Jogo Matemático Como Experiência de Diálogo PDF
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MARINGÁ
2006
EDNA HELOISA SCHAEFFER
MARINGÁ
2006
EDNA HELOISA SCHAEFFER
MARINGÁ
2006
EDNA HELOISA SCHAEFFER
BANCA EXAMINADORA
______________________________________
Prof. Dr. Marcos Cesar Danhoni Neves
(UEM – Maringá)
______________________________________
Prof. Dr. Washington Luis Pacheco de Carvalho
(UNESP-Campus Ilha Solteira-SP)
______________________________________
Profa. Dra. Sheila Maria Rosin
(UEM – Maringá)
D EDICO ESTE TRABALHO...
Ao Prof. Dr. Marcos Cesar Danhoni Neves, por orientar com compromisso,
Eliane C. Kawahisa, Marilde B. Zorzo de Sá, Maria Emília, que sempre estiveram
trabalho.
RESUMO
Five teachers from Primary and Junior High School, from municipal schools of Toledo
have been heard about their conceptions of “what is this, the game?”, in the context
of mathematics teaching. The speeches of each one of the individuals are
understood from the phenomenological reduction. After the comprehension of each
related situation, the ideographic outline was traced. From the convergences of the
speeches, classified into different categories, a nomothetic comprehension of the
speeches arose. At this moment the first intentioned phenomenon was structured,
that is, “what is this, the game?”. The dissertation ends with the reduction concluded
and with the perspective of a new posture of the teacher in relation to the game in
mathematics.
INTRODUÇÃO .......................................................................................................10
QUALITATIVA..................................................................................................47
REFERÊNCIAS.......................................................................................................172
ANEXOS ................................................................................................................179
LISTA DE QUADROS
de autores como Grando (1995), Macedo (2000), Borin (1996), Huizinga (1990),
Kischimoto (1998), Almeida (1998), Piaget (1978) e Souza (1996), entre outros,
uso dos jogos no processo ensino-aprendizagem da matemática, uma vez que essa
sido criados durante os últimos sete anos relativos à atuação como professora de
realidade como algo que existe em absoluto e independe do sujeito que a percebe.
para o ser, faz-se necessária uma orientação rumo ao sujeito que vivencia o
relatos foram obtidos, no presente caso, por meio de entrevistas gravadas em fitas
se como recurso útil para obtenção de descrições do fenômeno que se quer estudar
e de como dele se presentifica para o sujeito em si, bem como para o pesquisador,
entrevista
12
Será, precisamente, por meio do material obtido nas entrevistas, que haverá a
daquelas que não o são, ou seja, encontrar as partes da experiência que são,
variação imaginativa, sendo que essa fase consistirá na reflexão sobre as partes da
1
Mundo-vida: “o mundo cotidiano em que vivemos, agimos, fazemos projetos, entre outros, o das
ciências, em que somos felizes ou infelizes” (DARTIGUES, A. O que é fenomenologia? Trad. Maria
José J. G. Almeida. Rio de Janeiro: Eldorado Tijuca, 1973). Embora tenha a mesma tradução, na
obra de Urbano Zilles, a expressão é interpretada de outra maneira: “o mundo da vida conota os
componentes cotidianos da existência pessoal anteriores à atividade científica, significando a
situação do sujeito na relação intencional com um contexto histórico social que envolve o sujeito
cognoscente e o objeto conhecido” (HUSSERL, E. A crise da humanidade européia e a filosofia.
Introd. e Trad. Urbano Zilles. Porto Alegre: Edipucrs, 1996. p.46).
13
sua origem [...]. É uma operação intelectual que permite que passemos do objeto à
senão, também, o mundo ideal e até o mundo sobrenatural” (RIBEIRO, 2003, p.35).
procura de se ver o fenômeno tal como ele é, visto que os sujeitos, no ato da
2
Husserl (apud BELLO, 2004, p.83), sendo matemático, entende a operação de colocar entre
parênteses do ponto de vista de uma expressão algébrica: aquilo que é colocado entre parênteses
existe entre parênteses. Portanto, colocar entre parênteses é uma operação que deriva da
matemática. Colocar entre parênteses a existência, segundo Husserl, é colocar entre parênteses
esse concreto factual que interessava muito aos positivistas. Ele afirma que este plano de existência
não lhe interessa, ao passo que lhe interessa entender qual é a essência das coisas, a essência ou
o sentido das coisas.
14
aprendendo ciência.
dos sujeitos pesquisados que se torna possível interpretar o fenômeno, o que vem a
ser o jogo na concepção de cada professor. Buscar-se-á concluir este trabalho com
seres-aí-no-mundo. 3
3
Husserl utiliza termos como Dasein ou Mensch para descrever o ser humano. Dasein significa estar-
aí. Heidegger utiliza somente o termo Dasein, pois quer evidenciar o aspecto da existência. No
termo Da-sein, sein significa ser. A indagação, segundo Heidegger, não pode se dar a partir do
Sein, porque o ser não se apresenta como tal, mas a partir das coisas que existem
verdadeiramente, isto é, os entes. Assim, chega-se ao Dasein, aquele ente específico que se dá
conta de si mesmo. O Dasein se manifesta a nós mesmos: eis aí o termo manifestação, que é
próprio da fenomenologia. De fato, Heidegger acha que a fenomenologia é o estudo do fenômeno,
que para ele corresponde ao Dasein, o ente que consegue dar conta de si mesmo e interpretar-se a
si mesmo (BELLO, 2004, p.129-131). Segundo o NETSPI (Núcleo de estudos e temas em
psicologia), ao discutir a questão do sentido do ser, Heidegger demonstra que a Fenomenologia
compreende a verdade com um caráter de provisoriedade, mutabilidade e relatividade, radicalmente
diferente do entendimento da metafísica que pressupõe a verdade una, estável e absoluta. Essa é
uma das razões por que se diz que a Fenomenologia é uma postura ou atitude (um modo de
compreender o mundo) e não uma teoria (modo de explicar). A Fenomenologia orienta o seu olhar
para o fenômeno, ou seja, na relação sujeito-objeto (ser-no-mundo). Isso, em última análise,
representa o rompimento do clássico conceito sujeito/objeto. Assim, Heidegger apresenta um novo
modo de conhecer as coisas do mundo, diferente do modo metafísico. Na verdade, se está
“treinado" a conhecer o mundo de uma única forma (modo metafísico). Por essa razão,
compreender o mundo fenomenologicamente torna-se uma tarefa complexa. O ponto de partida
necessário de toda tentativa para se determinar, em seu rigor, o ser do ente em geral, era o homem
como ser-aí ou Dasein já que, de todos os entes, o homem é o único ao qual é funcionalmente
exigida uma solução para o problema do existir. Assim, criando uma terminologia própria, Heidegger
denomina o modo de ser do homem, nossa existência, com a palavra Dasein, cujo sentido é ser-aí,
estar aí. Portanto, o conceito de ser transcende ao gênero e a espécie. Desse modo, pode-se definir
o conceito de ser como o mais universal, indefinível e evidente por si mesmo. O sentido de ser é um
arranjo das coisas de tal sorte que elas se revelam exatamente nesse contexto. É sempre o
contexto das coisas que mostra o seu significado. Nada faz sentido sozinho, o ser humano ganha o
seu sentido na história. O sentido do ser está dentro da progressão temporal, sendo que, nesse
sentido, nós sempre progredimos e evoluímos.
15
1 O FENÔMENO INVESTIGADO
etnomatemática, jogos, entre outras), que se sucedem ao longo dos anos e que se
Vila – São Paulo, GEEMPA – Porto Alegre, GEPEM – Rio de Janeiro, CECIMIG –
16
criar na sala de aula uma atmosfera de motivação (MACEDO, 2000) que permita aos
Optou-se pelo estudo dos jogos, no contexto da sala de aula, por ser um
4
GEEM: Grupo de Estudos de Ensino de Matemática; GRUEMA: Grupo de Estudos de Matemática;
GEEMPA: Grupo de Estudos em Educação Matemática de Porto Alegre; GEPEM: Grupo de
Estudos e Pesquisa em Educação Matemática; CECIMIG: Centro de Ensino de Ciências e
Matemática, órgão complementar vinculado à Faculdade de Educação da Universidade Federal de
Minas Gerais, aberto à participação de toda a comunidade universitária.
17
o jogo, quando tratado na perspectiva de seu uso em sala de aula, torna-se mais
2 QUESTÕES DA PESQUISA
relação entre o jogo e o conhecimento matemático pela ótica de cada sujeito, sendo
seguir:
• “Como foi sua experiência desde o início de sua escolaridade até sua
5
Saeb: Sistema de Avaliação da Educação Básica, que pode ser consultado através dos sites:
<http://www.mecgov.br/acs/duvidas/saeb.shtm> (informações sobre o que é o Saeb, seus objetivos
e algumas outras dúvidas); <http://www.inep.gov.br/basica/saeb> ou <http://www.inep.gov.br/
dowload/ saeb/2004/resultados/Paraná.pdf> (resultados das avaliações feitas através do Saeb, bem
como artigos sobre esses resultados).
18
sujeito, bem como investigar como foi sua preparação específica para a
jogos serão apresentados em anexo – ver anexo A). Essa situação foi
6
Eduardo Sarquis Soares é: Graduado em Física pela UFMG; Mestre em Educação pela UFMG;
Professor do Curso de Matemática da Fundação Educacional Monsenhor Messias – Centro
Universitário Sete Lagoas; Professor do Curso Normal Superior do Centro Universitário Izabela
Hendrix; Coordenador do Ensino Fundamental da Cooperativa de Ensino de Belo Horizonte; Autor
da Coleção Matemática, destinada às séries iniciais do ensino fundamental, da editora Formato
Editorial, trabalho em parceria com Adilson Rodrigues (editor). A coleção “Matemática com o
Sarquis”, dentre as classificações feitas pelo PNLD (Programa nacional do livro didático), se
enquadra na recomendada com distinção (Ver anexo 2). Segundo o PNLD (2004), a abordagem dos
conteúdos matemáticos contribui para a apropriação do conhecimento pelo aluno, valorizando os
conhecimentos prévios dos alunos, apresentando contextos significativos, bem como integrando
diversos campos da Matemática e respeitando os interesses infantis. Segundo o PNLD, a obra
contribui para a formação de cidadãos conscientes, pois incentiva o trabalho em equipe, propicia
situações em que o aluno possa explorar diversas experiências humanas, bem como proporcionar
atividades em que os alunos são incentivados a criar estratégias próprias de solução, confrontando-
as com as dos colegas. Cada volume constitui-se de 13 a 16 unidades, e ao final são apresentados
alguns desafios com intuito de aprofundar e antecipar conteúdos. Os conteúdos são bem
selecionados, do ponto de vista das tendências atuais em educação matemática, sendo bem
distribuídos em cada volume, e tratados com grande diversidade de enfoques, ao longo das várias
unidades da coleção. A articulação entre os conhecimentos novos e os já abordados é um dos
pontos fortes da obra. A obra busca dar suporte a três campos: os problemas clássicos, a história
da construção do conhecimento e aspectos de práticas sociais contemporâneas. Quanto à
metodologia, a coleção contribui para a compreensão e atribuição de significado às noções,
procedimentos e conceitos matemáticos, valorizando o papel do aluno. Sua abordagem baseia-se
na realização de atividades, jogos e pesquisas. Ao aluno cabe, geralmente, o início da exploração
de idéias e procedimentos, antes de sua formalização. Há uma grande preocupação com problemas
e atividades que desafiem os alunos a buscarem soluções e diversas estratégias de resolução. A
linguagem é, de forma geral, clara, precisa e diversificada, sendo que, ao mesmo tempo, mantém a
formalidade da linguagem matemática, que deve ser assimilada pelos alunos. O projeto gráfico-
editorial é de alta qualidade, com cores vivas e ilustrações atrativas. O manual do professor
contribui significativamente para a atuação docente, graças as suas reflexões teórico-metodológicas
e sugestões de operacionalização. O processo de avaliação é bem integrado com outras reflexões
do processo ensino-aprendizagem (BRASIL, 2004, p.46-49).
19
3 ETAPAS DA PESQUISA
presente pesquisa.
investigado.
7
Esse seminário de pesquisa foi realizado pelo próprio programa de Pós-Graduação em Educação
para a Ciência e o Ensino de Matemática. Cada aluno do programa apresentou um escopo do seu
trabalho para uma banca de professores do programa e/ou professores convidados, os quais
apontaram suas críticas, bem como sugestões de caminhos a serem percorridos, de modo a
enriquecer o trabalho.
20
um certo conformismo por parte dos alunos em acreditar que não aprendem
matemática “como algo que está acessível apenas a gênios, à parte da humanidade.
definitivamente acabados”. Pode-se asseverar que a matemática, tal como ela tem
consistência.
8
Segundo Ernest (1989, p.250), a visão platônica é aquela que concebe a Matemática “como um
corpo estático e unificado de conhecimento absoluto”. A concepção platônica da Matemática vê
essa disciplina como um corpo de conhecimentos estático. A Matemática, nessa perspectiva, é
concebida como um produto imutável. Matemática é descoberta, não é criação.
22
que ela é universal, uma vez que está pronta e acabada. Desse modo, resta ao
9
O ensino de matemática nesse movimento tomou como referência os estudos desenvolvidos pelo
grupo francês Bourbaki. Esse grupo pretendia reorganizar todo o conhecimento matemático,
apresentando-o de forma axiomática e dedutiva partindo da teoria dos conjuntos. Sob a influência
dessa grupo, vários educadores propuseram-se à mesma reorganização no domínio da matemática
elementar aproximando-a da matemática superior. “Essa reforma apresentava uma matemática
estruturada, apoiada em estrutura lógica, algébrica, topológicas e de ordem e enfatizava a teoria
dos conjuntos. Realçava muitas propriedades, tinha preocupações excessivas com abstrações
matemáticas e apresentava uma linguagem matemática universal, concisa e precisa. Entretanto,
acentuava o ensino de símbolos e uma terminologia complexa que comprometia o aprendizado”
(BICUDO, 1999, p.202-203).
23
Fiorentini (1995, p.15) assinala que a matemática escolar “pecou pelo reducionismo
D’Ambrósio (1989), falta aos alunos uma flexibilidade de solução, de tentar soluções
ensinados por serem úteis aos alunos no futuro, o que não convence os alunos.
papel passivo nas aulas. Como postula Caraça (1978 apud PARANÁ, 1992, p.64),
escola onde leciona faz parte de uma sociedade. Por isso é necessário que ele
contexto histórico-social mais amplo, uma vez que são as relações que se
24
PARANÁ, 1992, p.65) preconiza que o grande desafio é: “não desvincular a lógica
num historicismo que considera como solução para todos os problemas do ensino a
professores.
conhecimento.
A educação lúdica integra uma teoria profunda e uma prática atuante. Seus
corporal, cada criança recebe influências emocionais que o jogo traz, fazendo com
descrição de uma conduta estruturada com regras e jogo infantil para designar tanto
na sala de aula, deixando de ter espaço apenas na hora do recreio, para fazer parte
educativo.
de aula, entendendo essa ação como um ato educativo, ter-se-á, no âmbito escolar,
de sua atividade.
aspectos da realidade, que são significativos para o sujeito que age ludicamente.
da atividade lúdica que se integram em uma dimensão imaginária. Porém, não são
objeto lúdico 10 .
matemático”.
realidade externa do objeto (propriedades físicas) que podem ser constatados pelos
relações de classificação, ordenação ou medidas. Não são arbitrárias, visto que são
10
SegundoVygotsky (1998), o que faz “algo” um objeto lúdico é a capacidade de representação que
ele possibilita.
