Solos Da Formação Solimões
Solos Da Formação Solimões
Solos Da Formação Solimões
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as condições do Acre não é possível substituir o levantamento direto das informações pe-
dológicas diretas por modelos que se baseiam apenas na integração de informações temáti-
cas como vegetação, morfologia de superfície, substrato geológico etc.
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Figura 1. Mapa de solos em nível de ordem do Estado do Acre. Fonte: ZEE, 2006, Fase II
ARGISSOLOS
São solos constituídos por material mineral, apresentando horizonte B textural ime-
diatamente abaixo do A ou E, com argila de atividade baixa ou alta conjugada com saturação
por bases baixa e/ou caráter alítico na maior parte do horizonte B, podendo apresentar hori-
zonte plíntico ou horizonte glei, desde que não satisfaça os requisitos para Plintossolos ou
Gleissolos (EMBRAPA, 2006).
Os Argissolos - em algumas regiões - apresentam drenagem interna naturalmente
deficiente e baixa ou média fertilidade natural. Por ocorrem muitas vezes em condições de
relevo mais movimentado, são também bastante suscetíveis à erosão. A presença de caráter
plíntico em parte destes solos evidencia problemas por deficiência de drenagem. As cores do
horizonte Bt variam de acinzentadas a avermelhadas e as do horizonte A, são sempre mais
escurecidas. A profundidade dos solos é variável, mas em geral são pouco profundos e pro-
fundos (IBGE, 2005).
No Acre os Argissolos ocupam mais de 6 milhões de hectares, cerca de 38% da área
do Estado (AMARAL et al., 2006), constituindo, no nível de ordem, a classe que ocupa a
maior extensão territorial (Tabela 1).
Quanto ao nível de subordem, o Argissolo Vermelho-Amarelo é segunda classe
Figura 2. Perfil modal de Argissolos no estado do Acre. (A) Prisma pedológico, em escala e com a
indicação dos horizontes. (B) Padrão fisiográfico na imagem de satélite LANDSAT TM 5. (C) Paisa-
gem de ocorrência. (D) Localização no estado do Acre. Fonte: ZEE, 2006, Fase II
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ração varia de bruno-escuro a bruno-forte em superfície e bruno-forte, vermelho-amarelo a
vermelho em subsuperfície, apresentando às vezes, mosqueados. A estrutura predominante
no horizonte B, de grau moderado a forte, é do tipo blocos angulares e sub-angulares, que
podem ou não compor prismas em função da atividade da argila.
Os Argissolos Amarelos (PA) diferem dos PVA basicamente pelas cores mais amare-
ladas, com matiz 7,5 YR ou mais amarelo na maior parte dos primeiros 100 cm (EMBRAPA,
2006), enquanto os Argissolos Vermelhos (PV) apresentam cores no matiz 2,5 YR ou mais
vermelho.
Os PA e os PV apresentam diversas características morfológicas comuns, como pro-
fundidade (são solos profundos), relevo suave ondulado a ondulado, estrutura em blocos
angulares e sub-angulares, moderada a forte. A textura é argilosa, o que evidencia o processo
de translocação (AMARAL, 2003). Pode ou não apresentar cerosidade, geralmente são bem
drenados e distróficos com altos teores de alumínio, podem apresentar deficiência em dre-
nagem, quando ocorrer horizonte plíntico. As cores vermelhas nem sempre indicam solos
eutróficos. O horizonte B textural do Argissolo Vermelho se assemelha em alguns aspectos
ao horizonte B latossólico, deste se diferindo, porém, ante ao expressivo aumento do teor de
argila em relação ao horizonte A.
Os Argissolos, de atividade de argila alta ou baixa, podem ser distróficos (V< 50%),
alíticos, ou alumínicos, às vezes epieutróficos
Tanto os PVA quanto os PA apresentam valores de soma de bases elevados principal-
mente em superfície (Tabela 3), com valores máximos de 94, 8 cmolc.dm-3 e 28,0 cmolc.
dm-3 respectivamente. Em subsuperfície os teores são mais baixos, com teores máximos 6,2
cmolc.dm-3 para os PVA e 41,9 cmolc.dm-3 para os PA. Os valores mais elevados constata-
dos para os Argissolos Amarelos correspondem à maior riqueza em cálcio e magnésio.
