Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Jogo Matemático Como Experiência de Diálogo PDF

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 181

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
PARA A CIÊNCIA E O ENSINO DE MATEMÁTICA

EDNA HELOISA SCHAEFFER

O JOGO MATEMÁTICO COMO EXPERIÊNCIA DE DIÁLOGO:


ANÁLISE FENOMENOLÓGICA DA PERCEPÇÃO
DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA

MARINGÁ
2006
EDNA HELOISA SCHAEFFER

O JOGO MATEMÁTICO COMO EXPERIÊNCIA DE DIÁLOGO:


ANÁLISE FENOMENOLÓGICA DA PERCEPÇÃO
DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA

MARINGÁ
2006
EDNA HELOISA SCHAEFFER

O JOGO MATEMÁTICO COMO EXPERIÊNCIA DE DIÁLOGO:


ANÁLISE FENOMENOLÓGICA DA PERCEPÇÃO
DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação Educação para a Ciência e o Ensino de
Matemática da Universidade Estadual de Maringá,
para obtenção do título de Mestre em Educação
para a Ciência e o Ensino de Matemática.
Orientador: Prof. Dr. Marcos Cesar Danhoni Neves.

MARINGÁ
2006
EDNA HELOISA SCHAEFFER

O JOGO MATEMÁTICO COMO EXPERIÊNCIA DE DIÁLOGO: ANÁLISE


FENOMENOLÓGICA DA PERCEPÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Educação para a Ciência e o


Ensino de Matemática da Universidade Estadual de Maringá, para obtenção do título de
Mestre em Educação para a Ciência e o Ensino de Matemática. Orientador: Prof. Dr. Marcos
Cesar Danhoni Neves.

Aprovada em: _________________________________

BANCA EXAMINADORA

______________________________________
Prof. Dr. Marcos Cesar Danhoni Neves
(UEM – Maringá)

______________________________________
Prof. Dr. Washington Luis Pacheco de Carvalho
(UNESP-Campus Ilha Solteira-SP)

______________________________________
Profa. Dra. Sheila Maria Rosin
(UEM – Maringá)
D EDICO ESTE TRABALHO...

Ao Criador – por tudo;

Aos Meus Pais – pelos incentivos e


compreensão nos momentos mais
difíceis;

Ao José Carlos – pelo apoio e


compreensão.
AGRADECIMENTOS

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Educação para a

Ciência e o Ensino da Matemática.

Ao Prof. Dr. Marcos Cesar Danhoni Neves, por orientar com compromisso,

liberdade, incondicional acesso e amizade.

Á secretária do programa, pela atenção dada.

Aos amigos que conquistei em Maringá, em especial à Solange O. Favero,

Eliane C. Kawahisa, Marilde B. Zorzo de Sá, Maria Emília, que sempre estiveram

ajudando e prestando grandes favores.

Á Escola Municipal Norma Dermeneck Belotto, em especial à diretora Ana

Schoer, às coordenadoras Vivien e Cláudia, e principalmente aos professores que

contribuíram com suas entrevistas para esta pesquisa.

E a todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram com este

trabalho.
RESUMO

Cinco professores de Educação Infantil e do Ensino Fundamental da rede municipal


de ensino da cidade de Toledo são ouvidos sobre suas concepções do “o que é isto,
o jogo?”, no contexto do ensino de matemática. Os discursos de cada um dos
sujeitos são compreendidos a partir da redução fenomenológica. Após a
compreensão de cada situação relatada, delineou-se o perfil ideográfico. A partir das
convergências dos discursos, agrupadas em diferentes categorias, nasceu uma
compreensão nomotética dos discursos. Neste momento estruturou-se o fenômeno
intencionado inicialmente, ou seja, “o que é isto o jogo?”. A dissertação fecha-se
com a redução concluída e com a perspectiva de uma nova postura do professor
diante do jogo na matemática.

Palavras-chave: fenomenologia, jogo, matemática.


ABSTRACT

Five teachers from Primary and Junior High School, from municipal schools of Toledo
have been heard about their conceptions of “what is this, the game?”, in the context
of mathematics teaching. The speeches of each one of the individuals are
understood from the phenomenological reduction. After the comprehension of each
related situation, the ideographic outline was traced. From the convergences of the
speeches, classified into different categories, a nomothetic comprehension of the
speeches arose. At this moment the first intentioned phenomenon was structured,
that is, “what is this, the game?”. The dissertation ends with the reduction concluded
and with the perspective of a new posture of the teacher in relation to the game in
mathematics.

Key words: phenomenology, game, mathematics.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................10

1 O FENÔMENO INVESTIGADO ...........................................................................15

2 QUESTÕES DA PESQUISA ...............................................................................17

3 ETAPAS DA PESQUISA .....................................................................................19

1 O JOGO EM UMA PERSPECTIVA MATEMÁTICA ........................................21

1.1 O ENSINO DA MATEMÁTICA ..........................................................................21

1.2 O LÚDICO NA APRENDIZAGEM ....................................................................24

1.3 JOGO, BRINQUEDO E BRINCADEIRA ...........................................................32

1.4 O JOGO NA MATEMÁTICA ..............................................................................40

2 FENOMENOLOGIA: O MÉTODO INVESTIGATIVO NA PESQUISA

QUALITATIVA..................................................................................................47

3 A PESQUISA: ENTREVISTAS COM PROFESSORES....................................58

3.1 OS SUJEITOS DA PESQUISA EM SEU AMBIENTE .......................................58

3.2 OS DISCURSOS DOS PROFESSORES SOBRE O JOGO..............................60

4 ANÁLISE FENOMENOLÓGICA DE VIVÊNCIAS EDUCATIVAS.....................97

4.1 UNIDADES SIGNIFICATIVAS: UMA COMPREENSÃO IDEOGRÁFICA ..........97

4.2 ANÁLISE NOMOTÉTICA: UMA RELAÇÃO DE SIGNIFICADOS......................141


5 O JOGO EM PERSPECTIVA PARA A PRÁTICA EDUCATIVA ......................167

REFERÊNCIAS.......................................................................................................172

ANEXOS ................................................................................................................179
LISTA DE QUADROS

QUADRO 1: Sujeitos da Pesquisa..........................................................................60

QUADRO 2: Unidades de Significado do Discurso do Sujeito 1 .............................101

QUADRO 3: Unidades de Significado do Discurso do Sujeito 2 .............................106

QUADRO 4: Unidades de Significado do Discurso do Sujeito 3 .............................112

QUADRO 5: Unidades de Significado do Discurso do Sujeito 4 .............................119

QUADRO 6: Unidades de Significado do Discurso do Sujeito 5 .............................129

QUADRO 7: Categorias e Convergências ..............................................................142


INTRODUÇÃO

A proposta da presente pesquisa originou-se da observação das dificuldades

de aprendizagem relacionadas à matemática nas séries iniciais. A partir de conceitos

de autores como Grando (1995), Macedo (2000), Borin (1996), Huizinga (1990),

Kischimoto (1998), Almeida (1998), Piaget (1978) e Souza (1996), entre outros,

verifica-se que os jogos podem contribuir significativamente no processo de ensino-

aprendizagem. Tal afirmativa também se encontra embasada nos pressupostos

contidos no PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais (1998).

Buscou-se, com este trabalho, compreender as potencialidades inerentes ao

uso dos jogos no processo ensino-aprendizagem da matemática, uma vez que essa

inquietude diante da matemática permeia a prática de vários professores, levando-

os, muitas vezes, à frustração frente ao processo de ensino e de aprendizagem.

Procurou-se, inicialmente, o despojamento de “juízos” ou “pré-conceitos” que tenham

sido criados durante os últimos sete anos relativos à atuação como professora de

Matemática no Ensino Fundamental. Tal tentativa justifica-se pelo fato de tentar-se

compreender a concepção de jogo que os professores possuem.

O trabalho embasar-se-á nos princípios da pesquisa qualitativa, pautando-se

em uma abordagem fenomenológica de estudo. O princípio fundamental da

fenomenologia de Husserl seria, na visão de estudiosos como Dartigues (1973,

p.24), “ir-à-coisa-mesma”, “voltar às coisas mesmas”, ou seja, buscar a

compreensão de determinado fato tal como ele se manifesta ao pesquisador, liberto

de um pressuposto teórico ou método de investigação que prometa “conduzir à


11

verdade” (BICUDO, 2000, p.71). Torna-se importante ressaltar que a investigação

fenomenológica desliga-se dos critérios da ciência positivista, que concebe a

realidade como algo que existe em absoluto e independe do sujeito que a percebe.

Na perspectiva fenomenológica, “o objeto só pode ser definido em sua relação com

a consciência, ele é sempre objeto-para-um-sujeito” (DARTIGUES, 1973, p.24).

Na presente pesquisa, buscaram-se os significados atribuídos por cinco

sujeitos, professores da Rede Municipal de Ensino do município de Toledo, a

respeito da compreensão do ser sobre aspectos relevantes do processo de ensino e

de aprendizagem que envolvem a tríade Ciência/Educação/Jogos. Portanto, esta

investigação, em sua modalidade qualitativa, apoiada em Martins e Bicudo (1989),

não apresentará preocupações com generalizações, princípios e leis. Buscar-se-á

um entendimento particular daquilo que se estuda, generalizando ou nomotetizando,

ao final da apreensão do discurso, a estrutura que dá forma ao pensar e à ação do

conjunto dos sujeitos pesquisados.

Como a investigação fenomenológica trabalha com aquilo que faz sentido

para o ser, faz-se necessária uma orientação rumo ao sujeito que vivencia o

fenômeno, indagando-se como ele, o sujeito, o percebe. Nesse aspecto, verifica-se,

segundo Bicudo (2000, p.74), um relato, uma descrição do percebido, isto é,

visualizar-se-á “a descrição do percebido como modo de obtenção de dados”. Tais

relatos foram obtidos, no presente caso, por meio de entrevistas gravadas em fitas

cassete, as quais, posteriormente, foram transcritas. Assim, a entrevista apresenta-

se como recurso útil para obtenção de descrições do fenômeno que se quer estudar

e de como dele se presentifica para o sujeito em si, bem como para o pesquisador,

em um encontro intersubjetivo. De acordo com Martins e Bicudo (1989, p.54), a

entrevista
12

é a única possibilidade que se tem de obter dados relevantes sobre o


mundo-vida 1 do respondente. Ao entrevistar-se uma pessoa, o
objetivo é conseguir-se descrições tão detalhadas quanto possível
das preocupações do entrevistado. Não é, tal objetivo, produzir
estímulos pré-categorizados para respostas comportamentais. As
descrições ingênuas, situadas sobre o mundo-vida do respondente,
obtidas por meio da entrevista, são, então, consideradas de
importância primária para a compreensão do mundo-vida do sujeito.

Será, precisamente, por meio do material obtido nas entrevistas, que haverá a

possibilidade de se obter a essência do fenômeno, pois são esses os dados sobre

os quais o pesquisador debruçará sua compreensão intersubjetiva, decorrente da

experiência do sujeito dentro de seu mundo-vida (lebenswelt), mundo este imerso

nas contingências do viver escolar. Destaca-se que, nesse processo de entrevista, o

pesquisador deverá interferir o mínimo possível no que tange às descrições

efetuadas pelo sujeito, evitando perguntas desnecessárias ou que acabem por

conduzir as respostas a determinados fins.

Desvelar o discurso apresenta-se como a primeira etapa do processo de

investigação da redução fenomenológica. Martins (1992) afirma que a redução

consiste em selecionar e separar as partes da descrição consideradas essenciais

daquelas que não o são, ou seja, encontrar as partes da experiência que são,

verdadeiramente, partes da consciência do sujeito. Para tanto, utilizar-se-á a

variação imaginativa, sendo que essa fase consistirá na reflexão sobre as partes da

experiência que parecem possuir significados.

1
Mundo-vida: “o mundo cotidiano em que vivemos, agimos, fazemos projetos, entre outros, o das
ciências, em que somos felizes ou infelizes” (DARTIGUES, A. O que é fenomenologia? Trad. Maria
José J. G. Almeida. Rio de Janeiro: Eldorado Tijuca, 1973). Embora tenha a mesma tradução, na
obra de Urbano Zilles, a expressão é interpretada de outra maneira: “o mundo da vida conota os
componentes cotidianos da existência pessoal anteriores à atividade científica, significando a
situação do sujeito na relação intencional com um contexto histórico social que envolve o sujeito
cognoscente e o objeto conhecido” (HUSSERL, E. A crise da humanidade européia e a filosofia.
Introd. e Trad. Urbano Zilles. Porto Alegre: Edipucrs, 1996. p.46).
13

França (1989) assinala que redução, no sentido fenomenológico, seria um

modo peculiar de prestar atenção, de ir ao fenômeno ou, conforme afirmativa de

Keen (apud FRANÇA, 1989, p.30),

é uma abertura consciente e ativa de nós mesmos ao fenômeno


enquanto fenômeno [...] não queremos ver o acontecimento como um
exemplo desta ou daquela teoria que possuímos, queremos vê-lo
como um fenômeno por si mesmo, com sua própria significação e
estrutura [...] a redução fenomenológica [...] é um procedimento
planejado para nos fazer retornar à experiência vivida conforme ela é
experienciada, é uma postura a partir da qual apreendemos a
experiência vivida conforme ela é vivenciada.

A redução fenomenológica possibilita “um conhecimento do mundo a partir da

sua origem [...]. É uma operação intelectual que permite que passemos do objeto à

essência desse objeto” (RIBEIRO, 2003, p.34-35). Pela redução fenomenológica

pratica-se a epoché, isto é, “colocamos entre parênteses não só o mundo empírico,

senão, também, o mundo ideal e até o mundo sobrenatural” (RIBEIRO, 2003, p.35).

Segundo Ribeiro (2003), “pôr-entre-parênteses” 2 consiste em desconectar o fato,

que serve de objeto, do restante da realidade exterior espaço-temporal. O que resta,

então, é o dado da vivência da objetividade construída, ou seja, “o que permanece, o

que se mantém depois de realizada a epoché, chama-se resíduo fenomenológico”.

Neves (1991) ressalta que essa suspensão de pré-conceitos (epoché) é essencial na

procura de se ver o fenômeno tal como ele é, visto que os sujeitos, no ato da

epoché, são solicitados a descreverem suas experiências em uma situação

2
Husserl (apud BELLO, 2004, p.83), sendo matemático, entende a operação de colocar entre
parênteses do ponto de vista de uma expressão algébrica: aquilo que é colocado entre parênteses
existe entre parênteses. Portanto, colocar entre parênteses é uma operação que deriva da
matemática. Colocar entre parênteses a existência, segundo Husserl, é colocar entre parênteses
esse concreto factual que interessava muito aos positivistas. Ele afirma que este plano de existência
não lhe interessa, ao passo que lhe interessa entender qual é a essência das coisas, a essência ou
o sentido das coisas.
14

específica, no caso da presente investigação, do estar fazendo/ ensinando/

aprendendo ciência.

Após a epoché, dá-se início à análise ideográfica e, conseqüentemente, à

nomotética dos discursos, com o intuito de resgatar as convergências e/ou

divergências destes. Ressalta-se que é no resgate das convergências dos discursos

dos sujeitos pesquisados que se torna possível interpretar o fenômeno, o que vem a

ser o jogo na concepção de cada professor. Buscar-se-á concluir este trabalho com

uma “construção” de convergências, alicerces do discurso de professores como

seres-aí-no-mundo. 3

3
Husserl utiliza termos como Dasein ou Mensch para descrever o ser humano. Dasein significa estar-
aí. Heidegger utiliza somente o termo Dasein, pois quer evidenciar o aspecto da existência. No
termo Da-sein, sein significa ser. A indagação, segundo Heidegger, não pode se dar a partir do
Sein, porque o ser não se apresenta como tal, mas a partir das coisas que existem
verdadeiramente, isto é, os entes. Assim, chega-se ao Dasein, aquele ente específico que se dá
conta de si mesmo. O Dasein se manifesta a nós mesmos: eis aí o termo manifestação, que é
próprio da fenomenologia. De fato, Heidegger acha que a fenomenologia é o estudo do fenômeno,
que para ele corresponde ao Dasein, o ente que consegue dar conta de si mesmo e interpretar-se a
si mesmo (BELLO, 2004, p.129-131). Segundo o NETSPI (Núcleo de estudos e temas em
psicologia), ao discutir a questão do sentido do ser, Heidegger demonstra que a Fenomenologia
compreende a verdade com um caráter de provisoriedade, mutabilidade e relatividade, radicalmente
diferente do entendimento da metafísica que pressupõe a verdade una, estável e absoluta. Essa é
uma das razões por que se diz que a Fenomenologia é uma postura ou atitude (um modo de
compreender o mundo) e não uma teoria (modo de explicar). A Fenomenologia orienta o seu olhar
para o fenômeno, ou seja, na relação sujeito-objeto (ser-no-mundo). Isso, em última análise,
representa o rompimento do clássico conceito sujeito/objeto. Assim, Heidegger apresenta um novo
modo de conhecer as coisas do mundo, diferente do modo metafísico. Na verdade, se está
“treinado" a conhecer o mundo de uma única forma (modo metafísico). Por essa razão,
compreender o mundo fenomenologicamente torna-se uma tarefa complexa. O ponto de partida
necessário de toda tentativa para se determinar, em seu rigor, o ser do ente em geral, era o homem
como ser-aí ou Dasein já que, de todos os entes, o homem é o único ao qual é funcionalmente
exigida uma solução para o problema do existir. Assim, criando uma terminologia própria, Heidegger
denomina o modo de ser do homem, nossa existência, com a palavra Dasein, cujo sentido é ser-aí,
estar aí. Portanto, o conceito de ser transcende ao gênero e a espécie. Desse modo, pode-se definir
o conceito de ser como o mais universal, indefinível e evidente por si mesmo. O sentido de ser é um
arranjo das coisas de tal sorte que elas se revelam exatamente nesse contexto. É sempre o
contexto das coisas que mostra o seu significado. Nada faz sentido sozinho, o ser humano ganha o
seu sentido na história. O sentido do ser está dentro da progressão temporal, sendo que, nesse
sentido, nós sempre progredimos e evoluímos.
15

1 O FENÔMENO INVESTIGADO

O ensino de Matemática, na escola fundamental, tem sido realizado em

conformidade com diferentes propostas educacionais (resolução de problemas,

etnomatemática, jogos, entre outras), que se sucedem ao longo dos anos e que se

sustentam em diferentes elaborações teóricas. A busca da mudança na prática

pedagógica desenvolvida em sala de aula é o escopo de muitas dessas propostas.

Verifica-se na escola, ainda hoje, muitas práticas metodológicas em matemática com

base na mera transmissão de conteúdos e utilizando como recurso exclusivo o livro

didático. Corroborando Macedo (2000), um dos grandes desafios para a educação,

na contemporaneidade, é romper com essa postura e produzir um ensino

significativo, portanto, duradouro e contextualizado para o aluno.

Para isto, uma reorganização curricular faz-se necessária nas escolas, de

modo a contemplar a aprendizagem dos conhecimentos e o desenvolvimento das

competências e habilidades fundamentais aos indivíduos para o exercício da

cidadania. Novos valores e práticas educacionais deveriam fornecer espaço ao

estudo e debate de temas como, por exemplo, a promoção contínua (avaliação

formativa), a distribuição dos alunos em ciclos (PERRENOUD, 2000), o ensino por

projetos e situações-problemas, entre outros, temas de grande importância para a

melhoria da qualidade de ensino nas escolas atuais.

A angústia de constatar a crescente sensação de que cada vez as crianças

sabem menos e gostam menos da matemática instigou a busca e o estudo de

referenciais teóricos, ou seja, o conhecimento das investigações já realizadas acerca

da educação matemática (GEEM – São Paulo, GRUEMA – São Paulo, Escola da

Vila – São Paulo, GEEMPA – Porto Alegre, GEPEM – Rio de Janeiro, CECIMIG –
16

Belo Horizonte) 4 , que pudessem, de alguma forma, esclarecer algumas dúvidas,

para que, se tornasse possível o ato de proporcionar outros encaminhamentos à

prática pedagógica. Buscou-se responder às inquietudes diante de um contexto

escolar adverso, dessa insatisfação acerca do processo de ensino e de

aprendizagem da matemática. Outro motivo que impulsionou a realização deste

trabalho diz respeito à compreensão da influência de fatores diversos, buscando

desvelar causas possíveis, características, tendências e diferentes relações,

contribuindo, dessa forma, para a formulação de hipóteses explicativas e

enriquecendo o conhecimento sistematizado sobre o assunto.

Diante disso, pode-se enfatizar que, atualmente, tornou-se imprescindível

criar na sala de aula uma atmosfera de motivação (MACEDO, 2000) que permita aos

alunos participarem ativamente no processo ensino-aprendizagem. Os Parâmetros

Curriculares Nacionais (1998) recomendam que é necessário superar a

aprendizagem centrada em procedimentos mecânicos. Nessa perspectiva,

“conhecer diversas possibilidades de trabalho em sala de aula é fundamental para

que o professor construa sua prática” (BRASIL, 1998, p.42).

Nesse âmbito, a escola deveria considerar, além das diferenças

socioculturais que permeiam a relação pedagógica, as diferenças de ritmo de

aprendizagem entre os alunos, o papel das interações e da intervenção docente.

Optou-se pelo estudo dos jogos, no contexto da sala de aula, por ser um

recurso, potencialmente acessível, concreto e próximo à realidade dos alunos, além

de suas características desencadeadoras da aprendizagem, principalmente no que

4
GEEM: Grupo de Estudos de Ensino de Matemática; GRUEMA: Grupo de Estudos de Matemática;
GEEMPA: Grupo de Estudos em Educação Matemática de Porto Alegre; GEPEM: Grupo de
Estudos e Pesquisa em Educação Matemática; CECIMIG: Centro de Ensino de Ciências e
Matemática, órgão complementar vinculado à Faculdade de Educação da Universidade Federal de
Minas Gerais, aberto à participação de toda a comunidade universitária.
17

concerne à aprendizagem de conceitos matemáticos. Partiu-se da premissa de que

o jogo, quando tratado na perspectiva de seu uso em sala de aula, torna-se mais

significativo quando estudado a partir do sujeito que o vivencia.

A partir das entrevistas com 5 professores, buscou-se, em uma perspectiva

fenomenológica, compreender se as potencialidades inerentes ao uso dos jogos no

processo ensino-aprendizagem têm alcançado, de fato, esse escopo.

2 QUESTÕES DA PESQUISA

No processo de construção de cada entrevista, procurou-se compreender a

relação entre o jogo e o conhecimento matemático pela ótica de cada sujeito, sendo

que o encaminhamento delineou-se dessa forma porque os dados oficiais do Saeb 5

indicam que o ensino da matemática não vem atendendo às exigências mínimas

esperadas, principalmente nas primeiras séries do Ensino Fundamental.

No decurso do trabalho de pesquisa identificaram-se, gradativamente, quais

eram as interrogações estruturantes da pesquisa. Estas passaram a integrar a

estrutura de cada entrevista, podendo ser sintetizadas conforme se apresenta a

seguir:

• “Como foi sua experiência desde o início de sua escolaridade até sua

formação acadêmica, principalmente na área da matemática?” Com essa

interrogação, procurou-se conhecer o percurso da formação de cada

5
Saeb: Sistema de Avaliação da Educação Básica, que pode ser consultado através dos sites:
<http://www.mecgov.br/acs/duvidas/saeb.shtm> (informações sobre o que é o Saeb, seus objetivos
e algumas outras dúvidas); <http://www.inep.gov.br/basica/saeb> ou <http://www.inep.gov.br/
dowload/ saeb/2004/resultados/Paraná.pdf> (resultados das avaliações feitas através do Saeb, bem
como artigos sobre esses resultados).
18

sujeito, bem como investigar como foi sua preparação específica para a

atuação no ensino da matemática.

• Diante de situações de jogo (recorte feito de alguns jogos do livro do

Sarquis 6 e outros jogos), o professor foi convidado a manifestar-se. (os

jogos serão apresentados em anexo – ver anexo A). Essa situação foi

criada com o intuito de investigar qual a concepção que o sujeito possui de

jogo, e de como ele é percebido e utilizado no ensino da matemática. Essa

questão foi considerada como a norteadora de todo trabalho.

• “Como você vê o ensino da matemática nas escolas?” Essa interrogação

foi introduzida para o desvelamento do que vem sendo trabalhado nas

6
Eduardo Sarquis Soares é: Graduado em Física pela UFMG; Mestre em Educação pela UFMG;
Professor do Curso de Matemática da Fundação Educacional Monsenhor Messias – Centro
Universitário Sete Lagoas; Professor do Curso Normal Superior do Centro Universitário Izabela
Hendrix; Coordenador do Ensino Fundamental da Cooperativa de Ensino de Belo Horizonte; Autor
da Coleção Matemática, destinada às séries iniciais do ensino fundamental, da editora Formato
Editorial, trabalho em parceria com Adilson Rodrigues (editor). A coleção “Matemática com o
Sarquis”, dentre as classificações feitas pelo PNLD (Programa nacional do livro didático), se
enquadra na recomendada com distinção (Ver anexo 2). Segundo o PNLD (2004), a abordagem dos
conteúdos matemáticos contribui para a apropriação do conhecimento pelo aluno, valorizando os
conhecimentos prévios dos alunos, apresentando contextos significativos, bem como integrando
diversos campos da Matemática e respeitando os interesses infantis. Segundo o PNLD, a obra
contribui para a formação de cidadãos conscientes, pois incentiva o trabalho em equipe, propicia
situações em que o aluno possa explorar diversas experiências humanas, bem como proporcionar
atividades em que os alunos são incentivados a criar estratégias próprias de solução, confrontando-
as com as dos colegas. Cada volume constitui-se de 13 a 16 unidades, e ao final são apresentados
alguns desafios com intuito de aprofundar e antecipar conteúdos. Os conteúdos são bem
selecionados, do ponto de vista das tendências atuais em educação matemática, sendo bem
distribuídos em cada volume, e tratados com grande diversidade de enfoques, ao longo das várias
unidades da coleção. A articulação entre os conhecimentos novos e os já abordados é um dos
pontos fortes da obra. A obra busca dar suporte a três campos: os problemas clássicos, a história
da construção do conhecimento e aspectos de práticas sociais contemporâneas. Quanto à
metodologia, a coleção contribui para a compreensão e atribuição de significado às noções,
procedimentos e conceitos matemáticos, valorizando o papel do aluno. Sua abordagem baseia-se
na realização de atividades, jogos e pesquisas. Ao aluno cabe, geralmente, o início da exploração
de idéias e procedimentos, antes de sua formalização. Há uma grande preocupação com problemas
e atividades que desafiem os alunos a buscarem soluções e diversas estratégias de resolução. A
linguagem é, de forma geral, clara, precisa e diversificada, sendo que, ao mesmo tempo, mantém a
formalidade da linguagem matemática, que deve ser assimilada pelos alunos. O projeto gráfico-
editorial é de alta qualidade, com cores vivas e ilustrações atrativas. O manual do professor
contribui significativamente para a atuação docente, graças as suas reflexões teórico-metodológicas
e sugestões de operacionalização. O processo de avaliação é bem integrado com outras reflexões
do processo ensino-aprendizagem (BRASIL, 2004, p.46-49).
19

escolas, bem como para perceber, investigar e analisar as possibilidades

de melhoria ou não do ensino da matemática.

3 ETAPAS DA PESQUISA

A pesquisa, de forma mais sistemática, desenvolveu-se em cinco etapas:

• Estudo bibliográfico acerca da metodologia utilizada para elaboração do

trabalho (pesquisa qualitativa em uma perspectiva fenomenológica).

• No seminário de pesquisa 7 , foi apresentada a proposta de trabalho,

abordando-se a metodologia a ser utilizada, além de mencionar a

estruturação do trabalho (os capítulos, com uma breve justificativa acerca

de cada um deles). Nesse seminário, houve contribuições significativas por

parte dos professores que estiveram presentes, pois os mesmos indicaram

mudanças e nortearam novas abordagens que permitiram enriquecer a

presente pesquisa.

• Estudo sobre a atuação do ensino da matemática, bem como sobre os

jogos no processo de ensino-aprendizagem.

• Entrevistas semi-estruturadas com cinco professores de Educação Infantil

e do Ensino Fundamental da Rede Municipal de Ensino da cidade de

Toledo, PR, visando à constituição de dados acerca do fenômeno a ser

investigado.

7
Esse seminário de pesquisa foi realizado pelo próprio programa de Pós-Graduação em Educação
para a Ciência e o Ensino de Matemática. Cada aluno do programa apresentou um escopo do seu
trabalho para uma banca de professores do programa e/ou professores convidados, os quais
apontaram suas críticas, bem como sugestões de caminhos a serem percorridos, de modo a
enriquecer o trabalho.
20

• Análise fenomenológica dos discursos dos sujeitos investigados sobre

suas concepções do que vem a ser o jogo, como forma de aferir

perspectivas mais amplas ao fenômeno estudado.


1

O JOGO EM UMA PERSPECTIVA MATEMÁTICA

1.1 O ENSINO DA MATEMÁTICA

Na maioria das escolas brasileiras, o programa de matemática exige uma

carga horária excessiva de aulas. Os alunos do Ensino Fundamental e Médio são

submetidos durante anos a decorar e a repetir regras e fórmulas. Valoriza-se a

quantidade de conteúdos sem considerar, muitas vezes, sua qualidade. Há também

um certo conformismo por parte dos alunos em acreditar que não aprendem

matemática porque ela é difícil e complicada. Podemos afirmar que conhecimento

matemático e a experiência cotidiana não estão interligados.

Como consta no próprio Currículo Básico (PARANÁ, 1992, p.64), esse é um

contexto herdado de uma visão platônica 8 da matemática, a qual remete a pensar a

matemática “como algo que está acessível apenas a gênios, à parte da humanidade.

[...] não há espaço para discussão, os conceitos são sempre prontos e

definitivamente acabados”. Pode-se asseverar que a matemática, tal como ela tem

se mostrado no mundo ocidental, caracteriza-se por seu extremo rigor, abstração e

consistência.

8
Segundo Ernest (1989, p.250), a visão platônica é aquela que concebe a Matemática “como um
corpo estático e unificado de conhecimento absoluto”. A concepção platônica da Matemática vê
essa disciplina como um corpo de conhecimentos estático. A Matemática, nessa perspectiva, é
concebida como um produto imutável. Matemática é descoberta, não é criação.
22

Traçar uma concepção de matemática, nessa perspectiva, levaria a aceitar

que ela é universal, uma vez que está pronta e acabada. Desse modo, resta ao

aluno descobrir as verdades já existentes e o papel do professor se resume a dar

suporte a essas descobertas.

Segundo Fiorentini (1995), as diferentes formas de conceber a matemática

leva a posicionamentos e tomadas de decisão distintos na ação pedagógica, bem

como as diferentes tendências que emergiram no processo ensino-apendizagem da

matemática (tendência formalista clássica, empírico ativista, moderna e tecnicista)

pautaram-se nas bases de uma concepção platônica de matemática. Ressalta-se

aqui a tendência formalista moderna, porque ela está associada a um grande

movimento de renovação curricular, conhecido como Movimento da Matemática

Moderna 9 , o qual passou, a partir da década de 60 do século XX, a determinar os

rumos do ensino da matemática em todo o mundo ocidental, inclusive no Brasil. A

estratégia usada foi a modificação dos currículos, visando aproximá-los da

matemática produzida pela comunidade acadêmica dos matemáticos, com o intuito

de melhorar a qualidade do ensino da mesma.

Na escola, a Matemática Moderna propunha-se a enfatizar os aspectos

estruturais e lógicos da matemática, a teoria dos conjuntos transformou-se em uma

linguagem de apresentação dos conteúdos matemáticos escolares, assim como as

estruturas algébricas e o estudo de relações e funções tornaram-se objetos centrais

9
O ensino de matemática nesse movimento tomou como referência os estudos desenvolvidos pelo
grupo francês Bourbaki. Esse grupo pretendia reorganizar todo o conhecimento matemático,
apresentando-o de forma axiomática e dedutiva partindo da teoria dos conjuntos. Sob a influência
dessa grupo, vários educadores propuseram-se à mesma reorganização no domínio da matemática
elementar aproximando-a da matemática superior. “Essa reforma apresentava uma matemática
estruturada, apoiada em estrutura lógica, algébrica, topológicas e de ordem e enfatizava a teoria
dos conjuntos. Realçava muitas propriedades, tinha preocupações excessivas com abstrações
matemáticas e apresentava uma linguagem matemática universal, concisa e precisa. Entretanto,
acentuava o ensino de símbolos e uma terminologia complexa que comprometia o aprendizado”
(BICUDO, 1999, p.202-203).
23

do ensino da matemática. Essa abordagem internalista justificava os conteúdos e

atribuía-lhes significados, tendo como referência única a própria matemática, como

um conjunto de conteúdos elencados pela comunidade acadêmica de matemáticos.

Fiorentini (1995, p.15) assinala que a matemática escolar “pecou pelo reducionismo

à forma de organização/ sistematização dos conteúdos matemáticos”.

Diante desse contexto, o aluno acaba supervalorizando o poder da

matemática formal, perdendo a autoconfiança em sua intuição. Conforme texto de

D’Ambrósio (1989), falta aos alunos uma flexibilidade de solução, de tentar soluções

alternativas. No entanto, o próprio professor tem suas crenças em relação ao ensino

e à aprendizagem da matemática. Convence-se de que alguns tópicos são

ensinados por serem úteis aos alunos no futuro, o que não convence os alunos.

Em geral, os professores mostram a matemática como um corpo de

conhecimentos polido e acabado, privando o aluno de criar soluções mais

interessantes, de construir seu próprio conhecimento, passando assim a assumir um

papel passivo nas aulas. Como postula Caraça (1978 apud PARANÁ, 1992, p.64),

a matemática é geralmente considerada como uma ciência a parte,


desligada da realidade, vivendo na penumbra do gabinete fechado
onde não entram os ruídos do mundo exterior, nem o sol, nem os
clamores do homem. Isto, só em parte é verdadeiro. Sem dúvida a
matemática possui problemas próprios, que não têm ligação imediata
com os outros problemas da vida social. Mas não há dúvida também
de que os seus fundamentos mergulham tanto como os de outro
qualquer ramo da ciência, na vida real; uns e outros entroneam no
mesmo modo.

Neste sentido, cabe ao educador, ao ensinar Matemática, considerar que a

escola onde leciona faz parte de uma sociedade. Por isso é necessário que ele

focalize sua atenção no inter-relacionamento de sua prática diária e concreta com o

contexto histórico-social mais amplo, uma vez que são as relações que se
24

estabelecem entre professor-matemática-aluno, em seu contexto social, que

fundamentam uma Educação Matemática no contexto escolar. Duarte (1987 apud

PARANÁ, 1992, p.65) preconiza que o grande desafio é: “não desvincular a lógica

do conteúdo matemático do seu desenvolvimento histórico, sem cair no entanto,

num historicismo que considera como solução para todos os problemas do ensino a

reprodução pura e simples da história na sala de aula”.

No ensino da Matemática, pode-se propiciar várias situações competitivas

resgatando o aspecto lúdico, desencadeando o processo de construção do

autoconhecimento do aluno, de suas habilidades e da autoconfiança em seu

desempenho. Portanto, é na inquietação e na busca por alternativas que possam

redimensionar o ensino matemático, o qual propicie ao aluno um ambiente favorável

à imaginação, à criação, e a construção do saber, que será investigada e analisada

a influência do jogo no processo ensino-aprendizagem, segundo a perspectiva dos

professores.

1.2 O LÚDICO NA APRENDIZAGEM

A educação lúdica esteve presente em todas as épocas e em todos os povos.

Constitui atualmente uma vasta rede de conhecimentos não só no campo da

educação, da psicologia, da filosofia, mas também nas demais áreas do

conhecimento.

A educação lúdica integra uma teoria profunda e uma prática atuante. Seus

objetivos, além de explicar as relações múltiplas do ser humano em seu contexto

histórico, social, cultural, psicológico, enfatizam a libertação das relações pessoais


25

passivas e/ou técnicas, para relações reflexivas, criadoras, inteligentes,

socializadoras, fazendo do ato de educar um compromisso intencional, de esforço,

sem perder o caráter de prazer, de satisfação individual e modificador da sociedade.

De acordo com Kischimoto (1998), as atividades lúdicas são fundamentais

para o desenvolvimento e a educação da criança, pois pelo lúdico a criança

desenvolve também a atenção, a imitação, a memória, além de amadurecê-la para a

vida em grupo, através da interação e da utilização de regras e papéis sociais.

Os momentos de lazer da criança na escola devem ser livres, porque ela

gosta de brincar. A atividade física pode facilitar a alteração positiva da imagem

corporal, cada criança recebe influências emocionais que o jogo traz, fazendo com

que a criança possa desenvolver-se e interessar-se pelas matérias escolares pela

motivação vindas das atividades lúdicas.

se brinquedos são sempre suportes de brincadeiras, sua utilização


deveria criar momentos lúdicos de livre exploração, nos quais
prevalece a incerteza do ato e não se buscam resultados. Porém, se
os mesmos objetos servem como auxiliar da ação docente, buscam-
se resultados em relação à algumas habilidades. Nesse caso, o
objeto conhecido como brinquedo não realiza sua função lúdica,
deixa de ser brinquedo para se tornar material pedagógico
(KISCHIMOTO, 1998, p.14).

Kischimoto (1998, p.7) faz referência sobre a utilização destes termos,

“brinquedo será entendido como objeto, suporte de brincadeira, brincadeira como

descrição de uma conduta estruturada com regras e jogo infantil para designar tanto

o objeto e as regras do jogo da criança”.

É nesse contexto que a ludicidade deve ser pensada e colocada em prática

na sala de aula, deixando de ter espaço apenas na hora do recreio, para fazer parte

da prática pedagógica. Desta forma, introduzir o jogo no contexto escolar é

oportunizar a criança a vivenciar a magia, a fantasia dentro do plano social. Como


26

apregoa Ramos e Ferreira (apud NARDI, 1998, p.130), “a ludicidade decorre da

interação do sujeito com um dado conhecimento, sendo, portanto, subjetiva. Seu

potencial didático depende da sensibilidade do educador em gerar desafios e

descobrir interesses de seus alunos”.

Dessa forma, se na sala de aula houver condições de a criança aliar o

aprender ao jogo, estará vinculando a aprendizagem ao prazer, ao sabor, à

descoberta e à produção do saber. Assim o professor, trazendo o lúdico para o

contexto escolar, estará revitalizando o processo ensino-aprendizagem, tornando-o

mais rico e com significado para a criança.

A ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade, e não

pode ser concebida apenas como diversão.

O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o


desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para uma saúde
mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de
socialização, comunicação, expressão e construção do
conhecimento (SANTOS, 1997, p.12).

Partindo desse enfoque, encontra-se a importância do lúdico na ação

educativa e daí a sua inserção no universo escolar. Muitos professores estabelecem

o lúdico como jogos realizados no cotidiano da sala de aula. Se se observar dentro

dessa perspectiva, tem-se o brinquedo sendo utilizado como lúdico e como

educativo.

A educação lúdica oportuniza ao sujeito a interpretação do meio, favorece a

vivência cotidiana, promove experiências partilhadas que fundamentam a reflexão,

interagindo, construindo e formando. Almeida (1998, p.35), ao referir-se à educação

lúdica, ressalta que


27

seus objetivos, além de explicar relações múltiplas, do ser humano


em seu contexto histórico, social, cultual, psicológico, enfatizam a
libertação de relações reflexivas, criadoras, inteligentes,
socializadoras, fazendo do ato de educar, um compromisso
consciente, intencional, de esforço, sem perder o caráter de prazer,
de satisfação individual e modificador da sociedade.

Percebe-se a importância da educação lúdica na formação global do

indivíduo, visto que esta é condição necessária para o desenvolvimento da

socialização, da criatividade, das diversas linguagens, sendo fundamental na

formação integral do ser humano, e a educaçao lúdica necessita integrar a própria

prática pedagógica. Se para a criança for dada a possibilidade de “brincar” na sala

de aula, entendendo essa ação como um ato educativo, ter-se-á, no âmbito escolar,

o resgate da própria essência de interagir.

Segundo Prado (1991, p.78),

lúdico é uma categoria adjetivadora da atividade construída


socialmente e de forma diferenciada em cada cultura. È um conjunto
complexo de elementos especificamente humanos que cria espaço
de jogo entre o real e o imaginário, sendo que sua natureza se
transforma conforme a cultura, a história e as condições objetivas em
que o indivíduo e o grupo se inserem.

Verifica-se, desse modo, que os elementos lúdicos articulam-se em

interações humanas e não humanas, alterando as estruturas das ações individuais e

sociais pela sua própria lógica, redimensionando a postura do sujeito e a qualidade

de sua atividade.

Prado (1991) define alguns elementos lúdicos: o desejo (enquanto motivação

intrínseca do sujeito); a afetividade; a situação imaginária e a interação criativa

(reciprocidade não passiva e a criadora). Para o autor, a atividade é aquela na qual

a motivação está na própria ação do sujeito e não em seus efeitos utilitários ou


28

resultados externos. Sua finalidade real encontra-se nas vivências de diversos

aspectos da realidade, que são significativos para o sujeito que age ludicamente.

Os objetos lúdicos (brinquedos e jogos) são instrumentos, matéria mediadora

da atividade lúdica que se integram em uma dimensão imaginária. Porém, não são

apenas objetos industrializados ou artesanais que podem ser chamados de

brinquedos, mas sim todo e qualquer instrumento material que se transforme em

objeto lúdico 10 .

A atividade lúdica é especificamente humana, mediada pela linguagem e por

instrumentos materiais, sendo social por natureza, porque somente existe na

condição de interação social. Por meio dela, a criança conhece e transforma os

modos simbólicos, material e humano criativamente.

Kamii (1985, p.98) defende que “a interação de fatores internos e externos ao

sujeito constituem três tipos de conhecimento: físico, social ou convencional e lógico-

matemático”.

Na abordagem da autora, o conhecimento físico se refere a dados da

realidade externa do objeto (propriedades físicas) que podem ser constatados pelos

órgãos dos sentidos. O conhecimento social abrange as convenções, sendo,

portanto, arbitrário e originário em fontes externas ao sujeito, podendo tornar-se

significativo ao mesmo. Em contrapartida, as relações lógico-matemáticas

encontram-se no próprio sujeito, na capacidade de coordenar ações mentais como

relações de classificação, ordenação ou medidas. Não são arbitrárias, visto que são

geradas no próprio sujeito e em seu processo de construção.

10
SegundoVygotsky (1998), o que faz “algo” um objeto lúdico é a capacidade de representação que
ele possibilita.
29

O desenvolvimento da ação corporal lúdica e a vivência familiar proporcionam

a aquisição de conhecimentos simbólicos e sociais, historicamente determinados,

influenciando a consciência de si e do mundo, entre outros.

No entanto, verifica-se que a prática pedagógica vem sendo direcionada

apenas para o desenvolvimento cognitivo, no qual a criança ainda continua sentada,

presa a uma cadeira, educada pela audição, quando o universo que a cerca está

repleto de informações que podem estimulá-la, haja vista que a mesma é por

natureza: criativa, curiosa, livre e expansiva. Desta maneira, a educação está sendo

fragmentada, pois não concebe a criança como um ser global.

Analisando as escolas freqüentadas pelos alunos, observa-se que a maioria

delas continua sendo depositária do saber acadêmico, marcadas por uma ação

castradora e diretiva que não se ajusta à vida do aluno, não lhe possibilita a

satisfação de aprofundar os estudos, de desvendar coisas novas e muito menos de

praticar uma vida coletiva. Na realidade, o aluno é levado e programado a repetir e a

reproduzir tudo, para poder consumir tudo o que lhe é imposto.

A educação lúdica procura contribuir e influenciar a formação da criança,

buscando seu crescimento sadio, seu enriquecimento permanente, integrando-os a

uma espécie de espírito de uma prática democrática, enquanto investe em uma das

tantas formas de construção do conhecimento.

Percebe-se claramente, no meio escolar, que há uma restrição do lúdico, isto

é, uma falta de conhecimento e compreensão de seu verdadeiro sentido. Nesta

perspectiva, conduzir a criança à busca e ao domínio de um conhecimento mais

abstrato, misturando uma parcela de trabalho (esforço) com uma boa dose de

brincadeira, transformaria o trabalho e o aprendizado em um jogo bem sucedido.


30

Conforme Chauteau (1987, p60),

[...] a escola deve se apoiar no jogo, tomar o comportamento lúdico


como modelo para confirmar o comportamento escolar. Mas é
preciso considerar que há diferenças a separar o jogo do trabalho.
Por mais estreitas que sejam as relações entre jogo e trabalho, há
entre si dois comportamentos diferentes. Uma educação baseada
simplesmente no jogo (diversão) seria insuficiente, pois isolaria o
homem, transformando o viver num mundo ilusório. Esse jogo se
justifica, pelo próprio caráter de jogo, as crianças pequenas que
brincam pelo prazer de brincar e trabalhar). Por outro lado, uma
educação baseada simplesmente no trabalho (termo derivado de
tripalium – cavalete de tortura) no sentido restrito de produzir
mercadorias, produzir resultados a qualquer preço, criaria um ser
formal, técnico, destruindo dentro de si o sentido da vida, da
participação, da construção e da satisfação do próprio viver.

Observa-se, desta forma, que o trabalho escolar é o equilíbrio entre as duas

concepções, isto é, a criança, habituada ao esforço (produção do saber), ao instruir,

ao divertir-se, penetra em todas as relações de vida enquanto se desenvolve e se

define, no momento em que se prepara para o trabalho real, que lhe dará a

sobrevivência e sua condição de ser na sociedade.

Assim, pode-se asseverar que alguns desconhecem e outros se esquecem

que as atividades lúdicas permitem a formação do autoconceito positivo, possibilitam

o desenvolvimento integral, desenvolvem a afetividade, a sociabilidade e o cognitivo.

A própria escola não oportuniza e não possui em seu plano pedagógico o resgate

das brincadeiras e dos brinquedos que fizeram parte da história cultural da

humanidade.

Marcellino (1990, p.141) alega que

para que não se perca idéia do ‘brinquedo’, ou melhor, para que ela
seja recuperada, é preciso que a escola participe do resgate á cultura
da criança, reflita sobre o tempo dos alunos procurando entender o
conteúdo e a forma de utilização do tempo disponível, familiares e
sociais, promova as aquisições incorporadas pelos alunos no
31

desenvolvimento das atividades, do lazer, quer enquanto conteúdos,


quer como estilos de vida.

É de fundamental relevância verificar se nas séries iniciais há tempo para a

brincadeira enquanto processo de aprendizagem, valorizando a educação lúdica

como um mecanismo de apropriação de elementos cognitivos, afetivos e

psicológicos, os quais são imprescindíveis na formação do sujeito.

Por outro lado, pais que interagem e conhecem o valor das atividades lúdicas

e do brincar junto com seus filhos sabem que brincando a construção da

aprendizagem acontece de forma prazerosa e duradoura. As crianças que vivenciam

essas experiências apresentam-se mais comunicativas, mais criativas e demonstram

maior desempenho nas atividades escolares.

Com base nesses pressupostos, vê-se o significado do lúdico relacionado ao

espaço de espontaneidade, de liberdade e de expressão para a criança. Neste

sentido, é preciso, sem dúvida, redirecionar novos caminhos para a prática

pedagógica escolar. Sendo assim, a educação lúdica apresenta-se como uma boa

alternativa.

Enfim, é preciso recuperar o verdadeiro sentido da palavra escola, bem como

sua função, ou seja, lugar de alegria, de prazer intelectual e de satisfação. Ademais,

é necessário também repensar a formação dos docentes, momentos nos quais

possam refletir suas práticas e a partir daí adquirirem novas habilidades, não só em

busca do conhecimento teórico, mas em uma prática que se alimentará do desejo de

aprender cada vez mais para poder transformar o meio em que se insere, bem como

os sujeitos com os quais interage.

Logo, o sentido real, verdadeiro e funcional da educação lúdica estará

garantido se o educador estiver preparado para realizá-lo. Nada será feito se ele não
32

tiver um profundo conhecimento acerca dos fundamentos essenciais da educação

lúdica, condições suficientes para socializar o conhecimento, bem como

predisposição para levá-los adiante.

Assim, acredita-se que a matemática escolar também começa a assumir

contornos de mudança, passando a mostrar caminhos de contextualização,

construção de estratégias, discussão de regularidades e padrões. È é nesse

horizonte que o jogo surge como uma possibilidade para o trabalho escolar com a

matemática.

1.3 JOGO, BRINQUEDO E BRINCADEIRA

Existe uma dificuldade na compreensão dos significados atribuídos aos

termos “jogo”, “brinquedo” e “brincadeira”. Isso ocorre pela variedade de atividades

consideradas como jogo, brinquedo e brincadeira. Muitas vezes somente o contexto

social em que tais atividades se encontram inseridas permitirá compreender o

sentido desses termos. No Brasil, essa diferenciação se torna ainda mais difícil, pois

os diferentes termos ainda são empregados de forma indistinta e como sinônimos, o

que demonstra a existência de poucas investigações nesse campo.

O brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento e a

educação da criança. Brincando a criança tem oportunidade de exercitar suas

funções psico-sociais, experimentar desafios, investigar e conhecer o mundo de

maneira natural e espontânea.

