Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Gonçalves 2010 Estádios Desenvolvimento Apreciação Musical

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 162

Universidade de Aveiro Departamento de Comunicação e Arte

2010

Maria da Rocha Estádios de desenvolvimento da


Gonçalves
apreciação musical

O que os intérpretes valorizam


Universidade de Aveiro Departamento de Comunicação e Arte
2010

Maria da Rocha Estádios de desenvolvimento da apreciação


Gonçalves
musical

O que os intérpretes valorizam


Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos
requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Música para o Ensino
Vocacional, realizada sob a orientação científica do Professor Doutor Jorge
Salgado Correia, Professor Associado do Departamento de Comunicação e
Arte da Universidade de Aveiro
o júri

presidente Prof.ª Dr.ª Maria Helena da Silva Santana


professora auxiliar da Universidade de Aveiro

Prof. Dr. Jorge Manuel Salgado de Castro Correia


professor associado da Universidade de Aveiro

Prof. Dr. Luís Filipe Barbosa Loureiro Pipa


professor associado do Departamento de Música do Instituto de Letras e Ciências Humanas da
Universidade do Minho
agradecimentos Ao meu orientador, Jorge Salgado Correia.

Um beijo para a minha mãe.


palavras-chave Apreciação musical, performance, estádios de desenvolvimento

resumo Nesta dissertação procurou-se investigar que valores alimentam as


preferências musicais de um grupo de alunos de violino de diferentes idades.
Comparando as suas respostas com outros estudos acerca da apreciação da
arte e da música em particular, procurou-se agrupar os valores em estádios de
apreciação. Concluiu-se que as qualidades que os alunos de violino apreciam
na música vão variando por uma ordem sistemática e sequencial. O tempo de
contacto com o instrumento, a personalidade, a idade, assim como o contexto
sócio-cultural são factores que influenciam a valorização e o desenvolvimento
de um estádio para o seguinte. A valorização parte de um contexto de
consciência individual e auto-referencial para um conhecimento social e
cultural mais abrangente da performance em violino. Este estudo poderá já ser
vantajosamente considerado pelos professores de violino na escolha de
repertório adequado para cada aluno.
keywords Music appreciation, performance, developmental stages

abstract The purpose of this dissertation is to find out which values a group of violin
students gives importance to in their musical preferences. Comparing their
answers to other studies in the subject of aesthetic appreciation of art and
particularly music, these values have been grouped in a scheme of ʻstages for
appreciationʼ. It has been found out that there is a systematic and sequential
order for the values students point out as important to their preferences. The
time spent with the instrument, personality, age, as well as studentsʼ specific
socio-cultural context have influence on the evaluation and on the progression
from one stage to the other. Appreciation starts at an individual sense of the
self in relation to music and evolves to a broader socio-cultural knowledge
about musical interpretation. Violin teachers can already take this study into
consideration to choose appropriate repertoire for their students.
Índice

1. Introdução 1

2. Fundamentação teórica 3
Estádios de desenvolvimento da apreciação musical
O que os intérpretes valorizam
2.1. Apreciação Musical 4
2.1.1. A Música 5
2.1.2. Situações e Contextos 8
2.1.3. O Ouvinte 10
2.1.4. A Resposta 11
2.2. Estádios e teorias de desenvolvimento 19
2.2.1. O que são estádios? 21
2.2.2. A Espiral de desenvolvimento de Swanwick/ Tillman 23
2.2.3. Estádios cognitivos: Parsons 27

3. Investigação empírica: 31
Explorando o contexto social e afectivo da apreciação
estética dos alunos de violino
3.1. Metodologia 33
3.1.2.1. Questionários 38
3.1.4. Análise dos dados das entrevistas 41
3.1.5. Aglomerados de ideias acerca da valorização musical em 46
cada ‘grupo’
3.1.6. Comparação com outros estudos 52
3.1.7. Observações 62

4. Conclusão 63

5. Bibliografia 65
6. Anexos 71
6.1. Tabelas 73
6.2. Entrevistas 104
Índice de Figuras e Tabelas

Figuras
1. Modelo de feedback recíproco das respostas musicais 5
(adaptado de: Hargreaves 2008:124)
2. Transformações Metafóricas 13
(adaptado de: Swanwick 1999:19)
3. Modelo de desenvolvimento em espiral 24
proposto por Swanwick & Tillman (1986:306)
4. Perspectiva interna e externa do intérprete 61

Tabelas
1. Estádios de desenvolvimento musical 26
(Adaptado de Swanwick & Tillman 1986)
2. Estádios de Parsons (adaptado de Parsons 1992) 30
3. Análise do percurso artístico 45
4. Valorização Representacional 47
5. Valorização Sensorial 48
6. Valorização do desafio 49
7. Valorização da Expressividade 50
8. Valorização da Interpretação Informada 52

Tabelas (Anexos)
A Identificação do aluno (41)
73
B Motivação 74
C Percurso Artístico 76
D Valorização
a) Perspectiva do ouvinte 80
b) Perspectiva do Performer 83
E Características e valores musicais (interpretação da autora) 101
Introdução

Este projecto de investigação envolve diferentes áreas do conhecimento –


Estética, Psicologia do Desenvolvimento, Sociologia, Estudos Artísticos e
Educação Artística.

Procurou-se investigar de que forma se podem identificar eventuais estádios


de apreciação musical. Assim como Parsons (1997) identificou estádios de
desenvolvimento da apreciação das Artes Plásticas, procurou-se uma
metodologia semelhante para aplicar à área específica da música, uma vez
que os estádios de desenvolvimento propostos por Parsons dificilmente se
aplicariam à apreciação musical. Estas inconformidades constituem, de
resto, a principal motivação para a elaboração do presente estudo e residem
nas diferenças apontadas por Walton (1990) entre a apreciação musical e a
apreciação da pintura ou da literatura: “A apreciação musical é uma
experiência mais pessoal e íntima do que a apreciação da pintura ou da
literatura (...) ouvir música é, consequentemente, mais como sonhar; a
actividade da imaginação de cada um é profundamente solitária...” (Walton
1990:336. Tradução da autora). No caso da apreciação musical, nós temos
de estar focados no fluir da música! Só assim poderemos reagir
continuamente à sua superfície modulante, seguindo atentamente
(introspectivamente) as mudanças que provoca constantemente em nós, nos
nossos corpos. A nossa fruição está, portanto condicionada pelo factor
tempo, uma vez que temos de fazer ajustes constantes ao estímulo musical
que se desenvolve num período de tempo. As significações pessoais
construídas a partir da experiência musical são mais “sentidas” do que
representadas, uma vez que não passam pela significação verbal, sendo
antes respostas corporais aos estímulos sonoros.

1
A magia da apreciação musical reside, portanto, num profundo envolvimento
pessoal com o fenómeno musical, que transcende a mera apreciação
sonora, envolvendo tudo aquilo que proporciona a fruição, desde o espaço à
forma como a peça é interpretada e apresentada. Pretende-se, portanto,
com o presente estudo, identificar que valores são privilegiados consoante a
idade ou consoante a educação que o meio proporciona e se existe uma
evolução nessa apreciação estética.

Este estudo baseia-se numa investigação empírica em que foram feitas


entrevistas aos alunos de violino entre os 5 e os 29 anos em diversos
estabelecimentos de ensino, com o intuito de encontrar nas suas respostas
aquilo que valorizam nas peças que gostam de tocar. A análise das
entrevistas foi qualitativa e, depois de analisada, os resultados foram
comparados com os estudos apresentados na contextualização teórica.

A estrutura da tese está dividida em duas partes. A primeira contextualiza o


leitor e convida-o a seguir o caminho que percorri para encontrar os
elementos teóricos nos quais iria basear as perguntas das entrevistas, assim
como a sua análise.

Na segunda parte da tese é feita uma análise qualitativa das entrevistas,


interpretada e comparada com outros estudos desta área. Concluo com uma
consideração final do trabalho apresentado, com perspectivas de
investigação futura e implicações para o ensino: se os professores de violino
tiverem em conta as razões que levam os alunos a valorizar mais umas
peças do que outras, poderão adaptar as suas escolhas de repertório e ir de
encontro aos interesses pessoais de cada um, incrementando a motivação
dos alunos.

As entrevistas encontram-se em anexo. Boa leitura.

2
Fundamentação teórica

Estádios de desenvolvimento da apreciação musical:

O que os intérpretes valorizam

Procuramos geralmente na arte, por exemplo, a beleza, a expressividade, o estilo e as


qualidades formais. O nosso desenvolvimento consiste precisamente na apreensão cada vez
mais perfeita de conceitos desta natureza. (Parsons 1992:29)

O título desta dissertação anuncia um estudo sobre o desenvolvimento da


apreciação musical. Considera-se o impacto da música, com as suas
propriedades estéticas, nos intérpretes, dentro de um contexto social e
cultural.

Existe uma tradição filosófica que remonta a Kant e que tem vindo a ser
considerada até aos dias de hoje, que distingue três tipos fundamentais de
conhecimento: o empírico – que lida com o mundo exterior dos objectos; o
moral – que lida com o mundo social das normas e o estético – que lida com
o mundo interior do eu. A escola de estética expressionista - Collingwood
(1958), Langer (1953), Danto (1988) – concorda que a arte é mais do que um
conjunto de objectos bonitos e tem a particularidade de ser um caminho, um
meio ou uma forma de articular a nossa vida interior – e de lhe dar uma
forma perceptível - com o mundo exterior. A interpretação da arte tem
diversas camadas de significação, consoante a qualidade da sua apreensão,
apreendida individualmente num contexto social e histórico. Os estádios de

3
desenvolvimento estético são níveis de capacidade crescente para
interpretar as obras de arte. (Parsons, 1992:29-30)

Assim como Parsons (1992) identificou estádios de desenvolvimento da


apreciação das Artes Plásticas, procurou-se uma metodologia semelhante
para aplicar à área específica da música, uma vez que os estádios de
desenvolvimento propostos por Parsons dificilmente se aplicariam à
apreciação musical. Torna-se necessário investigar várias áreas de estudo
específico, nomeadamente, a do desenvolvimento musical, apreciação e
valor musical para determinar pormenorizadamente os factores que têm
influência no desenvolvimento da apreciação e valorização musical.

Apreciação Musical

Vários autores se preocuparam em explicar o fenómeno da apreciação


musical e da evolução da forma como apreendemos e nos deixamos afectar
pela música. A resposta ao estímulo musical está dependente de uma
infinidade de factores. Gostaria de distinguir dois tipos de resposta ao
estímulo musical, nomeadamente a Preferência e o Gosto Musical:
Preferência Musical é um termo geralmente utilizado para as peças que nos
afectam positivamente a curto prazo, enquanto Gosto Musical está mais
relacionado com um género musical que nos agrada a longo prazo. É um
conjunto de preferências musicais durante a nossa vida, principalmente na
fase da adolescência que define os nossos gostos musicais a longo prazo,
principalmente na idade adulta. (North & Hargreaves 2008:107-111). Para
além da idade e idiossincrasias de cada ouvinte, existem ainda outros
factores que influenciam a nossa resposta ao estímulo musical,
nomeadamente o contexto social ou situação da audição, assim como a
música em si. No seguinte quadro tenta-se esquematizar num modelo de
feedback recíproco os factores que influenciam a resposta musical e que,
por seu turno, se deixam também influenciar entre si (Hargreaves 2008:124):

4
Fig.1
Modelo de feedback recíproco das respostas musicais (adaptado de: Hargreaves 2008:124)

Este modelo foi feito baseado em respostas a preferências musicais


imediatas e não a longo prazo e necessita, segundo os autores, de mais
investigação social e psicológica.

Neste quadro, são enunciados três factores principais para a resposta


musical, que passo a descrever mais pormenorizadamente:

1. A Música

Teoria de Berlyne

No campo da estética experimental, Daniel Berlyne (1971) estudou os


efeitos fisiológicos (physiological arousal) da música. Apesar de já ter mais
de 30 anos, esta teoria tem prevalecido e sido aceite depois de várias
investigações nesta área de investigação (Hargreaves 2006).

Na sua teoria, Berlyne defende que a preferência musical está relacionada


com a capacidade da música para estimular o ouvinte, ou seja, com o nível

5
de actividade que produz no “sistema reticular ascendente de activação”1.
As músicas preferidas têm um nível de estímulo intermédio, estabelecendo
uma relação equilibrada entre familiaridade e complexidade. As outras
encontram-se ao longo dos extremos da curva de Wundt (1874), também
proposta por Flechner, Platão e Aristóteles, em U-invertido:

Esta curva associa a complexidade à familiaridade que o ouvinte tem com


determinada peça, para determinar o grau da preferência ou gosto musical.
A curva mostra graficamente o estudo de Berlyne: tendemos a gostar de
peças que conhecemos, mas que não nos são demasiado familiares, e com
um nível médio de complexidade. Se a peça for demasiado familiar ou, pelo
contrário, não tivermos tido contacto suficiente para a reconhecer
minimamente, não seremos tão estimulados.

Berlyne enunciou três tipos de variáveis para o estímulo:

1. Variável “psico-física”, relacionada com as características físicas do


estímulo, como tempo e volume: a música torna-se mais estimulante quanto
mais rápida e mais alto o seu volume.

2. Variável “ecológica”, relacionada com o sentido ou significado de


determinada peça.

3. Variável “colativa”2, a mais significativa para a estética, relacionada com


as propriedades da música, tais como o nível de complexidade de
informação que acarreta. Essa informação pode ser mais ou menos
previsível, consoante a familiaridade.

Quanto ao nível de complexidade da peça, pode ser tido em conta como um


factor objectivo – medindo estatisticamente e caracterizando a probabilidade
de prever a próxima nota – ou subjectivo - consoante a sua experiência
subjectiva. Desta forma, quando a familiaridade aumenta, a complexidade

1
Tradução da autora do original: ascending reticular activating system (North & Hargreaves
2008:77)
2
Tradução da autora do original inglês: “collative variable”

6
objectiva da música permanece inalterada, enquanto a complexidade
subjectiva da música diminui. Esta última versão está de acordo com o
gráfico em U-invertido e apresenta uma explicação para como a repetição
de uma peça pode influenciar a mudança de preferência dessa mesma peça
por parte do ouvinte. Esta segunda hipótese parece muito mais convincente
e está em concordância com a psicologia social da música, uma vez que
mede o grau de complexidade apreendida pelo ouvinte. De facto, o grau de
complexidade apreendida varia consoante a nossa relação pessoal com a
música: para uma criança de três anos, pode ser interessante tocar e
aprender a cantar “O balão do João”, mas para um adulto, esta peça pode
ser desinteressante devido à sua extrema simplicidade e familiaridade.

Dimensões de Apreciação Musical:

No quadro de Hargreaves acima referido não consta esta sub-categoria, mas


julgo importante acrescentá-la porque me parece inevitável considerar a
contribuição de David Elliott (1995) com a sua análise da apreciação musical.
Elliott (1995) tem em conta diversas dimensões ou facetas de significado
musical que se inter-relacionam. No entanto, o que torna a sua análise
pertinente é o facto de ter apontado a forma como essas influências se
reflectem nas obras musicais, enquanto construções artístico-culturais.

Nesta perspectiva de Elliott (1995), o ouvinte, ao desfrutar o momento


musical, poderá apontar várias razões para a sua apreciação,
nomeadamente, a Interpretação, onde concentra a sua atenção no
desempenho do intérprete durante a apresentação da obra; a Forma e a
Estrutura, onde a atenção se prende a interpretações de obras que se
insinuam pelo seu rigor de organização formal; Tradições da Música Prática,
dimensão acentuada quando, ao ouvirmos uma obra musical, a nossa
atenção se prende com o aspecto estilístico da execução, ou seja, com o
grau de afinidade ou filiação que essa interpretação ou filiação que essa
interpretação tem com uma determinada tradição ou escola; Expressão de
Emoções, muito relacionada com a escola romântica, pode ser aplicada a
vários géneros musicais como forma de fruição; Representações Musicais,

7
em que a música pode representar animais (como no "Pedro e o Lobo" de
Prokofiev); ou acontecimentos (marchas fúnebres ou militares, música de
filme, publicidade); ou pessoas, ou lugares, ou até ajudar a preservar a
identidade de comunidades emigradas; Informação/ Ideológico, referente a
valores artísticos e sócio-culturais (hinos, etc.). No trabalho empírico desta
dissertação estas dimensões foram tomadas em conta ainda que
devidamente adaptadas, circunstancialmente.

O Modelo dos Protótipos:

Outra teoria de apreciação musical baseia-se em factores cognitivos, num


modelo de protótipos (Posner and Keele, 1968; Reed, 1972), segundo a qual
os estímulos-protótipo são mais estimulantes do que estímulos-atípicos.
Martindale e Moore (1988) defendem que a preferência estética está
hipoteticamente relacionada com o grau positivo com que um estímulo
activa as representações mentais. Desta forma, são preferidos os protótipos
que activam mais fortemente as representações cognitivas relevantes.

Hargreaves defende que as duas teorias são compatíveis, inserindo a teoria


dos protótipos na variante colativa3 de Berlyne: a complexidade é relativa a
um protótipo de uma cultura musical – por exemplo, diferente entre a
tradição da música ocidental e indiana – ou ao tipo de música que o ouvinte
está mais exposto e para a qual forma as suas representações mentais,
criando sentido musical em relação aos seus significados pessoais.

2. Situações e contextos

Konecni (1982) reconheceu que as preferências musicais estão relacionadas


com as nossas actividades diárias, e são dependentes do contexto social e
emocional em que são ouvidas/experienciadas. As preferências musicais

3
Tradução da autora do original inglês: “collative variable”

8
estão relacionadas com a associação do grau de estímulo pretendido para
determinado contexto. Embora Konecni defendesse que tendemos a preferir
músicas que equilibrem o grau de estímulo, isso não é completamente
verdade, uma vez que os ouvintes preferem muitas vezes ouvir músicas que
coincidam com o seu estado de espírito como por exemplo, música activa
para fazer desporto e música calma para relaxar.

A nossa apreciação musical depende fortemente do contexto social e


cultural em que se insere, assim como da situação em que é ouvida -
trabalho, lazer, consumo, educação, saúde, mídia, entretenimento. A
qualidade da apreensão musical também varia consoante a natureza da
nossa actividade: ouvir música enquanto lemos implica uma percepção
diferente da mesma obra musical do que se estivéssemos concentrados a
ouvir apenas e ainda diferente de ouvir e ler a partitura. Esta variabilidade da
atenção na apreciação musical irá ser tida em conta na discussão dos
resultados da experiência empírica relatada mais à frente na segunda parte
deste trabalho.

Adaptação a um grupo e prestígio/estatuto:

Investigadores tais como Leine e Russo (1987) apontaram dois factores de


influência nas preferências musicais: adaptação a um grupo e
prestígio/estatuto. Um deles está relacionado com a inserção social em
determinado grupo e está presente especialmente durante o período da
adolescência: Se as nossas opiniões pessoais coincidem com as do grupo,
esperamos ter mais aceitação (estatuto mais elevado dentro do grupo), caso
contrário esperamos um tipo de exclusão do grupo (ou um estatuto menos
reconhecido dentro do grupo). O outro factor está relacionado com a
influência da informação acerca de determinada música. Por exemplo, Mark
Twain afirmou num tom sarcástico que “se alguém for informado que foi
Mozart o compositor de uma peça que desconhece, irá provavelmente
gostar mais dela do que se lhe disserem que foi escrita por um compositor

9
que desconhece” (in North and Hargreaves (2008:97)4. A influência da
informação é um factor que afecta a preferência. É também o caso das
críticas de jornais, e publicidade musical em geral. Esta influência acontece
quando temos pouca ou nenhuma informação acerca da peça em questão e
baseamos por isso a nossa opinião na informação existente acerca dela.
Radocy (1975) fez estudos nesta área.

A presença ou ausência de outros tem também influência na nossa resposta


musical. As nossas pequenas percepções do meio à nossa volta ocasionam
diferentes ajustamentos que interferem com a nossa percepção da música
em si. Tal como os anteriores, também este factor mostrou ser relevante na
análise da experiência empírica que vou relatar mais à frente.

3. O Ouvinte

Alguns dos aspectos relacionados com o ouvinte que influenciam as


preferências musicais estão relacionados com o estatuto socio-económico,
idade, sexo, personalidade, identidade e identidades musicais (Hargreaves
et.al.2002), etnia e efeito da educação musical (formal ou informal).

LeBlanc (1991) estudou os efeitos do desenvolvimento nas preferências


musicais. Sugeriu que as crianças mais novas têm uma maior abertura para
ouvir música sem preconceitos; essa abertura entra em declínio durante a
adolescência; durante a transição para o estado adulto, existe de novo uma
fase de maior abertura à audição sem preconceitos, que entra em declínio
com a idade. Estudos mais recentes (p.ex. North e Hargreaves 2002)
concordam com o facto de o final da adolescência ou o início da fase adulta
ser uma fase de cristalização do gosto ou das preferências musicais.

4
Tradução da autora a partir do inglês: if someone is told that a piece of music they don’t
know is by Mozart then they will probably like it more than if they are told it is by an
undistinguished composer.

10
A aptidão e o treino musical também podem influenciar as preferências
musicais (North & Hargreaves 1995b). Se associarmos esta ideia à teoria de
Berlyne, então as pessoas que têm mais treino musical poderão estar mais
habituadas a certos estímulos musicais, necessitando de uma maior
complexidade para continuarem a considerar a peça musicalmente
estimulante, como o efeito de uma droga. No entanto, o estilo musical é um
factor crucial para este tipo de influência – este efeito foi estudado no âmbito
da música clássica. A caracterização – experiência como instrumentista,
hábitos de audição, etc. - de cada entrevistado foi determinante na análise
das entrevistas da investigação que é relatada mais à frente.

4. Resposta

O ponto mais alto da experiência estética é atingido apenas quando se relaciona fortemente
com as estruturas da nossa experiência pessoal, apelando a uma nova forma de organizar os
esquemas ou traços de acontecimentos vividos anteriormente. É através desta experiência
que descobrimos um novo ponto de vista na obra musical, como se tratasse de uma
revelação. (Swanwick 1979:36)

Na apresentação da categoria – Resposta - do modelo de Hargreaves


parece-me fundamental referir o trabalho de Swanwick (1979, 1999, etc.).
Swanwick dedicou-se durante vários anos à compreensão do fenómeno e
natureza da resposta estética. Refere que o fenómeno dinâmico da metáfora
está na base de todo o discurso como processo genérico fundamental.
Enumera quatro características genéricas psicológicas do discurso artístico:

- Nós representamos internamente acções e eventos para nós próprios; nós


imaginamos.
- Nós reconhecemos e geramos relações entre estas imagens.
- Nós servimo-nos de sistemas de símbolos, vocabulários partilhados.
- Nós negociamos e partilhamos os nossos pensamentos com outros.
(Piaget 1951: 238-9 in Swanwick 1999:7)5

5
Tradução da autora do original inglês: We internally represent actions and events to
ourselves; we imagine. We recognize and generate relationships between these images. We
employ systems of signs, shared vocabularies. We negotiate and exchangeour thinking with
others.

11
Este conhecimento é muito interessante e pode ser adaptado a uma
infinidade de situações. A ideia de discurso interno, aquilo que está dentro
do performer, como um motor, que o leva a agir desta ou daquela forma, as
suas motivações e a forma como valoriza são factores importantíssimos e de
relevo para a natureza da sua comunicação com o público e para a
qualidade da sua resposta estética.
A ideia do corpo como conhecimento (inconsciente), ou seja, o corpo como
reservatório de experiência é essencial para compreender que a natureza do
discurso artístico não é um acto totalmente consciente. As nossas
experiências são armazenadas emocional-, cinestésica- e simbolicamente, e
podem manifestar-se sob a forma de projecções metafóricas (cf. Lakoff &
Johnson 1999) As narrativas surgem da articulação de cada pequena
percepção com a experiência pessoal. (cf. Johnson 1987, Correia 2007,
Martínez 2008):

É a nossa experiência carregada emocionalmente e estruturada kinestesicamente que


simultaneamente alimenta e condiciona o jogo livre da imaginação na construção do
conhecimento e em todos os actos de comunicação (Correia 2007:85)

A nossa experiência pessoal relaciona-se internamente através de pequenas


ligações que a nossa imaginação estabelece entre as camadas de
conhecimento (corporal/físico, processual e declarativo). São as pequenas
percepções, quase imperceptíveis, que desencadeiam essas ligações e
relações entre as representações internas de conhecimento, muitas vezes de
forma não consciente (cf. Gil 1996). O nosso discurso articula então um
vocabulário comum para exprimir esta nova experiência desencadeada pelas
ligações e relações internas que se estabeleceram entre as projecções
metafóricas e as pequenas percepções, na procura de sentido. Procuramos,
numa última instância, comunicar, negociar, comparar esse novo
conhecimento com aqueles que nos rodeiam. Quanto mais consciência e
vocabulário tivermos deste fenómeno do discurso interno enquanto
performers, melhor poderemos comunicar com o público. Tal como iremos

12
analisar mais à frente, no estudo de Parsons, a partir de uma certa etapa do
conhecimento artístico, existe uma necessidade de comunicar e comparar
as nossas interpretações com as de outros. Cria-se, desta forma, um espaço
público de inscrição, em que as experiências musicais absorvidas por cada
um são afirmadas e se deixam modificar pela troca de impressões.

Também Swanwick refere que a nossa experiência pessoal deixa um


esquema ou padrão - resíduo, traço ou representação - no corpo, que muitas
vezes não é apreendido pela consciência, mas que pode ser activado
noutras situações. Os nossos movimentos, pensamentos e emoções
acontecem no contexto da nossa história pessoal e cultural e relacionam-se
com os esquemas residuais de experiências anteriores: “As experiências
emocionais intensas ficam gravadas na nossa memória corporal.” (Swanwick
1999:20). Os esquemas das experiências pessoais anteriores são activados
em conjunto e fundem-se em novas relações. A música permite-nos associar
experiências passadas muito distintas e transformá-las numa experiência
nova e coerente.

Podemos observar o seguinte quadro que adapta este conhecimento ao


discurso musical, ilustrando os processos metafóricos implícitos na
experiência musical:

Fig.2

Transformações Metafóricas (adaptado de: Swanwick 1999:19)

13
Nesta figura, os Materiais, Expressão, Forma e Valor correspondem aos
fenómenos observáveis, os outros descrevem o processo metafórico que
ocorre no nosso corpo:

1. Os sons são ouvidos como gestos expressivos

Esta transformação exige uma abstracção dos elementos estruturais e dos


sons em separado, de forma a que possamos experienciar uma ilusão de
movimento, sensação de peso, tempo e fluxo. Não é a nossa capacidade de
análise musical dos elementos separados (ou Materiais) tais como intervalos,
durações e timbres que nos permite experienciar simultaneamente todo o
conjunto das formas ou gestos expressivos. De facto, essa capacidade até
nos pode distrair de ouvir os sons como se fossem linhas e movimento. A
forma como os sons se transformam em música depende das decisões
performativas, tais como a escolha do tempo, peso do som, acentuação,
equilíbrio entre vários componentes e outros elementos de articulação.
Também depende da interpretação singular da parte do ouvinte (cf.
Gonçalves 2010 e Correia 2002). A experiência musical de cada um é
corporal e qualquer descrição verbal/ por palavras é apenas uma
semelhança daquilo que foi experienciado. Donald Ferguson afirma que a
metáfora musical consiste numa ‘transferência de padrões de
comportamento do som ao domínio dos padrões de comportamento do
corpo humano’ e que o movimento e tensão são a base da expressão
musical (Ferguson 1969: 185, adaptado). Também Roger Scruton considera
que a música envolve, ou acarreta ‘metáforas de espaço, movimento e
animação (kinestesia)’ Para ele, a música é uma experiência que ‘tem o som
como objecto mas que é também algo que não é e não pode ser som – a
vida e o movimento que são a música.’ (Scruton 1997:96).

A importância da ilusão do gesto expressivo pode ser ignorada durante a


fruição musical dos ouvintes numa audiência, mas não da parte dos
intérpretes, cujo conhecimento procura tornar real o discurso musical.

14
O Modelo para a Interpretação Musical, proposto por Correia (2007), dá
conta de como o intérprete explora os gestos expressivos e os relaciona
com os seus significados pessoais, com a intenção final de criar uma maior
comunicação com o público:

1.Contextualização: Os performers adoptam inevitavelmente um contexto ou campo


semântico para a obra musical que vão executar (...)
2.Exploração emocional do contexto: Inspirados nesse contexto, os performers usam
imagens de movimento e/ou metáforas de acção, (...) de modo a coordenarem a sua
representação emocional na construção de uma narrativa imaginada de intenções. (...)
Quando aplicam esta conteúdo emocional aos sons musicais tornam-nos expressivos, mas
razoavelmente abstractos.
3. Coactivação: (...) Este treino repetitivo é crucial para enfrentar as condições peculiares da
Performance: ‘encorporando’ a rede criada de emoções o Performer está a preparar-se para
ser capaz de funcionar, ainda que por curtos períodos de tempo, a partir da consciência
nuclear.
4. Devir: (...) Quando performa, ele concentra-se nessa rede emocional sonora reproduzindo
o que foi decidido nos ensaios. (...) ‘Perfomar’ seria então, talvez paradoxalmente, não tanto
reproduzir automaticamente o que foi memorizado, mas aceitar o compromisso de reviver
aqui-e-agora a narrativa emocional que foi criada nos ensaios. (Correia 2007:102-3)

Este modelo de interpretação está em perfeita sintonia com as


transformações metafóricas do discurso musical referidas atrás e pode ser
utilizada para preparar uma performance a nível pessoal, mas é também uma
orientação para os professores desenvolverem o discurso pessoal e artístico
de cada um dos seus alunos de performance, na procura de uma boa
comunicação com o público.

Para Swanwick, o estado de fluxo é uma experiência estética com valor e


que acontece quando os três níveis do processo metafórico são activados.

Num ensaio com a Orquestra das Beiras onde eu estive presente, Ernst
Schelle falou à orquestra do discurso musical, referindo-se ao 1º andamento
da 3ª Sinfonia de Brahms:

“As a member of the public I would not believe you. I would not listen. You have something
to tell, but I cannot believe you. I will not pay attention. It doesn’t have any meaning. You
have to exagerate everything you want to say so that the public can hear it. This movement is
about the power of nature blooming during the spring, everything is blooming, you have to
show it, show it to the public!”

15
É crucial o intérprete preparar o discurso musical e exagerá-lo para
estabelecer uma comunicação com a audiência.

2. As músicas e gestos expressivos são ouvidas formando novas


associações, como se tivessem vida.

A segunda transformação metafórica depende das relações internas que


estão em constante mudança e evolução. Apercebemo-nos que os gestos e
formas expressivas parecem sofrer uma mudança, ou transformação, por
justaposição, realinhamento e transformação. Acarretando consigo
determinada sugestão afectiva, os gestos musicais estabelecem novas
relações. Em certos idiomas musicais Africanos, os sons são ouvidos como
um aglomerado de frases, e as frases repetidas são transformadas em novas
relações, de forma a estabelecer um discurso entre uma base repetitiva e de
uma outra, que se transforma ritmicamente (adaptado de Chernoff 1979:
111-112)

A nossa atenção oscila entre as semelhanças ou a empatia que encontra


entre essas formas musicais e a nossa memória emocional, estabelecendo
novas ligações. Neste processo ‘dinâmico e aberto’, a música parece ter
vida própria.

3. As novas formas parecem fundir-se com a nossa experiência pessoal


anterior, insuflando, dando vida aos sentimentos

Existe ainda uma terceira transformação metafórica que vai para além da
audição dos materiais sonoros ‘como se’ tivessem uma forma expressiva e
esses gestos expressivos realinhados ‘como se’ tivessem uma existência
independente. A terceira transmutação dá lugar a um forte sentido de
significância, tão fortemente notada por aqueles que valorizam a música.
Esta qualidade quase mágica da experiência foram atribuídos vários nomes
tais como ‘peak experience’, aesthetic emotion’ e ‘flow’, esta última
relacionada com ‘a abertura da sensibilidade que transforma e expande o
ser do observador’ (Csikszentmihaly and Robinson 1990:183)

16
*

Elliot (1995:116-117) também se refere a ‘flow’, ou estado de fluxo.


Caracteriza este estado por um forte sentimento de integração interna, fortes
níveis de atenção e concentração e – por vezes – completa perda da
percepção de si. De forma semelhante, Reimer refere a experiência estética
como intrínseca, desinteressada, distanciada, absorvente (adaptado de
Reimer1989:103). A experiência estética é mais uma tentativa para descrever
a experiência que nos parece fazer levitar das marcas da vida e que muitas
vezes foi considerada transcendental, espiritual, elevado, uma epifania e
também ‘estética’. Vale a pena reconhecer a existência destas experiências
e tentar explicar a forma como ocorrem e o seu valor.

O ‘fluxo’ musical acontece quando os três níveis do processo metafórico são


activados. Então podemos deixar-nos viajar e afectar emocionalmente.
Independentemente da sua denominação, a ‘experiência estética’ ou estado
de fluxo confere à música um lugar muito especial em todas as culturas.

Chernoff, referindo-se à música ghanaiana, com uma poderosa organização


rítmica, afirma: “...ao limitarem e focarem o seu poder absoluto em formas
específicas, eles encontram o poder como uma realidade. ...fortificante e
construtiva” (Chernoff1979:169)

Na definição de metáfora, Scruton referia que ‘estabelece um elo entre


coisas dissemelhantes, criando um elo de ligação onde antes não existia.’
Scruton (1997:80-3).

Os três processos metafóricos estão implícitos na experiência musical. A sua


evidência está na existência de actividades musicais e naquilo que as
pessoas dizem acerca da música. As quatro camadas observáveis são os
materiais, a expressão, a forma e o valor. São estas as manifestações dos
processos metafóricos que desencadeiam, segundo Swanwick (1999:105),
um forte sentido de valor musical.

17
As transformações metafóricas são, de certa forma, um processo de
adaptação e desenvolvimento da parte de quem as interpreta. Consoante a
nossa experiência pessoal - e musical - a nossa resposta ao estímulo
musical também se vai modificando. Torna-se, por isso, relevante considerar
o desenvolvimento musical como factor decisivo e influente na valorização
da música e experiência estética. Seguidamente, irei apresentar alguns
estudos e teorias sobre desenvolvimento musical e artístico.

18
Estádios e teorias de desenvolvimento

Nesta secção vou rever e comparar as teorias de desenvolvimento que se


relacionam com o tema desta dissertação. Irei começar por apresentar
algumas teorias de desenvolvimento, assim como estudos acerca dos
estádios de desenvolvimento musical (Swanwick & Tillmann 1986) e sobre o
desenvolvimento da apreciação da arte (Parsons 1992).

Swanwick e Runfola (2002) apontam 4 critérios específicos para avaliar as


diversas teorias de desenvolvimento, nomeadamente:

1. reflectir a natureza do comportamento musical;

2. ter validade musical simultaneamente em várias modalidades, tais como


composição (incluindo improvisação), performance e audição/audiência;

3. a teoria deve demonstrar evidências sistemáticas, identificar mudanças


qualitativas, sequenciais e hierárquicas. As camadas ou estádios
desenvolvem-se numa sequência invariável;

4. devem ser tomadas em linha de conta as variâncias dos indivíduos e do


ambiente cultural. As condições ambientais e sociais têm uma influencia
determinante e moldam o desenvolvimento.

Teorias de desenvolvimento

Existem muitas teorias de desenvolvimento, das quais irei destacar algumas:

Teoria dos sistemas de representação, Bruner (1973):

A primeira infância caracteriza-se por modos de Representação Enactiva,


essencialmente de natureza sensorio-motora – “pensamos o que fazemos”.
A Representação Icónica é uma fase posterior que engloba uma mudança
qualitativa, de pensar sobre objectos ou eventos que não estejam
fisicamente presentes naquele momento. No terceiro modo, Representação

19
Simbólica, combinações flexíveis de símbolos permitem uma maior liberdade
nas relações conceptuais e novas combinações do pensamento abstracto.

Serafine (1978) apresenta um modelo meta-psicológico para as diversas


modalidades musicais, que se caracteriza por definir esta actividade
cognitiva universal pela “consciência do movimento no tempo” (Serafine,
1980:69):

Os sons – mais do que percepcionados isoladamente ou identificados e


discriminados como pares de estímulos - são ouvidos como experiência
sensorial da qual o ouvinte constrói propriedades musicais. Este processo
temporal ocorre de forma sucessiva – unidades de construção idiomática,
plenas de sentido musical, são associadas e transformadas através de
processos de encadeamento motívico, repetição e alternância de grupos de
frases - e de forma simultânea, em que dois ou mais sons plenos de sentido
são ouvidos simultaneamente e associados num contexto que os integra.

A obra de Serafine inspirou Swanwick e Tillman (1986) na construção da


espiral de desenvolvimento, baseada em composições de crianças e
entrevistas aos seus professores de música. Irei descrever a obra destes
autores mais à frente.

Para Jeanne Bamberger (1991) o desenvolvimento musical das crianças é


múltiplo e cumulativo. À medida que os alunos aumentam a sua capacidade
para a audição múltipla (tendo acesso a diversas dimensões da estrutura
musical e podendo alternar o seu foco de atenção entre eles), a sua
capacidade musical evolui. Edwin Gordon propõe que, uma vez que os
alunos atingem compreensão musical através da audiação, serão capazes
de tocar e responder esteticamente, assim como utilizar representações
simbólicas dos seus sentimentos estéticos e dos outros, tanto quanto a sua
aptidão musical permita (Gordon 1989:21).

20
Resumindo, existe uma opinião unânime destes autores de que existe um
desenvolvimento da apreciação e compreensão musical, seja pela audição
das partes isoladas, de forma sucessiva ou simultânea, seja pela sua
abstracção simbólica, pela experiência sensorial ou pela consciência de
movimento no tempo.

O que são estádios?

Para Parsons (1992), os estádios são aglomerados de ideias, dispositivos


analíticos que nos ajudam a compreender-nos melhor a nós próprios e aos
outros. O desenvolvimento pode ser avaliado de forma qualitativa,
interpretando e fazendo abstracções e partir dos dados das entrevistas. Os
estádios de Parsons são independentes da idade e não são estáticos,
assemelhando-se mais a camadas de conhecimento que se entrecruzam por
uma certa ordem específica. Para Swanwick, o problema de várias obras de
investigação na área do desenvolvimento musical é tomarem a música como
um conjunto de qualidades independentes que englobam parâmetros tais
como melodia, ritmo, harmonia, timbre e forma. Para ele, estes parâmetros
devem ser tratados de forma holística e não como um conjunto de partes
isoladas, quando se trata de encontrar uma teoria de desenvolvimento da
aprendizagem, uma vez que estes se interligam e influenciam mutuamente
ao longo da evolução da aprendizagem musical.

Embora existam diversas críticas contra a organização do desenvolvimento


cognitivo em estádios (Hargreaves & Zimmermann 1992; North & Hargreaves
2008), alegando que o desenvolvimento depende muito do meio cultural e
social, assim como de estímulos externos, existe uma sequenciação de
aprendizagens em diversas áreas de conhecimento que são cumulativas, ou
seja, uma etapa segue a outra numa sequência invariável. A idade e a
personalidade, assim como o meio cultural e social – ou seja, as
características externas e internas do indivíduo – têm uma enorme influência
na velocidade do processamento dos diferentes conhecimentos ou

21
inteligências. Embora a Espiral de Swanwick & Tillman (1986) se baseie na
teoria de Piaget (1951), com estádios de desenvolvimento racional
relacionado com determinadas faixas etárias, ele próprio refere a
adaptabilidade da espiral a outros factores e aquisição de competências que
podem desviar-se das indicações de idade. A espiral de desenvolvimento
deve ser tomada em consideração como um estudo de valor na área do
desenvolvimento da apreciação musical: ao basear-se em composições de
crianças e adolescentes, mostra aquilo que valorizam e consideram
importante. No entanto, temos de considerar o facto de ter sido feita com
alunos de ensino genérico, possivelmente com capacidades performativas
inferiores ao que a sua imaginação pedia. França (1998) investigou – à luz da
espiral de Swanwick – em paralelo composições, performance e
apreciação/audição em alunos de piano e chegou à conclusão que as
capacidades de audição e composição dos alunos mostram uma maior
simetria em relação às suas capacidades performativas, que normalmente
estão num nível diferente das outras duas. França sugere que “o indivíduo
pode não atingir o seu nível óptimo de compreensão musical se as
actividades não forem apropriadas e acessíveis” (França 1999:6), propondo
adequar o nível performativo ao nível geral de compreensão musical. Na sua
investigação, França teve em conta factores tais como horas semanais de
estudo, metodologias de estudo, histórico familiar e idade do aluno.