Os teores de cálcio e magnésio trocáveis são elevados em ambas às classes (Tabela
3), principalmente em superfície. Observa-se um decréscimo dos teores destes cátions em
profundidade, o que denota uma combinação da perda destes cátions por lixiviação e/ou
erosão com a reciclagem biológica, em que parte dos nutrientes extraídos das camadas mais
profundas do solo pelas raízes das plantas é adicionada à superfície na forma de resíduos
vegetais, que, após decomposição biológica, são incorporados à camada superficial do solo.
Os teores de Al3+ trocáveis nos PVA e PA variaram de 0 a 12,1 cmolc.dm-3 e 0,2 a 4,8
cmolc.dm-3 respectivamente em superfície e em subsuperfície 0,6 a 14,1 cmolc.dm-3 e 4,2
a 15,0 cmolc.dm-3 .
Os teores de alumínio trocável aumentam comumente com a profundidade, apesar
da presença de teores significativos de cálcio e magnésio, o que, entretanto, aparentemente
não se traduz em toxidade para as plantas, não devendo, por isso, ser utilizado como índice
de acidez nos solos acrianos. Caso outras condições não forem limitantes, é possível que a
correção do solo não seja necessária (WADT, 2002).
A reação destes solos varia de 4,1 a 5,2 nos PVA e 3,3 a 4,8 nos PA, aumentando em
profundidade, caracterizando uma acidez extremamente acida a média. Estes valores de pH
estão coerentes com os teores de alumínio, que tendem a aumentar em profundidade, e com
a baixa disponibilidade de nutrientes (ARAÚJO, 2000).
Os teores de matéria orgânica nos horizontes superficiais variam entre 0,6 e 11, 7 dag.
kg-1 nos PVA e entre 3,3 e 7,0 dag.kg-1 nos PA, enquanto nos horizontes sub-superficiais
variam entre 0,2 e 6,2 dag.kg-1 e entre 0,0 e 6,9 dag.kg-1 para os PVA e PA, respectivamente
(Tabela 5). Estes teores, médios em superfície e baixos em sub-superfície, contribuem para
uma menor capacidade de troca de cátions total (CTC), o que sugere, por sua vez, uma alta
possibilidade de lixiviação de bases trocáveis.
A capacidade de troca catiônica (CTC) dos Argissolos estudados (Tabela 3) é no
geral muito baixa, já que a CTC está intimamente ligada a fertilidade de um solo, uma vez
IX Reunião Brasileira de Classificação e Correlação de
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em Potencialidade e Demanda de Pesquisa
que indica a capacidade deste para absorver cátions em forma trocável, os quais, em geral
irão servir de nutrientes às plantas.
Face à grande diversidade de características que apresentam no que se refere à satu-
ração por bases e por alumínio, textura, profundidade, atividade de argila e variedade de
relevo, os Argissolos são também muito variáveis quanto ao seu potencial de uso agrícola.
Com relação à fertilidade, os Argissolos álicos ou distróficos, apresentam um baixo
potencial nutricional, normalmente mais acentuado no horizonte B (ocorre nos solos acria-
nos), requerendo, para seu uso agrícola, práticas de correção de acidez e adubação.
A deficiência de água é significativa principalmente quando a textura do horizonte A
for arenosa, melhorando um pouco quando for média. Por outro lado, o aumento do teor de
argila eleva a possibilidade de compactação do solo quando sob uso intensivo.
De maneira geral, os Argissolos são solos bastante susceptíveis à erosão, sobretudo
quando há combinação de grande diferença de textura do horizonte A para o horizonte B e
relevo acidentado, neste caso não é recomendável para agricultura, sendo mais indicados
para pastagens bem manejadas, reflorestamento ou preservação da fauna e flora.
Como potencialidades podem ser favoráveis ao desenvolvimento radicular de algu-
mas culturas, entretanto, deve ser feita uma correção da acidez e uma adubação, já que estes
são solos distróficos.
Fontes: Gama (1986); Martins (1993); Silva (1999); Araújo (2000); Amaral (2003); Melo (2003) & Bardales (2005).
Obs.: Os valores estatísticos foram retirados a partir de vários perfis estudados pelos autores acima citados.
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CAMBISSOLOS
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Tabela 4. Atributos físicos e químicos de horizontes superficiais e subsuperficiais de Cambissolos do Acre.
Fontes: Gama (1986); Martins (1993); Silva (1999); Araújo (2000); Amaral (2003); Melo (2003) e Bardales (2005).