Segundo Vygotsky (1998, p.121), “toda criança se apresenta para nós como

um teórico, caracterizado pelo nível de desenvolvimento intelectual superior ou


33

inferior, que se desloca de um estágio para outro”. No entanto, para entender esse

avanço do desenvolvimento da criança, é preciso considerar suas necessidades e os

incentivos eficazes para colocá-la em ação, uma vez que a criança satisfaz certas

necessidades no brinquedo.

Para o autor (Vygotsky apud KISCHIMOTO, 1997, p.60) “o que define o

brincar é a situação imaginária criada pela criança. Além disso, devemos levar em

conta que brincar preenche necessidades que mudam de acordo com a idade”. O

que é de interesse de um bebê não interessa a uma criança de maior idade.

Kischimoto (1997) pondera que a maturação dessas necessidades é de suma

importância para compreender o brinquedo da criança como uma atividade singular.

As crianças querem satisfazer certos desejos que muitas vezes não podem ser

satisfeitos imediatamente.

Desse modo, pode-se considerar que durante o processo de desenvolvimento

de uma criança, o brincar irá passar por inúmeras transformações, uma vez que o

conteúdo das brincadeiras depende de alguns fatores, tais como a percepção que

ela tem do mundo dos objetos humanos, da necessidade de agir em relação aos

objetos acessíveis a ela e da necessidade de agir em relação ao mundo do adulto.

As crianças em idade pré-escolar ainda mantêm a característica do estágio

anterior, que é a satisfação imediata. Para resolver essa tensão, “a criança em idade

pré-escolar envolve-se num mundo ilusório e imaginário onde os desejos não

realizáveis podem ser realizados, e esse mundo é o que chamamos de brinquedo”

(VYGOTSKY, 1998, p.122). Leontiev (2001) argumenta que na brincadeira, o motivo

da ação encontra-se no próprio processo da atividade realizada e não no resultado

obtido, não sendo, portanto, uma atividade produtiva. Conforme o autor, qualquer

ação lúdica tem duas características específicas: um objetivo consciente


34

estabelecido e uma operação (meio pelo qual ela será realizada). Em um jogo, por

exemplo, a ação ocorre sempre de acordo com a realidade, ou seja, o participante

pode modificar as condições para a sua realização, mas o conteúdo e a seqüência

da ação sempre correspondem à realidade. O imaginário surge quando existe uma

divergência entre a operação e ação; logo, as condições existentes para a ação que

fazem necessária a imaginação.

De acordo com Vygotsky (1998), a imaginação é um processo novo para a

criança, pois se constitui em uma característica típica da atividade humana

consciente. É certo, porém, que a imaginação surge da ação, e é a primeira

manifestação da emancipação da criança em relação às restrições situacionais. Isso

não significa necessariamente que todos os desejos não satisfeitos dão origem aos

brinquedos.

Kischimoto (1997) pontua que o brinquedo que comporta uma situação

imaginária também comporta uma regra. Não uma regra explícita, mas uma regra

que a própria criança cria, ou seja, “sempre que há uma situação imaginária no

brinquedo, há regras – não as regras previamente formuladas e que mudam durante

o jogo, mas aquelas que têm sua origem na própria situação imaginária”

(VYGOTSKY, 1998, p.125). Para Vygotsky (1998), qualquer situação imaginária de

qualquer forma de brinquedo já contém regras de comportamento, embora possa

não ter regras formais estabelecidas. Da mesma forma, todo jogo com regras

estruturadas tem uma situação imaginária.

As brincadeiras surgem no início da vida do ser humano e o acompanha

durante toda a infância. Seu primeiro esboço reduz-se a tentativas de brincadeiras

que proporcionam prazer, aos poucos suas tentativas vão evoluindo e o interesse da

criança também. Para Kischimoto (1997), caso a criança seja privada de brincar em
35

qualquer etapa de sua infância, terá problemas na construção de seu futuro, visto

que crianças que brincam transformam-se em adolescentes menos agressivos.

A criança sente necessidade de brincar e jogar sem que seja impedida de

usar sua imaginação simbólica, porque esse é o instrumento que fornece meios para

ela assimilar o real aos seus interesses e desejos.

Segundo Piaget (apud KISHIMOTO, 1997, p.39),

[...] cada ato de inteligência é definido pelo equilíbrio entre duas


tendências: assimilação e acomodação. Na assimilação, o sujeito
incorpora eventos, objetos ou situações dentro de formas de
pensamento, que constituem as estruturas mentais organizadas. Na
acomodação, as estruturas mentais existentes reorganizam-se para
incorporar novos aspectos do meio externo. Durante o ato da
inteligência, o sujeito adapta-se às exigências do meio externo,
enquanto ao mesmo tempo, mantém sua estrutura mental intacta. O
brincar, neste caso, é identificado pela primazia da assimilação sobre
a acomodação. Ou seja, assimila eventos e objetos ao seu eu e suas
estruturas mentais.

Ainda para o mesmo autor, “quando brinca a criança assimila o mundo a sua

maneira, em compromisso com a realidade, pois sua maneira de interação com o

objeto não depende da natureza do objeto, mas da função que criança lhe atribui”

(PIAGET, 1978, p.123).

Leontiev (2001) assegura que o jogo deixa de ser brincadeira no momento em

que a vitória, mais do que a participação, tona-se o motivador das atividades. Henriot

e Buougére (apud KISCHIMOTO, 1997, p.16) apontam três níveis de diferenciação

que permitem caracterizar o jogo. O primeiro está relacionado ao resultado de um

sistema lingüistico que funciona dentro de um contexto social, e em conformidade

com Kischimoto (1997, p.17) “[...] o jogo assume a imagem, o sentido que cada

sociedade lhe atribui”. Assim sendo, dependendo do lugar e da época, os jogos

assumem significações diferentes. O segundo ponto se refere às regras, as quais,


36

no pensamento da autora, “um sistema de regras permite identificar em qualquer

jogo, uma estrutura seqüencial que especifica sua modalidade” (KISCHIMOTO,

1997, p.17), uma vez que usando o mesmo objeto posso desenvolver jogos

diferentes. Quando alguém joga, está executando as regras do jogo, bem como

desenvolvendo uma atividade lúdica. E o terceiro ponto está relacionado ao jogo

enquanto objeto.

Ainda citando Kischimoto (1997), as regras são uma característica marcante

em todos os jogos, sejam elas implícitas (brincadeira de faz-de-conta) ou explícitas

(como no jogo do xadrez). Autores como Caillois e Huizinga indicam as seguintes

características próprias do jogo: a liberdade de ação do jogador, a separação do

jogo em limites de espaço e tempo, a incerteza que predomina, o caráter improdutivo

de não criar bens nem riqueza e suas regras. Dessa forma, fica assim delimitada a

diferença primordial entre jogo e brincadeira, enquanto no primeiro a criança ou

indivíduo segue regras, no segundo ela age livremente, imagina, sonha, inventa

ações, transforma objetos em brinquedos já existentes. Então a principal

característica do brincar é a imaginação que possibilita a formação da personalidade

e o aprendizado de como lidar com o mundo através de situações cotidianas

recriadas e cuja vivência é inventada.

Considerando que a idéia de aplicar o lúdico à educação difundiu-se,

principalmente a partir do movimento da Escola Nova, o brinquedo surge para

enriquecer a atividade lúdica, desenvolvendo um papel relevante no que concerne

às atividades das crianças. Almeida (1998, p.8) alega que “o brinquedo faz parte da

vida da criança. Ele simboliza a reação pensamento-ação e, sob este ponto, constitui

provavelmente a matriz de toda a atividade lingüística, ao tornar possível o uso da

fada, do pensamento e da imaginação.”


37

O brinquedo desempenha, portanto, importante papel no desenvolvimento de

habilidades verbais da criança, porque através dele a criança tanto se comunica com

os outros quanto busca se comunicar com seu próprio brinquedo, desenvolvendo

pequenos diálogos. Acerca dessa relação brinquedo/palavra, Vygotsky (1998, p.92)

faz as seguintes recomendações:

[...] no brinquedo, espontaneamente a criança usa sua capacidade


de separar significado de objeto sem saber o que está fazendo, da
mesma forma que ela não sabe estar falando prosa e, no entanto,
fala sem prestar atenção às palavras. Dessa forma, através do
brinquedo a criança atinge uma definição funcional de conceitos, de
objetos e as palavras passam a se tornar parte de algo concreto.

Assim, o brinquedo proporciona o aprender fazendo, o desenvolvimento da

linguagem, o senso de companheirismo e a criatividade. Outro importante aspecto

da brincadeira é o fato de possibilitar à criança a satisfação de atuar livremente

sobre determinadas situações. Brincando a criança aprende a decidir, ter opinião

própria, descobre seu papel e seus limites. Expressa sua necessidade de explorar o

mundo a partir do domínio das habilidades de comunicação, facilitando a auto-

expressão e os progressos mentais. Logo, as brincadeiras, através dos jogos ou

não, propiciam ainda a socialização, pelo exercício de vários papéis sociais.

Neste sentido, destaca-se uma brincadeira típica da infância que possui essas

características, que é o “faz-de-conta”. Kischimoto (1997, p.150) defende que

as brincadeiras de faz-de-conta são duradouras com efeitos positivos


no desenvolvimento, quando há imagens mentais para subsidiar a
transformação. Crianças que brincam aprendem a decodificar o
pensamento dos parceiros por meio da meta-cognição, o processo
de substituição de significados típicos de processos simbólicos.
38

Segundo Vygotsky (1998), é através de seus brinquedos e brincadeiras que a

criança tem a oportunidade de desenvolver um canal de comunicação, uma abertura

para o diálogo com o mundo dos adultos, na qual ela restabelece seu controle

interior, sua auto-estima e desenvolve relações de confiança consigo mesma e com

os outros, ou seja, o brincar constitui-se em um mecanismo de interação com o meio

físico e social, interferindo nas múltiplas relações do indivíduo com o mundo que o

cerca.

Nessa mesma linha de pensamento Vygotsky (1998, p.126) afirma:

É no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva


ao invés de uma esfera visual externa, dependendo das motivações
e tendências internas e não dos incentivos fornecidos pelos objetos
externos, assim a criança passa a desenvolver seu pensamento
sobre inúmeras possibilidades acerca daquele brinquedo.

Essas interferências retratam o caráter de aprendizagem legado à

brincadeira, bem como o de espontaneidade e liberdade, as coisas existem ou

passam a existir, livremente a criança faz uso das mesmas aprendendo a lidar com

novas situações.

As brincadeiras transformam e demandam o aparecimento de novas

oportunidades de consciência sobre o mundo. Por isso, o brincar é considerado uma

atividade teórica baseada em atividades reais. Nesse processo está contida a

sociedade com a qual a criança se relaciona emocional e cognitivamente, uma vez

que “[...] a situação objetiva imaginária desenvolvida é sempre, também, uma

situação de relações humanas” (LEONTIEV, 2001, p.136).

Considerando as brincadeiras, podem-se acrescentar mediações que, através

de questionamentos, discussões, interações do professor, do aluno e destes entre

si, permitissem algumas abstrações, algumas relações do brincar com situações da


39

vida real, não fazendo associações simplesmente, mas possibilitando acesso ao

significado das ações realizadas no lúdico.

Uma outra hipótese sobre a importância do brincar na infância enfatiza sua

função facilitadora da transição para os mais altos níveis de desenvolvimento

cognitivo. Isso porque, quando está brincando, a criança pode interagir com o

mundo mais ou menos a sua moda. Nesse âmbito, Vygotsky (1998) acredita que o

brincar é um importante suporte mental que permite à criança pensar e agir das mais

variadas formas. Outro fator apontado pelo autor é a possibilidade de realizar,

através de brincadeiras, ações que jamais poderiam ser realilzadas ou possuir

objetos, coisas que na vida real seriam impossíveis, reduzindo assim as frustrações

da vida e acomodando os conflitos.

A brincadeira é um processo interno individual enquanto reflete anseios,

conceitos, sonhos, prazeres e frustrações do indivíduo que busca construir sua

personalidade, seus ideais, mas ao mesmo tempo é o reflexo do meio social e da

cultura na qual a criança está inserida, demonstrando atitudes e sentimentos que

são exercitados para a vida em sociedade e que, uma vez retirados da realidade,

serão reelaborados e postos em prática novamente.

Enfim, Kischimoto (1997) define brincadeira como o ato de brincar, exercendo

um comportamento espontâneo e sem regras fixas. Isto não significa a inexistência

de regras, mas sim de uma regularidade interna determinada pelo desejo, pela

imaginação e criação da criança. Já a autora considera o brinquedo como um objeto

com o qual a criança estabelece relações íntimas e inúmeros significados para sua

utilização, não existindo um sistema de regras fixas que regule e estruture a ação

lúdica. Dessa forma, o brinquedo é entendido como objeto de brincar e o jogo


40

conceituado como a brincadeira que exige regras estruturadas, transmitidas

coletivamente.

Portanto, segundo Kischimoto (1996), a ação lúdica é a concretização da

relação entre a criança e o objeto, resultando na brincadeira, não podendo, assim,

ser considerada como jogo.

Em suma, no convívio com as crianças, constata-se claramente o quanto o

brincar é natural em suas vidas e, para que isto aconteça, não é necessário muito

mais do que proporcionar-lhes espaço. Nesse espaço, elas expressam sua forma de

pensar, organizar, desorganizar, destruir e construir o mundo e onde, de modo

simbólico, mostrar seus sentimentos, vontades e fantasias. Neste sentido a escola

precisa redefinir seu papel perante a realidade. Se o objetivo á a formação do

cidadão capaz de atuar em sociedade, é necessário rever conceitos, introduzindo a

brincadeira em sala de aula, valorizando a socialização e recriando experiências.

1.4 O JOGO NA MATEMÁTICA

Definir o jogo, objeto sobre o qual será dedicada atenção especial nesta

pesquisa, torna-se um desafio. Autores como Huizinga (1990), Caillois (1990) e

Chauteau (1987) buscaram estabelecer características que definiriam atividades

como jogo. O ato de jogar é tão antigo quanto o próprio homem, pois este sempre

manifestou uma tendência lúdica, isto é, um impulso para o jogo. Para Huizinga

(1990), o jogo é anterior à cultura e esta surge a partir do jogo. O mundo dos jogos e

das brincadeiras é uma herança miniaturizada das culturas, de seus mitos e, às

vezes, de suas religiões. O jogo, segundo esse autor, propicia aculturação e


41

socialização ao ensinar a dialética da liberdade das regras, das convenções

livremente aceitas, levando ao cerne de toda a civilização. Considera ainda que o

jogo e o espírito lúdico têm papel essencial na história das sociedades e das

culturas, como forma específica de atividade e como função social:

se verificarmos que o jogo se baseia na manipulação de certas


imagens, numa certa ‘imaginação’ da realidade (ou seja, a
transformação desta em imagens), nossa preocupação fundamental
será, então captar o valor e o significado dessas imagens e dessa
‘imaginação’. Observaremos ação destas ao próprio jogo, procurando
assim compreendê-lo como fator cultural da vida (HUIZINGA, 1990,
p.7).

Huizinga (1990) explicita a noção de jogo “como um fator distinto e

fundamental, presente em tudo o que acontece no mundo [...] é no jogo e pelo jogo

que a civilização surge e se desenvolve”. Para esse filósofo, o jogo faz parte da

cultura e gera a própria cultura. O autor identifica uma atividade como sendo jogo da

seguinte forma:

Atividade livre, conscientemente tomada como não-séria e exterior à


vida habitual, mas ao mesmo tempo capaz de absorver o jogador de
maneira intensa e total. É uma atividade desligada de todo e
qualquer interesse material, com a qual não se pode obter qualquer
lucro, praticada dentro dos limites espaciais e temporais próprios,
segundo uma certa ordem e certas regras (HUIZINGA, 1990, p.16).

Na verdade, nessa concepção de Huizinga, poder-se-ia categorizar quase

tudo como sendo jogo. No âmbito desta pesquisa, o interesse se volta para o jogo

no ensino da Matemática, e o enfoque será o jogo no processo ensino-

aprendizagem, na perspectiva dos professores.

Pensar na atividade com jogos como uma metodologia, ou mesmo como uma

teoria recentemente discutida, é um grande equívoco. Platão já acreditava na ação


42

dos jogos, afirmava que os primeiros anos da criança deveriam ser ocupados com

jogos educativos, praticados em comum pelos dois sexos, sob a vigilância e em

jardins de crianças. Segundo ele, “[...] a educação propriamente dita deveria

começar aos sete anos de idade” (PLATÃO apud ALMEIDA, 1998, p.19).

É importante ressaltar que Platão introduziu, na época, uma prática

matemática lúdica, tão enfatizada atualmente. Nessa prática, o filósofo partia de

problemas concretos, extraídos da vida e dos negócios para chegar aos cálculos.

Em suas palavras, “Todas as crianças devem estudar a matemática, pelo menos no

grau mais elementar, introduzindo desde o início atrativo em forma de jogo”

(PLATÃO apud ALMEIDA, 1998, p.19).

Grando (1995, p.31), ao referir-se a Huizinga, postula que

a palavra e a noção de jogo foram sendo construídas nas diversas


civilizações, não definidas por um pensamento lógico ou científico,
mas na ‘linguagem criadora’, isto é, em inúmeras línguas
diferenciadas. Neste sentido, não se poderia esperar que cada uma
das diferentes línguas encontrasse uma mesma palavra e idéia para
exprimir a mesma noção de jogo.

Com o passar dos tempos, várias concepções foram formuladas acerca dos

jogos. Algmas de maneira muito significativa, outras discriminando a criança e seu

interesse pelas atividades lúdicas. Porém, a partir do século XVI, os humanistas

começaram a perceber o valor educativo dos jogos, e os colégios jesuítas foram os

primeiros a recolocá-los em prática. Os padres introduziram os jogos novamente em

seu programa e eles voltaram a ser reconhecidos como bons e recomendados; logo

se transformaram em práticas educativas para a aprendizagem da ortografia e da

gramática.

Rousseau (1979, p.78) demonstrou que a criança tem maneiras de ver, de

pensar e de sentir que lhes são próprias, que não se aprende nada senão por meio
43

de uma conquista ativa. “Não deis a vosso aluno nenhuma espécie de lição verbal:

só da experiência ele deve receber”. Em conformidade com o autor, só se aprende a

pensar se se exercitam os sentidos, instrumentos da inteligência. Logo, “[...] a boa

instituição do corpo é que torna as operações do espírito fáceis e seguras”

(ROUSSEAU, 1979, p.121). Na linha de pensamento do pensador, nessa ampla

procura de melhores métodos de ler e escrever, esquece-se o mais seguro, que é o

desejo de aprender do aluno.

De acordo com Pestalozzi (apud ALMEIDA, 1998, p.23),

a escola é uma verdadeira sociedade, na qual o senso de


responsabilidade e as normas de cooperação são suficientes para
educar as crianças, e o jogo é um fator decisivo que enriquece o
senso de responsabilidade e fortifica as normas de cooperação.

Entretanto, com Froebel (apud ALMEIDA, 1998, p.239) é que os métodos

lúdicos se fortalecem. “O grande educador faz do jogo uma arte, um admirável

instrumento capaz de promover a educação para as crianças”. Para o autor, a

melhor forma de conduzir uma criança à atividade, à auto-expressão e à

socialização seria por meio dos jogos. Sendo assim, “[...] com a teoria froebeliana

que realmente se determinou os jogos como fatores decisivos na educação das

crianças” (FROEBEL apud ALMEIDA, 1998, p.239).

Nesse contexto, pode-se asseverar que o estudo mais completo sobre a

evolução do jogo na criança é de autoria de Jean Piaget (apud ALMEIDA, 1998,

p.43), que verificou esse impulso lúdico já nos primeiros meses de vida do bebê. Os

jogos, “[...] desde o início introduzem na atividade lúdica da criança uma dimensão

de risco e de gratuidade em que o prazer da surpresa opõe-se à curiosidade

satisfeita”, ou seja, as brincadeiras dos bebês não são simples estímulos ao


44

desenvolvimento físico, uma vez que, ao brincar, a criança incorpora no cérebro

impressões verdadeiras que irão aflorar no desenvolvimento cognitivo.

Para Piaget (apud KAMII; DEVRIES, 1991), a interação social entre colegas é

indispensável ao desenvolvimento social, moral e intelectual dos indivíduos. Piaget

(apud LENER, 1996) assinala que a cooperação entre as crianças é tão importante

para o progresso do conhecimento quanto a ação, a mediação dos adultos e que as

situações que favorecem a discussão entre pares, propiciando um verdadeiro

intercâmbio de pontos de vista, são insubstituíveis para incentivar a formação do

senso crítico e de um pensamento cada vez mais objetivo. Neste sentido, enfatiza que:

se tivéssemos que escolher entre o conjunto de sistemas


pedagógicos atuais aqueles que correspondem melhor aos nossos
resultados psicológicos, tentaríamos orientar o nosso método àquilo
que denominamos ‘o trabalho em grupos’ [....] Na escola tradicional
[...] a classe escuta em conjunto, porém cada escolar escuta suas
lições para si mesmo. [...] O método de trabalho em grupo reage
contra esse estado de coisas: a cooperação eleva-se à categoria de
fator essencial do progresso intelectual (PIAGET apud LENER,1996,
p.101).

Os jogos em grupo representam atividades como as apontadas por Piaget e

possibilitam aos indivíduos trabalharem com a regularidade, o limite, o respeito e a

disciplina, por meio de ações necessariamente subordinadas a regras. Todos esses

aspectos se fazem importantes para a vida do indivíduo em sociedade. Macedo

(apud PETTY, 1995, p.66) reitera que:

Do ponto de vista social tem-se nos jogos de regras as exigências


básicas para uma vida social: a necessidade de uma linguagem, de
códigos e, principalmente, da consideração de regras que regulam
nosso comportamento interindividual.

Piaget (1998, p.143) discute ainda a importância da cooperação como

condição para o verdadeiro pensamento da criança, pontuando que, à medida que


45

ela é capaz de renunciar aos seus desejos e interesses próprios para pensar em

função de uma realidade comum, de um interesse coletivo e pode se colocar no

ponto de vista dos outros, é possível que “a inteligência adote a atitude, própria ao

espírito científico desde suas formas mais simples, que consiste em dissociar o real

das ilusões antropocêntricas”.

Partindo da perspectiva piagetiana, salienta-se que o jogo é uma atividade

própria da criança, e constitui-se em um pré-exercício para o desenvolvimento de

todas as funções, evoluindo dos jogos simbólicos individuais para os jogos de

regras, que são atividades lúdicas do ser socializado.

O desenvolvimento da criatividade é resultante da ação do indivíduo no jogo,

no qual ele exerce seu poder criador, elaborando estratégias, regras e cumprindo-as.

Mas além de todos esses fatores externos, os educadores necessitam conhecer

determinados componentes internos dos seus alunos para orientá-los na

aprendizagem de maneira significativa. As contribuições no campo da Psicologia

surgem de teóricos como Piaget, Vygotsky, Montessori, Decroly e Fröbel.

O jogo estabelece relações profundas com a criança e a faz aprender a viver

e a crescer conjuntamente nas relações sociais. Uma vez que o jogo não é uma

atividade isolada de um grupo formado ao acaso, ele reflete experiências, valores da

própria comunidade na qual encontram-se inseridas. De acordo com Huizinga (1980,

p.193), “embora a cultura provenha do jogo, não se desliga dele. A cultura origina-se

‘no jogo, e enquanto jogo, para nunca mais perder esse caráter’.”

Neste sentido, torna-se importante destacar que a palavra jogo provém de

jocus, substantivo masculino de origem latina, que etimologicamente significa

gracejo, sendo sinônimo de divertimento, passatempo sujeito a regras que devem

ser observadas quando se joga. Contudo, essa denominação é utilizada para todas
46

atividades lúdicas executadas individual ou coletivamente, mas existem diferenças

entre as mesmas que devem ser estabelecidas.

O jogo possui três níveis de diferenciação, que são: resulta de um


sistema lingüístico, constituindo-se fruto da nomeação pragmática de
uma dada sociedade, segundo sua função na mesma, apresenta um
sistema de regras, com estruturas seqüenciais específicas o que a
diferencia de outras atividades e é um objeto, ou seja, é a
materialização do pensamento através de elementos que serão
utilizados na ação de jogar (KISCHIMOTO, 1998, p.14).

Analisando alguns autores, sem pretensão de atingir a exaustão, nas

questões que envolvem a terminologia, o jogo é definido como “uma competição

física ou mental conduzida de acordo com regras na qual cada participante joga em

direta oposição aos outros, cada um tentando ganhar ou impedir que o adversário

ganhe” (GOVE apud KAMII; DEVRIES, 1991, p.3).

Enfim, o jogo é uma realidade móvel que se metamorfoseia conforme a

realidade e a perspectiva do observador e do jogador. Assim, como atividades na

qual a criança aprende a fazer fazendo, os jogos devem proporcionar atividades

dinâmicas e desafiadoras que exijam a participação ativa da criança.

Quanto ao processo ensino-aprendizagem da matemática, o jogo se

apresenta com formas e características próprias, propícias a dar compreensão para

muitas das estruturas matemáticas existentes e de difícil assimilação. Grando (1997)

refere que na relação que se estabelece entre o jogo e a resolução de problemas,

ambos enquanto estratégias de ensino da matemática evidenciam o processo de

criação e construção de conceitos, mediante uma ação comum estabelecida a partir

da discussão matemática entre os alunos. Assim, o jogo se apresenta, no processo

ensino-aprendizagem da matemática, como um gerador de situações-problema,

desafiador para o aluno e desencadeador de sua aprendizagem.


2

FENOMENOLOGIA: O MÉTODO INVESTIGATIVO NA PESQUISA

QUALITATIVA

Durante muitos anos, perdurou sobre as ciências um modelo positivista, no

qual interessava conhecer apenas aquilo que fosse útil, concreto, experimental,

factual. Até que, por volta do final do século XIX, a ciência européia passa por uma

grande crise. Segundo Neves (1991), essa herança positivista nas ciências do

homem bloqueou o acesso da compreensão do ser em uma renúncia deliberada da

subjetividade humana. À procura de leis gerais, objetivas e quantificáveis, a

psicologia renunciou à filosofia e esta, por sua vez, à própria filosofia. Implantou-se,

dessa forma, a crise no conhecimento, passando o ser a encarnar o repetidor de

idéias objetivas, não sendo considerado atribuidor de significados e indexador de

compreensão da ciência e da cultura.

Husserl (1980), analisa a crise das ciências européias, com seus vários

‘ismos’ (historicismo, psicologismo...), ressaltando o fato de, apesar de ter-se

alcançado um grande desenvolvimento em vários campos do saber, ocupando-se

muitos espaços, se haver perdido a clareza de seus fundamentos. Na visão de

Landgrebe, “as ciências entraram em crise porque não têm mais possibilidade de se

dar consciência do significado do seu operar. Caíram num vazio de significado”

(LANDGREBE apud VALENTINI, 1988, p.11).


48

Nessa perspectiva, Merleau-Ponty (apud DARTIGUES, 1973, p.16) afirma

que “a fenomenologia nasceu de uma crise”, ou seja, a fenomenologia de Husserl,

corroborando Merleau-Ponty (1990), aparece como uma tentativa de superar as

crises que emergiam na filosofia, nas ciências do homem, bem como nas ciências

em geral. No positivismo, de acordo com Neves (2002, p.26), o “conhecimento é

uma idéia ingênua de descrição da realidade acompanhada de uma teoria da

verdade”. Esse autor observa ainda que, de acordo com o positivismo, o sujeito está

fora da referência do conhecimento, ou seja, “o sucesso metodológico e de análise

da ciência, baseada numa leitura dos procedimentos da ciência física, aliado a um

reducionismo da epistemologia à metodologia, faz com que se perca a visão sobre a

experiência direta do sujeito conhecedor” (NEVES, 2002, p.26).

Husserl (apud VALENTINI, 1988, p.13) busca, na fenomenologia, “reconduzir

a razão à sua verdadeira realidade”. Dessa forma, define a fenomenologia como

“uma ciência ‘a priori’, ’eidética’, que possibilita um estudo em torno das essências,

como também da ciência das essências, e garante a legitimidade de um

conhecimento essencial contra o naturalismo e o psicologismo” (HUSSERL apud

BELLO, 2000, p.36). A essência é o que permanece imutável na multiplicidade do

que é apresentado pelo discurso. Assim, “se a essência permite identificar um

fenômeno, é porque ela é sempre idêntica a si própria, não importando as

circunstâncias contingentes de sua realização” (DARTIGUES, 1973, p.22).

O método fenomenológico, em conformidade com Giles (1979), caracteriza-se

por uma preocupação em dar uma descrição pura da realidade, do fenômeno. Para

Husserl (1980), o fenômeno é aquilo que se oferece ao olhar intelectual, à

observação do ser. Entretanto, esse absoluto só pode ser o ser-essencial da coisa,


49

tal como se apresenta na realidade. Por essa razão, todo o olhar fenomenológico

converge em dirigir o conhecimento para o essencial:

tudo aquilo que sei do mundo, mesmo por ciência, eu o sei a partir de
uma versão minha ou de uma experiência do mundo sem a qual os
símbolos da ciência não poderiam dizer nada. Todo o universo da
ciência é construído sobre o mundo vivido, e se queremos pensar a
própria ciência com rigor, apreciar exatamente o seu sentido e o seu
alcance, precisamos primeiramente despertar essa experiência do
mundo da qual ela é expressão segunda. A ciência não tem e não
terá jamais o mesmo sentido de ser que o mundo percebido, pela
simples razão de que ela é uma determinação ou uma explicação
dele (MERLEAU-PONTY apud BICUDO, 2000, p.56).

Partindo de Merleau-Ponty, compreende-se que a percepção é dependente

da consciência, isto é, “a coisa não está além de sua manifestação” (BICUDO, 2000,

p.73). A percepção residiria, pois, num encontro intersubjetivo (sujeito-pesquisador).

Bicudo (1989) argumenta que a investigação fenomenológica trabalha com o que faz

sentido ao sujeito, com o fenômeno tal como ele é percebido ou manifesto.

O significado de fenômeno, em concordância com Martins e Bicudo (1989,

p.21), vem da expressão grega fainemon, derivando do verbo fainestai, que quer

dizer “mostrar-se a si mesmo”. Assim, fainemon significa aquilo que se mostra, que

se manifesta. Fainestai é uma forma reduzida que provém de fainon, que denota

“trazer a luz do dia”. Fainon provém da raiz “fa”, entendida como fos, que quer dizer

luz, aquilo que é brilhante. Em outros termos, significa aquilo onde algo pode tornar-

se manifesto, visível em si mesmo. Fainomena ou fenomena é o que se situa à luz

do dia ou que pode ser trazido à luz.

A fenomenologia diz respeito a uma categoria de pesquisa que parte do

fenômeno social concreto, mas com ênfase ao conteúdo da percepção do sujeito

que vivenciou certas experiências. Essa percepção pauta-se na descrição dos

fenômenos presentes em um determinado contexto, os quais estão impregnados por


50

significados outorgados na relação do sujeito com o ambiente. Desse modo, para

conhecer o fenômeno investigado, e o que de significativo o mesmo tem para o

sujeito pesquisado, faz-se necessário ir ao ser do sujeito, buscando desvelar as

essências do discurso que possam trazer à luz o fenômeno sob investigação.

Partindo, pois, de uma entrevista, em que os “a priori” do pesquisador estão em

suspensão, o sujeito pesquisado expõe livremente o que percebe, como vive e,

assim, pode traçar as essências perdidas na contingência da vida, mas que, no

entanto, dão estrutura e existência ao fenômeno.

Neste sentido, Giorgi postula que “está claro que a linguagem é tão essencial

à ciência como ela o é para a vida humana em geral” (1986, p.3). 11 A descrição é

uma das formas de acesso à compreensão de como o fenômeno se manifesta, ou

seja, “uma descrição é o uso da linguagem para articular os objetos da experiência”

(GIORGI, 1986, p.4) 12 . De acordo com França (1989, p.18), “o discurso, como

organização do pensamento expressado através da linguagem, constitui um modo

peculiar de ser do homem, é parte do homem como ser-no-mundo. Através do

discurso o ser humano se manifesta, exprime a própria existência”.

Para Bicudo (2000, p.76) “a descrição relata o percebido na percepção, no

fundo onde esta se dá. Ela aponta o percebido, que é o correlativo à coisa, sempre

tida, na fenomenologia, como não estando além de sua manifestação e sendo

relativa à percepção”. Por isso, na visão dos fenomenólogos, ela não admite

julgamentos e avaliações, à proporção que ela expressa o sentido, o vivido e o visto

pelo sujeito que percebe o fenômeno. Conforme Merleau-Ponty (apud MARTINS,

11
“It is clear that language is as essential to science as it is to human life in general”. (n.d.t.).
12
“A description is the use of language to articule the objects of experience.” (n.d.t.).
51

1992, p.55), é preciso considerar o outro humano no mundo. Se somos uns para os

outros, ou “uns-com-os-outros”, precisamos, necessariamente, ter uma aparência

mútua (perspectiva um do outro). Nesse contexto, “minha visão dos outros e a que

eles têm de mim é que permitem nossa posição no mundo”.

Na abordagem fenomenológica, os significados acerca das vivências dos

sujeitos pesquisados são obtidos a partir das descrições ingênuas que eles

tematizam. Tematizar, nesse contexto, quer dizer “pôr de forma estabelecida,

localizada, um assunto ou tópico sobre o qual se vai discursar, dissertar ou falar

seriamente” (MARTINS; BICUDO, 1989, p.76).

Para Martins e Bicudo (1989), a forma pela qual os dados são coletados na

pesquisa qualitativa é a da comunicação entre sujeitos, sendo o tratamento dos

dados realizado através da interpretação hermenêutica. A palavra “hermenêutica”

vem do grego, do verbo hermeneuein (interpretar) e do substantivo hermeneia

(interpretação). Para Ricouer (apud BICUDO, 2000, p.78), “toda linguagem, ao dizer,

interpreta. Ela é, ao mesmo tempo, interpretação de uma realidade e uma

interpretação, que pode ser auto-interpretação, daquele que fala da realidade”. A

interpretação hermenêutica, citando Bicudo (1991), é fundada na experiência vivida

por aquele que interpreta sua própria experiência. A interpretação, segundo Ricouer

(apud DICHTCHEKENIAN, 1988, p.100), “consiste em decifrar o sentido oculto no

sentido aparente, em desdobrar os níveis de significação implicados na significação

literal”.

Na visão de Husserl, a linguagem é a explicitação da inteligibilidade, o que

torna possível a manifestação das compreensões acerca de algo. Para Husserl

(1980), as palavras descrevem várias experiências acerca de um objeto, salientando


52

determinados padrões. Giorgi (1986, p.5) observa que “as descrições podem ser

uma fonte legítima de dados na pesquisa psicológica” 13 .

Já o objeto da investigação consiste em coletar descrições e trabalhar a

essência do fenômeno individual, sendo possível agrupar fenômenos

fundamentalmente semelhantes e/ou diferentes, variando de acordo com as

essências descritas/desveladas.

Para o pesquisador que assume a fenomenologia como recurso em sua

investigação (que consiste na interrogação de pessoas), será fundamental que tenha

compreendido, antecipadamente, que, ao indagar diferentes sujeitos, os quais

vivenciam situações parecidas, poderão surgir diferentes relatos. Essa distinção

pode ocorrer porque os significados atribuídos pelas pessoas a um mesmo

fenômeno não são, necessariamente, iguais, pois as diferentes subjetividades de

cada sujeito acabam alicerçando maneiras peculiares de ver e construir o mundo.

Uma característica essencial do pesquisador fenomenológico é sempre

colocar entre parênteses suas crenças e sua compreensão prévia sobre o

fenômeno, de maneira que

ele não possui princípios explicativos, teorias ou qualquer indicação


definidora do fenômeno. Inicia seu trabalho interrogando o fenômeno
[...] Isso quer dizer que ele não conhece as características essenciais
do fenômeno que pretende estudar. [...] O fenomenólogo respeita as
dúvidas existentes sobre o fenômeno pesquisado e procura mover-se
lenta e cuidadosamente de forma que ele possa permitir aos seus
sujeitos trazerem à luz o sentido por eles percebido sobre o mesmo
(MARTINS; BICUDO, 1989, p.92).

Martins e Bicudo (1989) assinalam que o respeito às dúvidas sobre o

fenômeno em estudo implica na opção pela abordagem fenomenológica desse

13
“Descriptions can be a legitimate source of data in psychological research. “ (n.d.t.).
53

trabalho, uma vez que os interesses da pesquisa direcionam-se à busca dos

significados que os sujeitos pesquisados atribuem a algumas situações vivenciadas.

Nessa perspectiva “o sujeito é tido como um atribuidor de significados e não um

repetidor de idéias mecanicamente adquiridas” (MARTINS; BICUDO, 1989, p.94).

A tarefa metodológica principal, na fase da constituição de dados, consiste da

indagação dos princípios gerais, segundo os quais o ser humano organiza as suas

experiências cotidianas, almejando compreender o fenômeno situado. Para Martins

e Bicudo (1989, p.97), “na coleta de dados para a análise do fenômeno situado, o

pesquisador precisa por diante de seus olhos o fenômeno que está investigando,

para começar pela descrição da experiência de mundo dos sujeitos que são seus

objetos veiculadores da pesquisa”.

Logo, os dados não se encontram dispostos de tal forma que estejam

totalmente prontos para serem coletados.

Uma das dificuldades encontradas pelo pesquisador que se inicia na pesquisa

fenomenológica, como salientado anteriormente, reside na necessidade de livrar-se

de preconceitos relacionados ao fenômeno e ao próprio sujeito a ser entrevistado, o

que demonstra a necessidade de rigor no que tange a essa natureza de pesquisa.

Esse “livrar-se” nunca será total, pois a prática da pesquisa fenomenológica é

sempre um encontro intersubjetivo. Por essa razão, torna-se necessário possibilitar

ao sujeito entrevistado a liberdade para que expresse suas idéias sem temor, pois

é importante que o entrevistador desenvolva um questionamento não


preconceituoso. [...] O pesquisador deve apresentar tópicos que
sejam relevantes, significativos e que não sejam difíceis ao serem
examinados pormenorizadamente. É preciso que o pesquisador
deixe o entrevistado à vontade, sem ser interrompido, sobre os
problemas que ambos estejam interessados (MARTINS; BICUDO,
1989, p.55).
54

Na pesquisa fenomenológica, não há impedimentos em relação ao

pensamento pré-reflexivo do pesquisador. O reflexivo é o que aparecerá no encontro

intersubjetivo. Bicudo (1999) aponta que é isso que motiva a preocupação de

pesquisa. Todavia, esse pensamento deve estar cuidadosamente delimitado, de

modo que sua investigação não esteja provida de significações oriundas dele próprio

em detrimento aos significados atribuídos pelo sujeito entrevistado. Esses

significados, emanados do sujeito entrevistado, apresentam-se como o objeto final

desta pesquisa. De acordo com Garnica (1997), em um âmbito qualitativo a pesquisa

ganha novo significado, passando a ser concebida como uma trajetória circular em

torno do que se deseja compreender, não se preocupando, única e/ou

aprioristicamente, com princípios, leis e generalizações; antes, voltando o olhar aos

elementos que são significativos para o sujeito pesquisado e o pesquisador.

Assim, será possível desvelar como esse fenômeno está estruturado segundo

o ser no mundo. Seria como descobrir seu mundo-vida (lebenswelt). Husserl (apud

VALENTINI, 1988, p.18) concebe “o mundo-vida é o universalmente noto, a

obviedade que inere a qualquer vida humana, aquilo que em sua particularidade é

para sempre familiar através da experiência”. Esse retorno ao lebenswelt do sujeito

pesquisado é a possibilidade de revelar as essências do fenômeno estudado, tal

como ele está constituído no mundo existente. Para Valentini (1988, p.23),

“lebenswelt é o lugar privilegiado dos motivos e dos fins”.

A fenomenologia permite uma descrição da experiência do ser tal como ela é,

e não segundo teorias gerais que visam generalizar os fenômenos. Longe de buscar

dados estatísticos acerca do elemento em pauta, buscar-se-á revelar as essências

desse fenômeno, consistindo, assim, o ponto de partida e o objetivo principal do

presente trabalho, o que se tornará possível à luz da fenomenologia.


55

Husserl (1980) menciona que uma ciência pode se caracterizar como tal caso

exista uma unidade entre o ato de conhecer e aquilo que é conhecido. A

fenomenologia busca estabelecer uma união entre essa unidade mediante a

estrutura básica da consciência, a intencionalidade, uma vez que esta revela uma

impossibilidade de um ato da consciência ter ou visar um objeto. Já Valentini (1988,

p.15) define que “consciência e mundo não podem ser pensados senão numa

unidade profunda e originária, numa co-presença”. Para França (1989, p.32), é na

relação da consciência com a experiência que os significados pessoais vão sendo

atribuídos e sendo incorporados à própria experiência. Dessa forma, torna-se

imprescindível “uma análise descritiva que procure tornar explícitos os significados

implícitos na experiência vivida, de tal forma que o fenômeno se torne presente e

possa ser interpretado”.

Importa destacar que um estudo baseado na fenomenologia se dá a partir de

etapas distintas, mas que possuem rigor próprio, justificado pelo enfoque atribuído a

cada fase. Esse rigor é que torna possível conjecturar, em cada descrição,

elementos que permitem construir uma estrutura para o fenômeno em estudo.

Essa possibilidade do pesquisador poder situar-se diante do fenômeno

desvelado pelo sujeito pesquisado é a peculiaridade da pesquisa qualitativa. Essa

revelação do fenômeno será possível porque o pesquisador qualitativo terá, à sua

disposição, os relatos escritos (descrições ingênuas dos sujeitos pesquisados), os

quais serão lidos a partir da ótica do sujeito que experienciou, apresentando-se

como uma espécie de eu do próprio pesquisador, inserindo-se no próprio sujeito

pesquisado, com o intuito de compreender e investigar seu mundo-vida, ou seja,

buscar experienciar, no encontro intersubjetivo, a experiência do outro. Tendo em

mãos os relatos, esses se tornarão, a partir daí, a fonte na qual todo o trabalho
56

posterior se estruturará. Recorrer-se-á a esses relatos, em diferentes momentos,

para que, cada vez mais, possa se ter clareza do fenômeno em estudo.

Neste trabalho de leituras e releituras dar-se-á a redução fenomenológica ou

epoche, isto é, o “apagar uma luz sobre [...] (algo)” (BELLO, 2000, p.40). Para Bello

(2000), não se pode negar a “tese” do mundo, mas reconhecer o mundo como

existente. Cabe, apenas, o poder de suspender essa tese e colocá-la entre

parênteses e, conscientes de que o que foi posto entre parênteses continua entre

parênteses, enfatizar que “o mundo, na atitude fenomenológica, não é uma

existência, mas um simples fenômeno” (DARTIGUES, 1973, p.28).

Cada discurso será analisado, re-analisado, na busca de se separar os

fragmentos que podem revelar as essências, desvelar o fenômeno daquilo que

apenas permeia o discurso ingênuo do sujeito pesquisado, mas que possibilita

revelar essências que possam estruturar o fenômeno em pauta. Deve-se ressaltar

que redução fenomenológica ou epoche seria um método pelo qual tudo que é dado

ou manifestado em um fenômeno é conhecido na e pela consciência, livre de teorias

ou pressuposições, constituindo-se de um modo a priori.

Nesse processo de análise-re-análise é que nascem as primeiras unidades de

significado. Aqui se manifesta o caráter intersubjetivo do sujeito pesquisador, pois as

unidades de significado serão construídas ou constituídas em consonância com sua

própria perspectiva. É por essa razão que as unidades de significado podem variar

sob a ótica de diferentes pesquisadores.

Nessas unidades de significado estão contidos os fragmentos mais

significativos; aqueles fragmentos reveladores dos discursos. Isso exige um esforço

peculiar e imaginativo do pesquisador, visando compreender cada unidade, uma vez

que os fragmentos expressivamente ingênuos serão transformados por meio de uma


57

linguagem psicológica. Aqui se revela a etapa mais difícil de todo o processo

fenomenológico, uma vez que será necessária a caracterização do fenômeno em

sua essência.

Importante salientar que a essência deriva da palavra grega eidos, da qual

origina-se a palavra idéia. No dizer de Bello (2004, p.81), “para os gregos,

especialmente Platão, a idéia é aquilo que nós conseguimos captar através do

pensamento. Nós conseguimos captar, apreender, tomar o eidos das coisas de onde

deriva a idéia que temos delas”. Essa etapa é denominada “compreensão

ideográfica”, pois terá como fim a representação de idéias, ou seja, buscará “afastar

a consciência dos objetos, e colocá-la em posição de referir-se aos atos

intencionais” (RIBEIRO, 2003, p.38).

Finalizada essa parte, que consiste das representações ideográficas de cada

sujeito pesquisado, o pesquisador buscará chegar às categorias 14 . Dentro dessas,

existirão convergências e divergências que darão um caráter nomotético ao tot dos

discursos. O termo nomotético deriva-se de nomos, que significa leis, normas, regras

gerais (MARTINS; BICUDO, 1989, p.105).

Chega-se, assim, à etapa final do processo fenomenológico. Dessa

construção nomotética, pautada nas representações e compreensões ideográficas, é

que se terá a estrutura geral psicológica que perpassa os discursos e as vivências

dos sujeitos pesquisados.

14
Categorias abertas são constructos que apresentam grandes convergências de Unidades de
significado já analisadas e interpretadas. Indicam os aspectos estruturantes do fenômeno
investigado e abrem-se à metacompreensão, considerando a interrogação, o percebido, o
analisado, o diálogo estabelecido na intersubjetividade autor/ sujeitos/ autores/ região de inquérito
(BICUDO, 2000, nota 26).
3

A PESQUISA: ENTREVISTAS COM PROFESSORES

3.1 OS SUJEITOS DA PESQUISA EM SEU AMBIENTE

Para a realização desta pesquisa, foram entrevistados cinco professores da

Rede Municipal de Ensino da cidade de Toledo, Paraná. Tais professores possuem

formações diversas, tendo em comum, porém, “a questão do ensino”. Esses sujeitos

atuam em todas as disciplinas curriculares. No entanto, o foco que conduzirá toda a

pesquisa será a área curricular de matemática, por suscitar inúmeros problemas

(apatia, medo, dificuldades de aprendizagem, dificuldades no ensino, reprovação,

bem como pelos índices que os alunos têm apresentado na disciplina, como mostra

o Saeb) e pelo fato de a educação matemática ser motivo de tantas discussões

(Congressos, Grupos de estudos por todo Brasil, nos quais estão envolvidos,

principalmente, professores pesquisadores das questões que envolvem o processo

ensino-aprendizagem da matemática). Especificamente, toda a trajetória que será

percorrida no decorrer da entrevista visará perceber e entender como o jogo na

matemática apresenta-se no contexto escolar.

Buscar-se-á compreender, a partir dos discursos dos professores, se as

potencialidades inerentes aos jogos alcançam de fato um norte de trabalho na área

curricular de matemática. Caminhar em direção ao ambiente em que o fenômeno “o

jogo na matemática” se situa permite obter uma abordagem mais detalhada acerca
59

do fenômeno investigado. Os sujeitos pesquisados revelaram, dentro das

contingências enfrentadas nas escolas e das intempéries que se abatem sobre o

processo de ensino-aprendizagem, fragmentos essenciais de discursos que

desvelam o fenômeno.

Dos sujeitos entrevistados, têm-se aqueles com vários anos de atuação nesse

nível de ensino e outros em início de carreira. Têm-se, também, sujeitos que estão

atuando nas escolas, embora ainda não tenham concluído sua formação

completamente, os quais são estagiários que desde o primeiro ano de graduação

atuam nas escolas por meio da contratação pelo sistema CIEE (Centro de

integração Empresa Escola).

Alguns impasses acabaram ocorrendo durante as entrevistas, principalmente

no que se refere ao fator “tempo”. Muitas vezes quando a entrevista era marcada, o

professor não comparecia porque ou tinha esquecido ou tinha planejado outra

atividade para aquele momento. Assim, para realizar essa etapa do trabalho de

pesquisa, notou-se um desgastante movimento rumo à escola, ao encontro dos

indivíduos pesquisados.

A escola em que se realizaram as entrevistas possui o jogo como metodologia

de trabalho em seu projeto político pedagógico. Por esse motivo, houve um grande

interesse por parte da equipe pedagógica. Esse é o contexto escolar no qual se

situam os sujeitos da pesquisa, ou seja, os professores.

