Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Unidade I PDF

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 4

1

Sociolinguística

Autora: Marianne Carvalho Bezerra Cavalcante

Olá a todos e todas, neste semestre trabalharemos com a disciplina de


sociolingüística. Daremos ênfase aos aspectos históricos de formação da área;
seus principais pressupostos norteadores e conceitos-chave. Espero que
aproveitem bem esta disciplina!

Unidade 1 – Um pouco de história

A partir de meados do século XX, a área da lingüística sofre mudanças


significativas. É nesse momento que ocorre a chamada virada paradigmática.
Isto é, os estudos lingüísticos passam a se interessar não pelo sistema da
língua em si, mas também pelo seu uso. Assim, surgem diversos campos de
investigação que promovem uma relação interdisciplinar. Assim, a lingüística
articula-se com a filosofia e com outras ciências humanas como a sociologia, a
antropologia, a psicologia, a neurociência, a semiótica etc.

Para nós nesta disciplina interessa a articulação dos estudos da língua com os
estudos sobre a sociedade. Tal junção permitiu o surgimento da
sociolingüística. Esta disciplina estuda as línguas na sua relação com as
sociedades que as usam. Ela procura responder a questões do tipo “quem diz
o quê?, onde?, quando?, como? e por quê?” Busca mostrar que toda e
qualquer língua é constituída de diversas formas de uso, a depender de quem
usa a língua, sua idade, o contexto social, etc.

Na perspectiva da sociolingüística, o ser humano é por natureza plurilíngüe


(usa diversas línguas). E mesmo quando usamos nossa língua, esta se
apresenta de diversos modos: por exemplo, em casa, usamos o idioma familiar;
na escola, modificamos o nosso modo de usar a língua e interagimos com
outras pessoas, colegas e professores, que trazem modos de usar a língua
diferentes do nosso. Isto acontece em qualquer língua, seja ela o português
brasileiro ou a LIBRAS.
2

As línguas então são um aglomerado de níveis de expressão, atestando que


nenhuma comunidade é inteiramente homogênea. De fato, cada falante é, ao
mesmo tempo, usuário e agente modificador de sua língua, nela imprimindo
marcas geradas pelas novas situações com que se depara.

Vamos então entender e conhecer um pouco da história da


Sociolinguistica !!

BREVE HISTÓRICO DA SOCIOLINGÜÍSTICA

O termo “Sociolingüística” apareceu pela primeira vez em 1953, num trabalho


de Haver C. Currie. O estudo dessa disciplina desenvolveu-se nas décadas de
50 e 60, nos Estados Unidos, e o interesse despertado pela pesquisa deve-se:

a. à grande divulgação dos estudos de comunicação,

b. à necessidade de maior aproximação com outros povos, ou de


conhecimento melhor da própria comunidade e

c. à divulgação dos estudos de Sociologia e Lingüística.

O ano-chave para o surgimento da Sociolingüística nos Estados Unidos


é 1964, com a publicação de livros de Gumperz, Labov, Hymes e a conferência
de William Bright em Los Angeles.

Segundo Bell (1976, p. 28 apud ELIA, 1987, p. 65):

... a Sociolingüística (distinta da Sociologia da Linguagem) estaria enriquecida


com dados de natureza social, o que lhe permitiria ir além da frase, no sentido
de uma gramática da interação falante/ouvinte.

A sociolingüística enfrenta o desafio de tentar processar, analisar e sistematizar


o universo aparentemente caótico da língua na sua modalidade oral e/ou
gestual. Podem ser chamados de sociolingüistas todos aqueles que entendem
por língua um sistema de comunicação, de informação e de expressão entre os
indivíduos da espécie humana (Tarallo, ).

Entre sociedade e língua não há uma relação de mera casualidade. Desde


que nascemos, um mundo de signos lingüísticos nos cerca, e suas inúmeras
3

possibilidades comunicativas começam a tornar-se reais a partir do momento


em que, pela imitação ou associação, começamos a formular nossas
mensagens. Sons, gestos e imagens cercam a vida do homem moderno,
compondo mensagens de toda ordem, transmitidas pelos mais diferentes
canais. Em todos, a língua desempenha um papel fundamental, seja ela visual,
oral ou escrita.

Desse modo, a corrente Sociolingüística, iniciada na década de 60, buscava


desenvolver uma nova concepção do estudo da lingüística. A Sociolingüística
ocupava uma posição central no processo de rompimento com a visão
estruturalista da época. Isso fez com que a Sociolingüística se tornasse uma
das candidatas à sucessão do Estruturalismo como modelo hegemônico da
ciência lingüística. A partir dessa contradição, surge não apenas a
Sociolingüística, mas também outras duas correntes ou programas de
pesquisa: a Etnografia da Fala e a Sociologia da Linguagem, capitaneadas
respectivamente por Dell Hymes e Joshua Fishman.

Hymes destaca a importância da diversidade que caracteriza a dimensão


sócio-histórica do fenômeno lingüístico dentro do seu programa de pesquisa;
ao passo que Fishman enfatiza a interação entre língua e sociedade. Sendo
que nessas duas correntes, a língua deve ser entendida como forma verbal e
comunicação social, institucionalizada por uma comunidade de usuários. De
forma geral, essa nova disciplina tenta dar conta da dimensão sócio-histórica
do fenômeno lingüístico, ou seja, dos fatos concernentes à variação e à
mudança lingüística e à interação entre a língua e a sociedade.

Assim, atribui-se à Sociolingüística o estudo das relações entre língua e


sociedade. Aqui, língua deve ser entendida como um sistema de vários níveis
integrados num todo historicamente estruturado. A sociolingüística se ocupa,
do estudo da possível incidência das forças sociais sobre os estratos
fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos das línguas.

Foi William Labov que voltou a estudar a relação entre língua e sociedade e na
posição, virtual e real, de sistematizar a variação existente e própria da língua
falada.
4

É William Labov quem inaugura os estudos desta nova disciplina em 1963,


quando analisa o inglês falado na ilha de Martha’s Vineyard, no estado de
Massachusetts (EUA). Após esta pesquisa, várias outras surgiram: como a
estratificação social do inglês falado na cidade de Nova Yorque (1966); a língua
do gueto, entre outros.

Labov inaugura uma vertente de estudos de orientação anti-saussuriana, ou


seja, contrária à corrente dominante e que deu origem ao Curso de Linguistica
Geral. Assim, ao invés da langue - língua, como fez Saussure, Labov centra
seus estudos na parole- fala/uso. E ainda enfoca o estudo da fala/uso de um
ponto de vista social e não individual.

ATENÇÃO!!

Para relembrar esta discussão langue/parole proposta por Saussure, sugiro


vocês reverem o material da disciplina Teorias lingüísticas do semestre
passado!

A língua então funciona como elemento de interação entre o indivíduo e a


sociedade em que ele atua. É através dela que a realidade se transforma em
signo, pela associação de significantes sonoros e significados arbitrários,
processando, assim, a comunicação lingüística. Preti (1977, p. 2) afirma que a
sociedade não é possível a não ser pela língua; e pela língua também o
indivíduo.

Você também pode gostar