29
presa a uma cadeira, educada pela audição, quando o universo que a cerca está
repleto de informações que podem estimulá-la, haja vista que a mesma é por
natureza: criativa, curiosa, livre e expansiva. Desta maneira, a educação está sendo
delas continua sendo depositária do saber acadêmico, marcadas por uma ação
castradora e diretiva que não se ajusta à vida do aluno, não lhe possibilita a
uma espécie de espírito de uma prática democrática, enquanto investe em uma das
abstrato, misturando uma parcela de trabalho (esforço) com uma boa dose de
define, no momento em que se prepara para o trabalho real, que lhe dará a
A própria escola não oportuniza e não possui em seu plano pedagógico o resgate
humanidade.
para que não se perca idéia do ‘brinquedo’, ou melhor, para que ela
seja recuperada, é preciso que a escola participe do resgate á cultura
da criança, reflita sobre o tempo dos alunos procurando entender o
conteúdo e a forma de utilização do tempo disponível, familiares e
sociais, promova as aquisições incorporadas pelos alunos no
31
Por outro lado, pais que interagem e conhecem o valor das atividades lúdicas
pedagógica escolar. Sendo assim, a educação lúdica apresenta-se como uma boa
alternativa.
possam refletir suas práticas e a partir daí adquirirem novas habilidades, não só em
aprender cada vez mais para poder transformar o meio em que se insere, bem como
garantido se o educador estiver preparado para realizá-lo. Nada será feito se ele não
32
horizonte que o jogo surge como uma possibilidade para o trabalho escolar com a
matemática.
sentido desses termos. No Brasil, essa diferenciação se torna ainda mais difícil, pois
Segundo Vygotsky (1998, p.121), “toda criança se apresenta para nós como
inferior, que se desloca de um estágio para outro”. No entanto, para entender esse
incentivos eficazes para colocá-la em ação, uma vez que a criança satisfaz certas
necessidades no brinquedo.
brincar é a situação imaginária criada pela criança. Além disso, devemos levar em
conta que brincar preenche necessidades que mudam de acordo com a idade”. O
As crianças querem satisfazer certos desejos que muitas vezes não podem ser
satisfeitos imediatamente.
de uma criança, o brincar irá passar por inúmeras transformações, uma vez que o
conteúdo das brincadeiras depende de alguns fatores, tais como a percepção que
ela tem do mundo dos objetos humanos, da necessidade de agir em relação aos
anterior, que é a satisfação imediata. Para resolver essa tensão, “a criança em idade
obtido, não sendo, portanto, uma atividade produtiva. Conforme o autor, qualquer
estabelecido e uma operação (meio pelo qual ela será realizada). Em um jogo, por
divergência entre a operação e ação; logo, as condições existentes para a ação que
não significa necessariamente que todos os desejos não satisfeitos dão origem aos
brinquedos.
imaginária também comporta uma regra. Não uma regra explícita, mas uma regra
que a própria criança cria, ou seja, “sempre que há uma situação imaginária no
o jogo, mas aquelas que têm sua origem na própria situação imaginária”
não ter regras formais estabelecidas. Da mesma forma, todo jogo com regras
que proporcionam prazer, aos poucos suas tentativas vão evoluindo e o interesse da
criança também. Para Kischimoto (1997), caso a criança seja privada de brincar em
35
qualquer etapa de sua infância, terá problemas na construção de seu futuro, visto
usar sua imaginação simbólica, porque esse é o instrumento que fornece meios para
Ainda para o mesmo autor, “quando brinca a criança assimila o mundo a sua
objeto não depende da natureza do objeto, mas da função que criança lhe atribui”
que a vitória, mais do que a participação, tona-se o motivador das atividades. Henriot
com Kischimoto (1997, p.17) “[...] o jogo assume a imagem, o sentido que cada
1997, p.17), uma vez que usando o mesmo objeto posso desenvolver jogos
diferentes. Quando alguém joga, está executando as regras do jogo, bem como
enquanto objeto.
de não criar bens nem riqueza e suas regras. Dessa forma, fica assim delimitada a
indivíduo segue regras, no segundo ela age livremente, imagina, sonha, inventa
às atividades das crianças. Almeida (1998, p.8) alega que “o brinquedo faz parte da
vida da criança. Ele simboliza a reação pensamento-ação e, sob este ponto, constitui
habilidades verbais da criança, porque através dele a criança tanto se comunica com
própria, descobre seu papel e seus limites. Expressa sua necessidade de explorar o
Neste sentido, destaca-se uma brincadeira típica da infância que possui essas
para o diálogo com o mundo dos adultos, na qual ela restabelece seu controle
físico e social, interferindo nas múltiplas relações do indivíduo com o mundo que o
cerca.
passam a existir, livremente a criança faz uso das mesmas aprendendo a lidar com
novas situações.
cognitivo. Isso porque, quando está brincando, a criança pode interagir com o
mundo mais ou menos a sua moda. Nesse âmbito, Vygotsky (1998) acredita que o
brincar é um importante suporte mental que permite à criança pensar e agir das mais
objetos, coisas que na vida real seriam impossíveis, reduzindo assim as frustrações
são exercitados para a vida em sociedade e que, uma vez retirados da realidade,
de regras, mas sim de uma regularidade interna determinada pelo desejo, pela
com o qual a criança estabelece relações íntimas e inúmeros significados para sua
utilização, não existindo um sistema de regras fixas que regule e estruture a ação
coletivamente.
brincar é natural em suas vidas e, para que isto aconteça, não é necessário muito
mais do que proporcionar-lhes espaço. Nesse espaço, elas expressam sua forma de
Definir o jogo, objeto sobre o qual será dedicada atenção especial nesta
como jogo. O ato de jogar é tão antigo quanto o próprio homem, pois este sempre
manifestou uma tendência lúdica, isto é, um impulso para o jogo. Para Huizinga
(1990), o jogo é anterior à cultura e esta surge a partir do jogo. O mundo dos jogos e
jogo e o espírito lúdico têm papel essencial na história das sociedades e das
fundamental, presente em tudo o que acontece no mundo [...] é no jogo e pelo jogo
que a civilização surge e se desenvolve”. Para esse filósofo, o jogo faz parte da
cultura e gera a própria cultura. O autor identifica uma atividade como sendo jogo da
seguinte forma:
tudo como sendo jogo. No âmbito desta pesquisa, o interesse se volta para o jogo
Pensar na atividade com jogos como uma metodologia, ou mesmo como uma
dos jogos, afirmava que os primeiros anos da criança deveriam ser ocupados com
começar aos sete anos de idade” (PLATÃO apud ALMEIDA, 1998, p.19).
problemas concretos, extraídos da vida e dos negócios para chegar aos cálculos.
Com o passar dos tempos, várias concepções foram formuladas acerca dos
seu programa e eles voltaram a ser reconhecidos como bons e recomendados; logo
gramática.
pensar e de sentir que lhes são próprias, que não se aprende nada senão por meio
43
de uma conquista ativa. “Não deis a vosso aluno nenhuma espécie de lição verbal:
socialização seria por meio dos jogos. Sendo assim, “[...] com a teoria froebeliana
p.43), que verificou esse impulso lúdico já nos primeiros meses de vida do bebê. Os
jogos, “[...] desde o início introduzem na atividade lúdica da criança uma dimensão
Para Piaget (apud KAMII; DEVRIES, 1991), a interação social entre colegas é
(apud LENER, 1996) assinala que a cooperação entre as crianças é tão importante
senso crítico e de um pensamento cada vez mais objetivo. Neste sentido, enfatiza que:
ela é capaz de renunciar aos seus desejos e interesses próprios para pensar em
ponto de vista dos outros, é possível que “a inteligência adote a atitude, própria ao
espírito científico desde suas formas mais simples, que consiste em dissociar o real
no qual ele exerce seu poder criador, elaborando estratégias, regras e cumprindo-as.
e a crescer conjuntamente nas relações sociais. Uma vez que o jogo não é uma
p.193), “embora a cultura provenha do jogo, não se desliga dele. A cultura origina-se
‘no jogo, e enquanto jogo, para nunca mais perder esse caráter’.”
ser observadas quando se joga. Contudo, essa denominação é utilizada para todas
46
física ou mental conduzida de acordo com regras na qual cada participante joga em
direta oposição aos outros, cada um tentando ganhar ou impedir que o adversário
QUALITATIVA
qual interessava conhecer apenas aquilo que fosse útil, concreto, experimental,
factual. Até que, por volta do final do século XIX, a ciência européia passa por uma
grande crise. Segundo Neves (1991), essa herança positivista nas ciências do
psicologia renunciou à filosofia e esta, por sua vez, à própria filosofia. Implantou-se,
Husserl (1980), analisa a crise das ciências européias, com seus vários
Landgrebe, “as ciências entraram em crise porque não têm mais possibilidade de se
crises que emergiam na filosofia, nas ciências do homem, bem como nas ciências
verdade”. Esse autor observa ainda que, de acordo com o positivismo, o sujeito está
“uma ciência ‘a priori’, ’eidética’, que possibilita um estudo em torno das essências,
por uma preocupação em dar uma descrição pura da realidade, do fenômeno. Para
tal como se apresenta na realidade. Por essa razão, todo o olhar fenomenológico
tudo aquilo que sei do mundo, mesmo por ciência, eu o sei a partir de
uma versão minha ou de uma experiência do mundo sem a qual os
símbolos da ciência não poderiam dizer nada. Todo o universo da
ciência é construído sobre o mundo vivido, e se queremos pensar a
própria ciência com rigor, apreciar exatamente o seu sentido e o seu
alcance, precisamos primeiramente despertar essa experiência do
mundo da qual ela é expressão segunda. A ciência não tem e não
terá jamais o mesmo sentido de ser que o mundo percebido, pela
simples razão de que ela é uma determinação ou uma explicação
dele (MERLEAU-PONTY apud BICUDO, 2000, p.56).
da consciência, isto é, “a coisa não está além de sua manifestação” (BICUDO, 2000,
Bicudo (1989) argumenta que a investigação fenomenológica trabalha com o que faz
p.21), vem da expressão grega fainemon, derivando do verbo fainestai, que quer
dizer “mostrar-se a si mesmo”. Assim, fainemon significa aquilo que se mostra, que
se manifesta. Fainestai é uma forma reduzida que provém de fainon, que denota
“trazer a luz do dia”. Fainon provém da raiz “fa”, entendida como fos, que quer dizer
luz, aquilo que é brilhante. Em outros termos, significa aquilo onde algo pode tornar-
Neste sentido, Giorgi postula que “está claro que a linguagem é tão essencial
à ciência como ela o é para a vida humana em geral” (1986, p.3). 11 A descrição é
(GIORGI, 1986, p.4) 12 . De acordo com França (1989, p.18), “o discurso, como
fundo onde esta se dá. Ela aponta o percebido, que é o correlativo à coisa, sempre
relativa à percepção”. Por isso, na visão dos fenomenólogos, ela não admite
11
“It is clear that language is as essential to science as it is to human life in general”. (n.d.t.).
12
“A description is the use of language to articule the objects of experience.” (n.d.t.).
51
1992, p.55), é preciso considerar o outro humano no mundo. Se somos uns para os
mútua (perspectiva um do outro). Nesse contexto, “minha visão dos outros e a que
sujeitos pesquisados são obtidos a partir das descrições ingênuas que eles
Para Martins e Bicudo (1989), a forma pela qual os dados são coletados na
(interpretação). Para Ricouer (apud BICUDO, 2000, p.78), “toda linguagem, ao dizer,
por aquele que interpreta sua própria experiência. A interpretação, segundo Ricouer
literal”.
determinados padrões. Giorgi (1986, p.5) observa que “as descrições podem ser
essências descritas/desveladas.
13
“Descriptions can be a legitimate source of data in psychological research. “ (n.d.t.).
53
indagação dos princípios gerais, segundo os quais o ser humano organiza as suas
e Bicudo (1989, p.97), “na coleta de dados para a análise do fenômeno situado, o
pesquisador precisa por diante de seus olhos o fenômeno que está investigando,
para começar pela descrição da experiência de mundo dos sujeitos que são seus
ao sujeito entrevistado a liberdade para que expresse suas idéias sem temor, pois
modo que sua investigação não esteja provida de significações oriundas dele próprio
ganha novo significado, passando a ser concebida como uma trajetória circular em
Assim, será possível desvelar como esse fenômeno está estruturado segundo
o ser no mundo. Seria como descobrir seu mundo-vida (lebenswelt). Husserl (apud
obviedade que inere a qualquer vida humana, aquilo que em sua particularidade é
como ele está constituído no mundo existente. Para Valentini (1988, p.23),
e não segundo teorias gerais que visam generalizar os fenômenos. Longe de buscar
Husserl (1980) menciona que uma ciência pode se caracterizar como tal caso
estrutura básica da consciência, a intencionalidade, uma vez que esta revela uma
p.15) define que “consciência e mundo não podem ser pensados senão numa
etapas distintas, mas que possuem rigor próprio, justificado pelo enfoque atribuído a
cada fase. Esse rigor é que torna possível conjecturar, em cada descrição,
mãos os relatos, esses se tornarão, a partir daí, a fonte na qual todo o trabalho
56
para que, cada vez mais, possa se ter clareza do fenômeno em estudo.
epoche, isto é, o “apagar uma luz sobre [...] (algo)” (BELLO, 2000, p.40). Para Bello
(2000), não se pode negar a “tese” do mundo, mas reconhecer o mundo como
parênteses e, conscientes de que o que foi posto entre parênteses continua entre
que redução fenomenológica ou epoche seria um método pelo qual tudo que é dado
própria perspectiva. É por essa razão que as unidades de significado podem variar
sua essência.
pensamento. Nós conseguimos captar, apreender, tomar o eidos das coisas de onde
ideográfica”, pois terá como fim a representação de idéias, ou seja, buscará “afastar
discursos. O termo nomotético deriva-se de nomos, que significa leis, normas, regras
14
Categorias abertas são constructos que apresentam grandes convergências de Unidades de
significado já analisadas e interpretadas. Indicam os aspectos estruturantes do fenômeno
investigado e abrem-se à metacompreensão, considerando a interrogação, o percebido, o
analisado, o diálogo estabelecido na intersubjetividade autor/ sujeitos/ autores/ região de inquérito
(BICUDO, 2000, nota 26).
3
bem como pelos índices que os alunos têm apresentado na disciplina, como mostra
(Congressos, Grupos de estudos por todo Brasil, nos quais estão envolvidos,
jogo na matemática” se situa permite obter uma abordagem mais detalhada acerca
59
desvelam o fenômeno.
Dos sujeitos entrevistados, têm-se aqueles com vários anos de atuação nesse
nível de ensino e outros em início de carreira. Têm-se, também, sujeitos que estão
atuando nas escolas, embora ainda não tenham concluído sua formação
atuam nas escolas por meio da contratação pelo sistema CIEE (Centro de
no que se refere ao fator “tempo”. Muitas vezes quando a entrevista era marcada, o
atividade para aquele momento. Assim, para realizar essa etapa do trabalho de
indivíduos pesquisados.
de trabalho em seu projeto político pedagógico. Por esse motivo, houve um grande
SUJEITOS DA PESQUISA
Formação e
Instituição Sujeito 1 Sujeito 2 Sujeito 3 Sujeito 4 Sujeito 5
de ENsino
Contabilidade
ENSINO Educação
(2 anos) Magistério Magistério Magistério
MÉDIO Geral
Magistério
PREMEM,
Toledo-PR Instituto de
Educação Carlos
Colégio Estrela
PREMEM, Colégio PREMEM, Pristeniz, Ponta
Instituição da Manhã,
Toledo-PR Estadual Toledo-PR Grossa-PR.
Estrela-RS
Senador Attílio PREMEM, Toledo-
Fontana, PR
Toledo-PR
Normal
Superior –
Educação Filosofia e
Graduação Pedagogia Pedagogia Pedagogia
Infantil (6º História
período)
Fasul –
Faculdade Sul UNIOESTE, UNIPAR, UNIPAR, CETESOP, Assis
Instituição
Brasil, Toledo- Toledo-PR Toledo-PR Toledo-PR Chateaubriand-PR
PR
Ciências
Didática e
Pós- Biológicas e
________ Artes _________ Metodologias de
Graduação Educação
Ensino
Ambiental
BAGOZZI,
IBEPEX, UNOPAR,
Instituição ________ Toledo-PR __________
Cascavel-PR Londrina-PR
Tempo de
2 anos
Atuação no 24 anos 7 anos 15 anos 19 anos
(estagiária)
Magistério
Série em que
Pré III Sala de recursos 2ª série Coordenação 1ª série
Atua
Entrevista Sujeito 1
Como foi sua experiência desde o início de sua escolaridade até sua
formação acadêmica, principalmente na área de matemática?
Eu iniciei eh, eh, com a pré-escola, fiz pré-escola; eh, depois a 1ª e a
2ª séries eu fiz na escola de Dez de Maio, no interior. Que eu me
lembro da matemática, assim na pré-escola, eu não me lembro,
assim, não me recordo. Na 1ª série eu já me lembro de alguma
61
muito assim, foi um impasse pra muita gente, assim. Porque elas
imaginavam que no curso de Normal Superior não iria ter essa
disciplina, não iria ter matemática, tanto é que eles ficaram assim
paradas, meu Deus professora explica direito como é que nós vamos
trabalhar isso? Por, por, por medo mesmo, assim, de não consegui....
de não dar conta, né. Mas, né, deu tudo certo. A professora explicou
como seria estas aulas, como seria esta metodologia, que era na
verdade como se trabalhar na Educação Infantil. Porque por muitos
anos isso não foi trabalhado na Educação Infantil. Acredito que nos
últimos anoso que começou-se a trabalhar mais, eh, a mostrar né,
que tem matemática como as outras matérias também.
Alguma experiência?
Humm, humm..., não nenhuma experiência (longo tempo calada). Ah
eu acho, que assim ela, eh, mais assim foi mais voltado de 1ª a 4ª
série, que era aquela questão do jogo do palhaço, das roupas, né.
Que era, eu me lembro, eu me recordo, que era uma tabela, aí era
um joguinho com o dado. Esse jogo sim ela colocou pra nós, que nós
poderíamos estar fazendo na Educação Infantil, fazendo as roupas
eh, com a Educação Infantil, eu me recordo desse sim. Foi a única
experiência de jogo feita lá.
Entrevista Sujeito 2
E na graduação?
Não, não, na faculdade não tive nada de matemática, tive um ano de
lógica, na graduação de filosofia não tem matemática.
E a questão do jogo?
Olha, assim, todas as vezes que eu faço um curso eu acho que tem
coisas interessantes eu sempre utilizo, né. Então, como eu trabalho
com a sala de apoio também, é uma coisa que eu já venho utilizando
os jogos. Eu percebo que mesmo trabalhando jogos, se você não
sistematizar, depois, não registra, eh, o jogo não pode ser o jogo pelo
jogo. Mesmo na sala de aula, quando você está com todos, você [...],
quando, por exemplo, na minha quarta série se você trabalhar o jogo
pelo jogo, eles levam tudo na brincadeira e as coisas não fluem.
