas da Síndrome são menores,
podendo estes serem negligenciados. Assim, o paciente pode não ser diagnosticado
com Síndrome de Klippel-Feil e pode levar uma vida normal (YOSHIHARA; SUZUKI;
YAWAKA, 2010).
Sintomas axiais do pescoço como dor de garganta, rigidez e restrição dos
movimentos do pescoço foram altamente associados com os pacientes do tipo I,
enquanto sintomas como radiculopatia e mielopatia ocorreram mais em pacientes do
tipo II e III (CHEN; WANG, 2008).

2.9 Características radiológicas

Nas radiografias dos pacientes com a Síndrome de Klippel-Feil é facilmente


notada fusão dos corpos vertebrais. Estes são achatados e alargados, os discos
estão estreitados ou obliterados e a espinha bífida é comum. As radiografias são a
base e essenciais para os elementos de diagnóstico da Síndrome de Klippel-Feil.
Quando suspeita-se da síndrome em um paciente, o processo de diagnóstico deve
começar pela tomada radiográfica ântero-posterior e lateral da coluna cervical. Além
disso, se houver suspeita de instabilidade craniocervical considera-se a obtenção de
radiografias em flexão e extensão do pescoço (SULLIVAN, 2009).
Nas radiografias a união craniocervical deve ser cuidadosamente avaliada,
com especial atenção à articulação axo-atlo-occipital para descartar a fusão
29

atlooccipital. Além disso, deve-se obter radiogradias laterais, anteroposteriores e


póstero-anteriores do restante da coluna vertebral para: identificar ou descartar
anomalias vértebro-costais, raio-x também para observar o tórax e descartar
anormalidades cardíacas, identificar as possíveis fusões das vértebras cervicais com
as vértebras torácicas, constatar ou descartar a presença de hemivértebras e
detectar a presença de espinha bífida oculta, fusão de costelas e escoliose
(BOTERO; TELLO, 2005).
Se necessário, em pacientes cirúrgicos pode-se realizar outros testes
complementares de imagem. A tomografia computadorizada é muito útil para
pacientes que estão sendo avaliados para a cirurgia. A tomografia com reconstrução
tridimensional pode ser valiosa na avaliação da anatomia para determinar a área
cirúrgica ideal. A estenose cervical pode ser vista na tomografia, ajudando o médico
a planejar o procedimento cirúrgico (SULLIVAN, 2009).
A tomografia computadorizada pode delinear bem as estruturas do esqueleto
dando muitos detalhes devido à superior resolução espacial em 3D. Únicas
desvantagens desta técnica são o custo elevado associado com o tempo necessário
para realizar reconstruções satisfatórias sobre este trabalho. A tomografia em 3D
mostra claramente as anormalidades esqueléticas e isso ajuda a fazer um melhor
diagnóstico. Portanto, o valor diagnóstico da tomografia nos casos de anomalias
esqueléticas supera as desvantagens desta técnica (YUKSEL et al., 2005).
Para Senosian et al. (2001), a tomografia helicoidal possui algumas
vantagens para o estudo da coluna vertebral, pois permite imagens em terceira
dimensão, sendo possível reconstruir vários segmentos, além da possibilidade de
sobrepor imagens e fazer reconstruções de vasos sangüíneos. Como desvantagem,
o equipamento tem um custo alto, mas é de grande utilidade como estudo
preparatório para as cirurgias de coluna, sobretudo em casos difíceis.
Outro exame radiológico que pode ser realizado é a Ressonância Magnética
por Imagem, sendo que esta é indicada para pacientes com déficit neurológico. A
ressonância nas posições de flexão e extensão pode revelar a compressão da
medula e é útil na avaliação também da estenose cervical. Em pacientes com
déficits neurológicos, a ressonância da coluna inteira deve ser obtida para procurar
anomalias do sistema nervoso central, como siringomielia (SULLIVAN, 2009).
Ainda, segundo este autor, a ultrassonografia é indicada para a pesquisa de
anomalias renais.
30

Tomadas radiográficas dos movimentos de flexão e extensão são necessárias


para avaliar o tipo e o nível de envolvimento cervical, avaliar a presença de
instabilidade da coluna cervical, e estreitamento do canal medular. Nas crianças, o
estreitamento do espaço discal cervical nem sempre pode ser visto porque a
ossificação do osso vertebral está incompleta em algumas vezes, dando a
impressão de um espaço de disco normal. No entanto, com o crescimento, a
ossificação dos corpos vertebrais é concluída e a fusão torna-se evidente. Portanto,
para identificar o tipo e a extensão da fusão cervical, muitas vezes são obtidas
radiografias laterais de flexão-extensão. (HENSINGER; LANG; MACEWEN, 1974).
Segundo Cooper (1976), alguns achados radiológicos são vistos na coluna
cervical. O número de vértebras é reduzido em número. Com freqüência,
deformidades nas costelas são encontradas. Além disso, pode ser notada presença
de espinha bífida.

2.10 Diagnóstico

O diagnóstico da Síndrome de Klippel-Feil é baseado nas manifestações


clínicas descritas, nas radiografias ântero-posterior e lateral da coluna nas posições
de flexão e extensão. O diagnóstico complementar pode ser realizado com o auxílio
da tomografia computadorizada axial e com a ressonância magnética. Alguns
pacientes evoluem assintomáticos durante os primeiros anos de vida (FIGUEROA;
OROZCO; ROSAS, 2005).
O diagnóstico é clínico e confirmado por técnicas radiográficas, ou
ressonância magnética e tomografia computadorizada helicoidal, que demonstram
as múltiplas fusões das vértebras cervicais e outras alterações ósseas associadas:
alteração discal (ausência de espaços ou hipoplasia), muitas vezes perda da altura
do corpo vertebral e, ocasionalmente, presença de hemivértebras. Os foramens são
estreitos e ovalados. Estenose cervical é rara (LLOPIS, 2010).
Se o paciente tiver as características de pescoço curto, implantação baixa da
linha posterior do cabelo e limitação dos movimentos do pescoço, a síndrome de
Klippel-Feil poderá ser considerada. O raio-x cervical é a base para o diagnóstico e a
tomografia computadorizada pode ser valiosa na avaliação da anatomia. Além disso,
a ressonância magnética é indicada em pacientes com déficit neurológico. Esta
síndrome pode estar associada com outras deformidades ósseas, portanto, é
31

indicada a tomada radiográfica do tórax, da coluna cervical, torácica e lombar


(CHEN; WANG, 2008).

2.11 Diagnóstico diferencial

Como já mencionado anteriormente, na Síndrome de Klippel-Feil os músculos


trapézios adotam um aspecto alado e volumoso desde sua inserção mastóidea até
sua inserção no ombro, o que poderia simular um Pterigum Coli que pode existir em
outras síndromes como a Síndrome de Turner, Síndrome de Nooman e na Displasia
crânio-carpo-tarsal, entre outros, com os quais se deve fazer o diagnóstico
diferencial. Deve-se diferenciar também da Síndrome de Wildervanck ou cérvico-
acústico, assim como da displasia espôndilo-torácica, na qual a cabeça parece
assentada sobre os ombros igualmente à Síndrome de Klippel-Feil. Outro
diagnóstico diferencial deve ser feito com a artrite reumatóide juvenil e com a
espondilite reumatóide (BOTERO; TELLO, 2010).
O diagnóstico diferencial deve ser feito com essas alterações ósseas:
condrodisplasia, Síndrome de Albright, displasias espondiloepifisarias, metafisiarias
e torácicas, Síndrome de Wildervanck. Com algumas cromossomopatias como
Síndrome de Down, Turner, trissomia 4p, deleção 4p. Com as embriopatias
hidantoínica, Síndrome do alcoolismo fetal, mucopolissacaridoses e outras
síndromes (FIGUEROA; OROZCO; ROSAS, 2005).
De acordo com Lagravère et al. (2004), o diagnóstico diferencial da Síndrome
de Klippel-Feil inclui disostose espondilocostal, Síndrome de Poland e síndromes
que envolvem polidactilias.
Deve ser acompanhado de ecografia renal, audiometrias, provas de função da
tireóide, entre outros, para descartar outras anomalias associadas (LLOPIS, 2010).