Obs.: Os valores estatísticos foram retirados a partir de vários perfis estudados pelos autores acima citados.
Figura 3. Perfil modal de Cambissolo no Estado do Acre. (A) Prisma pedológico, em escala e com
a indicação dos horizontes. (B) Padrão fisiográfico na imagem de satélite LANDSAT TM 5. (C)
Paisagem de ocorrência. (D) Localização no Estado do Acre. Fonte: ZEE, 2006, Fase II
PLINTOSSOLOS
São solos constituídos por material mineral, apresentando horizonte plíntico, lito-
plíntico ou concrecionário, em uma das seguintes condições: começando dentro de 40 cm
da superfície; ou começando dentro de 200 cm da superfície quando precedido de horizonte
glei ou de horizonte A, ou E, ou de outro horizonte que apresente cores pálidas, variegadas
ou com mosqueados em quantidade abundante. Quando precedidos de horizonte ou camada
de coloração pálida (acinzentadas, pálidas ou amarelado claras), estas deverão ter matizes e
cromas de conforme os itens a e b definidos abaixo, podendo ocorrer ou não mosqueados de
coloração desde avermelhadas até amareladas. Quando precedidos de horizontes ou cama-
IX Reunião Brasileira de Classificação e Correlação de
50 Solos: Sistemas Amazônicos – Solos Sedimentares
em Potencialidade e Demanda de Pesquisa
das de coloração variegada, pelo menos uma das cores deve satisfazer as condições dos itens
a e b definidos abaixo.
a - matiz 5Y; ou
b - matizes 7,5YR, 10YR ou 2,5Y com croma menor ou igual a 4 (EMBRAPA, 2006).
Figura 4. Perfil modal de Plintossolo no Estado do Acre. (A) Prisma pedológico, em escala e com
a indicação dos horizontes. (B) Padrão fisiográfico na imagem de satélite LANDSAT TM 5. (C)
Paisagem de ocorrência. (D) Localização no Estado do Acre. Fonte: ZEE, 2006, Fase II
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Estes solos apresentam no Estado grande diversificação de textura, tendo sido con-
statados solos desde arenosos até argilosos, sendo uma característica marcante dos Plintos-
solos Argilúvicos a grande diferença de textura do horizonte superficial A ou E para o sub-
superficial B às vezes, configurando mudança textural abrupta.
A estrutura, em blocos angulares e sub-angulares, apresenta grau de desenvolvim-
ento fraco a moderado, enquanto a consistência a seco varia de dura a muito dura. No geral
apresentam boa profundidade efetiva.
Quanto às características químicas, solos normalmente são de argila de atividade
baixa e, menos frequentemente, de argila de atividade alta. O pH varia de 4,6 a 4,9 nos hori-
zontes superficiais e de 4,7 a 5,2 nos sub-superficiais (Tabela 5), evidenciando a dominância
de solos ácidos.
Os teores de Al3+ oscilam de 3,0 a 6,0 cmolc.dm-3 em superfície e de 3,2 a 30,0
cmolc.dm-3, ou seja, estes solos exibem caráter alítico ou alumínico dependendo da ativi-
dade da argila. São, portanto, em consonância com as observações de Oliveira e Alvarenga
(1985), solos ácidos e distróficos cuja saturação por bases varia em torno de 41,3 cmolc.
dm-3 nos horizontes superficiais e de 19,6 cmolc.dm-3 em profundidade.
Em razão da restrição de drenagem típica desses solos, seu uso com cultivo de plan-
tas suscetíveis ao encharcamento é problemático. Nesse caso, deve-se priorizar o cultivo de
plantas com sistema radicular pouco profundo e que se adaptem às condições de excesso de
água como, por exemplo, o Açaí. Em condições atuais são mais utilizados com pastagem
natural, devendo ser, o seu manejo, entretanto, direcionado no sentido de evitar o processo
de degradação dos solos e das pastagens, além procurar esclarecer e sanar o problema re-
centemente identificado com relação a morte das pastagens em Plintossolos.
Fontes: Gama (1986); Martins (1993); Silva (1999); Araújo (2000); Amaral (2003); Melo (2003) & Bardales (2005).
Obs.: Os valores estatísticos foram retirados a partir de vários perfis estudados pelos autores acima citados.