Agora se você têm um propósito, tem um objetivo, e pra isso você
tem que ter tempo pra pensar, planejar, pra de fato aquele jogo fazer
diferença, senão não adianta você trabalhar, trabalhar o jogo. E na
sala de apoio eu acho que o jogo é muito bom. Só que tem que
cuidar, eu sou, eu ainda penso assim, você tem que ter um cuidado
assim, de não deixar só a criança jogar, pra ela não..., porque senão
66
ela perde essa questão da abstração. Então sabe, assim tem que ir
jogando, tem... foi pelo menos assim. Até nestes estudos que nós
estamos estudando as diretrizes, da Isilda Panganana mostra um
pouco isto que a gente não pode deixar a coisa, só, só no concreto
mesmo, tem que de vez em quando puxar pra... E assim acontece
na sala de aula também, a criança tem que registrar, ela tem que
voltar, ela tem que ver aquilo que ela aprendeu, porque que é que ela
tá fazendo aquilo. E daí não é fácil, eu acho que é um trabalho
bastante difícil, principalmente numa sala de aula, onde tem 30
alunos. Que não e´ o caso da minha, eu tenho 23, 24 alunos, e eu
consigo trabalhar bem isto. Agora de fato, numa sala de 35 alunos eu
não sei até que ponto vira uma...., se o professor não for muito bom,
ele tem que ter muito conhecimento daquilo que ele está fazendo,
senão ele se perde.
ágil, e de repente pra cair a minha ficha demora um pouco mais, sei
lá.
Entrevista Sujeito 3
uma coisa tão fácil. Depois mais tarde é que eu fui percebendo, né,
que foi devido a meningite, porque era uma coisa que eu já gostava,
que era a escola, aí foi esse negócio, esse choque da meningite que
me apagou muita coisa. Aí eu tive que me esforçar pra recapitular
muita coisa, né. E o ginásio meu, foi assim muito tumultuado. Ah,
família, né, eh filho, novinha, marido, em casa e estudar, então foi
uma coisa assim que eu fui parando, voltava, sabe bastante
dificuldade mesmo pra matemática e tudo. Mas eu, eu superei, aí
depois quando eu tava assim, com meus 30 anos voltei pra estudar,
né. Terminei a 8ª série e tudo. Voltei, casei, parei com esse negócio
de para, para, consegui terminar e fui para o magistério. E foi um
dilema a matemática pra mim de novo, foi uma tortura, tive
problemas com o professor, comecei a me revoltar, sabe. Aí eu fiz
até o 3º de magistério, 2º de magistério e parei, porque briguei com o
professor, por causa da matemática, nós demos de dedo um na cara
do outro, assim. Então foi assim uma coisa bem triste, e aí eu falei
nunca mais quero estudar, não quero mais saber, sabe. Passei a
odiar, falei que nunca mais eu vou na escola, e não sei o quê. Aí
começaram as outras pessoas a falar comigo, fiquei 2 anos parada.
Começaram a conversar as outras pessoas, você vai mudar de
escola, você vai conseguir superar essa matemática. Aí eu desisti né,
fiquei 2 anos em casa né, aí me chamaram para eu ir lá pra vila
porque eu estudei 1º ano no PREMEM e depois eu fui lá pra vila. Aí
lá na vila eu comecei encontrar um outro grupo de pessoas, uma
professora de matemática que nossa senhora, ela voltou que ela fez
despertar tudo aquilo que eu tinha de raiva, sabe, mas eu acho assim
que era mais uma raiva uma raiva do próprio professor. Aí eu
comecei não, não é possível, viu e ela explicava de um jeitinho que
eu conseguia fazer. Aí eu chego no final do ano eu tava pendurada
de novo na matemática, eu tinha que tirar 9,5 pra passar, e eu já não
queria nem ir mais, né. Aí minha filha tava com problema de saúde,
ela fez cirurgia do coração e tudo. Aí falei não vou, não vou, não vou
mais e aí acabei, estudando, né, fazendo, ela me falou, explicou o
sistema todinho, estudei, fui lá e fiz e tirei 10,0. Aí terminei o
magistério, aí falei assim agora vou descansar um ano, né, depois eu
faço pedagogia. Aí, porque eu escolhi pedagogia? Eu gosto da área
de educação, mas não tinha matemática.
E na Pedagogia?
A matemática pra gente trabalhar com as crianças, né. Aí teve
bastante coisa, mas aí é mais coisa que a gente vai pesquisar, né,
vai atrás, né. Até mostraram assim algumas coisas, alguns caminhos
pra gente. Mas eu acho assim né que [...] 3º grau pra gente, a gente
é que tem que ir muito atrás das coisas, então pra mim foi bastante
70
assim sufocante o curso, né. Porque eu não acho assim que vem
muitas coisas do professor, é você que vai atrás e você que vai
descobrir as coisas. Eles mostram lá uma coisinha e outra muito
esporadicamente, mas é você que vai ter que ir atrás. Mas não é
assim de tudo de a gente descartar, porque é uma coisa assim se
você quer você vai atrás mesmo, né. Então um pouco tem gente
muito folgada, pras pessoas que querem vai atrás.
Você lembra de algo que você aprendeu na pedagogia que hoje você
leva para a sala de aula?
O material concreto (calada).
Jogo da memória
Jogo da memória. Eu comecei trabalhar com as crianças, né, e aí
vem dois, vem três quando vê todo mundo quer jogar, com a gente.
Quando a gente tem um jogo, todo mundo quer jogar. Chegam brigar
pelo espaço. Aí você vai falando né, você sai e volta, aí eles tão lá, e
quando você sai você sabe, sente que eles tem interesse pelo jogo.
Então a gente tem que tar junto, né. Então, falta da gente ir atrás,
assim desses materiais, mais materiais, mais jogos, mais materiais.
Até a escola tem, né. A gente peca muito nisso aí! Eu acredito que
não seja só eu, né. Eu acredito que tenha mais gente que peca
nessa parte de jogos com as crianças. Só que eu acho assim que
devia ter, um, um momento, sempre da gente tá, tá correndo a ele.
Mas olha, olha é tanta coisa que a gente tem que dar conta, que a
gente acaba deixando coisas boas de lado. Conteúdos... [...] e até eu
falei na outra, na outra escola que eu trabalho, que se for dar conta
do conteúdo, a minha turma tem bastante dificuldades em várias
áreas, português e matemática e eu acho que a base tá aí em
português e matemática, aí o resto eles carregam fácil. Se, se... se
livrarem deste problema. Porque aí tudo o que eles pegaram pela
frente eles vão conseguir, esmiuçar, tudinho. Mas não adianta querer
avançar com conteúdo, com crianças com dificuldades em português
e matemática.
E outros, o dominó...
Dominó sim. Ah, a gente junta os grupinhos, né, aí as crianças vão
jogando... Tem criança que não conhece, não sabe,... não sabia
pelas cores, pelo número, né. Então, aí eu fui jogando com eles! E aí
eles foram entendendo o jogo.
Por quê?
Na outra escola eu montei alguns quebra-cabeça, comprei umas
revistinhas, e..., montei, eh... tirei, tinha uns quebra-cabeça, passei
contátil, montei os quebra-cabeça e tudo. Coloquei atrás pra
identificar números e desenhos. E toda, e toda vez que tinha uma
criança que terminava uma atividade, tudo que tinha, então eu dava
quebra-cabeça pra ele. Pegava um quebra-cabeça e eles podiam ir
montando enquanto os outros iam fazendo. E eles adoraram o
quebra-cabeça, tanto que depois todo mundo já conhecia, não
chamou mais a atenção deles. Em questão de 2 meses já não
chamava mais a atenção deles, o quebra-cabeça. Aqui eu não
trouxe, porque aqui eu tenho uma turma bastante pesada, né. Então
eu não trouxe aqui. Mas eles não tem aquela paciência. Porque tem
um quebra-cabeça lá na sala, ele é pequeninho, e ninguém nunca
montou ele, não gosta daquele quebra-cabeça.
E você levava?
Sim. Mas, oh é da multiplicação, quem sabia a multiplicação também,
né. Eles eram um desafio pra eles, né, os joguinhos. Você tinha de
pegar os resultados, procurar aquele que tinha de encaixar ali, né, o
dominó da multiplicação. Bem interessante. E quebra-cabeça, né,
eles adoravam muito. Mas a partir do momento que eles dominam o
quebra-cabeça, não serve mais, não serve mais. Eu tenho um caça-
tabuada, de repente você conhece. Eh, legal, pra trabalhar em forma
de bingo a multiplicação.
Entrevista Sujeito 4
Mas quando você aborda que deve ser dada maior ênfase à
alfabetização, você acha que ainda está prevalecendo essa questão?
Ainda, eu sinto assim em relação a nossa escola, Edna, por exemplo,
esses dias eu conversei com a Vivi e falei, olha, eu não sei como
vocês fazem isso de manhã, com as professoras de 1a série. Mas, à
tarde eu vou ter que reclamar com ela. Porque ainda no momento se
deixa a Matemática em segundo plano, sabe ainda a gente percebe
isso, por que por mais que se fale, por mais que se questione, ainda
ela fica em segundo plano, e você tem que estar aí.
Você acha que existe algum fator que possa influenciar essa questão
de se colocar a Matemática em segundo plano?
Tem, a dificuldade de entendimento, porque, a Matemática sempre
foi um bicho de sete cabeças. Porque ela foi ensinada de uma forma
que ela não é relacionada com aquilo que você vive, você usa. Por
exemplo, se eu te falar em equações do 2° grau, o que vai se pensar,
a onde é que eu vou usar uma equação do 2° grau. E a gente lá na
7a, 8a, 1o e 2o grau, a gente faz uma equação de 2o grau de uma
página inteira. O que que faz com a gente pense em relação a
Matemática? Que é um horror, que é terrível. E é isso que nós
passamos para os alunos. Folhas, folhas, eu lembro, folhas de
caderno cheinhas, que começava assim grande e ia funilando,
funilando até ficar bem funiladinha, bem fininha. Eh, assim, Edna, eh,
eu vejo assim, também, eh, como já coloquei, a resistência, né, a
questão da má formação, e também a forma com que o nosso aluno
vem pra escola, eles já trazem incutido na cabeça, pelo jeito, pelos
pais, esse medo da matemática. Não sei se você quando estava em
sala de aula, também sentia isso. Mas a gente sente muitas vezes
por parte dos alunos. Eles trazem uma resistência assim alguns pais
chegam assim, nossa, oh, ele está bem em português, em
matemática tá igual eu, ele não aprende, não tem jeito, eu não
aprendi, ele também não aprende. Então essa já é uma questão
cultural, né. E que claro para haver essa mudança não vai ser assim,
né. Vai ter que existir uma mudança do todo. Mas assim, como eu
76
Não sei, mas esse é o jogo “Avançando com o resto” que eu tirei da
revista Nova Escola.
Mas como que era mesmo. Eu jogo aqui 24: 6, que dá 6. [...]
Que dá 4.
Dá 4, ah é.
Na casa 24, então qual é o único número do dado que faz você
avançar?
É diferente. Esse seria mais um jogo pra quarta série, né. Pra quarta
série trabalhar. Eu estaria trabalhando com as operações, né. As
crianças estariam trabalhando com as operações mesmo. Deixe eu
ver neste aqui (“troca cartela”) a questão também começaria com a
tabuada que você estaria trabalhando antes, eh. Com o bingo,
também, a quantidade, número. Achei interessante a questão de
trocar as cores, porque ali entra a questão da socialização, já a
interação entre as crianças, né. E a questão da partilha, porque
assim, eles vão jogar, ah não eu não vou trocar o meu, então tal.
Então já vem toda aquela questão, a construção, o número,
quantidade, até a questão de verificar que tem que estar, por
77
Esse, as fichas ficam viradas pra baixo, tá. Daí essas, esse, esse é o
número alvo. Esse é o número alvo, daí a partir do número alvo você
tenta formar o mais próximo possível. Por exemplo, aqui eu pego
uma, peguei o 400, daí daqui eu pego três cartas. O mais próximo
possível, eu vou ver o que tenho aqui com esses três números. Pode
ser maior.
Pode.
Pode ser maior! O mais próximo possível seria este aqui.
Será?
Maior?!
Você acredita que deva haver um trabalho que anteceda o uso das
fichas?
Não. Eu acho que você pode começar o trabalho direto com as
fichas, porque a criança tem condições de conhecer. Através das
fichas. Você pode estar relacionando com a questão dinheiro o
material. Por que assim, você não trabalha, eu gosto assim, Edna de
levar pra sala de aula, não um só tipo de material, levar vários tipos
de materiais. Por exemplo, eu posso trabalhar com o material
dourado, com fichas, com sementes, com dinheiro, com ábaco, com
cartaz de pregas, com diferentes questões e a criança vai
percebendo que ela pode sim usar diferentes materiais, diferentes
meios pra trabalhar.
Quando você leva jogos para a sala de aula, você costuma levar um
só, ou diversos?
Quando por exemplo assim, se eu tenho um objetivo único naquele
momento, eu assim, no início, quando assim se quero trabalhar algo
que vamos dizer seja início de trabalho, aí eu estarei usando um
79
Você levaria todos esses jogos para a sala de aula de uma só vez?
Sim, desde que as crianças conhecessem eles. Sim, você quer dizer
assim, hoje vou ter uma aula de matemática, quero trabalhar uma
aula de jogos? Sim, sim, posso levar o “Caça Tabuada”, “Troca
cartela”, posso fazer diferentes grupos na sala de aula e cada grupo
estar trabalhando com um jogo diferente. A partir do momento que
eles tenham conhecimento dos jogos, né. E aí também eu posso
estar passando, trabalhando com eles individual, a questão da leitura
das regras, a interpretação das regras que é muito importante
também.
Você acha que existe algum motivo que pode levar as pessoas a não
buscarem o conhecimento?
Existem pessoas que não buscam conhecimento por uma questão de
comodismo, existem aquelas pessoas que não buscam
conhecimento porque acham que já sabem tudo, existem aquelas
pessoas que não buscam, eu falo não é que não buscam, elas não
conseguem se organizar para ir em busca do conhecimento, porque
81
tem filho, porque tem isso, porque tem aquilo, então assim, diferentes
e diferentes formas as pessoas não vão. Eu vejo pela gente, eu não
sei se você também tem disso, tem épocas que se alguém te fala
Edna você tem que ler este livro, você fala, meu Deus do céu, não
quero saber deste livro, não quero saber ou não quero ler. Mas aí,
tem aquela época não agora, quero aprender, quero saber isso, você
vai, você busca, você aprende. Mas, em outros tempos as pessoas
se acomodam. E aí entra aquela questão assim porque as pessoas
não mudam, porque as pessoas não percebem que elas tem que
mudar. Aí muitas vezes eu questiono isto com a Vivi, e aí a Vivi fala
assim pra mim: -Claudia é difícil alguém perceber ou admitir que
preciso mudar. Isto requer uma reflexão sobre si mesma, e isto não é
algo simples ou fácil de se chegar. Porque em sala de aula, porque
eu não faço, eu não percebo, que o meu aluno, não vai entender, só
eu mostrando pra ele, só eu escrevendo que isso é uma centena,
que isso aqui é uma unidade, e que isso aqui é uma dezena. Ele
precisa estar manuseando isto aqui, e ele precisa estar vendo a
quantidade que está aqui. Porque é que eu não vejo isto em sala de
aula? A minha formação, tudo bem, faz com que eu não veja. Mas,
se meu aluno não aprende? Você ensina, ensina, ensina, você levou
as fichas e ele não aprende. Será que não está na hora de eu pensar
que eu tenho que ensinar de uma forma diferente? (tempo calada).
Será que eu não tenho que buscar outras formas de ensinar? Por
isso que eu falei antes da questão de levar diferentes jogos pra sala
de aula, vamos dizer se eu estou trabalhando a tabuada; porque
muitas vezes, lá eu explico pro aluno com ah, com quantidades, eh
sementes, (3x2) eu explico pra ele, não entendeu; eh, faço com a
sementinha de novo, vou lá pra continha, vou lá e muitas vezes falo:
mas fulano vai 3 vezes até lá na porta e volta, quantas viagens você
fez. Ah, professora, eu não entendi. Então o que é que é, diferentes
metodologias, diferentes formas de ensinar. E eu ver que o meu
aluno não tá aprendendo então eu vou ter que mudar.
E o que você acha que essas pessoas que não têm esse
compromisso, o que as levou a entrar para a área da educação
(docência)?
Isso eu senti quando estava na faculdade, Pedagogia é o curso que
tem menos tempo, são três anos só; é o curso mais barato e
infelizmente é visto como o curso mais fácil. Sabe, Edna, eu fico tão
assim angustiada quando eu ouço, pessoas que fazem enfermagem,
que fazem farmácia, falar que não dormem semanas, que ficam sem
viajar, que não sei o quê, que tem que repetir estágio, que o
professor de estágio fica lá no pé dele, fica lá na escola, que a
monografia tem que ficar muitas vezes escrevendo lá na frente do
professor, que tem que estar apresentando monografia, que tem que
estar defendendo, enquanto que nós, nós profissionais formados pra
trabalhar especificamente com a educação, fizemos estágio da forma
como queremos, porque é dessa forma que ocorre, o estágio é feito
da forma como você quer. Geralmente, não é dedicado, não é
monitorado. Se o estagiário vai fazer estágio numa escola, onde a
escola é comprometida, faz com que este estágio seja bom, seja
comprometido, senão é feito de qualquer jeito. Muitas escolas até
assinam as fichas, e vai, vai, vai, pra não ficar aí, pra não incomodar.