No quadro 1 serão apresentados os sujeitos da pesquisa em relação a sua

formação e série em que atuam:


60

QUADRO 1: Sujeitos da Pesquisa

SUJEITOS DA PESQUISA
Formação e
Instituição Sujeito 1 Sujeito 2 Sujeito 3 Sujeito 4 Sujeito 5
de ENsino
Contabilidade
ENSINO Educação
(2 anos) Magistério Magistério Magistério
MÉDIO Geral
Magistério
PREMEM,
Toledo-PR Instituto de
Educação Carlos
Colégio Estrela
PREMEM, Colégio PREMEM, Pristeniz, Ponta
Instituição da Manhã,
Toledo-PR Estadual Toledo-PR Grossa-PR.
Estrela-RS
Senador Attílio PREMEM, Toledo-
Fontana, PR
Toledo-PR
Normal
Superior –
Educação Filosofia e
Graduação Pedagogia Pedagogia Pedagogia
Infantil (6º História
período)

Fasul –
Faculdade Sul UNIOESTE, UNIPAR, UNIPAR, CETESOP, Assis
Instituição
Brasil, Toledo- Toledo-PR Toledo-PR Toledo-PR Chateaubriand-PR
PR
Ciências
Didática e
Pós- Biológicas e
________ Artes _________ Metodologias de
Graduação Educação
Ensino
Ambiental
BAGOZZI,
IBEPEX, UNOPAR,
Instituição ________ Toledo-PR __________
Cascavel-PR Londrina-PR
Tempo de
2 anos
Atuação no 24 anos 7 anos 15 anos 19 anos
(estagiária)
Magistério
Série em que
Pré III Sala de recursos 2ª série Coordenação 1ª série
Atua

3.2 OS DISCURSOS DOS PROFESSORES SOBRE O JOGO

Entrevista Sujeito 1

Como foi sua experiência desde o início de sua escolaridade até sua
formação acadêmica, principalmente na área de matemática?
Eu iniciei eh, eh, com a pré-escola, fiz pré-escola; eh, depois a 1ª e a
2ª séries eu fiz na escola de Dez de Maio, no interior. Que eu me
lembro da matemática, assim na pré-escola, eu não me lembro,
assim, não me recordo. Na 1ª série eu já me lembro de alguma
61

coisa, apresentação do número, eh, eu lembro que a professora já


levava a gente, fazia grupinhos, a gente eh, no caso ela mostrava o
numeral e depois a gente trabalhava com o concreto. Eh, isso eu me
lembro, eu me recordo. E depois 3ª e 4ª séries eh, assim, não me
recordo muito, eh, dessa questão da matemática. Eu sempre fui,
digamos bem. Mas assim não, eh, tipo assim agora, pra mim não,
pra mim não é uma área, prefiro português, não é uma área assim
que me prende. Até eu escolhi o curso depois comecei a pensar,
pensar, a gente trabalha com isso, né. Eh, na formação acadêmica
nós tivemos pouco, eh, só seis meses, eh, com a metodologia de [...]
matemática na Educação Infantil, só Educação Infantil, eh, eu acho
que foi pouco. Porque eu vejo que agora em sala de aula a todo
momento estou utilizando a matemática [...] (espaço de tempo longo,
permaneceu calada).

Que tipo de encaminhamento foi dado dentro dessas aulas de


metodologia? (tempo calada). O que vocês estudaram nessa
disciplina?
A construção do número, eu me lembro que ela passou eh, é
algumas coisas assim, que ela foi falando pra gente que, que seria
interessante trabalhar. Algumas, eh, na verdade metodologias eh,
contar os alunos, deixar, mostrar pra eles realmente, pegar, usar
material concreto, isso que ela ressaltou bastante. Eh, questões de
trabalhar com o corpo, a matemática com o corpo, medidas, peso.

Sobre construção do número, como foi o encaminhamento


teórico/metodológico?
Ela sempre ressaltou o concreto, sempre trabalhar com o concreto.
Porque se eu coloco o número lá é muito abstrato, a criança não vai
conseguir memorizar o número, só olhando no caso pro símbolo, a
criança não vai conseguir. Então sempre estar trabalhando não só,
no caso só com tampinhas, ou sempre pegar partindo deles, ver o
que eles já conhecem, ver como que eles, se eles já tem alguma
noção pra mim trabalhar o que eles já sabem e né, mas assim com o
concreto, trabalhando com objetos, realmente objetos, levando os
objetos, deixando eles manusearem, não só mostrando, seria isso.

Como foi a reação das meninas quando souberam que teriam


matemática no curso?
Eu faço o curso Normal Superior em Educação Infantil, então nós
tivemos uma surpresa, assim muitas de nós tivemos uma surpresa,
quando nós pegamos a grade, né, e vimos que teria uma matéria
FTM da Matemática (Fundamentos Teóricos e Metodológicos da
Matemática). Quando a professora chegou apre..., se apresentou
inclusive qual disciplina que ela iria trabalhar, muitas já ficaram assim
como o cabelinho arrepiado, porque matemática na Educação
Infantil, e logo falaram assim, mas como vai ser isso? Como que nós
vamos trabalhar matemática com berçário, com o maternal, ou essa
matemática vai ser aquelas contas enormes, lá, que a gente sofreu
tanto, né, foi isso que ela passou primeiro. Aí foi que ela realmente
passou o que seria matemática, como que nós iríamos trabalhar,
toda essa questão, de já apresentar a matemática, uso do
calendário, do relógio, você vai estar mostrando pra criança e ela já
vai tá, como se diz, alfabetizando, construindo o número, tudo isso
desde lá o berçário, maternal, Educação Infantil. Mas assim, eh, foi
62

muito assim, foi um impasse pra muita gente, assim. Porque elas
imaginavam que no curso de Normal Superior não iria ter essa
disciplina, não iria ter matemática, tanto é que eles ficaram assim
paradas, meu Deus professora explica direito como é que nós vamos
trabalhar isso? Por, por, por medo mesmo, assim, de não consegui....
de não dar conta, né. Mas, né, deu tudo certo. A professora explicou
como seria estas aulas, como seria esta metodologia, que era na
verdade como se trabalhar na Educação Infantil. Porque por muitos
anos isso não foi trabalhado na Educação Infantil. Acredito que nos
últimos anoso que começou-se a trabalhar mais, eh, a mostrar né,
que tem matemática como as outras matérias também.

Dentro da disciplina de Fundamentos Teóricos e Metodológicos da


Matemática, como foi esse encaminhamento, algum momento a
professora citou a questão do jogo?
[...] (longo período calada)

Alguma experiência?
Humm, humm..., não nenhuma experiência (longo tempo calada). Ah
eu acho, que assim ela, eh, mais assim foi mais voltado de 1ª a 4ª
série, que era aquela questão do jogo do palhaço, das roupas, né.
Que era, eu me lembro, eu me recordo, que era uma tabela, aí era
um joguinho com o dado. Esse jogo sim ela colocou pra nós, que nós
poderíamos estar fazendo na Educação Infantil, fazendo as roupas
eh, com a Educação Infantil, eu me recordo desse sim. Foi a única
experiência de jogo feita lá.

Agora que você está inserida na escola, como você vê o ensino da


matemática?
Eu acho que a gente eh, nós trabalhamos muito a matemática,
porque a matemática tá, em tudo o que você vai fazer tem
matemática, mesmo eh, não em números né, às vezes não em
números, mas você tá lá, você já pode oh, quantas palavras, eh
quantas palavras têm, quantas letras têm. Então a matemática está
presente em todos os conteúdos, não, não existe só matemática
separada, ela está em tudo. Então eu acho que a matemática é
bastante trabalhada, desde a pré-escola até, até agora, né. A
questão da idade, a questão de medida de peso, de... eh, de ah,
vários, sei lá o que eu vou te falar, várias né. Sempre a matemática
está presente em todos os momentos, você vai servir o lanche, por
exemplo, quantos copinhos que eu vou precisar, quantos alunos não
querem, ou quantos querem, você já vai separando, você já vai
introduzindo a matemática.

Que recursos você se utiliza para trabalhar em suas aulas de


matemática?
Materiais, joguinhos confeccionados por mim mesma, joguinhos de
dominó, joguinho de tampinha, com sucatas, ah a gente faz aí alguns
joguinhos. Eh,... (tempo calada) próprio material cadeira, a gente vai
colocando, e eles vão, material, eh, material deles mesmos, às vezes
a gente tira os casacos, conta os casacos, quem está de casaco,
quem não tá, eh, lápis, palitos, palitos que eles adoram, brincar com
massinha. Ah, professora eu quero 3 palitos, quero 4. Então vamos
repartir, eu quero uma quantidade, quantos vai dar para cada um,
que já vai tá trabalhando a divisão, né.
63

Você mencionou que utiliza o jogo. Como você vê essa questão do


jogo na matemática?
Eu acho que o jogo, ele é um recurso lúdico, né. E brincando eles, as
crianças, já vão, vão gostando, eu acho que a gente tem que
despertar o gostar, pra depois estar encaminhando mais a
matemática. Então o jogo, conforme o jogo, a criança vai brincar, e
nesse jogo você vai, pode estar construindo o número. Então você
vai estar trabalhando a matemática nesse jogo. Então você vai fazer
a criança gostar, então ela vai estar despertando o prazer, o gosto,
através desse jogo. Então eu acredito que assim que a gente vai
conseguir fazer com que eles gostem da matemática. Porque eh, eu,
por exemplo, quando falavam da matemática, meu Deus, todo
mundo falava da matemática como um bicho, né. Eh, e não é nada
disso, né. Você vai ver, você sempre tá lidando com a matemática.
Mesmo quando não tem estudo, né. Você vai comprar alguma coisa,
você vai precisar da matemática. Eh, você olha o pacotinho tem
números lá, que é o peso, né, então você está trabalhando com a
matemática. Então o que eu vejo é isso, né.

Você poderia narrar como é sua experiência de jogo na sala com as


crianças, como você encaminha esse trabalho?
Bom, geralmente é, são em grupos, né. Pega alguns, alguns jogos,
né. As crianças sentadinhas em 4 ou 5, dependendo e daí eles vão
brincando, né. Já vai tá também trabalhando, né, socialização, eh, eu
trabalho em grupo, no individual eu não trabalhei ainda, né. Mais em
grupo mesmo (tempo calada).

Como são esses jogos que você leva (diferenciados)?


Às vezes diferenciados, às vezes os mesmos jogos. Porque alguns
jogos eles já trouxeram de casa, então não são iguais. E alguns que
a gente tem aqui na escola, daí, tem pra todo mundo a gente usa o
mesmo, não é diferenciado. Daí eu vou atendendo os grupos
individualmente, assim nos grupos. Passo num, alguns já sabem
jogar, porque aprenderam em casa, porque fazem trabalhos e aí eles
vão jogando e eu vou passando.

E o jogo do dominó, você leva desde o primeiro dia de aula?


Não, porque eles precisam ter alguns pré-requisitos antes, assim, por
exemplo, no ano passado com o pré II não, mais no final do ano só.
Agora aqui eu acho que eles já tiveram no ano passado, já bastante
noção do número, né. As vezes não só assim do número, né, das,
das figuras, então já dá pra ter uma boa noção, daí a gente já
trabalha antes, mostra as figurinhas conta junto com eles, e sempre
tem aquele colega que vai ajudar, né, vai ajudando quem não sabe,
quem não reconhece ainda, né.

Obs.: quando apresentei algumas situações de jogos (“Jogo das


trocas”, “Avançando com o resto”, “Tapa”, “O mais próximo possível”,
“Caça tabuada”) nenhum deles ela conhecia e também não
demonstrou interesse em conhecer ou aprender a jogar.
64

Entrevista Sujeito 2

Conte-me como foi sua experiência com a matemática desde o seu


ingresso escolar até a sua formação acadêmica.
Eu vou falar primeiro de 1ª a 4ª série, eu estudei em uma escola de
interior, onde a gente tinha 40 alunos, todas as séries juntas, séries
multiseriadas. E eu sempre tinha, eu gostava de matemática. E eu
lembro muito assim, de umas situações que aconteciam. Eu decorei
a tabuada todinha na segunda série, eu sabia ela de cabo a rabo,
assim. Mas não sabia pra que usava e como aplicava. Na terceira
série eu descobri, porque veio uma professora nova, era uma
professora, ela falava muito bem, ela falava alto. E aquilo assim ela
empolgava a sala de aula, e de repente eu descobri o que que era
prova real, pra que usava a tabuada e aquilo foi assim, um marco na
minha vida. Na terceira série, eu descobri um monte de coisa na
matemática. Mas na quarta série eu tive um problema muito sério
com os números romanos, daí eu apanhei do professor algumas
vezes porque eu não sabia, e hoje, por exemplo, eu sei os números
romanos até onde você quiser, de fato mesmo eu aprendi. E na
quarta série também eu lembro de ter aprendido frações, mas eu não
conseguia entender de fato, pra que, o que significava, e daí depois
que eu fui perceber com a realidade, porque eu morava com meu
avô, que ele trabalhava assim, trabalhava e colhia milho, colhia trigo,
soja, e esses tipos de coisa, e daí ele dizia assim: tantas quartas. De
uma saca dava tantas quartas, então, por exemplo, 4 latas, daí então
eu comecei a associar com aquilo que meu avô falava e daí eu fui
aprender frações. Foi nessa época quarta e quinta série que eu
aprendi mais sobre frações. E claro daí depois, até quando eu
comecei a trabalhar eu aperfeiçoei mais, mas eu fui entender lá na
quarta série eu já entendia frações, na terceira e quarta série. Aí
depois eu estudei numa escola particular na época não tinha escola
pública, então estudei em escola particular, eu estudei até dois anos
de contabilidade, até o segundo grau, fiz dois anos de contabilidade,
aí eu fui assim, como dizer assim, sorteada, em cinco pessoas foram
sorteadas para fazer magistério, e o Rio Grande do Sul pagava na
época, era de graça, então a gente ficava em colégio interno, e daí,
eu fiz os anos de magistério em Estrela (Rio Grande do Sul). Foi uma
experiência muito interessante na época, assim, até porque a gente
estudava de manhã, a tarde, e a noite também, nós tínhamos tempo
pra fazer aquelas atividades e montar aquela, aquela coisarada
necessária que a gente monta para fazer o magistério. Então nessa
época assim, foi uma época bastante gostosa, também uma época
que eu aprendi bastante. Só que nada, eu penso como será a
experiência em sala de aula, vai tendo com o tempo mesmo eh,
adquirindo novas [...]. Nessa época também que eu estudava em
Estrela, eu lembro assim, fui muito bem no meu estágio, eu lembro
assim que eu me dedicava muito, só que tinha algumas coisas assim
que que no Rio Grande do sul, me parecia que a coisa tava, era uma
coisa assim que já se estava trabalhando o construtivismo, mas por
outro lado tinha aquela coisa não sei se você, você chegou, lembra,
que a gente tinha que globalizar tudo. Então se você trabalhava um
texto sobre o índio, você tinha que fazer, ah, acho assim que se
65

desvirtuou aí a teoria construtivista, eu não sei se é bem isso. E não


sei se é certo isso que eu estou dizendo. Mas, aí depois quando eu
vim pra Toledo, eu trabalhei seis anos no Rio Grande do Sul, daí eu
vim pra Toledo. Aí Toledo, eu assumi uma terceira série, 40 alunos,
na Escola Walter Fontana, e daí eu fiz vestibular, passei em Filosofia,
daí eu fiz Filosofia, porque não tinha outra opção em Toledo. E
depois então, a Filosofia é uma coisa que me ajudou bastante,
porque eu não gosto muito de língua portuguesa, prefiro mais
matemática. Mas ela me ajudou pra ler mais, entender mais,
escrever melhor. Depois eu acabei, fiz Pós-Graduação em educação
ambiental e hoje estou trabalhando aí. No meu magistério eu não me
lembro muita coisa específica da matemática, olha eu me lembro de
algumas coisas, mas normalmente eu simpatizava muito mais a
língua portuguesa do que a matemática. E o que se trabalhava na
matemática era essas coisas assim de problemas, eh, eh, as
operações meca [...] mecânicas, né, era uma coisa mecânica, sem
jogos eu nunca lembro de ter [...], algumas coisas dominó, algumas
coisas de tabuada, com caixinhas de fósforo, algumas coisas assim
que me passa pela cabeça, senão fora disso, não.

E na graduação?
Não, não, na faculdade não tive nada de matemática, tive um ano de
lógica, na graduação de filosofia não tem matemática.

Como você percebe essa questão do ensino da matemática, nas


escolas, hoje?
(longo tempo calada). Bom, eu acho que a gente que deixa muito a
desejar, isto é claro! Né. Ih, se nós estamos colhendo aquilo que a
gente tá plantando por aí, a gente tá vendo os resultados. Eu não sei
onde é que a gente tá errando, eu acho que tem um punhado de
coisas que não está certa. Agora, se eu soubesse eu diria, né, eu
não sei também. Mas uma coisa é séria, é certa, algumas vezes fico
pensando a formação que eu tive e o que eu sabia na quarta série, e
o que os meus alunos sabem hoje na quarta série. E o que me
parece, mesmo naquela educação tão, tão limitada, tão meu Deus, a
gente acabava, não sei, sabendo mais parece do que eles que estão
na quarta série hoje. Porque eu tenho alunos, eu, na minha sala que
não sabem ainda dividir, então eu tô trabalhando. Não sei (espaço
calada). Não sei onde que está o foco, qual é o foco.

E a questão do jogo?
Olha, assim, todas as vezes que eu faço um curso eu acho que tem
coisas interessantes eu sempre utilizo, né. Então, como eu trabalho
com a sala de apoio também, é uma coisa que eu já venho utilizando
os jogos. Eu percebo que mesmo trabalhando jogos, se você não
sistematizar, depois, não registra, eh, o jogo não pode ser o jogo pelo
jogo. Mesmo na sala de aula, quando você está com todos, você [...],
quando, por exemplo, na minha quarta série se você trabalhar o jogo
pelo jogo, eles levam tudo na brincadeira e as coisas não fluem.
Agora se você têm um propósito, tem um objetivo, e pra isso você
tem que ter tempo pra pensar, planejar, pra de fato aquele jogo fazer
diferença, senão não adianta você trabalhar, trabalhar o jogo. E na
sala de apoio eu acho que o jogo é muito bom. Só que tem que
cuidar, eu sou, eu ainda penso assim, você tem que ter um cuidado
assim, de não deixar só a criança jogar, pra ela não..., porque senão
66

ela perde essa questão da abstração. Então sabe, assim tem que ir
jogando, tem... foi pelo menos assim. Até nestes estudos que nós
estamos estudando as diretrizes, da Isilda Panganana mostra um
pouco isto que a gente não pode deixar a coisa, só, só no concreto
mesmo, tem que de vez em quando puxar pra... E assim acontece
na sala de aula também, a criança tem que registrar, ela tem que
voltar, ela tem que ver aquilo que ela aprendeu, porque que é que ela
tá fazendo aquilo. E daí não é fácil, eu acho que é um trabalho
bastante difícil, principalmente numa sala de aula, onde tem 30
alunos. Que não e´ o caso da minha, eu tenho 23, 24 alunos, e eu
consigo trabalhar bem isto. Agora de fato, numa sala de 35 alunos eu
não sei até que ponto vira uma...., se o professor não for muito bom,
ele tem que ter muito conhecimento daquilo que ele está fazendo,
senão ele se perde.

Você diante de uma situação de jogo como essa, como procederia?


Eu posso escolher um que eu conheço? Este aqui eu vi no curso, é o
do “baralho”, não é o “mais próximo possível”. Eu não trabalhei com
ele ainda, eu não confeccionei ainda (longo tempo calada).

Como você encaminharia esse trabalho?


(longo tempo calada novamente) Eu primeiro teria que parar pra
analisar, pra ver o que é que eu iria querer com este trabalho. Claro,
que aqui vai trabalhar adição, subtração, essa coisa toda, né. Mas
primeiro eu riria ter que planejar este trabalho, né. Mesmo
conhecendo o jogo, eu teria que parar e pensar o que é que de fato
eu iria querer com isto. Eu agora não sei o que te dizer sobre esta
situação de jogo, eu agora não saberia te responder.

E dos jogos que você usa na sala de apoio?


Com as crianças do apoio eu estou trabalhando bastante aquele jogo
do baralho, por exemplo. Assim, que eu acho que é interessante. É
aquele que tem que por na frente, né, e tal, só que desenvolve a
agilidade, pensamento, o raciocínio mais rápido, e trabalhando de
fato a tabuada mesmo.

Você vê diferença na aprendizagem das crianças da sala de apoio?


As crianças de fato, aí não tem dúvida, possuem outra postura, elas
adoram. Por exemplo, as crianças aqui da escola que vem pra sala
de apoio, eu atendo no paralelo de manhã a segunda série, e daí é
um briga na sala de aula, eles querem vir pra cá. Calma pessoal, aí
tem uma seleção, como eu atendo 6 ou 7, aí tem toda aquela coisa
de a gente ficar mais próxima, de ajudá-los. E estar o tempo todo
assim, professora e daí, e já numa sala maior dificultaria muito. Mas
eu acho assim que, eles pelo menos tem um apoio que é a
empolgação. Só que daí o jogo não pode ficar pelo jogo, então essa
é a grande missão. Hoje de manhã mesmo eu estava trabalhando
com eles com dinheiro, eles adoram trabalhar com dinheiro. Então eu
estava trabalhando construção do número com o dinheirinho, e daí,
chega um momento que você diz assim, vamos registrar o que nós
estamos fazendo. Aí, eles, ah professora, registrar não, porque daí
eu não sei, porque daí eu não consigo, porque se per... Daí dá pra
perceber que no jogo ele estava se saindo bem, mas na hora de
sistematizar o que ele estava fazendo ele tinha dificuldade, eles não
queriam muito era pensar mesmo. Daí o que é que e fiz, eu retomei
67

com eles, mostrei como que eles poderiam sistematizar no caderno.


Aí cada vez que eles acertavam o resultado, eles registravam no
caderno. Depois, depois que eles compreenderam aí foi muito, assim
as coisas fluíam muito melhor, depois que eles perceberam que eles
também podiam registar aquilo que eles estavam jogando. Porque se
a criança não conseguir também, depois que ela jogou, sistematizar
aquilo. Por exemplo, como é que consegui montar, construir o
número trinta e cinco. Um exemplo bem claro para alunos de
primeira série e de segunda, ah, eu peguei 3 notas de dez, uns
pegaram três de dez, outros pegaram então notas de cinco, outras
pegaram notas de um. Aí eu deixei, daí eles mostravam. Agora
quantas de dez eu peguei, eu peguei três, agora vamos registrar, dez
mais dez, quanto deu, vinte, mais dez, deu quanto, trinta. Agora para
fazer trinta e cinco, quantas...., ah, eu usei cinco, ah, um mais um,
mais um, mais um, mais um, pra chegar ao trinta e cinco. Ah, então
você pegou cinco, porque esse cinco é igual esse cinco, porque esse
cinco, qual é que tem maior valor. Aí a coisa se.... precisa ver como é
que eles saíram felizes da sala, me surpreendeu. Esse trabalho de
registro eu não usei o quadro valor lugar (Q.V.L), eu só usei o
caderno. Não trabalhei o cartaz de prega, porque eu até acho legal o
cartaz de pregas, eu acho legal, mas quando você, eu trabalho com
o dinheiro a base dez eu acho que é melhor, porque o dinheiro é um
coisa que eles estão mexendo, estão vivenciando, é melhor que o
palito. E daí muitas vezes eu faço também assim o dinheiro com o
material dourado, também dá pra fazer uma relação.

Mais alguma questão?


Olha eu gostaria de colocar sobre as estagiárias, sabe na minha sala
faz muito tempo que eu não tive estagiária, até porque lá no CAIC eu
tinha sala de apoio e laboratório de ciências, mas o que eu percebo
assim que essas meninas não estão vindo melhor preparadas do que
a gente. Eu acho que a escola, a faculdade não prepara, como não
preparo a gente também, porque nós também viemos de uma, de
uma educação que, me parece assim, que a gente também não foi
formada melhor pra gente trabalhar melhor essas coisas. E as
condições que se dá pra gente, também é difícil. Pois você vê, a
gente trabalha quarenta horas, aí muita gente estuda quatro horas,
eu fiz isso uma vida inteira. Eu sempre dizia assim que eu
prejudicava meus alunos enquanto eu estava estudando. Eu
trabalhava o dia inteiro, de noite eu ia pra faculdade, tinha dias que
eu dizia meu Deus, não quero mais ver esses cadernos dos meus
alunos. Eu levo cadernos, eu levo bugiganga pra casa, eu não me
incomodo com isso, eu corrijo, se eu tenho tempo em casa eu faço
isso. E na época eu acabei prejudicando meus alunos, porque eu
estava estudando e eu não conseguia dar conta. Então essa
sobrecarga do professor também eu acho que dificulta. Se você
tivesse um tempo maior, porque não é, a gente diz, sim a gente tem
um tempo pra planejar, você tem esse tempo. Mas quarenta e cinco
minutos pra você pensar na atividade, montar essa atividade, isso
daqui não dá pra você fazer aqui na escola. Se você fizer, você vai
ter que fazer em casa. Porque aqui na escola não tem condições, eu
mal tenho tempo de planejar minhas aulas, assim, e colocar mais ou
menos o que a gente vai fazer, discutir com outro professor e..., né.
Claro que você tem que aproveitar esse tempo, e eu aproveito mais
do que posso. Mas a gente fala também, tem gente que é bem mais
68

ágil, e de repente pra cair a minha ficha demora um pouco mais, sei
lá.

Entrevista Sujeito 3

Conte-me como foi sua experiência desde o inicio de sua


escolaridade até a sua formação acadêmica com a matemática?
“Iche”, e tive bastante dificuldade na matemática, no meu primário,
né. Eu acredito, eu não lembro, assim. Mas eu acredito que entrei na
escola com 7 anos, né. Ih era como e que se fala escola, não era
escola, era chamada de outro, era um outro nome [...] grupo escolar.
Então era uma escola assim, bem pobrezinha, as crianças bem
pobres, só vinham de um lado, de um lado da cidade como eles
dizem, do lado da pobreza mesmo. Depois meu pai e minha mãe se
separo e eu fui adotada, fui pra uma outra ala da cidade, foi centro da
cidade, fui morar com pessoas que tinha condições financeiras
melhores do que meus pais tinham. Eh, e eu enfrentei um grande
problema, porque a escola era totalmente diferente daquele grupo
escolar que eu estudava. Então aí eu acredito assim que eu fiz dois
anos de 1ª série, mas eu adorava estudar, sabe. Mas eu tinha um
trauma da outra do outro grupo escolar, porque tinha professoras
muito bravas, muito era [...], era assim, bem tradicional, sabe ainda
era da época dos castigos, então eu tinha medo, tal, né. E na outra
escola não, as professoras eram mais abertas, não tinha tanto esse
negócio do castigo. Só que era assim, o que era certo era certo, o
que era errado era errado. Então, era uma coisa assim que a gente
respeitava muito, porque os pais cobravam muito isso da gente, né.
Ih nessa escola, eu me deparei assim, com crianças totalmente
diferentes daquelas do nível que eu vim, né. Sofri muito, né, com
aquela mudança. Aí o primeiro ano pra mim foi um trauma, depois no
outro ano, de tanto em casa o pessoal também pegar e falar que eu
tinha que estudar, que eu tinha que fazer, que eu ia superar aquilo,
realmente eu superei. E da 3ª série em diante que eu passei a me
apaixonar pela escola e gostar da matemática, né. As outras assim
eu não ligava muito assim, português, as outras disciplinas, mas da
matemática eu gostava. Apesar de eu achar que ela era
supercomplicada pra minha cabeça, eu lembro que o pessoal
explicava e tal, e eu fui começando a gostar. Eu fui até a 5ª série,
naquela época tinha até a 5ª série, né. Depois é que passou pra, pro
ginásio. Aí eu terminei a 5ª série, aí eu fiz a 5ª série de novo, né,
porque eu fiquei até o 5º ano que eles falam. 5ª série aí eu comecei a
deparar com muitos problemas, mas isso porque eu tive uma parada.
Eu terminei a 5ª, 5ª série, quando fui assumir o ginásio eu me casei,
eu casei com 15, 14,15 anos, 14 anos. Então eu dei uma parada, eu
comecei a estudar, e aí eu não, não me adaptava na escola, eu achei
muito difícil a mudança, de disciplina, professor, aquelas coisas,
então complicou muito a vida pra mim. E eu parei, eu tive muitas
paradas e essas minhas paradas era por causa da matemática,
sabe. E eu tive meningite nesse intervalo, sabe. Dos 14 aos 17 anos
eu tive meningite. Então a meningite me atrapalhou bastante, eu
esquecei muita coisa, tive que, que retomar, né. Aquilo tudo não foi
69

uma coisa tão fácil. Depois mais tarde é que eu fui percebendo, né,
que foi devido a meningite, porque era uma coisa que eu já gostava,
que era a escola, aí foi esse negócio, esse choque da meningite que
me apagou muita coisa. Aí eu tive que me esforçar pra recapitular
muita coisa, né. E o ginásio meu, foi assim muito tumultuado. Ah,
família, né, eh filho, novinha, marido, em casa e estudar, então foi
uma coisa assim que eu fui parando, voltava, sabe bastante
dificuldade mesmo pra matemática e tudo. Mas eu, eu superei, aí
depois quando eu tava assim, com meus 30 anos voltei pra estudar,
né. Terminei a 8ª série e tudo. Voltei, casei, parei com esse negócio
de para, para, consegui terminar e fui para o magistério. E foi um
dilema a matemática pra mim de novo, foi uma tortura, tive
problemas com o professor, comecei a me revoltar, sabe. Aí eu fiz
até o 3º de magistério, 2º de magistério e parei, porque briguei com o
professor, por causa da matemática, nós demos de dedo um na cara
do outro, assim. Então foi assim uma coisa bem triste, e aí eu falei
nunca mais quero estudar, não quero mais saber, sabe. Passei a
odiar, falei que nunca mais eu vou na escola, e não sei o quê. Aí
começaram as outras pessoas a falar comigo, fiquei 2 anos parada.
Começaram a conversar as outras pessoas, você vai mudar de
escola, você vai conseguir superar essa matemática. Aí eu desisti né,
fiquei 2 anos em casa né, aí me chamaram para eu ir lá pra vila
porque eu estudei 1º ano no PREMEM e depois eu fui lá pra vila. Aí
lá na vila eu comecei encontrar um outro grupo de pessoas, uma
professora de matemática que nossa senhora, ela voltou que ela fez
despertar tudo aquilo que eu tinha de raiva, sabe, mas eu acho assim
que era mais uma raiva uma raiva do próprio professor. Aí eu
comecei não, não é possível, viu e ela explicava de um jeitinho que
eu conseguia fazer. Aí eu chego no final do ano eu tava pendurada
de novo na matemática, eu tinha que tirar 9,5 pra passar, e eu já não
queria nem ir mais, né. Aí minha filha tava com problema de saúde,
ela fez cirurgia do coração e tudo. Aí falei não vou, não vou, não vou
mais e aí acabei, estudando, né, fazendo, ela me falou, explicou o
sistema todinho, estudei, fui lá e fiz e tirei 10,0. Aí terminei o
magistério, aí falei assim agora vou descansar um ano, né, depois eu
faço pedagogia. Aí, porque eu escolhi pedagogia? Eu gosto da área
de educação, mas não tinha matemática.

E você lembra como foi encaminhado o trabalho com a matemática


em sua formação no Magistério?
(tempo calada) Eu acho assim que era mais a nível de 2º grau e eu
perdi aquela base, né, eu não conseguia pegar aquela base, né.
Então, eu acho que essa base, já vem desde o primário mesmo.

Em termos de metodologia, vocês tiveram alguma coisa, matemática


especificamente?
(tempo calada) Teve assim (tempo calada) Não, daí uma coisa não
entrou muita coisa não. É bem vago mesmo.

E na Pedagogia?
A matemática pra gente trabalhar com as crianças, né. Aí teve
bastante coisa, mas aí é mais coisa que a gente vai pesquisar, né,
vai atrás, né. Até mostraram assim algumas coisas, alguns caminhos
pra gente. Mas eu acho assim né que [...] 3º grau pra gente, a gente
é que tem que ir muito atrás das coisas, então pra mim foi bastante
70

assim sufocante o curso, né. Porque eu não acho assim que vem
muitas coisas do professor, é você que vai atrás e você que vai
descobrir as coisas. Eles mostram lá uma coisinha e outra muito
esporadicamente, mas é você que vai ter que ir atrás. Mas não é
assim de tudo de a gente descartar, porque é uma coisa assim se
você quer você vai atrás mesmo, né. Então um pouco tem gente
muito folgada, pras pessoas que querem vai atrás.

Você lembra de algo que você aprendeu na pedagogia que hoje você
leva para a sala de aula?
O material concreto (calada).

O que, por exemplo?


Eh (calada) tem os jogos né, tem os jogos. Na minha época não tinha
os jogos como tem hoje, né jogos,... eh jogos. Eh é uma coisa que eu
acho assim que tem dado muito baile pra gente na, na, na sala de
aula, é a tal da multiplicação, eh [...] quando chega na divisão e na
multiplicação e não tem a base da adição e da subtração, a gente [...]
dá contra parede?

Como você vê o ensino da matemática na escola?


Eu acho que hoje tem mais cobrança, né para os professores em
sala de aula, se a gente não trabalha com matemática com o
concreto, eh é difícil pra gente, né. Porque eu acho assim, hoje em
dia se as crianças não tem pai e mãe, como a gente tinha
antigamente. Cobrava mais, ajudava, colaborava. A gente vê que
tem criança que o pai e a mãe tá próximo, tá beleza. E aquelas que o
pai e a mãe não tá próximo, que eles não tem o material, não tem a...
o próprio pai e a mãe não tem o estudo, uma base pra dar pra eles
então esses ali são os alunos mais problemas que a gente tem.

Como você vê a postura dos professores diante da matemática?


Como que eu vejo? (tempo muito longo calada) Não sei como te
explicar.

O que eles pensam sobre a matemática?


Olha eu acho que até que gostam, mas o que falta pra gente é que a
gente deveria ter um tempo de fabricar todo esse material que tem,
né, principalmente no livro do Sarquis, né. Aqueles jogos que tem
agora, que a gente não dá tempo de você ir atrás, montar, isso daí
pra trabalhar com as crianças. Então você acaba indo atrás de outros
jogos que a gente conhece, utiliza, né. Mas eu acho que se a gente
tem, tivesse assim, sim tempo, de, de, de montar esses jogos, aí sim
facilitava.

Como você vê essa questão do jogo nas escolas?


Eu gosto de jogo. Mas assim eu tenho que entender senão tenho
pavor de jogo. Eu nem levo pras crianças, que nem assim, por
exemplo, os meus assim lá gostam muito, desses... (tempo calada)
do dominó, ah como é que chama aquele joguinho... (tempo calada),
esqueci agora, tem um joguinho lá que vai levantando até que você
vai lembrar, vai levantando as pecinhas, tem que achar os parzinhos,
como é que chama?
71

Jogo da memória
Jogo da memória. Eu comecei trabalhar com as crianças, né, e aí
vem dois, vem três quando vê todo mundo quer jogar, com a gente.
Quando a gente tem um jogo, todo mundo quer jogar. Chegam brigar
pelo espaço. Aí você vai falando né, você sai e volta, aí eles tão lá, e
quando você sai você sabe, sente que eles tem interesse pelo jogo.
Então a gente tem que tar junto, né. Então, falta da gente ir atrás,
assim desses materiais, mais materiais, mais jogos, mais materiais.
Até a escola tem, né. A gente peca muito nisso aí! Eu acredito que
não seja só eu, né. Eu acredito que tenha mais gente que peca
nessa parte de jogos com as crianças. Só que eu acho assim que
devia ter, um, um momento, sempre da gente tá, tá correndo a ele.
Mas olha, olha é tanta coisa que a gente tem que dar conta, que a
gente acaba deixando coisas boas de lado. Conteúdos... [...] e até eu
falei na outra, na outra escola que eu trabalho, que se for dar conta
do conteúdo, a minha turma tem bastante dificuldades em várias
áreas, português e matemática e eu acho que a base tá aí em
português e matemática, aí o resto eles carregam fácil. Se, se... se
livrarem deste problema. Porque aí tudo o que eles pegaram pela
frente eles vão conseguir, esmiuçar, tudinho. Mas não adianta querer
avançar com conteúdo, com crianças com dificuldades em português
e matemática.

Apresentei algumas situações de jogo. Como você costuma


encaminhar o trabalho com jogos?
É, o que eu estou te falando, esses jogos do Sarquis eu não fiz.

E outros, o dominó...
Dominó sim. Ah, a gente junta os grupinhos, né, aí as crianças vão
jogando... Tem criança que não conhece, não sabe,... não sabia
pelas cores, pelo número, né. Então, aí eu fui jogando com eles! E aí
eles foram entendendo o jogo.

O que você explora no dominó?


(tempo calada) Adição.

Mais alguma coisa?


(tempo calada) Não, eu fiz pela adição com eles, não sei se tem
outro caminho, né.

Como você explora a adição?


Que nem ele tem, eh, o companheiro colocou 5, né; aí, ele vai
ver,...vai procurar, na vez dele se ele tem alguma coisa ali, pra
acrescentar. E aí ele vai coloca! Então por isso eu tive que ir pelas
cores, com alguns que, não gostavam do dominó. E não jogavam
também. Aí conforme eu comecei jogar com eles, que eles se
interessaram pelo dominó. Agora esses dias, eu dei os jogos, os
jogos todos pra eles, lá eu tenho, na sala e deixei eles brincar
sozinhos. E aí eu vi que,... não precisava a professora estar jogando
junto com eles, apesar que alguns chamavam vamos jogar aqui,
vamos jogar ali e eu não fui. Fui um pouquinho num, um pouquinho
no outro e depois, depois dava um jeitinho de sair, né. E aí não deu
mais brigas. Tanto no jogo da memória, eh naquela montagem de
pecinhas de casinhas lá, que eu fiquei observando de longe e o
72

dominó, quebra-cabeça. Uma coisa que eu reparei também que os


meus alunos não são muito chegado em quebra-cabeça.

Por quê?
Na outra escola eu montei alguns quebra-cabeça, comprei umas
revistinhas, e..., montei, eh... tirei, tinha uns quebra-cabeça, passei
contátil, montei os quebra-cabeça e tudo. Coloquei atrás pra
identificar números e desenhos. E toda, e toda vez que tinha uma
criança que terminava uma atividade, tudo que tinha, então eu dava
quebra-cabeça pra ele. Pegava um quebra-cabeça e eles podiam ir
montando enquanto os outros iam fazendo. E eles adoraram o
quebra-cabeça, tanto que depois todo mundo já conhecia, não
chamou mais a atenção deles. Em questão de 2 meses já não
chamava mais a atenção deles, o quebra-cabeça. Aqui eu não
trouxe, porque aqui eu tenho uma turma bastante pesada, né. Então
eu não trouxe aqui. Mas eles não tem aquela paciência. Porque tem
um quebra-cabeça lá na sala, ele é pequeninho, e ninguém nunca
montou ele, não gosta daquele quebra-cabeça.

E você já propôs a eles?


Não, de quebra-cabeça não. Até eu fiquei de pegar, tinha pra levar,
porque agora diz que tem mais, mas não levei. Eu peguei os deles
mesmo que eles trouxeram pra sala. Eu ia trazer os meus de casa,
mas olha, é uma turma assim, terrível, agora que eu estou
conseguindo acalmar a turma, pra trabalhar mais esse lado dos jogos
mesmo. Que agora que eu vi que estão sentando, e participando
sem dar briga, sem, eh... cuidar do material que eles tem aí. Agora
que estou conseguindo encaixar. Então daqui pra frente acredito que
assim, que que até nas férias eu estava pensando em construir, né
alguns jogos pra trabalhar, sim. Porque eu acho que agora, a partir
do 3º bimestre, a minha turma diminuiu, eles estão mais calmos;
então agora, eu vou poder colocar mais essa parte de jogo com eles.

Qual a reação das crianças quando você leva os jogos na outra


escola?
Eles gostam, é uma turminha mais calma, apesar que essa turma
aqui eles são mais espertos do que lá, porque dá pra perceber a
diferença. Esses aqui eles... eles captam mais as coisas, né, só que
é um tumultuo, né. Eu não sei como é que eu consigo, né eles
conseguem até pegar alguma coisa, né. É a outra lá ela já é mais
devagar, bem... o raciocínio lógico deles é bem lento. Esses dias eu
coloquei, eu tenho 10 na sala, mas 9 ou 10 com bastante dificuldade.
E eu tenho até crianças que nós tivemos que alfabetizar, né.
Problema, não identifica nem a manuscrita e nem a caixa alta.

E como são essas crianças na matemática?


Eles não sabem, eles não tem problema no comportamento, mas
nesse lado faltou, alguma coisa pra eles. E aqui não, né. Por isso eu
te disse agora no 3º bimestre vai dar pra conseguir conduzir melhor a
turma. Então eu quero partir mais, eu gosto de jogo, eu pego jogos
da escola. Nos outros, nos outros anos eu trabalhei lá na outra
escola com jogos. Direto eu levava jogos pra sala. Tem bastante
material, é questão da gente ir atrás mesmo. Então lá eu conheço, eu
vou atrás; aqui eu ainda não fui muito atrás disso por causa também
da turma que eu tenho aqui.
73

Quando você levava jogos na outra escola, você levava jogos


diversos?
Vários jogos, da escola mesmo.

Como você encaminhava esse trabalho?


Por grupos eu via conforme a dificuldade, tinha pra multiplicação,
tinha subtração, tinha adição, tinha não tem, né. Então conforme os
grupinhos, assim aqueles problemas eu levava.

E aqueles que dominavam as operações?


Aqueles lá eles já nem gostam desses jogos, né. Eles já falam esse
daí eu já sei, esse daí eu já sei, não quero mais. E daí eles já vão
atrás de jogos mais, mais... que tenham mais desafiantes pra eles.

E você levava?
Sim. Mas, oh é da multiplicação, quem sabia a multiplicação também,
né. Eles eram um desafio pra eles, né, os joguinhos. Você tinha de
pegar os resultados, procurar aquele que tinha de encaixar ali, né, o
dominó da multiplicação. Bem interessante. E quebra-cabeça, né,
eles adoravam muito. Mas a partir do momento que eles dominam o
quebra-cabeça, não serve mais, não serve mais. Eu tenho um caça-
tabuada, de repente você conhece. Eh, legal, pra trabalhar em forma
de bingo a multiplicação.

Como você encaminharia essa situação do jogo em sala?


Como? (longo tempo calada)... eu não sei te dizer. De repente daria
pra montar problemas sobre as operações.

Entrevista Sujeito 4

Gostaria que você narrasse como foi sua experiência com a


Matemática.
Bom, eh eu me lembro muito pouco da minha experiência, da minha
formação de 1a a 4a série Edna. Assim, eh são muito poucas, assim
as lembranças que eu tenho. E mais forte as, as em Língua
portuguesa, porque na verdade eu me adapto mais a essa área.
Matemática, sempre assim, como a gente até cresce como um bicho
de sete cabeças em cima da Matemática. Inclusive ontem estávamos
conversando que assim, a Matemática está presente em todos os
momentos, até quando você conta quantas vezes você respira, você
conta, você anda 10 passos, você mexe tantas vezes o dedo em
tantos minutos, mas o que que acontece é tão difícil pra você
aprender e ensinar matemática, que é por isso, a forma como foi
passada pra mim foi complicada. Uma, um episódio que eu lembro
muito da matemática, quando eu estava na 7a série, que eu lembro
que na escola onde eu estudava, naquela 7a série muito poucas
pessoas sabiam tabuada. Então, tinha que fazer aquele povo
aprender tabuada. E o diretor da escola veio na sala de aula tomar
tabuada. Eu não sabia quanto era 7x7, até hoje, até hoje, eu lembro
nitidamente o momento que ele falou, Cláudia 7x7, eu não lembrei.
Eu tive que fazer sete vezes a tabuada do sete, foi aí que eu aprendi
74

a tabuada. Mas eu não aprendi a tabuada, eu decorei, eu memorizei


a tabuada. Eh, daí então eu percebi que eu precisava saber alguns
conceitos, que eram específicos, tipo tabuada, operações, então eu
aprendi, como eu não lembro. Mas pelo fato de eu não lembrar
como, eu já faço idéia, de como deve ter sido ensinado pra mim, né.
É e aí no magistério a minha formação na área de Matemática
também foi muito fraca, eh, eu tive um professor que era assim muito
fechado, e ele achava assim, que a gente tinha que aprender, da
forma como ele ensinava, que não havia outras possibilidades de
ensinar. Era daquela forma e pronto. Quando nós começamos no
último ano do magistério trabalhar com a didática da matemática, foi
que eu comecei a descobrir: raciocínio lógico, formação de número,
composição, valor posicional de um número. Foi a partir daí que eu
comecei aprender a Matemática e depois na sala de aula. Na sala de
aula era aquela questão eu ensinava errado, eu via que os alunos
não aprendiam, mas espera aí. E muitas vezes como eu tava te
falando antes eu massacrei o meu aluno, e esqueci de ir para trás da
minha formação sabe o que é que é a gente faz o que, a gente passa
aquilo que nos foi passado. E hoje eu vejo assim, que as faculdades
a, a deixam muito a desejar nessas áreas, principalmente na
matemática. Se eu for ver, na matemática, o que eu tive no curso de
Pedagogia, muito fraco, muito fraco. É eu vejo pela assim, a minha,
a, a minha maior assim referência de escola é na alfabetização, e na
alfabetização a gente só pensa na leitura e na escrita. E a gente
esquece dos ditos dos números. Isso há muito pouco tempo sabe eh
que a gente fez o PROFA, que eu comecei a perceber que o trabalho
com a Matemática deve acontecer da mesma forma como acontece
com a leitura e a escrita. Mas isso somente há muito tempo. Eu tive
que fazer muitas coisas erradas, pra depois perceber o quanto eles
tem dificuldades. Então, na verdade, resumindo, a formação é fraca,
eh, eu acho que até é uma formação, eh, vamos dizer assim, nossa
hoje, de capacitação, se trabalha muito pouco a área da Matemática.
Você pode verificar, se você fazer uma linhagem de prefeitura, se
trabalha mais o que, Língua portuguesa, Língua portuguesa, Língua
portuguesa. Eu acho que a gente precisa estar mais voltado à
matemática. Isso se confirma nos comentários que ouvi no curso, de
que fazem 12 anos que não era feito nenhum trabalho na
matemática, a nível de prefeitura.

E como você vê essa questão de ensino, mais especificamente da


Matemática nas escolas?
Olha, Edna, eu vejo assim, que até um ano atrás, dois, até quando
eu entrei na coordenação quando eu e a Vivian entramos na
coordenação a gente via, a gente via a Matemática em segundo
plano. É como te falei Língua portuguesa em primeiro e a Matemática
em segundo plano. E aí pelos estudos que a gente têm feito, porque
eu sempre falo, ah, é complicado estar na coordenação? É, mas eu
aprendi muito. E eu acho que quando eu voltar pra sala de aula eu
tenho muito a contribuir ao meu aluno. Então, eu percebi assim, que
a Matemática estava em segundo plano, que não era trabalhada
como algo que faz parte do nosso dia-a-dia. Que era assim o número
A, 1,2,3,4,5,6,7,8,9,10 esses são os números, e daí são montados os
outros números. Mas como são montados esses outros números?
Porque num lugar o três e três, depois 30, depois 300, mas da onde
que vêm. Mas como é que acontece isso? Isso não aconteceu. Mas
75

essa nova, eh,... esse novo trabalho, principalmente em cima do


Sarquis, a gente está tendo que estudar mais, pensar mais e
principalmente planejar mais. Aí o ponto chave. Olha eu estou
conseguindo perceber, nós, eu falo nós porque também estamos
juntos, a gente tá conseguindo fazer com que se contextualize isso
com a realidade. Que a Matemática não seja aquele bicho de sete
cabeça, seja uma coisa gostosa, que o aluno percebe que está aí,
que está no andar dele, está na hora dele comprar, que tá na hora
que ele vai brincar, está na hora de estar assistindo televisão, que
ele vai ter 15 minutos para assistir televisão, depois ele vai ter 15
para fazer tarefa, então tá presente em todos os lugares. E a gente,
nós professores, estamos começando, é claro que sempre vai haver
aquela resistência, sempre vão existir aqueles que não querem
mudar, porque? Porque toda a mudança exige estudos, exige eh, dá
problemas, assim aquela questão, mexe, depois assimila, depois se
acomoda, né. Eu acho que a gente ainda tá no momento que a gente
tá mexendo muito, né. Sabe eu acho assim que, eh, precisa mudar
muito, a gente precisa de muito mais acompanhamento, muito mais
estrutura nesse lado eu acho.

Mas quando você aborda que deve ser dada maior ênfase à
alfabetização, você acha que ainda está prevalecendo essa questão?
Ainda, eu sinto assim em relação a nossa escola, Edna, por exemplo,
esses dias eu conversei com a Vivi e falei, olha, eu não sei como
vocês fazem isso de manhã, com as professoras de 1a série. Mas, à
tarde eu vou ter que reclamar com ela. Porque ainda no momento se
deixa a Matemática em segundo plano, sabe ainda a gente percebe
isso, por que por mais que se fale, por mais que se questione, ainda
ela fica em segundo plano, e você tem que estar aí.