2.12 Prognóstico e tratamento

O prognóstico é variável e depende dos problemas neurológicos associados.


O prognóstico da cardiopatia depende do tipo de comprometimento coronariano
existente e tempo de evolução que pode influenciar na apresentação das
complicações. A responsabilidade familiar é fundamental para supervisionar, manter
a função e prevenir o aparecimento ou aumento do déficit neurológico por fusão,
32

acidentes ou trauma. Quanto às doenças do coração cada caso deve ser estudado
individualmente para decidir se é melhor tratamento médico ou cirúrgico
(FIGUEROA; OROZCO; ROSAS, 2005).
O prognóstico para a maioria dos portadores da Síndrome de Klippel-Feil é
bom se a doença é tratada cedo e de forma adequada. Atividades que podem
machucar o pescoço devem ser evitadas para não ter complicações posteriores. A
detecção precoce ajuda a tomar os cuidados necessários, mas o descobrimento da
Síndrome é muitas vezes complicado pelo fato de que em jovens pacientes, a
presença de fusão cervical pode não ser prontamente determinada porque a
ossificação ainda não progrediu ao ponto que possa ser indicada falta de
segmentação da coluna vertebral (CHEN; WANG, 2008; BARBOSA; MAGANZINI;
NIEBER, 2005).
Algumas complicações da Síndrome de Klippel-Feil são: alterações
degenerativas, protrusão dos discos vertebrais, siringomielia e estresse no nível da
união crânio-vertebral. As deformidades cervicais descritas tendem a se agravar com
o tempo. Os pacientes com hipermobilidade do segmento cervical têm um elevado
risco para apresentar seqüelas neurológicas. Deve-se evitar atividades esportivas
que envolvam possibilidade de ocasionar lesões no pescoço. Geralmente, os
pacientes com cardiopatias desenvolvem hipertensão arterial (FIGUEROA;
OROZCO; ROSAS, 2005).
A predição da evolução do quadro clínico e o resultado das medidas
terapêuticas que podem ser utilizadas dependem da complexidade da síndrome e
condições associadas. Normalmente, os pacientes afetados podem ter uma vida
normal, porém com algumas restrições. Entre elas, deve-se evitar a prática de
esportes em que o pescoço possa correr risco de ser lesionado. Com a finalidade de
minimizar o desconforto relativo à hipermobilidade cervical e outros problemas
mecânicos, aconselha-se o uso de um colar ortopédico. A dor cervical pode ser
tratada com analgésicos, mas se ela é comprovadamente produzida pela
compressão dos nervos nos espaços intervertebrais, poderá ser necessária uma
tração cirúrgica. A decisão de intervir cirurgicamente justifica-se em casos de
anomalias que tenham caráter progressivo, deformante ou incapacitante, mas
dependem da localização. Podem ser realizadas cirurgias corretivas como: fusão
cervical em caso de hipermobilidade, fusão para tratamento da escoliose, recessão
33

de costelas cervicais e correção da deformidade de Sprengel (BOTERO; TELLO,


2005).
Pacientes com a Síndrome de Klippel-Feil têm diferentes manifestações
clínicas em diferentes idades. As indicações para tratamento cirúrgico variam
individualmente. Para o ortopedista, as indicações mais freqüentes para a cirurgia
dependem do grau de deformidade, da sua localização, progressão e de acordo com
o tempo. Outras indicações cirúrgicas incluem a instabilidade da coluna cervical e
problemas neurológicos associados a esta instabilidade. Estas indicações podem
ocorrer quando há anomalias da junção craniocervical e quando dois segmentos
fusionados são separados por um segmento normal. Alguns pacientes apresentam
no início da vida uma complexa deformidade cervical e cervicotoráxica que é
progressiva e desfigurante. Alguns destes pacientes necessitam de fusão da coluna
cervical para evitar a progressão. Outros pacientes podem desenvolver escoliose
compensatória ou associada, que também pode ser progressiva ao longo da vida e
requer fusão para evitar esta progressão (SULLIVAN, 2009).

2.13 Cuidados, conduta com pacientes portadores da síndrome de klippel-feil e


implicações odontológicas

2.13.1 Riscos de lesão medular e cuidados na intubação para anestesia geral

Pacientes com Síndrome de Klippel-Feil podem ter aumentado risco para


desenvolver lesões neurológicas, como resultado de hipermobilidade de vários
segmentos cervicais. Estes pacientes estão propensos a ter lesões cervicais
especialmente depois de pequenos ou grandes traumas, como um acidente
automobilístico (KARASICK; SCHWEITZER; VACCARO, 1998). Mudanças nos
espôndilos e nos discos ocorrem na junção dos segmentos em associação com a
instabilidade cervical resultante da hipermobilidade dos segmentos adjacentes às
vértebras fusionadas. A predisposição à lesão da medula espinhal tem sido
teorizada a estar relacionada aos segmentos fusionados e da resultante de
transferência de força alterada que tornam os segmentos não fusionados adjacentes
excessivamente móveis. A coluna cervical é incapaz de compensar excessivas
forças de flexão, extensão, rotação e inclinação lateral. O bloco vertebral transfere
forças mecânicas para os segmentos adjacentes com hipermobilidade. Quanto mais
34

fusionadas as vértebras estiverem, mais os pacientes estarão predispostos ao


movimento em excesso e sobrecarga aos segmentos móveis. Acelerada doença
degenerativa com abaulamento do disco ou hérnia de disco aumentam o risco de
seqüelas neurológicas pós trauma, especialmente quando há presença de um canal
medular estreitado. A estenose espinhal congênita que acompanha a síndrome de
Klippel-Feil pode ser causada pelo super crescimento ósseo ou hipertrofia,
especialmente na junção craniovertebral. Já a estenose espinhal adquirida pode
resultar da protrusão de disco ou devida a hipertrofias ligamentares. Embora os
pacientes com Síndrome de Klippel-Feil sejam freqüentemente assintomáticos,
certas seqüelas neurológicas espontâneas podem se desenvolver como resultado
de anomalias ósseas. Lesões neurológicas também podem aparecer após menor ou
maior traumatismo. A compressão da medula espinhal ou da raiz nervosa pode
produzir uma disfunção neural superior e inferior, respectivamente. Ataxia,
hiperreflexia, espasmos e deficiências motoras e sensoriais podem acontecer devido
ao aumento do estresse gerado na coluna cervical fusionada pelas mudanças
degenerativas do disco, estenose espinhal, estenose do forâmen intervertebral e
instabilidade.
Realizar uma cirurgia em pacientes com esta síndrome é de forma alguma
uma tarefa fácil. A intubação destes pacientes é um desafio e precauções especiais
devem ser tomadas quando a anestesia geral é necessária. Durante o
posicionamento para intubação, há um risco elevado de acontecer um dano
neurológico porque estes pacientes apresentam um grande potencial de ocorrer
facilmente lesões cervicais devido à instabilidade na coluna. Devido à presença de
pescoço curto e isso acarretar numa limitação dos movimentos do pescoço, é
necessário a intubação orotraqueal. Outra dificuldade é a tomada de radiografias
panorâmicas, pois a presença de pescoço curto impede a rotação normal do
aparelho para tirar a radiografia (LIMA et al., 2009).
Para Lagravère et al. (2004), precauções especiais devem ser tomadas
considerando a sedação ou anestesia em crianças com a Síndrome de Klippel-feil
no consultório dentário. Estes pacientes não devem ser entubados.
Sullivan (2009) afirma que a síndrome de Klippel-Feil está associada a uma
constelação de possíveis anormalidades e nenhum conjunto claro de contra-
indicações cirúrgicas existe até o momento. Se um cirurgião acredita que uma
operação é indicada, cabe a ele ter certeza de que nenhuma das condições que
35