LATOSSOLOS
Figura 5. Perfil modal de Latossolo no Estado do Acre. (A) Prisma pedológico, em escala e com a
indicação dos horizontes. (B) Padrão fisiográfico na imagem de satélite LANDSAT TM 5. (C) Paisa-
gem de ocorrência. (D) Localização no Estado do Acre. Fonte: ZEE, 2006, Fase II
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zonte B. Estes baixos valores de pH influenciam o desenvolvimento das plantas, interfer-
indo negativamente na disponibilidade de bases e alguns micronutrientes, além de induzir
a maior disponibilidade de alumínio, cuja concentração não raro atinge níveis tóxicos. Os
teores de Al3+ são um pouco mais elevados em superfície do que em subsuperfície (Tabela
6). Este aspecto pode ser favorecido pela lixiviação de sílica e bases no perfil.
Como os Latossolos têm uma baixa CTC, têm-se valores mais baixos de matéria
orgânica, principalmente em sub-superfície. Os teores de matéria orgânica (MO) são maio-
res em superfície, como já era de se esperar nos solos tropicais em geral (Tabela 6).
As boas condições físicas inerentes dos Latossolos fazem com que esta classe de solos apre-
sente bom potencial agrícola. No entanto, em virtude de suas condições químicas deficientes
torna-se necessária a adoção de práticas de calagem e adubação sistemáticas para a obtenção
de boas produtividades das culturas.
As principais limitações dos LVA decorrem da acidez elevada e da fertilidade baixa,
mais pronunciadas nos solos de textura média, naturalmente mais pobres. A deficiência de
micronutrientes pode ocorrer, sobretudo, nos solos de textura média. Requerem, portan-
to, um manejo adequado, com correção da acidez e fertilização com base em resultado de
análises dos solos. Práticas de controle de erosão são necessárias, sobretudo, nos solos de
textura média que são susceptíveis à erosão.
Os LV apresentam ótimas condições físicas as quais, aliadas ao relevo plano ou suave
ondulado onde ocorrem, favorecem sua utilização com as mais diversas culturas adaptadas
à região. Por serem ácidos e distróficos, ou seja, com baixa saturação de bases, estes solos
requerem correção de acidez e fertilização baseada em análises de solos.
Os solos argilosos e muito argilosos possuem melhor aptidão agrícola que os de tex-
tura média tendo em vista que estes são mais pobres e mais susceptíveis à erosão, porém, em
contraposição, os argilosos estão mais sujeitos à compactação pelo emprego inadequado de
equipamentos agrícolas.
As principais limitações dos LA solos decorrem da forte acidez, alta saturação com
alumínio extraível (caso dos alumínicos), e a pobreza generalizada em nutrientes, o que in-
evitavelmente implicará no uso intensivo de adubação e prática de calagem, objetivando a
neutralização do efeito tóxico do alumínio para as plantas.
Fontes: Gama (1986); Martins (1993); Silva (1999); Araújo (2000); Amaral (2003); Melo (2003) & Bardales (2005).
Obs.: Os valores estatísticos foram retirados a partir de vários perfis estudados pelos autores acima citados.
São solos minerais de argila de atividade alta, alta saturação por bases e horizonte B
textural imediatamente abaixo de horizonte A fraco, moderado ou proeminente ou horizonte
E, e que satisfazem os seguintes requisitos:
Figura 6. Perfil modal de Luvissolo no Estado do Acre. (A) Prisma pedológico, em escala e com a
indicação dos horizontes. (B) Padrão fisiográfico na imagem de satélite LANDSAT TM 5. (C) Paisa-
gem de ocorrência. (D) Localização no Estado do Acre. Fonte: ZEE, 2006, Fase II
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Os Luvissolos no Acre apresentam horizonte B textural ou B nítico, com argila de
atividade alta e saturação de bases alta, imediatamente abaixo do horizonte A fraco ou mod-
erado, ou horizonte E.
Os Luvissolos no Acre variam de bem a imperfeitamente drenados, normalmente,
pouco profundos (60 a 120 cm), com seqüência de horizontes A, Bt e C, e nítida diferen-
ciação entre os horizontes A e Bt, devido ao contraste de textura, cor e/ou estrutura entre os
mesmos. A transição do horizonte A para o B textural é clara ou abrupta, sendo que grande
parte dos solos desta classe apresenta mudança textural abrupta, conforme definido em EM-
BRAPA (2006).