Você acha que existe algum fator que possa influenciar essa questão
de se colocar a Matemática em segundo plano?
Tem, a dificuldade de entendimento, porque, a Matemática sempre
foi um bicho de sete cabeças. Porque ela foi ensinada de uma forma
que ela não é relacionada com aquilo que você vive, você usa. Por
exemplo, se eu te falar em equações do 2° grau, o que vai se pensar,
a onde é que eu vou usar uma equação do 2° grau. E a gente lá na
7a, 8a, 1o e 2o grau, a gente faz uma equação de 2o grau de uma
página inteira. O que que faz com a gente pense em relação a
Matemática? Que é um horror, que é terrível. E é isso que nós
passamos para os alunos. Folhas, folhas, eu lembro, folhas de
caderno cheinhas, que começava assim grande e ia funilando,
funilando até ficar bem funiladinha, bem fininha. Eh, assim, Edna, eh,
eu vejo assim, também, eh, como já coloquei, a resistência, né, a
questão da má formação, e também a forma com que o nosso aluno
vem pra escola, eles já trazem incutido na cabeça, pelo jeito, pelos
pais, esse medo da matemática. Não sei se você quando estava em
sala de aula, também sentia isso. Mas a gente sente muitas vezes
por parte dos alunos. Eles trazem uma resistência assim alguns pais
chegam assim, nossa, oh, ele está bem em português, em
matemática tá igual eu, ele não aprende, não tem jeito, eu não
aprendi, ele também não aprende. Então essa já é uma questão
cultural, né. E que claro para haver essa mudança não vai ser assim,
né. Vai ter que existir uma mudança do todo. Mas assim, como eu
76

sempre falo, a gente nunca pode perder as esperanças, eu acho que


estamos no caminho para que aconteça essas mudanças.

Diante de uma situação de jogo como essa, como você procederia?


Bem, eu vou falar do que eu trabalharia com cada um deles. Eu vou
te falar daqueles que eu conheço mais. Porque tipo assim “O CAÇA
TABUADA” eu acho muito interessante porque aí, eu acho assim,
aqui está se trabalhando com a tabuada, mas você pode trabalhar
desde as séries iniciais, na pré-escola com a questão do número, né.
O conhecer o símbolo, você pode trabalhar como obter a quantidade,
por exemplo, você mostra a quantidade, a criança tem o número;
você mostra o número, a criança tem a quantidade. E depois com a
tabuada, né. Aqui, a tabuada, é claro, que antes, eu vejo desta
forma, antes de trabalhar essa questão do bingo, você tem que
trabalhar com ela o porque esta tabuada, o que quer dizer cinco
vezes o quatro. O que é que quer dizer esse cinco vezes o quatro,
esse símbolo vezes. O que é que quer dizer isso no concreto. Eu
acho que antes disso tem que se ter uma noção muito grande de
construção pra daí trabalhar com isso. Pra mim, ao meu ver, aqui
seria mais uma questão de fixação. Da, do conhecimento que já está
dentro da criança, já foi concluído, né. Uma questão pessoal. Ah,
deixe eu ver aqui. Esse daqui do “MAIS PRÓXIMO POSSÍVEL”. Aqui
deixe eu ver, esse aqui não me lembro muito bem. Esse aqui
trabalha com as operações, né. Você joga os dados. Você joga um
dado, deixa ver se eu lembro joga um dado e soma. Não dividi. Dividi
43: 1, e trabalha 43: 1 igual 43, quarenta e três menos 43, zero. Ah,
eu tinha outro que eu tinha visto esses tempo, na revista escola, só
que ele era diferente. Não sei se você viu?

Não sei, mas esse é o jogo “Avançando com o resto” que eu tirei da
revista Nova Escola.
Mas como que era mesmo. Eu jogo aqui 24: 6, que dá 6. [...]

Que dá 4.
Dá 4, ah é.

Então 24: 6 não dá resto.


Então avanço 4.

Não, não avança com o quociente, avança com o resto.


Ah é.

Na casa 24, então qual é o único número do dado que faz você
avançar?
É diferente. Esse seria mais um jogo pra quarta série, né. Pra quarta
série trabalhar. Eu estaria trabalhando com as operações, né. As
crianças estariam trabalhando com as operações mesmo. Deixe eu
ver neste aqui (“troca cartela”) a questão também começaria com a
tabuada que você estaria trabalhando antes, eh. Com o bingo,
também, a quantidade, número. Achei interessante a questão de
trocar as cores, porque ali entra a questão da socialização, já a
interação entre as crianças, né. E a questão da partilha, porque
assim, eles vão jogar, ah não eu não vou trocar o meu, então tal.
Então já vem toda aquela questão, a construção, o número,
quantidade, até a questão de verificar que tem que estar, por
77

exemplo 6 bolinhas 3 e 3, que é para encontrar o que está igual,


questão da visualização, a ocupação do espaço, percepção, tudo, já
trabalha tantas questões.

[...] período grande calada, lendo as regras do “MAIS PRÓXIMO


POSSÍVEL”.

Esse, as fichas ficam viradas pra baixo, tá. Daí essas, esse, esse é o
número alvo. Esse é o número alvo, daí a partir do número alvo você
tenta formar o mais próximo possível. Por exemplo, aqui eu pego
uma, peguei o 400, daí daqui eu pego três cartas. O mais próximo
possível, eu vou ver o que tenho aqui com esses três números. Pode
ser maior.

Pode.
Pode ser maior! O mais próximo possível seria este aqui.

Será?
Maior?!

Não, mais próximo?


Mas você quer dizer assim eu tenho 400, o que estaria assim o mais
próximo. Eu tenho que usar as três (293).

[...] (longo tempo pensando)


(932) não, ficou mais distante ainda. Ah se invertermos o três e o
nove (392) Era isso que eu queria fazer, aí sim, agora sim. Este jogo
aborda questões matemáticas como o valor posicional, você viu que
até eu me embaralhei, aqui. Muito bem embaralhada! Você vê o
quanto a gente deixa de trabalhar com os jogos, com os nossos
alunos, também pelo fato de estar fora da sala de aula. O valor
posicional, né, porque assim se eu colocar o 8 aqui, ele tem um
valor, se eu colocar aqui ele tem um valor e a questão de ter mais,
ter menos, né, toda esta questão que está incutida aí.

Você vê a possibilidade de um trabalho como esse em sala de aula?


Com certeza, com certeza, porque, você pode ver, como te falei que
até eu tive dificuldades de pensar algo para estar mais próximo.
Porque você, esses dias eu estava conversando com a Vivi ainda
assim, estar mais próximo, estar mais distante, o que quer dizer esta
concepção do mais do menos, que a gente muitas vezes deixa de
trabalhar, né. A gente deixa a desejar muitas vezes. Esse daqui é do
livro do Sarquis, né. Deixa eu ver esse “JOGO DAS TROCAS” (longo
tempo lendo as regras). 1 ficha verde vale 1 ponto; a ficha rosa vale
10 dessas aqui (verdes), então 1 dessa aqui (mostrou a ficha rosa); e
a verde vale 10, 1 verde aqui, 1 verde aqui não seria verde, né. É a
verde, tá. A ficha verde vale 1 ponto, a ficha rosa vale 10 pontos. Aí o
que é, o que seria válido trabalhar em sala de aula. Eu acho a
questão da unidade, dezena, centena, a construção do número até a
questão também do raciocínio lógico, né. Estar trabalhando essas
questões em sala de aula, né. Eh, a questão da visualização pra
criança com fichas de cores diferentes, fica mais fácil pra ela
entender, né. E a questão do manuseio, porque por exemplo se você
vai trabalhar lá, até, eh, se você vai lá trabalhar com eles assim eh,
78

somente o colocar lá a o 10, o 5, 4, quanto que vale isso, com as


fichinhas fica mais fácil a percepção, o entendimento, a troca.

Como você faria com as fichas, o trabalho de construção do número?


Um trabalho com fichas, eu trabalharia assim isso aqui valeria (ficha
branca) uma unidade; essa (ficha verde) a dezena, e essa (ficha
azul) a centena. Eu trabalharia assim que a unidade é uma fichinha
branca, preciso de uma fichinha branca, 1, 2, quando eu chegar no
número 10, eu vou trocar 10 brancas dessas aqui por uma verde, por
uma fichinha verde. Então vai dizer assim nessa fichinha verde eu
tenho 10 fichinhas brancas incutidas aqui, quer dizer eu tenho dez
unidades, aquela questão da troca, da visualização, tá. Aí eu vou
somar dez dessas aqui (verdes), eu vou ter 100 dessas aqui
(brancas). Em cada dez (brancas) eu vou juntando, colocando os
montinhos pra eles irem vendo, pra você eu não estou fazendo.
Quando eu chegar em dez dessas aqui (verdes) eu vou trocar por
uma azul, que vai dar uma centena. Então, eu tenho lá pra criança
ver, que uma dessa (verde) vale 10 dessas (brancas) e que 10
dessas aqui (verde) vale 1 dessa (azul) pra formar, e que 100 dessas
aqui (brancas) vão formar 1 dessa daqui (azul). Aí eles teriam a
trabalhado a questão do valor posicional, que é aquela formação da
unidade, dezena, centena e tal, que eles tariam trabalhando na
questão da construção do número, né. E aí quando você vai formar o
número 124, como que vai se formar o número 124? Como? Lembra
quando nós trabalhamos o que que vale essa aqui, lembra. Como a
gente formou. Ah então, ta pro 4 quais fichinhas eu vou pegar, 4
fichinhas brancas; o vinte eu vou pegar 2 verdes, mas essas duas
verdes tem o que dentro dela, tenho 20 brancas. Eu vou pegar dessa
aqui (azul) que vai equivaler a 10 dessas aqui (verdes) e 100 dessas
(brancas). É claro que, depois com o tempo eu não preciso, toda vez
estar reforçando a questão que contém, contém. Mas no início
preciso deixar toda vez, visualizar, reforçar na visão pra eles lá.
Deixar na mão deles, pra eles trabalharem com tudo isso porque não
adianta eu mostrar, eles tem que tar fazendo. Por isso, eu gosto
muito do trabalho com material dourado em sala de aula, a questão
de você colocar lá os pedacinhos, montar um do ladinho do outro.

Você acredita que deva haver um trabalho que anteceda o uso das
fichas?
Não. Eu acho que você pode começar o trabalho direto com as
fichas, porque a criança tem condições de conhecer. Através das
fichas. Você pode estar relacionando com a questão dinheiro o
material. Por que assim, você não trabalha, eu gosto assim, Edna de
levar pra sala de aula, não um só tipo de material, levar vários tipos
de materiais. Por exemplo, eu posso trabalhar com o material
dourado, com fichas, com sementes, com dinheiro, com ábaco, com
cartaz de pregas, com diferentes questões e a criança vai
percebendo que ela pode sim usar diferentes materiais, diferentes
meios pra trabalhar.

Quando você leva jogos para a sala de aula, você costuma levar um
só, ou diversos?
Quando por exemplo assim, se eu tenho um objetivo único naquele
momento, eu assim, no início, quando assim se quero trabalhar algo
que vamos dizer seja início de trabalho, aí eu estarei usando um
79

único material, mas depois que eu dei a introdução, que eu trabalhei,


eu gosto de diversificar, de trabalhar com diversos tipos de jogos.
Inicialmente então, trabalhando um de cada de vez, um dia trabalho
com fichas, amanhã com o material dourado depois com o ábaco e
tal, e tal, assim. E assim, por exemplo assim se eu vou trabalhar com
tabuada, se eu percebi que a minha criança aprendeu a tabuada,
construiu, aprendeu a construir a tabuada, eu posso levar para a sala
de aula diferentes formas de se jogar a tabuada. Posso levar dominó,
bingo, entre outros inúmeras coisas, operações, historinhas, porque
tem historinhas que tem jogos no meio pra eles chegar ao final da
historinha. Então, assim, posso levar pra sala de aula isso, porque eu
acho que quanto mais a criança trabalha, mais as diferentes
atividades, ela constrói muito mais.

Você levaria todos esses jogos para a sala de aula de uma só vez?
Sim, desde que as crianças conhecessem eles. Sim, você quer dizer
assim, hoje vou ter uma aula de matemática, quero trabalhar uma
aula de jogos? Sim, sim, posso levar o “Caça Tabuada”, “Troca
cartela”, posso fazer diferentes grupos na sala de aula e cada grupo
estar trabalhando com um jogo diferente. A partir do momento que
eles tenham conhecimento dos jogos, né. E aí também eu posso
estar passando, trabalhando com eles individual, a questão da leitura
das regras, a interpretação das regras que é muito importante
também.

Mais alguma coisa?


Sabe, Edna, eu acho assim, que essa questão dos jogos é muito
difícil pra gente trabalhar em sala de aula, porque? Primeiro
momento, como a gente conversou, a gente não sabe atuar, na
nossa formação não tinha jogos. Eh, a gente sempre assim, jogo vai
tumultuar, e tumultua mesmo. Jogo dá grito, da bagunça, da criança
brigando, da criança que não entende. Então eu faço a primeira vez,
a minha criança não entendeu muito, ela não fez legal, eu desisto e
não faço mais. Mas, daí, eu tento a primeira, e outra assim, se eu
tenho uma turma já que é meio agitada, eu levo pra sala de aula num
primeiro momento eu jogo com todo mundo, eu explico, eh, eu faço
as crianças criam as regras, a gente lê as regras antes. Depois você
dá nos pequenos grupos jogos diferentes. O erro que a gente faz
muitas vezes é pegar por exemplo, todos os jogos agora que eu
tenho aqui na minha frente, eu pegar ir lá pra 4ª série, dividir a sala
em grupos e dá os jogos, oh pessoal joguem. Não é por aí, eu acho
assim, a gente muitas vezes tem aquela velha ainda coisa na cabeça
assim, ah, eu sei, eles também vão saber. E não é por aí, ele precisa
aprender, e eu sou mediadora dessa aprendizagem, eu preciso estar
interagindo com ele. Em alguns momentos é necessário ensinar
mesmo pra ele. Falar pra ele assim, beleza, você não conseguiu
então vamos fazer assim, assim, assim, assim. Então é assim, e aí
assim a criança cria interesse pelo jogo. Enquanto que a gente não
tem paciência, de acostumar com aquela questão de bagunça,
aquela questão dos gritos, da brincadeira, do discutir, que a gente
mesmo que é adulto quando vai jogar às vezes não aceita perder, a
gente tem essas características, né. Eu acho que é por aí essa
questão do jogo, até é uma formação assim, não é o jogar pra
aprender matemática, mas o jogar para socializar, pra vivenciar, né.
Ih, como a gente estava falando antes a questão formação na
80

questão do trabalho em sala de aula, o jogo faz muita falta. Eu sentia


as meninas virem agora dos cursos, que elas estavam fazendo, falar
muito do jogo, da falta que tem o jogo em sala de aula, quanto,
pouco se leva. Eu mesma quando estava em sala de aula levava
muito pouco o jogo pra sala de aula. Eu vejo hoje pelo conhecimento
que adquiri, o que eu consegui construir, o quanto eu pequei, o
quanto eu preciso levar pra sala de aula. E o quanto eu tenho de
dificuldade pra entender um jogo, também do mesmo jeito. Porque
eu preciso, ler uma regra, uma, duas, três vezes, pra daí entender,
essa é uma questão que vem da formação, vem sim. Se você falar
pra mim, assim: -Sujeito quatro, vamos fazer algo assim de língua
portuguesa, beleza, tô aí, to indo. Agora falou comigo na área de
matemática eu sempre tive mais dificuldade, mais na área de
matemática. Eu sempre tive que planejar mais, eu sempre tive que
pensar mais e eu acho que é por isso mesmo que a gente deixa em
segundo plano. Porque é mais, por exemplo, assim, língua
portuguesa você escreve, você faz isso em história, geografia, enfim,
a matemática, você só faz na aula de matemática, é esse um erro da
gente também, a gente esquece de fazer essa relação, na realidade.
É aí que gera, essa angústia na gente, esse medo de errar, e é um
medo de errar. Como a gente estava falando antes, que a gente eh,
via o erro por erro, e não aproveitava isso pra fazer com que a
criança aprendia. Quer dizer, aprendia não, a gente ainda faz, em
alguns momentos. Tá mudando, mas a gente encontra pessoas, a
gente ainda faz essas coisas. Então assim, jogo é necessário sim, é
fundamental sim. Essa questão eu no jogo aqui eu não sabia, eu não
conseguia as vezes chegar, é uma, é um erro meu, não um erro, é
um limite meu, mas eu tenho sempre que procurar ir além desse
limite, procurar aprender, procurar buscar novos caminhos. Se a
gente ficar só nisso que a gente sabe, a gente não vai conseguir. E
outra, é as pessoas tem assim, eu não vou admitir que eu não sei.
Não, eu não sei mesmo, é uma dificuldade. Quem disse porque eu
estou na coordenação que eu tenho que saber tudo? Quem disse por
que eu estou em sala de aula tenho que saber tudo? Não, eu tenho
que buscar, eu tenho que aprender, eu tenho meus limites. E pro ser
humano, Edna, isso é muito complicado. E sabe agora estando na
coordenação esses anos eu percebo o quanto é difícil esse trabalho
em sala de aula. Porque parece assim, que existe aquela questão da
competição, de ai meu Deus do céu eu vou falar que não sei, ou
assim, eu falo que sei, eu falo que faço, mas depois na minha sala de
aula eu faço o que eu quero. E porque é que eu vou admitir, pra
Edna, que trabalha na SMED, que eu não sei, gente eu tenho
vergonha. Não, não, não, vergonha é você ir lá e fazer errado. Agora
admitir que você não sabe é por aí, é estar buscando o
conhecimento. E aí o que a gente tem que fazer, é buscar o
conhecimento e colocar em prática. Então, tem alguém que pode
buscar o conhecimento pra gente?

Você acha que existe algum motivo que pode levar as pessoas a não
buscarem o conhecimento?
Existem pessoas que não buscam conhecimento por uma questão de
comodismo, existem aquelas pessoas que não buscam
conhecimento porque acham que já sabem tudo, existem aquelas
pessoas que não buscam, eu falo não é que não buscam, elas não
conseguem se organizar para ir em busca do conhecimento, porque
81

tem filho, porque tem isso, porque tem aquilo, então assim, diferentes
e diferentes formas as pessoas não vão. Eu vejo pela gente, eu não
sei se você também tem disso, tem épocas que se alguém te fala
Edna você tem que ler este livro, você fala, meu Deus do céu, não
quero saber deste livro, não quero saber ou não quero ler. Mas aí,
tem aquela época não agora, quero aprender, quero saber isso, você
vai, você busca, você aprende. Mas, em outros tempos as pessoas
se acomodam. E aí entra aquela questão assim porque as pessoas
não mudam, porque as pessoas não percebem que elas tem que
mudar. Aí muitas vezes eu questiono isto com a Vivi, e aí a Vivi fala
assim pra mim: -Claudia é difícil alguém perceber ou admitir que
preciso mudar. Isto requer uma reflexão sobre si mesma, e isto não é
algo simples ou fácil de se chegar. Porque em sala de aula, porque
eu não faço, eu não percebo, que o meu aluno, não vai entender, só
eu mostrando pra ele, só eu escrevendo que isso é uma centena,
que isso aqui é uma unidade, e que isso aqui é uma dezena. Ele
precisa estar manuseando isto aqui, e ele precisa estar vendo a
quantidade que está aqui. Porque é que eu não vejo isto em sala de
aula? A minha formação, tudo bem, faz com que eu não veja. Mas,
se meu aluno não aprende? Você ensina, ensina, ensina, você levou
as fichas e ele não aprende. Será que não está na hora de eu pensar
que eu tenho que ensinar de uma forma diferente? (tempo calada).
Será que eu não tenho que buscar outras formas de ensinar? Por
isso que eu falei antes da questão de levar diferentes jogos pra sala
de aula, vamos dizer se eu estou trabalhando a tabuada; porque
muitas vezes, lá eu explico pro aluno com ah, com quantidades, eh
sementes, (3x2) eu explico pra ele, não entendeu; eh, faço com a
sementinha de novo, vou lá pra continha, vou lá e muitas vezes falo:
mas fulano vai 3 vezes até lá na porta e volta, quantas viagens você
fez. Ah, professora, eu não entendi. Então o que é que é, diferentes
metodologias, diferentes formas de ensinar. E eu ver que o meu
aluno não tá aprendendo então eu vou ter que mudar.

Essa percepção é difícil?


É muito difícil, Edna, muito. Sabe, porque a gente encontra muito na
sala de aula isto, crianças que você vê lá na primeira com
dificuldades; eu percebo assim, elas saem lá da primeira série
trocando, assim, por exemplo: b e c, ou eh, quantidades. Vamos
dizer assim, elas não relacionam quantidades. Aí elas chegam
vamos dizer, muitas vezes lá na 3° série e elas vão fazer uma
operação e elas continuam não sabendo essas questões de
quantidades, de relações e tal e tudo mais. E porque? Porque
ninguém teve aquele olho clínico, aquela questão individual pra se
ater naquela criança e verificar, ensinar, trabalhar com ela, de
diferentes formas para que saí ela consiga atingir.

Mais alguma questão?


É, é bem isso, em relação a nossa formação de nossos professores
vem muito dessa questão, de ver o individual mesmo do aluno.
Ontem mesmo eu estava conversando com a Ana Rita e com o
Caludir, e aí a gente estava vendo. Sabe muitas vezes a gente fala
assim, olha agora vocês tem, por exemplo, cinco aulas de
planejamento por semana, vamos aproveitar bem isso, vamos
procurar material, aí o professor chega pra gente, fala assim, Claudia
não é tempo suficiente, eu não consegui, e tal, e tal, beleza. Daí você
82

vê, vê claramente aquele professor que planejou, que buscou e que


mesmo assim não venceu. Mas daí também você vê aquele
professor que passou essas cinco aulas, foi lá deu uma olhada nos
livros, anotou as páginas no caderno e aí o que ele vai trabalhar. E aí
acontece isso que você falou que sentiu no curso. Pera aí aqui tem
um jogo nessa página, você não tem obrigação de saber este jogo,
eu vou tentar aprender ele. Se eu não conseguir, eu vou buscar
alguém pra me ajudar, mas daí eu olho pro jogo, mas isso daqui é
muito difícil, ah, eu não vou fazer. Mas assim se pra mim tá difícil
imagina pro meu aluno, como que vai ficar o meu aluno? Não, ele
não vai entender, não então eu nem vou trabalhar. Mas quando você
aprende esse jogo, você percebe o quanto você pode ensinar pro teu
aluno através desse jogo. Sabe, então aqui, por exemplo, com as
fichas, daí quando eu for trabalhar uma operação vai ser bem fácil
pra ele perceber o porque lá em cima, se ele tem uma operação de
400-283, porque, como ele vai fazer para tirar aquele três daquele
zero, lá em cima, se ele não tem nada. Ah, vai lá e pega emprestado
do quatro, mas o que é que é esse pegar emprestado do quatro. Eu
tou trabalhando com o material concreto, com fichas, com ábaco,
com alguma coisa assim, como eu vou estar mostrando pra eles da
onde vem. E aquilo com o tempo vai se tornar algo mecânico, que
você tá fazendo, que a criança vai fazer sem ser necessário o
material. E eu penso, eu penso assim também Edna que, eh, parece
material concreto, quando a gente fala em material concreto é
canudo, tampinha, eh, o que mais, sementes, seja lá o que for. Mas,
material concreto é tudo o que pode pegar, então o que é que é são
jogos, são brincadeiras, é o faz-de-conta, e tudo o mais; e daí tudo é
material pra pré e primeira. Quando chega lá na segunda série,
nossa, mas meu aluno ainda não consegue fazer uma operação de
adição com unidade e dezena, sem contar nos dedos. Mas, pera aí
gente, a gente muitas vezes, até esses tempos estava falando com a
manicure, ela estava falando do menino dela, que está na segunda
série, ele sabe fazer a tabuada, ele faz todas as operações, tudo,
mas não memorizou. Eu falei assim, mas pra gente mesmo o que
acontece se alguém chegar e de repente perguntar 5x8 pra você, e
daí você não lembra, daí o que você faz? Você primeiro procura
proximidades, você ainda faz relações. Então, pra uma criança de 6,
7, 8, 9 anos isso é natural, isso é normal, então o professor tem que
deixar a disposição dessa criança material concreto, pra ele estar
usando, tem que exigir que ela conte, tem que usar os jogos, tem
que deixar na sala de aula o trabalho, tem que diversificar em sala de
aula. E tudo isso gera o que? Trabalho, planejamento, procura e
estudo. E aí entra naquela questão que nós comentamos antes,
porque, comodismo, falta de interesse, eu já sei tudo, falta de tempo,
organização, eh, estímulo. Hoje em dia a gente não se sente
estimulado pra saber mais também. Sabe que tem muitas vezes
Edna, que eu até falo assim porque é que eu vou querer saber mais.
O que eu já sei tá tão o suficiente pra algumas coisas, sabe. Que
porque é assim, aquela velha história, quanto mais você aprende
mais coisas você vai vendo. Né, você vai querendo saber. Então
assim são inúmeras as questões que fazem com que a gente muitas
vezes em sala de aula, ou a gente, como profissional deixa de ir
buscar. Só que quando a gente deixa de buscar, não somos nós que
estamos perdendo, são os nossos alunos. E aí entra o compromisso
nosso como profissional. Nós estamos aqui fazendo o quê? Só para
83

sermos funcionários da prefeitura? Ou nós estamos aqui para


sermos professores? Nós estamos aqui por causa do nosso aluno,
nós temos que valorizar esse alunos, fazer com que ele tenha, que
seja cumprido com ele o direito dele, nós temos que cumprir com
nosso dever. Se amanhã depois eu não tiver mais aluno aqui na
Norma Belotto eu não tenho mais emprego, eu tou fora. Mas e
quantos por cento dessas pessoas que trabalham com a educação,
como a gente, que tão aqui porque tem aluno, se não tem aluno não
poderiam estar aqui. E não tem dinheiro no final do mês, esse
dinheiro que tanto se pensa, sem dinheiro a gente não vive é claro,
não vamos deixá-lo de lado. Mas e assim, sem o aluno a gente não...

O que te levou a ser professora?


Hunn, gostava muito das minhas professoras sempre tive assim, eh,
gostei muito dos professores principalmente, professora de Língua
Portuguesa, Inglês, mas não fiz Inglês, não quero saber de inglês.
Mas as professoras me cativavam isso, e aí quando eu estava na 8a
série eh nós fizemos uma brincadeira, eu lembro, uma brincadeira, e
aí foi pedido pra mim o que é que eu gostaria de ser, até então, eu
não havia pensado. Daí eu pensei, pensei, aí sabe eu vou fazer
magistério. E fiz. É claro, com as minhas imperfeições, com minhas
dúvidas, com minhas dificuldades.

E o que você acha que essas pessoas que não têm esse
compromisso, o que as levou a entrar para a área da educação
(docência)?
Isso eu senti quando estava na faculdade, Pedagogia é o curso que
tem menos tempo, são três anos só; é o curso mais barato e
infelizmente é visto como o curso mais fácil. Sabe, Edna, eu fico tão
assim angustiada quando eu ouço, pessoas que fazem enfermagem,
que fazem farmácia, falar que não dormem semanas, que ficam sem
viajar, que não sei o quê, que tem que repetir estágio, que o
professor de estágio fica lá no pé dele, fica lá na escola, que a
monografia tem que ficar muitas vezes escrevendo lá na frente do
professor, que tem que estar apresentando monografia, que tem que
estar defendendo, enquanto que nós, nós profissionais formados pra
trabalhar especificamente com a educação, fizemos estágio da forma
como queremos, porque é dessa forma que ocorre, o estágio é feito
da forma como você quer. Geralmente, não é dedicado, não é
monitorado. Se o estagiário vai fazer estágio numa escola, onde a
escola é comprometida, faz com que este estágio seja bom, seja
comprometido, senão é feito de qualquer jeito. Muitas escolas até
assinam as fichas, e vai, vai, vai, pra não ficar aí, pra não incomodar.
Monografia, eu vi muitas pessoas, quando eu estava na faculdade,
comprando monografia, que outros fizeram e elas nem sabem o que
elas escreveram, o que elas deixam lá. E aí você pega assim, eh eu
não sei fazer isto aqui, também nem quero saber, porque eu não vou
trabalhar como professora. E aí tá, termina três anos. No início do
próximo ano você vai pra reunião, pra reunião de início de ano na
Prefeitura, no teatro, vamos dizer aquela pessoa que você ouviu
durante três anos de Pedagogia, ela dizer que ela não queria
trabalhar, que estava fazendo por fazer, ela tá lá, e ela vai trabalhar
como professora. E você faz idéia de como vai ser o trabalho dela
em sala de aula (tempo calada). Isso, eu não vi uma, duas pessoas
falando, eu vi muitas e muitas pessoas falando. A educação é vista
84

assim, como a forma mais fácil de se ganhar dinheiro. Eu acho assim


que quando se valorizar mais, quando uma formação de professor for
igual uma formação de médico, aí, a educação das crianças aqui no
âmbito escolar vai ser muito melhor. E a valorização econômica
também vai ser melhor. Porque hoje, por exemplo, assim, se nos
formos pensar na questão financeira, eh, como que eu vou..., você
mesma tá fazendo mestrado não sei se você paga mensalidade ou
não. Se você fosse pensar em fazer um mestrado particular, com
certeza seu salário iria ou nem daria pro mestrado. E aí Edna, eu não
posso simplesmente, eu por exemplo trabalho só vinte horas, se eu
for pensar em fazer um mestrado, eu vou ter que pedir pro meu
marido pagar pra mim trabalhar, como? Enquanto que você vê um
médico, ou outro profissional da área, não indo trabalhar, antes,
muitas vezes, de ter um mestrado. Mas, o que é que é eles tem
bolsas de estudos, apoio de fundações, eles tem....., e por que é que
nós que trabalhamos com a base não temos nada disso? Isso é uma
questão muito ampla. É uma questão política né, Edna. É uma
questão assim, que é uma desvalorização, a gente vê até, pelas
crianças, pelos pais, se a gente se remeter aos professores dos seus
pais, meus pais, os professores deles eram assim, meu Deus, os
professores deles eram quase acima do padre na comunidade, né.
Hoje, nós enquanto professores, não somos nada, bem pelo
contrário só xingam a gente. E ainda dizem assim, ah funcionário
público!! Só trabalha poucos dias por ano e ganha um monte. Então,
quer dizer que valorização que nós temos. Isso também desmotiva
muito, isto também faz com que o professor chegue em sala de aula
e pense, pera aí. Ele nem pensa, isso já está incutido, ninguém me
valoriza. Porque também eu vou me preocupar?

Entrevista Sujeito 5

Como foi sua experiência na matemática, desde o seu ingresso na


escola até sua formação acadêmica?
Bom, na verdade, na minha vida enquanto aluna, eu sempre tive
muita dificuldade na matemática. Porque a gente vem de uma escola
tradicional, onde a matemática era trabalhada só dentro dos livros,
né, a gente não era apresentado nada de material concreto. Eu fui
começar a descobrir o gosto pela matemática na verdade, quando a
minha filha, a mais velha, estava na segunda série e eu tive que
começar ajudar ela de uma forma diferente, porque ela também tinha
dificuldade. Eu comecei perceber que não tinha outra forma, a não
ser você trabalhar ela de uma forma lúdica, eh, também associada a
materiais concretos; e fazer com que a criança compreenda o
processo daquilo que ela está fazendo. E foi ali que eu comecei a me
descobrir. Também, porque eu sempre tive séries iniciais, então,
primeira série e tal, e não me exigia muita coisa, né. Mas realmente
foi como mãe que comecei a descobrir como tem uma forma
diferente de você trabalhar a matemática, e eu comecei também ter o
gosto e despertar nela o gosto pela matemática, que até então ela
não tinha, né. E depois com os meus alunos, eh, eh, comecei a
também ter pré-escola, daí ali então, eu me encontrei realmente, né.
Porque daí eu pude perceber que a criança pequena ela já vem pra
85

escola com um conhecimento matemático. E cabe a nós professor,


com o olho clínico de professor, é despertar esse gosto. E como é
que a gente desperta esse gosto? É nas brincadeiras, porque a
matemática está presente em tudo na nossa vida. Dá pra começar a
mostrar pra criança que a matemática está lá na nossa casa, no
número da nossa casa, no nome, nas letras do nome quantas letras
tem o número de calçado que ela usa, o número da roupa que ela
usa, o número do telefone. Então, a criança desde pequena ela está
no mundo da matemática, é que a gente não percebe isso e não
mostra pra ela. Depois mais tarde eu comecei a perceber a
importância de se trabalhar com essa mesma criança que já veio
com a apropriação dessa matemática, é fazer essa construção dessa
matemática de uma forma diferente. É construir os números. Como é
que posso construir esses números, né? Através de materiais
concretos facílimos como botões, grãos, eu comecei a perceber o
quanto que a criança desde pequena ela já tem um significado pra
esse número, né. E comecei a perceber que ela encontra inúmeras
formas de construir o número, que pra nós, por exemplo, que na
nossa idéia, por exemplo, de como posso ter 2 + 2 = 4, mas a
criança, como você, oportunizar ela a ter um material concreto ela
cria as possibilidades dela, né. E isso eu tento repassar não só como
professora, mas como orientadora de uma escola, né. Eles
participam que a matemática fica distanciada, que a gente precisa
criar um jeito escrito, mas se a criança desde pequena for apropriada
a conhecer a matemática na vivência, quando ela chegar numa
primeira, numa segunda, numa terceira série, ela vai ter a construção
dessa, desse mundo matemático de uma forma mais fácil, mais
acessível. E, é isso que eu estou fazendo aqui com a primeira série,
é tentando, você sabe que devido a ter pessoas diferentes, com
capacidades de aprendizagens diferentes, é preciso conhecer todas
as formas possíveis e a matemática é deixado um pouco de lado. Se
a gente perceber que ela é uma matéria normal como as outras, que
ela, é tão importante, talvez até mais, que as outras, porque
enquanto cidadão a criança precisa conhecer o dinheiro, os números,
né. Ela tem que ter uma visão de mundo dentro da matemática. Eu
tentei passar isso, como orientadora, pras minhas professoras e eu
comecei a perceber a diferença que tá fazendo. Dentro de uma
escola como você consegue fazer com a que a matemática seja
vivenciada. Claro que você precisa fazer o registro, que ela precisa
saber o traçado, mas tudo isto está associado a outras questões. A
questão da lateralidade, a questão de esquema corporal, uma
criança que não sabe por exemplo o que é direita/esquerda ela não
vai saber pra que lado é o número, né. É claro então, a matemática
ela implica outras questões, né. Mas que você pode estar
trabalhando isto, toda essa matemática dentro de um outro número,
né. Eu sempre falo para os meus professores como você vai
trabalhar agora, por exemplo, o dia dos pais, né. É, não perder de
vista todos os conteúdos da pré-escola, mas como que eu posso
trabalhar a matemática então, dentro de um projeto do dia dos pais?
É fazendo a contagem dos nomes dos pais quantas letras tem, qual
é o número/nome dos pais que é maior, qual que é menor, qual é a
profissão do pai, dentro dessa profissão se o pai mexe com o
número, né. Então é você descobrir dentro de um conjunto. É como
eu falei antes, é você ter o olho clínico de professor, pra saber em
qual momento você tá aplicando a matemática. E trazer as crianças
86

pra fora, porque fora desse mundo da sala de aula, você pode
explorar inúmeras questões da matemática com pedrinhas lá fora,
explorando o bairro, as formas geométricas, as cores, a questão por
exemplo das noções básicas lá de menor e maior, o grosso, fino,
tudo isso você pode trabalhar. E isso não se dá conta só na pré-
escola. Qualquer série que você possa trazer a criança pra fora, pra
trabalhar a matemática. Eu acho que você dá um significado maior
pra ela, né.

Mas essa sua formação acerca da matemática, dentro do magistério,


como foi esse encaminhamento?
Ah, no início eu trabalhava matemática pela matemática, né. Eu acho
assim que quando você vai assumindo uma responsabilidade dentro
de uma sala de aula, e com a criança, você tem que preparar sua
criança não só para ir para uma série seguinte, mas você tem que
preparar essa criança para ser um cidadão, e isso não é uma coisa
que você aprende de um dia para o outro, é uma questão de
maturidade profissional também. E daí você perceber que aluno eu
quero formar, e que professora eu estou sendo, né? E você tem isso,
você pode contar isso, a sua experiência enquanto pessoa. Que
matemática foi passada pra você? Que matemática você está
passando para os seus alunos? Que cidadão eu fui, eh, como eu
sofri por exemplo, pra dividir coisas mínimas, né. Porque hoje se
você for ver a maioria das pessoas, eh, eh, se usa a calculadora, né.
E as pessoas antigas, eh, elas a matemática, mesmo o tradicional,
as pessoas faziam contas de cabeça, tudo. Então não foi uma coisa
assim de imediato, na, na minha carreira profissional, foi assim, eh,
fazendo sempre uma análise enquanto professor, né. Porque a gente
enquanto professor, a gente tem uma preocupação muito grande,
dentro de conseguir na pré-escola, a linguagem oral. E a gente perde
de vista os outros conteúdos que são importatíssimos. Mas eu fazia
assim oh, porque, no início da minha carreira fui percebendo que
você pode associar todos os conteúdos numa forma interdisciplinar,
você pode estar trabalhando a história, você pode estar até
trabalhando um conteúdo de história, você pode aproximar, por
exemplo, como é que os antigos contavam, como era a forma como
eles contavam, eh, eh, cada povo como fez e faz sua forma de
contagem. Porque na verdade nós herdamos muito isso, mas isso,
eh, eh e você repensando a tua forma pedagógica de trabalhar, né,
porque não pense que hoje eu sou perfeita, eu tenho muitas falhas
dentro da, da matemática, inclusive. Mas a gente sempre tem que
estar repensando, nós enquanto profissional, que tipo de cidadão nós
queremos formar? É porque essa frase que cidadão queremos
formar, é uma frase que assim é decorada por muitos profissionais,
né. Agora que vai fazer a diferença é quando você olhar pro seu
aluno e ter a consciência tranqüila que aquilo que você fez por ele,
talvez, talvez, não seja assim de grande quantidade, mas sim de
grande qualidade, né. E a matemática permite isso é de você
questionar de fazer com que a criança pense e repense, e é uma, e é
uma disciplina que ela é exata, né, então que existem inúmeros
meios, mas que o objetivo tem que ser único. Aí você pode fazer com
que a criança, por exemplo, numa multiplicação pense de várias
formas a multiplicação. Mas como que você faz isto? É dando
oportunidade de ela pensar, isso exige tempo, planejamento, sabe,
uma avaliação. Então, não é uma coisa assim, pensar matemática,
87

vou lá trabalhar, vou trabalhar um problema com meu aluno, daí


trabalhei uma forma de trabalhar aquele problema, trabalhei
operação e acabou. Você vai ter que explorar isto, porque
normalmente a criança vem com uma visão meio fechada, né.

O que te levou a fazer Pedagogia?


É uma opção de vida, realmente eu acho que se eu não fosse
professora, eu seria professora. Sabe desde pequena assim, umas,
umas das brincadeiras que eu mais gostava, sempre foi brincar de
professora. E é uma coisa assim que me realiza muito. Eu, eu tinha
uma colega que dizia assim, que ela faleceu há pouco tempo de
câncer, quando ela tava bem doente, ela dizia assim pra mim, que
não era para mim chorar porque ela não iria morrer jamais. Ela era
uma professora aqui da escola porque na mente de alguém a gente
sempre vai ficar. Que nós temos uma missão muito grande que é
marcar vidas, né. Então realmente uma opção de vida que eu tive, e
eu sempre pensei assim que, que a gente tem que fazer aquilo, claro
que nos dê um retorno financeiro, porque nós vivemos um mundo
capitalista, mas principalmente alguma coisa que te dê um retorno
enquanto pessoa. Sabe me realiza muito, por exemplo, eu não sou
uma professora que eu fecho a porta da minha sala, vou pra casa,
que o que trabalhei, trabalhei, não trabalhei, não trabalharei. Eu acho
assim que é muito mais do que ser professora você tem que ter, ser
exatamente um mestre. De você perceber, realmente, o que teu
aluno precisa. Então, eu sempre gostei de fazer isto, sabe. E eu
nunca imaginava, por exemplo que minha filha seria professora.
Porque eu nunca forcei a nada. Percebi que foi através do meu
exemplo, que ela foi optar por ser professora.

Sujeito 5, como foi o encaminhamento da matemática dentro da


Pedagogia?
Olha no magistério eu tive um aprofundamento maior, dentro do
curso de Pedagogia não, foi bem falho, nós não tivemos nada, a não
ser um pouco da teoria. Mas a prática nós não tivemos mesmo. Eu
acho que, pelo menos, eu posso falar do meu curso, né, que a gente
percebe que as faculdades, as universidades elas se preocupam
muito em trabalhar outras questões como: sociologia, psicologia, que
com certeza são fundamentais para a formação do professor. Mas
esquecem de trabalhar, ou não querem trabalhar aquilo que é
realmente a prática de uma professora, que são as metodologias.
Mas metodologias que sejam viáveis de trabalhar, né. Por isso eu
não sou contra que estagiários hoje estejam nas salas de aula.
Porque elas começam a perceber a diferença entre a teoria e a
prática. Porque, por exemplo, a matemática se fosse trabalhar dentro
de uma Universidade, de uma faculdade, a matemática é uma
prática: a criação de jogos, né, que instrumentos oportunizar, mas
não se faz isso. A aptidão a essas metodologias que aplicam isso é
muito mais a teoria do que a prática. E a teoria você pode abrir
qualquer livro que você encontra a teoria. Daí elas vem pra sala de
aula, elas não conseguem associar essa teoria, fazer essa aplicação
dessa teoria na prática, né. Eu por exemplo, eu particularmente, eu
não tive metodologia da matemática, eh, foi realmente como coloquei
antes, eh, na prática que você vai percebendo caminhos, você vai
encontrando. Mas, como coloquei aqui, eh, mesmo quem tem hoje a
metodologia, nós temos nas escolas vários materiais, mas a gente
88

como professor, nessa ânsia de cumprir conteúdos, sabe, de, de, de,
de vencer os livros, a gente acaba deixando de lado aquilo que é
essencial que é esse material concreto. Hoje se você for analisar
quase todos não fazem uso do material de contagem porque não
sabem como utilizar, porque não tivemos lá na nossa formação
acadêmica. Eh, vão trabalhar o material dourado, exploram
simplesmente a quantidade, a formação lá do número, a questão da
dezena, da centena, do milhar. O material de cuisinaire, lá também
não sabe-se como usar as barrinhas de cuisinaire. Então o professor
hoje, a coordenação chega e passa: olha nós temos inúmeros
materiais, mas nós não temos eh, como trabalhar isso no concreto.
Porque não basta você dizer que você levou um material concreto,
jogos pra tua sala, se você não souber explorar, né. E isso, e isso, na
época que eu fiz magistério nós tivemos alguma coisa na época. Mas
era assim mais no livro, eu não me recordo assim de materiais
concretos que a gente tenha confeccionado no magistério,
pouquíssimos, raros, né, muito menos no curso de Pedagogia, né.
Então eu acho assim, muito interessante quando a gente vê essas
estagiárias que vem pras escolas, aplicar os estágios delas, e elas
vem, porém são poucas as que vem com uma proposta de aplicação
da matemática, por quê? Porque elas não tem conhecimento de
como trabalhar. E nem nós, os professores aqui, se você for ver
quantos que usam o material concreto são poucos, e os que usam é
assim, eh, aquela forma mais tradicional, a mais simples possível,
né. A gente não, não não, não, não teve a oportunidade que alguém
repassasse isso pra gente, né. É isso deveria ser assim uma
preocupação assim por parte, sabe, da SMED, por parte dos órgãos,
no qual coordena o trabalho do professor. Porque hoje o Brasil está
lá entre os últimos? Porque a gente não faz uso dele, daquilo que se
tem. Nós, né, nós somos um povo muito criativo, né, mas não
sabemos usar o que nós temos, né. Então isso falha realmente, o
meu curso não cresceu. Eu percebo assim que são poucas. Outro
dia minha filha chegou, ela está cursando Pedagogia, e ela chegou e
ela dizia que tinha que fazer um projeto pra trabalhar quatro
operações da matemática. Ela ficou desesperada. Porque a
professora pediu um projeto, né, no qual o grupo tinha que se orga...,
trabalhar. E a professora simplesmente deu noções básicas, algumas
teorias para elas trabalharem e elas não souberam trabalhar. Então,
não adianta, também você dizer que dentro de um curso de
Pedagogia, de Magistério, você tem lá a teoria, a parte de
metodologia, se você não ensinar, né. A mesma coisa você der a
vara a alguém, e não ensinar a pescar. Então, você tem que oferecer
uma oportunidade, uma visão diferente de trabalhar a matemática,
mas você tem que ter conhecimento, enquanto professor, né, de
repassar pro teu aluno como fazer o uso disso, né. Porque às vezes
não é falta de vontade, é não saber realmente. Se hoje você
questionar a maioria dos professores de 1ª a 4ª do município, como
se trabalhar materiais simples assim, né, de como você pode
explorar o material dourado, são poucos os que vão assim te dar
encaminhamentos diferentes, né. Como por exemplo, um bingo, né,
são poucos os que poderiam fazer o uso de uma forma diferente do
bingo. Qualquer outro material que você tenha de matemática, se
você for ver, é por exemplo, se você for questionar como é que você
pode fazer a construção do número, coisas simples, né, são poucos
os professores que vão te dizer no concreto como é que faz, né. E
89

não é por falta de vontade, é porque não sabem fazer o uso disso,
né. E olha enquanto nós professores tivermos uma visão, de que
simplesmente português é a matéria mais importante, e que a
matemática é uma disciplina que pode ser trabalhada a parte, nós
não estamos formando cidadãos, o que tanto pregamos que
queremos formar. Porque se você for ver, olha hoje, se for fazer uma
análise dos alunos que nós temos hoje, por exemplo, a minha sala,
se você for fazer uma análise ali de 100%, quantos é que por
exemplo vão conseguir fazer uma Universidade, são pouquíssimos.
O que é que vai acontecer com a maioria? Infelizmente alguns vão
ser pedreiros, auxiliar de pedreiros, alguns vão trabalhar na Sadia,
né, alguns como caminhoneiros. E a matemática vai ter que estar
presente ali. Daí eles vão saber produzir um texto bem, eles vão
saber noções da cidade, do bairro, mas aquilo que é prático, que
como cidadão é urgente, que é a questão de você saber dar um
troco, você saber é ter uma visão da divisão, da multiplicação, de
uma porcentagem na hora de comprar, eles não vão saber fazer as
relações, né. E a culpa é de quem? É de nós professores, né. Mas
isso não é uma coisa assim, eu não me refiro assim só a minha
escola, isso é geral. Mas eu acho até que se formos analisar, é, é até
uma forma que o sistema usa, o professor, né, porque hoje são, se
for ver a maioria das pessoas essas propagandas. Daí no ano
passado quando eu tinha a 3ª série, que eu trouxe as propagandas
para os meus alunos, pra trabalhar, aqueles encartes de lojas, eu fui
trabalhar porcentagem com eles, e fazer a verificação com eles de
que se eles comprassem a vista e a prazo, que daria muitas vezes
para comprar duas vezes o mesmo produto, eles ficavam
apavorados. Tinha criança minha de 3ª série, por exemplo, que
quando tinha na propaganda assim 1 + 9, eles não sabiam que
aquele um significava a entrada, eles não sabiam, na 3ª série. Então
ali onde é que está a falha, não é porque o professor de 1ª e de 2ª
não trabalhou. É que a gente tem que vencer conteúdos, lá, você
trabalha muitas coisas dentro da matemática, que não, não são
coisas práticas que a criança precisa, né. E daí como é que você faz,
para mim esses encartes eu levei ali duas, três semanas, pra
trabalhar isso com eles. Mas eu percebi assim, que o que, a minha
prioridade naquele momento era qualidade do ensino que eu tava
dando e não a quantidade, eu deixei o Sarquis de lado, que era bem
complicado pra mim na época, eu deixei todos os outros livros. Daí
eu fui trabalhar aquilo que achei que naquele momento, enquanto
cidadão, era importante pra eles, né. Num outro momento eu
trabalhei com eles, pesquisa de preço dentro do bairro. Então eu
passei eh, uma, uma, lista de, de, uma lista de, por exemplo de
alguns produtos que seria comum pra todos, não pedi nada daquilo
que não fosse do cotidiano deles. Então o arroz, o feijão, o óleo, o
macarrão, o café, materiais de higiene, então eles tinham que fazer
por grupos pesquisa. Cada um no mercado aqui do bairro, ou nas
proximidades, e daí nós fomos ver que, por exemplo, que o mercado,
por exemplo, que anuncia que tem os preços mais baratos, que ele lá
no arroz é realmente bem mais barato, questão de R$ 1,00, R$ 2,00
mais barato. Mas lá no óleo o preço tá lá em cima. Então, o que é
que eles aprenderam que a gente hoje tem que fazer pesquisa de
preço, e pra mim fazer pesquisa de preço, eu tenho que saber somar
as vírgulas, né, que aqueles centavos que estão depois da vírgula
fazem diferença na hora que passar no caixa, né; o que é que é uma
90

propaganda enganosa, né; ah, nós estamos anunciando que o


mercado aqui do bairro está com 50% nas suas mercadorias, mas o
que significa esses 50%, realmente, né. Então, isso, isso é você
preparar o teu aluno para ser um cidadão. Aquele que sabe ir no
mercado e sabe fazer diferença, que este produto está mais barato,
mas este está mais caro. Então o que é eu tenho que fazer hoje? Eu
tenho que ir neste mercado comprar o óleo que está mais barato e lá
no outro comprar arroz, né. Eu fazer a soma final e ver realmente
que fez a diferença, né. Hoje em dia os pais não fazem isto, não,
nenhum pouco. Porque eles também não entendem, né. Hoje, por
exemplo, tem muitas lojas aí que anunciam essa questão da, eh,
esses dias eu fui nas Casas Bahia e daí, a questão de 50%, isso não
existe. O cara deu lá pra mim o valor de uma cozinha e daí falou que
naquele dia estava com 50%, só que ele elevou o preço 100%, mais
caro para poder dar os 50%. E você como professor tem que saber
repassar isso pra teu aluno, pra ter uma visão de mundo.