Segue-se uma descrição da investigação de Swanwick na qual França se


baseou:

A Espiral de desenvolvimento de Swanwick/ Tillman

O estudo de Swanwick & Tillman (1986) sobre o desenvolvimento musical


baseia-se numa teoria genérica da experiência musical e em observações de
campo. Procura avaliar a experiência musical como um todo e não avaliando

22
cada uma das partes – melodia, ritmo, harmonia, etc. – e tem sido testada
em várias modalidades – composição, audição/audiência e sob o ponto de
vista do performer. A título de exemplo, França (1998) pediu a estudantes de
piano entre os 11-13 anos para comentar, compor e interpretar 3 peças de
cada ao seu gosto. Concluiu que a compreensão musical dos seus
comentários e composições correspondem entre si em termos de
desenvolvimento e que as interpretações estavam menos desenvolvidas.

Na teoria de desenvolvimento de Swanwick & Tillman (1986), é descrito um


modelo em espiral referente ao desenvolvimento musical que foi
desenvolvido a partir de composições musicais de crianças.

Foi dada a oportunidade a crianças entre os 3 e os 11 anos para fazerem


música a partir de variados instrumentos, incluindo a voz. Era-lhes pedido
que formulassem uma composição, sendo-lhes dado tempo suficiente para
a poderem repetir. Estas peças foram gravadas, contando com 745
composições de 48 crianças, recolhidas ao longo de 4 anos. Três diferentes
júris foram escolhidos para avaliar as composições das crianças, distribuídas
aleatoriamente numa gravação. Dentro do júri, dois eram professores e
músicos e outro apenas professor. Enquanto o júri sem formação musical
teve uma enorme dificuldade em organizar as composições das crianças por
idades, os outros dois reconheceram com uma alta probabilidade estatística
as idades dos “compositores”. Swanwick & Tillmann investigaram através de
entrevistas com os júris, quais eram as razões para a escolha da seriação
por idades e relacionaram estas razões com as características das
composições de cada idade, levando-os a formalizar o seguinte modelo de
desenvolvimento musical:

23
Fig.3: Modelo de desenvolvimento em espiral proposto por Swanwick & Tillman (1986:306)

Muitos dos termos utilizados neste esquema foram adoptados do trabalho


de Piaget acerca do “jogo” ou “brincadeiras” das crianças, termos tais como
“domínio” ou “imitação” (estádios de desenvolvimento: sensorio-motor,
simbólico, pré-conceptual, intuitivo, racional). A espiral de desenvolvimento
musical apoia-se na recolha de Bunting (1977) de composições de crianças
e ordena-as nos 8 modos de desenvolvimento referentes a 4 estádios ou
níveis distintos. Tomei a iniciativa de elaborar um quadro descritivo desses
estádios (ver na página seguinte), de forma a facilitar a consulta e possível
comparação com outros quadros desta dissertação, tais como o das
transformações metafóricas (Swanwick 1999) e de Parsons (1992), que irei
descrever mais à frente.

Swanwick & Tillman não trabalharam com crianças do último estádio, tendo
contudo, especulado acerca das qualidades deste estádio baseando-se no
trabalho de Bunting & Bruner (Swanwick 1988). Neste estádio, os
adolescentes reflectem sobre a experiência musical e demonstram o
desenvolvimento de uma identificação pessoal com determinadas peças e
músicos. Este estádio culmina no modo “sistemático”, que combina uma
intensa emotividade com a capacidade de falar sobre música de uma forma

24
‘académica’ e estruturada. A experiência musical dos estudantes pode ser
informada através de investigação, teoria musical e tecnologia à medida que
os estudantes compõem, discutem e reflectem sobre o seu trabalho.

É importante referir que Swanwick (1988) considera que os estádios são


circulares e cumulativos, assim como de certa forma flexíveis no que
respeita à idade. Uma criança com um ambiente estimulante em casa
poderá percorrer os diversos estádios mais rapidamente, ao passo que uma
criança sem encorajamento musical poderá nunca atingir os estádios mais
elevados. Desta forma, a espiral de desenvolvimento musical difere de certos
desenvolvimentos psicológicos que ocorrem sem estimulação extrínseca.

A teoria deste autor defende que a música é uma experiência humana que
compreende várias camadas, que interagem entre si vertical- e lateralmente,
à medida que a mente/consciência assimila e se habitua/acomoda os
processos musicais. Quanto à hierarquia das camadas, Swanwick afirma
que os estádios são cumulativos e que as estruturas sucessivas são
integradas entre assimilação/motivação pessoal e habituação/convenções
da cultura musical. As pontas soltas da espiral indicam que as camadas/o
processo se podem repetir de forma recorrente, por exemplo, quando um
performer começa a tocar uma nova peça.

A espiral de Swanwick é interessante do ponto de vista do desenvolvimento


relacionado com as idades e do ponto de vista de encontrar uma evolução
dos aspectos musicais que os alunos procuraram nas suas composições
musicais. É ainda interessante por associar o estudo sobre as
transformações metafóricas a camadas de conhecimento musical que
interagem entre si. Analisámos atrás a importância da natureza da música
em si, das características pessoais do ouvinte e do seu contexto social para
a qualidade da resposta musical.

25
Estádios de desenvolvimento musical
Domínio/ Técnica: 1a.Sensorial: exploração do som - atracção
1. Materiais(0-4): pelo timbre e extremos de dinâmica, f e p.
aquisição de competências Exploram os instrumentos de forma
imprevisível, sem pulsação e não dão
importância à cor do som.
1b.Manipulativo Maior controlo na
manipulação e exploração dos recursos e
técnica do instrumento. Pulsação regular,
repetição. Composições mais longas e
repetitivas derivados do prazer de controlar
o instrumento.

Imitação 2a.Pessoal: caracteriza-se por mudanças de


2. Expressão(5-9): andamento e de dinâmica. Há sinais de
Reconhecimento e produção do gesto gestos musicais ou frases teatrais e
expressivo emocionais. Existe pouco controlo estrutural
e ideias espontâneas não são desenvolvidas.
2b. Vernacular: Aparecem padrões
melódicos e rítmicos sujeitos a repetição. As
peças podem ser curtas e respeitam as
convenções musicais – pex. frases de 2, 4,
8, compassos, organização métrica,
sequências e ostinatos. As composições são
muito previsíveis e reflectem a experiência
musical (auditiva, performativa) de cada um.

Imaginativo; Jogo construtivo 3a. Especulativo: as composições vão para


3. Forma(10-15): além da repetição, com desvios e surpresas,
Reconhecimento operacional de normas e nem sempre enquadrados na peça. São o
desvios resultado de novas experiências com a
intenção de obter novas possibilidades de
estrutura, contraste e variações.
3b. Idiomático: as surpresas estruturais são
integradas num estilo reconhecível.
Autenticidade harmónica e instrumental.
Jogos de pergunta resposta, variações e
secções contrastantes com maior controlo
técnico, expressivo e estrutural são
demonstrados em composições mais
longas.

Metacognição 4a.Simbólico: o domínio da técnica


4. Valor (15+): instrumental serve a comunicação musical.
Resposta estética Relações formais e carácter expressivo ao
serviço da expressão pessoal. Grupos de
timbres, mudanças de frase, progressões
harmónicas são desenvolvidas.
4b.Sistemático: as possibilidades do
discurso musical são desenvolvidas através
de novos materiais – escalas, harmonias,
novos timbres, etc.

Tabela1: Estádios de desenvolvimento musical (Adaptado de Swanwick & Tillman 1986)

26
Apesar do interessante estudo de Swanwick, a teoria dos estádios de Piaget
– na qual Swanwick se baseia - não é bem aceite por North & Hargreaves
(2008) na sua versão original. Em primeiro lugar, é posta em causa a
coerência dos estádios, assim como o facto da aquisição de operações
lógicas poder não ser um objectivo do desenvolvimento. Por último, deveria
ser dado mais peso ao factor social e diversidade cultural. Gostaria de referir
que Silva (1998, 1999) teve a espiral em consideração no seu estudo de
alunos de piano, tendo em conta o ambiente familiar. Swanwick referiu no
seu estudo que os estádios têm uma certa independência das idades, uma
vez que o processo de aprendizagem é múltiplo e cumulativo, podendo ser
reiniciado quando o performer aprende uma nova peça.

Estádios cognitivos

Gostaria agora de dedicar a atenção ao estudo longitudinal que Parsons fez


acerca da apreciação da Pintura, uma vez que toma diferentes factores em
consideração, tendo como objectivo, não encontrar a natureza das
preferências, mas as razões que levam as pessoas a valorizar determinada
obra de arte. Ao contrário do que afirmam North & Hargreaves (2008:), o
estudo de Parsons, na minha opinião, não se pode denominar ‘ao estilo
piagetiano’ uma vez que Parsons toma em linha de conta três diferentes
vertentes do desenvolvimento, nomeadamente, o racional/exterior,
social/moral e o estético. No que respeita ao desenvolvimento racional, toma
o trabalho de Piaget em linha de conta, assim como toma o de Lawrence
Kohlberg para a parte social/moral. Parsons tenta investigar o
comportamento da sociedade no âmbito da apreciação estética, de forma a
caracterizá-la e encontrar a modo como as camadas de sensibilidade à arte
se desenvolvem, em relação ao desenvolvimento pessoal nas outras áreas.
Parsons procura de que forma as pessoas apreciam a arte, na procura de
uma expressão do seu eu interior. Hargreaves & Zimmermann (1992) e North
& Hargreves (2008) parecem não ter compreendido a essência do estudo de
Parsons ao etiquetarem o estudo ‘ao estilo piagetiano’, uma vez que estão

27
apenas a considerar a parte de desenvolvimento racional do seu estudo,
ignorando a parte moral/social e, acima de tudo, o estudo das
características estéticas da apreciação. Hargreaves parece ter uma visão
cognitivista de aquisição de competências musicais: defende a perspectiva
de Gardner (1993) acerca das inteligências múltiplas. Gardner (1989, 1993)
defende que existe uma inteligência específica para cada actividade.
Gardner desenvolveu um projecto muito interessante a transversal para o
ensino, no qual a música também é contemplada: Em Project Zero6, que
apoia a teoria das inteligências múltiplas, Gardner considera a inteligência da
compreensão simbólica notacional e expressiva. Apesar de concordar com a
teoria das inteligências múltiplas de Gardner, penso que a ‘inteligência
estética’ tem uma forte componente corporal/ física que necessita de mais
investigação. É através da interpretação das entrevistas que Parsons tenta
observar as suas reacções à arte, tendo em conta uma perspectiva
tridimensional das entrevistas, nomeadamente, sob o ponto de vista
racional, moral/social e estético. Essas reacções foram agrupadas em
estádios (cf. Tabela na página seguinte).

Parece-me mais pertinente utilizar o modelo e a metodologia de Parsons,


pelo que irei fazer a minha investigação nesta linha, mas respeitando as
especificidades da apreciação musical, assim como o anteriormente referido
Modelo de feedback recíproco.

Foi à luz do presente enquadramento teórico que elaborei uma metodologia


de investigação acerca da valorização musical em alunos de performance,
violino, baseada em entrevistas.

6 cf. http://www.pz.harvard.edu, a 11/06/201

28
Estádios de Parsons

Estádio: Características Ponto de vista psicológico

Ponto de vista estético

1. Preferência: Não há praticamente


consciência do ponto de
Gosto intuitivo pela maioria vista dos outros. Tudo
dos quadros, uma forte quanto existe manifesta-se
Os quadros constituem um atracção pela cor e reacção através da experiência; fora
estímulo para uma ao tema do quadro, dela não há nada, não
experiência agradável consistindo numa série de sendo, por isso, possível
associações livres. compará-la com o que quer
que seja.

2. Beleza e Realismo: Reconhece implicitamente o


ponto de vista dos outros. A
noção de representação
exige uma distinção entre
Dá ao observador a aquilo que qualquer pessoa
capacidade de distinguir pode ver no quadro e as
alguns aspectos da Quanto mais interessante for
ideias que esse mesmo
experiência considerados o tema e realista a
quadro nos evoca. Confinar-
como esteticamente representação. Admiramos a
se àquilo que está
relevantes (os que têm a ver habilidade, a paciência e o
representado significa
com aquilo que está a ser trabalho meticuloso. A
compreender que as
representado) dos aspectos beleza, o realismo e a
associações que
irrelevantes (os que não têm habilidade do artista são os
estabelecemos em torno do
relação com aquilo que o fundamentos objectivos do
quadro não correspondem
quadro representa) juízo estético.
necessariamente àquilo que
os outros vêem.

3. Expressividade: Observamos os quadros em


função da experiência que
podem proporcionar, e
quanto mais intensa e
interessante for a Assenta numa nova
experiência, melhor será o consciência da interioridade
Permite-nos perceber a da experiência dos outros,
quadro. A intensidade e o
irrelevância da beleza do numa nova capacidade de
interesse garantem que a
tema, do realismo estilístico, apreender as suas ideias e
experiência é autêntica, ou
e da habilidade do artista. sentimentos pessoais.
seja, verdadeiramente
Abre-nos as portas a uma Concomitantemente,
sentida. O sentimento ou
maior gama de obras e tomamos também a
pensamento expresso pode
permite-nos captar melhor consciência da nossa
ser o do artista, o do
as suas capacidades própria experiência como
observador, ou o de ambos.
expressivas. algo íntimo e único.
Em todo o caso, é sempre
aquilo que é interiormente
apreendido por um
indivíduo.

29
Estádio: Características Ponto de vista psicológico

Ponto de vista estético

4. Estilo e forma: A nova perspectiva reside


aqui no facto de se
considerar que a significação
de um quadro é mais social
Considera relevantes o meio do que individual. Integra-se Capacidade de adoptar a
de expressão, a forma e o numa tradição, criada por perspectiva da tradição
estilo estabelece um um conjunto de pessoas que considerada no seu
distinção entre a atracção ao longo do tempo foram conjunto. Cognitivamente
literária do tema e do observando e comentando falando, isto é mais
sentimento e aquilo que a um conjunto de obras de complexo do que captar o
obra em si consegue arte. À medida que as estado de espírito de um
realizar. Põe em evidência as comentam, vão indivíduo. Permite-nos, por
relações estilísticas e considerando determinados exemplo, ler diversas
históricas entre os quadros, aspectos mais relevantes do interpretações de uma
e alarga a gama dos que outros. Ajudam-se umas determinada obra, ver até
sentidos que a pintura pode às outras a ver com maior que ponto cada uma delas
exprimir. Permite-nos acuidade. A obra existe num faz sentido nos seus
descobrir a utilidade da espaço público; é possível próprios termos e
crítica de arte enquanto guia sublinhar, de maneira compreender que, apesar de
da nossa percepção e intersubjectiva, certos tudo, todas fazem parte da
considerar o juízo estético aspectos do seu meio de mesma tradição.
como racional e susceptível expressão, da sua forma e
a objectividade. do seu estilo; e assim se vão
corrigindo e aperfeiçoando
as interpretações.

5. Autonomia: A perspectiva fundamental é


aqui a de que o indivíduo
deve julgar os conceitos
Permite-nos ter reacções valores dos quais a tradição Exige que transcendamos o
mais subtis e perceber que constrói a significação das ponto de vista da cultura.
as expectativas tradicionais obras de arte. Estes Exige a capacidade de
podem ser enganadoras. conceitos evoluem com a questionar as opiniões
Leva-nos também a história, e devem ser geralmente aceites e de
entender de forma mais continuamente reajustados considerar o sujeito como
adequada a prática da arte, para se adaptarem à apto a responder às
quer no momento da situação actual. O juízo é questões levantadas. Tal
criação, quer no momento considerado como sendo ao implica uma perspectiva
da avaliação, como um mesmo tempo mais pessoal global sobre a cultura em si.
constante reexame e e mais fundamentalmente
reajustamento do sujeito social. Ao mesmo tempo que
numa situação comum, o juízo é considerado uma
como a exploração dos responsabilidade individual,
valores em circunstâncias há também uma percepção
históricas mutáveis. clara da necessidade de
discussão e de
compreensão
intersubjectiva, bem como
um sentido da
responsabilidade para com
a comunidade na procura da
verdade.

Tabela 2: Estádios de Parsons (adaptado de Parsons 1992)

30
Investigação empírica

Explorando o contexto social e afectivo da apreciação


musical de alunos de violino

Considerando o estudo apresentado na fundamentação teórica, a presente


investigação propõe-se explorar concretamente a área da performance
musical, portanto a fruição musical enquanto acto participativo e como esta
forma de fruição musical influencia e molda a percepção e o gosto.

Posso constatar através de uma revisão de literatura que existem já diversos


estudos para qualificar aquilo que ouvintes e compositores valorizam
esteticamente numa obra musical. Contudo, ainda não encontrei um estudo
que investigasse concretamente de que forma a fruição estética musical
evolui nos intérpretes, de que forma o facto de entrarem em contacto directo
através da performance com determinadas obras musicais poderá influenciar
as suas escolhas musicais e fruição estética. Por exemplo, na adolescência,
a música constitui um importante factor na construção da identidade, sendo
o tipo de música escolhido pelo amigos um factor determinante para a
escolha pessoal. Contudo, será que esse adolescente poderá fruir para além
da música pela qual ele cria a sua identidade com o grupo de amigos (por
exemplo, rock) um outro género que interpreta (por exemplo, clássico)? Que
qualidades na música o fazem apreciar ou desgostar da obra? Serão
qualidades intrínsecas tais como estrutura, padrão, timbre ou melodia ou
qualidades extrínsecas tais como ambiente em que é ouvida (sala de
concertos ou ar livre ou rádio, por exemplo), grupo social em que se insere a
escuta, a forma como o faz dançar ou movimentar o corpo, etc., etc. Terá
associações estruturais, episódicas ou icónicas? Que influência tem a

31
educação no gosto musical ao longo da vida? Apesar de se ter provado que
a influência de pais e professores são determinantes para toda a educação –
incluindo a educação estética da criança – de que forma a educação numa
área instrumental irá influenciar o desenvolvimento musical da criança/
adolescente?

Poderá este estudo influenciar a escolha de um repertório que encontre as


qualidades que motivam a criança para aprender música? Penso que é
importante determinar quais as causas e aquilo que está na raiz da fruição
estética e dos possíveis estádios de desenvolvimento, de forma a adaptar os
programas de ensino a boas experiências de fruição estética.

O que se pretende averiguar é se a aprendizagem de um instrumento


musical desde a infância pode influenciar as escolhas musicais e a fruição
estética da criança. Devido à forte neuroplasticidade do cérebro até aos
nove anos de idade, tem-se provado benéfico (Hallam 2006) o ensino da
música desde a infância. Será que a pedagogia de um instrumento poderá
influenciar a forma como a criança frui a música? Será que podemos
enriquecer a experiência de uma criança apropriando as estratégias de
ensino à forma como ela é capaz de apreciar a música?

A música é uma arte performativa por excelência, que exige do performer


longos anos dedicação até dominar perfeitamente os recursos que o seu
instrumento permite. No entanto, é possível fruir bons momentos musicais
durante a prática desde os primeiros anos de aprendizagem. Curiosamente,
parece que a prática musical influencia a forma como comunicamos com o
objecto sonoro e como o interpretamos. A mesma obra pode adquirir
diversos significados ao longo do nosso percurso como músicos de
performance. Aquilo que tem valor para nós numa primeira etapa, parece
esbater-se para segundo plano ao longo da nossa descoberta de novas
qualidades do mesmo referencial. Desta forma, será que determinada obra
musical pode ser valorizada por variados factores relacionados com o nosso

32
desenvolvimento da apreciação musical? Será que esse desenvolvimento
está somente relacionado com a idade ou existe um segundo factor de
desenvolvimento da apreciação estética relacionado com a experiência
derivada do conhecimento tácito de comunicação musical? Existe uma
evolução na caracterização e consciencialização da narrativa musical que os
alunos constroem durante a performance?

Neste estudo procura-se encontrar os factores de apreciação e valor


estético ao longo de várias etapas de aprendizagem da performance musical
em violino através de entrevistas que têm em conta o contexto social, faixa
etária, anos de aprendizagem e tipo de ensino que os alunos de violino
frequentam.

Metodologia

Neste capítulo foi feita uma análise temática qualitativa, na qual foram
associadas as respostas dos entrevistados à hipótese teórica explorada no
capítulo anterior.

Devido ao facto de ser violinista profissional, decidi entrevistar alunos de


violino, contando ter mais hipóteses de compreender as particularidades da
sua aprendizagem e estar mais preparada para questionar e analisar os seus
pensamentos e crenças.

Esta metodologia está de acordo com a minha orientação para investigar a


performance "por dentro", sob a perspectiva de "músico profissional como
investigador" e "professor como investigador" (Barlow et al. 1984, Carr and
Kermis 1986). Se tenho a intenção de compreender a participação dos
alunos de performance no seu contexto social, eu tenho de "inspeccionar de
perto como esse mundo é apreendido pelos olhos dos próprios participantes
- pelas suas próprias perspectivas sociais e fenomenológicas. Por vezes,

33
isto é descrito como procura da táctica de observador participante, em que
o conhecimento é contextualizado "por dentro" (Pidgeon and Henwood
1997:251).

Se considerarmos a distinção de Robson (1993) entre propósitos


exploratórios, descritivos e explicativos para uma entrevista, a presente
entrevista concentra-se nos dois primeiros propósitos, em que o primeiro
predomina: investigação do acontecimento, procurando novas perspectivas
e descrição desse mesmo acontecimento - caracterizando um perfil
fidedigno das pessoas, eventos e situações, sendo para isso requerido um
conhecimento extensivo da situação que está a ser investigada ou descrita.
(adaptado de Robson 1993:42)

A análise fenomenológica interpretativa descrita por Smith (1997, 1998),


baseou-se na contextualização teórica para analisar a informação recolhida
nas entrevistas. Depois de transcrever e rotular todos os aspectos das
entrevistas que poderiam contribuir para a análise em curso, foram
identificados os temas emergentes. Devido ao facto de os termos serem
muitas vezes usados com diferentes significados pelos próprios
entrevistados, um método de constante análise comparativa também foi
utilizado, onde foram tidos em perspectiva conceitos e outras instâncias.

Foram feitas duas etapas de entrevistas: a primeira etapa – experiência


piloto - consistiu num grupo de perguntas bastante breve, onde tentava
directamente saber as preferências musicais dos alunos. Estas entrevistas
não duraram mais de cinco minutos, mas provaram que a investigação em
curso tinha um tema pertinente e que valia a pena investigar, uma vez que
colhi resultados satisfatórios quanto às diferentes respostas associadas à
idade e tempo de aprendizagem do instrumento, assim como contacto com
a aprendizagem musical.

Numa segunda etapa das entrevistas, elaborei um questionário tendo em


conta o factor da contextualização social e afectiva/pessoal de cada
participante, assim como contexto de aprendizagem. A escolha dos

34
participantes foi aleatória, tendo em conta a disponibilidade de cada um para
ser entrevistado, nos intervalos de cursos de música realizados durante as
férias da Páscoa de 2010.

As entrevistas em si formam a maior fonte de informação, uma vez que só


conheci de perto os entrevistados que eram meus alunos. Uma vez que fui
professora dos alunos que formam a primeira parte das entrevistas, tive
oportunidade de observar por dentro as suas reacções, atitudes, motivação
e contexto de aprendizagem. Quanto aos outros alunos, que foram
entrevistados na segunda etapa de entrevistas, tentei através das perguntas
colher o máximo de informação possível para uma caracterização fidedigna.

Descrição dos participantes

Os participantes foram alunos de idades compreendidas entre os 5 e os 29


anos, todos ele alunos de violino em várias instituições do Norte e Centro de
Portugal: conservatórios de música - Conservatório de Música de Aveiro
Calouste Gulbenkian, Conservatório Regional de Coimbra, Conservatório de
Música do Porto, Colégio de São Teotónio e Conservatório de Música da
Figueira da Foz - escola profissional ARTAVE e Universidade de Aveiro.

Foram entrevistados 28 alunos diferentes, 16 no primeiro e 12 no segundo


grupo de entrevistas: o primeiro grupo de alunos foram entrevistados
durante as aulas ou nos intervalos e eram na sua maioria meus alunos de
violino. O segundo grupo de alunos entrevistados eram participantes de
Masterclasses - em Coimbra, Famalicão e no Porto - no período das férias
da Páscoa de 2010 e que eu não conhecia anteriormente.

35
Como surgiram as perguntas do questionário

De forma a encontrar um número de perguntas relevantes que encorajassem


os meus entrevistados a falar dos assuntos pretendidos, houve um período
de reflexão pessoal e de perguntas piloto a vários alunos. O âmago da
questão era a de que a valorização estética depende do desenvolvimento
pessoal de cada um em diversas áreas para além da idade, tais como
qualidade e quantidade do contacto com o instrumento, o contexto social da
aprendizagem, personalidade, entre outros factores intrínsecos e extrínsecos
de cada um. Desta forma, como se caracteriza uma possível evolução da
valorização estética e quais os factores para esse possível desenvolvimento?
De forma a abordar estes aspectos na elaboração do questionário, foram
seleccionados um total de seis temas e subtemas:

A. Identificação do aluno: Nome, idade, grau e tempo de aprendizagem do


instrumento (anos lectivos). O propósito deste tipo de identificação era
contextualizar a idade em relação ao tempo de aprendizagem do
instrumento (anos lectivos).

B. Motivação: neste grupo de perguntas, tentei contextualizar as razões


sociais e afectivas, assim como motivações para a aprendizagem do
instrumento (intrínsecas ou extrínsecas), de forma a perceber melhor o grau
de valorização que o aluno confere à prática instrumental.

C. Percurso artístico: Descrição de performances significativas pelo


entrevistado. Aqui o propósito era encontrar quais as suas crenças acerca
daquilo que constitui uma boa performance, assim como relação com as
características musicais das peças que tocaram nessas performances.

D. Valorização: Neste tema eram abordadas as experiências afectivas e


estéticas significativas para cada participante, do ponto de vista do ouvinte e
do ponto de vista do intérprete (participante).

D. 1. Perspectiva do ouvinte: Descrição de experiências musicais


relevantes para os entrevistados quando ouvem musica. O propósito era ter

36
uma imagem clara da sua apreciação musical uma vez que eu punha em
hipótese que o estilo da sua percepção teria um efeito significativo em
condicionar as suas respostas nas áreas que se seguiam durante a
entrevista. Pareceu-me óbvio, uma vez que os entrevistados seriam
certamente ouvintes mais ou menos reflexivos consoante o seu grau de
envolvimento com a performance musical e, portanto, as suas crenças
acerca da performance e audição musical estivessem sempre em constante
negociação. Para além disso, tinha também o propósito de me informar
acerca do grau de conhecimento do repertório para violino e de como está
relacionado com a evolução da apreciação estética e com a qualidade da
prática artística/ performativa de cada um.

D. 2. Perspectiva do performer: Neste grupo de perguntas tentei descobrir


o que cada um considerava uma boa peça e o que valorizava para ter uma
experiência estética relevante. Tentei compreender o contexto em que foi
tocada, tendo em conta a sua posição na evolução da aprendizagem, no
contexto social e afectivo, assim como uma possível alusão a imaginação
associada/ narrativa musical e aspectos musicais que caracterizavam as
obras consideradas significativas pelo o aluno. Foi também indagado como
é que as experiências anteriores afectaram ou tiveram efeito na percepção
de si. Aqui o propósito era descobrir algum fenómeno psicológico associado
com o acto da performance e a qualidade da sua valorização.

D. 3. Performance musical: no final da entrevista, pedi aos alunos que


tocassem um pouco de uma obra à escolha, de forma a poder contextualizar
aquilo que valorizam na música com os resultados efectivos na prática
musical. Parti do princípio que os alunos do segundo grupo de entrevistas
tinham algum repertório mais ou menos preparado, uma vez que eram
participantes de masterclasses. No entanto, nenhum deles tinha sido
previamente avisado que teria de tocar na entrevista, ficando este registo
apenas como prova do seu processo de aprendizagem enquanto alunos de
violino.

37
Questionários

Questionário I

A. Identificação A. 1. Como te chamas ?


A. 2. Qual a tua idade?

A. 3. Em que grau estás?

A.4. Há quanto tempo tocas violino?

D. Valorização D. 1. Qual foi a peça que tocaste que mais gostaste?


Porquê?( Ajuda: Tenta descrever as características que te
fazem gostar dessa peça. )

Questionário II

A. Identificação A. 1. Como te chamas?

A. 2. Que idade tens?

A. 3. Qual é o grau que frequentas?

A. 4. Há quantos anos tocas violino?

B. Motivação B. 1. Porque começaste a estudar música? (Ajuda:


vontade própria, vontade da família, amigos...)

B. 2. O que te levou à escolha do instrumento? (Ajuda:


vontade própria, som, pais, concertos... Quando soubeste
que era esse o teu instrumento? Como?)

B. 3. Gostas de tocar violino? E de estudar...? Porquê?

B. 4. Onde costumas tocar violino? E estudar?

B. 5. Com que regularidade costumas estudar violino?

B. 6. Consideras-te envolvido com as actividades


organizadas pela escola? Quais as que frequentaste este
ano? Gostaste?

B. 7. Sentes-te bem na tua escola de música? Porquê?

C.Percurso C. 1. Gostas de tocar em público? Em que contexto gosta


artístico mais de tocar em público (Ajuda: audições, família, festas,

38
concertos, igreja, etc.)

C. 2. Houve alguma vez memorável, onde tenhas gostado


especialmente de tocar? Em que contexto e porquê?

C. 3. Gostas mais de tocar a solo ou em conjunto?


Porquê?

C. 4. Como te sentes depois de tocar em público? Que


reacções notas nas pessoas à tua volta? Quem mais
aprecia a tua música/ Quem são os teus fãs?

C. 5. Em que contexto sentes que a tua música é mais


apreciada?

D. Valorização

D.1. D. 1. 1. Qual é a tua música preferida?


Perspectiva do
ouvinte D. 1. 2. Onde ouves as tuas músicas preferidas? (Ajuda:
em casa, em viagem/carro, quando sais à noite, quando
estás com os teus amigos, com os teus pais, sozinha/o)

D. 1. 3. Costumas ouvir música mais quando estás


acompanhado/a ou sozinho/a?

D. 1. 4. Quem costuma ouvir música contigo?

D. 1. 5. Já foste a concertos ao vivo? Quais?

D. 1. 6. Gostas de ouvir música clássica? Para violino?

D. 1. 7. Quais são os teus intérpretes preferidos? ( Ajuda:


violinistas...)

D. 1. 8. Qual o repertório que gostas mais de ouvir?

D.2. D. 2. 1. Podes falar-me uma peça que tenhas tocado que


Perspectiva do te marcou especialmente/ Que tenhas gostado de tocar?
performer (Ajuda: prazer de tocar, ser apreciada, aprendizagem...)

D. 2. 2. Tenta descrever a sensação de tocar essa peça.


Como te sentiste enquanto a tocavas?

D. 2. 3. Que aspectos musicais aprecias mais nessa obra?


O que ouves nela para gostar tanto?

D. 2. 4. Essa peça evoca alguma memória em especial? O


que te faz lembrar essa música?

D. 2. 5. Em que situação foi tocada? (apresentação...


audição, etc.)

D. 2. 6. Já conhecias essa música/peça?/Já a tinhas

39
ouvido antes de a começares a tocar? Em que contexto?
Gostaste?

D. 2. 7. Existe alguma que não tenhas gostado tanto?


Porquê?

D. 2. .8 Existe alguma peça que gostasses de tocar um


dia? Porquê?

D. 2. 9. Consegues nomear os factores que mais valorizas


numa obra musical?/ O que gostas mais de ouvir numa
peça?

D.3.Registo D. 3. 1. Podes tocar um pouco para mim? (o que tu


artístico/ quiseres)
performativo
D. 3. 2. Que obra é?

D. 3. 3. Podes avaliar a tua performance? O que gostaste


mais e aquilo gostarias de melhorar/ aperfeiçoar?

Procedimento das entrevistas

As entrevistas foram gravadas num programa de gravação áudio (Garage


Band de um computador Macintosh) e depois transcritas. As perguntas
foram utilizadas de forma a encorajar os entrevistados a falar de um modo
informal de conversação. O objectivo era recolher uma grande quantidade
de informação em cada tópico de interesse, para análise futura. O primeiro
grupo de entrevistas teve uma duração inferior a 5 minutos e o segundo
grupo de entrevistas durou cerca de 50 minutos. Embora no primeiro
questionário se contemplem só os temas de identificação e valorização, vou
considerar os dois grupos de entrevistas para análise, por duas razões:
primeiro, porque os temas acrescentados ao segundo questionário tinham a
função de contextualizar social, cultural e psicologicamente os
entrevistados; ora, eu já tinha informação suficiente para contextualizar os
alunos entrevistados no primeiro questionário porque eram meus alunos ou
colegas da Universidade. Segundo, considerei que o aumento do número de
entrevistados sobre a questão da valorização, que é afinal a questão central
no questionário, só iria fortalecer os resultados da análise. Daqui resulta que
nas tabelas de dados correspondentes aos temas de identificação e

40
valorização apareçam também incluídos os alunos do questionário I, assim
como considerados na respectiva análise.

Análise dos da entrevistas

Dados do primeiro grupo de perguntas – identificação

A seguinte tabela mostra a lista dos alunos de performance, a sua idade, o


grau, o tempo de performance – em anos - e o estabelecimento de ensino
que frequentam. Para este grupo de questões a apresentação dos dados
numa tabela pareceu-me facilitar a leitura e sobretudo a sua comparação.

Tabela A – Identificação do aluno

Entrevistas I
Nome Idade Grau Anos de Estabelecimento
performance de ensino
Daniel Silva 14 4º 5 Cons.Reg.Coimbra
Inês Fragoso 10 1º ½ CRC
Joana 19 6º 6½ CRC
Providência
Maria Gorgulho 6 2º Inic. 1½ CRC
Matilde Simões 7 1º Inic. ½ CRC
Matilde Pascoal 6 1º Inic. ½ CRC
Nádia Nunes 13 4º 6 CRC
Pedro Neves 20 5º 4 CRC
Raquel Dias 13 3º 4 CRC
Raquel Marinho 12 2º 2 CRC
Rute Miriam 14 4º 5 CRC
Afonso Serrano 13 3º Cons.Mus.Aveiro
Calouste Gulbenk.
Catarina Barros 16 6º 6 CMA
Pedro Sá 23 8º 8 CMA
Paulo Azevedo 29 2º Lic. 6 Universidade de
Aveiro
Zé Luís Carvalho 25 2º Lic. 12 UA

41
Entrevistas II
Nome Idade Grau Anos de Estabelecimento
Performance de ensino
Ana Raquel 15 6º/10º ano 6 Escola Prof.
Sacramento ARTAVE
Francisca Silva 15 6º/10º ano 4 ARTAVE
Seixas
Joana Machado 17 8º/12º ano 11 ARTAVE
Marcos 19 7º/ 11º ano 5½ ARTAVE
Lourenço
Silvina Dias 15 6º/ 10º ano 3 ARTAVE
Ariana Saro 13 3º 6 Cons.Mús.
Figueira da Foz
Cristina Lopes 26 4º 4 CRCoimbra
Eduarda Costa 14 4º 4 CMFF
Francisca 11 2º 2 CMFF
Freitas
Libânia Alves 12 3º 2 CRC
Sofia Carvalho 12 3º 3 Colégio de São
Teotónio (Coimb.)
Ana Luísa 18 8º / 1º Lic. 13 Cons.Mus.Porto/
Carvalho Esc.Sup.Mus.AE

Distribuindo os alunos entrevistados por grupos etários:

• Com 6 a 7 anos de idade: 3 alunos (6 – 2; 7-1)

• Com 10 a12 anos de idade: 5 alunos (10–1; 11-1; 12-3)

• Com 13 a 15 anos de idade: 11 alunos (13-4; 14- 4; 15-3)

• Com 16 a 18 anos de idade: 3 alunos (16-1; 17-1; 18-1)

• Com 19 a 20 anos de idade: 3 alunos (19-2; 20-1)

• Com 23 a 25 anos de idade: 2 alunos (23-1; 25-1)

• Com 26 a 29 anos de idade: 2 alunos (26-1; 29-1)

Este número e esta distribuição de entrevistados pelas diversas idades


foram ditados evidentemente por razões circunstanciais.

42
Análise dos dados do segundo grupo de perguntas – motivação

Os alunos da escola profissional ARTAVE não começaram a estudar música


por iniciativa própria, ao contrário dos alunos dos conservatórios, mas têm
muito mais horas de contacto com o instrumento. Ao contrário dos alunos
dos conservatórios, os alunos da ARTAVE participam frequentemente em
estágios de orquestra e Masterclasses de violino.

Como é visível na tabela e apesar do modo como começaram, todos gostam


de tocar violino. A mesma unanimidade não aparece na resposta à pergunta
“Gosta de estudar?”, uma vez que três dos alunos dos conservatórios
apresentaram reservas. O que é significativo é a diferença de horas de
estudo, de horas de aula e de actividades (orquestra e cursos) entre os
alunos da escola profissional e os alunos dos conservatórios: cerca de 30
horas semanais, em comparação a cerca de 5 horas semanais nos
conservatórios.

O maior envolvimento com o instrumento e com as actividades ligadas ao


instrumento pareceu ser directamente proporcional à motivação dos alunos.
Assim os alunos da ARTAVE estavam visivelmente mais motivados, assim
como a aluna da ESMAE. A quantidade de horas que dedicam ao
instrumento tem uma relação directa com a motivação.

Gostaria de referir a importância que me pareceu ter o factor da educação


informal nos alunos da escola profissional Artave, uma vez que existe um
espaço para dialogar numa atmosfera informal, com professores e colegas
sobre música – interpretação, gostos, etc. Vários alunos deixaram
transparecer essa influência nas suas entrevistas. Este é um factor social de
aculturação que me pareceu ter uma influência decisiva nos alunos.

Em termos de estádios etários, a variação na motivação só se verifica entre


o início – razões por que começaram a estudar - e as fases seguintes –

43
continuação da prática instrumental, em que a motivação é um factor para
mais tempo de prática, que por sua vez aumenta a motivação para estudar.

Análise dos dados do terceiro grupo de perguntas – Percurso artístico

Este grupo de perguntas destina-se a ter uma contextualização das


experiências significativas de performance ao vivo que os alunos tiveram ao
longo do seu percurso artístico, assim como introduzi-los para o tema da
valorização do grupo de perguntas que sucede a este. Todos os alunos
tiveram experiência de tocar em público, o que os torna capazes de
responder ao tema seguinte, o da valorização. Os resultados que apresento
seguidamente são uma introdução ao capítulo da valorização.

Em geral, os alunos gostam de tocar em público, mas ficam muito nervosos.


As reacções do público são geralmente positivas, embora alguns alunos
sintam que o público poderia ser por vezes mais verdadeiro e dizer aquilo
que não gostou tanto. Existe uma grande diferença entre o público pouco
entendido – não compreende a dificuldade de tocar o instrumento e pode
ficar extremamente surpreendido e impressionado ou não valorizar de todo o
esforço dos intérpretes - e o público informado – professores e colegas.
Geralmente os professores dão conselhos para melhorar certos pormenores
da performance e motivam os alunos.

O grau de preparação do intérprete é crucial para a sua própria fruição da


performance e comunicação com o público: os alunos gostam de ter
reconhecimento da parte público, isso é um factor muito importante na sua
memória ‘de uma boa performance’. A importância do acontecimento –
recital do 9º ano, concertos em salas especiais/momentos especiais, etc. – é
também um factor decisivo para a memorabilidade do evento.

Os alunos gostam muito, em geral de tocar em conjunto com outros colegas,


porque se sentem mais relaxados e se se enganarem, sentem-se apoiados

44
pelo grupo. No entanto, apontam por vezes que o repertório a solo é mais
interessante e que recebem mais atenção do público.