podem causar mortalidade estejam presentes. A instabilidade cervical ou


occiptocervical poderia aumentar o risco de danos neurológicos durante a intubação.
Um defeito cardíaco subjacente poderia aumentar o risco anestésico. Estenose
espinhal subjacente ou anormalidade da medula espinhal poderia aumentar o risco
de danos neurológicos durante a fusão espinhal para a correção da deformidade.
Sendo assim, uma avaliação completa do paciente é fundamental antes da
intervenção cirúrgica.
Fernandes et al. (2010) relatam que todas as alterações encontradas em
pacientes com Síndrome de Klippel-Feil implicam criteriosa escolha da técnica
anestésica. Restrição da movimentação cervical e anormalidades associadas podem
dificultar o acesso às vias aéreas, complicando o ato anestésico-cirúrgico. Os
momentos mais críticos são a intubação e o posicionamento para a cirurgia. O
acesso às vias aéreas representa um grande desafio e exige planejamento prévio. O
anestesiologista e o cirurgião devem ser extremamente cuidadosos para evitar
movimentação cervical inadequada, objetivando evitar danos neurológicos.
Teoh e Williams (2007) relatam que há algumas questões a se considerar na
anestesia dos pacientes com síndrome de Klippel-Feil. A junção atlanto-occipital
anormal aumenta o risco de lesão da medula espinhal durante a intubação e
posicionamento do paciente. Uma síncope pode ocorrer se houver um movimento de
rotação repentino do pescoço, há risco para haver também tetraplegia devido a
menor trauma. Anomalias craniofaciais associadas como palato fissurado, mal
formações mandibulares e micrognatia podem dificultar a oxigenação e ventilação.
Os autores sugerem uma avaliação completa pré-operatória de todos os pacientes
portadores desta síndrome, tendo em vista que as patologias e anomalias
congênitas associadas podem ter implicações significativas no sistema cardio-
respiratório. Em particular, se é necessária a posição de pronação do pacientes,
sugere-se um cuidado posicionamento para se evitar a compressão do esterno do
coração. Também, deve ser feito um cuidadoso monitoramento pós-operatório pois
estes pacientes estão em elevado risco para desenvolver insuficiência respiratória
pós-operatória.
Segundo Yoshihara, Suzuki e Yawaka (2010), se o paciente com Síndrome
de Klippel-Feil apresenta alto risco de desenvolvimento de padrões de fusão da
coluna cervical, qualquer menor trauma pode induzir à súbita injúria neurológica, ou
em casos piores, até mesmo a morte.
36

2.13.2 Conduta odontológica

Finalmente, baseando-se nas limitações e problemas de ordem geral, os


autores descrevem as seguintes recomendações para o atendimento do portador da
Síndrome de Klippel-Feil no consultório odontológico:
Antecedendo-se a intervenção odontológica propriamente dita, tem-se um
longo caminho a percorrer. A primeira consulta é de fundamental importância, assim
como a detecção e compreensão do tipo de excepcionalidade do paciente, para que
seja possível manejá-lo de maneira adequada (TOLEDO, 1986).
Schmidt (1998) comenta que os procedimentos odontológicos não diferem
muito em termos técnicos do que os para pacientes normais. Apenas determinadas
peculiaridades na anamnese, abordagem e plano de tratamento. A anamnese deve
ser cuidadosa, principalmente no que se refere a história médica do paciente, sendo
que um contato com o médico seria um requisito importante no auxílio do
profissional. O conhecimento prévio da doença em questão nos fornece as
informações necessárias quanto a prováveis alterações de ordem sistêmica e bucal,
bem como seu prognóstico e expectativa de vida. A anamnese é o primeiro passo
para se evitar complicações no consultório. O tratamento odontológico deve ser
realizado respeitando as particularidades e limitações do paciente, estipulando
sempre uma rotina para que ele se sinta seguro com o dentista. Além disso, a
abordagem odontológica ao paciente deficiente em idade precoce deve proporcionar
antes de tudo segurança a seus pais ou responsáveis. Devemos antes de qualquer
tentativa de abordar o paciente, nos certificar de que todas as informações foram
corretamente entendidas, previnir sobre possíveis reações comportamentais e
reforçar todos os benefícios do tratamento dentário. Somente com o entendimento e
uma atitude positiva dos familiares será viável a realização de uma abordagem
adequada.
De acordo Botero e Tello (2005), quando um paciente chega ao consultório
com sinais e sintomas que possam sugerir a Síndrome de Klippel-Feil, devemos
considerar algumas precauções e cuidados no manejo desses pacientes, incluindo:
1- Na hora de deitar o paciente na cadeira odontológica ter cuidado para não
estender em excesso a cabeça e pescoço do mesmo. Esta manobra evitaria
causar uma maior lesão cervical.
37

2- Limitar cuidadosamente os movimentos de lateralidade da cabeça.


3- Notar que estes pacientes possuem abertura bucal limitada.
4- Proporcionar conforto a estes pacientes colocando almofadas ou travesseiros
atrás da cabeça.
5- Se possível, realizar consultas de curta duração.
6- Lembrar que estes pacientes, em certas circunstâncias e posições podem ter
dificuldades para respirar ou para deglutir

O desafio para o cirurgião-dentista é reconhecer as anomalias associadas à


Síndrome de Klippel-Feil para dar atenção adequada ao paciente.

É adequado que o profissional esteja ciente das características desta


síndrome antes de iniciar o plano de tratamento. Os dentistas devem checar se há
presença de fenda submucosa, verificar se há ausência congênita de dentes e
analisar se há discrepância do tamanho de dentes (OZDILER; AKCAM; SAYIN, 2000
e LAGRAVÈRE et al., 2004).

Barbosa, Maganzini e Nieberg (2005) comentam que a síndrome de Klippel-


Feil apresenta um amplo espectro de sinais e sintomas como assimetria de face,
disfunção temporomandibular, abertura bucal restrita, fenda palatina e oligodontia,
que são de interesse para o cirurgião-dentista. As deformidades da coluna vertebral
também são de interesse, como a presença da incapacidade de estender o pescoço,
que muitas vezes leva a dificuldades durante o tratamento. No entanto, a fusão
cervical não é considerada uma contra-indicação ao tratamento. Este por sua vez é
sintomático, e o prognóstico para a maioria dos indivíduos é bom se a doença for
detectada precocemente e tratada apropriadamente. A detecção precoce ajuda a
tomar os cuidados necessários, porém a detecção é muitas vezes complicada pelo
fato de que em jovens pacientes, a presença de fusão cervical pode não ser
prontamente detectada, pois a ossificação ainda não progrediu a tal ponto de indicar
a falta de segmentação óssea.

Azambuja, Azambuja e Zanatta (2003) afirmam que muitos pacientes com


Síndrome de Klippel-Feil necessitam de tratamento ortodôntico-ortopédico, sendo
este de grande importância como forma de prevenção de outros problemas mais
severos. O papel do cirurgião-dentista é fundamental para melhorar as condições
38

bucais, proporcionando melhorias da função e da estética facial e colaborando para


uma melhor qualidade de vida destes indivíduos.