Como você vê a questão do ensino da matemática, hoje, nas


escolas?
Olha, nós, acho que já nós evoluímos muito, eu acho que a gente, a
gente teve uma caminhada assim, bastante grande, quando dentro
dos estudos dos PCN, a gente começou a repensar a matemática de
uma forma diferente. Só que o que é que acontece na maioria das
escolas? A gente, a gente quando faz um curso, por parte da SMED
ou qualquer outro órgão, mesmo dentro da escola, a gente recebe
uma injeção de ânimo, né, a gente pensa nossa eu posso fazer
diferente realmente. Porque lá eles estão mostrando uma forma
diferente de trabalhar, estão de uma certa forma mexendo com a
nossa consciência enquanto professor. Então, a gente progrediu
muito em relação a matemática, mas acho também que a gente
estacionou. Então, ah, porque a gente recebe essa injeção de ânimo
e de repente a gente dá uma parada, né. Então, por isso que eu acho
importante, por exemplo, que houvesse uma preocupação por parte
da, da, Secretaria da Educação, é de continuar este trabalho sabe.
Porque mesmo aquele professor mais acomodado, aquele que acha
que tem que continuar da mesma forma como sempre foi, tendo de
repente sempre a mesma sala, para não precisar mudar nem o
diário, né. Mas eu acho que a gente, até pra professor sempre mexe,
sabe, se você enquanto professor tem consciência do seu trabalho,
então mexe. Então, é como eu falei, a gente evoluiu muito, embora
hoje a gente esteja um pouco parado. Se não tem por parte da
coordenação uma cobrança, da direção, a gente tende a estacionar.
Então é importante a gente estar sempre reciclando, buscando
coisas novas, tendo apoio para poder crescer.

E quanto às situações de jogos nas escolas?


Bom, a questão dos jogos, eu acho assim que uma das melhores
formas de trabalhar, porque é a forma lúdica. Que a criança
necessita disso. A gente não pode esquecer que o lúdico não está
associado a pré-escola, que o lúdico tem que estar presente em
todos os momentos. Quem é que não gosta de, de um jogo, por
exemplo, né. E se não gosta é porque não aprendeu como manuseá-
lo, né. Então, eu acho que ele é importantíssimo, fundamental dentro
de uma sala de aula. Mas é como eu coloquei pra você levar um jogo
pra sala de aula, você enquanto professor você tem que ter domínio
91

daquilo que você vai dar. Primeiro que você tem que ter consciência
de que vai ser uma forma diferente que você vai tar trabalhando.
Então a tua sala vai de uma certa forma, vai dar um certo tumulto,
mas que esse tumulto essa bagunça ela é necessária, porque a
criança, ela vai falar mais alto, ela vai interferir no colega, ela vai, ela
vai fazer com que, se expressar de uma forma diferente quando ela
vai ganhar. Então, a tua sala vai se tornar um ambiente diferente.
Mas é um ambiente necessário, e que a gente, muitas vezes peca,
em não passar, né. Então eu acho assim que é uma das melhores
formas de se trabalhar, mas que nós professores, hoje, não estamos
trabalhando. Eu não sei, eu estou falando por mim, né, porque as
vezes nessa ânsia, de como coloquei antes de trabalhar todas outras
questões você deixa questões importantes, né. As vezes a gente fica
lá retomando os números, por exemplo até 50, não era muito mais
fácil pegar um jogo do bingo e fazer a verificação com a criança, se
realmente ela aprendeu, se ela conhece aquele número, né! Então a
gente falha nisso, mas eu acredito que os jogos eles são
fundamentais dentro na sala de aula. Acredito que assim como tem o
cantinho do leitor, deveria ter o cantinho do jogo pra criança dentro
de uma sala de aula, né. Eu utilizo, na medida do possível eu estou
sempre utilizando. Até esses dias para reforçar, eu fiz a experiência
do bingo, e ali eu fui perceber que tinha crianças que eu acreditava
que realmente já tinham tomado conhecimento do número não
conseguiam, por exemplo bater o bingo, porque pulou, porque não
conheciam o número. Não é que não marcou no momento, mas é
que não conhecia, e daí quando eu questionei você tinha por
exemplo o número 32, por exemplo, você tinha. E daí ela olhava
assim, e daí eu percebia que ela não tinha conhecimento ainda do
número. Então isso serviu pra mim retomar o meu trabalho, né. Más
é como eu coloquei, eh, raramente eu estou trabalhando jogos. Eu
sei que estou falhando, mas, é com esta preocupação realmente de
você fazer com que a criança saia da 1ª série lendo, escrevendo,
tendo um conhecimento de número, você deixa pra trás coisas
fundamentais, que por exemplo são os jogos, né. Poderia estar
trabalhando questões importantíssimas ali dentro, dentro de um jogo.
Poderia estar explorando outros conteúdos também.

Diante de situações de jogos como essas (Caça-tabuada, Troca


cartela, Mais próximo possível, Bingo da tabuada, Avançando com o
resto, Jogo das Trocas), como você encaminharia este trabalho?
Eu não conheço esses jogos ali.

Este daqui, já que você abordou a questão da construção do número,


é o jogo mais próximo possível, você tem o n° alvo e daí com o
sorteio de três cartas você tem que formar o número mais próximo.
Vai ter que fazer a formação?

Como é que você encaminharia esse trabalho?


Eu acho que primeiramente eu poderia trabalhar conforme o número
da minha turma, né. O conhecimento que eu tenho da minha turma,
eu poderia fazer isso. Primeiro eu acho que teria que fazer uma
sondagem se eles conhecem os números, por exemplo, tomar o
número 800 eles tem que saber, por exemplo, que esse 8 aqui,
quanto que ele representa. Então, né, então primeiro vou ter que
fazer uma sondagem, então, que trabalhar pré-requisito pra se
92

chegar a esse jogo, né. Então eu começaria trabalhando com essa


questão quanto que vale esse zero, quanto que vale esse zero, e
quanto que vale esse oito. Isso eu faço na minha turma, por exemplo,
de repente com números menores, não seria difícil, porque eu
sempre trabalho, por exemplo, porque dentro do caderno de
matemática, por exemplo, por que que tem os quadradinhos? Porque
cada número vai dentro, porque cada número tem um valor. Então eu
faria uma sondagem por exemplo de compor e decompor os
números a primeira forma, para depois chegar a este jogo. Porque se
você chega pra criança, e fala que ela vai ter que chegar por
exemplo, que teria 3 possibilidades de formar 800. Mas se ela não
tiver, por exemplo, pré-requisitos, de, de, de, de, quanto vale cada
número, qual o valor de cada, de cada, de cada número desse aqui,
ela não vai conseguir chegar a essa conclusão. Mas se ser
trabalhado pré-requisitos anteriores com certeza que ela vai
reconhecer. Eu acho que seria interessante trabalhar esse aqui. Uma
outra possibilidade, por exemplo, é, eu acho que primeiro deixaria ela
fazer as suas tentativas, porque eu também não teria
reconhecimento de como é, até onde é o conhecimento dela.

Então, por exemplo, sorteie um número alvo e separe três cartas,


como seria seu encaminhamento a partir dessa situação?
Bom posso formar 489 não 498.

Lembre-se de que esse jogo permite que seja formado acima ou


abaixo do número alvo.
Ah, então posso formar 849. Ah... Então para isso a criança tem que
ter pré-requisitos, por exemplo, se a criança, por exemplo, não
conhece até o número 800 não vai saber o número maior e muito
menos o menor. Aqui também você pode trabalhar quais são os
números vizinhos, né. Por exemplo, qual é o antecessor e o
sucessor, né. Então aqui você pode por exemplo, você não precisa
trabalhar somente quantidade, você pode trabalhar todos outros
conteúdos que de repente são importantes. Você não precisa, você
já imaginou a riqueza de um trabalho como este para você trabalhar
sucessor e antecessor, sem você estar trabalhando aqueles
exercícios rotineiros de você colocar o número no quadro,
pontilhados a frente e pontilhados depois, pra trabalhar sucessor e
antecessor. Aqui você vai estar dando a oportunidade da criança
construir o seu conhecimento, né. E com uma vantagem, de que ela
vai poder errar, né, e construir novamente, porque ela não vai
precisar apagar, que é uma coisa que elas não gostam, né, que é
uma coisa que normalmente a criança não gosta, né, e ela vai estar
construindo o conhecimento da prática, né. Então é importantíssimo
isso, né. E você vê, são coisas tão simples que você pode fazer, não
precisa nem fazer no computador, né. Esse aqui é o jogo das trocas,
eu sempre trabalho isso com eles, por exemplo, aqui pra construção
do número, que por exemplo, cada número, por exemplo, agora eu
estou trabalhando ainda unidade/dezena, né. Por exemplo, né, se
você, olha..., a minha turma é uma turma assim que de repente não
serve como referência, porque eu tenho várias, várias situações
dentro da minha sala de aula, né. Temos alguns problemas e tudo, e
que isso dificulta a questão do raciocínio, até aquele raciocínio mais
lógico, mais evidente, a criança não tem condição. Então, como é
que eu fiz, por que, eu não dei essas fichas, mas eu dei, por
93

exemplo, o material dourado, por exemplo, para trabalhar. Então


vamos ver que essas fichas verdes, aqui, representam a casa das
unidades, então eu preciso ter dez, mas eu sei que quando passo a
ter dez o um vai na casa da dezena, que muda a cor que a dezena é
azul e a unidade é verde. Então ela tem nove, as fichas vou distribuir
a ela várias fichas, então ela vai ter que fazer esta troca. Então, por
exemplo, ela vai ter que ter dez. Então até o nove o que é que ela vai
dizer é unidade, que cor que é a unidade? Ah, é verde, então ela vai
lá, um dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, mas agora ela
vai passar a ter 10, só que ela também tem que ter uma referência
no caderno, alguma, ela tem que ter uma referência também, não é
só o concreto, né, porque ela vai ter que fazer o registro daquilo pra
ver, pra daí ela compreender isso, né, as duas formas, a teoria e a
prática.
Agora, agora, ela passa a ter 10, mas será 10 aqui quando eu vou
registrar aqui (no caderno) pode ser, verde, não ele vai mudar de cor,
porque ele passa ser de unidade, vai construir uma dezena. Então o
que é que eu vou ter que ter lá? Daí, agora vou ter que mudar a cor,
então agora que cor vai ser? Então por exemplo, se aqui fosse o
azul, então, agora o que é que ele vai fazer, então agora era nove,
agora passou a ter 10. Então, eu vou deixar os nove lá para mim
construir uma dezena. E quanto é que vale uma dezena, 10, (1, 2, 3,
4, 5, 6, 7, 8, 9, 10), o que é que eu vou fazer agora, eu tinha nove eu
passei a ter dez, eu tenho uma a mais, então ela mudou. Mudou o
valor da, da, da, casinha lá. E agora então nós vamos juntar porque?
Porque ela deixou de ser unidade, passou a ser uma dezena. Mas
porque a criança precisa fazer isso aqui? Para ela entender que 1
dezena é dez, mas esse dez eu tenho que juntar. Porque lá no
material dourado é um embaixo do outro, porque eles tem que estar
juntos. E daí eu faço o uso do quadro valor lugar (Q. V. L), lá na
prática, pra daí ela perceber essa passagem assim. Porque a cor, a
cor é importante pra ela perceber que vai mudar totalmente a posição
do número, o valor do número. Então eu vou chegar lá pros meus
alunos e passar o número até onde eu trabalhei, até o 60, por
exemplo, e pedir qual é o valor de cada número, sem passar essa
questão de unidade e dezena. Aqueles, os considerados, assim, os
que tem maior facilidade, eles vão te dizer, por exemplo, se você
passar lá o número 23, por exemplo, quanto vale esse dois e quanto
vale esse três, ele sabe que esse dois não vale só dois, que esse
dois vale duas dezenas, é porque eu fiz essa passagem com eles.
Então eu fiz com fichas, sabe, eu fiz com o material dourado, sabe
até pintei. Até porque o princípio é o mesmo. Mas olha quando é que
eu comecei a gostar do Sarquis. Porque eu, eu detestava o Sarquis
na 3ª série. Mas eh, mas é porque eu não conseguia entender essa
forma diferente de trabalhar matemática. Primeiro porque já deu um
susto em nós, porque não havia resposta nenhuma. Daí, como
professora, ele te deu uma chamada pra você primeiro estudar, ter
segurança daquilo que você vai passar, pra você poder aplicar. E
como eu me apaixonei agora? Quando eu percebi qual foi o intuito
dele, qual foi a visão que ele teve da matemática pra criar um livro
assim, né. Quando ele trabalha, por exemplo, os probleminhas lá,
que ele fala assim as suas conclusões, primeiro lá as minhas idéias
da matemática e depois a questão da matemática mesmo, porque?
Então a criança tem a possibilidade ela, ela tem o direito de errar, ela
tem o direito de construir o seu conhecimento, né. Então eu comecei
94

a me aproximar porque percebi que realmente é o caminho de se


trabalhar, né. É claro que na terceira série era diferente, porque a
disciplina exige mais do professor, um conhecimento maior da
matemática, né. Mas na primeira série você tem essa possibilidade
dentro, com o Sarquis, né. E é que nem, isso a gente sempre ouvia,
né, que o professor pra gostar do Sarquis, eh, ele, ele, tinha que
começar lá da 1ª série. E realmente daqui uns anos você vai ver
como que você vai mudar essa visão em relação a esse livro, porque
as crianças, estão numa caminhada, eles estão numa construção da
matemática, diferente de tudo aquilo que nós tínhamos, né. Professor
tinha lá os livros onde trazia as respostas, onde a criança não
precisava pensar muito, né, hoje, o Sarquis ele já exige. Porque você
já imaginou aqueles trabalhos extras, que os outros livros não
tinham, de fazer uma troca, por exemplo, quando é que você ouvia
isso numa primeira série, alguns anos atrás, não tinha. Mas, pra mim
fazer isto, primeiro eu tenho que pensar as possibilidades, né, eu não
sei, aquele dia que você estava aqui, eu me lembro eu colocava, eu
acredito que quando eu coloquei assim, eu trabalhei, tinha uma
proposta lá do livro de Sarquis, eu não me recordo exatamente a
pergunta, que pedia qual é o maior número que existe e daí eles
começaram 1 milhão, 1 bilhão, 1 trilhão, não sei o que, e daí de
repente uma criança começou a pensar, e daí ela falou assim: não
existe maior número professora. E daí eu falei porque? Porque os
números são infinitos que todos os números que eles tão falando,
pode colocar aí professora, mas se você colocar um outro número lá
na frente, vai ficar maior ainda. Então, os números, eles são infinitos,
eles não tem fim. É claro que uma criança dessa, com certeza lá da
casa ele tem, ele tem uma família que incentiva mais. Mas já
imaginou que um, já tá fazendo a diferença dentro da matemática, na
sala de aula, né, isso o Sarquis permite. Você pode fazer nesses
problemas de tudo de tradicional que você trabalha com as crianças,
lá, esses probleminhas mais comuns que a gente passa, né, dando
praticamente a resposta e ele não.

Como você vê essa questão do jogo na sua sala de aula, nas outras
salas, na escola?
É como eu falei, a gente teve assim uma época ali que a gente teve
um ânimo maior pra se trabalhar. Hoje a gente ta voltando lá ao
tradicional, né. Mas é, e como eu sempre penso, e eu sempre falo
pras professoras assim, o que faz a diferença é a tua vontade,
enquanto professora, né. A tua sala, eh, de repente você não consiga
vencer todos os conteúdos até o final do ano, mas aquilo que teus
alunos saírem eles vão saber aplicar na prática. Porque ele pode ter,
você oportunizou ele a trabalhar numa teoria, um enunciado, mas
você fez ele vivenciar isto, e o jogo permite isso. E ali dentro do jogo
você pode trabalhar inúmeras outras questões, por exemplo, até na
formação social dele como pessoa, o saber perder, né, o saber
ganhar, eh, eh, o você ser humilde de repente de pedir ajuda pro
colega, você saber dividir com o colega, e o jogo permite todas essas
questões. Né, mas você tem que ter o olho clínico, como você vai
trabalhar é realmente você dar este tipo de encaminhamento. Claro,
perdeu, tem crianças, que faz arte, perdeu, joga tudo no chão, né.
Porque tem criança que não sabe perder, e o jogo permite isso. Uma
outra possibilidade, perdeu, então agora você vai tentar de novo, pra
ver se você consegue, pede ajuda pro seu colega se você não
95

consegue. Então, o jogo permite não só o jogo pelo jogo, mas


permite você trabalhar outras questões importantíssimas, para
formação da personalidade dele, porque ele vai ser um adulto, de
repente mais tranqüilo, um adulto mais consciente, né. E foi lá uma
professora, uma simples professora de 1ª série que ensinou, que
você pode errar, que você pode acertar, você pode construir um
conhecimento diferente né. Mas pra isso você tem que ter um
planejamento muito bem trilhado, né, você tem que ter consciência
que a tua sala vai ser um ambiente diferente, mas que vai ser uma,
um momento que você vai tar oportunizando, da criança pra criança
realmente crescer, né. Crescer, não só como aluno, mas como
pessoa. Daí o jogo permite isso mesmo, né. Que se você for analisar
quantas professoras trabalham o jogo, né pouquíssimas. Quase que
ninguém. É que a gente não tem essa visão, né, por isso, é
importantíssimo de repente dentro de uma escola, que se a gente
tenha segurança realmente de que, que aquilo que seja trabalhado
tenha uma qualidade, não só a quantidade, né. Isso é o que gente
sente por parte da Viven, a Vivien, enquanto coordenadora, ela, ela,
sonha com a gente. Quando ela vê que um professor ta fazendo a
diferença lá com uma atividade, ela, ela, ela, encara isso com a
gente. Ela não fala assim, vai lá e faz sozinho. Ela já pensa uma
possibilidade diferente, ela vibra quando a gente acerta, nos ajuda
quando, e isso é uma escola realmente que você pode ter liberdade.
Se aqui a gente não faz, não é por falta de motivação, porque tanto,
eu falo mais da Vivem, porque ela é coordenadora na parte da
manhã, mas a Cláudia também, elas sempre nos repassaram essa
possibilidade, sempre nos cobraram, né, na última reunião até nos
cobraram né, que os jogos estão todos no mesmo lugar, e isso é
muito preocupante, né. Quando a sala está sempre arrumada é sinal
que ninguém mexeu nela, né. Então elas estão sempre nos
chamando atenção, se existe falha é porque a gente realmente não
quer fazer a diferença. E é como eu coloquei no início, que muitas
vezes não é por falta de vontade, é a questão da preocupação
realmente de vencer esses conteúdos, né. Mas eu acho que a nossa
escola, por exemplo, nos temos vários jogos aqui, nós temos, nós
temos jogos ali, esses dias, o professor falou temos jogos que nós
podemos trabalhar praticamente em dupla com o material dourado,
de tantas caixinhas que nós temos, né. Então olha, é de buscar
outras possibilidades com tampinhas de garrafa pra trabalhar
material de contagem. E isso eu acho que fiz muito bem, esses dias
conversando com a Márcia, é de construir o número com a criança,
por exemplo, né. A Márcia me falou ano passado a 1ª série nessa
época, elas não sabiam construção número. Então, é realmente de
você fazer a diferença, uma, né, o material que você tem ali, material
simples, né.

Mais alguma questão?


Não, olha só queria dizer que, assim, é importante que se tenha
pessoas como você, que estejam preocupada com essa disciplina,
né. Porque a matemática ainda infelizmente é uma disciplina que
assusta muito o aluno e o professor. Mas que se a gente for ver que
a matemática ela é uma lógica, ela é uma matéria exata, né, a gente
pode, que a gente pode criar através dela, a gente pode viajar com a
criança num mundo diferente de criação, de a gente poder fazer a
diferença com o nosso aluno, né. Então, é importante que você
96

esteja à frente da SMED, para que faça realmente a diferença,


porque a gente enquanto professor precisa às vezes dessas injeções
de ânimo, pras chamadas, pra dizer assim, olha como é que está, tão
trabalhando, mas não é só oferecer o instrumento, é ensinar, é usar
esse instrumento, né. Então eu fico feliz que ainda tenham pessoas
que estejam preocupadas.
4

ANÁLISE FENOMENOLÓGICA DE VIVÊNCIAS EDUCATIVAS

Neste capítulo, tratar-se-á da análise fenomenológica, constituída a partir de

entrevistas realizadas com professores da Rede Municipal de Ensino acerca do jogo.

Serão apresentadas as análises ideográficas e a nomotética, procurando evidenciar

relações entre os significados atribuídos a uma vivência de jogo no contexto escolar.

4.1 UNIDADES SIGNIFICATIVAS: UMA COMPREENSÃO IDEOGRÁFICA

O processo de redução fenomenológica inicia-se a partir dessa etapa, uma

vez que, aqui, serão elencadas as unidades de significado de cada discurso

ingênuo. Essa etapa permite que se trace o perfil ideográfico de cada sujeito

pesquisado. Segundo Espósito (1993), a redução consiste em destacar as unidades

de significado, reagrupando os constitutivos relevantes para se chegar a uma

análise da estrutura do fenômeno.

Neste sentido, faz-se necessário compreender que a pesquisa

fenomenológica está dirigida para significados, ou seja, “para expressões claras

sobre as percepções que o sujeito têm daquilo que está sendo pesquisado, as quais

são expressas pelo próprio sujeito que as percebe” (MARTINS; BICUDO, 1989,

p.93). Por isso, interessa ao pesquisador, a partir das percepções expressas pelo
98

sujeito pesquisado, interpretar o que essas percepções significam para este

indivíduo.

Para a fenomenologia, a consciência ativa e reflexiva é a consciência

intencional ou a intencionalidade. Isto significa que a “consciência é sempre

consciência de alguma coisa” (DARTIGUES, 1973, p.24), visando, sempre, a

conteúdos ou significações. Husserl (1980, p.8) ega que “a consciência não é uma

substância (alma), mas uma atividade constituída por atos (percepção, imaginação,

especulação, etc.) com os quais visa algo”. Logo, ao se dirigir aos significados, o

foco da pesquisa fenomenológica não está nos fatos, tais como podem ser

observados pelo pesquisador, mas sim naquilo que os sujeitos têm a dizer a respeito

de determinados eventos ou vivências. Do ponto de vista fenomenológico, a

atribuição de significados é o centro da pesquisa e da aprendizagem.

Compreender um ser humano que se sente inseguro em relação a seu

entendimento acerca do fenômeno em estudo (“o que é isto, o jogo”) deve-se voltar

ao ser que experiencia essa situação, observando como a mesma se manifesta a

ele. Dessa forma, a descrição da experiência vivida pelos sujeitos está na base do

método fenomenológico.

Neste trabalho, realizou-se, inicialmente, a transcrição das entrevistas de três

sujeitos que, voluntariamente, participaram dessa fase da pesquisa. Destaca-se que

as entrevistas apresentam-se anexadas a este trabalho, transcritas sem qualquer

correção vocabular.

Dando seqüência ao trabalho, repetidas leituras foram realizadas com o

objetivo de promover a aproximação entre pesquisador e pesquisados. Nota-se que

as leituras prévias fizeram parte de uma primeira aproximação da pesquisadora em

relação ao fenômeno investigado, uma atitude de familiarização com o que as


99

descrições ofereciam. Nessa etapa, corroborando Espósito (1993, p.43), “não há

preocupação em enumerar fatos, mas em buscar o significado que os eventos

anunciados têm enquanto fenômenos para os sujeitos que descreveram”.

É a essas descrições, ou relatos, que se recorrerá em diferentes momentos,

para que, cada vez mais, se possa ter clareza em relação ao fenômeno em estudo.

Nessa tarefa, de leituras e releituras constantes, é que se dará a redução

fenomenológica.

O pesquisador não precisa colocar-se como uma “tábula rasa” diante do

fenômeno que irá investigar ou interrogar, nem será necessário que exclua por

completo todos os seus pressupostos ou concepções, mas deverá estar atento

(suspensão provisória do juízo) ao fenomenal que se apresenta à experiência como

fenômeno. Ou seja, “com a descrição pretende-se clarificar a experiência vivida,

tentando tornar explícita a sua estrutura” (FRANÇA, 1989, p.31). De acordo com

França, é na relação da consciência com a experiência que os significados pessoais

vão sendo atribuídos e sendo incorporados à própria experiência. Dessa forma,

torna-se imprescindível “uma análise descritiva que procure tornar explícitos os

significados implícitos na experiência vivida, de tal forma que o fenômeno se torne

presente e possa ser interpretado” (FRANÇA, 1989, p.32).

Diante disso, cada discurso será filtrado, visando separar os fragmentos que

podem revelar as essências, desvelando o fenômeno dos fragmentos que apenas

permeiam o discurso ingênuo do sujeito pesquisado, mas que não possibilitam

revelar essências que possam estruturar o fenômeno em pauta.

Nessa modalidade, as descrições e agrupamentos estão baseados nas

descrições “ingênuas” dos sujeitos com o propósito de trabalhar a essência do

fenômeno individual através das descrições. Dentre os próprios fenômenos torna-se


100

possível estabelecer agrupamentos segundo suas convergências ou divergências,

pautadas nas essências descritas em cada discurso.

Ressalta-se que todo o movimento de interpretação e síntese das Unidades

de Significado busca pelos seus sentidos originais. Por isso, o método

fenomenológico exige que se façam leituras e inúmeras releituras do discurso do

sujeito pesquisado na íntegra. Nesse trabalho, é o pesquisador que pode verificar se

as mesmas unidades continuam com o sentido inicialmente dado a elas; se o

contrário ocorrer, essas não poderão ser consideradas unidades de significados, o

que exige que o pesquisador faça uma nova análise do texto (discurso). Esse

momento de análise contempla as descrições ingênuas, individuais de cada sujeito.

Enfim, a análise ideográfica refere-se ao emprego de representações de

idéias por meio de símbolos ou ideogramas, expressando opiniões e buscando

tornar visível a ideologia que permeia as descrições ingênuas do sujeito, ou seja,

cada concepção individual pode ser “transformada em idéia” (BELLO, 2000, p.37).

Após a apresentação da tabela com a interpretação e a síntese, será

apresentada a compreensão ideográfica, contendo todas as unidades de significado

interpretadas e sintetizadas do discurso individual. Neste sentido, o mesmo revela

uma síntese da perspectiva do sujeito sobre o fenômeno investigado.


101

QUADRO 2: Unidades de Significado do Discurso do Sujeito 1 (Entrevista 1)

Unidades de Significado Interpretação Síntese


“[...] pra mim não é uma área, Essa preferência por U1 – Preferência pela
prefiro português, não é uma disciplina faz com que muitos disciplina de português.
área assim que me prende.” professores priorizem mais
aquela que mais gostam e
acabam esquecendo, ou
ocultando, algumas
disciplinas de seu
planejamento escolar.

“Até eu escolhi o curso, Muitas vezes, as pessoas U2 – A matemática está


depois comecei a pensar, optam pelo curso de presente em todos os
pensar, a gente trabalha com graduação, ou outro, diante momentos.
isso, né. [...] Porque eu vejo das disciplinas que o mesmo
que agora em sala de aula a oferta, mas não no sentido de
todo momento estou avaliação e análise destas
utilizando a matemática.” disciplinas. Buscam os
cursos que não tem a matéria
em que possuem certa
dificuldade. Percebe-se que
só se dá conta de que iria ter
que trabalhar, também, com
a matemática depois que se
deparou com a disciplina
dentro de uma sala de aula.

“[...] na formação acadêmica A formação dos professores U3 – A formação na área de


nós tivemos pouco, eh, só é precária. As universidades matemática é falha.
seis meses, eh, com a não estão oferecendo o
metodologia de [...] mínimo que uma pessoa que
matemática na Educação vai atuar no nível de 1ª a 4ª
Infantil, só Educação Infantil, série deveria saber. Os
eh, eu acho que foi pouco.” próprios professores
reconhecem que a sua
formação foi bastante falha.

“A construção do número, eu Grande parte das disciplinas U4 – O ensino encontra-se


me lembro que ela passou ofertadas nos cursos de demasiadamente pautado em
eh, é algumas coisas assim, graduação, principalmente os teorias.
que ela foi falando pra gente que formam professores que
que, que seria interessante vão atuar no ensino
trabalhar.” fundamental (1ª a 4ª série),
apenas tem a preocupação
de repassar teorias,
esquecendo da prática. Não
que teoria não seja
importante, mas se o trabalho
teórico fosse aliado ao prático
na graduação, não se teriam
tantas surpresas ao se
chegar a uma sala de aula.
102

“Algumas, eh, na verdade A ênfase no uso do material U5 – A importância do uso de


metodologias eh, contar os concreto nas aulas de material concreto nas aulas.
alunos, deixar, mostrar pra matemática, bem como a
eles realmente, pegar, usar possibilidade de exploração
material concreto, isso que do próprio corpo.No entanto,
ela ressaltou bastante. Eh, isso só ocorre teoricamente.
questões de trabalhar com o Falta, de repente, essa parte
corpo, a matemática com o prática, para que o
corpo, medidas, peso”. Ela acadêmico possa perceber a
sempre ressaltou o concreto, validade desses recursos, a
sempre trabalhar com o aplicabilidade das teorias.
concreto. Porque se eu
coloco o número lá é muito
abstrato, a criança não vai
conseguir memorizar o
número, só olhando no caso
pro símbolo [...].”

“[...] sempre pegar partindo Este é um fator bem U6 – O ensino deveria partir
deles, ver o que eles já importante que deveria estar daquilo que os alunos já
conhecem [...].” presente dentro da prática conhecem.
pedagógica dos professores,
principalmente, ao
elaborarem o planejamento
de suas aulas, deveriam
partir da realidade dos aluno,
dar continuidade àquilo que
eles já sabem. Por isso,
muitas escolas já estão
realizando atividades que
permitem realizar um
diagnóstico de suas turmas
no início do ano.

“Eu faço o curso Normal A surpresa, o medo e a U7 – A matemática é vista


Superior em Educação preocupação ao saberem que como disciplina penosa.
Infantil, então nós tivemos teriam matemática no curso.
uma surpresa, assim muitas A falta de conhecimento em
de nós tivemos uma relação à matemática deve
surpresa, quando nós ser trabalhada em todas as
pegamos a grade, né, e séries, respeitando, é claro,
vimos que teria uma matéria os níveis de cada indivíduo. A
FTM da Matemática matemática é vista com
(Fundamentos Teóricos e receio pois remete à
Metodológicos da resolução de contas
Matemática). Quando a enormes, com as quais
professora chegou apre..., se tiveram dificuldades.
apresentou inclusive qual
disciplina que ela iria
trabalhar, muitas já ficaram
assim como o cabelinho
arrepiado, porque
matemática na Educação
Infantil, e logo falaram assim,
mas como vai ser isso?
103

Como que nós vamos


trabalhar matemática com
berçário, com o maternal, ou
essa matemática vai ser
aquelas contas enormes, lá,
que a gente sofreu tanto, né,
foi isso que ela passou
primeiro.”

“Porque elas imaginavam que A angústia ao saber que U8 – Medo da matemática.


no curso de Normal Superior teriam matemática no curso
não iria ter essa disciplina, ocorre graças ao medo de
não iria ter matemática, tanto não conseguirem dar conta
é que eles ficaram assim dessa disciplina.
paradas, [...] Por, por, por
medo mesmo, assim, de não
consegui.... de não dar conta,
né.”
“[...] por muitos anos isso não A matemática apresenta-se U9 – A matemática é pouco
foi trabalhado na Educação pouco trabalhada, e, em trabalhada.
Infantil. Acredito que nos alguns casos, totalmente
últimos anos que começou-se oculta na Educação Infantil.
a trabalhar mais, eh, a Equívoco ao afirmar que
mostrar né, que tem somente nos últimos anos a
matemática como as outras matemática passou a estar
matérias também.” presente na grade curricular
da Educação Infantil.
Dentro dessa disciplina FTM Aqui, percebe-se que a U10 – A faculdade propicia
da matemática como foi esse própria faculdade não formação falha.
encaminhamento, algum possibilita atividades práticas.
momento a professora citou a O ensino ainda permanece
questão do jogo? alicerçado em teorias. O
“[...] (longo período calada) “ período de silêncio ressalta,
Alguma experiência? ou melhor, deixa transparecer
“Nuch, nuch, não nenhuma que não ficou quase nada do
experiência. (longo tempo que aprenderam nesta
calada).” disciplina.
“Eu acho que a gente eh, nós A matemática é muito U11 – A matemática
trabalhamos muito a trabalhada por estar presente encontra-se presente em
matemática, porque a em todas as disciplinas. Por tudo.
matemática tá, em tudo o que isso, ela não pode ser vista
você vai fazer tem como uma disciplina
matemática, mesmo eh, não separada.
em números né, às vezes
não em números, mas você
tá lá, você já pode oh,
quantas palavras, eh quantas
palavras têm, quantas letras
têm. Então a matemática está
presente em todos os
conteúdos, não, não existe só
matemática separada, ela
está em tudo.”
104

“Materiais, joguinhos O termo “Joguinhos” deixa U12 – Jogos restritos.


confeccionados por mim transparecer uma certa
mesma, joguinhos de insignificância, bem como
dominó, joguinho de uma grande restrição ao
tampinha, com sucatas, ah a conhecimento de outros
gente faz aí alguns joguinhos. jogos, ou seja, conhece os
Eh,... (tempo calada).” jogos mais comuns como o
dominó, tampinhas, etc.

“Eu acho que o jogo, ele é O jogo permite despertar o U13 – O jogo é um recurso
um recurso lúdico, né. E gosto pela matemática. Por lúdico.
brincando eles, as crianças, ser um recurso lúdico, as
já vão, vão gostando, eu crianças vão brincando e, aos
acho que a gente tem que poucos, gostando da
despertar o gostar, pra disciplina.
depois estar encaminhando
mais a matemática.”

“Então você vai fazer a O jogo é apresentado como U14 – O jogo possibilita
criança gostar, então ela vai uma possibilidade das prazer e gosto pela
estar despertando o prazer, o crianças gostarem da matemática.
gosto, através desse jogo. matemática, o despertar do
Então eu acredito que assim prazer e o gosto pela
que a gente vai conseguir disciplina, bem como
fazer com que eles gostem desmistificar que a
da matemática. [...] todo matemática é um bicho.
mundo falava da matemática
como um bicho [...].”

“Bom geralmente é, são em O jogo é utilizado como forma U15 – O jogo possibilita a
grupos, né. Pega alguns, de socializar as crianças, por socialização.
alguns jogos, né. As crianças permitir que elas sentem-se
sentadinhas em 4 ou 5, em grupos, bem como é
dependendo e daí eles vão usado como brincadeira. Isto
brincando, né. Já vai tá é possível verificar quando a
também trabalhando, né, professora afirma: ”eles vão
socialização, eh, eu trabalho brincando”. O silêncio
em grupo, no individual eu transmite a dificuldade que
não trabalhei ainda, né. Mais ela encontra de trabalhar o
em grupo mesmo. (tempo jogo em sala, de perceber
calada).” que pode haver, de repente,
uma maneira diferente de se
encaminhar este tipo de
trabalho.

“Daí eu vou atendendo os A intervenção do professor se U16 – O jogo pelo ato de


grupos individualmente, dá no sentido de ensinar a jogar.
assim nos grupos. Passo criança a jogar, ou seja, o
num, alguns já sabem jogar, jogo é levado com o objetivo
porque aprenderam em casa, de ensinar a criança a jogar.
porque fazem trabalhos e aí
eles vão jogando e eu vou
passando.”
105

E o jogo do dominó você leva O fato de que a criança U17 – Pré-requisitos


desde o primeiro dia de aula? precisa ter alguns pré- antecedem o trabalho com
“Não, porque eles precisam requisitos antes de jogar leva jogos.
ter alguns pré-requisitos a entender que o jogo é
antes [...].” usado no sentido de fixar
conteúdo e não para
introduzir o conteúdo.

Compreensão Ideográfica do Discurso do Sujeito 1

Embora a Matemática esteja presente em todos os momentos, para o sujeito

1 ela ainda é pouco trabalhada, principalmente na pré-escola. Esse indivíduo

apresenta preferência pela disciplina de português, Matemática “não lhe prende”. A

formação acadêmica na área de Matemática é bastante falha, ainda prevalece um

ensino pautado na memorização de teorias. Percebe-se, pela fala, que as coisas

eram somente faladas e não colocadas em prática.

A Matemática deve ser ensinada partindo daquilo que o aluno já conhece,

observando que o material concreto (tampinhas, palitos, sucatas) é muito importante

para criança. A matemática é vista como uma disciplina penosa, acreditando-se que

muitos apresentam medo dela.

De acordo com o sujeito 1, o jogo é um recurso lúdico que possibilita o prazer

e o gosto pela matemática, bem como propicia a socialização dos alunos. No

entanto, o domínio de certos pré-requisitos antecedem o trabalho com jogos, bem

como em algumas situações o jogo é utilizado pelo simples ato de jogar, isto é, “o

jogo pelo jogo”


106

QUADRO 3: Unidades de Significado do Discurso do Sujeito 2 (Entrevista 2)

Unidade de significado Interpretação Síntese


“[...] até o segundo grau, fiz Percebe-se, pela colocação U1 – A sorte define a escolha
dois anos de contabilidade, aí do sorteio, que não era uma profissional.
eu fui assim, como dizer profissão buscada por
assim, sorteada, em cinco interesse próprio, por certeza
pessoas foram sorteadas da aptidão pela profissão,
para fazer magistério, e o Rio nem por uma escolha
Grande do Sul pagava na profissional. O próprio
época, era de graça, então a governo do Estado pagava,
gente ficava em colégio totalmente, o estudo das
interno...” pessoas sorteadas. Assim,
permaneciam em colégios
internos para dedicarem-se
totalmente aos estudos.

“[...] e a noite também, nós Estudando em colégio U2 – O magistério exige


tínhamos tempo pra fazer interno, possuíam aula em confecção de materiais
aquelas atividades e montar tempo integral. Porém, a pedagógicos.
aquela, aquela coisarada essas pessoas era propiciado
necessária que a gente tempo exclusivo para
monta para fazer o realizarem tarefas escolares.
magistério.” O termo “coisarada”,
referente a alguns materiais
pedagógicos que, naquela
época, diferente de hoje,
eram confeccionados. O uso
desse termo, “coisarada”,
acompanhado da palavra
necessária, ressalta a
utilidade desses materiais, a
importância dessa atividade.

“Só que nada, eu penso A experiência é o que mais U3 – A experiência


como será a experiência em auxiliará no trabalho em sala profissional contribui
sala de aula, vai tendo com o de aula. Porém, ela só se significativamente no trabalho
tempo mesmo eh, adquirindo adquire com o tempo. de sala de aula.
novas [...].”

“[...] daí eu fiz Filosofia, A falta de opção leva muitas U4 – Falta de opção de
porque não tinha outra opção pessoas a fazerem cursos cursos de graduação.
em Toledo.” que, às vezes, não gostariam
de estar fazendo.

“[...] a Filosofia é uma coisa A Filosofia fez com que se U5 – O curso de Filosofia
que me ajudou bastante, tivesse que ler mais, o que propicia uma melhor
porque eu não gosto muito de propiciou melhor compreensão das coisas.
língua portuguesa, prefiro entendimento acerca das
mais matemática. Mas ela me coisas, uma melhor
ajudou pra ler mais, entender compreensão, e,
mais, escrever melhor.” conseqüentemente, a
possibilidade de uma escrita
melhor. Isso propiciou que a
107

Filosofia auxiliasse em algo


que não gostava muito
(língua portuguesa).

“No meu magistério eu não O fato de não lembrar é U6 – Aprendemos o que é de


me lembro muita coisa justificado por não gostar nosso interesse.
específica da matemática, tanto da disciplina, o que se
olha eu me lembro de torna contraditório, em
algumas coisas, mas termos de preferência de
normalmente eu simpatizava disciplina, pois,
muito mais a língua anteriormente, admitia a sua
portuguesa do que a preferência por matemática,
matemática.” justificando a dificuldade em
português.

. “E o que se trabalhava na O ensino da matemática era U7 – Os jogos eram pouco


matemática era essas coisas algo mecânico, assim como a utilizados no ensino da
assim de problemas, eh, eh, solução de problemas. Essa matemática.
as operações meca [...] vaga lembrança em relação
mecânicas, né, era uma coisa ao uso de jogos deixa visível
mecânica, sem jogos eu que a prática de jogos, no
nunca lembro de ter [...], ensino da matemática, era
algumas coisas dominó, pouco comum, da mesma
algumas coisas de tabuada, forma que os jogos também
com caixinhas de fósforo, eram restritos.
algumas coisas assim que
me passa pela cabeça, senão
fora disso, não.”

Como você a questão do O tempo em que permanece U8 – Os professores deixam


ensino da matemática? calada transmite uma a desejar no ensino da
“(longo tempo calada). Bom, dificuldade em discorrer matemática.
eu acho que a gente que sobre o ensino nos dias de
deixa muito a desejar [...].” hoje, ou seja, demonstra não
possuir uma posição definida
sobre essa questão do
ensino. Uma percepção clara
de que os professores
deixam a desejar no que se
refere ao ensino atual.

“Ih, se nós estamos colhendo Nota-se a percepção de que U9 – O ensino e a


aquilo que a gente tá o ensino proporcionado aos aprendizagem da matemática
plantando por aí, a gente tá alunos não é algo satisfatório. não são satisfatórios.
vendo os resultados. Eu não O resultado da prática
sei onde é que a gente tá pedagógica pode ser
errando, eu acho que tem um observado nos resultados
punhado de coisas que não que as crianças estão
está certa...” apresentando nas escolas,
principalmente no que se
refere à matemática.
Observa-se, também, a
percepção de que existem
várias coisas que estão
erradas. Porém, não
108

consegue identificar essas


falhas.

“[...] algumas vezes fico Essa comparação entre U10 – O ensino antigo
pensando a formação que eu conhecimento atual e propiciava uma melhor
tive e o que eu sabia na conhecimento antigo reforça aprendizagem aos alunos.
quarta série, e o que os meus a tese de que o ensino é
alunos sabem hoje na quarta realizado baseando-se
série. E o que me parece, naquilo que nos foi passado.
mesmo naquela educação Há a percepção visível de
tão, tão limitada, tão meu que as crianças de
Deus, a gente acabava, não antigamente aprendiam,
sei, sabendo mais parece do sabiam mais do que as de
que eles que estão na quarta hoje. No entanto, não
série hoje. [...]Não sei consegue identificar o porque
(espaço calada). Não sei deste acontecimento, qual
onde que está o foco, qual é seria o motivo, as causas que
o foco.” estariam ocasionando essa
diferença.
“[...] como eu trabalho com a O registro, a sistematização U11 – O jogo precisa ser
sala de apoio também, é uma da situação de jogo, é algo sistematizado.
coisa que eu já venho imprescindível para que o
utilizando os jogos. Eu jogo não se torne apenas
percebo que mesmo mais um jogo.
trabalhando jogos, se você
não sistematizar, depois, não
registra, eh, o jogo não pode
ser o jogo pelo jogo.”
“Agora se você têm um O jogo pode fazer a diferença U12 – O jogo não possibilita
propósito, tem um objetivo, e na aprendizagem, desde que abstração das situações.
pra isso você tem que ter o mesmo tenha sido
tempo pra pensar, planejar, planejado, que o professor
pra de fato aquele jogo fazer tenha um objetivo bem
diferença, senão não adianta definido. Esse planejamento
você trabalhar, trabalhar o requer tempo do professor.
jogo. E na sala de apoio eu No entanto, a criança não
acho que o jogo é muito bom. pode só jogar, pois, caso isso
[...], você tem que ter um ocorra, o jogo pode lhe tolher
cuidado assim, de não deixar a questão da abstração, algo
só a criança jogar, pra ela muito importante,
não..., porque senão ela principalmente, na
perde essa questão da matemática.
abstração. a gente não pode
deixar a coisa, só, só no
concreto mesmo [...].”
“E assim acontece na sala de O registro seria uma forma de U13 – O registro mostra o
aula também, a criança tem o aluno estar mostrando que o aluno aprendeu na
que registrar, ela tem que aquilo que ele aprendeu na situação de jogo.
voltar, ela tem que ver aquilo situação de jogo.
que ela aprendeu, porque
que é que ela tá fazendo
aquilo.”
109

“E daí não é fácil, eu acho Esse trabalho se torna difícil U14 – O domínio de
que é um trabalho bastante para uma sala com mais de conteúdo é imprescindível.
difícil, principalmente numa 30 alunos. Ressalta-se a
sala de aula, onde tem 30 necessidade do professor
alunos. [...] Agora de fato, conhecer, dominar aquilo que
numa sala de 35 alunos eu ele está fazendo ou
não sei até que ponto vira pretendendo com a atividade.
uma...., se o professor não Caso ele não tenha esse
for muito bom, ele tem que domínio, acabará se
ter muito conhecimento perdendo e não conseguindo
daquilo que ele está fazendo, atingir os objetivos propostos.
senão ele se perde”.

“Eu posso escolher um que Verifica-se a preferência por U15 – Preferência por aquilo
eu conheço?“ aquilo que já se conhece e o que se conhece.
medo do novo.

Como você encaminharia o O longo tempo calada remete U16 – O trabalho com jogos
trabalho com jogos? “(longo a uma dificuldade de saber o exige planejamento.
tempo calada novamente) Eu que explorar na situação de
primeiro teria que parar pra jogo. Mesmo conhecendo o
analisar, pra ver o que é que jogo, para trabalhar em sala,
eu iria querer com este faz-se necessário toda uma
trabalho. [...] Mesmo preparação sobre o mesmo.
conhecendo o jogo, eu teria
que parar e pensar o que é
que de fato eu iria querer
com isto. Eu agora não sei o
que te dizer sobre esta
situação de jogo, eu agora
não saberia te responder.”

“Com as crianças do apoio eu O jogo desenvolve o U17 – O jogo desenvolve o


estou trabalhando bastante raciocínio, o pensamento, a cognitivo das crianças e
aquele jogo do baralho, por agilidade e apresenta-se permite a compreensão de
exemplo. Assim, que eu acho como um meio de se conceitos matemáticos.
que é interessante. [...] trabalhar a tabuada.
desenvolve a agilidade,
pensamento, o raciocínio
mais rápido, e trabalhando de
fato a tabuada mesmo.”

“Só que daí o jogo não pode Demonstra que uma das U18 – O professor não pode
ficar pelo jogo, então essa é dificuldades relaciona-se ao deixar que o jogo se torne um
a grande missão.” fato de se levar o jogo para simples ato de jogar.
sala sabendo conduzir a aula
de forma adequada, não
deixando que essa situação
de jogo se transforme em um
simples ato de jogar.

“[...] ah professora, registrar Menciona-se a dificuldade U19 – Atividades de siga o


não, porque daí eu não sei, das crianças registrarem o modelo perduram no trabalho
porque daí eu não consigo, que estão fazendo, porque com jogos.
porque se per... Daí dá pra isso exige que pensem sobre
110

perceber que no jogo ele a situação vivenciada. Por


estava se saindo bem, mas esse motivo, destaca-se a
na hora de sistematizar o que necessidade do professor
ele estava fazendo ele tinha mostrar um modelo para que
dificuldade, eles não queriam eles registrem as outras
muito era pensar mesmo. Daí situações.
o que é que e fiz, eu retomei
com eles, mostrei como que
eles poderiam sistematizar no
caderno.”
“Não trabalhei o cartaz de O dinheiro é um recurso U20 – A necessidade do uso
prega, porque eu até acho eficiente para trabalhar o de material concreto
legal o cartaz de pregas, eu sistema de numeração adequado.
acho legal, mas quando você, decimal, base dez, graças ao
eu trabalho com o dinheiro a fato de ser um material que o
base dez eu acho que é aluno utiliza na sua vida
melhor, porque o dinheiro é cotidiana. Acredita-se que o
uma coisa que eles estão palito não possibilita essa
mexendo, estão vivenciando, vivência, porque o palito vai
é melhor que o palito. E daí ser uma representação,
muitas vezes eu faço também assim como o material
assim o dinheiro com o dourado também é uma
material dourado, também dá representação que pode ser
pra fazer uma relação.” relacionada ao dinheiro.

“Olha eu gostaria de colocar Observa-se a percepção de U21 – A faculdade não


sobre as estagiárias, [...] o que a formação que hoje a prepara professores.
que eu percebo assim que faculdade tem oferecido
essas meninas não estão continua problemática, pois
vindo melhor preparadas do não se percebe uma
que a gente. Eu acho que a mudança. Ressalta-se que as
escola, a faculdade não estagiárias apresentam as
prepara, como não preparo a mesmas limitações que os
gente também,” “[...] a gente professores formados há
também não foi formada mais tempo apresentam.
melhor pra gente trabalhar
melhor essas coisas.”