Os alunos valorizam com maior ênfase diferentes aspectos do impacto no


público: a quantidade de palmas (3), a comunicação de sentimentos (2), a
perfeição com que tocaram (2), como impressionaram o público/
reconhecimento do trabalho empreendido (8), a comunicação e empenho de
um grupo (3), o prazer de tocar (5), a importância das salas/ocasiões de
concerto (4) e da quantidade de público (6) e qualidade do público (5).

Tal como podemos verificar no quadro, existem sugestões para uma maior
valorização de certos elementos por faixa etária ou por anos de prática, mas
esses resultados não são evidentes devido ao número reduzido de alunos.

Francisca Freitas 11 (2) Perfeição


Sofia Carvalho 12 (3) Impressionar/ Ser reconhecida
Cristina Lopes 26 (4) Prazer de tocar, Impressionar/Ser reconhecida
Libânia Alves 12 (2) Prazer de tocar, Palmas, Impressionar / Ser reconhecida
Eduarda Costa 14 (4) Empenho dos músicos
Ariana Saro 13 (6) Perfeição, Aplausos, Impressionar/Ser reconhecida,
salas grande com mto público
Ana Raquel Expressividade, Prazer de tocar, Demonstração do
Sacramento 15 (6) esforço
Francisca Silva Seixas Prazer de tocar, Impressionar, mostrar algo novo
15 (4)
Silvina Dias 15 (3) Estar bem preparada, Prazer de tocar, Impressionar,
Expressividade
Joana Machado 17 (11) Estar bem preparada, Impressionar, Nova experiência,
mto público
Marcos Lourenço 19 Diversão, Impressionar, empenho
(5,5)
Ana Luisa Carvalho 18 Palmas, Espaço, Divertimento, Público apreciador e não
(13) juiz, Empenho

Tabela 3:Análise do percurso artístico

45
Análise dos dados do quarto grupo de perguntas – valorização

Este grupo de perguntas trata directamente da temática da valorização sob


os seus variados aspectos, estudando as respostas dos alunos da
perspectiva do ouvinte e do performer.

Curiosamente, os alunos dos conservatórios não têm hábitos de ouvir


música clássica sozinhos, ao contrário dos alunos da escola profissional.
Neste caso, as características que apreciam ouvir numa gravação ou ao vivo
são geralmente os factores que mais valorizam na sua própria performance.
Essas características variam consoante a idade e anos de prática.

Os alunos dos conservatórios não têm geralmente uma correspondência


óbvia entre o que ouvem e tentam reproduzir/valorizar na performance,
provavelmente porque o seu tipo de escuta não é tão atenta como a dos
outros alunos das escolas profissionais. Raramente escolhem a música que
querem ouvir, apenas conhecendo o que é ouvido com os pais, amigos ou
pela rádio. Quando escolhem, a maior parte não opta por ouvir música
clássica/erudita. Curiosamente, essa falta de hábitos de audição está
associada a um desenvolvimento musical mais lento, no que toca à técnica e
musicalidade, assim como a um pobre vocabulário para expressão e diálogo
sobre música.

Aglomerados de ideias acerca da valorização musical em cada ‘grupo’

Depois de fazer as entrevistas e de as analisar, dividi as respostas em


quadros, por temas (cf. Tabelas A-D). Foi através da análise das respostas
acerca da valorização musical que cheguei a estes resultados. Aglomerei as
respostas numa nova tabela, sujeita à minha interpretação dos dados e dividi
os alunos consoante a comunhão de ideias acerca da valorização musical

46
(cf. Tabela E). Conforme a predominância de certas ideias em relação a
outras, sugiro uma nomenclatura, ainda que meramente indicativa e que
serve como referência para identificação dos estádios e posterior
comparação com os estudos de outros autores, que vamos ler mais à frente.

1. Valorizam a ‘denotação’ extra-musical: Representacional

Inês Fragoso 10 anos Músicas fáceis e divertidas


(estuda há ½ ano)
Maria Gorgulho 6 (1,5) Relação do título da música com a vida do dia a dia
Matilde Simões 7 (0,5) Relação do título da música com a vida do dia a dia
Matilde Pascoal 6 (0,5) Relação do título da música com a vida do dia a dia
Tabela 4: Valorização Representacional

As alunas mais novas, com menos tempo de contacto com o violino,


valorizam o título da música e a sua relação com a vida do dia-a-dia.
Apontam razões para a sua preferência tais como: ‘gosto de comer’,
‘gostava de ver um papagaio’, ‘gosto de instrumentos’, ‘gosto de balões e
tenho um lá em casa’. Estas alunas têm idade entre os 6 e os 7 anos. Uma
outra aluna, de 10 anos, valoriza o facto de as peças serem fáceis e
divertidas, ou seja, já não relaciona o título da música à sua preferência,
antes fazendo uma correspondência à facilidade de execução e divertimento
associado. Esta aluna já apresenta características do segundo grupo:

2. Valorizam a música como celebração da vida: alegre, harmoniosa


bela: Sensorial

No segundo grupo, os alunos apreciam a beleza das peças. Gostam de


peças alegres e com ritmo, rápidas e alegres. A narratividade ou referências
extra-musicais estão por vezes presentes. A facilidade de execução e

47
componente lúdica /diversão de tocar uma peça são também um factor
importante para a sua valorização. Em geral, gostam de todas as peças que
ouvem e tocam, mas preferem com as qualidades acima referidas. Referem-
se também à ‘harmonia’ como um elemento de perfeição entre as partes,
segundo a expressão idiomática ‘estar em harmonia’ ou ‘em sintonia’.

Numa segunda fase, começam a apreciar os contrastes nas suas diversas


componentes: dinâmicas, principalmente, mas também de andamento,
tessitura e carácter. Gostam de observar como as linhas melódicas – o
violino é um instrumento melódico - se desenvolvem e transformam. A
pouco e pouco, vai-se desenvolvendo o gosto pela perfeição técnica de
execução, pela originalidade, e por explorar novas dificuldades técnicas.

Inês Fragoso 10 (0,5) Músicas fáceis e divertidas


Raquel Marinho 12 (2) Dinâmicas. Harmonia/ Beleza
Rute Miriam 14 (5) Música alegre e com ritmo
Nádia Nunes 13 (6) Beleza, Ritmo, Ser fácil
Raquel Marinho 12 (2) Dinâmicas. Harmonia/ Beleza
Francisca Freitas 11 Gosta de tudo na música, mas prefere partes mexidas e rápidas
(2) (leves, rítmicas). Narratividade. Diversão. Alegria.
Raquel Dias 13 (4) Contrastes de andamentos, de dinâmicas, de carácter. Alegre.
Sofia Carvalho 12 (3) Música bonita e mexida. ‘a sério’. Alegre e que me cause
espanto. Uma coisa nova. Valorização do trabalho por uma peça
ser bem tocada. Ficou fascinada e motivada depois de assistir a
uma cto. de orqª em lisboa (perfeição da execução).
Cristina Lopes 26 (4) Gosta de todas as músicas que tocou. Músicas rápidas e alegres,
de circo. Originalidade. Como a linha melódica se transforma,
tocar os tempos e notas certos, dinâmicas. Ainda não sei muito
bem o que é a expressividade. Imagina encenações na música/
narratividade. Aprecia toda a música que passam na rádio
excepto as óperas.
Libânia Alves 12 (2) Uma coisa nova. Beleza. Harmonia, som, melodias bonitas.
Transformação e continuidade da linha melódica. Referências
extra-musicais/Emoções no corpo. Sente-se muito leve, com ‘as
notas a dançar à sua volta’, em conjunto, gosta de sentir a
harmonia entre os instrumentos. As suas preferências dependem
do estado de espírito. Gosta de observar como os músicos
tocam bem e sentem harmonia.
Tabela 5: Valorização Sensorial

48
3. Valorizam uma obra enquanto representativa de um estilo
contrastante, barroco, com novas dificuldades: Desafio

Numa terceira fase, os alunos, para além de valorizarem os contrastes e a


narratividade, gostam de desafios e de vencer novas dificuldades que as
peças apresentam – passagens rápidas e agudas, cordas dobradas, etc..
Estes alunos apreciam e tocam – por fazer parte do programa de ensino - o
estilo barroco: leve, contrastante, com semicolcheias (andamentos rápidos) e
contraste grande entre os andamentos. São peças geralmente mais difíceis e
elaboradas, que exigem domínio de novas técnicas de articulação e
fraseado. Os pequenos motivos do barroco são melodias que desenvolvem
e contrastam com um eventual contra-tema ou segundo tema. Os concertos
para violino do barroco são, regra geral, tecnicamente mais acessíveis do
que os dos outros períodos da história da música. Já são ‘música a sério’ -
distinguindo-se das peças, geralmente arranjos, que se dão aos alunos
iniciados – e por isso se tornam muito motivantes do ponto de vista musical.
Os concertos para violino de Vivaldi, Bach, etc. são acompanhados com
orquestra e existem gravações disponíveis para consulta, o que talvez lhes
confira um valor acrescido para os alunos que os tocam: tratam-se de peças
‘conhecidas’, repertório que músicos profissionais também tocam.

Afonso Serrano 13 (7) Ser conhecida, rápida. Gosta de desafios, aprender novas
técnicas.
Ariana Saro 13 (6) Contrastes: ritmo, andamento, tessitura. Passagens rápidas e
agudas. Ter mais páginas. Referências extra-musicais/
narratividade. Gosta de desafios (coisas difíceis).
Não se enganar em nenhuma nota. Gosta de peças rápidas, com
muitas pág. e que demorem muito tempo, principalmente em
orquestra.
Eduarda Costa 14 (4) Melodia rápida e enérgica. Gosta de desafios. Música harmoniosa.
Dinâmicas e poucas repetições. Interpretação emocional. Sentir
prazer a tocar. Gosta de tocar em conjunto, com empenho de
todos. Gosta muito do barroco por ser um estilo leve e brincalhão.
Gosta dos contrastes entre partes e dinâmicas. Também gosta de
clássico, mas o estilo romântico é demasiado exagerado,
aborrecido, enfático.
Pedro Neves 20 (4) Estilo Barroco, leve, beleza da melodia

Joana Prov. 19 (4) Peças mais elaboradas, com acompanhamento e conhecidas


Catarina Barros 16 (6) Ser diferente. Desenvolver a técnica e musicalidade.
Tabela 6: Valorização do desafio

49
4. Valorizam a comunicação de emoções: Expressividade

O gosto pela expressão de sentimentos e emoções é uma marca deste


estádio. Os alunos gostam de sentir a música que tocam e ouvem, assim
como de comunicar essas emoções com o público durante a performance.
O que sentem é o mais importante. Não importa tanto se a peça é mais fácil
tecnicamente, desde que seja expressiva, emocional.

Os alunos deste estádio desenvolvem o gosto pela aprendizagem de novas


técnicas e por explorar as capacidades expressivas do instrumento. Gostam
também de conhecer coisas novas e diferentes, assim como de virtuosismo:
admiram grandes intérpretes e sonham um dia poder tocar assim. Sentem a
necessidade de interiorizar a peça e dominá-la tecnicamente para se
sentirem livres para comunicar com o público a expressão desejada.

O período de eleição deste estádio é o período romântico e ultra-romântico,


pois é este o estilo da história da música que explora a expressão de
sentimentos (associada ao virtuosismo e exploração dos recursos do
instrumento).

Pedro Sá 23 (8) Sentimentos e expressividade. Desenvolver a técnica.


Carácter, expressão de emoções. (Refere-se à peça do 5º
grau como marcante pela beleza do tema e aprendizagem de
novas técnicas)
Ana Raquel Sacramento Expressão de emoções, sentir liberdade a tocar, som
15 (6) expressivo, recursos técnicos para expressividade,
contrastes (som, dinâmicas), temas. Música romântica,
sentida, mesmo que seja fácil tecnicamente
Francisca Silva Seixas 15 Sensação de bem-estar no corpo, comunicação de emoções,
(4) ‘toquei para mim, como se não houvesse mais ninguém’,
período romântico, Tensão e distensão, paz.
Gosta de se sentir bem, segura, ‘que pertence ali’ Soar bem,
com harmonia envolvente, causar sensação de bem estar,
alimentar a paixão de um dia poder tocar assim como os
intérpretes que admira.
Período Romântico e ultra-romântico. Música que seja
envolvente e onde haja emoção.
Silvina Dias 15 (3) Beleza, Referências extra-musicais, expressão de emoções
no corpo, ‘a peça é simples, é a forma como a sinto que a
torna especial’; ‘é como só eu existisse e não me
interessasse os outros’ Gosta de comunicar/exprimir os
sentimentos da música durante a performance. Não gosta
muito do barroco.
Paulo Azevedo 29 (6) Interiorizar e desfrutar a peça. Domínio.
Tabela 7: Valorização da Expressividade

50
5. Valorizam o rigor estilístico e a expressividade: Interpretação
Informada

Este estádio caracteriza-se pelo domínio de um discurso mais informado. As


características valorizadas nos outros estádios continuam presentes,
acrescentadas de um conhecimento mais profundo de análise musical e
interpretação. Os sentimentos não são tão importantes, mas sim a limpeza
da execução e a expressividade não é encarada como uma emotividade do
artista, mas sim uma propriedade da própria música em si. Existe uma
integração de vários estilos e períodos da história da música, assim como o
domínio de diversas técnicas de interpretação. A beleza da execução e a
comunicação são encaradas mais como um diálogo ou discurso comum, ou
ritual, do que uma pura troca de emoções entre o intérprete e o público. A
performance tem um relevo para além das emoções e virtuosismo (do
estádio anterior), observando-se um interesse pela clareza e coerência do
estilo e interpretação, ambiente da sala, acústica, público, etc. É valorizado o
factor do inesperado durante a performance: as oscilações de interpretação
e comunicação com os outros músicos em palco durante o momento da
performance.

A qualidade da escrita musical é também apreciada, uma vez que existe um


conhecimento mais abrangente que permite comparar com outras obras do
mesmo estilo, compositor e época.

Joana Machado 17 (11) Adrenalina, energia dos temas, Sensibilidade, Expressividade,


Temas tristes, melancólicos. Contraste, Interpretação limpa e
perfeita, Desenvolvimento técnica.
Ao vivo: (a solo) tocar repertório que gosta, estar bem
preparada. O seu recital foi uma experiência nova: estava bem
vestida, com mto público, formal. É uma ouvinte atenta, gosta
de obras para orquestra. Observa a continuidade da linha
melódica e contrastes. Ajusta as escolhas musicais em função
do seu estado de espírito. Virtuosismo, originalidade,
profundidade dos temas e interesse pela narrativa subjacente
à composição.

51
Marcos Lourenço 19 (5,5) Desenvolvimento técnico, período romântico (mas também
sabe apreciar Mozart, pelas melodias, técnica, etc.), melodias,
virtuosismo, interpretação (dinâmicas, fraseada, etc.).
Reconhecimento do esforço.
(Gosta da ‘aventura’ em performance: improvisação com
humor ) Ao vivo: gosta muito de tocar em conjunto. Gostou de
ser surpreendido positivamente no momento da performance
(improvisos). A solo gosta de ter reconhecimento (competitivo).
Ouvinte atento, conhece vários intérpretes e repertório. Gosta
de música para violino e orquestra, especialmente do período
romântico. Perfeição da interpretação: beleza do som e
perfeição técnica.
Zé Luis Carvalho 25 (12) Carácter, variedade de técnicas, melodias, beleza, prazer de
tocar, comunicação com o piano - qualidade da composição e
do idioma da escrita.
Ana Luisa Carvalho 18 (13) Carácter, Beleza. Idioma/ Estilo. Interpretação pessoal.
Contrastes. Recursos técnicos (sabe utilizar). Atmosferas e
texturas sonoras. O espaço/ Sala.
Ao vivo: gosta mais de tocar em auditórios do que igrejas e em
orquestra/conjunto, porque o público está ali para apreciar.
Gostou do carácter brincalhão do maestro durante o concerto.
Gosta de tocar em salas importantes, de ter reconhecimento e
apoio dos colegas. Ouve música sozinha e vai a muitos
concertos. Aprecia os concertos pela sensação de estar ali a
sentir tudo à sua volta – som/sonoridade, silêncio, comunhão,
comunicação, sensações do público/músicos, etc. Os seus
intérpretes preferidos dependem consoante o repertório. Ouve
repertório diversificado e gosta de interpretação ‘da época’.
Tabela 8: Valorização da Interpretação informada

Comparação com outros estudos

Irei fazer uma comparação com cada um dos estudos apresentados na


contextualização teórica:

A espiral de Swanwick & Tillman

A espiral de Swanwick & Tillman foi elaborada a partir de composições


musicais e dividida consoante a idade dos participantes. Segundo o que
observei nos grupos dos entrevistados, aquilo que valorizavam correspondia
geralmente a uma faixa etária, mas não obrigatoriamente: uma entrevistada
de 26 anos estava no mesmo grupo de alunos com 10 anos. O tempo
contacto com o instrumento é um factor de valorização musical que se
sobrepõe ao da idade. Apesar de não encontrar uma correspondência
directa com a espiral de Swanwick & Tillmann, existem no entanto algumas
semelhanças:

52
- No 2º estádio (S&T), caracterizado pela expressão (a: pessoal, b:
vernacular) os alunos apreciam mudanças de andamento, dinâmica, frases
teatrais e rítmicas. Estas características foram também observadas nos
entrevistados que classifiquei no segundo estádio de apreciação musical. No
entanto as idades dos entrevistados deste grupo varia entre os 10 e os 26,
ao contrário da divisão de S&W, entre os 5 e os 9 anos. Swanwick & Tillman
referiram que a divisão dos estádios por idades era apenas uma
aproximação e uma referência comum daquelas idades.

- No 3º estádio (S&T), caracterizado pelo interesse pela forma (a:


especulativo e b: idiomático), os alunos apreciam as surpresas, desvios,
contrastes e variações na estrutura. Os alunos do segundo e terceiro estádio
da minha classificação também demonstraram interesse por estes
elementos. As suas idades variavam entre os 13 e os 20, ao contrário dos
alunos observados por S&T deste estádio, entre os 10 e os 15.

- No 4º estádio (S&T), caracterizado pela valorização estética (a: simbólica e


b: sistemática) os alunos interessam-se pela comunicação musical: a técnica
está mais desenvolvida e existe uma procura da expressão da música (forma
e carácter) relacionada com a expressão pessoal. Também os alunos
entrevistados que considerei no 4º estádio procuram a expressão de
emoções. Preferem o estilo Romântico e sentir a música no corpo, com as
emoções à flor da pele. As suas idades variam entre os 15 e os 29, e neste
caso coincidem com as idades de 15 e maiores de 15 sugerida por S&T.

O primeiro estádio de S&T não coincide com a minha caracterização. No


entanto, pode estar em causa a falta de elementos para uma comparação
mais precisa. Tal como em Parsons, as crianças de 6 e 7 anos fazem
associações livres partindo daquilo que o tema da música sugere e
valorizam-na principalmente por essa razão. Swanwick caracteriza o primeiro
estádio pela atracção pelos materiais (a: sensorial e b: manipulativo),
relacionado com as idades dos 0 aos 4 anos. Swanwick caracteriza este
estádio pela exploração do som (extremos de dinâmica e diferentes timbres,
apesar de não se importarem com a cor do som). Refere que exploram os

53
instrumentos de forma imprevisível. Numa segunda fase, começam a
mostrar um maior controlo na manipulação e exploração dos recursos do
instrumento, controlo de pulsação e capacidade e gosto pela repetição.
Começam a fazer composições mais longas derivadas do prazer de
controlar o instrumento. No caso dos entrevistados mais novos deste
estudo, eram todos meus alunos, de forma que vou falar da minha
experiência como sua professora, para além do que disseram como
entrevistados. De certa forma, observei que no início, o interesse destas
alunas era pelo número de cordas e cores da marca de cada corda, assim
como outros elementos que não estavam relacionados com a produção de
som do violino.

Também no infantário onde dou aulas de ensino genérico dos 2 aos 5 anos,
reparei que numa primeira fase, os alunos observam os instrumentos
atentamente, mas nem sempre os encaram de modo funcional, ou seja, nem
sempre produzem som, talvez preferindo observar a sua forma e cores.
Mesmo quando os outros alunos à volta estão a tocar, os mais novos
tendem a observar mais do que a tocar. Numa segunda fase, começam a
experimentar tocar o instrumento de forma não muito organizada, mas com
gosto pelo som e numa terceira fase nota-se um crescente sentido domínio
da produção de som e gosto pela repetição, assim como um crescente
domínio da pulsação. As suas composições tornam-se cada vez mais
longas, consoante o domínio do instrumento e confiança que vão
adquirindo.

A razão pela qual falei desta minha experiência como professora está
relacionada com o facto de S&T caracterizarem o primeiro estádio em idades
em que não é muito comum aprender violino e em que os alunos mais
frequentemente tocam percussões e instrumentos que não exigem tanto
domínio técnico, e em conjunto.

Voltando à minha experiência pessoal como professora de violino das alunas


que classifiquei no primeiro estádio, reparei que, depois de uma primeira
fase de contacto o objecto violino, o começam lentamente a encarar como

54
instrumento musical e a tentar produzir som de forma caótica. Numa
primeira fase, é essencial que os alunos mais novos saibam cantar aquilo
que vão tocar a seguir, de forma a tornar menos caótica a produção de som.
Quando a música tem uma letra e é conhecida, é muito mais fácil os alunos
decorarem a peça para depois a tocarem. É possível que tenha uma relação
do interesse que manifestaram pelo tema da música. Quando dominam a
música pelo canto, começam gradualmente a conseguir toca-la, sem grande
interesse pela cor do som e com dificuldades de repetir aquilo que já
conseguiram fazer antes. É possível que esteja relacionado com as
exigências de domínio do instrumento, que pedem um processamento
grande e por isso lhes confere menor capacidade para memorizar. Os
alunos mais novos (5-7anos) têm prazer em produzir som do instrumento,
forte e piano e na diferença de timbres: arco e pizzicato, mas não mostram
muito interesse ao início pela cor do som. Numa fase posterior começam a
gostar de tocar dentro da pulsação, peças muito fáceis e mais longas, muito
repetitivas. Mostram gosto em dominar aquilo que tocam, mesmo que seja
só uma nota repetida muitas vezes. É possivelmente por isso, aliado ao
gosto pelo tema, que vários pedagogos elaboraram arranjos de temas para
crianças em que o professor toca a melodia e os alunos acompanham com
uma ou duas notas, tónica e dominante. Os alunos têm imenso prazer em
tocar estas músicas. Nas entrevistas, referiram o tema do título da música
como a característica mais importante, mas noutras conversas informais
também referiram que gostam das músicas por já as conhecerem
anteriormente.

O modelo de feedback recíproco de respostas musicais

Observei nos meus entrevistados que a importância do contexto social e


cultural em que estão inseridos determina o grau de envolvimento com a
música para o seu instrumento. Apesar de todos os alunos dos
conservatórios terem escolhido aprender música, ao contrário dos alunos
das profissionais, que em parte foram aconselhados a entrar para a escola
pelos pais e professores, a longo prazo, os alunos das profissionais

55
desenvolvem uma maior motivação para estudar e ouvir música. As horas de
prática e o contexto escolar em que estão inseridos é importante para o seu
desenvolvimento musical. Os alunos das escolas profissionais, apesar de
terem menos anos de contacto do instrumento, acumularam mais horas de
contacto com o instrumento e com o meio musical, o que lhes permite uma
evolução mais rápida a nível técnico e também da apreciação musical. É um
boa forma de constatar que a valorização estética, apesar de também estar
relacionada com a idade, está acima de tudo relacionada com o meio
musical e tempo de contacto com o instrumento.

Os alunos das escolas profissionais preferem ouvir música clássica para


violino e para orquestra e ouvem sozinhos, ao contrário dos alunos dos
conservatórios, que ouvem geralmente música ligeira/pop/rock,
acompanhados. Nota-se, portanto, uma clara diferença nas identidades
musicais (cf. Hargreaves et al. 2002) destes dois grupos de alunos. Segundo
o que observei, a qualidade da audição está relacionada com a qualidade da
valorização na performance. Desta forma, os alunos que têm mais contacto
com as obras que interpretam têm uma evolução mais rápida tecnicamente
e começam a encontrar novas características para a valorização estética e
interpretação.

6 dimensões de apreciação musical

No primeiro estádio, os alunos começam por valorizar o que a música


representa – através da sugestão do título, mas também dos desenhos dos
livros de música, pelo que observei nos meus alunos. A apreciação pelas
referências extra-musicais é acumulada pelo gosto pelos contrastes e pela
forma e estrutura musical – são apreciados especialmente os contrastes e
transformações das linhas melódicas no 2º estádio. Depois de apreciarem a
narratividade e a estrutura/forma musical, os alunos começam a centrar a
sua valorização no estilo musical e no ‘estatuto’ de qualidade da obra
musical (por exemplo, os concertos para violino de Vivaldi, são obras de

56
qualidade reconhecida pela comunidade musical da tradição clássica). A
familiaridade e gostos musicais comuns com outros colegas é um factor
importante nesta fase – foi o caso de um aluno que tocou o mesmo concerto
que a irmã e de colegas do conservatório que apreciavam as peças que os
colegas estavam a tocar, por exemplo, o Concerto para violino em Lá menor
de Vivaldi. Pode estar relacionada com a fase de adolescência e de
afirmação de um gosto comum com os colegas (cf. Hargreaves et al.,
2002:134). No quarto grupo, os alunos valorizam mais a expressão de
emoções, apesar de os outros elementos de apreciação fazerem parte do
seu diálogo quando falam sobre as suas preferências. A interpretação é
também um aspecto de apreciação valorizado, mas mais do ponto de vista
interno de performance. No quinto estádio, os alunos sabem utilizar um
vocabulário vasto acerca das suas preferências musicais e estão informados
acerca das tradições musicais de interpretação. Neste último estádio, existe
uma integração das outras camadas de valorização musical aprendidas
anteriormente (cf. Swanwick e Parsons). O aluno/ performer viaja entre essas
camadas de forma livre e com uma perspectiva de associação global, em
rede, entre diversos factores de associação.

Bruner (1973)

Verifica-se que os alunos percorrem um caminho de valorização musical que


começa na Representação Enactiva, referente à sua experiência pessoal (‘eu
gosto muito de comer e a Joana Come a Papa é a minha preferida!’ –
Matilde Pascoal), segue-se uma Representação Icónica ( ‘...as folhas de
Outono a cair, depois a chuva, já quase a morrer, sei lá, a forma como uma
pessoa encara a peça é que é especial’... ‘sentia-me como se fosse eu
mesma uma folha a cair’ – Silvina Dias), e, por fim, Representação Simbólica
(‘...o carácter que aquela peça tem, é muito calmo e por vezes tem
momentos de explosão... acho que é isso... é muito bonita’ – Ana Luisa
Carvalho). O discurso evolui de uma consciência da experiência própria em
relação à peça/título da peça, para o efeito que a peça causa na experiência

57
própria/sensações, para finalmente a consciência do potencial que a peça
tem de causar determinado tipo de experiência, pelo próprio ‘carácter’ da
peça.

Estádios de apreciação de Parsons

Os estádios de Parsons são aqueles que melhor reflectem um paralelismo


com os aglomerados de ideias que agrupei nos diferentes estádios dos
entrevistados. Talvez este paralelismo esteja relacionado com o facto de
Parsons ter feito uma pesquisa acerca da apreciação da pintura e das artes
em geral tendo em conta diversos parâmetros de avaliação, tais como o
estético, racional e moral/social, conseguindo desta forma construir um
retrato tridimensional de cada estádio.

1.

O primeiro estádio da minha análise coincide completamente com as


observações de Parsons para a pintura:

Os quadros/músicas constituem um estímulo para uma experiência


agradável; Gosto intuitivo pela maioria dos quadros/músicas, uma forte
atracção pela cor/timbre (pizz e arco) e reacção ao tema do quadro/música,
consistindo numa série de associações livres. Não há praticamente
consciência do ponto de vista dos outros. Tudo quanto existe manifesta-se
através da experiência; fora dela não há nada, não sendo, por isso, possível
compará-la com o que quer que seja.

2.

Existem elementos comuns também no segundo estádio da minha análise a


estudantes de violino e na de Parsons:

A beleza, o realismo e a habilidade do artista são os fundamentos objectivos


do juízo estético. Nos alunos de violino, notou-se ainda um especial
interesse em tocar músicas belas, alegres e com ritmo. As músicas

58
preferidas eram peças fáceis, que permitissem aos alunos dominar
tecnicamente o que estavam a tocar. A performance era considerada como
um divertimento. Tal como Parsons refere no seu estudo, os alunos
reconhecem implicitamente o ponto de vista dos outros: ‘Gosto de observar
como os músicos tocam bem e sentem harmonia’- Libânia Alves. O factor da
novidade é também valorizado, talvez porque os estudantes de violino
demoram muito tempo a aprender o repertório (uma peça por período, o que
equivale a três meses), mas também porque estão numa fase do
desenvolvimento em que gostam de ter experiências novas e diferentes. Os
contrastes de dinâmicas são também valorizados. Tal como no 2º estádio de
Parsons, admiram a habilidade, a paciência e o trabalho meticuloso como
ouvintes, embora não se refiram a esse trabalho meticuloso como
performers, na valorização das peças que interpretam.

3.

Este estádio tem algumas características do 2º estádio de Parsons, como a


valorização da habilidade, paciência e trabalho meticuloso. No 3º estádio
dos alunos de violino, são valorizadas peças ‘difíceis’ e ‘com muitas páginas’
e com ‘passagens rápidas e agudas’ – Ariana. Os alunos mostram interesse
por adquirir novas competências técnicas e de uma dificuldade crescente.
Existe também uma nova sensibilidade, relacionada com o reconhecimento
do estilo Barroco, muito apreciado pelos alunos entrevistados neste estádio.
As peças conhecidas são mais valorizadas, talvez por serem consideradas
música ‘real’ e não de principiantes. É valorizada a perfeição técnica ‘não se
enganar em nenhuma nota’ – Ariana.

4.

No que respeita ao 4º estádio dos alunos de violino, faço minhas as palavras


de Parsons em relação ao 3º estádio de apreciação da pintura:

Abre-nos as portas a uma maior gama de obras e permite-nos captar melhor as suas
capacidades expressivas. Observamos os quadros em função da experiência que podem
proporcionar, e quanto mais intensa e interessante for a experiência, melhor será o quadro. A
intensidade e o interesse garantem que a experiência é autêntica, ou seja, verdadeiramente
sentida. O sentimento ou pensamento expresso pode ser o do artista, o do observador, ou o

59
de ambos. Em todo o caso, é sempre aquilo que é interiormente apreendido por um
indivíduo. Assenta numa nova consciência da interioridade da experiência dos outros, numa
nova capacidade de apreender as suas ideias e sentimentos pessoais. Concomitantemente,
tomamos também a consciência da nossa própria experiência como algo íntimo e único.
(Tabela de Parsons, págs. 29-30)

Para além da valorização da experiência estética e reacção às capacidades


expressivas das obras musicais, dos intérpretes ou de si próprios enquanto
intérpretes, há uma valorização da expansão das capacidades técnicas e
pela música do Período Romântico e Ultra-Romântico. É importante para
estes alunos desfrutar a peça e sentir domínio para se ‘libertarem’ a tocar –
serem expressivos, do ponto de vista da expressão de emoções.

5.

No 5º estádio, os alunos demonstram uma autonomia crescente de


interpretação. Este estádio corresponde à descrição do 4º estádio de
Parsons e resulta da sobreposição das valorizações anteriores com uma
perspectiva global, como se o intérprete viajasse por entre as qualidades
anteriormente valorizadas e articulasse as suas valorizações com as do
‘espaço público’, exterior, social.

Uma vez que entrevistei alunos de violino, é natural que os alunos adoptem
algumas das perspectivas adoptadas pelos seus professores, mas começam
também a mostrar um autonomia crescente, desenvolvida pela prática/
interpretação e observação/audição crítica de outros intérpretes. É
importante assinalar que a opinião dos alunos de performance é ao mesmo
tempo exterior e interior, ou seja, observam a prática musical dos colegas e
a sua própria. Esta constitui a maior diferença dos estádios de Parsons, que
analisam uma perspectiva dos ‘observadores’ de arte.

60
Fig.4: Perspectiva interna e externa do intérprete:
Desenvolvimento por camadas cumulativas de sentido. O performer pode adoptar a
perspectiva interna e percorrer livremente as camadas de conhecimento que vai adquirindo,
como uma montanha invertida: primeiro só conhece o cume, depois começa a explorar e a
reconhecer novos locais especiais e aos quais pode voltar sempre que quiser. O contexto
individual insere-se num contexto social.

6.

Acredito que existe pelo menos um estádio para além daqueles que eu
encontrei nos alunos de violino. Esse estádio está relacionado com a
autonomia de expressão dentro de um contexto de profundo conhecimento
da performance. Poderá, eventualmente, estar relacionado com o 5º estádio
de Parsons. Teríamos que investigar os alunos dos últimos anos das
universidades e intérpretes profissionais (solo, professores e música de
conjunto).

Observações

O espaço público de discussão, a componente lúdica da performance e o


ensino informal, por ex. através da audição de gravações, é um factor
decisivo para a rapidez do desenvolvimento da valorização musical.

61
No primeiro estádio, é muito importante a ‘associação icónica’ (Bruner) da
música à vida do dia a dia.

No segundo estádio, o carácter divertido e rápido é muito valorizado. A


componente lúdica e do domínio é importante, daí a preferência por peças
acessíveis e alegres.

No terceiro estádio, começa a crescer o interesse pelos desafios, pelo


domínio de novas dificuldades associadas a uma maior capacidade de
aprender peças mais longas, com contrastes e desenvolvimento dos temas.
Surge um novo interesse, pelo estilo da obra. O barroco é o estilo eleito pela
sua leveza e carácter de contrastes.

No quarto estádio, surge um interesse pela emotividade e comunicação de


sentimentos pela música. São procuradas novas técnicas de expressão no
instrumento. O Romantismo é o estilo eleito, não só pela expressão que
exige, mas também pelo virtuosismo. A consciência da resposta emocional
do corpo à música é característica mais acentuada deste estádio. Surge um
interesse pela interpretação e um fascínio pelos intérpretes reconhecidos
pela comunidade; nos estádios anteriores eram os professores de violino a
referência para os alunos.

A partir do 4º estádio, começa a haver uma crescente consciência para além


de si, mas é no 5º estádio que o conhecimento é valorizado no âmbito
social, ouvindo, comparando e discutindo no espaço público o trabalho de
outros músicos e intérpretes.

Os estádios mostram um nível crescente de autonomia, assim como de


articulação com o mundo exterior.

62
Conclusão

Esta dissertação analisou teorias de desenvolvimento musical e de


apreciação estética no sentido de procurar uma matriz para investigação
daquilo que os intérpretes de violino valorizam e como essa valorização
evolui. Confirma-se que existe uma alteração dos valores e que essa
alteração não depende apenas da idade, mas principalmente do tempo
efectivo de performance/ aprendizagem do instrumento, assim como
contacto com o meio cultural/social. A evolução da valorização estética
adquire um relevo crescente, em camadas de sentido que se sobrepõem e
cruzam. Cada aglomerado de ideias, que compõe os estádios move-se num
sentido de articulação interna com o exterior. A música torna-se um meio de
articulação e ajustes internos, assim como de articulação com o exterior
com ajustes externos. Neste caso, posso concordar com Serafine.

As entrevistas mostraram um grande paralelismo com a investigação de


Parsons para a apreciação da pintura. Mais estudos devem ser feitos com
maior número de entrevistados para que os resultados sejam mais
conclusivos e mais fiáveis, até porque as implicações deste conhecimento
para ensino relacionam-se desde logo com a adaptação dos planos de
estudo àquilo que os alunos melhor conseguem apreender em determinado
ponto da performance, de forma a conseguir um maior envolvimento e
produção de sentido. Talvez desta forma possamos caminhar no sentido de
fazer arte com os alunos de instrumento desde o primeiro minuto, ensinando
a técnica como ferramenta para a apreciação estética desde os alunos mais
novos até se tornarem profissionais.

63
Num estudo posterior, tenciono fazer entrevistas a um maior número de
alunos e profissionais de vários estabelecimentos de ensino e diversas
regiões, no sentido de caracterizar mais pormenorizadamente cada estádio.
Esta investigação foi feita, de resto, no âmbito de um projecto de
investigação mais amplo, proposto pelo grupo de Estudos em Performance
do INET-MD e intitulado “Estádios de desenvolvimento da apreciação
musical”.

64
Bibliografia

Bamberger, J. (1991) The mind behind the musical ear: How children develop
musical intelligence. Harvard University Press. Cambridge, MA.

Barrett, M.S. (2006) Aesthetic Response. The Child as a Musician: a


Handbook of Musical Development, 9, 173-191. G.E.Mcpherson, (ed.) Oxford
University Press, Oxford.

Berlyne, D.E. (1971) Aesthetics and Psychobiology. Appletown-Century-


Crofts, New York.

Bowman, W. (2002) Educationg Musically. New Handbook of Research on


Music Teachig and Learning, 6, 63-84.

Bruner (1973) The growth of representational processes in childhood. In J.


Anglin (ed.) Beyond the information given: Studies in the psychology of
knowing (pp.313-324)W.W.Norton, New York.

Bunting (1977) The common language of Music, music in the secondary


school curriculum. Schools Council Working Paper 6. York University, York.

Campbell, Patricia Shenan & Scott-Kassner, Carol (1995) Music in Childhood:


From Pre-School through the Elementary Grades, Shirmer Books, New York

Campbell, P. (1998) Songs in their heads. Music and its Meaning in Childrens´
lives. Oxford University Press, New York.

Chernoff , J. M. (1979) African Rhythm and African Sensibility. University of


Chicago Press, Chicago and London.

Collingwood, R. G. (1958) The Principles of Art. Oxford University Press,


London.

Colwell, R., ed. (1992) Handbook of Research on Music Teaching and


Learning. Shirmer Books, New York.

Colwell, R. & Richardson, C., eds. (2002) The New Handbook of Research on
Music Teaching and Learning. Oxford University Press (MENC), New York.

Correia, Jorge Salgado (2002) Investigating Musical Performance as


Embodied Socio-Emotional Meaning Construction: Finding an Effective
Methodology for Interpretation. Unpublished PhD Thesis, University of
Sheffield, UK.

Correia, Jorge Salgado (2007a) Um modelo teórico para a compreensão e o


estudo da Performance Musical, (pp.63-107). Monteiro,F.&Martingo, A.,

65
Interpretação Musical teoria e prática, ed. Colibri/ Centro de Estudos de
Sociologia e Estética Musical, col. Ensaios musicológicos. Lisboa.

Csikszentmihaly, M. and Robinson M. E.(1990) The Art of Seeing. Getty,


Malibu, Califórnia.

Danto (1981) Transfiguration of the Commonplace: A Philosophy of Art.


Harvard University Press, Cambridge, Mass.

Deutsch, D. (1999). The Psychology of Music. San Diego: Academic Press.

Elliott, D. J. (1995) Music Matters: A New Philosophy of Music Education.


Oxford University Press, New York.

Elliott, D. J. (1997) Continuing Matters: Myths, Realities, Rejoinders. Bulletin


of the Council for Research in Music Education, no. 132, Spring 1997: 1-37.

Ferguson, D. N.(1960) Music as Metaphor: The elements of expression.


Greenwood Press, Westport, Con.

Gardner, H. (1972). “The development of sensivity to figural and stylistic


aspects of paintings. British Journal of Psychology”, 63, 605-615.

Gardner, H., Winner, E, and Kirsher, M. (1975). “Childrenʼs conceptions of the


arts”. Journal of Aesthetic Education, 9 (3), 60-77.

Gardner, H. (1973). The Arts and Human Development: A Psychological


Study of the Artistic Process. New York: Willey and Sons.

Gembris, H. (2002) The Development of Musical Abilities. New Handbook of


Research on Music Teachig and Learning, 27, 487-507.

Gonçalves, M. R. (2010) Construção de uma narrativa como estratégia de


memorização: a imaginação como recurso para a expressividade e memória.
(Unpublished MA Thesis).

Gordon (1989) Advanced Measures of Music Audiation. G.I.A.Publications,


Chicago.

Gordon, E. E. (2003). Teoria de Aprendizagem Musical para recém-nascidos


e crianças em idade pré-escolar. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa.