Monografia, eu vi muitas pessoas, quando eu estava na faculdade,
comprando monografia, que outros fizeram e elas nem sabem o que
elas escreveram, o que elas deixam lá. E aí você pega assim, eh eu
não sei fazer isto aqui, também nem quero saber, porque eu não vou
trabalhar como professora. E aí tá, termina três anos. No início do
próximo ano você vai pra reunião, pra reunião de início de ano na
Prefeitura, no teatro, vamos dizer aquela pessoa que você ouviu
durante três anos de Pedagogia, ela dizer que ela não queria
trabalhar, que estava fazendo por fazer, ela tá lá, e ela vai trabalhar
como professora. E você faz idéia de como vai ser o trabalho dela
em sala de aula (tempo calada). Isso, eu não vi uma, duas pessoas
falando, eu vi muitas e muitas pessoas falando. A educação é vista
84
Entrevista Sujeito 5
pra fora, porque fora desse mundo da sala de aula, você pode
explorar inúmeras questões da matemática com pedrinhas lá fora,
explorando o bairro, as formas geométricas, as cores, a questão por
exemplo das noções básicas lá de menor e maior, o grosso, fino,
tudo isso você pode trabalhar. E isso não se dá conta só na pré-
escola. Qualquer série que você possa trazer a criança pra fora, pra
trabalhar a matemática. Eu acho que você dá um significado maior
pra ela, né.
como professor, nessa ânsia de cumprir conteúdos, sabe, de, de, de,
de vencer os livros, a gente acaba deixando de lado aquilo que é
essencial que é esse material concreto. Hoje se você for analisar
quase todos não fazem uso do material de contagem porque não
sabem como utilizar, porque não tivemos lá na nossa formação
acadêmica. Eh, vão trabalhar o material dourado, exploram
simplesmente a quantidade, a formação lá do número, a questão da
dezena, da centena, do milhar. O material de cuisinaire, lá também
não sabe-se como usar as barrinhas de cuisinaire. Então o professor
hoje, a coordenação chega e passa: olha nós temos inúmeros
materiais, mas nós não temos eh, como trabalhar isso no concreto.
Porque não basta você dizer que você levou um material concreto,
jogos pra tua sala, se você não souber explorar, né. E isso, e isso, na
época que eu fiz magistério nós tivemos alguma coisa na época. Mas
era assim mais no livro, eu não me recordo assim de materiais
concretos que a gente tenha confeccionado no magistério,
pouquíssimos, raros, né, muito menos no curso de Pedagogia, né.
Então eu acho assim, muito interessante quando a gente vê essas
estagiárias que vem pras escolas, aplicar os estágios delas, e elas
vem, porém são poucas as que vem com uma proposta de aplicação
da matemática, por quê? Porque elas não tem conhecimento de
como trabalhar. E nem nós, os professores aqui, se você for ver
quantos que usam o material concreto são poucos, e os que usam é
assim, eh, aquela forma mais tradicional, a mais simples possível,
né. A gente não, não não, não, não teve a oportunidade que alguém
repassasse isso pra gente, né. É isso deveria ser assim uma
preocupação assim por parte, sabe, da SMED, por parte dos órgãos,
no qual coordena o trabalho do professor. Porque hoje o Brasil está
lá entre os últimos? Porque a gente não faz uso dele, daquilo que se
tem. Nós, né, nós somos um povo muito criativo, né, mas não
sabemos usar o que nós temos, né. Então isso falha realmente, o
meu curso não cresceu. Eu percebo assim que são poucas. Outro
dia minha filha chegou, ela está cursando Pedagogia, e ela chegou e
ela dizia que tinha que fazer um projeto pra trabalhar quatro
operações da matemática. Ela ficou desesperada. Porque a
professora pediu um projeto, né, no qual o grupo tinha que se orga...,
trabalhar. E a professora simplesmente deu noções básicas, algumas
teorias para elas trabalharem e elas não souberam trabalhar. Então,
não adianta, também você dizer que dentro de um curso de
Pedagogia, de Magistério, você tem lá a teoria, a parte de
metodologia, se você não ensinar, né. A mesma coisa você der a
vara a alguém, e não ensinar a pescar. Então, você tem que oferecer
uma oportunidade, uma visão diferente de trabalhar a matemática,
mas você tem que ter conhecimento, enquanto professor, né, de
repassar pro teu aluno como fazer o uso disso, né. Porque às vezes
não é falta de vontade, é não saber realmente. Se hoje você
questionar a maioria dos professores de 1ª a 4ª do município, como
se trabalhar materiais simples assim, né, de como você pode
explorar o material dourado, são poucos os que vão assim te dar
encaminhamentos diferentes, né. Como por exemplo, um bingo, né,
são poucos os que poderiam fazer o uso de uma forma diferente do
bingo. Qualquer outro material que você tenha de matemática, se
você for ver, é por exemplo, se você for questionar como é que você
pode fazer a construção do número, coisas simples, né, são poucos
os professores que vão te dizer no concreto como é que faz, né. E
89
não é por falta de vontade, é porque não sabem fazer o uso disso,
né. E olha enquanto nós professores tivermos uma visão, de que
simplesmente português é a matéria mais importante, e que a
matemática é uma disciplina que pode ser trabalhada a parte, nós
não estamos formando cidadãos, o que tanto pregamos que
queremos formar. Porque se você for ver, olha hoje, se for fazer uma
análise dos alunos que nós temos hoje, por exemplo, a minha sala,
se você for fazer uma análise ali de 100%, quantos é que por
exemplo vão conseguir fazer uma Universidade, são pouquíssimos.
O que é que vai acontecer com a maioria? Infelizmente alguns vão
ser pedreiros, auxiliar de pedreiros, alguns vão trabalhar na Sadia,
né, alguns como caminhoneiros. E a matemática vai ter que estar
presente ali. Daí eles vão saber produzir um texto bem, eles vão
saber noções da cidade, do bairro, mas aquilo que é prático, que
como cidadão é urgente, que é a questão de você saber dar um
troco, você saber é ter uma visão da divisão, da multiplicação, de
uma porcentagem na hora de comprar, eles não vão saber fazer as
relações, né. E a culpa é de quem? É de nós professores, né. Mas
isso não é uma coisa assim, eu não me refiro assim só a minha
escola, isso é geral. Mas eu acho até que se formos analisar, é, é até
uma forma que o sistema usa, o professor, né, porque hoje são, se
for ver a maioria das pessoas essas propagandas. Daí no ano
passado quando eu tinha a 3ª série, que eu trouxe as propagandas
para os meus alunos, pra trabalhar, aqueles encartes de lojas, eu fui
trabalhar porcentagem com eles, e fazer a verificação com eles de
que se eles comprassem a vista e a prazo, que daria muitas vezes
para comprar duas vezes o mesmo produto, eles ficavam
apavorados. Tinha criança minha de 3ª série, por exemplo, que
quando tinha na propaganda assim 1 + 9, eles não sabiam que
aquele um significava a entrada, eles não sabiam, na 3ª série. Então
ali onde é que está a falha, não é porque o professor de 1ª e de 2ª
não trabalhou. É que a gente tem que vencer conteúdos, lá, você
trabalha muitas coisas dentro da matemática, que não, não são
coisas práticas que a criança precisa, né. E daí como é que você faz,
para mim esses encartes eu levei ali duas, três semanas, pra
trabalhar isso com eles. Mas eu percebi assim, que o que, a minha
prioridade naquele momento era qualidade do ensino que eu tava
dando e não a quantidade, eu deixei o Sarquis de lado, que era bem
complicado pra mim na época, eu deixei todos os outros livros. Daí
eu fui trabalhar aquilo que achei que naquele momento, enquanto
cidadão, era importante pra eles, né. Num outro momento eu
trabalhei com eles, pesquisa de preço dentro do bairro. Então eu
passei eh, uma, uma, lista de, de, uma lista de, por exemplo de
alguns produtos que seria comum pra todos, não pedi nada daquilo
que não fosse do cotidiano deles. Então o arroz, o feijão, o óleo, o
macarrão, o café, materiais de higiene, então eles tinham que fazer
por grupos pesquisa. Cada um no mercado aqui do bairro, ou nas
proximidades, e daí nós fomos ver que, por exemplo, que o mercado,
por exemplo, que anuncia que tem os preços mais baratos, que ele lá
no arroz é realmente bem mais barato, questão de R$ 1,00, R$ 2,00
mais barato. Mas lá no óleo o preço tá lá em cima. Então, o que é
que eles aprenderam que a gente hoje tem que fazer pesquisa de
preço, e pra mim fazer pesquisa de preço, eu tenho que saber somar
as vírgulas, né, que aqueles centavos que estão depois da vírgula
fazem diferença na hora que passar no caixa, né; o que é que é uma
90
daquilo que você vai dar. Primeiro que você tem que ter consciência
de que vai ser uma forma diferente que você vai tar trabalhando.
Então a tua sala vai de uma certa forma, vai dar um certo tumulto,
mas que esse tumulto essa bagunça ela é necessária, porque a
criança, ela vai falar mais alto, ela vai interferir no colega, ela vai, ela
vai fazer com que, se expressar de uma forma diferente quando ela
vai ganhar. Então, a tua sala vai se tornar um ambiente diferente.
Mas é um ambiente necessário, e que a gente, muitas vezes peca,
em não passar, né. Então eu acho assim que é uma das melhores
formas de se trabalhar, mas que nós professores, hoje, não estamos
trabalhando. Eu não sei, eu estou falando por mim, né, porque as
vezes nessa ânsia, de como coloquei antes de trabalhar todas outras
questões você deixa questões importantes, né. As vezes a gente fica
lá retomando os números, por exemplo até 50, não era muito mais
fácil pegar um jogo do bingo e fazer a verificação com a criança, se
realmente ela aprendeu, se ela conhece aquele número, né! Então a
gente falha nisso, mas eu acredito que os jogos eles são
fundamentais dentro na sala de aula. Acredito que assim como tem o
cantinho do leitor, deveria ter o cantinho do jogo pra criança dentro
de uma sala de aula, né. Eu utilizo, na medida do possível eu estou
sempre utilizando. Até esses dias para reforçar, eu fiz a experiência
do bingo, e ali eu fui perceber que tinha crianças que eu acreditava
que realmente já tinham tomado conhecimento do número não
conseguiam, por exemplo bater o bingo, porque pulou, porque não
conheciam o número. Não é que não marcou no momento, mas é
que não conhecia, e daí quando eu questionei você tinha por
exemplo o número 32, por exemplo, você tinha. E daí ela olhava
assim, e daí eu percebia que ela não tinha conhecimento ainda do
número. Então isso serviu pra mim retomar o meu trabalho, né. Más
é como eu coloquei, eh, raramente eu estou trabalhando jogos. Eu
sei que estou falhando, mas, é com esta preocupação realmente de
você fazer com que a criança saia da 1ª série lendo, escrevendo,
tendo um conhecimento de número, você deixa pra trás coisas
fundamentais, que por exemplo são os jogos, né. Poderia estar
trabalhando questões importantíssimas ali dentro, dentro de um jogo.
Poderia estar explorando outros conteúdos também.
Como você vê essa questão do jogo na sua sala de aula, nas outras
salas, na escola?
É como eu falei, a gente teve assim uma época ali que a gente teve
um ânimo maior pra se trabalhar. Hoje a gente ta voltando lá ao
tradicional, né. Mas é, e como eu sempre penso, e eu sempre falo
pras professoras assim, o que faz a diferença é a tua vontade,
enquanto professora, né. A tua sala, eh, de repente você não consiga
vencer todos os conteúdos até o final do ano, mas aquilo que teus
alunos saírem eles vão saber aplicar na prática. Porque ele pode ter,
você oportunizou ele a trabalhar numa teoria, um enunciado, mas
você fez ele vivenciar isto, e o jogo permite isso. E ali dentro do jogo
você pode trabalhar inúmeras outras questões, por exemplo, até na
formação social dele como pessoa, o saber perder, né, o saber
ganhar, eh, eh, o você ser humilde de repente de pedir ajuda pro
colega, você saber dividir com o colega, e o jogo permite todas essas
questões. Né, mas você tem que ter o olho clínico, como você vai
trabalhar é realmente você dar este tipo de encaminhamento. Claro,
perdeu, tem crianças, que faz arte, perdeu, joga tudo no chão, né.
Porque tem criança que não sabe perder, e o jogo permite isso. Uma
outra possibilidade, perdeu, então agora você vai tentar de novo, pra
ver se você consegue, pede ajuda pro seu colega se você não
95
ingênuo. Essa etapa permite que se trace o perfil ideográfico de cada sujeito
sobre as percepções que o sujeito têm daquilo que está sendo pesquisado, as quais
são expressas pelo próprio sujeito que as percebe” (MARTINS; BICUDO, 1989,
p.93). Por isso, interessa ao pesquisador, a partir das percepções expressas pelo
98
indivíduo.
conteúdos ou significações. Husserl (1980, p.8) ega que “a consciência não é uma
substância (alma), mas uma atividade constituída por atos (percepção, imaginação,
especulação, etc.) com os quais visa algo”. Logo, ao se dirigir aos significados, o
foco da pesquisa fenomenológica não está nos fatos, tais como podem ser
observados pelo pesquisador, mas sim naquilo que os sujeitos têm a dizer a respeito
entendimento acerca do fenômeno em estudo (“o que é isto, o jogo”) deve-se voltar
ele. Dessa forma, a descrição da experiência vivida pelos sujeitos está na base do
método fenomenológico.
correção vocabular.
para que, cada vez mais, se possa ter clareza em relação ao fenômeno em estudo.
fenomenológica.
fenômeno que irá investigar ou interrogar, nem será necessário que exclua por
tentando tornar explícita a sua estrutura” (FRANÇA, 1989, p.31). De acordo com
Diante disso, cada discurso será filtrado, visando separar os fragmentos que
que exige que o pesquisador faça uma nova análise do texto (discurso). Esse
cada concepção individual pode ser “transformada em idéia” (BELLO, 2000, p.37).
“[...] sempre pegar partindo Este é um fator bem U6 – O ensino deveria partir
deles, ver o que eles já importante que deveria estar daquilo que os alunos já
conhecem [...].” presente dentro da prática conhecem.
pedagógica dos professores,
principalmente, ao
elaborarem o planejamento
de suas aulas, deveriam
partir da realidade dos aluno,
dar continuidade àquilo que
eles já sabem. Por isso,
muitas escolas já estão
realizando atividades que
permitem realizar um
diagnóstico de suas turmas
no início do ano.
“Eu acho que o jogo, ele é O jogo permite despertar o U13 – O jogo é um recurso
um recurso lúdico, né. E gosto pela matemática. Por lúdico.
brincando eles, as crianças, ser um recurso lúdico, as
já vão, vão gostando, eu crianças vão brincando e, aos
acho que a gente tem que poucos, gostando da
despertar o gostar, pra disciplina.
depois estar encaminhando
mais a matemática.”
“Então você vai fazer a O jogo é apresentado como U14 – O jogo possibilita
criança gostar, então ela vai uma possibilidade das prazer e gosto pela
estar despertando o prazer, o crianças gostarem da matemática.
gosto, através desse jogo. matemática, o despertar do
Então eu acredito que assim prazer e o gosto pela
que a gente vai conseguir disciplina, bem como
fazer com que eles gostem desmistificar que a
da matemática. [...] todo matemática é um bicho.
mundo falava da matemática
como um bicho [...].”
“Bom geralmente é, são em O jogo é utilizado como forma U15 – O jogo possibilita a
grupos, né. Pega alguns, de socializar as crianças, por socialização.
alguns jogos, né. As crianças permitir que elas sentem-se
sentadinhas em 4 ou 5, em grupos, bem como é
dependendo e daí eles vão usado como brincadeira. Isto
brincando, né. Já vai tá é possível verificar quando a
também trabalhando, né, professora afirma: ”eles vão
socialização, eh, eu trabalho brincando”. O silêncio
em grupo, no individual eu transmite a dificuldade que
não trabalhei ainda, né. Mais ela encontra de trabalhar o
em grupo mesmo. (tempo jogo em sala, de perceber
calada).” que pode haver, de repente,
uma maneira diferente de se
encaminhar este tipo de
trabalho.
para criança. A matemática é vista como uma disciplina penosa, acreditando-se que
como em algumas situações o jogo é utilizado pelo simples ato de jogar, isto é, “o
“[...] daí eu fiz Filosofia, A falta de opção leva muitas U4 – Falta de opção de
porque não tinha outra opção pessoas a fazerem cursos cursos de graduação.
em Toledo.” que, às vezes, não gostariam
de estar fazendo.
“[...] a Filosofia é uma coisa A Filosofia fez com que se U5 – O curso de Filosofia
que me ajudou bastante, tivesse que ler mais, o que propicia uma melhor
porque eu não gosto muito de propiciou melhor compreensão das coisas.
língua portuguesa, prefiro entendimento acerca das
mais matemática. Mas ela me coisas, uma melhor
ajudou pra ler mais, entender compreensão, e,
mais, escrever melhor.” conseqüentemente, a
possibilidade de uma escrita
melhor. Isso propiciou que a
107
“[...] algumas vezes fico Essa comparação entre U10 – O ensino antigo
pensando a formação que eu conhecimento atual e propiciava uma melhor
tive e o que eu sabia na conhecimento antigo reforça aprendizagem aos alunos.
quarta série, e o que os meus a tese de que o ensino é
alunos sabem hoje na quarta realizado baseando-se
série. E o que me parece, naquilo que nos foi passado.
mesmo naquela educação Há a percepção visível de
tão, tão limitada, tão meu que as crianças de
Deus, a gente acabava, não antigamente aprendiam,
sei, sabendo mais parece do sabiam mais do que as de
que eles que estão na quarta hoje. No entanto, não
série hoje. [...]Não sei consegue identificar o porque
(espaço calada). Não sei deste acontecimento, qual
onde que está o foco, qual é seria o motivo, as causas que
o foco.” estariam ocasionando essa
diferença.
“[...] como eu trabalho com a O registro, a sistematização U11 – O jogo precisa ser
sala de apoio também, é uma da situação de jogo, é algo sistematizado.
coisa que eu já venho imprescindível para que o
utilizando os jogos. Eu jogo não se torne apenas
percebo que mesmo mais um jogo.
trabalhando jogos, se você
não sistematizar, depois, não
registra, eh, o jogo não pode
ser o jogo pelo jogo.”