“E as condições que se dá As condições que perpassam U22 – A sobrecarga do


pra gente, também é difícil. a vida cotidiana dos professor prejudica a
Pois você vê, a gente professores são aprendizagem dos alunos.
trabalha quarenta horas, aí questionáveis, sendo
muita gente estuda quatro possível observar uma
horas, eu fiz isso uma vida sobrecarga que dificulta o
inteira. Eu sempre dizia trabalho de sala de aula. A
assim que eu prejudicava necessidade de se ter que
meus alunos enquanto eu estudar e trabalhar faz com
estava estudando. E na que os professores não dêem
época eu acabei conta do próprio trabalho
prejudicando meus alunos, docente, prejudicando o
porque eu estava estudando desenvolvimento e a
e eu não conseguia dar aprendizagem dos alunos.
conta. Então essa sobrecarga
do professor também eu acho
que dificulta.”
111

“Se você tivesse um tempo A falta de tempo que a escola U23 – Tempo escasso para
maior, porque não é, a gente tem possibilitado para o planejamento e troca de
diz, sim a gente tem um planejamento leva experiências nas escolas.
tempo pra planejar, você tem professores a planejar de
esse tempo. Mas quarenta e qualquer jeito, haja vista que
cinco minutos pra você uma atividade bem preparada
pensar na atividade, montar requer um tempo maior de
essa atividade, isso daqui reflexão sobre a mesma, e
não dá pra você fazer aqui na essa condição a escola não
escola. Se você fizer, você tem possibilitado ao
vai ter que fazer em casa. professor. Sendo assim,
Porque aqui na escola não alguns professores irão levar
tem condições, eu mal tenho para casa para fazer, outros,
tempo de planejar minhas talvez, não, e, assim,
aulas, assim, e colocar mais conseqüentemente,
ou menos o que a gente vai apresentarão, em sala de
fazer, discutir com outro aula, uma atividade que não
professor e..., né.” estará bem preparada. A
troca de experiência também
é dificultada pelo fator tempo,
pois não há momentos para
essa troca na escola, e fora
dela isso também não
acontece.

Compreensão Ideográfica do Discurso do “Sujeito 2”

A “sorte” foi quem definiu o seu ingresso no magistério, pois, até então, fazia

contabilidade, sendo que uma oportunidade de sorteio levou-a a ingressar no

magistério. Teve a chance de fazer seu estudo em tempo integral, em um colégio

interno, dispondo de tempo suficiente para realizar cada atividade proposta,

especificamente no tocante à confecção de materiais pedagógicos.

Seu curso de graduação foi feito por não ter outra escolha de curso. Mas,

assim como a faculdade que cursou não a preparou para ação docente, hoje a

formação de professores não está acontecendo de forma diferente. Continua

apresentando as mesmas falhas, o que pode ser verificado através da

aprendizagem dos alunos. O sujeito 2 reconhece que os professores deixam a

desejar no que tange ao processo de ensino da matemática. Para a professora em


112

questão, a experiência profissional é de suma importância, e imprescindível para o

trabalho em sala de aula.

O ensino de Matemática, nas escolas, está deixando a desejar. Os

professores são apresentados como os responsáveis por isso, e o sujeito 2

menciona alguns fatores que podem ser a causa desse cenário: a sobrecarga de

trabalho do professor, a falta de tempo para planejar e problemas relacionados à

própria formação.

Para essa professora, os jogos eram pouco usados antigamente no ensino da

Matemática. Mas as crianças, naquela época, sabiam mais do que as crianças de

hoje em dia.

Conforme a professora, o jogo possibilita o desenvolvimento cognitivo e a

compreensão dos conceitos matemáticos. No entanto, esse trabalho exige um bom

planejamento e conhecimento por parte do professor. Para ela, o jogo não pode ser

realizado pelo simples ato de jogar, e isso só é possível se houver a sistematização

de cada situação de jogo, porque através do registro poder-se-á perceber se o aluno

aprendeu realmente o conteúdo, o que torna a fala da professora contraditória, uma

vez que a sistematização da situação de jogo terminou em um siga o modelo. Outro

fator que reitera é que o jogo não possibilita uma abstração dos conteúdos.

QUADRO 4: Unidades de Significado do Discurso do Sujeito 3 (Entrevista 3)

Unidades de significado Interpretação Síntese


“[...] porque tinha professoras O ensino tradicional pode ser U1 – O ensino tradicional
muito bravas, muito era [...], caracterizado pelos castigos, caracterizado pelos castigos
era assim, bem tradicional, que geravam medo e, muitas e medo.
sabe ainda era da época dos vezes, traumas. Havia,
castigos, então eu tinha também, um grande medo
medo, tal, né.” dos professores, pois eles
eram bastante bravos.

“[...] mas da matemática eu A matemática era vista como U2 – A matemática vista


gostava. Apesar de eu achar uma disciplina muito como uma disciplina muito
113

que ela era supercomplicada complicada, mas, aos complicada.


pra minha cabeça, eu lembro poucos, através da mediação
que o pessoal explicava e tal, (explicações), foi suscitando
e eu fui começando a gostar.” o gosto pela disciplina.

“E eu parei, eu tive muitas Muitas vezes, o insucesso, a U3 – Dificuldade na


paradas e essas minhas dificuldade na disciplina, leva matemática leva a evasão
paradas era por causa da os alunos a abandonarem a escolar.
matemática, sabe.” escola.

“Terminei a 8ª série e tudo. Mesmo tendo ficado afastada U4 – Conflito com professor
Voltei, casei, parei com esse da escola por algum tempo, o visualizado como uma
negócio de para, para, retorno foi, novamente, um barreira na relação com a
consegui terminar e fui para o dilema por causa da matemática.
magistério. E foi um dilema a matemática. Os atritos com o
matemática pra mim de novo, professor, além de gerarem
foi uma tortura, tive revolta em relação a ele e à
problemas com o professor, disciplina, estabeleceram
comecei a me revoltar, sabe.” uma situação de tortura.

“Aí lá na vila eu comecei O professor pode fazer a U5 – O professor sente-se


encontrar um outro grupo de diferença na sala de aula, como um ser potencial para
pessoas, uma professora de principalmente, no que se despertar o gosto pela
matemática que nossa refere a matemática, uma vez disciplina.
senhora, ela voltou que ela que o professor pode
fez despertar tudo aquilo que despertar o interesse pela
eu tinha de raiva, sabe, mas disciplina.
eu acho assim que era mais
uma raiva uma raiva do
próprio professor.”

“Aí, porque eu escolhi Esse aspecto é bastante U6 – A influência da


pedagogia? Eu gosto da área curioso e significativo, pois matemática na escolha de
de educação, mas não tinha não se consegue entender curso de graduação.
matemática.” como é que pessoas que
pretendem ingressar no
ensino fundamental (1ª a 4ª
série)optam por cursos que, a
princípio, acreditam não ter
matemática, sendo que, ao
atuarem como regente de
classe, supõem-se que
devam dominar, além da
matemática, todas as outras
disciplinas.

E você lembra como foi A matemática trabalhada no U7 – Formação falha.


encaminhado o trabalho com magistério é aquela
a matemática dentro da sua trabalhada nos cursos de
formação no magistério? educação geral,
“(tempo calada) eu acho apresentando conteúdos
assim que era mais a nível de gerais de Ensino Médio. A
2º grau e eu perdi aquela dificuldade de aprender
base, né, eu não conseguia esses conteúdos se deve ao
pegar aquela base, né. fato de não ter desenvolvido,
114

Então, eu acho que essa adequadamente, os pré-


base, já vem desde o requisitos, que deveriam ter
primário mesmo.” sido bem encaminhados nas
séries anteriores,
principalmente, nas séries
iniciais.

Em termos de metodologia O tempo que permaneceu U8 – Formação falha, ensino


vocês tiveram alguma coisa, calada permite afirmar que vago.
matemática especificamente? não consegue lembrar do que
“(tempo calada) teve assim foi encaminhado em
(tempo calada) Não, daí uma matemática, ou seja, foi algo
coisa não entrou muita coisa bem vago, pouco explorado.
não. É bem vago mesmo.”

“Mas eu acho assim né que A aprendizagem no Ensino U9 – Aprendizagem por


[...] 3º grau pra gente, a gente Superior de dá por descoberta.
é que tem que ir muito atrás descobertas e isso sufoca,
das coisas, então pra mim foi muitas vezes, o acadêmico,
bastante assim sufocante o pelo fato de ter-se o hábito de
curso, né. Porque eu não receber tudo pronto. Por isso,
acho assim que vem muitas uma prática diferente dessa
coisas do professor, é você gera angústia e insegurança.
que vai atrás e você que vai
descobrir as coisas.”

Você lembra assim de algo O tempo calada demonstra U10 – O jogo é visto como
que você aprendeu na dificuldade em definir o que material concreto.
pedagogia que hoje você leva seria material concreto. O Antigamente, os jogos eram
para a sala de aula? “O jogo é visto como material mais restritos.
material concreto. (calada)” concreto, observando que,
“Eh (calada) tem os jogos né, antigamente, os jogos eram
tem os jogos. Na minha mais restritos. Hoje há bem
época não tinha os jogos mais jogos.
como tem hoje, né jogos,...
eh jogos.”

“Eu acho que hoje tem mais Afirma haver maior cobrança, U11 – Cobrança maior do
cobrança, né para os por parte da coordenação uso de material concreto na
professores em sala de aula, das escolas, no que se refere sala de aula.
se a gente não trabalha com ao trabalho com material
matemática com o concreto, concreto. Já em relação aos
eh é difícil pra gente, né. pais, essa cobrança era
Porque eu acho assim, hoje maior do pai em relação aos
em dia se as crianças não filhos, não em relação aos
tem pai e mãe, como a gente professores. Importa destacar
tinha antigamente. Cobrava que, essa cobrança dos pais
mais, ajudava, colaborava.” a qual se refere, se dava em
termos de atitudes
comportamentais e não tanto
em relação às atividades
escolares propriamente ditas.

“[...], mas o que falta pra Um fator que influencia U12 – Falta de tempo para
gente é que a gente deveria bastante na não utilização confeccionar os jogos
115

ter um tempo de fabricar todo dos jogos propostos no livro propostos no livro didático
esse material que tem, né, didático (Sarquis) é a falta de leva o professor a buscar
principalmente no livro do tempo para confeccionar o jogos conhecidos e já
Sarquis, né”. “Então você material proposto, o que leva prontos.
acaba indo atrás de outros os professores a buscarem
jogos que a gente conhece, outros jogos, que já estejam
utiliza, né. Mas eu acho que prontos. Da mesma forma,
se a gente tem, tivesse optam por jogos que já
assim, sim tempo, de,de, de conhecem, porque muitos
montar esses jogos, aí sim dos jogos propostos no livro
facilitava.” didático são desconhecidos,
o que também apresenta-se
como um fator que leva o
professor a não utilizar os
jogos.

“Eu gosto de jogo. Mas assim O professor leva para a sala U13 – Os jogos são
eu tenho que entender senão de aula somente os jogos escolhidos a partir do que o
tenho pavor de jogo. Eu nem que entende dos quais gosta. professor gosta e conhece.
levo pras crianças, que nem Percebe-se que o
assim, por exemplo, os meus conhecimento de jogos é
assim lá gostam muito, restrito, primeiramente,
desses... (tempo calada)[...] porque vários jogos do livro
do dominó, ah como é que do Sarquis não são
chama aquele conhecidos, e,
joguinho...(tempo calada), posteriormente, porque
esqueci agora, tem um enfatizou o gosto dos alunos
joguinho lá que vai pelo dominó e pelo jogo da
levantando até que você vai memória. Dessa forma, os
lembrar, vai levantando as alunos terão contato e
pecinhas, tem que achar os oportunidade de explorar
parzinhos, como é que somente os jogos com que o
chama? Jogo da memória.” professor se identificar. Daí a
importância do papel do
professor no processo
ensino-aprendizagem.

“[...] olha é tanta coisa que a Aqui, vê-se o jogo como algo U14 – O jogo visto como
gente tem que dar conta, que bom. Porém, acha que algo bom.
a gente acaba deixando deveria ter um momento
coisas boas de lado.” específico para usar o jogo.
Esse fato de mencionar que é
tanta coisa e, por isso, não
há tempo para se utilizar o
jogo, confirma o fato de que
este é visto como algo alheio
ao currículo escolar, sendo
que, através de um mesmo
jogo, deveria ser possível
explorar diversos conteúdos,
o que aponta para a visão
linear de conteúdos que a
maioria dos professores
possuem.
116

“[...] eu acho que a base tá aí Nota-se que, a afirmativa do U15 – Matemática e


em português e matemática, professor demonstra que as português vistos como a base
aí o resto eles carregam outras disciplinas não tem para o processo ensino-
fácil.” importância. Por isso, não se aprendizagem.
precisa ter tanta preocupação
com elas. Essa visão é
comum, principalmente, pelos
professores que atuam nas
primeiras séries do ensino
fundamental, por haver uma
grande preocupação com a
alfabetização.

“É, o que eu estou te falando, O Sarquis, como U16 – Não usa os jogos do
esses jogos do Sarquis eu anteriormente já foi exposto, Sarquis.
não fiz.“ é um livro que traz muito a
questão de jogos na sala de
aula. Embora este livro tenha
um bom encaminhamento em
relação aos conteúdos e
procedimentos, é pouco
utilizado pelos professores
nas escolas. Um exemplo
claro está na afirmação do
sujeito de que “esses jogos
do Sarquis eu não fiz”.

“Dominó sim. Ah, a gente Verificou-se a prática com U17 – O jogo pelo jogo.
junta os grupinhos, né, aí as jogos, porém sem enfoque
crianças vão jogando... Tem pedagógico. O jogo sendo
criança que não conhece, utilizado somente pelo ato de
não sabe,... não sabia pelas jogar, uma vez que a própria
cores, pelo número, né. professora teve dificuldade
Então, aí eu fui jogando com em saber o que explorava
eles! E aí eles foram quando levava o jogo do
entendendo o jogo.” O que dominó para a sala de aula.
você explora no dominó? Este aspecto é bastante
“(tempo calada) adição.” comum nas escolas: jogos
são levados sem ter um
objetivo proposto.

“Agora esses dias, eu dei os Observa-se o jogo sendo U18 – A afirmação conduz
jogos, os jogos todos pra utilizado pelo aspecto lúdico ao “jogo pelo jogo”,
eles, lá eu tenho, na sala e do brincar, deixando-se a dissociado de qualquer ato
deixei eles brincar sozinhos. parte pedagógica pouco pedagógico.
E aí eu vi que,... não presente. A prática de vários
precisava a professora estar jogos serem levados ao
jogando junto com eles, mesmo tempo revela que
apesar que alguns esta prática tinha como
chamavam vamos jogar aqui, objetivo o ato de jogar,
vamos jogar ali e eu não fui. brincar.
Fui um pouquinho num, um
pouquinho no outro e depois,
depois dava um jeitinho de
sair, né.”
117

“E toda, e toda vez que tinha O jogo como forma de U19 – O jogo sendo utilizado
uma criança que terminava prêmio, pois só podia jogar como prêmio.
uma atividade, tudo que quem terminava as atividades
tinha, então eu dava quebra- propostas. No entanto,
cabeça pra ele. Pegava um percebe-se que este prêmio
quebra-cabeça e eles podiam era sempre o mesmo, e que,
ir montando enquanto os aos poucos, ele não chamava
outros iam fazendo. E eles mais a atenção das crianças,
adoraram o quebra-cabeça, porque elas já conheciam.
tanto que depois todo mundo Para as crianças o quebra-
já conhecia, não chamou cabeça já não tinha mais
mais a atenção deles. Em sentido, pois já tinha perdido
questão de 2 meses já não o aspecto desafiador, o que
chamava mais a atenção apresenta-se como uma
deles, o quebra-cabeça.” característica importante para
o trabalho com jogos.

“Aqui eu não trouxe, porque Atividades com jogo só U20 – Um trabalho com
aqui eu tenho uma turma podem ser utilizadas em jogos exige uma sala com
bastante pesada, né. Então salas de aula em que os poucos alunos e que os
eu não trouxe aqui. Mas eles alunos sejam totalmente mesmos sejam quietos, que
não tem aquela paciência.” passivos, permanecendo permaneçam sentados, e
“ Eu ia trazer os meus de sentados, não conversando e sejam pacientes. Alunos
casa, mas olha, é uma turma cuidando muito do material. domesticados.
assim, terrível, agora que eu Busca-se aproveitar as
estou conseguindo acalmar a situações de jogos para
turma, pra trabalhar mais trabalhar a questão da
esse lado dos jogos mesmo. concentração e da atenção
Que agora que eu vi que dos alunos. Nota-se a
estão sentando, e resistência em se trabalhar
participando sem dar briga, jogos em salas com muitos
sem, eh... cuidar do material alunos, o que é bem
que eles tem aí. Agora que característico de professores
estou conseguindo encaixar. que têm dificuldades diante
Então daqui pra frente das situações de jogos, bem
acredito que assim, que que como possuem arraigados
até nas férias eu estava em si a visão de que, em sala
pensando em construir, né de aula, os alunos devem
alguns jogos pra trabalhar, estar em silêncio,
sim. Porque eu acho que sentadinhos, o que torna-se
agora, a partir do 3º bimestre, difícil se houver um trabalho
a minha turma diminuiu, eles com jogos.
estão mais calmos; então
agora, eu vou poder colocar
mais essa parte de jogo com
eles.”

“Por grupos eu via conforme O trabalho em grupos U21 – O jogo possibilita a


a dificuldade, tinha pra possibilitando a socialização, socialização e também pode
multiplicação, tinha além de o jogo ser utilizado amenizar dificuldades de
subtração, tinha adição, tinha para tentar amenizar aprendizagem na
não tem, né. Então conforme determinadas dificuldades de matemática.
os grupinhos, assim aqueles aprendizagem na
problemas eu levava.” matemática.
118

“Aqueles lá eles já nem As crianças se interessam U22 – A necessidade de


gostam desses jogos, né. por jogos que sejam desafio no jogo
Eles já falam esse daí eu já desafiadores para eles, um
sei, esse daí eu já sei, não dos aspectos ressaltados nos
quero mais. E daí eles já vão PCNs. O que não se
atrás de jogos mais, mais... apresenta como desafiador
que tenham mais desafiantes não prende a atenção, não
pra eles.” gera interesse.

Eu tenho um caça-tabuada, A falta de conhecimento U23 – A falta de


de repente você conhece. sobre a questão do jogo, conhecimento sobre jogos,
“Eh, legal, pra trabalhar em transforma, muitas vezes, o transforma, muitas vezes, a
forma de bingo a jogo numa mera atividade de situação de jogo em uma
multiplicação.”Como você perguntas e respostas. Há mera atividade de perguntas
encaminharia esta situação uma grande dificuldade em e respostas.
do jogo em sala? “Como? saber “o que” e “como”
(longo tempo calada)... eu explorar as situações de jogo.
não sei te dizer. De repente
daria pra montar problemas
sobre as operações.“

Compreensão Ideográfica do Discurso do “Sujeito 3”

A Matemática sempre teve muita influência na vida desse sujeito, tendo sido

motivo de muitas paradas (evasão escolar), sendo que, em certas situações, não foi

nem a Matemática, mas o professor que ministrava a disciplina o gerador do

problema. Desta forma, a matemática acabou influenciando em sua escolha pelo

curso de graduação. Para essa professora, a Matemática é uma disciplina

extremamente complicada, destacando que sempre teve muita dificuldade. Não

obstante, acredita que Matemática e Português sejam a base do ensino, o que fica

bem claro quando afirma que o “resto se carrega fácil”.

Quanto aos jogos, caracteriza-os como material concreto e afirma que

atualmente há muito mais jogos do que antigamente. Porém, argumenta que a falta

de tempo em confeccionar os jogos leva o professor a buscar aqueles que já estão

prontos e os quais já conhece. Isso justifica o porquê de não utilizar os jogos do


119

Sarquis, uma vez que grande parte deles é pouco conhecida pela maioria dos

professores do município de Toledo.

Segundo a professora, os jogos são levados para a sala de aula de acordo

com aquilo que o professor conhece e, se isto for observado, notar-se-á que os

jogos utilizados são bem restritos (basicamente dominó, quebra-cabeça, jogo da

memória). A docente vislumbra o jogo como algo bom, positivo no ensino, embora,

pelo seu discurso, perceba-se que usa o jogo pelo simples ato de aprender a jogar.

Destaca, ainda, a importância do aspecto lúdico presente no próprio ato de brincar

bem como a socialização, fatores bastante significativos para o desenvolvimento das

crianças. Observam-se fortes indícios de que são poucos os momentos em que

utiliza jogos, pois, para a professora em questão, os jogos só podem ser utilizados

em turmas quietas, pacientes, cuidadosas e, principalmente, em turmas com pouco

número de alunos, fator este que se torna um empecilho na maioria das escolas do

município, uma vez que grande parte das turmas possuem mais de trinta alunos em

sala aula.

QUADRO 5: Unidades de Significado do Discurso do Sujeito 4 (Entrevista 4)

Unidades de Significado Interpretação Síntese


“[...] eh são muito poucas, Essa vaga lembrança acerca U1 – Preferência pela
assim as lembranças que eu da matemática confirma sua disciplina de português.
tenho. E mais forte as, as em preferência por português, Matemática vista como bicho
Língua portuguesa, porque bem como a matemática ser de sete cabeças.
na verdade eu me adapto vista como um bicho de sete
mais a essa área. cabeças, faz com que alguns
Matemática, sempre assim, professores priorizem a
como a gente até cresce disciplina de português ou até
como um bicho de sete em alguns casos excluam a
cabeças em cima da matemática do currículo
Matemática.” escolar.

“[...] a Matemática está É clara a percepção de que a U2 – Embora a matemática


presente em todos os matemática está presente a esteja presente em todos os
momentos, [...] mas o que todo momento. Mas a momentos, ela ainda é vista
que acontece é tão difícil pra maneira com que foi como uma disciplina
você aprender e ensinar encaminhada ou trabalhada a complicada.
120

matemática, que é por isso, a matemática, faz dela uma


forma como foi passada pra disciplina difícil de aprender,
mim foi complicada.” bem como difícil de ensinar.

“É e aí no magistério a minha A formação na área de U3 – A formação no


formação na área de matemática é fraca. Os magistério na área de
Matemática também foi muito próprios professores matemática é falha.
fraca, eh, eu tive um formadores não apresentam
professor que era assim diferentes possibilidades de
muito fechado, e ele achava se ensinar a matemática,
assim, que a gente tinha que talvez porque não conheçam
aprender, da forma como ele outra maneira de se ensinar,
ensinava, que não havia dessa forma ensinamos
outras possibilidades de somente aquilo que
ensinar. Era daquela forma e sabemos, limitando muitas
pronto.” vezes a capacidade de
aprendizagem e o
conhecimento de muitos de
nossos alunos.

“E hoje eu vejo assim, que as A formação dos professores U4 – A formação acadêmica


faculdades a, a deixam muito é precária. Eles mesmos na matemática é falha,
a desejar nessas áreas, reconhecem essa falha por deixando a desejar.
principalmente na parte das faculdades, uma
matemática. Se eu for ver, na vez que hoje não estão
matemática, o que eu tive no oferecendo o mínimo
curso de Pedagogia, muito necessário que um professor
fraco, muito fraco.” precisa para atuar a nível de
1ª a 4ª série. Ressalta que a
parte matemática no curso de
pedagogia é extremamente
fraca, deixando muito a
desejar.

“É eu vejo pela assim, a O termo “ditos números” U5 – A matemática é


minha, a, a minha maior deixa claro que não gostam esquecida no currículo
assim referência de escola é da matemática, apresentam escolar.
na alfabetização, e na preferência pela disciplina de
alfabetização a gente só português. Podemos atribuir
pensa na leitura e na escrita. essa preferência e esse
E a gente esquece dos ditos “esquecimento” a dois
dos números.” fatores: primeiro porque há
por parte dos professores,
principalmente das séries
iniciais, uma ânsia muito
grande de ensinar a ler e
escrever, não havendo
preocupação alguma acerca
da matemática; outro fator é
que a grande maioria dos
professores não gostam da
matemática, o que leva eles a
não trabalharem a disciplina.
121

“Então, na verdade, O reconhecimento de que a U6 – Formação acadêmica,


resumindo, a formação é formação acadêmica foi bem como a capacitação é
fraca, eh, eu acho que até é falha, bem como os cursos falha na área de matemática.
uma formação, eh, vamos de capacitação. Grande parte
dizer assim, nossa hoje, de dos cursos de formação
capacitação, se trabalha continuada oferecidos no
muito pouco a área da município atingem a área de
Matemática.” português (alfabetização),
são poucos os estudos
acerca da matemática.

“É como te falei Língua A matemática aparece no U7 – A matemática em


portuguesa em primeiro e a segundo plano, uma vez que segundo plano.
Matemática em segundo ela é vista e trabalhada como
plano. [...] Então, eu percebi uma disciplina alheia ao
assim, que a Matemática nosso cotidiano.
estava em segundo plano,
que não era trabalhada como
algo que faz parte do nosso
dia-a-dia.”

“Mas essa nova, eh,... esse O livro do Sarquis está U8 – Livro didático traz nova
novo trabalho, principalmente exigindo dos professores um proposta de trabalho na
em cima do Sarquis, a gente planejamento maior, os disciplina de matemática, a
está tendo que estudar mais, professores estão tendo que qual exige um planejamento
pensar mais e principalmente pensar e estudar mais aquilo minucioso das atividades.
planejar mais. Aí o ponto que vão explorar com seus
chave.” alunos, isso como já
explicitado anteriormente seja
um dos grandes motivos pelo
qual muitos professores
tenham engavetado esse
livro didático. No entanto,
percebem que esse é um
ponto fundamental para essa
mudança no ensino, não
necessariamente na
matemática, mas em todas
as disciplinas.

“Porque ainda no momento Os professores percebem U9 – A matemática é


se deixa a Matemática em que está incorreto dentro de deixada para o segundo
segundo plano, sabe ainda a sua prática pedagógica plano.
gente percebe isso, por que deixar a matemática de lado,
por mais que se fale, por no entanto eles ainda deixam
mais que se questione, ainda essa disciplina para um
ela fica em segundo plano, e segundo plano.
você tem que estar aí.”

“Tem, a dificuldade de U10 – Dificuldade na


entendimento, porque, a matemática, vista como um
Matemática sempre foi um bicho de sete cabeças.
bicho de sete cabeças.
Porque ela foi ensinada de
uma forma que ela não é
122

relacionada com aquilo que


você vive, você usa.”

“[...] como já coloquei, a Os alunos trazem incutido em U11 – Medo da matemática,


resistência, né, a questão da si mesmos essa dificuldade uma questão cultural.
má formação, e também a na matemática, ou seja, essa
forma com que o nosso aluno é uma questão cultural, uma
vem pra escola, eles já vez que os pais acreditam
trazem incutido na cabeça, que por eles terem tido
pelo jeito, pelos pais, esse dificuldade na matemática é
medo da matemática. Eles natural e óbvio que seus
trazem uma resistência assim filhos também apresentem
alguns pais chegam assim, essa dificuldade. As
nossa, oh, ele está bem em resistências são grandes,
português, em matemática tá porém já estão ocorrendo
igual eu, ele não aprende, algumas mudanças tanto de
não tem jeito, eu não aprendi, postura quanto de
ele também não aprende. mentalidade de pais, alunos e
Então essa já é uma questão professores.
cultural, né. [...] eu acho que
estamos no caminho para
que aconteça essas
mudanças.”

“Eu vou te falar daqueles que Falar do que se conhece é U12 – Medo do novo.
eu conheço mais.” mais fácil, percebe-se uma
certa resistência ao novo.

“[...] aqui seria mais uma Como é explicitado, o jogo U13 – O jogo usado na
questão de fixação. Da, do simplesmente seria usado no fixação de conteúdos.
conhecimento que já está sentido de fixar um conteúdo
dentro da criança, já foi já construído, um
concluído, né. Uma questão conhecimento pronto e
pessoal.” acabado, ou seja, o jogo não
possibilita a construção do
conhecimento.

“Achei interessante a questão O jogo possibilita a interação U14 – O jogo possibilita a


de trocar as cores, porque ali entre as crianças, um meio socialização e exploração de
entra a questão da pelo qual as crianças podem questões como: percepção
socialização, já a interação se socializar, conhecer mais visual, lateralidade, etc.
entre as crianças, né. E a seu colega, ter uma vivência
questão da partilha, porque de grupo, bem como podem
assim, eles vão jogar, ah não ser exploradas várias
eu não vou trocar o meu, questões pedagógicas, que
então tal. Então já vem toda podem influenciar no
aquela questão, a processo de construção
construção, o número, cognitiva das crianças.
quantidade, até a questão de
verificar que tem que estar,
por exemplo 6 bolinhas 3 e 3,
que é para encontrar o que
está igual, questão da
visualização, a ocupação do
espaço, percepção, tudo, já
123

trabalha tantas questões.”

“Você vê o quanto a gente Gostaria de destacar que o U15 – Os jogos são pouco
deixa de trabalhar com os fato de estar fora da sala de trabalhados.
jogos, com os nossos alunos, aula não justifica essa não
também pelo fato de estar utilização dos jogos, uma vez
fora da sala de aula.” que estando na coordenação
o trabalho de orientação e
encaminhamentos juntos aos
professores dá a
possibilidade de indicar,
sugerir e até mesmo cobrar
que os professores utilizem o
jogo em sua prática
pedagógica. Então esse fato
de justificar que está fora da
sala de aula, acredito que é
uma forma de tirar o corpo
fora.

“ [...] a questão da O material concreto facilita o U16 – O jogo facilita o


visualização pra criança com entendimento das crianças, entendimento das crianças.
fichas de cores diferentes, pois elas podem manusear
fica mais fácil pra ela esse material, contribuindo
entender, né. E a questão do também para a questão da
manuseio, [...] somente o percepção. Nesse caso o
colocar lá a o 10, o 5, 4, jogo pode ser usado para
quanto que vale isso, com as introduzir um conteúdo
fichinhas fica mais fácil a matemático, pois é na ação
percepção, o entendimento, a do jogo que a criança vai
troca.” Você acredita que percebendo algumas coisas,
deva ter um trabalho que construindo seu próprio
anteceda o uso das fichas? conhecimento. Importante
“Eu acho que você pode destacar que o jogo
começar o trabalho direto possibilita uma relação com
com as fichas, porque a outros materiais (material
criança tem condições de dourado e dinheiro).
conhecer. Através das fichas
você pode estar relacionando
com a questão dinheiro o
material.”

Quando você leva jogos pra Essa questão que ela coloca U17 – A quantidade ainda
sala de aula você costuma de início de trabalho ela se define o conhecimento,
levar um só, ou diversos? refere a já terem jogado ou mesmo num trabalho com
“Quando por exemplo assim, ela já ter ensinado o jogo jogos.
se eu tenho um objetivo único para as crianças. Importante
naquele momento, eu assim, destacar que um mesmo
no início, quando assim se conteúdo pode ser explorado
quero trabalhar algo que em diferentes jogos. No
vamos dizer seja início de entanto, percebe-se algo do
trabalho, aí eu estarei usando tradicional presente na sua
um único material, mas fala: a quantidade ainda
depois que eu dei a define a qualidade do
introdução, que eu trabalhei, conhecimento, e isso
124

eu gosto de diversificar, de sabemos que não é verídico,


trabalhar com diversos tipos posso trabalhar num jogo,
de jogos. [...] porque eu acho explorar muitas vezes mais
que quanto mais a criança conteúdos do que se eu
trabalha, mais as diferentes utilizar vários jogos, esse é
atividades, ela constrói muito um fator que está
mais.” intimamente ligado ao
conhecimento e
encaminhamento que será
dada a situação de jogo.

Você levaria todos esses Os jogos só podem ser U18 – Os jogos são levados
jogos pra sala de aula de manuseados pelos alunos a para sala de aula de acordo
uma só vez?, “Sim, desde partir do momento que eles com aquilo que os
que as crianças conheçam os mesmos, esse professores conhecem.
conhecessem eles. [...] posso fato indica que as crianças
fazer diferentes grupos na não tem a possibilidade de
sala de aula e cada grupo construir seu conhecimento,
estar trabalhando com um o professor ensina eles a
jogo diferente. A partir do jogarem e depois eles vão
momento que eles tenham praticando para fixar o que
conhecimento dos jogos, né. eles aprenderam para que
E aí também eu posso estar possam jogar de vez em
passando, trabalhando com quando. O jogo também dá
eles individual, a questão da possibilidade de se trabalhar
leitura das regras, a algumas regras,
interpretação das regras que consideradas importantes
é muito importante também.” pela professora.

“Sabe, Edna, eu acho assim, O trabalho com jogos é U 19 – O jogo é difícil de se


que essa questão dos jogos é bastante difícil porque não trabalhar em sala de aula,
muito difícil pra gente tivemos em nossa formação. porque não tivemos em
trabalhar em sala de aula, E isso dificulta bastante a nossa formação.
porque? Primeiro momento, utilização em sala de aula,
como a gente conversou, a porque muitas vezes não
gente não sabe atuar, na sabemos como encaminhar e
nossa formação não tinha explorar adequadamente
jogos.” uma situação de jogo, no
sentido de explorarmos
realmente o lado pedagógico
de cada jogo.

“O erro que a gente faz Muitas vezes a prática com U20 – O professor como
muitas vezes é pegar por jogos é encaminhada mediador da aprendizagem,
exemplo, todos os jogos erroneamente, talvez pela até mesmo num trabalho com
agora que eu tenho aqui na falta de conhecimento dos jogos. No entanto, o jogo
minha frente, eu pegar ir lá professores. Porque de nada ainda é manifestado pelo
pra 4ª série, dividir a sala em adianta levar aquele monte simples ato de jogar.
grupos e dá os jogos, oh de jogos para sala de aula se
pessoal joguem. Não é por eu não tiver um planejamento
aí, eu acho assim, a gente bem feito, estabelecido os
muitas vezes tem aquela objetivos que se pretende
velha ainda coisa na cabeça com essa atividade.
assim, ah, eu sei, eles Importante destacar que essa
também vão saber. E não é interação professor/aluno se
125

por aí, ele precisa aprender, faz necessária mesmo num


e eu sou mediadora dessa trabalho com jogos, pois o
aprendizagem, eu preciso professor será mediador da
estar interagindo com ele. Em aprendizagem ou do
alguns momentos é conhecimento do aluno.
necessário ensinar mesmo
pra ele.”

“Eu acho que é por aí essa O jogo além de dar a U21 – O jogo além de
questão do jogo, até é uma possibilidade de explorar possibilitar a aprendizagem
formação assim, não é o conteúdos matemáticos, ele de conteúdos matemáticos,
jogar pra aprender pode propiciar a socialização, ele propicia a socialização.
matemática, mas o jogar para a vivência de grupo.
socializar, pra vivenciar, né.”

“[...] falou comigo na área de A dificuldade na matemática U22 – Matemática deixada


matemática eu sempre tive exige maior planejamento, para o segundo plano.
mais dificuldade, mais na maior estudo, esse talvez
área de matemática. Eu seja o motivo principal pelo
sempre tive que planejar qual a matemática seja
mais, eu sempre tive que deixada para um segundo
pensar mais e eu acho que é plano.
por isso mesmo que a gente
deixa em segundo plano.”

“Existem pessoas que não Os próprios professores U23 – Os professores


buscam conhecimento por reconhecem que há uma encontram empecilhos para
uma questão de comodismo, falha muito grande por parte não precisar buscar novos
existem aquelas pessoas que deles, pois a grande maioria conhecimentos: comodismo,
não buscam conhecimento deles não buscam o tudo eles já sabem, eles não
porque acham que já sabem conhecimento. Muitos fatores tem tempo, etc.
tudo, existem aquelas estão implícitos nessa falta
pessoas que não buscam, eu de querer conhecer mais
falo não é que não buscam, para poder fazer melhor entre
elas não conseguem se os mais comuns pode-se
organizar para ir em busca do citar: o comodismo, porque eu
conhecimento, porque tem vou buscar alguma coisa
filho, porque tem isso, porque diferente, uma vez que isso vai
tem aquilo, então assim, exigir de mim uma mudança
diferentes e diferentes formas de postura, uma mudança no
as pessoas não vão.” planejamento, enfim vou ficar
com isso que sei, assim pelo
menos não preciso me
preocupar; tem aqueles “sabe
tudo” que não precisam
buscar mais nada tudo o que
os outros vão apresentar eles
já sabem e muito mais já
fizeram e não deu certo; assim
como tem aqueles que
colocam mil empecilhos para
não ir em busca do
conhecimento: eu não tenho
tempo, eu tenho filho e
marido, casa para limpar, etc.
126

“[...] é difícil alguém perceber Toda mudança requer uma U24 – Toda mudança requer
ou admitir que preciso mudar. reflexão. Esta reflexão acho reflexão sobre o que se está
Isto requer uma reflexão bastante difícil, pois eu fazendo.
sobre si mesma, e isto não é admitir que estou agindo de
algo simples ou fácil de se maneira inadequada e que
chegar. [...] Então o que é devo mudar, requer uma
que é, diferentes caminhada e um
metodologias, diferentes compromisso muito sério
formas de ensinar. É eu ver acerca daquilo que se faz.
que o meu aluno não tá Bem como muitos de nossos
aprendendo então eu vou ter professores não admitem que
que mudar.” um problema de
aprendizagem, ou melhor,
que o seu aluno não está
aprendendo devido a maneira
de como ele está ensinando.
O problema é sempre do
aluno, pois é comum
ouvirmos professores
dizerem eu já expliquei
milhares de vezes para ele e
ele não entendeu, porém ele
esquece de analisar que
essas mil vezes que ele
explicou foi sempre a mesma.

“Pera aí aqui tem um jogo Os jogos que aparecem no U25 – Os jogos muitas vezes
nessa página, você não tem livro didático, especialmente não são trabalhados devido a
obrigação de saber este jogo, no livro do Sarquis, são jogos dificuldade de compreensão
eu vou tentar aprender ele. às vezes desconhecidos e dos próprios professores.
Se eu não conseguir, eu vou que muitas vezes exigem um
buscar alguém pra me ajudar, pouco de raciocínio para
mas daí eu olho pro jogo, compreendê-lo. Isso faz com
mas isso daqui é muito difícil, que muitos professores,
ah, eu não vou fazer. Mas devido a essa dificuldade de
assim se pra mim tá difícil compreensão, não trabalhem
imagina pro meu aluno, como alguns deles, ou melhor, não
que vai ficar o meu aluno? trabalham nenhum tipo de
Não, ele não vai entender, jogo. O próprio professor já
não então eu nem vou antecipa a dificuldade do seu
trabalhar.” aluno, com isso ele deixa de
oportunizar o seu aluno a
construir um conhecimento
que poderá ser significativo
para ele.

“[...] quando a gente fala em Material concreto é definido U26 – Jogos e brincadeiras
material concreto é canudo, como aquilo que se pode são definidos como material
tampinha, eh, o que mais, pegar (sementes, tampinhas), concreto, destinados a pré-
sementes, seja lá o que for. além desses ela define escola e as primeiras séries.
Mas, material concreto é tudo também como sendo material
o que pode pegar, então o concreto os jogos, as
que é que é são jogos, são brincadeiras o faz de conta.
brincadeiras, é o faz-de- No entanto todos esse tipos
conta, e tudo o mais; e daí de materiais concretos são
127

tudo é material pra pré e destinados ou pensados


primeira.” somente para pré-escolar e
primeira série., que seriam as
crianças menores, deixando
implícito que a grande
maioria dos professores
acreditam que as séries
maiores não necessitam de
nenhum tipo de material
concreto no processo de
construção do seu
conhecimento.

“ Então assim são inúmeras A busca por conhecimento U27 – O aluno é o maior
as questões que fazem com depende somente de nós prejudicado na falta de
que a gente muitas vezes em mesmos, isso implica num compromisso do professor.
sala de aula, ou a gente, compromisso profissional. No
como profissional deixa de ir entanto nosso descaso
buscar. Só que quando a implica diretamente no
gente deixa de buscar, não conhecimento de nossos
somos nós que estamos alunos, pois eles é que serão
perdendo, são os nossos os maiores prejudicados.
alunos. E aí entra o
compromisso nosso como
profissional.”

E o que você acha que essas Muitas pessoas cursam U28 – Falta de compromisso
pessoas que não tem esse Pedagogia por ser um curso na área da educação.
compromisso, o que levou fácil, de curta duração e
elas a entrarem para a área barato. Talvez esses sejam
da educação (docência)? os motivos que levam tantas
“Isso eu senti quando estava pessoas a atuarem na área
na faculdade, Pedagogia é o da educação, mas que não
curso que tem menos tempo, possuem um compromisso
são três anos só; é o curso sério acerca das questões
mais barato e infelizmente é que implicam no processo
visto como o curso mais ensino-aprendizagem.
fácil.”

“[...] vamos dizer aquela Muitas pessoas fazem o U29 – A educação é vista
pessoa que você ouviu curso de Pedagogia, como a forma mais fácil de se
durante três anos de pensando no retorno ganhar dinheiro.
Pedagogia, ela dizer que ela financeiro que terão, pois
não queria trabalhar, que para eles a educação é a
estava fazendo por fazer, ela forma mais fácil de se ganhar
tá lá, e ela vai trabalhar como dinheiro. Pessoas que fazem
professora. E você faz idéia um curso com esse intuito
de como vai ser o trabalho com certeza não terão
dela em sala de aula (tempo preocupação em conhecer
calada). Isso, eu não vi uma, metodologias, compreender o
duas pessoas falando, eu vi processo ensino-
muitas e muitas pessoas aprendizagem, entre outras
falando. A educação é vista questões que são
assim, como a forma mais fundamentais para a atuação
fácil de se ganhar dinheiro.” na educação. Como colocado
128

anteriormente sei que as


faculdades ou universidades
não estão dando uma
formação a contento,
adequada, mas se nem este
pouco que vem sendo
oferecido, que estão
repassando, se nem isso não
for absorvido e explorado um
pouco, as coisas vão se
complicar cada vez mais.

“Hoje, nós enquanto Os professores em sua U30 – A falta de motivação


professores, não somos grande maioria se encontram leva professores ao não
nada, bem pelo contrário só desmotivados em sua prática comprometimento com as
xingam a gente. E ainda pedagógica, isso pode ser questões que permeiam a
dizem assim, ah funcionário devido a alguns fatores: falta educação.
público!! Só trabalha poucos de valorização profissional,
dias por ano e ganha um ser objeto de deboche e/ou
monte. Então, quer dizer que piadinhas (servidor público
valorização que nós temos. ganha bem e trabalha
Isso também desmotiva pouco). Tudo isso associado
muito, isto também faz com a outros fatores, leva muita
que o professor chegue em vezes os professores a não
sala de aula e pense, pera aí. se preocuparem com sua
Ele nem pensa, isso já está prática e a terem um certo
incutido, ninguém me descompromisso com os
valoriza. Porque também eu alunos, ou melhor, se
vou me preocupar?” sentirem totalmente alheios
aos problemas que permeiam
a educação.

Compreensão Ideográfica do Discurso do Sujeito 4

Segundo o sujeito 4, a Matemática está presente em todos os momentos,

porém tem preferência pela disciplina de Português. A matemática é vista por ele

como um bicho de sete cabeças, uma disciplina complicada, que muitas vezes é

esquecida do currículo escolar ou em algumas situações deixada para o segundo

plano. Além disso, o medo e a dificuldade acerca da Matemática podem ser tidos

como uma questão cultural. Todas essas questões podem decorrer da formação

falha que os professores tiveram tanto no magistério quanto em sua formação

acadêmica, e isso perdura nos cursos de capacitação na área.


129

Conforme a professora, o jogo e a brincadeira podem ser definidos como

material concreto, mas destinados exclusivamente para alunos de pré-escola e das

primeiras séries. O jogo facilita a compreensão de conceitos matemáticos, bem

como possibilita a socialização e a exploração de questões como percepção visual,

a lateralidade etc. No entanto, o trabalho com jogos é dificultado pela formação falha

dos professores, o que talvez seja uma das causas dos jogos serem pouco

trabalhados nas escolas. Eles são levados para a sala de aula de acordo com aquilo

que os professores conhecem e os mesmos são mediadores dessa prática.

O sujeito 4 ressalta que há falta de compromisso com a educação, pois para

ele a educação é concebida como a forma mais fácil de ganhar dinheiro. Também

percebe que a falta de motivação na prática escolar, associada à falta de

compromisso, ao comodismo, e à falta de tempo levam muitos professores a não

buscarem novos conhecimentos, sendo o aluno o maior prejudicado. Isso pode ser

percebido em relação ao livro didático adotado no município de Toledo, PR, o

mesmo apresenta uma nova proposta para o ensino da Matemática, todavia

encontra-se engavetado na maioria das escolas. O sujeito 4 acredita que poderá

haver mudanças, mas isso exigirá uma reflexão de cada profissional da educação.

QUADRO 6: Unidades de Significado do Discurso do Sujeito 5 (Entrevista 5)

Unidade de significado Interpretação Síntese


“[...] na minha vida enquanto A dificuldade na disciplina de U1 – A busca pela superação
aluna, eu sempre tive muita matemática é algo que das dificuldades na
dificuldade na matemática. perdura ao longo dos tempos, matemática, desperta o gosto
Porque a gente vem de uma visto que em diferentes pela disciplina.
escola tradicional, onde a épocas ela se fazia presente.
matemática era trabalhada só Bem como essa dificuldade
dentro dos livros, né, a gente possibilitou a busca de uma
não era apresentado nada de nova maneira de ver e
material concreto. Eu fui ensinar a matemática, assim
começar a descobrir o gosto como a busca da superação
pela matemática na verdade, da mesma de despertou o
quando a minha filha, a mais gosto pela disciplina.
130

velha, estava na segunda


série e eu tive que começar
ajudar ela de uma forma
diferente, porque ela também
tinha dificuldade.”

“Eu comecei perceber que A percepção de que a melhor U2 – O lúdico e os materiais


não tinha outra forma, a não e talvez única forma da concretos despertam o gosto
ser você trabalhar ela de uma criança compreender pela matemática.
forma lúdica, eh, também realmente aquilo que está
associada a materiais fazendo, seja através do
concretos; e fazer com que a lúdico associado a materiais
criança compreenda o concretos. Essa percepção
processo daquilo que ela está se deu na condição de mãe,
fazendo. Mas realmente foi quando diante de uma
como mãe que comecei a dificuldade de sua filha teve
descobrir como tem uma que buscar uma solução para
forma diferente de você a dificuldade dela, e
trabalhar a matemática, e eu encontrou ela no lúdico, por
comecei também ter o gosto meio dos materiais concretos.
e despertar nela o gosto pela O lúdico fez despertar o gosto
matemática, que até então pela matemática,
ela não tinha, né. E depois primeiramente em sua filha, e
com os meus alunos, eh, eh, depois adotou uma prática
comecei a também ter pré- com brincadeiras na escola e
escola, daí ali então, eu me fez despertar esse gosto pela
encontrei realmente, né. disciplina em seus alunos.
Porque daí eu pude perceber Portanto, cabe ao professor
que a criança pequena ela já encontrar estratégias que
vem pra escola com um possam despertar o gosto por
conhecimento matemático. E alguma disciplina, talvez o
cabe a nós professor, com o lúdico seja uma maneira que
olho clínico de professor, é possibilite isso.
despertar esse gosto. E como
é que a gente desperta esse
gosto? É nas brincadeiras,
porque a matemática está
presente em tudo na nossa
vida.”

“[...] você sabe que devido a A matemática ainda é uma U3 – A matemática é deixada
ter pessoas diferentes, com disciplina que é deixada de para o segundo plano.
capacidades de lado. E isso só vai mudar
aprendizagens diferentes, é quando houver uma mudança
preciso conhecer todas as na postura dos professores,
formas possíveis e a deles perceberem que a
matemática é deixado um matemática é uma disciplina
pouco de lado. Se a gente como as outras. Pois como
perceber que ela é uma aborda o sujeito entrevistado
matéria normal como as ela é vista como uma matéria
outras, que ela, é tão anormal, bem como ela é
importante, talvez até mais, imprescindível na construção
que as outras, porque da cidadania.
enquanto cidadão a criança
precisa conhecer o dinheiro,
131

os números, né. Ela tem que


ter uma visão de mundo
dentro da matemática.”

“Dentro de uma escola como A matemática vai muito além U4 – A matemática precisa
você consegue fazer com a do registro, do traçado, uma ser vivenciada.
que a matemática seja vez que esses fatores estão
vivenciada. Claro que você associados a outras questões
precisa fazer o registro, que (lateralidade, coordenação
ela precisa saber o traçado, motora, etc). Há necessidade
mas tudo isto está associado de que o aluno vivencie a
a outras questões.” matemática, isso é algo
bastante difícil dos
professores fazerem em sala
de aula.