São solos moderadamente ácidos a ligeiramente alcalinos, com teores de alumínio
extraível baixos ou nulos e com valores elevados de Ki no horizonte Bt, normalmente entre
2,4 e 4,0, denotando presença de argilominerais do tipo 2:1 (AMARAL et al., 2001).
Os valores de pH variam de 4,5 a 6,6 nos horizontes superficiais e de 4,6 a 7,5 evi-
denciando o que foi acima comentado com relação à acidez destes solos do Acre. Os teores
de Al3+ são muito baixos em superfícies com valor máximo de 0,6 cmolc.dm-3 e em subsu-
perfície apresenta teores mais elevados, com valores médios de 4,3 cmolc.dm-3.
Estes solos apresentam alta CTC, com valores máximos de 67,1 cmolc.dm-3 nos
horizontes superficiais e 60,6 cmolc.dm-3 nos horizontes sub-superficiais, evidenciando a
riqueza em nutrientes, principalmente cálcio e magnésio (Tabela 7).
Em termos de fertilidade natural estes solos são os que apresentam maior potencial
agrícola do Estado. Porém, devem ser consideradas, no entanto, suas limitações físicas quan-
to à profundidade, exígua, e o predomínio de argila expansiva, aspectos estes que elevam
o risco de erosão. O fendilhamento ocasionado pelos fenômenos de contração-expansão da
massa do solo pode comprometer o sistema radicular das culturas. Parte destes solos apre-
senta mudança textural abrupta do horizonte A para o horizonte B o que ocasiona problemas
de infiltração de água no solo.
Fontes: Gama (1986); Martins (1993); Silva (1999); Araújo (2000); Amaral (2003); Melo (2003) & Bardales (2005).
Obs.: Os valores estatísticos foram retirados a partir de vários perfis estudados pelos autores acima citados.
São solos minerais com horizonte glei iniciando-se dentro de 150 cm da superfície,
imediatamente abaixo de horizontes A ou E, ou de horizonte hístico com menos de 40 cm
de espessura e não apresentando horizonte vértico ou horizonte B textural com mudança
textural abrupta acima ou coincidente com horizonte glei, tampouco qualquer outro tipo de
horizonte B diagnóstico acima do horizonte glei, ou textura exclusivamente areia ou areia
franca em todos os horizontes até a profundidade de 150 cm da superfície do solo ou até um
contato lítico. Horizonte plíntico se presente deve estar à profundidade superior a 200 cm da
superfície do solo (EMBRAPA, 2006).
São característicos de áreas alagadas ou sujeitas a alagamento temporário (mar-
gens de rios, ilhas, grandes planícies, etc.). Apresentam cores acinzentadas, azuladas ou
esverdeadas, dentro de 50 cm da superfície. Podem ser de alta ou baixa fertilidade natural
e têm nas condições de má drenagem a sua maior limitação de uso. Ocorrem em pratica-
mente todas as regiões brasileiras, ocupando principalmente as planícies de inundação de
rios e córregos (IBGE, 2005).
No Acre ocorrem às margens dos principais rios e igarapés que compõe a bacia hi-
drográfica do Estado (Figura 7), onde estão permanentemente ou periodicamente saturados por
água. Caracterizam-se pela forte gleização (cores acinzentadas), em decorrência do regime de
umidade que favorece as condições redutoras do solo. Geralmente apresentam argilas de alta
atividade e, embora caracterizados por elevados teores de alumínio trocável, não apresentam
grandes problemas de fertilidade (AMARAL et al., 2001; AMARAL et al., 2006).
Ocupa no Acre uma área de mais de novecentos mil hectares, ou seja, cerca de 5,98%
do Estado (AMARAL et al., 2006). Em termos de sub-ordem, foram descritos e classificados
até o momento Gleissolos Melânicos e Gleissolos Háplicos, com destaque para o primeiro,
que representa toda área de Gleissolos mapeadas até o momento. Em níveis categóricos mais
baixos destacam-se no Estado, Gleissolos Melânicos Ta ou Tb Eutróficos típicos, Gleissolos
Melânicos Ta Alítico (típicos?), Gleissolos Melânicos Tb Alumínicos típicos e Gleissolos
Háplicos(Tb distróficos ou Ta distróficos ou Tb eutróficos ou Ta eutróficos?) típicos.