“Agora se você têm um O jogo pode fazer a diferença U12 – O jogo não possibilita
propósito, tem um objetivo, e na aprendizagem, desde que abstração das situações.
pra isso você tem que ter o mesmo tenha sido
tempo pra pensar, planejar, planejado, que o professor
pra de fato aquele jogo fazer tenha um objetivo bem
diferença, senão não adianta definido. Esse planejamento
você trabalhar, trabalhar o requer tempo do professor.
jogo. E na sala de apoio eu No entanto, a criança não
acho que o jogo é muito bom. pode só jogar, pois, caso isso
[...], você tem que ter um ocorra, o jogo pode lhe tolher
cuidado assim, de não deixar a questão da abstração, algo
só a criança jogar, pra ela muito importante,
não..., porque senão ela principalmente, na
perde essa questão da matemática.
abstração. a gente não pode
deixar a coisa, só, só no
concreto mesmo [...].”
“E assim acontece na sala de O registro seria uma forma de U13 – O registro mostra o
aula também, a criança tem o aluno estar mostrando que o aluno aprendeu na
que registrar, ela tem que aquilo que ele aprendeu na situação de jogo.
voltar, ela tem que ver aquilo situação de jogo.
que ela aprendeu, porque
que é que ela tá fazendo
aquilo.”
109
“E daí não é fácil, eu acho Esse trabalho se torna difícil U14 – O domínio de
que é um trabalho bastante para uma sala com mais de conteúdo é imprescindível.
difícil, principalmente numa 30 alunos. Ressalta-se a
sala de aula, onde tem 30 necessidade do professor
alunos. [...] Agora de fato, conhecer, dominar aquilo que
numa sala de 35 alunos eu ele está fazendo ou
não sei até que ponto vira pretendendo com a atividade.
uma...., se o professor não Caso ele não tenha esse
for muito bom, ele tem que domínio, acabará se
ter muito conhecimento perdendo e não conseguindo
daquilo que ele está fazendo, atingir os objetivos propostos.
senão ele se perde”.
“Eu posso escolher um que Verifica-se a preferência por U15 – Preferência por aquilo
eu conheço?“ aquilo que já se conhece e o que se conhece.
medo do novo.
Como você encaminharia o O longo tempo calada remete U16 – O trabalho com jogos
trabalho com jogos? “(longo a uma dificuldade de saber o exige planejamento.
tempo calada novamente) Eu que explorar na situação de
primeiro teria que parar pra jogo. Mesmo conhecendo o
analisar, pra ver o que é que jogo, para trabalhar em sala,
eu iria querer com este faz-se necessário toda uma
trabalho. [...] Mesmo preparação sobre o mesmo.
conhecendo o jogo, eu teria
que parar e pensar o que é
que de fato eu iria querer
com isto. Eu agora não sei o
que te dizer sobre esta
situação de jogo, eu agora
não saberia te responder.”
“Só que daí o jogo não pode Demonstra que uma das U18 – O professor não pode
ficar pelo jogo, então essa é dificuldades relaciona-se ao deixar que o jogo se torne um
a grande missão.” fato de se levar o jogo para simples ato de jogar.
sala sabendo conduzir a aula
de forma adequada, não
deixando que essa situação
de jogo se transforme em um
simples ato de jogar.
“Se você tivesse um tempo A falta de tempo que a escola U23 – Tempo escasso para
maior, porque não é, a gente tem possibilitado para o planejamento e troca de
diz, sim a gente tem um planejamento leva experiências nas escolas.
tempo pra planejar, você tem professores a planejar de
esse tempo. Mas quarenta e qualquer jeito, haja vista que
cinco minutos pra você uma atividade bem preparada
pensar na atividade, montar requer um tempo maior de
essa atividade, isso daqui reflexão sobre a mesma, e
não dá pra você fazer aqui na essa condição a escola não
escola. Se você fizer, você tem possibilitado ao
vai ter que fazer em casa. professor. Sendo assim,
Porque aqui na escola não alguns professores irão levar
tem condições, eu mal tenho para casa para fazer, outros,
tempo de planejar minhas talvez, não, e, assim,
aulas, assim, e colocar mais conseqüentemente,
ou menos o que a gente vai apresentarão, em sala de
fazer, discutir com outro aula, uma atividade que não
professor e..., né.” estará bem preparada. A
troca de experiência também
é dificultada pelo fator tempo,
pois não há momentos para
essa troca na escola, e fora
dela isso também não
acontece.
A “sorte” foi quem definiu o seu ingresso no magistério, pois, até então, fazia
Seu curso de graduação foi feito por não ter outra escolha de curso. Mas,
assim como a faculdade que cursou não a preparou para ação docente, hoje a
menciona alguns fatores que podem ser a causa desse cenário: a sobrecarga de
própria formação.
hoje em dia.
planejamento e conhecimento por parte do professor. Para ela, o jogo não pode ser
fator que reitera é que o jogo não possibilita uma abstração dos conteúdos.
“Terminei a 8ª série e tudo. Mesmo tendo ficado afastada U4 – Conflito com professor
Voltei, casei, parei com esse da escola por algum tempo, o visualizado como uma
negócio de para, para, retorno foi, novamente, um barreira na relação com a
consegui terminar e fui para o dilema por causa da matemática.
magistério. E foi um dilema a matemática. Os atritos com o
matemática pra mim de novo, professor, além de gerarem
foi uma tortura, tive revolta em relação a ele e à
problemas com o professor, disciplina, estabeleceram
comecei a me revoltar, sabe.” uma situação de tortura.
Você lembra assim de algo O tempo calada demonstra U10 – O jogo é visto como
que você aprendeu na dificuldade em definir o que material concreto.
pedagogia que hoje você leva seria material concreto. O Antigamente, os jogos eram
para a sala de aula? “O jogo é visto como material mais restritos.
material concreto. (calada)” concreto, observando que,
“Eh (calada) tem os jogos né, antigamente, os jogos eram
tem os jogos. Na minha mais restritos. Hoje há bem
época não tinha os jogos mais jogos.
como tem hoje, né jogos,...
eh jogos.”
“Eu acho que hoje tem mais Afirma haver maior cobrança, U11 – Cobrança maior do
cobrança, né para os por parte da coordenação uso de material concreto na
professores em sala de aula, das escolas, no que se refere sala de aula.
se a gente não trabalha com ao trabalho com material
matemática com o concreto, concreto. Já em relação aos
eh é difícil pra gente, né. pais, essa cobrança era
Porque eu acho assim, hoje maior do pai em relação aos
em dia se as crianças não filhos, não em relação aos
tem pai e mãe, como a gente professores. Importa destacar
tinha antigamente. Cobrava que, essa cobrança dos pais
mais, ajudava, colaborava.” a qual se refere, se dava em
termos de atitudes
comportamentais e não tanto
em relação às atividades
escolares propriamente ditas.
“[...], mas o que falta pra Um fator que influencia U12 – Falta de tempo para
gente é que a gente deveria bastante na não utilização confeccionar os jogos
115
ter um tempo de fabricar todo dos jogos propostos no livro propostos no livro didático
esse material que tem, né, didático (Sarquis) é a falta de leva o professor a buscar
principalmente no livro do tempo para confeccionar o jogos conhecidos e já
Sarquis, né”. “Então você material proposto, o que leva prontos.
acaba indo atrás de outros os professores a buscarem
jogos que a gente conhece, outros jogos, que já estejam
utiliza, né. Mas eu acho que prontos. Da mesma forma,
se a gente tem, tivesse optam por jogos que já
assim, sim tempo, de,de, de conhecem, porque muitos
montar esses jogos, aí sim dos jogos propostos no livro
facilitava.” didático são desconhecidos,
o que também apresenta-se
como um fator que leva o
professor a não utilizar os
jogos.
“Eu gosto de jogo. Mas assim O professor leva para a sala U13 – Os jogos são
eu tenho que entender senão de aula somente os jogos escolhidos a partir do que o
tenho pavor de jogo. Eu nem que entende dos quais gosta. professor gosta e conhece.
levo pras crianças, que nem Percebe-se que o
assim, por exemplo, os meus conhecimento de jogos é
assim lá gostam muito, restrito, primeiramente,
desses... (tempo calada)[...] porque vários jogos do livro
do dominó, ah como é que do Sarquis não são
chama aquele conhecidos, e,
joguinho...(tempo calada), posteriormente, porque
esqueci agora, tem um enfatizou o gosto dos alunos
joguinho lá que vai pelo dominó e pelo jogo da
levantando até que você vai memória. Dessa forma, os
lembrar, vai levantando as alunos terão contato e
pecinhas, tem que achar os oportunidade de explorar
parzinhos, como é que somente os jogos com que o
chama? Jogo da memória.” professor se identificar. Daí a
importância do papel do
professor no processo
ensino-aprendizagem.
“[...] olha é tanta coisa que a Aqui, vê-se o jogo como algo U14 – O jogo visto como
gente tem que dar conta, que bom. Porém, acha que algo bom.
a gente acaba deixando deveria ter um momento
coisas boas de lado.” específico para usar o jogo.
Esse fato de mencionar que é
tanta coisa e, por isso, não
há tempo para se utilizar o
jogo, confirma o fato de que
este é visto como algo alheio
ao currículo escolar, sendo
que, através de um mesmo
jogo, deveria ser possível
explorar diversos conteúdos,
o que aponta para a visão
linear de conteúdos que a
maioria dos professores
possuem.
116
“É, o que eu estou te falando, O Sarquis, como U16 – Não usa os jogos do
esses jogos do Sarquis eu anteriormente já foi exposto, Sarquis.
não fiz.“ é um livro que traz muito a
questão de jogos na sala de
aula. Embora este livro tenha
um bom encaminhamento em
relação aos conteúdos e
procedimentos, é pouco
utilizado pelos professores
nas escolas. Um exemplo
claro está na afirmação do
sujeito de que “esses jogos
do Sarquis eu não fiz”.
“Dominó sim. Ah, a gente Verificou-se a prática com U17 – O jogo pelo jogo.
junta os grupinhos, né, aí as jogos, porém sem enfoque
crianças vão jogando... Tem pedagógico. O jogo sendo
criança que não conhece, utilizado somente pelo ato de
não sabe,... não sabia pelas jogar, uma vez que a própria
cores, pelo número, né. professora teve dificuldade
Então, aí eu fui jogando com em saber o que explorava
eles! E aí eles foram quando levava o jogo do
entendendo o jogo.” O que dominó para a sala de aula.
você explora no dominó? Este aspecto é bastante
“(tempo calada) adição.” comum nas escolas: jogos
são levados sem ter um
objetivo proposto.
“Agora esses dias, eu dei os Observa-se o jogo sendo U18 – A afirmação conduz
jogos, os jogos todos pra utilizado pelo aspecto lúdico ao “jogo pelo jogo”,
eles, lá eu tenho, na sala e do brincar, deixando-se a dissociado de qualquer ato
deixei eles brincar sozinhos. parte pedagógica pouco pedagógico.
E aí eu vi que,... não presente. A prática de vários
precisava a professora estar jogos serem levados ao
jogando junto com eles, mesmo tempo revela que
apesar que alguns esta prática tinha como
chamavam vamos jogar aqui, objetivo o ato de jogar,
vamos jogar ali e eu não fui. brincar.
Fui um pouquinho num, um
pouquinho no outro e depois,
depois dava um jeitinho de
sair, né.”
117
“E toda, e toda vez que tinha O jogo como forma de U19 – O jogo sendo utilizado
uma criança que terminava prêmio, pois só podia jogar como prêmio.
uma atividade, tudo que quem terminava as atividades
tinha, então eu dava quebra- propostas. No entanto,
cabeça pra ele. Pegava um percebe-se que este prêmio
quebra-cabeça e eles podiam era sempre o mesmo, e que,
ir montando enquanto os aos poucos, ele não chamava
outros iam fazendo. E eles mais a atenção das crianças,
adoraram o quebra-cabeça, porque elas já conheciam.
tanto que depois todo mundo Para as crianças o quebra-
já conhecia, não chamou cabeça já não tinha mais
mais a atenção deles. Em sentido, pois já tinha perdido
questão de 2 meses já não o aspecto desafiador, o que
chamava mais a atenção apresenta-se como uma
deles, o quebra-cabeça.” característica importante para
o trabalho com jogos.
“Aqui eu não trouxe, porque Atividades com jogo só U20 – Um trabalho com
aqui eu tenho uma turma podem ser utilizadas em jogos exige uma sala com
bastante pesada, né. Então salas de aula em que os poucos alunos e que os
eu não trouxe aqui. Mas eles alunos sejam totalmente mesmos sejam quietos, que
não tem aquela paciência.” passivos, permanecendo permaneçam sentados, e
“ Eu ia trazer os meus de sentados, não conversando e sejam pacientes. Alunos
casa, mas olha, é uma turma cuidando muito do material. domesticados.
assim, terrível, agora que eu Busca-se aproveitar as
estou conseguindo acalmar a situações de jogos para
turma, pra trabalhar mais trabalhar a questão da
esse lado dos jogos mesmo. concentração e da atenção
Que agora que eu vi que dos alunos. Nota-se a
estão sentando, e resistência em se trabalhar
participando sem dar briga, jogos em salas com muitos
sem, eh... cuidar do material alunos, o que é bem
que eles tem aí. Agora que característico de professores
estou conseguindo encaixar. que têm dificuldades diante
Então daqui pra frente das situações de jogos, bem
acredito que assim, que que como possuem arraigados
até nas férias eu estava em si a visão de que, em sala
pensando em construir, né de aula, os alunos devem
alguns jogos pra trabalhar, estar em silêncio,
sim. Porque eu acho que sentadinhos, o que torna-se
agora, a partir do 3º bimestre, difícil se houver um trabalho
a minha turma diminuiu, eles com jogos.
estão mais calmos; então
agora, eu vou poder colocar
mais essa parte de jogo com
eles.”
A Matemática sempre teve muita influência na vida desse sujeito, tendo sido
motivo de muitas paradas (evasão escolar), sendo que, em certas situações, não foi
obstante, acredita que Matemática e Português sejam a base do ensino, o que fica
atualmente há muito mais jogos do que antigamente. Porém, argumenta que a falta
Sarquis, uma vez que grande parte deles é pouco conhecida pela maioria dos
com aquilo que o professor conhece e, se isto for observado, notar-se-á que os
memória). A docente vislumbra o jogo como algo bom, positivo no ensino, embora,
pelo seu discurso, perceba-se que usa o jogo pelo simples ato de aprender a jogar.
utiliza jogos, pois, para a professora em questão, os jogos só podem ser utilizados
número de alunos, fator este que se torna um empecilho na maioria das escolas do
município, uma vez que grande parte das turmas possuem mais de trinta alunos em
sala aula.
“Mas essa nova, eh,... esse O livro do Sarquis está U8 – Livro didático traz nova
novo trabalho, principalmente exigindo dos professores um proposta de trabalho na
em cima do Sarquis, a gente planejamento maior, os disciplina de matemática, a
está tendo que estudar mais, professores estão tendo que qual exige um planejamento
pensar mais e principalmente pensar e estudar mais aquilo minucioso das atividades.
planejar mais. Aí o ponto que vão explorar com seus
chave.” alunos, isso como já
explicitado anteriormente seja
um dos grandes motivos pelo
qual muitos professores
tenham engavetado esse
livro didático. No entanto,
percebem que esse é um
ponto fundamental para essa
mudança no ensino, não
necessariamente na
matemática, mas em todas
as disciplinas.
“Eu vou te falar daqueles que Falar do que se conhece é U12 – Medo do novo.
eu conheço mais.” mais fácil, percebe-se uma
certa resistência ao novo.
“[...] aqui seria mais uma Como é explicitado, o jogo U13 – O jogo usado na
questão de fixação. Da, do simplesmente seria usado no fixação de conteúdos.
conhecimento que já está sentido de fixar um conteúdo
dentro da criança, já foi já construído, um
concluído, né. Uma questão conhecimento pronto e
pessoal.” acabado, ou seja, o jogo não
possibilita a construção do
conhecimento.
“Você vê o quanto a gente Gostaria de destacar que o U15 – Os jogos são pouco
deixa de trabalhar com os fato de estar fora da sala de trabalhados.
jogos, com os nossos alunos, aula não justifica essa não
também pelo fato de estar utilização dos jogos, uma vez
fora da sala de aula.” que estando na coordenação
o trabalho de orientação e
encaminhamentos juntos aos
professores dá a
possibilidade de indicar,
sugerir e até mesmo cobrar
que os professores utilizem o
jogo em sua prática
pedagógica. Então esse fato
de justificar que está fora da
sala de aula, acredito que é
uma forma de tirar o corpo
fora.
Quando você leva jogos pra Essa questão que ela coloca U17 – A quantidade ainda
sala de aula você costuma de início de trabalho ela se define o conhecimento,
levar um só, ou diversos? refere a já terem jogado ou mesmo num trabalho com
“Quando por exemplo assim, ela já ter ensinado o jogo jogos.
se eu tenho um objetivo único para as crianças. Importante
naquele momento, eu assim, destacar que um mesmo
no início, quando assim se conteúdo pode ser explorado
quero trabalhar algo que em diferentes jogos. No
vamos dizer seja início de entanto, percebe-se algo do
trabalho, aí eu estarei usando tradicional presente na sua
um único material, mas fala: a quantidade ainda
depois que eu dei a define a qualidade do
introdução, que eu trabalhei, conhecimento, e isso
124
Você levaria todos esses Os jogos só podem ser U18 – Os jogos são levados
jogos pra sala de aula de manuseados pelos alunos a para sala de aula de acordo
uma só vez?, “Sim, desde partir do momento que eles com aquilo que os
que as crianças conheçam os mesmos, esse professores conhecem.
conhecessem eles. [...] posso fato indica que as crianças
fazer diferentes grupos na não tem a possibilidade de
sala de aula e cada grupo construir seu conhecimento,
estar trabalhando com um o professor ensina eles a
jogo diferente. A partir do jogarem e depois eles vão
momento que eles tenham praticando para fixar o que
conhecimento dos jogos, né. eles aprenderam para que
E aí também eu posso estar possam jogar de vez em
passando, trabalhando com quando. O jogo também dá
eles individual, a questão da possibilidade de se trabalhar
leitura das regras, a algumas regras,
interpretação das regras que consideradas importantes
é muito importante também.” pela professora.