“[...] no início eu trabalhava A experiência profissional é U5 – A experiência


matemática pela matemática, algo que auxiliará no trabalho profissional, o compromisso e
né. Eu acho assim que em sala de aula, porém ela a responsabilidade podem
quando você vai assumindo só se adquire com o tempo, melhorar o trabalho em sala
uma responsabilidade dentro desde que se tenha de aula.
de uma sala de aula, e com a comprometimento e
criança, você tem que responsabilidade no trabalho
preparar sua criança não só com os alunos. Pois essa
para ir para uma série maturidade profissional levará
seguinte, mas você tem que o professor a perceber que
preparar essa criança para seu dever é preparar o aluno
ser um cidadão, e isso não é como cidadão e não
uma coisa que você aprende simplesmente possibilitar um
de um dia para o outro, é conhecimento que apenas lhe
uma questão de maturidade servirá para ir para a série
profissional também.” seguinte.

“Então não foi uma coisa Essa análise profissional é U6 – A preocupação em


assim de imediato, na, na algo fundamental, no entanto alfabetizar leva professores a
minha carreira profissional, foi isso é algo bastante difícil de esquecer da matemática,
assim, eh, fazendo sempre acontecer por parte dos principalmente na pré-escola.
uma análise enquanto professores, pois é difícil para
professor, né. Porque a gente qualquer ser humano
enquanto professor, a gente perceber que precisa mudar.
tem uma preocupação muito Quando o sujeito entrevistado
grande, dentro de conseguir aborda essa questão de uma
na pré-escola, a linguagem preocupação incessante
oral. E a gente perde de vista acerca da alfabetização na
os outros conteúdos que são pré-escola, isso é bem visível
importatíssimos.” na escolas, português é
trabalhado excessivamente e
outras disciplinas ou
conteúdos, principalmente
matemáticos são deixados de
lado ou até mesmo
esquecidos por alguns
professores.
132

“Agora que vai fazer a Os professores ainda U7 – O professor pode fazer


diferença é quando você valorizam muito a quantidade, a diferença em sala de aula,
olhar pro seu aluno e ter a não analisam muito a porém ele precisa tomar
consciência tranqüila que qualidade de ensino que consciência de que a
aquilo que você fez por ele, estão proporcionando a seus qualidade deve prevalecer.
talvez, talvez, não seja assim alunos. É importante que o
de grande quantidade, mas professor mostre a seu aluno
sim de grande qualidade, né. que existem vários caminhos
E a matemática permite isso de se chegar a solução, ou
é de você questionar de fazer seja, o fim de uma questão
com que a criança pense e matemática é único, exato,
repense, e é uma, e é uma porém os meios de se chegar
disciplina que ela é exata, né, a este fim podem ser
então que existem inúmeros diversos.
meios, mas que o objetivo
tem que ser único.”

“Olha no magistério eu tive O curso de Pedagogia U8 – Formação falha.


um aprofundamento maior, apenas aborda algumas
dentro do curso de teorias que se encontram
Pedagogia não, foi bem falho, muito distantes da prática
nós não tivemos nada, a não escolar. A parte prática
ser um pouco da teoria. Mas raramente acontecia no
a prática nós não tivemos magistério, porém no curso
mesmo. Eu acho que, pelo de Pedagogia ela se tornou
menos, eu posso falar do algo em extinção. A parte de
meu curso, né, que a gente metodologia é algo
percebe que as faculdades, fundamental para formação
as universidades elas se de um professor e isso a
preocupam muito em gente percebe que hoje as
trabalhar outras questões faculdades e/ou
como: sociologia, psicologia, universidades esquecem de
que com certeza são trabalhar isso com seus
fundamentais para a alunos, ou se acontecem são
formação do professor. Mas situações totalmente alheias
esquecem de trabalhar, ou ao cotidiano escolar,
não querem trabalhar aquilo principalmente para quem
que é realmente a prática de atua a nível de 1ª a 4ª série.
uma professora, que são as Acredito que as
metodologias. Mas universidades e/ou
metodologias que sejam faculdades deveriam estar
viáveis de trabalhar, né.“ revendo sua grade curricular,
principalmente na área
curricular de matemática, não
que nas outras áreas a
situação seja diferente, ma
por ser a disciplina que mais
assusta professores e alunos.

“Por isso eu não sou contra Percebe-se que formação U9 – Formação falha: ensino
que estagiários hoje estejam permanece falha, pois o pautado em teorias.
nas salas de aula. Porque ensino ainda é baseado em
elas começam a perceber a teorias, que segundo a
diferença entre a teoria e a professora se difere da
prática. Porque, por exemplo, prática que se utilizará na
133

a matemática se fosse sala de aula. As


trabalhar dentro de uma universidades deveriam
Universidade, de uma oportunizar aos acadêmicos
faculdade, a matemática é novos instrumentos que
uma prática: a criação de pudessem auxiliar a prática
jogos, né, que instrumentos em sala de aula, como por
oportunizar, mas não se faz exemplo a criação de jogos.
isso. A aptidão a essas As metodologias trabalhadas
metodologias que aplicam pelas universidades são
isso é muito mais a teoria do meramente teóricas, e que os
que a prática. E a teoria você professores não conseguem
pode abrir qualquer livro que aplicá-las em sua prática
você encontra a teoria. Daí ciotidiana.
elas vem pra sala de aula,
elas não conseguem associar
essa teoria, fazer essa
aplicação dessa teoria na
prática, né.”

“[...] mesmo quem tem hoje a Essa ânsia de vencer o livro U10 – A ânsia de vencer o
metodologia, nós temos nas didático é resquício do ensino livro didático, leva
escolas vários materiais, mas tradicional. Muitas vezes essa professores a esquecer de
a gente como professor, ânsia faz com que os trabalhar aquilo que é
nessa ânsia de cumprir conteúdos sejam trabalhados essencial (material concreto),
conteúdos, sabe, de, de, de, superficialmente, isso é decorrente da
de vencer os livros, a gente descontextualizados, e os formação falha.
acaba deixando de lado materiais concretos embora
aquilo que é essencial que é sejam considerados
esse material concreto. Hoje essenciais no processo
se você for analisar quase ensino-aprendizagem, eles
todos não fazem uso do são esquecidos. Outro fator
material de contagem porque que leva muitos professores a
não sabem como utilizar, não utilizar materiais
porque não tivemos lá na concretos em sala de aula é
nossa formação acadêmica.“ não saber explorar esse
material, alegam eles que
isso decorre da formação
falha que tiveram, pois esses
tipos de materiais não foram
explorados em sua formação
acadêmica.

“Porque não basta você dizer Não basta levar um material U11 – O trabalho com
que você levou um material concreto ou um jogo para material concreto e/ou jogos
concreto, jogos pra tua sala, sala de aula, porque o exige objetivos bem definidos
se você não souber explorar, material por si só não tem e isso é difícil, pois os
né. E isso, e isso, na época valor nenhum, o que professores não tiveram isso
que eu fiz magistério nós realmente vai fazer a em sua formação.
tivemos alguma coisa na diferença é o
época. Mas era assim mais encaminhamento dado à
no livro, eu não me recordo essa atividade, é o professor
assim de materiais concretos saber o que explorar
que a gente tenha realmente para desencadear
confeccionado no magistério, uma aprendizagem
pouquíssimos, raros, né, significativa a seu educando.
134

muito menos no curso de


Pedagogia, né. Então eu
acho assim, muito
interessante quando a gente
vê essas estagiárias que vem
pras escolas, aplicar os
estágios delas, e elas vem,
porém são poucas as que
vem com uma proposta de
aplicação da matemática, por
quê? Porque elas não tem
conhecimento de como
trabalhar. E nem nós, os
professores aqui, se você for
ver quantos que usam o
material concreto são poucos,
e os que usam é assim, eh,
aquela forma mais tradicional,
a mais simples possível, né.”

“[...] você tem que oferecer Cabe ao professo levar uma U12 – Muitas vezes o
uma oportunidade, uma visão proposta de matemática professor deixa de usar um
diferente de trabalhar a diferente para a sala de aula, material concreto por não
matemática, mas você tem muitas vezes isso não ocorre conhecer ou não saber
que ter conhecimento, devido a falta de vontade dos explorar adequadamente,
enquanto professor, né, de professores, mas sim por não mas se dado a uma criança
epassar pro teu aluno como conhecerem realmente as ela cria suas estratégias.
fazer o uso disso, né. Porque possíveis estratégias que o
às vezes não é falta de material concreto pode
vontade, é não saber oferecer. Como foi explicitado
realmente. Se hoje você o professor precisa dominar,
questionar a maioria dos conhecer o material para que
professores de 1ª a 4ª do realmente o processo ensino-
município, como se trabalhar aprendizagem seja
materiais simples assim, né, satisfatório.
de como você pode explorar
o material dourado, são
poucos os que vão assim te
dar encaminhamentos
diferentes. [...] oportunizar ela
a ter um material concreto ela
cria as possibilidades dela,
[...].”

“E olha enquanto nós Português ainda é a disciplina U13 – A matemática é vista


professores tivermos uma que predomina nos trabalhos como uma disciplina alheia ao
visão, de que simplesmente escolares, a matemática é currículo escolar, deixada
português é a matéria mais deixada sempre para o para o segundo plano, mas
importante, e que a segundo plano. Se queremos fundamental no exercício da
matemática é uma disciplina que nosso aluno seja um cidadania.
que pode ser trabalhada a cidadão de verdade,
parte, nós não estamos precisamos mudar essa
formando cidadãos, o que nossa prática, precisamos
tanto pregamos que repensar a matemática, tratar
queremos formar.” ela como uma disciplina tão
135

importante como todas as


outras.

“Olha, nós, acho que já nós Os estudos dos PCN U14 – O PCN propiciou um
evoluímos muito, eu acho que propiciaram uma nova visão olhar diferente acerca da
a gente, a gente teve uma acerca da matemática, matemática.
caminhada assim, bastante servindo como uma injeção
grande, quando dentro dos de ânimo para prática
estudos dos PCN, a gente pedagógica. Estes estudos,
começou a repensar a assim como outros cursos de
matemática de uma forma capacitação são
diferente. [...], a gente quando considerados válidos, porque
faz um curso, por parte da de uma certa forma mexem
SMED ou qualquer outro com nossa consciência
órgão, mesmo dentro da profissional, pois lá se vê de
escola, a gente recebe uma forma prática a aplicação das
injeção de ânimo, né, a gente teorias. No entanto há um
pensa nossa eu posso fazer fator bastante preocupante,
diferente realmente. Porque quando o professor faz o
lá eles estão mostrando uma curso, ele se motiva a
forma diferente de trabalhar, trabalhar esse diferente e
estão de uma certa forma realmente fazer a diferença
mexendo com a nossa na sala de aula, mas não sei
consciência enquanto o que acontece parece que
professor. Então, a gente esse encanto logo passa e
progrediu muito em relação a ele volta a estaca zero, volta
matemática, mas acho a trabalhar como sempre
também que a gente trabalhou. Isso fica bem claro
estacionou. Então, ah, porque quando ressalta o progresso
a gente recebe essa injeção e ao mesmo tempo esse
de ânimo e de repente a estacionar, essa parada.
gente dá uma parada, [...].”

“[...] a questão dos jogos, eu O jogo visto como uma forma U15 – O jogo é visto como
acho assim que uma das lúdica de ensinar, no entanto uma forma lúdica de ensinar
melhores formas de trabalhar, muitos professores ainda e essencial na sala de aula,
porque é a forma lúdica. Que batem na tecla que o aspecto no entanto o domínio do
a criança necessita disso. A lúdico deve apenas próprio jogo pelo professor é
gente não pode esquecer que prevalecer no trabalho fundamental.
o lúdico não está associado a escolar das crianças de pré-
pré-escola, que o lúdico tem escola. Bem como, é
que estar presente em todos imprescindível que o
os momentos. [...] Então, eu professor domine o jogo, para
acho que ele é que assim ele possa explorar
importantíssimo, fundamental adequadamente cada
dentro de uma sala de aula. situação, por isso o professor
Mas é como eu coloquei pra ao levar um jogo para sala de
você levar um jogo pra sala aula ele deve ter claro o que
de aula, você enquanto ele pretende com o mesmo,
professor você tem que ter ser algo que esteja presente
domínio daquilo que você vai dentro do seu planejamento.
dar.”

“Quem é que não gosta de, O trabalho com jogos muitas U16 – O jogo pelo jogo.
de um jogo, por exemplo, né. vezes se resume aos simples
136

E se não gosta é porque não fato de aprender a jogar o


aprendeu como manuseá-lo jogo, não que isto não seja
[...]”. válido, porém dentro de seu
aspecto pedagógico se torna
um trabalho bastante falho,
talvez não contribuindo tanto
ao processo ensino-
aprendizagem quanto poderia
se explorado
adequadamente.
“Então eu acho assim que é Mesmo tendo conhecimento U17 – Considera o lúdico
uma das melhores formas de de que o lúdico é uma forma uma das melhores formas de
se trabalhar, mas que nós que dá resultado em sala de se trabalhar em sala de aula,
professores, hoje, não aula e que é uma questão mas admite que os
estamos trabalhando. Eu não importante no processo professores não tem essa
sei, eu estou falando por ensino-aprendizagem, prática.
mim, né, porque as vezes mesmo assim, ainda é uma
nessa ânsia, de como prática quase inexistente na
coloquei antes de trabalhar maioria das salas de aula.
todas outras questões você
deixa questões importantes,
[...].”
“Eu utilizo, na medida do Na situação de jogo o U18 – No jogo é possível
possível eu estou sempre professor teve a possibilidade perceber algumas
utilizando. Até esses dias de ver que alguns de seus dificuldades dos alunos e
para reforçar, eu fiz a alunos ainda apresentavam serve como avaliação do
experiência do bingo, e ali eu dificuldades no conteúdo, próprio trabalho.
fui perceber que tinha para isso não foi necessário
crianças que eu acreditava que o professor fizesse
que realmente já tinham inúmeros exercícios de siga o
tomado conhecimento do modelo ou aplicação de
número não conseguiam, por prova. Ele pode retomar o
exemplo bater o bingo, conteúdo, ou melhor, no
porque pulou, porque não próprio jogo o professor
conheciam o número. [...] poderia ter explorado esse
Então isso serviu pra mim conteúdo.
retomar o meu trabalho [...].“
“Eu sei que estou falhando, O reconhecimento de que U19 – O jogo é considerado
mas, é com esta estão falhando, algo fundamental, pois por
preocupação realmente de principalmente no que se meio de um só jogo pode-se
você fazer com que a criança refere a ter uma preocupação explorar vários conteúdos,
saia da 1ª série lendo, excessiva de a criança sair porém é deixado de lado ou
escrevendo, tendo um lendo e escrevendo da até mesmo esquecido.
conhecimento de número, primeira série, isso tem
você deixa pra trás coisas levado professores a
fundamentais, que por esquecerem de outras
exemplo são os jogos, né. questões importantíssimas
Poderia estar trabalhando para a formação da criança.
questões importantíssimas ali Percebe que através de um
dentro, dentro de um jogo. jogo pode explorar vários
Poderia estar explorando conteúdos.
outros conteúdos também.”
137

“Diante de situações de jogos O jogos são esclohidos para U20 – Os jogos são
como estas (Caça-tabuada, serem trabalhados em sala escolhidos de acordo com
Troca cartela, Mais próximo de aula a partir daquilo que aquilo que o professor
possível, Bingo da tabuada, os professores conhecem. conhece.
Avançando com o resto, Jogo Neste sentido gostaria de
das Trocas), como você destacar que por isso mesmo
encaminharia este trabalho? os jogos são bem restritos, ou
Eu não conheço estes jogos seja, os professores
ali.” conhecem poucos jogos.

“[...] então primeiro vou ter Percebe-se que o jogo é U21 – Pré-requisitos
que fazer uma sondagem, trabalhado como reforço ou antecedem o trabalho com
então, que trabalhar pré- fixação de um determinado jogos.
requisito pra se chegar a conteúdo, uma vez que antes
esse jogo, [...] Então eu faria de apresentar determinados
uma sondagem por exemplo jogos se faz necessário
de compor e decompor os trabalhar certos pré-
números a primeira forma, requisitos. O jogo não é
para depois chegar a este utilizado para introduzir
jogo, [...]Mas se ser conteúdo.
trabalhado pré-requisitos
anteriores com certeza que
ela vai reconhecer.”

“[...] você já imaginou a O jogo possibilita trabalhar os U22 – O jogo possibilita um


riqueza de um trabalho como conteúdos de forma mais trabalho mais dinâmico dos
este para você trabalhar dinâmica, bem como o jogo conteúdos, bem como
sucessor e antecessor, sem dá a possibilidade do aluno propicia aos alunos a
você estar trabalhando construir seu conhecimento. construção dos seu próprio
aqueles exercícios rotineiros O erro não é tratado como conhecimento.
de você colocar o número no algo negativo, mas sim, no
quadro, pontilhados a frente e jogo ele é um caminho para o
pontilhados depois, pra acerto, ou seja, o erro é algo
trabalhar sucessor e inerente ao processo de
antecessor. Aqui você vai construção.
estar dando a oportunidade
da criança construir o seu
conhecimento, né. E com
uma vantagem, de que ela
vai poder errar, né, e construir
novamente, porque ela não
vai precisar apagar, que é
uma coisa que elas não
gostam, [...].“

“Então, como é que eu fiz, Os professores escolhem U23 – Os professores


por que, eu não dei essas materiais ou jogos que eles trabalham os jogos que
fichas, mas eu dei, por conhecem, pois o novo pode conhecem.
exemplo, o material dourado, muitas vezes surpreender o
por exemplo, para trabalhar próprio professor, bem como
[...].” exigir dele uma postura
diferente.

“[...] só que ela também tem Essa exigência de registro, U24 – O registro é que vai
que ter uma referência no de ser nele que o professor mostrar se o aluno
138

caderno, alguma, ela tem que perceberá se o aluno compreendeu a situação do


ter uma referência também, aprendeu ou não, é ainda jogo.
não é só o concreto, né, uma prática bem presente do
porque ela vai ter que fazer o ensino tradicional. Então
registro daquilo pra ver, pra percebe-se que uma situação
daí ela compreender isso, né, de jogo pode se transformar
as duas formas, a teoria e a em uma mera atividade de
prática [...]”. arme e efetue. Par vários
professores a teoria ainda
prevalece sobre o saber
prático.

“[...] olha quando é que eu O Sarquis não foi e nem está U25 – O livro didático exige
comecei a gostar do Sarquis. sendo um livro muito bem nova postura dos
Porque eu, eu detestava o aceito pelos professores da professores, o que leva
Sarquis na 3ª série. Mas eh, rede municipal de Toledo, muitos deles a abandoná-lo e
mas é porque eu não primeiro por ser um livro que buscar um livro que não exija
conseguia entender essa apresenta uma proposta de muito raciocínio.
forma diferente de trabalhar trabalho bem diferenciada, o
matemática. Primeiro porque que exigiu uma mudança de
já deu um susto em nós, postura dos próprios
porque não havia resposta professores e exigiu deles um
nenhuma. Daí, como maior planejamento, estudo;
professora, ele te deu uma e segundo por ser um livro
chamada pra você primeiro que não trás respostas, assim
estudar, ter segurança como a maioria dos
daquilo que você vai passar, exercícios possibilitam
pra você poder aplicar. E estratégias diferentes de
como eu me apaixonei resolução o que requer um
agora? Quando eu percebi aprofundamento no
qual foi o intuito dele, qual foi planejamento. Gostaria de
a visão que ele teve da destacar que esse livro é
matemática pra criar um livro condenado pela grande
assim, né.” maioria dos professores da
rede municipal de ensino de
Toledo, que engavetaram o
Sarquis e o substituíram por
livros que tenham
principalmente as repostas e
que apresentam diversos
exercícios sobre um mesmo
conteúdo.

“E é que nem, isso a gente A nova proposta apresentada U26 – Livro didático
sempre ouvia, né, que o no livro do Sarquis está apresenta uma nova proposta
professor pra gostar do propiciando atividades que de ensino, que permite uma
Sarquis, eh, ele, ele, tinha possibilitam o aluno de construção do conhecimento
que começar lá da 1ª série. E construir seu conhecimento, pelo próprio aluno.
realmente daqui uns anos os alunos estão passando por
você vai ver como que você uma caminhada, que
vai mudar essa visão em possivelmente poderá mudar
relação a esse livro, porque a visão de alguns professores
as crianças, estão numa em relação esse livro
caminhada, eles estão numa didático, no entanto esse é
construção da matemática, um trabalho moroso.
139

diferente de tudo aquilo que


nós tínhamos, [...].”

“É como eu falei, a gente teve A falta de motivação leva U27 – A falta de motivação
assim uma época ali que a muitos professores a está presente na prática da
gente teve um ânimo maior trabalhar dentro de uma sala de aula. A vontade
pra se trabalhar. Hoje a gente perspectiva tradicional. No individual é que vai fazer a
ta voltando lá ao tradicional, entanto a vontade de cada diferença.
né. Mas é, e como eu sempre professor é que vai fazer a
penso, e eu sempre falo pras diferença dentro da prática
professoras assim, o que faz escolar. Muitas vezes não é a
a diferença é a tua vontade, quantidade de conteúdos que
enquanto professora, né. A é importante, na medida que
tua sala, eh, de repente você hoje um dos motivos que os
não consiga vencer todos os alunos alegam não gostarem
conteúdos até o final do ano, da matemática é que eles
mas aquilo que teus alunos não conseguem aplicar
saírem eles vão saber aplicar determinados conteúdos, ou
na prática.” seja, a matemática é algo
alheio a vida cotidiana.

“E ali dentro do jogo você O jogo possibilita a dinâmica U28 – O jogo possibilita a
pode trabalhar inúmeras do trabalho de grupo, no qual socialização, elemento
outras questões, por é possível trabalhar vários fundamental na sociedade
exemplo, até na formação conceitos fundamentais para vigente.
social dele como pessoa, o a vida em sociedade
saber perder, né, o saber (humildade, ajuda mútua,
ganhar, eh, eh, o você ser saber compartilhar, etc.) e
humilde de repente de pedir principalmente, no jogo o
ajuda pro colega, você saber sujeito pode interagir com os
dividir com o colega, e o jogo colegas.
permite todas essas
questões.”

“Porque ele pode ter, você O jogo permite que o aluno U29 – O jogo permite
oportunizou ele a trabalhar vivencie determinadas vivenciar a teoria.
numa teoria, um enunciado, situações, mesmo que essa
mas você fez ele vivenciar seja apenas uma teoria.
isto, e o jogo permite isso.”

“Então, o jogo permite não só Um trabalho com jogos se for U30 – O trabalho com jogos
o jogo pelo jogo, mas permite bem planejado pode exige bom planejamento.
você trabalhar outras contribuir significativamente
questões importantíssimas, na formação do sujeito,
para formação da abrangendo aspectos
personalidade dele, porque cognitivos, afetivos e sociais
ele vai ser um adulto, de do mesmo. Porém o
repente mais tranqüilo, um professor precisa
adulto mais consciente, né. conscientizar-se de que será
[...] Mas pra isso você tem um ambiente diferente de
que ter um planejamento trabalho, mas que com
muito bem trilhado, né, você certeza vai ser um momento
tem que ter consciência que a em que ele estará
tua sala vai ser um ambiente possibilitando um
diferente, mas que vai ser crescimento muito grande a
140

uma, um momento que você seu aluno. Importante


vai tar oportunizando, da destacar que são poucos os
criança pra criança realmente professores que utilizam os
crescer, né. Crescer, não só jogos em sala de aula.
como aluno, mas como
pessoa. Daí o jogo permite
isso mesmo, né. Que se você
for analisar quantas
professoras trabalham o jogo,
né pouquíssimas.”

“Mas eu acho que a nossa As escolas dispõem de jogos, U31 – As escolas tem jogos e
escola, por exemplo, nos porém não basta só ter os materiais concretos.
temos vários jogos aqui, nós jogos ou materiais concretos.
temos, nós temos jogos ali, Porque o que vai fazer
esses dias, o professor falou realmente a diferença no
temos jogos que nós processo ensino-
podemos trabalhar aprendizagem é o
praticamente em dupla com o encaminhamento que será
material dourado, de tantas dado à esse material, o que
caixinhas que nós temos [...].” irá depender da prática
vigente do professor.
“[...] olha só queria dizer que, A matemática ainda é uma U32 – A matemática é uma
assim, é importante que se disciplina que assusta alunos disciplina que assusta alunos
tenha pessoas como você, e professores, por isso se faz e professores, mas essa
que estejam preocupada com necessário um estudo sobre visão pode ser modificada
essa disciplina, né. Porque a essa disciplina para que quando os professores
matemática ainda assim se consiga encontrar conhecerem as possibilidades
infelizmente é uma disciplina novos caminhos, propiciando de trabalho com essa
que assusta muito o aluno e o dessa forma, novas disciplina e perceberem que
professor. Mas que se a perspectivas a professores e podem fazer a diferença.
gente for ver que a alunos, possibilitando o gosto
matemática ela é uma lógica, por essa disciplina.
ela é uma matéria exata, né, Conhecendo as
a gente pode, que a gente possibilidades de um trabalho
pode criar através dela, a com a matemática, o
gente pode viajar com a professor poderá fazer a
criança num mundo diferente diferença, principalmente com
de criação, de a gente poder seus alunos.
fazer a diferença com o
nosso aluno [...].”

Compreensão Ideográfica do Discurso do Sujeito 5

A Matemática ainda assusta alunos e professores, e muitas vezes é

esquecida do currículo escolar ou em algumas situações deixada para o segundo

plano. Para o sujeito 5, esse fato é decorrente de uma preocupação excessiva em


141

alfabetizar, contudo, considera a Matemática de fundamental importância para o

exercício da cidadania. Ademais, é importante enfatizar que a dificuldade na

disciplina levou-a a ter gosto pela mesma.

Para ela, o PCN apresentou uma nova visão da matemática, e aponta que o

livro didático (Sarquis) adotado no município aborda uma nova proposta de ensino

para a disciplina que exige uma nova postura dos professores; ela salienta que

houve uma formação falha, na qual o ensino era baseado em teorias.

O sujeito 5 afirma que o trabalho com jogos e/ou materiais concretos exige

um bom planejamento. O jogo seria uma forma lúdica de ensinar, considerada por

ela essencial para o trabalho em sala de aula, haja vista que o mesmo possibilita a

socialização, a construção do conhecimento pelo próprio aluno, a vivenciar teorias, a

perceber determinadas dificuldades, a avaliar o próprio trabalho, permitindo também

a exploração de vários conteúdos em um mesmo jogo. Ela acredita que o registro

mostra se a situação do jogo foi aprendida, bem como os pré-requisitos que

antecedem o trabalho com os jogos.

O lúdico, para esse sujeito, seria uma das melhores formas de se trabalhar,

entretanto, percebe que os professores pouco trabalham com o mesmo. Enfatiza

que há falta de motivação, mas a experiência profissional, o compromisso e a

responsabilidade são fatores que podem contribuir para a melhoria do trabalho do

professor em sala de aula, fazendo com que perceba que pode fazer a diferença.

4.2 ANÁLISE NOMOTÉTICA: UMA RELAÇÃO DE SIGNIFICADOS

Martins e Bicudo (1989, p.105) relatam que a análise nomotética orienta-se

por um enfoque que realiza uma análise psicológica, buscando a elaboração de


142

“leis”, fundamentada em fatos. O termo nomotético, como já salientado

anteriormente, deriva de nomos, que significa leis, normas, regras gerais.

Pode-se, assim, estabelecer dois momentos distintos nesse trabalho de

análise: o primeiro, caracterizado por ideográfico, uma vez que há apenas uma

preocupação de análise individual de cada sujeito, como pode ser visto anteriormente.

E o segundo, de caráter nomotético, pois nesse momento busca-se determinar

generalizações a partir da “compreensão das convergências e divergências que se

mostram nos casos individuais” (MARTINS; BICUDO, 1989, p.106).

Na análise fenomenologica, cabe ao pesquisador buscar as evidências

emanadas da consciência dos sujeitos. Neste trabalho, serão apresentadas as

categorias precedidas das unidades de significado, em um formato de tabela.

QUADRO 7: Categorias e Convergências

Categorias Convergências
Sujeito 1 Sujeito 2 Sujeito 3 Sujeito 4 Sujeito 5
Formação falha: falta de U3, U4, U21 U7, U8 U3, U4, U8, U9,
embasamento no ensino e na U10 U6, U19, U10, U11
prática de matemática através dos U28
jogos
As potencialidades do jogo: U13, U14, U17 U21 U14, U16, U2, U15,
aspectos lúdicos e pedagógicos U15 U21 U18, U22,
U28, U29,
U30
Insatisfação em relação ao U9 U8, U9, U12, U14 U7,U9, U3, U4,
processo ensino-aprendizagem U22 U15, U23, U13, U14,
da matemática U24, U25, U17, U19,
U27, U29, U27
U30
Resquícios de um ensino muitas U17 U8, U10, U20, U23 U13, U17 U21, U24,
vezes taxado de “tradicional” U19 U25
presentes na prática do professor
atual (o “tradicional” aqui deve ser
contextualizado a partir do tempo
T, de formação dos sujeitos da
pesquisa, que varia de 2 ≤ T ≥ 24)
O professor e sua relação U1, U7, U6 U2, U3 U1, U2, U1, U5,
conflituosa com a matemática, U11 U5, U8, U6, U7,
sua formação e sua própria U10, U11, U26, U32
prática U22
143

O jogo pelo ato de jogar U16 U11, U18 U17, U18 U20 U16
Material concreto: ênfase em seu U5 U2, U20 U10, U11 U26 U12, U31
uso na sala de aula
Critérios que o professor utiliza U12, U17 U15, U17 U12, U13, U12, U18 U20, U23
para escolher os jogos que levará U16, U22
para sala de aula

As Convergências

1ª Categoria: Formação falha: falta de embasamento no ensino e na prática de

matemática através dos jogos

Sujeito 1

Unidade 3: “[...] na formação acadêmica nós tivemos pouco, eh, só


seis meses, eh, com a metodologia de [...] matemática na Educação
Infantil, só Educação Infantil, eh, eu acho que foi pouco”.

Unidade 4: “A construção do número, eu me lembro que ela passou


eh, é algumas coisas assim, que ela foi falando pra gente que, que
seria interessante trabalhar.”

Unidade 10: Dentro dessa disciplina FTM da matemática como foi


esse encaminhamento, algum momento a professora citou a questão
do jogo? “[...] (longo período calada) “Alguma experiência? “Nuch,
nuch, não nenhuma experiência. (longo tempo calada).”

Sujeito 2

Unidade 21: “Olha eu gostaria de colocar sobre as estagiárias, [...] o


que eu percebo assim que essas meninas não estão vindo melhor
preparadas do que a gente. Eu acho que a escola, a faculdade não
prepara, como não preparou a gente também,” “[...] a gente também
não foi formada melhor pra gente trabalhar melhor essas coisas.”

Sujeito 3

Unidade 7: E você, lembra como foi encaminhado o trabalho com a


matemática em sua formação no magistério? “(tempo calada) eu
acho assim que era mais a nível de 2º grau e eu perdi aquela base,
né, eu não conseguia pegar aquela base, né. Então, eu acho que
essa base, já vem desde o primário mesmo.”

Unidade 8: Em termos de metodologia, vocês tiveram alguma coisa,


matemática especificamente? “(tempo calada) teve assim (tempo
144

calada) Não, daí uma coisa não entrou muita coisa não. É bem vago
mesmo.”

Sujeito 4

Unidade 3: “É e aí no magistério a minha formação na área de


Matemática também foi muito fraca, eh, eu tive um professor que era
assim muito fechado, e ele achava assim, que a gente tinha que
aprender, da forma como ele ensinava, que não havia outras
possibilidades de ensinar. Era daquela forma e pronto.”

Unidade 4: “E hoje eu vejo assim, que as faculdades a, a deixam


muito a desejar nessas áreas, principalmente na matemática. Se eu
for ver, na matemática, o que eu tive no curso de Pedagogia, muito
fraco, muito fraco.”

Unidade 6: “Então, na verdade, resumindo, a formação é fraca, eh,


eu acho que até é uma formação, eh, vamos dizer assim, nossa hoje,
de capacitação, se trabalha muito pouco a área da Matemática.”

Unidade 19: “Sabe, Edna, eu acho assim, que essa questão dos
jogos é muito difícil pra gente trabalhar em sala de aula, porque?
Primeiro momento, como a gente conversou, a gente não sabe atuar,
na nossa formação não tinha jogos.”

Unidade 28: E o que você acha que essas pessoas que não têm
esse compromisso, o que as levou a entrar para a área da educação
(docência)? “Isso eu senti quando estava na faculdade, Pedagogia é
o curso que tem menos tempo, são três anos só; é o curso mais
barato e infelizmente é visto como o curso mais fácil.”

Sujeito 5

Unidade 8: “Olha no magistério eu tive um aprofundamento maior,


dentro do curso de Pedagogia não, foi bem falho, nós não tivemos
nada, a não ser um pouco da teoria. Mas a prática nós não tivemos
mesmo. Eu acho que, pelo menos, eu posso falar do meu curso, né,
que a gente percebe que as faculdades, as universidades elas se
preocupam muito em trabalhar outras questões como: sociologia,
psicologia, que com certeza são fundamentais para a formação do
professor. Mas esquecem de trabalhar, ou não querem trabalhar
aquilo que é realmente a prática de uma professora, que são as
metodologias. Mas metodologias que sejam viáveis de trabalhar, né.“

Unidade 9: “Por isso eu não sou contra que estagiários hoje estejam
nas salas de aula. Porque elas começam a perceber a diferença
entre a teoria e a prática. Porque, por exemplo, a matemática se
fosse trabalhar dentro de uma Universidade, de uma faculdade, a
matemática é uma prática: a criação de jogos, né, que instrumentos
oportunizar, mas não se faz isso. A aptidão a essas metodologias
que aplicam isso é muito mais a teoria do que a prática. E a teoria
você pode abrir qualquer livro que você encontra a teoria. Daí elas
145

vem pra sala de aula, elas não conseguem associar essa teoria,
fazer essa aplicação dessa teoria na prática, né.”

Unidade 10: “[...] mesmo quem tem hoje a metodologia, nós temos
nas escolas vários materiais, mas a gente como professor, nessa
ânsia de cumprir conteúdos, sabe, de, de, de, de vencer os livros, a
gente acaba deixando de lado aquilo que é essencial que é esse
material concreto. Hoje se você for analisar quase todos não fazem
uso do material de contagem porque não sabem como utilizar,
porque não tivemos lá na nossa formação acadêmica”.

Unidade 11: “Porque não basta você dizer que você levou um
material concreto, jogos pra tua sala, se você não souber explorar,
né. E isso, e isso, na época que eu fiz magistério nós tivemos alguma
coisa na época. Mas era assim mais no livro, eu não me recordo
assim de materiais concretos que a gente tenha confeccionado no
magistério, pouquíssimos, raros, né, muito menos no curso de
Pedagogia, né. Então eu acho assim, muito interessante quando a
gente vê essas estagiárias que vem pras escolas, aplicar os estágios
delas, e elas vem, porém são poucas as que vem com uma proposta
de aplicação da matemática, por quê? Porque elas não tem
conhecimento de como trabalhar. E nem nós, os professores aqui, se
você for ver quantos que usam o material concreto são poucos, e os
que usam é assim, eh, aquela forma mais tradicional, a mais simples
possível, né.”

Compreensão Eidética das Convergências na Primeira Categoria

Nos discursos apresentados neste trabalho, os sujeitos revelaram que tiveram

poucas aulas de matemática. Além disso, não foram aulas suficientemente sólidas,

sendo manifestada a má formação que tiveram e o reflexo desta em seu trabalho

cotidiano, bem como na maneira como utilizam e como tratam o jogo. Não pôde ser

identificada uma base conceitual consistente, e muito menos preparo para trabalhar

com a matemática, o que se agrava ainda mais com os jogos. Como ressalta o S4, o

conhecimento era repassado como sendo algo pronto e acabado, sem haver

qualquer tentativa de discussão acerca de estratégias diferentes para o processo de

ensino e de aprendizagem. O S4 aborda ainda a inexistência de práticas

diferenciadas e metodologias viáveis no que se refere ao ensino, principalmente,

como menciona o S5, encaminhamentos adequados com materiais concretos. Nota-


146

se que esses sujeitos apenas obtiveram informações fragmentadas, que reproduzem

em seu trabalho em sala de aula.

Esse aspecto vago do ensino, enfatizado pelo S5, permite questionar porque

é que ainda permanecem, no currículo, disciplinas que “não propiciam

conhecimento”, como pontua o S5, a teoria vista não consegue se difundir em uma

prática, ou, ainda, porque persistem cursos de formação em moldes “obsoletos”.

Enquanto permanecer essa formação precária dos professores, somente será

possível esperar dos mesmos uma reprodução da precariedade do sistema, uma vez

que as deficiências no processo de ensino estão presentes e são visíveis em todos

os níveis de ensino.

2ª Categoria: As potencialidades do jogo: aspecto lúdico e pedagógico

Sujeito 1

Unidade 13: “Eu acho que o jogo, ele é um recurso lúdico, né. E
brincando eles, as crianças, já vão, vão gostando, eu acho que a
gente tem que despertar o gostar, pra depois estar encaminhando
mais a matemática.”

Unidade 14: Então você vai fazer a criança gostar, então ela vai estar
despertando o prazer, o gosto, através desse jogo. Então eu acredito
que assim que a gente vai conseguir fazer com que eles gostem da
matemática. [...] todo mundo falava da matemática como um bicho.”

Unidade 15: “Bom geralmente é, são em grupos, né. Pega alguns,


alguns jogos, né. As crianças sentadinhas em 4 ou 5, dependendo e
daí eles vão brincando, né. Já vai tá também trabalhando, né,
socialização, eh, eu trabalho em grupo, no individual eu não trabalhei
ainda, né. Mais em grupo mesmo (tempo calada).”

Sujeito 2

Unidade 17: “Com as crianças do apoio eu estou trabalhando


bastante aquele jogo do baralho, por exemplo. Assim, que eu acho
que é interessante. [...] desenvolve a agilidade, pensamento, o
raciocínio mais rápido, e trabalhando de fato a tabuada mesmo”.
147

Sujeito 3

Unidade 21: “Por grupos eu via conforme a dificuldade, tinha pra


multiplicação, tinha subtração, tinha adição, tinha não tem, né. Então
conforme os grupinhos, assim aqueles problemas eu levava.”

Sujeito 4

Unidade 14: “Achei interessante a questão de trocar as cores, porque


ali entra a questão da socialização, já a interação entre as crianças,
né. E a questão da partilha, porque assim, eles vão jogar, ah não eu
não vou trocar o meu, então tal. Então já vem toda aquela questão, a
construção, o número, quantidade, até a questão de verificar que tem
que estar, por exemplo 6 bolinhas 3 e 3, que é para encontrar o que
está igual, questão da visualização, a ocupação do espaço,
percepção, tudo, já trabalha tantas questões.”

Unidade 16: “[...] a questão da visualização pra criança com fichas de


cores diferentes, fica mais fácil pra ela entender, né. E a questão do
manuseio, [...] somente o colocar lá a o 10, o 5, 4, quanto que vale
isso, com as fichinhas fica mais fácil a percepção, o entendimento, a
troca.” Você acredita que deva ter um trabalho que anteceda o uso
das fichas? “Eu acho que você pode começar o trabalho direto com
as fichas, porque a criança tem condições de conhecer. Através das
fichas você pode estar relacionando com a questão dinheiro o
material.”

Unidade 21: “Eu acho que é por aí essa questão do jogo, até é uma
formação assim, não é o jogar pra aprender matemática, mas o jogar
para socializar, pra vivenciar, né.”

Sujeito 5

Unidade 2: “Eu comecei perceber que não tinha outra forma, a não
ser você trabalhar ela de uma forma lúdica, eh, também associada a
materiais concretos; e fazer com que a criança compreenda o
processo daquilo que ela está fazendo. Mas realmente foi como mãe
que comecei a descobrir como tem uma forma diferente de você
trabalhar a matemática, e eu comecei também ter o gosto e
despertar nela o gosto pela matemática, que até então ela não tinha,
né. E depois com os meus alunos, eh, eh, comecei a também ter pré-
escola, daí ali então, eu me encontrei realmente, né. Porque daí eu
pude perceber que a criança pequena ela já vem pra escola com um
conhecimento matemático. E cabe a nós professor, com o olho
clínico de professor, é despertar esse gosto. E como é que a gente
desperta esse gosto? É nas brincadeiras, porque a matemática está
presente em tudo na nossa vida.”

Unidade 15: “[...] a questão dos jogos, eu acho assim que uma das
melhores formas de trabalhar, porque é a forma lúdica. Que a criança
necessita disso. A gente não pode esquecer que o lúdico não está
associado a pré-escola, que o lúdico tem que estar presente em
148

todos os momentos. [...] Então, eu acho que ele é importantíssimo,


fundamental dentro de uma sala de aula. Mas é como eu coloquei
pra você levar um jogo pra sala de aula, você enquanto professor
você tem que ter domínio daquilo que você vai dar.”

Unidade 18: “Eu utilizo, na medida do possível eu estou sempre


utilizando. Até esses dias para reforçar, eu fiz a experiência do bingo,
e ali eu fui perceber que tinha crianças que eu acreditava que
realmente já tinham tomado conhecimento do número não
conseguiam, por exemplo, bater o bingo, porque pulou, porque não
conheciam o número. [...] Então isso serviu pra mim retomar o meu
trabalho [...].”

Unidade 22: “[...] você já imaginou a riqueza de um trabalho como


este para você trabalhar sucessor e antecessor, sem você estar
trabalhando aqueles exercícios rotineiros de você colocar o número
no quadro, pontilhados a frente e pontilhados depois, pra trabalhar
sucessor e antecessor. Aqui você vai estar dando a oportunidade da
criança construir o seu conhecimento, né. E com uma vantagem, de
que ela vai poder errar, né, e construir novamente, porque ela não
vai precisar apagar, que é uma coisa que elas não gostam.”

Unidade 28: “E ali dentro do jogo você pode trabalhar inúmeras


outras questões, por exemplo, até na formação social dele como
pessoa, o saber perder, né, o saber ganhar, eh, eh, o você ser
humilde de repente de pedir ajuda pro colega, você saber dividir com
o colega, e o jogo permite todas essas questões.”

Unidade 29: “Porque ele pode ter, você oportunizou ele a trabalhar
numa teoria, um enunciado, mas você fez ele vivenciar isto, e o jogo
permite isso.”

Unidade 30: “Então, o jogo permite não só o jogo pelo jogo, mas
permite você trabalhar outras questões importantíssimas, para
formação da personalidade dele, porque ele vai ser um adulto, de
repente mais tranqüilo, um adulto mais consciente, né. [...] Mas pra
isso você tem que ter um planejamento muito bem trilhado, né, você
tem que ter consciência que a tua sala vai ser um ambiente diferente,
mas que vai ser uma, um momento que você vai tar oportunizando,
da criança pra criança realmente crescer, né. Crescer, não só como
aluno, mas como pessoa. Daí o jogo permite isso mesmo, né. Que se
você for analisar quantas professoras trabalham o jogo, né
pouquíssimas.”

Compreensão Eidética das Convergências na Segunda Categoria

O jogo, conforme aborda o S1, é um recurso lúdico, e esse aspecto pode

contribuir no sentido de desmistificar a matemática naquilo que se refere a sua

dificuldade. Por meio do jogo, pode-se despertar o gosto, o prazer em aprender


149

matemática, visto que, segundo Huizinga (1990), o jogo é uma função da vida, e é

nele e por ele que a própria civilização surge e se desenvolve, logo o jogo é algo

inerente não só às crianças, mas a todos os seres humanos. O jogo também

possibilita a socialização, como ressalta Grando (1997), a criação e o cumprimento

de regras envolve o se relacionar com o outro que pensa, age e cria estratégias

diferenciadas, ou seja, a maioria dos jogos são realizados em grupo, no qual os

integrantes interagem entre si.

Quanto ao aspecto pedagógico propriamente dito, o jogo, segundo o S2,

desenvolve a agilidade, o pensamento, o raciocínio rápido, além de permitir que se

trabalhem conteúdos matemáticos específicos, como, por exemplo, a tabuada.

Salienta-se, ainda, que, conforme observa o S3, as dificuldades de aprendizagem

em matemática também podem ser trabalhadas através deles. O S4 destaca a

possibilidade de se desenvolver a percepção, a visualização, um melhor

entendimento, principalmente quando o jogo é associado a outros materiais

concretos (dinheiro etc). Além de todas essas questões, como aponta o S5, o jogo

possibilita a construção do conhecimento, no qual o erro é visto como algo natural

nesse processo de construção.

3ª Categoria: Insatisfação em relação processo ensino-aprendizagem da

matemática

Sujeito 1

Unidade 9: “[...] por muitos anos isso não foi trabalhado na Educação
Infantil. Acredito que nos últimos anos que começou-se a trabalhar
mais, eh, a mostrar né, que tem matemática como as outras matérias
também.”
150

Sujeito 2

Unidade 8: Como você a questão do ensino da matemática? “(longo


tempo calada) Bom, eu acho que a gente que deixa muito a desejar,
[...].”

Unidade 9: “Ih, se nós estamos colhendo aquilo que a gente tá


plantando por aí, a gente tá vendo os resultados. Eu não sei onde é
que a gente tá errando, eu acho que tem um punhado de coisas que
não está certa”.

Unidade 22: “E as condições que se dá pra gente, também é difícil.


Pois você vê, a gente trabalha quarenta horas, aí muita gente estuda
quatro horas, eu fiz isso uma vida inteira. Eu sempre dizia assim que
eu prejudicava meus alunos enquanto eu estava estudando. E na
época eu acabei prejudicando meus alunos, porque eu estava
estudando e eu não conseguia dar conta. Então essa sobrecarga do
professor também eu acho que dificulta.”

Sujeito 3

Unidade 12: “[...] mas o que falta pra gente é que a gente deveria ter
um tempo de fabricar todo esse material que tem, né, principalmente
no livro do Sarquis, né”. “Então você acaba indo atrás de outros
jogos que a gente conhece, utiliza, né. Mas eu acho que se a gente
tem, tivesse assim, sim tempo, de, de, de montar esses jogos, aí sim
facilitava”.

Unidade 14: “[...] olha é tanta coisa que a gente tem que dar conta,
que a gente acaba deixando coisas boas de lado”.

Sujeito 4

Unidade 7: “É como te falei Língua portuguesa em primeiro e a


Matemática em segundo plano. [...] Então, eu percebi assim, que a
Matemática estava em segundo plano, que não era trabalhada como
algo que faz parte do nosso dia-a-dia”.

Unidade 9: “Porque ainda no momento se deixa a Matemática em


segundo plano, sabe ainda a gente percebe isso, por que por mais
que se fale, por mais que se questione, ainda ela fica em segundo
plano, e você tem que estar aí”.

Unidade 15: “Você vê o quanto a gente deixa de trabalhar com os


jogos, com os nossos alunos, também pelo fato de estar fora da sala
de aula.”

Unidade 23: “Existem pessoas que não buscam conhecimento por


uma questão de comodismo, existem aquelas pessoas que não
buscam conhecimento porque acham que já sabem tudo, existem
aquelas pessoas que não buscam, eu falo não é que não buscam,
elas não conseguem se organizar para ir em busca do conhecimento,
151

porque tem filho, porque tem isso, porque tem aquilo, então assim,
diferentes e diferentes formas as pessoas não vão.”

Unidade 24: “[...] é difícil alguém perceber ou admitir que preciso


mudar. Isto requer uma reflexão sobre si mesma, e isto não é algo
simples ou fácil de se chegar. [...] Então o que é que é, diferentes
metodologias, diferentes formas de ensinar. É eu ver que o meu
aluno não tá aprendendo então eu vou ter que mudar”.

Unidade 25: “Pera aí aqui tem um jogo nessa página, você não tem
obrigação de saber este jogo, eu vou tentar aprender ele. Se eu não
conseguir, eu vou buscar alguém pra me ajudar, mas daí eu olho pro
jogo, mas isso daqui é muito difícil, ah, eu não vou fazer. Mas assim
se pra mim tá difícil imagina pro meu aluno, como que vai ficar o meu
aluno? Não, ele não vai entender, não então eu nem vou trabalhar.”
Unidade 27: “Então assim são inúmeras as questões que fazem com
que a gente muitas vezes em sala de aula, ou a gente, como
profissional deixa de ir buscar. Só que quando a gente deixa de
buscar, não somos nós que estamos perdendo, são os nossos
alunos. E aí entra o compromisso nosso como profissional”.

Unidade 29: “[...] vamos dizer aquela pessoa que você ouviu durante
três anos de Pedagogia, ela dizer que ela não queria trabalhar, que
estava fazendo por fazer, ela tá lá, e ela vai trabalhar como
professora. E você faz idéia de como vai ser o trabalho dela em sala
de aula (tempo calada). Isso, eu não vi uma, duas pessoas falando,
eu vi muitas e muitas pessoas falando. A educação é vista assim,
como a forma mais fácil de se ganhar dinheiro.”