Cooper (1976) diz que as deformidades da coluna são de interesse para o


cirurgião-dentista. A incapacidade de estender o pescoço pode levar a uma
dificuldade na intubação para a anestesia geral e também a severas limitações
sobre a exposição do campo operatório. Apesar desses problemas, a deformidade
cervical não é considerada uma contra-indicação para o fechamento cirúrgico de
uma fenda palatina presente.

Segundo Lima et al. (2009), apesar de muito autores terem descrito a


Síndrome de Klippel-Feil, pouca atenção tem sido dada às manifestações
craniomaxilofaciais e ao tratamento odontológico de pacientes portadores desta
síndrome. Uma técnica efetiva para o manejo de várias deformidades crânio-faciais
é a distração osteogênica. É uma técnica que tem sido usada por várias décadas por
cirurgiões e envolve a formação de osso entre segmentos ósseos que são
gradualmente separados por tração.
39

3 DISCUSSÃO

Em 1912, Maurice Klippel e André Feil relataram as seguintes anomalias


encontradas em um paciente de 46 anos: fusão congênita de vértebras cervicais,
levando ao aparecimento de uma tríade clássica representada por uma limitação
importante da movimentação do pescoço, implantação baixa da linha posterior do
cabelo e presença de pescoço curto. Essa condição ficou conhecida como Síndrome
de Klippel-Feil, uma enfermidade rara, congênita, também denominada de Sinostose
Cervical Congênita ou Fusão das vértebras cervicais (LAGRAVÈRE et al., 2004;
SILVA, 1992; FIGUEROA; OROZCO; ROSAS, 2005; MCGAUGHRAN; KUNA; DAS,
1998).
Atualmente, sabe-se que se trata de uma síndrome complexa que associa
anomalias ósseas e viscerais, sendo que a tríade clássica descrita não está
presente em todos os pacientes, sendo essa incidência em menos de 50% dos
afetados pela síndrome (BOTERO; TELLO, 2005; MAHIROGULLARI et al. 2006;
SULLIVAN, 2009). Já para Samartzis et al. (2006), a tríade clássica de baixa
implantação da linha posterior do cabelo, pescoço curto e limitação dos movimentos
de cabeça e pescoço, apresenta-se em 34% a 74% dos afetados pela síndrome.
A síndrome de Klippel-Feil pode estar acompanhada de uma série de outras
anomalias como: escoliose, torcicolo, deformidade de Sprengel (escápula elevada),
malformações cardiovasculares, renais, auditivas e palato fissurado. Outras
alterações podem estar presentes nos sistemas músculo-esquelético, geniturinário,
gastrointestinal e dermatológico (BOTERO; TELLO, 2005; RAMSEY; BLIZNAK,
1971). Para os autores Lima et al. (2009), Lagravère et al. (2004) e Azambuja,
Azambuja e Zanatta (2003), os pacientes com Síndrome de Klippel-Feil
ocasionalmente podem também apresentar sinais de ptose palpebral, paralisia do
nervo facial, problemas neurológicos e intelectuais, espinha bífida, assimetria facial,
sincinesia, defeitos nas costelas, estrabismo e dificuldades em respirar e deglutir.
Sua incidência é um consenso entre a maioria dos autores, 1 afetado para
cada 42.000 nascimentos, sendo que 60% dos pacientes são do sexo feminino
(BORAZ; IRWIN; BLARCOM, 1986; MCGAUHRAN; KUNA; DAS, 1998; AZAMBUJA;
AZAMBUJA; ZANATTA, 2003).
A etiologia desta síndrome ainda é desconhecida, provavelmente
heterogênea, com influência tanto genética como de fatores ambientais, que entre a
40

terceira e oitava semanas de gestação produzem um efeito no desenvolvimento


embrionário, o qual provoca a falta de segmentação dos somitos mesodérmicos e,
como conseqüência, os corpos vertebrais da coluna cervical não se separam
permanecendo fusionados. Apresenta uma grande heterogeneidade genética, quase
todos os casos são esporádicos, havendo-se descritos também casos com herança
autossômica dominante e outros com herança autossômica recessiva (LLOPIS,
2010; SENOSIAN et al., 2001; BORAZ; IRWIN; BLARCOM, 1986; SILVA, 1982;
MAHIROGULLARI et al., 2006; LIMA et al., 2009; BOTERO; TELLO, 2005; ).
Azambuja, Azambuja e Zanatta (2003) concordam com os autores citados
acima que sua base genética não está bem estabelecida. A maior parte dos casos é
esporádica, entretanto há alguns casos familiares em que ocorre transmissão de pai
para filho e outros em que ocorrem irmãos afetados com pais não afetados, e ainda
salientam que não existe evidência de anomalia cromossômica. Figueroa, Orozco e
Rosas (2005), também ressaltam que a análise cromossômica revela um cariótipo
normal e afirmam juntamente com Lagravère et al. (2004) que a Síndrome de
Klippel-Feil é listada como sendo uma herança autossômica dominante esporádica,
com penetrância reduzida e expressão variável.
Yildirim et al. (2008) relataram casos de famílias com mais de um caso de
Síndrome de Klippel-Feil e a identificação de um locus para a síndrome no
cromossomo 8, ressaltando sua base de transmissão genética.
Domínguez e Nájera (2006) citam que alguns fatores ambientais, alguns
fármacos como salicilatos, radiações, situações de hipóxia e agentes abortivos
provavelmente estejam envolvidos no aparecimento da Síndrome de Klippel-Feil.
Uma segunda hipótese para o aparecimento da Síndrome de Klippel-Feil foi
descrita. Figueroa, Orozco e Rosas (2005) descreveram uma teoria de obstrução
vascular, na qual há uma interrupção a nível da artéria subclávia, que explica a
patogênese desta síndrome. Bavinck e Weaver (1986) apud Silva (1992) também
propuseram uma hipótese vascular para explicar a patogênese da Síndrome de
Klippel-Feil: uma interrupção do suprimento sangüíneo nas artérias subclávias,
vertebrais e/ou seus ramos, por volta da sexta semana do desenvolvimento
embrionário, causaria estas anomalias.
Uma outra hipótese foi descrita por Lagravère et al. (2004), estes autores
especularam que a origem da Síndrome de Klippel-Feil pode ser proveniente da
síndrome do alcoolismo fetal. O consumo de uma a três doses de bebida por dia,
41

durante os primeiros dois meses de gravidez, pode resultar em dano significativo ao