“O erro que a gente faz Muitas vezes a prática com U20 – O professor como
muitas vezes é pegar por jogos é encaminhada mediador da aprendizagem,
exemplo, todos os jogos erroneamente, talvez pela até mesmo num trabalho com
agora que eu tenho aqui na falta de conhecimento dos jogos. No entanto, o jogo
minha frente, eu pegar ir lá professores. Porque de nada ainda é manifestado pelo
pra 4ª série, dividir a sala em adianta levar aquele monte simples ato de jogar.
grupos e dá os jogos, oh de jogos para sala de aula se
pessoal joguem. Não é por eu não tiver um planejamento
aí, eu acho assim, a gente bem feito, estabelecido os
muitas vezes tem aquela objetivos que se pretende
velha ainda coisa na cabeça com essa atividade.
assim, ah, eu sei, eles Importante destacar que essa
também vão saber. E não é interação professor/aluno se
125
“Eu acho que é por aí essa O jogo além de dar a U21 – O jogo além de
questão do jogo, até é uma possibilidade de explorar possibilitar a aprendizagem
formação assim, não é o conteúdos matemáticos, ele de conteúdos matemáticos,
jogar pra aprender pode propiciar a socialização, ele propicia a socialização.
matemática, mas o jogar para a vivência de grupo.
socializar, pra vivenciar, né.”
“[...] é difícil alguém perceber Toda mudança requer uma U24 – Toda mudança requer
ou admitir que preciso mudar. reflexão. Esta reflexão acho reflexão sobre o que se está
Isto requer uma reflexão bastante difícil, pois eu fazendo.
sobre si mesma, e isto não é admitir que estou agindo de
algo simples ou fácil de se maneira inadequada e que
chegar. [...] Então o que é devo mudar, requer uma
que é, diferentes caminhada e um
metodologias, diferentes compromisso muito sério
formas de ensinar. É eu ver acerca daquilo que se faz.
que o meu aluno não tá Bem como muitos de nossos
aprendendo então eu vou ter professores não admitem que
que mudar.” um problema de
aprendizagem, ou melhor,
que o seu aluno não está
aprendendo devido a maneira
de como ele está ensinando.
O problema é sempre do
aluno, pois é comum
ouvirmos professores
dizerem eu já expliquei
milhares de vezes para ele e
ele não entendeu, porém ele
esquece de analisar que
essas mil vezes que ele
explicou foi sempre a mesma.
“Pera aí aqui tem um jogo Os jogos que aparecem no U25 – Os jogos muitas vezes
nessa página, você não tem livro didático, especialmente não são trabalhados devido a
obrigação de saber este jogo, no livro do Sarquis, são jogos dificuldade de compreensão
eu vou tentar aprender ele. às vezes desconhecidos e dos próprios professores.
Se eu não conseguir, eu vou que muitas vezes exigem um
buscar alguém pra me ajudar, pouco de raciocínio para
mas daí eu olho pro jogo, compreendê-lo. Isso faz com
mas isso daqui é muito difícil, que muitos professores,
ah, eu não vou fazer. Mas devido a essa dificuldade de
assim se pra mim tá difícil compreensão, não trabalhem
imagina pro meu aluno, como alguns deles, ou melhor, não
que vai ficar o meu aluno? trabalham nenhum tipo de
Não, ele não vai entender, jogo. O próprio professor já
não então eu nem vou antecipa a dificuldade do seu
trabalhar.” aluno, com isso ele deixa de
oportunizar o seu aluno a
construir um conhecimento
que poderá ser significativo
para ele.
“[...] quando a gente fala em Material concreto é definido U26 – Jogos e brincadeiras
material concreto é canudo, como aquilo que se pode são definidos como material
tampinha, eh, o que mais, pegar (sementes, tampinhas), concreto, destinados a pré-
sementes, seja lá o que for. além desses ela define escola e as primeiras séries.
Mas, material concreto é tudo também como sendo material
o que pode pegar, então o concreto os jogos, as
que é que é são jogos, são brincadeiras o faz de conta.
brincadeiras, é o faz-de- No entanto todos esse tipos
conta, e tudo o mais; e daí de materiais concretos são
127
“ Então assim são inúmeras A busca por conhecimento U27 – O aluno é o maior
as questões que fazem com depende somente de nós prejudicado na falta de
que a gente muitas vezes em mesmos, isso implica num compromisso do professor.
sala de aula, ou a gente, compromisso profissional. No
como profissional deixa de ir entanto nosso descaso
buscar. Só que quando a implica diretamente no
gente deixa de buscar, não conhecimento de nossos
somos nós que estamos alunos, pois eles é que serão
perdendo, são os nossos os maiores prejudicados.
alunos. E aí entra o
compromisso nosso como
profissional.”
E o que você acha que essas Muitas pessoas cursam U28 – Falta de compromisso
pessoas que não tem esse Pedagogia por ser um curso na área da educação.
compromisso, o que levou fácil, de curta duração e
elas a entrarem para a área barato. Talvez esses sejam
da educação (docência)? os motivos que levam tantas
“Isso eu senti quando estava pessoas a atuarem na área
na faculdade, Pedagogia é o da educação, mas que não
curso que tem menos tempo, possuem um compromisso
são três anos só; é o curso sério acerca das questões
mais barato e infelizmente é que implicam no processo
visto como o curso mais ensino-aprendizagem.
fácil.”
“[...] vamos dizer aquela Muitas pessoas fazem o U29 – A educação é vista
pessoa que você ouviu curso de Pedagogia, como a forma mais fácil de se
durante três anos de pensando no retorno ganhar dinheiro.
Pedagogia, ela dizer que ela financeiro que terão, pois
não queria trabalhar, que para eles a educação é a
estava fazendo por fazer, ela forma mais fácil de se ganhar
tá lá, e ela vai trabalhar como dinheiro. Pessoas que fazem
professora. E você faz idéia um curso com esse intuito
de como vai ser o trabalho com certeza não terão
dela em sala de aula (tempo preocupação em conhecer
calada). Isso, eu não vi uma, metodologias, compreender o
duas pessoas falando, eu vi processo ensino-
muitas e muitas pessoas aprendizagem, entre outras
falando. A educação é vista questões que são
assim, como a forma mais fundamentais para a atuação
fácil de se ganhar dinheiro.” na educação. Como colocado
128
porém tem preferência pela disciplina de Português. A matemática é vista por ele
como um bicho de sete cabeças, uma disciplina complicada, que muitas vezes é
plano. Além disso, o medo e a dificuldade acerca da Matemática podem ser tidos
como uma questão cultural. Todas essas questões podem decorrer da formação
a lateralidade etc. No entanto, o trabalho com jogos é dificultado pela formação falha
dos professores, o que talvez seja uma das causas dos jogos serem pouco
trabalhados nas escolas. Eles são levados para a sala de aula de acordo com aquilo
ele a educação é concebida como a forma mais fácil de ganhar dinheiro. Também
buscarem novos conhecimentos, sendo o aluno o maior prejudicado. Isso pode ser
haver mudanças, mas isso exigirá uma reflexão de cada profissional da educação.
“[...] você sabe que devido a A matemática ainda é uma U3 – A matemática é deixada
ter pessoas diferentes, com disciplina que é deixada de para o segundo plano.
capacidades de lado. E isso só vai mudar
aprendizagens diferentes, é quando houver uma mudança
preciso conhecer todas as na postura dos professores,
formas possíveis e a deles perceberem que a
matemática é deixado um matemática é uma disciplina
pouco de lado. Se a gente como as outras. Pois como
perceber que ela é uma aborda o sujeito entrevistado
matéria normal como as ela é vista como uma matéria
outras, que ela, é tão anormal, bem como ela é
importante, talvez até mais, imprescindível na construção
que as outras, porque da cidadania.
enquanto cidadão a criança
precisa conhecer o dinheiro,
131
“Dentro de uma escola como A matemática vai muito além U4 – A matemática precisa
você consegue fazer com a do registro, do traçado, uma ser vivenciada.
que a matemática seja vez que esses fatores estão
vivenciada. Claro que você associados a outras questões
precisa fazer o registro, que (lateralidade, coordenação
ela precisa saber o traçado, motora, etc). Há necessidade
mas tudo isto está associado de que o aluno vivencie a
a outras questões.” matemática, isso é algo
bastante difícil dos
professores fazerem em sala
de aula.
“Por isso eu não sou contra Percebe-se que formação U9 – Formação falha: ensino
que estagiários hoje estejam permanece falha, pois o pautado em teorias.
nas salas de aula. Porque ensino ainda é baseado em
elas começam a perceber a teorias, que segundo a
diferença entre a teoria e a professora se difere da
prática. Porque, por exemplo, prática que se utilizará na
133
“[...] mesmo quem tem hoje a Essa ânsia de vencer o livro U10 – A ânsia de vencer o
metodologia, nós temos nas didático é resquício do ensino livro didático, leva
escolas vários materiais, mas tradicional. Muitas vezes essa professores a esquecer de
a gente como professor, ânsia faz com que os trabalhar aquilo que é
nessa ânsia de cumprir conteúdos sejam trabalhados essencial (material concreto),
conteúdos, sabe, de, de, de, superficialmente, isso é decorrente da
de vencer os livros, a gente descontextualizados, e os formação falha.
acaba deixando de lado materiais concretos embora
aquilo que é essencial que é sejam considerados
esse material concreto. Hoje essenciais no processo
se você for analisar quase ensino-aprendizagem, eles
todos não fazem uso do são esquecidos. Outro fator
material de contagem porque que leva muitos professores a
não sabem como utilizar, não utilizar materiais
porque não tivemos lá na concretos em sala de aula é
nossa formação acadêmica.“ não saber explorar esse
material, alegam eles que
isso decorre da formação
falha que tiveram, pois esses
tipos de materiais não foram
explorados em sua formação
acadêmica.
“Porque não basta você dizer Não basta levar um material U11 – O trabalho com
que você levou um material concreto ou um jogo para material concreto e/ou jogos
concreto, jogos pra tua sala, sala de aula, porque o exige objetivos bem definidos
se você não souber explorar, material por si só não tem e isso é difícil, pois os
né. E isso, e isso, na época valor nenhum, o que professores não tiveram isso
que eu fiz magistério nós realmente vai fazer a em sua formação.
tivemos alguma coisa na diferença é o
época. Mas era assim mais encaminhamento dado à
no livro, eu não me recordo essa atividade, é o professor
assim de materiais concretos saber o que explorar
que a gente tenha realmente para desencadear
confeccionado no magistério, uma aprendizagem
pouquíssimos, raros, né, significativa a seu educando.
134
“[...] você tem que oferecer Cabe ao professo levar uma U12 – Muitas vezes o
uma oportunidade, uma visão proposta de matemática professor deixa de usar um
diferente de trabalhar a diferente para a sala de aula, material concreto por não
matemática, mas você tem muitas vezes isso não ocorre conhecer ou não saber
que ter conhecimento, devido a falta de vontade dos explorar adequadamente,
enquanto professor, né, de professores, mas sim por não mas se dado a uma criança
epassar pro teu aluno como conhecerem realmente as ela cria suas estratégias.
fazer o uso disso, né. Porque possíveis estratégias que o
às vezes não é falta de material concreto pode
vontade, é não saber oferecer. Como foi explicitado
realmente. Se hoje você o professor precisa dominar,
questionar a maioria dos conhecer o material para que
professores de 1ª a 4ª do realmente o processo ensino-
município, como se trabalhar aprendizagem seja
materiais simples assim, né, satisfatório.
de como você pode explorar
o material dourado, são
poucos os que vão assim te
dar encaminhamentos
diferentes. [...] oportunizar ela
a ter um material concreto ela
cria as possibilidades dela,
[...].”
“Olha, nós, acho que já nós Os estudos dos PCN U14 – O PCN propiciou um
evoluímos muito, eu acho que propiciaram uma nova visão olhar diferente acerca da
a gente, a gente teve uma acerca da matemática, matemática.
caminhada assim, bastante servindo como uma injeção
grande, quando dentro dos de ânimo para prática
estudos dos PCN, a gente pedagógica. Estes estudos,
começou a repensar a assim como outros cursos de
matemática de uma forma capacitação são
diferente. [...], a gente quando considerados válidos, porque
faz um curso, por parte da de uma certa forma mexem
SMED ou qualquer outro com nossa consciência
órgão, mesmo dentro da profissional, pois lá se vê de
escola, a gente recebe uma forma prática a aplicação das
injeção de ânimo, né, a gente teorias. No entanto há um
pensa nossa eu posso fazer fator bastante preocupante,
diferente realmente. Porque quando o professor faz o
lá eles estão mostrando uma curso, ele se motiva a
forma diferente de trabalhar, trabalhar esse diferente e
estão de uma certa forma realmente fazer a diferença
mexendo com a nossa na sala de aula, mas não sei
consciência enquanto o que acontece parece que
professor. Então, a gente esse encanto logo passa e
progrediu muito em relação a ele volta a estaca zero, volta
matemática, mas acho a trabalhar como sempre
também que a gente trabalhou. Isso fica bem claro
estacionou. Então, ah, porque quando ressalta o progresso
a gente recebe essa injeção e ao mesmo tempo esse
de ânimo e de repente a estacionar, essa parada.
gente dá uma parada, [...].”
“[...] a questão dos jogos, eu O jogo visto como uma forma U15 – O jogo é visto como
acho assim que uma das lúdica de ensinar, no entanto uma forma lúdica de ensinar
melhores formas de trabalhar, muitos professores ainda e essencial na sala de aula,
porque é a forma lúdica. Que batem na tecla que o aspecto no entanto o domínio do
a criança necessita disso. A lúdico deve apenas próprio jogo pelo professor é
gente não pode esquecer que prevalecer no trabalho fundamental.
o lúdico não está associado a escolar das crianças de pré-
pré-escola, que o lúdico tem escola. Bem como, é
que estar presente em todos imprescindível que o
os momentos. [...] Então, eu professor domine o jogo, para
acho que ele é que assim ele possa explorar
importantíssimo, fundamental adequadamente cada
dentro de uma sala de aula. situação, por isso o professor
Mas é como eu coloquei pra ao levar um jogo para sala de
você levar um jogo pra sala aula ele deve ter claro o que
de aula, você enquanto ele pretende com o mesmo,
professor você tem que ter ser algo que esteja presente
domínio daquilo que você vai dentro do seu planejamento.
dar.”
“Quem é que não gosta de, O trabalho com jogos muitas U16 – O jogo pelo jogo.
de um jogo, por exemplo, né. vezes se resume aos simples
136
“Diante de situações de jogos O jogos são esclohidos para U20 – Os jogos são
como estas (Caça-tabuada, serem trabalhados em sala escolhidos de acordo com
Troca cartela, Mais próximo de aula a partir daquilo que aquilo que o professor
possível, Bingo da tabuada, os professores conhecem. conhece.
Avançando com o resto, Jogo Neste sentido gostaria de
das Trocas), como você destacar que por isso mesmo
encaminharia este trabalho? os jogos são bem restritos, ou
Eu não conheço estes jogos seja, os professores
ali.” conhecem poucos jogos.
“[...] então primeiro vou ter Percebe-se que o jogo é U21 – Pré-requisitos
que fazer uma sondagem, trabalhado como reforço ou antecedem o trabalho com
então, que trabalhar pré- fixação de um determinado jogos.
requisito pra se chegar a conteúdo, uma vez que antes
esse jogo, [...] Então eu faria de apresentar determinados
uma sondagem por exemplo jogos se faz necessário
de compor e decompor os trabalhar certos pré-
números a primeira forma, requisitos. O jogo não é
para depois chegar a este utilizado para introduzir
jogo, [...]Mas se ser conteúdo.
trabalhado pré-requisitos
anteriores com certeza que
ela vai reconhecer.”
“[...] só que ela também tem Essa exigência de registro, U24 – O registro é que vai
que ter uma referência no de ser nele que o professor mostrar se o aluno
138
“[...] olha quando é que eu O Sarquis não foi e nem está U25 – O livro didático exige
comecei a gostar do Sarquis. sendo um livro muito bem nova postura dos
Porque eu, eu detestava o aceito pelos professores da professores, o que leva
Sarquis na 3ª série. Mas eh, rede municipal de Toledo, muitos deles a abandoná-lo e
mas é porque eu não primeiro por ser um livro que buscar um livro que não exija
conseguia entender essa apresenta uma proposta de muito raciocínio.
forma diferente de trabalhar trabalho bem diferenciada, o
matemática. Primeiro porque que exigiu uma mudança de
já deu um susto em nós, postura dos próprios
porque não havia resposta professores e exigiu deles um
nenhuma. Daí, como maior planejamento, estudo;
professora, ele te deu uma e segundo por ser um livro
chamada pra você primeiro que não trás respostas, assim
estudar, ter segurança como a maioria dos
daquilo que você vai passar, exercícios possibilitam
pra você poder aplicar. E estratégias diferentes de
como eu me apaixonei resolução o que requer um
agora? Quando eu percebi aprofundamento no
qual foi o intuito dele, qual foi planejamento. Gostaria de
a visão que ele teve da destacar que esse livro é
matemática pra criar um livro condenado pela grande
assim, né.” maioria dos professores da
rede municipal de ensino de
Toledo, que engavetaram o
Sarquis e o substituíram por
livros que tenham
principalmente as repostas e
que apresentam diversos
exercícios sobre um mesmo
conteúdo.