São solos mal ou muito mal drenados e apresentam seqüência de horizontes A/Cg, A/
Big/Cg, A/Btg/Cg, A/E/Btg/Cg, A/Eg/Btg/Cg, Ag/Cg, H/Cg, tendo o A cores desde cinzen-
tas até pretas, espessura normalmente entre 10 e 50 cm e teores médios a altos de carbono
orgânico. Apresentam ocasionalmente textura arenosa nos horizontes superficiais, aos quais
se seguem um horizonte glei de textura franco arenosa ou mais fina.
Grande parte da área mapeada como de Gleissolos pelo Projeto Radambrasil (BRA-
SIL ,1976 e 1977), inclui na verdade outras classes de solo, como os Neossolos Flúvicos e
Vertissolos. Prova disso é a redução em cerca de 1,4% da área de Gleissolos e incremento de
1,1% da área de Neossolos Flúvicos no mapeamento realizado em ACRE (2000), em relação
ao trabalho do RADAM.
A ocorrência de Gleissolos em áreas de aluviões, pode ser explicada pela grande
oscilação das cotas fluviométricas dos rios e igarapés entre o período de chuvas e estiagem
(RESENDE e PEREIRA, 1988), o que faz com que grande parte desses solos permaneça
em condições de anaerobiose por tempo prolongado. o Este processo favorece a gênese de
Plintossolos, Neossolos Flúvicos e outros.
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Figura 7. Perfil modal de Gleissolo no Estado do Acre. (A) Prisma pedológico, em escala e com a
indicação dos horizontes. (B) Padrão fisiográfico na imagem de satélite LANDSAT TM 5. (C) Paisa-
gem de ocorrência. (D) Localização no Estado do Acre. Fonte: ZEE, 2006, Fase II
Fontes: Gama (1986); Martins (1993); Silva (1999); Araújo (2000); Amaral (2003); Melo (2003) & Bardales (2005).
Obs.: Os valores estatísticos foram retirados a partir de vários perfis estudados pelos autores acima citados.
NEOSSOLOS
• Ausência de horizonte glei, exceto no caso de solos com textura areia ou areia fran-
ca, dentro de 50 cm da superfície do solo, ou entre 50 cm e 120 cm de profundidade, se os
horizontes sobrejacentes apresentarem mosqueados de redução em quantidade abundante;
• Ausência de horizonte vértico imediatamente abaixo de horizonte A;
• Ausência de horizonte plíntico dentro de 40 cm, ou dentro de 200 cm da superfície se
imediatamente abaixo de horizontes A, E ou precedidos de horizontes de coloração pálida, var-
iegada ou com mosqueados em quantidade abundante, com uma ou mais das seguintes cores:
• Matiz 2,5Y ou 5Y; ou
• Matizes 10 YR a 7,5 YR com cromas baixos, normalmente iguais ou inferiores a 4,
podendo atingir 6, no caso de matiz 10 YR;
• Ausência de horizonte A chernozêmico conjugado a horizonte cálcico ou C carbon-
ático (IBGE, 2005).
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Figura 8. Perfil modal de Neossolo Flúvico no Estado do Acre. (A) Prisma pedológico, em escala e
com a indicação dos horizontes. (B) Padrão fisiográfico na imagem de satélite LANDSAT TM 5. (C)
Paisagem de ocorrência. (D) Localização no Estado do Acre. Fonte: ZEE, 2006, Fase II
Fontes: Gama (1986); Martins (1993); Silva (1999); Araújo (2000); Amaral (2003); Melo (2003) & Bardales (2005).
Obs.: Os valores estatísticos foram retirados a partir de vários perfis estudados pelos autores acima citados.
VERTISSOLOS
São solos minerais com horizonte vértico, cores desde escuras a amareladas, acinzen-
tadas ou avermelhadas, profundos a pouco profundos, geralmente com presença de fendas
no perfil, como conseqüência da expansão e contração do material argiloso, superfícies de
fricção (slickensides) e estrutura fortemente desenvolvida do tipo prismática (IBGE, 2005).
Os Vertissolos, que não foram registrados no Estado pelo levantamento de recursos
naturais do Projeto RADAMBRASIL (BRASIL, 1976), ocorrem, em geral, em áreas com
altitudes médias de 170 m, estando restritos a região entre os municípios de Sena Madureira
e Manuel Urbano, às cabeceiras do rio Iaco e ao extremo oeste do Estado, nos municípios
de Rodrigues Alves e Mâncio Lima (Figura 9), ocupando colinas suaves com baixo grau de
dissecação. Ocorrem sob florestas abertas com bambu e com palmeiras (ACRE, 2000), con-
stituindo áreas pouco alteradas, devido à dificuldade de acesso.