bebê em desenvolvimento. O consumo de áloccol causa múltiplos problemas,
incluindo anomalias neurológicas, defeitos cardíacos, retardo no crescimento e
deficiências cognitivas.
Por fim, Gunderson et al. (1967) apud Helmi e Pruzansky (1980) a partir de
seus estudos determinaram três anormalidades genéticas específicas: A- fusão
familial das vértebras C2-C3 transmitida como uma doença autossômica dominante.
B- fusão de C5-C6 é provavelmente uma desordem herdada de maneira
autossômica recessiva. C- variáveis fusões cervicais manifestam-se como um traço
de herança dominante com uma variação considerável na penetrância e
expressividade. E, ainda, sugeriram uma herança autossômica recessiva para as
fusões vertebrais de tipo I e III.
Os pacientes com a Síndrome de Klippel-Feil podem ser classificados em três
tipos de acordo com o local da fusão vertebral (LLOPIS, 2010)
Tipo I: fusão em massa de várias vértebras cervicais e torácicas superiores em
blocos ósseos.
Tipo II: Fusão de apenas um ou dois pares de vértebras cervicais.
Tipo III: É uma combinação de fusão das vértebras cervicais com fusão de vértebras
torácicas inferiores e/ou lombares.
Esta classificação recebeu uma ampliação sugerida por Silva (1992)
objetivando incluir os casos com padrões mais extensos de fusão vertebral. Foi
proposto o acréscimo de um IV tipo de fusão da anomalia de Klippel-Feil para
agrupar os casos com fusões nos diversos níveis (cervical, torácio superior, torácico
inferior e/ou lombar).
Como já foi dito neste trabalho, o conhecimento das características físicas,
neurológicas, dos problemas sistêmicos associados assim como dos problemas
bucais do paciente com a Síndrome de Klippel-Feil são de grande relevância para o
cirurgião-dentista compreender estes pacientes, já que estas características trazem
conseqüências para o tratamento odontológico. A partir do momento que se tem
conhecimento desses aspectos, será possível o profisisonal evitar a ocorrência de
acidentes durante a execução do procedimento clínico, podendo exercer um
trabalho correto e com segurança.
A apresentação clínica depende do grau de manifestação da síndrome e das
anomalias associadas. A cabeça parece descansar diretamente sobre o tórax, sem a
42

interposição do pescoço. Como já foi mencionado, a tríade clássica de pescoço


curto, inserção baixa da parte posterior do cabelo e limitação dos movimentos da
coluna cervical ocorre entre 40 a 50% dos pacientes, e segundo Mahirogullari et al.
(2006), a manifestação mais comum é a limitação dos movimentos do pescoço
aparecendo em 50 a 76% dos pacientes. A perda da rotação é mais pronunciada do
que a limitação nos movimentos de flexão e extensão do pescoço (SULLIVAN,
2009). Esta clássica tríade é mais vista na Síndrome de Klippel-Feil tipo I do que na
do tipo II (RAMSEY; BLIZNAK, 1971).
Uma ampla variedade de anomalias tem sido descrita em associação com a
Síndrome de Klippel-Feil, incluindo deformidade de Sprengel (escápula elevada),
escoliose, cifose, malformações geniturinárias, surdez e anomalias costais, oculares,
palatais e cardíacas (SILVA, 1992). Alterações ósseas como escoliose (curvatura
oblíqua anormal da coluna dorsal) estão presentes em 60%, Deformidade de
Sprengel (30%), torcicolo e alterações do sistema urinário (35%), perda da audição
(30%), assimetria facial (20%), sincinesia ou movimentos em espelho (20%) e
problemas cardiovasculares congênitos (4,2 a 14%) (MAHIROGULLARI et al., 2006;
LLOPIS, 2010).
Na Síndrome de Klippel-Feil são observados diversos transtornos músculo-
esqueléticos. Dentre as alterações músculo-esqueléticas se encontram a limitação
do movimento do pescoço, espinha bífida, transtornos degenerativos e protrusão
dos discos vertebrais, siringomielia, cifose ou escoliose, torcicolo por contratura
muscular, deformidade de Sprengel, sindactilia, dedos supranumerários,
espasticidade, hiperreflexia, parestesias e cefaléia, além de sincinesia,
hemivértebras, assimetria cranial, assimetria torácica, osso omovertebral, forâmen
magno alargado e atrofias musculares. Pode existir subluxação, degeneração
vertebral ou diminuição do espaço intervertebral, que ocorre de forma espontânea
(FIGUEROA; OROZCO; ROSAS, 2005; RAMSEY; BLIZNAK, 1971; AZAMBUJA;
AZAMBUJA; ZANATTA, 2003).
Como já foi dito, aproximadamente 60% dos pacientes apresentam escoliose
(LLOPIS, 2010). Em alguns casos é considerada congênita porque envolve outras
partes da coluna vertebral: torácica e lombar. Outros pacientes desenvolvem a
escoliose para compensar outras patologias cervicais, cérvico-dorsal ou lombar
devido a uma diferença de altura das pernas, ou mesmo devido a patologias podais
(BOTERO; TELLO, 2005; SULLIVAN, 2009). Para complementar estes dados,
43

Hensinger, Lang e Macewen, (1974) salientam que os exames radiográficos devem


incluir radiografias laterais da coluna vertebral. Um aumento da cifose pode fazer
com que seja necessário um tratamento da escoliose mais urgente. A progressão
documentada da escoliose, seja nos elementos congenitamente distorcidos ou na
curva de compensação abaixo deles, exige tratamento imediato e adequado para
evitar grave deformidade adicional. As curvas de muitas crianças podem ser bem
controladas com sucesso através da ortopedia para coluna. Ocasionalmente, as
crianças pequenas exigirão uma cinta modificada ou especialmente feita para elas.
A escoliose envolvendo a coluna torácica não deve ser permitida ter um progresso
além de 55 graus (de preferência menos), uma vez que pode comprometer ainda
mais e seriamente a função pulmonar.
Outra alteração músculo-esquelética bastante freqüente na Síndrome de
Klippel-Feil é a Deformidade de Sprengel. Apresenta-se como uma elevação e uma
rotação para medial do ângulo inferior da escápula e ocorre entre 20 a 30% dos
pacientes. Começando na terceira semana de gestação, a escápula desenvolve-se
do tecido mesodérmico no alto do pescoço ao nível da terceira para a quarta
vértebra cervical. Desce na sua posição torácica por volta da oitava semana, ou
aproximadamente no mesmo momento da ocorrência da lesão da Síndrome de
Klippel-Feil. Em 30% dos pacientes a escápula está unida à coluna cervical
mediante um osso homovertebral que pode limitar severamente o movimento
escapulo-torácico. Esta condição pode ser uni ou bilateral (HENSINGER; LANG;
MACEWEN, 1974; HELMI; PRUZANSKI, 1980; BOTERO; TELLO, 2005).
Ainda, de acordo com estes autores, esta enfermidade tende a ser dolorosa e
em muitos pacientes, o diagnóstico correto só se faz na adolescência,
especialmente a partir da queixa que manifesta o paciente a respeito de torcicolo e
sobre a limitação dos movimentos do pescoço. Para o tratamento da dor,
prescrevem-se sessões de fisioterapia.
Podem ser observadas ainda alterações em dedos e membros como
polidactilia, sindactilia, polegar hipoplásico, dedos supranumerários e alterações no
músculo trapézio (FIGUEROA; OROZCO; ROSAS, 2005). Observam-se outras
anomalias como pé eqüino e pinça de lagosta.
Outra característica comum achada nesta síndrome é a presença de
sincinesia ou movimentos em espelho das extremidades superiores (contrações
coordenadas e involuntárias que aparecem num grupo de músculos quando se
44