Unidade 30: “Hoje, nós enquanto professores, não somos nada, bem
pelo contrário só xingam a gente. E ainda dizem assim, ah
funcionário público!! Só trabalha poucos dias por ano e ganha um
monte. Então, quer dizer que valorização que nós temos. Isso
também desmotiva muito, isto também faz com que o professor
chegue em sala de aula e pense, pera aí. Ele nem pensa, isso já está
incutido, ninguém me valoriza. Porque também eu vou me
preocupar?”

Sujeito 5

Unidade 3: “[...] você sabe que devido a ter pessoas diferentes, com
capacidades de aprendizagens diferentes, é preciso conhecer todas
as formas possíveis e a matemática é deixada um pouco de lado. Se
a gente perceber que ela é uma matéria normal como as outras, que
ela, é tão importante, talvez até mais, que as outras, porque
enquanto cidadão a criança precisa conhecer o dinheiro, os números,
né. Ela tem que ter uma visão de mundo dentro da matemática.”

Unidade 4: “Dentro de uma escola como você consegue fazer com a


que a matemática seja vivenciada. Claro que você precisa fazer o
registro, que ela precisa saber o traçado, mas tudo isto está
associado a outras questões”.
152

Unidade 13: “E olha enquanto nós professores tivermos uma visão,


de que simplesmente português é a matéria mais importante, e que a
matemática é uma disciplina que pode ser trabalhada a parte, nós
não estamos formando cidadãos, o que tanto pregamos que
queremos formar.”

Unidade 14: “Olha, nós, acho que já nós evoluímos muito, eu acho
que a gente, a gente teve uma caminhada assim, bastante grande,
quando dentro dos estudos dos PCN, a gente começou a repensar a
matemática de uma forma diferente. [...], a gente quando faz um
curso, por parte da SMED ou qualquer outro órgão, mesmo dentro da
escola, a gente recebe uma injeção de ânimo, né, a gente pensa
nossa eu posso fazer diferente realmente. Porque lá eles estão
mostrando uma forma diferente de trabalhar, estão de uma certa
forma mexendo com a nossa consciência enquanto professor. Então,
a gente progrediu muito em relação a matemática, mas acho também
que a gente estacionou. Então, ah, porque a gente recebe essa
injeção de ânimo e de repente a gente dá uma parada [...].”

Unidade 17: “Então eu acho assim que é uma das melhores formas
de se trabalhar, mas que nós professores, hoje, não estamos
trabalhando. Eu não sei, eu estou falando por mim, né, porque às
vezes nessa ânsia, de como coloquei antes de trabalhar todas outras
questões você deixa questões importantes [...]”.

Unidade 19: “Eu sei que estou falhando, mas, é com esta
preocupação realmente de você fazer com que a criança saia da 1ª
série lendo, escrevendo, tendo um conhecimento de número, você
deixa pra trás coisas fundamentais, que, por exemplo, são os jogos,
né. Poderia estar trabalhando questões importantíssimas ali dentro,
dentro de um jogo. Poderia estar explorando outros conteúdos
também”.

Unidade 27: “É como eu falei, a gente teve assim uma época ali que
a gente teve um ânimo maior pra se trabalhar. Hoje a gente ta
voltando lá ao tradicional, né. Mas é, e como eu sempre penso, e eu
sempre falo pras professoras assim, o que faz a diferença é a tua
vontade, enquanto professora, né. A tua sala, eh, de repente você
não consiga vencer todos os conteúdos até o final do ano, mas
aquilo que teus alunos saírem eles vão saber aplicar na prática”.

Compreensão Eidética das Convergências na Terceira Categoria

Nota-se que os professores encontram-se em uma situação de extrema

insatisfação em relação ao processo ensino-aprendizagem da matemática, como é

destacado pelo S1 e pelos S4 e S5, a questão da matemática ser deixada de lado

ou deixada para um segundo plano, bem como o fato da matemática não poder ser
153

vivenciada pelos alunos em seu cotidiano, ela é vista, como ressalta o S4, como

uma disciplina alheia ao currículo.

Inclusive, os professores estão insatisfeitos com sua própria prática

pedagógica. Percebem que existem coisas que não estão certas, mas não

conseguem focalizar, exatamente, o que estaria acarretando esta situação. Assim

como destaca o S4 essa percepção de que uma mudança é necessária, no que se

refere à sua prática, isso é algo bastante difícil. Acredita-se que essa percepção,

essa capacidade de auto avaliar-se, decorre de uma caminhada séria e de um

compromisso acerca do que se está fazendo.

Não se pode negar que a falta de tempo para planejar, o comodismo, a falta

de organização, de vontade, de motivação, de grupos de estudo e a sobrecarga que

pesa sobre o professor contribuem para que não se modifique a situação que pode

ser observado, hoje, no ensino. No entanto, é possível acreditar que essa situação

encontra-se relacionada, também, a outros motivos, indo além desses fatores.

4ª Categoria: Resquícios de um ensino muitas vezes taxado de “tradicional”

presentes na prática do professor atual (o “tradicional” aqui deve ser contextualizado

a partir do tempo T, de formação dos sujeitos da pesquisa, que varia de 2 ≤ T ≥ 24)

Sujeito 1

Unidade 17: E o jogo do dominó você leva desde o primeiro dia de


aula? “ Não, porque eles precisam ter alguns pré-requisitos antes,
[...].”

Sujeito 2

Unidade 8: “E o que se trabalhava na matemática era essas coisas


assim de problemas, eh, eh, as operações meca [...] mecânicas, né,
era uma coisa mecânica, sem jogos eu nunca lembro de ter [...],
algumas coisas dominó, algumas coisas de tabuada, com caixinhas
154

de fósforo, algumas coisas assim que me passa pela cabeça, senão


fora disso, não.”

Unidade 10: “[...] algumas vezes fico pensando a formação que eu


tive e o que eu sabia na quarta série, e o que os meus alunos sabem
hoje na quarta série. E o que me parece, mesmo naquela educação
tão, tão limitada, tão meu Deus, a gente acabava, não sei, sabendo
mais parece do que eles que estão na quarta série hoje. [...]Não sei
(espaço calada). Não sei onde que está o foco, qual é o foco”.

Unidade 19: “[...] ah professora, registrar não, porque daí eu não sei,
porque daí eu não consigo, porque se per... Daí dá pra perceber que
no jogo ele estava se saindo bem, mas na hora de sistematizar o que
ele estava fazendo ele tinha dificuldade, eles não queriam muito era
pensar mesmo. Daí o que é que e fiz, eu retomei com eles, mostrei
como que eles poderiam sistematizar no caderno”.

Sujeito 3

Unidade 20: “Aqui eu não trouxe, porque aqui eu tenho uma turma
bastante pesada, né. Então eu não trouxe aqui. Mas eles não tem
aquela paciência.” “Eu ia trazer os meus de casa, mas olha, é uma
turma assim, terrível, agora que eu estou conseguindo acalmar a
turma, pra trabalhar mais esse lado dos jogos mesmo. Que agora
que eu vi que estão sentando, e participando sem dar briga, sem,
eh... cuidar do material que eles tem aí. Agora que estou
conseguindo encaixar. Então daqui pra frente acredito que assim,
que que até nas férias eu estava pensando em construir, né alguns
jogos pra trabalhar, sim. Porque eu acho que agora, a partir do 3º
bimestre, a minha turma diminuiu, eles estão mais calmos; então
agora, eu vou poder colocar mais essa parte de jogo com eles.”

Unidade 23: Eu tenho um caça-tabuada, de repente você conhece.


“Eh, legal, pra trabalhar em forma de bingo a multiplicação”.Como
você encaminharia esta situação do jogo em sala? “Como? (longo
tempo calada)... eu não sei te dizer. De repente daria pra montar
problemas sobre as operações. “

Sujeito 4

Unidade 13: “[...] aqui seria mais uma questão de fixação. Da, do
conhecimento que já está dentro da criança, já foi concluído, né.
Uma questão pessoal.”

Unidade 17: Quando você leva jogos pra sala de aula você costuma
levar um só, ou diversos? “Quando, por exemplo, assim, se eu tenho
um objetivo único naquele momento, eu assim, no início, quando
assim se quero trabalhar algo que vamos dizer seja início de
trabalho, aí eu estarei usando um único material, mas depois que eu
dei a introdução, que eu trabalhei, eu gosto de diversificar, de
trabalhar com diversos tipos de jogos. [...] porque eu acho que
155

quanto mais a criança trabalha, mais as diferentes atividades, ela


constrói muito mais”.

Sujeito 5

Unidade 21: “[...] então primeiro vou ter que fazer uma sondagem,
então, que trabalhar pré-requisito pra se chegar a esse jogo, [...]
Então eu faria uma sondagem por exemplo de compor e decompor
os números a primeira forma, para depois chegar a este jogo, [...]
Mas se ser trabalhado pré-requisitos anteriores com certeza que ela
vai reconhecer.”

Unidade 24: “[...] só que ela também tem que ter uma referência no
caderno, alguma, ela tem que ter uma referência também, não é só o
concreto, né, porque ela vai ter que fazer o registro daquilo pra ver,
pra daí ela compreender isso, né, as duas formas, a teoria e a prática
[...]”.

Unidade 25: “[...] olha quando é que eu comecei a gostar do Sarquis.


Porque eu, eu detestava o Sarquis na 3ª série. Mas eh, mas é
porque eu não conseguia entender essa forma diferente de trabalhar
matemática. Primeiro porque já deu um susto em nós, porque não
havia resposta nenhuma. Daí, como professora, ele te deu uma
chamada pra você primeiro estudar, ter segurança daquilo que você
vai passar, pra você poder aplicar. E como eu me apaixonei agora?
Quando eu percebi qual foi o intuito dele, qual foi a visão que ele teve
da matemática pra criar um livro assim, né.”

Compreensão Eidética das Convergências na Quarta Categoria

Os resquícios de práticas tradicionais ainda vigoram na prática escolar, o que

se verifica por meio de fatores como, por exemplo, a exigência de pré-requisitos

excessivos para aprender determinados conteúdos, a sistematização destes, a

“necessidade” de os alunos permanecerem sentados, a montagem de problemas

padrões sobre as operações, entre outros.

A partir dessa rigidez de pensamento (crianças sentadas, quietas, mais

paciência por parte dos alunos), pode-se concluir que, para essa professora, até

mesmo em situações de jogos os alunos deverão ficar calados. Não que uma aula

de jogos tenha que ser uma grande algazarra, mas dificilmente ter-se-á uma sala de
156

aula totalmente silenciosa, uma vez que haverá a empolgação dos jogadores

(alunos), a interação e participação destes na discussão da situação de jogo.

Diante da dificuldade dos alunos, o professor demonstrou como estes

poderiam sistematizar, no caderno, o conteúdo trabalhado por meio dos jogos. Essa

situação também se repete com o S5. Assim, embora tendo sido utilizado o jogo, a

situação se transformou numa mera atividade de siga o modelo. Assim como o S4

destaca que o jogo contribui para fixar conteúdos que a criança já possui. Outro fato

é a quantidade de atividades, no caso do S4 a quantidade de jogos, que definem a

aprendizagem, o conhecimento. Esse é um cuidado que todos os professores devem

ter ao utilizar os jogos na sala de aula, para não castrar a riqueza pedagógica que a

situação de jogo pode proporcionar ao aluno.

5ª Categoria: O professor e sua relação conflituosa com a matemática, sua

formação e sua própria prática

Sujeito 1

Unidade 1: “[...] pra mim não é uma área, prefiro português, não é
uma área assim que me prende.”

Unidade 7: “Eu faço o curso Normal Superior em Educação Infantil,


então nós tivemos uma surpresa, assim muitas de nós tivemos uma
surpresa, quando nós pegamos a grade, né, e vimos que teria uma
matéria FTM da Matemática (Fundamentos Teóricos e Metodológicos
da Matemática). Quando a professora chegou apre..., se apresentou
inclusive qual disciplina que ela iria trabalhar, muitas já ficaram assim
como o cabelinho arrepiado, porque matemática na Educação
Infantil, e logo falaram assim, mas como vai ser isso? Como que nós
vamos trabalhar matemática com berçário, com o maternal, ou essa
matemática vai ser aquelas contas enormes, lá, que a gente sofreu
tanto, né, foi isso que ela passou primeiro.”

Unidade 11: “Eu acho que a gente eh, nós trabalhamos muito a
matemática, porque a matemática tá, em tudo o que você vai fazer
tem matemática, mesmo eh, não em números né, às vezes não em
números, mas você tá lá, você já pode oh, quantas palavras, eh
quantas palavras têm, quantas letras têm. Então a matemática está
157

presente em todos os conteúdos, não, não existe só matemática


separada, ela está em tudo.”

Sujeito 2

Unidade 6: “No meu magistério eu não me lembro muita coisa


específica da matemática, olha eu me lembro de algumas coisas,
mas normalmente eu simpatizava muito mais a língua portuguesa do
que a matemática”.

Sujeito 3

Unidade 2: “[...], mas da matemática eu gostava. Apesar de eu achar


que ela era supercomplicada pra minha cabeça, eu lembro que o
pessoal explicava e tal, e eu fui começando a gostar.”

Unidade 3: “E eu parei, eu tive muitas paradas e essas minhas


paradas era por causa da matemática, sabe”.

Sujeito 4

Unidade 1: “[...] eh são muito poucas, assim as lembranças que eu


tenho. E mais forte as, as em Língua portuguesa, porque na verdade
eu me adapto mais a essa área. Matemática, sempre assim, como a
gente até cresce como um bicho de sete cabeças em cima da
Matemática”.

Unidade 2: “[...] a Matemática está presente em todos os momentos,


[...] mas o que que acontece é tão difícil pra você aprender e ensinar
matemática, que é por isso, a forma como foi passada pra mim foi
complicada.”

Unidade 5: “É eu vejo pela assim, a minha, a, a minha maior assim


referência de escola é na alfabetização, e na alfabetização a gente
só pensa na leitura e na escrita. E a gente esquece dos ditos dos
números.”

Unidade 8: “Mas essa nova, eh,... esse novo trabalho, principalmente


em cima do Sarquis, a gente está tendo que estudar mais, pensar
mais e principalmente planejar mais. Aí o ponto chave.”

Unidade 10: “Tem, a dificuldade de entendimento, porque, a


Matemática sempre foi um bicho de sete cabeças. Porque ela foi
ensinada de uma forma que ela não é relacionada com aquilo que
você vive, você usa.”

Unidade 11: “[...] como já coloquei, a resistência, né, a questão da


má formação, e também a forma com que o nosso aluno vem pra
escola, eles já trazem incutido na cabeça, pelo jeito, pelos pais, esse
medo da matemática. Eles trazem uma resistência assim alguns pais
chegam assim, nossa, oh, ele está bem em português, em
158

matemática tá igual eu, ele não aprende, não tem jeito, eu não
aprendi, ele também não aprende. Então essa já é uma questão
cultural, né. [...] eu acho que estamos no caminho para que
aconteçam essas mudanças.”

Unidade 22: “[...] falou comigo na área de matemática eu sempre tive


mais dificuldade, mais na área de matemática. Eu sempre tive que
planejar mais, eu sempre tive que pensar mais e eu acho que é por
isso mesmo que a gente deixa em segundo plano.”

Sujeito 5

Unidade 1: “[...] na minha vida enquanto aluna, eu sempre tive muita


dificuldade na matemática. Porque a gente vem de uma escola
tradicional, onde a matemática era trabalhada só dentro dos livros,
né, a gente não era apresentado nada de material concreto. Eu fui
começar a descobrir o gosto pela matemática na verdade, quando a
minha filha, a mais velha, estava na segunda série e eu tive que
começar ajudar ela de uma forma diferente, porque ela também tinha
dificuldade.”

Unidade 5: “[...] no início eu trabalhava matemática pela matemática,


né. Eu acho assim que quando você vai assumindo uma
responsabilidade dentro de uma sala de aula, e com a criança, você
tem que preparar sua criança não só para ir para uma série seguinte,
mas você tem que preparar essa criança para ser um cidadão, e isso
não é uma coisa que você aprende de um dia para o outro, é uma
questão de maturidade profissional também”.

Unidade 6: “Então não foi uma coisa assim de imediato, na, na minha
carreira profissional, foi assim, eh, fazendo sempre uma análise
enquanto professor, né. Porque a gente enquanto professor, a gente
tem uma preocupação muito grande, dentro de conseguir na pré-
escola, a linguagem oral. E a gente perde de vista os outros
conteúdos que são importatíssimos.”

Unidade 7: “Agora que vai fazer a diferença é quando você olhar pro
seu aluno e ter a consciência tranqüila que aquilo que você fez por
ele, talvez, talvez, não seja assim de grande quantidade, mas sim de
grande qualidade, né. E a matemática permite isso é de você
questionar de fazer com que a criança pense e repense, e é uma, e é
uma disciplina que ela é exata, né, então que existem inúmeros
meios, mas que o objetivo tem que ser único.”

Unidade 26: “E é que nem, isso a gente sempre ouvia, né, que o
professor pra gostar do Sarquis, eh, ele, ele, tinha que começar lá da
1ª série. E realmente daqui uns anos você vai ver como que você vai
mudar essa visão em relação a esse livro, porque as crianças, estão
numa caminhada, eles estão numa construção da matemática,
diferente de tudo aquilo que nós tínhamos, [...]”.

Unidade 32: “[...] olha só queria dizer que, assim, é importante que se
tenha pessoas como você, que estejam preocupada com essa
159

disciplina, né. Porque a matemática ainda infelizmente é uma


disciplina que assusta muito o aluno e o professor. Mas que se a
gente for ver que a matemática ela é uma lógica, ela é uma matéria
exata, né, a gente pode, que a gente pode criar através dela, a gente
pode viajar com a criança num mundo diferente de criação, de a
gente poder fazer a diferença com o nosso aluno [...]”.

Compreensão Eidética das Convergências na Quinta Categoria

A Matemática ainda é vista como uma disciplina bastante complicada,

penosa, um bicho de sete cabeças, conforme expõe o S5, a qual assusta alunos e

professores, e, como comenta o S1, resume-se à resolução de contas enormes. Um

fator relevante é que a matemática, como salienta o S3, já foi motivo de evasão

escolar, ou melhor, não só foi, como ainda continua sendo motivo para alguns

alunos desistirem da escola.

Na fala de S1, S2 e S4, está evidente que a Matemática não se encontra na

preferência das disciplinas por parte dos professores. É possível afirmar que isso é

comum nas escolas hoje, assim como foi em tempos passados, pois essa vaga

lembrança dos sujeitos em relação ao que aprenderam de matemática em sua

formação reforça ainda mais que os professores, em sua maioria, não gostam da

matemática. Grande parte dos professores que atuam nas primeiras séries do

Ensino Fundamental prefere trabalhar com outras disciplinas. Talvez esse seja um

dos motivos pelos quais a Matemática cause tanto problemas nas escolas.

Verifica-se que o S1 reforça que a Matemática está presente em todos os

conteúdos, o que demonstra uma grande contradição, pois também assevera que

quando soube que haveria matemática no curso, houve sentimento de angústia na

maioria dos freqüentadores do curso. Enfim, os professores ainda apresentam certas

limitações em relação à Matemática. Porém, a percepção do S4 de que talvez o

ponto-chave esteja em um estudo maior e em um planejamento melhor da


160

matemática é um pequeno começo, que poderá contribuir para reverter essa

situação que permeia a educação atualmente.

6ª Categoria: O jogo pelo ato de jogar

Sujeito 1

Unidade 16: “Daí eu vou atendendo os grupos individualmente, assim


nos grupos. Passo num, alguns já sabem jogar, porque aprenderam
em casa, porque fazem trabalhos e aí eles vão jogando e eu vou
passando.”

Sujeito 2

Unidade 11: “[...] como eu trabalho com a sala de apoio também, é


uma coisa que eu já venho utilizando os jogos. Eu percebo que
mesmo trabalhando jogos, se você não sistematizar, depois, não
registra, eh, o jogo não pode ser o jogo pelo jogo”.

Unidade 18: “Só que daí o jogo não pode ficar pelo jogo, então essa
é a grande missão“.

Sujeito 3

Unidade 17: Dominó sim. Ah, a gente junta os grupinhos, né, aí as


crianças vão jogando... Tem criança que não conhece, não sabe,...
Não sabia pelas cores, pelo número, né. Então, aí eu fui jogando
com eles! E aí eles foram entendendo o jogo.” O que você explora no
dominó? “(tempo calada) adição.”

Unidade 18: Agora esses dias, eu dei os jogos, os jogos todos pra
eles, lá eu tenho, na sala e deixei eles brincar sozinhos. E aí eu vi
que,... não precisava a professora estar jogando junto com eles,
apesar que alguns chamavam vamos jogar aqui, vamos jogar ali e eu
não fui. Fui um pouquinho num, um pouquinho no outro e depois,
depois dava um jeitinho de sair, né.”

Sujeito 4

Unidade 20: “O erro que a gente faz muitas vezes é pegar por
exemplo, todos os jogos agora que eu tenho aqui na minha frente, eu
pegar ir lá pra 4ª série, dividir a sala em grupos e dá os jogos, oh
pessoal joguem. Não é por aí, eu acho assim, a gente muitas vezes
tem aquela velha ainda coisa na cabeça assim, ah, eu sei, eles
também vão saber. E não é por aí, ele precisa aprender, e eu sou
161

mediadora dessa aprendizagem, eu preciso estar interagindo com


ele. Em alguns momentos é necessário ensinar mesmo pra ele.”

Sujeito 5

Unidade 16: “Quem é que não gosta de, de um jogo, por exemplo,
né. E se não gosta é porque não aprendeu como manuseá-lo [...]”.

Compreensão Eidética das Convergências na Sexta Categoria

Percebe-se que tentativas de uso de jogos em sala de aula são feitas. Isto

pode ser constatado nos discursos dos sujeitos. Todavia, a forma como as situações

de jogos vêm sendo encaminhadas resulta em um ato de simples jogar, não

havendo um encaminhamento que possa desembocar em uma prática pedagógica

que permita desencadear a aprendizagem. Como arguementam o S4 e o S5,

precisa-se ensinar o aluno a manusear o jogo. Não que isto não seja válido, pois,

como se percebe no discurso do S1, o jogo encaminhado desta maneira permite a

socialização das crianças, à medida que jogam em pequenos grupos. Isso para a

sociedade em que se vive hoje é preponderante. Cada vez mais se verifica a

necessidade do trabalho em grupo nas escolas, nas empresas, nas comunidades

etc.

O S2 pontua que, para que não ocorra a utilização do jogo pelo jogo, há a

necessidade de se sistematizar a situação. Não obstante, pondera que não é

somente a sistematização que vai garantir a aprendizagem a partir do jogo. A

necessidade de sistematizar é algo bem presente do ensino tradicional, no qual tudo

deve ser registrado, pois, nesse caso, a sistematização sugerida refere-se ao

registro do algoritmo. Conforme exposto pelo S2, “o jogo não pode ficar pelo jogo,

então essa é a grande missão”. A missão, aqui, seria do professor, sendo a ele
162

incumbida a tarefa de não deixar que o jogo se transforme em um simples ato de

jogar.

7ª Categoria: Material concreto: ênfase em seu uso na sala de aula

Sujeito 1

Unidade 5: “Algumas, eh, na verdade metodologias eh, contar os


alunos, deixar, mostrar pra eles realmente, pegar, usar material
concreto, isso que ela ressaltou bastante. Eh, questões de trabalhar
com o corpo, a matemática com o corpo, medidas, peso”.

Sujeito 2

Unidade 2: “[...] e a noite também, nós tínhamos tempo pra fazer


aquelas atividades e montar aquela, aquela coisarada necessária
que a gente monta para fazer o magistério”.

Unidade 20: “Não trabalhei o cartaz de prega, porque eu até acho


legal o cartaz de pregas, eu acho legal, mas quando você, eu
trabalho com o dinheiro a base dez eu acho que é melhor, porque o
dinheiro é uma coisa que eles estão mexendo, estão vivenciando, é
melhor que o palito. E daí muitas vezes eu faço também assim o
dinheiro com o material dourado, também dá pra fazer uma relação.”

Sujeito 3

Unidade 10: Você lembra assim de algo que você aprendeu na


pedagogia que hoje você leva para a sala de aula? “O material
concreto. (calada)”. “Eh (calada) tem os jogos né, tem os jogos. Na
minha época não tinha os jogos como tem hoje, né jogos... eh jogos”.

Unidade 11: “Eu acho que hoje tem mais cobrança, né para os
professores em sala de aula, se a gente não trabalha com
matemática com o concreto, eh é difícil pra gente, né. Porque eu
acho assim, hoje em dia se as crianças não tem pai e mãe, como a
gente tinha antigamente. Cobrava mais, ajudava, colaborava”.

Sujeito 4

Unidade 26: “[...] quando a gente fala em material concreto é canudo,


tampinha, eh, o que mais, sementes, seja lá o que for. Mas, material
concreto é tudo o que pode pegar, então o que é que é são jogos,
são brincadeiras, é o faz-de-conta, e tudo o mais; e daí tudo é
material pra pré e primeira.”
163

Sujeito 5

Unidade 12: “[...] você tem que oferecer uma oportunidade, uma
visão diferente de trabalhar a matemática, mas você tem que ter
conhecimento, enquanto professor, né, de e passar pro teu aluno
como fazer o uso disso, né. Porque às vezes não é falta de vontade,
é não saber realmente. Se hoje você questionar a maioria dos
professores de 1ª a 4ª do município, como se trabalhar materiais
simples assim, né, de como você pode explorar o material dourado,
são poucos os que vão assim te dar encaminhamentos diferentes”.

Unidade 31: “Mas eu acho que a nossa escola, por exemplo, nos
temos vários jogos aqui, nós temos, nós temos jogos ali, esses dias,
o professor falou temos jogos que nós podemos trabalhar
praticamente em dupla com o material dourado, de tantas caixinhas
que nós temos [...].”

Compreensão Eidética das Convergências na Sétima Categoria

É difícil avaliar até que ponto é válida a cobrança em relação ao uso do

material concreto em sala de aula. De acordo com Fiorentini e Miorim (2004),

“nenhum material é válido por si só”, ou seja, como assinala o S5, as escolas

dispõem de vários materiais e jogos, porém o que realmente vai fazer a diferença no

processo ensino-aprendizagem é o encaminhamento acerca desses materiais; o

professor, enquanto mediador desse processo, é o responsável pelo

encaminhamento desse trabalho. No entanto, tanta ênfase é dada a esse aspecto,

mas observando-se, na prática, o material não é usado adequadamente. É possível

visualizar tentativas esporádicas relacionadas à utilização de material concreto, o

que pode ser observado na prática do S2. Para o S3, o jogo é material concreto, e o

S4 também define como material concreto a brincadeira, o faz-de-conta, enfim, tudo

o que se pode manusear.

Para o S5, material concreto simples seria o material dourado, o qual poucos

professores sabem explorar adequadamente.


164

8ª Categoria: Critérios que o professor utiliza para escolher os jogos que levará para

sala de aula

Sujeito 1

Unidade 12: “Materiais, joguinhos confeccionados por mim mesma,


joguinhos de dominó, joguinho de tampinha, com sucatas, ah a gente
faz aí alguns joguinhos. Eh,... (tempo calada).”

Unidade 17: E o jogo do dominó você leva desde o primeiro dia de


aula? “ Não, porque eles precisam ter alguns pré-requisitos antes
[...].”

Sujeito 2

Unidade 15: “Eu posso escolher um que eu conheço?”

Unidade 17: “Com as crianças do apoio eu estou trabalhando


bastante aquele jogo do baralho, por exemplo. Assim, que eu acho
que é interessante. [...] desenvolve a agilidade, pensamento, o
raciocínio mais rápido, e trabalhando de fato a tabuada mesmo”.

Sujeito 3

Unidade 12: “[...] mas o que falta pra gente é que a gente deveria ter
um tempo de fabricar todo esse material que tem, né, principalmente
no livro do Sarquis, né”. “Então você acaba indo atrás de outros
jogos que a gente conhece, utiliza, né. Mas eu acho que se a gente
tem, tivesse assim, sim tempo, de,de, de montar esses jogos, aí sim
facilitava”.

Unidade 13: “Eu gosto de jogo. Mas assim eu tenho que entender
senão tenho pavor de jogo. Eu nem levo pras crianças, que nem
assim, por exemplo, os meus assim lá gostam muito, desses...
(tempo calada) [...] do dominó, ah como é que chama aquele
joguinho...(tempo calada), esqueci agora, tem um joguinho lá que vai
levantando até que você vai lembrar, vai levantando as pecinhas,
tem que achar os parzinhos, como é que chama?” Jogo da memória.

Unidade 16: “É, o que eu estou te falando, esses jogos do Sarquis eu


não fiz”.

Unidade 22: “Aqueles lá eles já nem gostam desses jogos, né. Eles
já falam esse daí eu já sei, esse daí eu já sei, não quero mais. E daí
eles já vão atrás de jogos mais, mais... que tenham mais desafiantes
pra eles”.
165

Sujeito 4

Unidade 12: “Eu vou te falar daqueles que eu conheço mais”.

Unidade 18: Você levaria todos esses jogos pra sala de aula de uma
só vez? “Sim, desde que as crianças conhecessem eles. [...] posso
fazer diferentes grupos na sala de aula e cada grupo estar
trabalhando com um jogo diferente. A partir do momento que eles
tenham conhecimento dos jogos, né. E aí também eu posso estar
passando, trabalhando com eles individual, a questão da leitura das
regras, a interpretação das regras que é muito importante também.”

Sujeito 5

Unidade 20: Diante de situações de jogos como estas (Caça-


tabuada, Troca cartela, Mais próximo possível, Bingo da tabuada,
Avançando com o resto, Jogo das Trocas), como você encaminharia
este trabalho? “Eu não conheço estes jogos ali.”

Unidade 23: “Então, como é que eu fiz, por que, eu não dei essas
fichas, mas eu dei, por exemplo, o material dourado, por exemplo,
para trabalhar [...]”.

Compreensão Eidética das Convergências na Oitava Categoria

As convergências, nessa categoria, resumem, em sua essência, que cada

jogo é escolhido a partir do conhecimento do professor (jogos que ele conhece), o

que, na fala do S5 demonstra o quanto são restritos. Por isso, como é realçado pelo

S3, os jogos propostos no livro didático (Sarquis) não são explorados. Também é

possível perceber que os jogos mais conhecidos são o dominó e o jogo da memória.

Importa destacar que, embora sejam bem conhecidos, poderiam ser mais bem

explorados na prática escolar.

Sabe-se que vários critérios podem contribuir na escolha de um jogo, dentre

os quais ressalta-se: o jogo atingir o objetivo proposto pelo professor; não tornar o

jogo algo obrigatório; escolher jogos em que o fator sorte não interfira nas jogadas,

permitindo que vença aquele que descobrir as melhores estratégias; utilizar

atividades que envolvam dois ou mais alunos, para oportunizar a interação social;
166

estabelecer regras que podem ou não ser modificadas no decorrer de uma rodada;

trabalhar a frustração pela derrota na criança, no sentido de minimizá-la; estudar o

jogo antes de aplicá-lo (o que só é possível, jogando) e, principalmente, o jogo deve

ser algo desafiador para o aluno. Como pode ser percebido na unidade 22 de S3, os

alunos não têm interesse por algo que não os desafia.

Merece ser mencionado, ainda, o fator que se relaciona à necessidade de

pré-requisitos, citado por S1, percebendo-se que, a partir daí, os jogos não são

utilizados no sentido de introduzir um conteúdo, mas como uma prática baseada no

reforço ou fixação de determinados conteúdos.


5

O JOGO EM PERSPECTIVA PARA A PRÁTICA EDUCATIVA

Para os professores entrevistados, é notório que a formação acadêmica e/ou

continuada é bastante falha, tanto no que se refere às discussões da disciplina de

matemática quanto aos encaminhamentos acerca dessa disciplina, principalmente

na questão dos jogos. Os próprios professores têm a percepção clara de que essa

precariedade na formação continua perdurando nos diferentes cursos de formação

de professores (Magistério, Pedagogia, Normal Superior), bem como as deficiências

no processo de ensino vigoram nos diferentes níveis de ensino. A insatisfação com

sua própria prática pedagógica revela o dilema vivido nas questões que permeiam a

educação e, especificamente, na área da matemática. Essa insatisfação gera uma

espécie de ‘fuga’ quando os professores relegam para um segundo plano as

questões relativas àquela disciplina.

Essa ‘fuga’, bem como a relação de apatia por ela, como revelado nos

discursos, pode ser decorrente da concepção generalizada que se tem dela.

Algumas das concepções e das crenças dos professores sobre o ensino e a

aprendizagem da Matemática decorrem de uma visão partilhada, quase ‘socializada’

e que acaba por influir no modo como os professores a ensinam.

Os objetivos que os professores consideram necessário serem atingidos

pelos seus alunos, o papel que desempenham enquanto intervenientes no processo

de ensino-aprendizagem; o papel que consideram caber aos alunos nesse mesmo


168

processo; as tarefas que indicam como adequadas à sala de aula; as abordagens

que defendem para o ensino e as estratégias que aplicam, porque lhes surgem

como relevantes; os procedimentos matemáticos a que recorrem para ensinarem e

os resultados obtidos são alguns dos componentes que emergem do nomos dos

discursos e que acabam por revelar a essência do processo de ensino-

aprendizagem da Matemática.

Como alerta Carvalho (1991), não se pode desejar que a formação de

professores melhore investindo-se apenas em reciclagens, faz-se necessário

repensar as faculdades, que a todo ano abastecem o mercado com um novo

contingente de “mal-formados”. Mais relevante que saber qual o ponto mais crítico

da precariedade de ensino é ter-se clareza que um determinado aspecto requer a

solução de outros.

Da compreensão nomotética dos cinco sujeitos entrevistados, pôde-se

depreender uma vivência quase nula de situações de jogos no âmbito escolar. Pelas

entrevistas realizadas e pelas essencialidades emersas do conjunto dos discursos,

constata-se que as situações de jogos são esporádicas, bem como os próprios jogos

(quando levados para a sala de aula). As ações ‘pedagógicas’ são sempre restritas,

uma vez que não são conhecidas ou arquitetadas diferentes possibilidades de

exploração que o jogo permite.

Os jogos como materiais concretos, como entes potenciais de um processo

que nasce na relação entre diferentes atores (professores e alunos), conteúdos,

ludicidade e aprendizagem efetiva são utilizados muito esporadicamente no contexto

escolar. O professor nem sempre percebe claramente as razões fundamentais pelas

quais os materiais ou jogos são importantes e necessários para o ensino-

aprendizagem da matemática, e em que momento usá-los.


169

Verifica-se, na fala dos professores, que existe uma crença de que o processo

de construção, de elaboração de um jogo e de suas regras pode, muitas vezes, ser

mais produtivo do que o ato de jogar em si, porém, o tempo disponível para

realização desse tipo de atividade é curto. O sistema livresco 15 , invariavelmente

adotado nas escolas, contribui para que não se realize esse tipo de atividade, isto é,

a ansiedade de integralizar os conteúdos do livro leva os professores a seguir

somente o que lhes é proposto no próprio livro. Digno de nota é o livro adotado pelo

município de Toledo, PR, intitulado Sarquis (1998), encontrar-se engavetado na

maioria das escolas.

Como o jogo é um recurso lúdico, que possibilita a exploração de conteúdos

matemáticos, que oportuniza a socialização e uma nova postura do aluno diante da

Matemática, ele não esgota em si uma atividade meramente lúdica. Cabe ao

professor encaminhar as diferentes e complexas situações de jogos, de modo a

buscar uma prática que resulte em uma aprendizagem satisfatória, significativa,

contextual, mas que se projete no espaço e no tempo.

Nessa perspectiva, antes de optar por um material concreto, ou um jogo

específico, seria necessário que houvesse uma reflexão sobre a proposta político-

pedagógica da escola, sobre uma mediação acerca da matemática e sua

importância para o aluno, para a sua vivência e para as interconexões com as coisas

que dão sentido à vida. Sabe-se que nenhum material é válido por si só. Segundo

Forentini e Miorim (2004), a simples introdução de jogos ou atividades no ensino da

15
O termo ‘livresco’ foi utilizado no sentido de um ensino pautado exclusivamente no livro didático, ou
seja, o livro, nesse contexto, não se apresenta como material de apoio ao professor, mas sim como
‘guia de trabalho’. A preocupação maior do professor acaba sendo aquela em que os alunos
terminem as atividades do livro, sem uma preocupação mais elaborada se os conteúdos nele
presentes foram assimilados e, principalmente, acomodados pela estrutura conceptual dos alunos.
170

Matemática não garante uma melhor aprendizagem dessa disciplina; uma vez que

ao aluno deve ser propiciado um aprender significativo do qual ele participe,

compreendendo, reelaborando o seu saber, e superando, assim, sua visão ingênua,

fragmentada e parcial da realidade.

Enfim, observa-se, por meio de alguns discursos, que há nas aulas de

Matemática uma prática de jogos, principalmente com alunos das séries iniciais do

Ensino Fundamental. Entretanto, essa atividade é desenvolvida como um fim em si

mesmo, ou seja, “o jogo pelo jogo”. Não se estabelecem reflexões, registros, pré-

formalizações ou sistematizações das estruturas matemáticas subjacentes à ação no

jogo. Isto é, não se estabelece um resgate de ações desencadeadas no jogo, como

um processo de leitura, construção e elaboração de estratégias. Segundo Grando

(1997, p.14), “joga-se sem a preocupação e elaboração de estratégias para vencer.

Trata-se apenas de compreensão e cumprimento das regras, com elaboração

informal e espontânea de estratégias, e sem muita contribuição para o processo

ensino-aprendizagem”.

Apesar de todas suas potencialidades, “[...] a idéia [dos jogos] será sempre

considerá-los como outra possibilidade de exercitar ou estimular a construção de

conceitos e noções também exigidos para a realização de tarefas escolares”

(PETTY, 1995, p.11).

A inserção de jogos no contexto de ensino-aprendizagem implica na adoção

de uma reflexão e de uma prática dos professores. Ao assumir uma proposta de

trabalho com jogos, o professor deve assumi-la como uma opção metodológica,

prevista pelo seu plano de ensino, vinculada a uma concepção coerente presente no

plano escolar, sem, no entanto, cair na armadilha do conteudismo e da linearidade

de um conhecimento que não se edifica.


171

Acredita-se, enfim, com base em cada unidade significativa emersa de cada

um dos discursos dos professores entrevistados e do nomos estruturado, que a

inserção de jogos no processo ensino-aprendizagem da Matemática pode se

constituir como uma proposta ‘diferenciada’, mas que não se transforme em um

apêndice curioso, ilustrativo e, por conseguinte, ignorado. Para tanto, como prevê

Grando (1997), seria necessário criar espaços lúdicos como espaços de

aprendizagem nas escolas.

O presente trabalho, distante de uma conclusão, buscou resgatar vozes de

diálogos ausentes no espaço escolar. Procurou, essencialmente, na emersão das

dúvidas, dos anseios não realizados e da frustração que permeia a prática docente,

resgatar elementos da potencialidade do lúdico nas escolas, bem como entender

como essa potencialidade poderia alterar o processo de ensino-aprendizagem de

Matemática.
REFERÊNCIAS

ALMEIDA, P. N. Educação lúdica: técnicas e jogos pedagógicos. 9.ed. São Paulo:


Loyola,1998.

BELLO, A. A. A fenomenologia do ser humano: traços de uma filosofia no


feminino. São Paulo: Edusc, 2000.

______ . Fenomenologia e ciências humanas. São Paulo: Edusc, 2004.

BICUDO, M. A.V. Fenomenologia: confronto e avanços. São Paulo: Cortez, 2000.

______ . Pesquisa em educação matemática: concepções e perspectivas. São


Paulo: Unesp, 1999.

BICUDO, M. A V.; GARNICA, A J. V. M. Filosofia da educação matemática. Belo


Horizonte: Autêntica, 2001.

BORIN, J. Jogos e resolução de problemas: uma estratégia para as aulas de


matemática. São Paulo: IME-USP, 1996.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Fundamental – Matemática.


Brasilia, DF: Secretaria de Educação Fundamental – MEC/SEF, 1998.

BRASIL. Ministério da Educação. Programa Nacional do Livro Didático: histórico e


perspectivas. Brasília, DF: MEC, 2004.

BROUGÈRE, G. Jogo e educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.


173

CAILLOIS, R. Os jogos e os homens: a máscara e a vertigem. Trad. José Garcez


Palha. Lisboa, Portugal: Cotovia, 1990.

CARRAHER, T. N. Na vida dez na escola zero. São Paulo: Cortez, 1988.

CARVALHO, W. L. P. Uma aproximação à compreensão do ensino de ciências,


através de uma análise fenomenológica. Cadernos da Sociedade de Estudos e
Pesquisa Qualitativos, São Paulo: SEPQ, v,3, n.3, p. 29-46, 1991.

CHAUTEAU, J. O jogo e a criança. Trad. Guido de Almeida. São Paulo: Summus


Editorial, 1987.

D’AMBRÓSIO, U. Transdisciplinaridade. São Paulo: Palas Athena, 2001.

D’AMBRÓSIO, B. S. Como ensinar matemática hoje? Temas e Debates, Brasília,


DF: SBEM, ano 2, n.2, p.15-19, 1989.

______ . Formação de professores de matemática para o século XXI: o grande


desafio. Proposições, Campinas, v.4, n.1, p. 35-41, mar. 1993.

DARTIGUES, A. O que é a fenomenologia? Trad. Maria José J. G. Almeida. Rio de


Janeiro: Eldorado Tijuca, 1973.

ERNEST, P. The impact of beliefs on the teaching of mathematics. In: ERNEST, P.


(Ed.). Mathematics teaching: the state of the art. 2.ed. London: Falmer Press, 1989.
p.249-254.

ESPÓSITO, V. H. C. A escola: um enfoque fenomenológico. São Paulo: Escuta,


1993.

FIORENTINI, D. Alguns modos de ver e conceber o ensino de matemática no Brasil.


Zetetiké2,Campinas: Unicamp, ano 3, n.4, p.1-37, 1995.
174

FIORENTINI, D.; MIORIM, M. A. Uma reflexão sobre o uso de materiais concretos e


jogos no ensino da matemática. Boletim SBEM, São Paulo, ano 4, n.7, 2004.

FRANÇA, C. Psicologia fenomenológica: uma das maneiras de se fazer. São


Paulo: Editora da Unicamp, 1989.

GARNICA, A V. M. Algumas notas sobre pesquisa qualitativa e fenomenologia.


Interface – Comunicação, Saúde, Educação, Rio Claro, v.1, n.1, p.109-119,
agosto, 1997.

GILES, T. R. Introdução à filosofia. São Paulo: EPU: Ed. da Universidade de São


Paulo, 1979.

GIORGI, A. Qualitative research in psychology: proceedings os the international


association for qualitative research in social science. Pittsburgh: Duquesne University
Press, 1986.

GRANDO, R. C. O jogo e suas possibilidades metodológicas no processo


ensino-aprendizagem da matemática. Campinas, 1995. Dissertação (Mestrado em
Educação) – Faculdade de Educação, UNICAMP.

______ . O conhecimento matemático e o uso de jogos na sala de aula.


Campinas, 2000. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação,
UNICAMP.

______ . A construção do conceito matemático no jogo. Revista de Educação


Matemática, Campinas, ano 5, n.3, p.13-17, 1997.

HUIZINGA, J. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 2.ed. Trad. João
Paulo Monteiro. São Paulo: Perspectiva, 1990.

HUSSERL, E. A crise da humanidade européia e a filosofia. Introd. e Trad.


Urbano Zilles. Porto Alegre: Edipucrs, 1996.
175

HUSSERL, E. Investigações lógicas: sexta investigação: elementos de um


elucidação fenomenológica do conhecimento. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

______ . La Idea de la fenomenologia. México: Fondo de Cultura Econômica, 1982.

KAMII, C. Reiventando a aritmética: implicações da teoria de Piaget. Campinas:


Papirus, 1985.

KAMII, C.; DEVRIES, R. Jogos em grupo na educação infantil: implicações da


teoria de Piaget. São Paulo: Trajetória Cultural, 1991.

KISCHIMOTO, T. M. O jogo e a educação infantil. São Paulo: Pioneira, 1998.

______ . Brincar, crescer e aprender: o resgate do jogo infantil. São Paulo:


Moderna, 1996.

______ . Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 4.ed. São Paulo: Cortez,


1997.

LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 4.ed. rev. e ampl. São


Paulo: Atlas, 2001.

LENER, D. O ensino e o aprendizado escolar. In: CASTORINA, J. A. et al.


Piaget/Vygotsky: novas contribuições para o debate. 6.ed. Trad. Cláudia Schilling.
São Paulo: Ática, 1996. Cap.3, p.85-146.

LEONTIEV, A. N. Os princípios da brincadeira escolar. In: VYGOTSKY, L. S. et al.


Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 2001.

LUDKE, M.; ANDRÈ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas.


São Paulo: EPU, 1986.
176

MACEDO, L. de. Os jogos e o lúdico na aprendizagem escolar. Porto Alegre:


Artmed, 2005.

MACEDO, L.; PETTY, A. L. S.; PASSOS, N. C. Aprender com jogos e situações


problemas. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

MAKARENKO, A. S. Poema pedagógico. São Paulo: Brasiliense, 1985.

MARCELLINO, N. C. Pedagogia da animação. Campinas: Papirus, 1990.

MARTINS, J.; BICUDO, M. A. V. A pesquisa qualitativa em psicologia:


fundamentos e recursos básicos. São Paulo: Educ/Moraes, 1989.

MARTINS, J. Um enfoque fenomenológico de currículo: educação como poíesis.


São Paulo: Cortez, 1992.

MARTINS, J. Estudos sobre existencialismo, fenomenologia e educação. São


Paulo: Moraes, 1983.

MOREIRA, M. A Aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. São


Paulo: Centauro, 2001.

M-PONTY, M. O visível e o invisível. São Paulo: Perspectiva, 1971.

______ . Merleau-Ponty na Sorbonne: resumo de cursos. Trad. Constança


Marcondes Cesar. Campinas: Papirus, 1990.

NARDI, R. Pesquisas no ensino de física. São Paulo: Escrituras Editora, 1998.

NEVES, M. C. D. Lições da escuridão ou revisitando velhos fantasmas do fazer


e do ensinar ciência. Campinas: Mercado de Letras, 2002.
177

NEVES, M. C. D. Uma perspectiva fenomenológica para o professor em sua


expresssão do: “o que é isto, a ciência”? Campinas, 1991. Tese (Doutorado em
Educação) – Faculdade de Educação, UNICAMP.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Currículo Básico para a Escola


Pública do Paraná. Curitiba: SEED, 1992.

PARRA, C. Didática da matemática: reflexões psicopedagógicas. Porto Alegre:


Artes Médicas, 1996.

PASSARELLI, L. Ensinando a escrita: o processual e o lúdico. São Paulo: Cortez,


2004.

PERRENOUD, P. Ofício de aluno e sentido do trabalho escolar. Porto, Portugal:


Porto Editora, 1995.

______ . Pedagogia diferenciada: das intenções à ação. Porto Alegre: Artes


Médicas Sul, 2000.

PETTY, A. L. S. Ensaio sobre o valor pedagógico dos jogos de regras: uma


perspectiva construtivista. São Paulo, 1995. Dissertação (Mestrado em Psicologia) –
Instituto de Psicologia, USP.

PIAGET, J. A. Formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho, imagem e


representação. 3.ed. Trad. Álvaro Cabral e Christiano Monteiro Oiticica. Rio de
Janeiro: Zahar, 1978.

______ . Observações psicológicas sobre o trabalho em grupo. In: PARRAT, S.;


TRYPHON, A. (Org.). Jean Piaget sobre a pedagogia. Trad. Cláudia Berliner. São
Paulo: Casa do Psicólogo, 1998. p.137-151.

______ . Problemas de psicologia genética. São Paulo: Florense, 1973.


178

PRADO, M. M. R do. Descobrindo o lúdico: a vivência infantil na sociedade


moderna. Campinas, 1991. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade
Estadual Campinas.

PRETTO, N. D. L. A ciência nos livros didáticos. Campinas: Editora da UNICAMP;


Bahia: Universidade Federal da Bahia, 1985.

RIBEIRO JÚNIOR, J. Introdução à fenomenologia. Campinas: Edicamp, 2003.

ROUSSEAU, J. J. Emílio ou da educação. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1979.

SANTOS, S. M. P. (Org.). Brinquedoteca: o lúdico em diferentes contextos.


Petrópolis: Vozes, 1997.

______ . O lúdico na formação do educador. Petrópolis: Vozes, 1997.

SARQUIS, E. Matemática com sarquis: 1ª a 4ª série. Belo Horizonte. Formato


Editorial, 1998.

SOUZA, M. T. C. C. Intervenção psicopedagógica: como e o que planejar?. In:


SISTO, F. F. et al. (Org.). Atuação psicopedagógica e aprendizagem escolar.
Petrópolis: Vozes, 1996. Cap.6, p.113-126.

VALENTINI, L. Husserl: o acesso ao mundo-da-vida. In: DICHTCHEKENIAN, M. F.


S. F. B. (Org.). Vida e morte: ensaios fenomenológicos. São Paulo: Editora
Companhia Ilimitada, 1988. p.11-37.

VYGOTSKY, L. S. O papel do brinquedo no desenvolvimento. In: ______ . A


formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
ANEXOS

Você também pode gostar