Os Vertissolos ocupam uma extensão territorial de aproximadamente 500 mil hect-
ares, ou seja, 3,04% da área do Estado. Dentre estes os Vertissolos Háplicos, descritos an-
teriormente como Vertissolo Cromado por Amaral et al. (2006), ocupam cerca de 3,04% da
área, Outra classe no nível de subordem descrita no Estado foi o Vertissolo Hidromórfico
registrada no município de Sena Madureira (BARDALES, 2005).
Em níveis categóricos mais baixos destacam-se, os Vertissolos Háplicos Órticos típi-
cos, Vertissolos Háplicos Carbonáticos e Vertissolos Hidromórficos Carbonáticos típicos.
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Figura 9. Perfil modal de Vertissolo no Estado do Acre. (A) Prisma pedológico, em escala e com a
indicação dos horizontes. (B) Padrão fisiográfico na imagem de satélite LANDSAT TM 5. (C) Paisa-
gem de ocorrência. (D) Localização no Estado do Acre. Fonte: ZEE, 2006, Fase II
Fontes: Gama (1986); Martins (1993); Silva (1999); Araújo (2000); Amaral (2003); Melo (2003) & Bardales (2005).
Obs.: Os valores estatísticos foram retirados a partir de vários perfis estudados pelos autores acima citados.
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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos esforços dos pesquisadores que trabalham com os solos do Acre, houve
um grande incremento de informações sobre as características morfológicas, químicas, físi-
cas e mineralógicas. Entretanto, permanece a necessidade de estudos mais localizados, prin-
cipalmente na parte central do Estado, que ainda carece de informações mais detalhadas em
termos pedológicos, visto que esta região apresenta muitas peculiaridades pedológicas, que
requerem certos cuidados, sobretudo, com relação ao uso da terra.
De acordo com os estudos disponíveis, o Acre é constituído, predominantemente por
solos do tipo Argissolos e Cambissolos e, em menores proporções, Luvissolos.
Quanto à fertilidade, a limitação para a utilização racional dos solos do Acre relacio-
na-se basicamente ao baixo nível de fósforo disponível e ao elevado teor de alumínio, já que
o nível de potássio é alto e os teores de cálcio e magnésio são ordinariamente suficientes.
Por serem originados de sedimentos oriundos dos Andes, os solos acrianos apresen-
tam características bastante peculiares, entre elas a ocorrência de características vérticas e
eutrofismo acentuado, incomuns na Amazônia. Baseado nos trabalhos de levantamento e
classificação de solos realizados principalmente a partir de 2001 com o intuito de subsidiar
a elaboração do mapa de solos do Estado na escala de 1:250.000, foi possível um maior de-
talhamento dos solos que compõem o ambiente pedológico do Estado.
A caracterização dos Vertissolos (solos de alta fertilidade natural e com sérios prob-
lemas físicos relacionados ao elevado conteúdo de argilas 2:1 expansivas) foi de grande
importância devido ao seu elevado potencial agrícola e necessidade de adoção de um manejo
bastante específico para o seu aproveitamento.
Outra ordem caracterizada também em estudos recentes foi a dos Luvissolos (solos
que apresentam grande potencial agrícola e/ou agroflorestal para o Estado) devido a sua
riqueza química natural conjugada com melhores condições físicas que a dos Vertissolos.
Ressalta-se que, apesar de todos os trabalhos realizados até o momento e do ganho em con-
hecimento pedológico obtido com os trabalhos mais recentes, é necessária a manutenção de
um esforço no sentido da realização de levantamentos mais detalhados, em escalas menores,
de modo a permitir orientar o melhor uso da terra em nível de propriedades rurais e projetos
de assentamentos visando, em última análise, a promoção de um maior desenvolvimento
regional consonante com proteção ambiental e, consequentemente, a melhoria das condições
de vida para a população do Estado.
4. REFERÊNCIAS
ACRE. Governo do Estado do Acre. Programa Estadual de Zoneamento Ecológico-Econômi-
co do Estado do Acre. Zoneamento Ecológico-Econômico: recursos naturais e meio ambi-
ente – 1º fase. Rio Branco: SECTMA, 2000. V.1.
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