realizam movimentos voluntários em outro grupo muscular). Ocorrem em


aproximadamente 20% dos casos de Síndrome de Klippel-Feil (BOTERO; TELLO,
2005; MAHIROGULLARI et al., 2006; LLOPIS, 2010). Sullivan (2009) explica que à
medida que o paciente tenta opor o polegar e outro dedo da mão direita, o mesmo
movimento ocorre involuntariamente na mão esquerda. Hensinger, Lang e Macewen
(1974) concordam com os autores acima e acrescentam que esta condição é mais
associada em crianças mais novas, principalmente menores de cinco anos. Segundo
estes autores, felizmente a situação tende a melhorar com a idade e sugerem que a
terapia ocupacional tem sido muito útil para ajudar o controle dos movimentos por
parte dos pacientes.
Entre 4 a 14% dos afetados pela Síndrome de Klippel-Feil apresentam
transtornos cardiovasculares, dentre os quais o mais freqüente é o defeito do septo
interventricular (BOTERO; TELLO, 2005; FIGUEROA; OROZCO; ROSAS, 2005;
TEOH; WILLIAMS, 2006). Além desta alteração, outras que podem acometer estes
pacientes são: estenose pulmonar, dextrocardia, tetralogia de Fallot, conduto
arterioso, forâmen oval persistente, aurícula única, ventrículo único, hipertensão
pulmonar, anomalias das veias pulmonares e arco aórtico direito (DOMINGUÉZ;
NAJÉRA, 2006). Estes transtornos são mais vistos nos portadores da Síndrome de
Klippel-Feil tipo I e tipo IV (FIGUEROA; OROZCO; ROSAS, 2005).
Com alguma freqüência estes pacientes apresentam também malformações
da cartilagem laríngea, suspeitas devido a alterações na fonação e na fala
(BOTERO; TELLO, 2005). São citadas também alterações gastrointestinais e
dermatológicas nestes pacientes (RAMSEY; BLIZNAK, 1971).
Em cerca de 35%, uma porcentagem expressiva, ocorrem anomalias renais
sendo que estas podem ser bastante severas (SULLIVAN, 2009; LLOPIS, 2010;
HENSINGER; LANG; MACEWEN, 1974). Para Teoh e Williams (2006), a presença
de alterações renais se expressa em 64% dos portadores desta síndrome. Estas
anomalias associam-se aos três tipos de SKF, sendo em 62% do tipo I, 71% do tipo
III e muito menor no tipo II (BOTERO; TELLO, 2005). A anomalia geniturinária mais
comum é a agenesia renal unilateral (VAIDYANATHAN, 2002). Outras anomalias
urinárias encontradas são: além de agenesia renal, rim em ferradura, litíase renal
contralateral, útero bicorne, malrotação renal (segundo em freqüência), ectopia renal
e as genitais: criptocardia, ausência de vagina e ovários (FIGUEROA; OROZCO;
ROSAS, 2005; DOMÍNGUEZ; NAJÉRA, 2006).
45

Na síndrome de Klippel-Feil têm sido observados diversos transtornos


neurológicos, a saber: espasticidade ou hiperreflexia, movimentos das extremidades
superiores em espelho em 20% ou sincinesia, siringomielia, hemiplegia, paraplegia
ou quadriplegia (BOTERO; TELLO, 2005; RAMSEY; BLIZNAK, 1971; AZAMBUJA;
AZAMBUJA; ZANATTA, 2003; STADNICKI; RASSUMOWSKI, 1972; DOMÍNGUEZ;
NAJÉRA, 2006). Ainda, pode associar-se a malformações do sistema nervoso
central como encefalocele, meningocele, hidrocefalia, malformação de Arnold-Chiari,
microcefalia e alterações da fossa posterior. Existem alterações neurosensoriais
como surdez e oculares: coloboma, microftalmia e ptose palpebral (FIGUEROA;
OROZCO; ROSAS, 2005). Mahirogullari et al. (2006) somando-se ao que foi dito
sobre as alterações neurológicas que podem aparecer nesta síndrome, acrescentam
outras informações relevantes como exemplo que alguns sintomas na coluna
vertebral podem aparecer se uma hipermobilidade ocorrer nas vértebras que não
apresentam fusão. Seqüelas neurológicas podem estar presentes. Se uma
instabilidade progressiva e persistente ocorrer, espasticidade, fraqueza,
hiperreflexia, quadriplegia e súbita morte por trauma podem ser vistos quando a
medula espinhal é afetada.
Com relação à idade em que os sintomas neurológicos aparecem depende
do nível de fusão, os autores citados a seguir dizem que as fusões na primeira e
segunda vértebras cervicais tendem a produzir sintomas na primeira década de vida,
enquanto fusões nas segunda e terceira vértebras estão associadas com sintomas
neurológicos na terceira década de vida. A maioria dos sintomas,
independentemente da localização da lesão, aparecem antes dos 30 anos (GRAY et
al., 1964 apud HELMI; PRUZANSKY, 1980).
A surdez está presente em aproximadamente um terço dos pacientes devido
a deficiências no desenvolvimento do ouvido interno e é o segundo defeito em
importância associado à Síndrome de Klippel-Feil. Podem acontecer também
alterações do ouvido externo e médio (MCGAUGHRAN; KUNA; DAS, 1998;
YLDIRIM et al., 2008; OEKEN et al., 1996).
A perda auditiva pode ser do tipo neurossensorial, condutiva ou mista
(SULLIVAN, 2009) e sua detecção precoce é importante, permitindo o início da fala
e da linguagem numa idade mais precoce do que normalmente seria se houvesse
um atraso (HENSINGER, LANG, MACEWEN, 1974).
46

Já, os defeitos na visão podem acometer 20,63% dos pacientes, sendo vistos
com freqüência o estrabismo convergente e a pstose palpebral (HELMI;
PRUZANSKY, 1980; BOTERO; TELLO, 2005).
As manifestações orais desta síndrome podem ser extensivas e de difícil
manejo, necessitando de uma relação essencial com profissionais de outras áreas,
como pediatras. Apesar de grandes avanços nas técnicas de cirurgias crânio-faciais
terem acontecido nos últimos anos, complicações e algumas falhas ainda ocorrem
(BORAZ; IRWIN; BLARCOM, 1986).
Várias alterações faciais e bucais podem ocorrer nos pacientes com a
Síndrome de Klippel-Feil: assimetria facial, terço inferior da face pequeno,
malformação frontonasal, lábio e palato fissurados, úvula bífida e obstrução crônica
de via aérea superior. Foram mencionados ainda, micrognatia, ponte nasal
proeminente e palato fissurado submucoso (LAGRAVÈRE et al., 2004; OZDILER;
ACKAM; SAYIN, 2000; STADINICKI; RASSUMOWSKI, 1972; COOPER, 1976).
Estes autores ainda citam que o cirurgião-dentista deve estar ciente das
características desta síndrome para realizar um correto diagnóstico e plano de
tratamento. Estes profissionais devem checar a presença de palato fissurado
submucoso e a ausência congênita de alguns dentes, pois estas características são
comuns na Síndrome de Klippel-Feil.
Barbosa, Maganzini e Nieberg (2005) citam ainda que além da possibilidade
da existência das características descritas acima, pode ocorrer a presença de
oligodontia em ambas dentições decídua e permanente em alguns pacientes.
Por fim, podem ser encontrados defeitos na fala em cerca de 16,87% destes
pacientes, sendo que a hipernasalidade é o problema mais comum. (HELMI;
PRUZANSKY, 1980). Estes problemas podem ser amenizados quando a deficiência
auditiva é reconhecida cedo na vida destes pacientes.
Há uma grande associação entre fusão de vértebras cervicais e fissura
palatina. Botero e Tello (2005), Boraz, Irwin e Blarcom (1986) e Azambuja;
Azambuja e Zanatta (2003) dizem que a aparição de palato fissurado nos pacientes
com a Síndrome de Klippel-Feil é entre 5 % a 20% dos casos, o que é considerado
uma incidência relevante. A aparição de desta condição nesta síndrome é explicada
da seguinte forma: entre a oitava e nona semanas de vida embrionária, a língua do
feto fica orientada verticalmente entre as apófises palatais. Na nona ou décima
semanas, a cabeça é levantada a partir da região do pericárdio, e em seguida, a
47