Gil, José (1996) A imagem-nua e as pequenas percepções – Estética e


metafenomenologia, Relógio d´água, Lisboa.

Hallam, S. (2006) Music Psycholoy in Education. Institute of Education,


University of London, Newcastle.

Hallam, Cross & Thaut (2009) The Oxford Handbook of Music Psychology.
Oxford University Press, New York.

Hargreaves, D. (1986) The Developmental Psychology of Music. Cambridge

66
University Press, Great Britain.

Hargreaves, D.J., Miell, D. E., and ManDonald, R.A.R.(2002) What are


musical identities and why are they important? In R. A. R., and Hargreaves
and D.E. Miell (eds.), Musical Identities (pp.1-20) Oxford University Press,
Oxford.

Hargreaves & Zimmerman (1992) Developmental Theories of Music


Learning.24, 377-508. Colwell, R., ed. (1992) Handbook of Research on
Music Teaching and Learning. Shirmer Books, New York.

Johnson, M. (1987) The Body in the Mind: The Bodily Basis of Meaning,
Imagination and Reason. University of Chicago Press, Chicago.

Konecni (1982) Social interaction and musical preference. In Deutsch (ed.)


The psychology of music (pp.497-516). Academic Press, New York.

Lakoff, G. and Johnson, M. (1999) Philosophy in the Flesh: the Embodied


Mind and its Challenge to Western Thought. Basic Books, Inc.,New York

Langer, S .(1953) Feeling and Form. Charles Scribner’s Sons, New York.

LeBlanc (1991) Effect of maturation / aging on music listening preference: a


review of the literature. Paper presented at the ninth National Symposium on
Research in Music Behaviour, Canon Beach, Oregon, USA.

Levine, J. M. & Russo, E. M. (1987) Majority and Minority Influence. In C.


Hendrick (ed.) Review of personality and social psychology, vol.8 (pp.13-54).
Sage, Newbury Park.

Lehmann, Sloboda & Woody (2007) Psychology for musicians.


Understanding and Aquiring the Skills. Oxford University Press, New York.

Macdonald, Hargreaves & Miell (2002) Musical Identities. Oxford University


Press, New York.

Martindale, C. & Moore, K. (1968) Priming, Prototipicality and Preference.


Journal of Experimental Psychology: Human Perception and Performance,
14, 661-670.

Martínez, I. & Anta, J. (2008), Cognición enactiva y pedagogia musical:


lectura corporal y análisis declarativo de la estructura musical en una classe
de instrumento. Estúdios de Psicologia, 2008, 29 (1), 71-80, ed.Fundación
Infancia y Aprendizaje.

McPherson, G. (2006) The child as a musician. A Handbook of Musical


Development. Oxford University Press, Oxford.

67
North, A. & Hargreaves, D. (1995) Subjective complexity, familiarity and liking
for popular music. Psychomusicology, 14, 77-93.

Miller, R.F.(1l992( Affective Response. Handbook of Research on Music


Teachig and Learning, 26, 414-424.

North, A. & Hargreaves, D. (2002) Age variations in judgements of ‘great’ art


works. British Journal of Psychology, 933, 397-405.

North, A. & Hargreaves, D. (2008) The Social and Applied Psychology of


Music. Oxford University Press, New York.

Parsons, M. (1992) Compreender a Arte. Editorial Presença, Lisboa.

Piaget, J. (1951) Play, Dreams and Imitation in Childhood. Norton & Co., New
York.

Posner, M. I. & Keele, S. W. (1968) On the genesis of abstract ideas. Journal


of experimental psychology, 77, 353-363.

Radocy, R. E.(1975) A naïve minority of one and deliberate


majoritymismatches of tonal stimuli. Journal of Research in Music Education,
23, 120-133 .

Reed, S. K. (1972) On the internal structure of perceptual and semantic


categories. In T. E. Moore (ed.) Cognitive development and the acquisition of
language (pp.111-144). Academic Press, New York.

Reimer, B. (1989) A Philosophy of Music Education. Prentice Hall, Englewood


Cliffs, N.J.

Robson, C. (1993) Real World Research A resource for Social Scientists and
Practitioner Researchers. Blackwell Publishers, Oxford.

Runfola, Maria & Swanwick, Keith (2002) Developmental Characteristics of


Music Learners in Colwell, R. & Richardson, C., eds. The New Handbook of
Research on Music Teaching and Learning. Oxford University Press (MENC),
New York.

Scruton, R. (1997) The Aesthetics of Music. Clarendon Press, Oxford.

Serafine (1988) Music as cognition: the development of thought in sound.


Colunbia University Press, New York.

Serafine (1980) Piagetian Research in Music. Bulletin of the Council for


Research in Music Education. 62, 1-21.

Silva, C. Cavalieri França (1998) Composing, Performing and Audience

68
listening as symmetrical indicators of musical understanding. Unpublished
doctoral dissertation, University of London, Institute of Education.

Silva, C. Cavalieri França (1999) Performance instrumental e educação


musical: a relação entre a compreensão musical e a técnica. ANPPOM.

Swanwick & Tillmann (1986) The sequence of musical development: a study


of children’s composition, British Journal of Music Education 3, 3 305-339.

Swanwick, K. (1979) A Basis for Music Education. Routhledge, London.

Swanwick (1988) Music, Mind and Education. Routhledge, London.

Swanwick, K. (1999) Teaching Music Musically. Routhledge, London.

Taetle, L. & Cutietta, R. (2002) Learning Theories as Roots of Current Musical


Practice and Research. Colwell, R. & Richardson, C., eds. The New
Handbook of Research on Music Teaching and Learning, 279-298. Oxford
University Press (MENC), New York.

Walton, Kendall L. (1990) Mimesis as Make-Believe: On the Foundations of


the Representational Arts. Harvard University Press, Cambridge,
Massachusetts. London, England.

Wundt, W. M.(1874) Grundzuge der physiologischen Psychologie Engelman,


Leipzig.

69
70
ANEXOS

71
Índice das Tabelas

A Identificação do Aluno 73
B Motivação 74
C Percurso Artístico 76
D Valorização
a) Perspectiva do ouvinte 80
b) Perspectiva do Performer 83
E Características e valores musicais (interpretação da autora) 101

Índice das Entrevistas

Entrevistas I 104

Entrevistas II 112

72
Tabela A – Identificação do aluno

Entrevistas I
Nome Idade Grau Anos de Estabelecimento
performance de ensino
Daniel Silva 14 4º 5 Cons.Reg.Coimbra
Inês Fragoso 10 1º ½ CRC
Joana 19 6º 6½ CRC
Providência
Maria Gorgulho 6 2º Inic. 1½ CRC
Matilde Simões 7 1º Inic. ½ CRC
Matilde Pascoal 6 1º Inic. ½ CRC
Nádia Nunes 13 4º 6 CRC
Pedro Neves 20 5º 4 CRC
Raquel Dias 13 3º 4 CRC
Raquel Marinho 12 2º 2 CRC
Rute Miriam 14 4º 5 CRC
Afonso Serrano 13 3º 6 Cons.Mus.Aveiro
Calouste Gulbenk.
Catarina Barros 16 6º 6 CMA
Pedro Sá 23 8º 8 CMA
Paulo Azevedo 29 2º Lic. 6 Universidade de
Aveiro
Zé Luis Carvalho 25 2º Lic. 12 UA

Entrevistas II
Nome Idade Grau Anos de Estabelecimento
Performance de ensino
Ana Raquel 15 6º/10º ano 6 Escola Prof.
Sacramento ARTAVE
Francisca Silva 15 6º/10º ano 4 ARTAVE
Seixas
Joana Machado 17 8º/12º ano 11 ARTAVE
Marcos 19 7º/ 11º ano 5½ ARTAVE
Lourenço
Silvina Dias 15 6º/ 10º ano 3 ARTAVE
Ariana Saro 13 3º 6 Cons.Mús.
Figueira da Foz
Cristina Lopes 26 4º 4 CRCoimbra
Eduarda Costa 14 4º 4 CMFF
Francisca 11 2º 2 CMFF
Freitas
Libânia Alves 12 3º 2 CRC
Sofia Carvalho 12 3º 3 Colégio de São
Teotónio (Coimb.)
Ana Luisa 18 8º / 1º Lic. 13 Cons.Mus.Porto/
Carvalho Esc.Sup.Mus.AE

73
Tabela B – Motivação

Entrevistas II
Nome Começou a 1.Escolheu o Minutos de Horas de Fre-
estudar por instrumento? aula de estudo (nº quenta
vontade 2.Gosta de violino/ de h/ activi-
própria? tocar? semana semana) dades?
3.Gosta de
estudar?

Ana Raquel Não: o irmão 1.Sim (uma 3x45’ 12 horas Regular-


Sacramento já andava na amiga tocava +MC: 5x45’ de estudo mente:
música; violino; som; +Orq.ª semanal + Master-
influência do fascínio por uma (5º e 6º anos: 1-3 h classes vl
professor coisa nova) só 2x45’vl) (5º e 6º e estágios
2.Sim anos: orq.ª
3.Sim quase
nenhum
estudo)
Francisca Não: família Não: tocava 3x45’ 12h + 2/3h Reg.
Silva Seixas (pais clarinete, violino (+MC: 5x45’ + por dia Master-
inscreveram- foi escolha da Orq.ª ) classes vl
na na ARTAVE e estágios
ARTAVE: ela orq.ª
“não sabia
para o que
ia”) e
professor
Joana Não: 1.Sim Equivalente Reg.
Machado Madrinha 2.Sim Master-
violinista 3.Sim classes vl
e estágios
orq.ª
Marcos Não...pais 1. Não, queria 2x45’ 12h + 3/4h Reg.
Lourenço guitarra ao fim de Master-
2. Sim semana classes vl
3. ? e estágios
orq.ª
Silvina Dias Não: pai 1. Não, tocava 3x45’ (+MC: 12h Reg.
tinha esse piano, vl foi 5x45’ +Orq.ª ) Master-
sonho escolha da classes vl
ARTAVE e estágios
2.Sim orq.ª
3.Sim
Ariana Saro Sim: ouvia 1.Sim: conhecia 2x45’ 3/4x 1 Master-
mta música melhor, 45’/1h classe vl
tamanho, era + e orq.
agudo, Audições
professores
2.Sim
3.+/-

74
Nome Começou a 1.Escolheu o Minutos de Horas de Fre-
estudar por instrumento? aula de estudo (nº quenta
vontade 2.Gosta de violino/ de h/ activi-
própria? tocar? semana semana) dades?
3.Gosta de
estudar?
Cristina Sim 1. Sim. O violino 1x45’ Irreg. 4h-0h 1 Master-
Lopes era o classe vl
instrumento e orq.
mais acessível Audições
2. Sim
3. Sim
Eduarda Sim 1. Sim 1x45’ Diaria- 1 Master-
Costa 2. Sim mente. classe vl
3. Sim e orq.
Audições
Francisca Sim 1. +/- 1x45’ 1h dia sim 1 Master-
Freitas 2. Sim dia não classe vl
3. +/- e orq.
Audições
Libânia Alves Sim 1. Sim 2x45’ 1-3x 2h 1 Master-
2. Sim classe vl
3. Sim e orq.
Audições
Sofia Sim 1. Sim (amiga) 2x45’: 1x45’ 1h 2x 1 Master-
Carvalho 2. Sim classe semana classe vl
3. Depende do conjunto e orq.
repertório Audições
Ana Luisa Sim 1. Sim 2x45’ + 1h < 2h dia Regular-
Carvalho 2. Sim mente:
3. Sim Master-
classes vl
e estágios
orq.ª

75
Tabela C – Percurso artístico

Entrevistas II
Nome 1. Gosta de Houve alguma Gosta mais de 1. Que reacções
tocar em performance tocar a solo ou nota nas pessoas à
público? memorável? em conjunto? sua volta?
2. Em que 2. Quem mais
contexto? aprecia a sua
música?/Contexto?
Ana Raquel 1. Sim, mas Recital do 9º Tocar a solo é 1. Sempre
Sacramento fica muito ano: 2º andto. mais positivas
nervosa. Sonata 4 interessante 2. Professores e
2. Para Mozart: pelo repertório e amigos mais velhos
amigos, em preparou-a em é mais íntimo: (diálogo); menos
pouca 2 semanas e em conjunto competitivos do que
quantidade tocou muito está menos os colegas
bem, “muito nervosa e
sentido”. consegue “sentir
“Senti mais a música”
liberdade”;
“demonstração
do trabalho de
muito tempo”
Francisca 1. Sim. Recital 9º ano – Gosta de 2. As pessoas que
Silva Seixas Missa, estava à ambas. Tem não são do meio
infantário: vontade porque mais musical ficam mais
eles ficam sabia que oportunidades impressionadas:
admirados, a estava segura. de tocar em Apreciam e
rir. Cto lá m, Bach; orquestra do aprendem algo
Recital 9º Siciliana e que a solo, que novo.
ano: “senti- Rigaudon de exige mais Os outros são mais
me bem, no Kreisler e preparação e críticos. Os pais, no
meu sítio, Kavatina de trabalho. início apreciavam
senti que Raff mais do que ela.
pertencia ali”
2. pais, profs.,
colegas.
Joana 1. Nas Recital 9º ano. A solo porque 1.A professora ficou
Machado audições, se Foi o único “a tem mais noção muito satisfeita por
gostar do sério”, Deu-lhe das suas ver os frutos do seu
repertório e prazer tocar capacidades. trabalho. Os pais e
estiver bem num concerto Em orquestra outros convidados
preparada. formal, bem pode falhar também gostaram,
2. Audições e vestida e com qualquer coisa embora “não
concertos de tanta gente a que ninguém percebessem de
orquestra. assistir. Foi nota. música”
Toca em uma 2. A professora de vl
casamentos experiência em 1º lugar. Os pais
mas é-lhe completamente e professores.
indiferente. nova. (Na escola e em
casa.)

76
Nome 1. Gosta de Houve alguma Gosta mais de 1. Que reacções
tocar em performance tocar a solo ou nota nas pessoas à
público? memorável? em conjunto? sua volta?
2. Em que 2. Quem mais
contexto? aprecia a sua
música?/Contexto?
Marcos 1.“Tem de ser. Concerto de Orquestra, 1.Gostaria que
Lourenço É a nossa Orquestra com música de fossem mais
profissão” Bernardo câmara. Mas verdadeiras e
2. Tem de se Sassetti e Mário também gosta dissessem o que
contentar com Laginha. de tocar a solo. realmente pensam
o que houver. Tocaram obras em vez de elogiarem
Prefere o p/improvisarem sempre. O público é
público da em pleno muito crítico e
escola, “mas concerto. Foi nunca se sabe o
depois tem de muito divertido, que vai falar, porque
levar com as estavam a pode não
suas críticas” brincar um com compreender a
Gosta mais de o outro e não dificuldade que é
tocar para fizeram no tocar um
professores concerto o instrumento.
do que para mesmo que nos 2. Pais, professores,
um público ensaios. amigos.
não A solo, a
conhecedor audição da
última master-
classe, tocou o
1º andto. Sinf.ª
Espanhola
Silvina Dias 1. Não, Recital do 9º Depende do 2. O pai, que até
porque já teve ano. As coisas repertório e das chorou, de tanto
uma má estavam bem pessoas, mas sentir aquilo que ela
experiência: preparadas. Só gosta das duas. tocou.
na 1ª vez que gostou de tocar
tocou a família e “se mostrou”
desvalorizou o na última peça,
seu trabalho que é de
“só tocas Tchaikovsky,
isso?” um compositor
2. Audição que gosta
muito. Nas
outras peças
estava muito
nervosa.
Ariana Saro 1. Sim, mas No Centro de A solo, porque 1. Felicitam-na
fica muito Artes e tem mais sempre e dão-lhe os
nervosa. Espectáculos atenção e ajuda parabéns.
2. Quando os da Figueira, não das outras Incentivam-na a
professores a se enganou em pessoas. Em continuar. O
inscrevem nenhuma nota orquestra pode- Professor dá
para tocar fora e recebeu se enganar que conselhos.
da escola, em muitos ninguém nota e 2. Os pais e irmãos
salas maiores aplausos. a solo não. apoiam-na e “ficam
e com mais mais nervosos do
público. Em que ela” nas
casa tb gosta. audições.

77
Nome 1. Gosta de Houve Gosta mais de 1. Que reacções
tocar em alguma tocar a solo ou nota nas pessoas à
público? performance em conjunto? sua volta?
2. Em que memorável? 2. Quem mais
contexto? aprecia a sua
música?/Contexto?
Cristina 1. Sim, No ensaio do Sozinha, mas com 1. Não nota muito.
Lopes quando a dia anterior, no acompanhamento. Às vezes respiram.
convidam. circo, porque Sente-se mais Gostaria de ter uma
2. Nas estavam todos confiante a tocar ovação de pé a
audições e a dançar e não em grupo. pedir-lhe para não
no centro lhes parar de tocar.
social. interessava se 2. O gato, em casa.
Também já ela desafinava
tocou na rua.
Eduarda 1. Sim. Em orquestra, Só tocou uma vez 1. Normalmente
Costa 2. No Casino no CAE, a solo e gostou gostam.
e no CAE, porque muito. Também 2. Pais, amigos e
por causa da estavam todos gosta de tocar em professores.
sala, há mais empenhados orquestra.
pessoas. para que as
pessoas
gostassem.
Tocaram as
danças
húngaras nº 5
e nº 6.
Francisca 1. Gosta mas Gostou de Em conjunto: “se 1. “Ficam
Freitas fica muito todas. me enganar os espantadas e se eu
nervosa. outros estão lá me enganar ficam ...
2. Audições, para me socorrer” dizem que correu
em casa, na bem, mas se eu
igreja, na noto que alguma
banda. coisa correu mal,
bem podem vir ter
comigo e dizer isso
mil vezes que eu
não quero
acreditar.”
2. Amigos, irmã e os
pais, nas audições
Libânia Alves 1. Sim. Fica Uma audição Dos dois. Quando 1. Acha que
nervosa, mas do 1º grau em toca sozinha sente gostaram
perde os que sentiu que mais a música – 2. Pais, porque não
nervos as pessoas “parece que as tiveram a
depois de gostaram notas dançam à possibilidade no
começar a muito e até se minha volta, é uma tempo deles de
tocar e ver as levantaram sensação boa, aprender música
pessoas para bater sinto-me leve,
empenhadas palmas como se estivesse
em ouvi-la. a voar no céu”;
2. Nas quando toca em
audições, conjunto, sente a
para mostrar harmonia entre
as suas vários
capacidades. instrumentos.

78
Nome 1. Gosta de Houve alguma Gosta mais de 1. Que reacções
tocar em performance tocar a solo ou nota nas pessoas à
público? memorável? em conjunto? sua volta?
2. Em que 2. Quem mais
contexto? aprecia a sua
música?/Contexto?
Sofia 1. Depende. Não, mas será Das duas. “As 1. Eles acham
Carvalho Não gosta de provavelmente músicas são impressionante a
tocar para os uma audição da mais giras a forma como eu
amigos porque semana cultural solo, mas em toco.
eles começam da escola, para conjunto gosto 2. A família – avós e
a gozar. Gosta a qual foi de tocar com tios, em casa
de tocar para escolhida com as outras
os pais e para uma colega para pessoas.”
as pessoas que representar a
não conhece, escola.
nas audições.
Gosta de
mostrar o
trabalho que
fez durante o
período.
2. Nas
audições.
Ana Luisa 1. Quando era Foi no estágio Em quarteto e 1. Em audições e
Carvalho mais nova de orquestra em em orquestra, é concursos as
nunca ficava que tocou no mais... pessoas estão ali
nervosa, agora, centro de envolvente... para me avaliar. Nos
quando fica, congressos da concertos de
enfrenta o madeira. “Ao orquestra, as
público e tenta mesmo tempo pessoas não estão
acalmar. 2. Não que está a ali para apreciar
gosta de tocar dirigir, o minha música, mas
para pessoas maestro brinca a música do
que conhece connosco e ri-se conjunto.
para não as e a faz aquelas
desapontar, coisas dele” . 2. Pais, irmã,
prefere tocar A solo, foi no amigos e outras
para concurso pessoas que não
desconhecidos. capela, no teatro percebem de
Prefere tocar São Carlos em música mas que
em auditórios a Lisboa. “Não estão lá para
tocar em tanto pela forma apreciar.
igrejas, porque como toquei,
o público é mais pelo
mais espaço”
conhecedor. Uma audição de
Grieg em que
Gosta de tocar tocou bem e as
em orquestra pessoas/colegas
porque o gostaram muito,
público está ali bateram muitas
para apreciar e palmas.
não para
avaliar.

79
Tabela D – Valorização
a) Perspectiva do ouvinte
Entrevistas II
Nome 1. Onde ouves as tuas músicas 1. Qual é a tua música preferida?
preferidas? Porquê?
Costumas ouvir música mais 2. Qual é o teu repertório preferido?
quando estás sozinho/a ou Porquê?
acompanhado/o?...com quem? (3. Gostas de ouvir música
2. Já foste a concertos ao vivo? clássica? Para violino?)
3. Intérpretes preferidos
Ana Raquel 1. Sozinha, para poder sentir e Gosto muito de músicas românticas,
Sacramento estar a acompanhar a música. Sibelius, Tchaikovski.
Quando estou a ouvir é só música, Violino acompanhado de orquestra...
só para a música. A estudar mas também gosto com piano
sociocultural, prefiro não ouvir. É mais sentido e eu gosto que puxe
2. Não vou muito a concertos, só pela expressão, mesmo que seja mais
quando algo me incentiva. Fui fácil tecnicamente
ouvir a orquestra APROARTE a
tocar o cto violino Tchaikovsky
(Coliseu Porto) e a Midori na Casa
da Música
3. David Oistrakh, Midori, Sara
Chang
Francisca 1. Na cama, à noite, antes de 1. Cto violino Tchaikovsky. Gosto de
Silva Seixas dormir ou na carrinha ao ir para a o ouvir e às vezes começo a pensar,
escola se um dia o pudesse tocar... acho
2. Midori, na Casa da Música. que alimenta a paixão.
Tinha visto vídeos no youtube. É bonito, soa tão bem que nem
Adorei a técnica, o som... às vezes parece difícil. Tem uma harmonia
quando estão a tocar mal uma envolvente, uma pessoa sente-se
pessoa nem se sente bem na calma, relaxada
cadeira, com ela a tocar uma 2. Sibelius, mas gosto mais de
pessoa fica relaxada, fica na paz. Tchaikovski. Para orquestra, gosto
3. Oistrakh, Menuhin, Itzhak das aberturas e sinfonias de
Perlman Beethoven e Mahler. Gosto mais do
período Romântico e ultra-romântico,
são mais envolventes e mais coiso...
há muita emoção
3. Sim. Violino e também orquestra
Joana 1. Em casa, quando estou sozinha 1. Depende, quando estou mais em
Machado 2. o último que eu fui na casa da baixo oiço aquelas músicas mais
musica foi a 3ª sinfonia de calminhas, quando estou mais alegre
Beethoven. Gostei muito: para oiço aquelas músicas mais mexidas,
começar é o tema da minha PAP. depende.
e depois é uma sinfonia de tudo o 2. Violino e orquestra. Gosto muito do
que eu falei, é uma sinfonia Pássaro de Fogo de Stravinsky.
completamente revolucionária, Também gosto muito do concerto
revolucionou a musica do tempo para violino de Tchaikovsky: obra
em que ele viveu. e gostei de ouvir virtuosa que todos os violinistas
e perceber umas coisinhas novas anseiam tocar, tem melodias muito
que ele lá põe lá, coisinhas muito bonitas. Nigun de Bloch, vl e orq.ª A
pequeninas e que fazem toda a melodia meia cigana é diferente,
diferença. Por exemplo, um tema profunda e toca-me mesmo. A
que aprece nos primeiro violino. história que está por detrás disto é

80
logo a seguir, aparece num muito triste. É um conjunto de 3
instrumente completamente, do melodias dedicadas à mãe que tinha
genérico do fagote... é um morrido e era uma pessoa muito
contraste brusco de repente, não importante na sua vida. (ficou
sei comovida)

Marcos 1. No telemóvel que anda sempre 1. Tantas! O cto vl Tchaikovsky, obras


Lourenço comigo. Oiço sempre sozinho. de Wieniawsky, Paganini, Mozart... de
2.Quando tenho tempo. tudo um pouco... música clássica
Ilia Grubert, Cto vl Tchaikovsky: o para vl e para orquestra
som, a técnica, tocou tudo 2. Repertório Romântico, é mais
perfeito. O violino dele (+300a. de expressivo. Mas também gosto de
W). outros períodos
Professor de vl.(Sergey), Tzigane,
eu também estava a tocar na orq.ª
4. Heifetz, Hilary Hahn, Anne-
Sophie Mutter, Itzhak Perlman
Silvina Dias 1. No quarto e na sala. Sozinha. 1. Todas, principalmente erudito.
2. De vez em quando no Coliseu Período clássico e principalmente
do Porto. Ouvi uma violinista que romântico – “impressionista”,
gostei muito expressivo, sentimental. Já não gosto
3. Sei lá, não tenho tanto do barroco.
Ariana Saro 1. No quarto, na rádio. Sozinha e 1. músicas inglesas, mas também das
acompanhada – mãe: carro portuguesas (rock/pop). Baby, Justin
(rock/pop e clássico, tb p/ vl), Giva, um rapaz de 15 anos... é muito
amigas: festas de anos e quando recente. Fui eu que descobri na net.
vão lá a casa (rock/pop) 2. Coisas rápidas, que não sejam
2. Sim. “Música para violino da muito lentas, que não estejam sempre
Idade Média”. Não foi mto a engonhar, assim mais para a frente,
interessante e fomo-nos embora com muitas páginas, que demorem
no intervalo muito tempo.
3. O meus prof., a minha prof 3. Se for rápida e bonita para
antiga, uma prof de subst., o meu orquestra, mas se forem pecinhas
avô (nunca o ouviu: “a minha mãe mais pequeninas, prefiro a solo
disse que ele tocava mto bem”)
Cristina Lopes 1. Na rádio, na antena 2 (de vez 1. Jazz e música clássica
em quando tenho de levar com as 2. Os clássicos, mesmo clássicos.
óperas que não gosto tanto, mas Mozart...Não conheço mto, penso
também passam mto vl).Mais que se conhecesse tudo ia gostar de
sozinha quase tudo...Beethoven também é
2. Zambujeira, Arte à Parte – fiquei muito querido, tem umas músicas
desiludida, cto vla d’arco, tocou o queridas. Tinha que conhecer mais
hino de coimbra e outras para saber aquilo que gosto.
‘músicas’. Aquela Sinfonia de Mozart (40) está
Orquestra do Centro mto banalizada, como aquelas coisas
3. O Vladimir, a profª Vera, mto que no início são mto especiais e
certinha e o prof. Jacinto, que depois...só se ouve aquilo.
tocava com mta paixão,
entregava-se mto
Eduarda 1. Casa, no computador. Mp3, 1. Não tenho música preferida, oiço
Costa rádio. Acompanhada, com pais vários estilos musicais, não me fico
(clássica: vl, pn, orq.ª) ou amigos só por um
(pop/rock). 2. Vivaldi. 4 estações. Ctos vl. Gosto
2. Não muito do barroco e da maneira como
ele escreve as coisas. É giro. É uma
música mais leve, mais brincalhona...
essencialmente mais leve. Gosto do
contraste entre as partes, dinâmicas.

81
Também gosto do clássico, no
romântico é que as músicas se
tornam um bocado enfáticas e
aborrecidas. Às vezes exageram
um bocado.
Francisca 1. No telemóvel. Acompanhada: 1. A que estou a tocar agora
Freitas amigos, irmã, colegas (estamos a (3ºandtoRiedingop.35). Tb gosto
ouvir assim uma música para ver daquela que a Ariana está a tocar
se é fixe... nos phones ou em voz (Vivaldi, cto vl Lá) mas não posso
alta) olhar para aquilo que eu assusto-me
2. Não com tantas notas rápidas.
3. Não tenho... gosto mto de ouvir Também gosto de ouvir músicas
o meu prof., o Vladimir, o prof inglesas no meu telemóvel. Oiço
Quijada, gosto de a ouvir a si e tb aquilo tudo.
a Eduarda e a Ariana. 2. Músicas mexidas, rápidas, alegres
3. Não é assim uma coisa que eu
aprecie muito, mas também não
desgosto. p/vl, oiço, quando passa
na rádio do carro...)
Libânia Alves 1. Oiço sempre música. Sozinha e 1. Não é tão clássica, é mais
acompanhada – pais, amigos, pesada... tipo Metallica. É só quando
profs. Oiço cds mús. clássica lá posso estar irritada ou chateada,
em casa e meto assim um de porque é assim que me estou a sentir
cada vez. naquele momento, mas também
2. Sim. Orqª Clássica Cª. Gosto gosto de ouvir música clássica
qd estão tds juntoas a tocar quando me estou a sentir bem, leve...
porque acho que estão a sentir a 2. Mozart, Beehoven... são as mais
música e dos que estão a tocar a conhecidas que aprecio mais.
solo porque têm mto jeito e Orquestra e violino.
mostram que sentem a música e (o que ouves de vl?-Não sei mto bem,
sentem harmonia. (Cto guit.ª) são pessoas conhecidas.)

Sofia Carvalho 1. Quarto (tenho sempre o rádio 1. Não tenho, muda mtas vezes. O
ligado), carro, escola, as festas que passa na rádio ou então oiço
(pop/rock). Mais sozinha música portuguesa: Carlos Paião,
2. Sim. Cto Orqª c/ pais em lisboa: José CAD e Amália.
fez-me sentir que um dia se 3. É raro. Só se estou a estudar a
trabalhar posso chegar àquele peça e o professor de violino me
patamar de violino pede esse tipo de trabalho.

Ana Luísa 1. Em todo o lado, não tenho 1. Oiço de tudo. Pões. agora tenho
Carvalho assim um sítio especial. Sozinha. ouvido sonatas vl e pn, Brahms e
2. Sim, tento ir a muitos. Gosto de Grieg. Tb gosto mto de ouvir mús.
ir a um cto para... ok, vamos barroca c/ interpretação barroca.
sentar, vamos ouvir e não estar Num cto ao vivo, gosto de ouvir a
concentrada a pensar nalguma sonoridade, seja um conj.º ou
coisa, gosto simplesmente de intérprete a solo, sentir um bom som
ouvir e sentir que os outros e sentir que toda a sala ou igreja...o
músicos estão também a ... sentir que for, gosto de ouvir o silêncio que
o feedback do público. Gosto de fica e ouvir só a música (momento
sentar, ouvir ...e gostar da peça especial de comunhão com o público)
que oiço.
3. Depende das peças, mas p.ex.
p/ sonatas Beethoven gosto mto
da Anne-Sophie Mutter, da Sara
Chang... e depois Itzhak Perlman,
Oistrakh, esses grandes.

82
b) Perspectiva do performer
Podes falar-me de uma peça que te marcou especialmente?
Nome 1. ...que gostaste 1. Tenta 1. Que aspectos 1. Em que
2. ..que não descrever a musicais situação foi
gostaste sensação de aprecias mais tocada?
3. ...que tocar essa nessa obra 2. Já a
gostasses de peça, como te (1.1.)? conhecias
tocar um dia sentiste? 2. O que gostas antes?
2. Evoca-te mais de ouvir 3. Alguma coisa
alguma numa peça (em que queiras
memória? O geral)? melhorar?
que te faz
lembrar essa
música?
Ana Raquel 1. Cantabile de 1.1. Senti-me 1.1. Poor 1. Concurso
Sacramento Tartini: em livre e com exemplo, quando (menção honrosa)
termos de técnica vontade de há melodias
era muito fácil aprender cada muito para além 3. O virtuosismo,
mas eu consegui vez mais... da corda...muito a expressividade
dar brilho à sentir-me para do corpo, é o que
música, consegui alguém porque cima, em vez de o meu professor
expressá-la às vezes ir para a corda lá, me está sempre a
bem... levei-a a desanimo e ficamos na corda dizer
um concurso e foi perco a sol... nas
isso que me vontade... mas posições
safou... ganhei a depois quando altas, e eu acho
menção honrosa. temos estas que nessas
Expressão coisas, estes posições
2. um concerto concursos e... conseguimos
de Viotti. Foi tocamos bem, expressar ainda
também porque isso dá-nos melhor e
não estava muito força nessa peça
bem preparada. 2. Evoca existiam muitos
Porque eu não porque foi uma glissandos,
gostava do das únicas timbre mais
concerto, e vezes em que cheio, mais
quando uma eu me senti masculino, as
pessoa não gosta livre a tocar dinâmicas que
do que está a por vezes eram
tocar... eu não o muito
conseguia tocar... contrastantes,
e foi por isso tanto estávamos
também que saí pianíssimo como
da artave.... de repente
2.1. Não gostava estávamos forte
da música, era 2. Dos temas....
muito técnico, por exemplo, no
semicolcheias, e scherzo, o tema,
eu não gostava... é por isso que
e mesmo quando identificamos a
havia parte música
melódica.... não
gostei
3. o Scherzo de

83
Brahms. É
potente, forte.
3.1.Ouvi tocada
pelo Oistrakh

Francisca 1. Scherzo de 1. senti-me 1. como assim?! 1. numa audição,


Silva Seixas Brahms muito bem, faz-me sentir numa prova e na
1.1. pujante, é senti que não bem...é o masterclasse
preciso garra e eu estava a tocar conjunto é tudo
antes não tinha para as outras 2. já a tinha
assim tanta garra, pessoas, senti 2. as obras ouvido, alguns
era assim mais na que estava a contemporâneas colegas já a
paz e com essa tocar ... para o são um bocado tinham tocado
obra consegui meu prazer... e estranhas,
libertar-me, deitei correu muito porque estão 2.1.Foi o meu
tudo cá para fora bem... sempre a criar prof. que
e gostei muito de tensão e uma escolheu a peça
a tocar. 2. não... só a pessoa eu tinha
parte do trio.... fica...assim intenções de a
2. acho que eu fui a uma quase sem tocar, mas não
não.... por masterclasse respirar... (talvez era já....
exemplo quando com o porque nós
eu não gostava, o professor também não as
meu professor Michelin e ele conhecemos
também via disse que essa muito bem...)
era a canção também gosto de
3. tantas... do amor e obras calmas....
concerto de então eu
tchaikovsky, comecei a 2.1. depende,
tzigane de ravel pensar nisso por exemplo, se
para eu vir que é uma
3.1.tem uma interpretar a obra difícil para
harmonia, que obra violino, pode
nos envolve, nós ficar aquele
nessa altura não bichinho de um
estamos em mais dia....mas não
lado nenhum, é sei.... é
só musica, complicado
musica...
as partitas são
um bocado
...seca... os
concertos são
bonitos.... mas
gosto mais do
scherzo e
tchaikovsky...
são muito
românticos

Joana 1. não sei. acho 1. 1. dos temas, da 1. masterclasse


Machado que nenhuma supostamente energia dos 2. sim por uma
peça me deixou por ser um temas e também colega minha que
assim marcas concerto muito da sensibilidade andava lá na
grandes. estou a difícil, e por que depois há artave no 12º que
tocar o concerto muito puxar noutros temas também o tocou.

84
de saint saens. é por mim, por também, tanto 2.1.muitos
um concerto um lado sinto- está numa coisa professores
muito difícil, que me nervosa, muito forte, disseram " ai toca
tem puxado pelo com medo de como a seguir já este concerto, vai
meu potencial. falhar, por é uma coisa ser muito bom,
também gosto outro lado muito sensível, vai ajudar-te a
muito de o ouvir. sinto-me mais triste. para desenvolver as
2.1. gosto muito grande, não mim, uma obra tuas
do início desta sei como que seja muito capacidades"
peça que toquei posso explicar monótona não então eu juntei o
porque é um isto. por causa me cativa muito, útil ao agradável,
tema que é muito do inicio, em tem de ser assim gostava, e
expressivo. forte, dá-me uma coisa que realmente está a
....melancólico. adrenalina seja mais ou fazer-me
Gosto muito de menos desenvolver a
peças tristes. contrastante minha
2. a capacidade
expressividade. E violinística, então
a técnica, eu não na altura pedi À
gosto daqueles minha professora,
violinistas que ainda estava a
passam por cima estudar com ela,
das passagens, para ler, e ela
embrulham. eu "tudo bem, podes
gosto de ouvir começar a ler" e
muito expressivo então comecei,
e tudo muito depois houve
limpinho, o som uma altura em
muito limpinho. que não peguei
P.ex. no concerto nele, comecei a
de Tchaikovsky ver outras coisas,
dar uma então este ano é
interpretação que voltei com
pessoal sem fugir ele
do estilo do
compositor

Marcos 1. a sinfonia 1. faltam-me 1. aquilo de 2. sim. foi o meu


Lourenço espanhola: foi as palavras. musical tem e professor que me
uma obra muito Foi uma não tem, pouco deu a ideia. eu já
complicada de sensação tempo uma tinha tocado o 4º
tocar. toquei o estranha estar pessoa tem para andamento. ele
primeiro a tocar em musicalidade no tinha-me falado...
andamento e já publico e ao meio daquelas vai vendo o
tinha tocado o mesmo tempo semicolcheias primeiro, mas
quarto. tive estar a pensar todas.... mas quando pegava
muitas que há umas mesmo assim no andamento
dificuldades no semanas atrás tem boas partes perdia a vontade
primeiro aquelas coisas de solista para de tocar... era
andamento. não saíam. Foi vibrar. Gosto de muito difícil.
quando peguei um triunfo. O virtuosismo 3. (gostaste?)
naquilo sentia meu professor mais ou menos.
que tinha cada também me 2. principalmente há coisas a
vez mais ajudou muito a expressão, melhorar. gostava
dificuldades. Na como o músico de melhorar o
masterclasse, 2. tantas que toca, as fraseado e
trabalhei mil já toquei que dinâmicas, e alguma técnica

85
maneiras de memórias depois também a na mão direita.
tocar. Ultrapassei assim técnica que tenho uma obra
as dificuldades especiais não. ajuda a uma agora que é o
que tinha. Muitas pessoa brilhar meu objectivo.
coisas da sinfonia mais... ou menos Chaconne de
espanhola Vitali. é
consegui por nos como a pessoa lindíssima. é a
dedos. eu pensei que está a tocar peça que mais
que não ia se expressa. gosto. a obra em
conseguir tocar porque se for si é fantástica.
aquilo. uma peça e que tecnicamente tem
2. o meu a pessoa está as suas
professor tenta muito rígida e a variações, o
mudar quando tocar e estiver tema. a melodia é
nós não chateada com lindíssima, muito
gostamos do alguém, a peça expressiva.
repertório. muito não vai sair como
gente não gosta se estivesse
de tocar Mozart, alegre, bem
mas o Mozart faz disposto. é
muito bem aos também a forma
dedos, para por do estado de
os dedos a espírito da
mexer. Eu não pessoa....
sou muito
esquisito com o não é tanto pela
repertório. se não peça, é mais pelo
gosto muito, às estado de
vezes tenho espírito da
tocar.... eu até pessoa....
aqui pouco
Mozart tinha
tocado, era
daqueles
compositores a
quem não tinha
prestado tanta
atenção como
Wieniawski, que é
mais romântico,
lá está, o meu
estilo de gostar
de compositores
românticos mais
do que
compositores do
classicismo. Mas
agora já estou a
começar a
engatar no
Mozart: Agora
que o estou a
tocar, estou a ver
as coisas de uma
maneira diferente.
Também faz
muito bem
tecnicamente, faz

86
falta. Gosto das
melodias que ele
tem. tem
concertos
lindíssimos.
outros
compositores
também têm, mas
há pormenores
nos compositores
que os
distinguem uns
dos outros. não é
uma coisa que
seja muito
técnica, mas é
uma coisa bonita
de se tocar

3. neste momento
encontrei uma
peça que gostava
de tocar um
dia....as variações
na corda sol de
Paganini. só que
é um sonho... não
é fácil: gosto da
melodia,
virtuosismo e
expressividade da
corda sol.
Conheci-a no
youtube.
perguntei ao meu
professor o que
ele achava...
agora já me deu
as partituras, para
o meu recital do
ano que vem.