“E é que nem, isso a gente A nova proposta apresentada U26 – Livro didático
sempre ouvia, né, que o no livro do Sarquis está apresenta uma nova proposta
professor pra gostar do propiciando atividades que de ensino, que permite uma
Sarquis, eh, ele, ele, tinha possibilitam o aluno de construção do conhecimento
que começar lá da 1ª série. E construir seu conhecimento, pelo próprio aluno.
realmente daqui uns anos os alunos estão passando por
você vai ver como que você uma caminhada, que
vai mudar essa visão em possivelmente poderá mudar
relação a esse livro, porque a visão de alguns professores
as crianças, estão numa em relação esse livro
caminhada, eles estão numa didático, no entanto esse é
construção da matemática, um trabalho moroso.
139
“É como eu falei, a gente teve A falta de motivação leva U27 – A falta de motivação
assim uma época ali que a muitos professores a está presente na prática da
gente teve um ânimo maior trabalhar dentro de uma sala de aula. A vontade
pra se trabalhar. Hoje a gente perspectiva tradicional. No individual é que vai fazer a
ta voltando lá ao tradicional, entanto a vontade de cada diferença.
né. Mas é, e como eu sempre professor é que vai fazer a
penso, e eu sempre falo pras diferença dentro da prática
professoras assim, o que faz escolar. Muitas vezes não é a
a diferença é a tua vontade, quantidade de conteúdos que
enquanto professora, né. A é importante, na medida que
tua sala, eh, de repente você hoje um dos motivos que os
não consiga vencer todos os alunos alegam não gostarem
conteúdos até o final do ano, da matemática é que eles
mas aquilo que teus alunos não conseguem aplicar
saírem eles vão saber aplicar determinados conteúdos, ou
na prática.” seja, a matemática é algo
alheio a vida cotidiana.
“E ali dentro do jogo você O jogo possibilita a dinâmica U28 – O jogo possibilita a
pode trabalhar inúmeras do trabalho de grupo, no qual socialização, elemento
outras questões, por é possível trabalhar vários fundamental na sociedade
exemplo, até na formação conceitos fundamentais para vigente.
social dele como pessoa, o a vida em sociedade
saber perder, né, o saber (humildade, ajuda mútua,
ganhar, eh, eh, o você ser saber compartilhar, etc.) e
humilde de repente de pedir principalmente, no jogo o
ajuda pro colega, você saber sujeito pode interagir com os
dividir com o colega, e o jogo colegas.
permite todas essas
questões.”
“Porque ele pode ter, você O jogo permite que o aluno U29 – O jogo permite
oportunizou ele a trabalhar vivencie determinadas vivenciar a teoria.
numa teoria, um enunciado, situações, mesmo que essa
mas você fez ele vivenciar seja apenas uma teoria.
isto, e o jogo permite isso.”
“Então, o jogo permite não só Um trabalho com jogos se for U30 – O trabalho com jogos
o jogo pelo jogo, mas permite bem planejado pode exige bom planejamento.
você trabalhar outras contribuir significativamente
questões importantíssimas, na formação do sujeito,
para formação da abrangendo aspectos
personalidade dele, porque cognitivos, afetivos e sociais
ele vai ser um adulto, de do mesmo. Porém o
repente mais tranqüilo, um professor precisa
adulto mais consciente, né. conscientizar-se de que será
[...] Mas pra isso você tem um ambiente diferente de
que ter um planejamento trabalho, mas que com
muito bem trilhado, né, você certeza vai ser um momento
tem que ter consciência que a em que ele estará
tua sala vai ser um ambiente possibilitando um
diferente, mas que vai ser crescimento muito grande a
140
“Mas eu acho que a nossa As escolas dispõem de jogos, U31 – As escolas tem jogos e
escola, por exemplo, nos porém não basta só ter os materiais concretos.
temos vários jogos aqui, nós jogos ou materiais concretos.
temos, nós temos jogos ali, Porque o que vai fazer
esses dias, o professor falou realmente a diferença no
temos jogos que nós processo ensino-
podemos trabalhar aprendizagem é o
praticamente em dupla com o encaminhamento que será
material dourado, de tantas dado à esse material, o que
caixinhas que nós temos [...].” irá depender da prática
vigente do professor.
“[...] olha só queria dizer que, A matemática ainda é uma U32 – A matemática é uma
assim, é importante que se disciplina que assusta alunos disciplina que assusta alunos
tenha pessoas como você, e professores, por isso se faz e professores, mas essa
que estejam preocupada com necessário um estudo sobre visão pode ser modificada
essa disciplina, né. Porque a essa disciplina para que quando os professores
matemática ainda assim se consiga encontrar conhecerem as possibilidades
infelizmente é uma disciplina novos caminhos, propiciando de trabalho com essa
que assusta muito o aluno e o dessa forma, novas disciplina e perceberem que
professor. Mas que se a perspectivas a professores e podem fazer a diferença.
gente for ver que a alunos, possibilitando o gosto
matemática ela é uma lógica, por essa disciplina.
ela é uma matéria exata, né, Conhecendo as
a gente pode, que a gente possibilidades de um trabalho
pode criar através dela, a com a matemática, o
gente pode viajar com a professor poderá fazer a
criança num mundo diferente diferença, principalmente com
de criação, de a gente poder seus alunos.
fazer a diferença com o
nosso aluno [...].”
Para ela, o PCN apresentou uma nova visão da matemática, e aponta que o
livro didático (Sarquis) adotado no município aborda uma nova proposta de ensino
para a disciplina que exige uma nova postura dos professores; ela salienta que
O sujeito 5 afirma que o trabalho com jogos e/ou materiais concretos exige
um bom planejamento. O jogo seria uma forma lúdica de ensinar, considerada por
ela essencial para o trabalho em sala de aula, haja vista que o mesmo possibilita a
O lúdico, para esse sujeito, seria uma das melhores formas de se trabalhar,
professor em sala de aula, fazendo com que perceba que pode fazer a diferença.
análise: o primeiro, caracterizado por ideográfico, uma vez que há apenas uma
preocupação de análise individual de cada sujeito, como pode ser visto anteriormente.
Categorias Convergências
Sujeito 1 Sujeito 2 Sujeito 3 Sujeito 4 Sujeito 5
Formação falha: falta de U3, U4, U21 U7, U8 U3, U4, U8, U9,
embasamento no ensino e na U10 U6, U19, U10, U11
prática de matemática através dos U28
jogos
As potencialidades do jogo: U13, U14, U17 U21 U14, U16, U2, U15,
aspectos lúdicos e pedagógicos U15 U21 U18, U22,
U28, U29,
U30
Insatisfação em relação ao U9 U8, U9, U12, U14 U7,U9, U3, U4,
processo ensino-aprendizagem U22 U15, U23, U13, U14,
da matemática U24, U25, U17, U19,
U27, U29, U27
U30
Resquícios de um ensino muitas U17 U8, U10, U20, U23 U13, U17 U21, U24,
vezes taxado de “tradicional” U19 U25
presentes na prática do professor
atual (o “tradicional” aqui deve ser
contextualizado a partir do tempo
T, de formação dos sujeitos da
pesquisa, que varia de 2 ≤ T ≥ 24)
O professor e sua relação U1, U7, U6 U2, U3 U1, U2, U1, U5,
conflituosa com a matemática, U11 U5, U8, U6, U7,
sua formação e sua própria U10, U11, U26, U32
prática U22
143
O jogo pelo ato de jogar U16 U11, U18 U17, U18 U20 U16
Material concreto: ênfase em seu U5 U2, U20 U10, U11 U26 U12, U31
uso na sala de aula
Critérios que o professor utiliza U12, U17 U15, U17 U12, U13, U12, U18 U20, U23
para escolher os jogos que levará U16, U22
para sala de aula
As Convergências
Sujeito 1
Sujeito 2
Sujeito 3
calada) Não, daí uma coisa não entrou muita coisa não. É bem vago
mesmo.”
Sujeito 4
Unidade 19: “Sabe, Edna, eu acho assim, que essa questão dos
jogos é muito difícil pra gente trabalhar em sala de aula, porque?
Primeiro momento, como a gente conversou, a gente não sabe atuar,
na nossa formação não tinha jogos.”
Unidade 28: E o que você acha que essas pessoas que não têm
esse compromisso, o que as levou a entrar para a área da educação
(docência)? “Isso eu senti quando estava na faculdade, Pedagogia é
o curso que tem menos tempo, são três anos só; é o curso mais
barato e infelizmente é visto como o curso mais fácil.”
Sujeito 5
Unidade 9: “Por isso eu não sou contra que estagiários hoje estejam
nas salas de aula. Porque elas começam a perceber a diferença
entre a teoria e a prática. Porque, por exemplo, a matemática se
fosse trabalhar dentro de uma Universidade, de uma faculdade, a
matemática é uma prática: a criação de jogos, né, que instrumentos
oportunizar, mas não se faz isso. A aptidão a essas metodologias
que aplicam isso é muito mais a teoria do que a prática. E a teoria
você pode abrir qualquer livro que você encontra a teoria. Daí elas
145
vem pra sala de aula, elas não conseguem associar essa teoria,
fazer essa aplicação dessa teoria na prática, né.”
Unidade 10: “[...] mesmo quem tem hoje a metodologia, nós temos
nas escolas vários materiais, mas a gente como professor, nessa
ânsia de cumprir conteúdos, sabe, de, de, de, de vencer os livros, a
gente acaba deixando de lado aquilo que é essencial que é esse
material concreto. Hoje se você for analisar quase todos não fazem
uso do material de contagem porque não sabem como utilizar,
porque não tivemos lá na nossa formação acadêmica”.
Unidade 11: “Porque não basta você dizer que você levou um
material concreto, jogos pra tua sala, se você não souber explorar,
né. E isso, e isso, na época que eu fiz magistério nós tivemos alguma
coisa na época. Mas era assim mais no livro, eu não me recordo
assim de materiais concretos que a gente tenha confeccionado no
magistério, pouquíssimos, raros, né, muito menos no curso de
Pedagogia, né. Então eu acho assim, muito interessante quando a
gente vê essas estagiárias que vem pras escolas, aplicar os estágios
delas, e elas vem, porém são poucas as que vem com uma proposta
de aplicação da matemática, por quê? Porque elas não tem
conhecimento de como trabalhar. E nem nós, os professores aqui, se
você for ver quantos que usam o material concreto são poucos, e os
que usam é assim, eh, aquela forma mais tradicional, a mais simples
possível, né.”
poucas aulas de matemática. Além disso, não foram aulas suficientemente sólidas,
cotidiano, bem como na maneira como utilizam e como tratam o jogo. Não pôde ser
identificada uma base conceitual consistente, e muito menos preparo para trabalhar
com a matemática, o que se agrava ainda mais com os jogos. Como ressalta o S4, o
conhecimento era repassado como sendo algo pronto e acabado, sem haver
Esse aspecto vago do ensino, enfatizado pelo S5, permite questionar porque
conhecimento”, como pontua o S5, a teoria vista não consegue se difundir em uma
possível esperar dos mesmos uma reprodução da precariedade do sistema, uma vez
os níveis de ensino.
Sujeito 1
Unidade 13: “Eu acho que o jogo, ele é um recurso lúdico, né. E
brincando eles, as crianças, já vão, vão gostando, eu acho que a
gente tem que despertar o gostar, pra depois estar encaminhando
mais a matemática.”
Unidade 14: Então você vai fazer a criança gostar, então ela vai estar
despertando o prazer, o gosto, através desse jogo. Então eu acredito
que assim que a gente vai conseguir fazer com que eles gostem da
matemática. [...] todo mundo falava da matemática como um bicho.”
Sujeito 2
Sujeito 3
Sujeito 4
Unidade 21: “Eu acho que é por aí essa questão do jogo, até é uma
formação assim, não é o jogar pra aprender matemática, mas o jogar
para socializar, pra vivenciar, né.”
Sujeito 5
Unidade 2: “Eu comecei perceber que não tinha outra forma, a não
ser você trabalhar ela de uma forma lúdica, eh, também associada a
materiais concretos; e fazer com que a criança compreenda o
processo daquilo que ela está fazendo. Mas realmente foi como mãe
que comecei a descobrir como tem uma forma diferente de você
trabalhar a matemática, e eu comecei também ter o gosto e
despertar nela o gosto pela matemática, que até então ela não tinha,
né. E depois com os meus alunos, eh, eh, comecei a também ter pré-
escola, daí ali então, eu me encontrei realmente, né. Porque daí eu
pude perceber que a criança pequena ela já vem pra escola com um
conhecimento matemático. E cabe a nós professor, com o olho
clínico de professor, é despertar esse gosto. E como é que a gente
desperta esse gosto? É nas brincadeiras, porque a matemática está
presente em tudo na nossa vida.”
Unidade 15: “[...] a questão dos jogos, eu acho assim que uma das
melhores formas de trabalhar, porque é a forma lúdica. Que a criança
necessita disso. A gente não pode esquecer que o lúdico não está
associado a pré-escola, que o lúdico tem que estar presente em
148
Unidade 29: “Porque ele pode ter, você oportunizou ele a trabalhar
numa teoria, um enunciado, mas você fez ele vivenciar isto, e o jogo
permite isso.”
Unidade 30: “Então, o jogo permite não só o jogo pelo jogo, mas
permite você trabalhar outras questões importantíssimas, para
formação da personalidade dele, porque ele vai ser um adulto, de
repente mais tranqüilo, um adulto mais consciente, né. [...] Mas pra
isso você tem que ter um planejamento muito bem trilhado, né, você
tem que ter consciência que a tua sala vai ser um ambiente diferente,
mas que vai ser uma, um momento que você vai tar oportunizando,
da criança pra criança realmente crescer, né. Crescer, não só como
aluno, mas como pessoa. Daí o jogo permite isso mesmo, né. Que se
você for analisar quantas professoras trabalham o jogo, né
pouquíssimas.”
matemática, visto que, segundo Huizinga (1990), o jogo é uma função da vida, e é
nele e por ele que a própria civilização surge e se desenvolve, logo o jogo é algo
de regras envolve o se relacionar com o outro que pensa, age e cria estratégias
concretos (dinheiro etc). Além de todas essas questões, como aponta o S5, o jogo
matemática
Sujeito 1
Unidade 9: “[...] por muitos anos isso não foi trabalhado na Educação
Infantil. Acredito que nos últimos anos que começou-se a trabalhar
mais, eh, a mostrar né, que tem matemática como as outras matérias
também.”
150
Sujeito 2
Sujeito 3
Unidade 12: “[...] mas o que falta pra gente é que a gente deveria ter
um tempo de fabricar todo esse material que tem, né, principalmente
no livro do Sarquis, né”. “Então você acaba indo atrás de outros
jogos que a gente conhece, utiliza, né. Mas eu acho que se a gente
tem, tivesse assim, sim tempo, de, de, de montar esses jogos, aí sim
facilitava”.
Unidade 14: “[...] olha é tanta coisa que a gente tem que dar conta,
que a gente acaba deixando coisas boas de lado”.
Sujeito 4
porque tem filho, porque tem isso, porque tem aquilo, então assim,
diferentes e diferentes formas as pessoas não vão.”
Unidade 25: “Pera aí aqui tem um jogo nessa página, você não tem
obrigação de saber este jogo, eu vou tentar aprender ele. Se eu não
conseguir, eu vou buscar alguém pra me ajudar, mas daí eu olho pro
jogo, mas isso daqui é muito difícil, ah, eu não vou fazer. Mas assim
se pra mim tá difícil imagina pro meu aluno, como que vai ficar o meu
aluno? Não, ele não vai entender, não então eu nem vou trabalhar.”
Unidade 27: “Então assim são inúmeras as questões que fazem com
que a gente muitas vezes em sala de aula, ou a gente, como
profissional deixa de ir buscar. Só que quando a gente deixa de
buscar, não somos nós que estamos perdendo, são os nossos
alunos. E aí entra o compromisso nosso como profissional”.
Unidade 29: “[...] vamos dizer aquela pessoa que você ouviu durante
três anos de Pedagogia, ela dizer que ela não queria trabalhar, que
estava fazendo por fazer, ela tá lá, e ela vai trabalhar como
professora. E você faz idéia de como vai ser o trabalho dela em sala
de aula (tempo calada). Isso, eu não vi uma, duas pessoas falando,
eu vi muitas e muitas pessoas falando. A educação é vista assim,
como a forma mais fácil de se ganhar dinheiro.”
Unidade 30: “Hoje, nós enquanto professores, não somos nada, bem
pelo contrário só xingam a gente. E ainda dizem assim, ah
funcionário público!! Só trabalha poucos dias por ano e ganha um
monte. Então, quer dizer que valorização que nós temos. Isso
também desmotiva muito, isto também faz com que o professor
chegue em sala de aula e pense, pera aí. Ele nem pensa, isso já está
incutido, ninguém me valoriza. Porque também eu vou me
preocupar?”
Sujeito 5
Unidade 3: “[...] você sabe que devido a ter pessoas diferentes, com
capacidades de aprendizagens diferentes, é preciso conhecer todas
as formas possíveis e a matemática é deixada um pouco de lado. Se
a gente perceber que ela é uma matéria normal como as outras, que
ela, é tão importante, talvez até mais, que as outras, porque
enquanto cidadão a criança precisa conhecer o dinheiro, os números,
né. Ela tem que ter uma visão de mundo dentro da matemática.”