mandíbula e a língua se de deslocam dessa posição permitindo que o palato se


fusione na linha média e finalmente, formando o palato mole. Se o feto tem uma
fusão de vértebras cervicais, a mandíbula permanece comprimida contra o peito e
força a língua a continuar entre as apófises horizontais do palato, resultando em
incompleto fechamento do palato (YOSHIHARA; SUZUKI; YAWAKA, 2010).
Para ressaltar a importância da relação entre palato fissurado e Síndrome de
Klippel-Feil, Helmi e Pruzansky (1980) citam que a esta síndrome apresenta especial
interesse em relação à associação da presença de fissura palatina devido a algumas
razões: 1- Palato fissurado é um achado comum nesta síndrome. 2- Malformações
das vértebras cervicais são comuns em pacientes com fissura palatina. 3- Perda de
audição é um achado freqüente na presença de palato fissurado. 4- Anomalias
cervicais podem complicar a intubação para anestesia. 5- Pescoço curto pode ser o
defeito primário que impede a fusão palatal. Ainda, segundo estes autores, há
presença na literatura de palato fissurado nos pacientes com Síndrome de Klippel-
Feil e não de fissura de lábio.
A assimetria facial está presente em 20 a 50% dos pacientes (BOTERO;
TELLO, 2005; SULLIVAN, 2009; MAHIROGULLARI et al., 2006). Há ainda citação
na literatura da existência de língua bífida nesta síndrome (BOTERO; TELLO, 2005)
e de úvula bífida em 5 a 20% dos afetados (BORAZ; IRWIN; BLARCOM, 1986 e
AZAMBUJA; AZAMBUJA; ZANATTA, 2003; COOPER,1976). Em um número
pequeno de pacientes ocorre hipoplasia mandibular e apnéia (LIMA et al., 2009).
Limitação da abertura bucal também é citada por estes autores. Por último, a
presença de má-oclusão também é encontrada nestes pacientes, em cerca de 20%
(AZAMBUJA; AZAMBUJA; ZANATTA, 2003).
A maioria dos sintomas está relacionada com a hipermobilidade ou limitação
de mobilidade que ocorre nos segmentos cervicais. Pode haver sintomas mecânicos
devido à irritação das articulações e sintomas neurológicos devido à compressão ou
irritação da medula espinhal. Um trauma leve pode nestes pacientes de alto risco,
pode ocasionar maiores seqüelas como quadriplegia total ou morte (BOTERO;
TELLO, 2005).
Embora vários autores tenham enfatizado que os sintomas relacionados a
coluna cervical em pacientes com Síndrome de Klippel-feil são pronunciados
na idade adulta, uma revisão crítica da literatura diz que até 50% dos pacientes
pediátricos são sintomáticos (SAMARTZIS et al., 2006).
48

Dentre os sintomas descritos na literatura, encontram-se sintomas axiais do


pescoço como dor de garganta, rigidez e restrição dos movimentos do pescoço
(CHEN; WANG, 2008), sintomas neurológicos que são secundários à degeneração
do disco ou doença dos segmentos adjacentes móveis, instabilidade da coluna
cervical, hipermobilidade da coluna ou devido a trauma e estenose espinhal em
épocas posteriores da vida (YUKSEL et al., 2005) e o desenvolvimento de
radiculopatias e mielopatias (SAMARTZIS et al., 2006).
Para o diagnóstico da Síndrome de Klippel-Feil, utilizam-se radiografias que
são essenciais para o correto descobrimento da doença. Quando suspeita-se da
síndrome em um paciente, o processo de diagnóstico deve começar pela tomada
radiográfica ântero-posterior e lateral da coluna cervical. Além disso, se houver
suspeita de instabilidade craniocervical considera-se a obtenção de radiografias em
flexão e extensão do pescoço (SULLIVAN, 2009; BOTERO; TELLO, 2005).
Em alguns pacientes, talvez seja necessário a realização de outros testes
complementares de imagem, sendo estes a tomografia computadorizada e a
ressonância magnética. A tomografia é um excelente meio para avaliar a anatomia
antes da cirurgia e permite reconstrução em 3D da área cirúrgica ideal (SULLIVAN,
2009; SENOSIAN et al., 2001; YUKSEL et al., 2005). Estes últimos autores citam
porém a desvantagem do custo elevado da técnica, porém as vantagens superam as
desvantagens e tornam a tomografia uma boa opção para diagnóstico.
Já a Ressonância Magnética por Imagem (RMI) é indicada para pacientes
com déficit neurológico. A ressonância nas posições de flexão e extensão pode
revelar a compressão da medula e é útil na avaliação também da estenose cervical.
Em pacientes com déficits neurológicos, a ressonância da coluna inteira deve ser
obtida para procurar anomalias do sistema nervoso central, como siringomielia
(SULLIVAN,2009).

Deve-se fazer o diagnóstico diferencial com várias outras alterações ósseas:


condrodisplasia, Síndrome de Albright, displasias espondiloepifisarias, metafisiarias
e torácicas, Síndrome de Wildervanck. Com algumas cromossomopatias como
Síndrome de Down, Turner, trissomia 4p, deleção 4p. Com as embriopatias
hidantoínica, Síndrome do alcoolismo fetal, mucopolissacaridoses, Pterigum Coli,
Síndrome de Turner, Síndrome de Nooman e na Displasia crânio-carpo-tarsal. Deve-
se diferenciar também da da displasia espôndilo-torácica, artrite reumatóide juvenil e
49

com a espondilite reumatóide (BOTERO; TELLO, 2010; FIGUEROA; OROZCO;


ROSAS, 2005). Lagravère et al. (2004), citam ainda que o diagnóstico diferencial da
Síndrome de Klippel-Feil inclui disostose espondilocostal, Síndrome de Poland e
síndromes que envolvem polidactilia. Llopis (2010) observa que se deve realizar
ecografia renal, audiometrias, provas de função da tireóide, entre outros, para
descartar outras anomalias associadas.
O prognóstico para a maioria dos portadores da Síndrome de Klippel-Feil é
bom se a doença é tratada cedo e de forma adequada. Atividades que podem
machucar o pescoço devem ser evitadas para não ter complicações posteriores. A
detecção precoce ajuda a tomar os cuidados necessários, mas o descobrimento da
Síndrome é muitas vezes complicado pelo fato de que em jovens pacientes, a
presença de fusão cervical pode não ser prontamente determinada porque a
ossificação ainda não progrediu ao ponto que possa ser indicada falta de
segmentação da coluna vertebral (CHEN; WANG, 2008; BARBOSA; MANGAZINI;
NIEBER, 2005; BOTERO; TELLO, 2005). Ainda, segundo estes últimos autores, a
dor cervical pode ser tratada com analgésicos, mas se ela é comprovadamente
produzida pela compressão dos nervos nos espaços intervertebrais, poderá ser
necessária uma tração cirúrgica. A decisão de intervir cirurgicamente justifica-se em
casos de anomalias que tenham caráter progressivo, deformante ou incapacitante,
mas dependem da localização.
A responsabilidade familiar é fundamental para supervisionar, manter a
função e prevenir o aparecimento ou aumento do déficit neurológico por fusão,
acidentes ou trauma. Quanto às doenças do coração cada caso deve ser estudado
individualmente para decidir se é melhor tratamento médico ou cirúrgico
(FIGUEROA; OROZCO; ROSAS, 2005).
Pacientes com a Síndrome de Klippel-Feil têm diferentes manifestações
clínicas em diferentes idades. As indicações para tratamento cirúrgico variam
individualmente. Para o ortopedista, as indicações mais freqüentes para a cirurgia
dependem do grau de deformidade, da sua localização, progressão e de acordo com
o tempo. Outras indicações cirúrgicas incluem a instabilidade da coluna cervical e
problemas neurológicos associados a esta instabilidade. Estas indicações podem
ocorrer quando há anomalias da junção craniocervical e quando dois segmentos
fusionados são separados por um segmento normal. Alguns pacientes apresentam
no início da vida uma complexa deformidade cervical e cervicotoráxica que é
50