Silvina Dias 1. pode ser a que 2. como uma 1. não é uma


eu toquei no canção de peça muito
recital. canção de Outono, complicada, é
Outono de quando uma peça
Tchaikovsky tocava, fazia- bastante simples,
primeiro é um dos me lembrar a mas é a forma
compositores tarde de como eu a sinto
favoritos, depois Outono, que a torna
a peça é muito quando especial, que
bonita, depois foi chegava da parece que é
aquele escola e saía outra peça que
momento.... foi do autocarro, estou a tocar
especial: por era e tinha que
uma canção de passar, tinha
Outono.... quando que andar
estava a tocar, ainda um

87
principalmente bocadinho
quando estava para chegar a
ouvir outras casa, e às
pessoas a tocar, vezes a cair
a forma como quando era de
elas tocavam... as Outono... e
folhas de Outono adorava essa
a cair, depois a sensação
chuva, já quase a
morrer, sei lá, a quando estás
forma como uma a tocar estás a
pessoa encara a lembrar-te
peça é que é dessa viagem
especial. as que fazias,
folhas a cair têm dessa
aquele gesto mais sensação que
ao morrer, mais tinhas quando
ao de leve, foi por ias casa?
isso que eu
gostei, é mesmo sim
sentimental. principalmente
como se eu quando oiço
estivesse dentro outras
delas, como se pessoas a
eu fosse mesmo tocar... quando
uma folha a cair sou eu a tocar
é como se eu
2. não. estivesse a
normalmente, tocar naquele
todo o repertório preciso
que eu gosto ou momento e...
que eu peço ao só... tudo em
meu professor. e mim gira... é
quando não como se só eu
gosto de uma que estivesse
peça, eu digo ao a tocar e não
meu professor me
para trocar, interessasse
porque quando os outros
estou a tocá-la
não sinto nada,
como se eu não
estivesse a fazê-
la... então o meu
professor troca
de peça. Não
gostei porque
quando a estava
a tocar era como
se eu não
estivesse a sentir
nada. era o vazio
que não era
preenchido.
enquanto que na
canção de outono
não, sentia-me
bem, eu a faze-lo.

88
talvez por estar a
sentir a música,
da forma como
eu a sinto, dou-
lhe um carácter
especial. ...na
outra peça não.

3. Não

Ariana Saro 1. 4 variações de as passagens podes avaliar a


Dancla, no que gostas tua performance
período passado, mais no violino daquilo que
gostei muito são as tocaste para este
porque tinha passagens professor?
várias variações agudas...
um coisa rápida, porquê? não gostei muito.
uma variação porque estava
mais lenta, um porque é giro... muito devagar. eu
final. também são coisas estou habituada a
gostaram muito mais difíceis... tocar mais
de me ouvir. se eu estiver a depressa e ele
gostei dos tocar violino pediu-me para
contrastes, notas sem esforço tocar mais
agudas, muito cá não vale a devagar e fazer
em cima, ser pena... chego mais contrastes
rápido-lento. lá.. "está entre o piano e o
bom!" forte, eu faço, só
já tinha ouvido a ..pronto... que ele dava
minha professora mesmo muito
tocar e gostei 1. sinto-me contraste, e
muito. era muito sempre muito depois era mais
difícil, mas gostei. nervosa... mas devagar e eu
também foi muito é bom porque enganava-me
apreciada pelos a peça é várias vezes por
meus pais e pelo bonita e o ser tão lento...
meu professor na piano também
audição ajuda muito,
se eu me
e se pudesses enganar o
caracterizar a pianista
música, o improvisa para
gostaste mais na eu apanhar
música em si foi o logo a seguir...
contraste? sem
dúvida 2. Faz-me
lembrar
Outra que gostei, tragédia... e no
esta que vou fim... alegria.
tocar agora. o 3º como se fosse
andamento assim uma
Vivaldi, porque é história... que
rápido, tem cai num poço

89
passagens e depois vão lá
agudas... o ajudá-lo. uma
primeiro também, história, de
mas só tem duas tragédia e no
páginas..... este fim fica alegre.
tem 3... toda a gente ri
e brinca. o 2º é
2. ....não me mais triste, é
lembro... talvez mais tragédia
mais para trás, no mesmo.
1º grau alguém
morre... eu
3. sim. as quatro estou a
qualquer coisa de inventar um
Paccini. o bocado... mas
professor já me é mais ou
tocou, e é muito menos isso.
bonito mesmo... e nas
não ouvi com variações de
piano... o Dancla, evoca-
professor disse te alguma
que o memória?
acompanhamento
de piano é muito essa é várias
difícil...mas porque tem
gostei: pelas várias
mesmas razões, variações e
porque era rápido diferentes.
e porque o lembro-me da
professor fez minha família
muitos contrastes nas partes
entre o piano e o mais alegres,
forte... das pessoas
da minha
família que já
morreram, nas
pessoas mais
tristes...

Cristina 1. acho que eu adorava 1. talvez a linha fazer os tempos


Lopes nenhuma me saber tocar melódica(canta), certos..... depois
marcou aquelas como ela se quando está tudo
especialmente.. músicas dos transforma certo... as minhas
olha esta que circos... Cirque (canta)... e preocupações
estou a tocar... de Soleil, com depois gosto são as notas, a
Concertino de aqueles muito da parte afinação, mas
Kuchler...: gosto ritmos.. porque final (canta) agora já posso
das passagens o violino é um 2. sei lá... pensar mais nas
mais instrumento quando o estou a dinâmicas...
rápidas...(canta...) muito triste e tocar, sinto que o expressividade
e dos agudos... dramático que público até ainda não sei
eu não costumo faz chorar gosta, mas do muito bem o que
gostar muita das muito então eu outro lado, quem é isso... também
notas longas, procuro tocar sabe onde as gosto de brincar
mas estas até são coisas mais notas realmente e improvisar

90
giras... alegres. eu estão, é sempre quando estou a
gostava de por milímetros estudar.... e às
- tens prazer a tocar numa que falho as vezes gosto de
tocar essa peça? orquestra mas notas.... eu falho trocar aquela
também sempre... bolinha branca
o tenho algum... gostava muito *falhei muito, pelas colcheias
porque as outras de tocar num comecei mal,
que eu tocava circo... quando começas
eram muito ... gosto de tens de começar
básicas, mas eu originalidade bem, na hora de
também não era * tocar estava
capaz de tocar * desconcentrada,
melhor do que 3. faz-me mas depois lá me
aquilo.... lembrar a Alice consegui
no Pais das desenrascar....
2. não, gostei de
Maravilhas, andei perdida, e
todas... as
imagino depois nunca te
músicas que eu
alguém a saltar encontras... só
não gosto não me
de vestido se estiveres
põem a tocar
(canta). no muito à vontade
aqui... pimbas,
início não, se a tocar aquela
fado, ópera... em
calhar faz-me música é que
geral a voz não
lembrar um nunca mais
me atrai muito.
palco queres sair dali...
violino gosto
fechado... uma
sempre, até
coisa mais
quando as
fechada que
pessoas estão a
se transforma
tocar mal porque
numa dança
estão a aprender.
qualquer mas
também gosto
fechada... e no
muito de
fim é que se
violoncelo, mas é
liberta...
muito caro...
normalmente
também gostava
é, mas é uma
de tocar
coisa muito
contrabaixo, mas
vaga, não vejo
só com o arco,
imagens nem
normalmente
nada disso...
toca-se com o
no inicio é
dedo e fica
assim uma
bastante
coisa preta
reduzido... e
fechada um
depois só se vê
palco, eu
isso, não percebo
também sou
porquê...
um bocado
3. várias... não bicho de
sei, não consigo palco, eu
dizer qual. o meu gosto muito de
problema é que teatro... o
não conheço porque a
muitas músicas, música é muito
não tenho um rasgada
contacto diário (canta)... mas é
com a música uma sensação
para dizer é muito vaga...
aquela... por alguém a
exemplo, dançar

91
Paganini, não sei fechado num
se gosto, é um espaço interior
problema muito e alguém a
grande quando tu dançar num
queres dizer uma espaço
coisa e não exterior no
conheces, tens só início não, mas
uma ideia muito depois
vaga, é muito transforma-se
complicado... numa dança...
como eu gosto
muito de teatro
estou sempre
a encenar e
todas as
músicas
contam uma
história

Eduarda 1. o concerto de 1. eu estava 1. a dinâmica, se 3. a dinâmica,


Costa Vivaldi em lá um bocado elas não são afinação e
menor: primeiro nervosa, mas repetitivas, que arco...gostaria de
porque as já ia a meio e eu não gosto das transmitir algo ao
pessoas diziam- os nervos já repetitivas... público
me que era muito tinham (estrutura
difícil e eu passado e ABACA?) não
consegui e gosto senti estava a gosto muito dos
da música, gostar daquilo 2os andamentos,
especialmente o que estava a lentos, gosto de
3º andamento. fazer.... coisas enérgicas,
acho que a peça energia
para violino e que sentiste?
piano está
harmoniosa...há prazer
uma parte da 2. gosto de
2. não me faz perceber que a
música que eu
lembrar assim pessoa que está
gosto muito, que
nada.... a tocar está a
é a parte mais
rápida, mais sentir aquilo que
enérgica... está a tocar e se
está ali por estar
ou se está ali
porque trabalhou
para isso e

se está
empenhada
naquilo que está
a fazer

sim. é
completamente
diferente uma
pessoa estar a
tocar aquilo e
querer despachar
ou estar a tocar
estar a sentir

92
aquilo

Francisca 1. acho que foi 1. sinto uma 1. o é logo o


Freitas este concerto de diversão. para início e uma
Rieding porque é mim cada parte que é a 3ª
mexida, é mais musica conta pagina. porque é
uma musica que uma historia e levezinha e mais
eu gosto a historia que rítmica... da
a musica que expressão da 1ª
2. não eu agora estou parte ...alegria
3. aquela do a tocar é uma
Vivaldi historia boa, 2. tudo desde
imaginativa.... que se começa a
é tipo estão tocar até que se
dois meninos a acaba. há
brincar e um sempre uma
mete-se com parte mais
outro... é mexida que é a
conforme os que eu gosto
tons da mais
musica...
imaginas isso
quando tocas?

o sim

- mais alguma
coisa...?

o não... até na
banda quando
eu estou a
ouvir umas
musicas das
orquestras há
lá uma musica
em que parece
que um adulto
está a falar
com uma
criança e a
criança está a
responder com
uma voz mais
fininha....

senti que
estava a
prestar
atenção e que
estavam a
gostar daquilo
que estava a
tocar...
2. não

93
Libânia Alves 1. O Concertino. 1. senti-me 1. ...mmmm... é
gostei porque foi confortável, mais o som...é
uma experiência segura, que mais as
nova que me estava a sentir melodias....
marcou. senti que a música, que
os meus parentes estava em aqui no inicio é
gostaram muito harmonia com uma parte mais
da musica: Era o pianista, que calma, depois,
bonita... acho que não troquei o no ultimo
também era um ritmo e que compasso da 3ª
bocado diferente correu bem pauta acho que o
das outras ritmo muda, fica
2. Houve uma 2. ...não... mais rápido...
que fui depois é mais
acompanhada calma e depois
por piano e não rápida ...depois
correu lá muito tem uma parte
bem. Também com ligaduras
havia umas certas que também é
partes que eram mais calma,
um bocado mais parecida com o
difíceis e como inicio, que me faz
havia certas sentir como uma
pautas que pena. na outra
tinham partes parte mais calma
iguais eu perdi- é como estar a
me...não me flutuar na água...
estava a sentir e a parte mais
confortável rápida é como
3. uma tempestade
...especificamente
não sei...
2. gosto quando
a melodia é
continua...
primeiro tem
umas primeiras
notas e a
segunda dá
continuidade à
primeira parte,
também gosto
daquelas que
variam entre as
partes... a
primeira parte é
de uma maneira,
mas a segunda já
é de outra... e de
outra em que os
primeiros são
iguais à primeira
parte mas os
segundos já
começam a
mudar

94
Sofia 1. não sei 1. ....estive o 1. eram musicas
Carvalho sinceramente, período todo a mexidas e não
também não tocar duetos... era só eu a
toquei assim gosto mais de tocar...
muitas peças... o tocar em dueto
andante de do que a solo. gostei de tudo.
Brahms....Haydn? Foi uma achei que a peça
não tenho a experiência era muito bonita
certeza: porque nova e.. foi
foi uma peça que engraçado e (Haydn)
eu estudei mais e foi uma coisa
foi a primeira que nunca me
daquelas a sério, tinha passado 2. gostas mais de
sem ser a da pela cabeça musicas rápidas,
estrelinha e hino fazer é isso? sim
da alegria...
Foi uma coisa ser rápida, não
porque a nova, fiquei ser triste, alegre
estrelinha é mais alegre e e ser uma coisa
de criancinhas e contagiei um que se eu ouvir
o hino da alegria bocado o ficar espantada,
acho que foi mais violino com a por ser bonita
no inicio e o musica
andante senti que sim foi pelas
já podia começar músicas que eles
a tocar bem tocaram, acho
que eram
não sei. para bonitas. senti
além de que... fiquei um
considerar que bocado
era musica a espantada
sério, era bonita.. porque aquilo
era gira e era deve ter dado
mexida... eu não demorado
gosto de musicas trabalho... e no
lentas porque se final tudo correu
são musicas bem... (referindo-
lentas sai tudo se ao concerto
desafinado de orquestra a
portanto...eu não que assistiu)
gosto de musicas
lentas

2. a que toquei
para vir para cá...
as variações da
escala da lá
maior... eu disse
ao stor mas ele
só me deu isto na
5ª feira! eu gosto
mais das peças...

3. o concerto que
a Francisca tocou
(Rieding, op.34,
3º andamento) eu

95
já tirei fotocópia
disso e vou
começar a
estudá-lo e
depois vou
perguntar ao stor
se posso
apresentar no
final do ano!: eu
nunca toquei
concertos mas
achei a música
muito gira e o
professor Pedro
também ma
recomendou,
disse que
facilitava melhor
as minhas
posições e ia
aprender mais
jeito...

Ana Luisa 1. gostei muito da 1. eu gosto e como tentaste 1. Em várias


Carvalho sonata de sempre de explorar esse audições
Brahms que tocar essa carácter quando 2. Sim. Falei à
toquei no ano sonata... é estavas a minha professora
passado, que é a sempre muito estudar? 3. podia ter
sonata que a especial... não, corrido melhor...
Mara estava a sei, como já te não sei, tentei do som, porque
tocar lá em tinha explicado ouvir várias esta sala também
baixo... é muito tem de se gravações... para não é muito
bonita, as sentir bastante tentar perceber a agradável de
sonatas de a peça, mas maneira de tocar...
Brahms são todas eu não penso interpretar...e...
incríveis, mas quando estou não sei, quando podes descrever
aquela foi a a tocar, tento eu estou a o que mais
primeira sonata simplesmente estudar, gostas neste
de Brahms que tocar e gostar sinceramente, eu concerto (Saint
eu toquei, nunca do que faço e não penso Saens)?
tinha tocado tentar mostrar muito.. ok, como
nenhuma e, não aos outros que é que eu vou dos
sei, é eu gosto do fazer isto... tento contrastes...como
simplesmente que faço para tocar e tento já tinha dito e o
brutal, adorei eles também gostar do que início que é muito
tocar aquela gostarem e toco, porque se forte... a
sonata, mesmo... tentarem eu não gostar as orquestra
apreciar... outras pessoas começa em
... o carácter que não vão gostar... pianíssimo e
aquela peça tem, 2. para a entra o violino em
é muito calmo e sonata de não sei, acho fortíssimo, solo...
às vezes tem Brahms não... que é muito e o carácter, que
momentos de no Saint Saens espiritual... não é bastante.... não
explosão... acho por acaso sei explicar... não tenho assim
que é isso... é nunca tive é, por exemplo, nenhum
muito bonita assim uma sonata de adjectivo...
nenhuma Mozart (canta
2. não... eu toquei imagem... por Nachtmusik como tentas
explorar esse

96
o concerto de exemplo, o como uma carácter...
Mozart no 5º Pedro lengalenga e ri)
grau... (canta) e (Meireles) lá ...não sei, eu
gostei bastante.... em baixo, quando estamos sinceramente não
eu gosto mais de ...está um mais penso muito
tocar Mozart no rapaz lá em melancólicos, nessas coisas,
piano... mas não baixo a tocar Mozart é um tento
desgosto de um concerto bocado... não é simplesmente
Mozart... gosto de Mozart e aquela coisa... tocar... não sei...
muito, tem ele associou uma Sonata de o fortíssimo, tem
algumas coisas aquilo às Brahms, aquela de ser bastante
lindíssimas óperas de nº 1, é forte, com
também, o Mozart, tentou completamente bastante vibrato...
Requiem é criar diferente, é muito
fantástico...o personagens... envolvente e
Requiem é e eu isso não estamos ali e
bastante diferente tenho muito o sentimos a
das outras hábito de música....
obras...talvez fazer, tento
precisamente por simplesmente mais calmo, mais
isso.... porque às ouvir a musica sereno... também
vezes Mozart se e ver o que é gosto bastante
torna bastante que ela de... por
repetitivo...os pede.... e tento exemplo, eu
concertos para os interpretá-la estou a tocar o
diferentes da melhor concerto de
instrumentos, o maneira Saint Saens, nº3,
concerto para eé
violino, o eu acho que é completamente o
concerto para de mim, eu oposto.... gosto
fagote, o nunca tive também muito de
concerto para muito esse peças fortes.... lá
trompa, o hábito... o que está, gosto dos
concerto para eu acho que contrastes...
oboé, são todos às vezes é
mau, porque 2. (na sonata de
bastante
se nós Brahms) talvez
parecidos... talvez
tivermos uma da suavidade do
o Requiem por
ideia, se início... gosto
ser diferente
criarmos um mais da parte
3. concerto de teatro...para mais calma, essa
Sibelius... aquilo vamos obra, não tem
perceber um grande
melhor as fortíssimo, por
personagens, exemplo, mas
vamos precisamente,
perceber acho que é muito
melhor as especial... pela
frases...e o suavidade, pela
que a peça calma que
pede, mas, transmite...
não sei, nunca
tive muito esse
hábito...

97
Nome 1. ...que 1. Tenta 1. Que aspectos 1. Em que
gostaste descrever a musicais aprecias situação foi
2. ..que não sensação de mais nessa obra tocada?
gostaste tocar essa (1.1.)? 2. Já a
3. ...que peça, como te 2. O que gostas conhecias
gostasses de sentiste? mais de ouvir antes?
tocar um dia 2. Evoca-te numa peça (em 3. Alguma
alguma geral)? coisa que
memória? O queiras
que te faz melhorar?
lembrar essa
música?

Entrevistas I
Nome Qual foi a peça que mais gostaste de tocar?
Daniel Silva 14 (5) Na Classe de Conjunto, o Clarinet Marmelade: Tinha várias
vozes e era com bastante ritmo
A solo, El Shadai: Fala sobre o fado de Deus.... mmmm... É
música para violino solo... e também dá para flauta. o meu
pai gostava muito dessa música e arranjou-me a peça e
quando a comecei a tocar como gostei dela... - Então as
peças que mais gostas de tocar, no fundo, são aquelas que
não todas aqui na sala...o Sim, porque são peças livres

Inês Fragoso 10 (0,5) A do papagaio loiro e.... todos os patinhos: são divertidas.
Acho que também não foi muito difícil de as aprender e têm
um bom ritmo
Joana Providência 12 (6,5) Gostei muito de um concerto de Vivaldi (mi lá lá lá lá)...
também não toquei muito mais peças... Primeiro porque foi a
peça mais elaborada que toquei... o resto eram quase só
estudos... Tinha o piano a acompanhar e também porque já a
conhecia

Maria Gorgulho 6 (1,5) A do balão do João... Porque... eu tive já muitos balões e


meu irmão também e eles estavam na garagem e houve
muitos que se escaparam mas um não, ficou guardado. Esse
balão era dos dois...
Matilde Simões 7 (0,5) O papagaio loiro gosto muito da música... Eu gostava de ver
um papagaio
Também gosto muito da loja do mestre andré porque tem....
instrumentos... e eu gosto de instrumentos
Matilde Pascoal 6 (0,5) A Joana come a papa... Porque eu gosto muito de comer.... e
Joana come a papa é a minha preferida!
Nádia Nunes 13 (6) Uma peça de Beethoven que eu toquei pela primeira vez que
toquei violino
Porque eu também gostava muito dela. Eu toquei-a muito
bem porque o meu professor disse isso e foi a vez que eu

98
consegui ter 5 a violino Eu gostava do ritmo da música, do
estilo... soava-me bem a tocá-la

O Rondeau: Gostei dela. Gostava de me ouvir tocar. Achei-a


fácil

Pedro Neves 20 (4) Gostei de todas mas sinceramente gosto muito mais do
barroco... também gosto do clássico, mas o barroco, não sei
explicar, é diferente
Não consigo explicar... talvez por ser assim mais staccato.
Também gosto de Mozart, mas para mim não tem nada a ver
com Vivaldi nem com Bach
o Canone de Pachelbel: É uma música que eu sempre gostei
e já a toquei há 2 anos, se calhar...e... sempre gostei daquela
música, pela própria melodia dela, não sei.... esta é uma
delas... Uma que estou a ver agora, o concerto em lá menor
de Vivaldi... pelas mesmas razões que disse
Raquel Dias 13 (4) Concerto de Rieding opus 34, 2º andamento: Porque tem
várias dinâmicas e várias partes... tem lento e depois mais
rápido e depois lento outra vez, tem várias dinâmicas,
Também é alegre, mais alegre. Também há partes mais
tristes, assim nas partes mais lentas
Raquel Marinho 12 (2) Frohlicher Landman: Porque tinha dinâmicas.... era
harmoniosa...

Rute Miriam 14 (5) Cossacks: pelo o tipo de ritmo. Era assim uma música um
bocado alegre
Afonso Serrano 13 Concerto de Rieding opus 34: Gostava da música, já tinha
ouvido a minha irmã a tocar e gostei muito dele,
principalmente da última parte, eu gostava muito daquelas
semicolcheias... Eram as primeiras que eu tinha tocado, era
rápido, era novo...
E no concerto que vamos ver agora gosto da parte das
cordas dobradas, só que ainda não consigo fazer muito
bem... (gosta de desafios)

Catarina Barros 16 Porque é diferente, não tem nada a ver com as outras que eu
toquei. É por ser diferente. Acho que é muito bonita, primeiro,
e mete muita técnica e...eu preciso de desenvolver a técnica
portanto também gosto tanto por causa disso e pela
musicalidade, é muito bonita...gosto de tudo na peça porque
tem coisinhas muito diferentes umas das outras
Pedro Sá 23 Concerto de Max Bruch para violino e orquestra: Penso que é
um concerto muito intenso a nível de sentimentos e de
expressividade, e para além das características técnicas de
dificuldade que tem e porque me vão fazendo evoluir
tecnicamente ao longo do tempo... portanto é basicamente
uma questão de carácter, a nível do concerto é aquilo que
mais me impressiona. Acho que é muito emocionante, muito
intenso, o concerto por si só e, portanto, basicamente é isso,
a nível das emoções é um concerto que explora as diferentes
emoções ao longo dos diferentes andamentos

É a parte emocional do concerto que me cativa. E a técnica


também, porque a parte evolutiva de técnica que teno vindo
a aprender com esse concerto também é bastante
importante... e para já não falar que foi a que mais gostei de

99
tocar porque foi a última e que explora mais os limites da
minha técnica

Houve um que me ficou marcado que foi o meu concerto de


5º grau, que foi o concerto de Seitz em sol menor, esse
marcou-me muito: Lá está, talvez também por ter sido
concerto de exame e ter sido até à altura a peça que eu tinha
mais trabalhado e gostei muito, foi uma coisa que me
permitiu evoluir muito e achei uma peça interessante, como é
que eu hei-de explicar...a nível de exploração de pormenores
técnico, spicato, e várias coisas... trabalhar com o arco fora
da corda foi uma coisa interessante para o 5º grau, não é, e
mal começar a ter esse domínio

Paulo Azevedo 29 (12) Acho que gostei de tocar o Max Bruch, foi fixe, e o Scherzo
de Brahms, também gostei muito: Consegui interiorizá-las e
consegui desfrutar delas. Interiorizar é tocá-la sem
preocupações nenhumas

Nigun, agora (Bloch): pelas mesmas razões

- E.... há alguma que não tenhas gostado tanto?

os estudos. Kreutzer, principalmente: Porque, lá está, não


conseguia dominá-los. Ainda por cima de tocar todo
preocupado que vai correr mal... e corria mal, não é?
Zé Luís Carvalho 25 (6) Para violino solo... Se calhar a que estou a tocar agora,
dança russa de Stravinsky: Talvez por causa do carácter.
Mistura muitos elementos técnicos e também tem umas
melodias engraçadas... e é de uma obra que eu gosto
bastante, que é da Petruchka

Primavera de Beethoven: é bué de bonita e dá-me prazer


tocar. Basicamente, a peça está muito bem escrita e é
bastante cómoda. Sabe-se bem que ele sabia o que estava a
fazer. A melodia... é muito bonita... e depois é a tal coisa...
não é uma típica sonata clássica para violino, em que tinhas
o piano só a fazer o acompanhamento, há um complemento
dos dois e acho isso muito porreiro. Num certo sentido é
quase como música de câmara e... música de câmara é...
muito fixe

E diz-me uma que não tenhas gostado tanto? ...Eu gosto da


peça, mas acabei por não gostar porque não a consegui
tocar... não foi a peça toda, foi só um andamento, do
concerto de Saint-Saens. Na altura não consegui superar os
obstáculos técnicos daquilo e foi tipo tortura, mesmo. Havia
quase uma batalha entre o gostar da música e o querer fazer
música e ter as inerentes dificuldades técnicas, que,
consegui ultrapassar algumas, mas não todas que gostaria
de ter ultrapassado

100
Tabela E
Características e valores ‘musicais’

Entrevistas I
Nome – idade (anos de O que valorizam na performance (prática)
aprendizagem de violino)
Daniel Silva 14 (5) Gosta de peças livres/ à escolha. Música de conjunto e
religiosa (porque o pai gosta)
Inês Fragoso 10 (0,5) Músicas fáceis e divertidas
Joana Providência 19 (6,5) Peças mais elaboradas, com acompanhamento e conhecidas
Maria Gorgulho 6 (1,5) Relação do título da música com a vida do dia a dia
Matilde Simões 7 (0,5) Relação do título da música com a vida do dia a dia
Matilde Pascoal 6 (0,5) Relação do título da música com a vida do dia a dia
Nádia Nunes 13 (6) Beleza, Ritmo, Reconhecimento exterior, ser fácil
Pedro Neves 20 (4) Estilo Barroco, leve, beleza da melodia
Raquel Dias 13 (4) Contrastes de andamentos, de dinâmicas, de carácter.
Alegre.
Raquel Marinho 12 (2) Dinâmicas. Harmonia/ Beleza
Rute Miriam 14 (5) Música alegre e com ritmo
Afonso Serrano 13 Ser conhecida, rápida. Gosta de desafios, aprender novas
técnicas.
Catarina Barros 16 Ser diferente. Desenvolver a técnica e musicalidade.
Pedro Sá 23 Sentimentos e expressividade. Desenvolver a técnica.
Carácter, expressão de emoções
Paulo Azevedo 29 (12) Interiorizar e disfrutar a peça. Domínio.
Zé Luis Carvalho 25 (6) Carácter, variadade de técnicas, melodias, beleza, prazer de
tocar, comunicação com o piano - qualidade da composição
e do idioma da escrita.

Entrevistas II
Nome O que valorizam na O que valorizam como
performance (prática) ouvintes, observações
Ana Raquel Sacramento Expressão de emoções, Música romântica, sentida,
15 (6) sentir liberdade a tocar, som mesmo que seja fácil
expressivo, recursos tecnicamente. É uma ouvinte
técnicos para atenta e conhece vários
expressividade, contrastes intérpretes.
(som, dinâmicas),
temas.Reconhecimento
exterior.
Francisca Silva Seixas 15 Sensação de bem-estar no Soar bem, com harmonia
(4) corpo, comunicação de envolvente, causar sensação
emoções, ‘toquei para mim, de bem estar, alimentar a
como se não houvesse mais paixão de um dia poder tocar
ninguém’, período romântico, assim.
Tensão e distensão, paz. Período Romântico e ultra-
romântico. Música que seja
envolvente e onde haja
emoção.

101
Joana Machado 17 (11) Adrenalina, energia dos É uma ouvinte atenta, gosta de
temas, Sensibilidade, obras para orquestra. Observa
Expressividade, Temas a continuidade da linha
tristes, melancólicos. melódica e contrastes. Ajusta
Contraste, Interpretação as escolhas musicais em
limpa e perfeita, função do seu estado de
Desenvolvimento técnica. espírito. Virtuosismo,
originalidade, profundidade
dos temas e interesse pela
narrativa subjacente à
composição.
Marcos Lourenço 19 (5,5) Desenvolvimento técnico, Ouvinte atento, conhece vários
período romântico (mas intérpretes e repertório. Gosta
também sabe apreciar de música para violino e
Mozart, pelas melodias, orquestra, especialmente do
técnica, etc.), melodias, período romântico. Perfeição
virtuosismo, interpretação da interpretação: beleza do
(dinâmicas, fraseada, etc.). som e perfeição técnica.
Reconhecimento do esforço.
(Gosta da ‘aventura’ em
performance: improvisação
com humor )
Silvina Dias 15 (3) Beleza, Referências extra- Ouve música sozinha mas não
musicais, expressão de tem intérpretes favoritos.Gosta
emoções no corpo, ‘a peça é de ouvir todo o tipo de música,
simples, é a forma como a especialmente erudito –
sinto que a torna especial’; ‘é clássico e romântico. Não
como só eu existisse e não gosta muito do barroco.
me interessasse os outros’ Aprecia a expressão de
sentimentos.
Ariana Saro 13 (6) Contrastes: ritmo, Ouve a música que passa na
andamento, tessitura. rádio, pop/rock, ouve música
Passagens rápidas e agudas. clássica de vez em quando, no
Ter mais páginas. carro.
Referências extra- Gosta de peças rápidas, com
musicais/narratividade. mtas pág. e que demorem
Gosta de desafios (coisas muito tempo, principalmente
difíceis). Reconhecimento em orquestra. Se forem peças
exterior. curtas, prefere vl. (factor
dificuldade). Os seus
intérpretes preferidos são os
professores de vl.
Cristina Lopes 26 (4) Gosta de todas as músicas Ouve a música que passa na
que tocou. Gosta de músicas antena 2, geralmente sozinha.
rápidas e alegres, de circo. Gosta muito de
Originalidade. Como a linha clássico/erudito e jazz. Aprecia
melódica se transforma, toda a música que passam
tocar os tempos e notas excepto as óperas.
certos, dinâmicas. Ainda não
sei muito bem o que é a
expressividade. Imagina
encenações na música/
narratividade.
Eduarda Costa 14 (4) Melodia rápida e enérgica. Gosta de ouvir música de
Gosta de desafios. Música vários géneros, geralmente
harmoniosa. Dinâmicas e acompanhada. Não
poucas repetições. temintérpretes preferidos.
Interpretação emocional. Gosta muito do barroco por

102
Sentir prazer a tocar. ser um estilo leve e brincalhão.
Gosta dos contrastes entre
partes e dinâmicas. Também
gosta de clássico, mas o estilo
romântico é demasiado
exagerado/aborrecido/enfático.
Francisca Freitas 11 (2) Gosta de tudo na música, Os seus intérpretes preferidos
mas prefere partes mexidas e são os professores. Ouve
rápidas (leves, rítmicas). música acompanhada e não
Narratividade. Diversão. aprecia mto música erudita,
Alegria. Reconhecimento mas ouve quando passa na
positivo. rádio do carro. Gosta de
músicas alegres, rápidas,
mexidas.
Libânia Alves 12 (2) Uma coisa nova. Beleza. Ouve música sozinha e
Harmonia, som, melodias acompanhada, não tem
bonitas. Transformação e intérpretes favoritos. As suas
continuidade da linha preferências dependem do
melódica. Referências extra- estado de espírito. Gosta de
musicais/Emoções no corpo. mús. para orquestra e p/ vl.
Também gosta de rock. Gosta
de observar como os músicos
tocam bem e sentem harmonia
Sofia Carvalho 12 (3) Música bonita e mexida. ‘a Ouve música mais sozinha,
sério’. Alegre e que me cause pop/rock. Só ouve as músicas
espanto. Uma coisa nova. (erudito) que o professor pede.
Valorização do trabalho por Ficou fascinada e motivada
uma peça ser bem tocada. depois de assistir a uma cto de
orqª em lisboa.
Ana Luisa Carvalho 18 (13) Carácter, Beleza. Idioma/ Ouve música sozinha e vai a
Estilo. Interpretação pessoal. muitos concertos. Aprecia os
Contrastes. Recursos concertos pela sensação de
técnicos (sabe utilizar). estar ali a sentir tudo à sua
Atmosferas e texturas volta – som/sonoridade,
sonoras. O espaço/ Sala. silêncio, comunhão,
comunicação, sensações do
público/músicos, etc. Os seus
intérpretes preferidos
dependem consoante o
repertório. Ouve repertório
diversificado e gosta de
interpretação ‘da época’.

103
Entrevistas I

Questionário
- Como te chamas (esta pergunta era óbvia, devido ao facto de serem meus alunos e foi por
vezes omitida)
- Qual a tua idade?
- Em que grau estás? (esta pergunta era óbvia, devido ao facto de muitos serem meus
alunos e foi por vezes omitida)
- Há quanto tempo tocas violino?
- Qual foi a peça que tocaste que mais gostaste? Porquê?
( Props: Tenta descrever as características que te fazem gostar dessa peça. )

Conservatório Regional de Coimbra

Daniel Silva, 4º Grau


- Diz-me a tua idade
o 14 anos (a partir de hoje)
- Há quanto tempo tocas violino?
o Desde que entrei para o conservatório... há 5 anos.
- Qual foi a peça que tocaste que mais gostaste?
o ...mmm.... Muito assim não me está a ocorrer nenhuma, mas... houve sempre assim
algumas que eu gostei mais, por exemplo, na classe de conjunto gostei muito de tocar o
clarinet marmelade.
- Porquê?
o Tinha várias vozes e era com bastante ritmo
- E quando tocas a solo?
o Tenho sempre algumas assim que gosto de tocar.
- Como por exemplo?
o ... ah... agora só mesmo vendo... mmm... o El Shadai
- mmm... não conheço... Descreve-me um bocadinho...
o (canta)
- Tens a partitura?
o Em casa.
- Em vez de cantares, tenta descrevê-la por palavras...
o A letra?
- Tenta descrever por palavras essa peça. Em características que tu gostes nela.
o Fala sobre o fado de Deus.... mmmm... É música para violino solo... e também dá para
flauta.
- Tocaste essa peça numa aula?
o ...não...
- Numa audição?
o ...mmm... o meu pai gostava muito dessa música e arranjou-me a peça e quando a
comecei a tocar como gostei dela. Então de vez em quando assim, como às vezes tenho
de tocar bastante tempo violino e tocar sempre as mesmas peças fica assim um bocado
cansativo... toco essa.
- Então as peças que mais gostas de tocar, no fundo, são aquelas que não tocas aqui na
sala...
o Sim, porque são peças livres
- São aquelas que tu escolhes
o Exactamente
- Então diz-me uma peça que gostasses de tocar... aqui nas aulas
o Essa era um bom exemplo
- Sim. Porque para além da grande armação de clave, e das várias mudanças de tonalidade,
acho que é adequada.

104
Inês Fragoso, 1º grau

- Diz-me a tua idade


o Tenho 10 anos
- E há quanto tempo tocas violino?
o ...mmm.. há meio ano
- E das músicas que tocaste até agora, qual foi a tua preferida?
o ...mmm... do papagaio loiro e.... todos os patinhos
- E porque gostaste tanto dessas músicas?
o Porque são divertidas
- Que queres dizer com isso?
o Acho que também não foi muito difícil de as aprender e têm um bom ritmo
- Gostas do ritmo e gostas do facto de terem sido fáceis porque já as conhecias...
o Sim
- E mais alguma característica?
o ...mmm... a do papagaio não era bem a do papagaio...
- Tu tocavas cordas soltas e eu tocava a melodia...
o ...pois ...tu tocavas comigo... ficou engraçado

Joana Providência, 6º grau

- Há quantos anos tocas violino?


o Há cinco anos... comecei com 12, agora tenho 19, mas fiquei um ano sem tocar.
- Qual é a peça que mais gostaste de tocar?
o Gostei muito de um concerto de Vivaldi (mi lá lá lá lá)... também não toquei muito mais
peças...
- E porque gostaste tanto de a tocar?
o Primeiro porque foi a peça mais elaborada que toquei... o resto eram quase só estudos...
- Elaborada em que sentido...?
o Tinha o piano a acompanhar
- Também não toquei muito mais peças, temos de cumprir o programa do conservatório e
nos primeiros graus as peças não tinham assim nada de especial
o Mas porque gostaste tanto do Vivaldi? Foi por ser difícil, elaborada?
- Sim... e também porque já a conhecia

Maria Gorgulho, iniciação

- Podes-me dizer qual foi a peça que mais gostaste de tocar?


o Sim.
- Qual foi?
o Foi a... a.... a do balão do João...
- E porquê?
o Porque... eu tive já muitos balões e meu irmão também e eles estavam na garagem e
houve muitos que se escaparam mas um não, ficou guardado. Esse balão era dos dois...
- E é por isso que gostas assim tanto da música do balão do João?
o Sim
- E tens mais algum motivo?
o Não
- E é mesmo só isso
o Sim
- E há quanto tempo tocas violino?
o Não sei muito bem, já tive outra professora antes...
- E quantos anos tens? Fizeste agora...
o Seis...

105
Matilde Simões, iniciação
- Quantos anos tens?
o Sete
- E tocas violino há seis meses... diz-me qual foi a peça que mais gostaste de tocar até
agora?
o O papagaio loiro
- Porquê?
o Porque gostei
- Mas deve ter aí uma razão especial...
o Porque... porque .... gosto muito da música
- Mas o que é que a música te transmite assim de especial....
o mmmm....
- Que características tem a música para tu gostares tanto dela?
o a... o, o papagaio
- O papagaio.. o que queres dizer com isso?
o Eu gostava de ver um papagaio
- Gostavas de ver um papagaio?
o Sim sim
- E conheces algum papagaio?
o Não
- Mas gostavas de conhecer...
o Sim
- E é essa a razão pela qual tu gostas da música?
o Sim
- E gostas muito de mais alguma música?
o Também gosto muito desta. Da loja do mestre andré
- Porque gostas desta?
o Porque tem.... instrumentos... e eu gosto de instrumentos
(pequeno registo sonoro da aula)

Matilde Pascoal, iniciação

- Quantos anos tens?


o Seis
- E tocas violino há seis meses... qual foi a música que mais gostaste de tocar?
o A Joana come a papa
- E porquê?
o Porque eu gosto muito de comer.... e Joana come a papa é a minha preferida!
- E é só isso?
o É!
(pequeno registo sonoro da aula)

Nádia Nunes, 6º grau

- Diz-me a tua idade


o 13 anos
- E estás em que grau?
o 4º grau
- Há quantos anos tocas violino?
o Há seis anos
- Qual é a peça que mais gostaste de tocar até hoje?
o Uma peça de Beethoven que eu toquei pela primeira vez que toquei violino
- E essa peça foi a que te marcou mais
o Sim. Porque eu também gostava muito dela. Eu toquei-a muito bem porque o meu
professor disse isso e foi a vez que eu consegui ter 5 a violino
- Foi por causa da nota e de a teres conseguido tocar bem...
o E também porque eu gostava muito dela
- Porquê?