Unidade 14: “Olha, nós, acho que já nós evoluímos muito, eu acho
que a gente, a gente teve uma caminhada assim, bastante grande,
quando dentro dos estudos dos PCN, a gente começou a repensar a
matemática de uma forma diferente. [...], a gente quando faz um
curso, por parte da SMED ou qualquer outro órgão, mesmo dentro da
escola, a gente recebe uma injeção de ânimo, né, a gente pensa
nossa eu posso fazer diferente realmente. Porque lá eles estão
mostrando uma forma diferente de trabalhar, estão de uma certa
forma mexendo com a nossa consciência enquanto professor. Então,
a gente progrediu muito em relação a matemática, mas acho também
que a gente estacionou. Então, ah, porque a gente recebe essa
injeção de ânimo e de repente a gente dá uma parada [...].”
Unidade 17: “Então eu acho assim que é uma das melhores formas
de se trabalhar, mas que nós professores, hoje, não estamos
trabalhando. Eu não sei, eu estou falando por mim, né, porque às
vezes nessa ânsia, de como coloquei antes de trabalhar todas outras
questões você deixa questões importantes [...]”.
Unidade 19: “Eu sei que estou falhando, mas, é com esta
preocupação realmente de você fazer com que a criança saia da 1ª
série lendo, escrevendo, tendo um conhecimento de número, você
deixa pra trás coisas fundamentais, que, por exemplo, são os jogos,
né. Poderia estar trabalhando questões importantíssimas ali dentro,
dentro de um jogo. Poderia estar explorando outros conteúdos
também”.
Unidade 27: “É como eu falei, a gente teve assim uma época ali que
a gente teve um ânimo maior pra se trabalhar. Hoje a gente ta
voltando lá ao tradicional, né. Mas é, e como eu sempre penso, e eu
sempre falo pras professoras assim, o que faz a diferença é a tua
vontade, enquanto professora, né. A tua sala, eh, de repente você
não consiga vencer todos os conteúdos até o final do ano, mas
aquilo que teus alunos saírem eles vão saber aplicar na prática”.
ou deixada para um segundo plano, bem como o fato da matemática não poder ser
153
vivenciada pelos alunos em seu cotidiano, ela é vista, como ressalta o S4, como
pedagógica. Percebem que existem coisas que não estão certas, mas não
refere à sua prática, isso é algo bastante difícil. Acredita-se que essa percepção,
Não se pode negar que a falta de tempo para planejar, o comodismo, a falta
pesa sobre o professor contribuem para que não se modifique a situação que pode
ser observado, hoje, no ensino. No entanto, é possível acreditar que essa situação
Sujeito 1
Sujeito 2
Unidade 19: “[...] ah professora, registrar não, porque daí eu não sei,
porque daí eu não consigo, porque se per... Daí dá pra perceber que
no jogo ele estava se saindo bem, mas na hora de sistematizar o que
ele estava fazendo ele tinha dificuldade, eles não queriam muito era
pensar mesmo. Daí o que é que e fiz, eu retomei com eles, mostrei
como que eles poderiam sistematizar no caderno”.
Sujeito 3
Unidade 20: “Aqui eu não trouxe, porque aqui eu tenho uma turma
bastante pesada, né. Então eu não trouxe aqui. Mas eles não tem
aquela paciência.” “Eu ia trazer os meus de casa, mas olha, é uma
turma assim, terrível, agora que eu estou conseguindo acalmar a
turma, pra trabalhar mais esse lado dos jogos mesmo. Que agora
que eu vi que estão sentando, e participando sem dar briga, sem,
eh... cuidar do material que eles tem aí. Agora que estou
conseguindo encaixar. Então daqui pra frente acredito que assim,
que que até nas férias eu estava pensando em construir, né alguns
jogos pra trabalhar, sim. Porque eu acho que agora, a partir do 3º
bimestre, a minha turma diminuiu, eles estão mais calmos; então
agora, eu vou poder colocar mais essa parte de jogo com eles.”
Sujeito 4
Unidade 13: “[...] aqui seria mais uma questão de fixação. Da, do
conhecimento que já está dentro da criança, já foi concluído, né.
Uma questão pessoal.”
Unidade 17: Quando você leva jogos pra sala de aula você costuma
levar um só, ou diversos? “Quando, por exemplo, assim, se eu tenho
um objetivo único naquele momento, eu assim, no início, quando
assim se quero trabalhar algo que vamos dizer seja início de
trabalho, aí eu estarei usando um único material, mas depois que eu
dei a introdução, que eu trabalhei, eu gosto de diversificar, de
trabalhar com diversos tipos de jogos. [...] porque eu acho que
155
Sujeito 5
Unidade 21: “[...] então primeiro vou ter que fazer uma sondagem,
então, que trabalhar pré-requisito pra se chegar a esse jogo, [...]
Então eu faria uma sondagem por exemplo de compor e decompor
os números a primeira forma, para depois chegar a este jogo, [...]
Mas se ser trabalhado pré-requisitos anteriores com certeza que ela
vai reconhecer.”
Unidade 24: “[...] só que ela também tem que ter uma referência no
caderno, alguma, ela tem que ter uma referência também, não é só o
concreto, né, porque ela vai ter que fazer o registro daquilo pra ver,
pra daí ela compreender isso, né, as duas formas, a teoria e a prática
[...]”.
paciência por parte dos alunos), pode-se concluir que, para essa professora, até
mesmo em situações de jogos os alunos deverão ficar calados. Não que uma aula
de jogos tenha que ser uma grande algazarra, mas dificilmente ter-se-á uma sala de
156
aula totalmente silenciosa, uma vez que haverá a empolgação dos jogadores
poderiam sistematizar, no caderno, o conteúdo trabalhado por meio dos jogos. Essa
situação também se repete com o S5. Assim, embora tendo sido utilizado o jogo, a
destaca que o jogo contribui para fixar conteúdos que a criança já possui. Outro fato
ter ao utilizar os jogos na sala de aula, para não castrar a riqueza pedagógica que a
Sujeito 1
Unidade 1: “[...] pra mim não é uma área, prefiro português, não é
uma área assim que me prende.”
Unidade 11: “Eu acho que a gente eh, nós trabalhamos muito a
matemática, porque a matemática tá, em tudo o que você vai fazer
tem matemática, mesmo eh, não em números né, às vezes não em
números, mas você tá lá, você já pode oh, quantas palavras, eh
quantas palavras têm, quantas letras têm. Então a matemática está
157
Sujeito 2
Sujeito 3
Sujeito 4
matemática tá igual eu, ele não aprende, não tem jeito, eu não
aprendi, ele também não aprende. Então essa já é uma questão
cultural, né. [...] eu acho que estamos no caminho para que
aconteçam essas mudanças.”
Sujeito 5
Unidade 6: “Então não foi uma coisa assim de imediato, na, na minha
carreira profissional, foi assim, eh, fazendo sempre uma análise
enquanto professor, né. Porque a gente enquanto professor, a gente
tem uma preocupação muito grande, dentro de conseguir na pré-
escola, a linguagem oral. E a gente perde de vista os outros
conteúdos que são importatíssimos.”
Unidade 7: “Agora que vai fazer a diferença é quando você olhar pro
seu aluno e ter a consciência tranqüila que aquilo que você fez por
ele, talvez, talvez, não seja assim de grande quantidade, mas sim de
grande qualidade, né. E a matemática permite isso é de você
questionar de fazer com que a criança pense e repense, e é uma, e é
uma disciplina que ela é exata, né, então que existem inúmeros
meios, mas que o objetivo tem que ser único.”
Unidade 26: “E é que nem, isso a gente sempre ouvia, né, que o
professor pra gostar do Sarquis, eh, ele, ele, tinha que começar lá da
1ª série. E realmente daqui uns anos você vai ver como que você vai
mudar essa visão em relação a esse livro, porque as crianças, estão
numa caminhada, eles estão numa construção da matemática,
diferente de tudo aquilo que nós tínhamos, [...]”.
Unidade 32: “[...] olha só queria dizer que, assim, é importante que se
tenha pessoas como você, que estejam preocupada com essa
159
penosa, um bicho de sete cabeças, conforme expõe o S5, a qual assusta alunos e
fator relevante é que a matemática, como salienta o S3, já foi motivo de evasão
escolar, ou melhor, não só foi, como ainda continua sendo motivo para alguns
preferência das disciplinas por parte dos professores. É possível afirmar que isso é
comum nas escolas hoje, assim como foi em tempos passados, pois essa vaga
formação reforça ainda mais que os professores, em sua maioria, não gostam da
matemática. Grande parte dos professores que atuam nas primeiras séries do
Ensino Fundamental prefere trabalhar com outras disciplinas. Talvez esse seja um
dos motivos pelos quais a Matemática cause tanto problemas nas escolas.
conteúdos, o que demonstra uma grande contradição, pois também assevera que
Sujeito 1
Sujeito 2
Unidade 18: “Só que daí o jogo não pode ficar pelo jogo, então essa
é a grande missão“.
Sujeito 3
Unidade 18: Agora esses dias, eu dei os jogos, os jogos todos pra
eles, lá eu tenho, na sala e deixei eles brincar sozinhos. E aí eu vi
que,... não precisava a professora estar jogando junto com eles,
apesar que alguns chamavam vamos jogar aqui, vamos jogar ali e eu
não fui. Fui um pouquinho num, um pouquinho no outro e depois,
depois dava um jeitinho de sair, né.”
Sujeito 4
Unidade 20: “O erro que a gente faz muitas vezes é pegar por
exemplo, todos os jogos agora que eu tenho aqui na minha frente, eu
pegar ir lá pra 4ª série, dividir a sala em grupos e dá os jogos, oh
pessoal joguem. Não é por aí, eu acho assim, a gente muitas vezes
tem aquela velha ainda coisa na cabeça assim, ah, eu sei, eles
também vão saber. E não é por aí, ele precisa aprender, e eu sou
161
Sujeito 5
Unidade 16: “Quem é que não gosta de, de um jogo, por exemplo,
né. E se não gosta é porque não aprendeu como manuseá-lo [...]”.
Percebe-se que tentativas de uso de jogos em sala de aula são feitas. Isto
pode ser constatado nos discursos dos sujeitos. Todavia, a forma como as situações
precisa-se ensinar o aluno a manusear o jogo. Não que isto não seja válido, pois,
socialização das crianças, à medida que jogam em pequenos grupos. Isso para a
etc.
O S2 pontua que, para que não ocorra a utilização do jogo pelo jogo, há a
registro do algoritmo. Conforme exposto pelo S2, “o jogo não pode ficar pelo jogo,
então essa é a grande missão”. A missão, aqui, seria do professor, sendo a ele
162
jogar.
Sujeito 1
Sujeito 2
Sujeito 3
Unidade 11: “Eu acho que hoje tem mais cobrança, né para os
professores em sala de aula, se a gente não trabalha com
matemática com o concreto, eh é difícil pra gente, né. Porque eu
acho assim, hoje em dia se as crianças não tem pai e mãe, como a
gente tinha antigamente. Cobrava mais, ajudava, colaborava”.
Sujeito 4
Sujeito 5
Unidade 12: “[...] você tem que oferecer uma oportunidade, uma
visão diferente de trabalhar a matemática, mas você tem que ter
conhecimento, enquanto professor, né, de e passar pro teu aluno
como fazer o uso disso, né. Porque às vezes não é falta de vontade,
é não saber realmente. Se hoje você questionar a maioria dos
professores de 1ª a 4ª do município, como se trabalhar materiais
simples assim, né, de como você pode explorar o material dourado,
são poucos os que vão assim te dar encaminhamentos diferentes”.
Unidade 31: “Mas eu acho que a nossa escola, por exemplo, nos
temos vários jogos aqui, nós temos, nós temos jogos ali, esses dias,
o professor falou temos jogos que nós podemos trabalhar
praticamente em dupla com o material dourado, de tantas caixinhas
que nós temos [...].”
“nenhum material é válido por si só”, ou seja, como assinala o S5, as escolas
dispõem de vários materiais e jogos, porém o que realmente vai fazer a diferença no
que pode ser observado na prática do S2. Para o S3, o jogo é material concreto, e o
Para o S5, material concreto simples seria o material dourado, o qual poucos
8ª Categoria: Critérios que o professor utiliza para escolher os jogos que levará para
sala de aula
Sujeito 1
Sujeito 2
Sujeito 3
Unidade 12: “[...] mas o que falta pra gente é que a gente deveria ter
um tempo de fabricar todo esse material que tem, né, principalmente
no livro do Sarquis, né”. “Então você acaba indo atrás de outros
jogos que a gente conhece, utiliza, né. Mas eu acho que se a gente
tem, tivesse assim, sim tempo, de,de, de montar esses jogos, aí sim
facilitava”.
Unidade 13: “Eu gosto de jogo. Mas assim eu tenho que entender
senão tenho pavor de jogo. Eu nem levo pras crianças, que nem
assim, por exemplo, os meus assim lá gostam muito, desses...
(tempo calada) [...] do dominó, ah como é que chama aquele
joguinho...(tempo calada), esqueci agora, tem um joguinho lá que vai
levantando até que você vai lembrar, vai levantando as pecinhas,
tem que achar os parzinhos, como é que chama?” Jogo da memória.
Unidade 22: “Aqueles lá eles já nem gostam desses jogos, né. Eles
já falam esse daí eu já sei, esse daí eu já sei, não quero mais. E daí
eles já vão atrás de jogos mais, mais... que tenham mais desafiantes
pra eles”.
165
Sujeito 4
Unidade 18: Você levaria todos esses jogos pra sala de aula de uma
só vez? “Sim, desde que as crianças conhecessem eles. [...] posso
fazer diferentes grupos na sala de aula e cada grupo estar
trabalhando com um jogo diferente. A partir do momento que eles
tenham conhecimento dos jogos, né. E aí também eu posso estar
passando, trabalhando com eles individual, a questão da leitura das
regras, a interpretação das regras que é muito importante também.”
Sujeito 5
Unidade 23: “Então, como é que eu fiz, por que, eu não dei essas
fichas, mas eu dei, por exemplo, o material dourado, por exemplo,
para trabalhar [...]”.
que, na fala do S5 demonstra o quanto são restritos. Por isso, como é realçado pelo
S3, os jogos propostos no livro didático (Sarquis) não são explorados. Também é
possível perceber que os jogos mais conhecidos são o dominó e o jogo da memória.
Importa destacar que, embora sejam bem conhecidos, poderiam ser mais bem
os quais ressalta-se: o jogo atingir o objetivo proposto pelo professor; não tornar o
jogo algo obrigatório; escolher jogos em que o fator sorte não interfira nas jogadas,
atividades que envolvam dois ou mais alunos, para oportunizar a interação social;
166
estabelecer regras que podem ou não ser modificadas no decorrer de uma rodada;
ser algo desafiador para o aluno. Como pode ser percebido na unidade 22 de S3, os
pré-requisitos, citado por S1, percebendo-se que, a partir daí, os jogos não são
na questão dos jogos. Os próprios professores têm a percepção clara de que essa
sua própria prática pedagógica revela o dilema vivido nas questões que permeiam a
Essa ‘fuga’, bem como a relação de apatia por ela, como revelado nos
que defendem para o ensino e as estratégias que aplicam, porque lhes surgem
os resultados obtidos são alguns dos componentes que emergem do nomos dos
aprendizagem da Matemática.
contingente de “mal-formados”. Mais relevante que saber qual o ponto mais crítico
solução de outros.
depreender uma vivência quase nula de situações de jogos no âmbito escolar. Pelas
constata-se que as situações de jogos são esporádicas, bem como os próprios jogos
(quando levados para a sala de aula). As ações ‘pedagógicas’ são sempre restritas,
Verifica-se, na fala dos professores, que existe uma crença de que o processo
mais produtivo do que o ato de jogar em si, porém, o tempo disponível para
adotado nas escolas, contribui para que não se realize esse tipo de atividade, isto é,
somente o que lhes é proposto no próprio livro. Digno de nota é o livro adotado pelo
específico, seria necessário que houvesse uma reflexão sobre a proposta político-
importância para o aluno, para a sua vivência e para as interconexões com as coisas
que dão sentido à vida. Sabe-se que nenhum material é válido por si só. Segundo
15
O termo ‘livresco’ foi utilizado no sentido de um ensino pautado exclusivamente no livro didático, ou
seja, o livro, nesse contexto, não se apresenta como material de apoio ao professor, mas sim como
‘guia de trabalho’. A preocupação maior do professor acaba sendo aquela em que os alunos
terminem as atividades do livro, sem uma preocupação mais elaborada se os conteúdos nele
presentes foram assimilados e, principalmente, acomodados pela estrutura conceptual dos alunos.
170
Matemática não garante uma melhor aprendizagem dessa disciplina; uma vez que
Matemática uma prática de jogos, principalmente com alunos das séries iniciais do
mesmo, ou seja, “o jogo pelo jogo”. Não se estabelecem reflexões, registros, pré-
ensino-aprendizagem”.
Apesar de todas suas potencialidades, “[...] a idéia [dos jogos] será sempre
trabalho com jogos, o professor deve assumi-la como uma opção metodológica,
prevista pelo seu plano de ensino, vinculada a uma concepção coerente presente no
apêndice curioso, ilustrativo e, por conseguinte, ignorado. Para tanto, como prevê
dúvidas, dos anseios não realizados e da frustração que permeia a prática docente,
Matemática.
REFERÊNCIAS
HUIZINGA, J. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 2.ed. Trad. João
Paulo Monteiro. São Paulo: Perspectiva, 1990.