progressiva e desfigurante. Alguns destes pacientes necessitam de fusão da coluna


cervical para evitar a progressão. Outros pacientes podem desenvolver escoliose
compensatória ou associada, que também pode ser progressiva ao longo da vida e
requer fusão para evitar esta progressão (SULLIVAN, 2009).
Karasick, Schweitzer e Vaccaro (1998), Lima et al., (2009), Lagravère et al.,
(2004), Sullivan (2009), Fernandes et al., (2010), Teoh e Williams (2006) e
Yoshihara, Suzuki e Yawaka (2010) citaram em seus trabalhos que os pacientes
com Síndrome de Klippel-Feil podem ter aumentado risco para desenvolver lesões
neurológicas, como resultado de hipermobilidade de vários segmentos cervicais.
Estes autores salientam que qualquer menor trauma nestes pacientes que possam
lesionar a coluna cervical, pode induzir à súbita injúria neurológica, ou em casos
piores, até mesmo à morte. Também dizem que a intubação destes pacientes é
difícil e alguns cuidados devem ser tomados para se evitar lesões cervicais e injúrias
neurológicas.
Com relação às condutas odontológicas, Toledo (1986) e Schmidt (1998)
afirmam que é de fundamental importância para o atendimento adequado e seguro a
estes pacientes, a realização de uma anamnese cuidadosa e detalhada,
principalmente no que se refere à história médica do paciente, sendo que o contato
com o médico do paciente é um requisito importante no auxílio do profissional. O
conhecimento prévio da doença em questão nos fornece as informações
necessárias quanto a prováveis alterações de ordem sistêmica e bucal, bem como
seu prognóstico e expectativa de vida. A importância do conhecimento prévio da
doença também foi citado por (OZDILER; AKCAM; SAYIN, 2000; LAGRAVÈRE et
al., 2004). A anamnese é o primeiro passo para se evitar complicações no
consultório. O tratamento odontológico deve ser realizado respeitando as
particularidades e limitações do paciente, estipulando sempre uma rotina para que
ele se sinta seguro com o dentista. Além disso, a abordagem odontológica ao
paciente deficiente em idade precoce deve proporcionar antes de tudo segurança a
seus pais ou responsáveis. Estes autores dizem que antes de qualquer tentativa de
abordar o paciente, o profissional deve se certificar de que todas as informações
foram corretamente entendidas, previnir sobre possíveis reações comportamentais e
reforçar todos os benefícios do tratamento dentário. Somente com o entendimento e
uma atitude positiva dos familiares será viável a realização de uma abordagem
adequada.
51

Barbosa, Maganzini e Nieberg (2005), Azambuja, Azambuja e Zanatta (2003)


e Cooper (1976) concordam com o fato de que o papel do cirurgião-dentista é
fundamental para melhorar as condições bucais destes pacientes, proporcionando
melhorias da função e da estética facial e colaborando para uma melhor qualidade
de vida destes indivíduos. Tanto Barbosa, Maganzini e Nieberg (2005) como Cooper
(1976) citam que as deformidades da coluna vertebral são de interesse para estes
profissionais pela presença da incapacidade de estender o pescoço, o que muitas
vezes leva a dificuldades no tratamento. Mas, apesar desta dificuldade, estes
autores dizem que a fusão cervical não é uma contra-indicação para o tratamento.
Botero e Tello (2005) orientam em seu trabalho o profissional sobre alguns
cuidados que devem ser tomados com estes pacientes:
1- Na hora de deitar o paciente na cadeira odontológica ter cuidado para não
estender em excesso a cabeça e pescoço do mesmo. Esta manobra evitaria
causar uma maior lesão cervical.
2- Limitar cuidadosamente os movimentos de lateralidade da cabeça.
3- Notar que estes pacientes possuem abertura bucal limitada.
4- Proporcionar conforto a estes pacientes colocando almofadas ou travesseiros
atrás da cabeça.
5- Se possível, realizar consultas de curta duração.
6- Lembrar que estes pacientes, em certas circunstâncias e posições podem ter
dificuldades para respirar ou para deglutir.
52

4 CONCLUSÃO

Com base nas informações obtidas através da revisão de literatura, pode-se


concluir que:
1- A síndrome de Klippel-Feil é uma enfermidade rara e caracteriza-se pela
fusão de duas ou mais vértebras cervicais, apresentando-se como uma tríade
característica representada por pescoço curto, implantação baixa da linha
posterior do cabelo e limitação dos movimentos da cabeça e pescoço. Este
fenótipo está presente em cerca de 40% a 50% dos portadores da Síndrome.
2- A manifestação mais comum da Síndrome de Klippel-Feil é a limitação dos
movimentos do pescoço, aparecendo entre 50 a 76% dos pacientes.
3- É de fundamental importância para o atendimento adequado e seguro a estes
pacientes, a realização de uma anamnese cuidadosa e detalhada,
principalmente no que se refere à história médica do paciente, sendo que o
contato com o médico do paciente é um requisito importante no auxílio do
profissional.
4- Deve-se ter cuidado na hora de deitar o paciente, tendo atenção para não
estender em excesso a cabeça e o pescoço do paciente, devem-se limitar
cuidadosamente os movimentos de lateralidade da cabeça e proporcionar
conforto a estes pacientes colocando almofadas ou travesseiros atrás da
cabeça, sendo possível assim, a realização de um tratamento eficaz e com
segurança.
5- Dentre as alterações faciais e bucais mais encontradas pode-se citar nestes
pacientes: assimestria facial, terço inferior da face pequeno, palato fissurado,
fissura palatina submucosa, úvula bífida e ausência congênita de alguns
dentes.
6- As manifestações orais desta síndrome podem ser extensivas e de difícil
manejo, necessitando de uma relação essencial com profissionais de outras
áreas, como pediatras.
7- Anomalias cervicais podem complicar a intubação para anestesia geral e
alguns cuidados devem ser tomados para se evitar lesões cervicais e injúrias
neurológicas. Os pacientes com Síndrome de Klippel-Feil podem ter
aumentado risco para desenvolver lesões neurológicas, como resultado de
hipermobilidade de vários segmentos cervicais. Qualquer menor trauma
53

nestes pacientes que possam lesionar a coluna cervical pode induzir à súbita
injúria neurológica, ou em casos piores, até mesmo à morte.
8- Há uma grande associação entre fusão de vértebras cervicais e fissura
palatina. A aparição de desta condição nesta síndrome é explicada da
seguinte forma: entre a oitava e nona semanas de vida embrionária, a língua
do feto fica orientada verticalmente entre as apófises palatais. Na nona ou
décima semanas, a cabeça é levantada a partir da região do pericárdio, e em
seguida, a mandíbula e a língua se de deslocam dessa posição permitindo
que o palato se fusione na linha média e finalmente, formando o palato mole.
Se o feto tem uma fusão de vértebras cervicais, a mandíbula permanece
comprimida contra o peito e força a língua a continuar entre as apófises
horizontais do palato, resultando em incompleto fechamento do palato.
9- Como já foi dito neste trabalho, o conhecimento das características físicas,
neurológicas, dos problemas sistêmicos associados assim como dos
problemas bucais do paciente com a Síndrome de Klippel-Feil são de grande
relevância para o cirurgião-dentista compreender estes pacientes, já que
estas características trazem conseqüências para o tratamento odontológico. A
partir do momento que se tem conhecimento desses aspectos, será possível
o profissional evitar a ocorrência de acidentes durante a execução do
procedimento clínico, podendo exercer um trabalho correto e com segurança.
54

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