106
o Eu gostava do ritmo da música, do estilo... soava-me bem a tocá-la
- E das peças mais recentes...?
o O Rondeau
- De?
o Não sei
- Tocaste o ano passado?
o Sim
- E o que gostaste tanto no Rondeau?
o Gostei dela. Gostava de me ouvir tocar. Achei-a fácil
- Então também tinha a ver com o facto de a poderes tocar bem?
o Sim

Pedro Neves, 5º grau


- Quantos anos tens?
o Tenho 20
- Em que grau estás?
o No 5º
- E tocas há quantos anos?
o Há quatro
- Qual é a peça que tocaste que mais gostaste?
o Gostei de todas mas sinceramente gosto muito mais do barroco... também gosto do
clássico, mas o barroco, não sei explicar, é diferente
- Porquê?
o Não consigo explicar... talvez por ser assim mais staccato. Também gosto de Mozart, mas
para mim não tem nada a ver com Vivaldi nem com Bach
- E das que tocaste, qual é que te deu mais prazer tocar?
o Talvez o cânone de Pachelbel
- Porquê?
o É uma música que eu sempre gostei e já a toquei há 2 anos, se calhar...e... sempre gostei
daquela música, pela própria melodia dela, não sei.... esta é uma delas
- Outra que tenhas gostado
o Uma que estou a ver agora, o concerto em lá menor de Vivaldi... pelas mesmas razões
que disse

Raquel Dias, 3º grau

- Diz-me a tua idade


o Tenho 13 anos
- E há quanto tempo tocas?
o Há 4 anos
- E estás no 3º grau, não é?
o Sim
- E qual foi a peça que ais gostaste de tocar até hoje?
o A peça...? Eu estou a gostar do que estou a tocar agora...
- Do concerto?
o Sim
- Concerto de Rieding opus 34, 2º andamento... E porque gostas tanto deste concerto?
o Porque tem várias dinâmicas e várias partes... tem lento e depois mais rápido e depois
lento outra vez, tem várias dinâmicas
- E é isso que te cativa mais?
o Também é alegre, mais alegre
- Todo ele é alegre?
o Não, também há partes mais tristes, assim nas partes mais lentas
- Tem esse contraste, não é? É isso que tu mais gostas?
o Sim

107
Raquel Marinho, 2º grau

- Podes-me dizer há quanto tempo tocas violino?


o Este é o 2º ano
- Estás no 2º grau...
o Sim
- E quantos anos tens?
o 11
- E de todas as peças que tocaste qual foi a que gostaste mais de tocar até hoje?
o mmm... (indecisa...)
- Já não te lembras?
o Não...
- Foi este ano ou o ano passado?
o Este ano...
- Este ano tocaste uma peça, certo?
o Sim
-Gostaste de a tocar?
o Sim
- Porque gostaste de tocar essa peça? (Frohlicher Landman)
o Porque tinha dinâmicas.... era harmoniosa...

Rute Miriam, 4º grau

- Podes dizer-me a tua idade?


o 14
- E há quanto tempo tocas violino?
o Para aí desde os oito anos
- Em que grau estás?
o No 4º
- Neste período de tempo qual foi a peça que mais gostaste de tocar?
o Cossacks
- Foi a última peça que tocaste! Porque gostaste tanto de tocar essa peça?
o Não sei bem, o tipo de ritmo e isso...
- Gostaste do ritmo... e mais?
o Basicamente é isso. Era assim uma música um bocado alegre
- Mais alguma razão?
o Não

Conservatório de Música de Aveiro Calouste Gulbenkian

Afonso Serrano,

- Que idade tens?


o 13 anos
- E em que grau estás?
o 3º
- Qual foi a peça que mais gostaste de tocar até hoje?
o Foi o concerto de Rieding opus 35, acho eu
- E porque gostaste tanto desse concerto?
o Gostava da música, já tinha ouvido a minha irmã a tocar e gostei muito dele
- E o que te cativou mais nesse concerto?
o A última parte, eu gostava muito daquelas semicolcheias...
- Porquê?
o Eram as primeiras que eu tinha tocado, era rápido, era novo...
- Há mais algum aspecto desse concerto que te tenha cativado especialmente?
o Não

108
- E no concerto que vamos ver agora?
o Gosto da parte das cordas dobradas, só que ainda não consigo fazer muito bem...
- Então tu gostas de desafios, não é?
o (aceno)
(registo sonoro com piano)

Catarina Barros

- Podes dizer-me a tua idade?


o 16
- E estás em que grau?
o No 6º grau
- E de todas as peças que tocaste até hoje qual foi a que mais gostaste?
o É o Seitz
- O que estás a tocar agora?
o Sim
- E porquê?
o Porque é diferente, não tem nada a ver com as outras que eu toquei. É por ser diferente
- Então agora se fosses tocar uma outra peça ias gostar porque era diferente?
o Não. Acho que é muito bonita, primeiro, e mete muita técnica e...eu preciso de
desenvolver a técnica portanto também gosto tanto por causa disso e pela musicalidade, é
muito bonita
- E há algum pormenor musical que te cative assim... mais?
o Não... eu acho que é tudo porque tem coisinhas muito diferentes umas das outras
- Gostas dos contrastes
o Sim, e também da música em si

Pedro Sá
- Diz-me a tua idade
o 23 anos
- E estás em que grau
o 8º grau
- E qual foi a peça que mais gostaste de tocar?
o A peça que mais gostei de tocar e que ainda estou a tocar é o concerto de Max Bruch
para violino e orquestra
- E quais são as características do concerto que te fazem gostar tanto dele?
o Penso que é um concerto muito intenso a nível de sentimentos e de expressividade, e
para além das características técnicas de dificuldade que tem e porque me vão fazendo
evoluir tecnicamente ao longo do tempo... portanto é basicamente uma questão de carácter,
a nível do concerto é aquilo que mais me impressiona
- Como defines o carácter?
o Acho que é muito emocionante, muito intenso, o concerto por si só e, portanto,
basicamente é isso, a nível das emoções é um concerto que explora as diferentes emoções
ao longo dos diferentes andamentos
- Então é a parte emocional do concerto que te cativa
o Sim, sim, sem dúvida. E técnica também, porque a parte evolutiva de técnica que tenho
vindo a aprender com esse concerto também é bastante importante... e para já não falar
que foi a que mais gostei de tocar porque foi a última e que explora mais os limites da
minha técnica
- Houve mais algum que tenhas gostado de tocar?
o Houve um que me ficou marcado que foi o meu concerto de 5º grau, que foi o concerto de
Seitz em sol menor, esse marcou-me muito
- Porquê?
o Lá está, talvez também por ter sido concerto de exame e ter sido até à altura a peça que
eu tinha mais trabalhado e gostei muito, foi uma coisa que me permitiu evoluir muito e achei

109
uma peça interessante, como é que eu hei-de explicar...a nível de exploração de
pormenores técnico, spicato, e várias coisas...
- Foi a parte técnica no concerto que mais te...
o Sim, por exemplo, trabalhar com o arco fora da corda foi uma coisa interessante para o 5º
grau, não é, e mal começar a ter esse domínio
- Então o que motivou mais foi a parte técnica desse concerto...
o sssim... eu penso que sim

Universidade de Aveiro, Departamento de Comunicação e Arte

Paulo Azevedo

- Diz-me há quanto tempo é que tocas violino?


o Há 6 anos
- E há quanto tempo entraste aqui no DeCA?
o Há 2
- Portanto estás no segundo ano da universidade. Quantos anos tens?
o 29
- E qual foi a peça que mais gostaste de tocar durante todo o período?
o É difícil
- Qual foi aquela que te chamou mais a atenção ou que...
o Acho que gostei de tocar o Max Bruch, foi fixe, e o Scherzo de Brahms, também gostei
muito
- E o que é que te levou a gostar tanto dessas duas peças?
o Consegui interiorizá-las e consegui desfrutar delas
- O que é que tu consideras interiorizar e desfrutar?
o Interiorizar é tocá-la sem preocupações nenhumas
- Com facilidade... e por isso é que preferiste?
o Sim. Consegui imag...
- Sentiste-te à vontade a tocar
o Sim, completamente. Confortável.
- E no Scherzo?
o Igual. E na junção com o piano também consegui fazer muito bem. Conhecia de cor a
minha parte e a dele
- Sim... e por isso podias fruir melhor.... porque dominavas, não é?
o Sim
- Então e há mais alguma que tenhas gostado?
o Gostei do Nigun, agora (Bloch)
- Pelas mesmas razões?
o Sim, pelas mesmas razões
- E o Max Bruch também por isso?
o Sim, sim
- E.... há alguma que não tenhas gostado tanto?
o Assim em particular.... pá, os estudos. Kreutzer, principalmente
- Porquê?
o Porque, lá está, não conseguia dominá-los. Ainda por cima de tocar todo preocupado que
vai correr mal... e corria mal, não é?
- Então é muito importante para ti sentires-te à vontade, sentires-te descontraído e sentires
que dominas
o Para toda a gente, tem de ser assim, não há outra maneira

110
Zé Luís Carvalho

- Quantos anos tens?


o Tenho 25
- E em que ano estás?
o É aquela mistura, 3º/4º ano
- De violino... estás no 3º?
o Sim
- E há quanto tempo é que tocas?
o Violino, toco há 12 anos
- Qual foi a peça que mais gostaste de tocar?
o Para violino?
- Sim, para violino, qual foi a que tu gostaste mais?
o Para violino solo... Se calhar a que estou a tocar agora, dança russa de Stravinsky
- E porquê?
o Talvez por causa do carácter
- Carácter da dança?
o Mistura muitos elementos técnicos e também tem umas melodias engraçadas... e é de
uma obra que eu gosto bastante, que é da Petruchka
- E tens mais alguma peça que tenhas gostado?
o Sim tenho muitas... assim propriamente, tenho a Primavera de Beethoven
- Porquê?
o Porque é bué de bonita e dá-me prazer tocar
- Se pudesses focar esse prazer de tocar, em que é que tu irias basear-te? Tenta descrever.
o Basicamente, a peça está muito bem escrita e é bastante cómoda. Sabe-se bem que ele
sabia o que estava a fazer. A melodia... é muito bonita... e depois é a tal coisa... não é uma
típica sonata clássica para violino, em que tinhas o piano só a fazer o acompanhamento, há
um complemento dos dois e acho isso muito porreiro. Num certo sentido é quase como
música de câmara e... música de câmara é... muito fixe
- É a parte musical....
o Sim
_ E diz-me uma que não tenhas gostado tanto....
o Eu gosto da peça, mas acabei por não gostar porque não a consegui tocar... não foi a
peça toda, foi só um andamento, do concerto de Saint-Saens. Na altura não consegui
superar os obstáculos técnicos daquilo e foi tipo tortura, mesmo. Havia quase uma batalha
entre o gostar da música e o querer fazer música e ter as inerentes dificuldades técnicas,
que, consegui ultrapassar algumas, mas não todas que gostaria de ter ultrapassado
- Embora seja bonito...
o É bué de bonito, ...
- ... não gostaste de tocar aquilo porque foi um suplício
o Sim

111
Entrevistas II
Questionário

Identificação
Como te chamas?
Que idade tens?
Qual é o grau que frequentas?
Há quantos anos tocas violino?

Motivação

Porque começaste a estudar música? – props: vontade própria, vontade da família,


amigos...
O que te levou à escolha do instrumento? – props: vontade própria, som, pais, concertos...
Quando soubeste que era esse o teu instrumento? Como?
Gostas de tocar violino? E de estudar...? Porquê?
Onde costumas tocar violino? E estudar?
Com que regularidade costumas estudar violino?
Consideras-te envolvido com as actividades organizadas pela escola? Quais as que
frequentaste este ano? Gostaste?
Sentes-te bem na tua escola de música? Porquê?

Percurso artístico
Gostas de tocar em público? Em que contexto gosta mais de tocar em público (ex.
audições, família, festas, concertos, igreja, etc.)
Houve alguma vez memorável, onde tenhas gostado especialmente de tocar? Em que
contexto e porquê?
Gostas mais de tocar a solo ou em conjunto? Porquê?
Como te sentes depois de tocar em público? Que reacções notas nas pessoas à tua volta?
Quem são os teus fãs...?
Em que contexto sentes que a tua música é mais apreciada?

Valorização
Perspectiva do ouvinte

Qual é a tua música preferida? –


Onde ouves as tuas músicas preferidas? props: em casa, em viagem/carro, quando sais à
noite, quando estás com os teus amigos, com os teus pais, sozinha/o.
Costumas ouvir música mais quando estás acompanhado/a ou sozinho/?
Quem costuma ouvir música contigo?
Já foste a concertos ao vivo? Quais?
Gostas de ouvir música clássica? Para violino?
Quais são os teus intérpretes preferidos? Porquê? (E violinistas?)
Qual o repertório que gostas mais de ouvir?

Perspectiva do performer

Podes falar-me uma peça que tenhas tocado que te marcou especialmente? Gostado de
tocar? – prazer de tocar, ser apreciada, aprendizagem...
Existe alguma que não tenhas gostado tanto? Porquê?
Existe alguma peça que gostasses de tocar um dia? Porquê?
Tenta descrever a sensação de tocar essa peça. Como te sentiste enquanto a tocavas?
Que aspectos musicais aprecias mais nessa obra? O que ouves nela para gostar tanto?
Essa peça evoca alguma memória em especial? O que te faz lembrar essa música?
Em que situação foi tocada? (apresentação... audição, etc.)

112
Já conhecias essa música/peça?/Já a tinhas ouvido antes de a começares a tocar? Em que
contexto? Gostaste?
Consegues nomear os factores que mais valorizas numa obra musical?/ O que gostas mais
de ouvir numa peça?

Registo artístico/ performativo

Podes tocar um pouco para mim? (o que tu quiseres)


Que obra é?
Podes avaliar a tua performance? O que gostaste mais e aquilo gostarias de melhorar/
aperfeiçoar?

Ana Raquel Sacramento

- Que idade tens?


o Tenho 15 anos
- Onde estudas?
o Na ARTAVE
- E em que grau estás?
o No 6º grau, que equivale ao 10º ano
- portanto tens três aulas por semana de 45 minutos....
o temos mais... mas no horário é três vezes
- e tens música de câmara uma vez por semana...?
o Não... 5 vezes por semana. Temos só em quatro dias, mas um dos dias temos dois
tempos
- E depois tens orquestra... quanto tempo?
o 3a temos dois tempos, 6a temos dois tempos e sábado temos a manhã toda que equivale
mais ou menos a quatro, cinco tempos
- E são essas as horas em que tu tocas violino... ou ainda tens mais alguma actividade em
que tocas?
o Depois temos as horas de estudo... acho que são cerca de 11, 12
- E depois em casa ainda estudas mais um bocadinho...
o Depende dos dias
- E quando estudas em casa quanto tempo é que estudas, mais ou menos?
o Uma hora, porque nós chegamos tarde a casa e é raro... estudamos, mas não muito...
- E há quanto tempo tocas?
o Eu toco desde o meu 5º ano, ou seja, toco há 6 anos
- Sempre com essa intensidade de aulas?
o Não no 5º e no 6º ano andava no CCM, tinha duas horas por semana, quase que não
estudava... era mesmo uma actividade... extra Depois tínhamos orquestra, mas era só
cordas e... era uma coisa muito amadora
- E porque é que começaste a estudar música?
o Eu comecei, bem, não bem uma opção minha, quer dizer foi... na altura tinha a opção de
entrar ou não para a ARTAVE e o meu professor foi falar com os meus pais a dizer que eu
tinha muito jeito e disse para eu concorrer. Entretanto saí no nono ano um mês e fui para
ciências e tecnologias, mas depois arrependi-me e voltei para a ARTAVE, para música
- E porque foste para música como hobby
o Também não fui eu que escolhi, o meu irmão já lá andava e uma amiga também que
estudava violino e escolhi violino por causa dela
- E gostavas do som?
o Sim, gostava do som e achava aquilo um fenómeno porque nunca tinha tocado nem nada
e era uma coisa nova para mim e.. quis arriscar
- E que idade tinhas na altura?
o Tinha 9
- E gostas de tocar violino?
o Sim
- Muito?

113
o .. sim
- E onde costumas tocar violino... na escola e ... em casa, pouco
o É isso, às vezes, tirando os concertos
- Consideras-te envolvida nas actividades da tua escola?
o Sim
- Que tipo de actividades costumas frequentar?
o a escola costuma organizar Masterclasses onde vêm professores muito bons, o Alexei
Miklin, vêm lá professores muito bons, professores de Londres, de Oviedo, etc. Também há
estágios, muitos estágios de orquestra com o Shelle, também de Londres, com o professor
Colin Meters, já estivemos com o Pedro Neves, com o César....m...
- Houve alguma que tenhas gostado mais?
o Não, porque... são todas boas. A escola tem muitas actividades e muito boas e os alunos
não precisam de estar sempre a recorrer a coisas fora da escola.
- E diz-me, provavelmente já tocaste muitas vezes em público e... gostas?
o Não... depende, eu fico muito nervosa, então quando toco para o público eu quase que
não sinto a música e... eu gosto mais de tocar sozinha ou para pessoas que conheço... mas
isso vai ter de ser uma coisa que eu vou ter de ultrapassar
- Para que público gostas mais de tocar?
o É para os amigos, mas em pouca quantidade
- Houve alguma vez memorável em que tenhas gostado especialmente de tocar?
o Sim. Foi antes deste ano, no primeiro módulo, em que eu estava a tocar a primeira sonata
de Mozart, nº4, 2º andamento, muito gira, e eu vi-a duas semanas antes da prova e eu
estava muito nervosa, mas, Mozart, eu acho que em termos de técnica, é fácil, mas depois
musicalmente é difícil e soube-me mesmo muito bem tocar e mesmo na prova, como eu
nunca tinha conseguido tocar algo mesmo sentido, acho que naquela prova foi o máximo
que eu consegui, foi mesmo... gostei muito
- Foste expressiva
o Sim
- E estavas nervosa?
o Sim, estava muito nervosa antes de começar, mas depois comecei a tocar e quebrei um
bocado o gelo
- E o que sentiste?
o Ai sei lá, liberdade, senti que... a demonstração de todo o trabalho que eu tive... acho que
é a maneira de nós mostramos o que trabalhámos durante muito tempo
- E gostas mais de tocar a solo ou em conjunto (orquestra/ música de câmara)?
o Depende, porque quando é em conjunto - orquestra, música de câmara - eu consigo
sentir mais a música, e quando é sozinha, não sei...
- Estás mais preocupada...
o Exacto, mas por outro lado, quando toco sozinha, toco coisas mais intensas... gosto mais
de tocar sozinha... é mais íntimo
- E como te sentes depois de tocar em público?
o Nervosa. Mesmo antes das audições, eu estou muito nervosa, mas eu não tremo,
fisicamente, não se nota que eu estou nervosa, mas depois da audição ou da prova eu fico
uma pilha de nervos, porque fico muito preocupada pelos comentários ou pelas opiniões ou
mesmo por mim mesma... de como correu a prova
- Que reacções notas nas pessoas?
o Depende das audições mas, normalmente são sempre positivas
- Quem são as pessoas que mais apreciam aquilo que tu tocas?
o São os meus professores. Porque eu tenho amigos, mas mais velhos, porque uma coisa é
certa; nós, eu, pelo menos, consigo falar melhor sobre o meu instrumento, as minhas
técnicas, etc. com pessoas mais velhas em que a competitividade não está tão alerta...
sinto-me mais à vontade, mas é mais com os meus professores porque, pelo menos na
ARTAVE, a relação entre professores e alunos é muito boa, eu acho, e... além de
professores são amigos... então a minha acompanhadora, que me acompanhou durante três
anos, eu dou-me muito bem com ela, e numa altura em que eu me andava a desleixar... foi
ela que veio falar comigo para me chamar a atenção...os avanços e elogios que dão... são
mais os professores
- E os teus pais apoiam-te?

114
o Apoiam... os meus pais não são muito ligados à música... a música não vem de família...
apoiam mas não é coisa que eles....
- Onde ouves as tuas músicas preferidas e quais são as tuas músicas preferidas?
o Eu não vou muito a concertos... mas, sempre que vou é porque alguma coisa me incentiva
e... eu gosto muito de músicas românticas... Sibelius, Tchaikovsky... adoro músicas
românticas...
- Porque gostas tanto?
o Porque é mais expressiva, mais sentimental do que o barroco... é mais sentido e eu
gosto... mesmo que a peça seja mais fácil tecnicamente, eu gosto que puxe pela expressão
- E onde gostas de ouvir?
o Eu gosto muito de ouvir música sozinha ... gosto de sentir as coisas sozinha então...
depende...em casa... eu, ao estar a estudar não consigo ouvir música porque sinto a
necessidade de estar a acompanhar, a sentir a música... por isso é sozinha e quando estou
a ouvir é só música, só para a música
- E acompanhada?
o É mais quando vou a concertos...
- A que concertos já foste?
o Fui ao coliseu do porto ouvir a orquestra APROARTE, tocar o concerto de violino de
Tchaikovsky, e fui ver a Midori...
- Quais são os teus intérpretes favoritos?
o David Oistrakh, Midori, também gosto muito da Sara Chang...
- E que repertório gostas mais de ouvir?
o Violino, principalmente acompanhado de orquestra... quando é piano também gosto
mas...
- Podes falar-me de uma peça que já tenhas tocado e te tenha marcado especialmente?
o Cantabile de Tartini... em termos de técnica era muito fácil mas eu consegui... dar brilho à
música, consegui expressá-la bem... aliás, levei-a a um concurso e foi isso que me safou...
ganhei a menção honrosa
- E porque gostaste tanto de tocar essa peça?
o essa expressão...
- E que sentiste quando estava a tocar?
o Senti-me livre e com vontade de aprender cada vez mais... sentir-me alguém porque às
vezes desanimo e perco a vontade... mas depois quando temos estas coisas, estes
concursos e... tocamos bem, isso dá-nos força
- Que aspectos musicais aprecias mais nessa obra? Porque gostas dessa peça? O que
ouves na peça para gostar tanto?
o Aspectos técnicos?
- Técnicos, musicais...
o Por exemplo, quando há melodias muito para além da corda...muito pra cima, em vez de ir
para a corda lá, ficamos na corda sol... nas posições altas, e eu acho que nessas posições
conseguimos expressar ainda melhor e nessa peça existiam muitos glissandos, timbre mais
cheio, mais masculino, as dinâmicas que por vezes eram muito contrastantes, tanto
estávamos pianíssimo como de repente estávamos forte
-Essa peça evoca-te alguma memória especial quando a tocas?
o Evoca porque foi uma das únicas vezes em que eu me senti livre a tocar
- E quando a estás a tocar, não pensas em mais nada, só pensas mesmo na música?
o Sim, porque um dos meus grandes medos é desconcentrar-me, eu posso estar a sentir a
música, mas tento não desviar a minha concentração
- Já conhecias a peça antes?
o Não, foi o meu professor que me mostrou
- Houve alguma peça que não tenhas gostado de tocar?
o Houve, um concerto de Viotti. Foi também porque não estava muito bem preparada.
Porque eu não gostava do concerto, e quando uma pessoa não gosta do que está a tocar...
eu não o conseguia tocar... e foi por isso também que saí da ARTAVE....
- Marcou-te mesmo!
o Marcou-me...
- Porque não gostaste?

115
o Não gostava da música, era muito técnico, semicolcheias, e eu não gostava... e mesmo
quando havia parte melódica.... não gostei
- Há alguma peça que gostasses de tocar um dia?
o Sim, o Scherzo de Brahms. É potente, forte
- Já a ouviste?
o pelo Oistrakh...
- Algum aspecto que gostes de ouvir numa peça musical?
o Dos temas.... por exemplo, no Scherzo, o tema, é por isso que identificamos a música
- Podes tocar um bocadinho para mim?.... algo que tu gostes.... o que tu quiseres....
o É um arranjo do Kreisler.... é mesmo só um bocadinho.... (En Bateau, Debussy)
- Gostas de tocar esta peça
o Gosto de tocar, mas não é uma peça.... o problema é mesmo a melodia...
- Achas que consegues tocar bem esta peça?
o Se eu quiser consigo
- Alguma coisa que queiras melhorar nesta peça?
o O virtuosismo, a expressividade do corpo, é o que o meu professor me está sempre a
dizer
- Muito obrigada

Francisca Silva Seixas

- Francisca, que idade tens?


o 15
- em que ano estás?
o no 10º
- na ARTAVE?
o sim
- com que professor estudas
o professor José António Camarinha
- há quanto tempo estudas violino?
o Há 4 anos, com ele. Eu já tocava antes clarinete no ATL, mas depois na ARTAVE
mandaram-me para o violino
- Porque começaste a estudar musica?
- Não me lembro muito bem mas , os meus pais também queriam, tenho um tio que toca
trompete. no ATL, o professor dizia que eu tinha jeito
- quanto tempo estudas em casa?
o nas férias, 3 , durante a semana, 2 a 3 horas
- estudas em casa e na escola?
o sim, mais na escola, porque passo lá mais tempo
- consideras-te envolvida nas actividades da escola
o sim
- costumas tocar violino fora da escola?
o não, só às vezes na missa, outras vezes, a minha mãe é educadora de infância e pede-me
para ir tocar para os meninos,
- e tu gostas de tocar nessas ocasiões
o gosto, acho piada, porque eles ficam muito admirados, a rir...
- e onde gostas mais de tocar violino em publico?
o depende, fiz o recital para concluir o curso e gostei muito mesmo
porque
porque senti-me bem, porque aquelas pessoas estavam a olhar para mim e senti-me bem,
senti-me no meu sítio, senti que pertencia ali
sentes-te bem na tua escola de musica
sim
o publico que estava era principalmente pais a, professores colegas...
sim, outros pais dos alunos....
sentiste-te a vontade
sim, senti porque estava segura, sabia que estava segura
o que tocaste?

116
concerto lá menor, de Bach, toquei a siciliana e Rigaudon de Kreisler e Cavatina de Raff
essa foi a vez mais memorável, especial?
foi
gostas em geral mais de tocar a solo ou em conjunto?
depende, para tocar a solo é preciso muito mais trabalho, exige muito mais preparação, até
porque nos não temos tantas oportunidades de tocar a solo como em orquestra, em
orquestra temos vários concertos ao longo do ano, é diferente
mas gostas mais de uma ou outra
é diferente. gosto dos dois
Porque é que aquele recital foi memorável?
eu a tocar, sentia-me bem, estava preparada
em que contextos sentes que a tua musica é mais apreciada?
o não sei.... por exemplo, quando tenho que tocar para pessoas que não estão tão dentro
do meio, é uma novidade, sinto que posso levar conhecimento às pessoas, coisas que elas
não conheciam e ficam a conhecer
ficam mais impressionadas
sim
achas que apreciam mais?
sim, porque para as pessoas que conhecem também pode ser muito bom, porque elas
podem-nos ajudar, dizer olha podes melhorar aqui, .... também é bom,
mas é uma percepção diferente
sim
e os teus pais apreciam a tua musica'
sim, no inicio eles até gostavam mais que eu
foi por causa deles que foste para a ARTAVE?
sim, eu não sabia para o que ia
e qual é a tua musica que gostas mais de ouvir
o concerto de Tchaikovsky para violino
onde ouves as tuas musicas preferidas?
na minha cama, à noite, ou de manha quando vou para a escola, na carinha, vou sempre a
ouvir musica
então é mais sozinha
sim
porque gostas tanto desse concerto?
gosto de ouvir e às vezes começo a pensar, se eu um dia o pudesse tocar...acho que
alimenta a paixão...
tem a ver com a dificuldade
é difícil e é tão bonito e soa tão bem...e às vezes a ouvir, nem parece difícil porque soa tão
bem, mas depois uma pessoa vai a ver....
o que achas tão bonito
uma harmonia tão envolvente, uma pessoa sente-se tão bem... calma, derretida
as vezes, mas é mais sozinha
já foste a algum concerto ao vivo que tenhas gostado especialmente?
fui ouvir a Midori na casa da musica
porque gostaste tanto
sempre a ver vídeos no Youtube com ela e vê-la ao vivo, ela toca tão bem, meu deus ("ídolo
de adolescência....?")
o que achas que define esse tocar, o que mais aprecias
a técnica, o som, uma pessoa sente-se bem quando ouve, às vezes quando uma pessoa
está a tocar mal uma pessoa nem se sente bem na cadeira, com ela a tocar uma pessoa fica
relaxada, fica na paz
costumas ouvir muita musica clássica
sim
mais para violino ou orquestra
depende, gosto das duas, como me sentir no momento, às vezes gosto de ouvir violino,
outras vezes já não posso ouvir violino, depende
que compositores gostas mais de ouvir?

117
não eu ache que me guio mais pelas obras gosto de concerto de Sibelius, mas gosto mais
do de Tchaikovski. por exemplo para orquestra gosto muito de ouvir as aberturas e das
sinfonias de Beethoven, as sinfonias de Mahler, gosto assim da musica do período
Romântico e Ultra-romântico, são mais envolventes e mais coiso... há muita emoção
tens algum intérprete preferido para alem da Midori
Oistrakh, Menuhin, Itzhak Perlman
e o repertório que gostas de ouvir
mais orquestra e para violino. não costumo ouvir musica clássica dos outros instrumentos...
podes falar de uma peça que tocaste que te marcou especialmente?
o Scherzo de Brahms
e porque gostaste tanto de a tocar?
nos temos um termo pujante, é preciso garra e eu antes não tinha assim tanta garra, era
assim mais na paz e com essa obra consegui libertar-me, deitei tudo cá para fora e gostei
muito de a tocar
como te sentiste a tocar
senti-me muito bem, senti que não estava a tocar para as outras pessoas, senti que estava
a tocar ... para o meu prazer... e correu muito bem...
existe alguma peça que não tenhas gostado tanto?
acho que não.... por exemplo quando eu não gostava, o meu professor também via
alguma peça que gostasses de tocar um dia?
tantas... concerto de Tchaikovsky, Tzigane de Ravel
o que gostas tanto na Tzigane
difícil, é uma musica que as pessoas não estão habituadas a ouvir, assim estranha... eu
gosto
que aspectos musicais gostas mais no Scherzo de Brahms
como assim?! faz-me sentir bem...é o conjunto é tudo
essa peça evoca-te alguma memoria especial?
não... só a parte do trio.... eu fui a uma masterclasse com o professor Michelin e ele disse
que essa era a canção do amor e então eu acho que essa parte talvez pode responder... eu
comecei a pensar nisso para interpretar a obra
em que situação tocaste o Scherzo
numa audição, numa prova e na masterclasse
já a conhecias antes?
já a tinha ouvido, alguns colegas já a tinham tocado
foste que a escolheste?
não, foi o meu professor, eu tinha intenções de a tocar, mas não era já....
e assim em geral, o que valorizas mais numa obra musical? o que gostas masi de ouvir
numa peça?
as obras contemporâneas são um bocado estranhas, porque estão sempre a criar tensão e
uma pessoa fica...assim quase sem respirar... também gosto de obras calmas....
mas gostas das contemporâneas...\
não muito, talvez porque nós também não as conhecemos muito bem...
mas o que valorizas o que gostas de ouvir
depende, por exemplo, se eu vir que é uma obra difícil para violino, pode ficar aquele
bichinho de um dia....mas não sei.... é complicado
o que tem o Scherzo e o Tchaikovsky que te faz gostar?
tem uma harmonia, que nos envolve, nós nessa altura não estamos em mais lado nenhum, é
só musica, musica...
em relação a Bach....
as Partitas são um bocado ...seca... os concertos são bonitos.... mas gosto mais do
Scherzo e Tchaikosky...
o que tem em comum
não sei... são muito românticos...
talvez seja por isso
não sei, talvez...
podes tocar um pouco para mim?
(Beethoven, Romanza)
obrigada. gostaste?

118
sim
podes falar um bocadinho do que tocaste
bonito, tranquilo
como te sentiste
nervosa, a peça não está pronta nem nada. uma pessoa vai-se libertando, começa a
apreciar o que está a fazer
alguma parte que gostes especialmente
sim... esta parte... também gosto do tema...
obrigada

Joana Machado

-Podes dizer-me o teu nome?


o Joana Machado
- E que idade tens?
o 17
- Em que anos é que estás?
o 12º
- Na ARTAVE
o Sim
- E que é o teu professor?
o O Professor Serguei
- E gostas de estudar com ele?
o Sim
- Há quantos anos és aluna dele?
o Não, comecei só este ano. A minha antiga professora saiu da ARTAVE, então tive de
mudar de professor.
- Quem era a tua professora?
o Ana Cristina Micos
- E porque começaste a estudar violino?
o ....
- Há quanto tempo é que estudas?
o Desde os seis
- Então se calhar não foi uma decisão tua, ou foi?
o Não, foi a minha madrinha que também é violinista que me pôs o violino nas mãos e eu fui
brincando com o instrumento, então, de repente, é isto que quero
- E foi com ela que começaste?
o sim. depois com 10 anos estive no CCM e depois entrei na ARTAVE. Antes estive na
escola onde a minha madrinha dava aulas.
- Foste tu que escolheste o instrumento?
o Sim, ela mostrou-me mais instrumentos, mas eu escolhi o violino
- E gostas de tocar violino?
o Sim
- E de estudar?
o Sim
- Onde costumas estudar violino?
o Na escola, estou lá todo o dia..
- E em casa?
o Aos fins de semana, quando calha....
- E quanto tempo?
o duas, três horas, quando calha, às vezes menos, nem sempre tenho tempo
- Consideras-te envolvida nas actividades da escola?
o sim
- Sentes-te bem na ARTAVE?
o sim
-gostas de tudo?
o de tudo não, por exemplo da organização da escola,... mas de resto gosto muito, tem
professores muito bons, dá um currículo muito bom a nível de masterclasses, concertos...

119
- e gostas de tocar em publico?
o não sei bem. nunca toquei em público
- Nas audições....
o Ah sim...depende. Se gosto do repertório, se estou bem preparada, mas gosto de tocar
em público
- Existem outros locais onde gostes de tocar em publico?
o só em casamentos
- E gostas?
o sim
- muito?
o é-me indiferente
- em que situações gostas mais de tocar?
o a solo e em orquestra
- houve alguma vez memorável onde tenhas gostado especialmente de tocar?
o num recital que eu fiz no nono ano, que é o recital de fim de curso. foi esse, o único que
eu fiz assim a sério, a solo
- o que tocaste?
o já não me lembro. sei que toquei a sonata, de Veracini, uma peça com aqueles nomes
meio russos...não sei e também toquei tempo de Minueto de Kreisler
- porque gostaste tanto de tocar nesse recital?
o em primeiro foi uma experiência completamente nova, nunca tinha feito nada disto. E
depois, foi uma coisa muito formal, estar assim muito bem vestida com tanta gente a assistir
foi uma coisa que me deu muito prazer tocar
- Gostas mais de tocar a solo ou em conjunto?
o a solo. também gosto de tocar em conjunto, mas é diferente
- em que sentido?
o em conjunto pode-se falhar em qualquer coisinha que ninguém vai notar a solo é muito
mais rigoroso. A solo tenho mais noção daquilo que estou a fazer. das minhas capacidades,
não sei explicar
- em que contextos sentes que a tua musica é mais apreciada? Quem mais te apoiou, quem
te elogiou naquele recital, por exemplo?
o Sem dúvida a minha professora. E os meus pais. na escola, dos professores em geral
ajudam quem precisa
- Que reacções notaste
o a reacção da minha professora foi de grande satisfação, gostou de ouvir, porque todo o
trabalho que ela fez comigo deu fruto. dos meus pais e pessoas que eu convidei, também
gostaram muito, embora não percebessem de música e isso, mas gostaram bastante do
que ouviram.
- tocas para ti ou para agradar às pessoas que te rodeiam?
o antes tocava muito para mim, agora estou a tentar agradar também às pessoas que me
estão a rodear. foi um conselho que me deram e acho que é bom ter a capacidade de auto
criticar-me. ouvir de fora
- em que contextos sentes que a tua musica é mais apreciada?
o em casa, a minha mãe sempre que me ouve a tocar diz que eu estou sempre a tocar
melhor do que eu estava a tocar, mas na escola também gostam de me ouvir tocar
- e onde costumas ouvir as tuas musicas preferidas
o em casa. quando estou sozinha
- que musicas costumas ouvir?
o depende do meu estado de espírito, quando estou mais em baixo oiço aquelas musicas
mais calminhas, quando estou mais alegre oiço aquelas musicas mais mexidas, depende
- e algum tipo de repertório especifico?
o para violino e orquestra
- alguma obra que gostes especialmente de ouvir?
o não sei. por exemplo um excerto do pássaro de fogo, mexe muito comigo, transmite muita
força. também gosto muito de ouvir o concerto de Tchaikovsky
- porquê?
o porque além de ser uma coisa muito virtuosa, muito difícil, que todos os violinistas
anseiam tocar, por assim dizer, tem melodias muito bonitas

120
- mais alguma?
o Nigun de Bloch. aquela melodia meia cigana é diferente. uma melodia muito profunda e
toca-me mesmo. a história que está por detrás disso é muito triste, dedicada, à mãe. é um
conjunto de 3 peças dedicadas à mãe que já tinha morrido, era uma pessoa muito
importante na vida dele e decidiu dedicar-lhe este conjunto de 3 peças. (ficou sensibilizada)
- podes falar-me de uma peça que tenhas tocado que te marcou especialmente?
o não sei. acho que nenhuma peça me deixou assim marcas grandes. estou a tocar o
concerto de Saint Saens. é um concerto muito difícil, que tem puxado pelo meu potencial.
também gosto muito de o ouvir.
- por algum em especial?
o quando oiço uma peça, oiço por vários
-há quanto tempo a estás a tocar?
o há 2, 3 meses
- já a tocaste em publico?
o só numa masterclasse
- e qual é a sensação de o tocar em público?
o supostamente por ser um concerto muito difícil, e por muito puxar por mim, por um lado
sinto-me nervosa, com medo de falhar, por outro lado sinto-me grande, não sei como posso
explicar isto. por causa do inicio, em forte, dá-me adrenalina
- que aspectos musicais mais aprecias nesse concerto
o dos temas, da energia dos temas e também da sensibilidade que depois há noutros temas
também, tanto está numa coisa muito forte, como a seguir já é uma coisa muito sensível,
mais triste. para mim, uma obra que seja muito monótona não me cativa muito, tem de ser
assim uma coisa que seja mais ou menos contrastante
- e essa peça evoca-te alguma coisa em especial
o não, não costumo relacionar musica com alguma coisa
- e estas a prepará-lo para...
o O recital do 12º
- já conhecias esse concerto antes de o tocar?
o sim por uma colega minha que andava lá na ARTAVE no 12º que também o tocou.
- gostaste do concerto?
o gostei muito
- e foi por tua própria iniciativa que começaste a ver ou foi alguém que te propôs
o muitos professores disseram " ai toca este concerto, vai ser muito bom, vai ajudar-te a
desenvolver as tuas capacidades" então eu juntei o útil ao agradável, gostava, e realmente
está a fazer-me desenvolver a minha capacidade violinística, então na altura pedi À minha
professora, ainda estava a estudar com ela, para ler, e ela "tudo bem, podes começar a ler"
e então comecei, depois houve uma altura em que não peguei nele, comecei a ver outras
coisas, então este ano é que voltei com ele
- tenta descrever os factores que mais valorizas numa obra musical
o a expressividade. E a técnica, eu não gosto daqueles violinistas que passam por cima das
passagens, embrulham. eu gosto de ouvir muito expressivo e tudo muito limpinho, o som
muito limpinho
- dá-me exemplos de duas peças com essas qualidades
o concerto de Tchaikovsky
- tocado por?
o não sei, vi uma no Youtube que gostei muito, mas tenho outra no telemóvel que já não
gosto tanto, não me soa a Tchaikovsky
- por causa do estilo?
o sim
-valorizas muito a interpretação?
o dar uma interpretação pessoal sem fugir do estilo do compositor
- costumas ir a concertos ao vivo?
o O último que eu fui na casa da musica foi a 3ª sinfonia de Beethoven.
- gostaste muito
o sim. para começar é o tema da minha PAP. e depois é uma sinfonia de tudo o que eu falei,
é uma sinfonia completamente revolucionária, revolucionou a musica do tempo em que ele
viveu. e gostei de ouvir e perceber umas coisinhas novas que ele lá põe lá, coisinhas muito

121
pequeninas e que fazem toda a diferença. Por exemplo, um tema que aprece nos primeiro
violino. logo a seguir, aparece num instrumente completamente, do género do fagote... é um
contraste brusco de repente, não sei
- podes tocar para mim um pouquinho?
o está muito fresco...
- alguma parte que tu gostes especialmente desta peça?
o do início. porque é um tema que é muito expressivo. não é assim triste.... triste...
melancólico.
-gostas de peças tristes...
o sim...por acaso gosto muito

Marcos Lourenço

- Diz-me o teu nome?


o Marcos André Cerqueira Lourenço
- que idade tens
o 19
- em que ano estás?
o 11º com o professor Sergei...
- na ARTAVE?
o sim
- com que idade começaste
o 13, 14...há 5, 6 anos
- porque começaste a estudar musica?
o porque já desde pequeno andava na música. eram os meus tempos livres. aos cinco
comecei a ter formação musical, aos seis tocar guitarra. mas tudo muito básico
- quando soubeste que era o viloino o teu instrumento?
o eu não soube. Na escola de Viana, como noutras escolas, há um dia em que fazemos as
provas escritas e noutro em que vamos experimentar os instrumentos com os professores,
e depois eles é que nos atribuem um instrumento, salvo raros caso, como os sopros, que já
tocam desde pequenos nas bandas, etc. ...calhou-me o violino... porque na altura queria
entrar para guitarra... mas não tem guitarra na escola profissional. na altura, não me
agradou, no início, não era um instrumento que eu conhecesse assim diariamente, mas
depois lá me fui habituando...
- e agora gostas?
o gosto
- onde costumas tocar?
o é basicamente na escola
- quantas horas costumas estudar em casa?
o depende, quando estudo na escola, estudo pouco em casa, também tem de haver o
tempo de descanso
- e aos fins de semana
o aos sábados de manha temos orquestra todo o dia, depois faço a minha viagem para
casa...
- quantas horas?
o umas 3, 4...
- consideras-te envolvido nas actividades da escola?
o sim.
- costumas participar em tudo
o costumo. frequentei a masterclasse com o professor Michelin
- gostaste muito
o sim, estou a pensar em fazer provas onde ele está
- que gostaste mais?
o tem muita cultura, sabe muito, é um professor que já pelo currículo dele teve grandes
professores, conhece todo o repertório, toca connosco, tem paciência, é brincalhão, é um
professor exigente. ele trabalha de tudo um pouco. na masterclasse põe-nos a tocar escalas
- gostas de tocar em público?
o tem de ser. é a nossa profissão

122
- em que contexto gostas mais de tocar?
o é o que tivermos. temos que nos contentar com o que há. gosto mais do público da
escola. claro que depois temos de levar com as nossas críticas
e gostas mais de tocar a solo ou em conjunto?
é diferente. muito diferente. gosto de tocar em conjunto, trabalhar com os outros,
conhecer.... musica de câmara principalmente, ... mas também gosto de tocar a solo
houve alguma vez memorável em que tenhas gostado especialmente de tocar?
o concerto que mais gostei foi em orquestra. de facto foi em orquestra, o concerto que
tocámos com os dois pianistas Bernardo Sassetti e Mário Laginha. Foi um concerto
espectacular
- O que tocaram?
o Tocámos duas obras deles, mesmo para eles improvisarem, mesmo em pleno concerto.
Foi um espectáculo. São os dois super divertido
-porque gostaste tanto?
o porque também sempre gostei de piano e gostei de que em pleno concerto eles não
fizeram nada daquilo que fizeram nos ensaios... andavam os dois a brincar um com o
outro... toca um toca outro, foi o concerto que até hoje ... também já ouvi concertos com
muito bons violinistas Ilia Grubert. O Grubert dá aulas no conservatório de Amesterdão é
muito bom, tem um excelente violinista. Apesar de ele já ter tocado centenas de vezes o
Tchaikovski, dentro da igreja o som que ele tinha, muita técnica,
esta tudo perfeitinho
estava tudo, até fazia confusão
só o violino dele, que era o violino de Wieniawski, com 300 e muitos anos, k um som
fenomenal
- professor Elliot
-Houve alguma vez que tenhas gostado assim muito de tocar a solo?
o gostei da audição final das masterclasses desta que passou
- o que tocaste?
o Sinfonia espanhola, 1º andamento de lalo
- o que sentiste nessa altura?
o primeiro senti um nervosismo incrível, quando entrei, mas depois, é o à-vontade, temos de
nos habituar, tocaremos tudo, até morrer, para o público
- porque gostaste tanto dessa vez?
o porque de certa forma, na escola, em todas as escolas, há aquele despique entre alunos.
há sempre, mesmo que seja por um bom motivo, é sempre bom, há aquelas coisas que uns
falam os outros falam...e gostei que na masterclasse o professor valorizou os verdadeiro
alunos. Nós éramos para tocar cinco alunos de cada professor, só tocamos dois do
Michelin, os outros foram postos fora, senti-me no meu dever de fazer um bom trabalho
- e achas que fizeste
o acho que fiz um bom trabalho
- como te sentiste depois de tocar em publico
o nervoso, porque nunca se sabe o que as outras pessoas vão dizer, um publico, muito
critico. quando é para professores, para um prova, estou mais à vontade. Apesar de estar a
defender ou a criar uma nota. Porque quando o publico sai da sala, é gente que pode
criticar sem perceber as dificuldades que é tocar um instrumento.
- que reacções notas nas pessoas à tua volta?
o depende. Há pessoas que falam... por falar.... muitas vezes corre mal e vêm na mesma dar
os parabéns e eu prefiro que me digam o que pensam verdadeiramente, para melhorar
- quem gosta mais de te ouvir?
o posso ter muitas pessoas que gostam de me ouvir mas eu acho sempre que tenho os
meus defeitos.
- e os teus pais e professores apoiam o teu trabalho?
o sim
- em que contexto sentes que a tua musica é mais apreciada?
o na escola
- onde costumas ouvir as tuas musicas preferidas?
o no meu telemóvel, que anda sempre comigo
- e é mais sozinho?

123
o sim, eu também moro sozinho
- e quais são as tuas músicas preferidas?
o ai, tantas! primeiro, o concerto para violino, de Tchaikovsky, oiço muita coisa de
Wieniawski, Paganini, Mozart, tudo um pouco, musica clássica é o que não pára no meu
telemóvel... também para orquestra
- tens intérpretes preferidos?
o Heifetz, Hilary Hahn, Anne-Sophie Mutter, Itzhak Perlman
- tens algum repertório preferido?
o repertório romântico, é mais expressivo. mas também gosto de outros períodos.
- costumas ir a concertos?
o quando tenho tempo.... o nosso professor tocou com orquestra a Tzigane, eu também
estava a tocar
- podes falar-me de uma peça que tenhas tocado que tenhas gostado
o a sinfonia espanhola
- porque?
o foi uma obra muito complicada de tocar.
- tocaste-a toda?
o toquei o primeiro andamento e já tinha tocado o quarto. tive muitas dificuldades no
primeiro andamento.
- foi porque sentiste que ultrapassaste as dificuldades
o Sim. porque quando peguei naquilo sentia que tinha cada vez mais dificuldades. Na
masterclasse, trabalhei mil maneiras de tocar. Ultrapassei as dificuldades que tinha. Muitas
coisas da sinfonia espanhola consegui por nos dedos. eu pensei que não ia conseguir tocar
aquilo.
- E em termos musicais, o que apreciaste naquela obra?
o aquilo de musical tem e não tem, pouco tempo uma pessoa tem para musicalidade no
meio daquelas semicolcheias todas.... mas mesmo assim tem boas partes de solista para
vibrar
- gostas do virtuosismo
o (acena)
- tenta descrever a sensação de a tocar
o faltam-me as palavras. Foi uma sensação estranha estar a tocar em publico e ao mesmo
tempo estar a pensar que há umas semanas atrás aquelas coisas não saiam.
- foi um triunfo. o meu professor também me ajudou muito
o sim
- evoca-te alguma memória especial.
o tantas que já toquei que memorias assim especiais não.
- existe alguma peça que não tenhas gostado de tocar?
o O meu professor tenta mudar quando nós não gostamos do repertório. muito gente não
gosta de tocar Mozart, mas o Mozart faz muito bem aos dedos, para por os dedos a mexer.
Eu não sou muito esquisito com o repertório. se não gosto muito, às vezes tenho tocar.... eu
até aqui pouco Mozart tinha tocado, era daqueles compositores a quem não tinha prestado
tanta atenção como Wieniawski, que é mais romântico, lá está, o meu estilo de gostar de
compositores românticos mais do que compositores do classicismo. Mas agora já estou a
começar a engatar no Mozart
- porque começaste a gostar mais?
o Agora que o estou a tocar, estou a ver as coisas de uma maneira diferente. Também faz
muito bem tecnicamente, faz falta
- e para além da técnica, que vês de forma diferente para começares a gostar de Mozart?
o das melodias que ele tem. tem concertos lindíssimos. outros compositores também têm,
mas há pormenores nos compositores que os distinguem uns dos outros.
- algum pormenor que gostes especialmente no concerto?
o não é uma coisa que seja muito técnica, mas é uma coisa bonita de se tocar
- o que mais aprecias numa obra musical?
o principalmente a expressão, como o músico toca, as dinâmicas, e depois também a
técnica que ajuda a uma pessoa brilhar mais... ou menos
- interessa-te a forma como a obra é transmitida
o sim

124
- já conhecias a sinfonia espanhola?
o sim
- foste tu que escolheste tocá-la?
o foi o meu professor que me deu a ideia. eu já tinha tocado o 4º andamento. ele tinha-me
falado... vai vendo o primeiro, mas quando pegava no andamento perdia a vontade de
tocar... era muito difícil.
- alguma obra que gostasses de tocar?
o neste momento encontrei uma peça que gostava de tocar um dia....as variações na corda
sol de Paganini. só que é um sonho... não é fácil
- o que gostas tanto nessa peça?
o melodia, virtuosismo e expressividade da corda sol
- diz-me, é possível tocares um bocadinho para mim?
o ...já estou cansado... (tocou)
- gostaste?
o mais ou menos. há coisas a melhorar. gostava de melhorar o fraseado e alguma técnica
na mão direita. tenho uma obra agora que é o meu objectivo. Chaconne de Vitali. é
lindíssima. é a peça que mais gosto. a obra em si é fantástica. tecnicamente tem as suas
variações, o tema. a melodia é lindíssima, muito expressiva.
- onde a conheceste?
o no Youtube. perguntei ao meu professor o que ele achava... agora já me deu as partituras,
para o meu recital do ano que vem.

Silvina Dias

- como te chamas?
o Chamo-me Silvina
- quantos anos tens
o tenho 15
- em que ano estás
o estou no 10º ano, que equivale ao 6º grau
- há quanto tempo tocas violino
o desde o meu 7º ano
- há 3 anos?
o sim
- estás na ARTAVE?
o sim
- quantas aulas tens de instrumento por semana?
o 3 de 45 minutos
- e porque decidiste estudar música?
o tudo começou porque o meu pai tinha o sonho de aprender música. quando eu entrei para
a escola, não foi por obrigação, foi mais por dar prazer ao meu pai e no nono ano deram-me
a escolha de continuar a estudar música ou seguir outra área e durante aqueles 3 anos eu
comecei a gostar mais daquilo que estava a fazer e então continuei.
- e o que te levou à escolha do instrumento?
o bem, quando fiz as provas, tinha boa nota a clarinete e violino, no CCM já tinha aulas de
piano e na ARTAVE não se podia tocar piano e tive de fazer uma escolha, disseram-me para
eu ir para violino e então foi quase como uma obrigação.
- gostas de tocar violino?
o sim
- e de estudar também?
o sim
- porquê?
o porque é uma forma não é de distrair-me, mas é uma forma de mostrar como eu sou
também por dentro
- onde costumas estudar?
o em casa, no meu quarto, na escola, e nos auditórios, quando possível?
- quanto tempo costumas estudar por dia?
o 3 blocos de 45 minutos, mais uma hora em casa, por vezes

125
- consideras-te envolvida nas actividades da escola?
o sim. eu participo nas masterclasses organizadas pela escola.
- gostaste?
o mais ou menos. acho que não tirei o rendimento máximo do masterclasse. ele toca muito
bem e eu gosto muito da forma como toca, mas penso que não foi o ano que me mostrei
mais. se eu tivesse mostrado as peças deste módulo talvez ele me pudesse ajudar mais
achas que ele trouxe muito de novo
pois
gostas de tocar em público
não. já tive uma má experiência, ouvi coisas que não gostei de ouvir. a minha família não me
apoiou e a primeira vez que toquei para eles e eles disseram, só tocas isso?
...e houve alguma vez que tenhas gostado de tocar em público?
no meu recital do 9º ano gostei. primeiro porque as coisas estavam relativamente bem
preparadas. e principalmente na última peça, que é de Tchaikovski, que é um dos meus
compositores favoritos, que estava relaxada, quase a acabar o recital, vai ser agora que eu
vou mostrar, gostei de tocar, aí, mas foi só no momento daquela peça, porque no outro
estava cheia de medo, mesmo
o que sentiste quando estavas a gostar?
- senti-me livre, mesmo, como se eu estivesse noutra pessoa, noutro mundo. quando estou
sem tocar, a falar, sinto vazio. quando começo a tocar, e sei que aquela coisa está bem,
sinto que aquele espaço está a ser preenchido, sinto-me completa
o gostas mais de tocar a solo ou em conjunto?
- depende. do repertório, das pessoas. mas gosto. de tocar a solo, mas também em
conjunto.
quem mais aprecia a tua música?
o meu pai. até chorou no meu recital, de tanto sentir aquilo.
onde ouves as tuas musicas preferidas.
no meu quarto ou na minha sala
que musicas gostas mais de ouvir
todas. mas principalmente erudita. período Clássico ou Romântico, principalmente
Romântico.
porque
é Romântico, diferente. por exemplo, já não gosto tanto do barroco. é mais impressionista,
expressivo, mais sentimental, mesmo.
já foste a concertos ao vivo?
alguns. vou ao coliseu do porto.
um que tenhas gostado muito
foi o ano passado, o ano passado, uma violinista. gostei muito
costumas ouvir musica mais quando estás sozinha ou acompanhada?
quando estou sozinha
quais são os teus intérpretes preferidos de violino?
sei lá... não tenho...
podes falar-me de uma peça que tenhas tocado que te marcou especialmente
pode ser a que eu toquei no recital. canção de Outono de Tchaikovsky primeiro é um dos
compositores favoritos, depois a peça é muito bonita, depois foi aquele momento.... foi
especial
então foi a experiência de a tocar bem que te fez gostar
sim
e o que consideras bonito, na peça
por era uma canção de Outono.... quando estava a tocar, principalmente quando estava
ouvir outras pessoas a tocar, a forma como elas tocavam... as folhas de Outono a cair,
depois a chuva, já quase a morrer, sei lá, a forma como uma pessoa encara a peça é que é
especial.
conseguias imaginar
as folhas a cair têm aquele gesto mais ao morrer, mais ao de leve, foi por isso que eu gostei,
é mesmo sentimental
conseguias sentir as folhas
como se eu estivesse dentro delas, como se eu fosse mesmo uma folha a cair

126
e existe alguma peça que não tenhas gostado tanto?
não. normalmente, todo o repertório que eu gosto ou que eu peço ao meu professor. e
quando não gosto de uma peça, eu digo ao meu professor para trocar, porque quando
estou a tocá-la não sinto nada, como se eu não estivesse a fazê-la... então o meu professor
troca de peça
isso aconteceu alguma vez?
sim. eu disse ao meu professor para trocar e ele trocou.
porque não gostaste da peça?
quando a estava a tocar era como se eu não estivesse a sentir nada. era o vazio que não era
preenchido. enquanto que na canção de Outono não, sentia-me bem, eu a faze-lo. talvez
por estar a sentir a música, da forma como eu a sinto, dou-lhe um carácter especial. ...na
outra peça não
existe alguma que gostasses de tocar um dia?
...não
que aspectos musicais gostas mais de ouvir naquela peça de Tchaikovsky?
que aspectos musicais aprecias mais na peça?
não é uma peça muito complicada, é uma peça bastante simples, mas é a forma como eu a
sinto que a torna especial, que parece que é outra peça que estou a tocar
não tem a ver com uma harmonia especial, uma frase, é o conjunto...
lá está
faz-te lembrar alguma memória especial?
como uma canção de Outono, quando tocava, fazia-me lembrar a tarde de Outono, quando
chegava da escola e saía do autocarro, e tinha que passar, tinha que andar ainda um
bocadinho para chegar a casa, e às vezes a cair quando era de Outono... e adorava essa
sensação
quando estás a tocar estás a lembrar-te dessa viagem que fazias, dessa sensação que
tinhas quando ias casa?
sim principalmente quando oiço outras pessoas a tocar... quando sou eu a tocar é como se
eu estivesse a tocar naquele preciso momento e... só... tudo em mim gira... é como se só eu
que estivesse a tocar e não me interessasse os outros
o que mais valorizas numa obra musical? O que gostas mais de ouvir numa peça?
como a pessoa que está a tocar se expressa. porque se for uma peça e que a pessoa está
muito rígida e a tocar e estiver chateada com alguém, a peça não vai sair como se estivesse
alegre, bem disposto. é também a forma do estado de espírito da pessoa....
não é tanto pela peça, é mais pelo estado de espírito da pessoa....
sim...
podes tocar um bocadinho para mim (meditação de Massenet)
adoro esta música
por acaso fui eu que pedi ao meu professor porque lá está... sentimentos...
achas que dominas esta peça? o que gostavas de melhorar?
se tivesse o piano....sei lá ...
parabéns, gostei muito de te ouvir. Obrigada

Masterclasse Conservatório Regional de Coimbra

Ariana Saro

- Como te chamas?
o Ariana
- Quantos anos tens?
o 13
- Qual o grau que estás a frequentar?
o 3º
- E há quantos anos estudas violino?
o 6 anos
- porque começaste a estudar música?

127
o Gostava, ouvia muita música, estava indecisa entre violino e violoncelo, se fosse agora
escolhia violoncelo. mas fui eu que escolhi violino
porque escolheste o violino?
pelo tamanho, pelo som mais agudo, ouvia mais violino do que violoncelo
e quando soubeste que era esse o teu instrumento?
aos cinco, quando os professores do conservatório disseram que tinha muito jeito
e gostas de tocar violino?
sim
e de estudar?
mais ou menos.... quando as coisas me agradam, gosto mais, mas quando não consigo
fazer tudo à primeira começo a flipar...
e onde costumas estudar?
no meu quarto, na sala, com a minha mãe a ajudar...
e tocar?
no conservatório, em audições ou concertos fora. convocam-nos, a mim e a mais uns
colegas que tocam melhor. modéstia à parte as todos os professores dizem que eu toco
bem, ok, tudo bem, ou convocam-nos, ou o professor inscreve-nos para tocar
quantas vezes tocaste nesse tipo de concertos fora da escola?
5. cá em Coimbra, Castelo de Paiva, ...
com que regularidade costumas estudar?
eu costumo estudar ao sábado, domingo, 2ª e 3ª. 3 ou 4 vezes por semana. 45 min., uma
hora.
consideras-te envolvida pelas actividades organizadas pela escola?
sim. esta masterclasse. e houve outra actividade que eu não pude frequentar.
sentes-te bem na tua escola de música?
sim. tem bons professores, bom clima
já tinhas frequentado uma masterclasse antes?
não, é a primeira.
estás a gostar?
é bom, porque o professor é simpático, dá-nos sempre elogios e corrige, o professor de
orquestra também é muito simpático
gostas de tocar em público?
fico muito muito nervosa, mas gosto. ainda faltam mais de três horas, e eu já estou
completamente nervosa
e em que contexto gostas mais de tocar em publico?
quando os professores me inscrevem ou dizem que eu toco bem, dizem que eu tenho
performance, os meus pais, os meus colegas...
em que situações gostas mais de tocar?
gosto mais de tocar fora do conservatório, às vezes corre melhor fora, gosto mais de tocar
fora porque tem mais audiência, no CAE, nas audições gerais
e noutro tipo de situações?
em casa, às vezes vão lá uns amigos jantar... apesar de eu não gostar muito de tocar à
frente dos meus pais, gosto mais de não os ver, tipo ervinhas ali assim, é mais
reconfortante, não gosto muito de tocar assim com eles a olharem para mim
houve alguma vez que tenhas gostado muito de tocar?
no CAE, correu-me muito bem mesmo. não me enganei em nenhuma nota, recebi muitos
aplausos...
tiveste um grande reconhecimento porque fizeste um bom trabalho
sim...
gostas mais de tocar a solo ou em conjunto?
gosto mais de tocar a solo. não é por as atenções virem todas para mim, mas gosto mais de
ter mais ajuda das outras pessoas, em conjunto a ajuda vai para toda a gente, mesmo que
eu me engane numa nota ou duas os outros podem não se enganar não há problema
porque não se ouve a minha, quando eu toco sozinho, se eu me enganar já fica tudo
perdido
e em termos de repertório?
gosto de coisas rápidas, e que não sejam muito calmas, muito piano, é mais fortes
mais a solo, para tocar sozinha?

128
sim
e como te sentes depois de tocar em público?
sinto-me desenvolvida, sinto-me bem, muito bem mesmo. Até posso não receber muitos
aplausos, mas já toquei, está feito, correu bem, correu bem, fica para a próxima
e quais são as reacções das pessoas à tua volta?
felicitam-me sempre. desejam-me os parabéns que continue a fazer isto, aquilo, o professor
diz-me não faças isto assim, não faças isto assado,...
e quem mais aprecia a tua música?
os meus pais e o meu irmão. nas audições ficam mais nervosos que eu
e apoiam-te bastante?
sempre
em que contexto sentes que a tua música é mais apreciada?
em casa, apesar de eu não gostar muito de tocar, ouvem-me melhor, a sala é mais
pequena, não é como no CAE, em que a sala é muito grande, as pessoas lá atrás não me
ouvem tão bem.
que tipo de comentários é que tens dos teus pais tens quando estão a apreciar?
muito bem, não faças isto, olha que te enganaste aqui, ou ali...
tens um feedback constante...
sim...
onde costumas ouvir as tuas músicas preferidas?
no quarto, na rádio.
e quais são as tuas músicas preferidas?
musicas inglesas, também de portuguesas, mas mais das inglesas....
rock pop...?
sim
alguma em especial?
a música chama-se Baby, Just You Giver... é um rapaz de 15 anos... é muito recente
foste tu que descobriste?
sim, na net....
então ouves mais música sozinha...
sim...também no carro... quando vou numa viagem.... cd ou rádio
e que músicas costumas ouvir?
rock pop, músicas mais conhecidas que a minha mãe e o meu pai, que todos gostam
e quem é que costuma ouvir musica contigo?
as minhas amigas, a minha mãe, mais a minha mãe, porque viajo mais com ela....
em que situações ouves com os teus amigos?
festas de anos, quando vão lá a minha casa...
e com os teus pais. em que situações costumas ouvir musica clássica?
é mais rock, mas de vez em quando também ouvimos musica clássica no carro...
e com que regularidade ouves cds com violino?
não sei, uma vez por semana...
e já assiste a concertos ao vivo
já. não muitas vezes mas não foi muito interessante. foi na quinta das lágrimas era musica
assim mais da idade média, não tinha tanto interesse.
não gostaste muito?
não. saímos no intervalo, não dava para ouvir, porque era muito antigo e não era muito o
nosso estilo, o meu e do meu irmão... o meu pai gostou, mas tivemos de sair, o meu irmão
já se estava a queixar.
já foste a outros que tenhas gostado?
que eu agora me lembre não, mas devo ter ido....
mas nada que te tenha marcado especialmente....
não...
e quem são os teus intérpretes preferidos, de violino?
o meu professor, a minha professora antiga, uma professora de substituição de quando uma
professora estava grávida, o meu avô, que era violinista.... a minha mão disse-me que ele
tocava muito bem
que repertório gosto mais de ouvir?

129
coisas rápidas, que não sejam muito lentas, que não sejam sempre a engonhar, assim mais
para frente... com muitas páginas.... que demorem muito tempo....
gostas de sinfonias ou preferes mais para instrumento solista?
gosto das duas. se for rápida e bonita para orquestra, mas se forem pecinhas mais
pequeninas, prefiro a solo...
podes falar-me de uma peça que tenhas tocado que tenhas gostado?
4 variações de Dancla, no período passado, gostei muito.
porque gostaste tanto?
porque tinha várias variações um coisa rápida, uma variação mais lenta, um final. também
gostaram muito de me ouvir. gostei dos contrastes, notas agudas, muito cá em cima, ser
rápido-lento.
e tiveste resultado apreciado no final
sim. já tinha ouvido a minha professora tocar e gostei muito. era muito difícil, mas gostei.
também foi muito apreciada pelos meus pais e pelo meu professor na audição
e se pudesses caracterizar a música, o gostaste mais na música em si foi o contraste?
sem dúvida
e houve alguma peça que não tenhas gostado assim de tocar?
....não me lembro... talvez mais para trás, no 1º grau
e fala-me de outra que tenhas gostado de tocar
esta que vou tocar agora. o 3º andamento Vivaldi, porque é rápido, tem passagens
agudas... o primeiro também, mas só tem duas páginas..... este tem 3...
disseste-me que gostavas do violoncelo, mas as passagens que gostas mais no violino são
as passagens agudas... porquê?
porque é giro... são coisas mais difíceis... se eu estiver a tocar violino sem esforço não vale
a pena... chego lá.. "está bom!" ..pronto...
e existe alguma peça que gostasses de tocar um dia?
sim. as quatro qualquer coisa de Paccini. o professor já me tocou, e é muito bonito
mesmo... não ouvi com piano... o professor disse que o acompanhamento de piano é muito
difícil...mas gostei.
e porquê?
pelas mesmas razões, porque era rápido e porque o professor fez muitos contrastes entre o
piano e o forte...
ok. eu vou gravar a tua audição... podes avaliar a tua performance daquilo que tocaste para
este professor?
não gostei muito. porque estava muito devagar. eu estou habituada a tocar mais depressa e
ele pediu-me para tocar mais devagar e fazer mais contrastes entre o piano e o forte, eu
faço, só que ele dava mesmo muito contraste, e depois era mais devagar e eu enganava-me
várias vezes por ser tão lento...
e não gostaste por causa disso?
pois. eu estudo devagar e rápido. aqui toquei como se estivesse a estudar e quando eu toco
devagar engano-me mais.
o que gostarias de melhorar ou aperfeiçoar?
as descidas de notas seguidas, eu não tenho muita flexibilidade nos dedos...
tenta descrever a sensação de tocar esta peça....
sinto-me sempre muito nervosa... mas é bom porque a peça é bonita e o piano também
ajuda muito, se eu me enganar o pianista improvisa para eu apanhar logo a seguir...
essa peça evoca-te alguma memória em particular?
não...
faz-te lembrar alguma coisa?
faz-me lembrar tragédia... e no fim... alegria. como se fosse assim uma história... que cai
num poço e depois vão lá ajudá-lo. uma história, de tragédia e no fim fica alegre. toda a
gente ri e brinca. o 2º é mais triste, é mais tragédia mesmo. alguém morre... eu estou a
inventar um bocado... mas é mais ou menos isso.
e nas variações de Dancla, evoca-te alguma memória?
essa é várias porque tem várias variações e diferentes. lembro-me da minha família nas
partes mais alegres, das pessoas da minha família que já morreram, nas pessoas mais
tristes...
obrigada, desejo-te uma excelente audição...

130
Cristina Lopes

- podes dizer-me o teu nome?


o Cristina Bapista Lopes
- e a tua idade?
o 26 anos
- qual o grau que frequentas?
o O 4º
- com a professora vera, não é?
o sim
- e há quantos anos tocas?
o há quatro
- e porque começaste a estudar música?
o porque os outros cursos não me interessavam. só me interessava mais ou menos por
arqueologia, mas depois comprei um instrumento e não sabia tocar, tinha investido num
instrumento e gostava de aprender e comecei a aprender
- tu tencionas mesmo fazer o curso superior de música
o sim
- quanto tempo costumas estudar por dia?
o se tiver tempo, 4 horas, por vezes 1hora, se não tiver tempo não estudo. eu gostava de
aprender os instrumentos todos, também gostava de tocar saxofone, mas era o dobro do
preço. o violino era o instrumento musical mais acessível o piano, o saxofone e o clarinete
eram muito mais caros
- onde costumas tocar violino?
o em casa, já toquei na rua e eu gosto muito de tocar no circo. dia 24 de Abril, vamos tocar
vários números e num deles vou tocar violino
- e que vais tocar?
o uma daquelas sinfonias de Mozart (entoa a sinf.ª nº 40), o hino da alegria... - depois as
outras não sei, o que eu tenho para aí... também gostava de tocar o aquela de Vivaldi
(concerto em lá m)
- costumas estudar aqui na escola e em casa...?
o sim...
- consideras-te envolvida nas actividades organizadas pela escola?
o sim... esta masterclasse e as audições
- e gostas
o sim
- sentes-te bem aqui na escola de música?
o sim
- em que situações costumas tocar em público?
o quando me convidam.... na altura em que não tinha trabalho também tocava na rua...
sempre me deram um euro, dois euros... pessoas que não percebiam nada de música e
achavam piada... ah, também há uma assistente social que me convida para ir lá tocar ao
centro
- consegues comparar a experiência?
o aqui sinto que estou a ser avaliada, ali não. eu preciso das duas coisas, aqui de ser
avaliada, ali de tocar mais à vontade
- alguma vez que tenhas tido uma vez memorável?
o só ao contrário. porque eu já fumei tabaco e tremia muito. agora deixei de fumar e aquela
excitação mexia muito comigo. as pessoas que fumam tremem. esta última audição foi a
melhor de todas. conseguia controlar o nervosismo.
- há alguma vez que te tenha dado prazer a tocar?
o sei lá...olha, ontem, no ensaio lá do circo... porque eles estavam todos a dançar e eu a
tocar... porque não lhes interessava se eu desafinava...
- e aqui?
o sei lá... eu gosto é de tocar....
- gostas mais de tocar sozinha ou em conjunto?
o sozinha, mas sinto-me à vontade mais confiante em grupo. mas não é sozinha sozinha,
também gosto com outros instrumentos

131
- que reacções notas nas pessoas à tua volta?
o não reparo muito nelas
- sentes-te especial quando tocas
o mais ou menos... não muito... queria tocar melhor. toco porque quero evoluir e já ouvi
pessoas que tocam, e gostava de tocar como elas. o público... às vezes respira... claro que
eu gostava de chegar ali e ter uma ovação.... e tudo de pé, toca outra vez, não pares de
tocar... mas...vou tocar para casa... o meu gato gosta de me ouvir tocar, toco para ele...
- tens algum fã?
o é o meu gato... também ninguém me ouve, só aqui...
- qual e a tua música preferida?
o jazz e música clássica... e na rádio, na tv, na antena 2
- e é mais acompanhada ou sozinha?
o sozinha.... se estiver acompanhada aproveito mais a companhia da pessoa ... música
clássica sou quase mais eu que gosto
- costumas ouvir cds....
o só tenho um cd de violino, mas ouço mais na antena 2, de vez em quando tenho que levar
com as óperas, que eu não gosto tanto.... mas também passam muito violino...
- e já foste a concertos ao vivo?
o já fui à Zambujeira... arte à parte... já vos fui ouvir a vocês à orquestra clássica do
centro....
- gostaste?
o gostei...
- tens assim algum tipo de repertório que gostes especialmente?
o gosto dos clássicos, mesmo clássicos gosto do Mozart... mas conheço pouco, penso que
se conhecesse tudo ia gostar de quase tudo... Beethoven também é muito querido.... tem
umas músicas queridas...não achas?
- sim... alguma coisa de Mozart ou Beethoven que gostes mais
o acho que conheço pouco para dizer aquilo que gosto mesmo... tinha que conhecer a obra
mais vasta para dizer aquilo que eu gosto...e eu até posso descobrir que nem gosto, mas...
os outros até posso gostar mas não conheço
- dos que conheces...
o Paganini tem uns ritmos engraçados, mas são muito difíceis...
- daquela sinfonia de Mozart... gostas...
o gosto... está um bocado banalizada... o problema é que as coisas acabam por ficar
banalizadas, ao início são muito especiais, mas depois é sempre... só se ouve aquilo...
- tens algum intérprete preferido
o a única pessoa que eu ouvi a tocar é o Vladimir... oiço aqueles bocadinhos e dá logo para
ver...também gosto muito da professora vera... é muito certinha, mas ele é mais liberal.... e
também achava muita piada ao professor Jacinto, tocava com muita paixão, ele entregava-
se muito
- já assististe a algum concerto?
o ouvi viola d'arco solo... ele tocou músicas conhecidas, tipo hino de Coimbra... não fiquei
muito impressionada... sempre que é instrumentos clássicos crio muita expectativa depois
se não é bem tocada... de resto também não fui muito a concertos...
- podes falar-me de uma peça que tenhas tocado que te marcou especialmente?
o acho que nenhuma me marcou especialmente.. olha esta que estou a tocar... Concertino
de Kuchler...
- tens prazer a tocar essa peça?
o tenho algum... porque as outras que eu tocava eram muito básicas, mas eu também não
era capaz de tocar melhor do que aquilo....
- o que gostas nesta peça?
o O gosto das passagens mais rápidas...(canta...) e dos agudos... eu não costumo gostar
muita das notas longas, mas estas até são giras... eu adorava saber tocar aquelas músicas
dos circos...
- o que consideras músicas de circos?
o Cirque de Soleil, com aqueles ritmos.. porque o violino é um instrumento muito triste e
dramático que faz chorar muito então eu procuro tocar coisas mais alegres
- também fazes outras coisas no circo?

132
o sim... trapézio, acrobacias e malabares comecei agora também como o violino com 26...
eu gostava de tocar numa orquestra mas também gostava muito de tocar num circo...
- é curioso e fora do comum
o eu gosto muito desse tipo de coisas... eu quando vou ao supermercado, prefiro sempre os
produtos com menos exemplares... gosto de originalidade
- há alguma peça que não tenhas gostado tanto?
o não, gostei de todas... as músicas que eu não gosto não me põem a tocar aqui... pimbas,
fado, ópera... em geral a voz não me atrai muito. violino gosto sempre, até quando as
pessoas estão a tocar mal porque estão a aprender. também gosto muito de violoncelo,
mas é muito caro... também gostava de tocar contrabaixo, mas só com o arco,
normalmente toca-se com o dedo e fica bastante reduzido... e depois só se vê isso, não
percebo porquê...
- existe alguma peça que gostasses de tocar um dia?
o várias... não sei, não consigo dizer qual. o meu problema é que conheço muitas músicas,
não tenho um contacto diário com a música para dizer é aquela... por exemplo, Paganini,
não sei se gosto, é um problema muito grande quando tu queres dizer uma coisa e não
conheces, tens só uma ideia muito vaga, é muito complicado...
- que características te chamam mais a atenção neste concerto que tocaste?
o talvez a linha melódica(canta), como ela se transforma (canta)... e depois gosto muito da
parte final (canta)
- gostas do encadeamento dos momentos, dos contrastes..
o sim
- e o que sentes quando o estás a tocar?
o sei lá... quando o estou a tocar, sinto que o público até gosta, mas do outro lado, quem
sabe onde as notas realmente estão, é sempre por milímetros que falho as notas.... eu falho
sempre...
- que sentiste quando tocaste?
o falhei muito, comecei mal, quando começas tens de começar bem, na hora de tocar
estava desconcentrada, mas depois lá me consegui desenrascar.... andei perdida, e depois
nunca te encontras... só se estiveres muito à vontade a tocar aquela música é que nunca
mais queres sair dali...
- o que gostas mais de estudar nesta peça
o fazer os tempos certos..... depois quando está tudo certo... as minhas preocupações são
as notas, a afinação, mas agora já posso pensar mais nas dinâmicas... expressividade ainda
não sei muito bem o que é isso... também gosto de brincar e improvisar quando estou a
estudar.... e às vezes gosto de trocar aquela bolinha branca pelas colcheias
- essa peça evoca-te alguma memória especial?
o faz-me lembrar a Alice no País das Maravilhas, imagino alguém a saltar de vestido (canta).
no início não, se calhar faz-me lembrar um palco fechado... uma coisa mais fechada que se
transforma numa dança qualquer mas fechada... e no fim é que se liberta...
- e tu imaginas tudo isso quando tocas?
o sim, normalmente é, mas é uma coisa muito vaga, não vejo imagens nem nada disso... no
inicio é assim uma coisa preta fechada um palco, eu também sou um bocado bicho de
palco, eu gosto muito de teatro... já fiz teatro mas agora estou mais afastada, estou mais no
circo e na música....
- essa coisa que imaginas da Alice das maravilhas, um palco....podes descrever-me essa
sensação vaga mais pormenorizadamente
o porque a música é muito rasgada (canta)... mas é uma sensação muito vaga... alguém a
dançar fechado num espaço interior e alguém a dançar num espaço exterior
- então tu imaginas esta peça como uma dança...?
o no início não, mas depois transforma-se numa dança... como eu gosto muito de teatro
estou sempre a encenar e todas as músicas contam uma história, eu fantasio muito, estou
sempre a imaginar histórias na minha cabeça... nunca contei isto a ninguém, estás a sacar-
me os segredos!...
- é bom imaginarmos para termos uma sensação daquilo que queremos transmitir...
que mais gostas de ouvir numa obra musical? que mais valorizas?
o a originalidade e essa mudança ritmos diferentes na mesma peça, estados de alma
diferentes, contrastes, lento/rápido, forte/piano, assim vais mudando o teu estado, ...

133
- gostas que a música te faça viajar...
o gosto. eu não gosto muito de exibicionismo... gosto muito da modéstia... o professor
Jacinto até dava umas ao lado mas a paixão estava tão lá... que a coisa ficava sempre
bem...
- já tocaste de forma apaixonada?
o eu ainda não tenho conhecimento para isso...eu ainda não sei que tipo de violinista é que
eu sou, o bébé ainda está a nascer, não se sabe se vai ficar loiro ou moreno...
- se tivesses três palavras para descrever aquilo que mais aprecias numa obra musical...
o originalidade, diversidade e contrastes...cor...a forma como a originalidade e diversidade
se combinam...não sei como explicar... gosto muito de ser surpreendida... pela positiva,
claro... tem que contar uma história... uma narração, de repente a coisa e depois a coisa
muda e torna-se interessante....
- podes tocar um bocadinho para mim?
o posso, vou tocar é mal, mas tudo bem...
- (tocou)

Eduarda Rodrigues Costa

- Diz-me o teu nome


o Eduarda Rodrigues Costa
- Qual a tua idade?
14
- Qual o teu grau?
o 4º grau.
- Fizeste iniciação?
o não
- então há quantos anos tocas violino?
o há quatro
- porque começaste a estudar música?
o eu não comecei a estudar música mesmo no 5º ano, eu comecei antes com uma
professora de música que havia lá no Paião, comecei por tocar flauta de bisel, depois fui
para o piano e ainda estou no piano lá no conservatório.... era mesmo a vontade de
aprender e descobrir coisas novas
- quando soubeste que querias estudar música
o acho que foi mais por curiosidade, no 3º ano...
- e foste tu que quiseste?
o sim... primeiro fui para um grupo no Paião, da banda filarmónica e quando entrei para o 5º
ano entrei para o conservatório
- e o que te levou à escolha d instrumento?
o O que eu queria inicialmente era o violino mas a professora só ensinava piano...
- porque gostavas tanto do violino?
o porque eu gostava do som e porque as pessoas diziam que era muito difícil. via tocar,
gostava de ver e tinha uma inclinação para aquilo...
- tu gostas de tocar violino
sim
muito?
sim
e de estudar?
sim
porque?
alivia um bocadinho, é bom para ficar mais relaxada... e gosto de estudar
onde costumas tocar violino?
no conservatório, em casa e naquelas festas lá na escola
e onde costumas estudar?
em casa
com que regularidade?
tento estudar uma hora todos os dias, mas nem sempre dá
consideras-te envolvida nas actividades da escola?

134
sim. no Paião foi na festa de natal e agora foi esta masterclasse
sentes-te bem na tua escola de música?
sim. o ambiente é agradável, as pessoas são simpáticas, os professores também fazemos
amigos...
gostas de tocar em público?
gosto. só toquei uma vez a solo mas gostei e gosto muito de tocar em orquestra
em que contexto gostas mais de tocar em público a solo?
nas festas, na altura em essa minha professora tinha formado um grupo também tocava, e
nas audições... eu gosto mais de tocar nas audições no casino e no CAE. é por causa da
sala, há mais pessoas.. é diferente
houve alguma vez memorável em que tenhas gostado especialmente de tocar?
... não... foi no CAE, no ano passado, em orquestra nós tocámos as danças húngaras, nº 5 e
nº 6 nessa audição estávamos todos empenhados para que as pessoas gostassem.
como te sentes de pois de tocar em público?
aliviada... se correu bem, sinto-me bem... e feliz
e que reacções vês nas pessoas?
normalmente elas gostam
por quem sentes que o teu trabalho é apreciado?
pelos meus pais, pelos amigos, pelos professores
de alguma forma sentes que os outros gostam mais de ti quando tocas?
não... tocar é uma coisa e a minha personalidade é outra, continuo a ser a mesma pessoa a
tocar
e sentes que te valorizas a ti própria um pouco mais por tocar?
sim porque sinto que consegui
tens uma certa satisfação pessoal....
...sim
e qual é a tua música preferida?
eu não tenho assim nenhuma musica preferida, gosto de ouvir vários estilos de musica, não
me fico só por um
onde costumas ouvir as tuas musicas preferidas?
em casa, no computador, mp3, na rádio
e ouves mais quando estás sozinha ou acompanhada?
acompanhada, com os pais ou amigos
e o que ouvem?
com os amigos, mais pop rock, com os pais oiço mais clássica, porque eles gostam e eu
também, ouvimos música para orquestra, violino e piano
já foste a algum concerto ao vivo?
não
e tens algum compositor preferido dessa musica clássica para violino?
Vivaldi, das quatro estações, dos concertos
porque?
gosto muito do barroco e gosto da maneira como ele escreve as coisas é giro
então também gostas de Bach, Corelli
...sim...
gostas do estilo em si...
também gosto de clássico, romântico é que ...algumas músicas tornam-se demasiado
enfáticas e aborrecidas... às vezes exageram um bocado
e quais são os teus intérpretes preferidos?
no piano gosto do Richard Clayderman, no violino André Rieu....
e qual o repertório que gostas mais de ouvir...?
barroco...
porquê?
é uma música mais leve, mais brincalhona... essencialmente mais leve. gosto do contraste
entre as partes, dinâmicas
podes falar-me de uma peça que tenhas tocado que te tenha marcado especialmente?
o concerto de Vivaldi em lá menor
porque gostaste tanto?

135
primeiro porque as pessoas diziam-me que era muito difícil e eu consegui e gosto da
música, especialmente o 3º andamento
porquê?
acho que a peça para violino e piano está harmoniosa...há uma parte da música que eu
gosto muito, que é a parte mais rápida, mais enérgica...
tiveste prazer a tocar essa peça?
sim
tenta descrever a sensação de tocar essa peça na audição
eu estava um bocado nervosa, mas já ia a meio e os nervos já tinham passado e senti
estava a gostar daquilo que estava a fazer....
que sentiste?
prazer
e deram-te os parabéns?
sim
que aspectos musicais mais aprecias numa obra..?
...mmmm...
já me referiste o andamento rápido, a leveza, os contrastes, interacção com piano, estilo...
sim...
essa obra faz-te lembrar alguma recordação em especial?
não me faz lembrar assim nada....
e já conhecias a música antes?
não
o que gostas de ouvir numa peça?
gosto de perceber que a pessoa que está a tocar está a sentir aquilo que está a tocar e se
está ali por estar ou se está ali porque trabalhou para isso e
se está empenhada naquilo que está a fazer
achas que aquilo se ouve?
sim. é completamente diferente uma pessoa estar a tocar aquilo e querer despachar ou
estar a tocar estar a sentir aquilo
podes tocar um bocadinho para mim?
(tocou)
como te sentiste a tocar a peça
ainda não está muito bem...
o que gostarias de melhorar?
a dinâmica, afinação e arco...
e depois de conseguires isso?
gostaria de transmitir algo ao público
podes enumerar 3 aspectos que aprecias nas peças?
a dinâmica, se elas não são repetitivas, que eu não gosta das repetitivas... (estrutura
ABACADA?) não gosto muito dos 2os andamentos, lentos, gosto de coisas enérgicas,
energia

Francisca Freitas

Como te chamas?
Francisca Freitas
Quantos anos tens?
11
em que grau estás?

no conservatório da Figueira
hum hum
e há quantos anos tocas?
há dois
entraste directamente para o 1º grau?
hum hum... porque eu já tocava antes clarinete numa banda. Eu toco clarinete numa banda
e violino no conservatório
porque começaste a estudar música?

136
eu era muito pequenina quando comecei a tocar clarinete, tinha seis anos. eu ia sempre ver
a banda e gostava de ouvir e gostava de lá estar também a tocar ...e quis ir... pedi à minha
avó... andava no 1º ano... mas tinha de saber ler normal para poder entrar e aprender a ler
música...
porque escolheste o clarinete e o violino?
eu queria transversal, mas não havia vagas e eles escolheram o clarinete para mim
e o violino
eu queria flauta transversal, mas depois vi o violino e preferi o violino. também vi na
televisão e gostava de ver e de ouvir
gostas de tocar?
sim
e de estudar
também gosta, mas não assim muito muito muito... gosto mais de estar a fazer uma coisa
assim mais mexida... violino ainda gosto de estudar agora os outros...
em casa?
sim, no meu quarto, depois vou à cozinha mostrar
e porque gostas de estudar
quero ver as capacidades que eu tenho sem estar mesmo o professor a ver
quanto tempo costumas estudar?
antes era uma hora por cada dia da semana mas agora é mais dia sim dia não
consideras-te envolvida nas actividades da escola?
sim. participei na audição da primavera e nas outras audições e também nesta masterclasse
já tinhas feito alguma masterclasse antes?
não. é uma experiência nova.
o que gostaste nesta masterclasse
conheci outros conservatórios...
gostas da tua escola?
sim.
gostas de tocar em público?
gosto mas fico muito nervosa
em que contexto costumas tocar?
nas audições, em casa, nos anos... às vezes escrevo músicas...agora na igreja sou eu que
faço as minhas músicas... eu tenho uns primos... eu e o mais velho temos uma banda... eu
já tive de escrever três músicas... eu canto e toco e ele toca guitarra...
em que contexto gostas mais de tocar em público?
em casa. sinto-me mais à vontade, já conheço as pessoas
houve algum momento memorável em que tenhas gostado especialmente de tocar em
público?
não. gostei de todos.
e gostas mais de tocar a solo ou em conjunto?
em conjunto. Se eu me enganar os outros estão lá para me socorrer.
e gostas mais em orquestra na banda ou mais naquele grupo que tu tens
gosto mais da orquestra mas também gosto muito da banda... a banda ainda não está
muito bem treinada... ele também não sabe tocar muito bem guitarra e eu tenho que
escrever para ele... eu também gostava de tocar guitarra mas preferi mesmo o violino
como te sentes depois de tocar em público?
se toquei mal sinto-me péssima e se corre bem fico feliz feliz feliz
que reacções notas nas pessoas à tua volta?
ficam espantadas e se eu me enganar ficam meias.... vêm ter comigo e dizem correu bem
correu , mas se eu noto que alguma coisa correu mal podem dizer isso mil vezes que eu não
quero acreditar
quem aprecia a tua musica?
os meus amigos, a minha irmã... os meus pais
em que contexto é que sentes que a tua música é mais apreciada?
nas audições
e qual a tua música preferida

137
até agora foi esta que eu estou a tocar... o 3º andamento (do concerto de Rieding) também
gosto muito daquela que a ariana está a tocar... mas eu não posso olhar para aquilo que eu
assusto-me com tantas notas rápidas
mesmo comparando com outras músicas que tu ouves
sim. eu também gosto muito de outras músicas inglesas que eu tenho no telemóvel...oiço
aquilo tudo
e ouves mais música sozinha ou acompanhada
acompanhada
e com quem?
com os meus primos, a minha irmã também... e também na escola com os meus colegas,
estamos assim a ouvir uma música para ver se é fixe... nos phones ou em voz alta
já foste a concertos ao vivo?
não
e gostas de ouvir música clássica
não é assim uma coisa que eu aprecie muito mas também não é uma coisa que eu desgosto
e para violino?
o ...às vezes quando passa no rádio do carro....
- então também não sabes quem são os teus intérpretes preferidos...
o não
- tens o teu professor...
o sim. gosto muito de ouvir o meu professor a tocar, o Vladimir, o professor Quijada, gosto
de a ouvir a si e também gosto de ouvir a Eduarda e a Ariana
- quais são as músicas que mais gostas de ouvir, para violino?
o são assim mexidas...
- rápidas
o sim
- alegres
o sim
- podes falar de uma peça que tenhas tocado que te marcou especialmente?
o acho que foi este concerto de Rieding
- porque
o porque é mexida, é mais uma musica que eu gosto
- o que sentes a tocar esta música?
o sinto uma diversão. para mim cada musica conta uma historia e a historia que a musica
que eu agora estou a tocar é uma historia boa, imaginativa.... é tipo estão dois meninos a
brincar e um mete-se com outro... é conforme os tons da musica...
- imaginas isso quando tocas?
o sim
- mais alguma coisa...?
o não... até na banda quando eu estou a ouvir umas musicas das orquestras há lá uma
musica em que parece que um adulto está a falar com uma criança e a criança está a
responder com uma voz mais fininha....
- existe alguma peça que não gostaste tanto?
o não
- e uma que gostasses de tocar? ... aquela do Vivaldi?
o sim
- qual é a sensação de tocares esta peça do Rieding...?
o senti que estava a prestar atenção e que estavam a gostar daquilo que estava a tocar...
- estavas descontraída?
o muito descontraída não... mas estava à vontade
- que aspectos musicais aprecias mais nessa obra?
o é logo o início e uma parte que é a 3ª pagina. porque é levezinha e mais rítmica... da
expressão da 1ª parte ...alegria
- já conhecias a peça antes de a começar a tocar?
o não
- o que valorizas mais numa obra musical?
o tudo desde que se começa a tocar até que se acaba. há sempre uma parte mais mexida
que é a que eu gosto mais

138
- a peça evoca-te alguma memória especial quando a tocas?
o não
- obrigada

Libânia Alves

- Como te chamas?
o Libânia
- Que idade tens?
o 12
- Em que grau estás?
o No 3º
- E há quantos anos tocas?
o Há 2 porque saltei do 1º para o 3º
- E porque começaste a estudar musica
o Porque é uma coisa que eu gosto desde os meus 6 anos
- Como conheceste o violino?
o Ia a concertos que havia aqui em Coimbra e gostei do instrumento violino
- Mas disseste-me que já andavas na musica antes...
o Sim, já andava desde o 2º ano no Virgilio a aprender a tocar flauta... as notas...
- Gostas de tocar violino
o Sim
- E estudar também
o Sim.. é uma forma de aprender também...
- Onde costumas tocar e estudar nas aulas de violino?
o Em casa, no meu quarto e nas aulas de violino
- E com que regularidade costumas estudar violino?
o Aos fins de semanas... às vezes às quartas. costumo estudar por volta de duas horas
- Consideras-te envolvida nas actividades organizadas pela escola?
o Sim
- Sentes-te bem nesta escola?
o Sim
- Gostas de tocar em público?
o Sim... às vezes fico um bocado nervosa mas depois quando começo a tocar e começo a
ver as pessoas empenhadas em ver-me tocar perco os nervos
- Em que situações gostas de tocar?
o Em audições para mostrar como sei tocar violino e as minhas capacidades
- Também tocas para a família?
o Sim. digo que tenho uma musica para tocar e os meus pais sentam-se no sofá e ficam a
ouvir
- Houve alguma vez memorável em que gostaste especialmente de tocar?
o Foi numa audição. acho que as pessoas que estavam a assistir gostaram muito de me
ouvir porque até se levantaram no final para bater. senti que tinha tocado bem e as pessoas
tinham gostado mesmo. foi no 1º grau
- Gostas mais de tocar a solo ou em conjunto?
o Gosto das duas. quando estou sozinha estou a sentir a musica e quando estou em grupo
acho que é harmonia entre vários instrumentos.
- E o que chamas sentir a musica?
o Parece que as notas dançam à minha volta. e uma sensação boa sinto-me leve é como se
estivesse a voar no céu.
- Isso acontece com qualquer musica?
o Depende é com uma musica que eu gosto mais e sinto que estou a tocar bem
- Mais em casa ou nas audições
o Mais nas audições
- E como te sentes depois de tocar em publico?
o Bem
- Que reacções notas nas pessoas à tua volta?
o Acho que gostaram

139
- Quem aprecia mais a tua musica
o Os meus pais. porque sinto que foi uma coisa que os meus pais não tiveram a
possibilidade nos tempos deles
- Ouves mais musica acompanhada ou sozinha
o As duas. eu praticamente oiço sempre musica.
- Com quem costumas ouvir?
o Com quem estiver ao meu lado. pode ser pais amigos, professores
- O que costumas ouvir?
o Não é tão clássica... é mais pesada... tipo Metallica
- Gostas muito de ouvir isso
o Não tanto é só quando posso estar irritada ou chateada porque é assim que me estou a
sentir naquele preciso momento, mas também gosto de ouvir musica clássica quando me
estou a sentir bem, leve...
- Então e de musica clássica o que gostas de ouvir?
o Mozart, Beethoven... são aquelas mais conhecidas e também aquelas que eu aprecio mais
- Tens cds lá em casa
o Sim
- Orquestra ou violino
o Tenho cds e meto assim um de cada vez
- De violino, o que costumas ouvir?
o Não sei muito bem, são pessoas conhecidas
- Já foste a concertos aqui? (pavilhão do centro de Portugal - OCC)
o Sim
- Gostaste?
o Sim
- O que gostas mais de ouvir
o Gosto quando eles estão todos juntos a tocar porque acho que estão a sentir a música e
também gosto daqueles que estão a tocar a solo que têm muito jeito e que mostram que
sentem a música e sentem harmonia. há alguns que quando estão a tocar viola parece que
dançam com a viola, parece que a viola é a sua namorada... e também a viola dedilhada...
- Gostas de concertos de guitarra
o Sim... também é um instrumento que eu gostava de aprender
- Podes falar-me de uma peça que tenhas tocado que te tenha marcado especialmente?
o O concertino. gostei porque foi uma experiência nova que me marcou. senti que os meus
parentes gostaram muito da musica
- Porque?
o Era bonita... acho que também era um bocado diferente das outras
- Houve alguma que não tenhas gostado?
o Houve uma que fui acompanhada por piano e não correu lá muito bem. Também havia
umas certas partes que eram um bocado mais difíceis e como havia certas pautas que
tinham partes iguais eu perdi-me...não me estava a sentir confortável
existe alguma peça que gostasses de tocar um dia?
...especificamente não sei...
tenta descrever a sensação que tiveste a tocar a peça que gostaste naquela audição
senti-me confortável, segura, que estava a sentir a música, que estava em harmonia com o
pianista, que não troquei o ritmo e que correu bem
e que aspectos musicais é que gostas mais nessa obra...? o que ouves nela para gostar
tanto?
...mmmm... é mais som...
não consegues enumerar características.... dinâmicas, melodias...
é mais as melodias....
três aspectos que gostes muito
gosto quando a melodia é continua... primeiro tem umas primeiras notas e a segunda dá
continuidade à primeira parte, também gosto daquelas que variam entre as partes... a
primeira parte é de uma maneira, mas a segunda já é de outra... e de outra em que os
primeiros são iguais à primeira parte mas os segundos já começam a mudar
esta peça evoca-te alguma memória especial?
...não...

140
podes tocar um bocadinho para mim...?
sim (toca)
é um concerto muito bonito, não é?
sim
indica-me algum pedacinho de musica que tu adores
aqui no inicio é uma parte mais calma, depois, no ultimo compasso da 3ª pauta acho que o
ritmo muda, fica mais rápido... depois é mais calma e depois rápida ...depois tem uma parte
com ligaduras que também é mais calma, parecida com o inicio, que me faz sentir como
uma pena. na outra parte mais calma é como estar a flutuar na água... e a parte mais rápida
é como uma tempestade
e pensas isso quando estás a tocar ou quando não estás a tocar?
é mais quando estou a tocar

Sofia Carvalho

como te chamas?
Sofia Carvalho
quantos anos tens?
12
e em que grau estás?

e há quantos anos tocas?
há 3
e porque começaste a estudar musica?
porque gostava. gostava de ouvir musica, gosto de cantar e queria saber mais do que aquilo
que sei. o meu irmão entrou e os meus pais também queriam que eu entrasse.
foi em que situação, entraste para uma escola...?
na escola onde eu ando tinha lá uma actividade de musica e eu entrei.
quando soubeste que era esse o teu instrumento?
eu tive uma influencia da ariana, porque nos já nos dávamos muito bem e eu gostava muito
da ouvir tocar. quando fiz os testes estava indecisa entre o violino, a flauta e o piano mas
decididamente foi o violino que eu escolhi. também gostava mesmo do violino. achei mais
giro e impressionante. som, a maneira como as pessoas tocam e transmite alegria
gostas de tocar violino?
sim
e de estudar?
depende das músicas que estou a estudar
onde costumas estudar violino
na escola e em casa, no escritório ou no meu quarto
com que regularidade costumas estudar violino
normalmente tenho 3 aulas por semana...à 3ª duas de classe de conjunto, 5ª tenho sozinha
e 4ª tenho a par, 2ª não porque tenho treinos, costumo estudar à 6ª, sábado e domingo
quanto tempo?
uma hora

consideras-te envolvida com as actividades organizadas pela escola?


sim. normalmente temos fins de semanas em ficamos os fins de semana todos a tocar e
concertos em que só quando não me pedem para ir é que não vou
gostas?
sim. eu fico a tremer quando vamos entrar mas depois até é giro
gostaste desta masterclasse?
sim. acabou por ser divertido
sentes-te bem na tua escola, o colégio de são Teotónio?
sim
gostas de tocar em publico?
depende. não gosto de tocar para os meus amigos porque eles começam a gozar. mas
gosto de tocar para a minha família e para pessoas que não conheço, nas audições
porque gostas de tocar a tua família?

141
porque eles acham impressionante a forma como eu toco?
e no caso das audições?
porque gosto que as pessoas oiçam o trabalho que eu tive durante o período, para mostrar
aquilo que fiz
e houve alguma vez memorável em que gostaste especialmente de tocar....?
...não... se me perguntasse isso daqui a algum tempo, já lhe poderia responder a essa
pergunta porque eu e uma amiga minha fomos as únicas escolhidas para tocar na semana
cultural da escola. vamos representar a classe dos violinos.
gostas mais de tocar a solo ou em conjunto
não sei acho que gosto das duas maneiras. acho que as musicas são mais giras a solo, mas
em conjunto gosto de tocar com as outras pessoas
como te sentes depois de tocar em publico?
depende, se a peça me correu bem, sinto-me bem, senão fico um bocado triste
que reacções notas nas pessoas à tua volta?
quanto é na minha família elas ficam contentes, ficam contentes por ter um membro na
família a fazer uma coisa diferente do que eles fazem, pelo menos é o que me parece a mim.
quanto toca ao público, acho que eles gostam de me ouvir
quem é que tu sentes que apreciam mais aquilo que tu fazes?
os meus avós... e os meus tios...
eles vão às audições...ou é mais em casa...?
eu às vezes quando vou almoçar a casa deles levo o violino
tocas nalgum grupo fora da escola
os meus pais têm umas equipas e fazem muitas missas e eu e o meu irmão costumamos
tocar
gostas de tocar?
sim. é giro. mas eu não gosto de tocar no meio de muita gente. eu meto-me lá para o meio
da casa, ponho-me atrás de uma parede e toco
mas gostas na mesma?
sim, gosto. mas foi só uma vez...
qual é a tua musica preferida?
não tenho. muda muitas vezes
onde ouves musica normalmente
no quarto, no carro e na escola
e costumas ouvir mais sozinha ou acompanhada
sozinha. no quarto tenho sempre o rádio ligado
que tipo de musica escolhes para ouvir?
é a que passa na rádio. depende , é a que der melhor. ou então oiço músicos portugueses;
Carlos Paião, José Cid e Amália.
e quando estás acompanhada?
normalmente isso é mais nas festas, oiço as musicas actuais que agora que se ouvem mais,
as pops e rocks
então raramente ouves musica clássica?
é raro. só estou a estudar alguma peça e o professor de violino me pede para fazer esse
tipo de trabalho. às vezes vou à aldeia tocar violino mas não é muito frequente
já foste a algum concerto ao vivo?
sim. fui ver uma orquestra com os meus pais uma vez a Lisboa
gostaste?
sim.
porquê?
fez-me sentir que um dia se trabalhar posso chegar àquele patamar do violino
e gostaste?
eu gostava muito mesmo!
é uma experiência muito boa!
eu tenho orquestra lá na escola, mas é muito pequena... só temos os sopros... e as
cordas...mais nada...
que tipo de repertório costumas ouvir...?...não costumas ouvir.. é mais rádio...
sim
e podes falar-me de uma peça que te tenha marcado especialmente?

142
não sei sinceramente, também não toquei assim muitas peças... o andante de
Brahms....Haydn?...não tenho a certeza
porque gostaste dessa peça
porque foi uma que eu estudei mais e foi a primeira daquelas a sério, sem ser a da estrelinha
e hino da alegria...
porque consideras isso música e as outras não?
porque a estrelinha é mais de criancinhas e o hino da alegria acho que foi mais no inicio e o
andante senti que já podia começar a tocar bem
quando foi isso?
no final do primeiro grau
porque gostaste dela
não sei. para além de considerar que era musica a sério, era bonita.. era gira e era mexida...
eu não gosto de musicas lentas porque se são musicas lentas sai tudo desafinado
portanto...eu não gosto de musicas lentas
e se estivessem afinadas, já gostavas mais?
não sei... também não gostava muito
gostas mais de musicas rápidas, é isso?
sim
e o que estás a tocar agora?
as variações da escala de lá maior
pensava que estavas a tocar uma peça...
....estive o período todo a tocar duetos...
gostaste?
foi uma experiência nova, foi giro.
e gostas mais de tocar os duetos ou a solo?
os duetos
e porque gostaste?
foi uma experiência nova e.. foi engraçado e foi uma coisa que nunca me tinha passado pela
cabeça fazer
e na musica, porque gostaste dessa musica?
eram musicas mexidas e não era só eu a tocar...
tinhas uma interacção...
...sim
diz-me uma que não gostaste assim tanto de tocar
a que toquei para vir para cá... as variações da escala da lá maior... eu disse ao 'stor mas
ele só me deu isto na 5ª feira! eu gosto mais das peças...
alguma peça que gostasses de tocar um dia?
o concerto que a Francisca tocou (Rieding, op.34, 3º andamento) eu já tirei fotocópia disso e
vou começar a estudá-lo e depois vou perguntar ao 'stor se posso apresentar no final do
ano!
porque gostas dessa peça?
eu nunca toquei concertos mas achei a música muito gira e o professor Pedro também ma
recomendou, disse que facilitava melhor as minhas posições e ia aprender mais jeito...
tenta descrever a sensação... entre o Haydn e os duetos... talvez o Haydn, tenta descrever a
sensação de tocar essa peça....
foi uma coisa nova, fiquei alegre e contagiei um bocado o violino com a musica
deixaste-te envolver?
sim
nos duetos também?
sim
estavas tensa, relaxada, a ouvir-te?
a ouvir
que aspectos musicais gostaste mais no Haydn?
como assim...?
daquilo que está escrito... das qualidades da musica...
gostei de tudo. achei que a peça era muito bonita
porque?
não sei

143
e essa peça evoca alguma memoria especial
não. para alem de ser a 1ª peça que eu toquei mais a sério
em que situação foi tocada?
nas audições do final do ano
correu bem
sim
consegues nomear os factores que mais valorizas numa obra musical?
ser rápida, não ser triste, alegre e ser uma coisa que se eu ouvir ficar espantada, por ser
bonita
que te cause algum espanto
sim
mas não sabes exactamente definir o que te causa esse espanto
não
por exemplo naquela orquestra, gostaste muito
sim foi pelas musicas que eles tocara, acho que eram bonitas. senti que... um bocado
espantada porque aquilo deve ter dado demorado trabalho... e no final tudo correu bem...
podes tocar um bocado para mim?
sim... (tocou)

Ana Luísa Carvalho

como te chamas
Ana Luísa Carvalho
estás no...
8º grau do conservatório e no 1º da ESMAE
e há quantos anos tocas violino?
desde os 4... mas fazia cinco nesse ano... há 13 anos
e onde foi que tu estudaste?
comecei no conservatório regional de gaia com o professor Augusto Trindade e depois fui
com 7 anos para o conservatório de música do Porto com a professora Susana Lipton
tens tido sempre 45 minutos de aula por semana?
sim.... a minha professora tem sido sempre muito regular e quando não pode dar um aula
repõe sempre. até ao 7º grau era sempre uma aula de uma hora e a partir do 8º temos tido
duas horas por semana seguidas
tens musica de câmara, orquestra...
fiz musica de câmara com um rapaz de piano, tive orquestra... também toco piano, faço
musica de câmara às vezes com piano
porque começaste a estudar musica?
foi por vontade própria. o meu pai está ligado à musica já e a minha irmã mais velha
também, toca oboé. eu sempre vi o violino como o instrumento da minha vida... tinha um
violoncelo em casa mas na altura não sabia nem ligava àquilo e sempre que via um violino
na televisão dizia quero tocar isto, quando for grande quero ser violinista... foi mesmo por
vontade própria
e o teu pai, o que toca?
ele não tem o curso superior de musica, mas estudou violoncelo e canto no conservatório e
também toca acordeão, piano, porque ele é professor de educação musical e então dedica-
se a aprender instrumentos e gosta
como conheceste e escolheste o violino?
via na televisão e ia a muitos concertos da minha irmã, que é oboísta e olhava para o
instrumento e gostava, achava bonito a maneira como eles tocam e o som do instrumento
ela é muito mais velha que tu?
temos 10 anos de diferença.
ela fez o 8º grau em oboé moderno e depois fez a licenciatura em educação musical, via
ensino, e já acabou o curso de esmague de oboé barroco e está agora a terminar o
mestrado em musica antiga.
e gostas de tocar violino?
claro
e de estudar também?

144
sim
e onde costumas estudar violino?
estudo normalmente em casa, no meu cantinho de casa... tenho o meu próprio quarto de
estudo onde toco violino, piano... e estudo
com que regularidade costumas estudar?
sou sincera, até ao meu 5º grau, eu raramente estudava, ia para as aulas tocava e pronto,
mas a partir do 5º grau o grau de exigência começou a subir... nunca tive um horário regular
para estudar... mas ..duas horas por dia... tentava estudar todos os dias... agora já não
tenha tanto tempo mas tento tocar um bocadinho todos os dias
que actividades é que a tua escola organiza?
neste momento na ESMAE fazem-se várias audições para os alunos se ouvirem uns aos
outros, temos também 3 estágios de orquestra, vêm maestros de fora e fazemos programa
bastante exigente... eu não estou a fazer muita musica de câmara, mas tem muita musica de
câmara e convidam professores de fora para dar masterclasses. no conservatório também
há varias audições e também fazem um estágio de orquestra, oj.com um estágio orquestra
de jovens dos conservatórios oficiais de musica... já vou a esse estágio desde 2004 e já
temos ido a vários sítios...
sentes-te bem na ESMAE?
sim
com quem estudas
com a Marta Eufrásia
e gostas de tocar em público?
quando era mais pequenina tocava à vontade e nunca ficava nervosa, ia para o palco na
desportiva, a rir-me. quando comecei a ficar mais velha comecei a ficar mais nervosa mas
enfrento sempre o publico de uma maneira.... tento não ficar muito nervosa e quando fico
nervosa tento acalmar-me. a minha professora sempre me disse que eu sou uma pessoa
muito calma, mesmo quando vou para palco. nunca houve assim um nervosismo que me
tivesse feito ter uma branca nas notas... nunca aconteceu...
em que situação gostas mais de tocar em publico?
eu não gosto muito de tocar para pessoas que eu conheço, porque deixa-me mais nervosa,
porque sempre tive a noção tenho a obrigação de as orgulhar e de elas gostarem do que eu
estou a fazer. quando são pessoas que eu não conheço, toco bem, tento não ficar muito
nervosa também. em relação aos sítios onde tocar, sempre toquei em igrejas com
orquestra. quando toco a solo é mais em auditórios. a solo nunca toquei em igreja a solo,
mas gosto mais de tocar em auditórios do que igrejas... também pelo público, mais
conhecedor
houve alguma vez memorável em que tenhas gostado especialmente de tocar?
houve uma vez nos açores com o estágio da oj.com e na madeira. foi um estágio muito bom
com o Rui Macena em que tocamos no auditório do centro de congressos e foi muito
especial porque ao mesmo tempo que está a dirigir o maestro brinca connosco e ri-se e faz
aquelas coisas dele... e foi muito bom. agora a solo, ou com piano, já toquei em vários
sítios. talvez o que me marcou mais foi no concurso capela, que toquei no teatro são Carlos
em Lisboa. nós não tocamos mesmo na sala do teatro, foi numa sala à parte, mas estudei
no teatro e aquilo é lindíssimo, dá prazer tocar lá, mesmo
porque gostaste tanto?
não tanto pela forma que eu toquei, foi mais pelo espaço. aquele teatro é muito bonito. faz-
me lembrar a opera de paris, a antiga, em ponto pequeno
diz-me uma vez em que tenha sido especial por teres gostado daquilo que tocaste
já me correram muito bem audições no conservatório novo daqui do porto, no auditório
grande. foi uma audição em que eu toquei uma sonata de frige, correu-me bastante bem e
senti que o publico também gostou e os meus colegas estavam na parte de trás do palco.
quando eu acabei de tocar foi aquela sensação das pessoas baterem palmas e eu fiquei sff
ok, está feito.. correu-me mesmo bem... sei lá as palmas das pessoas fazem-me sempre
sentir sempre muito bem
e durante o tempo que estavas a tocar o que pensaste?
eu não penso...
o que tentaste explorar no teu trabalho de preparação pessoal, para além do que tua
professora te disse?

145
tentei ouvir muitas gravações, porque eu não conhecia muito bem a sonata quando a
comecei a tocar... é uma sonata muito forte, tentei tirar um bom som do violino, tentei
explorar o violino... sei lá.... também procurei o carácter da peça... é uma sonata bastante
forte (canta)... tentei procurar uma história que fizesse dar mais sentido àquela música,
talvez...
alguma história em especial?
acho que não...
mas que características procuraste, para atingir esse som
foi mais procurar, não agressividade, mas... força... porque é uma sonata bastante bonita e
ao mesmo tempo é muito forte, com bastante intensidade, não sei... a história não é
específica...
mas o que imaginaste?
...talvez uma história daquele deus do Olimpo... o deus da trovoada que eu nem sei o nome,
talvez isso
lembravas-te disso quando estavas a tocar?
...quando estava a tocar nem tanto... porque quando eu estou a tocar nem penso, toco e
pronto... mas na parte do estudo tentei encontrar alguma coisa que me fizesse perceber a
música e me fizesse perceber como é que eu tinha que tocar essa peça
isso foi a tua professora que te sugeriu?
não... fui eu própria que tentei fazer. Porque a minha professora sempre disse que eu sou
muito calma e muito tímida e que às vezes preciso de alguma coisa que me faça acordar e
eu tentei procurar essa coisa que me fizesse despertar porque aquela peça exigia isso, não
podia estar a tocar simplesmente tinha mesmo que procurar isso
em que contextos sentes que a tua música é mais apreciada?
não sei, sinceramente....acho que em audições e concursos as pessoas estão ali para me
avaliar... e nem tanto para me ouvir, podem dizer se gostam, como correu, podem dar as
ideias, mas, principalmente em concursos, as pessoas estão ali para me avaliar... nos
concertos... faço mais concertos com orquestra do que concertos a solo... não faço ainda
concertos a solo, mas... quando toco em orquestra, as pessoas não estão ali a avaliar a
minha música, não estão a apreciar a minha música, mas estão a apreciar o conjunto todo e
acho que isso é bastante agradável, sentir que as pessoas interagem com a orquestra e
gostam de estar ali a ouvir... acho que quem vai ouvir um concerto é para apreciar
e gostas mais de tocar a solo ou em conjunto?
gosto bastante de tocar em conjunto, gosto muito de tocar em quarteto, com piano
também, claro, e em orquestra também, é completamente diferente estar a tocar numa
orquestra e estar a tocar com piano, só, por exemplo, estar a tocar uma sonata com piano e
violino, tudo bem, é muito bonito, mas orquestra é aquela coisa mais....
envolvente...
pois
e quem mais te apoia a ouvir-te?
os meus pais sempre me apoiaram muito, a minha irmã também, e principalmente os meus
amigos, que gostam de estar lá a ouvir... e muitas pessoas que não percebem nada de
música mas... gostam de ouvir e de apreciar
e onde costumas ouvir as tuas músicas preferidas?
em todo o lado, não tenho assim nenhum sítio especial
e é mais sozinha ou acompanhada?
sozinha...
e o que é que costumas ouvir?
eu oiço de tudo... sinceramente agora tenho ouvido sonatas para violino e piano, por
exemplo as sonatas de Brahms, as sonatas de Frige, também gosto muito de ouvir musica
barroca, tocada por instrumentistas barrocos e com instrumentos barrocos... é isso
então ouves essencialmente musica clássica...
sim
tens alguns intérpretes preferidos?
depende das peças, mas por exemplo para sonatas de Beethoven gosto bastante da Anne
Sophie Mutter, da Sara Chang, também gosto bastante, depois... Itzhak Perlman, David
Oistrakh, esses grandes..
e costumas ir a concertos ao vivo?

146
sim, tento ir a muitos
e o que mais aprecias num concerto ao vivo?
eu gosto de ir a um concerto para... ok, vamos sentar, vamos ouvir... e não estar
concentrada a pensar nalguma coisa, gosto de simplesmente ouvir e sentir que os músicos
estão também a... sentir o feedback do público... simplesmente gosto de sentar e ouvir e...
gostar do que oiço, claro
e o que te faz gostar?
a sonoridade, seja um conjunto ou um intérprete a solo, gosto muito de sentir um bom som
e sentir que toda a sala ou a igreja, o que for... gosto de ouvir o silêncio que fica e ouvir só a
música, acho que isso é bastante interessante...
gostas que haja uma certa comunhão do público, um certo ritual... a apreciar... um
momento especial...
sim, é isso, exacto.
podes falar-me de uma peça que tenhas tocado que te marcou especialmente?
em que sentido, que gostasse?
sim...
gostei muito da sonata de Brahms que toquei no ano passado, que é a sonata que a Mara
estava a tocar lá em baixo... é muito bonita, as sonatas de Brahms são todas incríveis, mas
aquela foi a primeira sonata de Brahms que eu toquei, nunca tinha tocado nenhuma e, não
sei, é simplesmente brutal, adorei tocar aquela sonata, mesmo...
o que a tornou tão especial para ti?
não sei, talvez o carácter que aquela peça tem, é muito calmo e às vezes tem momentos de
explosão... acho que é isso... é muito bonita
e como tentaste explorar esse carácter quando estavas a estudar?
não sei, tentei ouvir várias gravações... para tentar perceber a maneira de interpretar...e...
não sei, quando eu estou a estudar, sinceramente, eu não penso muito.. ok, como é que eu
vou fazer isto... tento tocar e tento gostar do que toco, porque se eu não gostar as outras
pessoas não vão gostar...
e ir de encontro às referencias que também tens
exacto
gostaste dela pelo carácter e pelas suas qualidades... mais alguma qualidade para além
daqueles contrastes...consegues definir mais alguma qualidade nessa sonata?
não sei, acho que é muito espiritual... não sei explicar... não é, por exemplo, uma sonata de
Mozart (canta Nachtmusik como uma lengalenga e ri)
não gostas de Mozart
gosto, mas é mais noutras situações, por exemplo, quando estamos mais melancólicos... ou
assim, Mozart é um bocado... não é aquela coisa... uma Sonata de Brahms, aquela nº 1, é
completamente diferente, é muito envolvente e estamos ali e sentimos a música....
então tu gostas desse carácter mais melancólico...?
sim... mais calmo, mais sereno... também gosto bastante de... por exemplo, eu estou a tocar
o concerto de Saint Saens, nº3, e é completamente o oposto.... gosto também muito de
peças fortes.... lá está, gosto dos contrastes...
e como tentas explorar esses contrastes, na música?
não sei, tento tirar um bom som do violino, como já tinha dito, tento fazer bastante
pianíssimo, bastante fortíssimo, mostrar mesmo os contrastes...
em que é que pensas....mais na parte técnica, na parte musical, nalguma imagem...?
na parte técnica também... mão direita, é muito importante, na pressão...principalmente feita
na mão direita, convém pensar a nível técnico também, mas... conjugar com a parte
musical... demasiada pressão não vai ficar bonito...
nalguma destas obras aconteceu como no Grieg em que tu pensaste nos deuses... alguma
pensaste num tema assim desse género?
para a sonata de Brahms não... no Saint Saens por acaso nunca tive assim nenhuma
imagem... por exemplo, o Pedro (Meireles) lá em baixo, ...está um rapaz lá em baixo a tocar
um concerto de Mozart e ele associou aquilo às óperas de Mozart, tentou criar
personagens... e eu isso não tenho muito o hábito de fazer, tento simplesmente ouvir a
musica e ver o que é que ela pede.... e tento interpretá-la da melhor maneira
e achas que isso tem a ver com uma evolução tua ou é tem a ver com a própria peça?

147
eu acho que é de mim, eu nunca tive muito esse hábito... o que eu acho que às vezes é
mau, porque se nós tivermos uma ideia, se criarmos um teatro...para aquilo vamos
perceber melhor as personagens, vamos perceber melhor as frases...e o que a peça pede,
mas, não sei, nunca tive muito esse hábito...
embora tenhas feito isso para Grieg
pois...
existe alguma peça que não tenhas gostado de tocar?
...não...
estavas a referir o Mozart... de uma forma...
... eu toquei o concerto de Mozart no 5º grau... (canta) e gostei bastante.... eu gosto mais de
tocar Mozart no piano... mas não desgosto de Mozart... gosto muito, tem algumas coisas
lindíssimas também, o Requiem é fantástico...
e porque gostas mais do Requiem do que as outras obras...o Requiem é bastante diferente
das outras obras...
talvez precisamente por isso.... porque às vezes Mozart se torna bastante repetitivo...os
concertos para os diferentes instrumentos, o concerto para violino, o concerto para fagote,
o concerto para trompa, o concerto para oboé, são todos bastante parecidos... talvez o
Reguem por ser diferente
e alguma peça que gostasses de tocar um dia?
concerto de Sibelius... (grande pausa com tosse)
falaste-me de uma peça que gostaste de tocar... o Brahms, onde é que o tocaste...?
em várias audições... na escola... foi uma sonata que eu escolhi... e falei à minha professor,
vamos tentar trabalhar
tenta descrever a sensação de tocá-la, numa vez que tenhas gostado...
eu gosto sempre de tocar essa sonata... é sempre muito especial... não, sei, como já te
tinha explicado tem de se sentir bastante a peça, mas eu não penso quando estou a tocar,
tento simplesmente tocar e gostar do que faço e tentar mostrar aos outros que eu gosto do
que faço para eles também gostarem e tentarem apreciar...
consegues nomear os factores que mais valorizas numa obra musical? ...por exemplo na
sonata de Brahms
talvez da suavidade do início... gosto mais da parte mais calma, essa obra, não tem um
grande fortíssimo, por exemplo, mas precisamente, acho que é muito especial... pela
suavidade, pela calma que transmite...
podes tocar para mim?
sim
que vais tocar... talvez o concerto de saiba saens...
perfeito...
(toca...)
podes descrever o que mais gostas neste concerto?
dos contrastes...como já tinha dito e o início que é muito forte... a orquestra começa em
pianíssimo e entra o violino em fortíssimo, solo... e o carácter, que é bastante.... não tenho
assim nenhum adjectivo...
como tentas explorar esse carácter...
...não sei, eu sinceramente não penso muito nessas coisas, tento simplesmente tocar... não
sei... o fortíssimo, tem de ser bastante forte, com bastante vibrado...
pensas na parte....
mais técnica...
ok...como avalias a tua performance de agora? o que gostaste e o que gostarias de
melhorar...?
podia ter corrido melhor... do som, porque esta sala também não é muito agradável de
tocar... mas, não sei, relativamente à parte técnica, talvez nas partes agudas, e com
semicolcheias, talvez fazer mais definido, algumas coisas mais afinadas... agora que me
estala a lembrar....
muito obrigada

148

Você também pode gostar